MATÉRIA-PRIMA
Práticas Artísticas
no Ensino Básico e Secundário
Vol. 7 (3), setembro–dezembro 2019, quadrimestral
ISSN 2182-9756, e-ISSN 2182-9829
CIEBA—FBAUL
Para este número 18 da Revista Matéria-Prima reuniram-se 16
artigos que permitem colocar em perspetiva diversas dimensões da Educação Artística. Entre a consciência patrimonial
e a emancipação, entre o domínio da técnica e do género,
entre a integração e a maturação criadora, há um espaço a
ser pesquisado, feito de história, de identidade, de ensaio e
de inclusividade.
Crédito da capa:
Do artigo de Marta Ornelas
Revista MATÉRIA-PRIMA, Práticas Artísticas
no Ensino Básico e Secundário
Volume 7, número 3, setembro-dezembro 2019,
ISSN 2182-9756, e-ISSN 2182-9829
Revista internacional com comissão científica
e revisão por pares (sistema double blind review)
Faculdade de Belas-Artes da Universidade
de Lisboa & Centro de Investigação
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Revista MATÉRIA-PRIMA, Práticas Artísticas
no Ensino Básico e Secundário
Volume 7, número 3, setembro-dezembro 2019,
ISSN 2182-9756, e-ISSN 2182-9829
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Crédito da capa: Do artigo de Marta Ornelas
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FERNANDO MIRANDA
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FRANCIONE OLIVEIRA CARVALHO
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IRENE TOURINHO
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MARTA DANTAS
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(UEL),Brasil.
MIRIAN CELESTE MARTINS
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(São Paulo), Brasil.
PALOMA CABELLO PÉREZ
Universidad de Vigo, Espanha.
REJANE COUTINHO
Universidade Estadual Paulista
(UNESP, Campus São Paulo), Brasil.
JOCIELE LAMPERT
Universidade do Estado de Santa Catarina
(UDESC), Brasil.
RICARD HUERTA
Universitat de València, España
JOSÉ CARLOS DE PAIVA
Faculdade de Belas-Artes da Universidade
do Porto (FBAUP), Portugal.
RICARDO MARÍN VIADEL
Facultad de Bellas Artes, Universidad de
Granada, Espanha.
LEONARDO CHARRÉU
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de Lisboa, Portugal.
RONALDO OLIVEIRA
Universidade Estadual de Londrina,
Paraná (UEL), Brasil.
LÚCIA PIMENTEL
Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), Brasil.
SANDRA PALHARES
Universidade do Minho, Instituto de Educação.
LUCIANA GRUPPELLI LOPONTE
Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS), Brasil.
MARÍA ACASO LÓPEZ-BOSCH
Universidad Complutense de Madrid
(UCM), Espanha.
MARIA CRISTINA DA ROSA
Fundação Universidade do Estado de Santa
Catarina (UDESC), Brasil.
MARÍA JESÚS AGRA PARDIÑAS
Universidad de Santiago de Compostela,
Espanha.
TERESA DE EÇA
i2ADS, Instituto de Investigação em Arte, Design
e Sociedade (FBAUP), Portugal.
TIAGO ASSIS
Faculdade de Belas-Artes da Universidade
do Porto (FBAUP), Portugal.
UMBELINA BARRETO
Instituto de Artes, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (IA-UFRGS), Brasil.
Índice
Index
1. Editorial
1. Editorial
12-17
O planeta e a Educação Artística
The planet and the Art Education
12-17
JOÃO PAULO QUEIROZ
JOÃO PAULO QUEIROZ
2. Artigos originais
2. Original articles
O desenho como ponte entre arte,
artífices e ofícios na educação
para o trabalho do século XIX:
diálogos Brasil-Portugal
Drawing as a bridge between art,
artificers and craft in education
for labor in the 19th Century:
Brazil-Portugal dialogues
ALEXANDRE GUIMARÃES
ALEXANDRE GUIMARÃES
Poesía, patrimonio, arte:
aprender creando
Poetry, heritage, art: learning
by creating
OLGA DUARTE PIÑA
OLGA DUARTE PIÑA
Entre o Fazer e o Pensar: a
presença da arte contemporânea
nas práticas docentes da
Educação Visual no 3ºCiclo
Between Doing and Thinking: the
presence of contemporary art
in teaching practices of Visual
Education in the 3rd cycle
MARTA ORNELAS
MARTA ORNELAS
Genealogias: el largo y sinuoso
recorrido de la educacion artistica
Genealogies: the long
and winding journey of artistic
education
SUSANA MARTELLI
20-207
20-31
32-42
43-55
56-65
SUSANA MARTELLI
Não parecem bandos de pardais
CARLA MARIA REIS VIEIRA FRAZÃO
They don’t look like
sparrows flocks
66-77
CARLA MARIA REIS VIEIRA FRAZÃO
Projectos Visuais Escolares,
Formação de Professores e
Investigação-Acção: resposta
integrada em Auto-ecocompatibilização à EmergênciaMudança
Eco-compatibilization of Visual
Aesthetic Education Projects in
school-environment interaction:
Contribution for the University
of Lisbon Artistic Education
Exploratory
ELISABETE OLIVEIRA
ELISABETE OLIVEIRA
Livro de autor, um recurso
pedagógico para o 1.º ciclo do
ensino básico
Author’s Book, a pedagogical
resource for the first Cicle of Basic
Education
ANA MAFALDA CONDE DA ROCHA
ANA MAFALDA CONDE DA ROCHA
78-95
96-103
Mortalidade, grandeza e tradição:
inferências entre simbolismo,
ruptura social e educação nas
comunidades pomeranas do
Espírito Santo
Mortality, grandeur and tradition:
inferences between symbolism,
social rupture and education in
the Pomeranian communities of
Espírito Santo
ELAINE KARLA DE ALMEIDA
ELAINE KARLA DE ALMEIDA
Pedagogia Griô como
geradora de novas dinâmicas na
formação docente
Griô Pedagogy as a generator
of new dynamics in teacher
education
FRANCIONE OLIVEIRA CARVALHO
FRANCIONE OLIVEIRA CARVALHO
& THALITA DE CASSIA REIS TEODORO
& THALITA DE CASSIA REIS TEODORO
Imagemtexto: projeto
e experimentação criativa
em Desenho
Imagetext: project and creative
experimentation in Drawing
104-115
116-126
127-138
ANA MENEZES
ANA MENEZES
O Ensino de arte a partir
da proposição de Objetos de
Aprendizagem Poéticos
Art Teaching from the proposition
of poetic learning objects
139-150
LUCAS LIMA FONTANA
LUCAS LIMA FONTANA
Que “Pessoa” se esconde
no meu papel? A arte entre a
letra e o traço
What “Pessoa” hides in my notes?
The art between letter and dash
SOFIA CARANOVA
& MARTA MAGALHÃES DA SILVA
151-162
SOFIA CARANOVA
& MARTA MAGALHÃES DA SILVA
Reflexos e reflexões sobre a ação
docente em arte na educação
infantil: a pesquisa didática
em ato
Reflections and reflections on
the teaching of art in children’s
education: didactic research
in the act
MARIA IRENE P. DE OLIVEIRA SOUZA
MARIA IRENE P. DE OLIVEIRA SOUZA
No Museu também se dança:
projetos que se desenham
à medida
Reflections and reflections
on the teaching of art in children’s
education: didactic research
in the act
ANDREIA DIAS
163-175
176-188
ANDREIA DIAS
A geometria como elemento
estruturante e promotor da
expressão criativa e da produção
artística
Geometry as an element to
structure and promote creative
expression and artistic production
MARIA BOTTO, CELSO AMEIXA
& JOSÉ PEDRO TRINDADE
& JOSÉ PEDRO TRINDADE
MARIA BOTTO, CELSO AMEIXA
189-198
Educação Estética e Ensino da
Estética: distâncias e cruzamentos
Aesthetic Education and Aesthetic
Teaching: crossings and distances
CARLOS VALENTE
CARLOS VALENTE
3. Desafios
da matéria-prima
3. The challenge
of the raw material
210-237
Ética da revista
Journal ethics
210-211
Instruções aos autores
Instructions to authors
212-215
Manual de estilo
Style guide
216-221
Notas biográficas: conselho
editorial / pares académicos
Editing comittee / academic peers:
biographic notes
222-234
Chamada de trabalhos:
IX Congresso Internacional
Matéria-Prima
Call for papers: 9th Matéria-Prima
International Congress
235-236
Ficha de assinatura
Subscription notice
199-207
237
10
11
1. Editorial
Editorial
12
O planeta
e a Educação Artística
Queiroz, João Paulo (2019, setembro) “O planeta e a Educação Artística.”
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 12-17.
The planet and the Art Education
Editorial
JOÃO PAULO QUEIROZ*
*Portugal, coordenador da revista Matéria-Prima.
AFILIAÇÃO: Universidade de Lisboa, Faculdade de Belas-Artes, Centro de Investigação e Estudos em Belas-Artes (CIEBA). Largo da Academia Nacional de Belas-Artes, 1249-058, Lisboa, Portugal. E-mail: j.queiroz@belasartes.ulisboa.pt
Resumo: Para este número 18 da Revista
Matéria-Prima reuniram-se 16 artigos que
permitem colocar em perspetiva diversas dimensões da Educação Artística. Entre a consciência patrimonial e a emancipação, entre o
domínio da técnica e do género, entre a integração e a maturação criadora, há um espaço a
ser pesquisado, feito de história, de identidade,
de ensaio e de inclusividade.
Palavras-chave: Educação Artística / cidadania / integração / património.
Abstract: In this issue 18 of the Journal Matéria-
Prima we gathered 16 articles that allow us to
put into perspective various dimensions of Art
Education. Between heritage consciousness and
emancipation, between the domain of technique
and genre, between integration and creative maturation, there is a space to be researched, out of
history, identity, art practice and inclusiveness.
Keywords: Artistic Education / citizenship /
integration.
2. Contextos
Mas os desafios contemporâneos, societais (Maneschy, 2018), juntaram-se à
problemática contextual: a educação artística deve agregar a cidadania, onde se
inserem temáticas ambientais (Silva, 2018), o respeito pelas minorias (Herberto, 2018) dentro de uma perspetiva inclusiva e humanista. Ainda há que acrescentar as dimensões terapêuticas e a inclusão social, onde se inclui a educação
especial, como campos importantes de intervenção (Pereira, 2018a; 2018b).
As intervenções artísticas, pelo seu lado, revestem-se cada vez mais de uma
dimensão performativa e educativa, na medida em que implicam o público
numa convocação lúdica e significativa (Donati, 2018).
3. Semiosfera
Enfim, a educação artística tem hoje como campo de ação uma esfera complexa, coincidente com o planeta, seja a sua biosfera ou a sua semiosfera. Do
lado dos sujeitos, temos toda a trajetória do nascimento à morte, envolvendo
os diversos níveis etários, sem esquecer as formas comunitárias como vivem,
as comunidades, as sociedades, os seus movimentos e identidades, e as suas
diferenças (Ramos, 2018; Corona, 2018). Também a compreensão histórica é
fundamental tanto aos artistas como aos professores, e igualmente a todos os
sujeitos da educação. A par com a operatividade plástica e do domínio de técnicas e das suas modalidades (Salvatori, 2018), onde se inclui o conhecimento do
tipo operacional, dos ‘schema.’
4. Contributos
Neste número 18 da Revista Matéria-Prima reuniram-se 16 artigos que permitem
colocar em perspetiva estas diversas dimensões da Educação Artística. O artigo
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 12-17.
Aliar a construção patrimonial com a sua conservação e valorização é um dos
desafios que se colocam à Educação Artística. Mas sendo desafios difíceis, não
são os únicos (Queiroz, 2016a; 2016b; 2018). O desenvolvimento da consciência crítica para a formação de um cidadão autónomo, interventivo e integrado
será o fim último de qualquer processo de ensino-aprendizagem. Mas uma vez
mais as tarefas não se esgotam por aqui. A formação continuada, ao longo da
vida, pela formação formal ou informal também é um dos campos emergentes.
Acrescenta-se, claro, a formação vocacional: a formação dos artistas em primeiro lugar, sejam da área das artes visuais ou do design e da aplicação em que
a arte age como mediadora industrial ou espacial.
13
1. Desafios
14
Queiroz, João Paulo (2019, setembro) “O planeta e a Educação Artística.”
“O desenho como ponte entre arte, artífices e ofícios na educação para o trabalho do século XIX: diálogos Brasil-Portugal” de Alexandre Guimarães (Goiânia,
Brasil) propõe discutir o ensino do desenho numa perspetiva diacrónica, compreendendo a antiga dicotomia artes mecânicas / artes liberais e fazendo uma
interessante revisão da história da educação oitocentista procurando entender as
justaposições e sobreposições artístico-culturais entre Brasil e Portugal, ambos
num contexto pré-republicano das Belas artes e do Ensino Industrial.
Olga Duarte Piña (Sevilha, Espanha), no artigo “Poesía, patrimonio, arte:
aprender creando” apresenta uma proposta que compreende a poesia enquanto
legado patrimonial tomando a obra poética Gustavo Adolfo Bécquer (1836-1870).
A abordagem didáctica parte da biografia do autor, de uma seleção de Rimas y Leyendas, para que os alunos do ensino básico obtenham novos poemas
e narrativas explorando as possibilidades plásticas das histórias, ou as visitas
aos lugares na cidade de Sevilha, mediante meios como a fotografia e diários de
campo. Procura aprofundar as inter-relações entre os conteúdos e metodologias, buscando obter junto dos alunos autonomia, conhecimento, comunicação
e representação.
O artigo “Entre o Fazer e o Pensar: a presença da arte contemporânea nas
práticas docentes da Educação Visual no 3ºCiclo,” de Marta Ornelas (Lisboa,
Portugal), são abordados os modos mediação entre os jovens e os museus de
arte contemporânea através da escola. São propostas, a partir de pesquisas no
terreno, que os jovens esperam práticas mais participativas onde se possa exercer criatividade e aprendizagem significativa.
Susana Martelli (Caba, Argentina) “Genealogias: el largo y sinuoso recorrido de la educacion artistica” apresenta uma revisão de algumas tendências
da arte educação ao longo da história e da geografia, para confrontar as convergências e necessidades de estetização, sobretudo no contexto agregador das
américas, onde convergem imigrantes e nativos na construção de uma estética
operacional.
O artigo “Não parecem bandos de pardais” de Carla Reis Frazão (Lisboa,
Portugal) apresenta um projeto desenvolvido com uma turma do 6º ano, em
Educação Visual e de Educação Tecnológica, explorando novos meios de criação visual, e através do confronto com obras de arte, provocando a imaginação
e a motivação.
Elisabete Oliveira (Lisboa, Portugal) “Projectos Visuais Escolares, Formação de Professores e Investigação-Acção: resposta integrada em Auto-eco-compatibilização à Emergência-Mudança” propõe um referencial sistematizador das atividades exercidas em contexto letivo, em várias escolas do país,
15
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 12-17.
recorrendo a exemplos do terreno e a propostas de categorização dos períodos
educativos em Portugal.
O artigo “Livro de autor, um recurso pedagógico para o 1.º ciclo do ensino
básico” de Ana Rocha (Lisboa, Portugal) apresenta um projeto pedagógico de
Expressão e Educação Plástica no 1.º Ciclo do Ensino Básico utilizando, como
recurso pedagógico, o Livro de Autor, provocando a interação entre os trabalhos da arte moderna e contemporânea e a expressão na sala de aula.
Elaine Karla de Almeida (Vitória, Brasil) no artigo “Mortalidade, grandeza
e tradição: inferências entre simbolismo, ruptura social e educação nas comunidades pomeranas do Espírito Santo” aborda a relação da comunidade pomerana com a normalização educativa e as tentativas mais recentes de abordar os
temas vastos da inclusão cultural.
O artigo “Pedagogia Griô como geradora de novas dinâmicas na formação
docente” de Francione Oliveira Carvalho & Thalita de Cassia Reis Teodoro
(Juiz de Fora, Brasil) aborda uma experiência baseada na Pedagogia Griô vivenciada na disciplina Arte e Cultura Afro-Brasileira aplicada no curso de Licenciatura de formação de professores. A pedagogia Griô, proposta criada pela
educadora Lillian Pacheco no Ponto de Cultura Grãos de Luz e Griô, na cidade
de Lençóis, no estado da Bahia. Em oficinas cooperativas são explorados valores afro-brasileiros: a circularidade, a ludicidade, a oralidade, a ancestralidade
e a corporeidade negra, que permeiam todo o processo educativo.
Ana Menezes (Portugal) no artigo “Imagemtexto: projeto e experimentação
criativa em Desenho” apresenta uma unidade de trabalho desenvolvida com
uma turma do 11º ano de Desenho A. A proposta explora o texto como medium
artístico assim como a relação texto e imagem, desafiando as fronteiras entre
poesia visual, tipografia e caligrafia.
O artigo “O Ensino de arte a partir da proposição de Objetos de Aprendizagem Poéticos” de Lucas Lima Fontana (São Paulo, Brasil) parte de um posicionamento do docente como um mediador através da criação de recursos didáticos realizados como Objetos de Aprendizagem Poéticos, explorando os conceitos de “objetos propositores”,“mediação” e “professor-criador” colocando o
aluno como protagonista de uma ação de ensino-aprendizagem.
Sofia Caranova e Marta Magalhães da Silva (Lisboa, Portugal) no artigo
“Que ‘Pessoa’ se esconde no meu papel? A arte entre a letra e o traço” apresentam o trabalho com um grupo de alunos do 12º ano envolvendo as disciplinas de
Desenho A e de Português. Provoca-se o diálogo entre o universo das letras e o
das artes visuais, numa estratégia de fragmentação.
O artigo “Reflexos e reflexões sobre a ação docente em arte na educação
16
Queiroz, João Paulo (2019, setembro) “O planeta e a Educação Artística.”
infantil: a pesquisa didática em ato,” de Maria Irene Pellegrino de Souza (Londrina, Brasil), apresenta reflexões sobre a ação docente em Arte na educação infantil, desenvolvida em Cambé (Paraná, Brasil), com uma turma do infantil IV.
Parte-se da didática sobre desenho e movimento de Tony Orrico e Segni Mossi,
reforçando a necessidade da pesquisa didática nos diversos níveis de ensino.
Andreia Dias (Lisboa, Portugal), no artigo “No Museu também se dança:
projetos que se desenham à medida” apresenta a intervenção na mediação do
Museu Gulbenkian, através de 3 projetos de intervenção no espaço expositivo,
2 deles desenhados a entre o serviço educativo do Museu e os professores e alunos da licenciatura em dança da Faculdade de Motricidade Humana, e ainda
um terceiro com os professores e alunos de 2º ciclo da escola de ensino artístico
integrado Luis António Verney.
O artigo “A geometria como elemento estruturante e promotor da expressão criativa e da produção artística” de Maria Botto, Celso Ameixa & José Pedro Trindade (Lisboa, Portugal) apresenta o trabalho realizado na disciplina de
Educação Visual, 9º ano de escolaridade, em que se desafiou uma abordagem
modular á criação de formas tridimensionais, articulando no processo diversas fases de complexidade, seguindo a taxonomia de Bloom e explorando uma
apropriação dentro da criatividade e da geometria.
Carlos Valente (Madeira, Portugal) no artigo “Educação Estética e Ensino
da Estética: distâncias e cruzamentos” procura uma revisão criativa da educação estética em Portugal procurando um ponto de situação e apresentado um
estudo no âmbito de um programa de pós-doutoramento, tendo como objetivo
mapear o lugar da estética na formação superior, ao nível nacional, e propondo
mais investigação na área.
Os contributos são propostas de intervenção, umas colocadas no tereno, outras debatidas e enquadradas nos debates contemporâneos, outras ainda anunciam-se como alternativas. Em comum a mesma vontade de construção, o pano
de fundo das artes, o pano de fundo da educação.
17
Queiroz, João Paulo (2016b) “Educação
artística e a ‘infirmitati,’ ou a fraqueza
analógica.” Revista Matéria-Prima. ISSN
2182-9756, e-ISSN 2182-9829. Vol. 4 (2)
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Queiroz, João Paulo. (2018). “Em torno de
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Queiroz. João Paulo (2016a) “Educação
artística, casos e realidades: ‘infirmitati,’
ou a fraqueza analógica”. In Novos
Lugares para a Educação Artística. Lisboa:
Faculdade de Belas-Artes da Universidade
de Lisboa & Centro de Investigação e
Estudos em Belas-Artes. pp. 379-86. ISBN:
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MIaT4iNeOuEigK2s
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Salvatori, Maristela. (2018). “Um recorte
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1980 a 1990.” Revista :Estúdio, 9(22),
171-178. Recuperado em 04 de agosto
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scielo.php?script=sci_arttext&pid=S164761582018000200017&lng=pt&tlng=pt.
Silva, João Castro. (2018). “Maria Lino:
a escultura como modo de vida.”
Revista :Estúdio, 9(23), 121-132.
Recuperado em 04 de agosto de 2019,
de http://www.scielo.mec.pt/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S164761582018000300013&lng=pt&tlng=pt.
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 12-17.
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18
19
2. Artigos originais
Original articles
20
Guimarães, Alexandre (2019, setembro) “O desenho como ponte entre arte, artífices e ofícios na educação para o trabalho
do século XIX: diálogos Brasil-Portugal.” Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 20-31.
O desenho como ponte entre
arte, artífices e ofícios
na educação para o trabalho
do século XIX: diálogos
Brasil-Portugal
Drawing as a bridge between art, artificers
and craft in education for labor in the
19th Century: Brazil-Portugal dialogues
ALEXANDRE GUIMARÃES*
Artigo completo submetido a 10 de abril de 2019 e aprovado a 15 de maio de 2019
*Brasil, Professor de ensino básico/profissional e superior.
AFILIAÇÃO: Instituto Federal de Goiás. Avenida Assis Chateaubriand, nº 1658, Setor Oeste. CEP 74130-012. Goiânia — GO,
Brasil. E-mail: alxguimaraes@gmail.com
Resumo: Para discutir o ensino do desenho
Abstract: To discuss the drawing teaching under-
entendido como ponte da dicotomia artes
mecânicas/artes liberais, acesso alguns fragmentos da história da educação oitocentista
sob a perspectiva de uma escrita brasileira
interessada em entender as miscigenações,
justaposições e sobreposições artístico-culturais entre Brasil e Portugal. Numa arena em
que o Desenho se constituía como disciplina
num projeto de educação pré-republicana,
procuro pelos rumores das representações do
seu ensino, considerando seus fluxos entre as
práticas artísticas das Belas artes e do Ensino
Industrial.
Palavras chave: ensino do Desenho / educação profissional / história da educação / ensino técnico.
stood as a bridge between the mechanical arts/
liberal arts dichotomy, I take some fragments of
the history of nineteenth-century education from
the perspective of a Brazilian writing interested in
understanding the intermingling, juxtapositions,
and artistic-cultural overlaps between Brazil and
Portugal. In an arena in which the Drawing was
constituted as a discipline in a project of prerepublican education, I look for the rumors of
the representations of its teaching, considering its
flows between the artistic practices of Fine Arts
and Industrial Education.
Keywords: Drawing teaching / professional education / history of education / technical teaching.
Na educação do futuro artista deve atender-se principalmente ao desenvolvimento
harmonico de todas as suas faculdades; e isto pertence ao a-b-c da pedagogia
esthetica. (Vasconcellos, 1877)
21
Introdução
A filosofia e política liberais dos séculos XVIII e XIX legaram à História do Ensino da Arte o incentivo e a necessidade do “aprender” e “saber” desenhar.
Enxergou-se na escola o lugar para o crescimento de um país, onde a educação
pública cumpriria o papel de formar cidadãos civilizados, cultos e aptos para o
trabalho. Especialmente para o ensino do Desenho, o pensamento francês subsidiava decretos e projetos para um futuro promissor, com destaque às ideias de
Louis Benjamin Francouer (1773 — 1849), simpatizante da pedagogia de Johann
Heinrich Pestalozzi (1746 — 1827). Francouer criou um método de desenho que
desafiava o monopólio do ensino artístico das academias e do ensino técnico
dos engenheiros, expandindo o aprendizado às classes menos desfavorecidas,
agora qualificadas para contribuir ao progresso da indústria (Brito, 2014). Nota-se que no ensino primário a disciplina de Desenho acompanhava o ensino das
primeiras letras, cujo “bom traço” seria aperfeiçoado nos níveis secundários e
superior, com destaque para o ensino industrial.
Simpatizantes do pensamento liberal, como os portugueses Marquês de
Pombal (1669-1782) e Passos Manuel (1801-1862), legaram significativas reformas para a educação em terras luso-brasileiras (no Brasil, as reformas se desdobraram em ações mais modestas em função de seu caráter colonial), promovendo novos currículos em atendimento aos ventos iluministas:
[...] nasceu um conjunto de leis visando promover a civilização geral dos portugueses,
a difusão da instrução pública e o gosto do belo que se substanciou em importantes
reformas dos estudos (primários, secundários e universitários), na criação de
conservatórios, de academias, de escolas politécnicas, e de museus.” (Ramos, 1993:30)
As ondas reformistas portuguesas de certa forma atravessavam o Atlântico, alcançando um Brasil em busca de sua identidade política e autonomia.
As ideias vindas de fora prevaleciam sobre o pensamento local e assim constituía-se um movimento artístico-educativo de justaposição (encontros) entre
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 20-31.
O Desenho não ocupa o lugar que ocupou até o final do séc. XIX como meio único e
fundamental na concepção e comunicação das imagens. Até aí, todas as imagens eram
produzidas pelo homem. Hoje são muito poucas e cada vez mais raras. Continua,
porém, a mesma disciplina. (Vieira, 2006)
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Guimarães, Alexandre (2019, setembro) “O desenho como ponte entre arte, artífices
e ofícios na educação para o trabalho do século XIX: diálogos Brasil-Portugal.”
a teoria europeia com o saber popular — um terreno fértil para a sobreposição
(hibridismos) dos saberes artesanais do povo com a erudição industrial da elite.
A partir destas transformações sociais que incentivaram a formalização da educação profissional — ou ensino industrial — agrupo pistas e rumores do ensino
do Desenho no contexto das construções sociais dicotomizadas entre as belas
artes e as artes liberais. As metáforas “pistas” e “rumores” se justificam mediante um trabalho de vasculhamento de documentos que revelem aproximações
com o Ensino da Arte no século XIX, por ser um campo epistemologicamente
em formação e pelas perdas de objetos e documentos não preservados, principalmente no Brasil. Foram (e continuam sendo) lugares de busca, principalmente: as Bibliotecas Nacionais do Brasil e Portugal (acervo digital) e a Biblioteca Digital Luso-Brasileira, dentre outras fontes.
Ao entender que as camadas populares brasileiras eram formadas por uma
grande maioria negra e uma outra em processo multicultural de miscigenação
afro-europeia, procuro por registros e discursos (em imagens, manuais, decretos, cartilhas, literatura e imprensa) sobre os processos de escolarização do
povo, com atenção ao ensino das Artes Visuais, sobretudo do Desenho. Apesar
de seu teor historiográfico, este texto vem do olhar de quem produz, ensina e
pensa a arte, ao entender que “as imagens e os objectos são sempre o princípio
e o fim do estudo” (Vieira, 2006:30). Por outro lado, chegar neste tema só foi
possível mediante minha atuação como professor de Artes Visuais numa rede
pública de educação técnica brasileira, fundada há 110 anos (Escola de Aprendizes Artífices) para a formação de trabalhadores, hoje denominada Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia. E ainda, na mesma instituição, por
minha atuação nos cursos superiores de formação de professores de Arte.
1. Arte, artífices e artistas
Surgiram no Brasil do século XIX alguns movimentos para a profissionalização
do trabalho através de projetos de escolas e institutos voltados à instrução técnica popular, mais comprometida com a qualificação e ocupação do pobre —
considerado uma doença social — e menos preocupada com sua efetiva educação. Num país agrário que ansiava pela modernidade, a indústria e a artesania
pouco se diferenciavam e o ensino do Desenho, tanto em Portugal quanto no
Brasil, era uma urgência para formar trabalhadores capazes de criar soluções
de consumo, atendendo às novas classes e hábitos urbanos. Por outro lado, o
ensino do Desenho, incluindo o de Pintura, atendia à necessidade de se criar
um ambiente erudito para a produção artística, satisfazendo as representações
sociais “à francesa” de uma elite luso-brasileira.
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Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 20-31.
Figura 1 ∙ Algumas das publicações de referência deste
estudo. Em sentido horário: Princípios de Desenho Linear (Rio
de Janeiro, 1829); Diccionario Techcnico e Historico (Lisboa,
1875); Observações sobre o Actual Estado do Ensino das Artes
em Portugal (Lisboa, 1875); Artes e Artistas em Portugal (Lisboa,
1892); A Ventarola (Rio de Janeiro, 1881); A Reforma de
Bellas-Artes (Porto, 1877). Fonte: diversas (vide
referências bibliográficas).
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Guimarães, Alexandre (2019, setembro) “O desenho como ponte entre arte, artífices
e ofícios na educação para o trabalho do século XIX: diálogos Brasil-Portugal.”
A industrialização da colônia portuguesa, inexistente até a vinda da família
real para o Brasil, em 1808, impulsionou um “pré-projeto” de educação popular, com atenção para a formação de mão de obra técnica. Assim surgiram escolas de formação propedêutica — a considerar o ensino das primeiras letras
— aliada à formação técnica para o trabalho, a despeito de seu caráter precário,
doméstico e desassistido. O status imperial atribuído ao Brasil, entre 1808 e
1889, passando pela independência em 1822, instaurou e multiplicou a produção artística brasileira aos olhos do europeu e seus métodos de desenho foram
disseminados e incorporados nos ateliês e escolas. A serviço da família real e
de seus arredores, houve uma intensa produção iconográfica brasileira, dentre
desenhos, aquarelas, pinturas, gravuras, mapas, objetos e obras arquitetônicas,
com destaque aos artistas viajantes Frans Post, Jean-Baptiste Debret, August
Muller, Joham Moritz Rugendas e o brasileiro Victor Meirelles, dentre tantos
outros. Na belíssima Coleção Brasiliana, do Centro Cultural Itaú, em São Paulo,
é perceptível a intensa produção artística a partir da entrada de pesquisadores,
botânicos e artistas viajantes em terras brasileiras — até o século XIX, o território ficou fechado ao mundo, sendo a difusão da iconografia brasileira proibida,
o que gerou, claro, desenhos e pinturas clandestinas que viajaram o mundo.
Num Brasil em que ainda se ensaiava um modelo de educação, é fácil imaginar
que aqueles artistas e seus discípulos que aqui permaneceram constituíram a
classe professoral artística nos ateliês acadêmicos e nas escolas industriais, reproduzindo, aos moldes franceses, os métodos para desenhar.
A exemplo dessa corrente formativa de mestres artistas-professores, já no
final do Oitocentos, um dos mais importantes idealizadores das artes locais, o
brasileiro nascido em Belém-PA, Theodoro Braga (1872-1953), aluno de Benjamin Constant (1845-1902) na Academia Julian em Paris, tornou-se um misto
de pintor, decorador, professor, historiador, caricaturista e crítico de arte. Com
intensa produção voltada ao folclore brasileiro e à exuberância da Amazônia,
realizou dezenas de exposições, além de uma importante conferência via rádio:
“O Ensino do Desenho nas Escolas”. Publicou manuais e livros para o ensino do
Desenho, sendo uma das principais referências brasileiras da área na primeira
metade do séc. XX.
Nos próximos parágrafos, trago alguns documentos e imagens (Figura 1)
como referenciais para discutir os cruzamentos das políticas públicas — e privadas — da educação popular, sobretudo a masculina, uma vez que os projetos
de educação do Oitocentos excluíam as mulheres da profissionalização técnica
e acadêmica, restando-lhe o aprendizado das primeiras letras, do bordado e dos
afazeres domésticos, salvo raríssimas exceções.
25
O que podem nos revelar, afinal, para além das justaposições dessas obras,
as sobreposições dos registros das histórias pedagógicas das artes? (Figura 1)
Em consulta às publicações oitocentistas, é possível entender diferentes representações do ensino e fazeres artísticos, ora para uma “elite intelectual”, ora
para “trabalhadores”, como demonstra as classificações do Quadro 1:
Profissão
ARTES
MECÂNICAS
Artífice
Habilidades
Trabalho do corpo e das mãos
Trabalho do espírito;
genialidade; talento
Objeto
Artefatos: artes fabris ou
mecânicas
Belas-artes: pintura, gravura,
escultura
LIBERAIS
Artista
Apesar das reafirmações dicotômicas entre o braçal e o intelectual, a palavra arte mediava as representações de atuação profissional que se cambiavam
entre o “esforço da mente” e o “esforço do corpo”. Arte, artista e artífices se confundiam entre as rixas dos intelectuais (artistas) perante os operários (artífices)
— ambos lidando com o desenho, sendo nas artes fabris ou nas belas-artes.
Na literatura e em documentos históricos oitocentistas, o artístico estava associado ao domínio de uma técnica/habilidade, como se pode perceber nas nomeações das organizações de trabalhadores, por exemplo, a Sociedade dos Artistas Mecânicos e Liberais de Pernambuco (1880). Os trabalhos mecânicos, cuja
construção simbólica estava associada aos “baixos” e “humildes” e à “indignidade”, figuravam no lado oposto dos trabalhos liberais — estes poderiam ser a pintura, música, gramática e arquitetura, ou seja, ocupações do ócio (Cord, 2012). Ora,
não são, de acordo com o vocabulário da época, atividades mecânicas e atividade
liberais, ambas artes? E o artístico um adjetivo comum para as habilidades técnicas liberais? Desse modo, sendo as artes e o artístico palavras comuns no contexto
linguístico oitocentista, ou seja, elementos de ligação entre as ofertas de formação e atuação do trabalho, o Desenho — aquele vindo das Academias — adquire
um dos papeis principais no currículo para a educação de trabalhadores mecânicos e liberais, atuando, por sua vez, como ponte entre as imagens sociais que distanciavam (ou ainda distanciam) os trabalhos dos “puros” e o dos “pecadores”.
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 20-31.
Quadro 1 ∙ Vocabulário para a dicotomia artes liberais/artes mecânicas no séc. XIX.
Fonte: elaborado pelo autor.
Guimarães, Alexandre (2019, setembro) “O desenho como ponte entre arte, artífices
e ofícios na educação para o trabalho do século XIX: diálogos Brasil-Portugal.”
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2. Rastros do ensino do Desenho
No documento português A Reforma de Bellas-Artes: Analyse do relatorio e projectos da Comissão Oficial nomeada em 10 de novembro de 1875 (Vasconcellos,
1877), uma avaliação crítica de um projeto de lei que reorganizava o ensino das
belas artes e sua aplicação para a indústria, nos museus artísticos e arqueológicos, bem como aos monumentos históricos de Portugal, podemos perceber
um discurso contestador à visão republicana renovadora para o ensino de arte
no séc. XIX. O documento nos traz informações importantes para a história do
ensino da Arte, sobretudo do Desenho, como a menção da presença do Ensino
do Desenho Linear e de Ornato no Instituto Industrial do Porto, uma escola que
formava marceneiros, carpinteiros, comerciantes, entalhadores, escultores,
estucadores, ourives, pintores, tipógrafos e estudantes. O documento também
faz relações sobre a epistemologia do ensino do Desenho e suas metodologias
como um processo que colabora com a formação técnica e estética do artista/
artífice. A partir desses exemplos documentais, é possível identificar, ao longo
do século XIX, a abordagem do Desenho como campo de conhecimento (Figura 2 e Figura 3), bem como o seu lugar no currículo, principalmente para a
formação de artífices-artistas sob um sistema integrado entre as academias artísticas e as escolas industriais.
No Brasil, a Sociedade Propagadora de Belas Artes, criada no Rio de Janeiro em 1856, com a participação de artistas, arquitetos, professores, jornalistas,
advogados e médicos, foi idealizada pelo artífice-arquiteto Francisco Joaquim
Béthencourt da Silva, que se formara na Academia Imperial de Belas Artes. Foi
uma organização para pensar um projeto de industrialização, bem como de
embelezamento e ornamentação da nova urbes. Influenciada pelo movimento inglês Arts and Crafts, em1858 a Sociedade cria o Liceu de Artes e Ofícios,
a “Escola do Povo”, como citavam os jornais da época, gratuita e popular para
homens livres ou estrangeiros, “sendo o ensino do desenho a pedra angular da
grade curricular e da ligação das artes aos ofícios” (Bielinski, 2009:s/p).
Funcionando como um meio termo entre o ensino secundário propedêutico
e o superior, os Liceus de Artes e Ofícios, que também tiveram outras unidades
em distintas capitais brasileiras, cumpriram, além da formação para o trabalho,
um importante papel para a formação artística, seja ela aos moldes das belas artes, seja aos moldes da artesania. Exposições de trabalhos dos estudantes eram
frequentes e começavam a acontecer diálogos entre os projetos do Colégio D.
Pedro II (formação propedêutica) e o Liceu (formação técnica) em suas atividades educativas e artísticas. No entanto, a valorização da profissão docente inexistia, assim como o pensamento sobre seu trabalho e sua identidade, estando
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Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 20-31.
Figura 2 ∙ Manual francês com rostos femininos para
estudo de cópia. Fonte: Cours Élementaire de B. R. Julien (século XIX).
Figura 3 ∙ Instruções para o desenho linear. Fonte:
Albuquerque (1829).
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Guimarães, Alexandre (2019, setembro) “O desenho como ponte entre arte, artífices
e ofícios na educação para o trabalho do século XIX: diálogos Brasil-Portugal.”
a imagem do professor aliada ao messianismo. Depois da abolição do trabalho
escravo, em 1888, e da proclamação da República, em 1889, o regime republicano tratou de disseminar ideias progressistas de bases positivistas, religiosas e
de ordem voltadas ao desenvolvimento industrial do Brasil. A exemplo, cria-se
no Brasil, na primeira década do século XX, as Escolas de Aprendizes Artífices
(Figura 4), uma em cada capital brasileira, as quais se tornaram Escolas Técnicas Federais e hoje constituem os Institutos Federais, com 600 unidades em
todo o país, ofertando do ensino médio/técnico ao doutoramento.
Além das publicações históricas como manuais, dicionários e relatórios, recorro também às publicações do cotidiano, como o jornal estudantil do Lyceo
de Artes e Officios do Rio de Janeiro, A Ventarola (Fig. 5), cuja primeira edição foi
distribuída em 1881. Neste número há destaque para o artigo “O Desenho de
Figura”, que se aproxima de um manual didático — e político — para o ensino da
matéria. A preocupação metodológica volta-se ao desenvolvimento perceptivo
do aprendiz a desenhista, da observação à interpretação da forma, que deveria
passar por processos hierárquicos de aprendizagem do desenho da Figura 5.
Sobre a prática e o ensino do Desenho, podemos perceber que o rigor pedagógico do século XIX vai se dissolvendo numa liberdade criativa/expressiva
no século XX e a arte vai ganhando representações intelectualizadas a partir
de um sistema produtivo subsidiado pela indústria cultural, onde arte se torna
Arte. O modernismo nos deixa polarizações acentuadas, não muito diferentes
das “artes mecânicas” e “liberais” dos séculos XVII e XIX, como as classificações: arte erudita/arte popular, arte/artesanato, dentre outras. Nesse contexto,
o ensino do Desenho, muito mais relacionado à ideia de liberdade artística do
que a uma matéria “disciplinar” para a formação infantil, vai se desprendendo
dos currículos escolares da educação básica, sendo sua prática reservada, principalmente, nos cursos superiores ou de formação técnica:
Se por um lado exaltamos os ventos do modernismo como possibilidade de abrir
espaço no campo do ensino de artes para a expressão das crianças, por outro lado
ponderamos que estes ventos, em nome da livre-expressão, tenham varrido de nossas
salas de aula algumas estratégias de ensino que instrumentavam as crianças e jovens
justamente para a expressão. O desenho de imaginação, o desenho de observação, o
desenho de memória, o desenho do natural, o desenho decorativo, o desenho técnico,
todas estas designações perderam lugar para um tal de “desenho livre” que de livre
nada apresenta, apenas a constatação de que de forma “livre” e “espontânea” o que
acaba circulando nas resmas e resmas de papel sulfite é a afirmação de uma linguagem
de consenso, de comunicação imediata, que não reflete o desejo de autoria e expressão
do modernismo. (Coutinho, 2017:201)
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Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 20-31.
Figura 4 ∙ Crianças (homens) da Escola de Aprendizes Artífices
do Estado de Goiás em aula de Desenho. Década de 1920.
Fonte: Acervo fotográfico do Instituto Federal de Goiás.
Figura 5 ∙ Recorte do periódico estudantil carioca A Ventarola. Rio
de Janeiro, Edição N. 1, 1881. Albuquerque (1829).
Guimarães, Alexandre (2019, setembro) “O desenho como ponte entre arte, artífices
e ofícios na educação para o trabalho do século XIX: diálogos Brasil-Portugal.”
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Conclusão
O Desenho foi uma ponte entre as experiências estéticas do povo e da elite.
Professores-artistas ensinavam o método tanto para os estudantes das Academias, dos Liceus Imperiais quanto para os Liceus de Artes e Ofícios. Ao pensar
o Desenho como ponte, penso também nos intercâmbios entre uma classe alta
privilegiada e uma massa de trabalhadores (negra, em sua maioria) dialogando
a partir de um campo de conhecimento técnico e expressivo que não privilegiava origem, títulos e cargos — é possível pensar noutras formas da prática/ensino do Desenho em grupos sociais populares desprendidos das instituições. Por
outro lado, penso também nas pontes formativas entre aqueles professores que
atuavam no ensino da Arte/Desenho nos dois territórios: o da formação artística e o da formação técnica. Nesse trânsito entre a elite intelectual e o povo, o desenho como “elemento civilizador da mão de obra técnica” (Trinchão, 2008:20)
adquiria espaços nas instituições formais de ensino e preparava os homens para
a atuação na indústria de bens de consumo, bem como para a indústria cultural.
Analisar a educação das artes no séc. XIX é poder friccionar as camadas das
histórias da educação luso-brasileiras, onde houveram, nem sempre como se
desejava, experimentações e tentativas de profissionalização da arte, seja para
as elites nas Academias, seja para os pobres, nos Liceus de Artes e Ofícios, bem
como em outras instâncias formativas populares que os documentos não deram conta de preservar. No Brasil, foi um período para experimentar a institucionalização dos saberes e dos produtos culturais. Nesse sentido, prosseguir a
pesquisa com base histórica sobre o Ensino da Arte e do Desenho é um caminho
para manter ativo um campo de conhecimento, de atuação profissional e de
realização de sonhos que resistem aos redemoinhos geopolíticos que ameaçam
a Educação no contexto do neoliberalismo global. Ao invés de levantar muros,
é poder fabricar tijolos para construir mais pontes. E do alto delas, ecoar nossas
inquietações: por onde anda o ensino do Desenho em nossas escolas?
31
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Poetry, heritage, art: learning by creating
OLGA DUARTE PIÑA*
Artigo completo submetido a 4 de maio de 2019 e aprovado a 15 maio de 2019.
*España, Profesora en el Grado de formación de maestros para Educación Infantil.
AFILIAÇÃO: Universidad de Sevilla, Facultad de Ciencias de la Educación, Departamento de Didáctica de las Ciencias Experimentales y Sociales. Calle Pirotecnia s/n, 41013, Sevilla, España. E-mail: oduarte@us.es
Resumen: Pretendemos, a través de la poe-
Abstract: Through poetry, understood as a legacy
sía entendida como legado patrimonial y de
creación artística, desarrollar una propuesta de enseñanza y aprendizaje que englobe
las tres áreas del currículo de Educación
Infantil: Autonomía e iniciativa personal,
Conocimiento del entorno y Lenguajes: comunicación y representación. Lo que motiva
esta propuesta es acercar el género literario
poético a los niños y niñas y para ello se tomará la obra de Gustavo Adolfo Bécquer
(1836-1870), considerado el primer poeta
moderno en lengua española, iniciador del
lenguaje poético de la modernidad a mediados del siglo XIX y fuente de inspiración
para generaciones posteriores a lo largo del
todo el siglo XX y hasta nuestros días. El diseño didáctico comprende la biografía del
autor y sus lugares, una selección de Rimas
y Leyendas con las que los alumnos trabajarán la deconstrucción de textos para generar
poemas nuevos o la creación de nuevos relatos; las posibilidades plásticas que las his-
of heritage and artistic creation, we intend to
develop a teaching and learning proposal that encompasses the three areas of the Infant Education
curriculum: Autonomy and personal initiative,
Knowledge of the environment and Languages:
communication and representation. What motivates this proposal is to bring the poetic literary
genre closer to children, and for this purpose the
work of Gustavo Adolfo Bécquer (1836-1870),
considered the first modern poet in the Spanish language, initiator of the poetic language of
modernity in the mid-nineteenth century and
source of inspiration for subsequent generations
throughout the entire twentieth century and up to
the present day, will be taken. The didactic design
includes the biography of the author and his places, a selection of Rhymes and Legends with which
the students will work on the deconstruction of
texts to generate new poems or the creation of new
stories; the plastic possibilities that the stories
inspire them; the visit to the spaces of the poet in
the city of Seville; the observation and handling of
Introducción
Si en la anterior edición del Congreso presentábamos unas Aproximaciones a la
enseñanza del patrimonio cultural y a la educación artística en la formación docente de Educación Infantil en la que esbozábamos el esquema de un posible diseño
didáctico, en esta ocasión, avanzamos para concretar una propuesta educativa
en torno a la poesía, el patrimonio y el arte. La finalidad principal de este empeño es comprobar que, desde las primeras edades escolares, los niños y niñas
están dispuestos abiertamente a aprender sin prejuicios y porque “todas las enseñanzas deben comenzar en la escuela de párvulos y todas continuar a las par
y progresivamente hasta que el alumno deje la escuela.” (Cossío, 2007:27).
La poesía no se integra en Educación Infantil sino que se introduce de forma anecdótica, con cancioncillas infantiles al inicio y final de la jornada, o con
poemas que rara vez tienen en cuenta la tradición literaria pues, más bien, son
creaciones rimadas que vienen desde las editoriales usadas habitualmente por
los docentes; quizá, en alguna ocasión especial, se aprenden los niños y niñas
algún poema pero sin trascendencia educativa.
Como quiera que queremos continuar con la línea de trabajo planteada el
año anterior, pretendemos experimentar lo que acontece en el aula de Infantil
en lo que respecta a la enseñanza y el aprendizaje de la poesía, el patrimonio y
el arte interrelacionando los tres ámbitos de conocimiento desde un abordaje
analógico (Queiroz, 2016), siguiendo los modos de mediación sociocultural propuestos por Hernández-Hernández (2013) y con una metodología de investi-
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photographs; and the composition of a workbook
from all the creations. The methodology that this
proposal follows is the school research methodology and takes into account this didactic model
the interrelations between contents, methodology
and evaluation, linked to the purposes of teaching.
With the experimentation of this proposal, it is
hoped that Infant Education students will learn
significantly poetry, heritage and art from their
own creations.
Keywords: poetry / heritage education / art
education / children’s education / educational
innovation.
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 32-42.
torias les inspiran; la visita a los espacios del
poeta en la ciudad de Sevilla; la observación y
el manejo de fotografías; y la composición de
un cuaderno de trabajo a partir de todas las
creaciones. La metodología que sigue esta
propuesta es la metodología de investigación
escolar y tiene en cuenta este modelo didáctico las interrelaciones entre contenidos,
metodología y evaluación, vinculadas a las
finalidades de la enseñanza. Se espera con
la experimentación de esta propuesta que
el alumnado de Educación Infantil aprenda
significativamente poesía, patrimonio y arte
a partir de sus propias creaciones.
Palabras clave: poesía / educación patrimonial / educación artística / educación infantil / innovación educativa.
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Duarte Piña, Olga (2019, setembro) “Poesía, patrimonio, arte: aprender creando.”
gación que envuelve al docente y a los escolares (García Díaz y García Pérez,
1993). Por tanto, se analizará el diseño y los resultados de su aplicación, más la
actuación docente y la del alumnado. En definitiva, el desafío es enseñar en el
aula de Infantil aquello que hoy en día no se enseña porque se considera alejado de los intereses y del desarrollo intelectual de la infancia en una concepción
simplista de la infancia (Hernández-Hernández, 2013:37).
A continuación, introduciremos brevemente la vida y obra de Gustavo Adolfo Bécquer para tomar de ella los elementos que conformarán la propuesta didáctica. Los resultados de la experiencia se tratarán en un apartado antes de las
consideraciones finales.
1. Sobre la vida y obra de Gustavo Adolfo Bécquer
(Sevilla, 1836 — Madrid, 1870)
Aunque José Luis Cano afirma en la edición de Cátedra: “La vida de Gustavo
Adolfo Bécquer se puede contar en pocas páginas. No conocemos de él ni grandes aventuras, ni grandes viajes, ni grandes acciones.” (1980:11); hay una maravillosa obrita de Julio Nombela que está incluida en su libro Impresiones y recuerdos (1909-1912) dedicada al amigo y titulada Bécquer, así que la vida dio para
una obra organizada en pequeños capítulos iniciados con unas prosas y versos
del poeta a modo de cabecera. El primer capítulo titulado La luna entre las nubes
se escondía comienza de esta forma: “No tardé en ser como Nogués, admirador
del vate, desconocido entonces y que en efecto llegó a ser una de las glorias más
puras y legítimas de la literatura española: Gustavo Adolfo Bécquer.” (2010:21).
Nacido en Sevilla en febrero de 1836, a los diez años se queda huérfano y
es criado por su madrina Manuela Monahay, “y allí tiene lugar el primer encuentro de Bécquer con lo maravilloso: una espléndida biblioteca que devora
en pocos meses, y donde están, ricamente encuadernadas, las obras de Víctor
Hugo, de Musset, de Chateaubriand, de Byron, de Balzac, de Hoffmann, de Espronceda...” (Cano, 1980:12).
La biblioteca se va a convertir en el primer espacio del poeta donde va a encontrar refugio e inspiración. Luego llegarán los paseos y conversaciones, con
sus amigos, por las riberas del río Guadalquivir. Más adelante el sueño de ser
escritor y su partida para Madrid, donde se buscará la vida como periodista,
editor de revistas, autor de una enciclopedia titulada Historia de los templos de
España de la que publicará sólo un volumen, los viajes a Toledo y Soria, que inspirarán muchas de sus Leyendas, y en medio de todo las Rimas que inicialmente
fueron guardadas en una arquita de madera.
2.1 Contenidos
— La biblioteca.
— Las riberas del Guadalquivir por el Paseo de las Delicias.
— El retrato de Gustavo Adolfo en el Museo de Bellas Artes pintado por su
hermano Valeriano Bécquer.
— El conjunto escultórico en el Parque se María Luisa dedicado a su memoria.
— Las Rimas IV, X, XII, XXI, XXXVIII, LIII, LXXXV.
— La leyenda de Maese Pérez el Organista y el convento de Santa Inés.
— La tradición de los bollitos de Santa Inés.
2.2 Metodología
Una relación mediacional que transita “desde el hacer para conocer” combinando cuatro perspectivas: un modo de conversar, un manera de estar y ser,
una manera de relacionarse y un modo de mirar[se] (Cfr. Hernández-Hernández, 2013:38).
Una metodología globalizada en la que se implican las tres áreas de Edu-
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 32-42.
Conviene recordar una serie de principios para el fundamento de esta propuesta didáctica, ya expresados en el trabajo presentado en la edición anterior del
Congreso:
— Una propuesta de enseñanza que propicie el conocimiento del entorno a
partir de las experiencias y vivencias de los niños: ejemplos vivos, experiencias
compartidas y acercamiento al patrimonio a través del arte.
— Una propuesta de aprendizaje que implique la actividad infantil guiada
por la investigación.
— Un modelo didáctico que facilite el análisis de los resultados de la experimentación, que implique la investigación de su práctica, para que se generen
modelos metodológicos personales interesados en el cambio de la escuela basado prácticas innovadoras (Porlán, Rivero y Solís, 2010).
Teniendo en cuenta la Orden de 5 de Agosto de 2008, por la que se desarrolla
el currículo correspondiente a la Educación Infantil en Andalucía, proponemos
como objetivos:
— Desarrollar la autonomía creativa y la iniciativa personal del alumnado.
— Conocer el entorno patrimonial y la obra de Gustavo Adolfo Bécquer.
— Narrar, expresar y comunicar la poesía y el patrimonio mediante la expresión artística generando producciones que fomenten la creatividad, la imaginación y la interpretación de lo que se aprende.
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2. Diseño didáctico
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Duarte Piña, Olga (2019, setembro) “Poesía, patrimonio, arte: aprender creando.”
cación Infantil que recoge la Orden de 5 de agosto que desarrolla el currículo,
e integradora de los contenidos de educación literaria, artística y patrimonial
trabajando conceptos, procedimientos y actitudes.
Y “un planteamiento didáctico en el que la investigación constituye un principio orientador de las decisiones curriculares” (García y García, 1993:19), teniendo en cuenta la ideas de los alumnos y su evolución, analizando en cada
momento qué saben, qué están aprendiendo y qué han aprendido. Ajustando
el interés y nivel de los alumnos a las actividades diseñadas para ir progresivamente ampliando los conocimientos y sus niveles de formulación.
Además, defendemos el uso de recursos analógicos para experimentar con
el alumnado: el arquita, las fotografías, los libros de Bécquer, sus poemas en
papel, la narración de una leyenda; el trabajo con la materia prima del arte para
alejarnos del abordaje digital del conocimiento. Esta decisión es consciente,
habida cuenta la saturación digital a la que las crianzas están sometidas hoy
en día, y en la búsqueda de mayor participación, manipulación, interacción y
comunicación. Esta defensa de lo analógico deriva de una reflexión a partir de
un trabajo de J. P. Queiroz del que extraemos la cita que sigue a continuación.
Hoje a experiência digital antecede a experiência analógica desde a mais tenra idade,
e este é um novo contexto que nos mostra águas desconhecidas. Haverá uma “fraqueza
analógica” contemporânea? Como fundar uma experiência quando o digital já quase
antecede o analógico, na educação e no desenvolvimento da criança? (Queiroz,
2016:13)
2.2 Secuencia de actividades
2.2.1 Fase inicial
Indagación sobre los conocimientos previos que tiene el alumnado en relación
a los contenidos que se van a trabajar. La indagación se hace en la asamblea de
aula con dos objetos que estarán colocados en el centro del espacio: un tubo de
cartón y una caja de madera con forma de libro.
