Os Orientes de Fernando Pessoa:
adenda
Antonio Cardiello*
Palavras-chave
Fernando Pessoa, Biblioteca Nacional de Portugal [Espólio 3], Casa Fernando Pessoa
[Biblioteca Particular de Fernando Pessoa], Revista Cultura Entre Culturas, Kālidāsa, Buda,
Khayyām, Ella Adelia Fletcher, Om, Filosofia Intercultural.
Resumo
Apresentam-se aqui documentos do espólio de Fernando Pessoa e da sua biblioteca
particular referentes a padrões antropológicos, espirituais e estéticos das tradições
asiáticas. Alguns deles integraram um dossiê publicado pela primeira vez na revista
Cultura Entre Culturas. O contributo resgatado, precedido por um conjunto de novos
testemunhos, alguns inéditos, permite traçar uma cartografia mais completa de nomes e
obras de poetas, filósofos e mestres espirituais, descobertos por Pessoa em virtude do seu
fervoroso “vício” pela leitura.
Keywords
Fernando Pessoa, National Library of Portugal [Archive 3], Fernando Pessoa’s House
[Fernando Pessoa’s Private Library], Cultura Entre Culturas Journal, Kālidāsa, Buda,
Khayyām, Ella Adelia Fletcher, Om, Intercultural Philosophy.
Abstract
This selection of documents from Pessoa’s archive and private library deals with
anthropological, spiritual and aesthetic issues from the Asiatic traditions. Some of these
documents first appeared in the journal Cultura Entre Culturas. Accompanied by a set of
new documents, both published and unpublished, this selection offers a more complete
array of works by poets, philosophers and spiritual masters that Pessoa discovered
throughout a life deeply devoted to the art of reading.
* Instituto de Filosofia da Nova (IFILNOVA) – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da
Universidade Nova de Lisboa.
Cardiello
Os Orientes
Em Setembro de 2011, a revista Cultura ENTRE Culturas, votada ao encontro
dialogante de tradições, civilizações e domínios à partida sem elos intrínsecos,
lançava o seu terceiro número. A revista continha um caderno especial (ver o
anexo desta minha adenda), em homenagem a Fernando Pessoa, com escritos e
notas transcritos a partir do confronto de documentos autógrafos. Também
revelava páginas da biblioteca particular do escritor, representativas de um aspecto
pouco estudado da obra pessoana: a incidência da variedade e da pluralidade de
culturas que o Oriente, desde sempre, abrange como lugar definido e não definido
pelos mapas.
Passados cinco anos da publicação de “Os Orientes de Fernando Pessoa”, a
sensação de que tal estudo guarda intacta a sua actualidade inspirou o intuito de o
resgatar e complementar. Decidiu-se, então, por um lado, propor aqui o antigo
dossiê para que o formato digital valorize e preserve ainda mais toda a sua riqueza
e complexidade material e, por outro, dilatar a recepção das artes e das sabedorias
orientais na obra de Pessoa, acrescentando material suplementar.
Em cada texto Pessoa cumpre uma viagem nunca feita ao Oriente, através
de incursões literárias de grande valor – como a composição de poemas segundo as
regras formais do haiku japonês ou da rubā‘i persa – em que interage com tradições
milenárias e propõe novas configurações do saber.
A exigência de acalmar a fome atávica resultante do perene interrogar, a
necessidade de lenir o martírio consubstancial ao seu inesgotável raciocinar, a
urgência em evitar a redução do plano fenoménico e da consciência à unidade,
incitaram Pessoa a traçar, desde muito cedo, precisas coordenadas com as quais
poderia direccionar a sua passagem sobre o palco da vida; uma espécie de
dispositivo de equilíbrio por meio do qual dominasse o seu espírito, num
vislumbre de coerência para, ao menos, mitigar as suas agitadas incoerências.
Pessoa leu todas as principais teorias filosóficas da tradição ocidental, desde
Heráclito a Górgias, de Platão a Descartes, de Pascal a Berkeley, de Bergson a
Hegel; deleitou-se com Byron, Keats, Mallarmé, Novalis, Poe, Oscar Wilde e
Guerra Junqueiro, interessou-se por evolucionismo, psicanálise, positivismo,
idealismo e niilismo, mas também mergulhou em Kālidāsa, Khayyām, Ḥāfiẓ,
Neẓāmi, Tagore, Confúcio e Buda, não para desautorizar a autoridade dos
primeiros, mas para procurar novos abrigos e respostas mais sólidas face aos
enigmas do universo. Lá onde a física abrange a metafísica, lá onde a razão aceita o
irracional, lá onde as fronteiras da filosofia e da poesia se tornam porosas e criam
brechas, fendas por onde escorre uma sapiência que reconhece a unidade como
multiplicidade, o todo como partes, o monólogo como diálogo...
Adiantando-se às grandes questões-chave da “filosofia intercultural”,1
Pessoa não se contentou em registar a existência de múltiplas culturas, de afinar a
Para uma introdução a estas questões no contexto do pensamento contemporâneo, veja-se:
PASQUALOTTO (2008).
1
Pessoa Plural: 9 (P./Spring 2016)
129
Cardiello
Os Orientes
sua assimilação mediante adaptações originais; tentou, inclusive, procurar as
formas através das quais estas beneficiam do conhecimento recíproco e do seu
confronto.
É o caso de dois poemas, um redigido em francês a 21 de Novembro de 1913
(Fig. 1), e outro em português a 5 de Setembro de 1934 (Fig. 2), cuja evocação do
Oriente está longe de ser coincidente com o imaginário “pomposo, fanático e
quente” de “Dois Excerptos de Odes” de Álvaro de Campos. Esses dois poemas
dizem respeito ao Oriente não como um espaço concreto, mas como uma imagem
poética. Daí que fiquem na primeira secção, “Do Oriente”.
Na segunda, “Das Tradições Hindu e Budista”,2 encontram-se: um
conhecido poema do autor fictício Alexander Search intitulado “Nirvâna” (Fig. 3),
dois textos diferentes encimados pela indicação “Buddha” (Figs. 4 e 5), destinados,
respectivamente, à peça Sakyamuni e ao cancioneiro ortónimo – e um terceiro que
sintetiza o espírito budista (Fig. 6) – e ainda dois exemplos de páginas sublinhadas
e anotadas de livros da biblioteca particular de Fernando Pessoa (Figs. 7 e 8). Tratase de documentos que mostram o envolvimento de Pessoa com a figura de Buda
(LOPO, 2013), de modo tanto filosófico quanto literário; o seu interesse pela noção
hindu-budista de Nirvana e pelas suas implicações no contexto da filosofia
europeia oitocentista; e ainda pela prática mântrica.
Finalmente, a terceira e última secção, “Dos Géneros Líricos da Ásia”, inclui
algumas listas inéditas de livros que Pessoa terá consultado ou tencionava adquirir
(Figs. 9, 10 e 11), documentos que, tal como uma carta de 1923 (Fig. 12),
testemunham o fascínio de Fernando Pessoa por diversos géneros líricos da Ásia,
tais como a rubā‘i e o haiku. Interessam especialmente as referências a Kālidāsa,
Khayyām e Saʿdī e a uma antologia de poemas chineses, das épocas T’ang, Han e
Song, publicada em 1912 numa rara tradução em inglês.3
2
Estudos sobre Pessoa e estas tradições são publicados no presente número da revista Pessoa Plural
(cf. BORGES, 2016; MOTA, 2016).
Agradeço a Jerónimo Pizarro, Patricio Ferrari, José Barreto e Filipa Freitas pela ajuda de leitura de
algumas passagens problemáticas.
3
Pessoa Plural: 9 (P./Spring 2016)
130
Cardiello
Os Orientes
Documentos
Do Oriente: não como um espaço concreto, mas como uma imagem poética.
1. [Vers plus loin]
21-XI-1913
Vers plus loin, vers plus loin même que ce vain lieu
Qui n’est le corps nu de notre rêve vague
Appareillons, comme en un geste plein de bagues,
Nos pensers lourds de ne rien être que par eux.
Vers un grand Orient héraldique et douteux
Où les couchants au ras du frisson vert des vagues,
Sont de la rouille et du sang vieux sur une dague,
Par un temps irréel sans sourcils sur les yeux.
Pèlerins saints de s’en-aller aux fiertés mortes,
Sur Pas de flots rêvant les nefs qui les transportent
Vers l’ennui solennel de ce qu’ils n’auront pas…
Croisade au vain, vers le Faux, pour l’Étrange
Et pavillon or sur vermeil – deux ailes d’ange
Seules, sans corps, sans sens, fleurs obscures de mât.
Fig. 1. BNP/E3, 50A1-19r4
4
Para a edição crítica deste documento, veja-se: PESSOA (2014a: 90, 329).
Pessoa Plural: 9 (P./Spring 2016)
131
Cardiello
Os Orientes
2. [Depois de não ter dormido]
5/9/1934
Depois de não ter dormido,
Depois de já não ter somno,
Interminavel madrugada em que se pensa
sempre sem se pensar,
Vi o dia vir
Como a peor das maldições –
A condemnação ao mesmo.
