Semicondutores
Semicondutores
Semicondutores
Jacobus W. Swart
1 Modelo de Feynmann
1
apresentam uma sobreposição na distância interatômica natural. Como temos apenas um
elétron por átomo, a banda formada apresentará muitos estados desocupados. Isto é
coerente com o modelo do elétron livre.
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Fig. 2 Níveis de energias de estados quânticos de um sólido de sódio, variando-se a
distância interatômica de 0 a 15 A, juntamente com as bandas ou níveis discretos de
energias obtidas para 3 distâncias: 3.67 A, 10 A e .
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2 Metais, Semicondutores e Isolantes
4
Fig. 5 (a) Relação E x k da primeira banda permitida de cristal unidimensional de estados
e (b) a variação da velocidade de grupo e (c) da massa efetiva com k.
Analogamente, um material em que cada átomo contribui com dois elétrons para
preencher uma banda, resulta em uma banda completamente preenchida. Vimos que, a
relação E x k apresenta derivada nula (Fig. 4) para os estados do topo da banda e que
como conseqüência o número efetivo de elétrons de condução desta banda é nulo . Este
material será então um isolante, como já foi discutido no item 7.5. Analogamente, um
material com átomos com número impar de elétrons será um condutor, enquanto que
materiais com átomos com número par de elétrons será um isolante.
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bandas consecutivas (largura da banda proibida negativa). Analisemos agora diagramas
de energia simplificados de alguns materiais condutores, isolantes e semicondutores.
a) Condutores: são materiais caracterizados por sua última banda não totalmente
preenchida (como Na, Al), ou ainda por apresentar sua última banda totalmente
preenchida, mas com uma sobreposição com a banda seguinte (caso Mg). A Fig. 6 mostra
os diagramas de banda esquemáticos dos metais Na, Mg e Al. O Na apresenta metade da
banda 3s ocupada (1 elétron de cada átomo de Na). No caso de Mg, a banda 3s está
totalmente preenchida, porém há uma sobreposição entre as bandas 3s e 3p, resultando
numa banda maior e não totalmente preenchida. No caso do Al, a banda 3s está
totalmente preenchida e a banda 3p parcialmente preenchida.
Fig. 6 Diagramas de bandas de energia de alguns metais: (a) Na, (b) Mg e (c) Al.
b) Isolantes: são materiais que tem sua última banda, chamada de valência, totalmente
preenchida, sem sobreposição com a banda de energia seguinte e além disto, uma banda
proibida de valor considerável. Uma banda proibida larga é necessária para que seja
improvável um elétron da banda de valência adquirir energia e passar para a banda
seguinte de condução. A Fig. 7 ilustra a diferença básica entre os diagramas de bandas de
materiais condutores e isolantes.
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(a) (b)
Tabela 7.1 Exemplos de materiais com sua respectiva largura da banda proibida (EG) e
classificação como isolante ou semicondutor.
