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O fazer filológico em stricto e lato sensu

2020, Revista Diálogos

Apresentação Desde seu surgimento, a Filologia recebeu diversos direcionamentos teóricometodológicos, sendo definida como apreciação da palavra (a expressão do pensamento), estudo da língua em função daquilo que se entendeu como língua (a palavra escrita), estudo da língua escrita e falada, dentre outras, que foram substituindo o termo Filologia pelo de Linguística, com o propósito de ampliar o escopo do estudo filológico e, ao mesmo tempo, restringir o estudo da língua apenas aos elementos sistêmicos (HOUAISS, 1997). Diante desses direcionamentos, é um verdadeiro desafio definir Filologia, ciência da qual se originaram tantas outras: etimologia, gramática, crítica literária, edição de texto, ecdótica etc. Não é sem razão que a Filologia é chamada de ciência tronco, da qual se ramificaram vários outros campos de estudo da linguagem. Existe, porém, um consenso de que só se faz análise filológica com a presença do texto, como expressão cultural e material. Nesse sentido, a Revista Diálogos propõe este dossiê temático sobre Filologia com o objetivo de que especialistas apresentem suas pesquisas ilustrando o fazer filológico em estrito e lato senso. Para tal, este volume abriga trabalhos nas áreas de crítica textual, edição de texto, tradição discursiva, linguística textual, análise diplomática, dentre outras. Apesar de toda essa diversidade temática, o texto ocupa a centralidade das análises, em sua materialidade física ou linguística. Afinal, é impossível fazer filologia sem a noção de texto e sem olhar para seu contexto sociocultural. Este projeto editorial é ibero-americano, pois abriga pesquisadores do Brasil, da Colômbia (Bogotá) e da Espanha (Madri e Granada). Os participantes brasileiros são das regiões Norte e Nordeste

