Dissertacao Sobre Bion PDF
Dissertacao Sobre Bion PDF
Dissertacao Sobre Bion PDF
M. C. Escher
Ana C. Almeida
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ndice
Volume I
1- Prlogo ___________________________________________________________4
2- Introduo ________________________________________________________7
3- Enquadramento da Obra de Bion no seio da Psicanlise __________________12
O valor e a importncia da obra de Bion na Psicanlise _______________________ 12
O percurso de W. R. Bion ________________________________________________ 13
Os seus analistas _____________________________________________________________13
Os pensadores que mais o influenciaram _________________________________________18
4- O pensamento de W. R. Bion_________________________________________21
Bion O epistemologo __________________________________________________ 23
Bion O epistemologo que investiga a cincia _____________________________________23
Bion O epistemologo que investiga a psicanlise __________________________________34
Volume II
Concluses____________________________________________________________ 216
1- Prlogo
J. Paul Sartre defendia ideias que eram, at ento, novas para mim; ele reflectia sobre
a realidade de uma forma que ultrapassava tudo aquilo que eu tinha conhecido. Ele
defendia (magistralmente na minha opinio) que o homem responsvel pelo seu
destino, que o nico destino que lhe est reservado no ter destino nenhum.
O seu discurso tinha fora, as frases eram incisivas e a lgica parecia-me a toda a
prova. Nessa altura, as suas ideias, as suas frases e a forma de transmitir o seu
pensamento, tiveram em mim um impacto muito especial; talvez devido minha
idade eu tivesse encontrado nele um sentido que tanto me agradava. De facto, Sartre
fez-me pensar na independncia e na dependncia, na minha dependncia e no meu
desejo de independncia. De facto, dizia eu para mim prpria na altura: ns somos
donos e senhores do nosso destino. Eu sou mais eu. Eu sou aquilo que eu quiser ser.
Eu sou livre de escolher, de tomar decises. A verdade, conforme vim a perceber mais
tarde, que o elogio de liberdade que eu tinha percebido em Sartre era de facto o
elogio ao crcere, ao prisioneiro.
Algo de semelhante aconteceu quando inicie este mestrado, mas a um nvel diferente.
Desta vez, foi uma cadeira e um Homem.
Para tentar compreender e perceber o professor Amaral Dias, foi-me dado a conhecer
Bion. W. R. Bion foi para mim um professor difcil de entender; tal como Amaral
Dias, Bion fazia-me sentir ignorante e pouco inteligente. Lia e voltava a ler. Comecei
pelos livros de introduo e depois os outros e os outros e novamente os livros de
introduo e os outros e os outros Muitas vezes parecia-me arrogante e pretensioso.
Parecia-me que complicava as coisas simples e que no dava os devidos
esclarecimentos s coisas complexas. Explicava de forma demasiado sinttica e pouco
esclarecedora. O meu companheiro testemunha que muitos foram os meus
momentos de desespero e desesperana.
Mas em cada volta, em cada nova leitura percebia um pouco mais e sem saber bem
como, fiquei a perceber o professor Amaral Dias, a poder pensar com ele e com a
ajuda dele. Fiquei a perceber Bion e a poder tambm pensar com a ajuda dele.
Se daqui a alguns anos reflectirei sobre o que vi em Bion da mesma forma que hoje
fao com o que vi ao 19 anos em Sartre, no o sei. No sei e isso no me preocupa.
Agora ainda sinto a ferida que Bion e Amaral Dias abriram em mim.
2- Introduo
Wilfred Ruprecht Bion nasceu em 1897 e faleceu em 1979, deixando uma vasta obra
dedicada ao estudo da psicanlise. Tecnicamente, Bion constitu-se como um seguidor
da corrente terica desenvolvida por M. Klein, mas a riqueza dos seus textos e dos
seus pensamentos tm vindo a por em causa a ideia de que o seu trabalho apenas
mais uma expanso do pensamento desta autora. De facto, na nossa opinio, Bion
desenvolve uma nova corrente dentro da psicanlise, ou inaugura mesmo uma nova
poca.
O trabalho elaborado por Bion assenta numa reflexo profunda e detalhada sobre
alguns aspectos fundamentais da obra de Freud, nomeadamente os textos: Instincts
and their Vicissitudes, Interpretation of Dreams, Two Principles of Mental
Functioning, Remembering, Repeating and Working Through, Inhibitions, Symptoms
and Anxiety. O seu trabalho desenvolve-se, tambm, muito a partir de alguns
conceitos fundamentais de M. Klein, como sejam a identificao projectiva, a ciso e
as teorias sobre a posio esquizo-paranide e depressiva. O facto de M. Klein ter sido
sua analista tambm parece ter influenciado de forma determinante as suas produes
intelectuais. Para ns claro que Bion transforma quase tudo o que o seu pensamento
toca, mas curioso verificar que no livro Cogitations, uma compilao de textos
elaborada por Francesca Bion, o nome de Freud aparece referido 104 vezes, enquanto
que Klein aparece apenas 34. Talvez isto seja significativo da importncia que Bion
deu a um e a outro autor.
produo que lhe prpria e que se distingue com toda a clareza dos instrumentos que
utilizou nessa investigao.
O trabalho desenvolvido por Bion extremamente rico e abrange uma rea muito
vasta. Temos a noo muito clara de que esta dissertao fica muito aqum de revelar
todo a genialidade de Bion, mas no tnhamos pretenses de o conseguir.
Pretendemos, contudo, elaborar uma sntese que pudesse por em evidncia algumas
das relaes que so possveis de se encontrar entre os vrios modelos e teorias
propostas por Bion.
que no se esgotava nele. Depois da leitura atenta da obra de Bion fica no ar a ideia de
que o mtodo psicanaltico de alguma forma "superior" ao mtodo cientifico.
trabalhar
sobre
ele
investigando
as
suas
particularidades
O texto La Tabla foi publicado no livro La Tabla y la Cesura. Ver referncia bibliogrfica [16]
"La segunda es una cita de la autobiografia de Max Planck acerca de un descubrimiento que fue slo
incidental respecto de su trabajo en mecnica cuntica. Una de las ms dolorosas experiencias de toda
mi vida es que rara vez -y en realidad podera decir nunca- llegu a obtener reconocimento universal
para un nuevo resultado cuya veracidad poda demostrar por una prueba concluyente pero slo terica
Esta experiencia me permiti tambin aprender algo que en mi opinin es un hecho notable: una
nueva verdad cientfica no triunfa convenciendo a sus oponentes y hacindoles ver la luz, sino ms bien
porque con el tiempo sus oponentes mueren y surge una nueva generacin que est familiarizada con
ella."
sentido de expandir e "aperfeioar" algumas das "coisas" que possam ter ficado mais
obscuras ou embrionrias.
10
11
De facto, o espectro de opinies sobre a obra de Bion bastante amplo, variando entre
a adorao (como a um mestre religioso) e o desprezo ou indiferena. A no
existncia de um consenso na avaliao do valor desta obra faz com que seja
particularmente difcil situ-la na histria da psicanlise. O lugar que se oferecer
obra de Bion ser sempre condicionado pela opinio valorativa que tivermos dela,
pelo que, autores diferentes oferecem lugares diferentes.
12
O percurso de W. R. Bion
Os seus analistas
Se ainda difcil determinar para onde vai a obra de Bion bastante mais fcil
determinar de onde ela veio. Apesar de revolucionria em muitos pontos, a obra de
Bion inscreve-se em linhas de desenvolvimento estritamente relacionadas com o seu
desenvolvimento pessoal e a sua experincia de vida. Uma das experincias de vida
claramente determinantes, pelo seu peso e influncia, foi o facto de ter sido
psicanalisado por John Rickman e depois por Melanie Klein. No seu livro
Aprendiendo de la experiencia diz:
13
Cuento, sin embargo, con la vantaja de haber estado en anlisis primeiro con John Rickman y
luego con Melanie Klein.3.
Melanie Klein tem, de facto, uma importncia vital na forma como Bion aborda e
pensa a psicanlise, quer pela integrao de muitos dos conceitos que ela desenvolveu,
quer pela experincia marcante que foi ter sido sua analista. A este respeito
encontramos, na obra de compilao elaborada por Francesca Bion, os seguintes
comentrios:
I certainly cannot claim for myselfwho have been analysed by Melanie Kleinthat I
am incapable of experiencing feelings of persecution; in our present state of progress I think
any analyst would be rash to think that he was. 4
Neste pequeno excerto, podemos verificar que Bion leva em considerao a sua
experincia vivida para diferenciar a verdade da no-verdade nos conceitos
desenvolvidos pela psicanlise e mais concretamente por Melanie Klein. Ele no pode
pr em causa aquilo que sentiu, e t-lo sentido deve-se ao facto de ter sido analisado
por M. Klein. Desta forma, verificamos que existe uma integrao da sua experincia
de vida nos seus desenvolvimentos tericos.
Num outro excerto, ainda no livro Cogitations, observamos que Bion procurou
deliberadamente M. Klein, e que a sua influncia se passa a um nvel bastante
consciente. Bion integra muitos dos conceitos de M. Klein, mas no o faz sem uma
profunda reflexo crtica.
However, I took the plunge and went to see Melanie Klein. I found that what she said,
while seeming very often to be rather extraordinary stuff, had a kind of common sense about it
-not altogether what I would have regarded as obvious or clear to me, but on the other hand not
divorced from what I knew about myself or other people, or even about my war experience.
5
Bion, W. R. Aprendiendo de la experiencia. Pg. 13, pargrafo 2. Ver referncia bibliogrfica [13]
Bion, W. R. Cogitations. Pg. 291. Com o titulo de Reverence and awe. Redigido em Maro de
Ibidem. Pg. 376. Excerto retirado da transcrio de uma casete. Abril de 1979. Ver referncia
bibliogrfica [11]
14
Ter sido analisado por M. Klein foi de facto a grande experincia cientifica na
vida de Bion. John Rickman teve um impacto muito menor na vida e obra de Bion.
Poder-se- pensar que a anlise com Rickman tenha sido demasiado curta para exercer
sobre Bion uma influncia marcanda, mas apoiando-nos no excerto apresentado de
seguida podemos levantar a hiptese que tenha sido Rickman a conduzir Bion at
Freud e depois para M. Klein, que se intitulava seguidora directa de Freud.
There were rumours during my time at Oxford about a thing called psycho-analysis and
somebody called Freud. I knew nothing about it, nor was much known about it at the
university.
I made some enquiries but was persuaded that it wasnt really very much good -there
were a lot of foreigners and Jews mixed up with it, so it was better not to get involved.
However, when I was fortunate enough to come across John Rickman, I decided to
launch out onto an analysis with him.
That I found to be extremely illuminating; to my surprise, psycho-analysis seemed to
have a distinct relationship to what I thought was common sense. Then, alas, came the threat of
war, and I found my analytic experience terminated.
After the war, Rickman did not feel that it was possible to continue with me because
we had had plenty of experience together during the war. 6
Pela leitura deste pequeno excerto ficamos com a ideia que foi Rickman que
apresentou a psicanlise a Bion e que o convenceu dos seus mritos. At ento ele
parecia desconfiar do valor da Psicanlise. Nota-se ainda um tom pesaroso ao referir a
necessidade que Rickman sentiu de terminar a anlise. Fica-se tambm com a ideia de
que foi o contacto com a situao analtica (a experincia de ser analisado) que o
convenceu do interesse e da pertinncia da psicanlise. J aqui se manifestava a
tendncia que acompanhou toda a sua obra, de s se deixar convencer pela (e na)
experincia.
Bion assume para o exterior uma aderncia escola Kleiniana, apesar de os seus
desenvolvimentos tericos se afastarem em alguns pontos dos desta corrente.
Ibidem, pgina 376, excerto retirado da transcrio de uma casete, datado em Abril de 1979.
15
More than one patient has said my technique is not Kleinian. I think there is substance in
this. 7
Aps ter estado nos Estados Unidos, Bion reflecte sobre a sua associao com a escola
de M. Klein e sobre os problemas das sucesses e da aderncia a esta ou quela
escola. Nessa reflexo ele deixa bastante claro que aquilo que tem uma importncia
fundamental so as ideias desenvolvidas e o valor que lhes intrnseco, e no a sua
pertena em termos de escola ou corrente de pensamento. Se no vejamos:
I am always hearing - as I have always done - that I am a Kleinian, that I am crazy. Is it
possible to be interested in that sort of dispute? I find it very difficult to see how this could
possibly be relevant against the background of the struggle of the human being to emerge from
barbarism and a purely animal existence, to something one could call a civilized society. 8
O que parece ser um facto sem qualquer dvida que Bion se inspirou muito em M.
Klein e que transportou (transformando) alguns dos conceitos desenvolvidos por ela
para as suas teorizaes. Bion transforma quase tudo aquilo em que o seu pensamento
toca. A respeito da influncia de M. Klein e do seu pensamento analtico podemos
observar o seguinte excerto,
Ibidem, pgina 377, excerto retirado da transcrio de uma casete, datado em Abril de 1979.
10
Ibidem, pgina 170, sobre o titulo de The synthesizing function of mathematics, datado de 1960
16
It is not possible to do this if you cannot tolerate depression, because this ideational
counterpart (the same as the scientific deductive system?) is the process Melanie Klein calls
the synthesis of the depressive position. And this would mean that the breakdown in symbol
formation is the inability to transform an actual union of actual elements into an abstraction,
i.e. a scientific deductive system or calculus. 11
e, mais tarde;
This means that Melanie Klein is right in saying that the depressive-position depression is
about all the destruction the patient has wrought. But has she regarded the splits as being parts
of the whole object that has been destroyed? 13
Bion sempre se considerou Kleiniano. Mas a verdade que ele foi "Kleiniano" de uma
forma muito "Bioniana". No restam dvidas de que M. Klein enquanto pessoa,
analista e terica teve uma influncia decisiva nos seus desenvolvimentos tericos,
mas a forma como ele absorveu as teorias de Klein no foi neutra. Bion integrou,
digeriu e modificou alguns dos modelos desenvolvidos por Klein. O pensamento de
Klein no exactamente o mesmo antes e depois de ter sido tocado pela mente de
Bion. Se a transformao que Bion operou sobre os desenvolvimentos de Klein
suficientemente grande para se observar uma ruptura entre eles, e portanto criar-se
uma ciso e estabelecer-se a diferena entre corrente Bioniana e Kleiniana motivo de
11
12
13
Ibidem, pgina 255, excerto no datado, inserido num texto intitulado de Metatheory.
17
Bion era um homem muito culto, e os seus interesses tocavam muitas reas. A
abordagem que fez da psicanlise levou-o ao desenvolvimento de vrios modelos.
Antnio Rezende refere o desenvolvimento de 3 modelos: o cientifico-filosfico, o
esttico-artstico e o mstico-religioso.14
14
Rezende, A. M. Bion e o futuro da psicanlise. Pg. 28. Ver referncia bibliogrfica [27]
18
diversos os pensadores que influenciaram Bion. Bion foi beber inspirao a muitos
ramos da cincia. Observam-se influncias de matemticos, filsofos e msticos.
como se Bion tivesse utilizado uma srie de pensadores e os seus pensamentos para
auscultar, pensar, expandir, desmistificar e repensar a realidade psicanaltica e as
teorias e/ou modelos de Freud e Klein.
De facto, Rezende na obra supracitada apresenta uma relao directa e quase estanque
entre cada um dos modelos construdos por Bion e uma srie de pensadores que
influenciaram o desenvolvimento desse mesmo modelo. Se no vejamos:
Para o modelo cientifico-filosfico, dois interlocutores preciosos so Gotlob Frege e Ludwing
Wittgnstein, alm de Kant. Para o modelo esttico-artstico, um autor significativo William
Blake, e no por acaso () Para o modelo mstico-religioso, os principais interlocutores so
Mestre Eckhart, So Joo da Cruz, e o Bhagavad git. 15
15
19
20
4- O pensamento de W. R. Bion
Neste captulo pretendemos elaborar uma descrio sumria do trabalho realizado por
Bion, dando conta das suas contribuies mais importantes. Esta tarefa deveras
difcil, porque a obra de Bion no se presta a ser dividida e esquartejada. A forma
como o seu pensamento evolu ao longo de um determinado livro ou texto no
linear. O leitor obrigado a envolver-se na expectativa de vir a ficar esclarecido mais
frente, mas de facto o nico elemento esclarecedor todo o texto, todo o livro. Falar
do pensamento de Bion talvez mais difcil do que perceb-lo e compreend-lo.
16
Zimerman, D. E. Bion da Teoria Prtica - Uma leitura didctica. Ver referncia bibliogrfica [31]
21
fases do seu desenvolvimento pessoal, quer como investigador quer como indivduo.
Desta forma, Rezende apresenta-nos a obra de Bion fazendo-nos acompanhar a
evoluo dos modelos. Do modelo cientifico-filosfico para o modelo estticoartstico e por ltimo para o modelo mstico-religioso. Para alm de nos conduzir ao
longo deste trajecto no seu livro Wilfred R. Bion: Uma Psicanlise do
Pensamento,17 Rezende apresenta-nos ainda um outro livro denominado A
metapsicanalise de Bion - Alm dos modelos,18 onde nos mostra que a obra de Bion
no termina com a construo de modelos.
Esta proposta parece-nos til, pois nem sempre fcil distinguir aquilo que pertence a
uma ou a outra rea de interesse. Bion reflectiu ao longo de toda a sua obra sobre o
que ou deve ser a cincia e sobre o que e como funciona a mente humana. Estas
duas preocupaes e interesses acompanharam-se mutuamente, e ambas sofreram
evolues ao longo do tempo, assim como se influenciaram reciprocamente. Isto , se
Bion evolua na forma como via e pensava a cincia e a psicanlise, ento a forma
como via e pensava a mente humana tambm evolua e vice-versa.
Para tentar explicitar o pensamento de Bion de uma forma mais clara iremos, ento,
criar duas seces razoavelmente estanques; numa iremos pensar em Bion como um
epistemologo, e verificar como ele pensa, reflecte e estrutura a cincia e a psicanlise
enquanto disciplina cientifica que tem como objecto de estudo a mente humana; numa
17
Rezende, Antnio Muniz. Wilfred R. Bion: Uma Psicanlise do Pensamento. Ver referncia
bibliogrfica [29]
18
Rezende, Antnio Muniz. A Metapsicanlise de Bion - Alm dos Modelos. Ver referncia
bibliogrfica [28]
22
outra seco iremos pensar em Bion como um psicanalista que investiga o seu objecto
de estudo a mente humana, e verificar quais so as suas especulaes, observaes,
modelos e teorias. Como j dissemos anteriormente, esta bipartio artificial, j que
Bion vai evoluindo nestas duas reas em unssono, e numa mesma obra observamos
desenvolvimentos e reflexes sobre ambas. Por exemplo, podemos verificar que no
livro Aprendiendo de la experiencia19 os capitulo I e II reflectem uma preocupao
em utilizar os termos correctamente, constituindo-se portanto como uma preocupao
com a psicanlise enquanto disciplina cientifica, assim como a matria abordada nos
captulos XIII, XIV, XIX, XXII e XXIII. Em todos os outros captulos a matria
abordada diz respeito a investigaes, achados e concluses sobre o que e como
funciona a mente humana. Pensamos que este exemplo ilustra muito bem a
dificuldade em criar esta separao, j que as duas reas esto imbricadamente juntas,
e sofreram uma evoluo em paralelo; por outro lado pensamos que mostra tambm a
pertinncia em faz-lo.
Bion O epistemologo20
Bion O epistemologo que investiga a cincia
Bion estudou histria moderna desde 1919 no The Queens College, e foi a que
conheceu H. J. Paton, um professor de filosofia que o levou a interessar-se muito
particularmente pela obra de Kant. Este duplo encontro com um filosofo conhecido
pela sua crtica a Kant e pelo contacto com a obra da Kant gerou algumas das suas
ideias sobre a cincia e a psicanlise. Em 1921 obteve a licenciatura em Letras, o que
lhe proporcionou uma excelente cultura geral e uma ptima cultura artstica. Cultivava
o conhecimento da lngua e literatura francesa. Segundo Grard Blandonu,21 Bion
19
20
Epistemologia, s. f. disciplina que trata dos problemas filosficos postos pela cincia, particularmente
o do valor do conhecimento cientifico. (Do gr. Epistme + lgos). In Dicionrio da Lngua Portuguesa.
Ver referncia bibliogrfica [21]
21
Blandonu, G. Wilfred R. Bion - A vida e obra. Pg. 45 Ver referncia bibliogrfica [17]
23
impressionava pela abundncia e pertinncia das suas citaes. Mais tarde, em 1930
licenciou-se em Medicina e passou a exercer a actividade de psiquiatra.
Foi a partir dos sessenta anos que Bion revelou a importncia que estes conhecimentos
no-psicanaliticos iriam ter nas suas reflexes. Com uma base cultural muito forte e
slidos conhecimentos sobre filosofia, Bion comeou a questionar-se sobre qual era o
papel da cincia, como que ela funcionava e o que a sociedade em geral esperava
dela. As suas reflexes foram-se centrando cada vez mais na psicanlise, na
psicanlise enquanto cincia e na cincia enquanto psicanlise. Estas reflexes
mostraram-se bastante profcuas, quer no desenvolvimento do seu pensamento
analtico, quer na tentativa de desenvolver uma psicanlise cientifica.
A 10 de Janeiro de 195922 Bion d-nos conta de uma preocupao e reflexo que o
acompanhou durante muitos anos. Ele preocupou-se em encontrar resposta, mas
principalmente em fazer a seguinte pergunta: Poderia a abordagem da investigao
cientifica ser consequncia de um compromisso obtido entre as necessidades impostas
pela realidade externa (necessidade de obter conhecimento dos factos da realidade
externa, por forma a dar cumprimento compulso sobrevivncia) e a necessidade
imposta pela mente intolerante passagem entre a posio depressiva e esquizoparanide ou intolerante a uma dessas posies?
how far is the scientific outlook, the attempt to understand, a compromise between the
necessity, imposed by the compulsion to survive the reality principle, of knowing the facts of
external reality, and the necessity, imposed by the psyches intolerance of the paranoidschizoid position or the depressive position, to move freely from one position to the other and
back without depressively coloured persecutory feelings on the one hand, and depressive
feelings untinged with feelings of persecution on the other? 23
22
Bion, W. R. Cogitations Cientific method Pg. 12 Excerto datado de 10 de Janeiro de 1959. Ver
24
de tenses profundas (inner tensions) inerentes personalidade dos seus autores. Bion
tenta demonstrar que o mtodo cientifico em si falho na objectividade que lhe
geralmente atribuda, e que poder at nascer de elementos da personalidade
(inconscientes) que procuram a sua realizao.
Uma outra questo que encontramos reflectida na obra de Bion com uma frequncia
significativa a de saber em que que se baseia a generalizao do mtodo cientifico.
A funo da cincia parece ser a de estabelecer leis gerais que convertam o
comportamento de acontecimentos ou objectos impiricos de tal forma que passe a ser
possvel extrapolar acontecimentos ou objectos ainda no conhecidos. Ao investigar
esta questo, Bion verifica que a experincia em ltima instncia a prova de validade
de uma generalizao. Verifica, tambm, que a generalizao depende muito
intimamente da capacidade de acumular dados da experincia (factos histricos) e da
capacidade de utilizar essa experincia passada acumulada para predizer o futuro.
Desta forma a formulao de uma generalizao cientifica (atravs do estabelecimento
de uma hiptese e na verificao dessa hiptese) est dependente de uma
capacidade, e portanto uma funo da personalidade capaz de aprender com e pela
experincia
I wish to emphasize the fact that the historical question may be regarded as the reciprocal
of prediction in that the function of the scientific generalization is to make it possible to
summarize past experience in such a way that when, as it were, a whale turns out not to be a
mammal, it will at once become clear either that an error has been made in the original
formulation of the hypothesis, or is about to be made. It follows that the scientific law is
closely related to, and an epitome of, experience, that it has relationships with memory, and
that a capacity for the formulation of scientific generalization must be an essential function of
any personality if it is to be capable of learning by experience (i.e. storing experience in an
epitome and comparing a fact with the expectation engendered by the law). 24
Uma terceira questo que alvo de reflexo por parte de Bion, e que ainda se encontra
relacionada com o mtodo cientifico, prende-se com o que poder ser considerado
material legtimo para o estudo cientifico, isto , qual ou quais so os tipos de dados
24
Ibidem, pg. 08
25
De uma forma geral, a questo principal passa por saber o que uma hiptese
cientifica, j que os resultados cientficos so confirmaes da veracidade de hipteses
cientificas. Bion defende a tese de que a hiptese cientifica uma generalizao
abstrada
da
constatao
de
que
determinados
factos
foram
encontrados
26
Bion defende que o mtodo cientifico entra em linha de conta com factores
objectivos e subjectivos, na medida em que estabelece uma relao entre factos da
realidade externas mas a relao encontrada produto da mente do investigador.
