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O fragmento 2w de Arquíloco

1993, Classica - Revista Brasileira de Estudos Clássicos

A interpretação tradicional do Fr. 2w de Arquíloco começou a ser questionada após T. Hudson-Williams ter discutido a construção “incomum”· da última oração, e uma questão de estilo ter sido levantada por C. M. Bowra. Qual seria o significado de ἐν δορί? O seu emprego serie idêntico nas suas três ocorrências, ou não? Examinando tais problemas e as soluções propostas, sugerimos uma nova possibilidade de leitura.

87 O FRAGMENTO 2W DE ARQU(LOCO Paula da Cunha Corrêa Universidade de São Paulo A interpretação tradicional do Fr. 2w de Atqufloco a siu questionada após T. Hudson-Williams ter discutido a construção "inc.omum· da última oração, e uma questão de estilo ter sido levantada por C. M. Bowra. tlial seria o significado de tv õopí? Oseu emprego serie idt?ntico nas suas tffls oco(fflncias, ou não? Examinando-tais problemas e as soluções propostas, sugerimos uma nova possibilidade de leitura. RESUIIIO: Breve como o. outro fragmento, e até certo ponto formalmente semelhante, este dfstico nos uma cena cotidiana de um 'servo do s.enhor Eniálio'. Mas não é cena de batalha, uma visão dos hoplítas -enfileirados em formação ou combatendo, como é freqüente em Cal ino ou Tirteu. O soldado está de vigrlia, e sua ação nada tem de heróica, muito pelo contrá.rio: é v ôopi J1ÉV JlOL J1âÇa J1EJ1«YJ1ÉVf/, é v ôopi 8' obu; 'JCTj1aptfCÓÇ, 1rÍ KlJ 8' ÉV êof KeKÂlJ1ÉW). Na lança, meu p3o sovado, na lança, o vinho .lsmárico, e bebo na lança apoiado. A primeira versão deste fragmento de que se tem notfcia é de 1612, de Dionlsio Petávio, editor e tradutor das cartas de Sinédio (Synesius, Ep. 129b Migne, apud. Arnould, 1980, p. 288): · Maza mihihastato praebetur, Bacchus in hasta lsmaricus; dum me sustinet hasta, bibo. I. Liebel em sua edição de 1812 dos fragme·ntos de Arqulloco citou, além desta tradução de Dionfsio, o escólio de Hfbrias que data do V ou IV século a. C. onde lança, espada e escudo são como os maiores bens do homem, e que tudo para ele conquistam (909PMG): Minha grande riqueza 53o a lança, a espada e o belo escudo, defesa da pele. Com eles aro, com eles colho, com eles piso o doce vinho das uvas, Com eles senhor de servos sou chamado. Eos que nlo ousam levar a lança, a espada e o belo escudo, defesa da pele, Todos prostados aos meus joelhos beijam seu senhor, Ede grande rei me chamam. 88 Partindo da tradução de Olonlsio e do poéma da Hfbrias. esta tem sido a leitura tradicional, ou talvez mais habitual do fragmento, aceita pela grande maioria: é com ou pela lança que o eu obtém o seu pão e vinho. O seu sustento está na lança e ela serve-lhe também como objeto no qual apoia-se para beber. A lança é útil em todos momentos da vida do soldado, dentro e fora do combate cerrado. Com ligeiras variações, pautam-se nesta leitura as traduções das principais edições billngües de Arqufloco: J. M. Edmonds (1931), e entre n_ ós. V. de Falco e A. F. Coimbra (1941). · Mas em 1900, Bahntje em Questiones Archilochae já afirmava que em suas três repetições a preposição tv teria um valor estritamente locativo e portanto. na sua _leitura, ev &lpí. tem sempre a mesma função: assim como o sujeito bebe apoiado na lança, o pão e vinho estariam literalamente · na lança (apud. Arnould, 1980, p. 285) 1-. .Isto é, presos à lança, dependurados em um farnel. O vaso dos guerreiros micênicos ilustra tal prática: os soldados costumavam levar na extremidade da lança um pequeno farnel de mantimentos em que carregavam sua rações (Cf. Vernant, 1'968, PI. 3). Huds6n-Williams, em 