III Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo
arquitetura, cidade e projeto: uma construção coletiva
São Paulo, 2014
EIXO TEMÁTICO:
( ) Ambiente e Sustentabilidade
( ) Crítica, Documentação e Reflexão
( ) Habitação e Direito à Cidade
( ) Infraestrutura e Mobilidade
(X) Patrimônio, Cultura e Identidade
( ) Espaço Público e Cidadania
( ) Novos processos e novas tecnologias
Itinerários da saúde na Belém colonial e imperial
Health Itineraries in colonial and imperial Belém
Itinerarios de la salud en Belém colonial e imperial
SALVADOR MIRANDA, Cybelle (1)
(1) Professora Doutora, Universidade Federal do Pará, UFPA – PPGAU, Belém, PA, Brasil; email:
cybelle1974@hotmail.com
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III Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo
arquitetura, cidade e projeto: uma construção coletiva
São Paulo, 2014
Itinerários da saúde na Belém colonial e imperial
Health Itineraries in colonial and imperial Belém
Itinerarios de la salud en Belém colonial e imperial
RESUMO
As instituições de saúde em Belém compõem um importante acervo não só para a História da Saúde e
da Medicina, mas por sua Arquitetura que forma conjuntos urbanos de valor histórico e artístico
significativo. Devido às aceleradas mudanças nos métodos de tratamento médico, esses entes vem
sofrendo alterações que comprometem sua leitura arquitetônica e ameaçam inclusive sua permanência
material. O estudo sobre o patrimônio da saúde em Belém permitiu a compreensão dos processos de
transformação e expansão urbana da cidade, com destaque para o século XIX. Neste período, com o
auxílio de textos publicados em periódicos, Mensagens dos Presidentes de Província e Relatórios da
Intendência, traçou-se o panorama das deficiências no cuidado a saúde e as divergências entre a
medicina acadêmica e a popular, face às calamidades públicas como as epidemias. Tal situação
redundou na adoção de políticas higienistas para a cidade, nos moldes adotados pelas demais capitais
brasileiras de então. Do cruzamento com a fisionomia atual dos locais e prédios hospitalares permite-se
revelar as perdas/apagamentos, de modo que, nos itinerários propostos, o morador da cidade e o
visitante pode se reportar aos vestígios materiais da trajetória de mudanças urbanas.
PALAVRAS-CHAVE: Cartografia de Belém, Patrimônio da saúde, mobilidade
ABSTRACT
Health institutions in Belém constitute an important collection not only for the History of Health and
Medicine, but for its urban architecture that forms sets of significant historical and artistic value. Due to
rapid changes in methods of medical treatment, these entities have undergone changes that undermine
its architectural reading and even threaten their material permanence. Study on equity of health in
Bethlehem allowed the understanding of the processes of change and urban expansion of the city,
especially in the nineteenth century. In this period, with the aid of texts published in journals, Messages
of the Presidents of the Province and Reports Stewardship, drew up an overview of the shortcomings in
health care and differences between academic and popular medicine in the face of calamities such as
epidemics . This situation resulted in the adoption of policies hygienists to town, along the lines adopted
by other Brazilian cities of the time. Crossing with the current face of local and hospital buildings are
allowed to reveal losses / deletions, so that the proposed routes, the city dweller and the visitor can refer
to material traces the trajectory of urban change.
KEY-WORDS: Cartography of Belém, Health heritage, mobility
RESUMEN
Las instituciones de salud en Belén constituyen una colección importante no sólo para la Historia de la
Salud y Medicina, pero por su arquitectura urbana que forma series de valor histórico y artístico
significativo. Debido a los rápidos cambios en los métodos de tratamiento médico, estas entidades han
experimentado cambios que socavan su lectura arquitectónica e incluso amenazar su permanencia
material. Estudio sobre la equidad de la salud en Belén permitió la comprensión de los procesos de
cambio y la expansión urbana de la ciudad, especialmente en el siglo XIX. En este período, con la ayuda
de los textos publicados en las revistas, los mensajes de los Presidentes de la Provincia y los Informes de
Administración, elaboró un resumen de las deficiencias en la atención sanitaria y las diferencias entre la
medicina académica y popular de cara a las calamidades como epidemias . Esta situación dio lugar a la
adopción de políticas higienistas a la ciudad, a lo largo de las líneas adoptadas por otras ciudades
brasileñas de la época. Cruce con la cara actual de edificios locales y hospitalarios están autorizados a
revelar pérdidas / supresiones, de modo que las rutas propuestas, el habitante de la ciudad y los
visitantes pueden referirse a los materiales traza la trayectoria de cambio urbano.
PALABRAS-CLAVE: Cartografía de Belém, Patrimonio en salud, la movilidad
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1. O PATRIMÔNIO DA SAÚDE EM BELÉM
áà pes uisaà Me
iaà eà idade:à iti e iosà daà saúdeà aà Belé à olo ialà eà i pe ial à t ata do
cuidado à saúde do século XVII ao XIX, cuja meta é a descrição dos itinerários da saúde em
Belém do Grão Pará nesse período. Como parte deste estudo, neste artigo objetiva-se
selecionar a cartografia de Belém, capital do Estado do Pará, produzida nos períodos colonial e
imperial, e nela localizar as instituições de saúde existentes.