El tubo de cartón contiene enrollada la fotografía de una biblioteca en tamaño póster, de tal forma que al mirar hacia su interior se pueden ver los libros en
las estanterías, esta imagen se coloca luego en el espacio o rincón del aula que
va a estar dedicado a Gustavo Adolfo Bécquer.
La caja de madera con forma de libro, que toma la idea de la arquita donde
el poeta guardaba sus versos, contiene el libro Rimas, el de Leyendas, la biografía Bécquer de Julio Nombela, otra edición de las Rimas, una reproducción del
retrato del poeta pintado por su hermano Valeriano y una foto de la Glorieta de
Bécquer dedicada al poeta en el parque de María Luisa de Sevilla, postales de
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Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 32-42.
Figura 1 ∙ Exploración. Fuente: propia.
Figura 2 ∙ Exploración. Fuente: propia.
Figura 3 ∙ Creación de poemas. Fuente: propia.
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Duarte Piña, Olga (2019, setembro) “Poesía, patrimonio, arte: aprender creando.”
época del Paseo de Las Delicias, copias de los poemas seleccionados del libro
de las Rimas y una bolsita con bollitos del convento de Santa Inés.
Ya tenemos por tanto los elementos en torno a los que girará la secuencia de
actividades.
Para conocer las ideas previas de los estudiantes preguntaremos en la asamblea: ¿qué veis al mirar por el tubo?, ¿qué forma tiene la caja que traigo?, ¿qué
habrá dentro de ella?, ¿dónde ha estado guardada antes de traerla al colegio?,
¿qué es un biblioteca?, ¿dónde hay bibliotecas?, ¿habéis leído alguna vez un
poema?, ¿os han contado una leyenda? ¿por qué lugares os gusta pasear?, ¿qué
es un monumento y para qué se hace?
A continuación, se saca la fotografía enrollada pidiéndole a los niños y niñas
que soplen fuerte por los extremos, y la caja-libro se abre dejando libertad para
que saquen todos los objetos allí guardados. Cuando todo se descubra, narraremos la vida de Bécquer tal y como aparece recogida en el apartado anterior.
2.2.2 Fase de desarrollo
Observación de imágenes de la biblioteca, el retrato, las imágenes del conjunto
escultórico y las postales del paseo de Las Delicias, contando cada alumno y
alumna lo que ve, los detalles que percibe. Realizando comparaciones entre los
elementos observados, que los niños comparen y diferencien aprovechando la
narración de la vida y obra del poeta y sus experiencias con bibliotecas, con retratos que les hayan hecho y con lugares por los que les gusta pasear.
Sacamos los poemas y los leemos. Cada grupo de trabajo elige uno y en su
mesa recortarán los versos y harán una composición pegándola sobre una cartulina. Leen las nuevas composiciones y las ilustran para colocar el trabajo en el
espacio o rincón del aula dedicado a la vida y obra del poeta.
Suena una pieza musical en el órgano de Santa Inés, ¿qué es?, ¿de dónde
viene?, ¿quién hace sonar el instrumento? Empieza la narración de fragmentos
de la leyenda Maese Pérez el organista. Ideamos un final y al concluir comemos
bollitos de Santa Inés.
2.2.3 Fase de conclusión
Comprender y contar lo aprendido mediante una acción de grupo: recreamos
todo lo aprendido en las páginas de un libro que incluirá fotografías del proceso
de enseñanza y aprendizaje, los trabajos artísticos realizados, páginas que esconden en sobres algunas sorpresas con papeles de color y texturas, pegatinas,
pequeños dibujos, versos y poemas, imágenes del Paseo de las Delicias y de la
Glorieta dedicada al poeta.
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Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 32-42.
Figura 4 ∙ Creación de poemas. Fuente: propia
Figura 5 ∙ Escuchando la música del órgano del convento
de Santa Inés y la leyenda de Maese Pérez y los trabajos
realizados tras esta actividad. Fuente: propia.
Figura 6 ∙ Escuchando la música del órgano del convento
de Santa Inés y la leyenda de Maese Pérez y los trabajos
realizados tras esta actividad. Fuente: propia.
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Este libro es, a su vez, un trabajo creativo cuyo objetivo es la expresión artística de lo aprendido y una forma de evaluar sus conocimientos.
Duarte Piña, Olga (2019, setembro) “Poesía, patrimonio, arte: aprender creando.”
3. Resultados de la experiencia
La propuesta ha sido experimentada los días 6, 7 y 8 de mayo en el colegio público de Infantil y Primaria Príncipe de Asturias de Sevilla, en un aula de 3 años de
Infantil. Teniendo en cuenta la edad y el tiempo del que se ha dispuesto hemos
desarrollado los contenidos que consideramos fundamentales para un acercamiento a la poesía, el arte y el patrimonio implicando las tres áreas del currículo
de Educación Infantil. No obstante, consideramos que a partir de lo fundamental puede ampliarse el campo de conocimiento hacia los espacios de la ciudad
que se mencionan como el paseo de Las Delicias, el parque de María Luisa o el
convento de Santa Inés con actividades que podrían diseñarse para trabajar en
esos espacios y vivenciarlos (Duarte Piña y Ávila Ruiz, 2017); también pueden
incluirse contenidos dedicados a la actividad periodística y editora de Bécquer
en Madrid o a sus viajes a Toledo y Soria.
Durante el desarrollo de esta experiencia, nos ha interesado observar la función de las obras de arte como mediadoras de significados culturales. La biblioteca fue “el primer encuentro de Bécquer con lo maravilloso” (Cano, 1980:12)
y, en este sentido, tanto la fotografía de la biblioteca como la caja-libro nos han
servido para despertar el interés y motivar al alumnado, siendo recursos que
contenían otros recursos, a su vez trasmisores de nuevo contenidos, como las
postales de los lugares por los que paseaba el poeta con sus amigos, la fotografía
del conjunto escultórico que se encuentra en el parque de María Luisa y el retrato de Gustavo Adolfo realizado por Valeriano Bécquer, varios de sus libros y
poemas impresos en papel. Todo ello, guardado en la caja-libro, ha permitido el
descubrimiento, la observación, la manipulación y ha despertado entusiasmo
en el alumnado de tres años (Figura 1).
Ha influido en esta experiencia no hacerla como algo extraordinario sino integrarla en la vivencia cotidiana del aula y así acercarlos a las prácticas artísticas
y estéticas como modos de relación. En este sentido, mirar a través de un tubo que
contiene una imagen ampliada de la misma biblioteca que decora la tapa de la
caja-libro, para que tras mirar el alumnado pueda decir qué ve, que es más bien lo
que imagina, da pie a la fantasía y a la creatividad desde el inicio de la experiencia
de aprendizaje (Figura 2). Un aprendizaje que es concebido desde el ‘hacer para
formarse, reconocerse y experienciar’ (Hernández-Hernández, 2013:38).
La idea inicial de recortar versos tuvo que modificarse porque aún no están
habituados al uso de tijeras, con lo que se decidió recortar las estrofas y luego
Consideraciones finales
Con esta experiencia hemos confirmado el interés innato de los niños y niñas
de Infantil por aprender y su predisposición sin prejuicios al conocimiento. Han
generado un conocimiento en torno a la poesía, el arte y el patrimonio que les ha
permitido expresar ideas y representaciones, observar y pensar sobre sus creaciones y lo vivido en el aula. No obstante, interesa a este trabajo desarrollarlo
en edades superiores, incluso con los mismos elementos motivadores, aunque
complejizando y ampliando los contenidos para propiciar nuevas acciones de
mediación cultural e investigación escolar.
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Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 32-42.
al azar unirlas para crear composiciones nuevas (Figura 3 y Figura 4). Como no
saben leer, escucharon un audio con la recitación de un poema de Bécquer en
la voz de un declamador, decidí que las nuevas composiciones poéticas fueran
también recitadas por la misma persona y esta propuesta les emocionó. Al día
siguiente pudieron escuchar un audio con la declamación de los poemas que
ellos habían creado a partir de los de Bécquer. En este sentido, los niños y niñas
percibieron nuevas formas de recreación de la obra poética.
El acercamiento a una de las leyendas de Bécquer, Maese Pérez el organista,
que acontece en la ciudad de Sevilla, tuvo que adaptarse a la edad de los niños
y niñas y, aunque se seleccionaran fragmentos para ser leídos, resultó que hubo
que contar la leyenda prescindiendo del libro y dramatizando lo que se narraba para atraer su atención. Sí les sorprendió mucho escuchar una composición
musical en el órgano del convento de Santa Inés donde se desarrolla la mencionada leyenda (Figura 5).
Si bien se diseñó al inicio la elaboración de un libro en el que el alumnado
recogiera todos los elementos de la experiencia, finalmente y principalmente
por su edad, he realizado el libro y ellos han narrado lo que contiene que es lo
que han aprendido (Figura 6).
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Duarte Piña, Olga (2019, setembro) “Poesía, patrimonio, arte: aprender creando.”
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 32-42.
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2182-9756, e-ISSN 2182-9829. Vol. 4
(2): 12-17.
Between Doing and Thinking: the presence of
contemporary art in teaching practices of Visual
Education in the 3rd cycle
MARTA ORNELAS*
Artigo completo submetido a 5 de maio de 2019 e aprovado a 15 de maio 2019
*Portugal, Professora do Ensino Artístico Especializado.
AFILIAÇÃO: Universidade de Lisboa, Faculdade de Belas-Artes, Centro de Investigação e Estudos em Belas-Artes (CIEBA).
Largo da Academia Nacional de Belas-Artes, 1249-058 Lisboa, Portugal. E-mail: marta.ornelas@antonioarroio.edu.pt martasobralornelas@gmail.com
Resumo: O presente artigo versa sobre diversos modos de relação entre jovens e museus
de arte contemporânea, mediados pela escola. A partir de uma perspectiva pós-modernista enquadrada no construcionismo social,
foi possível verificar que os jovens reclamam
por práticas mais participativas do que aquelas que tradicionalmente a escola e os museus
lhes oferecem. Se lhes for dado um espaço
participativo e de autoria na relação com o museu, isso conduzirá à criação de propostas alternativas e a aprendizagens com significado.
Palavras chave: relação escola-museu / arte
contemporânea / museologia crítica / jovens
/micronarrativas.
Abstract: This article deals with several ways of
relationship between young people and museums of contemporary art, mediated by the school.
From a postmodernist perspective framed in
social constructionism, it was possible to verify
that young people demand for more participative practices than those traditionally offered by
schools and museums. If they are given a participatory and authorship space, this will lead to the
creation of alternative proposals to the museum’s
narratives and to meaningful learning.
Keywords: relationship school-museum / contemporary art / critical museology / young people /
micronarratives.
43
Ornelas, Marta (2019, setembro) “Entre o Fazer e o Pensar: a presença da arte contemporânea nas práticas docentes
da Educação Visual no 3ºCiclo.” Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 43-55.
Entre o Fazer e o Pensar:
a presença da arte
contemporânea nas práticas
docentes da Educação Visual
no 3ºCiclo
Ornelas, Marta (2019, setembro) “Entre o Fazer e o Pensar: a presença da arte
contemporânea nas práticas docentes da Educação Visual no 3ºCiclo.”
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Introdução
A investigação versa sobre a relação entre jovens e museus de arte contemporânea, sendo a escola a ponte dessa relação. Tratam-se de jovens que, à época do
trabalho de campo, frequentavam o 3º ciclo em escolas do distrito de Lisboa e
tinham idades compreendidas entre os 12 e os 15 anos. Os museus abordados localizam-se também no distrito de Lisboa. Parti do seguinte interrogante: como
se constroem relações pedagógicas entre escolas e museus de arte contemporânea? A pesquisa levou-me a procurar outras professoras, outras escolas e outros
alunos que, em contexto escolar, visitassem um museu de arte contemporânea,
com a sua professora de Educação Visual.
1. Enquadramento teórico
No contexto pós-moderno, que desmonta o mito da verdade universal e absoluta, assumindo que o que é verdadeiro ou falso depende de nós (Ibáñez, 2001),
concretizei esta investigação através de uma abordagem qualitativa. A minha
opção pela compreensão de realidades específicas, atribuindo importância às
narrativas pessoais, desde uma perspectiva subjectiva, encontra fundamento
no construcionismo social.
Assumir a realidade como uma construção social é também assumir que
os museus são instituições criadas de acordo com propósitos estabelecidos
socialmente e que funcionam segundo convenções sociais que defendem interesses particulares (Duncan, 2004). Para questionar as narrativas dos museus,
socorro-me das teorias da museologia crítica, que pode ser definida como um
campo de estudo que examina imaginários, narrativas e discursos, bem como
as suas articulações e integrações com diversas estruturas organizacionais, que
levam a cabo produções culturais e artísticas articuladas (Shelton, 2011). Neste
contexto, Nuria Rodríguez (2011) defende também que o museu é um produto
de construção social que manifesta uma ordem social e que é influenciado por
diferentes tipos de poder. A identificação de diferentes tipos de discurso, por
Carmen Mörsch (2009), — afirmativo, reprodutivo, desconstrutivo e transformativo — sistematiza um conjunto de práticas que permitem compreender que,
na educação em museus, o discurso pelo qual se opta terá consequências diferentes nos públicos que visitam os museus.
Para compreender as práticas que se levam a cabo nas escolas, socorro-me
das teorias da pedagogia crítica e da pedagogia dialógica. A pedagogia crítica
encontra abordagens diferentes consoante os autores e autoras que utilizam
este conceito. Embora atribuindo à pedagogia crítica o objectivo comum de
justiça social, essas definições podem ser mais radicais ou mais brandas. Vão
2. Estado da questão
As práticas da educação artística em Portugal contemplam, com frequência,
visitas escolares a museus de arte contemporânea: “Estes grupos [escolares]
são uma prioridade dos serviços educativos.” (Fróis, 2008:68). Quanto mais
anos de educação artística têm os alunos, mais visitas fazem a museus e quanto mais elevadas são as habilitações académicas dos pais/famílias dos alunos,
mais estes visitam museus (Mastandrea &Antonini, 2012). Assim, alunos com
ambientes familiares social e economicamente mais favorecidos visitam mais
museus e, eventualmente, estarão mais receptivos à ideia de que os museus são
locais de aquisição de cultura erudita, aceitando de forma acrítica a hegemonia
dos seus discursos. Se as práticas educativas tradicionais nos museus partem
da ideia de que a obra de arte é portadora de mensagens que apenas podem
ser analisadas através dos métodos da história de arte — como o historicismo
ou o formalismo — reservados aos especialistas, como o comissário, não existe
espaço para interpretações divergentes (Arriaga, 2008).
As visitas constituem uma prática comum utilizada pelas professoras, com
objectivos diversos, sendo que o mais comum é o de criar uma relação entre um
conteúdo específico do currículo e o tema do museu que se visita (Huerta, 2011;
Oliveira, 2010), sem implicar os estudantes no desenvolvimento de projectos
que lhes interessem (Acaso, 2013).
Considerando as necessidades das escolas e dos museus, é relevante o interesse de ambas as instituições nas visitas escolares. Por esta razão, a relação entre
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Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 43-55.
desde a educação libertadora de Paulo Freire até às pedagogias de orientação
neomarxista e às pedagogias de inspiração anarquista (Silva, 2000). Uma das
metas fundamentais da pedagogia crítica é ensinar os estudantes a crer que a
democracia é conveniente e possível (Giroux, 2008), assim como todas as contradições derivadas da raça, da classe social, das tendências sexuais ou do género, que existem dentro da sociedade (Steinberg, 2008).
Numa outra perspectiva, a pedagogia dialógica tem como objectivo envolver os estudantes a participar, explorando a multivocalidade (Dyshte, Bernhardt & Esbjørn, 2013). O posicionamento pedagógico que utiliza o diálogo como
meio encontra eco no que Elisabeth Ellsworth (2005) chama de diálogo comunicativo como legitimação do status quo sócio-político e como compreensão da
norma e da intenção consciente, através da exclusão da descontinuidade e da
diferença. Significa que, ainda que o receptor discorde do que é dito pelo emissor, a primeira etapa é a da compreensão do ponto de vista do emissor que, afinal, não necessitava de debate.
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Ornelas, Marta (2019, setembro) “Entre o Fazer e o Pensar: a presença da arte
contemporânea nas práticas docentes da Educação Visual no 3ºCiclo.”
escolas e museus seria supostamente empática e interessada, embora alguns
alunos definam os museus como lugares agradáveis e outros como lugares aborrecidos (Moutinho & Ferreira, 2007; Oliveira, 2009; Triggs & Wishart, 2010).
Há estudos que apontam para o facto de nem sempre os discursos dos museus irem ao encontro das necessidades das escolas e de nem sempre as atitudes das escolas serem compatíveis com o desenvolvimento de um trabalho producente por parte dos museus (Oliveira, 2013; Huerta, 2010), essencialmente
porque a natureza das duas práticas são diferentes e também porque escolas
e museus se regem por regulações distintas e organogramas não coincidentes
(Serdio, 2010). Há necessidades ao nível da formação de docentes interessados
no diálogo entre a escola e o museu, mas também das educadores de museus,
às quais falta uma compreensão adequada do contexto escolar e das necessidades específicas das professoras (Baldriga & Rech, 2011).
Regra geral, os museus tipificam os seus públicos e constroem ideias sobre
os comportamentos das professoras e das turmas, que, idealmente, devem
acreditar no que o museu expõe, posicionando-se a partir dos mesmos valores,
conhecimentos e expectativas de quem organiza a exposição (Padró, 2009).
Os textos da exposição contêm frequentemente referências à História da Arte
recorrendo a um vocabulário sofisticado e indecifrável para muitos visitantes
e assim, mesmo que os museus apregoem que são para todos, estas práticas
não contribuem para esse objectivo, acabando por ser um lugar de exclusão
(Duncan, 2004). Como os museus têm uma concepção modernista da educação artística (Padró, 2009), não falam para toda a gente, falam para um público
“educado”. O museu é entendido como o templo da cultura, mas a escola não
(Calcagnini & Testa, 2004). A relação entre escola e museu tem um carácter
“clientelar” ou “de “serviço”, sem lugar a uma relação de diálogo mais profunda e transformadora (Serdio, 2010:47).
A pós-modernidade foi marcada também pela decadência das macro-narrativas [“grand narratives”] e pela valorização das micro-narrativas [“little
narratives”- “petit récit”] (Lyotard, 1984:60). Seria talvez mais proveitoso que
o museu pudesse educar a partir dos micro-relatos, das experiências pessoais
e subjectivas, atravessando os formatos que se pretendem eruditos (Juanola,
2010), construindo conhecimento de forma colaborativa.
Durante a experiência da visita ao museu, as professoras convertem-se em
personagens invisíveis (Huerta, 2011). Dentro da escola, a professora é uma
orientadora e uma conselheira, mas dentro do museu, a mesma pessoa é uma
acompanhante, uma responsável, uma tutora, o que resulta no facto de uma boa
parte das professoras se sentir menorizada perante a linguagem da arte (Huerta,
3. Conceitos-chave
Para esta investigação, sustentei-me em quatro quatro conceitos-chave que me
guiaram na fundamentação e que utilizei na análise das evidências recolhidas.
Estes quatro conceitos servem o território da escola e do museu.
O primeiro conceito é o de Estilo Docente e está relacionado com as formas
de os docentes interagirem em aula e que reflecte as concepções que têm sobre
conhecimento, ensino e aprendizagem. No que respeita ao conceito aplicado
aos contextos dos museus, equiparo a figura de docente à da educadora de museus, que lida com o grupo de jovens que visita o museu e relevo, dentro da temática da profissionalização do pessoal dos serviços educativos dos museus, a
existência de vários trabalhos publicados, nomeadamente portugueses e espanhóis que reflectem as suas condições de trabalho e de formação (López, 2009;
Oliveira, 2010; Amengual, 2012).
O segundo conceito é o de Relações Pedagógicas e aborda o acto da aprendizagem conjunta e colaborativa. Questiono a transmissão unilateral de conhecimentos de docente para aluno (Porres, 2012; Hernández, 2011; Correa e
Aberasturi, 2013; Corti e Llanes, 2013), quando se poderia dar lugar ao poder pedagógico do diálogo analítico tal como Elizabeth Ellsworth (2005), como uma
mediação que não se completa nem acaba, pois todos os sujeitos são portadores
de testemunhos únicos que provocam descontinuidades de leitura, ou seja, rupturas para com o previsível.
O terceiro é o de Arte e Conhecimento Artístico, que significa o que se crê
que se deve ensinar sobre arte. A educação artística tem várias definições e
conteúdos, dependendo do contexto e do desenvolvimento económico de cada
país (Bamford, 2009). As diferentes concepções sobre a estética em diferentes culturas produz uma diversificação sobre a educação artística muito maior
do que as diferenças que se encontram no ensino das matemáticas e das línguas estrangeiras (Gardner, 1994). Carla Padró (2011a) explora três conotações
com o conceito de “crítica” que poderiam conduzir a relações pedagógicas:
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Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 43-55.
2010). No momento em que o museu acolhe o grupo escolar, imediatamente lhes
dá a conhecer um conjunto de regras proibitivas, criando uma representação do
visitante ideal (Padró, 2011). Os museus constituíram-se como uma das formas
de legitimação da História e esta legitimação precisa de ser desconstruída (Shelton, 2011) através da participação individual. Há registo de alguns modelos de
exposições que podem ser adoptados pelos museus e que compreendem uma
maior pluralidade de discursos, permitindo que não-especialistas tenham voz
activa, com vista a uma efectiva participação social (Lorente, 2011).
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Ornelas, Marta (2019, setembro) “Entre o Fazer e o Pensar: a presença da arte
contemporânea nas práticas docentes da Educação Visual no 3ºCiclo.”
Figura 1 ∙ Visita de uma turma ao Museu Coleção
Berardo. Fonte: própria.
Figura 2 ∙ Processo de criação de uma actividade educativa
na Casa das Histórias Paula Rego, por duas alunas.
Fonte própria.
4. Metodologia
Para realizar o trabalho de campo utilizei uma abordagem etnográfica, participando na vida diária das pessoas (Hammersley e Atkinson, 1994), com o objectivo de descobrir como actuam no seu dia-a-dia (Humphreys, 2005, citado por
López, 2009:103).
Elegi o estudo de casos como método, procurando compreender de forma
aprofundada realidades particulares, que normalmente ficam invisibilizadas
noutro tipo de estudos, como acontece com os estudos através de amostras
(Stake, 2010). Através da definição de mais do que um caso — estudo de casos
colectivo-, compreendi que possuíam elementos comuns e que poderia fazer
uma interpretação colectiva do assunto investigado. Nesta investigação, um caso
é uma turma do 3º ciclo que visita um museu de arte contemporânea: o Museu
Colecção Berardo recebeu 1 turma da Escola Básica dos Eucaliptos e 1 turma do
Colégio dos Plátanos (Figura 1); o Museu Nacional de Arte Contemporânea —
Museu do Chiado recebeu 1 turma da Escola Secundária de Vergílio Ferreira; e a
Casa das Histórias Paula Rego recebeu 1 turma da Escola Secundária de Vergílio
Ferreira (Figura 2).
Como estratégias de recolha de evidências, utilizei a entrevista etnográfica
(a alunos, professoras, directoras de escola, educadoras de museu e coordenadoras dos serviços educativos dos museus), a observação participante (a aulas
de educação visual e às visitas que cada turma efectuou ao museu), a recolha e
análise de informação documental (regulamentos, artigos de imprensa, emails)
e o focus group (com as pessoas entrevistadas). Utilizei o diário de campo, as gravações em áudio e fotografias como instrumentos de registo.
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Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 43-55.
estranhar-se, emancipar-se e transformar a partir de dentro. Tendo em conta
que o campo artístico reivindica cada vez mais o campo pedagógico, na relação
entre museus e escolas, Serdio (2010) adverte que as instituições educativas e
culturais beneficiar-se-iam mutuamente se deixassem de viver de costas voltadas, insistindo na aceitação de que a aprendizagem é algo necessário para a
vida e que deveria ter em conta a realidade quotidiana.
Por último, o quarto conceito-chave é o de Estratégias de Aprendizagem,
que se relaciona com as actividades e propostas concretas que as professoras e
as educadoras estabelecem com intenção de que os alunos encontrem motivações para aprender. Em vez de considerarem os jovens como futuros visitantes
em adultos (Fróis, 2008), os museus poderiam dar-lhes condições de conforto
físico e intelectual, algo que, em termos históricos, poucos se preocuparam em
oferecer (Fróis, 2008; Hein, 1991).
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Ornelas, Marta (2019, setembro) “Entre o Fazer e o Pensar: a presença da arte
contemporânea nas práticas docentes da Educação Visual no 3ºCiclo.”
Vásquez & Angulo (2003) apresentam três critérios fundamentais para a ética da negociação — confidencialidade, colaboração e imparcialidade –, que me
esforcei por cumprir. Tal como Eneritz López (2009), questionei os meus direitos de investigadora, sabendo que iria intervir na vida de outras pessoas, iria
utilizar as suas palavras e experiências, pelo que o meu objectivo teria de passar
por construir conhecimento útil a essas pessoas sem atraiçoar a confiança que
em mim haviam depositado. Neste sentido, realizei a devolução dos dados, a
retroalimentação (Stake, 2010; Gibbs, 2012), oferecendo aos participantes informação sobre os resultados da investigação.
A reflexividade é particularmente importante na abordagem qualitativa,
pois implica dar-se conta de que as orientações de quem investiga interferem
nas interpretações e conclusões da investigação. Trata-se de um mecanismo
significativo dentro da investigação social, que assume não ser nem poder ser
realizada numa espécie de território autónomo isolado da sociedade e da biografia de quem investiga (Hammersley e Atkinson, 1994). É através da reflexividade que se garante a validade do estudo, pois quem investiga é o principal
instrumento da investigação (Simons, 2011).
5. Análise das evidências
Para proceder à análise de evidências, utilizei como referente o conceito de incidente significativo (partindo inicialmente do conceito de incidente crítico).
Um incidente, para que seja considerado crítico, acontece num contexto cujo final ou intenção teve um determinado sentido (Loureiro, 2012). O incidente crítico destacou-se do contexto no qual sucedeu, ocasionando nos participantes
um efeito específico, positivo ou negativo (Monereo & Monte, 2011). Trata-se
de uma realidade emergente, percebida por mim, como investigadora, que não
pode ser reduzida às partes que o compõem, revelando imagens e evocando
sentimentos (Charmaz, 2006). O incidente significativo pode formar parte do
que as instituições — escola e museu — estabelecem como práticas de rotina ou
de ruptura para com essa rotina (Monereo & Monte, 2011) e Hernández (2007).
Nos quatro estudos de caso realizados, identifiquei 356 incidentes significativos. Em cada um dos incidentes significativos identifiquei os comportamentos de cada interveniente, no sentido de converter o incidente em unidades mais pequenas de análise (Gremler, 2004). Identifiquei 1927 unidades de
análise. Estas unidades de análise foram agrupadas por semelhança temática,
reiterando ou repetindo a análise (Quintana, 2006). Deste agrupamento resultaram 474 indicadores. Estes indicadores foram agrupados em 9 temas, contribuindo assim para a construção de possibilidades de resposta aos interrogantes
51
de investigação. Dentro de cada tema foram definidos sub-temas, de modo a
que os indicadores pudessem agrupar-se de forma mais imbricada, criando relações ainda mais próximas (Coffey & Atkinson, 2003). O resultado foi a definição de 46 sub-temas. Dando seguimento ao processo de “recontextualização”
de Tesch (1990), atribuí a cada um dos indicadores uma conexão com um dos
quatro conceitos-chave abordados no enquadramento teórico.
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 43-55.
Conclusão
Os alunos valorizam mais um Estilo Docente que lhes delegue competências do
que um estilo mais academista que não tenha em conta as suas necessidades. Os
docentes destes alunos tiveram uma educação modernista, que reproduzem, ou
modificam, de acordo com o seu capital cultural e as suas convicções, facto que
não confirma a segunda hipótese colocada, que indiciava que o estilo docente estava mais relacionado com o contexto social da escola. A influência do estilo docente na relação entre escolas e museus é relevante, na medida em que o museu
se assume como educador da escola através de práticas modernistas e, como tal,
não se mostra na disposição de atender às necessidades das escolas.
As Relações Pedagógicas entre escolas e museus evidenciaram um lugar praticamente inexistente. A oferta educativa dos museus acaba por estar mais relacionada com a política do museu do que com situações de aprendizagem, o que
confirma a primeira hipótese colocada. A aprendizagem conjunta e colaborativa
é uma prática pouco explorada que traz benefícios importantes para a aprendizagem, assim as professoras e as educadoras estejam na disposição de valorizar as
subjectividades dos alunos, proporcionando-lhes momentos de questionamento
que sejam providos de sentido, ou seja, importantes para as suas vidas.
A arte e o conhecimento artístico são abordados, quer na escola, quer no
museu, de acordo com a concepção de aprendizagem defendida pela professora e pela educadora. Da exigência pela técnica às leituras pluralistas, há todo
um conjunto de possibilidades de trabalho cuja abordagem é decidida pelas
professoras e pelas educadoras. O museu continua a ser encarado como um lugar de aprendizagem, quer para os alunos, quer para as professoras, mas pratica
sobretudo a transmissão de conhecimentos, embora os alunos, e por vezes as
professoras, reclamem por outras práticas mais participativas. Nos casos estudados, os jovens não puderam gerar propostas alternativas às que lhes foram
oferecidas pelos museus, o que não possibilitou a verificação da terceira hipótese colocada. Contudo, através de uma intervenção educativa que realizei com
uma das turmas dos estudos de casos e um museu de arte contemporânea do
mesmo estudo, aferi que através de uma abordagem diferenciadora de carácter
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Ornelas, Marta (2019, setembro) “Entre o Fazer e o Pensar: a presença da arte
contemporânea nas práticas docentes da Educação Visual no 3ºCiclo.”
participativo é possível que as práticas docentes contemplem o papel da autoria
dos jovens na sua relação com o museu, algo que verifiquei ser importante para
que os jovens pudessem ser produtores de conhecimento dotado de sentido.
As estratégias de aprendizagem com que os alunos se deparam são seleccionadas e decididas pelas professoras, nas escolas, e pelas educadoras nos museus. Significa que os alunos são confrontados com estratégias, com as quais é
suposto aprenderem, que variam segundo a concepção de aprendizagem que
aquelas pessoas possuem. A relação do professorado com a oferta educativa
dos museus está, afinal, relacionada com o seu capital cultural e com os modos
de relação com a escola, e não com o contexto social em que a escola se insere.
Os alunos valorizam estratégias mais participativas que nem sempre a escola
está preparada para permitir e às quais poucas vezes os museus estão abertos.
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Genealogias:
el largo y sinuoso recorrido
de la educacion artistica
Genealogies: the long and winding journey of
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SUSANA MARTELLI*
Artigo completo submetido a 2 de maio de 2019 e aprovado a 15 de maio de 2019
*Argentina.
AFILIAÇÃO: Universidad Nacional de Artes, Catedra Artes Visuales. Universidad de Buenos Aires. Avenida Ingeniero Huergo
1226 Las Heras 1749 Caba Argentina, Puan 480, Caba, Argentina. E-mail: sumartelli@filo.uba.ar
Resumen: Este trabajo es una síntesis de investigación. Indagamos los espacios del arte
en la educación, ascendientes y herencias.
Una genealogía que comienza en Francia
en el s. XVIII, se enlaza con el romanticismo
alemán, encuentra en las Academias su impulso, abre las expectativas a la autoexpresión reconociendo los aportes principales
en Latinoamérica con especial énfasis en
Brasil y el lugar de la escuela como espacio
estetizante.
Palabras clave: arte / educación / genealogía
/ presente.
Abstract: This is a synthesis and research work.
Ascendants and Heritage of art spaces in education are investigated. A genealogy starting in 18th
century in France, links to German Romanticisim, finds its strenght in the Academies, opens up
spectations to selfexpression, recognizes major
contributions in Latinamerica, mainly in Brazil
and also refers to the place taken by the school as
a easthetizising agent.
Keywords: Art / Education Genealogy / Present
time.
1. Preguntas o hipótesis de la investigación
¿Qué concepciones sobre el arte y la educación se construyen/ interrumpen y
articulan en la conservación del ideario de cada movimiento en la historia de la
educación artística?
¿Qué aportes a la educación artística del presente han sido tributados históricamente?
¿Se recuperan las utopías que son inherentes a la educación artística en los
distintos periodos en el momento fundacional de cada uno?
1.2 Categorías de análisis
Al respecto, Koselleck nos suministra las categorías experiencia y expectativa. Como lo afirma el historiador estos órdenes nos permiten caracterizar a la
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 56-65.
Para comenzar a transitar un camino, es importante no saberse omnipotente ni
completo, sino más bien, en medio de un largo proceso, conviene construir una
senda para reconocer continuidades y rupturas propias de los recorridos históricos. El presente trabajo constituye parte de un proyecto de investigación que
configuró el historial de la defensa de una tesis de maestría sobre las escuelas
de arte en la ciudad de Buenos Aires, Argentina, recorte que como tal también
pueda ser arbitrario o injusto. La propuesta de investigar genealógicamente los
tramos seguidos por la enseñanza artística, constituye la oportunidad de interrogarse de manera explícita por un tiempo histórico en el que se sucede una
secuencia enlazando la diversidad y la dispersión, el azar de los comienzos y
los accidentes, no las tensiones que ello presupone sino ver que en el tiempo
histórico hay inagotables o desterrados tiempos. Herencias y ascendientes de
un particular árbol del cual recoger datos, lugares de nacimiento, fuentes que
documentan filiaciones, ramas y frutos de recorridos diversos y nuevos. Señal
de rasgos y singularidades. En este genos del arte vamos a buscar: fuentes, rodovid, ascendencia, descendencia, sistematización, identidades y su complejidad en el presente.
El andamiaje conceptual y teórico en el que nos basamos es aportado por Reinhart Koselleck que pone la mirada en el centro de la denominada “historia de
los conceptos”. Es la historia de los conceptos la que investiga la diferencia o concurrencia entre conceptos antiguos y categorías presentes del conocimiento. Por
dispares que sean sus métodos y aunque se prescinda de su riqueza empírica, la
historia de los conceptos es una suerte de explicación para una teoría científica de
la historia que conduce a la metodología histórica (Koselleck, 1993).
57
Introducción
58
Martelli, Susana (2019, setembro) “Genealogias: el largo y sinuoso recorrido de la educacion artistica.”
experiencia –por un lado- como esa gimnasia por medio de la cual se elaboran
los acontecimientos pretéritos o recientes, acción que nos faculta a tenerlos
presentes en nuestras acciones y que además están impregnados de realidad,
ejercicio que relaciona sus propias conductas con las contingencias realizadas
o fallidas (Koselleck, 1993). Por otro lado dichas categorías proporcionarían la
memoria de estos fragmentos de la educación artística, apuntando a encontrar
la secreta vinculación entre lo que ha sucedido y la espera — expectativa- atenta
a un futuro, cuya relación se establece cuando se reúnen esos modos de ser en el
tiempo de los modelos que restablecen -o destituyen- lo que recuerdan y lo que
viven. Pensar entonces en teorías, modelos y prácticas en educación artística
del pasado, no resulta inactivo ya que con distintas intensidades, nos habitan,
son aceptados o refutados.
1.3 Un estado de la cuestión
La descripción y análisis de los estudios relacionados sobre el tema: tesis, artículos históricos y académicos, condensan la información a partir de las relaciones y diferencias que los distintos materiales muestran. La preocupación
inicial fue la realización de un análisis que permitiera determinar donde y en
qué medida modelos, teorías y prácticas en educación artística reconocen su
paternidad en la historia donde se localizaban y secundariamente hallar el por
qué. Este segundo punto, no fue tan llano de responder como hipótesis inicial.
Las causas que rigen los patrones de distribución espacial y temporal no son
fáciles de determinar. Será necesario ahondar en esas temáticas. En resumen,
la presente investigación pretende ser un paso más en la línea de estudiar conjuntamente con otras disciplinas: la historia, la sociología, la estética y la teoría
del arte. Parte del material bibliográfico se encuentra citado en la bibliografía
de este artículo/síntesis del proyecto.
2. Autopistas o senderos: la educación artística nos precede:
puentes o quiebres
La capacidad de obtener experiencias estéticas, en la cual la dimensión humana: emocional, intelectual, sensible y el libre desarrollo de capacidades creadoras, reconoce un largo y sinuoso recorrido. Mirar genealógicamente este viaje
implica hacer un mapa para saber cómo se gestaron las condiciones hasta el
presente. La genealogía se asume como perspectiva crítica y no intenta neutralidad: “las fuerzas presentes en la historia no obedecen ni a un destino ni a una
mecánica sino al azar de la lucha” (Foucault, 1980:20). La pregunta guía fue y
59
es: ¿Qué modelos teorías y práctica surgen desde el pasado? La educación artística, ¿qué legados ha recogido o invalidado en la disputa por atesorar la cosecha
de este árbol? (Figura 1).
Si bien la experiencia no dejó un sedimento inmediato, fue el pintor Antoine
Ferrand de Monthelon, creador de las Escuelas de Dibujo de Reims en 1715Né
à Paris le 11 avril 1686, y est mort le 20 mars 1752.Il fut chargé d’organiser la
nouvelle école de dessins qui fut ouverte la même ann el gestor de los diseños
de la nueva escuela con inéditos métodos sobre el dibujo libre, resistente a los
regímenes de la tradicional educación francesa renuente a las innovaciones,
funda escuelas para sectores populares y grandes escuelas de arte para los hijos
de la nobleza.
2.2 Semilla en Alemania. Legado de la estética
Para Johann C. Friedrich Schiller la tesis fundamental está integrada en Cartas
a cerca de la educación estética del hombre, planteada hacia 1795 en el núcleo de
una educación de la humanidad. En las veintisiete cartas el poeta enfatiza la
nobleza del carácter humano tanto para un Estado o una sociedad moral donde lo racional y lo sensible no estén en contradicción puesto que favorecen el
punto de partida cuya génesis está fundada en algunos escritos de Kant. Para el
filósofo, tanto en la teoría sobre la razón ilustrada y en la práctica, lo sensible se
relaciona con la moral. Ser para la libertad. Es la belleza, como principio de libertad/autonomía. Por ello en la educación el objetivo a resolver es el problema
político de una sociedad que plenamente racional y libre, “debe ser estética”.
Schiller parte de principios kantianos para superarlos. Las Cartas en distintos
momentos fueron objeto de polémicas: iniciaron rechazos tanto desde el punto
de vista de los seguidores de la Ilustración como de sus contemporáneos ya románticos que vieron en esta obra una realización aviesa del pensamiento idealista quizás por contener una aguda crítica a los desatinos cruentos de la Revolución francesa. También fueron negadas desde una tradición marxista del siglo XX por la era stalinista. Mientras tanto defendidas por la poética, Hölderlin,
vio en sus cartas la esperanza de una nueva época dorada para la humanidad.
La Estética en sentido general, es vista por este poeta en las Cartas, como una
teoría de la libertad.
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 56-65.
2.1 Ensayo en Francia. ¿La resistencia heredada?
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Martelli, Susana (2019, setembro) “Genealogias: el largo y sinuoso recorrido de la educacion artistica.”
Figura 1 ∙ ¿Qué modelos teorías y práctica
surgen desde el pasado? La educación artística,
¿qué legados ha recogido o invalidado en la
disputa por atesorar la cosecha de este árbol?
3. Posguerra. Patrimonio: la libertad como valor incuestionable
Como nos lo recuerda Efland, el fin de la segunda guerra mundial es también
un hecho que abre nuevos debates en la educación artística que obedecen a temáticas propias surgidas en la posguerra donde nacen una serie de propuestas pedagógicas que producen un verdadero giro en la enseñanza de las artes
(Efland, 2002). Hoy, algunas instituciones siguen bebiendo en esas fuentes o
constituyen parte del ideario educativo a través de lo que se ha dado en llamar
educación por el arte (Read, 1959). Los vientos de libertad impulsaron corrientes de pensamiento y de acción en el campo de la educación artística, que hicieron posible la reconstrucción de un ser humano desmembrado gracias a un fin
irrevocable de la educación: la utopía. La educación autoexpresiva se proponía
revisar las concepciones educativas academicistas producidas por un origen
ilustrado valorizando el desarrollo de aspectos sensoriales, emocionales y expresivos basados en el desarrollo y estímulo a la creatividad, la sensibilidad, la
originalidad, la imaginación y la actividad creadora en la educación (Lowenfeld, 1972). Lo que se propicia desde estas perspectivas, es un proceso de impulso y expansión de aspectos sensoriales, emocionales y expresivos. El eje está
puesto en la experiencia personal del niño como creador, se busca trascender
el conocimiento del arte en beneficio del crecimiento individual, grupal, moral
y social incidiendo en los objetivos, los contenidos y las metodologías ya que es
la institucionalización la que permitiría que los aprendizajes se realicen también mediante los descubrimientos del estudiante y la necesidad de renovación
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conocimiento y habilidades
Las teorías sobre educación y arte dentro del sistema educativo formal, han seguido corriendo como un río subterráneo. En el campo de la educación artística,
estas concepciones académicas ven en la enseñanza artística la operación de entender la práctica artística como una destreza y la idea de la enseñanza de las artes aparece vinculada a la adquisición general de las habilidades, el conocimiento
de reglas y procedimientos. Esta concepción ha sido potente a través del tiempo y
su fuerza se acentuaba por el valor de la transmisión ya que era dirigida a orientar
el aprendizaje. Considera que el arte está sujeto a principios universales y reglas
absolutas y que debe ser evaluado de acuerdo a criterios racionales y universales:
la grandeza, la nobleza y la sublimación, deciden sobre el valor y la verdad del
arte. Así entendidas, ¿las escuelas aun hoy alojan a las academias? Al respecto
una idea foucaultiana sobre la genealogía nos liberaría de los saberes históricos
al ubicarnos en una lucha contra “el orden del discurso”.
61
2.3 Destrezas de la Academia. Transmisiones:
62
Martelli, Susana (2019, setembro) “Genealogias: el largo y sinuoso recorrido de la educacion artistica.”
que demanda la etapa evolutiva que la escuela acompaña, estimula y favorece.
La imaginación reclama el sentir personal que abre resquicios por donde entra
en experiencias en el sistema educativo, una concepción de la autonomía del
sujeto favorecida por una alternativa epistemológica flexible que albergue diferentes praxis artísticas.
Apoyadas en el advenimiento de la libertad como valor incuestionable y en
la tendencia humana hacia el arte como impulso de fuerte vitalidad, hacen del
arte el factor de nuevos horizontes.
3.1 Expectativas en las disciplinas. Patrimonio: el arte como lenguaje
En el campo de la educación artística basado en la espontaneidad, el paradigma
autoexpresivo deja su espacio, no sin luchas y conflictos, al arte como lenguaje. Que los distintos lenguajes que conformaban la educación artística fuesen
considerados como asignaturas con contenidos específicos y rango similar a
las otras disciplinas fue la esperanza de la inclusión en las exigencias de la formalidad de la educación. Estas cuestiones que se abordan desde este enfoque
surgen entre las décadas del ’60 y el ’80 y los objetivos apuntaron a encontrar
su lugar en la cultura y a exponer y justificar sus juicios acerca de su naturaleza,
sus méritos y su importancia.
Además coinciden otras investigaciones: sobre la inteligencia, en torno a los
procesos de percepción, a los vínculos entre desarrollo cognitivo y creatividad
que un grupo interdisciplinar de la Universidad de Harvard promueve. Además
Howard Gardner y Jerome Bruner al avanzar como impulsores del avance de
la revolución cognitiva, resaltaron el aporte de la educación artística en dicho
auge cognitivo pero también, aprendizaje social y comunicativo en tanto se
aprende de manera individual dentro de un contexto social, como experiencia
comunicativa, como lenguaje. Dicha renovación se experimenta en la segunda
mitad del siglo XX y fue propiciada por la filosofía del lenguaje y el incremento
de la cultura visual en las sociedades tecnificadas. A partir del auge de la semiótica cobra relevancia la idea de que todo hecho humano puede ser entendido en
términos de hecho comunicativo.
Se fundamenta en dos ideas: por un lado, las formas de expresión artística
responden a una estructura de funcionamiento y acción similar a la de otros
lenguajes y por otro, los resortes para la percepción pueden llevarnos más allá
de la apariencia primaria de las imágenes y ayudarnos a comprender esas estructuras internas o sintaxis que las constituyen. La potencia de lo visual, según este punto de vista, debería orientarse básicamente a la adquisición de
las competencias propias de la “alfabetización visual”: ver-observar, leer para
63
decodificar los mensajes visuales, escribir y producir o emitir imágenes o mensajes visuales. La mirada que entiende el arte como lenguaje no está exenta de
tensiones, Jacobo Kogan, Susana Langer y Nelson Goodman suman sus resistencias a esta postura.
3.3 Latinoamérica abre las puertas. Patrimonio propio
Reconociendo a la educación artística como una construcción social e histórica que según Foucault al abordar genealógicamente hace jugar saberes locales,
discontinuos descalificados, no legítimos contra una instancia teórica unitaria,
es que resulta pertinente abordar las experiencias culturales dadas en Latinoamérica. Aportadas por diversos países en el campo tanto desde los currículos
como a la formación docente es oportuno considerar la visión latinoamericana
como una oportunidad para activar la reflexión crítica y a la vez recuperar las
propias experiencias vitales y los recorridos propios como materialidad estética. En Brasil las Escolinhas de Arte han dado muestras de esta renovación en
diversos estados. Fue la más conocida la de Río de Janeiro que tuvo la coordinación de Augusto Rodrigues. En Recife la coordinada por Noemia Varela. Las
creadas en São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul fueron escolinhas que
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3.2 La perspectiva de la “cultura visual”. Progenie leída
Desde la Revolución industrial y el positivismo como paradigma hegemónico,
la especialización del conocimiento se ha ido acelerando y profundizando. Las
nuevas tecnologías y el auge de la globalización -en ciertos aspectos- parece
proponer una democratización del conocimiento y contraponer otros modos de
circulación de los saberes. No obstante, esta aparente disponibilidad de la información no siempre deja ver el hecho de que el acceso “democrático” al conocimiento y al arte continúa ligado, por un lado al capital material (económico) y
por otro a la posesión de un determinado capital cultural. En tanto la escritura
es un soporte central en la circulación del saber y es una “tecnología” -no es una
habilidad natural- necesita de la adquisición de herramientas para acceder a
ella, es decir, necesita de la enseñanza para cumplir un rol central en el acceso al
capital simbólico, fuente de prestigio en términos de Bourdieu. En ese sentido,
el docente de arte cumple un rol central en tanto operador de difusión y garante
del derecho a la cultura. Cultura que comprende en un concepto común, todas
aquellas realidades visuales que van teniendo un papel cada vez más relevante.
Dentro de esta perspectiva ubicamos los desarrollos realizados desde FLACSO
por el equipo que en Buenos Aires Argentina trabaja sobre “Educar la mirada”
referenciados en Fernando Hernández e Imanol Aguirre Arriaga.
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Martelli, Susana (2019, setembro) “Genealogias: el largo y sinuoso recorrido de la educacion artistica.”
propiciaron la valorización del campo del arte para el enriquecimiento subjetivo y la apropiación y reflexión sobre el propio capital cultural, el avance de la
diversidad de experiencias estéticas de niños y jóvenes y el reconocimiento de
la dimensión estética, ética y política de las mediaciones culturales. Tanto el
investigador Sidney Peterson como Fernando Antônio Gonçalves de Azevedo
dedicaron muy buena parte de sus investigaciones y producciones científicas
a estos temas. Ana Mae Barbosa explora en torno a tres acciones mental y sensorialmente básicas: creación -hacer artístico- lectura de la obra de arte y su
contextualización. Propone una opción formativa de fundamento posmoderno
que concibe el arte como expresión y como cultura. Propone un aprendizaje de
tipo dialógico, constructivista y multiculturalista.
Atravesar el tiempo. ¿La historia nos habita?
Resistencia. Conocimiento. Destreza. Estética. Libertad. Lenguaje. Disciplina.
Orígenes. ¿Imágenes históricas de la educación artística? Así también desde
ese mismo un abordaje histórico, Pablo Pineau plantea que la escuela en la Argentina es una “máquina estetizante” para la inclusión de las poblaciones llegadas a nuestro país desde Europa a fin de acompañar el “progreso”, mediante la
producción de una Estética común. Sin duda, la escuela primaria básica exigida, además de ser una metáfora del progreso y la construcción de la modernidad, creó un dispositivo para la generación de los ciudadanos, compromiso de
prácticas y patrones estéticos y simbólicos. Así también en una síntesis, la estética escolar carga la totalidad de la vida escolar y está presente no limitándose a
los espacios de la enseñanza del arte si no que resulta vigente en el resto de las
dimensiones de la acción escolar. Esta posibilidad de un abordaje predecesor,
histórico con eje en la genealogía nos permite recoger, como si de una definición del arte se tratara, ver estos los aportes que se opondrían a la unicidad del
relato. Con palabras de Foucault (1980): “la posibilidad de los acontecimientos
en la actualidad liberará de la contingencia que nos hizo ser lo que somos la
posibilidad de ya no ser, hacer o pensar lo que somos hacemos o pensamos”.
Entonces es posible interrogarnos si la historia ¿nos habita?
65
Para una semántica de los tiempos
históricos. Barcelona: Paidós.
Lowenfeld, Viktor & Brittain, Lambert (1972)
Desarrollo de la capacidad creadora.
Buenos Aires: Kapelusz.
Martelli, Susana (2011) “Educación artística:
al calor de las expectativas y los debates
sobre este campo educativo en el que es
ineludible operar.” Revista Espacios de
crítica y producción. Facultad de Filosofía
y Letras UBA.
Martelli, Susana (2014) Políticas públicas para
el área de educación artística. Las escuelas
de arte en foco en la década del ’70. Tesis
de Maestría en Educación Pedagogías
Críticas y Problemáticas Socioeducativas.
Facultad de Filosofía y Letras. UBA.
Read, Herbert (1964) Educación por el arte.
Buenos Aires: Paidós.
Schiller, J.C.F (s/d) Sobre la educación estética
del hombre. URL: http://bdigital.uncu.edu.
ar/objetos_digitales/7709/schiller-contapas.pdf
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 56-65.
Referências
Agirre, Imanol (2000) Teorías y prácticas en
educación artística. Ideas para una visión
pragmatista de la educación estética.
Universidad Pública de Navarra.
Barbosa, Ana Mae (org.) (1999) Arteeducaçào, leitura no subsolo. Cortez
editora.
Bruner, Jerome (1968) El Proceso de la
Educación. México D.F. Unión Tipográfica
Editorial Hispano — Americana
(Colecciones Manuales UTEHA, Serie
Educación. Número 17).
Efland, Arthur (2002) Una historia de la
educación del Arte. Barcelona: Paidós.
Foucault, Michel (1980) “Nietzsche, la
genealogía y la historia.” Microfísica del
poder. Madrid: La Piqueta.
Gardner, Howard (1994) Educación artística y
desarrollo humano. Barcelona: Paidós.
Koselleck, Reinhart (1993) “Espacio de
experiencia” y “horizonte de expectativas”
dos categorías históricas. Futuro pasado.
66
Não parecem bandos
de pardais
Frazão, Carla Maria Reis Vieira (2019, setembro) “Não parecem bandos de pardais.”
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 66-77.
They don't look like sparrow flocks
CARLA MARIA REIS VIEIRA FRAZÃO*
Artigo completo submetido a 5 de maio de 2019 e aprovado a 15 maio 2019
*Portugal, professora de Educação Visual e de Educação Tecnológica.
AFILIAÇÃO: Escola Manuel Figueiredo. Agrupamento de Escolas Gil Paes Rua 25 de Abril 2350-786 Torres Novas, Portugal.
E-mail: frazaocarlareis@sapo.pt
Resumo: Projeto desenvolvido com uma tur-
Abstract: Project developed with a 6th grade class
ma do 6º ano, nas disciplinas de Educação
Visual e de Educação Tecnológica. Através
da implementação de práticas de atividade expressiva exploraram-se novos meios e
técnicas de representação e criação visual,
observaram-se obras de arte, estimulou-se a
imaginação e tentou-se motivar e envolver os
alunos nas atividades de sala de aula.
Palavras chave: obra de arte / atividade expressiva / motivação.
in Visual Education and Technological Education. Through expression practices implementation new techniques and means of representation
and visual creation were explored, works of art
were studied, the imagination was stimulated
and attempts were made to motivate and involve
students in classroom activities.
Keywords: work of art / expressive activity /
motivation.
1. Pensar o projeto e Aprendizagens Essenciais
1.1 Sala de aula — Conteúdos/aprendizagens
essenciais/comportamento perturbador
O projeto “Não parecem bandos de pardais” foi desenvolvido com alunos do
6.º ano de escolaridade nas disciplinas de Educação Visual (EV) e de Educação Tecnológica (ET), tendo por base intenções apontadas nas Aprendizagens
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 66-77.
A ação “Não parecem bandos de pardais” foi um projeto pedagógico que resultou de questões colocadas por alguns alunos, relativas aos trabalhos que iriam
fazer — “também vamos fazer pássaros como os outros, no ano passado?”, “um
projeto para fazer coisas?”. A natureza das interrogações remetia para a possibilidade de serem desenvolvidos trabalhos em que haveria a oportunidade de
manusear materiais diferenciados.
Perante a manifestação deste interesse foi importante valorizar a iniciativa pois o grupo/turma apresentava, com frequência, pouco envolvimento nas
atividades letivas e tinha um comportamento muito perturbador, com atitudes
que geravam situações de muita instabilidade na maioria das disciplinas, entre
pares e no espaço exterior.
Em resposta à solicitação foi sugerido a realização de trabalhos que permitissem a realização de uma exposição para assinalar a chegada da Primavera. O
evento visava organizar uma intervenção no espaço escolar que resultaria do contributo individual de cada aluno na produção de uma obra coletiva — uma instalação. A concretização desta ideia foi do agrado da turma e a satisfação gerada
auxiliou a criar expetativas positivas e a motivar os alunos para um maior envolvimento e uma participação ativa nas atividades desenvolvidas em sala de aula.
Apesar da estruturação do projeto ter como propósito a realização de uma
exposição, no átrio principal do estabelecimento de ensino (a área de entrada,
de passagem e de acesso aos diferentes espaços comuns), a valorização pedagógica da atividade recaiu sobre as metodologias implementadas que procuraram
promover dinâmicas catalisadoras de alteração de atitudes, seja individuais
face ao trabalho, ao prazer da descoberta e à superação de dificuldades, seja de
grupo face à cooperação e ao respeito pelo outro.
