JOSÉ CARLOS NETO
9 789896 917234
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
ISBN: 978-989-691-723-4
JOSÉ CARLOS NETO
A ÚLTIMA VIAGEM
DA BARCA NEGREIRA FRANCESA
MONT FERRAN
THE LAST VOYAGE OF THE FRENCH
SLAVE SHIP MONT FERRAN
LE DERNIER VOYAGE DE LA BARQUE NÉGRIER
FRANÇAISE MONT FERRAN
JOSÉ CARLOS NETO
COORDENAÇÃO
A ÚLTIMA VIAGEM
DA BARCA NEGREIRA FRANCESA
MONT FERRAN
THE LAST VOYAGE OF THE FRENCH
SLAVE SHIP MONT FERRAN
LE DERNIER VOYAGE DE LA BARQUE NÉGRIER
FRANÇAISE MONT FERRAN
FICHA TÉCNICA / SPECIFICATION / SPÉCIFICATIONS TECHNIQUES
INVESTIGAÇÃO E TEXTO / RESERCH AND TEXT / RECHERCHE ET TEXTE:
José Carlos Neto, José Luís Neto & Michael McCarthy
TRADUÇÃO / TRANSLATION / TRADUCTION:
Leonardo Silva, Diogo Silva
REVISÃO / REVIEW / EXAMEN:
Pedro Parreira, Valdeci Purim
DESIGN EXPOSIÇÃO / EXHIBITION / EXPOSITION:
Luís Brum
DESIGN LIVRO / BOOK / LIVRE:
Rita Gomes
CAPA:
Algumas das noventa e cinco crianças resgatadas de um navio negreiro pelo patrulhamento britânco, em 1869. George L.
Sulivan. “Dhow chasing” in Zanzibar waters and on the eastern coast of Africa. London, 1873, p. 180.
IMPRESSÃO E ACABAMENTO / PRINTING AND FINISHING / IMPRESSION ET FINITION:
Várzea da Rainha Impressores, S.A. – Óbidos
PRODUÇÃO / PRODUCTION / PRODUCTION:
Prima Folia – Cooperativa Cultural, CRL
EDIÇÃO / EDITION / ÉDITION:
Prima Folia – Cooperativa Cultural, CRL
DEPÓSITO LEGAL / LEGAL DEPOSIT / DÉPÔT LÉGAL: 438462/18
ISBN / REGISTRATION NUMBER / NUMÉRO D’ENREGISTREMENT: 978-989-691-723-4
Publicação não comercial. Proibida a venda. Imagens de uso livre / Non-commercial publication. Not for sale / Images free
commons / Publication non-commerciale. Pas à vendre. Images d’utilisation gratuite
Projeto realizado ao abrigo do número IV da alínea a) do artigo 2.º, do Decreto Legislativo Regional n.º 9/2014/A de 3 de
julho/ Project carried out under the cultural support of the regional government of the Azores / Projet réalisé sous l’appui culturel
du gouvernement régional des Açores
PREFÁCIO
A exposição “A Ultima Viagem da Barca Negreira francesa Mont Ferran” será apresentada, pela primeira vez, na
ilha de São Jorge. A sua relevância patrimonial, histórica
e arqueológica é importante, não só para o Museu e a sua
comunidade, mas também para Portugal como um todo.
É importante para valorizar a experiência da
comunidade Jorgense ao longo dos tempos, recordando
outras embarcações, de funcionalidade e épocas distintas,
mas que marcaram historicamente toda uma comunidade. Para além disso, a cultura esclavagista é de difícil
observação e de diminutos registos na arqueologia portuguesa, apesar do papel português de outrora na mesma,
ganhando o Mont Ferran relevância arqueológica na
região e a nível nacional.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
|3
A riqueza arqueológica subaquática dos Açores não se
extingue nas “grandes ilhas”, nomeadamente na baía de
Angra do Heroísmo, o triângulo era também propenso
a naufrágios. O canal era especialmente utilizado como
reduto face aos navios da Rota da Prata, pois este esconderijo era o primeiro passo numa abordagem de génio. O
seu registo atual de naufrágios, nomeadamente em São
Jorge, é de número diminuto devido à morfologia do seu
fundo (predominando os rochedos) e à grande profundidade do canal.
A apresentação deste trabalho, quer em catálogo, quer
em exposição, torna-se, deste modo, fundamental para a
questão arqueológica dos naufrágios nos Açores. Temática
que ainda enfrenta problemas quanto à sua compreensão,
especialização e apoio, mas que cada vez mais se afirma no
contexto regional.
Virgínia Neto Reis
Diretora do Museu Francisco Lacerda
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O BARCO FRANCÊS
Há cerca de 50 anos atrás, quando éramos ainda meninos, passando o tempo nas brincadeiras da
infância, inventando a travessia do mar, a subida do
Pico ou a elevação nos ares, utilizávamos como meios
de transporte imaginários, nestas viagens igualmente
imaginárias, umas velhas e estranhas peças de ferro enferrujadas, corcomidas pelo tempo, outras de madeira
cuja função ignorávamos mas que serviam à medida
para os nossos jogos, simulando automóveis, navios ou
aviões.
Habituado à presença de tais peças no rés-do-chão da
casa, soube mais tarde através da avó, terem as mesmas
pertencido a um barco francês naufragado há muitos
anos na baía da Calheta, adquiridas pelo seu bisavô,
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
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o último capitão-mor da Calheta – Miguel António
Silveira e Sousa.
Segundo ela, o ferro depois de fundido servia para fazer pregos, dobradiças, trincos, foices, alviões, machados,
goivas, trinchas, martelos e tudo o mais, necessário para a
vida da casa e para o trabalho nos campos.
As peças de madeira, de boa qualidade, serviam segundo ela, para a manufactura de artefactos e ferramentas de
carpintaria e de janelas. O cobre proveniente da fixação
das tábuas do costado fora há muitos anos vendido.
Esta descrição da avó, em parte efabulada, recheada
de curiosidades, de proezas dos antepassados do tempo
dos reis e com estórias de piratas cheias de suspense, era
acompanhada da exibição de algumas peças militares
antigas, designadamente um bacamarte em bronze, um
porta-voz em cobre e um par de algemas em ferro, ilustrando a sua narrativa e emprestando verosimilhança à
fantasia. Segundo ela, tais peças teriam vindo no barco
francês naufragado.
Mais tarde, com o passar dos anos, este testemunho
verbal da avó começou a ganhar consistência a partir da
leitura das Notas Históricas Padre Manuel Azevedo da
Cunha, onde, em parte, se confirma a informação transmitida oralmente, fazendo crer que estamos perante os
restos da barca francesa Mont Ferran, naufragada na baía
da Calheta, no mês de Maio de 1864.
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Na consciência da importância arqueológica deste
conjunto de peças, foram as mesmas, nos últimos anos,
agrupadas e acauteladas em depósito no Solar dos Noronhas, na esperança de um dia poderem ser estudadas e
expostas.
Finalmente, eis que em Maio deste ano de 2018 a
Direcção Regional da Cultura resolve oferecer ao público a exposição Mont Ferran – a última viagem da barca
negreira francesa, onde é apresentado, em Catálogo, um
interessante estudo historiográfico sobre o tráfico de escravos no atlântico, da autoria de José Carlos Neto, José
Luís Neto e Michael McCarthy.
As peças da Mont Ferran finalmente expostas no Museu Francisco de Lacerda integram a exposição, achando-se igualmente reproduzidas em fotografia, ilustrando o
catálogo.
A quinhentos metros do local do naufrágio, a 154 anos
do mês de Maio de 1864 e desencalhada do esquecimento, inicia a Mont Ferran uma outra viagem, desta vez
pelos mares da História Universal.
Bem haja a todos quantos se empenharam na concretização deste projecto.
Orlando Noronha
Ribeira Seca, S. Jorge, 3 de Março de 2018
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
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ARQUEOLOGIA
SUBAQUÁTICA,
NO ARQUIPÉLAGO
DOS AÇORES
A arqueologia subaquática, no arquipélago dos Açores, iniciou-se na década de 60 do Século XX, mercê da
invenção do escafandro autónomo, que facilitou a liberalização do mergulho, em Angra do Heroísmo, na ilha
Terceira. Dessa década foram recuperados algumas peças
de artilharia, actualmente a integrar a colecção de artilharia do Museu de Angra do Heroísmo. Manuel Baptista
de Lima, o primeiro director da instituição, formado em
História pela Universidade de Coimbra, não foi um arqueólogo mas sim, um apaixonado por história militar, o que
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
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o fez enveredar pelas mais diversas áreas do património,
incluindo, naturalmente, o arqueológico. Em 1972, com
Sydney Wignall, arqueólogo subaquático de origem galesa, iniciaram um projecto de curta duração, caracterizável
como de prospecção subaquática, com vista à detecção
do famoso navio da Royal Navy do período Isabelino,
o Her Majesty Ship Revenge, perdido nas costas da ilha
Terceira, após uma tentativa de acção de corso, em 1593.
Apesar de malogrado o objectivo principal, foi recuperado, ao largo do Monte Brasil, uma peça de artilharia
quinhentista, portuguesa e, no ano seguinte, foi criado,
por despacho conjunto do Ministério da Educação e da
Marinha, a primeira reserva arqueológica subaquática do
país, a baía de Angra do Heroísmo.
Nos finais dos anos 90, houve um novo impulso para
a arqueologia subaquática na região, com o Grupo de
Arqueologia Subaquática da Associação dos Amigos do
Museu de Angra do Heroísmo, associados ao Centro
Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática, do então Instituto Português de Arqueologia e o Institute of
Nautical Archaeology, da Universidade Texas A&M, a
desenvolverem algumas campanhas de prospecção subaquática, maioritariamente centradas na baía de Angra do
Heroísmo, mas que se estenderam também às ilhas do
Faial, Pico, São Jorge e, já no grupo Oriental, a das Flores.
Dentro desse âmbito, em 1999, realizaram-se as primeiras
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escavações subaquáticas, na baía de Angra do Heroísmo,
com a intervenção de minimização de impactos sobre o
património da construção da marina. Aquando do estudo
detectaram-se dois navios, que foram então intervencionados, sendo que um revelou tratar-se de um navio de
provável origem holandesa, de cerca de meados do Século
XVII (Angra C) e o outro, um navio espanhol da Rota
de la Plata, de finais do Século XVI, inícios da centúria
seguinte (Angra D). Em 2000, no âmbito da requalificação do porto da Calheta, em São Jorge, escavou-se o
veleiro de guerra, naufragado em 1783, o Her Majesty
Ship Pallas.
Em finais de 2000, a administração do património arqueológico, em seu território, foi transmitida para as regiões
autónomas. Desde então, criaram-se cinco parques arqueológicos, reservas que visam a protecção e valorização do
património subaquático, nasceu o Roteiro do Património
Cultural Subaquático dos Açores, no âmbito do turismo
cultural, com trinta sítios visitáveis acessíveis aos mergulhadores e realizaram-se prospecções subaquáticas em todas as
ilhas, levando à identificação dos cerca de sessenta sítios já
identificados.
No âmbito da Convenção sobre a Protecção do Património Cultural Subaquático, da UNESCO, assinado em
Paris, em 2001, as escavações subaquáticas são desenvolvidas apenas em locais que estejam em perigo de perda,
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 11
sendo que tal situação pode surgir por causas naturais, ou
artificiais. Nesse sentido, por causas naturais, que se prendem com a erosão dos fundos marinhos, foi intervencionado um outro navio espanhol da Rota de la Plata, de
finais do Século XVI, inícios da centúria seguinte (Angra
B), na zona do parque arqueológico da baía de Angra do
Heroísmo e a nau Nossa Senhora da Luz, que soçobrou
em 1615 na sua última viagem pela Rota do Cabo. Já
no âmbito de obras portuárias, foi intervencionado o
Oakfield, vapor inglês, que se perdeu em 1897, em Ponta
Delgada, bem como seis naufrágios no porto da Horta,
sendo de salientar o Horta A, denominado de naufrágio
do marfim, de um navio mercante inglês, naufragado em
Setecentos, carregando uma centena de presas de elefante,
ou o Horta F, correspondente a uma baleeira americana,
soçobrada no Século XIX.
O estudo do naufrágio da Mont Ferran enquadra-se
neste esforço de resgatar o valor patrimonial universal
do património cultural subaquático, a permitir, em simultâneo, a defesa, o conhecimento e a fruição de um
bem cultural de singular significado e alcance, porquanto
interpreta e caracteriza cinco séculos de tráfico de pessoas,
como peças, como escravos, nos mares do oceano Atlântico.
12 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
INGLATERRA
E O IMPULSO
ABOLICIONISTA
O século XVIII foi um século de grandes mudanças
mentais e geopolíticas na Europa que acabaram por ter
reflexo em todo o mundo. Sendo um século particularmente marcado por guerras consecutivas, umas regionais,
outras que abarcaram praticamente todo o continente
europeu, as duas grandes potências à época, França e Inglaterra, foram-se digladiando, umas vezes directa, outras
indirectamente, pela hegemonia militar e política. Nesta
disputa, a Inglaterra acabou por sair vencedora e este facto teve repercussões em todo o panorama geopolítico do
século XIX, quer ao nível da hierarquia europeia quer,
principalmente, no quadro colonial.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
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Para compreender a hegemonia inglesa durante todo o
século XIX, é preciso analisar as circunstâncias endógenas
que levaram a esta supremacia e elas surgem ainda no
século XVIII. A realidade é que com a expansão europeia
nos séculos XVI, XVII e XVIII, e a consequente rivalidade entre os países coloniais na disputa dos territórios
mais ricos, ou mais importantes geoestrategicamente,
foi-se tornando mais premente a protecção militar destes
espaços ultramarinos. A melhor arma de defesa acabaria
por ser o desenvolvimento da marinha de guerra, e foi
a Inglaterra, de todas as potências coloniais, quem mais
a conseguiu fortalecer. Todavia, isto não aconteceu por
uma maior predisposição anglófona para o mar, em
contraponto com uma propensão mais continental dos
outros países.
Na realidade, a defesa interna da Inglaterra dependia
quase inteiramente da sua marinha de guerra, já que, devido à insularidade, não tem fronteiras terrestres com outras
potências que pudessem perigar a sua segurança territorial.
Assim, o crescimento naval respondia simultaneamente às
suas duas principais necessidades à época, de defesa interna
e de protecção das colónias. Pelo contrário, os países continentais, pela sua própria geografia, não podiam ter um
enfoque tão vigoroso na defesa da costa e dos territórios
ultramarinos, já que a necessidade de protecção das suas
fronteiras terrestres requeria um esforço significativamente
14 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
maior ou pelo menos igual ao marítimo. Em consequência
desta realidade, a Inglaterra foi, paulatinamente, tornando-se a força hegemónica dos mares. No início do século XIX,
com a derrota de Napoleão e da França, esta hegemonia
consolida-se de vez.
Ao mesmo tempo que a Grã-Bretanha ia ganhando
terreno nos mares e nos territórios coloniais, não se pode
olvidar que o século XVIII é o século da revolução industrial inglesa. Ao mesmo tempo que a indústria requeria
um maior consumo de matérias-primas, existia uma
crescente demanda de mercados onde pudesse colocar
as suas manufacturas, em especial os tecidos. As guerras
napoleónicas e o embargo comercial continental acabam
por constituir factores de tensão acrescida à economia
britânica, mas, ao mesmo tempo, empurram e estimulam
uma aposta cada vez mais consistente no espaço ultramarino. De facto, neste período a economia inglesa acabou
por sofrer intensamente entre 1806-08 e 1811-12, data
da retirada francesa de Moscovo. Em ambos os períodos
essa pressão vai ser aliviada pela revolução em Espanha,
primeiro, e pela vitória da Rússia, depois. Porém, vai ser
nos territórios coloniais que a Inglaterra encontrará uma
parte importante das respostas para estes desafios internos e externos. A expansão colonial inglesa em finais de
setecentos e início de oitocentos, sustentada na sua supremacia naval, permitiu colocar na sua órbita de influência
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
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quase exclusiva a América do Norte, as Índias Ocidentais,
a América Latina, a Índia e o Oriente. A estes territórios
acresciam Santo Domingo, responsável por três quartos
do comércio colonial francês antes da revolução, e as
possibilidades criadas pela abertura dos portos no Brasil
em 1808. Em 1815, a Inglaterra controlava a maior parte
das rotas comerciais e dominava a maioria dos territórios
coloniais europeus.
É nesses entrepostos comerciais que a indústria inglesa
encontra um acesso amplo a matérias-primas necessárias
à sua produção, bem como um mercado para o consumo
dos seus produtos manufacturados. Sintomático desta
realidade é o crescimento de uma parte do sector industrial,
já no século XIX, que produz quase exclusivamente para
o comércio colonial, assim como o desenvolvimento
que se observa na área financeira, com o crescimento
assinalável da actividade bancária, dos seguros marítimos
e da construção naval1. Assim, a aposta marítima acabava por responder transversalmente com extrema eficácia
a praticamente todos os objectivos britânicos de defesa
territorial, expansão e protecção das colónias, de desenvolvimento financeiro e de desenvolvimento industrial
e económico. Quando em 1814 se dá a capitulação de
Paul Kennedy, The Rise na Fall of the Great Powers, Economic Change and Military
Conflict from 1500 to 2000 (London: Fontana Press, 1989), 167-181.
1
16 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
Napoleão, Londres é o novo centro financeiro e comercial
do mundo e a Inglaterra domina incontestada os mares e
os principais mercados coloniais.
É num quadro europeu marcado por uma potência
hegemónica nos mares que, a partir do início do século XIX,
a agenda abolicionista começa a ganhar força na Europa
por iniciativa do governo inglês. O movimento contra a
escravatura emerge em Inglaterra, fundamentalmente, na
segunda metade do século XVIII, embalado pela época
das Luzes, beneficiando do sistema político inglês e do
apoio da Igreja protestante. Os abolicionistas operaram em
duas frentes principais, no seio do parlamento britânico,
recrutando deputados que defendessem a sua causa no seu
interior, e despertando a opinião pública para a iniquidade
da situação vigente, utilizando-a como força de pressão
no sentido de aprovar legislação que, progressivamente,
abolisse a escravatura e o tráfico de escravos. A Igreja
protestante acabou por ter uma importância preponderante na crescente força do movimento abolicionista,
quer pela influência política que tinha, quer pelo apoio na
transformação da escravatura, centrada que estava numa
perspectiva económica, numa questão de base moral e de
ética cristã. Era nas igrejas principalmente que a mensagem era passada de forma pessoal, através de sermões e de
reuniões organizadas para o efeito, ou na distribuição de
panfletos que alertavam para a questão. A forte vertente de
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
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moral religiosa que impregna a base teórica de defesa do
abolicionismo só foi possível alcançar através deste comprometido envolvimento da Igreja. Outra das iniciativas
destes movimentos que mais impacto e sucesso teve foi a
organização de boicotes a géneros produzidos por escravos,
principalmente o açúcar e café, demonstrando uma adesão
crescente da população à causa abolicionista2.
Apesar do desenvolvimento das ideias abolicionistas,
os interesses económicos das colónias e de parte relevante
da marinha mercante, que tinha no tráfico de escravos
um dos seus mais rentáveis investimentos, continuaram
a ter uma influência preponderante dentro do Parlamento britânico, o que foi atrasando avanços significativos
e marcantes, em termos legislativos. Todavia, ainda no
século XVIII, os movimentos abolicionistas conheceram
a sua primeira grande vitória em 1772, com o caso do
escravo fugido James Sommerset, incidente que, apesar
de não resultar na proibição legal da escravatura, permitiu impunemente, a partir dessa data, a fuga de escravos
na metrópole3. Mas foi o início do século XIX que veio
trazer desenvolvimentos legislativos no seio do Império
britânico que acabaram por marcar o resto da centúria
Suzanne Miers, Slavery in the Twentieth Century, The Evolution of a Global
Problem (Walnut Creek Alta Mira Press, 2003), 1-10.
3
Miers, Slavery in the Twentieth Century, 2.
2
18 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
mundial. Em 1807, o Abolition Act proibiu o tráfico
de escravos a todos os súbditos britânicos, bem como a
sua importação para qualquer das suas colónias. Apesar
do tráfico ter sido abolido, a verdade é que o edifício
esclavagista inglês ficou ainda intocado, isto apesar de
os abolicionistas terem tentado que as condições de vida
dos escravos melhorassem, algo que as sucessivas recusas
no Parlamento inglês de legislar sobre a matéria foram
frustrando. Assim, a escravatura nas colónias britânicas
foi mantendo, mais ou menos, as mesmas características,
até à década de 30 do século XIX4.Somente 26 anos mais
tarde, em 1833, o Emancipation Act irá abolir a escravatura na maior parte do Império britânico.
Apesar de os abolicionistas pretenderem colocar a
discussão sobre a escravatura, principalmente, no plano
ético e moral, a decisão unilateral de abolir a escravatura e o tráfico negreiro, por parte do Governo britânico,
continuava a levantar receios económicos que levaram
ao protelamento dos passos que se davam em direcção
do abolicionismo. A proibição do comércio esclavagista,
uma das actividades mais lucrativas da marinha mercante, se não mesmo a mais lucrativa, gerava o temor de que
o vazio deixado pelos ingleses fosse ocupado por outros
4
João Pedro Marques, Sá da Bandeira e o fim da escravidão: Vitória moral, desforra do
interesse (Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2008), 20-21
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
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países, que, por sua vez, beneficiariam dos lucros de uma
maior fatia de mercado. Já no caso da emancipação, o
maior receio ligava-se a uma perda significativa de competitividade da economia britânica em relação aos outros
países, principalmente às outras potências coloniais que
mantinham a legalidade do trabalho escravo. A única maneira de contornar este problema era conseguir que todas
estas nações lhe seguissem o seu exemplo.
A Inglaterra encetou uma estratégia de pressionar, usando a sua influência e poderio militar, para que a agenda
abolicionista se tornasse uma questão internacional e se
alargasse ao resto dos países colonizadores, em particular
Portugal e França, talvez os seus dois maiores concorrentes no espaço colonial. O primeiro passo, que constituiu
uma vitória diplomática inglesa e, principalmente, para a
causa abolicionista, foi conseguido no Congresso de Viena (1814-1815), no seguimento da derrota napoleónica.
Depois de várias discussões que tiveram em Inglaterra,
Portugal, Espanha e Françaos seus principais interlocutores, chegou-se a um acordo que acabou por ser histórico. Pela primeira vez, a questão da escravatura originou
uma tomada de posição internacional conjunta, com a
assinatura, em 1815, da Declaration of Powers Against
Slave Trade, por todas as potências coloniais. Todavia,
esta declaração, apesar do seu alcance histórico, não teve
mais que um significado simbólico. No campo político
20 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
a vitória era de Portugal, Espanha e França, triunvirato,
que se uniu para travar qualquer iniciativa que provocasse
a abolição do tráfico de escravos de forma imediata.
As guerras napoleónicas foram devastadoras tanto para
França, como para Portugal. As duas nações estavam
imersas em graves crises económicas. A questão de terminar com o tráfico de escravos, que a Coroa britânica
queria que fosse imposta internacionalmente, acima de
tudo como uma questão moral, não era assim vista por
estas potências coloniais. A posição de fragilidade, em
que ambas se encontravam nas colónias, bem como a
hegemonia do Reino Unido no mundo e a sua crescente
tendência para impor, em vez de negociar, também não
ajudaram a que a causa abolicionista fosse absorvida no
enquadramento de uma nova visão de direitos humanos,
ao invés da simples disputa entre potências e territórios
coloniais. De facto, o tema da escravatura acabou por se
misturar com a legitimidade e soberania coloniais, e com
a competição económica no espaço mundial, o que teve
como consequência o envenenamento das relações internacionais e a incapacidade de tratar e discutir o problema
no único plano admissível, o dos direitos humanos.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 21
PORTUGAL
E A ABOLIÇÃO DO
TRÁFICO
DE ESCRAVOS
Para Portugal, a questão do tráfico e da escravatura, no
séc. XIX, esteve intimamente ligada a um período demasiado turbulento para podermos apontar uma só razão
para o insucesso e resistências sociopolíticas na implantação de medidas e legislação que conduzissem rapidamente
ao abolicionismo. O primeiro quartel do século foi dramático para Portugal, tanto em termos de política interna,
como no enquadramento geopolítico mundial e colonial.
A eclosão da Guerra Peninsular leva, em 1807, à transferência do Rei e da Corte para o Brasil, como consequência
das invasões francesas, e, em 1822, dá-se a independência do Brasil, com os efeitos económicos e políticos que
daí advieram. Por outro lado, os acordos que até 1817se
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 23
assinaram com a Inglaterra foram vistos, por uma nação já
com a sua posição internacional extremamente enfraquecida, como actos de subserviência e rendição.
O primeiro grande golpe surge com a fuga da família
real para o Brasil em 1807, pois esta mudança foi o início
de um caminho sem retorno, que culminaria na independência da mais importante colónia portuguesa. Em
1810, Portugal, em pleno período das invasões francesas,
vê-se constrangido a assinar dois tratados com Inglaterra,
o de Comércio e Navegação e o de Aliança e Amizade
que “são verdadeiros tratados de capitulação”5. O Tratado
de Comércio e Navegação, que surge na sequência da
abertura dos portos brasileiros ao comércio internacional
em 1808, coloca a Grã-Bretanha numa situação de absoluto privilégio no acesso ao mercado brasileiro, mesmo
em relação aos comerciantes portugueses. No Tratado de
Aliança e Amizade, Portugal acordou pela primeira vez,
com vista à sua abolição por completo, limitar o tráfico
de escravos de forma gradual e a prazo. Como podemos
observar, a Inglaterra colocava o tema do tráfico acompanhado da defesa dos seus interesses comerciais, o que
inquinava as relações entre as duas nações e os propósitos
morais que a questão impunha. Mais, dizer que a questão
Arlindo Manuel Caldeira, Escravos e Traficantes no Império Português, O comércio
negreiro português no Atlântico durante os séculos XV a XIX (Lisboa: A Esfera dos Livros,
2013) 236.
5
24 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
do tráfico era vista pelo Governo britânico, neste período,
sobretudo, como uma imposição moral é, no mínimo,
questionável. A acrescentar a este progressivo sentimento
de desconfiança portuguesa em relação às reais intenções
britânicas, o apresamento de navios negreiros logo em
1811, por alegado incumprimento do Tratado de Aliança
e Amizade, veio agudizar as manifestações de descontentamento contra esta união luso-britânica.
Como já se observou, com o fim das guerras napoleónicas, no Congresso de Viena, em 1815, a questão
do tráfico voltou a ser levantada. O desejo de Portugal,
Espanha e França, era que o tráfico fosse proibido consoante, segundo a sua própria avaliação, as necessidades
de reconstrução das colónias. O Governo britânico, por
si, não tinha problemas em aceitar esta posição, mas os
abolicionistas ingleses tinham reunido praticamente um
milhão de assinaturas em petições para se terminar com
o tráfico internacional. Sobre esta pressão interna, o representante inglês na Convenção tentou que se tomasse
uma posição mais definitiva por parte de todas potências
coloniais, algo que não foi possível alcançar6. A actuação
britânica no panorama colonial, com o alargamento cada
vez maior das áreas sob o seu controlo, e a percepção generalizada de que as questões económicas estavam por trás
6
Miers, Slavery in theTwentieth Century, 14.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 25
da sua posição abolicionista continuavam a inquinar um
esforço conjunto para a questão do tráfico de escravos.
Desta desconfiança difundida nos dá Marcello Caetano eco, ao citar uma carta de Goethe para Eckermann,
onde este salienta o vácuo que representa a atitude alemã
em termos de política externa, enquanto a Inglaterra ia
tomando conta do mundo. A posição britânica sobre o
tráfico é dada como exemplo do seu sentido pragmático,
ao atribuí-lo a um oculto interesse económico, mas amplamente conhecido. Goethe acaba exultando a posição
resiliente do representante português, D. Pedro de Sousa
Holstein, futuro duque de Palmela, no Congresso de Viena, em que, na resposta ao embaixador inglês acerca da
questão do comércio esclavagista, ressalvou “que não lhe
constava que se tivessem reunido para pronunciar o Juízo
final ou para consolidar os princípios da moral”7. Esta
análise de Goethe revela bem uma percepção generalizada
da posição britânica quanto ao tráfico, mantendo, todavia, intacto o seu edifício esclavagista nas suas colónias,
eivada de hipocrisia e de encobertos interesses económicos em causa própria.
Como foi salientado anteriormente, as iniciativas inglesas não conseguiram ir além de uma posição conjunta
7
Marcello Caetano, Portugal e a Internacionalização dos Problemas Africanos (Da
Liberdade dos Mares às Nações Unidas) (Lisboa: Edições Ática, 1963), 54.
26 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
de condenação do tráfico. A Declaration of Powers Against
Slave Trade, já referida, era uma declaração que, no fundo, não comprometia nenhuma das potências coloniais
a nenhum objectivo fixo no tempo. Alguma vacuidade
do documento não retira, contudo, a sua importância
como marco histórico do abolicionismo no século XIX
e da história das relações internacionais. Porém, será em
acordos bilaterais que a Grã-Bretanha vai tentar aquilo
que não foi possível alcançar durante a Convenção de
Viena. Apesar da resistência que demonstrou durante a
conferência, Portugal acabará por firmar um novo acordo
com Inglaterra, em 22 de Setembro de 1815, que anula
o Tratado de Aliança e Amizade. Neste novo tratado a
Coroa portuguesa compromete-se a eliminar desde logo
o comércio de escravos a norte do Equador. Em contrapartida, a Inglaterra acordou o pagamento de 300 mil libras esterlinas como compensação do apresamento ilegal
de navios negreiros pela marinha de guerra inglesa. Dois
anos mais tarde, em 1817, uma Convenção Adicional veio a
permitir à marinha inglesa o direito de busca e apreensão
de barcos suspeitos a norte do Equador, instituindo-se
comissões mistas luso-britânicas habilitadas para julgar
navios negreiros ilegais8.
8
Caldeira, Escravos e Traficantes no Império Português, 236-237.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 27
Estes novos acordos, apesar de comportarem concessões significativas do Governo português, revelam que a
estratégia e posição nacional, em relação à importância de
preservar o comércio esclavagista, se manteve inalterada.
Portugal assegurava desta forma que o volume do fluxo de
escravos de África para o Brasil se mantivesse inalterado,
salvaguardando a posição do Governo português que defendia uma abolição gradual da actividade. Desta forma,
Portugal protegia-se de medidas que significassem um corte
abrupto que desestabilizasse a já precária situação política
económica portuguesa, bem como a autoridade e legitimidade política nos territórios ultramarinos, em especial
no Brasil. Existiu, com efeito, uma manifesta incapacidade e apreensão por parte das autoridades portuguesas em
avançar com medidas legislativas que terminassem com o
comércio de escravos de forma mais imediata nesse início
de século, e tal tem uma explicação multicausal. A mais
importante de todas liga-se com a colónia mais relevante
em termos económicos para Portugal, o Brasil, onde os
sinais de autonomia eram cada vez mais preocupantes.
Apesar da situação cada vez mais delicada no outro
lado do Atlântico, a Revolução de 1820 trouxe algumas
iniciativas que propunham uma nova visão sobre a instituição esclavagista, que levassem não só à ilegalização do
tráfico como à gradual abolição da escravatura em todos
os territórios sob jurisdição portuguesa.
28 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
Uma dessas iniciativas, e talvez a mais compreensiva,
foi o projecto de Francisco Soares Franco que, embalado
pelas ideias do liberalismo económico de Adam Smith,
defendeu uma nova visão económica da estrutura do
trabalho colonial. Em “A Riqueza das Nações” Adam
Smith tinha defendido, ainda no séc. XVIII, que o trabalho livre é mais rentável que o escravo, uma vez que
sendo remunerado a produtividade do trabalhador cresce
e a mais-valia que ele aporta ultrapassa o encargo do seu
salário. Soares Franco propôs uma série de medidas que
levariam, gradualmente, ao fim da escravatura de forma
natural no Brasil, evitando os impactos nos produtores
agrícolas, colonos e Estado.
Baseando-se na teoria económica liberal e fazendo
assentar a mudança na proibição rigorosa da importação
de novos escravos para o Brasil, Soares Franco advogou
a liberdade de ventre, apesar desses recém-nascidos ficarem a trabalhar sem pagamento, na mesma casa, até
aos 25 anos, altura em que ficariam forros. Desta forma,
ele tentava minimizar os impactos nos donos de escravos
e, ao mesmo tempo, operar uma transformação gradual
que não produzisse mudanças drásticas que abalassem o
edifício colonial português no Brasil. Inteligentemente, o
projecto reproduzia, parcialmente, os modelos abolicionistas pombalinos e que tinham resultado, com sucesso,
numa modificação gradual da sociedade da metrópole em
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 29
não esclavagista. No entanto, apesar de o regime esclavagista já ser percepcionado como algo insustentável, a
longo prazo, no campo dos direitos humanos, a questão
brasileira foi barrando qualquer avanço em iniciativas
reais, mesmo que graduais, que levassem à abolição do
tráfico ou à emancipação do escravo. Este plano, apesar
de não ter feito caminho à época, veio a ser, mais tarde,
parcialmente resgatado por Sá da Bandeira9.
Nas Cortes de 1821, a questão da abolição da escravatura nas colónias portuguesas foi, novamente, levantada,
chegando mesmo a ser proposta uma medida constitucional que impusesse a liberdade de ventre, mas os já preocupantes movimentos políticos que visavam a emancipação
do Brasil levaram à tomada de posições de extrema cautela
quanto à questão10. Apesar de toda prudência demonstrada pelas Cortes e pelo Governo vintista, em proteger
e satisfazer algumas das pretensões mais prementes das
elites políticas e económicas brasileiras, na realidade não
se conseguiu diluir a ruptura iminente que estava para
acontecer. No ano seguinte, nos inícios de 1822, D. Pedro
I aceita o título de “Defensor Perpétuo do Brasil” e, em
Setembro, declara a independência do Brasil. O impacto
em Portugal foi de tal maneira significativo que correntes
9
10
Marques, Sá da Bandeira e o fim da escravidão, 27-29.
Marques, Sá da Bandeira e o fim da escravidão, 27-31.
30 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
existiram que sustentavam que sem o Brasil a metrópole
não iria conseguir subsistir.
Uma vez perdido o Brasil, as Constituintes de 1822
foram, de facto, marcadas por algum reformismo, já
muito direccionado para os territórios africanos. A questão abolicionista estava no centro de uma nova visão, e
única, de desenvolvimento económico de Angola e Moçambique. Apesar de estar presente uma forte visão de
desenvolvimento económico colonial, esta sustentava-se,
por um lado, na asserção da iniquidade, imoralidade e
desrespeito pelos valores cristãos da instituição esclavagista, e, por outro lado, da necessidade de se cumprir com os
tratados luso-britânicos. A própria Constituição de 1822
traz alguns avanços ao equiparar legalmente os territórios
ultramarinos e a metrópole, com algumas excepções, e reconhecendo a cidadania a todos os portugueses, incluindo
os escravos alforriados. Mas estes avanços não escondiam
a restrição dos defensores do abolicionismo nas elites
culturais e políticas portuguesas, bem como a ausência
de qualquer medida constitucional que desestabilizasse o
sistema esclavagista em vigor11.
Assim, até à década de 30 do século XIX, a posição da
Coroa portuguesa em relação ao comércio de escravos vai
11
José Capela, Escravatura, a empresa de saque o abolicionismo (1810-1875) (Porto:
Edições Afrontamento, 1974), 222-226
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 31
manter-se inalterada, mantendo-se o status quo saído dos
acordos luso-britânicos de 1815 e 1817. Esta década tem
especial relevância por razões endógenas e exógenas, com
desenvolvimentos nacionais e internacionais que se tornaram alavancas para uma mudança real na abordagem
ao problema da escravatura no seu todo. Internamente,
o acontecimento mais relevante é o fim da guerra civil
entre liberais e absolutistas, com a vitória dos primeiros,
acabando com uma guerra cruel e dilacerante que durou
entre 1828 e 1834. Apesar de se continuar a assistir a
uma instabilidade política e social, a questão do regime
monárquico-constitucional ficou aparentemente resolvida, não sem turbulências, até finais do século, quando
recrudesce a militância republicana.
