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Boletim Cotidiano

2020, Cotidiano

Data da publicação: Maio de 2020. Autores do boletim: Aline Batista, Larissa Santos, Carlos Roberto, Rafaella Gobbo, Cristiane Pereira, Rayssa Mendes, Daniel Goldner, Rodrigo Lima, Guilherme Borges. Temas: Educação e Revolução, Música e Infância. Descrição: O Cotidiano foi escolhido por tratar temas, como o próprio nome já diz, recorrentes ao dia-a-dia, aos quais nem sempre damos a devida atenção. A proliferação agressiva do pensamento materialista e pautado pela lógica mercadológica vem transformando a nossa vida em sociedade em uma aglomeração de desigualdades justificadas pelo progresso econômico. Ele está organizado nos tópicos Educação e Revolução, Música e Infância. A ideia é que ao ler os textos que o constitui você possa adentrar às diversas dimensões que rondam o tema por outro ângulo: o das telas cinematográficas. Quem somos? O CineGRI - Cinema, Geopolítica e Relações Internacionais é um projeto de cultura e extensão universitária vinculado ao Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (NUPRI-USP). Nossa proposta é promover os debates acadêmicos relacionados à Geopolítica e às Relações internacionais, por meio do Cinema, para além dos muros da universidade. Esta é a nossa maior motivação: afetar a comunidade externa à USP procurando sensibilizar, debater e transformar de forma efetiva a realidade que acessamos por meio da nossa atuação. O Acervo CineGRI é a seleção de textos redigidos pelos nossos bolsistas e voluntários ao longo desses 4 anos de projeto que vai exatamente nessa linha de reflexão. Todo esse conteúdo armazenado foi dividido em 6 grandes grupos temáticos: Poder; Segurança; Direitos humanos; Desigualdades Espaciais; Identidade; Cotidiano.

COTIDIANO ACERVO CINEGRI CINEMA, GEOPOLÍTICA RELAÇÕES MAIO DE E INTERNACIONAIS 2020 BOLETIM COTIDIANO ACERVO PRODUÇÃO APOIO ACERVO EDIÇÃO E DIAGRAMAÇÃO Kelly Barbosa REVISÃO Larissa Santos AUTORES Aline Batista Carlos Roberto Cristiane Pereira Daniel Goldner Guilherme Borges Rua do Anfiteatro, 181, Favo 7 Butantã, São Paulo/SP, 05508-060 cinegri.gestao@gmail.com +55 11 3091-3044 www.cinegri.com Larissa Santos Rafaella Gobbo Rayssa Mendes Rodrigo Lima O conteúdo não reflete necessariamente a opinião do CineGRI, mas a dos respectivos autores. COORDENAÇÃO Prof. Dr. Rafael Villa Larissa Santos Rayssa Mendes COMO CITAR (ABNT): CineGRI, Boletim Cotidiano. Acervo CineGRI, São Paulo, v.1, n6, Maio de 2020. This publication is licensed under the terms of Creative Commons Attribution-Share Alike Conditions 4.0 international “, CC BY-SA 4.0 (available at: https://creativecommons.org/wlicenses/by-sa/4.0/legalcode.de) SUMÁRIO 05 06 08 Prefácio Editorial Educação e Revolução 25 41 46 Música Infância Fontes e Referências 05 PREFÁCIO Olá! Você já parou para pensar como a geopolítica e as relações internacionais se Aqui materializam em nossa vida cotidiana? assuntos você encontrará que alguns permeiam a dos principais geopolítica e as relações internacionais sendo debatidos através Greenwich ou o meridiano zero, estar localizado das imagens construídas pelo cinema, como por na exemplo, Inglaterra não é mera coincidência. Isso é a geopolítica! E denominar quem está “atrasado” drogas, ou “adiantado” segundo “O grande relógio do pela mundo” pobreza etc. reverbera profundamente nas relações fracassada banalização indústria política de de identidades cultural, a guerra às produzida criminalização da internacionais. Do mesmo modo a internet com todo seu centralizada poder pelos econômico Estados e cultural Unidos, tanto é Assim, Cotidiano foi escolhido como nosso último que boletim por tratar temas, como o proprio nome já quando nos dirigimos a sites vinculados ao país diz, utilizamos a sigla “.com” enquanto que aos outros nem incorporamos a mesma conjuntamente com a do proliferação país, como em “.com.br”. materialista recorrentes sempre no nosso damos a dia-a-dia, devida agressiva e do pautado aos quais atenção. A pensamento pela lógica mercadológica vem transformando a nossa vida E se nós iluminássemos mais essas duas importantes questões observando-as sob as Acervo CineGRI é a seleção de textos redigidos pelos nossos bolsistas e voluntários ao longo desses 4 anos de projeto que vai exatamente nessa linha de reflexão. Todo esse conteúdo armazenado foi dividido em 6 grandes grupos temáticos: Poder; Segurança; humanos; Desigualdades Espaciais; Cotidiano. sociedade desigualdades em uma justificadas aglomeração pelo de progresso econômico. lentes cinematográficas, que tal? O em Ele está organizado tópicos Educação e Revolução, Música e Infância. A ideia é que ao ler os textos que o constitui você possa adentrar às diversas dimensões que rondam o tema por outro ângulo: o das telas cinematográficas. Direitos Identidade; nos Bora lá? 06 EDITORIAL Prezado leitor, Esse boletim busca abordar circunstâncias distintas onde a mercantilização das pessoas e o controle dos indesejados são vistas como a nova condição de mundo. Para isso partiremos das intensas tentativas mercantilização da educação, passando pelo mercado fonográfico e os danos latentes causados identidade de pela indústria determinados que povos, cultua a chegando Em “Apropriação cultural de ritmos periféricos” [pág 33] veremos o caso do jazz americano e do funk diante das elites Ele está dividido em três capítulos: “Educação e respectivamente. Os e “Infância”, textos capítulo nos mostram do primeiro tratada como uma mercadoria negociada, como passível de veremos nos textos “A das escolas estaduais em 2015 e “Rachaduras na Torre De Marfim” [pág 13], que discute o assunto sob a perspectiva universitária, essa mercantilização ultrapassa os limites da constituição brasileira, que garante a educação segue Além disso, o desaparecimento de valores como liberdade e reflexão é uma peça expectativas educacional, que consumidores em aplicada temática à vez de do abordada chave para desse demanda reforma será mercado empregados cidadãos, ensino em lógica médio. “A e Essa falha da educação tradicional” [pág 16]. Já as produções que tratam sobre “Música” nos revelam como representam povos a significados latina que mesma e linha, ao significantes são trazer da encobertos luz os musicalidade pelo estereótipo excessivamente sexualizado. Esses debates também percorrerem casos onde as melodias são usadas como forma de protesto à ordem vigente, como veremos em “Música que trata das músicas populares da Venezuela e de Cuba, e “A música na ditadura militar brasileira” [pág 35], que traz a tona às músicas de protesto e ao movimento Tropicália diante ao regime militar brasileiro. Porém, alguns ritmos que também as através da dissociação entre revelam temáticas consideradas “fora da curva” como um direito universal. atender legitimidade como indicador de identidades” [pág 26], texto escola como empresa” [pág 11], que trata da ocupação adquiriram uma das facetas mais cruéis desse processo, no qual a educação, é ser só esses e suas origens de luta. “O que esconde o 37] “Música” que estigma de sensualidade da música latina?” [pág até marginalização da infância. Revolução”, brasileiro, tradições colocados musicais à que margem da sociedade se transformam em produções feitas para o consumo em massa e geração de lucro. “cult”, se tornam um “independente” serão tratados em dois 31] e [pág 39]. produto ou do mercado “representativo”, de que nossos textos [pág 07 O tema “Infância”, por sua vez, retrata o domínio exercido pela visão “adultocêntrica” da sociedade em relação às crianças, que normaliza a exploração infantil e as responsabiliza por sua condição marginal. Em “O roubo da infância” [pág 42] veremos que a criança é invisibilizada quando colocada na posição de não detentora de poder econômico e capacidade de consumir ou influenciar enquanto 44] o “filtro” consumo. de Em “Olhar elementos observaremos que infantil externos” a [pág “filtragem” e “adaptação” de fatores externos e conflitantes a compreensão levados em infantil, conta, pensamento como pois puras, a são guerra, não são manifestações logo, sem de projeções neoliberais. Sendo assim, aqueles que se manifestam contrariamente a esse “plano de negócios” que pesquisadores como Christian Laval e Pierre Dardot chamaram de “Pós-democracia” tem sua essência humana retirada da mesma forma. A negligência do estado ao se afastar da realidade dos estudantes e se aproximar dos empresários, conjuntamente com o olhar pré-conceituoso do adulto sobre a infância, refletem um país de futuro incerto. O mesmo vale para a indústria da cultura, que visa ser norteadora de expectativas ideológicas e políticas de vida a serem seguidas. relações de dominação. cotidianidade nada geralmente são do poder impede e as onde vias margem das residências do Brasil não possuíam De acordo com o filósofo e sociólogo francês Henri Lefebvre, é necessário que o cotidiano se liberte de funciona seu no unicamente características classes papel para impostas dominantes e capitalismo, à no vida qual onde reproduzir coletiva a as pelas tradição transforma em formas de produzir e perpetuar se se encontra para a a barreira própria que expressão e a muitas interpretações e temas. Até que ponto essa aproximação entre poder político e poder econômico realiza mutações institucionais, como no caso do poder judiciário, que na instrumento era de "pós-democrática" contenção dos se torna impasses ao projeto de expansão do capital, que geram a quebra da garantia de direitos? A partir de agora você é nosso convidado para trocar uma ideia a respeito de algumas situações onde as ações cênicas nos convidam ao debate. transmitidas acesso a esse tipo de transmissão. a depósito Tá vendo? Essa é mais uma discussão que dá e que após algum tempo desaparecem, são um 2,8% maneira, um autonomia do ser. incansavelmente por canais abertos de televisão exemplo disso. Segundo o IBGE, em 2018 apenas é subterrâneo no qual se mantém as convenções Os “hits do verão”, músicas de fácil assimilação que Dessa mais Boa leitura! EDUCAÇÃO E REVOLUÇÃO 09 ENTRE OS MUROS- POR UMA EDUCAÇÃO ALÉM DOS DISCURSOS Ainda que educação frequentemente pensemos em como central ser escolar ponto a discutido, a educação não se limita aos muros da escola. Enquanto importante potenciais A educação é provavelmente um dos temas mais falados ainda em que, toda