COTIDIANO
ACERVO
CINEGRI
CINEMA,
GEOPOLÍTICA
RELAÇÕES
MAIO
DE
E
INTERNACIONAIS
2020
BOLETIM
COTIDIANO
ACERVO
PRODUÇÃO
APOIO
ACERVO
EDIÇÃO E DIAGRAMAÇÃO
Kelly Barbosa
REVISÃO
Larissa Santos
AUTORES
Aline Batista
Carlos Roberto
Cristiane Pereira
Daniel Goldner
Guilherme Borges
Rua do Anfiteatro, 181, Favo 7
Butantã, São Paulo/SP, 05508-060
cinegri.gestao@gmail.com
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www.cinegri.com
Larissa Santos
Rafaella Gobbo
Rayssa Mendes
Rodrigo Lima
O conteúdo não reflete necessariamente a opinião do CineGRI,
mas a dos respectivos autores.
COORDENAÇÃO
Prof. Dr. Rafael Villa
Larissa Santos
Rayssa Mendes
COMO CITAR (ABNT):
CineGRI, Boletim Cotidiano. Acervo CineGRI, São Paulo, v.1, n6, Maio de 2020.
This publication is licensed under the terms of Creative Commons Attribution-Share Alike Conditions 4.0
international “, CC BY-SA 4.0 (available at: https://creativecommons.org/wlicenses/by-sa/4.0/legalcode.de)
SUMÁRIO
05
06
08
Prefácio
Editorial
Educação e Revolução
25
41
46
Música
Infância
Fontes e Referências
05
PREFÁCIO
Olá!
Você
já
parou
para
pensar
como
a
geopolítica e as relações internacionais se
Aqui
materializam em nossa vida cotidiana?
assuntos
você
encontrará
que
alguns
permeiam
a
dos
principais
geopolítica
e
as
relações internacionais sendo debatidos através
Greenwich ou o meridiano zero, estar localizado
das imagens construídas pelo cinema, como por
na
exemplo,
Inglaterra
não
é
mera
coincidência.
Isso
é
a
geopolítica! E denominar quem está “atrasado”
drogas,
ou “adiantado” segundo “O grande relógio do
pela
mundo”
pobreza etc.
reverbera
profundamente
nas
relações
fracassada
banalização
indústria
política
de
de
identidades
cultural,
a
guerra
às
produzida
criminalização
da
internacionais. Do mesmo modo a internet com
todo
seu
centralizada
poder
pelos
econômico
Estados
e
cultural
Unidos,
tanto
é
Assim, Cotidiano foi escolhido como nosso último
que
boletim por tratar temas, como o proprio nome já
quando nos dirigimos a sites vinculados ao país
diz,
utilizamos a sigla “.com” enquanto que aos outros
nem
incorporamos a mesma conjuntamente com a do
proliferação
país, como em “.com.br”.
materialista
recorrentes
sempre
no
nosso
damos
a
dia-a-dia,
devida
agressiva
e
do
pautado
aos
quais
atenção.
A
pensamento
pela
lógica
mercadológica vem transformando a nossa vida
E
se
nós
iluminássemos
mais
essas
duas
importantes questões observando-as sob as
Acervo
CineGRI
é
a
seleção
de
textos
redigidos pelos nossos bolsistas e voluntários ao
longo
desses
4
anos
de
projeto
que
vai
exatamente nessa linha de reflexão. Todo esse
conteúdo armazenado foi dividido em 6 grandes
grupos
temáticos:
Poder;
Segurança;
humanos; Desigualdades Espaciais;
Cotidiano.
sociedade
desigualdades
em
uma
justificadas
aglomeração
pelo
de
progresso
econômico.
lentes cinematográficas, que tal?
O
em
Ele
está
organizado
tópicos
Educação
e
Revolução, Música e Infância. A ideia é que ao
ler os textos que o constitui você possa adentrar
às diversas dimensões que rondam o tema por
outro ângulo: o das telas cinematográficas.
Direitos
Identidade;
nos
Bora lá?
06
EDITORIAL
Prezado leitor,
Esse
boletim
busca
abordar
circunstâncias
distintas onde a mercantilização das pessoas e o
controle dos indesejados são vistas como a nova
condição
de
mundo.
Para
isso
partiremos
das
intensas tentativas mercantilização da educação,
passando pelo mercado fonográfico e os danos
latentes
causados
identidade
de
pela
indústria
determinados
que
povos,
cultua
a
chegando
Em “Apropriação cultural de ritmos periféricos”
[pág 33] veremos o caso do jazz americano e do
funk
diante das elites
Ele está dividido em três capítulos: “Educação e
respectivamente.
Os
e
“Infância”,
textos
capítulo nos mostram
do
primeiro
tratada como uma mercadoria
negociada,
como
passível de
veremos
nos
textos
“A
das
escolas
estaduais
em
2015
e
“Rachaduras na Torre De Marfim” [pág 13], que
discute o assunto sob a perspectiva universitária,
essa
mercantilização
ultrapassa
os
limites
da
constituição brasileira, que garante a educação
segue
Além disso, o desaparecimento de valores como
liberdade e reflexão é uma peça
expectativas
educacional,
que
consumidores
em
aplicada
temática
à
vez
de
do
abordada
chave para
desse
demanda
reforma
será
mercado
empregados
cidadãos,
ensino
em
lógica
médio.
“A
e
Essa
falha
da
educação tradicional” [pág 16].
Já as produções que tratam sobre “Música” nos
revelam
como
representam
povos
a
significados
latina
que
mesma
e
linha,
ao
significantes
são
trazer
da
encobertos
luz
os
musicalidade
pelo
estereótipo
excessivamente sexualizado.
Esses debates também percorrerem casos onde
as melodias são usadas como forma de protesto
à
ordem
vigente,
como
veremos
em
“Música
que trata das músicas populares da Venezuela e
de
Cuba,
e
“A
música
na
ditadura
militar
brasileira” [pág 35], que traz a tona às músicas
de protesto e ao movimento Tropicália diante ao
regime militar brasileiro. Porém, alguns ritmos que
também
as
através da dissociação entre
revelam temáticas consideradas “fora da curva”
como um direito universal.
atender
legitimidade
como indicador de identidades” [pág 26], texto
escola como empresa” [pág 11], que trata da
ocupação
adquiriram
uma das facetas mais
cruéis desse processo, no qual a educação, é
ser
só
esses e suas origens de luta. “O que esconde o
37]
“Música”
que
estigma de sensualidade da música latina?” [pág
até marginalização da infância.
Revolução”,
brasileiro,
tradições
colocados
musicais
à
que
margem
da
sociedade se transformam em produções feitas
para o consumo em massa e geração de lucro.
“cult”,
se
tornam
um
“independente”
serão tratados em dois
31] e [pág 39].
produto
ou
do
mercado
“representativo”,
de
que
nossos textos [pág
07
O tema “Infância”, por sua vez, retrata o domínio
exercido
pela
visão
“adultocêntrica”
da
sociedade em relação às crianças, que normaliza
a exploração infantil e as responsabiliza por sua
condição
marginal.
Em
“O
roubo
da
infância”
[pág 42] veremos que a criança é invisibilizada
quando colocada na posição de não detentora
de poder econômico e capacidade de consumir
ou
influenciar
enquanto
44]
o
“filtro”
consumo.
de
Em
“Olhar
elementos
observaremos
que
infantil
externos”
a
[pág
“filtragem”
e
“adaptação” de fatores externos e conflitantes a
compreensão
levados
em
infantil,
conta,
pensamento
como
pois
puras,
a
são
guerra,
não
são
manifestações
logo,
sem
de
projeções
neoliberais.
Sendo
assim,
aqueles
que
se
manifestam
contrariamente a esse “plano de negócios” que
pesquisadores
como
Christian
Laval
e
Pierre
Dardot chamaram de “Pós-democracia” tem sua
essência humana retirada da mesma forma. A
negligência do estado ao se afastar da realidade
dos estudantes e se aproximar dos empresários,
conjuntamente com o olhar pré-conceituoso do
adulto
sobre
a
infância,
refletem
um
país
de
futuro incerto. O mesmo vale para a indústria da
cultura, que visa ser norteadora de expectativas
ideológicas e políticas de vida a serem seguidas.
relações
de
dominação.
cotidianidade
nada
geralmente
são
do
poder
impede
e
as
onde
vias
margem
das
residências
do
Brasil
não
possuíam
De acordo com o filósofo e sociólogo francês
Henri Lefebvre, é necessário que o cotidiano se
liberte
de
funciona
seu
no
unicamente
características
classes
papel
para
impostas
dominantes
e
capitalismo,
à
no
vida
qual
onde
reproduzir
coletiva
a
as
pelas
tradição
transforma em formas de produzir e perpetuar
se
se
encontra
para
a
a
barreira
própria
que
expressão
e
a
muitas
interpretações
e
temas.
Até
que ponto essa aproximação entre poder político
e
poder
econômico
realiza
mutações
institucionais, como no caso do poder judiciário,
que
na
instrumento
era
de
"pós-democrática"
contenção
dos
se
torna
impasses
ao
projeto de expansão do capital, que geram a
quebra
da
garantia
de
direitos?
A
partir
de
agora você é nosso convidado para trocar uma
ideia a respeito de algumas situações onde as
ações cênicas nos convidam ao debate.
transmitidas
acesso a esse tipo de transmissão.
a
depósito
Tá vendo? Essa é mais uma discussão que dá
e que após algum tempo desaparecem, são um
2,8%
maneira,
um
autonomia do ser.
incansavelmente por canais abertos de televisão
exemplo disso. Segundo o IBGE, em 2018 apenas
é
subterrâneo no qual se mantém as convenções
Os “hits do verão”, músicas de fácil assimilação
que
Dessa
mais
Boa leitura!
EDUCAÇÃO
E
REVOLUÇÃO
09
ENTRE OS MUROS- POR UMA EDUCAÇÃO
ALÉM DOS DISCURSOS
Ainda
que
educação
frequentemente
pensemos
em
como
central
ser
escolar
ponto
a
discutido, a educação não se limita aos muros da
escola.
Enquanto
importante
potenciais
A educação é provavelmente um dos temas mais
falados
ainda
em
que,
toda
na
parte,
maioria
em
diferentes
das
vezes,
lugares,
pareça
ser
pouco compreendido. O que significa falar em
educação? Falar em educação nos traz à mente
inúmeras
ideias
das
quais,
provavelmente,
as
primeiras delas têm relação com a vida escolar.
Mas
educação
e
escola,
nem
de
longe,
são
sinônimos. E é com essa problematização que o
tema
Educação
questões
de
e
algumas
educadoras
e
Revolução
enriquecer
das
e
muitas
os
propõe
levantar
debates
acerca
pautas
educativas.
educacionais,
Partindo,
antes
mais nada, do que se entende por educação.
de
comunidades
pensarmos
e
nossos
educadores.
Se
a
sociedade,
papéis
escola,
é
como
enquanto
instituição reflete valores e configurações sociais,
a
recíproca
é
socialmente
que
verdadeira
vivemos
adquirimos
permitido,
na
também
na
medida
reflexos
escola
na
das
e,
em
que
experiências
quando
universidade.
nos
O
é
filme
francês Entre os Muros da Escola (Entre le Murs,
2008, dir: Laurent Cantet) é um belíssimo filme
que nos traz um pouco da realidade das escolas
nos subúrbios parisienses, algo não muito distante
do que se passa nas periferias brasileiras.
O filme, a partir do olhar de um professor em
uma
escola
com
no
subúrbio
estudantes
contextos
sociais,
de
Paris.
Trabalhando
de
diferentes
vindos
culturais,
religiosos,
François
[1] se vê perante um dilema entre, por um lado,
seu
papel
figura
certo
de
de
professor,
simbolicamente
autoridade
distanciamento,
e
que
e,
uma
carrega
por
outro,
o
indivíduo que busca uma aproximação dos seus
alunos
a
partir
do
compartilhamento
de
seus
próprios dramas e problemas pessoais.