Deste modo o recurso à obra de arte e, principalmente, a ênfase colocada
nos processos de trabalho e de experienciação de meios, recursos e novas técnicas de expressão e criação plástica revelaram-se fundamentais para suscitar
a curiosidade dos alunos, fomentar uma motivação intrínseca, conferir novos
significados à aprendizagem e para valorizar a entreajuda.
67
Introdução
68
Frazão, Carla Maria Reis Vieira (2019, setembro) “Não parecem bandos de pardais.”
Essenciais de ciclo que preconizam “o alargamento e enriquecimento das experiências visual e plástica dos alunos, contribuindo para o desenvolvimento
da sensibilidade estética e artística” (Direção-Geral da Educação, Julho de
2018a:1), “[…] proporcionar uma variedade de atividades e experiências, com
uma diversidade de materiais e técnicas” (Direção-Geral da Educação, Julho
2018b:4). Foram ainda consideradas, entre outras, as menções que visam: auxiliar a construir um perfil de alunos cujas competências possibilitem apreciar
e considerar dimensões sociais, culturais e económicas; comunicar ideias; assumir atitudes de investigação e experimentação; planear etapas do trabalho;
adquirir conhecimentos de si próprio, desenvolvendo atitudes de autoestima e
de autoconfiança, mantendo relações positivas com os outros em contextos de
colaboração e interajuda (Direção-Geral da Educação, Julho 2018b:4-5).
A atividade pedagógica foi estruturada a partir da abordagem de aprendizagens que constam nos Domínios: Apropriação e Reflexão, Interpretação e Comunicação, Experimentação e Criação, Processos Tecnológicos, Recursos e Utilizações Tecnológicas. De acordo com o documento orientador Aprendizagens
Essenciais/Articulação com o Perfil dos Aluno entende-se que os diferentes Domínios inter-relacionam competências estéticas e técnicas, envolvem saberes,
conhecimento e domínio de materiais utilizados pelos alunos em diferentes contextos, ações práticas e projetos de trabalho, individuais ou em grupo, podendo
integrar conteúdos de várias disciplinas (Direção-Geral da Educação, 2018a:4).
Assim, na disciplina de EV o projeto envolveu ações direcionadas para objetivos que remetem para a descrição de objetos artísticos, análise crítica de
narrativas visuais, expressão de ideias utilizando diferentes meios, materiais
e suportes, reconhecer o quotidiano como um potencial criativo para a construção de ideias, mobilizando as várias etapas do processo artístico (pesquisa, investigação, experimentação e reflexão), desenvolvimento de trabalhos
individuais/projetos de grupo (Direção-Geral da Educação, 2018a:6-9). Na
disciplina de ET as atividades proporcionaram a abordagem de objetivos que
remetem para a aquisição de saberes inerentes às etapas e procedimentos necessários ao desenvolvimento e concretização de um projeto, produção de artefactos, seleção de materiais e apreciação das suas qualidades/propriedades,
identificação de técnicas, recursos e processos de trabalho (Direção-Geral da
Educação, 2018b:7-8).
Devido a questões relacionadas com atitudes e comportamento perturbador e de provocação entre pares, falta de motivação, existência de faltas injustificadas, não apresentação de material essencial, dificuldades de atenção/
concentração e de aprendizagem, pouca autonomia e pouca resiliência face a
1.2 O projeto — fases de desenvolvimento
O projeto pedagógico foi alicerçado no estudo de noções relativas aos conteúdos Património e Materiais, e foi organizado através da definição de três fases
nucleares, com atividades articuladas nas disciplinas de EV e de ET: (I) estudo
de conteúdos e observação de obras de arte; (II) atividade prática — registo visual e configuração das figuras; (III) exposição e reflexão sobre os resultados
alcançados/obra final.
1.2.1 EV — obra de arte, trabalho individual e projeto coletivo
Numa primeira fase, na disciplina de EV, foi efetuada a abordagem de noções
relativas aos conceitos Património, Obra de Arte, Obra pessoal e/ou coletiva. Este
estudo foi complementado com a pesquisa e a identificação de alguns bens patrimoniais da região que são exemplos significativos da identidade cultural do meio/
concelho, em que a escola se insere, por exemplo: o Castelo, as ruínas Romanas
da Vila Cardílio, as Grutas das Lapas, os parques naturais, os frutos secos, etc.
Tendo por base estas aprendizagens a dinamização do projeto foi despoletada
pela observação de imagens de obras de M. C. Escher e imagens de uma obra/instalação do ceramista e escultor A. Vasconcelos Lapa (elaborada para uma exposição que ocorreu na Fundação Portuguesa das Comunicações, 2013). Nos exemplos
apresentados, que continham figurações de pássaros, foi feita a análise das composições, dos meios utilizados, das formas, de técnicas de representação, das construções com recurso a padrões e à repetição, das relações entre as formas e o espaço.
Após o contacto com estas referências visuais, os alunos envolveram-se em
ações de pesquisa sobre as aves autóctones mais comuns da região/do meio local, fizeram o estudo das mesmas através de desenho de observação e registos
de cor real, tendo por base a visualização de uma imagem. Durante o desenvolvimento destes estudos gráficos, efetuados com lápis de grafite e lápis de cor
(Figura 1), foi feita, pontualmente, menção a questões relativas à observação
e análise dos animais; possíveis soluções e/ou estratégias para representar as
69
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 66-77.
dificuldades, as atividades de caráter prático assumiram um maior destaque
durante o desenvolvimento da ação educativa. Tendo em atenção estes constrangimentos, a aproximação a saberes curriculares, de caráter teórico, foi efetuada com explicitações muito simples e em simultâneo com o desenrolar das
atividades práticas — estabelecendo-se uma relação direta entre uma determinada aprendizagem/saber e a aplicação concreta na tarefa. Tentou-se, deste
modo, precaver estados de desânimo e a dispersão, manter ativo o vínculo afetivo e a dedicação às atividades de sala de aula.
70
Frazão, Carla Maria Reis Vieira (2019, setembro) “Não parecem bandos de pardais.”
Figura 1 ∙ Desenho de observação — pardal. Estudo de
cor real com aplicação de lápis de grafite e de lápis de cor.
Trabalho de aluno do 6.º ano, 2019. Fonte: própria.
Figura 2 ∙ Exploração de cor, padrão e/ou composição
na superfície/corpo do pássaro.Desenho a lápis de grafite,
lápis de cor e caneta de feltro. Trabalhos de alunos do 6.º
ano, 2019. Fonte: própria.
Figura 3 ∙ Exploração de cor, padrão e/ou composição
na superfície/corpo do pássaro.Desenho a lápis de grafite,
lápis de cor e caneta de feltro. Trabalhos de alunos do 6.º
ano, 2019. Fonte: própria.
71
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 66-77.
Figura 4 ∙ Trabalho de pares. Alunos cooperam na
modelação das figuras com jornal e fita-cola. Trabalhos de
alunos do 6.º ano, 2019. Fonte: própria.
Figura 5 ∙ Trabalho de pares. Alunos cooperam na
aplicação de gaze gessada no revestimento das figuras.
Trabalhos de alunos do 6.º ano, 2019. Fonte: própria.
Figura 6 ∙ Aluna a revestir um pássaro com gaze gessada.
Trabalho de aluna do 6.º ano. (2019). Fonte: própria.
72
Frazão, Carla Maria Reis Vieira (2019, setembro) “Não parecem bandos de pardais.”
Figuras 7 e 8 ∙ Alunos a pintar o pássaro de acordo
com o estudo prévio. Tinta acrílica, guache e cola branca
sobre figura revestida com gaze gessada. Trabalhos
de alunos do 6.º ano. (2019). Fonte: própria
73
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 66-77.
Figuras 9 e 10 ∙ Exemplos de trabalho final. Tinta acrílica
e guache sobre figura revestida com gaze gessada.
Trabalhos de alunos do 6.º ano. (2019). Fonte: própria
74
formas observadas; identificação de características específicas dos pássaros em
estudo; proporções e relação entre as partes e o todo.
Depois da realização destes desenhos foram elaborados estudos de simplificação da forma e foi proposto aos alunos que imaginassem um novo revestimento para os animais. A superfície da forma tornava-se num espaço livre de
invenção, no qual se afastariam das referências reais e poderiam explorar novas
cores, composições e/ou padrões (Figura 2 e Figura 3).
Frazão, Carla Maria Reis Vieira (2019, setembro) “Não parecem bandos de pardais.”
1.2.2 ET — configuração dos volumes/trabalho individual
e coletivo/entreajuda
A configuração dos pássaros em volume foi operacionalizada disciplina de ET,
tendo sido consideradas três etapas de trabalho: modelação das figuras a partir
do estudo de simplificação das formas, aplicação do material de revestimento
nos volumes, pintura de acordo com o projeto elaborado na disciplina de EV.
O principiar das atividades foi antecedido por uma sessão de esclarecimento na qual foram feitas algumas considerações sobre os materiais a utilizar e as
técnicas a aplicar, nomeadamente:
— Técnicas de trabalho com jornal — exploração de características deste
material a nível de resistência e maleabilidade/“plasticidade” (dobrar, torcer,
amachucar);
— Aplicação de gaze gessada — características sob ação da água/plasticidade, procedimentos e cuidados a ter na sua utilização;
— Aplicação de cor — pintura com tintas de guache e/ou tintas acrílicas.
Após esta explanação foi feita a demonstração da técnica de criação de volumes utilizando jornais e fita-cola de papel, para auxiliar a definir e a manter as
formas pretendidas, e posteriormente foi exemplificado o processo de utilização da gaze no revestimento da figura.
Devido às características do grupo/turma, à falta de autonomia e de determinação para ultrapassar dificuldades, e ao facto das técnicas serem desconhecidas dos alunos, nesta fase do projeto foi importante implementar estratégias
de trabalho colaborativo de modo a minimizar situações de insucesso que pudessem gerar alguma instabilidade e afetar o entusiasmo que os alunos apresentavam. A entreajuda (Figura 4 e Figura 5) foi uma mais-valia: observou-se
que os alunos se esforçavam para não abandonar o trabalho e as situações de
desafio e de provocação entre pares diminuíram consideravelmente. O êxito alcançado na concretização das tarefas manteve a maioria dos alunos motivada e
ansiosa para dar continuidade às diferentes etapas do projeto — o que permitiria a experimentação de um novo recurso e/ou técnica expressiva.
Conclusão
O projeto de comemoração da chegada da Primavera foi delineado a partir de
ideias expressas por alguns alunos e teve como intuito tentar apelar a uma participação mais ativa e positiva nas atividades letivas. O grupo/turma integra um
número considerável de alunos que apresentam muitas dificuldades de aprendizagem, dificuldades de atenção/concentração e atitudes (de interação entre
pares) desajustadas ao espaço de sala de aula. O seu modo de estar desencadeia
muita instabilidade e repercute-se na qualidade das suas aprendizagens.
Tendo por base as fragilidades da turma, e a vontade manifestada em “fazer coisas novas”, a estruturação da ação pedagógica atendeu aos interesses dos
alunos e foi direcionada para a implementação de atividades de cariz essencialmente prático, norteadas por dinâmicas vinculadas à criação plástica — O pensar na obra/a ideia, a razão que motiva a sua génese, o lugar a que se destina,
a pesquisa de materiais, a experimentação, o processo de desenvolvimento e
materialização da mesma, a reflexão sobre o resultado final.
Procurou-se, desta forma, implementar uma estratégia com utilização/
exploração de materiais interessantes e tarefas novas, diferenciadas e estimulantes cuja natureza aumentasse a probabilidade dos alunos se manterem
motivados para que, assim, a aprendizagem cumprisse uma “função positiva”
(Veríssimo, 2013:85-8).
A. Quadros Ferreira (Ferreira, 2007:74-5) e Arnheim (2010:58) apontam
que as dinâmicas didáticas organizadas em sala de aula condicionam o envol-
75
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 66-77.
Constatou-se ainda que alguns alunos interiorizaram com muita facilidade
os diferentes procedimentos, tendo sido autónomos na aplicação das técnicas
(Figura 6), mostrando-se mais auto-confiantes e ajudando vários colegas em
diversas etapas do projeto, tomando a iniciativa para colaborar em diferentes
grupos de trabalho.
Depois da fase dedicada à modelação e ao revestimento das figuras, com
gaze gessada, foi efetuada a pintura de acordo com os estudos desenvolvidos
previamente (Figura 7 e Figura 8). Neste segmento do projeto observou-se que a
maioria dos alunos apresentava um entusiasmo acrescido — por um lado puderam continuar a experienciar e a manusear diferentes materiais/recursos e, por
outro lado, a aplicação de cor aproximava-os do objeto real que haviam idealizado. Aquando da conclusão da tarefa os alunos mostravam-se orgulhosos do
seu trabalho final (Figura 9 e Figura 10), por terem conseguido materializar,
com sucesso, uma ideia registada numa folha de papel e pelos elogios recebidos
da comunidade escolar.
76
Frazão, Carla Maria Reis Vieira (2019, setembro) “Não parecem bandos de pardais.”
vimento do aluno, sendo essencial efetuar abordagens que valorizem os seus
interesses e promovam novas experiências, considerando diferentes modos de
aprender, pensar, ver e fazer. Através destas práticas poder-se-á cativar o aluno
e suscitar a sua curiosidade, minorando situações de falta de motivação e pouca
participação e, deste modo, dar mais significado às ações e aprendizagens efetuadas em sala de aula.
Também Rogers (C. Rogers, apud Sousa, 2003:143) refere que a mudança
significativa do comportamento resulta de um trabalho individual de descoberta e de algo percecionado pelo próprio indivíduo. Sobre motivação e aprendizagem é, ainda, importante atender aos enunciados de A. Damásio que estabelecem uma conectividade entre cognição e afetividade, considerando-as uma
mesma unidade funcional (Damásio, apud Ribeiro, 2011:1).
Assim, pelo envolvimento dos alunos no projeto educativo e pelos resultados alcançados, constatou-se que o incremento de propostas pedagógicas desafiadoras ligadas ao pensamento e à atividade criativa revelou-se propício à alteração de atitudes. O contacto com o desconhecido, com espaço para a exploração e experimentação, a descoberta e a concretização de ideias ligadas aos seus
interesses propiciaram situações de ensino-aprendizagem que conduziram a
posturas de superação individual, de relações positivas com a atividade letiva
e a concretização bem-sucedida da tarefa resultou no aumento da autoestima.
Apesar dos resultados positivos é de anotar que também ocorreram períodos
em que alguns discentes apresentaram alguma desmotivação devido ao facto da
obtenção do objeto final não ser imediata, tendo sido necessário dar um apoio
mais individualizado para que a transição entre procedimentos fosse mais célere. De algum modo os alunos parecem requerer atividades de resultado/resposta
instantânea que lhes são proporcionadas pelos novos meios e soluções tecnológicas — um desafio que se coloca na estruturação de novos projetos pedagógicos.
Depois da fase dedicada à modelação e ao revestimento das figuras, com
gaze gessada, foi efetuada a pintura de acordo com os estudos desenvolvidos
previamente (Figura 7 e Figura 8). Neste segmento do projeto observou-se que a
maioria dos alunos apresentava um entusiasmo acrescido — por um lado puderam continuar a experienciar e a manusear diferentes materiais/recursos e, por
outro lado, a aplicação de cor aproximava-os do objeto real que haviam idealizado. Aquando da conclusão da tarefa os alunos mostravam-se orgulhosos do
seu trabalho final (Figura 9 e Figura 10), por terem conseguido materializar,
com sucesso, uma ideia registada numa folha de papel e pelos elogios recebidos
da comunidade escolar.
77
Ribeiro, Filomena (2011) — Motivação e
aprendizagem em contexto escolar.
PROFFORMA Nº 03 — Junho. [Consult.
2019-04-29]. Disponível em URL:
http://cefopna.edu.pt/revista/revista_03/
pdf_03/es_05_03.pdf
Sousa, Alberto B. (2003) Educação Pela
Arte e Artes na Educação. Vol. I. Bases
Psicopedagógicas. Lisboa: Instituto Piaget.
ISBN: 972-771-617-2.
Veríssimo, Lurdes (2013) — Motivar os alunos,
motivar os professores: faces de uma
mesma moeda. In J. Machado & J. Matias
Alves (Orgs.) Melhorar a Escola: Sucesso
escolar, Disciplina, Motivação, Direção
de Escolas e Políticas Educativas. Porto:
Fac. de Educação e Psicologia da Univ.
Católica Portuguesa/Centro de Estudos
em Desenvolvimento Humano & Serviço
de Apoio à Melhoria das Escolas. ISBN:
978-989-96186-4-0
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 66-77.
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sobre la educación artística. Barcelona:
Espasa Libros, Paidós, (5ª edição). ISBN:
978-84-7509-877-7.
Direção-Geral da Educação (2018a)
Aprendizagens Essenciais: Articulação
com o Perfil dos Alunos. [Consult. 201904-23]. Disponível em URL:
https://www.dge.mec.pt/sites/default/files/
Curriculo/Aprendizagens_Essenciais/2_
ciclo/educacao_visual_2c_ff.pdf
Direção-Geral da Educação (2018b)
Aprendizagens Essenciais: Articulação
com o Perfil dos Alunos. [Consult. 201904-23]. Disponível em URL:
http://www.dge.mec.pt/sites/default/files/
Curriculo/Aprendizagens_Essenciais/2_
ciclo/2c_educacao_tecnologica.pdf
Ferreira, António Quadros (2007) — Pensar
a Arte, Pensar a Escola. Porto: Edições
Afrontamento. ISBN: 978-972-36-0907-3.
78
Oliveira, Elisabete (2019, setembro) “Projectos Visuais Escolares, Formação de Professores e Investigação-Acção: resposta integrada
em Auto-eco-compatibilização à Emergência-Mudança.” Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 78-95.
Projectos Visuais Escolares,
Formação de Professores
e Investigação-Acção;
Resposta integrada em
Auto-eco-compatibilização
à Emergência-Mudança
Eco-compatibilization of Visual Aesthetic
Education Projects in school-environment
interaction: Contribution for the University of
Lisbon Artistic Education Exploratory
ELISABETE OLIVEIRA*
Artigo completo submetido a 5 de maio de 2019 e aprovado a 15 de maio 2019
*Portugal, artista visual.
AFILIAÇÃO: Universidade de Lisboa, Faculdade de Belas-Artes, Centro de Investigação e Estudos em Belas-Artes, CIEBA. Largo
da Academia Nacional de Belas-Artes, 1249-058 Lisboa, Portugal. E-mail: elisabeteo@netcabo.pt
riculum practices, teacher education and actionresearch, specifically in Art-Education, with the
following objectives: (1) To reflect about emergence
and change immanence, in everything that lives
and evolves in space-time; and the consequent
necessity for self-eco-compatibilization in the
teaching-learning process. (2) To understand the
eco-nature, relational, of the teaching-learning
process – and art -; and its implications/necessity/challenges for curriculum planning, teacher
education and action-research, in the actual flexibility system. (3) To analyse current practices
trends – emphasis on 3rd Cycle and Secondary
Education. (4) To update a characterization of
curriculum development in the last 70 years. (5)
To uncover problems and priorities to qualify
visual experiences at school, their teachers’ education and action-research. In conclusion, we
become conscious of the value of school visual
projects as visual cultural material heritage,
by revealing their time and culture and insight
into the future, in. transdisciplinary and intergenerations accomplishment.
Keywords: action-research / project of work /
teacher education / visual aesthetic education /
visual cultural material heritage.
Introdução
Interrogamo-nos sobre a qualidade das experiências escolares, Formação de
Professores e Investigação-Acção específicas em Arte-Educação. Por essa razão os objectivos desta investigação são os seguintes: (1) Reflectir sobre a imanência da emergência e da mudança no que é vivo e se desenvolve no espaço-tempo; e a consequente necessidade de auto-eco-compatibilização no processo educacional, de ensino-aprendizagem. (2) Compreender a eco-natureza,
relacional, do ensino-aprendizagem — e da arte -; e as suas implicações/necessidades/ desafios para o Planeamento Curricular, a Formação de Professores
e a Investigação-Acção em Arte-Educação, no actual contexto de autonomia e
flexibilização curricular, AFC — MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO (2016).
79
Abstract: We research nowadays quality of cur-
das práticas curriculares, formação de professores e investigação-acção, específicas em
Arte-Educação, com os objectivos seguintes:
(1) Reflectir sobre a imanência da emergência
e da mudança no que vive e se desenvolve no
espaço-tempo; e a consequente necessidade
de auto-eco-compatibilização no processo
de ensino-aprendizagem. (2) Compreender
a eco-natureza, relacional, do processo de
ensino-aprendizagem - e da arte -; e suas implicações/necessidades/desafios para o planeamento curricular, a formação de professores e a investigação-acção, no sistema actual
de flexibilização. (3) Analisar tendências de
práticas correntes – ênfase no 3º Ciclo Básico
e E.º Secundário. (4) Actualizar uma caracterização do desenvolvimento curricular dos
últimos 70 anos. (5) Detectar problemas e
prioridades para a qualificação das experiências escolares visuais, formação dos seus professores e investigação-acção. Concluiremos
consciencializando o valor dos projectos escolares visuais como património cultural imaterial, revelador do seu tempo e cultura e perscrutando o futuro, em realização transcultural
e intergeracional.
Palavras chave: educação estética visual / formação de professores / investigação-acção /
património cultural visual imaterial/ projecto de trabalho.
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 78-95.
Resumo: Investigamos a qualidade presente
80
Oliveira, Elisabete (2019, setembro) “Projectos Visuais Escolares, Formação de Professores e
Investigação-Acção: resposta integrada em Auto-eco-compatibilização à Emergência-Mudança.”
(3) Analisar tendências de práticas correntes, com ênfase no 3º Ciclo Básico e Ensino Secundário — recolhidas no Projecto ExplorEAUL (Exploratório de
Educação Artística da Universidade de Lisboa), cujo piloto apresentámos em
Doutoramento (2005), publicámos em 2010 e aprofundamos presentemente
no CIEBA -, verificando desenvolvimentos num contexto estético integral tridimensional / funcional (material / tecnológico; social / comunicativo; ontológico / de-organização-de-vida); e como contributo para um referencial do professor no tempo de flexibilização presente. (4) Actualizar uma caracterização
dos períodos de desenvolvimento curricular dos últimos 70 anos. (5) Detectar
problemas e prioridades para a qualificação das experiências escolares visuais,
formação dos seus professores e investigação-acção.
1. Imanência da emergência e da mudança no que vive e se
desenvolve no espaço— tempo; e a consequente necessidade de
auto-eco-compatibilização no processo de ensino-aprendizagem.
Entendemos que tudo o que vive está necessariamente em mudança, no espaço-tempo; por essa razão, modelos de sucesso num contexto precisarão de actualização face à emergência de novas circunstâncias e (sin)energias, a qual, para
corresponder à realidade, exigirá um processo de auto-eco-compatibilização:
eco-, por congregar o conhecimento na envolvente próxima-global, no diálogo
entre os actores. Em arte-educação, parecem-nos condições necessárias para a
autonomia nas escolas e uma reestruturação curricular, as representações dos
alunos auscultadas sustentadamente quanto aos resultados do que têm experimentado e o que a sociedade lhes exija, ouvidos entre si e com os professores; e
que estes e as escolas — com as estruturas parceiras da família, poder decisório
e cultura (em sentido lato), estejam auto-documentados sobre os percursos de
desenvolvimento prosseguidos, capacitados para se entre-ouvirem e apreciando critica e adaptativamente o que é reportado por experiências nacionais e internacionais. Consulta útil: Ana Mae Barbosa (2015).
Na educação estética-artística visual, com foco nos 2º / 3º Ciclos e Ensino
Secundário, assinalamos a transição das práticas de exercícios para o trabalho de
projecto (João Martins da Costa, por 1955), generalizado nos anos 70; e do projecto de trabalho, com crescente autonomia dos alunos, acentuadamente desde
os anos 90. Com o 25 Abril ’74, expandiu-se a interacção com a comunidade e os
projectos passaram a responder não só ao desenvolvimento pessoal mas também a finalidades de cidadania — da escola, ambiente e património cultural.
O processo e as competências específicos em Educação Visual e Artes Visuais
tornaram-se instrumentais para os projectos trans-disciplinares: Na Exposição
2. Eco-natureza relacional do ensino-aprendizagem — e da arte
—; e suas implicações/necessidades/desafios para o planeamento
curricular, a formação de professores e a investigação-acção,
no contexto da AFC actual.
Situámos centralmente o processo de aprendizagem em Educação Estética Visual, num construto de mundividência, interagindo com sucessivas
áreas do viver — (1) Arte-Técnica-Ciência, abrangidas pela Filosofia/Estética; (2) Educação como fenómeno da comunicação/linguagem humanas; por
sua vez (3), fenómeno da sobrevivência e instrumento humano; (4) e parte do envolvimento material: Sistema percorrido pela energia, do possível
em direcção ao imaginável, nas tensões de ausência/presença e existência/
forma (Oliveira, 2010). A par da Teoria da Complexidade que nos alertou para
que tudo tem a ver com tudo, precisaremos de aceder ao estado do fluir, propiciador da criatividade — (Csikszentmihaly, 2002); para concebermos as compatibilizações necessárias na mudança — o novo, importante só porque será resposta à
emergência em que se exerce a nossa profissão -, (Perrenoud, 1996). Só assim, na
hologramaticidade das estruturas enredadas da nossa consciência local, captaremos
soluções da nossa consciência não local (Goswami et al., 1993). E para nos nortear,
será necessário reflectirmos nas aprendizagens essenciais específicas — ME/DGE
(2019-2), tendo em conta o perfil do Aluno à saída da escolaridade obrigatória —
ME/DGE (2017); o PEEA, Programa de Educação Estética e Artística — ME/DGE
(2019-3); e o documento sobre finalidades-pressupostos-eixos — ME/DGE (2019-1).
Propomos ainda o seguinte Quadro, para base de reflexão — (Oliveira,
2010), anotação 2019:
81
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 78-95.
Partilha de Olhares — ME, Web (2019) — no Encontro Nacional de AFC, no CAE
da F. Foz, ’19.06.04, dos Projectos interdisciplinares de 87 Agrupamentos, 49
(56%) destacavam a Educação Visual/Artes Visuais e, os restantes, recorriam
aos saberes de imagen e comunicação específicos destas.
O que importa ter em conta é que esta instrumentalização da Educação Visual/Artes Visuais não esvazie o tempo-espaço das respectivas aprendizagens
específicas, que pelo contrário devem ser aprofundadas.
Como notou o Presidente da Sociedade de Matemática — AR, Web (2019) —,
“não se pode ser criativo sem se saber de quê.” Urge salvaguardar as aprendizagens essenciais específicas, o que reflectiremos em seguida. É precisa vigilância
do nível formativo perspectivado e alcançável pelas propostas de flexibilização
curricular — o que nos levou a exigir a valorização específica da Educação Visual numa proposta de FC redutora anterior (Oliveira, 1999).
82
Quadro 1 ∙ Aprendizagens Essenciais em Educação Estética-Artística Visual:
Base para uma auto-eco-compatibilização no contexto da Autonomia e Flexibilização Curricular:
Oliveira, E. (2010), anotada em 2019.
EDUCAÇÃO ESTÉTICA VISUAL — Referencial para Aprendizagens
Essenciais — Combinatória de abordagens. Trabalhos em portfólio com
avaliação formativa contínua, em auto-eco-compatibilização face
Dimensões
e Funções
ÂMBITOS ESTRUTURANTES EMERGENTES
Dimensão material — Função Tecnológica
Oliveira, Elisabete (2019, setembro) “Projectos Visuais Escolares, Formação de Professores e
Investigação-Acção: resposta integrada em Auto-eco-compatibilização à Emergência-Mudança.”
à emergência.
ACTIVIDADES
ABRANGÊNCIA
Exercício/Trabalho pontual /Projecto
ÊNFASE
CONTEÚDOS
Data: 2010 + Última revisão: ’19.06.11
. Exploração das qualidades estéticas
da organização formal
(apreendíveis em empatia):
— Recaracterização e reorganização
por recursividade da experiência-limite, de
desordem
. Equilíbrio
Tensão
Movimento
Ritmo
Unidade (Integração)
& Entropia, Caos, Desconstrução e
Reorganização
. Presentação dos elementos
da forma visual: pregnância;
contrastes polares e interrelações através de:
— Leis da Gestalt & Efeitos contrários
(Pró-unificação
(Pró-plurivalência
na diversidade):
até ao caos):
Interdistância
Articulação
Igualdade
Ambiguidade
Fechamento
Ruptura
Continuidade
Fragmentação
Semelhança
Indeterminação
. Adestramento em tecnologias
e prevenção de riscos
ÊNFASE
. Morfologia e Sintaxe visuais
Formas:
— Pontua/Linear/De Superfície
— Volumétrica
— Espacial dinâmica
+
Atributos:
— Cor-Luz
— Textura
— Cinética e Cinestésica
. Técnica-Material — c/ ênfase na
contemporaneidade
. Predominantemente Corporal-Manual:
— Desenho à mão livre
— Desenho rigoroso-geométrico, perspectiva
— Pintura, Gravura, Cerâmica (…)
— Escultura, Construção-Arquitectura,
Instalação
— Movimento-gesto e Performance
. Predominantemente Mediatizada — analógica
e digital
— Fotografia, Video, Cinema, Multimedia,
Virtual
— Informática-Internet (Imagem, blogue,
rede)
. Solução de problemas por:
Recriação, design em grafismo,
objecto em 2D, 3D ou 4D,
funcional
. Exploração em sinestesia,
transdisciplinaridade
. Interpretação — Apreciação —
Crítica
em contexto nacional e global, de:
— imagem/objecto visual
quotidiano
— património cultural visual
material e imaterial
(nacional e internacional)
. Reflexão — Síntese —
Interiorização da
experiência estética
Fruição e provocação, em emoçãorazão
. Intervenção estética na
comunidade — cultura
disseminação de experiência;
intercolaboração
. Partilha de soluções de redesign-qualificação visual,
em aula, escola, localidade,
nação e globalização
. Formas naturais e recriadas, observadas
83
. Observação, compreensão e
representação,
registo do real
. Sistema de significação:
— Signo: Ícone, Índice e Símbolo
Aplicação gráfica: Sinal, Marca (…)
Processo-Produto. Funcionalidade
Expressão não condicionada,
Projecção pessoal e metáfora (poética…)
Objecto de Design — Utilitário
— gráfico, embalagem (...)
— equipamento (...)
— objecto estético pessoal ou público
. Correspondência sensorial
Integração de Expressões
. Significado de processo-produto em:
— imagem: informação — evocação
— publicidade/propaganda
— arte/arq, design, artesanato:
contemporaneidade;
passado/tradição; sinergias actuais/inovação
. Auto-eco-descoberta-em-cidadania
Recriação estética— objecto e vivência de
emoção-razão
. Posição Tradição-Inovação
Responsabilização sócio-cultural
. Eco-consciencialização — responsabilização
no impacto e nos riscos da intervenção estética
. Questionamento e síntese do processometodologia vivenciados
. Registo documental e Pistas de
desenvolvimento
A formação de professores para as decisões em AFC nos seus Projectos de
Disciplina e trans-disciplinares de Escola, aponta à necessidade de investigação-acção, por metodologia em que cada um registe e reflicta sobre os processos prosseguidos e os confronte criticamente com os outros Professores da Escola e de experiências externas, e com a comunidade, em comparatividade: não para cópia/
uniformização de soluções mas para valorização das compatibilizações possíveis.
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 78-95.
Dimensão ontológica – Função de
organização de vida
Dimensão Social — Função comunicativa
. Expressão em Linguagem Visual . (Semântica visual)
Expressividade (associações)
Oliveira, Elisabete (2019, setembro) “Projectos Visuais Escolares, Formação de Professores e
Investigação-Acção: resposta integrada em Auto-eco-compatibilização à Emergência-Mudança.”
84
3. Análise de uma amostra de projectos visuais recentes dos
3º Ciclo Básico e Ensino Secundário — por nós recolhida no Projecto
ExplorEAUL-CIEBA, FBAUL
Recorremos a Escolas, ou Centros Culturais em parceria com estas, que já fazem história em projectos visuais de relevância; ou de que nos apercebemos
pela ressonância no contexto cultural local/nacional, e procurámos visitar.
Abordámos 10 Projectos recentes,verificando desenvolvimentos num contexto estético integral tri-dimensional/funcional:
— material/tecnológico; social/comunicativo; ontológico/de-organização-de-vida.
Incluímos casos desde Valbom-Porto e Douro ao Porto Santo. Foi curto o
tempo que pudemos dar para que alguns professores nos enviassem imagens e,
por outro lado, alguns dos Professores não tinham registos fotográficos feitos,
pois ainda não conseguimos/verificamos a generalização: (1) da rotina de uma
Planificação incluindo o registo sistemático das fases dos projectos que orientam, para disseminação próxima/global, como há mais de duas décadas vimos
apelando — mais intensivamente com o nosso projecto do Exploratório de Educação Artística da Universidade de Lisboa, com piloto desde a nossa Tese de
Douramento de 2005 —; (2) da consciencialização de que esses documentos
podem integrar e ser reconhecidos como património cultural-visual imaterial.
Devido à escassez e selectividade da nossa amostra, não pretendemos
uma cobertura estatística descritiva da totalidade da situação da Educação
Visual e das Artes Visuais no 3º Ciclo Básico e Ensino Secundário das escolas
portuguesas — avaliação que cabe ao Ministério da Educação incrementar sustentadamente — e começa a perspectivar para transdisciplinaridade, como em
Cidadania ou Ecologia. Queremos, pelo Exploratório — (Oliveira, 2010), detectar as experiências mais inovadoras, disseminando-as não como modelo mas
para referencial, incrementando uma cultura de partilha com vista à aferição da
qualidade, visando a excelência das orientações pelos professores e seus parceiros e o combate ao perigo de retrocesso.
Os casos selecionados permitem-nos constatar o alto nível de qualidade
estética visual actualmente alcançável em — ou com — escolas públicas, denotando já a interacção com o contexto cultural e a disseminação através de exposição, registo online e por outros media.
Apresentamos os projectos mais inovadores que encontrámos nesta investigação, tendo neles verificado um alcance formativo com crescente integralidade e a acentuação seguinte:
85
Tendências-REFERENCIAIS dos Projectos escolares visuais
(caracter principal)
(1) Sensibilização à imagética artística contemporânea com domínio
tecnológico perspectivando realização vocacional e capacitação
profissional gráfica
Fotografia — Desenho — Banda Desenhada (Figura 1 e Figura 2)
(2) Consciencialização de si e do corpo — Escultura (Figura 3)
(3) Inter venção visual crítica e de qualificação/sustentabilidade
(4) Inter venção visual e cidadã: Paisagem/Espaço cultural — Desenho,
Teatro e Literatura (Figura 6 e Figura 7)
A observação deste caso aponta à conveniência de as obras escolares parietais serem amovíveis, facilitando a sua remoção para reposição, substituição ou
arquivo, em eco-compatibilização com a mudança emergente no local.
A informação permanente — e o Convite à visita pela C. M. Almada -, assinalam: Esta obra participativa vem contribuir para a requalificação deste espaço
comum, celebrando a língua portuguesa e a poesia, a escrita criativa e a caligrafia,
a arte urbana e a cidadania.
(5) Descoberta do singular no Colectivo — Cinema (Figura 8)
Após a iniciação técnica em fotografia e vídeo, os alunos aplicaram os conhecimentos:
caminhando pela Vila de Sendim, exploraram os seus lugares preferidos, num autoreconhecimento e comunicação; e foram desafiados a re-organizar espaços (como
aconteceu nas antigas casas dos engenheiros no Barrocal), som, e criação de cena e escrita.
Comunicações in: Associação Portuguesa de Antropologia (2018) e I2ADS (2018).
Com Orientação, Produção e Enquadramento idênticos, em 2015/16 este
Projecto fora experimentado na Escola E.B. 2,3/S do Agrupamento de Escolas
de Vila Flor — Turma: 8º B — 19 alunos, 13-14 anos — Oficina de Fotografia e
vídeo: Gravar Vila Flor, por 24h ao longo do ano letivo: este filme, de 27m, projectado no auditório da Escola, questionou: O que mais amas? Do que tens medo?
Um sonho? Se fosse o último dia da tua vida o que farias? Aproximou lugares e
habitantes: alunos, Director da Escola, professores e auxiliares de educação;
habitantes da vila: comerciantes, idosos e Presidente da Câmara.
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 78-95.
em saúde e ecologia (Figura 4 e Figura 5)
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Oliveira, Elisabete (2019, setembro) “Projectos Visuais Escolares, Formação de Professores e
Investigação-Acção: resposta integrada em Auto-eco-compatibilização à Emergência-Mudança.”
Figura 1 ∙ Tema: EU, abril 2019, Escola Secundária de Seomara da Costa Primo — Agrupamento
de Escolas Amadora Oeste. Orient: Samuel Pinheiro. Aluno-Autores: Dupla — Beatriz Pires e Kristofar
Yoshkov, 10º ano Curso Técnico de Fotografia, 16 anos. Fotografia com edição e desenho. Incluído em
exposição de articulação vertical do jardim de infância ao secundário, aberta a toda a comunidade
educativa e a outros grupos que visitam a escola. Disseminação da exposição no site da escola e na
página do facebook do grupo de Artes.
Figura 2 ∙ 100 Anos da Escola António Arroio. 2019, Escola Secundária Artística António Arroio
— Lisboa. Orient: Francisco Caldas e Vasco Parracho. Alunos: Colectivo de 3 Turmas do 11º Ano, c.
17 anos. Fanzine-BD. Maqueta de Capa e Contracapa a ser editada cerca de Maio de 2019, em
parceria da E. S. A. António Arroio com LER+/Plano Nacional de Leitura 2027, C. M. Lisboa e Junta
de Freguesia da Penha de França, comemorando o 100º Aniversário desta Escola. (Vd. Créditos às 4
Instituições). Foto: Disponibilizada por Francisco Caldas.
Figura 3 ∙ Tema: Eu sou o vaso moldado pelas mãos do oleiro. Escultura. 2018-2019. Orient. Diogo
Félix. Individual: Aluna-Autora, Jeovana Olivença. 16 anos. 12º Aº. Escola Secundária Seomara
da Costa Primo — Amadora. Escultura em gesso. (100 x 40cm). Processo: Construção de uma
escultura/objeto tridimensional com utilização de gesso e que refletisse sobre o corpo/eu, no âmbito
da disciplina de Oficina das Artes. Disseminação de experiência: Exposição na Galeria Artur Bual
— Amadora, inserida no evento Arte na Escola, organizada pela C. M. Amadora; e publicação no
livro e_moções que reúne os trabalhos mais significativos realizados ao longo de cada ano letivo no
Agrupamento (2019). Foto: Kristofar Yoshkov (Aluno do mesmo Curso). 16 anos.
com necessidades especiais
(6.1.) Surdez
87
(6) Potencial da Expressão /Comunicação Visual em alunos
Sombras, Movimento /teatro, Linguagens da percussão,
Palavras-chave: Encontrar | Inventar | Parar | Respirar | Mexer | Unir | Atar | Tocar
| Ouvir; Matéria | Escala | Dimensão | Luz | Eu | Outro | Par. Foto: Serviço Educativo
Museu do Douro.
A Equipa do Serviço Educativo do Museu do Douro assinalou-nos que alguns destes alunos vieram de localidades distantes como Chaves, sendo-lhes
proporcionado transporte de táxi. Este é um caso que patenteia a luta em aliança de museu-escola, pela qualidade educativa, sem exclusões devidas a necessidades especiais dos alunos ou às dificuldades de acesso em muitos lugares do
interior do país.
(6.2.) Surdez e Cegueira/Baixa Visão (Figura 10, Figura 11 e Figura 12)
As obras selecionadas incluem pintura da autoria da Orientadora; poesia sobre as
pinturas de Saulo César Paulino da Silva, Poeta e Professor da Universidade de São
Paulo; e Música composta a partir das pinturas, da autoria do músico e compositor
brasileiro Adriano Adiala (conhecido como o Menino de Ouro da Gaita de Beiços da
América Latina.
Exº da proposta aos alunos do 5º Ano, Texto poético 1): Ler e… reescrever o poema;
realizar uma ilustração; escrever o texto poético em Braille; gravar um vídeo em cada
uma de sete línguas, declamando o texto poético e traduzindo em língua gestual…
portuguesa, brasileira, inglesa, espanhola, francesa, italiana e alemã. Um dos
descritivos dos alunos sobre as pinturas inspiradas no Texto poético 1 -: Há uma
mulher e um bebé, um peixe que está numa taça, pássaros pretos e azuis, quatro luas
negras e árvores mortas e muitos peixes. Há uma puma escondida atrás de uma árvore
e um rio. (Frade, 2019).
No Congresso MP6 já referíramos este Projecto (2016-2017) com a interpretação de texto poético pelo 7º Aº de Ed. Visual. Agrupº de Escolas 4 de Évora: continua a dificuldade de Exposição, nomeadamente por falta de um espaço em Évora, sem barreiras ao acesso, em coerência com o sentido inclusivo deste projecto.
(7) Actualidade no Património cultural e interacção holística
transdisciplinar (Figura 11 e Figura 12)
Consideramos referencial o Projecto Viagem e Multiculturalidade — Tema derivado das comemorações dos 500 anos da viagem de circum-navegação.
Orientado por Cristina Pinto em Educação Visual e Oficina das Artes Visuais,
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 78-95.
língua gestual portuguesa (Figura 9)
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Oliveira, Elisabete (2019, setembro) “Projectos Visuais Escolares, Formação de Professores e
Investigação-Acção: resposta integrada em Auto-eco-compatibilização à Emergência-Mudança.”
foi assumido pelo Agrupamento de Escolas de Valbom, desde os jardins de infância ao 12º ano e em todas as áreas de saber. Integrou o desfile de inúmeros
viajantes com máscaras, malas, chapéus e outros adereços inventados entre
Educação Visual e Português, da Escola Secundária-Sede até ao Lugar do Desenho, à porta do qual os Alunos dos vários Quadros, em ’19.05.14, apresentaram
performances; e onde Cristina Pinto orientou de seguida a montagem de duas
salas de Exposição com todos os adereços criados — além dos trabalhos multidisciplinares afixados -, com música de fundo (sobre multiculturalidade), por
alunos do 12º ano em Inglês. Do registo avaliativo de C. Pinto:
As reacções à actividade não podiam ser melhores. Parece-me que este formato,
que permitiu que mais elementos participassem da inauguração, integrando-a ou
assistindo a ela (pois as aulas pararam) e de se terem ao mesmo tempo divertido, foi de
alguma maneira muito compensador. Há muita partilha de fotos, a circular nas redes
sociais e instaladas nos computadores da sala dos professores. E parece-me que este
ano a exposição no Lugar do Desenho vai ser ainda mais visitada.
4. Actualização da caracterização dos períodos de desenvolvimento
curricular em Educação Estética Visual em Portugal dos Adolescentes,
desde ‘40s até à transição à AFC
Caracterizámos 7 Períodos (P) principais (Oliveira, 2010:73): P1 — Pró-imaginação (… — 1947) / P2 — Educação através da Arte (1948-1970) / P3 — Formal
(1970-1971) e Experiências até 1974 / P4 — Cultural-Comunicativo (1974-1975)
/ P5 — Integrado-Envolvimentalista (1975-1990) / P6 — Funcional Tecnológico
(1990-2001/4) / P7 -Interaccional-Eco-Tecnológico (2001/4— …). Para todos,
sintetizámos, dos respectivos Programas: CD — Capacidades a desenvolver;
CO — Objectivos: operacionalização de competências dos alunos. Em P7: CD
— Literacia em Artes. Apropriação das linguagens elementares das Artes; e
sua compreensão no contexto. Desenvolvimento da capacidade de expressão
e comunicação; e criatividade. CO — Competências de Fruição-contemplação;
Produção-criação; Reflexão-interpretação. Consideramos agora um Período
de transição para o P8 — AFC (quando esta for generalizada a todas as escolas
do país): Neste período, o PEEA — mantém o Desenvolvimento da Criatividade,
explicitando o Sentido Estético e o Contacto com Diferentes Universos Culturais;
e mantém as competências: Fruição -Contemplação, Interpretação — Reflexão e
Experimentação — Criação; a estas apenas acrescentaremos, pós-avaliação de
resultados, Disseminação — Partilha comunitária.
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Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 78-95.
Figura 4 ∙ Tema: Painel da Cantina da Escola. Pintura-Grafismo em Técnica Mista. Obra scripto-visual
patente em 2018 na Cantina da Escola Secundária Dr. Francisco Freitas Branco, Porto Santo (cidade).
C. 3m de largura. Coord.: Pedro Batista — Grupo de Biologia/Ciências Naturais -, em resposta à
necessidade de esclarecer os Alunos sobre Saúde e Alimentação. Alunos: C. 17 anos. Este Painel está
extinto em 2019, devido às obras de profunda remodelação em curso no edifício da Escola. Foto:
Elisabete Oliveira.
Figura 5 ∙ Arrábida Storming — Tema: Arrábida Biosfera. Técnica mista — Colagem e Pintura:
guache e lápis-de-c s/ papel à escala de 1/100 de Guernica, de Picasso, determinada pelo Concurso:
78x35 cm. 1º Prémio KID´S GUERNICA-AMRS — Ensino Secundário. 2018.. Escola Sec.ª da Moita.
Orient: Alexandra Seabra. Alunos — Ano: 10º B1: Amanda Barbosa, Ana Margarida Silva, Andreia
Pereirinha, Beatriz Miranda, Cátia Sofia Perreira, Florina Bobone, Jéssica Dias, Liliana Silva, Mara
Joaquim, Mª Miguel Oliveira, Mariana Rocha, Marta Reis, Samuel Finholdt, Sofia Domingos, Tiago
Pedro, Emerson Pereira, Inês Castro, Jénifer Madeira e Célio Mateus. Projecta-se a ampliação da
maqueta para uma parede da Escola.. Foto: Alexandra Seabra.
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Oliveira, Elisabete (2019, setembro) “Projectos Visuais Escolares, Formação de Professores e
Investigação-Acção: resposta integrada em Auto-eco-compatibilização à Emergência-Mudança.”
Figura 6 ∙ Instalação POLIATRO (c. 60 desenhos), papel e madeira, mobile. Escola Secundária
Cacilhas-Tejo. Tema: Cidade (Inspiração no Poema Cidade, de Cecília Meireles). Intervenção
Cultural no Jardim de Inverno, Sala Bernardo Sassetti, do Teatro Municipal de S. Luiz, a convite
deste para Os dias do Teatro-O Público vem aoTeatro, vivenciando o Teatro como espaço público:
a partir do espaço urbano, questionar fronteiras e porosidades entre o fora e o dentro, o público e
o privado — SLuiz,TM (2018) . Orient: Prof. Miguel Brinca e Artista Susana Anágua. Alunos 10º
A: Ricardo Gomes, Adriana Santos, Daniela Martins, Matilde Delfino, Isabel Correia, Inês Martins,
Yasmine Oliveira, Mafalda Pedroso, Júlia Souza, Pedro Pinheiro, Gabriela Horta, Mariana Pereira,
Sílvia Caxinda e Sara Pebre. Foto: Elisabete Oliveira.
Figura 7 ∙ Oceano de palavras. Mural-poema visual coletivo, de leitura múltipla, com frases
inspirados no desenho O Mar que se quebra de Ana Hatherly (1929/2015), refletindo as ondas,
o oceano e o mar: criado e escrito a pincel por c. 700 alunos de todos os agrupamentos de
escolas públicas de Almada Cidade Educadora, tendo os do Ensino Secundário ajudado também
a melhorar a qualidade da pintura das frases. Inaugurado em ’17.06.08, Costa da Caparica junto
ao parque de estacionamento da Praia de Santo António. Concepção/Coord. C. M. Almada,
(Departamento Educação e Juventude e Casa da Cerca — Cº de Arte Contemporânea). Mediação
artística e educativa: Bruno Lavos, Catarina Sá, Diogo de Calle, Duarte da Silva, Luís Simões,
Marc Parchow, Margarida Botelho, Mário Rainha Campos, Sara Inácio e Sílvia Moreira. Foto:
Elisabete Oliveira.
da qualidade das experiências escolares visuais, formação dos seus
professores e investigação-acção.
91
5. Detecção de problemas e factores prioritários para o incremento
Projectos que potenciem: A Compreensão das artes e da diversidade cultural
(história, estética; crítica; produção e disseminação) / A aprendizagem de processos
de questionamento / A aprendizagem de processos de análise crítica / A exploração
de processos de resolução de problemas / A exploração de processos de comunicação
e de expressão multimodais com tecnologias digitais e com tecnologias analógicas /
A exploração de processos criativos inerentes às artes e ao design / A exploração de
temas transversais através das artes / O Desenvolvimento de processos artísticos de
intervenção cívica na comunidade.
Para uma tal crescente implicação ambiental-sócial-cultural dos Projectos, fortalecendo a vertente de competenciação dos alunos para uma forte formação específica — estético-artística visual — ,os Professores poderão melhorar
o seu “habitus, buscando alternativas de refrescamento, inovação e progresso,
pelo diálogo e aprendendo com os outros, especialmente com as epistemologias emergentes” (Santos, 1994; 2017).
6. Conclusão.
Do parecer do Grupo de Trabalho da APECV citado, partilhamos que a generalização da AFC, no que respeita às disciplinas de educação visual e artes
visuais, exigirá:
Manter ou aumentar as cargas horárias que, reforma após reforma, se vêem cada
vez mais encurtadas! Urge, também, a atualização dos programas em vigor, das
disciplinas de artes visuais no 2.º e 3.º ciclos e a eliminação das metas atuais de
aprendizagem em Educação Visual. No ensino secundário será necessária a revisão
da matriz dos cursos científico-humanísticos de Artes Visuais. Sugerimos também,
a criação de uma disciplina opcional de arte e design na formação geral do ensino
secundário e ensino profissional para os alunos que não cursem artes na formação
específica. Acreditamos que os novos programas devam fomentar práticas educativas
de interpretação, criação e disseminação, baseadas nas artes, arquitetura e design
contemporâneos, que problematizem questões identitárias; de cidadania local e
global; de património cultural; e de sustentabilidade ambiental.
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 78-95.
No parecer do Grupo de Trabalho da APECV que lemos na AR — AR, Web
(2019). Os alunos — tendo em conta as áreas de competência do perfil à saída da
Escolaridade Obrigatória, deverão ser capazes de
92
Oliveira, Elisabete (2019, setembro) “Projectos Visuais Escolares, Formação de Professores e
Investigação-Acção: resposta integrada em Auto-eco-compatibilização à Emergência-Mudança.”
Figura 8 ∙ Projecto Bios Biografias: O que há de singular num coletivo. Oficina de Fotografia
e Vídeo: Gravar Sendim: Territórios (ao longo do ano letivo). Escola E.B. 2,3de Sendim,
Agrupamento de Escolas de Miranda do Douro — Municípios do Douro e Trás-os-Monte -; parceria
com a Fundação do Museu do Douro (Coord: Paula Preto e Serviço Educativo; Produção) e a
Fundação EDP. 1916-17. 10 Alunos, 14-17 anos. PIEF-MISTO | Programa Integrado de Educação
e Formação 2º/3ºCiclos. Resultaram 13 filmes (3´/4’) e uma plataforma digital: TERRITÓRIOS.
Foto: Imagem de filme pelos Alunos.
Figura 9 ∙ Projecto Bilingue, 2018/2019: Programa sequenciado de encontros de
experimentação e cruzamento entre língua gestual portuguesa e educação artística, assentando
entre o cruzamento de diferentes linguagens e línguas da percussão, com o movimento o teatro.
Autoria do Serviço Educativo do Museu do Douro, em parceria com o programa EREBAS [Escola
de Referência para a Educação Bilingue de Alunos Surdos] e o Agrupamento de Escolas João
de Araújo Correia, Peso da Régua, do Primeiro Ciclo ao Ensino Secundário (6-17 anos). Integrou
16 Alunos e 8 Professores e Intérpretes, em 8 oficinas, encontros quinzenais, de 90 minutos.
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Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 78-95.
Figura 10 ∙ Projecto Arte Inclusiva. 2016/2019 em progresso: É um projecto de pintura com
o objectivo de possibilitar, a todas as pessoas, a percepção de obras de arte selecionadas,
disponibilizando meios para cegos, surdos e surdo-cego — em interacção c/ pintura, poesia e
música. Orient: Manuela Frade. Alunos da experiência presente: 5º Ano, dos Agrupamentos Nºs
4 e 2 de Évora — neste último existindo alunos surdos e de baixa visão. Foto: Frade, M. (2019):
https://padlet.com/pintora_mlarfrade/hdaknbvcj4tc
Figura 11 ∙ Viagem e multiculturalidade: Nau Catrineta — Máquina/barco imaginário. 11ºano
da Oficina de Artes Visuais da E. Sec. de Valbom, Coord. Cristina Pinto; em articulação com
Físico-Química. Um dos objetivos foi aplicar movimento na máquina, que integra uma bicicleta no
seu interior e tem asas, fez uma performance na inauguração no Lugar do Desenho, com o poema
da Nau Catrineta — donde recebeu o nome -, simbolizando a chegada dos portugueses a terra.
Foto: Elisabete Oliveira.
Figura 12 ∙ Viagem virtual. Robô feito com peças de computador e uma televisão alterada,
executadas na disciplina de Educação Visual, por alunos do 9º ano num ano anterior em que
trabalharam para um de concurso promovido pelo ISEP, com o tema Reciclar é uma arte. Coord.
Professora Cristina Pinto: A máquina presente inclui também um computador e telefones; e foi feita
pela disciplina de TIC (tecnologias de informação e comunicação), representando a viagem
virtual. Foto: Elisabete Oliveira.
94
Oliveira, Elisabete (2019, setembro) “Projectos Visuais Escolares, Formação de Professores e
Investigação-Acção: resposta integrada em Auto-eco-compatibilização à Emergência-Mudança.”
Acrescentamos duas urgências: (1) Tendo observados a crescente acentuação da transdisciplinaridade; e uma micropedagogia de apropriação corporal
da atmosfera, energia e tensões da temática dos projectos, pelo gesto/ movimento e envolvendo o grupo: as actividades que exploram esta instrumentalidade não podem nem devem ser substitutivas de uma formação estética artística específica, para o quotidiano de todos e a desenvolver ao longo da vida; e
o mesmo se deverá entender para os contributos de parcerias. (2) O professor
poderá, se ainda aí não chegou, passar a planificar e a fazer acontecer, após cada
obra/produto/dinâmica resultante, uma fase de partilha, de auto-eco-compatibilização, para validar, melhorar e aplicar esse resultado: nessa fase, devem
estar incluídos o portfolio contínuo e as fichas de cada projecto inovador, num
arquivo-activo como se deseja co-constituir, como referencial, no Exploratório.