My view diverges from the view that the scientific hypothesis or law includes more than a
generalization and that that something is a function of external reality. It approximates to the
views of those epistemologists - Kant, Whewell, Mill, Peirce, Poincar, Russell and Popper who tend to the beliefs compatible with the idea that scientific knowledge is the result of the
growth of common-sense knowledge. My agreements - and disagreements - with these
epistemologists are a direct consequence of a psycho-analytic investigation of the phenomena
known to all of them under various synonyms for scientific common sense. 25
Bion acaba por demonstrar de uma forma bastante clara que os desenvolvimentos
cientificos, e os mtodos por ela utilizados dependem e esto limitados pelas
capacidades dos homens que os produzem e utilizam. Isto , a produo cientifica
profundamente subjectiva mas rigorosa na aplicao do seu mtodo; ela reflecte o
modo como a mente humana funciona e est por isso condicionada s suas limitaes
e aos seus erros. Da mesma forma que a mente humana incapaz de apreender a
globalidade dos fenmenos que se passam sua volta, tambm uma determinada
cincia incapaz de dar sentido globalidade dos fenmenos. A mente humana s
capaz de conhecer e esclarecer aquilo que est dentro das suas capacidades, o mesmo
se passando em relao cincia. Bion explcita isto da seguinte forma:
it is simply a peculiarity of the human mind which tends to illuminate just those
phenomena that lie within its powers of illumination 26
Ibidem. Pg. 21
26
Bion, W. R. Cogitations Common sense. Pg. 27 Excerto datado de 16 de Maio de 1959. Ver
27
A discusso gira volta de saber o que , ou o que deve ser, o mtodo cientifico, e
sobre quais so ou quais devem ser os objectivos daqueles que empregam esse
mtodo. necessrio, ento, explicitar quais so as regras e/ou leis s quais se deve
obedecer para levar a bom termo uma investigao cientifica.
28
Na pgina 156 do livro Cogitations, Bion explicita o que entende por sistema dedutivo
cientifico:
By the term, scientific deductive system, I mean any system of hypotheses in which
certain hypotheses occupy a high level in the particular system, and are used as premises from
which lower-level hypotheses are deduced. Lower-level hypotheses are of decreasing
generalization until the lowest level of all, which have a degree of particularization that makes
them suitable for verification by empirical experience such as scientific experiments, or, in the
case of psycho-analysis, clinical experience I consider it of great importance that there
should be established a calculus that represents the scientific deductive system, and in all cases
where the scientific deductive system is represented by the associated calculus I include
calculus and scientific deductive system as essential to each other; unless otherwise stated, I
wish it to be assumed that when I speak of a scientific deductive system I refer to it and the
associated calculus that represents it.
We must consider the possibility that in a scientific deductive system the appearance of bipolarity that is presented by the hierarchical arrangement of a theory (with premises and
highlevel hypotheses of high generalization at one end, and low-level sets of empirically
29
verifiable data of high degree of particularization at the other) must be replaced by something
far more complex in which what I later call a selected fact has grouped about it a
constellation of elements in sets that are determined only by the nature of the link and its
characteristic of being attached to the selected fact. In such a system the scientific deductive
system would form only one set of elements, linked by the logic of the deductive system, and
possessing the selected fact as one of its elements. 27
Conhecimento ento a palavra escolhida para dar conta de um fenmeno que pode
ser descrito como o estabelecimento e o desenvolvimento de uma determinada relao
entre o homem e a realidade. Esta relao (entre o homem e a realidade, chamada de
conhecimento) muito especfica. A sua especificidade inclui,
1. Tentar traduzir a experincia numa linguagem tal que esta possa ser
aproveitada pelo homem para predizer o futuro, explicar o passado e
modificar a realidade.
2. Visa diminuir a ansiedade e a angustia originada pelo contacto com uma
realidade no-conhecida, no-prevista e indutora de sofrimento (fsico e/ou
psicolgico).
3. Visa modificar a realidade, por forma a torn-la mais tolervel ou at
mesmo agradvel.
27
bibliogrfica [11]
30
Desta forma torna-se claro que ser capaz de conhecer algo, ser capaz de traduzir a
realidade numa linguagem suficientemente apta para predizer o futuro e para explicar
o passado seja fundamental para o desenvolvimento e a sobrevivncia do homem. ,
ento, lcito pensar que a possibilidade de sobrevivncia e de desenvolvimento do
homem tanto mais elevada quanto mais preciso, eficaz e verdadeiro for o
conhecimento que ele tem acerca da realidade (interna e externa, consciente e
inconsciente). neste momento que o mtodo cientifico se introduz como um factor
de elevada pertinncia. O mtodo cientifico permite a obteno de um conhecimento
mais eficaz, mais preciso e verdadeiro. Por verdadeiro entende-se: "que de facto
traduz a realidade", isto , que existe na realidade uma contra-parte dessa ideia,
desse pensamento. O estar na posse de um conhecimento desta natureza
(cientifico) permite uma aco na realidade mais eficaz; permite a modificao da
realidade por forma a reduzir ou a minimizar o sofrimento, e a aumentar o prazer
fsico e/ou psquico.
Nesta altura pensamos ter sido capazes de responder, pelo menos em parte, pergunta,
"Porque que o homem procura conhecer a realidade?" De facto, o homem parece
procurar conhecer a realidade porque atravs desse conhecimento capaz de a
modificar, melhorando as suas possibilidades de sobrevivncia e de desenvolvimento,
e diminui o sofrimento inerente ao contacto com a realidade. Uma outra pergunta
pertinente a responder seria: "De que forma tenta o homem obter conhecimento
acerca da realidade?" Esta pergunta seria melhor formulada da seguinte forma: "Que
tipo de relao estabelece o homem com a realidade, quando est envolvido na
actividade de a conhecer?". O mtodo cientifico parece ser uma forma de investigao
muito adequada e eficaz. Neste sentido, o estudo do mtodo cientifico parece ser uma
forma adequada para compreender como possvel ao homem obter conhecimento.
O mtodo cientifico no o nico mtodo pelo qual se pode obter conhecimento,
mas parece ser o mtodo pelo qual se obtm um conhecimento mais verdadeiro.
31
29
28
My theory is that contact with reality induces questions, and that the process of induction gives
rise to questions. The hypothesis is inspired by the need to deal withnot necessarily to answerthe
question. It may still be true that the hypothesis does answer the question, but that may only be because
in a particular instance there is an answer that would deal with the question. . In Cogitations. No
datado. Pgina 190/1.
29
I think the fault lies in the belief that the inductive method consists of the collection of data and
the inference, from the data observed, of generalizations such as are commonly embodied in a
hypothesis. I believe the hypothesis is not based on what is commonly supposed to be observation, but
is essentially a statement that such-and-such is a fact. This supposed fact has invariably the following
features, which are essential to it as a hypothesis.
When one of the elements is time, the elements are always stated to be related to each other as cause
and effect. The word, cause, is applied to the selected fact that, for the particular individual observer,
gives coherence to certain elements that have, to him, been mentally present as incoherent and
demanding coherence. Essential amongst these elements are (externally) time, and (internally, and
peculiar to the individual) feelings of guilt. . In Cogitations. No datado. Pg. 194/5
30
I have said that the inchoate mass of incoherent, or apparently incoherent, elements can, by
selection of the appropriate fact, be made to appear to the observer to come together as a whole in
which the elements are now seen to be related to each other as parts of the whole. When time is
essential, this selected fact is known as the cause, but this fact is otherwise no different from other facts
32
organiza todo o conjunto de factos que at ento se encontravam separados, dandolhes coerncia e evidenciando relaes at a insuspeitas.
Segundo este ponto de vista, uma das fases fundamentais do mtodo cientifico, o
levantamento de hipteses, depende mais de uma capacidade individual do que da
recolha de informao e posterior inferncia de hipteses. O levantamento de
hipteses um acto criativo profundamente dependente da subjectividade do seu
criador31. Contudo, esta subjectividade no invalida a cientificidade do mtodo
cientifico, j que esta se prende com o rigor da aplicao do mtodo e no com a
criatividade da hiptese, apesar de depender desta ltima para se desenvolver.
that are selected for their apparent ability to bring these elements together as a whole. Such facts do not
necessarily possess intrinsic significance; that depends on what fact the observer lacks, and that clearly
depends on the observer. . In Cogitations. No datado. Pg. 193
31
I believe that philosophers are correct in expressing the need for some theoretical concept, such
as induction, to represent a verifiable fact that plays an essential role in the scientific method. I also
believe that the process of inductionwhatever that might turn out to beis and must be related to a
sensory awareness of data of external reality. But the function of induction is to extract from the data
that have been collected via the sensory apparatus, not a hypothesis but a question-preferably the right
question. By right question I mean that which is dictated by common sense (in the sense in which I
have defined it); for any other question is a matter of private concern, and all scientific matters are of
public knowledge of public facts made publicthe scientific work consisting of public-ation. I suggest
then that the process is one of awareness of incoherent elements and the individuals ability to tolerate
that awareness until such time as induction leads to the formulation of a question. (Of the nature of
those questions I shall speak later.) The question once formulated gives rise to an inspiration, the
selection of the fact or, as I would suggest, the sophisticated fact or hypothesis. From this follow the
steps by which a scientific deductive system is built up: from the high-level hypotheses acting as
premises, through the intermediate derived hypotheses, through decreasing generalization to the lowestlevel hypotheses, we reach the particularizations that are open to invalidation by empirical testing. .
In Cogitations. Pg. 195
33
34
32
Bion so variadas, mas talvez se possam identificar trs como sendo as mais
pertinentes:
32
I shall approach the subject as if my aim were to see in what way the criticism that psycho-
analysis is unscientific is justified. To do this it is necessary first to try to understand what constitutes
scientific method and by what criteria it is possible to determine whether a given method is scientific or
not. To this end I propose to consider the views of physicists and philosophers. I choose these two
disciplines because it would generally be conceded today that it is in the field of physics that scientific
method has achieved its greatest successes, and in the field of philosophyparticularly through the
labours of the philosophers of sciencethat the most rigorous investigation of the methods by which
these successes have been achieved has been set in train.
I must say at once that the idea that there is any generally accepted view of what constitutes scientific
method, or indeed that there is a scientific method, is one of which one rapidly becomes disabused. The
search, as I hope to show, is rewarding; the more thoroughly it is carried out, the greater and more
fascinating is the complexity that is revealed. In the first place it is clear that psycho-analysis is not
alone in being vulnerable to criticism of the scientific soundness of its methods and results. . In
Cogitations. No datados Pg. 242
35
2. At que ponto que a mente humana (os seus contedos e os seus modos
de funcionamento) so acessveis observao? Isto , poder a mente
humana ser considerada objecto de estudo?
3. At que ponto que as teorias e os modelos desenvolvidos pela psicanlise
so passveis de confirmao e infirmao. Isto , podero as teorias e os
modelos da psicanlise ser sujeitos experimentao cientifica? Se sim,
como que poder isso ser feito?
36
serem inanimados, o que faz com que mantenham uma grande parte das suas
caractersticas ao longo do tempo facilitando assim a observao.33
33
The psycho-analyst is in the curious position of studying a subject that illuminates the most
ineradicable source of unscientific inquiry, namely the human mind, using that same mind as his
scientific instrument, and having to do so without the comfort of thinking his observations are made by
an inanimate machine that, by virtue of being dead, must be objective. But clearly an inability to be
satisfied that the methods of scientists of other disciplines are scientific decreases rather than increases
the psycho-analysts hope to be more successful. Yet the attempt must be made to use psychoanalytic
experience to improve on classical scientific method, and to use such improvements to fortify the
procedures we employ. . In Cogitations. Metatheory. No datado. Pg. 244
34
Ultimately, a science stands or falls in proportion as it is a valid technique for discovery, and not
by virtue of the knowledge gained. This last is always subject to supersession; indeed, supersession of
findings by new findings is the criterion by which vitality of the subject is judged. . In Cogitations.
Pg. 190
35
In the natural sciences the quantum mechanical theories have disturbed the classical concept of
an objective world of facts which is studied objectively. And the work of Freud has at the same time
excited criticism that it is unscientific because it does not conform to the standards associated with
classical physics and chemistry; it constitutes an attack on the pretensions of the human being to possess
a capacity for objective observation and judgment by showing how often the manifestations of human
beliefs and attitudes are remarkable for their efficacy as a disguise for unconscious impulses rather than
for their contribution to knowledge of the subjects they purport to discuss.
But, it may be argued, do not the facts discovered as a result of the application of scientific methods
constitute a proof that the methods employedfor example mathematical formulas in the prediction of
astronomical phenomenahave a validity independent of the observer who elaborates and employs
them, that the methods belong to ontology, not epistemology, and are objective, not subjective?". In
Cogitations. 4 Outubro 1959. Pg. 84
37
38
Pelo que atrs foi referido podemos dizer que saber acerca dos contedos mentais
ser capaz de perceber/interpretar as linguagens em que eles se expressam. Muitos
dos constructos tericos desenvolvidos por Freud e Lacan, entre outros, visam dar
conta da linguagem do inconsciente. Portanto a realidade interna (consciente e
inconsciente) o verdadeiro objecto de estudo da psicanlise. Mas a questo no se
esgota aqui, porque a realidade interna (enquanto coisa-em-si) no passvel de ser
conhecida ( incognoscvel); dela s se sabe o que expresso atravs da linguagem, e
portanto da comunicao. A comunicao coloca novas questes, inerentes
passagem de um conhecimento privado para o conhecimento pblico, isto , com que
certeza se poder dizer que aquilo que o analisando diz a respeito de si
36
prprio
reflecte aquilo que so os seus contedos mentais, e ainda, at que ponto que aquilo
que o analista observa e aquilo que diz ter observado so uma e a mesma coisa. Por
tudo isto, Bion considera que o verdadeiro objecto de estudo da psicanlise o
elemento actual, que postula como sendo um fenmeno constitudo e definido por
trs condies fundamentais. 37
36
Private knowledge becomes public knowledge when the common sense of analyst and analysand
agree that the perceptions of both indicate that some idea corresponds to an external fact independent of
both observers. I shall later suggest that it is the moment of public-ation that is the point at which a
mental phenomenona thought, an idea, a hypothesisbecomes an action in a psycho-analysis. When
the psycho-analyst gives an interpretation that is a public-ation of private knowledge, he is translating
thought into action, word into deed, just as much as the physicist conducting a laboratory experiment.
. In Cogitations. No datado. Pg. 197
37
What does the psycho-analyst do? He observes a mass of elements long since known but - till
he gives his interpretation - scattered and seemingly foreign to each other. If he can tolerate the
depressive position, he can give this interpretation; the interpretation itself is one of those only facts
worthy of our attention which, according to Poincar, introduce order into this complexity and so
make it accessible to us. The patient is in this way helped to find, through the analysts ability to select,
one of these unifying facts.
The fact that I here equate with what Bradley calls the actual element is in a sense in no way
different from the facts or actual elements that are the objects of curiosity, elucidation, and study in any
science whatever, although this fact may be obscured because it is a fact or actual element of the
kind that the analyst is inviting the patient to study-namely, the patients own.
It will be observed that in the theory I am putting forward I am postulating a phenomenon with
three facets:
39
(1) what Bradley would call actual elements in an actual union, which is identical with what
the scientist would call observable data in a relationship with each other that is equally
observable,
(2) an ideational counterpart of the above, which is dependent upon the individuals ability to
translate an actual element into an idea. (The psychotic fails to do this, and even when he
verbalizes still thinks that words are things.) This operation depends on the individuals
capacity to tolerate the depression of the depressive position and therefore to achieve symbol
formation. This phase is identical with the scientists ability to produce a scientific deductive
system and the representation of this, which is called calculus [Braithwaite, p. 231]
(3) a mental development that is associated with an ability to see facts as they really are
[Samuel Johnson to Bennet Langton, see p. 114 of text for details] and internally with a sense
of well-being that has an instantaneous ephemeral effect and a lasting sense of permanently
increased mental stability.
The peculiarity that distinguishes the psycho-analyst from his analysand is that the analyst is
able to select the worthwhile fact, produce the deductive system and its associated calculus experience
the moment of union when the elements meet to give rise to a feeling that the cause has been found, and
begin a process that issues in a change that produces a feeling that an effect and its cause have been
linked [Poincar, on defect of logic, p. 126; Braithwaite, p. 24].
The analysand, on the other hand, is made aware of an hypothesis in a deductive system which
he may or may not be able to use as a premise for further deductions. The deductive system thus formed
may enable him in his turn to select one of these unifying facts of which Poincar speaks. . In
Cogitations Scientif method. 10 de Janeiro de 1959 Pg. 5
40
O terceiro e ltimo ponto introduzia a questo de saber at que ponto que as teorias e
os modelos construdos pelos psicanalistas podem ser testados. Bion considera que
o teste das teorias e dos modelos se faz na prpria situao analtica, isto , um
modelo (e/ou teoria) tanto mais vlido quanto mais til se mostrar na resoluo dos
problemas apresentados pelo paciente. Esta situao levanta alguns problemas
adicionais, porque exige que o psicanalista tenha uma conscincia exacta do que est a
fazer, isto , de quais so os modelos e/ou teorias que est a utilizar quando faz uma
determinada interpretao. As interpretaes fornecidas pelo analista no so mais do
que hipteses que este levanta sobre aquilo que ele pensa estar a passar-se no aqui e
agora da sesso com o analisando. Nesta medida, o que de facto passvel de
verificao emprica o grau de certeza que o analista tem de que aquilo que se est a
passar de facto aquilo que ele elaborou em termos de interpretao. 39
38
analistas afirmarem ver o que para os outros no existe, discrepncia comum bastante, entre paciente e
analista, que partilham a experincia vista?
Como critrio do que constitu a experincia sensvel, proponho o consenso, na acepo que alhures lhe
atribuo de sentido comun a mais de um sentido. Considero sensvel investigao psicanaltica o
objecto quando, apenas quando, satisfaz condies anlogas quela em que a sua presena fsica se
confirma evidencia de dois ou mais sentidos. . In Elementos em Psicanalise. Pg. 21. Ver
referncia bibliogrfica [14]
39
There is a great difficulty in making the step between the scientific deductive system and the
low-level hypothesis that is susceptible of clinical verification. The gap between the actual clinical
(experimental) data and the theory that is being tested and is to contribute to the formation of an
interpretation, seems to me to be very big; it is not only the size of the gap, but the actual dimension
in which it exists, which is so difficult to determine. Once the two have been brought together, it
becomes simpler.
It is very important that the analyst knows not what is happening, but that he thinks it is
happening. That is the only certitude to which he lays claim. If he does not know that he thinks suchand-such is happening, he has no grounds for making the interpretation. This may help to bridge the
gap. The theory that is being subjected to empirical test must be related to its power to enable the
analyst to feel certain that he thinks that X is the casenot to its power to make it certain that X is the
case. The fact susceptible of empirical test is the certainty, or the degree of certainty, that the analyst
41
Terminando aqui esta exposio, necessariamente sumria, dos trs pontos, resta-nos
reorganizar de novo a informao num todo coerente. Do acima exposto, ficamos com
a ideia de que a psicanlise pode de facto ser considerada como uma cincia desde que
se tenham algumas precaues na execuo do seu mtodo. Estas precaues passam
pela aplicao rigorosa do mtodo cientifico, levando para isso em considerao que:
O objecto de estudo da psicanlise a relao que se estabelece entre
analisando e analista quando ambas as mentes investigam os contedos
mentais de um deles, o analisando.
As interpretaes fornecidas ao paciente pelo analistas no so mais do que
hipteses que este ltimo levanta sobre aquilo que ele pensa ser o que se
est a passar no aqui e agora da sesso.
A articulao destas hipteses num todo coerente perfaz um sistema
cientifico dedutivo, isto uma teoria ou modelo do que se est a passar.
As teorias e os modelos devem poder ser expressos num conjunto de
hipteses de baixo nvel, porque s estas so passveis de verificao
emprica.
A verificao emprica feita sobre o grau de certeza que o analista tem de
que a hiptese por si levantada representa de facto aquilo que se est a
passar no aqui e agora da sesso.
So as teorias e os modelos desenvolvidos pelos analistas que permitem que
a mente do analista possa funcionar como um instrumento cientifico. As
teorias e os modelos que o analista dispe so utilizados por este como
instrumentos de apreenso da realidade. 40
can achieve about what he thinks is going on. He could say, I quite realize that my view may be
entirely wrong, but I do know that I am certain at any rate that this is my view. . In Cogitations .
21 de Agosto de 1959. Pg. 70
40
" The theories of psycho-analysis are peculiar in that their use in the consulting room emphasizes,
in a manner rare in other sciences, their function as actual tools which the analyst has to use in his
practice. In other sciences the theories inform the use to which various tools and appliances are put: in
psychoanalysis the theory is the tool itself. ". In Cogitations. Resistance. 11 de Outubro 1959. Pg.
92
42
Foi com a preocupao de levar a psicanlise ao rigor cientifico que Bion a repensou.
O corpo terico e a prtica analtica exigiam um olhar crtico. Bion debruou-se ento
sobre a psicanlise de forma crtica e construtiva. Mais do que apontar as falhas do
corpo terico e da prtica analtica, Bion propem modificaes e desenvolvimentos.
Uma das grandes investigaes empreendidas por Bion foi, ento, descobrir o que de
facto se passa no aqui e agora da sesso analtica, descobrir o que verdadeiramente
a psicanlise. Com inteno de criar uma psicanlise que se adequasse melhor s
exigncias do mtodo cientifico, Bion criou, de certa forma, uma nova psicanlise,
uma psicanlise procura do rigor e da objectividade. Foi como explorador desta nova
psicanlise que ele se embrenhou na descoberta do que acontecia nas sesses
psicanalticas, onde desempenhava o papel de analista.
Bion comeou por observar; para garantir que a sua observao tinha alguma iseno
e imparcialidade forou-se a adoptar de um estado de esprito que definiu da
seguinte forma: "Sem desejo, Sem compreenso e Sem memria"41. Esta postura
intelectual foi-se revelando muito eficaz na recolha de informao, informao esta
41
" O primeiro ponto para o analista se impor a disciplina categrica de rechaar memria e
desejo. Afirmo que "esquecer" no suficiente: requer-se ato deliberado de abster-se de memria e
desejo. "; " A adeso deliberada disciplina fortalece de modo gradual os recursos mentais do
analista, ." E " Memria e desejo so "ofuscaes" que destroem o poder de observar do analista,
como a luz que inunda a cmara destri a condio do filme exposio seletiva. " Ver Ateno e
Interpretao. Pg. 41, 62 e 79. Referncia bibliogrfica [6]
43
44
ocorrido no satisfaz os critrios aplicveis teoria, tal se emprega o termo, para descrever os
sistemas em uso na investigao cientifica rigorosa. 42
Com uma nica teoria, Bion descreve o objecto da psicanlise (a relao que se
estabelece entre analisando e analista quando ambas as mentes investigam os
contedos mentais de um deles, o analisando) e cria as condies para o
desenvolvimento de um sistema de notao: a tabela. Ser apresentado um captulo
sobre a tabela enquanto sistema de notao e instrumento de investigao pelo que
aqui nos abstemos de desenvolver este assunto.
Pensamos que com a teoria das transformaes, e com a postulao dos elementos em
psicanlise 43, Bion resolve (pelo menos numa grande parte) um dos problemas mais
difceis e que mais tm contribudo para a dificuldade que a psicanlise tem tido em se
desenvolver enquanto cincia.
42
43
A perda de compreenso que isto implica se refaz pelo uso de modelos que suplementam os sistemas
tericos. e os elementos que busco so tais que, comparativamente, poucos se requerem para
expressar, em mudanas de combinaes, quase todas as teorias essenciais ao trabalho do psicanalista.5
. In Elementos em Psicanlise. Pg. 11/12. Ver referncia bibliogrfica [14]
45
44
44
45
Elementos da Psicanlise:
46
Sintese realizada por ns das pginas 12, 13 e 14 do livro "Elementos em Psicanlise". Ver referncia
bibliogrfica [14]
()
A dificuldade estabelecer emprego similar ou conveno que defina a natureza do sentido
mediante que percebemos o elemento psicanalitico e, o que lhe equivale, definir-lhe a natureza das
dimenses In Elementos em Psicanalise. Pg. 22. Ver referncia bibliogrfica [14]
()
A investigao psicanalitica formula permissas diferentes das da ciencia comum, como o so as da
fiosofia ou teologia. Os elementos psicanalticos e objectos deles derivados apresentam as seguintes
dimenses:
1. Estendem-se ao terreno dos Sentidos
2. Estendem-se ao terreno dos mitos
3. Estendem-se ao terreno das paixes
Ibidem
47
46
47
Bion, W. R. Estudos Psicanaliticos Revisitados. Captulo nono. Ver referncia bibliogrfica [15]
" o pensar passa a existir para dar conta dos pensamentos. ". In Estudos Psicanaliticos
48
Aps esta pequena apresentao das principais teorias de Bion, pensamos ter
articulado o contedo de algumas das suas obras mais significativas. De seguida
iremos tentar apresentar as conceptualizaes e teorizaes de Bion, de acordo com o
esquema evolutivo do pensamento (em sentido lato) que foi anteriormente definido
como:
Proto-pensamentos Pensamentos Faculdade de pensar
48
" 'Funcin' es el nombre para la actividad mental propia a un nmero de factores operando em
consonancia. 'Factor' es el nombre para una actividad mental que opera en consonancia con otras
actividades mentales constiuyendo una funcin. ". In Aprendendo de la experiencia. Pg. 19. Ver
referncia bibliogrfica [13]
49
De facto, o constante dizer de Bion de que apenas est a fazer consideraes sobre a
forma de fazer psicanlise, e no a desenvolver teorias psicanalticas, leva-nos a
prestar menos ateno a estas ltimas. No entanto, o que sucede que o pequeno
nmero de teorias que desenvolveu a este respeito excluem na quase totalidade a
necessidade das teorias psicanalticas mais frequentemente utilizadas.
