Apostila Direitos Reais - Tiago Lacerda
Apostila Direitos Reais - Tiago Lacerda
Apostila Direitos Reais - Tiago Lacerda
Introduo
(Cristiano Chaves de Farias e Nelson
Rosenvald)
Conceito de Direitos das Coisas: Regula o poder do homem sobre certos bens suscetveis de valor e
os modos de sua utilizao econmica.
ATENO:
Direito das Coisas no sinnimo de Direitos Reais. O Direito das Coisas possui configurao mais
ampla, abrangendo alm dos Direitos Reais propriamente ditos, captulos destinados ao estudo da
Posse (cuja natureza jurdica controversa) e ao estudo do Direito de Vizinhana (classificado como
obrigao propter rem).
Absolutismo
Caractersticas
fundamentais dos
Direitos Reais
(Cristiano Chaves de Farias e Nelson
Rosenvald)
Sequela
Preferncia
Taxatividade
Absolutismo
(Cristiano Chaves de Farias e Nelson
Rosenvald)
O absolutismo dos direitos reais no decorre do poder ilimitado de seus titulares sobre os bens que
se submetem a sua autoridade. H muito a cincia do direito relativizou a sacralidade da
propriedade.
Absolutismo
(Cristiano Chaves de Farias e Nelson
Rosenvald)
Assim, pelo registro do ttulo aquisitivo (CC, art. 1227) acautelada a segurana nas transaes
imobilirias e tambm resguardada a boa-f do adquirente do direito real e de terceiros que com ele
se relacionarem.
CC, art. 1.227. Os direitos reais sobre imveis constitudos, ou transmitidos por atos entre vivos, s
se adquirem com o registro no Cartrio de Registro de Imveis dos referidos ttulos (arts. 1.245 a
1.247), salvo os casos expressos neste Cdigo.
CC, art. 1.245. Transfere-se entre
vivos a propriedade mediante o
registro do ttulo translativo no
Registro de Imveis.
Absolutismo
(Cristiano Chaves de Farias e Nelson
Rosenvald)
No estgio atual da cincia do Direito, no se pode mais enaltecer a dicotomia entre direitos reais e
obrigacionais. H uma necessria mitigao da eficcia entre os dois grandes direitos subjetivos
patrimoniais, a ponte de se afirmar carter unitrio da relao patrimonial, com base do princpio
constitucional da solidariedade, que manda o respeito por parte de todos s situaes jurdicas
regularmente estabelecidas, sejam elas reais ou obrigacionais. (Pietro Perlingieri)
Sequela
(Cristiano Chaves de Farias e Nelson
Rosenvald)
A sequela decorre do absolutismo dos direitos reais, pois se posso exigir de todos um dever de
absteno, nada me impede de retirar o bem do poder daquele que viola tal comando.
A sequela se relaciona ao princpio da inerncia ou aderncia, no sentido do direito real aderir coisa
e a perseguir.
Sequela
(Cristiano Chaves de Farias e Nelson
Rosenvald)
Em princpio a sequela inexiste nos direitos obrigacionais, pois a prestao s se dirige pessoa do
devedor, como sujeito passivo da relao jurdica, e mais ningum.
EXEMPLO
Se A se compromete a entregar um veculo a B em trinta dias (prestao de dar), mas culmina por entregar o
objeto da prestao a C, dever o credor B contentar-se com o pleito indenizatrio, em face do devedor
inadimplente, pois em princpio no poder alcanar C, que no era vinculado ao contrato.
Preferncia
(Cristiano Chaves de Farias e Nelson
Rosenvald)
A preferncia dos direitos reais consequncia da sequela (assim como a sequela consequncia do
absolutismo).
CC, art. 1.419. Nas dvidas garantidas por penhor, anticrese ou hipoteca, o bem
dado em garantia fica sujeito, por vnculo real, ao cumprimento da obrigao.
Preferncia
(Cristiano Chaves de Farias e Nelson
Rosenvald)
Privilgios legais so direitos obrigacionais que o legislador acolhe como prioritrios para a
sociedade. So crditos originariamente quirografrios, que culminam por ultrapassar os direitos
reais, quando da verificao de crditos em um concurso de credores.
