BASEADA NA OBRA DE
DARCY RIBEIRO
“O POVO BRASILEIRO”
A FORMAÇÃO
DO POVO
BRASILEIRO
BASEADA NA OBRA DE
DARCY RIBEIRO
“O POVO BRASILEIRO”
A FORMAÇÃO
DO POVO
BRASILEIRO
“A mais terrível de nossas heranças
é esta de levar sempre conosco a
cicatriz de torturador impressa
na alma e pronta a explodir na
brutalidade racista e classista. Ela é
que incandesce, ainda hoje, em tanta
autoridade brasileira predisposta
a torturar, seviciar e machucar os
pobres que lhes caem às mãos.”
Darcy Ribeiro
SUMÁRIO
7
A ALMA INQUIETA DO PROFESSOR
9
SIMPLESMENTE DARCY RIBEIRO
1º CICLO
15 MATRIZ TUPI
19 MATRIZ LUSITANA
22 MATRIZ AFRO
25 ENFRENTAMENTO DOS MUNDOS
2º CICLO
28 GESTAÇÃO ÉTNICA
32 AS GUERRAS DO BRASIL
35 O PROCESSO CIVILIZATÓRIO
38 FORMAÇÃO DA CLASSE DOMINANTE
3º CICLO
41 ASSIMILAÇÃO OU SEGREGAÇÃO
44 CLASSE, COR E PRECONCEITO
47 A URBANIZAÇÃO CAÓTICA
50 ORDEM VERSUS PROGRESSO
4º CICLO
53 BRASIL
56 BRASIL
59 BRASIL
62 BRASIL
65 BRASIL
CRIOULO
CABOCLO
SERTANEJO
CAIPIRA
SULINO
69
BIBLIOGRAFIA
73
CONTEUDISTAS
A ALMA INQUIETA
DO PROFESSOR
CARLOS LUPI
Presidente nacional do PDT
Falar do professor Darcy Ribeiro é falar da história e da cultura
do povo brasileiro. Tive o privilégio de conviver com ele por alguns anos, desde a fundação do PDT. Mas não apenas como
companheiro de partido e de ideais, mas principalmente como
fonte de formação através de seus livros – sempre fui um grande
fã de sua obra.
Darcy foi um dos intelectuais brasileiros mais celebrados no mundo. Isto por conta da consistência da sua obra e pelo amor que
ele sempre nutriu à pátria brasileira. Darcy era a síntese do sonho
de transformar o Brasil em uma grande nação. Sua história se
mistura com a história de libertação do povo brasileiro, sua dedicação ao índios — passou 10 anos da sua vida dentro das aldeias
para estudar as raízes da nossa sociedade. E desta imersão surgiu
a maior de todas as suas obras O povo brasileiro.
Darcy se entregava a tudo que fazia; e, para nossa sorte, tínhamos
um dos maiores intelectuais do mundo, o tempo todo, contribuindo para um país que abrigasse de forma justa todos os bra-
A alma inquieta do professor
7
sileiros. Foi neste universo que ele concebeu o sistema de tempo
integral nas escolas públicas — colocado em prática por Brizola
nos dois governos no Rio de Janeiro. Darcy entendia que não se
construía uma nação completa sem escola pública de qualidade.
Dono de uma criatividade pouco vista, vivia com sua mente em
permanente ebulição. Darcy era um sonhador, destes que não
encontramos mais. A alma inquieta de um homem em busca da
felicidade do seu povo.
8
A formação do povo brasileiro
baseada na obra de Darcy Ribeiro “O povo brasileiro”
SIMPLESMENTE
DARCY RIBEIRO
MANOEL DIAS
Presidente da FLB-AP
Antropólogo, escritor, professor, político, intelectual: estas são
apenas algumas expressões que se somam à biografia do mestre
Darcy Ribeiro, um dos maiores brasileiros de todos os tempos.
Inquieto, Darcy Ribeiro deixou uma vasta obra. Um peregrino
da educação que percorreu todas as alamedas possíveis para libertar nosso povo da educação desonesta que temos. Confrontado
pelas carcomidas elites, que se utilizam da deseducação como
forma de perpetuação do seu poder, Darcy desabafou:
“Fracassei em tudo o que tentei na vida.
Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui.
Tentei salvar os índios, não consegui.
Tentei fazer uma universidade séria e fracassei.
Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente
e fracassei.
Mas os fracassos são minhas vitórias.
Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu.”
Simplesmente Darcy Ribeiro
9
Entre suas obras destaca-se o magnífico livro O povo brasileiro.
Ninguém leu, interpretou, decifrou e compreendeu mais a alma
de nossa construção como Darcy Ribeiro.
Darcy rompe, indubitavelmente, com o mito da integração racial
pacífica. Já na iniciação, constata-se o processo violento, deliberado
de eliminação de toda identidade étnica, resultando em nosso conceito de formação nacional num processo de opressão e repressão
sob a ojeriza, o terror, a aversão às elites lusitanas, luso-brasileiras,
e brasileiras que originaram-se e consolidaram-se pela força impositiva de dominação sobre os mais fracos.
O Brasil das oportunidades se desfaz no abismo, entre castas e
guetos, entre privilegiados e marginalizados, numa miopia social
de indiferenças e isolamento entre essas classes.
Contemporaneamente verificamos essas digitais desiguais nos
telejornais diários: a morte de um privilegiado traz sua historicidade de uma perspectiva do que poderia ainda realizar. Mas,
quando o marginalizado segregado é abatido, ele não tem direito à historicidade e vira manchete como estatística. A transformação da miséria em crime é um dos atributos perversos de
nossas elites.
O novo mundo conjecturado por Darcy Ribeiro baseia-se nas
matrizes raciais — portuguesa, negra e indígena — que são as
gêneses do brasileiro, num conflito entre o novo e o velho.
Novo, pois nasce da miscigenação de confluências uterinas desassociadas culturalmente de suas raízes. O caráter do púbere
carrega a outra face da mesma moeda, um povo que é concomitantemente “novo” e “velho”.
10
A formação do povo brasileiro
baseada na obra de Darcy Ribeiro “O povo brasileiro”
Etnia genuinamente nacional, mas que localizada na formação
do Brasil no processo de crescimento dos “impérios mercantis”,
originando “brasilíndio”, “mamelucos” (europeus e índios), “curibocas” (negros com índios), “mulatos” (negros com brancos) —
todos estes separados socialmente dos invasores, donos usufrutuários do escravagismo, consequentemente, classe dominante.
A propagada cordialidade e passividade diverge com os descaminhos encontrados de resistência e extermínio: guerra entre
portugueses e índios, guerra entre colonos e jesuítas, guerra entre lusitanos e caboclos, guerra entre negros fugidos e senhores
de escravos, guerra entre pobres e fazendeiros, guerra entre privilegiados e bastardos.
Empobrecido, vítima de um processo de desculturação, o Brasil
é europeu camponês, africano tribal e indígena comunitário.
Dentre nossas especificidades nos colocamos na antessala da modernidade, mas insistentemente impedidos de adentrar; na busca frenética de afirmação, somos uma nova civilização querendo
nascer.
O povo brasileiro é o enigma decifrado para compreendermos
nossas mais profundas raízes, uma provocante e inquietante indagação: “Por que o Brasil não deu certo?”.
Dizia Darcy: “O Brasil tem uma classe dominante ranzinza, azeda, medíocre, cobiçosa, que não deixa ir pra frente!”
Talvez esta seja a grande resposta que o livro “O povo brasileiro”
responde. Afinal, somente Darcy Ribeiro poderia responder.
Viva o povo Brasileiro! Viva Darcy Ribeiro!
Simplesmente Darcy Ribeiro
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12
A formação do povo brasileiro
baseada na obra de Darcy Ribeiro “O povo brasileiro”
coleção
RIBEIRO
BASEADA NA OBRA DE
DARCY RIBEIRO
“O POVO BRASILEIRO”
A FORMAÇÃO
DO POVO
BRASILEIRO
Simplesmente Darcy Ribeiro
13
14
A formação do povo brasileiro
baseada na obra de Darcy Ribeiro “O povo brasileiro”
1º CICLO
MATRIZ TUPI
Um dos grandes enigmas dos historiadores e antropólogos brasileiros é decifrar a nossa formação, nossas mais profundas raízes.
Em um ato heroico, Darcy Ribeiro dedicou anos de sua vida em
pesquisas e análises para produzir sua obra-prima “O povo brasileiro”, na qual descortina nossas identidades e nossas origens.
De origem sincrética, de uma fusão
desordenada de índios, portugueses e
negros, nasce, na concepção antropológica
de Darcy Ribeiro, um Novo Mundo: uma
nação a ser construída, em um processo
de mestiçagem jamais visto.
Há cerca de 10 mil anos, oito milhões de índios habitavam as
terras brasileiras em perfeita comunhão com a natureza. Não
configuravam apenas uma nação, mas várias nações em uma só.
1º CICLO
Matriz tupi
15
A trindade étnica edificada na formação do povo brasileiro encontra na matriz indígena sua primeira vertente; majoritariamente a ramificação tupi, que, a partir do noroeste da Amazônia,
colonizou praticamente todo o Brasil, expulsando e escravizando
povos indígenas rivais.
Característica essencial para compreender o Brasil do século XV
é verificar que cada tribo, com seu modo de vida e crença, com
seus costumes comuns e sua língua própria, era rival das outras
e lutavam entre si por conquistas territoriais.
Um perfil comum entre as tribos era que já dominavam o território brasileiro antes da chegada dos portugueses; edificavam as
malocas (casas) onde habitavam, em média, 600 índios em cada
uma. As mulheres cuidavam do plantio e do cultivo, enquanto
os homens fabricavam arco e flecha, utilizados na caça.
