Joao Cabral de Melo Neto - Psicologia Da Composição
Joao Cabral de Melo Neto - Psicologia Da Composição
Joao Cabral de Melo Neto - Psicologia Da Composição
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1946-1947
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sobou da noite
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Ali, uma teIra branca e vida como a cal. Ai, no h como pr vossatristeza como a um liwo na estante.)
mudez estassegurada flauta seca: de mudo cimento, serum bzio que o resto dia: , passar Peloelgio, .dpuma facao fio, Sua flauta
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Ao sol do deserto nosilncio atingido oro auma amndoa, suadutaseca: sem a tera doce de guae de sono; sem os gos do amo trazidos na brisa, sua flauta seca: como algumapedra ainda branca, ou lbios ao vento marinho. (O sol do deserto no intumesc a vida como a um po. O sol do deserto no chocaosvelhos ovosdo mistrio. Mesmoos esguios, discretostrigais no'rsistem a o sol do deserto, lcido,quepreside fome vazia.) a essa
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oculta rasvagas dobras da alva distrao; insto vencendoo silncio como um camelo sobrevive sede, acaso! acaso O sbito condensou: em esfinge,na cachorra de esfinge que lhe mordia a mo escassa; que lhe roa o ossoantigo logo florescido da flauta extinta: ridas do exerccio puro do nada,
Tebas,entre frutferas, ente copadafolhagem gestos,no vero lhe t\nico, resta odas
Diz a mitologia (arejadassalas, de ntidos enigmas povoadas,mariscos ou simples nozes cuia noite guadada luz e ao ar liwe persiste,sem sedissolver) dia do areo parto daquelemilagre: Quando a flauta soou um temposedesdobrou do tempo, como uma caixa de dentro de outra caixa.
Tebas, cidade, ) a quisea assim tijolos plantada, eterraeafloa reaver origem menor: j distinguir comeaahera,aargila, a teffa acaba? longamente muro, e branco, sol em si Attfot busca mTebas o d6iro perdido qualquer laranja; sonhei no espao,
Lafietrta
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3. NFroNEMTEB s Entre Tebas,entre d.!niusta, sintaxe quffdou, Aafion, .
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Fscoloc^ D^ CoMlosr.lo .
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'Uma flauta: como domin-la, cavalo solto,que louco? Como antecipar a rvore de som de tal semente? daquelegro de vento recebido no aude a flauta canaainda? Uma flauta: como pev suasmoduLaes, cavalosolto e louco? C,omotraa suasondas antecipadamente,como faz, no teslpo, o,ma? A flauta,eu a joguei aospeixessurdosmudos do mar."
PsrcolocrDACoMPosro
' 'Al Anttno'Raxgel Bandeiru
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II
Algumas conchas{ornaBr},,$, , que o sol da ateno ,. ,, , r cristalizou; alguma palavra que desabrochei, coro q u@ pssaro. Talvezalguma congln . desas (ou prssaro)ler4$re, cncava,o corpo do gesto extinto que o ar j prencheu;,. tavz.como a camisa vaAa, que oesPr.
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Estafolhabrancai;'' me proscrwe o sonho, me incita ao verso ntido e precis. , E umerefugi o" ' i I' nestapraia pura onde nada existe
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Comonohnoite' ", cessa tda'fdiite I, como no h font u I .. i .r" cessa toda fuga;
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y''P$cor,ocl^Dh Co Poslo
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como no h fuga nada lembra o luir de meu tempo,ao vento que nelesopao tempo.
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.Nese papel pode teu sal rar cinza; pode o limo virar pedat o sol da pele, o tlgo.do copo rarcinza , ,, (Teme,po sso, a jovem manh sobre asfloies davs1iera.) Nestepapel logo fenecem asroxas,mons flores morais; todas asfluidas flores da presa; toalaLs midas as flores do sonho. (bsPerar rsso,, por que a jovem manh te vea revelar asflores da vespera.)
(O descuido ficanaberto .r', deparrernpa,. I .r ', '. ' um soriho passou"rdoixando fi apos,logo rvoresinctantneas coagulandoa preguip.)
