Editora Poisson
Tópicos em Administração
Volume 15
1ª Edição
Belo Horizonte
Poisson
2018
Editor Chefe: Dr. Darly Fernando Andrade
Conselho Editorial
Dr. Antônio Artur de Souza – Universidade Federal de Minas Gerais
Dr. José Eduardo Ferreira Lopes – Universidade Federal de Uberlândia
Dr. Otaviano Francisco Neves – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Dr. Luiz Cláudio de Lima – Universidade FUMEC
Dr. Nelson Ferreira Filho – Faculdades Kennedy
Ms. Valdiney Alves de Oliveira – Universidade Federal de Uberlândia
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
T674
Tópicos em Administração – Volume 15/
Organização Editora Poisson – Belo
Horizonte - MG: Poisson, 2018
221p
Formato: PDF
ISBN: 978-85-7042-024-4
DOI: 10.5935/978-85-7042-024-4.2018B001
Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
1. Administração 2. Gestão. I. Título
CDD-658
O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são
de responsabilidade exclusiva dos seus respectivos autores.
www.poisson.com.br
contato@poisson.com.br
Sumário
Capítulo 1: Ecologia industrial: estudo de multi casos em um arranjo produtivo da
industrial têxtil................................................................................................................ 7
Karina Maria Costa Bardi, Ana Paula Duarte
Capítulo 2: Lidera - um sistema voluntário de apoio ao desenvolvimento e avaliação
da sustentabilidade de materiais e produtos da construção civil ................................. 19
Joao Luiz Rissardi, Vanessa do Rocio Nahhas Scandelari, Manuel Duarte Pinheiro
Capítulo 3: Aproveitamento de água de chuva em estabelecimento de pequeno
porte situado em Niterói/RJ ........................................................................................... 33
Marcela Dutra Tenorio Campany
Capítulo 4: Gestão estratégica de sustentabilidade: conectando lucro com impactos
socioambientais ............................................................................................................ 42
Maria Christina Barbosa da Costa, Sonia Lopesda Silva
Capítulo 5: Despertar do consumo consciente na cidade do Rio de Janeiro ............... 55
Yuri Pinheiro Santos, Regina Rianelli de Brito, Jesus Domech Moré, Jose Carlos Beker, Jorge Julio
Landeiro de Vaz
Capítulo 6: Estratégias para a aplicação dos conceitos de sustentabilidade em
universidades: o caso do telhado verde na Puc-SP ..................................................... 62
Tatiane de Oliveira Amancio, Igor Polezi Munhoz, Alessandra Cristina Santos Akkari,Neusa Maria
Bastos Fernandes dos Santos
Capítulo 7: A revitalização urbana e a infraestrutura de transportes como formas de
legado dos jogos Rio 2016 ................................................................................................................69
Ingrid Johnson, Paulo Roberto Rocha Aguiar
Capítulo 8: Produção e exportação de frutas tropicais: uma análise da região
nordeste do Brasil ......................................................................................................... 81
Richeliel Albert Rodrigues Silva, Genival Jardel Trajano Teixeira, Lúcia de Fátima Lúcio Gomes da
Costa, Mônica Almeida Gavilan, Rodrigo Mackssuel Silva de Melo
Sumário
Capítulo 9: Novas estratégias tecnológicas no setor de energia: um estudo
patentário ...................................................................................................................... 89
Igor Polezi Munhoz, Alessandra Cristina Santos Akkari, Neusa Maria Bastos Fernandes dos Santos
Capítulo 10: Estratégias de carreira e identificação de valores em discentes do
curso de engenharia ..................................................................................................... 98
Neusa Maria Bastos Fernandes dos Santos, Igor Polezi Munhoz, Alessandra Cristina Santos Akkari,
Capítulo 11: Estratégias de transferência de Conhecimento em projetos: um estudo
com gerentes de projetos ............................................................................................. 115
Neusa Maria Bastos Fernandes dos Santos, Nelson José Rosamilha
Capítulo 12: Utilização da técnica de modelagem Data Flow Diagramming (DFD)
para melhoria no processo de aprovação de projetos estratégicos de grande porte .. 129
Roquemar de Lima Baldam, João Caldeira Lélis, Lourenço Costa, Thalmo de Paiva Coelho Junior,
Leandro Colombi Resendo
Capítulo 13: As ferramentas de compartilhamento de conhecimento nos jogos rio
2016: um estudo de caso .............................................................................................. 139
Raphael Alves Soares, Déborah Daniel Ferreira Coelho Soares, Leonardo Mangia Rodrigues
Capítulo 14: O processo de inovação disruptiva através do empreendedorismo ........ 149
Alyne Madeira Kautnick
Capítulo 15: Contribuições da criatividade para a retenção de clientes em clínicas
médicas ......................................................................................................................... 160
Joiceli Rossoni Lapolli, Paulo César Lapolli, Leandro Maciel Nascimento, Inara Antunes Vieira
Willerding, Édis Mafra Lapolli
Capítulo 16: Governança de tecnologia da informação na Universidade Federal
do Recôncavo da Bahia: um estudo da implementação dos mecanismos baseado
habilitadores do Cobit 5 ................................................................................................ 169
Richardson Silveira Almeida, Warli Anjos de Souza
Sumário
Capítulo 17: Classificação e análise das práticas de gestão de projetos sob a luz da
gestão do conhecimento: estudo de caso de um projeto de implantação de ERP ...... 182
Bernardo Almeida Mudjalieb, Jéssica Galdino de Freitas, Denise Terezinha Lisboa Bassani
Capítulo 18: Implementando a inovação – estratégias de integração dos processos
e serviços de um atacado/ distribuidora ....................................................................... 198
Darciane Alves Justino
Autores: ......................................................................................................................... 211
Capítulo 1
Karina Maria Costa Bardi
Ana Paula Duarte
Resumo: O presente artigo tem por objetivo abordar a importância da
sustentabilidade para o setor confeccionista, bem como, relatar os problemas
causados pela geração de resíduos sólidos nas indústrias de confecções. Por meio
de pesquisa de campo com 10 (dez) indústrias do ramo de confecções, utilizando
aplicação de questionário, com perguntas semiestruturadas, aplicada por meio de
entrevistas, no mês de julho de 2016, pode-se ter uma visão geral sobre a
quantidade aproximada de resíduos gerados e o destino dado a eles. Conclui-se
que o acelerado crescimento do setor de empresas no ramo têxtil na região produz
um volume de resíduos considerável e especificamente, uma grande quantidade de
cones sem perspectiva de reutilização. Percebe-se que há pouco interesse dos
proprietários para a prática de produção mais limpa. Nesse sentido, o estudo
propõe a implantação da ferramenta de produção mais limpa nas empresas no
formato Cluster e a aplicação do Ecodsign para a criação de artesanatos com os
cones, aumentando, assim, o ciclo de vida de alguns resíduos e de geração de
renda, e, ainda assegurar melhor qualidade de vida e respeito ao ambiente. Estar
localizado em um modelo cluster traz vantagens para as empresa, criando
diferenciais de competitividade e possibilitando vantagens econômicas e
ambientais.
Palavras-chave: ecologia industrial, resíduos têxteis e produção mais limpa.
8
1. INTRODUÇÃO
O
crescimento
populacional
e
consequentemente, o alto ritmo de consumo
que o mundo está vivendo, preocupa, pois,
provoca consequências ao meio ambiente
desde o esgotamento de seus recursos, até
pela quantidade de resíduos gerados pelos
processos de produção e consumo. Os
problemas ambientais estão se agravando e
várias atitudes e políticas foram desenvolvidas
para resolver alguns problemas e mitigar
outros. Nesse sentido surgiu a ideia de
controlar atos e criar soluções possíveis para
reduzir esse problema que se encontra um
tanto avançado. Criou-se o conceito de
sustentabilidade, que se resume basicamente
em ações que não comprometam o futuro das
novas gerações e visa usar recursos naturais
de forma apropriada e otimizada sem agredir
o meio ambiente.
Segundo Barata (2007) a constatação de que
a capacidade assimilativa dos ecossistemas e
da regeneração dos recursos naturais ocorria
a taxas incompatíveis com o desgaste
imposto à natureza, inspirou o surgimento de
um novo conceito de desenvolvimento
sustentável.
Ao
considerar
sustentabilidade
e
responsabilidade social percebe-se que
houve um alerta na área de resíduos sólidos
descartados. Sabe-se que uma das maiores
preocupações com relação ao volume de
resíduos gerados e descartados se dá pelo
fato de que os aterros sanitários se esgotam
mais rapidamente, além de aumentar
consideravelmente a risco de contaminação
ambiental. Atualmente políticas públicas
federais procuram com uma vasta legislação
ambiental e com políticas para educação
ambiental conscientizar e minimizar o
problema. Surgem, então, iniciativas de vários
seguimentos da sociedade, a científica,
empresariais, ONGs, entre outros, a ideia de
dar vida útil a tais resíduos, reciclando ou até
se tornando insumos para outros produtos
serem fabricados. Dentro das empresas essa
iniciativa foi encarada como um desafio, pelo
fato de não poderem simplesmente pensar
somente no lucro bruto, e ter que ser
considerado o fator ambiental. Passaram a
repensar seus processos já realizados,
evitando desperdício de matéria prima e,
buscando novas formas e melhorias nos
processos produtivos, afim de gerar
diminuição de custos e futuros lucros.
Um ramo de indústria que gera resíduos em
grande volume é o seguimento têxtil. Quanto
maior a produção destas empresas, maior a
quantidade de resíduos têxteis gerada e,
consequentemente, maior é o impacto
ambiental causado por esses dejetos. Tais
resíduos industriais, assim como resíduos
oriundos de outras fontes, devem ser
dispostos e tratados conforme legislação
vigente, a fim de minimizar impactos
ambientais (LIMA JUNIOR et all, 2010)
No Brasil, existem algumas cidades que que
se tornaram famosas por concentrar várias
empresas do mesmo segmento, os chamados
arranjos produtivos locais (APLs).
O conceito de Arranjos Produtivos Locais
(APLs) é definido por Cassiolato e Lastres
(2003) como:
Aglomerações territoriais de agentes
econômicos, políticos e sociais – com foco
em um conjunto específico de atividades
econômicas - que apresentam vínculos
mesmo que incipientes. Geralmente
envolvem a participação e a interação de
empresas – que podem ser desde
produtoras de bens e serviços finais até
fornecedoras de insumos e equipamentos,
prestadoras de consultoria e serviços,
comercializadoras, clientes, entre outros –
e suas variadas formas de representação e
associação. Incluem também diversas
outras instituições públicas e privadas
voltadas para: formação e capacitação de
recursos humanos (como escolas técnicas
e
universidades);
pesquisa,
desenvolvimento e engenharia; política,
promoção e financiamento.
Existe uma dificuldade em mapear os APLs,
pois não existe um padrão único de
surgimento
e
desenvolvimento
desses
arranjos. Alguns estudos buscam identificar o
tipo de relacionamento entre as empresas e
instituições no seu entorno. A identificação da
concentração de empresas em determinada
localidade, e especialmente de um setor
particular, seria uma alternativa para mapear
o arranjo de APLs. (MASCENA et all, 2012).
Diferenças conceituais importantes são
notadas entre o modelo de APLs e o de
Cluster. Segundo Zaccarelli et al. (2008),
cluster de negócios é defendido como
entidades supra-empresariais que têm como
característica
principal
a
proximidade
Tópicos em Administração - Volume 15
9
geográfica e compatibilidade de produtos.
Sua performance competitiva de clusters de
negócios, segundo Zaccarelli et al. (2008,
p.73), é fundamentada da seguinte maneira:
1.
Concentração geográfica em área
reduzida;
2.
Abrangência de negócios viáveis e
relevantes;
3.
Especialização das empresas;
4.
Equilíbrio com ausência de posições
privilegiadas;
5.
Complementaridade por utilização de
subprodutos;
6.
Cooperação entre empresas;
7.
Substituição seletiva de negócios;
8.
Uniformidade de nível tecnológico;
9.
Cultura da comunidade adaptada ao
cluster;
10.
Caráter evolucionário por introdução
de (novas) tecnologias;
11.
Estratégia de resultado orientada para
o cluster.
Assim, os clusters se diferenciam dos APLs
pela maior intensidade de vínculos entre as
empresas e pela participação das empresas
privadas que estão aglomeradas para o
desenvolvimento do agrupamento, com menor
envolvimento do governo. Para Kwasnicka
(2006), a diferença principal entre APLs e
cluster é que o primeiro engloba somente
atividades produtivas, enquanto o segundo
envolve outros tipos de atividades, como
comércio e serviços, projetos e práticas
ambientais.
Outro ponto a ser considerado é que no
segmento do vestuário, um modelo de
produção emergiu no final dos anos 1990,
chamado de fast fashion ou moda rápida,
identificado como um fenômeno de mudança
cada vez mais acelerada na moda, e que foi
sendo adotado por muitas marcas e redes de
varejo. Apesar de ter intensificado os lucros
das empresas, o fast fashion também trouxe
consequências negativas, pois houve um
significativo aumento no volume de roupas
produzidas com características como: baixo
preço e durabilidade reduzida, aumentando,
assim, a demanda por materiais, água,
energia,
produtos
químicos
e
consequentemente gerando um maior volume
de resíduos (UNIETHOS, 2013).
A cidade de Juruaia é um exemplo de Arranjo
Produtivo Local (APL). É uma das cidades
responsáveis pela produção de lingeries,
localizada no sudoeste de Minas Gerais.
Possui pouco mais de nove mil habitantes e é
considerada a capital mineira do lingerie e
também o terceiro maior polo fabricante do
país. O surgimento empresarial na cidade foi
a vinte quatro anos com a abertura de duas
empresas no ramo têxtil, que serviram de
modelo
para
as
futuras
empresas.
Atualmente, a economia da cidade gira em
torno
do
lingerie
contando
com
aproximadamente 200 confecções que geram
milhares de empregos diretos e indiretos.
Juntamente
com
alto
crescimento
e
desenvolvimento econômico da cidade,
surgiram, também, o problema do descarte
irregular e inadequado dos resíduos gerados.
Na falta de infraestrutura adequada e de
políticas ambientais, os resíduos são
recolhidos pela coleta de lixo sem nenhuma
separação
para
possível
reciclagem,
causando sérios problemas.
Além dos resíduos têxteis gerados pelo polo,
outros resíduos são gerados e descartados no
aterro, é o caso dos cones de polipropileno,
que armazenam matéria prima, geralmente
linhas de costura, utilizados na produção de
lingerie. O polipropileno é um polímero
termoplástico de pouca resistência, facilmente
reciclável, e atualmente encontra-se em uma
grande variedade de produtos.
Assim objetivo deste estudo foi abordar a
importância da sustentabilidade para o setor
confeccionista, bem como, relatar os
problemas causados pela geração de
resíduos sólidos nas confecções.
Se considerarmos a quantidade de empresas
no ramo têxtil do município descrito e a
perspectiva de crescimento do setor, o
volume de cones de costura utilizados
diariamente e por consequência a quantidade
deste resíduo gerado diariamente, a pesquisa
justifica-se por:
Se tratar de um tema de relevância
ambiental e de sustentabilidade;
De oportunidade de estudar maneiras
para implantar um sistema de PML;
Aumentar o ciclo de vida do objeto
estudado
pela
reciclagem
e
consequentemente a mitigação de problemas
ambientais.
Além disso, a pesquisa justifica-se, pois,
conforme objetivos citados é necessária uma
medida corretiva, com uma certa urgência,
devido ao fato de que o aterro da cidade,
onde realiza-se o estudo de caso, encontra-se
em fase de esgotamento. É preciso que as
empresas do polo industrial se conscientizem
Tópicos em Administração - Volume 15
10
sobre o papel que devem ter para se
tornarem sustentáveis e ambientalmente
corretas.
Diante do despreparo do município em
relação a esse crescimento excessivo e
procurando propor soluções, ao final do
estudo, propõem-se a diminuição de
considerável volume de resíduo polimérico,
apenas com a utilização dos cones de forma
simples, sem a necessidade de cada
empresa realizar grandes mudanças em suas
linhas de produção. A proposta prevê penas a
separação do material para coleta seletiva
para a produção de matérias dentro da
proposta do ecodesign. Após a coleta os
carretéis serão entregues a artesãs que darão
novas formas a esse produto.
resíduos que serão utilizados alhures como
matérias-primas.
A reciclagem de produtos poliméricos
preocupa a sociedade mundial, quando se
considera o crescimento populacional e
consequentemente o crescente volume
utilizado e todas as implicações ambientais
inerentes ao descarte pós consumo.
Os hábitos do consumo da sociedade
moderna, a definição de regulamentação
específicas, a implantação de centros de
pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias,
constituem pauta de ações específicas de
setores governamentais e empresariais na
reciclagem de embalagem. Segundo Adhikari
e Maiti (2000), muitos fatores têm sido a causa
desse problema, dentre eles a dificuldade da
decomposição dos materiais poliméricos.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A sustentabilidade é o novo paradigma da
sociedade contemporânea e contempla o
planejamento
estratégico
de
muitas
organizações
empresariais
como
forte
diferencial competitivo em diversas áreas,
atribuindo valor para toda a cadeia produtiva.
Para Kazazian (2005), o desenvolvimento
sustentável concilia crescimento econômico
com preservação do meio ambiente e traz
melhorias nas condições sociais.
Para Manzini e Vezzoli (2005), uma proposta
sustentável é compreendida como:
1.
Centrada em recursos renováveis;
2.
Por otimizar o emprego dos recursos
não-renováveis, tais como ar, água, energia e
território;
3.
Não acumular resíduos que o
ecossistema não seja capaz de reabsorver;
4.
Fazer
com
que
indivíduos
e
comunidades ricas permaneçam nos limites
de seu espaço ambiental e que indivíduos e
comunidades das sociedades pobres possam
efetivamente gozar do espaço ambiental ao
qual potencialmente têm direito.
As formas de reaproveitamento são,
evidentemente, pontos de fundamental
importância para a minimização do problema,
pois além de contribuírem para o
prolongamento do ciclo de vida do produto,
tendem a destinar somente o “resíduo último”
ao aterro, o que já vem ocorrendo em países
como Estados Unidos da América, Canadá e
alguns país da Europa, (LIMA e ROMEIRO
FILHO, 2001).
A
reciclagem
é
o
processo
de
reaproveitamento de resíduos, por meio de
sua reinserção no ciclo produtivo, trazendo
inúmeros benefícios para a sociedade e para
o meio-ambiente. Existem vários tipos de
processo de reciclagem, variando de acordo
com o material a ser reaproveitado, dentre os
quais se destacam: o de papel, de metal, de
plástico, de vidro e de lixo orgânico.
Segundo Broega et all (2011), a prática de
reciclagem dos resíduos têxteis, é quase
inexistente no Brasil, devido à complexidade
do processo, que é descrito por de acordo
com o seguinte fluxo:
Outro conceito importante é o de ecologia
industrial que considera que todos os
resíduos e materiais devam ser reciclados
dentro de um sistema.
1.
Coleta e transporte;
2.
Identificação e separação;
3.
Desmontagem e esmagamento;
4.
Lavagem ou limpeza;
5.
Pré-produção de matérias-primas
secundárias.
A ecologia industrial é a base para o
desenvolvimento de sistemas industriais
sustentáveis. Uma aplicação prática da
ecologia industrial é a formação de arranjos
industriais, onde uma unidade consome os
resíduos de outra, gerando produtos e
Por isto, a reciclagem desses resíduos, tornase um dos principais desafios do setor têxtilconfeccionista, sendo que o descarte destes
resíduos representa desperdício de recursos
como água e energia, além do impacto
ambiental
negativo
com
o
descarte
Tópicos em Administração - Volume 15
11
inadequado (DE OLIVEIRA GUIMARÃES et al
2014).
pouco impacto no meio ambiente. Sem
desconsiderar a qualidade e a durabilidade.
Além
dos
processos
industriais
de
reciclagem, muitos materiais podem ser
reaproveitados no ambiente doméstico,
geralmente, de forma simples e criativa pela
técnica do artesanato. Os principais materiais
utilizados na reciclagem artesanal são o
papel, o plástico e o alumínio, por
apresentarem métodos de remoção de
impurezas, moldagem e recondicionamento
menos complexos, sem a necessidade de
processos industriais. Quando se fala em
reciclagem como fonte de renda, em geral,
associa-se à ideia dos catadores de materiais
recicláveis. Contudo, a reciclagem artesanal
traz além dos benefícios ao meio-ambiente, a
possibilidade de uma fonte de renda
alternativa através da venda de produtos
feitos com materiais reaproveitados como por
exemplo no ecodesign.
No ecodesign, o projetista seleciona e articula
soluções de projeto segundo seu impacto no
ciclo de vida do produto: fabricação,
embalagem, uso, troca de peças e fim de vida
(BORCHARDT, et all 2008).
O termo ecodesign surge nos anos 90 com o
intuito de reutilizar materiais antes já
descartados, projetando novos produtos com
O ecodesign é uma importante ferramenta
que pode ser utilizada para implementar a
prática da ecologia industrial. Ele é
considerado uma ferramenta, que atua no
processo de comunicação entre o designer, o
empresário e a sustentabilidade ambiental. O
ecodesign trata não somente da questão
ecológica, mas também da parte social e
ética,
criando
produtos
que
sejam
ecologicamente corretos em todas as etapas
do seu ciclo de vida, que engloba desde a
extração da matéria prima até a sua
disposição final, passando pela gestão dos
seus resíduos, ou seja, quase sempre,
envolvendo as fases de Projeto, Fabricação,
Transporte, Instalação, Utilização e Gestão de
resíduos.
Figura 1- Apresenta a Teia das Estratégias do ecodesign.
Fonte: VALPORTO, et all (2016)
3. METOLOGIA
A metodologia utilizada para o presente
estudo
foi
primeiramente
pesquisa
bibliográfica e posteriormente estudo de
múltiplos casos. A pesquisa bibliográfica
abordou assuntos relacionados a geração de
resíduos pelo setor industrial, à gestão
ambiental, ecologia industrial, produção mais
limpa, ecodesign e gestão de resíduos do
processo de confecção de lingeries,
especificamente em Juruaia. O estudo de
caso foi conduzido por meio de entrevistas
semiestruturadas, observação in loco (visitas
às empresas). As entrevistas foram realizadas
com proprietários ou funcionários das
empresas visitadas com o auxílio de um
roteiro previamente elaborado. A Figura 2
apresenta o questionário.
Tópicos em Administração - Volume 15
12
Figura 2 – Quadro do questionário aplicado
Questionário utilizado na abordagem as empresas
1 - Qual é o número de funcionários de sua empresa?
( ) até vinte funcionários ( ) até 50 funcionários ( ) mais de 50 funcionários
2 - Qual é o seu conhecimento sobre práticas ambientais?
3 - Já viu algum artesanato feito com cone de costura? ( ) sim ( ) não
4 - Qual Seu interesse em participar de uma cooperativa de reciclagem desses cones?
( ) nenhuma ( ) pouca ( ) alguma ( ) muita
5 - A empresa conhece o processo de produção mais limpa? ( ) sim ( ) não
6 - Que tipo de resíduos são gerados em sua empresa?
( ) tecidos ( ) cone de costura, ( ) plásticos, ( ) pilhas e baterias ( ) papéis
7 - Quais são os principais produtos? Qual o ramo de atividade?
( ) Lingerie
( ) Moda praia
( ) Fittness
( ) Cuecas
( ) Meias
( ) Pijamas
( ) Moda sensual
( ) embalagens
8 - Existe alguma atividade que gere resíduos tóxicos? ( ) sim ( ) não
Se sim, quais?
( ) Silkscreen
( )Tingimentos
( ) Soldas metálicas
( ) Soldas plásticas
( ) Alvejamentos,
( ) Outros processos e tratamentos químicos
9 - A empresa já recebeu algum tipo de fiscalização ou comunicação oficial da prefeitura municipal, ou
órgãos governamentais de fiscalização ambiental ou órgão competente?
( ) sim ( ) não
10 - Existe pesagem dos resíduos?
( ) sim ( ) não
11 - Se houver, são pesados separadamente por tipo de resíduos?
( ) sim ( ) não
12 - Quantos quilos ou quantidade de cones são gerados por semana?
13 - Qual atividade da empresa que mais gera resíduo? ( ) Têxteis ( ) outros
14 - Os funcionários da empresa foram treinados e capacitados quanto a geração de resíduo e aos
procedimentos de produção mais limpa? ( ) sim ( ) não
15 - A empresa separa os cones de costura dos resíduos têxteis no momento em que são gerados? ( )
sim ( ) não
16 - Em quantas categorias eles são separados?
17 - A empresa separa os outros resíduos, como por exemplo, copos descartáveis, papeis, embalagens,
resíduos têxteis e resíduos do processo de costura?
( ) sim ( ) não
18 - Que tipo de embalagem a empresa utiliza para armazenar os resíduos gerados?
( ) tambores ( ) saco plástico ( ) outros
19 - A empresa possui espaço físico suficiente para armazenagem de resíduos?
( ) sim ( ) não
20 - Quem realiza o transporte dos resíduos da empresa até o órgão receptor?
( ) prefeitura
( ) recicladores
21 - Existe algum artesão que recolhe os cones de costura? ( ) sim ( ) não
22 - O receptor de resíduos é uma empresa ( ) formal ou ( ) informal?
23 - Qual finalidade é dada aos resíduos de cone de costura ? ( ) Aterro ( ) reciclagem
24 - Algum funcionário da empresa já realizou algum tipo de auditoria no órgão receptor ou o vistoriou? ( )
sim ou ( ) não
25 - A empresa possui :
( ) plano de gerenciamento de resíduos Sólidos (PGRS) ou ( ) um plano de gerenciamento integrado
de Resíduos? Por quem foi elaborado?
Fonte: o autor
Tópicos em Administração - Volume 15
13
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A análise de resíduos foi feita a partir de
questionários,
previamente
elaborado,
respondidos por empresários e funcionários
das empresas.
A quantidade de funcionários foi pesquisada
com o intuito de poder dimensionar o tamanho
da empresa. Para esse caso, observou-se
que as empresas podem ser classificadas em
sua maioria (80%), em pequena e média
empresa. Algumas empresas da amostra
pesquisada ficaram classificadas como
microempresas.
Ao quantificar e qualificar os resíduos notouse que 33% dos mesmos é de tecido, 30%
cone de costura, 20% papeis e 17% plásticos.
Os cones de costura representam um volume
considerável dentro do total amostral de
resíduos. Neste caso, 80 % das empresas
responderam gerar em média 250 cones por
semana. Os princip’ais produtos fabricados
no APL são lingerie (42%), seguido de 13%
de pijamas e cuecas, e 12% fitness e moda
praia. A Figura 3 A,B,C e D.
Figura 3- Quantificação de funcionários e resíduos, identificação de produtos e resíduos.
Fonte: o autor
Ao analisar o resultado das questões abaixo,
observa-se que as empresas operam sem
qualquer consciência ambiental, embora 50%
declararam conhecer a técnica de PML e 80%
deles tenham declarado possuir pouco ou
nenhum
conhecimento
sobre
práticas
ambientais.
Nota-se, também, que as empresas não
possuem espaço físico suficientes para
armazenagem e apenas 10% delas pesam
seus resíduos. Entretanto, as empresas que
declararam pesá-los e separá-los, mostraramse desmotivadas devido ao fato de não haver
políticas públicas ou privadas para os
resíduos gerados neste segmento industrial
em seu município, ou mesmo, na região. Os
Tópicos em Administração - Volume 15
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resíduos são coletados diariamente pela
prefeitura de Juruaia e, os que foram
separados são novamente misturados no
momento da coleta de lixo urbano. A Figura 4
apresenta os resultados.
Figura 4- Conhecimento de práticas ambientais, espaço físico, produção mais limpa e pesagem
para os resíduos
Fonte: o autor
Outro ponto evidenciado na pesquisa foi que
algumas empresas possuem conhecimento
sobre a possibilidade de transformar os cones
em peças de artesanatos (Figura 5). Porém,
percebe-se que não há interesse por parte
dos empresários nesta prática; não existe
preocupação com os resíduos gerados e
muito menos intenção para treinar ou
implantar técnicas de produção mais limpa.
Quando o enfoque da pergunta é alterado, e
o entrevistado é estimulado com alguma
solução para o problema, nota-se que uma
parcela dos entrevistados se interessa pela a
ideia de cooperativa para reciclar cones
(Figura 5B). Entretanto, observou-se que tais
questionamentos provocaram um certo
desconforto por parte dos empresários e, a
resposta positiva possa ter sido no sentido de
amenizar esse aspecto.
Tópicos em Administração - Volume 15
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Figura 5- A- Conhecimento de artefatos, B- interesse em uma cooperativa de reciclagem, C- quem
realiza e D- para onde vão os resíduos.
Fonte: o autor
Ao
analisarmos
questões
como
conhecimentos sobre práticas ambientais,
processos de produção mais limpa e
treinamento de pessoal sobre produção mais
limpa, observou-se que as respostas são
contraditórias. Na pesquisa, 80% declararam
não possuir conhecimentos sobre práticas
ambientais, mas 50% dos entrevistados
conheciam a prática de produção mais limpa
e 40% declararam que seus funcionários
passaram por treinamentos. Respostas
contraditórias e flagrantes que podem ser
traduzidas como falta de conhecimento sobre
qualquer ferramenta utilizada para a gestão
ambiental. Um outro fator preocupante e que
corrobora a observação anterior foi que
constatou que 100% das empresas não
possuem Plano de Gerenciamento de
Resíduos Sólidos (PGRS), deixando evidente
que não estão preocupadas com a forma
correta de gerenciarem seus resíduos e com
a legislação federal vigente.
Tópicos em Administração - Volume 15
16
Figura 6- - A- Práticas de separação dos resíduos, B- treinamento dos funcionários sobre produção
mais limpa, C- separação por tipos de resíduos e D- separação dos cones dos demais resíduos.
Fonte: o autor
O estudo mostrou que no espaço amostral da
pesquisa há falta de interesse por parte do
empresariado,
e
conscientização
do
empresariado e dos funcionários, de
fiscalização por órgãos competentes, de
participação da população e de falta de
políticas públicas para o problema dos
resíduos gerados. Os resíduos podem ser
reciclados e se tornarem fonte de renda para
outras pessoas. A ideia de uma cooperativa
com fins educacionais, laborais e ambientais
ajudariam a resolver vários problemas da
sociedade moderna de do APL. O conceito do
ecodesign poderia ser implantado. Um estudo
preliminar com as artesãs do município pode
servir como exemplo de reciclagem e
desenvolvimento de novos produtos com os
cones descartados. Na Figura 7 observa-se
alguns modelos do que se pode ser realizado
no projeto em questão. Foram criados vários
tipos de peça desde uma porta pulseiras
Figura 7A, até um vaso decorativo para flores
Figura 7B.
Figura 7- Suporte para acessórios e vaso decorativo para flores.
Fonte: o autor
Tópicos em Administração - Volume 15
17
5. CONCLUSÃO E PROPOSTA DE MELHORIA
Com a condução da pesquisa conclui-se que
o acelerado crescimento do APL do ramo
têxtil produz um considerável volume de
resíduos e especificamente, uma grande
quantidade de cones sem perspectiva de
reutilização. Percebe-se que há pouco
interesse
dos
proprietários
para
o
desenvolvimento de práticas ambientais,
muito menos de implantar gestão ambiental
na empresa. Não conhecem os benefícios da
produção mais limpa ou de qualquer outra
ferramenta de gestão ambiental. Falta um
trabalho de conscientização do empresariado
e dos funcionários, fiscalização por órgãos
competentes, participação da população e
políticas públicas para o problema dos
resíduos gerados.
Não existe legislação municipal sobre
destinação dos resíduos industriais e desde o
início do crescimento do número de empresas
do ramo até a finalização dessa pesquisa não
houve fiscalização de nenhum órgão
ambiental.
Os impactos ambientais do APL têxtil estão
relacionados a toda a cadeia de produção,
sendo mais evidente nas etapas de corte e
costura, devido à retalhos gerados no corte e
aos cones para a etapa da costura. O estudo
propõe um novo paradigma para o
desenvolvimento de produtos, associando o
sistema de gestão ambiental e processos de
produção. Neste contexto, propõem-se o
reaproveitamento dos cones de costura por
meio da prática do ecodesign (com o intuito
de reutilizar materiais antes já descartados,
projetando novos produtos com pouco
impacto no meio ambiente), criando oficinas
de artesanatos envolvendo todos os tipos de
gênero e de idade, em ação social e
ambiental, tornando também uma possível
fonte de renda.
Com auxílio de ferramentas de ecodesign foi
possível identificar possíveis aplicações para
os cones de costura. Dificuldades foram
REFERÊNCIAS
Adhikari, B.; Maiti,De D.. S. Reclamation
[1]
and Recycling of waste rubber: Progress in
Polymer Science, 2000.
[2]
Barata, M. M. DE L.. O setor empresarial e
a sustentabilidade no Brasil. Revista Pensamento
Contemporâneo em Administração, 2007.
[3]
Borchardt, M.; Poltosi, L. A. C.; Sellitto, M.
A.; Pereira, G. M.. Considerações sobre ecodesign:
encontradas, principalmente no que se refere
ao interesse do empresariado, já que é
necessário a separação dos resíduos.
Observou-se
que
os
entrevistados
apresentaram apreensão na abordagem ao
tema da pesquisa. O APL é formado na
maioria por pequenas e médias empresas,
muitas delas familiares, o que diversifica as
respostas entre elas e a postura da carga
ambiental de cada uma. Existe a necessidade
de um trabalho informativo sobre as modernas
tecnologias de produção e conscientização
dos problemas causados ao meio ambiente
que poderiam evitar falhas na gestão, pois
evitariam
desperdícios
e
teriam
um
desempenho melhor nos processos da
empresa. A conscientização das empresas é
de
grande
valor
à
busca
pela
sustentabilidade. O conhecimento de práticas
sustentáveis
e
a
disseminação
de
informações relacionadas à minimização de
impactos ambientais podem melhorar a
qualidade do ambiente.
Frente a isto, a pesquisa traz benefícios ao
setor ao avaliar seus processos para um
menor impacto ambiental, a sociedade e ao
planeta. O designer e, as artesãs, por vez
atuarão no auxílio de desenvolvimento de
projetos referenciados aos materiais e
técnicas de produção resultantes na
qualidade do produto e menos impacto
ambiental.
A cooperativa ou mesmo, o
designer e as artesãs, ainda, deveriam
integrar -se na cadeia produtiva das
empresas do APL e fazer parte das decisões
ambientais.
Conclui-se que as empresas representaram
vários tipos de impacto ambiental, em todas
as etapas apresentadas, a partir deste
trabalho se espera que as empresas assem a
adotar medidas de gestão mais eficientes
para um melhor desempenho das práticas
ambientais, valorizar profissionais da área do
design e assim alcançar a sustentabilidade no
setor.
um estudo de caso na indústria eletrônica
automotiva. Ambiente & Sociedade, 2008.
[4]
Broega, A. C.; Carvalho, C.; Moraes, C.
Metodologia de Eco-Design no Ciclo da Moda:
Reutilização e reciclagem do desperdício de
vestuário. In: Anais do VI Congresso Nacional de
Pesquisa em Design, 2011.
[5]
Kwasnicka, E. L.. Teoria geral da
administração, São Paulo: Atlas, 2003.
[6]
Lastres, H. M. M.; Cassiolato, J. E.. Novas
políticas na era do conhecimento: o foco em
Tópicos em Administração - Volume 15
18
arranjos produtivos e inovativos locais. Parcerias
Estratégicas. Brasília, 2003.
[7]
Lima Junior, F. R.; Fracarolli, R. L.;
Galdamez, E. V. C.. Gestão de Resíduos Têxteis:
Um Estudo de Caso em Um Arranjo Produtivo do
Setor de Vestuário. XII Encontro Internacional sobre
Gestão Empresarial e Meio Ambiente, 2010.
[8]
Mascena, KMC; Figueiredo, F. C.;
Boaventura, J. M. G. Clusters, sistemas e arranjos
produtivos locais: análise das publicações
nacionais no período de 2000 a 2011. XV Simpósio
de Administração da Produção, Logística e
Operações Internacionais, 2012.
[9]
Oliveira Guimarães, K.; Baruque Ramos,
J.. Potencial de reciclagem têxtil no Brasil em
âmbito de gestão ambiental. 2º CONTEXMOD,
2014.
[10]
Uniethos. Série de estudos setoriais:
Sustentabilidade e competitividade na cadeia da
moda. São Paulo, 2013.
[11]
Valporto, M. S.; Azevedo, P. S.. Gestão do
design na identificação dos fatores de impactos
ambientais da construção civil. Estudos em Design,
2016.
[12]
Zaccarelli, S. B.; Telles, R.; Siqueira, J. P.
L.; Boaventura, J. M. G.; Donaire, D.. Clusters e
redes de negócios: uma nova visão para a gestão
dos negócios. São Paulo: Atlas, 2008.
[13]
ZAT, A. L.. Uma experiência em ecodesign na indústria têxtil: aplicação ao projeto de
um cabide. Rio Grande do Sul:UFRGS, 2003.
Dissertação (Mestrado Profissionalizante) - Escola
de Engenharia. Mestrado Profissionalizante em
Engenharia. Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, Porto Alegre, 2003.
.
Tópicos em Administração - Volume 15
19
Capítulo 2
João Luiz Rissardi
Vanessa do Rocio Nahhas Scandelari
Manuel Duarte Pinheiro
Resumo: Com a crescente demanda no setor da construção civil, grande parte das
construtoras utilizam serviços, materiais e produtos que não atendem as
responsabilidades ambientais para baixar seus custos e terem maiores lucros,
alguns exemplos são os descartes de resíduos em lugares inapropriados, utilização
de produtos não sustentáveis, entre outros, fazendo com que a preocupação
ambiental aumente, surgindo assim novos sistemas de avaliação ambiental, tanto
das obras como dos materiais, produtos e serviços. Nesta discussão sobre uma
construção mais sustentável, é necessário estudar os materiais e produtos
utilizados na construção civil, seja nas vertentes ambiental, social e econômica.
Torna-se importante identificar e certificar os materiais e produtos que possuem
menores impactos ambientais em seu ciclo de vida. O presente trabalho tem como
objetivo apresentar o LiderA, um sistema europeu de avaliação voluntário de apoio
ao desenvolvimento de soluções e avaliação da sustentabilidade na construção
civil. Com base em uma revisão bibliográfica, neste artigo são também
apresentadas sumariamente aplicações do sistema em materiais e produtos da
construção civil. São discutidas as potencialidades deste sistema como sendo um
apoio à procura pela sustentabilidade na construção.
Palavras-chave: Sistema de avaliação LiderA, Sustentabilidade, Materiais e
Produtos, Construção Civil.
Tópicos em Administração - Volume 15
20
1. INTRODUÇÃO
Desde os primórdios da civilização, o homem
tem usado os materiais conjuntamente com a
energia, para melhorar os padrões de vida.
Toda a engenharia depende dos materiais
para processos: quanto melhores forem estes,
melhores são as obras de engenharia. Os
materiais podem ser definidos como
substâncias tangíveis com as quais se
constroem artefatos (produtos), que são parte
integrante do cotidiano da sociedade (SMITH,
1998).
O setor da construção civil consome cerca de
15% a 50% de recursos naturais, 66% de toda
a madeira extraída, 40% da energia
consumida e 16% da água potável, sendo
ainda um grande gerador de resíduos,
produzindo uma quantidade duas vezes
maior que o lixo urbano (GRAÇAS, 2010;
GAEDE, 2008; JOHN, 2000). Este fato mostra
que no caso da construção é iminente a
necessidade de estudar soluções e métodos
para amenizar a sua contribuição à
degradação do ambiente.
A partir da evolução do setor da construção
civil, o mercado já não se contenta apenas
em construir edifícios resistentes e a um baixo
custo de acordo com a sua concepção. Nos
dias atuais o ato de edificar adotou outra
dimensão, engloba diversos fatores, que vão
desde a utilização de materiais e produtos
com efeitos diretos na própria obra, com um
sistema de gestão de qualidade na
construção, até o compromisso com as
consequências dessa atividade para a
sociedade, como a preocupação de se
construir em condições ambientalmente
corretas. Para conhecer a importância
ambiental dos produtos que a montante utiliza
é necessário que se proceda à contabilização
de todos os impactos ambientais causados
por um determinado material, desde o início
da extração das matérias-primas (cradle), até
à fase de deposição e fim de vida (grave)
(FREIXO, 2011).
A construção sustentável é um conceito que
nos Estados Unidos pela First World
Conference for Sustainable Construction,
onde Charles Kibert a definiu como “a criação
e gestão de um ambiente saudável, tendo em
consideração os princípios ecológicos e a
utilização eficiente dos recursos”. Kibert
também sugeriu os seis princípios para a
sustentabilidade na construção: minimizar o
consumo
de
recursos,
maximizar
a
reutilização dos recursos, utilizar recursos
renováveis e recicláveis, proteger o ambiente
natural, criar um ambiente saudável e não
tóxico, e por fim fomentar a qualidade ao criar
o ambiente construído (PEREIRA, 2009;
PINHEIRO, 2006; TOZZI, 2006).
Para que os materiais e produtos da
construção contribuam para a redução do
impacto ambiental dos edifícios, é necessário
promover a certificação da ecoeficiência,
disseminá-la, mas principalmente, inovar. O
conceito da ecoeficiência foi apresentado
pela primeira vez em 1991 pelo World
Business
Council
Development
e
for
Sustainable
compreende
o
“desenvolvimento de produtos e serviços,
com preços competitivos que satisfazem as
necessidades da espécie humana com
qualidade
de
vida,
enquanto
progressivamente reduzem o seu impacto
ecológico e o consumo de matérias-primas,
ao longo do seu ciclo de vida, até um nível
compatível com a capacidade do Planeta”
(SOUZA, 2011).
Para serem conhecidos e selecionados
materiais,
produtos
e
serviços
mais
sustentáveis para edificados e zonas urbanas,
torna-se essencial classificar produtos quanto
ao seu desempenho ambiental, ,no entanto, a
informação dos produtos com melhor
desempenho
ambiental
existentes
no
mercado ainda é muito escassa (SANTOS,
2012). É importante destacar que o conceito
de desempenho ambiental, segundo a ISO
14001 é “resultados mensuráveis do sistema
de gestão ambiental, relacionados com o
controle da organização sobre os aspectos
ambientais, baseados na sua política, seus
objetivos e metas”.
Estes
produtos
apresentam
elevada
importância junto do cliente/consumidor uma
vez que os clientes procuram nos produtos
uma satisfação das suas necessidades, uma
forma de assegurar a saúde e o bem-estar.
No processo de escolha, que cada vez é mais
exigente e consciente, o desempenho
energético, o menor consumo de água, a
menor toxicidade, maior durabilidade e o fato
de contribuir positivamente para o ambiente,
para a sociedade e para a economia local são
fatores tidos em consideração (PINHEIRO,
2011a).
Alguns dos principais sistemas de avaliação
presentes no mundo são: o BREEAM (Reino
Unido), o LEED (Estados Unidos), o NABERS
Tópicos em Administração - Volume 15
21
(Austrália), o BEPAC (Canadá), o HQE
(França) e o CASBEE (Japão). Segundo Leite
(2011) os dois sistemas mais utilizados no
Brasil são o LEED e o AQUA (Alta Qualidade
Ambiental) que é baseada no HQE.
O LiderA é um sistema de apoio, avaliação e
contribuição para o desenvolvimento da
sustentabilidade, no âmbito de edifícios,
recursos, espaços exteriores e zonas
construídas. Em 2000 foram iniciadas
pesquisas preliminares de investigação desse
sistema, sendo fundado oficialmente em
Portugal no ano de 2005, pelo Doutor Manuel
Duarte Pinheiro, emitindo suas primeiras
certificações em 2007, atualmente tem vindo
a ser aplicado em vários países lusófonos.
O sistema LiderA está presente no Brasil
desde 2013 e já certificou os níveis de
desempenho de varios empreendimentos,
dentre eles dois edifícios, Hotel Marina All
Suites e Hotel Marina Palace. Ambos se
encontram em fase de operação e estão
localizados na cidade do Rio de Janeiro,
bairro do Leblon, onde tendo-se obtido uma
classe A para Marina Palace o e A+ para o
Marina All Suites (PINHEIRO et al., 2013).
O presente trabalho tem como objetivos
apresentar o LiderA, que é um sistema de
avaliação
voluntário
de
apoio
ao
desenvolvimento de soluções e avaliação da
sustentabilidade
da
construção
civil.
Também, por meio deste trabalho os autores
anseiam expor a importância da classificação
do grau de sustentabilidade de materiais e
produtos utilizados na construção e como
esta é realizada pelo sistema LiderA.
2. METODOLOGIA
O presente trabalho consiste em uma revisão
bibliográfica (GIL, 2010), a qual sumariza os
conceitos sobre a importância da aplicação
de materiais e produtos mais sustentáveis na
construção civil, tendo um enfoque maior em
publicações sobre o sistema de avaliação
ambiental português LiderA.
3. DESENVOLVIMENTO
3.1 ENQUADRAMENTO SOBRE MATERIAIS E
PRODUTOS SUSTENTÁVEIS
Os aspectos econômicos, ambientais e
sociais que formam o conceito “Triple Bottom
Line” são fundamentais na definição de
material
sustentável.
Este
conceito
compreende o anseio de alcançar um
equilíbrio ótimo entre a proteção ambiental, a
equidade social e a prosperidade econômica,
sem dispensar os requisitos mínimos dos
produtos tradicionais, como a qualidade,
mercado, as questões técnicas e os custos
associados (MAXWELL, 2003).
Para Gomes (2012), materiais sustentáveis
são aqueles que, além de desempenhar as
funções a que se destinam, apresentam
também menores prejuízos ambientais,
associados aos efeitos sociais e econômicos.
Este conceito se estende ao desenvolvimento
de novas técnicas, materiais, produtos e
serviços, com desempenho melhor, ou ao
menos tão bom como os tradicionais. Tendo
como vantagens a utilização eficiente dos
recursos naturais e a geração de menos
poluição e resíduos.
Os produtos utilizados na construção são de
grande
importância
no
desafio
da
sustentabilidade, logo a sua escolha não deve
ser realizada de maneira fortuita, e sim com
uma abordagem global e integrada de todos
os impactos ambientais causados pelos
materiais. A avaliação de sustentabilidade
dos materiais de construção possui várias
dimensões que dificultam o processo de
seleção
daqueles.
A
busca
pela
sustentabilidade analisa três fatores básicos:
a qualidade, os custos e o prazo. Associados
aos critérios ecológicos, resultam na
minimização dos aspectos negativos sobre o
ser humano, como a saúde, a segurança e o
conforto (FREIXO, 2011).
De acordo com Pinheiro (2006) o Ciclo de
Vida de qualquer produto, no contexto
ambiental, considera a contabilização dos
impactos gerados durante todas as suas
fases, desde a extração das matérias-primas
até à sua deposição ou fim de vida,
denominado por “Cradle-to-grave”. O método
desenvolvido para avaliar os impactos ao
longo do ciclo de vida de um material é
correntemente designado por Análise de
Ciclo de Vida (ACV), sendo um processo
iterativo com a finalidade objetivo de permitir
a seleção de produtos tendo em conta o seu
perfil ambiental.
A análise do ciclo de vida “inclui [...], a
extração e o processamento de matériasprimas, a fabricação, o transporte, a
distribuição e comercialização, a utilização, a
manutenção, a reciclagem, a reutilização e a
deposição final do produto na Natureza”
(SETAC, 1993). Já a ISO 714040 (2006) define
Tópicos em Administração - Volume 15
22
ACV como “compilação dos fluxos de
entradas e saídas e avaliação dos impactos
ambientais associados a um produto ao longo
do seu Ciclo de Vida”.
Os resultados da ACV possibilitam identificar
os impactos ambientais dos materiais de
construção que ocorrem em todas as fases
do seu Ciclo de Vida conforme a Figura 1,
comparar diretamente os produtos, processos
de fabricação e soluções de eliminação de
desperdícios. A otimização dos métodos de
concepção,
construção,
renovação
e
demolição dos edifícios e do ambiente
construído
pode
permitir
melhorias
significativas no desempenho ambiental e
econômico dos espaços edificados e na
qualidade de vida dos cidadãos.
Figura 1 - Ciclo de Vida dos Materiais e Produtos da Construção Civil
Fonte: FREIXO (2011)
Santos (2012) afirma que os sistemas de
classificação que atribuem os rótulos
ambientais possibilitam realizar a distinção
entre os produtos que apresentam um bom
perfil ecológico ou sustentável daqueles que
são prejudiciais ou com pior desempenho
para o meio ambiente. A ACV é
provavelmente o método de avaliação de
impacto ambiental mais importante de
materiais, serviços e processos, sendo
empregado em uma das ferramentas mais
utilizadas como sistema de classificação, o
rótulo ambiental.
Com o desejo de atender a procura dos
consumidores por produtos mais ecológicos é
que em alguns países surgiu, a partir do final
dos anos de 1980, um grande número de
sistemas de rotulagem, como mostra a Figura
2,
disponibilizando
uma
orientação
fundamentada
aos
consumidores
que
desejam optar por este tipo de produtos. O
rótulo ambiental é um rótulo oficial para
produtos “verdes”, sendo que os produtos,
para poderem obter o rótulo, têm de
obedecer aos critérios estabelecidos pelo
sistema que comprova que foram fabricados
por processos e procedimentos com um
impacto ambiental baixo ou mínimo. São
determinados vários critérios com base em
procedimentos de avaliação de ciclo de vida
para cada categoria de produtos. Este
procedimento envolve todas as etapas do
ciclo de vida do produto, desde a extração
das matérias-primas utilizadas, a fabricação,
distribuição, utilização e deposição final do
produto e abrange os efeitos desfavoráveis e
benéficos no ambiente em cada uma destas
etapas (SANTOS, 2012).
Tópicos em Administração - Volume 15
23
Figura 2 - Cronologia de Rótulos Ambientais para Materiais e Produtos da Construção Civil
Fonte: FREIXO (2011)
3.2 SISTEMA LIDERA
O LiderA é um sistema voluntário que apoia
projetos tidos como sustentáveis e certifica
produtos do mercado da construção como,
por
exemplo,
edifícios,
materiais,
empreendimentos, entre outros, desde a fase
de concepção do projeto até a utilização. O
nome do sistema LiderA é acrônimo de
Liderar pelo Ambiente para a construção
sustentável, sendo neste aspecto que ele
procura reposicionar o ambiente na
construção, através da orientação e da
avaliação do nível de busca pela
sustentabilidade.
De acordo com Pinheiro (2010), o sistema se
organiza em um conjunto de seis vertentes de
bom desempenho ambiental, sendo eles:
Valorizar a dinâmica local e promover uma
adequada integração; Fomentar a eficiência
no uso dos recursos; Reduzir o impacto das
cargas ambientais; Assegurar a qualidade do
ambiente, focada no Conforto Ambiental;
Fomentar as vivências socioeconômicas
sustentáveis; Assegurar a melhor utilização
sustentável dos ambientes construídos,
através da gestão ambiental e da inovação.
Conforme a Figura 3, estas vertentes são
tratadas em 22 áreas. Já estas áreas são
divididas em 43 critérios, nos quais se
avaliam os ambientes construídos em função
do seu desempenho, no caminho para a
sustentabilidade.
Figura 3 - Vertentes e Áreas do Sistema LiderA
Fonte: PINHEIRO(2011b)
Tópicos em Administração - Volume 15
24
vertentes e áreas. Como descrito no Quadro
1, as vertentes posicionam como mais
relevante os recursos (energia, água e
materiais) com 32% do peso, seguido da
vivência socioeconômica (19%), conforto
ambiental (15%), integração local (14%),
cargas ambientais (12%) e por fim o uso
sustentável
(8%).
Para cada critério são estabelecidos níveis de
desempenho que possibilitam indicar se a
solução é ou não sustentável. Estes níveis são
indicados
de
forma
numérica
e
posteriormente são transformados em classes
que vão de G a A+++, visando um melhor
entendimento da avaliação.
Para Pinheiro (2011b) a contabilização dos
critérios já referidos é realizada através de
Quadro 1 - Vertentes, áreas e critérios do sistema LiderA
VERTENTE
ÁREA
Valorização Territorial
C2
Otimização ambiental da implantação
C3
Valorização Ecológica
C4
Interligação de habitats
C5
Valorização Paisagística
C6
Proteção e valorização do património
C7
Eficiência nos consumos e certificação
energética
C8
Desenho passivo
C9
Intensidade em carbono
C10
Consumo de água potável
C11
Gestão de águas locais
C12
Durabilidade
C13
Materiais locais
C14
Materiais de baixo impacto
C15
Produção local de alimentos
C16
Tratamento das águas residuais
C17
Caudal da reutilização de águas usadas
C18
Caudal de emissões atmosféricas
C19
Produção de resíduos
C20
Gestão de resíduos perigosos
C21
Valorização de resíduos
Ruído Exterior
C22
Fontes de ruído para o exterior
Poluição Ilumino-térmica
C23
Poluição ilumino-térmica
Qualidade do Ar
C24
Níveis de qualidade do ar
Conforto Térmico
C25
Conforto térmico
C26
Níveis de iluminação
C27
Conforto sonoro
Ecossistemas naturais
Paisagem e Património
Energia
Recursos (32%)
Água
Materiais
Produção Alimentar
Efluentes
Emissões Atmosféricas
Cargas Ambientais
(12%)
Conforto Ambiental
(15%)
CRITÉRIO
C1
Solo
Integração Local
(14%)
Nº
Resíduos
Iluminação e Acústica
Tópicos em Administração - Volume 15
25
(continuação...)
VERTENTE
ÁREA
Nº
Acesso para todos
Diversidade Econômica
Vivência
Socioeconômica
(19%)
Amenidades e Interação
Social
Participação e Controle
Custos no Ciclo de Vida
Uso Sustentável
(8%)
Gestão Ambiental
Inovação
CRITÉRIO
C28
Acesso aos transportes públicos
C29
Mobilidade de baixo impacto
C30
Soluções inclusivas
C31
Flexibilidade - adaptabilidade aos usos
C32
Dinâmica económica
C33
Trabalho local
C34
Amenidades locais
C35
Interação com a comunidade
C36
Capacidade de controle
C37
Condições de participação e governança
C38
Controle de riscos naturais (safety)
C39
Controle das ameaças humanas (security)
C40
Custos no ciclo de vida
C41
Condições de utilização ambiental
C42
Sistema de gestão ambiental
C43
Inovações
Fonte: Adaptado de PINHEIRO et al. (2013)
Ainda segundo Pinheiro (2011b), os liminares
do sistema LiderA são derivados de três
pontos de referência. O primeiro se baseia no
desempenho tecnológico mais utilizado, pelo
que a prática construtiva existente é
considerada como nível usual (Classe E). Já
no segundo nível, o melhor desempenho
decorre da melhor prática construtiva viável à
data (Classe C, B e A), já o terceiro enfoca na
definição do nível de sustentabilidade elevado
(Classes A++).
Para cada critério é possível, utilizando os
limiares do sistema LiderA e comparando
com as soluções ou níveis de desempenhos,
verificar como se posiciona face à prática de
referência, se for igual a esta prática é classe
E, se melhorar o desempenho em 12,5% será
uma classe D, em 25% será uma classe C,
em 37,5% uma classe B, em 50 % uma classe
A, em 75% uma classe A+ e em 90% uma
classe A++. E ainda discorre que no futuro,
reserva-se a possibilidade de existir o nível
A+++, um representativo de um estado
regenerativo (PINHEIRO, 2010).
3.3 LINHAS DE
SISTEMA LIDERA
BOAS
PRÁTICAS
DO
Cada critério do sistema LiderA remete à
linhas de boas práticas, ou seja, o que se
espera das áreas avaliadas, afim deste obter
uma boa classificação. Algumas das boas
práticas consideradas pelo sistema são, por
exemplo:
Valorização Territorial: Promover aglomerados
urbanos compactos (média densidade),
minimizando
a
expansão
suburbana;
Promover a adoção de vários usos do solo
simultâneos; Promover a construção de redes
de infraestruturas locais; Minimizar a erosão e
promover a permeabilidade do solo
(PINHEIRO et al., 2013).
Valorização Ecológica: Minimizar a destruição
ou alteração da fauna e flora local; Promover
a integração de espaços e estruturas verdes
nos aglomerados urbanos (PINHEIRO et al.,
2013).
Valorização
Paisagística:
Adequar
as
intervenções às condições naturais locais
(topografia, fauna, flora, estruturas verdes);
Adequar as intervenções à envolvente
construída local (edificado, infraestruturas,
espaços público); Respeitar os valores,
tradições e técnicas construtivas locais
(PINHEIRO et al., 2013).
Gestão
da
Energia:
Diminuição
das
necessidades nominais de energia - otimizar
o ciclo da energia; Construir com base em
princípios bioclimáticos; Incentivar a utilização
Tópicos em Administração - Volume 15
26
de sistemas de fontes renováveis (solares
térmicos, fotovoltaicos, eólicos, geotérmico,
biomassa) adaptados às condições locais
(PINHEIRO et al., 2013).
Gestão da Água: Garantir o ciclo da água nos
ecossistemas locais; Desenvolver o acesso a
água potável - promover a qualidade da
água; Otimizar o consumo de água primária
proveniente da rede de abastecimento
pública, de poços, de fontes ou de furos;
Recolha e utilização de águas pluviais;
Reutilização de águas tratadas para
consumos
secundários;
Promover
a
introdução de sistemas waterless; Garantir a
higiene e salubridade evitando a existência
de locais com águas estagnadas ou poluídas
(PINHEIRO et al., 2013).
Gestão dos Materiais: Fomentar o uso de
materiais locais e materiais reciclados;
Conjugação de materiais de modo a obter
soluções duráveis; Adoção de materiais e
técnicas construtivas que promovam a
conservação de energia (PINHEIRO et al.,
2013).
Produção local de alimentos: Promover a
produção local de alimentos de origem animal
e/ou vegetal (PINHEIRO et al., 2013).
Gestão dos Efluentes: Desenvolver sistemas
de tratamento de águas residuais locais;
Promover a recolha, separação e tratamento
das águas residuais e posterior reutilização
das mesmas para consumos secundários
(PINHEIRO et al., 2013).
Gestão das Emissões Atmosféricas: Eliminar
ou diminuir soluções que recorram ao
processo de combustão; Evitar a utilização de
soluções que impliquem a emissão de
substâncias
acidificantes;
Promover
a
aplicação de sistemas e equipamentos ou
ventilação natural que evitem a acumulação
de partículas nocivas (poeiras, fungos,
bactérias) (PINHEIRO et al., 2013).
Gestão dos Resíduos: Promover o tratamento
local de resíduos; Reduzir a produção de
resíduos e aumentar a percentagem de
resíduos valorizados na construção, operação
e demolição; Implementar a compostagem de
resíduos orgânicos ou a produção de energia
da biomassa como forma de tratamento de
resíduos; Reduzir a produção de resíduos
perigosos, otimizar as suas condições de
armazenamento e deposição final (PINHEIRO
et al., 2013).
Gestão do ruído: Controlo das fontes de ruído
para o exterior; Reduzir os níveis de ruído
exteriores
para
níveis
ambientalmente
aceitáveis (PINHEIRO et al., 2013).
Gestão ilumino-térmica: Reduzir o efeito da
"ilha de calor" e da poluição ilumino-térmica
(PINHEIRO et al., 2013).
Gestão da Qualidade do Ar: Implementar a
ventilação natural no edifício, promover a
ventilação cruzada; Promover a circulação e
ventilação do ar nos espaços envolventes ao
edifício; Implementar medidas com vista a
redução de contaminações no ar (COV´s,
micro-contaminações,
odores,
gases);
Garantir a salubridade dos espaços interiores
assegurando a sua proteção a doenças
(PINHEIRO et al., 2013).
Gestão do Conforto Térmico: Desenvolver
estratégias de desempenho passivo com vista
a assegurar o conforto térmico dos
utilizadores
tanto
internamente
como
externamente; Introduzir e assegurar a
aplicação
de
isolamentos
térmicos
adequados no edificado (paredes, cobertura,
pavimentos); Assegurar boas condições de
conforto térmico nos espaços públicos
exteriores (orientação e exposição solar,
sombreamento,
ventilação,
evaporação)
(PINHEIRO et al., 2013).
Gestão de outras condições de Conforto:
Promover e assegurar bons níveis de
iluminação natural no interior e exterior do
edificado, através da adoção de técnicas de
desempenho passivo; Promover a introdução
ponderada de iluminação artificial no
edificado assegurando bons níveis de
iluminação artificial no interior do edificado,
nos locais em que tal seja necessário;
Assegurar bons níveis de iluminação artificial
no exterior do edificado, em especial nos
espaços de concentração da população;
Localização correta do edificado de forma a
garantir a proteção a fontes de ruído locais e
assegurar bons níveis de conforto sonoro no
interior dos espaços, aplicando isolamentos
acústicos adequados; Adotar organizações
espaciais que favoreçam os usos dos
espaços considerados (PINHEIRO et al.,
2013).
Contribuir para acessibilidade: Promover a
construção de infraestruturas que facilitem os
deslocamentos cotidianos que servem de
apoio aos meios de transporte locais
(estradas, abrigos, passeios, faixas de
pedestres, ciclovias, estações); Oferecer uma
variedade de soluções e espaços públicos
nas imediações do edificado que facilitem e
incentivem a atividade física e favoreçam os
Tópicos em Administração - Volume 15
27
deslocamentos de baixo impacto; Promover a
criação e favorecer a utilização de transportes
coletivos que abranjam o maior número de
utilizadores possível; Assegurar a mobilidade
e o acesso a pessoas com mobilidade
condicionada, quer seja nos espaços
interiores, quer nos exteriores, evitando
essencialmente as barreiras arquitetônicas
(PINHEIRO et al., 2013).
Contribuir para a Dinâmica Econômica:
Concepção de soluções espaciais, redes e
sistemas auxiliares flexíveis, modulares e
ajustáveis às necessidades evolutivas locais;
Criar soluções espaciais e arquitetônicas que
permitam criar valor no local e no mercado
imobiliário; Adotar soluções que favoreçam
trocas comerciais que potenciem o comércio
local; Tipologias de soluções, produtos e
espaços adequados a diferentes classes
sociais; Promover a localização de postos de
trabalho nos ambientes construídos locais,
com ênfase na empregabilidade da
população local; Promover a igualdade de
género e de estatuto social; Criação de
empregos qualificados e formação da
população local (PINHEIRO et al., 2013).
Contribuir para as Amenidades: Promover a
valorização
das
amenidades
locais
fomentando a sua presença e criação, a sua
manutenção e a sua proximidade aos
usuários como uma prioridade para os
ambientes locais; Promover atividades,
espaços e soluções que solicitem a
participação da população local com a
comunidade envolvente (PINHEIRO et al.,
2013).
Condições de controle: Aplicação de medidas
de controle e inibição da criminalidade e
vandalismo
no
edificado
e
espaços
construídos
(iluminação,
vigilância,
permeabilidade do espaço e campos de
visão); Fomentar o controle do nível do
conforto (temperatura, umidade, ventilação,
sombreamento e iluminação), adequando as
condições do edificado às estações de Verão
e Inverno; Adequar as intervenções aos riscos
naturais existentes e evitar os riscos inerentes
às soluções arquitetônicas adotadas; Prever
medidas
que
permitam
melhorar
as
condições de higiene locais, garantindo a
salubridade dos espaços construídos de
forma a evitar riscos associados a doenças
contagiosas; Promover a participação ativa
dos cidadãos com intuito de melhorar a sua
qualidade de vida, as suas condições de
conforto e o usufruto ou a vivência do
ambiente construído; Promover a participação
ativa dos cidadãos em igualdade de género e
de estatuto social (PINHEIRO et al., 2013).
Contribuir para os Baixos Custos no Ciclo de
Vida: Maximizar a rentabilidade do edifício e
ambientes construídos e minimizar a sua
manutenção, promovendo baixos custos no
ciclo de vida dos elementos constituintes da
comunidade;
Escolha
de
materiais,
equipamentos
e
soluções
construtivas
simples, duráveis e resistentes, que possam
posteriormente
ser
reaproveitados
e
reciclados; Ponderar a adopção de soluções
flexíveis, que permitam uma fácil adaptação a
diferentes realidades, sem o encargo de
custos adicionais (PINHEIRO et al., 2013).
Promover a Utilização e Gestão: Contribuir
para a formação da população em relação à
utilização dos espaços edificados e do
desempenho ambiental dos mesmos; Criar
modos de utilização simplificados que
permitam potenciar os níveis de desempenho
ambiental quer no edificado, quer nos
espaços exteriores; Introduzir modos de
gestão simplificados que permitam assegurar
a adequada manutenção, utilização e
operação do edificado e dos espaços
exteriores (PINHEIRO et al., 2013).
Promover a Inovação: Reforçar e incentivar a
aplicação de soluções que promovam a
sustentabilidade e a adopção de medidas
inovadoras que melhorem o desempenho
ambiental; Aplicação de soluções inovadoras
que contribuam para a melhoria da qualidade
de vida da população local (PINHEIRO et al.,
2013).
3.4 SISTEMA LIDERA E A CERTIFICAÇÃO DE
MATERIAIS E PRODUTOS DA CONSTRUÇÃO
CIVIL
De acordo com Pinheiro (2010), a integração
do ciclo de vida dos materiais e produtos na
envolvente dos critérios comporta algumas
problemáticas que tornam urgente a alteração
do paradigma caracterizador deste setor, mas
também comporta desafios na dimensão
ambiental, capazes de fazer a transição de
um setor poluente para um setor mais
sustentável e amigo do ambiente, como ilustra
a
Figura
4.
Tópicos em Administração - Volume 15
28
Figura 4 - Integração do Ciclo de Vida dos Materiais e Produtos com o Sistema LiderA
Fonte: FREIXO (2011)
Segundo a metodologia LiderA, a área dos
materiais engloba três critérios fundamentais
que têm como propósito: assentar a procura
da Durabilidade (C12), no fomento da
utilização de Materiais Locais (C13) de forma
ponderada e na procura estruturante de
Materiais de Baixo Impacto (C14).
fatores. Este critério liga-se ao consumo de
materiais, especialmente com foco nos
acabamentos, nas redes prediais e entre
outras.
Para
uma
estratégia
de
sustentabilidade, a durabilidade do ambiente
construído deve ser aumentada, já que dessa
forma se minimizam o consumo de novos
materiais de construção, os encargos
ambientais que estão associados às fases de
renovação e demolição dos ambientes
construídos existentes e da construção dos
novos
ambientes
construídos
e,
consequentemente deve-se aumentar o
tempo de vida da construção. No Quadro 2
encontra-se o enquadramento do Sistema
LiderA para o critério de Durabilidade.
De acordo com LiderA (2011), o critério de
Durabilidade (C12) é de difícil determinação,
pois depende da estrutura física, da
composição
química,
dos
sistemas
construtivos, do local como é aplicado o
material, do ambiente, das condições
climáticas, dos sistemas de gestão e da
manutenção do empreendimento, entre outros
Quadro 2 - Enquadramento do Critério C12
Limiares no enquadramento do Sistema LiderA para o critério C12 - Durabilidade
D
E
F
G
Tempos de vida da estrutura e
acabamentos inferiores aos
definidos pelo nível E.
Tempos de vida de cada uma
das quatro áreas consideradas
inferiores aos definidos pelo nível
E.
Tempos de vida: estrutura - 100
anos; acabamentos - 20 anos;
equipamentos - 20 anos e
canalizações - 30 anos.
C
Tempos de vida: estrutura- 50
anos; acabamentos - 5 anos;
equipamentos - 10 anos e
canalizações - 20 anos.
Tempos de vida: estrutura - 100
anos; acabamentos - 30 anos;
equipamentos - 25 anos e
canalizações - 50 anos.
B
Tempos de vida: estrutura- 50
anos; acabamentos - 7 anos;
equipamentos - 10 anos e
canalizações - 20 anos.
A
Tempos de vida: estrutura - 75
anos; acabamentos - 7 anos;
equipamentos - 15 anos e
canalizações - 30 anos.
A+
Tempos de vida: estrutura - 100
anos; acabamentos - 10 anos;
equipamentos - 20 anos e
canalizações - 30 anos.
A++
Tempos de vida: estrutura e
acabamentos - superior ao dobro
comparativamente com o nível E.
Fatores relevantes na Durabilidade: estrutura, acabamentos, canalizações e equipamentos comuns, em média
(elevadores, instalações elétricas, sensores interiores e exteriores, painel solar, fotovoltaico, tratamento de efluentes,
caldeira, etc.). Sendo que a durabilidade da estrutura e dos acabamentos são considerados mais relevantes do que os
outros. Esta consideração prende-se muito pelo fato de estarem a ocorrer constantemente inovações ao nível dos
equipamentos e ao baixo peso das canalizações face aos restantes materiais. Verificar que pelo menos 50% dos fatores
são considerados.
Fonte: Adaptado de PINHEIRO (2011a)
Tópicos em Administração - Volume 15
29
A abordagem ao critério Material Local (C13)
tem por base a distância entre a área do
empreendimento e a área de produção do
material a utilizar. Consequentemente na
avaliação deste descritor interessa apostar
numa utilização preferencial de materiais
locais ou fomentar a prioridade local, em que
as quantidades de materiais envolvidos,
materiais e produtos fornecidos e produzidos
localmente não excedam a distância
indicativa de 100 km. A disponibilidade deste
critério e a sua utilização pode contribuir para
a atenuação das necessidades de transporte
(incluindo a respectiva energia e emissões),
bem como para fomentar a integração da
construção e a dinâmica da economia local.
Neste sentido, deve-se privilegiar o uso de
materiais locais. No Quadro 3 encontram-se
os limiares do enquadramento do Sistema
LiderA para o critério de Materiais Locais.
Quadro 3 - Enquadramento do Critério C13
Limiares no enquadramento do Sistema LiderA para o critério C13 - Materiais Locais
Fatores relevantes nos Materiais Locais: Porcentagem de materiais, face ao total utilizado,
produzidos a distância inferior a 100km. Só contabilizar os materiais que pelo menos 50% de seus
componentes tenham origem e sejam manufaturas dentro do perímetro de 100km.
A++
A+
A
B
C
D
E
F
G
[90-100]%
[75-90[%
[50-75[%
[37,5-50[%
[25-37,5[%
[12,5-25[%
[10-12,5[%
[5-10[%
[0-5[%
Fonte: Adaptado de PINHEIRO (2011a)
os efeitos provocados pela extração e
produção dos materiais, constituindo uma
opção preferencial ao assegurar o baixo
impacto desta indústria, que assegura o
respeito para além da dimensão ambiental,
dos aspectos relacionados com a saúde
pública e conforto. No Quadro 4 encontra-se
as liminares do enquadramento do Sistema
LiderA para o critério de Materiais de Baixo
Impacto.
Ao adotar o critério Materiais de Baixo
Impacto (C14) pretende-se fomentar o uso de
materiais com reduzido impacto ambiental,
nomeadamente através do recurso a materiais
certificados ambientalmente, por exemplo,
pelo rótulo ecológico ou por outros Sistemas
de Certificação reconhecidos, assim como de
materiais reciclados ou materiais com melhor
desempenho ambiental e sustentável. O
consumo destes materiais permite minimizar
Quadro 4 - Enquadramento do Critério C14
Limiares no enquadramento do Sistema LiderA para o critério C14 - Materiais de Baixo Impacto
Fatores relevantes nos Materiais de Baixo Impacto: Porcentagem de materiais, face ao total
utilizado, que são certificados, de baixo impacto, reciclados e renováveis.
A++
[90-100]%
A+
[75-90[%
A
[50-75[%
B
[37,5-50[%
C
[25-37,5[%
D
[12,5-25[%
Fonte: Adaptado de PINHEIRO (2011a)
Tópicos em Administração - Volume 15
E
F
G
[0-12,5[%
[0-12,5[%
dos materiais
previstos
utilizar na
construção
contém pelo
menos 1
composto
perigoso na
sua
composição
mais de
12,5[% dos
materiais
previstos
utilizar na
construção
contém pelo
menos 1
composto
perigoso na
sua
composição
30
3.5 CASOS DE APLICAÇÃO DO SISTEMA
LIDERA EM MATERIAIS E PRODUTOS
Conforme apresentado no item 3.3 do
presente trabalho, a certificação de materiais
e produtos é baseada em três critérios
fundamentais para o bom desempenho
ambiental, sendo eles os critérios C12, C13 e
C14. Ainda o Sistema LiderA relata que,
dependendo do material a ser estudado,
podem ser adicionados novos critérios com o
intuito de fornecer informações mais
detalhadas, desde que faça sentido para o
caso em questão, ou seja, cada material é um
material, e o método de avaliação deve ser
consistente entre eles, avaliando materiais de
construção,
independente
das
suas
propriedades desde que prestem o mesmo
serviço. Assim, outros critérios que não
pertençam à área de recursos podem vir a ser
integrados na avaliação dos materiais em
questão.
Para exemplificar a utilização dos critérios de
avaliação do LiderA, são apresentados três
estudos realizados em Portugal com materiais
de construção distintos, utilizados em vários
componentes construtivos e em etapas
diferentes de uma obra. Os seguintes estudos
foram realizados no Instituto Superior Técnico
da Universidade Técnica de Lisboa, sob a
orientação do Doutor Manoel Pinheiro que é
responsável pelo Sistema LiderA, sendo
estes:
“Categorização
ambiental
de
produtos para a construção segundo a
metodologia do LiderA – caso das Tintas e
Vernizes”, elaborado por Rui Freixo em 2011,
tendo como concluído que para a uma
eficiente avaliação de tintas e vernizes foram
necessários analisar os critérios apresentados
no Quadro 5.
Quadro 5 - Critérios do LiderA para Tintas e Vernizes
VERTENTE
ÁREA
Recursos
Materiais
Conforto Ambiental
Vivência Socioeconômica
Qualidade do Ar
Custos no Ciclo de
Vida
Nº
CRITÉRIO
C12
Durabilidade
C13
Materiais Locais
C14
Materiais de baixo impacto
C24
Níveis de qualidade do ar
C40
Baixos custos no ciclo de vida
Fonte: Adaptado de FREIXO (2011)
“Iluminação
e
Ecoprodutos
–
Classificação do seu Grau de Procura da
Sustentabilidade”, realizado por Ana Santos
no ano de 2012, que contou com os critérios
exibidos no Quadro 6, para uma competente
análise sobre a sustentabilidade de alguns
materiais de iluminação.
Quadro 6 - Critérios do LiderA para Materiais de Iluminação
VERTENTE
ÁREA
Energia
Recursos
Materiais
Nº
C9
CRITÉRIO
Eficiência nos consumos e certificação
energética
Intensidade de Carbono
C12
Durabilidade
C13
Materiais Locais
C14
Materiais de baixo impacto
C19
Produção de resíduos
C20
Gestão de resíduos perigosos
C7
Cargas Ambientais
Resíduos
Conforto Ambiental
Iluminação e Acústica
C26
Níveis de Iluminação
Vivência Socioeconômica
Custos no Ciclo de Vida
C40
Baixos custos no ciclo de vida
Uso Sustentável
Gestão Ambiental
C41
Condições de Utilização Ambiental
Fonte: Adaptado de SANTOS (2012)
Tópicos em Administração - Volume 15
31
“Isolamentos
Térmicos
e
Revestimentos de Pavimento – Classificação
do seu Grau de Procura de Sustentabilidade”
desenvolvido por Inês Gomes em 2012, que
para a avaliação dos materiais estudados
abordou os critérios mencionados no Quadro
7.