Os outros dois eventos que vão marcar este período
chegaram da cena internacional. O primeiro materializa-se
na assinatura, em 1826, do tratado anglo-brasileiro, onde
o Brasil se compromete a ilegalizar o comércio de escravos no prazo de três anos, ou seja, em 1830. Este tratado
é fortalecido em 1831, após a abdicação de D. Pedro I,
pelo recém-empossado Governo liberal ao promulgar, e
não sem bastante contestação, uma lei que liberta todos os
escravos que chegassem às costas brasileiras, também esta
a implementar em três anos12. O segundo acontecimento
12
Caldeira, Escravos e Traficantes no Império Português, 245.
32 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
que irá marcar este período surge em 1833, com a promulgação pelo Parlamento britânico do Emancipation
Act, que levou à abolição da escravatura na maior parte do
Império britânico. A partir desse momento, a situação de
legalidade do tráfico, ao sul do Equador, já sujeito a grande contestação inglesa, começou a tornar-se insustentável
para o Governo português.
A legislação britânica, emancipadora do escravo, era,
também, um repto para as outras nações esclavagistas.
Portugal era uma das que se sentiu desafiada: “E foi a
partir da emancipação inglesa que o problema emancipacionista se colocou de forma minimamente consistente
na agenda política e legislativa do país”13. É então, numa
conjuntura de mudança interna e externa, que em Portugal, em 1836, se dá a Revolução Setembrista, levando, em
5 de Novembro desse ano, ao poder o Governo liderado
pelo Visconde Sá da Bandeira que integrava, entre outros,
Manuel da Silva Passos. Dentro de uma nova visão do
Império, mas também por causa de uma pressão intensa
de Inglaterra, no final de 1836, pelo decreto de 10 de
Dezembro, Sá da Bandeira consegue passar a norma que
ilegaliza o comércio de escravos, impondo penas severas
para os infractores.
13
Marques, Sá da Bandeira e o fim da escravidão, 37.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 33
O projecto setembrista defendia que o desenvolvimento das colónias africanas iria beneficiar de uma abolição
progressiva da escravatura que seria substituída pelo trabalho livre. Esta medida não espelha, no entanto, o ímpeto
abolicionista que as principais figuras do Setembrismo
defendiam, ao deixar de lado a questão emancipadora do
negro. Por outro lado, esta legislação, apesar de ilegalizar o
comércio, era, no entanto, mitigada por uma excepção que
era uma cedência importante aos opositores do fito que
pretendia alcançar. Esta excepção mantinha a possibilidade
do tráfico persistir, escudando-se na própria lei, pois “os
negociantes de Angola podiam transportar escravos para o
Brasil quando aí tivessem fazendas”14.Esta era uma cedência importante, mas podemos percebê-la melhor se recordarmos o primeiro grande projecto abolicionista que Sá da
Bandeira, então ministro da Marinha, havia apresentado,
na Câmara dos Pares, no início de 1836.
Nesse projecto propunha-se a abolição do tráfico de
escravos, mas, indo muito mais longe, sustentava-se a
liberdade de ventre e obrigava-se à declaração do número
de escravos por parte dos proprietários, sob pena de os
perderem, sendo que as medidas emancipadoras ocupavam parte substancial do dito projecto15. Este projecto
14
15
Caldeira, Escravos e Traficantes no Império Português, 238.
Marques, Sá da Bandeira e o fim da escravidão, 37-38.
34 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
não passou na Câmara, onde se mantinham os receios de
medidas que levassem a mudanças drásticas que pusessem
em causa a estrutura do edifício colonial português ou a
defesa dos comerciantes e produtores portugueses a operar nas colónias africanas e no Brasil, onde a manutenção
da escravatura e do tráfico era considerada vital.
Assim se percebe melhor a necessidade de mitigar o
decreto de 10 de Dezembro de forma a Sá da Bandeira
conseguir contornar a ainda clara oposição interna às
medidas abolicionistas. Todavia, é a violenta resposta britânica a esta lei mitigada que acaba por ser decisiva para
o curso que a questão tomou, apesar de ter sido preciso
esperar seis anos para uma nova e decisiva iniciativa abolicionista do tráfico. A partir de 1836, a pressão inglesa
foi aumentando exponencialmente, tendo o seu auge em
1839 com a proposta de lei de Lord Palmerston, que dava
liberdade à Royal Navyde “interceptar, visitar e, se necessário, apresar quaisquer navios, sob pavilhão português,
que transportassem escravos ou estivessem equipados para
esse fim”16. Depois de uma fase de profunda indignação,
que levou à edição de várias publicações antibritânicas,
apesar de nenhuma defender abertamente a manutenção
ou legitimidade do tráfico, em 3 de Julho de 1842, foi
assinado um novo tratado luso-britânico. Este tratado
16
Caldeira, Escravos e Traficantes no Império Português, 240.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 35
representa a completa abolição do comércio de escravos
em todos os territórios sob jurisdição portuguesa e dá
autorização legal à Royal Navy de inspeccionar todos os
navios sob pavilhão português. Em 1847,em novo tratado, Portugal permite que o patrulhamento britânico
para repressão do tráfico possa ser feito dentro das águas
territoriais portuguesas.
36 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
RESISTÊNCIA À
ABOLIÇÃO
DO COMÉRCIO
DE ESCRAVOS
E O TRÁFICO ILEGAL
O BRASIL E A MANUTENÇÃO DO SISTEMA
A compreensão do contexto político e diplomático do
primeiro quartel do século XIX português, que culminou
com a independência do Brasil, é essencial para perceber
a evolução que a problemática do comércio de escravos
conheceu em Portugal. Podemos observar dois períodos
distintos, mas que se fundem de forma a manter uma política coerente que pretende impedir erupções no edifício
colonial português. Na realidade, é por razões exógenas
que esta estabilidade vai ser abalada.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 37
Num primeiro período, a Guerra Peninsular vai actuar
como condicionante de uma situação real de fragilidade
política e económica que obrigou Portugal a cedências
constantes à sua aliada, Inglaterra. A fuga da Corte para
o Brasil, o comprometimento com a abolição, a prazo, do
tráfico negreiro e a cedência de uma situação de privilégio
comercial no mercado brasileiro, ao comércio inglês, acabaram por agudizar a já precária situação económica da
metrópole, ao mesmo tempo que criou as condições para
a independência da colónia brasileira. O segundo momento aconteceu entre 1814, com a derrota dos exércitos de
Napoleão, e 1822, ano da independência do Brasil, em
que se começa a temer e a tentar prevenir, um desfecho
cada vez mais inevitável, de emancipação da colónia mais
importante, em termos económicos, para Portugal. É preciso compreender, que a forte aposta económica no território
brasileiro tinha já mais de meio século, sendo o destino de
eleição da imigração e do investimento português, continuando a sê-lo mesmo depois da independência.
Nesta conjuntura adversa do início do séc. XIX o
comércio de escravos respondia a dois aspectos fulcrais
para o Estado, um de soberania nos territórios coloniais e
outro de ordem económica, nos dois lados do Atlântico,
mas que se interligavam. A própria natureza destas questões tem causas distintas, diferenciando-se pelas próprias
características da colonização portuguesa, mas estavam
38 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
umbilicalmente interligadas. A estratégia de manutenção
do tráfico acabou por ser uma resposta central, em parte
por vontade política, em parte por incapacidade política,
militar e económica, para os desafios que se colocavam a
um Portugal onde, em cima disto, moralmente não existia, nem das elites, nem da opinião pública, uma consciência clara e generalizada da iniquidade da instituição
esclavagista.
A ida do Rei para o Brasil, em 1807, marca o início de
um processo de emancipação da colónia, que tem o seu
primeiro desenvolvimento logo em 1808 quando, numa
posição de grande fragilidade, o Governo português acede à
abertura dos portos brasileiros aos navios estrangeiros. Esta
determinação vai romper com “o sistema baseado no «pacto colonial», em vigor desde a época pombalina”17. Com
esta medida, o monopólio e o exclusivo da colónia deixavam de pertencer à metrópole, promovendo a autonomia
financeira do Brasil. Esta abertura dos portos ao mercado
internacional, em 1808, e até 1822, faz com que o Brasil
passe por uma “fase de transição da economia colonial para
a economia exportadora capitalista, segundo os ditames do
capitalismo industrial inglês”18. Todavia, as bases funda-
17
Maria Manuela Lucas, “Organização do Império”, em História de Portugal, vol. 5,
dir. José Mattoso, cor. Luís Reis Torgal, João Lourenço Roque (Lisboa: Editorial
Estampa, Lda. E Autores, 1998), 246.
18
Lucas, “Organização do Império”, 248
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 39
mentais da economia brasileira não vão mudar, isto apesar
de se verificar um fomento de indústrias transformadoras
ligadas à construção naval, aos têxteis e ao açúcar.
A economia brasileira era uma economia essencialmente
agropecuária, baseada em grandes propriedades, e mineira,
onde o sistema esclavagista constituía o modo de produção. No início do século XIX, verifica-se a introdução de
uma maior diversidade no cultivo de produtos agrícolas,
com a inserção do cacau, algodão, arroz, tabaco e, principalmente, do café, produto que vai estar em expansão
constante. Estas novas produções foram ganhando espaço
e importância nas exportações brasileiras, isto apesar de o
açúcar se manter como o produto com maior peso exportador19. Se já a produção de açúcar, a mais representativa
e lucrativa do sector agrícola, dependia essencialmente de
trabalho escravo, a introdução da cultura do café, que ganhou importância rapidamente, veio criar uma necessidade
ainda maior de mão-de-obra escrava. Assim, observou-se a
chegada de um crescente número de escravos, ao Rio de
Janeiro, “da média anual de cerca de 18000 escravos entrados no porto do Rio em 1817, passou-se para 24000 em
1821”20. O próprio desenvolvimento económico parecia
estar cada vez mais dependente do trabalho escravo, e estas
19
20
Lucas, “Organização do Império”, 248-249.
Caldeira, Escravos e Traficantes no Império Português, 244.
40 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
características produtivas na economia brasileira manter-se-ão inalteradas mesmo depois da independência. Esta
realidade demonstrou que era praticamente impossível
avançar com restrições reais ao comércio esclavagista, sem
desequilibrar seriamente os fundamentos da economia brasileira e, assim, colocar em causa a própria legitimidade da
soberania portuguesa no território.
No outro lado do Atlântico, a questão do tráfico era, tanto ou ainda mais, premente. Em primeiro lugar, a presença
portuguesa nesses territórios era muito reduzida, cingindo-se basicamente a alguns pontos fulcrais na costa africana.
Na costa oeste, tendo como base de apoio os arquipélagos
de Cabo Verde e São Tomé, Portugal tinha um posicionamento delicado na Guiné. Ali, a soberania lusa sofria com
a concorrência francesa e com a resistência dos potentados
muçulmanos. Em Angola, a presença portuguesa limitava-se a Luanda, a Benguela e a alguns territórios interiores
próximos destas cidades costeiras, existindo um desconhecimento profundo do vasto espaço que se estendia para
leste, que não tinha limites precisos. Em Moçambique, a
questão era ainda mais crítica, com a ocupação, apenas, da
zona entre a baía de Lourenço Marques e a baía do Tungue,
junto ao cabo Delgado, e a zona dos prazos no vale do
Zambeze, onde Portugal tinha uma posição mais firme21.
21
Lucas, “Organização do Império”, 252.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 41
Como se depreende, a residual presença portuguesa nos
territórios africanos traduzia-se na diminuta diversidade
das actividades económicas destas colónias, que cingiam-se à exploração mineira e, principalmente, ao tráfico de
escravos. O negócio do tráfico nas possessões africanas
tinha, antes de mais, um forte envolvimento de grandes
famílias indígenas brancas, negras e mestiças, incluindo
mulheres, muito próximas do político colonial – como
refere Arlindo Caldeira, “É essa associação do tráfico a
grupos familiares relativamente estáveis que explica (…)
o aparecimento, quer em S. Tomé quer em Angola, de
mulheres associadas ao comércio de escravos, que era
tradicionalmente, um universo masculino”22. Por outro
lado, as costas africanas também eram povoadas por traficantes luso-brasileiros que actuavam de forma particular
ou como representantes de companhias brasileiras. Esta
diversidade que se encontra entre os comerciantes de escravos é sintoma de uma actividade que interliga os fortes
interesses de uma burguesia colonial fortemente enraizada
na sociedade ultramarina, nos dois lados do Atlântico. O
subdesenvolvimento económico dos territórios africanos
acabava por ser, igualmente, causa e consequência do tráfico de escravos, já que os lucros que originava não eram
22
Caldeira, Escravos e Traficantes no Império Português, 267.
42 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
igualados por mais nenhuma actividade, o que inibia o
investimento em outras áreas económicas.
O segundo período tem o seu início no fim das
Guerras Napoleónicas em 1814,quando as questões que
se vinham levantando no território brasileiro foram-se
colocando com cada vez mais acuidade pela crescente
autonomia que a colónia foi ganhando. Nesse mesmo
ano, publica-se a carta de lei que criou o “Reino Unido
de Portugal, Brasil, e Algarves” e que equiparava, em termos de estatuto legal, o Brasil a Portugal. A partir deste
momento a política é de contenção de danos, expressa na
posição portuguesa no Congresso de Viena e na resistência durante as negociações do tratado luso-britânico de
1815. Quando, em 1815 e 1817, são assinados os tratados com Inglaterra, a preocupação do Governo português
era, acima de tudo, não perturbar o fluxo transatlântico
de escravos, receando perigar a posição frágil que detinha
nas possessões coloniais. No Brasil, qualquer medida de
restrição do tráfico significaria um abalo, cujas dimensões
ninguém conseguiria calcular, na estrutura económica
do território, podendo precipitar uma situação política a
cada dia mais delicada. Todavia, os intentos do Governo
português, neste período, foram inteiramente alcançados,
conseguindo evitar, momentaneamente, uma ruptura
cada vez mais inevitável.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 43
Em África, a situação seria ainda mais dramática, porque
a dependência desses territórios do comércio esclavagista era
quase total, situação que se manteve até meados do século
XIX. Por outro lado, os interesses económicos nesta actividade estavam fortemente enraizados na sociedade africana, podendo as medidas abolicionistas degenerarem num conflito
político cujas consequências ninguém conseguiria antever.
Essa realidade africana ficou ainda mais clara na década
de 1830, como veremos mais à frente. Assim, observa-se uma estreita correlação entre soberania colonial, desenvolvimento económico e manutenção do comércio
esclavagista, com repercussões para além do território
brasileiro. A manutenção do tráfico acabava por ligar os
principais territórios coloniais portugueses em todas estas
dimensões.
Para além das questões internas, acrescia um real sentimento de desconfiança perante uma constante actuação
britânica cheia de contradições. A vocação imperialista
inglesa no panorama colonial, com o alargamento cada vez
maior das áreas sobre o seu controlo, e a percepção generalizada de que as questões económicas estavam por trás
da sua posição abolicionista, continuavam a inquinar um
diálogo e um esforço conjunto para a questão do tráfico
de escravos. No fundo, a capacidade que os abolicionistas
britânicos tiveram internamente de colocar a questão no
44 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
plano da moral cristã, da ética e dos direitos humanos, foi
equivalente à inépcia ambígua do Governo inglês, pelas
suas incongruências e acção diplomática assente na força,
que nunca conseguiu dissociar a questão abolicionista dos
interesses comerciais que defendia. Esta duplicidade foi
alimentando, durante grande parte do século XIX, os opositores dessa causa humanitária.
Ao mesmo tempo que a economia brasileira se desenvolveu, nesse início de século, beneficiando da presença
da família real no território e das medidas de abertura
comercial, a economia portuguesa sofria, ao mesmo ritmo, o efeito inverso, aprofundando-se a crise económica
e política então vivida. Nessa conjuntura se pode compreender a Revolução de 1820, com o ultimato feito a D. João
VI, exigindo o seu regresso a Lisboa, e as iniciativas que
procuravam restabelecer o “pacto colonial”, impondo, de
novo, o monopólio da metrópole, sobre os produtos e
comércio brasileiros. Esse movimento mais não mostra
que os caminhos dos dois territórios, sob administração
portuguesa, tinham tomado direcções opostas e que a
emancipação, acabaria por ser o resultado inevitável dessa
divergência. Apesar do choque que constituiu a perda da
mais importante colónia portuguesa e o impacto nocivo
que teve no comércio externo português, “durante todo
o século XIX, o Brasil continuou a importar produtos
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 45
agrícolas, nomeadamente o vinho e alguns alimentos. Por
sua vez, fornecia parte do algodão, açúcar e couros, para
além de outras matérias-primas tropicais que a indústria
portuguesa utilizava”23.
23
Lucas, “Organização do Império”, 251.
46 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
VONTADE, AUTORIDADE
E ECONOMIA:
A ABOLIÇÃO
DO COMÉRCIO
ESCLAVAGISTA
Portugal chegava, assim, a 1822, imerso numa profunda crise económica e política, sem a colónia-chave para
a sua economia, com uma presença em África absolutamente residual e absolutamente dependente do comércio
esclavagista. É legítimo sustentar-se que a independência
do Brasil criava a oportunidade para uma mudança na
abordagem à questão do tráfico, mas tal não se verificou
até 1836, por diversas razões. Primeiramente, a independência brasileira não fez com que este território perdesse
a sua relevância para a imigração portuguesa, que procurava melhores condições de vida, continuando a preferi-lo aos territórios africanos e do oriente, bem como para
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 47
os comerciantes que se movimentavam no comércio de
escravos. Assim, mesmo depois da independência, continuamos a ter uma importante presença de comerciantes
portugueses em terras de Vera Cruz, muitos deles ligados
ao dito tráfico.
Em África, a questão era posta nas Constituintes de
forma explícita pela Comissão do Ultramar, instituição
encarregue de apreciar e emitir pareceres sobre propostas
e projectos de lei relativos aos territórios ultramarinos.
No seu relatório, a Comissão apresentou propostas de desenvolvimento das possessões africanas, nomeadamente
Angola e Moçambique. Em ambos os casos, preconizou-se uma política que promovesse a agricultura, desenvolvendo os canais comerciais para o rápido escoamento dos
produtos, agilizando a ligação entre estes territórios e a
metrópole. No caso de Moçambique, chegou-se mesmo
a propor uma taxação de apenas 1%, na troca de géneros
com Portugal e incentivar-se-ia a que os governadores
mandassem, de novo, pesquisar os territórios em busca
de minas de ouro, prata e cobre.
Mais do que simplesmente recomendar medidas de
desenvolvimento, a Comissão sustentava que essas propostas eram uma forma de substituir o modelo económico vigente, que assentava no comércio de escravos. Esse
relatório enfatizou a necessidade de se promover uma
transformação mental dos comerciantes ligados ao tráfico
48 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
para que investissem em outras actividades económicas,
nomeadamente agrícolas, que desenvolvessem os territórios e os afastassem de um comércio que afrontava os valores religiosos, humanitários e políticos. Por outro lado,
alertava-se que a manutenção do comércio esclavagista
mantinha acesas guerras e rivalidades tribais, afastando
a população indígena de outras actividades económicas.
No fundo, defendeu-se uma forte dinâmica de trocas comerciais entre os territórios africanos e a metrópole, bem
como uma maior abertura a comerciantes estrangeiros,
de forma a criar um modelo económico similar ao que
se tinha desenvolvido no Brasil. Assim, nestes territórios,
desviava-se a fonte de mais-valias do comércio esclavagista para actividades que desenvolvessem a sua economia
de forma condizente com os princípios religiosos e de
direitos humanos, ao mesmo tempo que se cumpria com
os tratados luso-britânicos24.
Como se percebe, e recordando o já mencionado projecto de Francisco Soares Franco, foram-se observando
nesse período várias correntes abolicionistas, apesar de
preconizarem diferentes modelos, mas que não eram
representativas da opinião dominante à época e que
acabaram sempre por esbarrar com interesses políticos e
comerciais mais prementes. A situação instável da política
24
Capela, Escravatura, a empresa de saque o abolicionismo (1810-1815), 222-223.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 49
e da economia da metrópole era um óbice para o risco
que esta medida comportava. Num primeiro momento, a
independência do Brasil criou um receio real do que uma
medida desta magnitude representaria para o sistema vigente nos territórios africanos. O avançar com legislação
que ilegalizasse o comércio esclavagista poderia originar
outras sublevações coloniais com o objectivo de se emanciparem, ou pior, juntarem-se ao Império do Brasil. A
acrescer a esta apreensão na classe política da metrópole,
neste período e até 1850, a própria dinâmica do comércio
de escravos colocava grandes entraves nos territórios coloniais africanos para a implantação e aceitação de medidas
abolicionistas.
O início de século tinha sido marcado por um crescendo do fluxo de escravos transatlântico com destino ao Brasil, algo que irá perdurar até meados da centúria. Como
já abordámos, o desenvolvimento económico brasileiro
foi um dos responsáveis por essa tendência, mas os desenvolvimentos políticos tiveram também uma influência
central nessa evolução. Depois da assinatura do Tratado
de Aliança e Amizade luso-britânico, em 1810, o começo
das operações de apresamento de navios negreiros pela
Royal Navy, entre 1811 e 1814, veio demonstrar que a
situação estava a mudar. Foi nesse período que começou o
tráfico ilegal, apesar de não ter a expressão que mais tarde
50 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
irá conhecer, ao norte do Equador, já que os escravos vindos do golfo da Guiné eram mais procurados pelas suas
capacidades de trabalho e aclimatação ao meio ambiente
brasileiro. Com a situação no golfo da Guiné a agravar-se,
conjuntamente com o medo que se avançasse com mais
medidas restritivas do tráfico, observou-se o paradoxo de
quanto mais terreno ganhassem as ideias abolicionistas,
maior seria o volume de escravos comerciados.25
Um novo impulso foi dado em 1826 com a assinatura
do tratado anglo-brasileiro que impôs uma ilegalização
do tráfico no Brasil no espaço de três anos, o que tornava
cada vez mais difícil a transformação que certos sectores políticos portugueses preconizavam para a dinâmica
económico-comercial nos territórios africanos. Esse entendimento levou a um aumento significativo do tráfico,
procurando antecipar um período de possível carência de
mão-de-obra escrava. Em 1825, estima-se que entraram
em território brasileiro um total de 43000 escravos, subindo este número, em 1829, para 73000, enquanto o
“Rio de Janeiro, com a produção de café em crescimento,
tem a parte de leão nessas entradas: nas mesmas datas,
passa de 27000 para 48000”26. Só com enorme esforço
25
26
Caldeira, Escravos e Traficantes no Império Português, 252-253.
Caldeira, Escravos e Traficantes no Império Português, 253-254.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 51
político, militar, humano e económico, algo inexequível
à época, seria possível ao Governo português contrariar
toda uma conjuntura onde os proventos vindos do tráfico estavam em franco crescimento. A acrescer a estas
circunstâncias, Portugal aprofundava uma crise política e
económica interna que vinha desde a Guerra Peninsular,
colocando o país no caminho de uma guerra civil, que irá
deflagrar em 1828 e só terminará em 1834.
A partir de 1830,entrou em vigor o tratado anglo-brasileiro e, ao mesmo tempo, a Inglaterra intensificou o
patrulhamento na costa africana, enquanto no principal
território abastecedor, Angola, o tráfico se mantém legal.
Em 1831,foi aprovada uma lei que proclamava a liberdade de todos os escravos que entrassem ilegalmente no
território brasileiro, agravando as penas para todos que
continuassem envolvidos neste comércio. As medidas de
abolição do tráfico adoptadas pelo Governo brasileiro
tiveram como efeito a queda brutal dos preços dos escravos na costa africana e, inversamente, aumentaram-nos,
exponencialmente, na costa brasileira27. Essa situação
aumentava a cobiça dos comerciantes, pois o risco de
perda de um transporte era largamente superado em caso
de sucesso. Agora desembarcava-se clandestinamente ou
com a cumplicidade das autoridades, ao longo da cos27
Caldeira, Escravos e Traficantes no Império Português, 244-247.
52 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
ta brasileira, em ancoradouros improvisados, longe dos
portos principais. Se num primeiro momento verificou-se um abrandamento nas entradas de escravos, o tráfico,
agora ilegal, foi, progressivamente, voltando a uma normalidade só possível pela cumplicidade das autoridades.
Apesar de a conjuntura adversa para implementar medidas de ilegalização do comércio esclavagista, a partir da
abolição da escravatura pelo Governo inglês, em 1833,a
situação legal do tráfico na África portuguesa tornava-se praticamente insustentável. Mais do que as medidas
legislativas em si, os desenvolvimentos que se assistem na
sequência das medidas de abolição do tráfico, avançadas
pelo governo setembrista de Sá da Bandeira, mostram-nos o grau de fragilidade da autoridade portuguesa nos
territórios coloniais. Nem a lei de 1836 nem as suas subsequentes vão conseguir travar o comércio de escravos nas
costas africanas.
As condições nas colónias africanas não tinham mudado de sobremaneira. Em Moçambique, o declínio do
comércio com o oriente, acentuado pela abertura dos
portos ao comércio internacional, mantinha uma economia quase totalmente dependente do tráfico negreiro. Na
verdade, a primeira metade do século XIX é marcada por
um estado de absoluto declínio nas possessões portuguesas do oriente, verificando-se o abandono de fortalezas
por falta de meios, venda de bens nacionais para fazer face
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 53
a despesas de administração e salários, completo desleixo
de guarnições e edifícios estatais, e decadência do trabalho missionário28. Assim, assiste-se a uma intensificação,
agora ilegal, no tráfico de escravos, como actividade comercial quase exclusiva.
Na costa ocidental a situação era ligeiramente diferente, consequência do esforço que vinha sendo efectuado
desde 1835-36. Angola e os arquipélagos atlânticos estavam, progressivamente, a diversificar as suas actividades produtivas, alavancadas num aumento de preço no
mercado internacional de muitos produtos coloniais. Em
S. Tomé, assistiu-se a uma forte implantação da cultura
do café e ao começo do cacau, cultura que vai ter uma
importância fundamental décadas mais tarde. Em Cabo
Verde, foi o algodão e a urzela que se desenvolveram,
enquanto em Angola, a urzela, o café e a cana animaram
uma nova dinâmica económica. São estes os territórios
que se pretendeu fossem a base do “novo Brasil”. Todavia,
as trocas comerciais com a metrópole nunca atingiram
uma grande intensidade e não foram capazes de substituir
uma dinâmica de lucros que o tráfico continuou a providenciar, provocando, em parte, o insucesso dos projectos
equacionados para esta zona pelo Governo setembrista.
28
Lucas, “Organização do Império”, 252-254.
54 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
Essas condições, apesar de serem desastrosas para se
conseguir implantar as medidas de abolicionismo do
tráfico negreiro, eram também agravadas por uma administração colonial onde a corrupção era uma realidade
generalizada, e pelos fortes interesses de uma burguesia
directamente ligada ao Brasil. Existia, nos territórios
africanos, uma clara promiscuidade entre as autoridades
coloniais e os agentes económicos ligados ao comércio
esclavagista, havendo uma distribuição dos lucros dessa
actividade que originava uma convergência de interesses
na resistência à ilegalização. Essa corrupção disseminava-se em todos os patamares da administração, chegando
aos lugares cimeiros, em parte pelos baixos salários, ou
mesmo por não os receberem. A tentação de fazer fortuna
rapidamente era demasiado forte, e muitos desses funcionários eram coniventes ou, também eles, entraram no
tráfico. Exemplo dessa realidade éa ordem dada por Sá da
Bandeira, em 1839, para incriminar “Manuel Bernardo
Vidal, antigo governador-geral de Angola, que não só
não dera cumprimento ao Decreto de 10 de Dezembro
de 1836, alegando legislação anterior, como autorizava o
negócio de escravos desde que lhe pagassem 800$000 reis
por navio”29.
29
Capela, Escravatura, a empresa de saque o abolicionismo (1810-1815), 274.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 55
A burguesia que se dedicava ao tráfico ilegal na costa
africana funcionava como elo de ligação com os representantes dos grandes comerciantes brasileiros. No Brasil,
esta burguesia luso-brasileira tinha relações muito próximas com o poder político e com os empresários britânicos estabelecidos no território. Era a estes empresários
ingleses que eram comprados, muitas vezes a crédito, os
artigos que eram trocados na costa africana por escravos. Esta cumplicidade anglo-brasileira, que acabou por
estar intimamente ligada aos lucros do tráfico ilegal, foi
episodicamente denunciada em Inglaterra. Os produtos
exportados de Manchester eram direccionados e fornecidos, a crédito, aos traficantes de escravos no Brasil30. Era
como se assistisse à reedição do “Comércio Triangular do
Atlântico”, mas, desta feita, com Inglaterra como um dos
vértices.
A resistência, nas principais colónias africanas, à decisão de 1836, de abolição do tráfico de escravos, foi
imediata e continuou durante vários anos. O Governo
português tentou combater essas resistências de forma a
dar efectividade ao decreto de 10 de Dezembro, até porque, enquanto o tráfico persistisse, os capitais necessários
ao desenvolvimento desses territórios continuaria a ser
desviado para essa actividade. Sá da Bandeira, em Janeiro
30
Capela, Escravatura, a empresa de saque o abolicionismo (1810-1815), 264-266.
56 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
de 1839, enviou um novo governador-geral para Angola, o vice-almirante António Manoel de Noronha, que
substituiu o já referido Manuel Bernardo Vidal. O novo
governador, logo em Fevereiro desse ano, publicou um
edital impondo a rigorosa observância do decreto abolicionista. O Município de Luanda, em missiva ao novo
governador, alertava das consequências para a economia
local do fim do tráfico de escravos. A verdade, é que este,
em menos de seis meses, pedia a sua substituição no cargo. Nas justificações dadas a Sá da Bandeira, Manoel de
Noronha sublinhava que a supressão do tráfico tinha eliminado a única actividade lucrativa dos habitantes locais,
originando o encerramento da alfândega e provocando
um défice orçamental que poderia chegar aos dois terços
da sua totalidade. A situação criada pela sua acção tinha-o
tornado tão impopular que não julgava já ser a pessoa
indicada para levar a cabo as alterações que o Governo
português preconizava para a colónia.
Em Moçambique o caso era ainda mais grave, pois
a reacção à imposição do decreto de 10 de Dezembro
foi bem mais violenta. O governador-geral, João Carlos
Augusto de Oyenhausen-Gravenburg, em 11 de Novembro de 1839, suspendeu o dito decreto, algo que Sá da
Bandeira, por acreditar na sua honestidade, atribuiu a
pressões intensas dos negreiros. Mais tarde, o governador
Joaquim Pereira Marinho chegou mesmo a abandonar a
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 57
colónia, face à péssima reacção que a sua condução política neste aspecto causou31. Em Moçambique suster o
tráfico dependia da acção, ou inacção, dos governadores-gerais, em conjunto com as operações de repressão no
mar, realizadas pela Royal Navy e a Marinha de Guerra
portuguesa. Todavia, a extensão da costa, a sua diminuta
ocupação territorial e o débil domínio militar, exercido
pelas autoridades portuguesas, permitiram que o tráfico
ilegal de escravos perdurasse nessa colónia muito para
além de meados do século. A entrada em declínio da zona
dos prazos e a sua africanização, a formação do império
militar de Gaza dos Nguni, no sul da Zambézia, mantiveram o hinterland de Moçambique numa região “sem lei”.
Nestas regiões, o tráfico de escravos e marfim, em troca de
armas, deu consistência militar a esses povos indígenas,
na sua oposição à soberania portuguesa, problema que só
se irá resolver no final do século. Assim se explica, que se
tenham mantido “os padrões anteriores, baseados na exploração e comércio de Marfim e no tráfico de escravos”32.
A transformação desta conjuntura, profundamente adversa para o Governo português, dá-se em 1850, quando
o Brasil promulga a lei de Eusébio de Queirós, ilegalizando o comércio de escravos. Nessa altura, a Inglaterra
31
32
Capela, Escravatura, a empresa de saque o abolicionismo (1810-1815), 274-275.
Lucas, “Organização do Império”, 256.
58 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
já operava em águas territoriais e portos brasileiros, ao
mesmo tempo que, na frente diplomática, aumentou a
pressão sobre o Governo para que actuasse pela via legislativa. Sendo o território brasileiro o principal destino dos
escravos da África portuguesa, o resultado dessa medida
foi a queda abrupta nos números de entradas. Entre 1801-1850, a média anual de entrada de mão-de-obra escrava
rondava os 47300, enquanto entre 1851 e 1866, caiu para
60033. Não podemos olvidarque os territórios onde esta
medida teve maior impacto foram os da África ocidental,
já que Angola era o grande exportador de escravos para
o Brasil. Em Moçambique, esse fluxo transatlântico e no
Índico mantém-se, mas com muito menos intensidade,
agora para a ilha da Reunião e para Cuba. Todavia, estes
números demonstram a incapacidade de Portugal em suster o tráfico ilegal e em conseguir impor a lei abolicionista
nas colónias. Enquanto em território brasileiro existiu a
procura, o lucro providenciado pelo tráfico manteve toda
uma burguesia ligada a esta actividade empenhada na sua
manutenção. Essa burguesia, que tinha enriquecido através do comércio de escravos, canalizava já parte dos seus
lucros para Portugal, mas essas transferências atingiram o
seu apogeu no ano de 1850, demonstrando o marco que
a Lei Eusébio Queiroz representou.
33
Caldeira, Escravos e Traficantes no Império Português, 252.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 59
DA UTOPIA DAS LUZES À
REALIDADE COLONIAL:
O TRÁFICO ILEGAL E O
CASO DO MONT FERRAN
O ABOLICIONISMO FRANCÊS
O abolicionismo francês conhece duas fases distintas. A
primeira fase é curta, mas fecunda, dando-se no final do século XVIII. As reivindicações de liberdade e emancipação
propagandeadas pelos pensadores e filósofos das Luzes
exerceram forte influência tanto na Grã-Bretanha como
em França. Em 1788 cria-se a Société dês Amis des Noirs
e parlamentares como Brissot e o abade Henri Grégoire
fazem-na ter peso político, seguindo as reivindicações de
Wilberforce ou de Clarkson, no outro lado do mar da
Mancha. Os abolicionistas perdem força na questão de
São Domingos, procurando legitimar o novo país, mas
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 61
não encontrando aliados nessa perspectiva, no quadro
dos interesses britânicos e espanhóis. Devido a essa situação, tornam-se mais cautelosos perfilhando uma posição
mais gradualista, propondo uma supressão progressiva da
escravatura34.
Durante o século XVIII, as Antilhas francesas, a Martinica, Guadalupe e, principalmente, São Domingos, o
futuro Haiti, tiveram uma importância central para o
comércio colonial de França. Essas ilhas conheciam um
grau de desenvolvimento muito elevado, tendo na produção de açúcar e café as suas produções essenciais, com
um modo de produção assente na mão-de-obra escrava.
Neste período, as Antilhas eram responsáveis por cerca
de metade do comércio mundial de açúcar e de café,
tornando-os dos territórios coloniais mais valiosos35.
Quando, em 1791, se dá a grande revolta escrava na ilha
de São Domingos, que irá durar até 1804, embalada pelo
Iluminismo, as ideias difundidas pela Revolução Francesa
materializam-se em 1794, com a França a avançar para
a abolição total da escravatura. Todavia, a ascensão ao
poder, em 1799, de Napoleão Bonaparte, originou um
retrocesso no processo abolicionista francês. Ao mesmo
34
Nelly Schmidt, “Les abolitionnistes français de l'esclavage, 1820-1850”, Revue
française d'histoire d'outre-mer, tome 87, n°326-327 (1er semestre, 2000): 205-244.