1926, apontou para o fato de que na l/fada o particlpio constroi-se apenas como dativo, sem a preposição ev, e que portanto, a.seu ver, a preposição f.v .na última oração apenas para tomar a repetição mais enfática (Hudson Willians, 1926, p: 83). O que para Hudson-Williams. parecia ser não mais que uma construção não habitual, despertou a atenção de Van.Groningen em 1930 (apud. Arnould, 1980, p. 285), de Browa (1954, p. 38) e de outros como não-gramatical. Segundo estes, no grego arcaico Kt:ichHtvoc; empregava-se · simplesmente com o dativo (sem preposição) ou com a preposição npói; e· o acusativo para significar apoiar-se sobre. Portanto, as versões tradicionais inclusive a de U. Bahntje, estariam partindo de um uso impróprio do verbo KÀ.hq.t.at com a preposição év. Este foi um dos motivos que suscitaram as . disc-ussões acerca da interpretação tradicional do fragmento. A presença da P!eposição f.v no último cólon passou a ser enfática para uns 2 , agramatical para outros 3 , simplesmente tradicional (Page, 1964, p. 133), ou diferente da leitura tradicional; nias gramaticalmente compreenslvel e aceitável (Arnould, 1980, p. 289-91 ). ou ainda supérflua, se não incompreenslvel (Marzullo, 1965, p. 6). . Uma segunda questão, de .ordem estillstica, foi levantada por C. M. Bowra. A seu ver. f.v &lpí deveria ter o mesmo significado nas três repetições, o que não ocorria na leitura tradicional: "First, there is a stylistic difficulty. When f.v õopí appears three times in a couplet, we may expect it to have the sarne meaning on each appearance ( ... ) Butthat is not what the usual interpretation demands." (Bowra, 1954, p. 37-8). A partir dar, surgiram as mais diversas interpretações que buscavam. na sua maioria, satisfazer estas duas condições: resolver o problema do verbo com a preposição f.v e o dativo. e manter a mesma construção para f.v õopí nas três ocorrências. 1 . Esta é também a leitura de Hauvette, 1905, p. 198-9. 2. Hudson-Williams, 1926, p. 83 e Romano, 1974, p. 43. 3 . Davison, 1960, p. 1-4; Pocock, 1961, p. 180; Gerber, 1970, p. 12-13. 89 Já em 1954, J. A. Davison havia indicado a possibilidade de õopi sinificar nau (1954, p. 193.). Mais tarde, acatando a sugestão de E. Diehl de que os fragmentos 2, 4, 8 e 12 pertenceriam ao mesmo poema, ele mantém que õopí. como nau é a melhor solução embora admita que a primeira ocorrência de õopí como nau seja tardia, e que mesmo neste caso, õopi é sempre qualificado por um adjetivo (Davison, 1960, p. 3}. · Quem endossa esta leitura é B. Gentíli em 1965 e 1976, afirmando que a construção do verbo teÃÍ.VOf!at com a preposição ev e o dativo introduz a idéia de "estar estendido, jazer" (11, X, 350), e que a anáfora exige que se mantenha sempre o mesmo significado para ev õopi. Ele tambéf!l concorda que os fragmentos 2 e 4 façam parte do mesmo poema, justificando assim o emprego de õopí. como nau sem a qualificação: o adjetivo que falta teria sido omitido por ser desnecessário em um contexto (Fr. 4) onde a referência ao navio já havia sido feita (Gentilli, 1976, p. 18-20). Foram dois, J. Russo (apud. Gentilli, 1976, p. 21) e A. Aloni (1981 , p. 49), os que aceitaram esta interpretação sem reservas. Menos populares, e. mais. imaginativas, foram as propostas de L G. Pocock (1961, p. 180) e G. Giangrande (apud. Burnett, 1983, p. 38) que sugerem para ev &")pi respeCtivamente em, ou sobre uma árvore e no pe/ourinho. · · · ' Em sua leitura do fragmento Bowra (1954, p. 40) cita exemplos de um uso locativo de ev com dativo que indica uma proximidade (LSJ sv. ev AI 4). Desse modo, a frase ev õopi como "at, by my spear", estendendo-se metaforicamente