CC, art. 1.422. O credor hipotecrio e o pignoratcio tm o direito de excutir a coisa hipotecada ou
empenhada, e preferir, no pagamento, a outros credores, observada, quanto hipoteca, a prioridade no
registro.
Pargrafo nico. Excetuam-se da regra estabelecida neste artigo as dvidas que, em virtude de outras
leis, devam ser pagas precipuamente a quaisquer outros crditos.
Preferncia
(Cristiano Chaves de Farias e Nelson
Rosenvald)
Alienado o bem que se encontrava afetado pelo direito real e sendo insuficiente o valor apurado para
a satisfao do credor, converte-se ele em quirografrio pelo saldo restante.
CC, art. 1.430. Quando, excutido o penhor, ou executada a hipoteca, o produto no bastar para
pagamento da dvida e despesas judiciais, continuar o devedor obrigado pessoalmente pelo
restante. (porm o credor que tinha garantia real passa a ser credor quirografrio)
Preferncia
(Cristiano Chaves de Farias e Nelson
Rosenvald)
Lei 11.101/05, art. 83. A classificao dos crditos na falncia obedece seguinte ordem:
I - os crditos derivados da legislao do trabalho, limitados a 150 (cento e cinqenta) salrios-mnimos por credor, e os
decorrentes de acidentes de trabalho;
II - crditos com garantia real at o limite do valor do bem gravado;
III - crditos tributrios, independentemente da sua natureza e tempo de constituio, excetuadas as multas tributrias;
IV - crditos com privilgio especial, a saber:
a) os previstos no art. 964 da Lei n 10.406, de 10 de janeiro de 2002;
b) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposio contrria desta Lei;
c) aqueles a cujos titulares a lei confira o direito de reteno sobre a coisa dada em garantia;
V - crditos com privilgio geral, a saber:
a) os previstos no art. 965 da Lei n 10.406, de 10 de janeiro de 2002;
b) os previstos no pargrafo nico do art. 67 desta Lei;
c) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposio contrria desta Lei;
VI - crditos quirografrios, a saber:
a) aqueles no previstos nos demais incisos deste artigo;
b) os saldos dos crditos no cobertos pelo produto da alienao dos bens vinculados ao seu pagamento;
c) os saldos dos crditos derivados da legislao do trabalho que excederem o limite estabelecido no inciso I do caput deste
artigo;
VII - as multas contratuais e as penas pecunirias por infrao das leis penais ou administrativas, inclusive as multas tributrias;
VIII - crditos subordinados, a saber:
a) os assim previstos em lei ou em contrato;
b) os crditos dos scios e dos administradores sem vnculo empregatcio.
1 Para os fins do inciso II do caput deste artigo, ser considerado como valor do bem objeto de garantia real a importncia
efetivamente arrecadada com sua venda, ou, no caso de alienao em bloco, o valor de avaliao do bem individualmente
considerado.
Preferncia
(Cristiano Chaves de Farias e Nelson
Rosenvald)
Preferncia
Lei 11.101/05, art. 84. Sero considerados crditos extraconcursais e sero pagos com precedncia
sobre os mencionados no art. 83 desta Lei, na ordem a seguir, os relativos a:
I - remuneraes devidas ao administrador judicial e seus auxiliares, e crditos derivados da
legislao do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho relativos a servios prestados aps a
decretao da falncia;
II - quantias fornecidas massa pelos credores;
III - despesas com arrecadao, administrao, realizao do ativo e distribuio do seu produto, bem
como custas do processo de falncia;
IV - custas judiciais relativas s aes e execues em que a massa falida tenha sido vencida;
V - obrigaes resultantes de atos jurdicos vlidos praticados durante a recuperao judicial, nos
termos do art. 67 desta Lei, ou aps a decretao da falncia, e tributos relativos a fatos geradores
ocorridos aps a decretao da falncia, respeitada a ordem estabelecida no art. 83 desta Lei.
OBSERVAO:
Smula 219 do STJ. Os crditos decorrentes de servios prestados massa falida, inclusive a
remunerao do sndico, gozam dos privilgios prprios dos trabalhistas.