Comtudo, que riqueza de azul verde
e amarello dourado de vermelho
No céu eternamente longinquo –
Nesse oriente que estragaram
Dizendo que veem de lá as civilizações;
Nesse oriente que nos roubaram
Com o Conto do Vigario dos mythos solares.
Maravilhoso oriente sem civilizações
nem mythos
Simplesmente ceu e luz,
Material sem materialidade…
Todo luz, mas assim
A sombra, que é a luz da noite dada ao dia,
Enche por vezes, inimitavelmente natural,
O grande silencio do trigo sem vento,
O verdor esbatido dos campos afastados,
A vida e o sentimento da vida.
A manhã innunda toda a cidade.
Meus olhos pesados do somno que não tivestes,
Que manhã innundará o que está por traz de vós,
Que é vós,
Que sou eu?
Fig. 2. BNP/E3, 62B-25
5
Para a edição crítica deste documento, veja-se: PESSOA (2014b: 305-306, 656).
Pessoa Plural: 9 (P./Spring 2016)
132
Cardiello
Os Orientes
Das Tradições Hindu e Budista: sobre o envolvimento de Pessoa com a figura de Buda e
com o budismo.
3. Nirvâna
Nirvâna.
A non-existence deeply within Being,
A sentient nothingness ethereal,
A more than real Ideality, agreeing
Of subject and of object, all in all.
Nor Life, nor Death, nor sense nor senselessness,
But a deep feeling of not feeling aught;
A calm how deep! – much deeper than distress,
Haply as thinking is without the thought.
Beauty and ugliness, and love and hate,
Virtue and vice – all these nowise will be;
That peace all quiet shall eliminate
Our everlasting life - uncertainty.
A quietness of all our human hopes,
An end as of a feverish, tired breath...
For fit expressions vainly the soul gropes;
It is beyond the logic of our faith.
An opposite of joy's stir, of the deep
Disconsolation that our life doth give,
A waking to the slumber that we sleep,
A sleeping to the living that we live.
All difference unto the life we have,
All other to the thoughts that through us roam;
It is a home if our life be a grave,
It is a grave if our life be a home.
All that we weep, all to which we aspire
Is there, and like an infant on the breast,
We shall e'er be with more than we desire
And our accursed souls at last shall rest.
Alexander Search.
1906
Figs. 3a e 3b. BNP/E3, 78-27r e 28r6
6
Para a edição crítica deste documento, veja-se: PESSOA (1997: 131-132, 408).
Pessoa Plural: 9 (P./Spring 2016)
133
Cardiello
Os Orientes
4. Buddha | Tornado a Negação Absoluta
Buddha
Tornado a Negação7 Absoluta, extinguir-tehas de tudo, ó Boddhisattva. O Unico Nada
serás tu. O resto será o grande e puro, limpo
e uno8 Universo. A tua Morte será a vida de
tudo. Tornado a Diversidade Absoluta, o
Abysmo Puro, morrerás de Ti-proprio. E
tudo será o Nirvâna attingido, e o Fim
dourado da Estrada. O resto é o nada onde tu
és a morte sem nada seres.
O teu sacrificio não tem Deus…
A tua Renuncia é um universo.
— O universo-abysmo, o abysmo do abysmo,
o Nada não em Si mas em Nada.
2º. Mas que é feito de ti, Senhor, quando
assim fôr? Tu, o soberano Bem, por o seres tu
tambem o Mal Absoluto. Tu, o Tudo, tu
tambem o
Nada,
que
não † que
as
cousas se †, no seu casamento-Deus. Que é
feito de ti, Boddhisattva, que és o
unico Exilado, o unico Condenado, o unico
Morto – tu a Bondade tu a Excelencia, tu
a Morte, ó Buddha da compaixão!
Fig. 4. BNP/E3, 112CA-17r9
7
<n>/N\egação
8
mudo [↑ uno] variantes alternativas.
O documento aqui transcrito foi inicialmente publicado, com algumas diferenças e com a omissão
das últimas quatro linhas, por Teresa Rita Lopes (cf. LOPES, 1977: 547).
9
Pessoa Plural: 9 (P./Spring 2016)
134
Cardiello
Os Orientes
5. Buddha | Num templo muito longe
13-9-1918
Buddha
Num templo muito longe de onde estamos
Um par que ia na vida da maneira
Com que todos, se somos dois, passamos
Encontrou um Buddha de madeira
E como eram jovens compuzeram
O frio e negro vulto impenetravel
Que scisma eterno □
E levantando um dedo inexplicavel.
Quando, porém, a mocidade doe
Porque o amor dôa, olharam a figura
Pensaram como o □ enganar soe
E por baixo das flores a negrura.
Apparece ao olhar relembrado
O que era o Buddha velho, □ e imundo
O dedo inexplicavel levantado
E alheio de expressão á alma e ao mundo.
Fig. 5. BNP/E3, 43-2r10
10
Para a edição crítica deste documento, veja-se: PESSOA (2005: 172, 404-405).
Pessoa Plural: 9 (P./Spring 2016)
135
Cardiello
Os Orientes
6. [Porque acima de tudo]
Porque acima de tudo paira, sereno, o
espirito do Buddha. Os verdadeiros11
grandes da humanidade são os que a
amaram sem lhe tocar, de cima, de onde se
pode amar sem pertencer, por que nos só
amamos por engano a nos-próprios.
Considerar tudo como uma illusão, e tratal-o
como tal (o segundo episodio é mais difficil
que o primeiro) é a libertação a valer…
A renuncia é □. Se um homem nasce um
perfeito artista nunca fará uma perfeita obra
de arte, nem nenhuma obra de arte, porque
não fará nada. O homem que nasça um
perfeito artista reconhece que não pode ser
um perfeito artista. Tem portanto que morrer
a sua vida – isto é, que renunciar. Só os
internados, os predispostos á aposentação12,
os nervosos da esthetica, podem13 curar-se
das doenças que não teem.
Se14 os animais fallassem, creariam a palavra
solidariedade; passariam pois de saber que já
havia animais fallantes, tanto que a palavra
já existe.
Fig. 6. BNP/E3, 75A-6r15
11
Os <po> verdadeiros
12
á <aposentação> [↑ aposentação]
13
<os escriptores> <† lingua> podem
14
<†> Se
Publicado pela primeira vez em PESSOA (2003: 365-366). Este escrito será contemporâneo de textos
de 1924 (75A-8, 75A-9 e 75A-11) transcritos em PESSOA (2012: 220-223).
15
Pessoa Plural: 9 (P./Spring 2016)
136
Cardiello
Os Orientes
7. [Marginalia 1]
Fig. 7. CFP, 1-105, pp. 56-57
MEAD, George Robert Stow (1913). Quests Old and New. London: G. Bell & Sons, Ltd., pp. 56-57
(CFP, 1-105). Fac-símile do volume na biblioteca particular de Fernando Pessoa. Sublinhado: “Men
may become gods, but gods cannot become Buddhas without first becoming men […] [man may]
become the demiurgic thinker of a world-phase”.
Pessoa Plural: 9 (P./Spring 2016)
137
Cardiello
Os Orientes
8. [Marginalia 2]
Fig. 8. CFP, 1-44, pp. 238-23916
most important | mos important | note
FLETCHER, Ella Adelia (1913). The Law of the Rhythmic Breath: teaching the generation, conservation, and
control of vital force. London: William Ryder & Son, Limited., pp. 238-239 (CFP, 1-44). Fac-símile do
volume na biblioteca particular de Fernando Pessoa. Sublinhado: “Om is a fundamental word
covering the whole phenomena of vocal utterance”.
O circunflexo na assinatura manuscrita “Fernando Pessôa” que se encontra neste volume, sugere
que a leitura do livro é anterior à carta de 4 de Setembro de 1916, enviada a Armando CôrtesRodrigues. Nessa carta, Pessoa anuncia “uma grande alteração” na sua vida: a decisão de tirar o
acento circunflexo do seu apelido, para perder o ^ que prejudicava o seu nome “cosmopolitamente”
(PESSOA, 1945: 79).
16
Pessoa Plural: 9 (P./Spring 2016)
138
Cardiello
Os Orientes
Dos Géneros Líricos da Ásia: sobre o fascínio de Pessoa por diversos géneros líricos da
Ásia, tais como a rubā‘i e o haiku. 17
9. [Lista 1]
Fig. 9. BNP/E3, 2721L4-19r
Sobre os haikus de Pessoa, veja-se: FERRARI e PITTELLA-LEITE (2016), neste número da revista Pessoa
Plural.
17
Pessoa Plural: 9 (P./Spring 2016)
139
Cardiello
Os Orientes
Globe Edition
(Macmillan).
3/6 each.
Burns. Complete Poetical Works and Letters (Ed. by Alex[ander] Smith
Chaucer. Works (Edited by A. W. Pollard, H. F. Heath, M. H. Lidell, W. S. M’Cormick).
Cowper. Poetical Works (Ed. by Rev. W. Benham).
Dryden. Poetical Works (––––– W.D. Christie, M.A.).
