Sobre Sujeito em Touraine

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DOI: 10.5216/sec.v14i2.

17616

O sujeito e o indivduo na
perspectiva de Alain Touraine
Marilia Verssimo Veronese
Doutora em Psicologia Social (Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul)
Professora na Universidade do Vale do Rio dos Sinos
mariliavero@yahoo.com.br

Luiz Felipe Barboza Lacerda


Mestre em Cincias Sociais (Universidade do Vale do Rio dos Sinos)
Professor na Universidade do Estado do Amazonas
luizpsico@hotmail.com

Resumo

Este artigo tem o intuito de discutir, a partir da perspectiva mais recente de Alain
Touraine, o desenvolvimento dos processos de subjetivao na contemporaneidade.
Busca-se compreender como as mudanas atuais na forma de perceber e estar no
mundo influenciam a constituio do sujeito. Para isto, analisamos de que maneira
o autor distingue os conceitos de indivduo e sujeito, assim como a importncia da
relao existente entre a subjetividade humana nas suas manifestaes singulares e os
movimentos sociais e lutas por emancipaes, travadas pelos diversos grupos e comunidades.
Palavras-chave: indivduo; sujeito; movimentos sociais.

Introduo

busca por definies do contexto social que possibilitem


um territrio mnimo de localizao terica do sujeito na socie
dade contempornea , hoje, tema fundamental nas cincias sociais.
Encontramos diferentes modos de conceber o tempo presente e o pas
sado recente que, de acordo com as diversas correntes tericas, ga
nham denominaes especficas. Como exemplos, alguns autores,
como Maffesoli (2001), utilizam a terminologia ps-moderno para
esquadrinhar as mltiplas possibilidades de ser e estar na contem
poraneidade; outros ainda, como Lipovtsky (2006), sugerem uma
concepo de hipermodernidade.
A distino entre esses conceitos nem sempre simples e por vezes
o prprio corpo acadmico admite posies e concepes diversas (e
nem sempre claras) a respeito dessas terminologias. A importncia de
compreend-los apresenta-se, justamente, pelo fato de no resumiremse apenas a nomenclaturas e categorizaes, mas de trazerem em si, cada
um de maneira peculiar, um modo de compreender o estar no mundo.
Podemos empreender uma tentativa de ampliar a compreenso sobre a
distino entre conceitos de pr-moderno, moderno e ps-moderno a
partir do quadro da pgina seguinte, adaptado do trabalho de Gadea (2007).
Para nossa finalidade especfica, importante apontar que a chamada ps-modernidade caracteriza-se muito mais por um modo de habitar
e perceber o mundo moderno do que propriamente uma linear mudana
de era, prescrita por uma profunda transformao nas estruturas sociais
vigentes. Percebe-se isto na eventual postura relativista que os sujeitos asSoc. e Cult., Goinia, v. 14, n. 2, p. 419-426, jul./dez. 2011.

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Soc. e Cult., Goinia, v. 14, n. 2, p. 419-426, jul./dez. 2011.

Pr-Moderno

Moderno
Futuro (enfoque no destino;
linha ascendente, espiral e
linear)

Ps-Moderno

CONDUTAS

Passado (movimento
cclico de retorno)

Presente (contingncia, aqui e


agora)

RELAO COM O
TRANSCENDENTE

Religio

Crise da razo
Razo (desencanto do mundo) (reencantamento do mundo;
mltiplas razes)

CAMINHO DA
FELICIDADE

Mstico contemplativo

Controle das pulses e desejos Dionisaco ldico

CONCEPO DE
ORDEM SOCIAL

Hierrquica

Princpio de igualdade
(que se transformou em
homogeneidade)

PRINCPIOS DE
VNCULAO

Afetividade

Funcionalidade

PRINCPIOS DE
LEGITIMIDADE DA
REALIDADE

Teologia

Metarrelato explicativo
Mltiplos relatos e realidades
(concepes estruturalistas
(relativizao das escalas de
como comunismo, capitalismo
valores e verdades)
etc)

RELAO MUNDO
PESSOA

Particular

Universal

Diferena (a multiplicidade
que torna todos iguais, todos
mltiplos)
Neoafetividade
(compartilhamento de coisas
comuns)

