Projeto TV Brasil
Análise da implantação
Resumo
Abstract
O presente artigo deriva de um estudo empírico sobre o desenvolvimento tecnológico e
mercadológico decorrente da implantação da
Televisão Digital no Brasil. Dois aspectos foram
selecionados para discutir a questão proposta: as
motivações econômicas e políticas que determinaram a digitalização da TV aberta no Brasil e a
análise preliminar dos efeitos da popularização
da cibercultura no cenário audiovisual brasileiro;
quais as mudanças podem ser verificadas na
produção, difusão e fruição de conteúdos
audiovisuais. Para o desenvolvimento da análise
empírica dos dois contextos apontados, foram
utilizadas as seguintes ferramentas teóricoanalíticas: a Teoria de Abordagem Empírica ou
“dos efeitos limitados” (Wolf, 1987), os Estudos
Culturais (Zallo, 1988; 1992), o processo de
digitalização (Lemos), a passagem dos estudos
de televisão para cibercultura (Manovich, 2005)
e (Fechine, 2013).
This article is the result of an empirical research
on the technology and market development
resulting from the deployment of Digital TV in
Brazil. Two aspects were selected to discuss the
proposed question: the economic and political
motivations that led to the digitization of broadcast TV in Brazil and the preliminary analysis of
the effects on popularization of cyberculture in
the Brazilian audiovisual scenario, changes can
be observed in the production, dissemination and
enjoyment of audiovisual content. For the development of the analysis the following theoretical
and analytical tools were used: Theory Empirical
Approach (Wolf, 1987), the Cultural Studies
(Zallo, 1988; 1992), the digitalization media
process (Lemos), the transition from television
to cyberculture studies (Manovich, 2005) and
(Fechine, 2013).
Key words
Media – Cyberculture - Digital TV
Palavras-chave
Mídia – Cibercultura - TV Digital
Antonio Francisco Magnoni
afmagnoni@faac.unesp.br
Leticia Passos Affini
affini@faac.unesp.br
Pós-Doutor em Indústrias Culturais:projeto
Brasil-Argentina de implantação da TV Digital
(2010), pela Universidade Nacional de Quilmes,
Argentina; doutor em Educação (2001) pela
Faculdade de Filosofia e Ciência da UNESP de
Marília/SP; Jornalista e docente do Curso de
Jornalismo do Departamento de Comunicação
Social da FAAC/UNESP, em Bauru/SP.
Doutora em Comunicação e Cultura (2003), pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atua
na área de Comunicação Audiovisual, com foco
nos seguintes temas: conteúdo audiovisual,
televisão digital, portabilidade e mobilidade.
Pesquisadora líder no Grupo (CNPq) de Análise
do Audiovisual. Docente do Curso de Radialismo
do Departamento de Comunicação Social da
FAAC/UNESP, em Bauru/SP.
Artículo:
Recibido: 22/10/2013
Aceptado: 25/11/2013
Facultad de Periodismo y Comunicación Social / UNLP
No Brasil, a história da radiodifusão sempre evidenciou que o
Rádio e depois a Televisão, foram
veículos desenvolvidos como instrumentos pensados por alguns
segmentos dominantes mais modernos e engajados no projeto de
inserir o País, mesmo que tardiamente, no circuito de “progresso e desenvolvimento” urbano-industrial, que havia despontado
no mundo europeu desde o início
do século 19. No começo dos anos
1930, os brasileiros viviam duas
grandes incertezas: a primeira era
provocada pelos efeitos desestabilizadores trazidos pela crise
internacional iniciada em 1929,
em uma economia interna agropecuária e exportadora de matéria-prima; a segunda, ainda derivava
dos ressentimentos ocasionados
pela tomada do poder federal por
Getúlio Vargas, que havia liderado
o levante político e militar que encerrou o longo e conturbado ciclo
da “república velha” e alijou temporiamente as oligarquias paulistas e mineiras da condução do
País. Em meados daquela década,
a radiodifusão e a educação pública começaram a ser desenvolvidas
nacionalmente, como peças complementares da mesma estratégia
anclajes
por Antonio Francisco Magnoni
e Leticia Passos Affini
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modernizadora nacionalista e desenvolvimentista sustentada pelo
Estado brasileiro, que Vargas havia
adotado como principal diretriz
política e econômica.
Então, é desde o governo de
Getúlio Vargas que o Poder Executivo brasileiro decide por não
investir na criação, organização
e no financiamento de sistemas
de veículos públicos destinados à
promoção da educação, da cultura e das informações de interesse social. O populismo varguista
inaugurou o persistente modelo de
radiofusão autoritário e concentrado, quando escolheu o projeto
pragmático de distribuir concessões de emissoras para que os
grupos privados explorassem comercialmente a radiodifusão em
escala local, regional e nacional.
