A Semântica Do Intangível - Lucieni Menezes Simão
A Semântica Do Intangível - Lucieni Menezes Simão
A Semântica Do Intangível - Lucieni Menezes Simão
Niteri
2008
Niteri
2008
Banca Examinadora
__________________________________
Profa. Orientadora Dra. Lygia Baptista Pereira Segala Pauletto
Universidade Federal Fluminense
__________________________________
Prof. Dr. Glucia Oliveira da Silva
Universidade Federal Fluminense
__________________________________
Prof. Dr. Sylvia Frana Schiavo
Universidade Federal Fluminense
__________________________________
Prof. Dr. Laura Graziela Figueiredo Fernandes Gomes
Universidade Federal Fluminense
_________________________________
Prof. Dr. Ricardo Gomes Lima
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
__________________________________
Prof. Dr. Diana Antonaz
Universidade Federal do Par
__________________________________
Prof. Dr. Alfredo Wagner Berno de Almeida (suplente)
Universidade Federal do Amazonas
__________________________________
Prof. Dr. Eliane Cantarino ODwyer (suplente)
AGRADECIMENTOS
Heloisa
Bertol
(MAST-CNPq)
por
ter
me
disponibilizado
os
RESUMO
ABSTRACT
SUMRIO
INTRODUO................................................................................................................ 1
Goiabeiras atravs de seus quintais familiares............................................................. 9
CAPTULO 1 Patrimnio Cultural e Nao................................................................ 17
1.1.Temas instituidores da brasilidade: cultura, folclore e patrimnio...................... 25
1.2. A lgica dos formuladores da agncia de patrimnio: o anteprojeto de Mrio de
Andrade e o Decreto-lei 25/37 de Rodrigo M. F. de Andrade ................................... 37
CAPTULO 2 Elos do patrimnio: Luiz de Castro Faria e a preservao dos
monumentos arqueolgicos no Brasil. ........................................................................... 46
2.1. Quando o arquivo o campo............................................................................... 46
2.2. A preservao dos monumentos arqueolgicos no Brasil ................................... 53
CAPTULO 3 - A dimenso transnacional dos Patrimnios Culturais .......................... 68
3.1. Situando o debate: as agncias multilaterais e a salvaguarda do patrimnio
cultural imaterial......................................................................................................... 68
3.1.1. A participao do IPHAN na reunio de experts sobre Inventrio do
Patrimnio Cultural Intangvel (UNESCO, maro de 2005).................................. 81
CAPTULO 4 A Trajetria da Poltica de Patrimnio Imaterial no Brasil ................. 88
4.1. A nova fase de institucionalizao do patrimnio: a gesto Alosio Magalhes. 88
4.2. A semntica do intangvel na arena poltica do patrimnio cultural ................. 101
4.2.1. O Registro e o Inventrio Nacional de Referncias Culturais: as vrias fases
da pesquisa............................................................................................................ 109
4.3. O dossi de estudo das paneleiras de Goiabeiras: inventrio e registro............ 113
4.3.1. Os bens culturais associados: a moqueca, a torta capixaba e o congo Panela
de Barro. ............................................................................................................. 130
CAPTULO 5 Os modos de apropriao do Registro do Ofcio das Paneleiras de
Goiabeiras do Esprito Santo. ....................................................................................... 136
5.1. A localidade de Goiabeiras Velha: famlias tradicionais de paneleiras ligadas ao
ba(i)rro. ..................................................................................................................... 152
5.1.1. Os quintais tradicionais de Goiabeiras Velha............................................. 167
5.2. Associao das Paneleiras de Goiabeiras: tradio, produo e mercado......... 186
5.2.1. Aqui ns todos somos individuais .......................................................... 192
5.2.2. Panela da famlia, patrimnio da nao...................................................... 201
Consideraes Finais .................................................................................................... 222
Referncias Bibliogrficas............................................................................................ 232
INTRODUO
Patrimnio imaterial, diversidade cultural, cultura popular estas noes
inter-relacionadas circulam amplamente, nos ltimos anos, em documentos oficiais
nacionais e internacionais, servindo para qualificar e legitimar programas, projetos e
polticas pblicas1. Sob uma auto-evidncia ou uma aparente transparncia de
significado recobrem, como sistema de valor e de referncia, um campo de
contradies discursivas, de interesses tericos, tcnicos e polticos que envolvem a
produo, o reconhecimento e a internalizao de signos distintivos e identitrios.
Em diversos momentos a idia de povo foi propalada com o sentido de origem e
sntese da nao moderna, e, nesses debates, o papel articulador dos Estados
Nacionais sustentou-se atravs do discurso ideolgico da unidade nacional. Pierre
Bourdieu explora a dimenso poltica e de uso sobre a categoria cultura popular,
desconstruindo concepes nominalistas e recupera historicamente essas questes. O
saber do povo2, revelador da ancestralidade e da tradio define-se em
meados do sculo XIX, como uma rea de conhecimento delineada no contexto da
redescoberta romntica do popular, do movimento europeu oitocentista
interessado nas curiosidades do primitivismo cultural3.
No Brasil, essa tradio compilatria instala-se mais claramente a partir da
gerao intelectual de Silvio Romero (1851-1914). Na literatura, discutia-se,
sobretudo, os debates sobre a raa e sobre a incorporao desses traos distintivos
nas letras e expresses. Com o surto do nacionalismo literrio, nas primeiras dcadas
do sculo XX, observou-se a expanso desse projeto de cultura nacional. Em
1
Institudo pelo Decreto n 3.551, de 4 de agosto de 2000, o Registro de bens culturais de natureza
imaterial o instrumento legal do Estado brasileiro que reconhece e valoriza o Patrimnio Cultural
Imaterial. Associado ao Registro foi criado o Programa Nacional de Patrimnio Imaterial, responsvel por
viabilizar projetos de inventrio, identificao, documentao, salvaguarda e promoo da dimenso
imaterial do patrimnio cultural. A esse respeito ver IPHAN. O Registro do Patrimnio Imaterial:
dossi final das atividades da Comisso e do Grupo de Trabalho Patrimnio Imaterial. Braslia: MinC/
IPHAN, 2 ed., 2003.
2
O neologismo ingls folk-lore saber do povo cunhado por Williem John Thoms, em 1846, referia-se
a estudos de antiguidades populares" ou literatura popular. Cf. THOMPSON, E. P. Folklore,
Anthropology and Social History In: The Indian Historical Review, vol. III, n2. 1977.
3
Cf. BURKE, P. Cultura Popular na Idade Moderna. So Paulo: Companhia das Letras, 1989;
DAVIS, N. Z. O Povo e a Palavra Impressa. Culturas do Povo: sociedade e cultura no incio da Frana
moderna. Rio de Janeiro: Paz e Terra, p. 157-185. 1990; THOMPSON, E. P. Costumes em Comum:
Estudos sobre a Cultura Popular Tradicional. So Paulo: Companhia das Letras, 1998; THIESSE, A-M.
La Cration des Identits Nationales. Europe XVIII-XX sicle. Paris: Seuil. 1999.
nenhum outro perodo da nossa histria cultural discutiu-se com tanto entusiasmo a
noo de brasilidade. A redescoberta do Brasil, como era tratada por boa parte dos
intelectuais modernistas, inaugura a problemtica da brasilidade em suas dimenses
literria e artstica. Procuro entender de que modo propostas seminais de sua
abordagem sofreram transformaes e ressignificaes, desde o sculo XIX at a
atualidade, e, ao mesmo tempo, preservaram a memria de coordenadas
fundamentais para vises posteriores. Se, naquela poca, havia um sentimento de
que era preciso conhecer o Brasil, a histria no escrita, a tradio flutuante e
indecisa de nossas origens4, hoje, o desafio mapear a diversidade cultural, o
patrimnio imaterial do pas.
Em perodo to extenso, procuro, atravs de alguns recortes interpretativos,
identificar e relacionar os principais eixos de produo intelectual que objetivaram e
sustentaram a idia de um patrimnio nacional. Diferentes contextos polticos que
definiram projetos, interesses e prticas nesta rea j foram examinados em outros
trabalhos5. Preferi abordar o tema tomando como base autores ligados aos campos
disciplinares da histria e da antropologia, freqentemente mencionados em estudos
e em polticas institucionais de construo simblica da nao, como nos trabalhos
de Eric Hobsbawm, Benedict Anderson e Anne-Marie Thiesse dentre outros6.
ateno para a atuao desses personagens e para a estruturao das cincias sociais
no Brasil11. Mrio de Andrade, a referncia mxima do modernismo brasileiro,
argiu a tradio compilatria dos folcloristas que o antecedera, defendendo a
investigao cientfica do fato folclrico. Concomitante a todo esse processo de
consolidao de um campo de estudos, tendo a figura de Mrio de Andrade no
centro da encruzilhada, iniciou-se um longo debate sobre a questo da aplicao do
mtodo etnogrfico nas pesquisas sobre o folclore. Nos Congressos de Folclore
organizados pelo movimento intelectual que se institucionalizou como Campanha de
Defesa do Folclore Brasileiro aumentavam as crticas ao amadorismo das descries
que priorizavam as aes de coleta e classificao, deixando a interpretao e os
procedimentos cientficos para a pesquisa etnogrfica. A problemtica que se
anunciava est relacionada viso esttica que embasa a idia de cultura,
profundamente enraizada no senso comum, e que se manifesta com freqncia pela
busca da autenticidade. Esta questo foi, por muitos anos, o eixo das discusses do
campo de estudos do folclore e do campo temtico do patrimnio.
Os debates nos fruns internacionais conduzidos pela UNESCO aprimoraram
a noo de autenticidade em reunies especficas sobre o tema, como se observa
na Carta de Braslia - documento regional do Cone Sul sobre autenticidade,
Braslia, 199512. Tais debates, liderados pelos arquitetos, dominaram a cena mundial
e repercutiram no Brasil e em toda Amrica Latina. Hoje, incorporou-se ao conceito
da autenticidade a dinmica prpria dos processos mutveis das identidades sociais,
que pode adaptar, valorizar, desvalorizar e revalorizar os aspectos formais e os
contedos simblicos [desses] patrimnios13. A ampliao dessa noo deve-se, em
grande parte, incorporao dos temas e problemas da antropologia nesse campo
temtico14.
11
Nesta tese procuro fazer uso da antropologia, tanto dos seus mtodos de
pesquisa, quanto de seu arsenal terico, para analisar o discurso do patrimnio e de
seu campo de atuao. Mariza Corra18 revela o quanto so ainda escassas as
anlises sobre as sociedades cientficas ligadas disciplina antropolgica destaco
aqui a Sociedade de Etnografia e Folclore (SEF), criada por Mrio de Andrade em
1936 e ao contexto institucional no qual produziram suas pesquisas, indicando que
essas associaes foram criadas no perodo em que as cincias sociais comeavam a
se institucionalizar. Corra discute que seria interessante compar-las a outras
instituies criadas por iniciativa dos agentes do Estado, especialmente no contexto
15
IPHAN/ DID. Inventrio Nacional de Referncias Culturais. Manual de aplicao. Braslia: IPHAN,
2000.
Cf. CHARTIER, R. A noo de apropriao central para esse trabalho, particularmente, aquela
empregada por Roger Chartier em seu texto Cultura Popular: revisando um conceito historiogrfico.
Estudos Histricos, Rio de Janeiro, vol. 8, n 16, 1995, p. 179-192.
23
As demais idas a campo ocorreram entre os meses de novembro a janeiro, tanto por questes
operacionais, quanto por ser a poca de maior fluxo turstico em Vitria, e quando o galpo da
Associao recebe mais turistas e encomendas. No quinto captulo desta tese descreverei o galpo, tanto a
estrutura fsica quanto as relaes sociais que dali pude apreender.
24
Conforme Simoni Guedes, a categoria quintal recobre os conjuntos de casas que foram construdas ao
longo dos anos num mesmo lote ou terreno, a partir de uma casa inicial, em que o proprietrio realiza ele
mesmo ou permite a realizao de novas construes. GUEDES, S. L. Redes de Parentesco e
Considerao entre Trabalhadores Urbanos: tecendo relaes a partir de quintais. Caderno do Centro de
Recursos Humanos. Faculdade de Filosofia e Cincias Humanas. Universidade Federal da Bahia.
Salvador. N. 29; 1998. p. 189-208. p. 198.
25
No decorrer da pesquisa de campo, essas senhoras se afastaram do galpo por problemas de sade.
Dona Domingas teve um derrame e as seqelas a impossibilitou de continuar no galpo da associao. J
dona Bernanci, mais recentemente, alegava fortes dores nas pernas decorrentes do cansao de muitas
horas em p. O agravamento do problema de sade dessas senhoras um desafio para a boa consecuo
das aes de salvaguarda. Muitas vezes fui questionada por alguns interlocutores sobre a necessidade de
polticas pblicas integradas, como a assistncia mdica e previdncia social, que trouxessem benefcios
imediatos para essas senhoras, que, afinal, eram patrimnio histrico do estado, como costumavam me
dizer.
26
A Associao das Paneleiras de Goiabeiras foi fundada em maro de 1987.
10
27
O trecho compreende algumas casas situadas prximas umas as outras e que fazem parte de um mesmo
lote ou terreno, onde moram famlias ligadas por laos de parentesco (por consanginidade, ou por
afinidade).
11
28
DIAS, C. Panela de Barro Preta: A Tradio das Paneleiras de Goiabeiras - Vitria-ES. Rio de
Janeiro: Mauad X/ Facitec, 2006, P. 16. Grifos do autor.
29
Ibid., p. 17.
30
Dona Laurinda Lucidato e dona Silvana Rosa vieram a falecer no incio da minha pesquisa de campo.
