Papers by Karen Shiratori
Perpectivas sobre isolamento,contato e resistência dos povos tupina Amazônia brasileira, 2022
A presença de grupos Tupi Kagwahiva no interflúvio entre os rios Madeira e Purus remonta pelo men... more A presença de grupos Tupi Kagwahiva no interflúvio entre os rios Madeira e Purus remonta pelo menos ao início do período colonial, durante o qual diversos processos de genocídio, epidemias e tentativas forçadas de conversão religiosa foram conduzidos. Os povos Juma e Katawixi, respectivamente classificados como grupos recém contatados e isolados pelo Estado, são “ilhas” que outrora integraram redes de relações dentro de um extenso território Tupi-Guarani no Sul do Amazonas, que possui raízes pré-coloniais. Reunimos aqui narrativas arqueológicas, históricas e orais acerca deste contexto, buscando avaliar os descaminhos que conduziram a um drástico decréscimo populacional Juma durante o século XX, e à escolha pelo isolamento por parte dos Katawixi na década de 1980. A partir dos vestígios e monumentos vegetais presentes em suas florestas, especialmente ligados às castanheiras, buscamos compreender de que modo é possível entrever as resistências Kagwahiva nas e através das matas, em que ficam marcadas sua presença e seus afetos. Este artigo pretende ser uma contribuição à pesquisa interdisciplinar sobre os povos indígenas Tupi, e apresentar um contexto de longa duração que envolveu diversas formas de interação com não-indígenas, até culminar no isolamento ou no seu quase completo apagamento. Uma visão histórica éfundamental para compreender o isolamento como fruto do genocídio, e aponta para a necessidade de políticas de longo prazo de proteção e monitoramento dos povos isolados.
Maloca, 2022
Yvoty ou poty são variações de um termo utilizado pelos povos de língua guarani para se referir à... more Yvoty ou poty são variações de um termo utilizado pelos povos de língua guarani para se referir às flores, que têm grande centralidade em seus mundos e em seu pensamento. Produzido durante uma viagem a campo em uma aldeia guarani na Serra do Mar (SP), a Terra Indígena Ribeirão Silveira, este ensaio fotográfico busca traduzir em imagens parte da experiência etnográfica junto aos Guarani, às flores e plantas – marcada por caminhadas através da Mata Atlântica, visitas a casas e viveiros, além de conversas, entrevistas e reuniões. É por meio do “silêncio eloquente das imagens” (Caiuby Novaes, 2014), apresentadas em pranchas com sobreposições e entremeadas por legendas etnográficas, que enfocamos os saberes e fazeres guarani em relação às espécies da flora presentes nessa aldeia, derivados de suas relações de respeito e cuidado com ija kuery, os espíritos-donos
La saveur du cœur et l’amertume du corps Chamanisme et poisons chez les Arawá du moyen Purus (Amazonie brésilienne), 2023
Voix de la terre La saveur du coeur et l'amertume du corps Chamanisme et poisons chez les Arawá d... more Voix de la terre La saveur du coeur et l'amertume du corps Chamanisme et poisons chez les Arawá du moyen Purus (Amazonie brésilienne) The taste of the heart and the bitterness of the body: shamanism and poisons among the Arawá of the middle Purus (Brazilian Amazon
Voix de la terre Une introduction, 2023
Ce dossier fait suite à un atelier intitulé « Voix de la terre : diversité, histoires et trajecto... more Ce dossier fait suite à un atelier intitulé « Voix de la terre : diversité, histoires et trajectoires de vie des plantes à tubercules » tenu le 22 janvier 2020 au Muséum national d’Histoire naturelle avec l’appui de l’Unité Mixte de Recherche Patrimoines locaux, Environnement et Globalisation (PALOC).
Humanas e Humanidades; resumos, 2007
Revista Habitus - Revista do Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia
Na década de 1980, como política pública de Estado, instituiu-se um método investigativo de campo... more Na década de 1980, como política pública de Estado, instituiu-se um método investigativo de campo destinado a qualificar as ações de localização e monitoramento dos povos indígenas isolados da Amazônia. Tal método visa garantir a estes povos o direito originário aos seus territórios, sem desrespeitar sua decisão pelo isolamento. Qualificar este método a partir dos saberes e perspectivas nativas tem sido o objetivo de pesquisadores e pesquisadoras de diversas áreas do conhecimento que o reconhecem como uma “ciência mateira”, baseada na leitura dos vestígios antrópicos nas matas e orientada pelo o olhar dos povos da floresta. Neste artigo, destacamos a agência vegetal e o poder atrativo exercido por espécies arbóreas sobre os humanos e não humanos e sua aplicação nas ações de localização e monitoramento dos territórios dos povos indígenas isolados.