Aquele momento histórico era
decisivo para o desenvolvimento das políticas educacionais e
culturais vitais para o desenvolvimento de uma economia e de
uma sociedade urbana-industrial
equilibrada, um momento de definição e afirmação da unidade
territorial, cultural e linguística
da nação; também de formação
de uma esfera pública midiática, que peculiarmente tornou-se
parte do patrimônio simbólico do
povo brasileiro. A estratégia inicial
serviu repetidamente para propagar projetos de poder regional e
nacional. A cobertura nacional da
comunicação radiofônica serviu
para estimular a ocupação integral do território (começou com
a “Marcha para o Oeste”) com o
desenvolvimento de imensas áreas
agropecuárias e com a industrialização das grandes cidade do sul e
sudeste, iniciativas decisivas para
a expansão do mercado de consumo interno.
Diante do predomínio nacional da radiodifusão comercial, a
perspectiva de utilizar o rádio e a
televisão para organizar sistemas
públicos de difusão para a educação e a formação cultural da população brasileira ficou relegada
ao ideário dos pioneiros modernistas e escolanovistas dos anos 1920
e 1930. Assim, o rádio e também
a televisão se tornaram veículos
poderosos, tiveram o patrocínio de
uma sucessão de governantes autoritários empenhados em implementar projetos modernizadores,
que sempre apostaram na comunicação midiática para consolidar
modelos políticos, governamentais
e para assegurar grandes interesses privados internos ou internacionais.
“A Revolução de 30 estabeleceu
também o caráter da radiodifusão
como de interesse público, e, portanto, sujeitou tanto o rádio quanto a televisão a serem serviços de
telecomunicações protegidos e
regulados pelo Estado. Coerentemente com este caráter, os revolucionários atribuíram à radiodifusão finalidades educacionais. Eles
falharam, contudo, na conceituação dessas finalidades e na fixação do modo como deveriam ser
alcançadas e avaliadas. Repetindo
a falha, todos os governos que se
sucederam desde então jamais definiram substantivamente aquelas
finalidades. O resultado é que a
qualificação legal da radiodifusão
como um serviço de interesse público e com finalidades educacionais tornou-se meramente retórica, sem consequências objetivas
em termos de implementação. Na
prática, o modo comercial de exploração da TV tem sido esmagadoramente predominante e o número e qualidade de programas de
entretenimento têm superado de
longe aqueles com características
educacionais” (Othon Jambeiro,
2008:88-89).
Desde a redemocratização brasileira durante os anos 1980, o
movimento social tem insistido
na construção de uma pauta de
políticas de regulação da radiodifusão, que seja compatível com
os pressupostos democráticos e
republicanos definidos pela Constituição de 1988. No entanto, os
esforços sociais sempre são dificultados pela resistência dos conglomerados midiáticos em seguir
os preceitos constitucionais e pela
frouxidão política dos poderes
executivo e legislativo federal, que
sempre hesitam em mobilizar toda
sua base política e social para debater e regular os oligopólios midiáticos que atuam no País.
Cenários brasileiros atuais para a
Televisão Digital aberta: interfaces e disputas com a internet
A sociedade e a cultura brasileira contemporânea são extremamente mediadas. Em tal cenário,
os grupos sociais que permanecerem sem acesso aos instrumentos
de mediação e aos espaços formadores de opinião serão praticamente invisíveis para o conjunto
da sociedade, viverão excluídos
da economia formal, dos aparatos públicos e sem condições de
participar dos debates públicos
reconhecidos pelos setores dominantes. Assim, terão poucas
possibilidades de acesso direto
aos lugares estratégicos e às atividades mais rentáveis; também
estarão mais afastados do acesso
aos aparatos de assistência social,
que são mantidos pelo Estado e de
serviços e instâncias públicas ou
privadas estratégicas para a inclusão no modo de vida contemporâneo. Efetivamente, os desprovidos
de instrumentos e da cultura de
mediação estarão apartados dos
espaços mínimos de cidadania e
Nuevas lógicas de ver y de hacer televisión en la Argentina y en Brasil. AMÉRICA LATINA DIGITAL
praticamente ignorados pelo Estado e pelo mercado.
O Estado, ao arcar com os custos de construção de um sistema
nacional de televisão digital precisaria vislumbrar muito mais do
que o atendimento ou manutenção de interesses hegemônicos e
a lucratividade dos habituais concessionários comerciais. Os mandatários também deveriam pensar
no potencial educativo, inclusivo e
transformador da televisão, quando as emissoras conseguem retratar nas suas programações diárias
a multiplicidade socioeconômica e
cultural existente em um estado-nação. Regimes republicanos
constitucionais devem dispor de
sistemas midiáticos que se adequem plenamente ao ideário democrático.
Afinal, os veículos de comunicação são instrumentos vitais para
repercutir na esfera pública, os direitos e deveres dos cidadãos, para
alimentar debates sobre a educação e a cultura nacional, para
apontar a persistência de desigualdades e denunciar a violência
e a criminalidade. Mídias democráticas podem ser instrumentos
facilitadores para as comunidades
discutirem questões ambientais,
denunciar as discriminações e exclusões de gênero, de etnia, e de
classe social, podem servir para
estimular todas as formas reconhecidas de participação dos cidadãos na vida social, mesmo que
as manifestações coletivas sejam
maiores nos espaços virtuais e
mediados.