Exímios conhecedores da natureza, sabiam para o que servia cada
planta, cada bicho, e dessa forma, no alento de sua força e sabedoria, bastavam-se em autossuficiência.
Acreditavam na vida pós-morte, esperançavam um paraíso, um jardim de sapucaias feito de cantos e danças. Sua realidade dos sonhos
se misturava em suas crenças e modo de vida. A harmonia de cada
evento e de cada ato tinha suas simbologias, muitas das quais míticas.
Ilustres artesãos, tinham no perfeccionismo uma ação constante
na indivisível arte do trabalho.
16
A formação do povo brasileiro
baseada na obra de Darcy Ribeiro “O povo brasileiro”
Aqueles tidos como guerreiros, dentro da sua tribo, enxergavam
nas batalhas uma função social na ocupação de espaço. Com um
código de honra próprio, os índios tinham na guerra sua ação
mais honrosa.
Se um inimigo caísse na tribo rival, aquele que o aprisionava batia em seu ombro e dizia: “Faço-o meu escravo”. Fugir jamais,
pois o cativo tinha a ciência exata do que o esperava, e sabia que,
moralmente, seria respeitado em sua dignidade.
Antropofágicos, os atos sobrevinham por ensejos que ultrapassavam a função biológica do alimento. A ingestão da carne humana do cativo acontecia como uma decorrência de ações simbólicas desenvolvidas em condições de guerra entre diferentes
povos. Tal ato era efetivado em uma circunstância festiva.
Após o aprisionamento do guerreiro inimigo, os tupinambás proporcionavam uma mulher para casar com o prisioneiro.
No dia do ritual antropofágico, uma grande festa era realizada
para que a ingestão da carne humana ocorresse. A esperança dos
participantes envolvia valores bastante característicos. Em primeiro lugar, essa morte era avaliada positivamente pelo próprio
guerreiro conquistado, pois o inevitável fim da vida seria consagrado pela experiência de conflito. Ao consumir a carne do guerreiro, os componentes da comunidade acreditavam vingar os seus
ancestrais. Curiosamente, o responsável pela execução — não
poderia consumir a carne—, depois de eliminar o preso, ficava
1º CICLO
Matriz tupi
17
um período resguardado e modificava o seu nome. As carnes
mais duras eram secadas e comidas pelos homens, e as partes
mais moles eram cozidas e consumidas pelas mulheres e crianças
da comunidade.
Socialmente, tinham a concepção de que a terra não era propriedade pessoal de um líder ou de um cacique, mas um bem comum
de sua comunidade, em uma edificação social planificada, e com
clara divisão de tarefas.
Não havia apropriação de especialização, desconstituindo o poder que emana do saber, não objetivando o mando. A tradição e
a experiência elevam a liderança despossuída do patriarcalismo,
mas na conciliação.
Era um verdadeiro Éden desprovido da verticalização social, da
luta de classes, do egocentrismo, do irracional capitalismo, do
acúmulo pelo acúmulo.
A matriz tupi integrada à natureza coexistia pacificamente com
seu meio, com suas crenças, com seus rituais. Eram os verdadeiros donos do Brasil.
18
A formação do povo brasileiro
baseada na obra de Darcy Ribeiro “O povo brasileiro”
MATRIZ LUSITANA
Na trindade majoritária étnica que compõe a formação do Brasil,
temos como raiz os portugueses, cuja história vem da Idade
Média e é inseparável da Espanha.
O que hoje conhecemos como Portugal, uma das nações mais
antigas da Europa, é que teve a sua independência em 1143, depois da passagem de diversos povos, que deixaram suas marcas
no povo que conhecemos hoje.
Sujeito às mais diversas e regulares invasões, o país recebeu uma
variada sucessão de habitantes ao longo dos séculos.
Portugal, à época do descobrimento, rivalizava o monopólio político e econômico com a Espanha e representava uma vanguarda para os povos europeus. Precoce como nação, suas características marcantes eram a síntese da ousadia.
Fronteiriço à Espanha, a única saída dos portugueses para o mundo era através do mar, o que o forjou como um país de pescadores e de grandes navegadores por uma questão de sobrevivência.
Foi por meio das raízes arábicas que os portugueses dominaram
a técnica da construção de navios com leme e com velas, com os
quais conseguiram enfrentar os humores do alto-mar, o que resultou na formação tecnológica e científica de desbravadores.
1º CICLO
Matriz lusitana
19
Da economia agropastoril - fruto da junção de povos como lusitanos, galegos, célticos - vários caminhos formaram a gênese do
povo português.
A contribuição fenícia, em síntese, está na metalurgia de ferro, nas
primeiras formas de escrita e no conceito de cidade. Os gregos e
cartagineses trouxeram o espírito navegador e o comércio. Com a
invasão romana, o país levou o latim à guerra. Os árabes ensinaram
os algarismos, o mosaico colorido, o moinho de água, o azulejo, o
açúcar. Do judaísmo vieram o anel do dedo e o mercantilismo.
Com a luta pela sua independência, a
expulsão dos árabes mouros, e com os
castelhanos espanhóis, Portugal se firma
como povo, como nação.
Dentro deste panorama histórico, o reino de Portugal fica subordinado, literalmente, ao comando romano, e a Santa Sé tem papel
preponderante quando o rei crê que sua missão promove o processo civilizatório por meio das Cruzadas.
As Cruzadas foram movimentos militares cristãos que marcharam em direção à Terra Santa com a finalidade de ocupá-la e
mantê-la sob o domínio cristão. Esse conceito estendeu-se ao
Novo Mundo com o protagonismo de Portugal e Espanha.
20
A formação do povo brasileiro
baseada na obra de Darcy Ribeiro “O povo brasileiro”
O rei de Portugal, amparado pela autoridade divina, outorgada
pela cadeira petrina, obtém licença para escravizar ou exterminar
aqueles que não professassem a fé romana, como no caso dos
índios brasileiros.
Somam-se a isto as necessidades da corte mercantil, que via na
nova terra uma oportunidade singular de ganhar dividendos sob
a égide de uma economia escravagista. Nascem desse apoderamento das terras tupiniquins os primeiros conflitos civilizatórios.
1º CICLO
Matriz lusitana
21
MATRIZ AFRO
“Sem poder esmagar a iniquidade
Que tem na boca sempre a liberdade,
Nada no coração;
Que ri da dor cruel de mil escravos,
- Hiena, que do túmulo dos bravos,
Morde a reputação!”…
castro alves
Considerado o berço da humanidade, estudos indicam que o gênero homo surgiu no continente africano há mais de dois milhões
de anos.
Multicultural, tem a África branca, ao norte, onde predominam
os povos caucasoides e semitas; e a chamada África Negra, ao sul
do deserto do Saara, onde se encontram os povos pigmeus, bosquianos, hotentotes, sudaneses e os bantos. Esta heterogeneidade
se reflete nas mais de mil línguas diversas do continente, sem
dimensionar os dialetos.
Dentre as matrizes que formam o povo brasileiro temos a africana, cuja origem provém, majoritariamente, dos países: Moçambique, Angola, Congo e Nigéria. Vieram indivíduos escravizados no desígnio de construir o Brasil e de gerar lucros para os
“donos” da empresa que era o Novo Mundo conjeturado pelos
colonizadores.
22
A formação do povo brasileiro
baseada na obra de Darcy Ribeiro “O povo brasileiro”
A multiculturalidade desses povos foi fator primordial para a sua
dominação; a falta de unidade linguística, religiosa e de costumes
contribuiu para a “passividade” do domínio, além da estratégia
colonizadora de dividir as famílias para regiões longínquas (pai
no Sul, mãe no Nordeste, filho no Norte), numa evidente desafricanização dos negros.
Em terras hostis, o negro era submetido a intenso processo de
desculturação, forçado a abandonar completamente sua herança
cultural, coagido a se adaptar às condições do Senhor “seu dono”,
que também sofria o processo da deseuropeização.
Conscritos nas senzalas da escravidão, os negros desafricanizados
foram partícipes da construção do Brasil e de uma nova civilização de seu tempo. Não nos moldes idealizados pela Coroa portuguesa ou pela Santa Fé romana.
Mas com as deformidades de uma cultura espúria, que servia a
uma sociedade subalterna ao jugo dos senhores, que, através da
bestialidade humana mais atroz, porém eficiente, domesticaram
os sobreviventes do massacre que foi nossa colonização.
Milagrosamente, tanto os índios como os negros, submetidos na
engenhosa metodologia de desculturalização por meio brutal,
conseguiram conservar a humanidade e traços culturais de sua
gênese étnica.
1º CICLO
Matriz afro
23
A multiface étnica de nossa morenidade
é um dos grandes legados que temos
em nossa sociedade: na música, os
negros edificaram o batuque, o gingado,
o maracatu; na própria língua, a riqueza
dos dialetos aportuguesados nos trouxe
expressões como acarajé, cafuné, dengoso,
dentre mais de 360 vernáculos que os
estudiosos catalogaram. Na culinária,
encontramos heranças de nossa matriz
africana, assim como na literatura, nas
artes, na ciência e na religiosidade plural
que coexiste no Brasil.
Mas carregamos as mais densas cicatrizes do torturador impressas na alma, sempre prontas a estourar na brutalidade racista e
classista.
Incandescentes na contemporaneidade, em tantas autoridades,
sempre predispostas a porretear os oprimidos simplesmente para
machucar e para atestar sua situação de superioridade social ou
política.
