Diferencas Na Educação - Outros Aprendizados. LIVRO COMPLETO
Diferencas Na Educação - Outros Aprendizados. LIVRO COMPLETO
Diferencas Na Educação - Outros Aprendizados. LIVRO COMPLETO
Etapa 3
Prof. Paulo Alberto dos Santos Vieira Apresentação Módulo V - Tutores http://webconferencia.sead.ufscar.br/p9sp4po4ptc/
Prof. Paulo Alberto dos Santos Vieira Apresentação Módulo V - Alunos http://webconferencia.sead.ufscar.br/p4b9ag1vlln/
Supervisão
Douglas Henrique Perez Pino
Revisão Linguística
Clarissa Galvão Bengtson
Daniel William Ferreira de Camargo
Paloma Argemira da Silva
Paula Sayuri Yanagiwara
Rebeca Aparecida Mega
Editoração Eletrônica
Izis Cavalcanti
Ilustração
Vagner Serikawa
Capa e Projeto Gráfico
Izis Cavalcanti
Apoio
Secadi/MEC
O objetivo desta obra é o de servir como apoio didático aos cursos oferecidos pela UFSCar.
Seu conteúdo está reproduzido conforme solicitado pelo(s) autor(es), sem nenhuma interfe-
rência do Conselho Editorial da EdUFSCar.
Estrutura do livro
Diferenças na Educação: outros aprendizados se inicia com um capítu-
lo sobre Diferenças que esmiuçará esse conceito, apresentará exemplos,
discutirá com muito cuidado e em detalhe as dificuldades, mas também os
ganhos indiscutíveis que uma educação mais democrática e transformado-
ra traz para educadores(as) e educandos(as). Anna Paula Vencato mostra
como a própria ideia do que pode ou não ser considerado “diferença” é
uma criação cultural que não apenas pode variar de época para época e
de grupo para grupo como, principalmente, está envolta em relações de
poder. Que forças e valores sociais definem o que é ou não “diferente”?
Introdução: outros aprendizados | 15
Como isso ocorre? Por que muitas vezes a escola transforma diferenças em
desigualdades?
Aqui também é tratada a questão do bullying, mostrando como ele não
é apenas um caso isolado de algum “aluno problema”, mas que o bullying
pertence antes de tudo a uma dinâmica escolar específica que propicia
seu surgimento e garante sua continuidade, tanto através da violência de
“brincadeiras” ofensivas por parte dos(as) alunos(as) quanto da vista grossa
ou mesmo descaso por parte dos(as) professores(as) e funcionários(as) da
escola.
Como já afirmado anteriormente, durante esses anos de GDE, todas as
pessoas envolvidas no curso (tutores(as), professores(as), supervisores(as) e
coordenadores(as)) perceberam que o tema da religião estava não apenas
presente, mas, a cada edição, aumentava a demanda por sua discussão.
Dessa forma, resolvemos incluir neste livro o cada vez mais importante de-
bate sobre religião e suas interfaces com as diferenças, especialmente em
relação a gênero, sexualidade e relações étnico-raciais. Tiago Duque, autor
desse segundo capítulo, discute questões como a pluralidade religiosa, a
religião na sala de aula em um Estado laico e o contínuo cuidado que deve-
mos ter para que a religiosidade de cada um não se transforme em opressão
e discriminação do outro.
Afinal, dentro de nossa perspectiva de direitos humanos e respeito às
diferenças, devemos lembrar que não existem religiões “superiores” ou
“verdadeiras” e que o Estado laico é aquele que não deve se associar a
ou privilegiar alguma religião específica, para poder garantir, assim, a livre
expressão de qualquer credo religioso. Como o tema deste capítulo (a reli-
giosidade) perpassa todos os outros eixos do livro (diferenças, gênero, se-
xualidade e relações étnico-raciais), as atividades nele sugeridas podem ser
usadas também com as atividades dos demais capítulos.
No terceiro capítulo, Larissa Pelúcio nos leva a problematizar o conceito
de gênero. Além de historicizá-lo, a autora nos mostra que, se o gênero
é uma construção cultural variável, que diz o que significa ser “homem”
ou “mulher” e como devemos nos portar e literalmente “encarnar” o tal
“masculino” e o “feminino” através de jeitos e trejeitos – ou seja, se esta-
mos constantemente “fazendo gênero” –, também podemos “desfazer” o
gênero, pois as construções sociais não são eternas nem têm a obrigação
ou necessidade de ser. Se determinados aspectos do que chamamos de
gênero são (ainda) hoje causas de desigualdade e preconceito, podemos – e
16 | Diferenças na Educação: outros aprendizados
UNIDADE 1
Diferenças na sociedade e na escola
Se alguém nos perguntar, podemos nos deter por muitas horas contando
várias coisas sobre a escola ou nossas vidas escolares. Algumas memórias de
nossas escolarizações são alegres, outras não. Todos(as) nós temos histórias
para contar acerca dos anos em que passamos em sala de aula, sobre cole-
gas, professores(as), o recreio, a educação física. De fato, passamos muito
tempo na escola. Ela faz parte do cotidiano de nossa infância e adolescência,
e, quando professores(as) ou pais e mães, da vida adulta. Assim, é possível
afirmar que a escola suscita muitas memórias à maioria de nós.
Em geral, as memórias que temos da escola contemplam tanto aspec-
tos positivos quanto negativos desta experiência: ao mesmo tempo, essa
instituição nos traz memórias da construção de amizades, de descobertas
e aprendizagens, assim como de alegrias e, por outro lado, de violências,
exclusões, autoritarismo e desapontamento.
Sabemos que a escola é uma instituição e que está inserida em um dado
contexto social. Isso implica dizer que muitas das regras não explícitas e
explícitas dos comportamentos, dos conteúdos, das avaliações etc. que en-
contramos dentro de uma escola refletem questões sociais mais amplas que
encontramos no mundo, no país, estado, cidade, bairro e no entorno do
prédio/terreno em que ela funciona.
Contraditoriamente, essa mesma instituição que se molda a partir das
regras sociais, ou seja, de regras que emanam da sociedade e nela circulam,
é pouco ou nada permeável às diferenças sociais e culturais que são trazidas
para dentro de seus recintos por alunos e alunas, professoras e professores,
funcionários e funcionárias, gestoras e gestores, pais e mães.
Reconhece-se que há uma série de singularidades trazidas de fora para
dentro junto com diferentes pessoas que por ali circulam, mas estas, em
geral, são tidas como exóticas e/ou inapropriadas ao contexto escolar e, por-
tanto, como algo que não pode pertencer àquele espaço.
É possível afirmar que a escola, o sistema de ensino e todas as pesso-
as que fazem parte dele têm historicamente dificuldades em lidar com a
questão das diferenças. Essa dificuldade é reflexo da sociedade a que per-
tencemos e de sua lógica cultural excludente. Ao mesmo tempo, também
é possível afirmar que a exclusão da pauta das diferenças ou da vivência
Diferenças na Escola | 21
Figura 1 Esta imagem, publicada no livro “Cuidado, escola!”, ilustra como o processo
de ensino e aprendizagem tenta colocar dentro de um mesmo molde pessoas que são
muito diferentes entre si.
Figura 2 Por esta ilustração do livro “Cuidado, escola!” podemos refletir sobre qual
o lugar das diferenças nas vivências escolares, ou seja, como a escola busca deixá-las
de fora de seus debates e espaços porque não as considera como fator importante
dentro dos processos de ensino-aprendizagem.
lado ideias de que a escola não tem de lidar com a sexualidade e com ou-
tros marcadores sociais da diferença. A escola é um espaço importante da
sociabilidade de crianças e adolescentes, e limar a instância dos desejos e
afetividades desse espaço é uma forma de exclusão. Além disso, o mesmo
silêncio que exclui também deixa a porta aberta para as discriminações e
violências diversas. Faz parte de nossa função como educadores e educado-
ras garantir uma escola de qualidade para todas as pessoas, na qual todas
elas estejam representadas.
Como nos lembra Rogerio Diniz Junqueira (2007), ao invés de nos contra-
pormos à existência das diferenças no ambiente escolar, deveríamos valori-
zá-las, porque elas constituem fator de qualidade na educação. Conforme o
autor, não é a qualidade do ensino que acarreta uma coexistência pacífica e
um convívio democrático com as diferenças. O que se passa é justamente o
contrário: o respeito às diferenças é que viabiliza uma educação de qualida-
de e, adicionaria aqui, a produção de uma escola e sociedade pautadas nos
princípios de igualdade e justiça social.
BOX 1
UNIDADE 2
O respeito às diferenças
Dito isto, podemos debater outra ideia importante aqui: a de que a di-
ferença – e consequentemente o respeito – se estabelece na relação social.
Disso, depreende-se que o reconhecimento das diferenças na sociedade
e na escola não implica em tratá-las de modo desigual e/ou com inferiori-
dade. Conforme venho argumentando, é justamente o reconhecimento das
diferenças que pode propiciar que a educação escolar seja efetivamente
igualitária e democrática.
6 Grosso modo, aqueles previstos como direitos individuais na Carta Magna de um país.
De acordo com Michelli Pfaffenseller (2007, s/p.), “os Direitos Fundamentais, sob uma
perspectiva clássica, consistem em instrumentos de proteção do indivíduo frente à
atuação do Estado”.
40 | Diferenças na Educação: outros aprendizados
Fundamental das escolas públicas das redes municipais, estaduais e federal, com o
objetivo de avaliar a qualidade do ensino ministrado nas escolas públicas. Participam
desta avaliação as escolas que possuem, no mínimo, 20 alunos matriculados nas séries/
anos avaliados, sendo os resultados disponibilizados por escola e por ente federativo”.
Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).
Disponível em: <http://provabrasil.inep.gov.br/>. Acesso em: 16 jan. 2014.
8 Para mais informações, veja FIPE ([2009] 2013, p. 11).
42 | Diferenças na Educação: outros aprendizados
UNIDADE 3
Bullying ou assédio escolar: um problema que afeta todo
mundo
tende a ser menos visível, uma vez que envolve mais fatores como intrigas,
fofocas e isolamento da vítima.
Uma pesquisa publicada em 2010 pelo Instituto Plan Brasil sobre bullying
no contexto escolar nos traz dados acerca dos números de incidência de
maus-tratos em escolas de todas as regiões do Brasil. O relatório afirma que
a violência se constitui em fenômeno relevante nas escolas brasileiras, uma
vez que 70% dos(as) alunos(as) pesquisados informaram terem visto colegas
serem maltratados(as) ao menos uma vez. Cerca de 9% também afirmaram
que assistiram a colegas sofrerem maus-tratos várias vezes por semana, e
10% dizem ter presenciado este tipo de cena todos os dias.
Tabela 1 Número de alunos que relataram ter visto colegas serem maltratados no ano
de 2009 e frequência dos maus-tratos observados.
Quantas vezes viu o
Quantidade Percentual
colega ser maltratado
Não vi 1468 28,4%
Vi 1 ou 2 vezes 1834 35,5%
Vi de 3 a 6 vezes 531 10,3%
1 vez por semana 262 5,1%
Vários por semana 461 8,9%
Todos os dias 522 10,1%
Em branco 90 1,7%
Total geral 5168 100%
Tabela 2 Número de alunos que relataram ter sofrido maus-tratos e frequência com
que isso teria ocorrido.
Frequência dos
Quantidade de alunos Percentual
maus-tratos
Não fui maltratado 3666 70,9%
Fui 1 ou 2 vezes 940 18,2%
Fui 3 a 6 vezes 198 3,8%
1 vez por semana 71 1,4%
Várias vezes por semana 140 2,7%
Todos os dias 90 1,7%
Em branco 63 1,2%
Total geral 5168 100%
escolar e fazem com que alguns indivíduos vitimizem outros com certa pos-
sibilidade de não serem pegos(as) desde que não extrapolem limites tolerá-
veis (como aqueles enquadrados nos discursos do “foi sem querer” ou “foi
apenas uma brincadeira”).
BOX 2
Saiba mais:
Para saber mais dados sobre o bullying no contexto brasileiro, busque o rela-
tório final da pesquisa Bullying escolar no Brasil, publicado em 2010 pela Or-
ganização Não Governamental Plan Brasil. A pesquisa foi realizada com 5.168
estudantes de todas as regiões do país, e o relatório encontra-se disponível
em: <http://escoladafamilia.fde.sp.gov.br/v2/Arquivos/pesquisa-bullying_es-
colar_no_brasil.pdf>.
Vale lembrar aqui que se enquadram como formas de bullying os aspec-
tos físicos e materiais (bater, empurrar, beliscar, roubar, furtar ou destruir
pertences da vítima), verbais (insultar, ofender, falar mal, colocar apelidos
pejorativos, “zoar” etc.), psicológicos e morais (humilhar, excluir, discrimi-
nar, chantagear, intimidar, difamar etc.), sexuais (abusar, violentar, assediar,
insinuar etc.) e virtuais/cyberbullying (bullying realizado por meio de ferra-
mentas tecnológicas: celulares, filmadoras, internet etc.).
