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Coral escolar e desenvolvimento infantil

2017

Este artigo relaciona a atividade coral infantil as ideias de Vygotsky a respeito da importância da interacao social e da arte no desenvolvimento humano. Compreende o coral na escola como pratica educativa motivadora da aprendizagem, da interacao social e da expressao individual dos sujeitos. Como atividade  coletiva,  o  coral promove  a interacao e colaboracao entre sujeitos, permitindo que estes construam seu proprio conhecimento e possibilitando a aprendizagem e o desenvolvimento infantil.

XXVII Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música – Campinas - 2017 Coral escolar e desenvolvimento infantil MODALIDADE: COMUNICAÇÃO SUBÁREA: EDUCAÇÃO MUSICAL Simone Santos Sousa Universidade Estadual Paulista UNESP – simsousa@gmail.com Resumo: Este artigo relaciona a atividade coral infantil às ideias de Vygotsky a respeito da importância da interação social e da arte no desenvolvimento humano. Compreende o coral na escola como prática educativa motivadora da aprendizagem, da interação social e da expressão individual dos sujeitos. Como atividade coletiva, o coral promove a interação e colaboração entre sujeitos, permitindo que estes construam seu próprio conhecimento e possibilitando a aprendizagem e o desenvolvimento infantil. Palavras-chave: Educação musical. Coral escolar. Interação social. School Choir and Child Development Abstract: This paper relates the children's choir to Vygotsky's ideas about the importance of social interaction and art on human development. Discusses the school choir as an educational practice that motivates learning, social interaction and subject’s personal expression. As a collective activity, the choir promotes interaction and cooperation among subjects, allowing them to build their own knowledge and enable learning and child development. Keywords: Musical education. School choir. Social interaction. 1. Introdução Devido à complexidade da essência humana, não é possível perceber e relacionar todos os aspectos que fazem de nós seres particulares. Cada pessoa é única, reagindo ao mundo de acordo com características próprias. Em busca de desenvolvimento o ser humano deve abarcar como um todo aspectos cognitivos, afetivos, motores e sociais, dentre outros. Apesar disso a educação costuma ser pensada de forma fragmentada, a partir de espaços e abordagens diferentes para cada um destes aspectos, em geral não os relacionando entre si. Mesmo entendendo que estes são aspectos interdependentes, e que o desenvolvimento humano parte da relação entre eles, esta inter-relação não é encontrada na prática. Nesse sentido, a escola pode oferecer experiências significativas aos educandos, que os afetem nas esferas apresentadas. Para este objetivo, um caminho possível seria o trabalho artístico extracurricular. Este trabalho propõe possibilidades de trabalho com coral escolar a partir das ideias de Vygotsky sobre a relação entre desenvolvimento humano e arte, como uma situação possível de se construir na escola, na busca dos aspectos citados anteriormente. 1 XXVII Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música – Campinas - 2017 2. Interação social e desenvolvimento O desenvolvimento humano se dá na interação com o meio: é a partir dos movimentos e expressões da criança que se satisfazem suas necessidades físicas e afetivas. Ao crescer a criança recebe estímulos que impulsionam seu desenvolvimento físico, emocional e cognitivo. Para Vygotsky (1989) a criança tem acesso aos modos de pensar e agir correntes em seu meio a partir da interação social. As diferentes linguagens, tradições, costumes, e culturas servem como instrumentos intelectuais que possibilitam ao homem a diferenciação em relação aos animais. Em um ponto crucial do desenvolvimento humano, a conquista da fala altera o curso de seu pensamento. No início a inteligência da criança é prática: ao se utilizar de sons e sílabas sem significado, sua fala tem função afetiva (VYGOTSKY, 2005). Embora sigam caminhos diferentes de desenvolvimento, pensamento e fala se encontram em determinado momento, o que permite a construção do pensamento verbalizado e da fala intelectual. A linguagem possibilita uma forma de pensamento qualitativamente superior ao da criança. As emoções, como o pensamento, podem evoluir para um nível mais complexo, transformando-se em sentimentos de acordo com sua valorização na sociedade. No processo de internalização da cultura