Natalia de Nardi Dacomo
Natalia de Nardi Dacomo
Natalia de Nardi Dacomo
PUC-SP
SO PAULO
2008
SO PAULO
2008
Banca Examinadora
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AGRADECIMENTOS
Agradeo
Ao meu orientador, Professor Jos Artur Lima Gonalves, pelo apoio e pela confiana
depositada em meu trabalho.
Ao Professor Paulo de Barros Carvalho, pela profundidade e fascnio com que nos ensina o
Direito.
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo propor alternativas de procedimentos para obter
solues rpidas e eficientes, fora do mbito do Poder Judicirio, para os conflitos tributrios,
levando sempre em considerao os parmetros estabelecidos pelo ordenamento jurdico
vigente.
Firmamos nossa meta em razo da conjuntura atual de sobrecarga do Poder Judicirio,
observando a possibilidade, no direito tributrio brasileiro, de se estabelecerem formas
definitivas de soluo de conflito independentes do referido Poder.
Em vista do contexto democrtico no qual estamos inseridos, coerente que os
mecanismos a serem utilizados para a soluo das lides administrativas contem com a
participao dos contribuintes. Assim, propusemos como hiptese a construo de um
Direito Participativo, consubstanciado nas normas da transao e da arbitragem da
obrigao tributria.
Este estudo buscou detectar algumas das necessidades humanas, na rea jurdicotributria, no atual mundo globalizado, e propor respostas para tais anseios com base no
direito positivo.
Nossa linha metodolgica a dedutiva: partimos dos enunciados do direito positivo
com o intuito de tornar patente a possibilidade de solues transacionais em condies
especficas, no mbito do que denominamos de Direito Tributrio Participativo.
Consideramos imprescindvel ressaltar que este estudo tomou como fundamento a
relao entre a Linguagem e o Direito. Isso porque acreditamos que qualquer rea do
conhecimento mantm um estreito vnculo com a linguagem, na medida em que conhecer
algo conhecer a linguagem que torna esse algo compreensvel. Nesse sentido o saber
cientfico uma espcie de discurso. A adoo dessa premissa evidencia a linguagem como
mediadora e constitutiva do conhecimento intersubjetivo vlido. Desse modo, fez-se uma
anlise da linguagem do direto positivo luz de certos conceitos da teoria semitica.
Conclumos que h possibilidade, dentro do ordenamento jurdico vigente, da
introduo, pelas pessoas polticas, de leis que determinem as circunstncias, as condies, os
limites, os rgos e as competncias, para a realizao da transao e da arbitragem
administrativas da obrigao tributria, por meio da soluo transacional, que viabiliza o
direito tributrio participativo.
ABSTRACT
This work outlines some expeditious and effective solutions to settle tax disputes
outside of the judiciary system, but always in accordance with the dictates of the existing
legal framework.
In our work, we have taken into account not only the current difficulties faced by the
Judiciary Branch and its massive backlog of services, but also the possibility of devising
definitive mechanisms for resolution of tax disputes outside the Judiciary itself.
Given the democratic nature that permeates our institutions, it stands to reason that the
taxpayers should play an active role in any given mechanism for settlement of tax
administrative disputes. Accordingly, we suggest the creation of a so-called Participative
Law based upon consensual rules for compromise and arbitration of tax obligations.
This study seeks to identify certain human needs in the tax legal arena within a global
environment, and to provide answers to any such needs in reliance on existing rules of
positive law.
Our methodology follows a deductive reasoning: we depart from positive law precepts
with a view to triggering possible compromises under specific conditions within the realm of
the so-called Participative Tax Law.
It is important to stress that this study is based upon the relationship between
Language and Law. This is because we strongly believe that any field of knowledge and
language are intertwined in that knowing something implies knowing the language that allows
it to be understood. Along these lines, scientific knowledge is a form of speech in itself. This
assumption places language as an instrument that mediates and generates valid intersubjective
knowledge and meaning. Accordingly, we shall analyze the language of positive law under
the perspective of certain principles of semiotics.
We conclude that there is a possibility, within the existing legal framework, for
political players to devise laws determining the circumstances, conditions, limits and
competences for consensual administrative compromises and arbitration mechanisms that will
eventually make it possible to bring Tax Participative Law into full bloom.
SUMRIO
INTRODUO
Da Apresentao do Tema
Da Delimitao do Objeto de Estudo
Do Objetivo
Da Metodologia
Da Seqncia da Exposio
CAPTULO IV - DA TRANSAO
4.1 Do Conceito e da Natureza Jurdica ...................................................................... 89
4.2 Do Objeto .............................................................................................................. 98
4.3 Da Capacidade ..................................................................................................... 100
4.4 Das Modalidades.................................................................................................. 101
4.5 Das Formas........................................................................................................... 102
4.6 Dos Efeitos .......................................................................................................... 103
4.7 Da Transao Penal ............................................................................................. 105
4.8 Da Transao da Obrigao Tributria ............................................................... 105
4.8.1 Do Conceito .......................................................................................... 106
4.8.2 Da Extino do Credito Tributrio: Conseqncia da Norma de
Transao........................................................................................................ 112
4.8.3 Da Extino do Litgio: Objetivo da Norma de Transao .................. 113
4.8.4 Do Regime Jurdico .............................................................................. 114
4.8.5 Da Norma Geral e Abstrata de Transao ............................................ 117
4.8.6 Da Transao Penal Tributria ............................................................ 122
4.8.7 Do Objeto da Transao Tributria e da Discricionariedade no Processo
de Positivao do Direito ............................................................................... 124
CAPTULO V - DA ARBITRAGEM
5.1 Do Conceito e da Natureza Jurdica .....................................................................128
5.2 Do Objeto ............................................................................................................ 133
5.3 Da Capacidade ..................................................................................................... 135
5.4 Das Modalidades.................................................................................................. 138
5.5 Das Formas .......................................................................................................... 139
5.6 Dos Efeitos .......................................................................................................... 139
5.7 Da Arbitragem no Direito Administrativo .......................................................... 141
5.8 Da Arbitragem da Obrigao Tributria ............................................................. 144
5.8.1 Da Arbitragem Tributria Administrativa ............................................ 147
ANEXO A
Notificao: Relata di Notifica .................................................................................. 201
Ato de Adeso: Atto di Adesione ............................................................................... 203
Conciliao Judicial: Conciliazione Giudiziale ....................................................... 214
ANEXO B
Legislao Estrangeira: Normas sobre Transao .................................................... 218
ANEXO C
Legislao Estrangeira: Normas sobre Arbitragem .................................................. 252
INTRODUO
Da apresentao do tema
Inicialmente, devemos dizer que o tema a ser abordado no presente trabalho origina-se
tanto da prxis como do interesse terico. O primeiro aspecto relaciona-se nossa atividade
de operar com o Direito, mais precisamente, funo de Conselheira Julgadora que
exercemos no Conselho Municipal de Tributos do Municpio de So Paulo. O segundo referese s nossas inquietaes acadmicas, que nos conduzem literatura jurdico-tributria e
formulao de hipteses sobre o assunto que detalharemos a seguir.
Antes disso, porm, ressalte-se e adiante-se que a atuao no Conselho e a curiosidade
terica levaram-nos a ponderar sobre a importncia da participao da sociedade civil nos
julgamentos das questes tributrias.
No podemos deixar de mencionar, ainda, que houve uma mudana no enfoque da
Administrao Tributria: da fiscalizao para a arrecadao. Em outras palavras, grande
parte do esforo da Administrao Tributria era dedicada ao combate sonegao por meio
de medidas repressivas; atualmente a nfase recai na gerao de mais recursos para conseguir
atender aos anseios da sociedade. Observe-se, por exemplo, o advento dos planos de
parcelamento incentivado PPI e os REFIS , elaborados como formas de obteno
imediata e menos dispendiosa de recursos para o Estado, uma vez que prescindem da soluo
judicial.
Assim, o tema do presente trabalho a soluo transacional, que compreende as
normas de transao e arbitragem da obrigao tributria, como forma de viabilizar o direito
tributrio participativo.
MIRANDA, Pontes de. O problema fundamental do conhecimento. 2. ed. Rio de Janeiro: Editor Borsoi, 1972,
p. 54.
ftones no viessem em linha reta (a nossa linha reta), no veramos os objetos como os
vemos, em ordem, quase onde esto. Ainda assim os nossos olhos tiveram de abstrair, de
cortar o mundo, do s ver a luz que lhes serve, e muito pouco. Somos cegos para o resto
para o imenso oceano de luz do Universo. Alis, d-se o mesmo com os nossos ouvidos,
prisioneiros de dez oitavas na escala infinita dos sons.2
Nesse sentido, necessitamos fazer um recorte temtico do Direito para podermos
conhecer, de modo mais aprofundado, alguns dos seus aspectos. Embora o Direito seja uma
realidade una e complexa, para fins de estudo, transforma-se em diversos objetos.
O corte da realidade uma deciso arbitrria que o cientista estabelece como uma
proposio axiomtica que no se prova nem se explica. Adverte-nos para isso o professor
Lourival Vilanova: Toda cincia, como categoria do conhecimento, uma construo
conceitual que se ergue sobre a base de pressupostos.3
Em vista disso, delimitamos como objeto deste estudo a soluo transacional
consubstanciada nas normas da transao e da arbitragem administrativas da obrigao
tributria, como forma de viabilizar o direito tributrio participativo.
Destacamos que transao, em sentido amplo, significa soluo transacional, que
admite trs subtipos: mediao, acordo (tambm chamado de transao em sentido estrito) e
arbitragem; no presente trabalho, iremos estudar os dois ltimos.
Chamou nossa ateno a possibilidade, no direito tributrio brasileiro, de se
estabelecerem formas de resoluo definitiva de conflitos fora do mbito do poder judicirio,
e, mais do que isso, com a participao dos contribuintes nas solues administrativas.
importante destacar que, antes da constituio da obrigao tributria, no
ordenamento positivo vigente, no possvel buscar composio com o contribuinte, pois a
autoridade administrativa tem o dever de constituir o crdito tributrio pelo lanamento.
Ainda assim, ressalte-se que a soluo transacional est prevista no ordenamento
positivo brasileiro, no Cdigo Tributrio Nacional, como uma das formas de extino das
obrigaes tributrias.
MIRANDA, Pontes de. O problema fundamental do conhecimento. 2. ed. Rio de Janeiro: Editor Borsoi, 1972,
p. 53-54.
3
VILANOVA, Lourival. Escritos Jurdicos e Filosficos. Sobre o Conceito de Direito. So Paulo: IBET, p. 24.
v. 1.
Do objetivo
Da metodologia
LYOTARD, Jean-Franois. A condio ps-moderna. Traduo: Ricardo Corra Barbosa. Rio de Janeiro: Jos
Olympio, 2006, p. 3.
5
Tomamos, no presente trabalho, o vocbulo texto como suporte fsico da linguagem. O termo linguagem, por
sua vez, refere o sistema de signos; assim, texto qualquer realidade suscetvel de interpretao (suporte fsico
da linguagem).
ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de constituio de todo e qualquer
fenmeno, como fenmeno de produo de significao e de sentido.6
A teoria semitica circunscreve os trs planos da linguagem: o sinttico, o semntico e
o pragmtico.7 Neste trabalho ter destaque especial o campo semntico.
Convm explicar que todas as normas, em sentido estrito, possuem estrutura
hipottico-condicional, ou seja, um antecedente implica um conseqente; isso se chama
homogeneidade sinttica. Porm, as normas so semanticamente heterogneas: o contedo de
significao articulado na posio de antecedente ou de conseqente varia de norma para
norma. A diferena est no sentido de cada uma. Da a importncia do estudo dos conceitos
semnticos para formar a norma jurdica. preciso lembrar tambm que a idia transmitida
pelo signo vai sendo alterada com o decorrer do tempo, isto , o seu significado vai sendo
modificado.
Para abordar o aspecto pragmtico, optou-se pela jurisprudncia (que aplica o Direito)
e pela doutrina jurdica (que recomenda a aplicao do Direito) como formas de emprego dos
signos jurdicos pelos usurios.
interessante destacar, ainda, que este trabalho tambm considera as relaes
estabelecidas por meio da linguagem como tridicas, uma vez que englobam trs
participantes: sujeito-objeto-comunidade. A esse respeito, observem-se as valiosas palavras
do Professor Paulo de Barros Carvalho: [...] podemos mencionar o texto segundo um ponto
de vista interno, elegendo como foco temtico a organizao que faz dele uma totalidade de
sentido, operando como objeto de significao no fato comunicacional que se d entre
emissor e receptor da mensagem, e outro corte metodolgico que centraliza suas atenes no
texto enquanto instrumento da comunicao entre dois sujeitos, tomado, agora como objeto
cultural e, por conseguinte, inserido no processo histrico-social, onde atuam determinadas
formaes ideolgicas. Fala-se, portanto, numa anlise interna, recaindo sobre os
procedimentos e mecanismos que armam sua estrutura, e numa anlise externa, envolvendo a
circunstncia histrica e sociolgica em que o texto foi produzido.8
Assim, neste estudo, busca-se, em primeiro lugar, detectar algumas das necessidades
humanas, na rea jurdico-tributria, no atual mundo globalizado; em segundo, propor
respostas para tais anseios no direito positivo, efetuando-se uma anlise da linguagem deste
por meio da semitica.
Da seqncia da exposio
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributrio. 19. ed. So Paulo: Saraiva, 2007, p. 135.
1. 1 Do Conceito de Direito
10
VILANOVA, Lourival. Escritos Jurdicos e Filosficos. Sobre o Conceito de Direito. So Paulo: IBET, p. 14.
v. 1.
11
Ibid., p. 24.
12
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributrio. 19. ed. So Paulo: Saraiva, 2007, p. 1.
13
14
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributrio. 19. ed. So Paulo: Saraiva, 2007, p. 14.
Ibid., p. 15.
15
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributrio. 19. ed. So Paulo: Saraiva, 2007, p. 15.
SANTAELLA, L. O que semitica. So Paulo: Brasiliense, 1983, p. 11.
17
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributrio. 19. ed. So Paulo: Saraiva, 2007, p. 100.
16
discorre sobre esta. Tal camada lingstica uma sobrelinguagem, ou seja, a Cincia do
Direito Tributrio.
1.2 Da Ps-Modernidade
18
Segundo o Dicionrio da Lngua Portuguesa Contempornea da Academia das Cincias de Lisboa, Lisboa:
Verbo, 2001, p. 1902, globalizao o Fenmeno que consiste na integrao entre os mercados produtores e
consumidores de diversos pases e blocos econmicos.
19
ALVES, J.A. Lindgren. As conferncias sociais da ONU e a irracionalidade contempornea. In Direito e
cidadania na ps-modernidade. Piracicaba: Editora UNIMEP, 2002, p. 19.
20
Ibid., p.19.
21
ALVES, J.A. Lindgren. As conferncias sociais da ONU e a irracionalidade contempornea. In Direito e
cidadania na ps-modernidade. Piracicaba: Editora UNIMEP, 2002, p. 21.
10
A modernidade costuma ser entendida como [...] poca histrica que tem seu incio
no Renascimento, e, para o alemo Hegel, na reforma protestante. A partir de uma percepo
da histria como processo, como presso do tempo, desenvolveu o entendimento de que
moderno o contemporneo, caracterizado como tempo do nascimento de algo novo, de uma
nova era. Assim, o mundo moderno um mundo capaz de parir a cada instante o presente
como algo novo. Rompe-se com o passado para se enfrentar uma renovao contnua no
presente. Revoluo, progresso, emancipao, crise, esprito do tempo so as palavras-chaves
da filosofia que representam esse rompimento radical com a tradio [...].22
Utilizando o conceito do domnio das artes [...] onde vinha h muito sendo
empregado, o conceito de ps-modemidade foi aplicado e reconhecido pela primeira vez na
rea das cincias sociais como um novo estado de esprito ou condio contempornea por
Jean-Franois Lyotard em 1979.23
O trabalho de Jean-Franois Lyotard tido [...] como um clssico no debate da
suposta passagem do pensamento moderno para o ps-moderno. Pressuposto terico de
Lyotard a constatao de que a sociedade se organiza atravs de jogos de linguagem. O
saber cientfico, o saber poltico-jurdico e o saber esttico so construdos a partir de
discursos. O saber toma, assim, diversas formas, expressas em diversos jogos de linguagem.
A questo crucial, nos jogos de linguagem, discernir o saber do no-saber, so as regras
estabelecidas para a investigao da verdade, da justia e do belo. Em outras palavras, para
que haja saber, necessrio um metadiscurso: o discurso de legitimao.24
Lyotard conceituou o termo Ps-Modernidade como o [...] estado da cultura aps as
transformaes que afetaram as regras dos jogos da cincia, da literatura e das artes a partir do
final do sculo XIX.25
O termo ps-modemidade pode ser usado para referir um contexto scio-histrico
particular, marcado pela transio, que no gera unanimidades, e seu uso no somente
contestado como tambm est associado a diversas reaes ou a concepes divergentes. O
surgimento da expresso est eivado de contestaes, o seu uso e emprego so passveis de
severas crticas, bem como a sua significao ganha coloridos e matizes diversos conforme a
22
RDIGER, Dorothee Susanne. Modernidade versus ps-Modernidade: uma nova maneira de pensar. In
Direito e cidadania na ps-modernidade. Piracicaba: Editora UNIMEP, 2002, p. 170.
23
ALVES, J.A. Lindgren. As conferncias sociais da ONU e a irracionalidade contempornea. In Direito e
cidadania na ps-modernidade. Piracicaba: Editora UNIMEP, 2002, p. 25.
24
RDIGER, Dorothee Susanne. Modernidade versus ps-Modernidade: uma nova maneira de pensar. In
Direito e cidadania na ps-modernidade. Piracicaba: Editora UNIMEP, 2002, p. 172.
25
LYOTARD, Jean-Franois. A condio ps-moderna. Traduo: Ricardo Corra Barbosa. Rio de Janeiro:
Jos Olympio, 2006, Introduo xv.
11
BITTAR, Eduardo Carlos Bianca. O direito na ps-modernidade. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 2005,
p. 96.
27
Ibid., p. 97.
28
LYOTARD, Jean-Franois. A condio ps-moderna. Traduo: Ricardo Corra Barbosa. Rio de Janeiro: Jos
Olympio, 2006, p. 3.
29
BARBOSA, Wilmar do Valle. Tempos ps modernos. In LYOTARD, Jean-Franois. A condio psmoderna. Traduo: Ricardo Corra Barbosa. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 2006, p. xiii.
30
DINIZ, Maria Helena. Compndio de Introduo Cincia do Direito. So Paulo: Saraiva, 2005, p. 205.
12
31
FERRAZ JR., Trcio Sampaio. Introduo ao Estudo do Direito. So Paulo: Atlas, 2001, p. 308.
SILVA, De Plcido E. Vocabulrio Jurdico. (Atualizadores: Nagib Slaibi Filho e Glucia Carvalho). Rio de
Janeiro: Forense, 2004, p. 344.
32
13
mesmo, o conflito exige deciso.33 Isso posto, verifica-se que, quanto mais complexa a
sociedade, maior a quantidade de conflitos a serem dirimidos pelo Estado, portanto mais
tempo este dever empregar para solucion-los. Porm tornam-se cada vez mais evidentes os
dficits do poder judicirio; em conseqncia, h morosidade nas deliberaes que cabem a
esse poder.
Nascem novas foras, novos conflitos, que esto alm do que o Poder Judicirio
consegue resolver. Muitas causas tributrias podem levar, por exemplo, 20 anos para serem
solucionadas. Mas, como bem observa Trcio Sampaio Ferraz Jr., [...] se o conflito
incompatibilidade que exige deciso, porque ele no pode ser dissolvido, no pode acabar,
pois ento no precisaramos de deciso, mas de simples opo que j estava, desde sempre,
implcita entre as alternativas.34
E uma vez [...] suscitado o conflito, para que no se rompa, a partir dele, a paz social,
surge a necessidade de solucion-lo e a isto que se denomina de composio de um
conflito [...].35
De fato, h no direito posto algumas alternativas de solues, como, por exemplo, a
transacional, por meio da transao e da arbitragem da obrigao tributria, e acerca destas
que o presente estudo intenta discorrer a seguir.
O sistema de soluo de conflitos comporta trs espcies distintas: (a) autotutela; (b)
composio; (c) jurisdio.
Quanto primeira, a autotutela, diz Vicente Greco Filho, em virtude da inexistncia
de um Estado suficientemente forte para superar as vontades individuais, os litgios eram
solucionados pelas prprias foras, imperando a lei do mais forte. 36Suas caractersticas eram
a ausncia de juiz distinto das partes e a imposio da deciso de uma parte outra.
Substituindo a fora pela razo, verifica-se a composio como sendo a segunda forma
de soluo de conflitos, em que as partes abririam mo de seu interesse ou de parte dele, de
forma que, por meio de concesses recprocas, seria possvel chegar soluo de conflitos.
33
FERRAZ JR., Trcio Sampaio. Introduo ao Estudo do Direito. So Paulo: Atlas, 2001, p. 307.
Ibid., p. 308.
35
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de direito administrativo: parte introdutria, parte geral e
parte especial. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 12.
36
GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro: teoria geral do processo a auxiliares da justia.
So Paulo: Saraiva, 2007, p. 30. v. 1.
34
14
37
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de direito administrativo: parte introdutria, parte geral e
parte especial. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 12.
38
MIRANDA, Pontes de. Tratado de Direito Privado. Campinas: Bookseller, 2003, p. 151. t. XXV.
15
livres da vontade das partes, os quais, imparcialmente, deteriam o poder de dizer o direito e
constranger o inconformado a submeter-se vontade da lei.39
A jurisdio consiste, primordialmente, em dirimir litgios de pessoas fsicas ou
jurdicas em lugar dos interessados, por meio da aplicao de uma soluo prescrita pelo
direito positivo. Tal atividade destina-se a regular a conduta, mediante o uso de um sistema de
comandos coativos ou sancionatrios, de sorte que seja possvel alcanar solues.
Em vista disso, para dirimir os conflitos tributrios, propomos a soluo transacional,
que admite trs subtipos: mediao, acordo e arbitragem; o presente estudo ir deter-se nestes
dois ltimos.
39
GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro: teoria geral do processo a auxiliares da justia.
So Paulo: Saraiva, 2007, p. 30. v. 1.
40
CAMPOS, Diogo Leite de. O Sistema Tributrio no Estado dos Cidados. Coimbra: Almedina, 2006.
16
Estado e o Direito. Neste momento, os cidados cederam parte do seu poder, dos seus direitos,
das suas regalias, ao conjunto, sociedade e aos seus rgos. As pessoas faziam-se
representar por rgos eleitos, sobretudo pelo Parlamento. [...] Assim, os parlamentos
representam a vontade do povo, tal como se fosse o povo a querer, a votar, a actuar. E
manifestam a sua vontade de que maneira? Atravs da lei. A lei a manifestao da vontade
do povo. O povo est a dizer os impostos que quer pagar, como e em que termos os quer
pagar. [...]. Os impostos eram justos, eram aceites, eram efectivos porque era o povo que os
votava atravs dos seus legtimos representantes que exprimiam a sua vontade. 41
Observe-se, quanto mesma questo, o relato do Ministro do Supremo Tribunal
Federal Jos de Castro Nunes: No Estado antigo, que se definia pelo regime de polcia, no
seria possvel ao particular acionar o Estado. Este era a personificao do comando e da
autoridade, a vontade absoluta do Prncipe, que no poderia encontrar resistncia na ao
reparadora da magistratura. A regra era, pois, que o Estado no podia ser submetido justia,
chamado a responder em juzo.42
Nesse momento histrico, a lei representa a vontade do povo e, portanto, justa e
fundamenta os tributos. Nem a Administrao nem os Tribunais podem, em tese, alterar a
vontade do povo. O direito tributrio estaria nas leis, sendo uma espcie de sistema autosuficiente. Ao jurista cabe a simples exegese, entendida como a anlise gramatical de um
texto. Os tribunais so desprovidos de competncia para regular ou controlar o governo ou a
Administrao; esta, em ltima instncia, a pedido do contribuinte, julga-se a si prpria.
Mas, com o decorrer do tempo, o Estado no consegue atender a todos os cidados.
Dentro dos parlamentos h uma diversidade de interesses, sendo estes muitas vezes
contraditrios e por isso os cidados no se sentem representados pelos polticos.
Assim, os impostos deixam de ser matria poltica subordinada ao princpio da
representao popular, tornando-se submetidos ao controle da atividade administrativa e
segurana procedimental.43
Dessa forma, as legislaes passam a subordinar a matria tributria ao controle
jurisdicional e ao procedimento administrativo, a fim de encontrar a justia que se
pressupunha inata na lei. O conceito de Estado tambm foi sendo modificado: de Estado
imperium passou a ser cada vez mais um Estado democrtico, no sentido de garantir os
direitos dos cidados.
41
CAMPOS, Diogo Leite de. O Sistema Tributrio no Estado dos Cidados. Coimbra: Almedina, 2006, p. 96.
CASTRO NUNES, Jos de. Da fazenda pblica em juzo. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1950, p 284.
43
CAMPOS, Diogo Leite de. O Sistema Tributrio no Estado dos Cidados. Coimbra: Almedina, 2006, p. 100.
42
17
Esta fase se caracteriza pelo aparecimento dos primeiros conflitos, pela legalidade na
aplicao da lei e pela descoberta da justia pela Administrao e pelos Tribunais.
Nesta segunda fase, procura-se a justia nas decises dos processos administrativos e
judiciais. Nascem os tribunais fiscais ou independentes com competncia plena para julgar
no s os atos tributrios, mas tambm a constitucionalidade das leis dos tributos. A atuao
dos juzes ultrapassa a mera aplicao da lei: os magistrados, por meio da hermenutica
jurdica, passam a interpretar e a descobrir a justia na aplicao da lei.
Nesse sentido, Jos de Castro Nunes expe: O juiz no propende nem para o fisco,
nem para o seu contendor. Interpreta a lei e aprecia as provas como em qualquer outro feito,
dominado pela inspirao do bem pblico ou do interesse coletivo, que existe, tanto na
necessidade de tornar efetiva a cobrana dos tributos como na de no dar mo forte
ilegalidade fiscal.44
A Administrao Tributria, por sua vez, fica submetida a um procedimento
administrativo cada vez mais organizado e transparente em relao ao contribuinte. Nesse
caso, tambm se considera que a Administrao fiscal encontraria a justia, no mbito da
aplicao do Direito, por meio de um devido procedimento administrativo.
Uma das primeiras e mais importantes mudanas a fundamentao explcita dos atos
administrativos tributrios. Isso ocorre no sculo XIX e perdura at meados do sculo XX,
com o intuito de que a Administrao oculta e autoritria se transforme numa administrao
democrtica para os contribuintes.
Surgem os tribunais administrativos com a participao dos contribuintes e busca-se
uma justificativa para os atos tributrios. A Administrao Tributria passa a estar submetida
a uma legislao mais rgida, que garante um procedimento administrativo cada vez mais
coeso e claro aos olhos contribuinte.
O poder judicirio passa a julgar a legalidade e a constitucionalidade das leis
tributrias, assim como dos atos administrativos, em ltima instncia. Portanto, a justia passa
a ser ditada pelo judicirio. Nova crise se estabelece porque o poder judicirio no consegue
mais atender a demanda por justia.45
44
CASTRO NUNES, Jos de. Da fazenda pblica em juzo. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1950, p. 289.
Tal situao ainda perdura nos dias de hoje e to alarmante que at mesmo a imprensa no-especializada
comenta fatos relativos sobrecarga no mbito judicial. No seminrio SOBRE A EFICINCIA DA JUSTIA e
sua eficcia na economia, ocorrido no final de novembro de 2007, o ministro do Supremo Tribunal Federal
Enrique Ricardo Lewandowski pintou um quadro aterrorizante do Judicirio brasileiro. Alm de uma legislao
45
18
Por outro lado, a Administrao Tributria busca maior eficincia. Assim, d nfase
arrecadao, no mais fiscalizao. Com isso, busca solues em conjunto com os
contribuintes para solucionar os conflitos de forma rpida e eficiente.
Esta terceira fase se caracteriza pela existncia de muitos conflitos e pela busca da
justia por meio da participao dos contribuintes. A cada dia se torna mais evidente a
necessidade da composio de interesses entre o Estado e a Sociedade.
E a participao pode realizar-se: um processo administrativo decisrio mais
democrtico permite que a Administrao Pblica deixe de ser algo externo e distante do
cidado, favorecendo a participao do administrado na formatao da deciso administrativa.
No entanto, deve-se frisar que a participao direta do administrado no quer dizer que a
Administrao Pblica tenha se afastado da lei nem do desiderato de eficincia administrativa,
muito menos elimina a democracia representativa.46
Diogo Leite de Campos vai alm: o monoplio do poder judicial (uma das fases da
violncia legtima) pelo Estado est historicamente situado nas sociedades europias. Traduz
(tambm) a concepo da superioridade e omnipotncia do Estado na vida pblica, a que se
reduz, ou para a qual converge, a vida social e individual. No est em causa a heteroregulao dos conflitos. Os conflitos tero de ser dirimidos (na sua maioria e na actual
circunstncia histrica) por terceiros capacitados e independentes. Mas estes terceiros no tm
de ser impostos s partes. Podem ser escolhidas por estas. Ou seja: em vez do juiz-de-fora
emanao do poder, haver o homem-bom escolhido pelas partes, da confiana destas, a
dirimir os seus conflitos. Em termos de (ainda) auto-composio dos conflitos entre
cidados (livres, iguais).47
Se a legalidade tributria surgiu [...] como forma de garantir a participao dos
cidados na definio dos tributos que deles seriam exigidos, nas democracias representativas
modernas, os acordos entre o Fisco e contribuinte traduzem, de alguma forma, a retomada do
complicadssima, o volume de aes assustador: s ele, em 2006, analisou mais de 15 mil processos. Algo
como 41 por dia, se no houvesse sbado, domingo, feriado, Natal ou Ano-Novo. Direto da Fonte. Jornal: O
Estado de So Paulo. 4 de dezembro de 2007. Caderno 2. p. d 2.
46
BATISTA JNIOR, Onofre Alves. Transaes administrativas: um contributo ao estudo do contrato
administrativo como mecanismo de preveno e terminao de litgios e como alternativa atuao
administrativa autoritria, no contexto de uma administrao pblica mais democrtica. So Paulo: Quartier
Latin, 2007, p. 68.
47
CAMPOS, Diogo Leite de. O Sistema Tributrio no Estado dos Cidados. Coimbra: Almedina, 2006, p. 130.
19
consentimento dos cidados na tributao no mais de forma genrica, mas em relao a cada
situao concreta. As amarras postas pela Administrao Pblica mais burocratizada tendem a
ceder, e um modelo de administrao pblica consensual, mais democrtica, tende a lastrear o
traado de solues concertadas, mesmo na seara administrativo-tributria. A pragmtica
soluo da transao, diante da complexidade das normas tributrias, hoje uma
necessidade.48
Assim, nessa fase, caminha-se para um maior envolvimento dos cidados no governo,
e conseqentemente para a participao dos contribuintes no processo de positivao do
direito. Isso poderia permitir a interveno dos cidados nos atos de criar e aplicar os tributos,
bem como no de discutir os conflitos com o Estado.
E, nesse sentido, acreditamos que a soluo transacional por meio da transao e da
arbitragem pode ajudar a compor esse caminho.
48
20
O art. 171 do Cdigo Tributrio Nacional determina que a lei pode facultar, nas
condies que estabelea, aos sujeitos ativo e passivo da obrigao tributria celebrar
transao que, mediante concesses mtuas, importe em determinao de litgio e
conseqente extino de crdito tributrio.
O artigo 146 da Constituio Federal, por sua vez, determina que cabe lei
complementar estabelecer normas gerais em matria de legislao tributria. Assim, verificase que o Cdigo Tributrio Nacional, cumprindo essa misso, estabelece a capacidade das
pessoas polticas, por meio da lei, de disciplinarem a soluo transacional.
Ora, isso significa que, dentro dos limites da lei, a Administrao Tributria pode
realizar a soluo transacional com o crdito tributrio j constitudo, desde que exista lei que
discipline a matria.
O Cdigo Tributrio Nacional estabelece a soluo transacional como uma das formas
de extino do crdito tributrio, e, quando a Administrao define os critrios para aplicar a
lei, est cumprindo seu papel.
21
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antnio. Curso de direito administrativo. 13. ed. So Paulo:Malheiros, 2001,
p. 34.
52
BATISTA JNIOR, Onofre Alves. Transao no Direito Tributrio, Discricionariedade e Interesse Pblico. In
Revista Dialtica de Direito Tributrio 83, 2002, p. 122.
53
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antnio. Curso de direito administrativo. 13. ed. So Paulo:Malheiros, 2001,
p. 34.
22
54
ALESSI, Renato. Principi di diritto amministrativo, Quarta edizione. Milano: Giuffr, 1978. p. 232-233, v. I.
Traduo da autora. No original: Questi interessi pubblici, collettivi, dei quali l'amministrazione deve curare il
soddisfaciomento, non sono, si noti bene, semplicemente l'interesse dell' Amministrazione intesa come apparato
orgaruzzativo autonomo, sibbene quello che stato chiamato l'interesse collettivo primario, formato dal
complesso degli interessi individuali prevalenti in una determinata organizzazione giuridica della collettivit,
mentre l'interesse dell' apparato, se pu esser concepito un interesse dell' apparato unitariamente considerato,
sarebbe semplicemente uno degli interessi secondari che si fauno sentire in seno aal collettivit, e che possono
essre realizzati soltanto in caso di coincidenza, e nei limiti id siffatta coincidenza, con l'interesse colletivo
primario. La peculuarit della posizione giuridca della pubblica Amministrazione sta appunto in ci, che la sua
funzione consiste nella realizzazione dell'interesse colletivo, pubblico, primario. Anche volendosi concepire un
interesse, secondario, dell' Amministrazione considerata comme apparato organizzativo autonomo, esso non
potrebbe esser realizzato se non in vista della coincidenza con l'interesse primario, pubblico.
55
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antnio. Curso de direito administrativo. 13. ed. So Paulo: Malheiros,
2001, p. 70.
23
56
Cf. VILANOVA, Lourival. As estruturas lgicas e o sistema do direito positivo. So Paulo: Max Limonad,
1997, p. 168-169.
57
GONALVES, Jos Artur Lima. Imposto Sobre a Renda: Pressupostos Constitucionais. So Paulo: Malheiros,
2002, p. 41.
24
58
CARVALHO, Paulo de Barros. Sobre Princpios Constitucionais Tributrios. In Revista de Direito Tributrio55. So Paulo: Malheiros, p.149.
59
Ibid.
60
Ver CARVALHO, Paulo de Barros. Sobre Princpios Constitucionais Tributrios. In Revista de Direito
Tributrio- 55. So Paulo: Malheiros, p.147.
61
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributrio. 19. ed. So Paulo: Saraiva, 2007, p. 159.
62
DWORKIN, Ronald. Levando os Direitos a Srio. So Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 36.
63
Ibid., p. 39.
25
isso, exigem a adoo de comportamentos cujos efeitos contribuam para a promoo gradual
daquele fim.64
Convm lembrar as lies do mestre Oswaldo Aranha Bandeira de Mello65, que
lecionava que os princpios podem ser de duas ordens: os de dado direito positivo, que
decorrem dos textos legais de determinado Estado, distinguindo-se, entretanto, das
disposies isoladas da lei, para informar o regime jurdico nele imperante; os de dada poca
de estgio do direito, que correspondem concepo jurdica dominante em certo momento
histrico, respeitados os elementos fundamentais de sua cultura e de sua tradio.
Mesmo no caso dos princpios positivados, entendemos que o seu contedo semntico
alterado em decorrncia do progresso tecnolgico, das decises jurisprudenciais, das
posies doutrinrias, das instituies morais, polticas e econmicas de determinado estgio
de civilizao da Humanidade, nas suas origens e promoes evolutivas.
Cite-se como exemplo o princpio da autonomia municipal brasileira. Logo aps a
promulgao da Constituio de 1988, o contedo semntico atribudo a esse princpio
destacava a importncia da municipalidade. Era a Constituio Municipalista. Tanto que a
doutrina, discutindo a funo da lista de servios veiculada pela lei Complementar, defendia
que o rol era meramente sugestivo.
Segundo Misabel Abreu Machado Derzi, em notas de atualizao obra Direito
Tributrio Brasileiro, de Aliomar Baleeiro, [...] prevaleceu, na jurisprudncia de nossos
tribunais superiores, a posio restritiva autonomia municipal, que qualificou a lista de
servios de taxativa, abrigando os nicos e especficos servios tributveis pelo ISS. Mesmo
aps o advento da Constituio de 1988, a maior parte da Doutrina e a jurisprudncia dos
tribunais superiores posicionaram-se em favor da taxatividade da lista de servios.
Defenderam esse ltimo ponto de vista Rubens Gomes de Sousa, Ruy Barbosa Nogueira,
Aliomar Baleeiro, Jos Afonso da Silva, Ives Gandra Martins, Gilberto de Ulha Canto e
outros (...).66
Para o professor Roque Carrazza, a lista de servios, segundo estamos convencidos,
no nem taxativa nem exemplificativa, mas meramente sugestiva. Contm sugestes que,
desde que constitucionais, podero ser levadas em conta pelo legislador municipal, ao
instituir, in abstracto, o ISS. Prestaes de servios no mencionadas na referida lista, desde
64
26
CARRAZZA, Roque Antonio. Inconstitucionalidades dos itens 21 e 21.1, da lista de servios anexa LC
116/2003. TRRES, Hleno Traveira (org.). In ISS na lei complementar n. 116/2003 e na Constituio. Barueri,
SP: Manole, 2004, p. 360, nota de rodap 18.
68
ATALIBA, Geraldo. Revista de Direito Tributrio - 35, Parecer. So Paulo: Malheiros, p. 88.
69
BARRETO, Aires F. ISS na Constituio e na lei. So Paulo: Dialtica, 2003, p. 115.
70
MELO, Jos Eduardo Soares de. ISS - Aspectos Tericos e prticos. 3. ed. So Paulo: Dialtica, 2003, p. 51.
27
institudo o Super Simples; assim, temos um Estado cada vez mais centralizado e menos
municipalista.
Observa-se, portanto, com este exemplo, que o contedo semntico do princpio da
autonomia municipal da Constituio de 1988, em decorrncia das decises jurisprudenciais e
das alteraes constitucionais, foi totalmente modificado, estando hoje tal princpio, em
termos de direito tributrio, praticamente esvaziado de seu significado original.
A fim de discorrer adequadamente sobre o objeto deste estudo soluo transacional
, mais especificamente Arbitragem e Transao administrativas no direito tributrio,
indispensvel, antes, fazer reflexes acerca de alguns princpios constitucionais e do atual
contedo semntico deles.
71
GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro: teoria geral do processo a auxiliares da justia.
So Paulo: Saraiva, 2007, p. 43. v.1.
28
1. Sentena estrangeira: laudo arbitral que dirimiu conflito entre duas sociedades comerciais
sobre direitos inquestionavelmente disponveis a existncia e o montante de crditos a
ttulo de comisso por representao comercial de empresa brasileira no exterior:
compromisso firmado pela requerida que, neste processo, presta anuncia ao pedido de
homologao: ausncia de chancela, na origem, de autoridade judiciria ou rgo pblico
equivalente: homologao negada pelo Presidente do STF, nos termos da jurisprudncia da
Corte, ento dominante: agravo regimental a que se d provimento,por unanimidade, tendo
em vista a edio posterior da L. 9.307, de 23.9.96, que dispe sobre a arbitragem, para que,
homologado o laudo, valha no Brasil como ttulo executivo judicial.
2. Laudo arbitral: homologao: Lei da Arbitragem: controle incidental de constitucionalidade
e o papel do STF. A constitucionalidade da primeira das inovaes da Lei da Arbitragem a
possibilidade de execuo especfica de compromisso arbitral no constitui, na espcie,
questo prejudicial da homologao do laudo estrangeiro; a essa interessa apenas, como
premissa, a extino, no direito interno, da homologao judicial do laudo (arts. 18 e 31), e
72
GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro: teoria geral do processo a auxiliares da justia.
So Paulo: Saraiva, 2007, p. 37. v.1.
73
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Mutaes do Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Renovar, 2007,
p. 274.
29
74
DE
HENRIQUE
LAGE.
JUZO
ARBITRAL.
CLUSULA
DE
SE-AGR 5206/Ep Espanha, Ag. Reg. Na Sentena Estrangeira, Relator(A): Min. Seplveda Pertence,
Julgamento: 12/12/2001, rgo Julgador: Tribunal Pleno, Publicao: DJ 30-04-2004 Pp-00029, Ementa: Vol02149-06 Pp-00958.
30
IRRECORRIBILIDADE.
JUROS
DA
MORA.
CORREO
MONETRIA.
1.
75
AI 52181 / GB Guanabara Agravo De Instrumento Relator(A): Min. Bilac Pinto. Julgamento: 14/11/1973
rgo Julgador: Tribunal Pleno Publicao DJ 15-02-1974.
76
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antnio. Curso de direito administrativo. 13. ed. So Paulo: Malheiros,
2001, p. 56.
31
Entendemos, com base nas lies de Celso Antonio Bandeira de Mello, que os dois
sustentculos do direito administrativo so os princpios da Legalidade e da Supremacia e
Indisponibilidade do Interesse Pblico. Nesse sentido, Maria Sylvia Di Pietro afirma: Os
dois princpios fundamentais e que decorrem da assinalada bipolaridade do direito
administrativo-liberdade do indivduo e autoridade da Administrao - so os princpios da
legalidade e da supremacia do interesse pblico sobre o particular, que no so especficos do
direito administrativo porque informam todos os ramos do direito pblico; no entanto, so
essenciais, porque, a partir deles, constroem-se todos os demais.77
Entretanto, [...] a supremacia e a indisponibilidade do interesse pblico tm sido
invocadas, com freqncia, para justificar atos incompatveis com a ordem constitucional
democrtica. necessrio, por isso, encontrar soluo mais satisfatria e mais adequada em
face da Constituio de 1988. 78
Nesse sentido, procuraremos, em seguida, buscar a harmonizao e a conceituao
desses princpios.
77
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 18. ed. So Paulo:Atlas, 2004, p.67.
JUSTEN FILHO, Maral. Curso de Direito Administrativo. So Paulo: Saraiva, 2006, p. 36.
79
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antnio. Curso de direito administrativo. 13. ed. So Paulo: Malheiros,
2001, p. 34.
80
FIGUEIREDO, Lcia Valle. Curso de direito administrativo. 5. ed. So Paulo: Malheiros, 2001, p. 66.
78
32
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributrio. 19. ed. So Paulo: Saraiva, 2007, p. 173.
Ibid., p. 173-174.
83
JUSTEN FILHO, Maral. Curso de Direito Administrativo. So Paulo: Saraiva, 2006, p. 37.
84
Ibid., p. 37.
85
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Parcerias na Administrao Pblica. So Paulo: Atlas, 2002, p. 26.
82
33
86
JUSTEN FILHO, Maral. Curso de Direito Administrativo. So Paulo: Saraiva, 2006, p. 43.
34
natureza, ou do ser, do velho, do mais velho, do arcaico; a cultura ainda pode fazer alguma
coisa com tal natureza e trabalhar para reformar esse referente. O ps-modernismo o que
se tem quando o processo de modernizao est completo e a natureza se foi para sempre.
um mundo mais completamente humano do que o anterior, mas um mundo no qual a
cultura se tornou uma verdadeira segunda natureza.87 (grifos nossos)
Ora, em face de uma situao que abriga ao mesmo tempo todas essas fraturas e
mudanas, bem como pontos de vista divergentes (e nenhum deles aparentemente capaz de
traduzir a vontade de uma maioria), parece mais apropriado supor, conforme Cassese, que
[...] aps a afirmao do Estado pluriclasse, cada interesse coletivo suscetvel de
reconhecimento e tutela pblica. No existe o interesse pblico, mas os interesses pblicos, no
plural. As leis que jurisdicizam interesses no podem estabelecer uma escala entre si,
indicando qual deva prevalecer. Da a existncia de um grande nmero de interesses pblicos
concorrentes. Por conseguinte, a administrao deve estabelecer o fim da disputa entre eles.