No interior da radiodifusão comercial brasileira, o cumprimento
de pressupostos democráticos elementares esbarra na intensa concentração midiática e na luta fra-
ticida entre os grupos privados pela
audiência e faturamento. Emissoras
independentes e redes de comunicação eletrônica tentam manter,
a qualquer custo, suas cadeias de
produção e de agregação de valor.
Na prática, os radiodifusores nem
se lembram que são concessionários públicos. As redes de TV se
identificam e agem como donas do
espaço radioelétrico coletivo, assim
difundem programações sem qualquer compromisso com a formação
verdadeiramente cultural das comunidades nacionais.
O público da televisão digital,
habituado ao apelo da atualização tecnológica, foi facilmente
seduzido pela qualidade sonora
e das imagens da nova plataforma. Outro motivo que convenceu
grande parcela do público a aprovar a migração da televisão para
a transmissão e recepção digital,
foi a possibilidade de sinergia de
produção, de difusão e de fruição
audiovisual, com outros sistemas
e plataformas digitais. Hoje, aumenta continuamente na internet e nos dispositivos agregados,
a audiência de incontáveis tipos
de conteúdos audiovisuais, tanto
oriundos da televisão e do cinema,
quanto de inúmeros produtores
independentes e de criações leigas de um público que passou a
dispor de aparatos, de aplicativos
e de muita vontade de compartilhar aquilo que produz de modo
improvisado, ou que revela surpreendentes talentos iniciantes.
Os produtos audiovisuais são
os arranjos midiáticos com maior
capacidade de expressar simbolicamente na atualidade, as múltiplas identidades étnicas, culturais
e sociais, assim como as diversas
realidades materiais, produtivas e
Facultad de Periodismo y Comunicación Social / UNLP
existênciais, que estão abrigadas
no território brasileiro, com mais
de oito milhões de quilômetros
quadrados. A multiplicação de estruturas habilitadas para realizar
atividades regulares de captação
de imagens e de informações, de
formatação e exibição contínua de
narrativas audiovisuais, é de extrema importância para um País-continente.
Manovich (2005) conceitua a
televisão digital como software. A
sinergia entre as diferentes linguagens realizada pelo software gera
um produto novo e totalmente
diferente do conceito clássico de
televisão - massivo, heterogêneo,
unidirecional, passivo, hierarquizado e sustentado pela centralização da emissão. Nesse contexto, o
processo televisivo é ressignificado e passa a integrar o campo de
estudo da cibercultura. Esta última é entendida como o estudo dos
vários fenômenos sociais associados à convergência das telecomunicações com a informática.
Segundo Fechine (2013: 590):
“Para os profetas das novas mídias, a “morte” dessa televisão,
capaz de reunir cotidianamente
milhões de espectadores em torno de um programa, foi decretada
pela multiplicação das telas (computador, tablets, celulares), pela
fragmentação das audiências em
canais temáticos, pelas inúmeras
plataformas de distribuição de vídeo por demanda. A possibilidade
de acessar conteúdos televisivos
em outras plataformas, quando
e onde quiser, permite agora ao
espectador assistir a programas
completos ou a seus fragmentos descolados da programação,
“montando”, assim, sua própria
“grade”. É inegável, certamente,
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que esse desprendimento do fluxo
televisual implica em novos modos
de produção de sentido. Mas, será
que, diante da emergência de formas assíncronas e personalizadas
de consumo dos conteúdos televisivos, esta TV que se organizou
com sistema broadcasting de comunicação tende mesmo a ficar
no passado? Com tantas possibilidades de escolhas de dispositivos
e conteúdos, faz ainda sentido
assistir à televisão seguindo sua
grade de programação?”.
A migração da transmissão e
da recepção da programação das
redes de televisão aberta para sistemas digitais abriu a possibilidade de captação de conteúdo das
emissoras em diversos terminais
portáteis conectados à internet. O
ciberespaço passou a interferir e
apressar a obsolescência dos suportes e dos registros analógicos
usados para a difusão de conteúdos midáticos, especialmente nos
meios eletrônicos. Na prática, a
captação da programação audiovisual em diversos dispositivos
computadorizados e conectados
à internet permite aos internautas
um consumo midiático cada vez
mais individualizado, sobretudo de
produtos sonoros e audiovisuais
que passaram a ser captados por
demanda na forma de arquivos
baixados diretamente da rede.
anclajes
TV digital ou cibertevê?
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Hoje, os tabletes e smartphones conectados são utilizados por
um número crescente de pessoas
de diversas camadas sociais como
dispositivos multifuncionais de
redação, agendamento, telefonia, teletrabalho e também como
receptores midiáticos pessoais.
Assim, a audiência de televisão
digital está migrando gradativamente do predomínio dos recintos
familiares e grupais para ouvintes
móveis, que prezam a interatividade e a portabilidade. Mesmo para
um veículo antigo como a televisão, a portabilidade, a mobilidade,
a diversificação das formas e dos
dispositivos de recepção e fruição, que foram agregados pela
digitalização tecnológica, ainda
são novidades cujos efeitos não
foram devidamente avaliados por
pesquisadores acadêmicos ou pelos profissionais e administradores
das redes comerciais ou públicas.