Para compreender as motivações para a implantação das instituições de cuidado a saúde é
e ess ioài vestiga àasàepide iasà ueàassola a àaà idade:à pesteàdasà exigas ,à asàfe es ,àaà
hole a ,à aà g ippe ,à o phea à eà aà elepha tiasis ,à o he e à osà étodosà deà t ata e tos,à
como a população da época reagia a esses acontecimentos, e principalmente para onde
recorriam nessas ocasiões. Nesse contexto, foram identificados vários estabelecimentos, a fim
de reconhecer que algumas dessas edificações ainda fazem parte da configuração do conjunto
urbano de valor histórico e artístico na cidade, apesar de terem sofrido algumas modificações
devido à necessidade de adaptações em função de novas técnicas e métodos de tratamento à
saúde. Tais intervenções viriam a descaracterizá-las, podendo comprometer a leitura
arquitetônica das mesmas, enquanto outras, por sua vez, foram totalmente destruídas e/ou
substituídas por não ter o devido valor histórico atribuído a elas.
O método utilizado foi o qualitativo, sendo realizada leitura de textos e estudo da iconografia.
Inicialmente foram feitas buscas para a identificação dos estabelecimentos de saúde
existentes no período, através de material documental e bibliográfico. Dentre os jornais da
época, selecionamos: A Voz do Caixeiro, Correio dos Pobres, Gazeta Official, O
Contemporaneo, O Doutrinario I e II, O Echo Independente, O Jornal da Sociedade Phylomatica
Paraense, O Monarchista Paraense, O Novo Mundo, O Planeta, O Publicador Paraense, O
Tolerante, O Velho Brado do Amazonas, Treze de Maio, Voz do Guajará.
Depois de identificadas as instituições, foram selecionados os principais desenhos
cartográficos da cidade de Belém nesse período para a localização dos edifícios onde
funcionaram/funcionam essas instituições. As imagens foram recolhidas do CD-‘OMà I age sà
deà Vilasà eà idadesà doà B asilà Colo ial à eà doà a e voà doà La o at ioà deà Me
iaà eà Pat i
ioà
Cultural, tendo também como fontes os Relatórios da Intendência e do Governo do Estado.
Co oàsí tese,àfo a àp oduzidosà apasàte ti osà o àaà ep ese taçãoàdaà Belé àdaà“aúde ,à
aos quais se juntou discussão acerca das razões que provocaram a referida mobilidade.
2. A CIDADE DE BELÉM E AS EPIDEMIAS
Foram encontrados vários registros de instituições das quais já se tinha conhecimento da
existência como: Hospital Real, Hospital do Senhor Bom Jesus dos Pobres, Santa Casa de
Misericórdia do Pará, Hospital da Ordem Terceira de São Francisco, Hospital dos Lázaros e
Hospício de Alienados do Tucunduba, Hospício de Alienados do Marco da Légua, Hospital de
Isolamento e Hospital Dom Luiz I da Beneficente Portuguesa.
Através de jornais do século XIX já se pode observar a preocupação com a saúde física e
mental dos habitantes da Belém do Grão Pará, ainda província nesse período. São muitos os
relatos e questionamentos de hábitos, preocupação com a higiene e novos tratamentos para
determinadas doenças frequentes na época, inclusive discutindo e apontando responsáveis
pelo zelo da população e investimentos nesse setor. (A VOZ DO CAIXEIRO, 6 abr. 1890, p: 1-2)
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Durante quatro anos, de 1835 a 1839, os paraenses sofreram com a rebelião cabana, e após
essa revolta popular continuaram sofrendo com a repressão dos vitoriosos ligados ao Império.
A população do Grão Pará ainda sofria as consequências da revolta, quando foi assolada pela
febre amarela em 1850. O resultado foi uma depopulação entre os anos de 40 à 50, provocada
pelas disputas cabanas, mortes em razão da febre amarela e mais tarde, em 1855, quando
chega a cólera, somando-se às demais causas mortis na Província (BELTRÃO, 2004).
As epidemias tiveram como principais vítimas os pobres, devido às péssimas condições em que
viviam e porque, segundo relatos, com a notícia das doenças, os ricos começaram a partir,
deixando a província devido ao medo imposto pela mortalidade. (BELTRÃO, 2004)
Beltrão descreve os pobres do Grão-Pará através de informações recolhidas de relatórios de
presidentes da província e de periódicos daquela época:
Quem eram os pobres do Grão-Pará? Eram gentes etnicamente diversas que enfrentavam, no dia-a-dia,
situações marcadas pela desigualdade social. (...) Os mestiços, quando livres possuíam, se muito, um
casebre com paredes emboçadas e coberto de folhas de palmeiras, localizado nas estradas que
conduziam aos arredores suburbanos. Seus casebres eram escuros e pouco arejados. Próximo aos
casebres encontravam-se galinheiros e pocilgas que estavam sempre na mira da fiscalização por conta da
insalubridade e dos supostos miasmas emanados dos charcos. (BELTRÃO, 2004, p: 130)
Mesmo com a escassez de recursos e a ausência de médicos, principalmente nos interiores, a
população não era desassistida, pois existiam outras opções de tratamento. Havia uma
competição entre os profissionais dedicados aos cuidados da saúde, pois cada um tentava
fazer valer seus conhecimentos na arte de curar. Apesar de que, a medicina oficial se rendia às
práticas populares, que se mostravam eficazes muitas vezes no tratamento de doenças
epidêmicas como a cólera (BELTRÃO, 2004).