Num pequeno artigo com o ttulo Methateory49, publicado no "Cogitations" Bion
apresenta de forma muito resumida as principais premissas que organizam todo o seu
sistema terico. Os ttulos das diferentes seces so por si s significativos:
1- Frustrao;
2- Negao da frustrao;
3- Modificao da frustrao;
4- Preocupao com a Verdade e a Vida;
5- Emoes Violentas;
6- O seio;
7- O pnis;
8- A fragmentao (splitting)
Pensamos ser pertinente analizar estes 8 conceitos (ou premissas) antes de avanarmos para as conceptualizaes mais elaboradas, que as pem em jogo.
49
50
Sobre a frustrao
50
" mas pessoas h, to intolerantes ao sofrimento ou frustrao (ou para quem o sofrimento e
frustrao so to intolerveis) que sentem o sofrimento sem sofr-lo e assim no o descobrem. ". In
Ateno e Interpretao. Pg. 19. Ver referncia bibliogrfica [6]
51
Negar a frustrao implica destruir ou negar estas funes. Curiosamente, Bion chama
a ateno para o facto que a terceira funo (percepo das informaes sensoriais)
pode ficar comparativamente muito pouco afectada. Se, pelo contrrio, a intolerncia
frustrao menos intensa e permite a tomada de deciso no sentido da modificao,
ento as funes anteriormente referidas podero desenvolver-se e amadurecer sob o
domnio do principio da realidade.
52
Uma pessoa que no tenha respeito pela verdade ou por ela prpria, alcana um tipo
de liberdade que est relacionada com o facto de passar a ter sua disposio
actividades destrutivas que at ento no possua. Ela poder comportar-se de tal
forma que destri o respeito por si prpria e pelo analista, desde que mantenha o
contacto com a realidade suficiente para perceber (sentir) que ainda existe algum
respeito para destruir. Desta forma, o grau em que um paciente capaz de se
preocupar com a verdade, com a vida e com a verdade em simultneo um elemento
importante para avaliar os recursos do paciente.
Emoes Violentas
Utilizando o termo violncia, Bion pretende dar conta da intensidade, quer ao nvel
qualitativo, quer ao nvel quantitativo. Segundo ele, um aumento quantitativo induz
uma mudana qualitativa na emoo. Bion considera apenas duas emoes, o amor e o
dio. Acha que todas as outras emoes se podem "reduzir" a estas duas. No separa o
amor do instinto de vida, e o dio do instinto de morte. A mudana qualitativa
operada sobre o amor e/ou dio introduz crueldade, e induz a diminuio do respeito
pelo objecto. Tanto o amor como o dio, quando violentamente sentidos, tornam-se
mais facilmente associados com a falta de preocupao pela verdade e pela vida.
O Seio e o Pnis
Tanto o seio como o pnis so utilizados como hipteses definitrias. Seio e Pnis so
condensaes, so elementos-. As hipteses definitrias condensadas sob o nome de
Seio e sobre o nome de Pnis tm como funo serem interpretaes psicanalticas. A
interpretao Seio est ligada a uma penumbra de associaes que pe em jogo
diferentes hipteses. Por Seio, entendem-se as interpretaes que relacionem ou
ponham em evidncia uma ligao (link) entre dois objectos. O Seio tambm fonte
de bem-estar, e de "coisas" boas. O Seio pode ser maltratado, destrudo, fragmentado e
cortado. Indica, tambm, uma conjuno constante que abarca uma quantidade de
fenmenos simples como, por exemplo mulher, calor, amor, sensualidade, etc.
53
Pnis est ligado a uma penumbra de associaes diferente do Seio, mas ambas
funcionam como interpretaes psicanalticas e so plsticas; isto significa que na
mente a sua imagem visual pode sofrer alteraes enormes sem que haja qualquer tipo
de perda da sua identidade.
Fragmentao (Splitting)
51
" No pensar incluo o que primitivo, mesmo os elementos-alfa tal os descrevo. Excluo de modo
arbitrrio, por definio, os elementos-beta. " e " Como defino o pensamento, quem no produz
54
elementos-alfa no consegue pensar. ". In Ateno e Interpretao. Pg. 21. Ver referncia
bibliogrfica [6]
55
Dito de uma outra forma, os elementos dispersos que foram percepcionados pelas
impresses dos sentidos (refiro-me novamente percepo das qualidades psquicas e
percepo das qualidades fsicas elaboradas pelos rgos dos sentidos), mantm-se
dispersos durante algum tempo (o tempo suficiente para emergir o facto
seleccionado). Enquanto estes elementos (elementos-) se encontram dispersos, a
mente vive um sentimento doloroso associado ao medo do desconhecido, e quando
surge na mente o facto seleccionado, ela reorganiza-se volta de uma penumbra de
associaes que d sentido, reduzindo, por isso mesmo, o medo do desconhecido, o
que consequentemente permite uma reduo da intensidade do sentimento doloroso
vivenciado. O facto seleccionado j no pertence categoria dos elementos- mas
pertence categoria dos elementos-. O elemento- ento uma penumbra de
associaes que se organiza volta de um nome, de uma imagem ou de um som, e que
estabelece uma hiptese definitria, na medida em que afirma que tais e tais factos se
encontram unidos segundo determinadas regras e normas. O elemento- , ento, um
elemento plstico e malevel. Porque plstico e malevel (contrariamente ao
elemento- que esttico e fixo), o elemento- presta-se a ser manuseado,
transformado, convertido, expandido, etc. Presta-se a ser pensado, enquanto que o
elemento- apenas se presta a ser transformado em elemento-, ou a ser expulso do
psiquismo atravs da utilizao da identificao projectiva.
56
52
" Pareceu-me conveniente supor que existia uma funo alfa que converte os dados sensoriais em
elementos alfa, fornecendo assim psique material para pensamentos onricos, e propiciando, portanto
a capacidade de acordar ou de dormir, de estar consciente ou inconsciente. ". In Estudos
Psicanalticos Revisitados Uma teoria sobre o pensar. Pg. 133. Ver referncia bibliogrfica [15]
53
Por gerador de algoritmos pretendo referir-me a um hipottico gerador de solues para um dado
problema. Poderiamos pensar que o contacto com a realidade pora ao individuo um problema, na
medida em que este "compelido" a seleccionar um facto que organize a "informao" que possu.
Seria, ento pela resoluo deste problema (dar sentido ao elementos-beta) que se constiuiria o
elemento-alfa. Neste caso a funo- funcionaria como um gerador de solues, isto , como um
gerador de algoritmos. No livro Data Structure and Algoritms, ver referncia bibliogrfica [1],
encontramos a seguinte definio de algoritmo:
" algorithm is a solution, which is a finite sequence of instructions, each of which has a clear meaning
and can be performed with a finite amount of effort in a finite lenght of time. ". Numa outra obra
Introduction to the Design and Analysis of Algorithms (ver referncia bibliogrfica [24]) encontramos:
" We can loosely define an algorithm as an unambigus procedure for solving a problem. ..". Um
algoritmo , ento, uma resposta concreta e especfica para um problema, mas que tem um grau de
eficcia varivel. A cada algoritmo est associado um determinado grau de eficcia. Nesta medida,
poderiamos tambm supor que a cada elemento- estaria associado um grau de eficcia.
57
A funo- exerce a sua actividade de forma continuada, durante o dia e a noite, sobre
os pensamentos de viglia e sobre os pensamentos inconscientes. Opera sobre os
estmulos produzidos pelo psiquismo e no s. Opera na contra-parte mental dos
acontecimentos da realidade externa. A contra-parte ideativa em que a funo- opera
parece ser a conscincia associada a certas impresses dos sentidos, ser aquilo que
Freud definiu como a conscincia "atrelada" aos rgos dos sentidos. A funo-
presta ateno s impresses dos sentidos. Mas para que de facto possa exercer a sua
funo sobre elas (as impresses dos sentidos), estas tm que permanecer na mente
54
" o ele de ligao entre o paciente e o analista, ou entre o beb e o seio, o mecanismo de
identificao projectiva. ". In Estudos Psicanalticos Revisitados Ataques ligao. Pg. 121. Ver
referncia bibliogrfica [15]
58
E que:
O modo de funcionamento da funo- mais desconhecido do que
conhecido.
A funo- funciona de tal forma que a mente passa da posio esquizoparanide para a posio depressiva. Isto , a funo- permite a
emergncia do facto seleccionado que organiza uma penumbra de
associaes, que por sua vez se organiza volta de um nome ou de uma
emoo, e que estabelece uma hiptese definitria, na medida em que
59
55
" la funcin-alfa del hombre, dormido o despierto, transforma las impresiones sensoriales
relacionadas con una experiencia emocional en elementos-alfa, los que al proleferar adhieren formando
la barrera de contacto. Esta barrera de contacto, de este modo en continuo proceso de formacin, marca
el punto de contacto y separacin entre los elementos conscientes e inconscientes y origina la distincin
entre ellos. La naturaleza de la barrera de contacto depender de la naturaleza de la provisin de
elementos-alfa y de cmo stos se relacionan entre s. Pueden adherirse. Pueden estar aglomerados.
Pueden estar ordenados en secuencia para dar la apariencia de una narracin () Pueden estar
ordenados logicamente. Pueden estar ordenados geomtricamente. ". In Aprendiendo de la
experiencia. Pg. 37. Ver referncia bibliogrfica [13]
60
Para que o pensamento possa alcanar estes diversos nveis de abstraco necessrio
que em nenhum momento o pensamento perca flexibilidade e plasticidade. A
manuteno destas caractersticas depende novamente do grau de tolerncia dor
mental, porque em qualquer salto qualitativo (de menor grau de abstraco para maior
grau de abstraco) necessrio proceder destruio da abstraco j conseguida.
Isto , a reestruturao da abstraco (independentemente do nvel evolutivo em que
se apresenta) implica que a estrutura inicial seja desfeita para que se possa construir
sobre as "peas soltas" uma outra estrutura, mais abrangente, igualmente (ou mais)
56
" os objectos bizarros - pelos quais se sente rodeada a parte psictica da personalidade, quando a
61
O movimento que permite o aprender com e pela experincia est associado (ou
semelhante) ao conceito de Melanie Klein sobre a transio entre a posio esquizoparanide e a posio depressiva. Como j tivemos ocasio de referir, Bion faz uma
expanso deste conceito imprimindo-lhe uma dinmica diferente. Para Bion, esta
transio opera-se sempre que se organiza um elemento-, e sempre que um
pensamento (em sentido lato) se torna mais abstracto. Para ele, este movimento
tambm bidireccional, isto , a transio feita em ambos os sentidos, se bem que em
momentos diferentes. Um elemento que esteja na posio depressiva pode ser
estilhaado e fragmentado passando a estar na posio esquizo-paranide, e um
conjunto de estilhaos e fragmentos pode "unir-se" sobre a gide de um nome, um
som ou de uma imagem, e ficar na posio depressiva; ficar nesta posio at voltar a
sofrer uma nova fragmentao.
Dissemos anteriormente que a teoria das funes e das transformaes elucida a forma
como se estabelecem as relaes entre os proto-pensamentos, os pensamentos e a
faculdade de pensar, assim como elucida as relaes entre a realidade (interna e/ou
externa) e o conhecimento que a pessoa capaz de alcanar. Isto , a teoria das
transformaes permite esclarecer a forma como o homem se relaciona com a
realidade quando est envolvido na actividade de a conhecer ou descobrir.
Sobre a forma como a teoria das funes elucida a passagem entre os diversos nveis
evolutivos do pensamento (em sentido lato) pensamos j ter sido dito o fundamental.
Pensamos que se tenha tornado claro pelo acima exposto que a funo- uma funo
transformadora na medida em que ao agir sobre os elementos- os transforma em
elementos-. Os elementos-, por sua vez, so de tal forma plsticos e flexveis que
podem ser agrupados e submetidos a arranjos e re-arranjos, num crescendo de
capacidade simblica e abstrativa. Esta capacidade de agrupamento parece estar
relacionada com uma forte capacidade de integrao e vinculao entre si. Os
62
" Por O se representa a verdade absoluta imanente de qualquer objecto; admite-se que o ser
63
Para simplificar vamos imaginar que o "O" a que nos referimos uma impresso dos
sentidos. Vamos imaginar que a impresso dos sentidos que ocorreu quando o
indivduo queimou um dedo. Ento, temos: quando perante o acontecimento
(queimadura do dedo) o indivduo apreendeu uma srie de estmulos (internos e
externos: sensao de aquecimento sbito, sensao de dor e mau estar, movimento do
brao, cheiro a pele queimada, etc.), que organiza segundo os passos inerentes
formao de concepes e acaba por dizer "Ai, queimei-me!!". A realidade ltima
inerente situao incognoscvel, mas o contacto da situao com o indivduo
produziu uma srie de impresses que, aps terem sido transformadas, se organizaram
numa frase: "Ai, queimei-me!!". Esta frase pode ser o facto seleccionado que deu
sentido s inmeras sensaes, e ao mesmo tempo o resultado da transformao
operada sobre a percepo da situao real. 59
58
" I transform the facts I describe by regarding them in a particular way " In Transformations.
" the term "transformation" related to (I) the total operation which includes the act of transforming
and the end product: for this I shall use the sign T; (ii) the process of transformation: sigh T; and (iii)
the end product: sign T. ". Ibidem. Ver referncia bibliogrfica [9]
64
Bion, para alm de ter detectado estes ciclos de transformaes que um qualquer "O"
pode sofrer, tambm se apercebeu que nem todas as transformaes pareciam ser
operadas da mesma forma. Atravs da sua experincia clnica identificou e
caracterizou 3 tipos diferentes de transformaes a que um "O" pode ser sujeito.
60
" Na esfera da alucinose, o evento mental se transforma em impresso sensvel, e elas, nessa rea,
no significam; proporcionam prazer ou sofrimento. Desse modo, o fenmeno mental que no chega a
ser sensvel transforma-se em elemento-beta, de maneira que evacuado e reintroduzido, o ato estimula
no a significao, mas prazer ou sofrimento. O analisando, em alucinose, experimenta alucinaes
visuais auto-renovveis. ". In Ateno e Interpretao. Pg. 47. Ver referncia bibliogrfica [6]
61
1 - In psycho-analyis any O not common to analyst and analysand alike, and not available therefore for
transformation by both, may be ignored as irrelevant to psycho-analytiis. Any O not common to both is
incapable of psycho-analytic investigation; any appearance to the contrary depends on a failure to
understand the nature of psycho-analytic interpretation.
66
At aqui foi dito que "O" incognoscvel, e que por isso mesmo uma meta
inatingvel. Contudo, o Homem saudvel vive um sentimento de realidade, e no de
irrealidade. A razo para que o Homem viva um sentimento de realidade apesar de
nunca poder conhecer inteiramente a realidade, deve-se sua capacidade de ser, isto ,
de se transformar em "O". A Transformao em "O" a ltima grande descoberta de
Bion. A Transformao em "O" enquanto conceito, permite superar o enorme hiato
que existia entre a terica e a prtica, entre o pensamento e a vida. A terica
transforma-se num vivido, o pensamento transforma-se em vida. O homem
conhecedor na Transformao em "O", o homem que vive e sente. Na obra de
Fernando Pessoa, "poemas de Alberto Caeiro"62, o tema desenvolvido e elaborado em
todos os poemas este mesmo: a Transformao em "O". Na pgina 81 da referida
obra, Alberto Caeiro diz: "Basta existir para ser completo". Na pgina 78 transmitenos a diferena entre a Transformao de "O" em "K" (ou seja, entre a realidade e a
interpretao que se pode elaborar sobre ela, que tambm o conhecimento que se
pode obter no contacto com ela) e a Transformao de "K" em "O".
Obras Completas de Fernando Pessoa. Poemas de Alberto Caeiro. (1987). Ver referncia
bibliogrfica [26]
67
Referi aqui este pequeno excerto da obra de Alberto Caeiro, mas poderia referir
muitos mais, porque na nossa opinio o que Alberto Caeiro faz do principio ao fim de
cada um dos seus poemas ilustrar a Transformao em "O".
68
63
69
Pela leitura do excerto anterior possvel perceber que uma das preocupaes de Bion
foi a de reduzir (ou at mesmo anular) a ambiguidade que estas entidades clnicas
traziam para a prtica clnica. Ao longo de toda a sua obra, facilmente nos
defrontamos com vocbulos como esquizofrenia, psicose, depresso e neurose. Num
primeiro momento estes vocbulos poder-se-o confundir com a nomeao de
entidades clnicas, mas num olhar mais atento possvel ver que eles nada tm a ver
com entidades clnicas, mas que representam processos que operam na mente humana,
independentemente de haver ou no psicopatologia associada.
" Este sistema terico destina-se aplicao a um nmero significativo de casos; cumpre ao
Dada a especificidade com que Bion utiliza a palavra pensamento, (Bion utiliza a palavra pensamento
em sentido lato e em sentido estrito, mas em ambos os casos existe uma preciso grande no termo)
penso que talvez fosse til pensar-se no numa psicopatologia do pensamento, mas numa
psicopatologia da Ideia. Bion nos livros "Elementos em Psicanlise" e "Aprendendo com a experincia
70
explica o que entende por Ideia que representa pela letra I e torna claro que I representa a realidade
psquica que engloba o pensamento, mas que no se limita a ele. " e .. a Sigla I, oriunda da palavra
"ideia" e todas as suas realizaes, inclusive as que o "pensamento" representa; a sigla I se destina a
representar os objectos psicanalticos compostos de elementos-, produtos da funo- "
66
continente/contido, que se repete no indivduo, no par e por fim, no grupo (intra e extra-psiquicamente).
In Ateno e Interpretao. Pg. 26. Ver referncia bibliogrfica [6]
71
67
Por condies ambientais, referimo-nos constituio hereditria e a todos os outros factores que no
podem ser manipulados pela personalidade em causa. As condies ambientais so, nesta medida,
internas e externas ao sujeito.
72
" Pelo menos no que se refere aos pacientes que teramos chance de encontrar na prtica
analtica, no creio que alguma vez o ego esteja inteiramente afastado da realidade. () Uma
vez que jamais se perde, por completo, o contacto com a realidade, os fenmenos que
costumamos associar s neuroses jamais esto ausentes, servindo a sua presena, em meio a
material psictico, para complicar a anlise, quando se obtm suficiente progresso. A
existncia de uma personalidade no-psictica paralela personalidade psictica, embora
obscurecida por esta ltima, depende disso - do facto de o ego conservar contacto com a
realidade. "68
68
73
adulta. Vimos no captulo anterior que Bion definiu o objecto da psicanlise como a
relao que se estabelece entre paciente e analista, quando ambos de dedicam
investigao da mente do paciente. Nesta altura j nos tnhamos apercebido de uma
queda acentuada na importncia dos contedos (das recordaes e das histrias
contadas pelo paciente), mas se houvesse a inteno de manter uma perspectiva
gentico-evolutiva, a importncia dos contedos manter-se-ia atravs da necessidade
de vir a descobrir (conhecer) o que se passou, para que o paciente tivesse ficado
"bloqueado" naquela fase do desenvolvimento, e posteriormente "recriar" os
sentimentos vividos no "aqui e agora" da sesso, por forma a resolver o bloqueio. Mas
Bion "recusa-se" a enveredar por uma perspectiva gentico-evolutiva e, em vez de
"salvar" o valor dos contedos, diz-nos que aquilo que importante que uma
determinada dinmica se d entre uma srie de elementos, e que o valor do contedo
o de exibir a forma como essa dinmica se processa.
Amaral Dias um dos autores que mais tem trabalhado sobre esta mudana radical
que o corte com a viso gentico-evolutiva. No seu a livro (A) Re-pensar69 diznos:
69
Amaral Dias, Carlos (A) Re-pensar Colectnea Psicanaltica. Pg. 65-73. Ver referncia
bibliogrfica [5]
74
Amaral Dias mostra, neste pequeno excerto, que a viso gentico-evolutiva criou uma
srie de dificuldades psicanlise, principalmente porque a levou a caminhar no
sentido do reducionismo e da standartizao. So estas e outras limitaes que a viso
de Bion (ou seja, a sua proposta terica) vai tentar ultrapassar.
Os constructos tericos
Como resultado dessas modificaes, chegamos concluso de que os pacientes cuja gravidade
leve a que, por exemplo, recebam oficialmente o atestado de psicticos, contm, na parte psquica da
personalidade, resqucios de diversos mecanismos neurticos (sobejamente conhecidos, graas prtica
da psicanlise), e, junto, uma parte psictica da personalidade, que predomina a tal ponto que a parte
no-psictica (com a qual coexiste em justaposio negativa) fica obscurecida. In Estudos
Psicanaliticos Revisitados Diferenciao entre a personalidade psictica e a personalidade nopsictica. Pg. 59. Ver referncia bibliogrfica [15]
71
Est implcito na descrio que fiz que a personalidade psictica, ou parte psictica da
" "H uma dor. Ela deve ser removida. Algum dever faz-lo sem demora, de preferncia atravs
76
Bion comeou por perceber que a linguagem [verbal] utilizada pelo esquizofrnico
de 3 maneiras diferentes: sob a forma de uma aco, como um mtodo de
comunicao e como uma forma de pensamento. Observou, tambm, que parecia
haver uma incoerncia entre o modo de utilizao da linguagem verbal e as exigncias
da realidade. Uma determinada situao real exige a utilizao de uma determinada
forma de aplicao da linguagem, que no posto em marcha pelo paciente (por
exemplo; para compreender porque que algum est a tocar piano necessrio
utilizar a linguagem como forma de pensamento, mas o esquizofrnico poder utilizla como aco74, etc.).
A linguagem verbal como forma de aco (por exemplo quando confrontado com a
situao de estar num lugar quando deveria de estar noutro, ou seja, quando
confrontado com um problema cuja a soluo depende da aco, o esquizofrnico
recorre ao pensamento [pensamento omnipotente] como forma de transporte)
constantemente utilizada pelo esquizofrnico. Muitas vezes a linguagem, enquanto
forma de aco encontra-se ao servio da identificao projectiva75. Assim, a
73
Ao abordar este tema atravs do exame do pensamento verbal, corro o risco de parecer no levar
Exemplo utilizado por Bion para ilustrar esta inadequao entre a exigncia da realidade e a resposta
do paciente esquizofrnico.
75
No momento, desejo examinar somente a sua utilizao da linguagem como forma de aco e a
servio ou da diviso do objecto, ou da identificao projectiva. Notaro que esse apenas um dos
77
No seu trabalho sobre a esquizofrenia realizado em 195376, Bion revelou a relao que
existe entre a identificao projectiva e a linguagem verbal. Nesse trabalho diz-nos
que a capacidade para formar smbolos, da qual depende a linguagem verbal, est por
sua vez dependente da:
1.
2.
3.
Desta forma, Bion relaciona o pensamento verbal com a capacidade para integrar,
associando assim o seu aparecimento com a ascenso posio depressiva (fase de
sntese e integrao activa definida por M. Klein). O pensamento verbal, ao aguar a
conscincia da realidade psquica e, portanto, da depresso vinculada destruio e
perda de objectos bons, pode levar o paciente a sentir que a relao que se estabelece
entre a posio depressiva e o pensamento verbal do tipo causa e efeito. O paciente
pode, ento, perceber que se evitar o pensamento verbal evitar concomitantemente
a dor psquica associada entrada na posio depressiva. Quando o pensamento
verbal no foi evitado, o paciente sente a necessidade de o destruir, pois a sua
existncia vivida como causadora de sofrimento psquico. A forma como o paciente
tende a destruir o pensamento verbal atravs da utilizao da identificao projectiva
aspectos das relaes de objecto do esquizofrnico em que ele ou divide os objectos, ou neles penetra e
sai. . In Estudos Psicanaliticos Revisitados Notas sobre a teoria da esquizofrenia. Pg. 35. Ver
referncia bibliogrfica [15]
76
78
Bion est convicto que o distrbio esquizofrnico surge da interaco entre o meio e a
personalidade, mas por motivos prticos, ignora o efeito do meio externo e tenta
descobrir o que se passa com a personalidade. Verifica, ento, que a personalidade
esquizofrnica depende da existncia das seguintes quatro caractersticas no paciente:
77
79
O paciente psictico nutre uma enorme hostilidade em relao ao aparelho mental, seu
ou dos outros, porque este o pe em contacto com a realidade (externa e interna). O
problema do paciente psictico est vinculado predominncia do principio do
prazer-dor, e atinge a sua singular qualidade porque o principio do prazer-dor
hegemnico tem de funcionar no mbito do prazer e da dor endopsquica. O paciente
no pode contar com nenhuma soluo adequada para os problemas do prazer-dor que
provenha do mundo da realidade externa. O problema do psictico um problema da
gesto do conflito instaurado pelo principio do prazer-dor ao nvel endopsquico.
80
78
81
ataques aos "vnculos" torna-se praticamente invivel juntar dois objectos mantendo
intactas as suas qualidades intrnsecas, tendo em vista a criao de um novo objecto
mental que fosse a conjugao dos outros dois. A parte psictica da personalidade
utiliza uma "espcie" de fala aglomerada, enquanto que a parte no-psictica da
personalidade utiliza uma fala articulada.
