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Cole«√o Avalia«√o Da Aprendizagem

2000

Alcione Luis Pereira Carvalho Roberto Filizola A Avaliação em Geografia nas séries iniciais MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Brasil. Secretaria de Educação Básica UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ Pró-Reitoria de Graduação e Ensino Profissionalizante Centro Interdisciplinar de Formação Continuada de Professores Os textos que compõem estes cursos, não podem ser reproduzidos sem autorização dos editores © Copyright by 2005 - EDITORA/UFPR - SEB/MEC Universidade Federal do Paraná Praça Santos Andrade, 50 - Centro - CEP 80060300 - Curitiba - PR - Brasil Telefone: 55 (41) 3310-2838/Fax: (41) 3310-2759 - email: cinfop@ufpr.br http://www.cinfop.ufpr.br Presidente da República Federativa do Brasil Luis Inácio Lula da Silva Ministro da Educação Fernando Haddad Secretário de Educação Básica Francisco das Chagas Fernandes Diretora do Departamento de Políticas da Educação Infantil e Ensino Fundamental Jeanete Beauchamp Coordenadora Geral de Política de Formação Lydia Bechara Reitor da Universidade Federal do Paraná Carlos Augusto Moreira Júnior Vice-Reitora da Universidade Federal do Paraná Maria Tarcisa Silva Bega Pró-Reitor de Administração da Universidade Federal do Paraná Hamilton Costa Júnior Pró-Reitora de Extensão e Cultura da Universidade Federal do Paraná Rita de Cassia Lopes Pró-Reitor de Graduação da Universidade Federal do Paraná Valdo José Cavallet Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Federal do Paraná Nivaldo Rizzi Pró-Reitor de Planejamento da Universidade Federal do Paraná Zaki Akel Sobrinho Pró-Reitor de Recursos Humanos da Universidade Federal do Paraná Vilson Kachel Diretor da Editora UFPR Luís Gonçales Bueno de Camargo CINFOP Centro Interdisciplinar de Formação Continuada de Professores Coordenador Geral - Valdo José Cavallet Coordenadora Pedagógica - Ettiène Guérios Secretaria Gloria Lucia Perine Jorge Luiz Lipski Nara Angela dos Anjos Diagramação Arvin Milanez Junior - CD-ROM Clodomiro M. do Nascimento Jr Everson Vieira Machado Leonardo Bettinelli - Design - CD-ROM Priscilla Meyer Proença - CD-ROM Rafael Pitarch Forcadell - CD-ROM Equipe Operacional Neusa Rosa Nery de Lima Moro Sandramara S. K. de Paula Soares Silvia Teresa Sparano Reich Revisão Maria Simone Utida dos Santos Amadeu Revisão de Linguagem Cleuza Cecato Professores, autores, pesquisadores, colaboradores Alcione Luis Pereira Carvalho Altair Pivovar Ana Maria Petraitis Liblik Andréa Barbosa Gouveia Angelo Ricardo de Souza Christiane Gioppo Cleusa Maria Fuckner Dilvo Ilvo Ristoff Ettiène Guérios Flávia Dias Ribeiro Gilberto de Castro Gloria Lucia Perine Irapuru Haruo Flórido Jean Carlos Moreno Joana Paulin Romanowski José Chotguis Laura Ceretta Moreira Lílian Anna Wachowicz Lucia Helena Vendrusculo Possari Márcia Helena Mendonça Maria Augusta Bolsanello Maria Julia Fernandes Mariluci Alves Maftum Marina Isabel Mateus de Almeida Mario de Paula Soares Filho Mônica Ribeiro da Silva Onilza Borges Martins Paulo Ross Pura Lúcia Oliver Martins Roberto Filizola Roberto J. Medeiros Jr. Sandramara S. K. de Paula Soares Serlei F. Ranzi Sônia Fátima Schwendler Tania T. B. Zimer Verônica de Azevedo Mazza Vilma M. M. Barra Wanirley Pedroso Guelfi Técnicos em Educação Especial Dinéia Urbanek Jane Sberge Maria Augusta de Oliveira Monica Cecília G. Granke Sueli de Fátima Fernandez Consultoria Pedagógica e Análise dos Materiais Didáticos em EAD Leda Maria Rangearo Fiorentini UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SISTEMA DE BIBLIOTECAS - BIBLIOTECA CENTRAL COORDENAÇÃO DE PROCESSOS TÉCNICOS Carvalho, Alcione Luis Pereira, 1964 A avaliação em geografia nas séries iniciais / Alcione Luis Pereira Carvalho, Roberto Filizola. Universidade Federal do Paraná, Pró-Reitoria de Graduação e Ensino Profissionalizante, Centro Interdisciplinar de Formação Continuada de Professores; Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica. - Curitiba : Ed. da UFPR, 2005. 42p. - (Avaliação da Aprendizagem; 4) ISBN 85-7335-147-0 Inclui bibliografia 1. Geografia (Primeiro grau) - Estudos e ensino. 2. Estudantes - Avaliação. I. Filizola, Roberto. II.Universidade Federal do Paraná. Centro Interdisciplinar de Formação Continuada de Professores. III.Brasil. Secretaria de Educação Básica. IV. Título. CDD 371.27 COLEÇÃO AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM 1 - Fundamentos Teóricos do processo de avaliação na sala de aula 2 - A Avaliação em Língua Portuguesa nas séries iniciais 3 - A Avaliação em História nas séries iniciais 4 - A Avaliação em Geografia nas séries iniciais 5 - A Avaliação em Matemática nas séries iniciais 6 - A Avaliação em Ciências Naturais nas séries iniciais 7 - Educação Especial e Avaliação de Aprendizagem na Escola Regular (caderno 1) 8 - Educação Especial e Avaliação de Aprendizagem na Escola Regular (caderno 2) 9 - A Avaliação e Temática Indígena nas séries iniciais CDs da Coleção Avaliação da Aprendizagem: Educação Especial e Temática Indígena. A Avaliação em História nas séries iniciais CENTRO INTERDISCIPLINAR DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ A Avaliação em Ciências Naturais nas séries iniciais INFOP A Avaliação e Temática Indígena na séries iniciais Vídeo Narrado em Educação Especial A Avaliação em Língua Portuguesa nas séries iniciais OFESSORES NUADA DE PR FORMAÇÃO CONTI DO PARANÁ FEDERAL A Avaliação em Matemática nas séries iniciais ISCIPLINAR DE Educação Especial e Avaliação de Aprendizagem na Escola Regular (caderno 2) ENTRO INTERD Fundamentos Teóricos do Processo de Avaliação na Sala de Aula INFOP RSIDADE UNIVE A Avaliação em Geografia nas séries iniciais Alcione Luis Pereira Carvalho Ana Maria Petraitis Liblik Christiane Gioppo Cleusa Maria Fuckner Ettiène Guérios (org.) Flávia Dias Ribeiro Gilberto de Castro Jean Carlos Moreno Maria Augusta Bolsanello Maria Julia Fernandes Paulo Ross Roberto Filizola Roberto J. Medeiros Jr. Serlei F. Ranzi Tania T. B. Zimer Vilma M. M. Barra Wanirley Pedroso Guelfi Educação Especial e Avaliação de Aprendizagem na Escola Regular (caderno 1) AUTORES E COLABORADORES Mensagem da Coordenação Caro(a) cursista, Ao desejar-lhe boas-vindas, apresentamos a seguir alguns caminhos para a leitura compreensiva deste material, especialmente elaborado para os cursos do CINFOP. Ao se apropriar dos conteúdos dos cursos, você deverá fazê-lo de maneira progressiva, com postura interativa. Você deve proceder à leitura compreensiva dos textos, ou seja, refletindo sobre as possibilidades de aplicação dos conhecimentos adquiridos na sua própria realidade. Aproveite ao máximo esta oportunidade: observe os símbolos e as ilustrações, consulte as fontes complementares indicadas, elabore sínteses e esquemas, realize as atividades propostas. Tão logo seja iniciado o seu estudo, você deve elaborar uma programação pessoal, baseada no tempo disponível. Deve estabelecer uma previsão em relação aos conteúdos a serem estudados, os prazos para realização das atividades e as datas de entrega. A intenção dos cursos do CINFOP é a de que você construa o seu processo de aprendizagem. Porém, sabemos que tal empreendimento não depende somente de esforços individuais, mas da ação coletiva de todos os envolvidos. Contamos com as equipes de produção, de docência, de administração, contamos principalmente com você, pois sabemos que do esforço de todos nós depende o sucesso desta construção. Bom trabalho! A Coordenação GLOSSÁRIO DE SÍMBOLOS O material didático foi elaborado com a preocupação de possibilitar a sua interação com o conteúdo. Para isto utilizamos alguns recursos visuais. Apresentamos a seguir os símbolos utilizados no material e seus significados. Realize a pesquisa, complementando o estudo com as leituras indicadas, para aprofundamento do conteúdo. Realize a compreensão crítica do texto, relacionando a teoria e a prática. Realize as atividades que orientam o acompanhamento do seu próprio processo de aprendizagem. Registre os pontos relevantes, os conceitos-chave, as perguntas, as sugestões e todas as idéias relacionadas ao estudo que achar importantes, em um caderno, bloco de anotações ou arquivo eletrônico. Realize as atividades que fazem a síntese de todo o estudo, verificando as compreensões necessárias ao seu processo de formação. Realize as atividades que consolidam a aprendizagem, aproximando o conhecimento adquirido ao seu cotidiano pessoal e profissional. SUMÁRIO AGRADECIMENTOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 APRESENTAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 UNIDADE 1 POR QUE ENSINAR GEOGRAFIA NAS SÉRIES INICIAIS? . . . . . . . . . . 