na parte, maioria em diferentes das vezes, lugares, pareça ser pouco compreendido. O que significa falar em educação? Falar em educação nos traz à mente inúmeras ideias das quais, provavelmente, as primeiras delas têm relação com a vida escolar. Mas educação e escola, nem de longe, são sinônimos. E é com essa problematização que o tema Educação questões de e algumas educadoras e Revolução enriquecer das e muitas os propõe levantar debates acerca pautas educativas. educacionais, Partindo, antes mais nada, do que se entende por educação. de comunidades pensarmos e nossos educadores. Se a sociedade, papéis escola, é como enquanto instituição reflete valores e configurações sociais, a recíproca é socialmente que verdadeira vivemos adquirimos permitido, na também na medida reflexos escola na das e, em que experiências quando universidade. nos O é filme francês Entre os Muros da Escola (Entre le Murs, 2008, dir: Laurent Cantet) é um belíssimo filme que nos traz um pouco da realidade das escolas nos subúrbios parisienses, algo não muito distante do que se passa nas periferias brasileiras. O filme, a partir do olhar de um professor em uma escola com no subúrbio estudantes contextos sociais, de Paris. Trabalhando de diferentes vindos culturais, religiosos, François [1] se vê perante um dilema entre, por um lado, seu papel figura certo de de professor, simbolicamente autoridade distanciamento, e que e, uma carrega por outro, o indivíduo que busca uma aproximação dos seus alunos a partir do compartilhamento de seus próprios dramas e problemas pessoais. A dinâmica das aulas e do cotidiano na escola é totalmente impactada pelo que os estudantes vivem fora dela, se mostrando uma extensão dos problemas de e enfrentar conflitos. ali Além tantas disso, outras eles têm questões relacionadas às suas diferenças, composta por realidades heterogêneas, na contramão da instituição-escola que, boa parte das vezes, atua como instrumento uniformizador e disciplinador, acima de qualquer individualidade. 10 Se Entre Muros nos traz um pouco do que significa a sociedade dentro e fora dos muros da escola, nos propondo uma reflexão acerca de tais questões, um outro filme bastante lembrado que aborda outro aspecto importante, o papel do professor, é Sociedade dos Poetas Mortos (1989, dir: Peter Weir). A produção traz uma narrativa transformadora que do retrata professor - a relação John Keating, interpretado por Robin Willians - com seus alunos, É encantando Apesar propomos a tratar desse tema tão belo e tão disso, uma vez mais a impressão que nos passa é complexo - e por vezes tão genérico - que é a a do professor-herói, o único ator com o poder e educação. Acima de tudo, visando a educação a responsabilidade de transformar vidas. de e comovendo gerações. partindo desses potencial questionamentos verdadeiramente que o nos revolucionário, empoderador. E, para tanto, buscando superar o Embora a figura de professores possa e deva ser discurso vazio que fala da educação como algo inspiradora, a questão da educação, sobretudo metafísico, além de nós. A educação somos nós, em seu ambiente escolar, não deve ser restringir está em nós. E ela precisa de nós. a um único personagem, cuja realidade, dentro do sistema educacional público brasileiro, é das [1] mais degradantes. Ser um professor demanda, originou o filme, e foi professor. Atuou no filme antes interpretando de qualquer recursos materiais, trabalho que profissão, característica ambiente respeitem podendo ser a e vocacional, condições condição reconhecida de de François Bégaudeau o é autor personagem como tal coordenadora do Projeto CineGRI. vemos o professor antes, preferimos como um acreditar vocacionados e heróis. Estado - sequer profissional. que os bons principal, ele Rayssa Mendes - políticos, que sua Mestranda atores livro, mesmo, um professor. igual a qualquer outra. Na maioria das vezes, nós sociedade, do Mas, são em Ciências Sociais (PUC/SP) e 11 A ESCOLA COMO EMPRESA A recente efervescência das ocupações nas escolas após o anúncio do governador Alckmin sobre o fechamento de 94 unidades estaduais, que levou secundaristas às em pedagógicas ruas prol realmente considerada por alguns amadurecimento das incontáveis de medidas eficientes, é especialistas o Jornadas de Junho, Sob uma temática educação e duplamente protagonismo articulada feminino – –, o retomando a premissa da desobediência civil documentário e pacífica como peça-chave no pedido de trata da luta em defesa da educação sublinhada diálogo pela dos argumentam estudantes. que, consequente ao Estes fechar superlotação últimos escolas, das há a mesmas, precarizando, dessa forma, a qualidade do ensino. Outro secundaristas ressaltar que, argumento defendido trata importância da segundo as pelos estipulações em do Lute como perspectiva secundaristas. Em “como uma fazer uma das meio menina! jovens a mulheres dúvidas manifestação” (2016) quanto ou à “como ocupar uma escola”, o documentário compõe um quadro no qual as estudantes agem, de maneira autônoma, Diversas contra a estudantes reorganização são entrevistadas escolar. e temas importantes relacionados à instituição escola e CNE (Conselho Nacional de Educação), uma seu funcionamento surgem ao longo da película, sala de aula não pode ultrapassar um total como, por exemplo, de trinta estudantes – fato esse descartado que a escola carrega em sua própria arquitetura pela ou até mesmo a lógica eurocêntrica dos temas medida de Alckmin, onde escolas atingem mais de cinquenta alunos por sala. Visto desse isso, é tipo neoliberal possível de cujo depreender desmonte objetivo um primeiro a partir projeto visa a a imagem quase carcerária abordados em sala. Contudo, a fala de uma das estudantes processo em de particular ilustra mercantilização muito do bem ensino o ao afirmar que a educação é pensada como uma empresa seguindo preceitos de lucro e prejuízo. mercantilização da educação. Sob esse aspecto, consonâncias é da possível declaração observar certas objetiva da estudante com os estudos do sociólogo Christian Laval [1], pois as inquietações do mesmo dizem respeito ao avanço do pensamento utilitarista e mercantilista encontram no ecos sistema na fala de da educação, estudante e em questão. A lógica do mercado invade espaços cujo limite deveria ser intransponível; a educação como direito social não pertence (ou não deveria pertencer) cidadã cliente. ao não plano deveria do mercado, ceder lugar a relação- à relação- 12 Segundo Laval, princípios de a escola uma de hoje sociedade que segue se os adequa cada vez mais ao mercado e, consequentemente, fortalece o empresariado da educação. Logo, a partir desse tipo basicamente, em de relação “aqueles que que consiste, possuem meios financeiros terão uma educação de qualidade, caso contrário, não”, surge então um instrumento de “reprodução vigentes”, ainda pois mais das a desigualdades segregação abismal – ou social seja, a sociais torna-se classe média São evidentes os inúmeros projetos anunciados pelas “instâncias maiores” que têm como base o debanda para o ensino particular, enquanto a sucateamento classe evidente a luta que se trava diante de tantos trabalhadora depende das gratuidades no ensino. direitos do ensino, cortados. menina! mas é Lute maximiza ainda mais como o uma contra-ataque, Outro grande exemplo da cartada mercantilista protagonizado sobre a educação é o ensino técnico atrelado ao medidas antipedagógicas do Estado, revelando ensino médio, pois o que isso significa se não, em a grande que medida, uma investida neoliberal do Estado no que diz respeito à formação contínua atitude pelas jovens desobediente defendem a e secundaristas autônoma educação às daquelas pública de qualidade. de uma classe operária que seja mais produtiva e menos reflexiva? E que, por sua vez, leva a um [1] desmonte livro da formação e à precarização das Christian “A Laval, sociólogo escola não é francês uma autor do empresa: o próprias relações trabalhistas. Vide Michel Temer neoliberalismo em ataque ao ensino público”. Em e e entrevista o Laval discute pretexto de uma “flexibilidade do currículo”, mas respeito de o que é, na verdade, uma reforma de caráter Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folh limitador que descarta matérias essenciais para a/sinapse/ult1063u463.shtml, a formação de um indivíduo crítico e autônomo – 10/09/2017. como as matérias de filosofia, sociologia, história [2] Carlos Roberto Jamil Cury, especialista em etc. É o que reforça, por exemplo, Carlos Roberto legislação Jamil ao sua proposta instrumentalização Cury [2] reformulação “você está quem terá do quanto do ao ensino afirmar ensino cortando a formação formação intelectual”. à médio, que, médio maçã reforma com público, pelo operária sob e essa agora meio, quem entre terá El concedida à educacional. País, anunciada Cury pelo Folha de S. Paulo, a seu acessado Em discute governo livro. declaração a Medida de em cedida Provisória Michel Temer. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2016/12/14/ politica/1481746019_681948.html, acessado em 13/09/2017. Rafaella Gobbo Graduanda em Letras (FFLCH/USP) e ex bolsista do Projeto CineGRI. 