Quadro 7 - Critérios do LiderA para Isolamentos Térmicos e Revestimentos de Pavimento
VERTENTE
ÁREA
Energia
C7
Água
C10
CRITÉRIO
Eficiência nos consumos e certificação
energética
Consumo de água potável
C12
Durabilidade
C13
Materiais Locais
C14
Materiais de baixo impacto
C19
Produção de resíduos
C20
Gestão de resíduos perigosos
C21
Valorização de resíduos
Qualidade do Ar
C24
Níveis de qualidade do ar
Conforto Térmico
C25
Conforto térmico
Recursos
Materiais
Cargas Ambientais
Conforto Ambiental
Vivencia Socioeconômica
Resíduos
Nº
Custos no Ciclo de Vida
C40
Baixos custos no ciclo de vida
Fonte: Adaptado de GOMES (2012)
Nota: O critério C24 (Níveis de qualidade do
ar) foi considerado apenas para os
revestimentos de pavimento e o critério C25
(Conforto térmico) para os isolamentos
térmicos.
4. CONCLUSÕES
A construção tem grande importância e
grande impacto na sociedade, desafiando
cada vez mais os promotores, construtores,
projetistas e gestores a procurarem uma
abordagem que integre o bom desempenho
ambiental, social e econômico, isto é,
buscarem a construção mais sustentável. A
necessidade
de
procurar
essa
sustentabilidade na construção tem levado ao
desenvolvimento de sistemas de avaliação e
certificação, neste artigo apresenta-se o
sistema LiderA, presente no Brasil desde
2013.
O LiderA é um sistema desenvolvido
originalmente na língua portuguesa e aplicada
de forma alargada em Portugal e tem vindo a
ser aplicado em vários países lusófonos,
incluindo embora de forma reduzida também
no Brasil. O sistema LiderA apresenta numa
abordagem que considera não apenas o
desempenho ambiental, mas também o
socioeconômico, sendo por isso um sistema
para apoio à procura da sustentabilidade,
contribuindo para interligar as construções e
seus utilizadores.
A metodologia LiderA dispõe de todos os
critérios necessários para uma avaliação
completa dos produtos, uma vez que dispõe
de critérios que englobam os pontos
principais, mesmo que por vezes os critérios
tenham de ser adaptados para os produtos
em questão. Conclui-se que a ACV é o
método mais eficiente na avaliação do
desempenho ambiental dos produtos quando
é possível ter acesso às informações
completas de seu ciclo de vida.
A maior parte dos edifícios projetados na
atualidade possui um tempo de vida útil
superior a 40 anos, causando impacto
considerável no meio ambiente. É importante
destacar ainda que os materiais de
construção
apresentam
grande
potencialidade
para
a
melhoria
do
desempenho energético e ambiental dos
edifícios, e consequentemente para o bemestar da sociedade. Embora os primeiros
rótulos para produtos tenham aparecido há
quase 30 anos, não existem muitos estudos
na área da certificação dos materiais.
Também não se observa muita divulgação
das vantagens dos materiais certificados e
apenas uma pequena parcela da população
tem consciência da necessidade de utilizar
produtos mais sustentáveis.
Tópicos em Administração - Volume 15
32
REFERÊNCIAS
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de produtos para a construção segundo a
metodologia do LiderA - Caso das Tintas e
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Engenharia Civil) – Universidade Fernando Pessoa,
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Dissertação
(Mestrado
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Construção
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(International
Standards
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Sistema
de
Gestão
Ambiental, Especificação e Diretrizes Para Uso
(1996).
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(International
Standards
Organization) 14040: Gestão Ambiental Análise de
Ciclo de Vida – Princípios e procedimentos (2006).
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JOHN, V. M. Reciclagem de resíduos na
construção civil: Contribuição para metodologia de
pesquisa e desenvolvimento. Tese (Livre Docência)
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São Paulo, 2000.
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Sustentabilidade Dos Ambientes Construídos.
Disponível
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PINHEIRO, M. D.; PEREIRA, F. C.,
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LiderA – um sistema de apoio à procura eficiente
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Anais do Encontro Latinoamericano de Edificações
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PINHEIRO, M. D. Manual Para Projectos
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O Sistema LiderA. 1ª edição digital. 2010. 43p.
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PINHEIRO, M. D. Produtos e Serviços
Sustentáveis, Sistematização segundo o LiderA.
Lisboa: LiderA. 2011a.
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SANTOS, A. R. C. M. Iluminação e
Ecoprodutos – Classificação do seu Grau de
Procura
da
Sustentabilidade.
Dissertação
(Mestrado em Engenharia do Ambiente) – Instituto
Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa,
Lisboa, 2012.
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Toxicology and Chemistry - Guidelines for LifeCycle Assessment: A code of Practice, Bruxelas,
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SOUSA, S.J. Materiais de Construção
Sustentáveis: A sustentabilidade como mote para a
Inovação. Jornal arquiteturas nº 58, (Fevereiro de
2011), pp. 27- 29. 2011.
[21].
TOZZI, R.F. Estudo Da Influência Do
Gerenciamento Na Geração Dos Resíduos Da
Construção Civil (RCC) – Estudo De Caso De Duas
obras Em Curitiba/Pr. Dissertação (Mestrado em
Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental) –
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2006.
Tópicos em Administração - Volume 15
33
Capítulo 3
Marcela Dutra Tenorio Campany
Resumo: Diante de um cenário em que as empresas estão cada vez mais
preocupadas com a questão ambiental por conta do esgotamento dos recursos
naturais associado ao aumento da demanda global por água e devido as pressões
exercidas pelo ambiente competitivo, pela sociedade e órgãos gestores, os
pequenos estabelecimentos possuem dificuldades em investir em projetos de alto
custo que promovam a sustentabilidade. O aproveitamento de água de chuva é
uma alternativa sustentável que vem sendo cada vez mais praticada pelas grandes
empresas, e que pode ser adequada também para as pequenas empresas. O
objetivo geral deste trabalho é propor um sistema de aproveitamento de água
pluvial em uma empresa de pequeno porte e avaliar a viabilidade econômica do
projeto. Calculou-se a demanda mensal a ser atendida pelo sistema, realizou-se o
estudo das séries históricas e sintéticas das precipitações da região do Rio de
Janeiro, em seguida, dimensionou-se o reservatório para armazenamento da água
de chuva, utilizando o método prático australiano, e por fim, calculou-se o período
para retorno do investimento. Os resultados demonstraram que a implantação de
um sistema de aproveitamento de água de chuva, com um projeto de baixo custo,
pode ser viável economicamente para estabelecimentos de pequeno porte, além
de contribuir com o meio ambiente.
Tópicos em Administração - Volume 15
34
1 INTRODUÇÃO
O esgotamento dos recursos naturais
associado a demanda global por água, que
tem aumentado a uma taxa de cerca de 1%
ao ano nas últimas décadas (UNESCO, 2018)
em função do crescimento populacional, do
desenvolvimento econômico e da mudança
nos padrões de consumo, entre outros
fatores, representa um grande desafio que a
humanidade enfrenta.
Em vista disso, em 2015, durante a Cúpula de
Desenvolvimento Sustentável, realizada na
Assembleia Geral da ONU, 2018-2028 foi
declarada como a década internacional para
a ação “Água para o Desenvolvimento
Sustentável”. (UNITED NATIONS, 2018), que
visa o desenvolvimento sustentável e gestão
integrada dos recursos hídricos para
implementar o ODS 6 (objetivo de
desenvolvimento sustentável 6), um dos
objetivos
dentre
os 17
que foram
estabelecidos na Assembleia, com a criação
da nova agenda de desenvolvimento
sustentável para acabar com a pobreza,
promover a prosperidade e o bem-estar para
todos, proteger o meio ambiente e enfrentar
as mudanças climáticas. (ONUBR, 2018)
A Política Nacional de Recursos hídricos,
instituída em 1997 pela Lei nº 9.433 (Lei das
Águas), que define que a água é um recurso
natural limitado, incluiu, por meio da Lei nº
13.501/2017, o novo objetivo de incentivar e
promover a captação, a preservação e o
aproveitamento de águas pluviais. De acordo
com Jabur et al (2011), o aproveitamento de
água pluvial está sendo considerado como
uma das alternativas para a minimização do
escoamento superficial urbano e também na
redução do uso da água potável para fins não
nobres.
O cenário de desequilíbrio entre a oferta e a
demanda de água em grande parte das
bacias hidrográficas do Brasil, traz consigo a
maior pressão dos órgãos gestores e da
sociedade para que o setor empresarial adote
práticas responsáveis e transparentes em
relação ao uso da água (FIESP, 2017). A
gestão ineficiente da água nas empresas
aumenta os riscos de danos à sua imagem,
podendo comprometer o atendimento legal,
aumentar os gastos da produção e o risco de
escassez de água (GERBENS-LEENES;
HOEKSTRA, 2008).
Ao analisarmos os pequenos negócios
existentes, percebemos que causam pouco
impacto no ambiente onde estão inseridos.
No entanto, precisamos considerar a
existência de cerca de 11 milhões de
pequenos negócios no Brasil, que todos os
dias utilizam recursos naturais, como água e
energia. (SEBRAE, 2018). Diante do exposto,
este artigo tem como objetivo geral propor um
sistema de aproveitamento de água pluvial
em uma empresa de pequeno porte,
avaliando a viabilidade econômica do projeto.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 CAPTAÇÃO DE ÁGUAS PLUVIAIS
As precipitações na forma de chuva, granizo,
orvalho e neve fazem parte do ciclo
hidrológico, que é o movimento contínuo da
água presente nos oceanos, continentes
(superfície, solo e rocha) e na atmosfera.
Gould & Nissen-Petersen (1999) afirmam que
o sistema de captação de água pluvial mais
utilizado é por meio de coberturas,
principalmente por estar livre de poluentes
como animais, veículos, circulação de
pessoas, entre outros. A área de contribuição
de água de chuva corresponde toda a área
do telhado que direciona a água para as
calhas, considerando os incrementos devidos
à inclinação da cobertura (ABNT NBR 10844,
1989).
Para a captação da água pluvial, dispositivos
para remoção de detritos, como grades e
telhas, devem ser instalados e recomenda-se
o descarte de 2 mm da precipitação inicial, ou
conforme definido pelo projetista (ABNT NBR
15527, 2007). Esse descarte é uma prática
empregada visando a qualidade da água
pluvial produzida, e busca a eliminação das
sujeiras acumuladas na superfície de
captação, podendo ser folhas e galhos de
árvores, evitando carreamento para a
cisterna.
Segundo Tomaz (2003), o volume de água de
chuva aproveitável não é o mesmo que o
precipitado, pois depende do coeficiente de
escoamento superficial da cobertura (relação
entre o volume total de escoamento
superficial e o volume precipitado, variando
conforme a superfície), bem como da
eficiência do sistema de descarte do
escoamento inicial (ABNT NBR 15527:2007).
As perdas de água por evaporação,
vazamentos, ente outras (CALDEIRA, 2016) e
o tipo de material utilizado no sistema de
captação interfere no valor do coeficiente de
aproveitamento. A Tabela 1 apresenta
diferentes valores para o coeficiente de
Tópicos em Administração - Volume 15
35
escoamento
superficial
adotados
por
diferentes autores, para diferentes tipos de
materiais de cobertura.
Tabela 1. Valores para o coeficiente de escoamento superficial
Material
Coeficiente de escoamento
Autores
Telha de cerâmica
0,8 a 0,90
Telha corrugada de metal
0,70 a 0,90
Telhados em geral
0,70 a 0,95
Wilken (1978)
0,85
Khan (2001)
Telha de metal
0,90 a 0,95
Waterfall
Telha de cerâmicaa
0,75 a 0,95
Van den Bossche(1997)
Hofkes e Frasier (1996)
Telha de chapa corrugada
Fonte: Tomaz (2003)
A norma ABNT NBR 15527:2007 faz menção
a seis métodos para o cálculo do
dimensionamento do reservatório de água de
chuva, são eles: método de Rippl, método da
simulação, método Azevedo Neto, método
prático alemão, método prático inglês, e
método prático australiano. Para este estudo,
utilizaremos o método prático australiano,
que, em relação aos demais, é menos
complexo, de fácil aplicação, e mais indicado
para pequenos estabelecimentos, pois
reduzem o volume do reservatório e
consequentemente, os gastos com a
implantação (AMORIM, 2008).
Utilizando o método prático australiano, o
volume de chuva é obtido pela seguinte
equação:
𝑄 = 𝐴 𝑥 𝐶 𝑥 (𝑃 − 𝐼)
Sendo, Q = volume mensal produzido pela
chuva; A = área de coleta; C = coeficiente de
escoamento superficial (pode ser utilizado o
valor de 0,80); P = precipitação média
mensal; I =interceptação da água que molha
as superfícies e perdas por evaporação,
geralmente 2 mm.
O cálculo do volume do reservatório é
realizado por tentativas, até que sejam
utilizados valores otimizados de confiança e
volume do reservatório, utilizando a seguinte
equação para obtenção do volume de água
presente no fim de cada mês:
𝑉𝑡 = 𝑉𝑡−1 + 𝑄𝑡 − 𝐷𝑡
Sendo, Vt = volume de água que está no
tanque no fim do mês t; Vt-1 = volume de água
que está no tanque no início do mês t; Qt =
volume mensal produzido pela chuva no mês
t; Dt = demanda mensal
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
O método científico de pesquisa que será
empregado para elaboração do trabalho será
o estudo de caso de um estabelecimento de
pequeno porte, com abordagem exploratória.
A pesquisa é de fim prático e explicativa.
Para a estruturação do projeto de captação
de água, serão realizados o cálculo da
demanda mensal a ser atendida pelo sistema,
o estudo das séries históricas e sintéticas das
precipitações da região do Rio de Janeiro, o
cálculo para o dimensionamento do
reservatório de água de chuva, utilizando o
método prático australiano, constante na
ABNT NBR 15527 e por fim, o período para
retorno do investimento será calculado, a
Tópicos em Administração - Volume 15
36
partir do valor da economia anual gerada e do
custo da implantação do sistema.
Os dados utilizados no cálculo da demanda e
do volume de água captada serão coletados
na empresa e serão elaborados através de
pesquisas bibliográficas em normas técnicas,
artigos, monografias, e fontes confiáveis de
internet. Os dados utilizados para o cálculo
do payback, também foram obtidos, alguns
por meio de coleta de dados diretamente na
empresa, e, outros, de fontes confiáveis da
internet.
4. ESTUDO DE CASO
Segundo Frendich; Oliynik (2002) ocorrem
dificuldades em construir um sistema de
coleta de águas pluviais em edificações já
existentes, pois é difícil instalar um
reservatório de grande dimensão para
armazenamento da água captada, devido a
limitações de espaço.
Este trabalho propõe o uso da água da chuva
captada em descargas das bacias sanitárias
da
empresa,
utilizando
para
o
armazenamento dessa água, a cisterna de 10
m3 já existente na edificação. Para este fim, o
reservatório será secionado em duas partes
iguais, tendo 5 m3 para água potável e 5 m3
para água pluvial.
4.1 APRESENTAÇÃO
O objeto de estudo do presente trabalho é um
laboratório analítico de produtos da área da
saúde e ambiental, localizado em Niterói/RJ.
O prédio em que a empresa está
estabelecida possui uma área total de 398 m2,
dividida em 2 pavimentos, porém o
funcionamento da empresa ocorre somente
no 2º andar. Atendendo a 18 funcionários,
sendo 14 no turno da manhã e da tarde e 4
somente no turno da tarde, o estabelecimento
possui 3 banheiros de uso de seus
colaboradores e clientes.
4.2
ANÁLISE
RESULTADOS
E
DISCUSSÃO
DOS
O consumo mensal de água para fins
sanitários foi calculado considerando o
consumo de 6 L/descarga (ABNT NBR 15097,
2017) e a frequência de uso indicada por
Tomaz (2003) em seu trabalho. De acordo
com o estudo realizado, a demanda mensal a
ser
atendida
pelo
sistema
é
de
aproximadamente 11000 L (Tabela 2).
Tabela 2 – Demanda mensal de água utilizada em bacias sanitárias
Nº Funcionários
Frequência de uso
Volume de água/dia
15 (manhã e tarde)
5 vezes/dia
75 x 6 L= 450 L
4 (tarde)
2 vezes/dia
8 x 6 L= 48 L
Volume Total de água/mês
498 x 22 = 10956 L
Fonte: Autor do texto
Os dados pluviométricos da região do Rio de
Janeiro foram localizados no site do Instituto
Nacional de Metrologia (INMET), após
cadastro no Banco de Dados Meteorológicos
para Ensino e Pesquisa (BDMEP). Utilizou-se
dados oficiais de 01/01/2003 até 31/12/2016,
com as seguintes entradas: latitude (graus): 22.89; longitude (graus): -43.18; Altitude
(metros): 11.10. O período estipulado para o
estudo foi exclusivamente definido pela
disponibilidade na estação escolhida.
A Figura 1 apresenta a precipitação total dos
anos de 2003 a 2016. O índice pluviométrico
anual da região do Rio de Janeiro é em média
de 1129,59 mm
Tópicos em Administração - Volume 15
37
Figura 1 –Volume da precipitação total anual na cidade do Rio de Janeiro – 2003 a 2016 (mm)
Fonte: Dados INMET
A Figura 2 apresenta a média mensal de
precipitação na cidade do Rio de Janeiro,
considerando os anos de 2003 a 2016.
Analisando o gráfico é possível perceber que
ocorre menor volume de precipitação nos
meses de maio a setembro.
Figura 2 – Média da precipitação total mensal - 2003 a 2016 - Rio de Janeiro
Fonte: Dados INMET
Os reservatórios foram dimensionados para
atender o volume de 7000 L de água captada
(Tabela 3). Utilizou-se neste estudo o
coeficiente de escoamento superficial igual a
0,80 e considerou o valor de 2 mm para
interceptação da água que molha as
superfícies e perdas por evaporação.
Tópicos em Administração - Volume 15
38
Tabela 3 – Dimensionamento do reservatório utilizando o método prático australiano.
P (mm)
A (m2)
Q (m3)
D (m3)
Vt-1 (m3)
Vt (m3)
JANEIRO
167,65
200,00
26,50
11,00
0,00
7,00
FEVEREIRO
85,79
200,00
13,41
11,00
7,00
9,41
MARÇO
142,84
200,00
22,53
11,00
7,00
18,53
ABRIL
97,49
200,00
15,28
11,00
7,00
11,28
MAIO
70,66
200,00
10,99
11,00
7,00
6,99
JUNHO
48,51
200,00
7,44
11,00
6,99
3,43
JULHO
54,21
200,00
8,35
11,00
3,43
0,78
AGOSTO
26,85
200,00
3,98
11,00
0,78
-6,24
SETEMBRO
63,03
200,00
9,76
11,00
0,00
-1,24
OUTUBRO
97,39
200,00
15,26
11,00
0,00
4,26
NOVEMBRO
137,18
200,00
21,63
11,00
4,26
14,89
DEZEMBRO
137,99
200,00
21,76
11,00
7,00
17,76
Q = volume mensal produzido pela chuva; A
= área de coleta; P = precipitação média
mensal; Vt = volume de água que está no
tanque no fim do mês t; Vt-1 = volume de água
que está no tanque no início do mês t; D =
demanda mensal
Apesar da soma das capacidades dos
reservatórios ser igual a 7 m3 e a demanda
mensal igual a 11 m3, diariamente (exceto aos
finais de semanas), serão consumidos
aproximadamente 0,5 m3 de água para fins
sanitários, logo os reservatórios serão
parcialmente esvaziados dando lugar a novas
águas captadas.
O projeto para implantação do sistema de
aproveitamento de água da chuva na
empresa em questão é composto pelo
reservatório inferior de 5000 L (já existente) e
reservatório superior de 2000L, conforme
esquema representado na Figura 3.
Figura 3 – Esquema vertical em perspectiva do projeto de aproveitamento de água de chuva
Tópicos em Administração - Volume 15
39
O custo para implantação do sistema foi
estimado em R$ 5200,00 (Tabela 4). Os
meses em que ocorrerem baixo volume de
precipitação, e o volume de água presente no
tanque não for suficiente, a demanda será
suprida por água potável oriunda do
reservatório interligado ao sistema.
Tabela 4 – Custo estimado do projeto
Produto
Valor
Reservatório superior 2000 L
R$ 790,94
Filtro modelo 3P VF1
R$ 1390,00
Bomba
R$ 600,00
Boia elétrica
R$ 33,54
Boia comum
R$ 11,20
Disjuntor
R$ 17,30
Tubulações, válvulas e conexões
R$ 300,00
Cisterna (secionamento)
R$ 1000,00
Mão de obra
R$ 1000,00
Total
R$ 5142,98
Considerando que a tarifa vigente da
concessionária
responsável
pelo
abastecimento de água potável na cidade de
Niterói/RJ para faixa de uso entre 21 a 30 m3,
categoria comercial, é de R$19,15/m3, e que a
tarifa do esgoto corresponde a 100% deste
valor, a economia gerada com o uso da água
captada da chuva em bacias sanitárias é de
aproximadamente R$ 4500,00/ano (tabela 5).
Tabela 5 – Economia gerada com a captação de água de chuva para uso em bacias sanitárias
Mês
Valor
Água economizada(m3)
Valor
Esgoto
água
Total
esgoto
JANEIRO
11
R$ 210,62
100%
R$ 210,62
R$ 421,24
FEVEREIRO
11
R$ 210,62
100%
R$ 210,62
R$ 421,24
MARÇO
11
R$ 210,62
100%
R$ 210,62
R$ 421,24
ABRIL
11
R$ 210,62
100%
R$ 210,62
R$ 421,24
MAIO
11
R$ 210,62
100%
R$ 210,62
R$ 421,24
JUNHO
7,44
R$ 142,48
100%
R$ 142,48
R$ 284,96
JULHO
8,35
R$ 159,90
100%
R$ 159,90
R$ 319,80
AGOSTO
3,98
R$ 76,21
100%
R$ 76,21
R$ 152,42
SETEMBRO
9,76
R$ 186,88
100%
R$ 186,88
R$ 373,76
OUTUBRO
11
R$ 210,62
100%
R$ 210,62
R$ 421,24
NOVEMBRO
11
R$ 210,62
100%
R$ 210,62
R$ 421,24
DEZEMBRO
11
R$ 210,62
100%
R$ 210,62
TOTAL
Tópicos em Administração - Volume 15
R$ 421,24
R$ 4500,86
40
Neste estudo, não foram considerados os
custos referentes a energia elétrica utilizada
para o funcionamento da bomba, de
depreciação e nem de manutenção do
sistema. Assim, o prazo de retorno do
investimento (payback) é de menos de 2
anos, conforme a tabela 6. O período de
payback é o prazo necessário para que uma
empresa recupere o investimento inicial em
um projeto, sem considerar explicitamente o
valor do dinheiro no tempo (GITMAN, 2010).
Tabela 6 – Prazo de retorno do investimento
Valor investido
Economia 1º ano
Economia 2º ano
R$ - 5200,00
R$ 4500,86
R$ 4500,86
Payback simples
R$ -699,14
R$ 3801,72
Baseado nas contas da concessionária local
responsável pelo abastecimento de água, foi
possível estimar que a empresa tem o custo
de R$ 900,00/mês (média dos últimos 12
meses) com o uso de água potável. Com a
implantação deste sistema de aproveitamento
de água de chuva, é previsto redução de 42%
deste orçamento mensal.
5 CONCLUSÃO
Em um cenário em que as empresas estão
cada vez mais se preocupando com a
questão ambiental, devido as pressões
exercidas pelo ambiente competitivo e pela
sociedade, as micro e pequenas empresas se
deparam
com
dificuldades
como
a
mobilização de recursos, próprios ou de
terceiros,
para
financiar
projetos
e
investimentos capazes de contribuir para a
melhoria das condições ambientais. (Fonseca
et al, 2010)
Algumas
referências
encontradas
na
literatura, como o manual “O uso racional da
água no setor industrial” (CNI, 2017), define
que construções com área impermeabilizada
inferior a 500 m² não viabilizam um projeto de
aproveitamento de águas pluviais, pela
quantidade de água armazenada ser
incompatível ao alto custo gasto com
tubulações, reservatórios e com o sistema de
tratamento necessário. Fonseca et al (2016)
demonstrou em seu trabalho, que a
implantação
de
um
sistema
de
aproveitamento de água de chuva não é
viável economicamente para moradias com
uma ou duas pessoas, porém o estudo com
quatro residentes e uma área de captação de
200 m2 demonstrou boa relação custo
benefício.
O presente trabalho demonstrou a viabilidade
da implementação de um sistema de
aproveitamento de água de chuva em
empresa com área de captação igual a 200
m2, sendo um recurso aplicável também à
pequenos negócios, pois o projeto de baixo
custo proposto aliado a alta tarifa cobrada
pela concessionária de abastecimento de
água da cidade de Niterói geram um período
para retorno do investimento menor do que
outros trabalhos já realizados com valores de
áreas de captação próximos ao do estudo
realizado. Concluímos também, que apesar
do tamanho da área de captação do estudo
em questão não ser o indicado, o número de
pessoas contempladas pelo sistema de
aproveitamento contribui para a viabilidade
econômica do projeto.
A simplificação do sistema de aproveitamento
proposto é possível devido a finalidade
imposta no trabalho, o uso em bacias
sanitárias. É importante salientar que a
qualidade da água de chuva para usos
restritivos não potáveis deve ser verificada e,
em alguns casos, a adição de cloro no
reservatório
para
a
eliminação
de
contaminação microbiológica é necessária.
Os padrões de qualidade são definidos pelo
projetista de acordo com a finalidade do uso
da água, porém, para usos mais restritivos,
devem ser verificados os parâmetros
descritos na norma ABNT NBR 15527:2007:
coliformes totais, coliformes termotolerantes,
cloro residual livre, turbidez, cor aparente e
pH.
Os benefícios ambientais gerados pela
implantação de projetos deste cunho incluem,
além da redução do uso da água potável, a
questão da drenagem urbana, minimizando a
ocorrência de cheias, já que promove o reuso
Tópicos em Administração - Volume 15
41
de águas
ambiente.
que
seriam
descartadas
no
6. AGRADECIMENTOS
Agradeço ao arquiteto Vinicius Brigido
Campany pelo suporte técnico e elaboração
da representação do projeto.
REFERÊNCIAS
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LEI Nº13.501. Altera o artigo 2º da Lei nº
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Tópicos em Administração - Volume 15
42
Capítulo 4
Maria Christina Barbosa da Costa
Sonia Lopes da Silva
Resumo: A sustentabilidade é uma dimensão que não pode ser ignorada pelas
organizações no século XXI sob a pena de verem sua perenidade ameaçada. Ela
engloba aspectos econômicos, sociais e ambientais, sendo importantíssima para
tomada de decisão na escolha de onde aplicar investimentos. Para ser efetiva, a
visão de sustentabilidade deve estar presente em diversas instâncias na
governança corporativa, desde o seu planejamento estratégico, passando pela
gestão de portfólio, programas e projetos, sem desprezar as operações. Assim, os
resultados do alinhamento da alocação de capital e do comportamento corporativo
aos objetivos de estabilidade financeira e de desenvolvimento sustentáveis, mais
amplos e longevos, poderão ser apresentados em relatórios de desempenho
integrados, para qualquer público e em qualquer formato.
Palavras-chave:
Sustentabilidade,
governança
estratégico sustentável, relatórios integrados.
Tópicos em Administração - Volume 15
corporativa,
planejamento
43
1. INTRODUÇÃO
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Em qualquer segmento de negócio, uma
organização existe para gerar valor. Ele deve
estar muito claro para todos os stakeholders,
pois é o responsável pela longevidade de sua
organização e base para definição de toda a
estratégia a ser adotada. O valor é
diretamente influenciado pelos impactos
positivos e negativos (riscos e oportunidades)
que a organização produz com suas
atividades, produtos e serviços, nos
ambientes interno e externo a ela. Os
impactos podem afetar outros capitais que
não o econômico/financeiro e, por isso,
devem ser mapeados no gerenciamento de
riscos, associados aos processos de
governança.
Nesse contexto, a sustentabilidade contribui
fortemente, e de forma imprescindível, para
que as organizações continuem existindo em
um mundo cheio de incertezas.
Sustentabilidade é muito mais do que plantar
árvores, separar o lixo, apagar as luzes ou
economizar água. Todos esses exemplos
podem contribuir para que o indivíduo e sua
organização se tornem sustentáveis, mas não
necessariamente isso vai acontecer somente
com ações isoladas. É necessário ter
conhecimento estruturado dos reais impactos
sociais,
ambientais
e/ou
econômicos,
positivos e negativos, criados.
Equivocadamente, o assunto sustentabilidade
tem sido abordado, na maior parte das vezes
e nos últimos anos, relacionado somente aos
impactos ambientais, mais fortemente às
mudanças
climáticas,
decorrentes
da
emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE). Na
verdade, os impactos ambientais negativos
são os efeitos mais visíveis ao ser humano de
suas ações irresponsáveis, pessoais ou
profissionais, em relação ao planeta, que
culminam no aquecimento global.
Algumas leis, no Brasil e no mundo, foram
estabelecidas com o objetivo de melhorar
esse cenário a partir da regulamentação
ambiental. A maioria das organizações ainda
não conseguem tangibilizar os impactos
ambientais que produzem e o seu efeito no
valor agregado real. Elas só reconhecem as
ações relacionadas a regulamentações como
custo
extra,
que
acaba
afetando
negativamente o lucro. Em alguns casos, o
marketing verde poderia também ser um
benefício identificado com essas ações, já
que melhoraria a imagem da organização
para o mundo. Mas sem rastreabilidade e
transparência nas ações executadas e
resultados alcançados, o marketing verde
acaba produzindo o efeito inverso, negativo e
sendo considerado green washing.
Na verdade, não há como tratar a
sustentabilidade sem equilibrar os aspectos
sociais, ambientais e econômicos (triple
bottom line). Alguns serão mais relevantes do
que outros para determinadas organizações,
mas esse entendimento a partir da definição
da materialidade ficará bem claro (ver figura
1).
Figura 1: Três pilares da sustentabilidade
A sustentabilidade é tão importante que tem
sido tratada globalmente desde a elaboração
do Protocolo de Quioto, elaborado em 1997.
Para citar somente as iniciativas mais
recentes, na Conferência das Partes da
Convenção das Nações Unidas sobre a
Mudança Climática de 2015 - COP21, em
Paris, foram lançados 17 Objetivos de
Tópicos em Administração - Volume 15
44
Desenvolvimento Sustentável (ODS) pela
ONU, com 169 metas (ORGANIZAÇÃO DAS
NAÇÕES UNIDAS, 17 OBJETIVOS PARA
TRANSFORMAR NOSSO MUNDO, 2015) e
232 indicadores (ORGANIZAÇÃO DAS
NAÇÕES UNIDAS, 2017), definidos para 195
países em 2030.
Figura 2: Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
Na COP21, as metas assumidas pelo Brasil
foram:
Cortar as emissões de gases de efeito
estufa em 37% até 2025 e em 43% até 2030
(com base nos resultados de 2005);
Aumentar a participação na sua
matriz energética de bioenergia sustentável
para 18% até 2030;
Restaurar e reflorestar 12 milhões de
hectares de florestas;
Zerar o desmatamento ilegal da
Amazônia.
Em 2016, na COP22, foram realizadas
negociações técnicas para a regulamentação
e concretização destas metas, para a
cooperação internacional e entre os setores
público e privado.
Apesar da relevância dos acordos anteriores,
em 31/10/2017, a ONU Meio Ambiente
divulgou o Emissions Gap Report (UNITED
NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME
[UNEP], 2017), demonstrando que não será
possível evitar os piores impactos das
mudanças climáticas até 2030, mesmo
cumprindo
todos
os
compromissos
assumidos, até aquele momento. Assim, o
holofote da COP23, realizada em Bonn, em
novembro de 2017, focou nas medidas
urgentes que os países têm que implantar,
para que o acordo da COP 21 possa entrar
em vigor em 2020. A principal meta do
encontro foi continuar controlando as
emissões de gases de efeito estufa para
limitar o aquecimento máximo do planeta a
uma temperatura média de 2°C, nos termos
fixados em 2015, apesar de novas previsões
já determinarem que o mais provável é que
ela chegue a 3°C em 2030.
Entidades nacionais e internacionais estão
tratando a sustentabilidade, algumas de
forma isolada e outras já integradas,
buscando parcerias e colaboração. Elas têm
promovido acordos, políticas, pesquisas,
projetos, eventos, cursos, certificações, etc.
Além dos ODSs, muitas estruturas têm sido
desenvolvidas, para auxiliar o entendimento e
a aplicação de ações para implementar a
sustentabilidade. Na medida em que o
assunto é relativamente novo e fruto de muitos
estudos, não é difícil encontrar novidades
frequentemente. Observar alguns exemplos
de estruturas de sustentabilidade que podem
servir de base na escolha do que será
utilizado pela sua organização é útil para a
definição dos aspectos socioambientais e
econômicos relevantes, para definição e
acompanhamento de ações para tratá-los, e
também para a divulgação de resultados,
podemos citar: Sistema B (BCorp), Global
Report Initiative (GRI), International Integrated
Reporting
Council
(IIRC),
Índice
de
Sustentabilidade Empresarial (ISE), Dow
Jones Sustainability Index (DJSI).
Tópicos em Administração - Volume 15
45
Quadro 1: Critérios para escolha de estrutura de sustentabilidade
Estruturas de sustentabilidade
Critério de escolha
Objetivos de desenvolvimento
sustentável (ods)
Organizações que usam ou pretendem usar qualquer outra
estrutura e podem associá-la aos ODSs.
Global report initiative (gri)
Organizações que fazem ou pretendem fazer relatórios de
sustentabilidade usando a estrutura GRI.
Relato integrado (iirc)
Organizações que fazem ou pretendem fazer relatórios
integrando contabilidade e sustentabilidade no formato do
Relato Integrado.
Sistema b
Organizações que já têm ou pretendem ter a certificação B.
Índice de sustentabilidade
organizacional (ise)
Empresas listadas ou que pretendem ser listadas na
BM&FBOVESPA.
Dow jones sustainability index (djsi)
Empresas listadas ou que pretendem ser listadas na Bolsa
de Nova York.
As organizações podem adotar uma estrutura
de sustentabilidade, baseada em um ou mais
direcionadores
descritos
anteriormente
(Sistema B, ODSs, GRI, IIRC, ISE, DJSI, etc.).
A escolha se dará em função do ambiente em
que seu negócio opera e a forma como sua
organização quer divulgar suas informações
relacionadas à sustentabilidade. O Quadro 1
pode ajudar a selecionar a estrutura de
sustentabilidade mais adequada, tanto para o
gerenciamento como para emissão de
relatórios de resultados.
1.2 SITUAÇÃO PROBLEMA
As organizações são responsáveis pela maior
parte das causas dos eventos geradores das
mudanças climáticas! Além disso, com o
avanço do neoliberalismo após a Segunda
Guerra Mundial, os governos passaram a
transferir as responsabilidades sociais para
as
organizações
privadas.
Consequentemente,
os
governos
só
alcançarão suas metas através de ações
implementadas pelas organizações, a partir
de novos modelos de negócios e de gestão.
E, como já se sabe, as organizações só
alcançam resultados a partir das atitudes dos
indivíduos (acionistas, sócios, colaboradores,
fornecedores, reguladores e até clientes).
Novos princípios passam a regular o mundo
dos negócios como:
A harmonização entre os interesses
econômicos, sociais e ambientais garantem a
criação de valor sustentável para o negócio;
Não se pode mais pensar somente
em curto e médio prazo, pois é pensar em
longo prazo que permite transformar ativos
vulneráveis em resistentes;
A noção de responsabilidade intra e
intergeracional induz à escolha de opções
mais longevas;
A abordagem sobre o que deve ser
local, regional e global determinará escolhas
relacionadas a fornecedores, logística,
comunicação, etc.;
Consumir a receita e não o capital
proporcionará continuidade;
Transparência e prestação de contas
(accountability)
possibilitarão
parcerias,
investimentos e engajamento mais efetivos;
Valores pessoais e ética passam a ter
peso na escolha de ações, equipes,
fornecedores, clientes, etc.;
Como a responsabilidade pela integração de
sustentabilidade recai sobre todos seus
stakeholders, todos têm que mudar. A cadeia
produtiva e de logística precisam assumir a
responsabilidade por sua cota, mas nem
sempre sabem como. Este “como” é o
objetivo deste trabalho.
1.3 OBJETIVO
A partir da situação descrita acima passamos
a trabalhar no desenvolvimento de um modelo
que ajudasse as organizações a identificar
Tópicos em Administração - Volume 15
46
sua
materialidade,
definir
objetivos
estratégicos sustentáveis e os indicadores de
sustentabilidade que fossem desdobrados em
ações que permitissem o monitoramento
contínuo destes indicadores, facilitando a
emissão
dos
relatórios
consolidados,
qualquer que tenha sido o tipo definido pela
organização.
1.4 MÉTODO
Assim, quanto aos fins, a pesquisa elaborada
foi do tipo aplicada, aquela que é “motivada
pela necessidade de resolver problemas
concretos [...] Tem, portanto, finalidade
prática” (VERGARA, 2007, p. 47). Por ter
como objetivo o desenvolvimento de uma
forma das organizações conduzirem as suas
questões relacionadas à sustentabilidade,
desdobrando-as em projetos e ações com
indicadores para o acompanhamento de
desempenho, podemos dizer que a pesquisa,
ainda quanto aos fins, também é do tipo
metodológica, que “está associada a
caminhos, formas, maneiras, procedimentos
para atingir determinados fins” (VERGARA,
2007, p. 47)
A fase inicial foi estruturada como uma
pesquisa bibliográfica inicialmente com foco
em todos os aspectos da Sustentabilidade e
expandindo-se para temas como Governança
Corporativa, Gestão de Mudança Cultural e
Métodos Ágeis, estes últimos com o objetivo
de chegarmos a um modelo enxuto, sem
desperdícios, com empoderamento dos
colaboradores e uso de ferramentas como
canvas, kanban e o framework scrum.
A partir da consolidação do conhecimento
inicial, partimos para uma pesquisa, quanto
aos fins, experimental, aquela que “o
pesquisador manipula e controla variáveis e
observa as variações que tais manipulações e
controle
produzem
em
variáveis
dependentes” (VERGARA, 2007, p. 48), o que
foi feito a partir da definição de um Produto
Mínimo Viável (Minimum Viable Product –
MVP) que foi testado entre fevereiro e
novembro de 2017 em 16 organizações de
pequeno e médio porte, privadas, de áreas
como: limpeza de lagoas, moda, design,
propaganda, hospedagem, projetos de
arquitetura, ....
O modelo escolhido foi o de workshop com a
participação
dos
colaboradores
das
empresas foram feitas de forma interativa com
uso de ferramentas visuais e colaborativas
como canvas e kanbans customizados para
os objetivos das seções.
Com a participação ativa das organizações
em que aplicamos o MVP fizemos ajustes até
chegarmos ao modelo final, que será
apresentado na seção 2.
2. RESULTADO
O resultado obtido está expresso no Modelo
de Gestão Estratégica de Sustentabilidade
(Modelo GES), aqui apresentado, e é um
conjunto de boas práticas para auxiliar
qualquer organização no seu caminho de
evolução para aumentar sua maturidade em
sustentabilidade. Este processo é uma
Mudança Organizacional, desta forma,
modelo considera em seu formato passos de
um Projeto de Mudança Organizacional.
2.1 O MODELO GES
O roteiro básico das etapas do Modelo GES
pode ser visto na
Cada Etapa é desdobrada em ações que
permitem que cada organização tenha seu
modelo customizado, em que a organização
estrutura e implementa o seu caminho de
acordo
com
as
suas
necessidades
específicas. O desdobramento das etapas
pode ser observado na Figura .
Tópicos em Administração - Volume 15
47
Figura 3: Etapas do Modelo GES
Figura 4: Detalhamento do Modelo GES
O Modelo GES é baseado no princípio de que
todas as ações escolhidas para serem
executadas por uma organização, sejam para
responder a mudanças ou para dar
continuidade ao negócio, mantendo ou
aumentando o seu valor, devem ser resultado
de uma reflexão corporativa sobre como
desdobrar a estratégia, gerando impactos
sociais, ambientais e/ou econômicos positivos
de forma equilibrada.
De modo geral o lucro é a primeira
preocupação das organizações, mas o
investimento em sustentabilidade pode, por
exemplo,
reduzir
custos
e,
consequentemente, melhorar os resultados
financeiros. Ou usar capital financeiro pode
aumentar outros capitais como, por exemplo,
o intelectual e o social/relacionamento,
aumentando o valor da organização. Mas
para que isso aconteça, as ações devem ser
bem planejadas.
Tópicos em Administração - Volume 15
48
Implementar sustentabilidade é uma mudança
de cultura organizacional e deve ser tratada
como tal. É um caminho virtuoso que traz
muitos
benefícios.
Logo,
envolver
e
comprometer
as
pessoas
certas
é
fundamental.
A implementação da solução escolhida deve
ser monitorada para que os resultados
(baseados em ODSs, Sistema B, GRI, IIRC,
ISE, DJSI, ou quaisquer outras estruturas para
sustentabilidade) possam ser gerados de
forma transparente, automática e rastreável.
É
preciso
conhecer
o
assunto
sustentabilidade para entender como ele vai
agregar valor. Sabendo isso, é mais fácil
convencer pares sobre as vantagens que
podem ser alcançadas. E ganhar um
patrocinador ou padrinho, fator primordial
para a implantação!
Fazendo isso, sua organização aprenderá
novas práticas e mudará sua cultura,
construindo uma parte do seu caminho para a
sustentabilidade. Mas esse caminho gera
frutos que devem crescer. Durante todo o seu
ciclo de vida, produtos e serviços geram
externalidades, que podem ser minimizadas
por um bom planejamento, mas que precisam
ser monitoradas, para que os impactos
projetados possam ser garantidos. Às vezes
há necessidades de ajustes, mesmo já em
fase de operação do Modelo GES.
Treinamentos e coaching auxiliam em todas
as etapas, na medida em que proveem
conhecimento
e,
consequentemente,
comprometimento, além de espaços em que
a obtenção de feedbacks pode auxiliar
eventuais correções de rota.
Na sequência, é importante conhecer os
impactos positivos e negativos que a
organização já produz com o seu negócio, os
que ela tem potencial para realizar e as
práticas já usadas. Normalmente, o potencial
para gerar impactos positivos é muito maior
do que os que já são produzidos,
principalmente porque a materialidade não é
bem compreendida. Ela é essencial para
definir as prioridades de uma organização
que quer ser sustentável. Revisitar o
planejamento
estratégico
e
torná-lo
sustentável será a base para todo o caminho
que o Modelo GES propõe, em que todos os
resultados produzidos pela organização têm
que estar alinhados com a estratégia para
geração de valor. E, como o lucro não pode
ser esquecido, ele tem que estar bem
representado na estratégia. Dependendo do
porte da organização, pode acontecer que
nem um planejamento estratégico tradicional
seja utilizado como ferramenta de gestão.
Nesses casos, ele deverá ser realizado pela
primeira
vez
já
considerando
a
sustentabilidade.
A solução a ser definida para implementação
do Modelo GES será adequada às
características
da
organização.
Nem
complicada e nem simples demais. Ela deve
considerar o tamanho da organização, seus
recursos, sua disponibilidade de tempo e as
prioridades
envolvidas.
A
forma
de
customização do modelo deve garantir que
todos esses aspectos estarão equilibrados
tanto na composição do portfólio de projetos
e programas sustentáveis, como na
estruturação das operações.
A implantação do projeto de mudança para o
Modelo GES fará com que a organização
vivencie dois períodos distintos. O primeiro,
em que ela desenvolverá o projeto em
paralelo com suas outras atividades de rotina,
e o segundo, em que o projeto terá acabado
e as atividades de rotina já terão sido
afetadas pela mudança para o Modelo GES.
Quando a proposta é implantar algo novo, isto
é, gerar uma mudança em uma organização,
seja em processos ou em comportamentos, a
abordagem deve ser estruturada desde a
concepção do projeto para que haja a
sensibilização de influenciadores a fim de que
ele se viabilize. Será necessário vender a
ideia da mudança internamente e para isso
deve-se deixar claro o valor que será
agregado.
Na fase de Desenho, o planejamento
estratégico sustentável será redefinido e o
projeto de mudança para uso do Modelo Ges,
incluído no portfólio sustentável de projetos e
programas da organização. Durante o
Monitoramento e Controle da implantação,
relatórios de desempenho serão emitidos
para documentar status, ações preventivas/
corretivas e lições aprendidas. Ao final da
fase de Encerramento, o Relatório de
Encerramento
consolidará
todas
as
informações do projeto, registrando tudo que
é importante para ser reutilizado. A fase de
Operação Assistida colocará em prática, em
uma escala real tudo o que foi proposto, e
poderá exigir ajustes, consequente revisão do
Planejamento e, ainda, acréscimos no
relatório de Encerramento. Tudo isso
acontecerá pela primeira vez com o “avião no
ar”. Ou seja, a organização não vai parar de
Tópicos em Administração - Volume 15
49
funcionar enquanto o Modelo GES estiver
sendo customizado e implantado. Adaptá-lo e
aplica-lo vai exigir apoio e liderança, mas
também trará resultados imediatos, que
contribuirão para maior aderência dos
stakeholders ao seu uso. Portanto, não se
esqueça de que todas as sugestões, críticas,
observações, etc. são úteis para a melhor
customização
e,
consequente,
comprometimento de todos.
2.2 AS ETAPAS DO MODELO GES
2.2.1 ETAPA: VENDA INTERNA
Esta é a etapa de sensibilização para o tema
da sustentabilidade e a mudança no modelo
mental e da cultura da organização. O foco
principal são os tomadores de decisão da
organização. Em Gestão de Mudança esta é
uma etapa obrigatória (GONÇALVES &
CAMPOS,
2016),
(KOTTER,
2013),
(SCHARMER, 2017), (SOARES, 2013).
Inicia-se um processo de Gestão da
Expectativa
e
da
Resistência
dos
Stakeholders (GONÇALVES & CAMPOS,
2016)
e
(PROJECT
MANAGEMENT
INSTITUTE [PMI], 2016).
Esta “venda da ideia” dentro da organização
deve partir do propósito e da proposta de
valor. Quando falamos de venda da ideia é
necessário desenvolver algumas técnicas
como a argumentação e a persuasão (PINK,
2013). Neste contexto entender o propósito
de cada stakeholder é extremamente
importante, da mesma forma que deixar claro
a proposta de valor e os riscos envolvidos
(EGGER, 2015) e (OSTERWALDER, 2014).
2.2.2 ETAPA: DIAGNÓSTICO
O projeto de mudança para implantação do
Modelo GES tem seu início efetivo com a
etapa de DIAGNÓSTICO que possui dois
grandes
objetivos:
aprofundar
o
conhecimento sobre a organização (o
negócio e as pessoas) e engajar mais ainda
os stakeholders já mapeados e identificar
novos,
fazendo-os
pensar
em
sustentabilidade estrategicamente e nos seus
benefícios para a organização, decorrentes
de uma aplicação estruturada.
O Diagnóstico, sob o ponto de vista de
mudança organizacional, deve responder a
três questões:
Como o projeto de mudança para o
Modelo GES sustenta missão, visão e valores
da organização?
Que
outras
mudanças
estão
ocorrendo na organização que podem
demandar atividades das mesmas pessoas?
O que cada stakeholder precisa
entender para apoiar o DESENHO da
estratégia de mudança?
A seguir identifica-se a maturidade da
organização no quesito sustentabilidade e é
feito o levantamento da situação atual para o
entendimento dos impactos ambientais,
sociais e econômicos da organização e sua
materialidade, também são consideradas as
ações em andamento e as previstas, além do
alinhamento destas com o planejamento
estratégico.
Pode-se começar escolhendo um número
reduzido de tipos de impactos, para que o
grupo se familiarize com eles. Por exemplo,
pode-se iniciar votando em cinco tipos de
impactos, de acordo com a estrutura de
sustentabilidade escolhida, e, na medida em
que o processo seja absorvido pelos
participantes, pode-se aumentar o número de
tipos de impactos considerados.
2.2.3 ETAPA: DESENHO
Por melhor que tenha sido elaborado, um bom
Diagnóstico só mostrará o que a sua
organização já faz. Portanto, você precisa
usá-lo como base para desenhar qual será a
melhor solução para o caminho da sua
organização em direção à sustentabilidade. O
Modelo GES deve ser customizado para que
seja útil sem ser burocrático.
O período em que a etapa DESENHO é
desenvolvida pode ser aproveitado para
ações de apoio à Gestão de Mudança, como
parte da comunicação e consolidação da
visão
da
mudança.
A
comunicação
estruturada ao longo deste período será muito
útil para manter os stakeholders envolvidos
com o projeto, não permitindo que se
“desliguem” do tema. As ações de
comunicação devem comtemplar o que cada
stakeholder precisa saber sobre a mudança,
ações genéricas nem sempre geram bons
resultados.
Nesta etapa são elaborados: revisão do
planejamento estratégico, definição dos
indicadores, definição do formato de um
escritório de gestão sustentável, revisão do
Tópicos em Administração - Volume 15
50
portfólio,
programas
e
projetos
organização, bem como da operação.
da
Assim são definidas ações e ferramentas para
criar uma cultura que gerencie resultados
sustentáveis.
2.2.4
ETAPA:
IMPLANTAÇÃO,
MONITORAMENTO E CONTROLE
O MONITORAMENTO e CONTROLE ocorrem
ao mesmo tempo em que a IMPLANTAÇÃO
acontece. Durante a implantação teremos
uma grande parte da organização tendo
acesso pela primeira vez ao real conteúdo da
transformação. Portanto é um período que
deve ser monitorado bem de perto pelo
gerente de projeto, agentes de mudança e
sponsor, já que obstáculos e resistências
devem surgir e precisam ser avaliados e
trabalhados. A comunicação tem um papel
importantíssimo.
Nestas etapas, os colaboradores, de todos os
níveis hierárquicos devem ter clareza dos
benefícios da mudança e uma percepção
positiva sobre ela e seus resultados. As
resistências devem ter sido reduzidas ao
mínimo e as competências necessárias
devem estar sendo desenvolvidas.
Nesta etapa é feita a capacitação dos
envolvidos e a implementação do que foi
definido na etapa DESENHO. Além disso,
usa-se o coaching e o mentoring, além do
acompanhamento do desempenho.
2.2.5 ETAPA: ENCERRAMENTO
Finalizar um projeto requer encerrar todas as
atividades
relacionadas
ao
seu
desenvolvimento, técnicas e administrativas.
Ao final dessa etapa, o projeto deve ser
reconhecido e aceito pelas partes como
tendo seu desenvolvimento concluído. Podese ainda encerrar uma fase e, nesse caso,
todas
as
atividades
referentes
ao
encerramento do projeto serão executadas
parcialmente, relativamente à fase em
questão.
No encerramento é feita a validação do
modelo, a emissão do relatório integrado
(GLOBAL REPORTING INITIATIVE [GRI], s.d.)
e o registro das lições aprendidas.
O registro das lições aprendidas faz parte da
gestão do conhecimento do projeto e deve
acontecer ao longo do seu ciclo de vida e não
apenas no ENCERRAMENTO. Seu objetivo é
gerar melhoria técnica e Comportamental. No
caso da melhoria técnica pode-se ajustar
processos, precedências, especificações,
etc. As lições aprendidas em relação aos
comportamentos dos envolvidos podem gerar
feedback para obter resultados individuais, e
da própria organização, cada vez melhores.
O conhecimento, como uma preocupação
das organizações, assumiu uma importância
crescente a partir de meados do século XX.
As instituições começaram a perceber a
necessidade da gestão do conhecimento e
de ações para que haja um aprendizado
organizacional, e não apenas do indivíduo.
Esse fenômeno é agravado com a mudança
nas relações empregado-empregador e com
a redução do tempo médio que um
funcionário permanece em uma instituição.
A gestão do conhecimento é o esforço
realizado pela organização para identificar,
criar, desenvolver, preservar, registrar,
compartilhar e aplicar o conhecimento de
forma estratégica. Ela não é uma iniciativa
isolada. Deve ser integrada à organização
como um todo. Ela se apoia em lideranças,
pessoas, processos e cultura, com o objetivo
de gerar valor para o negócio, reduzindo o
retrabalho, melhorando o desempenho,
promovendo
o
aprendizado
dos
colaboradores e a inovação.
2.2.6 ETAPA: OPERAÇÃO ASSISTIDA
A Operação Assistida é um instrumento de
gestão de mudança, pois visa à consolidação
de novas práticas e de um novo mindset.
Busca-se nesse momento que a mudança
passe a fazer parte da rotina da organização
e esteja integrada à sua cultura com o “menor
sofrimento possível” dos indivíduos.
Neste momento será posto em prova o
comprometimento dos colaboradores nos
diversos níveis da organização.
A etapa de Operação Assistida precisa ter o
escopo bem definido, assim como o período
de tempo e custo previstos. Um projeto que
entra em operação pode necessitar ajustes
em determinados aspectos mesmo quando a
implantação monitorada já gerou algumas
adaptações. A Operação Assistida também
pode despertar novas necessidades, criando
demandas.
Novas demandas têm que ser aprovadas.
Elas podem ser objeto de proposta comercial
complementar e/ou de novas versões do
Tópicos em Administração - Volume 15
51
plano de gerenciamento do projeto, com o
novo escopo proposto.
Os ajustes necessários podem caracterizar
mudanças no projeto e, consequentemente,
alterações em planos, contratos, soluções. O
importante é que sejam gerenciados de perto
para que possam ser planejados, caso não
tenham sido previstos, e executados com
acompanhamento
dos
stakeholders
envolvidos. Os indicadores tradicionais e de
sustentabilidade têm que ser acompanhados
para que se tenha certeza de que os ajustes
tiveram o seu efeito alinhado com os
resultados esperados.
É importante lembrar novamente que o
Modelo GES propõe uma integração desde a
fase de planejamento estratégico, quando se
definem os indicadores e suas metas, até a
emissão de relatórios integrados, quando se
reporta os resultados desses mesmos
indicadores.
Os ajustes podem ser
fundamentais para que se tenha aceitações
finais de resultados, ou mesmo a identificação
de
novas
necessidades
a
serem
implementadas no período seguinte.
Ao final da etapa de Operação Assistida será
assinado pelo cliente o Aceite Definitivo do
Projeto.
3. CONCLUSÃO
A organização que hoje quer crescer não
pode mais desprezar os aspectos sociais e
ambientais do seu negócio. Não tratá-los
significar assumir riscos de não conseguir
investimentos, perder clientes e pagar mais
caro por insumos, entre tantos outros.
O Modelo GES traz uma mudança de cultura
importante para as organizações na medida
em que altera o mindset de todos os que
direta ou indiretamente participam do
negócio. Por isso as práticas de gestão de
mudanças não podem ser descartadas. Além
REFERÊNCIAS
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[1]
Portfólio. Rio De Janeiro: Brasport.
[2]
Almeida, N. O., & Neto, R. O. (2015).
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Maturidade E Indicadores. Rio De Janeiro:
Brasport.
[3]
Arango, F. (2 De Março De 2017). The
Need To Build Organizational Capacity For
Integrated Thinking And Reporting. Acesso Em 1
De Março De 2018, Disponível Em Integrated
disso, o projeto gera novos conhecimentos,
ativo valioso para as organizações, e a gestão
de conhecimento vai garantir que eles não se
percam e nem fiquem somente em poder das
pessoas, mas que possam ser reaplicados
para incentivar a melhoria contínua.
O foco em integração do Modelo GES faz
com que todos os stakeholders da
organização passem a ter o mesmo
entendimento sobre a estratégia escolhida,
sua
implementação
e
os
resultados
alcançados. Isso é possível a partir de tornar
sustentáveis os processos de governança de
planejamento estratégico, de escolha de
programas e projetos para portfólios, de
operações, além de reportar as informações
financeiras
alinhadas
com
as
de
sustentabilidade.
Dessa forma, entendendo o valor econômicofinanceiro que a sustentabilidade traz, em
curto, médio e longo prazo, e avaliando bem
todas as iniciativas em que serão gastos os
seus recursos, muitas vezes escassos, as
organizações terão maior possibilidade de
obter um retorno sobre o investimento
sustentável positivo, contribuindo para o seu
lucro.
A chave para o sucesso do projeto de
mudança para o Modelo GES é engajar os
stakeholders certos! Isso deve acontecer
desde o nascimento da ideia, passando pela
sua venda, entendimento da materialidade,
escolha da estrutura de sustentabilidade,
revisão da estratégia, transformação dos
portfólios e mudança nas operações, até o
acompanhamento da operação assistida. O
conhecimento e a experiência das pessoas
envolvidas
são
os
“ingredientes”
fundamentais para “dar a liga” a todos esses
processos, trazendo mudança do clima
organizacional, aumento de produtividade,
melhoria de imagem e, consequentemente,
tornando as pessoas mais felizes!
Reporting
[Ir]:
Http://Integratedreporting.Org/News/The-Need-ToBuild-Organizational-Capacity-For-IntegratedThinking-And-Reporting/
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Barbosa, C. (2008). Aspectos "Não Tão
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Portfólio De Uma Organização.
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Disponível
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Tópicos em Administração - Volume 15
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Tópicos em Administração - Volume 15
55
Capítulo 5
Yuri Pinheiro Santos
Regina Rianelli de Brito
Jesus Domech Moré
Jose Carlos Beker
Jorge Julio Landeiro de Vaz
Resumo: Este estudo tem por objetivo ratificar a importância do marketing esportivo
para o fortalecimento dos esportes e, por consequência, dos clubes de futebol,
além de mostrar o potencial do Brasil nessa área. Pois, o futebol é paixão nacional
e o esporte possui características únicas como: subjetividade, intangibilidade,
efemeridade, imprevisibilidade e experimentação; intensificados pela paixão.
Discorreu-se sobre a importância do torcedor para o fortalecimento dos clubes
enquanto gerador de receitas. Também, serão abordados conceitos de marketing,
marketing esportivo e suas ferramentas, o programa sócio torcedor do Clube de
Regatas Vasco da Gama, entre outros. Buscou-se apresentar o tema, já que o país
encontra-se na agenda internacional dos esportes por ser sede de diversos
megaeventos esportivos.
Palavras-Chave: Marketing, Marketing Esportivo, Torcedor.
Tópicos em Administração - Volume 15
56
1. INTRODUÇÃO
Diversos índices observados (IBGE, 2013)
apontam que a sociedade de consumo de
massa atingiu padrões insustentáveis no
mundo moderno. Ao assumir o consumo
como principal articulador da vida social
(KLOZINETS e HANDELMAN, 2004), a
aquisição de bens materiais organiza, define
e nivela o papel de cada indivíduo na
sociedade de consumo (BAUDRILLARD,
1995). As aspirações consumistas e dos
desejos de posse de objetos legitimam a
manutenção
do
sistema
capitalista,
viabilizando o acesso à felicidade e sucesso
(BURROUGHS e RINDFLEISCH, 2002). Neste
cenário, diz-se que os níveis atuais de
produção e consumo ultrapassam a
capacidade de regeneração dos recursos
naturais do planeta, por isso as inúmeras
catástrofes. Socialmente, a miséria absoluta
assola grande parte da população mundial
enquanto a fortuna e abundancia privilegia
alguns, cujas riquezas se multiplicam dia
após dia, aumentando a desigualdade social
estratificada. Eticamente, os valores pregados
pela sociedade atual divergem de suas
ações, pois o homem valoriza mais o “ter” do
que o “ser” (KLEIN, 2002; HOLT, 2002).
Estudos apontam que a sociedade pósindustrial moderna estaria revendo seus
conceitos e repensando alguns de seus
hábitos. A pressão por ações socioambientais
benéficas teriam surtido efeito em diversas
práticas empresariais (ROBERTS, 1995;
ROBERTS, 1996). Contudo, existem longas
etapas a serem percorridas pela sociedade
do ter, do status, da exposição etc.
Inicialmente, a mudança dos padrões de
consumo voraz vigorados atualmente.
Para alcançar tal meta ecologicamente
correta, os consumidores não são os únicos
que devem mudar suas práticas. As
empresas, como responsáveis por cultivar e
incentivar os atuais padrões de consumo,
também devem repensar suas ações, que são
voltadas para a maximização do lucro,
deixando de lado outros fatores importantes
como a sociedade na qual está inserida
(AKATU, 2012). Essa revisão das práticas
empresariais e gestoras é um processo
majoritariamente
imposto
pelo
próprio
mercado e não uma ação proativa dessas
organizações. Isso se deve ao fato de que as
práticas gerenciais estão motivadas por
questões de caráter econômico-financeiro, ao
invés de sociais, éticas e ambientais mais
equânimes.
Parasuraman et al. (2007) afirmam que más
práticas gestoras são causadas por enfoque
excessivo
em
fatores
financeiros,
exclusivamente materialistas. Acontecimentos
danosos emergem diretamente de uma
abordagem proposta pelas Escolas de
Administração, de colocar o acionista como
principal stakeholder, deixando `a margem
clientes externos e a sociedade.
Segundo Mintzberg (2005), as Escolas de
Administração devem mudar o caráter
predominantemente econômico de práticas
gerenciais que apenas maximizam o lucro e
devem refletir sobre as consequências de
suas ações no planeta em que vivemos.
Acadêmicos também estão aderindo a um
movimento de reflexão crítica, repensando o
papel socioambiental das Empresas e suas
inserções locais. Em contrapartida, a
sociedade vem se tornando a cada dia mais
consciente e crítica sobre os impactos de
suas ações no mundo, reavaliando os atuais
padrões de consumo.
2. CONSUMIDOR CONSCIENTE NO RIO DE
JANEIRO
2.1 ATITUDE DO CONSUMIDOR VERDE
Neste estudo, a atitude foi o elemento central
de análise escolhido. Blackwell, Engel &
Miniard (2005) definem que as atitudes de um
indivíduo representam suas escalas de
preferências individuais. Isto posto, a atitude
de gostar de um determinado produto ou
serviço cria uma predisposição para que ele
fosse consumido, o que não necessariamente
implica na ação de consumir, visto que
existem outros fatores que a influenciam. A
atitude é uma construção organizada por
crenças, valores e comportamentos que
geram sentimentos sobre o objeto de
consumo (LUTZ, 1991).
Essas práticas
incidem no comportamento do consumidor
(SMITH, 2005) e esse objeto resulta em um
produto
ou
serviço,
gerando
uma
predisposição positiva ou negativa aos
padrões de consumo.
Sheth et al. (2001) afirmam que as atitudes
precedem e formam o comportamento.
Baseadas em experiências e informações, as
atitudes são formadas nas mentes dos
indivíduos, tornando-se predispostos em
resposta a uma situação consistentemente
favorável ou desfavorável.
Tópicos em Administração - Volume 15
57
Existem diferentes abordagens na literatura
científica que explicam o que é atitude. São
teorias derivadas de correntes da psicologia
que formam uma relação entre cognição,
atitude e comportamento (LUTZ, 1991).
Geralmente, as crenças de um indivíduo a
cerca de um determinado objeto constroem a
atitude
pessoal,
podendo
ser
bons
indicadores do comportamento. Assim, se
uma pessoa reflete que suas ações como
consumidor podem ter impactos no meio
ambiente e na sociedade, isto demonstrará
uma
atitude
favorável
ao
consumo
conscientemente quem implicará em suas
atitudes rotineiras.
Lutz (1991) aponta, esse processo não é
contínuo, pois existem outros fatores
envolvidos, a exemplo da precificação,
fatores normativos, isto é, fatores conjunturais
e grupais que podem influenciar no
comportamento e ritmo de compra. Assim
sendo, mesmo alguém que tenha uma atitude
favorável ao consumo consciente pode não
exercê-lo por não valer o esforço segundo
influência do meio social ao qual pertence
(familiares, amigos, parentes, sociedade em
geral).
Por esse motivo os exemplos atitudinais são
apenas predisposições a um determinado
comportamento, podendo ou não se traduzir
no mesmo (SMITH, 2005). Alguns autores
acreditam em uma etapa entre a atitude e o
comportamento em si, que seria a intenção, o
que torna ainda mais complexo esse
processo de escolha, compra por impulso,
compra por necessidade, ou para atender a
um simples desejo consumista. Estudos de
Comportamento do Consumidor propõem que
as atitudes ainda são os melhores indicadores
de ações esperadas dos consumidores e
possuem uma grande aplicabilidade de ritmo
na área, informa Lutz (1991).
De forma complementar, será interessante
que sejam realizados estudos futuros sobre
esse Tema, a fim de analisar o
comportamento
efetivo
de
consumo
consciente, ações propostas de marketing
verde e fazer uma comparação entre estas
práticas e as atitudes de consumo verde.
2.2 CONSUMO CONSCIENTE
O consumo consciente desafia a concepção
atual do consumo, uma vez que praticá-lo
significa romper com os hábitos atuais da
sociedade de massa. Dessa forma, a prática
do consumo consciente configura-se em um
dilema no qual, de um lado, tem-se o aumento
do consumo pelas sociedades em geral e, de
outro, uma maior reflexão por parte da
sociedade sobre a forma de se consumir
(BARROS, 2011).
Teóricos de Marketing Verde apontam na
última década uma série de comportamentos
de
consumo
alternativo
e/ou
de
comportamentos anticonsumo desde os
movimentos
mais
radicais,
que
não
consomem nada que seja produzido pela
sociedade industrial, até movimentos mais
brandos, que tentam apenas rever seus
hábitos de consumo e modificá-los, mesmo
que de forma bastante branda (SMITH, 2005).
Mintzberg (2009) classifica esses últimos
movimentos como sendo parte integrante de
Novas Sociedades de Consumo, conceito
mais ligado à definição de consumo
consciente que surgem no Brasil.
O último Relatório do Instituto Akatu em
parceria com o Instituto Ethos (2012) mostra
que o cidadão brasileiro está cada vez mais
consciente dos impactos de seu consumo e
teria cada vez mais adotado práticas de
consumo ambientalmente mais corretos em
sua vida cotidiana. As empresas brasileiras
também
estão
se
tornando
mais
ambientalmente,
social
e
eticamente
responsáveis, a fim de impor novos processos
e melhores práticas em seus processos e
produtos que envolvem práticas de marketing
verde e, com isso, descarregam impostos
pela postura ecoeficiente.
A riqueza do mundo está detida em 10% dos
indivíduos e 90% da humanidade é pobre ou
está abaixo da linha de miserabilidade
(SPRÄNGER, 2009). A ideia de que é possível
consumir causando mínimo impacto possível
no meio ambiente e à sociedade, é um
processo recente no Brasil e como Barros
(2011) mostra em sua pesquisa, ainda é um
ideal não totalmente realizado no país,
basicamente por falta de legitimidade desta
sociedade de consumo, que por sua vez é
impulsionado pelas forças de mercado, pelo
imediatismo e descarte sucessivos. “a
identidade do consumidor consciente é
percebida como uma atitude positiva, de
alguém responsável, capaz de elaborar e
compreender complexas estratégias e
informações globais, alguém que é possuidor
de um certo grau de abnegação ao adotar um
estilo de vida diferenciado.”(BARROS, 2011,
p. 183).
Tópicos em Administração - Volume 15
58
As classes sociais encontradas na amostra
deste trabalho não apresentaram médias
estatisticamente diferentes nas escalas
resultantes, o que pode ter acontecido devido
ao fato de só existir representantes de quatro
classes mais altas: A, AB, B, e BC . O nível de
formação apresentou diferentes níveis na
escala apenas entre aqueles com nível médio
completo / nível superior incompleto e nível
superior completo, este último apresentou
maiores médias com um percentil de <0,004.
É possível perceber que a formação
educacional de nível superior possui uma
contribuição mais positiva em suas atitudes e
práticas de consumo consciente e no aspecto
ambiental especificamente. Contudo, práticas
essas que ainda não influenciam nas atitudes
relacionadas aos impactos do consumo em
sociedade (CASI, 2013).
3. CARIOCAS SÃO FAVORÁVEIS AO
CONSUMO
CONSCIENTE
E
ECOCOMPROMETIDO
As escalas de atitudes de consumo
consciente ambiental, sócio, ético e geral se
mostraram confiáveis neste estudo e se
mostraram correlacionadas entre si. Isso quer
dizer que as atitudes gerais de consumo
consciente podem ser divididas em diferentes
esferas relacionadas entre si, como as
utilizadas neste estudo: ambiental, social e
ética. Neste ponto, é importante salientar os
resultados positivos obtidos na elaboração da
escala de atitudes gerais, apesar de ser
necessário estudos mais profundos para seu
aperfeiçoamento em um futuro próximo.
Devido ao fato do conceito consumo
consciente estar sem solidez é difícil se criar
uma única escala que abranja todos os seus
aspectos. Isso ficou claro quando se analisou
os fatores das escalas resultantes das
entrevistas realizadas. Mais estudos devem
ser realizados com mais especificidades, já
que não foi o principal objetivo deste artigo.
A escala de atitudes de consumo consciente
ambiental (ECCB) foi dividida em dois fatores.
Analisando-os, foi fácil notar que ainda não
abrangem todas as crenças de consumo
ambientalmente conscientes.
Examinando
item por item, percebeu-se que certas
crenças poderiam ser incluídas. Por exemplo,
crenças com relação aos hábitos de consumo
dentro de casa, como economizar uso de
energia ou de utilizar a água de chuva para
molhar as plantas, lavar a calçada e os carros
da unidade familiar, que não foram incluídos
na escala utilizada neste estudo. Isso não
anula nem diminui a validade da escala, pois
os resultados foram muitos satisfatórios e
expressivos. Contudo, é um ponto de atenção
para aperfeiçoamento futuro de escalas que
serão desenvolvidas.
Sem dúvida, esse problema se origina em
bases da literatura de consumo consciente e
praticas de marketing verde. De qualquer
forma, diversos estudos conseguiram atingir
resultados satisfatórios com relação às
escalas de consumo consciente, como os
utilizados como base para as escalas neste
trabalho (ROBERTS, 1995; ROBERTS, 1996;
CREYER E ROSS, 1977; GROHMANN, 2012;
ROUX E NANTEL, 2009).
Como o próprio conceito de consumo
consciente, marketing verde, bem como seus
componentes, ainda está em evolução e se
mostra cada vez mais complexo, é provável
que as escalas sobre o tema sofram
alterações. Em outras palavras, as escalas de
consumo consciente ambiental, social, ético e
de marketing verde entre outras (i.e. político)
ainda devem sofrer aperfeiçoamentos até que
uma escala robusta de consumo consciente
geral, que será composta pela fusão das
primeiras, seja criada e aplicada globalmente.
Os cariocas são favoráveis às atitudes com
relação ao consumo consciente geral e nas
três esferas adotadas neste estudo:
ambiental, social e ética. Contudo, pelos
escores obtidos, é possível concluir que o
público-alvo de estudo ainda pode se tornar
mais favorável a essas atitudes. Além disso, o
fato de apresentarem atitudes positivas com
relação ao ato de consumir se preocupando
com os efeitos dessa ação na sociedade e no
meio ambiente não quer dizer que seus
comportamentos sejam integralmente da
mesma forma, como demonstrado no estudo
de Barros (2011).
Em relação às crenças de consumo
consciente, os cariocas se mostraram mais
preocupados com os impactos de suas ações
na sociedade do que no meio ambiente.
Como discutido no capítulo anterior, os
resultados obtidos pelas escalas de consumo
social e eticamente responsáveis foram
superiores ao consumo ambientalmente
responsável.
Além disso, as consumidoras cariocas se
mostraram mais conscientes do que os do
sexo oposto em todas as dimensões. A única
exceção foi a dimensão de consumo geral,
isso significa dizer que as mulheres cariocas
Tópicos em Administração - Volume 15
59
têm as mesmas crenças que os homens
cariocas em relação aos impactos de seu
consumo, contudo são mais preocupadas
com o meio ambiente, com a sociedade e
com a ética das empresas em que confiam.
As classes sociais representadas pela
amostra não apresentaram diferenças entre si
com relação às atitudes de consumo
consciente.
Contudo,
como
houve
representantes apenas das classes média e
média-alta, é possível que existam diferentes
atitudes de acordo com a classe social.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa mostrou que a idade impacta
positivamente na atitude com relação ao
consumo consciente em geral e nas
dimensões adotadas neste estudo. Essa
relação ainda precisa de estudos mais
profundos, mas sem dúvida um de seus
elementos está relacionado à formação
escolar, pois mostrou-se que o nível de
escolaridade, sobretudo o ensino superior, é
importante para a formação de crenças
favoráveis ao consumo consciente, gerando
uma atitude mais positiva de um consumo
responsável.
Visto o importante papel que o ensino traz
para
a
formação
de
consumidores
conscientes, é importante que a academia de
marketing e de administração como um todo
dê mais destaque ao tema nas universidades,
a fim de formar profissionais engajados com
suas ações como clientes e como tomadores
de decisões dentro das empresas, e seus
impactos no meio ambiente e na sociedade.
Assim como há décadas atrás as teorias de
marketing
(KOTLER
E
LEVY,
1969)
precisaram sofrer uma ampliação de visão e
de escopo, mais uma vez os acadêmicos
dessas áreas devem refletir sobre a
necessidade de uma mudança, visando criar
profissionais e clientes mais responsáveis
sobre suas ações. A partir desta evolução, a
literatura sobre consumo consciente irá
progredir e se difundir, criando a
possibilidade de que existam de fato
mercados com consumidores conscientes.
Notadamente, a cidade do Rio de Janeiro,
mostra-se receptiva à práticas mais
ecocomprometidas e a lei de agosto de 2013
que taxa o lixo jogado no chão no centro da
cidade, Tijuca e Méier, reflete essa aceitação
por parte da sociedade como um todo.
Grupos sociais formadores de opinião tendem
a difundir práticas verdes e inúmeros
trabalhos solidários possuem representações
locais: ongs que replantam árvores, grupos
de catadores de lixo e jovens que deixam a
drogaadicção através de plantio de produtos
orgânicos que, a cada dia, possuem seus
preços mais barateados e já são encontrados
em mercados locais, além de feiras semanais
de produtores do cinturão verde carioca.
Programas exitosos de sacolas de pano em
supermercados
substituindo
sacolas
plásticas, roupas customizadas de algodão
orgânico e outras a partir de folhas de
cânhamo possuem maior durabilidade e
práticas de marketing verde difundem seu
uso glocal com êxito.
O indivíduo que esse estudo entrevistou
demonstrou que já entende a importância do
seu papel em sociedade, que seu lixo
também lhe pertence, por isso ele necessita
cuidar e dar melhor destino aos itens que
descarta. Aprendeu que é melhor ser do que
ter (KLEIN, 2002; HOLT, 2002) e que suas
ações não mais estão circunscritas ao seu
núcleo familiar apenas, consanguíneo, pois o
outro reside no mesmo planeta que ele
escolheu para viver.