Consciencializar-se-á o valor dos projectos escolares visuais como património
cultural imaterial, captador do seu tempo e cultura e perscrutando um futuro
transcultural.
Agradecimentos
Créditos de imagem: C. M. Lisboa; E. Sec. Artística António Arroio; LER+/ Plano Nacional de Leitura 2027; e Junta de Freguesia da Penha de França — autorização da publicação da Capa e da Contracapa de Revista dos 100 anos da
Escola Seundária. Artística António Arroio, edição de Maio 2019. (Em venda na
Papelaria desta Escola).
Gonçalo Magalhães (Aluno-condutor da ciclo-Nau Catrineta, Projecto de
Valbom) e sua mãe, Arminda Silva.
Orientadores de todos os Projectos — disponibilização de dados; e de fotos,
se assim assinalada em Legenda.
95
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96
Rocha, Ana Mafalda Conde da (2019, setembro) “Livro de autor, um recurso pedagógico para o 1.º ciclo
do ensino básico.” Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 96-103.
Livro de autor, um recurso
pedagógico para o 1.º ciclo
do ensino básico
Author’s Book, a pedagogical resource for the
first Cicle of Basic Education
ANA MAFALDA CONDE DA ROCHA*
Artigo completo submetido a 5 de maio de 2019 e aprovado a 15 de maio de 2019
*Portugal, professora do ensino básico e mestranda.
AFILIAÇÃO: Escola Artística do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian de Braga. Atualmente encontra-se a realizar a dissertação de Mestrado em Educação Artística na Universidade de Lisboa, Faculdade de Belas-Artes. E-mail: anamaf.rocha@gmail.com
Resumo: Este artigo apresenta o estudo de um
projeto pedagógico no âmbito da área disciplinar de Expressão e Educação Plástica no
1.º Ciclo do Ensino Básico, tendo como recurso pedagógico a utilização do Livro de Autor.
Concluiu-se que através da arte moderna e contemporânea é possível explorar diversas áreas
como a expressão gráfica, plástica e escrita,
promovendo desta forma a criatividade, a imaginação e o trabalho colaborativo entre pares.
Palavras chave: currículo / educação artística.
Abstract: This article presents the study of a
pedagogical project in the field of the Artistic
Expression and Education in the first cicle of Basic Education, having as a pedagogical resource
the use of an Author’s Book. One has concluded
that through modern and contemporary art
it is possible to explore different areas, such as
graphic expression, artistic expression and writing, therefore promoting creativity, imagination
and collaborative pair work.
Keywords: currículum / Art Education.
1. A Educação Artística e o Currículo do 1.º C.E.B.
A Educação Artística é uma mais-valia na educação pois “…integra as faculdades físicas, intelectuais e criativas e possibilita relações… entre educação, cultura e arte.” (Unesco, 2006: 5). A arte, na sua vasta forma, é imprescindível no
desenvolvimento e na formação pessoal, social e cultural de cada indivíduo. A
convivência com a área artística de certa forma,
…influencia o modo como se aprende, como se comunica e como se interpretam os
sinais do quotidiano. …contribui para o desenvolvimento de diferentes competências
e reflecte-se no modo como se pensa, no que se pensa e no que se produz com o
pensamento. (Currículo Nacional do Ensino Básico, Competências Essenciais,
2001:149).
Desta forma, torna-se pertinente desenvolver atividades artísticas em contexto escolar, possibilitando a aquisição e desenvolvimento de competências
que ajudam no
…desenvolvimento da sensibilidade estética e artística, despertando, ao longo
do processo de aprendizagem, o gosto pela apreciação e fruição das diferentes
circunstâncias culturais. (Aprendizagens Essenciais. Educação Artística — Artes
Visuais, 2018:1).
Através dos Domínios Organizadores das Aprendizagens Essenciais no âmbito das Artes Visuais, a saber: Apropriação e Reflexão; Interpretação e Comunicação e Experimentação e Criação, pretende-se dinamizar junto dos discentes,
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 96-103.
O presente artigo centra-se no estudo de um projeto educativo desenvolvido
no âmbito da área disciplinar de Expressão e Educação Plástica (E.E.P.), que
utilizou o Livro de Autor como recurso artístico pedagógico no 1.º Ciclo do Ensino Básico (C.E.B.). O projeto foi concretizado no decorrer do ano letivo de
2017/2018, e foi estruturado em três momentos/atividades educativas, que proporcionam novos desafios de saber e de conceção do trabalho prático.
Concluiu-se que através deste recurso artístico foi possível explorar diversas técnicas de expressão, gráfica, plástica, e escrita, que possibilitaram desenvolver a imaginação, a criatividade, o trabalho colaborativo e a intuição estética
e artística de cada aluno.
97
Introdução
98
Rocha, Ana Mafalda Conde da (2019, setembro) “Livro de autor, um recurso pedagógico para o 1.º ciclo do ensino básico.”
…ações práticas e experimentais e em projetos de trabalho (turma, escola,
comunidade), individuais e coletivos, podendo integrar transversalmente conteúdos
de várias disciplinas desenvolvidos em ambientes físicos e digitais, formais e não
formais. (Aprendizagens Essenciais. Educação Artística — Artes Visuais, 2018:4).
É ainda de salientar que o envolvimento nas atividades artísticas oferece vivências marcantes, que estimulam e desenvolvem a criatividade.
Todos os seres humanos têm potencial criativo. A arte proporciona uma envolvente e uma prática incomparáveis, em que o educando participa activamente em experiências, processos e desenvolvimentos criativos.(Unesco, 2006: 5).
1.1 Parceria entre a escola e o museu
No 1.º C.E.B. é pertinente a aprendizagem de temáticas artísticas, uma vez que
as crianças,
…respondem fortemente à aprendizagem visual — uma colaboração activa entre
instituições pode proporcionar oportunidades de enriquecimento dos métodos
pedagógicos. (Unesco, 2006:14).
Desta forma “…reforçar a articulação museu/escola através de um trabalho
continuado e em parceria…” (Leite & Victorino, 2008: 11) entre instituições torna-se uma mais-valia no processo de ensino-aprendizagem.
Para o desenvolvimento do presente trabalho foi relevante a parceria entre
a escola e o Museu de Arte Contemporânea de Serralves, que proporcionou aos
alunos o contacto com materiais produzidos por artistas.
2. O Livro de autor como recurso pedagógico
em Expressão e Educação Plástica
O projeto foi desenvolvido com duas turmas, A e B, do 3.º ano de escolaridade,
no horário semanal da aula de Expressão e Educação Plástica em colaboração
com as professoras titulares de turma. Teve como organização três momentos
essenciais para o desenvolvimento das atividades, a saber: Oficina “Livros de
Artista”; “Livro Instantâneo” e “Livro de Turma”. Estas ações possibilitaram
a aprendizagem, a exploração, a descoberta e a concretização prática de trabalhos individuais e coletivos, tendo como objetivo principal o “…enriquecimento
das experiências visual e plástica dos alunos…” (Aprendizagens Essenciais — 1.º
C.E.B. Ed. Artística — Artes Visuais: 1).
A parceria com o serviço educativo do Museu de Arte Contemporânea de
Serralves possibilitou a apresentação e exploração da temática em contexto de
sala de aula, através da realização da Oficina “Livros de Artista”(Figura 1) em
99
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 96-103.
cada turma, dinamizada por duas educadoras da instituição museológica. As
educadoras realizaram uma breve introdução do contexto histórico do livro
de artista, a partir dos livros que previamente selecionaram da Biblioteca de
Serralves, e proporcionaram o manuseamento e fruição dos livros aos alunos.
Estes tinham como objetivo principal selecionar um exemplar e apresentá-lo à
turma. Depois de concretizada esta tarefa, iniciaram o trabalho prático individual de construção de um mini livro de artista, partindo de uma folha de papel
vegetal (15x42cm) de 90 gramas e, traçando uma linha a caneta de feltro de cor
vermelha, com caraterísticas e orientação escolhidas por cada discente. Este foi
o ponto de partida para iniciarem a narrativa da história. Após a conclusão deste exercício, os alunos apresentaram o seu trabalho aos colegas.
Partindo da proposta educativa, “Livro Instantâneo”, da Fundação Calouste Gulbenkian, os alunos visualizaram o vídeo tutorial intitulado “Livro
de Autor”, com o objetivo de reforçar a contextualização histórica e o contacto com diversos exemplares de livros. A concretização (material) deste “Livro
Instantâneo”(Figura 2) possibilitou a cada aluno a definição de uma ou duas
narrativas e respetiva ilustração, uma vez que esta estrutura permite a utilização de ambas as superfícies, que foram elaboradas partindo de uma representação pictórica. Previamente foram selecionadas algumas obras dos artistas Joan
Miró e Hundertwasser, que depois foram distribuídas, de forma aleatória pelos
discentes. Estes tiveram liberdade na escolha das etapas relacionadas com a organização, ilustração e elaboração da narrativa. Os materiais e técnicas de pintura foram bastante diversificados, utilizaram o lápis de cor e de cera, canetas
de feltro, pastel seco e aguarela.
Para a elaboração da atividade “Livro de Turma” os alunos observaram,
dialogaram e selecionaram, através de votação, uma pintura de um artista português. Das obras observadas na turma A, “Auto-retrato”, de 1932, de Maria Helena Vieira da Silva e “Trou de la serrure, Parto da viola, Bom ménage, Fraise
avant-garde”, de 1916, de Amadeo de Souza-Cardoso, a pintura escolhida foi
a de Amadeo. Na turma B, das obras “Sem título”, sem data, de José Sobral de
Almada Negreiros, e “Paraíso”, de 1985, de Maria Paula Figueiroa Rego, a eleita
foi a de Almada.
Das obras selecionadas, foi possível dialogar e analisar com mais pormenor
alguns aspetos da composição gráfica: a cor, a disposição das figuras principais,
o tema/título, a perspetiva e alguns elementos/objetos. Após esta breve observação, foi iniciada a redação coletiva de uma narrativa com base nas pinturas
apresentadas na figura 3. Utilizando o computador e um projetor, foi possível
registar em tempo real, no programa Word, as sugestões que os alunos foram
100
Rocha, Ana Mafalda Conde da (2019, setembro) “Livro de autor, um recurso pedagógico para o 1.º ciclo do ensino básico.”
Figura 1 ∙ Diversos momentos da Oficina
“Livros de Artista”. Fonte: própria.
Figura 2 ∙ Desenho, construção da
narrativa e pintura do “Livro Instantâneo”.
Fonte: própria.
101
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 96-103.
Figura 3 ∙ Pinturas selecionadas pelas
turmas A e B do 3.º ano. Fonte: “Diálogo
de Vanguardas — Amadeo de Souza
Cardoso.”, (2006). “Almada Negreiros.
Uma maneira de ser moderno.”, (2017).
Figura 4 ∙ Realização “Livro Coletivo” —
3.º A. Fonte: própria.
102
Rocha, Ana Mafalda Conde da (2019, setembro) “Livro de autor, um recurso pedagógico para o 1.º ciclo do ensino básico.”
Figura 5 ∙ Realização “Livro Coletivo” —
3.º B. Fonte: própria.
transmitiam, e estes seguiam a construção textual. Da pintura de Amadeo os
alunos criaram a história: “O Mundo Musical” e da pintura de Almada a história: “O rapaz que sonhava ser pescador”. A última fase do trabalho consistiu em
realizar as ilustrações dos momentos mais importantes de cada uma das narrativas, assim como a capa e a contra capa. Para esta etapa, os alunos formaram
grupos de trabalho, para melhor organizarem e discutirem as ideias, relacionadas com cada um dos parágrafos, que lhes foram atribuídos. Os outros grupos
tinham que realizar a capa e a contra capa; e organizar as páginas de rosto e do
final da história. Cada uma das turmas escolheu um elemento pictórico a que
atribuiu um significado de maior destaque, a primeira turma optou pelo violoncelo e a segunda pelo peixe, e adaptaram-nos ao formato de cada um dos livros.
Para as ilustrações os alunos desenharam e chegaram a um consenso ao nível
dos elementos visuais que selecionaram, assim como na pintura. Para além da
utilização das técnicas e materiais de pintura utilizados nos trabalhos anteriores, os alunos usaram tinta acrílica e a técnica de recorte e colagem.
Após a conclusão da montagem do livro, as duas turmas reuniram-se no auditório Madalena Sá e Costa da escola e apresentaram o “Livro Coletivo” (Figura 4), através da leitura da história e visualização das respetivas ilustrações, que
foram projetadas numa apresentação em PowerPoint.
103
No decurso das atividades o Programa de Português e de Expressão e Educação Plástica, assim como o as Aprendizagens Essenciais para o 1.º C.E.B. na
área da Educação Artística — Artes Visuais, foram tidas em consideração na
planificação das atividades.
Referências
Aprendizagens Essenciais | Articulação
com o Perfil dos Alunos — 1.º Ciclo do
Ensino Básico. Educação Artística —
Artes Visuais. Lisboa: Direção-Geral de
Educação. Julho de 2018. 1-11. [Consult.
2019-04-20] Disponível em URL: http://
www.dge.mec.pt/sites/default/files/
Curriculo/Aprendizagens_Essenciais/1_
ciclo/1c_artes_visuais.pdf
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Competências Essenciais. Lisboa: Mistério
da Educação, Departamento da Educação
Básica, 2001.
Freitas, Helena de; Alfaro, Catarina e Rosa,
Manuel (2006). Diálogo de Vanguardas
— Amadeo de Souza Cardoso. Lisboa:
Assírio & Alvim. Fundação Calouste
Gulbenkian.
Leite, Elvira & Victorino, Sofia (2008).
“Serralves — Projectos com Escolas 20022007”. Porto: Fundação de Serralves.
ISBN: 978-972-739-207-0.
Organização Curricular e Programas — 1.º
Ciclo do Ensino Básico. Lisboa: Ministério
da educação, 4ª Edição. 35-97. [Consult.
2019-04-20] Disponível em URL: http://
www.dge.mec.pt/sites/default/files/
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Fisico-Motoras/eb_eafm_programa_1c.pdf
Read, Herbert (1982). Educação pela Arte.
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Unesco (2006). Roteiro para a Educação
Artística. Desenvolver as Capacidades
Criativas para o Século XXI. Lisboa:
Unescoo. 1-16. [Consult. 2019-05-04]
Disponível em URL: https://www.google.
pt/search?q=https%3A%2F%2Fwww.
roteiro%2520para%2520a%2520
educacao%2520+art%C3%ADstica.pdf
&oq=https%3A%2F%2Fwww.roteiro%25
20para%2520a%2520educacao%2520
+art%C3%ADstica.pdf&aqs=chrome..69i
57j69i58.6760j0j9&sourceid=chrome&i
e=UTF-8
Vasconcelos, Ana; Bértolo, Carlos; Martins,
Fernando Cabral (2017). Almada
Negreiros. Uma maneira de ser moderno.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
“Livro de Autor” e “Livro Instantâneo”. [Consult.
2019-04-20] Disponível em URL: https://
gulbenkian.pt/descobrir/professores/livrode-autor/
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 96-103.
Conclusão
Conclui-se que o projeto proporcionou o desenvolvimento da literacia ao nível
da arte contemporânea, neste ciclo de ensino, assim como a “…capacidade de
comunicar e interpretar significados usando linguagens das disciplinas artísticas.” (Currículo Nacional do Ensino Básico, Competências Essenciais, 2001:
151). De referir ainda, que todo o processo criativo permitiu o desenvolvimento
de competências técnicas ao nível da experimentação de diversos materiais. O
trabalho colaborativo entre pares, foi eleito por todos os alunos como uma experiência bastante enriquecedora, possibilitando a partilha de ideias construtivas para todo o processo criativo.
Tendo como princípio de que “…a arte deve ser a base da educação.” (Read,
1982: 13), a escola cada vez mais possui a função de valorizar e possibilitar o
contacto com a arte, na formação integral dos seus alunos.
104
Almeida, Elaine Karla de (2019, setembro) “Mortalidade, grandeza e tradição: inferências entre simbolismo, ruptura social e educação
nas comunidades pomeranas do Espírito Santo.” Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 104-115.
Mortalidade, grandeza
e tradição: inferências entre
simbolismo, ruptura social
e educação nas comunidades
pomeranas do Espírito Santo
Mortality, grandeur and tradition: inferences
between symbolism, social rupture and education
in the Pomeranian communities of Espírito Santo
ELAINE KARLA DE ALMEIDA*
Artigo completo submetido a 05 de maio de 2019 e aprovado a 15 de maio de 2019
*Brasil, Fotógrafa, atriz e professora.
AFILIAÇÃO: Governo do Estado do Espírito Santo, Secretaria de Estado da Educação, Centro de Formação dos Profissinais
da Educação do Espírito Santo. Rua César Hila, 1.111, Santa Lúcia, Vitória, ES. CEP 29056-085 Brasil. E-mail: ekalmeida@
sedu.es.gov.br
Resumo: Apresentaremos, nesta comunicação, uma síntese das investigações efetuadas sobre a educação escolar e a tradição
pomerana do Estado brasileiro do Espírito
Santo, objetivando compreender a diversidade de fatores sociais apresentados no cotidiano dos indivíduos em contraponto à organização social e cultural estabelecidades nas
comunidades tradicionais pomeranas.
Palavras chave: tradição / cultura / memória.
Abstract: In this communication, we will present
a synthesis of the investigations carried out on
school education and the Pomeranian tradition
of the Brazilian State of Espirito Santo, aiming
to understand the diversity of social factors presented in the daily life of individuals as opposed to
the social and cultural organization established
in traditional Pomeranian communities.
Keywords: tradition / culture / memory.
1. Pomeranos no Espírito Santo
A Pomerânia (Pommern), antiga Província da Prússia, foi instituída em 1817.
Devido a Unificação da Alemanha, a partir de 1871, a Pomerânia foi convertida em um dos estados do Império Alemão, permanecendo até 1945. Por fim,
ao término da 2ª Guerra Mundial e o Tratado de Potsdam, a Pomerânia Anterior (30% — “Vorpommern” — porção oeste do território), foi integrada à Alemanha e a Pomerânia Posterior (70% — “Hinterland” — porção Leste do território)
anexada à Polônia (Figura 1).
A vinda de imigrantes europeus para o Brasil foi estimulada pelo Governo
Imperial do Brasil, incluindo divulgação nos principais jornais da Alemanha no
início do século XIX.
A emigração, do início do século XIX, na Pomerânia foi fomentada por guerras, fome, invasão estrangeira, falta de liberdade religiosa, entre outros fatores.
Para obter permissão de emigração, com grande burocracia para dificultar ou
até mesmo impedir o processo, e os indivíduos que adquiriram a permissão de
emigração perdiam a cidadania pomerana.
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 104-115.
Os pomeranos chegaram ao Estado do Espírito Santo a partir de 1859. No período da
emigração a Pomerânia possuía, aproximadamente, dois milhões de habitantes.
No contexto histórico-social, destacamos dois mecanismos institucionais presentes desde o início da imigração pomerana no Estado: a religião e a educação.
No que se refere à religião, cabe referir o poder desta instituição, do nascimento à morte, dos simbolismos estruturados, que permeiam toda a vida em
comunidade, fazendo articulações com a cultura maior.
Os ritos, e suas representações na comunidade pomerana, vivenciaram
representações da cultura externa, assimilando e agregando valores à cultura
trazida pelos imigrantes. Os principais ritos presentes nestas comunidades são
o nascimento, o casamento e a morte, compartilhados com a família e o grupo
local, inferindo significados na comunidade escolar.
O nascimento, envolto de alegria e muito cuidado, é compartilhado desde a
gravidez, se estendendo aos primeiros anos de vida.
O casamento, rito de passagem, entre o sagrado e o popular, é responsável
pela preservação dos valores e tradições pomeranas.
A morte e os ritos funerários possuem relevância de destaque e envolvem
grande parte da comunidade local. A morte é entendida como imprescindível
ao equilíbrio com o universo, constituindo-se o momento de ruptura mais reverenciado. A visita ao cemitério, estimado como local sagrado e aporte determinante da cultura e tradição pomerana, é um compromisso para os familiares.
105
Introdução
Almeida, Elaine Karla de (2019, setembro) “Mortalidade, grandeza e tradição: inferências entre
simbolismo, ruptura social e educação nas comunidades pomeranas do Espírito Santo.”
106
Figura 1 ∙ Mapa Político após o Tratado de
Potsdam. Fonte: Stur, 2018:13.
Figura 2 ∙ Quadro produzido pela Delegacia de
São Lourenço do Sul, RS (1942). Fonte: Ediberto
Luiz Hammes.
107
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 104-115.
Os primeiros imigrantes pomeranos do Estado do Espírito Santo chegaram
ao Espírito Santo em 28 de junho de 1859, somando “Ao todo, mais de 2.300 pomeranos se instalaram em terras capixabas ao longo do século XIX.” (Granzow,
2009: 11).
Os municípios de Domingos Martins e Santa Leopoldina foram os que mais
receberam imigrantes pomeranos; e seus descendentes, em busca de novas
oportunidades, terras férteis e melhores condições de vida, migraram para outros municípios e estados.
Segundo Stur, em 2010, a população de descendentes da Pomerânia no Espírito Santo era de aproximadamente 146.000, e estava fixada nos municípios de:
Santa Maria de Jetibá, Laranja da Terra, Vila Pavão, Domingos Martins, Pancas,
Afonso Cláudio, Baixo Guandu, Itaguaçu, Itarana, Vila Valério, entre outros.
Ao se fixarem no Espírito Santo, os pomeranos se defrontaram com uma realidade dolorosa, cercada de dificuldades, com falta de infraestrutura, diferença
climática e total ausência de comunicação, fatores que contribuíram para o isolamento das comunidades. Apesar de toda a adversidade, este isolamento auxiliou
no fortalecimento de suas heranças, valores, costumes e identidade culturais.
Durante a Segunda Grande Guerra, devido uso de língua germana, os pomeranos foram associados aos alemães, vivenciando perseguições e discriminação. Os membros das comunidades foram forçados a entregar seus livros
para incineração e proibidos de utilizar a língua mãe, sendo obrigatório o uso
da língua portuguesa nas escolas e templos, reforçando o isolamento das comunidades e constrangimento do uso da língua pomerana em locais públicos,
o que observamos ainda nos dias de hoje. A proibição de se falar outros idiomas
no território brasileiro foi legislada no período da Ditadura Vargas, tornando
obrigatória a exposição de quadro (Figura 2), onde se lê: “É proibido falar os
idiomas Alemão, Italiano e Japonês”.
De acordo com o documentário Bate-Paus (Jacob, 2007), ao mesmo tempo
em que os pomeranos eram convocados para lutar, na 2ª Guerra Mundial, contra o governo alemão pelo exército brasileiro, suas famílias eram associadas
aos nazistas, considerados inimigos do Estado e sofriam inúmeras agressões
físicas, encarceramento, invasões e depredação de propriedades, saques, entre
outras barbáries.
Os pomeranos, mesmo com as inúmeras dificuldades enfrentadas, o isolamento de algumas comunidades e as perseguições, conseguiram se organizar
e prosperar, fortalecendo sua cultura e estrutura agrária, mantendo papel de
destaque no Espírito Santo.
108
Almeida, Elaine Karla de (2019, setembro) “Mortalidade, grandeza e tradição: inferências entre
simbolismo, ruptura social e educação nas comunidades pomeranas do Espírito Santo.”
Figura 3 ∙ Descendentes da família Eller:
Noemia, Noelzia, Adelia, Genessi, Rodolpho,
Auta, Delmirio, Adelar e Sergio (1961).
Fonte: Arlindo Schultz
Figura 4 ∙ Casamento. Fonte: acervo Ernesto
Röpke e Zulmira Rodrigues da Fonseca Röpke.
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 104-115.
Os pomeranos, antes da conversão ao cristianismo, adoravam deuses relacionados à natureza, reforçando, ainda hoje, seu amor à natureza e sua ligação de
fé com a terra e a agricultura.
A igreja mantém papel de destaque na comunidade pomerana, reputada sagrada e valiosa. O cotidiano das comunidades é estreitamente ligado à igreja e
seus ritos litúrgicos, sendo eles, em sua maioria, ligados à Igreja Evangélica de
Confissão Luterana.
Os membros das comunidades pomeranas possuem profundos laços com a
religiosidade, rezas, benzeduras e crença na magia, misturando representatividade e significados, marcando a identidade social e étnica dos sujeitos. A utilização da magia “[...] como forma de pensamento e ação [...]” (Elias, 1994: 70)
auxilia na obtenção de controle, mesmo que por meio de fantasia, dos eventos
do cotidiano.
Segundo Manske (2015), na tradição pomerana destacam-se três ritos, carregados de representações simbólicas: o nascimento, o casamento e a morte.
Os descendentes pomeranos (Figura 3) compartilham estes ritos com a família,
a igreja e a comunidade local, incluindo alegrias, tristezas e todos os sentimentos que os envolvem.
Nas comunidades pomeranas a convivência intergeracional se faz presente,
os idosos são respeitados e valorizados, participando da vida em comunidade.
Este convívio propicia o reavivamento da história, prestando um grande trabalho à sociedade. De acordo com Chauí (1979) “a função social do velho é lembrar e
aconselhar”, os velhos são os guardiões do passado, os responsáveis por resgatar
e transmitir, às futuras gerações, suas culturas.
A mulher também desempenha papel de destaque na preservação das tradições, ritos e cultura pomerana. Os valores, saberes, fazeres, cultura, crenças, e
outras manifestações, são mediados pela oralidade, compilando o saber sagrado dos antepassados.
O nascimento é cercado de crenças e superstições desde a gestação.
O batismo, rito de passagem das igrejas Luterana e Missouri, é o instrumento
de ligação entre a família, a criança e a comunidade, considerada uma obrigação
familiar, de cunho religioso e social, onde a criança é apresentada à comunidade.
Este sacramento é realizado no nos primeiros dias de vida com o propósito de
trazer proteção e bençãos divina aos recém-nascidos, criando um vínculo com o
divino, com poder de livrar a criança dos males, inclusive da morte.
A confirmação de fé é outro importante rito de passagem entre a infância a
adolescência e a juventude.
109
2. Tradição religiosa
110
Almeida, Elaine Karla de (2019, setembro) “Mortalidade, grandeza e tradição: inferências entre
simbolismo, ruptura social e educação nas comunidades pomeranas do Espírito Santo.”
A Festa de Casamento, maior festa dos pomeranos, com duração de dois a
três dias, é considerada um rito de passagem, tanto para o homem, quanto para
a mulher, que inclui elementos do sagrado e popular, envolvendo toda a comunidade, com muita comida e música.
No Brasil, observamos algumas mudanças na tradicional Festa de Casamento — como da vestimenta preta da noiva, utilizada até o início do século XX,
substituída pela vestimenta branca (Figura 4); e o convidador “Hochzeitsbitter” que substituiu o cavalo pela motocicleta como meio de transporte (relato
do Sr. Floriano Pagung em 19/04/2019) — sendo que nenhuma destas mudanças descaracteriza os traços dos casamentos realizados desde a imigração. Estão entre os preparativos os convites, a preparação da festa, registros, escolha
dos padrinhos, entre outros. São etapas do ritual: o convite, feito e língua pomerana, recitado nas casas da comunidade e de familiares; o primeiro dia de
festa, na sexta-feira, com o ritual de quebra-louças “Polterowend”; o casamento,
no sábado, com arco de bambu enfeitado de fitas na entrada e um mastro alto
com a bandeira contendo as iniciais dos noivos, carros enfeitados, bandeiras e
fogos de artifício; e a continuação da festa até o domingo, sem a presença dos
noivos. Após o casamento, os noivos passam a ter novas atribuições na família,
na igreja e na comunidade.
Os cemitérios (Figura 5), assim como as igrejas, são considerados sagrados
desde o período em que viviam na Pomerânia. A morte é reverenciada, com
preservação de tradições fúnebres — um rito de passagem necessário para o
equilíbrio do universo. As cerimônias funerárias iniciam logo após a morte.Os
familiares comunicam o falecimento à comunidade, que é convidada a participar das solenidades, e a participação no enterro é um compromisso entre os
integrantes da comunidade. Na igreja, o falecimento é anunciado com três badaladas de sino e a cerimônia religiosa é realizada pelo pastor no cemitério ou
na casa do morto. O rito é encerrado após a benção e o sepultamento.
A manutenção dos ritos e práticas dos descendentes pomeranos fortalecem
o convívio em comunidade.
3. Integração entre a educação formal e cultura pomerana
no Estado do Espírito Santo
A Língua Pomerana é considerada Patrimônio Cultural do Estado do Espírito
Santo (EC nº 64/2011:46). Com objetivo de valorização deste Patrimônio Cultural para atender às necessidades das comunidades pomeranas,
[...] buscando o respeito, o princípio da sustentabilidade e a sobrevivência desses
povos e comunidades, no que diz respeito aos aspectos físicos, culturais e econômicos,
111
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 104-115.
Figura 5 ∙ Lápide Olga Ohnesorge. Fonte:
Carlos Rominik Stur.
Figura 6 ∙ I Guandu Pomerfest (2017). Fonte:
Reginaldo Pereira Pires.
Almeida, Elaine Karla de (2019, setembro) “Mortalidade, grandeza e tradição: inferências entre
simbolismo, ruptura social e educação nas comunidades pomeranas do Espírito Santo.”
112
Figura 7 ∙ II Guandu Pomerfest (2018).
Fonte: Reginaldo Pereira Pires.
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 104-115.
A Secretaria de Estado da Educação (SEDU) iniciou, em 2014, uma série
de trabalhos de formação em Língua Pomerana para professores da Educação
Infantil e Ensino Fundamental das escolas das redes municipais e estadual do
Estado do Espírito Santo atendendo à demanda do Programa de Educação Escolar Pomerana — PROEPO.
Destacamos os impactos culturais experimentados por esses cidadãos
quando ingressam na vida escolar, e como o ensino da Arte e a aprendizagem
formal interage e influencia suas vidas no âmbito familiar e comunitário.
A família tem função primordial na educação das crianças das comunidades
pomeranas. O pai é constituído de autoridade frente à família, mas compete à
mãe a manutenção da tradição cultural, o ensino da língua e todos os valores
instituídos na comunidade. É na primeiríssima infância que as tradições se manifestam e tornam determinantes na noção de pertencimento.
Ao ingressar na escola a criança pomerana precisa se ocupar de aprender outra língua e atender aos objetivos do período de alfabetização, tendo que aprender a ler e a escrever na língua oficial, o português, abrindo mão, em muitas localidades, de sua língua materna. São inúmeros os relatos das dificuldades encontradas por crianças, que só conhecem a língua pomerana ao entrar no Ensino
Fundamental, pois em muitas comunidades as práticas escolares desconsideram
sua língua e sua cultura. É comum o sentimento de timidez e inadequação devido
dificuldade de comunicação. Considerando a falta de estímulo ao uso da língua
materna e dificuldades de comunicação, não raro podemos observar a recusa em
falar a língua pomerana por parte de alguns jovens após alfabetização.
Diante da preocupação de pais, mães e membros das comunidades pomeranas, pesquisadores e professores em parceria com Secretarias Municipais de
Educação dos municípios: Laranja da Terra, Domingos Martins, Pancas, Santa Maria de Jetibá e Vila Pavão se reuniram, em 2003, para discutir políticas
educacionais em prol da valorização, fortalecimento da cultura, língua oral e
escrita pomerana. Assim, foi criado, em 2005, o Projeto de Educação Escolar
Pomerana — PROEPO, e em 2007, o projeto foi instituído programa. Em 2014, o
Programa somava sete municípios capixabas: Afonso Cláudio, Domingos Martins, Itarana, Laranja da Terra, Pancas, Santa Mª de Jetibá e Vila Pavão. Assim,
foi assinado, por intermédio das Secretarias Municipais de Educação dos municípios participantes, o Termo de Parceria entre os Municípios Participantes do
PROEPO (2014).
Considerando o Currículo Básico Escola Estadual — CBEE (2009) e visando
113
assegurando a permanência das próximas gerações (Currículo do Espírito Santo,
2018:35).
114
Almeida, Elaine Karla de (2019, setembro) “Mortalidade, grandeza e tradição: inferências entre
simbolismo, ruptura social e educação nas comunidades pomeranas do Espírito Santo.”
atender às necessidades das comunidades pomeranas do Espírito Santo, a Secretaria de Estado da Educação inicia formação em Língua Pomerana para professores da Educação Infantil e Ensino Fundamental das escolas das redes municipais e estadual do Espírito Santo, no ano de 2014.
A Secretaria de Estado da Educação instituiu, em 2016, um grupo de trabalho para elaboração de uma nova proposta de formação de professores, contando com profissionais da educação, membros das comunidades pomeranas
e representantes das Secretarias Municipais de Afonso Cláudio, Baixo Guandu,
Domingos Martins, Itarana, Laranja da Terra, Pancas, Santa Mª de Jetibá e Vila
Pavão, e servidores da Secretaria Estadual da Educação. A proposta elaborada
pelo grupo de trabalho, ainda em análise, objetiva desenvolver formação para
professores das Redes Estadual e Municipais de ensino, aprimorar os conhecimentos sobre a língua pomerana e priorizar uma política pedagógica que valorize e fortaleça a tradição oral, a cultura e outras tradições.
Destacamos a iniciativa do município de Baixo Guandu, que no ano de 2017,
realizou a “1ª Festa Pomerana, a 1ª Guandu Pomerfest” (Stur, 2018:129), seguindo tradição de outros municípios que possuem, no calendário oficial, programação cultural destinada a estas comunidades.
Segundo Daenne Wendler Ortelan Wolfgramm (funcionária da prefeitura
de Baixo Guandu — entrevista por e-mail, no dia 03/05/2019), a prefeitura de
Baixo Guandu, por meio da Secretaria da Educação e da Secretaria da Cultura, incentiva a participação das comunidades escolares na Pomerfest fazendo a
“ligação entre escola/comunidade e apresentações culturais na festa”, informa
que são envolvidas as famílias que se identificam com a cultura, e todos são convidados a participar caracterizados de um desfile festivo no dia da Pomerfest.
Os desfiles da I e II Guandu Pomerfest (Figura 6 e Figura 7) foram organizados
pela Daenne e pelo Reginaldo Pereira Pires (servidor da prefeitura e fotógrafo),
juntamente com a comissão da festa. Daenne acrescenta que “As fanfarras das
escolas municipais são convidadas para participarem e alegrar o desfile, que
conta com um envolvimento de toda a comunidade”.
No componente curricular Arte, das unidades escolares do Estado, particularmente nas comunidades pomeranas, se faz necessário a fim de “Reconhecer
a importância da arte e das manifestações culturais na sociedade e na vida das
pessoas” (CBEE, 2009:177), respeitando a diversidade e valorizando a cultura,
patrimônios culturais, saberes e fazeres das comunidades.
Reconhecer que cada criança possui valores e conhecimentos prévios, e que
estes devem ser respeitados e valorizados, é de suma relevância para construção de novos conhecimentos. Os conteúdos a serem ensinados, bem como a
Conclusão
Alicerçado nas pesquisas sobre imigração pomerana no Estado do Espírito Santo, notamos a estreita relação entre a religiosidade e a educação, perspassando
toda a sua história e cultura.
Concebemos que o isolamento involuntário, desde os primórdios da colonização, fortaleceu as tradições pomeranas e seu sentido de pertencimento, contribuindo para a manutenção de suas tradições, ritos, oralidade e língua.
A fase de escolarização, necessária e de cunho obrigatório, associada às
políticas públicas, proporciona maior interação social com outras culturas,
não apenas para a produção de conhecimento nas comunidades, mas principalmente, para manutenção, difusão e valorização de seu patrimônio cultural
junto à comunidade capixaba, em nivel nacional e internacional.
Referências
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da sociedade (apresentação). p. XVIII.
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Stur, Carlos Rominik . Pomeranos: os
primórdios da colonização e a importância
da religiosidade na formação da cultura
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Gerais. Vitória: GSA, 2018.
115
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 104-115.
metodologia de ensino, devem considerar os saberes prévios dos educandos e as
informações adquiridas, agregando novos contextos à aprendizagem e a tradição
local, validando-a. A educação e a cultura pomerana devem ir além do simples
ato de ensinar e difusão — considerando que estão inseridas em uma cultura coletiva — estabelecendo relações entre a tradição cultural destes povos e as tradições
regionais, nacionais e internacionais, preservando e valorizando suas manifestações e patrimônios culturais. Desta forma, conseguiremos promover um currículo que respeite e estimule a diversidade cultural local e nacional.
116
Carvalho, Francione Oliveira & Teodoro, Thalita de Cassia Reis (2019, setembro) “Pedagogia Griô como geradora de novas
dinâmicas na formação docente.” Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 116-126.
Pedagogia Griô como
geradora de novas dinâmicas
na formação docente
Griô Pedagogy as a generator of new dynamics
in teacher education
FRANCIONE OLIVEIRA CARVALHO* & THALITA DE CASSIA REIS TEODORO**
Artigo completo submetido a 5 de maio de 2019 e aprovado a 15 de maio de 2019
*Brasil, Artista visual e professor.
AFILIAÇÃO: Universidade Federal de Juiz de Fora, Faculdade de Educação, MIRADA- Grupo de Estudo e Pesquisa em Visualidades, Interculturalidade e Formação Docente. Faculdade de Educação - UFJF Rua José Lourenço Kelmer, s/n CEP: 36036-900
Juiz de Fora/ MG Brasil. E-mail: francioneoliveiracarvalho@gmail.com
**Brasil, Bailarina e professora.
AFILIAÇÃO: Secretaria de Educação da Prefeitura de Juiz de Fora, Programa de Pós Graduação em Educação da UFJF, MIRADA- Grupo de Estudo e Pesquisa em Visualidades, Interculturalidade e Formação Docente. Faculdade de Educação – UFJF. Rua
José Lourenço Kelmer, s/n CEP: 36036-900 Juiz de Fora/ MG Brasil. E-mail: thalitareis@hotmail.com
Resumo: Neste artigo compartilharemos uma
experiência centrada na Pedagogia Griô vivenciada nas licenciaturas em Artes Visuais e
Pedagogia de uma instituição federal brasileira. A proposta é baseada em oficinas cooperativas fundamentadas em valores civilizatórios
afro-brasileiros. Pretendemos refletir e valorizar uma proposta pedagógica que celebra a
corporeidade negra como fonte de produção
de conhecimento e que desenvolve todos os
cinco sentidos em experiências sensíveis e
estéticas.
Palavras chave: Pedagogia Griô / arte e cultura afro-brasileira / formação de professores.
Abstract: In this article we will share an experi-
ence centered on the Griô Pedagogy experienced in
the graduate courses in Visual Arts and Pedagogy
of a Brazilian federal university. The proposal is
based on cooperative workshops built on AfroBrazilian values. We intend to reflect and value
a pedagogical proposal that celebrates black
corporeity as a source of knowledge production
and that develops all five senses in sensitive and
aesthetic experiences.
Keywords: Griô Pedagogy / Afro-Brazilian art
and culture / teacher education.
Desenvolvimento
A Pedagogia Griô, é uma proposta criada pela educadora Lillian Pacheco, a partir
da sua prática pedagógica no Ponto de Cultura Grãos de Luz e Griô, localizado
na cidade de Lençóis, no estado da Bahia. A proposta é centrada em oficinas
cooperativas onde os valores civilizatórios afro-brasileiros, tais como a circularidade, a ludicidade, a oralidade, a ancestralidade e a corporeidade negra permeiam todo o processo educativo. Afinal, o corpo é uma dimensão física que
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 116-126.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais, que em 1997 elegeram a Pluralidade
Cultural como tema transversal é o marco da discussão intercultural na escola
brasileira. Em seguida, vimos a publicação do Referencial Curricular Nacional
para as Escolas Indígenas (1998) e a promulgação da Lei 10.639/03 que trouxe a
obrigatoriedade do ensino sistemático de História e Cultura Afro-brasileira e,
em 2008, a Lei 11.645 que problematiza as Histórias e Culturas Indígenas.
Tanto a Lei 10.639/03 e 11.645/08 nos motiva a refletir sobre como ocorrem
as mediações culturais na escola e quais caminhos educativos são percorridos
na tentativa de valorizar e compreender as diversidades. Mesmo amparados
em documentos legais a questão da diversidade encontra grandes desafios na
escola brasileira. Duas razões são cruciais, a primeira a multiplicidade de pertencimentos étnico-raciais presentes nas salas de aula, resultado do processo
histórico do país, das diversas ondas migratórias e recentemente da chegada
de refugiados fugindo de conflitos armados ou outras violações dos direitos humanos. A outra razão é que os cursos de formação docente, principalmente os
direcionados para os primeiros anos do Ensino Fundamental dão pouco espaço
para as questões culturais, para as corporeidades não hegemônicas e ignoram
abordagens do patrimônio cultural material e imaterial que poderiam ampliar
mediações interculturais.
É nesse contexto que vemos a importância das propostas interculturais baseadas nas experiências e tradições afro-brasileiras como geradoras de novos
conhecimentos e dinâmicas educativas. Dessa forma, a partir de nossa experiência na formação de professores nas Licenciaturas de Pedagogia e Artes Visuais propomos nesta comunicação refletir sobre propostas pedagógicas que
valorizam a corporeidade negra como fonte de produção de conhecimento e
que procuram desenvolver todos os cinco sentidos em experiências sensíveis
e estéticas. Compartilharemos uma experiência baseada na Pedagogia Griô vivenciada na disciplina Arte e Cultura Afro-Brasileira que ministramos no curso
de Licenciatura de uma instituição federal brasileira (Figura 1 e Figura 2).
117
Introdução
Carvalho, Francione Oliveira & Teodoro, Thalita de Cassia Reis (2019, setembro)
“Pedagogia Griô como geradora de novas dinâmicas na formação docente.”
118
Figura 1 ∙ Estudantes vivenciando a Pedagogia
Griô. Fonte: própria.
Figura 2 ∙ Estudantes vivenciando a Pedagogia
Griô. Fonte: própria.
119
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 116-126.
Figura 3 ∙ Início da vivencia griô: a roda de
benção. Fonte: própria.
Figura 4 ∙ O maracá é acionado na apresentação
individual de cada participante da roda de benção
e vivência griô. Fonte: própria.
Figura 5 ∙ O maracá é acionado na apresentação
individual de cada participante da roda de benção
e vivência griô. Fonte: própria.
120
Carvalho, Francione Oliveira & Teodoro, Thalita de Cassia Reis (2019, setembro)
“Pedagogia Griô como geradora de novas dinâmicas na formação docente.”
extrapola o que é percebido. Ele carrega memórias, experiências, afetos que
num primeiro olhar podem passar despercebidos. O que é visível ou invisível
no corpo diz muito a respeito das corporeidades. A maneira de lidarmos com
nossos corpos é resultado não apenas de percepções e narrativas individuais
que os sujeitos criam sobre si mesmos, mas de representações, construções do
olhar e dinâmicas sociais que incidem diretamente e, muitas vezes, violentamente sobre os corpos.
Segundo Henrique Leonardo Dutra (2015), em sua dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de
Educação da Universidade Estadual de Campinas intitulada Educação e cultura
de tradição oral: um encontro com a pedagogia Griô, o modelo de ação pedagógica
proposto pela Pedagogia Griô:
[...] integra mito, arte, ciência, história de vida e todos os saberes e fazeres tradicionais
da comunidade colocando a vivência, a oralidade e a corporeidade como pontos de
partida para a elaboração do conhecimento. A prática central dessa pedagogia se dá
através do Ritual de Vínculo e Aprendizagem para fortalecer a identidade, o vínculo
com a ancestralidade e a celebração da vida dos estudantes (2015:42-3).
E segundo Lilian Pacheco, esse ritual de vínculo e aprendizagem [...] integra cantigas,
danças, símbolos, versos, mitos, heróis, arquétipos, saberes, artes, provérbios, ofícios e
ciências da vida de tradição oral da comunidade e de seu grupo étnico cultural numa
rede de palavras e temas geradores (Pacheco, 2006:92).
A partir dessa compreensão propusemos uma vivencia baseada na Pedagogia Griô na disciplina Arte e Cultura Afro-brasileira oferecida no segundo
semestre de 2018. De caráter eletiva e oferecida aos estudantes matriculados
nas licenciaturas em Artes Visuais e Pedagogia a disciplina propôs discutir o
conceito de cultura afro-brasileira e sua relação tanto com a ancestralidade e os
valores civilizatórios de matriz africana quanto às questões étnico-raciais brasileiras. Objetivou ainda valorizar e problematizar a presença negra no Brasil a
partir de suas riquezas culturais, artísticas e filosóficas, dando destaque para
as produções contemporâneas de diversas áreas tais como as artes visuais, as
artes cênicas, a literatura e o cinema. Ela pretendeu contribuir para a consolidação da Lei 10.639/03 que determina a inclusão no currículo oficial da rede
de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” ao
mesmo tempo em que acessar e gerar a produção de novos conhecimentos sobre a temática investigada.
As oficinas foram realizadas durante 3 semanas, sendo cada encontro/aula
com duração de 4 horas. Nesse período, os estudantes puderam experimentar
uma vivência que seguiu os seguintes momentos: roda de benção, vivência,
Menina dos olhos pretos
Cabelos da mesma cor
Tu me dás-te teu coração
Que eu te darei o meu amor
Te darei o meu amor
Te darei meu coração
Quando for o fim o ano
Eu te darei a minha mão
Quanta laranja madura meu bem
De que cor são elas
Elas são verdade amarela
Vira “ o nome da pessoa” da cor de canela
...
Vira todo mundo da cor da canela.
Dando continuidade a roda de vivência foi apresentado um carimbó onde
todos, em roda, brincaram e aprenderam a dançar a cantiga de tradição oral
Jacaré Poio, também aprendida com Mestre Márcio Griô (Figura 8, 9 e 10). O
carimbó é um gênero musical brasileiro, de origem indígena mesclado às influências rítmicas africanas e portuguesas.
Eu sou eu sou eu sou
Eu sou o jacaré poio
Eu sou eu sou eu sou
Eu sou jacaré poio
Sacode o rabo jacaré, sacode o rabo jacaré
Eu sou o jacaré poio
121
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 116-126.
roda de embalo e diálogo. Para clarificar como a proposta se efetivou na prática,
descreveremos um destes encontros.
Iniciamos nossa atividade com a roda de benção, sentados no chão e em
círculo (Figura 3). Nesse momento, pedimos permissão aos nossos ancestrais,
saudando nossos parentes mais velhos, avos, tataravós e indígenas. Nesse ritual, passamos de mão em mão o instrumento musical indígena, maracá (Figura 4 e Figura 5). A pessoa, pede a benção, olha com atenção para todos da roda
e, se apresenta com a frase “Eu sou ... e eu vim...”, indicando seu nome e seu
lugar de origem.
Em seguida, abrimos o momento de vivencia de pé e em círculo dançando
e cantando uma ciranda (Figura 6 e Figura 7). Vivenciamos a contagem rítmica
da ciranda baseada em 4 tempos e na marcação do ritmo com o pé direito à
frente do corpo. Ao grupo foi ensinada Menina dos olhos pretos, cantiga aprendida com Mestre Márcio Griô.
122
Carvalho, Francione Oliveira & Teodoro, Thalita de Cassia Reis (2019, setembro)
“Pedagogia Griô como geradora de novas dinâmicas na formação docente.”
Figura 6 ∙ Estudantes cantando e dançando
cirandas na vivência Griô. Fonte: própria.
Figura 7 ∙ Estudantes cantando e dançando
cirandas na vivência Griô. Fonte: própria.
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Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 116-126.
Figura 8 ∙ Estudantes explorando o catimbó
na roda de vivência. Fonte: própria.
Figura 9 ∙ Estudantes explorando o carimbó.
Fonte: própria.
Figura 10 ∙ Estudantes brincando a cantiga Café
Amarelo. Fonte: própria.
124
Carvalho, Francione Oliveira & Teodoro, Thalita de Cassia Reis (2019, setembro)
“Pedagogia Griô como geradora de novas dinâmicas na formação docente.”
A integração do grupo, foi realizada com uma brincadeira baseada na cantiga Café amarelo. Formaram-se duas grandes filas. As duas primeiras pessoas
de cada fila dançavam em frente uma da outra enquanto cantavam a cantiga;
na resposta de um dos versos, giravam entre si e adiantavam-se para o próximo
da fila (Figura 7). A cantiga apresentada foi aprendida com Mestre Márcio Griô,
que anteriormente aprendeu de Mestre Juquinha da Serra do Cipó. Essa linha
de transmissão reforça o caráter oral e de compartilhamento inerente aos saberes populares.
Café amarelo
Eu desci ali abaixo
Pra apanhá café amarelo (2x)
Se não for pra nós casar
Namorar também não quero (2x)
Em seguida, foi solicitado que o grupo fizesse uma roda, ficasse com os pés
paralelos e prestasse atenção a respiração. O objetivo foi de que os integrantes
conseguissem encontrar um ritmo de respiração próprio do coletivo, como se
todos formassem um único corpo. Ombro a ombro, os integrantes foram orientados a colocar suas mãos na altura dos rins de cada colega. Com isso, foi dado
início a roda de embalo.
O grupo cantou a cantiga Embala eu mamãe, aprendida com Mestre Márcio
Griô, que aprendeu com Val Tupinambá, curandeira indígena de Serra Grande,
comunidade de Ilhéus, na Bahia. O grupo, moveu-se de um lado para o outro,
com os olhos fechados como se embalados numa cantiga de ninar.
Eh mamãe, embala eu mamãe
Abraça eu mamãe
Cuida de mim (coro)
Murmuro...
No último momento da prática foi realizado o diálogo. Nele buscou-se
construir reflexões e conhecimentos sobre a vivencia realizada e explicitar os
elementos que estruturam a Pedagogia Griô. É importante destacar que isso
foi possível devido ao curso de formação em Pedagogia Griô que uma das professoras da disciplina estava realizando com Lillian Pacheco e Mestre Márcio,
coordenadores do Ponto de Cultura Grãos de Luz e Griô.
Para facilitar o diálogo coletivo, foram espalhadas folhas de papéis coloridas
e giz de cera pelo chão. Foi pedido que os estudantes apontassem os valores civilizatórios afro-brasileiros que tinham sido trabalhos no encontro e indicassem
125
cores que pudessem ser relacionados a cada um deles. Cada estudante foi até o
centro da roda, escolheu um papel e uma cor do giz de cera e escreveu o nome
de um dos valores civilizatórios. Foi assim, sucessivamente, que partilhamos a
criação de uma “mandala” colorida no chão, com os valores civilizatórios e suas
correspondências cromáticas, seguindo a intuição de cada aluno.
Os processos curriculares de encantamento e vivência, que constitui o modelo
de Ação Pedagógica da Pedagogia Griô, são realizados através da tríade básica
para acesso a identidade humana: Canto tradicional –Dança tradicional- Sentimentos Identitários. Essa tríade foi inspirada no triângulo do Sistema de Biodança proposto por Rolando Touro, e que segundo Reis (2009) originalmente
possuí os pontos: Música, Dança e Emoção.
Na perspectiva da Pedagogia Griô foi acrescentado um segundo triângulo
com o acréscimo de outros conceitos chaves, como mitos/arquétipos/símbolo;
história de vida/história da comunidade; ciências/artes/ofícios tradicionais.
Pacheco (2015) afirma que a partir daí originou-se um diagrama que forma uma
estrela de seis pontas, com as palavras Vida em comunidade, Identidade e Ancestralidade ao centro.
Esse processo, segundo a autora, é organizado em processos orgânicos e
afetivos da vivência humana entre ativação e relaxamento. Dessa forma, foi desenvolvido um gráfico, denominado Curva de Vivência que abrange duas linhas
principais: a consciência de si (linha vertical) e a consciência da ancestralidade
(linha horizontal). A curva com a tríade, tem por objetivo criar o espaço de encantamento para a aprendizagem e facilitar a expressão da identidade, da ancestralidade e da vida no centro da roda da educação.
A vivencia griô oferecida na disciplina Arte e Cultura Afro-brasileira foi um
diálogo e um recorte da pedagogia construída por Lillían Pacheco. Estimulados
por instrumentos musicais, cantos e danças tradicionais coletivas o grupo de
estudantes pode vivenciar elementos da Pedagogia Griô: roda de benção, vivência, roda de embalo e diálogo. Nessa vivência corporal em grupo a partir de
estímulos rítmicos e percussivos africanos e afro-brasileiros a turma foi instigada a perceber o seu próprio corpo e a maneira como ele ocupa o espaço e se faz
presente no grupo.
O resgate de brincadeiras, jogos, músicas e histórias pessoais ao longo da
experiência possibilitaram o diálogo com elementos fundamentais das culturas
tradicionais da África e da cultura afro-brasileira. Afinal, o lúdico está presente em grande parte das tradições de matriz negra no Brasil e buscam celebrar o
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 116-126.
Considerações finais
126
Carvalho, Francione Oliveira & Teodoro, Thalita de Cassia Reis (2019, setembro) “Pedagogia Griô como geradora de novas
dinâmicas na formação docente.” Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 116-126.
movimento da vida. Friedmann afirma que na nossa sociedade “há uma cultura
de muitos brinquedos e de poucas brincadeiras, muita tecnologia e pouco artesanato, muita impessoalidade e pouco respeito à individualidade, muita solidão e
pouca troca entre as pessoas” (2006:123). Portanto, ao resgatar a ludicidade afro-brasileira não estamos apenas celebrando a ancestralidade negra, mas também a
infância. Algo importante para quem está inserido numa faculdade de educação.
A corporeidade é a base comum da matriz ancestral africana e afro-brasileira. Neste sentido, acreditamos que a reflexão e a recuperação desses elementos
estéticos e filosóficos enriquecem a formação docente e, por isso, devem ser valorizados nos processos criativos e educativos tanto no Ensino Básico como nos
cursos de formação de professores.
Referências
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e cultura de tradição oral: um encontro
com a pedagogia griô. 2015. 1 recurso
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— Universidade Estadual de Campinas,
Faculdade de Educação, Campinas, SP.
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a dança da vida. Revista Pensamento
Biocentrico, Pelotas — Nº 11. ISSN
1807-8028. [Consult. 2019-05-01] www.
pensamentobiocentrico.com.b
Imagetext: project and creative experimentation
in Drawing
ANA MENEZES*
Artigo completo submetido a 10 de abril de 2019 e aprovado a 15 de maio de 2019
*Portugal, Professora e artista plástica independente.
