Deleuze e sua leitura conjunta de Espinosa e de Nietzsche1
Deleuze and his reading of Spinoza and Nietzsche
Autora: Chantal Jaquet2
Tradução por: Gustavo Ruiz da Silva3 e Mariana Slerca4
Resumo: Este artigo afirma que as interpretações de Deleuze acerca de Nietzsche e
Espinosa são influenciadas cada uma por sua leitura do outro filósofo. Essa afirmação é
explorada por meio das principais questões do corpo e da vontade de potência. Embora
a respeito do corpo, a leitura de Espinosa de Deleuze seja matizada por Nietzsche em
sua leitura da vontade de potência, é antes Espinosa que filtra sua leitura de Nietzsche.
Em última análise, pode-se dizer que a maneira de Deleuze de ler Nietzsche em diálogo
com Espinosa obedece a uma ontologia da potência.
Abstract: This paper contends that Deleuze’s interpretations of Nietzsche and Spinoza
are each influenced by his reading of the other philosopher. This contention is explored
through the main issues of the body and the will to power. While concerning the body
Deleuze’s reading of Spinoza is tinted by Nietzsche in his reading of the will of power it
is rather Spinoza thar filters his reading of Nietzsche. Ultimately it can be said that
Deleuze’s way of reading Nietzsche in dialogue with Spinoza obeys an ontology of
potency.
***
Um dos principais promotores da reflexão sobre Nietzsche na França do século
XX foi incontestavelmente Gilles Deleuze, cujo livro Nietzsche e a filosofia – que
apareceu pela primeira vez na PUF em 1962, seguido em 1965 por uma pequena obra
de apresentação deste autor na coleção SUP filósofo – marcou os espíritos e orientou as
investigações de futuras gerações. Como Deleuze lê Nietzsche? De maneira geral, ele
enfatiza a ruptura consumada por Nietzsche com a filosofia tradicional (entendida como
a busca da verdade), na qual foi proposta a instauração de um novo modo de pensar que
Esta é uma tradução inédita do texto: CHANTAL, Jaquet. Deleuze y su lectura conjunta de Spinoza y de
Nietzsche. Instantes y Azares: Escrituras Nietzscheanas, ISSN: 1666-2849, n. 4-5, 2007, p. 47-52.
2
N.T.: Chantal Jaquet é professora de História da Filosofia Moderna na Universidade Paris I
Panthéon-Sorbonne. Autora de diversas obras sobre Espinosa, pesquisando especialmente o afeto, o
desejo, o corpo e o espírito na filosofia clássica
3
Graduado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Graduado
em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP). Mestrando em Filosofia pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP). Membro do “Grupo de Pesquisa Michel Foucault” (CNPq), do “GT
Ética e Filosofia Política” (ANPOF) e do projeto de pesquisa “Imagem, Imaginação e Imagem de Si” da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
4
Graduanda em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Pesquisadora de Iniciação Científica da Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes (FAFICLA)
da mesma instituição.
1
Deleuze e sua leitura conjunta de Espinosa e Nietzsche
substitui uma topologia dos conceitos por uma tipologia de forças ativas ou reativas.
Esta interpretação pretende mostrar, a partir do trágico, como Nietzsche introduz o
sentido na filosofia, os valores e o jogo de forças operando em sua constituição. Isso
conduz Deleuze a concentrar sua atenção em um certo número de temas nietzscheanos,
como a dimensão crítica ligada ao problema do valor dos valores, a reavaliação do
corpo e a afirmação da vontade de potência – temas que têm um papel central no
pensamento do autor de Para além do bem e do mal. Certamente há outros e a análise
deleuziana não poderia reduzir-se a esses três, mas é interessante notar que, a esse
respeito, a grade de leitura do filósofo francês é marcada por reminiscências
espinosanas. Com efeito, é surpreendente constatar que, pelo menos em relação a esses
três pontos, Deleuze lê Nietzsche através de Espinosa, seu autor predileto, e se refere
expressamente a ele sobretudo no que concerne à questão do corpo e da vontade de
potência. Pouco depois de seus trabalhos sobre Nietzsche, Deleuze publica Espinosa e o
problema da expressão em 1968; é claro que sua prática conjunta da leitura dos autores
modifica a interpretação de cada filósofo e instaura um vai e vem entre seus
pensamentos que leva, a depender do caso, a uma “nietzscheanização” de Espinosa ou a
“espinosisação” de Nietzsche. É conveniente, então, interrogar-se sobre a leitura
conjunta de Espinosa e de Nietzsche feita por Deleuze a fim de determinar como orienta
a análise dos textos, não só do filósofo alemão se não também do filósofo holandês.