Tem-se conhecimento de diversos tratamentos a que recorriam na falta de recursos da
edi i a,à o oà oà usoà deà sa guessugasà soli itadasà e à jo aisà aà fo e edo es à pa aà osà
Hospitais e tratamentos homeopáticos (TREZE DE MAIO, 7 jun. 1851, p: 4). Durante a epidemia
de cólera, em 1855, a grande polêmica entre os doutores dedicados a descobrir o melhor
tratamento para a moléstia era a utilização de sangrias. Não se sabe se os opositores eram
contra pelo fato de ser uma prática utilizada pelos profissionais de saúde popular, no entanto,
alguns alopatas não se declaravam contra a sangria quando praticada por médicos. (BELTRÃO,
2004)
A solução encontrada pelo Dr. Silva Castro para o tratamento dessa epidemia foi escrever
Boletins em que apresentava o histórico do combate à enfermidade, demonstrando a
utilização dos sistemas de tratamento em outros locais onde a doença ocorreu. O Boletim foi
copiado em grande quantidade e publicado por várias tipografias da capital e do interior e
onde não havia tipografias era copiado à mão e distribuído de forma que todos tivessem
acesso. Esse pequeno artigo foi importante, principalmente onde não havia médicos, já que
orientava o povo sobre o modo e meios de curar o mal da cólera. Em pouco tempo o boletim
tornou-se o Guia Médico mais utilizado no Pará. (BELTRÃO, 2004)
Uma parte da população apresentou sinais de rebeldia, pois sofria muitas lesões devido às
lacentas, ventosas e sanguessugas utilizadas no tratamento da cólera, o que aumentava as
complicações e dificultava a recuperação. (BELTRÃO, 2004)
Nesses períodos de epidemias, o número de indigência era muito elevado devido à pobreza,
que representava um terço da população do Pará. Esses indigentes ficavam, portanto, na
dependência de compaixão e caridade de pessoas que saiam de casa em casa pedindo ajuda
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para os necessitados, e também de médicos que se propunham a visitar e medicar os
enfermos da capital e do interior, gratuitamente. (O VELHO BRADO DO AMAZONAS, 11 de jul.
1851, p: 1-3)
Por esse motivo, surgiram as irmandades, beneficências e misericórdias, instituições lusas de
caridade, responsáveis por grande parte da História da Saúde em Belém, em especial a Santa
Casa de Misericórdia do Pará (SCMP) e a Irmandade Beneficência.
3. A ATUAÇÃO DA SANTA CASA NO TRATAMENTO A SAÚDE
A Santa Casa do Pará surgiu inicialmente em 1650, às proximidades de onde hoje se localiza a
loja Paris ’A érica, era um pequeno edifício de taipa com uma igrejinha ao lado.
Quando chegou à província em 1783, D. Frei Caetano Brandão (1740-1806) buscou arrecadar
di hei oàpa aàaà o st uçãoàdeàu à ovoàhospitalàj à ueàexistiaà ape asàoàpe ue oàeài sufi ie teà
hospital da Santa Casa de Mise i dia à VIáNNá,à 99 ,à p: 56). Em 25 de julho de 1787, foi
inaugurado o Hospital Senhor Bom Jesus dos Pobres, conhecimento popularmente como
Hospital da Caridade. Localizava-se no antigo Largo da Sé, onde hoje temos um chafariz, ao
lado da chamada Casa das Onze Janelas, que outrora fora Hospital Real. É considerado o
primeiro nosocômio em alvenaria do Pará (Figura 1).
Figura 1: Hospital do Senhor Bom Jesus dos Pobres.
Fonte: VIANNA, 1992. p: 80-81.
No ano de 1807, a SCMP instalou-se no prédio sede do Hospital da Caridade, onde ficou até
1900, quando foi inaugurado o atual, situado na Rua Oliveira Belo, no bairro do Umarizal.
(BELTRÃO et al, 2011). (Figura 2)
Figura 2: Santa Casa de Misericórdia do Pará.
Foto: Laura Costa, 2013
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Devido às grandes epidemias da época, as instituições destinadas ao cuidado dessas moléstias
eram implantadas em lugares mais afastados da cidade, (assim como manicômios e presídios)
algumas em fazendas administradas pela Mesa da Santa Casa da Misericórdia.
Fundou e administrou até o início do século XX, o Hospital dos Lázaros do Tucunduba, também
chamado de leprosário, inaugurado em 1815 e transformado em abrigo de hansenianos, onde
anteriormente existiu uma olaria pertencente aos religiosos mercedários, na Rua Barão de
Igarapé Miri, nas proximidades da Passagem Alegre até as margens do Tucunduba, atual bairro
do Guamá. O lazareto funcionou até 1938 (Figura 3).
Figura 3: Portão de entrada do Lazareto do Tucunduba.
Fonte: Acervo Fundação Getúlio Vargas
Ainda no pequeno prédio do Hospital Bom Jesus dos Pobres começaram-se as tentativas de
atender aos doentes mentais. Entretanto, pelo comportamento violento de alguns e o grande
número de alienados, as autoridades foram obrigadas a confinar esses doentes no Tucunduba,
onde as condições de higiene, tratamento e instalações eram precárias. O Hospício de
Alienados do Tucunduba funcionou próximo ao lazareto no período de 1873 a 1901, quando
foi desativado.