5 UNIDADE 2 QUE GEOGRAFIA ENSINAR? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 UNIDADE 3 O QUE E COMO AVALIAR EM GEOGRAFIA NAS SÉRIES INICIAIS: PROPONDO CONTEXTOS AVALIATIVOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 3.1 CONTEXTOS AVALIATIVOS NA GEOGRAFIA ESCOLAR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 3.1.1 Avaliando valores e atitudes: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 3.1.2 Avaliando habilidades de pensamento por meio de estímulos cognitivos associados aos procedimentos/estratégias de ensino: . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 3.1.3 Avaliando a vivência conceitual: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 3.1.4 Avaliar a repercussão da Geografia Escolar na vida do aluno e da comunidade30 UNIDADE 4 AVALIANDO... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 Avaliação em Geografia nas Séries Iniciais AGRADECIMENTOS Aos professores das escolas públicas de Curitiba e Região Metropolitana de Curitiba que acolhem os alunos do Curso de Licenciatura em Geografia, e aos alunos dos Cursos de Pedagogia e Pedagogia (EAD)1 da Universidade Federal do Paraná, que proporcionaram e proporcionam possibilidades de aprendizado contínuo através das suas práticas e indagações. ____________________________ 1 Curso com habilitação nas séries iniciais do ensino fundamental na modalidade de educação a distância. 1 Avaliação em Geografia nas Séries Iniciais APRESENTAÇÃO Avaliar a aprendizagem de nossos alunos não é uma ação isolada de outros aspectos do ambiente escolar, tampouco restrita ao uso de um conjunto de instrumentos, como provas e trabalhos escolares. Ao contrário, o que significa dizer que uma série de elementos deve ser considerada, como por exemplo, o projeto político-pedagógico da escola, a perspectiva de melhoria do trabalho escolar, a possibilidade de democratização da Educação, entre outros. Sendo assim, é necessário que tenhamos clareza da relevância do ensino da Geografia para, com uma certa autonomia, identificarmos aquilo que é significativo de ser avaliado. Dominar com um mínimo de segurança a concepção de ensino da área de Geografia nas séries iniciais é, em outras palavras, possuir um certo domínio a respeito do que se aprende (considerando-se os conteúdos, raciocínios, habilidades e atitudes que possibilitem uma leitura geográfica do mundo), de como se aprende (a adequação dos conteúdos e sua abordagem de acordo com a faixa etária dos educandos) e do que se pretende com a Geografia (para que serve ou a finalidade social do aprendizado dos conteúdos ditos geográficos). Diante do que expomos, estaremos desenvolvendo um trabalho que, por meio de situações devidamente contextualizadas e problematizadas, possa trazer esclarecimentos para você, professor(a), tendo em vista a seleção criteriosa dos conteúdos que devem ser objeto de avaliação, bem como os procedimentos avaliativos mais apropriados ao contexto do ensino de Geografia nas séries iniciais. Vejamos, então, as razões de se ensinar Geografia nas séries iniciais. “[...] a alfabetização para a Geografia somente pode significar que existe a possibilidade do espaço geográfico ser lido e, portanto entendido. Pode transformar-se, portanto, a partir disso, em objeto do conhecimento. Mais que isso, o espaço geográfico pode transformar-se em uma janela a mais para possibilitar o desvendamento da realidade pelo aluno.”2 Então “[...] é possível afirmar que a missão, quase sagrada, da Geografia no ensino é a de alfabetizar o aluno na leitura do espaço geográfico, em suas diversas escalas e configurações”.3 ____________________________ 2 PEREIRA, D. Geografia Escolar: identidade e interdisciplinaridade. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEÓGRAFOS, 5. Anais. Curitiba: Associação dos Geógrafos Brasileiros, 1994, v.1, p. 78-79. 3 PEREIRA, D. Geografia Escolar: identidade e interdisciplinaridade, p. 82. 3 Avaliação em Geografia nas Séries Iniciais UNIDADE 1 POR QUE ENSINAR GEOGRAFIA NAS SÉRIES INICIAIS? Objetivos: a) identificar o papel da Geografia Escolar no passado; b) caracterizar a Geografia Escolar que era ensinada no passado e como era ensinada; c) caracterizar a relação professor(a)-alunos(as) no ensino da Geografia Escolar no passado. A chamada Geografia Escolar é ensinada em nosso país há mais de cem anos. A partir desse fato, alguns questionamentos podem ser elaborados: Para que se ensinava Geografia no final do século XIX? Quais eram os conteúdos da disciplina nos séculos XlX e XX? Tais conteúdos guardam alguma semelhança com os atuais? A carga horária trabalhada semanalmente pode ser equiparada a atual? Como era a formação dos professores daqueles tempos? Suas condições de trabalho eram satisfatórias? Com qual material didático os professores ministravam suas aulas? Note que esses questionamentos nos revelam que uma longa e rica história da disciplina Geografia encontra-se relativamente oculta. Melhor dizendo, o ensino de Geografia contém tantas passagens, tantas nuances, que seria no mínimo temerário querer afirmar que sua prática manteve-se pouco alterada ao longo dos anos. Mais temerária ainda é a idéia de que todas as escolas seguem um mesmo currículo, desenvolvem as mesmas atividades, aplicam um mesmo sistema de avaliação. Embora essas constatações pareçam óbvias e evidentes por si mesmas, é importante que consideremos a existência de culturas escolares diferenciadas. Além disso, é necessário admitir que nem sempre houve esse conjunto de elementos e aspectos que dão forma e consistência à chamada Geografia Escolar. Mais do que 5 isso, que tal conjunto nem sempre será o mesmo e que um dia, quiçá, poderá deixar de existir. Você faz parte dessa história a respeito do ensino de Geografia. Que lembranças você guarda de seus tempos de estudante das séries iniciais? Recorda-se dos conteúdos que eram desenvolvidos? De como eram as aulas? E os livros didáticos? De quais recursos o professor ou professora lançava mão? Se possível, estenda esses questionamentos para outras pessoas de seu círculo de convivência (amigos e parentes) e organize um relato dessa(s) experiência(s). Mas, voltemos ao questionamento que serve de título ao nosso texto: por que ensinar Geografia nas séries iniciais? Essa pergunta, aparentemente tão simples, guarda uma imensidão de informações, muitas das quais de extrema importância para a nossa prática pedagógica. Portanto, estamos diante de várias possibilidades de interpretação do questionamento acima levantado. Ou seja, tanto podemos apontar para respostas banais como para respostas de real significado para nosso dia-a-dia escolar. Nossa opção, como não poderia deixar de ser, é por respostas elaboradas a partir de critérios devidamente fundamentados, sem achismos ou vaidades. Sendo assim, partiremos da idéia de que ensinar Geografia é algo da maior seriedade. É como se estivéssemos tratando de um segredo de Estado... Por mais incrível que possa parecer, o papel da Geografia Escolar, 6 Avaliação em Geografia nas Séries Iniciais fosse na Europa ou nos países recém saídos da exploração colonial, caso do Brasil, era o de colaborar na formação de uma identidade nacional. Daí compararmos os saberes da Geografia a um segredo de Estado e seu ensino ser considerado como algo da maior seriedade. É isso mesmo: a Geografia servia para moldar uma nacionalidade. Em outras palavras, e tomando o Brasil como referência, ensinar Geografia após a independência política era contribuir para a formação de uma identidade de fato brasileira. Ou seja, trabalhar para que as pessoas se sentissem pertencentes a um território, a um lugar. Portanto, a escola e as disciplinas nela lecionadas, tinham por função cristalizar esse sentimento de nacionalidade nos corações e mentes dos educandos e de quem mais fosse possível. Nesse sentido, estamos nos referindo ao papel ideológico das disciplinas escolares em geral e da Geografia em particular. Sobre a gênese da Geografia Escolar consulte PEREIRA, R. M. F. A. Da Geografia que se ensina à gênese da Geografia moderna. Florianópolis, Ed. da UFSC, 1989. Para que nossas idéias não se percam em