Gradiente
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No cálculo vetorial o gradiente (ou vetor gradiente) é um vetor que indica o sentido e a direção na qual, por deslocamento a partir do ponto especificado, obtém-se o maior incremento possível no valor de uma grandeza a partir da qual se define um campo escalar para o espaço em consideração. Constrói-se assim, a partir do campo escalar e de um operador denominado operador gradiente, um campo vetorial, que atrela a cada ponto do espaço o correspondente vetor gradiente para a grandeza em consideração.
O módulo do vetor gradiente indica a taxa de variação da grandeza escalar com relação à distância movida quando desloca-se na direção e sentido do vetor gradiente (deslocamentos infinitesimais).
O campo vetorial e o operador gradiente possuem diversas aplicações em matemática e ciências naturais, indo desde o cálculo de derivadas direcionais à maximização das mesmas. A exemplo, a partir do gradiente do potencial elétrico determina-se o campo elétrico; e a partir do gradiente da energia potencial determina-se o campo de força associado.
Por exemplo, o gradiente da topografia H de um terreno, também chamado de declividade, é dado por:
O símbolo , isto é, nabla, é a notação do operador gradiente.
Motivação: gradiente de temperatura
[editar | editar código-fonte]Gradiente em uma única direção (derivada)
[editar | editar código-fonte]Suponha que tenhamos uma viga retilínea cujas extremidades estão em contato com duas paredes a temperaturas diferentes, uma à esquerda e outra à direita, sendo a parede à direita a mais quente. Observamos que a temperatura da viga não é constante em relação ao espaço, e que cresce da esquerda para a direita ao longo de seu comprimento. Definindo a coordenada para a extremidade à esquerda e para a extremidade à direita, definimos a temperatura em uma posição qualquer (variável ) da viga como uma função .
Entre dois pontos muito próximos, distantes de um comprimento , teremos uma respectiva variação de temperatura . Em uma situação unidimensional, a razão entre essas grandezas fornece o gradiente, denotado por:Note que, para apenas uma dimensão, a noção de derivada e gradiente convergem.
Em condução térmica, o gradiente de temperatura é responsável pelo surgimento de um fluxo de calor, segundo a Lei de Fourier, que, para condução unidimensional, é representada por:onde corresponde ao fluxo de calor, em , e corresponde à condutividade térmica do material, em . O sinal negativo indica que o calor fluirá do corpo mais quente em direção ao corpo mais frio.
Gradiente de temperatura no espaço tridimensional
[editar | editar código-fonte]Na prática, a temperatura da viga varia em função das coordenadas no espaço. Estabelecendo um ponto qualquer , teremos, em uma situação mais próxima da realidade, uma função que descreve a temperatura nas coordenadas de .
Se nos deslocarmos em apenas um eixo do espaço, podemos escrever a função considerando esse deslocamento. Para uma variação da coordenada , por exemplo, teremos a relação:Seguindo a mesma lógica, para um deslocamento entre um ponto qualquer e outro que chamaremos de , teremos um vetor , havendo mudança da temperatura de para . Assim, teremos a relação:É possível simplificar essa relação definindo um vetor gradiente de temperatura , no qual cada componente indica a variação da temperatura em cada coordenada:Assim, podemos representar a mudança de temperatura da posição para por:sendo o produto escalar entre o vetor gradiente e o vetor .
Da mesma forma que no caso unidimensional, o vetor gradiente de temperatura terá orientação partindo do mais frio em direção ao mais quente.
Assim, no contexto de transferência de calor, teremos a Lei de Fourier aplicada ao sistema tridimensional, representada por:Novamente, corresponde ao fluxo de calor e corresponde à condutividade térmica do material. Perceba que, como o calor flui da região de temperatura mais alta para uma de temperatura mais baixa, os vetores fluxo de calor e gradiente de temperatura terão sentidos contrários.[1]
Definição
[editar | editar código-fonte]O vetor gradiente ou simplesmente gradiente de um campo escalar é determinado via ênupla ordenada definida por:
ou, via notação de soma de Euler, por:
onde são os vetores unitários ortogonais que definem a base a partir da qual se coordena o espaço e representa o respectivo operador derivada parcial.
