Producao de Papel Artesanal Iceri Celene Oliveira

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PRODUO DE PAPEL ARTESANAL EM COOPERATIVAS

DE RECICLAGEM COM APARAS DE PAPEL E FIBRAS


VEGETAIS

Douglas Benicio OLIVEIRA
Graduando do Departamento de Qumica, Universidade Estadual de
Maring Brasil;
Lidiana NICOLIN
Tcnica-Administrativa, Graduada em Qumica, Universidade Estadual de
Maring Brasil;
Celene TONELLA
Coordenadora da Ao de Extenso: Prof. Dra. Celene Tonella,
Departamento de Cincias Sociais, Universidade Estadual de Maring
Brasil;
Silvia MARINI
Tcnica-Administrativa, Graduada em Psicologia, Universidade Estadual
de Maring Brasil;
Talitha Priscila Cabral Coelho LOPES
Tcnica-Administrativa, Graduada em Psicologia, Universidade Estadual
de Maring Brasil;
Silvia Louise Rosa de OLIVEIRA
Graduando do curso de Psicologia, Universidade Estadual de Maring
Brasil;
Raquel ZAVATIN
Graduando do curso de Psicologia, Universidade Estadual de Maring
Brasil;
Vanessa Kimie ICERI
Graduanda do curso de Geografia, Universidade Estadual de Maring
Brasil.
Alice Machado FRAGA
Auxiliar de Laboratrio e membro do Pr-Resduos. Universidade Estadual
de Maring Brasil.

Resumo

A extenso universitria uma forma de interao que deve existir entre a universidade e a
comunidade na qual esta inserida, uma espcie de ponte permanente entre a universidade e
os diversos setores da sociedade. O projeto de Extenso Universitria Produo de Papel
Reciclado na Regio Noroeste do Paran: Uma proposta de emancipao social junto aos
cooperados da Coopercentral, desenvolvido junto ao Ncleo Incubadora Unitrabalho/UEM e
em parceria com o Pr-Residuos/UEM (Programa de Gerenciamento de Resduos da
Universidade Estadual de Maring) desenvolve atividades junto Coopercentral, fazendo uma
juno dos conhecimentos acadmicos e dos conhecimentos produzidos pelos trabalhadores
da cooperativa, a fim de agregar valor ao trabalho e melhorar a renda destes. A Coopercentral
composta por cooperados da reciclagem das cidades de Maring, Sarandi, Paiandu,
abrangendo tambm neste projeto, trabalhadores de Paranava. Com a atual conjuntura
econmica, o preo dos reciclveis sofreu uma queda no mundo inteiro, e os pases mais
afetados foram os emergentes, entre eles o Brasil. Houve-se a necessidade de agregao de
valores ao material, atravs da produo de papel artesanal a partir do coletado, pois at ento,
havia apenas a coleta e venda desse material. O papel artesanal reciclado pode ser produzido
de diversas formas: por reciclagem de fibras secundrias (papel de papel), mistura de aparas
com fibras vegetais e tambm com o uso somente de fibras vegetais, gerando assim, uma
reutilizao de resduos agrcolas (papel com fibras vegetais de cana-de-acar, sisal,
bananeira, folha de cco, grama e bambu). O preparo do papel artesanal obedece seguinte
ordem: seleo, separao, picotamento de fibras secundarias e vegetais, desinfeco com
hipoclorito de sdio (NaClO), cozimento da fibra com hidrxido de sdio, lavagem para
retirar a soda, mistura das aparas beneficiadas com gua, imerso de bastidores para dar
forma ao produto final, secagem e prensagem. A polpa celulsica utilizada no processo de
produo feita a partir da hidratao de aparas de papel velho sob agitao. A celulose com
as fibras vegetais so beneficiadas atravs de triturao em liquidificador industrial utilizando
soda custica 50%. Em ambas as formas de polpa so utilizadas na imerso de um bastidor de
madeira com tela que d forma as folhas de papel em vrios tamanhos e gramatura. Tanto o
efluente, quanto a polpa tem controle sistemtico de pH que fica em torno de 5,8 a 6,0.
Cuidados com o pH da polpa celulsica so essenciais, pois o produto final com um pH baixo,
em torno de 3 unidades, resulta-se em um papel com aparncia amarelada e uma rpida
degradao do mesmo. Os fatores que determinam uma boa qualidade do papel reciclado
artesanal e padronizao do produto do-se em torno de variveis como: profundidade de
imerso da tela do bastidor, velocidade de descida da tela e seu ngulo de imerso, volume de
fibras em suspenso, tempo de espera para escoamento de gua, metodologia de secagem e
processo de prensagem da folha.