meio a tantas palavras, observe o rol de temas/conteúdos e/ou atividades que se segue: a) copiar o mapa do Brasil em uma folha de papel de seda e decalcá-lo em um caderno de cartografia ou de desenho. Em seguida, colorí-lo igual ao mapa original; b) circular com os alunos pela escola, observando suas instalações e o que as pessoas realizam em seu interior. Feito isso, utilizando sucata, orientar os alunos para que montem uma maquete da escola. Por último, e sob os cuidados do(a) professor(a), construírem o “mapa da escola”; c) memorizar os nomes dos estados e capitais do Brasil, além dos principais rios, picos mais elevados e os tipos de clima do país; d) orientar os educandos para o manuseio de Atlas, almanaques e enciclopédias, tendo em vista a preparação para pesquisas 7 dos mais variados temas; e) tema de capítulo de livro a ser trabalhado com a classe: Brasil, gigante do futuro, nossa terra, nossa pátria; f) tema de capítulo de livro a ser trabalhado com a classe: Brasil, país rico povoado por pobres; g) planejamento do bimestre: As atividades econômicas Aula 1: Tipos de moradias Aula 2: Meios de transporte Aula 3: Meios de comunicação Aula 4: O comércio Aula 5: A indústria... h) planejamento do bimestre: Os espaços de circulação nos lugares onde vivemos Aula 1: O trajeto casa-escola. Aula 2: O ritmo de vida no campo e na cidade. Aula 3: Shoppings, feiras livres, camelódromos: os diversos espaços de consumo e seus usuários. Aula 4: As vias de circulação colocam os lugares em contato. Aula 5: Os transportes e a circulação de pessoas e mercadorias... Da relação acima, quais os itens que podem ser agrupados e relacionados às aulas de Geografia destinadas a cristalizar o nacionalismo patriótico entre os alunos? Na nossa opinião, os itens a, c, e e g são os que enfatizam com maior intensidade a questão do nacionalismo. Você concorda? Desses itens (a, c, e, g), quais permanecem sendo trabalhados nas aulas de Geografia na atualidade? São várias as possibilidades de resposta: todos, nenhum, apenas alguns... Recorde-se de que dissemos que as escolas não seguem, todas elas, um mesmo padrão de currículo ou de prática pedagógica. Mas de uma certeza nós temos: os itens a, c, e e g são familiares... Enfim, é importante que tenhamos consciência que muito do que empreendemos em 8 Avaliação em Geografia nas Séries Iniciais nosso cotidiano escolar tem suas raízes, sua origem, num passado, até certo ponto, remoto, distante. Mais do que isso, que certas práticas que parecem se perpetuar no tempo, têm uma razão de ser. Daí a necessidade de compreendermos o real papel das disciplinas que lecionamos para, com bons argumentos, fazermos a nossa escolha, definirmos a nossa opção. Para tanto, nos parece útil dialogarmos um pouco mais a respeito do que seja e para que serve o ensino da Geografia. Antes, desenvolva as atividades propostas. 1.No seu entender, para que ensinamos Geografia? 2.Aponte semelhanças e diferenças entre as aulas de Geografia que você assistia enquanto criança e as que você ministra para as crianças de hoje. 3.Na sua opinião, a Geografia deve fazer parte do currículo ou deveria dar lugar a mais aulas de Português e Matemática? Por que você pensa assim? Pois bem, retomando o que afirmamos acima, a Geografia Escolar nasceu para auxiliar na formação de uma identidade nacional. Naquela época, século XIX, seu ensino e os materiais didáticos guardavam algumas características muito peculiares. Na realidade essas particularidades são próprias da época. Por exemplo, num mundo em que os meios de comunicação ainda eram muito restritos e pouco se fazia uso da imagem, as aulas expositivas eram um dos poucos recursos capazes de levar os alunos a adquirirem noções dos diferentes espaços do mundo e suas paisagens. Nesse contexto, os textos eram verdadeiros relatos que mais se assemelhavam a fotografias faladas, tal a riqueza de detalhes utilizada na descrição das diversas paisagens. Pode-se dizer, com isso, que toda vez que o professor ou professora fazia a leitura do texto de Geografia, é como se uma história estivesse sendo contada. E, arriscaríamos afirmar, que a meninada ficava ligada na exposição por total interesse e curiosidade por lugares tão desconhecidos e ao mesmo tempo tão exóticos. Imagine o que se passava pela cabeça de uma criança européia toda vez que ouvia 9 uma lição sobre a África ou a Amazônia... Uma outra particularidade dessa Geografia Escolar refere-se à estruturação dos conteúdos, caracterizando o chamado “ensino por gavetinhas”. Estamos falando da seqüência em que os conteúdos eram apresentados, isto é, um a um, de forma linear e estanque. Os primeiros tópicos tratavam da localização geográfica do espaço que estava sendo abordado e dos seus aspectos físicos, tais como o relevo, a vegetação, o clima e a hidrografia. Ainda estavam presentes conteúdos relacionados à Cartografia e Astronomia. Em geral, costuma-se denominar essa parte dos estudos geográficos de Geografia Física Escolar. Vale a pena comentar que o ensino da Geografia Física era acompanhado não apenas dos relatos na forma de fotografias faladas, como também de uma listagem dos “acidentes geográficos”, com muitos nomes e dados como comprimento de rios, altitude dos picos, índices de chuvas, temperatura média do ar, etc. Por outro lado, os estudos de Geografia Física correspondiam ao entendimento do próprio território nacional. Nessa perspectiva, buscava-se levar o educando a identificar-se com o território do país em que vivia, aquilo que alguns pesquisadores, chamam de “o corpo da pátria”. Notem que, diante dessas colocações, o estudo da Geografia Física do país era da maior relevância e não poderia, em hipótese alguma, ficar de fora dos programas e manuais de Geografia. Afinal, o território era como se fosse o “chão” onde tudo se assentava, era o “palco onde os seres humanos desempenhavam suas ações”. Sendo assim, os tópicos que se seguiam após os estudos do território abordavam aspectos humanos e econômicos, como os tipos humanos, as atividades econômicas, entre outros. Essa parte dos estudos geográficos pode ser denominada de Geografia Humana e segue o mesmo padrão da Geografia Física: inventários 10 Avaliação em Geografia nas Séries Iniciais na forma de fotografias faladas, recheados de nomes e dados estatísticos. Diante do que expomos cabe uma nova questão: como o aluno se encontrava inserido nesse contexto? Não há dúvida de que a meninada exercia um papel marcadamente passivo, embora ocupasse o centro das atenções. Afinal, era para o conjunto dos alunos e para quem mais estivesse ao alcance da escola que a formação de uma identidade nacional se prestava. Ser e sentir-se parte integrante da grande pátria Brasil, era esse o espírito a ser cultuado nas disciplinas escolares. No caso da Geografia, o estudo do território, dos tipos humanos, das paisagens, assim como o ato de observar e desenhar os mapas do Brasil e dos lugares da criança eram os meios para se chegar a esse fim. Como bem sabemos, aulas expositivas, marcadas por uma excessiva verbalização e pela carência de recursos visuais ou pela ausência de leitura das imagens (mapas, figuras, fotos,...), acabavam apoiando-se na memorização de fatos e dados. Não foi à toa que se criou a imagem de que, para as aulas de Geografia, basta uma boa memória e pronto. Na esteira dessa imagem a própria disciplina escolar se depreciou, perdendo carga horária para outras disciplinas, além do interesse da parte dos alunos. Evidentemente que tais fatos não se deram de uma hora para outra. Mesmo porque a força da tradição é grande nos meios escolares. De qualquer forma, esse contexto gerou um movimento na direção da superação das insuficiências dessa Geografia patriótica e ideológica. Que situações desencadearam o clima de insatisfação, tanto entre os educadores como entre os educandos? A Geografia Escolar atualmente já se desvencilhou da imagem de disciplina da decoreba? 11 Os alunos demonstram interesse pela disciplina? Afinal, que Geografia ensinar nos dias de hoje? Antes de prosseguirmos dialogando em torno desses questionamentos, realize mais essas atividades. Organize uma síntese a respeito das finalidades do ensino da Geografia na formação dos educandos das escolas brasileiras após a independência política do Brasil. Com suas palavras, organize um breve texto que dê conta de caracterizar o ensino da Geografia Escolar de tempos passados. Consulte, se lhe for possível, em livros didáticos de Geografia antigos. 