No século XIX começou a haver interesse por parte dos republicanos na melhoria da
salubridade pública de Belém. Foi então autorizada a aquisição do terreno para construção do
Hospí ioà deà álie ados à ta é à o à aà ad i ist açãoà daà “CMPà ueà optouà peloà te e oà oà
bairro do Marco da légua em 1892. O local escolhido, próximo ao Bosque municipal, era
considerado distante do centro da cidade e utilizado como área para veraneio. Apenas em
1937 foi denominado Hospital Juliano Moreira, sendo demolido em 1989. (BELTRÃO et al,
2011). (Figura 4)
Figura 4: Vista do Hospital Juliano Moreira, observe-se os trilhos da Estrada de Ferro de Bragança que passava em frente ao
Hospital.
Fonte: BELÉM, 1902.s.p.
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Anos depois a SCMP administrou também o Hospital de Isolamento, conhecido como Hospital
Domingos Freire a partir de 1905, construído para abrigar os doentes infectocontagiosos,
situado na Rua Barão de Mamoré com a Travessa dos Mundurucus, local onde hoje se
encontra o Hospital Universitário João de Barros Barreto (BELTRÃO et al, 2011). (Figura 5)
Figura 5: Fachada do Hospital Domingos Freire.
Fonte: Acervo Fundação Getúlio Vargas.
4. INSTITUIÇÕES DA SAÚDE NA CIDADE COLONIAL E IMPERIAL
O local escolhido para a fundação de Santa Maria de Belém do Grão Pará possuía as
características para o desenho de uma cidade-fortaleza, pois o sítio era uma faixa de terra
cercada de um lado pelo rio e pelo outro lado por um grande pântano, chamado de Piry. O
Forte do Presépio foi o ponto inicial para o desenvolvimento da cidade de Belém. Descendo ao
Norte do alagado, posteriormente foi construído o Convento de São Boaventura e depois o
Arsenal da Marinha. (CRUZ, 1973, p:39)
Sobre o ano de 1650 afirma-se:
Já estavam abertas as primeiras ruas, todas paralelas ao rio. Os caminhos transversais conduziam ao
interior do núcleo. (...) Os primeiros moradores da parte Sul foram os religiosos Capuchos da Província de
Santo Antonio, que construíram à margem do chamado Paraná-Guaçú, o Hospício do Una. (CRUZ, 1973, p:
39-40)
Inicialmente se acreditou que a ocupação Lusitana teria ocorrido de forma espontânea e
improvisada, entretanto, estudos compravam um planejamento urbano e militar observado
desde a escolha do terreno ao traçado das vias e a disposição das edificações. Contudo, o
terreno escolhido dificultou o povoamento já que o alagado tornava a expansão inviável; por
esse motivo, até meados do século XVIII o aspecto urbano pouco de modificou e os limites
pouco se dilataram seja em largura ou profundidade. O primeiro traçado urbano de Belém
possivelmente foi orientado pelo desenho do Engenheiro Frias de Mesquita e executado pelo
Conquistador Francisco Caldeira Castelo Branco. (GUIMARÃES, 2006)
Segundo o professor Paulo Eleutério Senior, em 1929 em uma conferência no Instituto
Histórico e Geográfico do Pará, a Santa Casa de Misericórdia, como a primeira instituição de
saúde do Pará, teria surgido três anos após a fundação da cidade, sendo assim no ano de 1619,
o que abriu margem para alguns debates a respeito. No entanto, por falta de documentos que
esclareçam definitivamente a data de fundação da Instituição, aceita-se a informação de
Baena (1838) e Arthur Vianna (1902) de que a fundação data de 1650, próximo ao Convento
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dos Mercedários (Figura 6). (CRUZ, 1973).
Neste período não existiam médicos na cidade, os enfermos eram atendidos pelos jesuítas que
se utilizavam de práticas como sangrias e aplicações térmicas. Segundo notícias, somente em
1733 chegou o primeiro médico em Belém, o Dr. Antonio Caldeira Sardo Vila Lobos e os
médicos que vieram a seguir só chegaram por volta da segunda metade do século XVIII. (CRUZ,
1973)
áà Pla taàGeo ét i aàdaàCidadeàdeàBelé àdoàG a àPa àfoi tirada por ordem de S. Exc. o Sr.
Don Francisco Xavier Mendonça Furtado Capitão General e Governador do mesmo Estado no
ano de 1753. Este exemplar é parte do Acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e
apesar de não ser assinada, acredita-se ter sido também de autoria dos engenheiros militares
que vieram para a demarcação das Américas Portuguesa e Espanhola (Figura 6).
Figu aà :à Pla taàGeo ét i aàdaà idadeàdeàBelé àdoàG a àPa
, 1753.
Fonte: Original Manuscrito da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro apud REIS FILHO; BUENO; BRUNA, 2000.
Provável localização de onde inicialmente surgiu a Santa Casa de Misericórdia do Pará em 1650.
sàp oxi idadesàdaàatualàPa isàN á é i a .
Localização da Enfermaria dos franciscanos a partir de 1626.
A imagem a seguir apresenta a localização, na própria legenda, de duas outras instituições:
Hospício de São Boaventura e Hospício de São José, além do Hospital Real e Hospital da
Caridade (Figura 7).
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Figura 7: Planta da Cidade do Pará, 1751.
Fonte: IHGB apud REIS FILHO; BUENO; BRUNA, 2000.