Palavras-chave: Papel artesanal, reciclagem, cooperativismo.


Introduo

O projeto Produo de Papel Artesanal na Regio Noroeste do Paran:
uma proposta de emancipao social junto aos cooperados da Coopercentral
fruto de uma poltica elaborada, desenvolvida e financiada pelo Programa
Universidade Sem Fronteiras, da Secretaria de Estado da Cincia, Tecnologia e
Ensino Superior do Paran (SETI).
Os projetos financiados pelo Programa Universidade Sem Fronteiras tm
como caracterstica determinante a ao extensionista, ou seja, a interao do
conhecimento acadmico e o conhecimento popular, com vistas transformao
desse conhecimento e, principalmente, da realidade social.
O incentivo financeiro oferecido por diversas instncias de fomento aos
projetos de extenso tem permitido a constatao de que a ao extensionista,
que durante dcadas foi desvalorizada frente s atividades de pesquisa e ensino,
apresenta-se como instrumento capaz de oferecer a sociedade o conhecimento
til e aplicvel ao cotidiano das camadas populares que por muito tempo
estiveram margem do processo de construo e de acesso ao conhecimento
cientfico.
Desse modo uma das etapas realizada pelo projeto foi a pesquisa do perfil
dos cooperados, que buscava levantar informaes relevantes para a
caracterizao do grupo, tais como: sexo, idade, cor, escolaridade, cidade de
origem, filhos, renda total e percapta, entre outras. As entrevistas buscou
abranger o universo dos trabalhadores da Coopercano, Coopercentral,
Coopernorte e Cooperpalmeiras, somando um total de 34 questionrios. Destes,
62,5% so mulheres, 37,5% homens sendo que a maioria deles encontra-se na
faixa etria entre 51 e 60 anos (28,1%), considerada pelos prprios cooperados
como uma das faixas etrias mais difceis para a incluso no mercado de
trabalho.
Com relao cor, a maior parte deles, 33% , se declaram moreno, 24%
negro, 21% branco e 12% preto, ou seja, 69% dos trabalhadores so
afrodescendentes.
Para melhor compreender a situao financeira que se encontram os
trabalhadores das cooperativas, pde-se comparar os dados da renda percapta
com a renda total gerada por todos os membros de cada famlia. Esta relao no
mostrou considervel aumento: 65% dos cooperados recebem de R$240,00 a
R$500,00, ao passo que 25% das famlias compostas por esses trabalhadores
mantm esta mesma faixa de renda. Alm da baixa remunerao, 57% dos
cooperados no recebem nenhum benefcio para se manter. Vale ressaltar que os
mesmos 57% acreditam estar em condies financeira inferior a de seus pais.
nesse contexto que esse projeto, fruto tambm da demanda dos prprios
trabalhadores de reciclagem das cidades de Maring e regio, foi elaborado. Seu
principal objetivo agregar valor e renda ao trabalho desenvolvido pelas
cooperativas de reciclagem incubadas pelo Ncleo Incubadora
Unitrabalho/UEM, acrescentando mais uma etapa ao processo de separao e
comercializao do material reciclvel j desenvolvido, qual seja a produo do
papel artesanal.
Assim, a Unitrabalho em parceria com o Pr-Residuos/UEM (Programa
de Gerenciamento de Resduos da Universidade Estadual de Maring) por meio
desse projeto pretende capacitar os trabalhadores da Coopercentral para a
produo e comercializao do papel artesanal.
Desde 1999, a Universidade Estadual de Maring (UEM) vem
estabelecendo uma poltica integra de gerenciamento de resduos. E em 2003,
visando dar continuidade a essa poltica e trazer solues para os resduos,
criou-se o Programa de Gerenciamento de Resduos biolgicos, qumicos e