35
Henry Wesseling, Les empires coloniaux européens 1815-1918 (Paris, Éditions
Gallimard, 2009), 155.
62 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
tempo que procurou restabelecer a soberania francesa
nas Antilhas, em 1802 reinstitui a instituição esclavagista no Império. Os planos de Napoleão acabaram por
falhar nessa colónia americana e em 1804 nasceu o Haiti
independente. A revolução haitiana, pela violência que
transportou, de ambos os lados, teve enorme impacto
nas mentalidades da época e sustentou, durante um largo
período, as posições que exigiam uma extrema cautela no
avanço de políticas emancipadoras.
Com a derrota das forças napoleónicas, em 1814, e a
mudança no equilíbrio geopolítico mundial, também a
França foi influenciada a regressar às medidas abolicionistas, com a ilegalização do comércio de escravos. Quando
foi assinado o tratado franco-britânico de Paris, em 30
de Maio de 1814, o Governo francês comprometeu-se
com a abolição do tráfico em todos os seus domínios,
no espaço de cinco anos, ou seja, até 1819. No mesmo
articulado a França promete igualmente unir esforços, no
Congresso de Viena, a realizar no ano seguinte, para que
a abolição do comércio esclavagista fosse uma realidade
em toda a Cristandade36. Todavia, ao contrário de Portugal, Espanha ou Holanda, a Inglaterra nunca obteve
a aquiescência gaulesa para um acordo bilateral que lhe
desse poderes de visita a barcos sob o pavilhão francês,
36
Caetano, Portugal e a Internacionalização dos Problemas Africanos, 53.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 63
ou permitir a constituição de tribunais mistos para julgar
embarcações negreiras apreendidas. Assim, a repressão do
tráfico, realizado no domínio francês, ficou às expensas da
armada e dos tribunais gauleses, debilitados, como o país,
depois da derrota de Napoleão.
Tal como em Portugal, os franceses olhavam para
a questão do tráfico como uma forma de os ingleses
condicionarem o desenvolvimento económico das suas
colónias, aumentarem a sua cota no mercado mundial e
expandirem, por enfraquecimento das outras potências,
a sua zona de influência nos espaços ultramarinos. Apesar de a França ser precoce no avanço de medidas abolicionistas, a abolição da escravatura não foi, nessa fase
do processo histórico, entendida como uma exigência
moral, mas como uma imposição maquiavélica de uma
Inglaterra desejosa de arruinar o Império francês. Apesar
da experiência de revoltas, que levaram à emancipação
de populações na área caribenha, não há uma verdadeira
transformação na mentalidade esclavagista da metrópole,
para além de um certo entusiasmo no período revolucionário37. Bem demonstrativo desta realidade foi, menos de
um ano depois, e em total violação do acordo de Paris,
Roger Botte, “L'esclavage africain après l'abolition de 1848. Servitude et droit du
sol”, Annales. Histoire, Sciences Sociales, 55e année, N.º 5 (2000): 1009-1037.
37
64 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
o posicionamento francês na Convenção de Viena de
1815, no apoio à posição portuguesa, de oposição a uma
tomada de decisão que vinculasse internacionalmente as
potências coloniais a terminar com o comércio de escravos dentro de um calendário fixo.
A segunda fase do movimento abolicionista francês
data de 1820 a 1848, ou seja, inicia-se no fim do prazo da
legalidade do comércio esclavagista. Começa a perceber-se pelo recrudescimento de instituições abolicionistas. É
o caso da Société de la Morale Chrétienne, com o seu Comité
pour l’abolition de la traite et de l’esclavage, com um jornal
da sociedade, depois a Société français e pour l’Abolition de
l’Esclavage, com a sua edição de brochuras, depois com
o periódico L ‘Abolitioniste Français, o Bureau de Correspondance, do órgão protestante LeSemeur, os comités de
redacção das revistas criadas por Cyrille Bissette, a Revue
dês Colonies, depois a Revue abolitioniste. O exemplo inglês
levou à criação de diversas comissões governamentais para
reverem o estatuto colonial, com vista à supressão da escravatura. Os membros dessas sociedades eram aristocratas,
escritores e pensadores de nomeada, pelo que seria difícil
ignorá-los. Membros dirigentes da British and Foreign
Anti-Slavery Society eram regularmente recebidos em Paris
e em outras localidades, participando nas acções da congénere francesa, patrocinando publicações, estimulando
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 65
campanhas de petições. Com forte influência, lutavam
nos campos de batalha políticos, conquistando, comissão
após comissão, uma vitória total, em 184838.
Apesar de a abolição do comércio de escravos ser precoce, tanto em França, como em Inglaterra, a realidade é
que essa iniciativa não é simultânea com a emancipação
do escravo. Muitas das suas colónias tinham como base
económica culturas como o açúcar, o café ou o algodão,
entre outras, que tinham, exclusivamente, na mão-de-obra escrava, a sua força laboral. Não era pela abolição
do comércio esclavagista que deixava de existir a necessidade de renovar a força braçal escrava nessas colónias.
Se juntarmos a esta combinação vastos territórios que
continuavam a importar legalmente grande número de
escravos, como o Brasil ou os Estados Unidos da América, percebemos que estava formada a conjuntura perfeita
para que o comércio de escravos continuasse nos países
que continuavam a permiti-lo, e que se observasse um
surto de tráfico ilegal nos países que já o tinham abolido,
como Inglaterra, França ou Espanha.
Em França, o tráfico ilegal tinha a sua base nos principais
portos esclavagistas do século XVIII, Bordéus, Le Havre e,
principalmente, Nantes. Nantes teve cerca de 47% da cota
de negreiros ilegais de toda a França. Estima-se que cerca
38
Schmidt, “Les abolitionnistes français de l'esclavage”, 205-244.
66 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
1/6 da marinha de longo curso de Nantes estivesse ligada directamente ao tráfico ilegal de escravos, entre 1814
e 1833, o que se salda em 268 navios a ela associados
(ao que acrescem, ainda, outros 85 altamente suspeitos),
tendo como destino principal Cuba. A partir de 1827,
começa a diminuir o número absolutamente extraordinário de meios envolvidos no negócio e surgem as primeiras
falências, o que se explica por, até 1826, a repressão ao
tráfico ser irrelevante. Depois disso, paulatinamente, a
acção da marinha de guerra francesa começou a fazer-se
sentir na costa africana39. Todavia, o tráfico ilegal francês
irá continuar muito para além da primeira metade do
século XIX, em África, com destino ao Brasil e a Cuba,
contrabando esse em franco dinamismo. Apesar da repressão na costa africana, os negreiros europeus ou americanos colaboraram com negreiros africanos para furar os
bloqueios navais e manter uma actividade que continuava
a originar grandes margens de lucro. Observa-se que houve um recrudescimento na procura no Magreb, Médio
Oriente e Índia, o que explica que entre 10000 a 12000
escravos saíssem por essa rota, todos os anos, na década
de 186040.
Serge Daget, “Long course négriers nantais du trafic illégal, 1814-1833”, Revue
française d'histoire d'outre-mer, tome 62, n°226-227 (1er et 2e trimestres, 1975): 90134.
40
Botte, “L'esclavage africain après l'abolition de 1848”, 1009-1037.
39
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 67
O caso francês acabou por ter particularidades, pela
ausência de acordos internacionais que permitissem um
policiamento multinacional do tráfico ilegal. São negreiros os navios declarados como tal por tribunais competentes e condenados, bem como o são as presas capturadas
pela Royal Navy, em águas africanas e americanas. Esse
julgamento das presas era feito por comissões mistas,
com Portugal, a Espanha ou a Holanda, conforme fosse o
caso, mas não existiu tal acordo com a França, pelo que as
presas eram consideradas ilegais aos olhos dos franceses.
Por essa razão os negreiros passaram a ostentar a bandeira
francesa. Assim, se capturados por ingleses, mostravam os
papéis dessa nação para serem libertados, ao passo que,
ao chegarem às Antilhas, passavam para pavilhão holandês ou dinamarquês, adquiridos ilegalmente em Santo
Eustáquio ou em São Tomás, para se defenderem das autoridades francesas. Contudo, a Royal Navy nem sempre
respeitou a posição francesa, capturando vários navios41.
O incontornável estudo de Serge Daget42 revelou
muito do mundo destes navios negreiros, em França, a
partir do porto de Nantes. Com uma tonelagem média
de 150 toneladas, envolvendo um total de 5000 homens
do mar, 93 armadores, Nantes foi, a seguir a Bordéus, o
41
42
Daget, “Long course négriers nantais”, 90-134.
Daget, “Long course négriers nantais”, 90-134.
68 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
porto com maior número de partidas de navios de longo
curso e foi o terceiro, a seguir a Le Havre, se se atender à tonelagem. Nantes teve cerca de 47% da cota de
negreiros ilegais de toda a França.Com o tempo acaba
por existir uma certa especialização de navios, sendo os
mais comuns os brigues e as galeotas, por vezes também
as escunas. Esta escolha por navios de médio porte tinha
consequências, tais como um menor custo em carga na
partida, forte promiscuidade entre a tripulação e a carga
humana de negros, podendo entrar em rios para escapar
à caça que lhes era dada pela Royal Navy.
Um navio negreiro de Nantes de 145 toneladas levava, em média, 19 tripulantes, o que é superior a outras
embarcações da marinha mercante, da mesma tonelagem,
que tinham, em média, 15 homens. A média de idades
era de 25 anos, tendo os mais velhos 40 anos e os mais
novos de 14 a 16 anos. As deserções eram frequentes, pois
que muitos nem sabiam ao que iam. Os salários eram
também melhorados, pelo risco da travessia. Os capitães
eram velhos ou novos. Tal explicar-se-á pelo facto de poderem perder a licença de capitanear se fossem aprisionados. Cruzando todos os dados documentais disponíveis,
é aceitável admitir uma média de 233 escravos por navio.
Na legislação francesa também encontramos vazios
que continuam a promovera manutenção do tráfico, ao
não responsabilizar judicialmente os armadores, daí a lista
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 69
de reincidentes ser grande, sendo o risco maior assumido
pelos capitães. Entre 1834 e 1865, cerca de quarenta navios são suspeitos de se terem dedicado ao tráfico ilegal
transatlântico, apenas naquele porto, alguns deles malogradamente famosos, com uma plêiade de reincidentes de
Nantes à cabeça dessa empresa. Da perenidade deste comércio ilegal levado a cabo por súbditos franceses iremos
encontrar provas nas águas do Arquipélago dos Açores.
70 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
O MONT FERRAN
No dia 9 de Junho de 2016, foram reconhecidos os
elementos de um naufrágio, no centro da antiga baía da
Calheta, na Ilha de S. Jorge, nos Açores, caracterizáveis
por se encontrarem em baixios, que teriam necessariamente rasgado o fundo do navio, levando-o a soçobrar.
Este, situado a -12 metros, entre os montes espigados que
quase afloram à superfície, é identificável pela presença
de três âncoras (duas em conjunto e uma mais afastada),
das pelo menos quatro, existentes num navio. As âncoras
são de tipo almirantado, com cerca de 1,20 metros de
comprimento na haste, braços e unhas bem visíveis, cepo
e cotovelo bem visíveis e anete ainda presentes, apesar de
colonizados por vegetação subaquática. Pelas suas características, clássicas, correspondem a sistemas de fundeação
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 71
integráveis, cronologicamente, da segunda metade de
Oitocentos até meados de Novecentos.
Os naufrágios estão documentados na Vila da Calheta
desde 1600, quando, a nascente da Vila, naufragou uma nau
de guerra inglesa. Pelas condições benignas do porto, aliadas
ao facto de ser um porto secundário, dentro dos existentes
em São Jorge, poucos acidentes marítimos aí devem ter sucedido. Em 1706, a balandra York aí se perdeu, salvando-se
a carga de pau-brasil e o tabaco que transportava. Quanto
à Her Majesty Ship Pallas, apesar de aí incendiada, já vinha
em sérios apuros. A 2 de Março de 1821, o brigue Conceição
e Almas, devido à ondulação, despedaçou-se contra o cais,
ficando mesmo com a proa sobre este.
De período compatível com as âncoras encontradas,
temos apenas dois naufrágios: O ocorrido a 9 de Novembro de 1864, do falucho Amizade, nas “Três Pedras”, a
nascente do porto da Calheta.
O outro naufrágio ocorreu nos primeiros dias de Maio
do mesmo ano, envolvendo uma barca identificada com
o nome de Mont Ferran. As Notas Históricas do padre
Manuel de Azevedo da Cunha, nascido apenas três anos
antes do incidente, registaram a história, descrevendo-a
da seguinte forma:
“Em Maio, por ocasião das audiências gerais
neste concelho, achando-se nesta vila em exercício
72 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
de suas funções o juiz de direito Dr. Luís Francisco
de Bivar Gomes da Costa, com o delegado Dr. José
António de Sousa Lixa, a sala do tribunal que
regurgitava de espectadores, esvaziou-se repentinamente, ficando apenas os magistrados e mais pessoal de justiça que, deixando seus lugares, vieram
todos para as janelas do edifício, surpreendidos por
uma tal debandada. Que havia de insólito, pois
todo o povo que corria para o terreiro do porto
como se fosse apagar algum incêndio?
Era uma grande e elegante barca francesa que,
com todo o pano fora, mar manso e tempo calmo,
abicara ao areal tocando no fundo em meia baía,
onde ficou imóvel. Chamava-se Mont Ferran, e
era um navio negreiro. Carregava baganha para
justificar sua escala pelos pontos da costa de África
donde se exportavam escravos. Frustrados os lucros
da viagem pelo cruzeiro francês, procurou os Açores
vindo desarmar no pequeno porto da Calheta de
S. Jorge. Roto o fundo da embarcação, saiu a linhaça em terra, aproveitando-se apenas a sacadura,
sendo tirada em quantidade pelos marítimos deste
porto pelas escotilhas. Com a baganha entraram
na praia legiões de ratazanas que invadiram as
vinhas, dando depois grande perda aos cultivadores.
Desarmada a barca, saiu a tripulação para suas
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 73
terras, sendo arrematado por Vital do Carvalhal de
Azevedo, de sociedade com o alferes Miguel António, filho do capitão-mor, tudo quanto pertencera
ao Mont Ferran. Trazia armas, gargalheiras e algemas, donde se evidenciou empregar-se no infame
tráfico da escravatura. O povo ficou chamando ao
Mont Ferran o navio da linhaça. Com efeito esta,
levada pela maré, enxurrou na costa, encontrando-se até à Ribeira do Arieiro do concelho das Velas.
O chicharro que então se apanhava, porque comeu
daquela linhaça, tinha o sabor do respectivo óleo”43.
Em boa verdade, o acidente parece ter sido provocado
por terem entrado na pequena baía, ao largo da Calheta,
em local errado, por quem desconhecia o porto, tendo
o fundo do navio rasgado nos baixios, levando a barca a
encalhar no imediato areal seguinte, soltando-se a linhaça
(baganha), que chegou a dar à costa na ilha do Faial44.
Manuel de Azevedo Cunha, Notas Históricas. Concelho da Calheta, São Jorge (Ponta
Delgada: Ed. Direção Regional da Cultura e Universidade dos Açores, 1981), 511-512.
44
O periódico “O Fayalense” ajuda a estabelecer uma data aproximada do dia do
naufrágio, ao publicar, no dia 8 de maio de 1864, na quarta página, a seguinte notícia:
“ARROJOS – Teem sido arrojados pelo mar a vários pontos da costa d’esta ilha alguns
barris com azeite de palma, que foram já arrematados pela alfandega. 1 pipa com 356
kilogrammas, achado na costa do Pastelleiro, foi arrematado por 49:020 reis: 1 barrica com 184 kilogrammas, achado na costa de Castello Branco, foi arrematada por
25:060 reis: 1 barril e 1 cesto com 120 kilogrammas, achado na costa da Feteira, foi
arrematado por 14:020 reis: 1 barril com 120 kilogrammas, achado na costa do
Pastelleiro, foi arrematado por 18:130 reis.”
43
74 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
Os salvados da Mont Ferran foram arrematados, segundo o padre Manuel de Azevedo da Cunha, por dois
indivíduos, em sociedade, Vital do Carvalhal de Azevedo
e o alferes Miguel António, filho do capitão-mor.
Indagando do que se poderia ter conservado, desde
esta arrematação, foi possível encontrar na posse dos
descendentes de Miguel António alguns materiais que,
indubitavelmente, pertenceram a um navio de meados do
século XIX e que, também, sem dúvida, se tinha dedicado ao tráfico negreiro. Dentro da tradição da família,
transmitida oralmente, esses materiais sempre foram associados à Mont Ferran.
Assim, para além do único testemunho deste navio
naufragado, da autoria do padre Manuel de Azevedo
da Cunha, que refere “armas, gargalheiras e algemas”,
a análise de alguns materiais ainda guardados no paiol
do Solar dos Noronhas confirma a história narrada pelo
autor (Quadro 1)45.
Agradecemos ao Ex.mo Senhor Dr. Orlando Noronha, descendente de Miguel
António e actual proprietário dos materiais, a gentileza de permitir o estudo ora apresentado, bem como toda a inexcedível e incansável colaboração ao longo de todo este
moroso processo.
45
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 75
QUADRO 1
Materiais da Mont Ferran, existentes no Solar dos Noronhas, Ribeira Seca, Calheta, Ilha de S. Jorge (Açores)
NÚMERO
MATERIAL
DENOMINAÇÃO
CRONOLOGIA
DIMENSÕES
1
Ferro
Peça de extensão
“JibCringle”
Século XIX
37 x 23 x 3,5 cm
2
Ferro
Cavilhas – 4
unidades
Século XIX
40 x 2; 69 x 4;
54 x 3; 55 x 3
cm.
Século XIX
55 x 2; 42 x 2;
43 x 1,5; 34 x
1,5; 44 x 2; 22
x 2; 40 x 2; 34
x 2; 31 x 2; 26
x 1; 29 x 2, 29
x 2; 29 x 2; 29
x 2; 53 x 2; 26
x 2; 21 x 2; 35
x2 ; 35 x 2 e 23;
2 cm
Ferro
Cavilhas – 20
unidades
4
Ferro
Mecanismo de
rolamento de
correntes e corrente associada
Meados do
Século XIX
Diam. 28,
espessura 6 cm.
Haste 30 x 2 cm.
Corrente 247 x
1 cm. Roldana
27 x 14 cm.
5
Madeira
Roldana de bloco
dupla
Século XIX
28 x 15 cm
6
Madeira
Tábua curvada e
decorada
Século XIX
340 x 30 cm.
7
Madeira
Caverna
177 x 15 cm
8
Madeira e
Ferro
Mastro
40 x 35 (madeira). Aros de 8 e 6
cm de espessura.
9
Ferro
Algemas e chave
Século XIX
54 x 9 cm. Chave 8 x 1 cm.
10
Ferro
Grilhão fixo
Século XIX
Diam 14, altura
9 cm.
3
76 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
Vejamos, recorrendo ao número de catalogação, as características do material ainda conservada da Mont Ferran.
A peça 1, apelidada de “JibCringle”, era utilizada para
ligar a parte inferior da vela, aos cabos.
Os quatro elementos arrolados no número 2 correspondem a cavilhas de ferro fundido. As duas peças superiores, uma de cabeça quadrangular e outra com cabeça
quadrangular e, na outra extremidade, circular. Trata-se
de peças que atravessavam duas tábuas de madeira, de
uma só vez, unindo as duas, através da aplicação de uma
porca ou anel metálico na sua extremidade – a parte
quadrangular, que atarraxa. As duas peças inferiores são,
muito provavelmente, duas cavilhas Fender, identificáveis
por se tratar de cavilhas com cabeças de tamanho maior
do que o habitual, que servia para proteger a madeira
exterior da embarcação de possíveis embates com outros
navios ou rochedos. Em meados do século XIX, este tipo
de peças seriam, regra geral, feitas de cobre.
No número 3, apresenta-se um conjunto de vinte cavilhas pequenas, em ferro fundido, com cabeças circulares
que, pelo seu estado de conservação, não permitem saber
a que partes do navio, especificamente, estavam integradas.
No número 4, apresenta-se um mecanismo de rolamento de correntes, muito provavelmente associada à
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 77
corrente, que pertence a uma tipologia associada à segunda metade do século XIX, com a roldana de ferro bem
visível.
No número 5, temos uma roldana de bloco dupla,
talhada em madeira, por onde passaria cordame de velas.
No número 6 apresenta-se a peça de maior impacto,
porquanto se trata de uma tábua de madeira, curvada e
decorada em entalhe, com um tridente que segura uma
videira, com folhas de parra e cachos de uva, que teria
sido, pelos vestígios de pigmentos, pintada a negro, com
os motivos decorativos a branco. Pertencia à secção da
embarcação localizada junto à figura de proa do navio.
Talvez se trate de uma evocação de Neptuno e Baco.
No número 7 temos uma caverna, de madeira, que,
por elemento isolado, não permite saber a que secção do
navio pertenceria.
No número 8 temos a base de um dos mastros da barca, em madeira, com anéis de reforço em ferro.
Apesar dos poucos elementos ainda existentes pode-se
concluir que se tratava de um navio de madeira, pela largura da caverna existente e da tábua de madeira, curvada e
decorada em entalhe, de um navio de navegação de longo
curso, de médio porte, enquadrável nas categorias de brigues, galeotas e escunas. As cavilhas permitem pressupor-lhe um calado igualmente significativo, o que o habilita,
78 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
naturalmente, às navegações atlânticas, na cronologia já
aludida de meados do século XIX.
Revelando algo sobre a função específica da Mont Ferran, a peça 9 corresponde a um par de algemas e chave,
em ferro fundido, cujos paralelos podem ser encontrados
em peças associadas ao tráfico transatlântico, existindo
um, por exemplo, na exposição permanente do National
Museum of African American History and Culture, em Washington, Estados Unidos. Trata-se de uma peça datável
do século XIX, em data anterior a 186046.
A peça 10 corresponde, por sua vez, a um grilhão, que
estaria fixo, envolvendo uma peça de madeira colocada na
vertical, que por sua vez assentaria no tabuado do porão e
chegaria ao tabuado do convés. Nela passavam as correntes, que iriam prender os membros inferiores dos escravos
transportados, que ficariam presos no porão.
Estas duas últimas peças permitem concluir que, para
além de se tratar de uma navio de madeira, de meados do
século XIX, de navegação de longo curso, de médio porte,
se tratava, inquestionavelmente, de um navio negreiro, o
https://nmaahc.si.edu/explore/collection/search?page=1&edan_q=%2A%3A%2A&edan_
local=1&edan_fq[0]=topic%3A%22Slavery%22
46
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 79
que confirma o testemunho do padre Manuel de Azevedo
da Cunha como verdadeiro47.
No que respeita ao nome da embarcação, o atribuído por
Manuel de Azevedo da Cunha, apesar de possível, parece
ser pouco provável, uma vez que Mont Ferran é evocativo
de um monte de Fernando, sendo que Ferran corresponde
à formulação catalã da nominação de Fernando, o que o
tornaria num topónimo geográfico com uma mescla de
linguagem apenas possível nos Pirenéus Orientais durante
a Idade Média, concretamente em occitano.
Atendendo a que Manuel de Azevedo da Cunha ouviu
a designação apenas por narração oral dos mais velhos,
é bem possível que se tratasse, ao invés, de Montferrand,
que é uma pequena aldeia no Sul de França, na zona de
Carcassonne (que dá para o Mediterrâneo), ou referente
à vila de Clermont-Ferrand (o centro de França), que permaneceu com autonomia, com a denominação de Montferrand, até 1630, data da fusão com Clermont. Isto se
admitisse que a designação dada pelos náufragos franceses
foi a correcta, o que não é verificável, uma vez que era
habitual os barcos negreiros possuírem várias matrículas
Faz-se notar que os Documentos da Câmara Municipal da Calheta, Ilha de São Jorge,
1700-1890, existentes na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do
Heroísmo, não conservam dados deste naufrágio e que o Arquivo Municipal das Velas,
malogradamente, também não possui qualquer informação.
47
80 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
de embarcação falsas, ou alternativas, a bordo, para as
jogarem consoante as conveniências.
O que é de estranhar, devendo mesmo ser salientado, é
que a documentação oficial da Intendência da Marinha48,
do Departamento Marítimo dos Açores, tanto na sede,
o Distrito Marítimo d’Angra do Heroísmo, como nas
delegações49, não registou o naufrágio. Aliás, também os
periódicos da época50, tanto os que se localizavam na Ilha
Terceira, como os do Faial, como ainda os de São Miguel,
omitem a história do navio naufragado. Um silêncio estranho, tanto mais que, para esse período, em Angra do
Heroísmo reportam-se outros naufrágios ao largo da Ilha
de São Jorge, bem como das outras ilhas do arquipélago;
descrevem-se, com pormenor, os problemas e necessárias
modernizações para diversos portos do arquipélago, nomeadamente o de Angra do Heroísmo; reitera-se a proibição de auxílio a corsários e se narra, com detalhe, as
consequências do muito mau tempo que assola a Ilha de
São Jorge - tudo isto no ano de 1864.
48
No Arquivo Histórico da Marinha, foram consultados todos os fundos documentais existentes, dos mais evidentes aos menos óbvios, sem qualquer resultado positivo.
49
Horta e Ponta Delgada.
50
Na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo, foram consultados os seguintes títulos: O Heroísmo, O Angrense e O Eco Agrícola - anuário, de Angra
do Heroísmo, ano de 1864; na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta
Delgada: Açoriano Oriental, A Ilha, Aurora dos Açores e Campeão Liberal, de Ponta
Delgada, bem como, O Campeador, da Ribeira Grande, ano de 1864; na Biblioteca
Pública e Arquivo Regional da Horta, O Fayalense, da Horta, ano de 1864.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 81
Procurando, num âmbito mais lato, razões para o silêncio das autoridades açorianas quanto ao naufrágio do Mont
Ferran, encontramos, em Marcello Caetano51, uma outra
pista que pode justificara omissão. Falando dos esforços
da Marinha de guerra portuguesa na repressão do tráfico,
Caetano lembra outro episódio traumático para a nação, o
caso da barca francesa Charles et Georges.
Esse caso mostra, num momento mais tardio, a contínua fragilidade da posição portuguesa no mundo colonial
e a menor resolução que por vezes transparece no combate
efectivo ao tráfico negreiro.
As medidas adoptadas, em 1836, pelo Governo setembrista de Sá da Bandeira, demonstram o grau de fragilidade
da autoridade portuguesa nos territórios coloniais. Insatisfeita com a falta de progressos substantivos na repressão
do tráfico, que o decreto de 10 de Dezembro originou,
a Grã-Bretanha continuou a pressionar o Governo português para a tomada de posições mais duras nesta matéria.
Os problemas de imposição da soberania portuguesa nos
territórios coloniais africanos continuavam a ser evocados para suportar a opinião, defendida por uma parte da
Câmara dos Pares, que medidas demasiado rígidas poderiam originar uma rebelião local. Apesar de esta posição
ser muitas vezes analisada, pela historiografia colonial,
51
Caetano, Portugal e a Internacionalização dos Problemas Africanos, 60.
82 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
como uma forma de perpetuar a legalidade do comércio
de escravos, ou tolerar e permitir a sua ilegalidade, o que,
em parte, é uma leitura correcta, essa realidade não pode
esconder uma parte igualmente importante dessa equação.
Existia um real temor de ver desaparecer, da sua esfera de
influência, os restantes territórios ultramarinos, depois da
independência Brasil, e a clara noção que Portugal era, das
principais potências coloniais, a que tinha uma posição
colonial e internacional mais débil.
Em 1838, procurando responder às acusações britânicas, lideradas por Lord Palmerston, e procurando um
apoio efectivo à sua posição colonial, Sá da Bandeira
chegou a um acordo de princípio, em que se abolia por
completo o tráfico de escravos nos domínios portugueses
e para todos os seus súbditos, dava-se direito recíproco de
visita aos navios mercantes e jurisdição a tribunais mistos
para julgar navios apresados. Todavia, com este acordo,
Sá da Bandeira tentava assegurar algo mais importante,
por um lado, o reconhecimento da legitimidade lusa nestes territórios52, por outro, “o apoio terrestre e naval no
caso de alguma das colónias se sublevar contra a aplicação
do tratado”53. Os pressupostos desse tratado, que era mais
abrangente que a questão do tráfico, acabaram por ser
52
53
Capela, Escravatura, a empresa de saque o abolicionismo (1810-1815), 249-250.
Caldeira, Escravos e Traficantes no Império Português, 239-240.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 83
recusados em Inglaterra, mas demonstra, efectivamente, a
precária situação da soberania portuguesa no mundo colonial e a fragilidade da sua posição internacional, perante
as principais potências coloniais.
Voltamos a esta questão para explicitar o pano de
fundo em que se desenrolou a apreensão da barca francesa Charles et Georges. Essa acção militar, de repressão
do tráfico na costa africana, acabaria por se transformar
num grave incidente diplomático com o Império francês, revelando, novamente, que a defesa dos interesses do
Império português dependia da manutenção de um equilíbrio delicado entre a soberania nos territórios coloniais
e a legitimidade política internacional. Apesar da posição
bastas vezes hesitante na repressão do tráfico, por parte
das autoridades portuguesas, a verdade é que ela começou
a ser progressivamente mais efectiva a partir da segunda
metade da década de 1830.
Quando se chegou à década de 1850, a posição do
Governo português em parar com o tráfico de escravos
ilegal era muito mais dura e clara. Pouco depois da aprovação do decreto de 14 de Dezembro de 1854, que aboliu
a escravatura em todos os domínios ultramarinos, a 27
de Fevereiro de 1855, uma portaria do Ministério da
Marinha vem indeferira dois súbditos franceses da ilha
de Reunião, a contratação, sob qualquer designação, de
negros em Moçambique, pedindo especial atenção na
84 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
zona do Inhambane. A 30 de Julho do ano seguinte, uma
nova portaria foi emitida pelo Ministério dos Negócios
da Marinha e Ultramar confirmando a proibição em toda
a Província de exportação de negros, sob a denominação
de trabalhadores livres, para a ilha de Reunião, ou para as
Maurícias, sob administração britânica, com o intuito de
acabar de vez com o tráfico negreiro.
Foi neste contexto que, em 21 de Novembro de 1857,
a barca francesa Charles et Georges foi abordada na costa
de Moçambique pela Marinha de guerra portuguesa. Nela
foram encontrados 110 indígenas, tendo sido questionado um delegado da administração da Ilha da Reunião que
seguia a bordo. Quando lhe foi pedido que apresentasse os
contratos de trabalho correspondentes, não o pôde fazer,
acabando por confessar que tinham comprado aquelas
pessoas.54 A embarcação francesa foi apresada, por ordem
do governador-geral de Moçambique, com o seu capitão,
Etienne Mathurin Rouxel, o dito delegado, Nicolas Carrel, e restante tripulação a acabarem igualmente presos.
O incidente transformou-se rapidamente numa questão
de prestígio internacional, com a França a exigir a imediata libertação do capitão e a entrega da embarcação,
com a devida compensação pelos prejuízos causados. A
Documentos Relativos ao apresamento, julgamento e entrega da barca francesa Charles
et Georges (Lisboa: Imprensa Nacional, 1858), 44.
54
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 85
contenda acabou, depois da condenação judicial do capitão, com a libertação pura e simples do navio e do seu
comandante e, ainda, o pagamento duma indemnização
aos interessados, tendo este caso sido visto, em Portugal,
como uma afronta à nação.
Um século depois, Marcello Caetano relembra este
incidente dizendo “que o Governo francês enviou uma
esquadra ao Tejo forçando-nos completamente desamparados dos outros Estados europeus, a restituir a barca
apresada, com apresentação de desculpas e pagamento de
indemnização!”55.
O isolamento sentido por Portugal nesse momento difícil, foi mais intenso pelo silêncio vindo do seu principal
aliado, a Inglaterra, sobretudo depois de esta ter vindo a
elogiar a adopção de medidas restritivas, na permissão de
exportação de indígenas das colónias portuguesas, para as
colónias francesas.56 Apesar de as autoridades portuguesas
terem continuado a apreender barcos franceses nas costas
africanas, tentando estancar o tráfico, o caso da Mont
Ferran é diferente. Apesar de não existir nenhuma dúvida que se estava em presença de um navio negreiro, não
transportava escravos a bordo, e, não se encontrava na
costa africana de domínio português. Com o naufrágio,
55
56
Caetano, Portugal e a Internacionalização dos Problemas Africanos, 60.
Documentos Relativos ao apresamento, 31-32.
86 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
a vida deste barco negreiro tinha chegado ao seu fim, retirando o perigo de vir a continuar a sua actividade ilícita
e imoral.
Apesar de o naufrágio da Mont Ferran se ter dado
em 1864, o caso da Charles et Georges estava ainda, e
continuaria a estar, bem presente na memória colectiva
portuguesa. Não existe, evidentemente, nenhuma ordem
expressa por escrito para o efeito, mas é bem possível que
a atitude das autoridades portuguesas, perante um negreiro francês, desde que não colocasse em causa a soberania
portuguesa, fosse a de “olhar para o lado”. No fundo, nos
casos em que se podia evitar afrontar uma potência mais
forte, como era o caso da França, a “regra” seria não se
procurar confrontos inúteis. Partindo do princípio, não
totalmente descabido, de que esta era a lógica que imperava nas autoridades portuguesas, o silêncio a que o
naufrágio da MontFerran foi votado, atendendo ao enquadramento do contexto político e diplomático, não se
torna propriamente estranho.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 87
UNDERWATER
ARCHAEOLOGY
IN THE AZORES
ARCHIPELAGO
Manuel Baptista de Lima was
the first museum director. He
loved military history, having
majored in History on Coimbra’s University. This passion
led him to work on the field of
On the Azores islands, un-
heritage studies, including, nat-
derwater archaeology began,
urally, archaeology. By 1972, a
on Angra do Heroísmo, Ter-
new underwater project began,
ceira Island, in the 1960’s, as
with Baptista de Lima along-
a direct result of the invention side Sydney Wignall, a Welsh
of the autonomous diving suit, underwater archaeologist. The
which paved the way for free
short lived project focused,
diving’s liberalization. Dur- mainly, on doing an underwaing that decade, several artil- ter survey of Terceira’s coast,
lery pieces were rescued from
looking for the famous Eliza-
the seabed and integrated in
bethan Royal Navy galleon,
the artillery collection of the
the Her Majesty’s Ship Revenge.
Angra do Heroísmo Museum. The ship was wrecked followA ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 89
ing a losing battle, relating to with the Institute of Nautical
corsair actions at the Azorean Archaeology, of Texas A&M
archipelago, in 1593. The ar- University. Together, members
chaeological expedition failed of all groups came to develop
to locate its main goal, but did several archaeological survey
recover one Portuguese made campaigns, primarily centred
artillery piece, from the fif- on the Angra bay, but also exteenth century, off the coast of tending to other islands: Faial,
the Monte Brazil. The follow- Pico, São Jorge and Flores.
ing year, a joint effort from the This same coalition, in 1999,
Education and Navy Ministries was responsible for the very
led to the creation of the very first underwater archaeologifirst underwater archaeological cal excavation works, also on
reservation in Portugal, at the the Angra bay, regarding the
Angra do Heroísmo’s bay.