Localização de onde inicialmente surgiu a Santa Casa de Misericórdia do Pará.
Lo alizaçãoàdoàHospitalà‘eal,àaàpa ti à
9,àatualà Casaàdasà àja elas .
Localização do Hospital da Caridade.
Localização do Hospício de São Boaventura.
Localização do Hospício de São José.
Localização da Enfermaria dos franciscanos.
Na segunda metade do século XVIII, as atividades em desenvolvimento eram principalmente a
cultura do cacau, café, arroz e algodão, inclusive em nível de exportação. Quanto à borracha,
já aparecia entre os produtos comercializáveis, porém ainda sem grandes destaques, já que
somente ao longo da primeira metade do século XIX houve a necessidade deste produto no
mercado devido ao aperfeiçoamento técnico desenvolvido por Machintosh (1823) e Goodyear
(1839).
Almeida Pinto considera como primeira epidemia de varíola, no Pará, a que se estendeu de
1721 a 1733, sacrificando milhares de vidas. No entanto, há notícias de uma epidemia que
teria ocorrido anteriormente, em 1695, pelos fins de agosto daquele ano, com a vinda de um
navio que trazia índios ao Grão-Pará e Maranhão, inclusive com a construção de um hospital
de bexigosos feita às pressas para abrigar os acometidos pela doença. (CRUZ, 1973, p: 168;
219)
É de se esperar que no período das grandes epidemias, de varíola, febre amarela e de cólera,
também a economia da cidade tenha entrado em profunda crise já que os mais atingidos eram
geralmente os índios e pobres que trabalhavam nos Engenhos e Fazendas para abastecer o
comércio local.
No próximo mapa, de autoria de Theodósio Constantino Chermont, já é possível notar essa
expansão e a localização das três principais instituições existentes nesse período. Esse mapa
foi considerado por Meira Filho como o mais precioso levantamento da cidade de Belém no
século XVIII devido à minúcia com que retratou o espaço urbano (Figura 8).
O engenheiro Chermont faz detalhamentos muito significativos a respeito das edificações
dessa época, pois fornece informações valiosas a respeito dos tipos de habitações encontradas
e sobre os materiais com os quais foram construídas. Assim descreveu os prédios de Belém:
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Os edifícios lavados de carmim forte são de pedra e cal; os edifícios lavados de carmim amarelo, são de
madeira, terra, pedra e cal; os edifícios lavados de amarelo e sombreados carmim, são de madeira e terra,
as obras lavadas de amarelo são puramente de madeira; os corpos ponteados são de novo projetados.
(CHERMONT apud GUIMARÃES, 2006, p: 44)
Figura 8: Planta Geral da Cidade do Pará, 1791.
Fonte: IHGB apud REIS FILHO; BUENO; BRUNA, 2000.
Hospital Geral.
Santa Casa de Misericórdia.
Provável localização do Hospital Bom Jesus dos Pobres, no largo da Sé, a partir de 1787.
Localização da Enfermaria dos franciscanos.
Em 1803 D. Marcos de Noronha e Brito o Conde dos Arcos, vigésimo sexto governador e
capitão general do Grão-Pará e Rio Negro, empreenderia uma reforma da cidade iniciando o
aterramento do alagado do Piri. A obra começou no início do século XIX e se arrastou por mais
de um século. Esse acontecimento é de grande relevância já que o crescimento urbano de
Belém deve-se, sobretudo, a drenagem do alagado do Piri, o que impulsionou mudanças no
espaço urbano alterando a estrutura da cidade. Interligando por via terrestre as freguesias da
Campina e da Sé, resultou na ampliação das fronteiras urbanas e vias de circulação da cidade,
criando novas áreas de habitação com a construção de rocinhas, uma espécie de casa de
campo que se edificaram nos arredores de Belém, e permitiu que novos bairros fossem sendo
incorporados mais tarde à área de expansão da cidade, como Batista Campos, Jurunas,
Condor, Cremação e Guamá.
A drenagem do Piri, vista por muitos como uma medida urbanizadora, também refletia uma
preocupação com relação à higienização da cidade e o perigo de doenças, pelo fato de ser o
pântano um gerador de insetos e em meio às grandes epidemias esses problemas se
agravariam. (GUIMARÃES, 2006)
Guimarães enfatiza que a legislação urbanística não é própria do século XIX, mas já era
implementada desde os tempos coloniais. Em Belém, tem-se a criação das Décimas dos
Prédios Urbanos em 1808 e particularmente o Código de Posturas, adotado entre 1829 e 1831.
No final do século XIX foram criadas leis que fortaleceram o Código de Posturas dando ao
Estado possibilidades legais para interferir na fisionomia urbana da cidade, amparada pelos
princípios estéticos e higiênicos (GUIMARÃES, 2006).
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Embora tivesse limites para aplicar essa política de disciplinar o espaço público, constituía uma
preocupação das autoridades locais e se materializava em apoio que era dado pelo governo às
casas assistenciais como o Hospital do Tucunduba que serviu de abrigos a lazarentos.
