intro
Este é um mash-up actualizado dos meus posts prévios:
POBRES INUMANOS RICOS (publicado a 19.12.2011, em Czaradox)
MÃE NATUREZA (publicado a 26.6.2012, em Czaradox)
"Sabemos que é verdade aquilo que o contrário nos impede de pensar."
Leibniz
"Uma sociedade mede-se pela forma como trata os seus animais."
Mohandas Gandhi
“Animals are not ingredients.”
Barbara Thompson
a) COMO É QUE DÃO ÀS CRIANÇAS ANIMAIS DE PELUCHE E DE ESTIMAÇÃO PARA ABRAÇAREM, E DEPOIS LHES SERVEM ANIMAIS NO PRATO ?
Foi uma revisão emotiva do Bambi (1942) - com cumprimentos a Manuel Mozos, que inclui na sua lista ao BFI. (Lembro-me de achar muito bem pensado que vários créditos do Miguel Gomes - e provavelmente do Mozos também - agradecessem ao Walt Disney, referência que, sendo tão incontornável, é também tão escassamente referida.) Bambi traz a ternura do género musical que sobrevive nos filmes para a infância. É impossível não chorar a morte da mãe do Bambi e é impossível que não nos apiedemos dos adoráveis animais, imaginando protegê-los do fogo aberto pelas espingardas do vilão-homem, que surge como força destrutiva de um éden harmonioso.
Inevitavelmente, volto ao discurso que ontem partilhava de VANDANA SHIVA: ''É preciso aceitar, pela consciência, tomar parte nos ciclos de que fazemos parte desde o nascimento.'' Este querer fazer parte, é aceitar ter nascido, e corresponde à maioridade de cada um no seu trabalho sobre si e sobre o redor. A tarefa do ser pensante é a aceitação da vida. É o elo do reconhecimento da sua pertença à existência. Querer fazer parte é aceitar a vida que lhe foi dada, aceitando a consequência da sua acção enquanto vivente. A Lei Natural da Terra em que nasceu e vive é maior que a História da espécie humana, pois a soberania humana sobre a Natureza é o maior mito da história da civilização. (Olhe-se, por exemplo, para as notícias sobre Fukushima, exemplo de auto-aniquilação do Homem pelo Homem). Por sua vez, a Natureza é regenerativa - o instinto de sobrevivência é comum a todas as espécies vivas - plantas ou animais - e seria naturalmente copiado não fossem certas inclinações duvidosas que pautam um ''princípio de civilização''.) Todos os agentes da vida são modificadores, e a acção humana não é excepção - mas declarar consciência de si é tomar parte numa vida activa de respeito pela Natureza, pelos animais e pelos equilíbrios que fazem a biosfera girar. A mensagem que chega de Bambi não é só para crianças. Não ensinaríamos a um filho algo de essencial em que não acreditássemos nós mesmo. À passagem do ser humano pela Terra, cabe respeitar, tratar, cuidar da vida - para as gerações seguintes, para os nossos filhos ou filhos da nossa espécie. O ciclo de cada um é um sopro. O corpo caminha sobre o planeta durante um instante, e o planeta gira, em primeiro lugar, no interior das nossas cabeças - a consciência da acção sobre a terra e os outros seres é o grande trunfo humano.
Se passamos a inocente infância a abraçar coelhinhos de peluche, a brincar com cachorrinhos, e a tremer de terror com as mortes dos animais pelos 'adultos inexplicavelmente maus' nos desenhos animados, como explicar que, inaugurada a consciência adulta, na plenitude do seu esclarecimento, informação e escolha, não se exerça a razão e se viva sem que isso implique a morte a outros animais? Não é coerente.
b) NÃO CONSEGUIMOS MESMO DEIXÁ-LOS EM PAZ, HEIN?
Mesmo que a carne chegue ao supermercado embalada e indistinta, picada, aos cubos ou às fatias, estes animais foram vivos um dia. Sentiram. Tiveram filhos. Sofreram. E viveram significativamente menos do que a sua esperança média de vida lhes permitiria, só porque foram criados industrialmente e para consumo.
ANIMAIS DE CONSUMO
animais de pecuária
animais de caça (veados, aves, javalis, coelhos, lebres, codornizes, etc)
animais marinhos (peixes, moluscos, crustáceos, etc)
animais de alimentação não ocidentais (répteis, insectos, certos mamíferos, etc)
ANIMAIS DE EXPERIMENTAÇÃO
cobaias de experimentação cosmética
cobaias de experimentação farmacológica
ANIMAIS DE EXPLORAÇÃO
para vestuário (casacos, botas, malas, estolas, cintos, etc)..
ANIMAIS DE ENTRETIMENTO E DECORAÇÃO
touradas, circos, parques temáticos, aquaparques, zoos, lutas, tv, etc
gaiolas e aquários domésticos (peixes, pássaros, tartarugas, hamsters, cobras, camaleões, etc etc etc)
ADENDA com notícia: 1 de Setembro de 2012
Rapaz de 26 anos, forcado, vai ficar paraplégico, na sequência de pega de touros, na passada noite de quinta-feira, 30 de Agosto, no Campo Pequeno: http://diariotaurino.blogspot.pt/2012/09/infelizmente-o-forcado-nuno-carvalho.html
e ainda há quem defenda esta barbárie, que exerce violência sobre todos, humanos e animais?