Longe de ser um exemplo do poder legal racional, conforme o modelo de Max Weber, as
administraes pblicas seriam um campo de batalha, se no houvesse o ordenamento
procedimental da sua atividade.88
preciso que todos os setores da sociedade tenham a oportunidade de se manifestar, a
fim de diminuir cada vez mais as barreiras entre o Estado e os cidados. Uma sociedade
pluralista aquela em que os representantes dos vrios grupos tm a mesma possibilidade de
participao.
Nessa sociedade, [....] a satisfao de interesses pblicos no exclui, necessariamente,
o atendimento de interesses privados, portanto, sob essa tica mais moderna, enfraquece-se a
idia de que o Estado, para garantir o interesse pblico, precise, necessariamente, se valer de
meios unilaterais impositivos. Ao contrrio, o atendimento do bem comum reclama justa
ponderao entre interesses pblicos (muitas vezes desalinhados) e interesses privados. Nesse
87
JAMESON, Fredric. Ps-Modernismo A lgica cultural do capitalismo tardio. Traduo de Maria Elisa
Cevasco. So Paulo: tica, 1996, p. 13.
88
CASSESE, Sabino. Le basi del diritto amministrativo. 6. ed. Milano: Garzanti Editore, 2004, p. 442. Traduo
da autora. No original: [...] dopo l'affermazione dello Stato pluriclasse, ogni interesse collettivo suscettibile di
riconoscimento e di tutela pubblici. Non esiste l'interesse pubblico, ma gli interessi pubblici, al plurale. Le leggi,
nel canonizzare tali interessi, non possono sempre stabilire una scala tra di loro, indicando quale debba
prevalere. Di qui l'esistenza di un gran numero di interessi pubblici concorrenti. Dunque, gli uffici pubblici si
trovano ad essere portatori di fini in competizione tra di loro. Ben lungi dall'essere un esempio di potere legalerazionale, secondo il noto modello di Max Weber, le amministrazioni pubbliche sarebbero un campo di
battaglia, se non vi fosse l'ordinamento procedimentale della loro attivit.
35
36
estipulava um salrio, era o Fisco quem lho pagaria em virtude de uma conveno
complementar que com ele celebraria; se o Fisco arrecadava um tributo no devido, contra
ele, e no o Estado, seria a ao fundada na conditio indebiti.92
E foi em virtude dessa fico que o Fisco no tinha maiores imunidades do que o
particular a quem acionasse e, desse modo, estavam [...] ambos sujeitos jurisdio civil. O
juiz era solenemente desobrigado pelo Prncipe de defender o nosso interesse, porque o
Fisco, embora Caixa do Estado, era tambm sdito, podendo assim o juiz sentenciar contra o
fisco sem sentenciar contra o Rei.93
Como podemos observar, at mesmo no Estado absolutista havia a separao entre o
interesse do prncipe e o do fisco. Esse interesse do prncipe evoluiu, nos dias atuais, nas
sociedades democrticas, para o interesse coletivo, mais precisamente, na contemporaneidade,
para interesses coletivos; ainda assim cabe diferenar estes interesses do interesse do fisco,
conforme mais adiante faremos.
Convm referir, nesse momento, antes de propor qualquer definio, que um conceito
no parece ser algo definitivo, mas passvel de variaes conforme as circunstncias como o
contexto histrico, por exemplo.
No que diz respeito a interesse pblico, verifica-se que, de fato, seu conceito vem
sendo modificado atravs dos tempos.
Afirma-se que o Estado instrumento de realizao do interesse pblico, porm
necessrio ressaltar que tal interesse existe antes do Estado. Como adverte Maral Justen
Filho, o primeiro equvoco confundir interesse pblico e interesse estatal, o que gera um
raciocnio circular: o interesse pblico porque atribudo ao Estado, e atribudo ao Estado
por ser pblico.94
Logo, o interesse pblico no por ser de titularidade do Estado; ao contrrio,
atribudo ao Estado por ser pblico. Por outro lado, tambm h interesses pblicos que no
so de titularidade do Estado, o que envolve uma opo poltica e reflete o modo como a
sociedade se organiza.
Segundo Diogo de Figueiredo Moreira Neto, interesses esto sempre conotados a
valores. Cada interesse contm, portanto, um ou mais valores informativos: afetivos, morais,
utilitrios, estticos etc.95
92
CASTRO NUNES, Jos de. Da fazenda pblica em juzo. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1950, p. 284-285.
Ibid., p. 285.
94
JUSTEN FILHO, Maral. Curso de Direito Administrativo. So Paulo: Saraiva, 2006, p. 38.
95
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de direito administrativo: parte introdutria, parte geral e
parte especial. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 90.
93
37
Ver CARRI, Genaro R. Notas sobre Derecho y Lenguaje. 4 ed. Buenos Aires, Abeledo-Perrot, 1990.
Ver MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Mutaes do Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Renovar,
2000, p. 277-278.
98
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Parcerias na Administrao Pblica. So Paulo: Atlas, 2002, p. 31.
97
38
estatal enquanto entidade personalizada, e que por isso mesmo pode lhe ser referido e nele
encarnar-se pelo simples fato de ser pessoa.99
Assim, observa-se que a noo de interesse pblico reflete na prpria organizao da
Administrao Pblica, j que a expresso refere os interesses da sociedade (interesse pblico
primrio) e no os da mquina administrativa, Fisco, (interesse pblico secundrio).
E, nesse sentido, [...] a indisponibilidade do interesse pblico no pode ser
confundida com a disponibilidade de um interesse pblico determinado, isto , a
Administrao, em prol do melhor interesse pblico possvel, deve atuar nos limites da
competncia legal que lhe tenha sido outorgada, mesmo que essa atuao redunde no
afastamento de determinado interesse pblico, quando a medida ocasionar o atendimento
otimizado do feixe de interesses pblicos. Enfim, luz do princpio da indisponibilidade do
interesse pblico, desde que exista lei que autorize a disposio ou procedimentos de
ponderao, como se d na clusula setorial autorizativa de transao, a Administrao pode
dispor de determinado interesse pblico para fazer prevalecer o atendimento otimizado do
feixe de interesses pblicos que cabe mquina pblica zelar.100
99
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antnio. Curso de direito administrativo. 13. ed. So Paulo: Malheiros,
2001, p. 70.
100
BATISTA JNIOR, Onofre Alves. Transaes administrativas: um contributo ao estudo do contrato
administrativo como mecanismo de preveno e terminao de litgios e como alternativa atuao
administrativa autoritria, no contexto de uma administrao pblica mais democrtica. So Paulo: Quartier
Latin, 2007, p. 510.
101
Ver MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de direito administrativo: parte introdutria, parte geral
e parte especial. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 116.
39
O interesse pblico secundrio pertinente ao desejo do Estado como ente per si;
manifesta-se quando a Administrao, no desempenho de suas atividades, adota e
operacionaliza as diretrizes dos rgos governativos. neste segundo estgio de atuao da
Administrao que ocorrem a transao e a arbitragem.
Segundo o professor Diogo de Figueiredo Moreira Neto, as atividades-meio servem
para operacionalizar os interesses institucionais do Estado, referentes aos seus atos, pessoas,
servios etc., destinando-se, portanto, satisfao dos interesses pblicos secundrios ou
instrumentais e conformando-se Administrao Pblica Interna.102
Este o caso da obrigao tributria. Obviamente, para atuar nessa rbita, a
Administrao demanda autorizao legal, em regime de direito pblico, conforme define o
Cdigo Tributrio Nacional em seu Art. 171: a lei pode facultar, nas condies que
estabelea, aos sujeitos ativo e passivo da obrigao tributria celebrar transao que,
mediante concesses mtuas, importe em determinao de litgio e conseqente extino de
crdito tributrio.
Os recursos obtidos em razo dessa disponibilidade e da otimizao do recebimento da
obrigao tributria que permitiro ao Estado atingir os objetivos estabelecidos pelo
interesse pblico primrio.
102
Ver MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de direito administrativo: parte introdutria, parte geral e
parte especial. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 116.
40
103
ROSEMBUJ, Tlio. La Transaccion Tributria. Barcelona: Atelier, 2000, p. 12. Traduo da autora. No
original: Contemporneamente, el inters pblico atribuido a la Administracin tributria por la ley no puede
prescindir del inters legtimo del contribuyente a su desarrouo y realizacin.
104
CAMPOS, Diogo Leite de. O Sistema Tributrio no Estado dos Cidados. Coimbra: Almedina, 2006.
41
42
um dever de atuar na sua prossecuo. Vale dizer que, uma vez por lei cometida uma
competncia, a entidade, rgo ou agente pblicos, no mais lhes cabe seno exerc-la: o
interesse pblico especfico torna-se indisponvel para a Administrao Pblica, no importa
de que natureza for: patrimonial, fazendrio, moral, esttico, etc. Em decorrncia, a
Administrao no pode desistir de agir para a satisfao dos interesses que lhe foram
confiados, embora isso no a tolha de escolher, nos limites da prpria lei e do Direito,
como, quando e de que modo faz-lo.105 (grifo nosso)
Portanto, positivado o interesse pblico primrio, dele no se pode dispor, ou seja, no
se pode us-lo livremente.
Ressaltamos que a indisponibilidade do Interesse Pblico e no dos Bens ou
Direitos.
105
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de direito administrativo: parte introdutria, parte geral e
parte especial. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 90.
106
Id. Mutaes do Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Renovar, 2007, p. 278.
43
praticados nas mesmas condies que os particulares, porm feitos na consecuo de objetivo
pblico, relativos ao seu patrimnio e aos seus servios.107
Na mesma linha de raciocnio, o professor e ministro do Supremo Tribunal Federal
Eros Roberto Grau salienta: preciso no confundirmos o Estado-aparato com o Estadoordenamento. [...] o Estado-aparato (a Administrao) atua vinculado pelas mesmas
estipulaes que vinculam o particular; ambos se submetem lei (Estado-ordenamento)
[...].108
Portanto, os interesses pblicos secundrios tm caractersticas patrimoniais e so
disponveis. Essa concluso traz tona a soluo referente matria suscetvel de ser
submetida transao e arbitragem: os interesses pblicos secundrios, que tm natureza
instrumental.
44
entre particulares, o princpio aplicvel o da autonomia da vontade, que lhes permite fazer
tudo o que a lei no probe.111
Referindo o mesmo princpio, Celso Antnio Bandeira de Mello esclarece: Assim, o
princpio da legalidade o da completa submisso da Administrao s leis. Esta deve tosomente obedec-las, cumpri-las, p-las em prtica. Da que a atividade de todos os seus
agentes, desde o que lhe ocupa a cspide, isto , o Presidente da Repblica, at o mais
modesto dos servidores, s pode ser a de dceis, reverentes, obsequiosos cumpridores das
disposies gerais fixadas pelo Poder Legislativo, pois esta a posio que lhes compete no
Direito brasileiro.112
Para Hely Lopes Meirelles, o princpio da legalidade [...] significa que o
administrador pblico est, em toda a sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei
e s exigncias do bem comum, e deles no se pode afastar ou desviar, sob pena de praticar
ato invlido e expor-se a responsabilidade disciplinar, civil e criminal, conforme o caso.113
A lei no um limite para a Administrao, como ensina Zanobini, citado por Sabino
Cassese: a lei diz que a administrao pode fazer. Enquanto o indivduo pode fazer
qualquer coisa que no lhe expressamente vedada, a administrao pode fazer apenas o que
a lei expressamente permite. A atividade administrativa, mesmo quando sua liberdade
aparentemente maior, desenvolve-se sempre em obedincia s regras de lei; se no
cumprimento de lei, realizao de lei.114
Portanto, a Administrao Pblica s pode conceder direitos ou criar obrigaes ou
vedaes aos administrados por meio de lei. A eficcia de toda atividade administrativa est
condicionada ao cumprimento da lei.
A professora Odete Medauar, da Faculdade de Direito da Universidade de So Paulo,
ressalta: Embora permaneam o sentido de poder objetivado pela submisso da
Administrao legalidade e o sentido de garantia, certeza e limitao do poder, registrou-se
111
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 18. ed. So Paulo: Atlas, 2004, p. 68.
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antnio. Curso de direito administrativo. 13. ed. So Paulo: Malheiros,
2001, p. 72.
113
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. So Paulo: Malheiros, 1997, p. 82.
114
G. Zanobini, L'attivit amministmtiva e la legge (1924), ora in G. Zanobini, Scritti vari di diritto pubblico,
cit., pp. 206, 207 e 212. Apud CASSESE, Sabino. Le basi del diritto amministrativo. 6. ed. Milano: Garzanti
Editore, 2004, p. 441. Traduo da autora. No original: Secondo Zanobini, che all'origine del primo
orientamento, la legge non (solo) un limite per l'amministrazione. La legge dice ci che l'amministrazione pu
fare. Mentre l'individuo pu far tutto ci che non gli espressamente vietato, l'amministrazione pu fare
soltanto ci che la legge espressamente le consente di fare. L'attivit amministrativa, anche quando maggiore
la sua apparente libert, si svolge sempre in obbiedienza delle norme di legge; per cui, se non esecuzione di
legge, attuazione di legge.
112
45
evoluo na idia genrica da legalidade.115 Por essa razo a autora destaca que o preceito
[...] a Administrao s pode realizar atos ou medidas que a lei ordena -, se predominasse
como significado geral do princpio da legalidade, paralisaria a Administrao, porque seria
necessrio um comando legal especfico para cada ato ou medida editados pela
Administrao, o que invivel. H casos em que a norma ordena Administrao realizar
uma atividade, como, por exemplo, a lei que estabelece o prazo de sessenta dias para a
Administrao regulament-la ao baixar o regulamento no prazo fixado, a Administrao
estar editando ato que a lei ordenou realizar.116
A legalidade a que a Administrao est vinculada aquela que deflui do sistema
jurdico. A Administrao est obrigada a respeitar o princpio da legalidade, assim como o da
impessoalidade, o da moralidade, o da publicidade e o da eficincia.
115
MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. So Paulo: Revista dos Tribunais, So Paulo, 2007, p.
121.
116
MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. So Paulo: Revista dos Tribunais, So Paulo, 2007, p.
122.
117
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antnio. Curso de direito administrativo. 13. ed. So Paulo: Malheiros,
2001, p. 92.
46
atribuies com rapidez, perfeio e rendimento, alm, por certo, de observar outras regras, a
exemplo do princpio da legalidade. 118
Note-se que a Constituio Federal Brasileira, promulgada em 1988, no trazia
expressamente a eficincia como um de seus princpios, entretanto, por meio da Emenda
Constitucional 19, de 04.06.1998, tal princpio foi includo no texto constitucional.
Um dado importante que, antes mesmo de esse princpio ser positivado, ele j era
estudado pela doutrina. Vejamos o que diz sobre o assunto Hely Lopes Meirelles: Dever de
eficincia o que se impe a todo agente pblico de realizar suas atribuies com presteza,
perfeio e rendimento funcional. o mais moderno princpio da funo administrativa, que
j no se contenta em ser desempenhada apenas com legalidade, exigindo resultados positivos
para o servio pblico e satisfatrio atendimento das necessidades da comunidade e de seus
membros.119
Note-se que a questo tambm foi analisada pela jurisprudncia; o Superior Tribunal
de Justia j reconheceu a existncia do princpio da eficincia, e assim, declarou: A
Administrao Pblica regida por vrios princpios. Alm dos arrolados no art. 37, da
Constituio da Repblica: legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade, outros se
evidenciam na mesma Carta Poltica. Sem dvida, no se contesta, urge levar em conta ainda
o princpio da eficincia, ou seja, a atividade administrativa deve voltar-se para alcanar
resultado de interesse pblico. 120 (grifo nosso)
Aps a incluso do princpio da eficincia no texto constitucional, questes
administrativas que o referiam passaram a ser analisadas com maior ateno pelos
doutrinadores.
Maria Sylvia Zanella Di Pietro assim se manifesta sobre o assunto: O princpio da
eficincia apresenta, na realidade, dois aspectos: pode ser considerado em relao ao modo de
atuao do agente pblico, do qual se espera o melhor desempenho possvel de suas
atribuies, para lograr os melhores resultados; e em relao ao modo de organizar, estruturar,
disciplinar a Administrao Pblica, tambm com o mesmo objetivo de alcanar os melhores
resultados na prestao do servio pblico. 121
118
DIAS, Jefferson Aparecido. Princpio da Eficincia & moralidade administrativa. Curitiba: Juru, 2007, p.
98.
119
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. So Paulo: Malheiros, 1997, p. 90.
120
Processo RMS 5590/ DF. Recurso Ordinrio em Mandado de Segurana 1995/0016776-0. Relator: Ministro
Luiz Vicente Cernicchiaro (1084). rgo Julgador T6 - Sexta Turma. Data do Julgamento: 16/04/1996. Data da
Publicao/Fonte DJ 10.06.1996, p. 20395 LEXS-TJ vol. 87, p. 65.
121
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 18. ed. So Paulo: Atlas, 2004, p. 84.
47
122
Ver JUSTEN FILHO, Maral. Curso de Direito Administrativo. So Paulo: Saraiva, 2006, p. 85.
JUSTEN FILHO, Maral. Curso de Direito Administrativo. So Paulo: Saraiva, 2006, p. 87.
124
MOREIRA NETO, de Figueiredo. Curso de direito administrativo: parte introdutria, parte geral e parte
especial. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 107.
125
Ibid., p. 107.
123
48
Convm destacar, logo no incio, que a Administrao Pblica est sujeita a controles
internos e externos. Observe-se o que diz Celso Antnio Bandeira de Mello acerca desta
distino: Interno o controle exercido por rgos da prpria Administrao, isto ,
integrantes do aparelho do Poder Executivo. Externo o efetuado por rgos alheios
Administrao.126
A autotutela o controle interno da Administrao Pblica; note-se que tal controle
decorre do princpio da legalidade. importante mencionar tambm que a Administrao
Pblica est sujeita lei, portanto tem competncia para controlar a legalidade.
por meio da autotutela que a Administrao exerce o controle sobre os prprios
atos, com a possibilidade de anular os ilegais e revogar os inconvenientes ou inoportunos,
independentemente de recurso ao Poder Judicirio.127
Ressalte-se que a jurisprudncia j se manifestou a esse respeito. Dispe a smula n
346 do STF: "a administrao pblica pode declarar a nulidade dos seus prprios atos";
tambm a smula n 473 do mesmo tribunal: "a administrao pode anular os seus prprios
atos, quando eivados de vcios que os tornem ilegais, porque deles no se originam direitos;
ou revog-los, por motivo de convenincia ou oportunidade, respeitados os direitos
adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciao judicial".
Maria Sylvia Zanella Di Pietro, por sua vez, refere ainda um outro sentido de
autotutela: Tambm se fala em autotutela para designar o poder que tem a Administrao
Pblica de zelar pelos bens que integram o seu patrimnio, sem necessitar de ttulo fornecido
pelo Poder Judicirio. Ela pode, por meio de medidas de polcia administrativa, impedir
quaisquer atos que ponham em risco a conservao desses bens.128
Portanto, a autotutela administrativa a faculdade de a Administrao rever seus
prprios atos [...].129
Esse princpio, alerta o professor Diogo de Figueiredo Moreira Neto, exprime o
duplo dever da Administrao Pblica de controlar seus prprios atos quanto juridicidade e
adequao ao interesse pblico, o que corresponde aos controles, a seu cargo, de legalidade,
126
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antnio. Curso de direito administrativo. 13. ed. So Paulo: Malheiros,
2001, p. 212.
127
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 18. ed. So Paulo: Atlas, 2004, p. 73.
128
Ibid., p. 73.
129
FIGUEIREDO, Lcia Valle. Curso de direito administrativo. 5. ed. So Paulo: Malheiros, 2001, p. 67.
49
130
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de direito administrativo: parte introdutria, parte geral e
parte especial. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 107.
131
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antnio. Curso de direito administrativo. 13. ed. So Paulo: Malheiros,
2001, p. 84.
132
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 18. ed. So Paulo: Atlas, 2004, p. 71.
50
133
MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 11. ed. So Paulo: Revista dos Tribunais, So Paulo,
2007, p.123.
134
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antnio. Curso de direito administrativo. 13. ed. So Paulo: Malheiros,
2001, p. 89.
135
Ibid., p. 89-90.
51
E ainda um princpio geral, com toda sua amplitude, uma vez que o Cdigo Civil acolheu-o
no artigo 7.1.136
Continua o mestre espanhol: O princpio geral de boa-f, que atua [...] no somente
no mbito do exerccio de direitos e poderes, mas tambm no da constituio das relaes e
no cumprimento dos deveres, induz expectativa de uma conduta leal, honesta, que, de
acordo com a avaliao do povo, pode esperar-se de uma pessoa; protege como declaram as
SSTC 73/1988, de 21 de abril, e 198/1988, de 24 de outubro a confiana que
justificadamente pode ter sido depositada no comportamento alheio e impe o dever de
coerncia no comportamento; impe um dever de coerncia no comrcio, sem que seja
possvel frustrar a confiana que, com fundamento, criada nos demais. Pode-se exercer um
direito ou um poder em relao aos fins previstos no ordenamento jurdico, e, portanto, no
incorrer em desvio de poder, e, apesar disso, ser contrrio s exigncias da boa-f. As
limitaes que o princpio geral de boa-f supe operam margem do fato de a finalidade
perseguida ser ou no a prevista no ordenamento jurdico. Por razes distintas, uma
determinada atuao ser contrria s exigncias da boa-f, na medida em que a finalidade
perseguida seja ou no contrria do poder exercido. Uma Administrao Pblica no
exerccio de um poder que vise aos fins previstos pelo ordenamento jurdico pode atentar
contra as exigncias da boa- f.137
Na mesma linha de raciocnio, Celso Antnio Bandeira de Mello aduz: Segundo os
cnones da lealdade e da boa-f, a Administrao haver de proceder em relao aos
administrados com sinceridade e lhaneza, sendo-lhe interdito qualquer comportamento
136
PREZ, Jess Gonzlez. El Principio General de La Buena Fe en el Derecho Administrativo. 4. ed. Madri:
Thomson Civitas. 2004, p. 100. Traduo da autora. No original: El de buena fe constituye uno de los principios
generales del Derecho. Como tal principio general, exista con independencia de su consagracin en una norma
jurdica positiva. Y sigue siendo principio general, con toda su amplitud, una vez que el Cdigo civil lo ha
recogido en el artculo 7.1.
137
Ibid., p. 91. Traduo da autora. No original: El principio general de buena fe, que juega [...] no slo en el
mbito del ejercicio de derechos y potestades, sino en el de la constitucin de las relaciones y en el
cumplimiento de los deberes, conlleva la necesidad de una conducta leal, honesta, aquella conducta que, segn
la estimacin de la gente, puede esperarse de una persona; protege -como dicen las SSTC 73/1988, de 21 de
abril, y 198/1988, de 24 de octubre- la confianza que fundadamente se puede haber depositado en el
comportamiento ajeno e impone el deber de coherencia en el comportamiento; impone un deber de coherencia
en el trfico sin que sea dable defraudar la confianza que fundadamente se crea en los dems (Sala de 20 de
febrero, 13 de marzo y 10 de abril de 2003 -Ar. 1178, 2582 Y 4037-).
Puede ejercitarse un derecho o potestad para los fines previstos en el Ordenamiento jurdico, y, por tanto, no
incurrir en desviacin de poder, y ser contrario a las exigencias de la buena fe. Las limitaciones que el principio
general de buena fe supone, operan al margen de si la finalidad perseguida es o no la prevista por el
Ordenamiento jurdico. Una determinada actuacin ser contraria a las exigencias de la buena fe, por razones
distintas a que la finalidad perseguida sea o no la contraria a la de la potestad ejercitada. Una Administracin
pblica en el ejercicio de una potestad para los fines previstos por el Ordenamiento jurdico puede atentar
contra las exigencias de la buena fe.
52
138
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antnio. Curso de direito administrativo. 13. ed. So Paulo: Malheiros,
2001, p. 90.
139
SILVA, Jos Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 29. ed. So Paulo: Malheiros, 2007, p.
668.
140
MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 11. ed. So Paulo: Revista dos Tribunais, So Paulo,
2007, p. 125.
141
detentor de direitos polticos.
53
142
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antnio. Curso de direito administrativo. 13. ed. So Paulo: Malheiros,
2001, p. 84.
143
SILVA, Jos Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 29. ed. So Paulo: Malheiros, 2007, p.
670.
144
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 22. ed. So Paulo: Malheiros, 1997, p. 86.
54
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antnio. Curso de direito administrativo. 13. ed. So Paulo: Malheiros,
2001, p. 83.
146
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de direito administrativo: parte introdutria, parte geral e
parte especial. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 92.
147
BANDEIRA DE MELLO, Oswaldo Aranha. Princpios Gerais de Direito Administrativo. Introduo. 3. ed.
So Paulo: Malheiros, 2007, p. 534. v.1.
55
CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributrio. So Paulo: Malheiros, 2002, p.
219.
149
OLIVEIRA, Ana Perestrelo de. Arbitragem de litgios com entes pblicos. Coimbra: Almedina, 2007, p. 93.
150
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributrio. 26. ed. So Paulo: Malheiros, 2005, p. 53.
56
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributrio. 19. ed. So Paulo: Saraiva, 2007, p. 174.
Ibid., p. 174-175.
153
OLIVEIRA, Ana Perestrelo de. Arbitragem de litgios com entes pblicos. Coimbra: Almedina, 2007, p. 94.
154
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributrio. 19. ed. So Paulo: Saraiva, 2007, p. 183.
152
57
155
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributrio. 19. ed. So Paulo: Saraiva, 2007, p. 183.
SUNDFELD, Carlos Ari. Fundamentos de Direito Pblico. So Paulo: Malheiros, 2006, p. 28.
157
Ver CAMPOS, Diogo Leite de. O Sistema Tributrio no Estado dos Cidados. Coimbra: Almedina, 2006.
156
58
para a soluo de conflitos, entre eles a transao e a arbitragem, j positivados pelo nosso
direito, por serem estes importantes mecanismos de soluo de conflitos.
Neste Estado, em que h uma participao efetiva de cada indivduo no processo de
positivao dos tributos, possvel aprofundar a noo de cidadania, pois todos tm a chance
de ajudar no traado de um destino comum.
Nos quadros constitucionais do Estado Cidado, a Administrao, embora mantenha
sua funo de autoridade, deve buscar parcerias com os cidados, assim, a relao jurdicotributria deve contar com a participao dos contribuintes.
Isso significa, na prtica, que o contribuinte tanto poder intervir na criao e na
aplicao dos tributos quanto poder debater os conflitos tributrios com o Estado.
Observe-se que os princpios constitucionais so as garantias de participao do
cidado nas decises em matria tributria, como determina o art. 37, 3, da CF: a lei
disciplinar as formas de participao do usurio na administrao pblica direta e indireta.
O fato que, sem dvida, as decises tomadas com a participao dos cidados
conferem maior transparncia e agilidade jurisdicizao dos tributos.
Mas, adverte o professor Diogo de Figueiredo Moreira Neto: Muito mais que isso,
preciso mudar a mentalidade dos administradores pblicos, para que no mais se considerem
os senhores da coisa pblica, olimpicamente distanciados dos administrados, como se no
tivessem outra obrigao que a de meramente desempenhar as rotinas burocrticas para terem
cumprido seu dever funcional.
Alm disso, e sobretudo como condio de xito de qualquer reforma que se pretenda
realmente democrtica, tambm preciso mudar a mentalidade do pblico usurio, para que
este se convena de que ele , afinal, a razo de existirem servios pblicos, Administrao
Pblica, o Estado e o prprio conceito de pblico.158
A Administrao Pblica [...] deve pautar-se na lgica do razovel, na proporo dos
meios e fins, no buscar da eficincia; e na economicidade, ser, enfim, uma administrao de
resultados e, principalmente, que estabelea vnculos mais equilibrados entre a Administrao
e a sociedade. Estes so, indubitavelmente, os valores nsitos ao princpio da legalidade e seus
consectrios albergados no Estado Democrtico de Direito.159
Na mesma trilha, convm lembrar Celso Antnio Bandeira de Mello, citado pelo mestre
Ataliba: [...] qualquer disposio, qualquer regra jurdica [...] para ser constitucional,
158
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Mutaes do Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Renovar,
2007, 34.
159
LEMES, Selma Ferreira. Arbitragem na Administrao Pblica - Fundamentos Jurdicos e Eficincia
Econmica. So Paulo: Quartier Latin, 2007, p. 105.
59
necessita estar afinada com o princpio [...], realizar seu esprito, atender sua direo
estimativa, coincidir com seu sentido axiolgico, expressar seu contedo. No se pode
entender corretamente uma norma constitucional sem ateno aos princpios consagrados na
Constituio e no se pode tolerar uma lei que fira um princpio adotado na Carta Magna.
Violar um princpio muito mais grave que transgredir uma norma. A desateno ao princpio
implica ofensa no apenas a um especfico mandamento obrigatrio, mas a todo o sistema de
comandos. a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalo
do princpio violado, porque representa insurgncia contra todo o sistema, subverso de seus
valores fundamentais, contumlia irremissvel a seu arcabouo lgico e corroso de sua
estrutura mestra. 160
Diante do exposto, acreditamos ter transposto os primeiros obstculos e estar
caminhando mais persuasivamente no sentido de comprovar a viabilidade de se aplicar a
transao e a arbitragem administrativa ao direito tributrio.
160
60
3.1 Do Conceito
Clssica a definio das Institutas de Justiniano: obligatio est juris vinculum, quo
necessitate adstringimur alicujus solvendae rei, secudum nostrae civitatis jura (Liv. 3, Tt.
XIII) (a obrigao um vnculo jurdico que nos obriga a pagar alguma coisa, ou seja, a fazer
ou deixar de fazer alguma coisa).161
Observamos que a definio de obrigao pela referncia ao vnculo jurdico
representa uma tradio bilenar, o que, alis, no deixa de ser compreensvel, se nos
lembrarmos de que as noes de relao e de situao jurdica so bastante recentes.162
Nesse sentido, o professor Fbio Ulhoa Coelho tambm define a obrigao como [...]
vnculo entre dois sujeitos de direito juridicamente qualificado no sentido de um deles (o
sujeito ativo ou credor) titularizar o direito de receber do outro (sujeito passivo ou devedor)
uma prestao.163
Entretanto, essa forma de conceituar obrigao com referncia noo de vnculo
jurdico [..] no parece ser melhor do que a que se reporta relao jurdica. [...] vnculo
jurdico estaria significando a prpria relao obrigacional, quando o seu significado preciso
o de conjunto dos direitos e dos deveres que integram a obrigao. Por outro lado, se
considerarmos vnculo jurdico no sentido que lhe prprio e, a partir da, definirmos
obrigao como sendo o conjunto de direitos e deveres que ligam o credor e o devedor,
teremos construdo uma noo que no nos dir nada sobre a natureza de tais direitos e
deveres.164
Preferimos compreender obrigao como relao jurdica, apoiados nas lies de
Clovis Bevilaqua, para quem Obrigao a relao transitria de direito, que nos
constrange a dar, fazer ou no fazer alguma coisa economicamente aprecivel, em proveito de
161
VENOSA, Slvio de Salvo. Direito Civil: Teoria Geral das Obrigaes e Teoria Geral dos Contratos. So
Paulo: Altas, 2007, p. 4.
162
NORONHA, Fernando. Direito das obrigaes: fundamentos do direito das obrigaes: introduo
responsabilidade civil. 2. ed. So Paulo: Saraiva, 2007, p. 10. v. 1.
163
COELHO, Fbio Ulhoa. Curso de direito civil. 2. ed. So Paulo: Saraiva, 2005, p. 3. v. 2.
164
NORONHA, Fernando. Direito das obrigaes: fundamentos do direito das obrigaes: introduo
responsabilidade civil. 2. ed. So Paulo: Saraiva, 2007, p. 10. v. 1.
61
algum, que por nosso ou de algum conosco juridicamente relacionado, ou em virtude da lei,
adquiriu o direito de exigir de ns essa ao ou omisso165 (grifo nosso)
Atentamos para o carter transitrio da obrigao porque ela nasce com a finalidade de
extinguir-se. Uma vez alcanado o objetivo da obrigao ela se extingue. uma relao
transitria de direito, porque o devedor, cumprindo a obrigao, dela se liberta; o credor,
recebendo o que lhe devido, seja por pagamento espontneo, seja por execuo forada,
nenhum direito mais tem.166
Lacerda de Almeida, catedrtico de Direito Civil da Faculdade de Direito do Rio de
Janeiro, ao sistematizar a doutrina do Direito das Obrigaes, em 1916, j observava: [...] a
obrigao, a qual em sua significao prpria exprime umas vezes a relao que prende o
sujeito passivo ao sujeito ativo do direito pessoal, outras vezes a situao jurdica de um deles,
outras finalmente, e o mais freqente, a posio jurdica do sujeito passivo. nesta ltima
acepo que se tem definido a obrigao: o vnculo jurdico pelo qual algum est adstrito a
dar, fazer ou no fazer alguma cousa.167
Paulo de Barros Carvalho afirma que o vocbulo obrigao sinnimo de relao
jurdica de ndole economicamente aprecivel: [...] podemos defini-lo como o vnculo
abstrato, que surge pela imputao normativa, e consoante o qual uma pessoa, chamada de
sujeito ativo, credor ou pretensor, tem o direito subjetivo de exigir de outra, denominada
sujeito passivo ou devedor, o cumprimento de prestao de cunho patrimonial.168
De forma abreviada, conceituamos a obrigao como a relao entre dois sujeitos de
direito unidos pelo vnculo jurdico, em que um dos sujeitos, sujeito ativo, o titular do
direito de exigir do outro sujeito, sujeito passivo, uma prestao.
E, sendo a obrigao uma relao, [...] uma estrutura com termos e um operador
que faz a funo de relacionar.169
Pelo prisma lgico [..] a relao que une os sujeitos (S' e S") uma relao
irreflexiva, pois representaria um sem-sentido dentico conceber que S' est facultado,
obrigado ou proibido perante si mesmo. Alm disso, assimtrica, quer dizer, S'R S" implica
165
BEVILAQUA, Clovis. Codigo Civil dos Estados Unidos do Brasil Comentado. Rio de Janeiro: Paulo de
Azevedo Ltda, 1950, p. 6. v. 4
166
Ibid., p. 6-7.
167
LACERDA DE ALMEIDA, Francisco de Paula. Obrigaes. Rio de Janeiro: Revista dos Tribunais, 1916, p.
7.
168
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributrio. 19. ed. So Paulo: Saraiva, 2007, p. 319-320.
169
VILANOVA, Lourival. Causalidade e Relao no Direito. 4. ed. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p.
120.
62
sempre S"Rc S'. Rc a relao conversa de R: se R interpreta-se como ter o direito a, seu
converso ter a obrigao de. 170
Nesse sentido, explica o professor Lourival Vilanova: Por onde se v, por outro lado,
que relao h entre elementos e elementos pertencem a conjuntos. [...] no universo-doDireito, a relao intersubjetiva: os termos da relao, o predecessor e o sucessor [...] so
sujeitos-de-direito diferentes o locador e o locatrio, o vendedor e o comprador, o
empregador e o empregado, etc. Por isso, juridicamente impossvel ser locador de si mesmo,
vendedor a si mesmo, empregador de si mesmo. Com o operador modal-dentico, tecem-se
relaes entre elementos (os sujeitos-de-direito) diversos. [...] Importante, ainda, anotar que
entre uma proposio relacional e sua conversa h equivalncia implicacional. O enunciado
x maior que y equivale a y menor que x. O primeiro enunciado implica o segundo e o
segundo implica o primeiro. No mundo do Direito, estruturado relacionalmente, quando a
norma estatui que o vendedor deve dar a coisa alienada ao comprador, implica em dizer que o
comprador tem o direito de receber a coisa adquirida a ttulo oneroso.171
Podemos, portanto, estabelecer duas caractersticas bsicas das relaes jurdicas:
1) Irreflexibilidade, ou seja, ningum est facultado, obrigado ou proibido perante si mesmo;
2) Assimetria, ou seja, se um termo da relao tem o direito, seu converso tem a obrigao.
Assim, feitas essas consideraes, podemos partir para uma definio mais precisa de
obrigao tributria.
3.2.1 Do Conceito
170
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributrio. 19. ed. So Paulo: Saraiva, 2007, p. 317.
VILANOVA, Lourival. As Estruturas Lgicas e o Sistema no Direito Positivo. So Paulo: Max Limonad,
1997, p. 157-158.
171
63
lei descritiva do fato pela qual o Fisco (sujeito ativo) pode exigir do contribuinte (sujeito
passivo) uma prestao (objeto). 172
O mestre Ferreiro Lapatza, catedrtico da Universidade de Barcelona, em raciocnio
semelhante, explica que [...] podemos definir a obrigao tributria principal como a
obrigao de dar uma importncia em dinheiro, estabelecida pela Lei, de acordo com o
princpio de capacidade, em favor de um ente pblico para sustentar sua despesa.173
O professor Luciano Amaro destaca, ainda, que, ao tratarmos da obrigao tributria,
interessa-nos a acepo da obrigao como relao jurdica, designando o vnculo que
adstringe o devedor a uma prestao em proveito do credor, que, por sua vez, tem o direito de
exigir essa prestao a que o devedor est adstrito. 174
Gaspare Falsitta, da Universidade de Pavia, afirma que das prestaes patrimoniais
coativas [...] distingue-se o tributo que consiste em uma obrigao, tendo como objeto uma
prestao de regra pecuniria, a ttulo definitivo ou a fundo perdido (que tudo isto no gera
para o ente pblico a diferena do emprstimo forado e da expropriao por p.u.
obrigaes recprocas), nascendo direta ou indiretamente da lei (e, por conseguinte coativa),
ao verificar-se um pressuposto de fato e no tem a natureza de ilcita.175
Para Eduardo Marcial Ferreira Jardim, [...] obrigao tributria ou relao jurdica
tributria o liame abstrato pelo qual uma pessoa, denominada ativo, o Estado, ou quem lhe
fizer as vezes, fica cometida do subjetivo de exigir de outro sujeito, nomeado sujeito passivo,
chamado comumente de contribuinte, uma prestao de ndole tributria.176
O mestre Jos Souto Maior Borges ressalva que, como a obrigao no uma categoria
lgico-jurdica, mas jurdico positiva, construo de direito posto, ao direito positivo que
incumbe definir os requisitos necessrios identificao de um dever jurdico qualquer como
sendo um dever obrigacional. Significa dizer: a obrigao definida, em todos os seus
contornos, pelo direito positivo. [...] Simplesmente, no h atributos essenciais da obrigao
172
NOGUEIRA, Ruy Barbosa. Curso de Direito Tributrio. So Paulo: Saraiva, 1995, p.141.
FERREIRO LAPATZA, Jos Juan. Direito tributrio: teoria geral do tributo. Barueri, SP: Manole; Espanha,
ES: Marcial Pons, 2007, p. 211.
174
AMARO, Luciano. Direito Tributrio Brasileiro. So Paulo: Saraiva, 2002, p. 237.
175
FALSITTA, Gaspare. Manuale Diritto Tributario. Milano: Casa Editrice Dott. Antonio, 2005, p. 18.
Traduo da autora. No original: Dalle prestazioni patrimoniali coattive [...] si distingue il tributo che consiste
in una obbligazione avente per oggetto una prestazione, di regola pecuniaria, a titolo definitivo o a fondo
perduto (che cio non genera in capo all' ente pubblico - a differenza del prestito forzoso e dell' espropriazione
per p.u. - obbligazioni corrispettive), nascente direttamente o indirettamente dalia legge (e perci coattiva) al
verificarsi di un presupposto di fatto non avente natura di illecito.
176
JARDIM, Eduardo Marcial Ferreira. Manual do direito financeiro e tributrio. 2. ed. So Paulo: Saraiva,
1994, p. 170-171.
173
64
e que assim o fossem, porque vinculantes para o direito positivo. Ao contrrio, atributos da
obrigao so os que estiverem contemplados em norma construda como obrigacional.177
Como bem adverte o ilustre professor, o direito positivo que estabelece o conceito e
os contornos da obrigao tributria. Alis, exatamente isso que determina o Cdigo
Tributrio Nacional (CTN):
Art. 113. A obrigao tributria principal ou acessria.
1 A obrigao principal surge com a ocorrncia do fato gerador, tem por objeto o
pagamento de tributo ou penalidade pecuniria e extingue-se juntamente com o crdito
dela decorrente.
2 A obrigao acessria decorrente da legislao tributria e tem por objeto as
prestaes, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadao ou da
fiscalizao dos tributos.
3 A obrigao acessria, pelo simples fato da sua inobservncia, converte-se em
obrigao principal relativamente penalidade pecuniria.
Considerando a leitura dos doutrinadores e do texto de lei, podemos construir a seguinte
definio de obrigao tributria: a relao jurdica, instituda em lei, que tem por sujeito
ativo uma pessoa jurdica poltica e como sujeito passivo aquele que tem o dever de cumprir a
prestao, cujo objeto o pagamento de prestao pecuniria compulsria, em moeda (ou
cujo valor nesta se possa exprimir), que no constitua sano de ato ilcito.
Em outras palavras, a obrigao tributria a relao jurdica, o vnculo abstrato que
surge por imposio da lei pelo qual uma pessoa Sujeito Ativo tem o direito subjetivo
de exigir de outra Sujeito Passivo o cumprimento de uma obrigao de cunho
patrimonial.
Observamos algumas caractersticas prprias da obrigao tributria que a fazem
espcie do gnero obrigao:
A obrigao pode nascer pela vontade das partes, negcio jurdico, ou por outro fato
jurdico ou ato ilcito, entretanto a fonte ltima da obrigao sempre a lei. Nesse sentido,
observa Fbio Ulhoa Coelho: So negociais as obrigaes do comprador (pagar o preo ao
vendedor), locatrio (pagar o aluguel ao locador), muturio (pagar o mutuante), [...] etc.
Obrigam-se estes sujeitos respectiva prestao em razo do contrato que voluntariamente
celebram. So no negociais, por sua vez, as obrigaes do contribuinte (pagar o imposto
Fazenda Pblica), infrator (pagar a multa administrativa), alimentante (pagar alimentos ao
177
BORGES, Jos Souto Maior. Obrigao Tributria (uma introduo metodolgica). So Paulo: Malheiros,
1999, p. 38.
65
alimentado), [...] etc. Nestes casos, no se obrigam esses sujeitos diretamente por uma
declarao de vontade, mas simplesmente por ter a lei estabelecido que um fato jurdico os
torna obrigados.178
Portanto, uma caracterstica da obrigao tributria estabelecer fato jurdico que
torna os sujeitos obrigados, sem declarao de vontade. Nas palavras de Clovis Bevilaqua: A
lei uma das causas geradoras das obrigaes. dela que se origina a responsabilidade pelos
atos ilcitos. E, fora da esfera dos direitos de crdito, h grande nmero de obrigaes, que
procedem diretamente da lei, como a de prestar alimentos, a de pagar impostos, e outras,
ainda.179
Outro atributo da obrigao tributria o seu carter lcito: A obrigao no delitual,
por sua vez, surge de fato ou negcio jurdico. [...] O contribuinte torna-se devedor do
imposto quando se verifica o fato jurdico descrito na lei como hiptese de incidncia
tributria [...]180, devidamente convertido em linguagem.
Podemos, tambm, apontar o carter patrimonial do objeto da prestao, nos termos do
art. 3 do CTN: prestao pecuniria, para caracteriz-la. Segundo Clovis Bevilaqua, como
Direito patrimonial, a obrigao deve ter valor pecunirio. [...] certo que algumas vezes
basta um interesse moral, ou de afeio para dar contedo a uma obrigao. Mas, desde que a
obrigao se torna exigvel, h de ter, por conceito e definio, um valor patrimonial. Se o no
tiver, a necessidade moral por ela criada ou pertencer a outra diviso do direito, ou
pertencer ao domnio da tica.181
O art. 3 do Cdigo Tributrio Nacional d uma feio nitidamente patrimonial ao
vnculo tributrio, pois o dinheiro pecnia a mais viva forma de manifestao
econmica.182
Temos que necessariamente observar a distino do CTN quanto s obrigaes:
principais e acessrias. A obrigao acessria decorrente da legislao tributria e tem por
objeto as prestaes, positivas ou negativas; o descumprimento da obrigao acessria
converte-a em principal, relativamente penalidade pecuniria.