Apontava o presidente da província João Antonio de Miranda em 1840:
Um dos meus antecessores fez a compra da Fazenda Pinheiro (atual distrito de Icoaraci) com intuito de
nela edificar um Hospital com proporções devidas, não só para receber os trinta indivíduos que se acham
em Tucunduba (no atual bairro do Guamá), mas, ainda acolher um maior número de desgraçados, que
nesta cidade, e em alguns pontos da província se comunicam, a respeito dos quais se não tem da parte do
governo expedido as mais positivas providências por falta de uma casa de socorro. O Hospital do
Tucunduba fundado em um retiro, onde faltam os devidos cômodos, oferece a desvantagem das relações
desses indivíduos com os habitantes da cidade, onde eles freqüentemente aparecem com o auxílio da
noite, e mesmo de dia sendo encontrado a percorrer a estrada de Nazareth. (apud GUIMARÃES, 2006, p:
71).
A maior preocupação do governo em favorecer e dar assistência à construção do lazareto é
principalmente de zelar pela cidade, para evitar que essas pessoas ficassem a perambular pelo
centro da capital, especialmente à noite.
Já no final do século XIX, com a imigração intensa devido ao Ciclo da Borracha, a cidade foi se
expandindo. Surgiram outros bairros como Nazaré e Umarizal. Junto a essas transformações
novos significados foram atribuídos à nova forma de vida: a Cidade Velha, com suas ruas
estreitas, até então a preferida pela elite para fixar moradia, passou a ser vista como um lugar
insalubre e seus moradores mais antigos começaram a se mudar para ruas e avenidas mais
largas e bairros como o de Nazaré, onde anteriormente se localizavam as rocinhas. No
entanto, é importante frisar que a freguesia de Nazaré, assim como as demais áreas da cidade,
era composta de uma heterogeneidade social, até que vieram no governo do Intendente
Lemos as tentativas de afastar os pobres do centro.
áàCa pi a,àoà segu doà ai oàdeàCidade àe aào deàseà o e t avaàu à o à ú e oàdeàlojasàeà
outros tipos de comércio, mas também se encontrava ali casas particulares, cortiços, hotéis,
estâncias, colégios e etc.
Também houve mudança em serviços como na iluminação pública quando passou de azeite e
petróleo para gás carbônico, daí para o querosene e no final da década de 1890 passou a ser
utilizada a energia elétrica inicialmente com o serviço da Companhia Urbana de Estrada de
Ferro Paraense, que depois foi substituída pelas americanas The Pará Eletric Company e The
Pará Gaz Company e assim a eletricidade passou a abranger ruas e casas particulares.
Entretanto as reclamações a respeito da iluminação eram constantes tanto quanto pelo
transporte e abastecimento de água: as lâmpadas incandescentes não eram suficientes, o
transporte até o século XX era realizado em geral por tração animal, bondes em condições
precárias e havia dificuldade no fornecimento de água. (CANCELA, 2008)
Até aproximadamente a década de 20 a cidade foi palco de atração econômica e populacional
pelos vários fatores que impulsionaram a dinâmica econômica: por conta da exportação do
cacau desde os fins do século XVIII até a primeira década do século XIX, mais tarde pela
mudança da Corte para o Brasil elevando a Corte à condição de Reino de Portugal, provocando
a abertura dos portos e assim como outras capitais, Belém passou a intensificar as suas
relações com o mercado estrangeiro.
O Mapa elaborado pelo Engenheiro Manoel Odorico Nina Ribeiro entre os anos de 1883-1886
nos permite identificar instituições do Núcleo pioneiro como o Hospital da Ordem Terceira,
bem como os Hospícios de Alienados do Tucunduba e do Marco, bem como o Hospital
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Domingos Freire e o Cemitério Santa Isabel. O Hospital D. Luiz I também consta na legenda
original do Mapa (Figura 9).
Figura 9: Planta da Cidade de Belém 1883-1886.
Fonte: MUNIZ, 1904.
Hospital da Caridade, incorporado a Santa Casa em 1807.
Hospício dos Alienados a partir 1892, na Av. Tito Franco, atual Av. Almirante Barroso.
Hospital da Ordem Terceira.
Hospital Dom Luiz I da Beneficente Portuguesa, em 1877.
Hospital da Santa Casa de Misericórdia a partir de 1900.
Cemitério da Soledade.
Cemitério Santa Isabel a partir de 1874.
Localização do Hospital Domingos Freire, 1905, atual Hospital Universitário João de Barros
Barreto.
Provável Localização do Hospital dos Lázaros do Tucunduba, a partir de 1815.
Provável Localização do Hospício dos Alienados do Tucunduba a partir de 1873.
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5. CONSIDERAÇÕES SOBRE A MOBILIDADE DAS INSTITUIÇÕES DA SAÚDE
Como pudemos perceber, desde sua fundação até, principalmente, meados do século XIX, a
capital da província do Grão-Pará passou por intensas transformações na configuração do
espaço urbano em decorrência de fatos que interferiram na forma de morar, na preocupação
com a higiene e saúde dos habitantes de Belém nessa época.
Provavelmente três anos após a fundação de Belém, a Santa Casa de Misericórdia começa a
prestar serviços ainda sem um edifício próprio e somente em 1650 é inaugurada, de fato,
próximo ao largo das Mercês, localizado na Campina. A partir daí, outras instituições de saúde
foram surgindo, vinculadas ou não a Santa Casa de Misericórdia, já que mais tarde esta
instituição administrou alguns outros estabelecimentos.
Com o aterramento do alagado do Piri houve uma interligação terrestre entre as freguesias, o
que possibilitou a ampliação das fronteiras urbanas e assim o surgimento de novos bairros,
além do novo hábito da construção de rocinhas, que funcionavam como casas de veraneio.