Todas estas são frases estereotípicas que alimentam o preconceito geração após geração. Todos os animais têm o seu papel nesta terra. Quando o especismo for endereçado como problema ético, não mudará apenas a forma como tratamos os animais, mas como nos tratamos uns aos outros.
d) MATÁ-LOS FOI POUCO. TIVERAM DE FAZER ARTE COM A SUA MORTE. E SEM VERGONHA, ASSINAR A SEGUIR: FUI EU, ATENÇÃO, EU!
Numa época saturada de informação em todas as frentes, a mente engole-se e o corpo sem cabeça atinge a patologia psíquica. A vida decorre sem perguntar-se. A ordem é desordenada. A organização foge à lógica. O distúrbio cerebral legenda-se de rebeldia e a espécie joga um jogo sem regras, involução flagrante até no panorama da arte contemporânea. A arte onde tudo é arte, onde o nada é arte, e onde ser artista é uma ascensão umbilical, munida de auto-legendas de algibeira. Enquanto os valores mais nucleares são desrespeitados, o primeiro mundo recebe, com a pompa cerimoniosa da vernissage, a barbárie legendada de arte.
É vital denunciar estes bárbaros contemporâneos, recebidos entre aplausos, e renunciar ao absurdismo que rege a recepção artística de uma actualidade tão reles em espírito, tão fraca em gosto, tão baixa em moral. Há vários exemplos deste narcisismo escandaloso. Estes "artistas" de revoltar as entranhas exploram a morte, expondo-a enquanto arte, ascendendo em génio perante a verborreia desinspirada da crítica e do seu fastio burguês. Será a morte dos seres feita experiência derradeira, o estádio último do tédio de existir? Nem artistas, nem seres humanos. A impunidade de que usufruem estas criaturas - superstars globais da arte - é desprezível. Envergonha a história da arte, e envergonha-me a mim, enquanto ser humano.
MARCO EVARISTTI
Recentemente, a 1 de Março de 2025, com a peça NOW YOU CARE, o artista chileno Marco Evaristti, pretendia colocar três leitões privados de comida e água num contexto de galeria, a fim de sensibilizar para o sofrimento causado pela produção de porcos, com instalação de arte. Percebemos que efectivamente conseguiu pôr o público (que consome carne de porco no supermercado e no restaurante) a preocupar-se subitamente com estes leitões, já engendrando o seu resgate… mas qual é a necessidade de um artista colocar-se deliberadamente na posição de ser assassino, tal e qual como os assassinos que critica? Acaba a perder a razão e, através da publicidade do seu gesto, a enfraquecer a luta pela causa animal.
RODRIGO BRAGA
http://www.rodrigobraga.com.br/
A 9 de Dezembro de 2024, o vergonhoso ''artista'' brasileiro costurou um focinho de cão sobre o seu rosto. Mas, orgulhoso, ainda posta fotos sobre o aniversário desta sua performance no seu Instagram.
DAMIEN HIRST
Para além dos tanques cheios de animais esventrados dentro de tanques em formol, como 'Mother and Child (Divided)' (1993) - obra vencedora do prémio TURNER PRIZE 1995!, que possibilita aos espectadores caminharem entre os corpos da vaca e da sua prole, Damien Hirst clama aludir ao sacrifício implicado na relação perturbadora entre humanos e animais, através da peça "Up, Up and Away" (1994) em que suspende uma vaca inteira no ar, com as entranhas expostas, para espectador ver. No entanto, Hirst não é vegan e usa animais mortos como peças, incluindo vacas, ovelhas, tubarões e borboletas. Afinal, que lição está ele a dar, se nem o próprio a aprende? Balelas.
POLLY MORGAN
Polly Morgan é outra repugnante artista britânica contemporânea, que inclui taxidermia nas suas composições com cadáveres de animais, numa obscena falta de respeito pela vida que um dia habitou estes seres. Os Egípcios embalsamavam os corpos humanos como também os corpos animais, já que acreditavam que, ao preservar-lhes o corpo, também eles poderiam viver uma vida além da morte. Pelo contrário, o uso, por Polly Morgan, dos seus cadáveres como ''art supplies'', para subsequente exibição em galeria, diz bastante sobre a nossa relação desumana com os animais...
e) O ARTISTA A AMPLIAR OS GRITOS DOS ANIMAIS INDEFESOS!
Enquanto os imorais se autodenominam de artistas e obscenamente instrumentalizam a morte dos animais para fazer as suas ‘‘peças artísticas’’, sobre estas colando a cuspo uma etiqueta de crítica mas mantendo o status quo da violência e do desrespeito pela sua integridade física, o sempre anónimo BANKSY traz a genial peça SIRENS OF THE LAMBS (2013).
O artista não precisa de mostrar cadáveres para perturbar quem passa! Pegou nos adoráveis animais em peluche que se oferecem às crianças, e enfiou-os numa carrinha de ''transporte de animais vivos'', empoleirando os seus rostos a guinchar, como verdadeiros animais a suplicar na travessia que os conduzirá ao abate no matadouro ‘‘Farm Fresh Meats’’.
Em 2024, um stencil do mesmo artista surgiu sobre a vedação do Zoo de Londres. Criticando o cativeiro dos animais, a imagem de Banksy mostra um gorila a levantar o gradeamento, libertando um leão marinho e pássaros, enquanto outros animais parecem espreitar.