Já na notação de soma de Einstein, onde índices repetidos no mesmo fator implicam somatório, para o campo escalar φ:
O símbolo nabla foi introduzido por William Hamilton e rapidamente assimilado pela comunidade científica:
No entanto, por abuso de linguagem, é comum não se indicar a "seta" de vector e a notação poderá torna-se em:
O gradiente também pode ser generalizado em ordem – se fornecemos um campo vectorial obtemos um campo tensorial.
Exemplo
[editar | editar código-fonte]Para a função escalar
tem-se, na base cartesiana
que fornece por resposta a ênupla
ou explicitamente
para qualquer ponto definido pelas coordenadas , restando apenas a substituição dos respectivos valores x, y e z na expressão acima.
Expressões
[editar | editar código-fonte]Para todo campo escalar diferenciável em função do espaço cartesiano temos que:
O gradiente é a derivada de um campo em função do espaço:
Em uma só dimensão o gradiente de uma função que só depende do espaço:
Propriedades
[editar | editar código-fonte]Linearidade
[editar | editar código-fonte]O gradiente é linear:
Onde é um corpo constante.
Lei de Leibniz
[editar | editar código-fonte]O gradiente segue a Lei de Leibniz na multiplicação:
E na divisão:
Ortogonalidade às curvas de nível
[editar | editar código-fonte]O vetor gradiente sempre será ortogonal às curvas de nível (veja no artigo "Conjunto de nível"). Seja uma função definida em e diferenciável em todo seu domínio.
Seja o conjunto onde x e y são funções de um parâmetro t tal que .
Então, temos:
(diferenciando com relação a t pela regra da cadeia)
A equação final pode ser interpretada como o produto escalar do gradiente de f por um vector tangente a f em , logo os dois são perpendiculares entre si.
Teorema do gradiente
[editar | editar código-fonte]O gradiente é revertido pela integral de linha de acordo com o teorema do gradiente, que é análogo ao teorema fundamental do cálculo:
Derivada direcional
[editar | editar código-fonte]A derivada direcional é um escalar que representa a derivada de um campo escalar ao longo de um versor (no caso abaixo,). Analiticamente, a derivada direcional de dada f(x,y,z) (função escalar), é a taxa de variação instantânea de f em relação à distância na direção e sentido .[3]
Assim, podemos tirar algumas observações[4] a partir do produto escalar entre o gradiente de f e o versor :
1. Se o ângulo entre os vetores e , denotado por θ, for igual a zero. então teremos que a derivada direcional é máxima, e será igual ao módulo do gradiente de f(x,y,z), já que:
2. Se o ângulo θ for igual a , então a derivada direcional terá seu valor mínimo e igual a menos o módulo do gradiente de f(x,y,z):
3. Se f(x,y,z) representar uma curva de nível em que f(x,y,z) = k, onde k é uma constante, e se o vetor for tangente à tal curva de nível, então o valor da derivada direcional é nula, pois será perpendicular a , e normal à curva de nível. Neste caso:
Sistemas de coordenadas
[editar | editar código-fonte]O gradiente é escrito nos diferentes sistemas de coordenadas tridimensionais nas seguintes formas:
Coordenadas cartesianas
[editar | editar código-fonte]Para coordenadas espaciais x, y e z.
Coordenadas cilíndricas circulares
[editar | editar código-fonte]Onde representa a distância ao eixo z, é o ângulo (tomado, em geral sobre o plano z=0 em relação ao eixo x) e z.
Coordenadas esféricas
[editar | editar código-fonte]Onde representa a distância à origem, é o ângulo entre a reta que liga o ponto à origem e o eixo z e é o ângulo formado pela projeção da reta que liga o ponto à origem no plano z=0 e o eixo x.
Gradiente na física
[editar | editar código-fonte]O conceito de gradiente na física está fortemente relacionado aos conceitos de campo conservativo e de função potencial, de tal forma que também na matemática se define campo vetorial conservativo.[4]
Na física campos conservativos são campos que conservam a energia do sistema, isto é, campos onde não há dissipação de energia.
A função vetorial é um campo vetorial conservativo se existe uma função escalar , chamada função potencial, tal que: . Sendo assim, dada uma função potencial ou uma função potencial do tipo , basta calcular o gradiente para encontrar o campo vetorial conservativo associado a .
Como é uma função de x, y, z então:
Se é uma função implícita de x, y, z através de , ou seja, é necessário usar a regra da cadeia para calcular o respectivo gradiente. Potenciais deste tipo são chamados de potenciais centrais.