46 | Diferenças na Educação: outros aprendizados
BOX 3
10 Menina sofre bullying e apanha na saída da escola em Piracicaba, SP. EPTV. Disponível
em: <http://g1.globo.com/sp/piracicaba-regiao/noticia/2013/09/menina-sofre-bullying-
-e-apanha-na-saida-da-escola-em-piracicaba-sp.html>. Acesso em: 03 mar. 2014.
11 JACINTO, Daniela. Caso de bullying faz mãe transferir criança de 11 anos de escola. Jornal
Cruzeiro do Sul. Disponível em: <http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia/457156/caso-
-de-bullying-faz-mae-transferir-crianca-11-anos-de-escola>. Acesso em: 03 mar 2014.
12 Estudante de 15 anos é morta com facada dada por colega na saída da escola. Hoje em
Dia. Disponível em: <http://www.hojeemdia.com.br/noticias/brasil/estudante-de-15-
-anos-e-morta-com-facada-dada-por-colega-na-saida-da-escola-1.168909>. Acesso
em: 03 mar. 2014.
48 | Diferenças na Educação: outros aprendizados
Figura 5 Amanda Todd, em cena do vídeo que publicou pouco antes de cometer
suicídio.
13 O vídeo publicado por Amanda Todd, com legendas em português, pode ser acessado
no endereço: <https://www.youtube.com/watch?v=gikbgGOE5II&feature=youtu.be>.
14 MARQUES, Melissa. Entenda o caso de Amanda Todd, a adolescente que cometeu sui-
cídio por sofrer bullying. Revista TodaTeen. Disponível em: <http://todateen.uol.com.br/
souassimtt/entenda-o-caso-de-amanda-todd-a-adolescente-que-cometeu-suicidio-
-por-sofrer-bullying/>. Acesso em: 15 mar 2014.
Diferenças na Escola | 49
15 NISZ, Charles. Nos EUA, aluno sofre bullying de colegas e do professor na sala de aula. Blog
Vi na internet. Disponível em: <http://br.noticias.yahoo.com/blogs/vi-na-internet/nos-eua-
-aluno-sofre-bullying-colegas-e-professor-201450161.html>. Acesso em: 20 jan. 2014.
16 De acordo com Joana Zylbersztajn (2012), a Constituição Federal não declara que o
Brasil é laico, mas suas leis trazem elementos que formam este entendimento. Alguns
desses elementos estão expressos pela garantia da democracia, igualdade, liberdade e
a separação institucional entre Estado e religião. No entanto, a existência desses prin-
cípios na Constituição não garante per se a laicidade na prática.
17 Reação de aluno ateu a bullying acaba com pai-nosso na escola. Revista Fórum.
Disponível em: <http://www.revistaforum.com.br/blog/2013/04/reacao-de-aluno-ateu-
-a-bullying-acaba-com-pai-nosso-na-escola/>. Acesso em: 14 fev. 2014.
50 | Diferenças na Educação: outros aprendizados
UNIDADE 4
Como lidar com as diferenças no cotidiano escolar?
Figura 6 Os conteúdos escolares são, há muito, criticados pela falta de relação com a
realidade social e dos(as) alunos(as). Apesar das críticas, eles ainda são reproduzidos
sem se dar atenção à questão das diferenças, e as aulas continuam a ser ministradas
sem trazer o cotidiano dos sujeitos da escola para a sala de aula. Como uma escola
que não valoriza a experiência de seus sujeitos, não as relaciona com os conteúdos
escolares, pode ensinar e ser democrática?
“Se fosse possível embarcar em uma máquina do tempo, viajar mil anos
até o futuro e pousar em uma sala de aula, teríamos dificuldades em reco-
nhecer que não estaríamos no presente”. Quando fazia minha graduação em
Pedagogia, não era incomum ouvir, de um(a) ou outro(a) professor(a), esta
anedota que falava acerca da dificuldade histórica da escola de se reinventar
frente aos novos desafios presentes na dinâmica da sociedade atual. Não
me lembro mais das exatas palavras usadas para a conta, mas me lembro do
que queria dizer, até porque, de forma ilustrativa, ela era sempre comple-
mentada com um comentário: “A escola é a instituição que é menos afeita a
52 | Diferenças na Educação: outros aprendizados
BOX 4
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Diferenças na Escola | 55
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FIGURAS
Figura 1 Esta imagem, publicada no livro “Cuidado, escola!”, ilustra como o processo de ensino
e aprendizagem tenta colocar dentro de um mesmo molde pessoas que são muito diferentes en-
tre si. Fonte: <http://www.uniriotec.br/~pimentel/disciplinas/ie2/infoeduc/escdiferencas.html>.
Acesso em: 14 jul. 2013.
Figura 2 Por esta ilustração do livro “Cuidado, escola!” podemos refletir sobre qual o lugar das
diferenças nas vivências escolares, ou seja, como a escola busca deixá-las de fora de seus deba-
tes e espaços porque não as considera como fator importante dentro dos processos de ensino-
-aprendizagem. Fonte: <http://gepepi.net/2011/10/24/o-mundo-nao-e-esta-sendo/>. Acesso em:
14 jul. 2013.
Figura 3 Tela “Operários”, de Tarsila do Amaral (1933), que contempla a diferença étnico-racial
da sociedade brasileira. As expressões austeras, de olhar fixo, nos lembram das dificuldades
inerentes ao trabalho fabril. Com outro cenário ao fundo, a imagem poderia fazer também se
referir à pluralidade de sujeitos presentes nas escolas brasileiras, pluralidade esta raramente
representada nos materiais didáticos e nas práticas escolares cotidianas. Fonte: <http://2.
bp.blogspot.com/-J4Ar1955lUo/TbYvvOsWauI/AAAAAAAABXI/fxdTkyCB7ig/s1600/opera-
rios.jpg>. Acesso em: 17 mar. 2014.
Figura 4 Ilustração do cartunista Ziraldo para a cartilha do Ministério da Justiça “Os direitos
humanos”. Fonte: <http://portal.mj.gov.br/sedh/documento>. Acesso em: 17 mar. 2014.
Figura 5 Amanda Todd, em cena do vídeo que publicou pouco antes de cometer suicídio. Fonte:
<http://todateen.uol.com.br/tt/wp-content/uploads/2012/10/Video-Amanda-Todd.jpg>. Acesso
em: 15 mar. 2014.
Figura 6 Os conteúdos escolares são, há muito, criticados pela falta de relação com a realidade
social e dos(as) alunos(as). Apesar das críticas, eles ainda são reproduzidos sem se dar atenção
à questão das diferenças, e as aulas continuam a ser ministradas sem trazer o cotidiano dos
sujeitos da escola para a sala de aula. Como uma escola que não valoriza a experiência de seus
sujeitos, não as relaciona com os conteúdos escolares, pode ensinar e ser democrática? Fonte:
<https://arquivopublicors.files.wordpress.com/2013/08/2013-08-14-xaxado-a-cedraz.jpg>. Acesso
em: 14 jul. 2013.
TABELAS
Tabela 1 Número de alunos que relataram ter visto colegas serem maltratados no ano de 2009
e frequência dos maus-tratos observados. Fonte: tabela sobre “Alunos que viram colegas serem
maltratados no ano de 2009” do relatório final da pesquisa Bullying escolar no Brasil” (2010, p. 24).
Tabela 2 Número de alunos que relataram ter sofrido maus-tratos e frequência com que isso
teria ocorrido. Fonte: tabela sobre a “Frequência dos maus-tratos no ano de 2009 (vítimas)” do
relatório final da pesquisa Bullying escolar no Brasil” (2010, p. 27).
2
Religiosidades e Educação Pública
Tiago Duque
Boa leitura!
Religiosidades e Educação Pública | 61
UNIDADE 1
Estabelecendo o diálogo
com ela, ensinam sobre quem ela foi” ou “Ela deve ser uma mulher exemplar
para os alunos”.
Há também a possibilidade de se avistar uma série de cartazes ou ma-
quetes feitas pelos alunos de determinado período, cuidadosamente expos-
tos para que qualquer visitante possa ver o que se produziu naquela semana
ou naquele mês. Esse visitante imaginário pensaria: “As professoras traba-
lham bastante com os alunos” ou “Os alunos daqui são criativos, dedicados
e caprichosos”.
Se tudo isso informa e dá significado ao espaço, mostrando caracterís-
ticas importantes daquele lugar, bem como de parte das pessoas que ali
estão trabalhando ou estudando, ocorre o mesmo com os elementos re-
ligiosos, como imagens sacras, crucifixos, frases bíblicas ou com a própria
Bíblia. Agora, e se essa pessoa que estamos nos imaginando no lugar dela
não se identificar com nenhum dos símbolos religiosos que estão na escola?
Se esses símbolos não lhe significasse o mesmo que significa para os fun-
cionários que os colocaram ali ou os mantiveram carinhosamente expostos?
Qual o sentimento e a quais conclusões você, no lugar dessa pessoa, pode-
ria chegar?
Um exercício importante para todo educador é este da situação imagi-
nária acima, o de se colocar no lugar do outro. Mas aqui não é um apelo para
que se procure sentir a dor do outro, se compadecer dele, tentar passar pelo
que ele passa. Não se trata de um exercício espiritual, defendido em várias
religiões como uma prática que nos levaria a sentir mais compaixão. Não,
não se trata disso. O colocar-se no lugar do outro aqui é algo que nos leva a
importantes estranhamentos em termos culturais, mas ao revés, partindo do
que supostamente o outro viveria sendo diferente de você. É o se perceber
outro, deslocado, meio sem jeito, diferente de uma suposta maioria.
Nas ciências sociais, há uma crítica importante para nos alertar do quanto
é fundamental para compreendermos e reconhecermos a diferença cultural,
mudarmos de posição: a crítica ao etnocentrismo.19 Essa palavra significa o
que não se deve ser, isto é, julgar sempre a partir da sua experiência, do seu
próprio conjunto de valores e supostas verdades, aquele que não é do seu
grupo ou como você.
Everardo P. Guimarães Rocha afirma que o etnocentrismo pode ser visto
tanto no plano intelectual como no afetivo. No primeiro, pode ser entendido
19 Anna Paula Vencato apresenta essa crítica no primeiro capítulo deste livro.
64 | Diferenças na Educação: outros aprendizados
UNIDADE 2
Viva a nossa diferença cultural religiosa!
BOX 1
BOX 2
Art. 5o
VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado
o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a prote-
ção aos locais de culto e a suas liturgias;
VII – é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa
nas entidades civis e militares de internação coletiva;
VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de
convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obri-
gação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa,
fixada em lei.
Art. 19
É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes
o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de
dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de in-
teresse público;
UNIDADE 3
Se somos diversos, por que não aceitar as nossas diferenças?
