CSAI-2 Portugal
CSAI-2 Portugal
CSAI-2 Portugal
Motricidade,
ISSN (Verso impressa): 1646-107X
editor.motricidade@gmail.com
Fundao Tcnica e Cientfica do Desporto
Portugal
Fascculo completo
Site da revista
www.redalyc.org
Projeto acadmico no lucrativo, desenvolvido pela iniciativa Acesso Aberto
Resumo
Abstract
O objectivo deste estudo foi avaliar a estrutura factorial da verso portuguesa do CSAI-2,
utilizando vrias estruturas propostas em estudos
anteriores, atravs da anlise factorial confirmatria (AFC) em duas amostras distintas (uma
de calibrao e uma de validao). A amostra de
calibrao foi constituda por 287 alunos da
licenciatura em Educao Fsica e Desporto e a
amostra de validao foi constituda por 323
atletas de desportos individuais.
Os resultados da AFC realizada estrutura
original demonstraram uma inadequabilidade do
modelo. As outras estruturas propostas por outros
autores tambm foram analisadas e apresentaram
ndices de adequabilidade superiores, embora
ainda no aceitveis. O novo modelo que propomos, sem a escala de activao, revelou um
ajustamento adequado para a amostra de calibrao, sendo validada a sua adequabilidade pela
segunda amostra (X2/df= 2,645; CFI= 0,916;
GFI= 0,871 e RMSEA= 0,074). sugerida a
utilizao deste novo modelo, em vez do original,
na avaliao da ocorrncia de pensamentos
negativos, composto por duas escalas correlacionadas (negativismo e autoconfiana), e a
continuao da verificao das propriedades
psicomtricas em investigaes futuras.
73 {Investigao
Introduo
Inicialmente, o conceito de ansiedade foi
proposto para diagnosticar patologia mental30,31,
sendo popularizado no contexto do desporto
com o trabalho de Martens17, com o objectivo
de avaliar e explicar o estado emocional que os
atletas vivem nos momentos que antecedem as
competies.
Vrios autores contestam a forma como o
termo ansiedade tem sido utilizado no contexto
desportivo, referindo que a conotao negativa
que o termo possui pode levar compreenso
errada que a ansiedade sempre prejudicial para
a performance12,14. Jones e Swain14 sugerem que
quando a ansiedade interpretada pelos atletas
como benfica para a performance, se chame a
este estado emocional positivo de excitao, activao ou motivao.
Taylor24 considera mais apropriada a utilizao do termo intensidade, em vez de ansiedade
e activao. Este autor apresenta dois motivos
que justificam esta opo: primeiro, porque o
termo activao tem associado conotaes sexuais,
e o seu uso com atletas jovens, muitas vezes,
produz uma reaco cmica que interfere com
a compreenso da importncia deste conceito
na preparao para a competio desportiva;
segundo, o termo ansiedade tipicamente conhecido como tendo uma conotao negativa, como
algo a ser evitado; no entanto, os atletas para
terem uma prestao ptima necessitam de um
determinado nvel deste atributo. Taylor24 sugere
que o termo intensidade no tem estas limitaes
e visto pelos atletas como contribuindo para a
performance desportiva ptima.
Recentemente, Vasconcelos-Raposo31 tambm
prope que se rejeite o conceito de ansiedade e
que se proceda a uma reclassificao do estado
emocional vivido pelos atletas no contexto
desportivo, uma vez que est em contradio
com a forma como este utilizado pela
psicologia clnica. Este autor considera inadequada a forma como a ansiedade apresentada
74 {Investigao
75 {Investigao
76 {Investigao
Metodologia
Amostra
A amostra de calibrao foi constituda por
287 alunos da licenciatura em Educao Fsica
e Desporto com mais de um ano de prtica
desportiva, de ambos os sexos (187 alunos masculinos e 100 femininos), praticantes de modalidades individuais e colectivas e de diversos
nveis competitivos. Todos os elementos da
amostra tinham idades superiores a 18 anos
(20,642,17), e apresentavam em mdia cerca
de 7 anos de prtica desportiva (6,633,78).
A amostra de validao foi composta por 323
atletas praticantes de seis modalidades desportivas
individuais (atletismo, natao, ginstica, judo,
luta livre e badminton), de ambos os sexos (207
atletas masculinos e 116 femininos) e com nvel
competitivo mnimo de Nacional. Todos os
membros da amostra tinham idades superiores
a 16 anos (20,484,02), e cerca de 10 anos de
prtica desportiva (10,134,96).
Procedimentos
Os questionrios referentes amostra de calibrao, composta pelos estudantes de Educao
Fsica e Desporto, foram recolhidos antes do
incio de uma aula, tendo sido solicitado previamente autorizao para o efeito ao professor
da referida disciplina. Os dados respeitantes
amostra de validao, constituda por atletas, foi
recolhida em situao de estgio da seleco
nacional ou treino nos respectivos clubes, aps
dada autorizao dos Presidentes e Tcnicos
Nacionais das respectivas Federaes.
O Inventrio de Estado de Ansiedade Competitiva-2 (Competitive State Anxiety Inventory-2,
CSAI-2) foi desenvolvido por Martens, Burton e
colaboradores18 para avaliar a intensidade do
negativismo, da activao e da autoconfiana
em situaes competitivas, sendo validado para a
populao portuguesa por Vasconcelos-Raposo32.