O seu quintal deixou de ser atrás de sua
residência e agora faz parte da Terra como
um todo, por isso é tão importante ter uma
consciência cósmica, solidária e pensar
verde. Dessa forma, o futuro assegurado aos
seus descendentes possui ecos de saúde,
práticas com energia limpa e ainda estão
asseguradas fontes de água pura, cristalina.
O ar pode ser respirado sem pagar impostos,
desprovido de níveis tóxicos poluentes
resultantes de anos de má educação
ambiental. Ainda há tempo para resgatar Gaia
com segurança!
As melhores escolhas que fizermos hoje
certamente impactarão o nosso amanhã de
uma forma ética, justa e mais equânime para
todos. Os seres, as organizações e o planeta
são um. Herança são os nossos atos que
apresentam soluções da educação, dos
valores humanos com Responsabilidade
Humanitária.
Tópicos em Administração - Volume 15
60
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62
Capítulo 6
Tatiane de Oliveira Amancio
Igor Polezi Munhoz
Alessandra Cristina Santos Akkari
Neusa Maria Bastos Fernandes dos Santos
Resumo: O telhado verde apresenta diversas vantagens, uma vez que funciona
como isolante acústico, térmico, retém as águas pluviais, contribui na redução dos
níveis de particulados e poluentes na atmosfera e recicla as chamadas águas
cinzas (todo esgoto gerado em uma habitação, exceto o proveniente da bacia
sanitária). Além dos benefícios citados, baseado na experiência de grandes
multinacionais como a Ford (EUA), pode-se alcançar uma economia energética de
30%, após a implantação do telhado verde. O objetivo deste trabalho é apresentar
um estudo de viabilidade de implantação do telhado verde na Faculdade de
Ciências Exatas e Tecnologia (FCET) da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC-SP). Além da aplicação do tripé da sustentabilidade, ou seja, alinhar o
cuidado com o planeta (proteção ambiental, recursos renováveis, eco eficiência),
com a responsabilidade social e com o desenvolvimento econômico nas atividades
cotidianas. Trata-se de uma pesquisa de natureza aplicada, orientada à geração de
informações e conhecimentos que podem ser empregados na solução ou melhoria
de problemas específicos. O estudo apresenta uma abordagem quantitativa, com
ênfase em análises numéricas dos dados coletados, envolvendo o uso de métodos
numéricos aplicados à engenharia. Nos ensaios experimentais, utilizando-se dois
protótipos (um controle e outro contendo o telhado verde), constatou-se uma
amplitude térmica significativa, de até 9,1ºC e uma redução de escoamento
superior a 70% com a terra do telhado úmida. No entanto, como o edifício é
tombado, isso impossibilita uma futura implantação, além da necessidade de
adequações estruturais. Baseado nos fatores econômicos, sociais e ambientais,
verificou-se uma possível redução de até R$ 3067,00 ao ano no consumo de
energia elétrica caso o telhado verde fosse adotado em um único edifício do
campus, ao invés do uso do ar condicionado para conforto térmico similar.
Palavras-chave: telhado verde, sustentabilidade, construções eficientes.
Tópicos em Administração - Volume 15
63
1. INTRODUÇÃO
A procura por ideias que reduzam o impacto
ambiental da atividade humana tem sido o
motivo de maior empenho dos ambientalistas,
a solução para construções pode estar mais
perto do que se imagina: o Telhado Verde.
Historiadores relatam que a ideia não é
recente, acredita-se que no século VI a. C. o
rei Nabucodonosor tenha ordenado a
construção de um palácio que possuísse
terraços sobrepostos onde seriam plantados
jardins, os famosos jardins suspensos da
Babilônia.
Segundo informações da IGRA (International
Green Roof Association), o telhado verde,
também chamado de ecotelhado ou telhado
vivo, traz consigo uma série de vantagens
para os usuários, além dos benefícios
estéticos, uma vez que funciona como
isolante acústico, térmico, retém as águas
pluviais para posterior acúmulo, contribui na
redução dos níveis de particulados e
poluentes na atmosfera e recicla as
chamadas “águas cinzas”, que segundo Gelt
(2001) é definida como todo esgoto gerado
em uma habitação, exceto o proveniente da
bacia sanitária, como chuveiro, banheira, pias
de lavatório, entre outros.
A vegetação do telhado verde funciona como
um isolante térmico tanto no verão como no
inverno, e, sabendo-se que o adensamento
urbano e o tráfego geram um efeito chamado
de Ilhas de Calor, as temperaturas nesses
locais aumentam em aproximadamente 10 ºC
durante o verão, no entanto, áreas verdes e
parques podem absorver até 80% da entrada
de energia (BLACKHURST; HENDRICKSON;
MATTHEWS, 2010).
Por outro lado, temos também a questão da
eficiência energética, uma vez que grandes
empresas têm economizado até 30% da
energia gasta com refrigeração após a
implantação deste tipo de telhado. É o caso
da fábrica de caminhões da Ford em
Michigan (BOCK, 2008) e edifícios como a
prefeitura de São Paulo. Estima-se que na
Alemanha já existam mais de 14 milhões de
metros quadrados de telhados verdes e, junto
com os Estados Unidos, já somam mais de
2000 empresas especializadas somente
nesse tipo de construção.
Apenas para efeitos comparativos, estima-se
que no Brasil podem ser necessárias até três
usinas com capacidade equivalente à Itaipu
para refrigeração de ambientes em 2100.
Uma vez que as temperaturas médias da
Terra estão aumentando e, paralelamente,
temos a elevação de renda da população,
tornando os equipamentos mais acessíveis.
Sivak (2013) usa como exemplo o consumo
de ar condicionado nos Estados Unidos, país
no qual cerca de 87% das residências já são
equipadas com o dispositivo, consumindo 185
milhões de MWh de energia por ano com
refrigeração.
Neste trabalho busca-se uma alternativa de
baixo custo para contribuição tanto na esfera
micro, que é o próprio ambiente universitário
da PUC-SP, até os desdobramentos macro,
por meio da conscientização social, da
aplicação do tripé da sustentabilidade e da
integração das atividades de ensino e
pesquisa para o design de construções
eficientes, que resultarão em ganhos a longo
prazo para o Brasil e o planeta.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O fenômeno da urbanização, aliado à
impermeabilização do solo, impede a
infiltração das águas pluviais, evitando a
recarga de aquíferos e gerando um aumento
da variável “escoamento superficial” durante
os períodos de chuva. Esse problema
provoca
danos
econômico-ambientais
(POLETO, 2011). O telhado verde além de
reduzir a velocidade do escoamento da água,
se comparado ao telhado convencional, ainda
é mencionado como agente na modificação
do microclima e na redução de poluentes
atmosféricos. Nesse último quesito, resultados
indicam a remoção de cerca de 1.700 kg de
poluentes
em
20
ha
de
telhado
verde (MORUZZI; MOURA; BARBASSA,
2014).
A implantação do telhado verde pode ser
implantada em novas ou velhas construções.
Desde que tenha os seguintes itens:
1.
Laje: elemento estrutural no qual
devem ser observadas as cargas e definir a
escolha do tipo de vegetação, devido ao peso
das demais camadas.
2.
Impermeabilização:
impede
a
infiltração de água na laje, através do uso da
manta asfáltica e de produtos químicos que
limitem a profundidade das raízes.
3.
Proteção: necessária para impedir
danos à impermeabilização, sendo composta
basicamente de argamassa simples.
4.
Drenagem: regulagem da retenção e
drenagem do excesso da água.
Tópicos em Administração - Volume 15
64
5.
Filtragem:
retém
o
substrato,
impedindo-o de passar para a camada de
drenagem.
6.
Substrato: camada de nutrientes que
dão suporte à vegetação. O tipo e a
espessura do substrato dependem da
vegetação escolhida e dá tecnologia
empregada.
7.
Vegetação: depende do tipo de
telhado proposto, da altura com relação ao
solo e do substrato disponível e, de
preferência, que a espécie escolhida seja
nativa e a avaliação em relação a
manutenção. Os telhados extensivos (plantas
de pequeno porte e geralmente um substrato
com menor preço), querer uma manutenção
menor que os intensivos (que possuem uma
carga maior e espécies de maior porte).
Além da classificação pelo tipo de
manutenção, é importante ressaltar a
necessidade de ampliar as áreas verdes em
ambientes urbanizados, pois as plantas
desempenham um papel vital no fluxo de
energia através de todos os ciclos ecológicos
(CAPRA, 2006). As raízes extraem água e sais
minerais, que são combinados com o dióxido
de carbono (CO2) extraído do ar para formar
compostos
orgânicos
(processo
de
fotossíntese – conversão energia solar em
energia química). Capra (2006) afirma, ainda,
que a celulose e alguns outros compostos
orgânicos são formados principalmente por
átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio
que se originam do CO2 e da água (H2O) do
substrato.
Observa-se também na Figura 1, a diferença
na espessura da camada de substrato em
função da vegetação (altura de crescimento),
uma vez que o substrato é responsável pelo
suporte da plantação. A camada de
isolamento térmico não é necessária, embora
exista em alguns casos, pois a própria
composição do telhado verde funciona
eficientemente para o conforto térmico das
construções.
Figura 1 – Execução dos telhados verdes: vegetação e camadas
Fonte: Adaptado de Correa e Gonzalez (2007).
O conforto térmico é resultado da
transformação da água para a forma de
vapor, conforme explicado por Collischonn e
Tassi (2008). Ainda de acordo Catuzzo
(2013), a variação da temperatura do edifício
com telhado verde, chega em média 5,3
graus abaixo do edifício sem telhado verde e,
a umidade relativa do ar aumentou em 15,7%.
Fatores que contribuem na diminuição das
ilhas de calor dos centros urbanos.
3. METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa de natureza
aplicada, orientada à geração de informações
e conhecimentos que podem ser empregados
na solução ou melhoria de problemas
específicos. O estudo apresentado neste
relatório tem uma abordagem quantitativa,
com ênfase em análises numéricas dos dados
coletados, envolvendo o uso de métodos
numéricos aplicados à engenharia.
Com relação aos objetivos propostos, podese considerar um trabalho descritivo, que
proporcione familiaridade com o problema
Tópicos em Administração - Volume 15
65
central, descrevendo em detalhes as partes e
suas relações, a fim de torná-lo explícito. Os
procedimentos
envolvem
a
pesquisa
bibliográfica, a coleta e a análise de dados
primários e secundários, por meio de
simulações experimentais, do levantamento
de custos e de informações técnicas, para
realizar estudo de viabilidade técnica e
econômica.
Utiliza-se o método de investigação dedutivo,
de forma que as leis ou teorias que se
adequam a determinados fenômenos, são
aplicadas em situações específicas a fim de
descobrir as suas relações, explicando os
fenômenos particulares por meio das
generalizações.
O desenvolvimento deste trabalho implica a
realização de um conjunto de atividades para
a futura implementação do conceito de
telhado verde na Faculdade de Ciências
Exatas e Tecnologia (FCET) da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), no Brasil. As ferramentas fornecidas para
o desenvolvimento das atividades e os
procedimentos para coleta de dados
primários e secundários, que foram utilizados
como uma plataforma de aplicação, permitem
a análise e validação dos resultados.
Dois protótipos de telhado foram feitos, um
com o telhado verde e outro sem, para fins de
controle. A temperatura de ambos os
protótipos foi avaliada em dias diferentes,
assim como a temperatura dos quatro
edifícios da FCET (sete medições em
diferentes momentos do dia e para cada
edifício). Foi possível calcular a eficiência
energética resultante do processo de
isolamento térmico com o valor médio da
amplitude térmica registrada pelos protótipos.
Portanto, para calcular a eficiência energética,
foi realizada uma modelagem matemática que
considera a temperatura satisfatória do ar
dentro do ambiente em torno de 21-22º C. A
partir desta informação, a temperatura do teto
em diferentes momentos do dia foi medida
para obter o valor médio. A Figura 2 mostra
uma ilustração dos protótipos desenvolvidos,
bem como sua instalação para obter dados
pluviométricos, temperatura e vazão.
Figura 2 – Protótipos com e sem o telhado verde
Fonte: elaborado pelo autor.
As trocas de calor por radiação, tanto dentro
do ambiente como entre o ambiente interno e
o externo foram desconsideradas, e assumiuse que a única fonte de remoção de calor
seria pelo aparelho de refrigeração, para
simplificação nos cálculos.
O modelo matemático usado é uma analogia
com um circuito elétrico, no qual os resistores
representam a transferência de calor por
condução na laje e a transferência de calor
pela convecção natural do ar na sala, para
comparar os gastos de energia com ar
condicionado e uso do telhado verde. Para os
experimentos, foram utilizados termômetros,
além dos materiais necessários para a
construção de modelos funcionais d
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
No primeiro experimento, a temperatura foi
medida em todos os andares dos quatro
edifícios da FCET. Alguns dados estavam fora
do padrão esperado, uma vez que o subsolo
e o piso térreo deveriam ter uma temperatura
mais baixa do que os andares superiores,
especialmente o último andar de cada prédio.
Isso pode ser explicado pelas incertezas e
erros nas medições e termômetros. A planta é
mostrada na Figura 3, onde é possível
observar cinco salas (L1, L2, L3, L4 e L5) e o
armazém.
Tópicos em Administração - Volume 15
66
Figura 3 – Planta dos andares
Fonte: acervo da PUC-SP.
Nas datas disponíveis para coleta dos dados
nos prédios, uma reforma estava sendo
executada na marquise e as obras podem ter
interferido na medição. A partir da análise dos
dados coletados, o prédio II foi escolhido para
estudo de implantação de telhado verde, pois
os resultados podem ser implementados em
outros prédios do corpo docente. A Tabela 1
mostra as medições de temperatura obtidas
para o edifício II.
Tabela 1 – Temperaturas obtidas para o prédio II
Período
do dia
10 – 11
11 – 12
12 – 13
13 – 14
14 – 15
15 – 16
16 – 17
Biblioteca (°C) Hall (°C) 1º piso (°C) 2º piso
(°C)
25,50
22,05
21,65
21,15
24,50
22,35
22,60
22,10
25,60
23,60
22,55
23,05
25,70
22,65
21,95
22,55
25,60
22,95
23,30
22,35
25,50
22,70
22,80
22,15
24,80
21,05
21,70
21,35
Fonte: elaborado pelo autor
A partir do monitoramento dos protótipos,
houve uma amplitude térmica significativa de
até 9,1°C, registrada em 8 de dezembro de
2016, e um aumento no tempo de fluxo
superior a 70% com o solo de telhado
molhado, comparado ao protótipo de controle.
A Tabela 2 mostra as temperaturas médias
obtidas para os protótipos durante as
análises.
Tabela 2 – Temperaturas médias dos protótipos de acordo com o dia analisado
Data
12/06/2016
12/07/2016
12/08/2016
12/09/2016
12/12/2016
12/13/2016
12/14/2016
12/15/2016
Temperatura
ambiente
(°C)
27,60
30,90
27,10
27,30
20,80
33,50
23,00
18,50
Temperatura com
telhado verde (°C)
O cálculo de viabilidade econômica utilizou o
valor médio da amplitude térmica dos
protótipos, que foi de 6ºC, para a aplicação
do modelo matemático. Para esta análise, um
modelo matemático simplificado foi usado
para calcular o gasto de condicionadores de
20,30
22,85
19,25
22,10
15,40
19,70
10,15
8,70
Temperatura
sem telhado
verde (°C)
26,10
29,40
28,35
26,60
17,80
26,60
18,65
13,40
ar para manter a sala 6 graus Celsius abaixo
da temperatura. É uma estimativa, já que não
é um cálculo trivial com várias variáveis.
Como mencionado anteriormente, o teto do
edifício II, é feito de gesso, coberto com
telhas, para o cálculo isso não foi adotado.
Tópicos em Administração - Volume 15
67
Ainda assim, o cálculo desloca as janelas e as
trocas de calor por radiação.
estatística experimental entre o controle e o
verde estrutura de telhado.
Portanto, o sistema não é fechado, mas no
modelo foi considerado que a única troca de
calor seria feita pelo ar condicionado. Além
disso, as únicas fontes de calor são o sol e os
condicionadores de ar e o cálculo do calor
transferido pelo ar condicionado, portanto,
não foi necessário realizar uma análise
Com base no desempenho de um
condicionador de ar split classe A, que possui
a maior economia de energia, que é ativado
para remover 6 ºC da sala, é possível calcular
o calor transferido (Q), conforme mostrado na
Tabela 3, com a Equação 1.
Q = ∆T/[1/(h*A) + e/(k*A)]
Sabendo-se que h é o coeficiente de
convecção do ar (adotado como 5.11 W/m2K),
k é a condutividade térmica do concreto
Equação (1)
(aproximadamente 1,4 W/mK), e é a
espessura (0,12 m), A é a área da sala e ∆T é
a diferença entre a temperatura (6 ºC).
Tabela 3 – Calor transferido
Área (m²) Calor (Watts)
Almoxarifado
56,33
1200,00
L1
38,32
821,92
L2, L3, L4 ou L5 57,97
1224,49
Fonte: elaborado pelo autor
A energia calculada na Tabela 3 seria
consumida pelos condicionadores de ar para
resfriar os ambientes com a mesma
temperatura que o telhado verde forneceria. O
valor da energia no Brasil é de R$ 0,30 por
kWh, então foi possível observar uma
economia
anual
de
energia
de
aproximadamente R$ 3067,00 apenas no
prédio II. O valor da economia tende a
aumentar, uma vez que a aplicação pode
ocorrer em outros prédios da Faculdade de
Ciências Exatas e Tecnologia e foram
desconsideradas as trocas de calor por
radiação, e principalmente porque o sistema
não é fechado.
No entanto, após uma visita à seção técnica
de materiais iconográficos da Universidade
de São Paulo (USP) e uma consulta ao site da
prefeitura, verificou-se que o prédio da FCET
é um edifício tombado, o que implica em
limitações para modificações e dificulta a
implementação futura do telhado verde do
ponto de vista técnico.
5. CONCLUSÕES
Analisando os resultados obtidos, podemos
destacar
fatores
decisivos,
como:
econômicos, sociais e ambientais. Do ponto
de vista econômico, segundo Mello, Costa,
Alberti e Filho (2010), é possível em menos de
5 anos recuperar o dinheiro investido.
As medidas dos protótipos foram adequadas
e uma amplitude térmica significativa de até
9,1 ºC foi verificada. Além disso, observou-se
que o telhado verde reduziu o fluxo em mais
de 70%. Com base na análise econômica,
houve uma redução possível de até R$
3067,00 por ano no consumo de eletricidade
se o telhado verde fosse adotado em um
único prédio do câmpus, em vez de usar o ar
condicionado para um conforto térmico
similar.
Especificamente para a FCET, por se tratar de
um edifício tombado, houve a necessidade de
uma análise mais detalhada dos aspectos
arquitetônicos e do patrimônio histórico para
permitir a implantação do telhado verde.
Por
meio
das
visitas,
experiências,
levantamento bibliográfico e consulta no site
da prefeitura de São Paulo, é possível
constatar uma inviabilidade futura de
implementar do telhado verde, tanto pelo fato
dos prédios serem tombados, quanto pela
necessidade de reforço estrutural para que o
peso do novo telhado verde seja suportado.
Ressalta-se que os resultados obtidos foram
promissores, sugerindo que esse mesmo
estudo sistemático seja desenvolvido para as
demais faculdades da PUC-SP ou mesmo
Tópicos em Administração - Volume 15
68
para outras universidades e instituições
brasileiras, a fim de otimizar os indicadores
socioambientais.
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Pesquisa em Tecnologia de Arquitetura e
Tópicos em Administração - Volume 15
69
Capítulo 7
Ingrid Johnson
Paulo Roberto Rocha Aguiar
Resumo: Este artigo apresenta uma análise do projeto de legado para o Rio de
Janeiro, por sediar os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Verão de 2016, da
perspectiva da regeneração urbana, com o projeto Porto Maravilha, e da melhoria
da infraestrutura de transportes, com os projetos de mobilidade do Plano de
Políticas Públicas (LEGADO). Para isto observa-se, a evolução dos Jogos na Era
Moderna e o crescimento de seus respectivos legados. Procura-se compreender a
escolha do Rio de Janeiro, entender a distribuição do legado nas regiões que
receberão os Jogos, e avaliar o peso do Plano de Políticas Públicas (LEGADO) no
total do orçamento Olímpico. Apresenta-se o projeto Porto Maravilha, e os nove
projetos de mobilidade do Plano de Políticas Públicas (LEGADO). Verifica-se a
regeneração urbana e a melhoria da infraestrutura de transportes nas duas últimas
Olimpíadas, Londres 2012 e Pequim 2008, e também em Barcelona 1992, por ser
esta última a base da transformação urbana e inspiração para o projeto dos Jogos
Rio 2016. Conclui-se que a regeneração urbana e a melhoria da infraestrutura de
transportes são primordiais no projeto dos Jogos Rio 2016, mostrando que a cidade
do Rio de Janeiro, assim como outras cidades-sede, utilizaram os Jogos como
estratégia para viabilizar projetos urbanos.
Palavras Chave: Jogos Rio 2016. Legado. Revitalização Urbana. Regeneração
Urbana. Infraestrutura de Transportes. Projeto Porto Maravilha. Projetos de
Mobilidade do Plano de Políticas Públicas (LEGADO).
Tópicos em Administração – vol 15
70
1 INTRODUÇÃO
Os
Jogos
Olímpicos
nasceram
na
Antiguidade e foram reeditados na Era
Moderna pelo francês Pierre de Coubertin
(1863-1937) (KELLY, 1972). A idéia de
legado, não foi inicialmente pensada, porém
surgiu e evoluiu com o tempo (GOLD e
GOLD, 2008).
Em outubro de 2009, a cidade do Rio de
Janeiro foi eleita a cidade-sede dos Jogos
Olímpicos e Paralímpicos de 2016 e, desde
então, a mídia divulga os esportes e o legado
para a cidade. Então sugerem as seguintes
perguntas: O projeto dos Jogos Rio 2016
ponderava o legado como fator primordial?
Qual seria o legado a ser priorizado? O
legado estava presente nas Olimpíadas
anteriores?
O objetivo deste artigo é analisar o projeto de
legado para o Rio de Janeiro, da perspectiva
da regeneração urbana, com o Projeto Porto
Maravilha, e da melhoria da infraestrutura de
transportes, com os projetos de mobilidade
do Plano de Políticas Públicas (LEGADO).
Para isto contextualizou-se os Jogos
Olímpicos e a crescente importância do
legado; verificou-se a razão de escolha do Rio
de Janeiro; explicou-se a distribuição dos
Jogos e do legado pela cidade; avaliou-se o
peso do Plano de Políticas Públicas
(LEGADO) no total do orçamento Olímpico;
apresentou-se o projeto Porto Maravilha e os
projetos de mobilidade do Plano de Políticas
Públicas (LEGADO); e verificou-se a
regeneração urbana e a melhoria na
infraestrutura de transportes nas últimas
Olimpíadas, Londres 2012 e Pequim 2008, e
em Barcelona 1992, por ser esta a base para
transformação urbana e inspiração para o
projeto Rio 2016.
2 METODOLOGIA
Quanto aos fins, esta pesquisa é classificada
como exploratória, na medida em que busca
um maior conhecimento sobre o legado
urbano para a cidade do Rio de Janeiro dos
Jogos de 2016. É um tema atual e um projeto
único, por ser um projeto de Jogos Olímpicos
referente à uma cidade-sede específica, o Rio
de Janeiro.
Esta pesquisa também apresenta elementos
de pesquisa descritiva, uma vez que explica o
Projeto Rio 2016, da perspectiva da
regeneração urbana através do projeto Porto
Maravilha, bem como relata os projetos de
infraestrutura de transportes que constam no
Plano de Políticas Públicas (LEGADO), um
dos instrumentos que compõem o orçamento
Olímpico.
Quanto aos procedimentos técnicos utilizados
para a coleta de dados (meios), este trabalho
fez uma pesquisa bibliográfica e uma
pesquisa
documental.
A
pesquisa
bibliográfica foi feita a partir de livros; sites
oficiais de entidades; artigos científicos
apresentados em congressos, seminários,
elaborados em centros de estudos de
pesquisa e publicados em revistas e jornais
técnicos; e dissertações de mestrado. A
pesquisa
documental
foi
feita
por
acompanhamento de notícias em jornais e
revistas;
relatórios
de
instituições;
documentos oficiais disponibilizados pelo
Governo Brasileiro, pelo Estado e Prefeitura
do Rio de Janeiro e pela Autoridade Pública
Olímpica (APO); e documentos oficiais
disponibilizados pelo Governo Britânico e
pela Prefeitura de Londres.
Esta pesquisa estuda o legado urbano dos
Jogos Rio 2016 antes da realização destes.
Uma análise mais consistente só será possível
após um certo período da realização dos
Jogos.
3 UM BREVE RESUMO SOBRE A HISTÓRIA
DOS JOGOS OLÍMPICOS
A data mais aceita para o início dos Jogos
Olímpicos da Idade Antiga é 776 a.C.,
quando foi aberto o registro público na cidade
de Olímpia, dos vencedores de uma corrida a
pé realizada a cada quatro anos. De uma
única prova, foram sendo incorporadas novas
modalidades esportivas com o passar dos
anos. A cidade de Olímpia era um grande
santuário ao Deus Zeus, e os Jogos eram
realizados em sua homenagem a cada quatro
anos. Depois de um grande apogeu, os Jogos
declinaram com a Grécia conquistada pelos
romanos. Os Jogos foram extintos em 393
d.C., através da publicação de um decreto
pelo Imperador Romano Teodósio, em função
da ascensão do cristianismo contra o
paganismo (KELLY, 1972).
A reedição dos Jogos Olímpicos na Era
Moderna, foi um projeto do francês Pierre de
Coubertin (1863-1937), que entendeu o
esporte como parte integrante da educação,
ao observar o surgimento do esporte amador
e das práticas esportivas, na Inglaterra e nos
Estados Unidos, através de competições em
Tópicos em Administração – vol 15
71
clubes e universidades. A descoberta e a
reconstituição da cidade de Olímpia, e a
tentativa do governo grego em reviver os
Jogos, organizando duas competições
esportivas em Atenas no final do século XIX,
incentivaram Coubertin a trabalhar pelo
renascimento dos Jogos Olímpicos (KELLY,
1972).
Em
um
Congresso
Internacional
na
Universidade de Sorbonne, para discutir o
amadorismo no esporte em 1894, foi
apresentada e aprovada por unanimidade,
uma proposta de retorno imediato dos Jogos
Olímpicos. O Congresso constituiu então o
Comitê Olímpico Internacional (COI) e definiu
os primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna
para Atenas em 1896, e os segundos para
Paris em 1900, estabelecendo a realização
destes a cada quatro anos, com a escolha
prévia da cidade-sede a ser definida pelo COI
(KELLY, 1972).
4 A CRESCENTE IMPORTÂNCIA E
EVOLUÇÃO DO LEGADO DOS JOGOS
A
As Olimpíadas foram pensadas para
instalações já existentes ou temporárias. O
primeiro estádio feito para uma Olimpíada foi
o de Londres, em 1908, e a primeira vila
Olímpica construída para atletas foi a de
Paris, em 1924. Mesmo Berlim, em 1936,
criando o maior complexo esportivo até então,
teve impacto mínimo na cidade. Somente a
partir de Roma, em 1960, com o fim das
restrições do pós-guerra, os Jogos se
tornaram um potencial para a transformação
urbana. Em Roma, várias partes da cidade
foram modificadas permanentemente, e esta
maior transformação urbana para sediar os
Jogos, tornou-se uma característica dos anos
de 1960 e 1970 (GOLD e GOLD, 2008).
Vale destacar os Jogos de Tokyo, em 1964,
que criaram projetos de infraestrutura com
visão até o ano 2000. E também os Jogos de
Montreal, em 1976, que confirmaram a
tendência de mega-projeto dos Jogos, que
com uma má gestão financeira e construções
superdimensionadas,
especialmente
o
Estádio Olímpico, geraram um enorme déficit
nas finanças da cidade (GOLD e GOLD,
2008).
O estrago à credibilidade dos Jogos
causados por Montreal foi recuperado por Los
Angeles, em 1984, e Barcelona, em 1992. Os
Jogos de Los Angeles mostraram um novo
modelo de financiamento, com grande
participação
da
iniciativa
privada,
completando o setor público, tornando-se
este modelo um fator de sucesso para os
Jogos. Os Jogos de Barcelona, tornaram-se
um marco do potencial para regeneração
urbana, restaurando os Jogos como uma
poderosa forma de promover uma cidade e
sua transformação urbana. Los Angeles 1984
e Barcelona 1992 são a base da política atual
para sediar os Jogos Olímpicos (GOLD e
GOLD, 2008).
A partir dos anos 2000, o COI passou a
priorizar a sustentação ambiental e depois a
sustentação do legado total. Os Jogos de
Sidney, em 2000, tiveram um forte foco em
projetos ambientais, mas o Estádio Olímpico
foi superdimensionado. Os Jogos de Atenas,
em 2004, reconstruíram a infraestrutura
turística e criaram o Parque Arqueológico,
mas os complexos esportivos também foram
superdimensionados. Após os Jogos de
Sidney e Atenas, a sustentabilidade das
instalações
esportivas
tornou-se
uma
prioridade (GOLD e GOLD, 2008).
5 AS TRANSFORMAÇÕES URBANAS COMO
FORMAS DE LEGADO OLÍMPICO
Com a atenção global dada aos Jogos
Olímpicos, estes acabaram se tornando muito
mais do que um evento esportivo, evoluíram
para uma ferramenta de renovação urbana e
catalisador de grandes transformações.
Devido aos elevados custos para organizar e
sediar os Jogos, as cidades-sede passaram a
buscar o desenvolvimento econômico e a
regeneração urbana como justificativa para a
realização dos Jogos (ESSEX e CHALKLEY,
2003).
De acordo com Essex e Chalkley (2003),
abaixo encontram-se os tipos de infraestrutura
relacionados com a realização dos Jogos
Olímpicos:
a.
Instalações esportivas;
b.
Transporte: aumento da capacidade
aeroportuária, novas estradas e melhoria do
transporte público;
c.
Hospedagem: construção de hotéis e
da Vila Olímpica para os atletas;
d.
Outras melhorias urbanas voltadas
para a infraestrutura em geral como
abastecimento de água, tratamento de
esgotos, tratamento do lixo, melhoria da
qualidade do ar, telecomunicações, etc.; a
valorização da paisagem e do meio ambiente;
Tópicos em Administração – vol 15
72
e a valorização cultural com a criação de
museus e galerias de arte; e
e.
Novas
formas
organização urbanas.
de
gestão
e
6 A ESCOLHA DOS JOGOS RIO 2016
A cidade-sede dos Jogos Olímpicos e
Paralímpicos de Verão de 2016 foi decidida
em Copenhague, na Dinamarca, em 02 de
outubro de 2009, entre as seguintes cidades
candidatas: Chicago, Tóquio, Madri e Rio.
Observa-se pela Tabela 1 que os orçamentos
para a realização dos Jogos estavam na
mesma ordem de grandeza, enquanto os
orçamentos para investimento de capital nas
cidades eram bem diferentes, demonstrando
o grande investimento necessário na cidade
do Rio de Janeiro no total de USD 11,10
bilhões para receber os Jogos.
Tabela 1 – Orçamento proposto para os Jogos de 2016
Fonte: Adaptado de GOLD, Compiled from Candidature Files, 2009.
Além da grande diferença que os Jogos
fariam para a cidade do Rio de Janeiro, de
acordo com Luzenfichter (2010), havia outros
critérios que também influenciaram a escolha
do Rio de Janeiro:
a.
Chicago. Os Estados Unidos já tinham
organizado os Jogos de Verão e Inverno por
oito vêzes. Houve um excesso de pressão
pela candidatura de Chicago, o quê não
agradou ao COI (Luzenfichter, 2010);
b.
Tóquio. Já havia sediado os Jogos de
1964 e seria complicado votar pelo Japão em
2009, logo após Pequim 2008. O COI preza
pela
rotatividade
dos
continentes
(Luzenfichter, 2010);
c.
Madri. Num intervalo de menos de 25
anos entregar novamente os Jogos à
Espanha, e principalmente quatro anos
depois da realização de Jogos na Europa,
Londres 2012 (luzenfichter, 2010); e
d.
Rio de Janeiro. Representava o Brasil,
um país emergente que buscava a
oportunidade de mostrar a América do Sul
pela primeira vez nos Jogos. A candidatura
do Rio de Janeiro recebeu forte apoio político
e econômico do Governo Brasileiro. Embora a
cidade não tivesse os recursos das demais
candidaturas, o país apresentava uma
conjuntura econômica favorável em meio à
crise global (Luzenfichter, 2010).
7 OS JOGOS OLÍMPICOS E PARALÍMPICOS
RIO 2016 E SEU LEGADO URBANO
Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016
estão agendados, respectivamente, de 5 a 21
de agosto, e de 7 a 18 de setembro de 2016.
Os Jogos ocorrerão em quatro grandes
regiões metropolitanas do Rio de Janeiro,
com a idéia de distribuição do legado pelas
diferentes
áreas:
Barra
da
Tijuca,
Copacabana, Deodoro e Maracanã. (Comitê
Organizador Dos Jogos Olímpicos e
Paralímpicos Rio 2016, 2014).
A Região da Barra da Tijuca será a região
central dos Jogos, com a Vila Olímpica e
Paralímpica, o Parque Olímpico da Barra, o
Riocentro, o Centro Internacional de
Radiodifusão, o Centro Principal de Mídia e a
Vila de Mídia da Barra. As prioridades são as
novas instalações esportivas, com o Centro
Olímpico de Treinamento (COT), um
Laboratório de Pesquisas para o esporte, e a
melhoria na infraestrutura de transportes
(Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos E
Paralímpicos Rio 2016, 2014).
A Região de Copacabana engloba o bairro de
Copacabana, o Parque do Flamengo, a Lagoa
Rodrigo de Freitas e a Marina da Glória. Aqui
serão realizadas competições de esportes ao
ar
livre
em
instalações
temporárias,
mostrando as belezas naturais do Rio de
Janeiro (COMITÊ Organizador dos Jogos
Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016, 2014).
Tópicos em Administração – vol 15
73
A Região de Deodoro na Zona Oeste circunda
uma vila de treinamento militar. O foco é a
construção de instalações esportivas para o
desenvolvimento de jovens, a melhoria da
infraestrutura de transportes e a criação do
Parque Radical de Deodoro (Comitê
Organizador dos Jogos Olímpicos E
Parlímpicos rio 2016, 2014). Este se tornará a
segunda maior área de lazer da cidade,
menor apenas que o Aterro do Flamengo
(Prefeitura do Rio de Janeiro, 2014).
A Região do Maracanã inclui o Estádio
Olímpico João Havelange, o Sambódromo e o
Estádio do Maracanã. Este último terá além
das partidas de futebol, as Cerimônias de
Abertura e Encerramento dos Jogos. Esta
região que faz parte da Zona Norte do Rio de
Janeiro e está próxima do centro, também
inclui a Região do Porto do Rio. O grande
legado será a revitalização da zona portuária,
com o projeto Porto Maravilha (COMITÊ
Organizador dos Jogos Olímpicos e
Paralímpicos Rio 2016, 2014).
7.1 PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO
A Autoridade Pública Olímpica (APO), um
consórcio público formado pelo governo
federal, e pelos governos do Estado e da
Prefeitura do Rio de Janeiro, foi criada pela
Lei Federal nº 12.396, de 21 de março de
2011, para garantir a coordenação das ações
governamentais, conforme acordado com o
Comitê Olímpico Internacional (APO, 2014).
Segundo a APO (2014), as obras de
infraestrutura, os serviços e os investimentos,
para os Jogos Rio 2016, estão demonstrados
em três diferentes instrumentos:
1.
Orçamento do Comitê Rio 2016. Os
investimentos para organização e realização
dos Jogos. O Comitê Organizador dos Jogos
Rio 2016 é uma entidade privada sem fins
lucrativos criada especificamente para
organizar e realizar os Jogos (APO, 2014);
2.
Matriz de Responsabilidades. Os
projetos governamentais executados com
recursos públicos e privados, inteiramente
associados à organização e realização dos
Jogos (APO, 2014); e
3.
Plano de Políticas Públicas (Legado).
Os projetos com baixa ou nenhuma relação
direta com os Jogos, que antecipam ou
ampliam investimentos federais, estaduais e
municipais em infraestrutura e políticas
públicas, incentivados pela realização dos
Jogos Rio 2016 (APO, 2014).
Segundo a APO (2015), o Orçamento do
Comitê Rio 2016 com valores do 1º trimestre
de 2014, a Matriz de Responsabilidades com
os valores da 2ª atualização em janeiro de
2015, e o Plano de Políticas Públicas
(Legado) com os valores da 1ª atualização em
abril de 2015, encontram-se na tabela 2.
Tabela 2 – Total do orçamento dos Jogos Rio 2016
Orçamento dos jogos rio 2016 em
bilhões de reais
Recursos Recursos Total de
Distribuição
privados públicos recursos
Orçamento do comitê rio 2016
7,0
0
7,00
18,3%
Matriz de responsabilidades
4,2
2,4
6,6
17,3%
Plano de políticas públicas (legado)
10,6
14,0
24,6
64,4%
Total do orçamento dos jogos rio 2016
21,8
16,4
38,2
100,0%
Fonte: Adaptado da APO, Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos, 2014 e Matriz de
Responsabilidades e Plano
Públicas (Legado), 2015.
de
Políticas
É importante notar a participação majoritária
de 64,4% do Plano de Políticas Públicas
(Legado) no total do orçamento Olímpico.
Conforme a APO (2015), o Plano de Políticas
Públicas (Legado) segundo a 1ª atualização
em abril de 2015, compreende 27 projetos, de
acordo com a tabela 3, com seus respectivos
orçamentos em milhões de reais e a previsão
de conclusão dos mesmos. Para temas com
mais de um projeto, utilizou-se o prazo de
entrega do último.
Tópicos em Administração – vol 15
74
Tabela 3 – Resumo do Plano de Políticas Públicas (LEGADO) 1ª atualização abril de 2015
Tema ou projeto
VLT do Porto
BRT Transolímpica
BRT Transoeste
Duplicação do elevado do Joá
Viário do Parque Olímpico
Sistema metroviário - Linha 4
Renovação e acessibilidade de estações ferroviárias
TOTAL PROJETOS DE MOBILIDADE
Porto Maravilha
Outros Projetos de Renovação Urbana
TOTAL PROJETOS DE RENOVAÇÃO URBANA
Projetos de Meio Ambiente
Projeto Social
Projetos de educação, ciência e tecnologia
Projeto de infraestrutura esportiva
TOTAL OUTROS PROJETOS
TOTAL PLANO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
(LEGADO)
Número
de
projetos
1
2
1
1
1
2
1
9
1
4
5
9
1
2
1
13
27
Orçamento em
milhões de reais
Distribuição
1.188,75
2.280,46
114,43
457,95
514,36
8.790,88
259,83
13.606,66
8.200,00
757,58
8.957,58
1.728,93
31,20
188,36
76,05
2.024,54
4,8%
9,3%
0,5%
1,9%
2,1%
35,8%
1,1%
55,3%
33,3%
3,1%
36,4%
7,0%
0,1%
0,8%
0,3%
8,2%
24.588,78
100,0%
Prazo para
conclusão
2º trim/16
2º trim/16
1º trim/16
2º trim/16
1º trim/16
2º trim/16
2º trim/16
2º trim/16
2º trim/16
2º trim/16
3º trim/17
2º trim/15
2º trim/16
Fonte: Adaptado da APO, Plano de Políticas Públicas (LEGADO), 2015
7.2 O PROJETO PORTO MARAVILHA
Existem no total cinco projetos de renovação
urbana no Plano de Políticas Públicas
(LEGADO), todos na esfera municipal. Destes,
o mais importante é o projeto Porto Maravilha
destacado na tabela 3, por ser o maior projeto
de
regeneração
urbana
da
cidade,
correspondendo a R$ 8,2 bilhões ou 91,5%
do total do orçamento dos cinco projetos
(APO, 2015).
A Lei Complementar nº 101 de 23 de
novembro de 2009 do município do Rio de
Janeiro, instituiu a Operação Urbana
Consorciada (OUC) da região do Porto do Rio
de Janeiro, com o objetivo de promover a
reestruturação local da região (LC 101/2009,
2009). Uma área de 5 milhões de metros
quadrados, tendo como limites as Avenidas
Presidente Vargas, Rodrigues Alves, Rio
Branco e Francisco Bicalho (CDURP, 2014).
Esta mesma lei também autorizou o aumento
do potencial construtivo da região, permitindo
a construção além dos limites até então
permitidos (CDURP, 2014). Os interessados
em explorar este novo potencial necessitam
comprar os Certificados de Potencial
Adicional Construtivo (CEPACs), os quais
financiam as obras de renovação urbana e
serviços da Região do Porto (CDURP, 2014).
Para coordenar o processo de implantação
da OUC Porto Maravilha, foi criada através da
Lei Complementar nº 102, também de 23 de
novembro de 2009, a Companhia de
Desenvolvimento Urbano da Região do Porto
do Rio de Janeiro (CDURP) (LC 102/2009,
2009). A CDURP é uma empresa de
economia mista controlada pela Prefeitura do
Rio de Janeiro, responsável pela gestão da
OUC Porto Maravilha, através da concessão
de obras e serviços públicos, administração
dos recursos patrimoniais e financeiros do
projeto, aprovação de empreendimentos
imobiliários e disponibilização de terrenos
(CDURP, 2014).
Os principais resultados esperados são:
aumento da população de 22 Mil para 100 Mil
habitantes em 10 anos; aumento da área
verde de 2,46% para 10,96%; aumento de
50% na capacidade do fluxo de tráfego na
região; diminuição da poluição; aumento e
melhoria da qualidade da oferta de serviços
públicos; e a transformação da região em
referência para a cidade (CDURP, 2014). Para
efeito de análise, o projeto Porto Maravilha,
pode ser subdividido em três grandes grupos
Tópicos em Administração – vol 15
75
de projetos, cada um com seus subprojetos
específicos: projetos de obras para a
requalificação urbana; projetos de mobilidade
urbana; e projetos para a valorização do
patrimônio histórico da região.
7.2.1 PROJETOS DE OBRAS
REQUALIFICAÇÃO URBANA
PARA
A
De acordo com a CDURP (2014) os principais
projetos são:
1.
Reconstrução
de
redes
de
infraestrutura urbana. Água (120 Km), esgoto
(85 Km) e drenagem (66 Km);
2.
Construção de três novas estações de
tratamento de esgoto;
3.
faz a ligação em um sentido da rodoviária
Novo Rio à Avenida Rio Branco, e no sentido
inverso da rua Primeiro de Março ao Viaduto
do Gasômetro, com várias saídas para
distribuição interna do trânsito na Região
Portuária. Término completo para fevereiro de
2015 (CDURP, 2013);
4.
Teleférico da Providência. Para
melhorar a mobilidade dos habitantes do
Morro da Providência, conectando-o à Central
do Brasil e à Cidade do Samba na Gamboa. A
urbanização dos Morros da Região Portuária
termina em 2015 (CDURP, 2013); e
5.
Ciclovias. Construção de 17 Km na
Região Portuária, integradas aos demais
meios de transporte público (CDURP, 2013).
Reurbanização de vias (70 Km);
4.
Criação de novas vias exclusivas para
pedestres (3 Km); e
7.2.3 PROJETOS PARA A VALORIZAÇÃO DO
PATRIMÔNIO HISTÓRICO DA REGIÃO
5.
Execução de 650.000 m2 de calçadas
com plantio de 15.000 árvores.
Conforme a CDURP (2014), a implantação de
projetos de grande impacto cultural, mudará o
visual de entrada da área do Porto do Rio de
Janeiro:
7.2.2 PROJETOS DE MOBILIDADE URBANA
1.
Museu de Arte do Rio de Janeiro
(MAR). É um espaço dedicado à arte, à
educação e a cultura visual. Localizado na
Praça Mauá tem dois edifícios, o Palacete D.
João VI para exposições, e a Escola do Olhar
para educação das artes visuais. Inaugurado
em março de 2013 custou R$ 79,5 milhões
(CDURP, 2013);
Segundo a CDURP (2014), a Região do Porto
do Rio de Janeiro passará por uma mudança
no
conceito
de
mobilidade
urbana,
priorizando o transporte público coletivo e
integrando os diversos modais. Os principais
projetos são:
1.
Demolição do Elevado da Perimetral.
Objetiva a recuperação da área, acabando
com a imagem de passagem da Região
Portuária, e o aumento da capacidade de
tráfego, de 7.600 veículos por hora em horário
de pico para 10.500. A remoção será
progressiva até 2016 em paralelo à
implantação do novo sistema viário, que
ampliará de oito para doze as faixas de
rolamento (CDURP, 2012);
2.
Via Expressa. A transformação da
Avenida Rodrigues Alves em Via Expressa,
uma parte em túnel e outra parte na
superfície, possibilitará o novo sistema viário e
a criação de um grande passeio público entre
a praça XV e o Armazém 8. A Via Expressa
fará a ligação direta do Aterro do Flamengo à
Avenida Brasil e à Ponte Rio-Niterói, cruzando
a região sem acesso às ruas internas.
Término previsto para março de 2016
(CDURP, 2013);
3.
Via Binário do Porto. Parte do novo
sistema viário, paralela à Av. Rodrigues Alves,
2.
Museu do Amanhã. O museu será
voltado para as Ciências permitindo ao
visitante fazer uma reflexão sobre o futuro que
ainda será construído. Localizado no Píer
Mauá, tem inauguração prevista para 2015 e
orçamento de R$ 215 milhões (Cdurp, 2014);
e
3.
Outros equipamentos públicos já
prontos compondo a valorização histórica e
cultural da área: Cais da Imperatriz (Cais do
Valongo), Jardins Suspensos do Valongo,
Galpões da Gamboa, Centro Cultural Jose
Bonifácio, Igreja São Francisco da Prainha e
Pedra do Sal entre outros (Cdurp, 2014).
7.3 OS PROJETOS DE MOBILIDADE DO
PLANO DE POLÍTICAS PÚBLICAS (LEGADO)
Segundo o Plano de Políticas Públicas
(Legado), são nove os projetos agrupados no
tema mobilidade, sendo seis na esfera
municipal e três na esfera estadual (APO,
Tópicos em Administração – vol 15
76
2015). O custo e o prazo para conclusão de
cada um deles encontram-se na tabela 3.
7.3.1 OS PROJETOS DE MOBILIDADE DO
GOVERNO MUNICIPAL
1.
Veículo Leve sobre Trilhos, o VLT do
Porto. Integrado ao projeto Porto Maravilha, é
um novo meio de transporte público, que
conectará a região portuária ao centro, ao
aeroporto Santos Dumont e aos modais
existentes, com 28 quilômetros, 6 linhas e 42
pontos (Cdurp, 2014). Transportará 300 mil
passageiros por dia (APO, 2014);
2.
BRT Transolímpica. São dois projetos:
1) Via Expressa e desapropriações BRT
Transolímpico; e 2) Conexão Magalhães
Bastos – Deodoro, objetivando fazer a ligação
entre o Parque Olímpico na Barra da Tijuca
com o Complexo Esportivo de Deodoro, as
duas principais regiões olímpicas, com 26
quilômetros, 17 estações, 2 terminais, e
transportando 70 mil pessoas por dia com
redução do tempo de viagem entre a Barra da
Tijuca e Deodoro em 54% (APO, 2015);
BRT Transoeste. Para melhorar a
3.
conexão de Santa Cruz e Campo Grande com
a Barra da Tijuca e fazer a integração com a
linha 4 do metrô, a Prefeitura já inaugurou
95% deste corredor expresso, faltando
apenas a última etapa, que consiste no trecho
entre Alvorada-Shopping Città América e a
conexão com o Jardim Oceânico (APO,
2014). Terá 59 quilômetros e 66 estações,
transportando 190 mil pessoas por dia no
trecho já pronto, que liga Santa Cruz e Campo
Grande ao Terminal Alvorada, com redução
do tempo de viagem em 50% (APO, 2015).
Com a finalização deste último trecho, a
expectativa é de transportar até 230 mil
pessoas (APO, 2015);
Duplicação do Elevado do Joá. A
4.
construção de complexo viário com túneis,
elevado, pontes e ciclovia, objetiva melhorar o
acesso entre a Zona Sul e a Barra da Tijuca
com aumento de 35% da capacidade de
tráfego e ampliação da malha cicloviária da
cidade (APO, 2015); e
5.
Viário do Parque Olímpico. A
duplicação das avenidas Salvador Allende e
Abelardo Bueno mais o Terminal Olímpico
BRT, visam o aumento da capacidade de
tráfego e a requalificação urbana nas vias de
conexão entre o Parque Olímpico da Barra da
Tijuca, a Vila dos Atletas, o Parque dos Atletas
e o Riocentro (APO, 2014).
7.3.2 OS PROJETOS DE MOBILIDADE DO
GOVERNO ESTADUAL
1.
Sistema Metroviário Linha 4: São dois
projetos. 1) Metrô Linha 4 – Obras Civis e
Acessibilidade; e 2) Metrô Linha 4 – Material
Rodante e Sistemas Operacionais, objetiva
integrar a Barra da Tijuca ao sistema
metroviário (APO, 2015). Terá 16 quilômetros
e 6 estações, reduzindo o trajeto Jardim
Oceânico – General Osório de 1hora e 6
minutos para 23 minutos, sendo o principal
investimento do Estado no Plano de Políticas
Pública – Legado (APO, 2015). Vai transportar
mais de 300 mil pessoas por dia e tirar das
ruas em torno de dois mil veículos por
hora/pico (Concessionária Rio Barra S.A.,
2014); e
2.
Renovação e acessibilidade de
estações ferroviárias. A reforma das estações
São Cristovão, Engenho de Dentro, Deodoro,
Vila Militar, Magalhães Bastos e Ricardo de
Albuquerque visa melhorar o acesso às
estações ferroviárias (APO, 2015).
8 UMA BREVE ANÁLISE DO LEGADO
URBANO DOS JOGOS LONDRES 2012,
PEQUIM 2008 E BARCELONA 1992
COMPARADOS AO LEGADO ESPERADO
PARA OS JOGOS RIO 2016
Abaixo encontra-se um breve resumo do que
foi alcançado, em termos de regeneração
urbana e melhoria da infraestrutura de
transportes em cada uma destas Olimpíadas
anteriores.
8.1 LONDRES 2012
A regeneração do Leste de Londres era
central na proposta dos Jogos para 2012. O
desenvolvimento do Parque Olímpico seria
utilizado como um catalisador para a
revitalização da região do Lower Lee Valley,
no distrito de Stratford (Governo Britânico e
Prefeitura de Londres, 2013). Segundo o
Jornal O Globo (2013), Stratford foi uma
região negligenciada após a Segunda Guerra
Mundial, quando foi alvo de grandes
bombardeios, com edifícios e armazéns
abandonados. Esta região tornou-se uma área
com diversos problemas sócio-econômicos,
nacionalidades e religiões, com baixo nível
educacional e alto desemprego (Cunningham,
2014).
Tópicos em Administração – vol 15
77
O
significante
investimento
e
o
desenvolvimento da infraestrutura no Parque
Olímpico
e
nas
suas
proximidades,
aceleraram o processo de regeneração do
Leste de Londres que já vinha ocorrendo há
30 anos, desde o desenvolvimento de
London´s Docklands nos anos de 1980, com
o Parque Olímpico após os Jogos, passando
a chamar-se Queen Elizabeth Olympic Park, e
tornando-se o maior parque a ser construído
na Europa em mais de 150 anos (GOVERNO
BRITÂNICO e PREFEITURA DE LONDRES,
2013). Conforme o Jornal O Globo (2013), os
rios foram limpos e o solo descontaminado
antes da construção do Parque Olímpico, e
de cada 100 libras gastas 75 foram
investimentos em infraestrutura de longo
prazo. Para a Prefeitura de Londres (2012) o
Parque Olímpico e seus arredores são o
projeto mais importante para a regeneração
da cidade pelos próximos 25 anos.
De acordo com Summer (2012), os Jogos de
Londres 2012, priorizaram o transporte
público, e os investimentos em melhorar a
rede de transportes já existente. Segundo a
Prefeitura de Londres (2012), a maioria do
legado físico em transportes está no leste e
sudeste de Londres, mas outras melhorias
ocorreram pela cidade. Conforme Summer
(2012),
os
projetos
essenciais
que
representaram um grande valor de legado
foram: estação de Stratford com aumento da
capacidade, da conectividade e da
internacionalização; DLR (Docklands Light
Railway) com a conversão de parte da Linha
Norte dos trens de Londres; linha Jubilee do
metrô com trens maiores e mais frequentes;
trens de Londres com novos trens e reforma
de estações; novas ciclovias; e estradas
como parte da construção do Parque
Olímpico.
8.2 PEQUIM 2008
Conforme Broudehoux (2007), Pequim
reinventou sua paisagem física e sua imagem
internacional, buscando ser uma cidade
global, e executando o planejamento dos
Jogos numa escala sem precedentes, que
refletisse a posição da China como líder
mundial emergente. Segundo Ong (2004), a
China encarou as Olimpíadas como uma
oportunidade de desenvolvimento, para
impulsionar o crescimento de Pequim e seus
arredores por um longo prazo, através de
investimentos em sua infraestrutura.
Segundo Bovy (2009), Pequim realizou a
construção do maior Parque Olímpico de
todos os Jogos (The Beijing Olympic Green),
incluindo o Estádio Olímpico (o Ninho do
Pássaro). Conforme Zhang e Zhao (2009),
diversas transformações ocorreram pela
cidade, porém não foram uniformes,
destacando-se as ocorridas nas áreas
próximas às instalações Olímpicas.
Para Bovy (2009), Pequim desenvolveu
melhorias marcantes no sistema de transporte
em seus sete anos de preparação para os
Jogos, destacando-se: a triplicação da
capacidade do aeroporto de Pequim; a
expansão das estradas metropolitanas e autoestradas; uma grande extensão e renovação
do metrô de Pequim, passando de três para
sete linhas incluindo uma ligação ferroviária
para o aeroporto; e a expansão da frota de
ônibus.
8.3 BARCELONA 1992
As Olimpíadas de Barcelona de 1992
representam um marco do ponto de vista da
transformação urbana. Segundo Mascarenhas
(2013), desde o início dos anos 1980, o poder
municipal percebia a possibilidade de realizar
os Jogos Olímpicos como estratégia para
realizar as alterações urbanas previstas no
Plano Geral Metropolitano de 1976. Este,
segundo o autor, foi seguido até meados dos
anos 1980 com destaque para a regeneração
do centro histórico. Os Jogos permitiram um
grande aporte de recursos públicos e
privados, com a mudança de escala das
intervenções (NEL-LO, 1997).
Segundo Mascarenhas (2013), o projeto
Olímpico de Barcelona tinha como objetivo
preponderante a transformação da cidade,
não priorizando a construção de um grande
Parque Olímpico, mas optando pela
desconcentração, criando quatro parques
menores espalhados pela cidade. Conforme
Nel-lo (1997), o ponto comum entre as quatro
áreas era a localização nos limites entre a
relativamente bem organizada cidade do
século XIX e as áreas de periferia das
décadas de 1960 e 1970. Assim, segundo
Nel-lo (1997), a regeneração urbana de
Barcelona se baseava na revitalização de
espaços centrais, bem como no reequilíbrio
entre centro e periferia.
De acordo com Brunet (1995), vale destacar a
revitalização da área costeira de Barcelona,
com a criação do acesso para o mar na
Tópicos em Administração – vol 15
78
construção da Vila Olímpica, com a remoção
da estrada de ferro costeira.
Segundo Brunet (1995), considerando-se a
melhoria na infraestrutura de transportes, o
foco foram os projetos de construção de
estradas, principalmente a construção do anel
viário no entorno de Barcelona, que trouxe
grande impacto para a melhoria do tráfego na
cidade.
8.4 LONDRES 2012, PEQUIM
BARCELONA 1992 E RIO 2016
infraestrutura de transportes correspondente
à expansão da Barra da Tijuca (APO, 2015).
Por sua vez, o VLT do Porto integrará a região
portuária com o aeroporto Santos Dumont e
os demais modais (APO, 2015).
Assim observa-se que os Jogos estão sendo
utilizados como um catalisador de projetos,
tanto do ponto de vista da regeneração
urbana, quanto à criação da infraestrutura de
transportes.
2008,
Embora seja difícil uma comparação entre
projetos olímpicos, pois são únicos, aqui
encontra-se um pequeno exercício. O projeto
olímpico de Londres definiu a construção de
um Parque Olímpico único, concentrado
numa região degradada para incentivar sua
regeneração (GOVERNO BRITÂNICO e
PREFEITURA DE LONDRES, 2013). Pequim
construiu o maior Parque Olímpico da história
(BOVY,
2009),
mas
buscou
realizar
transformações por toda a cidade (ONG,
2004). Barcelona optou pela criação de
quatro parques olímpicos menores situados
entre o centro e a periferia (NEL-LO, 1997),
destacando-se a construção da Vila Olímpica,
que abriu a cidade para o mar (BRUNET,
1995). O projeto do Rio de Janeiro, também
definiu quatro Regiões Olímpicas, sendo a
principal a da Barra da Tijuca com o Parque
Olímpico, porém esta região representa a
nova área de expansão da cidade, e não uma
regeneração. Esta última concentra-se na
Região do Porto do Rio de Janeiro, através do
projeto Porto Maravilha, que tem uma relação
baixa com os Jogos.
Quanto à infraestrutura de transportes,
Londres que possui um excelente transporte
público, segundo Summer (2012), focou em
criar novas alternativas para a mobilidade na
Região Leste de Londres, nos modais já
existentes. Conforme Bovy (2009), Pequim
investiu de forma colossal na melhoria da
infraestrutura de transportes como um todo.
Para Brunet (1995), Barcelona priorizou o anel
viário e as conexões metropolitanas e
regionais. Quanto ao Rio de Janeiro, no Plano
de Políticas Públicas (LEGADO), 9 dos 27
projetos, referem-se à mobilidade (APO,
2015). A maioria dos projetos de mobilidade
visa melhorar a conexão da Região da Barra
da Tijuca e da Região de Deodoro, com as
demais áreas da cidade, destacando-se os
BRTs, a linha 4 do metrô e a duplicação da
estrada do Joá, criando-se assim a
9 CONCLUSÃO
Este artigo faz uma análise do principal
projeto de renovação urbana do Rio de
Janeiro, o projeto Porto Maravilha, e dos nove
projetos de mobilidade, todos do Plano de
Políticas Públicas (LEGADO) referentes aos
Jogos Rio 2016. Para isto considerou a
história dos Jogos Olímpicos; a crescente
importância do legado e suas possibilidades
de transformação urbana; a presença do fator
legado na escolha dos Jogos; uma visão
geral das áreas que receberão os Jogos; e a
regeneração urbana e a melhoria da
infraestrutura de transportes, nos projetos
Olímpicos de Londres 2012, Pequim 2008 e
Barcelona 1992.
O projeto Porto Maravilha está orçado em
R$ 8,2 bilhões, ou seja, o principal projeto de
regeneração urbana da cidade corresponde à
33,3% do Plano de Políticas Públicas
(LEGADO) e à 21,5% do total do orçamento
Olímpico (APO, 2015). Os nove projetos de
mobilidade do Plano de Políticas Públicas
(LEGADO), estão orçados em R$ 13,6
bilhões, equivalendo à 55,3% deste Plano e a
35,6% do orçamento total (APO, 2015). Assim,
os dez projetos que compõem o escopo
deste artigo, o Porto Maravilha e os nove
projetos de mobilidade somam R$ 21,8
bilhões, ou seja, 88,6% do Plano de Políticas
Públicas (LEGADO) e 57,1% do total do
orçamento Olímpico (APO, 2015). A
regeneração urbana e a melhoria da
infraestrutura
de
transportes
ficam
demonstradas como projetos primordiais para
a realização dos Jogos, mostrando que o Rio
de Janeiro, como outras cidades-sede,
utilizou os Jogos como estratégia para
viabilizar projetos urbanos. No entanto,
enquanto as outras cidades de uma forma
geral, buscaram a criação de capacidade
futura em termos de infraestrutura, o Rio de
Janeiro está construindo a infraestrutura há
muito já necessária para a cidade.
Tópicos em Administração – vol 15
79
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2014
Tópicos em Administração – vol 15
81
Capítulo 8
Richeliel Albert Rodrigues Silva
Genival Jardel Trajano Teixeira
Lúcia de Fátima Lúcio Gomes da Costa
Mônica Almeida Gavilan
Rodrigo Mackssuel Silva de Melo
Resumo: Esta revisão bibliográfica apresenta a relação entre o produção e
exportação de frutas tropicais no Nordeste. Nas últimas décadas ocorreram
grandes avanços no agronegócio, principalmente no setor da fruticultura, que tem
sido beneficiado com os avanços tecnológicos, logísticos e econômicos, gerando
resultados significativos na balança comercial brasileira, especialmente nos
estados exportadores. A região Nordeste do Brasil apresenta as condições
climáticas ideais, além de grandes extensões de terras para o cultivo de espécies
frutíferas tropicais. Destaca-se como os principais produtores dessa região, os
estados da Bahia, Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Apesar da elevada
produção e exportação de frutas tropicais, principalmente na região Nordeste,
esses percentuais ainda são baixos no âmbito internacional. Finalmente, novas
estratégias para aberturas comerciais são necessárias, além de políticas públicas
mais efetivas no setor.
Palavras-chave: Fruticultura. Economia. Agronegócio. Comércio exterior
Tópicos em Administração - Volume 15
82
1. INTRODUÇÃO
A evolução das máquinas, em especial as de
apoio agrícola causaram uma grande
transformação, facilitando a vida do homem
do campo. Júnior (2012) apontou que no
Brasil a expansão das indústrias de
máquinas, apetrechos e matérias-primas do
setor agropecuário, assim como outras
indústrias voltadas para este setor, serviram
como base, para uma modernização de base
técnica em 1970.
Neste sentido, as cadeias produtivas da
agropecuária brasileira têm alcançando
elevados ganhos de produtividade nas
últimas décadas, relacionados principalmente
aos novos padrões e configurações que vêm
sendo
delineados
com
os
avanços
tecnológicos do setor (GILIO et al., 2016).
Entretanto, sabe-se que a economia brasileira
é
atualmente
muito
dependente
da
exportação
de
commodities,
incluindo
aquelas do agronegócio (PEROBELLI et al.,
2016), que influencia na balança comercial
brasileira,
por
meio
de
incrementos
significativos na economia.
Assim, os ganhos tecnológicos, logísticos e
econômicos na agropecuária têm fortalecido
cada vez mais o agronegócio, que é
conceituado como “a soma das operações de
produção e distribuição de suprimentos
agrícolas, das operações de produção nas
unidades agrícolas, do armazenamento,
processamento e distribuição dos produtos
agrícolas e itens produzidos a partir deles”
(BATALHA, 2008, p. 5).
No Nordeste, o crescimento das culturas de
maior valor comercial, como cacau, fumo e
frutas tropicais apresentou maior crescimento
entre as décadas de 1960 e 1990
(PEROBELLI et al., 2016). Atualmente, com os
avanços
tecnológicos,
por
meio
do
aprimoramento da irrigação, como também a
introdução de diversas espécies frutíferas, a
região tem se destacado no cenário nacional
como um importante exportador de frutas
tropicais.
Diante isso, o presente artigo consiste em
uma revisão bibliográfica, relacionando a
produção e a exportação de frutas tropicais,
nas escalas mundial, nacional e regional, com
destaque para a região Nordeste, que
atualmente é detentora de elevados índices
de produção e exportação de frutas.
2. METODOLOGIA
O presente estudo caracteriza-se como
exploratório e bibliográfico, uma vez que foi
necessária a utilização de dados secundários
para a sua construção. Foram consultados
artigos, livros, sites de instituições e outros
materiais relacionados ao tema trabalhado
nesta pesquisa. Conforme Gil (1991), a
pesquisa exploratória visa oferecer uma
aproximidade com o problema com o
propósito de torna-lo explícito ou a formular
hipóteses, envolvendo também trabalhos
bibliográficos.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A produção de frutas tropicais predomina em
todas as regiões do Brasil, com destaque
para o Nordeste, que apresenta vantagens
quando comparada com as demais, isso
devido aos fatores ecológicos e territoriais
(disponibilidade de terras), visto que o
Nordeste ocupa uma área de 1.556.000 km²,
que equivale a 18% do território brasileiro
(PASSOS; SOUZA, 1994).
Assim, ao relacionar a fruticultura com o
Nordeste brasileiro, passou-se a analisar os
dados quantitativos, a partir dos principais
estados produtores da região: Bahia (BA),
Ceará (CE), Pernambuco (PE) e Rio Grande
do Norte (RN) (Figura 1).
Tópicos em Administração - Volume 15
83
Figura 1 - Produção da fruticultura na Região Nordeste no ano de 2014.
Fonte: IBGE (2016)
Como se observa, o estado da Bahia suplanta
a produção dos estados do Ceará,
Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba,
Sergipe e do estado do Maranhão. Diante
dessas estatísticas é considerável dizer que o
estado da Bahia é bastante relevante para a
fruticultura da Região Nordeste.
3.1 A FRUTICULTURA NO ESTADO DA
BAHIA
O setor fruticultura da Bahia vem se
aperfeiçoando gradualmente, isso devido a
inclusão de novas tecnologias, fatores
climáticos e da presença da água para a
irrigação das frutas, que apresentam
qualidade, tendo como resultado a aceitação
no mercado interno e externo (FERRAZ,
2013).
A Região Oeste da Bahia possui vantagens
tanto para a agropecuária quanto para as
várias culturas oriundas do setor agrícola,
quanto para a pecuária. A região está
localizada próximo ao Rio São Francisco e
possui facilidade para o escoamento dos
produtos
pelos
modais
rodoviário
e
hidroviário, podendo interligar outras regiões
(BATISTELLA et al., 2002).
De acordo com Vidal e Ximenes (2016), uma
das culturas que fazem o estado destacar-se
em relação aos demais, é a cultura do cacau
que ocupa uma área superior a 500 mil
hectares. Além do mais, o cacau se adequou
ao Sul da Bahia e trouxe desenvolvimento e
melhorias para as famílias localizadas nesta
Região (CUENCA; NAZÁRIO, 2004).
Apesar do cacau ocupar uma área bastante
ampla, a banana, a laranja e o mamão estão
entre as principais culturas produzidas pelo
estado, onde em 2015 foram produzidas
1,068 milhão de toneladas da banana, 962 mil
toneladas da laranja e 723 mil toneladas do
mamão (BAHIA, 2017).
3.2 A FRUTICULTURA NO ESTADO DO
CEARÁ
O Ceará é um dos estados que possui uma
área muito ampla para o cultivo de frutas.
Diante isso, é considerado o segundo estado
com a maior área explorada pela fruticultura
de toda Região Nordeste, onde o cajueiro
ocupa uma área de 380 mil hectares (VIDAL e
XIMENES, 2016).
A fruticultura do estado do Ceará obteve uma
grande evolução no decorrer dos anos. No
ano de 1998, as exportações de frutas
totalizavam US$ 885 mil, enquanto no ano de
2007 as exportações alcançaram US$ 77,2
milhões (CAMPOS; CARVALHO, 2010).
Quando se trata exclusivamente da melancia,
70% da sua produção é destinada ao
comércio externo, para países como
Tópicos em Administração - Volume 15
84
Inglaterra, Alemanha, Holanda e Bélgica
(ALVES, 2009).
na fruticultura irrigada (LACERDA et al.,
2004).
De acordo com os dados estatísticos do
MDIC, o Ceará é o estado que mais compete
posição com o Rio Grande do Norte, no que
se refere ao melão, principal fruta exportada
pelo RN. Ao acompanhar os números das
exportações de melão até o momento,
pressupõe-se que no ano de 2017 o estado
do Rio Grande do Norte feche com percentual
acima das exportações do Ceará.
Como se pode observar na Figura 2 (p.16), o
estado de Pernambuco encontra-se como o
terceiro maior estado produtor de frutas da
Região Nordeste, ficando atrás apenas da
Bahia e do estado do Ceará sendo
responsável por uma produção de 13,1%. De
acordo com Correia et al. (2001), o município
de Petrolina possui um percentual de 51% da
população empregada na agricultura, sendo
o comércio com 39,75 e a indústria 8,7%.
3.3 A FRUTICULTURA NO ESTADO DE
PERNAMBUCO
No Nordeste existem dois grandes polos de
grande relevância para o setor fruticultor: o
Vale do Assú e o Vale São Francisco, onde o
estado da Bahia encontrase dentro do Vale
São Francisco, que segundo Bustamante
(2009), Petrolina (PE) e Juazeiro (BA) podem
ser consideradas regiões incentivadoras da
economia local, uma vez que as regiões
demandam mão de obra e são ocupadas
pelos moradores locais.
No estado pernambucano, o maior volume de
produção encontra-se na bacia do Vale São
Francisco, que é a região mais produtora de
goiaba e uva (VIDAL; XIMENES, 2016). O polo
Petrolina/Juazeiro tem sua economia voltada
as atividades agrícolas, mais especificamente
3.4 A FRUTICULTURA NO ESTADO DO RIO
GRANDE DO NORTE
O estado do Rio Grande do Norte destaca-se
por ser o que mais exporta frutas em todo o
território nacional, ressaindo também como
um importante polo na produção de melões e
castanhas (COSTA, 2009).
Segundo as estatísticas da Federação das
Indústrias do Rio Grande do Norte (FIERN), as
principais frutas exportadas pelo estado
seguem na seguinte classificação: melão,
melancia, manga, mamão e banana (Figura
2). Assim, conforme as estatísticas do
Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, nota-se a participação da
fruticultura no agronegócio do estado (Tabela
1).
Figura 2 – Exportações das frutas frescas do estado do Rio Grande do Norte nos últimos quinze
anos.
90.000.000
80.000.000
70.000.000
US$ FOB
60.000.000
50.000.000
40.000.000
30.000.000
20.000.000
10.000.000
0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Anos
Melão
Melancias
Mamões (papaias)
Mangas Frescas ou secas
Fonte: Fonte: Aliceweb (2017)
Tópicos em Administração - Volume 15
Bananas
85
Tabela 1 – Exportações dos produtos do agronegócio do Rio Grande do Norte.
Produtos exportados
Valor (US$)
Peso (kg)
2.107
521
692
520
2.890.761
6.311.590
14.529
1.514
Demais produtos de origem animal
3114052
2.990.709
Demais produtos de origem vegetal
956.923
1.571.650
Fibras e produtos têxtis
27.994.212
5.048.888
Frutas (incluindo nozes e castanhas)
142.814.104
188.663.612
13.073
1.040
24.840.225
3.262.558
53.566
13.156
17.617.141
8.363.802
220.312.385
216.229.560
Bebidas
Cacau e seus produtos
Complexo sucroalcooleiro
Couro, produtos de couro e peleteria
Lácteos
Pescados
Plantas vivas e produtos de fruticultura
Outros produtos
Total
Fonte: Adaptado de MAPA (2017).
As exportações de frutas frescas do estado
do Rio Grande do Norte, têm cooperado para
expansão do agronegócio brasileiro, isso por
destacar-se com uma das atividades mais
dinâmicas do estado (COSTA et al., 2007). De
acordo com os dados disponíveis da
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
- EMBRAPA, o município de Baraúna é
responsável pela maior produção do RN, no
qual corresponde a 50% da produção
(EMBRAPA, 2016).
O melão é a fruta que o estado mais produz e
exporta. Com origem na África, sua dispersão
ocorreu na Índia, onde a partir deste país foi
disseminado para os demais países. O melão
(Cucumis melo) atualmente é conhecido em
todo o mundo. Somente no ano de 2002
ocupou uma área de 1.162.136 hectares,
atingindo uma produção de 21.588.746
toneladas (FAO, 2015).
Ainda neste contexto, no âmbito mundial, o
Brasil é um dos maiores produtores entre os
países Sul-americanos, indicando que ainda
existem grandes tendências de crescimento
para a sua cultura, isso, resultante do
consumo interno e das exportações (COSTA
et al., 2000). Ganhando então um forte
espaço no mercado internacional, no ano de
2014 o melão foi à fruta com maior nível de
exportação, com 196.840 toneladas (SEBRAE,
2015).
Outro fruto que o estado se destaca é a
produção de melancia, que é uma fruta
originária do continente africano. A melancia é
uma fruta consumida em vários países, sendo
a Índia, o Irã e Estados Unidos os principais
países que fazem uso da cultura da melancia
(AZEVEDO et al., 2004).
Assim, a melancia produzida no RN tem
bastante relevância no mercado. Conforme os
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), o RN aparece em terceiro
lugar no quesito produção em todo o nordeste
e o nono em todo o território nacional
brasileiro (IBGE, 2012). O Semiárido
brasileiro, com o seu clima quente, confere
uma melhor qualidade à melancia. Os
estados do RN e do CE destacam-se como os
maiores exportadores do fruto (VILELA et al.,
2006).
Conforme os dados estatísticos da balança
comercial do RN, disponível pela Federação
das Indústrias, do estado do Rio Grande do
Norte (FIERN), países pertencentes à União
Europeia como Alemanha e Portugal são
destinos das exportações potiguares de
mamão (FIERN, 2016).
O Rio Grande do Norte é o terceiro maior
exportador de mamão do Brasil, isso devido à
ação do governo diante a competitividade da
fruticultura, como a criação da Estrada do
Melão, por exemplo, que vai reduzir o
Tópicos em Administração - Volume 15
86
desperdício das frutas, assim como o
escoamento da produção (SILVA et al., 2011).
Sabendo então que o mamão é um fruto de
fácil amadurecimento, na exportação, os
modais marítimo e aéreo apresentam bons
resultados para os exportadores (SOUZA,
2007). Em relação aos modais mais utilizados
na exportação do mamão potiguar no ano de
2016, 15% do fruto foi exportado por via
marítima, enquanto 85% pelo modal aéreo.
Outra fruta importante é a manga, que no
estado do Rio Grande do Norte, a região do
Vale do Assú é considerado um das maiores
produtoras, sendo comercializada nos
mercados externo e interno (MORAIS et al.,
2017). Além disso, a manga é produzida em
sete a nove municípios do Vale do Assú, onde
em 2010, Ipanguaçu foi o município que mais
produziu o fruto, com 20.000 toneladas
(COSTA, 2013).
Além dessas frutas, outra fruta relevante na
economia do RN é a banana (FIORAVANÇO,
2003). Com isso, como as demais frutas, tal
produção promove o aumento da renda para
a agricultura familiar, sendo responsável
assim, para o desenvolvimento da região
produtora.
Sendo considerado o trigésimo polo frutícola
do Brasil, a maior produção de banana se
localiza no Vale do Assú (BIDJEKE et al.,
2004). A maior parte da produção desta fruta
é consumida no mercado interno, onde
apenas 1,5% da produção brasileira da
banana são exportadas (EMBRAPA, 2012).
4. CONCLUSÃO
Como foi observado, o agronegócio é
considerado um grande propulsor econômico
na Região Nordeste, principalmente o setor
da fruticultura irrigada, devido apresentar as
condições climáticas ideais, além de grandes
extensões de terras para o cultivo de
espécies frutíferas tropicais. Entre os maiores
produtores de frutas tropicais destacam-se os
estados da Bahia, Ceará, Pernambuco e Rio
Grande do Norte. Entretanto, para melhorar o
impacto
econômico
da
produção
e
exportação de frutas são necessárias novas
estratégias para aberturas comerciais, como
também políticas públicas mais efetivas no
setor.