Paulo de Barros Carvalho assinala que as obrigaes acessrias no tm essncia
obrigacional, isto , seu objeto carece de patrimonialidade.183 Assim, essas so denominadas
178
COELHO, Fbio Ulhoa. Curso de direito civil. 2. ed. So Paulo: Saraiva, 2005, p. 16. v. 2.
BEVILAQUA, Clovis. Codigo Civil dos Estados Unidos do Brasil Comentado. Rio de Janeiro: Paulo de
Azevedo Ltda., 1950. p. 7. v. 4.
180
COELHO, Fbio Ulhoa. Curso de direito civil. 2. ed. So Paulo: Saraiva, 2005, p. 18. v. 2.
181
BEVILAQUA, Clovis. Codigo Civil dos Estados Unidos do Brasil Comentado. Rio de Janeiro: Paulo de
Azevedo Ltda., 1950, p. 7. v. 4.
182
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributrio. 19. ed. So Paulo: Saraiva, 2007, p. 320.
179
66
183
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributrio. 19. ed. So Paulo: Saraiva, 2007, p. 323.
Ibid.
185
Ataliba, Geraldo. Repblica e Constituio. So Paulo: Malheiros, 2001, p. 51.
184
67
186
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributrio: Fundamentos Jurdicos da Incidncia. 3. ed. So Paulo:
Saraiva, 2004, p. 125.
68
69
No seu conseqente, tal norma prescreve a validade dos enunciados por ela
veiculados, ou seja, encontra-se a a obrigao de toda a comunidade de respeitar as
disposies estabelecidas no auto de infrao ou na notificao de lanamento.
A norma geral e concreta o fundamento de validade do Auto de Infrao ou da
Notificao de lanamento, pois descreve a aplicao das regras de competncia e de
procedimento.
O suporte fsico dessa norma o Auto de Infrao ou a Notificao de lanamento, pois
construda com base na leitura dos dados sobre o produto. A norma individual e concreta
(produto) resulta da aplicao da regra matriz de incidncia tributria e do seu veculo
introdutor (processo).
Passamos, agora, ao estudo dos elementos fundamentais do conceito de obrigao
tributria. A anlise desses elementos auxiliar a entender o conceito.
187
Ver CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributrio: Fundamentos jurdicos da incidncia. 3. ed. So
Paulo: Saraiva, 2004, p. 142.
188
COELHO, Fbio Ulhoa. Curso de direito civil. 2. ed. So Paulo: Saraiva, 2005, p. 11. v. 2.
70
3.2.3 Do Nascimento
As obrigaes derivam, como queria Kelsen191, da norma, seja ela um contrato ou uma
lei. E ela que prestigia o contrato como fonte de obrigao, assim como prestigia o ato
ilcito para dele derivar a obrigao de indenizar. ainda a lei que diz serem certos atos
lcitos, geradores de obrigaes. A fonte mediata da obrigao sempre a norma jurdica. As
fontes imediatas so o contrato, o ato ilcito e o fato lcito legalmente previsto, como j dito
no Cdigo de Napoleo e no nosso Cdigo Civil e no Cdigo Tributrio Nacional.192
O Cdigo Tributrio Nacional determina que a obrigao tributria nasce com a
ocorrncia do fato gerador, ou seja, com a ocorrncia no mundo fenomnico de um evento
que tem um conjunto de propriedades descritas em uma norma geral e abstrata.
Quanto ao nascimento da obrigao tributria, observe-se o que ensina o mestre
cearense Hugo de Brito Machado: A relao tributria, como qualquer outra relao jurdica,
surge da ocorrncia de um fato previsto em uma norma como capaz de produzir esse efeito.
Em virtude do princpio da legalidade, essa norma h de ser uma lei em sentido restrito, salvo
em se tratando de obrigao acessria (...) A lei descreve um fato e atribui a este o efeito de
criar uma relao entre algum e o Estado. Ocorrido o fato, que em Direito Tributrio
denomina-se fato gerador, ou fato imponvel, nasce a relao tributria, que compreende o
dever de algum (sujeito passivo da obrigao tributria) e o direito do Estado (sujeito ativo
da obrigao tributria). O dever e o direito (no sentido de direito subjetivo) so efeitos da
incidncia da norma.193
189
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributrio: Fundamentos jurdicos da incidncia. 3. ed. So Paulo:
Saraiva, 2004, p. 142-143.
190
Ver CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributrio. 19. ed. So Paulo: Saraiva, 2007, p. 396.
191
Ver KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Traduo de Joo Batista Machado. So Paulo: Martins Fontes,
1998.
192
COLHO, Sacha Calmon Navarro. A obrigao tributria - nascimento e morte - a transao como forma de
extino do crdito tributrio. In Revista Dialtica de Direito Tributrio 62. So Paulo: Malheiros, 1993, p. 69.
193
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributrio. 26.ed. So Paulo: Malheiros, 2005, p. 133.
71
ATALIBA, Geraldo. Hiptese de Incidncia Tributria. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 69.
Ibid., p. 69.
196
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributrio: Fundamentos jurdicos da incidncia. 3. ed. So Paulo:
Saraiva, 2004, p. 186.
197
Ibid., p. 187-188.
198
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributrio. 19. ed. So Paulo: Saraiva, 2007, p. 394.
195
72
Lanamento
Obrigao Tributria
Como se nota, a obrigao tributria surge com o fato jurdico tributrio formalizado
pelo lanamento.
73
203
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributrio. 19. ed. So Paulo: Saraiva, 2007, p. 396.
Ibid., p. 399.
205
SANTI, Eurico Marcos Diniz de. Lanamento Tributrio. So Paulo: Max Limonad, 1999, p. 184.
204
74
3.2.5 Do Lanamento
Lanamento,206 em direito, um vocbulo dotado de vrias acepes; pode
significar tanto o procedimento de formalizao do crdito tributrio (processo) como a
norma individual e concreta constituinte do fato jurdico tributrio e da relao jurdica
tributria (produto); pode significar, ainda, o ato como o resultado da atividade desenvolvida
no curso do procedimento.
Pondera Paulo de Barros Carvalho que tratar o lanamento como norma, como
procedimento ou como ato passa a ser, ento, singela deciso de quem v examin-lo, valendo
a assero para o jurista prtico e para o jurista terico, tanto faz.207
Ressalte-se que, no presente estudo, o termo lanamento ser tomado como norma
individual e concreta, ou seja, aqui lanamento sinnimo de produto.
Entretanto, convm advertir que o CTN utiliza o vocbulo com diversos sentidos,
como no art. 142, no sentido de processo, enunciando:
Art. 142. Compete privativamente autoridade administrativa constituir o crdito tributrio
pelo lanamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a
ocorrncia do fato gerador da obrigao correspondente, determinar a matria tributvel,
calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a
aplicao da penalidade cabvel.
Pargrafo nico. A atividade administrativa de lanamento vinculada e obrigatria, sob pena
de responsabilidade funcional.
Sobre o processo de produo do lanamento, o legislador [...] no merece censuras
ao apontar como vinculada a atividade de lanamento e no o ato de lanamento. Vinculado
o processo, no o produto. o ato-fato, no o ato norma que, uma vez expedido, ingressa no
sistema como uma regra jurdica qualquer, apenas discriminada em funo do instrumento
que a introduziu no conjunto.208 (grifo nosso)
O processo de produo do lanamento, que ser veiculado pela norma individual e
concreta, vinculado. Entretanto, o produto, lanamento, que introduz no sistema a norma
individual e concreta, que prescreve a obrigao tributria, no vinculado.
206
Ibid.
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributrio. 19. ed. So Paulo: Saraiva, 2007, p. 422.
208
Ibid., p. 407.
207
75
209
210
76
obrigacional , por essncia, de natureza transitria. Seria ente da teratologia jurdica uma
obrigao perene, permanente, com nsias de eternidade.211
Explica Antunes Varela que, dentro dos quadros sinpticos da relao jurdica, o
cumprimento usualmente tratado como um dos modos de extino das obrigaes. Antes,
porm, de ser uma causa de extino do vnculo obrigacional, o cumprimento a atuao do
meio juridicamente predisposto para a satisfao do interesse do credor.212
E continua o autor: ao mesmo tempo que meio normal de satisfao do interesse do
credor e forma regular de liberao do devedor, o cumprimento uma causa extintiva da
obrigao. Mas uma apenas, visto que outras formas de extino da relao creditria
existem, alm do cumprimento.213
Conforme o ponto de vista adotado aqui, o direito se manifesta pela linguagem. Ora,
isso significa que esta, tanto para o nascimento como para a extino das relaes jurdicas,
torna-se imprescindvel.
A mesma posio defende o professor Paulo de Barros Carvalho: [...] a obrigao
tributria, na condio de ente lgico, s pode nascer, modificar-se ou extinguir-se por fora
de uma manifestao de linguagem.214
E continua, enumerando as formas pelas quais se pode anular uma obrigao, o que
ocorre em virtude do comprometimento de qualquer de seus constituintes lgicos, a saber:
1)
2)
3)
4)
211
COLHO, Sacha Calmon Navarro. A obrigao tributria - nascimento e morte - a transao como forma de
extino do crdito tributrio. In Revista Dialtica de Direito Tributrio 62. So Paulo: Malheiros, 1993, p. 69.
212
VARELA, Joo de Matos Antunes. Das obrigaes em geral. 7. ed. Coimbra: Almedina, 2007, p. 9. v.2.
213
Ibid., p. 169.
214
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributrio: Fundamentos jurdicos da incidncia. 3. ed. So Paulo:
Saraiva, 2004, p. 195.
215
Ibid., p. 196.
77
Torna-se indispensvel, neste momento, fazer uma distino entre interesse pblico e
bem pblico.
Convm relembrar que, anteriormente, definiu-se interesse pblico primrio como a
vontade relevante para a segurana e para o bem-estar da sociedade que o ordenamento
jurdico positiva e define, cabendo ao Estado satisfaz-la sob regime prprio.216
Assim, a indisponibilidade absoluta a regra, pois os interesses pblicos primrios,
positivados pelo direito, no podem ser negociados seno pelas vias polticas, conforme
previso constitucional. Enquanto a indisponibilidade relativa a exceo, recaindo sobre
interesses pblicos secundrios ou da Administrao, que necessitam de autorizao legal.
De forma resumida: est-se diante de duas categorias de interesses pblicos, os
primrios e os secundrios (ou derivados), sendo que os primeiros so indisponveis e o
regime pblico indispensvel, ao passo que os segundos tm natureza instrumental,
existindo para que os primeiros sejam satisfeitos, e resolvem-se em relaes patrimoniais e,
por isso, tornaram-se disponveis na forma da lei.217
Em outras palavras, afirma Selma Lemes: Podemos classificar os interesses pblicos
em primrios e secundrios (instrumentais ou derivados). Os interesses pblicos primrios
so indisponveis e, por sua vez, os interesses pblicos derivados tm natureza instrumental e
216
Ver MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Mutaes do Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Renovar,
2007, p. 277.
217
Ibid., p. 278.
78
Note-se que h vrias definies de bem pblico tanto na doutrina como na lei.
Segundo Hely Lopes Meirelles, bens pblicos, [...] em sentido amplo, so todas as
coisas, corpreas ou incorpreas, imveis, mveis e semoventes, crditos, direitos e aes,
218
79
222
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 29. ed. So Paulo: Malheiros, 2004, p. 493.
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antnio. Curso de direito administrativo, 13. ed. So Paulo: Malheiros,
2004, p. 803.
224
FIGUEIREDO, Lcia Valle, Curso de direito administrativo. 5. ed. So Paulo: Malheiros, 2001, p. 520.
225
Verifica-se que a classificao do Cdigo Civil de 2002 contempla apenas os bens imveis; esqueceu o
legislador que os bens mveis tambm podem ser qualificados como bens pblicos.
226
Denominao dada pelo Regulamento Geral de Contabilidade Pblica (Decreto 15.783, de 8.11.1922, Arts.
804, 810-811).
227
Denominao dada pelo Regulamento Geral de Contabilidade Pblica (Decreto 15.783, de 8.11.1922, Arts.
804, 810 e 811).
223
80
III - os dominicais, que constituem o patrimnio das pessoas jurdicas de direito pblico
como objeto de direito pessoal, ou real de cada uma dessas entidades, ou ainda, so os bens
patrimoniais disponveis .228 (grifo nosso)
Os bens dominicais ou dominiais [...] so os prprios do Estado como objeto de
direito real, no aplicados nem ao uso comum, nem ao uso especial, tais os terrenos ou terras
em geral, sobre os quais tem senhoria, moda de qualquer proprietrio, ou que, do mesmo
modo, lhe assistam em conta de direito pessoal.229
Observe-se que a inalienabilidade, no entanto, no absoluta, a no ser com relao
queles bens que, por sua prpria natureza, so insuscetveis de valorao patrimonial, como
os mares, praias, rios navegveis os que sejam inalienveis em decorrncia de destinao
legal e sejam suscetveis de valorao patrimonial podem perder o carter de
inalienabilidade, desde que percam a destinao pblica, o que ocorre pela desafetao,
definida, por Jos Cretella Jnior [...] como o fato ou a manifestao de vontade do poder
pblico mediante a qual o bem do domnio pblico subtrado dominialidade pblica para
ser incorporado ao domnio privado, do Estado ou do administrado. 230 (grifo nosso)
O professor Ruy Cirne Lima aduz, em relao aos bens de uso especial e aos
dominicais, que a denominao atende mais s conseqncias de sua condio jurdica do
que condio mesma. Da prefervel chamar-lhes bens do patrimnio administrativo aos
bens patrimoniais indisponveis, os quais, somente por estarem aplicados a servio ou
estabelecimento administrativo, que se tornam indisponveis; e bens do patrimnio fiscal
[..] aos bens patrimoniais disponveis, os quais, tambm, somente por estarem destinados
a serem vendidos, permutados ou explorados economicamente pelas autoridades fiscais,
no interesse da Administrao, que so declarados disponveis.231 (grifo nosso)
O mestre gacho explica que essa classificao remonta a Walter Jellinek, que
afirmava o seguinte: O poder pblico, por seus representantes, pode, em relao a coisas que
lhe pertencem, tambm empreg-las no desenvolvimento de seus servios internos. Ele erige
prdios pblicos, quartis militares, depsitos para estocagem, entrepostos de fronteira. Todos
esses bens pertencem ao assim chamado patrimnio administrativo [...] Ainda segundo
Walter Jellinek, O Estado e outros titulares do poder pblico podem ser titulares de um
patrimnio administrado de acordo com o direito privado. Eles permitem a explorao de
228
Denominao dada pelo Regulamento Geral de Contabilidade Pblica (Decreto 15.783, de 8.11.1922, Arts.
804, 810 e 811).
229
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antnio. Curso de direito administrativo. 13. ed. So Paulo: Malheiros,
2001, p. 752.
230
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 18. ed. So Paulo: Atlas, 2004, p. 585.
231
CIRNE LIMA, Ruy. Princpios de Direito Administrativo. 7. ed. So Paulo: Malheiros, 2007, p. 179.
81
232
Ibid.
VEIGA FILHO, Joo Pedro da. Manual da Ciencia das Finanas. 4. ed. So Paulo: Monteiro Lobato & C.,
1923, p.15.
234
Ibid., p. 62-63.
233
82
despesas classificveis em Despesas Correntes. (Redao dada pelo Decreto Lei n 1.939, de
20.5.1982) [...].
Observamos que [...] as receitas pblicas so obtidas pelo Estado de maneiras muito
diversas, explorando os seus bens patrimoniais, empregando o seu poder coercivo e
contraindo emprstimos, recebendo ajudas e doaes, aplicando penalidades, etc. Esta grande
variedade de fontes utilizadas pelo Estado para a obteno dos seus recursos causou
dificuldades quanto conceituao e classificao delas, o que explica o fato de haver tantas
posies distintas nessas matrias. Muitas e muito diversas tm sido as definies para
especificar as caractersticas distintivas das Receitas Pblicas, cuja maior parte vincula tais
receitas s noes de satisfao de necessidades pblicas ou, diretamente, prestao de
servios pblicos, ou seja, a clssica finalidade que era atribuda a todas as despesas
pblicas.235
Existem outras classificaes possveis para os bens e recursos pblicos, como
classificao econmica, pela origem, entretanto, conforme o critrio de exame adotado, em
face da escolha do objeto do presente estudo, conveniente aqui uma definio que permita a
observncia da relao entre bem pblico e disponibilidade.
O Estado, a fim de cumprir sua destinao poltica, necessita de certas condies; uma
delas de ser detentor de bens, de toda natureza, similarmente aos particulares em relao aos
bens que constituem seu prprio patrimnio privado. Por essa semelhana, tais bens, que
foram, so ou sero confiados ao Estado para aquela finalidade poltica, conformam o
domnio pblico patrimonial em sentido estrito.
No entanto, conforme j se destacou, o Estado no exerce sobre esses bens um direito
de propriedade, como o que se institui no Direito Privado, com sua ampla disponibilidade. Ao
contrrio, o vnculo que relaciona o bem pblico ao Estado tem outra natureza e definido e
regulado tanto pela Constituio Federal como pelas Constituies, Leis Orgnicas e leis
administrativas estabelecidas das pessoas polticas.
235
VILLEGAS, Hctor B. Manual de finanzas pblicas la economa jurdicamente regulada del sector pblico
en el mundo globalizado. Buenos Aires: Ediciones Depalma, 2000, p. 153. Traduo da autora. No original:
[...] los ingresos pblicos son obtenidos por el Estado de muy diversas maneras, explotando sus propios bienes
patrimoniales, empleando su poder coactivo y contratando emprstitos, recibiendo ayudas y donaciones,
aplicando penalidades, etc. Esa gran variedad de fuentes utilizadas por el Estado para el logro de sus recursos
ha causado dificultades en cuanto a la conceptualizacin y clasificacin de ellos, lo cual explica la
circunstancia de que se hayan producido tantas posturas dismiles en los temas sealados. Muchas y muy
diversas han sido las definiciones ensayadas para precisar los rasgos distintivos de los r.p., la mayora de las
cuales vinculan a tales ingresos con las nociones de satisfaccin de necesidades pblicas o, directamente, con la
prestacin de servicios pblicos, vale decir, la clsica finalidad que se adjudicaba a todos los gastos pblicos.
83
Isso porque os bens que conformam o domnio pblico esto destinados exclusivamente
ao atendimento de finalidades pblicas e para este fim se encontram disponveis. Para
quaisquer outras finalidades, no importando quais sejam, so indisponveis.
Logo, tem-se aqui caracterizado o princpio da indisponibilidade dos bens pblicos,
regra cardeal em tema de dominialidade pblica, que s comporta as excees previstas
explicitamente em lei.236
Como bem assevera Diogo de F. Moreira Neto, o princpio da indisponibilidade dos
bens pblicos situa-se em oposio conceitual simtrica ao princpio da disponibilidade dos
bens privados. Enquanto a disponibilidade de um bem pblico exceo, que deve resultar de
ato expresso fundado em lei, a indisponibilidade de um bem privado, por seu turno, a
exceo que s pode ser estabelecida por ato expresso e tambm com fundamento legal.237
O conceito de indisponibilidade dos bens pblicos comporta todas as suas
propriedades: a inalienabilidade, a imprescritibilidade e a impenhorabilidade, que probe que
eles sejam vendidos, doados, usucapidos, ou dados em garantia de pagamento de dvidas.
Em princpio, todos os bens pblicos so indisponveis. Todavia, h excees. Isso
significa que alguns bens, em determinadas circunstncias, desde que previstas em lei,
podero ser utilizados para outros fins e, at mesmo, ser alienados.
Os bens pblicos de uso comum e os bens pblicos de uso especial, como regra, so
absolutamente indisponveis, uma vez que se encontram, por definio, vinculados a interesse
pblico primrio.
Os bens pblicos dominiais, por sua vez, so disponveis, ou seja, caso no
comprometidos com a satisfao de nenhum interesse pblico primrio, nem afetados238 por
lei, podero receber, por parte do Estado, uma destinao que atenda ao interesse pblico
secundrio.
Pelo estudo at aqui desenvolvido, podemos afirmar que a obrigao tributria um
bem dominial, que integra o patrimnio das pessoas jurdicas de direito pblico como objeto
de direito real de cada uma dessas entidades, no afetado por lei, caracterizando-se como bem
patrimonial disponvel.
236
Ver MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de direito administrativo: parte introdutria, parte geral e
parte especial. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 342.
237
Ibid., p. 342-343.
238
Afetao a preposio de um bem a um dado destino categorial de uso comum ou especial, assim como
desafetao sua retirada do referido destino. Os bens dominicais so bens no afetados a qualquer destino
pblico. BANDEIRA DE MELLO, Celso Antnio. Curso de direito administrativo. 13. ed. So Paulo:
Malheiros, 2001, p. 752.
84
239
Art. 1.072. As pessoas capazes de contratar podero louvar-se, mediante compromisso escrito, em rbitros
que lhes resolvam as pendncias judiciais ou extrajudiciais de qualquer valor, concernentes a direitos
patrimoniais, sobre os quais a lei admita transao.
240
CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e Processo: um comentrio Lei n.9.307/96. So Paulo: Atlas,
2006, p. 56.
241
Ibid., p. 56.
242
GRAU, Eros Roberto. Da Arbitrabilidade de Litgios Envolvendo Sociedades de Economia Mista e da
Interpretao de Clusula Compromissria. In Revista de Direito Bancrio do Mercado de Capitais e da
Arbitragem. So Paulo: Revista dos Tribunais, n. 18, 2002, p. 404.
243
CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e Processo: um comentrio Lei n.9.307/96. So Paulo: Atlas,
2006, p. 56.
244
FERREIRA, Sergio de Andra. A arbitragem e a disponibilidade de direitos no ius publicum interno. In
MARTINS, Pedro Batista; GARCEZ, Jos Maria Rossani (coord.). Reflexes sobre Arbitragem. So Paulo:
LTR, 2002, p. 30.
85
Portanto, a transao tem natureza comutativa: d-se renncia de direito; cada parte
entende alienar uma poro do objeto da transao, a fim de manter inclume o restante.
Na arbitragem as partes no renunciam s suas pretenses: s se acorda a derrogao
da jurisdio estatal para submeter deciso arbitral todo o objeto do litgio.
Conclui Sergio de Andra Ferreira: [...] a transao mais onerosa do que o
compromisso, pois pressupe concesses recprocas: neste, presume-se que os rbitros, que
substituem os juzes, vo decidir a favor daquele que tem o direito.245
Convm notar que, para o mestre Clovis Bevilaqua, compromisso o ato jurdico
pelo qual as partes, em vez de recorrerem ao poder judicirio, escolhem juzes rbitros, para
decidirem as suas questes. um instituto, que se aproxima da transao, a cujos princpios
se submete (art. 1.048), embora dela se distinga sob pontos de vista essenciais. Seu fim ,
tambm extinguir obrigaes, o que obtm pela sentena arbitral. [...] Muitas vezes, as partes
incluem, nos seus contratos, uma clusula, comprometendo-se a submeter as controvrsias,
que surgirem entre elas, a deciso de rbitros. a clusula compromissria, que ainda no o
compromisso, mas a obrigao de o celebrar. o pactum de compromittendo. 246
E acrescenta: O compromisso , geralmente, apresentado como um contrato, porque
um acordo de vontade; mas se, por um acordo de vontades, se presupe como nos contratos a
capacidade das partes comprometentes, forma adequada e objeto lcito, certo que difere dos
contratos por vrios aspectos. No tem outro fim seno instituir o juzo arbitral, para, por
meio dele, extinguir obrigaes. No cria, no modifica, nem conserva direitos; extingue
obrigaes, ou antes, tende a extingui-las pelo juzo arbitral.247 (grifo nosso)
A esse respeito, interessante referir os ensinamentos de Pontes de Miranda, para quem
o compromisso e a transao [...] somente tm por objeto direitos, pretenses, aes e
excees de ordem patrimonial (art. 841 e 852).248
Completa o Mestre: Diz o Cdigo Civil, art. 841: S quanto a direitos patrimoniais de
carter privado se permite a transao. Se o direito patrimonial de carter pblico, e.g.,
impostos
taxas
federais,
estaduais,
ou
municipais,
ou
paraestatais,
transacionabilidade depende de lei especial. [...] Assim, o ramo do direito que rege o direito
no-patrimonial que responde se pode haver, quanto a esse, transao, e o ramo do direito
245
86
pblico que rege o direito de carter pblico que corresponde se, quanto a ele, pode
haver transao.249 (grifo nosso)
Em relao ao assunto, Carlos Alberto Carmona conclui: pode-se continuar a dizer,
na esteira do que dispunha o Cdigo de Processo Civil (art. 1.072, revogado), que so
arbitrveis as controvrsias a cujo respeito os litigantes podem transigir.250 Portanto, a
obrigao tributria pode ser objeto de transao, por permisso legal.
interessante observar que as legislaes estrangeiras estabelecem como objeto de
arbitragem as controvrsias referentes a direitos que possam ser objeto de transao. Nesse
sentido, ensina Jos Cretella Neto: o que se depreende pelo exame do teor das normas que
regulam a arbitragem no direito estrangeiro, verificando-se que o ZPO alemo estabelece que
a conveno arbitral ser vlida sempre que as partes tiverem o direito de transigir sobre o
objeto da disputa (art. 1.030. (I), infine, quanto aos direitos imateriais), que o Code Judiciaire
belga dispe que tout diffrend dj n ou qui pourrait natre d'un rapport de droit determin
et sur lequel il est permis de transiger, peut faire l'objet d 'une convention d'arbitrage (art.
1.676), que o CPN argentino reza que las personas que non pueden transigir no podrn
comprometer en rbitros (art. 738) e que a Ley 60/2003 espanhola determina que son
susceptibles de arbitraje las controversias sobre materias de libre disposicin conforme a
derecho (art. 2). J o Codice italiano indica as questes que podem ser submetidas
arbitragem por meio de critrio residual, pois determina a quais no se aplica, que so as
matrias previstas nos arts. 429 (Revoca deu'interdizione e dell'inabilitazione) e 459 (Acquisto
dell'eredit) do Cdigo Civil italiano, bem como quelle che riguardano questioni di stato e di
separazione personale tra coniugi e le altre che non possono formare oggetto di transazione
(art. 806).251
Na esteira da doutrina, conclumos que entendemos por direito patrimonial disponvel
aquele em que se pode transigir.
249
Ibid., p. 189.
CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e Processo: um comentrio Lei n.9.307/96. So Paulo: Atlas,
2006, p. 56-57.
251
CRETELLA NETO, Jos. Comentrios lei de arbitragem brasileira. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 40.
Traduo da autora: o Cdigo Judicial belga dispe que qualquer direito j nascido ou que poderia nascer de
um documento jurdico determina sobre qual autorizado transigir e qual pode ser objeto de uma conveno de
arbitragem (art. 1.676). O CPN argentino reza que as pessoas que no podem transigir no podero se
comprometer com a arbitragem (art. 738). A Lei 60/2003 espanhola determina que so suscetveis de
arbitragem as controvrsias sobre as quais se teria livre disposio, em conformidade com o direito (art. 2).
J o cdigo italiano indica as questes que podem ser submetidas arbitragem por meio de critrio residual,
pois determina a quais no se aplica, que so as matrias previstas nos arts. 429 (Revoca proibio ou
inalienvel) e 459 (Compra da herana) do Cdigo Civil italiano, bem como a que se refere a questes de
Estado e de separao pessoal entre cnjuges e os outros que no podem formar objeto de transao (artigos
806).
250
87
Denominao dada pelo Regulamento Geral de Contabilidade Pblica (Decreto 15.783, de 8.11.1922, Arts.
804, 810 e 811).
253
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Arbitragem nos Contratos Administrativos, RDA 218:84, jul./set.
1997 apud LEMES, Selma Ferreira. Arbitragem na Administrao Pblica - Fundamentos Jurdicos e Eficincia
Econmica. So Paulo: Quartier Latin, 2007, p.135.
88
3.3 Da Jurisprudncia
254
Ibid.
FABRETTI, Ludio Camargo. Cdigo tributrio nacional comentado. 7. ed. So Paulo: Atlas, 2007, p. 218.
256
Ibid.
257
MACHADO, Hugo de Brito. Transao e Arbitragem no mbito tributrio. In Revista Frum de Direito
Tributrio - RFDT. Ano 5, n. 28, jul./ago. 2007, p. 54. Belo Horizonte: Frum.
255
89
90
7. Ademais, a suposta nulidade somente pode ser decretada se comprovado o prejuzo para os
fins de justia do processo, em razo do Princpio de que no h nulidade sem prejuzo (pas
ds nullits sans grief).
8. Recurso especial desprovido.258 (grifo nosso)
importante destacar, tambm, que o mesmo tribunal ainda se manifesta no sentido
de que o interesse patrimonial da Fazenda Pblica, por si s, no se identifica com o
interesse pblico. Verifique-se tal aspecto no seguinte caso:
Ementa:
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO.
INTERVENO DO MP. NO-OBRIGATORIEDADE. INTERESSE PATRIMONIAL DA
FAZENDA QUE, POR SI S, NO SE IDENTIFICA COM O INTERESSE PBLICO A
QUE ALUDE O ART. 82 DO CPC. TRIBUTRIO. MUNICPIO. REGIME PRPRIO DE
PREVIDNCIA
SOCIAL.
LEI
8.212/91,
ART.
13
(REDAO
ORIGINAL).
REsp 303806 / RO RECURSO ESPECIAL 2001/0018194-5 Relator(a) Ministro LUIZ FUX (1122). rgo
Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA. Data do Julgamento: 22/03/2005. Data da Publicao/Fonte: DJ 25.04.2005,
p. 224.
259
Processo REsp 490726 / SC RECURSO ESPECIAL 2002/0172560-0 Relator(a) Ministro TEORI ALBINO
ZAVASCKI (1124). rgo Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA. Data do Julgamento: 03/03/2005 Data da
Publicao/Fonte DJ 21.03.2005 p. 219.
91
Ementa
PROCESSUAL NULIDADE INTERESSE PBLICO DIVERSO DE INTERESSE DA
FAZENDA PBLICA INTERVENO DO MP AVALIAO JUROS
MORATRIOS MAIORIA. A PREFEITURA MUNICIPAL CONFUNDIU INTERESSE
DA FAZENDA PBLICA COM INTERESSE PBLICO. A INTERVENO DO MP NO
CASO DE INTERESSE DA FAZENDA PBLICA NO E OBRIGATRIA, O VALOR
DA AVALIAO DEPENDE DE EXAME DE FATOS, ENCONTRANDO OBSTCULO
NA SMULA N. 07. NA QUESTO DOS JUROS MORATRIOS, RESTOU VENCIDO O
RELATOR, NO SE INTERPONDO EMBARGOS INFRINGENTES, INCABVEL O
RECURSO ESPECIAL. RECURSO IMPROVIDO.260
Note-se que, em seu voto, o relator ministro Garcia Vieira ainda destaca: Sem razo a
Prefeitura Municipal, que est confundindo interesse da Fazenda Pblica com interesse
pblico.
Em outra deciso do tribunal, possvel observar destaque ao mesmo aspecto:
Ementa:
DESAPROPRIAO INDIRETA MINISTRIO PBLICO INTERVENO
OBRIGATORIEDADE.
No se pode confundir interesse da Fazenda Pblica com interesse pblico. Interesse pblico
o interesse geral da sociedade, concernente a todos e no s ao Estado. Na desapropriao
indireta inexiste interesse pblico que justifique a interveno do Parquet. Recurso
improvido.261
Como foi possvel destacar, a jurisprudncia capaz de corroborar tudo quanto foi
desenvolvido nesta pesquisa at o momento. O Superior Tribunal de Justia esclarece, com
absoluta nitidez, que o interesse pblico geral no se confunde com o interesse da
Administrao. O interesse pblico primrio262 refere-se ao que interessa a todos e
indisponvel; o interesse pblico secundrio, com ntido escopo patrimonial, s interessa
Administrao, interesse pblico secundrio.
Esta farta jurisprudncia confirma a distino, no mbito do Estado, que a doutrina h
muito vem elaborando: uma coisa so os interesses pblicos indisponveis; outra, so os
260
Processo REsp 28110 / MS RECURSO ESPECIAL 1992/0025678-3 Relator(a): Ministro GARCIA VIEIRA
(1082). rgo Julgador: T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento: 16/11/1992. Data da Publicao/Fonte:
DJ 14.12.1992 p. 23905.
261
REsp 197586 / SP RECURSO ESPECIAL 1998/0090271-6. Relator(a): Ministro GARCIA VIEIRA (1082)
rgo Julgador: PRIMEIRA TURMA. Data do Julgamento: 23/02/1999. Data da Publicao/Fonte DJ:
05.04.1999, p. 96.
262
Relembramos que so aqueles qualificados pelo ordenamento jurdico como concernentes ao bem-estar,
sade, segurana.
92
263
93
265
94
CAPTULO IV - DA TRANSAO
A utilizao de conceitos sem uma prvia definio acarreta basicamente dois vcios
semnticos: a vaguidade e a ambigidade.
A vaguidade a qualidade, caracterstica ou condio de vago, ou seja, refere-se a algo
ou algum que se introduz no discurso pela primeira vez; tambm aquilo cuja identidade no
se deseja especificar, definir ou particularizar. Assim, vago o juzo no qual o sujeito no
recebe definio ou determinao precisa, ou o termo cuja significao indeterminada.
A ambigidade, por sua vez, uma propriedade que diversas unidades lingsticas
(morfemas, palavras, locues, frases) tm de significar coisas diferentes, isto , de admitir
mais de uma possibilidade leitura de um mesmo texto.
Relembramos que transao, em sentido amplo, significa soluo transacional, que,
por sua vez, admite trs subtipos: acordo, mediao e arbitragem.
No acordo, as partes interessadas dispem sobre a frmula transacional. Na mediao,
as partes acordam que um terceiro interfira na disputa, embora a soluo no seja vinculante
para as partes. No arbitramento, tambm se demanda a interveno de um terceiro, mas as
partes ficam obrigadas a acatar a deciso.
Portanto, transao, em sentido amplo, significa soluo transacional e, em sentido
estrito, acordo.
Neste captulo, tomaremos o vocbulo transao em seu sentido estrito. Assim,
quando propomos uma definio do conceito de transao, visamos a diminuir esses vcios
semnticos na comunicao.
O vocbulo transao comporta, no mnimo, quatro significados:
1) Negcio jurdico bilateral, pelo qual as partes interessadas, fazendo-se concesses
mtuas, previnem ou extinguem obrigaes litigiosas ou duvidosas. , portanto, uma
composio amigvel entre interessados sobre seus direitos, em que cada qual abre mo de
parte de suas pretenses, fazendo cessar as discrdias. uma soluo contratual da lide, pois
as partes so levadas a transigir pelo desejo de evitar um processo cujo resultado eventual ser
sempre duvidoso; [...].267
267
DINIZ, Maria Helena. Dicionrio jurdico. 2. ed. So Paulo: Saraiva, 2005, p. 727, v.4.
95
DINIZ, Maria Helena. Dicionrio jurdico. 2. ed. So Paulo: Saraiva, 2005, p. 727, v.4.
Ibid.
270
Ibid.
271
BALEEIRO, Aliomar. Direito tributrio brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 685.
272
Destacamos o sentido do termo usado pelo CTN como deciso ou resoluo, conforme a ACADEMIA DAS
CINCIAS DE LISBOA. Dicionrio da Lngua Portuguesa Contempornea. Lisboa: Verbo, 2001, p. 1231.
Determinao: [Do lat. Determinatio,nis.] 1. Ao ou resultado de determinar(-se). 2. Aco de decidir , de
estabelecer alguma coisa. Equivalente Deciso, Resoluo.
269
96
Imprio, que estabelecia em seu artigo 470, 2, que a procurao devia conter poderes
especiais para transao no juzo conciliatrio; o mesmo j determinava o decreto 737, de
25/11/1850:
Art 26. Quer no Juzo do domicilio do ro, quer no caso do artigo 24, poder o autor
chamar o ro conciliao, e nella podero comparecer as partes, por procurador com
poderes especiaes para transigir no Juizo conciliatorio.
Convm mencionar que Augusto Teixeira de Freitas273 (1816-1883), um dos mais
importantes jurisconsultos do Pas, responsvel pelo esboo do cdigo civil brasileiro,
tambm influente na elaborao dos cdigos civis da Argentina, do Paraguai e do Uruguai,
entendia transaco como contrato de composio entre as partes para extinguir obrigaes
litigiosas ou duvidosas. Para o autor, trata-se de ato uno, embora complexo, envolvendo
simultaneamente o negcio jurdico da transao e o da renncia ou transferncia da coisa274.
O Cdigo Civil de 1916, Lei n 3.071, de 1 de janeiro de 1916, estabelecia em seu Art.
1.025 que lcito aos interessados prevenirem, ou terminarem o litgio mediante concesses
mtuas. E, em seu Art. 1.035, dispunha que S quanto a direitos patrimoniais de carter
privado se permite a transao. Note-se ainda que o Cdigo de 1916 inseria a transao na
Parte Geral das Obrigaes, qualificada como modalidade de extino das relaes
obrigacionais.
Nesse sentido, tambm se manifesta Clovis Bevilaqua: Transao um ato jurdico,
pelo qual as partes, fazendo-se concesses recprocas, extinguem obrigaes litigiosas ou
duvidosas. Pressupe dvida ou litgio a respeito da relao jurdica. [...]. Como observa
KOHTER, duplo o seu fundamento econmico: a formao de um estado jurdico inseguro
em outro seguro; e a obteno desse resultado pela troca de prestao equivalente. Esta
reciprocidade da sua essncia. Sem ela a transao seria uma liberalidade. Para o Cdigo
Civil, a transao no , propriamente, um contrato. Ainda que a lio da maioria dos Cdigos
273
TEIXEIRA DE FREITAS, Augusto. Consolidao das Leis Civis. 3. ed. Rio de Janeiro, 1875, p. 242. A
regra do texto, que faculta em geral rescindir por leso enorme contractos commutativos, no procede nas
cesses de crditos, direitos, aces, heranas, e em geral, sempre que o objecto do contracto fr duvidoso,
dependente de futuras eventualidades, expondo o adquirente perdr ou ganhar - Reperto das Ords. p. 348. t. 3.
O 6 da citada Ord. L. 4 T. 13 designa as transaces entre os contractos rescindiveis por leso, e no Repert.
Tom. 3 pag. 354, toma-se esta palavra no sentido rigorso, opinando-se que a transaco (contracto de
composio entre as partes para extinguirem obrigaes litigiosas ou duvidosas) tambem pde sr rescindida par
leso, reconhecendo-se todavia, que o caso duvidoso. Entendo a Ord. por diverso modo, no tomo a palavra
transaco - em seu sentido rigorso, porque a doutrina geralmente seguida , que no se-pde allegar leso
contra as transaces. Se ellas tem por objecto direitos litigiosos ou duvidosos, se o seu fim a preveno de
demandas, a tranquilidade das partes; nada menos razoavel, do que facilitar litgios futuros sob pretexto de
leso.
274
ver PEREIRA, Caio Mrio da Silva. Instituies de direito civil. Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p.
511. v. 3.
97
BEVILAQUA, Clovis. Codigo Civil dos Estados Unidos do Brasil Comentado. Rio de Janeiro: Paulo de
Azevedo Ltda., 1950, p. 176. v. 4.
276
RODRIGUES, Silvio. Direito civil: dos contratos e das declaraes unilaterais da vontade. 30. ed. So Paulo:
Saraiva, 2007, p. 369. v. 3.
277
PEREIRA, Caio Mrio da Silva. Instituies de direito civil. Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 507.
v. 3.
278
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. Teoria geral das obrigaes. So Paulo: Saraiva,
2007, p. 324. v. 2.
279
MIRANDA, Pontes de. Tratado de Direito Privado. Campinas: Bookseller, 2003, p. 151. t. XXV.
98
conveno pela qual as partes concluem uma contestao j existente ou tentam impedir uma
nova contestao. Definio insuficiente, porque a lei indica, nesse caso, apenas o resultado
da conveno; ora, este resultado pode ser atingido por duas outras operaes que no so
transaes: a desistncia, quando o requerente renuncia ao prosseguimento da demanda; a
aquiescncia, quando o requerente reconhece sua pretenso como fundamentada. No caso, a
lei esqueceu o principal em sua definio, que consistia em dizer-nos por qual meio as partes
obtm este resultado na transao: por intermdio de concesses recprocas. esta
reciprocidade que caracteriza a transao e que a distingue dos dois outros procedimentos
acima indicados.280
Segundo o professor Francesco Carnelluti, [...] a transao , antes de tudo, um
acordo, ou seja, um negcio complexo. O fato de que seja, alm do mais, um contrato, ou
seja, um negcio complexo bilateral deriva da posio em que se encontram os dois agentes,
posto que os interesses que lhes determinam a operar se encontram em conflito.281
O professor Silvio Rodrigues entende que a transao o negcio jurdico bilateral por
meio do qual as partes previnem ou extinguem relaes jurdicas duvidosas ou litigiosas, por
meio de concesses recprocas, ou ainda em troca de determinadas vantagens pecunirias.282
E continua o mestre: a composio a que recorrem as partes para evitar os riscos da
demanda, ou para liquidar pleitos em que se encontram envolvidas; de modo que, receosas de
tudo perder, ou das delongas da lide, decidem abrir mo, reciprocamente, de algumas
vantagens potenciais, em troca da tranqilidade que no tm.283
Observe-se que tanto o Cdigo Civil brasileiro de 1916 como o Cdigo Tributrio
Nacional incluem a transao entre os meios extintivos de obrigaes com efeitos meramente
declarativos. Aplaudiam essa orientao os jurisconsultos Clovis Bevilaqua e M. I. Carvalho
de Mendona.
280
PLANIOL, Marcel Ferdinand. Trait lmentaire de Droit Civil. Paris: Libraire Gnrale de Droit & de
Jurisprudence, 1912, p. 714. Tome deuxime Traduo da autora. No original: la transaction est une convention
par la quelle les parties terminent une contestation ne ou prviennent une contestacion natre. Dfinition
insuffisante, car la loi indique ici seulement le rsultat de la convention; or ce rsultat peut tre atteint par deux
autres oprations qui ne sont transactions: le dsistement, quand le demandeur renonce poursuivre lffaire;
lcquiescement, quand le demandeur reconnat s prtention comme fonde. La loi a donc oubli le principal
dans sa dfinition, qui tait de nous dire par quel moyen les parties obtiennent ce rsultat dans la transaction:
c'est au moyen de concessions rciproques. Cest cette rciprocit qui caractrise la transaction et qui la distingue
des deux autres procds sus indiqus.
281
CARNELUTTI, Francesco. Sistema de direito processual civil. Traduo de Hiltomar Martins Oliveira. So
Paulo: Lemos e Cruz, 2004, p. 271.
282
RODRIGUES, Silvio. Direito civil: dos contratos e das declaraes unilaterais da vontade. So Paulo:
Saraiva, 2004, p. 367. v. 3.
283
Ibid., p. 368.
99
284
PLANIOL, Marcel Ferdinand. Trait lmentaire de Droit Civil. Paris: Librairie Gnrale de Droit & de
Jurisprudence, 1912, p. 716. Tome Deuxime
285
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito das obrigaes 2 parte dos contratos em
geral, das vrias espcies de contrato dos atos unilaterais, da responsabilidade civil. So Paulo: Saraiva, 2007, p.
394-395.
286
BEVILAQUA, Clovis. Codigo Civil dos Estados Unidos do Brasil Comentado. Rio de Janeiro: Paulo de
Azevedo Ltda., 1950, p. 176. v. 4.
287
Ibid., p. 178.
100
288
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. Teoria geral das obrigaes. So Paulo: Saraiva,
2007, p. 326-327. v.2.
289
PEREIRA, Caio Mrio da Silva. Instituies de direito civil. Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 507.
v. 3.
290
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. Teoria geral das obrigaes. So Paulo: Saraiva,
2007, p. 332. v. 2.
291
VARELA, J. M. Antunes. Direito das Obrigaes. Rio de Janeiro: Forense, 1978. v.2. Apud CARVALHO
NETO, Inacio de. Extino indireta das obrigaes. 3. ed. Curitiba: Juru, 2006, p. 182-183.
101
Contudo, para ns, a natureza jurdica da transao ser norma individual e concreta.
Tal norma, no regime jurdico de direito privado, chamada de contrato; no regime de direito
pblico, ato administrativo.
As relaes jurdicas nascem, vivem e desaparecem no plano das construes
comunicativas, no estrato de linguagem jurdica competente. Para a modificao das relaes
jurdicas, necessrio haver outra linguagem, para que o clculo de relaes seja efetuado.
