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Ivo ProtIć
CROÁCIA:
HISTÓRIA
DAS FAMÍLIAS
DO BLATO
1º edição
São Paulo:
Svalbard ediçõeS
2019
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CroáCia: histórias das famílias do Blato
Ficha catalográFica
Dados de Catalogação na Publicação (CIP)
Croácia: história das famílias do Blato/
organização, tradução e notas Maria Nilce Bačić é
Milan Puh; texto Ivo Protić. 1ª edição. São Paulo:
Svalbard Edições, 2019, 288 páginas; 14,8 x 21 cm.
ISBN
978-65-81505-00-4
1. Imigração croata
2. Croácia
3. Blato
4. Brasil
5. Comunidade croata
5. História das famílias croatas
CDD 990
imPreSSo no braSil
Foi Feito o dePóSito legal
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SUMÁRIO
Apresentação ............................................................................................... 13
Maria Nilce Bačić e Milan Puh
Descobri um tesouro! .............................................................................. 17
Maria Nilce Bačić
História da Ilha de Korčula .................................................................. 21
Milan Puh
Sobre o autor e a obra ............................................................................ 27
Dr. Zvonimir Šeparović
Ivo Protić
Parte 1
Prefácio ......................................................................................................... 33
Introdução .................................................................................................. 39
A cidade croata do século 10 nesta ilha é a Blato atual ............. 42
Primeiro Regulamento Municipal no nosso país decretado no
Blato de hoje........................................................................................... 54
Serviços médicos no Blato ..................................................................... 57
As mudanças demográficas no Blato nos últimos três séculos 58
Continuidade do Cristianismo ......................................................... 65
Novos descobrimentos = Novas confirmações ............................69
Igreja Paroquial de Todos os Santos (Svi Sveti) ............................70
Nossa Senhora de Poj (Gospa od Poja) ............................................ 72
Igreja da Santíssima Trindade (Crkva Presvetog Trojstva) ..... 74
Igreja de São Jerônimo (Crkva Presvetog Jeronima) .................. 75
Igreja de Santa Cruz (Crkva Presvetog Križa) no antigo
cemitério ................................................................................................. 76
A povoação romana ao lado da Igreja de Nossa Senhora de Poj
(Gospa od Poja) ..................................................................................... 78
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CroáCia: histórias das famílias do Blato
As freiras de Blato ..................................................................................... 82
Mais uma prova da natureza litúrgico-legal das procissões de
Páscoa ....................................................................................................... 82
Algumas respostas .................................................................................... 85
Príncipe Mislav no Blato na fortificação Kraljevac ..................... 92
As velhas famílias do Blato .................................................................... 114
A formação e alteração dos sobrenomes ......................................... 117
A nobreza da ilha de Korčula ............................................................... 125
Os descendentes dos que chegaram com o príncipe Mislav ... 139
40% da população tem a família no Blato por mais
de 1100 anos ........................................................................................... 146
Não-proprietários do campo-lago Blato .......................................... 147
O sistema feudal e “ditta” ....................................................................... 148
As assembléias do povo .......................................................................... 150
Os direitos e as responsabilidades da nobreza e do povo no
Blato .......................................................................................................... 152
A ordem do governo veneziano de 30 de março de 1770 ........... 153
Parte 2
A formação e o desenvolvimento do Blato baseado na
localização das famílias ......................................................................... 161
Primeira parte .............................................................................................162
Segunda parte ........................................................................................... 163
Terceira parte ..............................................................................................165
Quarta parte ................................................................................................ 165
Povo Letrado ............................................................................................... 166
Lista de sobrenomes das famílias no Blato ..................................... 171
Marko Polo, o descendente de Zmaj, nascido no Blato?? ..........273
Bibliografia .................................................................................................. 283
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HISTÓRIA DA ILHA DE KORČULA
Iniciamos esse texto explanativo e didático sobre
a Korčula, suas vilas e personagens, geografias e histórias
com um ditado antigo croata “O homem não pode amar
aquilo que não conhece”, o que é a ideia fundamental
dessa publicação como um todo, pois trata da vontade
e necessidade de se conhecer as próprias raízes para
respeitar mais as dos outros.
A ilha de Korčula se localiza na atual Croácia, na
região da Dalmácia (Litoral Sul do país), perto da cidade
de Dubrovnik, chamada de pérola do Adriático pela sua
importância cultural e beleza arquitetônica. Essa mesma
cidade é a sede da županija (contado, ou melhor, estado)
Dubrovačko-Neretvanska à qual a ilha pertence. Korčula
se localiza também perto da península de Pelješac que
a liga ao continente por via terrestre, bem como por
vias marítimas que saem para Dubrovnik e Split, esta
sendo a maior cidade da região da Dalmácia. É a ilha
mais densamente povoada no país, e portanto conta com
5 municípios: Lumbarda, Vela Luka, Blato, Smokvica e
Korčula (o nome do município mais populoso, sede da ilha
que leva o mesmo nome). Existem mais algumas outras
vilas menores como Žrnovo, Prižba, Prigradica e Čara,
espalhadas pelo terreno acidentado que possui um grande
campo alagadiço que possibilita uma produção agricola
considerável se comparada com as demais ilhas. O campo
Blato também é um lugar bastante mencionado por Ivo
Protić como razão da vinda dos colonizadores croatas e da
permanência de muitas famílias até o século 20. Considerase que o nome da ilha vem do grego Korkyra, explicação
que indica presença de uma colônia da tribo de Dórios que
vieram da ilha grega de Cnido. Para poder diferenciá-la
da ilha de Corfu que levava o mesmo nome, o historiador
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CroáCia: histórias das famílias do Blato
Estrabão a nomeia como Korykra Melania, referindo-se
a sua extensa vegetação de pinheiros escuros. Os romanos
posteriormente dão nome de Kurkra e a população eslava
de Krkar, o que foi substituido pelos venezianos por
Curzola para no final ser readaptado pelos croatas como
Korčula.