13 RACHADURAS NA TORRE DE MARFIM A expressão a associada a pejorativa, pois enquanto “Torre Marfim” universidades indica instituição, comunidade de tem que a conotação Universidade, tende a ser Essa é uma externa. quando isolada da acusação comum, não só no Brasil, mas em outras partes do mundo, resgatada sempre que a comunidade universitária é confrontada com situações Logo no início, as cenas que retratam os de primeiros dias de calouros em universidades nos difícil solução. Afinal, universidades têm alguma conecta com as expectativas que esses alunos função ou responsabilidade social? levam cotidianas ou problemas socioeconômicos consigo. vendida Existem cada diversas uma respostas delas expressa a essa pergunta diferentes e opiniões social como e A Universidade uma ferramenta realização educação e sempre de mobilidade profissional, crescimento foi fonte pessoal que de vale sobre como o ensino superior deve ser financiado “qualquer preço”. A produção nos convence que e regulado. Assumir uma posição nesse debate essa pode ser difícil para quem está afastado desse estudantes tipo de ambiente, pois a comunidade acadêmica chegando a mais de 100 mil dólares. O choque tende a ser isolada em si mesma. O cinema em dessa realidade vem logo após o fim do curso, geral, nos quando que conseguem empregos. especialmente oferece uma o perspectiva Hollywoodiano, limitada, em percepção a influenciou assumirem muitos diversas dívidas desses famílias e impagáveis, graduados não universidades são somente cenário de histórias de gênios e festas alucinantes. Os exemplos são “Torre de abundantes: Uma Mente Brilhante (Ron Howard, sobre peculiaridades 2002); Gênio Indomável (Gus Van Sant, 1998); A Estados rede prestígio social (David Fincher, 2010); A Teoria de Marfim” Unidos, e se com debruça do principalmente ensino superior Universidades caracterizadas pelo nos disputando financiamento Tudo (Marsh, 2014); American Pie 2 (J.B. Rogers, particular não lucrativo. A produção é também 2001); Vizinhos (Nicholas Stoller, 2014). ambiciosa na escolha de pautas, abordando uma série Há exceções, no entanto, tal como o de questões além da dívida estudantil. Nenhuma solução clara é oferecida, o que pode documentário Ivory Tower (Andrew Rossi, 2014), incomodar a cumpre a função de instigar o público a refletir, “Torre de Marfim” em português, que se pois valor não mensurável da educação superior nos enfrentados em outros países. país atingiu a marca de 1 trilhão de dólares, valor superior às crédito no dívidas preocupante, efetuadas período. Diante professores e com cartão desse de número alunos são entrevistados a fim de discutir o que essa dívida significa para a educação. de seus espectadores, esforça para questionar o custo financeiro e o Estados Unidos. Em 2013, o débito estudantil no alguns alguns dilemas são mas ainda similares aos 14 A disputa entre alunos e administradores da faculdade nova-iorquina Cooper Union em torno da gratuidade do ensino é semelhante às discussões que ocorrem no Brasil e no Chile. No Chile, Michelle Bachelet chegou ao cargo presidencial em 2014 com a promessa de ensino superior gratuito, onde instituições privadas predominam desde o regime militar nos anos 80 [2]. Os estudantes chilenos pagam mensalidades muito caras, se comparadas com preços relativos em outros países, realidade que gera muita chegaram a representar 71% da receita no nível insatisfação, expressa nos protestos estudantis já da por volta de 1980, em 2006 e em 2011. reduziu os custos por aluno implantando extensa graduação rede de aulas No Brasil, a discussão em torno do ensino superior Durante gratuito voltou à tona com a crise econômica cortes que financiamento afeta públicas. o orçamento Defensores de do universidades pagamento de mensalidades questionam a responsabilidade do poder público de financiar a formação de estudantes que usariam o diploma em benefício próprio. As semelhanças não param por aí, outro exemplo está na crescente mercantilização do ensino denunciada pelo documentário, em que estudantes passam consumidores concentra e em a a ser tratados finalidade reduzir das custos. A como escolas indústria se de franquias de educação e empréstimos estudantis ganhou bastante graças à governamental. espaço nos Estados redução do Fundos privados Unidos financiamento aproveitam o vácuo deixado pelo poder público para oferecer empréstimos com juros exorbitantes. O financiamento estudantil público no Brasil é administrado pelo FIES (Fundo de Financiamento Estudantil), que entra em crise por volta de 2010, quando foi expandido inclusive para alunos sem condições privadas de de pagar [3]. educação oportunidade e Algumas souberam aumentaram empresas aproveitar bastante os a seus lucros: a Estácio ficou com um aumento de 565% na receita, a Anima de 819% e a Kroton com assustadores 22.130% [4]. Os recursos do Fies o no da Kroton, EAD governo Fies, financiamento nesse mercado. que (Ensino Temer, no público a privado, as satisfeita distância) foram entanto, abre não a anunciados saída portas bastante [5]. para do o interessado 15 Nas discussões Estados sobre Unidos, o Chile ensino e superior Brasil vemos nos uma tendência de mercantilização da educação que onera principalmente o estudante. A possibilidade de adquirir uma dívida impagável, a incerteza em torno da qualidade do ensino e da recepção no mercado de trabalho tornam as decisões e o planejamento do futuro ainda mais angustiantes [6]. De precisas ou simples, formação e emprego, start-ups, estão fato, não mesmo como carregadas há soluções alternativas cursos de de técnicos incertezas. e [1] BRALEY, Shawn. Column: Climb Down From A the sociedade se vê obrigada a questionar qual é o papel da educação universitária e se está Ivory Tower. Acessado em: Valley 16 News. set/2017. 19 nov/2016. Disponível em: <http://www.vnews.com/Sunday-Perspectives- disposta a pagar pelo seu custo. Essa resposta só Balmer-6209232>. pode comunidade [2] MONTES, Rocío. Ensino universitário gratuito universitária sair da sua “Torre de Marfim” e se no Chile encalha. El país. 18 jul/2016. Acessado aproximar em: ser alcançada tanto dos se a alunos quanto da 12 set/2017. Disponível em: comunidade externa a fim de demonstrar o seu <https://brasil.elpais.com/brasil/2016/07/16/int valor. ernacional/1468621018_314522.html>. [3] SALDANÃ, Paulo. Inadimplência aumenta, e Cristiane Pereira mais de metade atrasa pagamento do Fies. Folha Graduanda em Relações Internacionais (IRI-USP) de e ex redatora do Projeto CineGRI. set/2017. São Paulo. 29 jan/2017. Acessado em Disponível 12 em: <http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2017/ 01/1853932-inadimplencia-aumenta-e-mais-demetade-atrasa-pagamento-do-fies.shtml>. [4] OS SINAS jun/2017. em: DO Acessado NOVO em 15 FIES. Exame. set/2017. 23 Disponível <http://exame.abril.com.br/mercados/os- sinais-do-novo-fies/>. [5] GREG NEWS. Universidade. HBO Brasil. 25 ago/2017. Acessado em: 14 set/2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch? v=ehwontIab0A>. [6] LE, Diana. ‘Ivory Tower’ review: documentary challenges education Stanford set/2017. the effectiveness without Daily. a course Dez/2014. of of higher Acessado Disponível level action. The em: 15 em: <http://www.stanforddaily.com/2014/12/01/ivor y-tower-challenges-the-effectiveness-of-higherlevel-education-without-a-course-of-action/> 16 A FALHA DA EDUCAÇÃO TRADICIONAL A educação encontra na civilização estagnada em ocidental um se paradigma único. Tudo que foge à forma tradicional do modelo escolar, método válido é de desconsiderado aprendizado. O como maior problema dentro desse sistema educacional sua composição por aulas expositivas onde o aluno é um mero receptor de informação, e Engana-se, porém, quem pensa que o fato de os sua função única é memorizar aquilo que é filhos de Ben estarem afastados da escola os dito distancia as pelos professores, agindo de forma intelectualmente de crianças que extremamente passiva diante do que lhe é frequentam. ensinado. o momentos do filme, Ben é confrontado quanto ao filme Capitão Fantástico (Matt Ross, 2016) modo como cria seus filhos por sua irmã, Harper, Dentro desse contexto social, apresenta Ben, um homem que cria seus seis filhos de modo não convencional, afastando a si mesmo e a seus filhos radicalmente da vivência meio a e do caos natureza e urbano para ensiná-los viver de em maneira Muito pelo contrário: em um dos e o marido dela. Em meio à discussão, ouvem-se frases como "Eles precisam de estrutura, estabilidade, estudar em uma escola de verdade" e "eles são crianças, precisam ir para a escola, aprender sobre o mundo". Nesse conflito vemos a imagem da instituição escola diante do senso alternativa ao método comum nas escolas. comum, considerada como único local de acesso Em crianças aos conhecimentos formais. Diante disso, Ben faz desenvolvem conhecimentos diferentes, não uma comparação entre sua filha Zaja, de 8 anos considerados e meio esse a esse pelo cenário, modelo as clássico de educação, uma vez que a formação à qual estão submetidas envolve contato com a natureza e com seus próprios corpos, sendo uma educação literalmente integral. os filhos de Harper, adolescentes que frequentam desde crianças a escola formal: ele pergunta a ambos o cidadãos - direitos que básicos são direitos dos mencionados na constituição estadunidense. Diante da pergunta, seus sobrinhos respondem de forma rasa e geral, com de pouquíssima imediato constituição profundidade, recita de a cor. enquanto primeira Mesmo Zaja emenda com a da resposta exata da filha, Ben não se dá por satisfeito: Ele diz que não pediu que ela "regurgitasse emendas decoradas" e pede para que ela responda com suas próprias palavras. Zaja então começa uma reflexão completamente inesperada para alguém de sua idade, que envolve desde um conhecimento sobre conceitos de liberdade de expressão e comparação direitos em nível trabalhistas internacional, falta desses direitos na China. até uma citando a 17 Essa diferença na capacidade de resposta das crianças se dá pois, em função do método que Ben utiliza para educar seus filhos. Ele lança mão de um elemento que falta à escola tradicional: a estimulação da independência e capacidade de reflexão sobre aquilo que é aprendido. A falta de reflexão sobre geralmente se a informação pauta na adquirida, simples que memorização, torna o processo de aprendizagem e construção do conhecimento algo falho e deficiente. Essa característica é muito criticada por Paulo Freire, filósofo brasileiro que afirma que “[...] o conhecimento é processo que implica na açãoreflexão do homem sobre o mundo”. (2003, p.79). Ou seja, construído o conhecimento pela reflexão e é um ação processo, do é indivíduo sobre o mundo no qual este se insere, e é nesse ponto que vemos a diferença entre o modo como Ben ensinou seus filhos e como a escola tradicional os teria ensinado. O maior defeito do ensino clássico está na falta de estímulo à qual os estudantes são submetidos no sentido de, por um lado refletir sobre o que fazem e por outro questionar o que lhes é ensinado, fato que forma adultos facilmente influenciando na manipuláveis composição e superficiais, social como um todo. Carlos Roberto Garcia Graduando em Ciências Sociais (FFLCH - USP) e x bolsista do Projeto CineGRI. 