79
"Os ataques ao elo de ligao surgem na fase que Melanie Klein chamou de esquizo-paranode." In
Estudos Psicanalticos Revisitados Ataques ligao. Pg. 118. Ver referncia bibliogrfica [15]
80
In Estudos Psicanalticos Revisitados Sobre arrogncia. Pg. 103. Ver referncia bibliogrfica
[15]
82
Bion levanta tambm uma hiptese - a nosso ver bastante interessante - e que se
prende com a sanidade e a insanidade de um psictico. Segundo ele, ser til admitir
um tipo de progresso analtico que vai da psicose insana sanidade psictica.
Pensamos que esta hiptese no foi suficientemente trabalhada e/ou esclarecida por
ele, mas aquilo que depreendemos foi que a "fala aglomerada" utilizada pela parte
psictica da personalidade pode evoluir no sentido de se tornar sofisticada ao ponto de
cumprir uma grande parte das funes da fala articulada. Nesta altura o psictico
poder (de certa forma) encontrar um equilbrio entre a realidade (interna e externa) e
a personalidade.81 e 82
81
" Agora, a melhora surpreendente, e at desconcertante, a que me referia diz respeito questo do
conglomerado engenhoso; (aglomerado de objectos bizarros com valor de ideograma e que consegue
transmitir significado) pois verifiquei que no s os pacientes recorriam mais e mais ao pensamento
verbal ordinrio, revelando desse modo uma maior capacidade em us-lo e maior considerao pelo
analista como ser humano comum, mas tambm pareciam se tornar cada vez mais peritos nesse gnero
de fala aglomerada em vez de articulada." e " O extraordinrio o tour de force por cujo o
intermdio o paciente utiliza modalidades primitivas de pensamento para a formulao de temas de
grande complexidade. "
82
" Apregoa-se que o gnio afim da loucura. Mais verdade afirmar que os dispositivos psicticos
requerem o gnio para manej-los de modo adequado a que promovam crescimento ou vida (sinnimo
esta de crescimento)." In Ateno e Interpretao. Pg. 73. Ver referncia bibliogrfica [6]
83
" o elo de ligao entre o paciente e o analista, ou entre o beb e o seio, o mecanismo de
identificao projectiva. Os ataques destrutivos a este elo de ligao originam-se numa fonte externa ao
paciente, ou ao bb; ou seja, no analista, ou no seio. O resultado a excessiva identificao projectiva
por parte do paciente e a deteriorao dos processos de desenvolvimento deste ltimo."
83
"Partirei do pressuposto de que existe um grau normal de identificao projectiva (sem definir os
84
85
" Chamo a propsito a ateno para que o sentido de perda na hiptese definitria e o de
85
da evacuao e ao prazer de ser contido. Por outro lado, a mente enquanto continente
[%], (ou uma outra mente na funo de continente [%], ou ainda um qualquer objecto
[interno e/ou externa] com a mesma funo) tambm por motivos relacionados com o
principio do prazer-desprazer, recebe o contedo projectado (as evacuaes). O prazer
associado aceitao das evacuaes prende-se com a voracidade e a sua satisfao. A
disponibilidade do continente varia de acordo com as suas necessidades: se predomina
a necessidade de posse retm-se o prazer; se predomina o acumulo de impulsos
agressivos (belicosidade) retm-se o ressentimento. O predomnio da reteno do
prazer organiza um ataque verdade e realidade; o predomnio da necessidade de
posse induz intensos medos de perca. A seleco do material que evacuado ou retido
regida pelo principio do prazer-desprazer.
86
86
Na pgina 110 do livro "Ateno e interpretao" Bion, ao desenvolver este tema, diz:
"O paciente temeroso de sofrer afigura-se compelido a estar sendo de modo a se livrar da eficcia
da anlise e prossegue vivendo a compulso, rejeita as interpretaes que lhe ameaam a defesa, e
ostenta convico em seus pronunciamentos"
vivido
pelo
analisando
como
profundamente
doloroso,
"A compulso peculiar a vnculo entre mente que abriga e outra parasitria e que destri ambas.
O pensador acolhe pensamentos se deles no precisa para lhe conferirem significado e tolera os que
no o fazem. Se indispensvel ao pensamento, o pensador conflita com os outros pensadores que se
julgam essenciais ao pensar. A inveja, o cime e a possesividade so equivalentes mentais dos
componentes txicos do parasitismo fsico. Contribuem para a natureza da actividade que advm
da presena da compulso. O mpeto do indivduo que admite nico e indispensvel seu contribuir
para o pensamento diverge do clima emocional em que a imanncia do pensamento dispensando
pensador para pens-lo no lhe lisonjeia o narcisismo e perde, assim, o atractivo emocional. O
esforo que corrobora a verificao de outros no constitui apelo. Ainda que requeira pensador,
no se refere a algum determinado e nisso se assemelha s verdades - pensamentos que no
precisam pensador.
87
A Psicanlise , para Bion, o mtodo de investigao que mais habilitado est para
lidar com a perturbao mental. Ele parte de duas premissas base para organizar as
suas ideias volta dos processos inerentes psicanlise. A primeira diz que h em
87
88
88
89
requerer para representar estados mentais em que h interaco de estados de um objecto s vezes total,
outras, cindido em fragmentos dispersos dentro de mltiplos outros. Para o analista, a doutrina da
encarnao constitu modelo fecundo " In Ateno e Interpretao. Pg. 98. Ver referncia
bibliogrfica [6]
90
" Em suma, valho-me de O para representar o carcter essencial da situao que o psicanalista
encontra. Ele vai sendo tornado; com o evolver de O se identifica de modo a formul-lo na
interpretao. Refiro adiante estados mentais que impedem o processo. " In Ateno e Interpretao.
Pg. 99. Ver referncia bibliogrfica [6]
89
91
memrias) sem deteriorao de capacidade analtica. Quem se habitua a recordar o que os pacientes
diziam e a desejar-lhes o bem-estar, difcil lhe escapar ao dano intuio analtica, intrnseco a
quaisquer memrias e quaisquer desejos.
O primeiro ponto para o analista se impor a disciplina categrica de rechaar memria e
desejo. Afirmo que "esquecer" no suficiente: requer-se ato deliberado de abster-se de memria e
desejo." In Ateno e Interpretao. Pg. 41. Ver referncia bibliogrfica [6]
92
" A frase acima representa o "ato" do que chamo "f". , a meu ver, um enunciado cientifico pois
para mim, "f" estado mental cientifico, a se reconhecer como tal." In Ateno e Interpretao. Pg.
42. Ver referncia bibliogrfica [6]
90
"A disciplina que advogo para o analista, isto , rechaar memria e desejo na acepo que uso
os termos, aumenta-lhe a aptido para admitir "actos de f", condio peculiar ao processo
cientifico, diferencia-se da significao religiosa de que se investe na linguagem habitual;
torna-se apreensvel ao se representar no pensamento e por ele. () O "ato de f" entanto no
pronunciamento ou afirmao coluna 6, embora se compare a elementos dessa coluna. () O
"ato de f" no se liga a memria, desejos ou sensao. Relaciona-se ao pensar, como
conhecimento a priori ao entendimento. No pertence ao sistema do vinculo +K, mas ao
sistema de O. () O "ato de f" tem como base algo inconsciente e desconhecido porque no
aconteceu.
93
F - crena absoluta na existncia de certo facto; convico intima; lealdade; primeira das virtudes
teologais, graas qual acreditamos nas verdades reveladas; crdito; confiana; prova; religio; adeso
aos dogmas de uma doutrina religiosa considerada revelada. In Dicionrio da Lngua Portuguesa,
Edio Electrnica. Porto Editora. (1997). Ver referncia bibliogrfica [21]
91
Genericamente podemos dizer que R() [a realidade psquica externa ao analista, isto
, o O do paciente] emana do paciente e envolve o analista. O analista "apercebe-se"
de R() porque se apercebe de () [realidade psquica interna ao analista, isto , as
suas emoes e sentimentos] em si prprio. A passagem de R() para () exige que a
mente receptora (%) se encontre sobre determinadas condies, a saber: sem desejo,
sem memria, sem compreenso e com f94. A forma final com que o fenmeno surge
mente do analista depende do vrtice que ele elegeu para abordar as emanaes de
R().
Para que a anlise decorra sem dificuldades e se obtenha o sucesso, necessrio que o
analista coloque a sua ateno em O desconhecido e incognoscvel. O xito da
psicanlise depende da capacidade do analista para manter o ponto de vista
psicanaltico, e o vrtice da psicanlise O. Com o vrtice em O, o psicanalista
tornado O. O objecto conhecido ou cognoscvel pelo homem, inclusive ele, o
envolver das imanncias de O. Quando O envolve o suficiente, o analista pode chegar
a estabelecer um vinculo K. O analista nunca consegue alcanar a "realidade ltima"
da ansiedade, do tempo ou do espao enquanto estiver sobre o domnio do vinculo K.
O psicanalista sabe coisas a respeito do que o paciente diz, faz e est sendo, mas no
tem acesso ao O de que o paciente o envolver. O acesso ao O do paciente s
possvel no "estar sendo tornado" O. As interpretaes surgem simultaneamente ao
94
" O "acto de f" (F) decorre da rejeio deliberada de memria e desejo". In Ateno e
92
93
6- A Tabela de W. R. Bion
Neste pequeno excerto podemos ver a forma como Bion enuncia o problema que tenta
resolver atravs da enumerao dos elementos em psicanlise e atravs da construo
e utilizao da tabela. Aos descrever os elementos em psicanlise, Bion est a
construir uma nova psicanlise. Ele encontra uma srie de elementos que podem
exprimir todas as teorias essenciais ao trabalho do psicanalista, apenas com mudanas
94
95
"Os problemas do instinto e da emoo pertencem ao corpo principal da teoria psicanaltica e cumpre
consider-los entre os elementos em psicanlise, tal aparecem na clinica psicanaltica. " In Elementos
em Psicanlise. Pg. 86. Ver referncia bibliogrfica [14]
97
" Ao usar a sigla I, entendo represente a tabulao inteira ou um ou mais compartimentos, que
diferencio por coordenadas." In Elementos em Psicanlise. Pg. 39 Ver referncia bibliogrfica [14]
98
determinada classificao interpretao dada, obriga o analista a reflectir sobre o seu pensamento quer
no que respeita ao "grau" evolutivo quer em relao ao tipo de funcionalidade (uso) que lhe conferiu.
95
informao facultada por estas duas vertentes (paciente/analista) pode ser bastante
frutfera, pois permite observar o verdadeiro objecto da psicanlise, que "a relao
que se estabelece entre analisando e analista quando ambas as mentes investigam os
contedos mentais de um deles, o analisando". Nesta medida, a investigao poder
levar o analista a encontrar padres de funcionamento que possam tipificar
determinadas patologias, assim como pode levar o analista a observar os seus prprios
padres de funcionamento perante determinado paciente e/ou perante determinado
tipos de pacientes ou modalidades de funcionamento mental. Ser ainda possvel ao
analista observar, atravs da utilizao da tabela, o efeito que as suas interpretaes
tiveram sobre o analisando e o efeito das intervenes do analisando, sobre a sua
prpria mente e capacidade de analisar.
Por tudo o que foi anteriormente dito fcil perceber que a tabela (se correctamente
utilizada) poder constituir um instrumento de grande valor para qualquer analista que
queira progredir no sentido de melhorar a sua intuio e a sua prtica clnica.
No texto de 1971 (La Tabla)99 podemos ler o seguinte:
"La interpretacin producida por el psicoanalista depende del vincula intuitivo entre analizado
y analista. Su fragilidad essencial, la simple fatiga o los ataques deliberados la ponen
constantemente en peligro, por lo que es necesario protegerla y conservarla. La finalidad de la
Tabla es proporcionar un instrumento de gimnasia mental. Puede ser utilizada a relativo
resguardo del ataque y no resulta prejudicial siempre que se evite su interferencia en la
relacin entre analizado y analista, como lo sera la elaboracin de una teora referente el
paciente, que queda almacenada para despus usarla a la manera de algo que se dispara como
un misil en una batalla."
99
In La tabla y la Cesura - Bion en Nueva York y San Pablo. Pg. 41. Ver referncia bibliogrfica [16]
97
A Tabela concebida por Bion tem como objectivo ser um instrumento que permita
classificar os enunciados (verbais ou no) que ocorrem em consequncia de se estar a
fazer psicanlise. A Tabela composta por 7 colunas e 8 linhas. O cruzamento entre
as colunas e as linhas cria 56 clulas (ou casas). Das 56 clulas apenas 34 tm
utilidade clnica.
98
1DQRU\QTUGB2Y_^
Hiptese
Definitria
Notao
Ateno
Indagao
Aco
A1
A2
B1
B2
B3
B4
B5
B6
Pensamentos
Onricos
sonhos e Mitos
C1
C2
C3
C4
C5
C6
D1
D2
D3
D4
D5
D6
E1
E2
E3
E4
E5
E6
F1
F2
F3
F4
F5
F6
A
Elementos
B
Elementos
A6
Bn
Pr-concepo
E
Concepo
F
Conceito
G
Sistema
Dedutivo
Cientifico
Cn
Dn
En
Fn
G2
H
Clculo
Algbrico
99
Linha A Elementos-
100
" The -elements are characteristic of the personality during the dominance of the pleasure
principle: on them depends the capacity for non-verbal communication, the individuals ability to
believe in the possibility of ridding himself of unwanted emotions, and the communication of emotion
within the group." In Cogitations Communication. Pg. 181. Ver referncia bibliogrfica [11]
101
".. El elemento-beta difiere del objeto extrao, en que este ltimo es un elemento-beta sumado a
vestigios del yo y del supery." In Aprendiendo de la experiencia. Pg. 24. Ver referncia bibliogrfica
[13]
102
" Estos elementos-beta son tratados por un procedimiento de evacuacin similar a los
movimientos de la musculatura, cambios de expresin, etc., que Freud describi como tendientes a
desembarazar a la personalidad de los incrementos de estmulos y no a efectuar cambios en el ambiente;
un movimiento muscular, una sonrisa, por ejemplo, debe interpretarse en forma distinta de la sonrisa de
una personalidad no psictica." e " La actividad que tiene lugar bajo el predominio del principio del
placer, tendiente a liberar a la personalidad de inerementos de estmulos es reemplazada, en la fase de
100
de que o paciente est a alucinar. de notar que Bion estende amplamente o conceito
de alucinao.
" Si se siente que son (os pensamentos) acrecentamientos de estmulos, entonces pueden ser
similares o idnticos a los elementos-beta y como tales se prestaran a tratamiento por medio
de descarga motora y la accin de la musculatura para efectuar la descarga. Por lo tanto, el
predominio del principio de realidad, por la expulsin de elementos-beta indeseados. Una sonrisn o una
frase dicha debe interpretarse como un movimiento muscular de evacuacin y no como una
comunicacin de sentimientos. In Aprendiendo de la experiencia. Pg. 18. Ver referncia bibliogrfica
[13]
103
101
conservar debe ser considerado como dos diferentes actividades en potencia, una como un
modo de comunicar pensamientos y la otra como un empleo de la musculatua para
desembarazar la personalidad de pensamientos." In Aprendiendo de la experiencia. Pg. 62
Ver referncia bibliogrfica [12]
Linha B Elementos-
104
" This supposes that the, -elements can be employed when -elements do not exist, and the -
elements are a later stage of -elements ". In Cogitations Communication. Seco Dream-work-.
Pg. 183. Ver referncia bibliogrfica [11]
105
" Los elementos-alfa comprenden las imgenes visuales, los modelos auditivos, modelos olfativos,
y son adecuados para ser empleados en el pensamiento onirico, el pensar inconciente de vigilia, sueos,
barrera de contacto, memoria.". In Aprendiendo de la experiencia. Pg. 25. Ver referncia bibliogrfica
[13]
102
106
" The -elements may be presumed to be mental and individual, subjective, to a high degree
"La funcin-alfa opera sobre las impresiones sensoriales y las experiencias emocionales
produciendo elementos alfa que pueden ser almacenados y utilizados posteriormente para crear
pensamientos oniricos". In Aprendiendo de la experiencia Pg. 4. Ver referncia bibliogrfica [13]
103
abstract mathematical systems may have one or more concrete realizations.". Cogitation Pg.
182.
O mito uma construo pessoal que organiza uma srie de elementos-alfa num todo
coerente e significativo para o prprio. O sonho uma combinao em forma
narrativa de pensamentos onricos e estes pensamentos por sua vez derivam de
combinaes de elementos-alfa. A organizao que preside a estruturao de um
pensamento onrico no tem de ser a lgica, e na grande maioria das vezes no o .108
108
" Resumiendo: "el sueo", junto con la funcin-alfa, que posibilita el soar, es fundamental para
" De acuerdo con esto he reformulado mi enunciado de que el hombre debe "soar" una
experiencia emocional corriente, tanto si sta ocurre durante el dormir o durante la vigilia, de esta
manera: la funcin-alfa del hombre, dormido o despierto, transforma las impresiones sensoriales
relacionadas con una experiencia emocional en elementos-alfa, los que al proliferar se adhieren
formando la barrera de contacto. Esta barrera de contacto, de este modo en continuo proceso de
104
formacin, marca el punto de contacto y separacin entre los elementos conscientes e inconscientes y
origina la distincin entre ellos. La naturaleza de la barrera de contacto depender de la naturaleza de la
provisin de elementos-alfa y de cmo stos se relacionan entre si. Pueden adherirse. Pueden estar
aglomerados. Pueden estar ordenados en secuencia para dar la apariencia de una narracin (al menos en
la forma en que la barrera de contacto puede manifestarse en un sueo). Pueden estar ordenados
lgicamente. Pueden estar ordenados geomtricamente.". In Aprendiendo de la experiencia. Pg. 19.
Ver referncia bibliogrfica [13]
105
construes que podem ser agrupadas, tornando-se cada vez mais generalizveis, at
atingirem o estatuto de mitos com significado nacional ou universal.
Linha D Pr-Concepo
explicita
esta
articulao.
Pensamos
que
pr-concepo
um
106
A pr-concepo110 representada pela formula (), o que significa que a prconcepo um elemento composto por duas partes distintas: uma parte saturada e
no disponvel modificao, e uma outra no saturada e disponvel mudana. O
conceito de pr-concepo111 revela um "tipo" da maturao do pensamento, assim
como ilustra um mecanismo utilizado para auscultar a realidade (interna e externa): o
aparelho pr-conceptual.
A formula () pode ser representada graficamente da seguinte forma:
O modo de aco do aparelho pr-conceptual, a distinguir do estgio evolutivo prconcepo, ser discutido mais frente, mas poder-se- j adiantar que um
mecanismo essencial ao crescimento e maturao, o que significa que um
mecanismo essencial ao aprender com a experincia.
Linha E Concepo
110
"A pr-concepo poder ser vista como anlogo, em psicanlise, do conceito Kantiano de
"pensamento vazio". Do ponto de vista psicanaltico, poderamos empregar, como modelo a teoria de
que o beb tem uma disposio inata que corresponde expectativa de um seio." In Estudos
Psicanalticos Revisitados. Pg. 129. Ver referncia bibliogrfica [15]
111
" O termo "pr-concepo" ambguo porque denota instrumento, funo para que existe e uso a
que se destina; ambos, de fato, so idnticos. " In Elementos em Psicanlise. Pg. 101. Ver referncia
bibliogrfica [14]
107
108
"The conception - The conception may be regarded as a variable that has been replaced by a
constant. If we represent the pre-conception by () with () as the unsaturated element, then
from the realization with wich the pre-conception mates there is derived that which replaces
() by a constant. The conception can howevwe be employed as a pre-conception in that it can
express an expectation. The mating of () with the realization satisfies the expectation but
enlarges the capacity of () for futher saturation". In Elements of Psycho-Analysis. Pg.. 23/24
Linha F Conceito
Conceito - s. m. tudo o que se concebe; juzo que se faz de algum; dito sentencioso;
entendimento; parte final e elucidativa de uma charada; moralidade; filos. noo;
representao abstracta e geral, com fico impessoal, objectiva (o conceito de justia; a
minha ideia de justia). (Lat. conceptu).
"The concept is derived from the conception by a process designed to render it free of those
elements that would unfit it to be a tool in the elucidation or expression of truth."
109
Como se pode ver pelo confronto entre estas duas definies (a do dicionrio e a de
Bion), no existem diferenas significativas, isto , para Bion o conceito uma
representao abstracta, geral e objectiva que funciona como um dito sentencioso
(sem parte insaturada) que aumenta o entendimento porque a "soluo" de uma
charada. A charada pode ser um problema a ser investigado cientificamente, e o
conceito pode ser uma teoria cientifica que se apresenta como soluo (mesmo que
provisria) do problema enunciado.
"The scientific dedutive system. In this context the term scientific dedutive system means a
combination of concepts in hypotheses and system of hypotheses so that they are logically
related to each other. The logical relation of one concept with another and of one hypothesis
with another enhances the meaning of each concept and hypotheses and links do not
individualy possess. In this respect the meaning of the whole may be said to be greater than the
meaning of the sum of its parts."112
O sistema dedutivo cientifico uma composio que articula vrios conceitos segundo
regras precisas (as regras do sistema cientifico). Os elementos (conceitos) assim
articulados ganham uma significao mais profunda e mais abrangente. Um sistema
dedutivo cientifico mais evoludo do que um conjunto de conceitos no articulados
112
110
entre si, ou articulados segundo regras no cientificas. O corpo terico de uma cincia
poderia ser considerado um elemento desta linha (G). Para Bion, no existe na
Psicanlise uma articulao de conceitos suficientemente trabalhada para pertencer a
esta linha. Para um individuo sozinho quase impossvel atingir um nvel de
complexidade to elevado quanto aquele que exigido pelo sistema dedutivo
cientifico. Os sistemas dedutivo cientifico so habitualmente produto da contribuio
de muitos indivduos, por vezes ao longo de vrios sculos.
"Calculi - The scientific dedutive system may be represented by an algebraic calculus. In the
algebraic calculus a number of signs are brougth together according to certain rules of
combination."113
Colunas
As colunas permitem definir e catalogar a intencionalidade do enunciado. A inteno
do enunciado determina o potencial evolutivo desse mesmo enunciado.
111
Coluna 2 Psi ()
Esta coluna reservada para enunciados falsos e/ou para enunciados que tm por
finalidade impedir a emergncia da verdade, sobre a forma de um novo insight. Nesta
coluna so classificados todos os enunciados que se apresentam como uma resistncia
ao trabalho analtico. No texto sobre a tabela, "The Grid", podemos ler:
113
112
"Column 2 is to categorize the use to wich a statement, of whatever kind it may be and
however untrue in the context, is put with the intention of preventing a statement, however true
in the context, yhat would involve modification in the personality and its outlook. I have
arbitrarily used the sign to emphasize the close relationship of this use to phenomena known
to analysts as expressions of resistance" In The Grid. Pg.3. Ver referncia bibliogrfica [12]
Coluna 3 - Notao
"Column 3 contains the categories of statements which are used to record a fact. Such
statements are fulfilling the function described by Freud as notation and memory". In The Grid
Pg.3. Ver referncia bibliogrfica [12]
"Statements that are representations of present and past realizations. An exemple of such a
statement would be a brief summary reminding the patient of something that the analyst belives
113
took place on a previous occasion. This corresponds to the function Freud denotes by the term
notation." In Elements of Psycho-Analysis. Pg.18 Ver referncia bibliogrfica [7]
Coluna 4 Ateno
"Column 4 represents the use described by Freud in Two Principles of Mental Functioning, as
the function of attention." "Statements properly regarded as appropriate to Column 4 relate
to constant conjunctions that have been previously experienced and the 'use' represented by
Column 4 categories differs in the respect from the 'use' represented by Column 1.". In The
Grid. Pg. 4. Ver referncia bibliogrfica [12]
114
Coluna 5 - Indagao
"Column 5, particular the gloss Oedipus requires some explanation. In so far as it represents a
use similar to Column 4 it may be regarded as redundant. ... A criticism of Oedipus, implicit
in the story, is the obstinacy with which he pursues his inquiry. This aspect of curiosity may
seem unimportant to the philosopher of science but it is of significance clinically and therefore
worth including with Columns 3 and 4 as representing something that is more than a difference
of intensity just as 4 (attention) is more than an intense 3 (notation)". In The Grid. Pg. 4. Ver
referncia bibliogrfica [12]
"Similar to 1,2,3 and 4 as far as formulation is concerned - all are formulated by an identical
representation, or, in other words, the interpretation can be verbally identical in each case - but
it is a theory used to investigate the unknown." ..." The primary object is to obtain material for
satisfaction of the impulses of inquiry in patient and analyst.". In Elements of Psycho-Analysis.