Goldsmith. Miscellaneous Works (Prof. Masson).
Pope. Poetical Works - (Prof. Ward).
Scott. ––––––––––––– (––– Palgrave).
Spenser. Complete –– (R. Morris & J. W. Hales).
Methuen’s Little Library.
(2s. 6d each).
English Poems of Richard Crashaw (Eduard Hutton).
Kinglake’s “Eothen” (Intr[oduction] & Notes by? 18).
Barrow’s “Lavengro” (F. Hindes Groome). 2 vols.
Beckford’s “Vathek” (E. Denison19 Ross).
Susan Ferrier’s “Marriage” (Lord Iddesleigh & Miss. G. Freer). 2 vols.
“Mansie Wauch” by D. M. Moir (Ed[ited] by T.F. Henderson).
Methuen (Miscellaneous) =
Rubaiyat of Omar Khayyam, [Fitzgerald]. (W[ith] [a] commentary by H.M. Batson etc)20 – 1
vol. 6s. Od. 21
But like a music hath no meaning. Oh
If I but knew the cause & end of things! 22
Informação não esclarecida em: “A Catalogue of Books and Announcements of Methuen and
Company, October 1902” (https://www.mirrorservice.org/sites/gutenberg.org/4/6/5/0/46506/46506h/46506-h.htm#c5; web, consultado em Maio de 2016).
18
19
Dennison ] no original.
20
Na informação editorial sobre este livro, falta: “and a Biography of Omar by E. D. Ross.”
Patricio Ferrari refere este documento num texto de apresentação da biblioteca digital de
Fernando Pessoa: “Urdindo a sua obra em grande parte a partir de livros, talvez nenhum o tenha
inspirado tanto como os Rubáiyát de Omar Khayyám na versão inglesa de Edward FitzGerald.
Como se pode depreender de uma lista de livros feita por Pessoa nos seus tempos escolares em
Durban (cf. BNP/E3, 2721 L4-19), este título era-lhe conhecido desde muito cedo. Ao longo da sua
vida, foram várias as edições através das quais contactou com versos deste autor persa. Entre os
volumes conservados na sua biblioteca particular encontram-se quatro com poesia de Khayyám:
The Oxford Book of Victorian Verse (cf. CFP 8-405), antologia publicada em 1912, onde foram incluídos
alguns poemas de Omar Khayyám na secção dedicada ao poeta e tradutor Edward FitzGerald; e a
colectânea The Golden Treasury of the Best Songs and Lyrical Poems in the English Language (cf. CFP 8409), numa reedição de 1926. Enquanto as duas selecções dos Rubáiyát nestas antologias não
apresentam anotações, é no Omar Khayyám The Poet por Thomas Hunter Weir (cf. CFP, 8-662 MN),
levado ao prelo também em 1926 e no Rubáiyát of Omar Khayyám (Fig. 13), reimpresso depois de
Março de 1928, que Pessoa deixará marginalia” (FERRARI, 2010). Sobre Pessoa e Khayyām, cf. FEITOSA
(1998); BOSCAGLIA (2015a, 2015b, 2016a e 2016b ).
21
Versos que podem pertencer à “Ode to Music”. Veja-se a folha 49B4-94r, que contém um
fragmento desta ode atribuível a Charles Robert Anon, autor fictício activo entre 1903 e 1906.
22
Pessoa Plural: 9 (P./Spring 2016)
140
Cardiello
Os Orientes
10. [Lista 2]
The Scott Library:
2. Thoreau’s “Walden”.
3. ––– “Week on the Concord”.
4. ––– “Essays”.
5. De Quincey: “Conf. of an Eng. Opium-Eater”DC.23
8. Browne: “Religio Medici”, etc.
9. Shelley: “Essays and Letters”.
11. Lowell: “My Study Windows”.
12. ––– : “Essays on the Eng[lih] Poets”.
16. Leigh Hunt: “Essays”.
18. Ferris: “Great Musical Composers”.
22. Walt Whitman: “Specimen Days in America”
23. ––– : “Democratic Vistas”.
28. Reynolds: “Discourses”.
31. W[illia]m Morris: “Voslunga Saga”.
34. Lord Herbert: “Autobiography”.
36. Ibsen: “Pillars of Society and other plays”.
38. Dr. Johnson: “Essays”.
51. Th[omas] Davis: “Prose Writings”.
53. Th[omas] More: “Utopia and Life of Edward V”.
54. Sadi: “Gulistan”.
56. E[dmund] Gosse: “Northern Studies”.
57. “Early Reviews of Great Writers”.
Fig. 10a. BNP/E3, 48B-121r
A referência apontada por Pessoa parece remeter para o livro De Quincey's Confessions of an
English opium-eater, Boston: D.C. Healt, 1898. Acerca da presença de De Quincey na obra de Pessoa
e, em particular, no poema “Opiário” de Álvaro de Campos, sustenta David Jackson: “His escape
into opium references the romantic tradition described in Thomas De Quincey’s Confessions of an
English Opium-Eater (1922), implied in the poem’s satire of English travelers on board. De Quincey
sketches the opium-eater as a philosopher ‘in the phantasmagoria of his dreams’, who claims to
possess a superb analytical intellect and eye for the mysteries of human nature. Campos’s poem
plays on De Quincey’s aphoristic and witty themes, whereby he affirms that consciousness is a
greater burden than a wife or a carriage […], the sense that his own self has been counterfeited […],
and that Oriental dreams have left him with sensations of astonishment and abomination, ‘a sense
of eternity and infinity that drove me into an oppression as of madness’” (JACKSON, 2010: 7).
23
Pessoa Plural: 9 (P./Spring 2016)
141
Cardiello
Os Orientes
58. Aristotle: “Ethics”. all G[eorge] H[enry] Lewes’
Essay on Aristotle
64. C[harles] Darwin: “Coral Reefs”.
66. Miss Mitford: “On Village”.
69. Doug[las]. Jerrold: “Essays and Papers”.
70. M[ar]y Wollstonecraft: “Vindication of the
Rights of woman”.
77. Hovelock Ellis: “The New Spirit”.
79. Sir A. Helps: “Essays and Aphorisms”.
83. Th[omas] Carlyle: “Essays on German
Literature”.
87. N[icolai] V[asilevich]: “The Inspector-General:
a comedy”.
90. Plato: “Republic”.
92. Coleridge: “Prose and Table-Talk”.
98. Walton and Cotton: “Complete Angler”.
102. Schopenhauer: “Essays”.
105. G[eorge] H[enry] Lewes: “Principles of Success
in Literature”
106. Walton: “Lives of Wotton, Hooker, Herbert,
Sanderson”.
117. Kâlidâsa: “Sakuntalâ”.24
Fig. 10b. BNP/E3, 48B-121ar
Trata-se de uma lista que já existia em finais do século XIX e que Pessoa terá copiado das páginas
finais de um livro por volta de 1905.
24
Pessoa Plural: 9 (P./Spring 2016)
142
Cardiello
Os Orientes
11. [Lista 3]
Fig. 11. BNP/E3, 93A-63v
Sir Archibald Geikie: “The Love of Nature among the Romans during the later decades of the
Republic and the First Century of the Empire” (J. Murray)25
Chinese Poems, translated by Charles Budd. (Frowde) 3/6 net
S[amuel] T[aylor] Coleridge: Complete Poetical works. Ed. Ernest Hartley Coleridge. (Oxford
Claredon Press) 2 vols. 16/- net.
Ed[ited] by Eleanor Hull: “The Poem – Book of the Gael.” Chatto & Windus.
25
Livro publicado em 1912, tal como os seguintes.
Pessoa Plural: 9 (P./Spring 2016)
143
Cardiello
Os Orientes
12. [Carta a Rogelio Buendía]
Fig. 12. BNP/E3, 1141-19r26
Relativamente à correspondência entre Pessoa e os ultraístas espanhóis, cf. SÁEZ DELGADO (1999 e
2005).
26
Pessoa Plural: 9 (P./Spring 2016)
144
Cardiello
Os Orientes
Copia.
Dr. Rogelio Buendía,
Castelar, 6, Huelva.
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Lisboa, 20 de Agosto de 1923.
Agradeço, meu presado camarada, a offerta, com que acaba de me honrar, do seu livro “La
Rueda de Color”.
A sua arte meio-moderna, meio-japoneza, feita, em versos contemporaneos, do espirito
miniaturista dos haikais, embalou um momento o que sonha em mim. Sem duvida que a alma do
futil e do transitorio, que sente que o é, enche, de sonho a realidade, a sua inspiração
impressionista. Ha uma razão para isto, como a haveria para o contrario. Toda a vida, porventura,
cabe na impressão de um balão veneziano, ou de uma paysagem da China, vista numa porcelana
transparente, nas tardes longinquas de um mandarim que nunca existisse. Viver a vida como se
bebessemos por ella uma bebida que entretem sem alimentar constitui uma das razões-de-ser do
homem moderno. Mesmo o ser moderno, porém, vae sendo antigo. Felicito-o por se ter esquecido
d'isto.