24
A formação do povo brasileiro
baseada na obra de Darcy Ribeiro “O povo brasileiro”
ENFRENTAMENTO
DOS MUNDOS
As matrizes que compõem a formação do Brasil têm naturezas
distintas, e consequentemente provocaram os mais variáveis conflitos, em função das visões e culturas profundamente indissolúveis de suas crenças e de seus respectivos modos de vida. Neste
contexto, surge a luta de sobrepujar um ao outro.
Evidentemente que a matriz portuguesa, com seu tirocínio de ser
um povo ciente de seus objetivos “civilizatórios”, imbuído da sagrada sina de guardião da cristandade, nos tempos das Cruzadas,
e com a corte sedenta de acúmulo econômico, enxergou na matriz indígena e nas novas terras a mais oportuna chance de se
enriquecer nesse ninho de, segundo eles, hereges.
O desmoronamento da fé em Maíra, seu Deus Sol, levou os índios
às ruínas das bases de sua vida social e de seus valores mais profundos; e a catequização missionária dos jesuítas caiu como um
flagelo sobre os índios. Afinal, foi pela iniquidade de seus pecados
que o bom deus do céu incidira sobre eles como um galgo selvagem ameaçando lançá-los ao inferno.
O bem e o mal, a virtude e o pecado, o valor e a covardia – tudo
se embaraçava e se conflitava.
1º CICLO
enfrentamento dos mundos
25
O choque civilizatório foi fatal para a matriz indígena, pois, na
contextualização de sua desindigenização, saiu do paraíso tropical para lógica perversa de escravatura e da catequese. O veneno
irresistível do novo, como as ferramentas dos adornos e as aventuras, os fazia presas fáceis frente à sanha colonizadora.
Após o primeiro impacto, o enfrentamento dos índios foi inevitável, e eles resistiram até o limite possível. Porém, o conceito de
tribo da qual eles viviam — desajustada —, em uma ação coesa,
encontrou um inimigo tecnologicamente mais avançado, bem
armado e organizado.
Tragicamente os mares carregaram com os portugueses os mais
eficientes agentes exterminadores da matriz indígena. Junto com
eles chegaram ao Novo Mundo doenças letais como a varíola, a
caxumba, dentre outras; até mesmo uma simples gripe era fatal
para os índios.
Desprovido de qualquer caráter humanitário, o propósito da colonização jesuítica enfrentou a selvajaria dos colonizadores leigos
que utilizavam as mais perversas formas de escravizar os índios
— confronto que teve consequências diretas na Igreja romana e
na Coroa portuguesa.
Discrepantes em si, a colisão de mundos
tão diferentes levou o olhar português
26
A formação do povo brasileiro
baseada na obra de Darcy Ribeiro “O povo brasileiro”
à afirmação conceitual de serem eles
próprios os “novos cruzados”, chegando
a conjeturar se a indianada fazia parte do
gênero humano e se teria salvação.
O banho de lixívia em suas almas era inevitável. Afinal, a antropofagia em rituais selvagens, a ociosidade, os costumes pagãos
eram intoleráveis para as crenças europeias da época.
Imbuída de protagonista da revolução tecnológica mercantil, a
matriz portuguesa tinha em seu cerne os traços sociais de uma
formação sociocultural imperial, mercantil e salvacionista.
Ideologicamente desenvolveu um catolicismo messiânico com o
desígnio irrenunciável de erradicação dos dissidentes mundanos,
associado à aspiração de riquezas e de hegemonização.
A constituição conflituosa na formação do Brasil começou sob o
signo da imposição cultural da matriz portuguesa, que vencera
sua primeira grande batalha no Mundo Novo com a desindigenização; porém, começaram eles também a se deseuropeizar.
Um novo gênero humano germinava.
1º CICLO
enfrentamento dos mundos
27
2º CICLO
GESTAÇÃO ÉTNICA
Velho uso indígena, o cunhadismo foi preponderante na formação do povo brasileiro. Ao dar uma moça indígena como esposa
ao colonizador, estabelecia-se o “temericó”, que consistia na incorporação de estranhos à comunidade. Assim que ele assumisse, estabelecia, automaticamente, laços que o aparentavam com
todos os membros da tribo.
Vários europeus tinham mais de oito “temericós”. Esse artifício
da cultura indígena possibilitou ao colonizador o recrutamento
de mão de obra para seu trabalho e serviu como gênese da mestiçagem, originando o brasileiro em sua primeira versão, conhecido como mameluco, que tem sua origem etimológica na linguagem árabe, que significa “propriedade”, escravo, pajem, criado.
No Brasil, ficou conhecido como o mestiço com ascendência da
mistura de brancos e indígenas, que é a base da nossa formação.
A explosão mameluca fez com que a Coroa portuguesa, ameaçada
em seus interesses, impusesse a donataria – ato do rei de Portugal
para doar extensos lotes de terras aos seus conterrâneos portugue-
28
A formação do povo brasileiro
baseada na obra de Darcy Ribeiro “O povo brasileiro”
ses da mais alta confiança para administrá-los: recebiam a posse
perpétua de tais terras, além do título de capitão e governador. Este
instituto ficou conhecido, no Brasil, como capitania hereditária.
Em processo pleno de prosperidade econômica, múltiplas dificuldades surgiam com a rebeldia indígena em não se deixar escravizar.
Pela dupla rejeição sofrida — pelos pais portugueses, que os viam
como impuros filhos da terra e, portanto mão de obra servil; e
pela mulher índia, que era apenas considerada um depósito de
sêmen —, o gênero humano aqui edificado pautava-se por ser
moldável a qualquer circunstância, com o adestramento ideológico, cedendo e dobrando-se ao mundo rude.
As tensões jesuíticas com os colonizadores também irradiavam
conflitos, e muitos foram solucionados por meio de massacres e
derramamento de sangue.
Em nossa gestação étnica, a matriz africana se introduziu à paisagem brasileira, com sua múltipla cultura, em uma situação já
preestabelecida de escravos, com o engenhoso sistema colonial
de desafricanizá-los.
A diversidade étnica contribuiu para sua domesticação, assim
como o engenhoso processo de brutalidade de apartar suas descendências espalhadas, propositalmente, pelo vasto território
brasileiro, quebrando qualquer lastro de unidade.
2º CICLO
Gestação étnica
29
Surge então, dessa mestiçagem de africanos e europeus, o mulato, que tem sua etimologia originária da palavra “mula”, em espanhol, que designa o cruzamento de cavalo com jumenta ou
jumento com égua.
Já na miscigenação entre índios e negros africanos, temos a origem dos cafuzos, caracterizados pela pigmentação da pele escura, quase negra, lábios grossos e carnudos e cabelos lisos.
Ressalta-se, até hoje, que os negros
conscritos nos guetos da escravidão,
assim como os índios, trazem suas
marcas indeléveis da tortura impressas
no corpo e na alma, prontas a explodir na
brutalidade racista e classista que forjou
nossa gestação étnica.
30
A formação do povo brasileiro
baseada na obra de Darcy Ribeiro “O povo brasileiro”
O preceito do autoritarismo impingido em nossa “civilização” é
incandescente ainda hoje, uma vez que a preponderância de nossa classe dominante está sempre predisposta a torturar, massacrar
e machucar os “escravos e rebeldes”.
O assombroso processo de desculturação os preservou humanos,
proeza devida ao esforço inaudito de autorreconstrução do desfazimento. Porém, nota-se que os colonizadores portugueses não
conseguiram também preservar sua gênese europeia e foram
transfigurados do mesmo modo, devido ao longo processo de
dominação de uma nova espécie. Esse caldeirão inflamado produziu uma nova espécie do gênero humano edificado na desindigenização, desafricanização e deseuropeização.
2º CICLO
Gestação étnica
31
AS GUERRAS
DO BRASIL
A construção do Brasil baseada na conceituação das três matrizes
étnicas que nos forjaram — ou seja, a indígena, a portuguesa e a
africana — não foi um processo pacífico.
A real história do Brasil está fundamentada em grandes conflitos
e massacres. O entrechoque de culturas levou-nos às inevitáveis
batalhas, a começar pela imposição salvadorista dos portugueses,
que viram nos nativos a personificação do herege, a profanação
da existência.
Atrelada às conjunturas europeias e a suas disputas, a colônia
Brasil sofrera suas consequências da mesma forma.
Inúmeros conflitos originários surgiram, como, por exemplo, no
período colonial, a Guerra de Iguape, a Batalha do Cricaré, a
Batalha das Canoas, a Batalha de Guaxenduvas, a Batalha de
M`Bororé e a Batalha de Tejucupapo.
Com a invasão holandesa, no século XVII, as batalhas ferozes
que podemos destacar são a Jornada dos Vassalos (recaptura da
Bahia), a Batalha Naval dos Abrolhos, a Batalha de Porto Calvo,
a Batalha do Monte das Tabocas e a Batalha dos Guararapes.
32
A formação do povo brasileiro
baseada na obra de Darcy Ribeiro “O povo brasileiro”
A Guerra dos Palmares, ocorrida na segunda metade do século
XVII, destaca-se como uma das batalhas mais épicas, na qual os
negros rebelados conquistaram inúmeras vitórias, mas também
tiveram o infortúnio de não poder perder nenhuma.
Cite-se ainda a Guerra dos Emboabas, ocorrida no século XVIII,
bem como suas batalhas de Cachoeira do Campo e Capão da
Traição, pelo direito de exploração das recém-descobertas jazidas
de ouro, na atual região de Minas Gerais.
Na Guerra Guaranítica e sua batalha de Caiboaté, também ocorridas no século XVIII, cerca de 1500 índios guaranis perderam
a vida, em confronto com o exército espanhol.
No contexto da guerra pela Independência, ocorreram a Rebelião
de Avilez, a Batalha do Forte São Pedro, a Batalha de Cachoeira,
a Batalha do Funil, a Batalha de Pirajá, a Batalha de Camarugipe,
a Batalha do Itaparica, o Cerco a Caxias, entre outros.
