O Canto Orfeônico - Definição, Origens e Características
O Canto Orfeônico - Definição, Origens e Características
O Canto Orfeônico - Definição, Origens e Características
"
# canto or1e3nico te,e sua origem na 7rana em meados do s9culo XIX/ como uma modalidade es.ec21ica de canto coleti,o que se di1erencia,a do canto coral tradicional da 9.oca4 @egundo nos relata Alessandra %is+oa/ em sua dissertao de mestrado AVilla-Lobos e o canto or e!nico" m#sica$ nacionalismo e ideal civili%ador& B2 CD/ o canto coral 1ranc:s .ri,ilegia,a um re.ertrio que e-igia dos cantores um alto n2,el t9cnico e/ como isso/ estaria direcionado E 1ormao de msicos .ro1issionais/ ao e-igir con0ecimento a.urado de t9cnica ,ocal e teoria musical4 FG o canto or1e3nico surge com o o+8eti,o de reunir .essoas com .ouca ou nen0uma 1ormao musical/ em gru.os de nmero ,ariG,el e sem classi1icao de ,o6es4 $e acordo com %is+oa/ a .rinci.al caracter2stica do canto or1e3nico/ ao contrGrio do canto coral ensinado nos conser,atrios 1ranceses/ seria'
H444I sua 1uno de al1a+eti6ao musical/ tare1a a ser reali6ada nas escolas regulares/ ao contrGrio do ensino musical .ro1issional/ reali6ado em conser,atrios4 (ma ,e6 im.lantado na escola regular/ seria .ossi+ilitada uma .o.ulari6ao da .rGtica e do con0ecimento musical/ que .assariam a atingir di,ersos setores sociais B%I@;#A/ 2 C' CJD4
&m !J""/ o orientador do ensino de canto nas escolas .arisienses/ ;ouquillonKil0em/ utili6ou .ela .rimeira ,e6 o termo Aor1eoL Bor'he(nD ao se re1erir a gru.os de !
alunos das escolas regulares que se reuniam .ara cantar em audi5es e a.resenta5es .+licas4 Na mitologia grega/ o termo re1ere-se ao deus msico #r1eu e estG associado E origem m2tica da msica e E sua ca.acidade de gerar comoo naqueles que a ou,em4 @egundo %is+oa B2 CD essa associao mitolgica 1oi utili6ada .elo canto or1e3nico com o intuito de des.ertar os as.ectos integrati,os e a1eti,os dos alunos/ ao conquistar sua dedicao e .ai-o .ela msica4 Por outro lado/ #r1eu tam+9m era sim+oli6ado .elo canto acom.an0ado .ela lira4 &ssa associao mitolgica tem re1er:ncia na relao msica .oesia/ sendo utili6ada .elo canto or1e3nico .ara a transmisso de ,alores morais e .adr5es de com.ortamento atra,9s das letras das can5es4 Menato Gilioli B2 'aulista da *rimeira Re'#blica +,-,.-,-/.0& B2 "D na sua dissertao de mestrado intitulada )Civili%ando 'ela m#sica" a 'edagogia do canto or e!nico na escola "D argumenta que dessa 1orma'
# canto or1e3nico/ teria sido usado com a 1uno de ele,ar o n2,el moral e art2stico da .o.ulao/ ou Aci,ili6arLgrande contingentes da massa .o.ular/ o que seria .ermitido .or estar inserido no sistema .+lico de educao BGI%I#%I/ 2 "' CCD4
$e acordo com o autor/ o canto or1e3nico tentou im.lantar .adr5es de com.ortamento aos seus .raticantes e/ atra,9s destes/ .rocurou di,ulgar mensagens aos es.ectadores/ aca+ando .or se tornar uma es.9cie de instrumento de di,ulgao e .ro.agao de ideais sociais e .ol2ticos/ de acordo com o conte-to ideolgico que a 7rana ento ,i,ia4 Perce+emos desta 1orma/ agregadas ao canto or1e3nico/ os ideais de integrao social e unidade coleti,a/ que seriam alcanados .or meio da comoo .ro.iciada .ela msica/ 8untamente/ com a transmisso de ,alores morais contidos nos te-tos das can5es4 @egundo %is+oa B2 CD a 1uno desses as.ectos .ro.iciou ao canto or1e3nico assumir um carGter c2,ico e .atritico/ em consonNncia com as diretri6es ideolgicas nacionalistas que su+8a6iam ao .a.el do &stado na educao .