População residente
Situação do domicílio
Total(1) 190 755 799 93 406 990 97 348 809 160 934 649 77 715 676 83 218 972 29 821 150 15 691 314 14 129 837
Católica Apostólica
123 280 172 61 180 316 62 099 856 100 055 896 48 872 817 51 183 078 23 224 277 12 307 499 10 916 778
Romana
Católica Apostólica
560 781 282 011 278 770 442 244 218 107 224 137 118 537 63 904 54 633
Brasileira
78 | Diferenças na Educação: outros aprendizados
Católica Ortodoxa 131 571 65 727 65 844 113 301 55 942 57 359 18 270 9 785 8 485
Evangélicas 42 275 440 18 782 831 23 492 609 37 824 089 16 663 271 21 160 818 4 451 350 2 119 560 2 331 791
Evangélicas de Missão 7 686 827 3 409 082 4 277 745 6 795 167 2 978 485 3 816 682 891 659 430 597 461 063
Igreja Evangélica
999 498 482 382 517 116 686 349 321 395 364 954 313 149 160 987 152 162
Luterana
Igreja Evangélica
921 209 405 424 515 785 853 864 373 752 480 112 67 345 31 673 35 672
Presbiteriana
Igreja Evangélica
340 938 149 047 191 891 325 652 142 148 183 504 15 286 6 899 8 387
Metodista
Igreja Evangélica Batista 3 723 853 1 605 823 2 118 029 3 466 862 1 488 390 1 978 472 256 991 117 434 139 557
Igreja Evangélica
109 591 48 243 61 348 94 270 40 878 53 392 15 321 7 365 7 957
Congregacional
Igreja Evangélica
1 561 071 704 376 856 695 1 341 018 599 837 741 182 220 053 104 539 115 513
Adventista
População residente
Situação do domicílio
Outras Evangélicas de
30 666 13 786 16 880 27 151 12 085 15 066 3 514 1 701 1 814
Missão
Evangélicas de origem
25 370 484 11 273 195 14 097 289 22 371 352 9 855 098 12 516 253 2 999 132 1 418 097 1 581 035
pentecostal
Igreja Assembleia de
12 314 410 5 586 520 6 727 891 10 366 497 4 662 726 5 703 772 1 947 913 923 794 1 024 119
Deus
Igreja Congregação
2 289 634 1 060 218 1 229 416 2 006 550 924 354 1 082 196 283 083 135 863 147 220
Cristã do Brasil
Igreja O Brasil para
196 665 85 768 110 897 177 634 77 173 100 461 19 031 8 595 10 436
Cristo
Igreja Evangelho
1 808 389 774 696 1 033 693 1 706 628 727 634 978 994 101 761 47 062 54 699
Quadrangular
Igreja Universal do
1 873 243 756 203 1 117 040 1 766 246 708 533 1 057 713 106 998 47 670 59 328
Reino de Deus
Igreja Casa da Benção 125 550 52 274 73 276 118 659 49 177 69 483 6 890 3 097 3 793
Igreja Deus é Amor 845 383 365 250 480 133 723 155 308 092 415 063 122 228 57 159 65 069
Igreja Maranata 356 021 156 185 199 835 339 526 148 657 190 869 16 495 7 529 8 966
Igreja Nova Vida 90 568 37 026 53 542 88 898 36 342 52 556 1 670 684 986
Evangélica renovada
23 461 10 412 13 049 21 605 9 549 12 056 1 856 863 993
não determinada
Comunidade Evangélica 180 130 77 990 102 141 174 584 75 456 99 128 5 546 2 533 3 013
Religiosidades e Educação Pública | 79
População residente
Situação do domicílio
Outras igrejas
Evangélicas de origem 5 267 029 2 310 653 2 956 377 4 881 368 2 127 405 2 753 963 385 661 183 247 202 414
pentecostal
Evangélica não
9 218 129 4 100 554 5 117 575 8 657 570 3 829 688 4 827 883 560 559 270 866 289 693
determinada
Outras religiosidades
1 461 495 666 772 794 723 1 350 719 613 118 737 601 110 776 53 654 57 122
cristãs
80 | Diferenças na Educação: outros aprendizados
Igreja messiânica
103 716 41 980 61 736 100 221 40 326 59 895 3 496 1 654 1 842
mundial
Outras novas religiões
52 235 21 833 30 402 50 376 20 935 29 441 1 859 898 961
orientais
Outras religiões
9 675 4 502 5 173 9 491 4 401 5 090 185 101 83
orientais
Islamismo 35 167 21 042 14 124 34 894 20 849 14 044 273 193 80
Tradições esotéricas 74 013 42 095 31 918 70 878 40 219 30 659 3 136 1 876 1 259
Tradições indígenas 63 082 32 095 30 987 19 366 9 832 9 534 43 716 22 263 21 453
Outras religiosidades 11 306 5 135 6 171 9 925 4 426 5 500 1 380 709 671
Sem religião 15 335 510 9 082 507 6 253 004 13 742 551 8 103 211 5 639 340 1 592 960 979 296 613 664
Sem religião 14 595 979 8 592 492 6 003 486 13 043 340 7 640 022 5 403 318 1 552 638 952 470 600 168
Ateu 615 096 411 397 203 699 577 994 386 643 191 351 37 102 24 753 12 348
Agnóstico 124 436 78 618 45 818 121 216 76 545 44 671 3 220 2 072 1 147
Não determinada e
643 598 302 807 340 791 591 792 276 476 315 315 51 807 26 331 25 475
múltiplo pertencimento
Religiosidade não de-
628 219 295 713 332 506 578 347 270 469 307 878 49 872 25 244 24 628
terminada/mal definida
Declaração de múltipla
15 379 7 094 8 284 13 445 6 007 7 438 1 934 1 087 847
religiosidade
BOX 3
BOX 3
UNIDADE 4
E agora? Por onde começar?
BOX 4
algum livro didático, ou, ainda, promover uma exposição na escola com tra-
balhos de diferentes ordens (poemas, maquetes, desenhos etc.) retratando
a diferença cultural religiosa do Brasil ou da própria comunidade.
Seja qual for a ação, é bom lembrar os estudantes que uma longa his-
tória de discriminação e hierarquização das religiões não se resolve do dia
para a noite; ao mesmo tempo, é fundamental valorizar as ações que serão
resultadas desse processo; afinal, a transformação de algo que não é bom
em alguma coisa melhor depende de atitudes pequenas e grandes, mas
tudo começa com a organização do coletivo para se conquistar algo comum.
35 IBOPE (2007).
Religiosidades e Educação Pública | 93
REFERÊNCIAS
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Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 27, p. 183-191. set./out./nov./dez. 2004. Disponível em:
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<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/>. Acesso em: 05 nov. 2013.
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LÉRY, J. Viagem à terra do Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1961.
LEWGOY, B. A transnacionalização do espiritismo kardecista brasileiro: uma discussão inicial.
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br/pdf/rs/v28n1/a05v28n1.pdf>. Acesso em: 02 mar. 2014.
MAUÉS, R. H. Medicinas populares e ‘Pajelança Cabocla’ na Amazônia. In: ALVES, P. C.; MINAYO,
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81. Disponível em: <http://static.scielo.org/scielobooks/tdj4g/pdf/alves-9788575412763.pdf>.
Acesso em: 28 abr. 2014.
NERI, M. C. (Coord.). Novo mapa das religiões. Rio de Janeiro: FGV; CPS, 2011. Disponível em:
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PIERUCCI, A. F. Religiões no Brasil. In: BOTELLO, A.; SCHWARCZ, L. M. (Org.). Agenda brasileira:
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ROCHA, E. P. G. O que é etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense, 2006. p. 7-22. (Coleção Primeiros
passos, n. 124).
RODRIGUES, C. A. O outro, esse difícil. In: ______. Identidade e etnia: construção da pessoa e
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usp.br/eav/article/view/10037/11609>. Acesso em: 30 abr. 2014.
FIGURAS
Figura 4 Cartaz da primeira Campanha da Fraternidade realizada de forma ecumênica, pelo CO-
NIC. Esse tipo de atividade ecumênica ocorre a cada cinco anos. Fonte: <http://www.conic.org.br/
cms/cf-ecumenica>. Acesso em: 10 ago. 2014.
Figura 5 Quadrinho de Carlos Ruas ilustrando o encontro de Einstein, Deus e Adão. Fonte:
<http://www.umsabadoqualquer.com/category/eisntein/>. Acesso em: 10 ago. 2014.
TABELA
Tabela 1 População residente, por situação do domicílio e sexo, segundo os grupos de religião
– Brasil, 2010. Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 2010. Disponível em: <ftp://ftp.ibge.gov.br/
Censos/Censo_Demografico_2010/Caracteristicas_Gerais_Religiao_Deficiencia/tab1_4.pdf>.
Acesso em: 10 ago. 2014.
3
Desfazendo o gênero
Larissa Pelúcio
UNIDADE 1
Gênero ou gêneros?
Desnaturalizar é preciso
Como escreveu a historiadora feminista Joan Scott:
Neste capítulo, vamos pensar gênero nesta chave: ele é construído social
e culturalmente, tem marcas históricas e, portanto, varia. Está relacionado
com os corpos, mas nem por isso é natural, pois os corpos, para adquirirem
seu significado pleno, precisam das lentes da cultura. Ainda que existam
necessidades fisiológicas universais (excreção, fome, sede, cansaço, dor),
elas não são resolvidas da mesma forma, nem mesmo dentro de uma mes-
ma sociedade. Sendo assim, gênero, como os corpos, é plural! Quer dizer,
temos de pensar em masculinidades e feminilidades e em diversidades de
gêneros. Tirar do singular nossa percepção sobre este tema é alargar nosso
olhar sobre nossas relações cotidianas. Perceber que não existe A MULHER
e O HOMEM de forma absoluta. Pois se é mulher, mas ao mesmo tempo se
é professora, mãe, de classe média, na casa dos trinta anos, católica, mas
adepta também ao kardecismo, morena, mas entendida socialmente como
branca... ou seja, todos estes outros elementos se enfeixam de forma singu-
lar e contextual dando espessura humana e complexa a quem somos.
Desfazendo o gênero | 103
Essencialista Construcionista
-- Naturaliza os gêneros vinculando-os a -- Propõe que os gêneros são produto
um determinante biológico; de relações históricas e sociais;
-- É, portanto, determinista e -- Sendo assim, são simbolicamente
biologizante; constituídos;
-- O que faz que tenha um enfoque a- -- O que faz com que tenham dimensões
-histórico e transcultural. culturais.
feministas (sim, no plural, pois como todo movimento político e social este
também se dividiu em diferentes tendências). Toda esta discussão provocou
novas questões e aprofundou o debate teórico e conceitual, de maneira que
a categoria central do feminismo como movimento social, bem como campo
de estudos, “mulher”, passou a ser desafiada na sua potencialidade expli-
cativa. Em outras palavras, a questão que começou a ser colocada cada vez
mais fortemente interrogava sobre quem era esta “mulher” da qual falavam
as feministas? Era negra, branca, indígena, jovem, velha, mãe, filha, avó, hete-
rossexual, homossexual, bissexual, operária, burguesa, patroa, empregada,
desempregada, ateia, católica, protestante?
Se, como escreveu Simone de Beauvoir, “não se nasce mulher, torna-
-se”, como chegamos a sê-la? Seria possível pensar nessa construção do
feminino sem pensar em sua relação com o masculino? Ao responder estas
poucas, mas profundas, questões, ficava claro que ao discutirmos a relação
entre feminino e masculino teríamos de pensar em relações de poder que
hierarquizavam pessoas a partir de seu gênero, com clara predominância do
masculino sobre o feminino. Quer dizer, gênero era uma questão política,
pois implicava em acessos desiguais a bens públicos, na participação em
arenas decisórias ou em silêncio; em privilégios para os homens também no
plano doméstico como o direto quase soberano sobre os filhos e a esposa
garantido por lei (no Brasil, até a mudança do Código Civil, em 2003, não
havia igualdade garantida para homens e mulheres relativas ao casamento
e constituição de família. Por exemplo, o Código Civil Brasileiro, antes da
reforma de 2003, ainda permitia a anulação do casamento pelo fato de a
noiva não ser virgem).
Se a desigualdade entre os gêneros era flagrante, em meados dos anos
de 1980, essas diferenças já não pareciam suficientemente mobilizadoras;
afinal, estava cada vez mais claro que a experiência de ser mulher não era a
mesma para todas.
Desde o final do século XIX, com o movimento sufragista, a questão
mobilizadora central dos feminismos era a busca por diretos iguais aos dos
homens. Assim, ser mulher era mais que uma questão de gênero, e sim o
ponto de convergência de luta, pois era a marca da desigualdade. Na meta-
de do século XX, este ainda era um mote forte e mobilizador. Mas, como já
comentei, o crescimento dos movimentos e dos estudos feministas provo-
cou também uma sofisticação nas demandas e nas reflexões, o que levou a
profundas discussões em torno de outras marcas de desigualdades sociais,
Desfazendo o gênero | 107
Em outras palavras:
Por gênero entende-se a condição social por meio da qual nos identifi-
camos como masculinos e femininos. É diferente de sexo, termo usado
para identificar as características anatômicas que diferenciam os homens
das mulheres e vice-versa. O gênero, portanto, não é algo que está dado,
mas é construído social e culturalmente e envolve um conjunto de pro-
cessos que vão marcando os corpos, a partir daquilo que se identifica ser
masculino e/ou feminino. Em outras palavras, o corpo é generificado, o
que implica dizer que as marcas de gênero se inscrevem nele.
UNIDADE 2
Gênero na escola
único lugar, não é enunciada por um soberano, mas, em vez disso, está em
toda parte. Expressa-se por meio de recomendações repetidas e observa-
das cotidianamente, que servem de referência a todos. Daí por que a norma
se faz penetrante, daí por que ela é capaz de se ‘naturalizar’” (LOURO, 2008,
p. 22). Atualmente, não por acaso, temos vivido um processo intenso e sis-
temático de acentuação das diferenças entre homens e mulheres. Nunca o
mundo de nossas meninas foi tão rosa e de nossos meninos, absolutamente
azul a tal ponto de termos situações como a citada por uma professora que
cursou uma das ofertas do GDE:
Mais uma vez: não existem fórmulas prontas para isso, pois estas ques-
tões surgem e se resolvem contextual e coletivamente. Ainda que como
professoras e professores possamos tomar iniciativas individuais, elas só se
efetivarão pedagogicamente quando incluídas em um projeto abrangente
no qual a escola, como um todo (incluindo pais, mães, funcionárias e fun-
cionários, assim como o pessoal técnico-burocrático), estiver envolvida. Isso
não implica em imobilismos, claro, mas em busca por parcerias que possam
tornar nossas intervenções mais amparadas e fundamentadas.