31
Ademilson costuma pegar peas diferentes, como a travessa em forma de peixe, a frma de pizza, o
fogareiro e a churrasqueira. Me e filha j preferem as formas tradicionais da frigideira e das panelas para
arroz e piro. Todos, porm, alegam fazer todo o tipo de peas, apesar de reconhecerem que algumas so
mais difceis.
12
Essa expresso foi utilizada por uma das minhas interlocutoras em campo, Izabel Corra Campos,
quando lhe perguntava sobre o seu grupo familiar para montar o quadro de referncia. Izabel sintetizou
com essa frase o que eu estava procurando fazer na localidade.
13
33
Utilizo a categoria panela de barro para designar o conjunto de artefatos cermicos utilitrios
produzidos na localidade de Goiabeiras Velha.
34
Os planos de salvaguarda objetivam desenvolver, implantar e acompanhar aes que contribuam para a
melhoria das condies de vida dos grupos, comunidades e expresses registradas, e constituam suporte
produo, reproduo e transmisso de bens culturais de natureza imaterial.
35
No ltimo captulo sero relatados os principais temas abordados nessas oficinas, bem como quantos e
quem foram os seus participantes. A questo da salvaguarda ser retomada nas consideraes finais deste
trabalho.
36
A festa acontecia h treze anos, prxima a data de 7 de julho, institudo pela prefeitura de Vitria como
o Dia da Paneleira (Lei n 70/91). A esse respeito ver trabalho: DIAS, C. A Tradio Nossa essa,
Fazer Panela Preta: produo material, identidade e transformaes sociais entre as artess de
Goiabeiras. Dissertao de Mestrado. Rio de Janeiro, UFRJ/EBA, 1999. DIAS, C. Panela de Barro
Preta: A Tradio das Paneleiras de Goiabeiras - Vitria-ES. Rio de Janeiro: Mauad X/ Facitec, 2006.
14
Esta tese pretende dar uma contribuio aos estudos de poltica e gesto do
patrimnio cultural. O tema se insere nos debates contemporneos sobre patrimnio
cultural imaterial e procura construir um panorama de como se constituram e se
consolidaram instrumentos polticos e tcnicos de acautelamento, referidos na Carta
Constitucional de 1988 e estabelecidos em legislao complementar (Decreto
3.5551/2000). Pretendeu-se incorporar anlise modos de apropriao dessas
polticas por um grupo social - o das paneleiras de Goiabeiras do Esprito Santo que recebeu, em novembro de 2002, o ttulo de Patrimnio Cultural do Brasil.
Vale observar que esta tese no se restringe ao trabalho de campo em
Goiabeiras Velha. A pesquisa em arquivos Noronha Santos/IPHAN-MinC e Luiz
de Castro Faria/MAST-CNPq revelou-se fundamental para restituir a rede de
relaes entre agentes e agncias que configuram os debates sobre as polticas
37
Fao constar que tive roubadas onze fitas k7s, com entrevistas de campo (registro de ocorrncia n 02004577/2007, 20a Delegacia de Polcia). Esse triste relato de uma crnica carioca, dramatizada no bairro de
Vila Isabel, Zona Norte do Rio de Janeiro, em agosto de 2007, teve conseqncias, deixando algumas
questes em aberto, lacunas nas sries de dados para o exerccio interpretativo. Pretendo retornar a
campo, ainda neste primeiro semestre de 2008, com o intuito de checar e complementar meu material de
pesquisa.
15
Em setenta anos de atuao, a instituio passou por uma srie de reorganizaes administrativas
refletidas em sua nomenclatura. Em 1937, a Lei 378, de 13/01/1937 cria o Servio do Patrimnio
Histrico e Artstico Nacional (SPHAN) e o Decreto-lei 25, de 30/11/1937 organiza a proteo do
patrimnio histrico e artstico nacional, analisado no primeiro captulo da tese. Em 1946, o Servio de
Patrimnio passa a se denominar Departamento de Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, DPHAN,
que permanece com essa nomenclatura at 1970, quando passa a Instituto (IPHAN) como rgo
autnomo da estrutura administrativa. No quarto captulo, voltarei a discutir esses rearranjos
institucionais.
39
LESTOILE, B. Antropologia, imprios e estados nacionais: uma abordagem comparativa. In:
LESTOILE B.; NEIBURG, F.; SIGAUD, L. (orgs.) Antropologia, Imprios e Estados Nacionais. Rio
de Janeiro: Relume Dumar/FAPERJ, 2002, p. 30.
40
MAUSS, M. La Natin. In: Sociedad y Ciencias Sociales. Obras III, Barcelona: Barral, 1972. p.
306, 308.
16
17
THIESSE, A-M. La Cration des identits nationales: Europe XVIII - XXme sicle. Paris:
Editions du Seuil, 1999. Sobre a constituio dos Estados nacionais modernos tambm consultar
HOBSBAWM, E. A Era das Revolues. 1789-1848. 2a ed. Lisboa: Ed. Presena, 1982.
42
THIESSE. Op.cit., p. 16.
43
CHOAY, F. A Alegoria do Patrimnio. So Paulo: Estao Liberdade: UNESP, 2001.
18
CHOAY, F. A Alegoria do Patrimnio. So Paulo : Estao Liberdade: UNESP, 2001, p. 98, 120.
Grifos nossos.
45
Instruction sur la manire dinventorier et de conserver dans tout ltendue de la Rpublique, tous les
objets qui peuvent servir aux arts, aux sciences e lenseignement, propose par la Comission temporair
des arts et adopte par le Comit dInstruction publique de la Convention nationale, Paries, Imprimerie
nationale, ano segundo da Repblica. CHOAY, op.cit., p. 110.
46
BREFE, A. C. F. Museu, imagem e temporalidade. Anais do museu paulista. So Paulo, v. 15, n.
2, 2007.
47
BURKE, P. Cultura Popular na Idade Moderna. So Paulo: Companhia das Letras, 2a ed., 1989;
BRAVO, A. F. (org). La Invencin de la Nacin: lecturas de la identidad de herder a homi Bhabha.
Buenos Aires: Manantial, 2000; HOBSBAWM, E. Naes e Nacionalismos desde 1780. 3a ed. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 2002.
48
O Romantismo, movimento artstico e filosfico surgido inicialmente na Alemanha pr-unificada,
adotou uma viso de mundo contrria ao racionalismo e cientificismo iluminista, exaltando as tradies
19
20
Estados absolutistas51.
Uma voz dissonante na poca foi a de Ernest Renan (1873)52, posicionandose criticamente quanto ao enfoque nacionalista dominante no sculo XIX. Ele
considerava um erro confundir raa com nao, lembrando que as primeiras naes
da Europa so de sangue essencialmente mesclado53. Renan tambm descartava a
lngua, a religio e a geografia como seguros operadores das fronteiras nacionais,
enfatizando que esses elementos no seriam critrios razoveis de diviso das naes
e nacionalidades. Com ironia, ressalta a necessidade de se compartilhar no s
lembranas, mas tambm esquecimentos. Se, por um lado, Renan amplia a discusso
para alm do tnico e geogrfico, por outro prope compreender a nao em sua
dimenso poltica, como principal responsvel pela constituio de uma unidade
nacional.
Outra vertente da discusso se d atravs de Marcel Mauss54, ao questionar
qual gnero de sociedade mereceria ser classificada como nao. Ele argumenta a
favor da historicidade da noo e traz para o entendimento da nao moderna
contribuies do pensamento antropolgico da escola sociolgica francesa. Mauss
enfatiza, como Renan, a importncia da construo de uma unidade moral e poltica
para a nao moderna, agregando em sua anlise os fenmenos psicossociais quando
se refere ao carter nacional. E, ao lana luz sobre questes da sua poca, afirma
que as sociedades no podem formar-se umas sem as outras55. Segundo o autor,
determinadas convenes internacionais, tais como as de propriedade artstica,
literria ou industrial expressam um estado de internacionalismo de certos fatos e
obrigam os diversos estados a adotarem os mesmos princpios de direito e, mais
ainda, jurisprudncias idnticas56. Mauss prenuncia a criao das agncias
multilaterais e das legislaes internacionais pautadas no respeito integridade
humana e diversidade cultural.
51
21
dialetais
europias
reconhecer
esforo
na
padronizao
HOBSBAWM, E. Naes e Nacionalismos desde 1780. 3a ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002, p. 10.
Ibid., p. 20.
59
NEIBURG, F. et al. In: Leopoldo Waizbort (org.). Dossi Norbert Elias. 2 ed. So Paulo: Edusp,
2001.
60
NEIBURG, F. O naciocentrismo das cincias sociais e as formas de conceituar a violncia poltica e os
processos de politizao da vida social. In: Leopoldo Waizbort (org.) Dossi Norbert Elias. 2 ed. So
Paulo: Edusp, 2001, p. 47.
58
22
passaram a existir. Pode-se descrever como naciocntricas as
teorias da cultura ou da sociedade que tm no seu horizonte, ao
mesmo tempo, uma ambio descritiva e prescritiva em relao
a ideais de boa cultura e de boa sociedade que, de uma forma ou
de outra, se referem sempre a sociedades ou a culturas
nacionais61.
23
classificao etnolgica, ou seja: cada pea deve ser estudada em seu contexto de
produo64.
A nfase no estudo da cultura material uma marca nos museus etnogrficos,
herana da tradio dos colecionistas dos sculos XVIII e XIX.65 Conforme
apontado, a passagem de um paradigma evolucionista para uma tradio mais
preocupada com os processos histricos, com os contextos sociais de produo e
significado simblico dos objetos muito deve a Franz Boas e s instituies
museolgicas americanas. As mudanas se manifestaram tanto nas classificaes do
material coletado em campo, quanto no projeto de montagem. Dessa forma, foram
estudadas as artes decorativas dos ndios da costa do Pacfico norte e a sua cultura
material, bem como pesquisados os mitos, as canes, as narrativas e as lendas do
folclore dos ndios do noroeste americano66.
A trajetria social de Franz Boas se d simultaneamente construo do
campo da antropologia norte-americana. Para alm da formao voltada para o
ensino e a pesquisa de campo, Boas marcou presena em outros segmentos, como o
Folclore, a Arqueologia, a Geografia e a Lingstica. Integrou as principais
associaes cientficas de seus campos de interesse, como a Associao Americana
de Folclore, para a qual contribuiu por dezessete anos, participando da edio da
revista. Alguns bigrafos seus mais especificamente Stocking Jr.67 interpretam
como uma estratgia para atrair centros alternativos de poder institucional, e, assim,
difundir suas idias sobre o novo mtodo antropolgico68. Franz Boas prope uma
ruptura no campo de debates do evolucionismo ao inserir uma nova linha
argumentativa. Atravs de seu rigor metodolgico, vai se opor s teorias racistas
dominantes e estabelecer o postulado da diversidade cultural.69
64
24
LEstoile, Neiburg e Sigaud70 abordam o interesse da antropologia norteamericana pelas populaes submetidas ao processo de colonizao interna do
espao nacional, [...] centrando sua ateno na diversidade social e cultural do pas:
ndios, negros e imigrantes de origens diversas. Em seguida, discutem a passagem
da antropologia nacional, voltada essencialmente para o nation-building (como as
antropologias mexicana ou brasileira) para uma antropologia imperial ou
metropolitana. J Goldman e Neiburg (idem) exploram as condies histricas nas
quais foram se configurando os estudos sobre o carter nacional nos Estados
Unidos. Essa passagem vai ocorrer na dcada de 1940, no momento em que a
chamada escola norte-americana de cultura e personalidade inaugurava uma
abordagem antropolgica de escala nacional aplicada s relaes internacionais71.
Partia-se, portanto, da diversidade cultural dos grupos formadores da
sociedade norte-americana. Este pressuposto terico, difundido atravs da
antropologia boasiana e apropriado por vrios de seus ex-alunos72, configurou um
campo de debates em torno das questes relacionadas aos padres da cultura
nacional. Seguindo essa perspectiva analtica, a cultura tenderia a moldar
determinadas caractersticas da personalidade, apreendida atravs da lngua, da
cultura material e de tantos outros traos culturais73.
Estabelecer os nexos e as afiliaes intelectuais no tarefa fcil, mas se faz
necessrio quando o objetivo reconstruir um campo de estudo. Assim se pode
pontuar tanto o alargamento da esfera de atuao antropolgica e seus efeitos,
quanto entender o modo como o processo repercutiu no Brasil. A antropologia, que
surgiu vinculada aos museus, logo se difundiu, estabelecendo-se nas universidades e
formando associaes de classe. O impacto da mudana de perspectiva operada por
vez em um encontro da American Association for the Advancement of Science importante associao de
classe que tambm ajudou a criar, juntamente com a revista American Anthropologist, fez uma crtica
incisiva ao paradigma do evolucionismo cultural. Cf. BOAS, F. In: CASTRO, C. (org.). Antropologia
Cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
70
LESTOILE, B.; BEIBURG, F.; SIGAUD, L. Apresentao. In:______. Antropologia, Imprios e
Estados Nacionais. Rio de Janeiro: Relume Dumar/ FAPERJ, 2002, p. 25.
71
Referindo-se aqui Segunda Grande Guerra e ao papel dos antroplogos vinculados Escola de
Cultura e Personalidade. GOLDMAN, M.; NEIBURG, F. Da nao ao imprio: a guerra e os estudos do
carter nacional. In: LESTOILE, B.; BEIBURG, F.; SIGAUD, L. (Orgs.) Antropologia, Imprios e
Estados Nacionais. Rio de Janeiro: Relume Dumar/ FAPERJ, 2002 p. 187-188.
72
Ruth Benedict, Margaret Mead, Bateson, Alfred Mtraux, dentre outros.
73
No exagero afirmar que este tema permeia a ao da UNESCO, organizao internacional criada
aps a Segunda Guerra Mundial. Mais adiante tratarei sobre a criao da UNESCO e da sua importncia
para a criao de instrumentos normativos de proteo e promoo da diversidade cultural.