a ·under arms, at my post", explicaria a citação do fragmento no contexto da carta de Sinésio: tanto Sinésio quanto Arqufloco teriam passado suas vidas "em arnías·, ·a postos" (Bowra, 1954, p. 40). Antes de descartá-la, Oavison havia indicado a possibilidade de ev ôopí. ser traduzido por "equipado com a lança·, onde parece atribuir ao dativo, como o faz Ehrenberg, "um sentido vago de companhia" (apud. Amould, 1980, p. 289). Esta opção equivale na verdade ao hastato da tradução de Oionlsio Petávio. O. Arnould admite esta última hipótese, estendendo-a porém às três ocorrências de ev ôopí.. Ela mostra como ev õopí. pode ter um uso semelhante ao de ev Õ1tÂ.Otc;, citando exemplos, embora tardios, em que ev aiXJ.tatc; significa ·armários e lanças· (Arnould, 1980, p. 289-91 ). Na sua versão, o soldado come, bebe, mas bebe deitado, mesmo que esteja fazendo vigilia, no que, ao seu ver, consiste o humor irreverente do fragmento (Amould, 1980, p. 293). posslvel que, ao contrário, a gra'a do poema surja de um jogo com a ambigüidade de sentido de tv õopí. No hexametro, o locativo é uma possibilidade gramatical, mas por razões que logo exporemos, opta-se aqui pela leitura tradicional de ev õopí. nas duas primeiras ocorrências. Os datlvos seriam instrumentais de meio empregados metaforicamente (como o ev Õ1tÂ.OtÇ citado por O. Arnould): armado de lança, ou com a lança, Isto é, por meio de guerra, o eu obtém o seu pão e vinho 4 . Muitos encontraram nestes versos e no fr. 216 uma comprovação de que Arqufloco teria sido um mercenário, sendo a lança o seu ganha pão. Nada impede nem garante que o eu deste fragmento seja de fato um mercenário, mas caso o 4 . O dativo de melo é freqüente, especialmente na poesia, com as preposiçOes ev. aúv, \m6 (Smyth, 1980, p. 347). 90 fosse, seria mais uma máscara do poeta. O problema surge quando se identifica o autor com o eu llrico, coisa comum entre os antigos que procuravam extrair das obras, biografias dos poetas sobre os quais pouca ou nenhuma informação tinham. No segundo verso, iv &pí seria um locativo. Quanto à contrução de d .i\q!at ela só é irregular quando se considera o dativo dependente da preposição, regido por ela. Mas o dativo não poderia relacionar-se aqui diretamente com o verbo, a preposição mantendo o seu valor adverbial original, como é freqüente em Homero 5 ? Além disso, existe o verbo iydhq.t.at que se constrói com o dativo para significar inclinar-se, apoiar-se em (Tarditi, 1960, p. 60). Ao supor que o dativo na última oração seja um locativo, cabe ainda explicar o porquê da mudança no final, pois como foi dito, Bowra insiste que nestes versos a frase iv Bopí deveria manter o mesmo significado e construção nas suas três repetições 6 . . . . Mas as três repetições de f.v Sopi não são, do ponto de vista estilistico, idênticas. Segundo Demétrio (de e/oc. 268) e Longino (de subr 20, 1.2), a anáfora (ou epanáfora) consiste na repetição da mesma palavra .ou palavras no inicio de orações sucessivas. Nota-se de imediato que, formalmente; a primeira repetição que ocorre no hexã.metro é anafórica, ao passo que a segunda repetição, a do hemiepes, é mesárquica: a oração inicia-se com o verbo itívro e f.v Bopí repete-se no meio da - 7 . . . . . oraçao . . .. Em segundo lugar, uma repetição pode sertautulógica ou não. Quando na repetição das palavras há uma mudança de sentido, temos .a figura chamada antanáclase (Morier, 1981, sv. ). Portanto além da terceira repetição de ev Bopí não ser, strictu sensu, ànafóricà, há indicios de que também .não seja tautológica, pelo estilo do autor, e sobretudo pela construção do d(sticó. ·· . H. Frankel observou