Material EG [eV] a 300 K Classificação
Ge 0.66 Semicondutor
Si 1.12 Semicondutor
GaAs 1.42 Semicondutor
C (diamante) 5.47 Isolante
SiO2 9.0 Isolante
Si3O4 5.0 Isolante
7
3 Lacunas
dI 1
= q∈∑ * (2)
dt mi
a) supondo uma banda que tenha um único estado ocupado. Neste caso teremos:
dI e q 2 ∈
= * (3)
dt m
b) supondo agora o caso de uma banda totalmente cheia, teremos que a corrente deve ser
nula:
dI 1
= q2 ∈ ∑ * = 0 (4)
dt i mi
c) tendo uma banda totalmente cheia com exceção de um único estado no topo da banda,
ou seja, caso de uma banda com uma única lacuna. Neste caso teremos:
dI h 1
= q2 ∈ ∑ * (5)
dt i ,i ≠ j mi
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mas temos da relação 4 que:
1 1
q2 ∈ ∑ * + =0 (6)
i ,i ≠ j m m
i j
dI h 1
= −q 2 ∈ * (7)
dt mj
Devemos lembrar da Fig. 4 que, na parte inferior da banda os estados apresentam massa
efetiva positiva, enquanto que os estados da metade superior da banda apresentam
massa efetiva negativa. As lacunas correspondem normalmente a estados desocupados
na parte superior da banda (minimização da energia dos elétrons) e portanto apresentam
massa efetiva negativa. Assim podemos considerar o módulo da massa efetiva da lacuna
e inverter o sinal da relação 7, resultando:
dI h 1
= q2 ∈ * (8)
dt mj
Pelo exposto acima, podemos concluir que a condução através dos elétrons, de
uma banda de valência quase cheia de um cristal, é equivalente à condução através de
partículas fictícias, correspondendo aos estados desocupados e de massa efetiva
negativa, chamadas lacunas, as quais se comportam como se fossem partículas de carga
e massa de sinais positivos. Uma analogia à corrente elétrica por lacunas é o caso de uma
bolha caminhando na água. A bolha é uma ausência de água, sendo que seu
deslocamento corresponde na verdade ao movimento de água em sentido oposto. Embora
seja a lacuna uma partícula fictícia que não existe na realidade, um engenheiro pode
adotá-la como sendo uma partícula real para efeitos práticos, de uso na análise de
dispositivos.
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4 Diagramas de Bandas de Semicondutores Reais
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Analisando os diagramas de bandas dos semicondutores da Fig. 8 temos as
seguintes questões:
• o mínimo da banda de condução do diagrama de bandas do GaAs corresponde ao
mesmo valor de vetor de onda do estado do máximo da banda de valência. Isto
significa que, para um elétron “pular” da banda de valência para a banda de condução,
ou vice-versa, basta ele receber ou emitir um quantum de energia, dado por EG
correspondente, sem necessitar mudar o valor do seu vetor de onda, associado ao
momentum do elétron. Este tipo de caso é chamado de diagrama de bandas tipo direto.
A transição de um elétron de um estado com apenas troca de energia, sem troca de
momentum, é mais fácil ou provável de ocorrer comparado ao caso onde há
necessidade de troca das duas grandezas ao mesmo tempo. Como conseqüência, este
tipo de diagrama de banda do tipo direto é requerido para que o material tenha boas
propriedades optoeletrônicas (necessário para Laser, LED, outros).
• no caso dos semicondutores de Ge e Si temos o caso de diagrama de bandas do tipo
indireto. Isto está associado ao fato do máximo da banda de valência não coincidir no
mesmo ponto do valor do vetor de onda k do estado do mínimo da banda de condução.
Neste caso, a transição de um elétron entre a banda de valência e a banda de
condução requer não apenas uma troca de energia mas sim ao mesmo tempo uma
troca de momentum do elétron. Para o elétron trocar de momentum, ele deve interagir
com uma outra partícula, como por exemplo um fónon (vibração de átomo da rede),
para trocar momentum, e ao mesmo tempo com um fóton para receber ou emitir
energia. Por esta razão, a transição do elétron entre as duas bandas é mais difícil de
ocorrer em materiais com estrutura de bandas do tipo indireto, sendo estes materiais
não apropriados para a fabricação de dispositivos optoeletrônicos.
• lembrando que a massa efetiva associada aos estados é dada pelo inverso da derivada
segunda das curvas E x k, conclui-se que, quanto mais fechada a curvatura, menor a
massa efetiva. Comparando as curvas nas regiões dos mínimos das bandas de
condução dos 3 materiais da Fig. 8, observa-se que a massa efetiva do elétron no
GaAs deve ser menor que as massas efetivas dos elétrons no Ge e do Si. Analisando
as curvaturas nas regiões dos máximos das curvas de valência, observa-se que
existem duas ou três curvas para cada material e com curvaturas diferentes,
correspondendo a lacunas de massas distintas, uma mais leve e a outra mais pesada.
• No diagrama de bandas do GaAs observa-se que o mínimo da banda de condução
ocorre em torno do vetor de onda k = 0. Porém, a curva apresenta um segundo mínimo
em outro valor de k, com uma energia de 0.31 eV acima do mínimo principal. Se por
algum mecanismo, um elétron ocupando um estado no mínimo principal, receber
energia e assim passar a um estado do segundo mínimo, ele sofrerá uma alteração
(aumento) significativa da sua massa efetiva. Isto pode significar uma redução na
condutividade do material (resistência negativa).