E-mail: anamenezesartelie@gmail.com
Resumo: Este artigo apresenta uma unidade
de trabalho desenvolvida com uma turma do
11º ano de Desenho A. Trata-se de uma proposta que explora a utilização do texto como
medium artístico e as zonas de convergência
entre texto e imagem – poesia visual, tipografia e caligrafia – questionando as suas fronteiras disciplinares. O objetivo da abordagem
pedagógica é valorizar a exploração conceptual e de materiais, instrumentos e processos,
desenvolvendo nos alunos hábitos de experimentação no processo criativo.
Palavras chave: imagemtexto / poesia visual /
projeto / processo criativo / experimentação.
Abstract: This article presents a work unity
developed with an 11th grade school class in the
discipline of Drawing A. It’s a proposal that explores the use of text as an artistic medium and
the confluence areas between text and image –
visual poetry, typography and calligraphy –questioning their disciplinary boundaries. The pedagogical approach values student´s conceptual
and technical exploration, helping them develop
experimentation habits in the creative process.
Keywords: imagetext / visual poetry / project /
creative process / experimentation.
127
Menezes, Ana (2019, setembro) “Imagemtexto: projeto e experimentação criativa em Desenho.”
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 127-138.
Imagemtexto:
projeto e experimentação
criativa em Desenho
Menezes, Ana (2019, setembro) “Imagemtexto: projeto e experimentação criativa em Desenho.”
128
Jogo e experimentação
O jogo da criação é o primeiro de todos os jogos e o modelo de todos eles.
(Hatherly, 1983:216).
Surgido nos anos 60 do século XX, o Movimento da Poesia Experimental Portuguesa — PO.EX — reuniu um grupo de poetas e artistas que conseguiram,
apesar da cinzenta ditadura cultural que asfixiava o país, alinhar-se com as vanguardas artísticas internacionais. Foi o encontro com a Poesia Concreta, mas
também com o Informalismo — que lhe acrescentou uma importante vertente
experimental.
Os autores da PO.EX, e principalmente Ana Hatherly, referem-se frequentemente nos seus textos teóricos à importância da experimentação na criatividade e à forma como a componente lúdica é o elemento estrutural desse mecanismo criativo (Hatherly, 1983:73).
É precisamente a visão do processo criativo partilhada por estes poetas e
artistas que me levou à escolha da poesia visual como ponto de partida para a
criação de uma proposta pedagógica para a disciplina de Desenho A, 11º ano, no
contexto do estágio curricular do Mestrado em Ensino de Artes Visuais.
Durante a observação participante das aulas foram detetadas algumas fragilidades nos alunos ao nível da capacidade de autorregulação do processo
criativo, que me levaram a colocar as questões que deram origem ao projeto
Imagemtexto. Decidi assim planificar uma unidade em que os alunos fossem
respondendo à proposta de trabalho através de exercícios de experimentação,
seguindo um percurso metodológico até à criação do produto final.
1. Enquadramento teórico-pedagógico — Imagemtexto
A unidade de trabalho explora a utilização do texto como um medium artístico
e as zonas de convergência entre texto e imagem — poesia visual, tipografia e
caligrafia — trabalhando assim um conteúdo específico do programa: a articulação palavra/imagem como processo de transformação gráfica.
Trata-se de dois campos cujas fronteiras disciplinares se cruzam frequentemente na história da arte e da cultura e, segundo (Foucault, 1973:20-2), “a mais
antiga oposição da nossa civilização alfabética: figurar e nomear; dar forma e
dizer; reproduzir e articular; imitar e significar; olhar e ler”.
A dualidade entre as palavras e as imagens, traduzida em oposição ou complementaridade, domina o discurso estético desde sempre, manifestando “uma
divisão estrutural na experiência humana das representações, apresentações e
2. Imagemtexto e cultura visual
Numa época em que a experiência humana se tornou essencialmente “visual e
visualizada” (Charréu & Salbego, 2015:2) torna-se cada vez mais importante adotar abordagens pedagógicas que utilizem estratégias da cultura visual, proporcionando momentos para uma reflexão crítica sobre as imagens e o seu significado.
Tendo isto em mente decidi introduzir a proposta de trabalho aos alunos
através de uma apresentação de diapositivos. A estratégia seguida foi a de colocar as imagens em diálogo, permitindo que possam ser estabelecidas identificações e comparações.
Procurei semelhanças nas estratégias criativas ao longo dos tempos, contextualizando formal e conceptualmente práticas artísticas e gráficas contemporâneas. A apresentação não seguiu uma lógica cronológica, uma vez que o
pretendido era estabelecer análises comparativas das imagens e encontrar semelhanças conceptuais e/ou formais nas imagens mostradas.
Um dos critérios presentes na seleção e organização das imagens, surgido
através da observação dos padrões conceptuais que suportam a produção das
obras, é a constante alternância entre as estratégias de legibilidade e ilegibilidade, presente através dos conceitos de caligrama e labirinto.
O caligrama apela à legibilidade. É um poema onde a forma do significante
coincide com o significado, ou seja, onde há uma concordância visual da imagem com o texto, tornando-se redundante. Muitos autores praticaram esta estratégia criativa, cujo primeiro exemplo conhecido é o Ovo de Símias (século
III a. C.), mas foi Apollinaire que utilizou o termo caligrammes, referindo-se
aos seus poemas visuais publicados em 1918. É interessante também perceber
como a cultura contemporânea se apropriou do caligrama como estratégia gráfica, principalmente no desenho de cartazes, ilustração e publicidade.
129
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 127-138.
símbolos”, como afirma Mitchell (1996:51). Este autor defende que “a interação entre imagens e textos é constitutiva da própria representação” (Mitchell,
1994:5), e tem vindo a dedicar grande parte do seu trabalho a refletir sobre o
impacto na cultura visual da relação entre os dois media.
A ideia defendida por Mitchell é a de uma contaminação constante de um
campo pelo outro — todos os media são mistos e todas as artes são híbridas,
impuras e contaminadas (Mitchell, 1994). Ao escolher o título da unidade de
trabalho decidi seguir o pensamento deste autor, que propõe a denominação
de imagemtexto para estas obras em que a palavra e a imagem assumem uma
relação de complementaridade ou, no caso da poesia visual e da tipografia, o
próprio texto é a imagem.
130
Menezes, Ana (2019, setembro) “Imagemtexto: projeto e experimentação criativa em Desenho.”
O labirinto é a negação da legibilidade. O objetivo é exatamente o oposto
do caligrama: dificultar a legibilidade, ocultar o significado, tornar enigmático o texto. Este recurso está inicialmente ligado a uma conceção hermética da
escrita, mas com o tempo prevalece a sua componente lúdica. O labirinto de
palavras atinge o seu auge no Barroco. Neste período, uma das formas mais comuns na Península Ibérica é o labirinto cúbico, uma composição acróstica, onde
“o verso inicial, e geralmente único, é repetido com sucessivos desfasamentos”
(Hatherly, 1983:114), criando um efeito óptico, muito apreciado na época.
O jogo óptico do labirinto cúbico ressurge na poesia concreta — como no
exemplo do poema Velocidade (de 1958) de Ronaldo Azeredo — e na typewriter art, em criações visualmente tão densas que comprometem a legibilidade, e
que influenciaram designers como Hansjorg Mayer, Wolfgang Weingart ou David Carson, que praticaram a experimentação e a desconstrução na tipografia.
Nesta apresentação de imagens quis mostrar como a poesia experimental
evoluiu da visualidade para a materialidade, para outras produções plásticas
como o poema objeto, a performance art e o vídeo, onde se destacam artistas
como Mello e Castro, Sallete Tavares, ou Fernando Aguiar. Procurei também
exemplos contemporâneos da utilização do texto nas artes plásticas e no design
gráfico, em vários media diferentes, principalmente em instalações, conceito
que os alunos ainda não conheciam.
3. Planificação e operacionalização das atividades
A estrutura da planificação sintetiza vários modelos teóricos de criatividade,
metodologia de projeto e processos criativos de artistas. Articula-se em seis fases: definição do problema; investigação; experimentação; avaliação da experimentação — ideia; desenvolvimento da ideia — concretização; avaliação.
A intervenção pedagógica iniciou assim com a apresentação da proposta
de trabalho, que corresponde à fase metodológica de definição do problema:
a criação de uma peça de Imagemtexto a instalar no espaço da escola, com total
liberdade de escolha dos materiais e dos media. Os alunos trabalharam a partir
de textos poéticos, escolhidos com base nas obras aconselhadas no programa
de Portugûes.
A proposta foi introduzida através de uma apresentação de imagens, decorrente da pesquisa visual realizada. Na planificação esta etapa corresponde
à fase de investigação.
3.2 Produto final
Na fase de avaliação da experimentação (ideia), os alunos juntaram-se em grupos de dois para uma análise dos exercícios e esboços da ideia final, registando
a evolução do seu pensamento.
Na fase de desenvolvimento da ideia (concretização), cada grupo exigiu
uma intervenção pedagógica diferenciada. A diversidade de meios em que os
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 127-138.
Nesta fase do processo criativo, foram propostos aos alunos dois exercícios experimentais a partir dos textos (ou fragmentos deles selecionados).
No primeiro exercício foi pedido que usassem a caligrafia como recurso expressivo para construir linhas, manchas e formas, tendo em mente as ideias ou
sensações provocadas pela leitura do poema. O objetivo do exercício é promover a experimentação e proporcionar a descoberta de novas soluções visuais e
plásticas que possam contribuir para o projeto final.
As primeiras respostas foram muito ilustrativas, o que era mais ou menos
previsível. Apesar disto, os desenhos ficaram visualmente interessantes e acabei por aceitar algumas das soluções, mas insistindo em que procurassem mais
expressão no uso da caligrafia. Os resultados foram muito variados, oscilando
entre o minimalismo conceptual e o excesso de pormenores visuais. A criação
de caligramas a partir de uma ideia ou palavra expressa no texto foi um dos recursos mais usados (Figura 1) e muitos alunos usaram a caligrafia para formar a
linha de contorno da imagem (microcaligrafia), de tal forma que se torna difícil
perceber o texto sem mostrar um pormenor ampliado (Figura 2 e Figura 3).
No segundo exercício de experimentação trabalhámos com tipografia. O
objetivo foi promover a experimentação através de um processo completamente diferente do anterior, ajudando a divergir o pensamento noutra direção, em
busca de novas soluções para a resolução do projeto final.
Foi assim pedido aos alunos que — a partir do texto — criassem uma composição visual com os vários recursos dados: colagem de texto usando letras e palavras de diferentes fontes e dimensões; experimentação com tipos de madeira
impressos manualmente, ou com escantilhões (stencil). Sugeri que começassem pelas colagens, experimentando a desconstrução do texto e das palavras,
brincando com a forma das letras, com a forma das palavras, com o seu som.
A grande maioria dos alunos quis usar os tipos de madeira (Figura 4 e Figura
5), experimentando com tinta de offset e com tinta de carimbo. Alguns preferiram
o stencil, mas a maior parte acabou por misturar várias técnicas. Os processos foram intuitivos e experimentais, como pode ser observado na (Figura 6 e Figura 7).
131
3.1 Experimentação
Menezes, Ana (2019, setembro) “Imagemtexto: projeto e experimentação criativa em Desenho.”
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Figura 1 ∙ Exercício de caligrafia. Fonte: própria.
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Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 127-138.
Figura 2 ∙ Exercício de caligrafia. Fonte: própria.
Figura 3 ∙ Exercício de caligrafia; pormenor. Fonte: própria.
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Menezes, Ana (2019, setembro) “Imagemtexto: projeto e experimentação criativa em Desenho.”
Figura 4 ∙ Caixa com tipos de madeira. Fonte: própria.
Figura 5 ∙ Exercício de tipografia. Fonte: própria.
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Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 127-138.
Figura 6 ∙ Exercício de tipografia. Fonte: própria.
Figura 7 ∙ Exercício de tipografia. Fonte: própria.
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Menezes, Ana (2019, setembro) “Imagemtexto: projeto e experimentação criativa em Desenho.”
Figura 8 ∙ Trabalho final. Fonte: própria.
Figura 9 ∙ Trabalho final. Fonte: própria.
Figura 10 ∙ Trabalho final. Fonte: própria.
Conclusões
É comum o professor de Artes Visuais confrontar-se com a resistência à experimentação: os alunos têm dificuldade em sair da sua zona de conforto, tanto
em termos técnicos como conceptuais, por medo de falhar e estragar o trabalho.
Desta observação surge a pertinência de introduzir propostas pedagógicas que
insistam na experimentação, promovendo o desenvolvimento criativo do aluno.
Os alunos não conheciam a poesia visual. Analisando as suas reações e respostas, observa-se que a maior parte se mostrou curiosa e recetiva perante o tema abordado, considerando que a unidade de trabalho contribuiu para expandir os seus
horizontes sobre as possibilidades do desenho. Referem também a exploração de
técnicas e procedimentos diferentes como um dos fatores positivos da atividade.
Não é possível medir o impacto que os exercícios de experimentação tiveram nos alunos. No entanto, através da observação desta turma durante quase
dois anos, consigo perceber que neste trabalho eles levaram o processo criativo
mais longe do que costumam habitualmente fazer e algumas das peças finais
mostram um nível de conceptualidade jamais atingido em trabalhos anteriores.
O projeto Imagemtexto mostra como a poesia visual pode ser o ponto de
partida para desenvolver abordagens pedagógicas inovadoras na disciplina de
Desenho. Da mesma forma, a intensa produção teórica dos autores da PO.EX,
principalmente a suas refleções sobre processos criativos, merece ser revisitada
e pode contribuir para enriquecer o currículo de Artes Visuais.
137
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 127-138.
alunos trabalharam nesta fase foi um dos maiores desafios à minha prática profissional, porque exigiu uma mudança de foco para cada grupo e capacidade de
resposta para fazer face aos problemas técnicos extremamente diferenciados
que eram colocados pelos alunos.
A escolha diversificada dos meios e materiais a trabalhar traduziu-se numa
grande heterogeneidade dos resultados: dois grupos criaram peças de caráter
bidimensional (colagem e pintura); um grupo usou a pintura para criar várias
peças que reuniu numa instalação interativa onde as várias palavras podiam
ser reorganizadas pelo público, alterando o sentido do poema (Figura 8); outro
trabalhou o vídeo como meio de expressão, de onde selecionaram e imprimiram alguns fotogramas para a exposição (Figura 9); vários grupos trabalharam
a tridimensionalidade, criando peças para serem instaladas no espaço, como a
mostrada na (Figura 10).
A fase de avaliação decorreu em conversa com os alunos após a exposição
montada, sendo-lhes também pedido que preenchessem um questionário de
autoavaliação e avaliação da atividade.
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Menezes, Ana (2019, setembro) “Imagemtexto: projeto e experimentação criativa em Desenho.”
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 127-138.
Foi inicialmente referido como a ideia de experimentação é associada por
Ana Hatherly a uma visão do processo criativo como um processo lúdico. A preferência mostrada pelos alunos em relação ao segundo exercício — de tipografia
— revela exatamente isso, uma vez que os recursos utilizados se prestam mais
à manipulação lúdica. Tanto os tipos, como mesmo as letras de papel recortado
funcionam como peças de um jogo, e a sua manipulação e composição transforma-se no “jogo da descoberta, matriz de toda a criatividade” (Hatherly, 1983:116).
Referências
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contemporâneas da visualidade. Atas do
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pp. 9-31. Porto: Edições Universidade
Fernando Pessoa. Disponível em: https://
www.po-ex.net/pdfs/POEX_ContextosEnsaios-Entrevistas-Metodologias.pdf
Art Teaching from the proposition of poetic
learning objects.
LUCAS LIMA FONTANA*
Artigo completo submetido a 05 de maio de 2019 e aprovado a 15 de maio de 2019
*Brasil, Professor Educação Básica: Ensino Fundamental I, Ensino Fundamental II e Ensino Médio.
AFILIAÇÃO: Claretiano Centro Universitário, Polo de Rio Claro/SP, Programa de Pós Graduação História da Arte. Av. Santo
Antonio Maria Claret, 1724. Bairro: Jardim Claret Cidade: Rio Claro Estado: São Paulo CEP: 13503-230 Brasil. E-mail: lucasfontana@claretianocolegiorc.com.br
Resumo: Este artigo visa refletir sobre a
Abstract: This paper aims to reflect on the concep-
concepção e criação de materiais didáticos
realizados como Objetos de Aprendizagem
Poéticos (OAP) e utilizados no Ensino de Arte.
Além de OAP são abordados os conceitos de
“objetos propositores”,“mediação” e “professor-criador” em um percurso que analisa um
projeto pedagógico no qual o aluno é considerado protagonista de uma ação de ensinoaprendizagem, enquanto o professor se manifesta como mediador.
Palavras chave: material didático / objeto
propositor / objeto de aprendizagem poético
/ professor-criador / aluno protagonista.
tion and creation of didactic materials made as
Poetic Learning Objects (PLO) and used in Art
Teaching. Besides PLO, the concepts of “proposing
objects”, “mediation” and “proposer teacher”
are approached, in a way that analyzes a pedagogical project in which the student is considered
protagonist of an action of teaching-learning,
while the teacher is a mediator.professor-criador,
aluno protagonista.
Keywords: didactic material / proposer object /
poetic learning object / proposer teacher / protagonist student.
139
Fontana, Lucas Lima (2019, setembro) “O Ensino de arte a partir da proposição de Objetos de Aprendizagem
Poéticos.” Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 139-150.
O Ensino de arte a partir
da proposição de Objetos de
Aprendizagem Poéticos
Fontana, Lucas Lima (2019, setembro) “O Ensino de arte a partir da proposição de Objetos de Aprendizagem Poéticos.”
140
Introdução
Este artigo visa refletir sobre a concepção e criação de materiais didáticos realizados como Objetos de Aprendizagem Poéticos (OAP) e utilizados no Ensino
de Arte, disciplina da Educação Básica, no nível do Ensino Médio. Para tanto, é
abordada a discussão sobre o conceito de OAP, fundamentado por Tatiana Fernández e Belidson Dias. Além disso, são apresentados os conceitos de “objetos
propositores” e “mediação”, referenciados teoricamente em Mirian Celeste Martins. Ainda, neste processo, discutiremos sobre o conceito de “professor-criador”
com base na pesquisa intitulada “Professor-criador de OAP: potencializando encontros no ensino de arte”, pesquisa desenvolvida sob orientação da Prof.ª Dra.ª
Andrea Hofstaetter no Instituto de Artes UFRGS (Porto Alegre, Brasil).
Nesta investigação compartilharemos de uma experiência prática específica, aprofundando a reflexão sobre essa produção. Trata-se do projeto prático-pedagógico, desenvolvido anualmente no Claretiano Colégio de Rio Claro
(São Paulo, Brasil), intitulado “OAP no Ensino de Arte”. Este projeto visa fomentar uma pesquisa no âmbito de materiais didáticos em uma perspectiva
poética. O objetivo principal é produzir OAP, propositores de encontros e situações que pretendem potencializar a produção de conhecimento em História da
Arte, a partir da interação dos sujeitos, transformando o aluno em protagonista
de uma ação de ensino-aprendizagem enquanto o professor atua em uma perspectiva mediadora. Os alunos são estimulados a pesquisar um tema específico da História da Arte e instigados a projetar um objeto, desde seu protótipo,
com a intenção de gerar uma ação lúdica de ensino-aprendizagem envolvendo
o tema pesquisado. O aluno ensina ao passo que aprende com a criação de seus
próprios objetos (Figuras 1 e 2). Aprende na pesquisa do tema, no desenvolvimento do objeto de aprendizagem e no envolvimento com o projeto. Por fim,
no final do ano curricular, ocorre a “Feira de OAP no Ensino de Arte”, atividade
que conclui o Projeto Pedagógico: OAP no Ensino de Arte desenvolvido durante
o ano como componente extracurricular, paralelamente ao plano de ensino da
disciplina de arte.
Pretende-se através dessa reflexão, que considera o trabalho do professor-mediador como coadjuvante, sem desmerecer sua importância no processo,
tratar do aluno como verdadeiro propositor de um ato poético, considerando
a presença da poética no ato criativo de produzir seus materiais didáticos e na
atuação dos sujeitos com os mesmos, propondo uma alternativa para o trabalho de temáticas históricas relativas ao Ensino de Arte no cotidiano escolar. Os
OAP são tão importantes neste processo de ensino-aprendizagem quanto os
sujeitos envolvidos.
141
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 139-150.
Figura 1 ∙ OAPs sobre temas da história da arte
desenvolvidos por alunos da Educação Básica do
Claretiano Colégio da cidade de Rio Claro, São Paulo,
Brasil. Fonte: arquivo pessoal.
Figura 2 ∙ OAPs sobre temas da história da arte
desenvolvidos por alunos da Educação Básica do
Claretiano Colégio da cidade de Rio Claro, São Paulo,
Brasil. Fonte: arquivo pessoal.
Fontana, Lucas Lima (2019, setembro) “O Ensino de arte a partir da proposição de Objetos de Aprendizagem Poéticos.”
142
1. Objetos de aprendizagem: poéticos e propositores
Poéticos refere-se aqui aos artefatos criados em si, ou seja, Objetos de Aprendizagem de Poéticos (OAP). Primeiramente, pois estes são resultado de um processo considerado criação artística. Além disso, os objetos se pretendem propositivos, fundamentais na gênese de experiências de ensino-aprendizagem.
Mirian Celeste Martins utiliza o conceito de objeto propositor referindo-se aos
objetos produzidos pelo educador e utilizados em situações de ensino-aprendizagem. Entretanto, veremos que nesta reflexão, estenderemos a criação e proposição de OAP a partir dos próprios aprendizes. As experiências que ocorrem
no processo de proposição e aprendizagem a partir das relações geradas entre
os sujeitos e os OAP utilizados, não objetivam somente a construção de conhecimento, criam situações em que algo é vivido, experimentado e experienciado.
São as proposições com OAP que instigam o aprendiz a ser um ativo participante e co-criador da experiência de ensino-aprendizagem.
Sendo assim, OAP é um conceito proposto não só a partir da reflexão a respeito da produção destes materiais, mas também a partir da investigação dos
eventos nos quais eles são utilizados, situações de ensino-aprendizagem nas
quais subjetividades surgem das dinâmicas propostas pelo professor ou pelos
próprios aprendizes utilizando e se relacionando com os artefatos em questão.
São nessas experiências estéticas que se abre a oportunidade da criação de “territórios de subjetivação” (Dias & Fernández: 3489). Segundo Belidson Dias &
Tatiana Fernández, a poética está associada a um devir, ou seja, “um processo
de vir a ser e não de algo já feito” [...] é entendida como possibilidade de ocupar
novos territórios de subjetivação, espaços do que pode ser. (Dias & Fernández,
2015: 3488). Ainda segundo os autores, estes artefatos, “são poéticos porque
movimentam eventos (Dias & Fernández, 2015, apud Fontana:14).
Deste modo, o professor propositor de OAP objetiva propor encontros,
quer potencializar o ensino de arte a partir de experiências que pretende serem significativas aos sujeitos participantes das ações, quer produzir além de
conhecimento, transformações, eventos que transcendam o “espaço/tempo da
instituição escolar para além da sala de aula e para além do âmbito estanque
curricular” (Fontana, 2016: 14). Segundo Belidson Dias & Tatiana Fernández,
nestes artefatos:
[...]O que é poético neles é o espaço da potência que “marca uma abertura de mundo
em que pensamento e ação devem recomeçar diferentemente” (JAGODZINSKI e
WALLIN, 2013, p. 104). Por esse motivo a poética não pode ser uma representação, nem
criação de significado. Criar significado tem implícita uma intenção (JAGODZINSKI
e WALLIN preferem pensar em uma in-tensão, 2013, p. 123). A poética, à diferença da
práxis, é o que não pode se manifestar, nem ser antecipado ou programado. A poética
143
é por isso uma rachadura inserida no artefato por onde novas formas de ser sejam
possíveis [...](Dias, 2015, p. 3488).
quer fugir do automatismo, deseja propor uma suspensão dos sujeitos, deseja
ser significativo por ocorrer de forma lenta, oportunizando o devido tempo que
cada sujeito requer para que seja possível experimentar e protagonizar a própria
aprendizagem (Fontana, 2016: 7).
O professor-criador de OAP opta por exercer uma docência pautada na criação. Trabalhando com a proposição de OAP o professor-criador parte da necessidade do criar, da satisfação do fazer artístico. Segundo Fontana: “o processo
de ensinar é um processo criativo, um caminho de invenção, que se pode fazer
não só pela satisfação de ensinar, mas também de criar para ensinar” (Fontana,
2016: 15). Ainda, o conceito de professor-criador trata não apenas do produtor
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 139-150.
2. Percurso investigativo: professor-criador de OAP
O Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação (Instituto de Artes, UFRGS,
Brasil, 2016), denominado “Professor-criador de OAP: potencializando encontros no ensino de arte” (Fontana, 2016), tem como tema principal a reflexão
sobre a criação e utilização de materiais didáticos pelo professor de ensino de
arte, disciplina da educação básica, de modo que este profissional permaneça
constantemente ligado à pesquisa e à prática poética, tendo em vista a importância do processo artístico para o professor.
O fazer artístico possui suas singularidades possíveis somente de serem acessadas por quem produza ações condizentes a tal processo. A pesquisa citada, trata da necessidade de o educador de arte, durante a docência, permanecer a exercer atividades artísticas, considerando que a criação de OAP proporcionaria ao
professor de artes a aproximação ou reaproximação às especificidades de um ato
criador. Nesse sentido o ato de produzir OAP relaciona-se diretamente ao ato de
criação artística, na qual a inventividade, as relações sensíveis, espaciais e estéticas são percepções peculiares. Além disso, visa pensar os objetos criados como
poéticos e disparadores de encontros significativos dos estudantes com conhecimentos artísticos em situações de aprendizagem. Considerando um contexto tradicional de ensino-aprendizagem, no qual o professor domina os saberes que o
aluno teria necessidade de assimilá-los, os materiais didáticos construídos nesta
proposta, não eram estruturados e pensados com a intenção somente de ensinar.
A intenção é potencializar o processo de ensino-aprendizagem. Segundo Lucas
Fontana, a proposta de utilizar OAP no ensino de arte:
144
Fontana, Lucas Lima (2019, setembro) “O Ensino de arte a partir da proposição de Objetos de Aprendizagem Poéticos.”
e propositor de seus OAP, mas na satisfação obtida nas dinâmicas oriundas da
proposição dos objetos criados. Entretanto, abordar a função de um profissional docente cuja satisfação está além de ensinar a partir do uso de materiais
didáticos, mas de criar seus próprios materiais, é considerar fundamental o caminho de criação trilhado. Nesse sentido, o professor-criador é seduzido por
singularidades que só o ato de criador proporciona, e desta forma, insere em
sua docência o fazer artístico. Segundo Lucas Fontana:
Diversas interações são assimiladas tanto conscientemente quanto inconscientemente
e projetadas no decorrer do processo de criação. O ato criador não é exato. Quando o
artista parte, por exemplo, de uma ideia ou imagem mental, exerce seu ato sob muitos
outros aspectos que não somente o referencial. Inventa, por exemplo, o próprio modo
de fazer para trazer aquele primeiro esboço à realidade. Durante o processo reinventa,
refaz, forma o formar, aproxima e se distancia da primeira ideia e às vezes até mesmo
a esquece. Há uma infinidade de fatores que influenciam no processo de criação de
um trabalho artístico. Sabemos que alguns desses fatores são conscientes e outros não.
Ainda assim, é inegável que todos esses fatores têm sua importância no processo de
elaboração do trabalho, na progressão e síntese de ideias (Fontana, 2016: 16)
Podemos considerar, no caso do professor-criador e propositor de seus próprios OAP, que o fator consciente é a intenção de ensinar, ou seja, criar um material que seja didático para auxiliá-lo no dia-a-dia em sala de aula é sua intenção
primordial. Neste caso, o objeto deve possuir um sentido prático, que possa fazer
seus alunos interagirem e, por consequência, aprender. Entretanto, segundo Fontana, este ato criador do professor, de algum modo, se assemelha ao do artista:
Do mesmo modo que o artista parte de uma ideia, o professor pode partir de uma
“intenção de ensino”. Nessa intenção, embora possa vislumbrar o objeto a ser criado,
ele tem um caminho a percorrer, esse processo é de idas e vindas, objetividades e
subjetividades, certezas e incertezas, ações conscientes e inconscientes, coerências e
incoerências (Fontana, 2016:17).
Marcel Duchamp definiu o ato criador como um conjunto de características e especificidades que hoje também podem ajudar a elucidar o fazer de um
professor-criador de OAP, pois, segundo Duchamp:
No ato criador, o artista passa da intenção à realização, através de uma cadeia de reações totalmente subjetivas. Sua luta pela realização é uma série de
esforços, sofrimentos, satisfações, recusas, decisões que também não podem
e não devem ser totalmente conscientes, pelo menos no plano estético. O resultado deste conflito é uma diferença entre a intenção e a sua realização, uma
diferença de· que o artista não tem consciência (Duchamp, 1965:71-4).
...estão satisfações pessoais, experiências criativas, conhecimentos práticos,
lembranças e sensações ligadas às disciplinas práticas do curso de Licenciatura
em Artes, aplicações de técnicas aprendidas em cursos de atelier, enfim, uma série
de questões pessoais que satisfazem este profissional em seu ato criador. Então, ao
produzir um OAP, o professor-criador, em decorrência... do resgate dessas sensações,
pode manter-se ligado a uma atitude similar à de um artista... ao manter uma
manualidade restrita à produção de seus artefatos, um modus operandi, uma
inventividade artística, um modo de “fazer”, inventando o “modo de fazer”... este
professor estará vivenciando pensamentos e reflexões inerentes a um processo de
produção artístico-poético. Por conseguinte, estes momentos reflexivos gerados nesta
prática, podem influenciar seu dia-a-dia, auxiliando-o na elaboração de novos
projetos, criação de novos materiais, na inventividade de novos OAP, nos planos de
aula, em produções em conjunto com os alunos, nas reflexões e discussões em sala de
aula a respeito deste processo tão peculiar que é o ato criador (Fontana, 2016: 18).
3. Projeto Pedagógico: OAP no Ensino de Arte
Este artigo está relacionado à prática docente e o desenvolvimento do “Projeto
Pedagógico: OAP no Ensino de Arte”, desenvolvido desde o ano de 2017 no Claretiano Colégio de Rio Claro (SP-Brasil), projeto que visa fomentar uma pesquisa no
âmbito de materiais didáticos em uma perspectiva poética. O objetivo principal
é produzir OAP, propositores de encontros e situações que potencializam a produção de conhecimento em História da Arte, a partir da interação dos sujeitos,
transformando o aluno em protagonista de uma ação de ensino-aprendizagem.
O projeto foi dividido em três etapas distintas, perfazendo as etapas do cronograma escolar dividido em trimestres, da etapa um à etapa três. Durante a
etapa um, ocorre a apresentação do projeto pelo professor, a formação de equipes e sorteio dos temas relacionados a História da Arte. Nesta fase os alunos
pesquisam o tema sorteado, a pesquisa é realizada em encontros mediados pelo
docente em laboratórios apropriados. No decorrer do projeto, os alunos são instigados a projetar as especificidades e características do tema em um OAP, pesquisando e desenvolvendo esboços de objetos, jogos e dinâmicas. No final da
etapa um, cada grupo apresenta para turma seu objeto de pesquisa, o tema da
história da arte, além disso, a partir de uma elaboração gráfica, um projeto de
OAP é apresentado. A avaliação desta etapa do projeto se baseia no trabalho em
145
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 139-150.
Consideramos processo artístico ou ato criador a produção de um OAP.
Cria-se para ensinar e o ponto de chegada deste processo não garante apenas
a produção de um objeto relacionado ao ensino-aprendizagem, o resultado é
muito mais que um artefato de ensino, é um objeto poético. De alguma forma,
encontra-se depositado neste artefato uma intenção artística, segundo Lucas
Fontana, neste OAP:
146
Fontana, Lucas Lima (2019, setembro) “O Ensino de arte a partir da proposição de Objetos de Aprendizagem Poéticos.”
equipe, na apresentação do tema para turma, na produção do projeto gráfico,
bem como, sua a adequação ao tema sorteado.
Durante a etapa dois, uma pesquisa mais aprofundada sobre o tema é realizada, revisita-se o projeto gráfico e elabora-se o protótipo do OAP. Nesta etapa
define-se as dinâmicas de utilização dos objetos e suas especificidades como,
por exemplo, aplicabilidade, regras do jogo se for o caso, aparência etc. Avalia-se aqui o processo constante de pesquisa de cada grupo considerando a ideia
apresentada a partir do protótipo físico de OAP.
Durante a etapa três, os alunos finalizam seus OAP. Observa-se que no
processo de mediação, o docente procura fomentar a utilização de materiais
reciclados ou reaproveitamento de materiais para construção dos OAP, trabalhando transversalmente o tema socioambiental. Nesta etapa, pelo menos um
dos encontros em sala de aula é destinado às dinâmicas-teste com os objetos
criados, visando verificar possíveis mudanças no objeto final ou adequações
nas regras dos jogos.
Por fim, ocorre a Feira de OAP no Ensino de Arte, momento no qual toda a
comunidade escolar pode participar das dinâmicas durante o evento no qual é
avaliada a ação de ensino-aprendizagem realizada e o produto final. A Feira de
OAPs realizada na escola com a participação de alunos, corpo docente, diretoria e coordenação pedagógica, demonstra um resultado muito positivo com
relação ao “Projeto Pedagógico: OAP no Ensino de Arte”.
Em geral, a avaliação do projeto foi desenvolvida considerando o trabalho
em equipe, levando em conta o percurso da pesquisa do tema, a adequação do
mesmo para a produção do OAP, o trabalho prático pessoal e coletivo, as dinâmicas utilizando estes objetos junto à comunidade escolar. Sendo assim, o OAP
foi avaliado também como produto de um processo de criação artística, atentando para seu caráter simbólico, poético e estético, desconsiderando questões
de gosto e considerando e valorizando a diversidade, as possibilidades, as dinâmicas geradas, as experiências, o protagonismo dos alunos e a contextualização
das produções com o conhecimento da história da arte.
Conclusão
Além da participação e envolvimento dos alunos no desenvolvimento do projeto nas várias etapas conforme metodologia descrita, houve uma resposta muito positiva quanto ao aprendizado dos temas de história da arte, percebido nas
ações propostas pelos alunos. Além disso, criar OAP para utilização em práticas
de sala de aula e desenvolver dinâmicas entre as equipes criadoras dos mesmos, de maneira que os alunos possam ensinar e aprender simultaneamente,
147
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 139-150.
Figura 3 ∙ Projeto gráfico de OAP apresentado
por alunos na 1ª etapa do Projeto Pedagógico: OAP no
Ensino de Arte. Fonte: própria.
Figura 4 ∙ Protótipo de OAP. Produção. Fonte: própria.
Figura 5 ∙ Protótipo de OAP. Protótipo. Fonte: própria.
148
Fontana, Lucas Lima (2019, setembro) “O Ensino de arte a partir da proposição de Objetos de Aprendizagem Poéticos.”
Figura 6 ∙ Dinâmicas-teste com OAP
em sala de aula. Fonte: própria
Figura 7 ∙ Feira OAP no Ensino de Arte.
Fonte: própria.
149
propiciou perceber que a utilização dos OAP gera encontros significativos com
o conhecimento artístico, tanto teórico quanto prático.
De outro modo, a utilização de OAP no ensino de arte propicia ao aluno
aprender de forma diferenciada, pois o professor não somente “dá aulas”, mas
cria um percurso de ensino-aprendizagem no qual exerce uma função mediadora, privilegiando o aluno como protagonista da ação. Esta experiência não
se restringe ao aprendizado de um conteúdo, mas fundamentalmente envolve
o aprendiz em uma complexa ação criadora. Nesse sentido, pensar nos alunos
como desenvolvedores e propositores de seus próprios OAP, possibilita refletir
sobre o processo artístico de criação, para Carlos Roberto Mödinger, “o pensamento criativo ou ato de criação, provoca a abertura ao inesperado, à imaginação, ao lúdico, a associações inusitadas” (Mödinger, 2012, apud Porto, 2014:
60-61). Considera-se então que a pesquisa e o desenvolvimento de OAP seja a
conservação de uma prática ligada diretamente a características de uma poética artística, que estimula à criatividade, tão importante não só para disciplina
de arte, mas para o desenvolvimento do aluno como ser humano.
Por fim, projetar, criar e propor OAP no ensino de arte, é criar um jogo, um
jogo inspirador, que não tem só a intenção de ensinar, pois supera este objetivo.
Para Mirian Celeste Martins, “a essência do jogo e também da arte, está na sua
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 139-150.
Figura 8 ∙ Feira OAP no Ensino de Arte.
Fonte: própria.
150
Fontana, Lucas Lima (2019, setembro) “O Ensino de arte a partir da proposição de Objetos de Aprendizagem
Poéticos.” Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 139-150.
capacidade de excitar e fascinar intensamente provocando estranhamentos,
deslocando o lugar do ‘já sabido’” (Martins, 2005, apud Fontana, 2016: 23).
Referências
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Battcock (org.) A nova arte. São Paulo:
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estudos iniciais de um conceito. In:
Mediação: provocações estéticas. 1.ed.
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Martins, Mirian Celeste (org.). Objetos
propositores: a mediação provocada. In:
Mediação: provocações estéticas. 1.ed.
São Paulo: Instituto de Artes/Unesp. PósGraduação, 2005. v. 1. N.1 p. 94-123.
Mödinger, Carlos Roberto: In Porto, Humberta.
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Education do Brasil, 2014.
What “person” hides in my role? The art between
the letter and the line
SOFIA CARANOVA* & MARTA MAGALHÃES DA SILVA**
Artigo completo submetido a 5 de maio de 2019 e aprovado a 15 de maio de 2019
*Portugal, Professora.
AFILIAÇÃO: Colégio Valsassina, Azinhaga da Bela Vista 2 1950-010 Lisboa, Portugal. E-mail: sofiacaranova@gmail.com
**Portugal.
AFILIAÇÃO: Estudante do Mestrado em Ensino de Artes Visuais. Afiliação: Faculdade de Belas Artes, Universidade de Lisboa;
estágio no Colégio Valsassina. Largo da Academia Nacional de Belas-Artes, 1249-058 Lisboa, Portugal. E-mail: martams@
campus.ul.pt
Resumo: Este artigo visa apresentar um exer-
Abstract: This aim of this article is to present an
cício interdisciplinar realizado com os alunos
do 12o ano. A descrição do exercício é simultaneamente o ponto de partida e chegada para
a reflexão acerca do diálogo entre a literatura
e as artes visuais. Enquadra-se a relação entre estas duas formas de expressão artística,
através de exemplos ao longo da História, e
exploram-se as potencialidades da interdisciplinaridade artística, corroboradas pelos
resultados do exercício apresentado.
Palavras chave: interdisciplinaridade / educação artística / desenho / ilustração.
interdisciplinary exercise developed with 12th
grade students. The description of this exercise
intends to be both a starting and finishing point
for the reflection on the dialogue between literature and visual arts. The relationship between
these two forms of artistic expression is framed
through historical examples. The opportunities
of artistic interdisciplinary approach – supported
by the results of the described exercise – are also
explored in this article.
Keywords: interdisciplinary approach / artistic
education / drawing / illustration.
151
Caranova, Sofia & Silva, Marta Magalhães da (2019, setembro) “Que “Pessoa” se esconde no meu papel? A arte
entre a letra e o traço.” Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 151-162.
Que “Pessoa” se esconde
no meu papel? A arte entre
a letra e o traço
Caranova, Sofia & Silva, Marta Magalhães da (2019, setembro) “Que
“Pessoa” se esconde no meu papel? A arte entre a letra e o traço.”
152
Introdução
O presente artigo vem dar a conhecer o trabalho desenvolvido pelos alunos do
12º ano do Colégio Valsassina num contexto de interdisciplinaridade envolvendo as disciplinas de Desenho A e de Português. O exercício exposto é pretexto
para uma reflexão sobre o diálogo entre o universo das letras — que é a literatura
— e o do traço -que é o plano pictórico das artes visuais.
Ao longo da História do mundo são múltiplos os encontros entre as palavras
e as imagens, numa complementaridade artística que se estende não só à arte
erudita dos grandes museus e galerias, mas também à cultura visual que nos
envolve a cada momento.
A pertinência da interseção entre as artes visuais e a literatura no contexto
da educação artística é justificada, por um lado, pelo crescente interesse que
tanto os artistas como os teóricos e críticos da arte têm desenvolvido acerca do
conceito de ekphrasis — descrição literária de obras de arte visual — e das suas
múltiplas aparições na história da arte. A ponte que estabelecemos entre a heteronímia de Fernando Pessoa e o desenho, poderia ter sido lançada entre outros
traços e outras letras.
Para lá da relação entre as artes visuais e a literatura portuguesa, o desafio
apresentado aos alunos para a criação de ilustrações das personagens dos heterónimos de Fernando Pessoa a partir do estudo dos seus poemas, consiste num
projeto colaborativo entre duas disciplinas, que se aliam para a construção de
uma experiência de aprendizagem significativa.
O trabalho de representação dos heterónimos de Fernando Pessoa não pretende ser uma “aprendizagem mimética das proporções do rosto” (Sousa & Calado, 2007:61), mas explorar a transposição gráfica das características físicas e
psicológicas dos “Pessoas” que Pessoa cria nos seus versos. Recorre-se tanto
à expressividade do desenho como à interpretação pessoal da poesia dos heterónimos para identificar os traços identitários de cada uma das personagens
pessoanas. Desenvolvem-se os valores da autonomia e da liberdade, quer na
criação da composição da personagem e do seu ambiente, quer na seleção das
técnicas e materiais de desenho. Na Figura 1 apresenta-se um trabalho elaborado numa técnica mista que envolve desenho à mão e desenho digital.
Pela mão deste diálogo entre letras e traços, elaborado pelos alunos, abordam-se, então, os fundamentos da interdisciplinaridade, em particular da articulação entre a educação artística e a aprendizagem das restantes matérias.
A interdisciplinaridade como ferramenta para a construção do conhecimento
que se aproxima das situações do dia a dia responde às inquietações dos alunos
acerca da relevância da aprendizagem.
153
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 151-162.
Figura 1 ∙ Ilustração de Bernardo Soares a caneta preta e
tinta da china e fundo em desenho digital, realizada pelo
aluno JA. Fonte: própria.
Figura 2 ∙ C., aluna do 12º ano, registos escritos e gráficos
de recolha das características de Ricardo Reis. Fonte: própria.
Figura 3 ∙ T., C., aluna do 12º ano, registos escritos e
gráficos de recolha das características de Alberto Caeiro.
Fonte: própria.
154
1. O diálogo entre a letra e o traço
O diálogo entre as palavras e as imagens tem assumido diferentes facetas,
numa relação estreita que remonta à era antiga. Terá sido Horácio (65 a.C.- 8
a.C.) o primeiro a comparar as duas artes na obra Epistula ad Pisones, como nos
revela Gentil Faria (Oliveira, 2014:20):
Caranova, Sofia & Silva, Marta Magalhães da (2019, setembro) “Que
“Pessoa” se esconde no meu papel? A arte entre a letra e o traço.”
Poesia é como pintura; uma te cativa mais, se te deténs mais perto; outra, se te pões
mais longe; esta prefere a penumbra; aquela quererá ser contemplada em plena luz,
porque não teme o olhar penetrante do crítico; essa agradou uma vez; essa outra, dez
vezes repetida, agradará sempre. (Horácio apud Oliveira, 2014:20)
Esta relação não mais viria a extinguir-se ao longo dos séculos. No Renascimento, as múltiplas representações bíblicas no campo da pintura ou da escultura são também exemplos da reinterpretação pictórica de textos literários.
Destaca-se o exemplo de Giotto (1267-1337), o pintor italiano percursor da
pintura renascentista, que trabalhou ao serviço do Vaticano na representação
dos textos bíblicos (Oliveira, 2014). Muitos foram os autores e os artistas que
se aperceberam da relação estreita e frutífera entre as linguagens literária e
pictórica. Uns defenderam a poesia acima da pintura como é o caso de Lessing
(1729-1781) na obra “Laocoonte ou sobre as fronteiras da pintura e da poesia”
(1776), outros porém, como Almeida Garrett (1799-1854) exaltaram a pintura
como aquela que pode representar com maior fidelidade a realidade.
A poesia animada da pintura exprime a natureza toda; a dos versos, porém, menos
viva e exata, falha em muita parte na expressão de suas belezas. Que poeta poderia
dar uma ideia de Rómulo como David no seu quadro das Sabinas? Que versos nos
poderiam fazer imaginar a Divindade como a Transfiguração de Rafael? Que poema
nos faria conceber a majestade dum Deus criador dando forma ao caos, e ser ao universo, como a pintura de Miguel Ângelo? (Garrett , apud Oliveira, 2014:22)
O século XVIII marca a introdução da pintura como tema da literatura.
Goethe (1749-1832) é considerado o pioneiro da exploração da pintura no texto
em prosa, através da obra “Werther” (1774) onde aborda a condição do artista. Com a publicação de Balzac (1799-1850) de “A obra prima desconhecida”
em 1831, “a pintura entra na literatura pela porta principal” (Magalhães, 1995).
Trata-se de um texto em que o enredo simples se dilui nos diálogos entre as personagens que discorrem tratados sobre pintura. No campo da poesia destaca-se
a exaltação das obras de Michelangelo, Leonardo da Vinci ou Rembrandt nos
poemas de “Les fleurs du mal” (1857) de Baudelaire (1821-1867) ou os versos de
Victor Hugo (1802-1885) em “Les rayons et les ombres” (1870) cuja inspiração
[…] Interdisciplinary work in the arts is important because it enables students to solve
problems and make meaningful connections. Interdisciplinary curriculum gives students the opportunity to generate new insights and to synthesize relationships among
ideas. (NAEA, 2002)
[O trabalho interdisciplinar nas artes é importante porque permite aos estudantes resolverem problemas e construírem ligações significativas. O currículo interdisciplinar
dá aos estudantes a oportunidade de gerar novos conhecimentos e sintetizar as relações entre ideias. (Tradução livre)]
155
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 151-162.
está em Piranesi (Magalhães, 1995). Não se pode ignorar também o papel central da pintura no texto de Proust, “À la recherche du temps perdu”, já no século
XX. A literatura assume então um papel fundamental na interpretação das artes visuais e na sua divulgação, através do desenvolvimento da crítica de arte,
cuja origem está nos salons parisienses do século XVIII.
Os próprios movimentos artísticos contribuíram também para a criação
da ligação entre a literatura e as artes visuais, convocando todas as formas de
expressão artística para transmitir os seus ideias. O modernismo português é
disto exemplo, reunindo na Geração de Orpheu nomes da literatura e das artes
plásticas como Fernando Pessoa — personagem principal da unidade curricular
apresentada- (1888-1935), Mário de Sá Carneiro (1890-1916), Almada Negreiros
(1893-1970) , Amadeo de Souza Cardoso (1887-1918), entre outros. Poder-se-ia
apontar também o exemplo dos cafés do século XIX como plataforma artística
multidisciplinar, lugares de encontro e discussão, onde o impressionista Manet
(1832-1883) se cruzou com o seu mestre Courbet (1819-1877), o poeta Baudelaire
e o crítico de arte Émile Zola (Davies et. al., 2010).
O exercício de ilustração das personagens e ambientes de Alberto Caeiro,
Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Bernardo Soares remete para este universo
pessoano de cruzamento entre as várias formas de expressão artística. O mesmo exercício foi proposto a Almada Negreiros em relação à figura de Fernando
Pessoa e dele resultou a obra “O retrato de Fernando Pessoa” (1954), que marcou indelevelmente a imagem que temos do poeta. O próprio Almada encarna
a convergência entre as letras e o traço na sua obra como escritor e artista plástico. Ao desafio lançado a Almada Negreiros acresce agora o facto dos alunos não
poderem basear-se em características físicas das personagens, criando retratos
inspirados apenas nas palavras dos seus poemas através da captação dos seus
traços de personalidade, ambientes e estados de alma mais comuns.
Cada aluno partiu à descoberta de um heterónimo, procurando nos seus versos
traços de personalidade que pudessem ser transpostos para o desenho. Esta pesquisa aprofundada levou a um maior conhecimento dos textos e a um esforço interpretativo, pessoal, revelado nos cadernos de trabalho dos alunos (Figura 2 e Figura 3).
156
Caranova, Sofia & Silva, Marta Magalhães da (2019, setembro) “Que
“Pessoa” se esconde no meu papel? A arte entre a letra e o traço.”
Figura 4 ∙ Registos fotográficos do caderno
de trabalho da aluna C. (ilustração de Ricardo
Reis). Fonte: própria.
Figura 5 ∙ Registos fotográficos do caderno
de trabalho da aluna B. (ilustração de Álvaro
de Campos) Fonte: própria.
157
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 151-162.
As conclusões do Consortium of National Arts Education Association no documento “In authentic connections: should art teachers integrate lessons with other
subjects?” (2002) sublinham a importância da interdisciplinaridade para a aquisição de conhecimentos significativos. Defende-se que todas as artes, incluindo
a dança, o teatro ou a música, são intrinsecamente transdisciplinares porque
implicam e valorizam a interseção de várias áreas do saber. A teoria da integração das artes na educação remonta à Grécia Antiga, no século IV a.C., em
que Platão defende que a expressão artística deveria ser a base dos métodos de
ensino (Cox e Ewens, apud Suraco, 2006:9).
Destacam-se alguns dos fundamentos da prática interdisciplinar no plano da educação artística, que constituem simultaneamente os seus principais
pontos fortes: a integração de vários tipos de inteligências, de acordo com diferentes tipos de intuição, consciência, memória, raciocínio (Gardner, 1992)
e métodos de aprendizagem, a formulação de objetivos claros para o trabalho
do aluno, a adoção de um método de avaliação preferencialmente formativo,
o desenvolvimento das capacidades de resolução de problemas, valorizando a
participação de várias áreas do saber. A interdisciplinaridade envolvendo as artes visuais privilegia ainda o conhecimento mais aprofundado dos conteúdos,
de modo a que o aluno seja capaz de desenvolver os mecanismos próprios da
produção artística — criar, experimentar, concretizar. O processo criativo deste
trabalho está registado nos cadernos diários dos alunos, durante as várias fases
do trabalho, desde a definição das características da personagem, até à definição do seu ambiente (Figuras 4 e Figura 5).
Construir um currículo interdisciplinar está no centro das preocupações dos
responsáveis pela educação na Europa e no mundo. Jacobs (2005, apud Suraco,
2006) afirma que este será o caminho que permite responder às perguntas dos
alunos acerca da utilidade do conhecimento, da sua aplicação na vida quotidiana
e da sua pertinência para o seu desenvolvimento como adultos conscientes do
mundo que os rodeia e capacitados para se realizarem pessoal e profissionalmente.
Existem vários modelos de currículos interdisciplinares “parallel instruction”, “cross-disciplinary instruction” e “integrated/infusion” (Jacobs, 2005:8), dependendo do nível de envolvimento e de colaboração das diferentes disciplinas
em causa. A “paralell instruction” consiste na articulação de dois professores
para que ambos abordem concertadamente o mesmo tema nas suas aulas. Com
um tema comum, cada professor irá lecionar os conteúdos referentes à sua disciplina. Cabe ao aluno estabelecer as pontes entre os conhecimentos adquiridos nas duas disciplinas. No segundo modelo, “a cross-disciplinary instruction”,
os professores das diferentes disciplinas trabalham em conjunto segundo um
158
Caranova, Sofia & Silva, Marta Magalhães da (2019, setembro) “Que
“Pessoa” se esconde no meu papel? A arte entre a letra e o traço.”
Figura 6 ∙ Ilustração de Ricardo Reis a tinta
acrílica, aguarela e lápis de cor, realizada
pela aluna C Fonte: própria.
Figura 7 ∙ Ilustração de Álvaro de Campos a
aguarela e lápis de cor, realizada pela aluna
B. Fonte: própria.
Figura 8 ∙ Ilustração de Alberto Caeiro a
aguarela e lápis de cor, realizada pela aluna
T. Fonte: própria.
159
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 151-162.
Figura 9 ∙ Ilustração de Álvaro de Campos
aguarela e lápis de cor, realizada pelo aluno
R. Fonte: própria.
Figura 10 ∙ Ilustração de Alberto Caeiro a
aguarela e lápis de cor, realizada pelo aluno
J. Fonte: própria.
160
Caranova, Sofia & Silva, Marta Magalhães da (2019, setembro) “Que
“Pessoa” se esconde no meu papel? A arte entre a letra e o traço.”
tema, um problema ou um desafio que convoca várias matérias. Os objetivos da
unidade curricular são definidos em conjunto e ambos os professores contribuem para que sejam atingidos. No caso do modelo integrado, requer-se que
o professor tenha competências em vários domínios e que os alunos tenham o
background necessário para elaborar projetos transversais a várias disciplinas
como, por exemplo, a organização de uma conferência aberta à comunidade
sobre um tema amplamente estudado pelos alunos.
O modelo interdisciplinar consiste no “planeamento curricular que visa integrar todas as disciplinas do currículo” (Jacobs, 2005:10). Este modelo pode
ser desenvolvido à escala de uma aula, de uma unidade curricular ou até de um
projeto que envolva várias turmas da escola.
A unidade curricular desenvolvida pelos alunos do 12º insere-se no modelo
transdisciplinar, envolvendo os docentes das disciplinas de Desenho A e Português no trabalho articulado para definir objetivos comuns e estabelecer um planeamento concertado das etapas do trabalho. Num primeiro momento, os alunos
estudaram o conceito de heteronímia e analisaram os poemas dos heterónimos
de Fernando Pessoa. A partir dessa análise, definiram-se os traços identitários
fundamentais de cada um dos heterónimos. Pessoa viria a confessar o carácter
fragmentário da sua produção literária, reflexo do seu próprio estado de alma.
“Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que
torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas” (Pessoa, apud Fritzen, 2017:197). Os resultados gráficos
produzidos pelos alunos revelam essa diversidade (Figuras 6, 7 e 8).
A obra literária de Fernando Pessoa e dos seus heterónimos constitui um dos
temas do programa curricular da disciplina de Português no 12º ano. O artigo “A
ilustração na literatura para jovens: a imagem do Outro” (Tomé & Bastos, 2010)
alerta para a importância das imagens na aprendizagem. “Os leitores em formação aprendem pelas palavras, mas também pelas imagens, as representações que
moldarão, de alguma forma, a tomada de consciência e a representação social do
outro” (2010:90). O exercício exposto tira partido desta complementaridade entre palavras e imagens. Cada aluno partiu à descoberta do “Pessoa” escondido no
seu papel, ou seja, transpôs para o desenho as feições, os traços, os lugares que a
sua imaginação tinha feito brotar das palavras poéticas do autor. Os alunos escolheram livremente a técnica e os materiais de desenho. Foram realizados estudos
tanto do desenho dos heterónimos e como dos elementos que iriam compor o seu
ambiente. Na Figura 9 apresenta-se o trabalho do aluno R., em que o ambiente se
confunde com a própria personagem de Álvaro de Campos. O exercício da Figura
10 mostra uma ilustração em que o ambiente revela os ideais e modo de ver o
mundo do heterónimo Alberto Caeiro.