25
Boas se fez sentir no Brasil, especialmente atravs dos escritos de Gilberto Freyre.
Os intelectuais brasileiros, que haviam se apropriado inicialmente das teorias raciais
desenvolvidas na Europa, em particular do Darwinismo social de Spencer, do
Evolucionismo unilinear de Frazer e Tylor, bem como do positivismo de Auguste
Comte, tiveram nas crticas de Boas ao evolucionismo um importante contraponto.
Pode-se afirmar que, ainda que sob paradigmas evolucionistas, cunha-se, ento, no
Brasil, toda uma concepo de Cultura Brasileira, mesmo que com uma conotao
diferente daquela estabelecida a partir da dcada de 1920, com o movimento
modernista.
1.1.
BURKE, P. Cultura Popular na Idade Moderna. So Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 31-49.
CNDIDO, A. O Mtodo Crtico de Silvio Romero. So Paulo: Edusp, 1988.
26
76
O IHGB foi criado juntamente com o Arquivo Pblico do Imprio e a Academia Imperial de Belas
Artes, e integrou esforos na construo de representaes de um Estado imperial centralizado e forte.
Seu prestgio foi parcialmente abalado com a Repblica pela inevitvel associao com os smbolos e
personagens do Imprio.
27
Bacharelou-se em Direito em Recife, viveu alguns anos no Rio de Janeiro, e participou ativamente em
diversas reas da produo literria, como a crtica literria, a histria, a poesia, o ensaio e o folclore.
Presenciou o avano da cincia e a divulgao do evolucionismo de Darwin, que marcou profundamente
os autores que o influenciaram, como Renan e outros de seu tempo. Foi membro-fundador da Academia
Brasileira de Letras e membro do Instituto Histrico Geogrfico Brasileiro, alm de ter participado de
diversas outras associaes literrias.
78
Segundo Maria Isaura Pereira de Queiroz, os pesquisadores brasileiros fundamentavam suas hipteses
na pesquisa emprica, mesmo a produo pr-cientfica da gerao de 1870. Questiona-se, portanto,
sobre a clivagem estabelecida por Florestan Fernandes dos estgios pr-cientficos e cientficos da
produo das cincias sociais. Ver em: QUEIROZ, M. I. P. Desenvolvimento das cincias sociais na
Amrica Latina e contribuio europia: o caso brasileiro. Revista Cincia e Cultura, SBPC, 41(4): 378388, abril 1989.
28
79
29
80
IANNI, O. Tipos e Mitos do Pensamento Brasileiro. Revista Brasileira de Cincias Sociais., v. 14, n.
49, 2002, p. 6.
81
Ibid., p. 6
30
O poeta francs Blaise Cendras, ao lado de Apollinaire, revigorou a poesia francesa da primeira metade
do sculo XX. Vale ressaltar que Cendras veio ao Brasil em 1924, e incentivou o movimento modernista
que aqui estava se constituindo.
83
O autor atribui s experincias de deslocamento pelo Norte e Nordeste do Brasil grande inspirao na
sua obra literria. Cf. NOGUEIRA, A. G. R. Por um Inventrio dos Sentidos: Mrio de Andrade e a
Concepo de Patrimnio e Inventrio. So Paulo: Hucitec: Fapesp, 2005, p. 99-175.
31
trabalha por muitos anos, organizando-o a partir de dados novos, enviados por aquela
rede de relaes que estabelecera em suas viagens ao Norte e ao Nordeste. As viagens
foram sendo narradas e criadas em diferentes vertentes: uma delas seria da crnica
do cotidiano; outra, da investigao cautelosa sobre as expresses culturais e
linguagens regionais; outra, ainda, da vertente ficcional.
O dirio um gnero literrio hbrido e fragmentado pela sua prpria lgica
interna ao narrar experincias mltiplas e transitrias. Mas, ao ler os dirios de
viagens de Miro de Andrade, observa-se que o modo como trabalha e organiza seu
material, pautado pela lgica da elegibilidade dos elementos narrativos, com suas
seqncias e roteiros do que deve ou no ser observado, serve como material
emprico para a construo de seus textos literrios. Como atesta Tel Ancona
Lopez, a viagem ao Nordeste, entre novembro de 1928 e fevereiro de 1929, marcou
o pesquisador do folclore. Mrio visitou Pernambuco, Alagoas, Rio Grande do Norte
e Paraba, e foi hspede de intelectuais ilustres, como Cmara Cascudo, em Natal, e
o poeta Jorge de Lima, em Macei, firmando amizade que seria profunda e
duradoura84. Para alm dos contatos estabelecidos, converte-se em experincia de
observao vivenciada estuda a religiosidade popular, o Catimb, a msica de
feitiaria, tem seu corpo fechado e passa o Carnaval no Recife. Na Paraba
encontra o cantador Chico Antnio, acompanhado de seu instrumento, o ganz,
ficando muito impressionado com sua capacidade de criador e de intrprete.
Mrio de Andrade tornou-se, portanto, um dos principais articuladores dos
debates sobre a formao da sociedade e cultura brasileiras. Sua trajetria social85
paradigmtica, pelo grau de reconhecimento no campo intelectual, pelas constantes
reconverses de seu capital cultural em capital tcnico e poltico, por participar de
uma produo literria de vanguarda e por integrar uma rede de relaes bastante
complexa: desde seus contatos com a instituio do patrimnio, passando pelos
estudos de folclore, pela antropologia ento nascente no pas, at sua incurso na
84
32
87
88
Antroploga, dirigiu o Museu Nacional de 1937 a 1945, tendo sido responsvel pela restaurao do
prdio e inaugurao da exposio permanente dessa instituio. Intelectual de prestgio presidiu o
Conselho Nacional do ndio, Conselho Internacional de Museus no Brasil e foi Membro do Conselho
Consultivo do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional. Cf. CHUVA, M. R. R. Os Arquitetos da
Memria: a construo do patrimnio histrico e artstico nacional no Brasil (anos 30 e 40). Tese de
Doutorado em Histria. v. I e II. Niteri, RJ: Universidade Federal Fluminense, 1998, p. 499; RIBEIRO,
A. M. M. Heloisa Alberto Torres e Marina So Paulo de Vasconcellos: Entrelaamento de crculos e
formao das cincias sociais na cidade do Rio de Janeiro. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro: UFRJ/
IFCS, 2000.
33
intuito de incrementar o treinamento de etnlogos.89
francs
Claude
Lvi-Strauss,
professor
da
recm-inaugurada
34
94
Dividiu o curso em 23 aulas, produzindo para cada dia uma apostila com temtica diversa: as quatro
primeiras aulas foram dedicadas a Antropologia fsica; da 5a a 8a ao folclore anlise de objeto
decorado, a msica; as 9a e 10a, aos instrumentos musicais; 11a a dana e o drama; 12a, aos jogos; 13a:
contos, lendas, mitos, provrbios; 14a: cultura material; 15a: classificao dos objetos; 16a e 17a: plano
de habitao e arranho das diferentes partes; 18a: o fogo armas e instrumentos; 10a. e 20a: o arco e a
flecha a tecelagem a cermica; 21a. e 22a.: a cermica; 23a: lingstica.
95
Catlogo do Arquivo da Sociedade de Etnografia e Folclore (1993). Verso digital
http://www.centrocultural.sp.gov.br/livros/acervo/sef_1.swf. Acessado em 02/01/08.
35
96
. No
entanto, em suas descobertas estticas, aproxima-se cada vez mais dos debates das
cincias sociais, abordando temticas sobre a mentalidade primitiva, conforme
Lvy-Bruhl, Tylor e Frazer e a literatura antropolgica produzida na Alemanha97. E
atravs de uma concepo ampliada de arte e cultura, a um s tempo abrangente e
vertical, embasa a sua conceituao para um Servio do Patrimnio Artstico
Nacional.
Mrio de Andrade via com entusiasmo a iniciativa de uma agncia de
proteo do patrimnio nacional. A discusso sobre a criao de uma agncia com
essa incumbncia iniciou-se na viagem s cidades de Minas, na dcada de 1920,
quando se mostrou reveladora de uma cultura autenticamente brasileira, mas
tambm produziu uma srie de denncias sobre a situao de abandono dessas
cidades. Desde ento, os intelectuais que participaram da caravana de redescoberta
do Brasil passaram a escrever artigos, alertando para a ameaa da perda irreparvel
dos monumentos de arte colonial, considerados autntica tradio nacional.
Ainda que houvesse tenses nos modos de compreender as relaes entre
cultura e nao, o grupo de intelectuais modernistas que se manteve ao lado de
Gustavo Capanema, ministro da Educao e Sade Pblica de 1934 a 1945, buscava
consolidar um projeto centrado na idia de brasilidade98. Mais uma vez, observou-se
que as perspectivas eram divergentes mesmo quando pareciam dar noo o mesmo
96
36
99
37
101
38
39
40
41
115
Publicado pela primeira vez em 1936, somente em 2004, o livro ganha uma segunda edio pela
editora Cosac Naify.
116
Heloisa Alberto Torres aproximou Luiz de Castro Faria da roda de intelectuais que a partir de 1938
acompanhou a gesto de Rodrigo Melo Franco de Andrade frente do SPHAN. Cf. CASTRO FARIA, L.
Um Outro Olhar: dirio da expedio Serra do Norte. Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul, 2001, p. 23.
117
ANDRADE, R. M. F. Artistas Coloniais. Rio de Janeiro: nova fronteira, 1997; ANDRADE, R. M. F.
Brasil: Monumentos Histricos e Arqueolgicos. Mxico: Instituto Panamericano de Geografia e
Histria, 1952.
118
ANDRADE, R. M. F. Artistas Coloniais. Rio de Janeiro: nova fronteira, 1997, p. 11.
119
GONALVES, J. R. S. A retrica da perda: os discursos do patrimnio cultural no Brasil. Rio de
Janeiro: Ed. UFRJ/ IPHAN, 1996; SANTOS, M. V. O tecido do tempo: a idia de Patrimnio Cultural
42
43
Entretanto, deve-se enfatizar que seus artigos sobre a cultura material, os acervos
arqueolgicos, as habitaes indgenas e o patrimnio socioambiental representavam
uma considervel ampliao de perspectiva na discusso sobre o patrimnio de
modo geral.
Foi o que se extraiu observando-se sua concentrao dentre os
membros do Conselho Consultivo, espao reservado aos
intelectuais ilustres, onde a produo discursiva deveria ser
solidamente construda. Eles ampliaram, potencialmente, o
discurso possvel do SPHAN, via de regra, pela diversidade de
objetos culturais com que lidavam123.
Ibid., p. 325
FRANCO, A. A. M. Desenvolvimento da Civilizao Material no Brasil. 3 ed. Rio de Janeiro:
Topbooks Editora, 2005. O livro o resultado de cinco conferncias realizadas em 1941, por Afonso
Arinos de Melo Franco, como parte da formao do insipiente corpo tcnico da instituio. Inicialmente
editado em 1944, como parte da coleo de monografias editadas pelas Publicaes do SPHAN.
124
44
45
46
127
Este curso, ministrado no primeiro semestre de 2004, contou com a participao dos professores
Alfredo Wagner Berno de Almeida (com quem Luiz de Castro Faria dividiu a disciplina) e Heloisa Maria
Bertol Domingues (como professora colaboradora). Todas as aulas foram ministradas nas dependncias
da Universidade Federal Fluminense, com exceo desta aula, marcada na casa do professor Luiz de
Castro Faria, no bairro de Icara, em Niteri. Foram lanados, recentemente, dois livros com os seus
programas do curso no Museu Nacional e na Universidade Federal Fluminense. No primeiro, alm de
constar a ltima ementa de curso, conta com a reproduo de uma palestra do professor Castro Faria,
proferida no Frum de Cincia e Cultura da UFRJ, em junho de 1995. Cf. CASTRO FARIA, L.
Antropologia: duas cincias. ALMEIDA, A.W.B.; DOMINGUES, H.M.B. (orgs.). Rio de Janeiro:
CNPq/ MAST, 2006. J o segundo livro apresenta um panorama dos planos de cursos ministrados por ele
no Museu Nacional da UFRJ, iniciados no segundo semestre de 1968 e concludos em 2000. O volume
tambm traz a ementa de seu ltimo curso na UFF, alm de anlises e depoimentos de ex-alunos e
colaboradores de Castro Faria, em sua longa trajetria de docncia. Cf. CASTRO FARIA, L.
Antropologia Escritos Exumados 3. Lies de um praticante. Rio de Janeiro: Eduff, 2006.
47
antropologia e do patrimnio.
A interseo dos pesquisadores entre os campos acadmico e poltico
tolerada, na maior parte das vezes, trazendo a discusso da ambigidade do valor
da autonomia da cincia, nos termos discutidos por LEstoile, Neiburg e Sigaud128.
Enveredei nesta direo, propondo-me a refletir sobre tais relaes e a aprofundar a
anlise sobre um campo especfico do patrimnio: a preservao dos monumentos
arqueolgicos e pr-histricas, tendo em vista os dispositivos jurdicos que se
constituam e a sua vinculao com a antropologia ainda incipiente no pas.
J naquele primeiro encontro tive algumas pistas. Sentado mesa do
escritrio, em companhia dos livros e de seu arquivo pessoal129, o professor
retomava alguns pontos do programa de curso, em que se propunha a:
convidar os participantes para uma reflexo detida que
acompanhe [...] tanto os deslocamentos tericos da relao entre
ttulo escolar e a autoridade da cincia, quanto aqueles da
relao entre produo intelectual e a sociedade, tendo as
distintas prticas profissionais no campo da antropologia no
Brasil como referncia emprica130.