Deixaremos de lado a crítica dos valores e a substituição das forças substancializadas de
bem e mal pelas forças qualificadas de bom e mau, a respeito das quais Deleuze não
efetua explicitamente um paralelo com Espinosa – e que nos limitamos a indicar como
pista futura para explorar – para nos concentrar nos temas do corpo e da vontade de
potência.
1. O que pode o corpo
Se há um tema que fascina Deleuze, e a toda a geração de seus estudantes e
discípulos, é o da potência do corpo. É claro que, neste ponto, Espinosa e Nietzsche
foram seus mestres e que, para além dos séculos, ele os associa e os engloba em uma
mesma comunidade intelectual. É indubitável que Deleuze aborda a questão do corpo
em Nietzsche por uma perspectiva espinosiana, já que apresenta o filósofo alemão como
remediador da ignorância que Espinosa havia sublinhado com a fórmula que se tornou
famosa: ninguém sabe o que pode um corpo. Aos seus olhos é manifesto que Nietzsche
se inscreve na prolongação da interrogação de Espinosa a respeito da potência do corpo,
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a um ponto tal que encontramos em seus comentários sobre os dois autores introduções
de capítulos formulados de maneira idêntica. Assim, a pergunta “O que é que pode um
corpo?”, que constitui o título do capítulo 14 de Espinosa e o problema da expressão,
consta igualmente como tal no capítulo 2 de Nietzsche e a Filosofia.
Para Deleuze, Nietzsche é o filósofo que reintroduziu a potência do corpo na
filosofia e que se espanta frente ao jogo de forças ativas e reativas operando nele. Todo
corpo, seja químico, biológico, social ou político, se define por uma relação de forças
que mandam e obedecem, e que o constituem. É por isso, diz Deleuze, que o corpo
nietzscheano “aparece como a coisa mais surpreendente, muito mais surpreendente na
realidade do que a consciência e o espírito”5 e cita as duas passagens de A vontade de
poder (II, 173 e II, 226), nas quais o autor se dá conta de seu espanto frente o advento
do corpo, que destronou a alma da admiração e da surpresa de outros tempos.
Ora, essa potência surpreendente do corpo é precisamente o objeto da reflexão
de Espinosa no famoso escólio sobre a Ética III, II no qual afirma “a experiência a
ninguém ensinou, até agora, o que o corpo – exclusivamente pelas leis da natureza (...) –
pode e o que não pode fazer” 6. Depois da leitura do primeiro parágrafo do capítulo II de
Nietzsche e a filosofia, ninguém pode duvidar que Deleuze instaura uma filiação entre
os dois autores, e que vê, na filosofia nietzscheana, a realização da via antes aberta pelo
autor de A Ética, que até então permaneceu apenas como um programa.
Espinosa abriu um caminho novo para as ciências e para a filosofia. Nem
mesmo sabemos o que pode um corpo, dizia ele; falamos da consciência e do
espírito, tagarelamos sobre tudo isso, mas não sabemos de que é capaz um
corpo, quais são suas forças nem o que elas preparam (1). Nietzsche sabe que
chegou a hora: "Estamos na fase em que o consciente se torna modesto (2)."
Chamar a consciência à modéstia necessária, é tomá-la pelo que ela é: um
sintoma, nada mais do que o sintoma de uma transformação mais profunda e
da atividade de forças de uma ordem que não é espiritual. "Talvez se trate
unicamente do corpo em todo desenvolvimento do espírito"7
Diante da leitura dessa passagem, é relevante constatar que, à margem das
aparências, é menos Espinosa que transparece na interpretação de Nietzsche do que
Nietzsche na interpretação de Espinosa. Com efeito, se para Nietzsche o corpo é a
grande razão e se a consciência não é mais do que um sintoma – “de uma transformação
mais profunda e da atividade de forças de uma ordem que não é espiritual”8, tal como
N.T.: DELEUZE, G. Nietzsche e a filosofia Trad. Edmundo Fernandes Dias e Ruth Joffily Dias. Rio de
Janeiro: Editora Rio, 1976, p. 33.
6
N.T.: ESPINOSA, B. Ética. Trad. Tomaz Tadeu. Belo Horizonte: Autêntica Editoria, 2009, p. 102.
7
N.T.: DELEUZE, G. Nietzsche e a filosofia Trad. Edmundo Fernandes Dias e Ruth Joffily Dias. Rio de
Janeiro: Editora Rio, 1976, p. 32.
8
N.T.: Idem.