Tivemos também a Cabanagem, a Balaiada e a Revolução
Farroupilha.
Fora os golpes e contragolpes desfechados
contra nossa sociedade com incontáveis
guerras em seu dia a dia.
2º CICLO
As guerras do Brasil
33
O sangue mestiçado na desconstrução cultural e nas invasões
estrangeiras forjou nossa sociedade.
A unidade nacional nasce como fruto dessas inúmeras guerras e
batalhas, entretanto o abismo social jamais foi vencido.
O discurso da cultura passiva, a cordialidade intrínseca, o não
preconceito de raça são os embustes para o cabresto que nossas
classes dominantes impingem para continuar sua dominação.
Entretanto foi com a revolução de 30 e a chegada de Getúlio
Vargas ao poder, é que a luta de classes - que caracteriza a formação do Brasil - muda. Os oprimidos conquistam seus primeiros
direitos. Enfim, as matrizes desculturadas - tupi e africana - são
reconhecidas como cidadãs.
34
A formação do povo brasileiro
baseada na obra de Darcy Ribeiro “O povo brasileiro”
O PROCESSO
CIVILIZATÓRIO
Ao ponderar a obra de Darcy Ribeiro, verificamos que a história
civilizatória, em especial no processo em que se deu a colonização no Brasil, situa-se no passado, como pressuposto essencial
para compreender o presente e projetar o futuro.
Compreender as matrizes culturais, todas as suas contradições e
o seu desmantelamento, torna-se fundamental para traçarmos
nossas perspectivas.
A partir da revolução tecnológica que impulsionou as Grandes
Navegações, estruturou-se a edificação de novos impérios, dentre
os quais o português, que obteve grande êxito.
A premissa de um império salvacionista criou um cenário atípico da experiência árabe — uma das raízes da formação portuguesa que visava apenas conquistar áreas, e não converter religiosamente ninguém.
O processo messiânico estabeleceu os parâmetros de suas colônias em uma nova formação socioeconômica das terras “conquistadas”, somando-se a isto, ainda, as premissas do capitalismo e
do acúmulo do excedente.
2º CICLO
O processo civilizatório
35
No contexto da geopolítica europeia, da
rivalidade entre Portugal e Espanha, as
alianças pontuais foram inevitáveis. A
luta pela hegemonia entre os múltiplos
conflitos econômicos, sociais e religiosos
levou a Inglaterra a uma espécie de
colonização mais homogênea na América
do Norte; não sob o mantra messiânico,
mas sob a égide e a influência da Reforma
Protestante iniciada na Alemanha.
Nosso processo civilizatório teve como precursora a síntese do
massacre, do “gastar-se” gente, bem como a imposição de uma
classe dirigente infiel, inclusive ao seu povo.
Estabeleceu-se o senhorismo, que se sucede através dos séculos,
não admitindo senão a multiplicação de mão de obra escrava o
apartheid social, a cultura do assimilacionismo.
O adestramento da obediência dos nativos foi um dos maiores êxitos do processo civilizatório brasileiro, na medida em que despojou
os índios de suas terras, aprisionou-os em seus corpos e reduziu-os
à condição de mercadoria disponível para uso de seus senhores.
36
A formação do povo brasileiro
baseada na obra de Darcy Ribeiro “O povo brasileiro”
Felizmente, a birrenta resistência de nossa natureza resistiu a esse
ímpeto.
A ordem social era sagrada, e seu papel como mero servil desta
ordem era prescrito por “deus”; já que nossas elites de senhores
eram amparadas pelo Estado, que tinha a benção dos céus.
A quebra étnica dos índios e negros, e até mesmo dos europeus,
de dominação transfigurada em filial lusitana, impediu a formação de uma classe dominante nativa, abrindo caminho para uma
classe dominante e subalterna aos interesses internacionais.
No Brasil de índios e negros, a principal obra dos colonizadores
não foi o ouro, não foram as mercadorias produzidas e exportadas, e nem mesmo as incontáveis riquezas aqui pertencentes; a
grande herança deixada foi a forçada mestiçagem que se multiplica à espera do seu destino.
2º CICLO
O processo civilizatório
37
FORMAÇÃO DA
CLASSE DOMINANTE
O inevitável choque civilizatório empregado pelos colonizadores
no Brasil descortina o abismo conceitual de sociedades profundamente distintas.
Portugal era uma sociedade bipartida, em que as condições rurais
e urbanas estavam estratificadas em classes imbuídas de uma
cultura erudita e letrada, integradas na economia com a ambição
obrigatória da navegação para expansão.
Já a nação brasileira estava enraizada na multiface tribal: uma
sociedade indígena insciente do complexo processo de mercado,
de economia, de monopólio, na sua forma de vida, e sua cultura
era suficiente para suas ricas existências.
O rompimento evolutivo da população indígena, subjugando-a
à escravatura e à quebra étnica, foi o alicerce de uma colonização
conceitualmente de salvacionismo, repetida cruelmente com os
africanos aqui trazidos.
As bases estabelecidas nesse processo foram determinantes em
nossa gestação com a incorporação da tecnologia europeia aplicada à produção, ao transporte, à construção e à guerra, com uso
de instrumentos de metal e de vários dispositivos mecânicos.
A mudança dos conceitos de solidariedade
embrionária no parentesco, distintivo
38
A formação do povo brasileiro
baseada na obra de Darcy Ribeiro “O povo brasileiro”
do mundo tribal igualitário, por outras
formas de estruturação social, que bipartiu
a sociedade em componentes rurais
ou urbanos e a estratificou em classes
antagonicamente opostas uma da outra,
quebrou os costumes aqui encontrados.
Deu-se a introdução da escravatura indígena, posteriormente da
escravatura africana, assim como o processo de catequese. Tratase de uma estruturação sociopolítica única como classe dominante de um patronato de empresas e de uma elite patriarcal
dirigente, cujos desígnios eram tornar viável e lucrativa a colônia
e eliminar qualquer insurgência interna ou externa.
Conceituada como uma filial lusitana, com rígido controle social
e ideológico, a empresa colonizadora se edificou em nossa sociedade na multiplicidade dos encontros e desencontros culturais,
na miscigenação étnica e na desconstrução das origens nativas.
A força de uma sociedade como a portuguesa, já desenvolvida
2º CICLO
Formação da classe dominante
39
tecnologicamente, em contraponto à falta de unidade dos índios
e dos negros oriundos da cultura tribal, impediu a formação de
uma classe dominante nativa.
Esses grupos étnicos, índios e negros, que eram díspares e não se
entendiam, sofreram a desculturação em suas raízes, convertidas
em mera mão de obra.
Foi com o enfrentamento de dois fatores que a gestação étnica
ocorreu: o primeiro com a aniquilação dos grupos indígenas que,
não aceitando a nova condição escravagista, acabaram se afastando do litoral ou foram chacinados pelas batalhas ou pelas pragas que o novo mundo trouxera; e o segundo foi manter, à força,
a regência colonial sobre os núcleos neobrasileiros que se multiplicaram na condição de dependência em relação à metrópole.
40
A formação do povo brasileiro
baseada na obra de Darcy Ribeiro “O povo brasileiro”
3º CICLO
ASSIMILAÇÃO
OU SEGREGAÇÃO
A formação do povo brasileiro radica na opressão entre dominador e dominado.
Os massacres sucessivos dos povos indígenas desfiguraram o contorno étnico, e o ingresso dos negros (cerca de 6 milhões até
1850), que foram tratados como “bestas de carga”, extenuados no
trabalho, deu nova face à gênese brasileira. O processo de miscigenação edificou o novo gênero humano.
Alforriado e elevado à “liberdade”, o negro foi submetido às novas formas de exploração, que apenas o permitiram integrar-se
como subproletário, condições estas que seguiram a mesma metodologia de segregação impostas quando de sua chegada.
Além da questão racial, um novo componente aflora na proteção
dos círculos privilegiados: entra o predomínio social - fator determinante de manutenção da classe dominante.
3º CICLO
Assimilação ou segregação
41
A desculturalização dos indígenas e dos africanos fez deles uma
tábua rasa, em que o índio comunitário e o negro tribal foram
domesticados a aceitar suas condições servis. A brutal opressão
dominadora da classe senhoril levou à concepção de que o povo
não existe para si, e sim para os outros; de que sua manutenção
na miséria é dada pela vida e a única opção é a resignação e a
assimilação.
De outro lado, as classes dominantes resistiam às inovações da
Revolução Industrial, devido a seu caráter arcaico de deseuropeização para a manutenção de seus privilégios e interesses que
estão arquitetados na ordenação estrutural aqui imposta.
Apropriando-se de nossa Independência,
que não concebe absolutamente nossa
descolonização, a classe dominante
enxergou mais uma conveniência em
auferir mais lucros pelo domínio das
classes subalternas.
42
A formação do povo brasileiro
baseada na obra de Darcy Ribeiro “O povo brasileiro”
As transfigurações étnicas no Brasil resultaram em quatro importantes consequências:
a) biótica — os seres humanos, interagindo com outras forças
vivas, podem transfigurar-se radicalmente. Citamos aqui o caso
das epidemias originadas pelo europeu, que foram fator de aniquilação de um imenso contingente indígena;
b) ecológica — os seres vivos, por conviverem nesse mesmo ambiente, foram reciprocamente afetados em sua forma física e em
sua função vital. É o caso da admissão de novas espécies de animais, como, por exemplo, a vaca, o porco e a galinha;
c) econômica — alterou negativamente as condições de vida da
população, levando-a quase ao extermínio. É o caso da escravidão, que desgarrou a pessoa de seu contexto vital para convertê-la em mera força de trabalho;
d) psicocultural — dizimou sistematicamente populações, extinguindo a esperança e, consequentemente, o próprio desejo de
viver. É o caso dos índios que se deixavam morrer, por não ambicionar a vida que lhes era oferecida pelo europeu.