Preferncia
(Cristiano Chaves de Farias e Nelson
Rosenvald)
CTN, art. 186 - O crdito tributrio prefere a qualquer outro, seja qual for sua natureza ou o tempo de
sua constituio, ressalvados os crditos decorrentes da legislao do trabalho ou do acidente de
trabalho. (Alterado pela LC-000.118-2005)
Pargrafo nico. Na falncia: (Acrescentado pela LC-000.118-2005)
I - o crdito tributrio no prefere aos crditos extraconcursais ou s importncias passveis de
restituio, nos termos da lei falimentar, nem aos crditos com garantia real, no limite do valor do bem
gravado;
II - a lei poder estabelecer limites e condies para a preferncia dos crditos decorrentes da legislao
do trabalho; e
III - a multa tributria prefere apenas aos crditos subordinados.
Preferncia
(Cristiano Chaves de Farias e Nelson
Rosenvald)
No concurso entre diversos titulares de direitos reais sobre o mesmo bem (ex.: vrias hipotecas no
mesmo imvel) aplica-se o brocardo prior tempore potior jure (primeiro no tempo, melhor no
direito). (CC, art. 1476)
CC, art. 1.476. O dono do imvel hipotecado pode constituir outra hipoteca sobre ele,
mediante novo ttulo, em favor do mesmo ou de outro credor.
Taxatividade
Inseridos em regime de ordem pblica, os direitos reais so numerus clausus, localizados no rol
pormenorizado do CC, art. 1225 e em leis especiais diversas (ex.: Lei 9541/97 alienao fiduciria
de imveis).
Art. 1.225. So direitos reais:
I - a propriedade;
II - a superfcie;
III - as servides;
IV - o usufruto;
V - o uso;
VI - a habitao;
VII - o direito do promitente comprador do imvel;
VIII - o penhor;
IX - a hipoteca;
X - a anticrese.
XI - a concesso de uso especial para fins de moradia;
XII - a concesso de direito real de uso.
Taxatividade
(Cristiano Chaves de Farias e Nelson
Rosenvald)
CC, art. 1.369. O proprietrio pode conceder a outrem o direito de construir ou de plantar em
seu terreno, por tempo determinado, mediante escritura pblica devidamente registrada no
Cartrio de Registro de Imveis.
Taxatividade
(Cristiano Chaves de Farias e Nelson
Rosenvald)
TAXATIVIDADE
Imputa ao legislador o
monoplio da edificao de
direitos reais.
TIPICIDADE
Delimita o contedo de cada tipo
de direito real.
A rigidez na elaborao de tipos no absoluta. hora de redefinirmos o que se deva entender por
numerus clausus e tipicidade. Nada impede que o princpio da autonomia privada possa, para alm
do mbito definido para cada direito real, intervir para flexibilizar o sistema e provocar a afirmao
de diferentes modelos jurdicos, com base nos espaos consentidos em lei, em face das exigncias
prticas do trfego negocial.
EXEMPLOS:
Propriedade de shopping center
Propriedade de flat
Propriedade de time sharing
Direito de superfcie por ciso
Hipoteca do direito real de superfcie
Existem situaes mistas que possuem carter tpico dos direitos reais e obrigacionais, mesmo assim
deve-se diferenciar os dois grupos: a situao real aquela que grava uma res determinada e
especfica, enquanto o situao creditria no possui esta relao de inerncia com uma res, eis que
sua marca o comportamento devido ( a prestao, que ser alcanada pela via do adimplemento).
certo que atualmente h uma tendncia de aproximao entre as situaes reais e obrigacionais,
enfraquecendo-se a dicotomia concebida pelos positivistas.
Pela lgica da funo social dos contratos, a relatividade das relaes obrigacionais (baseada na
indiferena dos contratantes perante terceiros) superada pela tutela externa do crdito.
DIREITOS REAIS
DIREITOS OBRIGACIONAIS
Imediatividade (ter)
Mediatividade (agir)
Permanente
Transitrio
Direito de sequela
Numerus Clausus
Numerus apertus
Objeto: a coisa
Objeto: a prestao
A relao jurdica
de Direito Real
(Cristiano Chaves de Farias e Nelson
Rosenvald)
Direitos Reais
Direitos
Obrigacionais
Direitos
Subjetivos
Patrimoniais
PARTE A:
Sujeito que detm a titularidade
formal do direito (exs.:
proprietrio; usufruturio; credor
hipotecrio).
OBJETO:
O bem sobre o qual o titular exerce ingerncia
socioeconmica.