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Tópicos em Administração - Volume 15
89
Capítulo 9
Igor Polezi Munhoz
Alessandra Cristina Santos Akkari
Neusa Maria Bastos Fernandes dos Santos
Resumo: A bateria de Magnésio – Ar é considerada uma fonte promissora de
energia elétrica, sobretudo por ser menos poluente, ter baixo custo, possuir energia
especifica elevada e ser o magnésio o sétimo elemento químico em abundância no
planeta; essas características tornaram-na uma potencial substituta para outras
tecnologias convencionais. O objetivo deste artigo é realizar um mapeamento
tecnológico e industrial desse dispositivo, através de indicadores patentários, no
Brasil, no Japão e no mundo. O estudo baseou-se na coleta e na análise de dados
secundários, obtidos de bancos de patentes internacionais (World Intellectual
Property Organization - WIPO e Derwent), bem como o desenvolvimento de
previsão de cenários, a partir da aplicação do Método dos Mínimos Quadrados no
MATLAB. Os indicadores da WIPO demonstraram que no Brasil, no Japão e no
mundo as patentes concedidas para equipamentos elétricos estão crescendo,
embora, no caso brasileiro, participação desse setor ocupe o 8º lugar, enquanto no
Japão está em 1º. Os indicadores do Derwent também demonstram que o número
de patentes específicas ligadas às baterias de magnésio está em ascensão, mas a
previsão é de desaceleração. As principais detentoras dessa tecnologia são as
empresas japonesas e as principais aplicações encontram-se na área de
Engenharia e Química. Ainda há pontos a serem explorados, visando a otimização,
no que se refere às baterias de magnésio, sendo interessante a aplicação de
recursos em P&D por empresas brasileiras, a fim de se engajarem no
desenvolvimento de novas tecnologias e alavancarem sua competitividade no
cenário mundial por meio da geração de inovação.
Palavras-chave: bateria de magnésio, mapeamento tecnológico, patentes.
Tópicos em Administração - Volume 15
90
1. INTRODUÇÃO
No setor energético, o aquecimento global
tem
provocado
crescentes
debates
internacionais com o objetivo de reduzir as
emissões de gases de efeito estufa, podendose destacar as resoluções do protocolo de
Kyoto (MOREIRA; GIOMETTI, 2008). Ainda, o
crescimento das crises energéticas no mundo
tem inspirado preocupação e motivado o
desenvolvimento de novas políticas públicas a
fim de minimizar problema. Somente nos EUA,
por exemplo, a crise de energia tem sido tema
de discussão ao longo dos últimos quarenta
anos, sendo que, entre 2001 e 2012, apenas
no Congresso norte-americano o termo “crise
energética” foi empregado cerca de 1.200
vezes em debates (GROSSMAN, 2015).
O contexto brasileiro não se mostra diferente,
valendo a lembrança do ano 2001, no qual a
ocorrência da crise e o consequente
racionamento
de
energia
geraram
perturbações
econômicas,
bem
como
elevação do desemprego, acréscimo no
déficit da balança comercial, diminuição de
arrecadação de impostos, aumento da
inflação e, ainda, desconforto na sociedade
devido à privação de energia. De fato, o
consumo de energia no Brasil cresceu de
forma rápida e expressiva a partir da década
de 70, especialmente em função do avanço
de alguns setores intensivos em energia,
alcançando um aumento de 250%, entre 1975
e 2000, e também uma expansão de 60% no
consumo per capita de energia, no mesmo
período (TOLMASQUIM, 2000; GELLER et al.,
2004)
Nesse sentido, as inovações na área de
acumuladores de energia, muitas vezes
resultantes dos investimentos em atividades
de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D),
tornam-se essenciais a fim de conferir
melhorias para esse cenário, principalmente
visando promover o cuidado com o meio
ambiente e o desenvolvimento sustentável.
Li et al. (2013) afirmam que as células de
metal – ar são aquelas cujo ânodo é um metal,
sendo consideradas fontes promitentes de
energia, como consequência da sua alta
voltagem, alta energia específica (quantidade
de energia elétrica que uma célula ou bateria
pode armazenar), baixo custo e peso
reduzido. Alguns metais são frequentemente
usados
como
ânodo
pelas
suas
características elétricas, como o magnésio
(Mg), zinco, alumínio e lítio.
Os estudos ligados a pilha de Mg iniciaram-se
em 1980, sendo que esse elemento já era
bem conhecido pela sua elevada capacidade
específica teórica, tornando-o um excelente
candidato ao uso como ânodo nas células
metal-ar (MACHADO; CARDOSO, 2004).
Desta forma, tem-se a bateria de Mg – Ar que,
além de ser reciclável e não poluir o meio
ambiente, destaca-se a abundância do Mg,
que representa 2% da crosta terrestre, sendo
o sétimo elemento químico mais abundante
da Terra. Além disso, no mercado de
commodities, o Mg tem excesso de oferta,
tornando o preço final um dos atrativos para a
tecnologia citada (JARVIS, 1992). Essas
características transformaram esse sistema de
armazenamento de energia em uma potencial
alternativa para as baterias convencionais de
íon-lítio, por exemplo, uma vez que o lítio
possui menor energia específica que o Mg,
além de reagir violentamente na presença de
água, sendo altamente inflamável e muito
corrosivo (REIDLER; GUNTHER, 2003).
Jarvis (1990) afirma ainda que as pilhas de
Mg possuem excelente capacidade de
armazenamento inicial e a habilidade de reter
essa capacidade, durante o armazenamento
(mesmo sob temperaturas elevadas), ocorre
por uma película de proteção de hidróxido de
magnésio – Mg(OH)2, que se forma no ânodo
da liga. No entanto, durante a descarga, essa
película é removida e a corrosão do ânodo
ocorre, gerando hidrogênio e calor. Com o
uso da bateria, a camada de Mg(OH)2 não
volta a sua passividade normal e a corrosão
do ânodo continua a ocorrer, permitindo que o
dispositivo perca sua capacidade de
armazenamento após ser parcialmente
descarregado, devendo a tecnologia ser
otimizada para usos longos e intermitentes.
Logo, percebe-se o apelo ambiental e a
aplicação comercial dessa bateria, abrindo
espaço para novas realizações em P&D a fim
de aprimorar o dispositivo e expandir seu uso.
Sob essa perspectiva, este artigo propõe
realizar um mapeamento científico e
tecnológico das baterias de magnésio,
utilizando-se
o
número
de
patentes
depositadas e concedidas na área como um
indicador de P&D, assim como identificar as
principais características da tecnologia, seus
principais detentores e suas aplicações. A fim
de apresentar a pesquisa realizada, este
trabalho está dividido em seis partes,
incluindo a presente introdução, o referencial
teórico, a metodologia adotada, a análise dos
resultados obtidos e as conclusões.
Tópicos em Administração - Volume 15
91
2. METODOLOGIA
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Trata-se de uma pesquisa de natureza
aplicada, orientada à geração de informações
e conhecimentos que podem ser aplicados na
solução
ou
melhoria
de
problemas
específicos. O estudo apresenta uma
abordagem quantitativa, com ênfase em
analises numéricas dos dados coletados,
envolvendo o uso de métodos numéricos
aplicados à computação.
Considerando-se a importância de uma
análise crítica que responda ao objetivo
proposto no início do artigo, essa seção está
dividida em duas partes. A primeira delas
introduz os dados obtidos no Intellectual
Property Statistics Data Center, no qual
analisou-se a evolução no número de
patentes concedidas no campo Eletrical
machinery,
Apparatus,
Energy.
Posteriormente, utilizou-se o Derwent para o
mapeamento tecnológico e industrial, por
meio de informações localizadas por assunto.
Identificou-se a quantidade de proteções
concedidas com o tópico específico baterias
de magnésio, como também a evolução no
número de patentes num intervalo de tempo,
os principais depositantes e as principais
aplicações.
Com relação aos objetivos propostos, podese considerar um trabalho exploratório, que
proporciona familiaridade com o problema
central, a fim de torná-lo explícito, integrando
a pesquisa bibliográfica e a coleta e análise
de dados secundários. Os dados secundários
foram levantados na Intellectual Property
Statistics Data Center, promovido pela World
Intellectual Property Organization (WIPO),
considerando o campo tecnológico Eletrical
machinery, Apparatus, Energy, o qual engloba
dispositivos do tipo bateria de magnésio,
objeto de estudo deste artigo. Logo, vale
ressaltar que não se trata de um análise de
todo o setor elétrico, embora os dados
obtidos façam parte deste segmento.
Informações patentárias também foram
retiradas do Derwent Innovation Index, que é
uma ferramenta de pesquisa de patentes
produzida pela Thomson Reuters Cientific e
permite que as análises de proteções sejam
aprofundadas,
por
meio
de
buscas
específicas por itens como tópico, inventor,
país, e outros. Nessa base de dados foi
possível levantar informações mais precisas
sobre a tecnologia estudada (Magnesium
battery) e traçar perfis compostos pelas
principais
empresas
detentoras
do
conhecimento, principais áreas de aplicação
e evolução das patentes concedidas no
período analisado.
Após a coleta dos dados foram realizadas
análises numéricas utilizando-se o Método
dos Mínimos Quadrados, para aproximar o
comportamento dos valores para uma função
polinomial conhecida e prever cenários, por
meio de extrapolações para um período de
cinco anos. Nessa etapa, para obter maior
precisão
nos
resultados
algébricos,
implementou-se um algoritmo no MATLAB®.
Também foram realizados cálculos de
variação
relativa
para
analisar
o
comportamento do número de patentes,
comparando-se os últimos cinco anos
divulgados com o período previsto.
3.1. INTELLECTUAL PROPERTY STATISTICS
DATA CENTER - WIPO
Conforme apresentado pela OCDE (2011), a
P&D é uma das atividades de inovação
tecnológica e pode ser realizada em
diferentes estágios do processo inovativo.
Ainda, uma das formas de medir a atividade
inovadora de um pais é através das
publicações dos dados fornecidos pelas
patentes, que podem ser entendidas como o
output da inovação. Para fins de comparação
internacional, o Manual de Frascati orienta
que sejam utilizadas estatísticas patentárias
de escritórios nacionais e internacionais,
como o Instituto Europeu de Patentes (IEP) ou
da WIPO, que são as principais fontes de
dados primários. Os dados utilizados nessa
seção foram obtidos no sítio eletrônico da
WIPO, através do banco estatístico de
propriedade intelectual.
Inicialmente, ao se analisar os setores
tecnológicos com maior índice de inovação,
observa-se que o Japão possui um percentual
mais elevado de participação no campo
Eletrical
machinery,
Apparatus,
Energy
(8,37%), sendo o segmento que desponta no
número de proteções. Diferentemente, no
Brasil, o campo estudado aparece somente
em 8º lugar nos pedidos de patentes,
representando 4,77%, de modo a demonstrar
a situação reinante da geração de inovação
no Japão sobre o Brasil.
Essa primeira constatação torna-se notória ao
se avaliar a evolução temporal no número de
Tópicos em Administração - Volume 15
92
patentes (Tabela 1), em ambos os países,
entre 1980 (início aproximado de pesquisas
na área de baterias de magnésio) a 2011.
Ainda, são mostrados os valores estimados
até 2016.
De acordo com a Tabela 1, até 2011, havia no
mundo, aproximadamente, 977 mil patentes
no campo avaliado, sendo que 253.649 eram
japonesas contra, somente, 356 patentes
brasileiras. As proteções nessa área, no
Brasil, iniciaram-se apenas a partir de 1999
devido à reestruturação do Sistema de
Propriedade Intelectual brasileiro, em 1996,
com a criação da Lei de Propriedade
Industrial (também conhecida como Lei de
Patentes - Lei n. 9.279/1996) como uma forma
de adequação do país ao acordo TRIPS
(PALMEIRA FILHO et al., 2012).
As previsões apontam um avanço no número
de patentes nos dois países, de modo que se
espera, até 2016, que o Japão conquiste
391.434 proteções, correspondendo a 29,3%
do total previsto no mundo, no mesmo
período. Para o Brasil, estima-se um alcance
de 1.714 proteção, apresentando uma
baixíssima contribuição no âmbito mundial
(0,13%).
Tabela 1 – Patentes concedidas e dados previstos, no campo tecnológico Eletrical machinery,
Apparatus, Energy, considerando o Brasil, o Japão e o mundo, de acordo com os dados da WIPO.
Ano
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
Brasil
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Japão
4.743
4.925
5.256
5.221
4.445
5.099
4.572
4.596
5.778
4.782
4.231
5.628
5.539
6.072
7.028
8.482
6.220
7.926
9.646
Mundo Ano
Brasil Japão
25.077 1999
1
10.045
26.334 2000
11
8.607
26.910 2001
6
8.890
24.951 2002
5
9.142
24.132 2003
2
9.866
26.631 2004
7
8.797
24.604 2005
3
8.822
24.414 2006
5
8.999
23.985 2007
2
10.897
22.827 2008
23
12.308
21.555 2009
75
13.093
23.490 2010
84
15.454
22.761 2011
132
18.540
22.050 2012e 159
20.101
22.788 2013e 206
23.205
24.680 2014e 262
26.897
21.154 2015e 327
31.249
24.089 2016e 404
36.333
27.380
Fonte: Autoria própria (2014).
Os resultados pouco expressivos obtidos para
o Brasil, que refletem seu baixo índice de
inovação, atrelam-se ao fato da exploração do
processo inovativo no país ser recente, já que
a adoção de políticas públicas de fomento à
ciência, tecnologia e inovação, bem como a
estruturação de um sistema de propriedade
intelectual, ocorreu há menos de duas
décadas (MARZANO, 2011). Ainda, contatase o pouco engajamento do setor produtivo
brasileiro em P&D, de modo que, enquanto o
Japão destina quase 3,4% do PIB para esse
tipo de atividade, o Brasil investe somente 1%
(sendo o sector público responsável por 63%
dos
investimentos),
conferindo
uma
debilidade para as empresas brasileiras, que
Mundo
30.787
28.831
29.073
30.477
32.841
32.922
35.641
43.277
46.868
45.065
47.384
54.453
59.183
62.380
66.968
71.828
76.956
82.351
se tornam pouco competitivas no mercado
mundial (MATIAS PEREIRA, 2011).
Diferentemente, desde muito cedo o Japão
enxergou no processo inovativo uma forma de
sobrevivência e geração de ganhos. O
processo de industrialização pós-guerra se
baseou
em
tecnologia
e
inovação,
começando pela imitação e melhoria de
produtos
estrangeiros,
considerados
inovações incrementais. Em seguida, novos
processos
foram
desenvolvidos
pelas
organizações japonesas e, simultaneamente,
ocorreu o lançamento de produtos inovadores
no mercado. Com o desenvolvimento
proporcionado no pós-guerra, nos anos
1970/1980 o Japão mostrou sua capacidade
Tópicos em Administração - Volume 15
93
tecnológica e de inovação ao se projetar nos
segmentos automotivo (que teve como marco
a entrada no mercado automotivo norteamericano)
e
eletrônico
(líder
no
desenvolvimento da microeletrônica). Em
1980, o país já era considerado uma potência
mundial e as empresas japonesas desafiavam
as estrangeiras em alguns segmentos
importantes, como robótica, automotivo e
eletrônico, preocupando países líderes, como
os Estados Unidos. A parir de 1990, o Estado
começou a repensar seu sistema de inovação
a fim de aprimorar a eficiência do mesmo,
culminando no desenvolvimento de políticas
públicas audaciosas e eficazes de apoio à
inovação, como a Lei Básica de Ciência e
Tecnologia
–
introduziu
os
Planos
Quinquenais de Ciência e Tecnologia,
definindo áreas e orçamentos que seriam
priorizados pelo governo japonês (SALERMO;
MIRANDA, 2010).
A fim de se obter uma análise mais assertiva,
estudou-se o grau relativo de variação entre
os dados, considerando os cinco últimos
períodos registrados, bem como os próximos
cinco anos, conforme apresentado na Tabela
2.
Tabela 2 – Variação relativa no número de patentes concedidas, considerando o campo tecnológico
Eletrical machinery, Apparatus, Energy
Variação Relativa
Últimos períodos (2007 – 2011)
Próximos períodos (2012 – 2016)
Brasil
6500%
154%
Japão
70%
80%
Mundo
26%
32%
Fonte: Autoria própria (2014).
Constata-se que o Brasil teve um crescimento
relativo muito acentuado entre 2007 e 2011,
saltando de 2 para 132 patentes. De fato,
conforme apresentado na Tabela 1, a partir de
2008 o país aumentou seu índice de inovação
no campo estudado e esses dados vinculamse às políticas públicas desenvolvidas para a
alavancagem do processo inovativo no
segmento elétrico. Assim, pode-se citar a Lei
nº 9.991/2000, que impôs a obrigatoriedade
de investimentos em P&D para todas as
empresas autorizadas, permissionárias e
concessionárias. Contudo, é necessário uma
avaliação mais específica a fim de mensurar
os efetivos impactos (diretos e indiretos)
desse tipo de política no contexto brasileiro,
não sendo o objetivo deste artigo.
Os dados previstos indicam um crescimento
mais lento no Brasil, embora no Japão e no
âmbito
mundial
seja
esperado
uma
aceleração, em relação aos anos anteriores,
sugerindo um incremento no esforços
empregados para a geração de inovação no
setor.
3.2. ANÁLISE DE PATENTES – DERWENT
INNOVATION INDEX
Nesta seção, utilizou-se o Derwent para o
mapeamento
tecnológico
e
industrial,
empregando o tópico específico baterias de
magnésio.
A Figura 1 apresenta os valores de patentes
concedidas, com referência à tecnologia
bateria de magnésio, para um intervalo de
tempo de 1980 a 2012, como também a
previsão até 2017. Os dados levantados
reforçam a compatibilidade entre o início
aproximado de pesquisas apontado pela
literatura para esse tipo de dispositivo
(década de 80) e as informações coletadas
na
base
patentária
internacional,
demonstrando um crescimento, ao longo dos
anos, no número de proteções, de forma a
alcançar 892 patentes em 2012, totalizando
5.303 patentes, desde 1980. Utilizando-se o
Método dos Mínimos Quadrados, o cenário
previsto aponta para a continuação desse
avanço de forma expressiva, sendo esperada
1.684 patentes somente em 2017, atingindo
um total de 11.827 proteções.
Tópicos em Administração - Volume 15
94
Figura 1 – Patentes concedidas para a tecnologia bateria de magnésio, bem como as previsões
desenvolvidas, de acordo com a base de dados Derwent
Fonte: Autoria própria (2014)
O cálculo de variação relativa foi desenvolvido
(Tabela 3) a fim de se comparar o
crescimento nos cinco últimos períodos
registrados (2008-2012) com os próximos
cinco anos (2013-2017). Entre 2008 a 2012,
houve um maior aumento relativo, indicando
que a expansão no número de inovações para
essa tecnologia, embora ainda significativa,
tende a uma desaceleração nos anos
posteriores. Esse dado já era esperado, uma
vez que, no início do desenvolvimento da
tecnologia, ainda há muito para ser realizado
e otimizado, favorecendo a geração mais
rápida de inovação. Posteriormente, o
indicador se estabiliza e tende a decrescer
após um período, quando novas tecnologias
começarem a assumir o lugar desse
dispositivo. Contudo, o dado previsto
(crescimento relativo > 70%) mostra-se, até
2017, bastante positivo, sugerindo que ainda
há um campo a ser desbravado no tocante às
baterias de magnésio.
Tabela 3 – Variação relativa no número de patentes
Variação Relativa
Últimos períodos (2008 – 2012)
Próximos períodos (2013 – 2017)
103 %
74 %
Fonte: Autoria própria (2014)
Dentre os maiores depositantes (Figura 2),
destacam-se as empresas de origem
japonesa, sobretudo a Sanyo Electric Co Ltd.,
a Sony Corporation e a Matsushita Battery
Industrial Co. Ltd (MBI). No entanto, são
comuns joint ventures, como pode ser
observado no caso da Toyota, que não
possuía conhecimentos internos em baterias,
mas estava desenvolvendo um carro híbrido
(Toyota Prius) e fez uma parceria com a MBI
para a produção desses dispositivos.
Atualmente,
a
Toyota
investe
no
desenvolvimento
interno
de
novas
tecnologias, abrangendo o uso da bateria de
magnésio para substituição da bateria de íon
lítio nos veículos híbridos.
Tópicos em Administração - Volume 15
95
Figura 2 – Os 10 maiores depositantes para a tecnologia bateria de magnésio, de acordo com
dados do Derwent
Fonte: Autoria prória (2014)
A posição destacada do Japão no cenário
tecnológico pode ser explicada por meio de
seus indicadores, sendo uma das maiores
economias do mundo. Em 2007, tratava-se da
segunda maior economia com participação no
PIB global de 8,08%, atrás dos Estados
Unidos (com 25,51%), sendo o terceiro país
que mais investe em P&D proporcionalmente
ao PIB (média de 3% ao ano). Assim,
comummente o país sobressai pelo seu
volume de patentes registradas não somente
no setor elétrico, mas também em outros
segmentos estratégicos como no campo
farmacêutico, por exemplo, apresentando
intensa participação do setor privado em P&D
(mais de 70% dos recursos são) (SALERNO;
MIRANDA, 2010).
As dez maiores aplicações para a tecnologia
avaliada são apresentadas na Figura 3, sendo
que podem existir patentes que sirvam a mais
de uma área de aplicação. Destaca-se o uso
desse dispositivo na Engenharia, na Química
e na Energia e Combustíveis, embora a
aplicação em transportes (6º lugar) ainda seja
uma das mais exploradas na literatura, em
veículos elétricos e híbridos.
Figura 3 – As 10 maiores áreas de aplicação para a tecnologia bateria de magnésio, de acordo com
dados do Derwent
Fonte: Autoria própria (2014)
Com as recentes preocupações sobre a
poluição do meio ambiente e a procura por
soluções de transporte alternativas, as
aplicações nessa área tendem a crescer nos
próximos anos, o que é atestado pela
presença da Toyota entre os dez maiores
depositantes. De fato, uma análise específica
no Derwent mostrou ainda, desde 2002, a
Toyota possui patentes concedidas em
baterias de magnésio, saltando de 5
proteções, em 2010, para 32, em 2012. Esses
resultados
confirmam
uma
geração
expressiva de inovação na tecnologia
estudada, podendo ser um reflexo do alto
investimento em P&D pela organização,
conforme apresentado no 2014 EU Industrial
Tópicos em Administração - Volume 15
96
R&D Investment Scoreboard (HERNANDEZ et
al., 2015), que classificou a Toyota na 7º
posição dentre as 100 empresas que mais
destinam recursos para esse tipo de atividade
no mundo.
4. CONCLUSÕES
Esse artigo desenvolveu um mapeamento
tecnológico e industrial das baterias de
magnésio, utilizando-se o número de patentes
como um indicador de P&D, assim como
identificou as principais características da
tecnologia, incluindo os detentores e as
aplicações.
A comparação com o Japão permitiu inferir
que o Brasil é um país com processo de
inovação recente e o baixo percentual do PIB
brasileiro investido em P&D deve ser
encarado como um entrave para a
alavancagem dos índices de inovação no
país, exigindo políticas públicas audazes de
fomento ao processo inovativo nos diversos
setores, a fim de estimular uma cultura
organizacional voltada para a geração de
novos, ou aprimorados, produtos/processos,
de modo a conferir competitividade ao setor
produtivo brasileiro.
Os indicadores da WIPO demonstraram que
no Brasil e no Japão as patentes concedidas
no campo Eletrical machinery, Apparatus,
Energy estão crescendo, assim como no
mundo. No entanto, no Brasil esse setor está
em 8º lugar no número de pedidos de
patentes, enquanto que no Japão está em 1º.
Essa constatação foi corroborada pela análise
REFERÊNCIAS
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Power Sources Symposium, p.107-109, 1990.
de dados do Derwent, que mostrou que
principais empresas detentoras de patentes
de baterias de magnésio são japonesas, com
destaque para a Sanyo Electric Co Ltd., a
Sony Corporation e a MBI.
Os indicadores obtidos na base de dados do
Derwent também confirmaram que o número
de patentes ligados à tecnologia estudade
está em ascenção, embora a variação relativa
tenha demonstrado que haverá uma
desaceleração na geração de inovação,
justificada pelo fato da tecnologia possuir
limitações, que farão o indicador se estabilizar
e decrescer, quando novas tecnologias
começarem a surgir.
Os principais usos da bateria de magnésio
encontram-se na Engenharia, na Química e na
Energia e Combustíveis. Contudo, com a
inquietude sobre a poluição do meio ambiente
e a procura por soluções de transporte
alternativas, as aplicações nessa área tendem
a aumentar nos próximos anos, sendo que a
posição da Toyota no ranking de inovação
atesta este fato, bem como sugere uma
correlação positiva entre os índices de
inovação e os investimentos em P&D.
Ainda, pode-se concluir que há pontos a
serem explorados, visando a otimização, no
que se refere às baterias de magnésio, sendo
interessante a aplicação de recursos em P&D
por empresas brasileiras do setor elétrico, a
fim de se engajarem no desenvolvimento de
novas tecnologias e alavancarem sua
competitividade no cenário mundial por meio
da geração de inovação.
[5]
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battery. Proceedings of the 35th International Power
Sources Symposium, p.26-29, 1992.
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Tópicos em Administração - Volume 15
98
Capítulo 10
Neusa Maria Bastos Fernandes dos Santos
Igor Polezi Munhoz
Alessandra Cristina Santos Akkari
Resumo: Desenvolveu-se um estudo exploratório com 252 estudantes de
engenharia, mapeando seus valores pessoais, âncoras de carreira e a associação
desses parâmetros, baseado nos inventários de valores de Rokeach (1981) e de
âncoras de carreira de Schein (1993). No tratamento de dados, aplicou-se a
estatística descritiva e inferencial. A maioria dos respondentes pertenciam à
Geração Y (92,46%), sendo que a Felicidade e a Honestidade destacaram-se,
respectivamente, como valor terminal e instrumental; carreiras ancoradas no Estilo
de Vida e Segurança-Estabilidade predominaram. Constatou-se que os valores
pessoais/ profissionais, muitas vezes, sobressaem aos valores peculiares a
indivíduos de diferentes formações acadêmicas. A análise de correspondência
indicou interações entre os valores pessoais e a carreira, apontando a importância
desse tipo de estudo para direcionar gestores a refletirem sobre valores,
motivações e expectativas de novos profissionais, bem como educadores e novas
políticas públicas, visando otimizar a empregabilidade e o desenvolvimento do
jovem no mercado.
Palavras-chave: Valores, carreira, geração Y, engenharia.
Tópicos em Administração - Volume 15
99
1. INTRODUÇÃO
Ao conceito de carreira, sob uma perspectiva
de evolução histórica, foi sendo atribuídos
outros elementos além do sentido meramente
do trabalho, o qual lhe era designado
inicialmente (MCDANIELS; GYSBERS, 1992).
Na língua inglesa, por exemplo, a palavra
carreira correspondia, originalmente, à
estrada para carruagens, mas, a partir do
século XIX, esse conceito foi empregado no
âmbito do trabalho, passando a designar “um
canal para as atividades econômicas de
alguém durante a vida inteira” (SENNETT,
2006). Assim, pode-se definir carreira como a
sequência de experiências relacionadas ao
trabalho e vivenciadas pelo ser humano ao
longo do tempo (ARTHUR; KHAPOVA;
WILDEROM, 2005).
A permanência do trabalhador em uma
mesma organização durante toda a sua vida é
uma característica destacada da carreira
tradicional e, atualmente, diante de um
ambiente cada vez mais dinâmico e
complexo, é incompatível com a necessidade
de mudança que as diversas empresas
demandam para enfrentar as turbulências de
desse mercado. Assim, atualmente, constatase que as carreiras são constituídas por ciclos
vinculados à alternância entre aprendizagem,
domínio do conhecimento e reaprendizado
(HALL; MIRVES, 1995).
Segundo Gouveia et al. (2001), a influência da
centralidade do sistema cognitivo afeta as
predisposições profissionais, ou seja, a
carreira de um indivíduo pode ser influenciada
por seus valores que são concebidos como
critérios utilizados pelas pessoas para avaliar
ações, indivíduos e eventos, de acordo com a
pluralidade científica de Milton Rokeach
(SCHWARTZ, 2005).
Os valores pessoais são capazes de interferir
nas ações, nas escolhas e no comportamento
do ser humano, influenciando na maneira pela
qual o indivíduo julga a si mesmo e aos outros
(GASTALDELLO, 1999) e permitindo com que
sejam percebidos tanto como produto como
ponto de referência do processo de reflexão e
avaliação dos desejos (SCHWARTZ; LACEY,
1995). Ademais, os valores afetam as reações
das pessoas sobre seu trabalho (STACKMAN,
PINDER; CONNOR, 2004) e, aliados às
motivações e ao talento, estimulam as
decisões de carreira (SCHEIN, 1993). Diante
disto, as ambições da vida profissional e a
satisfação das necessidades prioritárias do
indivíduo também são impulsionadas pelos
valores pessoais.
Nesse contexto, destaca-se a importância da
chamada Geração Y, constituída por jovens
entre 18 e 30 anos que entraram no mercado
de trabalho nesta década. Trata-se de uma
geração que apresenta maior potencial em
relação às passadas, uma vez que esses
jovens já adentram nas organizações munidos
de informações sobre o que acontece ao
redor e estão sempre dispostos a apresentar
soluções
criativas
(CARNEIRO,
2010;
BARBOSA, 2012).
Baseando-se nos anseios e nas expectativas
de uma geração sobre sua carreira
profissional,
organizações
atentas
e
preocupadas com os valores, motivações e
expectativas dos novos profissionais podem
adequar seus cargos e planos de carreira,
contribuindo para que seus funcionários
alcancem posições de sucesso e otimizem a
efetividade de colaboração com a empresa
(FERRAZ; GALLI; TREVISAN, 2008). Vale citar
ainda a necessidade de educadores em
conhecer o perfil das gerações a fim de
refletirem sobre metodologias educacionais e
componentes curriculares com o objetivo de
atender às novas demandas do mercado.
Nesse sentido, conforme estudo de Lemos
(2012), o problema do desemprego no Brasil,
muito debatido na esfera pública, vincula-se à
falta de preparo dos trabalhadores para
assumirem novos posições no mercado.
Assim, por meio da expressão “oferta
inadequada de força de trabalho”, os autores
explicam a crise contemporânea do mercado
de trabalho. De fato, o relatório da
Organização Internacional do Trabalho -
World Employment and Social Outlook 2016
estima que o índice mundial de desemprego
dos jovens com idades entre 15 e 24 anos
deve atingir 13,1% em 2016, contra 12,9% em
2015, isto é, uma elevação de meio milhão de
pessoas. Com isso, aproxima-se do nível
recorde alcançado em 2013, que foi de 13,2%
(OIT, 2016).
Sob o exposto, o objetivo deste trabalho é
realizar um estudo exploratório com
universitários do curso de Engenharia de
Produção, na sua maioria pertencentes à
Geração Y, de uma universidade federal do
estado de São Paulo, a fim de mapear os seus
valores pessoais e as suas principais âncoras
de
carreira,
bem
como
investigar,
estatisticamente, a ocorrência de associação
entre os valores e os diferentes tipos de
Tópicos em Administração - Volume 15
100
âncoras de carreira. Pretende-se, assim,
melhor
compreender
os
anseios
e
expectativas dos indivíduos, por meio de uma
análise quantitativa e qualitativa pautada em
valores pessoais, âncoras de carreira,
geração e formação acadêmica. Os
resultados apresentados nesse artigo podem
direcionar gestores e recrutadores, bem como
educadores e novas políticas públicas,
visando otimizar a entrada e permanência do
jovem no mercado de trabalho, bem como
seu desenvolvimento profissional e pessoal.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 VALORES HUMANOS À
CONTRIBUIÇÕES DE ROKEACH
LUZ
DAS
Ao definir o termo valor, deve-se restringir seu
significado à realidade estudada, pois o
mesmo carrega consigo uma dimensão de
pluralista, vinculada a diferentes situações do
cotidiano (SANTOS; MUNHOZ; LELIS, 2013).
Alguns estudiosos de valores apresentaram
suas definições, sendo que delimitaram suas
pesquisas em valores humanos. Kluckohn
(1951, p. 443), por exemplo, parte da
interação social e define valor como “uma
concepção explícita, ou implícita, distinta, ou
característica de um grupo do que é
desejável, que influencia a seleção de modos,
meios e finalidades da ação acessível”.
Entende-se, assim, que um valor supõe um
código ou uma norma que, por sua vez, tem
alguma persistência ao longo do tempo, com
seu uso. Trata-se de um valor é o aceito pelo
grupo, de forma que o desejável é
contrastado com o desejado.
Schwartz (2005) assevera que valores são
aquilo que os indivíduos tomam como
importante em suas vidas, ou seja, são
crenças, ou um construto motivacional, que
transcendem situações e ações específicas e
que guiam a seleção e avaliação de atitudes,
de políticas, de pessoas e de eventos. Ainda
segundo o autor, os valores são ordenados
pela sua importância relativa e formam um
conjunto de metas conscientes dos indivíduos
ou sociedades, devendo atender aos três
requisitos universais: (1) as necessidades
biológicas dos indivíduos; (2) os requisitos de
interação social; (3) e os requisitos para o
correto funcionamento e sobrevivência dos
grupos (SCHWARTZ; BARDI, 2001).
estado final de existência é preferível a um
modo de conduta ou estado final de
existência inverso. Sob esse entendimento,
um sistema de valores refere-se à
organização das crenças de modos de
conduta ou estados finais de existência
preferidos, considerados como referência em
uma escala de importância relativa. O autor
ainda afirma que os indivíduos diferem nas
práticas dos valores devido aos graus de
importância atribuídos a cada um deles,
ordenando-os e articulando-os entre si dentro
de um sistema de valores, que é acionado
diante das escolhas pessoais. Quando isso
ocorre, os valores considerados mais
relevantes no sistema predominam sobre os
demais (ROKEACH, 1981).
Rokeach (1981) apresenta uma distinção
entre dois tipos de valores, isto é, os valores
terminais e os valores instrumentais. Os
valores terminais, também denominados
valores finais, referem-se aos estados finais
preferidos de ser e estar e os indivíduos
costumam defender até doze valores desse
tipo; os valores instrumentais correspondem
aos modos preferidos de conduta social ou
comportamentos para o alcance dos objetivos
pessoais, sendo que os indivíduos defendem
um número muito maior desse tipo de valor,
não ultrapassando cem.
Um valor terminal pode ser identificado pela
seguinte sentença: “eu acredito que este e
aquele estado de existência (por exemplo, a
salvação, um mundo de paz) é pessoal e
socialmente um valor que se deve lutar para
obter”. Um valor instrumental, por sua vez,
pode ser identificado pela afirmativa: “eu
acredito que este e aquele modo de conduta
(a honestidade, a coragem, por exemplo) é
pessoal e socialmente preferível em todas as
situações com respeito a todos os objetos”
(Rokeach, 1973). Dessa maneira, apenas os
valores que podem ser inseridos em cada
uma das frases podem ser classificados como
terminais ou instrumentais (ABRAHIM, 2008).
Diante do exposto, é possível afirmar que os
valores representam a centralidade do
sistema cognitivo (GOUVEIA et al., 2001),
representando abstrações que estimulam
atitudes e que se refletem no comportamento
humano, tanto no que diz respeito a uma
perspectiva mais geral quanto em contextos
mais específicos, como o trabalho.
Rokeach (1973, p. 5) apresenta sua definição
de valor como sendo uma crença constante
de que um modo específico de conduta ou
Tópicos em Administração - Volume 15
101
2.2 GERAÇÃO Y E AS ÂNCORAS DE
CARREIRA
De acordo com Kupperschmidt (2000), as
diferenças entre gerações em uma empresa,
se não compreendidas, podem gerar tensão,
confronto,
insatisfação
e
diminuir
a
produtividade. Os membros pertencentes à
Geração Y são indivíduos que nasceram entre
os anos de 1982 e 2000 (RUGIMBANA, 2007).
A Geração Y faz parte do chamado ciclo
idealista, porque se pode fazer uma
correlação entre as suas características
principais,
o
empreendedorismo,
a
independência e a honestidade. Essa
geração vem sendo foco de muitos estudos
nos últimos anos devido ao fato de ser a mais
recente geração a entrar no mercado de
trabalho e, entender como atraí-la e retê-la em
uma
empresa,
torna-se
um
desafio
(MCCRINDLE, 2002; LISSITSA; KOL, 2016;
SHIRISH; BOUGHZALA; SRIVASTAVA, 2016)
Os indivíduos pertencentes a essa geração
não têm medo de arriscar e a buscam novos
desafios, detestam monotonia, não costumam
ficar muito tempo numa mesma organização,
tem conhecimentos técnicos e capacitação
profissional. Eles trabalham melhor em
equipes e procuram empregos que ofereçam
flexibilidade de horário, mobilidade e planos
de
carreira.
Algumas
características
específicas destacam-se dentre este grupo
de indivíduos, tais como a predominância
virtual; o comportamento empreendedor; as
ideias inovadoras, o espírito de liderança; a
criatividade; a responsabilidade; a paixão
pela área de atuação; a visão de futuro; a
persistência; a coragem para assumir riscos;
e a facilidade de expressão (CARNEIRO,
2010; BARBOSA, 2012). Conhecer a Geração
Y com mais detalhes, com enfoque em seu
valores e inclinação profissional, poderá
ajudar os gestores a trabalhar efetivamente
para que haja uma maior produtividade e
melhor aproveitamento de suas competências
e potenciais, contribuindo para uma
reestruturação das políticas do ambiente de
trabalho.
No âmbito da esfera profissional, diferentes
conotações foram atribuídas à palavra
carreira ao longo da história. Sob a
perspectiva da abordagem tradicional, três
características limitantes do conceito de
carreira podem ser consideradas: (i) ausência
de expectativa de progressão vertical
hierárquica dentro uma organização; (ii)
associação de carreiras às profissões mais
difundidas
e
reconhecidas;
(iii)
e
pressuposição de estabilidade, em que o
funcionário exerce as mesmas atividades
relacionadas à sua profissão até sua
aposentadoria (MARTINS, 2001).
Ultrapassando as limitações da abordagem
tradicional, tem-se o conceito de carreira
proteana, que possibilita a compreensão da
carreira como uma série de aprendizados
pessoais relacionados ao trabalho ao longo
da vida (MUNHOZ, 2014). O termo proteana,
derivado do deus grego Proteu, abrange a
referência a um processo em que o indivíduo,
e não a organização, gerencia sua própria
trajetória profissional, permitindo que a
carreira seja redirecionada, de tempos em
tempos, para atender às suas próprias
necessidades e anseios (HALL, 1996). O
profissional proteano consegue ajustar-se às
demandas do ambiente de carreiras, com
flexibilidade e investimento em suas
habilidades, qualificações e competências,
mas sempre apresentando consciência de
seus objetivos pessoais. Ademais, esse
indivíduo sabe definir os atributos de sucesso
que espera alcançar, coerentes com seus
valores, interesses e aptidões, além de ser
capaz de priorizar suas ações de carreira,
conciliando com suas pretensões de vida
(MARTINS, 2001; ROBBINS, 1998).
2.2.1 ABORDAGEM DE SCHEIN E A
DESCRIÇÃO DAS ÂNCORAS DE CARREIRA
Ao considerar diferentes aspectos, tais como
necessidades;
desejos;
ansiedade;
capacidades;
potencialidades
pessoais;
pressões e condicionantes ambientais da
empresa; e responsabilidades na vida
particular, observa-se que a ideia de
desenvolvimento de carreira está diretamente
relacionada ao desenvolvimento pessoal. A
concepção do conceito de âncoras de
carreira, que abrange uma combinação
competência, motivos e valores do indivíduo,
foi uma contribuição da Sloan School of
Management - Massachusetts Institute of
Technology (MIT), a partir de um estudo
realizado com 44 profissionais que foram
entrevistados por Edgar Schein (ABRAHIM,
2008).
Com o conhecimento da sua inclinação
profissional de um indivíduo, é possível
perceber
suas
aptidões,
preferências,
objetivos e valores que caracterizam suas
escolhas, como fatores que não renunciaria
em sua carreira. Quando as ocupações não
são compatíveis com a âncora de seu
Tópicos em Administração - Volume 15
102
ocupante, esse indivíduo tende a apresentar
um desempenho mediano, onde não se sente
completamente feliz e satisfeito. O modelo de
âncora reforça a noção de que o
autoconhecimento favorece a eficácia na
tomada de decisão ocupacional e seu caráter
processual (MARTINS, 2001). Definidas pela
área de maior importância para um indivíduo
e os valores que ele prioriza, foram
identificadas oito categorias de inclinações
profissionais, conforme o Quadro 1.
Quadro 1: Categorias de âncoras de carreira e suas respectivas descrições gerais
Âncora de carreira
Aptidão Técnica e
Funcional (TF)
Gerência geral (GG)
Autonomia
Independência (AI)
e
Segurança
Estabilidade (SE)
e
Criatividade
Empreendedora (CE)
Dedicação
a
uma
Causa (SD)
Puro Desafio (PD)
Estilo de Vida (EV)
Descrição geral
indivíduos que exercitam suas aptidões e continuam a desenvolvê-las ao máximo,
buscando ser referência de especialista na área que atuam
indivíduos têm como objetivo subir os degraus hierárquicos da empresa até alcançar
os cargos de maior responsabilidade
indivíduos que não suportam estar presos a normas, regras, métodos e expedientes
de trabalho e sua necessidade é a de fazer as coisas do seu jeito, priorizam sua
liberdade e autonomia
indivíduos que priorizam a segurança financeira e estabilidade no vínculo
empregatício ao longo de toda sua trajetória profissional, dessa maneira, buscam
emprego em organizações sólidas
indivíduos motivados a criar novos negócios próprios, dispostas a correr riscos e
superar obstáculos para verem o resultado de seu próprio esforço
indivíduos que se sentem satisfeitos em contribuir para a melhoria da sociedade,
solucionando questões ambientais e sociais.
indivíduos competitivos, que objetivam superar obstáculos e solucionar problemas
aparentemente insolúveis
indivíduos que buscam equilibrar as esferas pessoais e profissionais, integrando as
necessidades do trabalho com as necessidades individuais e familiares
Fonte: Adaptado de Schein (1993; 1996)
3. METODOLOGIA DE PESQUISA
Trata-se de um estudo exploratório descritivo,
integrando a pesquisa bibliográfica e a
pesquisa de campo. A investigação iniciou-se
com a busca de referências nas áreas de
Administração, Psicologia, Sociologia e
Engenharia em bibliotecas eletrônicas,
nacionais e internacionais, que abrange
coleções
selecionada
de
periódicos
científicos
brasileiros.
Após
esse
levantamento, decidiu-se pela utilização de
questionário como forma de coleta de dados.
3.1 PLANO AMOSTRAL E
DADOS
COLETA DE
A
escolha
dos
participantes
deu-se
inicialmente pelo critério de acessibilidade
(VERGARA, 2007) ao se optar pela
investigação de universitários de curso de
graduação em Engenharia de Produção em
uma instituição pública de ensino superior,
localizada no estado de São Paulo. Como o
foco do presente trabalho não está na
instituição de ensino, optou-se por não
divulgar seu nome. A amostra é não
probabilística, pois durante a coleta de dados
os questionários foram distribuídos em sala de
aula aos indivíduos presentes e dispostos a
participar
da
pesquisa,
apresentando
distribuição aleatória. Dessa forma, obteve-se
como resultado uma amostra com 252
participantes.
Para a coleta de dados, foi utilizado como
instrumento de pesquisa um questionário
composto por quatro partes: (i) apresentação
do estudo; (ii) perfil do respondente, formada
por 10 perguntas; (iii) instrumento de
pesquisa de valores; (iv) inventário das
âncoras de carreira de Schein (1993).
A hierarquia de valores pessoais do grupo
analisado foi identificada pela utilização da
Escala de Valores de Rokeach (Rokeach
Value Survey – RSV), pois se considera o
instrumento mais apropriado para a
mensuração de valores e pela sua parcimônia
ante aos demais instrumentos como o
Inventário de Valores Humanos de Schwartz,
composto por 56 questões. O inventário RVS
é composto por duas listas com 36 valores,
sendo 18 terminais e 18 instrumentais,
permitindo aos indivíduos que atribuam os
graus de importância a cada um dos valores
das duas listas em escala decrescente, de 1 a
18. A pontuação de menor valor corresponde
à maior importância e a pontuação maior valor
representa a menor importância.
Tópicos em Administração - Volume 15
103
O inventário das âncoras de carreira de
Schein (1993) consiste em um questionário
com 40 afirmativas, que o respondente atribui
classificação, em escala tipo Likert, de 1 a 6,
sendo que os valores extremos significam
nunca verdadeiro (valor 1) e mais verdadeiro
(valor 6); o valor 2 e o valor 3 correspondem a
ocasionalmente verdadeiro; e o valor 4 e o
valor 5 equivalem a frequentemente
verdadeiro, utilizado para identificar os oito
tipos de âncoras de carreira predominantes.
O instrumento de pesquisa foi aplicado em
disciplinas
específicas
do
curso
de
Engenharia de Produção, durante 4 meses. A
aplicação do questionário, em cada sala de
aula, durou em média 30 minutos sendo que,
primeiramente, foi entregue, aos alunos dentro
da sala de aula, uma folha individual contendo
o questionário; após o preenchimento, as
folhas
foram
recolhidas
para
serem
analisadas. É importante ressaltar que não
foram coletados dados que identificassem os
participantes.
3.2 TRATAMENTO DE DADOS
por meio de uma tabela de contingência.
Valores de qui-quadrado maiores ou iguais a
0,05 indicam que há independência das
variáveis; da mesma forma, valores de quiquadrado inferior a 0,05 representa a
dependência das variáveis, com presença de
associação entre elas (BRUNI, 2009). As
hipóteses testadas nas análises inferenciais
foram:
a.
Hipótese 1a: Há associação entre a
idade e a âncora de carreira.
b.
Hipótese 1b: Há associação entre a
idade e o valor terminal primário.
c.
Hipótese 1c: Há associação entre a
idade e o valor instrumental primário.
Por fim, a análise de correspondência
verificou a existência de associação entre os
valores terminais e instrumentais e as âncoras
de carreira.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após a aplicação do instrumento de pesquisa,
os dados foram tabulados, formando um
banco de dados no Microsoft Excel. O
tratamento dos dados foi feito com o auxílio
do pacote estatístico SPSS (versão 13.0) e os
resultados organizados em análise descritiva,
inferencial e de correspondência.
Utilizando-se a análise descritiva, identificouse o perfil do participante, o valor terminal
primário (classificado como 1 – o mais
importante), o valor terminal secundário
(classificado como 2 – o segundo mais
importante), o valor instrumental primário e o
valor instrumental secundário de cada aluno
participante do estudo. Posteriormente,
calculou-se também a pontuação de cada
âncora de carreira. Os indivíduos que
colocaram mais de um valor como o mais
importante ou o segundo mais importante não
foram considerados no cálculo dessas
variáveis.
Para as análises inferenciais, foram utilizados
testes de qui-quadrado, avaliando a
ocorrência de associação dos valores
terminais e instrumentais com a faixa etária.
Igualmente, buscou-se correlações com as
âncoras de carreira. O teste de qui-quadrado
foi utilizado por ser um teste não paramétrico
que permite avaliar a associação entre duas
variáveis categóricas (nominais ou ordinais)
Nessa seção são apresentados os dados
obtidos, a análise descritiva e inferencial, bem
como a discussão dos resultados.
4.1 ANÁLISE DESCRITIVA DO PERFIL E DOS
SISTEMAS DE VALORES
A fim de se obter o perfil dos graduandos da
amostra,
foi
realizada
uma
análise
considerando os parâmetros idade, gênero e
formação
anterior.
A
maioria
dos
respondentes (92,46%) tinha entre 18 e 25
anos, ou seja, eram pertencentes à Geração
Y. Adicionalmente, observou-se o predomínio
do sexo masculino (59,13%), sendo que um
percentual considerável de indivíduos,
superior a 17%, preferiu não informar o
gênero. De modo complementar, constatou-se
a preponderância de alunos que possuíam
apenas o ensino médio (68,25%), seguidos
por aqueles que concluíram o ensino técnico
de nível médio (24,21%) e, em menor
magnitude, discentes que já apresentavam
outra graduação completa (6,75%).
No tocante ao sistema de valores, por meio da
Figura 1 constata-se que o valor terminal
primário predominante foi a felicidade, sendo
o mais importante para 46 respondentes
(18%). Seguidamente, para 17%, a vida
confortável foi o valor mais importante e,
Tópicos em Administração - Volume 15
104
então, a segurança familiar (10%). De fato, um
estudo anterior mostra que, para a Geração Y,
a realização no trabalho é um fator de
importância primária, vinculando-se com
prazer em realizar um determinado trabalho e
realização pessoal. Assim, esses futuros
profissionais e gestores primam por
desenvolver
atividades
prazerosas
e
interessantes a fim de, desta forma, obterem
satisfação pessoal e sucesso em suas
carreiras, alcançando uma almejada vida
confortável (PAPAVASILEIOU; LYONS, 2015).
O item considerado como não definido, na
Figura 1, representa os participantes
desconsiderados
por
preenchimento
incorreto.
Na Figura 2, novamente observa-se a
importância da felicidade (11%) para os
respondentes, despontando como o valor
terminal secundário predominante seguido,
para 8% dos indivíduos, pelo valor vida
confortável e, então, o sentimento de
realização foi considerado o segundo valor
mais importante para 18 alunos (7%).
De fato, refletindo-se a respeito da formação
da Geração Y, entende-se que foram crianças
superprotegidas pelos pais e que estavam
habituadas a terem suas opiniões sempre
consideradas, de modo a serem estimuladas
a alcançar sonhos que lhes tratariam
felicidade,
reforçando
valores
como
segurança e confiança (TULGAN, 2009;
TWENGE; CAMPBELL; FREEMAN, 2012).
Figura 1: Valor terminal primário obtido para a amostra estudada
Fonte: Elaborado pelos autores.
Figura 2: Valor terminal secundário obtido para a amostra estudada
Fonte: Elaborado pelos autores.
Tópicos em Administração - Volume 15
105
Em relação aos valores instrumentais, a Figura
3 mostra que o valor instrumental primário
dominante foi a honestidade, sendo o mais
importante para 46 respondentes (18%), de
modo a confirmar que a sociedade que essa
geração almeja é pautada na ética e
transparência. Para 12%, a ambição foi o
valor mais importante, seguida pela
responsabilidade, para 27 discentes (11%).
Esses valores apontam que a Geração Y
tende a escolher empresas que lhe
proporcione um acelerado desenvolvimento
profissional,
fundamentado
na
responsabilidade e ganhos por competência.
A Figura 4 comprova a importância da
responsabilidade e da honestidade para a
Geração Y, sendo os valores instrumentais
secundários predominantes para 33 (13%) e
26 (10%) respondentes, respectivamente. A
prestatividade foi considerada o segundo
valor mais importante para 8% dos indivíduos,
confirmando que, nas relações sociais, esses
jovens enaltecem o bom relacionamento com
colegas de trabalho, bem como ambicionam
serem úteis para a sociedade.
Corroborando os resultados do presente
estudo, o trabalho desenvolvido por Abrahim
(2008), com alunos dos cursos de
Administração, Engenharia de Produção,
Direito, Ciências Ambientais e Ciências
Contábeis, apontou como valores terminais a
predominância da felicidade (16,28% dos
participantes) e da segurança familiar
(16,28% dos participantes), bem como
evidenciou a honestidade (34,88% dos
participantes) e a responsabilidade (16,28%
dos participantes) como princípios de vida
para guiarem suas escolhas. Um trabalho
comparativo entre estudantes (idade média
dos respondentes igual a 21,57) nas áreas de
Administração,
Economia
e
Ciências
Contábeis de universidades brasileiras e
tailandesas, também destacou como valores
terminais o sentimento de realização e a
segurança, tanto nos jovens brasileiros quanto
nos jovens tailandeses. Quanto aos valores
instrumentais, o mesmo estudo destacou a
ambição e o sentimento de se sentir capaz
como valores norteadores dos respondentes
de ambos os países (GERVAZIO et al., 2016).
Figura 3: Valor instrumental primário obtido para a amostra estudada
Fonte: Elaborado pelos autores.
Tópicos em Administração - Volume 15
106
Figura 4: Valor instrumental secundário obtido para a amostra estudada
Fonte: Elaborado pelos autores.
4.1.1 INFLUÊNCIAS DO PERFIL DO
RESPONDENTE NO SISTEMA DE VALORES
Nas tabelas 1 e 2 são apresentados os
resultados de contingência entre os valores
instrumentais e terminais e o perfil do
participante. A Tabela 1 expõe a contingência
entre o valor terminal primário e a idade,
sendo possível verificar que, no nível de
significância de 5%, não houve associação
entre o valor terminal primário e a idade, de
modo que não foi afirmada a hipótese 1b. Na
Tabela 2 é apresentada a contingência entre
o valor instrumental primário e a idade, bem
como o resultado do teste de qui-quadrado.
Verifica-se que, no nível de significância de
5%, não há associação entre o valor
instrumental primário e a idade, de modo que
a hipótese 1c não foi validada.
Tabela 1: Análise de contingência entre o valor terminal primário e a idade
Tópicos em Administração - Volume 15
107
Tabela 2: Análise de contingência entre o valor instrumental primário e a idade
Fonte: Elaborado pelos autores
A ausência de correlação estatisticamente
significativa entre a idade e os valores do
indivíduo, mesmo com indivíduos em um
curso de Engenharia, permite inferir que a
Geração Y apresenta características bem
definidas, permitindo uma extrapolação dos
resultados no âmbito qualitativo. Essa
constatação pode ser comprovada por
estudos anteriores que obtiveram resultados
semelhantes ao presente trabalho, embora a
amostra não contemplasse apenas futuros
engenheiros da Geração Y. Nesse estudo,
não foi desenvolvida a análise de relação
entre o gênero e os valores, uma vez que o
enfoque do trabalho era pautado na Geração
Y sem distinção.
4.2 ANÁLISE DESCRITIVA DAS ÂNCORAS DE
CARREIRA E A INFLUÊNCIA DO PERFIL DO
RESPONDENTE
No âmbito de âncoras de carreira, a Figura 5
indica que 46 respondentes (18%) tinham o
estilo de vida (EV) como fator de ancoramento
de sua carreira, enquanto para 16% (40
sujeitos) a segurança e estabilidade (SE) foi a
âncora principal, permitindo-se inferir sobre a
importância atribuída à qualidade de vida e
ao sentimento de prazer naquilo que atuam,
associado à estabilidade no emprego,
corroborando estudos anteriores com outras
classes de indivíduos pertencentes à Geração
Y
(HENSEN;
LEUTY,
2012;
SILVA;
MENDONÇA; ZANINE, 2010; CRAMPTON;
HODGE, 2009). Vale ressaltar que a
valorização da estabilidade no emprego é um
fator que aproxima essa geração das
anteriores e, hoje, a empregabilidade já pode
ser considerada um novo alvo profissional
(MARTINS, 2001).
De fato, a instabilidade do mercado de
trabalho tem estimulado a busca dos jovens
por organizações que ofereçam estabilidade,
planos de carreiras definidos, efetivas
oportunidades de ascensão e bons salários
associado a um equilíbrio entre vida
profissional e vida pessoal (CAVAZOTTE,
LEMOS; VIANA, 2012). Esse cenário acaba
por exigir dos jovens profissionais que
adquiram habilidades de gerenciamento da
própria carreira profissional, a fim de
alcançarem os resultados almejados.
A gerência geral (GG), que se encontra na
terceira posição no presente estudo com
maior número de indivíduos ancorados (11%),
é uma das competências de maior
valorização no mundo empresarial e está
associada às tendências do mercado de
trabalho, com enfoque na visão de solucionar
problemas e na tomada de decisão em
situações de incerteza. Lemos e Pinto (2008)
afirmam que as organizações, no momento do
recrutamento,
priorizam
os
aspectos
comportamentais
em
detrimento
dos
conhecimentos técnico-científico dos jovens.
A relevância da gerência como âncora de
carreira, bem como sua importância em um
mercado mutável e dinâmico, possibilita
repensar na necessidade de superação de
currículos tradicionais nos cursos de
graduação de base tecnológica, bem como
no estímulo de um aluno que é ativo na
construção do seu próprio conhecimento
(LABURÚ; BARROS; SILVA, 2011).
Essa constatação pode ser corroborada pelo
baixo predomínio da âncora de carreira
técnico-funcional (TF - 7%), demonstrando
que esta geração está buscando novas
perspectivas comportamentais e interpessoais
que extrapolam a esfera técnica. Essa âncora,
Tópicos em Administração - Volume 15
108
de fato, representa o que mais se aproxima
dos ideais de carreira do passado recente,
que tinham como premissas a estabilidade e
um vínculo entre organização e funcionário
(BALASSIANO, 2009).
A âncora autonomia e independência (AI) foi
identificada por 10% dos sujeitos da amostra,
confirmando uma rejeição à rígida submissão
ao controle pela organização e pelo ambiente
profissional, em benefício da flexibilidade nas
relações de trabalho (SCHEIN, 1993;
CAVAZOTTE;
LEMOS;
VIANA,
2012).
Conforme demonstrado no trabalho de Silva
(2010), a autonomia almejada pela Geração Y
estimula esses jovens a planejarem suas
carreiras de modo independente da empresa
nas quais atuam, embora procurem por
estabilidade no trabalho, permitindo que
ainda utilizem o know-how adquirido na
organização
para
expandirem
seus
conhecimentos e linha de atuação futura no
mercado,
exibindo
características
de
Carreiras Inteligentes (SILVA, 2010).
A âncora puro desafio (DP) representou 9%
dos respondentes e muitas vezes tem-se a
associação entre desafio e prestígio,
ilustrando que os respondentes entendem o
enfretamento de desafio como um meio de
ascensão profissional e conquista de prestígio
e status no ambiente de trabalho.
A âncora, quando singular, com menor
frequência foi a de serviço e dedicação a uma
causa (SD), representando 5% do total de
alunos
que
participaram
do
estudo,
confirmado pela noção proteana de carreira,
na qual a carreira profissional de hoje pode
assumir diferentes formas, não apresentando
apenas uma causa exclusiva (ECARD et al.,
2016). Outro ponto de discussão, no tocante à
importância de se dedicar a uma causa, se
faz interessante por meio da comparação
entre os resultados obtidos por brasileiros e
estrangeiros no trabalho de Papavasileiou e
Lyons (2015), que constataram uma adesão
maior de jovens da Geração Y de outras
nacionalidades ao combate de injustiça social
e à vontade de mudar o mundo, ilustrando
que estrangeiros estão mais propensos a se
motivarem frente a causas sociais.
igualmente fortes, valendo a reflexão sobre o
número de âncoras de carreira dominantes
em um determinado indivíduo. Segundo
Feldman e Bolino (1996), as âncoras podem
ser analisadas de acordo com três dimensões
específicas:
talentos
(Competência
Técnica/Funcional, Competência de Gestão
Global e Criatividade Empreendedora)
motivos/necessidades
(Segurança/Estabilidade,
Autonomia/Independência e Modo de Vida) e
valores (Serviço/Dedicação a uma Causa e
Desafio Puro). Logo, os autores defendem
que é possível que um indivíduo expresse
afinidade por mais de uma âncora de carreira,
uma vez que poderá apresentar uma âncora
ao nível dos talentos, outra ao nível dos
motivos/ necessidades e, por fim, uma ao
nível dos valores.
Nesse sentido, percebe-se que indivíduos
com carreira ancorada na criatividade
empreendedora, associado à âncora de
gerência geral (GC-CE), são os perfis de
competência de maior valorização no
discurso empresarial e compatíveis com as
tendências do mercado de trabalho atual.
Considerando um cenário cada vez mais
dinâmico e complexo, com inovações
aflorando a um ritmo crescente, Schein (1996)
coloca que indivíduos ancorados em
criatividade empreendedora certamente terão
um aumento de oportunidades, devido a
valorização de novas ideias. Vale destacar
que a Comissão de Educação, Cultura e
Esporte do Senado Federal aprovou o projeto
de lei do Senado nº 772/2015 de 2015 que
inclui o estudo do empreendedorismo no
currículo da educação básica, como também
estabeleceu como finalidade da educação
superior o estímulo ao empreendedorismo e à
inovação (BRASIL, 2015).
A multiplicidade de âncoras de carreiras
também foi observada em outros estudos
(TAN;
QUEK,
2001;
RAMAKRISHNA;
POTOSKY, 2003), destacando-se o trabalho
de Martineau, Wils e Tremblay (2005) em cuja
amostra de 900 engenheiros, 30.3% possuiam
uma
âncora
de
carreira
dominante,
demonstrando que 69.7% apresentavam
âncoras de carreira múltiplas.
No presente estudo, 42 respondentes (17%)
evidenciaram duas âncoras de carreira
Tópicos em Administração - Volume 15
109
Figura 5: Âncoras de carreira obtidas para a amostra estudada
Fonte: Elaborado pelos autores.
A Tabela 3 apresenta a contingência entre a
âncora de carreira e a idade, bem como
resultado do teste de qui-quadrado. Por meio
da análise da Tabela 3 verifica-se que, no
nível de significância de 5%, não há
associação entre a âncora de carreira e a
idade, refutando-se a hipótese 1a e
comprovando, novamente, a caracterização
bem definida dessa geração. Nesse estudo,
não foi desenvolvida a análise de relação
entre o gênero e as âncoras de carreira, uma
vez que o enfoque do trabalho era pautado na
Geração Y sem distinção.
Tabela 3: Análise de contingência entre a âncora de carreira e a idade
Fonte: Elaborado pelos autores
Tópicos em Administração - Volume 15
110
4.3
CORRESPONDÊNCIA
ENTRE
OS
VALORES PESSOAIS E AS ÂNCORAS DE
CARREIRA
Verifica-se, por meio da análise da Figura 6, a
associação entre a âncora de carreira (para
os alunos que possuem apenas uma âncora)
e os valores terminais primários.
É possível notar que os sujeitos ancorados em
gerência geral (GG) consideraram como
valores importantes a liberdade e o mundo de
beleza. Diferentemente, aqueles ancorados
em autonomia e independência (AI) acreditam
que o prazer é um valor importante. A
igualdade é considerada um valor importante
para os indivíduos com âncora em serviço e
dedicação a uma causa (SD), enquanto que
para estilo de vida (EV) como âncora de
carreira a vida excitante e segurança familiar
predominam. Os indivíduos que escolheram
criatividade empreendedora (CE) como ponto
de ancoragem de carreira atribuíram maior
importância ao um mundo de paz; já a
felicidade e uma vida confortável são valores
importantes para os sujeitos com a carreira
ancorada em segurança e estabilidade
(SE). Aqueles com âncoras de puro desafio
(PD) prezam pelo amor maduro e pela
harmonia interior, sendo indivíduos ancorados
em aptidão técnico-funcional (TF) também
consideram a harmonia interior fundamental.
Apresenta-se, na Figura 7, a associação entre
a âncora de carreira (para os alunos que
possuem apenas uma âncora) e os valores
instrumentais primários.
Figura 6: Análise de correspondência entre a âncora de carreira e o valor terminal
Fonte: Elaborado pelos autores
Tópicos em Administração - Volume 15
111
Figura 7: Análise de correspondência entre a âncora de carreira e o valor instrumental
Fonte: Elaborado pelos autores (2016)
Os respondentes com âncora em puro desafio
(PD) consideram importante a polidez, a
prestatividade e a intelectualidade. O valor
liberal é prezado por aqueles ancorados em
estilo de vida (EV). A ambição é considerada
o valor mais importante para os indivíduos
com âncora em gerência geral (GG),
enquanto para os indivíduos com âncora em
criatividade empreendedora (CE), a tolerância
é um valor fundamental. A imaginação e a
animação destacam-se como valores para os
indivíduos que possuem carreira ancorada em
autonomia e independência (AI); em
contrapartida, indivíduos vinculados com o
ancoramento técnico-funcional (TF) prezam
pelo autocontrole. A responsabilidade, a
capacidade e o amor são importantes para os
sujeitos que tem a carreira ancorada em
segurança e estabilidade (SE), enquanto a
âncora em serviço dedicado a uma causa
está mais associado com o valor de
responsabilidade.
Stackman, Pinder e Connor (2004) mostram a
existência de um relacionamento aproximado
entre os valores pessoais e as âncoras de
carreira, dado que os valores são prioridades
e necessidades pessoais que direcionam o
comportamento, atitudes e escolhas.
Sob o exposto, de forma qualitativa, no
presente estudo é possível constatar uma
correspondência entre o tipo de âncora de
carreira e os valores pessoais dos indivíduos,
tanto valores terminais quanto valores
instrumentais. De fato, segundo Abrahim
(2008), indivíduos com carreira ancorada em
gerência geral valorizam a liberdade, o
reconhecimento social, a ambição e a
independência, assumindo cargos altos e
prezando pela admiração das outras pessoas.
Nos
indivíduos
vinculados
com
o
ancoramento em autonomia e independência,
há um predomínio de realizar as coisas do
seu modo, de acordo com ritmo e padrões
próprios. Ademais, preferem optam por uma
posição de trabalho que lhes confira menores
ganhos
financeiros,
mas
que
lhes
proporcionem mais autonomia e prazer de
realização. Quando possui carreira ancorada
no estilo de vida, os indivíduos buscam
harmonizar a necessidade pessoal e familiar
com a carreira profissional, priorizando a
qualidade de vida (SCHEIN, 1993; Schein,
Tópicos em Administração - Volume 15
112
1996). Indivíduos que estão ancorados em
aptidão técnico-funcional, valorizam amizade
verdadeira e, principalmente, o autocontrole,
pois esses indivíduos gostam de trabalhar
com bastante autonomia (Abrahim, 2008).
5. CONCLUSÕES
Constatou-se que a maioria dos indivíduos
indivíduos
pertencia
à
Geração
Y,
apresentando valores e ancoramento de
carreira compatíveis com o perfil dessa
geração. Por meio das análises descritivas, foi
possível mapear os valores terminais
predominantes
para
os
indivíduos,
destacando a felicidade, a vida confortável e
a segurança familiar. Complementarmente, os
três valores instrumentais predominantes
foram a honestidade, a ambição e a
responsabilidade. Esses valores apontam que
os futuros profissionais e líderes atribuem
importância significativa à escolha de
atividades prazerosas e interessantes como
meio de obterem satisfação pessoal e
sucesso em suas carreiras, alcançando uma
almejada vida confortável. Ainda, a Geração Y
prioriza organizações que lhe apresente um
claro plano de carreira com efetiva
oportunidade
de
desenvolvimento
profissional,
fundamentado
na
responsabilidade e ganhos por competência,
além de almejarem a formação de uma
sociedade ética e honesta.
As principais âncoras identificadas foram
estilo de vida e segurança e estabilidade, o
demonstrando a busca pela estabilidade da
carreira tradicional e pelo equilíbrio das
esferas pessoais e profissionais, primando
pela integração das necessidades do trabalho
com as necessidades individuais e familiares.
Análises
inferenciais
foram
realizadas,
comparando-se os valores terminais e
instrumentais com a idade dos participantes.
Contudo, não foi identificada associação entre
esses parâmetros, indicando a existência de
homogeneidade na amostra estudada, devido
ao perfil bem delineado da Geração Y. De
fato, foi observado que, embora se tratasse
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de alunos de Engenharia, os valores e as
âncoras de carreira identificados neste estudo
apresentaram grande semelhança com
trabalhos anteriores que utilizaram como
amostra outras classes de indivíduos
(inclusive, estrangeiros) pertencentes à
mesma faixa etária, evidenciando que os
valores pessoais e profissionais dos
indivíduos da Geração Y muitas vez se
sobressai em relação aos valores que
poderiam ser peculiares a indivíduos de
diferentes formações acadêmicas. Também
não se constatou associação entre as âncoras
e a idade; portanto as hipóteses formuladas
não foram validadas no presente estudo.
A análise de correspondência mostrou
interações interessantes entre os valores
pessoais e as âncoras de carreira. Como
exemplo, a âncora estilo de vida está
associada aos valores de vida excitante e da
segurança familiar, indo ao encontro ao
desejo da âncora segurança e estabilidade,
que foi a segunda mais frequente no estudo.
Nesse caso, observa-se uma transposição do
valor segurança para a carreira.
Percebe-se, assim, a importância de estudos
no âmbito de âncoras de carreira, bem como
a análise de correlação com valores terminais
e instrumentais, a fim de delinear um melhor
perfil de uma determinada geração,
auxiliando os gestores a se atentarem aos
valores, motivações e expectativas dos novos
profissionais, além dos educadores a
refletirem sobre componentes curriculares
que atendam a este novo perfil de jovem.
Por fim, constatou-se a atual necessidade do
jovem da Geração Y em saber administrar as
transições em sua carreira e em sua vida,
estimulando novos estudos na área. Cabe
ainda o desenvolvimento de pesquisas futuras
que possam aprofundar as correlações
existentes entre os valores, as âncoras e o
perfil dos participantes, englobando uma
análise por gênero. Novos estudos podem ser
feitos para atribuir a influência dos valores na
inclinação profissional, utilizando-se um plano
amostral maior que contemple o estudo com
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Tópicos em Administração - Volume 15
115
Capítulo 11
Neusa Maria Bastos Fernandes dos Santos
Nelson José Rosamilha
Resumo:Num cenário de rápida mudança do ambiente de negócios, as empresas
buscam aumento de produtividade e manutenção da competividade. As
organizações que aumentarem seus conhecimentos estarão melhor preparadas e
esse recurso estratégico, quando corretamente gerenciado, permite criar valor pela
exploração da produção, cenário em que os projetos são o mecanismo de entrega
de produtos e serviços e o maior desafio de negócios. Os projetos utilizam
trabalhadores do conhecimento que se beneficiam do conhecimento acumulado e
aprendem com outros projetos. A transferência de conhecimento passa a ter papel
importante na integração do conhecimento para a entrega de produtos e serviços.
Este estudo, resultado de uma dissertação de mestrado, é uma pesquisa
quantitativa cujo objetivo é identificar essas práticas de transferência de
conhecimento e se são aplicáveis em gerenciamento de projetos. Para isso, foi
realizado um levantamento teórico, identificando as práticas de transferência de
conhecimento e, posteriormente, um questionário aplicado à comunidade de
gerenciamento de projetos para saber se essas práticas poderiam ser aplicadas na
transferência de conhecimento em gerenciamento de projetos. Obteve-se 365
respostas válidas, categorizadas nos grupos Comunicação, Técnica, Liderança,
Ferramenta, Procedimento e Cultura e, por meio de análises de estatísticas
descritivas, identificou-se 22 práticas de transferência de conhecimento.
Palavras-chave: Transferência de Conhecimento; Gerenciamento de Projetos;
Gestão do Conhecimento; Compartilhamento de Conhecimento; Disseminação do
Conhecimento
Tópicos em Administração - Volume 15
116
1. INTRODUÇÃO
O ambiente de negócios muda rapidamente
em um contexto em que o conhecimento e
gestão do conhecimento têm papel crítico no
aumento da produtividade e na manutenção
da
competitividade
das
empresas
(BRADSHAW; PULAKANAM; CRAGG, 2015).
As organizações que aumentarem seus
conhecimentos estarão melhor preparadas
para enfrentar as incertezas do ambiente
organizacional, dinâmica do mercado, ciclos
econômicos e se manterão competitivas e
sustentáveis (ALMEIDA; SOARES, 2014).
Nesse cenário, o conhecimento é o recurso
mais importante na organização e a vantagem
competitiva mais duradoura (BRADSHAW;
PULAKANAM; CRAGG, 2015), ele é
considerado um recurso estratégico que,
quando corretamente gerenciado, permite às
organizações criar valor pela exploração da
produção (DEEDS; MARIE DECAROLIS,
1999). Em virtude da relevância do
compartilhamento de conhecimento, as
organizações se esforçam em criar condições
para que os funcionários compartilhem seus
conhecimentos
(REYCHAV;
WEISBERG,
2010), e a habilidade de compartilhar este
conhecimento é positivamente associada ao
desempenho
organizacional
superior
(MUELLER, 2014). Os projetos se tornaram o
veículo de entrega mais importante para
produtos e serviços em uma economia
caracterizada por uma forte concorrência,
com ciclos de vida cada vez mais reduzidos
(JACKSON; KLOBAS, 2008) e são apontados
frequentemente como o maior desafio de
negócios das organizações. O Project
Management Institute (PMI) é uma entidade
de gestão de projetos com cerca de 470 mil
associados
(ANDERSON;
GREENBERG,
2017, p. 4), cuja missão é impulsionar e
desenvolver a carreira de gestão de projetos
pelo mundo e divulgar as melhores práticas
de gerenciamento de projetos. Em relatório
publicado pelo PMI em 2015, cujo título é
“Capturando o valor do gerenciamento de
projetos” (PMI, 2015), concluiu-se que um
processo formal de transferência de
conhecimento aumenta consideravelmente as
chances de entrega do projeto (PMI, 2015, p.
11). De acordo com esse relatório:
a)
75%
das
empresas
de
alto
desempenho que completam 80% ou mais
dos projetos no prazo, atingindo o orçamento
e objetivos previstos, possuem um processo
formal de transferência de conhecimento;
b)
Somente 35% das empresas de baixo
desempenho possuem um processo formal de
transferência
de
conhecimento;
estas
completam apenas 60% de seus projetos no
prazo e possuem orçamento e objetivos
alcançados;
c)
Organizações mais efetivas em
transferência de conhecimento melhoram os
resultados dos projetos em 35%;
d)
A transferência de conhecimento é
uma ferramenta de aprendizagem que pode
fortalecer o desempenho da equipe,
enfatizando a colaboração e a inovação (PMI,
2015, p. 13).
As organizações usam cada vez mais equipes
de trabalhadores do conhecimento para
realizar projetos e acreditam que elas podem
se beneficiar do conhecimento acumulado e
aprender com outros projetos (ZHAO; ZUO;
DENG, 2015). Devido à volatilidade dos
projetos, eles se tornaram um problema
informacional interessante: são configurações
transitórias, na maioria das vezes utilizando
recursos distribuídos, parcial ou totalmente
virtualizados em relação à interação, e
intensiva utilização de fluxos de informação
com grandes quantidades de conteúdo para
ser gerenciado (ALMEIDA; SOARES, 2014).
Em
uma
equipe
de
projeto,
o
compartilhamento de conhecimento é muito
importante porque:
a)
Fornece uma ligação entre o membro
e a equipe do projeto, reduz os custos e
aumenta o desempenho da equipe (JAFARI
NAVIMIPOUR; CHARBAND, 2016);
b)
Aumenta
consideravelmente
as
chances de entrega do projeto (PMI, 2015, p.
14);
c)
As interações e comunicações que
ocorrem entre os membros incrementam a
capacidade do time em desenvolver novos
conhecimentos dentro da própria equipe, que
são cruciais para o sucesso do projeto
(BARTSCH; EBERS; MAURER, 2013).