Uma das experiências possíveis para quem trabalha com educação in-
fantil é mudar o critério de organização das filas. A cada semana poderíamos
adotar um sistema: quem faz aniversário nos seis primeiros meses do ano fica
de um lado, e quem faz nos outros seis, de outro; quem prefere gato fica em
uma fila e os que preferem cachorro, em outra, por exemplo. Sim, corremos
o risco de ficarmos com filas desiguais, mas também criamos a possibilidade
de as crianças se socializarem mais com outras a partir de diferenças que as
singularizam, mas não as desvalorizam. Provocamos novos encontros dentro
da mesma turma, abrimos espaço para que as próprias crianças sugiram cri-
térios de organização, além de criar um espaço para se pensar na separação
entre meninos e meninas como um critério único e válido.
Como estamos ainda falando de memórias e experiências, cito o que
ocorreu com uma professora de História em uma turma de primeiro ano do
Ensino Médio, pois creio que o exemplo traz estratégias interessantes para
tratarmos das questões de gênero que, como logo ficará mais evidente, não
se desvinculam facilmente das de sexualidade. Narra a professora que um
grupo que se sentava mais à frente na sala de aula começou a rir baixo e
olhar para ela. Então, essa minha aluna, professora da turma, perguntou o
que estava acontecendo. Uma aluna teve a coragem de dizer:
• Estamos rindo porque a gente estava curiosa para saber se você namora.
E aí uma pessoa aqui, que eu não vou dizer quem é, disse que você joga
em outro time.
• Bem, vocês não estão falando de esportes, né? Acho que estão interessa-
das em minha vida pessoal e em meus interesses sexuais. E o que seria in-
teressante para vocês na minha vida? Talvez vocês se sentissem desconfor-
táveis se eu quisesse saber da de vocês, não é? Mas não tenho problemas
para falar disso, aliás, a gente deveria falar sobre o que é jogar no outro
Desfazendo o gênero | 115
time, né? Mas hoje, como não havia planejado e temos um conteúdo a
cumprir, não vamos discutir isso, mas na próxima aula vamos tirar um tem-
po para essa conversa, mas com a sala inteira. Eu quero que até lá vocês
me digam o que é jogar no outro time, e por que isso pode ser engraçado.
Ela saiu de lá tremendo que nem vara verde. Foi falar com a diretora
sobre o ocorrido e disse que seria muito importante que o debate fosse feito
de forma aberta, honesta e horizontalizada, e que ela se sentia preparada
para tal. Anunciou ainda que iria mostrar o material para a direção antes de
trabalhar com ele em sala e que se sentiria melhor com a turma se levasse
essa discussão não para o lado pessoal, mas para uma reflexão sobre normas
e convenções sociais que instituem que há, por exemplo, “um time” no qual
a maioria joga, e quem está “jogando” em outro é uma pessoa “suspeita”, o
que autoriza que seja inquerida por outras.
Ao invés de “abafar o caso”, de silenciar os sussurros, a professora deu a
devida importância à questão, buscando respaldo da coordenação para tal
e procurando enfrentar temas fundamentais para a formação de suas alunas
e alunos, que, ao invés de ficarem com conjecturas muitas vezes atravessa-
das por estereótipos sobre gêneros e sexualidade, tiveram a oportunidade
de fazer, por meio de dinâmicas (vejam na unidade 4, no item Dinâmicas –
brincando com os gêneros, levando a sério nossas questões) uma discussão
orientada e qualificada destas questões.
Este exemplo pouco tem a ver com gênero, mas está estreitamente re-
lacionado às nossas vivências escolares e nos provoca ainda mais interroga-
ções. Sobre o que falamos e sobre o que calamos? Quando fazemos estas
perguntas, acabamos por perceber que invisibilizamos o que não nos parece
importante. Talvez, por isso, algumas experiências de nosso cotidiano es-
colar sejam silenciadas ou apenas sussurradas. Entre elas estão aquelas em
que os gêneros nos desafiam. Creio que a maioria de nós tem um exemplo
neste sentido: o aluninho que queria brincar de bonecas; a menina que não
abria mão do boné como parte de sua indumentária diária; o adolescente
que começou a mudar sua maneira de andar e se adornar, até o dia em que
apareceu na escola com unhas pintadas e sobrancelhas feitas... Em todos os
casos temos bastantes dificuldades em saber como agir, e não poderia ser
diferente, pois em nossa própria formação não tivemos discussões qualifica-
das sobre relações de gênero e sexualidade, como se esses fossem temas
menores, secundários ou pouco relacionados à vida escolar. Vamos buscan-
do nos qualificar em cursos de formação continuada, em leituras autodidatas
ou participando de oficinas e palestras que versam sobre essa temática. Foi
ao ministrar cursos assim que a psicóloga e doutora em Educação Elizabete
Cruz se deparou com eloquentes “silêncios”.
Entre 2005 e 2006, Cruz foi professora do módulo “O cotidiano da Esco-
la” em um curso de especialização em gestão educacional para diretores de
escolas da rede estadual de São Paulo, realizado pela Universidade Estadual
de Campinas (UNICAMP). Foi nesta função que começou a se dar conta que
uma das questões que mais desafiava suas turmas era relativa aos gêneros
não binários, quer dizer, sobre alunos e alunas que vivem nas fronteiras do
masculino e do feminino, aqueles e aquelas que por motivos diversos não
estão conformes aos rígidos padrões que ditam como deve ser e agir um
homem e como deve se comportar e ser uma mulher, a partir de modelos
que pregam que há um homem e uma mulher absolutos. De alguma forma,
pensem bem, todas nós, todos nós violamos a rigidez binária. Vou adiar um
pouco mais esta discussão para poder entrar logo na problemática que nos
apresenta Elizabete Cruz.
Em seu livro Banheiros, travestis, relações de gênero e diferenças no co-
tidiano da escola (2011), Cruz procura discutir sua experiência
Tem um aluno, o João, que se veste como uma menina e disse que agora
é Joana. Desde então, surgiu uma questão. Qual banheiro ele deve usar?
O dos meninos ou das meninas? Deu a maior confusão! As meninas não
querem que ele use o banheiro delas, os meninos também não. Como
resolvemos? Ele usa o banheiro da diretora. Mas agora, a partir de sua
aula, estou pensando: Será que resolvemos a questão? Será que demos
o melhor encaminhamento? (CRUZ, 2011, p. 75-76, grifos do original).
muito silenciado), das crianças que nascem com genitália ambígua? (aquelas
que eram chamadas de hermafroditas, mas que hoje são nominadas de in-
tersexuadas). Como elas podem até mesmo ter uma certidão de nascimento
quando nascem com a genitália ambígua? Os médicos definem, mas nem
sempre “acertam”, o que causa muitos problemas para as famílias, pois nosso
corpo é bastante complexo e não ganha seu significado completo só por meio
dos hormônios, genes, órgãos, mas também, e sobretudo, socialmente.
transformação de nosso olhar. Uma série como “Malu Mulher”, que foi ao ar
pela Rede Globo no final dos anos 1970, foi capaz de pautar na cena pública
uma série de discussões que acreditávamos serem privadas e individuais
relativas às relações de gênero, tais como o direto das mulheres ao prazer
sexual, de terem seu trabalho doméstico reconhecido e valorizado, de po-
derem trabalhar fora sem sofrer represálias em casa, de serem reconhecidas
profissionalmente e, talvez o mais polêmico para a época, de poderem se
separar sem ter sua moral destruída socialmente.
Hoje em dia esta influência se intensificou graças ao aumento de acesso
e à proliferação de canais midiáticos, de maneira que não podemos des-
considerar esse influente campo de pedagogização de gênero e a maneira
como ele entra nas nossas salas de aula. Podemos tê-los como aliados, ao
invés de apenas demonizá-los, acionando a já gasta frase que prega ser
“tudo culpa da mídia”, como se esta não fosse produto de nossas próprias
relações. É sobre essa maquinaria sedutora e sua relação com nosso tema
neste capítulo que versa a próxima unidade.
UNIDADE 3
Gênero na mídia – e a escola com isso?
O que eu leio nesta imagem, que deve ter recebido umas 100 curtidas
no Facebook, é que o homem fala; o homem é ativo; homem que é homem
é dono de si e de uma mulher e usa violência legitimamente se for preciso
para garantir estas posses.
Mas, vejam, não é qualquer projeto de masculinidade que vemos aí (por
isso eu dizia mais acima que aqueles filmes não falam só de regimes políticos
ou de pertencimento racial, mas também de projetos de gênero). Trata-se
de uma masculinidade branca, burguesa, classe média, engravatada, com
poder de consumo... Uma masculinidade que está acostumada a oprimir
outras masculinidades e muitas feminilidades. Gênero, sexualidade, classe
e raça são marcadores sociais que estão sempre relacionados, ainda que
muitas vezes não os percebamos assim.
Essa imagem nos ajuda a entender que gênero é algo que se aprende a
partir de pedagogias domésticas, escolares e midiáticas. Vocês sabem que
aprendemos a sonhar, a desejar, a recusar, vendo filmes, novelas, propagan-
das. Claro que nossas alunas e nossos alunos também agem desta forma.
Aprendem, por exemplo, que rosa é cor de menina e azul de menino vendo
as persistentes propagandas de brinquedos. Sonham em serem mais bem
126 | Diferenças na Educação: outros aprendizados
Como Chimamanda Adichie, não creio que ler livros estrangeiros ou ver
novelas das oito ou ler estórias de princesas loiras seja um problema por si.
Como ela, penso que o problema se dá justamente quando ficamos limita-
das e limitados a um único tipo de mensagem, não importa o meio pelo qual
esta seja veiculada.
Mariana Barros, psicóloga e antropóloga, inicia sua tese de doutorado
contando sobre seu trabalho em uma Escola Municipal infantil em um bair-
ro da periferia da cidade de Ribeirão Preto (SP). Como estagiária cabia-lhe,
entre outras atribuições, reunir-se com a criançada no pátio para contar estó-
rias. Mariana ficava um tanto frustrada por não conseguir toda a atenção das
crianças, mas se sentia acolhida por elas, que logo começaram chamá-la de
“tia sereia”. Ela ficou intrigada com o apelido e argumentou, certa feita, que
não tinha cabelos ruivos como os de Ariel, a pequena sereia dos filmes de
Disney; além disso, ela tem pernas. Intrigada com o novo apelido, resolveu
perguntar ao seu supervisor de estágio o que aquilo poderia significar. “Ma-
riana, esta sereia está mais para Iemanjá do que para outra coisa” (BARROS,
2010, p. 22).
A curiosidade de Barros só aumentou. Foi então que ela procurou saber
mais do universo mitológico das religiões de matriz africana. Percebeu logo
que não havia livros infantis que contassem estes contos. Teve que usar a
imaginação, pois percebeu que ali havia todo um mundo rico e imaginativo
que parecia falar mais de perto às crianças do que suas estorinhas, que não
prendiam muito a atenção. Fez fantoches representando as figuras dos ori-
xás e passou a contar seus mitos.
[...]
Talvez, aquela tenha sido a primeira vez que o aluno de Mariana Barros
pode se orgulhar de ser negro e de ter referências positivas relacionadas à
negritude. A psicóloga não pretendia converter-se nem converter ninguém
com suas estórias de orixás, mas ampliar a imaginação da garotada. Não
foi propriamente fácil fazer isso, pois logo deparou-se com a escassez de
material didático e, por sorte, não se deparou com resistências religiosas
dentro da escola ou vinda dos pais. Mas se tivesse se deparado, como ela
poderia proceder?
Não há uma única resposta para esta pergunta, mas existem condutas
para as quais devemos estar atentas e atentos. Uma delas é levar nossos
projetos ao conhecimento da coordenação/direção, defendê-los e pedir
respaldo e apoio. Convidar pais e mães para vir eles mesmos, ler as estórias
ou ouvi-las. Mesmo que não venham, serão comunicados do que estamos
fazendo e do por que o fazemos, além de se sentirem mais integrados. Não
estou afirmando que isso resolve o problema, apenas sugerindo que são
passos que podem evitar desentendimentos.
A análise que nos oferece Iara Beleli, a partir de uma peça publicitária,
nos ajuda a perceber como, mesmo sem sermos consumidor@s das merca-
dorias postas à venda pelos anúncios, somos consumidores de suas mensa-
gens e nos orientamos, em maior ou menor grau, por elas.
Judith Butler, autora citada por Beleli, afirma que o gênero é discursivo,
quer dizer, vai sendo construído por distintas linguagens que, mais do que
descrevê-los, formam o que ele é. Vejamos. Quando o médico diz “é uma
menina”, mais do que descrever o que viu no ultrassom, ele está oferecendo
132 | Diferenças na Educação: outros aprendizados
UNIDADE 4
Atividades propostas – dicas, sugestões e mais questões
• Qual escola sonhamos? Qual a escola queremos para noss@s filh@s? Responder
a estas perguntas exige que façamos um exercício fantástico, que é o de se co-
locar no lugar do outro. Este movimento não é fácil, mas nos ajuda a conferir ao
outro sua dimensão humana. A escola que queremos está em construção, e por
vezes nos sentimos impotentes. Escola tem que repensar práticas – o que fazer?