As modificações do nome da ilha não são somente
uma curiosidade interessante, mas também nos contam
um pouco sobre os que a habitaram e/ou dominaram.
Inicialmente os documentos e monumentos nos indicam
a presença de uma população ilíria que chegou na ilha
por volta do ano 2000 antes de Cristo, representando
uma população indígena que nos deixou as suas “gradine”
(cidadelas, isto é, pequenos núcleos urbanos emuralhados)
como vestígios da sua presença. Com a chegada dos gregos
no século 6 antes de Cristo, forma-se uma colônia com fins
de comércio e troca pelo fato de a ilha ter baías protegidas
onde os navios podiam ficar em caso de alguma tempestade.
Houve um encontro entre as duas culturas (ilírios e gregos)
que foi interrompido pela chegada de uma terceira,
a que veio para conquistar – os romanos que subjulgam
a população local e começam a marcar presença definitiva
na ilha a partir do ano 229 antes de Cristo. Assim, Korkyra
Melania grega é transformada em Corcyra Nigra romana,
integrando a província de Iliricum e posteriormente de
Dalmatium, homenageando a tribo dos Dálmatas que, de
todos os grupos ilírios, mais fortemente resistiu ao governo
romano. A situação muda com o fim do Império romano
ocidental em 476 que possibilita a chegada e instalação
de povos eslavos na região da Dalmácia, alguns séculos
depois. Acredita-se que os primeiros croatas chegam na
ilha entre os séculos 8 e 9, muito provavelmente liderados
pelo duque Mislav, o primeiro governante croata que sabia
navegar. Há ainda dúvidas, algo que Ivo Protić explora na
História da ilHa de Korčula
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sua abordagem histórica, sobre a origem geográfica dos
colonizadores croatas, podendo ser da região do vale do rio
Neretva que se localiza no continente ao norte de Korčula
e onde havia muita pirataria inicialmente. Nessa época que a
cidade de Blato teria sido construída como primeira da ilha,
e o campo Blato distribuido pelo duque Mislav aos croatas
que chegaram junto com ele para dominar a ilha. Existe
a menção da cidade de Krkar entre 945-948 que seria o nome
que os croatas inicialmente deram a Korčula. Entre os anos
1000 e 1420 a ilha passa por diversas presenças: bizantinas,
húngaras, croatas etc., época em que se escreve o primeiro
Estatuto (municipal) croata conhecido atualmente como
Korčulanski Statut, publicado em 1214 com várias edições
que regulametam as relações entre os camponeses,
nobres e governantes. Ivo Protić comenta as origens desse
documento para discutir as origens do Blato que, segundo
ele, teria sido a primeira cidade, verdadeiramente, croata
na ilha (chamada de Cidade Antiga). Os venezianos
queriam negar o fato para afirmar, ser a cidade de
Korčula, fundada por eles, como a mais antiga e, portanto,
mais imporante e única legítima. Em 1254 na ilha chega
o governador Marsílio Zorzi, um veneziano que decide fazer
da cidade de Korčula a sede do seu governo e cria diversos
conflitos com as lideranças croatas do Blato. Desde 1420
a 1797, a ilha fica nas mãos dos venezianos que deixaram
muitos traços na língua, cultura, tradições, arquiteturas
e em outros tantos aspectos da vida da população local.
O episódio mais conhecído dessa época: a tentativa turca de
invadir a ilha para tomá-la dos venezianos que junto com
os croatas resistiram, hoje é relembrado em forma de teatro
em que se encenam momentos da luta, sendo uma tradição
repassada de geração em geração. A ilha passa nesse
período por um momento de desenvolvimento econômico
e cultural que termina com a entrada de Napoleão em
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CroáCia: histórias das famílias do Blato
Veneza e a subsequente abolição daquele estado. Korčula
fica durante 18 anos sob governo francês que para a Croácia
como tal foi extremamente importante porque criou as
bases para o posterior movimento de afirmação nacional.
Para a ilha, deixou a receita de Lumblija e lembrança da
possibilidade de um mundo diferente. Em 1815, logo após
a derrota do lider francês, os austríacos tomam conta
e iniciam algumas mudanças na ilha como a construção de
vias e um canal no campo Blato que pararia as inundações
anuais. A estrutura social começa a mudar, pois o rígido
sistema de divisão do campo passa a ser liberalizado,
possibilitando a venda e/ou troca de terrenos reservados a
população nativa original. Com o fim da Primeira Guerra
Mundial em 1918 cria-se o Reino de Sérvios, Croatas
e Eslovenos cujo nome Iugoslávia aparecerá oficialmente
em 1929 com o golpe de estado dado pelo rei Aleksandar
Karađorđević. Nos anos 1920 acontecerá o grande éxodo
das familias das vilas de Vela Luka e Blato, devido à doença
de uva, principal economia daquele momento, causada
pela praga de filoxera. Em 1941 chegam os italianos para
ocupar a ilha que se ve livre da presença facista em 1945
com a chegada das tropas de marechal Tito e formação da
Iugoslávia comunista que traz um período de instabilidade
inicial que diminuirá com o desenvolvimento de turismo
e comércio nos anos 1970, 1980. Em 1991 a Croácia sai
da Iugoslávia e a ilha continua integrando o país até os
dias atuais, acompanhando a entrada na União Europeia
em 2013.
Milan Puh