A dinâmica das aulas e do cotidiano na escola é
totalmente
impactada
pelo
que
os
estudantes
vivem fora dela, se mostrando uma extensão dos
problemas
de
e
enfrentar
conflitos.
ali
Além
tantas
disso,
outras
eles
têm
questões
relacionadas às suas diferenças, composta por
realidades
heterogêneas,
na
contramão
da
instituição-escola que, boa parte das vezes, atua
como instrumento uniformizador e disciplinador,
acima de qualquer individualidade.
10
Se
Entre
Muros
nos
traz
um
pouco
do
que
significa a sociedade dentro e fora dos muros da
escola,
nos
propondo
uma
reflexão
acerca
de
tais questões, um outro filme bastante lembrado
que aborda outro aspecto importante, o papel do
professor,
é
Sociedade
dos
Poetas
Mortos (1989, dir: Peter Weir). A produção traz
uma
narrativa
transformadora
que
do
retrata
professor
-
a
relação
John
Keating,
interpretado por Robin Willians - com seus alunos,
É
encantando
Apesar
propomos a tratar desse tema tão belo e tão
disso, uma vez mais a impressão que nos passa é
complexo - e por vezes tão genérico - que é a
a do professor-herói, o único ator com o poder e
educação. Acima de tudo, visando a educação
a responsabilidade de transformar vidas.
de
e
comovendo
gerações.
partindo
desses
potencial
questionamentos
verdadeiramente
que
o
nos
revolucionário,
empoderador. E, para tanto, buscando superar o
Embora a figura de professores possa e deva ser
discurso vazio que fala da educação como algo
inspiradora, a questão da educação, sobretudo
metafísico, além de nós. A educação somos nós,
em seu ambiente escolar, não deve ser restringir
está em nós. E ela precisa de nós.
a um único personagem, cuja realidade, dentro
do sistema educacional público brasileiro, é das
[1]
mais degradantes. Ser um professor demanda,
originou o filme, e foi professor. Atuou no filme
antes
interpretando
de
qualquer
recursos
materiais,
trabalho
que
profissão,
característica
ambiente
respeitem
podendo
ser
a
e
vocacional,
condições
condição
reconhecida
de
de
François
Bégaudeau
o
é
autor
personagem
como
tal
coordenadora do Projeto CineGRI.
vemos
o
professor
antes,
preferimos
como
um
acreditar
vocacionados e heróis.
Estado
-
sequer
profissional.
que
os
bons
principal,
ele
Rayssa Mendes
-
políticos,
que
sua
Mestranda
atores
livro,
mesmo, um professor.
igual a qualquer outra. Na maioria das vezes, nós
sociedade,
do
Mas,
são
em
Ciências
Sociais
(PUC/SP)
e
11
A ESCOLA COMO EMPRESA
A recente efervescência das ocupações nas
escolas
após
o
anúncio
do
governador
Alckmin sobre o fechamento de 94 unidades
estaduais,
que
levou
secundaristas
às
em
pedagógicas
ruas
prol
realmente
considerada
por
alguns
amadurecimento
das
incontáveis
de
medidas
eficientes,
é
especialistas
o
Jornadas
de
Junho,
Sob
uma
temática
educação
e
duplamente
protagonismo
articulada
feminino
–
–,
o
retomando a premissa da desobediência civil
documentário
e pacífica como peça-chave no pedido de
trata da luta em defesa da educação sublinhada
diálogo
pela
dos
argumentam
estudantes.
que,
consequente
ao
Estes
fechar
superlotação
últimos
escolas,
das
há
a
mesmas,
precarizando, dessa forma, a qualidade do
ensino.
Outro
secundaristas
ressaltar
que,
argumento
defendido
trata
importância
da
segundo
as
pelos
estipulações
em
do
Lute
como
perspectiva
secundaristas.
Em
“como
uma
fazer
uma
das
meio
menina!
jovens
a
mulheres
dúvidas
manifestação”
(2016)
quanto
ou
à
“como
ocupar uma escola”, o documentário compõe um
quadro no qual as estudantes agem, de maneira
autônoma,
Diversas
contra
a
estudantes
reorganização
são
entrevistadas
escolar.
e
temas
importantes relacionados à instituição escola e
CNE (Conselho Nacional de Educação), uma
seu funcionamento surgem ao longo da película,
sala de aula não pode ultrapassar um total
como, por exemplo,
de trinta estudantes – fato esse descartado
que a escola carrega em sua própria arquitetura
pela
ou até mesmo a lógica eurocêntrica dos temas
medida
de
Alckmin,
onde
escolas
atingem mais de cinquenta alunos por sala.
Visto
desse
isso,
é
tipo
neoliberal
possível
de
cujo
depreender
desmonte
objetivo
um
primeiro
a
partir
projeto
visa
a
a imagem quase carcerária
abordados em sala. Contudo, a fala de uma das
estudantes
processo
em
de
particular
ilustra
mercantilização
muito
do
bem
ensino
o
ao
afirmar que a educação é pensada como uma
empresa seguindo preceitos de lucro e prejuízo.
mercantilização da educação.
Sob
esse
aspecto,
consonâncias
é
da
possível
declaração
observar
certas
objetiva
da
estudante com os estudos do sociólogo Christian
Laval [1], pois as inquietações do mesmo dizem
respeito ao avanço do pensamento utilitarista e
mercantilista
encontram
no
ecos
sistema
na
fala
de
da
educação,
estudante
e
em
questão. A lógica do mercado invade espaços
cujo limite deveria ser intransponível; a educação
como direito social não pertence (ou não deveria
pertencer)
cidadã
cliente.
ao
não
plano
deveria
do
mercado,
ceder
lugar
a
relação-
à
relação-
12
Segundo
Laval,
princípios
de
a
escola
uma
de
hoje
sociedade
que
segue
se
os
adequa
cada vez mais ao mercado e, consequentemente,
fortalece o empresariado da educação. Logo, a
partir
desse
tipo
basicamente,
em
de
relação
“aqueles
que
que
consiste,
possuem
meios
financeiros terão uma educação de qualidade,
caso contrário, não”, surge então um instrumento
de
“reprodução
vigentes”,
ainda
pois
mais
das
a
desigualdades
segregação
abismal
–
ou
social
seja,
a
sociais
torna-se
classe
média
São evidentes os inúmeros projetos anunciados
pelas “instâncias maiores” que têm como base o
debanda para o ensino particular, enquanto a
sucateamento
classe
evidente a luta que se trava diante de tantos
trabalhadora
depende
das
gratuidades
no ensino.
direitos
do
ensino,
cortados.
menina!
mas
é
Lute
maximiza
ainda
mais
como
o
uma
contra-ataque,
Outro grande exemplo da cartada mercantilista
protagonizado
sobre a educação é o ensino técnico atrelado ao
medidas antipedagógicas do Estado, revelando
ensino médio, pois o que isso significa se não, em
a
grande
que
medida,
uma
investida
neoliberal
do
Estado no que diz respeito à formação contínua
atitude
pelas
jovens
desobediente
defendem
a
e
secundaristas
autônoma
educação
às
daquelas
pública
de
qualidade.
de uma classe operária que seja mais produtiva e
menos reflexiva? E que, por sua vez, leva a um
[1]
desmonte
livro
da
formação
e
à
precarização
das
Christian
“A
Laval,
sociólogo
escola
não
é
francês
uma
autor
do
empresa:
o
próprias relações trabalhistas. Vide Michel Temer
neoliberalismo em ataque ao ensino público”. Em
e
e
entrevista
o
Laval
discute
pretexto de uma “flexibilidade do currículo”, mas
respeito
de
o que é, na verdade, uma reforma de caráter
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folh
limitador que descarta matérias essenciais para
a/sinapse/ult1063u463.shtml,
a formação de um indivíduo crítico e autônomo –
10/09/2017.
como as matérias de filosofia, sociologia, história
[2] Carlos Roberto Jamil Cury, especialista em
etc. É o que reforça, por exemplo, Carlos Roberto
legislação
Jamil
ao
sua
proposta
instrumentalização
Cury
[2]
reformulação
“você
está
quem
terá
do
quanto
do
ao
ensino
afirmar
ensino
cortando
a
formação
formação intelectual”.
à
médio,
que,
médio
maçã
reforma
com
público,
pelo
operária
sob
e
essa
agora
meio,
quem
entre
terá
El
concedida
à
educacional.
País,
anunciada
Cury
pelo
Folha
de
S.
Paulo,
a
seu
acessado
Em
discute
governo
livro.
declaração
a
Medida
de
em
cedida
Provisória
Michel
Temer.
Disponível
em: https://brasil.elpais.com/brasil/2016/12/14/
politica/1481746019_681948.html,
acessado
em
13/09/2017.
Rafaella Gobbo
Graduanda em Letras (FFLCH/USP) e ex bolsista
do Projeto CineGRI.
13
RACHADURAS NA TORRE DE MARFIM
A
expressão
a
associada
a
pejorativa,
pois
enquanto
“Torre
Marfim”
universidades
indica
instituição,
comunidade
de
tem
que
a
conotação
Universidade,
tende
a
ser
Essa
é
uma
externa.
quando
isolada
da
acusação
comum, não só no Brasil, mas em outras partes
do mundo, resgatada sempre que a comunidade
universitária
é
confrontada
com
situações
Logo
no
início,
as
cenas
que
retratam
os
de
primeiros dias de calouros em universidades nos
difícil solução. Afinal, universidades têm alguma
conecta com as expectativas que esses alunos
função ou responsabilidade social?
levam
cotidianas
ou
problemas
socioeconômicos
consigo.
vendida
Existem
cada
diversas
uma
respostas
delas
expressa
a
essa
pergunta
diferentes
e
opiniões
social
como
e
A
Universidade
uma
ferramenta
realização
educação
e
sempre
de
mobilidade
profissional,
crescimento
foi
fonte
pessoal
que
de
vale
sobre como o ensino superior deve ser financiado
“qualquer preço”. A produção nos convence que
e regulado. Assumir uma posição nesse debate
essa
pode ser difícil para quem está afastado desse
estudantes
tipo de ambiente, pois a comunidade acadêmica
chegando a mais de 100 mil dólares. O choque
tende a ser isolada em si mesma. O cinema em
dessa realidade vem logo após o fim do curso,
geral,
nos
quando
que
conseguem empregos.
especialmente
oferece
uma
o
perspectiva
Hollywoodiano,
limitada,
em
percepção
a
influenciou
assumirem
muitos
diversas
dívidas
desses
famílias
e
impagáveis,
graduados
não
universidades são somente cenário de histórias
de gênios e festas alucinantes. Os exemplos são
“Torre
de
abundantes: Uma Mente Brilhante (Ron Howard,
sobre
peculiaridades
2002); Gênio Indomável (Gus Van Sant, 1998); A
Estados
rede
prestígio
social
(David
Fincher,
2010);
A
Teoria
de
Marfim”
Unidos,
e
se
com
debruça
do
principalmente
ensino
superior
Universidades
caracterizadas
pelo
nos
disputando
financiamento
Tudo (Marsh, 2014); American Pie 2 (J.B. Rogers,
particular não lucrativo. A produção é também
2001); Vizinhos (Nicholas Stoller, 2014).
ambiciosa na escolha de pautas, abordando uma
série
Há
exceções,
no
entanto,
tal
como
o
de
questões
além
da
dívida
estudantil.
Nenhuma solução clara é oferecida, o que pode
documentário Ivory Tower (Andrew Rossi, 2014),
incomodar
a
cumpre a função de instigar o público a refletir,
“Torre
de
Marfim”
em
português,
que
se
pois
valor não mensurável da educação superior nos
enfrentados em outros países.
país atingiu a marca de 1 trilhão de dólares, valor
superior
às
crédito
no
dívidas
preocupante,
efetuadas
período.