Guardo do seu livro uma absurda impressão de Oriente, provavelmente verdadeira. Sou
um occidental extremo, para quem o Oriente começa na fronteira de Hespanha. Sou tambem o
contrario d'isto — um occidental extremo para quem, subdito do mar e do céu, não ha fronteira
nenhuma.
É com este espirito de universalidade incerta que apprecio o seu livro, que, tendo-o lido,
duas vezes lhe agradeço, pedindo-lhe que creia no applauso e na estima do seu
camarada obscuro,
(a) Fernando Pessoa.
Apartado 147,
Lisboa.
Pessoa Plural: 9 (P./Spring 2016)
145
Cardiello
Os Orientes
Bibliografia
BORGES, Paulo (2016). “As coisas são coisas? Alberto Caeiro e o Zen”, in Pessoa Plural — A Journal of
Fernando Pessoa Studies, n.º 9, pp. 110-130.
BOSCAGLIA, Fabrizio (2016a). “Fernando Pessoa and Islam: an introductory overview with a critical
edition of twelve documents”, in Pessoa Plural — A Journal of Fernando Pessoa Studies, n.º 9,
pp. 38-109.
____
(2016b). “As Chronicas Decorativas de Fernando Pessoa: edição crítica de oito documentos”,
in Pessoa Plural — A Journal of Fernando Pessoa Studies, n.º 9, pp. 151-186.
____
(2015a). “Pessoa, Borges e Khayyam”, in Variaciones Borges, n.o 40, pp. 41-64.
____
(2015b). “A presença árabe-islâmica em Fernando Pessoa”. Tese de Doutoramento em
Filosofia. Universidade de Lisboa.
BRAGA, Duarte Drumond (2016). “Um roteiro pessoano sobre a Índia”, in Pessoa Plural — A Journal
of Fernando Pessoa Studies, n.º 9, pp. 11-37.
____
(2014). “Ao oriente do Oriente: transformações do orientalismo em poesia portuguesa do
século XX. Camilo Pessanha, Alberto Osório de Castro e Álvaro de Campos”. Tese de
Doutoramento em Estudos Comparatistas. Universidade de Lisboa.
FEITOSA, Márcia Manir Miguel (1998). Fernando Pessoa e Omar Khayyam: o Ruba'iyat na poesia
portuguesa do século XX. São Paulo: Giordano.
FERRARI, Patricio (2010). “Anotações”, in Casa Fernando Pessoa: Biblioteca Digital de Fernando Pessoa.
Web. Consultado em Maio de 2016.
http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt/bdigital/index/anotacoes.htm
FERRARI, Patricio; PITELLA-LEITE, Carlos (2016). “Twenty-one Haikus by Fernando Pessoa”, in Pessoa
Plural — A Journal of Fernando Pessoa Studies, n.º 9, pp. 187-232.
FLETCHER, Ella Adelia (1913). The Law of the Rhythmic Breath: teaching the generation, conservation, and
control of vital force. London: William Ryder & Son, Limited (CFP, 1-44).
JACKSON, David K. (2010). Adverse Genres in Fernando Pessoa. New York: Oxford University Press.
LOPES, Maria Teresa Rita (1977). Fernando Pessoa et le drame symboliste. Heritage et creation. Preface de
Rene Etiemble. Paris: Fundação Calouste Gulbenkian.
LOPO, Rui (2013). “Presenças do Budismo na Obra em Prosa de Fernando Pessoa”, in Nietzsche,
Pessoa e Freud. Colóquio Internacional. Organização de Paulo Borges, Nuno Ribeiro e Cláudia
Souza. Lisboa: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, pp. 157-172.
MEAD, George Robert Stow (1913). Quests Old and New. London: G. Bell & Sons, Ltd. (CFP, 1-105).
MOTA, Pedro Teixeira da (2016). “A Caminho do Oriente: apontamentos de Pessoa sobre Teosofia e
espiritualidades da Índia”, in Pessoa Plural — A Journal of Fernando Pessoa Studies, n.º 9, pp.
233-255.
PASQUALOTTO, Giangiorgio (2008) [org.]. Per una filosofia interculturale. Milano-Udine: Mimesis.
PESSOA, Fernando (2014a). Poèmes français. Édition établie et annotée par Patricio Ferrari avec la
collaboration de Patrick Quillier. Préface de Patrick Quillier. Paris: Éditions de la
Différence.
____
(2014b). Álvaro de Campos: Obra Completa. Edição de Jerónimo Pizarro e Antonio Cardiello;
colaboração de Jorge Uribe e Filipa Freitas. Lisboa: Tinta-da-China.
____
(2013). Eu sou uma antologia: 136 autores fictícios. Edição de Jerónimo Pizarro e Patricio
Ferrari. Lisboa: Tinta-da-China.
____
(2012). Prosa de Álvaro de Campos. Edição de Jerónimo Pizarro e Antonio Cardiello;
colaboração de Jorge Uribe. Lisboa: Ática.
____
(2008). Rubaiyat. Edição de Maria Aliete Galhoz. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da
Moeda.
Pessoa Plural: 9 (P./Spring 2016)
146
Cardiello
Os Orientes
____
(2005). Poemas de 1915-1920. Edição de João Dionísio. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da
Moeda.
____
(2003). Escritos Autobiográficos, Automáticos, e de Reflexão Pessoal. Edição de Richard Zenith.
Colaboração de Manuela Parreira da Silva. Lisboa: Assírio & Alvim.
(1997). Poemas de Alexander Search. Edição de João Dionísio. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa
____
da Moeda.
(1945). Cartas a Armando Côrtes-Rodrigues. Introdução de Joel Serrão. Lisboa: Confluência.
____
PIZARRO, Jerónimo; FERRARI, Patricio; CARDIELLO, Antonio (2011). “Os Orientes de Fernando
Pessoa”, in Cultura Entre Culturas, n.º 3, pp. 148-185.
____
(2010). A Biblioteca Particular de Fernando Pessoa. Lisboa: D. Quixote.
SÁEZ DELGADO, Antonio (2015). Pessoa y España. Valencia: Pre-textos.
____
(1999). Órficos y ultraístas: Portugal y España en el diálogo de las primeras vanguardias literarias
(1915-1925). Mérida: Editora Regional de Extremadura.
Arquivos de Fernando Pessoa
Biblioteca Nacional de Portugal, Espólio 3 (BNP/E3)
Casa Fernando Pessoa, Biblioteca particular de Fernando Pessoa (CFP)
Pessoa Plural: 9 (P./Spring 2016)
147
148
jerónimo pizarro, patricio ferrari, antonio cardiello
os Orientes de Fernando Pessoa
«Cheguei á India em Janeiro de mil oitocentos e noventa e dois».1
Vicente Guedes
Existem lugares do mundo, enclaves de histórias e tradições milenares, que uma
convenção meramente eurocêntrica situa a leste do continente que Gregos e Romanos
foram os primeiros a civilizar. São promontórios, montanhas, planícies, ilhas e penínsulas que
unem os antigos e modernos territórios árabe, persa, palestiniano e indiano aos remotos
solos chinês e nipónico, e de onde, desde a mais antiga noite dos tempos, irradiaram os
ensinamentos de Buda, Confúcio e Maomé. Atravessar tais territórios significa transitar por
rotas especulativas, cortar por atalhos divergentes dos monismos científico e religioso de raiz
ocidental, cada vez mais insustentáveis numa época de efervescente globalização à escala
planetária. Colher a vastidão desse património civilizacional equivale a incorporar novos
paradigmas culturais, espirituais e estéticos; assimilar outras formas de perceber e
experimentar o Real: entregarmo-nos às diferenças e às alteridades, anulando a fronteira que
separa a familiaridade do eu particular dos múltiplos graus de inteligibilidade do
desconhecido.
Embora Fernando Pessoa nunca tenha visitado o Oriente, revisitou-o em inúmeras
ocasiões. Dos vestígios dessas viagens surgiu o nosso intuito de traçar alguns dos caminhos
percorridos pelo autor, horizontes de uma cartografia constituída pelas mais diversas vozes
de filósofos e poetas. Desde as já conhecidas traduções de quartetos de Omar Khayyâm −
manuscritas no exemplar ainda hoje presente na sua biblioteca particular (cf. Rubaiyat, 2008)
− à tradução de alguns versos do Fruit-Gathering [Colher de Frutos] de Rabindranath Tagore e
de Nezāmi (estes últimos acompanhados de escansão), passando por extensas listas de
literatura clássica hindu onde curiosamente encontramos a «Mrichchhkati (The Toy Cart)» –
«Cheguei á India em Janeiro de mil <nove>/oito\centos e <dois> noventa e dois» (Biblioteca Nacional
de Portugal/Espólio 3, 2720-S3-6v). O título «A Tortura pela escuridão» é acompanhado da seguinte
atribuição «V[icente] Guedes» (cf. 2720-S3-5 a 8). Transcrevem-se as variações dos diferentes textos
aqui apresentados a partir dos originais do espólio de Fernando Pessoa (BNP/E3), utilizando os mesmos
símbolos na edição crítica do autor: □ espaço deixado em branco; * leitura conjectural; / / lição posta
em dúvida pelo autor; † palavra ilegível; <>/\ substituição por sobreposição; [↑ ] acrescento na
entrelinha superior; [↓ ] acrescento na entrelinha inferior; [→ ] acrescento na margem direita; [← ]
acrescento na margem esquerda. Os segmentos autógrafos riscados, ao contrário do que é feito na
edição crítica, serão reproduzidos tal como se encontram no original.