Conclusão
O diálogo entre a letra e o traço é uma história antiga reinventada em cada momento pelo desejo de “iluminação mútua” da literatura e das artes visuais (Fritzen, 2017:205). A transposição desta relação para a educação explora não só a
complementaridade entre as várias formas de expressão artística, mas também
as potencialidades de uma aprendizagem orientada para o conhecimento significativo. Pretende-se hoje que os alunos adquiram competências relacionadas
com a mobilização de conhecimentos na resolução de problemas quotidianos,
que implicam a interação entre as várias áreas do saber.
O exercício de ilustração dos heterónimos de Fernando Pessoa, realizado
pelos alunos do 12o ano, assumiu-se como uma marca da interdisciplinaridade
proporcionada pela escola, visível a toda a comunidade escolar através da exposição da Semana das Línguas, sobre o tema “Pessoa Fragmentado”, onde os
trabalhos estiveram expostos.
Segundo o Perfil do aluno à saída da escolaridade obrigatória (Portugal, 2017),
a ação educativa deve produzir “uma apropriação efetiva dos conhecimentos”,
desenvolvendo o “pensamento reflexivo, crítico e criativo”. Nesta medida, destacamos as palavras dos alunos acerca do trabalho realizado. Para T., o desafio lançado “criou maior interesse na disciplina de Português” pois sentiu, tal
como C., a necessidade de fazer uma “pesquisa para aprofundar os conhecimentos acerca do heterónimo”. J. referiu que o exercício o motivou por “ter a
oportunidade de representar uma personagem conhecida a partir do meu ponto de vista” e B. destacou a “liberdade para criar uma personagem dentro do
meu estilo” , sublinhando assim o desenvolvimento da expressão artística e da
criatividade de cada aluno.
O exercício privilegiou ainda a liberdade e a autonomia dos alunos durante as várias fases de criação da personagem. A primeira etapa de pesquisa e
161
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 151-162.
À semelhança da unidade curricular descrita neste artigo, encontram-se nos
manuais escolares estudados por Fritzen (2017) outras propostas de exercícios
que pretendem estabelecer diálogos entre a literatura e as artes visuais. Propõe-se a produção de um texto literário sobre a obra “História Trágico-Marítima”
de Maria Helena Vieira da Silva; ou uma análise do diálogo entre uma iconografia de Jean Baptiste Debret e o Sermão de Santo António aos peixes” de Padre
António Vieira; a procura de relações entre a lírica de Camões e os artistas do
Renascimento — no âmbito do tema do ideal feminino de beleza -, ou até outro
trabalho a partir da obra de Fernando Pessoa, explorando a sua relação com o
quadro de Miguel Yeco “O Teatro Íntimo do Ser” (Fritzen, 2017).
162
Caranova, Sofia & Silva, Marta Magalhães da (2019, setembro) “Que “Pessoa” se esconde no meu papel? A arte
entre a letra e o traço.” Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 151-162.
esboços foi realizada fora do tempo e espaço da sala de aula, bem como a escolha dos meios atuantes e das técnicas de desenho, o que também constituiu um
fator de motivação para os alunos.
Referências
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da Universidade do Minho. CDRom —
ISBN 978-972-8952-18-1. Disponível em:
http://hdl.handle.net/10400.2/2139
Reflections and reflections on the teaching
of art in children’s education: didactic research
in the act
MARIA IRENE PELLEGRINO DE OLIVEIRA SOUZA*
Artigo completo submetido a 1 de maio de 2019 e aprovado a 15 de maio de 2019
*Brasil, Professora Universitária.
AFILIAÇÃO: Universidade Estadual de Londrina, Licenciatura em Artes Visuais, Departamento de Arte Visual, Centro de Educação, Comunicação e Artes. Rodovia Celso Garcia Cid | PR 445 Km 380 | Campus Universitário - Cx. Postal 10.011 | CEP
86.057-970, Londrina, PR/BR. E-mail: mariairenesouza39@gmail.com
Resumo: Este artigo apresenta reflexões sobre Abstract: This article presents reflections about
a ação docente em Arte na educação infantil,
desenvolvida em Cambé/PR, com uma turma
do infantil IV. Baseada na pesquisa didática
sobre desenho e movimento a partir de Tony
Orrico e Segni Mossi. Apoia-se em Moreira,
Kincheloe e Barbieri, entre outros. Conclui
que a pesquisa didática deveria estar presente na ação docente tanto na educação básica
como no ensino superior.
Palavras chave: Pesquisa didática / Desenho
e movimento / Arte e ensino.
the teaching activity in Art in children’s education, developed in Cambé / PR, with a group of
children IV. Based on didactic research on drawing and movement from Tony Orrico and Segni
Mossi. It is based in Moreira, Kincheloe and Barbieri, among others. It concludes that didactic
research should be present in teaching action in
both basic and higher education.
Keywords: Didactic research / Drawing and
movement / Art and teaching.
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Souza, Maria Irene Pellegrino de Oliveira (2019, setembro) “Reflexos e reflexões sobre a ação docente em arte na educação
infantil: a pesquisa didática em ato.” Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 163-175.
Reflexos e reflexões sobre
a ação docente em arte na
educação infantil: a pesquisa
didática em ato
Souza, Maria Irene Pellegrino de Oliveira (2019, setembro) “Reflexos e reflexões
sobre a ação docente em arte na educação infantil: a pesquisa didática em ato.”
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1. A educação infantil
A educação infantil é um campo de muitas reflexões, em especial, porque o que
se mostra, em geral, é o privilégio às brincadeiras e, em função disso, desenhos livres dissociados de reflexões e questionamentos como se as crianças não pudessem ter outra opinião senão o “é legal”, “eu gosto”, “eu não sei” ou “eu não gosto”.
Essa situação se verifica sempre que o trabalho é voltado meramente a um
fazer, ou seja, do nada a criança desenha e a professora classifica o produto realizado. Aqui é preciso esclarecer que nem sempre as professoras tem essa intensão, mas às vezes a coordenação exige ou os pais querem saber os porquês...
Entretanto, os documentos nacionais, desde as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010), apontam a criança como ser que observa,
dialoga, questiona e isso obriga a uma intencionalidade pedagógica, descartando definitivamente a ideia de que é preciso deixar a criança se desenvolver
espontaneamente.
Entre os direitos à aprendizagem presentes na Base Nacional Comum Curricular (2018), seis deles são dedicados à educação infantil — conviver, brincar,
participar, explorar, expressar e conhecer-se. Entre estes há dois que nos interessam, uma vez que se relacionam diretamente às ações em Arte.
Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e
fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura [...] Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses,
descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens. (BNCC,
2018:36)
Na perspectiva da BNCC (2018) dois campos de experiência estão contemplados nesta pesquisa: 1) Traços, sons, cores e formas – em que convivendo com diversas manifestações culturais, artísticas e científicas permite às crianças vivenciarem as diferentes expressões, sejam as artes visuais, a música, o teatro, a dança, etc.; e 2) Estesia — relacionada ao sensível e à percepção do espaço, do tempo,
dos sons, das imagens e do próprio corpo. (BNCC, 2018). Vale esclarecer que estas questões foram vivenciadas, sem, contudo, serem indicadas pontualmente.
1. A pesquisa didática
Realizar uma pesquisa didática é sempre um desafio, pois tudo pode se constituir em dados para a ação, a reflexão e as novas ações e assim sucessivamente.
Desse modo, optamos por usar comentários das crianças envolvidas na pesquisa sempre que isso contribuir para corroborar nossas afirmações.
O papel do professor de artes é observar e escutar as pistas que as crianças deixam ao
longo do percurso. Cada criança é um universo potente de expressão, que oferece alguns pontos de partida para o professor criar ações poéticas e momentos de interação.
Tais ações, por sua vez, ampliam as ideias e a imaginação das crianças, as encorajam
a fazer perguntas, projetos e a buscar sua realização. (Barbieri, 2012:19)
Ao contrário do que se pensa, é possível sim tratar de conceitos, apresentar artistas, fazer leitura de imagens e ter a produção de trabalhos artísticos na
Educação Infantil, porém, todo esse processo deve ser lúdico e significativo, levando em consideração a faixa etária e o nível de desenvolvimento de cada aluno. Assim, nos momentos de interação e brincadeiras o aprendizado torna-se
experiência, acontecendo de fato. É o modo como as crianças interagem entre
si e com o mundo.
Valorizar a produção nessa faixa etária significa potencializar o processo de
aprendizagem, o desenvolvimento da percepção e do conhecimento estético.
As investigações realizadas por eles devem ser entendidas como norteadoras
para o desenvolvimento e entendimento dos planos de aula a serem realizados.
É no diálogo entre as vivências do professor e dos alunos que as experiências
vão se tornar mais significativas.
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Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 163-175.
A escolha do tema do projeto surgiu da necessidade de se falar sobre o desenho na Educação Infantil. As crianças dessa faixa etária encontram-se, em sua
grande maioria, na fase pré-esquemática onde os traços deixam de ter relação
com os movimentos corporais e passam a relacionar-se com objetos visuais. Ou
seja, a estimulação para que o aluno passe para o desenho figurativo é muito
grande. E, com isso, perde-se muito de sua espontaneidade e conexão com os
movimentos do corpo, que acabam sendo vistos como meros “rabiscos”.
Assim, a noção corporal e suas potências; os rastros do movimento mostraram às crianças que podem ser considerados potências gráficas e não necessitam ser figurativos. Esta pesquisa permitiu também trabalhar a aceitação de
materiais diversificados na realização das experimentações; dialogar sobre o
processo e as experiências realizadas; trabalhar leitura de imagens; desenvolver o conhecimento estético; e também levou ao trabalho interdisciplinar utilizando dos conhecimentos do professor de Educação Física, que contribuiu na
percepção dos movimentos.
Necessário esclarecer que trabalhar Artes na Educação Infantil significa
entender que a observação e o diálogo durante todo o processo são muito importantes, visto que virão a mediar o entendimento de mundo da criança. Conforme Barbieri:
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Souza, Maria Irene Pellegrino de Oliveira (2019, setembro) “Reflexos e reflexões
sobre a ação docente em arte na educação infantil: a pesquisa didática em ato.”
Baseados em Barbieri (2012) podemos afirmar que a Arte Contemporânea dialoga com o fazer artístico na Educação Infantil, pois ambas trazem questões como
a pluralidade de experimentações, a interação, as descobertas. Valorizar esses momentos e saber proporcioná-los irá fazer com que os alunos tornem-se mais críticos e possam observar o mundo ao redor deles de maneiras diferentes, contribuindo para a formação de cidadãos críticos que pensam e repensam o seu entorno.
Nas propostas contemporâneas, somos convidados a sentir, participar, modificar, deixar-nos envolver. E as crianças agem naturalmente dessa forma, são
sinestésicas a todo o momento. Por isso as possibilidades de experimentação
tornam-se tão ricas, sendo preciso estimulá-las. É necessário dar lugar à imprevisibilidade, às possibilidades de diversas interpretações e realizações. Por
serem tão inventivas, as crianças acabam subvertendo certas proposições que
fazemos a elas. Um pincel pode se tornar um instrumento sonoro, assim como
um giz de cera de formato diferente pode ser motivo para a execução de uma
escultura. “Dessa forma, podemos criar um lugar de invenção, impermanente,
onde a relação com o planejamento não é linear, como imaginávamos, já que a
cultura é o lugar do inesperado, do encontro com o outro. Crianças pequenas,
então, são totalmente imprevisíveis!” (Barbieri, 2012:34).
Para que se possa ter uma ideia sobre a pesquisa didática é necessário apontar algumas características que são pressupostos para a mesma. Assim, a análise dos dados ocorre de forma indutiva: o pesquisador não recolhe os dados para
confirmar hipóteses pré-estabelecidas. Ao contrário, as abstrações surgem à
medida que os dados coletados passam a ser agrupados. Com isso, estabelece-se uma fundamentação mais sólida, a fim de que se possa tirar alguma conclusão. Isto não quer dizer que esse tipo de pesquisa seja como um quebra-cabeça,
em que já se sabe sua forma antes de montá-lo. Na realidade, o pesquisador não
sabe antes quais as questões que são mais importantes, elas vão se estruturando
na medida em que a pesquisa se desenvolve. O pesquisador dá especial atenção
à maneira como as pessoas dão sentido às suas vidas e às coisas. Desse modo,
ele procura retornar os dados da pesquisa aos seus sujeitos com o objetivo de
perceber o que eles experimentam e como eles veem a situação pesquisada.
Com Kincheloe (1997) ouso afirmar que todos os professores deveriam adotar esse método de trabalho e, é claro que os projetos pedagógicos deveriam ser
construídos tendo a pesquisa didática presente tanto nas disciplinas como nos
projetos que envolvem a escola. Com certeza mudaríamos a educação básica e
consequentemente as Universidades, principalmente porque o trabalho do professor se constrói no dia a dia, o que exigiria a reflexão inevitavelmente.
O que chamamos de pesquisa didática, Kincheloe (1997) chama de pesquisa
2. Arte na educação infantil
A percepção é algo que pode ser aguçado e quanto mais se submete alguém aos
fenômenos visuais, mais sensível essa pessoa se tornará e, também, adquirirá
mais condições de interpretar esses eventos. Isto se explica porque perceber
envolve a mobilização de experiências e conhecimentos anteriores.
Preparar um olhar atento pressupõe estimular para recriações que, para
Dewey, se não existirem não haverá percepção, pois para isso é necessário refazer o caminho promovendo conexões com aquilo que é significativo. Ele compara
a “ajuntar minúcias e particularidades fisicamente dispersas em um todo experienciado” (Dewey, 1980:104); pois assim como o produtor, aquele que percebe
também necessita trabalhar, movimentar energias, vivências.
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ação crítica, a qual é baseada na semiótica porque descobre novos insights em
locais inesperados. E qual melhor lugar para ela acontecer senão na escola?
O trabalho do professor é semelhante a uma pesquisa-ação, pois se constrói
dia a dia e nesse processo a reflexão é inevitável, ou melhor, é componente obrigatório, porque os professores cumprem não só a função de contribuir na mudança de seus alunos, como também na própria mudança; é um constante mudar e ser mudado, ser analisado e analisar. Pode-se dizer que esse compromisso
do professor produz um pensar sobre a própria consciência, e desse modo, ele
encontra novos e inesperados caminhos.
Vale lembrar que os interrogantes desta pesquisa foram os seguintes: a) Interrogar as crianças sobre o que é o desenho, o que ele pode ou não representar
e como podemos realizá-lo? b) Como estimular as crianças a desenvolverem o
desenho desvinculado da necessidade de figurar? c) O que ensinar em relação
ao desenho para alunos da educação infantil?
Considerando esses interrogantes entendemos que seria necessário eleger
caminhos a serem trilhados, especialmente após as respostas das crianças. Vale
esclarecer que nossas reflexões foram sempre discutidas com os professores
que participavam do grupo de Estudos da Rede Arte na Escola, do Polo UEL
— ação muito importante para o desenvolvimento da pesquisa, pois algumas
sugestões potencializaram a ação da docente no CMEI.
A pesquisa exigiu muita reflexão, que ocorreu tanto no diário elaborado pela
docente como nas reuniões do grupo de estudos, promovendo a aprendizagem
colaborativa e a construção coletiva de conhecimento a partir da observação e
acompanhamento de uma sala de aula. Além disso, automaticamente houve a revisão das concepções acerca dos processos de ensino e aprendizagem da arte no
contexto escolar; e avaliação contínua e criação coletiva de novas possibilidades
de ação pedagógica.
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Souza, Maria Irene Pellegrino de Oliveira (2019, setembro) “Reflexos e reflexões
sobre a ação docente em arte na educação infantil: a pesquisa didática em ato.”
Figura 1 ∙ Alunos repetindo o percurso dentro
do CMEI guiados pela linha. Fonte própria
Figura 2 ∙ Criança registrando em desenho o
caimento. Fonte própria.
Figura 3 ∙ Criança registrando em desenho o
caimento. Fonte própria.
3. O desenho e a criança
Quando se adota o desenho com a criança é preciso lembrar que ela não desenha o que vê, mas o que sabe. Em se tratando de desenhar, o aprender a ver é
fundamental para que o indivíduo compreenda as relações entre as coisas ou
formas, e também entre o ver, o saber e o fazer. Essa trajetória muitas vezes
exige da criança algumas operações que não nascem de um simples olhar, mas
de uma elaboração mental que pressupõe vivências e, consequentemente, interações com o outro — fator importante nesse desenvolvimento.
Tendo em vista que para a criança o desenho (Figura 2 e Figura 3) é suporte
para sua narração verbal, os relatos muitas vezes, vão além dos próprios desenhos. Por outro lado, as relações que se estabelecem pela fala entre as crianças,
podem interferir diretamente no desenho — é a experiência com o outro que
completa e dá sentido às próprias vivências e permite novos voos.
Segundo Vygotsky (1991), a criança passa por um processo de internalização, que é o resultado de um desenvolvimento natural. Aos poucos as operações
externas, interpessoais, se transformam em intrapessoais. São as trocas sociais
que se refletem nas figurações produzidas pelas crianças quando desenham.
Convém lembrar que nesse processo de desenvolvimento, a partir das interações sociais, a fala cumpre papel importante, não só pelo aspecto do diálogo,
mas também pela sua função narrativa.
A escola, por ser um espaço de trocas, permite ao estudante adquirir ferramentas de leitura, que participem da conquista de liberdade para dialogar com
diversas linguagens. É claro que há limitações, mas são essas limitações — pouca bagagem de leitura para descobertas e construção de conceitos — que vão
levar o estudante a novas buscas.
Na relação com o outro há um dado relevante no que se refere ao desenho
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Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 163-175.
É interessante como as crianças concretizam o aprendizado fazendo analogias. Houve um dia em que a Professora traçou o percurso que as crianças fazem
da porta do CMEI até o local (Figura 1) onde se realizam as aulas de arte e como
ela usou elástico solicitou às crianças que seguissem aquele caminho segurando
no elástico até chegar a uma sala de aula e aí ela perguntou o que eles perceberam
e as crianças se repetiram até que um menino disse: “essa experiência foi igual
à tirolesa”. Bastou essa fala e virou um alvoroço até que a professora ajudasse o
aluno a explicar que era um cabo suspenso fixo que com o auxílio de uma roldana
as pessoas podem se deslocar. É claro que isso foi motivo de pesquisa para mostrar às crianças e desencadeou conversas. Nisso houve alguém que associou ao
desenho com caimento e por aí foi possível voltar ao desenho.
Souza, Maria Irene Pellegrino de Oliveira (2019, setembro) “Reflexos e reflexões
sobre a ação docente em arte na educação infantil: a pesquisa didática em ato.”
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Figura 4 ∙ Rastros do corpo.
Fonte própria.
Figura 5 ∙ Desenho com fitas.
Fonte própria
A comparação de desenhos efetuados na idade pré-escolar e de desenhos realizados
depois da entrada na escola permite extrair alguns fatos: a escola impõe à criança a
utilização de um repertório de signos gráficos devidamente classificados (flor, árvore,
pássaro, casa, etc). O aparecimento deste código acarreta um empobrecimento [...]
quanto ao nível formal. Esta redução torna os desenhos legíveis e comparáveis entre
si, daí a possibilidade de classifica-los. O impacto social é ressaltado, pois, quando
reforça e seleciona alguns tipos de grafismos julgados desejáveis e que se tornam mais
comuns a todos. Tudo o que não entra nestes quadros torna-se anomalia, desvio, signo
inquietante. Assim, a escola castra a criança de uma parte de si mesma (Mèredieu,
1974:102-103).
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que muitas vezes estimula os que estão em volta daquele que desenha primeiro.
Algo que normalmente se dá por imitação, pode ser de grande proveito para
aquele que imita, afinal, a criança aprende inúmeras coisas pela imitação. Além
disso, a expressão gráfica ou plástica da criança pode se desenvolver cada vez
mais a partir do momento em que se estabelece a interação com o outro. Não
descartar as experiências individuais é fundamental, pois mesmo que haja imitação sempre encontraremos os traços individuais, as escolhas, e é isso que vale
nas vivências criativas.
Houve um dia que a Professora estava construindo o percurso que as crianças fazem diariamente do momento em que entram na escola até o espaço da
aula de Arte, com elásticos coloridos, quando de repente um aluno muito espantado diz: “Professora, o sol desenhou a linha antes que a gente!” Essa observação mostrou quanto é importante o estímulo à sensibilidade e à observação,
pois o menino se referia ao desenho que a luz do sol fazia no chão pela fresta do
toldo que acompanha toda a entrada do CMEI.
Bem sabemos que a criança desde suas garatujas inicia seu contato e por consequência, seu aprendizado sobre a linguagem visual. Além das imagens presentes no cotidiano das famílias, quando a criança adentra a escola espera-se que
esse contato torne-se mais estreito para se aprofundar no ensino fundamental.
O fato da escola invariavelmente subordinar o desenho, por exemplo, a outras disciplinas, transformando-o em simples ferramenta, elimina qualquer
possibilidade de autonomia e de autorreferência. Dessa forma as práticas expressivas, muitas vezes, servem apenas para ilustrar os trabalhos de outras
áreas como, história, ciências, etc.
O principal motivo que gerou esta pesquisa foi uma visão imposta pela própria escola sobre a necessidade do desenho ser figurativo, o que dialoga com o
que diz Mèredieu:
Souza, Maria Irene Pellegrino de Oliveira (2019, setembro) “Reflexos e reflexões
sobre a ação docente em arte na educação infantil: a pesquisa didática em ato.”
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Figura 6 ∙ Desenho com bola de
Pilates. Fonte própria.
Figura 7 ∙ Bolas como prolongamento
do corpo. Fonte própria.
Figura 8 ∙ Desenho em movimento.
Fonte própria.
1. Refazendo o caminho
A educação é um campo no qual o debate, as descobertas, as ações interdisciplinares são essenciais, ou pelo menos, deveriam ser, entretanto poucos são os
que realmente consideram o ato de ensinar como uma troca contínua. Nesta
pesquisa pudemos observar essa troca de forma bilateral, ou seja, a pesquisadora contribuiu com os professores do grupo de estudos presencial e vice versa.
Em uma das primeiras reuniões de estudo, após a apresentação da proposta
aqui referenciada, uma professora que também atuava na educação infantil, mas
com formação em Artes Cênicas, sugeriu à pesquisadora que ela solicitasse às
crianças que se movimentassem e desenhassem no ritmo da música que estavam
ouvindo. Assim, na aula seguinte a professora solicitou às crianças que se movimentassem no ritmo da música e o resultado foi surpreendente, pois elas passaram a interagir mais com o espaço (Figura 4) e com o desenho propriamente dito
conforme podemos verificar nas imagens a seguir, desenho com carvão, desenho
com giz de quadro, desenho no espaço com fita (Figura 5), desenho com bola de
Pilates (Figura 6) e desenho com as mãos sobre bolinhas (Figura 7).
Inúmeras são as imagens que nos dão provas de que a criança quando é estimulada a observar, sentir, perceber o espaço à sua volta, bem como ouvir como
a música se reflete em seu corpo, os resultados sempre nos surpreendem (Figura
8). Muitas vezes as crianças foram além do proposto, como a que está com duas
bolinhas sob as mãos, todos receberam uma, mas essa aluna depois de alguns
momentos pediu à professora mais uma. Aqui se confirma o que diz Barbieri sobre a necessidade de seguir as pistas que as crianças nos oferecem. (Figura 3)
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Ainda pensando no problema desta pesquisa vamos encontrar Moreira
(1984) apontando a questão do “não sei desenhar”. Ela explica essa questão
apontando para o advento da indústria que tolhe o caráter criativo e lúdico de
se divertir com as próprias produções, ao contrário, o lazer se traduz no consumo daquilo que alguma indústria produziu para esse fim. Com isso a beleza
passa a ser internada nos museus e só artistas podem ou sabem produzir arte.
Diz a autora: “A arte é separada da vida e não mais manifestação da vida. [...]
O homem comum perde a possibilidade de criar suas próprias manifestações e
passa a consumir manifestação alheia” (Moreira, 1984:55).
As afirmações aqui postas nos levam a pensar com Barbieri (2012) no papel
do professor de arte, que segundo ela, necessita seguir as pistas que seus alunos da educação infantil deixam, pois assim ele poderá potencializá-las criando
ações poéticas e ampliando suas questões.
Souza, Maria Irene Pellegrino de Oliveira (2019, setembro) “Reflexos e reflexões
sobre a ação docente em arte na educação infantil: a pesquisa didática em ato.”
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Conclusão
Esta pesquisa mostrou como é possível mudar a situação estagnada, na qual muitos professores vivem. As ações se refletiram no grupo de estudos e vice versa,
aliás, a pesquisa foi um motivador de reflexões não só da pesquisadora, como
também dos outros participantes do grupo — docentes e alunos da graduação.
O trabalho realizado a partir das sensações, percepções do espaço, do ritmo
e dos movimentos deu suporte às crianças que vivenciaram esse processo hoje
para num amanhã terem liberdade suficiente para se expressarem, mostrando
o que pensam e sentem sem o risco do estereótipo figurativo.
Os interrogantes da pesquisa foram respondidos de modo objetivo, pois perguntado às crianças se rabisco era desenho elas foram unânimes em dizer que
sim. Se era possível desenhar com o corpo e a resposta foi afirmativa como a
anterior. Houve uma criança que disse “pode desenhar com tudo, caindo, com
a fita, grafite e até com balangandã”.
A exploração dos movimentos corporais e de espaço também foi fundamental, porque essa ação integrou, de fato, as crianças no espaço do CMEI, pois em
todas as propostas os limites foram sendo vencidos um a um. Ao final da pesquisa houve uma menina que disse assim: “o corpo desenha, rabisco é desenho
e pode desenhar no espaço também”. Isso comprova que todos os recursos utilizados no decorrer da pesquisa — carvão, caneta, fita de cetim, elástico, bolas
de Pilates — atenderam ao primordial, isto é, ensinar arte na educação infantil
de modo que as crianças compreendessem as manifestações artísticas delas e
dos outros sem a preocupação de figurar ou classificar nada. É incontestável o
trabalho quando uma criança diz que “o elástico que eles esticaram pela escola
virou um desenho do caminho!”
Esta experiência nos leva a querer que a pesquisa didática aconteça também no ensino superior, que infelizmente, carrega muitos traços da tradição a
atravancar as metodologias colaborativas e ativas. Nossa organização acontece
em espaços disciplinares e não interdisciplinares. Claro que há exceções, mas a
tradição ainda predomina.
175
Moreira, Ana Angélica Albano. (1984). O
espaço do desenho: a educação do
educador. São Paulo: Loyola.
Oliveira, Z.M.R. (2010). O Currículo na
Educação Infantil: o que propõem as novas
Diretrizes Nacionais? In: ANAIS DO I
SEMINÁRIO NACIONAL: CURRÍCULO
EM MOVIMENTO — Perspectivas Atuais
Belo Horizonte, Disponível em: < http://
portal.mec.gov.br/docman/dezembro2010-pdf/7153-2-1-curriculo-educacaoinfantil-zilma-moraes/file>. Acesso em:
05/01/2019
Vygotsky, L. S. (1991) A formação social da
mente. São Paulo: Martins Fontes.
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 163-175.
Referências
Barbieri, Stela. (2012). Interações: onde está a
arte na Infância? São Paulo: Blucher,
Brasil, Ministério da Educação, Secretaria
de Educação Básica. (2010) Diretrizes
curriculares nacionais para a educação
infantil / Secretaria de Educação
Básica. — Brasília : MEC, SEB, http://
basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/
<acesso em dez 2018>
Kincheloe, J.L. (1997). A formação do
professor como compromisso político:
mapeando o pós-moderno. Porto Alegre:
Artes Médicas.
Mèredieu, Florence de. (1974). O desenho
infantil. São Paulo: Cultrix.
176
Dias, Andreia (2019, setembro) “No Museu também se dança: projetos que se desenham à
medida.” Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 176-188.
No Museu também
se dança: projetos que se
desenham à medida
In the Museum one also dances: projects that
are designed to measure
ANDREIA DIAS*
Artigo completo submetido a 5 de maio de 2019 e aprovado a 15 de maio de 2019
*Portugal. Educadora artística, mediadora e programadora cultural.
AFILIAÇÃO: Museu Calouste Gulbenkian, e CIEBA. Museu Calouste Gulbenkian, Fundação Calouste Gulbenkian, Av. de Berna,
45 A, PT, 1067-001 Lisboa. E-mail: afdias@gulbenkian.pt
Resumo: De uma exposição de escultura e da
Abstract: From an exhibition of sculpture and
vontade de envolver criativamente jovens na
criação ou co-criação de programação nasceram 3 projetos de intervenção no espaço expositivo, 2 deles desenhados a meias pelo serviço
educativo do Museu e os professores e alunos
da licenciatura em dança da Faculdade de
Motricidade Humana, e o outro com os professores e alunos de 2º ciclo da escola de ensino artístico integrado Luis António Verney.
Palavras chave: dança / performance / escultura / co-criação / criatividade.
the willingness to involve the young creatively in
the creation or co-creation of programming, 3
intervention projects were born in the exhibition
space, 2 of them designed by the Museum's
educational service, the teachers and students of
the dance degree of the Faculty of Human Motricity, and the other with the professors and students
of 2nd cycle of the school of integrated artistic
education Luis Antonio Verney.
Keywords: dance / performance / sculpture / cocreation / creativity.
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 176-188.
No museu, que se assume um lugar onde se desenham projetos à medida, também se dança.
Da junção de 2 coleções privadas tornadas públicas e do gosto de 2 grandes
colecionadores, nasceu uma exposição notável, composta de 30 esculturas, 11
escultores, que nos apresenta a escultura francesa do séc.XIX.
Da vontade de lançar desafios criativos que envolvam jovens na criação
ou co-criação de programação nasceram 3 projetos de intervenção no espaço
expositivo, 2 deles desenhados a meias pelo serviço educativo do Museu e os
professores e alunos da licenciatura em dança da Faculdade de Motricidade
Humana, e o outro com os professores e alunos de 2º ciclo da escola de ensino
artístico integrado Luis António Verney.
No trabalho desenvolvido com a FMH foram convidados os alunos (do 2º ano
— disciplina de Práticas de Expressão e Comunicação 1; e do 3º ano — disciplinas
de Estética e Filosofia da Arte, complementando-se e desenvolvendo-se na de
Oficina de Dança), para interpretarem e se relacionarem com a exposição construindo uma relação coreográfica com as obras e o espaço, passível de ser apresentada ao público. Para isso foi convidada uma artista, curadora e mediadora
com quem os alunos tiveram aulas no museu, complementadas com workshops
de trabalho. Os conceitos da exposição e o desafio foram integrado nos objetivos
curriculares das cadeiras e trabalhados nas aulas, resultando em duas performances que contaram quer como avaliação final das cadeiras quer como evento
de pleno direito na programação do Museu para o seu público: Formas de dizer e
a Pausa e variações.
A par deste trabalho de investigação, exploração e criação artística, levado
a cabo por estes alunos do ensino superior, trabalhámos com iguais motes e
propostas com uma turma de 25 alunos de 6º ano da escola de ensino artístico
integrado António Verney, no âmbito da Fábrica de Projetos, um programa de
desenho de projetos à medida entre as escolas e o museu.
Estes alunos desenvolveram um trabalho de interpretação das obras e criação a partir das mesmas, tanto na exposição, como em workshops no museu,
completando a pesquisa e composição na escola, com o envolvimento e colaboração dos professores de português, dança clássica, criativa e contemporânea e
do nosso serviço educativo.
Acompanharam de perto o trabalho das duas turmas do FMH, tendo mesmo
alguns alunos vindo assistir às apresentações das performances. Nasceu assim a
performance Mãos que fazem pés que dançam, igualmente um trabalho de co-criação, apresentada no espaço da exposição em horário regular de abertura ao público.
177
Projetos que se desenham à medida, o espaço da co-criação
Dias, Andreia (2019, setembro) “No Museu também se dança: projetos que se desenham à medida.”
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Formas de dizer
No espaço de uma exposição de escultura, em que o corpo humano é o tema
central, na cristalização fixa de uma pose, movimento ou gesto, surgem corpos
outros que se mexem, respiram e dançam. Esculturas vivas que invadem o espaço e dialogam com as obras de artistas como Rodin, Carpeaux, Dalou e Degas.
Projeto realizado por 21 alunos do 2º ano para, no âmbito da disciplina de
Práticas de expressão e comunicação 1, que com os seus professores, interpretaram e se relacionaram com esta exposição. Tiveram parte das suas aulas no
museu, complementadas com workshops dinamizados pelo serviço educativo,
que convidou para isso uma artista, curadora e mediadora. Ao todo foram 2 aulas seguidas de workshop no museu, 1 aula de ensaios na FMH com o apoio e
intervenção do serviço educativo e 1 dia de ensaios no espaço da exposição, no
período temporal de outubro a dezembro, a par de todas as aulas na faculdade,
desta disciplina que foram utilizadas para a finalidade deste projeto, trabalhando-se na mesma as metodologias e conteúdos programados, e sendo a avaliação feita relacionada com o resultado deste, que no final apresentou uma performance, realizada na exposição: assim surge a Formas de dizer.
Nasce de uma vontade de trabalhar novas leituras e vivências de um espaço
museológico, de potenciar o museu como um espaço vivo e de diálogo, à espera
de intervenientes, de conversas, de experiências e de criações.
Surge do diálogo entre a pose e a multiplicidade de possibilidades de movimento, surge do gesto que respira e se transforma, surge do espaço que se ocupa
e habita, da obra de arte que se incorpora e do processo de criação artística a
que estes jovens se entregaram.
Da obra parada e fixa, em mármore, gesso ou bronze nasceram movimentos, sensações, emoções, opiniões e afirmações.
Artistas vários ao longo dos tempos tentaram imprimir movimentos às suas
obras, alguns conseguiram-no e aqui nesta exposição reúnem-se vários exemplos, encontramos entre as obras uma referência clara à dança na obra L’Amour
à la folie, de Carpeaux, dança que é arte em movimento, multiplicidade, sequência, ritmo, repetição, alternância, simultaneidade, disrupção, pose, variações, características e propriedades de que os escultores se apropriaram como
ferramentas de trabalho nas suas matérias.
A figura humana, que é tema constante nesta exposição, quer na sua faceta de
inspiração na mitologia clássica quer nas abordagens da realidade ou intimidade,
apresentada em 5 núcleos: ausência de pose, a figura acocorada, maternidade,
figuras entrelaçadas, a figura de pé, foi inspiração e mote de trabalho para estes
alunos que olharam para dentro de si mesmos à procura da forma e expressão
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Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 176-188.
Figura 1 ∙ Performance Formas de dizer. Fonte: própria
Figura 2 ∙ Performance Formas de dizer. Fonte: própria
Figura 3 ∙ Performance Formas de dizer. Fonte: própria
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Dias, Andreia (2019, setembro) “No Museu também se dança: projetos que se desenham à medida.”
ideal à semelhança da ideia de Miguel Ângelo de que a escultura já se encontra no
bloco de pedra sobre o qual o escultor vai trabalhar, que está lá à espera de ser descoberta assim os alunos do FMH se lançaram nas suas pesquisas e explorações.
Criaram relações pessoais com as obras, fazendo-as habitar nos seus movimentos, tornando-as vivas, como no mito de Pigmaleão e Galateia em que a
força de uma emoção convenceu os deuses a darem vida a uma escultura, assim
as obras de arte se misturaram com os corpos dos bailarinos numa leitura mais
plena, entre corpos vivos e corpos escultóricos.
Do momento inicial, em que se misturaram com o público como se fossem
meros visitantes, à semelhança da obra que abre a exposição — Danaide de
Rodin, que faz a passagem de escultura não revelada para as poses reveladas,
segue-se um sinal sonoro que acorda os participantes e os lança num crescendo
de explorações até ao último movimento, em que se voltam a desligar e a serem
apenas público.
Desenharam no chão, o espaço imaginado de um plinto onde os seus corpos assumiram o papel de esculturas vivas, cariátides que sustentam o mundo
em toda a sua imaginação e dançaram ao som de músicas que acrescentaram à
exposição, paisagens sonoras para corpos acordados e em sintonia, que se desafiaram, complementaram, interagiram, se fundiram e se articularam conectando-se com o espaço.
Da tensão entre escultura e corpo apresenta-se-nos uma realidade inacabada e em reinvenção efémera que desvanece no tempo mas permanece nas
memórias retendo os momentos em que dança, música e escultura partilharam
o mesmo espaço.
O espaço da exposição encheu-se de público, música e performers. Da surpresa dos visitantes nasceu o encantamento e curiosidade, ao corpo dos bailarinos
juntou-se a massa visual de todos os que nessa tarde assistiriam e fizeram parte
deste acontecimento tornando o museu um espaço único, ocupado de uma vivência diferente e única onde por significantes momentos dança, música e escultura se tornaram uma única obra num mesmo espaço, proporcionando a todos os
que assistiram uma experiência envolvente e uma nova relação com a exposição.
Pausa e variações
Trabalho de co-criação meticuloso e cauteloso que se foi afirmando passo a
passo por 6 alunas do 3ºano da licenciatura em dança da Faculdade de Motricidade Humana que se iniciou no âmbito da disciplina de Estética e Filosofia
da arte e se complementou e desenvolveu na disciplina de Oficina de Dança,
sempre em colaboração com a equipa do serviço educativo do museu.
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Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 176-188.
Do não inicial ao convite do Museu aos resultados de excelente qualidade técnica e estética foi um caminho calmo e afirmativo, seguro com linhas de confiança que as professoras lançaram e nós fortalecemos. Providas de um grau de maturidade enorme na apropriação das esculturas que transformaram em movimentos, expressões e sons, numa cadência de gestos que fez vibrar o espaço e sintonizar os espectadores sem o recurso à música, só postura, atitude, performance.
De outubro a janeiro, este projeto contou também com aulas e workshops
realizados no museu, dinamizados pela mesma artista, curadora e mediadora
ao serviço do educativo de Formas de dizer, 3 no seu total, de 1 acompanhamento de ensaios nas aulas no FMH pelo educativo e de 3 dias de ensaios no espaço
expositivo para domínio da composição e adaptação ao espaço. Desde a primeira visita pré-inauguração, da primeira visita com a curadora, que o estudo
e foco destas disciplinas se centrou neste projeto. A performance foi incluída
nos elementos de avaliação, para que não fosse encarada como um peso extra
mas sim como uma oportunidade de fazerem o seu trabalho num espaço novo
proporcionado visibilidade ao mesmo.
Da primeira apresentação ao convite, por parte da instituição a que o Museu
pertence, para repor a performance noite de programação específica, foi um percurso desafiante e de grandes conquistas, académicas, profissionais e pessoais.
Como resultado a performance apresentou uma coreografia totalmente desenvolvida pelas alunas, quer na escolha dos movimentos e composições, quer
no desempenho de espaço, intervenção com elementos cénicos — molduras, e
com as obras, quer na escolha e exploração dos figurinos, revelando crescente
autonomia e controlo sobre a autoria.
Estas mulheres estátua, Galateias, percorreram o chão da sala com o corpo
e a pele, em pausas e variações, com figurinos mutantes que se transformam ao
longo dos vários atos da sua atuação, entre a imagem fixa e a imagem movente,
numa intervenção coreográfica que devolveu à exposição o movimento que a
escultura sugere, em inúmeras camadas de experiência e de experimentação.
O espaço da exposição transformou-se numa “zona saturada de coexistências: o fixo, o movente, o corpo, a escultura, o espectador, o bailarino; esta é
uma zona transitória, suspensa entre o escultórico e o cinematográfico.” (RITO,
2017, p.32)
Um resultado de beleza extrema, tocante e desafiante que tocou quem fez,
quem acompanhou e quem assistiu.
182
Dias, Andreia (2019, setembro) “No Museu também se dança: projetos que se desenham à medida.”
Figura 4 ∙ Performance Pausa e Variações
Fonte: Rui Morais e Castro.
Figura 5 ∙ Performance Pausa e Variações
Fonte: Rui Morais e Castro.
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Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 176-188.
Figura 6 ∙ Performance Pausa e Variações
Fonte: Rui Morais e Castro.
Figura 7 ∙ Performance Pausa e Variações
Fonte: Rui Morais e Castro.
Dias, Andreia (2019, setembro) “No Museu também se dança: projetos que se desenham à medida.”
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Mãos que fazem pés que dançam
Com a escola de ensino artístico integrado Luis António Verney o primeiro contato deu-se em setembro, no Encontro com Professores realizado no nosso Museu, em que desatacámos as atividades da Fábrica de Projetos e o seu intuito de
ir ao encontro dos professores para com eles e com os alunos desenharmos projetos à medida. O professor da disciplina de dança criativa desta escola queria
criar com o educativo um projeto que explorasse a ligação entre a obra de arte e
a dança, no próprio ensino da dança.
Começámos, a par e passo, a desenvolver o projeto que daria origem à performance Mãos que fazem pés que dançam, com 25 alunos do 6ºano de escolaridade.
Das reuniões com o professor seguiram-se visitas à exposição e workshops
pensados em conjunto, que desenvolvemos de forma intensa em janeiro, com
deslocações semanais ao Museu. Trabalhámos com os mesmos referentes aplicados com o FMH — 1 workshop introdutório com a mesma artista, curadora
e mediadora, 3 workshops realizados pelo nosso educativo em conjunto com
os professores de dança criativa, clássica e contemporânea, ensaios no espaço
da exposição, desenvolvimento do projeto nas aulas, com o envolvimento dos
3 professores de dança e a professora de português, e apresentação pública em
horário normal de funcionamento do Museu para que pais e público, pudessem
ver o seu trabalho.
Em português começaram por escrever textos relacionados com uma escultura selecionada por cada aluno, esses textos foram gravados e serviram de som
em torno de uma das obras da exposição — Danaide de Rodin.
Acompanharam de perto o trabalho das duas turmas do FMH, alguns dos
alunos vieram assistir às apresentações das performances, e num dos ensaios
conseguimos estes alunos e as alunas da turma de 3º ano do FMH estivessem
juntos e os mais novos pudessem ver o trabalho dos mais velhos e sentirem
também o seu trabalho valorizado. De igual valor.
Das esculturas, e suas histórias, criaram e inventaram passos de dança, composições de coletivo, pares, trios e solos com que encheram o espaço de movimentos, agitações, inquietudes, interrogações, afirmações, pausas e variações.
Com uma entrega total, séria, responsável e compenetrada, encheram os espaços entre as esculturas com corpos alegres dançantes, com mãos que fazem,
cabeças que sonham e pés que dançam.
Pensamentos sobre os projetos
Quando se procura construir uma aceção de Museu como um espaço vivo,
interveniente nas vidas quotidianas e parceiro dos diferentes públicos e
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Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 176-188.
Figura 8 ∙ Performance Mãos que fazem pés
que dançam Fonte: própria.
Figura 9 ∙ Performance Mãos que fazem pés
que dançam Fonte: própria.
Figura 10 ∙ Performance Mãos que fazem
pés que dançam Fonte: própria.
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Dias, Andreia (2019, setembro) “No Museu também se dança: projetos que se desenham à medida.”
comunidades há perguntas que se afirmam com um constante retorno para
um serviço educativo:
O que procura o visitante no museu? O que faz com que nasçam relações
verdadeiras e duradouras com o espaço de um Museu? Como se torna o museu
um espaço de interesse e de construções significativas com os diferentes públicos e comunidades? Como se pode trabalhar em parceria, com e não para?
E estas fazem-nos pensar um serviço educativo à medida, disponível, atento, que se adapta e vai ao encontro das necessidades e interesses de quem o encontra e que sai ao encontro de diferentes coletivos para que em conjunto se
possam construir novos territórios de relações. Um espaço para a co-criação.
Nos dois primeiros exemplos apresentados explorámos os processos de co-criação como forma de ligação às camadas jovens. A faixa etária do final da
adolescência e dos jovens adultos é aquela que mais se desconecta dos museus,
que não os procura nem visita. Para que este fenómeno se possa reverter é necessário que este público veja os espaços museológicos como locais de utilização significativa e de construção e validação de identidades.
No último, também em co-criação, fomos um complemento de educação artística, uma força da educação não formal aliada da formal, numa idade em que vêm
ainda muito ao museu por meio da escola e onde o museu se pode afirmar como
plataforma de criação, espaço de partilhas e de construção de aprendizagens.
Como objetivos tínhamos o envolvimento destes públicos e tornar o Museu
num espaço de partilha, encontro, pesquisa e criação artística.
Trabalhar num espaço expositivo, a partir da obra de arte e em contato com
a mesma permite o desafio da adaptação a situações novas, a exploração de
outros lugares como palco, a utilização de estímulos diversos como o que está
exposto, os dispositivos de exposição, as pessoas no espaço envolvente, os ambientes. Promove o pensamento crítico, a criatividade e a imaginação.
Sendo experiências com faixas etárias muito diferentes aferimos que a nível
pessoal produzem os mesmos tipos de efeitos: valorização com reforço da confiança e autoestima, produção de novos conhecimentos, desenvolvimento do
sentido critico, potenciação da arte como veículo despoletador de conversas,
pensamentos e criações, envolvimento no espaço do museu com confiança e
sentido de pertença.
Todos os projetos se desenharam de forma participativa e colaborativa e foram trabalhados e encarados com a mesma seriedade e exigência, tendo em
todos os casos sido alcançados resultados de elevada qualidade e também de
realização pessoal, emocional e social.
Um outro resultado, colateral aos projetos, foi o fato de as apresentações
187
terem trazido novos públicos, famílias amigos que nunca tinham vindo ao museu e que sentiram pela primeira vez o espaço como legitimamente seu.
Em jeito de conclusão ficam algumas das ideias dos alunos sobre estes projetos, sendo estas as vozes mais importantes.
Terceiro ano licenciatura em dança — FMH
“Se me fosse pedido para resumir esta colaboração ou este trabalho em três palavras, estas seriam: gratificante, mais-valia, importante.”
“Posso dizer que sinto que era uma pessoa diferente quando começou
este trabalho, do que sou hoje após a sua realização. Por esse motivo, tenho de
agradecer (…) por nos ter aceite nesta colaboração, por nos permitir que visitássemos diversas vezes a exposição, que nos acompanhasse na produção do
trabalho com visitas e conversas realizadas com as suas representantes e por
nos permitir crescer enquanto profissionais de dança/performance.”
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 176-188.
Sexto ano ensino artístico integrado, Escola Luis António Verney:
“Nunca tinha feito uma atividade tão gira e eu nunca tinha feito dançado fora
da escola mas com a escola.”
“Parecia que a escultura falava comigo.”
“Gostei de ter esta experiência, foi fantástica, também gostei de atuar na
exposição e aprender coisas novas.”
“Passamos muitas horas juntos a trabalhar neste projeto lindo que criamos
com muito trabalho de todas as pessoas, tanto nosso como vosso. Queria agradecer por esta oportunidade que nos deram e por insistirem e não desistirem
deste projeto. As bastantes horas passadas foram muito importantes para o final do projeto que por sinal correu muito bem.”
“Foi uma oportunidade única e a experiência foi incrível.”
“Fizemos um grande espetáculo com as coreografias criadas por nós e também houve muita emoção.”
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Dias, Andreia (2019, setembro) “No Museu também se dança: projetos que se desenham à
medida.” Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 176-188.
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MARIA BOTTO* & CELSO AMEIXA** & JOSÉ PEDRO TRINDADE***
Artigo completo submetido a 3 de maio de 2019 e aprovado a 15 de maio 2019
*Portugal, Estudante Mestrado em Ensino das Artes Visuais.
AFILIAÇÃO: Universidade de Lisboa (UL); Instituto de Educação (IE); Faculdade de Belas-Artes (FBAUL). Alameda da Universidade, 1649-013 Lisboa, Portugal. E-mail: maria.ayalabotto@gmail.com
**Portugal, Professor, arquiteto.
AFILIAÇÃO: Colégio Pedro Arrupe. Passeio dos Heróis do Mar 100, 1990-061 Lisboa, Portugal. E-mail: celso.ameixa@colegiopedroarrupe.pt
***Portugal, Professor, artista visual, designer.
AFILIAÇÃO: Colégio Pedro Arrupe. Passeio dos Heróis do Mar 100, 1990-061 Lisboa, Portugal. E-mail: josepedro.trindade@
colegiopedroarrupe.pt
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Botto, Maria; Ameixa, Celso & Trindade, José Pedro (2019, setembro) “A geometria como elemento estruturante e promotor da
expressão criativa e da produção artística.” Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 189-198.
A geometria como elemento
estruturante e promotor
da expressão criativa e da
produção artística
190
Botto, Maria; Ameixa, Celso & Trindade, José Pedro (2019, setembro) “A geometria como
elemento estruturante e promotor da expressão criativa e da produção artística.”
Resumo: Este artigo pretende explorar um
Abstract: This aticle aims to explore the work
trabalho realizado na disciplina de Educação
Visual, em que foram confrontados conceitos
como a criatividade e a autoconfiança dos alunos, para promover a flexibilidade, a autonomia e o trabalho colaborativo. Inserido numa
organização vertical da disciplina ao longo do
3º ciclo, é através da repetição e da complexidade crescente que a aprendizagem se torna
efetiva.
Palavras chave: criatividade / trabalho colaborativo / flexibilidade / aprendizagem efetiva / verticalidade.
that have been done in the discipline of Visual
Education, where concepts like creativity and
the self-confidence of students are confronted, to
promote flexibility, autonomy and collaborative
work. Implanted on a vertical organization of the
discipline throughout the 3 rd cycle (from 7 th to
9 th grade), it’s through repetition and growing
complexity that learning becomes effective.
Keywords: creativity / collaborative work / flexibility / effective learning / verticality.
Introdução
Seguindo o que tem sido feito no Colégio Pedro Arrupe, em Lisboa, considero relevante trazer para este artigo o conceito de verticalidade, que mostra ter
várias implicações positivas na estruturação da disciplina de Educação Visual
para o 3º ciclo. Obedecendo a alguns conceitos-chave da Taxonomia de Bloom,
como a estruturação e a complexificação crescente de conteúdos aplicados em
contexto específico, houve uma tentativa de criar uma linha de complexificação
dos conteúdos, desde o 5º até ao 9º ano, em que nada é pedido sem que antes
tenha sido ensinado, e de modo a que, através da repetição, se reforce progressivamente a aprendizagem, tornando-a efetiva, e a que o aluno sinta segurança
no processo, para que ponha em prática a competência da autonomia.
Em conformidade com o documento do Ministério da Educação “Aprendizagens essenciais, articulação com o Perfil dos Alunos. 3º ciclo do ensino básico
— Educação Visual” de 2018, a disciplina deve procurar “desenvolver as capacidades de apreensão e de interpretação” e “criar um conjunto de imagens e de
objetos com possibilidades de desenvolver trabalhos com um nível mais elevado de complexidade”, de modo a que os alunos possam “conjugar os conhecimentos adquiridos” na “experimentação plástica de conceitos e de temáticas” e
desenvolver a expressividade individual (Ministério da Educação, 2018).
No intuito de criar um projeto em que os alunos pudessem explorar hipóteses, concretizando a proposta de “(re)invenção de soluções para criação de
novas imagens” (ME, 2018) e conjugar “a experiência pessoal (e) a reflexão”,
optou-se por utilizar a geometria, que se verificou ter várias vantagens, como
a flexibilidade de resultados — a partir da mesma base é possível criar resultados diferentes –, a rápida aprendizagem, o domínio — favorável à motivação
1. Criatividade
“Etimologicamente, criatividade significa criar do nada” (Martins, 2000:16).
O dicionário define desta maneira:
“cri·a·ti·vi·da·de (criativo + -idade)
substantivo feminino
1. Capacidade de criar, de inventar.
2. Qualidade de quem tem ideias originais, de quem é criativo.”
O que é facto é que vários autores têm tentado definir criatividade; alguns
consideram-na uma “habilidade de sobrevivência para as próximas décadas”
(Dormen & Edidin, 1989), outros que a criatividade é relativa, porque os produtos são considerados criativos de acordo com o momento histórico (Mansfield
& Busse, 1981). Já Amabile, respondia que a criatividade é “a descoberta da expressão de algo que é tanto uma novidade para o indivíduo criador quanto para
a realização em si mesma”, que se assemelha a outra visão de que tem a ver com
o “conseguir expressar o que se tem dentro de si” (Rouquette, 1973). Adams
desmistifica a criatividade, retirando-a do universo pessoal, definindo-a como
o “tornar o complexo simples” (Adams, 1986), tal como Portugal, quando diz
“Torna-se (…) evidente que a criatividade não se reduz a um atributo ou capacidade ou mesmo a uma característica puramente individual.” (Portugal, 1991)”.
Há ainda autores que consideram impossível a sua definição (Amabile, 1983).
Ainda que não haja consenso acerca do que é a criatividade — o que poderá
trazer problemas para a sua investigação e tentativa de a promover — este projeto
desenvolveu-se sob a proposta da criatividade, e acabou por demonstrar resultados interessantes nesse sentido. Sousa coloca o professor como elemento ativo
da promoção da criatividade, expondo que o papel do agente de ensino é exatamente o de ‘facilitar’ a ocorrência daquela oportunidade, isto é, de criar as condições propícias ao desenvolvimento da criatividade dos alunos (Sousa, 1995).
Martins verifica que “a criatividade corresponde sempre a uma questão de
transformação, constituindo-se, pois, como um conceito sempre dinâmico.”
191
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 189-198.
individual dos alunos. Tudo isto representa uma grande mais-valia na confiança no processo e na sua concretização.
O que esta decisão traz é a necessidade de o professor se tornar um “mero”
orientador. O papel do professor de Artes Visuais passa a poder resumir-se na
proposta de um caminho individual de autoconhecimento, de expressão pessoal,
e de aprofundamento do potencial criativo — em que será mais relevante a experiência artística em prol das imagens construídas — e de interiorização de todas
as experiências e emoções que foram dando contornos individuais ao trabalho.
192
Botto, Maria; Ameixa, Celso & Trindade, José Pedro (2019, setembro) “A geometria como
elemento estruturante e promotor da expressão criativa e da produção artística.”
Neste exemplo concreto, não só o conceito de criatividade é dinâmico, mas
também o próprio trabalho, que o professor vai conduzindo de forma flexível.