A quebra do orgulho nacional, o preconceito social e a discriminação, introduzidos em nossos valores básicos, somaram-se para
nossa formação, que está entrelaçada à dominação de classes.
A assimilação e a segregação são elementos capitais na luta de
classes enraizada na formação do Brasil.
3º CICLO
Assimilação ou segregação
43
CLASSE, COR E
PRECONCEITO
É indissociável a correlação entre classe e poder; é consensual,
porém, entre as diversas linhas de pensamento, que amplos grupos sujeitos à exploração econômica, à opressão política e à dominação cultural configuram o binômio exploradores e
explorados.
Esta relação criou, segundo Karl Max, a luta de classes, que consiste no antagonismo entre as diferentes classes, que não se
resume somente à economia e à política, mas à sociedade como
um todo.
Darcy Ribeiro, em seu livro “O povo brasileiro”, pondera que:
“Nossa tipologia das classes sociais vê na cúpula dois corpos conflitantes, mas mutuamente complementares. O patronato de empresários, cujo poder vem da riqueza através da exploração econômica, e o patriciado, cujo mando decorre do desempenho de cargos,
tal como o general, o deputado, o bispo, o líder sindical e tantíssimos
outros. Naturalmente que cada patrício enriquecido quer ser patrão
e cada patrão aspira às glórias de um mandato que lhe dê, além de
riqueza, o poder de determinar o destino alheio”.
44
A formação do povo brasileiro
baseada na obra de Darcy Ribeiro “O povo brasileiro”
No contexto brasileiro, a relação de classe
e poder articula-se com a questão do
preconceito e da herança escravagista
na análise da dominação cultural que
forma nossa sociedade. A questão étnica
gerou dois indissolúveis preconceitos: a) o
da classe social e b) o que pesa sobre os
negros, mulatos e índios.
Em nossa estratificação social, verificamos quatro níveis da relação entre classe, cor e preconceito:
a) O topo da pirâmide social está ocupado pelas classes dominantes, compostas da figura do patronato, que são os proprietários das empresas, o dono do capital; são alinhados à oligarquia,
onde está concentrado o sistema político, o coronelismo hereditário. Adiciona-se, ainda: o senhorio parasitário, que sobrevive
do labor alheio; o empresário contratista; o militar; o tecnocrata;
3º CICLO
Classe, cor e preconceito
45
as eminências e as celebridades. Este conjunto todo forma o que
conhecemos popularmente como elite;
b) Na classe média temos os autônomos, os profissionais liberais,
os pequenos empresários, os comerciantes; classe despossuída
dos meios de produção, que não “vende” sua força de trabalho,
detém apenas bens móveis e imóveis e se acomoda nas burocracias estatais e privadas. A classe média não é determinada pelo
grau de consumo ou pela escolaridade, mas pelo modo como se
insere na sociedade. Neoliberal por ideologia, acredita na concepção de que o gênero humano é um capital de acúmulo econômico e não aceita ser classificada como classe trabalhadora;
c) As classes subalternas são os assalariados rurais, os minifundiários, como também o operariado fabril e de serviços. Esta
classe integra a vida social e é explorada: forma uma massa consumidora de produtos de subsistência e é mão de obra crucial
para o sistema produtivo;
d) A quarta e última classe, no último bloco inferior da pirâmide,
é composta de marginalizados, mendigos, prostitutas, delinquentes, subempregados — aqueles completamente excluídos da vida
social. Muitos lutam para ingressar socialmente no mercado. Para
estes, só resta romper as estruturas de classe. Ontem escravos,
hoje subassalariados. Causadores do pavor e da repulsa das classes superiores.
46
A formação do povo brasileiro
baseada na obra de Darcy Ribeiro “O povo brasileiro”
A URBANIZAÇÃO
CAÓTICA
A confluência étnica das três matrizes do povo brasileiro — indígena, portuguesa e africana —, que formaram o novo gênero
humano, culminou no surgimento urbano, em grupos distintos.
Influências de outras nações também contribuíram no formato
urbano da evolução civilizatória nas terras tupiniquins.
A grande crise econômica da Europa no começo do século XX
provocou enorme êxodo migratório, assim como a Guerra de
Secessão nos EUA, bem como o afluxo de elevado número de
árabes e asiáticos.
Neste cenário, ocorre no Brasil o primeiro surto de industrialização, sobretudo nos setores têxtil e alimentício - que se estabelecem nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro - , que necessitam de grande quantidade de mão de obra para seu processo produtivo. Isto acarretou um esvaziamento irreversível no campo.
Com o crescimento urbanizacional desordenado, espaços distintos são criados, segregando os bairros de classe baixa, média e
alta. A senzala é substituída pela favela; e as sedes das fazendas,
pelas moradias elegantes em centros urbanos. Seguindo a lógica
3º CICLO
A urbanização caótica
47
colonialista, o bem-estar social dos ricos em detrimento dos pobres permanece inalterado. A luta de classe se aprofunda e o capitalismo selvagem toma nova face.
Como resultado da urbanização caótica,
as cidades incham-se, faltam hospitais,
escolas, transporte e planejamento.
Explodem as questões sociais.
Aflora o capitalismo de Estado, a exploração indistinta das matrizes dominadas e sua mestiçagem seguem o roteiro preestabelecido dos dominadores.
Em meio à crescente pressão, nasce também a contestação mais
forte.
Teorias e novas ideologias emergem, e surge o primeiro governo
que rompe com o trágico destino que nos foi imposto, o de
Getúlio Vargas. Nacionalista, alçado ao poder por meio de uma
revolução popular, Getúlio muda os pêndulos da balança, que se
movem para uma mudança substancial de paradigma para alforriar os trabalhadores, outrora escravos.
Pela primeira vez na história do Brasil, as matrizes desculturadas
e despersonalizadas ao longo dos séculos começam a ter seus
direitos reconhecidos e protegidos.
48
A formação do povo brasileiro
baseada na obra de Darcy Ribeiro “O povo brasileiro”
O estabelecimento da jornada de trabalho, a criação do salário
mínimo, da carteira de trabalho, dos direitos e garantias, até então inexistentes, transformam o panorama urbano do Brasil.
E o ódio a este ideário de nação, de povo, de país, surge em meio
ao caótico processo histórico aqui implantado.
3º CICLO
A urbanização caótica
49
ORDEM VERSUS
PROGRESSO
O dialético, anárquico e socialmente irresponsável processo colonizador no Brasil foi edificado em circunstâncias de anulação
cultural de suas matrizes étnicas, que se ajustaram no improviso,
para expansão de seus núcleos.
A industrialização e a urbanização, que deveriam seguir a ótica
de complementaridade, aqui foram completamente desconexas.
A falta de planejamento urbano agravou-se com o êxodo do campo e transformou nossas cidades em grandes depósitos de gente;
assim como a inexistente política industrial e, que nos fez meros
fornecedores de manufaturados.
50
A formação do povo brasileiro
baseada na obra de Darcy Ribeiro “O povo brasileiro”
Ressalta-se, porém, como exceção à regra, o período Varguista,
que deu impulso a um projeto nacional de industrialização: a
construção da Companhia Siderúrgica Nacional, CSN; a imposição da devolução das jazidas de ferro de Minas Gerais, negociadas aos aliados da II Guerra Mundial para obtenção de apoio
do Brasil; além da criação da Petrobras, da Fábrica Nacional de
Motores, Fábrica Nacional de Motores, etc.
Foi também no período de Getúlio Vargas que as classes historicamente marginalizadas e segregadas tiveram sua elevação social,
com a efetivação de direitos antes inimagináveis pelos grupos
dominantes.
Entretanto, o conceito de ordem sempre foi um elemento de controle social baseado na cultura da assimilação e resignação social,
enquanto o progresso é um privilégio para as classes dominantes.
3º CICLO
Ordem versus progresso
51
A dramaticidade desse processo explode na agressividade com
que cada um procura arrancar o seu, seja de quem for. Nas periferias segregadas, estrutura-se uma unidade matricêntrica de
mulheres que parem filhos e mais filhos, e que desconhecem o
poder estatal, pois, para esses, o Estado é a síntese da farda e da
opressão. São despossuídos de saneamento básico, saúde, educação, habitação, dignidade. Seguem o fluxo do ciclo da miséria.
Contemporaneamente, essas mesmas classes dominantes perdem esse
controle e fogem desesperadamente dos frutos nefastos que seus antepassados germinaram e que convenientemente tentaram manter.
Continuamos a reprodução de um sistema político hierarquizado,
no qual as camadas dirigentes de cada variante se perpetuam e se
solidarizam no poder, em detrimento das classes marginalizadas.
Nossa “modernidade” não edificou nem privilegiou o diálogo
multiclasses, no sentido de diminuir as distâncias segregadoras
de nossa colonização.
As aspirações do povo brasileiro jamais foram objeto de interesse de nossa classe dominante, porque seguimos o modelo de uma
economia agroexportadora. O que se estabeleceu aqui foi o aliciamento de índios e negros importados para aumentar a força
de trabalho, que foi fonte de produção e lucro.
Essas premissas seguem até hoje sob novas formas e contornos,
mas o método da dominação de classe é o mesmo.