12 Avaliação em Geografia nas Séries Iniciais UNIDADE 2 QUE GEOGRAFIA ENSINAR? Objetivo: a)Reconhecer a importância do ensino da Geografia nas séries iniciais; b) Identificar o papel da Geografia Escolar no presente; c)Concluir que a Geografia Escolar lida com questões espaciais, com a organização do espaço geográfico; d)Identificar os conceitos centrais da Geografia (espaço, paisagem, lugar, território), percebendo sua presença em atividades e temas da Geografia Escolar. Apesar de a Geografia Escolar encontrar-se devidamente consolidada em nosso país, isto é, fazer parte dos currículos educacionais desde longa data, o exercício de nossa disciplina costuma revelar alguns “problemas”. O que estamos querendo dizer é que, em um número não desprezível de escolas, as aulas de Geografia nas séries iniciais se restringem a alguns poucos “pontos” ou temas, muitos dos quais “passados” para os alunos às vésperas das provas. Nessas ocasiões, as turmas trabalham conteúdos ou temas que já fazem parte da “tradição geográfica”. São exemplos bastante conhecidos: o caminho casa-escola, os pontos cardeais, os limites do município, zona urbana e zona rural, os meios de transporte, as atividades econômicas, entre outros. Não são raros os casos em que os educandos têm que copiar um questionário, do qual serão retiradas as perguntas da prova. Nesse ponto, podemos fazer um breve comentário a respeito da avaliação. Note que, para aulas tão superficiais, em que os conteúdos são desenvolvidos apressadamente, seguindo um planejamento organizado nos moldes tradicionais das gavetinhas, a “prova” ou o “teste” ficam restritos a questões igualmente rasas e apressadas. Além disso, ficam desprovidas de algo que lhes dê um sentido maior, isto é, que possam estar avaliando algo de fato geográfico. Daí termos afirmado anteriormente que, para as aulas de Geografia, basta ter boa memória. Acreditamos ainda que, mesmo que no lugar das provas e testes sejam utilizados trabalhos 13 de pesquisa, aulas de campo ou quaisquer outras atividades, continuaria faltando algo, o processo avaliativo estaria, literalmente incompleto. Vamos conferir? Esse “algo” a que estamos nos referindo diz respeito àquela “clareza” que devemos ter a respeito da Geografia, e que já foi comentada páginas atrás. Ou seja: O que devemos ensinar nas aulas de Geografia hoje em dia? Mais do que isso, para que podem servir os ensinamentos geográficos para a meninada do século XXI? Aquela finalidade da Geografia no passado, de prestar-se para a formação de uma identidade nacional, de fato brasileira, já deixou de ser o seu foco principal. Parece não haver dúvida de que somos brasileiros, de que nos sentimos pertencentes a uma nação, de que nosso “porto seguro” é o Brasil. Isso fica evidente em inúmeras situações, como as competições esportivas (olimpíadas, jogos panamericanos, corridas de Fórmula Um, Copa do Mundo, etc.), aquela rivalidade existente com nossos vizinhos argentinos, ou as reações manifestadas por nossa sociedade quando, em 2003, o governo americano determinou que os brasileiros, para entrarem nos EUA, teriam que ser “fichados”. Lance um olhar ao seu redor, estenda-o para além de sua moradia; faça uma busca em seu bairro, em sua cidade, pelas ruas por onde você circula, pelos lugares de sua vivência. Pense nos problemas existentes nesse espaço que você pensou, nesse espaço que você vive e está permanentemente captando uma enxurrada de sinais, de sentimentos, de cores, de formas, entre muitas outras coisas. Certamente esses problemas podem ser agrupados da seguinte maneira: a)problemas ambientais (como os diferentes tipos de poluição, além da falta de saneamento básico, coleta de lixo, etc.); b)violência urbana (aí incluída a intolerância cultural, fonte do racismo); 14 Avaliação em Geografia nas Séries Iniciais c)exclusão social (tudo aquilo que se relaciona à pobreza e à má distribuição da riqueza). Curiosamente, esses problemas estão presentes, em maior ou menor grau, em todos os recantos de nosso país e em boa parte de nosso planeta. Basta folhearmos um jornal de maior circulação ou assistirmos a um noticiário pela TV e nos depararemos com matérias bastante pesadas. Afinal, o que esses problemas todos têm a ver com as aulas de Geografia? Vejamos. Em nosso país, as desigualdades sociais são tão grandes, que se chegou a dizer que o Brasil poderia ser “apelidado” de Belíndia; de um lado, é rico e moderno como a Bélgica e, de outro, pobre e problemático como a Índia. Fica a questão: Como se sentir cidadão em um país tão desigual? Isso é possível? Portanto, um primeiro papel da Geografia Escolar pode ser apresentado, o de contribuir para a construção da cidadania, mas de uma cidadania ativa, relacionada aos problemas apontados acima. Como? Acompanhe-nos. No nosso entender, trabalhar a favor de uma cidadania ativa, em prol de uma real inclusão social deve ser tarefa de todas as disciplinas escolares, deve ser a finalidade da escola pública em nosso país. Sendo assim, temos que esclarecer como a disciplina de Geografia pode dar conta desse princípio. Chamaríamos a atenção para os conteúdos e seu encaminhamento nas aulas. 15 Via de regra, os conteúdos são selecionados tendo em vista o espaço que se irá trabalhar. Por exemplo, na 1ª série é a moradia, a escola e seus arredores; na 2ª, o bairro, e assim por diante. Se por um lado esse procedimento é uma tentativa de respeitar o grau de desenvolvimento psicopedagógico dos alunos, de outro desconsidera que o espaço geográfico é contínuo. Mais do que isso, não leva em conta que o interesse que o aluno possui pelo espaço é muito relativo, não é linear. Isso significa dizer que a meninada da 1ª série pode, quando menos se espera, voltar suas atenções para um evento que ocorra a milhares de quilômetros, situado literalmente do outro lado do mundo. Ademais, o seu ou o nosso lugar está, com todas as palavras, no mundo. Essa constatação óbvia ganha ainda mais efeito em razão do maior uso dos meios de comunicação e da circulação mais ágil da informação, sobretudo entre as comunidades que têm como acessar a internet. Conclusão: o mundo está menor, de tal forma que, muito do que acontece por aí afora, logo está chegando aos nossos olhos e ouvidos. Mais do que isso, afetando, de uma forma ou de outra, nosso dia-a-dia. Como podemos perceber, a Geografia nos possibilita compreender o mundo a partir do estudo do nosso lugar, dos nossos espaços de vivência. Aliás, essa é uma particularidade da nossa disciplina, o fato de podermos transitar de um nível espacial para outro, sem nenhuma cerimônia. Imagine uma aula acontecendo numa escola no Rio Grande do Sul, cujo tema seja Problemas ambientais dos lugares onde vivo. A criançada começa a tagarelar sobre a carência de áreas verdes no município e, de repente, um certo Joãozinho comenta que viu na TV uma notícia sobre queimada na Amazônia. Pronto. O salto foi de mais de 4 mil quilômetros, ultrapassando as fronteiras do município, do estado, da região, indo direto para o mundo porque a Floresta Amazônica é uma questão ambiental global, isto é, diz respeito a toda a humanidade. 