Portanto, para retirar a obrigao do ordenamento, conforme a noo de sistema por ns
apresentada, dever ser introduzida outra norma individual e concreta.
Note-se que a estrutura da norma jurdica, em que o antecedente (hiptese) ligado,
por um conectivo implicacional dentico neutro, a um conseqente (HC), poder
estabelecer diversas combinaes entre o antecedente e o conseqente, sem modificar a
estrutura mnima de implicao.
Conforme a lio do professor Lourival Vilanova, possvel [...] combinar uma s
hiptese para uma conseqncia, ou vrias hipteses para uma s conseqncia, ou vrias
hipteses para vrias conseqncias, ou uma s hiptese para vrias conseqncias, mas no
pode arbitrariamente construir uma outra estrutura alm dessas possveis estruturas.
Simbolizando por H e C, tem-se: a) H implica C; b) H', H", H"', implica C; c) H', H", H"',
implica C', C", C"'; d) H implica C', C", C"'.292
A norma de direito formada por um antecedente que descreve um comportamento e
por um conseqente que estabelece uma relao jurdica. Dessa forma, a ocorrncia de um
fato no mundo fenomnico (descrito no antecedente), desde que relatado em linguagem
competente, implica determinada relao jurdica (estabelecida no conseqente). Essa a
norma jurdica stricto sensu.
Assim, a norma da transao dever ser introduzida no ordenamento por um suporte
fsico que aqui denominaremos ato de transao (produto), que pode ter vrias naturezas,
como de contrato, de ato administrativo ou mesmo de sentena.
Em termos analticos, o ato de transao contm os enunciados necessrios e
suficientes para construirmos uma norma individual e concreta, em cujos antecedentes vm
relatados:
1) o fato da existncia da dvida;
2) o fato do acordo (concesses mtuas entre credor e devedor).
E, nos conseqentes,
292
VILANOVA, Lourival. As Estruturas Lgicas e o Sistema no Direito Positivo. So Paulo: Max Limonad,
1997, p. 91.
102
3) uma relao de pagamento que, no clculo das relaes, anula o vnculo primitivo e/ou;
4) uma relao de remisso que, no clculo das relaes, anula o vnculo primitivo e/ou;
5) uma relao de anistia que, no clculo das relaes, anula o vnculo primitivo.
293
103
4.2 Do Objeto
O Cdigo Civil de 1916 j estabelecia, em seu Art. 1.035, que S quanto a direitos
patrimoniaes de caracter privado se permitte a transaco.
Clovis Bevilaqua discorria sobre o tema: 1- No lcito transigir sobre questes
relativas ao estado das pessoas, legitimidade do matrimnio, ptrio poder, relaes pessoais
entre cnjuges, filiao. As vantagens, porm, oriundas dessas relaes, desde que sejam de
ordem patrimonial, podem ser objeto de transao, 2-Discutia-se, no regime anterior, se era
permitido transigir sobre alimentos futuros. O direito romano negava essa permisso, quando
os alimentos eram deixados por atos mortis [...]. Os nossos civilistas aceitaram a doutrina
romana, ora dando-lhe uma feio absoluta, ora restringindo-a, porque o texto citado permitte
essa variedade de inteligncia. O Cdigo, porm, no estabelece restrio alguma dessa
natureza. Sobre o direito de pedir alimentos no dado transigir, porque no renuncivel
esse direito (art. 404); mas sobre as prestaes de alimentos, vencidas ou futuras, a transao
possvel. [...] 3 - Tambm no podem ser objeto de transao as coisas inalienveis ou que
estejam fora do comrcio. A penso alimentar no penhorvel, porque se destina a manter a
vida da pessoa; mas aquele, em favor de quem ela existe, pode alienar o objeto da prestao.
Por isso, a renncia gratuita dos alimentos futuros no permitida, mas ao capaz no se nega
o direito de transigir sobre os alimentos futuros. A transao no renncia gratuita.296
De modo semelhante ao Cdigo Civil de 1916, dispe o Cdigo Civil de 2002 em seu
Art. 841: S quanto a direitos patrimoniais de carter privado se permite a transao.
A mesma posio adota Caio Mrio da Silva Pereira: [...] no podem as partes transigir
quanto aos direitos no-patrimoniais, como os de famlia puros (legitimidade de filho,
validade do casamento, ptrio-poder, regime de bens no casamento, direito a alimentos). No
podem ser objeto de transao questes que envolvam matria de ordem pblica, nem direitos
de que os transatores no possam dispor, entre os quais as coisas que esto fora de
comrcio.297
O professor Silvio Rodrigues, na mesma linha de raciocnio, afirma que a transao
tem por objeto somente direitos patrimoniais de carter privado (CC, art. 841). Portanto,
296
BEVILAQUA, Clovis. Codigo Civil dos Estados Unidos do Brasil Comentado. Rio de Janeiro: Paulo de
Azevedo Ltda., 1950, p. 187-188. v.4.
297
PEREIRA, Caio Mrio da Silva. Instituies de direito civil. Contratos. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007,
p. 508. v.3.
104
RODRIGUES, Silvio. Direito civil: dos contratos e das declaraes unilaterais da vontade. 30. ed. So Paulo:
Saraiva, 2007, p. 375. v. 3.
299
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito das obrigaes 2 parte dos contratos em
geral, das vrias espcies de contrato dos atos unilaterais, da responsabilidade civil. So Paulo: Saraiva, 2007, p.
397.
300
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. Teoria geral das obrigaes. So Paulo: Saraiva,
2007, p. 331-332. v.2.
301
DINIZ, Maria Helena. Dicionrio jurdico. 2. ed. So Paulo: Saraiva, 2005, p. 197. v.2.
302
SILVA, De Plcido E Vocabulrio Jurdico. (Atualizadores: Nagib Slaibi Filho e Glucia Carvalho). Rio de
Janeiro: Forense, 2004, p. 469.
303
DINIZ, Maria Helena. Dicionrio jurdico. 2. ed. So Paulo: Saraiva, 2005, p. 228. v.2.
105
depois que a obrigao tributria ingressar no ordenamento, torna-se o crdito dela decorrente
patrimnio disponvel da Administrao.
Cabe aqui lembrar o mestre Jos Souto Maior Borges: Como a obrigao no uma
categoria lgico-jurdica, mas jurdico positiva, construo de direito posto, ao direito
positivo que incumbe definir os requisitos necessrios identificao de um dever jurdico
qualquer como sendo um dever obrigacional.304 Nesse sentido determina o Cdigo Tributrio
Nacional que a obrigao tributria pode ser transacionada, e como a obrigao definida, em
todos os seus contornos, pelo direito positivo, podemos entend-la, tambm, como direito
patrimonial disponvel, conforme j referido no item 3.4.3.
4.3 Da Capacidade
BORGES, Jos Souto Maior. Obrigao Tributria: uma introduo metodolgica. So Paulo: Malheiros,
1999, p. 38.
305
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito das obrigaes 2 parte dos contratos em
geral, das vrias espcies de contrato dos atos unilaterais, da responsabilidade civil. 35. ed. So Paulo: Saraiva,
2007, p 395. v.5.
306
BEVILAQUA, Clovis. Codigo Civil dos Estados Unidos do Brasil Comentado. Rio de Janeiro: Paulo de
Azevedo Ltda., 1950, p. 177. v. 4.
106
A transao pode ser judicial ou extrajudicial, ou seja, dar-se dentro ou fora do processo
judicial.
A transao judicial deve [...] se realizar no curso de um processo, recaindo sobre
direitos contestados em juzo, [...], porque ela completa o ato, tornando-o perfeito e acabado,
permitindo a produo de efeitos jurdicos [...] e encerrando o processo [..], ao positivar a
desistncia do direito que assistia s partes de obter do rgo judicante uma deciso sobre o
mrito da questo. Por isso, concluda e homologada a transao, nenhum dos transatores
pode alegar que concedeu mais do que devia ou menos do que lhe tocava.308
Carnelutti afirma que [...] as transaes tero entre as partes a autoridade de uma
sentena executria. Identidade de dinamismo [...]: o mandato pronunciado pelos
contratantes, em princpio, tem o mesmo valor que o mandato pronunciado pelo juiz. Por isso,
a transao assume carter declaratrio ou dispositivo conforme o carter de litgio que
compe, ou seja, que seu carter no outro seno aquele que do litgio derivaria.309
Tambm a transao pode ser extrajudicial se levada a efeito ante uma demanda ou
litgio iminente, evitado, preventivamente, mediante conveno dos interessados que, fazendo
concesses recprocas, resolvem as controvrsias, por meio de escritura pblica, se a lei
reclamar essa forma, ou particular, nas hipteses em que a admitir [...]. No h necessidade de
307
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito das obrigaes 2 parte dos contratos em
geral, das vrias espcies de contrato dos atos unilaterais, da responsabilidade civil. 35. ed. So Paulo: Saraiva,
2007, p. 395. v. 5.
308
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. Teoria geral das obrigaes. So Paulo: Saraiva,
2007, p. 330. v.2.
309
CARNELUTTI, Francesco. Sistema de direito processual civil. 2. ed. Traduzido por Hiltomar Martins
Oliveira. So Paulo: Lemos e Cruz, 2004, p. 273. v. 1.
107
se homologar, por via judicial, tal transao, por ter sido feita, com funo preventiva, antes
de haver litgio ou demanda, justamente com a finalidade de evit-los.310
Convm lembrar sempre a complexa questo do significado das palavras, no caso,
especialmente o da palavra litgio, conforme nos alerta o professor Paulo de Barros Carvalho:
Polarizando a ateno da doutrina brasileira est o problema da amplitude semntica do
vocbulo litgio. Abrangeria ele somente as discusses perante os rgos do Poder Judicirio
ou, em acepo mais larga, aplicar-se-ia tambm s controvrsias deduzidas em
procedimentos administrativos tributrios? Estou pela interpretao lata. Ali onde houver
conflito de interesses instalado entre Administrao e administrado, seja de cunho judicial ou
no, caber falar-se nesse tipo de procedimento terminativo, se como tal for aceito.311
Mas, no presente estudo, cabe destacar a transao extrajudicial, que visa a evitar a ao
de execuo fiscal, em outros termos, o litgio judicial.
No regime jurdico de direito privado, a transao negcio jurdico solene, pois sua
eficcia depende de forma prescrita em lei.312
A transao far-se- por escritura pblica, nas obrigaes em que a lei o exige, ou por
instrumento particular. Nas outras, para as quais no exigida a forma pblica, vale como
instrumento particular.
Nos termos do art. 842 do Cdigo Civil, em se tratando de direitos contestados em
Juzo, podem os transigentes faz-la por escritura pblica, ou por termo nos autos, neste caso
assinado pelos transigentes e homologado pelo juiz.313
Entretanto, no regime jurdico de direito pblico, a transao ato administrativo e,
portanto, dever respeitar sua forma.
A transao dever ocorrer em um processo administrativo que ser finalizado por um
ato administrativo denominado despacho.
310
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. Teoria geral das obrigaes. So Paulo: Saraiva,
2007, p. 331. v.2.
311
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributrio: Fundamentos jurdicos da incidncia. 3. ed. So Paulo:
Saraiva, 2004, p. 199.
312
RODRIGUES, Silvio. Direito civil: dos contratos e das declaraes unilaterais da vontade. 30. ed. So Paulo:
Saraiva, 2007, p. 374. v. 3.
313
PEREIRA, Caio Mrio da Silva. Instituies de direito civil. Contratos. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007,
p. 509. v.3.
108
A transao, conforme dispe o art. 844 do Cdigo Civil, s vincula aqueles que
manifestaram o propsito de se obrigar e no aproveita nem prejudica seno aos que nela
intervieram, ainda que diga respeito a coisa indivisvel.
Conforme referido, na transao no h renncia ou transferncia de vantagens feita
por qualquer das partes, mas reconhecimento de direitos, j preexistentes, decorrente do efeito
declaratrio da instituio.
O art. 1.030 do Cdigo Civil de 1916 declarava: A transao produz, entre as partes,
o efeito de coisa julgada, e s se rescinde por dolo, violncia, ou erro essencial, quanto
pessoa ou coisa controversa.
Clovis Bevilaqua assim observava: O Cdigo Civil no diz, como outros, que a
transao tem autoridade de coisa julgada. Diz apenas que ela produz efeitos de coisa
julgada. O Projeto Primitivo usava de outro modo de exprimir o efeito da transao entre as
partes. A transao vlida, eram os seus termos, extingue os direitos e as obrigaes sobre
que versa, operando com fora de coisa definitivamente julgada. Era somente em respeito
extino dos direitos que os efeitos da sentena e da transao se equiparavam. Realmente,
no podiam ir alm. Entre a transao e a sentena h muita diferena, no s quanto ao ato
jurdico em si, mas, ainda, quanto aos respectivos efeitos. Bastar lembrar: 1, Que a
transao indivisvel, no pode ser anulada em parte, ao passo que a sentena admite
reforma parcial; 2 Que a transao se resolve por inexecuo das clusulas, o que no pode
acontecer com a sentena; 3, Que a sentena produz hipoteca judiciria (art. 824), e
transao no se pode atribuir essa virtude. 315
A professora Maria Helena Diniz entende que a transao, como meio indireto de
extino da obrigao, produz os seguintes efeitos extintivos: a) desvinculao do obrigado
mediante acordo liberatrio; b) equiparao coisa julgada, pois a transao judicial
homologada produz entre as partes o efeito de coisa julgada [..]; c) identidade de pessoas, isto
314
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 18. ed. So Paulo: Atlas, 2004, p. 225.
BEVILAQUA, Clovis. Codigo Civil dos Estados Unidos do Brasil Comentado. 8. ed. Rio de Janeiro: Paulo
de Azevedo Ltda., 1950, p. 181-182. v. 4.
315
109
316
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. Teoria geral das obrigaes. So Paulo: Saraiva,
2007, p. 334-335. v. 2.
317
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito das obrigaes 2 parte dos contratos em
geral, das vrias espcies de contrato dos atos unilaterais, da responsabilidade civil. 35. ed. So Paulo: Saraiva,
2007, p. 399. v.5.
110
Dispe o art. 847 do Cdigo Civil (art. 1034 do Cdigo de 1916) que admissvel, na
transao, a pena convencional.
Como explica Clovis Bevilaqua em relao ao art. 1034 do Cdigo de 1916: 1- Nos
sistemas, em que a transao considerada forma especial de contrato, pareceria intil uma
disposio como esta, porque mera aplicao do direito comum. Nos sistemas, porm, em
que a transao simples modo de extinguir obrigaes, no demais declarar que ela
admite o reforo da clusula penal, porque esta no costuma andar ligada aos modos de
pagamento. 2. - Nesta, como em qualquer outra relao de direito, a pena pode ser estipulada
para o caso de inexecuo ou para o de mora. Os preceitos estabelecidos no captulo da
clusula penal (arts. 916-872) so aplicveis no caso de transao.318 (grifo nosso)
O direito posto, no art. 846 do Cdigo Civil atual, prescreve que a transao
concernente a obrigaes resultantes de delito no extingue a ao penal pblica.
318
BEVILAQUA, Clovis. Codigo Civil dos Estados Unidos do Brasil Comentado. 8. ed. Rio de Janeiro: Paulo
de Azevedo Ltda., 1950, p. 186. v. 4.
319
BATISTA JNIOR, Onofre Alves. Transaes administrativas: um contributo ao estudo do contrato
administrativo como mecanismo de preveno e terminao de litgios e como alternativa atuao
administrativa autoritria, no contexto de uma administrao pblica mais democrtica. So Paulo: Quartier
Latin, 2007, p 417.
111
4.8.1 Do Conceito
ROSEMBUJ, Tlio. La Transaccion Tributria. Barcelona: Atelier, 2000, p. 41. Traduo da Autora. No
original: La transaccin es la figura jurdica que mejor alienta el derecho de participacin del contribuyente a
influir en la funcin administrativa, hasta la codecisin en la manifestacin concreta de poder que le afecta.
La transaccin es el contrato que explica la idea del inters fiscal compartido entre el particular y la
Administracin.
321
Ibid., p. 43. Traduo da autora. No original: La causa del contrato de transaccin es la de resolver una
controversia entre las partes mediante concesiones recprocas, solucionar un conflicto entre dos valoraciones
unilaterales, deducidas o no en un proceso, mediante la convergencia de sacrificios.
La transaccin, impeditiva de pleitos o propulsora de soluciones negociadas y amistosas, contribuye a la
distribucin del inters fiscal entre la Administracin y el contribuyente, sirviendo, al mismo tiempo, para
ahorrar cuestiones litigiosas y facilitar la recaudacin ordinaria y regular de los impuestos.
322
COLOMA, Paula Vicente-Arche. El Arbitraje en el Ordenamiento Tributario Espanol: Una Propuesta.
Madrid: Marcial Pons, 2005, p. 140-141. Traduo da autora. No original: [...] los elementos esenciales que
caracterizan a la transaccin podran sistematizarse en torno a los tres aspectos siguientes, a saber: en primer
trmino, en la transaccin existe una relacin jurdica incierta, susceptible de provocar litigios, o al menos
incierta subjetivamente para las partes, aun cuando objetivamente no haya fundamento para la duda. En segundo
112
lugar, la intencin de las partes de sustituir la relacin dudosa por una relacin cierta e incontestable. Finalmente,
las recprocas concesiones por parte de los interesados, de manera que sufran algn sacrificio de modo definitivo
y no provisional.
323
BIELSA, Rafael: Compendio de Derecho Pblico: Constitucional, Administrativo y Fiscal, Tomo III:
"Derecho Fiscal", Captulo III: "La obllgacin fiscal", pargrafo 3: "Extincin de la obllgacin", subpargrafo 2:
"Diversos modos de extincin", puntos: "Transaccin" y "Composicin", ps. 90 y 91, distribuidor Roque
Depalma, Buenos Aires, 1952, apud CASS, Jos Osvaldo. Los mecanismos alternativos de resolucin de las
controversias tributrias. Buenos Aires: Ad-Hoc, 2003, p. 65-66. Traduo da autora. No original: "En derecho
fiscal la transaccin es excepcional, pues ella implica la renuncia parcial de un derecho que se cuestiona y cuyo
reconocimiento sera dudoso en contienda judicial. En el derecho civil ninguna cuestin se presenta, pues las
partes pueden, en caso de litigio o duda, hacerse concesiones recprocas, como dice el Cdigo de la materia
(art. 832). Pero los crditos fiscales se fundan en la ley y se determinan por un procedimiento administrativo
dirigido precisamente a establecer su certeza y legitimidad. Adems, la obligacin fiscal es de orden pblico.
Sin embargo, se admite la transaccin en algunos casos en que se trata de penas fiscales aplicadas en virtud de
una ley de interpretacin cuestionada, o cuando la imputabilidad del contribuyente no aparece clara, y ste se
dispone a su defensa judicial si no se modera la pretensin de la Administracin fiscal. La transaccin debe ser
bien fundada [...] La composicin se parece a la transaccin en que tambin mediante ella se evita una
controversia judicial, pero su objeto es determinar nuevamente la obligacin fiscal, a diferencia de la
transaccin en la que los derechos y obligaciones estn determinados. pero no se tiene la necesaria seguridad
jurdica de xito en la controversia judicial. Dicho de otro modo: mejor es algo seguro que perderlo todo:
Melius est pauca dividere cuam totum perdere"; finalizando: "La transaccin y la composicin fiscal implican
en cierto modo novacin. pero a diferencia de la novacin civil no extinguen las obligaciones accesorias.
113
114
328
115
331
ROSEMBUJ, Tlio. La Transaccion Tributria. Barcelona: Atelier, 2000, p. 76. Traduo da autora. No
original: [...], Sandulli, concepta que el concordato tributario es un autntico contrato que se introduce en el
procedimiento de imposicin y est dirigido a prevenir y resolver divergencias en orden de la cuanta de la base
imponible, a travs de una determinacin consensual. Este autor sita el concordato tributario en el marco de
los contratos de la Administracin Pblica relativos a relaciones cuyo objeto es pblico, sin excluir la
transaccin en situaciones de derecho pblico.
332
Ibid., p. 77. Traduo da autora. No original: [...] se refiere a dicho acuerdo de valoracin, de conventio,
que no de voluntad, que origina un acto de reconocimiento calificativo que es bilateral y emana de la
Administracin y del contribuyente. Justamente, la figura de la determinacin consensual: un acto
administrativo que es consecuencia estructural del pacto sobre la determinacin y que impide la impugnacin
sucesiva contra la misma. Tambin en el ejemplo recurre a los acuerdos amistosos en materia de expropiacin
de utilidad pblica cuyo objeto es la cuanta de la indemnizacin. El efecto sustancial del concordato, como
116
Giannini adota uma definio mais audaciosa, pois avalia que se trata de um ato
procedimental de formao das vontades da resoluo segundo um mdulo convencional,
antecipando assim o que hoje se entende como ato de consenso.333
Note-se que, para Moschetti, tampouco os princpios de legalidade e de capacidade
contributiva no me parecem incompatveis com o dilogo e o acordo. Trata-se de ver como
se produzir concretamente o referido acordo: se as duas partes contribuem para reconstruir a
verdade, os citados princpios constitucionais sairo beneficiados. Se querem apresentar
subterfgios, tais princpios sero atacados. Mas quem pretende desviar o poder pblico para
fins privados agir desta maneira mesmo sem a figura da comprovao com adeso. Mais
que isso, quanto menores forem as garantias do cidado, quanto mais livre de compensaes
estiver o poder administrativo, tanto maior ser a necessidade de favores por parte do
contribuinte e tanto mais alto o preo destes favores.334
A participao do contribuinte d-se no processo de produo do ato administrativo
quando o sujeito passivo discute e acorda (na qualidade de portador de interesse seu,
individual) com a Fazenda dentro do procedimento administrativo tributrio.
A norma da transao provoca mudana significativa, substituindo o crdito tributrio
ex lege por outro novo, subseqentemente ao acordo entre as partes e derivado tambm da lei.
Portanto, a introduo da linguagem competente no ordenamento jurdico, isto , da
norma individual e concreta da transao, traz como conseqncia jurdica a extino da
obrigao tributria veiculado pelo lanamento.
Na verdade a norma de transao retira do ordenamento a norma do lanamento, que
tem no conseqente a obrigao tributria, e introduz uma nova norma, a da transao, que
tem no conseqente tambm uma obrigao tributria. Esta por sua vez, poder ser extinta, ou
melhor, retirada do ordenamento, quando do pagamento.
117
A transao est elencada como uma das formas de extino da relao jurdica
tributria (art.156 do CTN).
O art. 171 estabelece que a lei pode facultar, nas condies que estabelea, aos sujeitos
ativo e passivo da obrigao tributria celebrar transao, que, mediante concesses mtuas,
importe em determinao de litgio e conseqente extino de crdito tributrio.
Observa o professor Paulo de Barros Carvalho: Mas, curioso verificar que a
extino da obrigao, quando ocorre a figura transacional, no se d, propriamente, por fora
das concesses recprocas, e sim do pagamento. O processo de transao to-somente prepara
o caminho para que o sujeito passivo quite sua dvida, promovendo o desaparecimento do
vnculo.335
Hugo de Brito Machado, por sua vez, afirma que, a no ser que se entenda a extino
como referida apenas parte do crdito tributrio da qual abriu mo a Fazenda, na verdade a
transao, embora arrolada como causa de extino do crdito tributrio, a rigor e ao menos
ordinariamente, no o extingue.336
Mas o autor ainda pondera que [...] a transao extingue o crdito tributrio na parte
em que a Fazenda abriu mo, concedeu. E pode ocorrer que um crdito tributrio seja, por
inteiro, dispensado pela Fazenda, contra o pagamento de outro crdito tributrio tambm em
questionamento. A Fazenda estaria abrindo mo do seu direito de insistir na cobrana de um e
o contribuinte estaria abrindo mo do seu direito de questionar a exigncia do outro. Isto
justifica a incluso da transao como causa de extino do crdito tributrio.337
Tambm Paulo Henrique Figueiredo se manifesta nesse sentido: Geralmente, da
transao decorre a extino da relao obrigacional que acolhia o litgio. Contudo, a extino
obrigacional no constitui o objetivo primeiro da transao, vez que o que h de ficar extinto
por este instituto o litgio em potencial ou instalado, ou, em termos mais profundos, a
incerteza quanto relao jurdica, que albergava prestaes opostas. Portanto, com a
335
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributrio. 19. ed. So Paulo: Saraiva, 2007, p. 498.
MACHADO, Hugo de Brito. Transao e Arbitragem no mbito tributrio. In Revista Frum de Direito
Tributrio - RFDT. Ano 5, n. 28, jul./ago. 2007. Belo Horizonte: Frum, p. 57.
337
Ibid.
336
118
338
FIGUEIREDO, Paulo Henrique. A Transao Tributria. Recife: Edies Bagao: Instituto do Ministrio
Pblico do Estado de Pernambuco, 2004, p. 128-129.
339
CARNELUTTI, Francesco. Sistema de direito processual civil. 2. ed. Traduzido por Hiltomar Martins
Oliveira. So Paulo: Lemos e Cruz, 2004. Ttulo original: Sistema di diritto processuale civile. p. 93. v. 1.
340
BATISTA JNIOR, Onofre Alves. Transaes administrativas: um contributo ao estudo do contrato
administrativo como mecanismo de preveno e terminao de litgios e como alternativa atuao
administrativa autoritria, no contexto de uma administrao pblica mais democrtica. So Paulo: Quartier
Latin, 2007, p. 414.
341
Ver ACADEMIA DAS CINCIAS DE LISBOA. Dicionrio da Lngua Portuguesa Contempornea. Lisboa:
Verbo, 2001, p. 1232.
342
Ibid., p. 2284.
343
DINIZ, Maria Helena. Dicionrio jurdico. 2. ed. So Paulo: Saraiva, 2005, p. 156. v. 3.
119
administrado, seja de cunho judicial ou no, caber falar-se nesse tipo de procedimento
terminativo, se como tal for aceito.344
Hugo de Brito Machado assevera: Para que seja possvel a transao no Direito
Tributrio, impe-se tenha sido j instaurado o litgio, embora no se h de exigir que este se
caracterize pela propositura de ao judicial. Basta que tenha sido impugnado, pelo sujeito
passivo da obrigao tributria, um auto de infrao contra o mesmo lavrado. Ou por outra
forma se tenha estabelecido uma pendncia, dando lugar instaurao de um procedimento
administrativo a ser julgado pelo rgo administrativo competente. Realmente, o que se
impe que esteja configurado um litgio, a ser dirimido pelo rgo julgador administrativo,
nos termos do procedimento prprio. Litgio atual, j instaurado, e no apenas anunciado por
um dos sujeitos da relao, geralmente o Fisco. A pretenso do Fisco h de ter sido
formalmente manifestada. S assim estar caracterizado o litgio que faz possvel a transao
destinada a sua terminao.345
Consideradas essas questes, observe-se o que afirma Fabio Brum Goldschmidt acerca
da matria da transao tributria: A determinao de um litgio importa necessariamente, no
que toca matria envolvida, na sua extino, seja a matria envolvida de fato ou de
direito. A extino do crdito, no caso do CTN, uma opo que o legislador brasileiro
tomou e que indica claramente a possibilidade de a transao tributria versar sobre matria
de direito, assim como ocorre com o instituto do Direito Civil.346
O objetivo da norma de transao pr fim ao litgio, quando os sujeitos do vnculo
concertam abrir mo de parcelas de seus direitos, chegando a um denominador comum,
teoricamente interessante para as duas partes, e que propicia o desaparecimento simultneo do
direito subjetivo e do dever jurdico correlato.347
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributrio: Fundamentos jurdicos da incidncia. 3. ed. So Paulo:
Saraiva, 2004, p. 203.
345
MACHADO, Hugo de Brito. Transao e Arbitragem no mbito tributrio. In Revista Frum de Direito
Tributrio - RFDT. Ano 5, n. 28, jul./ago. 2007. Belo Horizonte: Frum, p. 56.
346
GOLDSCHMIDT, Fabio Brum. Arbitragem e Transao Tributria Verificao de Compatibilidade. In
Revista Dialtica de Direito Tributrio 48, 1999, p. 59.
347
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributrio: Fundamentos jurdicos da incidncia. 3. ed. So Paulo:
Saraiva, 2004, p. 498.
120
na sua constituio, e do pagamento, nos seus efeitos, por ser meio extintivo de
obrigaes.348
Slvio de Salvo Venosa vai alm: [...] a grande maioria das legislaes disciplina o
instituto como um contrato, assim como a doutrina atual. No h como fugir ao carter
contratual da transao, sendo essa a posio adotada pelo atual Cdigo [...].349
Relembremos o mestre Clovis Bevilaqua, que conceitua a transao como um ato
jurdico, pelo qual as partes, fazendo-se concesses recprocas, extinguem obrigaes
litigiosas ou duvidosas.350
Quanto transao no direito pblico, Paulo Henrique Figueiredo assegura: quando
levada s hostes do Direito Tributrio, transmudada tornando-se limitada, em razo do
interesse pblico. O carter de disponibilidade afastado, pois, s com autorizao legal
especfica, pode o Estado transacionar para pr fim a um litgio envolvendo questes
tributrias.351
Hugo de Brito Machado admite a transao no Direito Tributrio, mas defende a
necessidade de que ela tenha em seu mbito um regime jurdico especfico, indispensvel para
que o interesse pessoal de quem eventualmente representa o Estado no prevalea sobre o
interesse deste. E relembramos suas palavras: No Direito Tributrio brasileiro pode-se dizer,
em sntese, que a transao: (a) depende sempre de previso legal; e (b) no pode ter o
objetivo de evitar litgio, s sendo possvel depois da instaurao deste.352
Neste sentido tambm ensina o professor Paulo de Barros Carvalho: O princpio da
indisponibilidade dos bens pblicos impe seja necessria previso normativa para que a
autoridade competente possa entrar no regime de concesses mtuas, que da essncia da
transao.353
Relembremos
as
lies
de
Pontes
de
Miranda:
Transacionabilidade
taxas
federais,
estaduais,
ou
municipais,
ou
paraestatais,
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. Teoria geral das obrigaes. So Paulo: Saraiva,
2007, p. 336. v.2.
349
VENOSA, Slvio de Salvo. Direito Civil: Teoria Geral das Obrigaes e Teoria Geral dos Contratos. So
Paulo: Atlas, 2007, p. 262.
350
BEVILAQUA, Clovis. Codigo Civil dos Estados Unidos do Brasil Comentado. Rio de Janeiro: Paulo de
Azevedo Ltda., 1950, p. 176. v.4.
351
FIGUEIREDO, Paulo Henrique. A Transao Tributria. Recife: Edies Bagao: Instituto do Ministrio
Pblico do Estado de Pernambuco, 2004, p. 226.
352
MACHADO, Hugo de Brito. Transao e Arbitragem no mbito tributrio. In Revista Frum de Direito
Tributrio - RFDT. Ano 5, n. 28, jul./ago. 2007. Belo Horizonte: Frum, p. 55.
353
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributrio. 19. ed. So Paulo: Saraiva, 2007, p. 498.
121
354
MIRANDA, Pontes de. Tratado de Direito Privado. Campinas: Bookseller, 2003, p. 189. t. XXV.
BATISTA JNIOR, Onofre Alves. Transaes administrativas: um contributo ao estudo do contrato
administrativo como mecanismo de preveno e terminao de litgios e como alternativa atuao
administrativa autoritria, no contexto de uma administrao pblica mais democrtica. So Paulo: Quartier
Latin, 2007, p. 512.
355
122
Esclarece Hugo de Brito Machado que o art. 171, ao admitir a transao como forma
de extino do crdito tributrio, contm uma prescrio especial, aplicvel apenas aos casos
e nas condies que a lei estabelecer. [...] Na verdade o carter plenamente vinculado da
atividade administrativa somente ser contrariado se a lei ordinria atribuir s autoridades
lanadoras em geral, ou s autoridades que geralmente representam a Fazenda Pblica em
juzo, competncia para fazer transaes. Mas, neste caso, o defeito ser da lei ordinria, e
no do art. 171 do Cdigo Tributrio Nacional.356
Em primeiro lugar, destacamos que, para haver transao tributria, imprescindvel
uma lei que a autorize. E esta mesma lei estabelecer as condies objetivas, a fim de dirimir
as discricionariedades em que sujeitos ativos e passivos da obrigao tributria podero
transacionar, assim como a autoridade competente para autorizar o acordo, e somente as
autoridades de escales superiores da Administrao Tributria para que, se alguma
discricionariedade ainda restar, seja mais fcil o controle do ato que h de ser praticado
sempre no interesse da Fazenda Pblica.357
Eurico Marcos Diniz de Santi adverte que a pretenso de transao, sem critrios
legais, desloca a denotao do termo para o vazio das concesses recprocas e de ordem
econmica, indisponvel em matria de direito pblico. Sem critrio legal prvio, no h
como imunizar a presso dos interesses econmicos sobre os agentes pblicos.358
Esses critrios legais, para serem estabelecidos, necessitam duas ordens de normas:
uma que determina as competncias e os rgos para transacionar pela Administrao
Fazendria e outra que estabelece quais as obrigaes tributrias e em que condies essas
poderiam ser extintas pela norma de transao.
Nesse sentido valem as palavras de Paulo de Barros Carvalho: Os tericos gerais do
direito costumam discernir as regras jurdicas em dois grandes grupos: normas de
comportamento e normas de estrutura. As primeiras esto diretamente voltadas para a conduta
das pessoas, nas relaes de intersubjetividade; as de estrutura ou de organizao dirigem-se
igualmente para as condutas interpessoais, tendo por objeto, porm, os comportamentos
relacionados produo de novas unidades dentico-jurdicas, motivo pelo qual dispem
356
MACHADO, Hugo de Brito. Transao e Arbitragem no mbito tributrio. In Revista Frum de Direito
Tributrio - RFDT. Ano 5, n. 28, jul./ago. 2007. Belo Horizonte: Frum, p. 53.
357
Ibid.
358
SANTI, Eurico Marcos Diniz de. Transao e Arbitragem no mbito tributrio: parania ou mistificao? In
Revista Frum de Direito Tributrio - RFDT. Ano 5, n. 29, set./out. 2007. Belo Horizonte: Frum, p. 51.
123
sobre rgos, procedimentos e estatuem de que modo as regras devem ser criadas,
transformadas ou expulsas do sistema.359
Portanto, duas so as espcies de normas gerais e abstratas que devero ser
introduzidas no sistema jurdico para viabilizar a transao:
a) norma de comportamento, que deve estabelecer as propriedades das obrigaes tributrias
disciplina o produto, ou seja, transao;
b) norma de estrutura, que deve estabelecer as propriedades das competncias e os rgos
responsveis disciplina o processo da transao.
Conforme determina o Art. 171 do CTN, a lei pode facultar, nas condies que
estabelea, aos sujeitos ativo e passivo da obrigao tributria celebrar transao que,
mediante concesses mtuas, importe em determinao de litgio e conseqente extino de
crdito tributrio.
Portanto, essas condies so os critrios que a lei que estabelecer a transao deve
explicitar. Essa lei pertence classe da norma geral e abstrata; isso significa que seus
enunciados so conotativos, ou seja, estabelecem os critrios de identificao de um evento
como fato jurdico.
importante enfatizar que as normas gerais e abstratas contm notas (conotao) que
os sujeitos ou as aes devem ter para pertencerem ao conjunto.
Destacamos que se pode definir uma classe enumerando os membros que a compem
(denotao), ou indicando a propriedade comum de todos os seus membros (conotao).
A norma que estabelecer a transao dever descrever quais as propriedades da
obrigao tributria para que possa ser identificada pelo operador do direito como passvel de
subsuno360 pela norma da transao.
A incidncia tributria simultnea ao ato de aplicao do direito pelo homem, que
verte em linguagem competente determinado evento do mundo fenomnico, trazendo-o para o
mundo do direito, formalizando o Fato Jurdico Tributrio.
Trata-se do processo de positivao do direito (criao de normas): da norma geral e
abstrata, o agente constri a norma individual e concreta jurisdiciza o fato e constitui a
relao.
359
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributrio. 19. ed. So Paulo: Saraiva, 2007, p. 154.
No plano lgico, ocorrem duas operaes formais simultneas:
1) subsuno ou incluso de classes: operao pela qual o aplicador do direito identifica no mundo fenomnico
a ocorrncia de um evento que guarda absoluta identidade com os critrios prescritos no antecedente da norma
geral e abstrata.
2) implicao: operao que faz surgir uma relao jurdica de acordo com os critrios prescritos no
conseqente da mesma norma geral e abstrata.
360
124
A permisso para o legislador editar lei geral e abstrata sobre a transao est inserida
no sistema do direito positivo e, portanto no um cheque em branco para o legislador; este
se encontra subordinado aos princpios constitucionais e legislao tributria.
A lei que estabelecer a transao deve ser subordinada ao ordenamento tributrio
positivo e no pode alterar os conceitos j estabelecidos pela legislao como tributo,
lanamento tributrio, suspenso da exigibilidade, decadncia e prescrio, extino
do crdito e certido negativa, todos fixados no Cdigo Tributrio Nacional.
Observe-se, portanto, que essencial que a norma da transao estabelea critrios
objetivos de identificao de um fato para que este possa ser transacionado.
Tambm no qualquer obrigao tributria que pode ser transacionada, mas aquela
para a qual a Administrao Tributria considerar ser menos custoso um acordo que a
demanda judicial, por critrios objetivos.
Eurico M. D. de Santi se manifesta seguindo essa linha de raciocnio: a nica
transao possvel aquela veiculada por lei especfica e voltada a crditos tributrios
especficos e determinados. S lei especfica e circunstanciada de transao pode internalizar
o clculo econmico, oferecendo seus limites e critrios que, agora sim, uma vez
legalmente definidos os critrios, juridiciza-se e tem o condo de extinguir o crdito
tributrio. S na transao especfica h motivao jurdica: enquadramento do crdito na
previso legal e juridicizao dos termos da negociao e conseqente extino do crdito
pelo subseqente pagamento.361
Outra norma, conforme determinado no Pargrafo nico do Art. 171 do CTN, indicar
a autoridade competente para autorizar a transao em cada caso.
Nesse sentido, essa lei especfica tambm est subordinada aos princpios
constitucionais e ao ordenamento vigente. O legislador no tem competncia plena, pois o
mandamento legal o condiciona. O legislador deve determinar qual a autoridade competente e
estabelecer as atribuies, deveres e responsabilidade dos agentes. Essa autoridade, devido
natureza do tema, deve pertencer Administrao Fazendria, que rgo da Administrao
Pblica responsvel pela constituio, modificao e extino da obrigao tributria. Ou, em
caso de ser constitudo um rgo para tanto, a lei deve determinar a natureza, a finalidade, a
organizao, a composio do tribunal administrativo, assim como sua competncia, seu
funcionamento e sua estrutura administrativa. Tambm deve estabelecer as atribuies,
deveres e responsabilidades dos agentes.
361
SANTI, Eurico Marcos Diniz de. Transao e Arbitragem no mbito tributrio: parania ou mistificao? In
Revista Frum de Direito Tributrio - RFDT. Ano 5, n. 29, set./out. 2007. Belo Horizonte: Frum, p. 36.
125
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 18. ed. So Paulo: Atlas, 2004, p. 189.
BANDEIRA DE MELLO, Oswaldo Aranha. Princpios Gerais de Direito Administrativo: Introduo. So
Paulo: Malheiros, 2007, p. 476-477, v. 1.
364
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 18. ed. So Paulo: Atlas, 2004, p. 196.
365
Ver CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributrio. 19. ed. So Paulo: Saraiva, 2007, p. 434.
363
126
est permitido cumpri-la. Seja como for, retendo-se a conduta obrigatria, sua
permissibilidade estar necessariamente implcita, sendo redundante a construo. Por outro
lado (Pp
366
BATISTA JNIOR, Onofre Alves. Transao no Direito Tributrio, Discricionariedade e Interesse Pblico.
In Revista Dialtica de Direito Tributrio 83, 2002, p. 122.
367
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributrio. 19. ed. So Paulo: Saraiva, 2007, p. 406-407.
127
TEIXEIRA DE FREITAS, Augusto. Consolidao das Leis Civis. 3. ed. Rio de Janeiro, 1875, p. 242.
Segundo a Professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro. Direito Administrativo. 18. ed. So Paulo: Atlas, 2001,
p. 225. Despacho o ato administrativo que contm deciso das autoridades administrativas sobre assunto de
interesse individual ou coletivo submetido sua apreciao.
370
MACHADO, Hugo de Brito. Transao e Arbitragem no mbito tributrio. In Revista Frum de Direito
Tributrio - RFDT. Ano 5, n. 28, jul./ago. 2007. Belo Horizonte: Frum, p. 61.
371
CAIRO, R. La Mdiation Penale. Paris:1997, apud ROSEMBUJ, Tlio. La Transaccion Tributria.
Barcelona: Atelier, 2000, p. 49. Traduo da autora. No original: La transaccin penal tributria se inscribe en
un ms vasto proceso que embarga la transformacin de un modelo conflictual y punitivo en uno consensual y
reparador: justicia negociada o restaurativa que hace de la represin penal un compromiso mutuo: una forma
de ejecucin de una sancin aplicable mediante acuerdo.
369
128
372
MACHADO, Hugo de Brito. Transao e Arbitragem no mbito tributrio. In Revista Frum de Direito
Tributrio - RFDT. Ano 5, n. 28, jul./ago. 2007. Belo Horizonte: Frum, p. 60.
373
Ibid.
129
Dispe o art. 141 do CTN que o crdito tributrio regularmente constitudo somente se
modifica ou extingue, ou tem sua exigibilidade suspensa ou excluda, nos casos previstos
nele, fora dos quais no podem ser dispensados, sob pena de responsabilidade funcional na
forma da lei, a sua efetivao ou as respectivas garantias.
Entretanto, esclarece o professor Paulo de Barros Carvalho: Ao referir-se a crdito
regularmente constitudo, o comando do art. 141 quis aludir ao crdito lquido, j
devidamente determinado no seu quantum, estando, portanto, em condies de ser reclamado
do devedor. Sempre que o legislador do Cdigo menciona constituir o crdito reporta-se ao
ato jurdico administrativo do lanamento, em que o agente pblico, aplicando a lei ao caso
concreto, formaliza a obrigao tributria. Desse modo, fica patente que as modificaes
verificadas no crdito j formalizado (nica maneira que nos parece possvel cogitar de sua
existncia) ho de ser promovidas, exclusivamente, sob o manto da Lei n 5.172/66. O
funcionrio da Administrao Tributria est impedido de dispensar a efetivao do crdito
ou as respectivas garantias, sob pena de responsabilidade funcional, na forma da lei. Na
implicitude dessa mensagem prescritiva, vemos o magno princpio da indisponibilidade dos
interesses pblicos, um dos fundamentos do direito administrativo. 375
Afirma, portanto, o citado mestre que o processo de positivao do ato jurdico
administrativo do lanamento que formaliza a obrigao tributria vinculado. Entretanto,
como anteriormente, reiteramos que, uma vez constituda a obrigao tributria, ela um bem
pblico que pode ser objeto de transao, conforme determinao legal.
Como podemos destacar, [...] a Administrao Pblica, por um lado, exerce quer
poderes vinculados, quer poderes discricionrios e, por outro, pratica actos administrativos
374
ROSEMBUJ, Tlio. La Transaccion Tributria. Barcelona: Atelier, 2000, p. 49. Traduo da autora. No
original: No se trata de reparar el dao causado mediante indemnizacin o resarcimiento. Al contrario, se
castiga al infractor como consecuencia de su conducta ilegal, sin el propsito de restablecer el derecho
vulnerado o resarcir el dao que provoca. La transaccin recoge la idea de la reparacin mediante el consenso
con la finalidad de restablecer el orden jurdico perturbado y recuperar recursos sustrados a la Hacienda
Pblica; evitando la judicializacin que, en su defecto, se produce.
375
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributrio. 19. ed. So Paulo: Saraiva, 2007, p. 399.