Diante
professores
e
com
cartão
desse
de
número
alunos
são
entrevistados a fim de discutir o que essa dívida
significa para a educação.
de
seus
espectadores,
esforça para questionar o custo financeiro e o
Estados Unidos. Em 2013, o débito estudantil no
alguns
alguns
dilemas
são
mas
ainda
similares
aos
14
A
disputa
entre
alunos
e
administradores
da
faculdade nova-iorquina Cooper Union em torno
da
gratuidade
do
ensino
é
semelhante
às
discussões que ocorrem no Brasil e no Chile. No
Chile,
Michelle
Bachelet
chegou
ao
cargo
presidencial em 2014 com a promessa de ensino
superior
gratuito,
onde
instituições
privadas
predominam desde o regime militar nos anos 80
[2]. Os estudantes chilenos pagam mensalidades
muito caras, se comparadas com preços relativos
em
outros
países,
realidade
que
gera
muita
chegaram a representar 71% da receita no nível
insatisfação, expressa nos protestos estudantis já
da
por volta de 1980, em 2006 e em 2011.
reduziu os custos por aluno implantando extensa
graduação
rede
de
aulas
No Brasil, a discussão em torno do ensino superior
Durante
gratuito voltou à tona com a crise econômica
cortes
que
financiamento
afeta
públicas.
o
orçamento
Defensores
de
do
universidades
pagamento
de
mensalidades questionam a responsabilidade do
poder
público
de
financiar
a
formação
de
estudantes que usariam o diploma em benefício
próprio. As semelhanças não param por aí, outro
exemplo está na crescente mercantilização do
ensino denunciada pelo documentário, em que
estudantes
passam
consumidores
concentra
e
em
a
a
ser
tratados
finalidade
reduzir
das
custos.
A
como
escolas
indústria
se
de
franquias de educação e empréstimos estudantis
ganhou
bastante
graças
à
governamental.
espaço
nos
Estados
redução
do
Fundos
privados
Unidos
financiamento
aproveitam
o
vácuo deixado pelo poder público para oferecer
empréstimos com juros exorbitantes.
O financiamento estudantil público no Brasil é
administrado pelo FIES (Fundo de Financiamento
Estudantil), que entra em crise por volta de 2010,
quando foi expandido inclusive para alunos sem
condições
privadas
de
de
pagar
[3].
educação
oportunidade
e
Algumas
souberam
aumentaram
empresas
aproveitar
bastante
os
a
seus
lucros: a Estácio ficou com um aumento de 565%
na
receita,
a
Anima
de
819%
e
a
Kroton
com
assustadores 22.130% [4]. Os recursos do Fies
o
no
da
Kroton,
EAD
governo
Fies,
financiamento
nesse mercado.
que
(Ensino
Temer,
no
público
a
privado,
as
satisfeita
distância)
foram
entanto,
abre
não
a
anunciados
saída
portas
bastante
[5].
para
do
o
interessado
15
Nas
discussões
Estados
sobre
Unidos,
o
Chile
ensino
e
superior
Brasil
vemos
nos
uma
tendência de mercantilização da educação que
onera
principalmente
o
estudante.
A
possibilidade de adquirir uma dívida impagável, a
incerteza em torno da qualidade do ensino e da
recepção
no
mercado
de
trabalho
tornam
as
decisões e o planejamento do futuro ainda mais
angustiantes
[6].
De
precisas
ou
simples,
formação
e
emprego,
start-ups,
estão
fato,
não
mesmo
como
carregadas
há
soluções
alternativas
cursos
de
de
técnicos
incertezas.
e
[1] BRALEY, Shawn. Column: Climb Down From
A
the
sociedade se vê obrigada a questionar qual é o
papel
da
educação
universitária
e
se
está
Ivory
Tower.
Acessado
em:
Valley
16
News.
set/2017.
19
nov/2016.
Disponível
em:
<http://www.vnews.com/Sunday-Perspectives-
disposta a pagar pelo seu custo. Essa resposta só
Balmer-6209232>.
pode
comunidade
[2] MONTES, Rocío. Ensino universitário gratuito
universitária sair da sua “Torre de Marfim” e se
no Chile encalha. El país. 18 jul/2016. Acessado
aproximar
em:
ser
alcançada
tanto
dos
se
a
alunos
quanto
da
12
set/2017.
Disponível
em:
comunidade externa a fim de demonstrar o seu
<https://brasil.elpais.com/brasil/2016/07/16/int
valor.
ernacional/1468621018_314522.html>.
[3] SALDANÃ, Paulo. Inadimplência aumenta, e
Cristiane Pereira
mais de metade atrasa pagamento do Fies. Folha
Graduanda em Relações Internacionais (IRI-USP)
de
e ex redatora do Projeto CineGRI.
set/2017.
São
Paulo.
29
jan/2017.
Acessado
em
Disponível
12
em:
<http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2017/
01/1853932-inadimplencia-aumenta-e-mais-demetade-atrasa-pagamento-do-fies.shtml>.
[4]
OS
SINAS
jun/2017.
em:
DO
Acessado
NOVO
em
15
FIES.
Exame.
set/2017.
23
Disponível
<http://exame.abril.com.br/mercados/os-
sinais-do-novo-fies/>.
[5]
GREG
NEWS.
Universidade.
HBO
Brasil.
25
ago/2017. Acessado em: 14 set/2017. Disponível
em:
<https://www.youtube.com/watch?
v=ehwontIab0A>.
[6] LE, Diana. ‘Ivory Tower’ review: documentary
challenges
education
Stanford
set/2017.
the
effectiveness
without
Daily.
a
course
Dez/2014.
of
of
higher
Acessado
Disponível
level
action.
The
em:
15
em:
<http://www.stanforddaily.com/2014/12/01/ivor
y-tower-challenges-the-effectiveness-of-higherlevel-education-without-a-course-of-action/>
16
A FALHA DA EDUCAÇÃO TRADICIONAL
A
educação
encontra
na
civilização
estagnada
em
ocidental
um
se
paradigma
único. Tudo que foge à forma tradicional do
modelo
escolar,
método
válido
é
de
desconsiderado
aprendizado.
O
como
maior
problema dentro desse sistema educacional
sua composição por aulas expositivas onde o
aluno é um mero receptor de
informação, e
Engana-se, porém, quem pensa que o fato de os
sua função única é memorizar aquilo que é
filhos de Ben estarem afastados da escola
os
dito
distancia
as
pelos
professores,
agindo
de
forma
intelectualmente
de
crianças
que
extremamente passiva diante do que lhe é
frequentam.
ensinado.
o
momentos do filme, Ben é confrontado quanto ao
filme Capitão Fantástico (Matt Ross, 2016)
modo como cria seus filhos por sua irmã, Harper,
Dentro
desse
contexto
social,
apresenta Ben, um homem que cria seus seis
filhos de modo não convencional, afastando
a si mesmo e a seus filhos radicalmente da
vivência
meio
a
e
do
caos
natureza
e
urbano
para
ensiná-los
viver
de
em
maneira
Muito
pelo
contrário:
em
um
dos
e o marido dela. Em meio à discussão, ouvem-se
frases
como
"Eles
precisam
de
estrutura,
estabilidade, estudar em uma escola de verdade"
e "eles são crianças, precisam ir para a escola,
aprender sobre o mundo". Nesse conflito vemos a
imagem
da
instituição
escola
diante
do
senso
alternativa ao método comum nas escolas.
comum, considerada como único local de acesso
Em
crianças
aos conhecimentos formais. Diante disso, Ben faz
desenvolvem conhecimentos diferentes, não
uma comparação entre sua filha Zaja, de 8 anos
considerados
e
meio
esse
a
esse
pelo
cenário,
modelo
as
clássico
de
educação, uma vez que a formação à qual
estão
submetidas
envolve
contato
com
a
natureza e com seus próprios corpos, sendo
uma educação literalmente integral.
os
filhos
de
Harper,
adolescentes
que
frequentam desde crianças a escola formal: ele
pergunta
a
ambos
o
cidadãos
-
direitos
que
básicos
são
direitos
dos
mencionados
na
constituição estadunidense. Diante da pergunta,
seus sobrinhos respondem de forma rasa e geral,
com
de
pouquíssima
imediato
constituição
profundidade,
recita
de
a
cor.
enquanto
primeira
Mesmo
Zaja
emenda
com
a
da
resposta
exata da filha, Ben não se dá por satisfeito: Ele
diz que não pediu que ela "regurgitasse emendas
decoradas" e pede para que ela responda com
suas próprias palavras. Zaja então começa uma
reflexão completamente inesperada para alguém
de
sua
idade,
que
envolve
desde
um
conhecimento sobre conceitos de liberdade de
expressão
e
comparação
direitos
em
nível
trabalhistas
internacional,
falta desses direitos na China.
até
uma
citando
a
17
Essa diferença na capacidade de resposta das
crianças se dá pois, em função do método que
Ben utiliza para educar seus filhos. Ele lança mão
de um elemento que falta à escola tradicional: a
estimulação da independência e capacidade de
reflexão sobre aquilo que é aprendido. A falta de
reflexão
sobre
geralmente
se
a
informação
pauta
na
adquirida,
simples
que
memorização,
torna o processo de aprendizagem e construção
do conhecimento algo falho e deficiente. Essa
característica é muito criticada por Paulo Freire,
filósofo
brasileiro
que
afirma
que
“[...]
o
conhecimento é processo que implica na açãoreflexão do homem sobre o mundo”. (2003, p.79).
Ou
seja,
construído
o
conhecimento
pela
reflexão
e
é
um
ação
processo,
do
é
indivíduo
sobre o mundo no qual este se insere, e é nesse
ponto que vemos a diferença entre o modo como
Ben
ensinou
seus
filhos
e
como
a
escola
tradicional os teria ensinado. O maior defeito do
ensino clássico está na falta de estímulo à qual
os estudantes são submetidos no sentido de, por
um lado refletir sobre o que fazem e por outro
questionar o que lhes é ensinado, fato que forma
adultos
facilmente
influenciando
na
manipuláveis
composição
e
superficiais,
social
como
um
todo.
Carlos Roberto Garcia
Graduando em Ciências Sociais (FFLCH - USP)
e x bolsista do Projeto CineGRI.
20
A
LUTA
CHILENA
CONTRA
A
HERANÇA
DE
PINOCHET
Um caso emblemático e marcante na história da
luta dos movimentos estudantis ocorre no Chile,
sobretudo
a
partir
do
período
ditatorial
(1973-
1990) de Augusto Pinochet. No período anterior
ao
golpe,
60%
do
sistema
educacional
era
público e considerava-se que a educação era um
dos
setores
que
deveria
ser
financiado
e
administrado pelo Estado, sendo assim um direito
social de todos os cidadãos chilenos. Porém, no
início dos anos 80, com o objetivo que introduzir
uma
reforma
neoliberal
ferramenta
para
e
utilizá-la
dominação
como
e
uma
disciplina,
Pinochet aprovou leis e uma nova constituição
que
feriram
diretamente
o
ensino
público,
gratuito e universal que a sociedade almejava. A
partir deste momento se iniciou um sucateamento
do ensino público e a educação deixou de ser um
direito social e tornou-se mercadoria, a partir da
privatização
de
educacionais,
principais
o
quase
lucro
todos
os
passou
objetivos
a
segmentos
ser
desse
um
dos
setor.
Um
documentário que aborda as mudanças ocorridas
na
década
Educação
de
de
80
no
Chile
Pinochet”
se
(2013),
chama
“A
dirigido
por
Daniel Piassa Giovanaz. Nele é retratada a real
intenção
das
mudanças
promovidas
para
transformar o modelo de educação em um setor
econômico
lucrativo.