que um traço catacterfstico do estilo de Arquiloco é o gradual afilamento do tom e do pensamento no final do poema (Frankel, 1973, p. 135). Alguns poemas encerram"se cori uina espécie de chave de ·ouro que pode expressar uma alternativa de ação, ou sentença moralizante (Fr. 13, 128, 132, 133W). O recurso de repetir uma série de orações negativas para destacar uma afirmativa final é também freqüente (Fr. 3, 19, 22, 114, 133W). Outros reservam para o ouvinte uma surpreSa no final que rompe uma ilusão mantida, como neste fragmento, (Fr.2, 5, 19W). Uma marca distintiva do fragmento 2W é a repetição presente no nivel fonético morfológico e sintático. Qual seria sua função e o efeito buscado? No hexãmetro, há uma fortfssima aliteração de v) e assonância (a, e - Tt). As duas frases nominais indicadas por f.v &pí têm como sujeitos o pão, qualificada pelo particfpio, e o vinho (ainda sem qualificação). O pão sovado, onde 5 . lhe construction with the Dative ( .. .) Is the one ln which the Preposltion retains most nearty 1ts own 'adverbial' meaning -so much that it Is otlen doubtful whether thll Preposltion can be sald to 'govern' lts' case at aH." (Monro, 1981, p. 194). Veja também Chantralne; 1948, p. 84; Romano, 1974, p. 42 e Rankin, 1972, p. 472. 6 . Seguem-lhe neste ponto os seguintes comentadores: Davlson, 1960, p. 1; Gentill, 1967, p. 18-21; Gerber, 1970, p. 12; Amould, 1980, p. 284. Contra: Rankin, 1972, p. 471 ; Romano, 1974, p: 43; Rubin, 1981, p. 1-8; campbeU, 1982, p. 142; Burnett. 1983, p. 38-9. 7 . Mesarquia é forma de repetição que ocorre no lnk:io de uma oraçao e meio da oraçao seguinte (Shipley, 1943, sv. repetition). 91 concentra-se a aliteração, é uma figura etimológica presente também em Herótodo (1. 200). Este pão era uma pasta, uma massa não cozida de cevada que era preparada na hora. Claramente depreciada e inferior ao pão ((iptoc;). a j.làÇ<X fazia parte das rações de soldados em expedições e de escravos Ag. 1041 , Aristófanes, Eq. 255). A primeira pessoa figura sobre a forma do dativo de interesse, porém metricamente, o pronome j.lOt é realçado por encerrar a Onica contração de breves no hexãmetro. Nota-se também a coordenação das duas frases nominais pelas particulas j.ltv - õt que podem sublinhar uma oposição, ou. como neste caso, uma anáfora. O hexãmetro apresenta uma relação intemporal, impessoal, e não modal entre seus termos. Pois como todas as frases nominais, estas não possuem as determinações que são próprias do verbo. Não situadas no tempo ou no espaço. elas tem como objeto 'um termo reduzido apenas ao seu conteudo semântico" (Benveniste, 1936, p. 171-2). A lança, em posição privilegiada, repetindo-se anaforicamente, tem ainda um emprego figurado. E a manutenção do mesmo significado para ev &lpi justifica-se pela anáfora, a construção (j.ltv - õt) e a mesma sintaxe das orações. Quando se chega ao final do verso, ele parece conter uma idéia completa. lsmárico, a primeira palavra do segundo verso, já aponta para uma mudança. No enjambment, percebe-se que a idéia (e a segunda oração) não estava completa: se o pão é sovado, o vinho não é um vinho qualquer. não-qualificado como parecia no hexãmetro. Ovinho ismárico é o que Odisseu usou para embriagar o Ciclope na Odisséia (Od. 9. 196ss.) e cuja fama perpetuou-se séculos afora 8 . Alega-se que o vinho ismárico poderia ser nada mais que o vinho da casa, bebido por soldados em expedições pela costa da Trácia (Campbell, 1982, p. 143). Mesmo neste caso, o termo não perderia sua conotação de excelente vinho, razão pela qual o dlstico foi citado por Ateneu (Deipn. 14. 