Saltar para o conteúdo

Cerdico de Wessex

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Cerdico de Wessex
Cerdico de Wessex
Cerdico em gravura de John Speed (1611)
Rei de Wessex
Reinado 519534
Antecessor(a) Título estabelecido
Sucessor(a) Cínrico ou possivelmente Creoda
Morte 534
Descendência
Casa Casa de Wessex

Cerdico (em inglês antigo: Cerdic; em latim: Cerdicus; (467-534) foi o primeiro rei da Saxônia Ocidental (Wessex) de 519 até 534, além de ter sido o pai de Crioda (Creoda), Rei de Wessex. Exceto por Canuto, Hardacanuto, os dois Haroldo e Guilherme, o Conquistador, todos os soberanos da Inglaterra diziam ser descendentes de Cerdico.

Britânia no início do século VI

A história do período sub-romano na Britânia é parcamente referida e está sujeita importantes desacordos entre historiadores. Ao que parece, contudo, os raides do século V na Britânia por povos continentais transformaram-se em migrações. Os recém-chegados eram anglos, saxões, jutos e frísios. Capturaram territórios no leste e sul da Britânia, mas perto do fim do século V, uma vitória britânica na Batalha do Monte Badonico parou o avanço anglo-saxão por 50 anos.[1][2] Perto do ano 550, contudo, os britanos voltaram a perder terreno, e dentro de 25 anos, parece que quase todo o sul da ilha estava sob os invasores.[3]

A paz que se seguiu ao Monte Badonico é atestada parcialmente pelo monge Gildas que escreveu a Sobre a Ruína e Conquista da Britânia (De Excidio et Conquestu Britanniae) durante meados do século VI. Esse ensaio é uma polêmica contra corrupção e Gildas fornece poucos nomes e datas. Ele parece afirmar, contudo, que a paz durou do ano de seu nascimento ao tempo que escrevia.[4] A Crônica Anglo-Saxônica é a outra principal fonte que lida com esse período, em particular numa entrada ao ano 827 que registra uma lista de reis que usaram o título de bretualda (governante da Britânia). Aquela lista mostra uma lacuna no começo do século VI que corresponde à versão dos eventos de Gildas.[5]

As duas principais fontes escritas à história inicial dos saxões ocidentais são a Crônica Anglo-Saxônica e a Lista Real Genealógica Saxã Ocidental. A crônica é um conjunto de anais compilados perto do ano 890, durante o reinado de Alfredo, o Grande  da Saxônia Ocidental.[6] O material às entradas mais antigas foi reunido de anais mais antigos que não sobreviveram, bem como de materiais de sagas que podem ter sido transmitidas oralmente.[7][8] A crônica data a chegada dos futuros "saxões ocidentais" na Britânia em 495, quando Cerdico e seu filho Cínrico atracaram na costa de Cerdico (Cerdices ora). Quase 20 anais descrevem as campanhas dele e aquelas de seus descendentes aparecem intercaladas nas entradas que registram os séculos subsequentes.[9][10]

A Lista Real é uma lista de chefes da Saxônia Ocidental, incluindo o comprimento dos reinados. Sobrevive de várias formas, incluindo como prefácio ao manuscrito [B] da crônica.[b] Como a crônica, foi compilada sob Alfredo e são influenciadas pelo desejo de seus escritores usarem uma única linha de descendência para traçar a linhagem dos reis da Saxônia Ocidental de Cerdico para Geuis, o ancestral lendário epônimo dos saxões ocidentais, que é feito descendente de Odim. O resultado serviu aos propósitos políticos do escriba, mas está crivado com contradições por historiadores.[11]

As contradições podem ser vistas claramente ao calcular as datas por diferentes métodos a partir das várias fontes. O primeiro evento na história saxã ocidental, a data que pode ser reconhecida como razoavelmente certa, é o batismo de Cinegilso, que ocorreu no final da década de 630, talvez tão cedo quando 640. A crônica dá a chegada de Cerdico em 495, mas adicionando a duração dos reinados como fornecido pela lista real, o reinado de Cerdico pode ter começado em 532, uma diferença de 37 anos. Nem 495 nem 532 podem ser tratados como confiáveis, pois a última data está centrada na presunção de que a lista está correta ao apresentar os reis saxões ocidentais como tendo sucedido uns aos outros, sem reis omitidos, nem reinados conjuntos, e que a duração dos reinados tal como dado estão corretas. Nenhuma dessas presunções pode ser feita seguramente.[10]