Observei o quanto o objetivo reflexivo da ementa ganhava densidade, na medida
em que ele discorria sobre a sua prpria carreira no Museu Nacional. A longa prtica na
docncia talvez pudesse justificar o seu estilo eloqente, to conhecido de seus
discpulos, mas o fato era que Castro Faria contava-nos a sua verso da histria da
antropologia no Brasil. Considerando que as dcadas de 1930 e 1940 caracterizaram-
48
49
133
De acordo com a Lei 378/1937, o rgo deliberativo do SPHAN o Conselho Consultivo. Era, ento,
composto pelo diretor do SPHAN, pelos diretores de museus nacionais e por dez membros de mandatos
vitalcios e funo no-remunerada, nomeados pelo presidente da Repblica. Integrado por intelectuais
notveis, literatos e especialistas (historiadores, arquitetos, etnlogos, juristas etc.), sua composio
sempre foi bastante heterognea.
134
CASTRO FARIA, L. A Antropologia no Brasil. Depoimento sem compromisso de um militante em
recesso. ANTROPOLOGIA. Espetculo e excelncia. Rio de Janeiro: Editora UFRJ/ Editora Tempo
Brasileiro, 1993, p. 32.
135
Pierre Bourdieu avalia a eficcia simblica dos ritos de instituio capazes de produzir um conjunto de
atributos sociais pautados pelo critrio da distino. A esse respeito ver: BOURDIEU, P. Les Rites
comme Actes dInstitution. Actes de la Recherche en Sciences Sociales, n. 43, juin, 1982.
136
Arquivo Noronha Santos arquivo central/ IPHAN, Rio de Janeiro. Consulta ao livro de Atas. Cf.
SPHAN [IPHAN] Livro das Atas (1938-1983), p. 31- 40.
50
25 Sesso Ordinria do Conselho Consultivo do Patrimnio Histrico e
Artstico Nacional, em 17 de julho de 1958, na posio de Diretor-substituto do
Museu Nacional.
26 Sesso Ordinria do Conselho Consultivo do Patrimnio Histrico e
Artstico Nacional, em 21 de agosto de 1958, na posio de Diretor-substituto do
Museu Nacional. Nessa reunio, o recm-empossado Conselheiro Luiz de Castro
Faria foi designado pelo Presidente como o relator do processo de tombamento do
Santurio Bom Jesus da Lapa/BA. Conjunto paisagstico.
30 Reunio do Conselho Consultivo do Patrimnio Histrico e Artstico
Nacional, em 26 de janeiro de 1960, na posio de Diretor-substituto do Museu
Nacional.
32 Reunio do Conselho Consultivo do Patrimnio Histrico e Artstico
Nacional, em 01 de setembro de 1960, na posio de Diretor-substituto do Museu
Nacional.
35 Reunio do Conselho Consultivo do Patrimnio Histrico e Artstico
Nacional, em 15 de maro de 1961, consta o nome de Castro Faria como
convidado, pois nessa poca era considerado um especialista em monumentos
arqueolgicos. O Diretor do Museu Nacional, Jos Cndido Melo de Carvalho, foi
o relator do processo em julgamento sobre o Pico de Itabirito (MG). Consta na
leitura da Ata da 34 Reunio do Conselho Consultivo o tombamento da Lapa da
Cerca Grande (Matosinho/MG), com parecer de Jos Candido M. de Carvalho.
45 Reunio do Conselho Consultivo do Patrimnio Histrico e Artstico
Nacional, em 07 de julho de 1965, pela primeira vez o nome de Luiz de Castro
Faria aparece vinculado posio de Diretor do Museu Nacional.
46 Reunio do Conselho Consultivo do Patrimnio Histrico e Artstico
Nacional, em 27 de julho de 1966, o nome de Castro Faria aparece vinculado
posio de Diretor do Museu Nacional.
47 Reunio do Conselho Consultivo do Patrimnio Histrico e Artstico
Nacional, em 06 de setembro de1966, o nome de Castro Faria aparece vinculado
posio de Diretor do Museu Nacional.
48 Reunio do Conselho Consultivo do Patrimnio Histrico e Artstico
Nacional, em 18 de novembro de 1966, o nome de Castro Faria aparece vinculado
posio de Diretor do Museu Nacional.
51
Arquivo Noronha Santos arquivo central/ IPHAN, Rio de Janeiro. Consulta ao livro de Atas. Cf.
SPHAN [IPHAN] Livro das Atas (1938-1983), p. 32. Grifos nossos.
138
Arquivo Noronha Santos arquivo central/ IPHAN, Rio de Janeiro. Processo n 579-T-58, p. 19 e 20.
Grifos nossos.
52
Portaria de designao da Comisso Especial que elaborar o projeto de lei destinado a proteo do
patrimnio pr-histrico e arqueolgico nacional. Portaria de 3 de maio de 1957. O Ministro de Estado,
dos Negcios da Agricultura, resolve expedir a seguinte portaria: n. 521 - Designa, para constiturem a
Comisso Especial que dever elaborar, no prazo de 30 dias, o projeto de lei destinado a proteo do
patrimnio pr-histrico e arqueolgico nacional, os Senhores Dr. Benjamin de Campos, Consultor
Jurdico do Ministrio da Agricultura, Dr. Avelino Incio de Oliveira, Diretor Geral do Departamento
Nacional de Produo Mineral, do mesmo Ministrio, Dr. Rodrigo M. F. de Andrade, Diretor do
Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, Dr. Jos Cndido de Melo Carvalho, Diretor do Museu
Nacional, ambos do Ministrio da Educao e Cultura, Dr. Paulo Duarte, Diretor da Comisso de Prhistria de So Paulo e Dr. J. Loureiro Fernandes, da Faculdade de Filosofia do Paran. Cf. Arquivo
Noronha Santos arquivo central/ IPHAN, Rio de Janeiro.
140
Resoluo n. 289, de 5 de setembro de 1950. Recomenda aos Poderes Pblicos competentes a proteo
e conservao de grutas naturais e sambaquis. Cf. Arquivo Noronha Santos arquivo central/ IPHAN,
Rio de Janeiro.
141
CASTRO FARIA, L. Nacionalismo, nacionalismos dualidade e polimorfia. In: Mrcia Chuva (org.)
A inveno do patrimnio. Rio de Janeiro: IPHAN, 1995.
53
54
55
56
O arquivo Noronha Santos, arquivo central do IPHAN, est localizado no Palcio Gustavo Capanema,
no Rio de Janeiro.
155
O arquivo pessoal de Castro Faria, doado em vida ao Museu de Astronomia, CNPq/MAST, no Rio de
Janeiro, passa por um processo de catalogao e classificao em conjuntos temticos O arquivo
composto por 59 caixas-box, (divididas, pelo autor, em duas partes (antiga e nova), com duas sries de
numerao (de 1 a 25 e de 1 a 34) e resultou no fichamento de 7.334 documentos textuais e iconogrficos.
A diviso por maos e muitos documentos se repetem. So documentos administrativos do Museu
Nacional, correspondncias, trabalhos de campo, fotografias, textos acadmicos, recortes de jornais,
ementas de curso e uma srie de outros documentos, dentre eles, alguns sobre patrimnio arqueolgico,
contendo relatrios, pareceres, projetos com alunos sobre prospeco arqueolgica e minuta do texto da
lei. A esse respeito consultar: http://castrofaria.mast.br/
156
Procuro nessa tese fazer a conjuno entre saberes arqueolgicos e antropolgicos situados nesse
perodo nos departamentos de antropologia e nos museus.
157
O Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, e a Comisso de Pr-Histria de So
Paulo e o departamento de antropologia da Universidade do Paran foram os articuladores, em parceria
com o DPHAN, na elaborao da legislao.
57
ao mbito dos museus. O Museu Nacional, desde sua origem, abrigou colees
arqueolgicas e etnolgicas adquiridas em expedies de naturalistas brasileiros e
estrangeiros. O prprio Castro Faria, ao fazer uma reflexo sobre as Exposies de
Antropologia e Arqueologia do Museu Nacional, destaca o que estava por trs desse
processo de colecionamento no sculo XIX. A constituio da coleo etnolgica
esteve vinculada aos incentivos e contatos que o Imprio oferecia aos naturalistas
que partiam para o interior das provncias em busca de novos exemplares da
cultura material. Tais incentivos vieram a se institucionalizar nas primeiras dcadas
do sculo XX, atravs de uma poltica sistemtica de aquisio de acervo158.
Seu olhar perscrutador guia-nos atravs da histria da construo do campo
da antropologia no Brasil. Tributrio da tradio dos quatro campos, que engloba
os estudos da lingstica, da arqueologia, da antropologia biolgica e cultural, sua
trajetria social valiosa para se pensar as inter-relaes constitutivas do campo da
antropologia. Ainda jovem, Castro Faria inicia a carreira no Museu Nacional. Para
os parmetros acadmicos atuais, estava a meio caminho entre um estagirio e um
voluntrio - funo que denominou praticante gratuito. Em 1937, nomeado
naturalista interino, na vaga de Padbeg Drenkpol.
Ao relembrar sua trajetria, ele menciona os antigos professores e colegas no
Museu Nacional (Raimundo Lopes, Helosa Alberto Torres e Roquette Pinto), que,
como ele, tornaram-se membros do Conselho Consultivo do SPHAN. Mas foram
seus contatos com a diretora do Museu, a antroploga Heloisa Alberto Torres159, e a
sua trajetria na hierarquia institucional que o habilitaram a participar, em 1937, da
memorvel expedio Serra do Norte, organizada pelo antroplogo Claude LviStrauss160. Este fato foi um marco em sua trajetria, pois ali foi iniciado no trabalho
158
O texto o resultado de uma Conferncia (1947), onde Castro Faria apresenta a nova exposio de
antropologia e arqueologia do Museu Nacional. Nessa ocasio, aproveitou para fazer um balano das
exposies antropolgicas e do lugar perifrico da seo de antropologia na estrutura hierrquica
institucional. Cf. CASTRO FARIA, L. As Exposies de Antropologia e Arqueologia do Museu
Nacional. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1949.
159
Sobre a trajetria de Helosa Alberto Torres ver RIBEIRO, A. M. M. Heloisa Alberto Torres e
Marina So Paulo de Vasconcellos: Entrelaamento de crculos e formao das cincias sociais na
cidade do Rio de Janeiro. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro: UFRJ/ IFCS, 2000.
160
Em 2001, mais de sessenta anos depois da expedio, foram publicados os cadernos de campo do
professor Castro Faria, primeira iniciativa de tornar pblica parte de seu arquivo pessoal. Ver CASTRO
FARIA, L. Um Outro Olhar. Dirio da expedio a Serra do Norte. Rio de Janeiro: Ed. Ouro Sobre
Azul, 2001. Estes dirios de campo revelam suas impresses da viagem e as dificuldades enfrentadas na
expedio: vigilncia constante sobre o territrio; os problemas operacionais, como compra de mulas para
a tropa, de munio para a caa e para a proteo pessoal, despacho de bagagens etc. Castro e Lvi-
58
59
CASTRO FARIA, L. Relatrio de uma viagem ao estado do Esprito Santo. Abril de 1945, p. 6.
CNPq/ Museu de Astronomia/ Arquivo Luiz de Castro Faria (CFDA.11.03.074). Arquivo do MAST/ RJ.
166
CNPq/ Museu de Astronomia/ Arquivo Luiz de Castro Faria (CFDA 07.04.056). Arquivo do MAST/
RJ.
167
Anteprojeto de lei, encaminhado pelo Ministrio da Agricultura e que dispe sobre a proteo de
monumentos arqueolgicos e pr-histricos. Em comum acordo com o Depto. de Produo Mineral, o
Diretor do PHAN, o Diretor do Museu Nacional, o Presidente da comisso de pr-histria de So Paulo.
A Comisso chegou as seguintes concluses: de que a legislao federal existente sobre o assunto e para
as quais se tem tentado inutilmente apelar (Decretos-leis nos. 25, de 30/11/37 e 4.146, de 4/3/42, o
primeiro dispondo sobre o Patrimnio Histrico e Artstico Nacional e o segundo sobre a proteo dos
depsitos fossilferos), no podem de forma alguma, satisfazer aos reclames de uma ao ampla,
coordenada e eficaz e que deve versar, simultaneamente, sobre os termos capitais do problema: a proteo
das jazidas e a regulamentao das escavaes arqueolgicas e pr-histricas. Arquivo Noronha Santos/
IPHAN- RJ.
168
Segundo o relator, h muito se discute no Brasil o valor cientfico dos seus sambaquis. Naturalistas,
arquelogos e historiadores, alguns - simples cronistas, outros vm deles se ocupando, tentando penetrar
mais as suas origens, envolvidas ainda em certo mistrio. Dirio do Congresso Nacional, 30 de
60
61
62
63
no caso particular das pinturas parietais das cavernas de Minas,
achamos que a medida de tombamento, inadequada no caso
dos sambaquis, poder ser aplicada com vantagem, desde que a
DPHAN possa dispor de meios eficientes de fiscalizao. No
h dvida de que do ponto de vista cientfico qualquer deciso
no sentido de preservar aquelas pinturas estar plenamente
justificada178.
Conclui seus argumentos afirmando estar certo que tal medida ser de grande
alcance para a cultura e a cincia brasileira, visto essa regio atrair a ateno de
numerosos cientistas interessados no problema da contemporaneidade do homem e
das espcies de animais extintos do Pleistoceno180.
178
Parecer de Luiz de Castro Faria, naturalista do Museu Nacional, em 13/4/1954. Processo n. 491-T-53
Grutas Lapa da Cerca Grande e Lapa dos Poes. Arquivo Noronha Santos, arquivo central do IPHAN/
RJ. Grifos nossos.