Pg. 19. Ver referncia bibliogrfica [7]
Numa palestra sobre a tabela, dada em Los Angeles (1971) Bion disse que:
115
Coluna 6 Aco
Esta coluna pretende dar conta de todo o tipo de enunciados que, de uma forma ou de
outra, funcionam como aces. "Funcionar como uma aco" significa que um
enunciado que tem por finalidade libertar o psiquismo de "estimulao indesejvel"
e/ou produzir uma modificao no meio. No texto sobre a tabela podemos ler:
"The last column which I have annotated action also requires comment. It refers to those
phenomena that resemble motor discharge intended to unburden the mental apparatus of
accretions of stimuli. To qualify for inclusion in this category the action should be an
expression of a theory that is readily detectable - otherwise it cannot be described as a use of a
theory.". In The Grid. Pg. 4. Ver referncia bibliogrfica [12]
"In this, the last category that I propose to distinguish, the statement, though still embodied in
a representation identical with those employed in all the other statements, is used as an
operator." "...Functions of interpretations that fall in this category, and therefore the
interpretations in this one of their aspects, are analogous to actions in other forms of human
endeavour. For the analyst the transition that comes nearest to that of decision and translation
of thought into action is the transition from thought to verbal formulations of category 6.". In
Elements of Psycho-Analysis. Pg. 19-20. Ver referncia bibliogrfica [7]
116
Navegar na tabela
O cruzamento das vrias linhas com as vrias colunas cria 56 clulas (ou casas). Das
56 clulas apenas 34 tm utilidade clnica. Como foi referido inicialmente, a tabela
serve para classificar enunciados verbais e no verbais, como os gestos, as imagens, os
sons, etc. Um nico enunciado pode ser alvo de uma classificao que corresponda a
vrias clulas da tabela. No obrigatrio que um enunciado corresponda apenas a
uma classificao numa das categorias da tabela. Por motivos que se prendem com a
necessidade de sermos concisos no iremos referir-nos a cada uma das 34 clulas de
forma detalhada; iremos apenas referir algumas, devido sua particular importncia
para o trabalho analtico.
114
"No capitulo 3, sugiro que o objecto psicanaltico apresenta trs "dimenses" - os sentidos, a
mitologia e a teoria analtica. Traduzo-o em termos de categorias da grade, afirmando que qualquer
objecto analitico, antes de assim se qualificar, apresenta traos categorizveis nas fileiras B, C e G.". In
Elementos em Psicanlise. Pg. 114. Ver referncia bibliogrfica [14]
115
" A investigao psicanaltica formula premissas diferentes das da cincia comum, como o so as
117
Rosa Beatriz Pontes de Miranda Ferreira, num artigo apresentado no Seminrio decorrido em
Torino, sobre a obra de Bion, diz: "It is interesting to note, in Elements od Psycho-Analysis (1963, p.1)
where Bion develops virtually the whole structure of the grid, already in the first chapter he refers to
categories C3, D3, E3, G3 and G4 and in the chapter VI, of the same book, he refers to categories D6,
E6, F6, G6 and H6. We mention this because the structure of the grid printed in the cover of the book
does not include categories G and H. It would seem, therefore, that this structure is that of the original
grid (earlier 1963). Indeed, in the later books, Bion justifies not using categories G and H and in these,
with reference to category G, only G2 remains.". The fundamental Role of the Grid in Bion's work. Pg.
2, verso em HTML. Ver referncia bibliogrfica [22]
118
"In the first chapter of experiences in groups he describes an exercise in visualization which I
always think of as being the basis of the Grid: he talks about imagining the training block of
the hospital as having a glass wall and being able to see the progress of each soldier as he
moves from one room to another in the building. This is basically the idea of the grid, a sort of
mapping out the path of, say, a phrase said by a patient, from its inception as a verbalisable
mental image (an alpha-element, see Cogitations for greater and almost clarifying details on
these strange beasts) through the various stages of a) ever greater sophistication (that is,
moving downwards) and b) different sorts of use (moving across). " Escrito por Parthenope
Talamo, no Discussion Group Bion97, em 27 de Maro de 1997
119
Saturar implica impregnar ao mais alto grau. Quando uma pr-concepo ficou
totalmente impregnada pelo objecto117 tornou-se saturada. Enquanto elemento
psquico saturado, a concepo (o resultado da justaposio da pr-concepo com a
realizao) ou o conceito encontram-se num limite extremo, sendo-lhes impossvel
continuarem a serem impregnados por aquela realizao especifica. Podemos levantar
a hiptese de que uma pr-concepo poder ser saturada por uma determinada
realizao, mas encontrar-se ainda disponvel para absorver outras realizaes
diferentes. Por exemplo uma determinada quantidade de gua poder estar saturada de
um determinado elemento (sal, por exemplo), mas apesar disso estar disponvel para
absorver um outro elemento, como por exemplo acar. Para simplificar vamos
considerar que uma pr-concepo se satura no contacto (justaposio) com uma
nica realizao, e tentar ver como que se poder processar a dissoluo, isto , ver
como que actua o aparelho pr-conceptual por forma a recriar uma rea insaturada
num elemento previamente saturado.
117
Por objecto entende-se aqui a realizao que entra em contacto com a pr-concepo. A realizao
120
Quando uma pr-concepo se encontra com uma realizao que a satisfaz, isto
quando uma pr-concepo (que est disponvel para absorver apenas uma quantidade
limitada de fenmenos) entra em contacto (por justaposio) com um fenmeno com
caractersticas adequadas sensibilidade da pr-concepo, forma-se uma concepo.
Utilizando o modelo retirado da qumica podamos colocar as coisas da seguinte
forma: semelhante ao que acontece quando a gua (a pr-concepo) entra em
contacto com o sal ou o acar (a realizao) e se forma um composto (a concepo)
que pode ser denominado de gua salgada ou gua aucarada. A concepo (a gua
aucarada) , por sua vez, um composto que permite a solvncia de outras substncias,
e eventualmente permitir a solvncia de mais acar, caso no tenha atingido o ponto
de saturao no 1 contacto. Se pegarmos na gua aucarada (o composto resultante da
justaposio da gua com acar [a concepo]) e lhe misturarmos sumo de limo
(justaposio ou unio de uma concepo com uma realizao) obtemos um composto
denominado limonada (obtemos um conceito). A limonada, por sua vez, est
disponvel para receber mais acar, mais limo e outras substncias ou compostos.
Est tambm disponvel para ser submetida a processos que podem ou no alterar a
sua estrutura molecular, e nessa medida organizar uma transformao; podemos, a
121
A Pr-concepo em justaposio
com a realizao
Realizao
Elemento Saturado
() + (')
Elemento Insaturado
Como possvel ver pelo diagrama, a pr-concepo, apesar de ter estado em contacto
com a realizao, no deixou de possuir uma rea insaturada. Esta rea insaturada
permitir-lhe- ( concepo) manter as propriedades de pr-concepo.
118
O diagrama aqui apresentado foi concebido por Dario Sor e Maria Rosa Senet de Gazzano e
divulgado no livro intitulado Cambio Catastrofico - Psicoanlise del Darse Cuenta. Ver referncia
bibliogrfica [30]
122
Estamos ento na posse de um conceito ou concepo que possui uma parte saturada
(isto , fixa e imutvel) e uma parte no saturada (ou seja passvel de ser
transformada). O dimetro da parte insaturada determina o grau de abstraco que o
conceito possui. Quanto maior o dimetro da rea insaturada maior o leque de
realizaes que o conceito pode abarcar. A reestruturao do tipo 2 d-se no seio do
conceito favorecendo o aumento da abstraco. Para que o conceito ganhe um novo e
maior poder de abstraco necessrio que seja desvinculado, estilhaado,
despedaado, desagregado. sobre os despojos e os estilhaos que surge uma nova
ordem. O processo que desvincula, despedaa, desarticula e desfaz o conceito
denominado de PS (Esquizo-paranide), enquanto que o processo que organiza, junta
e vincula denominado de D (Depressivo). O movimento alternante entre estas duas
posies (ou processos) PSD fornece as modificaes necessrias ao emergir de um
novo conceito, mais abstracto que o primeiro. Vejamos ento com algum pormenor a
forma como se processa o aumento progressivo da capacidade de abstraco.
123
Quando o individuo produz uma concepo, atravs da justaposio de uma prconcepo119 com uma realizao, obtm uma certa tranquilidade psquica, oferecida
pelo facto de ter desenvolvido (possuir) um pensamento. Quando confrontado com a
necessidade de destruir este pensamento para poder aumentar o seu poder de
abstraco, o individuo obrigado a confrontar-se com sentimentos de medo,
insegurana e incerteza. Esta constelao de sentimentos denominada de "Dor
psquica". A tolerncia dor psquica fundamental para que o individuo possa
permitir-se ao desmembramento do conceito (ou concepo) previamente formado, e
dessa forma permitir o desenvolvimento de uma capacidade de abstraco superior.
Quando se observa uma intolerncia excessiva dor mental, uma das coisas que pode
acontecer uma estagnao da capacidade de abstraco do individuo. O individuo
fica incapaz de desenvolver conceitos e/ou concepes com graus de abstraco
superiores, porque no suporta a dor psquica associada ao desmembramento do
pensamento j conquistado. Os conceitos e as concepes tendem a ficar estticas e o
dimetro da rea insaturada tende a diminuir cada vez mais. Uma outra coisa que pode
119
124
acontecer o desmembramento dar-se com uma violncia tal que os fragmentos (os
elementos) ficam to dispersos que uma nova reunio ou reorganizao se torna
extremamente difcil, e a eleio de um facto seleccionado quase impossvel. Nestas
circunstncias o individuo fica merc dos acontecimentos e dos fenmenos externos
para poder exprimir a sua vivncia psquica complexa.
A tabela foi desenvolvida com o intuito de servir como ferramenta para "monitorizar"
o desenvolvimento mental, e o desenvolvimento mental consiste num acrscimo de
capacidade para perceber a realidade e num decrscimo da fora inibitria das iluses.
A tabela deve ser capaz de registar o desenvolvimento no sentido do aumento da
capacidade para perceber a realidade, mas tambm deve ser capaz de registar o
120
se fragmentar e difundir como PS. As particulas PS encaram-se como nuvem de incerteza." e mais
frente "Observa-se que PS funciona como forma de %. " In Elementos em Psicanlise. Pg. 55. Ver
referncia bibliogrfica [14]
125
126
A tabela criada por Bion, e amplamente analizada no capitulo anterior, tem vindo a ser
alvo de algumas modificaes. Vrios autores propuseram diferentes alteraes.
Discutir em pormenor todas as propostas ultrapassa os nossos objectivos, mas
gostaramos de fazer referncia s propostas desenvolvidas por Dario Sor e Maria
Rosa Gazzano, porque se destacam pelo seu rigor e pertinncia, e porque so bastante
diferentes das propostas de Amaral Dias. Pretendemos demonstrar que as propostas de
Amaral Dias so, a longo prazo, mais teis.
Dario Sor e Maria Rosa Gazzano fazem dois tipos de modificaes fundamentais. Em
1 lugar propem que a tabela seja lida sobre um eixo cartesiano.
II
I
Eixo X
III
IV
Eixo Y
127
Eixos
Quadrante
Gentico
Usos
II
III
IV
"a) La extensn de la Tabla al 'lado negativo' nos hace entrar de lleno en el rea psictica de la
personalidad. La naturaleza misma del ojeto que est siendo indagado, perturba en alto grando
a quienes lo investigan. Pensamos que este obstculo es, con mucho, el ms grave de todos.
b) La comprensin del esquema que ahora vamos a desarrolar, introduce un grado de
complejidad mayor al sistema. Lo enriquece notablemente, pero obliga al pensamiento a un
esfurezo notoriamente superior. Y la mente protesta ante estos requerimientos, con olvidos y
cegueras.
Qu fue lo que NO vimos?. Que el cruce de dos ejes cartesianos limita en realidad la
existencia de CUATRO cuadrantes, y no dos, como nuestra anterior versin simplificada
propona.
Pensamos que estos cuadrantes pueden llegar a describir estados peculiares de la mente, con
mayor precisin que la que hasta ahora hemos utilizado.
El cuadrante III, donde ambos ejes estn en negativo, resulta apropiado para clasificar el
fanatismo, as como la psicosis y las transformaciones en alucinosis.
128
Los cuadrantes II y IV, mixtos, donde hay un eje positivo y otro negativo, plantean
interesantes enigmas que un no estamos en condiciones de develar." In Cambio Catastrofico Psicoanlisis del Darse Cuenta. Pg.327/8. Ver referncia bibliogrfica [30]
Dario Sor e Maria Rosa Gazzano trabalham com alguma intensidade o conceito de
fanatismo, e os mecanismos a ele associados. Para os autores o fanatismo uma forma
de utilizao do pensamento com caractersticas particulares, e cuja a importncia na
psicopatologia justifica a abertura de uma nova coluna.
O uso fantico foi definido por Dario Sor e Maria Rosa Gazzano como uma fora que
se opem ao encontro-descobrimento-transformao da ideia nova. Para os autores o
uso fantico pode desenvolver-se e sedimentar-se numa estrutura, a estrutura fantica.
O fanatismo pode-se caracterizar como ataques -K ao conhecimento, quebrando as
unies entre as ideias. Atravs do uso fantico s possvel realizar pseudoarticulaes. O fanatismo acalma enquanto que a ideia nova inquieta. O fanatismo
130
Clula
Definio
- A7
A7
- B7
- C7
- D7
- E7
- F7
- H7
131
A6
A2
A1
Bn
B7
B6
B5
B4
B3
B2
B1
Cn
C7
C6
C5
C4
C3
C2
C1
Dn
D7
D6
D5
D4
D3
D2
D1
En
E7
E6
E5
E4
E3
E2
E1
Fn
F7
F6
F5
F4
F3
F2
F1
G2
7
Fanatismo
6
aco
5
Indagao
4
Ateno
3
Notao
A2
A6
1
Hip.
Def.
A1
Bn
B7
B6
B5
B4
B3
B2
B1
Cn
C7
C6
C5
C4
C3
C2
C1
Dn
D7
D6
D5
D4
D3
D2
D1
En
E7
E6
E5
E4
E3
E2
E1
Fn
F7
F6
F5
F4
F3
F2
F1
G2
A
Elemento-
B
Elemento-
C
Sonhos e mitos
D
Pr-concepes
E
concepes
F
Conceitos
G
Sist. Cient. Dedu.
H
Clculo Algbrico
A
Elemento-
B
Elemento-
C
Sonhos e mitos
D
Pr-concepes
E
concepes
F
Conceitos
G
Sist. Cient. Dedu.
H
Clculo Algbrico
A1
A2
A6
A7
B1
B2
B3
B4
B5
B6
B7
Bn
C1
C2
C3
C4
C5
C6
C7
Cn
D1
D2
D3
D4
D5
D6
D7
Dn
E1
E2
E3
E4
E5
E6
E7
En
F1
F2
F3
F4
F5
F6
F7
Fn
3
Notao
4
Ateno
5
Indagao
6
aco
7
Poder
A6
A7
G2
1
Hip.
Def.
A1
A2
B1
B2
B3
B4
B5
B6
B7
Bn
C1
C2
C3
C4
C5
C6
C7
Cn
D1
D2
D3
D4
D5
D6
D7
Dn
E1
E2
E3
E4
E5
E6
E7
En
F1
F2
F3
F4
F5
F6
F7
Fn
G2
Nos ltimos anos tem-se dedicado reflexo cuidadosa sobre a tabela de Bion.
Encabeou vrios seminrios e encontros cientficos onde discutiu e desenvolveu este
assunto.
livro
recentemente
publicado
Tabela
para
uma
nebulosa
"Irei comear por resumir um pouco a Tabela. J no a de Bion, uma Tabela modificada da
qual ensaiarei definir os diferentes nveis." In Tabela para uma nebulosa - desenvolvimentos a
partir de Wilfred R. Bion. Pg. 11. Ver referncia bibliogrfica [3]
133
122
" Penso, tal como outros (vg E. S), tratar-se de uma Tabela de dupla entrada. Considero que a
chegada aos elementos conceptuais, que na Tabela de Bion F e na nossa G, e a chegada aos sistemas
mticos, estrutura mitica do sujeito, se pode fazer a partir de A, B, C ou E,F,G, ou seja, isto poderia
ser visto assim: podemos conceber que a D, G se pode chegar a partir de A ou se pode chegar a partir
de E, considerando, como tambm iremos ver, que A () a entrada dos elementos da realidade
sensorial/ realidade externa e que () so elementos oriundos do endoceptivo." In Tabela para uma
nebulosa - desenvolvimentos a partir de Wilfred R. Bion. Pg. 11-12. Ver referncia bibliogrfica [3]
134
" Os elementos mticos so, finalmente, todos aqueles elementos de que o individuo se serve
para construir as suas prprias narrativas, as suas narrativas pessoais e as suas interpretaes
pessoais sobre os acontecimentos que se passam na sua prpria vida e a maneira como ele
interliga estes acontecimentos aos acontecimentos que se passam sua volta. " In Tabela
para uma nebulosa - desenvolvimentos a partir de Wilfred R. Bion. Pg. 13. Ver referncia
bibliogrfica [3]
A categoria C (definida por Amaral Dias - Pensamentos oniricos e sonhos) est muito
mais ligada ao sensorial do que a categoria D (definida por Amaral Dias - Mitos). Para
alm do sensorial ter uma importncia capital nesta distino , ainda possvel referir
que a categoria C se processa em reas da mente muito mais prximas do inconsciente
e do pr-consciente do que a categoria D. Tendo em considerao que com a teoria
desenvolvida por Bion no faz mais sentido falar de rea inconsciente, pr-consciente
e consciente, poderamos dizer que a categoria C reflexo imediato da barreira de
contacto, enquanto que a categoria D se organiza a partir de uma certa cristalizao de
elementos oriundos da barreira de contacto.
Esta subdiviso tem implicaes ao nvel das categorias em que o analista se deve
colocar quando elabora e fornece a interpretao. No capitulo anterior foi dito que,
segundo Bion, a interpretao fornecida pelo analista deve ser categorizvel em C, D e
F; levando em linha de conta a modificao introduzida por Amaral Dias poderamos
dizer que: a interpretao fornecida pelo analista deve ser categorizvel em C
(Pensamentos oniricos e sonhos), E (pr-concepes) e G (conceitos). Daqui decorre
que a categoria D (Mitos) no adequada formulao de interpretaes, conforme
explicitado por Amaral Dias, porque o encontro de duas categorias mticas (a do
paciente e a do analista) origina uma catstrofe, o que bem diferente de uma reaco
catastrfica. Sem esta modificao, continuando a manter a indiferencio entre
pensamentos oniricos , sonhos e mitos no possvel chegar a este insight.
135
"Podemos dizer, e isso outra coisa que eu iria tambm comunicar, que se a mente do
analisando se pode observar na Tabela bem como a prpria mente do analista na relao
analtica, a mente do analista no pode estar nunca na categoria D. Ela no pode estar exposta.
H categorias que so interditas na mente do analista do decurso de uma anlise. Como j
disse a categoria D de um analista, ou seja, as suas estruturas narrativas, mticas e onricas
pessoais no devem poder estar em aco. ". In Tabela para uma nebulosa desenvolvimentos a partir de Wilfred R. Bion. Pg. 19. Ver referncia bibliogrfica [3]
Amaral Dias destaca-se de muitos outros autores na medida em que prope que a
tabela seja lida como um sistema de dupla entrada; isto significa que a Tabela deixa de
poder ter uma leitura linear de cima para baixo, que organiza um crescendo de
complexidade e de maturao, para ter que ser lida como tendo dois pontos distintos
de evoluo mxima. Um desses pontos a categoria H ou I (respectivamente Sistema
hipottico - dedutivo ou Clculo algbrico) e o outro a categoria D (Mito). A
introduo da categoria D como um ponto mximo, ou seja, como um ponto de
chegada, permite compreender de uma forma mais perfeita (apesar de mais complexa)
a dinmica do funcionamento psquico. Deixa de haver um "objectivo" para a
evoluo e maturao da mente humana, para passarem a haver dois. A evoluo e a
maturao no visam apenas atingir um crescendo de complexidade, mas visam
tambm atingir uma capacidade de auto-observao e de introspeco que se revela
num saber "prtico" sobre e na realidade. A esta capacidade de leitura do sujeito da
sua prpria realidade Bion chamou de Funo Psicanaltica da Personalidade.
136
137
Realidade
[A]
Elementos / Objectos
bizarros
Aglomerado de elementos
Identificao
projectiva
e PS
Objectos bizarros
Funo
Funo psicanaltica da personalidade
[B]
Elementos
Barreira de
contacto
[E]
Pr-concepes
()
[C]
Pensamentos onricos /
sonhos
[D]
Mitos
[F]
Concepes
PS D e ($%)
[G]
Conceitos
PS D e ($%)
[H]
Sistema hipottico-dedutivo
PS D e ($%)
[I]
Clculo algbrico
138
" Recapitulando e de uma forma mais simples, podemos dizer que entramos na Tabela pela
realidade externa e, entramos na Tabela pela realidade "interna".
Ambas estas realidades, a partir da pr-concepo ou dos elementos-, vo ser
susceptveis de transformao at criarem uma narrativa pessoal e conceitos sobre o mundo.
()
No esqueamos o seguinte: o pensamento humano destina-se a duas coisas;
capacidade de criar conceitos e, mais tarde, sistemas hipottico-dedutivos e clculos algbricos
a um nvel muitssimo superior de abstraco e tambm construo de uma capacidade de
leitura do sujeito da sua prpria realidade, ou seja, da construo de uma funo psicanaltica
da personalidade, de uma capacidade de auto-observao, da introspeco, de todas estas
coisas que se encontram na categoria D. " In Tabela para uma nebulosa. Pg. 14/15. Ver
referncia bibliogrfica [3]
Uma outra modificao essencial proposta por Amaral Dias o acrscimo de mais
uma coluna, a coluna n 7. Em termos prticos a nova coluna, a coluna da Deciso,
passa a ser a coluna n 6, enquanto que a coluna da Aco, anteriormente coluna n 6,
passa para coluna n 7. A introduo da nova coluna depois da coluna da Indagao e
antes da coluna da Aco serve um propsito. As colunas 3, 4, 5 e 6 (respectivamente:
Notao, Ateno, Indagao e Deciso) formam uma sequncia que exibe um
crescendo de maturao, num progressivo movimento de "+K" a "O". Estas 4 colunas
concorrem para a formao e desenvolvimento de "+K", enquanto que a coluna 2 e a
coluna 7 (respectivamente: e Aco) concorrem para a formao e o
desenvolvimento de "-K".
A2
B2
C2
123
Vivido alucinatrio
Iluses, despersonalizao, desrealizao, etc.
Evacuaes onricas
Ver Amaral Dias, C. Tabela para uma nebulosa - Desenvolvimentos a partir de Wilfred R. Bion.
139
D2
E2
F2
G2
H2
E mais frente:
"Uma deciso s o se tomada em funo de um facto seleccionado. H um facto
seleccionado na mente e, antes desse facto seleccionado qualquer aco to s aco.
Aco verdadeira implica um facto seleccionado. Melhor, a utilizao combinatria
de facto seleccionado e do princpio da realidade."124
A Deciso aparece, na Tabela de Amaral Dias, como um outro uso possvel para o
pensamento; este uso , por sua vez, a finalidade mxima da inteno do pensamento.
Ao tomar uma deciso, aps reflexo e investigao, o Homem tenta resolver as mais
124
In Tabela para uma nebulosa. Pg. 17/18 e 51. Ver referncia bibliogrfica [3]
140
diversas questes que a sua existncia no mundo lhe coloca, e faz-se Homem, no
sentido em opera a passagem de Saber para Ser.
141
Desta forma, os autores propem uma leitura do facto seleccionado que desemboca no
facto escolhido e se inicia com a pr-concepo. (pr-conceporealizao
significaodiscriminaofacto escolhido).
125
Dias, C. A., Frana, R., Coelho, E. P., Matos, A. P. Da capacidade de deciso. Pg. 11-32. Ver
142
Ainda de acordo com o texto anteriormente citado percebemos que "a faculdade que
liga a sensibilidade ao entendimento a imaginao". A imaginao , por sua vez,
definida (de acordo com Kant) como a "faculdade de representar na intuio um
objecto mesmo na sua ausncia". Desta maneira, a imaginao aparece como uma
capacidade intermdia que inclui a capacidade de sntese, e que organiza a produo
de esquemas ou snteses figuradas que precedem as snteses intelectuais de onde
resultam os conceitos.
Bion fala muitas vezes sobre a imaginao especulativa como sendo um exerccio que
favorece e estimula a capacidade de pensar. Pensamos que isso acontece porque ao
fazermos "especulaes imaginativas" estamos a produzir pensamentos que se
constituem num segundo momento como matria prima sobre a qual o aparelho para
pensar pensamentos pode agir.
143
1DQRU\QTUGB2Y_^
BUfYcdQU=_TYVYSQTQ`_b1]QbQ\4YQc
Hiptese
Definitria
Notao
Ateno
Indaga
o
Deciso
5
A
Ac
o
A1
A2
A7
B1
B2
B3
B4
B5
B6
B7
Pensamentos
Onricos sonhos
C1
C2
C3
C4
C5
C6
C7
D1
D2
D3
D4
D5
D6
D7
E1
E2
E3
E4
E5
E6
E7
F1
F2
F3
F4
F5
F6
F7
G1
G2
G3
G4
G5
G6
G7
Elementos
B
Elementos
Bn
Mitos
E
Pr-concepo
F
Concepo
G
Conceito
H
Sistema
Dedutivo
Cientifico
Cn
Dn
En
Fn
Gn
H2
I
Clculo
Algbrico
144
A proposta de Dario Sor e Maria Rosa Gazzano torna a Tabela muito difcil de
manusear porque o nmero de clulas teis muito elevado. A ideia de se cruzarem
valores negativos e valores positivos obriga a um esforo suplementar para se
conseguir identificar enunciados que revelem essa caracterstica. Os prprios autores
reconhecem que pelo menos dois dos quadrantes so pouco explcitos e exigem um
enorme trabalho de pesquisa e investigao antes de se tornarem teis para a clnica e
para o analista. Por outro lado, a abertura para um sistema de eixos de coordenadas
obriga-nos a repetir toda a tabela num eixo negativo, o que levanta srias questes
sobre o facto de se pode manter a significancia e as definies que Bion atribuiu aos
diversos usos.