A
partir
desse
momento,
começam a se articular movimentos estudantis
contra
as
educação,
medidas
em
de
busca
do
mercantilização
que
já
havia
da
sido
conquistado anteriormente ao período militar. O
auge desses movimentos teve início já nos anos
80, com reações imediatas e radicais contra a
postura social e política de Pinochet.
A
questão
articulado
é
na
que
o
década
movimento
de
80
não
estudantil
alcançou
os
objetivos de reestruturar o setor educacional do
país. Porém, a contínua segregação social – de
um sistema favorecia aqueles com maior poder
aquisitivo -, junto ao sucateamento da educação
pública no país, fez com que um novo movimento
estudantil
liderado
surgisse
pelos
no
ano
estudantes
de
2006,
agora
secundaristas.
Muito
bem retratado no documentário “A rebelião dos
pinguins”
–
nome
estudantes
dado
cujos
ao
movimento
uniformes
os
dos
faziam
assemelhar-se a pinguins –, a revolução tomou
uma
proporção
milhares
90%
da
de
gigantesca,
estudantes
população,
e
às
com
ruas,
a
saída
apoiados
posteriormente
de
por
com
a
ocupação das escolas estaduais [1]. Nos anos de
2011
e
2012,
novos
movimentos
estudantis
organizados majoritariamente por universitários e
secundaristas
ocorreram
mobilização nacional.
com
uma
grande
21
O modelo de educação imposta por Pinochet se
mantêm até os dias atuais, entretanto, é possível
considerar que a mobilização estudantil tem sido
uma grande conquista no campo formativo de
indivíduos críticos. Os debates, questionamentos
e articulações acerca dos direitos sociais fazem
parte da essência dos movimentos estudantis que
luta por uma educação pública, gratuita e de
qualidade
que
não
tenha
em
seus
objetivos
a
lucratividade, mas sim a priorização do público
sobre o privado.
[1]
Dados
obtidos
no
próprio
documentário
“A
rebelião dos pinguins”.
Rodrigo Lima
Graduando
em
História
(FFLCH
bolsista do Projeto CineGRI.
USP)
e
ex
22
EDUCAÇÃO E REVOLUÇÃO #TOP10
O
nosso
##TOP10
produções
temática
compilará
cinematográficas
Educação
abordagens,
a
e
partir
uma
que
Revolução
de
uma
seleção
envolvem
em
de
a
diversas
reflexão
crítica
sobre os contextos educacionais de estudantes e
educadores ao redor do mundo.
1 - COMO ESTRELA NA TERRA: TODA CRIANÇA
2
-
CORRIDA
PARA
LUGAR
NENHUM(Race
to
É ESPECIAL (Aamir Khan, 2017)
Nowhere, Vicki Abeles, 2009)
A
essência
do
documentário
transcreve
uma
crítica à cultura da competitividade e da alta
performance
O
filme
crianças
retrata
e
a
pressão
adolescentes
psicológica
sofrem
ao
na
qual
redor
do
mundo, ao não se enquadrarem em exigências
que
determinam
um
padrão
"nota
10".
Ichaan
Awasthi, uma criança indiana de nove anos de
idade
que
não
escrevia
e
nem
lia
satisfatoriamente bem; usava a imaginação para
criar e aprender, metodologia
que não constava
nas práticas escolares e nem como um modelo
aplicável ao currículo escolar indiano.
dos
Estados
presente
Unidos.
no
O
modelo
filme
educacional
mostra
as
consequências da pressão no ambiente escolar,
assim como na conduta familiar, caracterizada
por grandes expectativas sobre o sucesso futuro
dos
adolescentes,exigências
que
traumas psicológicos irreversíveis.
implicam
21
3 - THE WALL(Alan Parker, 1982)
4 - GIRL RISING(Richard Robbins, 2013)
Estimulando o debate sobre o ensino conteudista,
o documentário critica a ausência da relação e
presença social no dia a dia dos alunos. O filme
expressa
quanto
à
também,
certo
opressão
muitas
descontentamento
vezes
exercida
por
educadores autoritários.
Esse
documentário
meninas,
em
apresenta
diversas
partes
a
luta
do
de
nove
mundo,
pelo
direito à educação e inclusão social. Em países
como
Índia,
Etiópia,
Haiti
e
Afeganistão,
as
garotas entrevistadas, com idades entre 7 e 16
anos
descrevem
encontradas
na
comunidades,
milhões
de
as
complicações
escola
em
ambientando
meninas
mundo
suas
o
e
barreiras
culturas
cenário
afora,
de
tornando
e
66
a
inserção feminina na educação, paralelamente à
extinção da pobreza, sua principal pauta de luta.
22
5
-
ESCRITORES
DA
LIBERDADE
(Freedom
Writer, Richard LaGravenese, 2007)
6 - SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS (Dead
Poets Society, Peter Weir, 1989)
Ocupando
lugar
no
Top
10,
essa
adaptação
cinematográfica é baseada numa história real,
publicada em livro homônimo no ano de 1999. Em
1994, na sala 203 num colégio em Long Beach,
Califórnia,
enfrenta
a
nova
sua
professora
primeira
Erin
classe
Gruwell,
de
alunos,
estereotipados como adolescentes problemáticos
e
“casos
perdidos”.
cambojanos
como
e
jovens
Afro-americanos,
vietnamitas
que
compõem
cresceram
em
latinos,
a
classe,
A obra cinematográfica conta a história de um
vizinhanças
professor de poesia, chamado John Keating, que
agressivas e participam de gangues de rua para
lecionava
sobrevivência ou identificação. Lidando com essa
preparatória para jovens rapazes, na qual valores
adversidade,
sua
conservadores e tradicionais eram traduzidos por
literatura
às
quatro grandes pilares: tradição, honra, disciplina
alunos,
os
e
metodologia
experiências
a
e
professora
o
ensino
vivenciadas
da
adéqua
pelos
na
excelência.
Academia
O
filme
Welton,
conta
a
uma
história
escola
de
um
incentivando a escreverem sua própria história e
professor que inspira seus alunos a alcançarem
a
desejos e paixões individuais, com o objetivo de
acreditarem
possibilidades.
em
recomeços
e
novas
tornarem-se extraordinários.
23
7
-
O
ESTUDANTE
(El
Estudiante,
Roberto
Girault, 2009)
8 - O LÍDER DA CLASSE (Front of the Class,
Peter Werner, 2008)
O discente tem 60 anos, seu nome é Chano, e ao
se inscrever para cursar licenciatura em literatura
na
faculdade
passa
a
lidar
com
jovens,
se
alocando a um universo do qual nunca fez parte.
Se baseando em Dom Quixote, o aluno enfrenta
as
barreiras
da
indiferença,
criando
laços
e
provando que a educação não tem limites de
idade quando se há crença, comprometimento e
dedicação.
Com enfoque nos desafios e nas complicações
referentes ao papel do educador, o filme exibe a
história de um garoto que, diagnosticado com a
síndrome
de
Tourette,
supera
discriminações
familiares e acadêmicas para a concretização
do sonho de tornar-se um professor.
24
9
-
A
EDUCAÇÃO
PROIBIDA(German
Doin,
2012)
10
-
O
MILAGRE
DE
ANNE
SULLIVAN
(Arthur
Penn, 1962)
O
documentário
educação
através
educacionais
critica
da
presentes
o
modelo
observação
em
mais
atual
de
de
de
modelos
10
países,
trazendo ao debate diferentes circunstâncias de
reestruturações educacionais.
Baseada
conta
Anne
a
em
uma
trajetória
Sullivan,
incansavelmente
história
do
ao
uma
real,
método
lecionar
aluna
a
adaptação
educacional
e
de
auxiliar
portadora
de
deficiência auditiva e visual, com a alfabetização
e compreensão do mundo que a cerca.
Aline Batista
Graduanda em Relações Internacionais (FMU), e
ex voluntária do Projeto CineGRI.
MÚSICA
26
MÚSICA COMO INDICADOR DE IDENTIDADES
Constante na cinematografia, o uso da música
não se limita à composição de uma trilha sonora.
Na
linguagem
audiovisual,
as
melodias
atuam
como base para uma sequência de imagens ao
apoiar o contexto da cena atribuindo expressão
e
sentimento,
elementos
decodificada
pelo
pretendemos
da
mensagem
telespectador.
ultrapassar
o
a
Assim,
ser
aqui
reconhecimento
da
importância da melodia na linguagem técnica do
cinema, a fim de compreendê-la como produto
cultural,
indicador
de
identidades
e
como
um
fenômeno social de expressão comum, capaz de
transpor
fronteiras.
Tal
como
o
cinema,
a
fotografia e a literatura, a música corresponde à
manifestação
de
uma
arte
que
exterioriza
aspectos universais e humanos através do som,
com
a
organização
melodias
prontas
interpretadas.
das
suas
de
ideias
para
entre
serem
Semelhantemente
definições,
a
letras
e
ouvidas
à
e
diversidade
linguagem
musical
é
intrínseca aos que a utilizam e única para cada
um que decodifica sua mensagem. Além de estar
inserida
em
corresponde
um
à
representação.
um
A
compreendida
identidades,
processo
social,
instrumento
prática
como
de
música
expressão
musical
um
assim
a
pode
e
ser
indicador
de
revela
o
como
documentário Tambores de Água: Um encontro
(Clarissa
ancestral
Duque,2008).
A
obra
documenta a procura pelas origens da música
popular
venezuelana
africanas
uma
nessas
reflexão
e
o
melodias,
quanto
a
encontro
o
que
de
bases
proporciona
formação
de
uma
identidade pela união de duas culturas. O longametragem
continentes,
aborda
o
africano
encontro
e
desses
dois
latino-americano,
e
apresenta as bases históricas que possibilitaram
essa junção de costumes por meio da música.
O
ato
de
aspectos
musicalizar
da
pode
realidade
compositores,
revelar
vivenciada
possibilitando
uma
ainda
por
seus
compreensão
ritmada das práticas culturais e tradicionais de
um
determinado
grupo
social
em
determinado
período histórico. Em síntese, a música consegue
marcar
períodos,
necessidades
documentário
e
noticiando
as
Buena
com
realizações
Vista
ritmo
humanas.
Social
Club
as
O
(Wim
Wenders, 1999), por exemplo, nos mostra por meio
da
música,
a
possibilidade
de
compreender
traços particulares da história de Cuba. Na obra,
é documentado o esforço de cantores cubanos
de
vanguarda,
coordenados
por
um
produtor
musical estadunidense, para a gravação de um
disco.
O
longa-metragem
aborda
a
carreira
musical dessas personalidades, que consagraram
internacionalmente a salsa cubana a partir de
meados do século passado.
27
Seja
como
um
dos
elementos
da
linguagem
audiovisual ou como um marco antropológico, o
ato de musicalizar aproxima pessoas tal como
ultrapassa
as
fronteiras
em
um
processo
de
identificação. É nesse sentido que temos como
objetivo debater a música mediante as intenções
e efeitos sociais de quem a compõe e também
de quem a escuta. A partir das reflexões a serem
desenvolvidas, queremos mostrar que a música
corresponde muito mais do que um detalhe do
conjunto
das
cinematográficas,
traços
diferentes
incorporando
fundamentais
da
cultura
narrativas
artisticamente
de
variados
grupos sociais em diferentes contextos históricos.
Aline Batista
Graduanda em Relações Internacionais (FMU), e
ex voluntária do Projeto CineGRI.
28
K-POP:
ONDA
CULTURAL
OU
FERRAMENTA
DIPLOMÁTICA COREANA?