Relativista

Fonte: Gadea (2007)

sumem, pois esta no concebe mais uma nica verdade


como legtima, mas sim que cada pessoa, cada lugar e
cada acontecimento eventualmente possuem sua prpria verdade.
A posio relativista aponta para a descrena
em solues oriundas dos discursos universalizantes,
como a religio ou a razo. Esse modo de estar psmoderno abre mo dos discursos totais e, por vezes,
tambm da busca de solues para os problemas
do mundo, somente abrindo para as contradies e
incertezas, o que faz Santos (2006) advertir para os
perigos do abandono da ideia de emancipao. O
autor tem argumentado, em seus trabalhos, que os
problemas modernos continuam presentes (opresso,
discriminaes, desigualdades, concentrao de
riquezas), apesar de no acreditar mais nas solues
modernas, pois nem revoluo nem reformismo
deram conta de encaminhar essas distores.
A desvinculao do indivduo em relao a
discursos universais ou totalizantes o libertou para
a busca de sua prpria verdade, ou poderamos
dizer autoverdade. Por um lado, esse movimento
(contraditrio) eventualmente gerou ondas de
individualismo, posturas egocntricas e orientaes
de ao utilitaristas, mas, por outro, possibilitou a
cada um perceber-se como ser singular, diferente.
Com isto, tornou-se possvel desatar das instituies
normatizantes que, atravs das maneiras discursivas
universais, buscam inscrever o sujeito em certo rol
de aes j esquadrinhadas. Este o movimento que,

cada vez mais, vem possibilitando o emergir de um


devir sujeito em cada um de ns.
O presente artigo coloca-se, portanto, no intuito
de discutir, principalmente a partir dos escritos de
Alain Touraine em Um novo paradigma (2006), o desenvolvimento dos processos de subjetividade na contemporaneidade. Isto , compreender de que maneira
as mudanas atuais na forma de estar e perceber o
mundo influenciam na formao de cada indivduo, a
partir da lente terica desse autor. O texto de Touraine nos conduz a reflexes interessantes e pertinentes
para tal estudo visto que, primeiramente, sugere uma
perspectiva diferenciada na anlise social. O autor coloca que estamos saindo de uma poca em que era
a histria o sujeito, at mesmo um pedao da histria recortada arbitrariamente do tempo histrico (p.
133). Essa antiga tendncia analtica, encontrada com
frequncia nas Cincias Sociais, garantia status de personagens reais para fenmenos histricos, omitindo
assim a noo real do ator. Eu prprio, num perodo
de transio, falei do sujeito histrico, ao passo que
hoje no quero falar seno do sujeito pessoal (o que
no o reduz absolutamente aos casos sociais) (p. 133).
Essa perspectiva traz o ator como ponto de partida da
anlise social, o que representa uma perspectiva marcante nas concepes vigentes nas Cincias Sociais.
Ou seja, a partir da anlise do singular, apresentam-se argumentos de contraposio s teorias que
tm uma concepo do ator social como vtima de
condies dificilmente insuperveis, ou tidas como

O sujeito e o indivduo na perspectiva de Alan Touraine


Marilia Verssimo Veronese (Unisinos); Luiz Felipe Barboza Lacerda (UEA)

inevitveis. Contrape-se s teorias estruturalistas,


construindo uma concepo que busca a relativizao do indivduo e a libertao do sujeito, resgatando
a perspectiva emancipatria, mas num contexto de
pluralidade. Touraine afirma que os que no veem
ao seu redor seno vtimas e mquinas de dominao
e de morte que so os caolhos. No veem, ao lado
da injustia e da morte, afirmar-se a vontade de lutar
contra elas (p. 123).
Por fim, chama a ateno a maneira como Touraine prope a anlise social partindo de um sujeito
combatente, engajado e crtico (sem buscar traar para
esse personagem herico um status de pleno construtor da realidade), ora com potencialidades afloradas,
ora com maleabilidade e flexibilidade, inserido nas
articulaes sociais.