Da análise acima podemos concluir que várias das propriedades dos
semicondutores podem ser extraídas dos respectivos diagramas de bandas. Daí a
importância do conhecimento dos conceitos apresentados neste capítulo. Em algumas
análises das propriedades dos semicondutores não necessitamos de todas as
informações disponíveis nos diagramas completos como apresentados na Fig. 8. Em
alguns casos basta considerar apenas a diferença entre os níveis de energia do máximo
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da banda de valência e o mínimo da banda de condução, sem preocupar-se com o valor
do vetor de onda correspondente. Neste caso, basta representar o diagrama de bandas na
sua forma simplificada como mostrado na Fig. 9. No capítulo seguinte faremos uso
freqüente desta representação.
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elétrons na banda de condução e também um número nulo de lacunas na banda de
valência. Esta situação modifica-se ao aumentarmos a temperatura, como mostra a
Fig. 10 b. Nesta situação teremos que a função de Fermi-Dirac torna-se mais gradual e
como conseqüência, ela deixa de ser 0 para energia acima de Ec (mínimo da banda de
condução) e deixará de ser 1 para energia abaixo de EV (máximo da banda de valência).
Isto significa que teremos alguns poucos elétrons na banda de condução e umas poucas
lacunas na banda de valência. Esta situação já havia sido discutida no item 7.7, porém
sem o emprego da função estatística de ocupação dos estados. Concluímos assim
novamente que, um material tipo semicondutor comporta-se como um isolante à
temperatura T = 0 K e passa a comportar-se como um semicondutor apenas com
temperatura acima de 0 K. É fácil imaginar pela Fig. 9 b, que quanto menor o valor de E G,
maior será a concentração de elétrons na banda de condução e de lacunas na banda de
valência.
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6. Funções Estatísticas de Ocupação dos Estados Quânticos:
1
f (E ) = ( E − E F ) kT (9)
1+ e
f (E F ) =
1
(10)
2
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Fig. 11 (a) A função de probabilidade de Fermi-Dirac para temperaturas de 0 k, 600 k e
6000 k ; (b) A função de probabilidade clássica de Maxwell-Boltzmann para as mesmas
temperaturas.
f ( E ) = e −(E − EF ) kT (11)
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Fig. 12 Comparação entre as curvas das funções de probabilidades de Fermi-Dirac,
Maxwell-Boltzmann e Bose-Einstein.
No caso de estados com energias altas, ou seja, E-E F >> kT, poderemos usar a estatística
de Maxwell-Boltzmann, como já foi detalhado acima.
c) No caso de estados com energias baixas tal que EF-E >> kT podemos aproximar a
função de Fermi-Dirac (9) como sendo:
f ( E ) ≅ 1 − e (E − EF ) kT (12)
1 − f ( E ) ≅ e (E − EF ) kT (13)
Esta função de probalidade de desocupação do estado, para EF-E >> kT, apresenta-se
também na forma da função de distribuição de Maxwell-Boltzmann (11).
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Nos casos em que os níveis de energia dos estados não forem distantes suficiente do
nível de Fermi, não poderemos usar as aproximações dos casos acima, e teremos que
obrigatoriamente usar a função de Fermi-Dirac como a função de probabilidade de
ocupação dos estados. Podemos calcular por exemplo, em que faixa de energia a função
de Fermi-Dirac varia entre 0.9 e 0.1. Fazendo este cálculo pela relação 9, obtemos ∆E =
4.4 kT. Nesta faixa com certeza não poderíamos usar a aproximação descrita. Se
quisermos ser mais restritos ainda, poderíamos tomar como intervalo de 6.0 kT, o intervalo
no qual não aceitamos a aproximação da função de Fermi-Dirac para a função de
Maxwell-Boltzmann. Neste limites teremos a função de Fermi-Dirac variando entre 0.95 e
0.05.
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