Isto será essencial no processo de “confrontar problemas, responder a problemas e avaliar a resposta a problemas” (CERI/OECD, 1973), tornando os alunos
autónomos, interessados e capazes de responder a problemas, sem ter medo do
erro, utilizando o método de tentativa-erro, que vai ao encontro do que diziam
Alencar e Martins acerca das respostas certas:
Muitos sistemas educacionais continuam a enfatizar a reprodução do conhecimento
e a obediência e passividade do aluno (Alencar, 1989) e o ambiente da sala de aula
continua a ser, a maior parte das vezes, pouco favorável ao desenvolvimento da
criatividade. Uma característica do sistema educacional que tem sido observada (…)
é o facto de, desde os primeiros anos de escola, se aprender que para cada problema
ou questão existe apenas uma resposta correta, sendo a dicotomia certo-errado
fortalecida a todo o tempo, aprendendo o aluno que deve dar sempre a resposta
correta e sendo sobre si lançada a pressão culpabilizadora e frustrante de um eventual
erro (Martins, 2000:44).
1.1. Ambiente e facilitadores de aprendizagem
Ao longo de todo o 2º período, as aulas foram decorrendo num ambiente que
Martins descreveria como ideal por possibilitar e estimular a criatividade: “deve
criar-se à volta do educando um ambiente alegre e descontraído, de segurança e
de confiança, de espontaneidade e harmonia” (Martins, 2000:25). Tal foi conseguido pela flexibilidade da planta da sala (permitindo juntar mesas e trabalhar
em grupo), pela atitude do professor de, ao serem postas perguntas, não dar uma
resposta concreta, mas pistas e opções para que o aluno pudesse pensar e decidir
o melhor, seguindo o conselho de ser necessário abandonar “a visão ptolemaica da criatividade, segundo a qual a pessoa está no centro de tudo, e adotar um
modelo coperniciano no qual a pessoa faz parte de um sistema de informação e
de influências mútuas.” (Csikszentmihalyi, 1991) Ou, dito de outro modo: “estudar a criatividade focalizando o indivíduo é como tentar compreender como
uma macieira produz frutos olhando apenas para a árvore e ignorando o sol e o
solo que possibilitam a vida.” (Csikszentmihalyi, 1991). Martins acrescenta: “do
que precisamos, eventualmente, é da oportunidade e dos meios favoráveis para
expressarmos e desenvolvermos essa criatividade”, partindo do princípio de que
“todos somos potencialmente criativos.” (Martins, 2000:26).
Compreendendo o papel fulcral do professor, ainda que sendo desejável uma
atitude discreta e em prol dos alunos, e seguindo a lógica de que o trabalho criativo não resulta apenas da ação individual, o trabalho cooperativo que Slavin defendeu como ferramenta de trabalho preferencial na sala de aula foi seguido pela
193
prova de que “students don’t just do something together — they learn something
as a team.” (Slavin, 2010). Este trabalho colaborativo foi experienciado como algo
natural entre colegas e demonstrado ainda na interação horizontal entre alunos
e professores, o que tornou esta experiência de criação a partir da geometria não
só possível como mais interessante numa lógica cognitiva, social, emocional e de
desenvolvimento de competências cognitivas, flexibilidade e pensamento crítico.
2.1. Primeira fase
Numa primeira fase, os alunos foram desafiados a criar 3 objetos distintos utilizando apenas 5 quadrados com uma medida estipulada pelo professor (Figuras
1, Figura 2 e Figura 3).
Nesta fase inicial, os alunos foram-se espantando com as diferenças entre
os objetos criados por cada um, entendendo a potencialidade de, partindo da
mesma base, obter resultados inteiramente distintos e interessantes por refletirem a maneira de trabalhar, olhar e viver de cada um, i.e. dando contornos
individuais ao que poderia ser um trabalho pouco estimulante no sentido em
que as perguntas “O que é que eu faço?” e “Não posso usar mais nada?” são recorrentes. Jordan Peterson afirma “There’s no reason to be creative unless you
have a problem to solve” (Peterson, 2017). Assim, embora não seja linear para
todos, acredito que a criatividade passa pela resolução de problemas. E vice-versa: “O pensamento criativo é essencial para a resolução de problemas e esta
é necessária para a sobrevivência, para o desenvolvimento da independência
e para a realização de uma vida plena.” (Martins, 2000:9). Munari diz que “a
pessoa que não exercita a criatividade acaba por ser uma pessoa incompleta,
cujo pensamento não consegue defrontar os problemas que se lhe apresentam”, apresentando a teoria de que a criatividade se desenvolve encarando e
tentando resolver problemas.
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 189-198.
2. Trabalho prático
Embora fazendo parte de uma organização vertical dos programas de Educação Visual, vou concentrar-me no trabalho realizado no 9º ano, que fui acompanhando ao longo do segundo período. Na prática, o trabalho desenvolveu-se
inteiramente em sala de aula e no tempo determinado para a aula da disciplina
de EV, ao longo do 2º período (cerca de 48 horas no total, divididos em 2 períodos de uma hora por semana).
Reconhecendo valor no modo faseado de construção da Taxonomia de
Bloom: conhecimento, compreensão, aplicação, análise, síntese e avaliação
(Bloom, 1956), também o projeto de 9º ano foi dividido em 4 fases.
194
Botto, Maria; Ameixa, Celso & Trindade, José Pedro (2019, setembro) “A geometria como
elemento estruturante e promotor da expressão criativa e da produção artística.”
Figura
Figura
Figura
Figura
Figura
1
2
3
4
5
∙ Exercício da primeira fase. Fonte: própria.
∙ Exercício da primeira fase. Fonte: própria.
∙ Exercício da primeira fase. Fonte: própria.
∙ Estrutura modular, segunda fase. Fonte: própria.
∙ Estrutura modular, segunda fase. Fonte: própria.
A fluência diz respeito à ‘capacidade de pensar num grande número de ideias ou
possíveis soluções para um problema’ (Torrance)”; a flexibilidade ‘a capacidade de
pensar em diferentes métodos ou estratégias (Torrance); a originalidade é, também
segundo Torrance, ‘a capacidade de pensar em possibilidades únicas ou não usuais.”
(Martins, 2000:16)
2.2. Segunda fase
Na segunda fase do trabalho, seguindo o esquema de complexificação, a partir do
desenho rigoroso de um hexágono, os alunos escolhiam três figuras geométricas
com dimensões estipuladas. Usando as figuras como módulo, usavam as mesmas
três vezes, ficando com um total de nove figuras (3x3). A partir dessas, e utilizando obrigatoriamente a técnica de dobragem, paus de espetada como elemento
estruturador e colagem com balsa, criaram um objeto tridimensional (Figura 4 e
Figura 5), compreendendo o conceito de módulo e de estrutura modular.
Alguns alunos fizeram esta fase pensando já conceptualmente, embora não
fosse pedido, fazendo objetos com um referencial concreto, como um peixe,
uma casa na árvore ou um barco.
Durante uma das últimas aulas dedicadas à 2ª etapa do trabalho, o professor
chamou à parte os alunos que estavam mais adiantados na conclusão do trabalho e, em conjunto, determinaram e deram os contornos finais ao que esperavam para uma terceira fase. A flexibilidade do professor em relação ao problema trouxe aos alunos uma grande motivação na conclusão do projeto. Sempre
acompanhados e resolvendo questões em conjunto, chegaram a uma proposta
final e concreta: desejavam aumentar a escala, poder mudar de materiais e que
houvesse uma dificuldade acrescida de alguma maneira.
2.3. Terceira fase
O professor acabou por determinar que a terceira fase consistiria em reproduzir
uma parte da estrutura modular aumentando a escala 3x, e introduzindo ainda
a cor e a transparência na construção, com folhas de acetato ou de acrílico fino
(Figura 6 e Figura 7)
Queria, neste ponto, destacar o caso de uma aluna do 9º ano. Mariana
195
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 189-198.
Torrance e Alencar vão mais longe, estabelecendo uma “ligação muito íntima entre criatividade e algumas capacidades mentais que consideram serem
responsáveis, entre outras, pelo processo criativo” (Martins, 2000:16). Estas
são: a flexibilidade, a fluência e a originalidade. Torrance explica ainda que,
através destas três capacidades mentais, é possível medir a criatividade de alguém, por serem as responsáveis pelo processo criativo.
196
Botto, Maria; Ameixa, Celso & Trindade, José Pedro (2019, setembro) “A geometria como
elemento estruturante e promotor da expressão criativa e da produção artística.”
Figura
Figura
Figura
Figura
Figura
6 ∙ Terceira fase do trabalho. Fonte: própria.
7 ∙ Terceira fase do trabalho. Fonte: própria.
8 ∙ Proposta paralela — trabalho colaborativo. Fonte: própria.
9 ∙ Proposta paralela. Fonte: própria.
10 ∙ Interação com o lugar-escola. Fonte: própria.
2.4. Quarta fase
A quarta fase pretendeu desenvolver ativa e propositadamente o trabalho cooperativo e colaborativo. Depois de todos terem terminado a terceira fase, criou-se um só objeto com todos os trabalhos da turma.
Como descrevi há pouco, a segunda fase iniciou-se com figuras com medidas estipuladas pelo professor; por ter havido esta base igual para todos e um
aumento de escala também definido (3x maior), todas as peças encaixavam —
tinham a mesma medida — tornando-se assim um desafio mais plausível de ser
realizado, e com uma maior facilidade a nível de equilibração e montagem.
A construção conjunta do objeto foi feita num dos primeiros dias de aulas
do 3º terceiro período, como processo para reavivar conteúdos que depois estariam ligados ao exercício seguinte. O trabalho ficou exposto na entrada da escola para que toda a comunidade escolar pudesse ver o resultado.
Conclusão
Este projeto permitiu confirmar as expetativas iniciais de que a criatividade é
condicionada pela ação do professor e possibilitada pelo ambiente flexível e
aberto criado em sala de aula. De facto, cabe ao professor orientar a aprendizagem para a resolução de problemas mediante o estímulo à criação de respostas diferentes e dando espaço à individualidade; cabe-lhe também promover
condições para um verdadeiro trabalho colaborativo e cooperativo, em que os
alunos são convidados a co-construirem um objeto único com os trabalhos feitos por todos.
Além disso, o foco não deve ser criar artistas, mas dar condições para que os
alunos possam explorar o mundo material e ter uma experiência estética.
A geometria, neste sentido, ganha uma nova importância, pelo seu caráter à
partida definido. Mas é por isso mesmo que se consegue criar desafios interessantes ao nível da criatividade.
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Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 189-198.
(nome fictício) criou um objeto que atraiu muitos olhares atentos e curiosos.
Muitos diziam que aquele objeto lhes fazia lembrar “uma escavadora”, ou diziam: “parece um guarda-sol” e “está fixe”. O próprio professor, pondo em prática a flexibilidade curricular e pessoal aliada à autonomia do aluno, ao vê-la
entusiasmada e a recuperar a confiança no seu trabalho, sugeriu-lhe um projeto alternativo: aumentar em vez de 3, 10 vezes o tamanho do objeto e fazê-lo
em polipropileno alveolar, que daria estabilidade para que fosse possível ficar
exposto no recreio da escola, interagindo com a flora do local, por apropriação
com a forma semelhante a um cato (Figura 8, Figura 9 e Figura 10).
198
Botto, Maria; Ameixa, Celso & Trindade, José Pedro (2019, setembro) “A geometria como elemento estruturante e promotor da
expressão criativa e da produção artística.” Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 189-198.
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161-178
Aesthetic Education and Aesthetic Teaching:
crossings and distances
CARLOS VALENTE*
Artigo completo submetido a 5 de maio de 2019 e aprovado a 15 de maio de 2019
*Portugal, Docente do ensino universitário e artista visual.
AFILIAÇÃO: Universidade da Madeira, Faculdade de Artes e Humanidades, Departamento de Arte e Design. Praça do Município, 17 9000-082 Funchal Portugal. E-mail: cvalente@staff.uma.pt
Resumo: Esta comunicação pretende con-
Abstract: This paper intends to confront aesthetic
frontar a educação estética, enquanto conceito difuso e integrado no ensino artístico, com
o ensino mais específico da estética, enquanto
área pedagógica autónoma. Esta problemática impulsiona o necessário mapeamento da
formação superior nesta área, que é objeto da
nossa investigação, e a qual pretende conhecer a realidade fenomenológica das disciplinas de estética, e afins, em Portugal.
Palavras chave: Estética / Ensino Superior /
Portugal.
education, as an imprecise concept joined in artistic education, with the more specific teaching
of aesthetics as an autonomous pedagogical field.
This question motivates the necessary mapping of
higher education in this area, which is the subject
of our research, and which seeks to recognize the
phenomenological reality of aesthetic courses in
Portugal.
Keywords: Aesthetics / Graduate Education /
Portugal.
199
Valente, Carlos (2019, setembro) “Educação Estética e Ensino da Estética: distâncias e cruzamentos.”
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 199-207.
Educação Estética e Ensino
da Estética: distâncias
e cruzamentos
Valente, Carlos (2019, setembro) “Educação Estética e Ensino da Estética: distâncias e cruzamentos.”
200
Introdução: Dos pressupostos teóricos e metodológicos
A educação estética assume contornos diversos na verticalidade do sistema de
ensino: do básico ao superior, assim como na horizontalidade do saber: de um
ensino mais generalista ao mais especializado. Como podemos, então, conceber a educação estética enquanto área de investigação e ação pedagógica? Conexa com esta, coloca-se mais uma questão: que relação tem a educação estética com a educação artística? Pode parecer à primeira vista uma relação óbvia e
pacífica, mas, se aprofundarmos tanto factos como conceitos, verificamos que
não. Em suma, retomamos aqui a nossa preocupação de base, exposta por nós
em artigos recentes: O que é educar, a fim de contas, sob a égide da “educação
estética”? É educar segundo princípios e valores estéticos predeterminados?
Ou é ter em conta, sobretudo, uma dimensão estética? (Valente, 2019).
Para tentar responder àquelas questões, esta comunicação divide-se em
duas partes: a primeira condensa as problemáticas da educação estética em
Portugal, para traçar um ponto de situação; na segunda parte é apresentado o
estudo de caso, que temos vindo a aplicar, em particular, ao ensino da estética no contexto da formação superior de modo a, num futuro próximo, efetivar
uma triangulação analítica que permita (re)colocar a arte, a estética e o ensino
num patamar dialogante.
1. Primeira parte: Da educação estética e da educação artística
Comecemos por elencar a “dimensão estética”, noção que aqui comparece enquanto adjetivação tanto da prática criadora como da fruição, e indissociável do
contexto da educação artística. Chamamos também, porque diretamente associado, o conceito de “experiência estética”, enquanto práxis, no sentido de uma
aesthesis reflexiva, convocando assim a sensibilidade. Mas estará a dimensão
estética ancorada apenas no sensível? A ponte entre aqueles conceitos faz-se,
evidentemente, com Marcuse (1977) quem, numa clara inspiração nas teorias
freudianas, e posicionando-se criticamente perante as teorias marxistas, defendeu o uso do termo “estética” no seu sentido original e mais primordial, legitimando esta dimensão como “…associação íntima entre prazer, sensualidade,
beleza, verdade, arte e liberdade” (Marcuse,1999:156)
Interessa aqui, pois, descobrir por onde “anda” esta dimensão estética, quer
no ensino básico quer no secundário, na sua condição de dimensão integrada,
ou se quisermos, “diluída” nas disciplinas do foro artístico. Traçando uma muito breve panorâmica, partimos do currículo educativo nacional, atualmente em
vigor em Portugal (Direcção-Geral da Educação, 2018), para delimitar o lugar
da educação artística, e nele, consequentemente, o lugar da estética. Assim,
201
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 199-207.
no primeiro ciclo do ensino básico, a educação artística é considerada um dos
núcleos de aprendizagem essencial, entre outros. Já no segundo e terceiro ciclos encontramos o desdobramento da educação artística em Educação Visual
e Educação Musical. Por sua vez, no ensino secundário, ela surge integrada nos
cursos de artes visuais, uma das grandes áreas em que se divide o currículo nacional. A dimensão estética supõe-se diluída pelos conteúdos destes cursos, em
disciplinas tais como o desenho ou a história da cultura e das artes. Por outro
lado, ainda no ensino secundário, notamos que a disciplina de filosofia contempla a estética, mas, na verdade, é apenas uma opção do docente: pode ser, simplesmente, não abordada.
Feita esta breve revisão, cabe questionar quais as premissas e conhecimentos estéticos que os docentes utilizam, quando desenvolvem uma situação de
ensino-aprendizagem na área artística. Que formação possuem, no campo conceptual da estética? Em suma, como se processa a passagem de um ensino formal da estética (superior) para uma educação estética informal e integrada (ensino básico e secundário)? Esta questão, embora de difícil resposta, interessa-nos sobremaneira. Podemos perscrutar este problema, a montante, na formação dos docentes, já que a ligação entre arte e estética é adquirida quer na licenciatura, quer na subsequente formação pedagógica e didática. Interessa, pois,
refletir acerca da formação que se cruza com as ciências de educação, nicho
teórico do qual emanam os debates, no âmbito da pedagogia das “expressões”.
A produção de saber pedagógico em Portugal, no campo da educação artística, é fundada em diversos paradigmas teóricos. Assim, os estudos abordam o
fenómeno artístico, na generalidade, enquanto lugar da liberdade expressiva,
recorrendo a filósofos, historiadores, sociólogos, psicólogos, e incluindo problemáticas mais recentes como as ligadas à cultura visual, estudos culturais
ou teorias da imagem, entre outras. Neste universo investigativo, e a título de
exemplo, discutem-se conceitos tais como o gosto, a sensibilidade, a perceção,
a imaginação e a criatividade. Curiosamente, o termo “estética” apenas vai surgindo, de quando em quando, utilizado como adjetivo por vezes vago, e quase
nunca sendo diretamente discutido.
Atestamos esta tendência na prospeção a algumas revistas nacionais da especialidade. Destacamos, entre outras: a Revista Portuguesa de Educação Artística, editada desde 2011; a Revista Matéria-Prima, que publica artigos na área da
educação artística desde 2012; e, mais recente, a revista online Convergências
— Revista de Investigação e Ensino das Artes. Por sua vez, e ligados às revistas citadas, um considerável número de encontros, colóquios e congressos têm vindo
a ser promovidos no que vai de século. Salientamos a Conferência Mundial sobre
202
Valente, Carlos (2019, setembro) “Educação Estética e Ensino da Estética: distâncias e cruzamentos.”
Educação Artística, que teve lugar em Lisboa, sob os auspícios da UNESCO, no
ano de 2006. Na esteira deste evento, foi realizada no ano seguinte a Conferência Nacional de Educação Artística, que decorreu no Porto. Na sequência destas
iniciativas de grande escala, e com os pressupostos acima debatidos, é de referir a recente criação e implementação do Programa de Educação Estética e Artística em contexto escolar (PEEA). Este programa pretende atuar nos diversos domínios e linguagens artísticas e apresenta tópicos que importa associar ao que
procuramos: a referência a uma educação estética. Contudo, verificamos que a
palavra “estética” aparece apenas uma vez, no corpo do texto deste programa.
Ainda neste contexto, alguns investigadores têm vindo a estudar a evolução histórica do ensino artístico em Portugal, nos quais encontramos também
a adjetivação estética. Lembremos, entre outros, os trabalhos de João Pedro
Fróis (2005), Teresa Torres de Eça (2008), Catarina Martins e Helena Cabeleira (2018). Desta última destacamos a sua conceção e sistematização crítica da
educação artística “…como um campo — com os seus especialistas, instituições,
políticas e especificidades” (Cabeleira, 2018: 238) cobrindo o fenómeno, historicamente, dos anos 70 do século passado até hoje.
Posto isto, efetuámos uma revisão sincrética das publicações e dos eventos
mencionados e, tendo auscultado a presença do termo “estética” nós mesmos,
podemos inferir que o uso do mesmo assenta, na grande maioria, numa ideia
difusa de pragmatismo estético, provindo do contexto norte-americano, onde
se destacam as influências de John Dewey, Michael Parsons e Maxine Greene,
entre outros. A experiência estética deweiniana recai na conceção de um ensino artístico que integraria a vida quotidiana, e que brotaria naturalmente da
relação do sujeito com o meio envolvente. Sob a perspetiva da psicologia cognitivista, M. Parsons coloca em primeiro lugar a interpretação do espectador,
dando importância à narrativa individual, aberta e divergente. Menos referida,
Maxine Greene, alinha-se conceptualmente com Parsons e aborda diretamente
a necessidade de uma “educação estética”. A autora defende a formação dos
docentes no âmbito específico da estética, enquanto filosofia da arte.
É, pois, neste âmbito concreto, da formação superior e da necessidade da
estética como área explícita e autónoma, que passamos à segunda parte.
2. Segunda parte: Da Estética no ensino superior
A nossa investigação de pós-doutoramento, que tem por objetivo mapear o lugar da estética na formação superior, a nível nacional, revelou à partida uma
quase-ausência de reflexão no país acerca do nosso objeto de estudo. Porém, é
de conhecimento geral que, no ensino superior português, a estética “subsiste”
203
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 199-207.
hoje enquanto disciplina autónoma, apesar da sua evidente redução nos planos
de estudo, em número de horas e de disciplinas, ao longo das últimas décadas,
por razões várias.
Quando autónoma, a disciplina de estética continua fiel à base filosófica
que lhe está na origem e está presente em licenciaturas tais como as de filosofia, artes plásticas, design, literatura, teatro, cinema, e música, entre outras.
Enquanto disciplina introdutória, nos cursos de pendor artístico, a estética fornece a base histórica e os conceitos estéticos, assumindo por vezes a via da especialização, de acordo com o curso onde é lecionada, tornando-se assim uma
estética do cinema, visual, literária, musical, etc. Em particular, notamos nas
licenciaturas de filosofia uma fraca presença da estética, senão nula, enquanto
disciplina independente e obrigatória, aparecendo sobretudo como disciplina
optativa. Esta situação também se verifica nos programas de filosofia do ensino
secundário, que deixam, de facto, pouco espaço de desenvolvimento para os
conceitos estéticos, como referia Castel-Branco (1999), por terem também um
estatuto opcional, e que conservam até hoje.
Inserida que está no grupo de disciplinas humanísticas, a estética padece
também do que alguns apelidam de “crise” das humanidades, sendo verificável o seu desaparecimento em algumas licenciaturas, onde outrora era lecionada. As escolas e faculdades de Belas Artes, como a de Lisboa, têm debatido
esta problemática. Uma plausível explicação para esta situação é dada por João
Paulo Queiroz, quando refere que “… a ênfase no ensino profissional e tecnológico tem vindo a ganhar terreno numa lógica de empregabilidade ligada às
ciências quantificáveis em detrimento das humanidades” (Queiroz, 2018:20).
Por sua vez, Margarida Calado, responsável cessante pelo Mestrado em Ensino, naquela instituição, salienta que “… a formação humanística é fundamental
para aqueles que pretendem ser artistas, como para aqueles que pretendem ser
professores” (Calado, 2017:20). Porém, não se trata de uma situação exclusiva
do ensino superior, pois estende-se ao básico e secundário, na opinião de Cristina A. Tavares: “Nos últimos tempos temos assistido a uma subalternização das
disciplinas das áreas das Humanidades e das Artes dos currículos obrigatórios”
(Tavares, 2017:117).
A formação superior dos docentes das artes visuais passa necessariamente, no entender de muitos e em boa-hora, por uma sólida componente teórica:
“Aqueles que se preparam para o ensino terão, de uma outra forma, de possuir
todos esses conhecimentos: desenho, geometria, história da arte e estética, são
quatro pilares fundamentais para a formação de professores” (Calado, 2017:21).
De entre estas grandes áreas, apuramos que a estética ocupa um lugar funda-
204
Valente, Carlos (2019, setembro) “Educação Estética e Ensino da Estética: distâncias e cruzamentos.”
mental, enquanto pilar estruturante do indíviduo: “Os contributos da estética
permitem um aprofundamento da reflexão acerca do posicionamento do “eu”
no mundo […] abordando as questões essenciais da experiência estética, assim
como da compreensão do fenómeno artístico” (Tavares, 2017:121).
Por estas razões, e com o objetivo de compreender em que estado se encontra hoje esta área do saber, em Portugal, o nosso trabalho incidiu, numa primeira fase, na recolha e tratamento de dados disponíveis acerca dos programas
de estética, ou de disciplinas afins, no todo nacional. Para tal, delimitamos o
campo de estudo às licenciaturas e mestrados em vigor no ano letivo 2017-18,
quer do ensino politécnico quer universitário, e tanto do sector privado como
do público. O método quantitativo e a consequente análise estatística permitiram a criação de diversos quadros de análise e comparação, cuja abordagem
interpretativa está ainda em curso. Foram analisados, entre outros, os seguintes parâmetros: a denominação que a disciplina assume; a área científica a que
é adstrita; a posição da disciplina no plano de estudos; o facto de a disciplina ter
continuidade ou não; quais os docentes responsáveis e os seus respetivos currículos (formação e publicações).
Foram identificadas, e tratadas, 119 disciplinas. Este total distribui-se do
seguinte modo: 88 disciplinas no ensino universitário e 31 disciplinas no ensino politécnico. No ensino universitário, onde encontramos o maior número de
ocorrências, podemos desdobrar as disciplinas por níveis e estatuto: 71 disciplinas de licenciatura (42 no ensino público e 29 disciplinas no ensino privado) e 17
de Mestrado (13 no ensino público e 4 no ensino privado). No quadro 1, podemos
notar a grande dispersão de denominações, cursos e áreas científicas adstritas a
esta disciplina. Constata-se, grosso modo, que a estética está maioritariamente
presente nos cursos de filosofia, embora muitas vezes como disciplina de opção, mas também e sobretudo nos cursos de artes visuais e design. Comprovamos a existência, em grande número, de uma estética “aplicada”, em cursos
tais como os de música, teatro, cinema e arquitetura.
No que diz respeito aos programas analisados (correspondentes a 70% do
total das disciplinas em funcionamento; o restante 30% das disciplinas constantes nos planos de estudo, não disponibiliza o programa online), foram tratados dados tais como: objetivos, conteúdos, metodologia usada e bibliografia
recomendada. No total, foram analisados até ao momento 55 programas, dos
quais 49 provêm do ensino universitário (36 de licenciatura, 13 de mestrado) e 6
do ensino politécnico (Quadro I).
Porque não cabe aqui apresentar todos os quadros que até o momento já
foram elaborados, expomos apenas, a título de exemplo, os resultados obtidos
no domínio das recomendações bibliográficas. Sabemos, de antemão, que as
listas oficiais de bibliografia são limitadas a um número máximo, imposto pelas regras de elaboração das fichas de disciplina, o que exclui outras obras que
são eventualmente abordadas nas aulas, mas que não constam explicitamente
do programa. Contudo, partimos do princípio de que o docente, ao destacar as
obras constantes nas listas, está a privilegiar (oficial e publicamente) esses mesmos autores/obras.
No total, foram identificadas e tratadas estatisticamente 407 referências bibliográficas correspondentes a 55 programas de disciplinas do ensino superior,
em cujo título consta a palavra “estética” assim como outras disciplinas afins
(como filosofia da arte, por exemplo). Este universo congrega 260 diferentes
autores (e 327 obras), divididos por nós deste modo: 101 autores foram referenciados duas ou mais vezes e 159 foram referenciados apenas uma vez. Verificamos, pois, que é superior o número de autores referenciados apenas uma vez,
o que nos dá claras indicações da diversidade de visões e opções teóricas dos
docentes responsáveis. Esta diversidade pode, para já, ser lida positivamente
como liberdade e pluralidade de escolhas ou, negativamente, como dispersão e
incoerência no padrão formativo.
Relativamente aos autores referenciados mais do que uma vez, foi possível
identificar os dez mais recomendados (por número de programas em que cons-
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 199-207.
205
Quadro I
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Valente, Carlos (2019, setembro) “Educação Estética e Ensino da Estética: distâncias e cruzamentos.”
tam, independentemente de os programas pertencerem, ou não, ao mesmo
curso ou universidade). O autor referenciado num maior número de programas
(27) é Kant, seguido de Platão, referenciado em 24, e de Mikel Dufrenne, em
11. Referidos em 10 programas diferentes encontram-se Theodor Adorno, Raymond Bayer, Gilles Deleuze e Umberto Eco. Foi também analisada a ocorrência
de um dado autor no maior número de universidades ou institutos, permitindo
deste modo verificar quais os autores mais generalizados e “consensuais” no
todo nacional em análise. Por fim, foram contabilizadas as diferentes obras de
um mesmo autor, tendo-se obtido que Deleuze, Platão e Danto lideram a estatística com, pelo menos, mais de 5 obras referenciadas. O quadro 2, dá conta
dos autores que se encontram no topo da lista, faltando nesta amostra mais de
200 autores que aparecem referenciados menos de 6 ou 3 vezes, conforme o
parâmetro (Quadro II).
Quadro II
Do que ainda está por concluir
No que diz respeito ao nosso estudo, estão programadas entrevistas com alguns
dos docentes responsáveis por estas disciplinas (algumas já foram realizadas)
para além da necessária consulta aos programas em falta, não disponíveis online, e obtidos diretamente através do contacto com as instituições, o que se tem
afigurado algo moroso. A ulterior aplicação do método qualitativo, de carácter
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207
Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756 e-ISSN 2182-9829. Vol. 7 (3): 199-207.
hermenêutico, permitirá destacar diferenças, pontos de contacto e intersecções entre os diversos programas em análise. Em última instância, será pertinente cotejar os resultados obtidos com estudos semelhantes realizados no
estrangeiro, e sobre os quais já possuímos alguma recolha.
Em jeito conclusivo, podemos afirmar que o cruzamento necessário entre
educação estética, num sentido amplo, e o ensino superior da estética, mais específico, poder-se-á fazer clarificando, em primeiro lugar, a atual situação da
estética. No nosso entender, este estudo, ainda longe de estar concluído, permitirá traçar o mapa das tendências, potencialidades, lacunas e dificuldades da
estética em Portugal, contribuindo assim para um conhecimento que se quer
partilhado. O objetivo final é o de juntar esforços, estudos e pessoas à volta de
uma área indispensável, polémica e assaz interessante, como o é a estética.
Mais ao longe, vislumbramos a possibilidade de um efetivo exercício de
triangulação desta análise com o conceito de educação, em geral, e de arte, em
particular. Tal poderá ser feito através de encontros ou seminários que debatam
as distâncias e cruzamentos que todos intuem, mas que poucas vezes se discutem. Só assim poderemos entender que tipo de relações existem/subsistem
entre o ensino superior da estética e a “educação estética” enquanto conceito
vago e difuso, ainda hoje.
208
209
3. Desafios da matéria-prima
The challenge of the raw material
210
Ética da revista
Matéria-Prima, Práticas Artísticas no Ensino Básico e Secundário — Ética da revista
Journal ethics
Ética da publicação e declaração de boas práticas
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sobre um manuscrito a mais ninguém para além do autor, par académico, ou outros membros
editoriais. Um editor não pode usar informação não publicada na sua própria pesquisa sem
o consentimento expresso do autor. Os editores devem tomar medidas razoáveis quando são
apresentadas queixas respeitantes a um manuscrito ou artigo publicado.
A opinião do autor é da sua responsabilidade.
211
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Matéria-Prima, Práticas Artísticas no Ensino Básico e Secundário — Ética da revista
Pares académicos
A revisão por pares académicos auxilia de modo determinante a decisão editorial e as
comunicações com o autor durante o processo editorial no sentido da melhoria do artigo.
Todos os manuscritos recebidos são tratados confidencialmente. Informação privilegiada ou
ideias obtidas através da revisão de pares não devem ser usadas para benefício pessoal e
ser mantidas confidenciais. Os materiais não publicados presentes num manuscrito submetido
não podem ser usados pelo par revisor sem o consentimento expresso do autor. Não é admissível a crítica personalizada ao autor. As revisões devem ser conduzidas objetivamente,
e as observações apresentadas com clareza e com argumentação de apoio. Quando um
par académico se sente sem qualificações para rever a pesquisa apresentada, ou sabe que
não consegue fazê-lo com prontidão, deve pedir escusa ao editor. Os pares académicos não
deverão avaliar manuscritos nos quais possuam conflito de interesse em resultado de relações
de competição, colaboração, ou outras relações ou ligações com qualquer dos autores, ou empresas ou instituições relacionadas com o artigo. As identidades dos revisores são protegidas
pelo procedimento de arbitragem duplamente cego.
212
Instruções aos autores
Matéria-Prima, Práticas Artísticas no Ensino Básico e Secundário — Instruções aos autores
Instructions to authors
Revisão por pares duplamente cega
Os procedimentos de seleção e revisão dos artigos decorrem segundo o modelo de arbitragem duplamente cega por pares académicos (double blind peer review), onde se observa,
adicionalmente, uma salvaguarda geográfica: os artigos são avaliados somente por pares
externos à sua afiliação. Cada artigo é apreciado por pelo menos dois pares académicos.
Âmbito dos originais
Tema geral: ensino das artes no ensino básico e secundário, perspetivas e exemplos do
terreno. A revista Matéria-Prima recebe submissões de artigos originais segundo o tema de
orientação geral da revista. A revista procura colaborações entre professores e investigadores
em ensino das artes visuais, com focagem no ensino das artes visuais ao nível pré-universitário.
A revista lança o desafio de partilhar perspetivas inovadoras de desenvolvimento curricular
com focagem nos seus resultados concretos. A Revista Matéria-Prima pretende criar um espaço internacional de partilha e de experiência no terreno, com apresentação de resultados
desenvolvidos em unidades de trabalho específicas, bem como pesquisas sobre o sucesso,
avaliação, e adequação de práticas e da gestão curricular. Trata-se de cruzar olhares entre os
profissionais experimentados e os investigadores em práticas pedagógicas, desenvolvimento
curricular e experiências educativas.As contribuições para a Revista Matéria-Prima assumem a
forma de artigos segundo os seguintes requisitos:
1.
2.
3.
4.
5.
6.
Todos os artigos são originais.
Os artigos seguem a orientação temática da Revista.
Os artigos observam o manual de estilo da Revista e não excedem a extensão máxima
ou mínima estipulada.
Os autores dos artigos contribuem parcialmente nas despesas de publicação da Revista.
Os artigos são submetidos, na fase de sinopse e na fase completa, a um processo de
revisão e arbitragem científica pelos pares académicos da Revista, cabendo ao Editor a
decisão final de aprovação para publicação.
A responsabilidade sobre a reprodução nas figuras pertence aos autores de cada artigo.
Arbitragem
Os originais serão submetidos a um processo editorial que se desenrola em duas fases, a
fase de resumo provisório e a fase de artigo completo. Na primeira fase, fase de resumos, os
resumos submetidos são objeto de uma avaliação preliminar por parte do Diretor e/ou Editor,
que avalia a sua conformidade formal e temática. Uma vez verificados os requisitos formais
e temáticos indicados acima, será enviado a dois, ou mais, pares académicos que integram
o Conselho Editorial internacional, e que determinam de forma anónima: a) aprovado b) não
Forma e preparação de manuscritos
Os manuscritos são enviados à Revista Matéria-Prima segundo duas fases de aprovação,
fase de resumo provisório e fase de texto completo.
Primeira fase: envio de resumos provisórios
Para submeter um resumo preliminar do seu artigo à Matéria-Prima envie um e-mail para
congressomateriaprima@fba.ul.pt, com dois anexos distintos em formato Word for Windows,
e assinalando o número da revista em que pretende publicar. Um dos anexos contém o texto referente ao artigo anónimo, com título. O outro dos anexos contém os dados pessoais
e o título do artigo a que corresponde. Estes procedimentos em arquivos diferentes visam
viabilizar a revisão científica cega (blind peer review). Ambos os anexos têm o mesmo
nome (uma palavra qualquer do título do artigo) com uma declinação em “_a” e em “_b”.
Por exemplo:
· o arquivo “palavra_preliminar_a.docx” contém o título do artigo e os dados do autor.
· o arquivo “palavra_preliminar_b.docx” contém título do artigo e um resumo.
· o resumo não deverá conter qualquer menção ao autor, direta ou deduzível (eliminá-la também das propriedades do ficheiro). Não pode haver auto-citação na fase de
submissão.
Segunda fase: envio de artigos completos, após aprovação do resumo provisório
Após a superação da fase de resumos provisórios o artigo completo é enviado em tempo, na
forma de arquivo, contendo todo o artigo (com o seu título), mas sem qualquer menção ao autor,
direta ou deduzível (eliminá-la também das propriedades do ficheiro). Também não pode haver
auto-citação na segunda fase de submissão. O arquivo deve ter o mesmo nome do anteriormente enviado, acrescentando a expressão “completo” (exemplo: “palavra_completo_b.docx”).
As figuras que o artigo inclui são também enviadas em separado, em arquivos “jpg” nomeados por exemplo “palavra_completo_fig_01.jpg,” “palavra_completo_fig_02.jpg,” etc. A resolução destes arquivos deverá ser compatível com a impressão, ou seja, deverá ter no mínimo
800 pixel do lado menor (sendo 800 um valor mínimo: é preferível maior).
Artigos Originais
Os artigos propostos deverão ser originais, comprometendo-se os autores a não os candidatarem em simultâneo a outra publicação, nem os republicarem sem autorização desta
revista. Os artigos completos são acompanhados de declaração de originalidade e não publicação em outro local.
213
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Matéria-Prima, Práticas Artísticas no Ensino Básico e Secundário — Instruções aos autores
aprovado. Na segunda fase, uma vez obtida a aprovação preliminar, o autor do artigo submete, em tempo, a versão completa do artigo, observando o manual de estilo (“meta-artigo”).
Esta versão do original será enviada a dois ou mais pares académicos, que integram o conselho editorial internacional, e que determinam de forma anónima: a) aprovado b) aprovado
mediante alterações c) não aprovado. Os procedimentos de seleção e revisão decorrem assim
segundo o modelo de arbitragem duplamente cega por pares académicos (double blind peer
review), onde se observa, adicionalmente, em ambas as fases descritas, uma salvaguarda
geográfica: os autores serão avaliados somente por pares alheios à sua afiliação.Antes da
publicação os autores cumpriram com a declaração de originalidade e cedência de direitos,
bem como comparticiparam nos custos de publicação.
Os artigos são sempre revistos pelo Editor, no sentido de homogeneizar a sua expressão e
cumprir os requisitos de estilo.
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Matéria-Prima, Práticas Artísticas no Ensino Básico e Secundário — Instruções aos autores
Extensão da sinopse e do artigo final
A sinopse provisória (primeira fase de submissão) pode ter um máximo de 2.000 caracteres ou 300 palavras, sem apresentar nome do autor. Deverá incluir título, e caso se refira a
uma intervenção prática, uma ou duas figuras, devidamente legendadas. O artigo completo
(segunda fase de submissão) pode ter um máximo 12.000 caracteres (incluindo espaços) no
corpo do texto excluindo resumos, legendas e referências bibliográficas. Poderá incluir as
Figuras ou Quadros que forem julgados oportunos (máximo de dez) devidamente legendados.
Normas de formatação do artigo original
Os textos devem ser formatados em letra Times New Roman a espaço e meio, tamanho
12 (com exceção dos Resumos, Palavras chave, legendas de Figuras, blocos de texto citados
e Bibliografia, que serão a compostos a um espaço e tamanho 11). Devem ser enviados por
e-mail (congressomateriaprima@fba.ul.pt) com o ficheiro de texto em Word (*.doc ou *.docx).
Não pode apresentar notas de rodapé ou finais.
Manual de estilo
O “Título” deve ser descritivo e com um máximo de 150 caracteres (incluindo espaços), e
traduzido também para inglês. Segue-se-lhe a menção “artigo submetido a dia-mês-ano” (data
de submissão do artigo completo). Segue-se-lhe o “Resumo” com um máximo de 650 caracteres, a que se seguem três a cinco “palavras chave.” Segue-se-lhe a tradução do resumo e das
palavras chave para inglês (“Abstract” e “Keywords”). Segue-se-lhe o corpo do artigo, que é
composto por uma parte de “Introdução” (com este ou outro título), por uma parte de desenvolvimento (composta por uma ou mais divisões com títulos numerados e começando em “1” e com
eventuais subsecções até ao segundo nível, como por exemplo “1.1” etc.). O artigo encerra
com a “Conclusão”, que a exemplo da “Introdução” não é uma secção numerada. No final
apresenta-se o capítulo “Referências” que apenas inclui as referências bibliográficas citadas ao
longo do texto (e apenas essas). Citações: as transcrições menores que duas linhas abrem e encerram com aspas verticais. As transcrições mais extensas são destacadas num bloco (tamanho
11 e entrelinha 1) e em itálico, sem aspas. Referências: as referências bibliográficas das obras
citadas devem obedecer às seguintes orientações:
· Livro: Apelido, Nome Próprio (ano) Título do Livro: Subtítulo. Local de edição: Editora.
ISBN.
· Artigo em publicação periódica: Apelido, Nome Próprio (ano), “Título do artigo”, Nome
da Revista. ISSN. Volume (número), páginas.
· Textos em coletâneas: Apelido, Nome Próprio (ano), “Título do texto: subtítulo.” In Nome
Próprio e Apelido (org.), Título da Coletânea: Subtítulo. Local de edição: Editora,
páginas. ISBN.
Os vocábulos noutras línguas são formatados em itálico. Não são utilizados negritos,
exceto nos títulos. Os elementos extra textuais nos artigos são apenas “Quadros” ou “Figuras” e são inseridos no texto submetido com as legendas respetivas. Os Quadros ou Figuras devem ser referidos no correr do texto (ex. “Figura 1”), e identificados com numeração
árabe contínua para cada um destes tipos de elementos. As “Figuras” apresentam legenda
numerada, por baixo, com identificação de autor, título, data, local, dimensões e menção
da sua origem (Fonte própria, ou referida). Os Quadros são legendados por cima, com descrição simples do que apresentam e menção da sua origem (Fonte própria, ou referida).
Cada artigo não deve ultrapassar o total de 3 Quadros e 10 Figuras.
Declaração de originalidade
A Revista Matéria-Prima requere aos autores que a cedência dos seus direitos de autor
para que os seus artigos sejam reproduzidos, publicados, editados, comunicados e transmitidos
publicamente em qualquer forma ou meio, assim como a sua distribuição no número de exemplares que se definirem e a sua comunicação pública, em cada uma das suas modalidades,
incluindo a sua disponibilização por meio eletrónico, ótico, ou qualquer outra tecnologia, para
fins exclusivamente científicos e culturais e sem fins lucrativos. A publicação do artigo é feita mediante aceitação da cedência de direitos e respetiva declaração de originalidade (ver abaixo).
Modelo de declaração de originalidade e cedência de direitos do trabalho escrito
Declaro que o trabalho intitulado:
que apresento à revista Matéria-Prima, não foi publicado previamente em nenhuma das suas
versões, e comprometo-me a não submetê-lo a outra publicação enquanto está a ser apreciado
pela Matéria-Prima, nem posteriormente no caso da sua aceitação. Declaro que o artigo é
original e que os seus conteúdos são o resultado da minha contribuição intelectual. Todas as
referências a materiais ou dados já publicados estão devidamente identificados e incluídos nas
referências bibliográficas e nas citações e, nos casos que os requeiram, conto com as devidas
autorizações de quem possui os direitos patrimoniais. Declaro que os materiais estão livres de
direitos de autor e faço-me responsável por qualquer litígio ou reclamação sobre direitos de
propriedade intelectual.
No caso de o artigo ser aprovado para publicação, autorizo de maneira ilimitada e no
tempo para que a Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa inclua o referido artigo
na revista Matéria-Prima e o edite, distribua, exiba e o comunique no país e no estrangeiro, por
meios impressos, eletrónicos, CD, internet, ou em repositórios digitais de artigos.
Nome
Assinatura
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Matéria-Prima, Práticas Artísticas no Ensino Básico e Secundário — Instruções aos autores
Procedimentos para publicação após aprovação
Custos de publicação: A publicação por artigo na Matéria-Prima pressupõe, após aprovação, uma comparticipação de cada autor nos custos associados. A cada autor são enviados
dois exemplares da revista.
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Meta-artigo auto exemplificativo
Self explaining meta-paper
Matéria-Prima, Práticas Artísticas no Ensino Básico e Secundário — Manual de estilo
Artigo completo submetido a [dia] de [mês] de [ano]
Resumo:
O resumo apresenta um sumário conciso do tema, do contexto, do objetivo,
da abordagem (metodologia), dos resultados, e das conclusões, não excedendo 6 linhas: assim o objetivo deste artigo é auxiliar os criadores e autores de
submissões no contexto da comunicação académica. Para isso apresenta-se
uma sequência sistemática de sugestões de composição textual. Como resultado exemplifica-se este artigo auto-explicativo. Conclui-se refletindo sobre
as vantagens da comunicação entre artistas em plataformas de disseminação.
Palavras-chave: meta-artigo, conferência, normas de citação.
Abstract:
The abstract presents a concise summary of the topic, the context, the objective, the approach (methodology), results, and conclusions, not exceeding
6 lines: so the goal of this article is to assist the creators and authors of
submissions in the context of scholarly communication. It presents a systematic sequence of suggestions of textual composition. As a result this article
exemplifies itself in a self-explanatory way. We conclude by reflecting on the
advantages of communication between artists on dissemination platforms.
Keywords: meta-paper, conference, referencing.
Introdução
De modo a conseguir-se reunir, no Congresso Internacional
Matéria-Prima, um conjunto consistente de comunicações com a qualidade desejada, e também para facilitar o tratamento na preparação
das edições, solicita-se aos autores que seja seguida a formatação do
artigo tal como este documento foi composto. O modo mais fácil de
o fazer é aproveitar este mesmo ficheiro e substituir o seu conteúdo.
Nesta secção de introdução apresenta-se o tema e o propósito
do artigo em termos claros e sucintos. No que respeita ao tema, ele
compreenderá, segundo a proposta da revista, a visita à(s) obra(s) de
um criador — e é este o local para uma apresentação muito breve dos
217
217
dados pessoais desse criador, tais como datas e locais (nascimento,
graduação) e um ou dois pontos relevantes da atividade profissional.
Não se trata de uma biografia, apenas uma curta apresentação de
enquadramento redigida com muita brevidade.
Nesta secção pode também enunciar-se a estrutura ou a metodologia de abordagem que se vai seguir no desenvolvimento.
[este é o título do primeiro capítulo do corpo do artigo; caso existam subcapítulos deverão ser numerados, por exemplo 1.1 ou 1.1.1 sem ponto no final da sua sequência]
Utiliza-se a fonte “Times New Roman” do Word para Windows (apenas “Times” se estiver a converter do Mac, não usar a “Times New Roman” do Mac). O espaçamento normal é de 1,5 exceto
na zona dos resumos, ao início, blocos citados e na zona das referências bibliográficas, onde passa a um espaço. Todos os parágrafos
têm espaçamento zero, antes e depois. Não se usa auto-texto exceto
na numeração das páginas (à direita em baixo). As aspas, do tipo
vertical, terminam após os sinais de pontuação, como por exemplo
“fecho de aspas duplas.”
Para que o processo de arbitragem (peer review) seja do tipo
double-blind, eliminar deste ficheiro qualquer referência ao autor,
inclusive das propriedades do ficheiro. Não fazer auto referências
nesta fase da submissão.
2. Citações
A revista não permite o uso de notas de rodapé, ou pé de página. Observam-se como normas de citação as do sistema ‘autor, data,’
ou ‘Harvard,’ sem o uso de notas de rodapé. Recordam-se alguns
tipos de citações:
— Citação curta, incluída no correr do texto (com aspas verticais simples, se for muito curta, duplas se for maior que
três ou quatro palavras);
— Citação longa, em bloco destacado.
— Citação conceptual (não há importação de texto ipsis verbis, e pode referir-se ao texto exterior de modo localizado ou em termos gerais).
Matéria-Prima, Práticas Artísticas no Ensino Básico e Secundário — Manual de estilo
1. Modelo da página
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Matéria-Prima, Práticas Artísticas no Ensino Básico e Secundário — Manual de estilo
Como exemplo da citação curta (menos de duas linhas) recorda-se que ‘quanto mais se restringe o campo, melhor se trabalha e
com maior segurança’ (Eco, 2004: 39).
Como exemplo da citação longa, em bloco destacado, apontam-se os perigos de uma abordagem menos focada, referidos a propósito da escolha de um tema de tese:
Se ele [o autor] se interessa por literatura, o seu primeiro impulso é fazer
uma tese do género A Literatura Hoje, tendo de restringir o tema, quererá
escolher A literatura italiana desde o pós-guerra até aos anos 60. Estas
teses são perigosíssimas (Eco, 2004: 35).
[Itálico, Times 11, um espaço, alinhamento ajustado (ou ‘justificado,’ referência ‘autor, data’
no final fora da zona itálico]
Como exemplo da citação conceptual localizada exemplifica-se apontando que a escolha do assunto de um trabalho académico
tem algumas regras recomendáveis (Eco, 2004: 33).
Como exemplo de uma citação conceptual geral aponta-se a metodologia global quanto à redação de trabalhos académicos (Eco, 2004).
Os textos dos artigos não podem conter anotações em rodapé.
Sugere-se a consulta de atas dos congressos Matéria-Prima anteriores (Queiroz, 2013) ou de alguns dos artigos publicados na Revista Matéria-Prima (Zanini & Schvambach, 2014; Bahia & Trindade,
2013), para citar apenas alguns e exemplificar as referências bibliográficas respetivas, ao final deste texto.
3. Figuras ou Quadros
No texto do artigo, os extra-textos podem ser apenas de dois
tipos: Figuras ou Quadros.
Na categoria Figura inclui-se todo o tipo de imagem, desenho,
fotografia, gráfico, e é legendada por baixo. Apresenta-se uma Figura a título meramente ilustrativo quanto à apresentação, legendagem
e ancoragem. A Figura tem sempre a ‘âncora’ no correr do texto,
como se faz nesta mesma frase (Figura 1).
219
219
O autor do artigo é o responsável pela autorização da reprodução da obra (notar que só os autores da CE que faleceram há mais
de 70 anos têm a reprodução do seu trabalho bidimensional em domínio público).
Se o autor do artigo é o autor da fotografia ou de outro qualquer gráfico assinala o facto como se exemplifica na Figura 2.
Figura 2. Uma sessão plenária do II Congresso Internacional Matéria-Prima, na
Faculdade de Belas-Artes, Universidade de Lisboa, julho de 2013. Fonte: própria.
Matéria-Prima, Práticas Artísticas no Ensino Básico e Secundário — Manual de estilo
Figura 1. Alexandre Farto aka VIHLS, Norfolk hotel, 2013 (obra para o Fremantle
2013 Street Arts Festival), Austrália. Foto: Mel. Fonte: http://www.flickr.com/photos/merufumoto/8604668690/
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Matéria-Prima, Práticas Artísticas no Ensino Básico e Secundário — Manual de estilo
Caso o autor sinta dificuldade em manipular as imagens inseridas no texto pode optar por apresentá-las no final, após o capítulo
‘Referências,’ de modo sequente, uma por página, e com a respetiva
legenda. Todas as Figuras e Quadros têm de ser referidas no correr do
texto, com a respetiva ‘âncora.’
Na categoria ‘Quadro’ estão as tabelas que, ao invés, são legendadas por cima. Também têm sempre a sua âncora no texto, como
se faz nesta mesma frase (Quadro 1).
Quadro 1. Exemplo de um Quadro. Fonte: autor.
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4. Sobre as referências
O capítulo ‘Referências’ apresenta as fontes citadas no correr
do texto, e apenas essas. O capítulo ‘Referências’ é único e não é
dividido em subcapítulos.
Conclusão
A Conclusão, a exemplo da Introdução e das Referências, não
é uma secção numerada e apresenta uma síntese que resume e torna
mais claro o corpo e argumento do artigo, apresentando os pontos de
vista com concisão.
Este artigo poderá contribuir para estabelecer uma norma de
redação de comunicações aplicável às publicações Matéria-Prima
promovendo ao mesmo tempo o conhecimento e investigação no
campo alargado da educação artística: trata-se de estabelecer patamares eficazes de comunicação entre profissionais e dentro de uma
orientação descentrada e atenta a novas abordagens e desafios.
Matéria-Prima, Práticas Artísticas no Ensino Básico e Secundário — Manual de estilo
Bahia, Sara & Trindade, José Pedro (2013) “Arte como desenvolvimento da
literacia crítica.” Revista Matéria-Prima. ISSN 2182-9756, e-ISSN 21829829.Vol. 1 (2): 171-178.
Eco, Umberto (2007) Como se Faz uma Tese em Ciências Humanas. Lisboa:
Presença. ISBN: 978-972-23-1351-3
Queiroz, João Paulo (Ed.) A Partir da Matéria-Prima: Atas do II Congresso
Internacional Matéria Prima 2013 Práticas das Artes Visuais no Ensino
Básico e Secundário. FBAUL 11 a 15 julho 2013. Lisboa: CIEBA /
FBAUL. 821 pp. ISBN 978-989-8300-57-7 [Consult. 2015-02-20]
Disponível em URL: http://congressomateria.fba.ul.pt/atas.htm
Zanini, Gina & Schvambach, Janaina (2014) “Contos de fadas como Contos do
Cotidiano: a arte mediadora de uma ação educativa.” Revista MatériaPrima. ISSN 2182-9756, e-ISSN 2182-9829.Vol. 2 (3): 103-111.
221
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Referências
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Matéria-Prima, Práticas Artísticas no Ensino Básico e Secundário —
Notas biográficas — Conselho editorial & pares académicos
Notas biográficas
— Conselho editorial
& pares académicos
Editing committee & academic peers
— biographic notes
ALEXSANDRO DOS SANTOS MACHADO (Brasil). Professor adjunto da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) — Petrolina, Pernambuco
— Brasil desde 2009. Antes disso, foi educador em escolas de ensino fundamental
e médio, atuando também com Formação de Educadores por 13 anos no Brasil
e em Moçambique. Alexsandro também trabalhou no Ministério da Educação do
Brasil, em Brasília-DF, na implementação de Políticas Públicas de Educação Integral.
Possui formação em Psicologia, Mestrado e Doutorado em Educação. Atualmente,
tem atuado em Ensino, Pesquisa e Extensão principalmente na interface entre
Educação e Saúde com as temáticas Pedagogia da Intuição, Educação Integral,
Formação de Educadores, Histórias de vida e Educação Popular.