Distintas percepes sobre o


voltar-se a si mesmo
Durante longo tempo, o ser humano buscou
o sentido de sua vida numa ordem do universo ou
numa ordem divina, numa cidade ideal ou numa
sociedade de iguais, num progresso sem fim ou numa
transparncia absoluta. Mas, ao longo dos dois ltimos
sculos, em algum momento os cus esvaziaram-se de
suas divindades, trocando-os por guardies, ditadores,
polcias secretas e mesmo, mais recentemente, por
publicitrios e executivos de grandes empresas
(Touraine, 2006, p. 122).
Na medida em que triunfavam esses novos poderes, cada um era convidado a voltar-se a si mesmo,
descobrindo-se dentro de uma realidade mais concreta: cidados, trabalhadores na busca de melhores condies de existncia, mulheres em busca de liberdade.
E, cada vez mais, constituam-se como seres culturais,
no intuito de resistir mercantilizao de todos os aspectos da vida, seres de gnero e de sexualidade mergulhados no mais profundo de si mesmos para escapar
s ideologias e autoritarismos. Dessa forma, a raiz do
sistema que tinha por base a padronizao dos desejos
sofre um golpe na medida em que se engendram resistncias atravs da vontade e criatividade de sujeitos e
grupos sociais (Guattari & Rolnik, 1993).
Na ideologia neoliberal, predominante no Ocidente entre as dcadas de 1980, 1990 e meados de
2000, foi estimulada uma postura individualista, produzindo a constituio de um sujeito capturado pelas
estruturas vigentes, baseado em um pensamento racional, popularizando-se uma vulgata utilitarista que
assumia que o ser humano egosta, e isso era racional
e at desejvel. Guattari & Rolnik (1993, p. 19) afirmam que nas ltimas dcadas a produo capitalista

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se empenhou, ela prpria, em produzir suas margens,


e de algum modo equipou novos territrios subjetivos:
os indivduos, as famlias, os grupos sociais, as minorias. Tudo isso parece ser muito bem calculado.
Dessa forma, esse processo de voltar a si mesmo
de maneira a perceber-se como fim ltimo de sua
prpria ao acabaria desencadeando a identificao
com o que Reis (1989) chama de Homo Economicus. O
Homo Economicus aquele homem que age racionalmente, sempre com rapidez e eficincia, pensando nas
melhores formas de viabilizar e maximizar ganhos.
Age por interesse prprio, dessa forma assumindo
uma postura individualizada e competitiva. Ainda
segundo Reis (1989, p. 3),
O predomnio da lgica econmica como ideologia,
como valor, crena socialmente difundida, torna-se
incontestvel. O economicismo que impregna todo
nosso raciocnio impe a abstrao o Homo Economicus [...] o indivduo possessivo e egosta que no af de
realizar suas paixes age de forma utilitria.

Contudo, Touraine, em contraposio a esse pensamento, aponta que somente atravs desse voltar-se
a si mesmo que a pessoa liberta-se das amarras que a
prendem. dessa perspectiva que o autor far a distino entre o sujeito e o indivduo. Para Touraine, o
indivduo, de maneira geral, aquele moldado pelos
padres sociais, uma figura que no passa de uma tela
em branco onde so depositados desejos, necessidades,
mundos imaginrios a serem consumidos. Em contraposio, o sujeito aquele que se revolta contra essa situao, o devir combatente, rebelde, que se volta para
si no intuito de buscar a nica verdade possvel: a sua.
Parece-nos que a aposta de Touraine em buscar
algo de resistncia na atitude de voltar-se a si mesmo
provm justamente de sua viso no fatalista da realidade social. Apostando que ao lado de toda fora
que aprisiona constitui-se uma fora de resistncia,
o autor busca a cartografia daquilo que considera o
mais original em cada ser, e, consequentemente, o
mais livre e potencialmente transformador da realidade social.

O indivduo e o sujeito
Para Touraine, o sujeito evoca a ideia de luta social, semelhante de conscincia de classe, contudo
enquanto esfera individual. O sujeito, portanto, configura-se como parte ntima de cada ser que possui
como movimento a resistncia, o confronto, o debate.
S nos tornamos plenamente sujeitos quando aceitamos como nosso ideal reconhecer-nos e fazer-nos
Soc. e Cult., Goinia, v. 14, n. 2, p. 419-426, jul./dez. 2011.

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reconhecer enquanto indivduos como seres individuados, que defendem e constroem sua singularidade, e dando, atravs de nossos atos de resistncia, um
sentido a nossa existncia. (Touraine, 2006, p. 123)