Assim, as áreas mais afastadas começaram a ser ocupadas e bairros como Nazaré tiveram a
preferência para moradia de famílias abastadas, que anteriormente ocupavam a Cidade e
Campina.
Contemporâneos a primeira sede da Santa Casa foram o Hospital Geral Militar, também
conhecido como Hospital Real e o Hospital Bom Jesus dos Pobres Enfermos, conhecido como
Hospital da Caridade, ambos localizados no Largo da Sé atendendo, embora com precariedade,
as necessidades da população que ali habitava. Iniciou-se, desde o surgimento da capital do
Grão-Pará, a formação de um núcleo pioneiro, do qual fazem parte as primeiras instituições
que se estabeleceram nos primeiros bairros da cidade.
Verificou-se que a localização destas instituições estava diretamente ligada ao tipo de enfermo
que ali se estabeleceria, como é o caso dos asilos e hospícios, dos quais se tinha o interesse de
manter o mais longe possível da população e por isso ficavam afastados e isolados do núcleo
urbano. Destacam-se o Hospício dos Lázaros do Tucunduba, Hospício dos Alienados (mais
tarde foi chamado de Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira), o Hospital de Isolamento
conhecido como Hospital Domingos Freire, dentre outros sobre os quais não obtivemos
maiores informações como o Hospício de São José e o Hospício de São Boaventura. O Hospício
do Una, cujo único conhecimento que se tem é referente à citação de Ernesto Cruz sobre a
ocupação da parte Sul da cidade pelos religiosos da Província de Santo Antonio, à margem do
Paraná-Guaçu. Por surgirem em áreas ainda não urbanizadas e que mais tarde seriam
integradas à cidade, essas instituições mais afastadas do centro fazem parte de um Núcleo que
denominou-seà deàExpa são à Ve àBELT‘ÃOàet al, 2011).
Outras instituições de saúde nasceram a partir de Beneficências e Irmandades com a intenção
de dar assistências aos pobres e indigentes, que eram muitos. O Hospital da Ordem Terceira de
São Francisco de Assis, localizado no bairro da Campina, na atual Rua Frei Gil, em um terreno
cedido pelos franciscanos adjacente ao convento de Santo Antonio. E o Hospital Dom Luiz I da
Beneficente Portuguesa, cuja primeira sede se estabeleceu em 1854, no Largo das Mercês, na
atual Rua 15 de Novembro. Mais de dez anos depois a presidência adquiriu um prédio na Praça
da República, onde se inaugurou a enfermaria que ficou conhecida como Asilo Português da
Infância Desvalida e que serviu de abrigo para os doentes de febre amarela na epidemia de
1871. Apenas em 1877 o Hospital foi inaugurado no bairro do Umarizal, na atual Avenida
Generalíssimo Deodoro. Ambos encontram-se em funcionamento ainda hoje, mas passaram
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por processos de reformas para adequação aos novos métodos de tratamento, embora ainda
possamos encontrar muitas das características arquitetônicas originais, sendo datados da
segunda metade dos oitocentos.
Outros fatores que contribuíram para a configuração urbana com ênfase na saúde e higiene
locais foram as várias epidemias de cólera, febre amarela, varíola, que assolaram a capital da
província no decorrer desse período. Empreenderam-se então as primeiras medidas
saneadoras, como a construção dos cemitérios e a proibição de enterramentos nas igrejas a
partir da epidemia de febre amarela, que levou a construção do Cemitério da Soledade, e mais
tarde a construção do Cemitério de Santa Isabel para as vítimas da varíola na epidemia de
1874, ambos administrados pela Santa Casa de Misericórdia.
Contudo, a cidade de Belém teve suas características, configuração e o surgimento de novos
hábitos principalmente a partir da metade do século XIX. A força de novas atividades
econômicas como a borracha e o mercado imobiliário mudou o comportamento e a forma de
morar da sociedade. Quando começou a haver uma preocupação com a moradia,
principalmente pela valorização das edificações e a modernização dos serviços públicos como
iluminação e o sistema de transportes.
Pode-se perceber, junto a esse deslocamento das classes mais elevadas para bairros como
Nazaré e o Umarizal, uma relação com a escolha dos terrenos adquiridos pelas beneficências
para a construção dos últimos Hospitais desse período que se tem notícia, o Hospital Dom Luiz
I da Beneficente Portuguesa, inaugurado em 1877 e o Hospital da Santa Casa de Misericórdia
do Pará inaugurado em 1900, na atual Rua Oliveira Belo com Avenida Generalíssimo Deodoro,
ambas no bairro do Umarizal.
Conclui-se que os fatores que influenciaram na localização e mobilidade das sedes das
instituições de saúde foram as epidemias que assolaram a capital durante esse período, os
métodos de tratamento utilizados que preconizavam isolamento de doentes em instituições
construídas distantes do contexto urbano e as reformulações urbanísticas e mobilidade de
grupos sociais, principalmente a partir da metade do século XIX, com as mudanças de
comportamento reflexo do surgimento de uma nova economia no Estado. Encerra-se aí um
ciclo de mobilidade desses estabelecimentos que contam a história da cidade de Belém.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O projeto contribuiu para o conhecimento sobre a História da arquitetura das edificações de
saúde no Norte do Brasil, e para o entendimento das relações entre instituições de caridade,
salubridade e a expansão urbana da capital paraense. Através da consolidação de um grupo de
pesquisadores em áreas diversas (Arquitetura, Antropologia, História, História da Arte)
pertencentes a distintas instituições no país e no exterior, a pesquisa em questão contribui
decisivamente com os estudos que abrangem a compreensão do patrimônio material da
saúde, em suas vertentes transdisciplinares e avança para desvendar vertentes da produção
arquitetônica paraense ainda não exploradas, como a do classicismo da segunda metade do
século XIX. Também inscreve-se na valorização da memória da arquitetura paraense,
proporcionando através dos itinerários e da reconstituição de uma das instituições
desaparecidas o acesso ao público em geral a imagens volumétricas de fácil apreensão.