O
K-pop
por
si
só
não
é
uma
novidade,
as
primeiras bandas começaram a surgir em 1990 e
hoje
representa
dólares,
uma
talvez
indústria
seja
o
de
principal
bilhões
de
produto
de
exportação da Coreia do Sul depois de carros e
A primeira experiência de alguém assistindo a um
videoclipe
de
uma
banda
K-pop
é
sempre
memorável. É difícil decidir o que chama mais
atenção,
se
é
(geralmente
PERFEITA
o
mais
de
número
que
cada
de
cinco),
membro,
integrantes
a
o
aparência
figurino,
a
coreografia elaborada, os cenários... Pensando
bem, seria possível escrever esse texto somente
comentando
videoclipes
de
K-pop,
verdadeiras
produções cinematográficas. Há tanto para ver e
ouvir que, talvez, no meio do clipe a pessoa note
que, na verdade, a música está sendo cantada
em...
Coreano!
vem
se
Surpreendentemente,
espalhando
ocupando
dominado
espaço
pelo
no
pop
ao
redor
difícil
do
mercado
americano
e
o
K-pop
mundo,
ocidental
britânico
cantado em inglês. Trata-se de um movimento
cultural
tradução
conhecido
literal,
como
“Onda
“Korean
Coreana”,
Wave”,
que
em
inclui
também o cinema (com os K-dramas), idioma e
culinária.
celulares
[1].
Esse
sucesso
acabou
atraindo
a
atenção do governo sul coreano, que identificou
a
possibilidade
de
utilizar
o
K-pop
como
uma
ferramenta do que é chamado de soft power, ou
“poder
utilizada
suave”
[2].
para
relações
Essa
descrever
internacionais
persuasão
para
comportamento
geralmente
cultural.
de
uma
outros
das
privilegia
a
indiretamente
atores
poder
governo
expressão
abordagem
que
influenciar
utilizando
O
é
uma
políticos,
econômico
coreano
o
ou
estaria
se
espelhando no exemplo dos Estados Unidos, que
utiliza a indústria cultural para exportar outros
produtos
[2].
Alguns
cantores
K-pop
estão
se
tornando embaixadores, incentivando o turismo e
o
interesse
pela
cultura
coreana,
algo
importante, considerando o passado colonial do
país e o fato de estar virtualmente em guerra
com
o
seu
interessante
encontrou
vizinho,
notar
espaço
especialmente
se
a
Coreia
como
na
a
japonesa na Coreia (1910-1945).
Norte.
música
China
lembrarmos
do
e
da
no
É
coreana
Japão,
colonização
29
A
caracterização
exportação,
no
do
K-pop
entanto,
como
produto
de
preocupa
ativistas
de
direitos humanos, pois a imagem modificada por
cirurgias plásticas, olhos claros e pele perfeita
vendida por estrelas K-pop não reflete de fato a
população sul coreana. Essa indústria incentiva
um
desejo
riqueza
constante
em
uma
desigualdade
interessados
social
em
por
perfeição
sociedade
é
física
e
que
a
em
significativa.
entender
melhor
o
Aqueles
que
isso
significa podem começar assistindo o filme sul
coreano
Mr.
produção
Idol
narra
a
(Hee-chan
história
de
Ra,
2011).
A
re-formação
da
banda de quatro integrantes Mr. Children, três
anos
após
ter
devido a um
interrompido
suas
atividades,
trágico acidente em que morreu o
principal cantor do grupo. No filme vemos como o
treinamento para formar uma banda K-pop pode
demorar anos, tempo em que os integrantes são
afastados
da
família
e
amigos,
embora
não
tenham nenhuma garantia de sucesso. Há ainda
o documentário disponibilizado pela BBC, Nine
muses of star empire (Hark Joon Lee, 2014), que
acompanha
a
jornada
de
um
ano
da
banda
9muses, composta por nove mulheres. A rotina de
ensaios exaustivos é controlada de perto pelos
funcionários
da
produtora
“Star
Empire
entertainment” e não há margem para desculpas,
até mesmo doença não é razão para abandonar
um treino. O nível de estresse é tão alto que a
saúde
que
a
mental
de
cada
produtora
garota
também
-
característica
busca
controlar
-
acaba de algum modo comprometida. Tudo isso
considerando
que
trata-se
de
um
mercado
extremamente competitivo, em que 1 em cada 10
mil de K-pop trainees se tornam profissionais de
fato.
Entretanto,
não
podemos
dizer
que
os
abusos
enfrentados por artistas nos bastidores da música
são
um
problema
exclusivo
do
K-pop,
pois
conseguimos nos lembrar facilmente de histórias
similares
afirme
na
que
indústria
ouvir
pop
ocidental.
K-pop
Há
contribui
quem
para
o
crescimento de uma indústria cruel, mas, como
pontua
brilhantemente
Hugo
Katsuo,
ninguém
pensou em boicotar o pop americano após ouvir
sobre
os
abusos
sofridos
pela
cantora
Kesha
durante a sua carreira [3]. Considerando que a
representatividade asiática deixa muito a desejar
na indústria cultural ocidental, observar artistas
K-pop alcançando tamanho sucesso é animador
para
quem
reflete
sobre
questões
raciais.
Certamente os problemas da indústria do K-pop
não podem ser jogados para baixo do tapete,
mas vale ressaltar que por aqui qualquer avanço
nesse sentido somente foi possível apoiando as
vozes
daqueles
violências,
não
que
pelo
arte que produzem.
enfrentaram
simples
as
mesmas
silenciamento
da
30
Por
fim,
fica
juntos
o
o
convite
sucesso
para
acompanharmos
dessas
bandas,
que
provavelmente ainda vão render muito assunto,
há uma série de documentários sobre o universo
K-pop com produção anunciada, inclusive outro
da BBC. Esperemos que tenham vindo para ficar
e
que
as
questões
de
direitos
humanos
se
resolvam da melhor maneira possível com apoio
daqueles
que
valorizam
representam.
Por
o
aqui,
que
esses
sabemos
artistas
que
a
diversidade que trazem só enriquece o universo
do
entretenimento
que
precisava
há
muito
de
uma boa arejada.
[1]
Aisha
Gani.
Guardian.
K-pop:
Março
de
a
beginner's
2014.
guide.
The
Disponível
em:
<https://www.theguardian.com/music/musicblo
g/2014/mar/03/k-pop-music-a-beginnersguide-south-korea-sxsw>. Acesso em 14 jan, às
13:00h
[2] Acredita-se que cada US$100 gastos em Kpop garantem retorno de US$400 em produtos
de
T.I.Fonte:
Jazeera
The
English.
em:
Stream:
K-pop
Setembro
de
diplomacy.
Al
2012.Disponível
<https://www.youtube.com/watch?
v=rYt813fDWTw>. Acesso em 14 jan, às 11h40
[3] Hugo Katsuo. KPOP E RACISMO. Dezembro de
2017.Disponível
em:
<https://medium.com/@hugokatsuo/kpop-eracismo-938c1a4d94d2>
Acesso
em
14
jan,
às
17h15.
Cristiane Pereira
Graduanda
em
Relações
Internacionais
(IRI/USP),e ex voluntária do Projeto CineGRI.
31
A
MUSICA
COMO
UM
PRODUTO
A
SER
CONSUMIDO
Apesar
de
suas
diferenças,
ambos
os
filmes
exploram a questão da triste transformação da
vida em um produto, assim como em seus finais
(SPOILER ALERT), quando ambos os programas
são
É
inegável
que
as
costumeiramente
séries,
músicas
dentro
de
produções
culturais
consumimos,
e
livros,
uma
são
grande
como
produtos
indústria
que
filmes,
inseridos
altamente
lucrativa. Essa característica pode trazer, como
contrapartida,
a
perda
da
originalidade
e
a
descartabilidade destas obras, que na realidade
são produtos na chamada indústria cultural [1].
culturais é brilhantemente retratada em O Show
e EdTV (1999, Ron
Howard). Ambos os filmes tratam da questão da
transformação da vida de um indivíduo em um
produto
a
ser
consumido
pelas
pessoas:
um
reality show que narra todos os acontecimentos
de sua vida, sem cortes. A diferença entre os
filmes se dá na questão da consciência de seus
protagonistas.
Em
O
Show
de
Truman,
o
protagonista, Truman Burbank, não faz ideia de
que a sua vida inteira, desde o seu nascimento, é
televisionada, e tudo o que ele acha que entende
como vida não passa de um produto consumido
pelas
outras
protagonista,
pessoas.
Ed
Pekurny,
Já
em
aceita
EdTV,
o
participar
do
programa e tem total consciência de que está
sendo filmado o tempo inteiro.
rapidamente
se
é
mostrado
esquece
que
destes,
o
e
público
muda
de
canal, indo procurar outra coisa para se entreter.
Nestes
exemplos
dos
filmes,
fica
evidente
a
mecânica da Indústria Cultural, fundamentada na
repetição
exaustiva
das
produções
culturais
segundo uma padronização pré-estipulada. Este
padronização tem como objetivo atingir o maior
número possível de pessoas de um modo mais
seguro e familiar aos espectadores, sem muitas
A questão do consumo descartável de produtos
de Truman (1998, Peter Weir)
cancelados,
inovações,
podendo,
em
muitas
situações,
a
beirar o descartável. Quantas são as músicas que
tocavam
no
rádio
há
cinco
anos
que
ainda
escutamos? E o quão diferentes essas mesmas
músicas são daquelas que consumimos nos dias
de
hoje,
que
muito
provavelmente,
em
sua
maioria também serão esquecidas?
Mais
especificamente
no
que
diz
respeito
à
produção musical, o gênero que sintetiza essa
questão
é
o
que
conhecemos
como
o
Pop,
surgido para abarcar as músicas produzidas para
fins
comerciais
que
visam
atingir
grandes
públicos, ao juntar elementos de diversos outros
tipos de gêneros. O que se pode observar então
é uma constante reciclagem de melodias, bases
sonoras e temas abordados nas letras, que são
lançadas
estrategicamente
necessitar muita reflexão [2].
e
consumidas
sem
32
Em contrapartida, algumas das músicas que são
lançadas
fora
deste
chamadas
músicas
grande
circuito,
independentes,
que
as
muitas
tem como sua filosofia a crítica a este sistema,
acabam
sendo
consumidas
como
produtos
também, e, quando chamam atenção demais do
público,
tendem
grandes
a
serem
empresas,
incorporadas
quando
estas
pelas
vêem
um
potencial de vendas. É o fenômeno que ocorre
como uma espécie de “transgressão à venda”, no
qual a rebeldia e a luta contra o sistema vigente
tornam-se um produto, como vimos em um dos
textos
anteriores.
reapropriação,
de
temas
E
romantização
polêmicos
exemplo,
o
também
suicídio,
na
e
através
ressignificação
sociedade,
na
série
da
13
como,
Reasons
por
Why,
relacionamentos abusivos, como em 50 Tons de
Cinza, e até mesmo instituições, como as prisões,
como mostramos no texto "De Alcatraz às Sexy
Prisons"
pertencente
ao
boletim
"Direitos
Humanos".
É
dentro
deste
contexto
que
os
EUA
se
entretenimento,
com
ênfase
no
cinema
e
na
música. A capacidade massiva de produção – e
principalmente de distribuição – de filmes e de
uma
vez
que
também
dominam
os
aparatos tecnológicos que ditam as tendências
globais, acabam por colocar o país no topo da
indústria cultural. Não é coincidência que as três
maiores
gravadoras
(Universal
sejam
Music,
fonográficas
Sony
americanas,
e
Music
suas
e
do
Warner
músicas
mundo
Music)
toquem
em
todos os cantos do mundo.[3]
perante
esta
grande
máquina
de
produção e consumo. O quão impactante é essa
imposição
das
da
indústria
cultural
sobre
os
indivíduos, uma vez que ao mesmo tempo em que
maior
distribuição
telecomunicações,
produção
uma
continua
elite,
dos
produtos
que
a
maior
concentrada
são
as
parte
nas
grandes
da
mãos
de
indústrias
do
entretenimento? E o quão alienantes são estes
produtos, que reproduzem ad infinitum “mais do
mesmo” para as pessoas, enquanto for lucrativo?