o desenvolvimento de formas superiores de pensamento e comportamento se torna possível. Signos, significados, sentimentos e instrumentos são compartilhados e transmitidos pelos sujeitos. Vygotsky chama de internalização “a reconstrução interna de uma operação externa” (VYGOTSKY , 1989, p. 63) através de uma série de transformações nas quais um processo interpessoal torna-se intrapessoal. Enquanto construções sociais, língua, moral, regras e costumes encontram-se inicialmente fora do indivíduo: “A internalização das atividades socialmente enraizadas e historicamente desenvolvidas constitui (...) a base do salto qualitativo da psicologia animal para a psicologia humana” (VYGOTSKY, 1989, p.65). Para o autor existiriam dois níveis de desenvolvimento: o desenvolvimento real, no qual a criança é capaz de realizar determinada atividade por seus próprios meios; e o desenvolvimento potencial, no qual a criança consegue realizar uma atividade com ajuda. A zona de desenvolvimento proximal (ZDP) seria representada pela diferença entre os dois níveis, e revelaria funções ainda não amadurecidas, em estágio embrionário (VYGOTSKY, 1989). Essa é a área de atuação do professor: a aprendizagem age na ZDP, impulsionando o desenvolvimento. Uma vez que se atinge novas capacidades, cria-se uma nova zona de desenvolvimento proximal. 2 XXVII Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música – Campinas - 2017 Propomos que um aspecto essencial do aprendizado é o fato de ele criar a zona de desenvolvimento proximal; ou seja, o aprendizado desperta vários processos internos de desenvolvimento, que são capazes de operar apenas quando a criança interage com pessoas em seu ambiente e quando em cooperação com seus companheiros. Uma vez internalizados, esses processos tornam-se parte das aquisições do desenvolvimento independente da criança (VYGOTSKY, 1989, p. 101). A função primordial do professor é organizar o meio de modo a provocar o interesse do indivíduo e levá-lo a agir para aprender, já que a atividade do sujeito sobre o mundo permite a apropriação do conhecimento e da cultura. Desse modo, uma proposta de ensino que tenha esse objetivo deve incluir o ensino artístico coletivo como realidade curricular, identificando realidades musicais dos alunos, percebendo-as como formas vivas, expressões criativas e linguagens representativas que se constituem em expressão da memória musical. Entendemos assim a importância da atividade artística coletiva na formação do indivíduo, privilegiando a interação social e a ação dos sujeitos envolvidos, promovendo o desenvolvimento da imaginação e o uso da linguagem e criando a ZDP. 3. Arte e desenvolvimento Para Vygotsky, “o crescimento intelectual da criança depende de seu domínio dos meios sociais do pensamento, isto é, da linguagem”. O desenvolvimento da fala e do intelecto originam, respectivamente, a fala interior e o pensamento verbal: “a natureza do próprio desenvolvimento se transforma, do biológico para o sócio-histórico” 1 (VYGOTSKY, 2005, p. 63). A aprendizagem da fala inicia na criança um processo de construção de conceitos que será completado na puberdade. O desenvolvimento dos processos que finalmente resultam na formação de conceitos amadurece, se configura e se desenvolve somente na puberdade. [...] A formação de conceitos é o resultado de uma atividade complexa, em que todas as funções intelectuais básicas tomam parte (VYGOTSKY, 2005, p. 72). Na adolescência a criança gradualmente passa a utilizar mais palavras que imagens – mais pensamento abstrato que concreto. A formação de conceitos torna-se uma função do crescimento social e cultural do adolescente, afetando o raciocínio. O adolescente torna-se capaz de direcionar seus próprios processos mentais com a ajuda de palavras ou signos. “A capacidade para regular as próprias ações fazendo uso de meios auxiliares atinge o seu pleno desenvolvimento somente na adolescência” (VYGOTSKY, 2005, p. 74). 