20 A LUTA CHILENA CONTRA A HERANÇA DE PINOCHET Um caso emblemático e marcante na história da luta dos movimentos estudantis ocorre no Chile, sobretudo a partir do período ditatorial (1973- 1990) de Augusto Pinochet. No período anterior ao golpe, 60% do sistema educacional era público e considerava-se que a educação era um dos setores que deveria ser financiado e administrado pelo Estado, sendo assim um direito social de todos os cidadãos chilenos. Porém, no início dos anos 80, com o objetivo que introduzir uma reforma neoliberal ferramenta para e utilizá-la dominação como e uma disciplina, Pinochet aprovou leis e uma nova constituição que feriram diretamente o ensino público, gratuito e universal que a sociedade almejava. A partir deste momento se iniciou um sucateamento do ensino público e a educação deixou de ser um direito social e tornou-se mercadoria, a partir da privatização de educacionais, principais o quase lucro todos os passou objetivos a segmentos ser desse um dos setor. Um documentário que aborda as mudanças ocorridas na década Educação de de 80 no Chile Pinochet” se (2013), chama “A dirigido por Daniel Piassa Giovanaz. Nele é retratada a real intenção das mudanças promovidas para transformar o modelo de educação em um setor econômico lucrativo. A partir desse momento, começam a se articular movimentos estudantis contra as educação, medidas em de busca do mercantilização que já havia da sido conquistado anteriormente ao período militar. O auge desses movimentos teve início já nos anos 80, com reações imediatas e radicais contra a postura social e política de Pinochet. A questão articulado é na que o década movimento de 80 não estudantil alcançou os objetivos de reestruturar o setor educacional do país. Porém, a contínua segregação social – de um sistema favorecia aqueles com maior poder aquisitivo -, junto ao sucateamento da educação pública no país, fez com que um novo movimento estudantil liderado surgisse pelos no ano estudantes de 2006, agora secundaristas. Muito bem retratado no documentário “A rebelião dos pinguins” – nome estudantes dado cujos ao movimento uniformes os dos faziam assemelhar-se a pinguins –, a revolução tomou uma proporção milhares 90% da de gigantesca, estudantes população, e às com ruas, a saída apoiados posteriormente de por com a ocupação das escolas estaduais [1]. Nos anos de 2011 e 2012, novos movimentos estudantis organizados majoritariamente por universitários e secundaristas ocorreram mobilização nacional. com uma grande 21 O modelo de educação imposta por Pinochet se mantêm até os dias atuais, entretanto, é possível considerar que a mobilização estudantil tem sido uma grande conquista no campo formativo de indivíduos críticos. Os debates, questionamentos e articulações acerca dos direitos sociais fazem parte da essência dos movimentos estudantis que luta por uma educação pública, gratuita e de qualidade que não tenha em seus objetivos a lucratividade, mas sim a priorização do público sobre o privado. [1] Dados obtidos no próprio documentário “A rebelião dos pinguins”. Rodrigo Lima Graduando em História (FFLCH bolsista do Projeto CineGRI. USP) e ex 22 EDUCAÇÃO E REVOLUÇÃO #TOP10 O nosso ##TOP10 produções temática compilará cinematográficas Educação abordagens, a e partir uma que Revolução de uma seleção envolvem em de a diversas reflexão crítica sobre os contextos educacionais de estudantes e educadores ao redor do mundo. 1 - COMO ESTRELA NA TERRA: TODA CRIANÇA 2 - CORRIDA PARA LUGAR NENHUM(Race to É ESPECIAL (Aamir Khan, 2017) Nowhere, Vicki Abeles, 2009) A essência do documentário transcreve uma crítica à cultura da competitividade e da alta performance O filme crianças retrata e a pressão adolescentes psicológica sofrem ao na qual redor do mundo, ao não se enquadrarem em exigências que determinam um padrão "nota 10". Ichaan Awasthi, uma criança indiana de nove anos de idade que não escrevia e nem lia satisfatoriamente bem; usava a imaginação para criar e aprender, metodologia que não constava nas práticas escolares e nem como um modelo aplicável ao currículo escolar indiano. dos Estados presente Unidos. no O modelo filme educacional mostra as consequências da pressão no ambiente escolar, assim como na conduta familiar, caracterizada por grandes expectativas sobre o sucesso futuro dos adolescentes,exigências que traumas psicológicos irreversíveis. implicam 21 3 - THE WALL(Alan Parker, 1982) 4 - GIRL RISING(Richard Robbins, 2013) Estimulando o debate sobre o ensino conteudista, o documentário critica a ausência da relação e presença social no dia a dia dos alunos. O filme expressa quanto à também, certo opressão muitas descontentamento vezes exercida por educadores autoritários. Esse documentário meninas, em apresenta diversas partes a luta do de nove mundo, pelo direito à educação e inclusão social. Em países como Índia, Etiópia, Haiti e Afeganistão, as garotas entrevistadas, com idades entre 7 e 16 anos descrevem encontradas na comunidades, milhões de as complicações escola em ambientando meninas mundo suas o e barreiras culturas cenário afora, de tornando e 66 a inserção feminina na educação, paralelamente à extinção da pobreza, sua principal pauta de luta. 22 5 - ESCRITORES DA LIBERDADE (Freedom Writer, Richard LaGravenese, 2007) 6 - SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS (Dead Poets Society, Peter Weir, 1989) Ocupando lugar no Top 10, essa adaptação cinematográfica é baseada numa história real, publicada em livro homônimo no ano de 1999. Em 1994, na sala 203 num colégio em Long Beach, Califórnia, enfrenta a nova sua professora primeira Erin classe Gruwell, de alunos, estereotipados como adolescentes problemáticos e “casos perdidos”. cambojanos como e jovens Afro-americanos, vietnamitas que compõem cresceram em latinos, a classe, A obra cinematográfica conta a história de um vizinhanças professor de poesia, chamado John Keating, que agressivas e participam de gangues de rua para lecionava sobrevivência ou identificação. Lidando com essa preparatória para jovens rapazes, na qual valores adversidade, sua conservadores e tradicionais eram traduzidos por literatura às quatro grandes pilares: tradição, honra, disciplina alunos, os e metodologia experiências a e professora o ensino vivenciadas da adéqua pelos na excelência. Academia O filme Welton, conta a uma história escola de um incentivando a escreverem sua própria história e professor que inspira seus alunos a alcançarem a desejos e paixões individuais, com o objetivo de acreditarem possibilidades. em recomeços e novas tornarem-se extraordinários. 23 7 - O ESTUDANTE (El Estudiante, Roberto Girault, 2009) 8 - O LÍDER DA CLASSE (Front of the Class, Peter Werner, 2008) O discente tem 60 anos, seu nome é Chano, e ao se inscrever para cursar licenciatura em literatura na faculdade passa a lidar com jovens, se alocando a um universo do qual nunca fez parte. Se baseando em Dom Quixote, o aluno enfrenta as barreiras da indiferença, criando laços e provando que a educação não tem limites de idade quando se há crença, comprometimento e dedicação. Com enfoque nos desafios e nas complicações referentes ao papel do educador, o filme exibe a história de um garoto que, diagnosticado com a síndrome de Tourette, supera discriminações familiares e acadêmicas para a concretização do sonho de tornar-se um professor. 24 9 - A EDUCAÇÃO PROIBIDA(German Doin, 2012) 10 - O MILAGRE DE ANNE SULLIVAN (Arthur Penn, 1962) O documentário educação através educacionais critica da presentes o modelo observação em mais atual de de de modelos 10 países, trazendo ao debate diferentes circunstâncias de reestruturações educacionais. Baseada conta Anne a em uma trajetória Sullivan, incansavelmente história do ao uma real, método lecionar aluna a adaptação educacional e de auxiliar portadora de deficiência auditiva e visual, com a alfabetização e compreensão do mundo que a cerca. Aline Batista Graduanda em Relações Internacionais (FMU), e ex voluntária do Projeto CineGRI. MÚSICA 26 MÚSICA COMO INDICADOR DE IDENTIDADES Constante na cinematografia, o uso da música não se limita à composição de uma trilha sonora. Na linguagem audiovisual, as melodias atuam como base para uma sequência de imagens ao apoiar o contexto da cena atribuindo expressão e sentimento, elementos decodificada pelo pretendemos da mensagem telespectador. ultrapassar o a Assim, ser aqui reconhecimento da importância da melodia na linguagem técnica do cinema, a fim de compreendê-la como produto cultural, indicador de identidades e como um fenômeno social de expressão comum, capaz de transpor fronteiras. Tal como o cinema, a fotografia e a literatura, a música corresponde à manifestação de uma arte que exterioriza aspectos universais e humanos através do som, com a organização melodias prontas interpretadas. das suas de ideias para entre serem Semelhantemente definições, a letras e ouvidas à e diversidade linguagem musical é intrínseca aos que a utilizam e única para cada um que decodifica sua mensagem. Além de estar inserida em corresponde um à representação. um A compreendida identidades, processo social, instrumento prática como de música expressão musical um assim a pode e ser indicador de revela o como documentário Tambores de Água: Um encontro (Clarissa ancestral Duque,2008). A obra documenta a procura pelas origens da música popular venezuelana africanas uma nessas reflexão e o melodias, quanto a encontro o que de bases proporciona formação de uma identidade pela união de duas culturas. O longametragem continentes, aborda o africano encontro e desses dois latino-americano, e apresenta as bases históricas que possibilitaram essa junção de costumes por meio da música. O ato de aspectos musicalizar da pode realidade compositores, revelar vivenciada possibilitando uma ainda por seus compreensão ritmada das práticas culturais e tradicionais de um determinado grupo social em determinado período histórico. Em síntese, a música consegue marcar períodos, necessidades documentário e noticiando as Buena com realizações Vista ritmo humanas. Social Club as O (Wim Wenders, 1999), por exemplo, nos mostra por meio da música, a possibilidade de compreender traços particulares da história de Cuba. Na obra, é documentado o esforço de cantores cubanos de vanguarda, coordenados por um produtor musical estadunidense, para a gravação de um disco. O longa-metragem aborda a carreira musical dessas personalidades, que consagraram internacionalmente a salsa cubana a partir de meados do século passado. 