Dossiê:
Patrimônio Histórico
Ética, Capitalismo e Arqueologia Pública no Brasil
Pedro Paulo A. FUNARI•
Erika M. Robrahn-GONZÁLEZ••
Resumo: O artigo trata da Arqueologia Pública como atividade
científica e experiência prática. Começa por discutir os aspectos
teóricos relativos à Arqueologia Pública no Brasil para, em
seguida, apresentar um estudo de caso. Conclui-se por enfatizar
as possibilidades abertas para uma disciplina crítica e
socialmente engajada.
Palavras-chave: Arqueologia Pública;
Abordagem política do passado.
Pesquisa
engajada;
Introdução
A Arqueologia, nas últimas décadas, tem-se afastado da
compreensão positivista e processual que faz da sociedade e da
própria disciplina. O objetivo de conhecer o passado "como
realmente era”, ou was es eingentlich gewesen war, para usar as
palavras de Leopold von Ranke (em Funari 2003a:12) revelou-se
demasiado ambicioso e a disciplina voltou sua atenção para a
ética e a política. Não é por acaso que este movimento
•
Professor Titular de História Antiga – Departamento de História –
Coordenador-Associado do Núcleo de Estudos Estratégicos
(NEE/UNICAMP) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas –
UNICAMP – 13081-970 – Campinas – SP – Brasil. E-mail:
ppfunari@uol.com.br
••
Livre-docente pela Universidade de São Paulo – USP – Pesquisadora
do Núcleo de Estudos Estratégicos (NEE/UNICAMP) – Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas – UNICAMP – 13081-970 – Campinas – SP
– Brasil. E-mail: arqueo@terra.com.br
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PEDRO PAULO A. FUNARI E ÉRIKA M. ROBRAHN-GONZÁLEZ
coincidiu com a globalização, introduzida como um novo slogan
para descrever o capitalismo. Desde o início, a globalização
surgiu tanto como uma oportunidade como uma ameaça à
natureza e à sociedade. Karl Marx (1973:74) já mencionava as
poderosas forças do capitalismo:
The discovery of America, the rounding of the Cape, opened up
fresh ground for the rising bourgeoisie. The East-Indian and
Chinese markets, the colonization of America, trade with the
colonies, the increase in the means of exchange and in
commodities, generally, gave to commerce, to navigation, to
industry, an impulse never before known, and thereby, to the
revolutionary element in the tottering feudal society, a rapid
development.
O continente americano esteve, assim, a partir do início da
era moderna, no centro da expansão capitalista (Orser, 2004). No
entanto, foi só com a revolução digital que o capitalismo se
espalhou para a vida cotidiana das pessoas e nas áreas mais
remotas. Os problemas decorrentes desta situação são variados,
o que não preocupou apenas os críticos de tal sistema
econômico, mas também aqueles que o consideram inevitável.
Joseph Stiglitz (2002), um famoso economista, ganhador do
Prêmio Nobel e ex-conselheiro do Presidente Bill Clinton,
declarou:
I believe that globalization – the removal of barriers to free trade
and the closer integration of national economies – can be a force
for good and that it has the potential to enrich everyone in the
world, particularly the poor. But I also believe that if this is to be
the case, the way globalization has been managed, including the
international trade agreements that have played such a large role
in removing those barriers and the policies that have been
imposed on developing countries in the process of globalization,
need to be radically rethought.
O capitalismo tem ameaçado a diversidade tanto da
natureza quanto da cultura. A Arqueologia está diretamente
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ÉTICA, CAPITALISMO E ARQUEOLOGIA PÚBLICA NO BRASIL
relacionada com o poder esmagador do capital para proteger ou
destruir o registro arqueológico. Neste artigo, iremos introduzir o
leitor para o Brasil e sua Arqueologia e, em seguida, apresentar
exemplos de como enfrentar seus desafios. O capitalismo
regulado pela legislação do patrimônio tem produzido novas
oportunidades de trabalho para o arqueológico, e as questões
éticas são particularmente importantes neste contexto.