Vista aérea da ilha de Wight

Segundo a crônica, Cerdico aportou em Hantônia em 495 com seu filho Cínrico em 5 navios. Segundo a crônica, em 508, uma data que não deve ser considerada como confiável,[12] Cerdico e Cínrico "mataram certo rei britânico chamado Natanleodo e 5 000 homens com ele – depois do que as terras até o Forde de Cerdico foram chamadas Natanleaga".[13] O Forde de Cerdico foi associado com Charford na atual Hantônia, e Natanleaga com uma área pantanosa, Netley Marsh, próximo a cidade de Totton em Hantônia.[14][15]

Fortalecido pela chegada de mais saxões, ganhou outra vitória em 519 no Forde de Cerdico e nesse ano ele assumiu o título de rei. Ao virar-se para oeste, Cerdico parece ter sido derrotado pelos britanos em 520 na Batalha do Monte Badonico e em 527 outra luta com os britanos é registrada. Sua última obra foi a conquista da ilha de Wight em 530, talvez no interesse de aliados jutos.[16] Segundo a crônica, Cerdico morre em 534 e Cínrico sucede-lhe; acrescenta que "deram Wight aos netos, Estufo e Vitgar". Beda contradiz essa informação: segundo este, a ilha de Wight foi colonizada pelos jutos e não pelos saxões - uma versão que os vestígios arqueológicos parecem confirmar.[17][18]

Segundo a crônica, a área de atuação de Cerdico era na área norte de Southampton, mas há fortes evidências arqueológicas que havia atividade anglo-saxã na área ao redor de Dorcéstria no Tâmisa fazendo com que pareça que a origem do Reino da Saxônia Ocidental seja mais complexa que a versão dada pelas tradições sobreviventes.[19]

Precedido por
Ninguém
Rei da Saxônia Ocidental
519534
Sucedido por
Cínrico

Referências

  1. Blair 1960, p. 13-16.
  2. Campbell 1991, p. 23.
  3. Blair 1966, p. 204.
  4. Stenton 1971, p. 2–7.
  5. Swanton 1996, p. 60–61.
  6. Keynes 2004, p. 41.
  7. Swanton 1996, p. xix.
  8. Yorke 1990, p. 132.
  9. Swanton 1996, p. 14–21.
  10. a b Kirby 1992, p. 50–51.
  11. Kirby 1992, p. 49.
  12. Campbell 1991, p. 26–27.
  13. Swanton 1996, p. 14.
  14. Swanton 1996, p. 135, nota 14.
  15. Yorke 1990, p. 4.
  16. EB 1998.
  17. Swanton 1996, p. 14-21.
  18. Stenton 1971, p. 22-23.
  19. Fletcher 1989, p. 22-23.
  • Blair, Peter Hunter (1960). An Introduction to Anglo-Saxon England. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 0-521-83085-0 
  • Blair, Peter Hunter (1966). Roman Britain and Early England: 55 BC – AD 871. Nova Iorque: W. W. Norton & Company. ISBN 0-393-00361-2 
  • Campbell, James; John, Eric; Wormald, Patrick (1991). The Anglo-Saxons. Londres: Penguin Books. ISBN 0-14-014395-5 
  • Fletcher, Richard (1989). Who's Who in Roman Britain and Anglo-Saxon England. Londres: Shepheard-Walwyn. ISBN 0-85683-089-5 
  • Keynes, Simon; Lapidge, Michael (2004). Alfred the Great: Asser's Life of King Alfred and other contemporary sources. Nova Iorque: Penguin Classics. ISBN 0-14-044409-2 
  • Kirby, D. P. (1992). The Earliest English Kings. Londres: Routledge. ISBN 0-415-09086-5 
  • Leeds, E.T. (1954). «The Growth of Wessex». Oxford: Oxford Architectural and Historical Society. Oxoniensia. LIX: 55–56 
  • Swanton, Michael (1996). The Anglo-Saxon Chronicle. Nova Iorque: Routledge. ISBN 0-415-92129-5 
  • Yorke, Barbara (1990). Kings and Kingdoms of Early Anglo-Saxon England. Londres: Seaby. ISBN 1-85264-027-8