Zhao, Zuo e Deng (2015) relataram que as
equipes de projetos enfrentam pressões de
prazo rigorosos para completar suas
atividades e efetuar suas entregas de
projetos, tornando-os fortemente focados;
como consequência, a equipe se concentra
Tópicos em Administração - Volume 15
117
mais nas tarefas para entregar o projeto do
que na transferência de conhecimento,
acarretando falta de aprendizado em outros
projetos que poderiam usufruir dessa
experiência. Sem uma partilha eficaz de
conhecimento, as organizações podem não
integrar os conhecimentos críticos, as
competências e as capacidades dos
especialistas para realizar o trabalho
complexo (ZHANG; PABLOS; ZHOU, 2013).
Uma vez terminado o projeto, o conhecimento
criado deve ser transferido para a
organização como um todo, com a finalidade
de aprendizagem organizacional e contribuir,
dessa maneira, para uma base de
conhecimento comum entre os projetos
(ALMEIDA; SOARES, 2014). Almeida e Soares
(2014) enfatizam particularmente que a
gestão do conhecimento e a transferência de
conhecimento na literatura de gestão de
projetos é um campo de pesquisa que terá
grande atenção nos próximos anos. Goyette e
outros (2015) discorrem sobre a necessidade
da existência de um mecanismo formal de
transferência de conhecimento para servir
como base de conhecimento para projetos
futuros. Jafari Navimipuor e Charband (2016)
concluíram que estudos antecedentes ao
trabalho deles são raros e as práticas de
transferência de conhecimento e pesquisas
sobre o tema continuam sendo desafiadas
quanto à capacidade efetiva de alcançar
resultados eficazes (WIEWIORA et al., 2014).
Quando
aplicadas
efetivamente
na
organização, elas melhoram o desempenho
dos projetos, como apresentado pelo relatório
“Capturando o Valor do Gerenciamento de
Projetos” (PMI, 2015), situação em que as
empresas
que
adotam
práticas
de
transferência de conhecimento têm 70% dos
objetivos de negócio atingidos contra 57%
das que não adotam, 59% das empresas
terminam o projeto no prazo contra 41% e, por
fim, 62% finalizam os projetos dentro do
orçamento contra 48%. O desafio é identificar
as práticas de transferência de conhecimento,
que podem transmitir introspecções e
conhecimentos valiosos de um projeto para
outro, independentemente de onde os
profissionais residem (PMI, 2015, p. 14). A
finalidade deste artigo é, por meio da
pesquisa da literatura, identificar as melhores
práticas de transferência de conhecimento,
aplicar um questionário de pesquisa junto à
comunidade de gerenciamento de projetos e
verificar a aplicabilidade dessas práticas em
gerenciamento de projetos.
1. 0 REFERENCIAL TEÓRICO
Projeto é definido como um esforço com início
e fim bem definidos, realizado para criar um
produto, serviço ou resultado exclusivo (PMI,
2013, p. 3a). Um projeto pode ser dividido em
fases, isto é, um conjunto de atividades
logicamente relacionadas cujo objetivo, ao
seu término, é entregar parte do trabalho do
projeto que pertence a uma entrega principal
do projeto, facilitando, assim, o planejamento
e controle (PMI, 2013, p. 40). Essas fases de
projetos possuem algumas características em
comum (PMI, 2013, p. 40):
a)
o trabalho realizado tem um foco
distinto que difere de qualquer outra fase. Isso
geralmente envolve diferentes organizações,
locais e conjuntos de habilidades;
b)
atingir a principal entrega ou objetivo
da fase requer controles ou processos
exclusivos para a fase ou suas atividades;
c)
o encerramento de uma fase termina
com alguma forma de transferência ou
transferência do produto do trabalho
produzido como produto de fase.
Para que os objetivos de um projeto sejam
atingidos, ele deve ser gerenciado. O
gerenciamento de projetos é a aplicação de
conhecimentos, habilidades e técnicas para
atingir os requisitos do projeto (PMI, 2013, p.
5) e é executado pelo gerente de projetos,
que é a pessoa autorizada pela organização
que irá liderar a equipe do projeto (PMI,
2015b, p. 8).
A equipe de projeto é geralmente composta
por membros de diferentes áreas funcionais
que atuam juntos para compartilhar seu
conhecimento para atingir os resultados do
projeto (MEHTA; HALL; BYRD, 2014); eles
diferem de outras equipes pela natureza não
repetitiva de suas tarefas. A aplicação de
conhecimento pelo gerente de projetos requer
a gestão efetiva dos processos de
gerenciamento de projetos. O guia PMBOK 5
Ed (PMI, 2013, p. 46) estabelece que, para
que um projeto tenha sucesso, o gerente de
projetos junto com sua equipe devem
selecionar os processos adequados para
atingir os objetivos do projeto, definir uma
abordagem que possa ser adaptada para
atender aos requisitos do projeto, cumprir os
requisitos para atingir as expectativas dos
interessados do projeto e balancear as
Tópicos em Administração - Volume 15
118
restrições de escopo, prazo, orçamento,
qualidade, riscos e recursos para produzir o
produto, serviço ou resultado esperado do
projeto. O gerente de projetos e sua equipe
devem cuidadosamente endereçar cada
processo, suas entradas e saídas, os quais
são aplicados no projeto em que estão
atuando (PMI, 2013, p. 48). Ao longo do ciclo
de vida do projeto, uma quantidade
significativa de dados e informações é
coletada,
analisada,
transformada
e
distribuída em vários formatos para os
membros da equipe do projeto e outras partes
interessadas (PMI, 2013, p. 58) e, durante o
ciclo de vida do projeto, as informações são
intercambiadas entre o projeto e a
organização.
1.1 GESTÃO DO CONHECIMENTO
Conhecimento pode ser definido como a
capacidade
individual
de
encontrar
interpretações e significados, levando uma
ação a criar valor para a organização
(NONAKA; TAKEUCHI, 1995). Segundo os
autores, ele é um patrimônio fundamental para
as empresas, ao invés da fábrica ou
equipamento (TAKEUCHI; NONAKA, 2008, p.
166) e pode ser explícito ou tácito; o explícito
é articulado em linguagem formal e é fácil de
codificar, transferir ou armazenar, enquanto o
tácito é pessoal e difícil de codificar porque
ele é esculpido nas ações, procedimentos,
rotinas, valores e emoções dos indivíduos
envolvidos. O processo de capturar a
experiência coletiva da organização de
diferentes fontes (pessoas, banco de dados,
documentos etc.) e utilizar essa base de
conhecimento
para
desenvolver
a
organização
é
chamado
Gestão
do
Conhecimento
e
é
composto
por
subcomponentes (GOYETTE et al., 2015),
esclarecidos pelo modelo de quatro fases
(SEDERA; GABLE, 2010), como exposto a
seguir.
1.
Criação de conhecimento: engloba
tudo o que está relacionado ao processo de
criação do conhecimento obtido através de
recursos internos ou especialistas externos.
2.
Retenção do conhecimento: consiste
em manter o conhecimento em uma forma
referencial
para
permitir
que
esse
conhecimento dure ao longo do tempo.
3.
Transferência
de
conhecimento:
implica o uso de canais informais e formais
para permitir a distribuição de conhecimento
dentro de uma organização.
4.
Aplicação do conhecimento: é o uso
do conhecimento por um ou mais indivíduos
que receberam o conhecimento durante a
transferência.
Nonaka e Takeuchi (1995) propuseram o
modelo SECI unificado de criação e
transferência de conhecimento organizacional
e argumentaram que o conhecimento é criado
por meio da interação e intersecção entre
conhecimento tácito e explícito, interações
que ocorrem ao longo de quatro estágios:
1.
socialização é o processo de
converter o novo conhecimento tácito na base
existente de conhecimento tácito. É o
processo
de
compartilhamento
de
experimentos, por meio do qual a pessoa
adquire conhecimento tácitos diretamente dos
demais, o fundamento para a aquisição deste
conhecimento é a experiência compartilhada
(TAKEUCHI; NONAKA, 2008, p. 60);
2.
externalização é o processo de
articulação do conhecimento tácito no
conhecimento explícito. É o processo de
conexão do conhecimento tácito tornando-se
explícito através de imagens, comparações,
figuras, símbolos ou modelos, promovendo a
reflexão entre as pessoas e transformando o
conhecimento
tácito
em
articulável
(TAKEUCHI; NONAKA, 2008, p. 61);
3.
Combinação é o processo de
conversão do conhecimento explícito em
conjuntos mais complexos e sistêmicos de
conhecimento explícito. As pessoas trocam e
substituem conhecimento explícito podendo
levar a novo conhecimento (TAKEUCHI;
NONAKA, 2008, p. 66);
4.
Internalização é o processo de
incorporar o conhecimento explícito no
conhecimento
tácito.
Quando
as
experimentações
de
Socialização,
Experimentação e Combinação são adotadas
de modo inconsciente (aprender fazendo) na
base de conhecimento tácito do indivíduo
(TAKEUCHI; NONAKA, 2008, p. 67).
A relação contínua entre conhecimento tácito
e explícito, por meio dos diferentes modos de
conversão de conhecimento entre os
indivíduos da organização, desencadeia o
Tópicos em Administração - Volume 15
119
conhecimento organizacional e, quando o
conhecimento tácito e o explícito agem
mutualmente, emerge uma inovação que, no
modelo SECI, de Takeuchi e Nonaka (2008), é
chamada de espiral do conhecimento. A
utilização conjunta dos processos de
socialização, externalização, combinação e
internalização com a intenção de criar,
capturar,
armazenar
e
aplicar
os
conhecimentos cruciais para a organização é
definida como gestão do conhecimento
(TAKEUCHI; NONAKA, 2008) e tem como
preceito a recuperação, o compartilhamento,
a utilização e a assimilação do conhecimento
presentes na organização, os processos de
construção e gestão do conhecimento no
contexto organizacional é uma tarefa
complexa (JORGE; FALÉCO, 2016).
1.2 IMPORTÂNCIA DA TRANSFERÊNCIA DE
CONHECIMENTO EM GERENCIAMENTO DE
PROJETOS
Kirsch e King (2005) e Szulanski (1996) veem
a transferência de conhecimento como dois
subprocessos – enviar conhecimento e
receber conhecimento – durante os quais a
fonte comunica conhecimento com o
destinatário. Argote e Ingram (2000)
destacam a consequência do processo e as
diferenças nos contextos ao examinar a
transferência de conhecimento, em que a
unidade de uma organização, como grupo ou
departamento, é afetada pela experiência do
outro. Goyette e outros (2015) adicionam que
há também atividades de comunicação de
transferência de conhecimento entre um
projeto de origem para um projeto de destino,
de modo que o conhecimento útil seja
absorvido e reutilizado pelo projeto de
destino. Zhao, Zuo e Deng (2015)
acrescentam que a dissolução dos membros
da equipe após a conclusão do projeto pode
aumentar o risco de perda de conhecimento.
Segundo Almeida e Soares (2014), uma vez
que um projeto termine, o conhecimento
criado deve ser transferido para a
organização como um todo, com a finalidade
de aprendizagem organizacional, e contribuir
dessa maneira para uma base de
conhecimento comum. Para ocorrer esse
compartilhamento de conhecimento, diversos
mecanismos
de
transferência
de
conhecimento podem ser utilizados.
Goyette e outros (2015) elucidam que a
transferência de conhecimento é um
subcomponente da gestão do conhecimento
e ocorre por meio de mecanismos formais e
informais que integrem, interpretem e
compartilhem conhecimento ancorado em
indivíduos
ou
grupos
de
indivíduos,
permitindo que os membros da organização
compartilhem, disseminem e reproduzam
informações, difundindo essa informação em
locais que necessitem e possam pôr em
prática o conhecimento existente da empresa
(DONATE; SÁNCHEZ DE PABLO, 2015).
A transferência de conhecimento em projetos
é um processo desafiador e complexo,
porque
os
projetos
são
formas
organizacionais temporárias por natureza
(ZHAO; ZUO; DENG, 2015), em que a equipe
é geralmente composta por membros de
diferentes áreas funcionais que se reúnem
para compartilhar seus conhecimentos para
alcançar os resultados do projeto (MEHTA;
HALL; BYRD, 2014). Já Goyette e outros
(2015) demonstram a necessidade de contar
com mecanismos formais e informais de troca
de
conhecimento
entre
diferentes
interessados no projeto. O compartilhamento
de conhecimento fornece uma ligação entre
os membros da equipe do projeto, reduzindo
custos e aumentando o desempenho da
equipe (JAFARI NAVIMIPOUR; CHARBAND,
2016). Para Reychav e Weisberg (2010), as
organizações se esforçam para criar
condições para que os funcionários
compartilhem conhecimento. O gerente de
projetos procura padronizar as práticas de
gerenciamento de projetos de acordo com
suas experiências passadas (VICENTEOLIVA;
MARTÍNEZ-SÁNCHEZ;
BERGESMURO, 2015). Há um consenso de que a
aplicação de melhores práticas de processos
de gerenciamento de projetos demonstra
aumento nas chances de sucesso na entrega
dos projetos (PMI, 2013, p. 47). O desafio,
então, é identificar as práticas de
transferência de conhecimento que podem
transmitir introspecções e conhecimentos
valiosos de um projeto para outro (PMI, 2015,
p. 14), para que a execução da transferência
de conhecimento seja bem-sucedida.
2. METODOLOGIA
A estratégia desta pesquisa foi dividida em
pesquisa bibliográfica, mapeamento das
melhores práticas de transferência de
conhecimento, elaboração de questionário
com questões fechadas, por meio do Survey
Mokey, aplicação de pré-teste, ajustes no
questionário, aplicação do questionário e, por
Tópicos em Administração - Volume 15
120
fim, análise de dados. Pesquisa bibliográfica
feita por meio do Web of Science permitiu a
obtenção de referencial teórico sobre o tema
práticas de transferência de conhecimento.
Para a identificação das melhores práticas, as
seguintes palavras chaves foram levadas em
consideração
na
pesquisa:
Project
management .and. knowledge exchange .or.
transfer of knowledge .or. knowledge transfer
.or. exchange of knowledge E Project
management .and. (knowledge dissemination)
.or. (dissemination of knowledge).
2.1 INSTRUMENTO DE PESQUISA
O questionário de pesquisa foi dividido em
três partes: informações demográficas,
experiência profissional e melhores práticas.
Na primeira parte, procurou-se obter
informações demográficas como gênero,
idade e escolaridade e informações sobre o
ramo de trabalho da empresa. Na segunda
parte, buscou-se aprofundar sobre o tempo
que o profissional exerce a prática de
gerenciamento de projetos e se é certificado
por alguma entidade de gerenciamento de
projetos ou associado a ela. Na terceira parte,
são apresentadas aos respondentes as
práticas identificadas neste estudo, que, por
meio do método Likert, indicam atitudes
negativas e positivas sobre um objeto
(RICHARDSON, 1999; SZULANSKI, 1996). Na
escala Likert, os respondentes marcam o item
em uma das categorias: 5. Concordo
plenamente; 4. Concordo; 3. Indeciso; 2.
Discordo e 1. Discordo plenamente. No
Quadro 1, é apresentado o mapeamento das
melhores práticas referenciado na pesquisa
bibliográfica e a questão relacionada a ela.
Quadro 1 – Lista de Melhores práticas x Questão
Melhor prática
Treinamentos formais
Manuais e procedimentos
Documentos informais
Documentos e guias
Utilização de oficinas
Técnicas de narrativas
Comunidades de prática
Comunicação frequente
Estratégia para gerenciamento
de
informação
corporativa
(GIC)
Cultura organizacional
Suporte, apoio e motivação dos
líderes
Prêmios e reconhecimentos
Questão
Sessões de capacitação para a equipe de projetos provida por especialistas
ou fornecedores
Documentação produzida voluntariamente pelos membros das equipes de
projetos
Intercâmbio informal de documentos não estruturados entre os membros da
equipe de projetos
Documentos de lições aprendidas, guias e passo a passo produzido pela
equipe
Utilização de laboratórios com práticas e processos para a equipe refletir sobre
os resultados do projeto
Utilização de recursos visuais de maneira relevante para explicar e auxiliar na
capacitação de conhecimento
Utilização de reuniões regulares na organização para criar condições que
proporcionem o aumento de conhecimento entre os membros
Comunicação consistente e verossímil aumenta a eficácia da transferência de
conhecimento entre os membros da equipe de projetos
As informações do projeto devem ser criadas, organizadas e acessadas por
todos os membros da organização de uma base de conhecimento mantida por
profissionais de gestão de conteúdo que se utilizam de ferramentas e modelos
de gestão de conhecimento
Comprometimento da administração em valorizar e apoiar métodos de
transferência de aprendizado
A liderança valoriza, encoraja e motiva a equipe para compartilhar
conhecimento
A liderança reconhece e premia os indivíduos que têm maior disposição em
compartilhar conhecimento
A empresa proporciona condições para a equipe ter tempo para realizar a
transferência de conhecimento
Tempo
disponível
para
compartilhar conhecimento
Valorizar o sentimento de
O sentimento de confiança mútuo entre os membros da equipe de projeto é
confiança entre os membros da
valorizado e incentivado.
equipe
Tópicos em Administração - Volume 15
121
Quadro 1 – Lista de Melhores práticas x Questão (continuação)
Melhor prática
Questão
Utilização
de
equipes Equipes multifuncionais de projetos proporcionam rápida resolução de
multifuncionais
problemas e facilitam a transferência de conhecimento
A atuação de um facilitador na equipe de projetos dinamiza o apoio à equipe,
Adoção do papel de facilitador coordenação, gestão das partes interessadas tornando a comunicação mais
eficiente
Utilização de especialistas em Utilização de especialistas técnicos aconselhando, suportando e
assuntos técnicos
implementando produtos e serviços
Diálogo dentro das redes Diálogos informais entre os membros da equipe de projetos enfatizam a
sociais
transferência de conhecimento
A equipe de projetos possui autonomia para definir quais ações são
Autonomia da equipe
necessárias para a execução de seu trabalho
Existência de entrevista de saída da empresa organizada em temas-chave a
Entrevistas de saída
ser utilizada pelo colaborador que ocupará a mesma posição
Equipe
de
suporte
A rotação de função de trabalho utilizado pelas equipes
compartilhada
Objetivo e visão do Projeto
O propósito e o cenário do projeto são compartilhados com a equipe
Adoção de Escritório de O escritório de projetos incorpora e compartilha o conhecimento acumulado
Projetos
dos projetos, assegurando a utilização em projetos futuros
Uso
de
tecnologias Utilização
de
tecnologias
colaborativas
para
equipes
dispersas
colaborativas
(videoconferência, áudio, correio eletrônico)
Lições aprendidas
Aplicação do processo de lições aprendidas em projetos
Fonte: elaborado pelo autor
Foram coletados 575 questionários de
Gerentes de Projetos nos meses de maio e
junho de 2017.
3, RESULTADOS
Identificou-se as melhores práticas de
transferência de conhecimento descritas na
Quadro 2.
Quadro 2 – Lista de Melhores práticas e Citações
Cit.
1
4
2
4
5
4
2
2
1
3
2
3
Melhor Prática
Estratégia para gerenciamento de
informação corporativa (GIC)
Valorizar o sentimento de confiança entre
os membros da equipe
Utilização de equipes multifuncionais
Autor citado
(ALMEIDA; SOARES, 2014)
(ALMEIDA E SOARES, 2014; PERALTA E SALDANHA, 2014;
STEPHENS E CARMELI, 2016; WIEWIORA ET AL., 2014)
(BOSCH-SIJTSEMA E HENRIKSSON, 2014)
(BOSCH-SIJTSEMA E HENRIKSSON, 2014; GHOBADI, 2015;
Adoção do papel de facilitador
WIEWIORA ET AL., 2014; ZHAO, ZUO E DENG, 2015)
(DONATE E SÁNCHEZ DE PABLO, 2015; DUFFIELD E
WHITTY, 2016; GHOBADI, 2015; PARK, LEE E LEE, 2015;
Comunicação frequente
WIEWIORA ET AL., 2014)
Utilização de especialistas em assuntos (BRADSHAW E PULAKANAM; CRAGG, 2015; GHOBADI,
técnicos
2015; MASSINGHAM, 2014; WIEWIORA ET AL., 2014)
(BRADSHAW, PULAKANAM E CRAGG, 2015; GHOBADI,
Treinamentos formais
2015)
(BRADSHAW, PULAKANAM E CRAGG, 2015; GHOBADI,
Manuais e procedimentos
2015)
Documentos informais
(BRADSHAW, PULAKANAM E CRAGG, 2015)
(BRADSHAW, PULAKANAM E CRAGG, 2015; DUFFIELD E
Documentos e guias
WHITTY, 2016; ZHAO, ZUO E DENG, 2015)
Utilização de oficinas
(DUFFIELD E WHITTY, 2016; HARTMANN E DORÉE, 2015)
(DUFFIELD E WHITTY, 2016; MUELLER, 2014; VICENTECultura organizacional
OLIVA, MARTÍNEZ-SÁNCHEZ E BERGES-MURO, 2015)
Tópicos em Administração - Volume 15
122
Quadro 2 – Lista de Melhores práticas e Citações (continuação)
Cit.
Melhor Prática
Autor citado
(DUFFIELD E WHITTY, 2016; GHOBADI, 2015; HARTMANN E
DORÉE, 2015; KOZAK-HOLLAND E PROCTER, 2014)
(DUFFIELD E WHITTY, 2016; DUTTON, TURNER E LEEKELLEY, 2014; GHOBADI, 2015; MASSINGHAM, 2014)
(DONATE E SÁNCHEZ DE PABLO, 2015; DUFFIELD E
WHITTY, 2016; GHOBADI, 2015; JAFARI NAVIMIPOUR E
CHARBAND, 2016; MASSINGHAM, 2014)
(DONATE E SÁNCHEZ DE PABLO, 2015; DUFFIELD E
WHITTY, 2016; GHOBADI, 2015; JAFARI NAVIMIPOUR E
CHARBAND, 2016; ZHANG, PABLOS E ZHOU, 2013)
(DUTTON, TURNER E LEE-KELLEY, 2014; ZHAO, ZUO E
DENG, 2015)
(DUTTON, TURNER E LEE-KELLEY, 2014; GOYETTE ET AL.,
2015)
(GHOBADI, 2015)
(GHOBADI, 2015)
(MASSINGHAM, 2014)
4
Técnicas de narrativas
4
Comunidades de prática
5
Suporte, apoio e motivação dos líderes
5
Prêmios e reconhecimentos
2
Adoção de Escritório de Projetos
2
Diálogo dentro das redes sociais
1
1
1
Autonomia da equipe
Uso de tecnologias colaborativas
Entrevistas de saída
Tempo disponível para compartilhar
(HARTMANN E DORÉE, 2015; MUELLER, 2014)
conhecimento
Equipe de suporte compartilhada
(GOYETTE ET AL., 2015)
Objetivo e visão do Projeto
(PARK E LEE, 2014)
(ALMEIDA E SOARES, 2014; DUFFIELD E WHITTY, 2016;
Lições aprendidas
GOYETTE ET AL., 2015; ZHAO, ZUO E DENG, 2015)
Fonte: elaborada pelo autor
2
1
1
4
3.1 DIAGNÓSTICO DA BASE DE DADOS E
TRANSFORMAÇÃO DE DADOS
Para facilitar a análise dos dados e realizar as
correlações e comparações entre os grupos,
as perguntas dos questionários foram
agrupadas nas categorias Comunicação,
Técnica,
Liderança,
Ferramenta,
Procedimento e Cultura.
Com as respostas do participante, foi somado
a nota total do Grupo vs. Nota Máxima (neste
caso 5), criando um percentual e,
transformando os dados em índice (Dado
Contínuo), apresentando a nota máxima de
cada
comportamento
conforme
a
classificação da Tabela 2.
Tabela 1 – Grupo x Questões
Grupo
Nota
Máxima
15
60
10
30
5
5
Comunicação
Técnica
Ferramenta
Liderança
Procedimento
Cultura
Quantidade
de questões
3
12
2
6
1
1
Fonte: elaborada pelo autor
As perguntas do Quadro 1 (Lista de Melhores
Práticas x Questão) estão agrupadas
conforme a Tabela 1 (Grupo x Questões),
resultando no Tabela 2.
Tópicos em Administração - Volume 15
123
Tabela 2 – Melhores práticas agrupadas
Ano
Brasil
Japão
Mundo
Ano
Brasil
Japão
Mundo
1980
0
4.743
25.077
1999
1
10.045
30.787
1981
0
4.925
26.334
2000
11
8.607
28.831
1982
0
5.256
26.910
2001
6
8.890
29.073
1983
0
5.221
24.951
2002
5
9.142
30.477
1984
0
4.445
24.132
2003
2
9.866
32.841
1985
0
5.099
26.631
2004
7
8.797
32.922
1986
0
4.572
24.604
2005
3
8.822
35.641
1987
0
4.596
24.414
2006
5
8.999
43.277
1988
0
5.778
23.985
2007
2
10.897
46.868
1989
0
4.782
22.827
2008
23
12.308
45.065
1990
0
4.231
21.555
2009
75
13.093
47.384
1991
0
5.628
23.490
2010
84
15.454
54.453
1992
0
5.539
22.761
2011
132
18.540
59.183
1993
0
6.072
22.050
2012e
159
20.101
62.380
1994
0
7.028
22.788
2013e
206
23.205
66.968
1995
0
8.482
24.680
2014e
262
26.897
71.828
1996
0
6.220
21.154
2015e
327
31.249
76.956
1997
0
7.926
24.089
2016e
404
36.333
82.351
1998
0
9.646
27.380
Fonte: elaborado pelo autor
3.2 ANÁLISE E PRIORIZAÇÃO DOS GRUPOS
Para analisar quais grupos possuem o maior
impacto para Transferência de Conhecimento
em Gerenciamento de Projetos, utilizamos as
ferramentas: Test for Equal Variances, para
comparar o desvio padrão, verificando se
pelo menos um grupo possui uma variação
diferente dos outros, e One Way ANOVA, para
comparar a média de comportamento entre os
grupos e verificar se um grupo é menos
importante que os outros. Problema
Estatístico:
a)
Test for Equal Variances
Ho : σLiderança = σComunicação = σTécnica =
σProcedimento = σFerramenta = σCultura : p-value >
0,05
Ha : Pelo menos UM grupo possui Desvio Padrão Diferente
: p-value < 0,05
b)
One-way ANOVA
Ho : µLiderança = µComunicação = µTécnica =
µProcedimento = µFerramenta = µCultura : p-value >
0,05
Ha : Pelo menos UM grupo possui uma Média Diferente
: p-value < 0,05
Realizados os Testes de Hipóteses para cada
um dos grupos e comparando-se os
resultados entre eles, foi possível priorizá-los.
Tabela 3 – Ordem de priorização dos grupos
Ordem
1
2
3
Grupo
Cultura
Comunicação
Liderança
Média Desvio Ordem
Grupo
90,9% 11,4%
4
Ferramenta
86,7% 8,9%
5
Técnica
86,5% 9,9%
6
Procedimento
Fonte: elaborada pelo autor
Tópicos em Administração - Volume 15
Média Desvio
84,8% 9,7%
72,4% 7,9%
63,5% 23,1%
124
3.3 CORRELAÇÃO DE INFLUÊNCIA ENTRE
OS GRUPOS
As práticas apresentadas neste estudo estão
distribuídas na tabela a seguir.
Tabela 4 – Média das Melhores práticas
Questão
Comunicação
consistente
e
verossímil aumenta a eficácia da
transferência de conhecimento entre
os membros da equipe
Liderança valorizar, encorajar e
motivar a equipe para compartilhar
conhecimento
Média
Questão
4.64
O sentimento de confiança mútuo entre
os membros da equipe de projeto é
valorizado e incentivado
O propósito e o cenário do projeto
são compartilhados com a equipe
4.41
Comprometimento da administração
em valorizar e apoiar métodos de
transferência de aprendizado
Utilização de recursos visuais de
maneira relevante para explicar e
auxiliar
na
capacitação
de
conhecimento
Utilização
de
tecnologias
colaborativas
para
equipes
dispersas (videoconferência, áudio,
correio eletrônico)
Sessões de capacitação para a
equipe de projetos provida por
especialistas ou fornecedores
Documentos de lições aprendidas,
guias e passo a passo produzidos
pela equipe
Aplicação do processo de lições
aprendidas em projetos
4.39
Reuniões regulares na organização
para
criar
condições
que
proporcionem
o
aumento
de
conhecimento entre os membros
Atuação de um facilitador na equipe
de projetos dinamiza o apoio à
equipe tornando a comunicação
mais eficiente
Utilização de especialistas técnicos,
aconselhando,
suportando
e
implementando produtos e serviços
4.31
4.55
Média
4.13
Equipes multifuncionais de projetos
proporcionam rápida resolução de
problemas e facilitam a transferência de
conhecimento
O Escritório de Projetos incorpora e
compartilha o conhecimento acumulado
dos projetos assegurando a sua
utilização em projetos futuros?
Liderança reconhecer e premiar os
indivíduos que têm maior disposição em
compartilhar conhecimento
Utilização de laboratórios com práticas e
processos para a equipe refletir sobre os
resultados do projeto
4.12
4.35
Diálogos informais entre os membros da
equipe de projetos enfatizam a
transferência de conhecimento
3.95
4.35
Empresa proporciona condições para a
equipe ter tempo para realizar a
transferência de conhecimento
A equipe de projetos possui autonomia
para definir quais ações são necessárias
para execução de seu trabalho
Documentação
produzida
voluntariamente pelos membros das
equipes de projetos
A rotação de funções de trabalho entre
os membros da equipe
3.89
4.29
Intercâmbio informal de documentos não
estruturados entre os membros da
equipe de projetos
3.10
4.28
Entrevista formal de saída do funcionário
da empresa a ser utilizada pelo
colaborador que ocupará a mesma
posição
3.06
4.38
4.32
4.32
4.11
4.08
4.04
3.78
3.72
3.51
Fonte: elaborada pelo autor
A análise e priorização dos grupos
apresentou a seguinte ordem de priorização
(Tabela 3): Cultura, Comunicação, Liderança,
Ferramenta,
Técnica
e
Procedimento.
Utilizando a ferramenta estatística Matriz Plot,
separou-se a análise em três tipos de
Tópicos em Administração - Volume 15
125
correlação: Fraca, Moderada e Forte.
Verificamos que os grupos possuem uma Alta
Interação e Correlação entre eles. O grupo
Cultura foi considerado o mais importante;
estatisticamente os grupos Liderança e
Comunicação são iguais em relação à média
e considerados os mais importantes se
comparados aos grupos restantes depois do
grupo Cultura. No quadro 3 – Práticas de
Liderança e Comunicação, são apresentadas
as práticas que compõem esses dois grupos.
Quadro 3 – Práticas de Liderança e Comunicação
Grupo
Liderança
Liderança
Liderança
Liderança
Liderança
Liderança
Comunicação
Comunicação
Comunicação
Melhor Prática
Suporte, apoio e motivação dos líderes
Prêmios e reconhecimentos
Valorizar o sentimento de confiança entre os
membros da equipe
Autonomia da equipe
Tempo disponível para compartilhar conhecimento
Objetivos e visão do projeto
Diálogo nas redes sociais
Adoção do papel de facilitador
Comunicação frequente
Fonte: elaborado pelo autor
Quanto às correlações entre os grupos,
conclui-se que o grupo Liderança tem uma
relação forte com outros grupos e, quanto
mais reconhecido este grupo de práticas de
transferência de conhecimento, maior é a nota
média dos outros grupos. O grupo Cultura
afeta positivamente os outros grupos e,
quanto mais reconhecida esta prática de
transferência de conhecimento maior é a nota
média das outras práticas dos grupos
restantes. O grupo Técnica tem relação forte
com os grupos Ferramenta e Liderança e,
quanto maior a média das práticas do grupo
Técnica, maior é a utilização das práticas dos
grupos Ferramenta e Liderança e, por fim, o
grupo Ferramenta apresenta correlação forte
com o grupo Liderança ou, em outras
palavras, quanto mais reconhecida é a prática
do grupo Ferramenta mais assentida é a
prática do grupo Liderança.
4. CONCLUSÃO
As empresas estão enfrentando diversos
desafios em seus mercados, como rápidas
mudanças tecnológicas, ciclos econômicos e
incertezas
organizacionais
(ALMEIDA;
SOARES, 2014). Para que essas empresas
sobrevivam neste cenário é necessário que
elas se tornem cada vez mais competitivas,
devendo criar condições para criação de
valor
pelo
conhecimento,
tema
este
sustentado por autores como Bradshaw,
Pulakanam e Cragg (2015), Deeds e Marie
Decarolis (1999), Reychav e Weisberg (2010),
entre outros citados neste trabalho. Essa
criação de valor se dá por meio de novos
produtos e serviços cuja forma de entrega são
os projetos, tornando-os um dos maiores
desafios de negócios das organizações
(BOH, 2007) e o veículo de entrega mais
importante (JACKSON; KLOBAS, 2008).
Para que os projetos sejam entregues com
sucesso, é necessária a adoção de melhores
práticas de gerenciamento de projetos para
assegurar sua execução com sucesso
(ALMEIDA; SOARES, 2014). Somando-se a
isso, o relatório intitulado “Capturando o valor
do gerenciamento de projetos” (PMI, 2015) e
os estudos publicados por autores como
Reychav e Weisberg (2010), Mueller (2014),
Jafari Navimipour e Charband (2016)
destacam a importância do compartilhamento
do
conhecimento
nas
organizações,
associado a um desempenho positivo das
empresas e dos projetos executados por elas
juntamente com seus colaboradores cujo
conhecimento
produzido,
retido
e
compartilhado é considerado estratégico. A
relevância
do
compartilhamento
do
conhecimento, as condições necessárias para
seu incentivo e as práticas associadas para
assegurar o sucesso nesse compartilhamento
tornaram-se estratégicos para que as
empresas se mantenham e cresçam em um
mercado competitivo. Cada vez mais, os
Tópicos em Administração - Volume 15
126
projetos se tornam mais complexos, em
função da tecnologia, da utilização de
parceiros
na
sua
execução,
que
possivelmente
estão
em
diferentes
localidades e equipes. Além disso, pela
transitoriedade
dos
projetos,
o
compartilhamento do conhecimento se tornou
um problema informacional importante
(ZHAO; ZUO; DENG, 2015), (ALMEIDA;
SOARES, 2014) para as organizações, porque
esse conhecimento criado pelo projeto deve
ser compartilhado entre os membros da
organização e entre os membros da própria
equipe (BARTSCH; EBERS; MAURER, 2013),
(JAFARI NAVIMIPOUR; CHARBAND, 2016).
Como mencionado no relatório do PMI, o
processo formal de transferência de
conhecimento aumenta consideravelmente as
chances de entrega do projeto no prazo,
orçamento e dentro dos objetivos de negócio
esperados (PMI, 2015, p. 11), tornando as
empresas mais competitivas. Nesse cenário,
este estudo procurou identificar, por meio de
pesquisa da literatura, quais são as práticas
de transferência de conhecimento: das 25
práticas identificadas, 22 são utilizadas pelos
profissionais de gerenciamento de projetos,
as práticas: documentos informais, entrevistas
de saída e equipe de suporte compartilhada
demonstraram incerteza quanto às respostas
fornecidas.
Neste estudo não foi abordada a correlação
entre as práticas de transferência de
conhecimento e o tempo de experiência em
gerenciamento de projetos e também a
associação do gestor de projetos a uma
entidade de gerenciamento de projetos.
Durante a análise, foi percebida a alta
correlação matemática entre os próprios
grupos de Cultura, Liderança, Comunicação,
Técnica e Procedimento. Liderança e
Comunicação são competências do gerente
de projetos, que deve demonstrá-las durante
a execução do projeto ou das atividades
pertencentes a ele. A eficácia pessoal do
gerente de projetos engloba atitude,
características
fundamentais
de
personalidade e liderança. Essas habilidades
são necessárias para guiar a equipe do
projeto durante a execução do projeto, para
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atingir os objetivos do projeto (PARK; LEE,
2014) e balancear suas restrições (PMI, 2015,
p. 17). Para o gerente de projetos realizar o
trabalho por meio da equipe do projeto e dos
interessados no projeto, ele necessita
balancear habilidades técnicas, pessoais e
conceituais, analisando situações do projeto
de maneira proativa. Uma dessas habilidades
é a liderança. De acordo com o PMBOK 5d
(PMI, 2015, p. 513-514), liderança é fazer as
pessoas trabalharem como um time para
atingir o objetivo comum do projeto, com
respeito, confiança e inspiração dos membros
da equipe. Nesse cenário onde há forte
correlação entre os grupos, principalmente da
liderança, seria interessante que estudos
futuros abordassem as causas dessa
correlação e, por fim, possam analisar a
possibilidade de criação de simulador
matemático utilizando a ferramenta estatística
Design of Experiments, gerado pelo Minitab,
com o objetivo de otimizar o processo de
transferência de conhecimento contendo as
variáveis utilizadas neste estudo:
Tempo de experiência profissional;
Participação
em
gerenciamento de projetos;
entidade
de
Setor;
Certificação em gerenciamento de
projetos;
Tempo
de
experiência
gerenciamento de projetos;
em
Todos os seis grupos gerados pelas
perguntas do questionário inicial.
Este simulador poderia ser utilizado na prática
para orientar o profissional nas seguintes
situações exemplificadas a seguir:
Escolher um candidato a uma vaga de
gerenciamento de projetos;
Realizar avaliações
colaboradores e;
internas
de
Até realizar a avaliação de um curso
em gerenciamento de projetos, adaptando o
questionário.
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Tópicos em Administração - Volume 15
129
Capítulo 12
Roquemar de Lima Baldam
João Caldeira Lélis
Lourenço Costa
Thalmo de Paiva Coelho Junior
Leandro Colombi Resendo
Resumo: Apesar da apresentação de projetos para aprovação estar alinhada com
as diretrizes da empresa analisada, a mesma vem enfrentando dificuldades após a
liberação do projeto para o comitê de aprovação, devido ao significante número de
retrabalho, antes da reunião de aprovação. O objetivo deste artigo é mostrar a
utilização da técnica de modelagem Data Flow Diagramming (DFD), para melhoria
no processo de aprovação de projetos estratégicos de grande porte. Assim, a
proposta é associar uma técnica pouco utilizada na modelagem de processos de
negócios, Data Flow Diagramming, verificando sua eficácia na aplicação em um
caso prático e, com isso, interá-la na lista de ferramentas para apoio às tomadas de
decisões dentro das organizações. As opções de melhorias identificadas foram
aceitas pelo comitê de aprovação e tiveram a sua eficácia apurada através dos
dois últimos projetos submetidos em fevereiro e março de 2011.
Palavras-chave: Técnicas de modelagem, Modelagem, Processos de Negócios,
Gestão de projetos, Investimentos, Diagrama de Fluxo de Dados.
Tópicos em Administração - Volume 15
130
1 INTRODUÇÃO
Técnicas e ferramentas de modelagem são
aplicadas como ferramentas de apoio e
suporte às tomadas de decisão dentro das
organizações.
O processo de tomadas de decisões é uma
das funções gerenciais de maior importância
dentro das organizações. Cada decisão
tomada pode definir o futuro das operações
da empresa e, consequentemente, o futuro do
próprio gerente como parte integrante dessa
organização.
Moreira (1996, p.25), define modelagem como
um processo de transformação e organização
de dados de determinado problema segundo
as características de um modelo matemático.
Modelos são representações simplificadas de
situações reais, em razão da dificuldade de
captar sua realidade em um aspecto mais
amplo e geral. Podem ser identificados e
separados em três tipos: (a) icônicos,
replicando fisicamente um objeto real
mantendo as proporções de sua forma, (b)
analógico, que também são representações
físicas de objetos reais, porém, não mantêm a
forma do projeto em estudo e (c)
matemáticos, representando o problema ou
as propriedades de um objeto real através de
símbolos ou equações matemáticas, que
podem ser manipuladas para buscar a
solução do problema ou estudar o
comportamento de um objeto em condições
específicas (MOREIRA, 1996, p.27-29).
O objetivo deste artigo é mostrar a utilização
da técnica de modelagem DFD, para melhoria
no processo de aprovação de projetos
estratégicos de grande porte. Esta área,
transformada em gerências específicas com
um grau de importância muito grande dentro
das organizações devido à sua atuação, com
elevado grau de responsabilidade, através da
busca pela excelência na implementação de
projetos de investimentos.
Para desenvolvimento deste artigo, a
metodologia de pesquisa utilizada teve como
base uma pesquisa documental, com
levantamento de dados históricos da
empresa,
identificando
os
últimos
acontecimentos relacionados às aprovações
de projetos de investimento junto ao comitê
de aprovação do grupo. É uma empresa de
grande porte do ramo de siderurgia. A
pesquisa teve como referências os anos de
2009 e 2010, abordando quatro grandes
projetos de investimento aprovados nestes
períodos. A partir da pesquisa e análise de
algumas técnicas de modelagem de
processos mais utilizadas e análise do
problema identificado a decisão foi orientada
para a utilização da técnica DFD como
apropriada para mostrar a situação atual do
processo de aprovação e propor melhoria
para esse processo.
Na próxima sessão, são apresentadas
definições importantes ao entendimento do
trabalho, incluindo projetos de grande porte,
gestão de projetos, processos de negócio, e
definições das principais técnicas de
modelagem, na Sessão 3 é detalhada a
proposta de trabalho, apresentado um
histórico do problema e melhorias propostas
e, finalmente, na Conclusão, o relato dos
resultados alcançados com a implementação
das ações de melhorias.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 DEFINIÇÃO DE PROJETO DE GRANDE
PORTE E GESTÃO DE PROJETOS
Segundo o PMI (Project Management
Institute), em seu PMBOK® Guide (2013), um
projeto tem natureza temporária com início e
fim definidos, cuja conclusão se dá quando os
objetivos são alcançados ou quando se
chega à conclusão de que o objetivo não é
possível de ser atingido e então, o projeto é
encerrado.
Um projeto obtém sucesso quando atende ou
excede aos desejos e expectativas dos
stakeholders, que são as pessoas que
investem para que o projeto seja realizado e
que tem autoridade para alocar recursos e
autonomia para tomar decisões relacionadas
ao projeto (HELDMAN, p.3, 2003).
O PMBOK® Guide (2013), trata a gestão de
projetos como sendo a utilização do
conhecimento, habilidades, ferramentas e
técnicas disponíveis para obter o melhor
desenvolvimento na execução das atividades
de um projeto atendendo aos seus requisitos
e objetivos. Além disso, o PMBOK® Guide
distribui os 42 processos inerentes à gestão
de projetos, agrupando-os e integrando-os
em cinco grupos que são: Iniciação,
Planejamento, Execução, Monitoramento e
Controle e Encerramento.
Processo de gerenciamento de projetos
engloba
atividades
relacionadas
a
planejamento, execução do plano do projeto e
acompanhamento
do
progresso
e
Tópicos em Administração - Volume 15
131
desempenho. Planejamento é uma importante
função a executar e que define o padrão que
será adotado ao longo do ciclo de vida do
projeto com objetivo de rastrear o
desempenho final do projeto (HELDMAN, p.4,
2003).
manipulação de informações utilizando os
recursos e a própria organização. Deve ser
focado em um tipo específico de negócio,
direcionado a clientes determinados e com
fornecedores definidos.
2.3 TÉCNICAS DE MODELAGEM
2.2 PROCESSO DE NEGÓCIO
Processo de negócio e tecnologia da
informação sempre trabalhou junto, mas este
relacionamento não tem sido explorado na
prática conforme deveria. Trata-se de uma
relação definida como um padrão recursivo.
Espera-se que a escolha de como conduzir os
negócios de uma organização vá influenciar a
concepção e a estrutura dos sistemas de
informação que irá apoiar este processo. Por
outro lado, os avanços da tecnologia da
informação geram novas oportunidades para
as organizações influenciando os leiautes de
processos
de
negócios
específicos
(DAVENPORT e SHORT, 1990).
Para que a visão da empresa seja direcionada
por processos de negócios é preciso
identificar, mapear e representar estes
processos de forma que as atividades,
informações e recursos disponíveis sejam
conhecidos e compreendidos por todos na
organização (BREMER e LENZA, 2000).
Processo de negócio, segundo Scheer (1998),
é uma série contínua de tarefas realizadas por
uma empresa visando a geração de um
produto ou informação. Para Rozenfeld
(1996), processo de negócio é um fenômeno
formado por um conjunto de atividades
realizadas dentro da empresa, através da
Metodologias de modelagem são suportadas
por várias técnicas que são usadas por meio
de diagramas ou outras notações com a
finalidade de estudar e analisar os sistemas
modelados (GIAGLIS, 2001). Processo é
elaborado de forma a organizar as etapas
necessárias para o alcance de seus objetivos
e metas (CURTIS, 1992). Vernadat (1996)
direciona o conceito de modelagem de
processos para uma finalidade mais afinada
com a gestão de processos quando a
classifica, também, como uma ferramenta de
comunicação, análise e apoio à tomada de
decisão. Tal definição é mais apropriada para
esse trabalho, do que a apresentada por
Sheer (1998), pois, a definição de Vernadat
(1996) vai além de uma sequência lógica de
tarefas, enquanto associa a modelagem ao
processo decisório dentro do projeto,
tratando-a como uma ferramenta importante
na gestão da comunicação e nos processos
decisórios.
Segundo Giaglis (2001), o conceito de
técnicas de modelagem pode ser mais bem
representado, dentro de uma estrutura
hierárquica dos elementos da modelagem,
através da figura 1, seguindo a mesma linha
de raciocínio utilizada por Kettinger, Teng e
Guha (1997).
Figura 1 - Modelagem, Metodologias, Técnicas e ferramentas.
Fonte: adaptado de Giaglis, 2001.
Tópicos em Administração - Volume 15
132
A decomposição ilustrada na figura 1 sugere
a modelagem sendo sustentada por uma ou
mais
metodologias.
Metodologias
são
tomadas como referências aos paradigmas
de modelagem e suportadas por uma série de
técnicas. As técnicas são usadas como
referência às notações diagramáticas para
estudo e análise de sistemas modelados.
Estas técnicas específicas e metodologias
subjacentes, na maioria dos casos, são
suportadas por ferramentas de modelagem
de software, tais como: ferramentas CASE,
Workflow Management Systems, software de
modelagem de processos, entre outros.
(GIAGLIS, 2001).
A opinião de Bremer e Lenza (2000) reforça o
conceito de Vernadat (1996), quando ele
classifica a modelagem de processos como
suporte ao processo de comunicação e de
tomada de decisões. A seguir são
apresentadas
algumas
das
principais
técnicas de modelagem, com ênfase na
técnica DFD que é o objeto deste trabalho.
Deste modo, pode-se apresentar as técnicas
de modelagem mais comumente encontradas
na literatura:
a) Redes Petri: De acordo com Reising,
Muchnick, e Schnupp (1992), dentre as
técnicas de modelagem de sistemas, talvez a
rede Petri, tenha recebido maior atenção com
alto potencial para utilização em modelagem
de processos de negócio. Redes Petri
básicas são representações matemáticas e
gráficas de sistemas, com objetivo de apoiar
a análise da estrutura e do comportamento
dinâmico dos sistemas modelados, em
especial daqueles sistemas que precisam
trabalhar com a interação de componentes
concomitantes (PETERSON, 1981).
b) Business Process Modeling and Notation –
BPMN: A especificação BPMN (Business
Process Model and Notation), mantida pelo
OMG (Object Management Group-2015),
tornou-se a mais popular notação de
processos no ambiente de negócios
(MARTÍNEZ et al., 2014), um dos motivos para
ser o método empregado nesta pesquisa. Sua
representação em diagramas se dá por meio
de uma notação bastante intuitiva, garantindo
o seu alicerce na perspectiva funcional e
ampla compreensão sobre o funcionamento
dos processos modelados, até mesmo
quando trabalho com processos complexos.
c) Integrated Definition – IDEF: Segundo
Mayer et al, (1998), diagramas IDEF
(Integrated Definition) surgiram em 1981 como
parte do projeto Integrated Computer-Aided
Manufacturing (ICAM). Existem inúmeros
métodos IDEF, mas dois deles se aplicam ao
desenvolvimento dos modelos de processo
de negócio: o método IDEF0 incidindo sobre a
atividade de modelagem e o método IDEF3
realizando a descrição do processo e usado
para gerar rapidamente especificações do
modelo de simulação para eventos discretos.
O método IDEF0 foi projetado para modelar
as decisões, ações e atividades de uma
organização ou sistema, com objetivo de
comunicar e analisar um sistema sob uma
perspectiva funcional (Mayer et al, 1998).
d) Flowcharting: Flowcharting é uma das
primeiras técnicas de modelagem gráfica, em
uso desde a década de 1960. As vantagens
da utilização de flowcharting destaca-se por
sua capacidade de mostrar a estrutura geral
de um sistema, rastrear o fluxo de informação
e de trabalho, descrever o meio físico no qual
os dados são inseridos, produzidos e
armazenados, e destacar o processamento
chave e pontos de decisão (Jones,
1986).Inicialmente, flowcharting era usado
somente para representar a lógica do
programa de computador, mas devido ao seu
carácter genérico, a sua utilização em outras
áreas de aplicação, incluindo modelagem de
processos de negócios tem se tornado muito
frequente. Apesar de suas vantagens, como
familiaridade e facilidade de utilização, o
flowcharting já não é uma técnica de
modelagem dominante, devido a sua
limitação em fornecer apenas serviços
básicos de representação de processos
(GIAGLIS, 2001).
e) Simulação: Segundo Doran e Gilbert
(1994), os conceitos básicos que definem a
técnica de simulação é bem simples. A
técnica de simulação pode ter várias formas
identificadas através da simulação de eventos
discretos, simulação contínua, dinâmica de
sistemas, simulação de Monte Carlo e
simulação qualitativa. Porém, duas delas, a
dinâmica de sistemas e a simulação de
eventos
discretos,
são
mais
bem
evidenciadas em relação a BPM e a ISM
(GIAGLIS, 2001).
2.3.1 DFD
DFD é uma técnica utilizada para mostrar o
fluxo de informações entre entidades
externas, etapas do processamento interno
destes dados e elementos utilizados para
armazenar estes dados em um processo de
Tópicos em Administração - Volume 15
133
negócio (Kettinger, Teng e Guha,1997).
Segundo Yourdon (1989), a ampla utilização
da técnica DFD para modelagem de dados é
considerada como uma notação padrão para
desenhos e análises de sistemas tradicionais.
Yourdon (1989) diz que os DFDs são
representações estáticas de um sistema e
suas as funções, provavelmente baseando-se
na visão de que não há uma relação de
precedência clara dentro da representação.
Não se pode afirmar que o DFD é incapaz de
fornecer subsídios para análise e tomada de
decisão. A utilização do DFD possibilita
visualizar a situação do processo viabilizando
a formação de opinião sobre quais ações
tomar para torná-lo mais eficaz.
Figura 2 - Exemplo de DFD.
Fonte: adaptado de Le Vie, 2000.
3 PROPOSTA DE TRABALHO
3.1 OBJETIVO E SITUAÇÃO ATUAL
O objetivo deste artigo é mostrar a utilização
da técnica de modelagem DFD, para melhoria
no processo de aprovação de projetos
estratégicos de grande porte. O modelo ou
técnica escolhida para a solução do problema
ou apoio à tomada de decisão deve ser capaz
de analisar a quantidade de informações
geradas,
buscando
um
melhor
aproveitamento dos recursos humanos e
financeiros
disponíveis
dentro
da
organização.
Para que essa prestação de contas aos
acionistas ocorra faz-se necessário a
elaboração de estudos conceituais que por
sua vez devem ser aprovados para que sejam
iniciados os estudos de viabilidade dos
projetos antes que se inicie a implementação
desses
projetos.
Estes
estudos
de
viabilidades também precisam ser aprovados
por um comitê especial para que sejam
liberadas as verbas necessárias para a
realização do projeto.
Estes processos de aprovação têm sido muito
penosos e desgastantes para a equipe
responsável
pela
preparação
dos
documentos necessários à aprovação. O
grande número de questionamentos de
pessoas indicadas pelo comitê de aprovação,
muitas delas completamente alheias ao
processo é um grande gargalo que dificulta a
entrega da documentação para aprovação na
data planejada. Daí, a importância da
identificação
de
uma
ferramenta
de
modelagem de processos capaz de contribuir
para a eliminação dos possíveis gargalos
capazes de contribuir para o insucesso na
busca por bons resultados.
A opção por utilizar a técnica DFD deve-se ao
fato da existência de uma demanda
desordenada de informações, vindas de
direções diversas, necessitando de respostas
e adequação na documentação preparada.
Com esta técnica de modelagem foi possível
fazer um retrato da situação atual,
identificando os conflitos, questionamentos às
vezes duplicados por pessoas diferentes e,
ao mesmo tempo, propor uma alteração na
maneira de tratar estas informações.
Tópicos em Administração - Volume 15
134
A figura 3 representa uma situação de conflito
e estresse enfrentada durante o processo de
aprovação de um projeto estratégico de
grande porte.
A situação atual para preparação dos
documentos necessários à aprovação dos
projetos estratégicos de grande porte na
empresa em questão era para ser tratado
normalmente em três etapas. A primeira, cujas
informações e entidades estão identificadas
na figura 3 por (1), consiste em definir o
escopo do projeto, especificações técnicas,
captação de propostas orçamentárias no
mercado, tudo realizado em comum acordo
com a equipe do projeto, áreas de apoio e
equipe financeira da empresa e, suportado
pela equipe indicada pelo comitê de
aprovação para facilitar e agilizar o processo
de aprovação. A primeira etapa é concluída
quando o documento contendo todas as
informações, em consenso com toda equipe,
é enviado para o comitê de aprovação nível 1.
A segunda etapa seria a análise do
documento
pelo
comitê
nível
1,
esclarecimentos de dúvidas através da
equipe indicada por ele para acompanhar a
preparação do documento finalizando com a
emissão do parecer favorável ou não pela
implementação ou, em caso do valor a ser
aprovado superar o limite de alçada,
submetê-lo a título de recomendação para
aprovação no comitê nível 2. O problema
ocorre, quando os comitês de aprovação
enviam o projeto para análise (2) e (3),
conforme indicação no fluxo, para outros
especialistas de outras unidades em outros
países, com uma realidade totalmente
diferente das locais, situações econômicofinanceiras adversas, mão de obra a baixo
custo. Tais especialistas começam a
questionar (4) diretamente para a equipe do
projeto, os custos, comparando com outros
projetos similares já implementados sem
considerar ou equiparar o escopo e sem
considerar as leis locais. Neste momento, a
equipe indicada pelo comitê se isola e não é
consultada por estes outros especialistas,
ficando
a
equipe
do
projeto
com
responsabilidade pelas respostas (4).
Apesar da apresentação de projetos para
aprovação do comitê de aprovação estar
totalmente alinhada com as diretrizes do
Grupo, as práticas atuais na empresa têm
enfrentado algumas dificuldades após a
liberação do documento do Projeto para o
secretariado do comitê. O desenvolvimento
deste trabalho possui as seguintes premissas:
a) Analisar o fluxo atual dos dados que
envolvem a preparação deste documento de
aprovação com o relacionamento externo
durante a discussão do projeto e
consolidação desses dados;
b) Apresentar as referidas dificuldades com
base histórica de projetos já apresentados e;
c) Propor ações de melhorias para o processo
de desenvolvimento desses dados e
esclarecimento de dúvidas para que o
documento
chegue
ao
comitê
com
apresentação clara e mais bem definido.
Figura 3: DFD - Situação atual do processo de aprovação de projetos estratégicos
Tópicos em Administração - Volume 15
135
3.2 HISTÓRICO DO PROBLEMA
Os dados históricos apresentados a seguir,
evidenciam
alguns
dos
problemas
enfrentados em três processos de aprovação
de projetos dentro da empresa. Por questões
de sigilo, o nome da empresa, bem como dos
equipamentos não serão divulgados.
O primeiro exemplo refere-se a um
equipamento prioritário para a produção que
estava apresentando avarias por fim de vida
útil e que poderia quebrar a qualquer
momento, causando parada total da
produção. A negociação para aquisição já
havia sido concluída, em Nov/09, após
confirmação e entendimento do comitê sobre
a necessidade do equipamento. Outro
membro do comitê questionou a real
necessidade de aquisição e mesmo após
longa troca de informações e esclarecimentos
o projeto não foi aprovada na reunião do
comitê de dez/09.
Depois de algum tempo o comitê concordou
com a necessidade de aquisição, porém
solicitou que fosse consultado outro
fornecedor indicado por eles, o qual não quis
ofertar. Após esse impasse o comitê voltou
atrás e concordou pela aquisição do
fornecedor inicial nas mesmas condições já
negociadas, que se deu em Jan/10. Com isso,
esse atraso estendeu o tempo de exposição
ao risco de parar a produção, considerando
que não havia sobressalente para esse
equipamento.
O segundo exemplo é um projeto de reforma
de uma unidade produtiva por fim de vida útil
e desgaste prematuro de sua estrutura. O
processo contou com a participação de
especialistas indicados pelo comitê. Os
questionamentos, após o documento de
aprovação ter sido concluído, foram feitos
diretamente à equipe do projeto, por outro
especialista do comitê, que não participou da
fase de estudos e preparação do documento,
com perguntas que poderiam ser facilmente
resolvidas com antecedência.
O envolvimento da equipe central de
negociação do grupo só entrou para o
processo no final, com dúvidas e solicitações
de esclarecimentos, retardando o processo
de envio do documento. Houve, neste projeto,
várias questões recorrentes, que já haviam
sido levantadas e esclarecidas com a equipe
do comitê que estava envolvida desde o
início. Várias questões foram levantadas no
dia definido para a reunião do comitê de
aprovação. Estresse e corrida contra o tempo
para buscar as respostas solicitadas.
O terceiro exemplo abrange dois projetos de
reforma de equipamentos de uma mesma
unidade produtiva, também por fim de vida
útil. Esses dois processos foram iniciados
com a participação de todas as equipes,
envolvendo indicados pelo comitê e equipe
de negociação central. Apesar de ter a
participação de todos, desde o início do
projeto, questões novas e recorrentes foram
suscitadas na manhã do dia da reunião de
aprovação, num total de 21 questões sendo 6
recorrentes,
incluindo
questões
de
especialistas de empresas de outro país que
fazem parte do grupo.
A linha do tempo da figura 4 mostra a
localização do problema.
Figura 4: Linha do tempo para o processo de aprovação de projetos estratégicos
Tópicos em Administração - Volume 15
136
O tempo de estudo e preparação do
documento de aprovação do projeto está
estimado em seis meses, mas este tempo
varia de acordo com a complexidade do
projeto em estudo. Após este estudo, o
documento deve ser enviado para a gerência
de controladoria com, no mínimo, 10 dias de
antecedência a data definida para envio ao
comitê de aprovação Nível 1. O problema
deste trabalho surge após o recebimento
deste documento pelo comitê. Neste
momento
são
disparados
diversos
questionamentos tanto relacionados ao
escopo quanto aos cálculos financeiros que
envolvem todo o projeto e que foram
exaustivamente discutidos durante todo o
período inicial.
3.3 PROPOSTA DE MELHORIAS
A proposta de melhorias sugerida pelo projeto
teve como meta reduzir o número de
intervenções externas no documento de
aprovação dos projetos estratégicos de
grande porte e minimizar o estresse causado
por questionamentos surgidos de última hora.
Essas práticas consistem em:
a) Nomeação de todos os especialistas para
compor a equipe do projeto. Interno (cliente
do projeto, áreas de apoio e de controladoria)
e externo (comitê de aprovação e negociação
central);
b) Elaboração de documento de aprovação
do projeto coordenada pelo Gerente do
Projeto com a interação das áreas interna e
externa;
c) A Gerência de Projetos é responsável pela
preparação do documento para aprovação e
a Gerência de Controladoria é a responsável
por encaminhar esse documento ao comitê de
aprovação;
d) Distribuição do projeto, pelos membros do
comitê de aprovação, para análise dos outros
especialistas;
e)
Os
questionamentos
dos
novos
especialistas empenhados na análise do
arquivo, por solicitação do comitê de
aprovação,
devem
interagir
com
os
especialistas nomeados inicialmente que
acompanharam toda a evolução do trabalho,
a fim de esgotar as dúvidas e questões pouco
claras;
f) Para manter o mesmo canal de
comunicação, caso sejam necessários
esclarecimentos
complementares,
tais
questões poderão ser tratadas com a equipe
do projeto, através dos especialistas
nomeados no início do projeto e;
g) Os esclarecimentos finais, decorrentes da
análise provenientes de novos especialistas
ou dos especialistas nomeados inicialmente,
serão enviados diretamente aos membros do
comitê de aprovação.
h) Incluir membros das equipes de estratégia
e de marketing, a partir do recebimento do
documento pelo comitê de aprovação nível 1.
i) As melhorias propostas estão representadas
através do novo fluxo proposto através da
técnica DFD, pela figura 5.
Figura 5: DFD – Configuração proposta para o processo de aprovação de projetos estratégicos da
empresa
Tópicos em Administração - Volume 15
137
Neste novo fluxo proposto, a primeira etapa
de elaboração do documento de aprovação,
com o envolvimento de toda a equipe
suportada pelos especialistas representantes
do comitê de aprovação continua sendo como
no fluxo anterior, até o envio do documento
para o comitê de aprovação nível 1. O que há
de novo no fluxo é que os questionamentos
dos especialistas de outras unidades serão
direcionados para a equipe do projeto através
dos especialistas indicados pelo comitê
desde o início do projeto.
Com isso, fica minimizada a possibilidade de
questionamentos recorrentes, uma vez que
essa equipe funcionará como um filtro e com
capacidade de responder e defender o
projeto perante o comitê, em razão de
estarem envolvidos desde o início do
processo de elaboração do documento. A
outra novidade no fluxo, é que quando o
projeto for ser aprovado no comitê de nível
dois, a partir do momento que o projeto chega
ao comitê de nível 1, ocorre o envolvimento de
membros da equipe de estratégia e
marketing, ajudando a refinar o documento
para que a aprovação no nível 2 seja mais
eficiente.
4 CONCLUSÃO
A adoção desta nova modelagem para
tratamento das informações durante o
processo de preparação do documento de
aprovação do projeto, utilizando a técnica
DFD, baseando no envolvimento do comitê de
aprovação desde a fase de estudos, através
da nominação de especialistas de sua
confiança, está proporcionando ganhos em
sinergia nos estudos e consolidação do
documento com informações necessárias à
tomada de decisão sobre o futuro do projeto.
As melhorias propostas para o processo de
aprovação de projetos foram apresentadas e
aceitas pelo comitê. Com isso, o êxito obtido
no convencimento dos membros do comitê
para a aprovação dos dois últimos projetos
submetidos aumentou consideravelmente. A
continuidade da verificação da eficácia da
proposta
implementada
continuará,
considerando que já estão em andamento
mais alguns projetos em estudos pela
empresa e que serão submetidos ainda este
ano.
Como sugestões para a continuação desse
trabalho destacam-se, a análise histórica
sobre os reais benefícios da implantação
dessa proposta e a modelagem da fase
subsequente à aprovação que é o processo
de contratação de projetos estratégicos de
grande porte. Outro ponto que pode ser
explorado é o processo de elaboração do
orçamento e composição dos custos, que
será levado à aprovação do comitê.
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Tópicos em Administração - Volume 15
139
Capítulo 13
Raphael Alves Soares
Déborah Daniel Ferreira Coelho Soares
Leonardo Mangia Rodrigues
Resumo:Em um âmbito de busca incessante de inovação e perfeição, utiliza-se a
gestão do conhecimento para fomentação de novas ideias (inspiração) e
handover de seu legado intelectual das lições aprendidas.
Para isso é de fundamental aplicação de ferramentas para aplicação de uma
gestão de conhecimento adequado e efetivo na instituição. Essas ferramentas
foram configuradas, a partir de procedimentos sugeridos pelo COI, através de
entrevistas, pesquisas e análises de funcionários, torcedores e clientes, que e
serviu de base para elaboração e implementação da gestão do conhecimento na
empresa. O projeto entregou ao Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e
Paralímpicos Rio2016 a possibilidade de capturar, fomentar, organizar e
compartilhar o seu capital intelectual de forma eficiente.
Tópicos em Administração - Volume 15
140
1. INTRODUÇÃO
1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Para STEWART (1998), na atualidade a
informação e o conhecimento converteram-se
em um recurso de valor elevado, ele se
encontra mais relevante do que a matéria
prima, ou até mesmo, mais importante que o
dinheiro. Não adianta a empresa possuir
capital financeiro, possuir colaboradores e a
matéria-prima, sem o conhecimento do
processo.
É essencial para a empresa gerir, em tempos
de globalização e de procura incessante de
excelência,
os
conhecimentos
organizacionais
produzidos,
sendo
o
conhecimento um recurso intangível, no
entanto, de grande valor.
A gestão do conhecimento, de acordo com
DAVENPORT (1999), posiciona a empresa a
estar sempre atualizada, pois reduz o tempo
de desenvolvimento e de produção dos
projetos e eventos, onde melhora as
operações e fluidez dos processos internos
(agilidade), aperfeiçoa a prestação de
serviços.
Torna-se
necessária
na
administração das organizações modernas,
uma vez que, a sociedade seguinte será a do
conhecimento (DRUCKER, 2003).
Empresas no ramo de eventos que
permanecem competitivas são aquelas que
geram conhecimento, estimula a criação e
inovações de produtos e serviços.
O conjunto de atividades da indústria de
eventos
abrange
diversas
extensões:
festivais,
festas,
convenções
e
de
competição. A corporação RIO 2016 se junta
neste contexto uma vez que toda sua
produção e vantagem competitiva está sujeito
a da criatividade e imaginação, ou seja, na
criação de conhecimento.
Pesquisa realizada em 2013 com mais de
sessenta mil empresas do setor e publicada
no II Dimensionamento Econômico da
Indústria de Eventos no Brasil revela que a
indústria de eventos no Brasil movimenta
cerca de R$ 209,2 bilhões em receita,
representado 4,32% do PIB do Brasil no
período. Avalia-se que no segmento de
eventos origine cerca de 7,5 milhões de
empregos diretos e indiretos.
Após a análise do conselho executivo do
Comitê Olímpico Brasileiro (COB) verificou a
possibilidade da cidade do Rio de Janeiro ser
postulante dos Jogos Olímpicos de Verão de
2016, por ser a cidade mais preparada no
Brasil
para
o
evento
poliesportivo
mencionado, em razão da efetuação dos
Jogos Pan-Americanos de 2007 e porque a
cidade sediaria a realização dos eventos:
Campeonato Mundial de Judô de 2007, o
Campeonato Mundial de Futsal de 2008, os
Jogos Mundiais Militares de 2011, Copa das
Confederações de 2013 e a Copa do Mundo
FIFA de 2014. Em 2 de outubro de 2009, na
121ª Sessão do Comitê Olímpico Internacional
a cidade a cidade do Rio de Janeiro foi eleita
sediar os XXXI Jogos Olímpicos e
Paralímpicos de Verão em 2016.
1.2
FORMULAÇÃO
PROBLEMA
DA
SITUAÇÃO
Em uma época de globalização e
concorrência acirrada, a corporação RIO
2016, para permanecer competitiva, buscou
incessantemente a inovação e a perfeição.
Para tal fim aplicou-se “ferramentas” de
gestão do conhecimento que fomentassem
novas ideias, uma vez que, a gestão do
conhecimento posiciona a empresa a estar
sempre atualizada e reduz o tempo de
desenvolvimento e de produção dos projetos
e eventos, onde melhora as operações e
fluidez dos processos internos e aperfeiçoa a
prestação de serviços. (DAVENPORT e
PRUSAK, 1999)
1.3 OBJETIVO GERAL
Organizar, valorizar e compartilhar as
informações e conhecimentos organizacionais
nas empresas de promoção eventos
esportivos,
tornando-os
úteis
e
compreensíveis, tendo em vista que
propiciam nas vantagens competitivas.
1.4 METODOLOGIA
A presente pesquisa teve como objetivo
analisar as ferramentas de compartilhamentos
de conhecimento usadas nas organizações
de eventos esportivos.
Para tal fim, foi essencial buscar como as
informações e o conhecimento são gerados e
propagados, quais são os tipos de
conhecimentos, as ferramentas que são
empregadas nas empresas, como de fato foi
implantada na organização e outros temas
pertinentes para a investigação.
Tópicos em Administração - Volume 15
141
Os dados oriundos deste estudo são de
pesquisas e de relatórios técnicos da
empresa estudada, que foi elaborado com
uma análise de conteúdo qualitativo, para
identificação
e
correlação
entre
as
indagações. No qual, o presente artigo
apresenta desde o seu planejamento até o
resultado.
O presente trabalho pode ser classificado
como descritivo, por ter o propósito de
documentar as fases, desde a criação até a
conclusão da atividade, da área funcional de
Gestão Conhecimento e sua importância na
corporação RIO 2016. Mesmo sendo algo
restrito, tornara-se essência para as demais
empresas de promoção de eventos esportivos
no mundo. (DANE, 1990) (YIN, 2015)
(ROSSMAN e MARSHALL, 2010)
Em relação à metodologia da pesquisa, foi
utilizado O método de estudo de caso.
Escolhido este método por ser recomendado
para a graduação de engenharia de
produção e por permitir um estudo profundo
capaz de investigar os pontos implícitos e a
conjuntura extensa e típica, capaz de
proporcionar o entendimento do todo.
(MIGUEL, 2011)
O objetivo foi analisar e aprofundar o
conhecimento detalhado da Gestão do
Conhecimento,
que
aprofundou
nas
ferramentas para compartilhamento de
conhecimento criados na corporação RIO
2016 que promove eventos esportivos,
estimula a compreensão, as questões e as
hipóteses. (YIN, 2015)
Diante disto, foi proposta a utilização
adaptada de três macros-etapas de
condução para o estudo: definição do
planejamento, preparação e desenvolvimento
e análise. (YIN, 2015)
Figura 1 – Proposta de condução de estudo
Fonte: Autor, baseado YIN (2015)
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1 GESTÃO DO CONHECIMENTO
HENSEN (2012) afirma que, a teoria do
conhecimento pergunta pela verdade do
pensamento, isto é, pela sua concordância
com o objeto. SENGE (2013) definem
conhecimento como a capacidade para ação
eficaz.
O filósofo Manuel Kant (1724-1804), citado
pelo autor HENSEN (2012), aponta que o
conhecimento possui dois tipos de elementos:
a priori e a posteriori. A priori é quando se
obtém conhecimento independente da
experiência e de toda as impressões dos
sentidos. A posteriori só pode ser obtido da
experiência, o conhecimento empírico.
Informação, para DRUCKER (2000), são um
conjunto de dados que agrupados em função
de uma determinada lógica, estabelecem o
sentido ou uma ação.
Tópicos em Administração - Volume 15
142
Quadro 1 - Características dos Dados, Informações e Conhecimento
Fonte: Autor, baseado Davenport e Prusak (1999, p. 18).
Quando falamos sobre dados, estamos nos
aludindo à matéria prima de uma cadeia,
como mostra a Figura 2 - Cadeia de evolução
dos dados. A evolução desta cadeia é
transformar dados em informações confiáveis
e usa-las como base de conhecimento para
tomadas de decisão com sabedoria.
Figura 2 - Cadeia de evolução dos dados
Fonte: Infoway (2013).
De acordo com a FNQ (2014) para uma boa
governança de uma corporação, a forma com
que os dados e conhecimentos contínuos que
a empresa cria e possui são gerenciados,
disponibilizados e utilizados por todos os
envolvidos são fatores cruciais para se atingir
a excelência da gestão em suas operações.
2.2
MODELO
DE
GESTÃO
DO
CONHECIMENTO PROPOSTO POR NONAKA
E TAKEUCHI
Conhecimento,
segundo
NONAKA
E
TAKEUCHI (1997), se classifica em tácito ou
explícito, não sendo entidades separadas,
mas
sim
complementares.
Assim,
o
conhecimento é gerado por meio da interação
entre conhecimento tácito e explícito. Ou seja,
Tópicos em Administração - Volume 15
143
conhecimento humano é criado e expandido
através
da
interação
social
entre
conhecimento tácito e o conhecimento
explícito.
O conhecimento explícito é o mais fácil de ser
adquirido,
são
os
procedimentos
e
documentos
que
o
usuário
realiza,
normalmente
tangíveis.
Onde
os
colaboradores já possuem a consciência
deste conhecimento. (CHOO, 2003)
Já o conhecimento tácito (know-how) é a
informação que o profissional não tem
consciência, sendo difícil de ser explicado
por ela ou de ser formalizada, por sua vez, é o
resultado das experiências (erros e sucessos)
ao longo da vida, como as percepções de
cenário e ideias. Este conhecimento é muito
importante, pois as corporações não podem
utilizar este conhecimento pela ausência
deste colaborador. O conhecimento implícito,
são informações que se deduz de outras
informações. (CHOO, 2003)
Quadro 2 - Dois tipos de conhecimento
Conhecimento Tácito (subjetivo)
Conhecimento explícito (objetivo)
Conhecimento da experiência (corpo)
Conhecimento da racionalidade (mente)
Conhecimento simultâneo (aqui agora)
Conhecimento sequencial (lá e então)
Conhecimento análogo (prática)
Conhecimento digital (teoria)
Fonte: Autor, baseado no Nonaka E Takeuchi (2000)
O conhecimento é formado por meio das
interações entre seres humanos e seu
ambiente. TAKEUCHI e NONAKA (2008)
apresentam um modelo (processo SECI) que
pressupõe que a criação do conhecimento
organizacional é criada e expandida através
da conversão do conhecimento tácito em
explícito, e vice-versa (ilustrado na Figura 2 –
Processo
SECI).
Neste
modelo
são
postulados quatro modos diferentes de
conversão do conhecimento:
Socialização - compartilhamento do
conhecimento tácito em tácito (indivíduo para
indivíduo) através de experiências diretas;
Externalização
conversão
do
conhecimento tácito em explícito (indivíduo
para grupo), por meio da articulação do
conhecimento tácito através do diálogo e da
reflexão;
Combinação - compartilhamento do
conhecimento explícito em explícito (grupo
para organização), através da sistematização
e aplicação do conhecimento explícito e a
informação;
Internalização
conversão
do
conhecimento
explícito
em
tácito
(organização para o indivíduo), onde
aprende-se e adquire novo conhecimento
tácito na prática.
Figura 3 - Processo SECI
Fonte: Figura adaptada de Nonaka E Takeuch (2008)
Tópicos em Administração - Volume 15
144
Para criação do conhecimento Takeuchi e
Nonaka (2008, p. 128) creem em cinco
promotores mais valoroso da criação do
conhecimento organizacional: incutir uma
visão de conhecimento, a gestão de
conversação, a mobilização de ativistas do
conhecimento, a criação do contexto correto
e globalização.
Takeuchi e Nonaka (2008, p. 128) declaram
ainda que para a criação eficiente do
conhecimento, existe a necessidade de um
contexto promotor, que é uma zona
compartilhada que contribui as relações os
colaboradores, fundado no Ba (ou “espaço”),
tal conjuntura empresarial pode ser física,
virtual ou mental - ou os três juntos.
2.2.1 DISSEMINAÇÃO DO CONHECIMENTO
ORGANIZACIONAL
De acordo com Takeuchi e Nonaka (2008, p.