A Sociedade Brasileira e a Arqueologia em Perspectiva
Histórica
A Arqueologia e o capitalismo no Brasil devem ser
entendidos em seu contexto histórico específico. O Brasil, como
estado-nação, sempre foi associado ao capitalismo, desde a
chegada do colonizador português, no século XV. No entanto,
tem sido também caracterizado por traços patriarcais, e mesmo
feudais, tanto que uma compreensão da gestão dos recursos
arqueológicos deve ser analisada dentro do contexto de sua
complexidade geográfica e de seu desenvolvimento histórico. O
Brasil é um país de grande extensão (8.511.965 km2), sua costa
atlântica chega a 7.408 km. Quase na totalidade, apresenta um
clima semi-tropical ou tropical. Na região norte, a densa floresta
da Bacia Amazônica recobre metade do país; na região nordeste,
tem-se o ambiente semi-árido; uma grande área de cerrado
estende-se do centro-oeste para a área ao sul e uma vegetação
semi-tropical estende-se do Estado de São Paulo até o sul dos
Pampas, no Rio Grande do Sul.
O início da pesquisa arqueológica acadêmica no Brasil
(1950-1964) coincidiu com o período mais longo da democracia
(1945-1964). O humanista Paulo Duarte foi grande responsável
por isso. Por conta de sua amizade com Paul Rivet, diretor do
Musée de l'Homme, em Paris/França, Duarte criou a Comissão
de Pré-história na Universidade de São Paulo, em 1952. Lutou
pela proteção jurídica da herança brasileira e, como resultado de
seu esforço, o Congresso Brasileiro promulgou uma legislação
sobre o tema (Projeto de Lei 3537/57, aprovado como Lei 3924,
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em 1961) protegendo os sítios arqueológicos. Até hoje ainda é a
única lei federal explícita sobre a proteção ao patrimônio
arqueológico.
O período militar (1964-1985) alterou essa situação. Os
americanos Clifford Evans e Betty Meggers implantaram o
Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas, conhecido pela
sigla PRONAPA. O Programa foi patrocinado pelo Smithsonian
Institution de Washington e por instituições brasileiras, como o
Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq). No período entre 1965
e 1971, o PRONAPA treinou arqueólogos brasileiros e realizou
levantamentos e escavações em todo o país, com alguns
resultados publicados. As novas autoridades utilizaram a
suposta falta de verbas para minar o projeto acadêmico de
arqueologia, tal como proposto por Duarte. Ele foi expulso da
Universidade de São Paulo em 1969 e o Instituto de Pré-história,
que criou, foi sujeito a restrições. A Arqueologia sofreu então
forte pressão, como conseqüência de tendências autoritárias no
interior da profissão. Contudo, a democracia (a partir de 1985)
favoreceu o florescimento da arqueologia e essa liberdade levou
ao desenvolvimento de uma variedade de novas atividades junto
ao patrimônio arqueológico. Livros interpretativos foram
publicados, bem como um maior número de artigos em revistas
acadêmicas, pela primeira vez não só no próprio país, como
também no exterior.
Capitalismo e Patrimônio Arqueológico
O patrimônio arqueológico tem sido objeto de vários
projetos de lei, o primeiro e mais abrangente deles em 1936, sob
iniciativa do líder intelectual Mário de Andrade. Voltava-se tanto
aos recursos etnológicos quanto arqueológicos, especificamente
artefatos, monumentos (tais como indústrias cerâmicas, líticas,
cemitérios, sambaquis, arte rupestre), paisagens (rios, fauna,
grutas e até mesmo rotas e trilhas tradicionais) e folclore. Em
janeiro de 1937, foi criada uma instituição brasileira de
patrimônio cultural, o "Serviço Histórico e Artístico Nacional"
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ÉTICA, CAPITALISMO E ARQUEOLOGIA PÚBLICA NO BRASIL
(SPHAN), com a finalidade de promover, preservar e tornar
público este patrimônio. O projeto de lei 511/36, inicialmente
proposto por Mário de Andrade, estava em discussão no
Congresso em novembro de 1937, quando um golpe militar
fechou o parlamento. No mesmo mês, o Presidente Getúlio
Vargas, agora como ditador, publicou o projeto de Lei como um
decreto, o "Decreto-Lei n. 25/37”, que ainda está em vigor. Um
novo código penal também foi emitido em 1940, pela primeira
vez punindo a destruição de bens culturais, incluindo os
arqueológicos. Também a partir de 1940, o órgão brasileiro de
patrimônio criou um registro dos sítios protegidos e de coleções
arqueológicas. Em 1948, no Estado do Paraná, foi aprovada uma
lei protegendo os assentamentos espanhóis e jesuítas com uma
área envolvente de 100 hectares, levando ao posterior
estabelecimento dos parques de Vila Rica, Santo Inácio e Ciudad
Real. Vários juízes e outros funcionários também tentaram
proteger sítios sambaqui em diferentes regiões do país.