130
normalmente caracterizados por uma banda vinculada e por uma margem discricionria,
poder-se- defender que a rea de indisponibilidade ou de disponibilidade daqueles poderes
ou daqueles actos, do ponto de vista da Administrao Pblica, coincidir, respectivamente,
com aquilo que for vinculado ou com aquilo que tiver natureza discricionria. Neste sentido,
escreve Srvulo Correia que o carter disponvel ou indisponvel do poder da Administrao
resulta da natureza vinculada ou discricionria do poder de definio do contedo da situao
jurdica administrativa. 376
Portanto, a lei que instituir a transao estabelecer o carter mais ou menos vinculado
e a discricionariedade a que estar sujeito o processo administrativo da transao.
Dessa forma, a transao da obrigao no direito tributrio ocorreria em um processo
administrativo, devidamente fundamentado, em que se analisariam as questes de fato ou de
direito sobrevindas no produto e no processo de positivao do direito.
Em relao a esse aspecto, ensina o professor Paulo de Barros Carvalho que a questo
de fato seria uma questo de ordem intranormativa, enquanto a questo de direito seria de
ordem internormativa.
A questo de fato um problema no interior da norma, mais especificamente no
relato de um acontecimento do mundo real (evento): ocorre ou por falta de dados ou por falha
na construo lingstica. um vcio nas provas, no enunciado lingstico que relata um
evento passado, constitudo de acordo com as regras jurdicas.
Por outro lado, a questo de direito seria um vcio de subsuno, ou seja, um
dilema entre a norma individual e concreta ou seu veculo introdutor e a norma geral e
abstrata.
Como exemplo disso, cite-se o caso de um lanamento tributrio ou de um AII, normas
individuais e concretas que buscaram seu fundamento de validade na norma N, quando, na
verdade, deveria subsumir-se a norma N; trata-se, portanto, de um vcio no enquadramento
legal.
A questo de direito uma incompatibilidade que envolve duas ou mais normas, sendo
uma a regra individual e concreta ou seu veculo introdutor, e outra, necessariamente, a regra
geral e abstrata. A questo de fato, por sua vez, um problema interno na formao do relato
dos eventos: h um desajuste de linguagem que se verifica no interior de uma nica norma
individual e concreta ou veculo introdutor.
376
ESQUIVL, Jos Lus. Os Contratos Administrativos e a Arbitragem. Coimbra: Almedina, 2004, p. 215.
131
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributrio: Fundamentos jurdicos da incidncia. 3. ed. So Paulo:
Saraiva, 2004, p. 92.
132
Os termos de uma possvel transao sobre os fatos para eliminar uma situao de incerteza,
no que diz respeito a estes, exigem que tal situao seja submetida arbitragem, se ambas as
partes constatam a impossibilidade de resolv-la por outros meios. 2. A Fiscalizao no deve
ter poderes de sano. Estes devem ser atribudos a rgos independentes da Fiscalizao por
meio de um procedimento separado; as sanes no devem ser executadas at que sejam
certas e, certamente, devem estar sempre sujeitas reviso judicial.378
Fazemos aqui uma grave advertncia sobre a norma geral e abstrata que instituir a
transao; valem, para isso, as palavras da professora Ldia Maria Lopes Rodrigues Ribas: A
recepo legal da transao no ordenamento exige a eliminao de qualquer margem de
discricionariedade da Administrao, devendo a lei pormenorizar os supostos, o alcance e
extenso em que ela ser pertinente. No demais lembrar que se assim no for, diante da
debilidade crescente do setor pblico em muitos pases em processo de desenvolvimento,
diante da presso de certas corporaes econmicas nacionais e multinacionais, poderia o
Fisco vir a admitir transaes no desejadas para a sociedade. H que se regular o instituto da
transao, dando-lhe transparncia, estruturando-a de maneira a no colidir com os princpios
da legalidade, igualdade e com o carter de indisponibilidade do crdito tributrio e a
estabelecer limites objetivos, dentro dos quais a Administrao e os administrados possam
celebrar acordos sobre aspectos concretos de fato, de difcil identificao ou prova, que
componham pressupostos para a constituio do crdito tributrio. um instituto que deve
estar rodeado de requisitos que impeam a discricionariedade da Administrao.379
So as palavras do professor Hugo de Brito Machado que nos fazem encerrar este
captulo: Tudo nos leva a crer que a oficializao de um procedimento para a celebrao da
transao no mbito do lanamento tributrio ter mais vantagens do que inconvenientes, e
por isto somos favorveis a tal providncia.380
378
LAPATZA, J.J. Ferreiro. Arbitraje Sobre Relaciones Tributrias. In Convencin Y Arbitraje en nel Derecho
Tributrio. Madrid: Marcial Pons, 1996, p. 265. Traduo da autora. No original: 1 No cabe transaccin sobre
los hechos descubiertos o comprobados por la Inspeccin. Los trminos de una posible transaccin sobre
hechos para eliminar una situacin de incertidumbre respecto a los mismos ha de ser sometida, si ambas partes
constatan la imposibilidad de despejar por otros medios tal situacin de incertidumbre, a un arbitraje.
2. La Inspeccin no debe tener facultades sancionadoras. Las facultades sancionadoras deben ser atribuidas a
rganos independientes de la Inspeccin a travs de un procedimiento separado; las sanciones no deben ser
ejecutivas hasta que sean firmes y, claro est, deben quedar siempre sujetas a la revisin judicial.
379
RIBAS, Ldia Maria Lopes Rodrigues. Mecanismos alternativos na soluo de conflitos em matria tributria.
In Revista Tributria e de Finanas Pblicas, ano 11, n. 49, maro/abril. So Paulo: Revista dos Tribunais,
2003, p. 53.
380
MACHADO, Hugo de Brito. Transao e Arbitragem no mbito tributrio. In Revista Frum de Direito
Tributrio - RFDT. Ano 5, n. 28, jul./ago. 2007. Belo Horizonte: Frum, p. 66.
133
CAPTULO V - DA ARBITRAGEM
381
FARIA, Antonio Bento de. Codigo Commercial Brazileiro Anotado. Rio de Janeiro: Jacintho Ribeiro dos
Santos editor, 1912, p. 861.
382
TEIXEIRA DE FREITAS, Augusto. Consolidao das Leis Civis. 3. ed. Rio de Janeiro: 1875, p. 275-276.
134
O Cdigo Civil de 1916 disciplinava o instituto no Ttulo II, dentre os efeitos das
obrigaes (arts. 1.037 a 1.048). O Cdigo de Processo Civil disps sobre o mecanismo nos
arts. 1.072 a 1.102, entre os procedimentos especiais de jurisdio contenciosa. A Lei n
9.307/96, entretanto, retirou do ordenamento, expressamente, esses dispositivos no art. 44.
O professor Carlos Alberto Carmona conceitua arbitragem como meio alternativo de
soluo de controvrsias atravs da interveno de uma ou mais pessoas que recebem seus
poderes de uma conveno privada, decidindo com base nela, sem interveno estatal, sendo a
deciso destinada a assumir a mesma eficcia da sentena judicial colocada disposio
de quem quer que seja, para soluo de conflitos relativos a direitos patrimoniais acerca dos
quais os litigantes possam dispor.383
Para os professores argentinos Susana Camila Navarrine e Ruben O. Asorey, a
arbitragem uma funo de tipo jurisdicional, a cargo de juzes que as partes escolhem de
modo privado e a cuja deciso se submetem, aceitando-a como obrigatria e qual a lei
confere a autoridade de coisa julgada e executoriedade prpria das decises dos rgos
jurisdicionais. A arbitragem no nada mais nem nada menos que pura tcnica. No se deve,
conseqentemente, constituir uma filosofia e em alguns casos at uma certa poesia em seu
entorno. uma simples tcnica e, como tal, deve ser divulgada e conhecida para a sua melhor
utilizao.384
Jos Lus Esquivl, por sua vez, afirma que a arbitragem [...] pode ser entendida
como um meio de resoluo de litgios fora dos quadros dos tribunais que integram a justia
oficial ou dos tribunais do Estado, tambm designada por jurisdio pblica. Na arbitragem,
as partes em litgio, em vez de se dirigirem a estes ltimos tribunais, submetem o litgio
apreciao de terceiros (os rbitros), os quais, por fora da lei, actuam como um verdadeiro
tribunal, tendo as respectivas decises a natureza de sentena, com fora de caso julgado.385
Para a professora Paula Vicente-Arche Coloma, em uma primeira aproximao,
poderamos convir que a arbitragem uma tcnica por meio da qual duas partes, que se
enfrentam numa mesma questo presente ou futura, decidem, de comum acordo, submeter a
383
CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e Processo: um comentrio Lei n.9.307/96. So Paulo: Atlas,
2006, p. 51.
384
NAVARRINE, Susana Camila; ASOREY, Ruben O. Arbitraje - Jusrisdiccion Arbitral em Controversias com
el Estado, processo arbitral em cuestiones tributarias. Buenos Aires: La Ley, 1992, p. 12. Traduo da autora.
No original: Es una funcin de tipo jurisdiccional, a cargo de jueces, que las partes eligen en forma privada y
a cuya decisin se someten y aceptan como obligatoria y la ley le confiere la autoridad de cosa juzgada y
ejecutoriedad propia de las decisiones de los rganos jurisdiccionales.
El arbitraje no es nada ms ni nada menos que pura tcnica. No vale, en consecuencia constituir una filosofia y
en algunos una verdadera poesa en su torno. Es una simple tcnica y en cuanto tal, hay que divulgarla y
conocerla para su mejor utilizacin.
385
ESQUIVL, Jos Lus. Os Contratos Administrativos e a Arbitragem. Coimbra: Almedina, 2004, p. 75-76.
135
136
quele contrato arbitragem. Se apesar de firmada, houver resistncia por uma das partes
quanto instituio da arbitragem, o interessado pode requerer a sua citao para comparecer
em juzo para lavrar o compromisso na audincia designada para esse fim. 391
b) compromisso, [...] que um contrato em que as partes se obrigam a remeter o litgio
surgido entre elas ao julgamento de rbitros, contendo a nomeao deles, a indicao do
litgio e os limites da res judicata arbitral.392
Ainda segundo Maria Helena Diniz, h uma acepo de arbitragem no mbito do Direito
Processual Trabalhista; trata-se, no caso, da forma heternoma do conflito coletivo de
trabalho, pois a soluo do litgio ser dada por terceiro (rbitro), pronunciando deciso
vinculativa (Ruprecht).393
Note-se que esta ltima noo de arbitragem vlida tanto no campo do Direito Privado
como no domnio do Direito Pblico, especialmente no do Direito Administrativo e
Tributrio.
Quanto natureza jurdica da arbitragem, esta vem sendo analisada, sobretudo, por
quatro correntes: contratualista, jurisdicional, hbrida e parajurisdicional.
Para a corrente "contratualista", cujo precursor Chiovenda, a arbitragem um instituto
de natureza contratual, consubstanciando um negcio jurdico e uma manifestao da
autonomia privada das partes no que diz respeito s suas relaes jurdicas disponveis.
Para a corrente "jurisdicional", a arbitragem tem natureza judicial, porque os rbitros se
equiparam aos juzes. O fato implica que as decises destes valham como verdadeiras
sentenas, passveis de recurso jurisdicional, desde que no transitadas em julgado e
suscetveis de constiturem ttulo executivo.
Nesse sentido, observem-se as palavras de J. E. Carreira Alvim, ao referir a opinio do
jurisconsulto italiano Mortara: Na Itlia, o clssico Mortara via na arbitragem a natureza
jurisdicional, ao sustentar que os rbitros so investidos de jurisdio, pelo que a lei lhes
concede o cumprimento de ato de soberania; se este poder no lhes atribudo em toda a sua
plenitude, nem por isso se altera a sua natureza. Em outras palavras, quando os rbitros
examinam e decidem um litgio, a sua atividade, nos limites que lhes so atribudos, em tudo
e por tudo da mesma natureza daquela atribuda aos magistrados oficiais. O seu dever o de
391
DINIZ, Maria Helena. Dicionrio jurdico. 2. ed. So Paulo: Saraiva, 2005, p. 294, v.1.
Ibid.
393
Ibid.
392
137
da
Repblica
aos
institutos
processuais.
Isso
implica
tambm,
394
138
Do nosso ponto de vista, julgamos que a teoria hbrida a que melhor integra as
vertentes contratuais (art. 1 da lei da arbitragem399) e jurisdicionais (art. 31 da referida lei400).
5.2 Do Objeto
399
Lei n 9.307, de 23 de setembro de 1996: Art. 1 - As pessoas capazes de contratar podero valer-se da
arbitragem para dirimir litgios relativos a direitos patrimoniais disponveis. (grifo nosso)
400
Lei n 9.307, de 23 de setembro de 1996: Art. 31 - A sentena arbitral produz, entre as partes e seus
sucessores, os mesmos efeitos da sentena proferida pelos rgos do Poder Judicirio e, sendo condenatria,
constitui ttulo executivo. (grifo nosso)
401
CRETELLA NETO, Jos. Comentrios lei de arbitragem brasileira. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 38.
402
SILVA, De Plcido e. Vocabulrio Jurdico. (Atualizadores: Nagib Slaibi Filho e Glucia Carvalho). Rio de
Janeiro: Forense, 2004, p. 1040.
403
CRETELLA NETO, Jos. Comentrios lei de arbitragem brasileira. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 3839.
139
404
GROPALLI, Alessandro. Introduo ao Estudo do Direito. Coimbra: Almedina, 1968, p. 168-170, apud
CRETELLA NETO, Jos. Comentrios lei de arbitragem brasileira. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 39.
405
Art. 331 da Lei n 5.869, de 11 de janeiro de 1973: Se no ocorrer qualquer das hipteses previstas nas
sees precedentes, e versar a causa sobre direitos que admitam transao, o juiz designar audincia preliminar,
a realizar-se no prazo de 30 (trinta) dias, para a qual sero as partes intimadas a comparecer, podendo fazer-se
representar por procurador ou preposto, com poderes para transigir. (Redao dada pela Lei n 10.444, de
7.5.2002)
406
CARREIRA ALVIM, J. E. Cdigo de Processo Civil Reformado. 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 1995, p.
137-138, apud ALVIM, J. E. Carreira. Comentrios lei de arbitragem. Curitiba: Juru, 2007, p. 48.
407
Ibid., p. 141.
140
italiana, francesa, espanhola, argentina etc.), que, sem discrepncia, limitam a arbitragem
categoria das questes sobre as quais a lei permita a transao.408
O Decreto n 3.900, de 26 de junho de 1867, que regulava o Juizo Arbitral do
Commercio, j dispunha em seu art. 4 esse conceito: Podem fazer compromisso todos os
que podem transigir.
Para Susana Camila Navarrine e Ruben O. Asorey, Os Tribunais Arbitrais podem atuar
em qualquer controvrsia ligada ao direito privado ou direito pblico, desde que a matria
arbitrvel no sofra proibies do Cdigo Civil ou Processual. No direito privado no so
arbitrveis as questes de famlia e o estado das pessoas. No direito pblico no sero
submetidas arbitragem as questes que no podem ser objeto de Conveno ou de
transao.409
5.3 Da Capacidade
408
CARREIRA ALVIM, J. E. Cdigo de Processo Civil Reformado. 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 1995, p.
137-138, apud ALVIM, J. E. Carreira. Comentrios lei de arbitragem. Curitiba: Juru, 2007, p. 47.
409
NAVARRINE, Susana Camila; ASOREY, Ruben O. Arbitraje - Jusrisdiccion Arbitral em Controversias com
el Estado, processo arbitral em cuestiones tributarias. Buenos Aires: La Ley, 1992, p. 81. Traduo da autora.
No original: Los Tribunales Arbitrales pueden actuar en cualquier controversia vinculada con el derecho
privado o derecho pblico siempre que la "materia arbitrable" no exceda alguna de las prohibiciones del
Cdigo Civil o Procesal. En el derecho privado no son arbitrables las cuestiones de familia y el estado de las
personas. En el derecho pblico no se sometern a arbitraje las cuestiones que no pueden ser objeto de
Convencin o transaccin.
410
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Traduo de Joo Batista Machado. So Paulo: Martins Fontes,
1998, p.193.
141
411
CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e Processo: um comentrio Lei n. 9.307/96. So Paulo: Atlas,
2006, p. 55.
412
CRETELLA NETO, Jos. Comentrios lei de arbitragem brasileira. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 29.
142
413
MIRANDA, Pontes de. Tratado de Direito Privado. Campinas: Bookseller, 2003, p. 363-364. t. XXVI.
CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e Processo: um comentrio Lei n. 9.307/96. So Paulo: Atlas,
2006, p. 62-63.
415
LEMES, Selma Ferreira. Arbitragem na Administrao Pblica - Fundamentos Jurdicos e Eficincia
Econmica. So Paulo: Quartier Latin, 2007, p. 63.
416
Caso Lage: AI 52181 / GB GUANABARA - AGRAVO DE INSTRUMENTO - Relator: Min. BILAC
PINTO - Julgamento: 14/11/1973 - rgo Julgador: TRIBUNAL PLENO.
417
CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e Processo: um comentrio Lei n. 9.307/96. So Paulo: Atlas,
2006, p. 62.
414
143
418
144
CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e Processo: um comentrio Lei n.9.307/96. So Paulo: Atlas,
2006, p. 52.
423
GORDILLO, Agustn. Tratado de Derecho Administrativo. 4. ed. Buenos Aires: Fundacin de Derecho
Administrativo, 2000, p. XVII-3. v. 2Traduo da autora. No original: I.- En el caso del rbitro tercero como
persona nica, fsica o jurdica, designada ad hoc para un caso, cabe distinguir distintos supuestos: a) los
arbitrajes libremente pactados entre particulares, b) los dispuestos imperativamente por el Estado reservndose
l el rol de rbitro, c) los mecanismos especiales de resolucin de cuestiones por el mismo juez dentro deI
proceso judicial, d) cuestiones de arbitraje internacional en que son partes dos Estados, e) asuntos en que el
Estado y un nacional son parte ante un rbitro nacional, f) casos en que el Estado es parte y se recurre al
arbitraje internacional porque se trata de un inversor extranjero, etc.
II.- Un tribunal colegiado, ad hoc o permanente.
145
deciso de mrito faz coisa julgada s partes entre as quais dada (e no beneficiar ou
prejudicar terceiros). Sendo condenatria, a sentena arbitral constituir ttulo executivo, e
permitir a constituio de hipoteca judicial.424
Mas, como bem observa J. E. Carreira Alvim, o primeiro efeito da sentena tornar
certa a relao (ou situao) jurdica incerta, com que o juiz cumpre e acaba o ofcio
jurisdicional (art. 463). Mas, alm desse efeito formal da sentena, produz ela tambm efeitos
materiais to importantes quanto o primeiro. A sentena meramente declaratria cria a certeza
sobre a relao (situao) jurdica deduzida em juzo; a sentena constitutiva opera a criao,
modificao ou extino da relao (situao) jurdica entre as partes; a sentena condenatria
impe ao vencido uma prestao, gerando ttulo executivo em favor do vencedor e produz
ainda a hipoteca judiciria (art. 466). Esses efeitos resultam tanto da sentena judicial quanto
da arbitral, mas tanto esta quanto aquela s podem ser executadas jurisdicionalmente, e a est
a garantia dos princpios do devido processo legal (due process of law) e da inafastabilidade
do Poder Judicirio.425
Segundo o professor Jos Cretella Neto, a lei estabelece que a sentena arbitral
dotada de dois tipos de efeitos: a) entre as partes e seus sucessores, produz os mesmos efeitos
da sentena condenatria judicial; e b) se condenatria, constitui ttulo executivo. Produzir os
mesmos efeitos significa que, ao ser validada como ente proferida, poder criar, estabelecer,
modificar ou extinguir as relaes jurdicas entre as partes, acerca das quais havia litgio, e
esses efeitos transmitem-se aos respectivos sucessores.426
Note-se que, depois de proferida a sentena arbitral, caso no ocorra nenhum incidente
processual, esgotam-se os poderes do rbitro, porm, ao contrrio do que hoje ocorre com as
sentenas condenatrias de obrigao de fazer, no fazer e de entregar coisa (que no ensejam
mais execuo em sentido estrito, mas mero cumprimento), a sentena arbitral condenatria,
no importa seu contedo, ser sempre ttulo executivo judicial.427
Em suma, os efeitos que a sentena arbitral produz so os seguintes: a) tornar certa a
relao (situao) jurdica incerta; b) pr fim atividade arbitral; c) constituir ttulo executivo,
se condenatria; d) sujeitar o devedor execuo; e e) produzir hipoteca judiciria.428
424
CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e Processo: um comentrio Lei n 9.307/96. So Paulo: Atlas,
2006, p. 314.
425
ALVIM, J. E. Carreira. Comentrios lei de arbitragem. Curitiba: Juru, 2007, p. 63.
426
CRETELLA NETO, Jos. Comentrios lei de arbitragem brasileira. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 169.
427
CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e Processo: um comentrio Lei n 9.307/96. So Paulo: Atlas,
2006, p. 314.
428
ALVIM, J. E. Carreira. Comentrios lei de arbitragem. Curitiba: Juru, 2007, p. 64.
146
OLIVEIRA, Ana Perestrelo de. Arbitragem de litgios com entes pblicos. Coimbra: Almedina, 2007, p. 46.
ESQUIVL, Jos Lus. Os Contratos Administrativos e a Arbitragem: Coimbra: Almedina, 2004, p. 135.
431
Ibid., p. 135-154.
432
OLIVEIRA, Ana Perestrelo de. Arbitragem de litgios com entes pblicos. Coimbra: Almedina, 2007, p. 46.
430
147
433
GORDILLO, Agustn. Tratado de Derecho Administrativo. 4. ed. Buenos Aires: Fundacin de Derecho
Administrativo, 2000, p. XVII-4. v. 2. Traduo da autora. No original: El Estado no tiene objeciones y cuando
l es el rbitro, sea esto para usuarios y consumidores, en materia tributaria, 1aboral, etc.
434
Ibid., p. XVII-13. Traduo da autora. No original: Puede tambin admitir al arbitraje, siendo l parte y no
juez, en cuestiones de hecho o tcnicas, no de derecho: hidrocarburos, los aspectos tcnicos y econmicos en
materia de contratos administrativos, u otros temas conexos.
435
LEMES, Selma Ferreira. Arbitragem na Administrao Pblica: Fundamentos Jurdicos e Eficincia
Econmica. So Paulo: Quartier Latin, 2007, p. 63.
148
149
438
ESQUIVL, Jos Lus. Os Contratos Administrativos e a Arbitragem. Coimbra: Almedina, 2004, p. 215.
Sinaxe a parte da gramtica que estuda a disposio das palavras na frase e suas relaes lgicas.
440
Adjunto adnominal o termo de valor adjetivo que serve para especificar ou delimitar o significado de um
substantivo, qualquer que seja a funo deste. (CUNHA, Celso; CINTRA, Lus F. Lindley. Nova gramtica do
portugus contemporneo. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985, p. 145.)
O adjunto adnominal liga-se a um nome, com ou sem preposio, sem a mediao de verbo. (SAVIOLI,
Francisco Plato. Gramtica em 44 Lies. 28. ed. So Paulo: tica, 1997, p. 39.)
439
150
tribunais arbitrais sero a nica resposta perante essa evoluo, e neste contexto aparece a
matria impositiva como a mais rica para ser arbitrvel.441
Para o professor J.J. Ferreiro Lapatza, a introduo da tcnica da arbitragem como
um dos elementos que melhorariam a situao atual do procedimento de gesto e resoluo de
controvrsias entre Administrao e contribuintes neste processo, deve partir [...] dos
seguintes princpios: [...] o contribuinte deve ter direito a uma soluo arbitral e vinculante
pelo menos nas quatro hipteses seguintes: a) Quando se aplicar uma presuno (como
maneira de reduzir o peso da prova). b) Quando se aplicar um conceito jurdico indeterminado
como o de valor de mercado (por exemplo, nas hipteses de preos de transferncia). c) Nas
hipteses de avaliao indireta. d) Nas hipteses de aplicao dos arts. 24 e 25 LGT. Em todas
essas hipteses [...] a arbitragem deve ser vinculante. evidente, por outro lado, que a
arbitragem, como tcnica de resoluo de conflitos, em nada ataca o princpio da
indisponibilidade da relao tributria.442
A arbitragem tributria pode ser definida como [...] mtodo voluntrio
heterocompositivo de resoluo de conflitos intersubjetivos propostos em matria fiscal, no
qual um ou vrios rbitros resolvem o litgio suscitado, de maneira definitiva, por meio da
aplicao do Direito.443
Outro obstculo a ponderar a natureza jurdica da obrigao tributria: obrigao ex
lege, de carter pblico, indisponvel e irrenuncivel, incompatvel, primeira vista, com a
arbitragem. Efetivamente, na estrutura de relao obrigacional em causa, as partes credora e
441
FALCN Y TELLA, Ramn. Las soluciones arbitrales en el mbito internacional. In Convencin Y Arbitraje
en el Derecho Tributrio. Madrid: Marcial Pons, 1996, p. 257. Traduo da autora. No original: Quizs llame
la atencin el adjetivo tributario predicado del arbitraje, pues a primera vista pudiera parecer que la reserva de
ley y la indisponibilidad del crdito tributario excluyen este mecanismo de solucin de conflictos en relacin con
los tributos. Sin embargo, como indican Susana CAMILA NAVARRINE Y Rubn O. ASOREY, a consecuencia
del fenmeno de privatizacin que afecta a todo el Derecho pblico el papel excluyente de la justicia ordinaria,
como nica competente para dirimir cuestiones en que el Estado era parte, dej de tener exclusividad y
relevancia. Por eso tambin los tribunales arbitrales sern la nica respuesta frente a esa evolucin. y en este
contexto aparece la materia impositiva como la de mayor riqueza para ser arbitrable.
442
LAPATZA, J.J. Ferreiro. Arbitraje Sobre Relaciones Tributarias. In Convencin Y Arbitraje en nel Derecho
Tributrio. Madrid: Marcial Pons, 1996, p. 264-265. Traduo da autora. No original: La introduccin de la
tcnica del arbitraje como una de las piezas que mejoraran la situacin del actual procedimiento de gestin y
de resolucin de controversias entre Administracin y contribuyentes dentro de este proceso, debe partir, [...],
de los siguientes principios: [...] El contribuyente ha de tener derecho a una solucin arbitral y vinculante al
menos en los cuatro supuestos siguientes: [...] a) Cuando se aplique una presuncin (como modo de reducir el
peso de la carga de la prueba). b) Cuando se aplique un concepto jurdico indeterminado tal como el de valor
de mercado (por ej. en los supuestos de precios de transferencia). c) En los supuestos de estimacin indirecta.
d) En los supuestos de aplicacin de los arts. 24 y 25 LGT. En todos estos supuestos, [...], el arbitraje debe ser
vinculante. Resulta obvio, por lo dems, que el arbitraje en cuanto tcnica de resolucin de conflictos en nada
ataca al principio de indisponibilidad de la relacin tributaria.
443
COLOMA, Paula Vicente-Arche. El Arbitraje en el Ordenamiento Tributario Espanol: Una Propuesta.
Madrid: Marcial Pons, 2005, p. 99. Traduo da autora. No original: [...] mtodo voluntario heterocompositivo
de resolucin de conflictos intersubjetivos planteados en materia tributaria, en el que uno o varios rbitros
resuelven el litigio planteado, de manera definitiva, mediante la aplicacin del Derecho.
151
OLIVEIRA, Ana Perestrelo de. Arbitragem de litgios com entes pblicos. Coimbra: Almedina, 2007, p. 9496.
445
Ibid.
446
COLOMA, Paula Vicente-Arche. El Arbitraje en el Ordenamiento Tributario Espanol: Una Propuesta.
Madrid: Marcial Pons, 2005, p. 54. Traduo da autora. No original: [...] una cosa es que la obligacin
tributaria, sus elementos esenciales, su nacimiento, as como las reglas para su correcta aplicacin, sean materias
reservadas a la Ley - quedando excluida por tanto, la intervencin de la voluntad de las partes -, y otra muy
distinta es que, ante la existencia de una controverSia entre la Administracin y el obligado tributario, ambos
sujetos decidan encomendar su resolucin a un tercero-rbitro.
152
447
Ibid. Traduo da autora. No original: [...] las partes no disponen de la obligacin tributaria, porque sta ya
ha nacido, se ha aplicado y desarrollado de acuerdo con el mandato establecido en la Ley. Lo nico que sucede
es que, ante la existencia de un conflicto, los intervinientes en dicha obligacin, en vez de solucionar el litigio a
travs de los cauces ordinarios de los recursos y reclamaciones administrativas, deciden someter la
controversia a la autoridad de un rbitro, que se presenta como tercero a las partes, obligndose a acatar la
decisin que este ltimo adopte.
448
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 18. ed. So Paulo: Atlas, 2004, p. 73.
153
449
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributrio: Fundamentos jurdicos da incidncia. 3. ed. So Paulo:
Saraiva, 2004, p. 217.
450
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributrio: Fundamentos jurdicos da incidncia. 3. ed. So Paulo:
Saraiva, 2004, p. 216.
154
451
CASTRO NUNES, Jos de Castro. Da Fazenda Pblica em Juzo. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1950, p.
280.
452
Ibid., p. 282.
155
Relembramos que, para o direito posto alcanar seu objetivo de regular a conduta das
pessoas, necessita de regras que devem estabelecer direta ou indiretamente o comportamento
humano. Assim, as regras de comportamento determinam a conduta das pessoas, nas suas
relaes intersubjetivas; as regras de estrutura, por sua vez, dispem acerca dos
procedimentos dos rgos pblicos e estabelecem o modo como as regras devem ser criadas,
transformadas ou suprimidas do sistema.
Portanto, duas so as espcies de normas gerais e abstratas que devero ser editadas
para viabilizar a arbitragem:
a) a norma de comportamento, que deve estabelecer as propriedades das obrigaes
tributrias, isto , servir para disciplinar o produto arbitragem;
b) a norma de estrutura, que deve estabelecer as propriedades das competncias e os rgos,
isto , servir para disciplinar o processo arbitragem.
A norma que disciplinar o produto arbitragem dever descrever todos os elementos da
regra matriz de incidncia tributria que podem ser submetidos arbitragem.
A norma deve respeitar o interesse geral e no diminuir a represso s infraes, que
devem continuar sendo penalizadas. Assim, deve estabelecer que as diminuies ou extines
no podem ter como efeito permitir aos contribuintes obter um desconto maior, no que diz
respeito ao pagamento dos seus impostos, do que aqueles que podem eventualmente obter no
sistema financeiro, por exemplo.
Por outro lado, a hierarquia de sanes, fixada pelo legislador em funo da gravidade
de cada infrao, no deveria normalmente ser alterada pela arbitragem ou transao; o
contribuinte de boa-f deve ser apenado com menor severidade do que aquele que age com
propsitos ilcitos. Entre a boa-f manifesta e a operao fraudulenta caracterstica,
conveniente lugar para circunstncias mais ou menos atenuantes, passveis de influenciar a
sano a ser imposta. A sano legal poder ou no ser atenuada, conforme as caractersticas
de cada caso.
Alm da sinceridade do contribuinte, deve-se levar em considerao a quantia
sonegada e o grau de dissimulao, verificando-se a existncia de antecedentes litigiosos das
partes interessadas, a extenso da responsabilidade destas e a possibilidade de terem se
equivocado na interpretao da lei. Entretanto, nada impede que, em casos excepcionais,
possa, mesmo, ocorrer a diminuio da sano.
Para se definir qual ser a autoridade administrativa competente para resolver a
matria de arbitragem, deve-se considerar o montante da obrigao tributria e, em hipteses
156
DE
HENRIQUE
IRRECORRIBILIDADE.
JUROS
LAGE.
DA
JUZO
ARBITRAL.
CLUSULA
DE
MORA.
CORREO
MONETRIA.
1.
AI 52181 / GB GUANABARA - AGRAVO DE INSTRUMENTO - Relator: Min. BILAC PINTO Julgamento: 14/11/1973 - rgo Julgador: TRIBUNAL PLENO.
157
158
sujeitos passivos e o Estado no precisam mais esperar longos perodos para resolver as suas
demandas.
Convm destacar, ainda, outros aspectos positivos decorrentes da aplicao da
arbitragem, como menor nmero de diligncias, custas advocatcias e judiciais mais baixas,
probabilidade de o juzo arbitral produzir coisa julgada.
Dessa forma, parece claro que os sujeitos da relao jurdica tributria teriam largas
vantagens de resolver as suas questes pela via da arbitragem.
importante sublinhar que as advertncias feitas em relao aos cuidados na edio da
norma geral e abstrata da transao se aplicam integralmente s normas da arbitragem.
Reafirmamos, portanto, nosso entendimento de que a arbitragem tributria possvel,
contudo reiteramos que essa possibilidade no um cheque em branco para o legislador.
Isso significa que a Administrao poder aplic-la somente em casos especiais. Alis,
preciso mencionar, ainda, que a inarbitrabilidade dos litgios fiscais no caracterstica
especfica do ordenamento positivo brasileiro, ao contrrio, [...] nos vrios Direitos
nacionais, apenas nos Estados Unidos da Amrica encontramos uma forma operativa
(peculiar) de arbitragem deste tipo de controvrsia. A chamada Tax Court Rule 124 prev, na
realidade, a submisso de litgios fiscais a rbitros, mediante acordo (sujeito a requisitos
definidos) entre o Internal Revenue Service (IRS) e o contribuinte,455 sendo esta matria foco
de nossa discusso, mais adiante.
De qualquer modo, no encontramos obstculos possibilidade de a Administrao
Tributria editar lei e utilizar, excepcionalmente, a arbitragem como forma de soluo de
litgio nos termos do art. 171 do CTN. Ainda assim, a soluo arbitral depende de lei
especfica e poder utilizar a lei n 9.307, de 23 de setembro de 1996, lei da arbitragem,
subsidiariamente.
Isso significa que, mesmo em reas tradicionalmente consideradas como
incompatveis com esse sistema, vislumbramos condies favorveis introduo e ao
desenvolvimento da arbitragem.
455
OLIVEIRA, Ana Perestrelo de. Arbitragem de litgios com entes pblicos. Coimbra: Almedina, 2007, p. 87.
159
456
160
O jurisconsulto portugus Jos Lus Esquivl, por seu turno, assim se manifesta sobre a
questo: [...] s afinidades, h que ter em considerao, por um lado, que quer a arbitragem,
quer a transaco constituem modos de resoluo de litgios, por outro lado, que ambas
exigem uma controvrsia entre as partes, como base de um litgio presente ou futuro, por
outro ainda, que ambas se encontram, em boa medida, dependentes da vontade das partes e,
por ltimo, que as vantagens associadas respectiva utilizao, como a celeridade, a
confidencialidade e um menor formalismo face aos tribunais da justia oficial, verificam-se
nas duas figuras.460
Em sntese, estas so as caractersticas fundamentais da transao, em sentido estrito:
1) autocomposio de interesses, uma vez que cabe s partes decidir as recprocas
concesses a serem efetuadas para resolver o litgio;
2) trmino de litgio mediante acordo entre as partes;
3) renncia ao exerccio do referido direito de cada uma das partes;
4) possibilidade de concretizao somente se cada uma das partes tiver conhecimento do
exato contedo da concluso;
5) norma individual e concreta;
6) possibilidade de interferncia direta na relao jurdica, no sentido de modific-la ou
extingui-la.
7) exigncia de concesses recprocas das partes.
460
ESQUIVL, Jos Lus. Os Contratos Administrativos e a Arbitragem. Coimbra: Almedina, 2004, p. 90.
161
461
LAPATZA, J.J. Ferreiro. Solucin Convencional de Conflictos em el mbito Tributario: uma Propuesta
Concreta. In TORRES, Heleno Taveira (coord.). Direito Tributrio Internacional Aplicado. v. 11, So Paulo:
Quartier Latin, 2004, p. 294.
462
Autoliquidation equivale a autolanamento ou norma individual e concreta introduzida pelo particular.
463
LAPATZA, J.J. Ferreiro. Solucin Convencional de Conflictos em el mbito Tributario: uma Propuesta
Concreta. In TORRES, Heleno Taveira (coord.) Direito Tributrio Internacional Aplicado. So Paulo: Quartier
Latin, 2004, p. 295. v. 1. Traduo da autora. No original: En efecto, dentro de los pases cuantitativamente
ms significativos en la U.E., Alemania es sin duda aquel que con ms firmeza ha mantenido el sistema
continental de declaracin y liquidacin administrativa. An as, la eficacia en la gestin, la descongestin de
los tribunales y la mejora en las relaciones de la administracin con los contribuyentes, han impuesto la va del
acuerdo - a travs de la llamada entrevista final, prevista y regulada en el art. 201 AO como solucin
alternativa a la resolucin judicial de los litigios.
162
6.2 Frana
O Cdigo Civil francs estabelece as normas sobre a transao em seu Livro III - Dos
diferentes modos de adquirir a propriedade - no Ttulo XV, nomeado Das transaes.
Segundo o art. 2044 do referido cdigo, a transao um contrato pelo qual as partes
pem termo a um litgio j existente ou evitam o surgimento de uma nova lide. Tal contrato
deve ser efetuado por escrito.
Note-se que, para transigir, necessrio que se tenha a capacidade de dispor dos
objetos compreendidos na transao. Convm ressaltar, por um lado, que possvel transigir
sobre a ao civil proveniente de um delito; por outro, que a transao no impede a atuao
do Ministrio Pblico.
464
LAPATZA, J.J. Ferreiro. Solucin Convencional de Conflictos em el mbito Tributario: uma Propuesta
Concret. In TORRES, Heleno Taveira (coord.). Direito Tributrio Internacional Aplicado. So Paulo: Quartier
Latin, 2004, p. 295. v.1. Traduo da autora. No original: [...] el sistema continental continua aplicndose al
IRPF mientras que la autoliquidacin se ha implantado decididamente en Sociedades e IVA. Las tradicionales
vas de transaccin en las sanciones, y de conciliacin y arbitraje a travs de las comisiones administrativas
han acompaado adecuadamente en el ordenamiento francs a la cada vez ms intensa aplicacin de las
autoliquidaciones.
465
RIBAS, Ldia Maria Lopes Rodrigues. Mecanismos alternativos na soluo de conflitos em matria tributria.
In Revista Tributria e de Finanas Pblicas, ano 11, n. 49, maro/abril. So Paulo: Revista dos Tribunais,
2003, p. 58.
163
466
DAZ-PALACIOS, Jos Alberto Sanz. Medidas fiscales con efecto reductor de la conflictividad en Francia.
La transaccin. In Tcnicas Convencionales en el mbito Tributario - Perspectivas de derecho interno,
comparado y comunitrio. Barcelona: Atelier, 2007, p. 61-62. Traduo da autora. No original: [...] la
Administracin y el contribuyente pueden estar de acuerdo al menos en un aspecto: resolver sus diferencias sin
recurrir a un proceso que, la mayor parte de las veces, ser largo y costoso, y cuyo resultado puede no ser
satisfactorio; la transaccin permite alcanzar una solucin rpidamente, en condiciones aceptables para ambas
partes. El contribuyente se compromete a cumplir la solucin admitida por la Administracin, y sta, por su
parte, consiente una atenuacin de sanciones.
164
A transao tributria na Frana tem por fundamento o art. 2044 do Cdigo Civil
aplicado ao regime tributrio (A transao fiscal aplicada ao direito tributrio um contrato
definido pelo art. 2044 do Cdigo Civil).467
Nesse sentido, Rosembuj se manifesta sobre o assunto: A transao um contrato
pelo qual a Administrao tributria e o contribuinte acordam concluir um litgio em curso ou
prevenir qualquer coisa que possa originar-se entre ambos, mediante concesses recprocas. A
transao um contrato entre a Administrao e o contribuinte sobre as sanes pecunirias
ou aumentos da dvida tributria, sempre que no sejam certos, excludos os juros de mora.
Assim mesmo, no transigvel a cota tributria do imposto (obrigao principal).468
A doutrina e a jurisprudncia se adaptaram transao civil. O Conselho de Estado
recebe uma minuta de transao firmada pelo contribuinte e aprovada pela Administrao que
no pode ser questionada, inclusive quanto quantia pactuada, [...] a aprovao se desprende
da assinatura administrativa no contrato. (art. 2052 de Cdigo civil) [...].469
Como concluso, ocorre a pacfica admisso do carter civil da transao tributria,
apresentando uma economia geral idntica da transao de direito comum. 470
Na Frana, o art. L247 do Livro dos Procedimentos Fiscais471 estabelece que a
Administrao pode decidir [...] por meio de transao a diminuio das sanes fiscais ou
sobre o aumento de impostos.
O mesmo art. estabelece que a Administrao pode decidir sobre o pedido do
contribuinte:
[...] 3 por meio de transao, possvel acordar sobre uma diminuio de multas
fiscais ou majoraes de impostos quando essas exaes no forem definitivas.
[...] Nenhuma autoridade pblica pode atribuir diminuio total ou parcial de taxas de
registro, taxa de publicidade fundiria, impostos de selo, de taxas sobre o volume de negcios,
contribuies indiretas e taxas assimiladas para estes direitos, taxas e as contribuies.
467
Lamy Fiscal (2006), nm. 8401, p. 1590, apud DAZ-PALACIOS, Jos Alberto Sanz. Medidas fiscales con
efecto reductor de la conflictividad en Francia. La transaccin. In Tcnicas Convencionales en el mbito
Tributario - Perspectivas de derecho interno, comparado y comunitrio. Barcelona: Atelier, 2007, p. 62.
468
ROSEMBUJ, Tlio. La Transaccion Tributaria. Barcelona: Atelier, 2000, p. 66. Traduo da autora. No
original: La transaccin es un contrato por el cual la Administracin tributaria y el contribuyente acuerdan
concluir una reclamacin en curso o que prevn pueda originarse entre ambas, mediante recprocas
concesiones. La transaccin es un contrato entre la Administracin y el contribuyente sobre las sanciones
pecuniarias o aumentos de la deuda tributaria, siempre que no sean firmes, excluidos los intereses de demora.
Asimismo, no es transigible la cuota tributaria del impuesto.
469
Ibid., p. 66. Traduo da autora. No original: [...] se adecuan a la transaccin civil. El Consejo de Estado
precisa que un proyecto de transaccin firmado por el contribuyente y aprobado por la Administracin no
puede cuestionarse, inclusive cuando la cantidad pactada, [...] la aprobacin se desprende de la fuma
administrativa en el contrato. (art. 2052 del Cdigo Civil) [...].
470
Ibid.
471
Vide anexo B.
165
Segundo o art. L248 do Livro dos Procedimentos Fiscais, as infraes podem ser
objeto de transao antes de propostas em uma ao judicial ou, nas condies fixadas no art.
L249, antes de julgamento definitivo.
Dispe o art. L249 que, em matria de contribuies indiretas, depois de uma ao
judicial ser posta em movimento pela Administrao ou pelo Ministrio Pblico, a
Administrao pode transigir apenas se a autoridade judicial admitir o princpio de uma
transao. O acordo de princpio dado pelo Ministrio Pblico quando a infrao
suscetvel a sanes fiscais ou a penalidades, segundo deciso do presidente do rgo. Aps
julgamento definitivo, as sanes fiscais pronunciadas pelos tribunais no podem ser objeto
de transao. Os pedidos de diminuio, total ou parcial, das sanes fiscais em razo dos
recursos e do cargo do devedor so instrudos pela Administrao e sujeitos ao presidente do
rgo jurisdicional que pronunciou a condenao. A diminuio somente possvel mediante
parecer do presidente do rgo jurisdicional.
Depois de concluda, a transao definitiva e impede que as partes em litgio possam
contestar o acordo num procedimento judicial. Dispe o art. L251 do Livro dos
Procedimentos Fiscais (Parte Legislativa) que, quando uma transao tornou-se definitiva,
aps cumprimento das obrigaes previstas e aprovao da autoridade competente, nenhum
procedimento contencioso pode mais ser comprometido ou retomado para incluir as
penalidades que foram objeto da transao ou dos direitos prprios. Se o contribuinte recusa a
transao que lhe foi proposta pela Administrao e leva ulteriormente o litgio a um tribunal
competente, este fixa a taxa das majoraes ou penalidades e, ao mesmo tempo, a base do
imposto.
O mecanismo de transao tem as seguintes etapas: o contribuinte solicita
Administrao que as sanes a serem aplicadas a ele tornem-se objeto de uma transao. A
Administrao, aps a instruo do pedido, notifica uma proposta de transao ao
contribuinte, que dispe de trinta dias para a sua aceitao e assinatura.