16 Avaliação em Geografia nas Séries Iniciais Reconhece a relevância do ensino da Geografia? Pois é, estudar/ensinar/aprender/fazer Geografia é um pouco disso e muitas coisas mais. Porém, uma coisa é certa: a Geografia lida com questões espaciais, mais precisamente, com a organização do espaço geográfico. O espaço geográfico abarca toda a superfície de nosso planeta. Sendo assim, o espaço geográfico pode ser entendido como nossa morada. É nele, portanto, que a humanidade realiza suas ações para assegurar sua existência. Na realidade, sempre que nossa espécie fez qualquer tipo de intervenção na superfície terrestre, por exemplo, derrubar árvores com a intenção de plantar alimentos, migrar para outro lugar, estava transformando-a em espaço geográfico. Noutras palavras, o ser humano criava ou produzia seu espaço, o espaço geográfico. Daí podermos dizer que somos produtores de espaço. A noção de superfície terrestre abrange mais do que o chão que pisamos. Ela contêm a atmosfera, a hidrosfera, a litosfera, a biosfera e a antroposfera. Lembre que todas essas “esferas” interagem e se interpenetram. A antroposfera é o resultado da ação da sociedade atuando nas outras “esferas”. Até aí talvez as novidades sejam relativamente pequenas. O que gostaríamos de chamar a atenção é que, à medida que os grupos humanos alteram a natureza, o espaço geográfico que é produzido adquire uma organização. O que significa dizer que o espaço é organizado? A princípio, podemos dizer que organizar o espaço é o mesmo que arrumar o espaço. Mas, arrumar para que ou para quem? Na realidade, os diversos grupos humanos, as diferentes sociedades humanas, ao longo dos tempos, arrumam o espaço, organizam-no para se perpetuarem, para continuarem existindo como são. Pense no caso da nossa sociedade, a sociedade capitalista. O que é necessário que ocorra para que ela permaneça se reproduzindo e se perpetuando? É necessário que a principal meta da classe dirigente seja atingida, 17 isto é, que os lucros de seus empreendimentos não cessem. Acontece que, para os lucros se efetivarem, o comércio tem que se realizar. Afinal, de nada adianta para um industrial ou um fazendeiro produzir centenas de mercadorias, toneladas de cereais, caso a produção não chegue aos consumidores. Nesse contexto, as estradas devem interligar as cidades para que os bens produzidos circulem e, finalmente, sejam comercializados nas lojas, nas feiras, nos atacadões entre outros estabelecimentos. Enfim, quando nos referimos à organização (ou “arrumação”) do espaço estamos tratando dos interesses e necessidades dos grupos humanos que vivem nesse espaço. Portanto, tratamos dos interesses e necessidades não somente da classe dominante, como também de outros grupos, aí incluídos os Povos da Floresta Amazônica (ribeirinhos, caboclos, indígenas, etc.), dos povos das periferias urbanas, dos moradores dos bairros de classe média, dos pequenos proprietários rurais, dos “sem-nada” (sem-terra, sem-teto, ...). No processo de produção e organização do espaço, conflitos de interesses estão presentes, impactos ambientais podem ser gerados, assim como transformações culturais podem ser desencadeadas. Isso nos leva a abordar as chamadas manifestações do espaço geográfico: a paisagem, o território, o lugar, entre outras. Tais manifestações estão todas presentes no espaço e podem ser comparadas a diversas camadas sobrepostas uma a uma. Vejamos como identificá-las, tomando como ponto de partida a paisagem. Para aprofundar o conceito de organização do espaço consulte CORRÊA, R. L. Região e organização espacial. São Paulo: Ática, 1991. A paisagem é a parte visível do espaço, ou melhor, perceptível. É o mesmo que dizer que essa parcela do espaço é rica em formas e cores, mas também em cheiros e sons. Uma aula pelos arredores da escola ou pela principal rua comercial da cidade é rica em exemplos de situações nos quais os educandos 18 Avaliação em Geografia nas Séries Iniciais são orientados a perceberem o espaço através de sua paisagem. É nessas oportunidades que costumam ser trabalhadas uma série de suas características, desde os tipos de edificações até as atividades nelas desenvolvidas, passando por seu estado de conservação e pela qualidade de vida usufruída pelas pessoas que nelas vivem ou trabalham. Cumpre lembrar que as paisagens são construídas pelas pessoas, portanto, guardam uma história que necessita ser desvelada. Suponha que você destaque uma outra “camada” do espaço geográfico. Vejamos o que ela nos reserva. Você já reparou nas inúmeras pessoas que possuem uma forte ligação afetiva diante de determinadas parcelas do espaço? São crianças que fazem da rua, da praça, de uma árvore ou de uma escadaria, lugares muito especiais para brincar, cantar e até mesmo para lamentar-se de algo desagradável que acontece em casa ou na escola. São também os mais idosos, que se reúnem numa praça, ou nas calçadas defronte a um bar para relembrarem acontecimentos e contarem “causos”. Há ainda aqueles espaços onde se reúnem casais de namorados ou grupos de adolescentes carregados de fortes emoções. Enfim, estamos nos referindo ao conceito de lugar, isto é, às parcelas do espaço com as quais nós não apenas estabelecemos uma relação afetiva como também construímos uma identidade. São, portanto, os nosso espaços de vivência, os espaços que nós vivemos, sentimos, percebemos, sonhamos... Por essa razão, os espaços de vivência de nossos alunos são importantes referências para a seleção dos conteúdos e para a definição de temas a serem desenvolvidas nas aulas de Geografia. Uma outra “camada” do espaço geográfico é o território, que é definido por relações de poder. Territórios como o do país, do estado e do município são mais facilmente reconhecidos, até porque se encontram devidamente mapeados. Contudo, existem territórios 19 que não resultam de ações dos governos. Estamos nos referindo àquelas parcelas do espaço que são apropriadas e controladas por determinados grupos sociais, como por exemplo, comunidades de seringueiros na Amazônia ou de ocupantes de terras nas cidades e no campo. O mais importante a ressaltar nessa outra forma de relação das pessoas com o seu espaço é que elas buscam, por si mesmas, criar estratégias e práticas para gerenciar o território, o seu espaço. Com um detalhe: com ou sem a participação do governo. Observem que o domínio e a apropriação de parcelas do espaço resulta de ações encaminhadas por grupos sociais em parcerias, muitas vezes, com organizações não governamentais e igrejas. Possui, portanto, um certo grau de organização, revelando uma importante face dos movimentos sociais, que é a busca por uma vida com mais qualidade, ou, em outras palavras, um esforço de inclusão social e de exercício da cidadania. Sendo assim, seu estudo é de uma riqueza incalculável no ensino da Geografia. O livro do professor Milton Santos Metamorfoses do Espaço Habitado4, é uma fonte para que você aprofunde os conceitos de paisagem, lugar e território. Consulte também Paisagens, Lugares e espaços: a Geografia na educação básica.5 Organize uma síntese a respeito da importância do ensino da Geografia na construção de uma cidadania ativa. Construa um breve texto para apresentar possibilidades de trabalho pedagógico com os conceitos de lugar, paisagem, território e espaço geográfico. Por exemplo, como, a partir do trabalho com o itinerário casa-escola, o conceito de lugar e paisagem são abordados ou, a partir do estudo da ocupação de uma área da cidade onde ____________________________ SANTOS, M. Metamorfoses do espaço habitado. São Paulo: Hucitec, 1988. PEREIRA, D. Paisagens, lugares e espaços: a Geografia na educação básica. Boletim Paulista de Geografia, nº 79, 2003, p. 09-21. 4 5 20 Avaliação em Geografia nas Séries Iniciais seus alunos vivem, desenvolver a noção de território. Comentamos que a paisagem, o lugar e o território são como que camadas do espaço geográfico. Identificá-las seria uma das finalidades a serem atingidas ao longo da vida escolar dos nossos alunos. Em outras palavras, esse trabalho de identificação do espaço é uma forma de desenvolver o raciocínio geográfico, portanto, deve ser uma preocupação central nas aulas de Geografia e uma importante referência no processo avaliativo. Nesse contexto, convém comentar que o trabalho pedagógico no âmbito da Geografia envolve, ainda, a localização e a orientação espaciais, bem como a chamada cartografia escolar (como lidar com mapas nas séries iniciais). Fica evidente, mais uma vez, que o ensino da Geografia é vasto e da máxima importância para a formação dos alunos. Sendo assim, é necessário salientar que o raciocínio geográfico e a consciência espacial são construídos no decorrer das diversas séries, o que significa dizer que não se encontram prontos e acabados em nossos alunos, tampouco que possa se concretizar a partir de atividades isoladas e enfoques estanques. “A chave da leitura geográfica é a escala. [ ... ] A escala está construída sobre três categorias básicas: localização, distribuição e unidade. Amarração que reafirma a linguagem cartográfica como forma de fala e representação do mundo da Geografia. A localização pontualiza os lugares. A distribuição expõe a rede dos pontos. A unidade integra a rede da distribuição e 21 aponta para a lógica do seu conteúdo. O conjunto dessas três categorias basilares do espaço geográfico aparece ao olhos visíveis da paisagem na forma do arranjo espacial [ ... ].” (MOREIRA, 1996, p. 63-64)6. Gostaríamos de frisar, ainda, que espaço, paisagem, lugar e território são conceitos centrais da Geografia. Consequentemente possibilitam que, a partir deles, selecionemos temas e conteúdos para nossas aulas. Tão importante quanto isso, o uso desses conceitos como referência para nossa prática pode assegurar que os temas tenham, de fato, uma abordagem, uma cara, um jeitão de Geografia. E não de Ciência ou História. Como veremos no texto a seguir, esse fato é da máxima importância na avaliação da aprendizagem no ensino de Geografia. Você percebeu que a Geografia acontece de forma intensa no nosso cotidiano. Reflita acerca de como os conceitos de lugar, paisagem, território acontecem na sua vida e dos seus alunos. Anote suas idéias. Existem vários livros e artigos que versam sobre a Geografia Escolar e/ou a Cartografia Escolar. Eles ajudaram na tarefa de buscar subsídios para fazer um bom processo avaliativo. Veja as referências. ____________________________ MOREIRA, R. A arquitetura do conhecimento geográfico. In: ENCONTRO NACIONAL DE GEÓGRAFOS, Caderno de Resumos, Mesas Redondas, 10. Anais Recife: Associação dos Geógrafos Brasileiros, 1996. p. 63. 