179
Parecer do conselheiro Jos Cndido de Mello Carvalho, diretor do Museu Nacional, em favor do
tombamento da Lapa da Cerca Grande, em 14/3/61. Processo n. 491-T-53 Grutas Lapa da Cerca Grande
e Lapa dos Poes. Livro do Tombo Arqueolgico, Etnogrfico e Paisagstico. Inscrio: 030, em 27-61962. Arquivo Noronha Santos, arquivo central do IPHAN/ RJ.
180
Idem.
64
O mesmo contedo foi enviado nas cartas n. 352, para Heloisa Alberto
Torres, Presidente do Conselho Nacional de Proteo ao ndio; n. 353, ao professor
Jos Loureiro Fernandes, Diretor do Departamento de Antropologia da Universidade
do Paran; e n 354, ao professor Eduardo Galvo, Diretor do Departamento de
Cincias Humanas da UnB.
Diversos convnios foram assinados entre o Museu Nacional e a agncia de
patrimnio para a realizao de projetos de pesquisas em arqueologia pr-histrica.
Coube aos tcnicos do Museu Nacional a superviso do trabalho e as pesquisas de
campo para o cadastramento dos stios arqueolgicos. Alm disso, uma srie de
instrumentos foi incorporada pela agncia, atravs do contato com o Diretor da
Diviso de Antropologia do Museu Nacional, justamente o professor Luiz de Castro
Faria.
A lei federal deu a incumbncia ao DPHAN de cuidar do seu cadastramento,
concesso de autorizao para o seu estudo e explorao cientifica, proteo e ao
legal decorrente quando de sua mutilao ou destruio.
A Lei 3.924, de 26/07/1961, coloca sob a proteo do Poder
Pblico todos os elementos, que constituem monumentos
arqueolgicos e pr-histricos no pas. A mesma lei federal d,
por se tratar de crime contra o Patrimnio Nacional182.
DPHAN, Carta n. 351, de 23 de dezembro de 1963. Ao Prof. Luiz de Castro Faria, Museu Nacional.
Ofcio n 1109, do Diretor do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, Renato Soeiro, em 25 de
junho de 1969. Arquivo Noronha Santos, arquivo central do IPHAN/ RJ.
182
65
comunicao) fez com que a pesquisa observasse outros aspectos que ganharam,
gradativamente, destaque. Por exemplo: os primeiros questionamentos sobre a
excepcionalidade dos stios e sobre a busca por sua representatividade. Ou seja, os
questionamentos com relao ao autntico e ao excepcional que embasam os debates
sobre o patrimnio cultural. Nesse sentido, procura dar conta de uma nova
problemtica circunscrita aos stios, jazidas e inscries rupestres.
A agncia de preservao celebrou diversos convnios com o Museu
Nacional do Rio de Janeiro, em que foram produzidos novos instrumentos, como o
cadastramento dos stios arqueolgicos para pesquisas de campo. As tarefas de
localizar, proteger e preservar os stios arqueolgicos eram realizadas da seguinte
forma:
a) Cadastramento do stio arqueolgico no IPHAN atravs de ficha-padro;
b) Comunicao oral ao proprietrio do terreno, quando localizado, onde se
localiza o stio.
A diversidade nos sentidos dados aos monumentos mais um dado a ser
considerado. Castro Faria discute a ausncia de problematizao sobre o que seria o
patrimnio histrico e artstico nacional183, lembrando que o significado da noo
de monumento varia no tempo e no espao. A noo de stio arqueolgico,
por exemplo, apesar do entendimento de que um bem construdo pelo homem, mas
que ainda se integra paisagem natural, motivo de calorosos debates.
Ao atribuir aos sambaquis "o carter de monumentos", firma-se determinada
forma de conhecimento sobre a arqueologia pr-histrica no Brasil. Castro Faria
comenta equvocos cometidos por tcnicos do SPHAN, na poca da gesto do Dr.
Rodrigo, notadamente por classificarem o patrimnio arqueolgico brasileiro
utilizando-se das mesmas categorias da Conferncia Internacional em Atenas, em
1931, construdas a partir do modelo da Arqueologia clssica, o que implica outra
concepo de monumento, absolutamente inaplicvel ao Brasil. Segundo ele, certos
princpios adotados pela UNESCO no cabem para o patrimnio arqueolgico
brasileiro184. Essa problemtica leva ao questionamento da categoria monumento e
de sua aplicabilidade no caso das jazidas arqueolgicas, porque aqui no est em
183
66
Do Diretor do Museu Nacional, Luiz de Castro Faria. Ao Diretor do PHAN, Rodrigo M.F. de
Andrade. Ofcio n. 41, em 12 de janeiro de 1965. Em ateno ao pedido de Vossa Senhoria estou
remetendo uma srie completa de fichas utilizadas pelo Setor de Arqueologia deste Museu Nacional, em
diferentes tipos de pesquisas arqueolgicas. Esclareo, ainda, que o Museu Nacional no possui ficha
especfica para cadastro de jazidas, mas para esse fim, poder ser feita uma adaptao utilizando-se
alguns dados das fichas anexas. Arquivo Noronha Santos, arquivo central do IPHAN/ RJ.
186
Arquivo CASTRO FARIA, MAST, Rio de Janeiro (CFDA 07.04.065).
187
Idem (CFDA 07.05.068).
67
68
HOBSBAWM, E. A Era das Revolues - 1789-1848. 2 ed. Lisboa: Ed. Presena, 1982;
HOBSBAWM, E. Naes e Nacionalismos desde 1780. 3 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
189
HOBSBAWM, op. cit., 2002, p. 20.
190
Somente em perodos recentes, uma srie de escritos aponta o paradoxo entre o local e o global das
ideologias nacionalistas Cf. BRAVO, A. F. et al. La Invencin de la Nacin. Lecturas de la identidad de
69
Herder a Homi Bhabha. Buenos Aires: Manantial, 2000; ANDERSON, B. Introduo. In: Balakrishnan,
G. (org.) Um mapa da questo nacional. Rio de Janeiro: Contraponto, 2000; HOBSBAWN, E. Naes e
Nacionalismo desde 1780. 3 Ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2002.
191
ANDERSON, B. Introduo. In: BALAKRISHNAN, G. (org.). Um mapa da questo nacional. Rio
de Janeiro: Contraponto, 2000.
192
SAHLINS, M. O Pessimismo Sentimental e a Experincia Etnogrfica: por que a cultura no um
objeto em via de extino. Revista Mana. v. 3, n. 1, 1998, p.41-73.
70
Castro, existe
um consenso na literatura analtica sobre a UNESCO [...] de que
a Organizao fruto de duas experincias anteriores de
organizao internacional: o Instituto Internacional de
Cooperao Intelectual (IICI), surgido em 1925, que reuniu
intelectuais como Sigmund Freud, Thomas Mann, Henri
Bergson e Albert Einstein, entre outros (Maio, 1997:17) e a
Convergncia de Ministros Aliados da Educao (CMAE),
criada em plena Segunda Guerra, em 1942.193
71
195
72
e internacionais. A
Desde 1967, a preocupao era no s confrontar o monumento isolado, mas, inclusive, considerar a
moldura no qual esse se insere, a ambincia de que era prprio, ameaado pelas grandes obras pblicas e
particulares. A assistncia tcnica da UNESCO mencionada para os problemas mais graves
relacionados com os principais conjuntos arquitetnicos e urbansticos tombados. Sub-srie Instituto
Evoluo Institucional. Md. 72 Prat. 02 Cx. 246 e 247 Pastas 54-56 e 57-59.
200
Joo Paulo Macedo Castro adverte que ainda so necessrias anlises mais aprofundadas sobre a
fundao da Unesco, seus dilemas, conflitos e tenses internas. Cf. MACEDO CASTRO, op.cit., p. 75.
201
A noo de dispositivo fundamental para Foucault, que assim o define: Atravs deste termo tento
demarcar, em primeiro lugar, um conjunto decididamente heterogneo que engloba discursos,
instituies, organizaes arquitetnicas, decises regulamentares, leis, medidas administrativas,
enunciados cientficos, proposies filosficas, morais, filantrpicas. Em suma, o dito e o no-dito so os
elementos do dispositivo. O dispositivo a rede que se pode estabelecer entre estes elementos [...] isto
o dispositivo: estratgias de relaes de fora sustentando tipos de saber e sendo sustentadas por eles.
FOUCAULT, M. Microfsica do Poder. Rio de Janeiro: Difel, 1979, p. 244, 246.
202
UNESCO. Third Session of the Intergovernamental Meeting of Experts on the Preliminary Darft
Convention for the Safeguarding of the Intangible Culture Heritage. Paris: Headquarters, 2-14 June
2003.
203
As categorias conservao e restaurao so centrais nas discusses da UNESCO. Tais termos foram
73
74
bens imveis, como os stios arqueolgicos, histricos ou
cientficos, edificaes ou outros elementos de valor histrico,
cientfico, artstico ou arquitetnico, religiosos ou seculares,
includos os conjuntos tradicionais, os bairros histricos das
zonas urbanas e rurais e os vestgios de civilizao anteriores
que possuam valor etnolgico. Aplicar-se- tanto aos imveis do
mesmo carter que constituam runas do solo como aos vestgios
arqueolgicos ou histricos descobertos sob a superfcie da
terra.208
208
IPHAN. In: CURY, I. (org.) Cartas Patrimoniais. Edies do Patrimnio. 3a ed. Rio de Janeiro:
IPHAN, 2004, p. 125, 126.
209
De acordo com os critrios de seleo institudos pelo comit da UNESCO, os bens culturais devem
representar o testemunho nico, a obra-prima do gnio criativo humano, ou constiturem-se, ainda, em
exemplar excepcional. igualmente importante o critrio da autenticidade do stio e a forma pela qual
esteja protegido.
210
IPHAN. op. cit., p. 148.
75
IPHAN. In: CURY, I. (org.). Cartas Patrimoniais. Edies do Patrimnio. 3a ed. Rio de Janeiro:
IPHAN, 2004, p. 220.
212
A Conferncia Geral da Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura,
reunida em Paris, em 16 de novembro de 1972, adota a Conveno relativa Proteo do Patrimnio
Mundial, Cultural e Natural, a qual concentrava uma listagem de elementos de valor universal
excepcional pertencente herana construda e natural, incluindo no presente desta maneira itens
como canais, uma srie de terrenos e cenrios culturais. Aps a reunio, 176 pases j tinham aderido
Conveno, fazendo desta a maior ferramenta legal internacional universal de proteo do patrimnio
cultural e natural.
213
IPHAN, op.cit., p. 272. Encontrei divergncia quanto s datas da Conferncia. Segundo as Cartas
Patrimoniais, editado pelo IPHAN, a Conferncia Mundial sobre as Polticas Culturais reuniu-se na
cidade do Mxico, em 1985. Ao consultar arquivo digital da UNESCO, segundo o documento Brief
history of the Convention for the Safeguarding of the Intangible Cultural Heritage (2003), pude
constatar que The Mondiacult World Conference on Cultural Policies (Mexico City) ocorreu no ano de
76
77
ALMEIDA, A. W. B. Apresentao. In: Joaquim Shiraishi Neto (org.). Direito dos Povos e das
Comunidades Tradicionais no Brasil. Manaus: UEA, 2007, p. 11.
217
Entende-se por instrumentos internacionais os documentos variados e normativos que servem como
referncia para as aes conjuntas da UNESCO e de seus Estados Membros.
218
As atividades preparatrias ficaram a cargo de um Comit Intergovernamental, que in order to
facilitate the work [...] the Intangible Heritage Section of UNESCO is organising a number of thematic
meetings aimed at preparing the implementation of the Convention. A first meeting co-financed by
Norway, took place in March and was dedicated to Inventorying Intangible Cultural Heritage. The other
seminars will be dedicated to Selection Criteria for Intangible Cultural Heritage, and to Safeguarding and
Management of Intangible Cultural Heritage. These meetings will aim at producing an overview, a
78
comparison and an analysis of experiences already by Member States. UNESCO. op.cit., 2003. p. 2-14.
219
O Brasil adota a mesma nomenclatura dos pases de lngua latina (Frana, Itlia e Espanha): utiliza o
termo imaterial. O texto da Conveno na lngua inglesa adota o termo intangvel. Ambos possuem o
mesmo significado; logo, so passveis de apropriaes indistintas. No caso desta tese, procuro empregar
com mais freqncia o que consta no dispositivo Constitucional e nos instrumentos de poltica cultural
brasileira.
220
IPHAN. In: CURY, I. (org.). Cartas Patrimoniais. Edies do Patrimnio. 3a ed. Rio de Janeiro:
IPHAN, 2004, p. 373.
79
Conveno
de
Salvaguarda
do
Patrimnio
Cultural
Imaterial,
IPHAN. In: CURY, I. (org.). Cartas Patrimoniais. Edies do Patrimnio. 3a ed. Rio de Janeiro:
IPHAN, 2004, p.374.
222
Ibid., p. 378.
223
Ibid., p. 374.
80
81
UNESCO. Report on the Experts Meeting on Inventorying Intangible Cultural Heritage. Intangible
Heritage Section, Division of Cultural Heritage. Paris, 17-18 March, 2005. 44 p. Disponvel em:
http://www.unesco.org/culture/ich/doc/src/00036-EN.pdf. Acessado em 15 de maro de 2007.
227
82
83
Japo, Uzbequisto;
84
Atravs desse
85
230
86
Declarao Universal sobre a Diversidade Cultural. In: Joaquim Shiraishi Neto (org.). Direito dos
Povos e das Comunidades Tradicionais no Brasil. Manaus: UEA, 2007, p. 126.
232
DUPRAT, Deborah Prefcio. In: Joaquim Shiraishi Neto (org.). Direito dos Povos e das
Comunidades Tradicionais no Brasil. Manaus: UEA, 2007, p. 20.