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O conhecimento acerca da importância histórica, estética e memorial das edificações
hospitalares conduz a atribuição de valor segundo Riegl pelo valor histórico e de antiguidade.
Assim, as atividades desenvolvidas e divulgadas por meio eletrônico permitem a ativação da
Memória coletiva.
A busca por fontes das matrizes lusitanas da presença das Misericórdias nas colônias permitiu
aprofundar esta relação de reforço do vínculo metropolitano, que teve seus desdobramentos
no século XIX com a criação da Sociedade Beneficente Portuguesa, inicialmente destinada ao
suporte dos patrícios, e depois incorporando a população paraense em geral. Da análise da
arquitetura de seus hospitais foi possível vislumbrar desdobramentos para o entendimento
dos modelos classicistas da segunda metade do século XIX entre Brasil e Portugal, com
financiamento dos brasileiros de torna-viagem.
A discussão sobre a preservação dos arcabouços físicos que abrigam estas instituições é um
de ateà atualà e à Lis oa,à ujosà exe pla esà daà Coli aà deà “a t á aà estãoà a eaçadosà deà
destruição, face a desativação de suas funcionalidades. Em Belém, as crescentes demandas por
internação de pacientes motiva a desfiguração das estruturas do Hospital da Santa Casa de
Misericórdia e do Hospital D. Luis I. Como resposta, propôs-se o tombamento do Conjunto
arquitetônico da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, datado de 30 de setembro de
2013, inscrito sob o número de Processo 2013/465219 (DPHAC/SECULT).
O projeto teve como produto final uma apresentação no formato Shockwave flash object (swf)
desti adaà aoà pú li oà e à ge al,à ap ese ta doà osà Itinerários da saúde na Belém colonial e
i pe ial à ueà o te plaàaàt ajet iaàdasà aisài po ta tesài stituiç esàdeàsaúdeà aà idadeàdeà
Belém, disponibilizada no endereço: http://arquiteturaufpamemoria.blogspot.com.br/2013/12
/itinerarios-da-saude-na-belem-colonial.html.
AGRADECIMENTOS
O artigo contou com o apoio do CNPQ via Edital MCTI/CNPq/MEC/CAPES nº 07/2011 Ciências
Humanas, Sociais e Sociais Aplicadas.
REFERÊNCIAS
A VOZ DO CAIXEIRO. Belém, 6 abr. 1890
BELÉM, Intendência Municipal. Álbum de Belém. Relatório apresentado ao Conselho Municipal de Belém pelo
Intendente Senador Antonio Lemos. Paris: Philippe Renouard, 1902.
BELTRÃO, Jane Felipe. Cólera: o flagelo da Belém do Grão Pará. Editora Universitária – UFPA, Belém, 2004.
BELTRÃO, Jane Felipe et al. Inventário Nacional do Patrimônio Cultural da Saúde: Bens Edificados e Acervos Patrimônio de/em Saúde em Belém-Pará. Belém: Universidade Federal do Pará - Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas/Faculdade de Arquitetura e Urbanismo; Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz. CD-ROM. 2011.
Relatório.
CANCELA, Cristina Donza. Uma cidade... muitas cidades: Belém na economia da borracha in BELTRÃO, Jane Felipe;
VIEIRA JUNIOR, Antônio Otaviano (orgs.). Conheça Belém, Co-memore o Pará. Editora Universitária – UFPA,
Belém, 2008.
CRUZ, Ernesto. História de Belém. Belém: Universidade Federal do Pará, 1973. (Coleção Amazônica, Série José
Veríssimo, v. 1)
GUIMARÃES, Luiz Antonio Valente. As Casas & as Coisas: um estudo sobre Vida material e domesticidade nas
moradias de Belém – 1800-1850. Dissertação (Mestrado em História Social da Amazônia) – Programa de PósGraduação em História Social da Amazônia, Universidade Federal do Pará, Belém. 2006.
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III Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo
arquitetura, cidade e projeto: uma construção coletiva
São Paulo, 2014
MUNIZ, J. de Palma. Patrimônio dos Conselhos Municipais do Estado do Pará. Paris- Lisboa: Aillaud & Cia, 1904.
O VELHO BRADO DO AMAZONAS. Belém, 11 jul. 1851.
REIS FILHO, Nestor Goulart; BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira; BRUNA, Paulo Julio Valentino. Imagens de vilas e
cidades do Brasil colonial. São Paulo: Fundação para a Pesquisa Ambiental, 2000. CD-ROM.
TREZE DE MAIO. Belém, 7 jun. 1851.
VIANNA, Arthur. A Santa Casa da Misericórdia paraense, notícia histórica (1650-1902). 2ª edição. Belém: SECULT,
1992 [1902].
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