627b-c). Davison queixou-se da falta de harmonia entre a grosseira j.làÇ<X e o vinho ismárico (Davison, 1960, p. 2), buscando a homogenidade onde há contraste deliberado. Pois na virada do dlstico, o termo ismArico costura os versos, mas também inicia um novo movimento. A presença deste nome geográfico cria um certo realismo (Treu. 1959, p. 190), Introduzindo uma nova determinação até então ausente: o espaço. Logo após a cesura deste verso, a terceira e a última oração inicia-se com o verbo níveo. Esperava-se uma repetição anafórica de ev &lpí, mas em seu lugar está o verbo, ritmicamente enfatizado. E à construção j.ltv - õt do hexametro, mas uma diferença. Em oposição às frases nominais, temos uma verbal. Se o nome próprio introduziu uma referência espacial, o verbo, o Onico do fragmento, traz consigo todas as determinações que lhe são próprias: narração, tempo, modo e pessoa. A primeira pessoa do singular surge como sujeito e agente no sufixo verbal, em contraste com os sujeitos impessoais do hexametro que não eram agentes. Otempo da ação com relação ao discurso é o presente. 8 . VirgRio, Georg. 2.37; Propérdo 2:33b 32, Ovldlo, Met. 9.642 (apud. Campbell, 1982, p. 143). o fragmento é dtado duas vezes no SUda, s.v. lv. 666. 6 Adiar, e ii. 669. 25 Adler, onde lsmaros é identificada como a antiga Maronéla. · 92 Mesmo assim, distrafdos pela força da repetição, podemos à princfpio ignorar as mudanças e supor que este último tv ôopí seja Idêntico aos anteriores para perceber que o sujeito não bebe em armas, mas apoiado na lança, somente no final. o particfpio a última palavra, que modifica o sentido de tv ôopí rompendo a expectativa de que a repetição seria consistente até o fim. Ao emprego figurado de tv ôopí no primeiro verso, · opõe-se agora o locativo (espacial e concreto) . Cabe ainda notar que apesar das rimas (orvoc;, e assonâncias (o, ro), uma repetição ao nfvel fonético neste verso é atenuada. A diferença na repetição indica uma nova atitude. O ouvinte espera identidade de sentido onde há identidade sonora para ser surpreendido. E todo humor e ironia surgem no final. Arqufloco não canta a vida simples e feliz do soldado (Hauvette, 1905, p. 277), nem se queixa de estár o tempo todo com a lança, lutando ou de vigflia (Gerber, 1970, p. 12). A vida árdua e austera dO soldado apresenta-se no primeiro verso com a gravidade e circunstância que caracterizam a frase nominal. Construção tfpica da poesia sentenciosa e proverbial, eia não narra nem descreve fatos particulares, mas concernente à. essência e não à existência, faz uma asserção absoluta (Chantraine, 1948, p. 1; Benvenisti, 1976, p. 178). Há também uma certa nobreza e orgulho guerreiro na anáfora tv ôopí. A lança é um emblema da coragem e valores heróicos, pois aqueles que iam à frente da falange com suas lanças, eram os que maior risco corriam. Mas o segundo verso não mantém a pose. Há uma mudança de registro. Aqui, despida de toda metáfora é herofsmo, a lança serve para fins menos gloriosos. transformando-se em simples apoio para beber. E o que permanece vivo, presentificado, é a imagem do soldado qúe, apoiando-se nela, aproveita o seu bom vinho. · · The traditional rendering of Archilochus' Fr. 2W started to be questioned after T. Hudson-Williams pointed out "uncornmun· construction oi the last phrase, and a question of sty/e was brought up by C. M. Bowra. What is the meaning of év íJopí? Is it the sarne in it's three occorrences, or not? tiaving exarnined such problems and the solutions offered, anew possibility is suggested. ABsTRACT: BIBLIOGRAFIA ADLER, A. (ed.) Suidae Lexicon, in Lexicographi Graeci. 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