Pensamos que com a proposta de Dario Sor e Maria Rosa Gazzano a teoria nasceu
antes da evidncia clnica, o que nos alerta para o enorme perigo de tentar adequar a
realidade teoria, em vez de fazer exactamente o contrrio. A proposta para o
acrscimo da stima coluna (Fanatismo/Poder com responsabilidade) levanta tambm
algumas questes. Uma delas (e talvez a mais pertinente) ser a de saber at que ponto
que de facto vlido isolar essa categoria, j que inicialmente (segundo as
instrues do prprio Bion) o pensamento fantico seria sempre classificado como
coluna 2. O pensamento fantico, como os prprios autores referem, uma forma de
evitar o contacto com a dor mental, e surgindo na prtica clnica como uma resistncia
ao processo psicanaltico. de referir ainda a noo de fanatismo positivo,
denominado poder com responsabilidade, como sendo dbia e como tendendo mais a
complicar do que a simplificar. "Poder com responsabilidade" um conceito, que na
nossa opinio, demasiado complexo para poder representar uma caracterstica
elementar.
145
"actualizao", j que o prprio Bion a tinha sugerido numa das suas obras. A
proposta "subdiviso da categoria C" ganha uma enorme pertinncia quando se
percebe que a mente do analista deve estar C (pensamentos oniricos e sonhos), mas
no em D (mitos), e a introduo da categoria n 6 (deciso) esclarece qual a
finalidade ltima do pensamento, questo que se mantinha em aberto.
A Tabela, depois das modificaes introduzidas por Amaral Dias, mantm a mesma
congruncia, pertinncia e interesse. Estas modificaes no "desvirtuam" a inteno
de Wilfred Bion, e permitem uma melhor compreenso da realidade psquica. A
leitura em "dupla entrada" a proposta mais controversa, mas a nosso ver obriga a um
salto qualitativo enorme. Este salto j existia num forma embrionria na obra de Bion,
mas ganha muito mais clareza com o contributo de Amaral Dias. O aparente eixo
gentico transforma-se num eixo bidirecional, conforme pretendemos demonstrar com
o fluxograma.
146
convertido numa classificao atravs da aplicao da "tabela" ganha um valor per si,
e como que se "desprende" do enunciado registado inicialmente. Quando se trata de
volumes de informao muito grandes, este desprendimento de alguma forma
prejudicial, porque deixa de existir um contacto prximo com o material verbal
produzido pelo paciente.
A tabela informatizada vem assim tentar ajudar o clnico a organizar o registo das suas
sesses e os correspondentes valores transformados pela tabela, impedindo que se
perca a relao entre o que se classificou e o resultado da classificao. A tabela
informatizada foi, ento, em primeiro lugar, conceptualizada como um instrumento
auxiliar para organizar e gerir a informao que o clnico tem sua disposio quando
pretende iniciar um qualquer processo de investigao, ou quando pretende reflectir
sobre um determinado paciente ou determinada sesso.
Pensamos que a inteno de informatizar a tabela por forma a permitir que o clnico
passasse a ter uma maior capacidade de manejo e organizao da informao com que
trabalha diariamente era j por si um objectivo digno da nossa ateno e esforo, mas
medida que amos trabalhando neste objectivo defrontmo-nos com uma srie de
dificuldades cuja soluo permitiu expandir de uma forma inesperada (quando
deitmos mos obra) a utilidade e pertinncia da informatizao da tabela.
O grande desafio neste projecto foi arranjar uma forma de apresentao e sntese da
informao recolhida atravs da classificao que fosse verdadeiramente til ao
clnico e que no induzisse em erro. A primeira soluo foi a de construir uma folha
que apresentasse sequencialmente as diversas classificaes, conforme sugerem Dario
Sor e Maria Rosa Gazzano:
{[C2] [-C2 -E2] [E3 (C2 C3)] [D3] [F2] [C2 B3] [(B4
B5)] [-C2] [C2] [-C2] [(C2 B3)] [D4]}
Conforme se pode ver atravs deste exemplo retirado da obra Cambio Catastrofico Psicoanlisis del Darse Cuenta, a sugesto dos autores de que se coloquem os
148
Temos ento que a notao proposta por Dario Sor e Maria Rosa Gazzano tem alguma
utilidade, porque permite olhar e ver num relance quais os diversos movimentos feitos
pela mente em anlise, mas contudo obriga a um profundo conhecimento da obra de
149
Bion e anlise exaustiva de todo o material disponvel. Acresce ainda que, devido
sua forma condensada, e utilizao de smbolos que carregam um significado
contextualizado de grande complexidade, esta notao no evidencia os
movimentos existentes ao longo de uma sesso.
Estes factos levaram-nos a ousar ir um pouco mais alm, pelo que tentmos
desenvolver um mtodo de representao dos dados que nos permitisse fazer diversos
tipos de anlise do material, por forma a contemplar diversos nveis de profundidade
de observao. Tentmos facilitar a tarefa do clnico, e dessa forma estimular a
utilizao deste instrumento fantstico que a Tabela de Bion, agora revista e
modificada por Amaral Dias.
"The fundamental task of the software development team is to engineer the illusion of
simplicity."126
Concordamos plenamente com esta frase de Grady Booch, pois achamos que a
aparente simplicidade oferecida por um programa no corresponde (necessariamente)
a uma viso simplista ou excessivamente simplificada. Tambm aqui quisemos criar
essa iluso de simplicidade, mas sempre conscientes da enorme complexidade
subjacente s teorizaes de Bion. Alis, pensamos que a simplicidade s possvel
de atingir quando previamente existiu um longo e profundo trabalho.
Para concretizar estes objectivos, o programa BION foi desenvolvido com cuidados
especiais. Manteve-se a estrutura da Tabela exactamente como foi desenhada por
Bion, tendo-se apenas acrescentado a linha e a coluna propostas por Amaral Dias,
126
Booch, Grady. Object-Oriented Analysis and Design - with applications. Pg. 6. Ver referncia
bibliogrfica [19]
151
A deciso de utilizar um ecr principal com todas as opes fundamentais foi tomada
tendo em considerao que:
O texto correspondente a cada um dos enunciados pode ser modificado neste ecr. O
trabalho de introduzir o texto correspondente aos diversos enunciados um trabalho
muito pouco exigente, e pode ser executado por qualquer pessoa, mesmo que no
possua qualquer tipo de conhecimento sobre a obra de Bion. Pensamos que esta
separao poder ser til para aqueles investigadores e/ou clnicos demasiado
ocupados, j que podero deixar esta tarefa para a sua secretria sem qualquer tipo de
prejuzo para a qualidade do trabalho final.
A partir deste ecr principal pode iniciar-se um novo grupo de sesses, iniciar uma
nova sesso, introduzir os enunciados sobre os quais se pretende trabalhar, apagar e
modificar enunciados e observar as estatsticas e os grficos. Sobre as estatsticas e os
grficos iremos falar na prxima seco.
153
Uma vez que, ao partirmos para esta aventura, ainda no tnhamos uma ideia muito
precisa do resultado que iriamos obter, foi necessrio criar uma infra-estrutura tcnica
e conceptual que nos permitisse abordar este problema de uma forma interactiva e
evolutiva.
Verifica-se que um dos resultados mais importantes de uma anlise object oriented (se
no o mais importante) a definio e levantamento da terminologia e conceitos
prprios do domnio do problema analisado. este levantamento que permite o
entendimento correcto entre o especialista do domnio neste caso a obra de Bion, e
mais concretamente a tabela de Bion e o tcnico ou tcnicos encarregues de
desenhar e implementar o sistema informtico.
Durante esta fase inicial foram identificados e classificados os objectos que deveriam
ser utilizados no programa. Procedeu-se tambm a uma triagem de quais seriam os
conceitos e objectos que, apesar de fazerem parte do corpo terico que sustenta a
tabela de Bion, deveriam ser excludos da informatizao. Esta seleco levou em
127
Ver o livro de Grady Booch intitulado Object-Oriented Analysis and Design. Ver referncia
bibliogrfica [19]
154
ou
irrelevncia
no
processo)
deveriam
permanecer
como
responsabilidade do utilizador.
Esta fase tornou-nos possvel uma viso sistematizada e organizada da tabela diferente
da habitual. Atravs desta nova perspectiva foi-nos possvel reajustar os nossos
objectivos foi nesta fase que tommos a deciso de adicionar s potencialidades do
programa duas novas formas de anlise dos dados que nos so oferecidos pela
classificao de sesses utilizando o modelo representado pela tabela de Bion.
em
que
forneceramos
uma
estatstica
descritiva
bsica
"A categoria 2, a par com a 7 que corresponderia na Tabela de Bion categoria 6, faz parte do
que chamo as 'categorias -K' onde no h criao de conhecimento algum. So o contrrio das
categorias 3, 4 e 5, que so categorias de notao, ateno e investigao, so categorias K, ou
seja, categorias onde o fenmeno de crescimento se d"128
128
Amaral Dias, C. Tabela para uma nebulosa - desenvolvimentos a partir de Wilfred R. Bion. Ver
Ver Fowler, Martin. UML Distilled - Applying the Standard Object Modeling Language. Ver
156
Sesso
Psicoterapeuta
Paciente
Regista dados da
sesso
utiliza
Psicoterapeuta
Classifica a
sesso
utiliza
Analiza a
sesso
Com base nesta informao tommos a deciso de separar a aplicao em trs grandes
blocos funcionais independentes:
157
Registo dos
enunciados da
sesso
Cotao dos
enunciados
registados
Visuzalizao e
anlise dos dados
Anlise
estatistica
Parameterizao do modelo
Parameterizao e
dos
dados
aferio dos
valores
Anlise evolutiva /
interactiva dos
dados
158
Em termos de design afigurou-se-nos favorvel utilizar uma filosofia Model-ViewController. Esta filosofia subdivide a implementao em trs componentes: a
componente do modelo, responsvel pela gesto da informao e pela produo de
resultados a partir dessa mesma informao; a componente de visualizao,
responsvel pela apresentao de toda a informao, quer informao em bruto, quer
informao trabalhada pelo modelo; e a componente de interface, responsvel pela
interaco com o utilizador.
entre
os
vrios
objectos
que
compem
os
programas
implementados.
159
O Modelo
A nossa ideia consiste em permitir apresentar dois tipos de anlise relativa aos dados
de uma ou mais sesses:
vezes, ser contado como tendo ocorrido 5 vezes, sem levar em considerao o facto
de a ocorrncia se ter registado na catalogao de um nico enunciado. Isto significa,
ainda, que a classificao atribuda a um enunciado pode ter repercusses na leitura
dos dados finais, enviesando de alguma forma a tendncia. Esta leitura dos dados no
leva em considerao o vector tempo, sendo arbitrria a sequncia dos enunciados e
da respectiva classificao.
A leitura feita com base nos valores de +K e K bastante mais rica que a leitura
simples e directa, feita atravs da contagem de frequncias, mas no permite uma
descriminao dos valores que concorreram para a obteno daqueles valores.
Vejamos por exemplo uma situao hipottica em que o valor de +K e o de K eram
iguais entre si e iguais a 50%. Nestas circunstncias ficaramos a saber que o sujeito
em estudo (analista ou paciente) utilizou, em quantidades iguais, processos que
promovem o desenvolvimento e a maturao, e processos que evitam o crescimento e
a maturao, mas nada ficamos a saber sobre o tipo e a qualidade desses processos.
Existe uma diferena enorme entre utilizar o pensamento ao nvel A (elementos-),
sobre a forma do tipo coluna 2 ou utilizar o pensamento ao nvel E (concepes) ainda
que sobre a forma do tipo coluna 2. No que respeita ponderao para menos K,
ambos os valores A2 e E2 contribuem, mas a diferena subtil entre um A2 e um E2
no posta em evidncia. O mesmo poder ser dito a respeito de +K; sabemos que o
sujeito em estudo elaborou 50% de movimentos num sentido positivo, mas nada
sabemos a predominncia deste ou daquele mecanismo, ou se houve uma distribuio
equilibrada. Contudo, um olhar rpido sobre os valores de +K e K permitem que o
investigador fique imediatamente com uma ideia sobre se a mente da pessoa em causa
est sobre o predomnio da actividade psictica ou no-psictica da personalidade.
Esta informao pode ser preciosa para o estabelecimento (confirmao) de um
diagnstico, ou para avaliar os efeitos teraputicos de uma determinada interveno ou
situao, mas insuficiente para uma descriminao fina e subtil. Os valores do +K e
do K so independentes do tempo, ou seja, da sequncia em que foram apresentados
os enunciados.
162
O primeiro passo que foi tomado foi a atribuio de valores ponderados a cada uma
das casas da tabela, com a finalidade de estabelecer uma hierarquia unvoca entre
elas.
163
diferentes, at se obter uma que nos parecesse correcta foi durante este processo que
obtivemos os maiores benefcios das opes por ns tomadas na fase do design do
software.
A atribuio de valores ponderados vem permitir que cada uma das clulas da Tabela
tenha associado um determinado valor numrico. A determinao de qual o valor que
deveria ser associado a cada uma das clulas da Tabelas foi alvo de intenso trabalho
conceptual, para que no houvesse qualquer incongruncia, e a atribuio respeitasse
as premissas conceptuais fundamentais. Para facilitar este trabalho, definimos em 1
lugar os critrios que sustentavam a atribuio dos valores do seguinte modo.
164
165
Elementos
A1
Valores
-87
Elementos
C7
Valores
-52
Elementos
F2
Valores
-20
166
A2
-88
D1
20
F3
62
A7
-90
D2
-40
F4
64
B1
-75
D3
22
F5
66
B2
-77
D4
24
F6
70
B3
-73
D5
26
F7
-22
B4
-72
D6
30
G1
80
B5
-70
D7
-42
G2
-10
B6
-68
E1
40
G3
82
B7
-78
E2
-30
G4
84
C1
E3
42
G5
86
C2
-50
E4
44
G6
90
C3
E5
46
G7
-12
C4
E6
50
H2
-2
C5
E7
-32
C6
10
F1
60
Com base neste novo instrumento de trabalho a questo passou a ser qual a melhor
forma de analisar os dados das sesses, e apresentar os mesmos ao utilizador.
Subdividimos a anlise em: anlise da evoluo do pensamento e em anlise dos
diferentes tipos de utilizaes do pensamento (usos).
167
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
East
West
North
1st Qtr
2nd Qtr
3rd Qtr
4th Qtr
168
Este grfico inadequado para a representao das casas da Tabela atravs valores
ponderados porque um nico enunciado pode ser alvo de vrias classificaes, e cada
classificao necessita de ser representada por uma barra de uma mesma cor. Se
convencionarmos que a cor da barra define o sujeito do enunciado, podemos
estabelecer uma alternncia entre as cores das barras para representar as alternncias
das falas ou intervenes, mas no temos forma de representar a diversidade (vrias
classificaes) no seio de uma nica interveno, porque em cada momento este tipo
de grfico s permite a atribuio de um nico valor. Temos, ento, que o grfico de
barras disponibilizado pelos programas a que tivemos acesso, obriga a uma
estruturao de informao do tipo: um sujeito, uma srie e um valor. Se a cada
enunciado s fosse possvel atribuir uma nica classificao, ento este tipo de grfico
teria resolvido o nosso problema, mas a verdade que a um nico enunciado podem
corresponder vrias classificaes. Mais uma vez, vimo-nos perante uma situao
delicada e difcil.
O Grfico de Sries Temporais com Mltiplos Pontos em cada Srie permite uma
representao precisa e verstil da informao recolhida. Um grupo de barras de uma
169
170
Figura 4 - Exemplo de um Grfico de Sries Temporais com Mltiplos Pontos em cada Srie
No caso da anlise ao nvel dos usos optmos por utilizar grficos pie, um para o
terapeuta e outro para o paciente. Os grficos mostram separadamente o que se passou
com os vrios intervenientes na sesso. Neste grfico cada cor representa um
determinado uso, e as propores entre os diversos pedaos que compem a pie
171
Pretendemos com este grfico analisar qual o mecanismo predominante utilizado por
cada um dos intervenientes no processo.
172
O programa de Parametrizao
173
Se o utilizador desejar alterar estes valores tem apenas que seleccionar o elemento que
quer modificar e escrever o valor corrgido.
O programa "BION"
uma
verso
do
Windows
95.
Faa
correr
programa
de
instalao
Quando faz double click sobre qualquer um dos cones no desktop o programa
comea a correr.
175
O 1 ecr do programa BION tem uma fotografia de Wilfred Bion sobre o lado direito,
retirada da capa do livro Cogitations; na parte superior do lado esquerdo est visvel o
titulo mais extenso do programa Tabela de W. R. Bion revista e modificada por
Amaral Dias , e no canto inferior esquerdo aparece o nome da autora que concebeu a
aplicao seguido do seu endereo de e-mail. Toda a parte de programao foi
realizada pelo Sr. Pedro Roquette, ao qual a autora est imensamente grata. Por
ltimo, existem neste ecr dois botes, um colocado no canto inferior esquerdo e
outro no canto inferior direito. Um dos botes permite abandonar a aplicao e o outro
permite avanar para o ecr seguinte.
Figura 6 - Ecr 1
176
Figura 7 - Ecr 2
177
Uma vez pressionado este boto o programa pergunta se quer de facto introduzir uma
nova sesso - Quer introduzir uma nova sesso?; se o utilizador dizer que sim ento
ele sugere de imediato um nmero para a nova sesso; esse nmero aquele que
estiver na sequncia das sesses j existentes. Se, por exemplo j foram feitos os
registos correspondentes a 4 sesses no agrupamento denominado Paulo, o programa
ir propor que a nova sesso seja numerada com o nmero 5. O terceiro e ltimo
campo de visualizao e escrita um espao em branco que permite registar
informaes que considere pertinentes para identificar e catalogar o novo grupo de
sesses. Este ltimo campo est equipado com uma barra lateral que permite deslizar
ao longo do texto.
Por ltimo temos dois botes nos cantos inferiores direito e esquerdo. O boto
colocado no canto inferior direito leva o utilizador ao ecr n 1, e o boto no canto
inferior direito leva o utilizador para o prximo ecr, ou seja, para o ecr nmero 3.
178
A rea principal do ecr est ocupada por uma tabela composta por 3 colunas que
exibem informaes sobre o enunciado, o sujeito e a cotao. Logo por debaixo desta
tabela encontram-se um espao destinado a permitir o trabalho sobre os enunciados.
Quando se corre o programa BION pela 1 vez, estas reas encontram-se em branco,
com excepo do titulo e do nmero da sesso. Se o utilizador desejar introduzir os
dados sobre uma sesso dever utilizar o boto que diz INSERIR. Pressionar este
boto permite introduzir o contedo (ou descrio) do enunciado. Os enunciados so
introduzidos na janela que situa logo por baixo da tabela que exibe a informao j
introduzida. O utilizador deve comear por seleccionar o sujeito responsvel pelo
enunciado que quer introduzir. O utilizador pode seleccionar o sujeito atravs da
combo-box ou digitando o respectivo nome. Depois de seleccionar (ou escrever) o
nome do sujeito, o utilizador poder passar ao campo seguinte, situado direita do
campo de seleco do sujeito, e escrever o texto correspondente ao enunciado. Depois
de terminar esta operao, o utilizador deve pressionar a tecla que diz INSERIR; o
enunciado fica automaticamente registado e aparecer na tabela. Para alm de
introduzir os enunciados tambm poder utilizar este procedimento para alterar
enunciados que por qualquer motivo contenham incorreces.
Figura 9 - Ecr 3
180
Como se pode constatar pela Figura 10, o enunciado "Gostava de comear a nossa
conversa falando um pouco " encontra-se incompleto, mas numa outra janela
podemos ler este mesmo enunciado completo. Podemos ento ler "Gostava de
comear a nossa conversa falando um pouco de como que o Emanuel veio aqui parar
ao hospital, o que que lhe aconteceu?"; este contedo completo do 1 enunciado.
181
A opo IMPRIMIR permite imprimir uma listagem que mostra o contedo da sesso,
os sujeitos e as classificaes.
De seguida iremos falar com maior detalhe de algumas das opes disponveis a partir
deste ecr (ecr n 3).
Inserir
Esta opo permite inserir o texto correspondente aos vrios enunciados e definir qual
foi o sujeito responsvel por esse enunciado. Atravs desta opo possvel inserir o
contedo das diversas sesses, sobre as quais o investigador pretende trabalhar.
Classificar
182
183
Neste ecr existe uma caixa de texto, onde aparece o enunciado completo. Por cima
dessa caixa aparecem dois botes, um de PRXIMO e outro ANTERIOR. Estes
botes permitem navegar pelos diversos enunciados: o boto Prximo permite que o
utilizador passe a visualizar o enunciado seguinte, e o boto Anterior permite que o
utilizador passe a visualizar o enunciado anterior. Logo por baixo do enunciado, o
utilizador pode ver o sujeito do enunciado.
Para classificar o utilizador tem apenas que pressionar um dos diversos botes que se
encontram colocados em cada uma das casas teis da Tabela. Cada enunciado pode
ser classificado com um nmero indeterminado de pares. Quando um enunciado
classificado com mais do que um par eles aparecem separados por um pequeno trao.
184
Apagar, que apagar um par de cada vez. Pressionando a tecla VOLTAR regressa ao
ecr n 3 e memoriza todas as alteraes que foram introduzidas. Ainda respeitante ao
ecr 3, vamos falar um pouco sobre as restantes opes.
Apagar
Estatstica
Figura 12 - Ecr 6
O utilizador poder mandar executar as estatsticas para todos os sujeitos que sejam
intervenientes nas sesses escolhidas. Se o utilizador estiver a trabalhar sobre um
grupo (grupanlise) poder pedir as estatsticas individuais para cada um dos
elementos do grupo.
Valores de +K e de -K
Para alm de poder consultar esta folha directamente do ecr poder imprimi-la.
186
Para imprimir esta listagem basta pressionar o boto IMPRIMIR que est situado no
canto superior direito. Quando pressiona este boto surge um outro ecr que permite
definir a impressora e o nmero de cpias.
187
Grficos
O grfico de barras o principal indicador oferecido pelo programa BION. Este grfico
permite uma leitura dos dados totalmente nova e "revolucionria". Conforme j foi
referido por diversas vezes ao longo deste trabalho, a atribuio de valores ponderados
permite criar um certo dinamismo, pondo em evidncia os movimentos das diversas
mentes em interaco.
Assim que o utilizador pressiona o boto GRFICO aparece um ecr intermdio, que
serve para especificar a incidncia do grfico.
189
Imprimir
A opo IMPRIMIR no ecr n 3 permite fazer a impresso de uma tabela com todos
os enunciados, os sujeitos e as cotaes de uma determinada sesso - Resumo da
sesso. Esta opo faz a impresso da sesso que est a ser visualizada nesse ecr.
190
Com este captulo pretendemos mostrar o enorme potencial oferecido pela utilizao
do programa BION, para isso introduzimos os enunciados produzidos em 3 sesses
diferentes, bem como as respectivas classificaes. A anlise das diversas tabelas e
grficos permitiu-nos elaborar algumas especulaes sobre os pacientes e os
terapeutas envolvidos que provavelmente no seriam possveis ou seriam mais
dificilmente alcanadas de outra forma. Nos trs casos (sesso apresentada pela Dr.
Conceio Boavida na dissertao de mestrado, sesso apresentada pelo Professor
Carlos Amaral Dias no seu livro Tabela para uma nebulosa - Desenvolvimentos a
partir de Wilfred R. Bion, e sesso apresentada pela Dr. Manuela Hartley num
seminrio de superviso com o Professor Carlos Amaral Dias) no so tecidas
quaisquer consideraes sobre as cotaes propriamente ditas, j que esse trabalho foi
executado pelo prprio Professor Amaral Dias ou sob a sua superviso.
Exemplo N 1
Para o exemplo n 1 foi trabalhada a sesso que a Dr. Conceio Boavida apresenta
na sua dissertao de mestrado. Conforme foi referido anteriormente, foram
introduzidos no programa BION os enunciados e as classificaes exactamente como
foram apresentados na j referida dissertao de mestrado. A Dr. Conceio Boavida
trabalhou os enunciados de acordo com a tabela original (Tabela de Bion) o que
significa que a coluna DECISO no existia, e que havia apenas uma linha que
191
De seguida iremos passar anlise do grfico "Pie", que exibe as propores em que o
paciente utiliza as vrias modalidades de usos.
193
Por ltimo, vamos analisar e observar o grfico de barras, que permite fazer uma
leitura de acordo com os valores ponderados. A leitura do grfico "evoluo do
pensamento" para o paciente permite-nos confirmar as concluses elaboradas pela
anlise das estatsticas, e inferir outras que se mantinham at aqui insuspeitadas.
194
195
De seguida iremos passar anlise do grfico "Pie" que exibe as propores em que o
psicoterapeuta utiliza as vrias modalidades de usos.
Por ltimo, vamos analisar e observar o grfico de barras, que permite fazer uma
leitura de acordo com os valores ponderados. A leitura do grfico "evoluo do
pensamento" para o psicoterapeuta permite-nos confirmar as concluses elaboradas
pela anlise das estatsticas e inferir outras que se mantinham at aqui insuspeitadas.