52
A formação do povo brasileiro
baseada na obra de Darcy Ribeiro “O povo brasileiro”
4º CICLO
BRASIL CRIOULO
A feição cultural crioula brasileira surge em torno do complexo
formado pela economia do açúcar, com todas as suas variantes
comerciais e financeiras, juntamente com todos os complementos agrícolas e artesanais que permitiam sua operação.
Era predominantemente originária da matriz africana, inserida
no contexto de transição europeia de uma economia pré-capitalista e mercantilista para uma economia capitalista industrial, que
mudou a face europeia.
O crioulo, no Nordeste, nasce em uma estrutura de latifúndio,
na monocultura açucareira e na escravidão, que se tornou o primeiro empreendimento agroindustrial do Brasil.
O abrasileiramento forçado, imposto pela colonização, proporcionou a multiplicidade cultural originária de distintas regiões,
formando novos gêneros humanos.
A mistura do negro com o índio, do colonizador com o negro,
trouxe essa nova feição; a fusão deste processo é observada no
4º CICLO
Brasil crioulo
53
sincretismo religioso, no qual os ritos peculiares das religiões
africanas se misturam ao catolicismo salvacionista dos portugueses. Na culinária também verificamos a influência inequívoca
deste novo gênero, como no caso da feijoada, do acarajé, do vatapá; assim como na música, com o incremento dos ritmos do
afoxé, de instrumentos como o tambor, o atabaque, entre outros.
Este cenário de mestiçagem é resultante de extrema violência e
dominação: verifica-se o histórico de escravização, com o negro
sendo submetido aos mais brutais castigos, em uma relação na
qual o senhor do engenho exercia seu poder como proprietário
do bem semovente, que era seu escravo.
No sistema autocrático, o senhor de engenho era o Estado, a religião e a lei. Dentro do projeto capitalista do empreendimento
agroindustrial, necessitava de força de trabalho; e era essencial
que o negro escravo substituísse o rebelde índio.
54
A formação do povo brasileiro
baseada na obra de Darcy Ribeiro “O povo brasileiro”
A estratificação social açucareira seguia uma rígida estrutura,
com raríssima mobilidade social, com o senhor de engenho ocupando o topo da pirâmide hierárquica num modelo patriarcal.
Intermediariamente, tínhamos as camadas instituídas, como os
religiosos, os feitores, os capatazes, os militares, os comerciantes
e os funcionários públicos.
Nas camadas inferiores, estavam os africanos escravizados: força
de trabalho capital para a engrenagem do sistema. Os índios viviam à margem dessa estratificação.
Guardião e centralizador de todas as funções
sociais num intenso poder, o senhor de
engenho encontrou em si duas realidades,
uma delas a imposição de sua vontade e
supremacia; e a outra, a adaptação ao que
seria a nova aristocracia, que, em síntese, era
o poder da casa-grande.
Já a senzala se subordinava aos mandos da casa-grande, em uma
desculturação de suas origens, num processo de miscigenação,
assimilação e resignação. Resignação e passividade que se rompem no processo histórico brasileiro, na manutenção, embora
por outras vias, da estratificação social da época.
Os bolsões de miséria de uma classe alijada dos bens de consumo
e da vida social resumem a gênese da dívida social que nossas
elites insistem em calotear.
4º CICLO
Brasil crioulo
55
BRASIL CABOCLO
Em que pese sua imensa extensão territorial, o Brasil conseguiu
a proeza de manter a unidade nacional. A imposição da língua
portuguesa também contribuiu para este feito, porém as diversas
regiões, com seus peculiares modo de vida, fizeram dos usos e
costumes próprios algumas distinções em nossa nacionalidade.
Dentre estas distinções, temos, na região norte do Brasil, o caboclo, que tem como traço relevante o profundo conhecimento da
floresta, seus hábitos alimentares e suas moradias.
A herança colonial portuguesa, a força emigratória do nordestino, juntamente com o ciclo da borracha, contribuíram para forjar o caráter do caboclo.
Originalmente ocupada por tribos indígenas especializadas em
floresta tropical, a região norte era formada por aldeias agrícolas
que não chegaram a desenvolver núcleos urbanos nem se estratificaram em classes.
A civilização originária da colonização, até os dias atuais, não
conseguiu desenvolver um sistema adaptativo e sustentável para
a região. O primitivismo de sua tecnologia adaptativa, essencialmente indígena, conduzida através de séculos, tem se mantido.
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A formação do povo brasileiro
baseada na obra de Darcy Ribeiro “O povo brasileiro”
O violento processo colonizador seguiu o formato escravocrata
de outras regiões brasileiras. A exploração visando à lucratividade engendrou inúmeras batalhas entre povos europeus que invadiram a região: entre portugueses e indígenas, e entre os missionários.
Herança indelével dos missionários foi o desenvolvimento de
uma religiosidade folclórica e pouco ortodoxa, que derivou numa
fé popular, instituída a partir do sincretismo da pajelança indígena com o elusivo culto de santos do calendário católico.
Formada pela mestiçagem de brancos com índios, por meio de
um processo secular, esta combinação gerou um tipo racial mais
indígena que branco.
A transfiguração étnica, ao coagir
à conversão dos índios em genéricos,
— sem língua nem cultura própria, e sem
identidade cultural específica — acarretou
o acréscimo de massa de mestiços
gerados por brancos e mulheres indígenas,
que, além disto, não sendo índios, nem
europeus e falando o tupi, criam os
requisitos do caboclo.
4º CICLO
Brasil caboclo
57
Neste contexto, desenvolvem-se três classes:
1ª — constituída pelo índio tribal, refugiado nas altas cabeceiras
e lutando contra todos os que almejassem dominar seus núcleos
de sobrevivência para roubar-lhes as mulheres e as crianças, e
condená-los ao trabalho extrativista;
2ª — constituída pela população urbanizada muito heterogênea,
mas que tinha em comum a predominância da língua portuguesa e a aptidão de operar como base de manutenção da ordem
colonial;
3ª — formada de índios genéricos originários das missões e da
expansão católica sobre toda a região e gestação desculturalizante.
58
A formação do povo brasileiro
baseada na obra de Darcy Ribeiro “O povo brasileiro”
BRASIL SERTANEJO
Emergente da atividade pastoril, uma das faces peculiares de nossa mestiçagem que compõe a formação do povo brasileiro, encontramos o sertanejo, fruto de uma etnia que surge do índio e
do branco.
Dentro da perspectiva econômica, a criação de gado é inserida
pelos brancos pobres e mestiços como atividade produtiva, dispensando o trabalho escravo. Surgem as vilas e as cidades.
Trazidos das ilhas de Cabo Verde, da África, foi a partir do agreste pernambucano que esta atividade se expandiu, com as terras
de posse da Coroa e a implantação do sistema de “sesmarias”; ou
seja, lotes de terra inculta e abandonada que o rei de Portugal
cedia aos novos povoadores.
As classes sociais do Brasil sertanejo
compõem-se da tipologia das relações
pastoris em todo mundo, contudo são
extremamente mercantis. O criador e seus
vaqueiros se pautavam como um amo
e seus servidores. O Don com autoridade
4º CICLO
Brasil sertanejo
59
inconteste sobre os bens e também o,
sobre as vidas, em peculiar sobre as
mulheres, o que gerava certa tensão
e distanciamento das classes.
As prestezas pastoris, nas condições climáticas dos sertões cobertos de pastos pobres e com amplas áreas sujeitas a secas recorrentes, adaptaram não só a vida, mas a própria figura do homem e do gado; afinal, o sertanejo é antes de tudo um forte, como
disse Euclides da Cunha , na obra “Os Sertões”.
O aumento populacional transformou as zonas de pastoreio em
criatórios de gente dos quais saíram enormes contingentes de
imigrantes para as diversas regiões do Brasil. Vasto reservatório
de força de trabalho barata que desbravou e contribuiu para a
construção do nosso país.
Ávido por emprego, não qualificado para funções de remuneração mais digna e esturricado pela seca, o sertanejo sintetizou o
flagelo da ausência de planejamento social, de uma estrutura política oligárquica e escravagista.
As condições de seca oportunizaram a edificação de uma indústria
na qual o mando político se apropriou de verbas governamentais
que deveriam socorrer os flagelados, mas foram investidas no latifúndio oligárquico (em construção de açudes, estradas e melhorias em suas propriedades), agregando mais valor e poder.
Interiorizado no sertão, o sertanejo carrega em si sua religiosidade com tendências messiânicas numa linha estreita ao fanatis-
60
A formação do povo brasileiro
baseada na obra de Darcy Ribeiro “O povo brasileiro”
mo. Incompreendido, tem na rusticidade uma característica marcante, carregando em sua cultura o culto à honra pessoal, o brio
e a fidelidade.
Em meio aos conflitos de classe, num ambiente de compadrio,
mas também de ferozes disputas, em especial políticas, e à imprecisão dos limites geográficos das fazendas, constituíam verdadeiros exércitos de jagunços e capangas.
Dentro deste cenário coronelista surge o cangaço. Nômades por
essência, — bandidos e heróis —, caracterizavam-se pelo chapéu
de couro com abas largas dobradas, pela bolsa com remédios,
fumos e brilhantina, pelo lenço para proteger a boca e o nariz
contra a poeira, pelo cantil com cachaça e pelo gibão de couro
para se proteger dos espinhos.
O cangaço sintetiza o enquadramento social do sertão, alvitre do
sistema senhorial do latifúndio que impulsionava o aliciamento
de jagunços e capangas para a manutenção do poderio existente.
Outro fator histórico da indignação sertaneja é Canudos e seu
líder Antonio Conselheiro, cuja luta em prol de uma nova sociedade menos opressora foi esmagada pelos donos do poder. Esta
experiência acarretou indignação e frustração da tentativa de
cunhar um novo conceito social.
