A «IDEOLOGIA DE GÉNERO» DA IGREJA CATÓLICA
Carmen Bernabé Ubieta*, Fernanda Henriques** e Teresa Toldy***
A categoria de «género» é, desde o início da sua utilização, polémica. Isto é
verdade tanto no quadro mais diretamente ligado aos ativismos feministas, como
no contexto de ativismos antifeministas. O conlito entre interpretações sobre a
validade ou o caráter nefasto da categoria de «género» é também visível no contexto académico: ela tanto é encarada como uma categoria analítica imprescindível
para os estudos feministas, como é considerada um obstáculo para o desenvolvimento destes. As próprias teóricas do género têm perspetivas diferentes sobre o
sentido e a oportunidade de tal categoria (Butler 1990; Braidotti 2004; Butler et al.
2007; Scott 2010).
Acontece, contudo, que, no im da década de 1990, a expressão ideologia de
género tem sido usada nos discursos da Igreja Católica como sinónimo de degradação da natureza do feminino, nefasta para as mulheres e, de alguma maneira, contrária a um são ponto de vista cristão. Esta visão, explicitada, por exemplo, em
documentos como a «Carta aos bispos da Igreja Católica sobre a colaboração do
homem e da mulher na Igreja e no mundo», da responsabilidade de Joseph Ratzinger, enquanto Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (doravante CDF),
publicada em 2004 (CDF 2004), é demonstrativa, por um lado, de um ataque cego
a um debate cujos contornos parecem não ser, sequer, conhecidos (não existe qualquer referência a autoras e autores que escrevem sobre as questões de género),
como, por outro lado, da própria ideologia de género produzida pela Igreja há
milénios.
De facto, o discurso dos documentos oiciais da Igreja Católica é, ele próprio,
revelador de uma posição ideológica de poder face às mulheres – uma perspetiva
construída que reivindica corresponder à «essência da mulher», deinida de acordo
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com um plano transcendente inalterável e prescritivo (Bracke e Paternotte 2016;
Graf 2016; Perintfalvi 2016) que inscreve a subalternidade das mulheres em relação aos homens na própria simbólica da relação entre Deus e os seres humanos,
bem como entre Cristo e a Igreja. A partir do momento em que se estabelece um
paralelo entre Deus iel e o povo de Deus, identiicando simbolicamente este
último com uma mulher iniel, se não mesmo, por vezes, com uma prostituta,
enuncia-se esta assimetria entre os homens (identiicados com Deus) e as mulheres
(identiicadas como «iniéis a Deus») enquanto imagem decorrente de um contexto patriarcal assumido e integrado para «explicar» a relação de Deus (homem,
esposo) com o povo e a Igreja nos seus momentos de inidelidade a Deus.
Ora, a legitimação última desta distinção assimétrica é colocada no próprio
plano de Deus, plano esse inscrito no corpo das mulheres, na sua «capacidade
física de dar a vida» (CDF 2004, número 13). E toda a sociedade (note-se a transposição de argumentos teológicos e teo-biológicos para argumentos de estruturação
da própria sociedade) deverá organizar-se de forma a que as atividades públicas
das mulheres (isto é, o seu trabalho na esfera pública) se coadunem com aquilo que
se considera serem «as exigências da missão da mulher no seio da família» (número
13). Esta adequação, segundo o documento, não deverá ser só «jurídic[a], económic[a] e organizativ[a]», mas também de «mentalidade» e de «cultura» (número 13).
O lugar que, verdadeiramente, é devido às mulheres é privado – é o da família, já
que «é nesta que, em primeiro lugar, se plasma o rosto de um povo; [… que] os seus
membros adquirem os ensinamentos fundamentais» (número 13). Cabe, pois, à
mulher, nesta perspetiva, ser a principal reprodutora (no sentido físico e social) do
sistema que a submete e da ideologia que a suporta, diríamos nós. Mais: cabe à
mulher «deixar-se converter e reconhecer os singulares valores, fortemente eicazes, do amor pelo outro, de que a sua feminilidade é portadora» (número 17).