radioativos (PRORESIDUOS). Esse Programa tem como intuito quantificar e
qualificar todos os resduos gerados na universidade, a fim de minimizar os
impactos ambientais gerados por suas atividades acadmicas.
Ele composto por um conselho tcnico-cientfico de diversas reas de
atuao com a responsabilidade de gerenciar os resduos especficos dos
diversos laboratrios e setores da UEM realizando a segregao, o tratamento e
a passivao dos resduos infectantes, qumicos, radioativos e tambm dos
efluentes. E por fim, encaminhando para o aterro industrial aqueles no
recuperveis.
As atividades que o programa desenvolve incluem tanto os docentes, como
os discentes em projetos de pesquisa e extenso, devido ao desenvolvimento de
novas tecnologias de tratamento.
O Programa Pr-resduos supe uma coleta seletiva, bem como o
reaproveitamento de parte considervel desse material atravs da reutilizao e
reciclagem de papel, lmpadas, restos de construo civil, vidros, PETs, latas de
alumnio, ferragens, entre outros.
Entre as aes do programa est reciclagem do papel utilizado pela
universidade e a produo de papel artesanal, juntamente com o uso de fibras
vegetais. H ainda a promoo de cursos a fim de ensinar tal prtica a
comunidade externa e universitria.
O Ncleo Incubadora Unitrabalho/UEM uma incubadora social que
oferece apoio tcnico, formao em cooperativismo, associativismo e Economia
Solidria, a grupos que se organizam para a realizao de atividades produtivas.
Desenvolvendo atividades junto a Universidade Estadual de Maring
desde 2001, o Ncleo incuba, atualmente, empreendimentos dos mais variados
segmentos produtivos (reciclagem, agricultura familiar, artesanato e alimentcio)
localizados em diversas cidades do Estado.
O processo de incubagem realizado por meio de cursos de formao,
orientaes tcnicas e legais aos empreendimentos econmicos solidrios (EES)
em formao. E, ainda, pela parceria com os grupos incubados e com alguns
municpios na elaborao de projetos que contribuam, por meio de aquisies de
equipamentos e da contratao de equipes, para estruturao produtiva,
gestionria e comercial dos empreendimentos.
Com todas as atividades desenvolvidas objetiva-se prioritariamente a
instrumentalizao dos grupos, de modo que o processo de incubagem seja
provisrio e que os EES, em posse do conhecimento e organizao necessrios
ao desenvolvimento da atividade produtiva, promovam o crescimento e a
emancipao social e econmica de seus integrantes.
Para tanto, o Ncleo Incubadora Unitrabalho/UEM possui uma equipe
composta por professores, tcnicos e estagirios das mais diversificadas reas do
conhecimento, o que possibilita denomin-la Equipe Multidisciplinar. A unio
de diversos saberes promove um olhar mais global dos trabalhadores e das
necessidades de cada EES incubado, bem como sobre a conjuntura econmico-
social em que estiveram e esto inseridos esses empreendimentos. Destaca-se
que as atividades desenvolvidas pelo ncleo se inserem em um movimento
maior, a Economia Solidria.
De acordo com a Carta de Princpios do Frum Brasileiro de Economia
Solidria (FBES), esta constitui o fundamento de uma globalizao
humanizadora, de um desenvolvimento sustentvel, socialmente justo. Sua
definio pelo Ministrio do Trabalho e Emprego salienta o aspecto econmico
e social dos empreendimentos que se orientam nesta proposta, reforando que
ela vem se apresentando nos ltimos anos, como inovadora alternativa de