4º CICLO
Brasil sertanejo
61
BRASIL CAIPIRA
A constituição etimológica da expressão “caipira” nasce da simplicidade do homem do campo. Na formação do Brasil, há uma
intrínseca relação do caipira com os bandeirantes, que eram exploradores que adentravam os sertões, na busca de riquezas e
escravos.
Germinado na pobreza, numa existência arcaica paulista de uma
junção de índios e portugueses, o caipira é o resultado do regresso social da desculturação da matriz portuguesa que perdera a
vida comunitária da vila, a disciplina patriarcal das sociedades
agrárias tradicionais e a dieta baseada no trigo, no azeite e no
vinho. Da matriz indígena perdera a autonomia igualitária, o
provimento do próprio sustento, a identidade do trato social de
culturas não estratificadas em classes sociais.
Profundamente religioso, fruto da herança jesuíta e também dos
ritos indígenas e africanos, o caipira incorpora o sincretismo mais
lato. Monteiro Lobato resume este sentimento ao criar o personagem Jeca Tatu, observando a crença do homem do campo diante dos mistérios do desconhecido, do seu isolamento e da densa
relação com a natureza.
Dividido em três categorias, em sua formação, temos:
62
A formação do povo brasileiro
baseada na obra de Darcy Ribeiro “O povo brasileiro”
1) o caipira caboclo, descendente de índios catequizados e desculturados pelos jesuítas, 2) o caipira negro, que vem da matriz
africana, e 3) o caipira branco, que tem descendência dos bandeirantes de uma nobreza decaída.
O papel dos bandeirantes, neste contexto, é de fundamental importância. As expedições — que ocorreram durante os séculos
XVI e XVIII — foram peremptórias para a construção do Brasil.
Heróis ou vilões, os bandeirantes eram financiados pela Coroa e
visavam à captura de índios para escravizá-los. Desbravadores,
suas expedições edificaram inúmeras cidades e vilas.
No século XVII, os bandeirantes objetivaram também buscar
ouro e pedras preciosas. Violentos, foram corresponsáveis por
parte da dizimação dos indígenas; como também pela conquista
de novas fronteiras que formam hoje o território brasileiro.
Observou-se que a formação do Estado
de São Paulo, núcleo caipira, não foi
a reencarnação contínua do processo
evolutivo humano. Estava fincada na
colonização colonial-escravista, edificada
como uma contraparte atualizada à
formação mercantil salvacionista ibérica.
4º CICLO
Brasil caipira
63
O que lhe conferia a característica básica de uma sociedade estratificada em classes adversas, em componentes agrícolas.
No curso da mineração, desenvolveu-se uma classe senhorial,
formada por autoridades reais e eclesiásticas, ricos comerciantes
e mineradores. Formavam um amplo círculo militar de ofício
burocrático, ouvidores, contadores, fiscais e escrivães, bem como
uma agricultura comercial diversificada, provedora de carne, rapadura, queijos, entre outros diversos produtos.
Surge também a Inconfidência Mineira, um dos mais importantes movimentos sociais de nossa história, que significou a luta
pela liberdade contra a opressão do governo português, em pleno ciclo do ouro, cujo mártir foi Tiradentes.
Desintegrando-se com o impacto da onda renovadora de tecnologia que invadiu o Brasil, as instituições caipiras mudam seu
processo de industrialização, transformam o seu modo de ser, de
pensar e de agir.
Grandes levas abandonam o campo e se somam a outros contingentes de imigrantes, criando as grandes metrópoles, despossuídas de condições para tal crescimento desordenado. O caipira,
antes agrícola, toma uma face urbana periférica segregada.
Perde-se o controle: as metrópoles explodem em demandas sociais e se aprofunda a segregação.
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A formação do povo brasileiro
baseada na obra de Darcy Ribeiro “O povo brasileiro”
BRASIL SULINO
Por meio dos jesuítas espanhóis, a face da formação do Brasil
sulino nasce da concepção de viabilizar novas formas de existência humana, baseadas na própria subsistência e desenvolvimento. Com uma imensa quantidade de índios desculturados e uma
uniformidade fincada no trabalho obediente, criou-se um grande depósito de escravos.
Paralelamente, houve o desígnio
português de levar sua hegemonia até
o rio da Prata, propósito esse iniciado
com os bandeirantes em sua missão
mercantil, numa região conflituosa sem
o estabelecimento de fronteiras.
Este processo colonial se deu em etapas. Em uma primeira etapa,
deu-se a mestiçagem de brancos de diferentes identidades europeias com os índios, na formação de uma etnia não identificada;
os índios guaranis mestiçados com espanhóis e portugueses somaram-se ao núcleo neoguarani de paraguaios de Assunção, formando a primeira leva de gaúchos. Nesse período, a criação de
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gado selvagem, voltada para a carne, o couro e as charqueadas,
formou a economia regional.
Numa etapa posterior, temos a ocupação dos portugueses da região de Açores, que objetivavam o povoamento para implantação
de um núcleo mais homogêneo, a fim de proteger as fronteiras
conquistadas.
Contudo, os açorianos foram vítimas de sua desculturação. A
mestiçagem com os índios os descaracterizou, tornando-os matutos, mas, ainda assim, cumpriram seu papel no desenvolvimento econômico e na defesa fronteiriça.
Com as imigrações alemã, italiana, polonesa, japonesa e libanesa, o Sul ganhou novos contornos culturais e a mestiçagem se
ampliou na sua formação étnica.
Essa mescla originou técnicas adaptativas; a diversidade europeia
junto com a asiática seguiu uma identidade segregacionista, pois
cada grupo se desenvolveu autonomamente; entretanto, trouxe
consigo o conceito político de valorização do sentimento de criar
na nova terra uma organização, um território para as gerações
futuras — um nacionalismo.
Diferentemente de outras regiões brasileiras, a peculiaridade da
formação do Brasil sulino é que sua matriz indígena não é a tupi,
mas sim a guarani, enraizada no povo gaúcho.
Tradicionalista, sua característica de montar cavalo brioso com
bombacha, botas, sombreiro, revólver, adaga, lenço no pescoço,
faixa na cintura e esporas chilenas, é a síntese do patrão fantasiado de homem do campo ou aquele que integra um clube urbano.
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A formação do povo brasileiro
baseada na obra de Darcy Ribeiro “O povo brasileiro”
O gaúcho contemporâneo passa a ser o novo peão, mal pago, que
come menos, vive maltrapilho e coexiste nas estâncias. O estancieiro se torna o patrão, dono de matadouro e frigorífico. As terras livres do passado agora têm donos.
Com a forte influência dos hábitos europeus, não tão característicos
nas outras regiões do Brasil, o Sul se funda no bilinguismo, num
nível educacional mais elevado, num modo de vida mais confinado
em pequenas propriedades, com uma produção bem mais diversificada em criação de gado, plantio, vinho, entre outras.
Os velhos estancieiros originam o caudilhismo — uma ideologia
nacionalista forjada pelas batalhas fronteiriças — e a cultura
se espalha.
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A formação do povo brasileiro
baseada na obra de Darcy Ribeiro “O povo brasileiro”
BIBLIOGRAFIA
Darcy Ribeiro (1922-1997) foi um antropólogo, sociólogo, educador, escritor e político brasileiro. Destacou-se por seu trabalho
em defesa da causa indígena.
Darcy Ribeiro (1922-1997) nasceu em Montes Claros, Minas
Gerais, no dia 26 de outubro de 1922. Filho do farmacêutico
Reginaldo Ribeiro dos Santos e da professora Josefina Augusta
da Silveira. Estudou no Grupo Escolar Gonçalves Chaves e no
Ginásio Episcopal de Montes Claros. Mudou-se para São Paulo
e ingressou na Escola de Sociologia e Política, graduando-se em
1946, no curso de Ciências Sociais.
Entre 1949 e 1951 trabalhou no Serviço de Proteção ao Índio. Foi
professor de Antropologia, na Escola de Administração Pública
da Fundação Getúlio Vargas; e de Etnografia Brasileira e Língua
Tupi na Faculdade Nacional de Filosofia.
Em 1953, organizou e passou a dirigir (em 1956) o Museu do
Índio, do Serviço de Proteção aos Índios. Colaborou com a fundação do Parque Nacional Indígena do Xingu, na região do atual
Estado de Mato Grosso do Sul. Escreveu vários trabalhos em defesa da causa indígena. Em 1955, organizou o primeiro curso de
Antropologia, na Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro.
Bibliografia
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A partir de 1957, coordenou a Divisão de Estudos e Pesquisas
Sociais, do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais. Em 1958,
ficou responsável pelo setor de Pesquisas Sociais, da Campanha
Nacional de Erradicação do Analfabetismo. Em 1959, tornou-se
membro do Conselho Nacional de Proteção ao índio. Realizou
pesquisas de campo junto a grupos indígenas dos Estados de
Santa Catarina, Maranhão, Mato Grosso e Goiás.