Essa é uma pergunta que nos angustia quando imergimos nestas reflexões. Bem,
já estamos fazendo quando estamos aqui, lendo, nos qualificando, debatendo
e nos deixando provocar. Creio que uma leitura provocativa, uma formação es-
timulante faz de cada um(a) de nós “multiplicador@s”, pois nosso olhar muda
mesmo. Senti isso intensamente em minha experiência como professora do En-
sino Fundamental e Médio, como professora universitária, mas também como
mãe, amiga, esposa... Esse processo, mesmo lento, pode ser significativamente
transformador da nossa atuação nas diferentes esferas sociais. Sugiro a leitura
de um texto delicioso de Silvana Goellner, que vocês encontram nas referências.
• Como trabalhar estes temas em escolas que estão situadas em áreas onde os
problemas sociais são tão profundos que parece não haver espaço para essas
reflexões? Este é um desafio mesmo! Sempre trabalhei com a classe média e
entendo que, de certa forma, isso foi um privilégio, pois lidei com pessoas que
tinham muitas coisas materiais e emocionais resolvidas. Um caminho que tem
dado certo em comunidades onde há muita violência tem sido buscar parcerias,
seja com outras escolas, com o Estado ou com o chamado Terceiro Setor. Há, por
exemplo, fundações e ONGs que trabalham com arte, teatro, dança, capoeira e
música junto a populações imersas em conflitos múltiplos e carências variadas.
Desfazendo o gênero | 141
O importante é que o projeto não seja um movimento de cima para baixo, quer
dizer, que não considere as particularidades de cada localidade, que seja alheio
às questões locais mais prementes. Projetos são mais eficientes quando conse-
guimos partir de algo que seja de interesse da galera, da comunidade, intervindo
também no entorno da escola. Se ficamos só do muro para dentro, a possibilida-
de de o projeto se consolidar e gerar transformações diminui significativamente.
Uma professora de Brasília, que atua em uma das áreas mais violentas da cidade
(uma cidade-satélite), tem um projeto muito bacana de pintura de muros e revi-
talização de espaços ao redor da escola, e o faz com intensa participação de um
grupo de alunas e alunos. A atividade envolve mais do que arte, grafites e ur-
banismos (o que por si só já seria muita coisa), fala também de ética, de relação
com o espaço público, obriga a pensar sobre direitos, entre outras provocações
transformadoras. Tem dado certo. Provavelmente não foi fácil e nem deve ser
algo sem desafios de toda ordem, inclusive em termos burocráticos, logísticos e
financeiros. Mas eu aposto muito nesse caminho de sensibilização, de interven-
ção que cria laços de confiança entre nós e a comunidade que atendemos. Com
meninas que se prostituem já vi trabalhos lindos com recuperação de bonecas
para doá-las a creches e orfanatos. É incrível como as meninas, cuidando de
recuperar bonecas, pensam em si mesmas, refletem sobre seus corpos, suas
vidas, suas famílias. Recuperar a boneca acaba funcionando muitas vezes em um
processo de reencontro com suas próprias belezas, com seu valor como mulher,
como pessoa, como artesã. Claro que estas oficinas têm metodologias, têm es-
tratégias de ação. Estou apenas mencionando algumas experiências que vi dar
certo. Deixo aqui uma dica de livro que pode ser estimulante: Gangues, gênero
e juventudes: donas de rocha e sujeitos cabulosos. Disponível em: <http://portal.
mj.gov.br/sedh/biblioteca/livro_gangues_sem_a_marca.pdf>.
que nos domina) a culpa pelos males, como o preconceito, nos sentindo assim
impotentes. Pelo que experenciei nos cursos de formação continuada, não vi
letargia, ao contrário, vi pessoas pensando, se desafiando, confrontando suas
verdades, procurando caminhos para a transformação. A questão é que estes
caminhos não são fáceis, pois as resistências estão aí aparecendo em diferentes
discursos. Muitos deles têm a ver com a completa ignorância, no sentido de
ignorar, de não ter conhecimento relativo a questões de gênero e sexualidade.
No primeiro caso, naturalizamos tanto o gênero que já o vemos como algo que
vem pronto, é imutável e determinante até mesmo da nossa capacidade de sen-
tir (homens não choram) ou de aprender (mulheres não têm raciocínio lógico).
Aprendemos também que gênero determina sexualidade e que esta, quando
não corresponde ao modelo heterossexual, é perigosa. Tratamos sexualidade
sempre no marco do risco (cuidado com a aids! Cuidado para não engravidar!)
ou do perigo (você vai ficar falada! Você vai acabar pegando uma doença!). Não
falamos de prazer, de escolhas, não ensinamos noss@s filh@s ou alun@s a pensa-
rem sobre sexo para poderem fazer escolhas conscientes, por exemplo, na hora
da primeira transa.
Etapas:
1. A dinâmica deve ser antecedida de um debate breve, suscitado por al-
gum episódio envolvendo a turma na qual surjam questões de gênero
e sexualidade. A partir dele, podemos lançar algumas perguntas, por
exemplo, a divisão na hora do recreio, de se formar grupos de traba-
lho ou ainda na aula de Educação Física, e lançar uma questão do tipo:
Por que algumas atividades têm de ser feitas separadamente? Será que
sempre foi assim? Será que é assim entre outras populações, em outras
culturas? Meninos e meninas são totalmente diferentes ou meninas e
meninos são muito parecidos? Como aprendemos a ser meninos e me-
ninas? Esta deve ser a última questão, para suscitar a discussão sobre os
brinquedos e as brincadeiras.
Neste momento, é importante deixar a turma se expressar, e anotar
na lousa algumas palavras-chave para incrementar a discussão. É preciso
146 | Diferenças na Educação: outros aprendizados
pactuar com a turma que não pode haver ofensas, palavras de baixo calão,
piadas preconceituosas nem comentários desrespeitosos durante toda a
roda de conversa e ao longo da dinâmica.
2. Peça para que, na próxima aula, levem os brinquedos que marcaram sua
vida.
3. Peça para que os(as) alunos(as) formem um círculo no chão. Para quebrar
o gelo, a dinâmica pode ser iniciada pelo(a) professor(a) que a estiver con-
duzindo. Ele(a), por exemplo, gira uma garrafa no centro do círculo, e a
dinâmica se iniciará pela pessoa para a qual o gargalo da garrafa apontar.
4. É importante anotar o que cada alun@ elencou como sendo significativo
no brinquedo que levou para a sala, pois é a partir dessas expressões
que iremos aprofundar as relações de gênero e os brinquedos.
5. Peça que meninos troquem seus brinquedos com meninas e vice e versa.
6. Observe como essas trocas ocorrem e como cada um brinca ou não
com o brinquedo recebido (de 2 a 3 minutos de brincadeira a sós com o
brinquedo).
7. Em seguida, peça para que formem duplas ou trios mistos para que
brinquem junt@s com os brinquedos que receberam durante a troca (5
minutos para brincar).
8. Observe e anote as reações da brincadeira a sós e em grupo, para depois
problematizá-los na roda de discussão que deve ser formada em seguida.
9. Formada a roda, lance novamente as perguntas sobre o significado dos
brinquedos para si e como eles foram vistos pelo(a) colega de outro gê-
nero. Como cada um se sentiu brincando a sós com o brinquedo trocado.
Como foi brincar em grupo? Questione a pedagogia de gênero, mostre
como esses aprendizados são culturais, históricos, e não essências de-
finitivas. Mostre a importância de aprender com o outro, de fruir prazer
com a brincadeira e de como os brinquedos nos ensinam muitas coisas;
sendo assim, é importante brincar com diferentes jogos e brinquedos
para aprender a ser plural.
Dica de leitura: <http://www.faeb.com.br/livro/Comunicacoes/brinca-
deiras%20genero%20e%20sexualidade.pdf>.
Etapas:
1. Pequena apresentação teórica do papel em se discutir gênero, raça e
sexualidade na Educação Infantil.
2. Pequena apresentação de cada livro infantil a ser apresentado. Os li-
vros devem ser mostrados e as ilustrações (perspectiva imagética) de
cada um, discutidas. Mostre o quanto a literatura infantil contemporânea
pode contribuir na discussão dos temas nas instituições escolares.
3. Desenvolvimento: A turma deve ser dividida, por sorteio, em nove grupos.
O grupo deve eleger um@ “contador@ da história”. @ contador@ deve
fazer uma leitura em voz alta do livro e @s outr@s integrantes devem tomar
notas e levantar questões sobre o enredo.
4. Cada um desses grupos deve produzir um “cartaz” com as principais
ideias e questões sobre o livro.
148 | Diferenças na Educação: outros aprendizados
Dinâmica “Etiquete-me”
Objetivos: perceber como lidamos, no dia a dia, com uma série de pres-
crições de gênero que vão sendo literalmente “incorporadas”, de maneira
que, muito mais do que fruto da biologia ou meras expressões da natureza,
os gêneros são inscrições culturais que “colam” em nossos corpos.
Etapas:
1. Divididos os grupos, peça que @s alun@s escrevam frases que expres-
sem recomendações, normas, orientações e/ou imposições sobre como
meninas devem usar cada parte do corpo. O mesmo deve ser feito para
Desfazendo o gênero | 149
BOX 1
REFERÊNCIAS
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FIGURAS
QUADRO
UNIDADE 1
O regime de (in)visibilidade da sexualidade na educação
escolar
Figura 1 A maneira como os(as) alunos(as) estão dispostos(as) nesta imagem de uma
escola apresenta vários aspectos das relações de gênero. O que é possível refletir a
respeito das relações de gênero e sexualidade a partir desta imagem?
É preciso salientar que a escola, por ser uma instituição social, não se
situa em um vácuo, muito pelo contrário, ela exerce influência na, e é influen-
ciada pela, sociedade em que está. As modalidades de violência e hierar-
quias sociais, isto é, de diferenças, encontradas na escola podem ser pen-
sadas como reflexo da forma como a sociedade se concebe e se organiza.
Além disso, cabe analisar como a escola contribui para reproduzir violências
e hierarquias próprias da sociedade.
Escola e sexualidades: uma visão crítica à normalização | 157
BOX 1
BOX 2
Heterossexualidade compulsória
Os primeiros estudos acadêmicos sobre homossexualidade baseavam-
-se na observação e análise de subculturas homossexuais, examinando
cenários marcados por determinado tipo de sociabilidade e perpassados
socialmente pelo estigma. Ainda que importantes, estas pesquisas não co-
locavam em questão o pressuposto socialmente aceito de que a heteros-
sexualidade é natural, pois não problematizavam a concepção socialmente
constituída da homossexualidade como desvio.
Os estudos avançaram e passaram a compreender a heterossexualidade
como compulsória, ou seja, como uma imposição socialmente instituída,
algo que foi abordado em alguns textos seminais, como no clássico artigo
“A troca de mulheres” (1975) da antropóloga Gayle Rubin e explicitado no
texto da feminista Adrienne Rich (1983) “Powers of desire: the politics of
sexuality”.
Heteronormatividade
Anos depois, teóricos ligados à vertente denominada Teoria Queer passa-
ram a conceber que as sociedades contemporâneas são heteronormativas.
Michael Warner criou o conceito de heteronormatividade em 1991 para se
referir à forma como apreendemos as relações sociais, inserindo-as sempre
no binário interdependente da hetero-homossexualidade. Nesse padrão
hierárquico, atribui-se à heterossexualidade a qualidade de saudável, nor-
mal e adequada e, ao mesmo tempo, associa-se a homossexualidade à pa-
tologia ou ao desvio, subalternizando-a. Segundo Larissa Pelúcio e Richard
Miskolci (2009), a heteronormatividade configura até mesmo a gramática
das relações entre pessoas do mesmo sexo, compondo uma série de ideais
que têm como modelo o casal heterossexual.
não faz mais do que descrever como as pessoas vivem ou devem vi-
ver, como definem um horizonte de expectativas para a vida humana,
um conjunto de ideais para os quais as pessoas aspiram e contra os
quais elas medem o valor delas próprias e da vida de outras pessoas
(HALPERIN, 2012, p. 450, tradução nossa).
BOX 3
BOX 3
BOX 4
UNIDADE 2
Casa-grande & senzala: o modelo heterorreprodutivo
nacional e suas dimensões históricas
Figura 3 Gráfico ilustrativo da pirâmide sexual brasileira. Adaptado com base na dis-
cussão da antropóloga norte-americana Gayle Rubin.
Figura 4 Aline Prado, “Globeleza” entre 2006 e 2013, representa a figura da mulata
sensual, bastante abordada pela mídia brasileira.
BOX 5
UNIDADE 3
Aspectos da heteronormatividade contemporânea
Nas novelas, nos telejornais, nas revistas e nas redes sociais, cotidiana-
mente nos deparamos com discursos e opiniões divergentes relacionados à
sexualidade. O roteiro das telenovelas, vez ou outra, contempla o romance
entre homens e entre mulheres; questiona se é legítimo ou não o uso de tec-
nologias reprodutivas para que casais gays possam ser pais ou mães; além
de levar o público ao frisson diante do beijo entre dois homens, constatação
que selaria a suposta “liberdade” de costumes e de normas nunca antes
vista no Brasil. As forças sociais estariam avançando de modo a fazer da
diferença motivo genuíno de transformação das relações familiares, conju-
gais e sexuais ou apenas estariam aprendendo a tolerar o “diferente” e a
“aceitá-lo” como tal?