Revista de Antropologia
Este artigo consiste na revisão bibliográfica da literatura etnológica sobre sonhos dedicada aos ... more Este artigo consiste na revisão bibliográfica da literatura etnológica sobre sonhos dedicada aos povos indígenas das Terras Baixas da América do Sul. O fio condutor da exposição é a análise do acontecimento onírico, resultado das perambulações da alma, e sua influência na vida desperta. Sustento que, como eventos reais — não restritos à psicologia individual —, as distintas relações que a alma estabelece com seus interlocutores oníricos influem diretamente na interpretação dos sonhos e nos efeitos que se fazem notar na vigília. Ao considerar a inadequação de um repertório conceitual pautado no método psicanalítico e nas noções de presságio, destino e fatalidade, busco uma concepção de onirocrítica que inclua a ideia de um tempo aberto e reversível. A reflexão que proponho organiza-‐se em dois momentos: (I) o sonho como diagnóstico de eventos em curso e (II) a manipulação das possibilidades engendradas como virtualidade.
Revista de Antropologia
Álvares / Nós que sabemos sonhar Comissão: Como vocês têm sonhado ultimamente? Quais são os tipos... more Álvares / Nós que sabemos sonhar Comissão: Como vocês têm sonhado ultimamente? Quais são os tipos de sonho? Vocês têm o hábito de contar os sonhos a seus parentes? Qual é a importância desses relatos no cotidiano? Sandra Benites: Nhandeka'aruju, boa tarde, sou Sandra Benites, Guarani Ñandeva do Mato Grosso do Sul, da aldeia Porto Lindo. Estou aqui para conversar e trazer os pensamentos que construo para dialogar-acho isso muito importante. Sou mulher guarani, mulher indígena, e mãe de quatro filhos e tenho três netas já. Sou pesquisadora acadêmica indígena e venho traçando questões de pesquisa na área da antropologia, na qual atuo como acadêmica. Sou doutoranda em Antropologia Social no Museu Nacional, e agora também sou curadora do MASP. Vou começar a falar a partir da minha própria experiência, porque cada um fala a partir da sua própria experiência. Desde 2015 tenho me relacionado diretamente com a cidade e ido à aldeia poucas vezes. Vivi no Espírito Santo por um bom tempo e depois fiquei mais no Rio de Janeiro. A partir do momento em que saí da aldeia, comecei a fazer essa ponte entre aldeia e cidade e passei a entender que estou entre aldeia e cidade. Quer dizer, não estou nem na aldeia, nem na cidade. Foi aí que comecei a entender que não estar nem na aldeia, nem na cidade, me trazia um meio mais conflituoso. Estar entre esses lugares abriu uma outra possibilidade de sonho. Às vezes sonho com coisas ligadas à realidade mesmo: às vezes me vejo na aldeia, outras vezes estou no meio das pessoas jurua (não-indígenas), no meio da cidade. É engraçado que comecei a sonhar com duas línguas, não só com a minha língua guarani. Isso me dá um pouco de conflito; parece que tem duas coisas ali que têm o seu espaço, mas não tem tanto espaço assim. Eu sonhava em guarani, com guarani, no [espaço] guarani. Hoje não sonho mais isoladamente. É uma mistura e isso é muito conflituoso. Muitas vezes, tenho dificuldades de falar sobre os sonhos como fazia na aldeia. Hoje, bem recentemente, comecei a sonhar com várias coisas da atualidade: as angústias e a minha casa no meio dos jurua. É difícil levar o sonho a outra pessoa: acordar, tomar chimarrão e conversar. Até porque moro sozinha em um apartamento no Rio de Janeiro, em um bloco onde vivem parentes de diferentes etnias-eles não são Guarani. Isso, às vezes, me entristece. Deixa uma angústia muito grande, porque não consigo contar os meus sonhos. A gente tem que saber para quem está contando, precisa ter confiança nessa pessoa, que deve fazer a conversa evoluir de uma maneira sábia e também sagrada. O sonho pra gente não é só sonhar; é sentir aquele sonho, é viver naquele sonho. Muitas vezes, é uma experiência muito do nhe'ẽ, do seu espírito. Já sei que não vou poder contar da maneira que gostaria por não estar perto da minha família e das pessoas que gostaria de contar o sonho.