REVISTA DIÁLOGOS QUALIS B2 (REVDIA) O fazer filológico em stricto e lato sensu Dr. Expedito Ximenes (UECE) Dr. Eliabe Procópio (UFRR) (org.) Apresentação Desde seu surgimento, a Filologia recebeu diversos direcionamentos teóricometodológicos, sendo definida como apreciação da palavra (a expressão do pensamento), estudo da língua em função daquilo que se entendeu como língua (a palavra escrita), estudo da língua escrita e falada, dentre outras, que foram substituindo o termo Filologia pelo de Linguística, com o propósito de ampliar o escopo do estudo filológico e, ao mesmo tempo, restringir o estudo da língua apenas aos elementos sistêmicos (HOUAISS, 1997). Diante desses direcionamentos, é um verdadeiro desafio definir Filologia, ciência da qual se originaram tantas outras: etimologia, gramática, crítica literária, edição de texto, ecdótica etc. Não é sem razão que a Filologia é chamada de ciência tronco, da qual se ramificaram vários outros campos de estudo da linguagem. Existe, porém, um consenso de que só se faz análise filológica com a presença do texto, como expressão cultural e material. Nesse sentido, a Revista Diálogos propõe este dossiê temático sobre Filologia com o objetivo de que especialistas apresentem suas pesquisas ilustrando o fazer filológico em estrito e lato senso. Para tal, este volume abriga trabalhos nas áreas de crítica textual, edição de texto, tradição discursiva, linguística textual, análise diplomática, dentre outras. Apesar de toda essa diversidade temática, o texto ocupa a centralidade das análises, em sua materialidade física ou linguística. Afinal, é impossível fazer filologia sem a noção de texto e sem olhar para seu contexto sociocultural. Este projeto editorial é ibero-americano, pois abriga pesquisadores do Brasil, da Colômbia (Bogotá) e da Espanha (Madri e Granada). Os participantes brasileiros são das regiões Norte e Nordeste (Ceará, Maranhão, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Roraima e Sergipe). Todos os autores foram convidados por suas qualidades acadêmicas e contribuições científicas para os estudos filológicos. Adiante é apresentada uma síntese breve de cada artigo, cujo propósito é orientar a leitura do público. A sequência de apresentação é a mesma do sumário e segue uma ordem alfabética. Cleber Ataíde é professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE-Serra Talhada) e autor do artigo intitulado “A constituição de corpora sóciohistóricos do português brasileiro: edições de cartas pessoais e o modelo de Tradição Discursiva”, que aborda a edição de textos produzidos por pessoas com pouca habilidade de escrita e analisa fenômenos da língua com base na teoria das tradições discursivas. Seu projeto se integra ao grupo Para a História do Português Brasileiro (PHPB), que lida com fontes históricas de vários estados brasileiros, visando à reconstituição da língua portuguesa do Brasil, partindo da edição de textos produzidos por vários setores da população. Expedito Eloísio Ximenes é professor efetivo da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e autor do artigo intitulado “Uma Filologia Latu Senso: Relatos de Pesquisas no Ceará”, que apresenta um panorama histórico do ensino de Filologia nos Cursos de Letras do Ceará e um relato dos trabalhos de mestrado e doutorado, desenvolvidos pelos membros do grupo pesquisa Práticas de Edição de Textos do Estado do Ceará-PRAETECE. O autor ainda diferencia o fazer filológico em estrito e lato senso, para assim situar as pesquisas do grupo PRAETECE. Jorge Luis Queiroz Carvalho é professor da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN-Mossoró) e Áurea Zavam é professora da Universidade Federal do Ceará (UFC-Fortaleza), e são autores do artigo intitulado “O percurso sócio-histórico do gênero resenha acadêmica”, que discute a mudança do gênero acadêmico, entre o período de 1953 a 2015, considerando seu contexto sóciohistórico de produção e elegendo a ambiência como categoria de análise linguística. Este trabalho amplia o campo filológico de atuação, fazendo interface com a linguística. Katharine Soares é professora do Instituto Federal do Maranhão (IFMABacabal) e autora do artigo intitulado “A estrutura de testamentos do século XVIII da Capitania do Ceará”, que descreve a organização textual do gênero Testamento. Para isso, a autora analisa elementos diplomáticos e filológicos, enfatizando a origem, a estrutura e as características paleográficas e codicológicas do Testamento. A análise é feita com base em 5 documentos da Vila do Aracati, Estado do Ceará. Luis Pablo Núñez é professor da Universidade de Granada e autor do artigo intitulado “La recopilación de informaciones lingüísticas en las expediciones científicas del siglo XVIII y el método filológico”, que discute os métodos de descrição linguística adotados pelas expedições científicas europeias frente às línguas nativas da América e do Pacífico. Para sua discussão, o autor exemplifica com (i) as produções dos missionários (linguistas) que propuseram sistematizações para línguas ameríndias, nos séculos XVI e XVII, e com (ii) as experiências de documentação linguística realizada pelas expedições científicas, no século XVIII. Luiz Eleildo Pereira Alves é professor da Universidade Estadual do Ceará (UECE-Fortaleza), doutorando do Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da mesma instituição (POSLA-UECE), e autor do artigo intitulado “A Teoria da Acessibilidade e suas implicações para a leitura do texto antigo”, que discute acerca da interface entre Filologia Textual e Linguística Textual, tomando a referenciação como categoria de análise da linguística do texto que possibilita uma leitura mais completa e eficaz dos sentidos dos textos antigos editados por meio do método filológico. Mariano Quirós é pesquisador titular de Filologia e Língua Espanhola, do Consejo Superior de Investigaciones Científicas (CSIC-Madri), e autor do artigo intitulado “El Libro de agricultura de Gabriel Alonso de Herrera: notas críticas a propósito de sus cuatro primeras ediciones”, que apresenta uma panorama crítico de quatro (das seis) versões da obra Agricultura Geral, uma produção de Gabriel Alonso, no ano de 1513, e um tratado sobre agricultura com informações compiladas de diversos autores de sua época. A edição e o estudo dessa obra ultrapassam o âmbito da língua espanhola, visto que ela é a primeira obra sobre geoponia (agricultura ou cultivo da terra) em uma língua românica. Néstor Fabián Ruiz Vásquez é professor e pesquisador do Instituto Caro y Cuervo (ICC-Bogotá) e autor do artigo intitulado “Permanencia de <ç> y usos de <c> y <z> en un corpus de la Nueva Granada, siglo XVII”, que analisa as tendências grafemáticas da fricativa dental (ou interdental) desvozeada e descreve os contextos da variação gráfica desse fonema. Para tal, o autor analisa 15 processos judiciais, que datam entre os anos de 1601 a 1697 e fazem parte do corpus ‘Documentos para la historia lingüística de Colombia’. Sandro Marcío Drumond Alves Marengo é professor da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e coordenador do projeto nacional Para a História do Português Brasileiro (PHPB). Natália Larizza Sanches de Souza é mestre em Estudos Linguísticos do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFS. Os dois são autores do artigo intitulado “Edição semidiplomática do interrogatório de um acusado de defloramento (Aracaju, 1876)”, que apresenta e discute um relato do caso sobre questões de violência contra a mulher. A metodologia do artigo inclui a edição semidiplomática do tipo textual. É um trabalho, portanto, que abrange a edição filológica e o estudo histórico-social do texto. Os organizadores.