A Comissão de Pré-história, criada em 1952 por Paulo
Duarte com o objetivo de proteger os sítios arqueológicos,
acabou gerando discussões e a aprovação da Lei 3924/61 pelo
Congresso, em 1961. A lei trata dos "monumentos arqueológicos
e pré-históricos" e estabelece sua proteção pelo Estado, não
sendo sujeitos às normas gerais de propriedade privada. Os
sítios arqueológicos, em geral, são considerados monumentos.
Assim, é proibida sua destruição, bem como seu uso econômico.
Os sítios passam a ser considerados bens da União. A lei
também menciona escavações arqueológicas e a necessidade de
criar um registro dos sítios controlados pela instituição
competente (SPHAN). A mesma lei também define a produção
de um relatório arqueológico e os cuidados necessários à guarda
dos acervos gerados com as pesquisas.
A restauração do regime civil em 1985 conduziu a uma
crescente atividade de assembléias e câmaras municipais, livres
para legislar sobre um vasto leque de assuntos, incluindo a
gestão do patrimônio cultural. Vários estados introduziram
legislações de proteção aos sítios arqueológicos e instituíram
registros de monumentos e coleções arqueológicas. Este tem
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sido particularmente o caso dos estados com forte atividade
arqueológica, como São Paulo e Rio Grande do Sul. Conselhos
municipais também introduziram legislações sobre o assunto, e
várias administrações municipais criaram instituições voltadas
ao patrimônio cultural. A Arqueologia urbana foi sendo
desenvolvida e tem havido grande interesse em seus bens
arqueológicos. O novo currículo da escola primária, introduzido
na década de 1990, enfatizou a importância da aprendizagem no
contexto local, de maneira que a cidade passou a ser o ponto de
partida para a compreensão da vida social. Deste modo, a
arqueologia pode desempenhar um papel especial, permitindo
aos alunos conhecer as sociedades indígenas que habitaram sua
cidade em tempos pré-históricos. Ademais, vestígios materiais
do período histórico também têm sido utilizados para mostrar
que a imagem dada por documentos é tendenciosa e que negros,
índios, mestiços, imigrantes, migrantes e comunidades em geral
costumam ser sub-representadas nos documentos oficiais, cujas
evidências materiais têm sido agora recuperadas pela
arqueologia. O material didático de escolas primárias está
também introduzindo as evidências arqueológicas a fim de dar
às crianças uma visão mais complexa do passado, permitindolhes melhor compreender os atuais contextos e contradições da
sociedade.
Capitalismo, Arqueologia e Participação Pública
A revolução tecnológica das últimas duas décadas
conduziu a uma enorme disseminação de informações
arqueológicas e o Brasil foi muito afetado por este processo.
Graças à promulgação de legislações patrimoniais nas
instâncias
federal,
estadual
e
municipal,
pesquisas
arqueológicas têm sido realizadas por todo o país. A principal
questo ética, porém, está relacionada à inclusão do público na
prática arqueológica e em seu discurso. Entendemos o público
não apenas como os grupos locais, as comunidades étnicas e os
alunos, mas também a sociedade em geral que lê revistas e
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ÉTICA, CAPITALISMO E ARQUEOLOGIA PÚBLICA NO BRASIL
desfruta de programas sobre ciência popular no rádio e na
televisão. A inclusão deste procedimento ético ainda se inicia no
Brasil, uma vez que a maior parte dos instrumentos jurídicos
existentes se refere a procedimentos burocráticos, ao invés da
divulgação do conhecimento e interação entre os arqueólogos e
a comunidade.