The International Encyclopedia of Anthropology, Dec 16, 2022
The Anthropocene debate is here situated in the context of the environmental crisis. The polysemi... more The Anthropocene debate is here situated in the context of the environmental crisis. The polysemic nature and political implications of the concept are examined. The prefix Anthropos is discussed, especially in its historical connections to environmental injustice, racism, and specism. The concept of domestication is adopted as a heuristic tool to explore some of the colonial legacies that inspire contemporary ecological thinking and point to alternative ways of inhabiting the world, particularly those associated with multispecies ethnographies and Indigenous and Black diasporic ontologies. The core argument of this entry is that a productive decolonial perspective on the Anthropocene can operate as a reverse or counteranthropology of the contemporary condition, in which the present and the scientific attempts at making sense of it, through concepts such as the Anthropocene, are seen and evaluated from the fringes of the hierarchies of knowledge that structure modern science.
Das Questões, Apr 4, 2021
Anthropologica, 2021
Con el fin de restaurar, aunque parcialmente, la memoria de las intensas relaciones que existían ... more Con el fin de restaurar, aunque parcialmente, la memoria de las intensas relaciones que existían entre los distintos pueblos arawá de la región del medio curso del río Purus, este artículo aborda, a través del entrelazamiento de la vida humana y la vegetal, la socialidad que acabó rompiéndose, las historias que algún día se compartieron, pero también los vínculos que aún reverdecen en los bosques. La ciencia matera, atenta a las plantas y a los vestigios antrópicos presentes en los bosques, muestra caminos insospechados para analizar las complejas relaciones entre los hi-merimã, actualmente aislados, y sus vecinos, especialmente los jamamadi. En este texto, proponemos un análisis del relato de un encuentro a través de notas que demuestran la centralidad y fecundidad de las plantas para la comprensión de la sociabilidad y la dinámica territorial mi-merimã. Las notas se basan en datos bibliográficos oriundos de estudios antropológicos, arqueológicos y botánicos, así como en informaci...
Mana, 2019
Resumo Este artigo trata da importância do universo vegetal na sociocosmologia jamamadi. Assumo o... more Resumo Este artigo trata da importância do universo vegetal na sociocosmologia jamamadi. Assumo o xamanismo vegetal como o fio condutor através do qual se revelam o espelhamento e o entrelaçamento entre a vida das plantas e a vida dos humanos em múltiplas dimensões. Com este intuito, abordo a iniciação xamânica, cujo objetivo final é adquirir o noko koma, "o olhar envenenado". Os contornos deste xamanismo se fazem visíveis através da relação com as almas das plantas cultivadas, yamata abono, principais auxiliares que acompanham os pajés na prática terapêutica ou, em outra perspectiva, na guerra mundial. Para a formulação do argumento proponho uma reflexão sobre os limites da categoria biológica "planta" e, por fim, sobre a caracterização do xamanismo amazônico nos termos de uma ideologia venatória, dado que a pregnância das plantas para os Jamamadi propõe questionamentos mais amplos acerca do lugar prático-conceitual atribuído aos animais.
Revista de Antropologia
Novas perspectivas sobre os sonhos ameríndios: uma apresentação Quem envereda pelo tema dos sonho... more Novas perspectivas sobre os sonhos ameríndios: uma apresentação Quem envereda pelo tema dos sonhos depara-se com uma imensa literatura, tão antiga quanto a escrita, tão heterogênea quanto são as formas de conhecer. Se até mesmo os rouxinóis sonham sonhos de rouxinóis, como nota Buffon em sua História Natural, a tarefa de atribuir sentido ao fenômeno ultrapassa as fronteiras das áreas do saber: os sonhos são reivindicados pelas artes e pela literatura como fonte de inspiração criativa; pelas religiões, como meio de comunicação direta com o divino; pela psicanálise, como a "via real" para o inconsciente; pelas ciências médicas e biológicas, como fenômenos fisiológicos, neurológicos, característicos da fase REM (rapid eye movement) do sono; por diversos povos, que os assumem como um meio de aquisição de conhecimentos sobre si, sobre outrem e sobre o mundo. Entre os povos ameríndios, em geral, e das terras baixas da América do Sul, em particular, a importância dos sonhos é observada desde longa data, como já assinalam os relatos dos primeiros viajantes europeus. Abundam nas crônicas e etnografias dessa região referências ao papel central que os sonhos e seus relatos possuem no cotidiano destes povos. Entretanto, apesar de ser um tema recorrente, a experiência onírica destes coletivos assumiu, de modo geral, um papel menor nas etnografias, o que talvez diga mais sobre os seus etnógrafos do que sobre os próprios coletivos. Não raro, o tema vê-se reduzido a trechos de capítulos ou a breves considerações etnográficas ou anedóticas nos trabalhos que se dedicam a abordá-lo. Tudo se passa, a despeito das inúmeras revisões da literatura antropológica, como se fosse mantida a grande divisão, estabelecida por Durkheim, entre representações individuais e representações coletivas, as primeiras-os sonhos, por exemplo-sendo reservadas ao campo de estudo da Psicologia.