3 XXVII Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música – Campinas - 2017 O processo de formação de conceitos, núcleo em torno do qual as mudanças do pensamento do adolescente se agregam, exige criatividade. Vygotsky discorre sobre dois tipos de impulsos na conduta humana: Ao primeiro denominou reprodutor. Estreitamente ligado à memória, possibilita ao ser humano reproduzir condutas e normas e reviver impressões de experiências passadas. Ao segundo tipo de impulso, chamou de criador, pelo qual o homem é capaz de criar algo novo a partir de combinações e reelaborações de experiências anteriores. Para tanto, a fantasia e a imaginação são imprescindíveis. É a capacidade de imaginar que fundamenta a atividade criadora e possibilita a criação artística, científica e técnica, mas também o que possibilita a um indivíduo solucionar problemas, redigir um texto ou elaborar um planejamento qualquer. Nesse sentido, todo indivíduo tem um impulso para criar (OLIVEIRA; STOLTZ, 2010, p. 79). É importante provocar na criança sua capacidade imaginativa pela sua ampla participação no desenvolvimento. A atividade criadora da imaginação está relacionada à riqueza e diversidade das experiências vividas pelo sujeito. Essa experiência não precisa ter relação direta com o objeto: ouvir relatos de fatos vividos ou escutar histórias de culturas distantes são material rico para a construção de ideias. Para Vygotsky, a gênese do pensamento generalizante está no desenvolvimento da imaginação. Para o autor, não é válida a ideia de que a criança pequena é mais criativa ou imaginativa que o adolescente: a capacidade de pensar possibilidades que não se encontram diretamente na realidade concreta só surge na adolescência. São as exigências da sociedade que conduzirão o adolescente a uma forma superior de pensamento. Este processo depende das relações sociais, do desenvolvimento cultural do meio e das atividades de trabalho. Na sociedade, diferentes linguagens (artes, matemática, informática, etc.) são importantes no desenvolvimento humano. O acesso e domínio a essas linguagens propiciam o desenvolvimento de capacidades cognitivas e afetivas distintas. A linguagem artística é, nesse contexto, de especial interesse para Vygotsky, que explica que música e poesia provavelmente surgiram com o trabalho coletivo com o objetivo de aliviar a tensão. A função da arte revela-se organizadora ou sistematizadora do sentido social do indivíduo. “A arte, deste modo, surge inicialmente como o mais forte instrumento na luta pela existência” (VYGOTSKY, 2001, p. 310). O significado dos elementos artísticos é produzido e transmitido socialmente. “O sentimento é inicialmente individual, e através da obra de arte torna-se social ou generaliza-se. [...] a arte é uma espécie de sentimento social prolongado ou uma técnica de sentimentos” (VYGOTSKY, 2001, p. 308). Entretanto, o ser humano não é capaz de dar conta da enorme quantidade de estímulos que recebe do meio. O sistema nervoso humano é como uma estação em que muitos 4 XXVII Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música – Campinas - 2017 trens chegam, mas apenas um consegue partir, num processo que exige a participação da cognição e da afetividade (VYGOTSKY, 2001, p. 310). Nesse sentido, a arte seria um instrumento para integrar e equilibrar o organismo ao meio. A arte teria, segundo o autor, funções tanto psicológicas quanto biológicas. A arte é trabalho do pensamento, mas de um pensamento emocional inteiramente específico. [...] a arte parte de determinados sentimentos vitais mas realiza certa elaboração desses sentimentos [...] que consiste na catarse, na transformação desses sentimentos em sentimentos opostos, nas suas soluções. [...] A refundição das emoções fora de nós realiza-se por força de um sentimento social que foi objetivado, levado para fora de nós, materializado e fixado nos objetos externos da arte, que se tornaram instrumentos da sociedade. A arte [...] rompe o equilíbrio interno (VYGOTSKY, 2001, p. 316). A mediação entre sujeito e mundo é feita pela arte, a partir das emoções suscitadas por ela enquanto objeto sobre o qual o sujeito age. Para compreendê-la é preciso perceber as contradições do mundo real. Vygotsky diz que o mundo é percebido não apenas como cores e formas, mas com sentido e significado: A transição, no desenvolvimento para formas qualitativamente novas, não se restringe a mudanças apenas na percepção. A percepção é parte de um sistema dinâmico de comportamento; por isso, a relação entre as transformações dos processos perceptivos e as transformações em outras atividades intelectuais é de fundamental importância (VYGOTSKY, 1989, p. 37). Dentre as diversas formas de arte, o coral é uma atividade que possibilita a interação, internalização da cultura e expressão afetiva. Assim, o canto coral pode ser de grande valia no desenvolvimento do indivíduo. A seguir, algumas características dessa atividade que distinguem a importância de sua realização no âmbito escolar. 