5
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lembra Deleuze –, o mesmo não ocorre com Espinosa, para quem a consciência, ainda
que segunda, não é jamais secundária e segue sendo muito valiosa. O sábio é, por efeito,
definido como consciente de si, das coisas e de Deus. Para Espinosa, o espírito e o
corpo são uma só e a mesma coisa, expressada de duas maneiras, e a potência de pensar
é paralela à potência de atuar; de maneira que a atividade e as trocas de forças físicas
são sempre, ao mesmo tempo, uma atividade e uma modificação das forças mentais.
Deleuze, de certo, não o ignora, mas, como tende a privilegiar em seu comentário a
análise do segundo gênero de conhecimento por noções comuns – desconsiderando o
terceiro gênero, em que o espírito se torna consciente de si, das coisas e de Deus –,
tende a minimizar o papel da consciência em Espinosa e a interpretar a interrogação
sobre o que pode um corpo como uma desvalorização da consciência relegada a um
segundo plano. É o que revela em parte a formulação de sua interpretação da ignorância
assinalada por Espinosa em relação ao corpo, no primeiro parágrafo do capítulo II de
Nietzsche e a filosofia:
Falamos da consciência e do espírito, tagarelamos sobre tudo isso mas não
sabemos de que é capaz um corpo, quais são suas forças nem o que elas
preparam9.
2. A vontade de potência10
Sem dúvida se produz um movimento inverso de “espinosisação” de Nietzsche
quando Deleuze examina a vontade de potência. De início, o filósofo francês nos
adverte a respeito do contrassenso que consistiria em crer que a vontade de potência
seria um desejo de dominação ou que a vontade esteja em busca da potência como fim.
O que quer dizer "vontade de poder"? Acima de tudo não significa que a
vontade queira o poder, que ela deseje ou busque o poder como um fim, nem
que o poder seja seu móvel11.
Insiste neste ponto em repetidas oportunidades12, apoiando-se na famosa
passagem do "Assim falou Zaratustra" III, intitulada "Dos três males", onde se diz:
N.T.: Idem.
N.T.: Apesar da tradução brasileira do livro de Deleuze se utilizar do termo “vontade de poder”, aqui se
manteve o utilizado pela autora: “vontade de potência”.
11
N.T.: DELEUZE, G. Nietzsche e a filosofia Trad. Edmundo Fernandes Dias e Ruth Joffily Dias. Rio de
Janeiro: Editora Rio, 1976, p. 64.
12
“Vontade de poder não quer dizer que a vontade queira o poder” e “é assim que a vontade de poder é
essencialmente criadora e doadora: ela não aspira, não procura, não deseja, sobretudo não deseja o
poder”. DELEUZE, G. Nietzsche et la philosophie, Paris, PUF, 1962, p. 96-97. Tradução brasileira de
Edmundo Fernandes Dias e Ruth Joffily Dias. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1976, p. 69-70.
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"desejo de dominar, mas quem queria chamar isso de desejo (...)?”13, e será levado a
propor uma interpretação que torne a vontade de potência numa potência na vontade.
Vontade de potência [puissance] deve interpretar-se de modo totalmente
diverso: o poder [puissance] é quem quer na vontade: o poder é o elemento
genético e diferencial na vontade. Por isso a vontade de poder é
essencialmente criadora14.
Em outras palavras, Deleuze traz a potência e sua dimensão doadora e criativa
para o primeiro plano, e apresenta a vontade de alguma forma como segunda, uma vez
que aparece como resultante da potência operando nela. Isso fica evidente quando ele
afirma um pouco mais para frente que “o poder é, na vontade, como ‘a virtude que
dá’”15. Em síntese, opera-se um deslocamento do foco da vontade para a potência e
minimiza-se o caráter voluntário para amplificar a potência de agir operante no homem.
Com isso, ele acentua a reaproximação entre a vontade de potência nietzschiana
e a potência de atuar espinosana.
Espinosa, sabemos, nega a existência de uma
faculdade livre e absoluta de querer e não querer, e reduz a vontade à volição singular
entendida como o simples poder de afirmar e negar contido na ideia. Ele afasta a
vontade do papel central que Descartes lhe atribuiu na teoria do conhecimento e
considera que não é nada fora do entendimento. É por isso que, em suma, ele a define
como o esforço para perseverar no ser, pois isso está relacionado apenas ao espírito.
Assim, então, a vontade se refere principalmente a essa potência de agir que assume a
forma do conatus, do esforço para perseverar no ser, não sendo mais do que uma
modalidade deste. Ao transformar a vontade de potência em potência na vontade,
Deleuze a aproxima do conatus espinosiano e de sua potência, ao mesmo tempo
determinante e determinada em termos de suas relações com o mundo exterior. Já a
potência de agir em Espinosa se caracteriza como um poder de ser afetado por
modificações que, uma a uma, aumentam ou diminuem, ajudam ou se opõem à sua
intensidade.