+lica4 @o+re o termo nacionalismo a autora considera que o mesmo'
Consiste em uma ideologia e em um .rinc2.io .ol2tico que surgiu em 1ins do s9culo X<III/ com a Me,oluo 7rancesa/ e que 1undamentou a coeso dos &stados Modernos surgidos desde ento4 =rou-e a id9ia de AnaoL como &stado so+erano que agregaria seus mem+ros em um territrio delimitado coerentemente/ unidos .ela 0istria/ cultura/ com.osio 9tnica e l2ngua comuns B%I@;#A/ 2 C' COD4
A re,oluo 1rancesa 1oi marcada .ela luta da classe +urguesa/ at9 aquele momento e-clu2da das decis5es .ol2ticas/ contra a tradicional monarquia/ regida .ela di,iso 0ierGrquica de .oderes e de1inida .or as.ectos de 0ereditariedade e .ela manuteno de .ri,il9gios aos .ossuidores de titulao no+re4 A +urguesia im.lementou as +ases .ara a
trans1ormao da 7rana em uma nao so+erana/ li+eral/ moderna/ .rogressista/ re.u+licana e democrGtica4 Aca+ando .or se tornar um modelo de &stado nacional e moderno/ a ser seguindo .or outros .a2ses4 $e acordo com que nos relata %is+oa B2 CD/ nesse modelo de nao/ o indi,2duo .assa a ser ,alorado e a sua .artici.ao 9 dese8ada nas decis5es so+re que camin0os de,em ser seguidos .elo .a2s/ .odendo .artici.ar da ela+orao das leis .or meio de seus re.resentantes4 # &stado 1icaria encarregado da 1ormao desse cidado/ que .assaria a .ossuir direitos e de,eres4 @eria tam+9m de res.onsa+ilidade do &stado/ como instituio su.rema/ a .romoo de a5es .ara im.or e manter a ordem nacional/ em consonNncia com os ideais de nao institu2dos .ela ideologia nacionalista4 &ric Po+s+a>an no seu li,ro )1 era das revolu23es& B!OJ!D/ concorda que esse modelo de &stado ad,indo da Me,oluo 7rancesa tornou-se um .adro a ser di1undido .elo mundo4 @egundo o autor'
A 7rana 1orneceu o ,oca+ulGrio e os temas da .ol2tica li+eral e radical-democrGtica .ara a maior .arte do mundo4 A 7rana deu o .rimeiro grande e-em.lo/ o conceito e o ,oca+ulGrio do nacionalismo H444I4 A ideologia do mundo moderno atingiu as antigas ci,ili6a5es que tin0am at9 ento resistido Gs id9ias euro.9ias inicialmente atra,9s da in1lu:ncia 1rancesa4 &sta 1oi a o+ra da Me,oluo 7rancesa BP#;@;AKM/ !OJ!' Q!-Q2D4
A educao .+lica/ como de,er e res.onsa+ilidade do &stado/ re.resentou segundo %is+oa B2 CD a 1erramenta mG-ima .ela qual seria .romo,ida a 1ormao re.u+licana do cidado4 @egundo a autora/ 9 nesse conte-to que .assou a .redominar um no,o modelo de educao/ muito in1luenciado .elas id9ias de .edagogos como Fean Facques Mousseau e Fo0ann Peinric0 Pestalo66i/ am+os considerados .recursores do mo,imento con0ecido como A&scola No,aL4 &sse mo,imento .ro.un0a um m9todo .edaggico no qual se res.eita o desen,ol,imento .sicolgico in1antil/ com.reendendo a e-ist:ncia de di1erenas indi,iduais/ adequando o .rocesso educacional Es eta.as de desen,ol,imento naturais da criana e ,alori6ando os interesses e e-.eri:ncias .r.rias a cada uma4 $e acordo com %is+oa/ esse modelo de escola no,a trou-e consigo a id9ia da im.ortNncia 1undamental da educao como elemento 1ormati,o do cidado e/ .or conseqRente/ da sociedade como um todo/ elemento este que de,eria ser de total res.onsa+ilidade do &stado4 A autora com.leta' AAl9m disso/ o modelo educacional .ro.osto trou-e a incluso da msica/ que era ,ista como elemento in1luente na 1ormao do carGter do cidado/ nos curr2culos das escolas .+licas/ .or meio da .resena de can5es no re.ertrio escolarL B%I@;#A/ 2 C' S D4 # canto or1e3nico surgiu cercado .or um uni,erso m2tico e sim+lico/ inserido em um no,o modelo de educao re.leto de ideais nacionalistas/ originados .ela Me,oluo "
7rancesa/ caracteri6ando-se .elos as.ectos c2,ico e .atritico que adquiriu4 A 1uso desses as.ectos trou-e consigo tam+9m o sentido de Aci,ili6arL as massas .o.ulares/ ao inserir a transmisso de ,alores morais e culturais/ culti,ando o a.reo .or um re.ertrio es.ec21ico/ em detrimento de outros4 @egundo %is+oa'
Com essas diretri6es/ o mo,imento tomou grandes dimens5es e esta+eleceu at9 uma im.rensa or1e3nica es.eciali6ada na 7rana/ al9m de di1undir-se .ara outros .a2ses tais como Aleman0a/ &s.an0a/ Inglaterra/ .a2ses do %este &uro.eu/ &stados (nidos e ;rasil4 B%I@;#A/ 2 C' S!D4
Gilioli B2
Ao contrGrio do que muitos acreditam o canto or1e3nico no ;rasil no se inicia com <illa-%o+os B%is+oa/ 2 CD4 @egundo Gilioli B2 "D/ a .artir de meados do s9culo XIX 8G se .ode constatar a .resena da msica nos curr2culos escolares4 &ntretanto/ o autor ressal,a que at9 o in2cio do s9culo XX a .rGtica da msica nas escolas .+licas tin0a carGter recreati,o/ ocu.ando os inter,alos entre as demais disci.linas/ e esta,a longe de se constituir como uma disci.lina aut3noma4 %is+oa em consonNncia com o que 1ora dito .or Gilioli .ontua que'
7oi durante as d9cadas de !O! e !O2 que .uderam ser notadas no ;rasil as .rimeiras mani1esta5es de um ensino caracteri6ado como canto or1e3nico que/ de acordo com as diretri6es com as quais se desen,ol,eu e se caracteri6ou desde o seu surgimento na &uro.a/ 1oi utili6ado com o o+8eti,o de atuar na escola .+lica com a 1uno de .edagogi6ao e de .o.ulari6ao do sa+er musical/ .or meio da al1a+eti6ao musical da .o.ulao inserida no sistema .+lico de educao B%I@;#A/ 2 C' SJD4
&ssas .rimeiras ati,idades or1e3nicas se mani1estaram de in2cio/ no estado de @o Paulo4 Na d9cada de !O! / o regente .aulista 7a+iano %o6ano criaria no munic2.io de Piracica+a o que ,iria a ser o .rimeiro or1eo +rasileiro4 # 4r eo *iracicabano conquistou na d9cada seguinte a admirao do .+lico e de .essoas ilustres como MGrio de Andrade/ que a ele dedicou entusiasmado artigo de 8ornal4 No in2cio dos anos !O" / o maestro %o6ano a.resentou E $iretoria Geral de &nsino do &stado de @o Paulo o seu .ro8eto de ensino de canto or1e3nico/ a ser a.licado nas escolas do estado4 A.s a re,oluo de !O" / Getlio <argas ascende ao .oder e a.oia a im.lantao do canto or1e3nico nas escolas de di,ersos estados/ dentre eles @o Paulo/ Mio de Faneiro e Pernam+uco4