By the end of the 90’s, the
conservation efforts of several
shipwrecks detected, that were
regions underwater archae- affected by the construction
ological efforts gained new of the future marina. Durground, with the creation of ing these efforts, the remains
the Underwater Archaeologi- of two ships were excavated.
cal Group of the Friends of the
One of them was identified as
Angra do Heroísmo’s Museum Dutch in origin, dating around
Association. This group would
the seventeenth century (nick-
come to be connected to the
named Angra C) and the oth-
National Centre for Nautical
er was a Spanish ship, part of
and Underwater Archaeology, the famous Rota de la Plata,
part of the then called Portu- in the late sixteenth, or earguese Institute of Archaeolo-
ly seventeenth century (nick-
gy. Later, they would associate named Angra D). On the year
90 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
2000, during a requalification
According to the UNESCO
effort on Calheta’s harbour,
Convention on the Protection
São Jorge Island, another ves-
of the Underwater Cultural
sel was excavated: a ship that
Heritage, signed in Paris, on
had sunk in 1793, named Her
the year 2001, all underwater
Majesty’s Ship Pallas.
archaeological excavations are
By the end of the year 2000,
executed only in sites that are
administration of the archaeo-
endangered, either by natural
logical heritage in the Azores
causes or manmade. Due to
was legally transferred to the
the natural erosion of the sea-
regional
Since
bed in the Angra bay’s Archae-
then, five Archaeological Parks
ological Park, another Spanish
were created which are special
ship was selected for excava-
reservation areas to protect and
tion, being identified as a part
value the underwater heritage.
of the Rota de la Plata, from
authorities.
Another important effort that the late sixteenth or early sevconnects with regional tour-
enteenth century (nicknamed
ism affairs was the inception of
Angra B). Another important
the Underwater Cultural Her- investigation centred on the
itage Itinerary in the Azores, a
caravel Nossa Senhora da Luz
special guidebook that unrav-
which sank in 1615, during its
els thirty archaeological sites
final voyage across the Cape’s
which can be visited by recrea- Route. Due to the implementional divers in the archipela- tation of new structures on the
go. Lastly, the local authorities’ Ponta Delgada and the Horsurvey efforts have expanded ta harbours, new excavations
to all the nine islands of the identified other ships such
Azores, identifying nearly sixty
as the Oakfield, an English
new archaeological sites.
steamboat, lost in 1897, the
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 91
Horta A, also named the ivory ship, a merchant vessel that
sank in the eighteenth century
with a full cargo of elephant
tusks and, lastly, the Horta F,
an American walling ship, lost
during the nineteenth century.
Studying the Mont Ferran’s
shipwreck relates to all these
previous works, and many
others, insofar as it is another effort to rescue the universal value of the underwater
cultural heritage and, simultaneously, allows all of us to
protect, know and enjoy the
importance of such a cultural
asset with singular significance
and range, representing and
mirroring five centuries of illegal trade of people and objects
across the Atlantic Ocean.
92 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
ENGLAND
AND THE
ABOLITIONISM
SURGE
The eighteenth century was
a time for grand changes both
in society and on the geopolitical contexts of Europe, which
eventually were reflected all
over the world. It was a particularly violent century, scarred
with many wars, both regional
and throughout the whole continent, manly centred on direct
or indirect conflicts between
the two main powers of that
age: France and England. Eventually, England was the ultimate winner and its newfound
power changed the geopolitical
landscape over the nineteenth
century, particularly when it related to the colonial nations.
To better understand the
British hegemony of the nineteenth century, one must first
look towards the circumstances that led to it, dating back to
the centuries that came before.
Truthfully, the European expansion of the sixteenth, seventeenth and eighteenth centuries
and the rivalry that rose from it,
over the countries that sought
the best colonial rich lands, or
those of better geostrategic positioning, led to a fundamental
increase in the military protection of all overseas positions.
This, consequently, was instrumental in the rise of the war
navy, in which England rose to
the top of the military prowess with the strengthening of its
Royal Navy. Contrary to what
could be presumed, this did
not happen because of a British natural talent for the affairs
of the sea as opposed to a more
landlocked positioning of the
remaining warring countries.
England’s internal defence
depended, almost entirely on
its navy. Being, essentially, one
big Island, the kingdom lacked
land borders that could endanger national security. Thus,
the growth of the British naval industry answered the two
most important problems of
the time: internal defence of
the kingdom and protection of
the overseas colonies. The remaining European kingdoms
could not afford to focus all resources on naval power as they
had to maintain a strong presence of military forces on their
land borders. As such, England
gradually assumed its position
as the hegemonic superpower on sea, something that was
intensified and consolidated
with Napoleon’s defeat at the
dawn of the nineteenth century.
Just as Great-Britain’s dominance over the seas was rising,
and the colonial territories expanding, one must not forget
that the eighteenth century is
also the age of the industrial
revolution in England. The
local industrial landscape required a lot more raw materials and the markets began to
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 93
demand an increasing number
the Orient, in general. One of
of by-products, especially high
the more important new focal
quality fabrics. The Napole-
points was Santo Domingo,
onic Wars and the commer-
once one of the main French
cial embargo that came from commercial hubs, responsible
continental Europe pushed for over three quarters of the
the level of economic ten-
nation’s colonial profit. Let us
sion in the English kingdom,
not forget the possibilities cre-
however, it also forced the au-
ated by the Brazilian harbours,
thorities to regroup and push
after 1808. By 1815, Britain
other
solutions,
particular- had a vested interest in con-
ly overseas. During this time
trolling the major trade routes
period, England’s economic off the know world and securpower suffered constantly, es-
ing the more important colo-
pecially between 1806-08 and
nial territories.
1811-12, when the French re-
On
treated at Moscow. During outposts,
these
the
commercial
English
in-
both of those periods, relief dustry found a bountiful
comes from the Spanish rev- provenance of raw materials
olution, first, and then from
needed for its expansion as
Russia’s victory. Nonetheless, well as a tailor-made market
the reprieve from economic for its by-products. During
recession comes, mostly, from the nineteenth century we witthe British colonies. With the ness a rise in a very particular
quick expansion over the last
niche of the market that pro-
centuries, by this time around duces, almost exclusively to
England had set its eyes on
the colonial territories, while
North America, the East In- also witnessing the genesis of
dies, Latin America, India and a new branch of the financial
94 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
system, focused on banking, fuelled, primarily, by the Engmaritime insurance and na- lish government. This moveval construction57.Very astute- ment to make slavery illegal
ly, the funnelling of resources
was rising, in England, since
into overseas affairs answered
the second half of the eight-
most of the main objectives of eenth century, cradled by the
the British growth, addressing Illuminist movement and beninternal defence, expansion- efiting from the British politiary desires and the protection cal system and the Protestant
of the new colonies, as well as Church. The abolitionists opfinancial, economic and in- erated in two main fronts:
dustrial development. After
amongst the British parlia-
Napoleon’s fall, in 1814, Lon-
ment, recruiting members to
don becomes the new centre of defend the cause internally;
the financial and commercial amongst the public opinion,
world, with England assuming drawing the attention towards
an uncontested position as rul- the inequalities, so as to utier of the seas and the colonial lize the power of the people to
pressure new laws that would,
markets.
It was in this Europe-
progressively, abolish slavery
an landscape, held together
and the slave trade. The Prot-
by a hegemonic power cen- estant Church came to hold
tre that the abolitionist agen- a very important role in the
da begins to spread, during abolitionist movement, influthe early nineteenth century, encing politicians and reshaping slavery to make it not only
Paul Kennedy, The Rise and Fall of the
Great Powers, Economic Change and
Military Conflict from 1500 to 2000
(London: Fontana Press, 1989), 167-181.
57
an economical affair but also
a matter of moral and Christian ethics. On the churches,
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 95
this message spread throughout sermons and organized
meeting, as well as through
pamphlets informing people.
And thus the Church became
instrumental in impregnating
the abolitionist doctrine with
the much needed Christian
values that were vital for its
victory. Protests were held and
boycotts were imposed upon
any product produced by slave
labour, especially sugar and
coffee58.
All significant changes, however, were slowed substantially by the economic interests of
the colonial authorities as well
as a share of the merchant navy
that gained considerable profits
from the slave trade and held a
powerful hold inside the parliament. It was in 1772 that the
abolitionist movement had its
first major victory, in regards to
the case of escaped slave James
Sommerset. The results were
not complete legal banning of
slavery, but did allow runaway
slaves inside the kingdom59. At
the dawn of the nineteenth century, new legislative victories
changed the British Empire forever. In 1807, the Abolition Act
institutes the prohibition of any
slave trafficking to all British
subjects, as well as banning any
import to any of its colonies.
Slave trade was abolished but
the power of the British slavers
remained untouched, although
the abolitionists attempted to
improve the living conditions
of slaves, something constantly debunked in the parliament.
Thus, slavery in the English
colonies remained the same,
up until the 1830’s60, specifically twenty six years later, when
59
Miers, Slavery in the Twentieth Century,
2.
Suzanne Miers, Slavery in the Twentieth
Century, The Evolution of a Global Problem
(Walnut Creek Alta Mira Press, 2003),
1-10.
58
96 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
João Pedro Marques, Sá da Bandeira e
o fim da escravidão: Vitória moral, desforra
do interesse (Lisboa: Imprensa de Ciências
Sociais, 2008), 20-21
60
in 1833 the Emancipation Act fears: all other nations had to
abolishes all slavery in most of follow the English example.
Great-Britain created a new
the British Empire.
Even though the abolition-
strategy, relying on influence
ist movement had struggled and military power, which led
to keep the discussion around to forcing the abolitionist agenslavery centred in the moral
da on the international stages,
plane, the decision to abolish particularly in France and Porslavery and all slave trade led tugal, two of its biggest rivals
to the rise of many economical fears that slowed down the
necessary steps for the execution of the new law. The trading of slaves was amongst the
most lucrative endeavours of
the merchant navy and the
abolishment was feared to
open a new gateway for the rise
of other nations, which held a
in the colonial world. The first
step was accomplished, following Napoleon’s defeat, in the
Vienna Congress (1814-1815),
considered a massive victory for
British diplomacy and the abolitionist cause. A great debate
was held between England,
Portugal, Spain and France,
as well as some other nations,
and an historical consensus was
much lower position on the reached. For the first time ever,
trading market until then. The slavery was subjected to an offiemancipation was also feared cial diplomatic position by the
to result in a significant loss of most important nations of the
economical competitive pow- world. In 1815 the Declaration
er, as all other colonial powers
of Powers Against Slave Trade
relied on legal slave labour to was signed by all those that held
push their economies. There colonial positions of interest.
was only one way to calm these Nonetheless, the historic value
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 97
was, essentially, symbolic, as
the main victory belonged to
a triumvirate formed by Portugal, Spain and France, bent on
preventing any laws that abolished slavery and the trade.
The devastating effects
of the Napoleonic Wars on
France and Portugal would
change the situation. Both
countries soon found themselves immersed in a heavy
economical crisis. Abolishing
slave trade was, to both kingdoms, a matter that related
much more to the financial
side of the issue than the moral
one. Considering the fragility
of their positions in the global
colonial context, as well as the
growing hegemony of the British Empire – the English began
to impose their will, rather than
negotiate it – both Portugal and
France did not consider the abolitionist cause as a part of a
new vision for Human Rights,
but rather a power play by England, seizing new ground on
98 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
the colonial landscape. The
debate over slavery gradually
became intertwined with the
topics of colonial sovereignty
and legitimate rule over those
territories, poisoning the diplomatic well, endangering the
world’s economy and insuring
the matter would not be discussed from a Human Rights’
perspective.
THE PORTUGUESE
ABOLISHING THE
SLAVE TRADE
The many accords signed with
England, up until 1817, show
a nation with a growing enfeebled international position,
Concerning Portugal, during the nineteenth century,
surrendering to a stronger European power.
the topic of slavery and slave
The first major blow to Por-
trade relates to a troubled peri- tuguese credibility came with
od where it is hard to pinpoint the royal family’s escape into
only one single reason for the Brazil, in 1807, as it led to a
delay and the growing social road with no return that would
and political resistance to the eventually culminate with Porcreation of any abolitionist
tugal’s most important colo-
laws. The first quarter of the ny declaring its independence.
century was considered dra- By 1810, during the height of
matic for Portugal, faced with the French invasion, Portugal
both internal turmoil and exis forced into signing two treaternal geopolitical dangers on
ties with England – Treatise of
the colonial stage and from the
Commerce and Navigation and
rest of the world. The beginTreatise of Alliance and Friendning of a French invasion of
ship – considered to be “truththe Peninsula leads to the exfully treaties of capitulation”61.
ile of the King and its Court
The commercial and navigato Brazil, in 1807, which in
tion agreement comes into
turn leads to Brazil’s independence, in 1822, something that
brought nefarious economical and political repercussions
to the Portuguese way of life.
Arlindo Manuel Caldeira, Escravos e
Traficantes no Império Português, O comércio negreiro português no Atlântico durante
os séculos XV a XIX (Lisboa: A Esfera dos
Livros, 2013) 236.
61
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 99
play after the opening of Bra- Treatise of Alliance and Friendzilian harbors to international
ship. As expected, this further
commerce, in 1808, and plac-
stressed relation between the
es Britain in a position of ab- two nations.
solute privileged access into
After Napoleon’s defeat, by
that colonial market, even go1815 the matter comes into the
ing so far as to provide better
global stage, once again, with
conditions than to the Portuthe Vienna Congress. The triguese merchants. In the docuumvirate desired an agreement
ment proclaiming alliance and
friendship, we find the first for- in which slave trafficking was
mal agreement, by Portuguese prohibited according to the
authorities, to begin the process needs of the nation’s evaluaof abolishing slavery, by gradu-
tions of the costs of rebuilding
ally limiting its trade. Thusly its colonies. Although the BritEngland placed, once again, ish government had no probthe slave trade side by side with lem accepting this, the English
its commercial interests, forc- abolitionist movement had
ing the hand of the opposing already gathered nearly one
nation and shoving aside any
million signatures in public pemoral views on the matter. One
titions to end all internationmust question if the British
al slave trade at once. Feeling
government truly believed, at
the internal pressure, England
that time, that abolishing slavery was a moral imposition. positioned itself on Vienna so
By 1811, several slave ships on
as to force a definitive answer
Portuguese routes were seized
by the remaining colonial na-
by the British navy for alleged-
tions, something which was
ly not following the rules of the impossible to achieve at the
100 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
time.62. As the British Empire
speech about the moral is-
grew, the remaining kingdoms
sues of the slave trade replied
feared that this was an eco- that: “he was not of the mindnomic move and continued to set that they had gathered to
oppose a joint effort to abolish
welcome Judgment Day or
all slavery and its trade.
address other matters of the
To better understand this
moral quandaries”63. Look-
international distrust one must
ing at Goethe’s analysis one
only look to a letter by Goe-
sees that the general consen-
the where he points out that
the German’s external policies
facilitated a vacuum of power
that allowed England to slowly
rule the entire known world.
The slavery issue is one of the
many examples provided to
demonstrate a pragmatic way
of life, as the hidden economic
interest was widely known by
all. By the end of that letter,
Goethe praises the resiliency
sus regarding the British was
that they sought to control the
other nations whilst defending their own slave network on
their colonies, engorged in hypocrisy and economic greed.
As previously pointed out,
the English endeavors could
not reach beyond the joint
Declaration of Powers Against
Slave Trade, condemning the
of D. Pedro de Sousa Hol- trade but never legally bindstein, future duke of Palmela ing any of the colonial powers
and the Portuguese represent- the a fixed goal. Nonetheless,
ative at the Vienna Congress. it remains an historic docuHolstein, when confronted
ment, fundamental milestone
with the English ambassador’s
Marcello Caetano, Portugal e a
Internacionalização dos Problemas Africanos
(Da Liberdade dos Mares às Nações Unidas)
(Lisboa: Edições Ática, 1963), 54.
63
62
Miers, Slavery in theTwentieth Century,
14.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 101
of the abolitionist movement
created, with Portuguese and
in the nineteenth century and English authorities64.
The new accords showed sigone of the great works of international relations. The path
nificant concessions by the Por-
forward,
Great-Britain,
tuguese government but also
was made with bilateral agree-
indicate that the original strate-
for
ments. Regardless of the resilient resistance showed during
the Vienna Congress, Portugal
eventually accepts a new treaty
with England, on September
the 22nd, 1815, that voids the
Treatise of Alliance and Friend-
gy of preserving the importance
of the slave trade remained unchanged. Portugal continued
to assure the constant flow of
slave ships between Africa and
Brazil, maintaining its position
as a stern defender of a gradual
abolishing of slavery. The na-
ship. The new document forces tion could not afford to suffer
the Portuguese Crown to abol- abrupt destabilization of its alish all slave trade north of the ready precarious political and
Equator, receiving, in return,
economical situation and feared
300 thousand sterling pounds
the loss of authority and politi-
as compensation for the illegal
cal legitimacy overseas, particu-
actions of the navy in seizing
larly on Brazil. It was on that
slave ships. Two years later, an
colony, the most important of
Additional Convention granted
all Portuguese assets that the
the British navy the authority
to search and seize any suspected vessels, north of the Equator. To trial these illegal ships,
a new mixed commission was
102 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
situation was quickly turning
and the autonomy movement
was growing every day.
Caldeira, Escravos e Traficantes no
Império Português, 236-237.
64
Whilst this scenario wors- impact on the agriculture, the
ened, across the Atlantic the
colonies and the State.
1820 Revolution brought forth
The changes came about
new perspectives on the slave
with the prohibition of new
institution.
slaves being imported to Bra-
Many
believed
that trafficking should be ille- zil, as well as the institution
gal and all slavery abolished in of freedom by birth, although
all territories under Portuguese the newborns still had to work,
without pay, until they turned
jurisdiction.
The most comprehensive
of these initiatives was led by
Francisco Soares Franco, cradled by Adam Smith’s economic liberalism. His vision
was that of a new workforce
for the colonial world. In its
book, “The Wealth of Nations”, written on the eighteenth century, Smith defended
that free labor is more profita-
25. This was an attempt to
minimize the impact upon the
slave masters and, simultaneously, bring about a gradual
transformation that would not
cause drastic changes to the colonial world. This model mirrored the one applied by the
Marquis de Pombal, which had
resulted in a gradual change towards non-slavery on the Portuguese society throughout the
ble than slave labor, since pro-
mainland kingdom. The peo-
ductivity increases when the
ple knew that, morally speak-
worker is paid and this com-
ing, slavery would eventually
pensates for the same worker’s
end, but all efforts were slowed
salary. Franco’s proposal was to
down and led to an eventual
implement a series of guide-
abandonment of the plan. Lat-
lines that would gradually end er it would be partially rescued
slavery in Brazil, lessening the
by Sá da Bandeira.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 103
In 1821, during a King’s
Court session, the abolish-
survive without the support of
its richest overseas territory.
ment of slavery in the Portu-
After such a loss, the Consti-
guese colonies was, once again,
tutional Hearings of 1822 led to
discussed. At one point, a constitutional amendment was
proposed, imposing the freedom by birth to all slaves but
many reforms, this time directed at the African colonies. The
abolishment of slavery was part
it was declined due to con-
of a new vision for economi-
cerns about the growing po-
cal development of Angola and
litical movements regarding
Mozambique. The basis behind
emancipation65. The
the new guidelines relied on up-
Brazil’s
Government and the King’s holding Christian morals and
Court continued to be con- equality, as well as complying
cerned with appeasing the
powerful economical and political elites of Brazilian society, but they could not dilute
with the British treatises. The
1822 Constitution brings forth
new advances by establishing
the eminent rupture that was
similar legal status to all overseas
on the horizon. The following
territories and the mainland
year, D. Pedro I is granted the kingdom, with few exceptions,
title of “Perpetual Defender of and recognizing citizenship to
Brazil” and, by September, he
all Portuguese, including freed
declares the full independence
slaves. These advances, how-
of the colony. This led to such
ever, did not hide the objec-
fallout that many believed the
Portuguese kingdom could not
Marques, Sá da Bandeira e o fim da
escravidão, 27-31.
65
104 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
tions to abolishment amongst
the cultural and political elite,
as evidenced by the lack of any
constitutional amendment that
broke down the ruling slave
couple of disputes over the fol-
trade in place66.
lowing decades.
Up until the 1830’s, the
On the international stage,
Portuguese Crown maintains
two important events helped
this vision towards the trade, shaped the decade. In 1826,
perpetuating the status quo that England and Brazil sign a treawas established by the treatises
tise that forces Brazil to abol-
signed with England in 1815
ish slave trade in the next three
and 1817. During that dec-
years, by 1830. This document
ade (30’s), a new set of cir- is strengthened, the following
cumstances, both internal and year, after D. Pedro I abdiexternal, led to a major push
cates the throne and the new
into real change in the mat-
liberal government proclaims
ter of approaching the com-
a law, contested by many, that
plete abolishment of slavery. frees all slaves arriving on the
On a national level, the civil
countries shores, over the next
war, which saw the liberal parthree years67. By 1833, the
ty oppose and defeat the absoBritish Parliament proclaims
lutist regime culminated with
the Emancipation Act, abolishthe end of a grueling conflict
ing slavery throughout most
that lasted from 1828 to 1834.
of the British Empire. As of
Even though the country was
that moment, the Portuguese
still mired in political and soslave trade south of the Equacial instability, the new constitor, already under heavy attack
tutional monarchy was finally
by the English becomes comembraced, notwithstanding a
pletely unsustainable.
José Capela, Escravatura, a empresa de
saque o abolicionismo (1810-1875) (Porto:
Edições Afrontamento, 1974), 222-226
66
Caldeira, Escravos e Traficantes no
Império Português, 245.
67
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 105
The new British law spread
the African colonies through a
like a manifesto to all other
gradual abolishment of slavery,
nations of slavers. Portugal ac- being replaced with free labor.
cepted this challenge: “Thus,
This did not mirror the ideals
after the English emancipation
defended by many in the new
the abolitionist problem was
administration, setting aside
consistently inserted into the the morals behind the emancipolitical and legislative agenda
pation of the black man. On
of the country” . As such, by the other hand, even though
68
November 5th, 1836 Portugal commerce was illegalized, it
is once again mired in inter-
still opened up a loophole,
nal changes with the Septem-
forced by those opposing the
ber Revolution that saw the rise new law: “any merchant from
of a new government, led by
Angola could transport slaves
the Viscount Sá da Bandeira,
alongside others like Manuel
into Brazil if they owned plantations there.”69.
da Silva Passos. Implement-
This paved the way for
ing a new vision for the Portu-
continuing traffic. To better
guese Empire, and compelled
understand the loophole we
by English pressure, on De-
must look towards the first
cember 10th, 1836, the Vis-
grand abolitionist project that
count proclaims a new law
Sá da Bandeira presented to its
that makes all slave trade ille-
peers, as minister of the Navy,
gal, enforcing harsh penalties
in 1836. In it, the Viscount
for all those caught in the act.
went far beyond abolishing
The new project was sus- trade, enforcing freedom by
tained by the idea of developing birth and forcing all slavers to
68
Marques, Sá da Bandeira e o fim da
escravidão, 37.
106 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
69
Caldeira, Escravos e Traficantes no Império
Português, 238.
declare how many slaves they to grant freedom for the Royal
possessed, with them losing Navy to “intercept, visit and,
all rights to the slaves if they if need be, seize any ships, unfailed to comply. Emancipation measures occupied the
bulk of the project70. Fear that
such laws were too drastic and
could jeopardize the balance of
the colonial world, as well as
the rights of Portuguese merchants and manufacturers in
der Portuguese pavilion, that
carried slaves or possessed the
equipment to do so.”71. After
a small resistance by the Portuguese, which led to several
anti-British proclamations, by
July 3rd, 1842, a new treatise
the African and Brazilian col- was signed with England. The
onies led to this project being document stated the complete
canceled before approval.
abolishment of slave trade in
This led to the mitigat-
all territories under Portuguese
ing effect of the December
jurisdiction and grants legal
10th decree which allowed Sá
authority to the Royal Navy’s
da Bandeira to reach around
regular inspections of ships
the strong internal opposition.
However, a violent British response to the weakened law
ends up setting the course for
much broader changes. After
1836, English pressure in the
under Portuguese pavilion. In
1847, a new treaty expands
this legal authority, allowing
British patrols to sail inside
Portuguese territorial waters.
Portuguese government rises,
culminating in 1839 with a proposed law, by Lord Palmerston,
70
Marques, Sá da Bandeira e o fim da
escravidão, 37-38.
71
Caldeira, Escravos e Traficantes no Império
Português, 240.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 107
RESISTING THE
SLAVE TRADE
ABOLISHMENT
AND THE ILLEGAL
TRAFFIC
BRAZIL AND THE
MAINTENANCE OF THE
SYSTEM
Portugal, forcing the kingdom
to concede too many of the
desires of its old ally, England.
The King’s Court exile into
Brazil, as well as committing
to authorize the abolishment
of slavery in short term and
conceding many new commer-
Understanding the politi- cial privileges in the Brazilian
cal and diplomatic context of market to English merchants
the first quarter of the nine-
ended up worsening the al-
teenth century in Portugal, ready precarious economiwhich culminated with Bra- cal situation of the kingdom,
zil’s independence, is essential
whilst also paving the way for
for the better understanding the colony’s proclamation of
of how the slave trade prob- independence. Between 1814
lem evolved over that time – after defeating Napoleon
period. One can identify two – and 1822 – year of Brazil’s
distinct periods that melt into proclamation – the Portuone coherent policy that vows guese authorities are afraid of
to prevent any damage in the what’s on the horizon, looking
Portuguese colonial establish- to prevent the inevitable outment. Truthfully, only due to come of losing its most imporoutside reasons is this stability tant overseas territory. For over
shaken to its core.
half a century the Portuguese
Firstly, war in the Peninsula elite had pushed into the new
will act as a conditioning tool to colony solidifying its value and
expose the fragility of the eco-
making it the elected destina-
nomical and political power of tion for immigration.
108 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
Slave trade, in this adverse
the colony, which sees its first
conjecture, answered a twofold great development in the folbut interconnected problem
lowing year, in 1808, when
that the State needed to solve:
the Portuguese Government
solidifying sovereignty and in-
announces, whilst in a much
creasing economic value of ter-
weakened position, that the
ritories on both sides of the
Brazilian
Atlantic. Each of these issues
opened to foreign merchant
has different natures related
ships. This proclamation rips
to the very intrinsic character-
apart the “system based on the
istics of Portuguese coloniza-
«colonial pact», dating back to
tion, but they are, ultimately,
Pombal’s age”72. Thus, monop-
harbors
will
be
connected. Maintaining traf- oly and exclusivity of all rights
fic became the crucial answer,
in the colony were no longer
partially because of political the kingdom’s prerogative, alwill and partially because Por- lowing for the financial growth
tugal lacked the economical,
and the autonomy of Brazil.
military of political where-
Since this process, and up until
withal to answer the challeng-
1822, the colony experienced
es set forth by the changing
a “transitional phase, from a
conjecture. Add, to all this, the
colonial economy into an ex-
fact that neither the elites nor porting capitalist economy,
the public opinion carried a following the basis of the Enghigh moral conscience for the
lish industrial capitalist.”73.
general defense of equality and
the abolitionist agenda.
The King’s departure to
Brazil, in 1807, sets the dawn
the emancipation process of
Maria Manuela Lucas, “Organização
do Império”, em História de Portugal, vol.
5, dir. José Mattoso, cor. Luís Reis Torgal,
João Lourenço Roque (Lisboa: Editorial
Estampa, Lda. E Autores, 1998), 246.
73
Lucas, “Organização do Império”, 248
72
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 109
However, one must note that
the fundamentals of the Brazilian economy do not change,
even if the manufacturing industries connected to naval construction, textiles and
sugar all experience a sudden
growth.
The Brazilian economy relied on agriculture and cattle
ranching, based around large
plantations, as well as mining
industries, all supported by
slave labor. At the dawn of the
nineteenth century, a greater
diversity is introduced in the
agriculture model as we witness the rise of cocoa, cotton,
rice, tobacco and, especially, coffee productions. These
new products gradually became fundamental in Brazil’s
exports, even as sugar maintained a powerful presence in
the overall economic balance74.
Both sugar plantations, which
represented the backbone of
the financial profits in the
colony, and the coffee fields,
the new rising star of Brazilian agriculture, required massive amounts of slave labor to
stay in business. As such, the
number of slaves entering Rio
de Janeiro rose, “from an annual average of 18000 slaves
in 1817, on Rio’s harbor, we
went to 24000, by 1821”75.
Economical advancements relied on slave labor, something
that does not change even after
the independence proclamation. With this information in
hand, it became nearly impossible to restrict slave trafficking
without seriously unbalancing
the colonial economy and risking Portuguese sovereignty.
Across the Atlantic, the issue of slave trade was just as
important. Firstly, Portuguese
presence in these lands was
reduced, centering on a few
crucial points of the African
Lucas, “Organização do Império”,
248-249.
75
74
110 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
Caldeira, Escravos e Traficantes no
Império Português, 244.
coastline. On the west coast,
they were based on a delicate
positioning in Guinea, supported by the Cape Verde and
Saint Tome archipelagos. Here
the Portuguese faced direct rivals in the French colonists and
the Muslim potentates that resisted occupation. In Angola,
the Portuguese focused around
Luanda, Benguela and a few
territories into the interior of
the country, but always close
to the coastline. The deep interior of the nation was, for the
most part, unknown. On Mozambique the situation was
even worse, with the colonist
occupying only the area between Lourenço Marques bay
and Tungue bay, new Delgado
Cape and the Zambeze Valey76.
A residual Portuguese presence in these territories meant,
naturally, that the economical
activities they developed were
not diversified. Mostly, they
were limited to a few mining
operations and the organized
slave trade. Trafficking slaves
in the African nations had,
first and foremost, the involvement of the more powerful indigenous families, which were
close to the colonist powers,
made up of white, black or
mixed-race people, including
women. Arlindo Caldeira describes this: “This association
of the trade with relatively stable family groups explains (…)
the rise of women related to
the slave trafficking, both in
Saint Tome and Angola, even
if this was a mostly masculine occupation.”77. Another
important group to scour the
African coastline was made
up of slavers of Brazilian and
Portuguese heritage, acting on
their own accord or representing the interests of great Brazilian companies. As a business
model that connects all aspects
76
Lucas, “Organização do Império”,
252.
77
Caldeira, Escravos e Traficantes no
Império Português, 267.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 111
of the colonial bourgeoisie
as one sees from their actions
and is entrenched in the over-
in the Vienna Congress and
seas society, one witnesses the in resisting the British treatise
presence of such great diversi-
during 1815. The documents
ty in the slave trade. The lack signed with England in 1815
of economical development in and 1817 demonstrate a great
the African colonies was both concern with not disturbing
the cause and a consequence the transatlantic flow of slaves
of the heavy traffic, as the prof-
fearing the endangerment of
its of any other activity could
the fragile power held in the
not match those of slavery and
colonial world. Any attempt
thus none would invest in oth-
to restrict the trade would have
er economic areas.
meant a great shockwave, with
By 1814, after the ending an economic impact that was
of the Napoleonic Wars, a new
not easily calculated, potential-
period starts, as we witness the
ly destroying the entire political
same questions that were previ-
balance. Amongst such a tenu-
ously raised come into a bigger
ous situation, the Portuguese
spotlight on the Brazilian terri- government held its intents
tory as its inhabitants became and prevented, momentarily,
more aware of their autono- the inevitable fallout.
my. On this same year a letter
The situation in Africa was
of law is published, naming the even more dramatic, as these
“United Kingdom of Portu- territories relied on the slave
gal, Brazil and the Algarves”, trade almost entirely, somegranting the same legal statute
thing that did not change
to both Portugal and Brazil. until the mid-nineteenth cenAs of this moment, the Portu- tury. The economical interests
guese attempt damage control,
112 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
of the African society in this
activity held a long tradition stage, as their imperialistic acthat, if changed by abolition-
tions betrayed their real inten-
ist laws, could precipitate a po-
tions. This duplicitous move
litical conflict that none could fed the opposition during the
foresee. Thus, we witness a
nineteenth century.
straight connection between
Benefiting from the royal
the slave trade maintenance,
family’s presence and new com-
the colonial sovereignty and mercial laws, Brazilian econeconomical
development. omy grew just as fast as the
Maintaining slavery connected
Portuguese economy plum-
all Portuguese colonies with its meted, giving rise to a deep fimain power in the mainland.
nancial and political crisis. This
Beyond these internal pres- paved the way for the 1820
sures, a growing feeling of mis- Revolution, with an ultimatum
trust towards Britain was made
presented to D. João VI, de-
clear by the many contradic-
manding the king’s return to
tions of the English’s actions. Lisbon, as well as the creation
As the British Empire solidi-
of new projects to reestablish
fied new colonial territories, the “colonial pact” by reposigrowing its area of influence,
tioning the Brazilian commer-
every other nation recognized
cial monopoly in the mainland.
economical factors behind the We witness two very different
effort to abolish slavery on all
paths taken by the two main
colonial nations. Although the territories under Portuguese juEnglish abolitionists justified
risdiction, resulting in the inev-
this movement internally with
itable emancipation that came
moral and ethical concerns, afterwards. The shock of losing
their government could not do the most important colony led
the same on an international to a dangerous loss of external
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 113
commercial power for Portugal
“during the entirety of the nineteenth century, however, Brazil
continued to import wine, as
well as some food products and
cotton, sugar and leathers to
be used as raw materials in the
Portuguese industries”78.
WILLPOWER,
AUTHORITY
AND ECONOMY:
ABOLISHING THE
SLAVE TRADE
By 1822 Portugal was immersed in a deep economical and political crisis, lacking
the support of its main colony
and with a dangerously residual
presence in Africa, mostly base
on the slave trade. One could
assume that Brazil’s independence would pave the way for a
new approach to the abolishment issue, but that would not
change until 1836, for various
reasons. Firstly, the emancipation didn’t stop the Portuguese
immigration into the country,
looking for a better life, rather
than going on to Africa or the
Orient. It didn’t stop the slavers as well. As such, after the
independence, the Portuguese
economical presence remained
Lucas, “Organização do Império”,
251.
78
114 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
crucial in Brazilian lands, heavily connected to the slave trade.
Regarding Africa, the mat- of the time. The report insisted
ter was brought up in the Con-
on the necessity of changing
stitutional Hearings by the
the slavers mindset, to invest in
Overseas Commission, a group
new economical areas, mainly
that was in charge of propos-
agriculture, to develop the land
ing and evaluating new projects and push them away from any
and laws regarding the over- activity that clashed with the
seas colonies. In its report, the religious, humanitarian and
Commission presents new ways political values then defended.
to develop the African protec- It also alerted them about the
torates, mainly in Angola and internal warfare and tribal riMozambique. The desired pro- valries that the trade perpetuject relied on agriculture and ated, forcing the indigenous
the opening of new commer- population away from any othcial channels to quickly drain er economical activity. Essenthe tially, the Commission advised
connection to the mainland. In the creation of a new model
production,
deepening
Mozambique’s case, it even pro-
for Africa that mirrored what
posed a tax on all product ex- was practiced in Brazil, defendchanges with Portugal, of 1% ing Christian values, the Huonly, whilst incentivizing the man Rights and upholding the
79
local governors to survey the Portuguese-English treatises .
nation for new gold, silver and
copper mines.
This was not just a recom-
During this time period we
see the rise of several abolitionist projects, such as the previ-
mendation for new ways to de- ously mentioned Francisco
velop the colonies but focused,
particularly on new models to
replace the slave based economy
79
Capela, Escravatura, a empresa de saque o abolicionismo (1810-1815), 222223.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 115
Soares Franco, although these
After signing the Treatise of Al-
did not represent the ruling liance and Friendship in 1810,
public opinion of the time and the Royal Navy’s operations
were all eventually stopped by
in seizing slave ships between
higher political or commercial 1811 and 1814 reflected a
values. The instability in the changing worldwide landmainland’s economy and poli-
scape. Here is when we wit-
tics prevented any real change.
ness the rise of the illegal trade
After the Brazilian proclama-
north of the Equator, as most
tion, many feared that some-
slaves that came from Guinea’s
thing of this magnitude could Gulf where sought after, beprecipitate new revolts in the ing considered better workers
remaining colonies, attempting to be free or worse, to join
a Brazilian Empire. Up until 1850, the very dynamic of
slave trade held great influence in the African colonies
and prevented accepting any
changes.