No governo do presidente Jânio Quadros, em 1961, foi nomeado
Ministro da Educação. No governo de João Goulart foi Chefe da
Casa Civil, onde elaborou as reformas de base. Em 1964, teve seus
direitos políticos cassados e foi exilado no Chile e no Peru. Em
1976, de volta ao Brasil, dedicou-se à educação pública. Durante
os dois governos de Leonel Brizola, implantou no Rio de Janeiro
os Centros Integrados de Ensino Público (CIEPs). Entre 1983 e
1987 foi vice-governador do Rio de Janeiro, e em 1991, foi eleito
senador pelo Rio de Janeiro. Sua atividade parlamentar privilegiou temas relacionados à realidade educacional do país, em particular a elaboração da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB). Outra iniciativa importante de Darcy no Senado
foi a apresentação do projeto que deu origem à lei de transplantes de órgãos, segundo a qual todos aqueles que, em vida, não
registrassem legalmente a sua condição de não doadores de órgãos seriam considerados potenciais doadores após a morte. O
projeto invertia a legislação vigente, que considerava doadores
apenas aqueles que em vida manifestassem esse desejo através de
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A formação do povo brasileiro
baseada na obra de Darcy Ribeiro “O povo brasileiro”
documento registrado em cartório, fator que se constituía em
grave obstáculo à realização de transplantes. Darcy apresentou,
também, um projeto de lei de controle de substâncias viciantes
que, ao estabelecer a obrigatoriedade dos fabricantes de cola industrial de adicionarem em sua fórmula uma substância atóxica,
procurava combater o consumo da chamada “cola de sapateiro”
pelos menores de rua.
Escreveu várias obras sobre etnologia, antropologia, educação,
além de romances. Seu último trabalho, em 1995, foi “O Povo
Brasileiro - a Formação e o Sentido do Brasil”. Foi eleito para a
Cadeira número 11, da Academia Brasileira de Letras. É patrono
da Cadeira número 28, do Instituto Histórico e Geográfico de
Montes Claros.
Darcy Ribeiro faleceu em Brasília, no dia 17 de fevereiro de 1997.
Bibliografia
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CONTEUDISTAS
Autor
Henrique Matthiesen é Bacharel em Direito, pós-graduado em
Sociologia e articulista de jornais. Foi vice-presidente nacional da União
Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e presidente estadual da
JS-PDT/SP. Atualmente é Coordenador Nacional do Centro de Memória
Trabalhista.
Esta cartilha faz parte do curso A formação do povo brasileiro elaborado
pelo Centro de Memória Trabalhista em parceria com a Universidade aberta
Leonel Brizola, em comemoração aos 25 anos do livro O povo brasileiro, de
Darcy Ribeiro, lançado em 1995. O cursista encontrará através da leitura dos
textos e ao assistir as videoaulas uma interpretação dos principais tópicos
abordados na obra, e sua leitura não deve ser feita desassociada do livro.
O curso completo está disponível no endereço www.ulb.org.br
Revisão textual
Apio Gomes
Jonas Pereira dos Santos
Karina Crivellani
Professores convidados
Sérgio Caldieri
Wendel Pinheiro
Agradecimentos especiais
Fundação Darcy Ribeiro
José Ronaldo Alves da Cunha
Maria José Latgé Kwamme
Conteudistas
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Direção
Nacional do PDT
BIÊNIO
2019-2021
PRESIDENTE
Carlos Roberto Lupi
VOGAL
Sirley Soares Soalheiro
VICE-PRESIDENTE
André Peixoto Figueiredo Lima
VOGAL
Marli Rosa de Mendonça
VICE-PRESIDENTE DE
RELAÇÕES PARLAMENTARES
Antônio Fernandes dos Santos
Neto
VICE-PRESIDENTE
Ciro Ferreira Gomes
LÍDER NO SENADO FEDERAL
Weverton Rocha Marques de
Sousa
SECRETÁRIO
NACIONAL DE FINANÇAS
Eduardo Martins Pereira
LÍDER NA CÂMARA FEDERAL
Wolney Queiroz
SECRETÁRIA NACIONAL DE
DIVULGAÇÃO E PROPAGANDA
Kariadine de Maria Nascimento
Pacheco Maia
VICE-PRESIDENTE
Miguelina Paiva Vecchio
SECRETÁRIO-GERAL
Manoel Dias
SECRETÁRIO ADJUNTO
André Menegotto
TESOUREIRO
Marcelo de Oliveira Panella
CONSULTORA JURÍDICA
Mara de Fátima Hofans
SECRETÁRIA DE
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Juliana Brizola
SEC. ADJUNTO DE
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Márcio Ferreira Bins Ely
VICE-PRESIDENTE
REGIONAL SUDESTE
Antônio Sérgio Alves Vidigal
VICE-PRESIDENTE
REGIONAL CENTRO-OESTE
Dagoberto Nogueira Filho
VICE-PRESIDENTE
REGIONAL NORDESTE
Ronaldo Augusto Lessa Santos
VICE-PRESIDENTE
REGIONAL NORTE
Antônio Waldez Góes da Silva
SECRETÁRIA NACIONAL DE
ASSUNTOS DE ORGANIZAÇÃO
Salete Beatriz Roszkowski
SECRETÁRIO NACIONAL
DE ASSUNTOS JURÍDICOS
Trajano Ricardo Monteiro Ribeiro
SECRETÁRIO NACIONAL
DE ASSUNTOS ECONÔMICOS
Everton da Conceição Gomes
VICE-PRESIDENTE DE
RELAÇÕES INSTITUCIONAIS
Ana Ligia Costa Feliciano
FUNDAÇÃO
LEONEL BRIZOLA–ALBERTO PASQUALINI (FLB–AP)
DIREÇÃO DA FLB-AP
Presidente
Manoel Dias
Vice-Presidente
André Peixoto Figueiredo Lima
Secretário-Geral
André Menegotto
Tesoureiro
Antonio Henrique de A. Filho
Secretário-Executivo
Ades Oliveira
CONSELHO CURADOR
Carlos Roberto Lupi — Presidente
Manoel Dias — Secretário
Ana Ligia Costa Feliciano
Ana Paula Silva
Angela Maria Rocha
Antônio Henrique de A. Filho
Fernando Barbosa
Flávia Carreiro Albuquerque Morais
Francisco Flávio Torres de Araújo
Geraldo Tadeu Moreira Monteiro
Joelma de Morais Santos
Ligia Doutel de Andrade
Marcelo de Oliveira Panella
Maria Amélia de Souza Reis
Maria José Latgé Kwamme
Martha Mesquita da Rocha
Nelson Marconi
Osvaldo Peres Maneschy
CONSELHO FISCAL
Eroídes Aparecida Lessa
Maria José Latgé Kwamme
Sirley Soares Soalheiro
Fernando Barbosa
Marli Rosa de Mendonça
Airton Costa do Amaral
CONSELHO EXECUTIVO
Manoel Dias — Presidente
André Peixoto Figueiredo Lima
André Menegotto
Antônio Henrique de A. Filho
Fernando William Ferreira
Everton da Conceição Gomes
Maria Amélia de Souza Reis
Geraldo Tadeu Moreira Monteiro
Mara de Fátima Hofans
EQUIPE DE TRABALHO
Ades Oliveira
André Menegotto
Bruno Ribeiro
Caio Mota
Edevaldo Pereira
Henrique Matthiesen
João Cyrillo
Karina Crivellani
Leonardo Britto
Leonardo Zumpichiatti
Luiz Marcelo Camargo
Nelton Friedrich
Pamela Fonseca
Rafael Machado
Sandro Alencar
Shana Santos
HINO DA INDEPENDÊNCIA
1
Já podeis da Pátria filhos
Ver contente a Mãe gentil;
Já raiou a Liberdade
No Horizonte do Brasil
Já raiou a Liberdade
Já raiou a Liberdade
No Horizonte do Brasil
4
Ressoavam sombras tristes
Da cruel Guerra Civil,
Mas fugiram apressadas
Vendo o Anjo do Brasil.
Mas fugiram apressadas
Mas fugiram apressadas
Vendo o Anjo do Brasil.
7
Não temais ímpias falanges,
Que apresentam face hostil:
Vossos peitos, vossos braços
São muralhas do Brasil.
Vossos peitos, vossos braços
Vossos peitos, vossos braços
São muralhas do Brasil.
Brava Gente Brasileira
Longe vá, temor servil;
Ou ficar a Pátria livre,
Ou morrer pelo Brasil.
Ou ficar a Pátria livre,
Ou morrer pelo Brasil.
5
Mal soou na serra ao longe
Nosso grito varonil;
Nos imensos ombros logo
A cabeça ergue o Brasil.
Nos imensos ombros logo
Nos imensos ombros logo
A cabeça ergue o Brasil.
8
Mostra Pedro a vossa fronte
Alma intrépida e viril:
Tende nele o Digno Chefe
Deste Império do Brasil.
Tende nele o Digno Chefe
Tende nele o Digno Chefe
Deste Império do Brasil.
6
Filhos clama, caros filhos,
E depois de afrontas mil,
Que a vingar a negra injúria
Vem chamar-vos o Brasil.
Que a vingar a negra injúria
Que a vingar a negra injúria
Vem chamar-vos o Brasil.
9
Parabéns, oh Brasileiros,
Já com garbo varonil
Do Universo entre as Nações
Resplandece a do Brasil.
Do Universo entre as Nações
Do Universo entre as Nações
Resplandece a do Brasil.
2
Os grilhões que nos forjava
Da perfídia astuto ardil,
Houve Mão mais poderosa,
Zombou deles o Brasil.
Houve Mão mais poderosa
Houve Mão mais poderosa
Zombou deles o Brasil.
3
O Real Herdeiro Augusto
Conhecendo o engano vil,
Em despeito dos Tiranos
Quis ficar no seu Brasil.
Em despeito dos Tiranos
Em despeito dos Tiranos
Quis ficar no seu Brasil.
Letra: Evaristo da Veiga
Música: Dom Pedro I
Cartilhas Trabalhistas — Volume 14
FUNDAÇÃO LEONEL BRIZOLA–ALBERTO PASQUALINI
SEDE NACIONAL — RIO DE JANEIRO
Rua do Teatro, 39 - 2º andar, Centro, CEP: 20.050-190, Rio de Janeiro-RJ
Tel/Fax: 21 3570-5901 — secretaria@flb-ap.org.br — www.flb-ap.org.br
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