O Livro dos Procedimentos Fiscais (Parte Regulamentar), em seu art. R247-3,
estabelece que a proposta de transao notificada pela Administrao ao contribuinte por
meio de correspondncia registrada e com dados comprobatrios do seu recebimento; tal
documento menciona o montante do imposto devido e a conseqente sano, bem como o
montante e a penalidade que sero reclamados ao contribuinte caso este aceite a proposta. O
contribuinte dispe de um prazo de trinta dias, contados a partir da data do recebimento da
notificao, para apresentar o aceite ou a recusa das condies propostas.
166
167
examinada, este pode pedir a sua substituio por um representante de uma das organizaes
profissionais das quais faa parte.)
b. Um titular e dois suplentes designados pelas federaes departamentais dos
sindicatos de empresrios agrcolas do departamento, entre os proprietrios rurais suscetveis
do imposto sobre os benefcios da explorao agrcola. (Obs.: Quando h num departamento
vrias federaes de sindicatos de empresrios agrcolas, os membros da comisso so
nomeados pelo prefeito, sob proposta destas federaes.)
c. Um titular e dois suplentes escolhidos pelas cmaras sindicais de proprietrios do
departamento. Os representantes assim designados devem ter nacionalidade francesa, no
mnimo vinte e cinco anos de idade e gozar dos seus direitos civis.
Convm observar, ainda, que:
I. um inspetor dos impostos preenche as funes de secretrio e participa das sesses
com voz consultiva;
II. os membros que no so funcionrios da comisso so nomeados para exercer o
mandato durante um ano, sendo este renovvel. (Note-se que tais integrantes ficam sujeitos s
obrigaes do sigilo profissional.);
III. a comisso rene-se mediante convocao do diretor dos servios fiscais e delibera
legitimamente, desde que haja pelo menos cinco membros presentes, incluindo o presidente.
Observe-se que a funo das comisses claramente transacional. Por essa razo,
afirma-se que se trata de um lugar de confronto dos argumentos do contribuinte com os da
Administrao Tributria. Entretanto, importante destacar que as partes esto de acordo
quanto a um ponto: a inteno de evitar o recurso jurisdicional.
O acordo da Comisso um exemplo de transao que desempenha o seu melhor
papel na etapa da verificao administrativa e no exame das queixas prvias ao contencioso.
um procedimento de conciliao extrajudicial e voluntrio.
O art. L61 determina que, aps o estabelecimento do papel ou da emisso do parecer, o
contribuinte conserva o direito de apresentar uma queixa. A deciso da Comisso no
imperativa sobre as partes. Contudo, tem o seu efeito para o recurso posterior. Quando, por
exemplo, os agentes da Fazenda Pblica constatam uma insuficincia, uma inexatido, uma
omisso ou uma dissimulao nos elementos que servem de base ao clculo, feita uma
retificao.
168
6.3 Itlia
O professor J.J. Ferreiro Lapatza explica que a Itlia foi ainda mais longe na
implantao generalizada do sistema de autoliquidaes. E, na ltima dcada, com uma
coerncia absoluta, compreendeu a necessidade do acordo e da conciliao, aplicando
algumas tcnicas de soluo extrajudicial aos conflitos, o que abriu caminho, na doutrina
espanhola, como modelos a serem seguidos no meu pas. No pas onde o sistema de
autolanamento se implantou com mais fora e de maneira mais generalizada, talvez pela
impossibilidade de manter o sistema continental, sem um aumento considervel de meios na
Administrao; talvez porque os interesses da burocracia tambm impelissem nesta
direo.473
O legislador italiano nem sempre foi partidrio do acordo entre contribuinte e
Administrao na determinao da base de clculo de imposto. Poderamos afirmar que neste
sculo tivemos uma linha, por assim dizer, hegeliana, de tesis-anttesis-sntesis, ele
472
169
170
GIANNINI, A.D. Instituzioni di DirittoTributario. Milano, 1974, p. 207, apud ROSEMBUJ, Tlio. La
Transaccion Tributaria. Barcelona: Atelier, 2000, p. 76. Traduo da autora. No original: En sus orgenes, la
orientacin de la doctrina calificaba el concordato tributario como un acuerdo negocial o contractual, frente a
lo cual se observaba que las partes no tenan fuerza jurdica de naturaleza negocial, en cuanto que la
determinacin de la base imponible era un procedimiento vinculado por ley. De ello se infera que tampoco era
posible advertir una transaccin en el sentido propio del derecho privado, ya que el sujeto activo carece de
capacidad de disponer de los derechos objeto del acuerdo.
478
ROSEMBUJ, Tlio. La Transaccion Tributaria. Barcelona: Atelier, 2000, p. 77. Traduo da autora. No
original: No obstante, hubo una tercera posicin, sosteni da por Alessi, Sandulli, Giannini, que, reconocen la
existencia de una convencin bilateral, en la que el acto de autoridad -acto de determinacin consensual- es
consecuencia estructural del pacto sobre la determinacin, impidiendo la sucesiva impugnacin contra el
mismo. Es un acuerdo, basado en acto de consenso, contractual o no.
479
Ibid., p. 76. Traduo da autora. No original: [...] un encuentro en el que cada una de las partes de la
relacin tributaria renuncia a sus mximas intenciones. El concordato, por tanto, resuelve o previene cualquier
cuestin inclusive de derecho, asumiendo [...] las caractersticas propias de un acto transaccional, con
contencin recproca de las exigencias y con el sacrificio de algunas expectativas, exactamente como sucede en
otros sectores del ordenamiento en los cuales el encuentro conciliante entre las partes es un instituto
inmemorialmente previsto y favorecido.
171
Para fazer frente evaso fiscal, a legislao tributria torna-se cada vez mais rgida
para os contribuintes. A imposio de numerosos deveres formais, a determinao de
rendimentos estimados baseada em regulamentos, j que os documentos fiscais no refletem o
efetivo rendimento dos contribuintes, a presso fiscal provocada pelas exigncias
arrecadatrias, o autoritarismo da Administrao, geram inmeros litgios com os
contribuintes.
Por essa razo, abre caminho a idia de que necessrio conceder mais garantias ao
contribuinte, encontrar mais pontos de contato entre a Administrao e o contribuinte, evitar a
hipertrofia do contencioso fiscal.480
Assim, todo esse quadro leva ao restabelecimento do instituto do concordato e, aps
as eleies gerais de 1994, uma nova maioria parlamentar que se diz baseada nos
princpios da liberdade de mercado declara querer instaurar uma nova relao Fiscocontribuinte e, desta maneira, temos o regresso da verificao com adeso e a nova figura
da conciliao judicial.481
480
172
483
173
174
6.3.2 Aquiescenza
GARCA, Gemma Patn. La pianificazione fiscale concordata: una tcnica convencional del derecho
tributario italiano. In Tcnicas Convencionales en el mbito Tributario - Perspectivas de derecho interno,
comparado y comunitrio. Barcelona: Atelier, 2007, p. 87. Traduo da autora. No original: La frmula
convencional del accertamento con adesione interviene en un momento en que el crdito tributario todava est
por demostrar y determinar de manera que se va a recurrir al concurso del sujeto pasivo para estos menesteres
175
en el encuentro contradictorio, siendo a partir de esta actividad sobre la que se formulara la propuesta de
liquidacin. En cualquier caso, el encuentro entre contribuyente y Administracin se reduce a la aportacin por
el primero de los datos relevantes que habrn de ser valorados por el rgano competente, circunstancia que
respeta plenamente el principio de legalidad y el dogma de la indisponibilidad del crdito tributario,
descartndose as cualquier intento negociador en relacin con la obligacin tributaria ex lege.
488
BATISTA JNIOR, Onofre Alves. Transaes administrativas: um contributo ao estudo do contrato
administrativo como mecanismo de preveno e terminao de litgios e como alternativa atuao
administrativa autoritria, no contexto de uma administrao pblica mais democrtica. So Paulo: Quartier
Latin, 2007, p. 399.
176
partes nas tratativas.489 A conciliao judicial tem um carter transacional mediante o qual o
procedimento contencioso se d por meio de acordo entre as partes, extinguindo o pleito.
O segundo mtodo, o acordo perante o Tribunal, implica, contudo, que um acordo
seja alcanado na audincia. A iniciativa da conciliao pode ser do tribunal ou de qualquer
parte.
As partes podem propor conciliao ou durante a audincia, ou antes desta, por meio
de uma carta. Essa forma de conciliao na audincia ocorre, portanto, perante o tribunal e
formalizada com um ato de conciliao, que o ttulo de cobrana dos montantes devidos.
No caso de conciliao, ser determinada a extino do processo.
Na conciliao judicial, o juiz no intervm no contedo do acordo e limitado a
verificar as condies de admissibilidade. O contedo do acordo , portanto, da vontade da
Administrao Fiscal e dos contribuintes.
importante, no entanto, sublinhar que no se trata de um ato unilateral das
autoridades fiscais, mas de um acordo entre Administrao e Contribuinte. Ele assume, assim,
um passo significativo no sentido de permitir uma posio um pouco mais participativa e
menos submissa do contribuinte no relacionamento. Essa situao ocorre mais facilmente no
"mbito" do processo em que existe paridade entre as partes.
Se ocorrer antes, o presidente da Comisso avaliar a admissibilidade de acordo e
poder declarar, conforme o caso, a extino do processo. Se ocorrer depois, a admisso de
acordo depende da sesso plenria da Comisso. A sentena ou o auto que pe fim
controvrsia o ttulo executivo habilitado para a arrecadao.
O exame efetuado pela Comisso ou por seu presidente diz respeito legitimidade
formal e ao tipo de controvrsia. O recurso deve referir-se aos atos impugnveis na jurisdio
das Comisses tributrias e aos termos aprovados sobre os tributos passveis de conciliao.
No obstante, no podem entrar no mrito do acordo alcanado pelas partes.
O efeito principal da conciliao a reduo das sanes a um tero das somas fixadas
pela Administrao e no ao mnimo legal, como ocorre no concordato. Portanto, como
prprio do instituto, a conciliao, substituindo a sentena, finaliza o procedimento
instaurado.
489
177
178
179
contribuinte uma proposta personalizada formulada com base nos estudos do setor e nos
dados declarados pelo contribuinte.
O contribuinte, ao receber a proposta, poder, antes de 30 dias, ou aderir a esta, ou
impugn-la, documentando a insuficincia de fundamento da proposta do fisco.
6.4 Espanha
490
RIBAS, Ldia Maria Lopes Rodrigues. Mecanismos alternativos na soluo de conflitos em matria tributria.
In Revista Tributria e de Finanas Pblicas, ano 11, n 49, maro/abril. So Paulo: Revista dos Tribunais,
2003, p. 59-60.
180
491
Traduo da autora. No original: Artculo 7. Lmites a que estn sujetos los derechos de la Hacienda
Pblica estatal. 1. No se podrn enajenar, gravar ni arrendar los derechos econmicos de la Hacienda Pblica
estatal fuera de los casos regulados por las leyes. 2. Tampoco se concedern exenciones, condonaciones,
rebajas ni moratorias en el pago de los derechos a la Hacienda Pblica estatal, sino en los casos y formas que
determinen las leyes, sin perjuicio de lo establecido en el artculo 16 de esta Ley. 3. Sin perjuicio de lo
establecido en el apartado 2 del artculo 10 de esta Ley, no se podr transigir judicial ni extrajudicialmente
sobre los derechos de la Hacienda Pblica estatal, ni someter a arbitraje las contiendas que se susciten respecto
de los mismos, sino mediante real decreto acordado en Consejo de Ministros, previa audiencia del de Estado en
pleno.
492
BATISTA JNIOR, Onofre Alves. Transaes administrativas: um contributo ao estudo do contrato
administrativo como mecanismo de preveno e terminao de litgios e como alternativa atuao
administrativa autoritria, no contexto de uma administrao pblica mais democrtica. So Paulo: Quartier
Latin, 2007, p. 408.
493
Ver anexo B.
181
494
Ver Artculo 155. Actas con acuerdo. [...] 7. La falta de suscripcin de un acta con acuerdo en un
procedimiento inspector no podr ser motivo de recurso o reclamacin contra las liquidaciones derivadas de
actas de conformidad o disconformidad.
495
BATISTA JNIOR, Onofre Alves. Transaes administrativas: um contributo ao estudo do contrato
administrativo como mecanismo de preveno e terminao de litgios e como alternativa atuao
administrativa autoritria, no contexto de uma administrao pblica mais democrtica. So Paulo: Quartier
Latin, 2007, p. 408.
496
Ver anexo B.
182
na apreciao dos fatos ou na aplicao das normas jurdicas, dando ao interessado prazo de
audincia anterior ao lanamento.497
Quanto natureza jurdica das actas de conformidad, existem, basicamente, duas
posies doutrinrias: h aqueles que a consideram como transao e aqueles que a entendem
como confisso extrajudicial.
Compreendida como transao ou como confisso extrajudicial, verdade que a
conformidade do contribuinte proposta de ata feita pelo Fisco encontra tradicional aceitao
nos domnios tributrios. a lei que permite a composio de interesses e estabelece as
contraprestaes recprocas em sua regulao, dando ensejo a um intercmbio de benefcios
entre devedor e credor, isto , renncia impugnao, por um lado, e reduo de sanes, por
outro.498
A primeira proposio defende a correspondncia com actas de inventacin e foi
seguida pela doutrina dos tribunais Econmico-Administrativos na dcada de sessenta na
Espanha.
Em vrias dessas decises observou-se que ningum pode legitimamente ir contra os
seus prprios atos e que as actas de conformidad no apenas supem a aceitao dos fatos,
mas tambm da base de clculo sobre a qual no cabe discusso, exceto para erros no
lanamento ou na aceitao dos atos por erro de consentimento, o que poderia resultar na
anulao da deciso, de acordo com o art. 1265 do Cc (Resolues do TEAC de 11 de
fevereiro e 17 de dezembro de 1968, 10 de junho e 19 de novembro de 1969).499
Outros doutrinadores entendem que se trata de uma confisso extrajudicial e situam o
ato no campo probatrio. Especificamente, esses fatos so considerados confessados
extrajudicialmente pelo contribuinte.
497
Ver Artculo 156. Actas de conformidad. [...] Se entender producida y notificada la liquidacin tributaria de
acuerdo con la propuesta formulada en el acta si, en el plazo de un mes contado desde el da siguiente a la fecha
del acta, no se hubiera notificado al interesado acuerdo del rgano competente para liquidar, con alguno de los
siguientes contenidos:
a. Rectificando errores materiales.
b. Ordenando completar el expediente mediante la realizacin de las actuaciones que procedan.
c. Confirmando la liquidacin propuesta en el acta.
d. Estimando que en la propuesta de liquidacin ha existido error en la apreciacin de los hechos o indebida
aplicacin de las normas jurdicas y concediendo al interesado plazo de audiencia previo a la liquidacin que se
practique.
498
BATISTA JNIOR, Onofre Alves. Transaes administrativas: um contributo ao estudo do contrato
administrativo como mecanismo de preveno e terminao de litgios e como alternativa atuao
administrativa autoritria, no contexto de uma administrao pblica mais democrtica. So Paulo: Quartier
Latin, 2007, p. 409-410.
499
MONTALVO, Rafael Fernandez. La jurisdiccin contencioso-administrativa ante la revisin de los actos
fruto de la transaccin entre las partes: alcance de la actuacin revisora. Anlisis del articulo 76 del proyecto de
la ley reguladora de la jurisdiccin contencioso-administrativa. In Convencin Y Arbitraje en nel Derecho
Tributrio. Madrid: Marcial Pons, 1996, p. 108.
183
Nos Estados Unidos a matria tributria federal pode ser discutida em trs jurisdies:
Tax Court, District Courts e Court of Claims.
A Tax Court a mais usada esfera judicial para discusso de matria tributria federal.
o frum escolhido pela maioria dos interessados, embora as estatsticas demonstrem que
contribuintes perdem com mais freqncia na Tax Court do que em qualquer outro tribunal.
Trata-se de corte altamente especializada, dona de reconhecido tirocnio em temas
500
184
503
185
508
186
Os closing agreements so considerados, pela doutrina e pela jurisprudncia norteamericanas, "acordos conforme a lei", vinculantes e definitivos, mesmo na ausncia de
reciprocidade, independentemente de seu contedo especfico; note-se que no so
verdadeiros contratos, embora o Direito norte-americano entenda que devam ser interpretados
segundo as normas que regem os contratos.
509
187
ROSEMBUJ, Tlio. La Transaccion Tributaria. Barcelona: Atelier, 2000, p. 85. Traduo da autora. No
original: [...] puede afirmarse que se apoya en la diferencia sobre cuestiones de hecho o jurdicas. As, la duda
no existir, si el Poder Judicial hubiera decidido al respecto. [...] La duda sobre el mrito de la deuda no es la
fuente principal de compromiso de oferta, que se basa, sobre todo, en la duda sobre el pago de la deuda.
512
BATISTA JNIOR, Onofre Alves. Transaes administrativas: um contributo ao estudo do contrato
administrativo como mecanismo de preveno e terminao de litgios e como alternativa atuao
administrativa autoritria, no contexto de uma administrao pblica mais democrtica. So Paulo: Quartier
Latin, 2007, p. 405.
513
ROSEMBUJ, Tlio. La Transaccion Tributaria. Barcelona: Atelier, 2000, p. 85-86. Traduo da autora. No
original: La particularidad reside en que el valor utilizado en el patrimonio no es el valor ordinario de
mercado, sino el que pueda derivar de su venta forzosa. La Administracin considera que el valor de liquidacin
a emplearse es aquel que resulta de la venta de un bien en una situacin en la cual las presiones financieras
provocan la transmisin en un corto periodo de tiempo.
514
BATISTA JNIOR, Onofre Alves. Transaes administrativas: um contributo ao estudo do contrato
administrativo como mecanismo de preveno e terminao de litgios e como alternativa atuao
administrativa autoritria, no contexto de uma administrao pblica mais democrtica. So Paulo: Quartier
Latin, 2007, p. 405.
188
revogar o acordo firmado, caso no seja cumprido, conservando o dinheiro j pago e podendo
exigir por meio de presso o resto da dvida originalmente contrada.
A seo 7123 do IRC determina que as tentativas frustradas de compromisso podem
ser suscetveis de resoluo de conflitos no escritrio de Apelao pela mediao ou
arbitragem.
Contrariamente ao compromisso de oferta, h o classe agreement, ou o acordo
conclusivo, que um contrato de extino da dvida do contribuinte no que diz respeito
dvida total ou a um dos seus componentes. O contribuinte pode solicitar mediao ou
arbitragem no caso de tentativa frustrada de classe agreement.515
O acordo conclusivo uma transao entre a Administrao e o contribuinte que fecha
de modo definitivo qualquer questo de ltigio sobre obrigao tributria com base em
concesses recprocas, abrangendo qualquer imposto e perodo impositivo, mas restringindo
sua existncia no caso de fraude ou simulao.
A transao ocorre no escritrio de Apelao e o ato do acordo se formula na
Appeals Conference, que uma reunio entre o contribuinte e a Administrao, para a soluo
dos conflitos submetidos transao.
O fundamento do acordo conclusivo a constatao e a liquidao da dvida presente,
tanto do contribuinte como da Administrao, bem como a preveno de litgio futuro a
respeito da questo discutida.
A caracterstica desse tipo de acordo conclusivo que, ao contrrio do compromisso
de oferta, pode-se admitir perda financeira, ou seja, pode no haver contraprestao em
moeda corrente.
515
516
189
517
BURNHAM, William. Introduction to the Law and Legal System of the United States. 5. ed. St. Paul:
Thomson, 2006, p. 248. Traduo da autora. No original: Arbitration Unlike a mediator, an arbitrator decides
the dispute between the parties. The arbitration hearing is generally conducted like a trial. Attorneys for both
sides present their evidence and arguments to the arbitrator and the arbitrator renders a decision, usually in
written form. Many arbitration agreements incorporate the rules of the American Arbitration Association, a
private organization that serves as a clearinghouse for arbitration. Though arbitration is similar to judicial
resolution of the case, it can have the advantage of being less formal, less expensive, and less time-consuming. A
major advantage of arbitration is that the parties can design their own procedure and choose decision-makers
who have specialized knowledge useful in deciding their dispute.
518
OLIVEIRA, Ana Perestrelo de. Arbitragem de litgios com entes pblicos. Coimbra: Almedina, 2007, p. 87.
519
NAVARRINE, Susana Camila; ASOREY, Ruben O. Arbitraje - Jurisdiccion Arbitral em Controversias com
el Estado, processo arbitral em cuestiones tributarias. Buenos Aires: La Ley, 1992, p. 75.
520
OLIVEIRA, Ana Perestrelo de. Arbitragem de litgios com entes pblicos. Coimbra: Almedina, 2007, p. 87.
190
521
RIBAS, Ldia Maria Lopes Rodrigues. Mecanismos alternativos na soluo de conflitos em matria tributria.
In Revista Tributria e de Finanas Pblicas, ano 11, n 49, maro/abril. So Paulo: Revista dos Tribunais,
2003, p. 60.
522
BATISTA JNIOR, Onofre Alves. Transaes administrativas: um contributo ao estudo do contrato
administrativo como mecanismo de preveno e terminao de litgios e como alternativa atuao
administrativa autoritria, no contexto de uma administrao pblica mais democrtica. So Paulo: Quartier
Latin, 2007, p. 411.
191
CONCLUSO
192
conveniente reiterar que a permisso para o legislador editar lei geral e abstrata sobre
a transao est inserida no sistema do direito positivo e, portanto, no um cheque em
branco para o legislador; este est subordinado aos princpios constitucionais e legislao
tributria.
A lei que estabelecer a transao deve ser subordinada ao ordenamento tributrio
positivo e no pode alterar os conceitos j estabelecidos pelas nomas gerais de direito
tributrio como tributo, lanamento tributrio, suspenso da exigibilidade, decadncia
e prescrio, extino do crdito e certido negativa, todos fixados no Cdigo Tributrio
Nacional.
Logo, observe-se que essencial que a norma da transao estabelea critrios
objetivos de identificao de um fato para que este possa ser transacionado. Tambm no
qualquer obrigao tributria que pode ser transacionada, mas aquela para a qual a
Administrao Tributria considerar ser menos custoso um acordo que a demanda judicial,
por critrios objetivos.
Em face da anlise da transao tributria, desde que respeitados os princpios
contitucionais como da Legalidade, da Eficincia, da Autotutela, da Impessoalidade, da
Moralidade Administrativa, da Publicidade da Motivao, da Estrita Legalidade, etc. e as
Normas Gerais de Direito Tributrio, verifica-se que a transao contribui para a otimizao e
a eficincia da Administrao Pblica, que dispe do interesse pblico secundrio para
solucionar os litgios com a finalidade de alcanar uma maior e melhor arrecadao.
No que concerne arbitragem, constata-se que o vocbulo possui vrios significados,
no mbito do direito. Em nossa exposio, tomamos o termo com o sentido de meio de
resoluo de litgio em que este submetido apreciao de terceiros (os rbitros), os quais,
por fora da lei, atuam como um tribunal; isso significa que a deciso que proferem tem os
efeitos de uma sentena, ou seja, produz coisa julgada.
A natureza jurdica da arbitragem hbrida: ao mesmo tempo, contratualista e
judicialista. Por um lado, o instituto fundamenta-se num contrato (a conveno de
arbitragem); por outro, observe-se que o juzo arbitral funciona como um verdadeiro tribunal,
configurando, nessa medida, uma alternativa aos tribunais da jurisdio pblica para a
resoluo de litgios entre as partes.
Note-se que a caracterstica jurdica de direito disponvel a transigibilidade e que tal
atributo praticamente encontra-se em todas as legislaes sobre arbitragem (alem, italiana,
francesa, espanhola, argentina, etc.); assim, as questes sobre as quais a lei permita a
transao podem ser objeto de arbitragem. Convm lembrar que o Decreto n 3.900, de 26 de
193
junho de 1867, que regulava o Juizo Arbitral do Commercio, j dispunha em seu art. 4 desse
conceito: Podem fazer compromisso todos os que podem transigir.
Em uma anlise lgica da expresso arbitragem tributria, podemos observar que o
adjetivo tributria exerce a funo sinttica de adjunto adnominal em relao ao substantivo
arbitragem, ou seja, restringe a extenso do significado de arbitragem, na medida em que
qualifica este termo, circunscrevendo sua amplitude; desse modo, compe um subconjunto
dentro de um conjunto.
A arbitragem tributria pode ser definida como mtodo voluntrio de resoluo de
conflitos propostos em matria tributria. Nesse caso, um ou vrios rbitros resolvem o litgio
suscitado, de maneira definitiva, por meio da aplicao do Direito.
Assim, podemos compreender que os litigantes no dispem da obrigao tributria,
porque esta nasceu e foi aplicada de acordo com o mandamento legal, mas, em vez de
resolverem o litgio por meio das vias comuns os recursos administrativos , decidem
apresentar a controvrsia autoridade de um rbitro, que se apresenta como estranho s
partes, obrigando-as a acatar a deciso que este ltimo adota. Dessa forma, tambm podemos
entender que no a obrigao tributria que decidida pelos rbitros, mas o litgio em si.
Dentro do ordenamento tributrio vigente, vislumbramos apenas uma possibilidade de
arbitragem tributria: a arbitragem administrativa, portanto, uma deciso administrativa. Essa
deciso, irrecorrvel para ambas as partes, tem duas naturezas em relao a seus efeitos:
1) Para o Estado, que exerceria o controle sobre os prprios atos, com a possibilidade
de anular os ilegais e revogar os inconvenientes ou inoportunos, independentemente de
recurso ao Poder Judicirio, tem, inequivocamente, natureza de autotutela;
2) para o contribuinte, que abdicaria de seu direito de recorrer ao Poder Judicirio nos
termos da lei da arbitragem, tem natureza de deciso arbitral.
Assim, temos, para ns, que a natureza jurdica da arbitragem, assim como a da
transao, de norma individual e concreta. Isso porque entendemos o fato jurdico tributrio
e a correlativa obrigao como algo constitudo pela linguagem que o sistema do direito
positivo d por competente, portanto suscetvel de ser introduzida no ordenamento como uma
linguagem de sobrenvel, que desconstitui, juridicamente, uma linguagem de posio
hierrquica inferior.
A arbitragem, assim como a transao, pode ser compreendida ora como processo
(conjunto de atos), ora como produto. Da mesma forma, a norma arbitragem dever ser
introduzida no ordenamento por um suporte fsico que aqui denominamos ato de arbitragem
194
(produto), cuja natureza jurdica de ato administrativo, pois entendemos que este
procedimento deve se dar no mbito da Administrao tributria.
Logo, a introduo da linguagem competente no ordenamento jurdico, isto , da
norma individual e concreta da arbitragem administrativa, traz como conseqncia jurdica a
extino da obrigao tributria, do Lanamento.
De modo semelhante ao que ocorre no processo e no produto de transao, destacamos
que, para haver arbitragem tributria, imprescindvel uma lei que a autorize. E esta mesma
lei estabelecer os critrios objetivos e as condies em que ser possvel aos sujeitos da
obrigao tributria optarem por essa alternativa de soluo, bem como a autoridade
competente para autorizar a aplicao do instituto. Essa norma dever descrever todos os
elementos da regra matriz de incidncia tributria que podem ser submetidos arbitragem.
Reafirmamos, portanto, nosso entendimento de que a arbitragem tributria possvel,
contudo reiteramos que essa possibilidade no um cheque em branco para o legislador.
Destacamos que a Administrao poder aplic-la somente em casos muito especiais,
a serem definidos por lei. Alis, preciso mencionar que a inarbitrabilidade dos litgios fiscais
no caracterstica do ordenamento positivo brasileiro, ao contrrio, apenas nos Estados
Unidos da Amrica, das legislaes estrangeiras por ns estudadas, encontramos uma forma
de arbitragem, a Tax Court Rule 124; esta prev a submisso de litgios fiscais a rbitros,
mediante acordo e sujeitos a requisitos definidos entre o Internal Revenue Service (IRS) e o
contribuinte. E, ainda assim, essa alternativa de soluo utilizada em casos excepcionais e
de grande valor econmico.
De qualquer maneira, no encontramos obstculos possibilidade de a Administrao
Tributria editar lei e utilizar, excepcionalmente e em casos muito relevantes, a arbitragem
como forma de soluo de litgio nos termos do art. 171 do CTN. Ainda assim, a soluo
arbitral depende de lei especfica e poder utilizar a lei n 9.307, de 23 de setembro de 1996,
lei da arbitragem, subsidiariamente.
Portanto, em vista do que foi mencionado, consideramos que a Administrao deve
incentivar a participao dos contribuintes nas decises tributrias pela via da soluo
transacional, ou seja, dos acordos ou das decises arbitrais dotados de efeitos vinculantes,
como os atos administrativos participativos.
195
BIBLIOGRAFIA
196
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200
201
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ANEXO A
Exemplos de documentos transacionais do Ordenamento Italiano
Notificao: Relata di Notifica
Notificao1
notificado
por
meio
de
carta
registrada
com
aviso
de
recebimento
n_____________________na data______________________________________________
Do Correio de _______________________________________________________________
Mediante entrega ao Senhor____________________________________________________
Na
de7
qualidade
Mensageiro
____________________________
PATRIZI B.; MARINI G.; PATRIZI G. Accertamento con adesione, conciliazione e autotutela. La definizione
degli accertamenti a tutela del contribuente. Milo: Giuffr,1999, p. 92. Traduo da autora.
2
Da Prefeitura de......ou da Repartio Pblica de.
3
Pessoa da famlia, funcionrio da casa, do escritrio ou firma, etc.
4
Assinou, no concordou em assinar.
5
Porta da residncia, escritrio ou firma.
6
Indicar os motivos que dizem respeito impossibilidade da entrega por recusa ou por incapacidade ou negao
das pessoas legitimadas para receber o ato.
7
Porteiro ou vizinho de residncia.
Relata di Notifica8
Io sottoscritto ............................
Messo9...............................................................................................................................
ho notificato il presente atto alle ore ............................................................................................
del giorno....... del mese .....................dell'anno ............................................................................
- Nel Comune di ...............................Fraz
................................................................................
Fraz........................................................................................................................
Via
n. .......................................................................................................................................
poich
13
.....................................................................................................................................
dandone notizia a mezzo di lettera raccomandata con avviso di ricevimento n.......in data .........
dell'Ufficio Postale di ...................................................................................................................
- Mediante consegna al Sig. .........................................................................................................
in qualit di14................................................................................................................ dandone
notizia a mezzo di lettera raccomandata con avviso di .................................................
ricevimento n. .......................in data ...........................................................................................
dell'Ufficio Postale di...............................................................................................................
_______________________________
Il Messo
________________________________
PATRIZI B.; MARINI G. ; PATRIZI G. Accertamento con adesione, conciliazione e autotutela. La definizione
degli accertamenti a tutela del contribuente. Milo: Giuffr,1999, p. 92.
9
Del Comune di..........ppure speciale dell'Ufficio di
10
Persona di famiglia , addetta alla casa o all'ufficio o all'azienda , etc
11
Ha firmato , si rifiutato di firmare .
12
Porta dell'abitazione, dell'ufficio, dell'azienda .
13
Indicare i motivi riguardanti l'impossibilit di consegna per irreperibilit o per incapacit o rifiuto delle
persone legittimate a ricevere l'atto
14
Portiere o vicino di casa .
Ato de adeso15 N.
Prediz-se
- que, na seqncia do processo verbal de fiscalizao, notificado no dia 10/9/1996, foi pedida
a formulao do acerto para os fins da eventual definio;
- que, em 02/12/1998, esta Repartio Pblica convidou o contribuinte ao contraditrio para
realizar o procedimento de acerto com adeso;
- que o contraditrio instaurou-se como verbal, redigido na data de 2/12/1998, 10/12/1998 e
constitui parte integrante do presente ato.
Elementos e motivaes
A repartio Pblica, aps prvia avaliao da documentao e dos elementos fornecidos pela
parte, da relao custo-benefcio da operao, levou em considerao a validade do processo
verbal da constatao, no obstante os custos e o risco de sucumbir a uma eventual
controvrsia (circular n 235/E, de 8/08/1997).
Prope
15
PATRIZI, B.; MARINI, G.; PATRIZI, G. Acerto com adeso, conciliao e autotutela. A definio dos
acertos tutela do contribuinte. Milo: Giuffr, 1999, p. 93. Traduo da Autora.
- os auditores, todavia, reconhecem a deduo dos custos dos combustveis em Liras 1.525.000 -, cifra que parece um tanto modesta em vista do capital investido pela Sociedade
em veculos, em recursos humanos e do tipo de atividade desenvolvida.
Assim, conclui-se que as razes adotadas podem ser consideradas vlidas; portanto, possvel
acolher o pedido da Parte para que se anule o litgio em questo.
Tipo de Renda
Declarado
Averiguado
Definido
Lucro ou perda de
230.971
230.971
230.971
321.581
419.480
344.311
83.065
83.065
83.065
238.516
336.415
261.246
567.386
492.217
567.386
492.217
balano
Total variao em
aumento
Total variao em
diminuio
Diferenas entre as
variaes
gastos
Renda ou perda
469.487
Tipo de Renda
Declarado
Averiguado
Definido
567.386
492.217
liqudo 469.487
567.386
492.217
567.386
492.217
567.386
492.217
169.015
204.259
177.198
2.066
2.066
2.066
2.066
2.066
2.066
166.949
202.193
175.132
ou 166.949
202.193
175.132
35.244
8.183
IRPJ
Renda
sujeita 469.487
aliquota de 36%
Imposto
correspondente
Antecipao
prestaes devidas
Total
retido
crditos
Diferena
IRPJ
devido
diferena a favor
Maior imposto IRPJ
Total de Renda
Averiguado
Definido
567.386
492.217
de 469.487
567.386
492.217
567.386
492.217
567.386
492.217
567.386
492.217
91.917
79.739
15.860
3.682
Total
Declarado
componentes 469.487
positivos
Renda
lquida
gastos e essenciais
fins IR
Total renda imposta 469.487
IR
Sujeitas alquota 469.487
de 16,2%
IR devido para o
76.057
perodo
Imposto maior
Sanes
Descrio Violao
Montante mnimo
Montante devido
Sanes IRPJ
8.183
2.045
Sanes IR
3.682
920
2.965
RESUMO CONTBIL
MAIOR TAXA
SANES
JUROS
DEFINIDA
DEFINIDAS
IRPJ
8.183
2.045
1.844
IR
3.682
920
83
11.865
2.965
2.674
TOTAL
O Diretor do Departamento
_______________________________
____________________________
cdigo
Imposto
PATRIZI B.; MARINI G.; PATRIZI G. Accertamento con adesione, conciliazione e autotutela. La definizione
degli accertamenti a tutela del contribuente. Milo: Giuffr,1999, p. 93.
10
ancora in carico alla societ in quanto spedite, in gran parte, alla fine del 1991 e giunte presso
la Societ nei primi giorni di gennaio 1992, come risulta dall'intestazione e dai timbri data di
arrivo posti su ogni bolla di accompagnamento acquisita al procedimento. Tutto ci premesso,
si ritiene di poter accogliere la richiesta della Societ di annullamento della ripresa in
questione anche in considerazione del fatto che, essendo tali costi comunque ritenuti dai
verbalizzanti di competenza dell'esercizio 1991, dovevano essere riconosciuti in deduzione in
quest'ultimo esercizio.
2) Costi non documentati per lire 20.662.000.
Trattasi di costi sostenuti dalla Societ per viaggi e trasferte del personale dipendente che i
verbalizzanti hanno ritenuto indeducibili in quanto non sufficientemente documentati. A tale
proposito la Parte ha prodotto della documentazione composta da biglietti aerei intestati
all'amministratore e biglietti ferroviari recanti quale destinazione Parigi, e cio la citt in cui
ha sede la societ madre. Quindi, se da un lato la Parte ha giustificato tali costi, dall'altro
rimane un margine di incertezza circa la loro effettiva inerenza, motivo per cui si addivenuti
ad un accordo che si concretizzato nel riconoscimento della deducibilit di tali costi nella
misura del 50%, pari a lire 10.331.000.
3) Costi per acquisto di carburante per lire 31.188.000.
Al riguardo, occorre evidenziare che i verbalizzanti hanno effettuato tale ripresa in quanto le
schede carburanti erano sprovviste di alcuni dati. La Parte, in una relazione acquisita al
procedimento, ha fatto presente che:
- si tratta di costi recuperati per irregolarit formali e non per insussistenza degli stessi e
comunque regolarmente contabilizzati e pienamente attendibili in relazione alla natura ed
all'entit dell'attivit esercitata, consistente nel commercio all'ingrosso di materiale elettrico;
- la Societ possiede due furgoni che vengono utilizzati per le consegne, tre autovetture e due
autisti; fra la documentazione acquisita figura il libro dei cespiti ammortizzabili ed il libro
matricola;
- i verbalizzanti hanno comunque riconosciuto in deduzione costi per carburante per lire
1.525.000, cifra che appare alquanto modesta in relazione al capitale investito dalla Societ in
automezzi, alle risorse umane ad esse preposte ed al tipo di attivit svolta.
Tutto ci premesso, si ritiene che le ragioni addotte possano essere considerate valide e
pertanto si ritiene di poter accogliere la richiesta della Parte di annullamento della ripresa in
questione.
11
DICHIARATO
ACCERTATO
DEFINITO
230.971
230.971
230.971
321.581
419.480
344.311
83.065
83.065
83.065
238.516
336.415
261.246
469.487
567.386
492.217
Reddito o perdita
469.487
567.386
492.217
DICHIARATO
ACCERTATO DEFINITO
469.487
567.386
492.217
469.487
567.386
492.217
469.487
567.386
492.217
469.487
567.386
492.217
Imposta corrispondente
169.015
204.259
177.198
2.066
2.066
2.066
2.066
2.066
2.066
Differenza
166.949
202.193
175.132
166.949
202.193
175.132
35.244
8.183
DICHIARATO
ACCERTATO
DEFINITO
469.487
567.386
492.217
469.487
567.386
492.217
469.487
567.386
492.217
469.487
567.386
492.217
469.487
567.386
492.217
76.057
91.917
79.739
15.860
3.682
Maggiore imposta
12
Sanzioni
Ai
sensi
degli
articoli...........................................................................................................................................
.......................................................................................................................................................
.......................................................................
tenuto conto di quanto specificato nelle motivazioni, a fronte delle violazioni accertate, le
sanzioni previste sono:
IMPORTO
IMPORTO
MINIMO
DOVUTO
Sanzioni Irpeg
8.183
2.045
Sanzioni Ilor
3.682
920
DESCRIZIONE VIOLAZIONE
2.965
Riepilogo Contabile
MAGGIORE IMPOSTA
SANZIONI DEFINITE
INTERESSI
DEFlNITA
Irpeg
8.183
2.045
1.844
Ilor
3.682
920
830
Totale
11.865
2.965
2.674
*** ATIENZIONE: tutti gli importi sono espressi in migliaia di lire salvo dove
specificatamente indicato
La definizione del presente atto si perfeziona con il versamento, entro venti giorni dal
17/12/1998, delle intere somme dovute o della prima rata, in caso di rateazione.
Entro dieci giorni dal versamento il contribuente si impegna a far pervenire la relativa
quietanza di pagamento e, in caso di versamento rateale, la documentazione relativa alla
13
cauzione o fidejussione, a garanzia delle ulteriori rate, per il periodo di rateazione, aumentato
di un anno.
L'accertamento definito con adesione non soggetto ad impugnazione, non integra bile o
modificabile da parte dell'ufficio e non rileva ai fini della imposta comunale per l'esercizio di
imprese e di arti o professioni, nonch ai fini extra-tributari. Rileva, viceversa, per i contributi
previdenziali e assistenziali la cui base imponibile riconducibile a quella delle imposte sui
redditi.
fatta salva l'ulteriore azione accertatrice nelle ipotesi previste dall'art. 2, comma 4, del
D.Lgs. n. 218 del 1997.
Il presente atto, redatto in due originali, si compone di n. 5 fogli. La copia per il contribuente
sar rilasciata a seguito della ricezione dei documenti sopra indicati che costituiscono parte
integrante del presente atto letto, confermato e sottoscritto in data 17/12/1998.
Il contribuente
Il direttore dell'ufficio
(o il suo rappresentante)
(o il funzionario delegato)
__________________________
_________________________________
date
................
codice
imposto
...............
...................
14
PROT.
DO.
CONCILIAO JUDICIAL17
Aos sensos do art. 48 D. Lgs. 546/1992
17
PATRIZI B.; MARINI G.; PATRIZI G. Accertamento con adesione, conciliazione e autotutela. La definizione
degli accertamenti a tutela del contribuente. Milo: Giuffr, 1999, p. 177. Traduo da Autora.
15
4)
Aquisio
de
combustvel,
em
Liras,
69.000,
aceita
pela
parte.
_______________________;
5)Despesas com veculos, em Liras, 4.304.000: confirma-se a recuperao;
6) Sinal confirmado, em Liras, 400.000.000: a recuperao para fins IVA era justificada desde
que isso no consentisse na diminuio do imposto, para fins dos impostos diretos, como
consta no contrato preliminar.
Nota-se que a soma foi efetuada tambm em conta, e o preo foi regularmente inserido no
balano do ativo patrimonial com adiantamentos, reconhecendo-se a sua deduo.
Portanto, o imposto averiguado pode ser determinado em Liras, 1.996.914.000, para fins de
IR, e, em Liras, 1.758.500.000, para fins de IRPJ e dos impostos correspondentes, segundo o
seguinte grfico:
SOMAS DEVIDAS
Averiguada
Conciliada
Depositada
Devida
12.476.000
IRPJ
241.611.000
12.476.000
IR
108.725.000
5.614.000
5.614.000
SOMAS DEPOSITADAS
IMPOSTO
JUROS
SANES
TOTAL
12.476.000
4.304.000
4.159.000
20.939.000
5.614.000
1.937.000
1.871.000
9.422.000
O Recorrente
16
Prot
del
CONCILIAZIONE GIUDIZIALE 18
ai sensi dell'art. 48 D.Lgs. 546/1992
5)
6)
Caparra confirmatoria per lire 400.000.000: il recupero ai fini Iva era giustificato dalla
considerazione che la natura della stessa non consentisse la detraibilit dell'imposta; ai fini
18
17
delle imposte dirette, tenuto conto che dal contratto preliminare risulta che la somma stata
versata anche in conto prezzo e che risulta regolarmente inserita in bilancio nell'attivo
patrimoniale come anticipi, se ne riconosce la detraibilit.
Pertanto, l'imponibile accertato pu determinarsi in lire 1.996.914.000 ai fini lior e lire
1.758.500.000 ai fini Irpeg e le imposte corrispondenti secondo il seguente prospetto:
Somme Dovute
ACCERTATA
Irpeg
241.611.000
12.476.000
12.476.000
Ilor
108.725.000
5.614.000
5.614.000
Somme da Versare
IMPOSTA
INTERESSI
SANZIONI
TOTALE
12.476.000
4.304.000
4.159.000
20.939.000
5.614.000
1.937.000
1.871.000
9.422.000
Il Ricorrente
Il Diretore DellUfficio
18
ANEXO B
Direito Italiano
19
Se una della parti era consapevole della temerariet della sua pretesa, l'altra pu chiedere
l'annullamento della transazione (1425 e seguenti).
Art. 1972 Transazione su un titolo nullo
E' nulla (1421 e seguenti) la transazione relativa a un contratto illecito (1343 e seguenti),
ancorch le parti abbiano trattato della nullit di questo.
Negli altri casi in cui la transazione stata fatta relativamente a un titolo nullo, l'annullamento
di essa pu chiedersi solo dalla parte che ignorava la causa di nullit del titolo.
Art. 1973 Annullabilit per falsit di documenti
E' annullabile (1425 e seguenti) la transazione fatta, in tutto o in parte, sulla base di documenti
che in seguito sono stati riconosciuti falsi.
Art. 1974 Annullabilit per cosa giudicata
E' pure annullabile la transazione fatta su lite gi decisa con sentenza passata in giudicato
(Cod. Proc. Civ. 324), della quale le parti o una di esse non avevano notizia.
Art. 1975 Annullabilit per scoperta di documenti
La transazione che le parti hanno conclusa generalmente sopra tutti gli affari che potessero
esservi tra loro non pu impugnarsi per il fatto che posteriormente una di esse venga a
conoscenza di documenti che le erano ignoti al tempo della transazione, salvo che questi siano
stati occultati dall'altra parte.