Atualmente é bem aceito que a arqueologia e a educação
são indissociáveis, e que o passado é muitas vezes representado
como um espelho dos grupos dominantes em uma determinada
sociedade. Tanto educação quanto arqueologia podem lidar com
a interpretação do presente e do passado para forjar identidades
úteis para as pessoas no poder, destarte, arqueólogos e
educadores têm sido promotores ativos de abordagens críticas.
Assim, a arqueologia é capaz de dar voz às "maiorias silenciosas"
que estão representadas nos registros materiais, à luz de seus
próprios interesses e perspectivas. A arqueologia e a educação
interagem especialmente nos museus, salas de aula e livros
didáticos.
Os Desafios do Capitalismo para a Arqueologia Brasileira
O capitalismo provocou uma prática arqueológica ética no
Brasil, assim como em outros locais, por diversos motivos. Em
primeiro lugar, e acima de tudo, a ganância capitalista está no
centro da destruição natural e cultural em grande escala. Na
floresta amazônica a destruição dos recursos naturais é um dos
principais desafios, e o avanço do capitalismo afeta igualmente
as comunidades tradicionais. Existem tendências similares do
capitalismo em outros lugares do planeta, mas a especificidade
da floresta tropical torna esta ameaça especial, como é
reconhecido tanto pelo governo brasileiro como por várias
instituições internacionais.
Arqueólogos enfrentam um dilema ético, no entanto. A
legislação patrimonial, promulgada como resultado da luta
democrática, exige que todos os projetos de desenvolvimento
potencialmente impactantes financiem pesquisas arqueológicas,
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incluindo ações de resgate. Mesmo que a lei não seja executada
em todos os casos, devido aos benefícios a curto prazo para as
empresas capitalistas, existem vários projetos em que
arqueólogos foram contratados. Por outro lado, em um país
pobre, os arqueólogos enfrentam uma tarefa difícil para
sobreviver, como resultado, as empresas capitalistas podem
contar com a contratação de profissionais que sofrem pressão
para assinar relatórios indicando a ausência de vestígios
arqueológicos na área (Funari 2001). Assim, há abundância de
oportunidades para um conluio entre os arqueólogos e os
interesses do capitalismo.
As condições de emprego para os arqueólogos dentro do
sistema capitalista são, portanto, absolutamente inadequadas.
Universidades públicas, museus e instituições de pesquisa
empregam um número de arqueólogos, mas os salários não são
animadores, mesmo nas mais prestigiadas instituições. O
desenvolvimento de empresas arqueológicas privadas, neste
contexto, é uma bênção. Por um lado, costumam pagar
adequadamente aos arqueólogos, de modo que há profissionais
interessados em participar do campo e de laboratório. Como as
grandes empresas são solicitadas pelos órgãos de Patrimônio a
produzir relatórios sobre suas atividades, estes são via de regra
honestos e permitem aos arqueólogos obter importantes
experiências. Por outro lado, não há uma política oficial de fazer
respeitar/que organize a publicação de relatórios arqueológicos
e a inclusão de interesses e preocupações da comunidade. Isto
significa que a maior parte dos relatórios permanece inédita e,
portanto, inacessível para outros estudiosos e para as
comunidades e a sociedade em geral. Iniciativas que visam aos
interesses da população ficam ao critério das empresas, e muitas
vezes aquelas que trabalham em colaboração com instituições
públicas desenvolvem programas de Arqueologia Pública
(FUNARI, 2004).
Em uma sociedade muito desigual, como a do Brasil, com
características aristocráticas patriarcais, as elites utilizam a
Arqueologia para fomentar costumes e valores, e são capazes de
controlar as instituições públicas e particulares graças à sua
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ÉTICA, CAPITALISMO E ARQUEOLOGIA PÚBLICA NO BRASIL
posição e lealdade para com regimes ditatoriais. Valores
capitalistas e sutilezas burguesas são saudados e os valores não
capitalistas da sociedade são ignorados, apesar das diferentes
características das identidades sociais envolvidas (FUNARI,
2002). A escravidão e a exploração dos grupos indígenas, entre
outros, são temas negligenciados por elites locais que preferem
considerar a si próprias, desde o apogeu da escravidão no século
XIX, como capitalistas agentes do progresso. Outra
conseqüência para a arqueologia é a importação de modelos
interpretativos externos, adequados para países capitalistas
desenvolvidos, mas distantes da realidade brasileira.