A esse respeito, José Alves e Sônia Corrêa (2009) afirmam que cada vez
mais as sociedades têm se individualizado e expandido a autonomia pes-
soal, sobretudo das mulheres. Além disso, os autores mencionam modifica-
ções no modo de organização da família e da conjugalidade em virtude da
separação entre reprodução e exercício da sexualidade. Durante boa parte
do século XX, considerava-se que as práticas sexuais deveriam estar vincu-
ladas ao matrimônio, pelo menos para as mulheres, ao passo que, hoje em
dia, é amplamente aceito que o início da vida sexual ocorra na adolescência,
com maior possibilidade de os jovens experimentarem relações sexuais com
mais parceiros durante a vida. A invenção da pílula anticoncepcional e o uso
disseminado de preservativos foram elementos que contribuíram para uma
nova forma de se exercer a sexualidade, não tendo em vista necessariamen-
te a formação de uma família.
Esses fatores redundam em transformações importantes na fecundidade
e na contestação de padrões “tradicionais” das relações de gênero e das re-
lações familiares, além da reconfiguração da heteronormatividade. A despeito
das mudanças, “mecanismos legais e culturais de subordinação das mulheres
[...] continuam vigentes em muitos países” (ALVES & CORRÊA, 2009, p. 125).
Mesmo nas sociedades marcadas por mudanças contundentes no plano das
sexualidades e das relações de gênero, o privilégio disponível aos homens
segue orientando a sociabilidade cotidiana, entre outros domínios.
Escola e sexualidades: uma visão crítica à normalização | 185
Com base no que foi discutido nas unidades 1 e 2 deste capítulo, são apre-
sentadas a seguir temáticas atuais no cenário brasileiro que desvelam trans-
formações e resistências com relação à heteronormatividade e suas injunções.
Discutiremos o projeto que visava legitimar práticas psicológicas destinadas a
curar e a tratar a homossexualidade; aspectos do movimento social intitulado
“marcha das vadias”, além de temas intrincados a estes, como sexualidade,
ciência e religião; a medicalização do aborto e o movimento LGBT (Lésbicas,
Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros). Os temas apresen-
tados podem ser utilizados de forma ampla e livre pelo(a) professor(a) em
atividades didáticas e oficinas com alunos(as) na faixa etária da adolescência.
BOX 6
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Figura 5 Imagem das conhecidas Paradas LGTB que objetivam dar visibilidade às
demandas políticas de lésbicas, gays, travestis, transexuais, transgêneros e bissexuais.
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Figura 6 Manifestantes exibem cartazes com dizeres que salientam a lógica machista
na qual se culpa a vítima sexual pela violência sofrida na situação de estupro.
BOX 8
BOX 9
UNIDADE 4
Por uma pedagogia questionadora e democrática
BOX 10
REFERÊNCIAS
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Escola e sexualidades: uma visão crítica à normalização | 205
FIGURAS
Figura 1 A maneira como os(as) alunos(as) estão dispostos(as) nesta imagem de uma escola
apresenta vários aspectos das relações de gênero. O que é possível refletir a respeito das rela-
ções de gênero e sexualidade a partir desta imagem? Fonte: <http://www.folhadoestado.com.
br/wp-content/uploads/2014/03/sala-de-aula.jpg>. Acesso em: 11 ago. 2014.
Figura 2 Muriel/Hugo é uma personagem d@ Laerte, cartunista reconhecid@ que passou a se
identificar publicamente enquanto transgênero. Os quadrinhos desta personagem lidam de
forma descontraída e questionadora com a ordem sexual que subalterniza transgêneros, transe-
xuais e travestis. Fonte: < >. Acesso em: 11 ago. 2014.
Figura 3 Gráfico ilustrativo da pirâmide sexual brasileira. Adaptado com base na discussão da
antropóloga norte-americana Gayle Rubin. Fonte: autoria própria.
Figura 4 Aline Prado, “Globeleza” entre 2006 e 2013, representa a figura da mulata sensual,
bastante abordada pela mídia brasileira. Fonte: <http://peacefulworld.mondoblog.org/
files/2014/03/0000000belaza5.jpg>. Acesso em: 11 ago. 2014.
Figura 5 Imagem das conhecidas Paradas LGTB que objetivam dar visibilidade às
demandas políticas de lésbicas, gays, travestis, transexuais, transgêneros e bissexuais. Fonte:
<http://vemrimuito.com.br/wp-content/uploads/2014/04/10172641_128351194026046_9312703
64_n.jpg>. Acesso em: 11 ago. 2014.
Figura 6 Manifestantes exibem cartazes com dizeres que salientam a lógica machista na qual se
culpa a vítima sexual pela violência sofrida na situação de estupro. Fonte: <http://www.revista-
forum.com.br/wp-content/uploads/2013/11/marcha-das-vadias.jpg>. Acesso em: 11 ago. 2014.
5
Pela desracialização da experiência:
discurso nacional e educação para as
relações étnico-raciais
Paulo Alberto dos Santos Vieira
Priscila Martins Medeiros
BOX 1
BOX 2
UNIDADE 1
Primeiras aproximações ao tema
Certa vez, o compositor brasileiro Tom Jobim disse uma frase que per-
manece absolutamente viva: “o Brasil não é um país para principiantes”. Do
ponto de vista das relações étnico-raciais, de fato, temos no país um dilema
mais profundo e complexo do que possamos imaginar à primeira vista. O
racismo no Brasil, e os seus mecanismos sempre renovados que o fizeram
se perpetuar ao longo dos séculos, coloca um grande desafio ao Brasil. E
se concordamos que a escola seja um espaço privilegiado para discutirmos
criticamente a realidade brasileira, o desafio posto para nós educadores(as)
não é dos menores.
Pedimos licença para destacar aqui uma pequena experiência que acon-
teceu em uma sala de aula de uma universidade pública do Centro-Oeste
brasileiro, e que pode nos auxiliar a refletir sobre o assunto. Ao final de uma
aula cujo tema era as relações étnico-raciais no Brasil, uma estudante relatou
que só agora, na fase adulta, conseguia colocar em palavras o que se passou
com ela no período em que cursava o ensino fundamental. Ainda que já en-
tendesse que na infância era vítima de preconceitos constantes, nunca tinha
refletido com mais atenção sobre tudo aquilo, até porque era um assunto que
preferia deixar em algum canto do passado. Filha de uma relação inter-racial,
ela era, entre as irmãs, a mais parecida fisicamente com seu pai, negro.
Frequentemente, sua família a incentivava a usar os cabelos presos, a ali-
sá-los, ou ainda a mantê-los curtos, tudo para torná-la “mais parecida” com
suas irmãs. A insistência e a vigilância sobre seu corpo no ambiente familiar
acontecia também na escola, e aqui este relato se aproxima ainda mais dos
nossos objetivos neste texto: em uma daquelas cruéis “brincadeiras” que
marcam a infância, os meninos de sua sala de aula fizeram uma votação para
eleger “a mais bonita” e “a mais feia” da turma. Quem foi escolhida como a
menina “mais bonita”? Ela. E a “mais feia”? Ela também. Como pode alguém
ser alvo de dois estigmas completamente opostos? Naquele momento, ela
passava a carregar, além das pressões sobre seu cabelo, esses dois rótulos
impostos pelos colegas da turma.
Na época, não entendeu, evitou entender e não expôs esse episódio
para sua família. Em seu relato, ela (já mulher) diz que não tem dúvidas de
212 | Diferenças na Educação: outros aprendizados
que o racismo tenha sido a base dos dois “prêmios” recebidos na infância.
Esse é um relato que explicita muito bem os mecanismos do chamado “ra-
cismo à brasileira”. Os insultos racistas se misturam a elogios e afagos que
podem dar a sensação de que o homenageado esteja situado no mesmo
lugar valorizado dos enunciadores. O discurso do mito da democracia racial
age “lembrando” o(a) negro(a) que ele(a) é uma pessoa negra, caso ela se
esqueça disso em algum momento. O exemplo nos remete ao que disse
um importante autor da temática étnico-racial, Homi Bhabha (2010), que a
pessoa ou o grupo alvo do racismo é ao mesmo tempo objeto de desejo e
de escárnio (BHABHA, 2010, p. 106). Em outras palavras, o racismo age de
uma maneira vacilante, pois atua dizendo insistentemente “qual é seu lugar
na sociedade” (e o lugar é sempre humilhante), enquanto costuma também
se mostrar a partir de elogios insistentes e artificiais, como o tão conhecido
“é negro, mas é muito inteligente”.
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44 No dia 22 de abril de 2014, a comissão especial da Câmara dos Deputados, que analisa
o Plano Nacional de Educação, aprovou o texto principal do documento. Cedendo ao
lobby da bancada evangélica, a Câmara aceitou retirar a diretriz que propunha a supe-
ração das desigualdades educacionais, “com ênfase na promoção da igualdade racial,
regional e de gênero e de orientação sexual”. Dessa maneira, fica mantida a redação do
Senado, que determina a “promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas
de discriminação”.
45 Sobre as etapas de demarcação, consulte o link: <http://pib.socioambiental.org/pt/c/
terras-indigenas/demarcacoes/como-e-feita-a-demarcacao-hoje. Acesso em: 14 abr. 2014.
46 Os dados são de janeiro de 2014 e se encontram disponíveis na página eletrônica da
FUNAI – Fundação Nacional do Índio.
216 | Diferenças na Educação: outros aprendizados
Nos confrontos por terra no país, são os indígenas, e não outros grupos
sociais, que morrem com grande frequência (foram 108 assassinatos só nos
dois últimos anos, de acordo com relatório do Conselho Indigenista Mis-
sionário47), mas não são raras as vezes em que eles são apontados como os
causadores da violência no campo. Essa modalidade de discurso é comum e
engloba outros grupos historicamente subalternizados. Mulheres, por exem-
plo, são violentadas sexualmente, mas são muitas vezes tratadas como cau-
sadoras dos estupros devido às suas roupas ou aos comportamentos; jovens
negros são as maiores vítimas de homicídios (o risco de um jovem negro ser
assassinado é 3,7 vezes maior em relação a um jovem branco (WAISELFISZ,
2012), mas são muitas vezes tratados como suspeitos em potencial. Todas es-
sas falas são pautadas em estereótipos, o que, de acordo com Bhabha (2010,
p. 106), sempre são acionados em excesso e não precisam de comprovação
lógica para que se fixem nos discursos e no imaginário social.
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A palavra eugenia deriva do latim: é a junção dos termos “eu”, que significa
“bom”, e “genesis”, que quer dizer “geração”. É uma pretensa ciência pautada
nas ideias do inglês Francis Galton, conhecido pela descoberta das impres-
sões digitais. Galton argumentava que o Estado deveria formular políticas
de seleção de jovens “aptos” para procriarem “os mais capazes”. Propunha
a escolha de uma “boa e pura raça” e a esterilização de doentes, “crimino-
sos”, judeus e ciganos. Suas ideias incentivaram experiências de “purificação
racial” durante o Terceiro Reich, pela Alemanha nazista. Já o darwinismo so-
cial foi uma analogia teórica com as ciências biológicas, que considerava os
grupos humanos como organismos vivos em conflito, o que se resolveria com
a sobrevivência do grupo mais apto. Essa noção foi uma adaptação da obra A
origem das espécies, escrita por Charles Darwin em 1859.
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O termo diáspora é uma derivação das palavras gregas “dia”, que significa
“através, por meio de”, e speirõ, que quer dizer “dispersão ou dissemi-
nação” (CASHMORE, 2000, p. 169). O conceito já foi amplamente difun-
dido para se referir à experiência judaica, relembrando o exílio no Egito
e sua dispersão por vários países. Nas últimas décadas, diáspora passa
também a se referir a comunidades “transnacionais”, ou seja, aquelas que,
por vários motivos (entre eles, a escravidão), atravessam as fronteiras dos
Estados-Nacionais. A diáspora africana é a consciência de que os descen-
dentes africanos, dispersos por todos os continentes por meio do tráfico
negreiro, fazem parte de um passado em comum, pautado na luta por
liberdade. Além disso, uma perspectiva diaspórica significa o desejo de se
recontar essa história de uma maneira autônoma, crítica e que elucide os
processos de racialização.
Caracterização conceitual
Antes de nos aprofundarmos no debate a respeito da educação para as
relações étnico-raciais e dos processos de racialização presentes nas rela-
ções sociais brasileiras, algumas definições se fazem necessárias.