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comotlDelgs, naoa formaop,tida ,., emlancesa+to rEro, . , ,oF vid.r ,, tiro naslebres,de
do invisvel;
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O poema,com seuscavalos, querexplodir : I teu tempo claroi romper seubranco fio; seucinento mudo e ftesco.
mas a formaatingida , ; ' corno a ponta do novclo . queaateno,l ent,,, i' . : desenrola,
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Cultivar o deserto como um pomar savessas: enio, nada mais destila; evapora; onde foi ma restau\4.fome; /
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mineral o papel
i So minerals ,"': ':" asflorese i pirtas, 'r ' asfrts,cis Ui'thos' . qualdoemestado pdlawa. de
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-Enrned a linha do horizonte, Col,S.i nossosnmes,eSSdS feitasdepliras. : ".1).1 E mineral,por'firr; :i, 't. i ' qualquerliwo: ,,: ,; . . ' que minerala:palavra escrita,a fria natureza da palavra escrita.
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Cultivar o de3rto ' ' como um pomai's .,essasl ' ( rrvore destfl' . ' , a terra; tt a gui ' a terua chpleta' r' ci, fiuto! Enquanto ha oidom' , , de ouO?ora r' ; )" a atenodestila . ; ,, , , palavras maduras.). .. .
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r' D CoMoso,r, B Depoe,eudbstobiria' que eraloiioo' 1r;, ' ',, ,, ; te chanr.ardflor!, (Pelas ,,, vossasguais,,'. crcunsla[te8 vosas gentis $lb$ricaslivossas ,, docescaribs?rPetos r' Yihioss vrtgis. i'i '' . de vosa.i evbaoes?,,, Felogudor d,raersolr', -Pudorderflotll-'i, por seutoidliado,r_i,, Pudoide flotit/' . ,r r quesseabrd' . "I quandoaesqueeo, sono do jardlneiro?) , Depois eu.descobriria .' qrleruicito ,,, '. i,ii . ,. t chaiIla|: fltrtl ,' (flor;imam i16,.r,., duaspontas,corneur, uma corda):,Depois - ' ir eu, dScobrida.; ., , , ,,, , asduasPohts r',i daoq asduatl , ' bocasda imaur da flor: a,troca:, r,, r que comeo defunto ,, e abocaqueoma 'l odefunto im outo i' defirnto com flores;.. - cristaisde vrnito,
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, . jt r r ; r . . 1r Poesia,te escrevia: flor! conhecendo que s fezes. Fezes como qualquer, gerando cogumelos
. (raros, frgeiscogumelos) no mido calor de nossa boca, Decado,escrevia: flor! (Cogumelos seroflor? Espcie estanha,espcie extinta d flor, flo no de todo flor, mas flor, bolha aberta no maduro,) Delicado, evitava o estrume do poema, seucaule,seuovrio, suas.intestinaes. Esperava puras, as tanspaentesfl oraes, nascidasdo ar, no ar, como asbrisas.
y'Pscoroct^ DCoMPos{o
c C,omono invoca o cio da poesia:o corPoque enotpece ao ar de versos? ( Ao a rd e g u a s .. motas, injetando na arne do dia, a infeco noite.) da Fome de vida? Fome de morte, frqntao da morte, como de algum cinema. O dia?fuido. Venha, enio, a noitg o sono.Vea, por isso,a flor. Venha, mais fcil e porttil na memia, o poema,flor no colete da lembrana. Como no invoca, sobretudo, o e)rcrccio do poema,suaprtica, sualnguida horticutua?Poisestaes h, do poema,como da flor, ou como no amor dos ces; e mil mornos enxertos,mil maneias de excitar negros xtase$e a morna
no Poesia, seresse o sentido em que ainda te esqevo: flor! (Te escrevo: flor! No rna for, nem aquela flor-virtude - em urinis.) disfarados Flor a palawa flor, versoinscrito no verso, como a5 manhsno tempo, Flor o salto da avepara o vo; o salto fora do sono quando seutecido serompe; uma exploso postaa funcionar, como uma mquina, uma jarra de flores, E Poesia,te escevo agora:fezes,as fezesvas que es. Seique outas palavrass,palawas impossveisde poemapor Te escrevo, isso, fezes,palavra lwe,
D NETo OBR^ / CoMLat, k)^()C^DRL MELo contaDdocom sua breve. 'Ie escrevo cusPe,cusPe,no marsi to cuspe como a tercerra (cono us-lanum poema?) a terceira das virtudes teologais.