99), o conhecimento é sujeito a um tempo e
espaço delimitado, não apenas da cognição
de um indivíduo e não pode ser criado no
vácuo, depende-se de um lugar em que é
disseminado,
utilizado
e
criado
o
conhecimento. Sendo assim, a instituição tem
o dever de prover um lugar (contexto) para
que as informações ganhem significado por
meio
das
interpretações
e
tornem
conhecimento. Ainda de acordo com os
autores, tal lugar é denominado “Ba”.
Naturalmente é fácil imaginar o Ba como
interações em espaços físicos (salas de
reunião), no entanto o Ba é um local
existencial, os nos indivíduos compartilham
seu contexto através de interações que
podem ocorrer em espaços virtuais, grupos
de trabalho ou grupos de e-mail.
Figura 4 - Representação conceitual do Ba
Fonte: Takeuchi e Nonaka (2008, p. 100)
Os autores Nonaka, Toyama e Konno (2000,
p. 16) revelam quatros tipos de Ba que ocorre
em tempo e espaço específico sendo
conveniente para nível o modelo SECI:
Ba da Criação ou Originário – é a
conjuntura no qual os indivíduos trocam
sentimentos,
emoções,
experiências
e
modelos mentais, removendo, pela empatia e
pela confiança, as barreiras que dificultam a
troca de conhecimento tácito entre os
indivíduos;
Ba da Interação ou Ba Interativo – é o
contexto conscientemente construído para
reunir uma mistura de pessoas com
específicos conhecimentos e capacidades
em eventos na organização (ex: projetos,
força-tarefa, reuniões etc.). A reflexão coletiva
que acontece nesses eventos é chave para
tornar o conhecimento comum a todos;
Ba Virtual / Cyber Ba – quando as
interações entre o conhecimento explícito
novo e o existente acontece no mundo virtual
em vez de no local físico;
Tópicos em Administração - Volume 15
145
Ba Prático / Ba do Treinamento – é o
contexto em que o conhecimento explícito
torna-se tácito para os indivíduos, suportado
principalmente por: treinamento e coaching
recebido
por
mentores,
conhecimento
formalizado (manuais) e aplicativos que
permitam simulações e experiências.
2.3
SISTEMA
DE
GESTÃO
DO
CONHECIMENTO RELACIONADO COM A
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
Em um mundo globalizado a tecnologia da
informação tem um papel essencial de ser
uma ferramenta que viabiliza os processos e
auxiliam aos gestores na tomada de decisão.
Dentro dos princípios fundamentais da
Gestão do Conhecimento organizacional, a
tecnologia da informação tem o papel
essencial da captação, disseminação e
armazenamento da informação. (Angeloni,
2008).
Segundo Rossetti e Morales (2007) , a
tecnologia da informação precisa ser uma
aliada a gestão do conhecimento, para que
propicie um Ba Virtual eficiente e organizado,
onde o papel a tecnologia da informação é
dar suporte.
Na Tecnologia da informação, as informações
são divididas em estruturadas e não
estruturadas. As informações estruturadas
são informações que foram refinadas, são
elas: relatórios, formulários dentre outros
dispositivos que ligam informações. (Melo,
2003, p. 57)
Figura 5 - As interações de TI e Gestão do Conhecimento
Fonte: Soares (2010)
O conhecimento é oriundo dos indivíduos,
eles que interpretam, agregam e transformam
as informações em conhecimento. Para MELO
(2003), algumas ferramentas da tecnologia da
informação para apoio à gestão ao
conhecimento são:
Web Services: Integração entre
sistemas de diferentes empresas;
Web logs: também conhecido como
Blog,
um
site
que
registra
experiências pessoais;
Cursos interativos e a distância: são
cursos eletrônicos que podem ser
realizados
fora
do
ambiente
corporativo ou em salas de aulas,
possibilitando
também
a
acessibilidades
com
as
novas
tecnologias;
Rede de conhecimento: ambiente
virtual em que pessoas que têm
interesses em comum;
Rede de relacionamento: ambiente
virtual em que pessoas compartilham
suas vidas com seu círculo de
relacionamento;
Tópicos em Administração - Volume 15
146
Fóruns especializados: são páginas
de internet que promovem debates de
um assunto específico;
Intranets: rede local, circunscrita aos
limites internos da organização;
Workflow
gerenciamento
documentos.
DO
(gestão de conhecimento e informação)
identificava
essas
informações
e
as
gerenciava para que todos tivessem acesso à
informação atualizada. Trabalhando as áreas
funcionais de tecnologia da informação e a de
IKM em conjunto, foi escolhido utilizar a
ferramenta Sharepoint que é um software de
gestão de documentos. Utilizando esta
ferramenta, a corporação RIO 2016criou seu
portal
do
conhecimento
chamado:
Colaboração RIO 2016, no qual, cada área
funcional possui uma comunidade (lugar
virtual) para criar, editar, gerir e compartilhar
seus documentos.
Entendido que o Ba como interações em
espaços físicos é essencial para a criação do
conhecimento organizacional (TAKEUCHI e
NONAKA, 2008), por esta razão, a
corporação RIO 2016 planejou a organização
com um arranjo físico que fomentasse a
interações das áreas funcionais.
Eram também criadas comunidades de
acordo com os encargos compartilhados,
onde colaboradores de diversas áreas
funcionais compartilhavam os desafios e
soluções através dos fóruns que a ferramenta
possibilitada criar e o armazenamento e
compartilhamento
dos
documentos
relacionados ao encargo.
de
management:
fluxo
de
3. ESTUDO DE CASO
3.1
COMPARTILHAMENTO
CONHECIMENTO
Cada gestor de uma área funcional, utilizou os
modos de externalização em conjunto com Ba
Interação (conversão do conhecimento tácito
para o explícito), através de reuniões e batepapos, incentivando também o modo de
combinação (conhecimento explícito com
conhecimento explícito), no qual os indivíduos
do grupo buscam no sistema de gestão do
conhecimento do IOC arquivos que auxiliem e
facilitem na sua tarefa.
A área de tecnologia da informação era
responsável para dar apoio na interligação de
comunicação e compartilhamento de arquivos
e garantir a segurança externa e interna
(documentos com restrição). No entanto,
diversos arquivos eram de interesse geral
para o planejamento. A área funcional de IKM
Para todo controle, planejamento e gestão,
algumas informações são de interesses
comuns entre todas as áreas, a área funcional
IKM identificava estas informações e
documentos e eram compartilhados em
comunidades de acesso irrestrito de leitura.
Para conversões de conhecimento tácito para
explícito a corporação RIO 2016 utilizou
treinamentos e incentivou outras áreas a
realizar,
trabalhando
juntamente
com
departamento de recursos humanos. Um dos
treinamentos obrigatórios ensinava o uso
destes portais e a grande importância do
compartilhamento das informações, para
dissuadir a resistência a mudança das
pessoas.
Figura 6 - Treinamentos realizados - RIO 2016
Fonte: Corporação Rio2016.
Tópicos em Administração - Volume 15
147
Uma das formas de fazer o compartilhamento
de conhecimento tácito para tácito entre os
colaboradores,
a
IKM
realizava
demonstrações internas, onde cada área
funcional, em uma data, demostrava no
auditório para todos que quisessem ouvir,
sobre as atividades realizadas pela área
funcionar na atualidade e compartilhava os
planejamentos e motivos dessa elaboração,
estando aberto para perguntas.
Mais uma forma deste compartilhamento
decorria por meio da observação de eventos
de grande porte. A IKM realizava visitas
técnicas, com vagas limitadas, chamadas
Observações RIO 2016, no qual era
divulgando na intranet a possibilidade de
observações como Rock in Rio 2013, Nanjing
2014, Toronto 2015; a todos os funcionários
que se interessava. Essas observações o
grupo de funcionários acompanhava a
execução do evento e seus bastidores,
vivenciando
e
capturando
esses
conhecimentos compartilhados.
Observado que Ba não se limita os limites da
organização (TAKEUCHI e NONAKA, 2008), a
RIO2016 utilizava também como estratégia de
inovação a parceria de compartilhando de
conhecimento Inter organizacional. Esse
compartilhamento
ocorria
através
do
compartilhamento do planejamento do uso e
necessidade de produtos e serviços dos
fornecedores, ocorrendo uma parceria de
planejamento, pois as empresas fornecedoras
detinham maior conhecimento do produto ou
serviço, colocando novas ideias, sugestões e
até mesmo criação de novos produtos ou
serviços de acordo com a demanda do RIO
2016. Esses apoiadores teve um papel
essencial nos jogos RIO 2016 que através do
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compartilhamento das informações de ambas
se criou a solução.
Um dos exemplos dessa interação foi do
trabalho em conjunto da corporação RIO 2016
com a Embratel que foi a patrocinada e
fornecedora oficial, que além de possibilitar a
transmissão dos Jogos Rio 2016, ao vivo e
24h, para cerca de 5 bilhões de espectadores
de 200 países, a Embratel forneceu também
soluções de vídeo, dados, voz, Wi-Fi, Internet
3G e 4G, Segurança e 2 Data Centers
dedicados. Foram 370 quilômetros de fibra
ótica interligando as mais de 110 instalações
olímpicas. (EMBRATEL, 2016)
Outro exemplo foi com a patrocinadora GE
que desenvolveu de acordo com a demanda
vista por ela, novas lâmpadas capazes de
emitir perfeição a todos os espectros deluz
captados pelo olho humano, com uma
potência e frequência suficiente par filmagens
em alta definição a centenas de quadro por
segundo (slow motion) e com projetos de Big
Data para estudo de dados para maior
eficiência do atleta e projetos sustentáveis.
4. CONCLUSÕES
Este trabalho teve a pretensão de apresentar
as ferramentas de gestão de conhecimento
usadas pela corporação RIO 2016, como
fonte de inovação em seus serviços
prestados. Também se mostrou evidente que
o compartilhamento de conhecimento é
inseparável
na
criação
de
novos
conhecimentos e como o conhecimento é
essencial para uma empresa ser competitiva
e inovadora.
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A Prática da Organização Que Aprende. 29ª. ed.
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Herrera. 5ª. ed. Porto Alegre: Bookman, 2015.
Tópicos em Administração - Volume 15
149
Capítulo 14
Alyne Madeira Kautnick
Resumo: Este artigo tem como escopo analisar de que modo o empreendedorismo
pode colaborar na criação de oportunidades para a inovação disruptiva. Considerase que é necessária uma melhor compreensão acerca de como ocorrem essas
inovações, haja vista sua importância sócio-econômica. Com base em uma revisão
bibliográfica e uma busca sistemática da literatura existente sobre os temas,
buscou-se traçar um panorama teórico que pudesse contribuir com as pesquisas
na esfera das inovações disruptivas e do empreendedorismo, de modo a entender
as condições e os mecanismos causais que influenciam esse modelo de inovação.
Como resultado obteve-se que empresas com maior capacidade empreendedora
possuem mais oportunidades para inovar disruptivamente.
Tópicos em Administração - Volume 15
150
1. INTRODUÇÃO
O termo “inovação” pode ser classificado sob
vários pontos de vista e variações no que
concerne ao seu conceito (TROTT, 2008).
Quanto ao seu grau de impacto, Tidd,
Bessant e Pavitt (2015) separam em
inovações
incrementais,
radicais
e
disruptivas, cada qual com suas respectivas
particularidades.
No caso das inovações disruptivas, há
geralmente o envolvimento de novas
tecnologias, o que exige mudanças nos
padrões de consumo. São consideradas
bastante desafiadoras, haja vista o alto nível
de incerteza quanto à sua viabilidade
tecnológica e à sua comercialização. Somase a capacidade de vinculá-las à
oportunidades de mercado, uma vez que
criam seu próprio mercado. Por fim, essas
inovações são atípicas, ou seja, podem surgir
de empresas heterogêneas em diferentes
setores (Sandberg, 2002).
Nesse
sentido,
entende-se
que
os
"disruptores" veem as oportunidades de modo
diferente dos operadores históricos. E é
através dessa visão diferenciada que ocorrem
as mudanças nas economias emergentes, tais
como China, Índia e outros países asiáticos.
Observando que a maioria de suas
populações não podem pagar produtos
estrangeiros projetados para o "mundo
desenvolvido", essas nações emergentes
desenvolvem inovações que são acessíveis e
suficientemente boas para atender as
necessidades básicas de seus consumidores
a um custo relativamente baixo em
comparação
aos
produtos
importados
(HANG, GARNSEY E RUAN, 2014).
Esses disruptores podem, eventualmente,
ameaçar mercadologicamente a versão mais
alto-nível e custosa desses produtos; ou seja,
essas inovações, inicialmente direcionadas
aos mercados emergentes, se levadas à
escala global ao longo do tempo, podem
reverter o progresso usual da inovação de
países desenvolvidos para esses mercados.
No decorrer dos últimos anos, o conceito de
inovação
disruptiva
foi
sendo
mais
esclarecido à medida que mais casos foram
examinados na literatura (YU; HANG, 2009).
Esses
estudos
evidenciam
que
os
empreendedores, cujas inovações se tornam
disruptivas, estão ativamente envolvidos na
descoberta e criação de oportunidades.
Em virtude da relevância desse modelo de
inovação, tanto nas economias emergentes
como nas mais avançadas, faz-se necessário
entender como a busca de oportunidades
pode resultar em inovações disruptivas.
Christensen e Bower (1996), afirmam que as
inovações disruptivas têm implicações na
detecção e criação de oportunidades
empreendedoras, uma vez que ocorrem
quando os operadores históricos não estão
preparados para a erosão de seus mercados
por uma inovação inicialmente inferior em
termos de desempenho.
Por essa razão, o empreendedorismo é um
fator crítico e relevante no estudo da inovação
disruptiva, posto que ele permite explorar
novas oportunidades, bem como envolve a
criação de novos mercados (HANG;
GARNSEY; RUAN, 2014).
Segundo Timmons e Spinelli (2008), o
empreendedorismo é "uma maneira de
pensar, raciocinar e agir [...], com o propósito
de criação e captura de valor". Isso significa
que, essencialmente, o empreendedorismo
está atrelado ao reconhecimento de
oportunidades, seguidas pela vontade e
iniciativa
para
aproveitar
essas
oportunidades, o que exige uma disposição
para assumir riscos - tanto pessoais como
financeiros -, mas de forma bastante
calculada, a fim de mudar constantemente as
chances de sucesso, equilibrando o risco
com a recompensa potencial (TIMMONS;
SPINELLI, 2008).
Salienta-se
que,
apesar
de
muitos
pesquisadores relacionarem constantemente
os temas "inovação" e "empreendedorismo",
poucos adentram na esfera das inovações
disruptivas (CHANDRA; YANG 2011).
Ademais, Chandra e Yang (2011) também
destacam a importância do papel da
dinâmica empreendedora no que concerne o
estudo das inovações disruptivas, buscando
preencher essa lacuna em suas extensivas
pesquisas.
De modo similar, este artigo busca entender
de que modo o empreendedorismo pode
colaborar
na
criação
de
inovações
disruptivas,
através
de
uma
revisão
bibliográfica e uma busca sistemática da
literatura existente sobre esses dois temas.
Este artigo está estruturado em 5 seções,
considerando esta introdução. Na seção 2,
apresenta-se a metodologia, baseada em
Tópicos em Administração - Volume 15
151
uma revisão da literatura e uma busca
sistemática. Essa revisão serviu como base
para
definir
os
conceitos
de
empreendedorismo e inovação disruptiva,
que são apresentados na seção 3, bem como
discutir a contribuição do empreendedorismo
para inovação disruptiva, apresentado na
seção 4. Por fim, na seção 5 estão dispostas
as considerações finais.
2. METODOLOGIA
Esta pesquisa pode ser caracterizada como
descritiva, uma vez que este tipo de pesquisa
tem “[...] como objetivo primordial a descrição
das
características
de
determinada
população ou fenômeno ou, então, o
estabelecimento
de
relações
entre
variáveis”(GIL, 2002).
Referente à coleta de dados, foi realizada por
meio de pesquisas bibliográficas em bases
científicas, em dois momentos. Primeiramente,
foram coletadas publicações referentes aos
temas de estudo “empreendedorismo” e
“inovação disruptiva” em bases de dados a
fim de formar um referencial teórico base.
Em um segundo momento, realizou-se uma
busca sistemática da literatura sobre os
temas visando identificar de que modo os
estudos sobre empreendedorismo podem
contribuir na criação de oportunidades no
âmbito da inovação disruptiva.
Desse modo, seguiu-se os seguintes passos:
Identificação da base de dados: Foi utilizada
a base de dados Scopus, por ser uma base
interdisciplinar e a maior base de dados de
produções científicas (literatura revisada por
pares:
revistas
científicas,
livros
e
conferências), compondo mais de 60 milhões
de registros (ELSEVIER, 2018).
Definição da estratégia de busca: Os artigos
foram selecionados usando os termos
"disruptive innovation" and "entrepreneurs*"
(apenas em títulos, resumos e palavraschave), durante o período de setembro de
2017 a maio de 2018. Essa pesquisa limitouse aos anos 2000 e 2018, de modo a
abranger
os
estudos
mais
recentes
desenvolvidos nas temáticas propostas.
Salienta-se que estes são os anos de maior
concentração de documentos. Com base
nesses parâmetros, foram encontrados 78
(setenta e oito) documentos.
Critérios de eleição: Como principal critério
verificou-se se o artigo relaciona as duas
variáveis (empreendedorismo e inovação
disruptiva), além de apresentar a definição
clara
de
inovação
disruptiva
e
empreendedorismo.
Seleção dos estudos: Os estudos foram
selecionados utilizando os critérios de
elegibilidade a partir da leitura dos títulos,
palavras-chave e resumos dos artigos. Desse
modo, verificou-se que apenas 15 (quinze)
apresentavam os critérios necessários. Estes
artigos foram lidos integralmente.
Inclusão de registros: Com a leitura mais
detalhada dos artigos constatou-se, nas
referências
destes,
documentos
que
poderiam ser incluídos. Com isso, outros 7
(sete) artigos foram adicionados, alguns deles
são clássicos como Kirzner (1973), Mises
(1978), Casson (1983), Stevenson e JarilloMossi (1986), Bull e Willard (1993),
Christensen e Bower (1996), Morris (1998).
Ao final, formou-se um portfólio com 22 (vinte
e dois) artigos.
Coleta de dados: Foram coletados dados dos
artigos selecionados, em uma planilha
eletrônica, referentes ao seu objetivo,
metodologia, contexto e resultados. Estes
dados
permitiram
fazer
as
análises
apresentadas neste artigo.
Síntese dos resultados: Obteve-se como
resultado o portfólio com 22 (vinte e dois)
artigos, dos quais 19 (dezenove) foram
utilizados para definir os conceitos de
inovação disruptiva e empreendedorismo. Os
demais foram utilizados para discutir a
contribuição do empreendedorismo na
inovação disruptiva. No Quadro 1, observa-se
o portfólio final, o qual permite compreender
como estão distribuídos os estudos sobre as
temáticas empreendedorismo e/ou inovação
disruptiva no decorrer dos anos.
Tópicos em Administração - Volume 15
152
Quadro 1: Distribuição dos estudos sobre empreendedorismo e/ou inovação disruptiva
Autor
Ano
Temática
Kirzner
1973
Empreendedorismo
Mises
1978
Empreendedorismo
Casson
1983
Empreendedorismo
Stevenson e Jarillo-Mossi
1986
Empreendedorismo
Bull e Willard
1993
Empreendedorismo
Christensen & Bower
1996
Inovação Disruptiva e Empreendedorismo
Morris
1998
Empreendedorismo
Swedberg
2000
Empreendedorismo
Shane e Venkataraman
2000
Empreendedorismo
Sandberg
2002
Inovação Disruptiva
Thomond & Lettice
2002
Inovação Disruptiva
Anthony e Christensen
2005
Inovação Disruptiva
Hwang e Christensen
2007
Inovação Disruptiva
Timmons e Spinelli
2008
Empreendedorismo
Yu e Hang
2009
Inovação Disruptiva
Morris, Kuratko & Covin
2010
Empreendedorismo
Martes
2010
Empreendedorismo
Chandra e Yang
2011
Inovação Disruptiva e Empreendedorismo
Hang, Garnsey e Ruan
2014
Inovação Disruptiva
Hang, Garnsey e Ruan
2014
Inovação Disruptiva e Empreendedorismo
Christensen, Raynor e McDonald
2015
Inovação Disruptiva
Kuratko
2016
Empreendedorismo
Fonte: os autores
3. REVISÃO TEÓRICA DOS CONCEITOS
3.1. INOVAÇÃO DISRUPTIVA
O termo "inovação disruptiva" refere-se a uma
nova tecnologia com custos e desempenho
relativamente menores em relação às
dominantes no mercado. Isso significa que
estas tecnologias geralmente focam seus
esforços em seus clientes mais exigentes e/ou
lucrativos, excedendo as necessidades de
alguns segmentos e ignorando as de outros.
Já as tecnologias advindas da inovação
disruptiva possuem a capacidade de atingir
de forma satisfatória esses segmentos
esquecidos,
visto
que
oferecem
funcionalidades mais adequadas com um
preço
mais
acessível
(CHRISTENSEN,
RAYNOR; MCDONALD, 2015).
Logo, essas inovações disruptivas elevam seu
nível de mercado e passam a oferecer a
mesma
performance
das
tecnologias
dominantes, preservando as vantagens
iniciais, e atingindo os segmentos mais
exigentes. Dessa forma, quando esses
segmentos passam a adotar essas inovações
de modo significativo, considera-se que
ocorreu uma "disrupção".
Hwang e Christensen (2007) afirmam que,
apesar de esse não ser o foco inicial de uma
inovação disruptiva, uma vez que o produto
e/ou
serviço
disruptivo
está
consideravelmente estabelecido no mercado,
este pode tornar-se alvo de clientes alto-nível,
visto que suas necessidades podem ser
atendidas por essa nova tecnologia.
Tópicos em Administração - Volume 15
153
Considerando as análises de Thomond e
Lettice (2002), "uma inovação disruptiva é um
produto, serviço ou modelo de negócios
explorado com sucesso, que transforma
significativamente
as
demandas
e
necessidades de um mercado convencional e
perturba seus antigos jogadores-chave".
Ainda de acordo com Thomond e Lettice
(2002), esse modelo de inovação possui as
seguintes características:
1)
Começa seu sucesso atendendo às
necessidades insatisfeitas de um mercado
emergente ou de um nicho.
2)
Seu conjunto de atributos de
desempenho,
altamente
avaliados
por
clientes de nicho de mercado, não são
inicialmente apreciados pelos mercados
convencionais. Os clientes principais do
mercado, bem como os concorrentes,
valorizam diferentes conjuntos de atributos de
desempenho e, portanto, consideram a
inovação como de qualidade inferior.
3)
A adoção do mercado de nicho
permite que o investimento no modelo de
produto, serviço ou negócio aumente seu
desempenho. Pode, então, criar ou inserir
novos mercados de nicho e expandir os
números de clientes.
4)
A conscientização do produto, serviço
ou modelo de negócio aumenta, forçando e
influenciando a mudança na percepção dos
mercados convencionais sobre o que estes
valorizam.
5)
A mudança na percepção do
mercado dominante sobre o que valoriza é o
catalisador que permite que a inovação
perturbe e substitua produtos, serviços ou
modelos comerciais existentes.
Yu e Hang (2009) afirmam que "a inovação
disruptiva ocorre através de um processo".
Citando os estudos de Christensen, os
autores discorrem sobre como as tecnologias
disruptivas fornecem valores diferentes das
tecnologias
convencionais.
Durante
o
processo transitório, quando ocorre a
"disrupção", é possível traçar as trajetórias de
desempenho do produto fornecidas pelas
empresas e exigidas pelos clientes para
diferentes tecnologias e segmentos de
mercado, demonstrando que a inovação
disruptiva ocorre quando essas trajetórias se
cruzam.
Os autores ainda mencionam que "a inovação
disruptiva é um poderoso meio de ampliar e
desenvolver novos mercados e fornecer
novas funcionalidades, o que, por sua vez,
pode prejudicar as ligações existentes no
mercado" (YU; HANG, 2009).
De acordo com Chandra e Yang (2011), a
inovação disruptiva não deve ser definida
meramente do ponto de vista do sucesso
tecnológico, mas também deve incluir o
sucesso comercial. Ou seja, a teoria da
inovação disruptiva pode ajudar a entender
de que forma produtos e serviços muitas
vezes inacessíveis a um determinado
segmento do mercado podem ser convertidos
em modelos mais simples e disponíveis
comercialmente.
Deve-se salientar que, em sua fase inicial de
desenvolvimento, cada produto baseado em
uma determinada inovação disruptiva serve
os segmentos que valorizam seus atributos de
desempenho não-convencionais. Com o
passar do tempo, conforme for se
desenvolvendo,
o
desempenho
dessa
inovação pode alcançar nível suficiente para
satisfazer os clientes convencionais. Chandra
e Yang (2011) também ponderam que,
embora o desempenho de uma inovação
disruptiva seja aperfeiçoado, esta tende a
permanecer inferior se comparada com as
tecnologias já estabelecidas.
Christensen, Raynor e McDonald (2015)
propõem o modelo abaixo para ilustrar de que
forma a inovação disruptiva está inserida no
mercado:
Tópicos em Administração - Volume 15
154
Esse modelo contrasta as trajetórias de
desempenho de um determinado produto
(linhas vermelhas que mostram como os
produtos ou serviços melhoram ao longo do
tempo) com as trajetórias da demanda do
cliente (linhas azuis mostrando a disposição
dos clientes de pagar pelo desempenho).
Percebe-se que, à medida que as empresas
em exercício introduzem produtos ou serviços
de alta qualidade (linha vermelha superior)
para satisfazer o alto mercado (onde a
rentabilidade é mais alta), ultrapassam as
necessidades dos clientes de baixo custo e
de muitos clientes convencionais. Isso deixa
uma abertura para que os participantes
encontrem pontos de apoio nos segmentos
menos lucrativos, que os operadores
históricos estão negligenciando. Em seguida,
os participantes em uma trajetória disruptiva
(linha vermelha mais baixa) melhoram o
desempenho de suas ofertas e se mudam
(onde a rentabilidade é mais alta para eles
também), desafiando o domínio dos
operadores históricos.
De modo resumido, conforme as empresas
tendem a inovar mais rapidamente do que as
necessidades de seus clientes evoluem, elas
acabam produzindo produtos ou serviços que
são muito sofisticados, caros e complicados
para muitos clientes em seu mercado.
Essas empresas buscam atender as
demandas dos níveis mais altos de seus
mercados, uma vez que, ao cobrar os preços
mais altos aos seus clientes mais exigentes e
sofisticados no topo do mercado, elas
alcançam uma maior rentabilidade.
Todavia, atendendo apenas às demandas
dos clientes mais rentáveis, essas empresas,
involuntariamente, permitem que inovações
disruptivas conquistem espaço na parte
inferior do mercado, trazendo alternativas
com custos mais acessíveis.
Por fim, essas alternativas, com desempenho
inicial não adequado aos padrões exigidos
pelos níveis mais altos de mercado, são
capazes de melhorar esses critérios e atender
às demandas de clientes mais exigentes.
De acordo com os teóricos Thomond e Lettice
(2002), pode-se considerar que:
A inovação disruptiva só começa a ser
realmente percebida quando o mercado
muda para adotar um novo paradigma no que
ele chama de "tornado" de adoção. Uma vez
que o tornado começa, não demora muito
para que a maioria dos potenciais clientes no
mercado tenha sofrido mudanças dramáticas
em seu comportamento passado com a
promessa de obter benefícios igualmente
dramáticos do novo paradigma. (THOMOND;
LETTICE, 2002)
3.2. EMPREENDEDORISMO
O ato de empreender, também conhecido
como "empreendedorismo", é o "processo de
criação de valor, reunindo uma combinação
única de recursos para explorar uma
oportunidade"
(STEVENSON;
JARILLOMOSSI, 1986).
Embora esse termo esteja em uso há mais de
200 anos, pode-se considerar que existe
bastante desacordo em relação ao seu
significado. Diversos autores e estudiosos da
Tópicos em Administração - Volume 15
155
área possuem opiniões consideravelmente
diferentes sobre o tema, seja a respeito de
como identificar um empreendedor ou até
mesmo a natureza das atividades que o
constituem (MORRI, KURATKO; COVIN,
2010).
demonstrando que empreender consiste em
fazer inovações e não invenções. O autor
também sustenta a ideia de que ninguém é
um empreendedor para sempre; apenas
quando ele ou ela está realmente fazendo a
atividade inovadora (SWEDBERG, 2000).
Martes (2010) afirma que "adaptar, crescer,
administrar eficientemente a rotina de uma
empresa não significa empreender". Mais do
que isso, a autora ressalta que é necessário
inovar para que ocorra o empreendedorismo;
e não somente adequar-se às mudanças de
modo a manter-se competitivo no mercado.
Ela ainda pondera, citando os estudos de
Schumpeter, que "competir para sobreviver
não é empreender" (MARTES, 2010).
Segundo Bull e Willard (1993), "o ambiente
indubitavelmente
influencia
o
empreendedorismo: pode ser solidário, mas
também pode fornecer obstáculos". Esses
autores acreditam que o empreendedorismo
ocorrerá, sob condições de: 1. Motivação
relacionada à tarefa; 2. Expertise; 3.
Expectativa de ganho para si próprio; e 4. Um
ambiente de apoio.
Ainda de acordo com Martes (2010):
O tipo de empreendedor schumpeteriano
guarda
uma
grande
distância
dos
empreendedores atualmente retratados na
literatura em administração, principalmente
porque para este autor empreender é
sobretudo inovar. E aqui não se trata de
qualquer tipo de inovação, senão aquela de
caráter
pioneiro
e
transformador.
O
empresário pioneiro inova e lidera um
processo de mudança que extrapola os
domínios de seu negócio e da sua própria
esfera de atuação (MARTES, 2010).
Os teóricos Morris, Kuratko e Covin (2010)
consideram que empreendedorismo é "criar
organizações,
mudanças,
inovação
e
riqueza". Através desse conceito, é possível
perceber que o termo "criação" é a base do
empreendedorismo, o qual pode ser visto
como "a aplicação de energia para iniciar um
conceito
novo
ou
construir
um
empreendimento, em vez de apenas assistir
ou analisar" (MORRIS; KURATKO; COVIN,
2010).
Ademais, segundo Morris (1998), existem sete
perspectivas
sobre
a
natureza
do
empreendedorismo, sendo elas: 1. Criação de
riqueza; 2. Criação de empresa; 3. Criação de
inovação; 4. Criação de mudança; 5. Criação
de empregos; 6. Criação de valor; e 7.
Criação de crescimento. Isso significa que o
empreendedorismo envolve, essencialmente,
um processo de criação.
Schumpeter, no seu livro The Theory of
Economic Development (1911), pontua que "o
empreendedorismo pode ser definido como a
criação de uma nova combinação de
materiais
e
forças
já
existentes",
Swedberg (2000), citando os estudos de Mark
Casson e Israel Kirzner, discorre sobre duas
formas de entender o empreendedorismo: a
primeira, de acordo com Casson (1983),
define o empreendedor como "uma pessoa
especializada em tomar decisões sobre como
coordenar os recursos escassos"; a segunda,
segundo Kirzner (1973), afirma que "o
empreendedorismo significa alerta para as
oportunidades de lucro, as quais ajudam a
restaurar o equilíbrio do mercado".
Nesse âmbito, deve-se atentar para o
contraste entre as teorias de Kirzner e
Schumpeter,
visto
que
este
vê
o
empreendedor como alguém que justamente
rompe o equilíbrio através de uma inovação
(SWEDBERG, 2000).
Outro teórico que também concentrou seus
estudos na área de empreendedorismo é
Ludwig von Mises. Ele, ao contrário de
Kirzner, possui uma visão bastante similar à
de Schumpeter. Mises (1978) considera que
"quando a economia está em um ciclo estável
e repetitivo de equilíbrio, não há lugar para o
empreendedorismo". Todavia, Mises difere-se
de Schumpeter ao definir o fenômeno
empreendedor como "antecipação de eventos
incertos e não como inovações" (SWEDBERG,
2000).
Sobre a relação entre empreendedorismo e
inovação, Swedberg (2000) considera que:
Embora
as
palavras
"inovação"
e
"empreendedorismo"
sejam
agora
tão
familiares quanto eram estranhas aos
executivos e gerentes de pessoas há uma
década, a prática de ambos ainda é limitada
em grande parte às empresas que as
praticavam há uma década - isto é, para as
empresas de quem o autor aprendeu a ser
um inovador e um empreendedor. A maioria
Tópicos em Administração - Volume 15
156
das outras empresas - a grande maioria de
ambas, grandes e pequenas empresas ainda acredita que a inovação é inspiração e
empreendedorismo
é
pura
sorte.
(SWEDBERG, 2000)
Timmons e Spinelli (2008) vêem o
empreendedorismo como a aplicação de
energia para iniciar um novo conceito, em vez
de apenas assistir ou analisar. Essa visão
exige uma disposição para assumir riscos
calculados e, em seguida, fazer todo o
possível para reduzir as chances de falha.
Enfim, o empreendedorismo também pode
ser visto como a habilidade de perceber a
oportunidade onde outros veem caos,
contradição e confusão.
4. RESULTADOS
É possível perceber que, de acordo com os
artigos analisados neste estudo, durante as
décadas de ‘70 e ‘90, foram desenvolvidos
diversos estudos sobre empreendedorismo
(Kirzner, 1973; Mises, 1978; Casson, 1983;
Stevenson e Jarillo-Mossi, 1986; Bull e Willard,
1993; Morris, 1998). Já no que concerne os
estudos desenvolvidos na esfera das
inovações disruptivas, pode-se verificar que
são
consideravelmente
mais
recentes
(Sandberg, 2002; Thomond e Lettice, 2002;
Anthony e Christensen, 2005; Hwang e
Chritensen, 2007; Yu e Hang, 2009).
Constata-se também que os estudos sobre
ambos os temas, de forma relacionada,
exceto
o
pioneiro
desenvolvido
por
Christensen
e
Bower
(1996),
estão
concentrados na última década (Chandra e
Yang, 2011; Hang, Garnsey e Ruan, 2014).
Bastante similar ao conceito de "destruição
criativa" de Schumpeter, pode-se considerar
que a inovação disruptiva está implícita no
discurso e nas tradições da pesquisa sobre
empreendedorismo.
Contudo,
deve-se
salientar que há uma escassez de pesquisas
naquele domínio que adotam a perspectiva
empreendedora.
Segundo Chandra e Yang (2011), "há três
elementos importantes da investigação do
empreendedorismo que não são bem
compreendidos no contexto da inovação
disruptiva: (1) as fontes de oportunidade (2) a
incerteza na ação empreendedora e (3) a
lógica empresarial".
Isso significa que “qualquer discussão sobre
empreendedorismo pode ser incompleta se
não houver referência a um de seus conceitos
fundamentais: a incerteza”. Ou seja, apesar
dos inúmeros questionamentos acerca de
como os empresários, sejam operadores
históricos ou novos operadores, podem
perceber e lidar com essas incertezas, ainda
não é possível compreender a natureza dessa
incerteza, visto que “cada tipo [de incerteza]
requer
diferentes
tipos
de
ações
empreendedoras” (CHANDRA; YANG, 2011).
Os autores Anthony e Christensen (2005)
consideram
que
algumas
empresas
interessadas na criação de inovações
disruptivas nem sempre são capazes de
identificar as melhores estratégias para sua
implantação:
[...] uma empresa de eletrônicos com a qual
trabalhamos pensou que tinha uma inovação
disruptiva no mercado. Houve dois problemas
com sua avaliação. Primeiro, a inovação
ofereceu benefícios semelhantes ao produto
existente da empresa, mas a um preço mais
baixo. Em segundo lugar, a empresa
planejava oferecer a inovação aos seus
clientes mais exigentes - os clientes que
ainda
estavam
insatisfeitos
com
o
desempenho do produto existente que
estavam
comprando.
Essa
era
uma
incompatibilidade entre a inovação e a sua
implantação, mas não significava que a
inovação deveria ser descartada. Ao realizar
um diagnóstico de cliente, a empresa
identificou clientes em um mercado adjacente
que procuravam um desempenho "bom o
suficiente" a preços mais baixos. A empresa
moldou a inovação em uma inovação
disruptiva de baixo custo direcionada a esses
clientes. Esta estratégia proporcionou uma
melhor combinação entre a inovação, o
mercado-alvo
e
as
habilidades
da
organização. (ANTHONY; CHRISTENSEN,
2005)
De acordo com Shane e Venkataraman
(2000), "a inovação disruptiva pode ser
descrita como uma forma de oportunidade
empreendedora que é radical e não de
natureza incremental". Ou seja, ela não vem
para acrescentar algo novo a um produto ou
serviço já existente, mas para mudar o fluxo
de mercado, buscando atingir um nicho
específico que não possui suas demandas
atendidas.
Nesse âmbito, Hang, Garnsey e Ruan (2014)
afirmam que "a definição de inovação
disruptiva sugere que uma certa quantidade
Tópicos em Administração - Volume 15
157
de esforço empreendedor facilita a sua
evolução".
Timmons e Spinelli (2008), consideram que o
empreendedorismo:
[...] pode ocorrer - ou não ocorrer - em
empresas antigas e novas; pequenas e
grandes; de forma rápida ou lenta; nos
setores privado, sem fins lucrativos e público;
em todos os pontos geográficos; e em todas
as etapas do desenvolvimento de uma nação,
independentemente da política. (TIMMONS;
SPINELLI, 2008)
Ou seja, o fato de que grandes empresas coinovam cada vez mais com empresas
menores e comunidades inovadoras fora de
seus limites da empresa e que isso precisa
estar atrelado com as teorias existentes sobre
inovação disruptiva (CHANDRA; YANG,
2011).
Evidencia-se que a tecnologia desse tipo de
inovação oferece um desempenho "bom o
suficiente" ao longo das métricas tradicionais,
o qual é suportado por um modelo de
negócios que gera retornos financeiros
atrativos a preços baixos (ANTHONY;
CHRISTENSEN, 2005).
Anthony e Christensen (2005), acreditam que,
mesmo a tecnologia apresentando menor
desempenho, ela ainda oferece benefícios em
termos de conveniência, customização e
simplicidade, que se encaixam diretamente
nos padrões de comportamento e nas
prioridades de um cliente. O modelo
comercial suporta esses novos benefícios,
tipicamente com preços mais baixos e um
processo
de
distribuição
diferente,
geralmente mais simples.
Com base nos estudos de Kuratko (2016), "o
empreendedor é aquele que se compromete
a organizar, administrar e assumir os riscos
de uma empresa". Todavia, nos últimos anos,
essa definição passou a abranger novos
paradigmas:
Hoje, um empreendedor é um inovador ou
desenvolvedor que reconhece e aproveita as
oportunidades; converte essas oportunidades
em idéias viáveis e comercializáveis;
acrescenta valor através do tempo, esforço,
dinheiro ou habilidades; assume os riscos do
mercado competitivo para implementar essas
ideias; e percebe as recompensas desses
esforços. (KURATKO, 2016)
Uma visão amplamente aceita acerca do
empreendedor é de que este atua como um
agente de mudança, fornecendo ideias
criativas e inovadoras para empresas e
ajudando-as a crescerem e tornarem-se mais
lucrativas. Ou seja, pode-se considerar que o
empreendedorismo está consideravelmente
atrelado à criação e identificação de
oportunidades, principalmente no que diz
respeito àquelas nomeadas inovações
disruptivas.
Chandra e Yang (2011) compartilham dessa
visão, declarando que "o conhecimento e a
capacidade de criar e lidar com a inovação
disruptiva são críticos para a longevidade
corporativa, especialmente para empresas
que operam em um ambiente veloz".
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considera-se que a teoria da inovação
disruptiva criou um impacto significativo nas
práticas de gestão, além de ter instigado a
curiosidade de diversos estudiosos.
Este artigo buscou avançar na compreensão
da inovação disruptiva e enfatizar a relevância
e contribuição potencial da pesquisa do
empreendedorismo sobre esse tema, através
da sistematização de um panorama teórico.
Por meio das diferentes perspectivas aqui
apresentadas, foi possível identificar diversas
direções de pesquisa dentro do domínio da
pesquisa de inovação disruptiva, sendo o
principal deles, apesar de ainda relativamente
restrito, o empreendedorismo.
Embora
a
literatura
sobre
o
empreendedorismo mostre exemplos de
inovações
verdadeiramente
acidentais,
acredita-se que o processo de criação da
inovação disruptiva pode ser amplamente
influenciado por fatores advindos daquele.
Uma vez que a inovação disruptiva não é um
evento isolado, mas envolve desenvolvimento
de oportunidades e outros processos de
refinamento, as estratégias para uma
empresa permanecer inovadora é justamente
aproveitar-se
de
sua
capacidade
empreendedora.
Nesse sentido, a inovação disruptiva pode ser
melhor estudada e compreendida através de
uma
lente
empreendedora
holística,
observando as interações de vários fatores,
como por exemplo: empresa, produto e
consumidor.
É importante ressaltar que, assim como a
inovação disruptiva, os estudos sobre
Tópicos em Administração - Volume 15
158
empreendedorismo demonstram que não se
trata de uma atividade única, mas um
processo contínuo ao longo da vida de um
inovador/empreendedor.
Por essa razão, os estudos na área de
empreendedorismo
podem
ser
muito
benéficos no que concerne ampliar a
dinâmica de criação e desenvolvimento de
oportunidades disruptivas, podendo colaborar
não só na teoria como também na prática.
Desse modo, evidencia-se que, considerando
a escassa produção científica sobre a relação
existente entre essas duas temáticas, este é
um campo passível de maiores pesquisas.
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Tópicos em Administração - Volume 15
160
Capítulo 15
Joiceli Rossoni Lapolli
Paulo César Lapolli
Leandro Maciel Nascimento
Inara Antunes Vieira Willerding
Édis Mafra Lapolli
Resumo: Organizações, no século XXI, enfrentam grandes desafios para se
manterem competitivas e sustentáveis. A crescente utilização de ferramentas que
possam contribuir para superar estas dificuldades vem recebendo atenção
especial por parte das empresas. Neste novo cenário, aspectos transformadores
das organizações, como criatividade e inovação estão sendo valorizados e
entendidos como potenciais diferenciadores, mesmo sendo aspectos intangíveis,
ou seja, abstratos, porém mensuráveis, estão sendo cada vez mais valorizados. A
energia despendida pelas organizações visa principalmente a satisfação dos
clientes, mesmo dos clientes que mudam seu comportamento de consumo
motivado pelo aumento da oferta de produtos e serviços. As clínicas médicas são
exemplos de empresas que adotam uma posição centrada nos clientes. Para tal,
necessitam introduzir em seus processos de relacionamento com clientes
ferramentas que ofereçam diferenciais aumente a satisfação dos clientes. Os
problemas de relacionamentos com clientes não são recentes, e cientes disto, as
clínicas médicas se deparam com grandes problemas relacionados com a retenção
de seus clientes, que podem ser observados pelos diferentes motivos que levam
um cliente a deixar de utilizar os serviços de um fornecedor específico. A melhoria
da relação com o cliente somente se torna tangível a partir do uso de estratégias
que agreguem valor para o cliente. Desta forma, este artigo tem por objetivo
principal apresentar a criatividade e seu processo como um diferencial que pode
contribuir para potencializar a retenção de clientes em clínicas médicas. Para obter
os resultados, realizou-se uma pesquisa qualitativa, descritiva e bibliográfica. Em
linhas gerais, pode-se verificar, que é imprescindível o uso da criatividade nas
organizações, em especial, nas clínicas médicas para reter seus clientes, neste
ambiente complexo e competitivo da área da saúde em que atuam.
Tópicos em Administração - Volume 15
161
1. INTRODUÇÃO
1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Ao longo dos últimos anos, a procura por
serviços especializados na área de saúde
vem crescendo exponencialmente. Este fato
gerou a necessidade de um aumento na
oferta de serviços especializados de saúde,
resultando no surgimento de inúmeras
clínicas para atender a demanda de serviços.
Em face deste aumento, oferecer serviços
com diferenciais para o cliente passou a ser
um fator de sustentabilidade para a grande
maioria das instituições de saúde. Serviços de
qualidade que venham de encontro as
necessidades do cliente passam a ser uma
realidade deste setor de prestação de
serviços.
O aumento da concorrência, clientes mais
seletivos exigem transformações significativas
das clinicas médicas que se defrontam com a
necessidade de implementar melhorias em
seus processos organizacionais para ofertar
de produtos/serviços inovadores. Para as
organizações, reter clientes nos dias atuais
requer dedicação e criatividade, representa ir
além de surpreender o cliente, é necessário
encantar, criar valor, despertar o sentimento
da necessidade nas pessoas.
Definir um processo de desenvolvimento da
criatividade organizacional pode contribuir
para a redução da evasão de clientes no
setor de clínicas médicas, como também, no
aumento do número de clientes fidelizados,
crescimento dos lucros, valorização da
marca, competitividade e sustentabilidade.
1.2
FORMULAÇÃO
PROBLEMA
DA
SITUAÇÃO
Organizações, no século XXI, enfrentam
grandes desafios para se manterem
competitivas e sustentáveis. A crescente
utilização de ferramentas que possam
contribuir para superar estas dificuldades
vem recebendo atenção especial por parte
das empresas. Neste novo cenário, aspectos
transformadores das organizações, como
criatividade e inovação estão sendo
valorizados e entendidos como potenciais
diferenciadores, mesmo sendo aspectos
intangíveis, ou seja, abstratos, porém
mensuráveis, estão sendo cada vez mais
valorizados.
As clínicas médicas são exemplos de
empresas que adotam uma posição centrada
nos clientes. Para tal, necessitam introduzir
em seus processos de relacionamento com
clientes
ferramentas
que
ofereçam
diferenciais e tragam satisfação para os
clientes.
Os problemas de relacionamentos com
clientes não são recentes, e cientes disto, as
clínicas médicas se deparam com grandes
problemas relacionados com a retenção de
seus clientes, que podem ser observados
pelos diferentes motivos que levam um cliente
a deixar de utilizar os serviços de um
fornecedor específico.
A melhoria da relação com o cliente somente
se torna tangível a partir do uso de estratégias
que agreguem valor para o cliente.
1.3 OBJETIVO GERAL
O presente artigo tem por objetivo principal
compreender a criatividade como um
diferencial que pode contribuir para
potencializar a retenção de clientes em
clínicas médicas.
1.4 METODOLOGIA
Esta pesquisa possui uma abordagem
qualitativa sob o ponto de vista de Lakatos e
Marconi (2011, p. 269), “em analisar e
interpretar
aspectos
mais
profundos,
descrevendo
a
complexidade
do
comportamento humano”.
Quanto aos objetivos, a pesquisa é descritiva,
pois possui como objetivo primordial a
descrição das características de determinada
população ou fenômeno ou o estabelecimento
de relações entre variáveis (Gil, 2009), que no
caso desta pesquisa, compreender a
criatividade como contribuição para a
retenção de clientes em clinicas médicas.
E como técnica de pesquisa, o estudo utilizou
a pesquisa bibliográfica tendo em vista que,
segundo Triviños (2002, p. 104), “não é
possível interpretar, explicar e compreender a
realidade sem um referencial teórico”. E
ainda, diz respeito a “[...] quando elaborada a
partir de material já publicado, constituído
principalmente de livros, artigos de periódicos
e atualmente com material disponibilizado na
internet” (Matias-Pereira, 2012, p. 89).
É importante ressaltar, que este estudo se
justifica por perceber que existe ainda na
literatura poucas publicações sobre o tema,
permitindo assim, gerar contribuições para o
meio acadêmico e social, agregando mais
conhecimento
Tópicos em Administração - Volume 15
162
2. REVISÃO DA LITERATURA
algo que as demais pessoas viam como
certas (TORRANCE, 1976).
2.1 CRIATIVIDADE
A origem da palavra criatividade remonta ao
verbo creare do latim, que significa gerar ou
produzir. O produto da criatividade é a ideia,
o novo, uma forma diferente de olhar para as
coisas. Quinn, Thompson e Faerman (2003)
consideram que as habilidades criativas
presentes no indivíduo permitem relacionar
conceitos independentes e construir uma
nova maneira de pensar. Todo ser humano é
criativo por natureza, o que diferencia um do
outro é a atitude criativa de cada um. O ser
criativo é curioso, tem olhar crítico para o
mundo a sua volta, busca criar maneiras
inovadoras de melhorar o que para muitos já
é bom. Ao longo da história da humanidade
observamos que as descobertas e inovações
estão relacionadas com pessoas que
buscaram entender forma totalmente diferente
Na literatura pode-se encontrar inúmeros
conceitos de criatividade, sendo que, na
grande maioria, existe um consenso de que
criatividade se trata da construção de algo
novo. Nesta linha de pensamento, Torrance
(1976, p. 34) define a criatividade e o
pensamento criativo como:
O processo de perceber lacunas ou
elementos faltantes perturbadores; formar
ideias ou hipóteses a respeito deles; testar
essas hipóteses; e comunicar os resultados,
possivelmente modificando e retestando as
hipóteses.
Torquato (2017) em seu estudo, apresentou
uma compilação dos proincipais conceitos de
criatividade em várias áreas de pesquisa. O
quadro 1 apresenta estes conceitos em
ordem cronológica.
Quadro 1: Conceitos de Estudiosos sobre a Criatividade
Estudioso
Stein (1974)
Kneller (1978)
Torrance;
Mourad (1981)
Amabile (1983)
Alencar (1996)
Toro (2002)
Pope (2005)
Fialho
(2006)
et
al.
Pasinatto (2007)
Ulbricht e Vanzin
(2010)
Zeng;
Proctor;
Salvendy (2010)
Conceito
É o processo que resulta em um produto novo, que é aceito como útil e/ou satisfatório
por um número significativo de pessoas em algum ponto no tempo.
Consiste em rearranjar o que sabemos, a fim de achar o que não sabemos.
É o processo de tornar-se sensível a problemas, deficiências, lacunas no
conhecimento, desarmonia; identificar a dificuldade; buscar soluções, formulando
hipóteses a respeito das deficiências; testar e retestar essas hipóteses; e finalmente
comunicar os resultados.
É um produto ou uma resposta julgada como criativo na medida em que é novo e
apropriado, útil ou de valor para uma tarefa, sendo ela heurística e não algorística.
É uma das expressões da capacidade inesgotável do ser humano de se transformar e
transformar o meio onde vive. Tem a ver com os processos de pensamentos que se
associam com imaginação, insight, invenção, inovação, intuição, inspiração, iluminação
e originalidade. Ela diz respeito a uma disposição de pensar diferente e para “brincar”
com ideias.
É o ato de parir a si mesmo num processo de autocriação constante e evolutiva, pois os
impulsos de inovação inerentes aos sistemas biológicos culminam na criatividade.
É a capacidade de produzir, fazer ou tornar algo em uma coisa nova e válida tanto para
si como para os outros, isto é, um atributo humano comum, pois a grande maioria das
pessoas resolve problemas de todas as espécies no seu dia a dia com algum grau de
criatividade. Ressalta-se que a criatividade implica incerteza, desconhecimento, e não
é fácil de ser avaliada.
É geradora de ideias, responsável pela solução de problemas, permite aprender
através do erro ou acerto e possibilita identificar as necessidades dos clientes e as
novas oportunidades.
Criatividade tem relação com a necessidade intrínseca de inovar, de buscar novas
soluções para as dificuldades encontradas, de criar novas formas condizentes com as
possibilidades de cada um ser o autor e protagonista de sua existência.
Decorre da passagem da fantasia à realização. Converte-se em um bem intangível de
valor inestimável à vantagem competitiva, e, portanto, compreendê-la como resultante
de um processo cognitivo conduz, com toda certeza, a resultados cada vez mais
satisfatórios.
A criatividade está ganhando destaque na academia e na indústria e, há mais de 50
anos, pesquisas indicam que a criatividade é fundamental para a inovação de produtos
e serviços.
Fonte: Adaptado de Torquato (2017, p. 63-64)
Tópicos em Administração - Volume 15
163
Em um estudo sobre os aspectos
relacionados com a criatividade no indivíduo
e no contexto organizacional, Pereira (2016)
identificou as seguintes teorias sobre
criatividade, apresentadas no quadro 1.
Quadro 2: Teorias da Criatividade
Teoria
Teoria Componencial
da Criatividade e
Inovação
Organizacional
Modelo Sistêmico
da Criatividade
Autor(es)
Amabile
(1983)
Abordagem
O impacto do ambiente organizacional sobre a
criatividade das pessoas.
A criatividade resulta da interação de um sistema
composto por: uma cultura, um campo de
especialistas que reconhecem e validam a inovação.
Teoria do
a inteligência depende de três habilidades
Sternberg
Investimento em
cognitivas: a capacidade sintética, analítica e a
(1988)
Criatividade
habilidade prática, contextual.
Modelo Interacionista
As características individuais, do grupo e da
Wodman et al
da Criatividade
organização influenciam os processos criativos e, por
(1983)
Organizacional
sua vez, a criatividade organizacional.
Teoria da Ação
Sobre os domínios específicos e seus campos de
Ford
Criativa em Domínios
conhecimento, incluíndo regras e práticas, grupos,
(1996)
Sociais Múltiplos
organizações, ambientes iorganizacionais e
mercados.
Fonte: elaborado pelos autores com base em Pereira (2016, p. 55)
Csikszentmihali
(1988)
Todas as teorias pesquisadas pelos autores
relacionam
fatores
que
influenciam
diretamente sobre a criatividade e sobre os
processos criativos Essas teorias e modelos
auxiliam a compreensão dos fatores que
interferem na criatividade, no pensamento
criativo individual e nos processos criativos
em grupos. Os indivíduos trabalham em um
ambiente
(acadêmico,
organizacional,
cultural) e, por isso, o papel dos grupos é
muito importante no que tange ao estímulo ou
à inibição da criatividade individual e, por
consequência, nos resultados do processo
criativo (PEREIRA, 2016).
Amabile
(2012)
defende
a
teoria
componencial da criatividade e inovação
organizacional afirmando que a mesma
aumenta
quando
uma
pessoa
está
intrinsecamente motivada, com grande
conhecimento de domínio e habilidades no
processo criativo. Sendo que isto tudo deve
estar funcionando em um ambiente com alto
nível de apoio à criatividade. Estes
componentes estão representados na Figura
1.
Figura 1: Componentes da Teoria da Criatividade e Inovação Organizacional
Fonte: Adaptado de Amabile (1997, p. 53).
Tópicos em Administração - Volume 15
164
1)
Conhecimento de domínio: representa
o conhecimento que o indivíduo possui sobre
técnicas disponíveis e como utilizá-las;
2)
Processo criativo: são inerentes ao
indivíduo,
compreendem
vivências,
personalidade, disciplina, persistência e
observar um determinado contexto ou
ambiente ou problema dentro de uma
perspectiva diferente;
3)
Motivação: a motivação intrínsica é a
paixão, a motivação para empreender uma
tarefa ou resolver um problema porque é
interessante,
envolvente,
pessoalmente
desafiador ou satisfatório. A motivação
extrínsica é o ambiente de trabalho com suas
regras normas, exigências para se fazer algo,
vigilância.
O grande desafio das pessoas é encontrar o
equilíbrio, a forma de orquestrar estes
componentes. A recompensa para aqueles
que tem sucesso nesta empreitada é a
capacidade
de
produzir
pensamentos
criativos.
No contexto organizacional o clima e a cultura
são fatores que influenciam diretamente na
motivação e consequentemente na promoção
da criatividade. Van Gundy (1987) identifica
algumas ações da empresa que podem
promover a motivação e fomentar o espirito
criativo nas pessoas:
Autonomia: Grau em que se dá aos
funcionários liberdade para criar;
Sistema de premiação dependente do
desempenho: premiar pelo desempenho e
competência e não somente nas relações
pessoais;
Apoio à criatividade: uma organização
aberta a novas ideias e que apoie possíveis
mudanças benéficas à instituição;
Aceitação das diferenças e interesse
pela diversidade entre os membros:
divergências de pontos de vistas e
diversidades enriquecem o campo para se
cultivar a criatividade das pessoas no
ambiente de trabalho;
Envolvimento pessoal: envolver as
pessoas, fazer com que elas se sintam
participantes dos processos e decisões é um
motivador intrínseco da criatividade;
Apoio da direção: um ambiente onde
a criatividade prospera somente é possível
com o patrocínio da diretoria.
Este conjunto de ações deve ser conduzido
de acordo com um processo planejado e
conhecido por todos na organização. Nomease este processo como sendo o processo de
desenvolvimento
da
criatividade
organizacional elaborado a partir do estudo
de Kneller (1978). Para o autor o processo da
criatividade
compreende
cinco
fases
distintas:
Apreensão: identificação de um
problema, surgimento de uma ideia;
Preparação: etapa onde se discute,
investiga, explora e propõe soluções;
Incubação: momento em que a
atividade não consciente é realizada com o
objetivo de conectar elementos da criação;
Iluminação: a mágica acontece, a
solução para o problema surge, tudo começa
a fazer sentido, momento de clareza, de
certeza, de repente surge a solução do
problema - o conceito que engloba todos os
fatos, o pensamento que completa a cadeia
de ideias até então trabalhadas, então tudo
entra em seus lugares e faz sentido.
Verificação: fase onde se verifica e
valida a criação e a potencial solução para o
problema. O questionamento nesta fase é
muito importante.
As etapas do processo, na maioria das
situações não acontece de forma sequencial.
As fases se alternam e se complementam
durante todo o processo de desenvolvimento
da criatividade. Pode acontecer na fase de
verificação novos insights que venham a
contradizer tudo aquilo que foi construído
anteriormente, ou seja o processo é um ciclo
interativo (KNELLER, 1978).
Desta forma, destaca-se que um processo de
desenvolvimento
criativo
traz
grandes
benefícios, tanto para indivíduos como para
organizações. A explosão de ideias criativas
obtidas na sua execução contribui em todos
os setores organizacionais, destacando a
retenção de talentos que envolve problemas
relacionados diretamente com a convivência
com pessoas externas, os clientes.
2.2 RETENÇÃO DE CLIENTES
A retenção de clientes se inicia pelo
entendimento do que é ser cliente. Na
literatura pode-se encontrar muitas definições
para cliente. Sob um ponto de vista da
relação comercial, clientes podem ser
pessoas ou organizações que sofrem impacto
dos produtos (KOETLER, 1993). Para Ferreira
(2004), cliente é a pessoa que compra
produtos
e
serviços
mediante
uma
contrapartida – o pagamento. É importante
ressaltar que cliente e consumidor não são a
mesma coisa.
Tópicos em Administração - Volume 15
165
Consumidor é uma estatística, uma figura
hipotética que simboliza milhões de pessoas
indistintas que compram mecanicamente
bens por seu valor funcional e utilitário. Já o
cliente é um indivíduo identificável, com
personalidade específica e gostos altamente
seletivos e distintos, que está emocionalmente
ligado às criações da empresa. Depende da
empresa transformar cada consumidor em
cliente (LONGINOTTI-BUITONI; LONGINOTTIBUITONI, 2000, p.1 3).
Taraboulsi (2004, p. 41-42)
conceito de cliente como:
traz
como
[...] um ser humano, de todos os tamanhos e
cores. Um cliente é uma criança que precisa
de ajuda para alcançar um brinquedo numa
prateleira alta. Um cliente é um homem idoso
que perdeu a direção no labirinto dos
corredores de um hospital. Um cliente é uma
mulher que não fala bem o seu idioma e está
explicando o que precisa da única forma que
pode. Um cliente é um companheiro de
trabalho pedindo sua ajuda para que possa
prestar serviços ao público pagante.
Contribuinte, paciente, cliente, pagador de
impostos, membro, hóspedes, sócio – todos
são sinônimos do maior patrimônio que uma
empresa pode ter – o cliente, que vem até
você e paga pelo serviço ou produto. O que é
um cliente? O cliente é a razão de existência
da sua empresa
O cliente ao longo dos últimos anos vem
modificando
seu
comportamento
de
consumo, passando de um ator que
simplesmente adquiria o que lhe era ofertado
para uma atitude mais exigente e seletiva.
Desta forma, as empresas passaram a
posicionar seus clientes como uma peça
fundamental para a saúde financeira. Gupta
(2006) afirma que clientes são um grande
investimento para as organizações, o que
levou muitas organizações a um modelo de
negócio centrado no cliente.
Baseado nos conceitos supracitados sobre
cliente, entende-se que a atividade de manter
clientes deve estar internalizada na cultura da
organização, ou seja, deve ser natural e fazer
parte das rotinas organizacionais. Os
conceitos de clientes abordados, nos conduz
a concordar com a afirmação de Sviokla e
Shapiro (1994, p.15) que diz que:
Manter bons clientes deveria ser tão natural
para uma empresa quanto respirar para os
seres humanos. Entretanto, muitas empresas
se encontram tão voltadas para o esforço de
atrair novos clientes que acabam não
investindo recursos na preservação dos
relacionamentos
pós-venda,
de
longa
duração.
O desenvolvimento de atividades com foco na
retenção de clientes deve ser estruturado de
forma a compreender a mecânica da relação
existente entre clientes e organizações.
Para Koetler, (2000) a satisfação é o ponto
chave para a retenção de clientes. Clientes
satisfeitos estão mais propensos a se
tornarem clientes fiéis por um longo período
de tempo.
O cliente satisfeito,
Compra mais à medida que a empresa lança
novos produtos ou aperfeiçoa produtos
existentes; fala favoravelmente da empresa e
de seus produtos; dá menos atenção a
marcas e propaganda concorrentes e é
menos sensível a preço; oferece ideias sobre
produtos ou serviços à empresa; e custa
menos para ser atendido do que novos
clientes, uma vez que a transações são
rotinizadas (KOTLER, 2000, p.70).
Segundo Vavra e Pruden (1995) a corrida
para alcançar a competitividade sofre
influências da forma como a organização
retém clientes. Para conhecer o cliente, e
demonstrar o quanto ele é importante para a
empresa, somente o fator satisfação não é
suficiente.
Michelli (2008) inclui, além da satisfação, a
fidelidade e lealdade do cliente obtida a partir
da
construção
de
relacionamentos
duradouros. Direcionando ações no cerne da
satisfação e fidelidade, maximiza-se a
possibilidade de o cliente retornar para
relações futuras com a empresa, e
consequentemente reduzindo a chance do
cliente optar por outro fornecedor.
Por outro lado, deve-se procurar entender os
fatores que podem levar uma empresa a
perder clientes. Dessa forma, estratégias que
venham a diminuir essa perda de clientes
devem ser desenvolvidas de forma contínua e
com base no comportamento e satisfação do
cliente. Os passos, segundo Kotler (2000) e
Reichheld (1996) que podem ser adotados
pelas organizações a fim de reduzir a perda
de clientes:
1)
Identificar a taxa de retenção atual
com base no número de clientes existentes
em diversos períodos no tempo;
2)
Identificar as causas ou fatores que
estão
diretamente
relacionadas
aos
Tópicos em Administração - Volume 15
166
problemas com clientes e que acabam
resultando em perdas e, desenvolver ações
para mitigar estas causas;
3)
Apurar o quanto se está deixando de
ganhar com os clientes que se foram;
4)
Dimensionar o valor a ser investido na
retenção para diminuir a evasão de clientes e
comparar com o valor não obtido (passo 3)
para justificar investimentos na retenção.
Estes passos podem contribuir para
desenvolver as ações adequadas e quando
cada uma delas deverá ser implementada
dentro das possibilidades financeiras de cada
organização.
2.2.1 RETER CLIENTES – UM DESAFIO PARA
AS CLÍNICAS MÉDICAS
O atendimento a clientes tem sido motivo de
preocupação para qualquer empresa, e as
clínicas médicas se deparam com grandes
desafios nesta área. Apesar de todos os
esforços
aplicados,
a
qualidade
do
atendimento no setor de serviços ainda
continua apresentando muitos problemas. As
palavras de Ford et al (2005, p. 29)
demonstram a importância deste setor dentro
das organizações:
O serviço de atendimento ao cliente é mais
importante no mercado atual do que em
qualquer outra época, pois os clientes têm
cada vez mais escolhas e baixos níveis de
marcas e de fidelidade ao produto.
Muitas empresas do setor de saúde não
possuem uma visão clara sobre o seu
negócio, padecendo da chamada “miopia
empresarial”, termo cunhado por Theodore
Levitt em seu texto clássico da década de
1960. Ao fazer uma comparação com o
problema visual, o autor demonstra como
muitos empresários focalizam apenas nos
detalhes operacionais, voltando sua atenção
para os produtos/serviços e, com isso,
perdendo grandes chances de expansão.
Evidencia-se que o segmento da saúde
também apresenta tais sintomas (MAIA; GIL,
2002).
Neste sentido, a negligência com os clientes
e a subsequente insatisfação gerada, traz
prejuízos de diversas ordens, especialmente
financeiros, uma vez que um cliente
insatisfeito geralmente não retorna e acaba
procurando um serviço concorrente. O
indivíduo, ao buscar um profissional, clínica
ou hospital, anseia por um serviço que vai
além do fato de tratar um problema de saúde.
Muitos trabalhos desenvolvidos por teóricos
concordam que a qualidade no atendimento
influencia diretamente na imagem e na
fidelização de clientes. Whiteley (1992) afirma
que toda organização centrada no cliente
caminha a passos largos para a excelência.
Segundo a Perfomance Research Associates
(2008, p. 8):
As companhias que privilegiavam o
atendimento de alta qualidade acabam se
transformando em empresas melhores e mais
bem-sucedidas em todos os aspectos do que
as que tratavam os clientes como inimigos e
encaravam esse serviço com má vontade ou
como um mal necessário. Do dia para noite,
manter o foco no cliente, compreender e
satisfazer suas necessidades e “mimá-lo”
com tratamento preferencial e de qualidade
tornou-se meta organizacional – e recebeu
atenção especial.
A qualidade dos serviços prestados está
constantemente sendo avaliada pelo cliente.
Uma das principais causas dos problemas de
qualidade no atendimento passa pela seleção
e contração de pessoas. A falta de
experiências e de orientações de como deve
realizar os procedimentos do setor de
atendimento aos clientes se refletem no grau
de insatisfação dos clientes e na redução do
número de consultas realizadas pelos
especialistas.
Tem-se também, outros fatores que podem
culminar em perdas de clientes que são os
seguintes:
Falta de padrão no atendimento à clientes;
não existe processos definidos para o setor
de atendimento;
Descontentamento dos funcionários: pode
ser gerado por baixos salários, acumulo de
funções, falta de comunicação, tratamento
inadequado por parte dos especialistas;
Horário das consultas em desacordo com
agenda: ocorre pelo fato do especialista estar
exercendo atividades não relacionadas
diretamente com a agenda programada;
Documentação de clientes incompleta:
equivoco nos registros de informações, perda
de documentos local inadequado de
armazenamento;
Inexistência ou uso equivocado de
ferramentas de tecnologia de informação:
controle realizado manualmente, os sistemas
existentes não atendem as necessidades,
desconhecimento
das
funcionalidades
Tópicos em Administração - Volume 15
167
oferecidas pelo sistema, agenda de consultas
desorganizada: registro incorreto, cobranças
indevidas, duplicidade de consultas, entre
outras.
E ainda, fatores externos que também podem
influenciar a perda de clientes, como por
exemplo:
Óbito;
Poder aquisitivo dos clientes;
Mudança de endereço.
É importante ressaltar, que os fatores externos
estão fora de controle do prestador de
serviços que, na maioria das situações pouco
pode fazer para evitar a perda do cliente.
Todos
os
problemas
apresentados
relacionados com a retenção de clientes
devem ser estudados de forma minuciosa
pela empresa. A partir deste estudo, um
planejamento de ações deve ser realizado a
fim de minimizar estes problemas.
Assim, a criatividade na construção destas
ações deve ser incentivada e envolver todos
os setores da clínica, o que inclui os
especialistas e pessoal de frente. A
construção de um processo de retenção de
clientes que traga resultados, depende das
atitudes e comprometimento de todos, sem
exceção. Desta forma, o retorno se materializa
na satisfação dos clientes e no que eles
pensam e falam da empresa.
Clínicas do setor de saúde necessitam se
reinventar e implementar processos e
padrões de atendimento, tanto no pessoal de
frente como nos serviços prestados pelos
especialistas. No sentido de atividades
relacionadas com a retenção de clientes
desenvolver práticas criativas e inovadoras
que despertem nos clientes um sentimento de
parceria.
3. RESULTADOS
Mesmo com as possíveis barreiras existentes
em uma organização para que a criatividade
possa ocorrer é preciso que exista mudança
organizacional para que se possa ter criação
de uma estrutura inovadora. Há de se
ressaltar, que são as pessoas quem detêm a
REFERÊNCIAS
[1]
Amabile, Teresa. M. Motivating Creativity
in Organizations: On Doing What You Love and
Loving What You Do. California Management, nr. 1,
1997).
Disponível
em:
capacidade de acumular
conhecimentos e criatividade.
experiências,
E é por meio dessa criatividade que levam as
pessoas a criarem novas informações ou
novos conhecimentos em suas ações
cotidianas, podendo assim, reter seus
clientes, gerando valores e garantindo
diferencial competitivo.
Dessa forma, a criatividade está relacionada à
agregação de valor às ideias, à invenção de
produtos, à inovação e nas questões
empresariais está relacionada à novas formas
de solução de problemas, envolvendo a
combinação de ideias de diferentes áreas de
conhecimento, como é o caso da retenção de
clientes nas clínicas médicas, onde requer
uma retroalimentação de novos processos e
padrões em seus serviços para a retenção de
seus clientes, de forma criativa e inovadora
neste ambiente complexo e competitivo.
4. CONCLUSÕES
Criatividade. Com certeza esta palavra jamais
deixará de ser utilizada pelas organizações,
pois está A criatividade está associada com a
geração de novas ideias. Ideias estas que
podem ser estimuladas pela organização e
melhorar processos internos através da
implementação de ações diferenciadoras.
Dessa forma, as clínicas médicas têm ciência
da necessidade de implementar processos
criativos como também ações que estimulem
o potencial criativo dos colaboradores.
Pessoas mais criativas tendem a gerar mais
ideias que, quando aplicadas geram
inovações.
Assim, as clínicas médicas sofrem por não ter
uma visão muito clara da gestão do negócio,
o que acaba resultando em perdas de
clientes. Identificar os fatores que levam às
clinicas a perderem seus clientes, organizar
seus processos de relacionamento com
clientes, compreender como o processo
criativo se desenvolve e de que maneira este
pode contribuir para reduzir a perda de
clientes e potencializar a retenção deve fazer
parte da rotina diária da organização.
<http://journals.sagepub.com/doi/pdf/10.2307/4116
5921>. Acesso em: 03 Mai, 2018.
[2]
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Disponível
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Tópicos em Administração - Volume 15
168
<https://www.hbs.edu/faculty/Publication%20Files/1
2-096.pdf>. Acesso em: 07Mai, 2018.
[3]
Ferreira, A.B.H. Miniaurélio – o dicionário
da língua portuguesa. 6. ed. Revista e atualizada
do minidicionário da língua portuguesa. Curitiba:
Positivo, 2004.
[4]
GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar
Projetos de Pesquisa. São Paulo: Atlas, 2009.
[5]
Gupta, Sunil; Lehmann, Donald R.
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estratégico dos clientes a longo prazo. Porto
Alegre: Bookman, 2006.
[6]
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Excepcional Atendimento ao Cliente. São Paulo:
Edicta, 2005.
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[8]
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10. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2000.
[9]
Lakatos, Eva Maria; Marconi, Maria de
Andrade. Metodologia Científica. 6 ed. São Paulo:
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[10]
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produto irresistível. São Paulo: Negócio Editora,
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[11]
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[12]
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Administração Pública. São Paulo: Atlas, 2012.
[13]
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clientes em Academias de Ginástica e de
Condicionamento Físico localizadas em Caxias do
Sul – RS, 2008. Dissertação (Mestrado em
Administração do Programa de Pós-Graduação de
Mestrado
em
Administração),
Curso
de
Administração, Universidade de Caxias do Sul,
Caxias
do
sul.
Disponível
em:
<
https://repositorio.ucs.br/xmlui/bitstream/handle/11
338/351/Dissertacao%20Mauricio%20Michelli.pdf?
sequence=1&isAllowed=y>. Data de acesso: 07
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[14]
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Criativo no Processo Projetual:
[15]
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criatividade em grupos de design. Tese (Doutorado
em Design). Programa de Pós-Graduação em
Design da Universidade Federal do Rio Grande do
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Disponível
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http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/14
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[16]
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Atendimento Nota 10. São Paulo, Sextante, 2008.
[17]
Reichheld, Frederick F. A estratégia da
lealdade. Rio de Janeiro: Campus, 1996.
[18]
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Paulo: Makron Books, 1994.
[19]
Taraboulsi, Fadi Antoine. Administração
de hotelaria hospitalar. 2ª ed. São Paulo: Editora
Atlas, 2004.
[20]
Triviños, A. N. S. Introdução à pesquisa
em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em
educação. São Paulo: Atlas, 2002.
[21]
Torrance, Ellis Paul, Criatividade medidas testes e avaliações. São Paulo: Editora
Ibrasa; 1976.
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Criatividade: Gerenciando o medo, 2017. Tese
(Doutorado em Engenharia e Gestão do
Conhecimento). Programa de Pós-Graduação em
Engenharia e Gestão do Conhecimento (PPGEGC)
da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC). Disponível em: <http://btd.egc.ufsc.br/wpcontent/uploads/2017/03/Mirian-Torquaro.pdf>.
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Faerman, R. Sue. Competências gerenciais:
princípios e aplicações. Rio de Janeiro: Elsevier,
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and innovation. ln: Isaksen,S. G. (ed.). Frontiers ot
creativity research.Buffalo: Bearly, 1987.
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aftermarketing to maintain a customer base.
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Companhia com a Voz do Cliente. A empresa
totalmente voltada para o cliente. 20ª ed. Rio de
Janeiro: Campus, 1992.
Tópicos em Administração - Volume 15
169
Capítulo 16
Richardson Silveira Almeida
Warli Anjos de Souza
Resumo: O estudo da implementação dos mecanismos de governança de
tecnologia da informação (TI) na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
(UFRB) teve como objetivo indicar quais os mecanismos que necessitam de ações
de melhorias. Para tanto, utilizou-se de questionário, com uso da escala Likert de
cinco pontos, para indicar o grau de atitude dos tomadores de decisão da
universidade acerca da implementação dos mecanismos de governança de TI.
Adicionalmente, buscou-se evidências de implementação no Plano de
Desenvolvimento Institucional (PDI) 2015-2019, nos relatórios de gestão de 2015 e
2016, no relatório de auto avaliação institucional 2015-2017, e no site da instituição.
A análise realizada indicou que a implementação dos mecanismos investigados na
UFRB encontrava-se em um estágio embrionário, com inércia das estruturas de
tomada de decisão estratégica de TI, e ausência da definição de princípios,
políticas e modelos de TI, o que compromete as demais categorias de mecanismos
de governança de TI. A constatação acerca do estágio embrionário da
implementação dos mecanismos de governança de TI permitiu concluir ausência
de alinhamento estratégico entre TI e negócio, e por consequência
comprometimento da entrega de valor proporcionado pela TI à comunidade
acadêmica.
Palavras-chave: Habilitadores do COBIT 5. Mecanismos de Governança de
Tecnologia da Informação. Percepção de Gestores de Negócio. Universidade
Públicas.