87
por culturas ditas hegemnicas [...] O que importa
compreender e, portanto, valorizar, o ponto de vista local. na
escala local que so selecionados, traduzidos e apropriados
objetos ou saberes que circulam no sistema mundial233.
233
IEP. Patrimnio Cultural Imaterial e povos indgenas. Dominique Tilkin Gallois (org.). So
Paulo: IEP, 2006, p, 21.
88
A Poltica Nacional de Cultura foi elaborada por membros do Conselho Federal de Cultura e do
Departamento de Assuntos Culturais DAC/MEC e teve como um de seus principais articuladores o
antroplogo Manuel Diegues Jr., diretor do DAC. Antes de assumir a direo do DAC, Diegues Jr.
ocupou, at 1961, o cargo de Diretor do Centro Latino-Americano de Pesquisas em Cincias Sociais,
entidade criada pela UNESCO no Rio de Janeiro. Em linhas gerais, o DAC propunha-se a criar um
Sistema Nacional de Cultura, incluindo tambm um Sistema Nacional de Museus.
235
MICELI, S. Estado e Cultura no Brasil. So Paulo: Difel, 1984.; ANASTASSAKIS, Z. Dentro e
Fora da Poltica Oficial de Preservao do Patrimnio Cultural no Brasil: Alosio Magalhes e o
Centro Nacional de Referncia Cultural. Rio de Janeiro: UFRJ, Museu Nacional, PPGAS, 2007.
236
HERRERA; DIGUES, JR.; SILVA. Novas Frentes de Promoo da Cultura. Srie Informao e
Documentos. Rio de Janeiro: FGV/DAC/Fundo Internacional de Promoo da Cultura, 1977.
89
90
os seus itens239. Tambm foi a partir dessas duas reunies que foram tiradas as
diretrizes para o processo de descentralizao das aes de preservao, estimulando
estados e municpios a criarem legislao especfica para a proteo dos bens
culturais de valor regional e instituies museais regionais. 240
Em 1970, a Diretoria do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional241
(DPHAN) foi reestruturada em Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico
Nacional (IPHAN) e vinculada, ento, ao Ministrio de Educao e Cultura (MEC),
sob o comando de Jarbas Passarinho. Com a passagem de Diretoria para Instituto
como rgo autnomo transformado em autarquia242, o IPHAN ampliava o nmero
de escritrios tcnicos e superintendncias regionais, alm de estabelecer
cooperao tcnica com a UNESCO para os problemas mais graves relacionados
com os principais conjuntos arquitetnicos e urbansticos tombados243.
Miceli chama a ateno para o processo de reestruturao das instituies
culturais nesse perodo e para a dicotomia entre as vertentes executiva e
patrimonialista. Nesse mesmo perodo foram criados o Departamento de Assuntos
Culturais244 - DAC/ MEC (1972); o Programa de Reconstruo de Cidades
Histricas245 (PCH); o Programa de Ao Cultural (PAC) MEC (1973); o
239
IPHAN. Cartas Patrimoniais. Cury, I. (org.). 3 ed. Rio de Janeiro: IPHAN, 2004, p. 144.
Ibid., 138, 139.
241
Conforme descrevi na introduo desta tese, a agncia de preservao passou por diversos arranjos
institucionais. As mudanas de sigla no so casuais e refletem momentos de ampliao de seus
domnios. Em 1946, expandiu-se, quando o Servio transformou-se em Departamento e foram criadas as
primeiras Superintendncias Regionais: Recife, Salvador, Belo Horizonte e So Paulo. Em julho de 1970,
um novo decreto transforma a DPHAN em IPHAN. Em 1979, ocorreu a incorporao do Centro Nacional
de Referncia Cultural e Programa de Cidades Histricas ao IPHAN, sob a sigla SPHAN-Pr-Memria.
Em 1990, a agncia estatizada de preservao volta a ser denominada IPHAN, autarquia federal
constituda pelo Decreto no 99.492, de 3 de setembro de 1990, e pela Lei no 8.113, de 12 de dezembro de
1990, com base na Lei no 8.029, de 12 de abril de 1990, vinculada ao Ministrio da Cultura,
permanecendo at a atualidade.
242
Entidade auxiliar da administrao pblica estatal autnoma e descentralizada. O Decreto-Lei n 200
de 1967, no seu artigo 5, inciso I, define autarquia como "Servio autnomo criado por lei, com
personalidade jurdica de direito pblico, patrimnio e receita prprios, para executar atividades tpicas da
Administrao Pblica, que requeiram para seu melhor funcionamento gesto administrativa e financeira
descentralizada".
243
MinC /IPHAN, Arquivo Noronha Santos, Sub-srie Instituto Evoluo Institucional. Md. 72 Prat.
02 Cx. 246 e 247 Pastas 54-56 e 57-59.
244
Dirigido pelo antroplogo Manuel Diegues Jr., o rgo era subordinado ao Ministrio da Educao e
Cultura e possua uma posio central na estrutura administrativa do Ministrio, ao coordenar e
supervisionar as atividades desenvolvidas pelos rgos de preservao dos bens culturais.
245
O objetivo geral do PCH era compatibilizar a idia de preservao e com o uso social do Monumento.
Vale observar que nesse perodo de crescente urbanizao e desenvolvimento das atividades econmicas,
em particular, da atividade turstica, so criados novos desafios para a preservao e revitalizao dos
monumentos histricos.
240
91
A institucionalizao do Conselho Nacional de Direito Autoral (CNDA), criado pela Lei 5.988, de 14
de dezembro de 1973, s veio a operar efetivamente em meados de 1975. MICELI, S. Estado e Cultura
no Brasil. So Paulo: Difel, 1984, p. 56.
247
A Fundao Nacional de Arte (Funarte) foi criada pela Lei n. 6.312, de 16 de dezembro de 1975. Uma
nova portaria incorpora a Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro como Instituto Nacional de
Folclore FUNARTE, em maro de 1978. MICELI, S. op. cit., p. 56.
248
O Fundo prev a contribuio dos Estados-membros, organizaes integrantes do Sistema das Naes
Unidas, rgos pblicos ou privados e pessoa fsica. Cf. IPHAN. Cartas Patrimoniais. Cury, I. (org.).
3a. ed. Rio de Janeiro: IPHAN, 2004, p. 186.
249
HERRERA, F.; DIEGUES Jr., M.; SILVA, B. Novas Frentes de Promoo da Cultura. Rio de
Janeiro: FGV/ DAC MEC. 1977, p. VIII.
250
Ibid., p. 43.
251
GONALVES, J. R. S. A retrica da perda: os discursos do patrimnio cultural no Brasil. Rio de
Janeiro: Ed. UFRJ; IPHAN, 1996.
252
Alosio Magalhes, advogado, artista plstico e designer. Nasceu em Pernambuco, em 5 de novembro
de 1927. No incio de sua carreira participou como gravurista de um atelier experimental de edio de
livros. Viaja para os Estados Unidos, onde entra em contato com o artista e desenhista industrial Jim
Feldmann; logo em seguida, aceita o convite para um estgio mais prolongado, familiarizando-se com as
novas linguagens grficas de comunicaes e com os novos paradigmas de anlise (teoria da informao
etc.) Depois, firma-se como designer, participando da fundao da Escola Superior de Desenho Industrial
92
93
257
94
95
relevantes265,
devidamente
consagrados
pela
vertente
96
97
98
99
de
um
lastro
jurdico-administrativo
construdo
historicamente.275
Em 1988, Arantes era o Presidente de Associao Brasileira de Antropologia
e desempenhou importante papel da mediao nos debates e aprovao das emendas
enviadas ao Congresso Nacional sobre as questes relacionadas poltica cultural,
em particular, sobre a ampliao do conceito de patrimnio nacional. A Constituio
brasileira de 1988, em seu Artigo 216, define o patrimnio cultural brasileiro nas
suas dimenses materiais e imateriais, reconhecendo, portanto, que a sociedade
brasileira mltipla, complexa, e que a poltica de preservao do patrimnio
cultural necessitava, cada vez mais, ampliar seus campos de atuao. Conforme
enfatizei anteriormente, todo esse processo ocorreu em simultaneidade com as linhas
271
100
276
101
102
e seus usos parecem se multiplicar para alm da definio normativa proposta pela
UNESCO.
No Brasil, a poltica de patrimnio at ento centrada nos bens de pedra e
cal e no instituto do tombamento voltou-se de maneira irreversvel para a dimenso
imaterial do patrimnio cultural e em novas maneiras de acautelamento desses bens.
O patrimnio imaterial fonte de identidade, criatividade e diversidade e se constitui
por meio de mltiplas manifestaes culturais (conhecimentos, tcnicas,
representaes e prticas singulares).
No mbito da SPHAN/Pr-Memria, a partir da gesto de Alosio
Magalhes, vrios trabalhos de registro de manifestaes culturais foram realizados,
mas no chegaram a ser propostos instrumentos de preservao especficos. Diante
dos desafios na elaborao de uma nova poltica de preservao para o Patrimnio
Cultural brasileiro, o Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional
organizou, em novembro de 1997, um Seminrio Internacional281 com o objetivo de
recolher subsdios que permitissem a elaborao de diretrizes e a criao de
instrumentos legais e administrativos visando a identificar, proteger, promover e
fomentar os processos e bens282. O encontro produziu como documento final a
Carta de Fortaleza que recomendou, dentre outras proposies, o aprofundamento
da discusso sobre o conceito de bem cultural de natureza imaterial, a realizao de
inventrios desses bens culturais em mbito nacional e o desenvolvimento de
estudos para a criao do instituto jurdico denominado Registro como seu principal
modo de preservao283.
Em maro de 1998, foi assinada uma portaria do Ministrio da Cultura
(MinC) instituindo uma Comisso composta por membros do Conselho Consultivo
do Patrimnio Cultural284 com a finalidade de definir proposta, visando o
estabelecimento de critrios, normas e formas de acautelamento do patrimnio
281
103
De acordo com o Decreto n 5040, de 07/04/2004, que aprovou a recente estrutura regimental do
IPHAN, segue-se em seu Art. 9: Ao Conselho Consultivo do Patrimnio Cultural compete examinar,
apreciar e decidir sobre questes relacionadas ao tombamento, ao registro de bens culturais de natureza
imaterial e sada de bens culturais do Pas e opinar acerca de outras questes relevantes propostas pelo
Presidente.
286
Apesar de consult-las, no houve tempo para incorporar anlise as informaes delas tiradas.
287
A Superintendente da 4a Regional do IPHAN, Mrcia SantAnna (coordenadora); a Diretora do
Departamento de Identificao e Documentao DID/IPHAN, Clia Corsino; as tcnicas Ana Claudia
Lima e Alves e Ana Gita de Oliveira DID/IPHAN; Maria Ceclia Londres Fonseca, da Secretaria de
Patrimnio, Museus e Artes Plsticas do MinC e a Diretora do Centro Nacional de Folclore e Cultura
Popular da FUNARTE, Cludia Mrcia Ferreira.
288
IPHAN. O Registro do Patrimnio Imaterial: dossi final das atividades da Comisso e do Grupo de
Trabalho Patrimnio Imaterial. 2a ed. Braslia: IPHAN, 2003.
289
Em 04 de agosto de 2000, o ento Presidente da Repblica, Fernando Henrique Cardoso sanciona o
Decreto 3.551, que instituiu o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial. O mesmo decreto cria o
Programa Nacional de Patrimnio Imaterial, que prev diretrizes polticas de fomento e linhas de ao
com o objetivo de implementar poltica de inventrio, registro e salvaguarda de bens culturais de
natureza imaterial.
104
105
em meados dos anos de 1970, essa idia de patrimnio nacional se relativiza quando
se vai percebendo o limite dos critrios de seleo para os bens tombados.
Os inventrios passam, ento, a ser considerados importantes instrumentos de
proteo dos bens culturais, mas ainda no se implanta uma poltica especfica para
esse fim. O debate sobre a poltica de inventrio tornou-se mais denso na instituio
na dcada de 1980292, com a agregao de novos valores ao patrimnio cultural,
ampliado em funo das pesquisas desenvolvidas pelo Centro Nacional de
Referncia Cultural293 e da Fundao Pr-Memria. Lanou-se um novo olhar sobre
a idia de inventrio e, por conseguinte, de patrimnio. Levantavam-se questes
sobre o cotidiano, os modos de vida, e se incorporavam novas preocupaes ao
instrumento inventrio, construdo para atender s novas demandas de
reconhecimento de bens representativos da diversidade e pluralidade culturais.
No se quer aqui traar uma trajetria de continuidade entre os processos de
inventrio; muito pelo contrrio, deseja-se situar para cada tipo de inventrio uma
nova abordagem terico-metodolgica. As prticas de inventrio e arrolamento de
bens confundem-se com as demais formas de coleta, levantamento e mapeamento
que h muito tempo vm sendo feitas no Brasil. No entanto, preciso problematizar
essa noo, situando-a em contextos particulares de produo, circulao e
ressignificao. Primeiramente, e buscando o sentido etimolgico da palavra,
inventrio vem significar relao de bens; por extenso, descrio e enumerao
minuciosa;
levantamento
individuado
completo
de
bens
valores.
292
Para acompanhar o processo de consolidao da poltica de Inventrio do IPHAN cf. MOTTA; SILVA
(orgs.). Inventrios de Identificao: um panorama da experincia brasileira. Rio de Janeiro: IPHAN,
1998.
293
Os programas e projetos desenvolvidos pelo Centro foram inovadores, tanto pelo tipo de bem (as
produes da cultura popular e indgena, a indexao e microfilmagem de documentos, a documentao
do patrimnio cultural brasileiro, o estudo multidisciplinar do caju, dentre outros), quanto pela abordagem
terico-metodolgica empregada pelos tcnicos.