The nineteenth century
had started with a growing
number of slave ships heading
across the Atlantic, into Brazil and this will last up until
the second half of the century. Beyond Brazil’s economical
developments, a few political
factors influenced this growth.
116 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
and more adaptable to Brazilian’s climate. As the English
presence in the Gulf becomes
stronger and the fear that the
restrictive
measures
would
worsen, we detect a peculiar
paradox: the stronger the abolitionist development, the
higher the number of slaves
being traded80.
After signing the treaty, in
1826, to make slave trade illegal in Brazil, during the next
3 years, it became increasingly clear that any change
Caldeira, Escravos e Traficantes no
Império Português, 252-253.
80
in the African colonies could the civil war that lasted from
not be made as was planned
1828 to 1834.
After 1830, the British-
by certain sectors of the Por-
tuguese society. Looking to -Brazilian treaty comes into
sidestep the coming period of full power, whilst England inillegal slavery, this was a time tensifies the patrols on the Affor a massive rise in the slave rican coast, even as Angola
trade. During 1825, it is estimated that a total of 43000
slaves entered Brazil. By 1829,
that number had changed to
73000, “whilst Rio de Janeiro,
because of the growing coffee production, caries the lion’s
share of these arrivals, going
from 27000 to 48000”81. As all
profits grew, only a massive un-
retains full legal rights to conduct slave trading. One year
later, a new law is approved,
proclaiming freedom for all
slaves that entered illegally
into Brazil and worsening the
penalties for all those involved
in the traffic. These measures
led to a massive drop in prices for all slaves in the African
coast and, reversely, a great
dertaking of political, military, rise on prices in the Brazilian
humanitarian and econom- territories82. This meant that
ic strength would prevent the
the risk of losing a shipment
continuing trade, something paid off if you could successthe Portuguese government fully reach Brazil, and as such
lacked at the time. The deep the greed of many slavers was
wounds of previous wars and on the rise. They arrived illefinancial crisis were rising to a
gally, or with known help from
boiling point, culminating in some authorities, docking in
Caldeira, Escravos e Traficantes no
Império Português, 253-254.
81
Caldeira, Escravos e Traficantes no
Império Português, 244-247.
82
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 117
makeshift stations along the
that the economy relied almost
main harbors of Brazil. Soon
entirely on slavery. Truthfully,
enough, the trade numbers
the first half of the nineteenth
were back to normal, facilitat-
century witnesses the decline
ed by the locals who supported of Portuguese possessions on
the East, with the abandonthe slavers.
Despite the very trou-
ment of fortresses, the selling
bling situation, after the Eng-
of national possessions to bal-
abolished ance out the heavy debt of the
slavery, in 1833, the legality administration and pay of salaof the African situation be- ries, and the complete lack of
came essentially unsustain- maintenance on the local garlish
government
able. This is evidenced by the
way the measures applied by
Sá da Bandeira’s government
demonstrated a highly fragile
authoritarian power that the
Portuguese held on the colonies. The 1836 law, and all
those that followed, does not
stop the slave trade on the African shores.
The situation on Africa had
not changed substantially. In
Mozambique, the declining
commercial relationship with
the Orient, as evidenced by
the opening of the harbors to
international markets, meant
118 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
risons and state buildings, as
well as the decaying state of
the missionary work83. Illegal
slave trade became the saving
grace of many areas.
On the West coast the situation was slightly different
as a result of the efforts being implemented since 1835-36. Angola and the Atlantic
archipelagos had progressively diversified their economic
activities, pushed by a rise of
market prices for several products on the international scene.
83
Lucas, “Organização do Império”,
252-254.
In Saint Tome, coffee and co- slaves, sharing in their profcoa plantations spread quickly, its and creating a sort of lobthe latter becoming a mainstay by to oppose the abolitionists.
of the local culture in the next Such corruption reached some
decades. In Cape Verde the lo- of the higher offices of the adcals grow cotton and urzela ministration, being tempted by
(a plant used to makes dyes) the get-rich-quick scheme and
whilst in Angola it is also the pressured by the low salaries of
urzela, the coffee and the sugar public office. One such case is
cane that support the new eco- related by the order given by Sá
nomic boom. These lands were da Bandeira, in 1839, to prosseen by many as the start of a ecute “Manuel Bernardo Vidal,
“new Brazil”. However, trade former general-governor of An-
routes never reached their full gola, who not only had failed
to comply with the December
potential and could not re10th decree, of 1836, citing
place the cash flow dynamic
former legislation to support
that slavery continued to prothis, but also authorized slave
vide to many, leading to a gentrading, as long as he was paid
eralized failure of the project.
800$000 reis per ship”84.
Not only were these condiThe bourgeoisie was the
tions terrible for the abolitionist
main link between the illegal
movement, they were supporttrade in the African coast and
ed by a corrupt colonial adminthe powerful Brazilian meristration and the economical
chants. In Brazil, this group of
elite bourgeoisie connected to
mixed heritage had a tight reBrazilian interests. It soon belation with the political power
came clear that the African
authorities colluded with the
colonial powers that traded in
84
Capela, Escravatura, a empresa de saque o abolicionismo (1810-1815), 274.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 119
and the British entrepreneurs
a new general-governor to An-
that had settled there. These
gola, the vice-admiral António
Englishmen sold, often via
Manoel de Noronha, who re-
credit sheets, the products that
placed the aforementioned
were traded on the African Manuel Bernardo Vidal. The
coast for the slaves. This com- new governor, on February
plicity between all involved was
often denounced in England.
Trade goods from Manchester were redirected and sold
by credit sheet to the slavers of
Brazil85. It was a reenactment
of the “Triangular Commerce
of the same year, quickly announced a new edit that imposed a rigorous compliance of
the new abolitionist law. The
city-hall of Luanda wrote to
the new governor, alerting him
of the Atlantic”, only England of the economic consequences
had occupied one of the three of such enforcement. In less
corners.
than six months, the gover-
This colonial resistance to nor would ask for a substitute,
the law of 1836 was immedi- justifying this with the knowlate and lasted for many years. edge that suppressing the slave
The Portuguese government trade had eliminated any luattempted to fight this, to en- crative deals for the local inhabforce the decree and prevent itants, closing the customhouse
the diversion of important and opening a great budget debt
funds, destined for the economic development of new agricultural projects. On January
of 1839, Sá da Bandeira sent
Capela, Escravatura, a empresa de saque
o abolicionismo (1810-1815), 264-266.
85
120 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
that nearly reached two thirds of
it. He had also become such an
unpopular man that he no longer saw himself as fit to continue
the work of the Portuguese government in the colony.
In Mozambique everything African culture in those areas
was even worse, as the popu- as well as the creation of the
lar reaction to the new de- Gaza military empire, by the
cree turned to violence. The Nguni, in southern Zambezia,
general-governor, João Car-
kept Mozambique’s hinterland
los Augusto de Ovenhausen-
as a lawless region. Slaves and
-Gravenburg, on November
ivory were traded for guns to
11th, 1839, suspended the support the indigenous armies
decree which was something in their opposition to the Porthat Sá da Bandeira believed
tuguese sovereignty. The same
was related to internal pres-
“patterns as before remained,
sures made by the slavers. Lat-
based on exploration, trading
er, governor Joaquim Pereira
ivory and trafficking slaves87.
Marinho went so far as to be
Stopping this horrible situ-
forced to leave the colony, due
ation of the Portuguese govto the horrible fallout of his ernment begins in 1850, when
political conduct86. The length
Brazil passes the Eusébio de
of Mozambique’s coast, the
Queirós law, which essentially
very small fraction of occupied
makes all slave trade illegal. By
territory and the weak milithen England was already optary dominion of Portuguese
erating inside Brazilian territoauthorities paved the way
rial waters and harbors, whilst
for a rising illegal slave trade
pushing a diplomatic agenthroughout decades after the
da that pressured the governfirst decree was proclaimed.
ment to make new legislative
The decline of the “Prazos”
reforms. With the new law,
system and subsequent rise of
the massive influx of slaves
86
Capela, Escravatura, a empresa de saque
o abolicionismo (1810-1815), 274-275.
87
Lucas, “Organização do Império”, 256.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 121
from the Portuguese colonies
in Africa began to drop abruptly. Between 1801 and 1850 the
annual average for slave labor
was around the 47300, whilst
between 1851 and 1866 it had
dropped to 60088. One mustn’t
forget that the colonies that supplied this were all located in West
Africa, since Angola was the
main exporter of slaves to Brazil. Mozambique’s trade routes
remain opened, although with
less intensity, mainly to Réunion
Island and Cuba. These numbers show just how far Portugal
was unable to prevent illegal traffic and impose the new laws on
its colonies. Benefiting from the
high demand in Brazil, a new
bourgeoisie rose during this period, enriched by the trade and
channeling a part of its profits to
Portugal. These money transfers
reached an all time high in 1850,
demonstrating just how important Eusébio Queirós’s law was.
Caldeira, Escravos e Traficantes no
Império Português, 252.
88
122 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
FROM THE
UTOPIAN AGE OF
ENLIGHTENMENT
TO THE
COLONIAL
REALITY: ILLEGAL
TRADE AND THE
MONT FERRAN
FRENCH ABOLITIONISM
The abolitionism movement in France is divided in
two distinct stages. The first
phase is short but opens up a
new mindset, dating back to
the eighteenth century. The
ideals of freedom and emancipation defended by the great
thinkers and philosophers of
the Age of Enlightenment will
be instrumental in influencing both Great-Britain and
France. In 1778, the Société dês
Amis des Noirs is born, being
politically supported by parliamentary figures such as Brissot
and the abbot Henri Grégoire,
following the same guidelines
as Wilberforce and Clarkson
across the sea, in England. The
French abolitionists come to
lose their position in the matter of San Domingo, as they
attempt to legitimize the new
country but find no allies in
the British and Spanish elite.
Following this loss, they become more cautious, defending the gradual suppression of
slavery, over time89.
During the eighteenth
century, the French Antilles,
Martinique, Guadalupe and
especially San Domingo (soon
to be named Haiti), were of
central importance to the
French colonial market. The
islands development was accelerated quickly, based upon the
sugar and coffee plantations,
supported by slave labor. On
that time period, the Antilles
held around half of the world’s
sugar and coffee productions,
Nelly Schmidt, “Les abolitionnistes
français de l'esclavage, 1820-1850”,
Revue française d'histoire d'outre-mer,
tome 87, n°326-327 (1er semestre,
2000): 205-244.
making the islands the most
valuable of all colonial territories90.Cradled by the Illuminist
ideals, in 1791, the great slave
uprising of San Domingo begins, lasting up to 1804. During that time, based upon the
principles of the French Revolution, in 1794 France moves
to completely abolish slavery. However, by 1799, Napoleon’s rise to power led to
a great reversal of this movement, with the new regime attempting to regain sovereignty
in the French Antilles and, in
1802, reinstituting slavery on
the Empire. The colonial plans
eventually fail, as in1804 the
new independent country of
Haiti is created. The violence
on both sides, during the Haitian revolution, reverberated
throughout the mentalities of
the society of the time, providing a moral basis for those
89
90
Henry Wesseling, Les empires coloniaux européens 1815-1918 (Paris,
Éditions Gallimard, 2009), 155.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 123
who believed that any emanci- any ships
under French pa-
pation measures had to be met
vilion or create mixed courts
with great caution.
to put any captured slavers
With the defeat of the Na-
to trial. Thus, working to re-
poleonic forces, in 1814, and press illegal traffic was left to
the subsequent changes in the French armada and the nathe world’s geopolitical en-
tion’s courts, which mirrored a
vironment, France began to
debilitated country, following
feel the influence of the new
Napoleon’s defeat.
abolitionist movements, out-
Just
like
Portugal,
the
lawing slave trade. The Paris
French understood that the
treaty, signed with England, matter at hand was part of an
in May 30th, 1814, commit- English project to better manted the French government
to the abolishment of all traffic inside its domains over the
next five years, culminating
in 1819. On the same document, France vows to join efforts with the British on the
Vienna Congress, to work to-
age the economical growth of
their colonies, increase their
presence in the markets and
expand their influence overseas, whilst weakening the remaining nations. Although
France had once considered
the abolitionist movement a
wards abolishing all slave trade
moral imperative, this time it
throughout Christendom91.
was recognized as a MachiaHowever, unlike Portugal,
vellian play brought about by
Spain or the Netherlands, the
England, desiring the collapse
French never consented to alof the French Empire. Putlowing English vessels to seize
ting aside several revolts in the
Caetano, Portugal e a Internacionalização
dos Problemas Africanos, 53.
91
124 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
Caribbean, which led to the
emancipation of some areas,
no true change occurs in the et de l’esclavage and published a
mainland kingdom, discount-
newspaper; the Société français
ing an initial surge of revolu- e pour l’Abolition de l’Esclavage,
tionary momentum92. One which regularly published bromust only look at the govern- chures on the matter; the newsment’s position during the Vi- paper L ‘Abolitioniste Français;
enna Congress, in 1815, when the Bureau de Correspondance
they disrespected the Paris ac- financed by the activist LeSecords and supported the Por- meur; the many magazine
tuguese, opposing a decision committees created by Cyrille
that would force all colonial Bissette; the Revue dês Colonies;
powers to end the slave trade
the Revue abolitionist. Follow-
in a fixed deadline.
ing in the English’s footsteps,
The second stage of the many governmental commisFrench abolitionist movement sions were created, to address
begins in 1820 and extends to
a revision of the colonial sta-
1848, right around the end of
tus where slavery was illegal.
all legal slavery in the coloni-
Those that joined such com-
al world. The first signs of this
missions were aristocrats, writ-
resurgence are brought about
ers and thinkers, representing
by the return of several insti-
a hard to ignore section of so-
tutions that favored abolish-
ciety. From England help came
ment: the Société de la Morale
with regular visits, to Paris and
Chrétienne, which held a Com- other cities, from member of
ité pour l’abolition de la traite the British and Foreign Anti-Slavery Society, supporting the
Roger Botte, “L'esclavage africain après
l'abolition de 1848. Servitude et droit du
sol”, Annales. Histoire, Sciences Sociales, 55e
année, N.º 5 (2000): 1009-1037.
92
French comrades, financing
publications and inciting petitions. Many political battles
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 125
were hard fought, with win after win until the final victory,
in 184893.
Just as with the English,
France abolished trade at an
early stage of the process but
took a lot longer to emancipate the slaves. As mentioned,
many of the colonies supported their economy in the sugar,
coffee and cotton industries,
amongst others, that were supported mainly by slave labor.
As such, abolishing the trade
system did not stop them from
renewing the workforce in the
colonial world. Add to this
situation the fact that several
countries continued to legally import slaves, such as Brazil and the United States of
America. Thusly, the situation
was perfect for the perpetuation of the slave routes, both
legally, in some cases, and illegally, regarding England,
France, or Spain.
93
Schmidt, “Les abolitionnistes français
de l'esclavage”, 205-244.
126 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
In France, illegal trade was
primarily based off the main
slave harbors of the eighteenth
century: Bordeaux, Le Havre
and especially Nantes. This last
one held around 47% of all illegal slave ships in all of France.
It is estimated that nearly one
sixth of all the long distance
ships in Nantes were connected
to the illegal slave market, between 1814 and 1833, which
represent 268 vessels (adding
another 85 highly suspected
but never proven). Their main
destination was Cuba. After 1827, these numbers are,
slowly, reduced, leading to several cases of bankruptcy. Until
the year before, any attempts
to stop the trade were, for the
most part, irrelevant. Around
this time, the French war navy
started to take positions around
the African coast94.
Serge Daget, “Long course négriers
nantais du trafic illégal, 1814-1833”, Revue
française d'histoire d'outre-mer, tome 62,
n°226-227 (1er et 2e trimestres, 1975):
90-134.
94
However, the French illegal slave trade continues long
after the first half of the nineteenth century, from Africa to
Brazil and Cuba. Despite the
growing number of patrols
along the coastline, European
and American slavers collaborated with their African partners to breach naval blockades
and maintain a steady flow of
the large profit margins. One
must also look towards the
Maghreb, the Middle East and
India, where somewhere between 10000 and 12000 slaves
were transported every year,
during the 1860’s95.
The situation with the
French gained a different context than the remaining colonial powers because their
government did not sign any
international accords to permit multinational patrols. To
the rest of the world, the slave
ships were declared as such and
condemned by proper courts,
as well as those captured by
the Royal Navy, in African or
American waters. The trials
were organized by mixed commissions, including Portugal,
Spain and the Netherlands.
The lack of such authorization
by the French led many of the
slavers to hoist a French flag
and, if captured by the English, the proper papers from
France would set them free.
After reaching the Antilles, to
avoid the French patrols, they
would change into a Dutch or
Danish flag, usually bought illegally in Saint Eustatius or
Saint Thomas. There are reports of the Royal Navy disrespecting these agreements and
seizing several slave ships96.
95
Botte, “L'esclavage africain après
l'abolition de 1848”, 1009-1037.
96
Daget, “Long course négriers nantais”,
90-134.
To better understand the
French ships, based on Nantes,
one must turn to the great work
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
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of Serge Daget97. With an average tonnage of 150 tons, supported by 5000 seamen and 93
shippers, Nantes was the harbor that saw most long range
ship departures, second only
to Bordeaux and third to Le
Havre, if one counts the tonnage. This harbor held 47%
of the all slave ships in France.
The more common were the
brigs and the small galleons,
although schooners would also
be fairly used. In choosing a
medium sized ship, the slavers
paid less for the cargo on departing, allowing the ships to
flee onto rivers, to escape the
Royal Navy, and also opening
the door to a heavy degree of
promiscuity between the crew
and the human cargo.
A slave vessel departing
from Nantes, with 145 tons
carried, in average, 19 crew
members, which was superior
97
Daget, “Long course négriers nantais”,
90-134.
128 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
to most ships in the merchant
navy (usually carried 15 crew
members). The age average
was around 25 years old, with
the oldest reaching 40 and the
youngest 14 to 16. Desertions
were frequent affairs, as many
did not know the purpose of
the journey beforehand. Salaries would improve according
to the trip’s risk. Due to the
high probability of losing the
license in case of being captured, most captains were either of a young age or elder
men. According to all documental data available one can
estimate around 233 slaves, on
average, per ship.
Looking at the French legislation, many loopholes allowed and promoted the
continuation of the slave trade
by not holding accountability
to the shippers. The main risk
fell to the captains alone. Between 1834 and 1865, around
40 ships were suspected of
promoting illegal slave trade
across the Atlantic, some even
becoming famous, like a group
of repeat offenders, based on
Nantes. To better prove the
continuing commercial enterprises of these French slavers,
we turn our attentions to the
territorial waters of the Azores
Archipelago.
THE MONT
FERRAN
On June 9th, 2016, several components of a shipwreck
were identified in the center
of Calheta’s old bay, on the island of São Jorge, Azores archipelago. They were located on
a shallows area that most likely ripped apart the ship’s hull,
forcing it to wreck. Located at
a depth of 12 meters, between
two rocky outcrops that nearly reach the surface, the wreck
site has three identifiable anchors (two grouped up and one
further away). An average ship
would carry four anchors. The
ones located correspond to a
naval typology named “admiralty”, with around 1.20 meters
long in the shaft, with the arms
and nails easily spotted and the
block and elbows as well, with
the ring still present. All elements of the anchors were colonized by underwater vegetation.
These characteristics allowed
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 129
for identification as part of
Only two known wrecks
an anchoring system utilized
can correspond to the chrono-
since the second half of the
logical period of the identified
eighteenth century and up to
anchors. The first occurred
the mid-nineteenth century.
on the 9th day of Novem-
Since
1600,
shipwrecks
ber, 1864: the vessel Amizade
have been documented in the sank near a place nicknamed
hamlet of Calheta. The first
“Three Rocks”, east of Calhe-
known case was of an English
ta’s harbor.
warship that sank east of the
The second shipwreck hap-
settlement. However, due to
pened in the early days of May,
the calm weather conditions
on that same year, and in-
around the harbor, as well as
volved a barge, named Mont
the fact that it was one of the Ferran. The priest Manuel de
secondary stopping points in
Azevedo da Cunha, born just
the island of São Jorge, there
three years before this inci-
are few documented incidents
dent, relates the affair on his
on its shore. In 1706, the York
book Notas Históricas:
sank there, although all the
cargo was recovered. Another,
“In May, during the gener-
more famous incident relates
al municipal audiences, when
to the burning of Her Majes-
this hamlet was visited by the
ty Ship Pallas, but this frigate
rightful acting judge Dr. Luís
was already in a bad way when
Francisco de Bivar Gomes da
it arrived on this harbor. On
Costa and his deputy, Dr. José
March 2nd, 1821, the Con-
António de Sosa Lixa, the court
ceição e Almas brig wrecked
room that was filled with spec-
against the pier, with part of tators suddenly emptied, leavthe ship ending up ashore.
130 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
ing only behind the magistrates
and assorted justice workers that barge, the crew returned to their
left their seats and moved to the
lands and all that could be sal-
building’s windows, surprised by
vaged was auctioned off to Vital
this event. What peculiar event do Carvalhal de Azevedo, parthad led everyone to run into the nering with Lieutenant Miguel
harbor as if to put out a fire?
A great and elegant French
António, son of the head-captain
of the guard. It carried weap-
barge, at full mast, on a day of ons, shackles and handcuffs that
gentle sea and calm weather, showed us its purpose in the nereached the sand, touching the farious slave trade. The people
seabed mid-bay and remain- nicknamed it the linseed vessel.
ing there, without moving. It
And truly, the linseed was carried
was named Mont Ferran and it by the tide all the way to Ribeira
was a slave ship. It carried linen do Arieiro, on the Velas municito justify the stopover on the Af-
pality. The fish that was captured
rican coastline where the slaves
back then, after eating the seed,
were exported. With the journey
tasted somewhat similar to the
prevented by French patrolling, it
taste of the linseed oil.”98.
sought the Azores, ending up in
the small harbor of Calheta, São
Jorge. With the hull torn, the linseed washed ashore, with the bags
being still usable and seized by
Interpreting the description, it appears the wreck was
caused because the crew members had sailed into a small
the maritime authorities through bay that they were not familiar with, crossing the wrong
the hatches. Alongside the linen,
legions of rats entered the islands,
invading our wine plantations
and causing severe losses to all
the farmers. After disarming the
98
Manuel de Azevedo Cunha, Notas
Históricas. Concelho da Calheta, São Jorge
(Ponta Delgada: Ed. Direção Regional da
Cultura e Universidade dos Açores,
1981), 511-512.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 131
shallow area and ripping apart
the ship’s hull, which led to it
washing up unto the sand and
losing all its cargo. Some of the
linseed even ended up on the
neighboring island of Faial99.
As we’ve seen, the remains
that could be salvaged were
auctioned off by a partnership
made up of two individuals:
Vital do Carvalhal de Azevedo and the Lieutenant Miguel
António, son of the head-captain of the guard. Whilst
questioning the local populace
about the possible conservation of some of the remains,
one of Miguel António’s descendants was located, still in
The newspaper “O Fayalense” helps
to establish an approximate date for the
wreck, writing the following, on May
8th, 1864: “SPOILS – On several coastal
areas of this island, several barrels of palm
oil have been rescued, being already auctioned by the customhouse. 1 large barrel
with 356 kilograms, found in the
Pastelleiro area was sold for 49:020 reis;
1 small barrel with 184 kilograms, found
in Castello Branco’s coast, was sold for
25:060 reis; 1 barrel and a basket with
120 kilograms, found in Feteira, were
sold fro 14:020 reis; 1 barrel with 120
kilograms, found in Partelleiro’s coast,
was sold for 18:130 reis.”
possession of several pieces
that clearly belonged to a ship
from the mid-nineteenth century, undoubtedly connected
to the slave trade. The family’s
oral tradition associated these
pieces with the Mont Ferran.
As such, analyzing the materials identified in the shed of
the Noronha’s Manor House,
one corroborates the testimony created by Manuel de
Azevedo da Cunha and also
identifies a set of other pieces,
not mentioned by the priest
(Board 1)100.
99
132 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
We’d like to extend our thanks to
Doctor Orlando Noronha, descendant of
Miguel António and current owner of the
materials presented here, who was so very
kind in granting us the opportunity for
studying them and continuously collaboration with us throughout the long and
tiring process.
100
BOARD 1
List of materials identified as belonging to the Mont Ferran,
in the Noronha’s Manor House, Ribeira Seca, Calheta São Jorge
(Azores)
NUMBER
MATERIALS
NOMENCLATURE
CHRONOLOGY
DIMENSIONS
1
Iron
“JibCringle”
extension piece
Nineteenth
century
37 x 23 x 3,5 cm
2
Iron
Bolts- 4 units
Nineteenth
century
40 x 2; 69 x 4;
54 x 3; 55 x 3
cm.
Nineteenth
century
55 x 2; 42 x 2;
43 x 1,5; 34 x
1,5; 44 x 2; 22
x 2; 40 x 2; 34
x 2; 31 x 2; 26
x 1; 29 x 2, 29
x 2; 29 x 2; 29
x 2; 53 x 2; 26
x 2; 21 x 2; 35
x2 ; 35 x 2 e 23;
2 cm
3
Iron
Bolts – 20 units
4
Iron
Chain rolling
mechanism and
adjacent chains
Mid-nineteenth
century
Diam. 28,
thickness 6 cm.
shaft 30 x 2 cm.
chains 247 x 1
cm. pulley 27 x
14 cm.
5
Wood
Double block
pulley
Nineteenth
century
28 x 15 cm
6
Wood
Curved board with
decorations
Nineteenth
century
340 x 30 cm.
7
Wood
Frame
?
177 x 15 cm
8
Wood and
Iron
Mast
?
40 x 35 (wood).
Rings with 8 e 6
cm de thickness.
9
Iron
Handcuffs and key
Nineteenth
century
54 x 9 cm. Key
8 x 1 cm.
10
Iron
Fixed shackles
Nineteenth
century
Diam 14, height
9 cm.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 133
Based on the inventory pieces were usually made of
number, let us turn now to an- copper.
alyzing the pieces that are still
preserved:
Number 3 – a set of twenty
small cast iron bolts with cir-
Number 1 – nicknamed cular heads with an advanced
the “JibCringle”, it was used to
state of degradation that does
connect the lower part of the
not allow a proper identifica-
sail to the cables that sustained
tion.
Number 4 – a chain rolling
it.
Number 2 – 4 cast iron mechanism, with a visible iron
bolts. The first of the upper
pulley, most likely connected
pieces has a quadrangular head to the adjacent chain which
and the other with the same can be integrated in a typolquadrangular head and the
ogy chronologically associated
other extremity with a circular
with the mid-nineteenth cen-
shape. These pieces connected tury.
two boards at once, uniting
Number 5 – Double block
them with the application of
pulley, carved in wood, used in
nut or a ring on the end of it
conjunction with the sails ca-
– the quadrangular shape was
bles.
the part that served this pur-
Number 6 – Curved wood-
pose. The two lower pieces en board with carved decoraare Fender bolts, identified be- tions, representing a trident
cause of their unusually large holding a grapevine with vine
heads that were used to pro- leafs and grape bunches. Anatect the other wooden frame of
lyzing the motifs one can as-
the vessel against hitting oth- sume it was consecrated to
er ships or rocks. During the
Neptune and Bacchus. Trac-
mid-nineteenth century, these es of pigments indicate it was
134 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
likely painted black with the
Number 10 – Fixed shack-
decoration in white. It was les that would have been conpart of the ship’s section adja-
nected to a wooden vertical
cent to the figurehead.
piece affixed to the cargo hold’s
Number 7 – Wooden sec-
wooden floor going up to the
tion of the ship’s frame. Due to
deck’s floor. In these shackle
its isolated nature, one cannot
pieces, the chains would be
identify what part of the ship it
connected to trap the lower
belonged to.
body parts of the human car-
Number 8 – One of the go, sequestered in the hold.
With the very few available
masts wooden carved base,
with several reinforced iron
materials, we can conclude that
rings.
this was a wooden ship capable
Number 9 – A pair of of long distance travels, as verihandcuffs and a key, made of fied by the width of the existing
cast iron, with parallels found
frame and the curved wooden
in pieces related to the transat- board with decorations. Anothlantic slave trade, like the one, er indication of these traveling
for instance, found in the per-
characteristics is the presence of
manent exhibit of the Wash- the bolts, indicating a significant
ington’s National Museum of draught which allowed for transAfrican American History and atlantic navigation in the nineCulture. The pieces date back teenth century. Its size would
to the nineteenth century, have been average, most likely a
brig, schooner or small galleon.
sometime before 1860101.
The last two pieces point out
https://nmaahc.si.edu/explore/collection/search?page=1&edan_
q=%2A%3A%2A&edan_local=1&edan_
fq[0]=topic%3A%22Slavery%22
101
that it was, unquestionably, a
slave ship, confirming the testimony of Manuel de Azevedo da
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 135
Cunha102. As for the ship’s name,
the one given by the priest, although possible, seems rather
unlikely, as Mont Ferran translates to Fernando’s hill (Ferran
being the Catalan pronunciation of Fernando) in a combination of geographical indications
and two different languages that
would indicate the ship’s origin
relate to the Eastern Pyrenees
during the Middle Ages – specifically the Occitan language.
Considering the fact that
Manuel de Azevedo da Cunha
heard the name only in narration from those older than him,
it is likely that the real name
was Montferrand, the name
of a small village in southern
France, near Carcassonne (facing the Mediterranean), or
maybe related to the hamlet
102
We’d like to point out that the
Documents from the Calheta’s City Hall,
São Jorge Island, 1700-1890, that are
guarded in the Public Library and
Regional Archive of Angra do Heroísmo
do not hold any data regarding this shipwreck. The same happens in Velas’
Municipal Archive.
136 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
of Clermont-Ferrand (in the
middle of France) which remained autonomously named
Montferrand, until 1630, when
it was combined with Clermont. These conclusions are
only valid if we consider that
the French castaways told the
truth when they arrived in the
Azores, something we cannot
verify, since slave ships usually possessed several name templates, associated with false or
alternative vessels, to be used
according to the waters they
sailed.
What is peculiar, and should
be mentioned, is the fact that
the official documents from
the Navy Stewardship103, in
the Azores Maritime Department, both on its headquarters
(in Angra do Heroísmo’s Maritime District) as well as the
several delegations104, do not
103
All documents that could possibly
relate to this peculiar situation were consulted in the Nay’s Historical Archive but
no pertinent information was found.
104
Horta and Ponta Delgada.
hold any records of the wreck.
Furthermore, even the newspapers of the time105, in Terceira, Faial and even São Miguel,
do not report the sunken ship.
The silence is indeed strange,
as during this time period, in
Angra do Heroísmo, we have
reports of other wrecks of the
coast of São Jorge, as well as
other islands in the archipelago, describing them in detail
and pointing out all the problems and necessary changes to
improve the Azorean harbors
(particularly Angra’s). The papers, during the year of 1864,
also point out that no quarter
should be given to pirates and
describes, in great detail the
bad weather that was being felt
in São Jorge, at the time.
105
On Angra’s Public Library we consulted the following newspapers: O
Heroísmo, O Angrense e O Eco Agrícola anuário, for the year of 1864; on Ponta
Delgada’s Public Library: Açoriano
Oriental, A Ilha, Aurora dos Açores e
Campeão Liberal as well as O Campeador,
edited in Ribeira Grande, for the year of
1864; on Horta’s Public Library: O
Fayalense, for the year of 1864.
When searching a broader
specter for reasons to justify this
strange silence we turn to Marcello Caetano106, who produces a clue that may apply to the
Mont Ferran’s case. During the
description of the Portuguese
war navy in turning the tide
on the slave trade, he describes
the traumatic affair behind the
French barge Charles et Georges,
an episode that shows us how
the Portuguese lacked control
in the colonial world and remained weak when faced with
the continuing slave trade, even
at later dates.
One must only remember
the measures applied by Sá da
Bandeira’s cabinet, in 1836, to
look back at this frailty. Unsatisfied with the lack of progress
in fighting the slave trade,
Great-Britain
continuously
pressured the Portuguese administration to enforce harsher solutions to the matter. The
Caetano, Portugal e a Internacionalização
dos Problemas Africanos, 60.
106
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 137
difficult balancing act in the legitimacy in their colonies107,
African colonies remains an and assure “land and naval
obstacle, as some in the Cham- support should any of the colber of Peers feared that harsh- onies rebel against the application of the treaty”108. The full
er solutions may bring about
dimension of the treaty, which
open rebellion. Even though
extended beyond just the matit is legit to assume, as many
ter of slavery, would eventually
historians do, that this was a be turned down by the Engway to ensure the continuation
lish, but the presence of such
of the legal slave trade or the
clauses demonstrates just how
toleration of its perpetuation
precarious the Portuguese sov-
whilst illegal, we must not for-
ereignty in the colonial world
get that the fear of losing the was and how weak their interremaining colonies was very national position had become.
real. After Brazil’s independence proclamation, Portugal
remained a European colonial
power, but the one that held
Keeping all this in mind, we
turn now to the affair behind
the seizing of the French barge,
Charles et Georges. What started as a regular military patrol to
the most tenuous internation-
check illegal vessels of the Afri-
al position.
can coast ended in a dangerous
With the agreement estab-
diplomatic incident with the
lished in 1838 by Sá da Bandei- French Empire, which revealed
ra, as an answer to the British just how much the Portuguese
accusations led by Lord Palmerston, the Portuguese were
not only appeasing English but
also attempting to ensure their
138 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
107
Capela, Escravatura, a empresa de saque o abolicionismo (1810-1815), 249250.
108
Caldeira, Escravos e Traficantes no
Império Português, 239-240.
Empire had fallen, forced to black men in the whole provrely on a delicate balance be-
ince, even if they self-proclaim
tween colonial sovereignty and as free workers, if they were to
international legitimacy.
After the second half to the
be shipped to Réunion Island
or the Mauritius. This was
1830’s, the Portuguese author- seen as an attempt to end all
ities began to progressively im- slave trade for that region.
plement a growing amount of
In this context, on Novem-
patrols to control the ever pre-
ber 21st, 1857, the French
sent illegal slave trade. By the
barge Charles et Georges was
1850’s, the government’s posi-
boarded, of the coast of Mo-
tion on trafficking had become zambique, by the Portuguese
much harsher. Shortly after a Navy. The authorities found
decree, approved on December
110 indigenous inhabitants
14th, 1854, abolishing slavery aboard and, when a delegate of
in all overseas territories, on Réunion Island that travelled
the 27th of February, 1855 the aboard was asked for the proper
Ministry of Navy sends out a work permits for the passengers
memo, prohibiting two French
he could not present them. In
subjects, ailing from Réunion the end he confessed that they
Island, from hiring black men had purchased all those peoin Mozambique, asking, in the
ple109. The vessel was seized,
same memo, for a particular
by order of the Mozambique
focus on the Ihambane region.
general-governor, with com-
On July 30th of the following
mands to arrest the captain,
year, a new memo is issued by
the Ministry of Navy Affairs
and the Overseas, confirming
the prohibition on exporting
Documentos Relativos ao apresamento,
julgamento e entrega da barca francesa
Charles et Georges (Lisboa: Imprensa
Nacional, 1858), 44.
109
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 139
Etienne Mathurin Rouxel, the
aforementioned delegate, Nicolas Carrel and the remaining
crew. This incident quickly escalated into an affair of international prestige, with the France
State demanding the captain be
freed and the ship be returned,
with due compensation for all
damages caused. Even after being trialed, the episode ended
with the captain walking free,
with his ship returned and a
fair amount of settlement payment. In Portugal, many saw
this as a grave affront to the nation’s pride.