1
149
peça construída em torno da troca de identidade entre personagens –, este dossiê pretende
ilustrar a duradoira relação que Pessoa manteve através dos livros com o Oriente.
Notas, esboços, apontamentos e até alguns projectos de índole comercial não haveriam
de escapar a esse Oriente pessoano. Assim o demonstram o plano para uma «Anthologia
Geral» de literaturas que incluiria, entre outras, as hindu, chinesa, persa, japonesa e hebraica,
ou as listas datáveis de 1915 onde figuram obras da «Theosophical Publishing Society», algumas
das quais Pessoa chegaria de facto a traduzir para a colecção «Theosofica e Esoterica».
Haverá quem diga que o Oriente de Pessoa é longínquo, vago, mental. Mas outros,
reparando por exemplo nos fragmentos aqui apresentados sobre Ghandi, talvez se recordem
de que em Janeiro de 1897, data do desembarque do Mahatma em Durban, o jovem poeta
português já se encontrava nessa cidade sul-africana havia um ano. E talvez também se
recordem que em Agosto de 1901, quando Pessoa regressou a Lisboa, o vapor que o
transportou e à família atravessou o Oceano Índico e o canal de Suez, e que essa viagem se
repercute num eco autobiográfico na visita à Índia constante da frase em epígrafe tirada de
um texto assinado por Vicente Guedes. Então que razões haverá para restringir o Oriente de
Pessoa a este plano ou aquele, quando o roteiro dos documentos que estivemos a reunir nos
coloca precisamente nos antípodas de uma projecção unívoca?
Estaremos longe desta redução se à tal experiência oriental juntarmos outra não menos
determinante: a da mediação a partir do Ocidente, dessa «Passage to India»2 cantada por uma
das figuras da literatura que Pessoa tanto admirou, ou seja, Walt Whitman. Na mesma senda,
a partir deste encontro de poetas, como negar que 1892 – data escolhida para a viagem à
Índia no texto de Guedes – não seja um clin d’œil ao ano da morte do autor de Leaves of
Grass ou que estas últimas «folhas» que Álvaro de Campos atira ao Oriente não sejam outra
saudação, outra maneira de incansavelmente o explorar?
Walt Whitman. «Passage to India», in Leaves of Grass. London & New York ; Toronto & Melbourne:
Cassell & Company, 1909, pp. 380-388. (Casa Fernando Pessoa, 8-580). Na folha da guarda figurão a
seguinte assinatura e data : «Fernando Pessôa | 16.5.1916».
2
150
(BNP/E3, 70-3v; cf. Poemas de Álvaro de Campos, 1992: 43-44).
Uma folha de mim lança para o Norte,
Onde estão as cidades de Hoje cujo ruido amei como [↑ a] um beijo. [↑ corpo.]
Outra folha de mim lança para o Sul
Onde estão os mares e as aventuras que se sonham.
Outra folha minha atira ao Occidente,
Onde arde ao rubro tudo o que talvez seja o futuro,
E ha ruidos de grandes machinas e grandes desertos rochosos
Onde as almas se tornam selvagens e a moral não chega.
E a outra, as outras, todas as outras folhas –
Ó occulto tocar-a-rebate dentro em minha alma ! –
Atira ao Oriente,
Ao Oriente, d’onde vem tudo, o dia e a fé,
Ao Oriente pomposo e fanatico e quente,
Ao Oriente excessivo que eu nunca verei,
O/A\o Oriente buddhista, brahmanista, shintoista,
Ao Oriente que é tudo o que nós não temos,
Que é tudo o que nós não somos,
Ao Oriente onde – quem sabe? – Christo talvez ainda hoje viva,
Onde Deus talvez exista realmente [↓ com corpo] e mandando tudo...
Jerónimo Pizarro
Patricio Ferrari
Antonio Cardiello
151
[48-55r]
[55I-13r]
152
[93-69ar]
153
Notes
Ency[clopædia] Brit[annica] – Art[icle] Poetry (Theodore Watts).3
Vol. XIX – pp. 256 to 273
257.– Def[inition] “Absolute poetry is the concrete and artistic expression of the human
mind in emotional and rhythmical language.”
257. –
Exceedingly false example of “not poetry” quoted from George Eliot’s “The
Spanish Gipsy.”4
257
“while prose requires intellectual life and emotional life, poetry seems to
require not only intellectual life and emotional life but rhythmic
life, this last being the most important of all according to many critics,
though Aristotle is not among these.”
Omar Khayyam: text (critical edition) with
translation – E. H. Whinfield, 1883.
Chodzko – Théâtre5 persan. nouv[elle] éd. Paris, 1878
Gobineau – Religions6 et philosophies de l’Asie Centrale.
Paris, 1866.
Sádi:
Háfiz:
S[amuel] Robinson: Persian Poetry for English Readers. 1883.
Bústán: tr[anslated] into E[nglish] by W[ilberforce] Clarke, London, 1879
into F[rench] by Barbier de Meynard, Paris, 1880.
Gulistán: tr[anslated] E[nglish] Eastwick (1852), and Platts (1873)
tr[anslated] Fr[ench] Defrémery (1858)
Kulliyyát (Complete Works)
Theodore Watts-Dunton, que entrou no Omar Khayyám Club em 1896 (cf. D’Ambrosio, 1989: 92),
foi o autor do famoso artigo «Poetry», publicado na 9.a edição da Encyclopædia Britannica em 1885. Este
artigo e outro sobre «Persia» encontram-se no mesmo volume. Ver Pizarro [2011].
4 «Speech is but broken light upon the depth | Of the unspoken; even your loved words | Float in the
larger meaning of your voice | As something dimmer.»
5 «Théatre» no original.
6 «Réligions» no original.
3
154
[93-69r]
Háfiz:
Verse rendering of the principal poems: By H. Bicknell – pub[lished]
by Trübner & Co., London, 1875.
100 selected odes (prose version) (anonymous) – W[illia]ms & Norgate. L[ondo]n 1875
Several translations in Oriental Miscellany.
Tr[anslated] by Palmer, 1881 ( ?)
155
[144-27v]
Some work on the Byzantine Empire.
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Some work explaining sociologically (for one) the Persian poets Hafiz, Omar etc. Has it not
some connection with the Renascence?
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Letourneau7 omits (?) all mention of Persia – remember this and get more work on Persian
civilization – Is there any connection between these and the Persian poets of the 13th or
14th century Omar, Hafiz, etc. mentioned above)?
Na Biblioteca Particular de Fernando Pessoa encontra-se o seguinte exemplar: Charles Letourneau
[1901]. La Psychologie ethnique: mentalité des races et des peuples. Paris: Schleicher Frères. 556 p. 19 cm.
«Bibliothèque des sciences contemporaines». (CFP, 3-39).
7
156
[122-42r]
Um pesador de palavras veio, a balança na mão
Continuou partindo a moeda
4 7 9 12 15
…/ ../ ./. ./
../
…/ ./. ./.
Nizami – p[age] 153.
Abū Muhammad Bin Yusuf Bin Mu, Ayyid-I-Nizāmu-’d-Dīn. The Sikandar Nāma, E Bará; or Book
of Alexander the Great. Translated for the first time out of the Persian into prose, with critical and explanatory remarks, with an introductory preface, and with a life of the author, collected from various
Persian sources by Captain H. Wilberforce Clarke. London: W. H. Allen & co, 1881. (CFP, 9-1).
157
[108-92r]
H[istory] of a D[ictatorship]
Jews & Orientals (H[erbert] G[eorge] Wells –
12 st[ories] & a dr[eam], p. 135) live
quicker than we.a
______________
«It seemed to me that so far Gibberne was only
going to do for any one who took his drug exactly
what Nature has done for the Jews and Orientals,
who are men in their teens and aged by fifty, and
quicker in thought and act than we are all the
time».
a
158
John Mackinnon Robertson.
A Short History of Christianity. London: Watts & Co, 1902
(CFP, 2-55).
Note this
Consider this:
Sects have founders, but not religions:
Religions only when Sects – as
Mahometanism, a [↑ one] people’s
religion, imposed afterwards on other
peoples; not, as Christism, a religion summoning many aspirations and peoples – And even Mahomet was representative, not foundational [examine this]
159
[5-30r]8
Quanto mais contemplo o spectaculo do mundo, e o fluxo e refluxo da mutação das cousas,
mais profundamente me compenetro da ficção ingenita de tudo, do prestigio falso /da pompa/ de
todas as realidades. E nesta contemplação, que a todos, que reflectem, uma ou outra vez terá
succedido, a marcha multicolor das civli dos costumes e das modas, o caminho complexo dos
progressos e das civilizações, a confusão grandiosa dos imperios e das culturas – tudo isso me
aparece como um mytho e uma ficção, sonhado entre sombras e esquecimentos [↑
desmoronamentos]. Mas não sei se a definição suprema de todos esses propositos mortos, até
quando conseguidos, deva estar na abdicação extatica do Buddha, que, ao comprehender a
vacuidade das cousas, se ergueu do seu extase dizendo “Já sei tudo”, ou na indifferença demasiado
experiente do imperador Severo: “omnia fui, nihil expedit – fui tudo, nada val a pena”.9
Para a edição crítica deste documento ver Livro do Desasocego, 2010: 143 e 721.