La transazione annullabile (1442), quando non riguarda che un affare determinato e con
documenti posteriormente scoperti si prova che una delle parti non aveva alcun diritto.
Art. 1976 Risoluzione della transazione per inadempimento
La risoluzione della transazione per inadempimento non pu essere richiesta se il rapporto
preesistente e stato estinto per novazione (1230 e seguenti), salvo che il diritto alla risoluzione
sia stato espressamente stipulato (1453 e seguenti).
Decreto Legislativo 19 giugno 1997, n. 218
"Disposizioni in materia di accertamento con adesione e di conciliazione giudiziale"
pubblicato nella Gazzetta Ufficiale n. 165 del 17 luglio 1997
IL PRESIDENTE DELLA REPUBBLICA
Visti gli articoli 76 e 87 della Costituzione;
Visto l'articolo 3, comma 120, della legge 23 dicembre 1996, n. 662, recante delega al
Governo per l'emanazione di uno o pi decreti legislativi per la revisione organica della
disciplina dell'accertamento con adesione e della conciliazione giudiziale;
Vista la preliminare deliberazione del Consiglio dei Ministri, adottata nella riunione del 21
marzo 1997;
20
21
previdenziali e assistenziali, la cui base imponibile e' riconducibile a quella delle imposte sui
redditi. La definizione esclude, anche con effetto retroattivo, in deroga all'articolo 20 della
legge 7 gennaio 1929, n. 4, la punibilita' per i reati previsti dal decreto - legge 10 luglio 1982,
n. 429, convertito, con modificazioni, dalla legge 7 agosto 1982, n. 516, limitatamente ai fatti
oggetto dell'accertamento; la definizione non esclude comunque la punibilita' per i reati di cui
agli articoli 2, comma 3, e 4 del medesimo decreto - legge.
4. La definizione non esclude l'esercizio dell'ulteriore azione accertatrice entro i termini
previsti dall'articolo 43 del decreto del Presidente della Repubblica 29 settembre 1973, n. 600,
relativo all'accertamento delle imposte sui redditi, e dall'articolo 57 del decreto del Presidente
della Repubblica 26 ottobre 1972, n. 633, riguardante l'imposta sul valore aggiunto:
a) se sopravviene la conoscenza di nuovi elementi, in base ai quali e' possibile accertare un
maggior reddito, superiore al cinquanta per cento del reddito definito e comunque non
inferiore a centocinquanta milioni di lire;
b) se la definizione riguarda accertamenti parziali;
c) se la definizione riguarda i redditi derivanti da partecipazione nelle societa' o nelle
associazioni indicate nell'articolo 5 del testo unico delle imposte sui redditi, approvato con
decreto del Presidente della Repubblica 22 dicembre 1986, n. 917, ovvero in aziende
coniugali non gestite in forma societaria;
d) se l'azione accertatrice e' esercitata nei confronti delle societa' o associazioni o dell'azienda
coniugale di cui alla lettera c), alle quali partecipa il contribuente nei cui riguardi e'
intervenuta la definizione.
5. A seguito della definizione, le sanzioni per le violazioni concernenti i tributi oggetto
dell'adesione commesse nel periodo d'imposta, nonche' per le violazioni concernenti il
contenuto delle dichiarazioni relative allo stesso periodo, si applicano nella misura di un
quarto del minimo previsto dalla legge, ad eccezione di quelle applicate in sede di
liquidazione delle dichiarazioni ai sensi dell'articolo 36 -bis del decreto del Presidente della
Repubblica 29 settembre 1973, n. 600, e dell'articolo 60, sesto comma, del decreto del
Presidente della Repubblica 26 ottobre 1972, n. 633, nonche' di quelle concernenti la mancata,
incompleta o non veritiera risposta alle richieste formulate dall'ufficio. Sulle somme dovute a
titolo di contributi previdenziali e assistenziali di cui al comma 3 non si applicano sanzioni e
interessi.
6. Le disposizioni dei commi da 1 a 5 si applicano anche in relazione ai periodi d'imposta per
i quali era applicabile la definizione ai sensi dell'articolo 3 del decreto - legge 30 settembre
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1994, n. 564, convertito, con modificazioni, dalla legge 30 novembre 1994, n. 656, e
dell'articolo 2, comma 137, della legge 23 dicembre 1996, n. 662.
7. Le disposizioni del presente articolo si applicano, in quanto compatibili, anche ai sostituti
d'imposta.Art. 3.
Definizione degli accertamenti nelle altre imposte indirette
1. La definizione ha effetto per tutti i tributi di cui all'articolo 1, comma 2, dovuti dal
contribuente, relativamente ai beni e ai diritti indicati in ciascun atto, denuncia o dichiarazione
che ha formato oggetto di imposizione. Il valore definito vincola l'ufficio ad ogni ulteriore
effetto limitatamente ai menzionati tributi. Sono escluse adesioni parziali riguardanti singoli
beni o diritti contenuti nello stesso atto, denuncia o dichiarazione.
2. Se un atto contiene piu' disposizioni che non derivano necessariamente, per la loro
intrinseca natura, le une dalle altre, ciascuna di esse, se soggetta ad autonoma imposizione,
costituisce oggetto di definizione come se fosse un atto distinto.
3. A seguito della definizione, le sanzioni dovute per ciascun tributo oggetto dell'adesione si
applicano nella misura di un quarto del minimo previsto dalla legge.
4. L'accertamento definito con adesione non e' soggetto ad impugnazione e non e' integrabile
o modificabile da parte dell'ufficio.
Capo II
Procedimento per la definizione degli accertamenti nelle imposte sui redditi e nell'imposta sul
valore aggiunto.
Art. 4.
Competenza degli uffici
1. Competente alla definizione e' l'ufficio delle entrate, nella cui circoscrizione il contribuente
ha il domicilio fiscale.
2. Nel caso di esercizio di attivita' d'impresa o di arti e professioni in forma associata, di cui
all'articolo 5 del testo unico delle imposte sui redditi, approvato con decreto del Presidente
della Repubblica 22 dicembre 1986, n. 917, ovvero in caso di azienda coniugale non gestita in
forma societaria, l'ufficio competente all'accertamento nei confronti della societa',
dell'associazione o del titolare dell'azienda coniugale effettua la definizione anche del reddito
attribuibile ai soci, agli associati o all'altro coniuge, con unico atto e in loro contraddittorio.
Nei confronti dei soggetti che non aderiscono alla definizione o che, benche' ritualmente
convocati secondo le precedenti modalita' non hanno partecipato al contraddittorio, gli uffici
23
competenti procedono all'accertamento sulla base della stessa; non si applicano gli articoli 2,
comma 5, e 15, comma 1, del presente decreto.
3. Fino all'entrata in funzione dell'ufficio delle entrate sono competenti l'ufficio distrettuale
delle imposte dirette ovvero, nei casi disciplinati dall'articolo 6, comma 2, l'ufficio
dell'imposta sul valore aggiunto, se la definizione ha ad oggetto esclusivamente fattispecie
rilevanti ai fini di tale imposta.
4. Non si applicano le disposizioni dell'articolo 44 del decreto del Presidente della Repubblica
29 settembre 1973, n. 600, riguardante la partecipazione dei comuni all'accertamento dei
redditi delle persone fisiche.
Art. 5.
Avvio del procedimento
1. L'ufficio invia al contribuente un invito a comparire, nel quale sono indicati:
a) i periodi di imposta suscettibili di accertamento;
b) il giorno e il luogo della comparizione per definire l'accertamento con adesione.
2. La richiesta di chiarimenti inviata al contribuente ai sensi dell'articolo 12, comma 1, del
decreto - legge 2 marzo 1989, n. 69, convertito, con modificazioni, dalla legge 27 aprile 1989,
n. 154, riguardante la determinazione induttiva di ricavi, compensi e volumi d'affari sulla base
di coefficienti presuntivi, costituisce anche invito al contribuente per l'eventuale definizione
dell'accertamento con adesione.
3. Fino all'entrata in funzione dell'ufficio delle entrate, l'ufficio distrettuale delle imposte
dirette, dopo aver controllato la posizione del contribuente riguardo alle imposte sui redditi,
richiede all'ufficio dell'imposta sul valore aggiunto la trasmissione degli elementi in suo
possesso, rilevanti per la definizione dell'accertamento con adesione e invia al contribuente
l'invito a comparire di cui al comma 1, dandone comunicazione all'ufficio dell'imposta sul
valore aggiunto, che puo' delegare un proprio funzionario a partecipare al procedimento.
L'ufficio dell'imposta sul valore aggiunto, anche di propria iniziativa, trasmette all'ufficio
distrettuale delle imposte dirette, gli elementi idonei alla formulazione di un avviso di rettifica
ai sensi degli articoli 54 e 55 del decreto del Presidente della Repubblica 26 ottobre 1972, n.
633.
Art. 6.
Istanza del contribuente
1. Il contribuente nei cui confronti sono stati effettuati accessi, ispezioni o verifiche ai sensi
degli articoli 33 del decreto del Presidente della Repubblica 29 settembre 1973, n. 600, e 52
del decreto del Presidente della Repubblica 26 ottobre 1972, n. 633, puo' chiedere all'ufficio,
24
con apposita istanza in carta libera, la formulazione della proposta di accertamento ai fini
dell'eventuale definizione.
2. Il contribuente nei cui confronti sia stato notificato avviso di accertamento o di rettifica,
non preceduto dall'invito di cui all'articolo 5, puo' formulare anteriormente all'impugnazione
dell'atto innanzi la commissione tributaria provinciale, istanza in carta libera di accertamento
con adesione, indicando il proprio recapito, anche telefonico.
3. Il termine per l'impugnazione indicata al comma 2 e quello per il pagamento dell'imposta
sul valore aggiunto accertata, indicato nell'articolo 60, primo comma, del decreto del
Presidente della Repubblica 26 ottobre 1972, n. 633, sono sospesi per un periodo di novanta
giorni dalla data di presentazione dell'istanza del contribuente; l'iscrizione a titolo provvisorio
nei ruoli delle imposte accertate dall'ufficio, ai sensi dell'articolo 15, primo comma, del
decreto del Presidente della Repubblica 29 settembre 1973, n. 602, e' effettuata, qualora ne
ricorrano i presupposti, successivamente alla scadenza del termine di sospensione.
L'impugnazione dell'atto comporta rinuncia all'istanza.
4. Entro quindici giorni dalla ricezione dell'istanza di cui al comma 2, l'ufficio, anche
telefonicamente o telematicamente, formula al contribuente l'invito a comparire. Fino
all'attivazione dell'ufficio delle entrate, la definizione ha effetto ai soli fini del tributo che ha
formato oggetto di accertamento. All'atto del perfezionamento della definizione, l'avviso di
cui al comma 2 perde efficacia.
Art. 7.
Atto di accertamento con adesione
1. L'accertamento con adesione e' redatto con atto scritto in duplice esemplare, sottoscritto dal
contribuente e dal capo dell'ufficio o da un suo delegato. Nell'atto sono indicati,
separatamente per ciascun tributo, gli elementi e la motivazione su cui la definizione si fonda,
nonche' la liquidazione delle maggiori imposte, delle sanzioni e delle altre somme
eventualmente dovute, anche in forma rateale.
Art. 8.
Adempimenti successivi
1. Il versamento delle somme dovute per effetto dell'accertamento con adesione e' eseguito
entro venti giorni dalla redazione dell'atto di cui all'articolo 7, mediante delega ad una banca
autorizzata o tramite il concessionario del servizio di riscossione competente in base all'ultimo
domicilio fiscale del contribuente.
2. Le somme dovute possono essere versate anche ratealmente in un massimo di otto rate
trimestrali di pari importo o in un massimo di dodici rate trimestrali se le somme dovute
25
superano i cento milioni di lire. L'importo della prima rata e' versato entro il termine indicato
nel comma 1. Sull'importo delle rate successive sono dovuti gli interessi al saggio legale,
calcolati dalla data di perfezionamento dell'atto di adesione, e per il versamento di tali somme
il contribuente e' tenuto a prestare garanzia con le modalita' di cui all'articolo 38 -bis del
decreto del Presidente della Repubblica 26 ottobre 1972, n. 633, per il periodo di rateazione
del detto importo, aumentato di un anno.
3. Entro dieci giorni dal versamento dell'intero importo o di quello della prima rata il
contribuente fa pervenire all'ufficio la quietanza dell'avvenuto
pagamento
e la
26
commissione tributaria provinciale, puo' formulare in carta libera istanza di accertamento con
adesione, indicando il proprio recapito, anche telefonico.
2. La presentazione dell'istanza, anche da parte di un solo obbligato, comporta la sospensione,
per tutti i coobbligati, dei termini per l'impugnazione indicata al comma 1 e di quelli per la
riscossione delle imposte in pendenza di giudizio, per un periodo di novanta giorni.
L'impugnazione dell'atto da parte del soggetto che abbia richiesto l'accertamento con adesione
comporta rinuncia all'istanza.
3. Entro quindici giorni dalla ricezione dell'istanza, l'ufficio, anche telefonicamente o
telematicamente, formula al contribuente l'invito a comparire.
4. All'atto del perfezionamento della definizione, l'avviso di cui al comma 1 perde efficacia.
Art. 13.
Atto di accertamento con adesione, adempimenti successivi e definizione
1. La definizione si perfeziona secondo quanto previsto dagli articoli 7, 8 e 9. Il versamento
delle somme dovute per effetto dell'adesione e' effettuato presso l'ufficio del registro.
Capo IV
Conciliazione giudiziale
Art. 14.
Disposizioni in materia di conciliazione giudiziale
1. L'articolo 48 del decreto legislativo 31 dicembre 1992, n. 546, come sostituito dall'articolo
12 del decreto - legge 8 agosto 1996, n. 437, convertito, con modificazioni, dalla legge 24
ottobre 1996, n. 556, e' sostituito dal seguente:
"Art. 48 (Conciliazione giudiziale) . - 1. Ciascuna delle parti con l'istanza prevista dall'articolo
33, puo' proporre all'altra parte la conciliazione totale o parziale della controversia.
2. La conciliazione puo' aver luogo solo davanti alla commissione provinciale e non oltre la
prima udienza, nella quale il tentativo di conciliazione puo' essere esperito d'ufficio anche
dalla commissione.
3. Se la conciliazione ha luogo, viene redatto apposito processo verbale nel quale sono
indicate le somme dovute a titolo d'imposta, di sanzioni e di interessi. Il processo verbale
costituisce titolo per la riscossione delle somme dovute mediante versamento diretto in
un'unica soluzione ovvero in forma rateale, in un massimo di otto rate trimestrali di pari
importo, ovvero in un massimo di dodici rate trimestrali se le somme dovute superano i cento
milioni di lire, previa prestazione di idonea garanzia secondo le modalita' di cui all'articolo 38
-bis del decreto del Presidente della Repubblica 26 ottobre 1972, n. 633. La conciliazione si
perfeziona con il versamento, entro il termine di venti giorni dalla data di redazione del
27
processo verbale, dell'intero importo dovuto ovvero della prima rata e con la prestazione della
predetta garanzia sull'importo delle rate successive, comprensivo degli interessi al saggio
legale calcolati con riferimento alla stessa data, e per il periodo di rateazione di detto importo
aumentato di un anno. Per le modalita' di versamento si applica l'articolo 5 del decreto del
Presidente della Repubblica 28 settembre 1994, n. 592. Le predette modalita' possono essere
modificate con decreto del Ministro delle finanze, di concerto con il Ministro del tesoro.
4. Qualora una delle parti abbia proposto la conciliazione e la stessa non abbia luogo nel corso
della prima udienza, la commissione puo' assegnare un termine non superiore a sessanta
giorni, per la formazione di una proposta ai sensi del comma 5.
5. L'ufficio puo', sino alla data di trattazione in camera di consiglio, ovvero fino alla
discussione in pubblica udienza, depositare una proposta di conciliazione alla quale l'altra
parte abbia previamente aderito. Se l'istanza e' presentata prima della fissazione della data di
trattazione, il presidente della commissione, se ravvisa la sussistenza dei presupposti e delle
condizioni di ammissibilita', dichiara con decreto l'estinzione del giudizio. La proposta di
conciliazione ed il decreto tengono luogo del processo verbale di cui al comma 3. Il decreto e'
comunicato alle parti ed il versamento dell'intero importo o della prima rata deve essere
effettuato entro venti giorni dalla data della comunicazione. Nell'ipotesi in cui la conciliazione
non sia ritenuta ammissibile il presidente della commissione fissa la trattazione della
controversia. Il provvedimento del presidente e' depositato in segreteria entro dieci giorni
dalla data di presentazione della proposta.
6. In caso di avvenuta conciliazione le sanzioni amministrative si applicano nella misura di un
terzo delle somme irrogate.".
28
29
c) il quarto comma dell'articolo 54 del decreto del Presidente della Repubblica 29 settembre
1973, n. 600, riguardante l'applicazione in misura ridotta delle sanzioni in caso di rinuncia
all'impugnazione dell'accertamento.
2. Con effetto dalla data di entrata in vigore del .presente decreto legislativo sono abrogate
tutte le altre disposizioni con esso incompatibili.
3. Le disposizioni dei capi II e III del titolo I possono essere integrate o modificate con
regolamento da emanare ai sensi dell'articolo 17, comma 2, della legge 23 agosto 1988, n.
400.
30
DIREITO ESPANHOL
Artculo 1816
La transaccin tiene para las partes la autoridad de la cosa juzgada; pero no proceder la va
de apremio sino tratndose del cumplimiento de la transaccin judicial.
Artculo 1817
31
La transaccin en que intervenga error, dolo, violencia o falsedad de documentos, est sujeta a
lo dispuesto en el artculo 1265 de este Cdigo.
Sin embargo, no podr una de las partes oponer el error de hecho a la otra siempre que sta se
haya apartado por la transaccin de un pleito comenzado.
Artculo 1818
El descubrimiento de nuevos documentos no es causa para anular o rescindir la transaccin, si
no ha habido mala fe.
Artculo 1819
Si estando decidido un pleito por sentencia firme, se celebrare transaccin sobre l por ignorar
la existencia de la sentencia firme alguna de las partes interesadas, podr sta pedir que se
rescinda la transaccin.
La ignorancia de una sentencia que pueda revocarse, no es causa para atacar la transaccin.
Artculo 155.
b.
regularizacin.
c.
32
apartado 1 del artculo 188 de esta Ley, as como la renuncia a la tramitacin separada del
procedimiento sancionador.
d.
Autorizacin del rgano competente para liquidar, que podr ser previa o simultnea a
33
Artculo 156.
Actas de conformidad.
1. Con carcter previo a la firma del acta de conformidad se conceder trmite de audiencia al
interesado para que alegue lo que convenga a su derecho.
2. Cuando el obligado tributario o su representante manifieste su conformidad con la
propuesta de regularizacin que formule la inspeccin de los tributos, se har constar
expresamente esta circunstancia en el acta.
3. Se entender producida y notificada la liquidacin tributaria de acuerdo con la propuesta
formulada en el acta si, en el plazo de un mes contado desde el da siguiente a la fecha del
acta, no se hubiera notificado al interesado acuerdo del rgano competente para liquidar, con
alguno de los siguientes contenidos:
a.Rectificando errores materiales.
b.Ordenando completar el expediente mediante la realizacin de las actuaciones que
procedan.
c.Confirmando la liquidacin propuesta en el acta.
d.Estimando que en la propuesta de liquidacin ha existido error en la apreciacin de los
hechos o indebida aplicacin de las normas jurdicas y concediendo al interesado plazo de
audiencia previo a la liquidacin que se practique.
4. Para la imposicin de las sanciones que puedan proceder como consecuencia de estas
liquidaciones ser de aplicacin la reduccin prevista en el apartado 1 del artculo 188 de esta
Ley.
5. A los hechos y elementos determinantes de la deuda tributaria respecto de los que el
obligado tributario o su representante prest su conformidad les ser de aplicacin lo
dispuesto en el apartado 2 del artculo 144 de esta Ley.
34
DIREITO FRANCS
CODE CIVIL
TITRE XV
Des transactions (Articles 2044 2058)
Article 2044
La transaction est un contrat par lequel les parties terminent une contestation ne, ou
prviennent une contestation natre.
Ce contrat doit tre rdig par crit.
Article 2045
Pour transiger, il faut avoir la capacit de disposer des objets compris dans la transaction.
Le tuteur ne peut transiger pour le mineur ou le majeur en tutelle que conformment l'article
467 au titre "De la minorit, de la tutelle et de l'mancipation" ; et il ne peut transiger avec le
mineur devenu majeur, sur le compte de tutelle, que conformment l'article 472 au mme
titre.
Les communes et tablissements publics ne peuvent transiger qu'avec l'autorisation expresse
du roi (du Premier ministre).
Article 2046
On peut transiger sur l'intrt civil qui rsulte d'un dlit.
La transaction n'empche pas la poursuite du ministre public.
Article 2047
On peut ajouter une transaction la stipulation d'une peine contre celui qui manquera de
l'excuter.
Article 2048
Les transactions se renferment dans leur objet : la renonciation qui y est faite tous droits,
actions et prtentions, ne s'entend que de ce qui est relatif au diffrend qui y a donn lieu.
Article 2049
Les transactions ne rglent que les diffrends qui s'y trouvent compris, soit que les parties
aient manifest leur intention par des expressions spciales ou gnrales, soit que l'on
reconnaisse cette intention par une suite ncessaire de ce qui est exprim.
Article 2050
35
Si celui qui avait transig sur un droit qu'il avait de son chef acquiert ensuite un droit
semblable du chef d'une autre personne, il n'est point, quant au droit nouvellement acquis, li
par la transaction antrieure.
Article 2051
La transaction faite par l'un des intresss ne lie point les autres intresss et ne peut tre
oppose par eux.
Article 2052
Les transactions ont, entre les parties, l'autorit de la chose juge en dernier ressort.
Elles ne peuvent tre attaques pour cause d'erreur de droit, ni pour cause de lsion.
Article 2053
Nanmoins, une transaction peut tre rescinde lorsqu'il y a erreur dans la personne ou sur
l'objet de la contestation.
Elle peut l'tre dans tous les cas o il y a dol ou violence.
Article 2054
Il y a galement lieu l'action en rescision contre une transaction lorsqu'elle a t faite en
excution d'un titre nul, moins que les parties n'aient expressment trait sur la nullit.
Article 2055
La transaction faite sur pices qui depuis ont t reconnues fausses est entirement nulle.
Article 2056
La transaction sur un procs termin par un jugement pass en force de chose juge, dont les
parties ou l'une d'elles n'avaient point connaissance, est nulle.
Si le jugement ignor des parties tait susceptible d'appel, la transaction sera valable.
Article 2057
Lorsque les parties ont transig gnralement sur toutes les affaires qu'elles pouvaient avoir
ensemble, les titres qui leur taient alors inconnus, et qui auraient t postrieurement
dcouverts, ne sont point une cause de rescision, moins qu'ils n'aient t retenus par le fait
de l'une des parties.
Mais la transaction serait nulle si elle n'avait qu'un objet sur lequel il serait constat, par des
titres nouvellement dcouverts, que l'une des parties n'avait aucun droit.
Article 2058
L'erreur de calcul dans une transaction doit tre rpare.
36
37
II. Un inspecteur des impts remplit les fonctions de secrtaire et assiste aux sances avec
voix consultative.
III. Les membres non fonctionnaires de la commission sont nomms pour un an et leur
mandat est renouvelable. Ils sont soumis aux obligations du secret professionnel.
IV. La commission se runit sur la convocation du directeur des services fiscaux.
La commission dlibre valablement, condition qu'il y ait au moins cinq membres prsents,
y compris le prsident. En cas de partage des voix, celle du prsident est prpondrante.
Article 1653 B
(insr par Edition du 1 juillet 1979))
1. La commission dpartementale de conciliation comptente est celle dans le ressort de
laquelle les biens sont situs ou immatriculs s'il s'agit de navires ou de bateaux.
Lorsque des biens ne formant qu'une seule exploitation sont situs sur plusieurs
dpartements, la commission comptente est celle du dpartement sur le territoire duquel se
trouve le sige de l'exploitation ou, dfaut de sige, la partie des biens prsentant le plus
grand revenu d'aprs la matrice cadastrale.
2.
(Transfr
sous
l'article
R59
B-1
du
livre
des
procdures
fiscales).
38
Article L38
1. Pour la recherche et la constatation des infractions aux dispositions du titre III de la
premire partie du livre Ier du code gnral des impts et aux lgislations dictant les mmes
rgles en matire de procdure et de recouvrement, les agents habilits cet effet par
l'administration des douanes et droits indirects, peuvent effectuer des visites en tous lieux,
mme privs, o les pices, documents, objets ou marchandises se rapportant ces infractions
sont susceptibles d'tre dtenus et procder leur saisie, quel qu'en soit le support. Ils sont
accompagns d'un officier de police judiciaire.
2. Hormis les cas de flagrance, chaque visite doit tre autorise par une ordonnance du
prsident du tribunal de grande instance dans le ressort duquel sont situs les locaux visiter
ou d'un juge dlgu par lui.
Le juge doit vrifier de manire concrte que la demande d'autorisation qui lui est soumise est
bien fonde ; cette demande doit comporter tous les lments d'information en possession de
l'administration de nature justifier la visite.
Il dsigne l'officier de police judiciaire charg d'assister ces oprations et de le tenir inform
de leur droulement.
L'ordonnance comporte :
le cas chant, mention de la dlgation du prsident du tribunal de grande instance ;
l'adresse des lieux visiter ;
le nom et la qualit du fonctionnaire habilit qui a sollicit et obtenu l'autorisation de procder
aux oprations de visite.
Le juge motive sa dcision par l'indication des lments de fait et de droit qu'il retient et qui
laissent prsumer, en l'espce, l'existence des infractions dont la preuve est recherche.
Si, l'occasion de la visite, les agents habilits dcouvrent l'existence d'un coffre dans un
tablissement de crdit dont la personne occupant les lieux visits est titulaire et o des
pices, documents, objets ou marchandises se rapportant aux infractions vises au 1. sont
susceptibles de se trouver, ils peuvent, sur autorisation dlivre par tout moyen par le juge qui
a pris l'ordonnance, procder immdiatement la visite de ce coffre. Mention de cette
autorisation est porte au procs-verbal prvu au 4.
La visite s'effectue sous l'autorit et le contrle du juge qui l'a autorise.
39
40
Si l'inventaire sur place prsente des difficults, les pices et documents saisis sont placs
sous scells. L'occupant des lieux ou son reprsentant est avis qu'il peut assister l'ouverture
des scells qui a lieu en prsence de l'officier de police judiciaire ; l'inventaire est alors tabli.
5. Les originaux du procs-verbal de visite et de l'inventaire sont, ds qu'ils ont t tablis,
adresss au juge qui a dlivr l'ordonnance ; une copie de ces mmes documents est remise
l'occupant des lieux ou son reprsentant.
Les pices et documents saisis sont restitus l'occupant des lieux aprs excution de la
transaction conscutive la rdaction du procs-verbal de constatation des infractions prvu
par l'article L. 212 A ; en cas de poursuites judiciaires, leur restitution est autorise par
l'autorit judiciaire comptente.
6. Les informations recueillies ne peuvent tre exploites dans le cadre d'une procdure de
vrification de comptabilit ou de contrle de revenu qu'aprs restitution des pices ou de leur
reproduction et mise en oeuvre des procdures de contrle vises aux premier et deuxime
alinas de l'article L. 47.
7. Les dispositions des 1 6 peuvent tre mises en oeuvre par les agents de l'administration
des impts habilits cet effet par le directeur gnral des impts, pour la recherche et la
constatation des infractions aux dispositions de l'article 290 quater et du III de l'article 298 bis
du code gnral des impts.
Ces dispositions entrent en vigueur compter du 1er juillet 2003.
41
faisant foi jusqu' preuve du contraire, qui doit tre apporte selon les modalits prvues par
le dernier alina de l'article 537 du code de procdure pnale.
NOTA : Un dcret en Conseil d'Etat fixe les modalits d'application du prsent article.
Article L86
Les agents de l'administration ont un droit de communication l'gard des membres des
professions non commerciales dfinies ci-aprs :
a. Les professions dont l'exercice autorise l'intervention dans des transactions, la prestation de
services caractre juridique, financier ou comptable ou la dtention de biens ou de fonds
pour le compte de tiers ;
b. Les professions consistant titre principal en la prestation de services caractre dcoratif
ou architectural ou en la cration et la vente de biens ayant le mme caractre.
Le droit prvu au premier alina ne porte que sur l'identit du client, le montant, la date et la
forme du versement ainsi que les pices annexes de ce versement. Il ne peut entraner pour les
personnes auprs desquelles il est exerc l'tablissement d'impositions supplmentaires si ce
n'est aprs la mise en oeuvre d'une procdure de vrification prvue aux articles L. 47 et
suivants.
42
I. - La commission dpartementale des impts directs et des taxes sur le chiffre d'affaires
intervient lorsque le dsaccord porte :
1 Sur le montant du rsultat industriel et commercial, non commercial, agricole ou du chiffre
d'affaires, dtermin selon un mode rel d'imposition ;
2 Sur les conditions d'application des rgimes d'exonration ou d'allgements fiscaux en
faveur des entreprises nouvelles, l'exception de la qualification des dpenses de recherche
mentionnes au II de l'article 244 quater B du code gnral des impts ;
3 Sur l'application du 1 du 1 de l'article 39 et du d de l'article 111 du mme code relatifs aux
rmunrations non dductibles pour la dtermination du rsultat des entreprises industrielles
ou commerciales, ou du 5 de l'article 39 du mme code relatif aux dpenses que ces mmes
entreprises doivent mentionner sur le relev prvu l'article 54 quater du mme code ;
4 Sur la valeur vnale des immeubles, des fonds de commerce, des parts d'intrts, des
actions ou des parts de socits immobilires servant de base la taxe sur la valeur ajoute, en
application du 6 et du 1 du 7 de l'article 257 du mme code.
II. - Dans les domaines mentionns au I, la commission dpartementale des impts directs et
des taxes sur le chiffre d'affaires peut, sans trancher une question de droit, se prononcer sur les
faits susceptibles d'tre pris en compte pour l'examen de cette question de droit.
Par drogation aux dispositions du premier alina, la commission peut se prononcer sur le
caractre anormal d'un acte de gestion, sur le principe et le montant des amortissements et des
provisions ainsi que sur le caractre de charges dductibles des travaux immobiliers.
NOTA : Ces dispositions sont applicables aux propositions de rectification adresses
compter du 1er janvier 2005.
Article L59 B
(Dcret n 84-686 du 17 juillet 1984 art. 6 Journal Officiel du 24 juillet 1984)
(Loi n 88-1149 du 23 dcembre 1988 art. 26 I Journal Officiel du 28 dcembre 1988)
La commission dpartementale de conciliation intervient en cas d'insuffisance des prix ou
valuations ayant servi de base aux droits d'enregistrement ou la taxe de publicit foncire
dans les cas mentionns au 2 de l'article 667 du code gnral des impts ainsi qu' l'impt de
solidarit sur la fortune.
Article L235
(Dcret n 81-859 du 15 septembre 1981 Journal Officiel du 18 septembre 1981 en vigueur le
1er JANVIER 1982)
(Loi n 92-677 du 17 juillet 1992 art. 116 V Journal Officiel du 19 juillet 1992 en vigueur le
1er janvier 1993)
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44
45
(Partie Lgislative)
Article L251
Lorsqu'une transaction est devenue dfinitive aprs accomplissement des obligations qu'elle
prvoit et approbation de l'autorit comptente, aucune procdure contentieuse ne peut plus
tre engage ou reprise pour remettre en cause les pnalits qui ont fait l'objet de la
transaction ou les droits eux-mmes.
Dans le cas o le contribuable refuse la transaction qui lui a t propose par l'administration
et porte ultrieurement le litige devant le tribunal comptent, celui-ci fixe le taux des
majorations ou pnalits en mme temps que la base de l'impt.
46
Le directeur des services fiscaux ou le directeur rgional des douanes et droits indirects, selon
le cas, peut se prononcer sans instruction pralable sur les demandes de transaction et de
remise ou modration qui, en l'tat des procdures en cours l'poque o elles sont formes,
ne peuvent tre favorablement accueillies.
En matire d'impts locaux, les demandes gracieuses sont soumises l'avis du maire.
47
impositions tablies l'initiative des agents placs sous son autorit, lorsque les sommes
faisant l'objet de la demande n'excdent pas 150 000 Euros par cote, exercice ou affaire, selon
la nature des impts ;
b) Au ministre de l'conomie, des finances et de l'industrie, aprs avis du comit du
contentieux fiscal, douanier et des changes, dans les autres cas.
48
Lorsqu'une action judiciaire est mise en mouvement comme il est prvu l'article L. 249 le
comit du contentieux fiscal, douanier et des changes n'est pas saisi.
49
rgional des douanes et droits indirects selon le cas, dans les limites et conditions fixes par le
directeur gnral des impts ou le directeur gnral des douanes et droits indirects.
50
51
52
ANEXO C
53
809. (Numero e modo di nomina degli arbitri). Gli arbitri possono essere uno o pi, purch in
numero dispari.
Il compromesso (806) o la clausola compromissoria (808) deve contenere la nomina degli
arbitri oppure stabilire il numero di essi e il modo di nominarli (810, 81 1).
In caso di indicazione di un numero pari di arbitri, l'ulteriore arbitro, se le parti non hanno
diversamente convenuto, nominato dal presidente del tribunale nei modi previsti dall'art.
810. Qualora manchi l'indicazione del numero degli arbitri e le parti non si accordino al
riguardo, gli arbitri sono tre e, in mancanza di nomina, se le parti non hanno diversamente
convenuto, provvede il presidente del tribunale nei modi previsti dall'art. 810.
CAPO II.
DEGLI ARBITRI
810. (Nomina degli arbitri). Quando a norma del compromesso (806) o della clausola
compromissoria (808) gli arbitri debbono essere nominati dalle parti (809), ciascuna di esse,
con atto notificato a mezzo di ufficiale giudiziario (137 ss.), pu rendere noto all'altra l'arbitro
o gli arbitri che essa nomina (812), con invito a procedere alla designazione dei propri. La
parte, alla quale rivolto l'invito, deve notificare, nei venti giorni successivi, le generalit dell'
arbitro o degli arbitri da essa nominati.
In mancanza, la parte che ha fatto l'invito pu chiedere, mediante ricorso (125), che la nomina
sia fatta dal presidente del tribunale nella cui circoscrizione la sede dell'arbitrato. Se le parti
non hanno ancora determinato tale sede, il ricorso presentato al presidente del tribunale del
luogo in cui stato stipulato il compromesso o il contratto al quale si riferisce la clausola
compromissoria oppure, se tale luogo all'estero, al presidente del tribunale di Roma. Il
presidente, sentita, quando occorre, l'altra parte, provvede con ordinanza non impugnabile
(134).
La stessa disposizione si applica se la nomina di uno o pi arbitri sia dal compromesso o dalla
clausola compromissoria demandata all'autorit giudiziaria o se, essendo demandata a un
terzo, questi non vi abbia provveduto (829).
811. (Sostituzione di arbitri). Quando per qualsiasi motivo vengano a mancare tutti o alcuni
degli arbitri nominati (809), si provvede alla loro sostituzione secondo quanto stabilito per la
loro nomina nel compromesso (806) o nella clausola compromissoria (808, 809). Se la parte a
cui spetta o il terzo non vi provvede o se il compromesso
Frana
Cdigo de Processo Civil - Artigos referentes arbitragem
54
55
La clause compromissoire est la convention par laquelle les parties un contrat s'engagent
soumettre l'arbitrage les litiges qui pourraient natre relativement ce contrat.
Article 1443
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
La clause compromissoire doit, peine de nullit, tre stipule par crit dans la convention
principale ou dans un document auquel celle-ci se rfre.
Sous la mme sanction, la clause compromissoire doit, soit dsigner le ou les arbitres, soit
prvoir les modalits de leur dsignation.
Article 1444
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
Si, le litige n, la constitution du tribunal arbitral se heurte une difficult du fait de l'une des
parties ou dans la mise en oeuvre des modalits de dsignation, le prsident du tribunal de
grande instance dsigne le ou les arbitres.
Toutefois, cette dsignation est faite par le prsident du tribunal de commerce si la convention
l'a expressment prvu .
Si la clause compromissoire est soit manifestement nulle, soit insuffisante pour permettre de
constituer le tribunal arbitral, le prsident le constate et dclare n'y avoir lieu dsignation.
Article 1445
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981 )
Le litige est soumis au tribunal arbitral soit conjointement par les parties, soit par la partie la
plus diligente.
Article 1446
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981 )
Lorsqu'elle est nulle, la clause compromissoire est rpute non crite.
Chapitre II : Le compromis
Article 1447
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981 )
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Le compromis est la convention par laquelle les parties un litige n soumettent celui-ci
l'arbitrage d'une ou plusieurs personnes.
Article 1448
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981 )
Le compromis doit, peine de nullit, dterminer l'objet du litige.
Sous la mme sanction, il doit soit dsigner le ou les arbitres, soit prvoir les modalits de leur
dsignation.
Le compromis est caduc lorsqu'un arbitre qu'il dsigne n'accepte pas la mission qui lui est
confie.
Article 1449
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981 )
Le compromis est constat par crit . Il peut l'tre dans un procs-verbal sign par l'arbitre et
les parties.
Article 1450
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
Les parties ont la facult de compromettre mme au cours d'une instance dj engage devant
une autre juridiction.
Chapitre III : Rgles communes
Article 1451
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
La mission d'arbitre ne peut tre confie qu' une personne physique ; celle-ci doit avoir le
plein exercice de ses droits civils.
Si la convention d'arbitrage dsigne une personne morale, celle-ci ne dispose que du pouvoir
d'organiser l'arbitrage.
Article 1452
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
La constitution du tribunal arbitral n'est parfaite que si le ou les arbitres acceptent la mission
qui leur est confie.
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L'arbitre qui suppose en sa personne une cause de rcusation doit en informer les parties. En
ce cas, il ne peut accepter sa mission qu'avec l'accord de ces parties.
Article 1453
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981 )
Le tribunal arbitral est constitu d'un seul arbitre ou de plusieurs en nombre impair.
Article 1454
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
Lorsque les parties dsignent les arbitres en nombre pair, le tribunal arbitral est complt par
un arbitre choisi, soit conformment aux prvisions des parties, soit, en l'absence de telles
prvisions, par les arbitres dsigns, soit dfaut d'accord entre ces derniers, par le prsident
du tribunal de grande instance .
Article 1455
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981 )
Lorsqu'une personne physique ou morale est charge d'organiser l'arbitrage, la mission
d'arbitrage est confie un ou plusieurs arbitres accepts par toutes les parties.
A dfaut d'acceptation, la personne charge d'organiser l'arbitrage invite chaque partie
dsigner un arbitre et procde, le cas chant, la dsignation de l'arbitre ncessaire pour
complter le tribunal arbitral. Faute pour les parties de dsigner un arbitre, celui-ci est dsign
par la personne charge d'organiser l'arbitrage.
Le tribunal arbitral peut aussi tre directement constitu selon les modalits prvues l'alina
prcdent.
La personne charge d'organiser l'arbitrage peut prvoir que le tribunal arbitral ne rendra
qu'un projet de sentence et que si ce projet est contest par l'une des parties, l'affaire sera
soumise un deuxime tribunal arbitral. Dans ce cas, les membres du deuxime tribunal sont
dsigns par la personne charge d'organiser l'arbitrage, chacune des parties ayant la facult
d'obtenir le remplacement d'un des arbitres ainsi dsigns.
Article 1456
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
Si la convention d'arbitrage ne fixe pas de dlai, la mission des arbitres ne dure que six mois
compter du jour o le dernier d'entre eux l'a accepte.
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Le dlai lgal ou conventionnel peut tre prorog soit par accord des parties, soit, la
demande de l'une d'elles ou du tribunal arbitral, par le prsident du tribunal de grande instance
ou, dans le cas vis l'article 1444, alina 2, par le prsident du tribunal de commerce.
Article 1457
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
Dans les cas prvus aux articles 1444, 1454, 1456 et 1463 le prsident du tribunal, saisi
comme en matire de rfr par une partie ou par le tribunal arbitral, statue par ordonnance
non susceptible de recours.
Toutefois, cette ordonnance peut tre frappe d'appel lorsque le prsident dclare n'y avoir
lieu dsignation pour une des causes prvues l'article 1444 (alina 3). L'appel est form,
instruit et jug comme en matire de contredit de comptence.
Le prsident comptent est celui du tribunal qui a t dsign par la convention d'arbitrage ou,
dfaut, celui dans le ressort duquel cette convention a situ les oprations d'arbitrage. Dans
le silence de la convention, le prsident comptent est celui du tribunal du lieu o demeure le
ou l'un des dfendeurs l'incident ou, si le dfendeur ne demeure pas en France, celui du
tribunal du lieu o demeure le demandeur.
Article 1458
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
Lorsqu'un litige dont un tribunal arbitral est saisi en vertu d'une convention d'arbitrage est
port devant une juridiction de l'Etat, celle-ci doit se dclarer incomptente.
Si le tribunal arbitral n'est pas encore saisi, la juridiction doit galement se dclarer
incomptente moins que la convention d'arbitrage ne soit manifestement nulle.
Dans les deux cas, la juridiction ne peut relever d'office son incomptence.
Article 1459
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
Toute disposition ou convention contraire aux rgles dictes par le prsent chapitre est
rpute non crite.
Titre II : L'instance arbitrale
Article 1460
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
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Les arbitres rglent la procdure arbitrale sans tre tenus de suivre les rgles tablies pour les
tribunaux, sauf si les parties en ont autrement dcid dans la convention d'arbitrage.
Toutefois, les principes directeurs du procs noncs aux articles 4 10, 11 (alina 1) et 13
21 sont toujours applicables l'instance arbitrale.
Si une partie dtient un lment de preuve, l'arbitre peut aussi lui enjoindre de le produire.
Article 1461
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
Les actes de l'instruction et les procs-verbaux sont faits par tous les arbitres si le compromis
ne les autorise commettre l'un d'eux.
Les tiers sont entendus sans prestation de serment.
Article 1462
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
Tout arbitre doit poursuivre sa mission jusqu'au terme de celle-ci.
Un arbitre ne peut tre rvoqu que du consentement unanime des parties.
Article 1463
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
Un arbitre ne peut s'abstenir ni tre rcus que pour une cause de rcusation qui se serait
rvle ou serait survenue depuis sa dsignation.
Les difficults relatives l'application du prsent article sont portes devant le prsident du
tribunal comptent.
Article 1464
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
L'instance arbitrale prend fin, sous rserve des conventions particulires des parties :
1 Par la rvocation, le dcs ou l'empchement d'un arbitre ainsi que par la perte du plein
exercice des ses droits civils ;
2 Par l'abstention ou la rcusation d'un arbitre ;
3 Par l'expiration du dlai d'arbitrage.
Article 1465
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
60
L'interruption de l'instance arbitrale est rgie par les dispositions des articles 369 376.
Article 1466
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
Si, devant l'arbitre, l'une des parties conteste dans son principe ou son tendue le pouvoir
juridictionnel de l'arbitre, il appartient celui-ci de statuer sur la validit ou les limites de son
investiture.
Article 1467
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
Sauf convention contraire, l'arbitre a le pouvoir de trancher l'incident de vrification d'criture
ou de faux conformment aux dispositions des articles 287 294 et de l'article 299.
En cas d'inscription de faux incident, l'article 313 est applicable devant l'arbitre. Le dlai
d'arbitrage continue courir du jour o il a t statu sur l'incident.
Article 1468
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
L'arbitre fixe la date laquelle l'affaire sera mise en dlibr.
Aprs cette date, aucune demande ne peut tre forme ni aucun moyen soulev. Aucune
observation ne peut tre prsente ni aucune pice produite, si ce n'est la demande de
l'arbitre.
Titre III : La sentence arbitrale
Article 1469
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
Les dlibrations des arbitres sont secrtes.
Article 1470
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
La sentence arbitrale est rendue la majorit des voix.
Article 1471
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
61
La sentence arbitrale doit exposer succinctement les prtentions respectives des parties et
leurs moyens. La dcision doit tre motive.
Article 1472
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
La sentence arbitrale contient l'indication :
- du nom des arbitres qui l'ont rendue ;
- de sa date ;
- du lieu o elle est rendue ;
- des nom, prnoms ou dnomination des parties, ainsi que de leur domicile ou sige social;
- le cas chant, du nom des avocats ou de toute personne ayant reprsent ou assist les
parties.