A televisão e o rádio, dois meios
eletrônicos com a maior abrangência e popularidade entre os
brasileiros, desde que começaram
a trafegar pela internet fixa e portátil foram adquirindo novas possibilidades midiáticas, então impensáveis na era analógica. Também é prudente considerar que o
aparecimento frequente e a popularização de novas plataformas
digitais vinculadas ao ciberespaço
acabarão contribuido para a gradativa fragmentação da audiência
e do antigo mercado da radiodifusão via broadcasting.
Afinal, durante toda a era analógica, as emissoras sempre priorizaram a recepção domiciliar e
familiar; também em tempo de
televisão digitalizada, as redes
comerciais abertas prosseguem
investindo na costumeira sintonia
doméstica e grupal. O fato novo
é que, apesar delas registrarem
alguma concorrência do ciberespaço, elas também poderão ser
beneficiadas pelo crescimento
agressivo da internet fixa e móvel,
que está favorecendo o surgimento de uma nova faixa de público,
que antes ficava alijada do acesso
à programação da televisão aberta
durante os períodos em que estivesse fora de casa. Os dispositivos
informáticos portáteis permitem
assistir televisão a qualquer hora
e em qualquer lugar, além de personalizar a recepção, que pode
ocorrer em tempo real ou por demanda, de modo dirigido ou multilateral.
Apesar da notável expansão da
internet havida no Brasil em menos de duas décadas, é interessante destacar que, em comparação
com os demais veículos da “velha
mídia”, a televisão aberta ainda
conserva sólidas lideranças de
audiência e de veiculação publicitária, além de manter em âmbito
nacional e sua grande influência
política, econômica e cultural. Por
outro lado, as constantes expansões e aprimoramentos das tecnologias e dos aplicativos da internet
fixa e móvel, vão alimentando um
intenso movimento de convergência de suportes, de veículos,
de processos comunicativos, de
conteúdos e linguagens midiáticas. O resultado será mais desenvolvimento e ampliação mundial
de um imenso canal público para
difusão multilateral de inúmeros
tipos de informações, que também
vai gerando novos nichos sociais
e mercadológicos para produtos,
serviços, ambientes, ferramentas
e sistemas para ampliar as possibilidades e práticas comunicativas
dos usuários de dispositivos digitais de informação e de comunicação.
O contexto atual é excessivamente volátil e as rápidas mutações que ocorrem no cenário midiático exigem dos especialistas
em planejamento de meios e em
negócios de comunicação capacidade acurada de prever os diversos
resultados que poderão derivar de
processos transformadores cada
vez mais radicais, que na maioria
das vezes são produzidos pelo desenvolvedores de aplicativos e de
tecnologias para o ciberespaço.
Támbém é vital aprender a visua-
Nuevas lógicas de ver y de hacer televisión en la Argentina y en Brasil. AMÉRICA LATINA DIGITAL
Análise da implantação
por Antonio Francisco Magnoni e Leticia Passos Affini
As dimensões do cibermercado
brasileiro
No Brasil, o número de usuários de internet ultrapassou 100
milhões de pessoas no início da
segunda década do século 21,
uma posição que assegurou ao
ciberespaço o terceiro lugar entre
os veículo de comunicação com
maior público no País. A internet
perde apenas para a TV por assinatura e para a liderança obtida
pela soma da enorme audiência
das emissoras de rádio e televisão
de broadcasting e pelos sistemas
de telecomunicações por satélite.
No entanto, convém observar que
as redes de broadcasting, apesar
de dispor de enorme abrangência
e audiência, apresentam hoje expansão de público e desempenho
econômico bem modesto se for
comparado, por exemplo, com a
exuberante expansão econômica
acumulada no mercado brasileiro
pelo comércio de equipamentos,
programas e serviços de informática, de telecomunicações e de
telefonia celular, em apenas treze
anos do século 21.
“A banda larga foi o segmento
que mais evoluiu entre os serviços
de telecomunicações (telefonia
fixa, celular, banda larga e TV por
assinatura), com 39% de crescimento. O Brasil conta com 110 milhões de acessos à internet em alta
velocidade, sendo 88,7 milhões de
banda larga móvel e 21,4 milhões
de banda larga fixa. Entre julho
de 2012 e julho de 2013, a banda larga móvel expandiu 47,6%
em número de acessos e a banda
larga fixa cresceu 12,4. Em julho
deste ano, o Brasil contabilizou
267 milhões de telefones móveis.
Segundo a Telebrasil, o segmento
está presente em todos os municípios brasileiros e há competição
entre pelo menos três prestadoras
em cidades que concentram 87%
da população do país. As redes de
terceira geração (3G), que permitem conexão à internet em banda larga móvel, operam em 3.414
municípios, onde moram 89% dos
brasileiros. Na telefonia fixa, 1,2
milhão de linhas foram ativadas
no período, com crescimento de
3%. Essa modalidade chegou a
44,6 milhões de acessos. O serviço de TV por assinatura cresceu
15%, chegando a 17 milhões de
acessos. De julho de 2012 a julho
deste ano, 2,2 milhões de novos
assinantes entraram na base de
clientes dos serviços de TV paga”.