Poderamos, assim como faz Touraine ao longo


do texto, nos perguntar: ser que vivemos em um
mundo de sujeitos ou de indivduos? Com certeza,
aps rpida autoanlise, perceberemos que , salvo
algumas excees, invivel manter-se o tempo todo
na esfera do sujeito. Como ser sempre combatente,
opositor, livre e questionador? Sabemos que a prpria necessidade de convvio social nos impe regras
e condutas que no concordamos por completo, mas
devem ser seguidas para que a convivncia em sociedade seja possvel (e ns eventualmente as seguimos,
mesmo contra a vontade). Muitas vezes, no barato
o preo a ser pago por ser incessantemente sujeito.
Na alternncia entre ser e no ser sujeito, ns nos deparamos com a outra dimenso do ser descrita por
Touraine, o indivduo.
Ao indivduo cabe a ordem dos direitos, dos deveres, da moralidade, a parte em ns que transita
em comum acordo com as regras e instituies sociais, a parte flexvel, malevel, adaptvel ao sistema.
Ele alvo dos direitos universais, polticos e culturais
promovidos pelas instncias pblicas, constituindo-se
como a parte formada, modelada socialmente.
O indivduo no passa ento de uma tela pela qual se
projetam desejos, necessidades, mundos imaginrios
fabricados pelas novas indstrias da comunicao.
Esta imagem de indivduo que j no mais definido
por grupos de pertena, que cada vez mais enfraquecida e que no encontra garantia de sua identidade em si mesmo, pois j no mais um princpio de
unidade e obscuramente dirigido por aquilo que
escapa sua conscincia, serviu muitas vezes para definir a modernidade. (Touraine, 2006, p. 119)

Sobre o individualismo contemporneo, podemos afirmar sua origem mais recente nos mecanismos especificamente modernos. Toda a base do pensamento moderno est definida segundo uma razo
progressista, segundo a capacidade de um ser cognitivo que consegue, de forma deslocada do contexto,
colocar a si mesmo como nico fim. Cogito ergo sum
seria a mxima moderna, a frase sntese da concepo de si que teve a modernidade como epistemologia
( Jovchelovitch, 2004).
Visto que raramente encontramos figuras que se
posicionam de maneira plena em seu aspecto sujeito, como se estabelece essa relao entre indivduo
e sujeito? Primeiramente importante apontar que
sempre, em menor ou maior grau, existe um sujeito
em cada indivduo, e a isto Touraine (2006, p. 121)

chama de seu duplo. O indivduo se situa na ordem


do direito, enquanto seu duplo, o sujeito, na ordem
da experincia concreta.
A relao entre esses dois aspectos do ser no
simples, nem facilmente aceito, sem problematizaes. Se pensarmos sobre o campo das conquistas
sociais, por exemplo, o devir sujeito, combatente
e questionador, que se confronta com as instituies
vigentes no sentido de requerer maior liberdade, direitos sociais, econmicos e culturais, ou o que seja,
por ora, sua demanda. Por sua vez, como a contrapartida do Estado ou do chefe a caracterstica da
ordem pblica, supondo aceitao da demanda solicitada, vem no ao encontro do sujeito, mas sim do
indivduo, visto que o direito adquirido, no caso, no
pode abarcar a especificidade de cada ser (o sujeito),
apenas de certas classes ou estratos gerais (indivduos).
Relembramos que dentro dessa perspectiva o sujeito
singular, peculiar, ntimo de cada ser; e o indivduo
massificado, categorizado, coletivizado.
Assim, o elemento sujeito de cada ser que luta
pelos direitos adquiridos para indivduo. Da mesma
forma, se no existissem tais direitos e no fossem garantidos minimamente os espaos do indivduo, dificilmente existiria a possibilidade do sujeito de cada
um se manifestar. o problema a que refere Touraine
(2006, p. 126):
Mesmo que raramente tenhamos a fora necessria
para defender os direitos do indivduo contra os da
sociedade, experimentamos a mais viva desconfiana
no tocante s instituies responsveis por punir os
desviantes ou os criminosos, ou mesmo de cuidar das
minorias e dos deficientes. Sempre tememos que o
que se chama de interesse da sociedade ignore o direito que cada um tem de ser tratado como sujeito. Se
ainda estamos ligados a estas instituies porque sua
presena nos protege da arbitrariedade das ditaduras
e da violncia, cujo efeito imediato destruir toda
referncia de sujeito.

Portanto, a relao existente entre esses dois aspectos, sujeito e indivduo, apresenta-se como processo complexo de codependncia. Dessa forma, no
possvel pensar, ou mesmo teoricamente almejar,
uma sociedade de plenos sujeitos. Podemos dizer que
o indivduo representa uma plataforma de manifestao do sujeito, assim como o sujeito garante maior ou
menor espao de atuao do indivduo.
Existem ainda algumas questes a respeito do
sujeito que devemos levar em considerao. Primeiramente, o sujeito no se caracteriza como figura secularizada da alma, como presena de uma realidade sobre-humana, divina ou comunitria, mas sim
como a fora de reivindicao de direitos cada vez
mais concretos que protegem particularidades cultu-