PARTE B:
Comunidade.
PARTE A:
Sujeito que detm a titularidade
formal do direito (exs.:
proprietrio; usufruturio; credor
hipotecrio).
OBJETO:
O bem sobre o qual o titular exerce ingerncia
socioeconmica.
A relao jurdica
de Direito Real
(Cristiano Chaves de Farias e Nelson
Rosenvald)
DIREITO SUBJETIVO
EXEMPLO:
Se A proprietrio de um terreno, poder exigir em carter erga omnes o dever de no praticar atos de agresso
(direito subjetivo). Todavia, se B invade o imvel, nasce para A uma pretenso reivindicatria particularizada em face
de B, como consequncia da leso do direito subjetivo. (Portanto, nos direitos reais a pretenso decorre da ofensa a
direitos absolutos, enquanto nos direitos obrigacionais, materializa-se a pretenso quando aquele que deveria
cumprir a prestao direito relativo viola o direito subjetivo ao crdito).
O carter absoluto do posio de vantagem do titular pode ser imposta potencialmente contra
qualquer um, mas se afirma concretamente apenas contra aqueles que se encontrem em
determinada situao jurdica ou de fato relativamente ao seu objeto. (Oliveira Ascenso)
A relao jurdica
de Direito Real
(Cristiano Chaves de Farias e Nelson
Rosenvald)
Percebemos a evidente obrigacionalizao do direito das coisas, na medida em que todos os direitos
reais, sem exceo, abrigam em sua estrutura uma relao jurdica de direito real e uma outra
relao jurdica de direito obrigacional. A primeira, pautada pela situao de domnio do titular
sobre a coisa; a segunda, na relao jurdica de contedo intersubjetivo, envolvendo uma
necessria cooperao entre o titular do direito real e a coletividade.
Conceitos
importantes
(Cristiano Chaves de Farias e Nelson
Rosenvald)
Ricardo Aronne
PROPRIEDADE
Se refere relao do titular com a coletividade, face
ao direito material de absteno universal.
DOMNIO
Implica a situao do poder do titular sobre a coisas e
as suas faculdades de uso, fruio e disposio.
Conceitos
importantes
(Cristiano Chaves de Farias e Nelson
Rosenvald)
Classificao
(Cristiano Chaves de Farias e
Nelson Rosenvald)
Direitos reais
sobre coisa
prpria
Direitos
Reais
Propriedade
Propriedade
definitiva
Propriedade superficiria
Propriedade
resolvel
Propriedade fiduciria
Propriedade
resolvel
Direitos reais
sobre coisa
alheia
Usufruto
Servido
Uso
habitao
Penhor
Hipoteca
Anticrese
Promessa de
compra e venda
Obrigaes
propter rem
As obrigaes propter rem constituem uma figura peculiar, pois se inserem entre os direitos reais e os
obrigacionais, assimilando caractersticas de ambos.
NUS REAIS
EXEMPLOS:
Obrigaes dos condminos de contribuir para a
conservao da coisa comum e adimplir os
impostos alusivos propriedade.
EXEMPLOS:
Alienado o imvel com a existncia de dbitos, o
novo proprietrio assumir os encargos
condominiais perante o condomnio. (CC, art.
1345)
CC, art. 1.345. O adquirente de unidade responde pelos dbitos do alienante, em relao ao
condomnio, inclusive multas e juros moratrios.
lcito convencionar que obrigaes propter rem sejam solvidas pelo possuidor da coisa. lcito o
negcio jurdico envolvendo o repasse dos encargos condominiais ao locatrio, sem que isso implique
transferncia da obrigao real ou alterao de sujeio passiva, mas apenas uma acordo de
vontades restrito aos contratantes. Certamente, o referido acordo ineficaz relativamente a
terceiros.
EXEMPLO:
Havendo inadimplemento de cotas condominiais pelo locatrio, o prdio responsabilizar o proprietrio e este,
por sua vez, far uso do instrumento contratual para obter direito de regresso em fase do locatrio.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:
Rosenvald, Nelson, Curso de direito civil, v. 5 :
direitos reais / Nelson Rosenvald, Cristiano
Chaves de Faria. 8. ed., rev., atual. e ampl. Salvador: JusPODVIM, 2012.