27 Seja como um dos elementos da linguagem audiovisual ou como um marco antropológico, o ato de musicalizar aproxima pessoas tal como ultrapassa as fronteiras em um processo de identificação. É nesse sentido que temos como objetivo debater a música mediante as intenções e efeitos sociais de quem a compõe e também de quem a escuta. A partir das reflexões a serem desenvolvidas, queremos mostrar que a música corresponde muito mais do que um detalhe do conjunto das cinematográficas, traços diferentes incorporando fundamentais da cultura narrativas artisticamente de variados grupos sociais em diferentes contextos históricos. Aline Batista Graduanda em Relações Internacionais (FMU), e ex voluntária do Projeto CineGRI. 28 K-POP: ONDA CULTURAL OU FERRAMENTA DIPLOMÁTICA COREANA? O K-pop por si só não é uma novidade, as primeiras bandas começaram a surgir em 1990 e hoje representa dólares, uma talvez indústria seja o de principal bilhões de produto de exportação da Coreia do Sul depois de carros e A primeira experiência de alguém assistindo a um videoclipe de uma banda K-pop é sempre memorável. É difícil decidir o que chama mais atenção, se é (geralmente PERFEITA o mais de número que cada de cinco), membro, integrantes a o aparência figurino, a coreografia elaborada, os cenários... Pensando bem, seria possível escrever esse texto somente comentando videoclipes de K-pop, verdadeiras produções cinematográficas. Há tanto para ver e ouvir que, talvez, no meio do clipe a pessoa note que, na verdade, a música está sendo cantada em... Coreano! vem se Surpreendentemente, espalhando ocupando dominado espaço pelo no pop ao redor difícil do mercado americano e o K-pop mundo, ocidental britânico cantado em inglês. Trata-se de um movimento cultural tradução conhecido literal, como “Onda “Korean Coreana”, Wave”, que em inclui também o cinema (com os K-dramas), idioma e culinária. celulares [1]. Esse sucesso acabou atraindo a atenção do governo sul coreano, que identificou a possibilidade de utilizar o K-pop como uma ferramenta do que é chamado de soft power, ou “poder utilizada suave” [2]. para relações Essa descrever internacionais persuasão para comportamento geralmente cultural. de uma outros das privilegia a indiretamente atores poder governo expressão abordagem que influenciar utilizando O é uma políticos, econômico coreano o ou estaria se espelhando no exemplo dos Estados Unidos, que utiliza a indústria cultural para exportar outros produtos [2]. Alguns cantores K-pop estão se tornando embaixadores, incentivando o turismo e o interesse pela cultura coreana, algo importante, considerando o passado colonial do país e o fato de estar virtualmente em guerra com o seu interessante encontrou vizinho, notar espaço especialmente se a Coreia como na a japonesa na Coreia (1910-1945). Norte. música China lembrarmos do e da no É coreana Japão, colonização 29 A caracterização exportação, no do K-pop entanto, como produto de preocupa ativistas de direitos humanos, pois a imagem modificada por cirurgias plásticas, olhos claros e pele perfeita vendida por estrelas K-pop não reflete de fato a população sul coreana. Essa indústria incentiva um desejo riqueza constante em uma desigualdade interessados social em por perfeição sociedade é física e que a em significativa. entender melhor o Aqueles que isso significa podem começar assistindo o filme sul coreano Mr. produção Idol narra a (Hee-chan história de Ra, 2011). A re-formação da banda de quatro integrantes Mr. Children, três anos após ter devido a um interrompido suas atividades, trágico acidente em que morreu o principal cantor do grupo. No filme vemos como o treinamento para formar uma banda K-pop pode demorar anos, tempo em que os integrantes são afastados da família e amigos, embora não tenham nenhuma garantia de sucesso. Há ainda o documentário disponibilizado pela BBC, Nine muses of star empire (Hark Joon Lee, 2014), que acompanha a jornada de um ano da banda 9muses, composta por nove mulheres. A rotina de ensaios exaustivos é controlada de perto pelos funcionários da produtora “Star Empire entertainment” e não há margem para desculpas, até mesmo doença não é razão para abandonar um treino. O nível de estresse é tão alto que a saúde que a mental de cada produtora garota também - característica busca controlar - acaba de algum modo comprometida. Tudo isso considerando que trata-se de um mercado extremamente competitivo, em que 1 em cada 10 mil de K-pop trainees se tornam profissionais de fato. Entretanto, não podemos dizer que os abusos enfrentados por artistas nos bastidores da música são um problema exclusivo do K-pop, pois conseguimos nos lembrar facilmente de histórias similares afirme na que indústria ouvir pop ocidental. K-pop Há contribui quem para o crescimento de uma indústria cruel, mas, como pontua brilhantemente Hugo Katsuo, ninguém pensou em boicotar o pop americano após ouvir sobre os abusos sofridos pela cantora Kesha durante a sua carreira [3]. Considerando que a representatividade asiática deixa muito a desejar na indústria cultural ocidental, observar artistas K-pop alcançando tamanho sucesso é animador para quem reflete sobre questões raciais. Certamente os problemas da indústria do K-pop não podem ser jogados para baixo do tapete, mas vale ressaltar que por aqui qualquer avanço nesse sentido somente foi possível apoiando as vozes daqueles violências, não que pelo arte que produzem. enfrentaram simples as mesmas silenciamento da 30 Por fim, fica juntos o o convite sucesso para acompanharmos dessas bandas, que provavelmente ainda vão render muito assunto, há uma série de documentários sobre o universo K-pop com produção anunciada, inclusive outro da BBC. Esperemos que tenham vindo para ficar e que as questões de direitos humanos se resolvam da melhor maneira possível com apoio daqueles que valorizam representam. Por o aqui, que esses sabemos artistas que a diversidade que trazem só enriquece o universo do entretenimento que precisava há muito de uma boa arejada. [1] Aisha Gani. Guardian. K-pop: Março de a beginner's 2014. guide. The Disponível em: <https://www.theguardian.com/music/musicblo g/2014/mar/03/k-pop-music-a-beginnersguide-south-korea-sxsw>. Acesso em 14 jan, às 13:00h [2] Acredita-se que cada US$100 gastos em Kpop garantem retorno de US$400 em produtos de T.I.Fonte: Jazeera The English. em: Stream: K-pop Setembro de diplomacy. Al 2012.Disponível <https://www.youtube.com/watch? v=rYt813fDWTw>. Acesso em 14 jan, às 11h40 [3] Hugo Katsuo. KPOP E RACISMO. Dezembro de 2017.Disponível em: <https://medium.com/@hugokatsuo/kpop-eracismo-938c1a4d94d2> Acesso em 14 jan, às 17h15. Cristiane Pereira Graduanda em Relações Internacionais (IRI/USP),e ex voluntária do Projeto CineGRI. 31 A MUSICA COMO UM PRODUTO A SER CONSUMIDO Apesar de suas diferenças, ambos os filmes exploram a questão da triste transformação da vida em um produto, assim como em seus finais (SPOILER ALERT), quando ambos os programas são É inegável que as costumeiramente séries, músicas dentro de produções culturais consumimos, e livros, uma são grande como produtos indústria que filmes, inseridos altamente lucrativa. Essa característica pode trazer, como contrapartida, a perda da originalidade e a descartabilidade destas obras, que na realidade são produtos na chamada indústria cultural [1]. culturais é brilhantemente retratada em O Show e EdTV (1999, Ron Howard). Ambos os filmes tratam da questão da transformação da vida de um indivíduo em um produto a ser consumido pelas pessoas: um reality show que narra todos os acontecimentos de sua vida, sem cortes. A diferença entre os filmes se dá na questão da consciência de seus protagonistas. Em O Show de Truman, o protagonista, Truman Burbank, não faz ideia de que a sua vida inteira, desde o seu nascimento, é televisionada, e tudo o que ele acha que entende como vida não passa de um produto consumido pelas outras protagonista, pessoas. Ed Pekurny, Já em aceita EdTV, o participar do programa e tem total consciência de que está sendo filmado o tempo inteiro. rapidamente se é mostrado esquece que destes, o e público muda de canal, indo procurar outra coisa para se entreter. Nestes exemplos dos filmes, fica evidente a mecânica da Indústria Cultural, fundamentada na repetição exaustiva das produções culturais segundo uma padronização pré-estipulada. Este padronização tem como objetivo atingir o maior número possível de pessoas de um modo mais seguro e familiar aos espectadores, sem muitas A questão do consumo descartável de produtos de Truman (1998, Peter Weir) cancelados, inovações, podendo, em muitas situações, a beirar o descartável. Quantas são as músicas que tocavam no rádio há cinco anos que ainda escutamos? E o quão diferentes essas mesmas músicas são daquelas que consumimos nos dias de hoje, que muito provavelmente, em sua maioria também serão esquecidas? Mais especificamente no que diz respeito à produção musical, o gênero que sintetiza essa questão é o que conhecemos como o Pop, surgido para abarcar as músicas produzidas para fins comerciais que visam atingir grandes públicos, ao juntar elementos de diversos outros tipos de gêneros. O que se pode observar então é uma constante reciclagem de melodias, bases sonoras e temas abordados nas letras, que são lançadas estrategicamente necessitar muita reflexão [2]. e consumidas sem 32 Em contrapartida, algumas das músicas que são lançadas fora deste chamadas músicas grande circuito, independentes, que as muitas tem como sua filosofia a crítica a este sistema, acabam sendo consumidas como produtos também, e, quando chamam atenção demais do público, tendem grandes a serem empresas, incorporadas quando estas pelas vêem um potencial de vendas. É o fenômeno que ocorre como uma espécie de “transgressão à venda”, no qual a rebeldia e a luta contra o sistema vigente tornam-se um produto, como vimos em um dos textos anteriores. reapropriação, de temas E romantização polêmicos exemplo, o também suicídio, na e através ressignificação sociedade, na série da 13 como, Reasons por Why, relacionamentos abusivos, como em 50 Tons de Cinza, e até mesmo instituições, como as prisões, como mostramos no texto "De Alcatraz às Sexy Prisons" pertencente ao boletim "Direitos Humanos". É dentro deste contexto que os EUA se entretenimento, com ênfase no cinema e na música. A capacidade massiva de produção – e principalmente de distribuição – de filmes e de uma vez que também dominam os aparatos tecnológicos que ditam as tendências globais, acabam por colocar o país no topo da indústria cultural. Não é coincidência que as três maiores gravadoras (Universal sejam Music, fonográficas Sony americanas, e Music suas e do Warner músicas mundo Music) toquem em todos os cantos do mundo.