Arqueólogos que se opõem ao capitalismo enfrentam
restrições ao uso da arqueologia para fins emancipatórios.
Existem vários exemplos de projetos (incluindo a investigação
subaquática), cujo objetivo é estudar assuntos tais como
resistência e comércio escravo, identidades locais e herança
indígena brasileira. No entanto, abordagens críticas são
acusadas de serem ideológicas, como se interpretações prócapitalistas fossem neutras (FUNARI, 2003b). Fora da academia,
em movimentos sociais anticapitalistas, a arqueologia está
apenas começando a desempenhar um papel, principalmente
através de seu potencial como contrapeso às perspectivas
conservadoras. Movimentos indígenas e de descendentes de
escravos trabalham em estreita ligação com os arqueólogos a
fim de incentivar os seus contra-interesses da expansão
capitalista. Se compararmos a situação do Brasil com aquela do
mundo capitalista desenvolvido, devemos salientar as
diferenças. Embora contratos em arqueologia sejam monitorados
de perto na maioria dos países ocidentais, no Brasil o estado é
ainda incapaz de controlar totalmente as tentativas capitalistas
e as ações de resgate patrimonial. A diferença mais importante,
porém, talvez esteja no fato de que o capitalismo no Brasil está
profundamente entrelaçado com o ethos aristocrático e com as
tradições, sendo as elites ao mesmo tempo patriarcais e
capitalistas. Comunidades tradicionais, grupos indígenas e
vários outros grupos locais são geralmente apenas parcialmente
afetados pelo capitalismo, e esta é uma diferença enorme com as
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condições no Ocidente. A Arqueologia mercantilista é apenas
parcial no Brasil e isso abre enormes oportunidades para ações
alternativas, em contraste com as tendências do capitalismo
ocidental. Os arqueólogos podem, assim, desempenhar um
papel importante no que se refere a um diálogo com as
perspectivas e tradições não-capitalistas.
Arqueologia Pública e Sustentabilidade Social
No Brasil, assim como em vários outros países, a
arqueologia permaneceu por muito tempo restrita à investigação
acadêmica e/ou ao ensino da disciplina em cursos superiores,
deixando para uma equipe de não arqueólogos (incluindo
caçadores de tesouros, amadores e colecionadores) a missão de
distorcer os vestígios arqueológicos e suas interpretações.
No entanto, nos últimos anos, os arqueólogos brasileiros
começaram a introduzir uma agenda em Arqueologia Pública,
como atividades educativas, e isso inclui uma interação com a
comunidade (incluindo sociedades indígenas) bem como a
proteção e preservação dos recursos arqueológicos. Começaram
assim a assumir sua responsabilidade social em relacionar a
experiência do passado à do presente, e contribuir na promoção
do futuro. Por outro lado, uma vez que no Brasil a Arqueologia
Pública foi principalmente relacionada ao desenvolvimento de
pesquisas de contrato, sua discussão e prática estão associadas
a um objetivo maior: a definição de instrumentos e estratégias
para a sustentabilidade sócio-ambiental num contexto
capitalista.
Desde a conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro, em
1992, "desenvolvimento sustentável" tornou-se importante
palavra-chave para uma retórica política que envolve qualidade
de vida, conservação de recursos naturais e um sentido de
obrigação às futuras gerações. Apesar de a discussão ter sido
inicialmente voltada às ciências naturais e às análises de
crescimento econômico, a questão mais ampla é social, cultural e
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ÉTICA, CAPITALISMO E ARQUEOLOGIA PÚBLICA NO BRASIL
histórica: diz respeito à viabilidade das relações entre sociedade
e natureza ao longo de grandes períodos de tempo (Becker et al
1999:1-6).
Por isso, o discurso sobre sustentabilidade é basicamente
social e ligado a questões como justiça social e regulamentação
política. Os arqueólogos podem contribuir significativamente
para esse processo através do incremento da coesão social,
construindo ligações entre o presente e o passado através da
preservação da história e das tradições e da valorização do
patrimônio cultural (ver Becker e Jahn 1999; de Vries 2003; Little
2002; McManamon 2000). Isto conduz, porém, a questões éticas
relativas, por um lado, a diferenças fundamentais entre os
grupos sociais na compreensão e valorização do passado, e, por
outro lado, no etnocentrismo intelectual que muitas vezes ainda
domina as atitudes dos arqueólogos.