O sujeito e o indivduo na perspectiva de Alan Touraine


Marilia Verssimo Veronese (Unisinos); Luiz Felipe Barboza Lacerda (UEA)

rais. Para que se forme essa conscincia de sujeito,


Touraine aponta trs elementos bsicos: 1) uma relao com o si mesmo enquanto ser individual, o que
marca uma ruptura com a referncia aos princpios
universalistas o sujeito seu prprio fim; 2) o sujeito no se forma seno entrando conscientemente em
conflito com as foras dominantes que lhe negam o
direito e a possibilidade de agir como sujeito; 3) cada
um enquanto sujeito prope certa concepo geral de
indivduo.
Vamos nos ater na segunda proposio: O sujeito no um puro exerccio de conscincia, ele tem a
necessidade do conflito para que ocorra a ao coletiva (Touraine, 2006, p. 130). A questo do conflito
de extrema importncia na consolidao do sujeito.
Podemos pensar que, em momentos anteriores, quando a identidade era determinada pelo grupo ao qual
o indivduo pertencia, a interpelao do fenmeno
frente ao conflito caa em certo vazio. Desse modo,
a coletividade do grupo assumia o conflito para si de
maneira abstrata, como conjunto, sem possibilitar o
surgimento do sujeito. A partir do momento em que
existe a fragmentao desses grupos, a pulverizao
das mltiplas possibilidades e a incapacidade de uma
identidade ligada unicamente pertena grupal, o indivduo antes diludo no grupo torna-se agora uma
unidade e, como tal, pode assumir para si o conflito,
possibilitando o emergir do seu sujeito.
Respondendo pergunta sobre como se reconhece o sujeito num indivduo ou numa coletividade,
Touraine (2006, p. 136) afirma: No engajamento do
indivduo ou do grupo a servio da imagem dele,
mesmo que lhe parea constituir sua razo de ser, seu
dever e sua esperana. E atravs dessa perspectiva de
conflito e engajamento, o autor aponta ainda que o
sujeito a convico que anima um movimento social (p. 121).
No que se refere relao do sujeito com tais
movimentos, cabe fazer mais alguns apontamentos: 1)
negar-se a qualquer possibilidade de atrelar a concepo de sujeito a alguma concepo ideolgica especfica. Isto seria controverso, pois o sujeito de Touraine
no se sente mais vontade na sociedade do dinheiro
e do individualismo do que no imaginrio da luta do
proletariado. 2) ter cuidado com a tendncia a conceber o sujeito atravs de duas concepes dicotmicas: ou defasado frente experincia de vida, sempre
aqum da realidade, buscando preencher a falta de
algo, ou, ao contrrio, invocando certa imagem herica, triunfante, daquele que constri a realidade em
que vive. Deve-se ter cautela, nem tanto o cu, nem
tanto a terra, pois, como j apontamos, existe uma
constante alternncia entre sujeito e indivduo.
Por fim, importante apontar que no possvel, dentro desta concepo, realizar outra anlise do
sujeito que no seja referente ao poder que ele possui

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ou ao qual submetido. Sendo assim, as relaes de


poder caracterizam-se como elemento indispensvel
para a anlise do sujeito. Passamos agora a analisar a
relao do ser sujeito com os chamados movimentos
sociais, outra categoria bastante desenvolvida teoricamente por Touraine.

O sujeito e os movimentos sociais


Em razo de seu carter combatente e de sua estreita ligao com a questo do poder, a figura do
sujeito mostra-se como imprescindvel para a concepo de Novos Movimentos Sociais (NMS), cujas
definies so amplas, como se caracterizam todos
aqueles movimentos de coletividade que buscam
emancipar-se ou transformar as estruturas vigentes.
O movimento social mais radical busca manter a distncia que separa o sujeito da mquina social e de seus
mecanismos de autocontrole. Nesse sentido, podemos
lembrar as grandes greves francesas de 1913, 1936,
1948, maio de 1968, os movimentos civis contra a
guerra do Vietn nos Estados Unidos, a luta que levou Salvador Allende ao poder no Chile, os zapatistas
mexicanos enfim, movimentos que abalaram, em
maior ou menor grau e por um determinado tempo,
as foras da ordem vigente.
As concepes mais flexveis a respeito dos NMS
so justamente aquelas que agregaram ao embate
econmico a dimenso das lutas culturais, rejeitando
uma viso funcionalista da cultura como um conjunto fixo de verdades pretritas a serem seguidas no presente. Alm disto, caracterizam-se pela substituio
de uma viso de sujeito histrico redutor da realidade
pela emergncia de um sujeito coletivo difuso, no
hierarquizado, crtico e combatente (Gohn, 2004).
Para Guattari & Rolnik (1993), o que caracteriza
os NMS no somente a resistncia contra o processo
de serializao da subjetividade, mas tambm a tentativa de produzir modos de subjetividade originais
e singulares, ou processos de singularizao, opostos
aos processos de massificao. O que caracteriza o
processo de singularizao que ele autorregulador, no tem um sentido fixo definido de antemo,
no obcecado pelo futuro (salvao sempre vindoura, como na ideia de revoluo ou progresso) e prioriza o presente.
Sobre a relao do sujeito com os movimentos
sociais, podemos perceber em Touraine que, ao mesmo tempo em que o movimento social eleva o sujeito e seu olhar para alm das percepes vigentes,
o prprio sujeito converte sua postura em ganhos e
benefcios que fortalecem o movimento. Assim se estabelece uma via de mo dupla que se retroalimenta.
O sujeito apresenta-se como aquela propulso de cada
Soc. e Cult., Goinia, v. 14, n. 2, p. 419-426, jul./dez. 2011.