4. Atividade coral e educação Na busca de instrumentos que lidem com o ser humano de modo amplo, em todas as suas dimensões, a arte se configura como um recurso valioso, capaz de propiciar “o desenvolvimento do pensamento artístico e da percepção estética, que caracterizam um modo próprio de ordenar e dar sentido à experiência humana” (BRASIL, 1997, p. 19). Entre as várias maneiras de fazer artístico, a música se mostra de forma direta, simples e acessível a todas as pessoas, independente do nível cultural, intelectual ou social a que pertençam. No entanto, apesar da longa trajetória brasileira pautada na inclusão do ensino da música nas escolas, que culmina com a aprovação da Lei 11.769 de 2008 que altera a LDB vigente, determinando o ensino de música como componente curricular obrigatório do ensino 5 XXVII Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música – Campinas - 2017 de arte (QUEIROZ; MARINHO, 2009), podemos afirmar que as questões relacionadas à presença da música na escola estão longe do ideal. Além disso, a longa ausência da música nos currículos escolares teve por consequência a formação de gerações de pessoas desinformadas musicalmente, o que produziu, além de uma série de mitos sobre o fazer musical e o músico, uma deficiência de conhecimentos que possibilitem a capacidade de avaliar criticamente as obras musicais a que se tem acesso. Essa falta de conhecimento crítico musical teria ainda como decorrência a falta de público em nossas salas de concerto, teatros e centros culturais, assim como a vulnerabilidade das pessoas aos apelos da indústria cultural. No entanto, atendendo aos ditames da sociedade capitalista, as artes que antes existiam de forma espontânea na vida das pessoas mais simples e de forma mais ‘intelectualizada’ nas classes mais escolarizadas, foram substituídas por uma cultura de massa, industrializada, que de artístico realmente tem muito pouco (MATOS, 2002, p. 21). Na tentativa de suprir esta lacuna na educação surgem os grupos artísticos de caráter coletivo. Grupos de teatro amador, oficinas de dança ou, no caso da música, os grupos corais, geralmente surgem para tentar suprir a falta de ensino de arte. A atividade coral enquanto ambiente de participação estimula a cooperação e a convivência coletiva, sendo uma alternativa de vivência que propicia o descobrimento da individualidade a partir do fazer coletivo. Além disso, envolve o estímulo do corpo do cantor, já que para cantar o corpo inteiro é convocado a comparecer, inclusive frente ao público na situação de apresentação. O canto coral exige interação social e implica a mobilização de aspectos cognitivos, afetivos, sociais e motores dos sujeitos. A interação social no coral acontece em diversas dimensões: há a interação com o compositor da obra a partir da canção, através da interpretação; a interação dos coralistas entre si, e com o regente; e aquela que acontece entre coro e plateia. Esses três elementos essenciais constituem o jogo da interpretação: compositor, coral (intérprete) e plateia. A obra de arte se completa a partir do momento em que se torna pública, e o diálogo entre coro e plateia (na reação desta) configura para quem está no palco uma resposta ao seu trabalho. Vygotsky afirma que a experiência pessoal do educando é a base do processo pedagógico: “a educação se faz através da própria experiência do aluno, a qual é inteiramente determinada pelo meio, e nesse processo o papel do mestre consiste em organizar e regular o meio” (VYGOTSKY, 2004, p. 67). O professor precisa organizar atividades que permitam a experiência direta dos alunos com os objetos do conhecimento, ao mesmo tempo que o estimulem a aprender. O coral é uma atividade coletiva, o que implica respeito às regras e ao 6 XXVII Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música – Campinas - 2017 outro, trocas de pontos de vista, decisões conjuntas, divisão de tarefas. A atividade coral age, portanto, na ZDP, em situação de interação e cooperação entre a criança e seus colegas com a supervisão do professor/regente, criando novas zonas de desenvolvimento proximal. No canto coletivo, por exemplo, o objetivo de se executar determinada obra musical é buscado por todos, todos tentando fazer o melhor som e, acima de tudo, contando com o apoio de seus companheiros de naipe. Ao mesmo tempo a pluralidade rica da ocorrência de sons diferentes em simultaneidade, reitera a possibilidade de convivência estética entre organismos distintos (MATOS, 2002, p. 23). Vygotsky encontra nos estudos de Piaget as relações entre a zona de desenvolvimento