196
197
198
encontrasse a um nvel demasiado elevado para ser tolerado pelo paciente durante
muito tempo.
16. O psicoterapeuta cai abruptamente, e pela 1 vez assistimos a uma descida ao nvel
proto-mental. Talvez a queda tenha sido proporcional altura que a dupla atingiu.
17. Paciente e psicoterapeuta ficam "presos" em pensamentos anti-pensamentos.
18. O psicoterapeuta vai progressivamente elevando o nvel das suas intervenes at
atingir um novo C5. Este C5 instvel, e antes da interveno do paciente j caiu
para um C2. (F2C5C2).
19. O paciente responde a um nvel muito primitivo (A7), mas antev-se uma
possibilidade de mudana atravs da passagem da qualidade do pensamento do
elementos- para conceitos. (A7 F7).
20. O psicoterapeuta estabiliza a um nvel maturativo, e trabalha no sentido de atingir
K.
21. O paciente reage com alguma hesitao, iniciando por se colocar a um nvel
superior (F1) e descendo depois novamente de uma forma abrupta (A2). Parece
repetir-se o fenmeno j suspeitado e anteriormente referido como "tanto maior a
queda quanto a altura a que se chegou".
22. O psicoterapeuta insiste num nvel muito elevado (F1), mas acaba por baixa-lo um
pouco. Talvez tenha intudo que manter-se a um nvel muito elevado poderia criar
um fosso entre ele e o paciente, ou talvez no tenha conseguido resistir fora
atractiva que a persistncia do paciente ao manter-se em anti-pensamento exerce
sobre ele.
23. Ressurge um novo equilbrio entre paciente e psicoterapeuta, mantendo-se ambas
as mentes em C2, numa troca homogenizante
24. O paciente esboa pela 1 vez uma "inteno" de elevar a qualidade do seu
pensamento antes do psicoterapeuta (C2F2)
25. O psicoterapeuta responde a esta inteno elevando a qualidade da sua interveno
para C3.
26. O paciente responde imediatamente em C3, ficando em sintonia, mas no pra por
a e eleva a qualidade do seu pensamento para o nvel dos conceitos
(C3F1F3).
199
27. Pela 2 vez o psicoterapeuta cai de forma muito abrupta e submerge numa
actividade muito primitiva. Talvez o psicoterapeuta se tenha "assustado" com a
qualidade manifestada pelo pensamento do paciente.
28. O paciente cai, tambm, para um pensamento anti-pensamento (C2), mas no to
primitivo quanto o manifestado pelo psicoterapeuta na interveno anterior.
29. O psicoterapeuta recupera e eleva a qualidade do seu pensamento para o nvel dos
pensamentos onricos e mticos, e manifesta inteno de registar uma experincia
e de lhe prestar ateno.
30. O paciente continua em queda e no reage ao apelo feito pelo psicoterapeuta
(F3C2A7). A queda abrupta do psicoterapeuta no ponto 27 talvez tenha
criado uma "onda de choque" que no foi possvel de conter com a recuperao do
psicoterapeuta.
31. O psicoterapeuta insiste na elevao da qualidade do seu pensamento
(C3C4F1 F3).
32. O paciente eleva brutalmente a qualidade do seu pensamento e equilibra-se com o
psicoterapeuta. (A7F3) Ambas as mentes se mantm "por um instante" em F3
33. O psicoterapeuta volta a cair de forma muito abrupta e o paciente acompanha a
queda. Ambas as mentes se mantm "por um instante" em B
34. O paciente esboa uma recuperao (B3C2) e o psicoterapeuta acompanha-o
(B2C2)
35. O paciente volta a cair para o nvel proto-mental. (C2A7) Talvez lhe tenha sido
demasiado penoso "arrastar" a mente do psicoterapeuta para nveis mais
maturativos.
36. Os psicoterapeuta mantm a sua recuperao estvel e vai elevando
progressivamente a qualidade do seu pensamento. (B2C2F2 C3F4)
37. O paciente persiste num pensamento muito primitivo, mas acaba por esboar uma
ligeira tendncia a elevar a qualidade da sua actividade mental. (A7A7C2)
38. Em resposta ao F4 do psicoterapeuta o paciente cai para B2 e arrasta consigo o
psicoterapeuta, que cai para C2. Talvez se esteja a repetir o fenmeno de tanto
maior a queda quanto a altura a que se chegou, ao mesmo tempo que ambas as
mentes lutam para atingir um ponto de homeostase.
200
39. O psicoterapeuta insiste num nvel muito elevado (F4) e o paciente persiste a um
nvel muito primitivo, mas esboa uma tendncia para elevar a qualidade do seu
pensamento.
Concluso
H medida que a sesso decorre o paciente parece ir substituindo o "pensamentoaco" por "pensamento-enunciado falso" e observa-se um aumento progressivo da
emergncia da parte no-psictica da personalidade, isto permite-nos pensar que a
sesso teve um efeito benfico sobre o paciente. Os dados por ns trabalhados revelam
uma concordncia com algumas das concluses a que chegou a Dr. Conceio
Boavida. Tambm ns pensamos que o paciente revela uma enorme intolerncia dor
depressiva, conforme referido no seu trabalho. Passamos a citar:
"Da anlise dos elementos da grade parece-nos evidente uma enorme intolerncia do paciente
depresso. -lhe insuportvel aceder sua verdade. A intolerncia dor mental mantm-no
no funcionamento do delrio, que se observa atravs da articulao de pensamentos falsos." 131
131
In Conceio Boavida Dissertao de mestrado. Pg. 212. Ver referncia bibliogrfica [18]
201
Por vezes, o paciente parece hesitar e oscilar na sua construo defensiva, como
que se se sentisse ameaado pela recuperao prvia do psicoterapeuta e tivesse
dificuldade em acompanh-lo. Por vezes o psicoterapeuta parece baixar um pouco
a qualidade do seu pensamento para se aproximar do grau de maturao a que o
paciente se encontra. Esta situao leva-nos a pensar que uma diferena muito
grande entre a qualidade do pensamento do paciente e do psicoterapeuta parece ser
sentida por ambas as mentes como ameaadora da relao.
A dinmica que se forma quando duas mentes se encontram faz lembrar uma
dana cuja a coreografia depende tanto do paciente como do psicoterapeuta.
Exemplo N 2
Para o exemplo n 2 foi trabalhada a sesso que o Professor Doutor Carlos Amaral
Dias apresentou no seu livro Tabela para uma nebulosa - Desenvolvimentos a partir
de Wilfred R. Bion. Este exemplo ilustrativo tem a particularidade de apenas mostrar e
analisar a dinmica do paciente. As intervenes do analista so referidas apenas
muito vagamente e no so cotadas.
202
Sobre o paciente dito apenas que tem a idade de 29 anos e que uma rapariga.
203
De seguida iremos passar anlise do grfico "Pie", que exibe as propores em que a
paciente utiliza as varias modalidades de usos.
Por ltimo, vamos analisar e observar o grfico de barras, que permite fazer uma
leitura de acordo com os valores ponderados. A leitura do grfico "evoluo do
204
A paciente evidncia (durante esta sesso) uma intolerncia dor mental (dor
depressiva), mas possvel reconhecer uma quantidade significativa de
momentos em que entra em contacto com a verdade e que empreende
movimentos que visam atingir +K, ou seja, movimentos maturativos. Nesses
momentos a paciente revela uma capacidade de tolerncia dor mental
suficiente.
205
deveria
levar
indagao
aborta
antes
de
estar
concluda.
206
Concluso
"A paciente tem uma estrutura mtica ligada sobretudo a concepes e expectativas mentirosas,
embora com incurses na rea K.
Portanto a relao mentirosa est muito presa realidade. Tem mais tolerncia s frustraes
do que um doente psictico senso strictu, mas muito mais exigente com os objectos,
manifestando-o pela aco.
Podemos dizer que a paciente tem um discurso que essencialmente (2) (D.E.F)(3) (7).
Esta a tendncia da mente da paciente. Elementos mticos articulados com expectativas e
concepes. Logo a expectativa encontra um objecto que colocado num nvel mentiroso e
articulado com uma relao mentirosa com o prprio passado, ainda que s vezes se tea uma
experincia notativa.
Mas a relao do presente muito dominante nesta paciente. A iluso sobre a relao de
objecto articula-se com uma viso mentirosa do passado.
O objecto tem de a curar e, como o objecto no a cura, articula-se no ciclo vicioso que vai
da aco (esta mulher tem tido aces na vida muito complicadas) retaliao."132
132
In Amaral Dias, Carlos. Tabela para uma nebulosa - desenvolvimentos a partir de Wilfred R. Bion.
207
experincia, mas mostra-se insuficiente para fazer face s angstias que emergem ao
nvel da indagao e da deciso. Estas duas categorias so totalmente "ignoradas" pela
paciente, que restringe o seu pensamento a todas as outras. Uma qualquer ideia tende a
ser abortada antes de ser sujeita a investigao e a dar frutos (decises).
Exemplo N 3
Para o exemplo n 3 foi trabalhada a sesso apresentada pela Dr. Manuela Hartley
num seminrio de superviso com o Professor Carlos Amaral Dias. Conforme foi
referido anteriormente, foram introduzidos no programa BION os enunciados e as
classificaes, exactamente como foram apresentados e cotadas no j referido
seminrio de superviso.
208
209
De seguida iremos passar anlise do grfico "Pie", que exibe as propores em que o
paciente utiliza as vrias modalidades de usos.
Por ltimo, vamos analisar e observar o grfico de barras, que permite fazer uma
leitura de acordo com os valores ponderados. A leitura do grfico "evoluo do
pensamento" para o paciente permite-nos confirmar as concluses elaboradas pela
anlise das estatsticas, e inferir outras que se mantinham at aqui insuspeitadas.
globalidade
das
intervenes
do
psicoterapeuta
centraram-se
De seguida iremos passar anlise do grfico "Pie", que exibe as propores em que o
psicoterapeuta utiliza as vrias modalidades de usos.
211
Por ltimo, vamos analisar e observar o grfico de barras, que permite fazer uma
leitura de acordo com os valores ponderados. A leitura do grfico "evoluo do
pensamento" para o psicoterapeuta permite-nos confirmar as concluses elaboradas
pela anlise das estatsticas.
212
maturao
da
personalidade
provavelmente
revelador
de
psicopatologia.
7. A analista faz uma interveno razoavelmente complexa, estabelecendo
uma hiptese definitria e depois centrando a a sua ateno.
(D1D4F4D4)
8. O paciente recupera a qualidade do seu pensamento para o nvel dos
pensamentos oniricos e faz notao de uma experincia. Parece sentir
213
Concluso
O paciente parece ter a sua actividade mental espartilhada num leque muito estreito de
modalidades de pensamento. Utiliza de uma forma muito persistente as mesmas
modalidades de pensamento. Parece ter muita dificuldade em realizar a sequncia
NotaoAtenoIndagaoDeciso, acabando por fazer apenas a notao da
experincia e sucumbir sobre a presso da intolerncia dor depressiva que o "puxa"
para o enunciado falso.
persiste em manter o seu pensamento nos nveis pensamentos oniricos e mitos revela
uma grande disciplina mental, assim como um adequado manuseamento das tcnicas
psicoteraputicas, nunca se deixando arrastar pela presso exercida pela mente do
paciente.
215
Concluses
Aps a anlise detalhada destes 3 exemplos pensamos ter deixado claro que a
aplicao BION pode facilitar o trabalho do psicoterapeuta e do investigador,
permitindo manusear a informao com maior rapidez e abrir a mente do utilizador
como um abre-latas (analogia utilizada por Bion).
Os casos apresentados nos exemplos j tinham sido previamente cotados, pelo que as
questes relacionadas com a cotao e classificao foram escamoteadas. Esta
situao foi intencional, porque pretendamos discutir a possvel utilidade de um
programa como o que foi por ns desenvolvido, e no argumentar sobre as
classificaes propriamente ditas. Pensamos, contudo, que este assunto tem uma
enorme pertinncia, j que a cotao a base sobre a qual tudo o resto trabalhado.
Se existirem incorreces a este nvel, tudo o resto estar necessariamente incorrecto.
Pensamos que o nosso objectivo foi amplamente conseguido, j que nos foi possvel
elaborar uma srie de hipteses sobre a dinmica observada nas diversas sesses,
realizadas por diferentes psicoterapeutas e com diferentes pacientes. As nossas
hipteses so, contudo, meras hipteses. Queremos com isto dizer que devem ser
sujeitas a verificao criteriosa, e totalmente postas de parte caso no se verifique
fazerem sentido em outros contextos. Se trabalhos posteriores invalidarem a
pertinncia das nossas hipteses, ainda assim, o programa BION no perde a sua
pertinncia nem o seu interesse, porque pretendemos apenas que ele se constitua como
um instrumento de trabalho e de investigao.
217
218
O corpo terico desenvolvido por Bion ao longo de toda a sua obra extremamente
rico. Os seus textos tm a particularidade de no se esgotarem e de continuarem a ser
profundamente estimulantes. Bion tem inspirado muitos autores que produziram
tambm obras de qualidade inegvel. As propostas tericas, os conceitos
desenvolvidos e os conselhos oferecidos tm vindo a desenvolver-se, a ramificar e a
introduzir uma nova maneira de ver e pensar a psicanlise.
-nos difcil identificar dentro de toda a sua obra uma ou duas contribuies como
sendo as mais profcuas, j que os conceitos e as teorias principais se cruzam num
complexo jogo de inter-relaes. Pensamos, contudo, que Bion deixou algumas reas
menos exploradas e que mereceriam o empenho de uma investigao dedicada. Entre
ns o Professor Doutor Carlos Amaral Dias tem sido pioneiro na arte de expandir,
explorar e sedimentar as reas mais obscuras. As suas contribuies para a
compreenso mais aprofundada da teoria dos vnculos, da identificao projectiva e as
suas preocupaes epistemolgicas evidenciam a importncia do seu trabalho. No
menos importante tem sido o seu empenho na divulgao da obra de Bion, e mais
especificamente na divulgao da Tabela, como ferramenta que todo o clnico e
investigador deve dominar. As suas contribuies para o aperfeioamento da tabela
so inestimveis. A Tabela proposta por Amaral Dias , na nossa opinio, melhor que
a original de Bion, porque a amplia e aprofunda, sem desvirtuar, as suas intenes.
Podemos ver o que o prprio Amaral Dias escreveu sobre as modificaes que
introduziu na Tabela original de Bion;
"Penso que esta modificao da Tabela de Bion tem uma vantagem: primeiro separa duas
coisas que so importantssimas. O sonho e os mitos. Os elementos mtico-onricos misturados,
penso que no nos permitem discriminar o que uma estrutura narrativa pessoal e a maneira
como a pessoa se refere a ela prpria, daquilo que so os elementos onricos propriamente
ditos.
219
Alis a experincia psicanaltica mostra que so dois momentos diferentes o pensar o que se
passa dentro de uma psicanlise, seja por parte do psicanalista seja por parte do analisando.
E penso que a introduo da categoria 6 versus a categoria 7 me parece tambm
profundamente til. Sermos capazes de perceber, o que, no meu ponto de vista, faltava na
Tabela de Bion, que era esta coisa de saber o que acontece a pensamentos pensados. Eles tm
de dar lugar a algum acontecimento.
Sem decises no h acontecimentos.
Esta Tabela tanto pode ser aplicada pelo psicanalista como pelo analisando. No importa quem
a est a utilizar.
A Tabela descreve estudos." 133
133
In Amaral Dias, C. Tabela para uma nebulosa - desenvolvimentos a partir de Wilfred R. Bion. Pg.
220
E mais frente
"Poder-se- vir a pensar numa Tabela em que em cima coloquemos os enunciados
anteriores (referindo-se a diferentes tipos de mentiras) e os cruzemos com as diferentes
valncias, para observao do fenmeno psquico.
Bion alis sugeriu que era possvel fazer uma Tabela a partir do enunciado falso.
Penso, tambm, que necessrio vir a construir uma Tabela para os enunciados
falsos, bem como uma Tabela para as categorias das aces. As categorias -K merecem uma
Tabela porque l que encontramos muitas das nossas dificuldades."
Pensamos que a aplicao concebida por ns - Programa BION - poder vir a ser
corrigida e adaptada para abranger estas "novas tabelas" que ficam inclusas dentro da
Tabela-base. Imaginamos que ao se pressionar uma das vrias casas da coluna 2 ou 7
possa surgir ao utilizador um outro conjunto de opes que funcionem como
subclasses dentro daquela classe. Por exemplo, ao C2 poderia estar agregada uma
outra nomenclatura do tipo C2a / C2b / C2c, etc. que permitiria descriminar com
alguma subtileza os diferentes tipos de enunciados falsos. Em termos da anlise dos
dados, este sistema poderia permitir diferentes anlises com diferentes graus de
profundidade.
A Tabela, conforme foi concebida por Bion, pretendia ser um instrumento que
aumentasse o grau de cientificidade do trabalho/investigao analtica e exibisse, de
forma intensamente compacta e altamente abstracta, as suas teorias principais sobre o
funcionamento da mente humana e da psicopatologia. Desta forma, Bion pretendia
que a Tabela pudesse descrever e conter uma vasta gama de fenmenos. Nunca as
134
In Amaral Dias, C. Tabela para uma nebulosa - desenvolvimentos a partir de Wilfred R. Bion. Pg.
221
A Tabela, assim como todas as suas teorias surgem da prtica clnica, surgiu da
presso que a realidade (os fenmenos) fizeram no sentido de se tornarem visveis.
Em 1977 Bion numa das reunies de Nova York ao ser questionado sobre o facto de
falar to pouco sobre a Tabela responde que para ele, a Tabela tinha perdido uma
grande parte do interesse j que tinha acabado por verificar que ela no conseguia
abarcar a realidade do que se passa em anlise.
"
["He put in his thumb and pulled out a plum, and said 'What a good boy I am!" [Puso el dedo y
sac una ciruela, y dijo !Que bueno soy!] Pero la satisfaccin no dura mucho. A modo de
modelo pictrico, sugeriria que es como el nio que se chupa el dedo, lo saca para examinarlo
con admiracin pero al cabo de un tiempo se siente descontento. Lo que yo experimento es ese
"tema con variaciones".]
P.: No es operativa?
B.: [A cada uno le corresponde decidir si le resulta til. Si no lo es, no vale la pena
perder el tiempo con ella. Lo mismo digo de cualquier futura Tabla que yo pueda formular.]
P.: Es duro de aceptar?
B.: No para m; es slo una prdia de tiempo porque no corresponde en verdad a los
hechos que es posible que encuentre. "135
Concordamos com esta postura de Bion, ou seja, concordamos com a ideia de que
quando um modelo deixa de ser til deve ser abandonado; no entanto pensamos que a
Tabela no deve ser abandonada at ter sido totalmente explorada, ou at aparecer um
substituto que se mostre mais til e eficaz. Reconhecemos, como Bion, que a Tabela
talvez no consigo abranger toda a gama de fenmenos contidos pela psicanlise, mas,
135
In La Tabla y la Cesura - Bion en Nueva York y San Pablo. Pg. 153/4. Ver referncia bibliogrfica
[16]
222
contrariamente a Bion, pensamos que isso no faz com que a Tabela seja uma perda
de tempo, antes pelo contrrio, pensamos que se for devidamente enquadrada poder
vir a constituir-se como um dos mais teis instrumentos de investigao em
psicanlise, devendo ela prpria ser continuamente alvo de investigao.
Bion elabora uma grande parte das suas teorias e cria a Tabela para dar conta de
fenmenos que ele vai progressivamente descobrindo (desde os tempos de
experincias com grupos) e para os quais no existia suporte terico ou qualquer tipo
de compreenso. Estes fenmenos situam-se a um nvel inconsciente. Ainda, em 1977,
nas conferncias em Nova York, Bion diz o seguinte sobre esta questo:
"Deseo llamar la atencin sobre la existencia de lo que parecen ser ideas y emociones
primordiales que nunca fueron conscientes. Diferen de las ideas que en algn momento fueron
conscientes y que despus fueron reprimidas o transformadas en algo que es inconsciente. Este
domnio que a menudo consideramos en cierto irracional es en realidad racional, si lo
contemplamos desde otro vrtice. Si tenemos una experiencia sobre la que nada podemos
hacer, la olvidamos; es una evidente cuestin de sentido comn. Si tenemos un dolor de
muelas y no hay nadie para tratarlo, olvidmoslo. Si tenemos un dolor mental, olvidmoslo.
Sin embargo, el psicoanlisis parece indicar que esto no basta, porque cuando esta cosa ha sido
olvidada - a mi juicio acertadamete - contina llevando una existencia independiente y da lugar
a sntomas y signos de su actividad aunque no seamos conscientes de ella, aunque la hayamos
"olvidado". Se puede decir lo mismo de algo que nunca fue consciente?"
223
No creo que esta idea del inconsciente, ni siquera la de pensamientos o ideas inconscientes,
sean suficientemente abarcativas. Es sorprendente lo lejos que lleg Freud con estas teoras y
hasta qu punto hizo redundante su propio trabajo. Revel nuevas reas de experiencia que no
pueden ser tratadas del modo en que intentamos tratar las neurosis y aquellos fenmenos en los
que es aplicable la idea del inconsciente y de pensamientos inconscientes, es decir las formas
nominal y adjetival del trmio."
224
Pensamos que a resposta a esta questo poder passar por nunca esquecer a
necessidade de fazer vrias experincias e test-las no confronto com a realidade.
Fazer vrias experincias, levantar muitas hipteses, utilizar muitos e diferentes
vertex, nunca parar de fazer uso da imaginao especulativa.
"Me amparo en la idea de la Tabla en este sentido: se puede considerar que las cosas llamadas
materiales son ajenas a nuestra jurisdiccin porque son hechos de constitucin fisica. Pero -y
aqui entro en terrenos que sin duda darn lugar a controversia, y con razn- quisiera suponer
que, adems de esos teoricamente supuestos e imaginarios elementos alfa y elementos beta,
tambin el pensamiento entre en una fase que yo llamaria primordial. Podra decir que el
pensamiento primordial tambin se revela aqu -estoy hablando de nosotros- pero en este caso
lo llamara imaginacin especulativa. Este tipo de pensamiento no tiene nada que ver con la
"evidencia"; es especulacin. Trato de estimular a la gente a que d paso a su imaginacin
especulativa; hay mucho que decir en su favor antes de que se convierta en algo que un
cientifco llamara "evidencia". El tipo de cosas que flotan en esta rea de la imaginacin
especulativa son racionalizaciones, fantasas, probabilidades, no hechos. La actividad analtica
en la que estamos empeados no parece estar respaldada hoy en da por videncias apodctias,
136
fazem com que aces se sucedam onde deveria haver pensamentos ou que, perante a intolerncia
verdade, pensamentos falsos surjam como obstculos continuao da procura dos pensamentos
verdadeiros, ou seja, procura da verdade." In Amaral Dias, C. Tabela para uma nebulosa desenvolvimentos a partir de Wilfred R. Bion. Pg. 17. Ver referncia bibliogrfica [3]
225
pero creo que tenemos derecho a decir que quizs el psicoanlisis es de alguna utilidad, que
quiz ciertas conversaciones que tuve con alguien que no era yo dieron como resultado la
niciacin de nuevos desarrollos. Un diagnstico como "psictico" o "psictico fronterizo" no
da lugar a la elaboracin, la especulacin, la conjetura; limita las posibilidades de expansin.
El anlisis no debe ser tan restringido como para no permitir el desarrollo y el crecimiento.
Imaginemos -es una conjetura imaginativa- que las paredes del tero fueran demasiado
limitadas; la nica alternativa ser que la madre evacuara a la criatura que est adentro y que la
criatura que est adentro saliera y se adatara, de vivir en fluido acuoso a viver en fluido
gaseoso. "
Da anlise dos dados trabalhados pelo programa BION surgiram diversas hipteses que
no so mais do que especulaes. Para ns estas especulaes tm, de facto, um
enorme valor. Permitem-nos repensar toda uma srie de conceitos e ideias feitas, ao
mesmo tempo que nos impulsionam para reas inexploradas e desconhecidas.
De todas as hipteses que levantmos aquelas que nos parecem mais pertinentes so:
226
A dinmica que se forma quando duas mentes se encontram faz lembrar uma
dana cuja a coreografia depende tanto do paciente como do psicoterapeuta.
As concluses a que chegmos, depois da anlise dos casos, cruzam-se com o nosso
propsito, mas no so o nosso propsito principal. Quisemos mostrar que possvel
(e desejvel) trabalhar boas ideias, e que possvel desenvolv-las para l dos seus
limites aparentes. A informtica e as novas tecnologias colocam nossa disposio
um enorme potencial "especulativo", na medida em so um outro vertex, uma outra
forma de lidar com a realidade.
Como foi deixado claro em muitos pontos desta dissertao, o programa BION no
pretende, nem pode, substituir o analista e/ou psiclogo. O programa uma
ferramenta que pode estar ao servio do analista para o ajudar a manipular os dados
que ficam sua disposio quando classifica uma sesso, um pensamento ou um
enunciado de acordo com a Tabela. Foi por considerarmos que o programa deve estar
ao servio do investigador (e no o contrrio) que concebemos o programa PONDERA.