Article 1473
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
La sentence arbitrale est signe par tous les arbitres.
Toutefois, si une minorit d'entre eux refuse de la signer, les autres en font mention et la
sentence a le mme effet que si elle avait t signe par tous les arbitres.
Article 1474
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
L'arbitre tranche le litige conformment aux rgles de droit, moins que, dans la convention
d'arbitrage, les parties ne lui aient confr mission de statuer comme amiable compositeur.
Article 1475
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
La sentence dessaisit l'arbitre de la contestation qu'elle tranche.
L'arbitre a nanmoins le pouvoir d'interprter la sentence, de rparer les erreurs et omissions
matrielles qui l'affectent et de la complter lorsqu'il a omis de statuer sur un chef de
demande. Les articles 461 463 sont applicables. Si le tribunal arbitral ne peut tre nouveau
runi, ce pouvoir appartient la juridiction qui eut t comptente dfaut d'arbitrage.
Article 1476
62
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
La sentence arbitrale a, ds qu'elle est rendue, l'autorit de la chose juge relativement la
contestation qu'elle tranche.
Article 1477
(Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif JORF 21 mai
1981)
(Dcret n 92-755 du 31 juillet 1992 art. 305 Journal Officiel du 5 aot 1992)
La sentence arbitrale n'est susceptible d'excution force qu'en vertu d'une dcision
d'exequatur manant du tribunal de grande instance dans le ressort duquel la sentence a t
rendue.
A cet effet, la minute de la sentence accompagne d'un exemplaire de la convention
d'arbitrage est dpose par l'un des arbitres ou par la partie la plus diligente au secrtariat de la
juridiction.
Article 1478
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
L'exequatur est appos sur la minute de la sentence arbitrale.
L'ordonnance qui refuse l'exequatur doit tre motive.
Article 1479
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
Les rgles sur l'excution provisoire des jugements sont applicables aux sentences arbitrales.
En cas d'appel ou de recours en annulation, le premier prsident ou le magistrat charg de la
mise en tat ds lors qu'il est saisi, peut accorder l'exequatur la sentence arbitrale assortie de
l'excution provisoire. Il peut aussi ordonner l'excution provisoire dans les conditions
prvues aux articles 525 et 526 ; sa dcision vaut exequatur.
Article 1480
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
Les dispositions des articles 1471 (alina 2), 1472, en ce qui concerne le nom des arbitres et la
date de la sentence, et 1473 sont prescrites peine de nullit.
Titre IV : Les voies de recours
Article 1481
63
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
La sentence arbitrale n'est pas susceptible d'opposition ni de pourvoi en cassation.
Elle peut tre frappe de tierce opposition devant la juridiction qui et t comptente dfaut
d'arbitrage, sous rserve des dispositions de l'article 588 (alina 1).
Article 1482
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
La sentence arbitrale est susceptible d'appel moins que les parties n'aient renonc l'appel
dans la convention d'arbitrage. Toutefois, elle n'est pas susceptible d'appel lorsque l'arbitre a
reu mission de statuer comme amiable compositeur, moins que les parties n'aient
expressment rserv cette facult dans la convention d'arbitrage .
Article 1483
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
Lorsque, suivant les distinctions faites l'article 1482, les parties n'ont pas renonc l'appel,
ou qu'elles se sont rserves expressment cette facult dans la convention d'arbitrage , la voie
de l'appel est seule ouverte, qu'elle tende la rformation de la sentence arbitrale ou son
annulation. Le juge d'appel statue comme amiable compositeur lorsque l'arbitre avait cette
mission.
Article 1484
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
Lorsque, suivant les distinctions faites l'article 1482, les parties ont renonc l'appel, ou
qu'elles ne se sont pas expressment rserves cette facult dans la convention d'arbitrage, un
recours en annulation de l'acte qualifi sentence arbitrale peut nanmoins tre form malgr
toute stipulation contraire.
Il n'est ouvert que dans les cas suivants :
1 Si l'arbitre a statu sans convention d'arbitrage ou sur convention nulle ou expire ;
2 Si le tribunal arbitral a t irrgulirement compos ou l'arbitre unique irrgulirement
dsign ;
3 Si l'arbitre a statu sans se conformer la mission qui lui avait t confre ;
4 Lorsque le principe de la contradiction n'a pas t respect ;
5 Dans tous les cas de nullit prvus l'article 1480 ;
64
65
L'ordonnance qui refuse l'exequatur peut tre frappe d'appel jusqu' l'expiration du dlai d'un
mois compter de sa signification. En ce cas, la cour d'appel connat, la demande des
parties, des moyens que celles-ci auraient pu faire valoir contre la sentence arbitrale, par la
voie de l'appel ou du recours en annulation selon le cas.
Article 1490
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
Le rejet de l'appel ou du recours en annulation confre l'exequatur la sentence arbitrale ou
celles de ses dispositions qui ne sont pas atteintes par la censure de la cour.
Article 1491
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
Le recours en rvision est ouvert contre la sentence arbitrale dans les cas et sous les
conditions prvus pour les jugements.
Il est port devant la cour d'appel qui et t comptente pour connatre des autres recours
contre la sentence.
Titre V : L'arbitrage international
Article 1492
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
Est international l'arbitrage qui met en cause des intrts du commerce international.
Article 1493
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
Directement ou par rfrence un rglement d'arbitrage, la convention d'arbitrage peut
dsigner le ou les arbitres ou prvoir les modalits de leur dsignation.
Si pour les arbitrages se droulant en France ou pour ceux l'gard desquels les parties ont
prvu l'application de la loi de procdure franaise, la constitution du tribunal arbitral se
heurte une difficult, la partie la plus diligente peut, sauf clause contraire, saisir le prsident
du tribunal de grande instance de Paris selon les modalits de l'article 1457.
Article 1494
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 Journal Officiel du 14 mai 1981 rectificatif
JORF 21 mai 1981)
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67
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 art. 5 et 52 Journal Officiel du 14 mai 1981
rectificatif JORF 21 mai 1981)
L'existence d'une sentence arbitrale est tablie par la production de l'original accompagn de
la convention d'arbitrage ou des copies de ces documents runissant les conditions requises
pour leur authenticit.
Si ces pices ne sont pas rdiges en langue franaise, la partie en produit une traduction
certifie par un traducteur inscrit sur la liste des experts.
Article 1500
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 art. 5 et 52 Journal Officiel du 14 mai 1981
rectificatif JORF 21 mai 1981)
Les dispositions des articles 1476 1479 sont applicables.
Chapitre II : Les voies de recours contre les sentences arbitrales rendues l'tranger ou en
matire d'arbitrage international
Article 1501
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 art. 5 et 52 Journal Officiel du 14 mai 1981
rectificatif JORF 21 mai 1981)
La dcision qui refuse la reconnaissance ou l'excution est susceptible d'appel.
Article 1502
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 art. 5 et 52 Journal Officiel du 14 mai 1981
rectificatif JORF 21 mai 1981)
L'appel de la dcision qui accorde la reconnaissance ou l'excution n'est ouvert que dans les
cas suivants :
1 Si l'arbitre a statu sans convention d'arbitrage ou sur convention nulle ou expire ;
2 Si le tribunal arbitral a t irrgulirement compos ou l'arbitre unique irrgulirement
dsign ;
3 Si l'arbitre a statu sans se conformer la mission qui lui avait t confre ;
4 Lorsque le principe de la contradiction n'a pas t respect ;
5 Si la reconnaissance ou l'excution sont contraires l'ordre public international.
Article 1503
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 art. 5 et 52 Journal Officiel du 14 mai 1981
rectificatif JORF 21 mai 1981)
L'appel prvu aux articles 1501 et 1502 est port devant la cour d'appel dont relve le juge qui
a statu. Il peut tre form jusqu' l'expiration du dlai d'un mois compter de la signification
de la dcision du juge.
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Article 1504
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 art. 5 et 52 Journal Officiel du 14 mai 1981
rectificatif JORF 21 mai 1981)
La sentence arbitrale rendue en France en matire d'arbitrage international peut faire l'objet
d'un recours en annulation dans les cas prvus l'article 1502.
L'ordonnance qui accorde l'excution de cette sentence n'est susceptible d'aucun recours.
Toutefois, le recours en annulation emporte de plein droit, dans les limites de la saisine de la
cour, recours contre l'ordonnance du juge de l'excution ou dessaisissement de ce juge.
Article 1505
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 art. 5 et 52 Journal Officiel du 14 mai 1981
rectificatif JORF 21 mai 1981)
Le recours en annulation prvu l'article 1504 est port devant la cour d'appel dans le ressort
de laquelle la sentence a t rendue. Ce recours est recevable ds le prononc de la sentence ;
il cesse de l'tre s'il n'a pas t exerc dans le mois de la signification de la sentence dclare
excutoire.
Article 1506
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 art. 5 et 52 Journal Officiel du 14 mai 1981
rectificatif JORF 21 mai 1981)
Le dlai pour exercer les recours prvus aux articles 1501, 1502 et 1504 suspend l'excution
de la sentence arbitrale. Le recours exerc dans le dlai est galement suspensif.
Article 1507
(insr par Dcret n 81-500 du 12 mai 1981 art. 5 et 52 Journal Officiel du 14 mai 1981
rectificatif JORF 21 mai 1981)
Les dispositions du titre IV du prsent livre, l'exception de celles de l'alina 1er de l'article
1487 et de l'article 1490, ne sont pas applicables aux voies de recours.
69
Espanha
Ley de Arbitraje
Ley 60/2003, de 23 de diciembre, de Arbitraje
(BOE nm. 309, de 26-12-2003, pp. 46097-46109)
JUAN CARLOS I
REY DE ESPAA
A todos los que la presente vieren y entendieren.
Sabed: Que las Cortes Generales han aprobado y Yo vengo en sancionar la siguiente ley.
TTULO I
Disposiciones generales
Artculo 1. mbito de aplicacin.
1. Esta ley se aplicar a los arbitrajes cuyo lugar se halle dentro del territorio espaol, sean de
carcter interno o internacional, sin perjuicio de lo establecido en tratados de los que Espaa
sea parte o en leyes que contengan disposiciones especiales sobre arbitraje.
2. Las normas contenidas en los apartados 3, 4 y 6 del artculo 8, en el artculo 9, excepto el
apartado 2, en los artculos 11 y 23 y en los ttulos VIII y IX de esta ley se aplicarn aun
cuando el lugar del arbitraje se encuentre fuera de Espaa.
3. Esta ley ser de aplicacin supletoria a los arbitrajes previstos en otras leyes.
4. Quedan excluidos del mbito de aplicacin de esta ley los arbitrajes laborales.
Artculo 2. Materias objeto de arbitraje.
1. Son susceptibles de arbitraje las controversias sobre materias de libre disposicin conforme
a derecho.
2. Cuando el arbitraje sea internacional y una de las partes sea un Estado o una sociedad,
organizacin o empresa controlada por un Estado, esa parte no podr invocar las prerrogativas
de su propio derecho para sustraerse a las obligaciones dimanantes del convenio arbitral.
Artculo 3. Arbitraje internacional.
70
b) Que el lugar del arbitraje, determinado en el convenio arbitral o con arreglo a ste, el lugar
de cumplimiento de una parte sustancial de las obligaciones de la relacin jurdica de la que
dimane la controversia o el lugar con el que sta tenga una relacin ms estrecha, est situado
fuera del Estado en que las partes tengan sus domicilios.
c) Que la relacin jurdica de la que dimane la controversia afecte a intereses del comercio
internacional.
2. A los efectos de lo dispuesto en el apartado anterior, si alguna de las partes tiene ms de un
domicilio, se estar al que guarde una relacin ms estrecha con el convenio arbitral; y si una
parte no tiene ningn domicilio, se estar a su residencia habitual.
Artculo 4. Reglas de interpretacin.
Cuando una disposicin de esta ley:
a) Deje a las partes la facultad de decidir libremente sobre un asunto, esa facultad
comprender la de autorizar a un tercero, incluida una institucin arbitral, a que adopte esa
decisin, excepto en el caso previsto en el artculo 34.
b) Se refiera al convenio arbitral o a cualquier otro acuerdo entre las partes, se entender que
integran su contenido las disposiciones del reglamento de arbitraje al que las partes se hayan
sometido.
c) Se refiera a la demanda, se aplicar tambin a la reconvencin, y cuando se refiera a la
contestacin, se aplicar asimismo a la contestacin a esa reconvencin, excepto en los casos
previstos en el prrafo a) del artculo 31 y en el prrafo a) del apartado 2 del artculo 38.
Artculo 5. Notificaciones, comunicaciones y cmputo de plazos.
Salvo acuerdo en contrario de las partes y con exclusin, en todo caso, de los actos de
comunicacin realizados dentro de un procedimiento judicial, se aplicarn las disposiciones
siguientes:
a) Toda notificacin o comunicacin se considerar recibida el da en que haya sido entregada
personalmente al destinatario o en que haya sido entregada en su domicilio, residencia
habitual, establecimiento o direccin. Asimismo, ser vlida la notificacin o comunicacin
realizada por tlex, fax u otro medio de telecomunicacin electrnico, telemtico o de otra
clase semejante que permitan el envo y la recepcin de escritos y documentos dejando
constancia de su remisin y recepcin y que hayan sido designados por el interesado. En el
supuesto de que no se descubra, tras una indagacin razonable, ninguno de esos lugares, se
considerar recibida el da en que haya sido entregada o intentada su entrega, por correo
certificado o cualquier otro medio que deje constancia, en el ltimo domicilio, residencia
habitual, direccin o establecimiento conocidos del destinatario.
71
72
TTULO II
Del convenio arbitral y sus efectos
Artculo 9. Forma y contenido del convenio arbitral.
1. El convenio arbitral, que podr adoptar la forma de clusula incorporada a un contrato o de
acuerdo independiente, deber expresar la voluntad de las partes de someter a arbitraje todas o
algunas de las controversias que hayan surgido o puedan surgir respecto de una determinada
relacin jurdica, contractual o no contractual.
2. Si el convenio arbitral est contenido en un contrato de adhesin, la validez de dicho
convenio y su interpretacin se regirn por lo dispuesto en las normas aplicables a ese tipo de
contrato.
3. El convenio arbitral deber constar por escrito, en un documento firmado por las partes o
en un intercambio de cartas, telegramas, tlex, fax u otros medios de telecomunicacin que
dejen constancia del acuerdo.
Se considerar cumplido este requisito cuando el convenio arbitral conste y sea accesible para
su ulterior consulta en soporte electrnico, ptico o de otro tipo.
4. Se considerar incorporado al acuerdo entre las partes el convenio arbitral que conste en un
documento al que stas se hayan remitido en cualquiera de las formas establecidas en el
apartado anterior.
5. Se considerar que hay convenio arbitral cuando en un intercambio de escritos de demanda
y contestacin su existencia sea afirmada por una parte y no negada por la otra.
6. Cuando el arbitraje fuere internacional, el convenio arbitral ser vlido y la controversia
ser susceptible de arbitraje si cumplen los requisitos establecidos por las normas jurdicas
elegidas por las partes para regir el convenio arbitral, o por las normas jurdicas aplicables al
fondo de la controversia, o por el derecho espaol.
Artculo 10. Arbitraje testamentario.
Tambin ser vlido el arbitraje instituido por disposicin testamentaria para solucionar
diferencias entre herederos no forzosos o legatarios por cuestiones relativas a la distribucin o
administracin de la herencia.
Artculo 11. Convenio arbitral y demanda en cuanto al fondo ante un Tribunal.
1. El convenio arbitral obliga a las partes a cumplir lo estipulado e impide a los tribunales
conocer de las controversias sometidas a arbitraje, siempre que la parte a quien interese lo
invoque mediante declinatoria.
2. La declinatoria no impedir la iniciacin o prosecucin de las actuaciones arbitrales.
73
3. El convenio arbitral no impedir a ninguna de las partes, con anterioridad a las actuaciones
arbitrales o durante su tramitacin, solicitar de un tribunal la adopcin de medidas cautelares
ni a ste concederlas.
TTULO III
De los rbitros
Artculo 12. Nmero de rbitros.
Las partes podrn fijar libremente el nmero de rbitros, siempre que sea impar. A falta de
acuerdo, se designar un solo rbitro.
Artculo 13. Capacidad para ser rbitro.
Pueden ser rbitros las personas naturales que se hallen en el pleno ejercicio de sus derechos
civiles, siempre que no se lo impida la legislacin a la que puedan estar sometidos en el
ejercicio de su profesin. Salvo acuerdo en contrario de las partes, la nacionalidad de una
persona no ser obstculo para que acte como rbitro.
Artculo 14. Arbitraje institucional.
1. Las partes podrn encomendar la administracin del arbitraje y la designacin de rbitros a:
a) Corporaciones de derecho pblico que puedan desempear funciones arbitrales, segn sus
normas reguladoras, y en particular el Tribunal de Defensa de la Competencia. b)
Asociaciones y entidades sin nimo de lucro en cuyos estatutos se prevean funciones
arbitrales.
2. Las instituciones arbitrales ejercern sus funciones conforme a sus propios reglamentos.
Artculo 15. Nombramiento de los rbitros.
1. En los arbitrajes internos que no deban decidirse en equidad de acuerdo con el artculo 34,
se requerir la condicin de abogado en ejercicio, salvo acuerdo expreso en contrario.
2. Las partes podrn acordar libremente el procedimiento para la designacin de los rbitros,
siempre que no se vulnere el principio de igualdad. A falta de acuerdo, se aplicarn las
siguientes reglas:
a) En el arbitraje con un solo rbitro, ste ser nombrado por el tribunal competente a peticin
de cualquiera de las partes.
b) En el arbitraje con tres rbitros, cada parte nombrar uno y los dos rbitros as designados
nombrarn al tercero, quien actuar como presidente del colegio arbitral. Si una parte no
nombra al rbitro dentro de los 30 das siguientes a la recepcin del requerimiento de la otra
para que lo haga, la designacin del rbitro se har por el tribunal competente, a peticin de
cualquiera de las partes. Lo mismo se aplicar cuando los rbitros designados no consigan
74
ponerse de acuerdo sobre el tercer rbitro dentro de los 30 das contados desde la ltima
aceptacin.
En caso de pluralidad de demandantes o de demandados, stos nombrarn un rbitro y
aqullos otro. Si los demandantes o los demandados no se pusieran de acuerdo sobre el rbitro
que les corresponde nombrar, todos los rbitros sern designados por el tribunal competente a
peticin de cualquiera de las partes.
c) En el arbitraje con ms de tres rbitros, todos sern nombrados por el tribunal competente a
peticin de cualquiera de las partes.
3. Si no resultare posible designar rbitros a travs del procedimiento acordado por las partes,
cualquiera de ellas podr solicitar al tribunal competente el nombramiento de los rbitros o, en
su caso, la adopcin de las medidas necesarias para ello.
4. Las pretensiones que se ejerciten en relacin con lo previsto en los apartados anteriores se
sustanciarn por los cauces del juicio verbal.
5. El tribunal nicamente podr rechazar la peticin formulada cuando aprecie que, de los
documentos aportados, no resulta la existencia de un convenio arbitral.
6. Si procede la designacin de rbitros por el tribunal, ste confeccionar una lista con tres
nombres por cada rbitro que deba ser nombrado. Al confeccionar dicha lista el tribunal
tendr en cuenta los requisitos establecidos por las partes para ser rbitro y tomar las
medidas necesarias para garantizar su independencia e imparcialidad. En el supuesto de que
proceda designar un solo rbitro o un tercer rbitro, el tribunal tendr tambin en cuenta la
conveniencia de nombrar un rbitro de nacionalidad distinta a la de las partes y, en su caso, a
la de los rbitros ya designados, a la vista de las circunstancias concurrentes. A continuacin,
se proceder al nombramiento de los rbitros mediante sorteo.
7. Contra las resoluciones definitivas que decidan sobre las cuestiones atribuidas en este
artculo al tribunal competente no cabr recurso alguno, salvo aquellas que rechacen la
peticin formulada de conformidad con lo establecido en el apartado 5.
Artculo 16. Aceptacin de los rbitros.
Salvo que las partes hayan dispuesto otra cosa, cada rbitro, dentro del plazo de 15 das a
contar desde el siguiente a la comunicacin del nombramiento, deber comunicar su
aceptacin a quien lo design. Si en el plazo establecido no comunica la aceptacin, se
entender que no acepta su nombramiento.
Artculo 17. Motivos de abstencin y recusacin.
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1. Todo rbitro debe ser y permanecer durante el arbitraje independiente e imparcial. En todo
caso, no podr mantener con las partes relacin personal, profesional o comercial.
2. La persona propuesta para ser rbitro deber revelar todas las circunstancias que puedan dar
lugar a dudas justificadas sobre su imparcialidad e independencia. El rbitro, a partir de su
nombramiento, revelar a las partes sin demora cualquier circunstancia sobrevenida.
En cualquier momento del arbitraje cualquiera de las partes podr pedir a los rbitros la
aclaracin de sus relaciones con algunas de las otras partes.
3. Un rbitro slo podr ser recusado si concurren en l circunstancias que den lugar a dudas
justificadas sobre su imparcialidad o independencia, o si no posee las cualificaciones
convenidas por las partes. Una parte slo podr recusar al rbitro nombrado por ella, o en
cuyo nombramiento haya participado, por causas de las que haya tenido conocimiento
despus de su designacin.
Artculo 18. Procedimiento de recusacin.
1. Las partes podrn acordar libremente el procedimiento de recusacin de los rbitros.
2. A falta de acuerdo, la parte que recuse a un rbitro expondr los motivos dentro de los
quince das siguientes a aquel en que tenga conocimiento de la aceptacin o de cualquiera de
las circunstancias que puedan dar lugar a dudas justificadas sobre su imparcialidad o
independencia. Amenos que el rbitro recusado renuncie a su cargo o que la otra parte acepte
la recusacin, corresponder a los rbitros decidir sobre sta.
3. Si no prosperase la recusacin planteada con arreglo al procedimiento acordado por las
partes o al establecido en el apartado anterior, la parte recusante podr, en su caso, hacer valer
la recusacin al impugnar el laudo.
Artculo 19. Falta o imposibilidad de ejercicio de las funciones.
1. Cuando un rbitro se vea impedido de hecho o de derecho para ejercer sus funciones, o por
cualquier otro motivo no las ejerza dentro de un plazo razonable, cesar en su cargo si
renuncia o si las partes acuerdan su remocin. Si existe desacuerdo sobre la remocin y las
partes no han estipulado un procedimiento para salvar dicho desacuerdo, se aplicarn las
siguientes reglas:
a) La pretensin de remocin se sustanciar por los trmites del juicio verbal. Se podr
acumular la solicitud de nombramiento de rbitros, en los trminos previstos en el artculo 15,
para el caso de que se estime la de remocin.
Contra las resoluciones definitivas que se dicten no cabr recurso alguno.
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TTULO IV
De la competencia de los rbitros
Artculo 22. Potestad de los rbitros para decidir sobre su competencia.
1. Los rbitros estarn facultados para decidir sobre su propia competencia, incluso sobre las
excepciones relativas a la existencia o a la validez del convenio arbitral o cualesquiera otras
cuya estimacin impida entrar en el fondo de la controversia. A este efecto, el convenio
77
arbitral que forme parte de un contrato se considerar como un acuerdo independiente de las
dems estipulaciones del mismo. La decisin de los rbitros que declare la nulidad del
contrato no entraar por s sola la nulidad del convenio arbitral.
2. Las excepciones a las que se refiere el apartado anterior debern oponerse a ms tardar en
el momento de presentar la contestacin, sin que el hecho de haber designado o participado en
el nombramiento de los rbitros impida oponerlas. La excepcin consistente en que los
rbitros se exceden del mbito de su competencia deber oponerse tan pronto como se
plantee, durante las actuaciones arbitrales, la materia que exceda de dicho mbito.
Los rbitros slo podrn admitir excepciones opuestas con posterioridad si la demora resulta
justificada.
3. Los rbitros podrn decidir las excepciones de que trata este artculo con carcter previo o
junto con las dems cuestiones sometidas a su decisin relativas al fondo del asunto. La
decisin de los rbitros slo podr impugnarse mediante el ejercicio de la accin de anulacin
del laudo en el que se haya adoptado. Si la decisin fuese desestimatoria de las excepciones y
se adoptase con carcter previo, el ejercicio de la accin de anulacin no suspender el
procedimiento arbitral.
Artculo 23. Potestad de los rbitros de adoptar medidas cautelares.
1. Salvo acuerdo en contrario de las partes, los rbitros podrn, a instancia de cualquiera de
ellas, adoptar las medidas cautelares que estimen necesarias respecto del objeto del litigio.
Los rbitros podrn exigir caucin suficiente al solicitante.
2. A las decisiones arbitrales sobre medidas cautelares, cualquiera que sea la forma que
revistan, les sern de aplicacin las normas sobre anulacin y ejecucin forzosa de laudos.
TTULO V
De la sustanciacin de las actuaciones arbitrales
Artculo 24. Principios de igualdad, audiencia y contradiccin.
1. Deber tratarse a las partes con igualdad y darse a cada una de ellas suficiente oportunidad
de hacer valer sus derechos.
2. Los rbitros, las partes y las instituciones arbitrales, en su caso, estn obligadas a guardar la
confidencialidad de las informaciones que conozcan a travs de las actuaciones arbitrales.
Artculo 25. Determinacin del procedimiento.
1. Conforme a lo dispuesto en el artculo anterior, las partes podrn convenir libremente el
procedimiento al que se hayan de ajustar los rbitros en sus actuaciones.
78
2. A falta de acuerdo, los rbitros podrn, con sujecin a lo dispuesto en esta Ley, dirigir el
arbitraje del modo que consideren apropiado. Esta potestad de los rbitros comprende la de
decidir sobre admisibilidad, pertinencia y utilidad de las pruebas, sobre su prctica, incluso de
oficio, y sobre su valoracin.
Artculo 26. Lugar del arbitraje.
1. Las partes podrn determinar libremente el lugar del arbitraje. A falta de acuerdo, lo
determinarn los rbitros, atendidas las circunstancias del caso y la conveniencia de las partes.
2. Sin perjuicio de lo dispuesto en el apartado anterior, los rbitros podrn, previa consulta a
las partes y salvo acuerdo en contrario de stas, reunirse en cualquier lugar que estimen
apropiado para or a los testigos, a los peritos o a las partes, o para examinar o reconocer
objetos, documentos o personas. Los rbitros podrn celebrar deliberaciones en cualquier
lugar que estimen apropiado.
Artculo 27. Inicio del arbitraje.
Salvo que las partes hayan convenido otra cosa, la fecha en que el demandado haya recibido
el requerimiento de someter la controversia a arbitraje se considerar la de inicio del arbitraje.
Artculo 28. Idioma del arbitraje.
1. Las partes podrn acordar libremente el idioma o los idiomas del arbitraje. A falta de
acuerdo, decidirn los rbitros, atendidas las circunstancias del caso. Salvo que en el acuerdo
de las partes o en la decisin de los rbitros se haya previsto otra cosa, el idioma o los idiomas
establecidos se utilizarn en los escritos de las partes, en las audiencias, en los laudos y en las
decisiones o comunicaciones de los rbitros.
2. Los rbitros, salvo oposicin de alguna de las partes, podrn ordenar que, sin necesidad de
proceder a su traduccin, cualquier documento sea aportado o cualquier actuacin realizada
en idioma distinto al del arbitraje.
Artculo 29. Demanda y contestacin.
1. Dentro del plazo convenido por las partes o determinado por los rbitros y a menos que las
partes hayan acordado otra cosa respecto del contenido de la demanda y de la contestacin, el
demandante deber alegar los hechos en que se funda, la naturaleza y las circunstancias de la
controversia y las pretensiones que formula, y el demandado podr responder a lo planteado
en la demanda. Las partes, al formular sus alegaciones, podrn aportar todos los documentos
que consideren pertinentes o hacer referencia a los documentos u otras pruebas que vayan a
presentar o proponer.
79
2. Salvo acuerdo en contrario de las partes, cualquiera de ellas podr modificar o ampliar su
demanda o contestacin durante el curso de las actuaciones arbitrales, a menos que los
rbitros lo consideren improcedente por razn de la demora con que se hubiere hecho.
Artculo 30. Forma de las actuaciones arbitrales.
1. Salvo acuerdo en contrario de las partes, los rbitros decidirn si han de celebrarse
audiencias para la presentacin de alegaciones, la prctica de pruebas y la emisin de
conclusiones, o si las actuaciones se sustanciarn solamente por escrito. No obstante, a menos
que las partes hubiesen convenido que no se celebren audiencias, los rbitros las sealarn, en
la fase apropiada de las actuaciones, si cualquiera de las partes lo solicitara.
2. Las partes sern citadas a todas las audiencias con suficiente antelacin y podrn intervenir
en ellas directamente o por medio de sus representantes.
3. De todas las alegaciones escritas, documentos y dems instrumentos que una parte aporte a
los rbitros se dar traslado a la otra parte. Asimismo, se pondrn a disposicin de las partes
los documentos, dictmenes periciales y otros instrumentos probatorios en que los rbitros
puedan fundar su decisin.
Artculo 31. Falta de comparecencia de las partes.
Salvo acuerdo en contrario de las partes, cuando, sin alegar causa suficiente a juicio de los
rbitros:
a) El demandante no presente su demanda en plazo, los rbitros darn por terminadas las
actuaciones, a menos que, odo el demandado, ste manifieste su voluntad de ejercitar alguna
pretensin.
b) El demandado no presente su contestacin en plazo, los rbitros continuarn las
actuaciones, sin que esa omisin se considere como allanamiento o admisin de los hechos
alegados por el demandante.
c) Una de las partes no comparezca a una audiencia o no presente pruebas, los rbitros podrn
continuar las actuaciones y dictar el laudo con fundamento en las pruebas de que dispongan.
Artculo 32. Nombramiento de peritos por los rbitros.
1. Salvo acuerdo en contrario de las partes, los rbitros podrn nombrar, de oficio o a
instancia de parte, uno o ms peritos para que dictaminen sobre materias concretas y requerir
a cualquiera de las partes para que facilite al perito toda la informacin pertinente, le presente
para su inspeccin todos los documentos u objetos pertinentes o le proporcione acceso a ellos.
2. Salvo acuerdo en contrario de las partes, cuando una parte lo solicite o cuando los rbitros
lo consideren necesario, todo perito, despus de la presentacin de su dictamen, deber
80
participar en una audiencia en la que los rbitros y las partes, por s o asistidas de peritos,
podrn interrogarle.
3. Lo previsto en los apartados precedentes se entiende sin perjuicio de la facultad de las
partes, salvo acuerdo en contrario, de aportar dictmenes periciales por peritos libremente
designados.
Artculo 33. Asistencia judicial para la prctica de pruebas.
1. Los rbitros o cualquiera de las partes con su aprobacin podrn solicitar del tribunal
competente asistencia para la prctica de pruebas, de conformidad con las normas que le sean
aplicables sobre medios de prueba. Esta asistencia podr consistir en la prctica de la prueba
ante el tribunal competente o en la adopcin por ste de las concretas medidas necesarias para
que la prueba pueda ser practicada ante los rbitros.
2. Si as se le solicitare, el tribunal practicar la prueba bajo su exclusiva direccin. En otro
caso, el tribunal se limitar a acordar las medidas pertinentes. En ambos supuestos el tribunal
entregar al solicitante testimonio de las actuaciones.
TTULO VI
Del pronunciamiento del laudo y de la terminacin de las actuaciones
Artculo 34. Normas aplicables al fondo de la controversia.
1. Los rbitros slo decidirn en equidad si las partes les han autorizado expresamente para
ello.
2. Sin perjuicio de lo dispuesto en el apartado anterior, cuando el arbitraje sea internacional,
los rbitros decidirn la controversia de conformidad con las normas jurdicas elegidas por las
partes. Se entender que toda indicacin del derecho u ordenamiento jurdico de un Estado
determinado se refiere, a menos que se exprese lo contrario, al derecho sustantivo de ese
Estado y no a sus normas de conflicto de leyes.
Si las partes no indican las normas jurdicas aplicables, los rbitros aplicarn las que estimen
apropiadas.
3. En todo caso, los rbitros decidirn con arreglo a las estipulaciones del contrato y tendrn
en cuenta los usos aplicables.
Artculo 35. Adopcin de decisiones colegiadas.
1. Cuando haya ms de un rbitro, toda decisin se adoptar por mayora, salvo que las partes
hubieren dispuesto otra cosa. Si no hubiere mayora, la decisin ser tomada por el presidente.
2. Salvo acuerdo de las partes o de los rbitros en contrario, el presidente podr decidir por s
solo cuestiones de ordenacin, tramitacin e impulso del procedimiento.
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prestado por la institucin administradora del arbitraje y los dems gastos originados en el
procedimiento arbitral.
7. Los rbitros notificarn el laudo a las partes en la forma y en el plazo que stas hayan
acordado o, en su defecto, mediante entrega a cada una de ellas de un ejemplar firmado de
conformidad con lo dispuesto en el apartado 3, dentro del mismo plazo establecido en el
apartado 2.
8. El laudo podr ser protocolizado notarialmente. Cualquiera de las partes, a su costa, podr
instar de los rbitros, antes de la notificacin, que el laudo sea protocolizado.
Artculo 38. Terminacin de las actuaciones.
1. Sin perjuicio de lo dispuesto en el artculo anterior, sobre notificacin y, en su caso,
protocolizacin del laudo, y en el artculo siguiente, sobre su correccin, aclaracin y
complemento, las actuaciones arbitrales terminarn y los rbitros cesarn en sus funciones con
el laudo definitivo.
2. Los rbitros tambin ordenarn la terminacin de las actuaciones cuando:
a) El demandante desista de su demanda, a menos que el demandado se oponga a ello y los
rbitros le reconozcan un inters legtimo en obtener una solucin definitiva del litigio.
b) Las partes acuerden dar por terminadas las actuaciones.
c) Los rbitros comprueben que la prosecucin de las actuaciones resulta innecesaria o
imposible.
3. Transcurrido el plazo que las partes hayan sealado a este fin o, en su defecto, el de dos
meses desde la terminacin de las actuaciones, cesar la obligacin de los rbitros de
conservar la documentacin del procedimiento. Dentro de ese plazo, cualquiera de las partes
podr solicitar a los rbitros que le remitan los documentos presentados por ella. Los rbitros
accedern a la solicitud siempre que no atente contra el secreto de la deliberacin arbitral y
que el solicitante asuma los gastos correspondientes al envo, en su caso.
Artculo 39. Correccin, aclaracin y complemento del laudo.
1. Dentro de los 10 das siguientes a la notificacin del laudo, salvo que las partes hayan
acordado otro plazo, cualquiera de ellas podr, con notificacin a la otra, solicitar a los
rbitros:
a) La correccin de cualquier error de clculo, de copia, tipogrfico o de naturaleza similar.
b) La aclaracin de un punto o de una parte concreta del laudo.
c) El complemento del laudo respecto de peticiones formuladas y no resueltas en l.
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2. Previa audiencia de las dems partes, los rbitros resolvern sobre las solicitudes de
correccin de errores y de aclaracin en el plazo de 10 das, y sobre la solicitud de
complemento en el plazo de 20 das.
3. Dentro de los 10 das siguientes a la fecha del laudo, los rbitros podrn proceder de oficio
a la correccin de errores a que se refiere el prrafo a) del apartado 1.
4. Lo dispuesto en el artculo 37 se aplicar a las resoluciones arbitrales sobre correccin,
aclaracin y complemento del laudo.
5. Cuando el arbitraje sea internacional, los plazos de 10 y 20 das establecidos en los
apartados anteriores sern plazos de uno y dos meses, respectivamente.
TTULO VII
De la anulacin y de la revisin del laudo
Artculo 40. Accin de anulacin del laudo.
Contra un laudo definitivo podr ejercitarse la accin de anulacin en los trminos previstos
en este ttulo.
Artculo 41. Motivos.
1. El laudo slo podr ser anulado cuando la parte que solicita la anulacin alegue y pruebe:
a) Que el convenio arbitral no existe o no es vlido.
b) Que no ha sido debidamente notificada de la designacin de un rbitro o de las actuaciones
arbitrales o no ha podido, por cualquier otra razn, hacer valer sus derechos.
c) Que los rbitros han resuelto sobre cuestiones no sometidas a su decisin.
d) Que la designacin de los rbitros o el procedimiento arbitral no se han ajustado al acuerdo
entre las partes, salvo que dicho acuerdo fuera contrario a una norma imperativa de esta Ley,
o, a falta de dicho acuerdo, que no se han ajustado a esta ley.
e) Que los rbitros han resuelto sobre cuestiones no susceptibles de arbitraje.
f) Que el laudo es contrario al orden pblico.
2. Los motivos contenidos en los prrafos b), e) y f) del apartado anterior podrn ser
apreciados por el tribunal que conozca de la accin de anulacin de oficio o a instancia del
Ministerio Fiscal en relacin con los intereses cuya defensa le est legalmente atribuida.
3. En los casos previstos en los prrafos c) y e) del apartado 1, la anulacin afectar slo a los
pronunciamientos del laudo sobre cuestiones no sometidas a decisin de los rbitros o no
susceptibles de arbitraje, siempre que puedan separarse de las dems.
4. La accin de anulacin del laudo habr de ejercitarse dentro de los dos meses siguientes a
su notificacin o, en caso de que se haya solicitado correccin, aclaracin o complemento del
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laudo, desde la notificacin de la resolucin sobre esta solicitud, o desde la expiracin del
plazo para adoptarla.
Artculo 42. Procedimiento.
1. La accin de anulacin se sustanciar por los cauces del juicio verbal. No obstante, la
demanda deber presentarse conforme a lo establecido en el artculo 399 de la Ley de
Enjuiciamiento Civil, acompaada de los documentos justificativos del convenio arbitral y del
laudo, y, en su caso, contendr la proposicin de los medios de prueba cuya prctica interese
el actor. De la demanda se dar traslado al demandado, para que conteste en el plazo de 20
das. En la contestacin deber el demandado proponer los medios de prueba de que intente
valerse. Contestada la demanda o transcurrido el correspondiente plazo, se citar a las partes a
la vista, en la que el actor podr proponer la prctica de prueba en relacin con lo alegado por
el demandado en su contestacin.
2. Frente a la sentencia que se dicte no cabr recurso alguno.
Artculo 43. Cosa juzgada y revisin de laudos firmes.
El laudo firme produce efectos de cosa juzgada y frente a l slo cabr solicitar la revisin
conforme a lo establecido en la Ley de Enjuiciamiento Civil para las sentencias firmes.
TTULO VIII
De la ejecucin forzosa del laudo
Artculo 44. Normas aplicables.
La ejecucin forzosa de los laudos se regir por lo dispuesto en la Ley de Enjuiciamiento
Civil y en este ttulo.
Artculo 45. Suspensin, sobreseimiento y reanudacin de la ejecucin en caso de ejercicio de
la accin de anulacin del laudo.
1. El laudo es ejecutable aun cuando contra l se haya ejercitado accin de anulacin. No
obstante, en ese caso el ejecutado podr solicitar al tribunal competente la suspensin de la
ejecucin, siempre que ofrezca caucin por el valor de la condena ms los daos y perjuicios
que pudieren derivarse de la demora en la ejecucin del laudo. La caucin podr constituirse
en cualquiera de las formas previstas en el prrafo segundo del apartado 3 del artculo 529 de
la Ley de Enjuiciamiento Civil. Presentada la solicitud de suspensin, el tribunal, tras or al
ejecutante, resolver sobre la caucin. Contra esta resolucin no cabr recurso alguno.
2. Se alzar la suspensin y se ordenar que contine la ejecucin cuando conste al tribunal la
desestimacin de la accin de anulacin, sin perjuicio del derecho del ejecutante a solicitar, en
su caso, indemnizacin de los daos y perjuicios causados por la demora en la ejecucin, a
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travs de los cauces ordenados en los artculos 712 y siguientes de la Ley de Enjuiciamiento
Civil.
3. Se alzar la ejecucin, con los efectos previstos en los artculos 533 y 534 de la Ley de
Enjuiciamiento Civil, cuando conste al tribunal que ha sido estimada la accin de anulacin.
Si la anulacin afectase slo a las cuestiones a que se refiere el apartado 3 del artculo 41 y
subsistiesen otros pronunciamientos del laudo, se considerar estimacin parcial, a los efectos
previstos en el apartado 2 del artculo 533 de la Ley de Enjuiciamiento Civil.
TTULO IX
Del exequtur de laudos extranjeros
Artculo 46. Carcter extranjero del laudo. Normas aplicables.
1. Se entiende por laudo extranjero el pronunciado fuera del territorio espaol.
2. El exequtur de laudos extranjeros se regir por el Convenio sobre reconocimiento y
ejecucin de las sentencias arbitrales extranjeras, hecho en Nueva York, el 10 de junio de
1958, sin perjuicio de lo dispuesto en otros convenios internacionales ms favorables a su
concesin, y se sustanciar segn el procedimiento establecido en el ordenamiento procesal
civil para el de sentencias dictadas por tribunales extranjeros.
Disposicin adicional nica. Arbitrajes de consumo.
Esta ley ser de aplicacin supletoria al arbitraje a que se refiere la Ley 26/1984, de 19 de
julio, general de defensa de consumidores y usuarios, que en sus normas de desarrollo podr
establecer la decisin en equidad, salvo que las partes opten expresamente por el arbitraje en
derecho.
Disposicin transitoria nica. Rgimen transitorio.
1. En los casos en que con anterioridad a la entrada en vigor de esta ley el demandado hubiere
recibido el requerimiento de someter la controversia a arbitraje o se hubiere iniciado el
procedimiento arbitral, ste se regir por lo dispuesto en la Ley 36/1988, de 5 de diciembre,
de Arbitraje. No obstante, se aplicarn en todo caso las normas de esta ley relativas al
convenio arbitral y a sus efectos.
2. A los laudos dictados con posterioridad a la entrada en vigor de esta ley les sern de
aplicacin las normas de sta relativas a anulacin y revisin.
3. Los procedimientos de ejecucin forzosa de laudos y de exequtur de laudos extranjeros
que se encontraren pendientes a la entrada en vigor de esta ley se seguirn sustanciando por lo
dispuesto en la Ley 36/1988, de 5 de diciembre, de Arbitraje.
Disposicin derogatoria nica. Derogaciones.
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ESTADOS UNIDOS
TITLE 26 - INTERNAL REVENUE CODE
Subtitle F - Procedure and Administration
CHAPTER 74 - CLOSING AGREEMENTS AND COMPROMISES
Sec.
7121.
Closing agreements.
7122.
Compromises.
7123.
Appeals dispute resolution procedures.
7124.
Cross references.
TITLE 26 - INTERNAL REVENUE CODE
Subtitle F - Procedure and Administration
CHAPTER 74 - CLOSING AGREEMENTS AND COMPROMISES
Sec. 7121. Closing agreements
-STATUTE(a) Authorization
The Secretary is authorized to enter into an agreement in writing with any person
relating to the liability of such person (or of the person or estate for whom he acts) in
respect of any internal revenue tax for any taxable period.
(b) Finality
If such agreement is approved by the Secretary (within such time as may be stated in
such agreement, or later agreed to) such agreement shall be final and conclusive, and,
except upon a showing of fraud or malfeasance, or misrepresentation of a material
fact(1) the case shall not be reopened as to the matters agreed upon or the agreement
modified by any officer, employee, or agent of the United States, and
(2) in any suit, action, or proceeding, such agreement, or any determination,
assessment, collection, payment, abatement, refund, or credit made in accordance
therewith, shall not be annulled, modified, set aside, or disregarded.
AMENDMENTS
1976 - Subsecs. (a), (b). Pub. L. 94-455 struck out "or his delegate" after "Secretary".
TITLE 26 - INTERNAL REVENUE CODE
Subtitle F - Procedure and Administration
CHAPTER 74 - CLOSING AGREEMENTS AND COMPROMISES
Sec. 7122. Compromises
-STATUTE(a) Authorization
The Secretary may compromise any civil or criminal case arising under the internal
revenue laws prior to reference to the Department of Justice for prosecution or
defense; and the Attorney General or his delegate may compromise any such case after
reference to the Department of Justice for prosecution or defense.
(b) Record
Whenever a compromise is made by the Secretary in any case, there shall be placed on
file in the office of the Secretary the opinion of the General Counsel for the
Department of the Treasury or his delegate, with his reasons therefor, with a statement
of -
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