Tópicos em Administração - Volume 15
170
1 INTRODUÇÃO
A governança de tecnologia da informação
(TI) apresenta-se como tema relevante nos
ambientes corporativos. De acordo com Weill
e Ross (2006), o custo, a abrangência e o
entendimento do valor da TI são alguns dos
motivos que justificam o debate deste tema.
Por entender que uma boa governança de TI
traz
resultados
positivos
para
as
organizações, diversos autores e entidades
têm se dedicado a desenvolver modelos de
governança de TI que podem ser adaptados
à realidade dos diversos ambientes
corporativos. Um dos modelos mais usados
para realizar avaliações e implementações da
governança de TI tanto em organizações
públicas quanto nas organizações privadas é
o Control Objectives for Information and
Related Technologies (COBIT), por reunir um
conjunto de boas práticas de governança de
TI reconhecidos internacionalmente.
A importância da implementação de
mecanismos de governança de TI tem exigido
do Tribunal de Contas da União (TCU) realizar
levantamento da situação da governança de
TI a cada 2 (dois) anos em órgãos e
entidades da Administração Pública Federal
(APF). O último levantamento disponibilizado
pelo TCU, em 2016, revelou que a situação da
governança de TI está longe de ser aceitável.
De acordo com o TCU, desde o primeiro
levantamento
(Acórdão
1.603/2008
–
Plenário), aconteceram evoluções discretas
nos níveis de adoção das práticas avaliadas
pelo Tribunal. Entre as organizações que
apresentaram menor capacidade de governar
sua TI, estão as Instituições Federais de
Ensino
Superior
(IFES),
e
entidades
vinculadas ao Ministério da Ciência,
Tecnologia, Inovações e Comunicações e ao
Ministério da Cultura. Para o TCU, estas
organizações não tratam a TI como parte
integrante dos seus negócios, o que
compromete o atendimento das demandas da
sociedade (TCU, 2017).
De acordo com o TCU (2014), a
implementação da governança de TI em
órgãos e entidades da APF tem por finalidade
assegurar que o dinheiro público está sendo
bem aplicado, assim como contribuir para
que essas organizações atinjam seus
objetivos através do alinhamento entre TI e
negócio. As universidades públicas federais
fazem parte da APF e são instituições que têm
por objetivo promover ensino, pesquisa e
extensão, sendo a sociedade a principal
beneficiada
desses
serviços.
Nestas
instituições, a TI desempenha um papel
significativo, vez que está inserida em um
ambiente de produção de informação e
conhecimento. A disponibilidade de sistemas
cada vez mais robustos têm acabado com os
procedimentos manuais. Hoje, de forma
virtual, é possível realizar matrícula, emitir
histórico, tramitar processos, entre outras
funcionalidades de um sistema de gestão
acadêmica.
De acordo com Putz (2015), diferentemente
do setor privado, as universidades públicas
federais
com
escassos
recursos
governamentais e pessoal pouco qualificado
em novas tecnologias possuem um processo
de inovação tecnológica mais lento que o
setor privado. Para a autora, o "cenário é
preocupante e contraditório uma vez que o
próprio objeto de trabalho da universidade é a
informação e o conhecimento." (PUTZ, 2015,
p. 65). Diante deste cenário, como fazer com
que a TI nestas organizações realize os
benefícios
esperados
pela
sociedade,
principal interessada nos serviços prestados?
Esta é uma questão que tem exigido do TCU
avaliações e auditorias no sentido de
promover a governança de TI. Neste sentido,
não somente o TCU, como também a
comunidade acadêmica tem se empenhado a
realizar pesquisas para promover ações de
indução da governança de TI na APF.
Cavalcanti (2011) pesquisou sobre a
influência da governança de TI nas IFES. De
acordo com o autor, apesar da dependência
crítica da TI, por estas instituições,
comprovou-se que o tema governança de TI
ainda é pouco difundido entre os altos
executivos, o que compromete as estratégias
de negócio. De maneira geral, a pesquisa
revelou que a situação da governança de TI
nas IFES encontrava-se em um nível muito
baixo, apresentando-se em um estágio
incipiente, revelando os riscos da gestão dos
gastos públicos com TI. De forma mais
específica, através de um estudo de caso,
Nascimento (2014) pesquisou sobre o
alinhamento
estratégico
da
TI
na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN). O estudo revelou que o setor
responsável pela TI na UFRN executava as
demandas à medida que surgem as
necessidades de negócio, não participando
diretamente
de
decisões
estratégicas.
Segundo o autor, a governança de TI naquela
universidade encontrava-se em um estado
incipiente, com ausência de definições
Tópicos em Administração - Volume 15
171
específicas para a TI dentro do Plano de
Desenvolvimento Institucional (PDI) e a
ausência de um Plano Diretor de TI (PDTI) na
UFRN.
Considerando os levantamentos do TCU
acerca da governança de TI no sentido de
promover ações de indução, e a importância
de pesquisas realizadas no meio acadêmico,
como a de Cavalcanti (2011) e Nascimento
(2014), este artigo se propõe a responder a
seguinte questão: como os mecanismos de
governança de TI estão sendo implementados
na Universidade Federal do Recôncavo da
Bahia (UFRB) conforme a percepção dos
executivos e as evidências documentais?
Para responder à questão de pesquisa
apresentada, buscou-se atingir o seguinte
objetivo geral: estudar a implementação dos
mecanismos de governança de TI na UFRB
conforme a percepção dos tomadores de
decisão e as evidências documentais para
indicar quais os mecanismos necessitam de
ações de melhorias.
Para atingir o objetivo geral definiu-se os
seguintes objetivos específicos:
a) Identificar a percepção dos principais
tomadores de decisão da UFRB acerca da
implementação
dos
mecanismos
de
governança de TI;
b) Examinar documentos da instituição a fim
de evidenciar aspectos da implementação
dos mecanismos de governança de TI;
c) Confrontar a percepção dos principais
tomadores de decisão da UFRB em relação
implementação
dos
mecanismos
de
governança de TI com as evidências
documentais a fim de indicar quais
mecanismos necessitam de melhorias pela
alta administração.
Além desta introdução, este artigo está
estruturado em outras 4 (quatro) seções. A
segunda apresenta a fundamentação teórica.
Conceitos como governança de TI e
mecanismos de governança de TI são
debatidos no sentido de questionar ou
responder aos resultados encontrados. A
terceira apresenta a metodologia utilizada,
com a apresentação do lócus e do modelo de
coleta e análise de dados. A quarta, os
resultados e discussão. Nesta parte serão
apresentados os dados obtidos nos
questionários e pesquisa documental, com
suas devidas interpretações. E na quinta, e
última parte, são apresentadas as conclusões
da pesquisa.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 GOVERNANÇA DE TECNOLOGIA DA
INFORMAÇÃO
A informação e a TI formam a base dos
processos organizacionais. De acodo com
Weill e Ross (2006), o tratamento das
informações tem motivado discurssões entre
gestores de negócios e de TI no que
concerne a aquisição e desenvolvimento de
novas soluções organizacionais apoiadas por
TI. Para os autores, a responsabilidade de
extrair valor da TI para o negócio precisa ser
desenvolvidada por todos os gestores, nos
diversos níveis organizacionais.
A partir do momento que os processos
organizacionais começaram a ser assistidos
por TI, muitos acadêmicos e profissionais
preocuparam-se em estudar as relações entre
causas e efeitos do uso da TI para a
realização dos objetivos organizacionais (VAN
GREMBERGER, 2004). Essas pesquisas
foram importantes e contribuíram para uma
variedade de definições de governança de TI
que encontramos atualmente na literatura.
De acordo com Weill e Ross (2006), a
governança de TI é definida como “a
especificação dos direitos decisórios e do
framework de responsabilidades para
estimular comportamentos desejáveis na
utilização da TI”. A ABNT NBR ISO/IEC 38500,
a define como “o sistema pelo qual o uso
atual e futuro da TI é dirigido e controlado”
(ABNT, 2009, p. 3). Segundo a Norma, a
governança corporativa de TI significa “avaliar
e direcionar o uso da TI para dar suporte à
organização e monitorar seu uso para realizar
os planos. Inclui a estratégia e as políticas de
uso da TI dentro da organização” (ABNT,
2009, p. 3).
Para Van Gremberger (2004), a governança
de TI consiste nas estruturas organizacionais
e processos de liderança que assegurem que
a TI sustente as estratégias organizacionais.
Nesta e nas demais definições de
governanças de TI é comum e implícita a
ideia do elo existente entre a TI e os
processos de negócios presentes e futuros
nas organizações (Van Gremberger, 2004).
Neste sentido, a interdependência entre área
de negócio e de TI exige a presença de uma
liderança organizacional para conduzir as
Tópicos em Administração - Volume 15
172
relações e fazer com que os objetivos
corporativos sejam alcançados.
A definição de governança de TI de Weill e
Ross (2006) alinha-se à de Van Gremberger
(2004) quando aqueles autores analisaram a
governança de TI em difernetes organizações
e concluiram que uma governança de TI
eficaz adota três diferentes mecanismos:
estruturas de tomada de decisão, processos
de
alinhamento
e
abordagens
de
comunicação. Segundo os autores, as
organizações que possuem um sistema de
governança bem estruturado, implementam
esses mecanismos de forma transparente
para todos os interessados na organização.
2.2 MECANISMOS DE GOVERNANÇA DE TI
Dentre os três mecanismos da governança de
TI (estruturas de tomada de decisão,
processos de alinhamento e abordagens de
comunicação) concebidos por Weill e Ross
(2006), no que concerce uma governança de
TI eficaz, as estruturas de tomada de decisão
são os mecanismos mais visíveis adotados
pelas
organizações
que
implementam
governança de TI. Essas estruturas envolvem,
por exemplo, a definição de comitês,
comissões e papéis dentro da organização
para tomar as principais decisões de TI,
sendo formadas na maioria das vezes por
membros da área técnica e também da área
de negócio da organização. Segundo os
autores, a presença das áreas de negócio
nestas
estruturas
gera
maior
comprometimento para as decisões de TI,
visto que muitos executivos de negócio por
muito tempo deixaram as decisões de TI com
a área de TI. Neste sentido, percebe-se que a
implementação
dos
mecanismos
de
estruturas de tomadas decisão depende do
envolvimento da área de negócio e de TI para
acordarem as melhores decisões que
equilibrem a capacidade tecnológica e as
necessidades de negócio das organizações.
Um outro mecanismo comum de governança
de TI proposto por Weill e Ross (2006) são os
processos de alinhamento. Depois de
conceber as estruturas de tomada de
decisão, primeiro passo da implementação da
governança de TI, os processos de
alinhamento serão os mecanismos de
implementação das ações e principalmente
das decisões tomadas pelas estruturas
concebidas. Os processos de alinhamento
"são técnicas da administração da TI para
assegurar
o
envolvimento
geral
da
administração e utilização efetiva da
tecnologia da informação" (WEILL e ROSS,
2006, p. 99). Segundo os autores, os
principais
processos
de
alinhamento
envolvem: acordos de nível de serviços,
rastreamento formal do valor de negócio da
TI, processo de aprovação de investimentos
de TI, processos de exceções à arquitetura,
processos para alocação dos custos centrais
da TI nas unidades de negócio, e processos
de acompanhamento de projetos.
Por fim, os mecanismos de comunicação são
os responsáveis por comunicar as principais
decisões de TI dentro da organização, bem
como todos os comportamentos desejáveis
pela alta administração para a área de
negócio. Cabe também a este mecanismo
ouvir as partes interessadas, assim como
entender suas necessidades para direcionar
com as melhores decisões em termos de
governança de TI. De acordo com Weill e
Ross (2006), organizações que comunicam
formalmente
seus
mecanismos
de
governança de TI, suas funções e decisões
tomadas,
assim
com
os
resultados
esperados, são mais eficazes na sua
governança de TI. São exemplos desses
mecanismos, os comunicados da alta
gerência, a implementação de escritório de
governança de TI para a comunicação dos
processos e propósitos da governança, e a
implementação de portais web com o objeto
não somente de divulgar os resultados da
governança de TI, mas também para educar
os membros da organização sobre os
processos de governança de TI.
Para implementar as estruturas de tomada de
decisão, os processos de alinhamento e a
comunicação da governança de TI, as
organizações públicas têm se baseado em
leis, decretos, assim como em normas e
modelos já consolidados como o Control
Objectives for Information
Technologies (COBIT).
and
Related
A seguir será apresentado o COBIT, mais
especificamente na sua versão 5. Este como
um modelo de governança de TI que fornece
um corpo de conhecimento que auxilia
organizações de todos os portes e diversas
finalidades a conceber mecanismos que
auxiliam as organizações a atingirem seus
objetivos de governança e gestão de TI.
Tópicos em Administração - Volume 15
173
2.3
CONTROL
OBJECTIVES
FOR
INFORMATION
AND
RELATED
TECHNOLOGIES (COBIT)
O COBIT é um modelo de governança e
gestão de TI, desenvolvido e difundido pela
Information System Audit and Control
Association (ISACA), que tem por função criar
valor por meio da TI, "mantendo o equilíbrio
entre a realização de benefícios e a
otimização dos níveis de risco e de utilização
dos recursos" (ISACA, 2012, p. 15). Por ser
um modelo genérico e de fácil integração
com outros padrões do mercado, pode ser
utilizado por organizações públicas ou
privadas de todos os portes e com diversos
objetivos de negócios.
O COBIT 5 (versão divulgada em 2012) é
baseado em cinco princípios básicos que,
juntos, permitem que qualquer organização
implemente a governança e gestão de TI de
forma eficiente. Os cinco princípios do COBIT
5 são: 1 – Satisfazer necessidades das partes
interessadas; 2 – Cobrir a organização de
ponta a ponta; 3 – Aplicar um framework
integrado e único; 4 – Possibilitar uma visão
holística; 5 – Separar governança do
gerenciamento.
O primeiro princípio é satisfazer as
necessidades das partes interessadas. É
função da equipe executiva sênior de
qualquer
organização
satisfazer
as
necessidades das partes interessadas para
criar valor através de um sistema de
governança. De acordo com a ISACA (2012),
criar valor é o objetivo da governança, e
significa realizar benefícios, com uma ótima
relação entre os custos e os níveis de riscos
aceitáveis pela organização. Os benefícios
das partes interessadas internas em
organizações privadas podem ser traduzidos
como o crescimento da empresa. Nas
organizações públicas, por sua vez, os
benefícios para as partes interessadas
externas ou os usuários dos serviços públicos
se traduzem na eficiência da prestação dos
serviços
à
população.
É
importante
considerar que as necessidades das partes
interessadas nos serviços são divergentes e
muitas vezes conflitantes. Em decorrência
desse tipo de situação, o sistema de
governança deve considerar todas as partes
interessadas ao tomar decisões sobre a
avaliação dos recursos, benefícios e riscos
(ISACA, 2012).
O princípio de satisfazer as necessidades das
partes interessadas é atendido por meio da
cascata de objetivos do COBIT 5, que traduz
as “necessidades das partes interessadas em
objetivos
corporativos
específicos,
personalizados, exequíveis, objetivos de TI e
metas de habilitador." ISACA (2012, p. 19). Os
objetivos corporativos e de TI são
declarações de alto nível, presentes sempre
no planejamento estratégico da organização.
Os habilitadores, por sua vez, "são os
recursos organizacionais da governança, tais
como modelos, princípios, processos e
práticas, por meio dos quais a ação é
orientada e os objetivos podem ser
alcançados (ISACA, 2012, p.26)".
O segundo princípio é cobrir a organização
de ponta a ponta. Este princípio se traduz na
capacidade de o modelo ser robusto o
suficiente para atender as demandas do
ambiente que é implantado. Além de integrar
a governança de TI à governança corporativa
de qualquer organização, o modelo fornece
um conjunto de habilitadores que quando
interligados trazem uma visão holística da
organização.
O terceiro princípio é aplicar um framework
integrado e único. O COBIT 5 foi desenvolvido
com o objetivo de extrair de outros modelos
correlatos no mercado, todo o conhecimento
sobre governança e gestão de TI e unificar
em um único framework. A vantagem do
modelo é que ele traz um conjunto de
orientações em uma linguagem simples de
fácil
entendimento
para
as
partes
interessadas da organização. O conjunto de
orientações faz parte da experiência
adquirida pela ISACA ao longo do tempo no
desenvolvimento de outros produtos e dos
padrões e modelos. Todo o conhecimento
desse framework é acessível através do
ambiente colaborativo online, dos guias de
habilitadores, em especial do habilitador
processos, e dos guias profissionais do
COBIT 5.
O quarto princípio é possibilitar uma visão
holística. Para que a governança e gestão de
TI funcione de forma eficiente, o modelo do
COBIT 5 fornece um conjunto de habilitadores
que são interdependentes. Entendidas as
necessidades de negócios e definidos os
objetivos corporativos, a organização define
dentro das sete categorias de habilitadores,
as necessárias para fazer com que os
objetivos de TI sejam atingidos. De acordo
com a ISACA (2012), boas decisões podem
ser tomadas quando bons arranjos de
governança forem concebidos levando em
Tópicos em Administração - Volume 15
174
consideração as sete categorias
habilitadores, que são definidas como:
de
Princípios, políticas e modelos são
veículos para a tradução do comportamento
desejado em orientações práticas para a
gestão diária.
Processos descrevem um conjunto
organizado de práticas e atividades para o
atingimento de determinados objetivos e
produzem um conjunto de resultados em
apoio ao atingimento geral dos objetivos de
TI.
Estruturas organizacionais são as
principais entidades de tomada de decisão
de uma organização.
Cultura, ética e comportamento das
pessoas e da organização são muitas vezes
subestimados como um fator de sucesso nas
atividades de governança e gestão.
Informação
permeia
qualquer
organização e inclui todas as informações
produzidas e usadas pela organização. A
Informação é necessária para manter a
organização em funcionamento e bem
governada, mas no nível operacional, a
informação por si só é muitas vezes o
principal produto da organização.
Serviços, infraestrutura e aplicativos
incluem a infraestrutura, a tecnologia e os
aplicativos que fornecem à organização o
processamento e os serviços de tecnologia
da informação.
Pessoas, habilidades e competências
estão associadas às pessoas e são
necessárias para a conclusão bem-sucedida
de todas as atividades bem como para a
tomada de decisões corretas e tomada de
medidas corretivas. (ISACA, 2012, p.29)
O quinto princípio é distinguir a governança
do gerencialmento. Esta distinção ficou mais
clara no COBIT 5 e foi concebida com o
objetivo de separar as atividades de
governança e de gestão da organização. De
acordo com a ISACA (2012), a governança:
[...] garante que as necessidades, condições
e opções das partes interessadas sejam
avaliadas a fim de determinar objetivos
corporativos acordados e equilibrados;
definindo a direção através de priorizações e
tomadas de decisão; e monitorando o
desempenho e a conformidade com a direção
e os objetivos estabelecidos (ISACA, 2012).
Enquanto a gestão "é responsável pelo
planejamento, desenvolvimento, execução e
monitoramento
das
atividades
em
consonância com a direção definida pelo
órgão de governança a fim de atingir os
objetivos corporativos" (ISACA, 2012, p.33).
3 METODOLOGIA
A pesquisa foi desenvolvida na Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB),
instituição localizada na cidade de Cruz das
Almas, Bahia, Brasil. De acordo com a
Comissão Própria de Avaliação (CPA), em
2016, na média dos dois semestres do ano, a
UFRB contava com um total de 9005 alunos
matriculados, sendo 8.883 alunos ativos na
graduação e 122 alunos ingressos na pósgraduação. De acordo com a CPA, o quadro
de professores na instituição, naquele ano,
era de 844 docentes, sendo 763 efetivos e 81
substitutos. No que tange o número de
funcionários, a universidade tinha 1.196,
sendo 715 técnicos administrativos e 481
terceirizados. A Coordenadoria de Tecnologia
da Informação (COTEC) é a instância da
UFRB responsável pela gestão da TI.
Atualmente está subordinada à Pró-Reitoria
de Planejamento e possui 4 (quatro) núcleos.
O
Figura
1
apresenta
a
estrutura
organizacional de TI da UFRB.
Tópicos em Administração - Volume 15
175
Figura 1 – Estrutura organizacional de TI
Fonte: Adaptado pelo autor, com base no relatório de autoavaliação
institucional (2015-2017)
Como o tema governança de TI relaciona-se
com as atividades estratégicas da instituição,
decidiu-se incluir no universo da pesquisa 22
(vinte e dois) tomadores de decisão de nível
estratégico que influenciam nas principais
decisões de TI. A partir da participação
desses tomadores de decisão na pesquisa,
no que tange a percepção da implementação
dos mecanismos de governança de TI,
juntamente com a análise documental,
identificou-se quais os mecanismos de
governança de TI necessitam de maior
atenção pela alta administração acerca do
processo de implementação. Participaram da
pesquisa: 7 (sete) Pró-Reitores; 7 (sete)
Diretores de Centros; 2 (dois) Assessores; 5
(cinco) Superintendentes e 1 (um) Auditor
Interno.
A pesquisa realizada sobre os fundamentos
dos mecanismos de governança de TI,
propostos por Weill e Ross (2006), permitiu
tratar, as 7 (sete) categorias de habilitadores
do COBIT 5, de categorias de mecanismos de
governança de TI, propondo para cada
categoria um conteúdo para direcionar a
coleta e análise dos dados. O Quadro 1
apresenta as categorias de mecanismos do
COBIT 5 com os conteúdos que direcionaram
a construção do questionário e a análise
documental.
Quadro 1 - Modelo proposto para estudar a implementação dos mecanismos de governança de TI
na UFRB
Mecanismos
Conteúdo
Estrutura Organizacional
Atuação das estruturas de tomada de decisão de TI.
Princípios, políticas e
modelos
Princípios, políticas e modelos como mecanismos de alinhamento estratégico.
Informação
Qualidade das informações produzidas pelos aplicativos de software.
Serviços, infraestrutura e
aplicações
Utilidade e garantia de serviços, infraestrutura e aplicativos de TI às
necessidades de negócio.
Processos
Satisfação da área de negócio com os processos de gestão de TI.
Cultura, ética e
comportamento
Mecanismos de controle para evitar conflitos de interesses nas decisões de TI.
Pessoas, habilidades e
competência
Habilidade e competência dos servidores técnicos e analistas de TI.
Fonte: Elaborado pelos autores, com base nos habilitadores do COBIT 5 (2017).
Tópicos em Administração - Volume 15
176
No que tange aos aspectos da estrutura do
questionário, a versão final apresentada aos
respondentes constou de vinte e quatro
questões. Todas as questões foram extraídas
dos conteúdos relacionadas aos mecanismos
do COBIT 5. O questionário ficou aberto entre
os meses de junho e agosto de 2017, período
em que foram obtidas todas as respostas dos
tomadores de decisão. O tempo estimado
para a realização do questionário foi de vinte
minutos. Junto ao questionário, solicitou que o
respondente informasse seu e-mail para que
o pesquisador pudesse monitorar as
respostas e enviar lembrete, solicitando
somente aos que não responderam.
Após a aplicação do questionário aos 22
(vinte e dois) tomadores de decisão, que teve
o objetivo de identificar a percepção quanto à
implementação
dos
mecanismos
de
governança de TI, realizou-se uma pesquisa
documental a fim de melhorar a interpretação
do resultado da pesquisa de campo. No
sentido de direcionar a pesquisa documental
e obter os dados primários, inicialmente,
realizou-se a análise do Plano de
Desenvolvimento Institucional 2015-2019, dos
relatórios de gestão de 2015 e 2016, do
relatório de autoavaliação institucional 20152017 e no site da instituição. A consulta a
outros documentos, como Portarias e
Resoluções, foi realizada até o mês de agosto
de 2017, período em que se encerrou a
consulta aos documentos e começou a
análise e interpretação dos mesmos. A
consulta aos documentos foi direcionada
tendo por base o modelo proposto para
estudar a implementação dos mecanismos de
governança de TI na UFRB conforme Quadro
1.
Após a fase de coleta de dados através do
uso de questionário, iniciou-se a fase de
análise e interpretação do material coletado.
Com o objetivo de indicar o grau de atitude
dos sujeitos pesquisados em relação ao
objeto de estudo, utilizou-se no questionário a
escala Likert de cinco pontos. Este método
consiste em "um conjunto de itens
apresentados como afirmações ou opiniões,
para os quais se pede a reação dos
participantes"
em
relação
ao
objeto
investigado (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO,
2013, p. 261). A escala utilizada obteve os
seguintes graus de atitude em relação as
questões apresentadas aos tomadores de
decisão: sempre; na maioria das vezes sim;
algumas fez sim, algumas vezes não; na
maioria das vezes não, nunca.
Para analisar as questões, utilizou-se o
cálculo do ranking médio (RM) proposto por
Oliveira (2005), que é obtido através da
relação entre a média ponderada (MP), e o
número de sujeitos (NS) que opinaram na
questão. Assim, RM = MP / NS, onde MP =
∑(fi*vl), NS = nº. de sujeitos, fi = frequência de
cada resposta em cada item, vl = valor de
cada item.
Como as questões foram agrupadas por
conteúdo, analisou-se tanto o RM para cada
questão como para cada conteúdo. Usou-se
o seguinte critério para análise das questões
e dos conteúdos: os valores encontrados
menores que 3 (três) foram considerados com
atitude negativa, e maiores que 3 foram
considerados
com
atitude
positiva,
considerando a escala de 5 (cinco) pontos.
Para os valores iguais a 3, considerou-se que
os sujeitos não têm opinião definida, sendo
neste caso um ponto neutro da escala. A
partir dos resultados obtidos, interpretou-se a
opinião dos principais tomadores de decisão
no que tange a implementação dos
mecanismos de governança de TI na
instituição.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1
ATUAÇÃO
ORGANIZACIONAIS
DECISÃO DE TI
DAS
DE
ESTRUTURAS
TOMADA
DE
Os resultados da pesquisa indicaram que os
tomadores de decisão da instituição tiveram
uma percepção negativa em relação a
atuação do Comitê de Governança Digital
(CGD) (ranking médio de 2,77), e ao Comitê
de Segurança da Informação (CSIC) (ranking
médio de 2,95). No que tange as ações de TI
desenvolvidas
pela
Coordenadoria
de
Tecnologia da Informação (COTEC), os
tomadores
de
decisão
tiveram
uma
percepção extremamente positiva (ranking
médio de 4,05). Considerando as 3 (três)
estruturas de tomada de decisão de TI na
instituição, 2 (duas) com atribuições
estratégicas (CGD e CSIC), e 1 (uma) com
atribuições táticas e operacionais (COTEC), a
média do ranking médio foi de 3,26,
indicando uma percepção positiva dos
tomadores de decisão.
Percebe-se que a atitude positiva dos
tomadores de decisão está na estrutura
organizacional de TI responsável por
decisões táticas e operacionais. Em um
trabalho realizado por Silva (2016) sobre a
Tópicos em Administração - Volume 15
177
contribuição da TI para as práticas de gestão
estratégica da UFRB, o autor encontrou a
mesma percepção desses tomadores de
decisão no que tange a esta estrutura de TI.
De acordo com o autor, os tomadores de
decisão avaliaram como positivamente o
suporte prestado pela COTEC. Estes
resultados revelam que a COTEC tem se
tornado uma instância de referência acerca
do tratamento das demandas de TI da
instituição, principalmente porque tem dado
suporte à implantação de um Sistema
Integrado de Gestão (SIG), e demandas de
infraestrutura e suporte aos usuários.
A análise realizada acerca da percepção
negativa dos tomadores de decisão no que
tange as instâncias responsáveis por tomada
de decisão estratégica (CGD e CSIC), assim
como a ausência de evidências documentais
na instituição de que estas instâncias têm
atuado, revela que estes comitês não têm
cumprido com suas atribuições dentro do
sistema de governança de TI da instituição.
Uma das áreas foco da governança de TI é
realizar o alinhamento estratégico entre a TI e
as áreas de negócio. Observando a
percepção dos tomadores de decisão da
UFRB acerca dos 2 (dois) comitês (CGD e
CSIC), a ausência de evidências documentais
(atas
de reuniões), e
levando
em
consideração as implicações encontradas em
um trabalho realizado por Putz (2015), de que
a ausência de alinhamento estratégico está
relacionada a consolidação dos comitês de
TI, pode-se inferir que na UFRB a não atuação
destas estruturas de tomada de decisão
estratégica
está
comprometendo
o
alinhamento estratégico da universidade.
4.2 PRINCÍPIOS, POLÍTICAS E MODELOS DE
TI COMO MECANISMOS DE ALINHAMENTO
ESTRATÉGICO
A investigação a partir desse mecanismo de
governança de TI deu-se por meio de três
questões que tiveram como objetivo indicar o
nível de alinhamento estratégico a partir dos
princípios
e
políticas
da
instituição
pesquisada. Com a intenção de mensurar o
nível de alinhamento da área de negócio com
esta categoria de mecanismo, questionou-se
sobre a percepção dos tomadores de decisão
acerca da participação ou influência destes
na formulação ou atualização dos princípios,
políticas e modelos de TI.
Acerca do
processo de comunicação deste mecanismo
para a área de negócio, quando concebidos
e implementados na universidade, e sobre o
nível de alinhamento dessa categoria de
mecanismo
com
as
atividades
desempenhadas
pelos
tomadores
de
decisão.
A percepção positiva dos tomadores de
decisão concentrou-se na questão que tratou
do alinhamento das atividades dos seus
setores com os princípios, políticas e modelos
de TI (ranking médio 3,59), assim como na
questão que tratou da comunicação da
concepção, implementação e atualização
desse
mecanismo
pelos
órgãos
de
governança de TI (ranking médio 3,09). Com
relação à participação ou influência dos
tomadores de decisão na construção dos
princípios, políticas e modelos de TI, a
percepção foi negativa (ranking médio 2,36),
indicando que a maioria dos tomadores de
decisão não são consultados para a
construção destes que formam uma categoria
de mecanismo de governança de TI
responsável por conceber as regras da
organização, atuando na transmissão de
instruções e orientações necessárias para o
bom funcionamento da governança de TI na
universidade.
Da análise documental realizada, com
exceção da existência da Políticas de
Segurança da Informação e Comunicação –
POSIC da UFRB, não foram encontrados
quaisquer documentos com declaração de
princípios e políticas de TI na instituição.
Logo, percebe-se uma contradição entre a
percepção positiva desses tomadores de
decisão em relação a este mecanismo e a
ausência de documentos que comprovem
este alinhamento estratégico.
Ao analisar o Plano de Desenvolvimento
Institucional 2015-2019 da UFRB, observou-se
metas relacionadas à TI para ampliar e
melhorar
a
infraestrutura
física
e
administrativa da instituição no que tange a
área de gestão (UFRB, 2015, p. 120).
Entretanto, apesar das metas de TI estarem
declaradas para atingir os objetivos
corporativos da instituição, demonstrando um
ponto de origem para o desenvolvimento de
estratégias de TI, não existe um Planejamento
Estratégico de Tecnologia da Informação
(PETI), documento que expressa os princípios
de TI que sustentam os objetivos
corporativos.
Levando em consideração a afirmação de
Nascimento (2014) de que o PETI “é o
Tópicos em Administração - Volume 15
178
documento que serve de ligação para o
estabelecimento do Alinhamento Estratégico
no Plano Geral da Organização representado
pelo Planejamento Estratégico Institucional,
sendo este o responsável pelas diretrizes
gerais de toda organização (NASCIMENTO,
2014, p. 13)”, pode-se afirmar que com a
inexistência de um PETI na UFRB, não está
ocorrendo alinhamento estratégico da TI com
as áreas de negócio.
4.3
QUALIDADE
PRODUZIDAS
AUTOMATIZADOS
DAS INFORMAÇÕES
PELOS
SISTEMAS
A percepção positiva dos tomadores de
decisão (ranking médio de 3,18) deu-se para
a qualidade contextual da informação, uma
vez que os tomadores de decisão percebem
as informações como aplicáveis e úteis para
as atividades de gestão. Enquanto que a
percepção negativa (ranking médio de 2,45)
deu-se para a qualidade intrínseca dessas
informações, tendo em vista que os
tomadores de decisão não percebem as
informações em conformidade com os valores
reais e efetivos da área de negócio. Este
resultado negativo é preocupante visto que
essas informações estão sendo usadas por
áreas estratégicas de uma instituição que
trabalha com ensino, pesquisa e extensão, e
que precisa de informações sempre em
conformidade com os valores reais e efetivos
disponíveis para a comunidade acadêmica.
Como a UFRB passa por um processo de
implantação do Sistema Integrado do Gestão
(SIG), o ranking médio negativo para a
qualidade
intrínseca
das
informações
produzidas pelos sistemas automatizados
sugere problemas nos processos de
validações de migrações de dados a partir de
sistemas
legados,
assim
como
de
capacitação
de
servidores
para
a
manutenção desses novos sistemas. Segundo
o relatório de gestão do exercício de 2016,
estes processos ocorreram, principalmente,
na finalização da implantação do Sistema
Integrado de Gestão Acadêmica (SIGAA),
conforme observado:
[...] no exercício de 2016 finalizamos a
implantação do Sistema Integrado de Gestão
Acadêmica (SIGAA). Na condição de
gestores do negócio, fomos requisitados pela
administração central a compor comissão de
implantação que foi organizada em três
etapas, a saber: homologação dos roteiros de
dados, validação da migração dos dados e
capacitação de servidores para o uso do
sistema. A expectativa com o uso deste
sistema integrado é que tenhamos um grande
avanço da gestão acadêmica em todos os
setores. (UFRB, 2017, p. 33-34)
4.4 HABILIDADE E COMPETÊNCIA DOS
SERVIDORES TÉCNICOS E ANALISTAS DE TI
A percepção dos executivos acerca das
habilidades e competências do quadro de
servidores de TI da UFRB foi positiva (ranking
médio de 3,73). Esta percepção está
relacionada a satisfação dos executivos com
o desempenho dos servidores de TI, que por
sua vez são os responsáveis por executar as
ações planejadas da TI.
Com o objetivo de validar a percepção
positiva dos executivos acerca desta
categoria de mecanismos na instituição,
procurou-se nos documentos institucionais
evidências que justificassem tal percepção.
Ao consultar o relatório de gestão do
exercício de 2015 e 2016, observou-se que os
únicos cursos oferecidos pela instituição
foram: Ponto de função, IPv6, Segurança de
redes, Segurança de Redes sem fio. Consta
no relatório do ano de 2016 que, ao término
do contrato com a empresa licenciada (ESIG
software
&
consultoria),
realizou-se
transferência de tecnologia da contratada
para a contratante (UFRB).
A percepção positiva dos executivos acerca
das habilidades e competências do quadro
de servidores de TI sugere que, para além
dos cursos oferecidos oriundos de demandas
específicas, os servidores de TI realizam
capacitações por conta própria. Devido à
ausência de definições de princípios, políticas
e modelos de TI, assim como de evidências
de atuação das estruturas de tomada de
decisão estratégicas de TI no que se refere a
análise do quadro de pessoal de TI, as
capacitações e qualificações dos analistas e
técnicos de TI podem estar ocorrendo de
forma
desalinhadas
ao
planejamento
estratégico da universidade.
4.5 UTILIDADE E GARANTIA DOS SERVIÇOS,
INFRAESTRUTURA E APLICATIVOS DE TI
PARA AS NECESSIDADES DE NEGÓCIOS
Para as questões que abordaram aspectos
relacionados a utilidade, os executivos
tiveram uma percepção positiva (média do
Tópicos em Administração - Volume 15
179
ranking médio 3,67). As questões buscaram
identificar a utilidade dos serviços disponíveis
no catálogo de serviços de TI, dos softwares
desenvolvidos ou adquiridos para as
necessidades da instituição, e dos recursos
de TI utilizados para tratamento das
informações do setor investigado. Cabe
destacar que 77% dos executivos tiveram
uma percepção positiva em relação aos
softwares desenvolvidos ou adquiridos para
seus setores como soluções estratégicas. No
trabalho realizado por Silva (2016), o autor
havia
diagnosticado
que
as
áreas
estratégicas da UFRB acreditavam que a
implantação do Sistema Integrado de Gestão
(SIG) permitiria uma melhoria tanto da área de
negócio quanto da área de TI. Estes
resultados apontam para um amadurecimento
dos executivos acerca da importância da
automatização dos processos através do SIG,
o que sugere existir na UFRB uma cultura por
parte dos executivos de negócio de abertura
a soluções automatizadas.
As perguntas relacionadas a garantia
envolveram aspectos como prejuízo das
atividades devido as interrupções nos
serviços, tempo médio para tratar as
solicitações de um serviço de TI, bem como o
quão o acesso à internet atende as atividades
do setor. Para este aspecto, os resultados da
pesquisa apontaram que os executivos
tiveram uma percepção negativa (média do
ranking médio 2,48).
Os resultados da investigação desta
categoria de mecanismos sinalizam que a
instituição cumpre com o que o usuário
espera em termos de serviços, entretanto não
tem cumprido com as garantias de entrega.
Este resultado indica que a instituição está
com a sua capacidade de serviços de TI
comprometida, visto que os aplicativos e
infraestrutura de TI disponível na instituição
depende de eficiência na prestação de
serviços de TI. Dessa forma, a percepção
negativa dos executivos acerca da garantia
revela que a entrega de valor, objetivo do
modelo COBIT 5 e da governança de TI, está
prejudicada, e, portanto, não atendendo as
partes interessas do negócio.
4.6 MECANISMOS DE CONTROLE PARA
EVITAR CONFLITOS DE INTERESSES NAS
DECISÕES DE TI
A análise acerca da categoria de mecanismo
cultura, ética e comportamento teve o objetivo
de identificar o compromisso da instituição
em incentivar e manter comportamentos
éticos dos membros da alta administração
acerca das decisões de TI. Neste sentido,
perguntou-se aos executivos da instituição
acerca da frequência com que a instituição
implementa mecanismos de controle para
evitar vieses, preconceitos ou conflitos de
interesse que influenciem nas decisões de TI
por membros da alta administração. A
percepção dos executivos foi negativa
(ranking médio 2,86).
A percepção negativa dos executivos acerca
da implementação de mecanismos de
controle que evitam conflitos de interesses na
tomada de decisão de TI se alinha a ausência
de princípios e políticas de TI como
mecanismos de comunicação dos valores
corporativos e comportamentos desejáveis na
instituição. A implementação de mecanismos
de controle como este, passa pela elaboração
de
normas
alinhadas
aos
princípios
corporativos, que forneçam orientação sobre
o comportamento organizacional desejado no
que tange ao processo de tomada de decisão
de TI.
4.7 SATISFAÇÃO DA ÁREA DE NEGÓCIO
COM OS PROCESSOS DE GESTÃO DE TI
A inspiração para a construção das questões
acerca da categoria de mecanismos
processos deu-se a partir da observação das
atividades desenvolvidas nos 4 (quatro)
núcleos da COTEC (Núcleo de Gestão do
Atendimento ao Usuário; Núcleo Gestão da
Infraestrutura de Redes; Núcleo de Gestão da
Segurança de Informação e Núcleo de
Desenvolvimento e Manutenção de Sistemas),
relacionando-as com 3 (três) processos do
COBIT 5, a saber: DSS01 Gerenciar
Operações, DSS05 Gerenciar Serviços de
Segurança, e BAI03 Gerenciar a Identificação
e Desenvolvimento de Soluções.
Da análise realizada, observa-se que os
executivos tiveram uma percepção positiva
dos processos de gestão de TI (média do
ranking médio de 3,25) que envolvem
serviços de segurança, desenvolvimento de
software e gerenciamento de operações. Este
resultado demonstra a satisfação dos
executivos com os processos de gestão de
TI, e corrobora o encontrado sobre a atuação
operacional da COTEC na instituição,
avaliada pelos executivos como positiva.
Tópicos em Administração - Volume 15
180
Apensar da percepção positiva acerca dos
indicadores relacionados aos processos de
gestão de TI, a ausência de um PETI na
instituição sugere processos desvinculados
de metas corporativas, e, portanto, com
execução sem alinhamento estratégico.
5 CONCLUSÕES
A análise realizada indicou que a
implementação
dos
mecanismos
de
governança de TI na UFRB no período
analisado encontrava-se em um estágio
embrionário.
Constatou-se
inércia
das
estruturas de tomada de decisão estratégica
de TI (CGD e CSIC), e ausência da definição
de princípios, políticas e modelos de TI, que,
conforme o COBIT 5 são fundamentais para a
implementação das demais categorias de
mecanismos. A constatação acerca do
estágio embrionário da implementação dos
mecanismos de governança de TI permite
concluir ausência de alinhamento estratégico
entre TI e negócio, o que implica no
comprometimento da entrega de valor
proporcionado pela TI para a comunidade
acadêmica.
A UFRB atua na indissociabilidade do EnsinoPesquisa-Extensao, por isso seu objetivo
maior é atuar no tripé Ensino, Pesquisa e
Extensão. Neste sentido, necessita de
informações de qualidade para a tomada de
decisão dos gestores deste tripé. Constatouse com a investigação que a universidade
precisa melhorar seus processos de
implantação de sistemas de informações,
com treinamentos de usuários, validação de
migração de carga de dados a partir de
sistemas legados, bem como planos de
capacitação para analistas e técnicos de TI.
Percebeu-se
com
a
pesquisa,
um
amadurecimento dos tomadores de decisão
acerca da importância da automatização dos
processos através do Sistema Integrado de
Gestão (SIG), o que sugere existir na UFRB
uma cultura, por parte dos tomadores de
decisão,
de
abertura
a
soluções
automatizadas. Entretanto, para a categoria
de mecanismo que trata de questões
relacionadas ao comportamento desejado
dentro da instituição, não foram encontradas
evidências que tratassem do controle de
conflitos de interesses nas decisões
institucionais de TI.
Quanto a capacidade de serviços de TI, a
pesquisa revelou que carece de melhorias,
visto que os aplicativos e infraestrutura de TI
disponíveis na instituição dependem de
eficiência na prestação de serviços de TI, o
que foi percebida de forma negativa pelos
tomadores de decisão. Essas melhorias
passam pela implantação de um sistema de
gerenciamento de serviços, com implantação
do catálogo de serviços, acordos de nível de
serviços e capacidade de serviços.
De acordo com a ISACA (2012), os objetivos
corporativos estão vinculados a objetivos de
TI (definidos no PETI), que por sua vez estão
vinculadas às metas dos mecanismos de
governança de TI (habilitadores do COBIT 5).
No que tange aos processos de gestão TI,
percebeu-se que estão desvinculados de
metas corporativas devido à ausência de um
PETI, e, portanto, sendo executados sem
alinhamento
estratégico.
Segundo
Nascimento (2014), o PETI é o documento
responsável por definir as diretrizes da TI
alinhadas as diretrizes gerais de toda a
organização
que
são
definidas
no
Planejamento Estratégico Institucional.
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Tópicos em Administração - Volume 15
182
Capítulo 17
Bernardo Almeida Mudjalieb
Jéssica Galdino de Freitas
Denise Terezinha Lisboa Bassani
Resumo: O gerenciamento da informação e do conhecimento na execução de
projetos se tornou um diferencial competitivo para o alcance de bons resultados.
Porém, esta prática não aparece como prioridade nas boas práticas de gestão de
projetos. Neste contexto, se insere este estudo de caso de um projeto de
implantação de sistema de gestão integrada denominado ERP - Enterprise
Resource Planning para uma empresa pública de tecnologia. Foi utilizada como
metodologia a revisão da literatura e a análise documental para o estudo de caso,
além da identificação e classificação das práticas de gestão de projetos de acordo
com o PMI, dos pressupostos da gestão do conhecimento e da teoria de Nonaka e
Takeuchi (1997). Em análise documental do estudo de caso foram identificadas 32
práticas de gestão de projetos, com maior ênfase na dimensão epistemológica do
conhecimento na sua forma explícita, e na dimensão ontológica alinhada a nível da
interorganização, sendo possível perceber um grande esforço da gerência do
projeto no âmbito do processo de gerenciamento de projetos de planejamento e na
orientação para a área do conhecimento de comunicação. As avaliações das
práticas identificadas servem de insumo para melhorias em novos projetos e para
profissionais que atuem em projetos com grandes volumes de informação e
conhecimento, além de servir de base bibliográfica para estudos futuros.
Tópicos em Administração - Volume 15
183
1 INTRODUÇÃO
A implantação de sistemas de gestão
integrada denominado ERP - Enterprise
Resource Planning se popularizou no universo
organizacional, principalmente no Brasil,
devido à necessidade de melhoria da
produtividade, flexibilidade e redução de
custos (CAMARGO JUNIOR et al., 2010).
O aumento da eficiência através da melhoria
da interface de processos empresariais e de
visualização das transações realizadas nos
processos em tempo real são benefícios que
surgiram da evolução dos sistemas de gestão
da produção MRP e MRP II até se consolidar
no ERP, sendo este dividido em módulos de
acordo com os processos realizados pela
empresa, e que atuam de forma integrada
através do sistema (PADILHA et al., 2004).
Diversos problemas ocorreram no momento
da implantação do ERP, como atrasos no
cronograma, ausência de análise dos
processos e funcionalidades, má gestão do
projeto, ausência de comprometimento da
alta direção e dos usuários, mudanças
organizacionais entre outros fatores (MENDES
et al., 2002).
Além destes problemas também são
observadas as dificuldades na aplicação de
boas práticas de gestão do conhecimento em
projetos deste tipo identificadas nos
problemas advindos da dificuldade de
comunicação entre os participantes de toda a
operação. Apesar de estar claro o papel da
gestão do conhecimento para criação de
valor dentro deste universo, esta prática não
aparece como prioridade nas práticas
preconizadas pelo PMI através do PMBOK®
(Project Management Body of Knowledge).
Tendo em vista o cenário apresentado, essa
pesquisa buscou: Avaliar as práticas de
gestão de projetos de uma implantação de
ERP para uma empresa pública de tecnologia
através dos processos de gerenciamento de
projetos,
áreas
do
conhecimento
e
pressupostos da gestão do conhecimento.
2 MÉTODO
Com o intuito de expor as etapas executadas
em cada etapa da metodologia, o desenho de
pesquisa foi ilustrado na Figura 1.
Figura 1: Etapas da metodologia de pesquisa
Fonte: Elaboração própria.
Tópicos em Administração - Volume 15
184
A metodologia de pesquisa utilizada neste
estudo de caso está baseada em uma
perspectiva exploratória, tendo como suporte
da análise os preceitos do PMI na área de
conhecimento referente à comunicação e dos
conceitos sobre a gestão do conhecimento,
essencialmente
sobre
técnicas
para
conversão do conhecimento conforme os
autores Nonaka e Takeuchi (1997).
A revisão da literatura existente, foi realizada
através do levantamento de registros
disponíveis sobre os temas, e o estudo de
caso foi elaborado a partir da análise dos
documentos do projeto e registros efetuados
durante a consultoria em questão, cujo o
presente pesquisador participou.
O estudo de caso foi a estratégia de pesquisa
escolhida, pelo fato da área de conhecimento
ter sido pouco explorada na literatura e por se
tratarem de questões de “como” e “por que”,
tendo o pesquisador pouco controle sobre os
acontecimentos e o foco do estudo estando
em fenômenos contemporâneos no contexto
da vida real (YIN, 2005).
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 GESTÃO DE PROJETOS
Segundo o PMI (2013, p. 30), um projeto é
“um esforço temporário empreendido para
criar um produto, serviço ou resultado
exclusivo”. Para realizar esse esforço, que
possui tempo determinado e foco na criação
de algo único, diversos conhecimentos são
colocados em prática, passando pelo ciclo de
vida deste esforço, desde a iniciação do
projeto, organização e preparação, execução
do trabalho e encerramento do projeto.
O PMBOK® apresenta dez áreas de
conhecimento para projetos com diversos
conceitos e práticas para cada uma destas
áreas, ficando a cargo do gerente dosar a
medida da utilização destes e outros
conhecimentos.
Essas
áreas
são
(i)
integração do projeto, (ii) escopo, (iii) tempo,
(iv) custos, (v) qualidade, (vi) recursos
humanos, (vii) comunicações, (viii) riscos, (ix)
aquisições e (x) partes interessadas (PMI,
2013).
A área de conhecimento de comunicações do
projeto inclui os esforços para assegurar que
as informações do projeto sejam gerenciadas
de forma efetiva, garantindo que o tempo
dedicado à sua realização seja bem utilizado.
Mesmo o PMBOK® sendo “Um guia do
conhecimento em gerenciamento de projetos”
e possuir em seu conteúdo as áreas de
conhecimento explicitadas acima, ele aborda
a gestão do conhecimento de forma
pulverizada nas diversas áreas citadas e mais
profundamente
dentro
da
área
de
comunicação. O estudo de Cruz (2011),
ressalta que o PMI aborda o assunto de
gestão do conhecimento no PMBOK®,
demonstrando preocupação e atenção ao
assunto, mas ao mesmo tempo não o destaca
como
uma
área
de
conhecimento
propriamente dita.
3.2 GESTÃO DO CONHECIMENTO
A definição do que é informação a partir da
transformação e acréscimo de valor dos
dados, pode ser definida como “dados
dotados
de
relevância
e
propósito”
(DAVENPORT e PRUSAK, 2003). Esta
definição passa a colocar a informação dentro
de uma estrutura maior em que esta pertence,
a do conhecimento.
Para Nonaka e Takeuchi (1997), o processo
de
construção
do
conhecimento
organizacional começa a partir de um
indivíduo que transforma seu conhecimento
pessoal em conhecimento internalizado da
organização. A lógica de criação do
conhecimento passa por vários momentos até
este virar de fato um conhecimento,
começando em sua menor parte ou sua
origem, os dados.
Com a visão da criação do conhecimento
organizacional começando a partir do
indivíduo e sendo difundida até chegar para
toda organização, é apresentada uma das
dimensões da criação de conhecimento, a
dimensão ontológica. Esta dimensão aborda
diferentes níveis de entidades geradoras do
conhecimento, como: individual, grupal,
organizacional
e
inter
organizacional,
demonstrando a preocupação e importância
do ser humano nesta teoria organizacional
(NONAKA E TAKEUCHI, 1997).
Para Nonaka e Takeuchi (1997), este
conhecimento inicial que parte do indivíduo é
chamado de tácito e forma uma parte da
outra dimensão do conhecimento, a dimensão
epistemológica. O conhecimento tácito é
pessoal, subjetivo e prático, e leva em
consideração a realidade vivida pelo
indivíduo (contexto), tornando ainda mais
difícil a missão de formular e comunicar este
Tópicos em Administração - Volume 15
185
tipo de conhecimento. Já o seu oposto e
segunda
parte
desta
dimensão,
o
conhecimento explícito, pode ser transmitido
dentro de uma linguagem formal, é objetivo,
teórico e pode ser sistematizado.
A Figura 2 representa as dimensões e a forma
como o conhecimento interage entre o tácito e
explícito e as entidades criadoras de
conhecimento,
mostrando
como
o
conhecimento é convertido, mobilizado e
ampliado no contexto organizacional.
Figura 2: Duas dimensões da criação do conhecimento
Fonte: Nonaka e Takeuchi (1997) adaptado pelos autores
São postulados quatro modos de conversão
do conhecimento, a partir da interação do
tácito com o explícito e o conteúdo de
conhecimento criado por cada modo de
conversão a partir de sua interação são
expostos na Figura 3.
Figura 3: Quatro modos de conversão do conhecimento e o conteúdo do conhecimento criado.
Fonte: Nonaka e Takeuchi (1997) adaptado pelos autores
Para De Abreu et al. (2015) a teoria de gestão
do conhecimento postulada por Nonaka e
Takeuchi (1997) e posteriormente criticada
por outros autores como Von Krogh et al.
(2001) e Behr e Nascimento (2008), apresenta
pontos para reflexão como questões práticas
e conceituais no momento de implantar as
práticas de gestão do conhecimento.
Tópicos em Administração - Volume 15
186
O uso de técnicas e ferramentas que tenham
como foco a produtividade ou conversão do
conhecimento
pode
acabar
gerando
mecanismos de controle do trabalhador,
passando a pressionar os funcionários a
transmitirem seus conhecimentos tácitos
tornando eles explícitos, gerando assim
vantagem competitiva para a organização (DE
ABREU, 2015).
Com as diversas necessidades de melhorar a
gestão e aproveitamento da informação e do
conhecimento organizacional, as empresas
passaram a adotar o uso de sistemas da
informação para otimizar suas interfaces de
processos e comunicações visando o
aumento de competitividade e sobrevivência
no mercado. Um dos sistemas empresariais
mais comumente utilizados é o ERP que
possibilita a integração dos múltiplos
processos e recursos empresariais na gestão
do negócio.
3.3 IMPLANTAÇÃO DE ERP
Com o amadurecimento e avanço da
Tecnologia da Informação (TI), várias
organizações passaram a utiliza-la através do
uso de Sistemas de Informações como forma
de apoio a execução de suas atividades de
suporte e finalísticas. Para Davalos (2016) um
sistema de informação pode ser entendido
como um grupo de componentes interrelacionados com objetivo de coletar,
processar,
armazenar,
e
distribuir
informações, facilitando o controle e a
visualização do processo decisório.
Neste contexto entra em cena o ERP como
grande expoente dos sistemas de informação
e suas diversas aplicações, sendo várias as
suas definições. Esse tipo de sistema possui
o controle de toda a empresa desde os
processos de produção até a área financeira,
processando e registrando as informações
lançadas no sistema e distribuídas de
maneira clara, segura e em tempo real.
O ERP pode ser entendido como uma
evolução dos primeiros sistemas de
informação, mais precisamente o MRP I e II,
que controlam os diversos recursos utilizados
para a operação da manufatura e os demais
recursos necessários a operação de uma
empresa (CORRÊA, 1998).
Já para Davenport e Prusak (2003), o ERP é
um software que promove a integração da
informação entre as diversas áreas de uma
empresa, trazendo a lógica do sistema para a
estratégia e cultura organizacional. Este tipo
de sistema possui soluções genéricas para
atender as diversas necessidades das
empresas, mas cada cliente precisa definir
qual é a melhor prática para sua organização.
A Figura 4 ilustra a estrutura comumente
apresentada para um ERP, funcionando a
partir de uma única base de dados comum a
todos os usuários do sistema.
Figura 4: Estrutura típica de funcionamento de um ERP
Fonte: Davenport (1998), adaptado pelos autores
Mendes e Escrivão Filho (2002) realizaram um
levantamento bibliográfico na literatura
científica do conceito de ERP e suas
funcionalidades citado por diversos autores,
Tópicos em Administração - Volume 15
187
sintetizando assim as características comuns
dos sistemas ERPs. A Tabela 1 traz as
características levantadas pelos diversos
autores identificados, e mostra uma
orientação do uso do ERP como um sistema
que atende a todas as áreas da empresa e
voltada
a
execução
dos
processos
organizacionais.
Tabela 1: Características dos sistemas ERPs
Fonte: Mendes e Escrivão Filho (2002) adaptado pelos autores
Para realizar a implantação de um ERP, a
empresa cliente precisa passar por diversas
etapas, desde a seleção do sistema, sua
aquisição, realização dos testes até a entrada
do sistema no ar, e que para De Souza e
Zwicker (2000), a implantação é a fase mais
crítica neste tipo de projeto. Segundo estes
mesmos autores, para a realização de uma
boa implantação são destacados diversos
fatores críticos para o sucesso, como checar
as funcionalidades e adequação do sistema
às particularidades da empresa, e quem será
o fornecedor da solução.
Diante dos cenários de barreiras e
dificuldades, muitos projetos fracassam em
sua execução ao perderem de vista os
resultados esperados pela implantação de um
ERP, como a documentação e contabilização
dos processos, regras de negócios claras e
bem definidas e adoção de um sistema único
para toda empresa, pondo fim a colcha de
retalhos que são os diversos sistemas
organizacionais quando não são integrados,
com informações redundantes e dificultando a
consolidação da informação como insumo
para tomada de decisão (MILTELLO, 1999).
4 O CASO ESTUDADO
4.1 A EMPRESA ANALISADA - XYZ
A XYZ é uma empresa brasileira de
tecnologia, que atua há mais de 30 anos no
mercado,
focada
principalmente
em
implantação de softwares de gestão (ERP),
mas também presta serviço de consultoria de
negócios e atua na venda de hardwares para
automação de negócios.
XYZ atende a clientes que vão desde micro e
pequenas empresas até empresas de grande
porte. Com uma receita líquida anual superior
a R$ 1 bilhão, é um grande player no setor de
sistemas de gestão integrada (ERP) no Brasil
e na América Latina. A sede da empresa fica
em SP, com unidades próprias em outros
estados do Brasil e em outros países. Possui
Tópicos em Administração - Volume 15
188
aproximadamente 7 mil funcionários nas
diversas unidades e conta também com uma
rede de parceiros e franquias.
4.2
O
PROJETO
IMPLANTAÇÃO DO ERP
REALIZADO
-
O cliente D é uma empresa pública brasileira
de tecnologia, com mais de 40 anos de
existência, que possui patrimônio próprio,
autonomia
administrativa
e
financeira,
aproximadamente 3 mil funcionários, e
unidades em diversos estados do Brasil,
prestando serviços de tecnologia da
informação a outras empresas públicas e
também para empresas privadas.
O escopo do projeto para o cliente D foi de
realizar a migração de versão do ERP da XYZ,
de uma versão mais antiga para sua versão
mais atual, além da instalação de novos
módulos do sistema e novas ferramentas. A
Figura 5 apresenta uma lista do escopo dos
módulos do ERP que foram migrados da
versão mais antiga para a nova e quais foram
as novas funcionalidades implantadas.
Figura 5 - Escopo de módulos do ERP Migrados e Implantados
Migração
Implantação
Contabilidade
Compras
Fiscal
Orçamento
Ativo Fixo
Outras ferramentas
Manutenção
Financeiro
Estoque
Custos
Contratos
Faturamento
Fonte: Documento do projeto, adaptado pelos autores
Mais de dez profissionais da XYZ
compuseram o time de analistas de software,
subordinados ao Gerente de projetos da área
de Software, responsáveis pela parte de
instalação e parametrização do sistema. A
equipe de Consultoria da XYZ, inicialmente
contou com sete Consultores e um estagiário,
além de uma Gerente de projeto, um Gerente
sênior e um Diretor responsável.
O cronograma do projeto foi planejado para
os meses de janeiro a outubro de 2016,
conforme ilustrado na Figura 6. Para
realização do controle do projeto, foi
desenvolvido um cronograma no software MS
Project® contendo as etapas macro a serem
executadas, com prazo e responsáveis.
A pasta virtual do projeto foi criada e
compartilhado o acesso com todos os
consultores, e em um momento futuro também
foi compartilhada com os gestores da equipe.
É importante destacar a ausência de
procedimento de trabalho padrão para o
compartilhamento de informação nos projetos
realizados pela empresa XYZ, havendo
múltiplos modelos utilizados na empresa
conforme preferência dos gerentes de
projeto.
Tópicos em Administração - Volume 15
189
Figura 6 - Macro cronograma do projeto
Fonte: Documento do projeto, adaptado pelos autores
5 ANÁLISE DOS RESULTADOS
5.1 IDENTIFICAÇÃO DAS PRÁTICAS DE
GESTÃO DE PROJETOS
Para identificação das práticas de gestão de
projetos a partir da análise documental do
estudo de caso, foi realizada uma revisão da
bibliografia do tema gestão de projetos, e
foram identificadas trinta e duas práticas de
gestão de projetos, conforme demonstra a
Tabela 2 onde serão apresentadas a
classificação das práticas pela ótica da
gestão de projetos:
O ordenamento destas práticas foi feito a
partir do primeiro item de análise, a
classificação das práticas de gestão de
projetos
conforme
os
processos
de
gerenciamento de projetos de acordo com o
PMI (2013). Sendo assim, a ordem das
práticas de gestão de projetos identificadas
está associada a classificação de cada uma
delas a um dos processos de gerenciamento
de
projetos:
iniciação,
planejamento,
execução, monitoramento e controle, e
encerramento.
5.2 CLASSIFICAÇÃO DAS PRÁTICAS DE
GESTÃO DE PROJETOS SOB A ÓTICA
GERENCIAMENTO DE PROJETOS
A partir da seleção das práticas de gestão de
projetos identificadas na análise documental
do estudo de caso, foi possível realizar a
classificação de cada uma das práticas sob o
ponto
de
vista
dos
processos
de
gerenciamentos de projetos, e posteriormente
a classificação das práticas sob o ponto de
vista das áreas de conhecimento (PMI, 2013).
Dessa forma as práticas de gestão de
projetos identificadas tiveram a seguinte
classificação quando aos processos de
gerenciamento de projetos e as áreas de
conhecimento (Tabela 2):
Tópicos em Administração - Volume 15
190
Tabela 2: Classificação das práticas de Gestão de Projetos segundo os Processos de
Gerenciamento de Projetos e as Áreas de Conhecimento
Cód
Práticas de Gerenciamento de Projetos identificadas
P-01
Definição do gerente para a equipe do projeto
P-02
Realização de reunião de alinhamento inicial com equipe de projeto
Processo de
Gerenciament
o de Projetos
Iniciação
Iniciação
P-09
P-10
P-11
P-12
P-13
Disponibilização de informações de projetos antigos por e-mail e pen
drive
Repasse de conhecimento pelo cliente de projetos anteriores
realizados
Disponibilização dos documentos de abertura do projeto TR e proposta
comercial
Criação de pasta virtual do projeto no Dropbox®
Criação de grupo do projeto no WhatsApp®
Capacitação da equipe em formato de e-learning no sistema EaD no
escopo do projeto
Realização do planejamento dos custos do projeto
Elaboração de cronograma
Definição de frentes de trabalho para cada membro da equipe
Definição de metas para a equipe
Definição de duplas de execução de trabalho (consultor e analista)
Planejamento
Planejamento
Planejamento
Planejamento
Planejamento
P-14
Definição da estrutura do projeto, com papéis e responsabilidades
Planejamento
P-15
P-20
P-21
Definição do escopo
Estruturação da pasta virtual do projeto com base nos processos de
gerenciamento de projetos
Criação de templates de documentos necessários a execução do
projeto
Elaboração de plano de comunicação
Definição de canais de comunicação para atendimento e problemas do
cliente
Realização Operação assistida
Documentação das reuniões realizadas com validação dos envolvidos
P-22
Elaboração e execução do plano de capacitação
Execução
P-23
Realização de reuniões com rede de mudança do projeto
Execução
P-24
Integração da equipe de execução do projeto
Execução
P-03
P-04
P-05
P-06
P-07
P-08
P-16
P-17
P-18
P-19
P-26
Utilização de técnicas de moderação de reunião (brainstorm, resolução
de conflitos, alinhamentos entre diversas áreas)
Utilização de ambientes de dados (testes, homologação e produção)
P-27
Realização de reunião de status semanal com o cliente
P-28
Controle do projeto feito em MS Project® por um PMO
P-29
Replanejamento e comunicação ao cliente de acordo com ajustes e
problemas na execução
P-30
Identificação e acompanhamento de riscos
P-31
Identificação de LA pela equipe de execução
Formalização das entregas do projeto feita com os usuários chaves por
parte do cliente
P-25
P-32
Fonte: Elaboração própria
Tópicos em Administração - Volume 15
Área de
Conhecimento
Integração
Recursos
Humanos
Iniciação
Comunicação
Iniciação
Comunicação
Iniciação
Comunicação
Iniciação
Iniciação
Planejamento
Comunicação
Comunicação
Recursos
Humanos
Custos
Tempo
Integração
Integração
Integração
Partes
interessadas
Escopo
Planejamento
Comunicação
Planejamento
Comunicação
Planejamento
Comunicação
Planejamento
Comunicação
Execução
Execução
Escopo
Qualidade
Recursos
Humanos
Recursos
Humanos
Recursos
Humanos
Partes
interessadas
Aquisições
Iniciação
Execução
Execução
Monitorament
o e controle
Monitorament
o e controle
Monitorament
o e controle
Monitorament
o e controle
Encerramento
Encerramento
Integração
Integração
Comunicação
Riscos
Comunicação
Qualidade
191
5.3 CLASSIFICAÇÃO DAS PRÁTICAS DE
GESTÃO
DE
PROJETOS
SOB
OS
PRESSUPOSTOS
DA
GESTÃO
DO
CONHECIMENTO
A partir destas duas primeiras classificações
no âmbito da gestão do conhecimento, foi
feita a classificação das práticas de gestão
de projetos sob o ponto de vista do modo de
conversão do conhecimento, identificando o
modo de conversão do conhecimento da
prática,
conforme
conceitualização
da
conversão do conhecimento de Nonaka e
Takeuchi (1997).
As práticas de gestão de projetos foram
classificadas posteriormente sob a dimensão
da epistemologia da gestão do conhecimento,
ou seja, se a prática se associa ao
conhecimento tácito ou explícito. Em seguida
as práticas foram avaliadas sob o ponto de
vista da dimensão da ontologia da gestão do
conhecimento, considerando se a prática
envolvia um indivíduo, grupo, organização ou
interorganização.
Sendo assim, as práticas de gestão de
projetos identificadas na análise documental
do estudo de caso tiveram a seguinte
classificação quanto aos pressupostos da
gestão do conhecimento (Tabela 3):
Tabela 3: Classificação Geral das Práticas de Gestão de Projetos sob os pressupostos da Gestão do
Conhecimento
Cód
P-01
P-02
P-03
P-04
P-05
Práticas de Gerenciamento de Projetos
identificadas
Definição do gerente para a equipe do projeto
Realização de reunião de alinhamento inicial com
equipe de projeto
Disponibilização de informações de projetos
antigos por e-mail e pen drive
Repasse de conhecimento pelo cliente de
projetos anteriores realizados
Disponibilização dos documentos de abertura do
projeto TR e proposta comercial
Epistemologia
Ontologia
Tácito
20
Grupo
Tácito
18
Grupo
Tácito
22
Indivíduo
Tácito
35
Interorganização
Tácito
25
Grupo
Explícito
70
Indivíduo
P-06
Criação de pasta virtual do projeto no Dropbox®
P-07
Criação de grupo do projeto no WhatsApp®
Tácito
12
Grupo
P-08
Capacitação da equipe em formato de e-learning
no sistema EaD no escopo do projeto
Tácito
24
Indivíduo
P-09
Realização o planejamento dos custos do projeto
Explícito
80
Organização
P-10
Elaboração de cronograma
Explícito
58
Organização
P-11
Definição de frentes de trabalho para cada
membro da equipe
Tácito
45
Indivíduo
P-12
Definição de metas para a equipe
Tácito
40
Indivíduo
Explícito
52
Grupo
Explícito
58
Interorganização
Explícito
78
Organização
Explícito
80
Grupo
Explícito
76
Grupo
P-13
P-14
P-15
P-16
P-17
Definição de duplas de execução de trabalho
(consultor e analista)
Definição da estrutura do projeto, com papéis e
responsabilidades
Definição do escopo
Estruturação da pasta virtual do projeto com base
nos processos de gerenciamento de projetos
Criação de templates de documentos necessários
a execução do projeto
P-18
Elaboração de plano de comunicação
Explícito
50
Organização
P-19
Definição de canais de comunicação para
atendimento e problemas do cliente
Explícito
82
Interorganização
P-20
Realização Operação assistida
Explícito
65
Interorganização
P-21
Documentação das reuniões realizadas com
validação dos envolvidos
Explícito
89
Interorganização
P-22
Elaboração e execução do plano de capacitação
Explícito
64
Organização
P-23
Realização de reuniões com rede de mudança do
projeto
Tácito
29
Interorganização
Tópicos em Administração - Volume 15
Modo de Conversão do
Conhecimento
Socialização
(Compartilhado)
Socialização
(Compartilhado)
Socialização
(Compartilhado)
Externalização
(Conceitual)
Socialização
(Compartilhado)
Internalização
(Operacional)
Socialização
(Compartilhado)
Socialização
(Compartilhado)
Externalização
(Conceitual)
Externalização
(Conceitual)
Externalização
(Conceitual)
Externalização
(Conceitual)
Externalização
(Conceitual)
Externalização
(Conceitual)
Externalização
(Conceitual)
Combinação (Sistêmico)
Externalização
(Conceitual)
Externalização
(Conceitual)
Externalização
(Conceitual)
Internalização
(Operacional)
Externalização
(Conceitual)
Externalização
(Conceitual)
Externalização
(Conceitual)
192
Tabela 3: Classificação Geral das Práticas de Gestão de Projetos sob os pressupostos da Gestão do
Conhecimento (continuação)
Cód
Práticas de Gerenciamento de Projetos
identificadas
Epistemologia
Ontologia
Modo de Conversão do
Conhecimento
Socialização
(Compartilhado)
P-24
Integração da equipe de execução do projeto
Tácito
3
Grupo
P-25
Utilização de técnicas de moderação de reunião
(brainstorm, resolução de conflitos, alinhamentos
entre diversas áreas)
Tácito
49
Indivíduo
Internalização
(Operacional)
P-26
Utilização de ambientes de dados (testes,
homologação e produção)
Explícito
75
Interorganização
Internalização
(Operacional)
P-27
Realização de reunião de status semanal com o
cliente
Tácito
35
Interorganização
Externalização
(Conceitual)
P-28
Controle do projeto feito em MS Project® por um
PMO
Explícito
85
Organização
Combinação (Sistêmico)
P-29
Replanejamento e comunicação ao cliente de
acordo com ajustes e problemas na execução
Explícito
90
Interorganização
Combinação (Sistêmico)
P-30
Identificação e acompanhamento de riscos
Explícito
78
Organização
Combinação (Sistêmico)
P-31
Identificação de LA pela equipe de execução
Tácito
30
Indivíduo
Externalização
(Conceitual)
P-32
Formalização das entregas do projeto feita com
os usuários chaves por parte do cliente
Explícito
95
Interorganização
Combinação (Sistêmico)
Fonte: Elaboração própria
5.4 AVALIAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
Foi realizada a análise da classificação das
trinta e duas práticas quanto aos processos
de gerenciamento de projetos (iniciação,
planejamento, execução, monitoramento e
controle e encerramento) de acordo com o
PMI (2013). Esta análise (Figura 7) permitiu
identificar onde existe maior concentração de
esforço prático no dia a dia de projeto e como
a gestão do projeto analisado possui caráter
estruturante relacionado ao processo de
planejamento.
Figura 7: Avaliação das práticas quanto aos Processos de Gerenciamento de Projetos
Fonte: Elaboração própria
Tópicos em Administração - Volume 15
193
Esta análise reflete de forma coerente a
realidade do projeto analisado, que teve
grande esforço no processo de iniciação
(25%), no planejamento (34%) e na execução
(22%). Com destaque principal para o
processo de planejamento, que ficou acima
dos demais processos e por possuir caráter
estruturante do projeto, com a elaboração de
diversos planos e documentos.
Quanto a classificação das práticas de gestão
de projetos do estudo de caso quanto as
áreas de conhecimento de acordo com o PMI
(2013), foi possível perceber que houve uma
concentração nas áreas de comunicação
(34%) e integração (19%) (Figura 8).
Figura 8: Avaliação das práticas quanto áreas de conhecimento
Fonte: Elaboração própria
Além da área de conhecimento da
comunicação, a área de integração fica em
segundo lugar e demonstra a preocupação e
esforço da gerência do projeto quanto a
integração do mesmo focando na orientação
e direcionamento do esforço da equipe.
Também é possível perceber em terceiro
lugar a área de recursos humanos (16%), com
práticas de treinamento, alinhamento com
equipe, plano de capacitação, entre outras
práticas necessárias ao sucesso do projeto.
A análise sobre a classificação das práticas
de gestão de projetos identificadas quanto
aos
pressupostos
da
dimensão
epistemológica da gestão do conhecimento,
tácito e explícito, visando perceber como se
distribuíram as práticas quanto à este foco de
classificação (Figura 9).
Figura 9: Epistemologia das práticas de gestão de projetos classificadas
Fonte: Elaboração própria
Tópicos em Administração - Volume 15
194
Esse equilíbrio entre os conhecimentos tácito
e explícito das práticas identificadas no caso
estudado demonstra que um projeto é
composto não somente do conhecimento
formal e estruturado, mas também se
aproveita da experiência e troca de
conhecimento tácito entre os membros da
equipe.
Principalmente num projeto de implantação
de ERP e com o grande foco em
comunicação, esse número de práticas
alinhadas ao conhecimento tácito se justifica,
em contraponto ao caráter estruturante das
boas práticas de gestão de projetos
principalmente nos processos de iniciação e
planejamento de projetos.
Outra análise realizada sobre os pressupostos
da gestão do conhecimento foi quanto a
ontologia ou a dimensão do indivíduo no
papel da construção do conhecimento. Foi
realizada a análise de frequência das práticas
de gestão de projetos identificadas no estudo
de caso sobre a ontologia do indivíduo,
grupo, organização e interorganização (Figura
10).
Figura 10: Ontologia das práticas de gestão de projetos classificadas
Fonte: Elaboração própria
Foi observada uma maior frequência quanto a
interorganização, demonstrando a natureza
da prestação de serviço, realizado para uma
outra empresa cliente, passando assim muito
do conhecimento elaborado no projeto de
implantação do ERP para o mesmo. A análise
sobre o modo de conversão do conhecimento
levou em consideração os quatro modos de
conversão de conhecimento, conforme
conceitualização de Nonaka e Takeuchi
(1997) (Figura 11).
Figura 11: Modo de conversão do conhecimento das práticas de gestão de projetos classificadas
Fonte: Elaboração própria
Tópicos em Administração - Volume 15
195
Considerando de forma agrupada o modo de
conversão do conhecimento da combinação
com a externalização, chegou-se a 66% das
práticas
orientadas
ao
conhecimento
explícito, confirmando a tendência do projeto
em tornar o conhecimento tangível através de
documentos e práticas explícitas.
Outra
análise realizada, buscou avaliar a dispersão
das práticas sobre os modos de conversão
do conhecimento (Figura 12), permitindo
visualizar que prática ficou localizada em qual
modo de conversão do conhecimento,
conforme seu perfil (tácito ou explícito).
Figura 12: Dispersão das práticas pelos modos de conversão do conhecimento
Conhecimento tácito
em
Conhecimento explícito
Socialização
P-01
P-02
Externalização
P-03
P-05
Conhecimento tácito
P-07
P-08
P-24
P-04
P-09
P-10
P-11
P-12
P-13
P-14
P-15
P-17
P-18
P-19
P-21
P-22
P-23
P-27
P-31
em
Internalização
Combinação
P-16
Conhecimento explícito
P-06
P-20
P-25
P-28
P-29
Legenda:
Explícito
P-26
P-30
P-32
Tácito
Fonte: Elaboração própria
Com esta análise foi possível perceber que as
práticas de gestão de projetos localizadas
nos modos de conversão do conhecimento de
externalização e internalização não puderam
ser classificadas exclusivamente como tácitas
ou explícitas, demonstrando assim que a
dimensão epistemológica do conhecimento
utilizada nas práticas com esta classificação
pode variar não sendo somente um tipo de
conhecimento absoluto em si.
As práticas relacionadas ao indivíduo
apresentarem em sua maioria como sendo
tácitas, reforça o conceito postulado por
Nonaka e Takeuchi (1997) de que a criação
do conhecimento começa a partir do
indivíduo e vai além do indivíduo e do grupo
até o âmbito interorganizacional através da
dimensão ontológica.