gerao de trabalho e renda e uma resposta a favor da incluso social.
Desta forma, o contexto de crise econmica, e conseqente necessidade
de uma economia que coloque como fator de primeira importncia aqueles que
realizam o trabalho, os seres humanos, a Economia Solidria um movimento
social que no visa apenas os ganhos econmicos, mas tambm, e
principalmente, o desenvolvimento humano dentro de um projeto de sociedade
mais justa e solidria.
Os Empreendimentos Econmicos Solidrios (EES) so compostos por
um grupo de pessoas que decidem trabalhar juntas para produzir algum produto
ou prestar algum servio, com base nos princpios da posse coletiva dos meios
de produo, da democracia e autogesto. Assim, todos so donos dos meios de
produo, todos opinam e decidem sobre como conduzir o empreendimento.
O economista Paul Singer, presidente da Secretaria Nacional de Economia
Solidria (SENAES), define a autogesto como o processo em que os
scios/trabalhadores ou cooperados/trabalhadores pensam, organizam e
executam o trabalho coletivamente (SINGER, 2002). Nesse sentido, com a
autogesto deixam de existir: hierarquia de cargos, diviso alienante das tarefas,
diferenas de renda em funo do tempo de trabalho, separao entre o
planejamento do trabalho e sua execuo e centralizao das decises.
Vale lembrar que o sujeito psicolgico, construdo e moldado em uma
sociedade liberal que prioriza o individualismo, quando organizado em um EES
dever aprender novos modelos de relaes sociais e de trabalho compatveis
com a autogesto e com a solidariedade. Essa mudana tem por intuito
promover uma nova subjetividade que coloque o coletivo acima do individual
(ABIB, 2007).
Contudo, para que a autogesto seja realmente posta em prtica a
reconstruo da identidade e auto-estima do trabalhador de um EES se torna
necessrio, sobretudo os que trabalham com o lixo (seja nas ruas ou no lixo).
Pois essas pessoas, abruptamente se tornam scios-trabalhadoras de
empreendimentos autogestionrios, ou seja, mudam do regime de trabalho
empregatcio-competitivo para o cooperativo.
Sabe-se que o individualismo, a competio e o controle autoritrio e
centralizador das decises so fenmenos produzidos histrico e socialmente e
no caractersticas inatas, intrnsecas a natureza humana, e que, portanto, h
estreita ligao entre os determinantes histrico-sociais e a construo da
subjetividade de cada um desses trabalhadores, bem como o reflexo das mesmas
no trabalho solidrio.
O modo como os homens garantiram sua sobrevivncia ao longo da
histria - os diferentes modos de produo concretizados em diferentes relaes
de trabalho - tiveram como conseqncia diferentes manifestaes subjetivas. O
trabalho como atividade que diferencia os homens dos animais, pelo seu carter
criativo, planejador e coletivo, no modo capitalista de produo, transforma-se
em trabalho alienado. As ferramentas, a matria-prima (natureza), a idia prvia
do que se quer produzir, a coletividade e o prprio produto do trabalho fora
expropriado do trabalhador. Assim, todo o processo de produo da vida
material se esvazia em seu sentido.
Com o trabalho organizado com base nos princpios da Economia
Solidria (autogesto, posse coletiva dos meios de produo e democracia)
pretende-se restituir o sentido prtico, afetivo e transformador dessa atividade
caracteristicamente humana. Com isso, os trabalhadores de um EES, para alm
da garantia de sua subsistncia, tornam-se sujeitos autnomos na (re)construo
prtica de suas vidas.