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Soc. e Cult., Goinia, v. 14, n. 2, p. 419-426, jul./dez. 2011.

indivduo, interpelado pelo social, convidado a lutar


pelo reconhecimento de si (sua singularidade) como
um ser de direitos.
Contudo, Touraine afirma que no existe a possibilidade de emergncia desse sujeito seno na presena
de dois aspectos: a interpelao no indivduo pelo movimento ou pelo fato social e o exame da conscincia
individual. Sobre este ltimo, importante ressaltar
que se refere, ao longo da formao de cada indivduo,
ao que no foi ensinado, mas sim reprimido (a represso rebeldia, ao confronto, ao embate, a discordncia
etc.). Na tentativa de resgatar esse sujeito reprimido
pelos modos de subjetivao dominante, necessrio,
de alguma forma, o acesso inconscincia.
O sujeito parece encoberto pela banalidade do eu e de
sua situao, assim como um livro encoberto pela
areia de uma duna, e no pode mais ser encontrado
porque no tem nenhuma comunicao com a areia
que o encobre. Isto explica que, o mais das vezes,
em nossas vidas, o sujeito est ausente (inconsciente),
como se fosse desconhecido. (Touraine, 2006, p. 143)

Dessa forma, o movimento social possui como


incumbncia despertar o sujeito e justamente nesse
ponto que reside sua fora, pois no se trata de um
aglutinado de indivduos massificados, mas sim de
um coletivo potencialmente poderoso de pessoas
despertas que, naquele momento, se propem a lutar
de forma consciente.
Em relao ao mbito da psicologia, em trabalhos
anteriores, afirmamos: No podemos pensar os processos de subjetivao como exclusivamente individuais, vividos pelo sujeito na construo de seu mundo
interno, mas sim como um processo de socializao,
sempre relacional, gerando formas de sociabilidades
diversas (Veronese, 2007, p. 21). O risco de analisar o
indivduo descolado do contexto social, intervindo de
forma igualmente desconectada desse contexto, ainda no foi totalmente superado na cincia psicolgica.
Desse modo, o dilogo com as demais cincias sociais
pode em muito contribuir para minor-lo.
Um dos campos em que esse dilogo tem se mostrado por demais interessante o da psicologia social,
especialmente na rea em que atuamos mais diretamente, as anlises e intervenes na esfera do trabalho.
Cada vez mais se desvendam novas formas de organizao no universo do trabalho, formas associativas
guiadas pelos princpios da cooperao e da autogesto.
No possvel existir autogesto sem sujeitos. Esses
novos movimentos do mbito laboral no buscam apenas a reinsero dos trabalhadores no mercado formal
ou a sustentabilidade de comunidades carentes, mas
tambm carregam, em seus princpios, um potencial
transformador. Esses novos movimentos, nascidos das
contradies do sistema social vigente e de sua diviso