*** Indigenista da Fundação Nacional do Índio (Funai). Se dedica ao estudo e elaboração de metodo... more *** Indigenista da Fundação Nacional do Índio (Funai). Se dedica ao estudo e elaboração de metodologias voltadas à localização e monitoramento de povos indígenas isolados na Amazônia.
Journal of Anthropological Archaeology
Journal of Anthropological Archaeology, 2021
Inhabiting the middle Purus river basin, a branch of the Amazon river, Arawá-speaking groups have... more Inhabiting the middle Purus river basin, a branch of the Amazon river, Arawá-speaking groups have maintained permanent contact with non-indigenous society only in the last century. Here we provide an account of two Arawá subgroups, the Jamamadi and Hi-Merimã, in order to untangle apparent contradictions between their ways of living, respectively based on the predominance of cultivated plants in gardens and of forest plants. This approach is inspired by three / tree scenarios: the Hi-Merimã's isolation from indigenous and non-indigenous people undertaken in the 1960 ′ s, the report of a "false contact" that they would have began in 2016 and the Jamamadi's recent and perhaps temporary decision to move into the forest after knowledge of the Covid-19 pandemic. Besides the apparent distance between gardener and gatherer ways of life, we highlight the proximity and fluidity that both share in terms of entanglements with plants, focusing on forms of sociality between groups, gardens and forests. Inspired by recent discussions regarding archaeological perspectives on plant use, ethnographic formulations of other-than-human relations, and historical ecology, we propose that both are cultural and not necessarily static choices. One is contained within and announces the other, and both are entangled in an oscillating movement of fusion and fission. 1 The authors appreciate the careful and thorough revision of the two anonymous appraisers of the manuscript of this paper, as the revision and commentaries of Marcos Matos and Jennifer Watling, who also made a precious english review. Karen Shiratori and Laura Furquim counted on FAPESP grants (2018/23468-1 and 2018/26679-3, respectively). We also thank to the FUNAI for authorizing the use of the data collected by Daniel Cangussu during the monitoring expeditions.
Vozes Vegetais: diversidade, resistências e histórias da floresta., 2020
2 [ CAP. ] Povo Wajãpi, Terra Indígena Wajãpi (Amapá) 3 [ CAP. ] Assentados, Sítio Mãe Terra, mun... more 2 [ CAP. ] Povo Wajãpi, Terra Indígena Wajãpi (Amapá) 3 [ CAP. ] Assentados, Sítio Mãe Terra, município de Iperó (São Paulo). 4a [ CAP. ] Bacia do Alto Juruá, Brasil e Peru. 4b [ CAP. ] Caverna da Pedra Pintada, próximo a Monte Alegre (Minas Gerais). 4c [ CAP. ] Kaingang-Sítio Bonin, Município de Urubici (Santa Catarina). 5 [ CAP. ] Antigos povos indígenas, Rio Guaporé, Pantanal do Guaporé (Rondônia).
12a sessão-03.12 Mesa-Diálogos Afro-Indígenas Convidados pretendidos: Sinéia Wapichana e Nego Bis... more 12a sessão-03.12 Mesa-Diálogos Afro-Indígenas Convidados pretendidos: Sinéia Wapichana e Nego Bispo. Trabalho de final: Formular, com base nas discussões e leituras do curso, uma reflexão em forma de ensaio ou intervenção.
Uploads
Papers by Karen Shiratori
C’est ce à quoi nous invite cet ouvrage : au fil des chapitres, ancrés dans les territoires des peuples amérindiens et des communautés locales du Brésil, nous sommes confrontés à une diversité de savoirs, indissociables de modes de vie et de visions du monde engendrés dans un processus constant de vie partagée entre humains et végétaux.
Avec la participation de chercheurs autochtones et non autochtones de diverses disciplines, d'activistes et de paysans engagés dans l'agroécologie, ce livre nous offre une pluralité de perspectives et d'engagements pour renouveler notre lien au monde végétal dont il est urgent d’enfin écouter les voix.
Il s'adresse tant à un grand public intéressé par la diversité des entrelacements entre sociétés et plantes qu’aux chercheurs et aux étudiants.