Esta posição da Igreja Católica já ultrapassou o restrito âmbito religioso e
confessional, uma vez que tem sido veiculada não só nos documentos do Vaticano
ou das Conferências Episcopais de diversos países, mas também por grupos que
izeram da «crítica à ideologia de género» (identiicada como o reconhecimento de
que o género é uma construção social do sexo) uma militância com interferência na
educação.1
Importa, por todas as razões apontadas, mostrar o logro em que a expressão
«ideologia de género» assenta, tanto mais que o tratamento da questão do «género»
tem vindo a adquirir uma relevância cada vez maior no contexto das teologias
feministas de várias religiões, nomeadamente, das religiões monoteístas (por
exemplo, Hussain 2015; Rivera 2015; Rahemtulla 2017).
Tendo como pressuposto que, mesmo nos Estados laicos, as simbologias religiosas desempenham um papel essencial para o estabelecimento de uma represen1
Veja-se, por exemplo, «Do not mess with my kids: No to gender ideology» (https://www.dejusticia.org/en/do-not-mess-with-my-kids-no-to-gender-ideology/) e ainda «What is gender ideology» (https://www.youtube.com/watch?v=3LZUAaSNW2Q).
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tação antropológica simétrica de mulheres e de homens (Toldy 2010; Henriques
2011; Henriques e Toldy 2012; Toldy e Santos 2014), é absolutamente relevante tratar da problemática de género também do ponto de vista dos discursos religiosos.
O presente número da ex aequo pretende, exatamente, debater esta questão e,
de acordo com o respetivo apelo a contributos, pretendia-se reunir um conjunto de
artigos que permitissem uma análise aprofundada do tema, nomeadamente: (1)
esclarecer a expressão «ideologia de género» e desconstruir os seus pressupostos,
(2) constituir um quadro teórico que tratasse de diferentes perspetivas a categoria
do «género», (3) cruzar criticamente as questões de «género» com a posição da
Igreja Católica face à mesma e (4) apresentar criticamente políticas ou iniciativas
existentes atualmente para uma «despolitização das escolas» focada na erradicação da chamada «ideologia de género». O conjunto de artigos agora publicados
trata alguns dos temas que queríamos analisar, mas, infelizmente, não todos.
Foram selecionados seis artigos, cinco em castelhano e um em português do
Brasil, três dos quais se debruçam diretamente sobre as problemáticas desenvolvidas em torno da criação da expressão «ideologia de género», dedicados essencialmente ao espaço espanhol ou da América do Sul, sendo os restantes três menos
diretamente ligados ao tema, mas analisando, igualmente, formas de discriminação com base no género levadas a cabo pela Igreja Católica.
O primeiro texto do dossier, Las falacias discursivas en torno a la ideología de
género, de Maricel Mena-López e Fidel Mauricio Ramírez, como o título aponta,
propõe-se analisar a evolução do conceito «ideologia de género», bem como o seu
impacto, embora circunscrito aos «fundamentalismos religiosos colombianos e
latino-americanos».
Para cumprir os seus objetivos, o texto faz um ponto da situação em relação
ao tema da ideologia de género, mostrando a sua emergência no quadro da resposta do Vaticano aos movimentos gerados pela Conferência Internacional sobre a
População, de 1994, e a Conferência de Pequim, de 1995, e, também, o seu posterior desenvolvimento por setores conservadores da Igreja Católica que desenvolveram uma verdadeira cruzada contra a dita «ideologia de género», através do
agitar dos fantasmas habituais: destruição da família e dos valores que a sustentam, bem como a corrupção da juventude e a ameaça do marxismo. Na sequência,
Mena-López e Ramirez analisam o impacto de todo este movimento na América
Latina, com maior realce para a Colômbia, onde a cruzada contra a «ideologia de
género» se vai entrosar com os interesses económicos e ideológicos instalados e
que se aproveitam do poder social das igrejas para arregimentar adeptos. Por sua
vez, as igrejas, sem qualquer discernimento teórico, deixam-se aliar às forças
sociais conservadoras que, pelo menos no momento, lhes servem para reairmar as
suas velhas posições sobre a assimetria antropológica.
Da leitura do texto, ica a convicção da nebulosa que toda esta temática originou e como a opacidade da situação pode representar um retrocesso em relação ao
modo como, em algumas zonas do globo, pelo menos, aquilo que parecia serem
direitos adquiridos sobre as representações sociais do que é ser mulher pode estar,
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de novo, em risco. Não sem razão, o texto pergunta a determinada altura: «Por todo
lo dicho, la pregunta que nos surge desde la actual coyuntura colombiana es ¿cómo construir paz, si las iglesias cristianas, como principales garantes de la misma, están promoviendo una verdadera guerra discursiva?»