[3] perante esta grande máquina de produção e consumo. O quão impactante é essa imposição das da indústria cultural sobre os indivíduos, uma vez que ao mesmo tempo em que maior distribuição telecomunicações, produção uma continua elite, dos produtos que a maior concentrada são as parte nas grandes da mãos de indústrias do entretenimento? E o quão alienantes são estes produtos, que reproduzem ad infinitum “mais do mesmo” para as pessoas, enquanto for lucrativo? [1] Este termo foi cunhado pelos sociólogos da de Frankfurt Theodor Adorno e Max Horkheimer na década de 1940, com uma visão pessimista do tratamento da cultura, considerada como algo que estava em um constante processo de perda de originalidade mercadológica. dentro Posteriormente, da o lógica termo foi complementado pelo também sociólogo Walter Benjamin, no que reprodutibilidade ele chama técnica das de obras “era de da arte”.- ADORNO, Theodor. A Indústria Cultural. Indústria Cultural e sociedade. Trad, Julia E. Levy. São Paulo: Paz e Terra, 2002, p. 7-80.- BENJAMIN, Walter. A obra de reprodutibilidade Linguagem O que resta então é uma reflexão dos papéis individuais uma culturais para a população, através dos avanços Escola apresentam como a maior potência mundial do músicas, ocorre e arte técnica. Política. na Sobre Trad. era de Arte, Maria sua Técnica, L. Moita. Lisboa: Relógio D’Água, 1992, p. 72-113. [2] ZAN. José Roberto. Música popular brasileira, indústria cultural Científica, vol. e 3, identidade. núm. 1 junho, Eccos Revista 2001.[3] Izaias Lopes em matéria para a Phouse. Último acesso em 12/01/2017 https://www.phouse.com.br/numeros-de-2016universal-music-e-considerada-maior-gravadoramercado-fonografico/ Daniel Goldner Graduando em Publicidade bolsista do Projeto CineGRI. e Propaganda e 33 APROPRIAÇÃO CULTURAL DOS RITMOS PERFÉRICOS Na i Esse tem em suas raízes a cultura afrodescendente, que se manifestou no território estadunidense desde o período de escravidão. Os negros, submetidos ao trabalho compulsório, expressavam Como temos visto, a música tem sido uma importante forma de expressão cultural ao longo de séculos, mesmo quando se trata de indústria cultural. Os grandes centros urbanos e, por conseguinte, suas periferias não são exceção a essa regra. Surgidos nas periferias, o jazz, o rap e o funk são alguns exemplos com características semelhantes: estilos que representam identidades marginalizadas, compostos majoritariamente por negrxs e que, status de em algum “legitimidade” momento, perante adquirem as camadas mais abastadas e brancas. Esses estilos musicais certa forma mais se acessível, um para se meio, de dar voz àqueles que constituem as camadas subalternas. Os documentários biográficos Nat King happened, Miss Simone? (Liz Garbus, 2015) são retratadas a vida de dois artistas negros - Nat Cole diversos e Nina desafios preconceito. profundamente Simone devido Ambos para à - que também o encararam segregação combate e ao contribuíram do racismo e para a popularização de um estilo musical hoje amplamente aceito - o jazz. cultura por meio de o tambor então como surge no principal fim do instrumento. século XIX e O jazz início do século XX em New Orleans, tendo como principal base a cultura africana junto com influências musicais europeias. Mais de 100 anos depois, o jazz se tornou, em grande medida, um estilo musical apropriado pelas elites. A popularização do jazz se deu a partir de 1920, quando há um movimento de emigração de negros para cidades como Chicago e Nova York busca de sucesso musical, junto com o interesse dos brancos americanos pelo estilo de forma incisiva. Porém, no documentário de Nat King Cole, é mostrado o grande sucesso que o artista atingiu, se apresentando em hotéis Cole: Afraid of the dark (Jon Brewer, 2014) e What King própria celebrações musicais, em que cantavam e tinham em tornam a lotados de pessoas brancas, mas onde o músico não podia se alojar por ser negro. Já Nina Simone, também contribuidora para a expansão do jazz, viu a sua carreira despencar quando as letras de suas músicas retratava o ativismo pelos direitos civis dos negros norte-americanos. Ou seja, a popularização do movimento andava de mãos dadas origens. com o esquecimento de suas 34 O funk carioca - e o funk brasileiro em geral segue um percurso com algumas semelhanças. Surgido nos morros cariocas e nas periferias dos grandes centros constante de urbanos, críticas e suas letras polêmicas são por alvo trazer músicas com conteúdo sexual. Por outro lado, o funk não é sexualizadas, instrumento denúncia composto sendo de das apenas por letras também um importante representação das minorias e mostra o opressões. É o que documentário Mulheres no Funk (Luisa Nolasco, 2014), em que funkeiras expõem suas opiniões sobre o machismo presente no funk e ao invés de fazerem a crítica pela crítica, se apropriam do gênero musical para criar músicas contestadoras. Ambos os estilos sofrem, de diferentes formas, da apropriação cultural. valorização comercial Ou da seja, há cultura uma negra e periférica, sem a valorização do próprio negro e de suas origens. No caso do jazz, já mais distante temporalmente, há quase um esquecimento sobre suas origens e o consumo desse gênero ocorre predominantemente nas elites. O funk, mais recente, tem ganhado espaço nos últimos anos, mas ainda prepondera a valorização de suas letras sexuais explícitas. Em um caso ou em outro, é importante expressões olhar de para culturas esses que gêneros são ou como foram totalmente marginalizadas mas que a indústria cultural não deixou escapar, tornando-as consumíveis e, em boa parte, elitizadas. Rayssa Mendes Mestranda em Ciências Sociais (PUC/SP) e coordenadora do Projeto CineGRI Rodrigo Lima Graduando em História (FFLCH USP) e ex bolsista do Projeto CineGRI. 35 A MÚSICA NA DITADURA MILITAR BRASILEIRA Um dos momentos mais efervescentes e criativos da música brasileira aconteceu, ironicamente, em um dos períodos mais sombrios de sua história política. A música foi um instrumento sempre presente na luta contra a ditadura militar (19641985), sendo persistentemente usada como forma de contestação ao governo, mesmo quando esse censurava músicas e perseguia artistas. Caetano Veloso foi outro alvo das vaias na Uma das expressões musicais mais marcantes da mesma edição do festival após subir ao palco de resistência forma protesto, à ditadura que foram ganharam as grande canções projeção de nos irreverente, adereços de com plástico roupas para coloridas cantar “É e proibido festivais de música da época. O documentário proibir” junto aos Mutantes. Contrariado com a “Uma noite em 67” (Renato Terra, Ricardo Calil, recepção hostil do público, que preferia letras 2010) mais remonta Internacional a da segunda edição Canção (FIC) do e Festival mostra a explicitamente militar, Caetano combativas gritou de ao volta ao governo público: diversidade de artistas e de movimentos musicais “Vocês não estão entendendo nada!”. De fato, que se formavam naquele período. É possível ver não estavam. O movimento da Tropicália que o artistas Gil, cantor estava iniciando naquele mesmo ano se no mostrou outra forma contundente de oposição à como Milton Caetano Veloso começo de e Nascimento, Chico carreira, Gilberto Buarque mas já ainda mostrando ditadura. Embora suas letras características que iriam definir suas trajetórias necessariamente musicais. diretamente, o movimento buscava romper com os padrões criticassem estéticos vigentes experimentações e transgressivo mostrado “Tropicália” é os não inovações. (Marcelo militares em Esse no suas espírito documentário Machado, 2012), que retrata o cenário de ebulição cultural do qual saiu o tropicalismo e suas influências na arte e no cinema. Nesse último meio, os filmes do diretor Glauber quanto Rocha foram tanto serviram influenciados pela de inspiração Tropicália. O documentário também mostra como o governo militar buscou prontamente suprimir o movimento: seus principais nomes, presos e exilados. Caetano e Gil, foram 36 O cerco aos músicos brasileiros se fechava cada vez mais. Com a promulgação do AI-5 - que previa, entre outras coisas, a censura prévia à produção musical, cinematográfica passaram maiores. a - teatral, os enfrentar Documentos televisiva músicos brasileiros restrições oficiais e cada mostram vez que as letras submetidas à censura foram proibidas sob as mais diversas justificativas, como “divulgação do homossexualismo”, “divulgação da macumba” e “revolta contra a submissão do povo”, ou então Seja na estética transgressora do Tropicalismo, por “incentivar a luta de classes”, trazer “à tona nas letras de protesto de artistas da MPB, dentre problemas raciais”, ser “niilista” ou simplesmente outras por ter “falta de gosto”[2]. ditadura formas, a militar música sempre brasileira teve durante intérpretes a que desafiavam a repressão e o autoritarismo. Mesmo Os censores vasculhavam avidamente as letras com as suas produções artísticas tolhidas pela em busca de mensagens contra o regime militar censura oficial, os artistas buscavam inovar em ou que atentassem à “moral e os bons costumes” suas da época. Mesmo assim, algumas formas de expressão artística. Geraldo músicas Vandré, Gilberto Gil, Gal Costa, Chico Buarque, criticando o governo conseguiam milagrosamente Caetano Veloso, Rita Lee, Raul Seixas, Tom Zé, passar ilesas pela censura, como é o caso de Milton Nascimento, “Pesadelo”, composta por Paulo César Pinheiro e tantos outros interpretada pelo MPB4, que traz versos como resistência memorável. Gonzaguinha, fazem parte dessa Belchior história e de “Você corta um verso, eu escrevo outro/Você me prende vivo, eu escapo morto”. Para ser [1] http://memoriasdaditadura.org.br/musica/in aprovada, a letra da música foi camuflada em dex.html Acesso em 30 jan, às 16:00h. meio à diversas outras e submetida à censura [3]. [2] https://oglobo.globo.com/cultura/musica/di A gitalizacao-de-documentos-da-ditadura-revela- música “Apesar surpreendentemente de você” também foi liberada. Chico Buarque - cancoes-ineditas-17747347 Acesso em 30 jan, às tão censurado que chegou a recorrer a um nome 