Neste capítulo, o termo raça é compreendido enquanto um conceito
livre de conotação biológica e que é reapropriado política e culturalmente
pelo Movimento Negro enquanto uma categoria de interpretação da reali-
dade social. De acordo com o sociólogo jamaicano-inglês Stuart Hall,
BOX 9
africanos como “homens de cor”. Cor – que já foi um termo comum no Brasil,
sendo muitas vezes utilizado “maliciosamente” como forma de humilhação
e de menosprezo – não é mais usual na literatura sobre as relações raciais,
exceto nos estudos demográficos. O Censo brasileiro pede às pessoas que
se classifiquem dentro de uma das cinco categorias de cor estabelecidas:
branca; preta; parda; indígena; e amarela. Por semelhanças em termos de
indicadores sociais (educacionais, inserção no mercado de trabalho, entre
outros) e também por se remeter à origem africana da população, pesquisa-
dores uniram as categorias de cor preta e parda em uma única, denominada
negro. Os africanos traficados para o Brasil não se compreendiam como ne-
gros, mas através de suas etnias de origem. Negro é um termo criado pelo
colonizador na intenção de estabelecer uma homogeneização entre os gru-
pos, o que fez parte das técnicas de dominação colonial. Essa terminologia,
no entanto, foi apropriada pelo movimento de resistência ao racismo com
um sentido político, de afirmação identitária.
E a palavra moreno? Ela é muito utilizada no dia a dia e, mais uma vez,
precisaremos olhar com atenção para a história do Brasil para entender como
e por que esse termo ganhou destaque. É difícil dizer quando exatamente
essa palavra começou a ser utilizada no Brasil, mas é sabido hoje que more-
no é um termo que já causou muitas discussões teóricas! De um lado, vários
autores que defendiam que o moreno seria uma “degeneração racial”, uma
mistura entre brancos e outros grupos raciais não brancos (especialmente
negros). São autores que se entusiasmavam com a eugenia e o darwinismo
social. De outro, autores que defendiam o conceito de moreno, pois ele seria
a grande marca brasileira, a marca da “tolerância racial” e da diversidade.
Essa conotação mais positiva sobre a palavra moreno ficou muito conhecida
especialmente a partir da década de 1930, quando se queria definir “a cara
do brasileiro”.
No entanto, podemos ver essa história sob um ponto de vista mais crí-
tico, característica fundamental para nós educadores. Usar o termo moreno
é uma maneira de “escaparmos” dos polos “negro” e “branco”, um meio-
-termo que muitas vezes é usado para “não ofender”. Quantas vezes não
ouvimos isto: “Mas você não é negro, você é moreno”? Incontáveis vezes!
Se esse tipo de “cuidado” ainda existe, é porque ainda precisamos esva-
ziar a palavra negro das conotações pejorativas. “Negro” não é um proble-
ma, pois o problema está no racismo. A pessoa negra não precisa mudar,
não precisa ficar “menos negra”. O necessário é mudarmos o racismo.
226 | Diferenças na Educação: outros aprendizados
UNIDADE 2
Raça e a questão nacional no Brasil
são ainda hoje aclamadas por institutos de criminologia (BRASIL, 2001, p. 3).
Suas teorias também possuem forte fundamentação religiosa, segundo a
qual a justificativa para a escravidão estaria no mito de que os negros são
descendentes de Cã, a tribo amaldiçoada de Canaã. Vestidos dessa justifi-
cativa teológica, muitos escravocratas e fazendeiros sustentavam a ideia de
uma “missão civilizadora”, que possibilitaria a remissão dos filhos de Cã, a
conversão para o cristianismo e o aprendizado do valor do trabalho (MU-
NANGA, 2004, p. 17-18).
As publicações de Nina Rodrigues justificaram por muito tempo toda
forma de discriminação e de preconceito contra a população negra, uma
vez que tudo isso era apresentado como ciência. Era, portanto, a tradição
racista se apropriando das ferramentas modernas da ciência para dar res-
paldo aos discursos e práticas discriminatórios. E foi dessa maneira, sem a
menor neutralidade, que se afirmava que, “cientificamente”, determinado
grupo étnico-racial seria superior física, intelectual, moral e esteticamente
com relação a outros.
Perguntamos, portanto:
• O que fez com que os intelectuais brasileiros fossem imediatamente
convencidos de que haveria fundamento na ideia de inferioridade e su-
perioridade racial?
• Não havia outro caminho lógico possível?
• Se a população negra e indígena já era há muito tempo (e é) tão central
para o desenvolvimento do Brasil em todos os aspectos que possamos
230 | Diferenças na Educação: outros aprendizados
Na passagem do século XIX para o XX, outros grupos sociais, além das
populações negra e indígena, foram alvo de ódio racial e de uma legislação
segregacionista. É isso que observamos em um trecho do decreto acima,
que diz ser proibida a entrada de “indígenas da Ásia”. O racismo contra os
japoneses no Brasil, acirrado no período da Segunda Guerra Mundial, devi-
do à participação do Japão na guerra ao lado da Itália e da Alemanha, teve
o amparo do governo brasileiro, que dispôs de medidas radicais para conter
o que se convencionou chamar de “Perigo Amarelo”.
Mais de duzentas escolas de japonês no Brasil foram fechadas, e falar a
língua japonesa em público passou a ser proibido, o que foi uma medida ra-
dical tendo em vista que a maioria dos nipônicos no país só falava o japonês.
Jornais exclusivamente em língua japonesa também ficaram proibidos: todo
material impresso precisava ser bilíngue (em português e em japonês) para um
maior controle estatal sobre suas informações. Outras medidas também foram
adotadas contra a população nipônica no Brasil: estavam proibidos de dirigir
automóveis; algumas famílias tiveram seus bens confiscados; viagens só eram
permitidas com ordem governamental; aparelhos de rádio eram apreendidos
para que não ouvissem transmissões em ondas curtas do Japão. Em 1942, a
colônia japonesa, que cultivava pimentas no município de Tomé-Açu, no Pará,
foi transformada em campo de internamento, aos moldes do que existiu nos
EUA, país que confinou mais de 120 mil japoneses e seus descendentes, sem
respaldo jurídico, até o final da Segunda Guerra Mundial. Medida parecida
era apoiada pelo embaixador brasileiro Carlos Martins Pereira e Sousa, que na
época do ocorrido estava em Washington, EUA (TAKEUCHI, 2008).
Não nos esqueçamos de que o racismo contra judeus também teve
adeptos no Brasil durante o século XX. O livro antissemita Protocolos dos
sábios de Sião, uma publicação russa do século XIX, foi publicado duas vezes
no Brasil pelo escritor e membro da Associação Integralista Brasileira Gusta-
vo Barroso. O livro trata de uma suposta conspiração judaica, com o objetivo
de dominar política e economicamente todo o mundo.
54 De acordo com Tatiane Consentino Rodrigues (2011), “um dos atrativos do lamarckismo
deve-se ao fato de que, por focar na hereditariedade, esta perspectiva era considerada
intrinsecamente antirracista, o que a colocava em harmonia com o ideal de unidade na
diversidade postulado na concepção de democracia racial” (RODRIGUES, 2011, p. 84).
238 | Diferenças na Educação: outros aprendizados
Figura 6 Criança premiada como o Bebê Eugênico; ilustração do trabalho "A influência
da educação sanitária na redução da mortalidade infantil", apresentado no congresso
por Maria Antonieta de Castro (fotografia de Adenir F. Carvalho; acervo Arquivo de
Antropologia Física, Museu Nacional/URFJ).
União, aos Estados e aos Municípios nos termos das leis respectivas [...] b)
estimular a educação eugênica [...] g) cuidar da higiene mental e incentivar a
luta contra os venenos sociais”.
Entre os constituintes havia muitos médicos, entre eles Antônio Carlos
Pacheco e Silva, que argumentava pela “melhoria racial” dizendo que “há
um esforço continuado para se obterem melhores cavalos, suínos, caprinos,
enquanto se recebem as correntes imigratórias sem uma seleção individual
dos imigrantes, desprezando os mais elementares preceitos indispensáveis
à defesa da raça” (VILLA, 2011, p. 55). Um dos membros constituintes, Xavier
Oliveira, defendeu a inclusão do assunto ao texto constitucional dizendo:
56 No caso das mulheres afro-brasileiras, estudos recentes confirmam que elas formam
o grupo social mais subalternizado – em comparação com homens brancos, mulheres
brancas e homens afro-brasileiros –, sofrendo um acúmulo de discriminações raciais e
de gênero (PAIXÃO et al., 2010).
57 A Constituição Federal de 1937, conhecida como a Constituição Polaca, pelas semelhan-
ças com a Constituição da Polônia, igualmente de perfil fascista, significou um retrocesso
em termos de direitos sociais e políticos se comparada com a Constituição Federal de
1934, a qual teve dois lados: de um deles, a população teve baixíssima ou nula participa-
ção em sua construção, além de ser a constituição da “educação eugênica”; de outro, o
texto constitucional reconheceu as associações profissionais, os sindicatos, criou a Justiça
do Trabalho e a Justiça Eleitoral, além de estender o direito ao voto às mulheres e a
todos(as) os(as) maiores de 18 anos de idade. Com a Constituição Federal de 1937, a au-
tonomia sindical e partidária foi liquidada, os movimentos sociais foram censurados pelo
Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) e foi criada a figura dos interventores,
nomeados por Vargas, para governarem os estados (DO BEM, 2006, p. 1146).
Pela desracialização da experiência: discurso nacional e educação para as relações étnico-raciais | 241
divertido, então não quero perder a chance de rir, fazendo críticas chatas”.
Ou então, mesmo se incomodando com as piadas contadas em um grupo
de amigos, há a tendência de se manter na roda e rir junto, pois, do contrá-
rio, “seria o chato do grupo”.
Freud já discutiu esse assunto. De acordo com ele, tendemos a não cri-
ticar o que nos diverte, o que seria um desperdício e uma anulação da fonte
de um prazer. Por isso, há uma transferência de valor: atribuímos benefício à
mensagem inscrita na piada quando a forma como foi exposta nos agrada.
Freud chamou essa inversão de “princípio da confusão das fontes de prazer”
(FREUD, 1996).
Uma característica fundamental de qualquer piada é que ela é enuncia-
da como se fosse em “terceira pessoa”, fazendo com que o enunciador se
retire de qualquer responsabilidade do que diz. Afinal, “alguém disse isso
antes de mim, eu estou só reproduzindo”.
Estamos discutindo, portanto, que o racismo pode se apresentar de for-
ma violenta, direta, mas também de maneira “abrandada”, escondida por
detrás de figuras de linguagem. Enquanto educadores(as), esse debate é de
especial importância, uma vez que essa apresentação do racismo é a mais
presente no Brasil, em que algumas pessoas ainda acreditam no “mito da
democracia racial”. Trata-se, portanto, de um racismo travestido de brinca-
deiras, piadas e trocadilhos.
Ronaldo Sales Jr. (2006, p. 241) nos auxilia muito quando exemplifica as
várias figuras de linguagem racistas, que não se resumem em xingamentos,
mas também se estendem a “afagos” e a comparações aparentemente elo-
giosas. De acordo com o autor, alguns exemplos de uso figurado de conte-
údos raciais são:
• Metáforas: “macaco”; “piche”; “cabelo bombril”; “dia de branco”; ou,
utilizando-se de um exemplo atual, o arremesso de banana contra joga-
dores negros em estágios de futebol.
• Metonímias: “aquele escuro”; “aquele preto”, “aquele negro”, que são
palavras que substituem os nomes originais das pessoas, sem descre-
vem os sujeitos com precisão.
• Eufemismos: “boa aparência”; “moreno”; “pessoa de cor”; que é a subs-
tituição de uma palavra por outra mais “cortês”.
• Ironias: “Só podia ser...”; “Pra variar...”; “Mas como é bonitinho...”.
• Perguntas retóricas: “Desde quando negro é gente?”.
246 | Diferenças na Educação: outros aprendizados
Sim, nós (os pretos) somos atrasados, simplórios, livres nas nossas mani-
festações. [...] Aliás, nossos homens de letras nos ajudam a vos convencer.
Vossa civilização branca negligencia as riquezas finas, a sensibilidade [...].
Eu me assumia como o poeta do mundo. O branco tinha descoberto
uma poesia que nada tinha de poética [...]. O branco, por um instante
Pela desracialização da experiência: discurso nacional e educação para as relações étnico-raciais | 247
Figura 9 Gravura do livro infantil Xixi na cama, escrito em 1979 por Drummond
Amorim, com ilustrações de Helder Augusto Waldolato.
BOX 10
59 As pirâmides do Egito datam de 2600 anos a.C., aproximadamente. Quéops, a maior pirâ-
mide do Egito antigo, provavelmente foi construída em torno do ano 2550 a.C. Estima-se
que Pitágoras, o famoso filósofo e matemático grego, nasceu entre 571 a.C. e 572 a.C.
250 | Diferenças na Educação: outros aprendizados
a ciência ainda carrega fortes traços do domínio colonizador, o que nos pri-
va de conhecer e de valorizar nossas próprias diversidades. Não é possível
compreender a complexidade da ciência sem considerar aspectos históricos
do colonialismo, haja vista que a história, as ciências naturais e físicas foram
escritas sob o ponto de vista dos “conquistadores”, em detrimento das vi-
sões de mundo dos povos colonizados.