Com o segundo texto, «Ideologia de gênero» e a política de educação no Brasil:
Exclusão e manipulação de um discurso heteronormativo, de Priscila Freire, continuamos no mesmo espaço geográico, agora com incidência no Brasil e no processo
educativo.
O texto explora a polémica em torno da terceira versão da Base Nacional
Comum Curricular, de dezembro de 2017, nomeadamente sobre o tema de género
e orientação sexual, para evidenciar a mesma convergência, ressaltada pelo texto
anterior, entre os setores mais conservadores da sociedade e das igrejas cristãs que
esquecem divergências em nome de uma estratégia de luta contra a temática de
género. A autora procura um quadro mais alargado de compreensão desta cruzada, pelo que o objetivo do artigo «explora como a manipulação do discurso
‘ideologia de gênero’ apresenta um olhar de estranhamento para aquelas e aqueles
que não se ajustam à norma heterossexual voltada para a reprodução e como esse
olhar, também excludente e ideológico, está presente no documento da Base
Nacional Comum Curricular». Nesse contexto, Priscila Freire faz um percurso teórico e histórico para explicitar a sua tese sobre a importância da heteronormatividade do género e de como o processo da sua imposição institucional e simbólica
corresponde a um modo de olhar, de violência e de exclusão, sobre as diferenças
que facilmente são assimiladas a desvios e perversões que põem em risco a segurança dos valores apresentados como iguras do bem ou da verdade. Por outro
lado, a autora vai demonstrar que essa perspetiva ideológica e normalizadora
icou inscrita no documento inal da Base Nacional Comum Curricular, tendo conseguido retirar toda a referência à temática de género e à sexualidade na educação.
La disputa del género en el Estado español desde el análisis del activismo católico, de
Maribel Blázquez-Rodríguez, Mónica Cornejo-Valle e José Ignacio Pichardo-Galán,
é o terceiro texto do dossier, querendo acentuar
cómo hoy en día el género es un concepto político en disputa en nuestra sociedad,
ya no tanto en el interior de la teoría feminista sino entre ciertos grupos contrarios al
reconocimiento de los derechos de las mujeres y del colectivo LGTB.
O seu universo de análise é a sociedade espanhola, que tem incorporado a
perspetiva de género na vida social e desenvolvido políticas de igualdade em diferentes dimensões. Nesse sentido, o texto procura articular três aspetos da questão:
(1) descrever a situação espanhola sobre as temáticas da igualdade e dos direitos
LGBT, apresentando-os como dimensões institucionalmente integradas e politicamente desenvolvidas, (2) mostrar o discurso da «ideologia de género» como reação a esta situação político-social e (3) identiicar a posição de alguns católicos com
um olhar crítico em relação ao dito discurso da «ideologia de género».
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Embora Maribel Blázquez-Rodríguez, Mónica Cornejo-Valle e José Ignacio
Pichardo-Galán assinalem que a partir de 2011, com a tomada de posse do governo
do Partido Popular a palavra género tenha começado a ser eliminada de todos os
documentos oiciais e equivalentes, sendo substituída por mulheres ou igualdade,
é na pastoral da Conferência Episcopal Espanhola, La familia, santuario de la vida y
esperanza de la sociedad, de 2001, que se denuncia o perigo da «ideologia de género»,
que, por um lado, é apresentada como algo importado e não próprio da cultura
espanhola, e, por outro, é acusada de querer impor uma liberdade sexual sem limites, bem como o direito a escolher o modelo de família a adotar e as uniões homossexuais.
O texto refere dois aspetos essenciais desta temática e que os textos anteriores
também tinham posto de manifesto: por um lado, a exploração do termo «ideologia» na expressão «ideologia de género» para acordar no público em geral velhos
medos e velhas recusas aos marxismos, e, por outro, semear aquilo que alguma
sociologia chama «pânico moral», através do fantasma da desordem dos valores
da família e ains.
Os três últimos textos deste dossier, como já se disse, não respondem diretamente ao desaio temático lançado. A sua inclusão nele prende-se com o facto de
eles ilustrarem a amplitude da discriminação sobre as mulheres feita pelo cristianismo, de que o caso da «ideologia de género» é apenas um momento.