Segundo Deleuze, o mesmo acontece com a vontade de potência em Nietzsche.
O estudo das manifestações da vontade de potência é reduzido para ele ao exame das
relações de forças que são determinadas pela maneira como elas se afetam e são
afetadas umas pelas outras. "Daí se segue que a vontade de poder se manifesta como um
N.T.: NIETZSCHE, F. “Dos três males”. In: _____. Assim falou Zaratustra. Um livro para todos e para
ninguém. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p. 181, ZA/Za III, “Dos
três males”, II, §13.
14
DELEUZE, G. Nietzsche e a filosofia Trad. Edmundo Fernandes Dias e Ruth Joffily Dias. Rio de
Janeiro: Editora Rio, 1976, p. 69-70.
15
Ibidem, p. 70.
13
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poder de ser afetado"16. É, então, ao mesmo tempo, determinante e determinada,
qualificadora e qualificada. Ao insistir não na potência da vontade, mas na potência na
vontade, Deleuze pode assim inscrever Nietzsche em uma filiação espinosista e torná-lo
o herdeiro de sua teoria da potência afetante e afetada, que se baseia em uma distinção
entre os afetos que são ações e os afetos que são paixões.
É difícil, aqui, negar em Nietzsche uma inspiração espinosista. Espinosa,
numa teoria extremamente profunda, queria que a toda quantidade de força
correspondesse um poder de ser afetado. Quanto maior o número de maneiras
pelas quais um corpo pudesse ser afetado tanto mais força ele teria. Era esse
poder que media a força de um corpo, ou que exprimia seu poder [puissance,
potência]. Por um lado, esse poder não era uma simples possibilidade lógica,
era a cada instante efetuado pelos corpos com os quais estava em relação. Por
outro lado, esse poder não era uma passividade física, só eram passivas as
afecções das quais o corpo considerado não era causa adequada. O mesmo se
dá em Nietzsche: o poder de ser afetado não significa necessariamente
passividade, mas afetividade, sensibilidade, sensação17.
Se sua interpretação for correta, Deleuze considera, então, que Espinosa seria o
primeiro a ter visto que uma força está inextricavelmente ligada a um poder de ser
afetado, e que este é o poder que expressa sua potência. Nietzsche não teria feito mais
do que acompanhá-lo neste ponto. De fato, Deleuze lembra que Nietzsche critica
Espinosa em outras ocasiões e o reprova por sua incapacidade de chegar à ideia de
vontade de potência por causa de uma confusão entre a potência e mera força, de um
lado, e uma concepção puramente reativa de força, do outro.
Em suma, parece que a maneira como Deleuze analisa Nietzsche, e o faz
dialogar com Espinosa, em relação ao corpo e à vontade de potência, obedece a uma
grade de leitura situada sob a égide de uma ontologia da potência. Seja no caso do corpo
ou no caso da vontade, esta potência é uma potência afetiva, expressiva de um
dinamismo do ser que age e padece, comanda e obedece. Sem dúvida, poderíamos
objetar a Deleuze que sua leitura espinosana de Nietzsche desviou o conceito de
vontade para o de potência e enfraqueceu a dimensão do querer. A interpretação
deleuziana apresenta, no entanto, o mérito de torná-la um lugar central devido à
dimensão afetiva da vontade de potência que Nietzsche muitas vezes assume,
apresentando-a não como um ser ou um devir, mas como um "pathos" ou como "a força
afetiva primitiva". Desse ponto de vista, a reaproximação com Espinosa não é forçada,
pois o próprio filósofo alemão a reivindicou em uma carta a Overbeck:
16
17
Ibidem, p. 50.
N.T.: Ibidem, p. 51.
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Deleuze e sua leitura conjunta de Espinosa e Nietzsche
Estou totalmente estupefato, maravilhado! Tenho um precursor, e que
precursor! Eu não conhecia quase nada de Spinoza: que eu seja agora
impelido a ele, foi um “ato instintivo”. Não só sua tendência geral é a mesma
que a minha – fazer do conhecimento o mais potente dos afetos –, como me
reencontro em cinco pontos capitais de sua doutrina; este pensador, o mais
fora da norma e solitário, é-me nesses aspectos justamente o mais próximo:
ele nega a liberdade da vontade; os fins; a ordem moral do mundo; o
não-egoísmo; o mal. Ainda que as divergências sejam também certamente
enormes, elas se devem mais à diferença do tempo, da cultura e da ciência18.
18
N.T.: NIETZSCHE, F. Carta de Nietzsche a Overbeck de 1881. KSB, v. 6, carta 136. Trad. André
Martins. Revista Trágica, Rio de Janeiro, v. 10, n. 2, p. 119-121, 2017.
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