Marcello Caetano adds:
“the French government sent a
ship squadron to the Tejo River, forcing us, due to the lack
of support from any other European States, to hand over the
barge, apologize and pay a settlement fee!”110.
This isolation from the rest
of the world was felt harsher
by the Portuguese, especially
since England, its oldest ally,
had praised the new restrictive
measures enforced to prevent
illegal trade into the French
colonies111. Nevertheless, the
Portuguese continued to seize
French ships off the coast of
Africa, with varying degrees of
success.
The Mont Ferran presents
us with a different situation. It
was, without a doubt, a slave
ship, but it did not carry any
slaves and was far from the African coast under Portuguese
dominion. By sinking, the
ship’s life had ended and with
it, the dangers of perpetuating
the illicit and immoral work it
had done before. Although it
happened in 1864, the Charles
et Georges was certainly present
in the Portuguese collective
minds. Even if there were never
any written orders, one can assume that the local authorities,
Caetano, Portugal e a Internacionalização
dos Problemas Africanos, 60.
111
Documentos Relativos ao apresamento,
31-32.
110
140 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
when confronted with a slave
barge, of French origin nonetheless, would prefer to “look
the other way”, rather than
endanger the national sovereignty. Essentially, if one could
avoid facing a stronger power,
the unwritten rule would be
to do so. This, very likely, answers the mystery behind the
Mont Ferran wreck.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 141
L’ARCHÉOLOGIE
SOUS-MARINE
DANS L’ARCHIPEL
DES AÇORES
le premier directeur de l’institution, diplômé en histoire de
l’Université de Coimbra, ne fut
pas un archéologue, mais plutôt
un amoureux de l’histoire mi-
L’archéologie sous-marine,
litaire, qui lui a fait descendre
dans l’archipel des Açores, a
les divers domaines du patri-
commencé dans les années 60 moine, y compris bien sûr le
du XXe siècle, grâce à inven- patrimoine archéologique. En
tion de plongée sous-marine, 1972, avec Sydney Wignall, arce qui a facilité la libéralisa- chéologue sous-marin d’origine
tion de plongée à Angra do
galloise, a lancé un projet de
Heroísmo sur l’île de Tercei-
courte durée, être qualifiée d’ex-
ra. À partir de cette décennie, ploration sous-marine, pour la
des pièces d’artillerie furent détection du célèbre navire de
récupérées, intégrant actuelle- la Royal Navy de la période éliment la collection d’artillerie sabéthaine, Sa Majesté La vendu musée Angra do Heroís-
geance du navire, perdu dans le
mo. Manuel Baptista de Lima,
dos de île Terceira, après une
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 143
tentative d’action corse en centrés sur Angra do Heroís1593. Bien que le but princi-
mo baie, mais aussi étendu aux
pal déjoué, a été récupéré au îles de Faial, Pico, São Jorge et,
large de la côte du mont Bré-
déjà dans le groupe de l’Est,
sil, une pièce d’artillerie du
celui de Flores. Dans ce cadre,
XVIe siècle, le portugais et,
en 1999, les premières fouilles
l’année suivante, a été créé par
sous-marines ont été réalisées,
ensemble de commande Mi-
dans la baie d’Angra do He-
nistère de l’Éducation et de la
roísmo, avec l’intervention de
Marine, la première réserve ar-
minimiser les impacts sur le
chéologique sous-marine du
patrimoine de la construction
pays, la baie d’Angra do He-
maritime. Au cours de l’étude
roísmo.
ont été détectés deux navires,
Dans les années 90, il y qui étaient alors intervenus, et
avait un nouvel élan pour l’ar-
un révélé être un navire suscep-
chéologie sous-marine dans la
tible origine hollandaise, vers
région avec le groupe archéo-
le milieu du XVIIe siècle (An-
logie sous-marine de l’Asso-
gra C) et l’autre un navire espa-
ciation des Amis du Musée
gnol Route de La Plata, à la fin
d’Angra do Heroísmo, as-
du XVIe siècle, début du siècle
socié au Centre national de suivant (Angra D). En 2000,
nautique et archéologie sous-
dans le cadre de la requalifica-
-marine, alors Institut portu-
tion du port de Calheta, à St.
gais d’archéologie et l’Institut George, le voilier, naufragé en
de Nautical Archaeology, Uni-
1783, a été fouillé le navire de
versité Texas A&M, pour
Her Majesty Ship Pallas.
développer certains des programmes
sous-marine,
de
À la fin de l’année 2000,
prospection l’administration du patrimoine
principalement archéologique sur son territoire
144 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
a été transmise aux régions
espagnol de la Rota de la Pla-
autonomes. Depuis lors, ils ont ta, à partir de la fin du XVIe
créé cinq parcs archéologiques,
siècle, les débuts du siècle sui-
réserves pour la protection et la
vant (Angra B), dans la zone
mise en valeur du patrimoine du parc archéologique fait la
subaquatique, est né leRoteiro baie d’Angra do Heroísmo et
do Património Cultural Suba-
le navire Nossa Senhora da Luz,
quático dos Açores dans le do-
qui a frappé en 1615 lors de
maine du tourisme culturel, son dernier voyage le long de
avec une trentaine de sites vi- la Rota do Cabo. Déjà en trasitables abordables aux plon- vaux portuaires, a été opéré sur
geurs et des enquêtes ont été la Oakfield, Anglais vapeur, qui
réalisées sous l’eau dans toutes a été perdu en 1897, à Ponta
les îles, menant à l’identifica-
Delgada, ainsi que six épaves
tion d’une soixantaine de sites dans le port de Horta, metdéjà identifiés.
tant l’accent sur l’Horta A, ap-
En vertu de la Conven- pelé épave d’Ivoire d›un navire
tion sur la protection du patri- un marchand anglais, naumoine culturel subaquatique,
fragé dans les années 70, por-
UNESCO, signé à Paris en
tant une centaine de défenses
2001, les fouilles sous-marines d›éléphants, ou l›Horta F, corsont développées que dans des respondant à un baleinier amélieux qui sont en danger de ricain, enterré au XIXe siècle.
perdre, et cette situation peut
L’étude de l’épave du Mont
résulter de causes naturelles
Ferran fait partie de cet effort
ou artificielles. En ce sens, des
pour retrouver la valeur patri-
causes naturelles, qui sont liés moniale universelle du patrià l’érosion des fonds marins, a
moine culturel subaquatique,
été exploité sur un autre navire
tout en permettant la défense,
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 145
la connaissance et la jouissance
d’un bien culturel d’une portée et d’une signification singulières, tel qu’il l’interprète et
caractérise cinq siècles de traite
des êtres humains, en tant que
parties, en tant qu’esclaves,
dans les mers de l’océan Atlantique.
146 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
L’ANGLETERRE
ET L’IMPULSION
ABOLITIONNISTE
Le dix-huitième siècle a
été un siècle de grands changements mentaux et géopolitiques en Europe qui ont fini
par avoir une réflexion autour
du monde. Comme un siècle
particulièrement marqué par
des guerres consécutives, certaines régionales, d’autres qui
couvraient pratiquement tout
le continent européen, les deux
grands puissances de l’époque,
la France et l’Angleterre, creusaient, parfois directement,
indirectement,
l’hégémonie
militaire et politique. Dans ce
différend, l’Angleterre est sortie
victorieuse et cela a eu des répercussions tout au long du panorama géopolitique du XIXe
siècle, à la fois au niveau de la
hiérarchie européenne et, surtout, dans le cadre colonial.
Pour comprendre l’hégémonie anglaise tout au long du
dix-neuvième siècle, nous devons analyser les circonstances
endogènes qui ont conduit à
cette suprématie, et ils sont apparus au dix-huitième siècle.
La réalité est que l’expansion
européenne aux XVIe, XVIIe
et XVIIIe siècles, et la rivalité
conséquente entre les pays coloniaux dans la course des territoires les plus riches ou les plus
importants termes géostratégiques, il est devenu plus urgent
protection militaire de ces territoires d’outre-mer. La meilleure
arme de défense serait éventuellement le développement
de la marine, et ce fut l’Angleterre, de toutes les puissances
coloniales, qui réussit le mieux
à le renforcer. Cependant, cela
n’était pas dû à une plus grand
prédisposition anglophone envers la mer, par opposition à
une propension plus continentale des autres pays.
En fait, la défense intérieure de l’Angleterre dépendait presque entièrement de
sa marine, car, en raison de
son insularité, elle n’avait pas
de frontières terrestres avec
d’autres puissances qui pourraient compromettre sa sécurité territoriale. Ainsi, la
croissance navale répondait simultanément à ses deux principaux besoins de défense
interne et de protection des
colonies. Au contraire, les pays
continentaux, par leur propre
géographie, ne pouvaient pas
se concentrer aussi fortement
sur la défense de la côte et des
territoires d’outre-mer, la nécessité de protéger leurs frontières terrestres exigeant un
effort sensiblement supérieur
ou au moins égal à la mer. En
conséquence de cette réalité,
l’Angleterre devenait progressivement la force hégémonique
des mers. Au début du XIXe
siècle, avec la défaite de Napoléon et de la France, cette hégémonie est consolidée.
En même temps que la
Grand-Bretagne gagnait du
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 147
terrain dans les mers et les
territoires coloniaux, on ne
peut pas oublier que le dix-huitième siècle était le siècle
de la révolution industrielle
anglaise. Alors que l’industrie
exigeait plus de consommation de matières premières, il y
avait une demande croissante
de marchés où elle pouvait
placer ses produits manufacturés, en particulier les tissus.
Les guerres napoléoniennes et
l’embargo commercial continental finissent par être ajoutés
à l’économie britannique, mais
en même temps ils poussent
et stimulent un pari de plus
en plus constant sur l’espace
étranger. En effet, durant cette
période, l’économie anglaise
souffrit intensément entre
1806-08 et 1811-12, date
du retrait français de Moscou. Dans les deux périodes
cette pression sera atténuée
par la révolution en Espagne,
d’abord, et par la victoire de
la Russie, ensuite. Cependant,
148 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
ce sera dans les territoires coloniaux que l’Angleterre trouvera une part importante des
réponses à ces défis internes et
externes. L’expansion coloniale
britannique à la fin des années
soixante-dix et au début du
dix-neuvième siècle, soutenue
par sa suprématie navale, permit de placer dans son orbite
d’influence presque exclusive
l’Amérique du Nord, les Antilles, l’Amérique latine, l’Inde
et l’Orient. Saint-Domingue
était responsable des trois
quarts du commerce colonial
français avant la révolution, et
des possibilités créées par l’ouverture des ports au Brésil en
1808. En 1815, l’Angleterre
contrôlait la plupart des routes
commerciales et dominait la
plupart des territoires Colonies
européennes.
C’est dans ces entrepôts
commerciaux que l’industrie
anglaise trouve un large accès
aux matières premières nécessaires à sa production, ainsi
qu’un marché pour la consommation de ses produits manufacturés. Symptomatique de
cette réalité est la croissance
d’une partie du secteur industriel, déjà au XIXe siècle, qui
produit presque exclusivement
pour le commerce colonial,
ainsi que le développement
observé dans le domaine financier, avec la croissance notable de l’activité bancaire,
l’assurance maritime et de la
construction navale112. Ainsi, les paris maritimes ont été
extrêmement efficaces dans
pratiquement tous les objectifs britanniques de défense
territoriale, d’expansion et de
protection des colonies, de
développement financier et
de développement industriel
et économique. Lorsque Napoléon fut capitulé en 1814,
Londres est le nouveau centre
Paul Kennedy, The Rise na Fall of the
Great Powers, Economic Change and
Military Conflict from 1500 to 2000
(London: Fontana Press, 1989), 167-181.
112
financier et commercial du
monde, et l’Angleterre domine
incontestablement les mers et les
principaux marchés coloniaux.
C’est dans un cadre européen marqué par un pouvoir
hégémonique dans les mers
que, dès le début du XIXe
siècle, l’agenda abolitionniste
commence à prendre de la force
en Europe à l’initiative du gouvernement anglais. Le mouvement contre l’esclavage émerge
en Angleterre, fondamentalement dans la seconde moitié du
XVIIIe siècle, enveloppé par les
Lumières, bénéficiant du système politique anglais et du
soutien de l’Église protestant.
Les abolitionnistes ont agi sur
deux fronts principaux au sein
du parlement britannique, recrutant des députés pour défendre leur cause et suscitant
l’opinion publique à l’iniquité de la situation actuelle, l’utilisant comme une force de
pression pour adopter une législation qui, a progressivement
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 149
aboli l’esclavage et la traite des
et le café, démontrant une ad-
esclaves. L’Église protestant ac-
hésion croissante de la popula-
quiert une importance prépon- tion à la cause abolitionniste113.
dérante dans la force croissante
Malgré le développement
du mouvement abolitionniste, des idées abolitionnistes, les intant pour son influence poli- térêts économiques des colotique que pour son soutien à la nies et une partie pertinente de
transformation de l’esclavage, la marine marchande, qui avait
centrée sur une perspective éco-
la traite des esclaves l’un de ses
nomique, sur une question de investissements les plus renbase morale et d’éthique chrétables, a continué d’avoir une
tienne. Ce fut principalement
influence dominante au sein
dans les églises que le mesdu Parlement britannique, qui
sage fut transmis personnelleretardait des avancées signifiment, à travers des sermons et
catives et marqué en termes lédes réunions organisées à cet efgislatifs. Cependant, même au
fet, ou dans la distribution de
dix-huitième siècle, le mouvebrochures alertant sur le sujet.
ment abolitionniste a renconLe fort courant de morale retré sa première grande victoire
ligieuse qui imprègne la base
en 1772 avec le cas de l’esclave
théorique de la défense de l’aboéchappé James Sommerset, inlitionnisme n’était possible que
grâce à cette implication com- cident, mais pas entraîner l’inpromise de l’Église. Une autre
terdiction de l’esclavage légal a
initiative de ces mouvements permis en toute impunité, à parqui a eu le plus d’impact et de tir de cette date, fuite d’esclaves
succès a été l’organisation de
boycotts sur les produits des esclaves, principalement le sucre
150 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
113
Suzanne Miers, Slavery in the Twentieth
Century, The Evolution of a Global Problem
(Walnut Creek Alta Mira Press, 2003), 1-10.
dans la métropole114. Mais c’est tard, en 1833, la Emancipation
le début du XIXe siècle qui a
Act a aboli l’esclavage dans une
amené les développements lé-
grande partie de l’Empire bri-
gislatifs au sein de l’Empire bri-
tannique.
tannique qui ont finalement
Bien que les abolitionnistes
marqué le reste du siècle. En
souhaitent mettre la discussion
1807, la loi sur l’abolition inter- sur l’esclavage, principalement
dit la traite des esclaves de tous dans le plan éthique et moral,
les sujets britanniques, ainsi
la décision unilatérale d’abo-
que leur importation dans l’une
lir l’esclavage et la traite des
de leurs colonies. Malgré le tra- esclaves par le gouvernement
fic a été aboli, la vérité est que
britannique, a continué à faire
le bâtiment esclave anglais était
naître des craintes économiques
intacte, en dépit des abolition-
conduit au report des étapes
nistes ont essayé les conditions évoluaient
vers
l’abolition-
de vie des esclaves, améliorerait
nisme. L’interdiction de la traite
que les refus successifs du Par-
des esclaves, l’une des activités
lement anglais à légiférer en la
les plus rentables de transport,
matière ont été frustrant. Ain- sinon le plus rentable, a généré
si, l’esclavage dans les colonies la crainte que le vide laissé par
britanniques est resté plus ou
les Britanniques étaient occu-
moins les mêmes caractéris- pées par d’autres pays, ce qui, à
tiques jusque dans les années son tour, profiter des bénéfices
1930115. Seulement 26 ans plus
d’une plus grande part de marché. Déjà dans le cas de l’éman-
114
Miers, Slavery in the Twentieth
Century, 2.
115
João Pedro Marques, Sá da Bandeira
e o fim da escravidão: Vitória moral, desforra do interesse (Lisboa: Imprensa de
Ciências Sociais, 2008), 20-21
cipation, la plus grande crainte
était liée à une perte significative de compétitivité de l’économie britannique par rapport
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 151
aux autres pays, principalement aux autres puissances coloniales qui maintenaient la
légalité de l’esclavage. Le seul
moyen de contourner ce problème était d’amener toutes ces
nations à suivre son exemple.
L’Angleterre a poursuivi une
stratégie de pression, utilisant
son influence militaire et son
pouvoir, pour faire de l’ordre
du jour abolitionniste international et s’étendre au reste des
pays colonisateurs, notamment
Portugal et la France, peut-être
ses deux plus grands concurrents dans l’espace colonial.
Le premier pas, qui constitua
une victoire diplomatique anglaise, et surtout pour la cause
abolitionniste, fut réalisé au
Congrès de Vienne (1814-1815), suite à la défaite napoléonienne. Après plusieurs
discussions en Angleterre, au
Portugal, en Espagne et en
France, ses principaux interlocuteurs, un accord s’est avéré historique. Pour la première
152 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
fois, la question de l’esclavage
a conduit à une position internationale commune, avec la
signature de la Declaration of
Powers Against Slave Trade en
1815 par toutes les puissances
coloniales. Cependant, cette
affirmation, malgré sa portée
historique, n’a eu qu’un sens
symbolique. Dans le domaine
politique la victoire a été du
Portugal, de l’Espagne et de la
France, triumvirat, que se sont
unis pour arrêter toute initiative que provoquait l’abolition de la traite des esclaves de
forme immédiate.
Les guerres napoléoniennes
ont été dévastatrices pour la
France et le Portugal. Les deux
nations ont été plongées dans
de graves crises économiques.
La question de la fin du commerce des esclaves, que la
Couronne britannique voulait
imposer sur le plan international, surtout en tant que question morale, n’a pas été vue
par ces puissances coloniales.
Leur position de fragilité, ainsi
que l’hégémonie du Royaume-Uni dans le monde, et leur
tendance croissante à imposer, plutôt qu’à négocier, n’ont
pas aidé la cause abolitionniste
à être absorbée dans l’élaboration d’un nouveau droits de
l’homme, plutôt que le simple
conflit entre les puissances coloniales et les territoires. En
fait, le thème de l’esclavage finit par se mélanger avec la légitimité et de la souveraineté
coloniale, et la concurrence
économique dans l’espace
mondial, ce qui a donné lieu
à l’empoisonnement des relations internationales et l’incapacité de traiter et de discuter
du problème dans le seul plan
admissible, celle des droits de
l’homme.
PORTUGAL ET
L’ABOLITION DE
LA TRAITE DES
ESCLAVES
Pour Portugal, la question
de la traite et de l’esclavage,
dans le XIX, était étroitement
liée à une période trop turbulente pour être en mesure
d’indiquer une raison unique
d’échec et de résistance socio-politique dans la mise en
œuvre des mesures et de la législation qui mèneraient rapidement à l’abolitionnisme. Le
premier quart du siècle a été
dramatique pour le Portugal, à
la fois en termes de politique
intérieure et de cadre géopolitique mondial et colonial. Le
déclenchement de la guerre
d’Espagne prend, en 1807, le
transfert du roi et de la Cour
au Brésil à la suite des invasions françaises, et, en 1822,
donne l’indépendance du Brésil, avec les effets économiques
et politiques de celle-ci ainsi
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 153
fait. D’autre part, les accords
ports brésiliens au commerce
qui étaient signés avec l’An- international en 1808, place
gleterre jusqu’en 1817 étaient
la Grande-Bretagne dans une
déjà considérés par une nation situation de privilège absolu
avec sa position internationale d’accès au marché brésilien,
extrêmement affaiblie comme même par rapport aux comdes actes de soumission et de merçants portugais. Dans le
soumission.
Traité d’Alliance et d’Amitié,
Le premier grand coup sur-
Portugal a accepté pour la pre-
vient avec la fuite de la famille mière fois, en vue de son aboroyale au Brésil en 1807, car ce lition complète, de limiter la
changement marque le début traite des esclaves progressived’un chemin sans retour qui ment et à long terme. Comme
aboutira à l’indépendance de la nous pouvons le voir, l’Anglecolonie portugaise la plus im-
terre a placé le sujet de la traite
portante. En 1810, Portugal, avec la défense de ses intérêts
au milieu des invasions fran- commerciaux, ce qui a perturçaises, se vit contraint de signer
bé les relations entre les deux
deux traités avec l’Angleterre,
nations et les objectifs mo-
le commerce et la navigation et
raux que la question exigeait.
le traité d’alliance et d’amitié,
De plus, dire que la question
qui sont de «véritables traités
de la traite a été considérée par
de capitulation» . Le Traité le gouvernement britannique,
sur le commerce et la navigation, dans cette période surtout,
116
qui découle de l’ouverture des
comme une imposition morale, est au moins discutable.
Arlindo Manuel Caldeira, Escravos e
Traficantes no Império Português, O comércio negreiro português no Atlântico durante
os séculos XV a XIX (Lisboa: A Esfera dos
Livros, 2013) 236.
116
154 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
Ajouté à ce sens progressif de la
méfiance portugaise des véritables intentions britanniques,
la saisie des navires négriers dès
position plus définitive de la
1811, pour violation présu-
part de toutes les puissances
mée du Traité d’amitié et d’al-
coloniales, ce qui n’a pas pu
liance, est venue exacerber les
être réalisé117. L’action britan-
manifestations de méconten- nique dans le paysage colonial,
tement contre l’Union luso- avec l’expansion croissante des
zones sous son contrôle, et la
-britannique.
Comme nous l’avons déjà
perception largement répan-
noté, avec la fin des guerres
due que les problèmes écono-
napoléoniennes, au Congrès miques étaient à l’origine de sa
de Vienne en 1815, la ques- position abolitionniste contition de la traite a été à nouveau soulevée. Le souhait du
Portugal, de l’Espagne et de
la France était que la traite
soit interdite selon sa propre
évaluation, les besoins de reconstruction des colonies. Le
gouvernement
britannique,
par lui-même, n’éprouvait aucun problème à accepter cette
position, mais les abolitionnistes anglais avaient recueilli
près d’un million de signatures
dans des pétitions pour mettre
fin au trafic international. Sur
cette pression interne, le représentant anglais à la Convention a tenté de prendre une
nuaient d’être un effort commun sur la question de la traite
négrière.
Marcello Caetano fait écho
à cette méfiance en citant une
lettre de Goethe à Eckermann,
où il insiste sur le vide que représente l’attitude allemande
en matière de politique étrangère, alors que l’Angleterre
s’empare du monde. La position britannique sur la traite
est donnée comme un exemple
de son sens pragmatique en
l’attribuant à un intérêt économique caché mais largement
117
Miers, Slavery in theTwentieth
Century, 14.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 155
connu. Goethe juste exultant
condamnation de la traite. La
la position élastique du repré- Declaration of Powers Against
sentant portugais, Pedro de
Slave Trade, citée ci-dessus,
Sousa Holstein, futur duc de était une déclaration qui, en
Palmela, le Congrès de Vienne, substance, n’engageait aucun
où, en réponse à l’ambassadeur
des pouvoirs coloniaux dans un
britannique sur la question du
but précis à temps. Un vide du
commerce des esclaves, a mis
document n’enlève cependant
en garde «qui n’a pas été en lui
pas son importance en tant
s’était réuni pour prononcer
que repère historique de l’abo-
le Jugement dernier ou pour
litionnisme au XIXe siècle et
consolider les principes de la
de l’histoire des relations inter-
moralité “118. Cette analyse de nationales. Cependant, ce sera
Goethe révèle bien une percep- dans des accords bilatéraux que
tion généralisée de la position la Grande-Bretagne essaiera ce
britannique sur la traite, tout qui n’a pu être réalisé pendant la
en maintenant, cependant, sa Convention de Vienne. Malgré
construction d’esclaves dans la résistance qu’il a manifestée
ses colonies, lourde d’hypocri-
lors de la conférence, Portugal
sie et d’intérêts économiques
signera finalement un nouvel
clandestins à part entière.
accord avec l’Angleterre, le 22
précé-
septembre 1815, qui annule
demment, les initiatives bri-
le Traité d’Alliance et d’Ami-
Comme
indiqué
tanniques n’ont pas dépassé tié. Dans ce nouveau traité, la
une position commune de Couronne portugaise s’engage
à éliminer le commerce des esMarcello Caetano, Portugal e a
Internacionalização dos Problemas Africanos
(Da Liberdade dos Mares às Nações Unidas)
(Lisboa: Edições Ática, 1963), 54.
118
156 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
claves au nord de l’Equateur.
D’autre part, l’Angleterre a accepté de payer £ 300 000 en
compensation pour la saisie il-
Portugal s’est protégé contre
légale de navires négriers par la
des mesures qui signifiaient une
marine britannique. Deux ans
coupure abrupte qui déstabilise-
plus tard, en 1817, une conven-
rait la situation économique po-
tion additionnelle accordait à litique portugaise déjà précaire,
la marine anglaise le droit de ainsi que l’autorité et la légitimiperquisitionner et de saisir des
té politique dans les territoires
navires suspects dans le nord d’outre-mer, en particulier au
de l’Equateur, établissant des Brésil. En effet, les autorités porcommissions britanniques et tugaises étaient manifestement
britanniques pour juger les na- incapables d’approuver des mevires négriers illégaux119.
sures législatives qui mettraient
Ces nouveaux accords, mal- fin à la traite des esclaves plus
gré les importantes concessions rapidement au début du siècle,
du gouvernement portugais,
montrent que la stratégie et
la position nationales concernant l’importance de la préservation de la traite des esclaves
restent inchangées. Le Portugal
s’est ainsi assuré que le volume
du flux d’esclaves de l’Afrique
vers le Brésil est resté inchangé,
préservant la position du gouvernement portugais qui préconisait une abolition graduelle
de l’activité. De cette manière,
Caldeira, Escravos e Traficantes no
Império Português, 236-237.
119
ce qui a une explication multi-causale. Le plus important de
tous est la colonie la plus importante en termes économiques
pour Portugal, le Brésil, où les
signes d’autonomie étaient de
plus en plus inquiétants.
En dépit de la situation de
plus en plus difficile de l’autre
côté de l’Atlantique, la Révolution de 1820 a apporté
quelques initiatives proposant
une nouvelle vision sur l’institution de l’esclavage, qui
conduirait non seulement à
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 157
l’interdiction de la traite, l’abo- changement dans la prohibilition progressive de l’esclavage tion stricte de l’importation
dans tous les territoires sous la de nouveaux esclaves au Bréjuridiction Portugais.
sil, Soares Franco prônait la li-
L’une de ces initiatives, et berté de l’utérus, même si ces
peut-être la plus complète, nouveau-nés travaillaient sans
était le projet de Francisco rémunération dans la même
Soares Franco, qui, sur la base maison jusqu’aux 25 ans. andes idées du libéralisme éco- nées, quand ils seraient dounomique d’Adam Smith, dé- blures. De cette façon, il a
fendait une nouvelle vision tenté de minimiser les impacts
économique de la structure sur les propriétaires d’esclaves
du travail colonial. Dans “The tout en opérant une transforWealth of Nations” Adam mation progressive qui n’a pas
Smith avait défendu, XVIII, produit de changements radique le travail libre est plus pro-
caux qui ébranleraient le bâ-
fitable que l’esclave, puisque, timent colonial portugais au
étant payé, la productivité du
Brésil. Intelligemment, le pro-
travailleur croît et la plus-value jet reproduisait, en partie, les
qu’il apporte dépasse le fardeau modèles
abolitionnistes
de
de son salaire. Soares Franco a Pombaline et qui avaient abouproposé une série de mesures ti avec succès à une modificaqui mèneraient progressive- tion progressive de la société de
ment à la fin de l’esclavage au
la métropole en non-esclavage.
Brésil, en évitant les impacts Cependant, bien que le résur les agriculteurs, les colons gime esclavagiste déjà perçu
et l’État.
comme quelque chose non
Basée sur la théorie écono- viable à long terme, dans le domique libérale et fondant le maine des droits de l’homme,
158 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
la question du Brésil était sauf
quelques-unes des revendica-
une avance dans des initiatives tions les plus pressantes des
réelles, même si progressif, ce
élites politiques et écono-
qui conduit à l’abolition de la
miques du Brésil, en fait, il ne
traite ou l’émancipation des pouvait pas diluer la rupture
esclave Ce plan, bien qu’il n’ait
imminente de ce qui allait ve-
pas fait place à l’époque, fut
nir. L’année suivante, au début
plus tard partiellement sauvé
de 1822, D. Pedro I accepte le
par Sá da Bandeira .
titre de «Défenseur perpétuel
120
Dans les Cortes de 1821, la
du Brésil» et, en septembre,
question de l’abolition de l’es- déclare l’indépendance du Bréclavage dans les colonies portu- sil. L’impact au Portugal était
gaises a été à nouveau soulevée, si important qu’il existait des
et même de proposer un amen- courants qui maintenaient que
dement constitutionnel visant sans le Brésil la métropole ne
à imposer la liberté du ventre, pourrait pas survivre.
mais déjà se soucier des mou-
Une fois le Brésil perdu, les
vements politiques visant à Constitutions de 1822 furent
l’émancipation du Brésil a en effet marquées par un réconduit à l’adoption des posi- formisme, déjà très orienté
tions d’extrême prudence sur vers les territoires africains. La
la question121. Malgré toute la
question abolitionniste était au
prudence démontrée par les tri- centre d’une vision nouvelle et
bunaux et le gouvernement vin- unique du développement écotista de protéger et de rencontrer
nomique en Angola et au Mozambique. Bien que présente
120
Marques, Sá da Bandeira e o fim da
escravidão, 27-29.
121
Marques, Sá da Bandeira e o fim da
escravidão, 27-31.
une forte vision du développement économique colonial,
cette tenue jusqu’à une part,
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 159
l’affirmation
de
non-droit, en ce qui concerne la traite des
l’immoralité et de mépris pour esclaves restera inchangé, le
les valeurs chrétiennes de l’ins-
maintien du statu quo sur les ac-
titution esclave, et d’autre
cords luso-britannique de 1815
part, la nécessité de respecter
et 1817. Cette décennie a une
les traités Luso-britannique. importance particulière pour
La Constitution de 1822 elle- des raisons à la fois endogènes
-même apporte quelques avan-
et exogènes, avec des développe-
cées en assimilant légalement
ments nationaux et internatio-
les territoires d’outre-mer et la
naux qui sont devenus des leviers
métropole, à quelques excep-
pour de réels changements dans
tions près, et en reconnaissant
l’approche du problème de l’es-
la citoyenneté à tous les Portu- clavage dans son ensemble. En
gais, y compris les esclaves af- interne, l’événement le plus imfranchis. Mais ces avancées ne
portant est la fin de la guerre ci-
dissimulaient pas la restriction
vile entre libéraux et absolutistes,
des partisans de l’abolition-
avec la victoire du premier, met-
nisme dans les élites culturelles
tant fin à une guerre cruelle et
et politiques portugaises, ainsi déchirante qui a duré entre 1828
que l’absence de toute mesure et 1834. Tout en continuant à
constitutionnelle qui déstabili-
assister à une instabilité politique
sait le système esclavagiste en
et sociale, La question du régime
vigueur .
monarchico-constitutionnel
122
a
Ainsi, jusqu’à ce que les an-
été résolue, non sans agitation,
nées 30 du XIXe siècle, la posi-
jusqu’à la fin du siècle, lorsque
tion de la Couronne portugaise le militantisme républicain se répète.
José Capela, Escravatura, a empresa de
saque o abolicionismo (1810-1875) (Porto:
Edições Afrontamento, 1974), 222-226
122
160 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
Les deux autres événements
qui marqueront cette période
sont arrivés de la scène internationale. La première est matérialisée par la signature, en
1826, le traité anglo-brésilien,
où le Brésil est engagé à interdire la traite des esclaves dans
les trois ans, soit en 1830. Ce
traité est renforcée en 1831,
après l’abdication de D. Pedro
I, par le gouvernement libéral récemment inauguré, promulguant une loi qui libère
tous les esclaves arrivant sur la
côte brésilienne, et sans trop
de défi, est également mis en
œuvre en trois ans123. Le deuxième événement qui marquera cette période survient en
1833, avec la promulgation
par le Parlement britannique
de la Emancipation Act, qui a
abouti à l’abolition de l’esclavage dans la majeure partie de
l’Empire britannique. A partir de ce moment, la légalité
de la circulation dans le sud
de l’Equateur, déjà soumis à
une forte opposition anglaise,
commença à devenir insoutenable pour le gouvernement
portugais.
La législation britannique,
émancipatrice de l’esclave, était
aussi un exploit pour les autres
nations esclavagistes. Le Portugal faisait partie de ceux qui se
sentaient interpellés: «C’est à
partir du moment de l’émancipation que le problème émancipationniste a été placé de
manière peu cohérente dans
l’agenda politique et législatif du pays»124. Il est alors dans
une situation de changement
interne et externe, au Portugal, en 1836, il donne la révoulution Setembrista, leader,
le 5 Novembre de cette année,
pour alimenter le gouvernement dirigé par Sá da Bandeira
vicomte qui comprenait, entre
autres, Manuel da Silva Passos.
Au sein d’une nouvelle vision
de l’Empire, mais aussi à cause
Caldeira, Escravos e Traficantes no
Império Português, 245.
124
123
Marques, Sá da Bandeira e o fim da
escravidão, 37.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 161
de la pression intense de l’An-
la loi elle-même, comme «les
gleterre à la fin de 1836 par le concessionnaires de l’Angodécret du 10 Décembre, Sá da la pourraient transporter des
Bandeira peut passer la norme esclaves au Brésil quand il y
interdisant la traite des es- avait des fermes»125. Ce fut une
claves, en imposant des peines
tâche importante, mais nous
sévères pour délinquants.
pouvons le voir mieux si nous
Le projet Setembrista a fait
nous souvenons de la le pre-
valoir que le développement
mier grand projet abolition-
des colonies africaines béné-
niste que Sá da Bandeira, alors
ficierait d’une abolition pro-
ministre de la Marine, avait
gressive de l’esclavage, qui présenté à la Chambre des
serait remplacé par du travail pairs au début de 1836.
gratuit. Cette mesure ne re-
Dans ce projet, l’aboli-
flète cependant pas l’élan abo- tion de la traite était propolitionniste que défendaient sée, mais en allant beaucoup
les principales figures du Sep-
plus loin, la liberté de l’utérus
tembrisme, en laissant de côté était maintenue et les propriéla question émancipatrice du taires étaient tenus de déclaNoir. D’un autre côté, cette lé- rer le nombre d’esclaves, sinon
gislation, bien qu’elle soit illé- ils les perdraient. les mesures
gale au commerce, a toutefois d’émancipation ont occupé
été atténuée par une exception une part substantielle de ce
qui constituait un compromis
projet126. Ce projet n’a pas été
important pour les opposants adopté à la Chambre, où il a
à l’objectif qu’elle cherchait
à atteindre. Cette exception
a gardé la possibilité de trafic persiste, se cache derrière
162 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
Caldeira, Escravos e Traficantes no
Império Português, 238.
126
Marques, Sá da Bandeira e o fim da
escravidão, 37-38.
125
gardé la crainte des mesures Navy la liberté «d’intercepter,
qui conduiraient à des chan- de visiter et, si nécessaire, de
gements drastiques qui remet- saisir tout navire sous pavillon
trait en cause la structure du portugais». qui portait des esbâtiment colonial portugais ou claves ou était équipé à cette fin
127
la défense des commerçants et “ . Après une période d’indiproducteurs portugais opérant gnation profonde, qui condui-
dans les colonies d’Afrique et sit à la publication de plusieurs
le Brésil, où le maintien de publications anti-britanniques,
l’esclavage et la traite étaient bien qu’aucune d’entre elles ne
prônât ouvertement le mainconsidérés comme vitaux.