Cálculo do gradiente de potenciais centrais
[editar | editar código-fonte]Muitos modelos de potenciais físicos são centrais, sendo assim de grande importância saber como realizar o cálculo deste tipo.
Através da regra da cadeia é possível ver que:
Levando em conta que tem-se que:
Igualmente para as outras variáveis do gradiente:
- e ;
Assim, com a soma das três derivadas, temos que :
Esta última fórmula é a preferencial para quando se tem potenciais centrais, pois ela nos fornece o campo gradiente com apenas uma derivação.
Aplicabilidade em campos escalares
[editar | editar código-fonte]Há três leis empíricas conhecidas como Lei de Fick, Lei de Fourier e Lei de Ohm ás quais são expressas em termos de campos gradientes. A leis citadas regem os chamados "fenômenos de transporte" da Física. Sendo que a Lei de Fick rege o transporte de massa, a Lei de Fourier o do calor e a Lei de Ohm o de cargo.[4]
São expressas como:
Ao observar percebe-se que as três leis relacionam um campo vetorial com o gradiente de um campo escalar.
A (1) é a Lei de Fick que rege a difusão de substâncias em meios contínuos. A função vetorial indicada por é chamada de densidade do fluido. é um vetor na direção do escoamento e de módulo igual à quantidade de substâncias que atravessam uma unidade de área normal à direção do escoamento, na unidade de tempo.
Definição matemática:
, em que é o campo escalar que descreve a densidade do fluido, o campo vetorial que representa a velocidade do fluido. A constante D é chamada de constante de difusão e depende do meio.
A (2) expressão é chamada de Lei de Fourier e rege a condução térmica. A função vetorial indicada por é chamada densidade de corrente de calor.
Definição matemática:
, onde Q é a quantidade de calor, V o volume e a velocidade de escoamento do calor. Sendo todas grandezas em função das coordenadas espaciais e e do tempo. A constante é a condutividade térmica do meio.
A (3) expressão traduz a Lei de Ohm, sendo a densidade de corrente elétrica, a condutividade elétrica e o potencial elétrico. A definição da função vetorial é análoga à definição de densidade de corrente usada na Lei de Fick, só que aqui ao invés de ter transporte de massa temos transporte de carga.
Sendo estas leis, juntamente com a equação de continuidade, base para deduzir as equações de difusão, do calor e, no caso do escoamento estacionário, a equação de Laplace .
Noção intuitiva de gradiente
[editar | editar código-fonte]O gradiente é o vetor que aponta para onde a grandeza resultante da função tem seu maior crescimento.[5]
Gradientes de tensão
[editar | editar código-fonte]Os gradientes de tensão em redes elétricas são, depois dos transientes, os maiores causadores de danos em circuitos eletro-eletrônicos.
O retorno da energia elétrica numa linha de transmissão longa, após uma interrupção da mesma, faz-se acompanhar por transientes de tensão elevada até à estabilização do circuito. Simultaneamente, manifesta-se na rede um movimento oscilatório de baixa frequência, composto por gradientes positivos e negativos, denominados harmônicos, que fazem elevar e reduzir a tensão, acima e abaixo do seu valor nominal.
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ INCROPERA, Frank (2014). Fundamentos de Transferência de Calor e de Massa. [S.l.]: LTC
- ↑ «Confira este exemplo e faça outros com O Monitor». omonitor.io. Consultado em 19 de março de 2016
- ↑ Anton, Bivens, Davis, Howard. Irl, Stephen (2014). Cálculo Volume II. Porto Alegre: Bookman. pp. 960,961
- ↑ a b c Strauch, Irene. Análise Vetorial em Dez Aulas. [S.l.: s.n.]
- ↑ Pereira, Agnaldo Souza; Oliveira, Cláudio Barros Vitor Jefferson Pereira de (1 de janeiro de 2007). «Cálculo II». Universidade do Estado do Amazonas. Consultado em 11 de dezembro de 2011
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Cálculo, George B. Thomas, (décima edição), Volume 2; Addison Wesley/Pearson Education do Brasil, São Paulo, (2002).
- Matemática para pais e filhos, Carol Vordeman, PubliFolha; Barry Lewis/Andrew Jeffrey/Marcus Weeks, São Paulo, (2011).