O programa PONDERA uma pea fundamental na nossa abordagem. Com este
programa, que nada mais que uma tabela de valores, o investigador pode testar
muitas e diferentes hipteses. Ns elabormos os nossos valores com base numa srie
de premissas tericas (ver o capitulo A informatizao da Tabela. Metodologias,
processos e decises) que foram inferidas directamente da compreenso da Obra de
Bion, mas outros autores e outros investigadores poderam criar e desenvolver outras
correspondncias numricas, baseadas em outras premissas igualmente vlidas.
227
" Portanto estas categorias, pode-se dizer que so categorias interditas ao analista. O seu
sistema mtico pessoal e as suas concepes no podem estar interferindo, a nenhum nvel, na
escuta da anlise. () Como j disse, h lugares na Tabela para o analista e lugares para o
analisando. Os lugares para o analista so dream work e expectativa."137
Se fosse concebido um sistema deste gnero que articulasse duas tabelas de valores
ponderados independentes, mas que permitisse uma visualizao conjunta,
poderamos investigar muito mais "coisas" sobre os "erros" dos analistas e as suas
consequncias. Poderamos tambm investigar o que que leva determinado analista a
persistir nos mesmos erros ou nas mesmas tendncias de respostas automticas
(eventualmente compulsivas), e investigar desta forma a transferncia e a contratransferncia, ou mais correctamente, as relaes que se estabelecem entre continente
e contedo. Poderamos, tambm, tentar perceber quais que so de facto os melhores
"lugares" para o analista e para o analisando. A nosso ver as possibilidades de
investigao futura so imensas, e apenas esto dependentes da capacidade
imaginativa do investigador.
Uma das possibilidades futuras que nos parece ser extremamente interessante a de
utilizar outras tecnologias informticas para trabalhar os dados obtidos atravs da
converso para valores ponderados. Estamos a pensar mais concretamente na
utilizao de mtodos de reconhecimento de padres. Os desenvolvimentos actuais
sobre mtodos e tcnicas de reconhecimento de padres so muito sofisticados,
nomeadamente no que respeita aos mtodos que fazem uso de redes neuronais, pelo
que ns pensamos poderem vir a ser de enorme utilidade para investigaes futuras.
In Amaral Dias, C. Tabela para uma nebulosa - desenvolvimentos a partir de Wilfred R. Bion. Pg.
228
229
Bibliografia
[1] Aho, Alfred V; Hopcroft, John E.; Ullman, Jeffrey D. Data structures and
algorithms. Addison-Wesley Publishing Company. (1983)
[3] Amaral Dias, C. Tabela para uma nebulosa - desenvolvimentos a partir de Wilfred
R. Bion. Fim de Sculo, Lisboa. (1997)
[4] Amaral Dias, C.; Frana, R., Coelho, E. P., Matos, A. P. CAESURA, Da
capacidade de deciso. N1, Jul/Dez. (1992)
[10] Bion W.R. Clinical Seminars and Four Papers, Fleetwood Press. (1987)
[11] Bion W.R. Cogitations, edited by Francesca Bion, Karnak Books. (1992)
230
[12] Bion W.R. Two Papers: The Grid and Caesura. (1977) Karnak Books, London.
(1989).
[16] Bion, W. R. La Tabla y la Cesura - Bion en Nueva York y San Pablo, Gedisa,
Buenos Aires, Argentina. (1982)
[17] Blandonu, G. Wilfred R. Bion - A vida e obra, Imago Editora, Rio de Janeiro.
(1993)
[20] Cronbach, Lee J. Essentials of Psychological Testing. New York, Fifth Edition,
Harper Collins Publishers, Inc. (1990)
[22] Ferreira, Rosa Beatriz P. M. The Fundamental Role of the Grid in Bions Work.
Artigo apresentado no Seminrio decorrido em Torino, sobre a obra de Bion e
disponibilizado atravs da Internet, verso em HTML. (1997)
231
[23] Fowler, Martin. UML Distilled - Applying the Standard Object Modeling
Language. Addison-Wesley. (1997)
[25] Grinberg, Len; Sor, Dario; Tabak de Bianchedi, Elizabeth. Nueva introduccin
a las ideas de Bion.
[28] Rezende, Antnio Muniz de. A Metapsicanlise de Bion - Alm dos Modelos.
Campinas, So Paulo. Papirus Editora. (1994)
[29] Rezende, Antnio Muniz de. Wilfred R. Bion: Uma Psicanlise do Pensamento.
Campinas, So Paulo. Papirus Editora. (1995)
[31] Zimerman, D. E. Bion da Teoria Prtica - Uma leitura didctica. Porto Alegre:
Artes Mdicas, (1995)
232
ANEXO
EXEMPLO 1
DR. CONCEIO BOAVIDA
(prs@mail.telepac.pt)
Resumo de Sesso
Titulo: Exemplo 1
Sesso: 1
Sujeito
Enunciado
Cotao
Terapeuta
F4
Paciente
A7-A7-A7-A7-A7-A2
Terapeuta
F4
Paciente
Sim uma delas a que me est a preocupar mais, que eu tenho uma
costela que me est a perfurar o oulmo. Isto j foi h muito tempo, isto ,
do mesmo lado da perna. Sinto um formigueiro na perna, no p. Quando
fui falar ao mdico do Hospital So Jos ele disse-me que eu tinha que pr
um aparelho nas costas, umas costelas de ferro ou o que . Disse-me que
j no podia fazer operao porque j tinha sido h muito tempo, e
disse-me que a mandar-me cortar a perna. Pode mandar vir c a
Judiciria, vou mandar cortar-lhe a perna, j mandei cortar muitas.
Marcou-me um dia, passado 10 dias, para eu voltar a ir l e eu no fui.
A7-A2-A7
Terapeuta
F3-F4
Paciente
F2-A7
Terapeuta
C3
Paciente
F2
Terapeuta
C4
Paciente
C4
Terapeuta
C4
Paciente
C4
Terapeuta
C4
Pag. 1/...
Resumo de Sesso
Titulo: Exemplo 1
Sesso: 1
Sujeito
Enunciado
Cotao
Paciente
C4-A7-A7-A2-A7
Terapeuta
C2
Paciente
Sim volta disso. Depois ela levou-me ao hospital da rea para eu levar
uma injeco de hemoglobina e geralmente quando apanho sol fico logo
bronzeado, no se nota nada, que eu tenho escarlatina.
A7-A7-A2-A7
Terapeuta
C2
Paciente
A7-A2
Terapeuta
C2
Paciente
A7-A2
Terapeuta
C5
Terapeuta
Ela assim?
C2
Paciente
C1
Terapeuta
E o pai? H pai?
C1
Paciente
Agora est reformado, era tipgrafo. Ele tem um curso de enfermeiro. Est
a trabalhar como preparador fsico na policia.
C3-C2
Terapeuta
C1
Paciente
C2
Terapeuta
C1
Paciente
Era o meu av paterno, o pai do meu pai. Ele realmente tinha doenas,
tinha diabetes, tinha problemas nos intestinos. Ele foi fazer uma operao
ao clon e ele realmente depois dessa operao nunca mais ficou bom.
Ficou muito doente de cama, no tinha foras para nada; depois parece
que tambm tinha o mesmo problema que eu tinha, que uma costela
encostada ao pulmo, e ento na vspera de ele morrer estive a falar com
ele. Ele estava muito calado a olhar para as pessoas e depois quando eu me
fui embora ele disse que "se calhar a ltima vez que tu me vs". Eu disse
"no pense nisso". Depois no outro dia telefonaram l para minha casa a
dizerem que o meu av j tinha falecido. A minha av contou que ele
tinha aquele problema nas costas e tinha ido ao mdico e que ele j no
aguentava a operao e que tinham que lhe mandar amputar a perna, e
como j era velhote pensou assim: agarrou numas caixas de comprimidos
que l tinha, tomou e matou-se.
A7-C2-F2
Terapeuta
O Emanuel ficou triste. Gostava muito desse av? Era bom ter esse av?
C4
Pag. 2/...
Resumo de Sesso
Titulo: Exemplo 1
Sesso: 1
Sujeito
Enunciado
Cotao
Paciente
C2
Terapeuta
C5
Paciente
C5
Terapeuta
C5-F5
Paciente
F5
Terapeuta
F5
Paciente
F5
Terapeuta
F5
Paciente
Eu no acho que seja igual ao meu av, acho que tenho o mesmo
problema que ele tinha. Isso verdade que penso que tenho o mesmo
problema que ele tinha, mas no penso ser igual ao meu av com essas
doenas
C2
Terapeuta
B1
Paciente
A7-A2-A7-A2
Terapeuta
F2
Paciente
A7-A2-A7-A2
Terapeuta
O Emanuel no acha que estas coisas que tem, estas doenas, so medos,
so ideias, so sentimentos? Nas pernas? Porque no tem nada!
F2-F2
Paciente
F2
Terapeuta
Est bem, real. O sentimento pode parecer que est a ser magoado, no
? Nos pulmes e nas pernas acho que estava a falar da tristeza que ficou
com a morte do seu av. Parece que ficou com medo de morrer ...
C5-C2
Paciente
A7-F7
Pag. 3/...
Resumo de Sesso
Titulo: Exemplo 1
Sesso: 1
Sujeito
Enunciado
Cotao
Terapeuta
C3-F3
Paciente
F1-A2-A7
Terapeuta
Eu sei que no quer viver s com uma perna, mas d-me a ideia que o
Emanuel ficou mais inseguro depois daquela histria do nariz partido e do
Karat. O que que aconteceu nessa altura?
F1
Terapeuta
C5
Paciente
No... Sim... foi tudo uma confuso que l houve, porque pensavam que
eu estava a gozar com uma rapariga que l andava a fazer Karat. Houve
l um cinturo negro que disse para eu ir l escola e dizer que era meu
irmo e eles j me deixavam de me andarem sempre a chatear e a
perseguir...
C2-C2
Paciente
C2-C2
Terapeuta
C2
Paciente
No, foi antes. Eles combinaram coisas que eu no vi e ele ento disse
para logo que comeasse o combate para ele me dar um murro no nariz
para me deixar logo defeituoso. Partiu-me logo o nariz e ficou logo assim
como est.
C2
Terapeuta
C2
Paciente
C2-F2
Terapeuta
C3
Paciente
No, eu defendia-me
C3
Paciente
F1-F3
Terapeuta
Medo do qu?
B1
Paciente
C1
Terapeuta
B1
Paciente
C2
Pag. 4/...
Resumo de Sesso
Titulo: Exemplo 1
Sesso: 1
Sujeito
Enunciado
Cotao
Terapeuta
C3-C4
Paciente
Sim, neste caso foi. Quer dizer, eu tinha uma camisola interior branca,
mostrei-lhe as costas, tinha as costas todas vermelhas e cheias de sangue e
ela em vez de chamar uma ambulncia ou ir comigo falar com o homem
que estava l na secretria ainda me chamou para dentro do tapete outra
vez mas realmente eu fiquei mesmo... se no desmaiei foi aquase.
A7-A7
Terapeuta
Isso tinha 19 anos. Ainda agora o Emanuel continua a pensar que tem a
costela metida para dentro a perfurar-lhe o pulmo desde essa altura.
C1-F1
Terapeuta
F3
Paciente
F3
Terapeuta
B3
Paciente
No, raro ter sonhos. No sonhava, mas agora h alguns tempos que no
sonho nada.
B3
Terapeuta
B2
Paciente
C2
Terapeuta
C1
Paciente
Ficar bom, no ter problema nenhum, ter uma vida normal, isso que o
principal
C2
Terapeuta
C2
Paciente
A7
Terapeuta
Sangue venoso?
F2
Paciente
Pois, fui fazer umas anlises e puseram l uma gotinhas de um lquido que
era para ver se ficava azul. porque j tenho sangue venoso e ela viu-me
do lado esquerdo.
A7
Terapeuta
C3
Paciente
C2
Terapeuta
Mas sangue venoso toda a gente tem, qual a sua ideia em ter sangue
venoso?
F4
Paciente
Pronto sangue...
B2
Terapeuta
Estragado?
C2
Paciente
Estragado sim
C1
Terapeuta
Vai adoecer?
F4
Paciente
A7-A2-C2
Pag. 5
(prs@mail.telepac.pt)
Estatisticas
Titulo: Exemplo 1
Elemento
Sujeito: Paciente
Freq.
A2
A7
B2
B3
C1
C2
C3
12
28
1
1
3
16
2
15.19
35.44
1.27
1.27
3.80
20.25
2.53
Elemento
C4
C5
F1
F2
F3
F5
F7
Freq.
3
1
2
5
2
2
1
%
3.80
1.27
2.53
6.33
2.53
2.53
1.27
{[ (A7-A7-A7-A7-A7-A2) (A7-A2-A7) (F2-A7) (F2) (C4) (C4) (C4-A7-A7-A2-A7) (A7-A7-A2-A7) (A7-A2) (A7-A2) (C1)
(C3-C2) (C2) (A7-C2-F2) (C2) (C5) (F5) (F5) (C2) (A7-A2-A7-A2) (A7-A2-A7-A2) (F2) (A7-F7) (F1-A2-A7) (C2-C2)
(C2-C2) (C2) (C2-F2) (C3) (F1-F3) (C1) (C2) (A7-A7) (F3) (B3) (C2) (C2) (A7) (A7) (C2) (B2) (C1) (A7-A2-C2) ]}
+K
F: 11
-K
%: 13.92
F: 63
%: 79.75
(prs@mail.telepac.pt)
Estatisticas
Titulo: Exemplo 1
Elemento
Sujeito: Terapeuta
Freq.
B1
B2
B3
C1
C2
C3
C4
3
1
1
5
9
5
5
5.88
1.96
1.96
9.80
17.65
9.80
9.80
Elemento
C5
F1
F2
F3
F4
F5
Freq.
5
2
4
3
5
3
%
9.80
3.92
7.84
5.88
9.80
5.88
{[ (F4) (F4) (F3-F4) (C3) (C4) (C4) (C4) (C2) (C2) (C2) (C5) (C2) (C1) (C1) (C1) (C4) (C5) (C5-F5) (F5) (F5) (B1)
(F2) (F2-F2) (C5-C2) (C3-F3) (F1) (C5) (C2) (C2) (C3) (B1) (B1) (C3-C4) (C1-F1) (F3) (B3) (B2) (C1) (C2) (F2) (C3)
(F4) (C2) (F4) ]}
+K
F: 27
-K
%: 52.94
F: 14
%: 27.45
(prs@mail.telepac.pt)
Evoluo do Pensamento
Titulo: Exemplo 1
Sesso: 1
F4
F4
F3
F4
C4
C3
F2
C4
C4
C4
C4
C4
F2
C2
A7
A7
A7
A7
A7
A2
A7
A2
A7
A7
A7
A7
A2
A7
A7
A7
A2
Terapeuta
Paciente
Pag. 1/...
A7
Evoluo do Pensamento
Titulo: Exemplo 1
Sesso: 1
F5
C5
C5
C4
C3
C5
F5
F5
F5
F5
C5
F2
C2
C2
C2
C2
C2
C2
F2
C2
C2
B1
A7
A2
A7
A2
A7
A7
A2
A7
A2
Terapeuta
Paciente
Pag. 2/...
Evoluo do Pensamento
Titulo: Exemplo 1
Sesso: 1
F3
C5
F2
F2
F1
F1
F1
C5
C3
F2
C3
F3
C3
F2
F7
C2
C2
C2
C2
C2
C2
C2
C2
C2
B1
A7
A2
A7
A2
A7
A2
A7
Terapeuta
Paciente
Pag. 3/...
Evoluo do Pensamento
Titulo: Exemplo 1
Sesso: 1
F1
C3
F3
F4
F3
C4
F4
C3
F2
C2
C2
B3
B1
A7
A7
B3
C2
C2
C2
B2
C2
C2
B2
A7
A7
A7
A2
Terapeuta
Paciente
Pag. 4
(prs@mail.telepac.pt)
Evoluo do Pensamento
Titulo: Exemplo 1
Sesso: 1
C4
F2
C4
C4
C3
F2
C2
A7
A7
A7
A7
A7
A2
A7
A2
A7
A7
A7
A7
A2
A7
A7
A7
A2
A7
A7
A2
A7
A2
C2
A7
Paciente
Pag. 1/...
Evoluo do Pensamento
Titulo: Exemplo 1
Sesso: 1
F5
F5
F1
F1
C5
C3
F2
C2
F2
C2
F3
F2
F7
C2
C2
A7
A2
A7
A2
A7
A2
A7
A2
A7
A2
C2
C2
C2
C2
C2
A7
Paciente
Pag. 2/...
Evoluo do Pensamento
Titulo: Exemplo 1
Sesso: 1
F3
C2
C2
C2
C2
B3
A7
A7
C2
B2
A7
A7
A7
A2
Paciente
Pag. 3
(prs@mail.telepac.pt)
Evoluo do Pensamento
Titulo: Exemplo 1
F4
F4
F3
Sesso: 1
F5
F4
C3
C4
C4
C5
C4
C4
C5
F5
F5
F3
C5
C5
F2
C2
C2
C2
C2
F2
C3
F1
C5
F2
C2
C2
C2
B1
Terapeuta
Pag. 1/...
Evoluo do Pensamento
Titulo: Exemplo 1
Sesso: 1
F1
C3
C3
F4
F3
C4
F4
C3
F2
C2
B1
B1
B3
C2
B2
Terapeuta
Pag. 2
(prs@mail.telepac.pt)
Usos
Titulo: Exemplo 1
Sesso: 1
6.3%
0.0%
0.0%
15.7%
19.6%
36.7%
19.6%
43.0%
27.5%
6.3%
3.8%
3.8%
17.6%
Hiptese definitria
Notao
Indagao
Ateno
Aco
Deciso
Pag. 1
EXEMPLO 2
PROF. DOUTOR CARLOS AMARAL DIAS
(prs@mail.telepac.pt)
Resumo de Sesso
Titulo: Exemplo 2
Sesso: 1
Sujeito
Enunciado
Cotao
Paciente
Diz que no conseguiu arranjar lugar para o carro e que hoje teve um
primeiro dia de aulas que adorou Senti que estava a desmaiar, no tinha
dormido nada. Adorei. Tive uma semana horrorosa
E2-E3-B2
Paciente
Tive uma semana horrorosa. No sei se estou grvida. Podia ser de duas
pessoas. Passei a semana em pnico. Em parafuso! Discusses com
amigas que me chamaram agressiva, fria, cida, no consigo digerir esta
faceta agressiva.
D1-D3-D4
Paciente
C3-C4
Paciente
E1-E2-F2-D2
Paciente
E3-E1-D3-D4-D2
Paciente
F2
Paciente
D1-F1-D7
Paciente
Tenho uma grande ternura pelos sobrinhos, eles adoram-me, coisas que
me passam pela cabea. Sempre tive uma educao masculina. Nunca
misturei o sexo com o amor.
D2
Paciente
D2
Paciente
D2
Paciente
D2-D7-E3-D3
Pag. 1/...
Resumo de Sesso
Titulo: Exemplo 2
Sesso: 1
Sujeito
Enunciado
Cotao
Paciente
D3-D2
Paciente
E2
Paciente
Diz que lhe caem todos em cima, que a irm diz que est maluquinha
D2
Paciente
E2-D2
Paciente
D2
Paciente
G2-F2
Paciente
D2-E3-D2
Pag. 2
(prs@mail.telepac.pt)
Estatisticas
Titulo: Exemplo 2
Elemento
Sujeito: Paciente
Freq.
B2
C3
C4
D1
D2
D3
D4
1
1
1
2
12
4
2
2.50
2.50
2.50
5.00
30.00
10.00
5.00
Elemento
D7
E1
E2
E3
F1
F2
G2
Freq.
2
2
4
4
1
3
1
%
5.00
5.00
10.00
10.00
2.50
7.50
2.50
{[ (E2-E3-B2) (D1-D3-D4) (C3-C4) (E1-E2-F2-D2) (E3-E1-D3-D4-D2) (F2) (D1-F1-D7) (D2) (D2) (D2) (D2-D7-E3-D3)
(D3-D2) (E2) (D2) (E2-D2) (D2) (G2-F2) (D2-E3-D2) ]}
+K
F: 12
-K
%: 30.00
F: 23
%: 57.50
(prs@mail.telepac.pt)
Evoluo do Pensamento
Titulo: Exemplo 2
Sesso: 1
F1
E3
E3
E1
D1
D3
D4
E3
E1
D3
C3
D4
D3
C4
F2
E2
D3
D1
F2
E2
E2
D2
D2
D7
D2
D2
D2
D2
D7
D2
B2
Paciente
Pag. 1/...
D2
Evoluo do Pensamento
Titulo: Exemplo 2
Sesso: 1
E3
G2
F2
E2
D2
D2
D2
D2
Paciente
Pag. 2
(prs@mail.telepac.pt)
Usos
Titulo: Exemplo 2
Sesso: 1
12.5%
5.0%
7.5%
22.5%
52.5%
Hiptese definitria
Notao
Indagao
Ateno
Aco
Deciso
Pag. 1
EXEMPLO 3
DR. MANUELA HARTLEY
(prs@mail.telepac.pt)
Resumo de Sesso
Titulo: Exemplo 3
Sesso: 1
Sujeito
Enunciado
Cotao
Paciente
Sabe sinto-me com esta preocupao; com esta indeciso dentro de mim.
Agora a ida para o Tibete aparece-me como um desejo enorme, como a
nica coisa verdadeira que eu quero fazer. Eu detesto pensar que vou
explorar as pessoas; que vou colaborar com essa sociedade deformada,
exploradora. Sabe eu muitas vezes quando como, sinto que no est certo
eu estar a comer e existirem tantas crianas a passarem fome. No est
certo eu puder comprar tantas coisas e elas no puderem, mas eu acho que
j quando eu era mido sentia, de vez em quando, estas coisas. Ir para o
Tibete, viver l com os monges, isso sim era a minha maneira de viver,
pois vivia despojado de tudo a fazer o bem.
C2-C7-D3-D2-D7
Terapeuta
Como se pretendesse anular tudo o que lhe podia dar prazer, todos os
sentimentos de fragilidade que tem aqui falado, inventando um novo R.
agora despojado de tudo, mas contundo continuando a propor-se uma
grande misso, agora uma misso pelo amor despojado, j que sente que
lhe dificil afirmar a "misso" pela potncia, afirma-a pelo despojamento.
D4
Paciente
C3
Terapeuta
D4
Paciente
Eu vou com o meu irmo, estamos l 10 dias e penso que poderia ser
muito divertido, mas mesmo quando fao estas coisas que me poderiam
dar prazer de vez em quando surgem-me estes pensamentos e ponho-me a
meditar na injustia da vida, eu que tenho tantas coisas, mas no justo,
eu no posso aceitar estas coisas como justas alis era exactamente o
mesmo pensamento que me aparecia, sobre a escolha do curso.
D3-D2
Terapeuta
D1-D4-F4-D4
Paciente
C3-C2
Terapeuta
C5
Pag. 1/...
Resumo de Sesso
Titulo: Exemplo 3
Sesso: 1
Sujeito
Enunciado
Cotao
Paciente
Sabe nestes ltimos meses tenho vivido momentos muito dificeis, tenho
tido muitas indecises que alis continuam, a escolha dos cursos, o no
saber se sou capaz de escolher o curso ou no, de o tirar, fazer as cadeiras
... No sei se sou capaz de me entender amorosamente com a minha
namorada, de lhe dar prazer, de me sentir potente ... Eu sei que continua a
pensar que o meu maior problema com as mulheres, j sei que no
acredita muito que estes sintomas de que eu estava aqui a falar sejam
verdadeiros e pensa que esto relacionados com estas minhas dificuldades
... O melhor que eu tenho a fazer ir para o Tibete ...
F5-C5-D2
Terapeuta
D4
Pag. 2
(prs@mail.telepac.pt)
Estatisticas
Titulo: Exemplo 3
Elemento
Sujeito: Paciente
Freq.
C2
C3
C5
C7
2
2
1
1
15.38
15.38
7.69
7.69
Elemento
D2
D3
D7
F5
Freq.
3
2
1
1
+K
F: 6
-K
%: 46.15
F: 7
%: 53.85
%
23.08
15.38
7.69
7.69
(prs@mail.telepac.pt)
Estatisticas
Titulo: Exemplo 3
Elemento
Sujeito: Terapeuta
Freq.
C5
D1
1
1
12.50
12.50
Elemento
D4
F4
Freq.
5
1
+K
F: 7
-K
%: 87.50
F: 0
%: 0.00
%
62.50
12.50
(prs@mail.telepac.pt)
Evoluo do Pensamento
Titulo: Exemplo 3
Sesso: 1
F5
F4
D4
D3
D4
D3
D1
C3
D2
C2
D7
D4
D4
D4
C5
C3
D2
C5
D2
C2
C7
Terapeuta
Paciente
Pag. 1
(prs@mail.telepac.pt)
Evoluo do Pensamento
Titulo: Exemplo 3
Sesso: 1
F5
D3
D3
C3
D2
C2
D7
C5
C3
D2
D2
C2
C7
Paciente
Pag. 1
(prs@mail.telepac.pt)
Evoluo do Pensamento
Titulo: Exemplo 3
Sesso: 1
F4
D4
D4
D1
D4
D4
D4
C5
Terapeuta
Pag. 1
(prs@mail.telepac.pt)
Usos
Titulo: Exemplo 3
Sesso: 1
0.0%
12.5%
15.4%
0.0%
12.5%
38.5%
15.4%
30.8%
75.0%
Hiptese definitria
Notao
Indagao
Ateno
Aco
Deciso
Pag. 1