Estatstica
Para o tratamento estatstico dos dados foram
utilizados os programas SPSS 13.0 e o AMOS
6.0 (Analysis of Moment Structures). Verificou-se as
propriedades psicomtricas do CSAI-2, atravs
do clculo do alpha de Cronbach e da AFC.
Com base nas vrias estruturas factoriais
propostas nos estudos anteriormente descritos,
foi realizada a AFC com a amostra de alunos e
atletas. Em todos os modelos testados foi
utilizado o mtodo de estimao maximum
likelihood. As medidas de avaliao do
ajustamento utilizadas para verificar a
adequabilidade do modelo aos dados foram as
seguintes: ratio chi square statistics/degrees of freedom
(X2/df), comparative fit index (CFI), goodness of fit
ndex (GFI), root mean square error of approximation
(RMSEA) e Akaike information criterion (AIC).
Inicialmente, o qui-quadrado foi a estatstica
mais utilizada para avaliar a adaptabilidade do
modelo, indicando um qui-quadrado significativo
que o modelo em estudo no se adapta aos
dados. Posteriormente, foi reconhecida a elevada
sensibilidade deste teste ao tamanho da amostra2,
sendo sugerido a utilizao do rcio X2/df.
O rcio do X2/df tem sido usado como ndice
de ajustamento do modelo, no entanto, no h
consenso acerca do valor que se considera um
ajustamento adequado, sendo sugerido valores
inferiores a 31. O CFI avalia a adequabilidade
do modelo em relao ao modelo independente,
variando os valores entre 0 e 1, com valores
superiores a 0,90 indicando um ajustamento
adequado4. O GFI mede a quantidade relativa
77 {Investigao
de varincia e covarincia conjuntamente explicadas pelo modelo, varia entre 0 e 1, com valores
superiores a 0,9 indicando um ajustamento
adequado4. O RMSEA analisa a discrepncia
no ajustamento entre as matrizes estimadas e as
observadas, varia entre 0 e 1, com valores entre
0,08 e 0,1 indicando um modelo medocre e
superiores a 0,1 uma adequabilidade pobre4.
Na comparao de dois ou mais modelos usamos
o AIC, demonstrando os valores mais baixos
uma maior adequabilidade do modelo4.
Resultados
Consistncia Interna
A consistncia interna foi boa para as trs
escalas do CSAI-2, em ambas as amostras. Para
a amostra dos alunos os valores do alpha de
Cronbach foram de 0,84 para o negativismo, 0,88
para a activao e para a autoconfiana de 0,91.
Para a amostra de atletas os valores obtidos foram
de 0,85 para o negativismo, 0,88 para a activao
e 0,90 para a autoconfiana.
X2
df
p
X2/df
CFI
GFI
RMSEA
AIC
Original 18
Negativismo
e
activao 16
Negativismo
e activao
sem item 25 27,28
Negativismo
e
autoconfiana
Modelo
final
proposto
1040,659
321
0,000
3,242
0,828
0,780
0,089
1154,659
415,125
134
0,000
3,098
0,862
0,873
0,086
489,125
391,640
118
0,000
3,319
0,869
0,864
0,090
461,640
395,275
134
0,000
2,950
0,894
0,854
0,083
469,275
286,048
130
0,000
2,200
0,937
0,895
0,065
368,048
78 {Investigao
X
df
p
X2/df
CFI
GFI
RMSEA
AIC
2
Original 18
Negativismo
e
activao 16
Negativismo
e activao
sem item 25 27,28
Modelo
final
proposto
1020,140
321
0,000
3,178
0,835
0,770
0,085
1134,140
366,998
134
0,000
2,739
0,898
0,877
0,076
440,998
338,953
118
0,000
2,872
0,897
0,880
0,078
408,953
343,804
130
0,000
2,645
0,916
0,871
0,074
425,804
79 {Investigao
Discusso
O objectivo do presente estudo foi avaliar a
estrutura factorial da verso Portuguesa do
CSAI-2. Este instrumento era considerando uma
ferramenta vlida e fidedigna para a avaliao
do negativismo, activao e autoconfiana27,28,
sendo, no entanto, recentemente questionada em
diversas investigaes as suas propriedades
psicomtricas, no que diz respeito validade
factorial3. As concluses deste estudo apoiam os
autores referidos anteriormente, no que diz
respeito falta de validade factorial da escala
original do CSAI-27,10,16,27,28, sendo sugerido um
modelo composto apenas pelas escalas de negativismo e autoconfiana.
No entanto, se em relao estrutura factorial, as medidas de adequabilidade obtidas
demonstram valores inaceitveis para a estrutura
original18; no que diz respeito consistncia
interna das escalas do CSAI-2, os resultados
confirmam a existncia de valores de Alpha de
Cronbach elevados (variam entre 0,84 e 0,91). Os
valores de alpha obtidos para as trs escalas, em
ambas as amostras, esto de acordo com outras
investigaes realizadas18.
O modelo que propomos, sem a escala de
activao, revela medidas de ajustamento mais
adequadas comparativamente aos outros trs
80 {Investigao
Correspondncia
Jos Vasconcelos-Raposo
Rua Dr. Manuel Cardona
5000-558 Vila Real, Portugal
E-mail: j.vasconcelos.raposo@gmail.com
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