294
IPHAN. Inventrio Nacional de Referncias Culturais INRC: Manual de Aplicao. Braslia:
MINC/ IPHAN/ DID, 2000. p. 28.
106
295
296
MAUSS, M. Manuel d' Ethnographie. Paris: Petite Bilbiothque Payot, 1967, p. 17.
VEYNE, P. O Inventrio das Diferenas. Lisboa: Gradiva, 1989.
107
297
Mrcia Chuva vai chama a ateno para essa dimenso para a categoria inventrio. Cf. CHUVA, M.
A Histria como Instrumento na Identificao dos Bens Culturais. In: MOTA; RESENDE (orgs.).
Inventrio de Identificao do Patrimnio. Rio de Janeiro: IPHAN, 1998, p. 42.
298
No quadro preliminar dos inventrios dos bens imveis do IPHAN, buscou-se relacionar os
inventrios propostos nas dcadas de 1980 e 1990, e fornecer uma idia geral dos procedimentos
adotados, alm de explicitar os conceitos que norteavam tais levantamentos. Do total das propostas de
investigao observadas, a maioria contemplava conjuntos urbanos, seguidos de edificaes e bens
culturais e naturais. Quanto aos instrumentos de levantamento de dados, a maioria dos inventrios era
constituda de formulrios, seguida de fotos, plantas, levantamentos socioeconmicos e vdeos. Quanto
forma de coleta do material, constatou-se que a grande maioria das propostas adota critrios estritamente
arquitetnicos e estilsticos, na seleo dos bens a serem inventariados. Apenas 28% dos mtodos incluem
algum tipo de consulta ou envolvimento das comunidades para a identificao dos bens. Cf. MOTTA;
SILVA (orgs.). Inventrio de Identificao: um panorama da experincia brasileira. Rio de Janeiro:
IPHAN, 1998.
108
299
Antnio Augusto Arantes faz uma breve digresso sobre o sentido que a noo de referncia cultural
ganha no contexto do inventrio: Referncia um termo que sugere remisso; ele designa a realidade em
relao qual se identifica e baliza ou esclarece algo. No caso do processo cultural, referncias so as
prticas e os objetos por meio dos quais os grupos representam, realimentam e modificam a sua
identidade e localizam a sua territorialidade. Ver em: ARANTES. Patrimnio Imaterial e Referncias
Culturais. Revista Tempo Brasileiro. Patrimnio Imaterial, n. 147, Rio de Janeiro: ed. Tempo
Brasileiro, out.-dez., 2001. p. 123-128.
300
A esse respeito ler o relato de Ana Gita de Oliveira sobre a experincia do inventrio nacional de
referncias culturais na cidade de Gois, executada pela 14a Superintendncia Regional do IPHAN, entre
junho e agosto de 1999, visando o aprimoramento conceitual e metodolgico do INRC, que nesse
primeiro caso foi desenvolvida como proposta metodolgica a centralidade nas narrativas locais,
contendo informaes sobre as brincadeiras, os jogos, os personagens, as festas e as lendas locais. Ver
em, OLIVEIRA, A. G. A Experincia do Inventrio Nacional de Referncias Culturais na Cidade de
Gois. Revista Tempo Brasileiro. Patrimnio Imaterial, n. 147, Rio de Janeiro: ed. Tempo Brasileiro,
out-dez, 2001, p. 29-44.
301
ARANTES, A. A. Introduo. IPHAN. Inventrio Nacional de Referncias Culturais. Manual de
aplicao. Braslia: IPHAN/ DID, 2000, p. 23.
109
302
306
Ibid., p, 74.
110
Ibid., p. 85.
Ibid., p. 89.
111
etapa:
identificao
dos
bens
culturais
procura
descrever
112
309
No APNDICE IV, segue quadro com matrias de jornais, acrescidos de registros bibliogrficos
contidos no instrumento do Inventrio Nacional de Referncias Culturais.
113
114
115
116
117
Estao de Tratamento de Esgoto; diagnstico ambiental
atualizado da rea; plano de manejo e licenas ambientais.319
319
118
322
119
327
120
aprofundados330.
121
122
123
124
Segundo estudos da conduzidos por Celso Perota (1997), que fundamentou o seu
argumento a partir dos vestgios arqueolgicos prximos quela localidade, a
cermica encontrada apresenta caractersticas semelhantes quelas produzidas pelas
populaes pr-histricas de tradio Tupi-guarani e Una. Ao focar no objeto
cermico, procurou-se dar conta de sua origem, tecnologia de confeco manual
com a queima das peas em fogueira a cu aberto , e matrias-primas empregadas
barro de uma mesma jazida e demais insumos naturais encontrados no meio
ambiente337. Mas, alm disso, deslocou-se a ateno do produto para o processo,
preocupando-se em compreender seu significado simblico dentro de um quadro
mais amplo das relaes sociais na comunidade de Goiabeiras Velha, identificando a
funo de cada um dos executantes da produo de panela de barro.
do mangue que as paneleiras retiram o vegetal mangue vermelho (Rhyzophora mangle) utilizado
para impermeabilizar as panelas de barro. Cf. PEROTA (1997); DIAS (1999, 2006). IPHAN. Ofcio das
Paneleiras de Goiabeiras. In: Dossi IPHAN 3. Braslia: IPHAN, 2006.
125
126
em carroa, do barreiro at o mangue, seguindo de canoa at
Goiabeiras.
Escolhedor de barro Auxiliar de paneleira, faz a limpeza do
barro molhando, pisando e amassando as bolas de barro,
retirando as impurezas e tornando a massa mais homognea,
melhor para ser modelada. Geralmente parentes homens ou
auxiliares pagos realizam essa tarefa para as paneleiras, em seus
quintais ou no galpo da associao.
Alisadoras Auxiliares de determinadas paneleiras, geralmente
parentes ou vizinhas, realizam o polimento das panelas, depois
de secas, antes da queima; utilizam uma pedra de rio seixo
rolado para alisar a superfcie interna e externa; executam a
tarefa mediante pagamento.
Tirador de panela Auxiliar que retira as panelas em brasa da
fogueira, aps a queima, utilizando uma vara comprida com dois
ganchos (garras) na ponta e depositando-as junto paneleira ou
auxiliar, para que sejam aoitadas.
Casqueiro Profissional que coleta a casca do manguevermelho, rvore nativa do manguezal, para o preparo da tintura
de tanino, utilizada no aoite de panelas. Ele entra no manguezal
de bote ou canoa levando um porrete para bater na casca da
rvore at solta-la do tronco; leva saco e balde para carreg-la;
traz a casca, de canoa, at Goiabeiras, onde vende para as
paneleiras.
Comerciante Empresrio dono de ponto de produo de venda
de panelas, localizado beira da avenida que d acesso ao
Aeroporto de Vitria; tem 4 paneleiras trabalhando no seu
quintal, cuja produo ele comercializa; o entrevistado
eventualmente tambm faz panelas.
127
Urbanizao ameaa acabar com smbolo da cultura capixaba. A Tribuna. Vitria, 21 jul.
1992.CESAN PROCURA JAZIDA DE BARRO PARA PANELEIRAS. A Gazeta. Vitria, 10 mar. 1994.
128
empresas e encomendas de restaurantes, que enchiam com mais de mil peas por
semana os bas dos veculos das empresas especializadas em transportes de cargas.
Vendidas por atacado, as panelas atingem um preo baixo por unidade para o
intermedirio e valores um pouco mais elevados para o consumidor final. A
responsabilidade pelo pagamento da firma transportadora sempre fica ao encargo do
comprador. As paneleiras j detm tcnica de embalagem para grandes encomendas:
as panelas so embaladas uma a uma com jornal, depois empilhadas dentro de caixas
de papelo e revestidas por engradados de madeira.
Do universo pesquisado (49 paneleiras), 24 tm clientes fixos e trabalham por encomenda; 19 vendem
no varejo e as demais no informaram. Inventrio do Ofcio das Paneleiras de Goiabeiras; Ficha de
Identificao: ofcios e modos de fazer F60; item 10.2; IPHAN, 2002.
341
Inventrio do Ofcio das Paneleiras de Goiabeiras; Ficha de Identificao: ofcios e modos de fazer
F60; item 10.2; IPHAN, 2002.
129
da insero do homem nesse meio, estruturante e fundamental.
[...] So muitos comportamentos e hbitos tradicionais que
foram se modificando em funo da vida moderna, da
incorporao dos produtos industriais, de tudo isso [...] 342.
Entrevista concedida pela Superintendente Regional do IPHAN, Carol Abreu, realizada nas
dependncias do Museu Solar Monjardim, 21 Superintendncia Regional, no bairro de Jucutuquara em
Vitria, gravada em maio de 2005.
343
Idem.
130
344
Inventrio do Ofcio das Paneleiras de Goiabeiras; Ficha de Identificao: ofcios e modos de fazer
Q60; itens 8.4 e 8.7; IPHAN, 2002
345
IPHAN. Inventrio Nacional de Referncias Culturais: manual de aplicao. Fichas de Identificao F20, F40
e F60 e Questionrios de Identificao Q20, Q40 E Q60. Braslia: IPHAN, 2002.
346
131
348
Existe uma rivalidade entre a moqueca capixaba e a baiana. A primeira glorifica-se por valorizar mais
o sabor de peixe, uma vez que no leva o azeite de dend. H, inclusive, um bordo bastante conhecido e
disseminado na cidade de Vitria sobre essa antiga rixa: moqueca s capixaba, o resto peixada. Alm
dessa disputa j bastante difundida na sociedade capixaba quanto ao modo de preparar a moqueca
capixaba, observei em publicao do IPHAN uma discordncia quanto ao preparo da moqueca e ao
excesso no uso do coentro. Parece-me, no entanto, que no caberia qualquer atribuio de valor nesse
sentido. Cf. IPHAN. Ofcio das Paneleiras de Goiabeiras. In: Dossi IPHAN 3. Braslia: IPHAN, 2006,
p. 39.
349
DA MATTA, R. O que faz o Brasil, Brasil? Rio de Janeiro, Rocco, 1989, p. 57.
350
KLEIN, Denise. Mos Mestras. Conhecer o processo de fabricao da panela de barro, alm de comer
torta capixaba, uma boa dica neste feriado. A Gazeta. Vitria, 07 abr. 2004. Cad. Turismo. Depoimentos
de consumidores/ turistas: gosto de presentear os amigos; recheio as panelas com bombons.
351
Sobre os diversos significados para a categoria souvenir. Cf. STEWART, S. On Longing. Narratives
of the Miniature, the Gigantic, the Souvenir, the Collection. USA: The John Hopkins University Press,
1984.
132
133
134
135
355
Jos Reginaldo Gonalves, em texto apresentado nos Simpsios Especiais, na XIV RBA, Recife,
Pernambuco, em junho de 2004, sugere que os patrimnios culturais sejam estudados a partir de uma
perspectiva etnogrfica. Posteriormente, o texto foi publicado na revista Horizontes Antropolgicos. Ver
GONALVES, J. R. S. Ressonncia, materialidade e subjetividade: as culturas como patrimnios.
Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 11, n. 23, p. 15-36, jan/jun 2005.
136
137
357
358
138
359
139
360
As geraes so parte da dinmica coletiva que as impele e lhes imprime continuidade social.
Impossvel, portanto, ignor-las ou menosprezar sua importncia analtica, principalmente na construo
das tenses e desigualdades sociais. Bourdieu (1983, p.118) discute a alternncia ou sucesso de geraes
para chegar s diferenas que geram conflitos como conseqncia da diversidade de localizao no tempo
social. Ao operar com essa noo, pretendo enfatizar as transformaes nas relaes sociais de produo
ocorridas na localidade de Goiabeiras Velha. Tais mudanas podem ser apreendidas nos discursos
construdos pelas paneleiras velhas sobre os dois modos de organizao social produtiva na localidade:
dos quintais tradicionais e do galpo da Associao, como veremos na construo desta etnografia.
BOURDIEU, P. A Juventude apenas uma palavra. In: Questes de sociologia. Rio de Janeiro:
Marco Zero, 1983.
361
PACHECO, R. J. C. Goiabeiras: terra de panela de barro. In: Cadernos de Etnografia e Folclore, n.
5, Vitria, Esprito Santo, 1975; HOVENKAMP, H. De paneleiras van Goiabeiras: pannenmaaksters op
de informele arbeidsmarkt in Vitoria, Brazili. Doctoraalscriptie Culturele Antropologie en Sociologie
der niet-westerse samenlevingen. Vrije Universiteit Amsterdam. Juni, 1992; PEROTA, C. As Paneleiras
de Goiabeiras. Srie Memria Viva. Secretaria Municipal de Cultura, 1997; MINGO JR. Goiabeiras.
Vitria: Secretaria Municipal de Cultura, 2000; CHAIA, V.; DANTAS G. Panela de Barro. Raiz da
Cultura Capixaba. Vitria: Secretaria de Estado de Turismo, 2002; IPHAN. Ofcio das Paneleiras de
Goiabeiras. Braslia: IPHAN, 2006; DIAS, C. A tradio nossa e essa, e fazer panela preta: produo
material, identidade e transformaes sociais entre as artess de Goiabeiras. Dissertao de Mestrado. Rio
de Janeiro, UFRJ/EBA, 1999; DIAS, C. Panela de Barro Preta: A Tradio das Paneleiras de Goiabeiras
- Vitria-ES. Rio de Janeiro: Mauad X/ Facitec, 2006.
140
No mbito da poltica oficial de artesanato, o Instituto Nacional de Folclore, desde a dcada de 1980,
empreendeu uma srie de aes de fomento e valorizao do produto artesanal de feio tradicional.