Ver um texto intitulado «Omar Khayyam», em que Pessoa diz que o tédio do poeta e filósofo persa é
o tédio de «quem mediu todas as religiões e todas as philosophias e depois disse, como […] Septimio
Severo: “Omnia fui, nihil ……..,” “Fui tudo; nada vale a pena”» (1-5r; cf. Edição Crítica de Fernando
Pessoa, volume I, Rubaiyat, 2008: 78).
8
9
160
Edward Denison Ross. Eastern Art & Literature: with special
reference to China, India, Arabia, and Persia. London: Ernest Benn
Limited, 1928. (CFP, 8-482).
161
[54B-15r]
From “Occult Series No. 10” Catalogue:
65. “Ideal Suggestion through Mental Photography”
by Henry Wood. 8vo. cloth. 5/–.
91. “Magic, White and Black” by Dr. Franz Hartmann. cr. 8vo. cloth. 6/-.
101. “Mind Power, or the Secret of Mental Magic”.
8vo. 441 pp. cloth. 5/-.
131 and 132. “Our Invisible Supply: How to Obtain”.
Parts I & II. 8vo. cloth. 2 vols. 7/-.
162. “The Science of Breath and the Philosophy of
the Tattvas”. By Rama Prasad. 8vo. cl. 3/6.
233. “The Hindu-Yogi Science of Breath”. By Yogi
Ramacharaka. 8vo. cloth. 3/-.
------Entregue em 11-4-1916
162
Rabindranath Tagore (1922). Gitanjali Song-offerings and Fruit-gathering.
Introduction by W. B. Yeats. Leipzig: Bernhard Tauchnitz, 1922. (CFP, 8-536).
Cantos Dados [↑ Votos]
Colher de Frutos
O desejo do botão é a noite e o orvalho
Mas a flor cheia para a luz livre
Rompe a bainha em coração, e emerge!
163
És a imagem vermelha viva da liberdade temivel
Sê contente de
que ha dias a
vir.
164
[93A-20r]
Rabindranath Tagore: “L’Offrande Lyrique”
Trad. André Gide.
Nouv[elle] Revue
Franç[aise]b 3.50.
Pearson’s Weekly –
Middles – 110.
Air smashes = high position lat
tired feeling = derivation probably
“tyre”
Inq[uerito] Republica
Trad[ucção] “Ribeirinho”
Lebre e Lima
b
Rabindranath Tagore, L’offrande lyrique [Gitanjali], traduction d’André Gide,
Paris, Nouvelle revue française, 1913.
165
[144-5v]
Kálidása:
“Sákuntalá”
“Vikrama and Urvasé” (The Hero
and the Nymph).
Mrichchhkati (The Toy Cart)
(attr[ibuted] to Śúdraka)
Babhavúti (called Çrikántha)
Mahávára-Charita
heroic dramas
Uttara-Ráma-Charita
Málatí and Mádhava. – Love drama.
Veńi-Saníhara
166
[55H-64r]
Mahatma Ghandi.
Mettam-me no lixo que são esses †
esses † e
Esses meros santos.
_________________
Elle nunca pode ser ridiculo porque
não pode ser medido pelas normas dos
que o pretendem ridicularizar. Asceta,
que paria moral dos politicos tem
com que medil-o?
O seu alto exemplo, inaproveitavel pela nossa fraqueza, enxovalha a nossa ambiguidade.
Humilde e austero, despreza-nos
do alto da sua vida. Heroe sem
armas, dá ferrugem aos nossos
numerosos gladios, espingardões e
peças. Vontade una e firme, paira
acima das nossas intrigas politicas em
meio do perigo, da nossa firmeza
vinda ao accaso, da nossa bebedeira
de conseguimentos.
167
[55H-65r]10
Ghandi.
O Mahatma Ghandi é a unica
figura verdadeiramente grande que
ha hoje no mundo. E é isso por
que, em certo modo, não pertence
ao mundo e o nega.
Os dois documentos sobre Ghandi, aqui transcritos, foram inicialmente publicados, com algumas
diferenças, por Richard Zenith (cf. 2008: 50-51).
10
168
Victor Henry. Les Littératures de l’Inde: sanscrit, pâli,
prâcrit. Paris: Librairie Hachette & Cie, 1904. (CFP, 8250).
169
170
171
[48B-56r]11
The Theosophical Publishing Society: (161, New Bond Street. London. W).
Brother Atisha: An Exposition of the Doctrine of Karma. net. 1/Annie Besant
: The Ancient Wisdom. net 5/"
: The Pedigree of Man. net 2/"
: A Study in Karma. net 2/"
: An Introduction to Yoga. net 2/-.
"
: Esoteric Christianity. net 5/-.
"
: The Wisdom of the Upanishads. net 2/-.
"
: The Bhagavad Gitâ. 4th. ed[ition] net. 6d. (wrappers).
"
: Theosophy and Theosophical Society. net 2/" and C[harles] W. Leadbeater: Man: Whence, How and Whither. net 12/H[elena] P[etrovna] Blavatsky: The Secret Doctrine. 3 vols. 50/- net.
"
: Isis Unveiled, 2 vols. net 21/-.
Claude Bragdon: A Primer of High[er] Space (The Fourth Dimension).
Bhagavan Das : The Science of the Emotions. 2nd ed. net 4/6.
"
: Pranava vada. 3 vols. 18/-.
Extracts from the “Vahan”. (800 p.) net 7/6
W [illiam] King[s]land
: A Child’s [Story]12 of Atlantis. net 1/"
: The Esoteric Basis of Christianity. net 3/6.
"
: Physics of the Secret Doctrine. net 3/6.
C[harles] W. Leadbeater: Man Visible and Invisible. net 10/6
"
: The Hidden Side of Things. 2 vols. 16/- net.
"
: The Other Side of Death. net 8/.
"
: Clairvoyance. net 2/"
: Dreams. net 1/6.
"
: A Text-Book of Theosophy. – 1/6 net
Testemunho datável de 1914. Esta lista de livros contém uma referência às três obras de Charles
Webster Leadbeater, que Pessoa, sob encomenda, traduzirá para o português entre 1915 e 1916.
Publicadas todas pela Livraria Clássica Editora, circularam em Portugal com os títulos Compêndio de
Theosophia (1915), Auxiliares Invisíveis e A Clarividência (ambos de 1916) .
12 «History» no original.
11
172
173
[56v]
C[harles] W[ebster] Leadbeater: Invisible Helpers. net 1/6.
: The Astral Plane net 1/: The Devachanic Plane net 1/Dr. A. Marques: Scientific Corroborations of Theosophy. net 2/6.
G[eorge] R[obert] S[tow] Mead
: Thrice-Greatest Hermes. 3 vols. net 30/: Fragments of a Faith Forgotten. net 20/6
: Did Jesus Live 100 B.C? – net 9/: Quests Old and New. net 7/6
: Some Mystical Adventures. net 6/: The Gospels and the Gospel. net. 4/6.
: Plotinus, Introduction to the Works of. net 1/Mrs. Cooper Oakley: Traces of a Hidden Tradition… net 3/6
"
: Mystical Traditions. net 4/Rama Prasad: Nature’s Finer Forces. Net 3/6.
G[eorge] H[erbert] Whyte: Is Theosopy Anti-Cristian. Net 6d.
W[illiam] Scott-Elliot: The Lost Lemuria. net 2/6 in 1 vol. 5/6 net.
"
: The Story of Atlantis [and] net 2/6
A[lfred] P[ercy] Sinnett
: Esoteric Buddhism. net 2/6.
: The Growth of Soul. net 5/: The Occult World. net 1/6.
: Occult Essays. net 2/6
: In the Next World. net 1/6.
: Apollonius of Tyana. net 1/-
Johan Van Manen: Some Occult Experiences. net 1/6.
E[dward] D[wight] Walker: Reincarnation. net 3/6 an anthology of
A Study of Forgotten Truth.
A[rthur] H. Ward: The Seven Rays of Development. 1/"
: Masonic Symbolism net 2/6
174
175
[48B-56ar]
L[eonard] A. Bosman: The Mysteries of the Qabalah. net 1/" and Elias Gewurz: The Cosmic Wisdom. net 1/-13
Clement of Alexandria: Extracts from the Writings of. – net 1/Ms. Dale: Indian Palmistry. net 1/Dream of Ravan. 2/6 net.