(Sabrina Craide, Agencia Brasil,
5/9/13) Também em 2012, o mercado nacional de telecomunicações faturou aproximadamente
R$ 180 bilhões1, um montante que
representa 45% do total da receita latino-americana, e quase 12
vezes o faturamento de R$ 16,6
bilhões obtidos também no ano
passado pelo conjunto das receitas
dos meios brasileiros de comunicação, conforme os dados recentes do relatório da Subcomissão
Especial da Câmara dos Deputados
sobre Mídia Alternativa. Tal quantia engloba o faturamento geral de
emissoras de rádio e de TV, jornais,
revistas, mídia exterior, TV por as-
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sinatura, internet, guias e listas e
cinema. As redes de TV faturaram
R$ 10,8 bilhões, portanto ficaram
com 64,8% do faturamento total.
“Esse bolo foi majoritariamente
distribuído entre as quatro maiores
empresas do setor: Globo, Record,
SBT e Band”, informou a relatora
da subcomissão, deputada Luciana
Santos (PCdoB-PE). “Mas, mesmo
entre essas oligopolistas a distribuição é desigual, já que sozinha,
a Rede Globo abocanha algo próximo a 70% das verbas destinadas
à televisão”2, observou a deputada.
A digitalização do monopólio e a
criação da TV Brasil
Venício Lima observa que a televisão brasileira ultrapassou os
sessenta anos de existência, “da
mesma forma que tem estado em
praticamente toda a sua história:
sem um marco regulatório que
discipline sua atividade. O único fato novo é que ela começa a
perder sua audiência para os novos meios digitais” (Lima, 2011).
O governo federal investiu energia política, técnico-científica e
dinheiro público para adaptar a
plataforma japonesa, que primeiro
atendeu os interesses de digitalização das grandes redes privadas.
O saldo mais importante da instalação da nova plataforma digital
foi a estruturação da TV Brasil,
que desponta como primeira experiência nacional de organização
de uma rede de emissoras públicas. “Embora previsto no artigo
223 da Constituição de 1988 para
ser complementar aos sistemas
privado e estatal de radiodifusão,
não havia, até então, sequer uma
positivação legal do que seria um
sistema público de televisão. Ape-
anclajes
lizar com rapidez e entender com
precisão os novos processos de
produção de conteúdos informativos, de formatação de linguagens,
de difusão e fruição de diversos tipos de informação e de comunicação midiática, que prosperam ou
declinam nos inúmeros ambientes
ou em plataformas digitais.
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sar de enfrentar a sistemática e
impiedosa hostilidade do sistema
privado comercial dominante e de
seus aliados na mídia impressa, a
TV pública vai aos poucos se consolidando e, espera-se, possa, no
médio prazo, se transformar em
referência de qualidade para a televisão brasileira” (Lima, 2010).
No Brasil, além da regulação da
radiodifusão comercial, os militantes da longa causa da democartização dos meios eletrônicos
continuam a reivindicar a criação
de um sistema de Televisão Digital
Pública, aberta e com alcance nacional, que não foi viabilizada com
a mera mudança da tecnologia de
transmissão e recepção para as
grandes redes comerciais. Afinal,
desde o momento que o governo
federal brasileiro e os concessionários comerciais anunciaram
vultosos investimentos financeiros e mobilizaram grandes esforços políticos e técnico-científicos
para desenvolver a partir de 2007,
a nova plataforma digital de televisão aberta, os setores mais
esclarecidos e críticos da população entenderam que poderia ser a
grande oportunidade social e governamental para a construção de
outro modelo de televisão.
Foi tal motivação coletiva que
ajudou a produzir o projeto da TV
Brasil, uma proposta do governo
federal que passou a ser gerida
pela Empresa Brasil de Comunicação, EBC, também criada em
2007 para administrar o sistema
público e nacional de comunicação, viabilizada inicialmente pela
fusão de veículos e de estruturas
de comunicação da Radiobrás –
Empresa Brasileira de Comunicação – e da Acerp – Associação de
Comunicação Educativa Roquette
Pinto. A TV Brasil tem a finalidade de “complementar e ampliar a
oferta de conteúdos, oferecendo
uma programação de natureza informativa, cultural, artística, científica e formadora da cidadania”3.
Na prática, a criação da EBC e da
TV Brasil inseriu o Governo Federal
entre os produtores de conteúdos
para educação, cultura, entretenimento e jornalismo capacitados
para abastecer o sistema midiático nacional, tanto público quanto
privado, que até há pouco tempo
era dominado majoritariamente
pelos conglomerados comerciais
de comunicação.
O projeto destaca-se como iniciativa promissora para construir
um sistema nacional de comunicação pública e também de radiodifusão cultural-educativa. A EBC
é uma empresa pública organizada
sob a forma de sociedade anônima de capital fechado, vinculada
à Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República,
responsável pela Agência Brasil,
Radioagência Nacional, TV Brasil
Internacional, Rádios MEC AM e
FM, além das Rádios Nacional do
Rio de Janeiro, Nacional AM e FM
de Brasília, Nacional da Amazônia
e Nacional do Alto Solimões. A
EBC também agrega as estruturas
de televisão do Poder Executivo
(NBR), da Câmara de Deputados,
do Senado, do Poder Judiciário (TV
Justiça), do Ministério da Educação (rede TV Escola) e uma rede de
cultura e cidadania que articula
sistemas municipais de TV digital,
além de administrar a implantação
dos Serviços de Televisão e de Retransmissão de Televisão Pública
Digital (STPD).