Metodologia

A proposio desse projeto fruto da demanda dos prprios
trabalhadores, que manifestaram equipe da Incubadora o desejo de produzir
papel artesanal como alternativa a queda brusca nos preos dos materiais
reciclveis em funo da crise mundial e, ainda, como atividade para os
trabalhadores que por algum motivo (idade, debilidade fsica, doenas, etc.) no
conseguem realizar a separao de forma produtiva e sem danos sade.
Com base nessa demanda, o projeto prev recursos para a montagem da
unidade de produo de papel na Coopercentral e a contrao da equipe para a
formao produtiva e comercial dos trabalhadores.
O processo de montagem da produo encontra-se em andamento, ou seja,
os equipamentos esto sendo adquiridos e instalados.
J, o processo de formao para a produo encontra-se em vias de
finalizao, sendo que aproximadamente 14 trabalhadores de trs cooperativas
(Coopermaring, Coopercano e Cooperva) receberam 20 horas de curso para
a produo de papel artesanal. Os cursos foram realizados na Universidade
Estadual de Maring (UEM) na sede do Pr-resduos, que h alguns anos produz
e comercializa papel artesanal.
Paralelamente a isso, a equipe formada por representantes (professores,
estagirios, tcnicos) de diferentes reas (psicologia, geografia, qumica e
cincias sociais) tm realizado: discusses tericas que embasam a prtica;
pesquisa para a compreenso do perfil dos trabalhadores e suas demandas e;
apoio tcnico e formativo frente aos problemas enfrentados na coleta seletiva
(falta de estrutura fsica, queda do preo do material, etc.).
A produo de papel artesanal apresenta-se como alternativa e acrscimo
de renda por ser um processo que exige pouco investimento em estrutura fsica,
por ser simples e, principalmente, por ser muito rentvel.
Processo de Produo de Papel Artesanal

O papel artesanal pode ser obtido de trs formas: papel somente com
aparas, papel de aparas com fibras vegetais e papel de fibras vegetais.
O papel somente com aparas tem como primeira fase a separao de
acordo com sua classificao. Os materiais (aparas) que podem ser reciclados
so papis provenientes de materiais de escritrio que no estejam com alto teor
de tinta impressa . As aparas devem estar desprovidas de qualquer mancha como
mofo, sujeira ou gordura.
Aps a separao, faz-se o picote de fibras utilizando o procedimento
manual, rasgando o papel a mo em pedaos em tiras no comprimento da folha.
As aparas de papel devem ser picotadas dessa maneira, para que as molculas de
celulose (C
6
H
10
O
5
)n se mantenham no formato original sem ruptura das ligaes
de hidrognio presentes.
Em seguida o papel deixado submerso em gua em um balde ou bacia
por volta de 24 horas.
Para a preparao da polpa, o papel retirado do molho e triturado em
liquidificador por 3 a 5 minutos, o importante que no fiquem pedaos
maiores, pois criariam irregularidades na superfcie do papel produzido. Sua
consistncia deve ser levemente cremosa.
A polpa pronta vertida em um tanque de cimento, ou bacia. Para dar
forma ao papel usado um bastidor que feita de um quadro de madeira e uma
tela tipo mosquiteiro, ou de serigrafia, o tamanho do bastidor o tamanho que
desejar a folha de papel pronta. O quadro com a tela introduzido no recipiente
onde est a polpa, e este ir peg-la. Para tanto o bastidor deve ser retirado do
tanque em posio perfeitamente horizontal, para evitar o acmulo de polpa em
alguma parte. Deixa-se, ento escorrer a gua e secar ao sol. A folha depois de
seca deve ser retirada do bastidor com cuidado para no danific-la.
Para a produo de papel a partir de fibras vegetais, as fibrilas so
separadas de acordo com a sua textura e com seu estado, sendo que os materiais
com manchas qumicas so descartados. Aps a separao, feita a macerao
das fibras vegetais usando uma moenda de massa. J a picotagem feita por
procedimento mecnico utilizando uma moinha de cana adaptada, ou de forma
manual com a utilizao de faco.
Em seguida, feita a retirada de componentes qumicos indesejveis com
o processo de desinfeco das fibrilas, adicionando gua sanitria, hipoclorito de
sdio (NaClO) para alvej-la
1
, o que feito somente se for realizado o
tingimento das fibras.