16:15h. falso [3] http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/ (Juninho da Adelaide) para assinar suas canções - havia submetido a letra já dando sua 59628-quotpesadeloquot.shtml proibição 30 jan, às 16:34h. como certa. Os militares Acesso posteriormente censuraram a música após uma [4] semana de seu lançamento, mas ela já havia se vai-passar-a-noite-da-ditadura-militar tornado um dos hinos da resistência popular [4]. em 30 jan, às 16:35h. em http://memorialdademocracia.com.br/card/ Acesso Guilherme Borges Almeida Pós-graduando Relações no curso Internacionais de Estratégia Contemporâneas UFRGS e ex colaborador do Projeto CineGRI. e da 37 O QUE ESCONDE O ESTIGMA DE SENSUALIDADE DA MÚSICA LATINA? Em 2017, o reggaetonero colombiano Luis Fonsi fez o mundo cantar em espanhol com o hit ‘Despacito’, levando esse gênero musical a um pico de popularidade sem precedentes. Esse fenômeno nos provoca a pensar sobre como a música pode projetar internacionalmente um conjunto de códigos culturais próprios de uma determinada região. O reggaeton não é o primeiro gênero a fazer isso na América Latina, e o cinema nos ajuda a observar historicamente como outros ritmos, como a salsa, atuaram nesse processo de projeção regional. Na América sensualidade música foram Latina, e a forte por elementos relação vezes como entre responsáveis a dança por e uma estigmatização de sua música, transposto para uma caracterização cultural do continente em geral. Em Dirty Dancing 2: Noites de Havana (Guy Ferland, 2004), a relação entre Katye (Romola Garai), uma jovem estadunidense residente em Cuba, com o cubano permanentemente Javier mediada (Diego pela Luna), dança, é assumida como promíscua pela família e amigos da garota que vivem na Havana dos últimos anos da ditadura película de ¡Salsa! Fulgencio (Joyce Batista. Bunuel, 2000) Já a começa com a apresentação de um solo de Chopin no A piano tocado por Rémi Bonnet (Vincent Lecoeur), identificada com o fenômeno da imigração de que muda subitamente o rumo de sua peça para comunidades uma salsa cuja interpretação emocionada choca norte. The Mambo Kings (Arne Glimcher, 1992), sua audiência. encontra-se latino-americanas intimamente aos países do por exemplo, conta a história dos irmãos Castillo, dois músicos cubanos que se mudam a Nova York a nos francesa aos a resistência ritmos latinos, então salsa capital cena na da europeia da salsa - Paris -, o filme ressalta desde primeira Ambientada história da elite musical identificados uma classe social subalterna e racializada. com anos dourados da salsa (1950s) com o objetivo de se tornarem os reis do Mambo. O filme traz clássicos da uma salsa, trilha sonora incluindo a carregada presença de dos aclamados cantores Célia Cruz e Tito Puente em papéis secundários. 38 Outra obra que, além de refletir a realidade da imigração - dessa vez desde Puerto Rico - na constituição da salsa nos EUA, nos traz uma trilha sonora primorosa, é o musical (Boaz Salsa Davidson, 1988), com faixas do tradicional Grupo Niche (colombiano) riquenho nascido compreender o e em forte do NYC) Nuyorican Willie movimento (porto- Colón. da Para salsa nos EUA, a cinebiografia El Cantante (Leon Ichaso, 2007) se mostra ainda essencial. A conturbada história do músico porto-riquenho Héctor Lavoe é uma amostra preciosa do momento histórico em que viveu, que para além da salsa foi marcado pela drogadição e pela epidemia de AIDS dos anos 1980 nos EUA. A A hiperssexualização da música latina, como história qualquer estigma, esconde parte importante de período sua é a história da colonial ou das posteriores ondas de imigração, sem reggaeton - e Van Van empezó la fiesta (Liliana Mazure e jamaicano e do hiphop - jamais teriam surgido. Aáron Se 2000) influência específico de retratam, afro-cubana salsa que cultural. latina Os Vega, composição música documentários Eso que anda (Ian Padrón, 2009) forte complexa da confluência de matrizes culturais, sejam elas do por sobre nasce nos exemplo, um a gênero anos 2000 a com quais suas POPularização valorização troca as do desses sucesso a salsa influências nos exige aspectos e e mesmo do abrir reggae mão constitutivos, aceitação no o da em mercado com o grupo Los Van Van: a timba. A relação musical inseparável entre dança e música, festa e vida trata cotidiana, corpo e arte, são traços fundamentais uniformização - sob o signo da sensualidade - e da de cultura identificados latino-americana com as que influências podem africanas ser e internacional, na verdade subjugação que a de ‘projeção mais uma reproduz os regional’ forma padrões se de de exploração das relações norte-sul. mediterrânicas que a constituem. Larissa Santos Geógrafa (FFLCH/USP), coordenadora e bolsista do Projeto CineGRI. Aline Batista Graduanda em Relações Internacionais (FMU) e ex voluntária do Projeto CineGRI. 39 DOS "BEATNIKS" À REPRESENTATIVIDADE BETONCÉ: A INSERIDA NA CONTRA CULTURA No entanto, por mais que a indústria cultural tenha se apropriado de certos temas - por serem lucrativos perante o público que se pretende atingir - e os transformado em mais um produto, é Quando observamos o consumo de atualmente, é possível apontar certos que são sendo comuns uma âmbito em delas mais a geral. ritmos música elementos musicais distintos, representatividade A indústria em cultural seu tem importante musicais” lembrar que dos possibilitaram “antepassados que, na música, caminhos fossem abertos e realidades oprimidas expostas. O gatilho contribuição de inicial toda ocorreu uma após geração a de movimentos de contracultura: a exemplo disso, incorporado em seus “produtos” (neste caso, a temos música) a literatura beat [1]. No documentário biográfico - Janis Joplin: Little Girl Blue (Amy Berg, 2015), entre outros -, dado o fato de que tais debates vê-se as várias camadas da figura que foi Janis estão ganhando espaço de forma exponencial. Joplin, temas homossexualidade, importantes a negritude, como o feminismo o jazz artista cenário como influenciador autodeclarada majoritariamente reconhecimento considerado um dos grandes ícones LGBTQ+, pois um de leva mesmo nível ao nacional, olhar implicitamente, Pabllo público algumas Vittar sua das pode performance questões ser e, dessa ícone tempo fantasma nacional, rebeldia e em viveu do que bullying. “beatnik”. masculino, conseguiu No direto da Em a tornou-se empoderamento, assombrada Fica um artista ao pelo evidente no comunidade. Na escala internacional, por outro documentário que a cantora não se encaixava lado, vê-se Beyoncé sob os holofotes expondo a nos realidade garantia da mulher negra estadunidense em ditos “Formation”. Ambas são versões multifacetadas sexual e do empoderamento. mulheres “papéis a a de chacota. gênero”, No possibilidade foram diretrizes algo entanto, de a escolha seguidas mesmo não se declarando feminista. que lhe liberdade para por Janis as – 40 Em What Happened, Miss Simone? (Liz Garbus, 2015), a artista Nina Simone é retratada em seu importante ativismo contra a segregação racial e, graças a isso, sua gradual marginalização no mundo da música – conforme observamos em um dos últimos deparamos textos. com constante o No documentário, espírito divergência aprisionamento livre de com advindas de nos Nina em formas de opressões de diversas ordens: por ser negra, cantar nunca foi uma opção, mas um ganha pão; por ser casada com seu empresário, era refém do mesmo e vítima de violência doméstica; por não ter sido diagnosticada cedo com transtorno bipolar, foi uma artista por vezes incompreendida. Ao somar tais fatores possível a dizer seu que atual a reconhecimento, artista carregou é desde o início de sua carreira o estigma social do que é ser negra em incomodavam uma com época tal em figura tão que se atuante politicamente. Apesar disso, é representatividade, possível em um dizer de que seus a vários objetivos, se propõe a causar incômodo à ordem vigente e àqueles que a adotam. A representatividade é, muitas vezes, significativa para grupos oprimidos, segregados e marginalizados, não para o establishment (como elemento de manutenção do status quo) Por isso, de Nina Simone a Beyoncé, é primordial pensar a representatividade não apenas como uma particularidade da identidade de cada artista, mas como um vivo debate de proporção política. Mais contemporâneo ao debate, Waiting for B. (Paulo César Toledo, 2015) retrata a espera de dois meses dos fãs de Beyoncé para um show ocorrido em 2013. Ao mostrar dedicados fãs dormindo em barracas somente para assisti-la, a película também expõe a realidade pobre e marginal dos mesmos, pois em sua maioria são homossexuais negros. Além do mais, é interessante notar que, enquanto o ativismo de [1] Claudio Willer, poeta, ensaísta e tradutor, em entrevista Braziliense: para Correio http://www.correiobraziliense.com.b r/app/noticia/diversao-earte/2012/09/29/interna_diversao_arte,325137 /movimento-beat-ajudou-a-deixar-a-sociedademais-moderna-diz-claudio-willer.shtml. Último acesso em 28/01/2018, às 15h00. Nina Simone a conduziu para um quase-fracasso, o de Beyoncé, por outro lado, é incorporado como um produto de sucesso – o que mostra a capacidade conteúdos da indústria diversos geracionais distintos. em cultural contextos de abarcar históricos e Rafaella Gobbo Graduanda em Letras (FFLCH/USP) e ex bolsista do Projeto CineGRI. infância 42 O ROUBO DA INFÂNCIA E não é apenas no tráfico de drogas que essas crianças deixam documentário (2003, Roubadas de ser crianças. O norte-americano Infâncias Len Romano) Morris e Robin compila casos de exploração infantil socialmente invisibilizados e apresenta o cotidiano de crianças em condições miseráveis de trabalho, à margem da escravidão pela sobrevivência. Esse filme mapeia o trabalho infantil no mundo e denuncia a violação dos direitos humanos e o não-exercício Enquanto a crianças obrigadas a interromperem os estudos e elas são marginalizadas em diferentes níveis. a trabalharem como escravas. O documentário é pela uma importante obra para acompanhar a visão predominância de uma visão “adultocêntrica” na das próprias crianças e adolescentes sobre suas qual as crianças muitas vezes são vítimas de uma histórias, invisibilidade analistas e políticos que criticam as condições a dimensões infância voz apresentando crianças e elas precisa ser ouvidas pois inúmeras da damos cidadania, realidade de aproximadamente 246 milhões