De fato, como definem Smith e Ehrenhard (2002:123), não
temos apenas um público a considerar, mas vários, cada qual
com sua singularidade histórica e sócio-cultural e com seus
próprios interesses nos acontecimentos do passado. Embora a
pergunta "O que deve ser socialmente sustentado?" nunca
encontrará uma resposta unânime, poderemos chegar a um
consenso sobre a efetiva participação da comunidade na
investigação arqueológica, baseada em uma forma não
hierárquica, em que métodos e interpretações convirjam para a
interação (ver Faulkner 2000 para uma experiência de
'arqueologia democrática').
Esta é uma questão particularmente sensível no Brasil, um
país formado não só por uma enorme diversidade de contextos
históricos e culturais locais, mas também por uma estrutura
social estratificada, onde uma grande quantidade da população
não tem acesso a recursos críticos, incluindo a educação. Por
essa razão, a prática recente da arqueologia pública no Brasil é
um desafio estimulante. Apresentamos abaixo um exemplo,
baseado em experiência partilhada na região do Brasil Central,
analisando os desafios que o capitalismo apresenta à
Arqueologia Brasileira dentro de uma perspectiva internacional
mais ampla.
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Educação Pública e Cidadania: uma experiência com uma
comunidade na fronteira Amazônica
O Programa de Pesquisa e Resgate de Patrimônio
Arqueológico, Histórico e Cultural da UHE Peixe-Angical,
empreendimento localizado no médio vale do rio Tocantins, no
limite meridional do ambiente amazônico com a região do
Planalto Central, foi iniciado em 20011. O projeto foi executado
por uma equipe de arqueólogos profissionais responsável pelo
trabalho. Financiado por empresa privada, mas plenamente
autônoma na concepção, condução e resultados da pesquisas,
tal como estabelecido por lei, o Programa foi desenvolvido
dentro da abordagem da Arqueologia Pública. Durante os
primeiros três anos, a investigação incidiu no levantamento e
resgate de cerca de 120 sítios localizados na área do futuro lago,
seguindo o calendário de construção. Durante este período,
entretanto, grande atenção foi dada para o conhecimento da
história e tradições culturais da comunidade envolvida,
buscando avaliar estratégias específicas para a realização de
ações em parceria com a comunidade. Assim, foram realizadas
entrevistas e discussões com mais de 300 famílias, momento em
que os pesquisadores buscaram contextualizar as suas próprias
perspectivas históricas e culturais.
No Tocantins, como ocorre em geral no Brasil, a sociedade
nacional foi formada através de uma ruptura entre as ocupações
indígenas que ali se encontravam e o elemento europeu, mais
tarde acrescido pela cultura africana. Este panorama é ainda
agravado pelo fato de várias cidades da região serem muito
recentes (pós 1960), como resultado da abertura da rodovia
Belém-Brasília. Pessoas de diferentes regiões do país para lá se
deslocaram, resultando na formação de uma comunidade
heterogênea sem uma história comum. Isso, no entanto, ofereceu
uma oportunidade para a comunidade criar tradições e traços
novos não capitalistas, tais como os seus variados eventos e
festejos.
Neste contexto o patrimônio arqueológico foi considerado
como elemento contributivo para a reunião dos diferentes
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ÉTICA, CAPITALISMO E ARQUEOLOGIA PÚBLICA NO BRASIL
componentes da comunidade, buscando construir ligações entre
o presente, através de vestígios do passado. Como menciona
McManamon (2002:32), os vestígios materiais auxiliam no
reconhecimento de um passado real, uma ligação entre o antes e
o agora, iluminando o processo da história e da memória.
O valor simbólico dos recursos arqueológicos foi também
salientado, incluindo os cuidados que devem ser tomados em
seu estudo, e no fato de que a natureza não renovável destes
recursos torna claro o insubstituível valor de seus contextos
locacionais. Contrariamente à ideologia capitalista, a paisagem é
interpretada como bem cultural, e não somente como item
monetário. A preservação dos vestígios arqueológicos é
considerada, desta forma, como parte da própria estratégia de
fomento aos valores locais e não-capitalistas.