1
A etapa de desinfeco com hipoclorito de sdio (NaClO) serve para a retirada de lignina presente em
fibras vegetais. A lignina uma macromolcula encontrada nas plantas terrestres associada celulose, cuja
funo garantir rigidez e resistncia a ataques biolgicos. Papis com alto teor de lignina degradam-se ficando
com aspecto envelhecido e cor amarelada, ao entrar em contato com o oxignio presente no ar.

Aps a desinfeco, adiciona-se uma carga de hidrxido de sdio
(NaOH), soda custica, em gua fervente, para isolar (amolecer) as fibras de
celulose. Logo, lavam-se as fibras aps o cozimento vrias vezes a fim de
remover a soda presente. Posteriormente inicia-se a etapa de refino das fibrilas,
utilizando um liquidificador industrial no qual so batidas as fibras com gua.
Em seguida a polpa coada com ajuda de peneiras. A partir desta etapa segue-se
o mesmo procedimento do papel somente com aparas.
Se o papel for utilizado para impresso, depois de pronto, deve ser
empilhado intercalando-o com um pano de algodo mido de mesma medida em
uma prensa manual de 15 toneladas de presso, sendo protegido por uma placa
rgida e uniforme.
O papel reciclado artesanal pode ser produzido de diversas cores e tons,
para isso feito o tingimento das fibras no momento do cozimento utilizando
corantes para tecido
2
.
Vrios autores se dedicaram a estudos acerca de propriedades qumicas
das fibras vegetais abaixo, utilizadas na fabricao de papel artesanal. Tais
estudos foram importantes, pois evidenciaram caractersticas determinantes na
acelerao do processo de produo.

Tabela 1: teores de celulose, lignina e hemi-celulose encontrados nas
matrias-primas utilizadas de acordo com a literatura.

Matria-prima Celulose Lignina Hemi-Celulose
Cana-de-aucar 44% 27% 28%
Bambu 40% 28% 23%
Sisal 73% 11% 13%
Banana 63% 13% n.d*
Folha de coco 32% 40% 9%
*n.d no determinado.


Tabela 2. Materiais usados.
Material Fibras vegetais
Massa de fibra vegetal (Kg) 60
Soda custica (NaOH) (mL) 200
Hipoclorito de Sdio
(NaClO) (mL) 4000
Cozimento da fibra (min) 120
Procedimento padro para todos os tipos de fibra.


2
O corante de tecido foi escolhido por ter um menor custo e por ser a substncia que apresentou melhores
resultados. Contudo, a existncia de outras formas de corantes tambm eficazes e baratos no so descartadas,
embora desconhecidos.


Fotos: fabricao de papel artesanal usando com fibra de sisal (01) e
tiragem do papel com fibra de bananeira (4).

CONCLUSES

Por meio do trabalho apresentado, nota-se que a reciclagem de papel
uma maneira promissora de agregar valor ao material coletado pelos
recicladores das cooperativas e revender o material a fim de melhorar seus
ganhos.
Com a atual conjuntura econmica, materiais reciclveis como papel,
garrafas PET e outros materiais chegaram a perder at 60% do seu valor de
revenda.
O papel artesanal com adio de fibras vegetais pode ser usado como
material de escritrio, confeco de convites de casamento, rascunhos, livros e
entre outros fins.

1 - Cozimento
2 - Tingimento
3 - Triturao no
liquidificador
4 - Tiragem do
papel
5 - Secagem
6 - Papel pronto
1 3
5
2
4 6
REFERENCIAS BIBLIOGRFICAS

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