[1] Este termo foi cunhado pelos sociólogos da
de
Frankfurt
Theodor
Adorno
e
Max
Horkheimer na década de 1940, com uma visão
pessimista do tratamento da cultura, considerada
como algo que estava em um constante processo
de
perda
de
originalidade
mercadológica.
dentro
Posteriormente,
da
o
lógica
termo
foi
complementado pelo também sociólogo Walter
Benjamin,
no
que
reprodutibilidade
ele
chama
técnica
das
de
obras
“era
de
da
arte”.-
ADORNO, Theodor. A Indústria Cultural. Indústria
Cultural
e
sociedade.
Trad,
Julia
E.
Levy.
São
Paulo: Paz e Terra, 2002, p. 7-80.- BENJAMIN,
Walter.
A
obra
de
reprodutibilidade
Linguagem
O que resta então é uma reflexão dos papéis
individuais
uma
culturais para a população, através dos avanços
Escola
apresentam como a maior potência mundial do
músicas,
ocorre
e
arte
técnica.
Política.
na
Sobre
Trad.
era
de
Arte,
Maria
sua
Técnica,
L.
Moita.
Lisboa: Relógio D’Água, 1992, p. 72-113.
[2] ZAN. José Roberto. Música popular brasileira,
indústria
cultural
Científica,
vol.
e
3,
identidade.
núm.
1
junho,
Eccos
Revista
2001.[3]
Izaias
Lopes em matéria para a Phouse. Último acesso
em
12/01/2017
https://www.phouse.com.br/numeros-de-2016universal-music-e-considerada-maior-gravadoramercado-fonografico/
Daniel Goldner
Graduando
em
Publicidade
bolsista do Projeto CineGRI.
e
Propaganda
e
33
APROPRIAÇÃO
CULTURAL
DOS
RITMOS
PERFÉRICOS
Na i
Esse
tem
em
suas
raízes
a
cultura
afrodescendente, que se manifestou no território
estadunidense desde o período de escravidão.
Os negros, submetidos ao trabalho compulsório,
expressavam
Como
temos
visto,
a
música
tem
sido
uma
importante forma de expressão cultural ao longo
de séculos, mesmo quando se trata de indústria
cultural.
Os
grandes
centros
urbanos
e,
por
conseguinte, suas periferias não são exceção a
essa regra. Surgidos nas periferias, o jazz, o rap e
o funk são alguns exemplos com características
semelhantes: estilos que representam identidades
marginalizadas, compostos majoritariamente por
negrxs
e
que,
status
de
em
algum
“legitimidade”
momento,
perante
adquirem
as
camadas
mais abastadas e brancas.
Esses
estilos
musicais
certa
forma
mais
se
acessível,
um
para
se
meio,
de
dar
voz
àqueles que constituem as camadas subalternas.
Os
documentários
biográficos
Nat
King
happened, Miss Simone? (Liz Garbus, 2015) são
retratadas a vida de dois artistas negros - Nat
Cole
diversos
e
Nina
desafios
preconceito.
profundamente
Simone
devido
Ambos
para
à
-
que
também
o
encararam
segregação
combate
e
ao
contribuíram
do
racismo
e
para a popularização de um estilo musical hoje
amplamente aceito - o jazz.
cultura
por
meio
de
o
tambor
então
como
surge
no
principal
fim
do
instrumento.
século
XIX
e
O
jazz
início
do
século XX em New Orleans, tendo como principal
base
a
cultura
africana
junto
com
influências
musicais europeias. Mais de 100 anos depois, o
jazz
se
tornou,
em
grande
medida,
um
estilo
musical apropriado pelas elites.
A popularização do jazz se deu a partir de 1920,
quando
há
um
movimento
de
emigração
de
negros para cidades como Chicago e Nova York
busca
de
sucesso
musical,
junto
com
o
interesse dos brancos americanos pelo estilo de
forma incisiva. Porém, no documentário de Nat
King Cole, é mostrado o grande sucesso que o
artista
atingiu,
se
apresentando
em
hotéis
Cole:
Afraid of the dark (Jon Brewer, 2014) e What
King
própria
celebrações musicais, em que cantavam e tinham
em
tornam
a
lotados de pessoas brancas, mas onde o músico
não
podia
se
alojar
por
ser
negro.
Já
Nina
Simone, também contribuidora para a expansão
do jazz, viu a sua carreira despencar quando as
letras de suas músicas retratava o ativismo pelos
direitos
civis
dos
negros
norte-americanos.
Ou
seja, a popularização do movimento andava de
mãos
dadas
origens.
com
o
esquecimento
de
suas
34
O funk carioca - e o funk brasileiro em geral segue um percurso com algumas semelhanças.
Surgido nos morros cariocas e nas periferias dos
grandes
centros
constante
de
urbanos,
críticas
e
suas
letras
polêmicas
são
por
alvo
trazer
músicas com conteúdo sexual. Por outro lado, o
funk
não
é
sexualizadas,
instrumento
denúncia
composto
sendo
de
das
apenas
por
letras
também
um
importante
representação
das
minorias
e
mostra
o
opressões.
É
o
que
documentário Mulheres no Funk (Luisa Nolasco,
2014), em que funkeiras expõem suas opiniões
sobre o machismo presente no funk e ao invés de
fazerem a crítica pela crítica, se apropriam do
gênero musical para criar músicas contestadoras.
Ambos os estilos sofrem, de diferentes formas, da
apropriação
cultural.
valorização
comercial
Ou
da
seja,
há
cultura
uma
negra
e
periférica, sem a valorização do próprio negro e
de suas origens. No caso do jazz, já mais distante
temporalmente, há quase um esquecimento sobre
suas origens e o consumo desse gênero ocorre
predominantemente
nas
elites.
O
funk,
mais
recente, tem ganhado espaço nos últimos anos,
mas
ainda
prepondera
a
valorização
de
suas
letras sexuais explícitas. Em um caso ou em outro,
é
importante
expressões
olhar
de
para
culturas
esses
que
gêneros
são
ou
como
foram
totalmente marginalizadas mas que a indústria
cultural
não
deixou
escapar,
tornando-as
consumíveis e, em boa parte, elitizadas.
Rayssa Mendes
Mestranda
em
Ciências
Sociais
(PUC/SP)
e
coordenadora do Projeto CineGRI
Rodrigo Lima
Graduando em História (FFLCH USP) e ex bolsista
do Projeto CineGRI.
35
A MÚSICA NA DITADURA MILITAR BRASILEIRA
Um dos momentos mais efervescentes e criativos
da música brasileira aconteceu, ironicamente, em
um dos períodos mais sombrios de sua história
política.
A
música
foi
um
instrumento
sempre
presente na luta contra a ditadura militar (19641985), sendo persistentemente usada como forma
de contestação ao governo, mesmo quando esse
censurava músicas e perseguia artistas.
Caetano
Veloso
foi
outro
alvo
das
vaias
na
Uma das expressões musicais mais marcantes da
mesma edição do festival após subir ao palco de
resistência
forma
protesto,
à
ditadura
que
foram
ganharam
as
grande
canções
projeção
de
nos
irreverente,
adereços
de
com
plástico
roupas
para
coloridas
cantar
“É
e
proibido
festivais de música da época. O documentário
proibir” junto aos Mutantes. Contrariado com a
“Uma noite em 67” (Renato Terra, Ricardo Calil,
recepção hostil do público, que preferia letras
2010)
mais
remonta
Internacional
a
da
segunda
edição
Canção
(FIC)
do
e
Festival
mostra
a
explicitamente
militar,
Caetano
combativas
gritou
de
ao
volta
ao
governo
público:
diversidade de artistas e de movimentos musicais
“Vocês não estão entendendo nada!”. De fato,
que se formavam naquele período. É possível ver
não estavam. O movimento da Tropicália que o
artistas
Gil,
cantor estava iniciando naquele mesmo ano se
no
mostrou outra forma contundente de oposição à
como
Milton
Caetano
Veloso
começo
de
e
Nascimento,
Chico
carreira,
Gilberto
Buarque
mas
já
ainda
mostrando
ditadura.
Embora
suas
letras
características que iriam definir suas trajetórias
necessariamente
musicais.
diretamente, o movimento buscava romper com
os
padrões
criticassem
estéticos
vigentes
experimentações
e
transgressivo
mostrado
“Tropicália”
é
os
não
inovações.
(Marcelo
militares
em
Esse
no
suas
espírito
documentário
Machado,
2012),
que
retrata o cenário de ebulição cultural do qual
saiu o tropicalismo e suas influências na arte e no
cinema. Nesse último meio, os filmes do diretor
Glauber
quanto
Rocha
foram
tanto
serviram
influenciados
pela
de
inspiração
Tropicália.
O
documentário também mostra como o governo
militar buscou prontamente suprimir o movimento:
seus
principais
nomes,
presos e exilados.
Caetano
e
Gil,
foram
36
O cerco aos músicos brasileiros se fechava cada
vez
mais.
Com
a
promulgação
do
AI-5
-
que
previa, entre outras coisas, a censura prévia à
produção
musical,
cinematográfica
passaram
maiores.
a
-
teatral,
os
enfrentar
Documentos
televisiva
músicos
brasileiros
restrições
oficiais
e
cada
mostram
vez
que
as
letras submetidas à censura foram proibidas sob
as mais diversas justificativas, como “divulgação
do homossexualismo”, “divulgação da macumba”
e “revolta contra a submissão do povo”, ou então
Seja na estética transgressora do Tropicalismo,
por “incentivar a luta de classes”, trazer “à tona
nas letras de protesto de artistas da MPB, dentre
problemas raciais”, ser “niilista” ou simplesmente
outras
por ter “falta de gosto”[2].
ditadura
formas,
a
militar
música
sempre
brasileira
teve
durante
intérpretes
a
que
desafiavam a repressão e o autoritarismo. Mesmo
Os censores vasculhavam avidamente as letras
com as suas produções artísticas tolhidas pela
em busca de mensagens contra o regime militar
censura oficial, os artistas buscavam inovar em
ou que atentassem à “moral e os bons costumes”
suas
da
época.
Mesmo
assim,
algumas
formas
de
expressão
artística.
Geraldo
músicas
Vandré, Gilberto Gil, Gal Costa, Chico Buarque,
criticando o governo conseguiam milagrosamente
Caetano Veloso, Rita Lee, Raul Seixas, Tom Zé,
passar ilesas pela censura, como é o caso de
Milton
Nascimento,
“Pesadelo”, composta por Paulo César Pinheiro e
tantos
outros
interpretada pelo MPB4, que traz versos como
resistência memorável.
Gonzaguinha,
fazem
parte
dessa
Belchior
história
e
de
“Você corta um verso, eu escrevo outro/Você me
prende
vivo,
eu
escapo
morto”.
Para
ser
[1]
http://memoriasdaditadura.org.br/musica/in
aprovada, a letra da música foi camuflada em
dex.html Acesso em 30 jan, às 16:00h.
meio à diversas outras e submetida à censura [3].
[2] https://oglobo.globo.com/cultura/musica/di
A
gitalizacao-de-documentos-da-ditadura-revela-
música
“Apesar
surpreendentemente
de
você”
também
foi
liberada. Chico Buarque -
cancoes-ineditas-17747347 Acesso em 30 jan, às
tão censurado que chegou a recorrer a um nome
16:15h.
falso
[3] http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/
(Juninho
da
Adelaide)
para
assinar
suas
canções - havia submetido a letra já dando sua
59628-quotpesadeloquot.shtml
proibição
30 jan, às 16:34h.
como
certa.