Salvando las ánimas. Discursos de Género y religión en las revistas de la Acción
Católica Española, de Sara Martín Gutiérrez e de Gabriela de Lima Grecco, mostra,
realmente, como a Igreja Católica manipulou uma «ideologia de género» assente
numa leitura dogmática dos textos sagrados e erigiu em paradigma natural um
constructo sociocultural – decorrente de interesses muito amplos, nomeadamente,
o direito de propriedade –, como é o caso da designada «família natural», paradigma esse que necessita da aceitação acrítica de que as mulheres são, naturalmente, mães e esposas porque esse é o desígnio divino.
As autoras propõem-se analisar o par «género-religião» a partir de três revistas femininas editadas pela Ação Católica Espanhola, entre 1940-1950, mais especiicamente, «Volad. Revista de las Muchachas Inteligentes, dirigida a las jóvenes
católicas; Para Nosotras. Revista para Obreras, destinada a las trabajadoras; y Ecclesia,
orientada a un público más amplio, a mujeres y hombres católicos.»
O texto assinala duas coisas essenciais, a saber, a associação direta entre a
Igreja Católica e o franquismo, tendo a Igreja assumido o papel do controlo da
difusão dos valores convenientes e, entre eles, a sua conceção de género. Nesse
sentido, «La Iglesia española actuó en dos frentes: por una parte, combatió la subversión
del orden simbólico y, por la otra, colaboró con el Estado mediante el control de la vida de
las personas en el ámbito privado.»
A despeito dos diferentes públicos a que se dirigia, a representação das
mulheres e do feminino veiculada era a da doçura, da submissão e da entrega ao
lar e aos ilhos, contribuindo, decisivamente, para a menorização e a discriminação
real e simbólica das mulheres.
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Também o texto de Andrea Arcuri, Represión sexual y de género en la confesión:
los manuales de confesores de la Edad Moderna (siglos XVI-XVII), procura fazer uma
incursão no passado, agora mais longínquo, pondo de manifesto a clara «ideologia
de género» que o cristianismo praticou ao longo de séculos.
Centrando-se na análise de manuais de confessores dos séculos XVI e XVII, a
autora pretende experimentar a hipótese de que «a literatura confessional, em função do seu valor didático de doutrinação dos sacerdotes, [tenha sido] um instrumento prático para endurecer a condição subordinada das mulheres durante a
Idade Moderna», tendo em vista que o sacramento da penitência foi um instrumento decisivo para a Igreja Católica controlar e padronizar os comportamentos
sociais.
O texto inicia-se, exatamente, com a explicitação da importância da conissão
no quadro do catolicismo, lembrando o seu peso psicológico e acrescentando que
«a raíz del Concilio de Trento, la confesión alcanza una importancia sin precedentes tornándose – junto a la Inquisición – en la punta de lanza de la confesionalización católica».
A importância de conhecer os manuais dos confessores decorre da sua inalidade
na orientação dos sacerdotes no decorrer do sacramento da penitência e, especialmente, na constituição do interrogatório que deveria ser feito a homens e mulheres, evidenciando que nele se manifestava um interesse especíico pelas condutas
sexuais e femininas.
O tipo de informações, conselhos e especiicações que os ditos manuais
patenteiam é de tal modo pormenorizado e invasivo da intimidade pessoal que, a
determinada altura do texto, a autora airma:
Ahora imaginemos el bochorno que sentía la penitente sometida a un interrogatorio
en el que el ministro le preguntaba cuántas veces había pecado contra este precepto; el
estado de la pareja; si tuvo tactos, besos, poluciones (despierta o durmiendo); si cometió actos sodomíticos o «bestiales»; si bailó provocativamente o envió billetes y cartas
con la intención de pecar, si se perfumó con ines lujuriosos, si leyó libros «deshonestos», es decir todo un conjunto de preguntas dirigidas a investigar minuciosamente
sobre las costumbres sexuales de cada feligrés.
Para além desta dimensão invasiva e controladora, o texto chama também a
atenção para a representação das mulheres que esses manuais reletiam, considerando-a a causa do pecado da luxúria por ser uma igura tentadora e de quem era
necessário precaver-se e fugir. Por outro lado, o contexto de análise do comportamento das mulheres estava totalmente subordinado aos homens e coninado à
família, à maternidade ou à viuvez. Neste quadro, era reconhecido aos maridos o
«direito de correção» das suas mulheres, ou seja, a possibilidade de lhes inligir
castigos com inalidade pedagógica, para que elas «tengan reverencia y temor a sus
maridos».