6 22 Avaliação em Geografia nas Séries Iniciais UNIDADE 3 O QUE E COMO AVALIAR EM GEOGRAFIA NAS SÉRIES INICIAIS: PROPONDO CONTEXTOS AVALIATIVOS Objetivos: a) reconhecer a importância de avaliar segundo contextos avaliativos; b) perceber que as atividades realizadas em sala de aula e seu acompanhamento são formas avaliativas. Nas discussões que fizemos nas unidades anteriores enfatizamos a importância da Geografia Escolar. Você deve ter percebido como a Geografia está próxima da sua vida e da vida dos seus alunos. Agora vamos conversar sobre algumas sugestões de atividades avaliativas. Estamos sugerindo que você utilize o que vamos chamar de contextos avaliativos. Qual o significado de contextos avaliativos? Sua utilização é difícil? Ao serem adotados, o professor ou professora deverá deixar de usar as provas? Avaliar segundo contextos avaliativos significa que a avaliação está no contexto, ou melhor, no dia-a-dia, na vida do aluno, mas também do professor, na comunidade próxima à escola. Em outras palavras, a avaliação está presente em todos os momentos da nossa existência. Vale a pena comentar que a avaliação é um fato moral, ou seja, estamos dizendo que as pessoas ou os nossos alunos são bons ou maus ou que correspondem ou não a determinadas exigências de comportamento (preferencialmente aquelas ligadas ao desempenho escolar). O aluno aprendeu os conteúdos de Geografia? É comportado? Sabe ler, interpretar e escrever mapas? Por outro lado, queremos dizer que o seu aluno pode ser 23 avaliado através de diferentes processos. Isso não deve representar que a utilização das famosas provas ou testes deve ser completamente descartada. Como sabemos, algumas escolas mantêm obrigatoriamente as provas individuais dissertativas ou de múltipla escolha (as famosas provas de “x”), e o argumento utilizado para a manutenção deste processo que, infelizmente, por vezes é o único processo avaliativo, é de que o aluno precisa estar preparado para processos seletivos (vestibulares, concursos, etc.). Portanto, estamos propondo que você possa avaliar o seu aluno para além, e também, se assim desejar, com as formas tradicionais. Sendo assim, a avaliação pode ser em grupo ou com a ajuda da comunidade, por meio de outros livros que não o utilizado na sala, por jornais, com consultas na internet, através de entrevistas e até mesmo escrevendo uma poesia, entre outros tantos formatos, que mencionaremos adiante. Você deve estar fazendo algumas indagações: o tema do curso é a avaliação ou a metodologia do ensino da Geografia? Sem surpresas! Estamos propondo a avaliação entrelaçada com a metodologia do ensino de Geografia. Até porque, no nosso entender, avaliar é estabelecer objetivos e viabilizá-los metodologicamente. As atividades e o acompanhamento das atividades são formas avaliativas. Cabe ao professor e/ou ao corpo pedagógico da escola definir as estratégias de acompanhamento. Isto pode ocorrer de vários modos, desde a simples atribuição de notas, conceitos ou objetivos até a elaboração de fichas de acompanhamento. É importante salientar que o contexto avaliativo fará com que a avaliação não seja um processo isolado em relação aos conteúdos de Geografia, mas permita uma aproximação entre os diferentes conteúdos dessa disciplina e de outros conteúdos escolares. 24 Avaliação em Geografia nas Séries Iniciais Imagine uma avaliação em que o aluno, inclusive aquele com necessidades especiais, possa fazer uso de diferentes formas de expressar a sua experiência na Escola e com o que acontece fora dela. Para entender a relação entre ensino de Geografia e Educação Especial, particularmente sobre habilidades tatéis leitura e interpretação de mapas, consulte: VASCONCELLOS, R. A Cartografia Tátil e o Deficiente Visual: uma avaliação das etapas de produção e uso do mapa - Tese Doutorado. vol. I. FFLCH/USP. São Paulo. 1993. P.181. SHERMAN, J. C. Necessidades e recursos em mapas para cegos - Lentes. vol. XI, jan. a mar. no 32, São Paulo. 1967. pág. 24-31. SHEPHERD, O. Confecção de mapas para estudantes cegos - Lentes. vol. XII, out. a dez. no 39, São Paulo. 1968. pág. 06-12. MENEGUETE, A. A. C. e EUGÊNIO, A. S. Construção de Material Didático Tátil. Revista Geografia e Ensino, v. 6, no 1, pg. 58-60 Belo Horizonte, 1997. A escrita pode se dar pela poesia, na letra de uma música, num roteiro para uma dramatização (apresentação teatralizada), na escrita (desenho) dos trajetos e lugares ou num texto ficcional. Pela fala, declama uma poesia, canta uma música ou narra um programa da rádio escolar no intervalo entre as aulas. Com a expressão corporal pode fazer a mímica (linguagem dos gestos) ou o jogo. E assim por diante. Contudo, lembre-se que a avaliação na Geografia Escolar envolve, de forma predominante, o acompanhamento do desenvolvimento de ações e manifestações, que digam respeito aos processos que conduzem à apropriação das noções que efetivarão a leitura do 25 espaço geográfico. Passando então a ser um componente na apreciação/avaliação que a criança faz e fará do mundo. Avaliar, como já dissemos, é estabelecer objetivos e viabilizálos metodologicamente. Portanto, o professor deve ter clareza acerca dos objetivos a serem alcançados pelo seu aluno e, se for possível e desejável, na comunidade. Além disso, não se pode perder de vista a importância social do ensino da Geografia. Acreditamos que você, a essa altura, já deve estar entendendo o significado do contexto avaliativo. Arriscaríamos até a dizer que o seu cotidiano de professor, o dia-a-dia de seu aluno e a vida da comunidade em que a escola está inserida, poderão ficar mais agradáveis e mesmo mais divertidos. Faça uma busca em sua escola para coletar materiais para o ensino de Geografia. Mapas podem ser encontrados em atlas (novos e antigos) e enciclopédias, almanaques e em livros didáticos. Quem sabe você não encontra um bom número de atlas na biblioteca ou em outra parte da escola? Não importa que eles sejam diferentes. Certamente você usará de criatividade para aproveitá-los em sala de aula ou na sala ambiente de Geografia. Em cima e dentro de armários ou depósitos você poderá encontrar maquetes, mapas de parede além de outros mapas. Não perca de vista que você pode organizar um acervo de materiais visuais, junto com seus alunos e a comunidade, coletando, classificando e arquivando mapas, mapas turísticos, folhetos (com plantas e figuras), figuras e fotos de revistas e jornais, cartões postais, selos, fotografias (inclusive antigas) etc. 26 Avaliação em Geografia nas Séries Iniciais Quando a comunidade escolar acumula documentos históricos, geográficos e artísticos, pode tomar as rédeas do tempo (passado e presente) e do espaço (passado e presente) e planejar o seu destino. 3.1 CONTEXTOS AVALIATIVOS NA GEOGRAFIA ESCOLAR A seguir listamos algumas sugestões das possibilidades em que o professor e os alunos podem estabelecer contextos avaliativos para a Geografia Escolar. Classificamos essas possibilidades em: a) avaliando valores e atitudes; b) avaliando habilidades de pensamento por meio de estímulos cognitivos associados aos procedimentos de ensino; c) avaliando a vivência conceitual; d) avaliando a repercussão da Geografia Escolar na vida do aluno e da comunidade; e) sugerindo formas comunicativas (linguagens) que produzem contextos avaliativos. As formas comunicativas do item e) são as seguintes: a) comunicação sonora e visual; b) comunicação da fala e da escrita das palavras; c) comunicação cartográfica; e) comunicação corporal, afetiva e sensorial. As sugestões são somente indicativas, e assim sendo, permitem que você faça uma reflexão inicial, para então viabilizar, a partir da sua experiência profissional e de sua criatividade, o processo avaliativo na Geografia Escolar. 