Prof. M[anilal] N[abhubhai] Dvivedi
: The Mândûkyopanishad etc.14 net 4/"
: Yoga-Sutra. net 3/W[illiam] G. Hooper : The Universe of Ether and Spirit. net 4/6
"
: Aether and Gravitation. 6/- net (pub. 12/6 net)
Three Years in Tibet. net 7/6
Lopukhin: Some Characteristics of the Interior Church. net 3/6.
Jamblichus on the Egyptian Mysteries. net 10/6.
Rev. F[rederick] Montagu Powell: Studies in the Lesser Mysteries. net 1/6.
Golden Verses and other Pythagorean Fragments. net 1/6
Commentaries of Hierocles on the Golden Verses of Pythagoras. net 2/6.
The Pythagorean Sodality of Crotona. net 6/-.
L. Schram: Theosophical Analogies in the “Divina Commedia”. net 1/Shuking. net 3/6.
Baijnath Singh. Letters from a Sûfî Teacher. net 1/6 (*Philosophy of Islam)
Cf. The Theosophist. April 1914 – June 1914: 156. Nesta revista e nesta data, a autora, Annie Besant,
anuncia a publicação do livro The Cosmic Wisdom de Bosman e Gewurz.
14 The Mândûkyopanishad: with Gaudapâda’s Kârikâs and the Bhâshya of S’ankara.
13
176
177
[48B-60r]
Books:
Yone Noguchi: “The Spirit of Japanese Poetry”
(J. Murray, 2s. net)
Prof. Inayat Khan: “Sufi Message of Spiritual
Liberty” (Theosophical Publishing,
Co. 2/6 net).
Frank G. Layton: “Philip’s Wife” (A. C. Fifield,
1s. net) (a play)
Adelaide Procter: “Legends and Lyrics” (Milford, 1/6 net).
Charles McEvoy: (plays)
“David Ballard” – 3 acts – (Bullen, 1/net)
“When the Devil was Ill” (Bullen, 1/net)
“All that Matters” (Haymarket Theatre,
1/)
“Gentlemen of the Road” (Bullen, 6d).
“Lucifer” (Bullen, 6d).
Serge Persky: “Russian Novelists” (Frank Palmer,
3/6 net)
178
179
[48B-75r]
Studies in Mysticism and Certain Aspects of the
Secret Tradition – by Arthur Edward Waite.
1906. 348 pp. (Sawyer. 10/6 for 4/3).
Mysteries of Freemasonry, by J. Fellows.
374 pp. (Sawyer. 2/6).
Religious Systems of the World. 824 pp.
Sonnenschein (Sawyer. 10/6 for 4/6).
The Economic Transition in India.
By Sir Theodore Morison. J. Murray. 5/- net.
Japanese Poetry.
By Basil Hall Chamberlain. J. Murray. 4/6 net.
Revolutions of Civilisation.
By W[illiam] Flinders Petrie. Harper. Cloth. 2/6 net.
Francis Bacon.
By G[eorge] Walter Steeves15. (Times B. C. 6/- for 3/6).
British Imperialism in the Eighteenth Century.
By G. B. Hertz. (Times B. C. 6/- for 4/-).
The Laws of Heredity.
By G. Archdale Reid. (T. B. C. 21/- for 12/6).
Practical Astrology.
By Alan Leo (T. B. C. 6/- for 3/-).
The Science of Life.
By J. Arthur Thomson (T. B. C. 5/- for 2/6).
The Foundations of the Nineteenth Century.
By H. S. Chamberlain. J. Lane. 2 v. 32/- net.
The Problem of Existence.
By Manmath C. Mallick. 1904. (Heffer. 10/6 for 3/6).
Portuguese Nyasaland.
By W. B. Worsfold. 1899 (Heffer 7/6 for 3/6).
The Unwritten Sayings of Christ.
By C. G. Griffinhoofe. (Heffer 3/- net).
The Story of Crime.
By H. L. Adam. (Sawyer 10/6 n. for 4/6).
« George Walter Steeves Steeeves», no original. Referência a Francis Bacon: a sketch of his life, works
and literary friends, chiefly from a bibliographical point of view, by, with forty-three illustrations. London:
Methuen, 1910.
15
180
181
[75v]
Modern England. By A. W. Benn. (Watts & Co) 2 v. 7/- net.
Concise History of Religion. By F. J. Gould.
3 v. (Watts & Co). 11/A Short History of Freethought.
By J. M. Robertson. 2 vols. 21/- net. (R[ationalist] P[ress] A[ssociation])
The Transformation of Christianity.
By C. T. Gorham. (R[ationalist] P[ress] A[ssociation].) 1 d.
Early Shelley Pamphlets.
By Percy Vaughan. (R[ationalist] P[ress] A[ssociation]) 6 d.
The Religion that Fulfils.
By F. J. Gould. (R[ationalist] P[ress] A[ssociation]) 4 d.
The Origins of Christianity.
By Thomas Whittaker. (R[ationalist] P[ress] A[ssociation]) 3/6 net.
Philosophy and Christianity.
By David Irvine. (R[ationalist] P[ress] A[ssociation]) 1/6 net.
A Nirvana Trilogy on J[ames] Thomson
By William Maccall. (R[ationalist] P[ress] A[ssociation]) 6 d.
A Critical Essay on the Philosophy of History.
By Thomas Whittaker. (R[ationalist] P[ress] A[ssociation]) 6 d.
The New Philosophy of History. (preface to “Isis and Osiris”).
By J. S. Stuart-Glennie. 1873.
(ask about “The Modern Revolution”).
Plays of J[ohn] M[illington] Synge.
Pocket Edition. 4 vols. (French) – 10/- net.
182
Anexo I
Livros da Biblioteca Particular de Fernando Pessoa
com referência a autores ou tradições de matriz oriental
Classe 0
(Generalidades)
(The) Aryan Path, vol. 2, n.º 2, Bombay, February, 1931. (CFP, 0-27 LMR).
Classe 1
(Filosofia. Psicologia)
FLETCHER, Ella Adelia (1913). The Law of the Rhythmic Breath: teaching the generation, conservation, and
control of vital force. London: William Ryder & Son, Limited. 372, [16] p. (CFP, 1-44).
GAULTIER, Jules de (1910). De Kant à Nietzsche. 4ème ed. Paris: Mercure de France. 356, [8] p. (CFP, 152).
LEADBEATER, Charles Webster (1911). Clairvoyance. 3rd ed. London: The Theosophical Publishing
Society. 181 p. (CFP, 1-85).
MEAD, George Robert Stow (1913). Quests Old and New. London: G. Bell & Sons, Ltd. 338 p. (CFP,
1-105).
VATSYAYANA, Mallanaga [1891]. Le Kama Soutra: régles de l’amour de Vatsyayana (morale des
brahmanes). Traduit par Pierre Eugène Lamairesse. Paris: [s.n.]. 297 p. «Théologie hindoue».
(CFP, 1-155).
(The) Voice of the Silence: and other chosen fragments from the Book of the Golden Precepts (1913). Trad.
H[elena] P[etrovna] B[lavatsky]. Eight reprint. London: Theosophical Publishing Society. 100
p. (CFP, 1-172 MN).
Classe 2
(Religião. Teologia)
ANESAKI, Masaharu (1907). Religious History of Japan: an outline with two appendices on the textual history
of the Buddhist scriptures. Tokyo: [s.n.]. 74, [2] p. «Revised for private circulation from the
article written for the Encyclopedia Americana». (CFP, 2-2).
JEREMIAS, Alfred (1902). The Babylonian Conception of Heaven and Hell. Translated by J. Hutchison.
London: David Nutt. 52 p. «The Ancient East, n.º 4». (CFP, 2-26).
MALVERT [pseud.] (1903). Resumo da História das Religiões. Versão de Heliodoro Salgado. Lisboa:
Minerva do Commercio. 36 p. «Associação do Registo Civil». (CFP, 2-36).
183
ROBERTSON, John Mackinnon (1902). A Short History of Christianity. London: Watts & Co. 429, [2] p.
(CFP, 2-55).
(A) Translation of the Treatise Chagigah from the Babylonian Talmud. With introduction, notes, glossary,
and indices by Rev. A. W. Streane. Cambridge: The University Press, 1891. 166, [1] p. (CFP,
2-68).
Classe 3
(Ciências Socias. Direito. Administração)
PERRON, Nicolas (1858). Femmes arabes: avant et depuis l’islamisme. Paris: Librairie Nouvelle; Alger:
Tissier, Libraire-éditeur. 611 p. (CFP, 3-56).
Classe 8
(Linguística. Filologia. Literatura)
BROWNE, Edward [1925]. Edward G. Browne (Poems from the Persian). London: Ernest Benn Ltd. 31 p.
«The Augustan Books of English Poetry, second series, number ten». «Edited by Humbert
Wolfe». (CFP, 8-71).
ERMAN, Adolf (1927). The Literature of the Ancient Egyptians. Translated into English by Aylward M.
Blackman. London: Methuen & Co. Ltd. 320, [8] p. (CFP, 8-173).
HENRY, Victor (1904). Les Littératures de l’Inde: sanscrit, pâli, prâcrit. Paris: Librairie Hachette & Cie. 335
p. (CFP, 8-250).