Com 6 anos de desenvolvimento, a rede da EBC já ocupa o quinto lugar no sistema brasileiro de
mídia. Na apresentação do Plano
de Trabalho para 2013, divulgado pelo seu Conselho Curador,
foram descritas as etapas de desenvolvimento da Empresa Brasil
de Comunicação, durante seu primeiro quinquênio de existência:
“Organizou uma Rede Nacional
de Comunicação Pública, mediante cooperação e colaboração com
entidades públicas e privadas exploradoras de serviços de comunicação e radiodifusão, formada
por mais de 47 geradoras e 728
retransmissoras de TV aberta terrestre, que alcançam mais de 1781
municípios de 24 estados brasileiros mais o Distrito Federal - 61%
da população do país -, além de
estar disponível para 15 milhões
de assinantes de TV fechada e 20
milhões de domicílios que recebem o sinal por antena parabólica.
Iniciou ainda em 2012 a formação
de uma Rede Pública de Rádio,
por intermédio de parcerias com
nove emissoras públicas da Região
Amazônica”, segundo o Conselho
de Administração EBC4.
O relato, além de mostrar a notável expansão do número de estações geradoras e retransmissoras de televisão da EBC, também
enumera o volume atual da produção e distribuição de conteúdos
para programação de rádio e televisão, difundida para toda a rede
pública e suas afiliadas: “Formatou
um modelo de produção, empacotamento e distribuição de rádio e
televisão responsável pela difusão
de mais de 400 mil horas - 350 mil
de rádio e 50 mil de televisão, incluindo internacional - de programas informativos, educacionais,
artísticos, culturais, científicos, de
cidadania e recreação para contribuir com a formação crítica das
pessoas. Do conteúdo radiofônico,
mais de 70% são produzidos internamente pela EBC e quase 30%
resultam de parcerias com outros
difusores públicos, produtores
independentes ou organizações
sociais. No caso dos conteúdos
televisivos, cerca de 40% são de
Nuevas lógicas de ver y de hacer televisión en la Argentina y en Brasil. AMÉRICA LATINA DIGITAL
produção própria, quase 30% por
meio de parcerias e 28% licenciados. As parcerias possibilitaram a
difusão de 7,4% de conteúdo regional e 38,6% de conteúdo independente na programação semanal, esse último acima do previsto
na Lei de criação da EBC. Também
foram disponibilizadas, nesses
cinco anos, mais de 17,8 mil fotografias e 35,7 mil reportagens
e notícias em áudio e texto, por
meio de suas agências noticiosas”,
de acordo com o Conselho de Administração EBC.
Outro ponto ressaltado na introdução do documento administrativo, é o investimento realizado
para ampliar e atualizar tecnicamente a própria rede de radiodifusão da EBC, com a finalidade de
expandir o alcance e melhorar a
qualidade de transmissão da rede
pública de televisão e de rádio:
“Ampliou e modernizou sua rede
própria de radiodifusão, composta
por 18 emissoras de rádio consignadas (9 operadas diretamente
e 9 por meio de 4 parcerias com
universidades e forças armadas), 7
geradoras de televisão analógica
(4 operadas diretamente e 3 por
meio de parcerias com universidades), 5 geradoras de televisão digital, todas operadas diretamente,
e 10 retransmissoras de televisão,
expandindo o alcance e melhorando a qualidade dos sinais de
transmissão”, afirma o Conselho
de Administração EBC.
Os resultados apresentados pela
direção da TV Brasil no início de
2013, mesmo que sejam dados institucionais oficiais e de difícil aferição externa, apontam um horizonte promissor para a construção
de um projeto nacional de televisão pública cultural e educativa.
O cenario da TV Digital em tempo de convergência radical
Em um contexto de mudanças
conjunturais tão complexas, as redes de televisão e os produtores de
audiovisual deveriam encarar com
mais amplitude as sinergias e também os conflitos entre a televisão,
a indústria audivisual e a internet.
Os resultados mais recentes das
pesquisas de audiência de diversos
meios convencionais e dos indicadores do mercado audiovisual e
publicitário nacional, quando são
comparados com a evolução da
audiência da internet, servem para
alertar os profissionais e pesquisadores das atividades midiáticas
que já está passando da hora de
se pensar na configuração de uma
nova cadeia produtiva audiovisual,
que ultrapasse os modelos produtivos baseados apenas em suportes ou em veículos específicos. Já
são bastante expressivos os indicadores desse progressivo mercado televisivo móvel, que brota
espontaneamente entre as frestas
de outros meios digitais. Uma pesquisa do Ibope, divulgada em maio
deste ano, demonstra o tamanho
progressão do mercado da telefonia celular e da internet portátil
no Brasil.
“Estudo do IBOPE Media releva
que 134 milhões de pessoas, com
10 anos e mais, têm um telefone
móvel no Brasil. Destas, 52 milhões
têm acesso à internet pelo celular.