3.1.1 Avaliando valores e atitudes7: a)perceber e ponderar acerca da atuação tecnológica do homem na organização dos espaços; ____________________________ Os itens foram elaborados a partir de CARNEIRO, S. M. M. Importância educacional da Geografia. Curitiba: Educar, 1993, n. 9, p. 123; e Declaración Internacional sobre la educación geográfica para la diversidad cultural de la Comisión de Educación Geográfica de la Unión Geografica Internacional. <www.agbctba.hpg.ig.com.br/textos/declaracao.htm>, Acessado em junho 2002. 7 27 b)posicionar-se em relação aos fenômenos e informações geográficas, demonstrando: interesse, capacidade de observação do meio (com olhar geográfico), sensibilidade perceptiva8, percepção estética (beleza, distinção das cores, texturas, formas, etc.), respeito com a paisagem natural e humana; conscientização das desigualdades espaciais,9 valorização dos procedimentos da investigação científica (como entender e investigar a dinâmica, o planejamento e o viver na cidade e no campo, e também a utilização adequada da desigual distribuição dos recursos naturais, da infraestrutura e da capacidade tecnológica); c)ser capaz de defender e ser sensível em relação aos direitos humanos; d)compreender, aceitar e apreciar a diversidade cultural; e)aceitar e refletir acerca dos pontos de vista alternativos sobre as pessoas e suas condições sociais; f)exercer a crítica e ser consciente do impacto do seu modo de vida sobre os contextos locais e mundiais; g)perceber a necessidade urgente de proteger o nosso meio ambiente e proporcionar justiça ambiental para as regiões e comunidades que tenham sofrido problemas ambientais; h)atuar como um membro informado e ativo tanto de sua própria sociedade como da sociedade planetária; i)cuidar do nosso planeta com uma herança universal e que pertence aos que aqui estão e aos que virão; j)ter disposição para trabalhar com outros cidadãos com diferentes identidades culturais e interesses para propor metas comuns; k)compreender a dimensão espacial enquanto o resultado da ação de pessoas que estão inseridas em múltiplas e superpostas culturas. ____________________________ A forma pela qual o aluno, através da ação sensorial (audição, tato, paladar, visão e olfato), percebe e lembra dos lugares, paisagens e territórios. 9 As desigualdades espaciais podem produzir desigualdades sociais, mas também diversidade cultural. 8 28 Avaliação em Geografia nas Séries Iniciais 3.1.2 Avaliando habilidades de pensamento por meio de estímulos cognitivos associados aos procedimentos/estratégias de ensino10: a) observação (de mapas, figuras, globos, selos, cartões postais, livros, filmes, etc); b) análise (descrição, coleta de dados, etc); c) comparação (dados); d) interpretação (dos dados); e) síntese (sumarizar a interpretação); f)avaliação (atitude, habilidade, tomada de decisões, conscientização, etc); g) curiosidade (saber mais sobre determinado conteúdo/tema); h)imaginação geográfica (capacidade de pensar geograficamente acerca da sua experiência pessoal, comunitária e de outros lugares, inclusive lugares fictícios); i) senso crítico (capacidade de ir além do que é proposto utilizando a argumentação). A síntese permite que o aluno demonstre que alcançou a aprendizagem quando utiliza frases e textos curtos, e/ou exemplos que relacionam o conteúdo com um fato cotidiano (experiência pessoal ou de outras pessoas, filmes, novelas, notícias, etc). 3.1.3 Avaliando a vivência conceitual: a)do lugar, do território e da paisagem que permitem a identificação das múltiplas manifestações espaciais da diversidade cultural, dos recursos ambientais e das formas de viver/sobreviver no meio rural/urbano; b)da paisagem que permite acessar o mundo e a organização justa ou injusta do território captada pela observação sensorial ____________________________ Elaboradas a partir de CARNEIRO, S. M. M. Importância educacional da Geografia. Curitiba: Educar, 1993, n. 9, p. 121-125. 10 29 (ver, cheirar, apreciar sabores paladar - e sons, além de usar o tato), estética (cores, texturas, formas, etc) e emocional (alegria, tristeza, melancolia, ódio, amor, etc); c)da escala ou raciocínio escalar que permite que a criança possa estabelecer relações de proporção e entender o que acontece com os fenômenos geográficos nas diferentes escalas dos lugares e do território (igarapé, vila, rio, região, morro, país, cidade, arroio, continente, planeta, ilha, laguna, cidade, praia, distrito, bairro, rua, casa, escola, etc); d)da localização que viabiliza uma forma de pensar e comunicar a posição dos objetos uns em relação aos outros nas diferentes linguagens; e)da organização/estruturação do espaço que fornece a explicação de como as paisagens, lugares e territórios constituem-se ao longo do tempo histórico; f)da representação pela qual a criança manifesta a fala, a linguagem pictórica, a escrita de textos, a lateralidade dos objetos e a noção de proporção (raciocínio escalar), e conduz a leitura, interpretação e escrita das representações cartográficas; 3.1.4 Avaliar a repercussão da Geografia Escolar na vida do aluno e da comunidade, considerando-se: a)as reflexões acerca do meio urbano/rural e que conduz a educação para viver nas cidades e no campo; b)a percepção da atuação humana na agregação e segregação espacial, produzindo desigualdade e igualdade social, por meio da caracterização sócio-natural dos espaços, lugares, territórios e paisagens, que consequentemente trará a necessidade de compreender e propor novos modos de vida; c)o direito que as pessoas têm a autonomia política e ao território; d)a importância das decisões espaciais e a participação das comunidades no planejamento e definição do que seja adequada a sua aspiração por um espaço socialmente justo e 30 Avaliação em Geografia nas Séries Iniciais solidário; e)o sentimento de pertencimento ao lugar, à paisagem e ao território e a necessidade de uma educação para a ação territorial, que pode prevenir os conflitos (políticos, militares e econômicos) e permitir a solidariedade; A educação para a ação territorial faz com que o aluno perceba os seus sentimentos e tenha consciência da intensidade da posse e do poder que ela exerce sobre os objetos, pessoas, lugares, países, etc. f)o acesso a linguagem cartográfica11 e a conseqüente ampliação das formas pelas quais a criança pode ler, interpretar e escrever cartograficamente os lugares, territórios e paisagens e expressar o espaço geográfico; Os desenhos podem servir para aferir na criança a aquisição da linguagem gráfica/cartográfica e as noções a ela associados, por exemplo: representação, perspectiva, localização, escala e organização estruturação do espaço etc. Servem também para a criança desenvolver habilidades temporais quando representa, por exemplo, lugares no passado, no presente e no futuro. g)comunicação sonora e visual: (filmes, pinturas, esculturas, roteiros sonoros/musicais da rádio escolar, músicas, slides, programação dos meios de comunicação (rádio, televisão e internet), lâminas de transparências, figuras, desenhos12, cartazes, tabelas, fotografias, exposição de fotografias13, teatro ____________________________ 11 A linguagem cartográfica possui um alfabeto cartográfico básico que é constituído pelos seguintes elementos: ponto, linha e área. 12 Os desenhos podem servir para aferir na criança a aquisição da linguagem gráfica/cartográfica e as noções a ela associados, por exemplo: representação, perspectiva, localização, escala, organização e estruturação do espaço etc. Servem também para a criança desenvolver habilidades temporais quando representa, por exemplo, lugares no passado, no presente e no futuro. 13 exposições de fotografias com a participação da comunidade escolar e a constituição de um acervo de fotografias que registrem a memória dos lugares e das paisagens, em especial, na localidade em que está situada a escola. 