KHAYYAM, Omar (1910). Rubáiyát of Omar Khayyám. The astronomer poet of Persia rendered into
English verse by Edward Fitzgerald. Leipzig: Bernhard Tauchnitz. 247, [32] p. «Collection of
British and American Authors, n.º 4231». (CFP, 8-296).
ROSS, Edward Denison (1928). Eastern Art & Literature: with special
reference to China, India, Arabia, and Persia. London: Ernest Benn Limited. 80
p. «Benn’s Sixpenny Library, n.º 3». (CFP, 8-482).
TAGORE, Rabindranath (1922). Gitanjali Song-offerings and Fruit-gathering. Introduction by W. B. Yeats.
Leipzig: Bernhard Tauchnitz. 255, [32] p. «Collection of British and American authors, n.º
4568». (CFP, 8-536).
TAGORE, Rabindranath (1925). Rabindranath Tagore. London: Ernest Benn. 31 p. «The Augustan
Books of Poetry edited by Edward Thompson». (CFP, 8-537).
WEIR, Thomas Hunter (1926). Omar Khayyám The Poet (The Wisdom of the East Series). London: John
Murray. 95, [4] p. (8-662 MN).
Classe 9
(Geografia. História. Biografia)
Abū Muhammad Bin Yusuf Bin Mu, Ayyid-I-Nizāmu-’d-Dīn. The Sikandar Nāma, E Bará; or Book
of Alexander the Great. Translated for the first time out of the Persian into prose, with critical
and explanatory remarks, with an introductory preface, and with a life of the author,
collected from various Persian sources by H. Wilberforce Clarke. London: W. H. Allen & co.
832 p. (CFP, 9-1).
184
CAMPOS, Joachim Joseph (1919). History of the Portuguese in Bengal: with maps and illustrations.
Introduction by F. J. Monahan. Calcutta: Butterworth & Co. Ltd.; Winnipeg: Butterworth &
co.; Sydney: Butterworth & Co. Ltd; London: Butterworth & Co. 283 p. (CFP, 9-13).
CARON, Agustin Pierre (1901). Confucius: sa vie et sa doctrine. Paris: Librairie Bloud et Cie. 64 p.
«Science et religion. Etudes pour le temps present, n.º 174». (CFP, 9-15).
GILES, Herbert Allen (1911). The Civilization of China. London: Williams & Norgate; New York: Henry
Holt & Co.; Toronto: WM. Briggs; India: R. & T. Washbourne, Ltd. 256, [8] p. «Home
university library of modern knowledge, n.º 19». (CFP, 9-30).
JOHNSTON, Harry (1903). The Nile Quest: a record of the exploration of the Nile and its basin. With
illustrations from drawings and photographs by the author and others. With maps by J. G.
Bartholomew. London: Lawrence and Bullen, Ltd. 341 p. (CFP, 9-38).
NÖLDEKE, Theodor (1892). Sketches from Eastern History. Translated by John Sutherland Black.
London and Edinburgh: Adam and Charles Black. 288 p. (CFP, 9-54).
ROSS, Denison (1928). Islam. 2nd ed. London: Ernest Benn Limited. 80 p. «Benn’s sixpenny library, n.º
19». (CFP, 9-62).
Anexo II
Alguns estudos/edições sobre Fernando Pessoa e o Oriente
ALMEIDA, Julieta Marques de (2007). Meus Deus! Que budismo me esfria no sangue! – Visões e apreensões
da vacuidade no grupo (de) Pessoa in AA. Vv., O Buda e o budismo – No ocidente e na Cultura
portuguesa. Paulo Borges & Duarte Braga organizadores. Lisboa: Ésquilo, pp. 343-357.
ALMEIDA, Onésimo Teotónio (1986). Sobre a mundividência Zen de Pessoa-Caeiro (O interesse de Thomas
Merton e D. T. Suzuki), in AA. Vv., Nova Renascença, Nº 22, Volume 6, Abril/Junho, 1986, pp.
146-152.
BORGES, Paulo (2010). Índias espirituais e ilusão em Teixeira de Pascoaes e Fernando Pessoa ou de Portugal
como centro do descentramento e re-Orientação do Velho Mundo europeu-ocidental, in Id., Uma
Visão Armilar do Mundo – A vocação universal de Portugal em Luís de Camões, Padre António Vieira,
Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva. Lisboa: Verbo, pp. 59-87.
______ (2001).“Posso imaginar-me tudo, porque não sou nada”. Vacuidade e auto-criação do sujeito em
Fernando Pessoa”, in AA.VV., Poiética do Mundo, Homenagem a Joaquim Cerqueira Gonçalves.
Lisboa: Edições Colibri / Departamento de Filosofia e Centro de Filosofia da Universidade de
Lisboa, pp. 353-364.
BOSCAGLIA, Fabrizio (2011). Khayyām na obra e na biblioteca de Pessoa. Entre poesia, filosofia e ecos de
sabedoria Sufi in AA. Vv., Cultura Entre Culturas. Lisboa: Âncora, pp.131-146.
CARDIELLO, Antonio (2010). Abismo y Nada absoluto: confluencias budistas en el pensamiento de Fernando
Pessoa e Nishida Kitarō in AA. Vv., El Pensar poético de Fernando Pessoa. Pablo Jávier Pérez
López, Fernando Calderón Quindós compiladores. Morata de Tajuña: Editorial Manuscritos,
pp. 75-118.
______ (2007). Anattā e Anicca nella poetica interstiziale di Fernando Pessoa in AA. Vv., O Budismo uma
proximidade do Oriente – ecos, sintonias e permeabilidades no pensamento português. Lisboa:
Revista Lusófona de Ciência das Religiões, Ano VI, n.º 11, pp. 167-173.
185
CUERVO-HEWITT, Júlia (1985). No limiar da realidade: Estética e metafísica oriental na poesia de Fernando
Pessoa, in. AA. Vv., Actas do II Congresso Internacional de Estudos Pessoanos. Porto: Centro de
Estudos Pessoanos.
FEITOSA, Márcia Manir Miguel (1998). Fernando Pessoa e o Omar Khayyam: o Ruba’iyat na poesia portuguesa
do século XX. São Paulo: Editora Giordano.
GALHOZ, Maria Aliete Farinho das Dores (2008). Khayyam in Dicionário de Fernando Pessoa e do
modernismo português. Coordenação de Fernando Cabral Martins. Lisboa: Caminho.
PERRONE-MOISÉS, Leyla (2008). Zen in Dicionário de Fernando Pessoa e do modernismo português.
Coordenação de Fernando Cabral Martins. Lisboa: Caminho.
______ (1982). Fernando Pessoa – Aquém do eu, além do outro, São Paulo: Martins Fontes, pp. 113-159.
PIZARRO, Jerónimo [2011]. «From FitzGerald’s Omar to Pessoa’s Rubaiyat», in Everyone and Everywhere:
Essays on Fernando Pessoa, Mariana de Castro (org.). Suffolk: Tamesis.
PIZARRO, Jerónimo, Patricio FERRARI, Antonio CARDIELLO (2010). A Biblioteca Particular de Fernando
Pessoa. Acervo da Casa Fernando Pessoa. Lisboa: Dom Quixote, vol. I.
REIS, José Eduardo (2007). Porque veio o Alberto Caeiro do Ocidente; J. M. de Almeida, Meus Deus! Que
budismo me esfria no sangue! – Visões e apreensões da vacuidade no grupo (de) Pessoa in AA. Vv.,
O Buda e o budismo – No ocidente e na Cultura portuguesa, Paulo Borges & Duarte Braga
organizadores. Lisboa: Ésquilo, pp. 319-342.
Bibliografia
BESANT, Annie. The Theosophist. April 1914–June 1914. Adyara-Madras: Theosophical Publishing House.
PESSOA, Fernando (2010). Livro do Desasocego, edição de Jerónimo Pizarro. Lisboa: Imprensa NacionalCasa da Moeda. Edição Crítica de Fernando Pessoa, Série Maior, vol. XII.
______ (2008). Rubaiyat, edição de Maria Aliete Galhoz. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
Edição Crítica de Fernando Pessoa, Série Maior, vol. I.
______ (1992). Poemas de Álvaro de Campos, edição de Cleonice Berardinelli. Lisboa: Imprensa
Nacional-Casa da Moeda. Edição Crítica de Fernando Pessoa, Série Menor.
PIZARRO, Jerónimo [2011]. «From FitzGerald’s Omar to Pessoa’s Rubaiyat», in Everyone and Everywhere:
Essays on Fernando Pessoa, Mariana de Castro (org.). Suffolk: Tamesis.
PIZARRO, Jerónimo, Patricio FERRARI, Antonio CARDIELLO (2010). A Biblioteca Particular de Fernando
Pessoa. Acervo da Casa Fernando Pessoa. Lisboa: Dom Quixote, vol. I.
STEEVES, George Walter (1910). Francis Bacon: a sketch of his life, works and literary friends, chiefly from a
bibliographical point of view. With forty-three illustrations. London: Methuen.
ZENITH, Richard (2008). Fotobiografias século XX. Fernando Pessoa. Rio de Mouro: Círculo de Leitores.