Sentenca - Falso Testemunho - Autoincriminacao - Absolvicao
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PROCESSO n. 2005.82.00.011449-9
AÇÃO PENAL PÚBLICA
AUTOR: Ministério Público Federal
RÉU: Paulo César Santana
Juiz federal substituto ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU
S E N T E N Ç A1
RELATÓRIO
Narra a denúncia (fls. 02/06) que o acusado teria sido indicado como testemunha
na ação penal n. 2004.82.00.008004-7, promovida pelo MPF contra Flávio José Quinderê de
Almeida, Luiz Gonzaga de Almeida Júnior e Paulo Tibério de Freitas Gondim, em razão da
alegada prática de sonegação fiscal e falsidade ideológica. Naquele processo, diz o MPF
que se investigava a indevida utilização do nome de Ivonaldo dos Santos Oliveira para a
abertura da empresa SS Frigorífico Ltda.
1
Sentença tipo D, cf. Res. CJF n. 535/2006.
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Diz o MPF ainda que o acusado teria sido indicado como testemunha no
processo por haver figurado como sócio da empresa DICARNE, empresa que teria sido
sucedida pela SS Frigorífico Ltda., bem como onde a pessoa de Ivonaldo dos Santos
Oliveira teria trabalhado.
Certidão lavrada por oficial de justiça na SJAM dando conta de não haver
encontrado a testemunha Severino Junio de Santana, indicada na defesa prévia (f. 403).
Intimado (f. 410) para se manifestar, o acusado deixou transcorrer in albis o prazo a si
concedido (f. 411). Por esse motivo, a testemunha foi dispensada (f. 413).
Aberto o prazo para diligências (CPP, 499), o MPF (f. 416) registrou que nada
tinha a requerer. A defesa, devidamente intimada (f. 419), deixou transcorrer in albis o prazo
concedido (f. 420).
Aberto o prazo para alegações finais (CPP, 500), o MPF (f. 424-9) pediu a
condenação do acusado como incurso no art. 342, § 1º, do Código Penal. A defesa do
acusado (f. 434-8), pugnando pelo julgamento de improcedência do pedido, sustentou que,
com a instrução, teria ficado provada a veracidade do testemunho prestado pelo réu na
indigitada ação penal, comprovando-se a atipicidade do fato praticado.
Brevemente relatados.
DECIDO.
FUNDAMENTAÇÃO
Dessume-se dos presentes autos que PAULO CÉSAR SANTANA foi acusado
pelo MPF da prática do crime de falso testemunho em processo criminal, previsto no art.
342, caput e § 1º, do Código Penal brasileiro, por afirmar-se sócio proprietário da empresa
denominada DICARNE – Comercial de Alimentos Derivados de Carne Ltda.
A afirmação havida como falsa pelo MPF dizia respeito à titularidade da empresa
DICARNE – Comercial de Alimentos Derivados de Carne Ltda., afirmando-se o acusado
como sócio proprietário da referida empresa, negando que os verdadeiros donos fossem as
pessoas de FLÁVIO JOSÉ QUINDERÊ DE ALMEIDA e LUIZ GONZAGA DE ALMEIDA
JÚNIOR.
Em verdade, essa informação discrepa do fato de que o réu, como disse o MPF,
não manifestou conhecimento profundo sobre a empresa, nem demonstrou ter patrimônio
compatível com a condição de empresário. Esses elementos, contudo, apenas jogam
dúvidas sobre aquela constatação, não tendo o condão de demonstrar-lhe cabalmente a
inverdade. A questão é que a falsidade do testemunho prestado, para enquadrar-se o fato
no tipo do art. 342 do CP, deve ser contundentemente demonstrada, o que não é o caso,
pois a contraprova ao testemunho do réu no processo originário, a meu ver, não gera
certeza quanto à sua falsidade, mas apenas incerteza quanto à sua veracidade.
Examinando atentamente o teor das declarações que o MPF entende terem sido
falsas – e aquilo que não teria sido falso – observo que a falsidade está em afirmar-se sócio-
proprietário de uma empresa. Essa condição, repito, está inscrita no próprio contrato social
da empresa. Se as pessoas que realmente administram e auferem lucros com ela são
diversas do proprietário, essa é uma questão diversa da questão relacionada à titularidade
ou propriedade da empresa.
O MPF alega que os proprietários “de fato” da empresa seriam Flávio José
Quinderê de Almeida e Luiz Gonzaga de Almeida Júnior. Essa condição de proprietários “de
fato”, na verdade, é um rótulo que indica quem aufere os lucros e benefícios do
empreendimento, ocultando-se. Essas pessoas que se ocultam utilizam “homens de palha”
ou “laranjas”, que são os sujeitos expostos, aqueles em nome de quem se fazem os
negócios e transações.
Como o MPF imputava aos então acusados Flávio José Quinderê de Almeida e
Luiz Gonzaga de Almeida Júnior (no processo originário) crimes contra a ordem tributária,
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Ocorre que a admissão desse fato por PAULO CÉSAR SANTANA poderia vir a
trazer conseqüências penais negativas em relação a sua pessoa, pois se trataria, na
verdade, da confissão da prática de um crime. Aquilo que afirma o MPF como sendo a
prática de falso testemunho traduzia, na verdade, o exercício de um direito: o de não
produzir prova ou prestar depoimento contra si (nemo tenetur se detegere).
Com base nos fundamentos acima, entendo que não se configurou o crime de
falso testemunho alegado pelo MPF, sendo atípica a conduta do acusado.
DISPOSITIVO
Diante do exposto, com base no art. 386, III, do Código de Processo Penal
brasileiro, julgo improcedente o pedido para absolver PAULO CÉSAR SANTANA.
Custas ex lege.
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Cientifique-se o MPF.