Os
militares
Acesso
posteriormente censuraram a música após uma
[4]
semana de seu lançamento, mas ela já havia se
vai-passar-a-noite-da-ditadura-militar
tornado um dos hinos da resistência popular [4].
em 30 jan, às 16:35h.
em
http://memorialdademocracia.com.br/card/
Acesso
Guilherme Borges Almeida
Pós-graduando
Relações
no
curso
Internacionais
de
Estratégia
Contemporâneas
UFRGS e ex colaborador do Projeto CineGRI.
e
da
37
O
QUE
ESCONDE
O
ESTIGMA
DE
SENSUALIDADE DA MÚSICA LATINA?
Em 2017, o reggaetonero colombiano Luis Fonsi
fez
o
mundo
cantar
em
espanhol
com
o
hit
‘Despacito’, levando esse gênero musical a um
pico
de
popularidade
sem
precedentes.
Esse
fenômeno nos provoca a pensar sobre como a
música
pode
projetar
internacionalmente
um
conjunto de códigos culturais próprios de uma
determinada
região.
O
reggaeton
não
é
o
primeiro gênero a fazer isso na América Latina, e
o
cinema
nos
ajuda
a
observar
historicamente
como outros ritmos, como a salsa, atuaram nesse
processo de projeção regional.
Na
América
sensualidade
música
foram
Latina,
e
a
forte
por
elementos
relação
vezes
como
entre
responsáveis
a
dança
por
e
uma
estigmatização de sua música, transposto para
uma
caracterização
cultural
do
continente
em
geral. Em Dirty Dancing 2: Noites de Havana (Guy
Ferland, 2004), a relação entre Katye (Romola
Garai), uma jovem estadunidense residente em
Cuba,
com
o
cubano
permanentemente
Javier
mediada
(Diego
pela
Luna),
dança,
é
assumida como promíscua pela família e amigos
da garota que vivem na Havana dos últimos anos
da
ditadura
película
de
¡Salsa!
Fulgencio
(Joyce
Batista.
Bunuel,
2000)
Já
a
começa
com a apresentação de um solo de Chopin no
A
piano tocado por Rémi Bonnet (Vincent Lecoeur),
identificada com o fenômeno da imigração de
que muda subitamente o rumo de sua peça para
comunidades
uma salsa cuja interpretação emocionada choca
norte. The Mambo Kings (Arne Glimcher, 1992),
sua
audiência.
encontra-se
latino-americanas
intimamente
aos
países
do
por exemplo, conta a história dos irmãos Castillo,
dois músicos cubanos que se mudam a Nova York
a
nos
francesa
aos
a
resistência
ritmos
latinos,
então
salsa
capital
cena
na
da
europeia da salsa - Paris -, o filme ressalta desde
primeira
Ambientada
história
da
elite
musical
identificados
uma classe social subalterna e racializada.
com
anos
dourados
da
salsa
(1950s)
com
o
objetivo de se tornarem os reis do Mambo. O
filme
traz
clássicos
da
uma
salsa,
trilha
sonora
incluindo
a
carregada
presença
de
dos
aclamados cantores Célia Cruz e Tito Puente em
papéis secundários.
38
Outra obra que, além de refletir a realidade da
imigração - dessa vez desde Puerto Rico - na
constituição da salsa nos EUA, nos traz uma trilha
sonora
primorosa,
é
o
musical
(Boaz
Salsa
Davidson, 1988), com faixas do tradicional Grupo
Niche
(colombiano)
riquenho
nascido
compreender
o
e
em
forte
do
NYC)
Nuyorican
Willie
movimento
(porto-
Colón.
da
Para
salsa
nos
EUA, a cinebiografia El Cantante (Leon Ichaso,
2007) se mostra ainda essencial. A conturbada
história do músico porto-riquenho Héctor Lavoe é
uma amostra preciosa do momento histórico em
que viveu, que para além da salsa foi marcado
pela drogadição e pela epidemia de AIDS dos
anos 1980 nos EUA.
A
A
hiperssexualização
da
música
latina,
como
história
qualquer estigma, esconde parte importante de
período
sua
é
a
história
da
colonial
ou
das
posteriores
ondas
de
imigração,
sem
reggaeton
-
e Van Van empezó la fiesta (Liliana Mazure e
jamaicano e do hiphop - jamais teriam surgido.
Aáron
Se
2000)
influência
específico
de
retratam,
afro-cubana
salsa
que
cultural.
latina
Os
Vega,
composição
música
documentários Eso que anda (Ian Padrón, 2009)
forte
complexa
da
confluência de matrizes culturais, sejam elas do
por
sobre
nasce
nos
exemplo,
um
a
gênero
anos
2000
a
com
quais
suas
POPularização
valorização
troca
as
do
desses
sucesso
a
salsa
influências
nos
exige
aspectos
e
e
mesmo
do
abrir
reggae
mão
constitutivos,
aceitação
no
o
da
em
mercado
com o grupo Los Van Van: a timba. A relação
musical
inseparável entre dança e música, festa e vida
trata
cotidiana, corpo e arte, são traços fundamentais
uniformização - sob o signo da sensualidade - e
da
de
cultura
identificados
latino-americana
com
as
que
influências
podem
africanas
ser
e
internacional,
na
verdade
subjugação
que
a
de
‘projeção
mais
uma
reproduz
os
regional’
forma
padrões
se
de
de
exploração das relações norte-sul.
mediterrânicas que a constituem.
Larissa Santos
Geógrafa (FFLCH/USP), coordenadora e bolsista
do Projeto CineGRI.
Aline Batista
Graduanda em Relações Internacionais (FMU) e
ex voluntária do Projeto CineGRI.
39
DOS
"BEATNIKS"
À
REPRESENTATIVIDADE
BETONCÉ:
A
INSERIDA
NA
CONTRA CULTURA
No
entanto,
por
mais
que
a
indústria
cultural
tenha se apropriado de certos temas - por serem
lucrativos
perante
o
público
que
se
pretende
atingir - e os transformado em mais um produto,
é
Quando
observamos
o
consumo
de
atualmente, é possível apontar certos
que
são
sendo
comuns
uma
âmbito
em
delas
mais
a
geral.
ritmos
música
elementos
musicais
distintos,
representatividade
A
indústria
em
cultural
seu
tem
importante
musicais”
lembrar
que
dos
possibilitaram
“antepassados
que,
na
música,
caminhos fossem abertos e realidades oprimidas
expostas.
O
gatilho
contribuição
de
inicial
toda
ocorreu
uma
após
geração
a
de
movimentos de contracultura: a exemplo disso,
incorporado em seus “produtos” (neste caso, a
temos
música)
a
literatura beat [1]. No documentário biográfico
-
Janis Joplin: Little Girl Blue (Amy Berg, 2015),
entre outros -, dado o fato de que tais debates
vê-se as várias camadas da figura que foi Janis
estão ganhando espaço de forma exponencial.
Joplin,
temas
homossexualidade,
importantes
a
negritude,
como
o
feminismo
o
jazz
artista
cenário
como
influenciador
autodeclarada
majoritariamente
reconhecimento
considerado um dos grandes ícones LGBTQ+, pois
um
de
leva
mesmo
nível
ao
nacional,
olhar
implicitamente,
Pabllo
público
algumas
Vittar
sua
das
pode
performance
questões
ser
e,
dessa
ícone
tempo
fantasma
nacional,
rebeldia
e
em
viveu
do
que
bullying.
“beatnik”.
masculino,
conseguiu
No
direto
da
Em
a
tornou-se
empoderamento,
assombrada
Fica
um
artista
ao
pelo
evidente
no
comunidade. Na escala internacional, por outro
documentário que a cantora não se encaixava
lado, vê-se Beyoncé sob os holofotes expondo a
nos
realidade
garantia
da
mulher
negra
estadunidense
em
ditos
“Formation”. Ambas são versões multifacetadas
sexual
e
do empoderamento.
mulheres
“papéis
a
a
de
chacota.
gênero”,
No
possibilidade
foram
diretrizes
algo
entanto,
de
a
escolha
seguidas
mesmo não se declarando feminista.
que
lhe
liberdade
para
por
Janis
as
–
40
Em What Happened, Miss Simone? (Liz Garbus,
2015), a artista Nina Simone é retratada em seu
importante ativismo contra a segregação racial
e, graças a isso, sua gradual marginalização no
mundo da música – conforme observamos em um
dos
últimos
deparamos
textos.
com
constante
o
No
documentário,
espírito
divergência
aprisionamento
livre
de
com
advindas
de
nos
Nina
em
formas
de
opressões
de
diversas ordens: por ser negra, cantar nunca foi
uma opção, mas um ganha pão; por ser casada
com
seu
empresário,
era
refém
do
mesmo
e
vítima de violência doméstica; por não ter sido
diagnosticada cedo com transtorno bipolar, foi
uma artista por vezes incompreendida. Ao somar
tais
fatores
possível
a
dizer
seu
que
atual
a
reconhecimento,
artista
carregou
é
desde
o
início de sua carreira o estigma social do que é
ser
negra
em
incomodavam
uma
com
época
tal
em
figura
tão
que
se
atuante
politicamente.
Apesar
disso,
é
representatividade,
possível
em
um
dizer
de
que
seus
a
vários
objetivos, se propõe a causar incômodo à ordem
vigente
e
àqueles
que
a
adotam.
A
representatividade é, muitas vezes, significativa
para
grupos
oprimidos,
segregados
e
marginalizados, não para o establishment (como
elemento de manutenção do status quo) Por isso,
de Nina Simone a Beyoncé, é primordial pensar a
representatividade
não
apenas
como
uma
particularidade da identidade de cada artista,
mas como um vivo debate de proporção política.
Mais contemporâneo ao debate, Waiting for B.
(Paulo César Toledo, 2015) retrata a espera de
dois meses dos fãs de Beyoncé para um show
ocorrido
em
2013.
Ao
mostrar
dedicados
fãs
dormindo em barracas somente para assisti-la, a
película
também
expõe
a
realidade
pobre
e
marginal dos mesmos, pois em sua maioria são
homossexuais
negros.
Além
do
mais,
é
interessante notar que, enquanto o ativismo de
[1] Claudio Willer, poeta, ensaísta e tradutor, em
entrevista
Braziliense:
para
Correio
http://www.correiobraziliense.com.b
r/app/noticia/diversao-earte/2012/09/29/interna_diversao_arte,325137
/movimento-beat-ajudou-a-deixar-a-sociedademais-moderna-diz-claudio-willer.shtml.
Último
acesso em 28/01/2018, às 15h00.
Nina Simone a conduziu para um quase-fracasso,
o
de
Beyoncé,
por
outro
lado,
é
incorporado
como um produto de sucesso – o que mostra a
capacidade
conteúdos
da
indústria
diversos
geracionais distintos.
em
cultural
contextos
de
abarcar
históricos
e
Rafaella Gobbo
Graduanda em Letras (FFLCH/USP) e ex bolsista
do Projeto CineGRI.
infância
42
O ROUBO DA INFÂNCIA
E não é apenas no tráfico de drogas que essas
crianças
deixam
documentário
(2003,
Roubadas
de
ser
crianças.
O
norte-americano
Infâncias
Len
Romano)
Morris
e
Robin
compila casos de exploração infantil socialmente
invisibilizados
e
apresenta
o
cotidiano
de
crianças em condições miseráveis de trabalho, à
margem da escravidão pela sobrevivência. Esse
filme
mapeia
o
trabalho
infantil
no
mundo
e
denuncia a violação dos direitos humanos e o
não-exercício
Enquanto
a
crianças obrigadas a interromperem os estudos e
elas são marginalizadas em diferentes níveis.
a trabalharem como escravas. O documentário é
pela
uma importante obra para acompanhar a visão
predominância de uma visão “adultocêntrica” na
das próprias crianças e adolescentes sobre suas
qual as crianças muitas vezes são vítimas de uma
histórias,
invisibilidade
analistas e políticos que criticam as condições a
dimensões
infância
voz
apresentando
crianças e elas precisa ser ouvidas pois inúmeras
da
damos
cidadania,
realidade de aproximadamente 246 milhões de
marginalização
pouco
da
as
A
sociedade
social.
que
o
A
termo
passa
partir
das
várias
marginalização
pode
contando
com
a
participação
de
que elas estão sujeitas.
adquirir, Falcão - meninos do tráfico (2006, Mv
Bill
e
Athayde)
problemáticas
traz
uma
envolvendo
das
principais
crianças
-
É
comum
ignorarmos,
por
exemplo,
ou
e
simplesmente nos acostumarmos à presença do
adolescentes - a partir da visão delas mesmas.:a
trabalho infantil em nosso cotidiano. Em muitos
questão do tráfico de drogas.
vagões
de
crianças
são
Tratamos inúmeras vezes sobre a importância das
como
crianças
negociam
serem
crianças.