Entre as diversas atividades realizadas pelo Programa
Arqueológico com as comunidades envolvidas, a 'Semana de
Arqueologia’ merece destaque. Constituiu evento realizado nos
três municípios abrangidos pela UHE Peixe-Angical, envolvendo
o total de 3.782 alunos matriculados nas escolas públicas
estaduais e municipais (incluindo crianças em idade escolar e
jovens e adultos em cursos de alfabetização). A concepção e
organização do evento foi possível através de uma parceria entre
os arqueólogos, a comunidade local e a empresa construtora.
Esta fase envolveu seis meses de trabalho, incluindo a definição
das expectativas da comunidade, as alternativas de ação e os
eventos da 'Semana de Arqueologia’ em si. Graças à perspectiva
pública do Programa Arqueológico, a comunidade desempenhou
um papel fundamental nestas atividades. A diversidade interna
da sociedade envolvida, aliada às suas estratégias sociais não
capitalistas, foram fortemente considerados. Ceramistas locais
foram integradas em oficinas de trabalho a fim de expor seus
conhecimentos, técnicas e simbolismos na fabricação de
utensílios e outros objetos.
A tradição é aqui entendida como parte do patrimônio
coletivo, como resultado da criação coletiva. Assim, é anticapitalista em essência, uma vez que tradição se refere a
objetivos e aspirações coletivas, e não a práticas individuais
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capitalistas (Funari e Pelegrini 2006). O trabalho de campo
arqueológico, enquanto prática coletiva, constitui um catalisador
no entendimento de que os estilos de vida comunitários são
importantes para a ciência, em oposição à ideologia capitalista
popular, que realça o indivíduo.
Como uma das atividades preparatórias, foi realizado um
curso de capacitação em Arqueologia e Educação Pública
incluindo todos os professores da rede de ensino dos municípios
citados (atingindo 120 profissionais). Em paralelo, foi feita
doação de um conjunto de livros para cada uma das escolas,
sobre temas de Arqueologia Brasileira e suas abordagens
críticas, visando fomentar a continuidade dos estudos e
reflexões. Ao final do curso, foi entregue um certificado de
participação aos professores, assinado pelo Núcleo de Estudos
Estratégicos em Arqueologia Pública da Universidade de
Campinas (NEE/UNICAMP), documento válido para sua
pontuação profissional. Todos os professores participaram e
contribuíram ativamente das reuniões preparatórias e das
atividades durante a ‘Semana de Arqueologia’. Quinze
arqueólogos atuaram conjuntamente como professores,
incluindo ainda educadores, artesãos locais e outros para
produzir uma semana de atividades educativas e avaliações
críticas. Dentre os arqueólogos, contou-se com profissionais
seniors na qualidade de responsáveis acadêmicos, sendo os
demais formados por graduados ou estudantes licenciados. O
objetivo maior foi contribuir com o fortalecimento das
identidades locais, habilitando-os na luta para defesa de seus
interesses, valores e percepções de mundo tradicionais e nãocapitalistas.
Aulas expositivas, desenhos, exposições, poemas, passeios
na zona histórica dos centros urbanos, danças e brincadeiras
foram desenvolvidos. Sítios arqueológicos utilizando réplicas de
peças foram criados em cada uma das escolas, o que permitiu
que os alunos experimentassem um pouco da rotina diária de
investigação. Após uma semana de intensas atividades, a
comunidade realizou uma festa de encerramento, com
apresentações de danças tradicionais que há anos deixaram de
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HISTÓRIA, São Paulo, 27 (2): 2008
ÉTICA, CAPITALISMO E ARQUEOLOGIA PÚBLICA NO BRASIL
ser praticadas: pessoas redescobrindo roupas festivas,
recordando canções e re-congregando grupos da melhor idade.
A festa foi organizada pela própria comunidade, constituindo
uma maneira de reforçar seu simbolismo tradicional e popular,
tão rapidamente removido pelas práticas capitalistas globais.