Ainsi, la nécessité d’atténuer
le décret du 10 décembre est
tien ou la légitimité de la traite,
le 3 juillet 1842, un nouveau
mieux comprise pour que Sá da traité anglo-britannique fut signé. Ce traité représente l’aboBandeira puisse surmonter l’oplition complète de la traite des
position interne toujours claire
esclaves dans tous les territoires
aux mesures abolitionnistes.
sous juridiction portugaise et
Cependant, c’est la réponse bridonne à la Royal Navy l’autotannique violente à cette loi atrisation légale d’inspecter tous
ténuée qui s’avère décisive pour
les navires battant pavillon porle cours de la question, même
tugais. En 1847, dans un nous’il a fallu six ans pour une nouveau traité, Portugal autorisait
velle initiative de traite aboliles patrouilles britanniques
tionniste décisive. À partir de
pour la répression de la traite
1836, la pression britannique
dans les eaux territoriales poraugmenta de façon exponentugaises.
tielle, culminant en 1839 avec
le projet de loi de Lord Palmerston, qui donnait à la Royal
Caldeira, Escravos e Traficantes no
Império Português, 240.
127
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 163
RÉSISTANCE À
L’ABOLITION
DE LA TRAITE
NÉGRIÈRE ET DU
TRAFIC ILLÉGAL
BRÉSIL ET LE MAINTIEN
DU SYSTÈME
Comprendre le contexte
politique et diplomatique du
premier quart du XIXe siècle,
qui a abouti à l’indépendance
du Brésil, est essentiel pour
comprendre
l’évolution
du
problème de la traite des es-
économique qui a forcé Portugal à soutenir constamment
son allié, l’Angleterre. L’évasion de la Cour au Brésil, l’engagement de l’abolition, dans le
temps, la traite des esclaves et le
transfert d’une position privilégiée commerciale sur le marché
brésilien, le commerce anglais,
a fini par aggraver la situation
économique déjà précaire de la
métropole à la temps qui a créé
les conditions pour l’indépendance de la colonie brésilienne.
La deuxième phase a eu lieu à
claves au Portugal. Nous pou- partir de 1814, avec la défaite
vons observer deux périodes des armées de Napoléon, et
distinctes, mais elles sont fu- 1822, année de l’indépendance
sionnées afin de maintenir une du Brésil, où il commence à
politique cohérente qui vise à
craindre et essayer de prévenir,
empêcher les éruptions dans le un résultat inévitable de plus en
bâtiment colonial portugais. plus d’émancipation de la coEn fait, c’est pour des raisons lonie la plus importante dans
exogènes que cette stabilité termes économiques pour Porsera ébranlée.
Dans la première période, la
tugal. Il faut comprendre que
le pari économique fort dans
guerre péninsulaire agira comme le territoire brésilien était déjà
une condition d’une situation plus d’un demi siècle, en étant
réelle de fragilité politique et la destination de l’élection de
164 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
l’immigration portugaise et de claire et généralisée de l’iniquil’investissement, en continuant té de l’institution esclavagiste.
Le voyage du roi au Brésil
même après l’indépendance.
Dans cette conjoncture dé- en 1807 marque le début d’un
favorable du début du siècle, processus d’émancipation de la
Le XIXe siècle a vu la traite des
colonie, qui commença son pre-
esclaves répondre à deux as- mier développement en 1808
pects centraux de l’État, l’un lorsque, dans une situation de
de souveraineté dans les ter- grande fragilité, le gouverneritoires coloniaux et l’autre ment portugais accéda à l’oud’ordre économique, des deux verture des ports brésiliens aux
côtés de l’Atlantique, mais in- navires. étrangers. Cette déterterconnectés. La nature même mination rompra avec “le sysde ces questions a des causes tème basé sur le «pacte colonial»,
différentes, différenciées par en vigueur depuis la période
128
les caractéristiques mêmes de pombaline” . Avec cette meportugaise, sure, le monopole et l’exclusivité
mais elles étaient interconnec- de la colonie ont cessé d’appartetées ombilicalement. La straté- nir à la métropole, en promoula
colonisation
gie de maintien de la traite s’est
vant l’autonomie financière du
révélée être une réponse cen-
Brésil. Cette ouverture des ports
à une incapacité politique, mi-
Brésil dans une «phase de tran-
trale, en partie à cause de la vo- au marché international en 1808
lonté politique, en partie due et jusqu’en 1822 a fait passer le
litaire et économique, aux dé-
sition de l’économie coloniale à
fis auxquels un Portugal était
confronté, où il n’y avait ni
moralité ni les élites, ou l’opinion publique, une conscience
128
Maria Manuela Lucas, “Organização
do Império”, em História de Portugal, vol.
5, dir. José Mattoso, cor. Luís Reis Torgal,
João Lourenço Roque (Lisboa: Editorial
Estampa, Lda. E Autores, 1998), 246.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 165
l’économie capitaliste exportatrice, selon les dictats du capitalisme industriel anglais» 129.
Cependant, les fondements
fondamentaux de l’économie
brésilienne ne changeront pas,
malgré le fait qu’il y a eu une
croissance dans la fabrication
liée à la construction navale,
aux textiles et au sucre.
L’économie brésilienne était
une économie essentiellement
agricole, basée sur de grands
domaines, et minage, où le système esclavagiste était le mode
de production. Au début du
XIXe siècle, la culture des produits agricoles était plus diversifiée, avec l’introduction du
cacao, du coton, du riz, du tabac et surtout du café, un produit en constante expansion.
Ces nouvelles productions prenaient de la place et de l’importance dans les exportations
brésiliennes, en dépit du fait
que le sucre reste le produit le
plus exportateur130. Si la production de sucre, la plus représentative et la plus rentable
du secteur agricole, dépendait
déjà en grande partie du travail des esclaves, l’introduction de la culture du café, en
pleine expansion, a créé un
besoin encore plus grand de
travail forcé. Ainsi, l’arrivée
d’un nombre croissant d’esclaves à Rio de Janeiro, «sur
la moyenne annuelle d’environ 18 000 esclaves qui entrèrent dans le port de Rio en
1817, fut portée à 24 000 en
1821»131. Le développement
économique lui-même semblait être de plus en plus dépendant du travail des esclaves,
et ces caractéristiques productives dans l’économie brésilienne resteront inchangées
même après l’indépendance.
Cette réalité démontrait qu’il
Lucas, “Organização do Império”,
248-249.
131
Caldeira, Escravos e Traficantes no
Império Português, 244.
130
129
Lucas, “Organização do Império”, 248
166 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
était pratiquement impossible
côtières, et il y avait une pro-
d’avancer avec de véritables res-
fonde ignorance du vaste es-
trictions à la traite des esclaves pace qui s’étendait à l’est, qui
sans déstabiliser sérieusement n’avait pas de limites précises.
les fondements de l’économie
Au Mozambique, le problème
brésilienne et remettre ainsi en
était encore plus critique, avec
cause la légitimité même de la seulement l’occupation de la
souveraineté portugaise sur le zone entre la baie de Lourenço
territoire.
Marques et la baie de Tungue,
De l’autre côté de l’Atlan- près du cap Delgado, et le futique, la question de la traite seau horaire dans la vallée du
était, ou plus encore, urgente. Zambèze, où Portugal avait
132
Premièrement, la présence une position plus ferme .
portugaise dans ces territoires
était très limitée, englobant essentiellement quelques points
clés sur la côte africaine. Sur la
côte ouest, soutenue par les archipels du Cap-Vert et de São
Tomé, le Portugal occupe une
position délicate en Guinée.
Là, la souveraineté portugaise
a souffert de la concurrence
française et de la résistance des
potentats musulmans. En Angola, la présence portugaise se
limitait à Luanda, à Benguela et à certains territoires intérieurs proches de ces villes
Comme on peut le voir, la
présence portugaise dans les
territoires africains s’est reflétée dans la faible diversité des
activités économiques de ces
colonies, qui se limitaient à l’exploitation minière et, surtout, à
la traite des esclaves. L’activité
de la traite des possessions africaines avait, d’abord, une forte
implication des grandes familles
indiennes blanc, noir et mestizo, y compris les femmes, très
proche de la politique coloniale
Lucas, “Organização do Império”,
252.
132
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 167
- en ce qui concerne Arlindo
nérait n’étaient pas compensés
Caldeira, «Il est cette associa-
par aucune autre activité, ce qui
tion de la traite à des groupes inhibait l’investissement dans
familiaux pour ce qui explique d’autres zones économiques.
(...) l’émergence, à la fois à S.
La deuxième période a
Tomé et en Angola, de femmes
commencé à la fin des guerres
associées à la traite des esclaves, napoléoniennes en 1814,
qui était traditionnellement un lorsque les questions qui se
univers masculin”133. D’autre soulevaient dans le territoire
part, les côtes africaines étaient brésilien ont été placées avec
également peuplées de trafi- une acuité croissante par l’auquants portugais-brésiliens qui tonomie croissante que la coagissaient en privé ou en tant lonie gagnait. La même année
que représentants d’entreprises a été créée la lettre de créa- tion
brésiliennes. Cette diversité
parmi les marchands d’esclaves
est le symptôme d’une activité qui relie les intérêts forts
d’une
bourgeoisie
coloniale
profondément enracinée dans
la société outre-mer des deux
côtés de l’Atlantique. Le sous-développement
économique
des territoires africains était
également la cause et la conséquence de la traite des esclaves,
puisque les profits qu’elle géCaldeira, Escravos e Traficantes no
Império Português, 267.
133
168 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
qui créait le «Royaume-Uni du
Portugal, du Brésil et de l’Algarve» et assimilait, en termes
de statut juridique, le Brésil au
Portugal. A partir de ce moment la politique de confinement est dommage, exprimé la
position portugaise au Congrès
de Vienne et de la résistance au
cours des négociations du traité luso-britannique de 1815.
Quand, en 1815 et 1817, sont
signés les traités avec l’Angleterre, l’inquiétude Avant tout,
le gouvernement portugais ne
devait pas perturber le flux africaine et les mesures abolitransatlantique des esclaves, tionnistes pouvaient dégénérer
craignant de compromettre en un conflit politique dont
la position fragile qu’il occu-
personne ne pouvait prévoir les
pait dans les possessions colo- conséquences. Cette réalité afriniales. Au Brésil, toute mesure
caine est devenue encore plus
restreignant la traite signifie- claire dans les années 1830,
rait un choc, dont personne comme nous le verrons plus
ne pourrait calculer la taille,
tard. Ainsi, il existe une corréla-
dans la structure économique
tion étroite entre la souveraine-
du territoire, et pourrait pré-
té coloniale, le développement
cipiter chaque jour une situa-
économique et le maintien de
tion politique plus délicate.
la traite négrière, avec des réper-
Cependant, les tentatives du
cussions au-delà du territoire
gouvernement portugais dans
brésilien. Le maintien du trafic
cette période ont été pleine-
a fini par relier les principaux
ment réalisées et ont momen-
territoires coloniaux portugais
tanément évité une rupture de dans toutes ces dimensions.
plus en plus inévitable.
Au-delà des questions in-
En Afrique, la situation se- ternes, il y avait un réel sentiment
rait encore plus dramatique car de méfiance devant une perforla dépendance de ces territoires
mance britannique constante
vis-à-vis de la traite des esclaves et pleine de contradictions. La
était quasi totale, une situation vocation impérialiste britanqui perdura jusqu’au milieu du nique dans le panorama coloXIXe siècle. D’un autre côté, nial, avec l’expansion croissante
les intérêts économiques dans des zones sur son contrôle, et
cette activité étaient profondé- la perception répandue que les
ment enracinés dans la société questions économiques étaient
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 169
derrière sa position abolition- a souffert au même rythme,
niste, continuèrent à remettre l’effet inverse, l’approfondisen question un dialogue et un sement de la crise économique
effort conjoint sur la question et la politique a alors vécu. À
de la traite des esclaves. En fait, ce stade, on peut comprendre
la capacité des abolitionnistes la révolution de 1820, l’ultibritanniques en interne a dû matum a fait le roi João VI,
le mettre en termes de mo- demandant son retour à Lisrale chrétienne, l’éthique et les bonne, et les initiatives visant
droits de l’homme, équivaut à à rétablir le «pacte colonial»,
l’ineptie ambiguë du gouver- imposant, encore une fois, le
nement britannique, pour ses monopole de la métropole sur
incongruités et l’action diplo- les produits et le commerce
matique fondée sur la force, brésiliens. Ce mouvement ne
ce qui ne pourrait jamais dis-
montre pas que les trajectoires
socier la question abolition- des deux territoires sous adniste des intérêts commerciaux ministration portugaise aient
qu’elle défendait. Cette dupli-
pris des directions opposées,
cité a alimenté, pendant une et que cette émancipation segrande partie du XIXe siècle, rait éventuellement le résultat
les adversaires de cette cause inévitable de cette divergence.
humanitaire.
Alors que l’économie bré-
Malgré le choc de la perte de
la colonie portugaise la plus
silienne a développé dans ce importante et l’impact néfaste
nouveau siècle, bénéficiant de
qu’elle a eu sur le commerce
la présence de la famille royale extérieur portugais, “tout au
dans les mesures du territoire
long du XIXe siècle, le Brésil
et de libéralisation du com- a continué d’importer des promerce, l’économie portugaise duits agricoles, notamment
170 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
du vin et de la nourriture. À
son tour, il a fourni une partie
du coton, du sucre et du cuir,
en plus d’autres matières premières tropicales utilisées par
l’industrie portugaise”134.
134
Lucas, “Organização do Império”, 251.
VOLONTÉ,
AUTORITÉ ET
ÉCONOMIE:
L’ABOLITION DE
LA TRAITE DES
ESCLAVES
Le Portugal arrive ainsi en
1822, immergé dans une profonde crise économique et politique, sans la colonie clé pour
son économie, avec une présence en Afrique absolument
résiduelle et absolument dépendante de la traite négrière.
Il est légitime de prétendre que
l’indépendance du Brésil a créé
l’occasion d’un changement
d’approche de la question de
la traite, mais ce n’est qu’en
1836, pour plusieurs raisons.
Premièrement, l’indépendance
du Brésil n’a pas fait perdre à
ce territoire sa pertinence pour
l’immigration portugaise, qui
cherchait de meilleures conditions de vie, en continuant à
préférer aux territoires africains et orientaux, ainsi qu’aux
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 171
commerçants qui se déplaçaient dans esclaves. Ainsi,
même après l’indépendance,
nous continuons à avoir une
présence importante de marchands portugais dans les terres
de Vera Cruz, dont beaucoup
sont liés au trafic dit.
En Afrique, la question a
été explicitement mentionnée
dans les Constitutions par la
Commission d’Ultramar, qui
est chargée d’examiner et de
rendre des avis sur les propositions et les projets de loi relatifs aux territoires d’outre-mer.
Dans son rapport, la Commission a présenté des propositions pour le développement
des possessions africaines, à
savoir l’Angola et le Mozambique. Dans les deux cas, une
politique a été préconisée pour
promouvoir l’agriculture, en
développant des canaux commerciaux pour la circulation
rapide des produits, facilitant
ainsi le lien entre ces territoires
et la métropole. Dans le cas du
172 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
Mozambique, il était même
proposé de percevoir une taxe
de seulement 1% sur l’échange
de biens avec le Portugal et encouragerait les gouverneurs
à fouiller à nouveau les territoires pour les mines d’or et
d’argent. et le cuivre.
Plus que de simplement recommander des mesures de développement, la Commission a
fait valoir que ces propositions
étaient un moyen de remplacer le modèle économique actuel, qui était basé sur la traite
des esclaves. Ce rapport soulignait la nécessité de promouvoir une transformation
mentale des trafiquants pour
qu’ils s’engagent dans d’autres
activités économiques, y compris des activités agricoles, qui
développeraient les territoires
et les éloigneraient d’un commerce confronté aux valeurs
religieuses, humanitaires et politiques. D’un autre côté, il a été
souligné que le maintien de la
traite des esclaves entretenait les
guerres et les rivalités tribales,
chassant la population indigène d’autres activités économiques. En toile de fond, une
forte dynamique commerciale
entre les territoires africains
et la métropole a été défendue, ainsi qu’une plus grande
ouverture aux commerçants
étrangers, afin de créer un modèle économique similaire à
celui qui s’était développé au
Brésil. Ainsi, dans ces territoires, la source de plus-value
de la traite était détournée vers
des activités qui développeraient leur économie dans le
respect des principes religieux
et des droits de l’homme, tout
en respectant les traités luso-britanniques135.
Comme on peut le voir, et
rappelant le projet susmentionné Francisco Soares Franco, étaient en regardant cette
période, plusieurs courants
135
Capela, Escravatura, a empresa de saque
o abolicionismo (1810-1815), 222-223.
abolitionnistes en dépit de
proposer différents modèles,
mais ils ne sont pas représentatifs de l’opinion dominante
à l’époque et il suffit d’exécuter toujours dans les intérêts
politiques et intérêts commerciaux. La situation instable de
la politique et de l’économie de
la métropole était un obstacle
au risque que cette mesure
impliquait. Au début, l’indépendance du Brésil a créé une
réelle crainte de ce que représenterait une mesure de cette
ampleur pour le système en
place dans les territoires africains. L’avancement d’une législation qui interdirait la traite
des esclaves pourrait conduire
à d’autres soulèvements coloniaux dans le but d’émanciper,
ou pire, de rejoindre l’Empire
brésilien. Ajoutant à cette préoccupation dans la classe politique de la métropole, dans
cette période et jusqu’en 1850,
la dynamique du commerce
très esclaves placé des obstacles
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 173
majeurs dans les territoires co-
du golfe de Guinée étaient les
loniaux africains pour la mise
plus populaires pour ses com-
en œuvre et l’acceptation des
pétences de travail et à l’en-
mesures abolitionnistes.
vironnement
acclimater
au
Le début du siècle a été mar- Brésil. Avec l’aggravation de la
qué par un augment du flux situation dans le golfe de Guid’esclaves transatlantiques à
née et la crainte que des me-
destination du Brésil, qui du- sures plus restrictives de la traite
rera jusqu’au milieu du siècle. ne soient avancées, le paradoxe
Comme nous l’avons déjà men- a été observé que plus les idées
tionné, le développement éco- abolitionnistes gagneraient de
nomique brésilien était l’un des terrain, plus le volume d’es136
responsables de cette tendance, claves échangés serait grand .
mais les développements politiques ont également eu une
influence centrale sur cette
évolution. Après la signature
du Traité d’Alliance et d’Amitié
Luso-Britannique en 1810, le
début des opérations d’expédition d’esclaves de la Royal Navy
entre 1811 et 1814 a démontré que la situation était en train
de changer. Ce fut au cours de
cette période qui a commencé
le trafic illégal, en dépit de ne
pas avoir l’expression qui rencontrera plus tard, au nord de
l’équateur, comme les esclaves
174 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
Un nouvel élan a été don-
né en 1826 avec la signature
du traité anglo-brésilien qui a
imposé une interdiction de la
traite au Brésil en trois ans, ce
qui a rendu de plus en plus difficile pour certains secteurs politiques portugais de changer
la dynamique économique et
commerciale. territoires. Cette
compréhension a conduit à
une augmentation significative du trafic, cherchant à anticiper une période de pénurie
Caldeira, Escravos e Traficantes no
Império Português, 252-253.
136
possible d’esclaves. En 1825,
on estime à 43 000 le nombre
total des esclaves entrés dans
le pays, pour atteindre 73 000
en 1829, tandis que «Rio de
Janeiro, avec la production
de café, a la part du lion dans
ces entrées: aux mêmes dates,
passe de 27000 à 48000”137. Ce
n’est qu’avec un énorme effort
politique, militaire, humain et
économique, ce qui est irréalisable à l’époque, que le gouvernement portugais pourrait
contrer toute une situation où
les revenus du trafic étaient en
pleine croissance. En plus de
ces circonstances, le Portugal a
approfondi une crise politique
et économique interne qui se
poursuivait depuis la guerre de
la Péninsule, mettant le pays
sur la voie d’une guerre civile
qui commencera en 1828 et ne
prendra fin qu’en 1834.
À partir de 1830, le traité
anglo-brésilien est entré en
vigueur et, dans le même temps,
l’Angleterre a intensifié les
patrouilles sur la côte africaine,
tandis que dans le principal
territoire d’approvisionnement,
l’Angola, le trafic reste légal. En
1831, fut promulguée une loi
proclamant la liberté de tous
les esclaves entrés illégalement
sur le territoire brésilien,
aggravant les peines pour tous
ceux qui restaient impliqués
dans ce commerce. L’abolition
des mesures de traite adoptées
par le gouvernement brésilien
a entraîné une chute brutale
des prix des esclaves sur la
côte africaine et, à l’inverse,
elles ont augmenté de façon
exponentielle sur la côte
brésilienne138. Cette situation a
augmenté la cupidité des commerçants, car le risque de perte
d’un transport a été largement
dépassé en cas de succès. Maintenant, il débarquait clandestinement ou avec la complicité
Caldeira, Escravos e Traficantes no
Império Português, 253-254.
138
137
Caldeira, Escravos e Traficantes no
Império Português, 244-247.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 175
des autorités, le long de la côte
brésilienne, dans des mouillages
improvisés, loin des principaux
ports. Si au début il y avait un
ralentissement de l’afflux d’esclaves, le trafic désormais illégal
revenait progressivement à une
normalité seulement possible
par la complicité des autorités.
Malgré la conjoncture défavorable de mise en œuvre des
mesures visant à interdire l’esclavage par l’abolition de l’esclavage par le gouvernement
britannique en 1833, la situation juridique de la traite en
Afrique portugaise était pratiquement insoutenable. Plus
que les mesures législatives
elles-mêmes, les développements observés par les mesures
abolitionnistes avancées par le
gouvernement Setembrista de
Sá da Bandeira au VIIe siècle
nous montrent le degré de fragilité de l’autorité portugaise
dans les territoires coloniaux.
Ni la loi de 1836 ni ses lois ultérieures ne pourront arrêter
176 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
la traite des esclaves sur les rivages africains.
Les conditions dans les colonies africaines n’avaient pas
beaucoup changé. Au Mozambique, le déclin des échanges
avec l’Est, accentué par l’ouverture des ports au commerce international, maintient
une économie presque totalement dépendante de la traite
négrière. En effet, la première
moitié du XIXe siècle a été
marquée par un état de déclin
absolu des possessions portugaises de l’Est, avec l’abandon
des forteresses par manque de
moyens, la vente de biens nationaux pour couvrir les frais
administratifs et les salaires,
la négligence des garnisons et
des bâtiments de l’État, et la
décadence du travail missionnaire139. Ainsi, il y a une intensification, maintenant illégale,
de la traite des esclaves en tant
Lucas, “Organização do Império”,
252-254.
139
qu’activité commerciale quasi-exclusive.
Sur la côte ouest, la situation était légèrement différente, conséquence des efforts
déployés depuis 1835-36.
L’Angola et les archipels atlantiques diversifiaient progressivement leurs activités
productives, tirant parti d’une
augmentation des prix sur le
marché international de nombreux produits coloniaux. À S.
Tomé, il y a eu une forte implantation de la culture du
café et le début du cacao, une
culture qui aura une importance fondamentale des décennies plus tard. Au Cap-Vert,
c’est le coton et l’urzela qui se
sont développés, tandis qu’en
Angola, l’urzela, le café et la
canne ont animé une nouvelle
dynamique économique. Ce
sont les territoires qui devaient
être la base du «nouveau Brésil». Cependant, le commerce
avec la métropole n’a jamais
atteint un niveau élevé et n’a
pas été en mesure de remplacer
une dynamique de profit que
le trafic a continué à fournir,
provoquant en partie l’échec
des projets mis en place pour
cette région par le gouvernement Setembrista.
Ces conditions, bien que
désastreuses pour mettre en
œuvre les mesures abolitionnistes de la traite des esclaves,
furent également aggravées
par une administration coloniale où la corruption était
une réalité répandue, et par
les puissants intérêts d’une
bourgeoisie directement attachée au Brésil. Il y avait une
nette discorde entre les autorités coloniales et les agents
économiques liés à la traite
des esclaves dans les territoires
africains, et une répartition
des bénéfices de cette activité a
donné lieu à une convergence
d’intérêts dans la résistance à la
mise hors la loi. Cette corruption s’est répandue à tous les
niveaux de l’administration,
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 177
atteignant le sommet, en partie à cause des bas salaires, ou
même parce qu’ils ne les ont
pas reçus. La tentation de faire
fortune rapidement était trop
forte et nombre de ces fonctionnaires étaient complices ou
entraient eux aussi dans la circulation. Un exemple de cette
réalité est l’ordre donné par Sá
da Bandeira en 1839 d’incriminer Manuel Bernardo Vidal,
l’ancien gouverneur général de
l’Angola, qui non seulement
n’a pas respecté le décret du
10 décembre 1836, réclamant
une législation antérieure, les
affaires d’esclaves tant qu’ils
lui ont payé 800 000 rois par
navire”140.
La bourgeoisie engagée
dans le trafic illégal sur la côte
africaine a servi de liaison avec
les représentants des grands
marchands brésiliens. Au Brésil, cette bourgeoisie luso-brésilienne entretient des
relations très étroites avec le
pouvoir politique et avec les
hommes d’affaires britanniques établis sur le territoire.
Ce sont ces hommes d’affaires
anglais qui achètent, souvent à
crédit, les articles échangés sur
la côte africaine contre des esclaves. Cette complicité anglo-brésilienne, qui a fini par être
étroitement liée aux profits du
trafic illégal, aurait été dénoncée en Angleterre. Les produits
exportés de Manchester étaient
dirigés et fournis, à crédit, à
des marchands d’esclaves au
Brésil141. C’était comme regarder la réédition du “Triangular
Atlantic Trade”, mais cette fois
avec l’Angleterre comme l’un
des sommets.
La résistance dans les principales colonies africaines à la
décision de 1836 d’abolir la
traite des esclaves fut immédiate et a continué pendant
Capela, Escravatura, a empresa de saque o abolicionismo (1810-1815), 264266.
141
Capela, Escravatura, a empresa de saque o abolicionismo (1810-1815), 274.
140
178 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
plusieurs années. Le gouver- Bandeira, Manoel de Noronha
nement portugais a tenté de
a souligné que l’élimination de
combattre ces résistances afin
la traite avait éliminé la seule
de donner effet au décret du activité rentable de la popula10 décembre, car tant que le tion locale, ce qui entraîne la
trafic persisterait, les capitaux fermeture des douanes et ennécessaires au développement traînant un déficit budgétaire
de ces territoires continue-
qui pourrait atteindre les deux
raient d’être détournés vers
tiers plein. La situation créée
cette activité. Sá da Bandei- par son action l’avait rendu
ra, en janvier 1839, envoya un
si impopulaire qu’il ne pen-
nouveau gouverneur général sait plus qu’il était la personne
en Angola, le vice-amiral An- pour effectuer les changements
tónio Manoel de Noronha, qui
que le gouvernement portugais
remplaça le nommé Manuel préconisait pour la colonie.
Bernardo Vidal. Le nouveau
Au Mozambique, l’affaire
gouverneur, dès février de cette
était encore plus grave, car
année, a publié un édit impo-
la réaction à l’imposition du
sant le respect strict du décret décret du 10 décembre était
abolitionniste. La municipa-
beaucoup plus violente. Le
lité de Luanda, en missive au gouverneur général, João Carnouveau gouverneur, a mis en
los Augusto de Oyenhausen-
garde contre les conséquences
-Gravenburg le 11 Novembre
pour l’économie locale de la 1839, suspendu dudit décret,
fin de la traite négrière. La vé-
qui Sá da Bandeira, de croire
rité est que, en moins de six
en son honnêteté, a attribué la
mois, il a demandé son rem-
pression intense de l’esclave.
placement dans le bureau. Les Plus tard, le gouverneur Joajustifications données à Sá da
quim Pereira Marinho a même
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 179
quitté la colonie, face à la terrible réaction provoquée par
son comportement politique à
cet égard142. Au Mozambique,
le maintien du trafic dépendait de l’action ou de l’inaction des gouverneurs généraux,
ainsi que des opérations de répression en mer menées par la
Royal Navy et la marine portugaise. Cependant, l’extension
de la côte, sa faible occupation
territoriale et la faible domination militaire exercée par les
autorités portugaises ont permis à la traite illégale des esclaves de perdurer dans cette
colonie bien au-delà du milieu du siècle. L’entrée en déclin du fuseau horaire et son
africanisation, la formation de
l’empire militaire Nguni Gaza
dans le sud de la Zambèze,
ont maintenu l’hinterland du
Mozambique dans une région
«sans loi». Dans ces régions,
le commerce des esclaves et de
l’ivoire, en échange d’armes,
donnait une consistance militaire à ces peuples indigènes
dans leur opposition à la souveraineté portugaise, problème
qui ne sera résolu que vers la
fin du siècle. Ainsi, il est expliqué que “les schémas antérieurs basés sur l’exploitation
et le commerce de l’ivoire et
sur le commerce des esclaves”
ont été maintenus143.
La transformation de cette
situation, qui a été profondément négative pour le gouvernement portugais, a eu lieu en
1850, lorsque le Brésil a promulgué la loi d’Eusébio de
Queirós, qui a illégalisé la traite
des esclaves. À ce moment-là, la Grande-Bretagne avait
déjà opéré dans les eaux territoriales et les ports brésiliens,
tandis que sur le front diplomatique, la pression sur le
gouvernement avait augmenté pour passer à la législation.
142
Capela, Escravatura, a empresa de saque
o abolicionismo (1810-1815), 274-275.
143
180 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
Lucas, “Organização do Império”,
256.
Étant le territoire brésilien la
principale destination des esclaves de l’Afrique portugaise,
le résultat de cette mesure a été
la chute abrupte du nombre
d’entrées. Entre 1801 et 1850,
le travail annuel moyen des esclaves était d’environ 47300,
alors qu’entre 1851 et 1866,
il tombait à 600144. Nous ne
pouvons pas oublier que les
territoires où cette mesure a
eu le plus d’impact étaient
ceux de l’Afrique de l’Ouest,
L’Angola était le grand exportateur d’esclaves au Brésil. Au
Mozambique, ce flux transatlantique et indien reste, mais
avec beaucoup moins d’intensité, maintenant pour l’île de la
Réunion et pour Cuba. Cependant, ces chiffres démontrent
l’incapacité du Portugal à endiguer le trafic illégal et à faire
appliquer la loi abolitionniste
dans les colonies. Alors qu’il y
avait une demande au Brésil, le
profit apporté par le trafic gardait toute une bourgeoisie attachée à cette activité engagée
à son entretien. Cette bourgeoisie, qui avait enrichi par
la traite des esclaves, a canalisé une partie de leurs bénéfices
au Portugal, mais ces transferts
atteint son apogée en 1850, ce
qui démontre l’étape qu’Eusebius Queiroz loi représentée.
Caldeira, Escravos e Traficantes no
Império Português, 252.
144
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 181
DE L’UTOPIE
DES LUMIÈRES
À LA RÉALITÉ
COLONIALE: LE
TRAFIC ILLÉGAL
ET LE CAS DU
MONT FERRAN
ABOLITIONNISME
FRANÇAIS
L’abolitionnisme
français
connaît deux phases distinctes.
La première phase est courte,
mais fructueuse, survenant à la
fin du XVIIIe siècle. Les revendications de liberté et d’émancipation propagées par les
penseurs et les philosophes des
Lumières ont exercé une forte
influence à la fois en Grande-Bretagne et en France. En
1788, crée la Société des Amis
des Noirs et des parlementaires
comme Brissot et l’abbé Henri
Grégoire le faire ont un poids
politique, suivant les revendications de Wilberforce et Clarkson, l’autre côté de la Manche.
Les abolitionnistes perdent de la
force dans la question de saint
182 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
Dominique, cherchant à légitimer le nouveau pays, mais ne
trouvant pas d’alliés dans cette
perspective, dans le cadre des intérêts britanniques et espagnols.
En raison de cette situation, ils
deviennent plus prudents dans
une position plus graduelle,
proposant une suppression progressive de l’esclavage145.
Au cours du XVIIIe siècle,
les Antilles françaises, la Martinique, la Guadeloupe et surtout
Saint Dominique, le futur Haïti,
ont été d’une importance capitale
pour le commerce colonial de la
France. Ces îles avaient un très
haut degré de développement,
produisant dans la production
du sucre et du café leurs produits
essentiels, avec un mode de production basé sur le travail des esclaves. Pendant cette période, les
Antilles représentaient environ la
moitié du commerce mondial du
145
Nelly Schmidt, “Les abolitionnistes
français de l'esclavage, 1820-1850”,
Revue française d'histoire d'outre-mer,
tome 87, n°326-327 (1er semestre,
2000): 205-244.
sucre et du café, ce qui en faisait
la mentalité de l’époque et sou-
les territoires coloniaux les plus tenue sur une longue période,
précieux146. Lorsque, en 1791, les positions qui exigent une exil donne la grande révolte des
trême prudence à l’avance des
esclaves sur l’île de Hispaniola, politiques émancipatrices.
Avec la défaite des forces
qui durera jusqu’en 1804, bercé
par les Lumières, les idées propa-
napoléoniennes en 1814 et le
gées par la Révolution française
changement de l’équilibre géo-
se matérialisent en 1794, avec politique mondial, la France
la France pour se déplacer vers fut également incitée à revenir
l’abolition totale de l’esclavage. à des mesures abolitionnistes,
Cependant, l’arrivée au pouvoir la traite des esclaves étant inde Napoléon Bonaparte en 1799 terdite. Lors de la signature du
conduit à un revers dans le pro- traité franco-britannique de
cessus abolitionniste français. En Paris le 30 mai 1814, le goumême temps qu’il essayait de ré- vernement français s’engagea à
tablir la souveraineté française
dans les Antilles, en 1802 réins-
abolir la traite dans tous ses domaines dans un délai de cinq
tituer l’institution esclavagista ans, soit jusqu’en 1819. Dans
dans l’Empire. Les plans de Na- le même article La France propoléon ont finalement échoué
dans cette colonie américaine, et
en 1804, Haïti indépendant est
né. La révolution haïtienne, la
violence qui portait, sur les deux
côtés, a eu un impact énorme sur
146
Henry Wesseling, Les empires coloniaux européens 1815-1918 (Paris,
Éditions Gallimard, 2009), 155.
met également de joindre ses
efforts au Congrès de Vienne
qui se tiendra l’année suivante
pour que l’abolition de la traite
des esclaves devienne une réalité dans toute la chrétienté147.
Cependant,
contrairement
147
Caetano, Portugal e a Internacionalização
dos Problemas Africanos, 53.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 183
au Portugal, en Espagne ou
la Hollande, l’Angleterre n’a
jamais obtenu l’assentiment
gaulois à un accord bilatéral qui lui donnerait des pouvoirs à visiter les navires sous
pavillon français, ou permettre
la constitution des tribunaux
mixtes pour essayer des navires
saisis asservissant. Ainsi, la répression de la traite, pratiquée
dans le domaine français, se
fait au détriment de la marine
et des faibles tribunaux français, comme le pays, après la
défaite de Napoléon.
Comme au Portugal, les
Français a examiné la question
de la traite comme une forme
de développement économique sous condition anglaise
de leurs colonies, augmentant
sa part dans le marché mondial
et d’élargir, par l’affaiblissement
des autres puissances, sa zone
d’influence dans les espaces épicerie Bien que la France est au
début de l’avancement des mesures abolitionnistes, l’abolition
184 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
de l’esclavage n’a pas été à ce
stade du processus historique,
compris comme une exigence
morale, mais comme une imposition machiavélique d’Angleterre prêt à ruiner l’Empire
français. Malgré les bouleversements de l’expérience qui a
conduit à l’émancipation des
populations dans la région des
Caraïbes, il n’y a pas de réel
changement dans la mentalité d’esclave de la métropole,
ainsi qu’un certain enthousiasme dans le période révolutionaire148. Une démonstration
de cette réalité fut, moins d’un
an après, et en violation totale
de l’accord de Paris, la position
française dans la Convention
de Vienne de 1815, à l’appui
de la position portugaise, d’opposition à une décision qui lierait les puissances coloniales
pour mettre fin à la traite des
Roger Botte, “L'esclavage africain après
l'abolition de 1848. Servitude et droit du
sol”, Annales. Histoire, Sciences Sociales, 55e
année, N.º 5 (2000): 1009-1037.