do trabalho, travam embates pela defesa de modos mais


sustentveis de desenvolvimento, pela descentralizao
do poder nas empresas e empreendimentos, pelas relaes diferenciadas com o meio ambiente, pela valorizao das culturas locais, propondo uma mudana
conceitual nos fundamentos da ordem capitalista. Propem, por exemplo, a substituio da competio pela
cooperao, da individualidade pela solidariedade e da
heterogesto pela autogesto. claro que essa proposio vira prtica em graus muito variveis, e os resultados alcanados so por vezes limitados, mas existe um
movimento animado por sujeitos com essa inteno.
O trabalho caracteriza-se como um (dentre outros) dos elementos de ligao e inter-relao entre o
indivduo com seus iguais e as estruturas sociais que
lhes cercam, e tambm como elemento fundamental para as anlises sociais da modernidade (Nardi,
2006). importante que possamos, atravs da esfera
do trabalho, promover espaos de interlocuo entre a dimenso dos indivduos e dos sujeitos, se ali
engendrarem-se relaes que permitam a singularizao, a criatividade e a luta por melhores condies
de existncia (Veronese, 2007, p. 24).
Para Santos (2000, p. 56), o que se coloca em jogo
atualmente, quando pensamos em sujeitos, indivduos e movimentos sociais, a disputa epistemolgica
entre dois paradigmas: o hegemnico (forma de conhecimento e racionalidade da cincia moderna, das
prticas socioeconmicas capitalistas) e o emergente,
que consiste em experimentaes que buscam modos
diferentes de conhecer, relacionar-se e ser.
Assim, nas esferas do trabalho, domstica, do lazer, da comunidade ou qualquer outra, existem possibilidades para o emergir do sujeito em cada indivduo.
Quando isto no ocorre, cabe aos movimentos sociais
denunciar as estruturas de submisso e assim desacomodar os indivduos, provocando movimentos coletivos
em busca de certos embates que propiciem melhoria
das condies atuais, minimizao das desigualdades,
busca por direitos mais slidos ou outras demandas relacionadas luta contra os processos de submisso.

Elaboraes parciais sobre o tema


Como este artigo no pretende esgotar a temtica que aborda, mas, pelo contrrio, busca levantar
questionamentos a serem aprofundados, no ttulo
desta seo Elaboraes parciais iremos apontar autores e teorizaes que acreditamos poder em muito
contribuir com o avano desta reflexo, para trabalhar em textos futuros e como sugesto para outros
estudiosos do tema.
A discusso a respeito do sujeito e do indivduo
assume diversos contornos e complexas possibilidades.

O sujeito e o indivduo na perspectiva de Alan Touraine


Marilia Verssimo Veronese (Unisinos); Luiz Felipe Barboza Lacerda (UEA)

De momento, para este texto, ficam pendentes aprofundamentos referentes aos aspectos mais especficos a
respeito da influncia da cultura, concepo foucaultiana de poder e suas fundamentais distines entre as
sociedades disciplinares e as sociedades de controle. De
alguma forma, representam a transio dos modos de
controle de uma sociedade, em grande escala composta por indivduos, para uma outra formada por sujeitos
e indivduos, assim como as contribuies de Laclau
& Mouffe (1987) sobre os conceitos de subordinao e
opresso. Contudo, atingimos o que se propunha para
este trabalho ao explicitarmos as distines propostas
por Touraine a respeito do sujeito e do indivduo, bem
como o envolvimento de cada um em relao aos movimentos sociais.
Como podemos perceber, a partir da anlise contextual proposta no incio deste texto, Touraine d um
passo importante em busca de uma forma de anlise
social diferenciada, coerente com a transio paradigmtica de Santos (2000, 2006), e de outras tantas que
surgiram nas ltimas dcadas. Trata-se de tentativas de
aproximaes mais complexas a essa realidade multifacetada do sujeito e da relao indivduo-sociedade,
cerne das Cincias Sociais. Ao propor uma anlise social a partir da figura do sujeito, e no mais da histria como personagem principal, Touraine assume
uma postura relativista, eventualmente negando os
discursos universalizantes que enfatizaram as grandes
estruturas sociais. Ao mesmo tempo, ao caracterizar o
sujeito como combatente, crtico e poltico, tambm
se contrape postura por vezes vitimizada do indivduo moderno, que foi concebido como se estivesse
submetido a condies necessrias.
O sujeito, como vimos, surge a partir do interpelamento do indivduo por um fenmeno social que,
de alguma forma, encontra reverberaes em seu
consciente/inconsciente e, movido por um processo
de voltar-se a si mesmo em busca de referncias, acaba por engajar-se no processo de embate. A relao
entre sujeito e indivduo constitui-se como processo
de alternncia dinmica, onde por vezes o indivduo
caracteriza-se, atravs de seus direitos, como plataforma de manifestao do sujeito; por outras, o sujeito
quem emerge garantindo direitos peculiares para
esse indivduo que no se adequou mais aos discursos
totalizantes das instituies sociais vigentes.
Da mesma forma, percebemos como se mostra
importante o emergir desse sujeito para os NMS.
Melhor dizendo, como importante aos NMS colocarem-se de forma atenta em relao a esse sujeito
existente em cada indivduo, pois este que anima e
fortalece tal movimento.
Todos esses aspectos nos levariam a compreender
a postura de Touraine, assim como o emergir desse
sujeito, como uma concepo ps-moderna de perceber a realidade social. Contudo, seria interessante