proximal e o desenvolvimento infantil: Piaget e outros demonstraram que, antes que o raciocínio ocorra como uma atividade interna, ele é elaborado, num grupo de crianças, como uma discussão que tem por objetivo provar o ponto de vista de cada uma. Essa discussão em grupo tem como aspecto característico o fato de cada criança começar a perceber e checar as bases de seus pensamentos. Tais observações fizeram com que Piaget concluísse que a comunicação gera a necessidade de checar e confirmar pensamentos, um processo que é característico do pensamento adulto. Da mesma maneira que as interações entre a criança e as pessoas no seu ambiente desenvolvem a fala interior e o pensamento reflexivo, essas interações propiciam o desenvolvimento do comportamento voluntário da criança. Piaget demonstrou que a cooperação fornece a base para o desenvolvimento do julgamento moral pela criança (VYGOTSKY, 1989, p. 101). Na interação e cooperação entre seus iguais, a criança percebe seus pensamentos e os compara aos de outras crianças, colocando-se no lugar do outro num processo que possibilita a empatia. Esse processo cria a possibilidade de compreender a diversidade, as diferenças e as semelhanças; assim, ela pode perceber a si e ao outro como sujeitos no mundo. Em relação ao processo de desenvolvimento infantil, Vygotsky afirma: Porém, se ignorarmos as necessidades da criança e os incentivos que são eficazes para colocá-la em ação, nunca seremos capazes de entender seu avanço de um estágio de desenvolvimento para outro, porque todo avanço está conectado com uma mudança acentuada nas motivações, tendências e incentivos (VYGOTSKY, 1989, p. 105). A criança precisa ser motivada para ter interesse na escola, nos conteúdos e atividades escolares. A atividade coral é motivadora para crianças e adolescentes, afetando-os nos aspectos emocional, cognitivo, motor e social. Exige ainda mobilização da atenção, da percepção e da memória, além de trabalhar a expressividade e a imaginação, aspectos comumente desconsiderados como significativos. 5. Conclusão 7 XXVII Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música – Campinas - 2017 Oliveira e Stoltz, discorrendo sobre o teatro na escola, afirmam que Vygotsky foi um homem apaixonado por arte. Seus escritos sobre arte são fruto de uma vivência pessoal com o teatro, a poesia, a música, as artes plásticas. Para os autores, “só alguém que conhece os efeitos da arte na própria alma pode argumentar com tanta clareza sobre ela” (OLIVEIRA; STOLTZ, 2010, p. 79). A expressão artística para o autor é uma necessidade intrínseca do ser humano, meio de externar positivamente emoções e sentimentos e para que os sujeitos conheçam melhor a si e aos outros, criando condições para a reflexão a respeito das próprias atitudes e possibilidades de convivência social. Diante das possibilidades aqui postas no que concerne à realização artística, a inserção da atividade coral em âmbito escolar pode revelar-se um instrumento educativo poderoso. Dar à criança a oportunidade da experiência de cantar em coro implica em mobilizar capacidades e habilidades para sua vida dentro e fora da escola. Isso não significa que o coral (ou qualquer outra atividade artística) seja redentor da escola; no entanto, a arte pode contribuir na construção de uma sociedade composta de cidadãos que saibam situar-se integralmente entre suas dimensões afetiva e cognitiva. É necessário entender o público com o qual se trabalha para que este entendimento seja o ponto de partida do processo, gerando transformações para o indivíduo e para o meio no qual este se insere. Referências BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: arte. Brasília: MEC/SEF, 1997. MATOS, E. A. O artista, o educador, a arte e a educação: um mergulho nas águas da Pedagogia Waldorf em busca de um sentido poético para a formação docente ou artifícios às artimanhas. Dissertação de Mestrado. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2002. OLIVEIRA, M. E.; STOLTZ, T. Teatro na escola: considerações a partir de Vygotsky. Educar, Editora UFPR: Curitiba, n. 36, p. 77-93, 2010. QUEIROZ, Luis Ricardo Silva; MARINHO, Vanildo Mousinho. Práticas para o ensino da música nas escolas de educação básica. Música na educação básica. Porto Alegre, v. 1, n. 1, outubro de 2009. VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989. ______. Psicologia da arte. São Paulo: Martins Fontes, 2001. ______. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2005. Notas 1 Grifo do autor. 8