No campo da História, por exemplo, conhecemos tantas descrições so-
bre os Impérios Austro-Húngaro, Bizantino, Romano, Otomano, Persa, Babi-
lônico, Português, Britânico, mas são poucos os historiadores no Brasil que
relatam a civilização Kush, localizada no vale do Alto Nilo, que corresponde
ao atual Sudão, por exemplo. Ou, ainda, sobre a civilização Axumita, que
se desenvolveu no século II da era cristã, onde atualmente existe a Etiópia;
além dos Impérios Gana, Mali, Songai, Kanem-Bornu, a Civilização Ioruba, os
Reinos Abomé, Achanti e Zulu, entre tantos outros que existiram e que exis-
tem no continente africano (MUNANGA & GOMES, 2004). Grande parcela
dos estudos a que temos acesso hoje se deve aos esforços não de historia-
dores brasileiros, mas de africanos que aqui residem e fazem ciência, como
é o caso do antropólogo Kabengele Munanga.60
Dessa maneira, o que se compreende é que as ciências precisam ser
“descolonizadas”, e ao recontarmos a história da África, por exemplo, re-
contaremos a história do próprio Brasil e da Europa, uma vez que estes
territórios se ergueram e se mantiveram através da exploração humana e
material realizada no continente africano. Mais do que isso, a memória dos
muitos grupos étnicos africanos, seus conhecimentos filosóficos, técnicos e
científicos foram, no decorrer dos séculos, invisibilizados ou estigmatizados
em detrimento de uma história contada sob a ótica dos colonizadores. Por-
tanto, o esforço em desconstruir o eurocentrismo traz à tona outras histórias
e outras visões de mundo das quais fomos privados de conhecer.
Quando esses conhecimentos passarem a ser compreendidos como um
direito de todos, negado durante séculos, imaginamos que serão possíveis
grandes passos rumo à descolonização dos saberes. Dessa maneira, uma
descolonização da ciência abre espaço para a construção de uma nova con-
cepção de escola e de currículos escolares.
UNIDADE 3
Educação para as relações étnico-raciais: os marcos le-
gais e os resultados de uma década
Figura 10 Capa do livro didático Banzo, tronco & senzala, escrito por Elzi Nascimento
e Elzira Melo Quinta (em março de 2003, dois meses depois da publicação da Lei
10.639/03, o livro é retirado de circulação devido à descaracterização e desumaniza-
ção da população negra no texto e nas ilustrações do material).61
Considerações finais
Caro(a) colega profissional da educação,
Os esforços que realizamos ao longo deste capítulo buscaram problema-
tizar alguns temas que se apresentam no ambiente escolar e, ainda, causam
algum tipo de confusão. Buscamos dialogar com aspectos que envolvem
a educação para as relações étnico-raciais e que se apresentam em nosso
cotidiano. O percurso realizado por nós enfatizou a população negra, mas
evitamos nos restringir a este grupo social. Processos de racialização, racis-
mo, discriminação e preconceito racial, diferentemente do que alguns ainda
pensam, não afetam apenas grupos sociais específicos.
Vimos que a racialização, ao longo de séculos, ao nomear o Outro o
faz descaracterizando-o e rebaixando a humanidade desta alteridade. As-
sociado ao discurso colonial, este processo esteve na base de genocídios
de ameríndios; sequestro, tráfico e escravização de africanos e asiáticos; e
perseguição em bases racistas de outros povos, como japoneses e judeus.
Ainda hoje é possível identificarmos profundas marcas desta elaboração
desumanizadora quando nos deparamos, em termos simbólicos, com repre-
sentações negativas e estereotipadas de grupos sociais subalternizados; e,
em termos materiais, quando tomamos conhecimento por estatísticas ofi-
ciais, por exemplo, das reais condições de vida de indígenas, negros, mulhe-
res, crianças, gays, lésbicas, imigrantes etc.
Este material se soma a outras iniciativas no campo temático da edu-
cação para as relações étnico-raciais. Ainda que dirigido a profissionais da
educação básica, pode ser apropriado por outros segmentos da sociedade.
O importante, a nosso juízo, é que este texto permita, ao menos, que o(a)
leitor(a) leve consigo algumas interrogações sobre a sociedade brasileira
que se construiu como harmônica, cordial e homogênea.
O que observamos ao longo destes últimos 30 anos é exatamente a re-
visão crítica deste tipo ideal de sociedade. Vivemos tempos em que pululam
aos quatro cantos demandas por direitos, reconhecimento e valorização de
alteridades cuja existência e humanidade até recentemente eram negadas.
Cara professora, caro professor, que esta leitura possa efetivamente
contribuir com o desenvolvimento de suas atividades pedagógicas e para
o surgimento de novas interrogações no interior da Escola. Esta é nossa
mensagem.
256 | Diferenças na Educação: outros aprendizados
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DOCUMENTOS CONSULTADOS
FIGURAS
Figura 1 Confrontos entre ruralistas e indígenas em torno da demarcação das terras indígenas. À
esquerda, um outdoor em estrada no sul do Estado da Bahia; à direita, um outdoor no Estado do
Espírito Santo, que cita uma empresa de produção de celulose. Fontes: <http://pib.socioambien-
tal.org/pt/noticias?id=131186> e <http://www.midiaindependente.org/pt/red/2006/10/361913.
shtml>. Acesso em: 20 ago. 2014.
Figura 2 À esquerda, um bebê da etnia guarani kaiowá em acampamento às margens de uma ro-
dovia no Estado do Mato Grosso do Sul, aguardando com sua família as decisões dos processos
de demarcação de terras indígenas. À direita, outro acampamento indígena, também no Estado
do Mato Grosso do Sul. Fontes: <http://racismoambiental.net.br/2011/12/uma-tragedia-indige-
na/> e <http://www.survivalinternational.org/fotos/Damiana#5>. Acesso em: 20 ago. 2014.
Figura 3 O ideal de branqueamento da população. Fonte: <http://cean2d.blogspot.com.
br/2010/08/modesto-brocos-redencao-de-ca.html>. Acesso em: 20 ago. 2014.
Figura 4 “Ruim é o racismo”. Fonte: <http://mural.folha.blog.uol.com.br/sul/>. Acesso em: 20
ago. 2014.
Figura 5 A eugenia e a prática de medição de crânios para realizar classificação racial. Fonte:
<http://www.cerebromente.org.br>. Acesso em: 20 ago. 2014.
Figura 6 Criança premiada como o Bebê Eugênico; ilustração do trabalho "A influência da
educação sanitária na redução da mortalidade infantil", apresentado no congresso por Maria
Antonieta de Castro (fotografia de Adenir F. Carvalho; acervo Arquivo de Antropologia Físi-
ca, Museu Nacional/URFJ). Fonte: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid
=S0104-59702009000300012>. Acesso em: 20 ago. 2014.
Figura 7 Campanha publicitária de cerveja. Fonte: <http://pensamentos-negros.blogspot.com.
br/2012/03/e-pelo-corpo-que-se-reconhece.html>. Acesso em: 20 ago. 2014.
Figura 8 À esquerda, um personagem de programa humorístico estadunidense, apresentando-
-se ao estilo black face, gênero reconhecidamente racista. À direita, a personagem Adelaine,
do programa humorístico Zorra Total, uma adaptação do estilo black face, que no geral não
é imediatamente reconhecida como uma figura racista. Fontes: <http://propaganda-history.
blogspot.com.br/2010/12/blackface-racism-or-pop-culture.html> e <http://www.bahianamidia.
com.br/rapper-emicida-protesta-contra-personagem-do-zorra-total/>. Acesso em: 20 ago. 2014.
Figura 9 Gravura do livro infantil Xixi na cama, escrito em 1979 por Drummond
Amorim, com ilustrações de Helder Augusto Waldolato. Fonte: <www.cacimbaodahistoria.blogs-
pot.com.br>. Acesso em: 20 ago. 2014.
Figura 10 Capa do livro didático Banzo, tronco & senzala, escrito por Elzi Nascimento e Elzira
Melo Quinta (em março de 2003, dois meses depois da publicação da Lei 10.639/03, o livro
é retirado de circulação devido à descaracterização e desumanização da população negra no
texto e nas ilustrações do material). Fonte: <http://www.armazemdolivro.com/banzo-tronco-e-
-senzala-_usado-p10292829>. Acesso em: 20 ago. 2014.
Sobre os(as) autores(as)
Larissa Pelúcio
Professora de Antropologia na UNESP/Bauru (Departamento de Ciên-
cias Humanas – FAAC) e integra o quadro de docentes do Programa de
Pós-Graduação em Ciências Sociais do campus da UNESP/Marília, além
de ser pesquisadora colaboradora do Núcleo de Estudos de Gênero Pagu –
UNICAMP. É doutora em Ciências Sociais pela UFSCar, onde foi coordena-
dora do Módulo Gênero em duas ofertas consecutivas do GDE e autora do
livro Abjeção e desejo: uma etnografia travesti sobre o modelo preventivo de
aids (2009). E-mail: <larissapelucio@gmail.com>.
Richard Miskolci
Professor do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em So-
ciologia da UFSCar, além de ter coordenado três edições do curso Gênero
e Diversidade na Escola na mesma universidade. Doutor em Sociologia pela
USP, tem pós-doutorados na área de estudos feministas na Universidade
da Califórnia e na Universidade de Michigan. Seus livros mais recentes são
Teoria Queer: um aprendizado pelas diferenças (2012) e O desejo da nação:
masculinidade e branquitude no Brasil de fins do XIX (2012). E-mail: <ufs-
car7@gmail.com>.
Tiago Duque
Doutor em Ciências Sociais pela UNICAMP, mestre em Sociologia
pela UFSCar e graduado em Ciências Sociais e Ciências Religiosas pela
PUC de Campinas. É professor da Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul – Campus do Pantanal (UFMS-CPAN), onde desenvolve atividades
interdisciplinares de ensino, pesquisa e extensão em vários cursos de gra-
duação, e é professor permanente do Programa de Pós-Graduação em
Educação. Atua com temáticas como gênero, sexualidade e diferenças.
E-mail: <duque_hua@yahoo.com.br>.
Este livro foi impresso em 2014
pelo Departamento de Produção Gráfica – UFSCar.
Relatório Etapa 3 - Curso GDE
GDE: Diferenças - Módulo 2 - Sala 10 (2013) GDE: Diferenças - Módulo 2 - Sala 13 (2013)
GDE: Diferenças - Módulo 2 - Sala 11 (2013) GDE: Diferenças - Módulo 2 - Sala 14 (2013)
GDE: Diferenças - Módulo 2 - Sala 12 (2013)
GDE: Gênero - Módulo 3 - Sala 10 (2013) GDE: Gênero - Módulo 3 - Sala 13 (2013)
GDE: Gênero - Módulo 3 - Sala 11 (2013) GDE: Gênero - Módulo 3 - Sala 14 (2013)
GDE: Gênero - Módulo 3 - Sala 12 (2013)
GDE: Sexualidade e Orientação Sexual - Sala 10 (2013) GDE: Sexualidade e Orientação Sexual - Sala 13 (2013)
GDE: Sexualidade e Orientação Sexual - Sala 11 (2013) GDE: Sexualidade e Orientação Sexual - Sala 14 (2013)
GDE: Sexualidade e Orientação Sexual - Sala 12 (2013)
GDE: Relações Étnico-Raciais - Sala 9 (2013) GDE: Relações Étnico-Raciais - Sala 12 (2013)
GDE: Relações Étnico-Raciais - Sala 10 (2013) GDE: Relações Étnico-Raciais - Sala 13 (2013)
GDE: Relações Étnico-Raciais - Sala 11 (2013) GDE: Relações Étnico-Raciais - Sala 14 (2013)
Implentação Pedagógica de uma abordagem a partir das diferenças - Jorge Leite Junior e Cynthia Cassoni
GDE: Implementação Pedagógica - Sala 1 (2013) GDE: Implementação Pedagógica - Sala 9 (2013)
GDE: Implementação Pedagógica - Sala 2 (2013) GDE: Implementação Pedagógica - Sala 10 (2013)
GDE: Implementação Pedagógica - Sala 3 (2013) GDE: Implementação Pedagógica - Sala 11 (2013)
GDE: Implementação Pedagógica - Sala 4 (2013) GDE: Implementação Pedagógica - Sala 12 (2013)
GDE: Implementação Pedagógica - Sala 5 (2013) GDE: Implementação Pedagógica - Sala 13 (2013)
GDE: Implementação Pedagógica - Sala 6 (2013) GDE: Implementação Pedagógica - Sala 14 (2013)
GDE: Implementação Pedagógica - Sala 7 (2013) GDE: Implementação Pedagógica - Sala 15 (2013)
GDE: Implementação Pedagógica - Sala 8 (2013)
Relatório Etapa 3 - Curso GDE