Neste universo, ainda é possível
distinguir a quantidade de smartphones conectados à internet,
que hoje é de aproximadamente
20 milhões.[...] A conexão móvel
já está consolidada na rotina do
brasileiro, que usa seus aparelhos
nas mais variadas situações. Infor-
Facultad de Periodismo y Comunicación Social / UNLP
mação e sociabilização são marcas
registradas nesse novo cenário,
motivo pelo qual os smartphones
são usados para conversar com
amigos (76%), ler e enviar emails
(75%), se inteirar das últimas notícias (64%), saber as novidades do
cenário musical (47%) ou assistir
vídeos (44%), conforme estudo
realizado em março pelo IBOPE
Media. “Esta pesquisa nos dá base
para dizer que um em cada dois
internautas acessa a web por celular. É uma mudança importante de
cenário: uma marca estar presente
e atuante no ambiente mobile não
é mais uma questão de inovação,
é uma questão de se adaptar a
seu consumidor”, conclui Eduardo Fleury, presidente do Comitê
Mobile do Interactive Advertising
Bureau (IAB)5.”
Os 52 milhões de brasileiros
com acesso à internet pelo celular,
hoje, representam um promissor
mercado a ser explorado, porque
é maior que a soma das populações da Argentina e do Uruguai e
podem agregar um público com
significativa expressão socioeconômica, tanto para a televisão
aberta quanto para toda a indústria brasileira do audiovisual. É
estratégico aproveitar com iniciativas nacionais o notável potencial
de desenvolvimento para conteúdos de informação, cultura e entretenimento exclusivos para estes
tipos de plataformas móveis.
No sentido técnico, conceitual e
também ao estilo da atual cultura
de fruição midiática, a TVD e a internet de terceira e quarta geração
são meios complementares e não
deveriam se desenvolver em campos independentes ou até opostos.
Para confirmarmos as possibilidades crescentes de sinergia entre os
anclajes
Análise da implantação
por Antonio Francisco Magnoni e Leticia Passos Affini
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dois veículos, basta que observemos os intentos diários dos usuários do ciberespaço, particularmente os mais jovens e oriundos
de camadas sociais criadas em
contato permanente com os dispositivos e a cultura digital. Para
acessar os conteúdos dos diversos
veículos midiáticos, tanto digitais
quanto analógicos, eles utilizam
preferencialmente computadores,
tabletes e smartphones. Ou seja,
eles praticam instintivamente, durante a fruição midiática, a convergência entre suportes, conteúdos e linguagens e, por esse motivo, procuram sempre encontrar
formas de estabelecer interfaces
em diferentes mídias, mesmo que
elas ainda não estejam plenamente digitalizadas, como é o caso das
emissoras de rádio e de grande
parte do acervo audiovisual em
circulação. Para tanto, improvisam
aparatos e procedimentos com a
intenção de conviver virtualmente com outras pessoas, de emitir
e receber conteúdos, de desfrutar
ativamente de todas as possibilidades colaborativas disponíveis
para as pessoas minimamente familiarizadas com o universo informático.
No caso da televisão digital (que
ainda realiza intentos para desenvolver a visualização em segunda
tela, que busca desenvolver recursos mais eficazes de interatividade
ou formas de viabilizar economicamente a multiprogramação),
a cultura de recepção prioritária
pelo computador praticada pelos
jovens deveria preocupar mais os
estrategistas das redes de emissoras. Afinal, para as gerações Y e Z,
a segunda tela será sempre a televisão, sem contar que os jovens de
agora formarão a primeira geração
de adultos que cresceu usando o
computador e a internet. O que
eles assistem e conhecem de TV
aberta, quase sempre, foi visto
pelas telinhas dos dispositivos informáticos e, muitas vezes, consumido de modo não linear.
A escalada digital gera, para as
antigas redes comerciais de televisão, novos desafios para a preservação de seus múltiplos e poderosos interesses. Apesar de terem
preservado seu campo hegemônico, ao adotarem uma plataforma
específica para a digitalização de
suas emissoras, as grandes redes
já não conseguem fugir das exigências do fluxo internacional
de convergência informacional,
que subordina de fora para dentro o mercado volátil da comunicação midiática. Isto, sem contar
as demandas derivadas da própria
construção dos sistemas digitais
de transmissão e de recepção de
televisão aberta, que requer urgentes medidas políticas para regular adequadamente os sistemas
de distribuição de frequencias e
de concessões de canais, também
exige que se viabilize a criação
de um operador nacional de rede
e a definição de regras e legislações para adoção dos recursos de
interatividade, para multiprogramação e multiformatos. Ou seja, é
preciso adequar todo um sistema
nacional para que atenda satisfatoriamente as demandas das redes
de televisão digital aberta, tanto
comerciais quanto as de emissoras
públicas.
Transferindo o processo ocorrido
com mercado fonográfico digitalizado, para o mercado audiovisual,
é possível antever a tendência de
a internet ultrapassar as formas
de consumo por broadcasting, satélite e cabo. A sinergia televisão
e internet está apenas começando.