Aplaudimos
“adulto-
falcões
MasterChef
própria
Jr,
mas
crianças
seguimos
que
têm
invisibilizando
suas
infâncias
roubadas e desde cedo são responsáveis por sua
própria
crianças
sobrevivência.
como
responsabilizamos
Não
crianças.
e
enxergamos
Ao
essas
contrário,
culpabilizamos
condição marginal em que se encontram.
as
pela
e
metrôs
adultos
“marreteiros”
mirins” que cozinham de maneira impecável no
aquelas
trens
água
em
uma
e
que
a
capital
paulista,
profissionais,
atuando
boa
parte
chocolate,
outra
subsistência.
pobreza,
e
da
exclusão
assim
dimensão,
Essas
crianças
social
e
até
negligência de toda uma sociedade.
das
vezes
como
os
visando
a
refletem
a
mesmo
a
43
Afinal, qual infância defendemos? Ao ouvirmos
sobre
os
conectamos
“marginalizados”,
a
palavra
à
um
geralmente
significado
hostil,
antes mesmo de nos atentarmos aos motivos que
tornaram o “marginal”, uma vítima da exclusão.
No
entanto,
o
processo
de
marginalização
diz
respeito, antes, à exclusão de indivíduos que por
determinados
motivos
não
são
considerados
dignos de estarem inseridos no convívio social. O
cárcere, as punições, as chantagens e ameaças
oriundas dessas realidades constituem o cenário
de vida de um número significativo de crianças e
adolescentes
ao
adultas
apesar
que,
redor
de
do
mundo.
terem
roubadas,
se
encontram
à
sociedade
adultocêntrica
e
Crianças-
suas
infâncias
margem
acabam
de
uma
marginais
em diferentes níveis.
*
Fonte:
Pensa
Brasil
-
Em
busca
de
notícia,
disponível
em:
https://pensabrasil.com/secretario-de-
seguranca-quer-8-anos-de-cadeia-para-menorinfrator-no-brasil-imediatamente/,
acesso
em
maio de 2018.
Aline Batista
Graduanda em Relações Internacionais (FMU-SP)
e ex voluntária do Projeto CineGRI.
Rayssa Mendes
Mestre
em
Ciências
Sociais
coordenadora do Projeto CineGRI
(PUC-SP)
e
44
OLHAR
INFANTIL
ENQUANTO
"FILTRO"
DE
ELEMENTOS EXTERNOS
Muitos
teóricos
e
literatos
discutem
a
infância
como um período único da vida. Para Drummond,
a infância é período de afetuosas memórias [1].
Para alguns estudos sociológicos, as crianças são
vítimas
da
invisibilidade
“adultocêntrica”,
tempo,
foi
infâncias
e
que,
possível
geradas
vivências
de
graças
somente
partir
criança
uma
as
muito
diversas
das
[2].
visão
após
identificar
a
cada
a
diferentes
No
cinema,
a
infância abarcaria uma diferente percepção de
mundo,
adulto
uma
forma
absorve
crianças,
alheia
fatos
ao
carregariam
ao
modo
redor,
com
como
pois
leveza
elas,
o
o
as
legado
deixado pelos adultos [3]. Com isso, é importante
questionar como o cinema se adapta a esse tipo
de público e a essa temática. De que forma o
cinema trabalha com a visão da criança em suas
produções e como são os filmes direcionados ao
público
infantil?
diferenciação
Para
isso,
entre,
caberia
aqui
respectivamente,
uma
filmes
sobre infância e filmes de criança no decorrer do
texto.
Deve-se
Um exemplo de filme em que a infância e o olhar
infantil são temas centrais é La Lengua de Las
Mariposas
(José
Luis
metragem
aborda
Cuerda,
1999).
diferentes
O
longa-
temas,
mas
constitui-se, antes de tudo, como um prenúncio
da Guerra Civil Espanhola (1936 – 1939). Moncho
é um menino que começa a integrar a escola sob
o
método
professor
de
Dom
ensino
humanizador
Gregório.
No
longa,
a
de
seu
relação
entre o menino e o velho senhor é explorada, o
olhar
curioso
infantil
se
faz
o
tempo
todo
presente, mas é ao final da película que temos
uma
mostra
criança,
da
enfrenta
forma
fatores
como
Moncho,
externos
-
uma
como
a
guerra, a violência, a intolerância etc. - dos quais
não entende, mas que é engolfado e compelido
a integrar, e os ressignifica. Mesmo não sabendo
o significado da palavra “comunista”, Moncho se
vê impelido a odiá-la por obrigação.
ressaltar
podem
ser
que
sobre
até
mesmo
animações
como
Persépolis
infância,
(Marjane Satrapi, 2008), animação que retrata
sob
o
prisma
Revolução
infantil
Iraniana
de
de
Marjane
1979
-
Satrapi
que
a
podemos
considerar um elemento externo ao qual ela está
exposta
-,
considerada
uma
derrota
para
o
imperialismo estadunidense que buscava controle
sobre os poços de petróleo do Irã. Sua infância
foi um período de curta paz, pois após o Iraque
(fantoche dos EUA na época) declarar guerra ao
Irã,
instaura-se
um
novo
regime
ditatorial
religioso. A animação mostra que, do dia para a
noite, mulheres foram obrigadas a se esconder
sob véus e viver sob grandes restrições – mas
somente
portanto,
as
mulheres.
que
Isso
animações
correspondem
a
um
nos
não
permitiria
dizer,
necessariamente
gênero
de
filmes
estritamente direcionados à criança, pois, nesse
caso,
o
atingido
público
e
o
é
o
maior
“desenho”
adulto
é
uma
alvo
a
ser
ferramenta
estética para gerar no espectador uma forma de
reflexão - ao contrário de animações com certo
apelo comercial que não passam de uma forma
de entretenimento para crianças.
45
Os
filmes
sobre
infância
expõem
vivências
infantis marcadas por fatores externos – muitas
vezes
negativos
infantil
dos
–
perante
sem
tais
deixar
(Isao
Vagalumes
escapar
acontecimentos.
Takahata,
o
O
olhar
Túmulo
1989),
por
exemplo, explora a vida de dois irmãos, Seita e
Setsuko, em meio ao terror da Segunda Guerra
Mundial.
Retrata-se
o
Japão
dos
anos
1940,
constantemente bombardeado e miserável, onde
esses
irmãos
precisam
lutar
para
sobreviver
–
mesmo o começo do filme indicando que ambos
não
serão
bem-sucedidos
nisso.
É
interessante
notar como Setsuko, a irmã caçula, filtra o caos
que
a
cerca
exemplo,
como
quando
uma
Setsuko
criança
não
o
faria,
por
preocupa-se
da
mesma forma que seu irmão em relação ao prato
do dia, mas prefere brincar. Mais uma vez, esta é
uma
animação
com
objetivos
outros
além
do
entretenimento.
NOTAS:
[1]
ANDRADE,
Carlos
Drummond.
Infância.
[2] FROTA, Ana Maria Monte Coelho. Diferentes
concepções
da
infância
importância
da
construção.
Estudos
e
adolescência:
historicidade
e
pesquisa
para
em
psicologia,
Rio de Janeiro, v.7, n.1, junho de 2007. Disponível
em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?
42812007000100013&lng=pt&nrm=iso>.
nos filmes não é ingênuo ou irreal – os filmes
mostram
que
a
criança
possui
uma
sensível consciência da perda e da tragédia –,
mas, sim, um “filtro” de elementos externos, como
falamos anteriormente nesse texto, que passam a
ser
ressignificados
compreensão
sua
script=sci_arttext&pid=S1808-
É importante pensar que o olhar infantil retratado
listados
a
para
infantil.
A
a
linguagem
guerra
não
e
é
compreendida em sua totalidade, por exemplo,
mas, sim, transformada em algo palatável para a
mente infantil.
Rafaella Gobbo
Graduanda em Letras (FFLCH/USP) e ex bolsista
do Projeto CineGRI.
Acesso
em 13 abril 2018.
[3]
SARMENTO,
Manuel
J.
Apud.
ANDRADE,
Lucimary Bernabé Pedrosa de. Educação infantil:
discurso,
[online].
Paulo:
legislação
In:
Tecendo
Editora
e
práticas
os
fios
UNESP;
São
da
institucionais
infância.
Paulo:
São
Cultura
Acadêmica, 2010. 193 p. ISBN 978-85-7983-0853. Available from SciELO Books. Acesso em 13 de
abril de 2018.
46
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Corrida para lugar nenhum. (Race to Nowhere)
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Secundaristasfechando o cruzamento da Avenida
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Rebouças com a Faria Lima, nas ocupações
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Sociedade dos poetas mortos – Fonte: Letterboxd
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Ensino) - Fonte: CONTEE.
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El
Página 14
beca
Marfim”,
no
o
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Fonte:
Cinemarden
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A torre no centro de uma multidão e estudantes
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estudiante
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topo
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externa
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a
“Torre
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academia
diante
da
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Valley
News
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Shawn Braley.
O líder da classe - Fonte: Filmow.
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A Educação Proibida - Fonte: Projeto Cinema no
Caldeirão.
O Milagre de Anne Sullivan - Fonte: Clube da
Página 17
Poltrona.
O educador Paulo Freire, patrono da educação
brasileira - Fonte: Instituto Paulo Freire.
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MC
Carol
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Karol
Conka
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Fonte:
Revista
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Racionais MC's. - Fonte: Rede Brasil Atual.
Shakira e Maluma - Fonte: Shakira Brasil.
Amy winehouse - Fonte: Tenho Mais Discos Que
Amigos!
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Membros da banda BTS - vencedores do prêmio
Billboard
music
awards
na
categoria
mídias
sociais. 2017 - Fonte: Billboard.
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Show de Truman – Fonte: Revista exame.
Página 33
Homens tocando - Fonte: MA10.
Página 42
Página 35
Meninos - Fonte: Notibras.
Manifestação
em
São
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1974.
A
faixa
exibida pelos manifestantes faz referência à letra
Página 43
da música “Apesar de Você”, de Chico Buarque.
Senhor e menino - Fonte: Cinepivates.
Fonte: Memorial da Democracia. via twitter.
Caetano Veloso sendo hostilizado pelo público
após
apresentar
Mutantes
no
“É
proibido
Festival
proibir”
Internacional
junto
da
aos
Canção.
1968 - Fonte: Projeto Tropicália.
Página 37
Javier
(Diego
Luna)
e
Katye
(Romola
Garai)
desafiam a moral e os bons costumes da alta
sociedade
estadunidense
através
da
salsa
na
Cuba de Fulgencio Batista, no filme Dirty Dancing
2:
Noites
de
Havana
(Guy
Ferland).
2004.
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Fonte: Cine 61 - Cinema Fora do Comum.
Página 39
Beyoncé - Fonte: Bustle.
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A
Viagem
de
Chihiro
e
os
Pecados
Capitais.
Fonte: Por Dentro da Tela.
Elenco do 'Castelo Rá-Tim-Bum - Fonte: O Globo.
Cidade de Deus - Fonte: Net interatividade.
Central do Brasil – Fonte: Telecine.