Para grande satisfação da equipe a ‘Semana de
Arqueologia’ continua tendo repercussão sobre as atividades
cotidianas da cidade, anos após sua execução. As escolas,
juntamente com os alunos, aplicam atividades de arqueologia e
patrimônio histórico/cultural em diferentes disciplinas como a
escrita, matemática, investigação histórica, a arte e outros. Os
professores expõem a experiência para escolas de outras
cidades, que solicitam e igualmente recebem kits com materiais
de trabalho. A fabricação de vasilhas cerâmicas na cidade, que
antes era restrita a apenas uma mulher, têm agora novas
aprendizes.
A experiência de cidadania, baseada na livre expressão da
comunidade, em sua diversidade e voltada a políticas de
preservação, constitui o elemento básico deste projeto. Assim, a
arqueologia pode desempenhar um importante papel na
promoção das preocupações do povo e das suas tradições e
ações, também quando se trabalha com empresas privadas. O
verdadeiro desafio é difundir esta abordagem crítica e promover
ações eticamente comprometidas.
Duas outras observações devem ser finalmente aqui
apresentadas. Em primeiro lugar, ainda é uma exceção no Brasil
incluir abordagens públicas críticas nos programas de pesquisa,
daí a sua discussão neste artigo. Em segundo lugar, este caso e
sua singularidade destacam as dificuldades e limitações da
abordagem anticapitalista, sendo muito mais fácil desenvolver
os assim chamados programas acadêmicos, científicos e
positivistas, quando se está de fato separando a pesquisa e o
debate de patrimônio da sociedade atual e ignorando os
interesses dos cidadãos e das comunidades locais, aos quais de
fato pertence este passado (contra Prous 2006:12).
HISTÓRIA, São Paulo, 27 (2): 2008
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Conclusão
A maior parte dos cientistas sociais concorda que o Brasil é
uma sociedade fortemente patriarcal, onde o clientelismo e as
relações pessoais estão no centro da imensa desigualdade
social. O capitalismo funciona dentro deste quadro tradicional.
CRM (gestão dos recursos culturais), um típico esquema
capitalista criado para lidar com os vestígios arqueológicos, é
aplicado no Brasil dentro deste contexto local e específico. Isto
explica tanto o sucesso de várias empresas arqueológicas
privadas como o fato de os compromissos éticos serem deixados
ao critério de cada empresa individual.
Várias atividades arqueológicas privadas têm sido
criticadas por itens como a ausência de publicações e a falta de
monitoramento público. Isto pode levar a várias questões éticas.
Por um lado, o capitalismo pode levar à destruição de patrimônio
arqueológico, na medida em que os arqueólogos não seguem os
padrões éticos básicos, e as instituições públicas não estão
equipadas para monitorar e vistoriar sua prática. Por outro lado o
capitalismo, regulado e controlado por instituições públicas e
pelo poder judiciário, pode contribuir para uma melhor
compreensão do passado. Iniciativas que incluam a participação
da comunidade são agora cada vez mais freqüentes, e é
crescente a colaboração de instituições estatais e privadas para
fomentar a consciência pública. Mas, ao final de tudo, não
podemos desviar da grande questão ética: quem se beneficia da
pesquisa arqueológica?
Agradecimentos
Viemos agradecer aos seguintes colaboradores: Barbara
Little, Walter Alves Neves, Charles E. Orser Jr. e Anna Curtenius
Roosevelt. Recebemos apoio institucional do Conselho Nacional
de Pesquisas (CNPq), da Fundação à Pesquisa do Estado de São
Paulo (FAPESP), do World Archaeological Congress e da
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ÉTICA, CAPITALISMO E ARQUEOLOGIA PÚBLICA NO BRASIL
Universidade de Campinas, São Paulo, especificamente seu
Núcleo de Estudos Estratégicos (NEE / UNICAMP). O conteúdo
e as idéias apresentadas neste artigo são de nossa própria
autoria e somos os únicos responsáveis por elas.
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Abstract: This paper deals with public archaeology as a scientific
activity as well as practical experience. It starts by discussing
the theoretical issues relating to public archaeology in Brazil, and
then goes on to discuss a case study. It concludes by
emphasizing the possibilities open toward a critical and socially
employed discipline.
Keywords: Public archaeology; Employed research; Political
approach to the past.
NOTAS
1
O Programa foi coordenado pelos Profs. Drs. Erika M. RobrahnGonzález e Paulo De Blasis (MÃE/USP).
Artigo recebido em 10/2008. Aprovado em 11/2008.
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