148
esclaves dans un calendrier
l’esclavage. Les membres de ces
fixe.
sociétés étaient des aristocrates,
La deuxième phase du mou-
des écrivains et des penseurs de
vement abolitionniste français
nominés, il serait donc difficile
date de 1820 à 1848, c’est-à-
de les ignorer. Des membres
-dire qu’elle commence à la fin
de la British and Foreign Anti-
du terme de légalité de la traite
-Slavery Society étaient réguliè-
négrière. Il commence à être
rement reçus à Paris et ailleurs,
perçu par la résurgence des ins-
participant aux actions de l’ho-
titutions abolitionnistes. Tel
mologue français, parrainant
est le cas de la Société de la Mo-
des publications et encoura-
rale Chrétienne, avec son Comi- geant des campagnes de pétité pour l’abolition de la traite et tion. Avec une forte influence,
de l’esclavage, avec une entreprise de presse, après la Société
Français pour l’Abolition de l’Esclavage et de son publication de
brochures, puis avec le journal
Abolitioniste Français, Bureau de
Correspondence, le corps LeSemeur protestant, les comités de
rédaction du magazine créé par
Cyrille Bissette, la Revue des Colonies, puis laRevue abolitioniste.
L’exemple anglais a conduit à
la création de diverses commissions
gouvernementales
chargées d’examiner le statut
colonial en vue de réprimer
ils se sont battus sur les champs
de bataille politiques, remportant, après commission, une
victoire totale, en 1848149.
Bien que l’abolition de la
traite des esclaves soit précoce,
tant en France qu’en Angleterre,
la réalité est que cette initiative
n’est pas simultanée à l’émancipation de l’esclave. Beaucoup
de leurs colonies étaient économiquement fondées sur des
cultures telles que le sucre, le
café ou le coton, entre autres,
Schmidt, “Les abolitionnistes français
de l'esclavage”, 205-244.
149
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 185
qui avaient exclusivement leur
un sixième de la marine à longue
main-d’œuvre esclave. Ce n’est
distance de Nantes était directe-
pas par l’abolition du com-
ment lié à la traite illégale des es-
merce des esclaves que la néces-
claves entre 1814 et 1833. Cela
sité de renouveler la force des
se reflète dans 268 navires as-
esclaves dans ces colonies a ces-
sociés (et 85 autres hautement
sé d’exister. Si nous ajoutons à
suspects), dont la destination
cette combinaison de vastes ter-
principale est Cuba. À partir de
ritoires qui continuent d’impor-
1827, le nombre absolument ex-
ter légalement un grand nombre
traordinaire de moyens impli-
d’esclaves, comme le Brésil ou
qués dans l’affaire a commencé à
les États-Unis d’Amérique, nous
diminuer et les premières faillites
réalisons que la conjoncture
sont apparues, ce qui explique
parfaite est formée pour que la
pourquoi, jusqu’en 1826, la ré-
traite se poursuive dans les pays
pression de la traite était hors de
qui continuent de le permettre,
propos. Après cela, progressi-
et qu’il y avait une explosion de
vement, l’action de la marine
trafic illégal dans les pays qui
française a commencé à se faire
l’avaient déjà abolie, comme
sentir sur la côte africaine150. Ce-
l’Angleterre, la France ou l’Es-
pendant, le trafic français illégal
pagne.
se poursuivra bien au-delà de la
En France, le trafic illégal reposait sur les principaux ports
première moitié du XIXe siècle,
en Afrique, au Brésil et à Cuba,
d’esclaves du XVIIIe siècle, en le faisant passer en contrebande avec un franc dynamisme.
Bordeaux, Le Havre et surtout
Nantes. Nantes comptait environ 47% de la part des esclavages illégaux dans toute la
France. On estime qu’environ
186 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
150
Serge Daget, “Long course négriers
nantais du trafic illégal, 1814-1833”,
Revue française d'histoire d'outre-mer,
tome 62, n°226-227 (1er et 2e trimestres,
1975): 90-134.
Malgré la répression sur la côte
africaine, des négriers européens
ou américains ont collaboré avec
des négriers africains pour briser les blocus navals et maintenir une activité qui a continué
à générer de larges marges bénéficiaires. On observe une recrudescence de la demande au
Maghreb, au Moyen-Orient et
en Inde, ce qui explique qu’entre
10 000 et 12 000 esclaves ont
traversé cette route chaque année
dans les années 1860151.
L’affaire française a fini par
avoir des particularités, en raison de l’absence d’accords internationaux qui ont permis une
police multinationale du trafic
illégal. Les abatteurs sont des navires déclarés comme tels par des
tribunaux compétents et reconnus coupables, ainsi que ceux
capturés par la Royal Navy dans
les eaux africaines et américaines.
Ce procès de proie a été fait par
des commissions mixtes, avec
le Portugal, l’Espagne ou les
Pays-Bas, selon le cas, mais il
n’y avait pas un tel accord avec
la France, donc la proie était
considérée comme illégale aux
yeux des Français. Pour cette
raison, les marchands d’esclaves
ont commencé à afficher le drapeau français. Donc, si capturé
par les Anglais, les journaux ont
montré que la nation soit libéré, alors que, pour atteindre les
Antilles, est allé à drapeau néerlandais ou danois, acquis illégalement à Saint-Eustache ou
Saint-Thomas, pour défendre
les autorités françaises. Cependant, la Royal Navy n’a pas
toujours respecté la position
française, capturant plusieurs
navires152.
L’étude inéluctable de Serge
Daget153 a révélé une grand partie du monde de ces navires négriers en France depuis le port de
Daget, “Long course négriers nantais”, 90-134.
153
Daget, “Long course négriers nantais”, 90-134.
152
Botte, “L'esclavage africain après
l'abolition de 1848”, 1009-1037.
151
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 187
Nantes. Avec un tonnage moyen
que les autres navires mar-
de 150 tonnes, pour un total de chands du même tonnage, qui
5000 hommes de la mer, 93 comptaient en moyenne 15
armateurs, Nantes était, après hommes. L’âge moyen était
Bordeaux, le port le plus grand de 25 ans, le plus âgé étant de
nombre de matches de navires 40 ans et le plus jeune de 14 à
de haute mer et a été le troi- 16 ans. Les désertions étaient
sième, après Le Havre, si le ton- fréquentes, car beaucoup ne
nage est pris en compte. Nantes savaient même pas ce qu’ils
avait environ 47% de la quanti- allaient faire. Les salaires ont
té d’esclave illégale de tous Fran- également été améliorés par
ça.Com temps se révèle être une le risque de traversée. Les cacertaine spécialisation des na- pitaines étaient vieux ou nouvires, les plus courantes étant les veaux. Ceci sera expliqué par le
bricks et les anguilles de sable, fait qu’ils pourraient perdre le
parfois aussi les goélettes. Ce permis de capitaine s’ils étaient
choix pour les navires de taille emprisonnés. En croisant
moyenne a eu des conséquences, toutes les données documencomme un moindre coût en taires disponibles, il est accepcharge du match, promiscuité
table d’admettre en moyenne
sexuelle forte entre l’équipage et
233 esclaves par navire.
la cargaison humaine de noir
Dans la législation française,
et peut entrer dans les rivières nous trouvons également des
pour échapper au jeu leur a été postes vacants qui continuent
donné par la Royal Navy.
Un navire négrier de Nantes
de promouvoir le maintien de
la traite, en ne tenant pas les
d’une capacité de 145 tonnes armateurs pour responsables,
transportait en moyenne 19 d’où la liste des récidivistes est
membres d’équipage, soit plus
188 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
grande, et le plus grand risque
assumé par les capitaines. Entre
1834 et 1865, une quarantaine
de navires sont soupçonnés
d’avoir consacré au trafic transatlantique, que ce port, certains d’entre eux célèbre sans
succès, avec une foule de répétition de Nantes à la tête de
cette société. La perpétuation
de ce commerce illégal effectué
par des sujets français trouvera des preuves dans les eaux de
l’archipel des Açores.
LE MONT FERRAN
Le 9 Juin, 2016, ils ont été reconnus éléments d’un naufrage
dans le centre de la vieille baie
Calheta sur l’île de São Jorge,
aux Açores, être caractérisée
comme étant à hauts-fonds, ce
qui aurait nécessairement arraché le fond du navire, le faisant
s’étouffer. Celui-ci, situé à -12
mètres, entre les collines épineuses qui apparaissent presque
à la surface, est identifiable par
la présence de trois ancres (deux
ensemble et une plus éloignée),
des quatre ancres dans un navire. Les points d’ancrage sont
de type amirauté, avec environ
1,20 mètres de long sur la tige,
les bras et bien visibles ongles,
moignons bien visibles et du
coude et anete toujours présent,
bien que colonisées par la végétation sous-marine. Par leurs
caractéristiques, classiques, ils
correspondent à des systèmes
fondateurs intégrables, chronologiquement, de la seconde
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 189
moitié des années quatre-vingt
jusqu’au milieu des années
quatre-vingt-dix.
Les naufrages ont été documentés à Vila da Calheta depuis 1600, lorsque, à la source
du village, un navire de guerre
anglais a fait naufrage. En raison des conditions bénignes
du port, et du fait qu’il s’agit
d’un port secondaire, à l’intérieur de ceux qui existent à São
Jorge, peu d’accidents maritimes ont dû s’y produire. En
1706, la Slovénie York s’y perdit, sauvant la cargaison de
bois de Brésil et le tabac qu’elle
transportait. Quant à Her Majesty Ship Pallas, bien qu’elle fût
en feu, elle avait déjà de sérieux
ennuis. Le 2 mars 1821, la brigade Conception and Souls,
en raison de l’ondulation, s’est
brisée contre le dock, restant
même avec l’arc dessus.
D’époque compatible avec
les ancres retrouvées, nous
n’avons que deux épaves: L’une
eut lieu le 9 novembre 1864,
190 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
à partir du falú Amizade, dans
“Três Pedras”, la source du
port de Calheta.
L’autre naufrage a eu lieu
dans les premiers jours de mai
de la même année, impliquant
un bateau identifié au nom de
Mont Ferran. Les notes historiques du père Manuel de Azevedo da Cunha, né seulement
trois ans avant l’incident, ont
enregistré l’histoire, en la décrivant comme suit:
“En mai, à l’occasion des audiences générales dans ce comté,
étant dans cette ville dans l’exercice de ses fonctions le juge Luis
Francisco de Bivar Gomes da
Costa, avec le délégué Dr José
António de Sousa Lixa, la salle
de la un tribunal qui régurgitait les spectateurs, se vidait
soudainement, ne laissant que
les magistrats et plus de personnel de justice qui, quittant leurs
places, venaient tous aux fenêtres
de l’immeuble, surpris par une
telle bousculade. Qu’est-ce qui
était inhabituel, pour tous ceux
qui couraient au porche du port
comme pour éteindre un feu?
C’était une grande et élégante
péniche française qui, avec tout
le drap, une mer douce et un
temps calme, avait atteint le fond
de la baie, où elle restait immobile. Il s’appelait Mont Ferran,
et c’était un bateau négrier. Il a
porté baganha pour justifier son
échelle par les points de la côte de
l’Afrique où les esclaves exportés.
Frustré des bénéfices du voyage
par la croisière française, il cherchait les Açores venant désarmer
dans le petit port de Calheta de
S. Jorge. Brisé le fond du bateau,
le lin quitta la terre, profitant
seulement de la sacadura, étant
pris en quantité par les marins
de ce port par les écoutilles. Avec
le baganha est entré dans les légions de plage de rats qui ont envahi les vignobles, donnant une
grande perte aux producteurs.
Le bateau a été désarmé, l’équipage est parti pour leurs terres et
a été pris par Vital do Carvalhal
de Azevedo, en partenariat avec
l’enseigne Miguel António, fils
du capitaine général, tout ce qui
appartenait au Mont Ferran. Il
avait des armes, des caqueteries
et des menottes, et il était évident
qu’il était employé dans le trafic
infâme de l’esclavage. Les gens
ont continué à appeler le Mont
Ferran le navire de lin. En effet, celui-ci, porté par la marée,
débordait sur la côte, et il était
jusqu’à Ribeira do Arieiro, dans
le comté de Velas. Le maquereau
qui a ensuite été ramassé, parce
qu’il mangeait de cette graine de
lin, avait le goût de l’huile respective “154.
En vérité, l’accident semble
avoir été causé par avoir pénétré la petite baie au large de la
Calheta au mauvais endroit,
pour ceux qui ignorent le port,
Manuel de Azevedo Cunha, Notas
Históricas. Concelho da Calheta, São Jorge
(Ponta Delgada: Ed. Direção Regional da
Cultura e Universidade dos Açores,
1981), 511-512.
154
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 191
avec l’arrière-plan du navire
déchiré dans les eaux peu profondes, ce qui conduit le bateau s’échouer dans al’aréal
prochaine immédiate, en libérant le lin (baganha), qu’est arrivé à donner à la côte dans l’île
de Faial155.
Sauvée de Mont Ferran ont
été vendus, selon le P. Manuel
de Azevedo da Cunha, par
deux individus dans la société,
Vital Carvalhal de Azevedo et
le lieutenant Miguel Antonio,
capitaine en chef de l’enfant.
Vous vous demandez ce
qu’il aurait pu sauver de cette
O periódico “O Fayalense” ajuda a
estabelecer uma data aproximada do dia
do naufrágio, ao publicar, no dia 8 de maio
de 1864, na quarta página, a seguinte
notícia: “ARROJOS – Teem sido arrojados
pelo mar a vários pontos da costa d’esta
ilha alguns barris com azeite de palma, que
foram já arrematados pela alfandega. 1
pipa com 356 kilogrammas, achado na
costa do Pastelleiro, foi arrematado por
49:020 reis: 1 barrica com 184 kilogrammas, achado na costa de Castello Branco,
foi arrematada por 25:060 reis: 1 barril e
1 cesto com 120 kilogrammas, achado na
costa da Feteira, foi arrematado por
14:020 reis: 1 barril com 120 kilogrammas, achado na costa do Pastelleiro, foi
arrematado por 18:130 reis.”
155
192 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
vente aux enchères, ont été
trouvés en possession des descendants Miguel Antonio de
certains matériaux qui a sans
doute appartenu à un navire
du milieu du XIXe siècle, et
sans doute aussi avait consacré au trafic esclave. Dans la
tradition de la famille, transmise par voie orale, ces matériaux ont toujours été associés
au Mont Ferran.
Ainsi, en plus du témoignage unique de ce naufrage,
écrit par le père Manuel de
Azevedo da Cunha, qui se réfère à «armes, Gargalheiras et
des menottes,» l’analyse de certains matériaux encore stockés
dans la salle d’armes du Manoir des Noronhas confirme
l’histoire racontée par l’auteur
(Tableau 1)156.
Agradecemos ao Ex.mo Senhor Dr.
Orlando Noronha, descendente de
Miguel António e actual proprietário dos
materiais, a gentileza de permitir o estudo
ora apresentado, bem como toda a inexcedível e incansável colaboração ao longo
de todo este moroso processo.
156
TABLEAU 1
Matériaux du Mont Ferran, existant à Solar dos Noronhas, Ribeira Seca, Calheta, île de S. Jorge (Açores)
NUMÉRO
MATÉRIAU
DÉNOMINATION
CHRONOLOGIE
DIMENSIONS
1
Fer
Pièce d’extension
“JibCringle”
siècle XIX
37 x 23 x 3,5 cm
2
Fer
Les portes – 4
unités
siècle XIX
40 x 2; 69 x 4;
54 x 3; 55 x 3
cm.
siècle XIX
55 x 2; 42 x 2;
43 x 1,5; 34 x
1,5; 44 x 2; 22
x 2; 40 x 2; 34
x 2; 31 x 2; 26
x 1; 29 x 2, 29
x 2; 29 x 2; 29
x 2; 53 x 2; 26
x 2; 21 x 2; 35
x2 ; 35 x 2 e 23;
2 cm
3
Fer
Les portes – 20
unités
4
Fer
Chaîne et mécanisme de palier à
chaîne associé
Milieu dusiècle
XIX
Diam. 28,
épaisseur 6 cm.
tige 30 x 2 cm.
Courant 247 x 1
cm. Poulie 27 x
14 cm.
5
Bois
Poulie double bloc
siècle XIX
28 x 15 cm
6
Bois
Conseil courbé et
décoré
siècle XIX
340 x 30 cm.
7
Bois
Cave
177 x 15 cm
8
Bois et Fer
Mât
40 x 35 (bois).
Cerceaux de 8 et
6 cm d’épaisseur.
9
Fer
Menottes et clés
siècle XIX
54 x 9 cm. Clé 8
x 1 cm.
10
Fer
Manille fixe
siècle XIX
Diam 14, hauteur 9 cm.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 193
Voyons, en utilisant le
d’autres navires ou des roches.
nombre de catalogage, les ca- Vers le milieu du XIXe siècle,
ractéristiques du matériau du ces types de pièces seraient, en
Mont Ferran encore préservé.
La partie 1, surnommée
règle générale, en cuivre.
Dans la figure 3, on a repré-
“JibCringle”, servait à relier le senté un ensemble de vingt pedessous de la voile aux câbles.
Les quatre éléments énu-
tits boulons, en fonte, avec des
têtes circulaires qui, par leur
mérés au numéro 2 corres- état, ne permettent pas de savoir
pondent à des boulons en quelles sont les parties du navire,
fonte. Les deux pièces supé- en particulier, ont été intégrés.
rieures, l’une de tête qua-
Sur la figure 4, on a repré-
drangulaire et l’autre à tête
senté un mécanisme de palier
quadrangulaire et, à l’autre ex- de courant, très probablement
trémité, circulaires. Ce sont
associé au flux qui appartient à
des pièces qui traversent deux
un type associé à la deuxième
planches de bois d’une seule moitié du dix-neuvième siècle,
pièce, reliant les deux, par l’ap- avec la poulie visible fer.
plication d’un écrou ou d’une
Au numéro 5, nous avons
bague métallique à son extré- une poulie à double bloc,
mité - la partie quadrangulaire,
sculptée dans le bois, à travers
qui se visse. Les deux parties laquelle passeraient les cordes
inférieures sont, très probable- de la bougie.
ment, Fender deux boulons, il
Dans la figure 6 montre la
est identifiable par des boulons partie avec le plus grand impact,
avec des têtes plus grandes que
car il est une planche de bois,
d’habitude, qui a servi à pro- courbé et décoré dans une fente
téger le navire de bois exté- avec un trident tenant une vigne,
rieur collisions possibles avec avec des feuilles de grappes de la
194 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
vigne et du raisin, qui avait été
permet naturellement de navi-
les traces de pigments, peints en
guer dans l’Atlantique, dans la
noir, avec les motifs décoratifs chronologie déjà évoquée au
en blanc. Appartient à la section
milieu du XIXe siècle.
du navire située à côté de la fi-
Révéler quelque chose sur
gure de proue du navire. Peut-
la fonction spécifique du Mont
-être est-ce une évocation de Ferran, partie 9 correspond à
Neptune et de Bacchus.
une paire de clés en fonte et
Au numéro 7, nous avons
des menottes dont les parallèles
une grotte en bois qui, par un peuvent être trouvés dans des
élément isolé, ne nous permet pièces associées au commerce
pas de savoir à quelle section transatlantique, par exemple
du navire elle appartiendrait.
dans l’exposition permanente
Au numéro 8 nous avons du Musée national de l’histoire
la base de l’un des mâts du ba- et de la culture afro-américaine
teau, en bois, avec des anneaux
à
de renfort en fer.
C’est une pièce datant du XIXe
Washington,
États-Unis.
Malgré les quelques autres siècle, datant d’avant 1860157.
éléments peuvent conclure qu’il
La pièce 10 correspond, à
était un navire en bois, la lar-
son tour, à une manille, qui
geur de la grotte existante et serait fixée, mettant en jeu un
une planche en bois, courbé morceau de bois placé verticaet décoré dans la fente, un voi- lement, qui à son tour s’asseoilier de longue distance, de taille rait sur la planche de la cale et
moyenne, encadrée dans dans
atteindrait la planche du pont.
les catégories de bricks, échasses
et goélettes. Les piquets lui permettent d’assumer un tirant
tout aussi important, ce qui lui
https://nmaahc.si.edu/explore/collection/search?page=1&edan_
q=%2A%3A%2A&edan_local=1&edan_
fq[0]=topic%3A%22Slavery%22
157
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 195
Dans ce sont les chaînes, qui nomination, ce qui en ferait
fixeraient les membres infé-
un toponyme géographique
rieurs des esclaves transportés,
avec un mélange de langue
qui seraient pris au piège dans seulement possible dans les
le sous-sol.
Pyrénées Orientales au Moyen
Ces deux dernières pièces
Age, concrètement en occitan.
permettent de conclure que, en
Depuis Manuel de Azevedo
plus d’être un navire en bois de da Cunha a entendu le nom
la navigation de moyen-long que la narration orale de plus,
du milieu du XIXe siècle, il
il est tout à fait possible que
était incontestablement un nace soit au lieu de Montferrand,
vire négrier, ce qui confirme le
qui est un petit village sud de la
témoignage du Père Manuel
France, région de Carcassonne
de Azevedo da Cunha comme
(qui donne la Méditerranée),
vrai158.
ou la ville de Clermont-Ferrand
En ce qui concerne le nom
(centre de la France), qui est
du navire, attribué par le Marestée autonome sous le nom
nuel de Azevedo da Cunha, si
de Montferrand jusqu’en 1630,
possible, semble peu probable,
date de la fusion avec Clerpuisque Mont Ferran évoque
beaucoup de Fernando, et mont. On suppose que l’affecFerran correspond à la formu- tation donnée par les Français
lation catalane de Fernando naufragé était correct, ce qui
est pas vérifiable, car les navires
Faz-se notar que os Documentos da
Câmara Municipal da Calheta, Ilha de
São Jorge, 1700-1890, existentes na
Biblioteca Pública e Arquivo Regional de
Angra do Heroísmo, não conservam dados deste naufrágio e que o Arquivo
Municipal das Velas, malogradamente,
também não possui qualquer informação.
158
196 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
négriers habituels ayant plusieurs inscriptions navire faux,
ou autre, le conseil d’administration en fonction de la commodité de lecture.
Ce qui est surprenant,
période, d’autres épaves sont
et devrait même être souli- signalées à Angra do Heroísgné, il est que la documenta- mo au large de l’île de São
tion officielle de l’Intendance Jorge, ainsi que dans les autres
Marinha159, le Département îles de l’archipel; des descripmaritime açorienne, tant au
Siège que le district maritime
d’Angra do Heroismo, comme
dans délégations160, n’a pas enregistré l’épave. En effet, les
périodiques
de
l’époque161,
tions détaillées des problèmes
et des modernisations nécessaires pour divers ports de l’archipel, à savoir celui d’Angra
do Heroísmo; il réitère l’interdiction de l’aide aux corsaires
et il raconte, avec détails, les
ceux de l’île de Terceira et ceux conséquences du très mauvais
de Faial, ainsi que ceux de São temps qui dévaste l’île de SaintMiguel, omettent l’histoire du
-Georges - tout cela en l’année
naufrage. Un silence étrange, 1864.
d’autant plus que, durant cette
Si l’on considère plus largement les raisons du silence des
No Arquivo Histórico da Marinha,
foram consultados todos os fundos documentais existentes, dos mais evidentes aos
menos óbvios, sem qualquer resultado
positivo.
160
Horta e Ponta Delgada.
161
Na Biblioteca Pública e Arquivo
Regional de Angra do Heroísmo, foram
consultados os seguintes títulos: O
Heroísmo, O Angrense e O Eco Agrícola anuário, de Angra do Heroísmo, ano de
1864; na Biblioteca Pública e Arquivo
Regional de Ponta Delgada: Açoriano
Oriental, A Ilha, Aurora dos Açores e
Campeão Liberal, de Ponta Delgada, bem
como, O Campeador, da Ribeira Grande,
ano de 1864; na Biblioteca Pública e
Arquivo Regional da Horta, O Fayalense,
da Horta, ano de 1864.
159
autorités açoriennes concernant l’épave du Mont Ferran,
on trouve dans Marcello Caetano162 un autre indice pouvant
justifier une omission. Parlant
des efforts de la marine portugaise dans la répression de
la traite, Caetano se souvient
d’un autre épisode traumatisant
162
Caetano, Portugal e a Internacionalização
dos Problemas Africanos, 60.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 197
pour la nation, le cas du bateau
par une partie de la Chambre
français Charles et Georges.
des Lords, qui mesure trop ri-
Ce cas montre, à un mo-
gide pourrait provoquer une
ment ultérieur, la fragilité
rébellion locale. Bien que cette
continue de la position portu-
position est souvent analysée
gaise dans le monde colonial et
par l’historiographie coloniale,
la moindre résolution qui ap- comme un moyen de perpéparaît parfois dans le combat
tuer la légalité de la traite des
effectif contre la traite des es-
esclaves, ou tolérer et permettre
claves.
son illégalité, ce qui en partie est
Les mesures adoptées en une lecture correcte, cette réali1836 par le gouvernement se- té ne peut pas cacher une une
tembrista de Sá da Bandeira partie également importante
montrent le degré de fragilité
de cette équation. Il y avait une
de l’autorité portugaise dans
véritable crainte de voir dispa-
les territoires coloniaux. Mé- raître, leur sphère d’influence,
content de l’absence de progrès
les territoires d’outre-mer qui
substantiels dans la répres- restent après l’indépendance
sion de la traite, que le décret
du Brésil, et la notion claire
du 10 Décembre origine, la
que le Portugal était les princi-
Grande-Bretagne a continué à pales puissances coloniales, qui
appuyer le gouvernement por-
avaient une position coloniale
tugais pour prendre des posi- et internationale plus faible.
tions plus strictes sur le sujet.
En 1838, cherchant à ré-
Problèmes de souveraineté im- pondre aux accusations briposition portugaise dans les tanniques, dirigé par Lord
territoires coloniaux africains Palmerston, et la recherche
encore à soulever pour soute- d’un soutien efficace à sa posinir le point de vue, soutenu tion coloniale, Sá da Bandeira
198 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
a conclu un accord de principe, colonial et la fragilité de sa podans lequel il a complètement sition internationale avant que
aboli la traite des esclaves sur les principales puissances colole territoire portugais et pour niales.
tous ses sujets ont reçu un droit
Nous revenons à cette quesde visite réciproque sur les na- tion pour éclaircir le contexte
vires marchands et des tribu-
de la saisie du bateau français
naux mixtes pour juger les Charles et Georges. Cette action
navires saisis. Cependant, avec militaire dans le contrôle du tracet accord, Sá da Bandeira a es-
fic sur la côte africaine, finirait
sayé d’assurer quelque chose de
par devenir un grave incident di-
plus important, d’une part, la
plomatique avec l’Empire fran-
reconnaissance de la légitimi-
çais, montrant encore une fois
té portugaise ces territoires163, que la défense des intérêts de
d’autre part, “le soutien ter- l’Empire portugais dépendait du
restre et navale en cas de l’une maintien d’un équilibre délicat
des colonies soulevaient contre entre la souveraineté dans les terl’application du traité”164. Les
hypothèses de ce traité, qui
était plus large que la question
de la traite, ont finalement été
rejetées en Angleterre, mais il
démontre effectivement la situation précaire de la souveraineté portugaise dans le monde
ritoires coloniaux et la légitimité
politique internationale. Malgré la position souvent hésitante
sur la répression de la traite par
les autorités portugaises, la vérité est qu’elle a commencé à être
progressivement plus efficace à
partir de la seconde moitié des
années 1830.
Capela, Escravatura, a empresa de saque o abolicionismo (1810-1815), 249250.
164
Caldeira, Escravos e Traficantes no
Império Português, 239-240.
163
Dans les années 1850, la position du gouvernement portugais sur l’arrêt de la traite
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 199
illégale des esclaves était de plus la péniche française Charles et
en plus claire. Peu de temps Georges sur les côtes du Moaprès l’approbation du décret zambique. On y trouva 110
du 14 Décembre 1854, qui a indigènes, et l’on interrogea
aboli l’esclavage dans toutes un délégué de l’administration
les régions d’outre-mer, le 27 de la Réunion qui était encore
Février 1855, l’un de l’ordon- à bord. Quand on lui demannance ministère de la Marine da de soumettre les contrats
vient avait rejeté deux ressortis- de travail correspondants, il
sants français La Réunion, les ne put le faire et avoua finarecrutements en désignation de lement qu’ils avaient acheté
Noirs au Mozambique, appe- ces gens165. Le navire français
lant une attention particulière fut appréhendé, par ordre du
dans la région d’Inhambane. Le gouverneur général du Mo30 Juillet de l’année suivante, zambique, avec son capitaine,
un nouveau décret a été publié Etienne Mathurin Rouxel, lepar le Ministère des affaires ma- dit délégué, Nicolas Carrel,
ritimes et d’outre-mer confir- et l’équipage restant ont égamant l’interdiction de toute la lement été arrêtés. L’incident
province à l’exportation noir, est rapidement devenu un susous le nom des travailleurs jet de prestige international,
libres à l’île de la Réunion, à la France exigeant la libéraMaurice ou, sous administra- tion immédiate du capitaine
tion britannique, dans le but de et la livraison du navire, avec
mettre fin à la traite des esclaves une compensation pour les
une fois pour toutes.
C’est dans ce contexte que,
le 21 novembre 1857, la marine portugaise s’approcha de
200 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
Documentos Relativos ao apresamento,
julgamento e entrega da barca francesa
Charles et Georges (Lisboa: Imprensa
Nacional, 1858), 44.
165
dommages causés. Après la
restrictives, dans le permis
condamnation judiciaire du
d’exportation des indigènes
capitaine, le conflit se termina
des colonies portugaises, vers
par la libération pure et simple
les colonies167. Bien que les au-
du navire et de son comman-
torités portugaises aient conti-
dant, ainsi que par le versement nué à s’emparer des navires
d’indemnités aux parties inté- français sur les côtes africaines,
ressées, et cette affaire fut consi-
en essayant d’arrêter la circu-
dérée au Portugal comme un lation, le cas du Mont Ferran
affront à la nation.
Un siècle plus tard, Marcel-
est différent. Bien qu’il ne faisait aucun doute qu’il était en
lo Caetano rappelle cet incident présence d’un navire négrier, il
en disant “que le gouvernement ne transportait pas d’esclaves à
français a envoyé une flotte au
bord et ne se trouvait pas sur la
Tage, nous obligeant complè-
côte africaine de la domination
tement impuissants des autres portugaise. Avec le naufrage, la
Etats européens, à rendre le
vie de ce négrier était arrivée à
bateau capturé avec des ex-
son terme, supprimant le dan-
cuses et le paiement d’une
ger de continuer son activité il-
compensation!”
L’isolement ressenti par le
licite et immorale.
Portugal en cette période dif-
Mont Ferran ait eu lieu en 1864,
166
Bien que le naufrage du
ficile était plus intense en rai- le cas de Charles et Georges était
son du silence venant de son encore, et continuerait d’être,
principal allié, l’Angleterre,
bien présent dans la mémoire
surtout après qu’il était venu collective portugaise. Bien sûr,
saluer l’adoption de mesures il n›y a pas d›ordre écrit à cet
166
Caetano, Portugal e a Internacionalização
dos Problemas Africanos, 60.
167
Documentos Relativos ao apresamento, 31-32.
A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
| 201
effet, mais il est tout à fait possible que l›attitude des autorités
portugaises à l›égard d›un esclave français, si elle ne remettait pas en cause la souveraineté
portugaise, fût de «regarder de
côté». Au fond, dans les cas où
il était possible d’éviter de faire
face à un pouvoir plus fort,
comme ce fut le cas en France,
la «règle» ne serait pas de rechercher des affrontements inutiles.
En supposant que telle était la
logique qui prévalait dans les
autorités portugaises, le silence
sur lequel le naufrage de Mont
Ferran a été voté, en tenant
compte du contexte politique
et diplomatique, ne s’avère pas
assez étrange.
202 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
Baía da Calheta, com marcação do local do naufrágio
Local do desastre
Local do naufrágio
Peça de
extensão
“JibCringle”
Cavilhas – 4
unidades
Cavilhas – 20
unidades
Mecanismo de rolamento de correntes e corrente associada
Roldana de bloco dupla
Tábua curvada e decorada
Caverna
Mastro
Algemas e chave
Grilhão fixo
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212 | A ÚLTIMA VIAGEM DA BARCA NEGREIRA FRANCESA MONT FERRAN
ÍNDICE
PREFÁCIO..................................................................................................... 3
O BARCO FRANCÊS ...................................................................................... 5
ARQUEOLOGIA SUBAQUÁTICA, NO ARQUIPÉLAGO DOS AÇORES ........................... 9
INGLATERRA E O IMPULSO ABOLICIONISTA...................................................... 13
PORTUGAL E A ABOLIÇÃO DO TRÁFICO DE ESCRAVOS ....................................... 23
RESISTÊNCIA À ABOLIÇÃO DO COMÉRCIO DE ESCRAVOS E O TRÁFICO ILEGAL ...... 37
O Brasil e a manutenção do sistema ................................................................ 37
VONTADE, AUTORIDADE E ECONOMIA:
A ABOLIÇÃO DO COMÉRCIO ESCLAVAGISTA ...................................................... 47
DA UTOPIA DAS LUZES À REALIDADE COLONIAL:
O TRÁFICO ILEGAL E O CASO DO MONT FERRAN ............................................ 61
O abolicionismo francês .................................................................................. 61
O MONT FERRAN ...................................................................................... 71
UNDERWATER ARCHAEOLOGY IN THE AZORES ARCHIPELAGO ........................... 89
ENGLAND AND THE ABOLITIONISM SURGE ..................................................... 92
THE PORTUGUESE ABOLISHING THE SLAVE TRADE .......................................... 99
RESISTING THE SLAVE TRADE ABOLISHMENT AND THE ILLEGAL TRAFFIC .......... 108
Brazil and the maintenance of the system ...................................................... 108
WILLPOWER, AUTHORITY AND ECONOMY: ABOLISHING THE SLAVE TRADE ....... 114
FROM THE UTOPIAN AGE OF ENLIGHTENMENT TO THE COLONIAL REALITY:
ILLEGAL TRADE AND THE MONT FERRAN ..................................................... 122
French abolitionism ..................................................................................... 122
THE MONT FERRAN .................................................................................. 129
L’ARCHÉOLOGIE SOUS-MARINE DANS L’ARCHIPEL DES AÇORES ........................ 143
L’ANGLETERRE ET L’IMPULSION ABOLITIONNISTE ......................................... 146
PORTUGAL ET L’ABOLITION DE LA TRAITE DES ESCLAVES ................................ 153
RÉSISTANCE À L’ABOLITION DE LA TRAITE NÉGRIÈRE ET DU TRAFIC ILLÉGAL..... 164
BRÉSIL ET LE MAINTIEN DU SYSTÈME ........................................................... 164
VOLONTÉ, AUTORITÉ ET ÉCONOMIE:
L’ABOLITION DE LA TRAITE DES ESCLAVES..................................................... 171
DE L’UTOPIE DES LUMIÈRES À LA RÉALITÉ COLONIALE:
LE TRAFIC ILLÉGAL ET LE CAS DU MONT FERRAN ......................................... 182
Abolitionnisme français................................................................................. 182
LE MONT FERRAN ................................................................................... 189
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................... 209