A cadeia de produção da internet é
bem maior que as redes de televisão. No ciberespaço há muito mais
pessoas envolvidas no processo
produtivo, seja nas “cabeças de
rede”, seja nas estruturas das redes
sociais, no comércio virtual, nos
motores de busca. A rede agrega
além de milhões de profissionais,
desenvolvedores voluntários e militantes pela governança pública e
democrática do ciberespaço.
O valor de consumo na internet
aumenta, uma vez que o conteúdo
pode ser replicado, conectado com
temas correlatos, salvo e comentado, ampliando a possibilidade
de uso de cada informação formatada e disponilizada na rede. Na
televisão, a peça audiovisual não
tem poder agregador porque é veiculada de modo dirigido. Na rede,
ela é disponibilizada, permanece
ativa por tempo indeterminado,
com audiência global. O rádio está
se reinventando na internet e a televisão deverá fazer o mesmo, não
basta aprender a empacotar os
conteúdos em diversos formatos e
linguagens e replicar os produtos
na rede. Isso não representa uma
estratégia que contemple a interação, mobilidade e portabilidade;
deve-se considerar que o receptor
está em movimento e necessita de
atualização constante, não apresenta tolerância a latência, ele
quer velocidade e variedade.
“Assistir à TV pelo celular é um
hábito que vem ganhando espaço
na rotina do brasileiro, principalmente as quartas-feiras. Dados do
IBOPE Media Lab revelam que esse
é um dos dias em que os expectadores da TV digital mais se conectaram a programação em seus
dispositivos móveis. De acordo
com o painel teste do IBOPE Media
Lab, os picos de acesso à TV digital
no celular ocorreram nos dias de
transmissão de jogos de futebol.
Com o painel constatou-se também que, em média, os usuários
dessa tecnologia permanecem 60
minutos por dia ligados à progra-
Nuevas lógicas de ver y de hacer televisión en la Argentina y en Brasil. AMÉRICA LATINA DIGITAL
Análise da implantação
por Antonio Francisco Magnoni e Leticia Passos Affini
a imensa estrutura das redes de
TV analógica, com os tradicionais
“donos” empenhados em manter
na era digital o poder de influência
política e econômica de seus antigos conglomerados midiáticos. Na
prática, a nova indústria que surge
com a digitalização dos sistemas
de transmissão e de recepção da
televisão poderá articular diversas
tecnologias binárias convergentes,
que permitirão desenvolver nacionalmente e regionalmente, uma
indústria informática diversificada
e essencial para o fortalecimento
geoeconômico do País, especialmente no cenário atual da América Latina.
Facultad de Periodismo y Comunicación Social / UNLP
Notas
1 Disponível em http://br.idclatin.com/.
2 Relatório mostra que TV concentra
faturamento de meios de comunicação.
Disponível em http://www.set.org.br/
noticiasg.asp?id=982.
3 TV Brasil - a sua TV Pública. Disponível
em http://memoria.ebc.com.br/tv-publicaebc/tv-brasil-sua-tv-p%C3%BAblica
4 Mais detalhes estão no Plano de
Trabalho 2013 elaborado pelo Conselho
administrativo da EBC.
http://www.conselhocurador.ebc.com.br/
sites/_conselhocurador/files/files/2_Plano_
de_Trabalho_EBC_2013.pdf
5 Esse e outros dados estão disponíveis em
http://iabbrasil.net/portal/52-milhoes-depessoas-tem-acesso-a-web-pelo-celularaponta-ibope-media/, pub. em 9-5-13.
6 As informações completas foram
divulgadas pelo Instituto Ibope: http://
www.ibope.com.br/pt-br/noticias/ 5-11-13
anclajes
mação no celular. O painel para
medição e análise do consumo de
TV digital em dispositivos móveis
é uma iniciativa pioneira do IBOPE
Media, um dos primeiros institutos
no mundo a aferir tal audiência.
A tecnologia para esse trabalho
é fruto da parceria com a Video
Research, empresa japonesa responsável por criar a ferramenta de
monitoramento do estudo”6.
O potencial comunicativo da TV
e da internet seduz e assombra
intelectuais, educadores, artistas,
cientistas sociais e o público em
geral. Ao completar cinco anos de
transmissão, a TV digital aberta
cobre menos da metade do território nacional, aproximadamente
46% das cidades brasileiras conseguem sintonizar o novo sinal.
A intenção do governo federal é
conseguir que até 2018, a cobertura digital aumente para 63%,
com a construção de mais de 300
torres de retransmissão espalhadas pelas diversas regiões brasileiras. A troca de tecnologia desencadeou vários fatores e múltiplos
efeitos. Um deles é a multiplicação
e a popularização de dispositivos
de comunicação, que disseminam
continuamente tecnologias, linguagens e criam novos hábitos
sociais de consumo de informação
e de entretenimento e geram um
círculo virtuoso que irá exigir a
oferta de mais serviços, de novos
mercados e de espaços e possibilidades produtivas. É um movimento
muito veloz, que estimula sinergia
e convergência entre plataformas
e aparelhos, ao mesmo tempo em
que promove a desorganização e a
superação de sistemas já estabelecidos ou ainda em consolidação.
A TV Digital brasileira atualiza
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