de marginalização pouco da as A sociedade social. que o A termo passa partir das várias marginalização pode contando com a participação de que elas estão sujeitas. adquirir, Falcão - meninos do tráfico (2006, Mv Bill e Athayde) problemáticas traz uma envolvendo das principais crianças - É comum ignorarmos, por exemplo, ou e simplesmente nos acostumarmos à presença do adolescentes - a partir da visão delas mesmas.:a trabalho infantil em nosso cotidiano. Em muitos questão do tráfico de drogas. vagões de crianças são Tratamos inúmeras vezes sobre a importância das como crianças negociam serem crianças. Aplaudimos “adulto- falcões MasterChef própria Jr, mas crianças seguimos que têm invisibilizando suas infâncias roubadas e desde cedo são responsáveis por sua própria crianças sobrevivência. como responsabilizamos Não crianças. e enxergamos Ao essas contrário, culpabilizamos condição marginal em que se encontram. as pela e metrôs adultos “marreteiros” mirins” que cozinham de maneira impecável no aquelas trens água em uma e que a capital paulista, profissionais, atuando boa parte chocolate, outra subsistência. pobreza, e da exclusão assim dimensão, Essas crianças social e até negligência de toda uma sociedade. das vezes como os visando a refletem a mesmo a 43 Afinal, qual infância defendemos? Ao ouvirmos sobre os conectamos “marginalizados”, a palavra à um geralmente significado hostil, antes mesmo de nos atentarmos aos motivos que tornaram o “marginal”, uma vítima da exclusão. No entanto, o processo de marginalização diz respeito, antes, à exclusão de indivíduos que por determinados motivos não são considerados dignos de estarem inseridos no convívio social. O cárcere, as punições, as chantagens e ameaças oriundas dessas realidades constituem o cenário de vida de um número significativo de crianças e adolescentes ao adultas apesar que, redor de do mundo. terem roubadas, se encontram à sociedade adultocêntrica e Crianças- suas infâncias margem acabam de uma marginais em diferentes níveis. * Fonte: Pensa Brasil - Em busca de notícia, disponível em: https://pensabrasil.com/secretario-de- seguranca-quer-8-anos-de-cadeia-para-menorinfrator-no-brasil-imediatamente/, acesso em maio de 2018. Aline Batista Graduanda em Relações Internacionais (FMU-SP) e ex voluntária do Projeto CineGRI. Rayssa Mendes Mestre em Ciências Sociais coordenadora do Projeto CineGRI (PUC-SP) e 44 OLHAR INFANTIL ENQUANTO "FILTRO" DE ELEMENTOS EXTERNOS Muitos teóricos e literatos discutem a infância como um período único da vida. Para Drummond, a infância é período de afetuosas memórias [1]. Para alguns estudos sociológicos, as crianças são vítimas da invisibilidade “adultocêntrica”, tempo, foi infâncias e que, possível geradas vivências de graças somente partir criança uma as muito diversas das [2]. visão após identificar a cada a diferentes No cinema, a infância abarcaria uma diferente percepção de mundo, adulto uma forma absorve crianças, alheia fatos ao carregariam ao modo redor, com como pois leveza elas, o o as legado deixado pelos adultos [3]. Com isso, é importante questionar como o cinema se adapta a esse tipo de público e a essa temática. De que forma o cinema trabalha com a visão da criança em suas produções e como são os filmes direcionados ao público infantil? diferenciação Para isso, entre, caberia aqui respectivamente, uma filmes sobre infância e filmes de criança no decorrer do texto. Deve-se Um exemplo de filme em que a infância e o olhar infantil são temas centrais é La Lengua de Las Mariposas (José Luis metragem aborda Cuerda, 1999). diferentes O longa- temas, mas constitui-se, antes de tudo, como um prenúncio da Guerra Civil Espanhola (1936 – 1939). Moncho é um menino que começa a integrar a escola sob o método professor de Dom ensino humanizador Gregório. No longa, a de seu relação entre o menino e o velho senhor é explorada, o olhar curioso infantil se faz o tempo todo presente, mas é ao final da película que temos uma mostra criança, da enfrenta forma fatores como Moncho, externos - uma como a guerra, a violência, a intolerância etc. - dos quais não entende, mas que é engolfado e compelido a integrar, e os ressignifica. Mesmo não sabendo o significado da palavra “comunista”, Moncho se vê impelido a odiá-la por obrigação. ressaltar podem ser que sobre até mesmo animações como Persépolis infância, (Marjane Satrapi, 2008), animação que retrata sob o prisma Revolução infantil Iraniana de de Marjane 1979 - Satrapi que a podemos considerar um elemento externo ao qual ela está exposta -, considerada uma derrota para o imperialismo estadunidense que buscava controle sobre os poços de petróleo do Irã. Sua infância foi um período de curta paz, pois após o Iraque (fantoche dos EUA na época) declarar guerra ao Irã, instaura-se um novo regime ditatorial religioso. A animação mostra que, do dia para a noite, mulheres foram obrigadas a se esconder sob véus e viver sob grandes restrições – mas somente portanto, as mulheres. que Isso animações correspondem a um nos não permitiria dizer, necessariamente gênero de filmes estritamente direcionados à criança, pois, nesse caso, o atingido público e o é o maior “desenho” adulto é uma alvo a ser ferramenta estética para gerar no espectador uma forma de reflexão - ao contrário de animações com certo apelo comercial que não passam de uma forma de entretenimento para crianças. 45 Os filmes sobre infância expõem vivências infantis marcadas por fatores externos – muitas vezes negativos infantil dos – perante sem tais deixar (Isao Vagalumes escapar acontecimentos. Takahata, o O olhar Túmulo 1989), por exemplo, explora a vida de dois irmãos, Seita e Setsuko, em meio ao terror da Segunda Guerra Mundial. Retrata-se o Japão dos anos 1940, constantemente bombardeado e miserável, onde esses irmãos precisam lutar para sobreviver – mesmo o começo do filme indicando que ambos não serão bem-sucedidos nisso. É interessante notar como Setsuko, a irmã caçula, filtra o caos que a cerca exemplo, como quando uma Setsuko criança não o faria, por preocupa-se da mesma forma que seu irmão em relação ao prato do dia, mas prefere brincar. Mais uma vez, esta é uma animação com objetivos outros além do entretenimento. NOTAS: [1] ANDRADE, Carlos Drummond. Infância. [2] FROTA, Ana Maria Monte Coelho. Diferentes concepções da infância importância da construção. Estudos e adolescência: historicidade e pesquisa para em psicologia, Rio de Janeiro, v.7, n.1, junho de 2007. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php? 42812007000100013&lng=pt&nrm=iso>. nos filmes não é ingênuo ou irreal – os filmes mostram que a criança possui uma sensível consciência da perda e da tragédia –, mas, sim, um “filtro” de elementos externos, como falamos anteriormente nesse texto, que passam a ser ressignificados compreensão sua script=sci_arttext&pid=S1808- É importante pensar que o olhar infantil retratado listados a para infantil. A a linguagem guerra não e é compreendida em sua totalidade, por exemplo, mas, sim, transformada em algo palatável para a mente infantil. Rafaella Gobbo Graduanda em Letras (FFLCH/USP) e ex bolsista do Projeto CineGRI. Acesso em 13 abril 2018. [3] SARMENTO, Manuel J. Apud. ANDRADE, Lucimary Bernabé Pedrosa de. Educação infantil: discurso, [online]. Paulo: legislação In: Tecendo Editora e práticas os fios UNESP; São da institucionais infância. Paulo: São Cultura Acadêmica, 2010. 193 p. ISBN 978-85-7983-0853. Available from SciELO Books. Acesso em 13 de abril de 2018. 46 FONTES E REFERÊNCIAS Imagens utilizadas: Página 4 Página 20 Menina – Fonte: Freepik. Movimento estudantil contra a mercantilização da educação. Chile. 2011 - Fonte: UOL Educação. Página 6 Pulp Fiction - Fonte: The Nerd Daily. Página 21 Como estrela na terra: toda criança é especial. - Página 7 Fonte: Psicologiaastral. The Harvest — Fonte: Media Voices for Children. Corrida para lugar nenhum. (Race to Nowhere) Página Vicki Abeles. 2009. - Fonte: Wikipédia. 9 Secundaristasfechando o cruzamento da Avenida Página 22 Rebouças com a Faria Lima, nas ocupações ocorridas no final de 2015 - Fonte: The wall. - Fonte: Efemérides do éfemello. Documentário Lute Como Uma Menina. Girl rising. - Fonte:GaúchaZH. Página 11 Página 23 Logotipo usado em campanha em defesa da educação pela CONTEE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos Escritores da Liberdade- Fonte: O Norte Sociedade dos poetas mortos – Fonte: Letterboxd de Ensino) - Fonte: CONTEE. Página 24 El Página 14 beca Marfim”, no o - Fonte: Cinemarden - WordPress.com. A torre no centro de uma multidão e estudantes de estudiante seu topo isolamento comunidade externa representa da - a “Torre de academia diante da Fonte: Valley News - Shawn Braley. O líder da classe - Fonte: Filmow. Página 25 A Educação Proibida - Fonte: Projeto Cinema no Caldeirão. O Milagre de Anne Sullivan - Fonte: Clube da Página 17 Poltrona. O educador Paulo Freire, patrono da educação brasileira - Fonte: Instituto Paulo Freire. Página 26 MC Carol e Karol Conka - Fonte: Revista Capricho. Racionais MC's. - Fonte: Rede Brasil Atual. Shakira e Maluma - Fonte: Shakira Brasil. Amy winehouse - Fonte: Tenho Mais Discos Que Amigos! 47 Página 28 Membros da banda BTS - vencedores do prêmio Billboard music awards na categoria mídias sociais. 2017 - Fonte: Billboard. Página 31 Show de Truman – Fonte: Revista exame. Página 33 Homens tocando - Fonte: MA10. Página 42 Página 35 Meninos - Fonte: Notibras. Manifestação em São Paulo. 1974. A faixa exibida pelos manifestantes faz referência à letra Página 43 da música “Apesar de Você”, de Chico Buarque. Senhor e menino - Fonte: Cinepivates. Fonte: Memorial da Democracia. via twitter. Caetano Veloso sendo hostilizado pelo público após apresentar Mutantes no “É proibido Festival proibir” Internacional junto da aos Canção. 1968 - Fonte: Projeto Tropicália. Página 37 Javier (Diego Luna) e Katye (Romola Garai) desafiam a moral e os bons costumes da alta sociedade estadunidense através da salsa na Cuba de Fulgencio Batista, no filme Dirty Dancing 2: Noites de Havana (Guy Ferland). 2004. - Fonte: Cine 61 - Cinema Fora do Comum. Página 39 Beyoncé - Fonte: Bustle. Página 41 A Viagem de Chihiro e os Pecados Capitais. Fonte: Por Dentro da Tela. Elenco do 'Castelo Rá-Tim-Bum - Fonte: O Globo. Cidade de Deus - Fonte: Net interatividade. Central do Brasil – Fonte: Telecine.