31 com fantoches, etc; h)comunicação da fala e da escrita das palavras: crônicas, contos, poesias14, roteiros para jornal geográfico e rádio escolar (da turma ou das mesmas séries ou da escola ou da comunidade), entrevistas (elaboração do roteiro, aplicação e interpretação), cartas pessoais ou e-mails, roteiros de dramatização, etc; i)comunicação cartográfica: maquetes (planejamento, elaboração e leitura), representações gráficas e cartográficas (planejamento, escrita, leitura e interpretação de figuras, gráficos, atlas15, tabelas, imagens de satélite, mapas e plantas, globos, blocos diagramas, pictogramas, etc); A linguagem pictórica acontece quando utilizamos símbolos que podem ser lidos/interpretados, pois lembramos do objeto representado. A linguagem cartográfica possui um alfabeto cartográfico básico que é constituído pelos seguintes elementos: ponto, linha e área. j)comunicação corporal, afetiva e sensorial: a linguagem gestual (mímica facial e de outras partes do corpo), expressão através das diferentes linguagens acerca da relação afetiva com as paisagens e lugares, dramatização dos lugares e paisagens; expressão espaço-sensorial (observação, leitura e interpretação através do tato, audição, paladar, visão e olfato); jogos e atividades associados a motricidade (lateralidade16 e memória corporal associadas a localização)17; ____________________________ Audição, leitura e elaboração. Os professores, os alunos e a comunidade podem elaborar atlas em diversas escalas (escola, o conjunto habitacional, a quadra da escola, a vila, o bairro, o loteamento, a vila rural, o distrito urbano, o loteamento, o distrito rural, a gleba, a cidade, a região da cidade, etc. E também atlas temáticos, por exemplo, dos parques, praças, pontos turísticos, terminais de ônibus, das atividades econômicas (comércio, serviços, indústria). A atividade de elaboração de atlas, avalia e ao mesmo tempo contribui para que o aluno domine, entre outras as relações de lateralidade, a linguagem pictórica, o raciocínio escalar, o raciocínio geográfico. 16 a lateralidade permite que a criança possa se expressar utilizando palavras (dentro, sudoeste, fora, norte, perto, acima, direita, junto, abaixo, ao lado, etc) que comuniquem a localização dos objetos. 17 A motricidade e a memória corporal podem ser estimuladas para a aquisição brincando de amarelinha, batalha naval ou pisando nos mapas em sala de aula ou no pátio/quadras da escola. 14 15 32 Avaliação em Geografia nas Séries Iniciais Sugestões de sites para ajudá-lo na tarefa avaliativa: Programa Salto para o futuro: <http://www.tvebrasil.com.br/SALTO> clicar no menu à esquerda em Acessar o boletim; No site do IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística: <http://www.ibge.gov.br>, veja: ─ ”IBGE 7 aos 12” <http://www.ibge.gov.br/7a12/home/home_nova.html > (mapas do Brasil, regiões e estados do Brasil, atividades e vocabulário); ─ Atlas Geográfico Escolar (online): <http://www.ibge.gov.br/ibgteen/atlasescolar/index.sht>; ─ Glossário cartográfico: <http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/cartografia> (clicar no link publicações); ─ Cidades: <http://200.255.94.66/cidadesat/default.php>, estão disponíveis informações sobre todos os municípios do Brasil. No site da EMBRAPA <http://www.embrapa.gov.br> no link “O Brasil Visto do Espaço” <http://www.cdbrasil.cnpm.embrapa.br>, você encontrará imagens de satélite de todo o Brasil. É possível acessar as imagens dos municípios brasileiros em diferentes escalas 1:25.000. Queremos estimulá-lo(a) a redescobrir o lugar onde você e seus alunos vivem e possam representá-lo de uma forma mais interessante. Faça a atividade e depois, se desejar, faça adequações e utilize-a com seus alunos. 1. Caracterização sumária da atividade: elaboração de uma representação cartográfica do entorno da escola, utilizando referenciais sensoriais, afetivos e da memória: 33 a)utilizar uma planta dos arredores da escola (buscar em listas telefônicas, na própria escola, sites, prefeitura, etc) ou elaborar a planta; - a escola está no bairro que se presume? - delimitar o bairro. b)trabalhar com a planta (leitura da representação cartográfica); c) percorrer o bairro (levar a planta); d)localizar, na planta, as percepções sensoriais, emocionais e da memória. 2. Anotar além dos referenciais visuais, os sonoros, olfativos, táteis, paladar, e os afetivos (tristeza, felicidade, angustia, etc). Os referenciais podem ser sobrepostos. Obs: atividade que tem a intenção de redescobrir espacialmente o bairro e/ou o entorno da escola e/ou da casa. 3. Criar uma legenda pictórica18 para a planta. O desenho dos ícones/símbolos tem que possuir, sempre que possível relação com o objeto a ser representado. ― as cores, as palavras e as frases, os desenhos podem auxiliar na comunicação dos referenciais e na elaboração da legenda. 4. Criar palavras ou frases que identifiquem os referenciais ― as palavras e/ou frases devem ser inseridas na planta. 5. Fazer um relatório sucinto caracterizando os referenciais indicados na planta. ____________________________ 18 A representação pictórica acontece quando utilizamos símbolos que tem uma relação imediata com o objeto representado. Se você desenha uma árvore para representar uma floresta você criou um pictograma. 34 Avaliação em Geografia nas Séries Iniciais UNIDADE 4 AVALIANDO... Agradecemos a sua “audiência” até o último capítulo da aventura de avaliar o ensino de Geografia. A Geografia sempre foi parte da idéia de instituição escolar. Basta lembrar do mapa pendurado na parede e do globo sobre a mesa. A permanência do saber geográfico na escola deve ser motivada por algo que supere a tradição escolar e possa, através da sua ação docente, refletir na comunidade. Avaliar em Geografia significa que podemos influenciar, de forma decisiva, na ação geográfica do aluno em seus ambientes de vivência. A partir das reflexões feitas ao longo da nossa proposta de avaliação, vamos propor que você pense na ambientação para o ensino da Geografia . A ambientação pode acontecer na sala de aula, nos corredores, bibliotecas e pátios da sua escola, ou seja, assegurar um “cantinho da geografia”. Ou implantando uma sala ambiente de Geografia na sua escola. Se já existe uma sala ambiente pense em dinamizá-la, alternando e/ou substituindo os mapas, cartazes, posters e os móveis da sala. Estamos propondo que você faça um projeto de sala ambiente e/ou de ambientação da escola para o ensino da Geografia. Pense acerca da influência que a implantação do projeto pode ocasionar na avaliação. Consulte: SOUZA, A. J. et al. Sala ambiente de Geografia <http://cenp.edunet.sp.gov.br/SalaAmbiente/SalaAmbiente_Geografia.htm> 35 Vamos fazer a “prosa” que finaliza a nossa conversa. E compartilhar parte das nossas angústias na atividade do ensinar: “Ensinar é esforço multidisciplinar para realizar a comunicação dos conteúdos de uma disciplina ou conjunto de disciplinas. Mas, às vezes, essa intenção é extrapolada e, de forma um tanto pretensiosa, o professor acredita que os conteúdos que ministra contêm a explicação do mundo ou a verdade absoluta acerca dos fatos ou fenômenos. A função do ensino é fomentar um processo de descoberta e redescoberta, que produza um processo de reflexão sobre o mundo. Esse esforço se realiza através da atividade educativa, que não se realiza somente pela atividade da instituição escolar, mas também pelas diversas formas de educação, comunicação e informação (familiar, religiosa, do ambiente de trabalho, da vivência pessoal e dos grupos sociais, da mídia etc.). Reconhecer que a Educação não se limita ao ensino escolar, tornaos conscientes de que a escola somente ambiciona, e nem sempre realiza, a tarefa de propiciar ao aluno uma compreensão inicial da sociedade, dos processos da natureza e da própria existência.” 19 Saudações Geográficas! ____________________________ CARVALHO, A. L. P. Geomorfologia e Geografia Escolar: o Ciclo Geográfico Davisiano nos manuais de metodologia do ensino (1925-1993). Florianópolis, 1999. Dissertação (Mestrado em Geografia) CFH/UFSC, p. 19 36 Avaliação em Geografia nas Séries Iniciais REFERÊNCIAS ABSÁBER, A. N. Formas do relevo: texto básico. São Paulo: Edart, 1975. ALMEIDA, R. D. Do desenho ao mapa. iniciação cartográfica na escola. São Paulo: Contexto, 2001. ALMEIDA, R. D. e PASSINI, E. Y. Espaço geográfico: ensino e representação. 6ª ed. São Paulo: Contexto, 1998. ANTUNES, A. R.; MENANDRO, H. F.; PAGANELLI, T.I. Estudos Sociais: teoria e prática. Rio de Janeiro: Acess, 1993. BLEY, L. e FIRKOWSKI, O. L. C. F. 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