E de repente, tive a sensação de “não quero mais”.
O que foi muito estranho, meu bem, porque você foi tudo o que um dia eu sempre quis.
Gabriela Santos.
O futuro sempre me pergunta
sobre os sonhos antigos
mas eu me concentrei no presente
a fim de calar a sua voz.
ninguém pode me salvar
eu me perdi em meio a centenas de palavras não ditas
palavras que você nunca quis ouvir
mas tudo bem
seu desamor não vai me matar até porque eu já morri faz tempo
escrever não me salva
na verdade, nada me salva.
queria poder dizer que sinto muito, mas não sinto.
nada mais importa, amor
talvez tenha sido melhor assim
você não é a minha salvação e tá tudo bem
tem que estar.
no último dia que a gente se viu você perguntou porque eu não escrevia mais pra você e eu nunca soube te explicar o verdadeiro motivo de eu ter parado de dedicar alguns versos a ti
agora fazem quase dois meses desde a última vez que eu toquei seu rosto e eu já não lembro mais o som da tua voz, m.
e eu venho aqui hoje colocar um fim no que pra mim parecia que nunca iria acabar, eu não venho dizer que te superei, porque não tem nada a ser superado aqui dentro
eu ainda te amo com um carinho enorme e espero que você sinta pelo menos um pouco do mesmo pra mim
eu vim aqui dizer que tô seguindo em frente.
dizer que eu ainda sinto saudades das nossas conversas nos sábados a tarde e da gente em silêncio vendo tv, das noites que pareciam pesadas demais e você de alguma forma conseguia tornar tudo mais leve
porque às vezes ainda é complicado responder minha mãe quando ela pergunta se a gente ainda conversa e se a conversa tem a ver com nós, ou só eu e você. porque uma parte de mim ainda acha muito difícil de entender que 'nós' não é mais uma palavra que pode ser usada pra gente.
eu ainda vejo muito de ti em tudo que eu faço, m. na maioria das conquistas que eu tive tem um pouco de você, na faculdade, na forma como eu lido com as coisas hoje em dia, até nas manias que eu adquiri nos últimos anos, sempre tem uma parte de ti em tudo isso
e não significa que eu vá deixar tudo isso de lado, não. eu ainda pego o metrô e olho pro fim da plataforma esperando você lá, mesmo sabendo que talvez nunca mais te veja lá como nas tarde de terça que você ia me ver
e com o tempo eu vou me esquecer cada vez mais de ti, como já esqueci de como era seu abraço, como já nem lembro mais do som da sua voz ou de como sua boca se movia ao falar meu nome. mas eu nunca vou esquecer de como por um período de tempo você fez com que minha vida tivesse um sentido que eu nunca pensei que pudesse ter
eu nunca vou esquecer da sensação de sentir de verdade o que amor e como ele te muda e às vezes te desmorona por completo.
nosso fim pode ter quebrado muita coisa aqui dentro, m. não sei sobre ti
mas também me ajudou a construir muita coisa nova. obrigado por ter feito parte disso tudo
obrigado por me mostrar que eu posso crescer mesmo em meio aos destroços,
com amor, matheus.
desculpe se me apresso em partir
tem coisas que não podem esperar
e eu só vou.
sei que cada escolha tem seu preço
e eu vou pagar.
vivas sabendo
que nunca fui tão longe,
sem antes pensar em você.
Toda sexta feira a saudade é maior.
eu tô passando por aqueles períodos de estiagem sentimental. talvez seja o cansaço dos dias do trem dos dentes quase rasgando a língua de raiva por ter que aturar
e ouvir
e calar
você só vai se arrastando entre os textos entre as frases entre as fases alheias
caindo de abismo de verso de ideia
e como dói não ser inteira principalmente porque você é inteira porque algo em algum lugar te roubou isso, te comprimiu a suspiros exaustos no 254, te levou a uma série de comprimidos: pra não enlouquecer pra não desistir pra ser boa
que tipo de pessoa precisa se lembrar de ser boa?
“as que não são”, você disse
e eu não sou.
eu me sinto devastada como se nada pudesse crescer aqui
te disse pra me deixar ir
cê disse que nada pode ser tão fácil
e eu não consigo mais chorar entre os caminhos
aqui e agora, quando algo não é seco,
é ácido.
você vai me esquecer e eu serei como tudo o que aconteceu na sua vida antes dos quatro anos de idade - terei existido. ocuparei lugar na sua memória. hibernarei em qualquer canto no interior do seu corpo, mas serei invisível como quando nos contam que ralamos o joelho num parque, confiamos que aquilo aconteceu, mas não lembramos a sensação, não sentimos ter feito parte.
você vai me esquecer e junto todo o histórico de besteiras trocadas será apagado. o meu canto. a primeira conversa. minha cantada barata pra pedir seu número e o jeito criativo pra te chamar pra sair.
você vai me esquecer e aos poucos as luzes da cidade vão se apagar.
você passará em frente aos restaurantes japoneses sem me imaginar atrás do balcão prestes a correr pra sua casa com o sushi nas mãos.
você sambará no vidigal com o peito leve de não lembrar minha ausência e caminhará pela lagoa como se ela não representasse parte do que sou.
eu vou te lembrar sem achar sua boca suja de vinho a coisa mais linda do mundo. sem querer atravessar a cidade embaixo de chuva pra espantar seu medo de espíritos. sem achar que o mar tem seu nome e a urca o seu gosto.
eu vou te lembrar sem saber a profundidade da sua nova alma.
e nós vamos seguir, nos deixar pra trás.
talvez, até nos reencontremos, mas já não terá brilho.
serão só duas pessoas comuns surpresas com o esbarrão após tanto tempo -e depois de querer tanto não faz mais sentido algum - se cumprimentando rapidamente, pois o dia está repleto de responsabilidades. será rápido.
toda vez que seu corpo sente minha falta, é apenas seu coração renegando o aviso de que seu cérebro esqueceu mais uma parte minha. é apenas suas células resistindo pra depois entregar os pontos.
[em breve o livro novo]
sou aquela chuva silenciosa que não avisa quando vai cair.
is.