Das fontes consultadas, a autora salienta a obra de Bartolomeu de Medina
como a mais rica em pormenores e também a mais misógina, dando conta eviex æquo, n.º 37, 2018, pp. 9-17. DOI: https://doi.org/10.22355/exaequo.2018.37.01
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dente daquilo que designámos desde o início como a «ideologia de género» que a
Igreja Católica difundiu desde há séculos.
Por sua vez, o texto que escolhemos para fechar este dossier, Intimidad humana:
ciencias de la vida, neuroteología fundamental y ciberfeminismo, de Montserrat
Escribano-Cárcel, procura realizar um adentramento no futuro, centrando-se na
investigação da neuroteologia fundamental, que, como diz a autora, «es un espacio
relexivo donde se cruzan las neurociencias, los estudios religiosos, las tecnologías y las
teologías». De uma maneira muito clara, Montserrat Escribano-Cárcel explicita as
três inalidades centrais do seu artigo, que são, (1) por um lado, chamar a atenção
para a necessidade de se pensar teologicamente a partir dos caminhos abertos pela
invasão das tecnologias da informação e da comunicação que revolucionam a
forma tradicional de nos vermos, de vermos o mundo e de nos relacionarmos
humanamente, e, portanto, de nos situarmos perante qualquer tipo de transcendência; (2) por outro lado, orientar esse pensar para o diálogo com as neurociências de modo a evidenciar que, embora com a novidade do preixo «neuro», o seu
paradigma continua a ser a clássica perspetiva masculinista que toma os modelos
tradicionais como padrão, além de se desenvolverem, a outros níveis, em quadros
paradigmáticos convencionais, como é o caso do dualismo corpo-mente e da
exclusão dos contextos culturais, sociológicos e históricos no campo da investigação; (3) inalmente, constituir uma instância crítica em relação ao imperialismo das
neurociências que pode materializar-se numa tecnocracia em relação ao humano e
ao seu viver em comum, determinando decisões políticas perniciosas não só para
as mulheres mas também para grupos mais vulneráveis.
Por isso, a autora insiste em que a necessidade de um pensamento neuroteológico fundamental não tem nada que ver com uma resposta terminológica, mas,
sim, com a criação de uma racionalidade teológica crítica que enfrente e questione
os marcos epistemológicos fundamentais manejados pelas neurociências e pelas
biotecnologias, constituindo alternativas de resposta e de compreensão. Ou seja, o
texto mostra que perante a mudança qualitativa que vivemos hoje, tanto pessoal
como coletivamente, há que construir uma racionalidade teológica efetivamente
nova e capaz de responder aos atuais desaios abertos pelas ruturas cientíicas e
tecnológicas.
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Carmen Bernabé Ubieta. Profesora Titular de Nuevo Testamento en la Universidad
Deusto, donde enseña desde 1990. Doctora en Teología. Estudios de especialización
en Jerusalén y en USA. Directora de la Asociación Bíblica Española. Ha sido Presidenta de la Asociación de Teólogas Españolas (2010-16). Directora de la colección Aletheia. Perteneció al Consejo de Redacción de Cuadernos Teología Deusto, colección
que dirigió entre 2006-2009. Autora de vários libros y artículos.
Endereço eletrónico: bernabecarmen@gmail.com
Fernanda Henriques. Professora Emérita da Universidade de Évora. Doutorada em
Filosoia. Foi membro do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida. Cofundadora da Associação Portuguesa de Teologias Feministas. Últimas publicações: 2016:
Filosoia e Género. Outras narrativas sobre a tradição ocidental (autora). Marginalidade e
Alternativa. (co-ed.); Feminist Explorations of Paul Ricoeur’s Philosophy, (co-ed.). 2015:
«Philosophie et literature chez Paul Ricoeur» e «Kant – un des ‘proches’ de Paul
Ricoeur». 2013: Études Ricoeuriennes/Ricoeur Studies.
Endereço eletrónico: maria.mariafern@gmail.com
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Teresa Martinho Toldy. Professora Associada com Agregação em Estudos Sociais na
Universidade de Fernando Pessoa (Porto), onde leciona Ética. Doutorada em Teologia
pela Philosophisch-Theologische Hochschule Sankt Georgen (Frankfurt) e pós-doutorada pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, onde é
investigadora e cocoordenadora do POLICREDOS. Presidente da Associação Portuguesa de Teologias Feministas. Com várias obras publicadas na área da religião e dos
estudos feministas.
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