Para realização da análise de dispersão sob o
ponto
de
vista
dos
processos
de
gerenciamento de projetos, foram utilizadas
as variáveis encontradas nas dimensões
epistemológica e ontológica, e como forma
para representação das práticas foi utilizada a
escala de cores e símbolos atribuídos a cada
um dos processos de gerenciamento de
projetos (Figura 13).
Tópicos em Administração - Volume 15
196
Figura 13: Dispersão das práticas pela dimensão ontológica x dimensão epistemológica x processos
de gerenciamento de projetos
Fonte: Elaboração própria
As práticas de iniciação se apresentam na
ontologia
entre
indivíduo,
grupo
e
interorganização e na epistemologia em sua
maioria como tácitas, já as práticas de
planejamento e execução apareceram em
todos os níveis da ontologia, porém as
práticas de planejamento na dimensão da
epistemologia são em sua maioria explícitas
enquanto as de execução são equilibradas
entre tácitas e explícitas.
6 CONCLUSÕES
A área de gestão do conhecimento não
aparece como uma das áreas de
conhecimento do PMBOK® apesar de ser
citado inúmeras vezes em seu texto, além
disso não se apresenta como uma prática
tangível ou alvo de preocupação do gerente
de projeto do caso estudado. Porém apesar
da gestão do conhecimento não ser um alvo,
pode-se perceber um esforço no uso de
práticas de projetos no caso analisado,
principalmente orientado para comunicação.
Os objetivos propostos neste trabalho foram
alcançados, através da pesquisa bibliográfica
realizada sobre as temáticas selecionadas, a
identificação das práticas de gestão de
projetos no estudo de caso apresentado, bem
como suas classificações e respectivas
análises. Foi possível perceber um grande
esforço da gerência do projeto no que tange
ao planejamento das diversas atividades a
serem executadas, e a orientação deste
esforço para a área de comunicação.
Conclui-se a partir da leitura dos autores
citados que não basta executar boas práticas
de gerenciamento de projetos, principalmente
voltadas para comunicação se estas não
servirem a seu propósito, tenham uma função
e se tornem um ativo valioso para a equipe do
projeto. É necessário que as diversas partes
interessadas do projeto usufruam da
comunicação
planejada
e
realizada,
principalmente gerando condições favoráveis
a conversão do conhecimento tácito em
explícito.
Por fim, os resultados apresentados apontam
que ainda há uma carência em estudos e
práticas de aplicação da gestão do
conhecimento na gestão de projetos. Porém
este fato tem se apresentado como uma
necessidade gerencial e operacional das
equipes de projetos em usar o conhecimento
de forma efetiva.
Tópicos em Administração - Volume 15
197
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Tópicos em Administração - Volume 15
198
Capítulo 18
Darciane Alves Justino
Resumo: As empresas brasileiras, no contexto atual, estão despertando para a
busca de uma qualidade superior e de melhores condições de competitividade.
Diante desta perspectiva, as organizações passam a enfrentar uma série de
desafios internos e externos. Desafios estes que precisam ser superados através
da utilização de ferramentas eficazes de apoio à gestão. Neste sentido, a
tecnologia da informação (TI), tornou-se uma área de apoio logístico, tanto no
gerenciamento de centrais de distribuição quanto no sistema de gestão, uma vez
que seu uso eficiente pode significar a diferença no mercado. Neste contexto, os
investimentos para a utilização da logística associada à tecnologia da informação
vêm crescendo no Brasil, e os benefícios que a mesma oferece as organizações
tem sido comprovada em algumas áreas de aplicação. O presente trabalho foi
realizado com o objetivo de analisar a implantação e uso de um software de gestão
de
informação
nos
processos
logísticos
internos
de
uma
empresa
de
atacado/distribuição bem como as vantagens obtidas após sua implantação.
Através da análise SWOT e a matriz GUT, a empresa implantou novo software que
trouxe não somente benefícios financeiros, mas também uma reestruturação no
desenvolvimento das atividades, trazendo a empresa, não apenas benefícios
competitivos internos mais também externos.
Palavras-chave: Tecnologia da informação, logística, análise SWOT, matriz GUT,
vantagens competitivas.
Tópicos em Administração - Volume 15
199
1. INTRODUÇÃO
1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O mercado está cada vez mais competitivo, o
crescimento das organizações tem exposto
as empresas a uma demanda por
competência, que acaba por resultar em
necessidades de melhorias continuas nas
áreas de planejamento, operacionalização,
armazenagem e distribuição (SORIANO,
2013).
Para se trabalhar com a melhoria continua e
acompanhar o desenvolvimento industrial as
empresas precisam analisar constantemente
os inúmeros dados que o mercado
disponibiliza, esses dados são então
organizados e ordenados e aplicados
internamente. No entanto a maior dificuldade
é como implantar e interpretar esses dados
de forma que o resultado venha a acrescentar
no desenvolvimento e desempenho da
empresa. Cada decisão de implantação deve
sempre levar em conta os mais diversos
níveis e setores organizacionais para um
melhor resultado. As integrações desses
dados produzem ainda um conhecimento
confiável que chamamos de informações que
são fatores necessários para as tomadas de
decisões coerentes (Fresneda, 2007).
Choo (2011) destaca que o uso da
informação e do conhecimento propicia meios
de percepção e discernimento necessárias
para lidar com mudanças constantes que os
setores
de
venda,
armazenagem
e
distribuição. Quando utilizados de formas
adequadas e estruturada são instrumentos de
gestão.
Esses dados afetam profundamente todas as
etapas do canal logístico, pois representam
uma conexão entre os diversos estágios da
cadeia de suprimentos, permitindo a
coordenação e sequenciamento de atividades
de forma a proporcionar e colocar em prática
muitos dos benefícios de maximização da
lucratividade (Chopra & Meindl, 2003).
Para Fernandes & Correia (2012) as empresas
do ramo atacadista e distribuidora possuem
uma logística mais detalhada e deve ser
integrada na divisão de macro e micro
processos, tais como controle de estoques,
compra de produtos (quando terceiriza
produtos), na movimentação interna e
expedição das mercadorias, no recebimento
e processamento dos pedidos emitidos pelos
vendedores e recebidos pelos clientes, nas
embalagens e no sistema de informações.
Dessa forma, o senário logístico das
empresas atacadistas e distribuidoras busca
atribuir aos processos maior competência na
computação e distribuição de informação, no
que
abrange
aos
resultados
no
relacionamento com seus fornecedores, bem
como na consolidação da satisfação,
agilidade e o sucesso no atendimento ao
cliente, e se faz necessário que os dados
sejam sempre interpretados de forma corretas
(Pereira et al., 2010).
Assim as organizações vêm investindo cada
vez mais em sistemas que integrem seus
processos de serviços com o intuito de
aprimorarem sua interação com seus clientes
e colaboradores, buscando atendê-los assim
na hora planejada, com a quantidade
adequada e requerida de produtos, uma vez
que, os clientes estão cada vez mais
exigentes quanto a qualidade nos produtos
ou serviços, qualidade no atendimento,
rapidez na entrega, na sua confiabilidade e
ao preço (PEREIRA et al., 2010).
A tecnologia da informação (TI) é hoje um dos
alicerces da logística, por gerenciar as
informações das centrais de distribuição de
matéria prima e produto acabado. A TI
conecta empresas e fornecedores com mais
eficiência, além de proporcionar uma
integração interna da empresa, que são os
conhecidos sistemas ou programas de gestão
(Junior, 2007).
Platt & Klaes (2010) destacam que o avanço
de tecnologias aplicadas à gestão da
informação permite que as organizações
incorporem sistemas informatizados no apoio
às suas atividades nos mais diversos setores.
Um dos avanços desses expoentes são os
sistemas
de
informação
empresariais,
desenvolvidos para atender aos requisitos
específicos
das
diversas
áreas
e
departamentos de uma organização, de
maneira que respeitem os procedimentos e
fluxos de processos que cada empresa
estrutura e trabalha.
Para analisar os benefícios da TI é necessário
um levantamento de desempenho anterior a
sua aplicação e evidenciar as mudanças
ocorridas e o impacto nos processos e
relacionamento entre empresa e mercado.
Deste modo o presente trabalho de conclusão
de curso tem caráter qualitativo e o seu intuito
é analisar o levantamento de Estratégias de
Integração dos Processos e Serviços de um
Atacado/Distribuidora
e
identificar
os
Tópicos em Administração - Volume 15
200
benefícios da implantação e inovação de um
novo software para essa integração.
veem agregando e proporcionando valores
financeiros e organizacionais.
1.2
FORMULAÇÃO
PROBLEMA
Dessa forma pretende-se proporcionar
subsídios
para
o
aprimoramento
do
atacado/distribuidora, através de analises em
diversos
setores
que
possibilitem
a
identificação de pontos de grandes e baixos
potenciais. Identificando assim ações e
benefícios
implementados
no
desenvolvimento das atividades, permitindo a
comparação dos resultados obtidos com os
resultados pretendidos pela empresa.
DA
SITUAÇÃO
Tendo em vista um mercado com uma
elevada exigência por parte dos clientes, em
vários nichos que compõem o mercado, a
logística das empresas reformula o seu
propósito e busca diminuir a distância
existente entre produto e consumidor, de
forma que o produto possa satisfazer o
consumidor quanto as suas expectativas no
que se refere à qualidade do mesmo, bem
como, a distribuição com menor prazo de
entrega, além de proporcionar um menor
custo tanto para a empresa como para o
consumidor.
Para isso é necessário que haja uma
sequência lógica de processos executada
para que não hajam atrasos na realização das
atividades, compartilhamento automático de
informações.
Assim os sistemas de informação passam a
ganhar o mercado por proporcionar claras
vantagens competitivas, tanto no setor
público quanto privado, a maioria das
organizações buscam cada vez mais utilizar
sistemas que integrem os processos internos
proporcionando uma melhor eficiência, com
ações estratégicas, que gerem serviços e
processos otimizados e de qualidade, pois o
foco passou a ser o cliente.
São muitas as formas que os recursos e
serviços de tecnologia podem assumir para
potencializar a capacidade produtiva e
impedir que ela não seja estrangulada pelo
crescimento da demanda.
Contudo faz se necessárias alterações nos
processos e a forma de se relacionar com o
público interno e externo. Otimizar o processo
de armazenagem, expedição e distribuição
facilita o relacionamento interno e externo. A
intenção deste estudo é então verificar o
impacto da utilização dos conceitos e
ferramentas proporcionados por um novo
software de gestão de armazenagem no
desempenho da estratégia focando nos
aspectos da Inteligência Organizacional.
1.4 METODOLOGIA
Essa
pesquisa
tem
caráter
descritivo/explicativo, uma vez que foi
utilizado observação do desenvolvimento de
diversas atividades de armazenagens,
vendas, emissão de pedidos, separação de
pedidos, expedição e distribuição para a
coleta de informações, de maneira a facilitar a
identificação e classificação dos principais
fatores que determinam ou contribuem para a
ocorrência de problemas ocultos durante os
processos, estabelecendo relações entre as
variáveis envolvidas.
Foi utilizado também a forma de pesquisa
caracterizada
como
exploratória
com
documentação indireta e qualitativa onde os
dados, em vez de serem tabulados, de forma
a apresentar um resultado preciso, são
retratados por meio de relatórios, levando-se
em conta aspectos tidos como relevantes,
como as opiniões e comentários do público
envolvido, assim é caracterizada pelo não
emprego da quantificação, deixando de
considerar
prioritariamente
as
formas
estatísticas como base do processo de
análise.
A estruturação da análise teve em primeira
instancia a observação e o levantamento de
informações
que
pudessem
fornecer
subsídios que dessem base a análise. A
informações foram coletadas através de
observações e relatórios elaborados, sendo
analisadas, agrupadas, possibilitando a maior
previsibilidade dos processos.
2. REVISÃO DA LITERATURA
1.3 OBJETIVO GERAL
O Presente artigo busca compreender como
sistemas desenvolvidos de acordo com as
características e necessidades das empresas
2.1
ATACADOS
BRASILEIRAS
E
DISTRIBUIDORAS
Setor atacadista/distribuidor foi introduzido no
Brasil em meados da década de 50, por
Tópicos em Administração - Volume 15
201
portugueses imigrantes que aqui chegaram, e
com o surgimento das grandes cidades
caracterizadas como capitais e o crescimento
do desenvolvimento econômico, surgiu o
comercio atacadista distribuidor, que apesar
de atuarem basicamente na forma de balcão,
já possuíam vendedores cobrindo o interior
do país, realizando negócios e enviando as
mercadorias aos seus clientes por meio de
transporte ferroviário, servindo como agente
intermediário entre as indústrias e varejistas
(SAFATLE & PINHEIRO, 2011).
Nos
últimos
anos
o
comercio
atacadista/distribuidor
vem
crescendo
consideravelmente e demonstrando força na
economia
brasileira.
Este
crescimento
constante proporciona uma barreira de
entrada no mercado para novas e pequenas
empresas, por acarretarem na necessidade
de um alto investimento inicial, devido ao
mercado altamente competitivo pelas grandes
empresas já existente. Por isso a empresa,
para se manter nesse mercado precisa ser
eficiente na administração de materiais,
canais de vendas e distribuição. E para
atender as necessidades do mercado, as
empresas atacadistas/distribuidoras, assim
começaram a adotar novos e modernos
procedimentos na compra e venda de
mercadorias, investindo em tecnologias,
valorizando informações para atender a
evolução do mercado.
Para Kotler & Armstrong (2008) este setor vem
nos últimos anos enfrentando pressões
competitivas cada vez maiores, com uma
clientela cada vez mais exigente, o
surgimento de novas tecnologias e um maior
mix de programas de compras diretas. O fato
deste setor está se tornando cada vez mais
competitivo, o que obriga as empresas a
buscarem o aprimoramento de seus
processos, reduções nos custos logísticos e
estarem atentos as novas tendências
mercadológicas.
Por se tratar de ser um segmento complexo e
de diversos tipos de operações, as empresas
atacadistas/distribuidoras buscam na maioria
das vezes operacionalizar no mercado de
forma integrada, e ter um modal devidamente
estruturado,
buscando
métodos
de
roteirização que sejam mais eficientes, e
atendam da melhor forma possível as
necessidades de seus clientes, de maneira a
proporcionar um diferencial competitivo para
qualquer empresa que deseja destaque e se
manter no mercado.
2.2
LOGÍSTICA
ARMAZENAGEM
E
GESTÃO
DE
Em tempos de acirrada competitividade
empresarial, é notória a importância de se
aumentar o grau de satisfação dos clientes e
consumidores através de um efetivo
gerenciamento da cadeia logística. Nesse
contexto, é difícil imaginar clientes (internos e
externos) satisfeitos, e, consequentemente,
uma redução de custos em decorrência da
otimização de processos, se as empresas não
apresentarem uma eficiente logística interna,
integrada a um também eficiente canal de
suprimentos e distribuição (FREITAS et. al.,
2006).
2.2.1 LOGÍSTICA
Com o decorrer dos anos a logística passou a
ser considerada como uma abordagem
gerencial, que trata de forma sistêmica e
integrada todas as atividades relacionadas
aos fluxos físicos, financeiros e de
informações da organização (BARBOSA et.al.,
2007).
A utilização da logística como fonte de
vantagem competitiva pode ser feita a partir
de sua gestão de forma integrada, passando
a ser vista como um sistema, que
compreende um conjunto de componentes
interligados,
que
atuam
de
maneira
coordenada visando um mesmo objetivo, um
elo de ligação entre o mercado, que une a
manufatura aos dois extremos que são
fornecedores
e
clientes
integrando
estrategicamente a oferta e a procura
(PINHEIRO, 2014).
2.2.2 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E A
LOGÍSTICA
No ambiente atual, o fluxo de informação está
se tornando um componente cada vez mais
importante para a gestão da logística. Neste
âmbito o uso da tecnologia de informação
vem crescendo a cada ano, sendo explorada
conforme o mercado vem demandando. Isso
acarreta no desenvolvimento de novos
sistemas para gerenciar toda uma cadeia ou
apenas uma rede de setores subdivididos
(RODRIGUES et. al., 2011).
Uma tecnologia de informação aplicada ao
sistema logístico oferece apoio desde as
decisões de planejamento estratégico até a
Tópicos em Administração - Volume 15
202
programação e controle das atividades, de
maneira integrada, auxiliando a coordenação
de processos e o monitoramento de
operações. As tecnologias de informações
logísticas funcionam como elos que ligam as
atividades logísticas em um processo
integrado, combinando hardware e software
para medir, controlar e gerenciar as
operações logísticas. Estas operações tanto
ocorrem dentro de uma empresa específica,
bem como ao longo de toda cadeia de
suprimentos (BRANSKI, 2008).
A implementação da TI na gestão da cadeia
de suprimentos auxilia no relacionamento
entre clientes internos, clientes externos e
fornecedores, isso para se melhorar a
qualidade no serviço logístico, gerenciando a
informação para se obter, processar,
gerenciar e transmitir informações, para uma
tomada de decisão mais eficaz (BRANSKI,
2008).
2.2.3 GESTÃO DE ARMAZENAGEM
Para Lopes, Souza & Moraes (2006) a
armazenagem é uma das áreas mais
tradicionais de suporte ao processo logístico,
dando apoio ao desempenho das atividades
primárias, propiciando às empresas maiores
sucessos, mantendo e conquistando clientes
com melhores atendimentos. Essas atividades
envolvem a localização, dimensionamento,
arranjo físico, equipamentos e pessoal
especializado,
controle
de
estoques,
embalagens, manuseio, necessidade de
recursos financeiros e humanos, entre outros,
com o objetivo de atender às necessidades
operacionais, sejam elas de consumo, de
transformação ou de revenda.
A principal funcionalidade dos sistemas de
gestão de armazenagem está voltada para o
aumento do nível de serviço, aumento do
controle dos estoques e a diminuição dos
erros operacionais ao longo do canal
logístico, utilizado assim para melhorar a
eficiência do atacado e manter um inventário
preciso das operações, ou seja, proporcionar
um alto nível de controle, menos suscetível a
falhas,
sendo
mais
dinâmico
no
gerenciamento de informações recebidas de
diversos setores da empresa, capaz de
receber,
estocar,
separar
e
expedir
mercadorias de forma eficaz (SHIAU & LEE,
2010).
2.3 GESTÃO ESTRATÉGICA DE OPERAÇÕES
O termo Gestão Estratégica de operações
consiste em definir de maneira clara,
participativa e com base em um diagnóstico
atual e futuro os ambientes interno e externo,
a direção que se quer dar à organização,
formulando missão, visão e valores, e ainda
programar e controlar os objetivos, as
estratégias e os planos de ações definidos,
ou seja, a atividade de gerenciamento de
recursos escassos e processos que
produzem e entregam bens e serviços,
visando atender à necessidade e/ou aos
desejos de qualidade, tempo e custo de seus
clientes (SILVA & FERNANDES, 2009).
Todas a ações proporcionadas pela gestão
estratégica, influenciam de forma direta e
indireta no desempenho organizacional.
2.4 MEDIDAS DE DESEMPENHO
Atualmente existem várias técnicas utilizadas
para o desenvolvimento de sistemas de
desempenho que visam conceder as
informações referentes ao comportamento da
organização nas tarefas desenvolvidas e
oferecidas, comparando o desempenho atual
com o desempenho esperado, fornecendo
assim subsídios que auxiliem nos processos
de tomadas de decisões, ou seja, são
indicadores capazes de identificar a situação
presente da empresa e compará-la com a
situação planejada, servindo como base de
análise para os gestores (BARBOSA et al.,
2007).
2.5 MÉTODO DE ANÁLISE E SOLUÇÃO DE
PROBLEMAS
2.5.1 CICLO PDCA
O ciclo PDCA busca controle e melhoria dos
processos de maneira continua através da
localização de problemas, análise dos
processos, padronização e estabelecimento
de ações para o controle de tal forma que o
problema não tenha mais probabilidade de
ocorrer (NEVES, 2007).
Agostine (2014) afirma que o PDCA é
composto por quatro fases:
1º Planejamento (Plan): nesta fase é
determinada o métodos de avaliação do
problema
e
como
o
mesmo
será
possivelmente solucionado, para isso, são
definidos os objetivos/metas. Segundo Neves
(2007) algumas ferramentas como Diagrama
Tópicos em Administração - Volume 15
203
de Ishikawa, Gráfico de Pareto, brainstorming
e 5W2H são muito úteis nesta fase, para
fornecer alguns suportes às tomadas de
decisões.
2º Execução (Do): está relacionada à
eficiência dos processos, onde a solução é
implantada. Esta fase é realizada na maioria
das vezes em duas etapas, sendo o
treinamento e execução.
3º Verificação (Check): verifica as
ações executadas, de maneira comparativa
entre
os
resultados
obtidos
e
os
estabelecidos na etapa de planejamento, e
etapa 3 permite que se mensure a eficácia da
solução escolhida, por isso está faze é
considerada como a fase mais importante do
ciclo. A partir dos dados levantados à
organização deve efetuar as análises críticas
das ações escolhidas, promovendo quando
necessário as ações de correção ou melhoria,
na solução adotada ou nos próprios
processos.
4º Ações corretivas (ACT): ações
corretivas ou de melhorias que tenham sido
constatadas como necessárias na fase
anterior (verificação). Envolve a busca por
melhoria contínua até se atingir os padrões
estabelecidos. Aqui surgem as desejadas
inovações que afetam toda a organização.
2.5.2 ANÁLISE SWOT
A matriz SWOT propõe que a empresa
consiga ter uma visão clara e objetiva sobre
quais são suas forças e fraquezas no
ambiente interno, e suas oportunidades e
ameaças no ambiente externo, ou seja, tratase de relacionar as oportunidades e ameaças
presentes no ambiente externo com as forças
e fraquezas mapeadas no ambiente interno
da organização, dessa forma com essa
análise os gerentes conseguem elaborar
estratégias para obter vantagem competitiva
e melhor o desempenho organizacional
(RIBEIRO & FERNANDES, 2007).
A análise SWOT utiliza de quatros elementos
que são divididos em dois grupos de
análises: analise do ambiente interno e
análise do ambiente externo (VIEIRA, 2017).
2.5.2.1 ANÁLISE DO AMBIENTE INTERNO
A análise do ambiente interno é importante,
pois através dessa análise que a empresa
consegue verificar quais são suas forças e
fraquezas, assim podendo obter vantagem
competitiva, utilizando e potencializando suas
forças para aumentar a sua participação de
mercado, elaborando estratégias para
minimizar ou até mesmo eliminar suas
fraquezas (FARIAS, 2005).
Forças (Strenghts): as forças estão
relacionadas a pontos fortes da empresa que
a diferencia das demais, lhe atribuindo
vantagens competitivas, o que diferencia a
organização
de
seus
concorrentes
(DORNELAS, 2015);
Fraquezas (Weakenesses): são as
limitações, desvantagens e deficiências nas
competências internas que dificultam o
desenvolvimento de estratégias, ou seja,
pontos fracos da empresa que a coloca em
posição de desvantagem no mercado se
comparada com outras no mesmo ramo
(Dornelas, 2015).
Dantas & Melo (2008) destacam que o
ambiente interno pode ser controlado pelos
dirigentes da empresa, uma vez que ele é
resultado das estratégias de atuação
definidas pelos próprios membros da
organização.
2.5.2.2 ANÁLISE DO AMBIENTE EXTERNO
O ambiente externo está totalmente fora do
controle da organização. Mas, apesar de não
poder controlá-lo, a empresa deve conhecê-lo
e monitorá-lo com frequência, de forma a
aproveitar as oportunidades e evitar as
ameaças (Dantas & Melo, 2008).
Oportunidades (Opportunities): são
aspectos e condições favoráveis do
produto/serviço da empresa em relação ao
mercado onde está ou irá se inserir. Contudo
é necessária sempre a verificação das
condições e viabilidade da organização para
utilizar tais oportunidades como estratégia
competitiva (CHURCHILL & PETTER, 2010);
Ameaças (Threats): são as forças
externas que podem impactar no sucesso da
empresa, tal como a competição, a
capacidade operacional e o custo de
aumentos dos bens, pois são aspectos
negativos do produto/serviço. Estão ligadas
aos
concorrentes
e
novos
cenários,
desafiando
a
atual
estratégia
do
empreendimento. Para evita-las devem ser
analisados seus graus de possibilidade de
ocorrerem e níveis de gravidade (CHURCHILL
& PETTER, 2010).
Tópicos em Administração - Volume 15
204
Segundo Dantas & Melo (2008) após
estabelecer estas quatro diretrizes da técnica
SWOT,
“é
necessário
cruzar
as
Oportunidades com as Forças e as
Fragilidades com as Ameaças, buscando
estabelecer estratégias que minimizem e
monitorem
os
aspectos
negativos
e
maximizem as potencialidades” de maneira a
possibilitar a análise real da situação da
empresa, e identificar possibilidades de
implementações
que
proporcionem
benefícios.
2.5.3 MATRIZ GUT
Para Martins (2006), matriz SWOT é a prática
comum nas empresas voltadas para o
pensamento estratégico e reforça que sua
prática constante pode trazer uma melhor
visão de negócios, devido aos cenários onde
a empresa atua que estão sempre mudando.
Contudo quanto às questões são analisadas
de forma relativa à priorização, as pessoas
envolvidas em buscar as melhorias nos
processos, muitas vezes não possuem a
capacidade, de discernimento entre quais
providencias devem ser tomadas seguindo
uma reta de prioridades conforme as reais
necessidades e urgências da empresa.
Esta ferramenta responde racionalmente às
questões de o que deve ser feito primeiro e
por onde se deve começar. Para responder a
tais questões a ferramenta GUT leva em
consideração a Gravidade, Urgência e
Tendência do fenômeno. Sendo que
Gravidade é o impacto dos problemas sobre
as coisas, pessoas, resultados, processos ou
organizações e efeitos que surgirão em longo
prazo, caso o problema não seja resolvido;
Urgência é a relação com o tempo disponível
ou necessário para resolver o problema;
Tendência é a avaliação da tendência de
crescimento, redução ou desaparecimento do
problema (BEZERRA et. al., 2012).
O primeiro passo para montar a matriz GUT é
fazer uma lista com os problemas que
acontecem em seu departamento ou
empresa. Em seguida, atribuir uma nota de 1
a 5, para cada problema listado em relação à
sua Gravidade, Urgência e Tendência. As
notas são dadas conforme os seguintes
critérios: a nota maior, 5(cinco), vai para
situações menos favoráveis, ou seja, a pior
situação, e vai-se decrescendo até a nota 1,
que deve ser atribuída para situações mais
favoráveis ou as situações leves, então
ordena-se
os
problemas
de
forma
decrescente, ou seja, da maior nota para a
menor, para então elaborar um plano de
ação. A Figura 1 apresenta uma ilustração
dos critérios possíveis das pontuações em
cada situação (VIEIRA, 2017).
Figura 1: Ilustração dos critérios possíveis das pontuações em matriz GUT
(Aguiar, 2004).
3. ESTUDO DE CASO
3.1 A EMPRESA
A empresa Y iniciou suas atividades em 2008
e atua no ramo Atacadista e Distribuidor de
produtos, atualmente não é líder no segmento
em seu estado mais busca formas para atingir
tais objetivos.
A empresa vem a cada dia consolidando seu
nome no mercado atacadista e distribuidor.
Isto é feito graças à ampla gama de produtos
que trabalha e sua qualidade na venda, no
transporte e entrega de mercadorias. Presta
serviços com agilidade e segurança, e conta
com representantes comerciais autônomos
para algumas regiões do País, equipados
com catálogo de produtos, smartphones e
sistemas
de informação gerando conectividade entre o
“campo” e a empresa.
Tópicos em Administração - Volume 15
205
Em seu portfólio, oferece mais de 700 tipos de
produtos e seus clientes podem realizar
compras fracionadas (unidades), desde que
atinjam uma cota estabelecida de valor
mínimo por pedido, recebendo os pedidos em
até 5 dias dependendo da região. Sua
operação é ancorada por um centro de
distribuição de 550 m². A empresa está
vinculada a diversos fornecedores, além de
contar com uma linha de fabricação própria,
com itens diferenciados e exclusivos, que
formam assim uma linha variada que possa
atender cada vez mais as necessidades de
cada lojista (cliente).
Com o crescimento do mercado e uma
infraestrutura
consolidada,
os
maiores
desafios enfrentados pela empresa Y,
passaram a ser manter suas entregas dentro
do prazo programado, com mínimo de erros
na separação dos pedidos, ter sempre todos
os itens solicitados pelos clientes disponíveis,
à medida que a quantidade de clientes e
número de pedidos foram aumentando, viu-se
a
necessidade
do
levantamento
de
estratégias de integração dos processos e
serviços que pudesse possibilitar a empresa
superar os desafios do crescimento.
Constantemente a empresa vem investido no
aprimoramento de seus sistemas de
informação e buscando otimizar seus
processos com o intuito de qualificar o
desenvolvimento
de
suas
atividades,
buscando crescer e se destacar perante seus
concorrentes proporcionando o diferencial no
mercado.
variedade de itens, de diversas linhas com
apresentações, tamanhos e volumes variados.
O que acarreta numa necessidade de um
centro de distribuição ágil, bem estruturado e
integrado de forma direta e real com toda a
estrutura logística, pois este tipo de empresa
não possui lojas, sendo sua infraestrutura
composta basicamente pelo centro de
distribuição, onde são recebidas as
mercadorias dos fornecedores e da própria
indústria da empresa Y, armazenadas,
separadas e enviadas aos clientes através de
transportadoras, que devido ao grande fluxo
de pedidos e expedições para diversas
regiões do pais tornam complexas as
operações envolvidas e controle da operação.
Neste contexto, através de uma análise a
distribuidora/atacado Y percebeu que em seu
sistema operacional haviam necessidades de
mudanças, pois não se utilizavam padrões na
estocagem dos produtos, uma vez que não
possuíam padrões de layout definidos e fixos
para os produtos, o software de controle de
armazenagem
não
era
devidamente
alimentado
(atualizado)
conforme
as
expedições eram realizadas, o que muitas
vezes
resultavam
em
informações
inadequadas, que atrasavam o andamento
dos pedidos, estendendo o seu tempo de
entrega. A não disponibilidade de todos os
Itens para entrega ocasionava insatisfação e
negativação da empresa perante a alguns
clientes.
3.3 FORMULAÇÃO DA ESTRATÉGIA
3.2 ANÁLISE DO AMBIENTE
A empresa trabalha com venda direta via
catálogo,
que
é
um
sistema
de
comercialização de bens de consumo,
realizado por meio de contato pessoal entre
vendedor e o consumidor, fora da área de
estocagem da empresa, em sua maioria
dentro das lojas do clientes. Devido à grande
complexidade de operações, a atuação da
empresa necessita de investimentos em
vendas, armazenagens e distribuição ou no
investimento em terceirização desses serviços
a operadores e empresas especializadas.
Cabe ressaltar que os pedidos emitidos pelos
revendedores são compostos por uma grande
Como viu-se a necessidade de otimização e
aprimoramento
tanto
nos
fluxos
de
coordenação,
quanto
nos
fluxos
de
operacionais, buscou-se o desenvolvimento e
execução das ferramentas que melhores se
enquadraram nos métodos utilizados pela
empresa, dentre elas a formulação do método
de análise SWOT e a Matriz GUT com o intuito
de possibilitar a identificação das principais
oportunidades e ameaças relacionadas ao
ambiente externo, juntamente com as forças e
fraquezas internas, onde os pontos negativos
ou problemas pudessem ser priorizados
conforme a gravidade, urgência e tendência
respeitando o funcionamento dos processos e
atividades.
Tópicos em Administração - Volume 15
206
Tabela 1: Análise Swot.
Forças
Marca;
Penetração
no
mercado
brasileiro;
Crescimento na aceitação
dos produtos;
Fidelização potencial após
compra dos produtos.
Análise Interna
Análise Externa
Oportunidades
Crescimento do consumo de
produtos que a empresa trabalha;
Capacidade de expansão;
Demanda com crescimento
constante.
Após identificar as ameaças e fraquezas, as
oportunidades e pontos fortes da empresa de
atacado/distribuição Y, gerou-se relatórios
para
análises
de
procedimentos
de
processos.
De acordo com os relatórios descritos após a
análise SWOT, a empresa pode identificar não
conformidades no sistema conforme se
Fraquezas
Falta
de
controle
do
produto
comercializado;
Necessidades
constantes
de
atualização de técnicas de controle de
mercadorias;
Canais de distribuição não otimizados;
Algumas
irregularidades
na
documentação dos clientes;
Pedidos reduzidos devido à falta de
produtos no estoque;
Falta de direção estratégica;
Falta
de
integração
entre
os
processos;
Variedades de produtos limitadas.
Ameaças
Empresas de atacado/distribuição
consolidadas no mercado;
Surgimento de novos concorrentes;
Novas tecnologias de informação.
encontra listado na Tabela 2, sendo que
essas falhas seriam priorizadas de acordo
com o seu grau de importância e o impacto
no desempenho. A partir da matriz GUT podese determinar o grau de importância de
solução das falhas por meio da sua
gravidade, da sua urgência e sua tendência
em agravar outros problemas.
Tabela 2: Matriz GUT.
Não Conformidades(Problemas)
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
Pouco Controle Operacional;
Falta de Monitoramento dos processos;
Sistema de informação antigo;
Foco nas reclamações dos clientes;
Falta no Aprimoramento do setor de
separação e expedição;
Falta no Controle de estoque;
Falta na Atualização de estoque;
Inter-relação das atividades logísticas;
Comunicação interna defeituosa;
Controle de registros não eficaz;
Tempo de pedidos extensos;
Falta de Otimização da emissão e separação
dos pedidos;
Banco de dados não atualizados;
Qualidade no Atendimento ao cliente;
Faltas de produtos para entrega;
Dentre as principais mudanças iniciais
identificadas como sendo de prioridades
estão:
Aprimoramento
operacional;
do
controle
G
U
T
5
5
5
4
5
5
5
1
5
4
5
4
Fator
GxUxT
125
100
125
16
3
4
4
48
3
3
5
5
3
3
5
5
3
5
5
5
5
5
4
4
4
5
75
75
60
100
60
75
4
5
4
80
3
3
4
5
1
5
4
4
5
60
12
100
Redução do tempo pedidos com
redundâncias de informações;
Otimização do percurso da emissão e
separação dos pedidos;
Estocagem otimizada e padronizada;
Tópicos em Administração - Volume 15
207
Acesso atualizado dos bancos de
dados;
Agilidade e eficiência no atendimento
ao cliente;
Informações precisas sobre o tempo
de espera e a situação dos pedidos;
Agilidade nas operações logísticas;
Eliminação de erros e produtos em
falta na entrega ao cliente;
Maior acuracidade dos estoques;
Inter-relações
entre
funções
e
atividades ao longo do canal logístico;
Aprimoramento das expedições.
Essas
mudanças
trariam
benefícios
financeiros com o decorrer de seus
aprimoramentos e acarretariam em mudanças
no desenvolvimento das atividades.
3.4 IMPLEMENTAÇÃO DA ESTRATÉGIA
Identificou a necessidade da centralização
das informações e um fluxo mais rápido e
preciso, com o intuito de promover uma
integração
solida
e
construtiva
dos
processos, desde a compra, produção, o
requerimento dos pedidos emitidos pelos
vendedores até mesmo no processo de
expedição e entrega dos produtos acabados.
Consequentemente aprimorando assim os
relacionamentos com seus clientes, por
reduzir atrasos, aumentar a credibilidade da
empresa, pois os sistemas de informações
atuais segundo a empresa estavam
defasados deixando a desejar em diversos
destes aspectos.
Assim a empresa Y em 2015 desenvolveu e
estruturou um novo software personalizando-o
conforme as suas necessidades e que
atendesse e respeitasse suas condições
operacionais. O novo software deveria realizar
transações internas, armazenar dados e
proporcionar
ampla
facilidade
de
compartilhamento de informações em tempo
real entre os setores que fossem interligados,
propiciando a melhoria nas habilidades de
planejar e programar seus estoques,
armazenagens,
vendas,
expedição
e
distribuição, buscando continuamente formas
de se reduzir os erros que ocorriam
constantemente. O programa foi então
implantado e começou a ser utilizado e os
resultados que o mesmo proporcionou
passaram a ser analisados.
Os funcionários foram acompanhados na
execução e utilização do software durante um
tempo determinado, onde eram sempre
avaliados
segundos
os
desempenhos
referentes a atividades designadas. Conforme
o tempo de utilização observou-se que os
funcionários
iam
aumentando
seu
desempenho e a eficiência individual, se
adaptando e desenvolvendo cada vez melhor
os processos.
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS
Segundo a empresa os primeiros resultados
surgiram rapidamente após a implantação do
software e trouxe um grande número de
benéficos nas funcionalidades, dentre os
quais facilitadores para o lançamento de
ordens de serviços, para o gerenciamento de
estoque tanto de matéria prima para
confecção de alguns produtos como de
produtos
acabados,
na
compra
e
consequentemente na contabilidade. Os
dados e informações da indústria passaram a
ser disponibilizados aos diversos setores do
canal logístico (pontos de rede), agrupando a
demanda real (os pedidos dos clientes) e a
previsão de demanda para cada item
estocado, usando períodos de planejamentos
estabelecidos pela própria empresa.
O novo software auxilia no planejamento, na
execução, no monitoramento e controle das
atividades relativas à consolidação de carga,
venda, pedidos, separação, expedição,
emissão de documentos, entregas e coletas
de produtos (devolução), rastreabilidade da
frota e de produtos, auditoria de fretes, apoio
à negociação, planejamento de rotas e
modais, monitoramento de custos e nível de
serviço, e planejamento e execução de
manutenção da frota.
As
principais
funcionalidades
do
novo
software podem ser classificadas como:
planejamento e execução (apoio operacional
e definição do padrão de serviços –
Logística); monitoramento, controle e apoio à
negociação e auditoria de frete (comercial e
venda) e gestão de contratos (controle dos
serviços
prestados).
O
módulo
de
planejamento e execução, além de focar na
eficiência da atividade da empresa busca
fazer com que suas ações sejam eficazes,
pelo apoio à negociação e acompanhamento
dos contratos e serviços oferecidos aos
clientes. O uso do novo software permitiu
definir a capacidade de realização do serviço,
conforme padrões pré-definidos, e o controle
de sua prestação.
Tópicos em Administração - Volume 15
208
O software possibilitou uma rastreabilidade
das operações, onde todos os recebimentos,
separações e expedições são registrados em
tempo real, podendo ser identificado de qual
local o produto foi retirado, efetuando assim
um histórico das operações realizadas.
A separação dos produtos, passou a ser
através do sistema, que propiciou e estruturou
a armazenagem das mercadorias de forma
aleatória, podendo a área ser dividida em
blocos, níveis, ruas ou colunas, conforme a
importância e a demanda de saída de cada
tipo de produto. Sendo assim, facilmente
identificados no processo de separação.
A utilização da identificação automática ajuda
a controlar o inventário, diminui a utilização de
documentos em papel, reduzindo assim os
custos do processo. O lote é controlado e
classificado
por
série,
permitindo
a
rastreabilidade das transações em referência
aquele número de série. Assim o sistema
interliga
as
informações
de
vários
departamentos relacionados ao depósito e ao
controle de estoques e distribuição.
Qualquer carência identificada no processo, o
programa
informa
ao
planejador
da
necessidade de emitir novas ordens podendo
ser de compra, produção dentre outros. O
programa foi desenvolvido com a capacidade
de lidar e considerar restrições dependendo
do produto, sendo uma delas a de possuir
habilidade de calcular tempos de setup
dependendo da sequência e dos múltiplos
atributos de cada produto. A programação é
flexível, podendo ser alterada a qualquer
momento e ser ajustada as novas condições
de execução dos processos, ou para a
entrada de novos pedidos por exemplo.
Observou-se a redução dos custos de
transporte e melhoria do nível de serviço ao
cliente; maior produtividade no uso dos
ativos; diminuição no tempo de planejamento
da montagem da carga e da programação
das entregas; disponibilidade de dados
precisos de frete, por cliente, frota, viagem;
suporte ao controle de desempenho. Para a
empresa, os principais resultados da
tecnologia são economia nos custos e
aumento da funcionalidade para proporcionar
prazos de entregas verossímeis.
O software também melhorou as condições
do departamento comercial, facilitando o
acompanhamento do andamento das ordens
de pedidos, venda e expedição. E atualmente
essa programação passou a ser considerada
como uma função estratégica na empresa.
Através da pesquisa foi possível identificar o
andamento e a eficiência das atividades
realizadas com a utilização da nova
tecnologia de informação, pode-se ainda
diagnosticar que são necessárias mudanças
nos processos organizacionais para que a
tecnologia implantada traga efeitos positivos
nos ambientes reestruturados.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Grande parte do sucesso empresarial está na
capacidade de se adaptar as mudanças,
reconhecer as ameaças externas, aproveitar
as oportunidades, aprimorar seus processos
de forma constante para se diferenciar
perante o mercado. Assim as empresas
procuram cada vez mais agilizar o fluxo de
materiais, comprimindo o tempo entre
recebimento e a entrega dos pedidos para
reduzir os investimentos em estoque.
Para uma estruturação que traga benefícios
impactantes e efetivos faz se necessárias
ferramentas e técnicas e uma delas é a
análise SWOT, que quando corretamente
empregada, tem como resultado não só a
organização dos dados e informações, mas
também
é
especialmente
eficaz
no
conhecimento dos ambientes e da própria
empresa
para
descobrir
vantagens
competitivas. No presente trabalho, esta
ferramenta de análise teve um papel
fundamental como instrumento de avaliação
para elaboração de um planejamento
estratégico, propiciando muitos benefícios e
vantagens. A forma como foi conduzida e
direcionada a análise SWOT produziu
benefícios diretos e visíveis dentro do
processo de planejamento estratégico de
mercado
da
empresa,
reduzindo
o
desperdício
de
tempo
e
esforços
depreendidos em sua utilização.
Através da matriz GUT, pode-se identificar
qual o problema que deveria ser priorizado, e
qual a real prioridade, o que possibilitou
concentrar esforços iniciais no problema que
realmente
deveria
ser
corrigido,
prioritariamente aos demais. A descrição do
problema foi de fundamental importância,
para possibilitar o conhecimento mais
detalhado do mesmo, ou seja, quais as
perdas, reincidências e quais as dificuldades
implicava a medida que o tempo ia passando
e o mesmo não era corrigido.
Chegando a causa raiz de cada problema,
pode-se desenvolver um plano de ação de
Tópicos em Administração - Volume 15
209
cada causa, de maneira a reduzir ou
solucionar o problema, evitando a geração de
reincidências, e a partir da conclusão destas
ações, chegou-se a um resultado de se
desenvolver um novo software onde o mesmo
apresentou muitos ganhos para a empresa
logo após o período de treinamento dos
funcionários envolvidos.
Desta forma, o novo software implantado se
mostrou bastante apropriado para a empresa,
por auxiliar na comunicação e nas tomadas
de decisões nos mais diversos setores, visto
que estes eram os principais problemas para
o aumento da eficiência e da eficácia nos
REFERÊNCIAS
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turismo, vol. 8 nº1, 2008.
processos. O software auxiliou na melhoria e
veracidade das informações e do processo
decisório, facilitando algumas mudanças
organizacionais que resultaram em ganhos
adicionais de produtividade.
Vale ressaltar ainda que a implantação de
novas estruturas e métodos produtivos sem a
devida análise de contexto pode não
apresentar benefícios, e prejudicar o
gerenciamento da cadeia produtiva da
empresa, assim faz-se necessário o
adequado delineamento de metas, objetivos e
estratégias, bem como o treinamento dos
funcionários.
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Tópicos em Administração - Volume 15
AUTORES
Autores
ALESSANDRA CRISTINA SANTOS AKKARI
Bacharel em Ciência e Tecnologia (2011), pela Universidade Federal do ABC (UFABC);
Engenheira de Produção (2014) premiada pelo Conselho Regional de Engenharia e
Agronomia de São Paulo (CREA-SP) e Doutora em Nanotecnologia e Inovação (2015), no
Laboratório de Prospecção e Caracterização de Bioativos da UFABC. Membro da Associação
Brasileira de Engenharia de Produção - ABEPRO, avaliadora de cursos pelo Guia do
Estudante e consultora na área de Educação e implementação de metodologias ativas de
ensino em cursos de base tecnológica. Colaboradora voluntária no Programa de PósGraduação em Engenharia e Gestão da Inovação, da Universidade Federal do ABC.
Atualmente, é professora pesquisadora do Centro de Ciência e Tecnologia da Universidade
Presbiteriana Mackenzie e membro do núcleo de Empreendedorismo Mackenzie, sendo líder
do Grupo de Pesquisa CNPq - Engenharia de Inovação, Materiais e Sustentabilidade com
interesse nas áreas de Indústria 4.0, Gestão da Digitalização, Inovação e Empreendedorismo
AUTORES
ALYNE MADEIRA KAUTNICK
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento da
Universidade Federal de Santa Catarina, com ênfase na área de Empreendedorismo e
Inovação. Integra o Núcleo de Estudos em Inteligência, Gestão e Tecnologias para Inovação.
Graduanda do curso de Gestão da Tecnologia da Informação do Instituto Federal de Santa
Catarina. Pesquisadora no Instituto Superior de Engenharia do Porto (2017), em Portugal.
Graduada em Língua e Literatura Italiana pela Universidade Federal de Santa Catarina (2014)
e em Língua e Cultura Italiana pela Università per Stranieri di Siena (2012).
ANA PAULA DUARTE
Possui graduação em Bacharelado em Química - Ênfase Tecnológica pela Universidade de
São Paulo - IQSC - USP , Licenciatura em Química pela UNIFRAN, MESTRADO e
DOUTORADO em Ciências com ênfase em Química Analítica pelo Instituto de Química de
São Carlos - IQSC - USP. Leciona no ensino superior há 16 anos e atualmente é docente na
UEMG - Universidade Estadual de Minas Gerais e professora titular no UNIFEG . Tem
experiência nas áreas de Gestão Ambiental, Produção mais Limpa, Química Analítica e
Ambiental, atuando principalmente nos seguintes temas: Química Analítica e Ambiental,
Gestão Ambiental, Produção mais limpa e Ecologia Industrial, Contaminação Química, Metais
Pesados, Resíduos, Sensores Modificados Quimicamente, Eletroanalítica e espectroscopia
atômica.
BERNARDO ALMEIDA MUDJALIEB
MBA em Gerenciamento de Projetos na Universidade Federal Fluminense, Graduado em
Administração de Empresas pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e Life Coach
pela Sociedade Brasileira de Coaching. Tem experiência na área de Consultoria
Organizacional, Treinamentos e Coaching. Publicou artigos científicos na área de
administração mercadológica, consumo e gestão de projetos. Trabalhou em projetos de
apoio a gestão governamental e cooperação técnica internacional como planejamentos
estratégicos, planos de capacitação, elaboração de manuais técnicos, mapeamento de
processos, diagnóstico organizacional, entre outros.
DARCIANE ALVES JUSTINO
Graduada em Engenharia de Produção e Pós Graduada em Engenharia de Segurança do
Trabalho. Gerente de contas e responsável pelo setor comercial e operacional na empresa
Frete Rápido Desenvolvimento de Tecnologia Logística S/A.
DÉBORAH DANIEL FERREIRA COELHO SOARES
Engenheira de Produção, formada pela Universidade Candido Mendes.
DENISE TEREZINHA LISBOA BASSANI
Possui Mestrado Profissionalizante em Sistemas de Gestão Universidade Federal Fluminense
(2006). Atualmente é professora convidada da UFF em Gestão de Projetos, disciplinas de
Gestão do Conhecimento e Estratégias de Operações para em Gerenciamento de Projetos.
Tem experiência na área de Sistemas de Gestão da Qualidade, com ênfase em Gestão do
Conhecimento e Garantia de Controle de Qualidade atuando no segmento do Petróleo e
Petroquímico desde 2001.
AUTORES
ÉDIS MAFRA LAPOLLI
Doutora e mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC) com pós-doutorado em Sistemas de Informação pela Université de Montpellier IIFrance. Engenheira civil. Pesquisadora, Professora e Coordenadora da área de Gestão do
Conhecimento do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
da UFSC. Líder do Grupo de Pesquisa Inovação em Ciência e Tecnologia – CoMovI
(UFSC/CNPq). Consultora Organizacional nas áreas de Gestão de Pessoas, Desenvolvimento
do Potencial Humano e Empreendedorismo. Coordenadora de projetos da Editora Pandion.
Foi diretora da Escola de Novos Empreendedores (ENE) da UFSC. Orientou dezenas de
mestres e doutores. É autora de livros, capítulos de livros, artigos em periódicos
especializados e em anais de eventos nacionais e internacionais.
GENIVAL JARDEL TRAJANO TEIXEIRA
Graduado em Comércio Exterior pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Rio Grande do Norte/IFRN (2017). Concluiu o Curso de Formação em Programação Básica
pelo Instituto Metrópole Digital/UFRN (2014). Participou como pesquisador no Núcleo de
Estudos de Tecnologia e Gestão na Indústria e Serviços (TGIS), no Instituto Federal de
Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), onde executou pesquisas sobre os
determinantes do grau de dependência de fertilizantes para a balança comercial brasileira.
IGOR POLEZI MUNHOZ
Professor de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia de São Paulo (IFSP) - Câmpus São Paulo Pirituba. Mestre em Engenharia
Elétrica pela Universidade Federal do ABC (UFABC - 2014); Engenheiro de Produção pela
UFABC - CREA-SP nº 5069530784 (2014) e Bacharel em Ciência e Tecnologia pela UFABC
(2012). Possui trabalho premiado na área de Dispositivos de Assistência Ventricular e
Coração Artificial e outros dois prêmios acadêmicos durante a graduação. Atuou como
monitor acadêmico por três períodos na disciplina Inovação Tecnológica e por dois anos
como bolsista de iniciação científica, ambos na UFABC. Membro dos grupos de pesquisa:
Engenharia de Inovação, Materiais e Sustentabilidade - Universidade Presbiteriana
Mackenzie Campinas, sob coordenação da Profa. Dra. Alessandra Cristina Santos Akkari;
Cultura, Valores, Desempenho e Governança nas Organizações - PUC-SP, sob a
coordenação da Profa. Dra. Neusa M. B. F. dos Santos. Tem experiência na organização de
eventos nacionais e internacionais e é filiado à ABEPRO (Associação Brasileira de Engenharia
de Produção).
INARA ANTUNES VIEIRA WILLERDING
Doutora e Mestre em Gestão do Conhecimento pela Universidade Federal de Santa Catarina
– UFSC. Graduada em Administração. Professora, pesquisadora e líder do Grupo de
Pesquisa de Inovação em Ciência e Tecnologia – UFSC/CNPq, organizadora de livros, autora
de capítulos de livros e de artigos científicos especializados. Consultora empresarial com
foco no desenvolvimento de pessoas voltado ao Empreendedorismo, Criatividade e Inovação,
bem como na performance das organizações e do Potencial Humano com foco em
resultados.
INGRID JOHNSON
Mestrado em Economia e Gestão Empresarial (2015) e Bacharel em Ciências Econômicas
(1987), ambos pela Universidade Cândido Mendes (UCAM), Rio de Janeiro, Brasil.
Experiência profissional em Planejamento Estratégico e Gestão; Planejamento de RH,
Desenvolvimento de Pessoas e Mudança Organizacional; Gerenciamento de Processos e
Projetos; e Planejamento Financeiro e Finanças. Tendo trabalhado principalmente nas
empresas UTC Overseas Brasil Ltda., Infoglobo Comunicações S.A. e Allied Domecq Ltda..
AUTORES
IURI PINHEIRO SANTOS
Marketista. Bacharel em Marketing pela Universidade Estácio de Sá desde 2014 com CR
8,44. Profissional com atuação na área Administrativa no setor público nas Prefeituras
Municipais de Saquarema e São Pedro da Aldeia; no setor privado, na área de Marketing
como estagiário no Sebrae-RJ, na Fundação Mudes e na Injoy Blend. Atua em causas sociais
para uma sociedade mais igualitária para todos, através de doação de sangue voluntária ao
Hemorio e auxílio às causas do Grupo Francisco de Assis.
JÉSSICA GALDINO DE FREITAS
Doutoranda em Engenharia de Produção pela Universidade Federal Fluminense com
graduação em Administração pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, MBA em
Gestão pela Qualidade Total na Universidade Federal Fluminense e Mestrado em Engenharia
de Produção pela Universidade Federal Fluminense. Especialista Green Belt em Lean Seis
Sigma formada pela Werkema Consultores, com mais de 5 anos de experiência na área de
Administração, com ênfase em Gestão, Engenharia de Produção, Qualidade, Gestão por
processos, Estratégia e Gestão da produção. Possui experiência de trabalho com gestão de
processos em empresas de grande porte como CSN, BRMalls e Lojas Americanas S.A.
JESUS DOMECH MORE
Possui graduação em Thermoenergetic Engineering - Moscow Power Engineering Institute
(1987), mestrado em Ciências - Moscow Power Engineering Institute (1987) e doutorado em
Programa em Engenharia Metalúrgica e de Materiais pela Universidade Federal de Rio de
Janeiro (2004). Atualmente é professor Titular III do IBMEC (Instituto Brasileiro de Mercado de
Capitais), professor Titular I na UNESA (Universidade Estácio de Sá), Pesquisador Visitante
na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pesquisador do Laboratório de Lógica
Fuzzy na UFRJ. Tem experiência na área de Engenharia de Produção, com ênfase em
Aplicação de Técnicas Inteligentes, atuando principalmente nos seguintes temas: conjuntos
fuzzy, melhoria de processos, confiabilidade humana, aspectos cognitivos, erros humanos e
em mineração de dados educacionais. Humanista.
JOÃO CALDEIRA LÉLIS
Pós-graduado em Gestão Organizacional, em Engenharia de Produção e bacharel em
Administração. Mais de 33 anos de experiência atuando em empresas de grande porte nos
segmentos de mineração, fundição e siderurgia. Atuou como professor universitário na área
de administração de recursos materiais e patrimoniais. Atualmente atua como Especialista de
Planejamento e Controle em Projetos de CAPEX. Autor dos livros “Planejamento com Arte e
Técnica”, “Gestão de Projetos” e “Gestão de Materiais – Estoque não é o meu negócio”,
editados pela editora Brasport.
JOÃO LUIZ RISSARDI
Mestrado em Engenharia Civil pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná com período
sanduíche na Akdeniz University (Turquia), na linha de Materiais, Estruturas e Geotecnia.
Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho e MBA em Gestão de Projetos pelo
Centro Universitário Leonardo da Vinci. Graduação em Engenharia Civil pela Universidade
Tecnológica Federal do Paraná com período sanduíche na University of Missouri-Kansas City
(EUA).
AUTORES
JOICELI ROSSONI LAPOLLI
Pós-graduada MBA Executivo em Gestão Comercial - IPOG (2015). Graduada em
Administração com ênfase em Marketing – Faculdades ASSESC - Florianópolis – Conclusão
(2008). Trabalhou Clínica Médica IGM atuou como Gestora de Relacionamento. É aluna de
disciplina isolada no Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGEGC/UFSC). Membro do grupo de Pesquisa
Inovação em Ciência e Tecnologia - CoMovI (UFSC/CNPq) Autora de capítulos de livros e
artigos científicos.
JORGE JULIO LANDEIRO DE VAZ
Auditor de Defesa Nacional – Curso de Defesa Nacional 2010/2011. Instituto de Defesa
Nacional.
1997 – Doutor Europeu – Grau atribuído pela Universidade de Sevilha, com parecer favorável
do Prof. Doutor Rogério Fernandes Ferreira(ISEG/UTL) e do Prof. Doutor Mauricio Baravelli (
Director do Instituto di Economia degli Intermediari Financiari – Univ. de Messina e Prof. da
Univ. Luigi Boconni de Milão). 1997 – Doutor em Ciências Económicas e Empresariais – Univ.
de Sevilha, com equivalência ao grau de Doutor em Gestão e Organização de Empresas
ISEG/UTL. 1995/93 – Programa de Doutoramento em Gestão e Organização de Empresas e
Marketing da Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais da Univ. de Sevilha. 1990 –
Pós – Graduação em Marketing Management. Universidade de Harvard – Boston, USA.
1988 – Mestre em Gestão e Organização de Empresas.- ISEG.- Univ. Técnica de Lisboa.
Humanista.
JOSE CARLOS BEKER
Graduação em Administração / IM Bennett (1980), - Pós Latu / UFF / Estratégia, Pós Latu /
FAP / CIÊNCIA POLITICA, Pós Latu / UFRJ/COPPE / ERP SAP, Pós Strictu/ UFF/ LATEC (2008)
/ Sistemas de Gestão. Experiencia Atual, Professor-Tutor / Professor Unesa / Administrador IFRJ. EXPERIENCIA como Tutor EaD, IFRJ / UNESA. Experiência anterior: Administrador na
Prefeitura da Cidade RJ, Furnas Centrais Elétricas e outras grandes empresas brasileiras, e
no exterior. Atividades nas áreas: Gestão Empresarial, Estratégica, Qualidade, Gestão de
Processos de Negócios, Organização & Métodos, Análise de Sistemas de Informação, TI /
ERP - SAP, Módulo Distribuição e Logística, Orçamento, Auditoria, Gestão Pública, LAI,
Dados Abertos.
KARINA MARIA COSTA BARDI
Possui bacharelado em Engenharia de Produção e Qualidade pelo Centro Universitário da
Fundação Educacional Guaxupé - UNIFEG. Há doze anos trabalha na área de confecções de
moda íntima. Tem experiência com estudo de viabilidades de implantação de ferramentas de
melhorias contínuas e gerenciamento de resíduos sólidos.
LEANDRO COLOMBI RESENDO
Possui graduação em Matemática pela Universidade Federal do Espírito Santo (2002),
mestrado em Informática pela Universidade Federal do Espírito Santo (2004) e doutorado em
engenharia elétrica pela Universidade Federal do Espirito Santo (2008). Tem experiência na
área de Educação Matemática. Trabalhos publicados relacionados aos problemas de
alocação linear e problema quadrático de alocação. A atual área de pesquisa está
relacionada à redes ópticas WDM, problema de traffic grooming e programação linear inteira.
AUTORES
LEANDRO MACIEL NASCIMENTO
Mestrando no Programa de Pós-Graduação Engenharia e Gestão do Conhecimento. Bacharel
em Design (UNIVALI-2011), com especialidade no MBA em Gestão Estratégica do Design
(UNIVALI-2015). É designer e sócio proprietário da Lema Design de Negócios. Pesquisador
em gestão do conhecimento, inovação e design no grupo COMOVI, Grupo de Pesquisa
Inovação em Ciência e Tecnologia - UFSC/CNPq
LEONARDO MANGIA RODRIGUES
Professor do curso de Engenharia de Produção da Universidade Cândido Mendes e da
Escola Superior de Gestão e Tecnologia da Universidade Castelo Branco. Pesquisador do
Laboratório de Sistemas Avançados de Gestão da Produção (SAGE) da COPPE/UFRJ e do
Laboratório de Mobilidade e Logística Sustentável (MOBILOG) da POLI/DEI/UFRJ. Atuação
em Produção Sustentável com foco em Avaliação Social do Ciclo de Vida e Logística Urbana.
Doutorando em Engenharia de Produção, COPPE-UFRJ; Mestre em Engenharia de Produção
pela COPPE-UFRJ, Engenheiro de Produção pelo CEFET-RJ;
LOURENÇO COSTA
Possui Graduação em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal do Espírito Santo,
Especialização e Mestrado em Engenharia de Produção pela Universidade Tecnológica
Federal do Paraná e Doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro. É professor titular do Instituto Federal do Espírito Santo, com experiência de
atuação nas áreas de Expressão Gráfica, Gestão de Processos de Negócio e
Sustentabilidade Corporativa. É autor de diversos livros.
LÚCIA DE FÁTIMA LÚCIO GOMES DA COSTA
Professor of Administration at IFRN. Technology degree in Foreign Trade at Instituto Federal
de Educação Ciência e Tecnologia - IFRN (2006). Bachelor in Administration from
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN (2011). Master in Administration from
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2009). Doctor of Administration from the
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN (2014), works mainly in the following
areas: International Business, Strategic Alliances, Foreign Trade and Business Strategy.
MANUEL DUARTE PINHEIRO
Doutorado em Engenharia do Ambiente pelo Instituto Superior Técnico da Universidade de
Lisboa (2008). Especializações em Avaliações Ambientais (Estudos de Impactes Ambiental e
Estudos de Avaliação Ambiental Estratégica), Análise Ciclo de Vida e Ecodesign, Sistemas de
Gestão Ambiental, Sustentabilidade na Construção, Imobiliário e Turismo. Licenciatura em
Engenharia do Ambiente pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de
Lisboa (1985). Docente no Instituto Superior Técnico desde 1999. Responsável pelo sistema
LiderA de orientação e certificação da sustentabilidade na construção e Consultor na área de
Impactes Ambientais, Sistemas de Gestão Ambiental, Construção Sustentável.
MARCELA DUTRA TENORIO CAMPANY
Graduada em Farmácia pela Unipli. MBA em gestão pela Qualidade Total pelo Latec/UFF.
Mestranda em Metrologia e Qualidade pelo Inmetro
AUTORES
MARIA CHRISTINA BARBOSA DA COSTA
Doutora em Administração (UNR- Argentina), com especializações em Design for
Sustainability (Gaia Education), Internet Technology (COPPE/UFRJ), Gerência de Sistemas
(PUC-RJ) e Computação Gráfica (PUC-RJ) e Arquitetura (UFRJ). Com certificações como
PMP - Project Management Professional (PMI - Project Management Institute) e em GRI –
Global Reporting Initiative. Professora da FGV nos MBAs de Gerenciamento de Projetos,
Gestão Empresarial, de Pessoas, de Empreendedorismo e Inovação e conteudista da FGV
On-line. Autora do Método “Modelo GES de Gestão Estratégica de Sustentabilidade”.
Coautora dos livros “PMO – Escritórios de Projetos, Programas e Portfólio na Prática” da
Brasport e “Gerenciamento de Custos em Projetos” da FGV. Diretora Executiva da By Conn Consultoria e Treinamento em Gerenciamento de Sustentabilidade, Projetos, Programas e
Portfólios, certificada como Empresa B, com projetos em empresas de pequeno, médio e
grande porte. Em 15 anos como voluntária do PMI, foi membro dos boards globais do GAC Global Accreditation Center e do LIAG - Leadership Institute Advisory Group, além de VicePresidente de Comunicação e de Programas no Chapter Rio de Janeiro. Atualmente é
membro da Comissão Brasileira para o Relato Integrado e do Lab60+.
MÔNICA ALMEIDA GAVILAN
Graduada em Administração de Empresas pela Universidade de Brasília - UnB. Especialista
em Gestão de Pessoas pela Universidade Castelo Branco e Mestra em Turismo pela
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.Professora da Universidade Potiguar-UNP e
Professora formadora do curso de Especialização em Gestão Pública - IFRN.
NELSON JOSÉ ROSAMILHA
Possui mais de 25 anos de experiência internacional em projetos de tecnologia de
informação, escritório de projetos e processos, ciclo de desenvolvimento, Serviços
Gerenciados e Projetos de Transformação em diversos segmentos, atuando em cargos de
direção e vice-presidência em empresas como IBM, Amdocs, Politec, INDRA, Ericsson e
Netcracker ,nos últimos 3 anos tem atuado em projetos de transformação digital e de
infraestrutura com foco nos pilares de Sucesso do Cliente, Ciclo de Vendas e aumento de
receitas recorrentes. Sua experiencia em projetos de transformação de processos com foco
em excelência operacional, redução de despesas (, melhoria da qualidade do serviço e
redução nos prazos de entrega dos serviços foram realizados em empresas como Telefonica,
Politec, Indra. Liderou a estruturação toda a área de delivery em linhas de negócio utilizandose de conceitos de ciclo de vendas, ciclo de vida de produto, customer success e práticas
ágeis. É mestre em Administração de Empresas pela PUC-SP, MBA em Gestão de Projetos
pela La Verne University e Amdocs Business School e MBA em Telecomunicações pela FAAP
– Pen State University. Autor dos livros Prince 2 Foundation e Governança Corporativa e
professor de pós-gradução em gerenciamento de projetos no Senac, Unibta e Saint Paul
Escola de Negócios
NEUSA MARIA BASTOS FERNANDES DOS SANTOS
AUTORES
Professora Titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Faculty Research
Program Fellow - McGill University, Canadá (1996) / Pós-Doutorado, Doutorado em
Controladoria e Contabilidade pela USP (1992), Mestrado em Administração pela USP (1984)
e Graduação em Administração de Empresas pela USP (1974). Em 1990 foi Fulbright Scholar
(CIES/USA) na Business School of the University of Michigan, Ann Arbor (UMI). Entre 2003 e
2009 foi bolsista do Governo Canadense pelo Programa International Council of Canadian
Scholars (ICCS/Otawa). Professora Honoris Causa (Rede Paulista de Ensino Superior). Autora
de livros, capítulos, trabalhos completos apresentados em congressos acadêmicos e artigos
publicados em periódicos de âmbitos internacional e nacional. Coordenadora de Programa
de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Ciências Contábeis e Financeiras e Coordenadora de
Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Administração. Consultora adhoc para
agências de fomento (FAPESP, CAPES) e para órgãos públicos educacionais, como
Conselho Estadual da Educação de São Paulo (CEE-SP) e INEP. Presidente do Conselho
Diretor da Associação Brasileira de Editores Científicos (ABEC). Presidente do Conselho
Científico da Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento (SBGC). Membro da Mesa
Diretora Nacional da Associação Brasileira de Estudos Canadenses (ABECAN) e
Coordenadora de Núcleo de Estudos Canadenses / NEC/PUCSP. Membro da Comissão de
Avaliação da Área de Administração e Contabilidade / CAPES. Membro do Júri Prêmio
Franklin Delano Roosevelt / USA.
PAULO CÉSAR LAPOLLI
Doutorando em Engenharia e Gestão do Conhecimento, mestre em Engenharia de Produção
(2003) e bacharel em Ciências da Computação (1984) pela Universidade Federal de Santa
Catarina. Pós-graduado em Processamento de Dados (1991) pela Fundação Universitária da
Região de Joinville. Trabalhou como analista de sistemas sênior nas empresas do grupo
Brasmotor (Consul e Embraco). Atuou como Consultor de Implantação de Sistemas ERP para
a RM Sistemas de Belo Horizonte. Trabalhou como analista de Sistemas para o Banco do
Estado de Santa Catarina em Florianópolis. Atualmente atua como professor do curso de
Análise e Desenvolvimento de Sistemas da Faculdade Senac e Coordenador do curso de
Bacharelado em Sistemas de Informação da FEAN – Faculdade Energia de Administração e
Negócios. Membro do Grupo de Pesquisa Inovação em Ciência e Tecnologia – UFSC/CNPq.
lapolli@gmail.com.
PAULO ROBERTO ROCHA AGUIAR
Engenheiro Mecânico e de Automóveis, Graduado pelo Instituto Militar de Engenharia (IME),
Mestre em Engenharia Mecânica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(PUC-Rio), em 1997 e Doutor em Engenharia Mecânica pela Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro, em 2002. Os interesses de pesquisa incluem Dinâmica dos Corpos
Rígidos, Elásticos, e Plásticos, Estruturas e Projetos Mecânicos, com experiência nos temas:
transporte, veículos automotores, conforto veicular, ergonomia veicular, blindagem, simulação
numérica, elementos finitos, modelagem tridimensional parametrizada e gerenciamento de
projetos.
RAPHAEL ALVES SOARES
Experiência em mais de 4 anos em planejamento e gestão estratégica de projetos no setor de
serviços e eventos com equipes multiculturais, com foco em compartilhamento e
transferência de conhecimento empresarial. Jovem com 25 anos, formado em Engenharia de
Produção pela Universidade Candido Mendes. Trabalhou no Comitê Rio 2016, Grupo Editorial
Record e hoje trabalha no Comitê Olímpico do Brasil.
REGINA RIANELLI DE BRITO
Doutoranda pela Universidade Lusíada de Lisboa, Portugal. Mestre em Desenvolvimento
Empresarial e Novos Negócios com habilitação em Medicamentos Genéricos; UNESA(CAPES
4). Graduação em Comunicação Social pela UFRJ. Professora Universitária na Universidade
Estácio de Sá há 18 anos. Referee/ Parecerista para diversos periódicos. Voluntária em
Homeopatia Social em Comunidades Carentes beneficiárias pela Oficina de Cáritas e Grupo
Condessa Paula com Moradores de Rua, onde doa, graciosamente, as formulas
homeopáticas para os beneficiários há dez anos, elementos estruturais dessa rede que visa à
promoção de uma sociedade mais saudável, fraterna e igualitária para todos.
RICHARDSON SILVEIRA ALMEIDA
AUTORES
Possui graduação em Análise de Sistemas pela Universidade do Estado da Bahia, UNEB
(2008), mestrado Profissional em Gestão de Políticas Públicas e Segurança Social pela
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, UFRB (2018). Ingressou na Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia como Analista de Tecnologia da Informação em 2012 para
atuar no desenvolvimento e manutenção de sistemas de informação. Tem experiência na área
de engenharia de requisitos, análise e projeto orientado a objeto, padrões de projetos e
desenvolvimento de sistemas na plataforma Java. Na pesquisa interessa-se, principalmente,
pelos seguintes temas: governança e gestão de tecnologia da Informação.
RICHELIEL ALBERT RODRIGUES SILVA
Técnico em Agropecuária, Técnico em Comércio Exterior, Engenheiro Florestal e Mestre em
Ciências Florestais (2007-2017) pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN),
Doutorando em Ciências Florestais pela Universidade Estadual do Centro-Oeste
(UNICENTRO). Desenvolve pesquisas de biologia reprodutiva, genética de populações e
manejo de espécies florestais.
RODRIGO MACKSSUEL SILVA DE MELO
Bacharel em Administração Pública pela UFRN e Tecnólogo em Comércio Exterior pelo IFRN
ROQUEMAR DE LIMA BALDAM
Doutorado em Engenharia de Produção. Tem experiência prática na implantação em
organizações Privadas e Públicas, nas áreas de Pesquisa, Processos, Projetos,
Gerenciamento Eletrônico de Informação, Gestão do Conhecimento, Ferramentas para
racionalização do trabalho. Certificado PMP (Project Management Professional), CBPP
(Certified Business Process Professional) e CDIA+ (Certified Document Imaging Architect+).
Gestor Regional da ABPMP Brasil.
SONIA LOPES DA SILVA
Doutora em Administração (UNR-Argentina), Mestre em Preservação do Patrimônio Histórico
(UFRJ), Especialista em Gerenciamento de Projetos (FGV) e Arquitetura (UFRJ). Certificada
como PMP - Project Management Professional (PMI) e como CSM – Certified ScrumMaster
(Scrum Alliance). Professora nos MBAs de Gerenciamento de Projetos, Gestão de Empresas
e Gestão de Escritórios de Arquitetura na FGV, MBAs de Gerenciamento de Projetos no
LabCeo UFF, e conteudista nos cursos da FGV On-line. Autora dos Métodos: Método “Modelo
GES de Gestão Estratégica de Sustentabilidade”, “Modelo TIP de Gerenciamento de Projetos”
e “Modelo TIP de Negociação”, com técnicas Agile e Design Thinking. Coautora do livro
“Negociação” (FGV – Série Cademp). Autora do livro “Métodos Ágeis para arquitetos e
profissionais criativos” (Brasport). Diretora Executiva da By Conn - Consultoria e Treinamento
em Gerenciamento de Sustentabilidade, Mudanças, Projetos, Programas e Portfólios,
certificada como Empresa B, com projetos em empresas de pequeno, médio e grande porte.
TATIANE DE OLIVEIRA AMANCIO
Estudante atualmente no oitavo semestre de Engenharia Civil na Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo. Atuou durante um ano como bolsista de iniciação científica no
desenvolvimento do projeto “Telhado Verde: Um Estudo de Implantação na Faculdade de
Ciências Exatas e Tecnologia da PUC-SP” e ministrou 2 monitorias (desenho técnico e
mecânica dos fluídos). Recebeu o prêmio de Melhor Trabalho de Iniciação Científica –
Engenharia Civil na PUC-SP em Novembro de 2017. Estagiária na SiiLA Brasil desde Outubro
de 2017.
THALMO DE PAIVA COELHO JUNIOR
AUTORES
Professor Titular do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo
(IFES) e docente permanente no Programa de Pós-Graduação em Gestão Pública da
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), é Doutor em Engenharia de Produção pela
COPPE/UFRJ2003 (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro), Mestre em Engenharia Metalúrgica e de Materiais
pela COPPE/ UFRJ 1997 e Especialista em Educação Tecnológica pela UFES´1997
(Universidade Federal do Espírito Santo), bem como Especialista em Didática e Pedagogia
pela UFES´1993. Graduou-se em Engenharia Metalúrgica pela UFF 1988 (Universidade
Federal Fluminense).
VANESSA DO ROCIO NAHHAS SCANDELARI
Possui doutorado em Administração pela Universidade Federal do Paraná, na linha de
Administração de Tecnologia, Qualidade e Competitividade (2011), mestrado em Tecnologia
pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (1998) e graduação em Engenharia Civil
pela Universidade Federal do Paraná (1992). Atualmente é professora efetiva da
Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Tem experiência na área de Engenharia de
Produção com ênfase em Garantia de Controle de Qualidade e Gestão de Projetos. Possui
interesse nas linhas de pesquisa: Gestão da Qualidade, Gestão de Projetos, Gestão de
Tecnologia e Inovação, Inovação e Sustentabilidade.
WARLI ANJOS DE SOUZA
Possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal de Lavras, UFLA
(1981), mestrado em Administração pela Universidade Federal de Lavras, UFLA (1994) e
doutorado em Economia Aplicada pela Universidade de São Paulo, USP (1999). Ingressou na
Universidade Federal da Bahia, UFBA, na Escola de Agronomia, como professor de
Economia em 1997, onde atuou em ensino, pesquisa e extensão até junho de 2005.
Atualmente é professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, UFRB. Tem
experiência em gestão pública, onde atuou como chefe de Departamento de Ciências Sociais
Aplicadas à Agricultura da Escola de Agronomia da UFBA, entre 1999 e 2002; foi também
coordenador do curso de graduação em Agronomia da UFBA no período de 2002 a 2004,
pró-reitor de graduação da UFRB no período de 2006 a 2007 e pró-reitor de planejamento da
UFRB no período de 2007 a 2011. Atuou como membro do Conselho Universitário, do
Conselho Acadêmico e do Conselho de Curadores da UFRB no período de 2006 a 2011.
Atuou como vice-coordenador do Programa Gestão de Políticas Públicas e Segurança Social
(Mestrado Profissional ) da UFRB no ano de 2012 e atualmente é coordenador Programa
Gestão de Políticas Públicas e Segurança Social (Mestrado Profissional ) da UFRB. Tem
experiência e atuação profissional na área de economia e gestão de finanças públicas,
atuando principalmente nos seguintes temas: agronegócio, comercialização, derivativos,
mercados futuros, bolsa de futuros, estratégias de hedging, avaliação e gerenciamento de
projetos e gestão financeira e orçamentária de organizações públicas.
Tópicos em Administração - Volume 15