A 1uso da .ol2tica <argas com o .ro8eto de nacionali6ao das elites intelectuais introdu6iu/ em !O"!/ a o+rigatoriedade do ensino de msica em todos os n2,eis escolares4 @andra @ou6a/ na sua dissertao de mestrado intitulada A4 arran5o coral de m#sica 'o'ular brasileira e sua utili%a2o como elemento de educa2o musicalL/ comenta este 1ato' A&-tra.olando as 1un5es est9ticas e .edaggicas/ a incluso da msica na re1orma de ensino se tornou .oss2,el .elo recon0ecimento .or .arte dos .oderes o1iciais de sua im.ortNncia na 1ormao de uma Aconsci:ncia nacionalL .or meio da educaoL B@#(UA/ 2 =oda,ia/ a autora com.leta'
&m suma/ a relao msica nacionalista &stado 9 +astante com.le-a/ no sendo .oss2,el resumi-la a uma mera .osio eVou im.osio ideolgica do &stado em relao E arte/ sendo muito mais a com+inao de di,ersos outros 1atores sociolgicos que tornaram .oss2,el a congru:ncia de id9ias entre arte no caso a msica e .ol2tica B@#(UA/ 2 "' !CD4
"' !TD4
Com o ad,ento da o+rigatoriedade do ensino da msica na rede escolar/ surgem inmeros .ro8etos/ .ro.ostas e modelos .ara este 1im4 &ntre eles/ o .ro8eto .edaggico de Peitor <illa-%o+os4 Nele/ o com.ositor de1endia a instituio de um .rograma de educao musical que agregasse todos os n2,eis escolares e a+rangesse todo o territrio nacional4 <illa%o+os 8G 0a,ia tornado .+lico/ em solenidade organi6ada .ela (ni,ersidade do ;rasil/ atual (7MF/ o seu .ro8eto cultural e educacional4 &m a+ril de !O"!/ <illa-%o+os 9 nomeado $iretor de &ducao Musical do $istrito 7ederal4 &sta,a 1undada a instituio que iria ditar as regras e os .rocedimentos .ara im.lantao do canto or1e3nico em todo o .a2s/ a @&MA B@u.erintend:ncia de &ducao Musical e Art2stica da Pre1eitura do $istrito 7ederalD4 # ensino do canto or1e3nico .ermaneceu nas escolas at9 os anos !OS / quando ento 1oi su+stitu2do .ela &ducao Musical4 A %$;&N NW4 CSO2/ .romulgada em !OQ!/ e-tinguiu a disci.lina do sistema educacional +rasileiro4 # canto or1e3nico 1oi utili6ado na 7rana com o o+8eti,o de ci,ili6ar o .o,o/ ao im.or .adr5es de escuta e de conduta4 &ssa +re,e e-.osio/ em lin0as gerais/ da origem/ de1inio e caracter2sticas do canto or1e3nico tornou-se necessGria e im.ortante na medida em que/ al9m de .ermitir maior com.reenso da g:nese do .r.rio mo,imento/ au-ilia no entendimento a res.eito do seu desen,ol,imento no ;rasil4
Refer&ncias: GI%I#%I/ Menato4 Civili%ando 'ela m#sica" a 'edagogia do canto or e!nico na escola 'aulista da *rimeira Re'#blica +,-,.-,-/.0. @o Paulo$ 2 "4 $issertao BMestrado em MsicaD4 (@P4 P#;@;AKM/ &ric4 1 era das revolu23es. Petr.olis' &ditora <o6es/ !OJ!4 %I@;#A/ Ale-andra4 C4 Villa-Lobos e o canto or e!nico" m#sica$ nacionalismo e ideal civili%ador. @o Paulo$ 2 C4 $issertao BMestrado em MsicaD4 (N&@P4 @#(UA/ @andra de4 4 arran5o coral de m#sica 'o'ular brasileira e sua utili%a2o como elemento de educa2o musical. @o Paulo/ 2 "4 $issertao BMestrado em MsicaD4 (N&@P4