ANA LUÍSA PAZ (Portugal). Doutorada em Educação pelo Instituto de Educação da
Universidade de Lisboa, com a tese Ensino da Música em Portugal (1868-1930):
Uma história de pedagogia e do imaginário musical (2014), Mestra em Sociologia
pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa
e Licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. É
professora auxiliar convidada no Instituto de Educação da UL e tem colaborado
em projetos e publicado sobre ensino artístico, numa perspetiva histórica e crítica.
ANA LUIZA RUSCHEL NUNES (Brasil). Licenciada em Artes Plásticas (UFSM,
1982). Mestre em Educação(UFSM,1990), Doutora em Educação (UNICAMP/
SP-1997). Professora Adjunta da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG),
Paraná, Brasil. Curso de Licenciatura em Artes Visuais e no Programa de Pós-Graduação em Educação — Mestrado / Doutorado. Membro da ANPAP, FAEB,
e. Líder do GEPAVEC- Grupo de pesquisa CNPq.
ANA MARIA ARAÚJO PESSANHA (Portugal). Frequentou, até ao 3º ano, a
Escola Superior de Pintura no Porto, tendo terminado o Curso Superior de Pintura
na Faculdade de Belas Artes em Lisboa. Foi docente e orientadora de professores
de Educação Visual. Integrou o grupo de consultores do ME que elaboraram as
Novas Orientações Curriculares do Ensino Básico. Mestre em Ciências e Currículos
da Educação. Doutor pela Faculdade de Motricidade Humana da Universidade
Técnica de Lisboa. Lecionou, como professora convidada na Universidade de Évora.
É há 20 anos representante de Portugal no International Council for Children’s
Play (ICCP), tendo pertencido à comissão de organização de dois congressos
ANA SOUSA (Portugal). Doutora em Belas-Artes Educação Artística (2016), mestre
em Educação Artística (2007) e licenciada em Artes Plásticas Pintura (2003), pela
Universidade de Lisboa. É assistente convidada na Faculdade de Belas-Artes desta
universidade, onde leciona nas áreas de Educação Artística, Ciências da Arte e
Tapeçaria. É investigadora integrada no CIEBA e membro da comissão científica
das Jornadas dos Mestrados em Ensino da Universidade de Lisboa, desde o seu
início. Foi bolseira de doutoramento e de mestrado pela FCT, lecionou em escolas
básicas e secundárias da Grande Lisboa e desenvolveu igualmente atividade em
contextos não formais de aprendizagem. A sua investigação mais recente centra-se
na desconstrução-construção de relações entre concepções e práticas, no âmbito
do desenvolvimento da identidade profissional dos professores de artes visuais.
ANALICE DUTRA PILLAR (Brasil). Doutora em Artes pela Universidade de São
Paulo (USP,1994), mestre em Artes pela USP (1990) e graduada em Artes Plásticas
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS, 1983). Realizou Estágio
de Pós-Doutorado em Artes, na Universidad Complutense de Madrid, Espanha.
É Professor Associado da Faculdade de Educação da UFRGS, onde atua como
professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Educação, orientando Mestrado e Doutorado na área de Educação e Artes Visuais. É membro
da Comissão Coordenadora deste Programa. Coordena o Grupo de Pesquisa em
Educação e Arte (GEARTE). É sócia da International Society of Education Through Art
(INSEA) e da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas (ANPAP).
Integra o Conselho Editorial do International Journal of Education Through Art
(IJETA). Atua como Consultor Ad.Hoc para revistas e agências de fomento. Tem
participado de diversos Comitês Científicos. Possui várias publicações na área
do Ensino de Artes Visuais. Tem experiência em Educação e Artes, com ênfase
no Ensino de Artes Visuais, principalmente nos temas: leitura da imagem, arte,
produções audiovisuais, mídia televisiva e infância. É pesquisadora do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
ANTÓNIO TRINDADE (Portugal). Nasceu em Lisboa em 1967. É Professor e Regente
de Geometria na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Licenciado
em Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, 1993.
Mestre em Arte, Património e Restauro pela Faculdade de Letras da Universidade
de Lisboa, 2002. Doutor em Belas Artes, especialidade em Geometria Descritiva,
pela FBAUL, 2008. Membro da secção de Desenho do Centro de Investigação e
Estudos Belas Artes, CIEBA, da FBAUL. Membro do Conselho Científico da FBAUL,
como representante do CIEBA. Tem 9 artigos publicados e outros no prelo. Participou em 12 Exposições Individuais, representado pela GALERIA ARTE PERIFÉRICA
em Lisboa e pela GALERIA SALA MAIOR no Porto. Participou em 14 Exposições
Colectivas, onde se destacam as presenças nas feiras de Arte Contemporânea,
como a FAC-LISBOA e a ARCO-Madrid, representado em ambas pela GALERIA
223
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Matéria-Prima, Práticas Artísticas no Ensino Básico e Secundário —
Notas biográficas — Conselho editorial & pares académicos
Internacionais em Portugal. Atualmente é professora de didática das expressões e
arte e educação, coordenando mestrados para futuros professores e educadores,
na Escola Superior de Educação Almeida Garrett (Grupo Lusófona). Residiu na
Alemanha onde frequentou vários cursos de modelo e de pintura na Technischen
Universität, Darmstadt e na Malschule am Woog Academy. Realizou na Sociedade
Nacional de Belas Artes (SNBA) cursos de Desenho da Figura Humana. Frequentou
cadeiras de História de Arte quer na SNBA quer no CCB organizado pelo seu
Centro Educativo. Participou em diversas exposições coletivas, nomeadamente na
Escola Superior de Belas Artes e na Sociedade Nacional de Belas Artes. Realizou
individualmente exposições na Sociedade Nacional de Belas Artes e No Museu
Municipal de Coruche por ocasião da Bienal. Mais recentemente, exibiu obras
na Biblioteca Orlando Ribeiro e em Setúbal na Casa Da Avenida.
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ARTE PERIFÉRICA. Obras em colecções como a Telecel-Lisboa, Frubaça-Alcobaça e
Caixa Geral de Depósitos, Lisboa. É citado e referido em publicações artísticas, nas
Revistas Magazine Artes, Arte e Leilões, L+Arte, Arte y Parte, bem como em catálogos
das referidas feiras de Arte Contemporânea, com textos dos reconhecidos escritores
e críticos, Valter Hugo Mãe, Sandra Vieira JÜrgens e da curadora Filipa Oliveira.
Matéria-Prima, Práticas Artísticas no Ensino Básico e Secundário —
Notas biográficas — Conselho editorial & pares académicos
ARTUR RAMOS (Portugal). Nasceu em Aveiro em 1966. Licenciou-se em Pintura
na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Em 2001 obteve o grau
de Mestre em Estética e filosofia da Arte pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Em 2007 doutorou-se em Desenho pela Faculdade de Belas-Artes
da mesma Universidade, onde exerce funções de docente desde 1995. Autor
dos programas de Desenho do Ensino Secundário. Tem mantido uma constante
investigação em torno das metodologias de observação, análise e estruturação
aplicadas em particular ao desenho do natural. O seu trabalho estende-se também ao domínio da investigação arqueológica na reconstituição de espaços
arquitetónicos e naturais. É atualmente coordenador da licenciatura de Desenho.
BELIDSON DIAS (Brasil). Professor do Departamento de Artes Visuais da Universidade
de Brasília, Programa de Pós-Graduação em Arte na área de Educaçnao em Artes
Visuais. Pós-Doutorando, na Universidade de Barcelona, Espanha; Doutor em Estudos
Curriculares em Arte Educação, na University of British Columbia, Canadá; Mestre
em Artes Visuais, na Manchester Metropolitan University e na Chelsea College of Art
& Design, na Inglaterra. Foca suas pesquisas em torno de questões da Educação em
Cultura Visual e suas relações com currículo e metodologia, cinema, transculturalismo,
multiculturalismo, pós-colonialismo, teoria queer, sexualidade e gênero. Coordena
no Departamento de Artes Visuais da UnB o LIGO- Laboratório de Educação em
Visualidade e é líder do Grupo de Pesquisa TRANSVIAÇÕES — Educação e Visualidade (UnB/CNPq), integra o Grupo de Pesquisa Cultura Visual e Educação (UFG/
CNPq) e o Grupo de Estudos e Pesquisas em Arte/Educação e Cultura (UFSM/
CNPq). Tem participado ativamente em congressos no país e no exterior e publicado
extensivamente em livros, revistas e periódicos nacionais e internacionais. Autor
do livro O I/Mundo da Educação em Cultura Visual (2011) e organizador, junto a
Rita L Irwin, do livro Pesquisa Educacional Baseada em Arte: A/r/tografia (2013).
CATARINA SILVA MARTINS (Portugal). Doutora em Educação (2012) e Mestre em
Educação Artística (2007) pela Universidade de Lisboa. Foi Bolseira de Doutoramento da FCT entre 2007-2011 e estudou na Universidade de Wisconsin-Madison.
Actualmente coordena o Núcleo de Educação Artística do i2ADS — Instituto de
Investigação em Arte, Design e Sociedade, e é Professora Auxiliar da Faculdade
de Belas Artes da Universidade do Porto. O seu trabalho desenvolve-se como
uma História do Presente da Educação Artística, a nível nacional e internacional.
CHRISTINA RIZZI (Brasil) Graduação em Educação Artística Artes Cênicas pela
Universidade de São Paulo (1980), mestrado em Artes pela Universidade de São
Paulo (1990) e doutorado em Artes pela Universidade de São Paulo (2000). Foi
educadora nos seguintes museus: Pinacoteca do Estado e Museu da Casa Brasileira.
Foi docente dos seguintes museus da USP: Museu de Arte Contemporânea, Museu
de Arqueologia e Etnologia e vice-diretora do Museu de Ciências. Atualmente é
professora doutora exercendo suas atividades no Departamento de Artes Plásticas
da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde leciona na
Graduação e no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais.(Conceito CAPES
6). Orienta mestrado e doutorado. Representa as Licenciaturas da área de Artes da
ECA na Comissão Interunidades das Licenciaturas da Pró-Reitoria de Graduação
da USP.Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Arte/Educação, atuando
principalmente nos seguintes temas: Ensino e Aprendizagem da Arte, Ateliê de
ELISABETE OLIVEIRA (Portugal). 40 anos de docência-investigação/ação no
Ensino Secundário (Lisboa, Faro, Santarém, Queluz, Coimbra) até 1985 e depois na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de
Lisboa (FPCEUL) até 2006. Doutora pela FPCEUL. Prossegue atividades diversas
nomeadamente através do projeto Exploratório, Sistemático de Projetos Escolares
de Arte Educação inovadores, emergentes e históricos. Pintora pela antiga Escola
Superior de Belas-Artes de Lisboa (ESBAL) (19 val.) expondo desde 1964. Formação/Pós-Graduação: Liceal- Alínea h). Ciências Pedagógicas (FLUL). Estágio/
Exame de Estado, 9º Grupo, com Alfredo Betâmio de Almeida, Liceu Normal
Pedro Nunes-Lisboa, Diploma Art/Design Education, London University Institute
of Education, Bolseira Fundação Gulbenkian (1980-84). Provas Aptidão Científica e Capacidade Pedagógica-FPCEUL (Mº Bom). Conselheira Mundial InSEA /
UNESCO (1988-1997) em cinco continentes. Planeadora / Consultora curricular
nacional em Arte Educação (1970- 2001). Formadora de Professores / Investigadores: Profissionalização-em-Serviço e Licenciatura-Mestrado FPCEUL; Escola
Superior de Teatro e Cinema, Instituto Politécnico de Lisboa — Teatro e Educação
— Psicopedagogia das Expressões Artísticas. Comissão Científica Universidade
Açores: S Miguel e Terceira (1990-1995), incrementando Didácticas em Projecto
(1º Ciclo) e Integração das Expressões, (Pré-Escolar). Criadora de Centros de
Recursos/Audiovisuais. Autora de 100 artigos e uma dezena de livros / partes
de livros e CDs, incluindo 3 Livros póstumos de Betâmio. Livro recente: Educação
Estética Visual Eco-Necessária na Adolescência & CD. MinervaCoimbra, 2010.
Co-fundadora: SPZC (SPRC), APECV, SPCE-Educação e Arte, MPIAEPA. Colaboradora com Autarquias-Museus/Bibliotecas: Comunicações / Ações de Formação.
ERINALDO ALVES NASCIMENTO (Brasil). Doutor em Artes pela ECA-USP, com
intercâmbio com a Universidade de Barcelona, na Espanha. Mestre em Biblioteconomia pela UFPB e Graduado em Educação em Artística pela UFRN. É Professor
Adjunto do Departamento de Artes Visuais e Coordenador do Grupo de Pesquisa
em Ensino das Artes Visuais da UFPB. Ministra aulas na Licenciatura em Artes
Visuais e no Mestrado em Artes Visuais, da UFPB/UFPE. É autor do livros “Ensino
do desenho: do artífice/artista ao desenhista auto-expressivo” (2010), além de
vários artigos e capítulos de livros sobre o ensino das Artes Visuais, versando
sobre a formação inicial e continuada, gestão pública, cultura visual, perspectivas
educacionais e processos de subjetivação pelas imagens. É coordenador do blog
ensinando artes visuais — www.ensinandoartesvisuais.blogspot.com
Matéria-Prima, Práticas Artísticas no Ensino Básico e Secundário —
Notas biográficas — Conselho editorial & pares académicos
CONSUELO SCHLICHTA (Brasil). Artista visual, doutora em História, Mestre em
Educação, com especialização em Administração e Planejamento da Educação
Pública no Brasil pela UFPR, Paraná (BR) e aperfeiçoamento em Arte e Educação
na Atlantic State University, Savannah, Geórgia (EUA). Atualmente é professora de
Fundamentos do Ensino da Arte e de Desenho no Curso de Artes Visuais, na UFPR
(PR). Integra o Grupo de Pesquisa em Artes Visuais, Educação e Cultura-GEPAVEC
— UEPG; o NUPEMARX/UFPR Núcleo de Pesquisa Educação e Marxismo/UFPR;
e o de Artes Visuais: Teoria, educação e poética — UFPR. Desenvolve pesquisa
em história das representações artísticas e iconografia pictórica, Brasil, século
XIX; leitura da imagem, fundamentos teóricos e metodológicos do ensino das Artes
Visuais e processos de mediação em espaços escolares e/ou culturais. Autora da
obra Há um lugar para a arte no ensino médio?, pela Editora Aymará, São Paulo,
em 2009, livro aprovado para o Programa Nacional Biblioteca do Professor e de
artigos na ANPAP e ANPUH. Uma das autoras da Coleção Didática Descobrindo
a arte, publicada pela Editora Ibpex, em 2011. Obra Indicada para o Prêmio
Jabuti, de 2012. Vive e trabalha em Curitiba, Paraná (BR).
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Arte para Crianças, Formação de Professores de Arte,História do Ensino da Arte
no Brasil, Arte/Educação Ambiental, Museologia e Curadoria Educativa.
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Matéria-Prima, Práticas Artísticas no Ensino Básico e Secundário —
Notas biográficas — Conselho editorial & pares académicos
FERNANDO MIRANDA (Montevideo, 1968). Profesor Titular del Instituto “Escuela
Nacional de Bellas Artes” — asimilado a Facultad — (IENBA) de la Universidad de
la República (UdelaR), en Montevideo, Uruguay. Director del IENBA por el período
2016-2020. Doctor en Bellas Artes de la Facultad de Bellas Artes (Universidad de
Barcelona); Licenciado en Ciencias de la Educación Facultad de Humanidades y
Ciencias de la Educación (UdelaR) en 1992. Investigador Nivel I, Sistema Nacional
de Investigadores, Agencia Nacional de Investigación e Innovación (ANII) —
Uruguay desde 2011. Responsable desde 2005 del Núcleo de Investigación en
Cultura Visual, Educación y Construcción de Identidad de la UDELAR con el que
ha desarrollado proyectos a nivel nacional e internacional. Miembro del Grupo
de Pesquisa Cultura Visual e Educação, de la Faculdade de Artes Visuais de la
Universidade Federal de Goiás, Brasil e Investigador colaborador en el Grupo de
Investigación Creación en arte y estéticas aplicadas para la ciudad, el paisaje y
la comunidad. Facultad de Bellas Artes de la Universidad del País Vasco, España.
FRANCIONE OLIVEIRA CARVALHO (Brasil). Professor da Faculdade de Educação
da Universidade Federal de Juiz de Fora onde atua nas licenciaturas em Artes
Visuais e Pedagogia. Doutor e Mestre em Educação, Arte e História da Cultura
pela Universidade Presbiteriana Mackenzie com pós-doutoramento em História
pela Universidade de São Paulo. Atua como professor colaborador do Programa
de Pós-Graduação em Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades da FFLCH/
USP. É líder do MIRADA - Grupo de Estudo e Pesquisa em Visualidades, Interculturalidade e Formação Docente locado na Faculdade de Educação da UFJF.
HELENA BARRANHA (Portugal). Formou-se em Arquitectura (FA-UTL, 1995), Mestrado em Gestão do Património Cultural (UAlg, 2001) e Doutoramento em Arquitectura,
com dissertação sobre Museus de Arte Contemporânea em Portugal (FAUP, 2008).
Professora Auxiliar no Instituto Superior Técnico – Universidade de Lisboa, Investigadora do ICIST (IST-UL) e colabora também, desde 2007, com a Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, no âmbito do Mestrado em
Museologia. Foi Directora do Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu
do Chiado entre 2009 e 2012. A sua actividade profissional e de investigação
centra-se no património arquitectónico, nos museus de arte contemporânea e nas
exposições de arte digital, temas sobre os quais tem realizado vários estudos e
publicações. É actualmente investigadora responsável do projecto unplace — Um
Museu sem Lugar: Museografia Intangível e Exposições Virtuais (ver unplace.org).
HELENA CABELEIRA (Portugal). Torres Novas, 1978. Doutora em Educação,
IEUL (2013), Mestre em Educação Artística, FBAUL (2007), Licenciada em Artes
Plásticas - Escultura, FBAUP (2002). Bolseira de Doutoramento da FCT (2008-11),
investigadora visitante no Centre for Educational Sociology (CES), University of
Edinburgh (2009), Bolseira de pós-doutoramento IEUL (2014). Desde 2015, é
Professora Auxiliar Convidada na FBAUL, onde lecciona unidades curriculares
e orienta dissertações nos Mestrados de Educação Artística e Ensino das Artes
Visuais. Desde 2008 é investigadora colaboradora da UIDEF (IEUL) e tem sido
membro de diversas equipas de projectos de investigação (nacionais e internacionais), tendo publicado em jornais, revistas e monografias (peer-reviewed,
scopus). Desde 2005, foi professora de Artes Visuais em escolas secundárias
do Ministério da Educação, professora de Geometria Descritiva (em regime de
trabalho independente), e trabalhou como artista plástica e coordenadora de
projectos artísticos-educativos em instituições culturais. Desde 2002 recebeu vários
prémios artísticos e bolsas de mérito académico e científico (tese de doutoramento
premiada em 2014). Principais áreas de investigação e interesse: História do ensino
superior artístico; História do currículo e das disciplinas artísticas (ensino básico
e secundário); Teorias pedagógicas e metodologias de investigação-acção em
Educação Artística; Formação contínua de professores de artes plásticas e visuais.
IRENE TOURINHO (Brasil). Doutora pela University of Wisconsin — Madison (EUA).
Pós-doutoramento em Cultura Visual na Universidade de Barcelona, Espanha,
onde foi professora visitante. Foi, também, professora visitante na Ambedkar
University em Nova Delhi, Índia. É professora titular e docente do Programa de
Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual — Mestrado/Doutorado, da Faculdade
de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás. É membro do Grupo de
Estudos e Pesquisas em Arte, Educação e Cultura (GEPAEC) da Universidade
Federal de Santa Maria (RS), do Grupo de Pesquisa Cultura Visual e Educação
da Universidade Federal de Goiás e do Grupo de Pesquisa Transviações, da
Universidade de Brasília. É, ainda, membro da International Society for Education
Through Art (INSEA), da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas
(ANPAP), da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação
(ANPED e da Federação de Arte Educadores do Brasil (FAEB).
ISABELA NASCIMENTO FRADE (Brasil). Licenciada em Artes pela PUC/Rio, mestre e
doutora em Ciências da Comunicação pela ECA/USP. PROCIENTISTA pela FAPERJ.
Chefia a equipe do Departamento de Ensino da Arte e Cultura Popular do Instituto
de Artes da UERJ e integra o corpo de docentes do curso de doutorado em Artes
pelo PPGARTES/UERJ. Tem realizado trabalhos plásticos, desenvolvido pesquisas
e orientado projetos relacionando arte, cultura, comunicação e educação, com
foco sobre os seguintes temas: esfera pública e mediação, poética relacional,
multilocalidade e trânsito cultural. É líder do grupo de pesquisa Observatório de
Comunicação Estética — CNPQ e integra o consórcio brasileiro UDESC/USP/
UERJ do projeto Observatório de formação de professores no âmbito do Ensino
da Arte: estudos comparados entre Brasil e Argentina / CAPES MINCyT.
JOÃO CASTRO SILVA (Portugal). Nasceu em Lisboa em 1966. Doutor em Escultura
pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (FBAUL). Mestre em
História da Arte pela Universidade Lusíada de Lisboa. Licenciado em Escultura
pela FBAUL. É Professor de Escultura nos diversos ciclos de estudos — Licenciatura,
Mestrado e Doutoramento — do curso de Escultura da FBAUL e coordenador do
primeiro ciclo de estudos desta área. Tem coordenado diversas exposições de escultura e residências artísticas, estas últimas no âmbito da intervenção na paisagem.
Desenvolve investigação plástica na área da escultura de talhe directo em madeira,
intervenções no espaço público e na paisagem. Expõe regularmente desde 1990
e tem obra pública em Portugal e no estrangeiro. Participa em simpósios, ganhou
diversos prémios e está representado em colecções nacionais e internacionais.
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Matéria-Prima, Práticas Artísticas no Ensino Básico e Secundário —
Notas biográficas — Conselho editorial & pares académicos
ILÍDIO SALTEIRO (Portugal). (Portugal). Licenciado em Artes Plásticas / Pintura
na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (1979), mestre em História da Arte
na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa
(1987), doutor em Belas-Artes Pintura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade
de Lisboa (2006). Entre 1980 e 1982 realizou a Profissionalização em Exercício
no Ensino Secundário. Entre 2000 e 2002 fez parte da equipa que elaborou o
Currículo Nacional do Ensino Básico — Competências Essenciais — Educação
Visual, (Lisboa, Ministério da Educação e Ciência), 2002. A partir de 2007 é
Formador Certificado pelo Conselho Cientifico e Pedagógico da Formação Continua
nas áreas artísticas dos Ensinos Básico e Secundário. Professor e Coordenador
da área da Pintura na Licenciatura de Pintura na Faculdade de Belas-Artes da
Universidade de Lisboa (2014). Tem tido uma actividade e investigação artística
regular com trinta exposições individuais, a ultima das quais intitulada «O Centro
do Mundo» no Museu Militar de Lisboa de 17 de maio a 15 de outubro de 2013.
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Matéria-Prima, Práticas Artísticas no Ensino Básico e Secundário —
Notas biográficas — Conselho editorial & pares académicos
JOÃO PAULO QUEIROZ (Portugal). Curso Superior de Pintura pela Escola Superior
de Belas-Artes de Lisboa. Mestre em Comunicação, Cultura, e Tecnologias de
Informação pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE).
Doutor em Belas-Artes pela Universidade de Lisboa. É professor na Faculdade de
Belas-Artes desta Universidade (FBAUL), na área Arte Multimédia e leciona nos
diversos cursos de Licenciatura, Mestrado e Doutoramento. Professor nos cursos
de doutoramento em Ensino da Universidade do Porto. Co autor dos programas
de Desenho A e B (10º ao 12º anos) do Ensino Secundário. Dirigiu diversas ações
de formação contínua de professores. Livro Cativar pela imagem, 5 textos sobre
Comunicação Visual, FBAUL, 2002. Investigador integrado no Centro de Estudos
e Investigação em Belas-Artes (CIEBA). Coordenador do Congresso Internacional
CSO e do Congresso Matéria-Prima, Práticas das Artes Visuais no Ensino Básico
e Secundário. Dirige as revistas académicas Estúdio, ISSN 1647-6158, Matéria-Prima, ISSN 2182-9756, Gama ISSN 2182-8539, e Croma ISSN 2182-8547.
Diversas exposições individuais de pintura. Prémio de Pintura Gustavo Cordeiro
Ramos pela Academia Nacional de Belas-Artes em 2004.
JOCIELE LAMPERT (Brasil). Desenvolveu pesquisa como professora visitante no
Teachers College na Columbia University na cidade de New York como Bolsista
Fulbright. Doutora em Artes Visuais pela ECA/USP. Mestre em Educação pela
UFSM. Bacharelado em Pintura pela Universidade Federal de Santa Maria e
Graduação em Desenho e Plástica Licenciatura pela Universidade Federal de
Santa Maria. Professora Associada na Universidade do Estado de Santa Catarina
(UDESC). É membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Arte, Educação e Cultura
UFSM/CNPq. Membro/Líder do Grupo de Pesquisa Entre Paisagens UDESC/
CNPq. Coordenadora do Grupo de Estudos Estúdio de Pintura Apotheke (UDESC).
É Editora Chefe do Periódico Revista Apotheke. Sites: www.jocielelampert.com.
br e www.apothekeestudiodepintura.com
JORGE RAMOS DO Ó (Portugal). Professor Associado do Instituto de Educação da
Universidade de Lisboa e Professor Convidado da Universidade de São Paulo-Brasil,
instituições onde lecciona temáticas relacionadas com a história da educação,
história da cultura e análise do discurso. Tem escrito sobre história política, histórica
cultural e das mentalidades, especialmente durante o período do Estado Novo,
e também sobre história da educação e da pedagogia, num período mais longo
e que se estende de meados do século XIX a meados de Novecentos. Além de
vários outros trabalhos de menor dimensão e em co-autoria, em revistas científicas
e em monografias, publicou os seguintes livros: O lugar de Salazar: Estudo e
Antologia, Lisboa: Alfa; Os anos de Ferro: O Dispositivo Cultural durante a Política
do Espírito (1933-1949), Lisboa: Estampa; O Governo de si mesmo: Modernidade
Pedagógica e Encenações Disciplinares do aluno Liceal (último quartel do século
XIX — meados do século XX), Lisboa: Educa; Ensino liceal (1836-1975), Lisboa:
Ministério da Educação; Emergência e Circulação do Conhecimento Psicopedagógico Moderno (1880-1960): Estudos Comparados Portugal-Brasil, Lisboa:
Educa. Editor de Sisyfus — Journal of Education.
JOSÉ CARLOS DE PAIVA (Portugal). Doutor em ‘Pintura’ Mestre em ‘Arte Multimédia’ e
Licenciado em ‘Artes Plásticas — Pintura’, pela Universidade do Porto — Faculdade
de Belas Artes (FBAUP). Professor Auxiliar FBAUP, Diretor do Curso Doutoral em
Educação Artística. Investigador Integrado do i2ADS (Instituto de Investigação em
Educação Artística), e Investigador Colaborador do CIIE (Centro de Investigação
e Intervenções Educativas). Percurso múltiplo por vários caminhos, aparentemente
dispersos, mas relacionados numa atitude transversal interventiva no tecido social e
atenções globalizantes. Trajecto autoral como artista plástico, mostrado em exposições individuais de artes plásticas (8, desde 1983) e em exposições colectivas, por
LUCIA GOUVÊA PIMENTEL (Brasil). Bacharelado e Licenciatura Artes Visuais (1982)
e Mestrado em Educação (1993) pela Universidade Federal de Minas Gerais, e
Doutorado em Artes pela Universidade de São Paulo (1999). É Professora Titular
da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, membro do
Conselho Mundial da InSEA, do Grupo de Especialistas em Arte/ Educação,
Cultura e Cidadania da Organização dos Estados Iberoamericanos — OEI, Vice-Presidente da ANPAP, Conselheira do Instituto Arte das Américas, membro da
Federação de Arte Educadores do Brasil (FAEB), da Associação Mineira de Arte
Educadores (AMARTE), do Conselho Editorial de várias publicações na área e
consultora ad hoc da CAPES. Foi Secretária Geral do Conselho Latinoamericano
de Educação pela Arte — CLEA (2007-2009). É líder do Grupo de Pesquisas
Ensino da Arte e Tecnologias Contemporâneas e participa de grupos de pesquisa
em Educação e em Tecnologias. Atua como artista, professora e pesquisadora,
com ênfase em ensino de arte, artes visuais, ensino de arte e tecnologias, arte/
educação, formação de professores, cognição imaginativa e gravura.
LEONARDO CHARRÉU (Portugal) É Doutor em Belas Artes pela Universidade de
Barcelona, Espanha e em Ciências da Educação pela Universidade de Évora,
Portugal. Leciona na graduação no Departamento de Artes Visuais do Centro de
Artes e Letras e na pós-graduação em Educação, linha de pesquisa Educação e
Artes, na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Brasil. Membro efetivo
e vice-líder do GEPAEC (Grupo de Estudo e Pesquisas em Arte, Educação e Cultura)
da UFSM. Pesquisa sobre Formação de Professores de Artes Visuais, sobre Arte e
Cultura Visual, Arte e Cognição, Metodologias de Pesquisa baseadas nas Artes.
LUCIANA GRUPPELLI LOPONTE (Brasil). Licenciada em Educação Artística, Hab. Artes
Plásticas, Mestre e Doutora em Educação. É professora da Faculdade de Educação
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS, Porto Alegre), atuando na
graduação e na pós-graduação. Foi vice-presidente da FAEB (Federação de Arte-Educadores do Brasil) e coordenadora do GT 24 — Educação e Arte da ANPEd (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação). Pesquisa e tem vários
artigos publicados em torno das seguintes temáticas: gênero, artes visuais e educação; formação docente em arte; formação estética; arte contemporânea e educação.
LUÍS JORGE GONÇALVES (Portugal). Doutorado pela Faculdade de Belas-Artes
da Universidade de Lisboa, em Ciências da Arte e do Património. A docência na
Faculdade de Belas-Artes é entre a História da Arte, a Museologia e a Arqueologia
e Património, nas licenciaturas, nos mestrados de Museologia e Museografia e de
Património Público, Arte e Museologia e no curso de doutoramento. Tem desenvolvido a sua investigação nos domínios da Arte Pré-Histórica, da Escultura Romana
e da Arqueologia Pública e da Paisagem. Desenvolve ainda projetos no domínio
da ilustração reconstitutiva do património, da função da imagem no mundo antigo
e dos interfaces plásticos entre arte pré-histórica e antiga e arte contemporânea.
É responsável por exposições monográficas sobre monumentos de vilas e cidades
portuguesas. Tem desenvolvido projetos no âmbito da educação patrimonial e
projetos de intervenção artística e pedagógica em espaços patrimoniais.
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Matéria-Prima, Práticas Artísticas no Ensino Básico e Secundário —
Notas biográficas — Conselho editorial & pares académicos
todo o país e no estrangeiro. Coordenador e organizador de exposições temáticas
e artísticas realizadas por todo o país e no exterior. Fundador (1988) e diretor
da GESTO Cooperativa Cultural. Forte envolvimento em ações interculturais, de
índole artístico e cultural com comunidades em Moçambique, Brasil, Cabo Verde
e Portugal, organizadas pelo ‘movimento intercultural — Identidades.
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Matéria-Prima, Práticas Artísticas no Ensino Básico e Secundário —
Notas biográficas — Conselho editorial & pares académicos
MARGARIDA CALADO (Portugal). Maria Margarida Teixeira Barradas Calado
nasceu em Lisboa. Concluiu a licenciatura em História na Faculdade de Letras de
Lisboa em 1973 e em 1971, o Curso de Ciências Pedagógicas. A partir do ano
lectivo de 1973 / 1974, exerceu funções docentes na Escola Superior de Belas
Artes, tendo realizado, em 1996, o doutoramento na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, com a tese «Arte e Sociedade
na Época de D. João V». Actualmente é professora associada na Faculdade de
Belas Artes, no grupo de Ciências da Arte, e Coordenadora dos Mestrados em
Educação Artística e em Ensino das Artes Visuais. É autora, entre outras, das
obras Azeitão, O Convento de S. Francisco da Cidade e Dicionário de Termos
de Arte e Arquitectura, este, em colaboração com Jorge Henrique Pais da Silva.
MARÍA ACASO (Espanha). Professora Associada em Educação Artística na Universidade Complutense de Madrid (Espanha). Maria Acaso está empenhada na
mudança da Educação Artística. Conduziu diversos projetos sobre metodologias
de aprendizagem disruptiva em diferentes cenários. É autora de livros e artigos
sobre este assunto, tendo sido convidada por instituições nacionais e internacionais
como o MoMA, NYU e a New School for Social Research. Todo o seu trabalho
está em http://mariaacaso.es
MARIA CRISTINA DA ROSA (Brasil). Graduação em Educação Artística pela Universidade do Estado de Santa Catarina (1988), mestrado em Educação pela
Universidade Federal de Santa Catarina (1998) e doutorado em Engenharia de
Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2004).Realizou Estágio
de Pós-doutorado na Universidade de Sevilha junto ao departamento de Didáctica
das Artes Plásticas (2010) e no Instituto Universitario Nacional del Arte — IUNA
em Buenos Aires (2011). É professora titular do Centro de Educação a Distância
da Universidade do Estado de Santa Catarina. Atua como professora do Mestrado
e doutorado em Arte Visuais da UDESC. Linha de investigação Ensino de Arte. Tem
experiência na área de Educação, com ênfase em Educação Inclusiva, atuando
principalmente nos seguintes temas: ensino de arte, formação de professores,
educação inclusiva e a distância. Coordena o Laboratório Virtual de Arte Interativa
para Públicos Especiais — LAVAIPE. É autora do livro A Formação de Professores
de Arte: diversidade e complexidade pedagógica. Atualmente coordena o Programa de Pós-graduação em Artes Visuais (mestrado/Doutorado) — UDESC e o
Projeto bilateral intitulado: Observatório da Formação de Professores no âmbito do
Ensino de Arte: estudos comparados entre Brasil e Argentina — (OFPEA/BRARG).
MARÍA JESÚS AGRA PARDIÑAS (Espanha), Licenciada y Doctora en Bellas Artes
(Universidad Complutense, Madrid), desarrolla su trabajo como Profesora Titular
de Universidad en el área de Didáctica de la Expresión Plástica en la Facultad de
Ciencias de la Educación de la Universidad de Santiago de Compostela. Su línea
de investigación más reciente se enmarca en torno a la investigación educativa
basada en las artes y cómo las nuevas tendencias del Arte Contemporáneo deben
ser tenidas en cuenta en la Educación Artística. En este contexto, coordina el
grupo de investigación C3 de marcado carácter interdisciplinar con la finalidad
de encontrar estrategias para actuar e incidir en la Educación Artística desde
diversos contextos educativos. En el contexto de la Formación ha realizado varias
Jornadas, reuniones de investigadores, y encuentros con profesorado en activo.
Además de diferentes publicaciones, participar en doctorados e impartir docencia
en diferentes Masters. Pertenece (como una de las Investigadoras Principales) al
Grupo de investigación LITER21 “Investigacións literarias, artísticas, interculturais
e educativas. Lecturas textuais e visuais”, inscrito en la Universidad de Santiago
de Compostela y a la Red temática de carácter científico técnico “Las Literaturas
infantiles y juveniles del marco ibérico” (HUM2004-20052-E y HUM2005-23895-E/FILO). www.usc.es/lijmi Contato: mjesus.agra@usc.es
MARTA DANTAS (Brasil). Mestre em História e doutora em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e Université de Lausanne. Desde
1998 é professora de História e Teorias da Arte do Departamento de Arte Visual e
do Programa de Pos-Graduação em Letras da Universidade Estadual de Londrina.
Sua produção científica está vinculada as linhas de pesquisa “diálogos culturais”e
“discursos sobre as artes” e investiga os seguintes temas: surrealismo, arte bruta,
experiência limite na arte e na literatura. Autora do livro Arthur Bispo do Rosário:
a poética do delírio publicado pela Editora UNESP em 2009, além de capítulos
de livros sobre o surrealismo de André Breton e o pensamento de Jean Dubuffet.
MARTA ORNELAS (Portugal). Doutorada em Artes e Educação - Pedagogias Culturais
em Museus pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Barcelona. Tem
trabalhado como investigadora e como docente de Artes Visuais e de Educação
Artística no ensino básico, secundário e superior. É licenciada em Design de
Comunicação pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa e Mestre em Museologia e
Património pela Universidade Nova de Lisboa, tendo realizado a Profissionalização
em Serviço na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, em Lisboa.
É membro da direcção da APECV (Associação de Professores de Expressão e
Comunicação Visual), membro da InSEA (International Society for Education
Through Art) e da Rede Ibero-Americana de Educação Artística. Fundou a Arte
Central, uma estrutura de profissionais da educação artística que visa sobretudo
contribuir para a formação de professores e para a ampliação das experiências
artísticas de crianças e jovens em idade escolar.
MIRIAN CELESTE MARTINS (Brasil). Docente do Curso de Pós-graduação em Educação, Arte e História da Cultura na Universidade Presbiteriana Mackenzie em São
Paulo, onde coordena os Grupos de Pesquisa: Arte na Pedagogia e Mediação
cultural: contaminações e provocações estéticas. Fomação em Arte e Educação
com mestrado e doutorado na Universidade de São Paulo. Autora de livros e
artigos, atuou em outras universidades e coordenou também ações educativas
em importantes exposições como a 25ª Bienal/SP e a 4ª Bienal do Mercosul/RS.
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Matéria-Prima, Práticas Artísticas no Ensino Básico e Secundário —
Notas biográficas — Conselho editorial & pares académicos
MARILDA OLIVEIRA DE OLIVEIRA (Brasil) Professora Associada II do Departamento de
Metodologia do Ensino, Centro de Educação, Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM/RS). Professora credenciada no Programa de Pós-Graduação em Educação,
PPGE, Centro de Educação, UFSM/RS. Doutora em História da Arte (1995) e Mestre
em Antropologia Social (1990), ambos pela Universidad de Barcelona, Espanha.
Bacharel em Cerâmica e Licenciada em Artes Visuais pela Universidade Federal
de Santa Maria — RS (1987). Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas
em Arte, Educação e Cultura (GEPAEC), diretório do CNPq. Membro do Instituto
Histórico e Geográfico de São Luiz Gonzaga (IHGSLG). Membro da Associação
Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas, ANPAP e da International Society for
Education through Art (InSEA). Orienta pesquisas de iniciação científica, mestrado
e doutorado na área da educação das artes visuais, cultura da imagem, formação
inicial e continuada em artes visuais. Autora do livro: “Identidade e Interculturalidade
— História e Arte Guarani” pela Editora da UFSM (2004). Organizadora do livro
“A Formação do Professor e o Ensino das Artes Visuais” juntamente com o professor
Fernando Hernández (2005) pela Editora da UFSM. Organizadora do Livro “Arte,
Educação e Cultura” publicado pela Editora da UFSM em 2007. Presidente da
Comissão Editorial da Revista Digital do LAV — Laboratório de Artes Visuais — UFSM.
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Matéria-Prima, Práticas Artísticas no Ensino Básico e Secundário —
Notas biográficas — Conselho editorial & pares académicos
PALOMA CABELLO PÉREZ (Espanha). Vicedecana de Organización Académica de
la Facultad de Bellas Artes de La Universidade de Vigo. Profesora y Coordinadora
del Máster para el Profesorado de Educación Secundaria Obligatoria, Bachillerato,
Formación Profesional y Enseñanza de Idiomas, en el itinerario de Artes, en la Universidade de Vigo. Profesora Titular de Escuela Universitaria en el Departamento de
Didácticas Especiales, de la Universidade de Vigo. Licenciada en Bellas Artes por
la Universidad Complutense, Facultad de Bellas Artes, (Madrid), viene publicando
desde los años 80 sobre la didáctica de las artes plásticas en publicaciones como
“La expresión plástica, diagnóstico como punto de partida” en la revista Adaxe, o
“Percepción y concepción espacial” en Revista de estudios Provinciales. Con una
prolífica actividad artística desde el año 1972, con exposiciones en centros de arte
nacionales e internacionales, investiga y realiza obra en el área de la didáctica y
enseñanza de la expresión plástica, reflejado además en diversas comunicaciones en
congresos especializados con trabajos como “Conclusiones de un encuentro de expresión plástica” en el III Congreso Nacional de la Sociedad Española para la Educación
por Medio del Arte, “La educación artística a través del museo” en el I Congreso Iberoamericano del Arte y Educación, o “La comprensión del espacio en los niños” en el III
Encuentro Nacional de Didáctica de la Expresión Plástica en Galicia “EL ESPACIO.”
REJANE COUTINHO (Brasil). Rejane Galvão Coutinho é mestre e doutora em Artes
pela USP e professora do Instituto de Artes da UNESP, onde atua no curso de
Artes Visuais Licenciatura e no Programa de Pós-Graduação em Artes, mestrado e
doutorado, linha de pesquisa Arte e Educação. É líder do grupo de pesquisa Arte
e Formação de Educadores UNESP/CNPq e tem publicado artigos em periódicos
e livros sobre: história do ensino de artes no Brasil, formação de educadores
mediadores e a questão da educação em museus. Entre as publicações se inclui o
Artes Visuais: da exposição à sala de aula, São Paulo, Edusp, 2005 em co-autoria
com Ana Mae Barbosa e Heloisa Sales; e Arte/educação como Mediação Cultural
e Social, São Paulo, Editora UNESP, 2009 organizado em parceria com Ana
Mae Barbosa. É membro da Federação de Arte Educadores do Brasil, FAEB e da
Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas, ANPAP. Foi fundadora
e atualmente é colaboradora do Arteducação Produções, coletivo que desenvolve
projetos de ação educativa e mediação cultural em São Paulo.
RICARD HUERTA (Espanha). Ricard Huerta (Espanha) É profesor titular de educação artística na Universitat de València. Investigador do Institut Universitari de
Creativitat i Innovacions Educatives. Diretor de EARI Educación Artística Revista
de Investigación. Doctor em Bellas Artes e licenciado em Música, Bellas Artes y
Comunicación Audiovisual. Coordenador do Grupo CREARI de Investigación en
Pedagogías Culturales. Profesor del Departamento de Didáctica de la Expresión
Musical, Plástica y Corporal de la Facultat de Magisteri (GIUV2013-103). Publicou,
entre outros, os livros Funció Plàstica de les Lletres, Art i Educació, Cultura Visual a
Ontinyent, Apaga-la!, Museo tipográfico urbano, Maestros y museos: educar desde
la invisibilidad, Ciudadana letra, Mujeres maestras; Identidades docentes en Iberoamérica, Romà de la Calle: l’impuls estètic en art i educació, Paternidades creativas,
Lletres de ciutats, La ciudad y sus docentes: Miradas desde el arte y la educación,
Transeducar, assim como artigos em revistas especializadas. Como artista visual apresentou exposições com temática impregnada pela tipografía e caligrafia. Dirigiu sete
jornadas internacionais de investigação artística e quatro congressos internacionais.
RONALDO OLIVEIRA (Brasil). Graduado em Educação Artística pela Faculdade
Santa Marcelina / SP (1987), e em Pedagogia pela Universidade do Estado
de Minas Gerais (2005); Especializado em Arte Educação pela ECA — USP
(1991); Mestrado em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie (2000) e Doutorado em Educação (Currículo) pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2004). Atualmente é professor
Adjunto “C” da Universidade Estadual de Londrina, no Departamento de Arte
Visual. Professor efetivo de Arte na Rede Estadual de Ensino do Estado de São
Paulo, onde atuou entre os anos de 1988 à 1996, ministrando a disciplina
de Arte desde os anos iniciais até o Ensino Médio. Atuou enquanto Professor
estatutário na Secretaria Municipal de Educação de Jacareí, no período de
1992- 2007, onde além de trabalhar com a educação básica e programas
extracurriculares, coordenou projetos na área de Ensino e Aprendizagem da
Arte nesta mesma Rede de Ensino. Atuou na UNIVAP (Universidade do Vale do
Paraíba no período de (2000 a 2007), na formação superior de professores para
Educação Básica e foi responsável pela implantação na mesma Universidade
da Licenciatura em Artes Visuais no ano de 2007. Tem experiência na área de
Arte e Educação, com ênfase em Currículo e Formação Inicial e Continuada
de Professores. Atua principalmente nos seguintes temas: arte educação, artes
visuais,ensino aprendizagem, Pedagogia.
SANDRA PALHARES (Portugal). Iniciou os seus estudos de Pintura na Faculdade de
Belas Artes da Universidade do Porto, terminando-os na Byam Shaw School of Art/
CSM, University of the Arts London, UK, 1997. Em 2009 concluiu o Doutoramento
Europeu em Pintura na Facultad de Bellas Artes de la Universidad del País Vasco,
Bilbao, publicando de imediato a sua tese. Foi docente na ESAP, na Faculdade
de Arquitetura e Artes da Universidade Lusíada e colaborou, pontualmente, com a
FBAUP. Atualmente é Professora Auxiliar no IE, Universidade do Minho. Entre 19941997 foi bolseira da Byam Shaw School of Art, University of the Arts London, UK e,
entre 2000-2004 foi bolseira da FCT. Desde 1997 que tem participado em diversas
exposições colectivas e individuais, tendo sido premiada em 1998 com o 2º Prémio
Fidelidade de Pintura Fidelidade e, em 1999, com o 1º Prémio Jovens nas Artes.
SARA BAHIA (Portugal). Professora Auxiliar da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa. Investigadora do Instituto da Educação da mesma universidades
nos domínios da criatividade, educação artística e inclusão. Tem desenvolvido
vários programas de promoção da criatividade e de competências sócio-emocionais
em diferentes contextos de educação formal e não formal.
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Matéria-Prima, Práticas Artísticas no Ensino Básico e Secundário —
Notas biográficas — Conselho editorial & pares académicos
RICARDO MARÍN VIADEL (Espanha). Licenciado en Bellas Artes (Pintura) por la Universidad de Barcelona y Doctor en Filosofía y Ciencias de la Educación por la Universidad de Valencia. Ha sido profesor de las Universidades de Valencia (1980-81), Barcelona (1981-84) y Complutense de Madrid (1984-88). Actualmente es profesor de
Educación Artística en la Facultad de Bellas Artes y en la Facultad de Ciencias de la
Educación de la Universidad de Granada. Libros y catálogos: (1998) La investigación
en Bellas Artes. ISBN: 84-89908-32-X. (2000) Utopías ácidas. ISBN: 84-370-4715-3.
(2003) Equipo Crónica: pintura, cultura, sociedad. ISBN: 84-7822-383-5. (2003)
Didáctica de la Educación Artística. ISBN: 84-205-3457-9. (2005) Investigación en
Educación Artística. ISBN: 84-338-3690-0. (2010) Los dibujos del tiempo. Impresiones del templo de Edfú. ISBN: 978-84-92747-13-9. (2012) Metodologías Artísticas
de Investigación en educación. ISBN: 9788497007177. www.incantadas.com
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Matéria-Prima, Práticas Artísticas no Ensino Básico e Secundário —
Notas biográficas — Conselho editorial & pares académicos
TERESA DE EÇA (Portugal). Doutorada pela Universidade de Surrey- Roehampton,
é Professora da Escola Secundária Alves Martins em Viseu, Presidente da Associação Portuguesa de Professores de Expressão e Comunicação Visual (APECV)
e Vice-Presidente da International Society for Education through art (InSEA). É
assistente editora da revista International Society for Education through Art. Como
investigadora coordena o grupo InSEA Research Board e pertence ao Núcleo de
Educação artística do Instituto de Investigação em Arte , Design e Sociedade da
Universidade do Porto, colabora com o Grupo de Investigación Interdisciplinar
‘Cultura, Imaginación y Creación Artística’ da Universidad Autónoma de Madrid.
Contacto: teresatorreseca@gmail.com
TIAGO ASSIS (Portugal). Licenciado em Design de Comunicação pela Escola
Superior de Artes e Design, Master em Produção Multimédia pela Universidade de Barcelona, doutorado pela Universidade de Valencia. Depois de ter
desempenhado profissionalmente várias funções como Designer, iniciou a sua
actividade como docente em 2001 na Escola Secundária Soares dos Reis, onde
leccionou até 2007. É professor e investigador na Faculdade de Belas Artes da
Universidade do Porto desde 2008. Actualmente, investiga sobre tecnologia ao
nível do poder, da cultura, da identidade e da linguagem no i2ADS. Este trabalho iniciou-se em 2001 a partir de experiências em comunidades info-excluídas
no contexto do Identidades - Movimento Intercultural entre Moçambique, Cabo
Verde, Brasil e Portugal. Esta investigação foca-se cada vez mais nos contextos
da Educação Artística.
UMBELINA BARRETO (Brasil). Possui Graduação em Artes Plásticas/ Habilitação
Desenho e Pintura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1978),
Mestrado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul (1994) e Doutorado em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2008). Atualmente é Professora Adjunta, da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul. É membro do Grupo de Pesquisa em Educação e Arte
(GEARTE). Possui experiência na área de Artes Visuais, com ênfase em Desenho e Pintura, realizando uma produção regular em poéticas, com exposições
anuais ou bianuais de suas obras. Na pesquisa tem atuado, principalmente,
nos seguintes temas: Ensino e Pesquisa da Linguagem do Desenho, Pesquisa
da Linguagem da Pintura e Ensino e Pesquisa em Semiótica Discursiva. Tem
realizado pesquisas na área de Semiótica, Filosofia da Arte e Epistemologia
da Arte. Tem atuado na Educação a distância, Coordenando um Curso de
Licenciatura em Artes Visuais, desde a implementação em 2008. Desenvolve
pesquisa relacionada a Estudos Curriculares de Cursos de Formação em Artes
Visuais, Graduação e Pós-Graduação, tendo participado da elaboração do
Projeto Pedagógico do Curso de Artes Visuais da UFRGS, e coordenado a elaboração do Projeto Pedagógico de Licenciatura em Artes Visuais modalidade a
distância da UFRGS — REGESD — PROLICEN 2. Atualmente é Coordenadora
da Coordenadoria das Licenciaturas da UFRGS. Contacto: umdb@terra.com.br
Call for papers:
9th Matéria-Prima International Congress
IX Congresso Internacional Matéria-Prima:
práticas das Artes Visuais no ensino básico e secundário
Portugal, Lisboa, julho 2020
Chamada de trabalhos
Lança-se o desafio aos professores e investigadores em ensino das artes visuais de partilhar, no
encontro “Matéria-Prima: práticas das Artes Visuais no ensino básico e secundário,” perspetivas
operacionais de desenvolvimento curricular com focagem nos seus resultados concretos.
Tema Ensino das artes, perspetivas e exemplos do terreno.
Escopo
Pretende-se criar um espaço de partilha de experiências no terreno, com resultados de
trabalhos desenvolvidos em unidades de trabalho e respetivas reflexões sobre o sucesso,
avaliação, adequação. Trata-se de cruzar olhares entre os profissionais experimentados,
os investigadores em práticas pedagógicas e em desenvolvimento curricular, e os alunos do
mestrado em Ensino das Artes Visuais (UL) que ensaiam apoios nas experiências educativas.
São questões de exploração:
— O que efetivamente acontece na aula no que respeita ao ensino e aprendizagem da
arte no ensino básico e secundário?
— Como o professor da escola básica e secundária tem agido enquanto criador de
aproximações e abordagens do ensino das artes?
— Quais os paradigmas e metodologias que os professores, nas Universidades, Institutos
de Educação, Faculdades, têm utilizado na formação do professor de arte?
— Quais os desafios de ensinar arte na contemporaneidade?
Idiomas português, castelhano, inglês
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Matéria-Prima, Práticas Artísticas no Ensino Básico e Secundário —
Chamada de trabalhos: IX Congresso Internacional Matéria-Prima
Chamada de trabalhos:
IX Congresso Internacional
Matéria-Prima
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Apreciação
Por “double blind review” ou “arbitragem cega.” Cada resumo / artigo recebido pelo
secretariado é reenviado, sem referência ao autor, a três, ou mais, dos membros da Comissão
Científica, garantindo-se no processo o anonimato de ambas as partes (double-blind). No
procedimento privilegia-se também a a distância geográfica entre origem de autores e de
revisores científicos.
Datas importantes
O VIIi Congresso Matéria-Prima decorre durante o mês de julho de 2020.
Matéria-Prima, Práticas Artísticas no Ensino Básico e Secundário —
Chamada de trabalhos: IX Congresso Internacional Matéria-Prima
· Data limite de submissão de sinopses: 15 de março 2020
· Limite de submissão de textos completos: 25 de abril 2020
Publicações do Congresso
As comunicações aprovadas serão publicadas em volume de atas PDF dotado de ISBN.
As comunicações mais apreciadas pela Comissão Científica poderão ser recomendadas para
publicação no periódico académico “Matéria-Prima”.
Custos
Palestrantes (após aprovação): 180 euro (registo cedo) 360 euro (registo com atraso).
Alimentação e dormidas não incluídas. Isenção de taxas para palestrantes vinculados à Comissão Científica, ao mestrado em Ensino da UL, ou professores cooperantes do mesmo mestrado.
Contactos
VII Congresso Matéria-Prima
CIEBA: Centro de Investigação e de Estudos em Belas-Artes
FBAUL: Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa
Largo da Academia Nacional de Belas-Artes,
1249-058 Lisboa, Portugal
congressomateriaprima@gmail.com
http://congressomateria.fba.ul.pt
Endereço
Para contactos e envio de comunicações: congressomateriaprima@gmail.com
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Ficha de assinatura
Aquisição e assinaturas
Preço de venda ao público:
10€ + portes de envio
Assinatura anual (três números):
Portugal: 27€
União europeia: 33€
Resto do mundo: 57€
Pode adquirir os exemplares
da Revista Matéria-Prima na loja online
Belas-Artes ULisboa —
http://loja.belasartes.ulisboa.pt/
materia-prima
Contactos
Loja da Faculdade de Belas-Artes
da Universidade de Lisboa
Largo da Academia Nacional de Belas-Artes
1249-058 Lisboa, Portugal
Telefone: +351 213 252 115
encomendas@belasartes.ulisboa.pt
Matéria-Prima, Práticas Artísticas no Ensino Básico e Secundário — Ficha de Assinaturas
Subscription notice
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Para este número 18 da Revista Matéria-Prima reuniram-se 16
artigos que permitem colocar em perspetiva diversas dimensões da Educação Artística. Entre a consciência patrimonial
e a emancipação, entre o domínio da técnica e do género,
entre a integração e a maturação criadora, há um espaço a
ser pesquisado, feito de história, de identidade, de ensaio e
de inclusividade.
Crédito da capa:
Do artigo de Marta Ornelas