425

tambm submeter seus pressupostos crtica, que ele


prprio considera to fundamental para fazer avanar
as Cincias Sociais. Se analisarmos em profundidade seus escritos, poderemos avaliar que a concepo
proposta de sujeito ainda carrega nuances de algo
essencial, algo que, a priori, estaria adormecido em
cada indivduo. Apesar de todas as desamarras frente
s concepes vigentes propostas por Touraine, encontra-se, em sua proposta de sujeito, certo aspecto
de essncia, que de alguma forma poderia vincul-lo
a caractersticas das anlises consideradas modernas.
Neste ponto necessrio estarmos atentos justamente para os apontamentos iniciais deste texto: a
relao entre uma postura moderna e outra ps-moderna no se caracteriza por um processo direto, fechado e linear; pelo contrrio, aberto a contradies
e flexvel a reformulaes.
Mas o que de fato encontramos de mais comum
entre os autores que se debruam sobre o tema do
sujeito na contemporaneidade esse aspecto combatente, militante, ativo, engajado que faz dele, muitas
vezes, o maior protagonista do campo social:
A tentativa de controle social, atravs da produo
de subjetividade em escala planetria, se choca com
fatores e resistncia considerveis, processos de diferenciao permanentes que eu chamaria de revoluo
molecular. Mas o nome no importa. A revoluo
molecular consiste em produzir as condies no s
de uma vida coletiva, mas tambm de encenao da
vida para si prprio, tanto no campo material quanto
no campo subjetivo. (Guattari & Rolnik, 1993, p. 46)

A revoluo molecular passa pela capacidade


de apropriar-se, participar na produo dos meios
de comunicao, transformar cotidianamente as
instituies de ensino, enfim, constituir uma srie
de ferramentas que possam produzir o sujeito enga
jado na demanda coletiva e, ao mesmo tempo,
autorreferenciado. Adotar uma concepo na qual
o sujeito combatente e questionador engendrado
pelas contingncias da realidade que o cerca em nada
elimina a importncia do que Touraine denominou
voltar-se para si. Pelo contrrio, a sugesto tou
raineana de voltar-se para si coloca-se como impor
tante estratgia na produo das revolues mole
culares de Guattari & Rolnik.
O sujeito produzido na interseco com a cultura e, assim sendo, seu tempo ser o presente, possibilitando a luta por uma ordem social pautada a um
tempo pela diferena e pela singularidade, no reconhecimento das mltiplas realidades existentes no
social. H um sujeito a ser produzido por cada indivduo e isso abre um amplo leque de possibilidades de
mudana social que, em ltima instncia, reaviva a
esperana no presente e no futuro.
Soc. e Cult., Goinia, v. 14, n. 2, p. 419-426, jul./dez. 2011.

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Soc. e Cult., Goinia, v. 14, n. 2, p. 419-426, jul./dez. 2011.

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The subject and the individual under Alain Touraines perspective


Abstract
The article aims to discuss, mainly under Alan Touraines latest perspective, the development of subjectivation processes in contemporaneity. One tries to understand how current changes in the way of perceiving and being in the world influence the constitution of
each individual. For that, we analyze how the author differs the concepts of Individual from Subject, as well as the relevance of their
relation with social movements and struggles for emancipation, performed by many groups and communities.
Key words: individual; subject; social movements.

El sujeto y el individuo en la perspectiva de Alain Touraine


Resumen
El artculo procura discutir, a partir de la perspectiva ms reciente de Alain Touraine, el desarrollo de los procesos de subjetivacin en
la contemporaneidad. Se busca comprender como los cambios actuales en la forma de percibir y estar en el mundo que influencian la
constitucin del sujeto. Para eso, analizamos de qu manera el autor distingue los conceptos Individuo y Sujeto, as como la importancia de la relacin existente entre la subjetividad humana en sus manifestaciones singulares y los movimientos sociales y luchas por
emancipaciones, protagonizadas por los diversos grupos y comunidades.
Palabras clave: indivduo; sujeto; movimientos sociales
Data de recebimento do artigo: 26/07/2010
Data de aprovao do artigo: 18/02/2011

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