Documentos elaborados nesse perodo discutem sobre essa definio: no encaramos o tradicional
como resduo do passado, e sim como um conjunto de prticas sociais e culturais materialmente presentes
e que se reproduzem atravs do trabalho e do poder de recriao de seus agentes. Cf. SOARES, L.G.
Produo de artesanato popular e identidade cultural. Rio de Janeiro: FUNARTE/ INF, 1983, p. 9.
363
PEROTA, op. cit, 1997; DIAS, op. cit., 2006; IPHAN, op. cit., 2006.
364
RIVERS, W. H. R. O Mtodo Genealgico na Pesquisa Antropolgica (1910). In: Oliveira, R. C.
(org.). A Antropologia de Rivers. So Paulo: editora UNICAMP, 1991.
141
entre
primos,
seja
cruzados
ou
paralelos,
matrilineares
ou
365
142
Segundo dados levantados pelo IPHAN, foram contabilizadas cerca de 120 famlias nucleares que
mantm algum tipo de envolvimento com a atividade artesanal de confeco de panela de barro. (IPHAN.
op.cit., 2006, p. 13).
371
Vale registrar que a primeira visita ocorreu aps a qualificao do projeto de doutorado, em maio de
2005. As demais idas a campo ocorreram entre os meses de novembro a janeiro, tanto por questes
operacionais, quanto por ser a poca de maior fluxo turstico em Vitria.
372
LIMA, R. G. O Povo do Candeal: sentidos e percursos da loua de barro. Tese de Doutorado.
Programa de Ps-Graduao em Sociologia e Antropologia. Rio de Janeiro: UFRJ, IFCS, 2006, p. 15.
373
CABRAL, J. P; LIMA, A. P. Como Fazer uma histria de famlia: Um exerccio de
143
contextualizao social. Etnogrfica. Vol. IX (2): 355-390. Essa metodologia foi tratada por Joo Pina
Cabral no curso Antropologia da famlia, ministrado no PPGAS/ UNICAMP, entre maro e junho de
2005.
374
Sem desconhecer as questes epistemolgicas levantadas por Bourdieu (1997), que recomenda que na
relao entrevistador-entrevistado deve-se instaurar uma relao de escuta ativa e metdica, to afastada
da pura no-interveno da entrevista no-diretiva, quanto do dirigismo do questionrio, cuja
complexidade no pode ser aqui analisada, adotou-se a perspectiva de Michelat, quando sugere a
entrevista no diretiva como uma tcnica que oferece vantagens para apreenso do contedo simblico,
permitindo ao entrevistado um 'grau de liberdade', na medida em que no estrutura completamente o
campo de investigao. Alm disso, interessava-me explorar essa oposio entre dirigismo e no
dirigismo nas entrevistas, uma vez que estava confrontando ao Instrumento tcnico do IPHAN.
MICHELAT, G. Sobre a utilizao da entrevista no diretiva em Sociologia. In: THIOLLENT, M.
(org.). Crtica Metodolgica, Investigao Social & Enquete Operria. 3a ed., So Paulo: editora
Polis, 1982; BOURDIEU, P. Compreender. In: BOURDIEU, et. al. A Misria do Mundo. Rio de
Janeiro: editora Vozes. 1997.
375
MAUSS, M. As tcnicas do corpo. Sociologia e Antropologia. So Paulo: Cosac & Naify, 2003.
535 p. p. 401.
144
145
faziam as panelas sentadinhas e faziam poucas. A pessoa
trabalhava tranqila em casa. As mulheres, antigamente, no
faziam essas quarenta panelas como hoje esto fazendo.
Antigamente, faziam seis panelas; puxava... terminava; no outro
dia, terminava para fazer bonitinho... Caprichado. Ento, era
uma coisa que se fazia devagar. Hoje, a agilidade. Tem gente
que pe gente para trabalhar. Trabalham at aos domingos!378
378
Depoimento de Izabel Corra Campos, 61 anos, gravado no quintal da sua casa, em novembro de
2006.
379
Dona Izabel nasceu em Goiabeiras Velha e filha de Oswaldo Alves Corra e Ana Dolores da Rosa
Corra. Depois que se separou do marido, Izabel voltou a morar no quintal de seu pai, com uma de suas
duas filhas e quatro netos. Dos quatro filhos de Izabel, Douglas foi o nico que aprendeu a mexer com
barro. Ver APNDICE V: remeto ao quadro sobre o grupo de referncia - genealogia e grupo familiar a
que pertence.
146
Neste caso, exponho aqui as minhas prprias limitaes fsicas, quando tive uma violenta queda de
presso devido ao calor da fogueira.
381
Depoimento de Izabel Corra Campos, 61 anos, gravado no quintal da sua casa, em novembro de
2006.
382
LIMA, R. G. O Povo do Candeal: sentidos e percursos da loua de barro. Tese de Doutorado.
Programa de Ps-Graduao em Sociologia e Antropologia. Rio de Janeiro: UFRJ, IFCS, 2006.
147
consumo383. Lima enfatiza a importncia dos objetos da cultura material como marca
de construo identitria. Ao faz-lo, insere-se no campo temtico de estudos da
cultura popular e da produo artesanal384. Especial ateno tem sido dada anlise
das biografias e histrias de vida, ao processo de aprendizagem terico/ prtico e ao
papel desempenhado pela gerao mais velha na transmisso do saber relativo
atividade385. A tecnologia de produo desses artefatos cermicos, suas tcnicas e
instrumentos de trabalho e contexto sociocultural de produo fazem parte de
estudos consagrados sobre essa temtica.
Carla Dias386, cuja dissertao de mestrado foi incorporada ao dossi de
estudo do IPHAN, em 2002, conforme apontado no captulo anterior, tambm
enfatiza que o modo de fazer tradicional fundamenta-se numa rede de parentesco,
que se expressa como referncia do lugar que ocupam socialmente387. Dias se
props revelar a genealogia do fazer em si, abordando questes relacionadas
tecnologia de confeco das panelas de barro, matrias-primas empregadas e etapas
do processo produtivo. Como observou Antnio Carlos de Souza Lima, a pesquisa
de Dias insere-se numa tradio de estudos da cultura material preocupada em situar
os objetos no seu contexto sociocultural de produo, apoiando-se em literatura
vinculada ao (sub)campo da Antropologia da Arte388.
No caso desta pesquisa, procuro construir complementarmente o mapa
genealgico das famlias para melhor localiz-las no espao social e estabelecer as
intersees necessrias na constituio dessa rede de sociabilidade local, entendendo
a sociabilidade como uma modalidade de interao.
Nas reminiscncias sobre o bairro de Goiabeiras Velha, as paneleiras antigas
do grupo de referncia desta pesquisa afirmam que havia poucas casas, todas de
estuque ou de madeira e com fogo lenha. Ao redor, formando quintais abertos
383
Ibid., p. 41,43.
Antroplogo e funcionrio do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular/IPHAN, Ricardo Gomes
Lima est vinculado a essa instituio desde 1983, quando ingressa em seus quadros atravs do convite de
Llia Gontijo Soares, ento diretora do Instituto Nacional de Folclore (cf. mostrei no captulo anterior).
385
LIMA, Ricardo G. O Povo do Candeal: sentidos e percursos da loua de barro. Tese de Doutorado.
Programa de Ps-Graduao em Sociologia e Antropologia. Rio de Janeiro: UFRJ, IFCS, 2006, p.78-79.
386
DIAS, Carla da Costa. A tradio nossa e essa, e fazer panela preta: produo material,
identidade e transformaes sociais entre as artess de Goiabeiras. Dissertao de Mestrado. Rio de
Janeiro, UFRJ/EBA, 1999.
387
Ibid., p. 92
388
LIMA, Antnio C. apresentao. In: DIAS, C. C. Panela de Barro Preta: A Tradicao das
Paneleiras de Goiabeiras - Vitoria-ES. Rio de Janeiro: Mauad X/ Facitec, 2006, p. 10.
384
148
149
UFES e no areal que ficava no Tubaro389.
150
Dona Elizete paneleira e benzedeira em Goiabeiras Velha. Filha de Claudio Gomes Salles e Adelina
Gomes Salles, antigos moradores dessa localidade, casou-se com Joaquim dos Santos e teve quatro filhos.
Nenhum de seus filhos interessou-se pelo ofcio. Todos exercem alguma atividade formal no mercado de
trabalho. APNDICE V- remeto ao quadro sobre o grupo de referncia: genealogia e grupo familiar a que
pertence.
393
Observa-se em Goiabeiras a mesma regra de residncia referente ao casamento encontrada por
SHIAVO (1997) segundo a qual as mulheres vo morar nos terrenos dos maridos. Atenta s
consideraes de Lima, em seu estudo na comunidade arteso de Candeal, quanto analise das regras de
residncia, se uxorilocal/ matrilocal, virilocal/ patrilocal ou neolocal, em que leva em conta as fases ou
ciclos de desenvolvimento do grupo domstico, se em expanso/ disperso ou ciso/ substituio (Fortes
apud. Lima, 2006, p. 14-15). Estou me referindo ao ciclo inicial de desenvolvimento dessas unidades
domsticas na localidade, que vai permanecer com descontinuidades nas geraes seguintes ao meu grupo
de referncia de mulheres entre 60 e 80 anos.
394
Quintal totalmente tomado pelas casas dos filhos e netos de Laurinda e Aristides Lucidato. Hoje, as
casas esto subindo o segundo andar para poderem abrigar mais pessoas dessa famlia. Casa de Carlinhos
(mora com mulher e dois filhos), casa de Valdineia (mora com a irm), casa de Valdir (irmo de
Valdineia), casa de Lucilina (mora com marido e filhos), casa de Genilda, casa de Maria Nilse (moram os
quatro filhos e respectivas famlias), casa de Alvina (moram os trs filhos e respectivas famlias), casa de
Laureci (mora com as filhas), casa de Nilceia (moram o marido e os dois filhos). Casa de Laugrepina,
151
Travessa Aristides Lucidato: a primeira casa de Genilda fica de frente para a rua Jos Alves
casa de Jorge (marido de Laugrepina), casa de Adelaide (me de carlinhos). Esta ltima casa era a antiga
casa de Dna. Laurinda Lucidato (matriarca da famlia), e, por fim, casa de Aroldo, no alto da pedreira.
395
Esta estimativa foi feita por Aroldo Lucidato, 70 anos, filho de Laurinda e Aristides Lucidato.
Segundo Aroldo, a ocupao daquele territrio comeou com o Lucidato e a Isabel Lucidato ele bugre
claro e ela de cabelo cumprido e loiro ambos escravos de Nossa Senhora, porque como eram brancos
no podiam ser escravos do senhor. Isso no tempo da escravido, relata Aroldo numa narrativa quase
mtica de ocupao daquele terreno (entrevista gravada no quintal dos Lucidato, em novembro de 2007).
396
Entrevista gravada no quintal dos Lucidato, em novembro de 2007. APNDICE V- remeto ao quadro
sobre o grupo de referncia: genealogia e grupo familiar a que pertence.
152
397
153
circulao
de
pessoas
mercadorias
promovendo
154
404
Segundo os depoimentos de Izabel Corra Campos, Jenete Alves Rodrigues, Lucilina Lucidato de
Carvalho, Domingas Corra da Vitria, Gecy Alves Corra seus pais e/ou maridos aposentaram-se como
funcionrios do aeroporto (ver quadro de referncia), mas alguns desenvolveram outras atividades
produtivas, principalmente relacionadas pesca. Outras narrativas situam o valor estruturante desse
sistema produtivo na organizao social e produtiva das paneleiras de Vitria, principalmente para
localizar o papel do homem nesse sistema, que era o principal responsvel pelo escoamento da produo.
405
At a sua total desativao essa indstria recebeu uma srie de multas e advertncias da Secretaria do
Meio Ambiente pela poluio do Manguezal. Cf. ALMEIDA, P. O. Do Manguezal Panela de Barro:
proposta de insero de novos espaos no tecido urbano da Grande Vitria. Monografia apresentada ao
Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFES, 1997.
155
406
Castro Faria empreendeu trs excurses com objetivos pr-determinados. O primeiro, de seguir
rumo ao interior para visitar uma estao biolgica do Museu Nacional. Depois, ao percorrer a regio
litornea, at a cidade de Nova Almeida, observa que tinha diante dos olhos uma paisagem cultural bem
diversa e at mesmo antagnica em relao ao povoamento das terras altas do interior (idem, p. 2).
Durante essa excurso, realiza alguma documentao fotogrfica da igreja dos Reis Magos (p. 2). Quanto
aos sambaquis existem no interior da baa de Vitria, entre mangues, pequenos montes artificiais ali
chamados ilhas, [...] com abundante material sseo humano, alm de instrumentos de pedra (idem, p. 4),
eram objeto de intensa explorao econmica. O problema dos sambaquis ganhava repercusso nos
debates internacionais. Nessa poca, o Museu Nacional ainda era o grande centro de referncia por
estabelecer uma srie de convnios entre pesquisadores estrangeiros e os da instituio. Alm disso, uma
intrincada rede de relaes havia se estabelecido entre o Museu e algumas universidades e outros rgos
da administrao pblica, como no caso do SPHAN. (CFDA.11.03.074). Arquivo Castro Faria. Museu de
Astronomia - MAST/ RJ.
407
A Estao Ecolgica Municipal Ilha do Lameiro situa-se na Baa ao noroeste de Vitria, prximo
foz do Rio Santa Maria da Vitria. O manguezal recobre 92,66% da estao ecolgica, numa rea de
8.918.350 m. Lei Municipal n. 3.377, de 25 de janeiro de 1986, criou a Reserva Biolgica Municipal
Ilha do Lameiro.
408
Localizada no Morro de Goiabeiras, identificado em minhas entrevistas como Morro do Sales, devido
a concentrao de moradores dessa famlia nesse trecho de Goiabeiras. A Reserva Ecolgica Municipal
Mata de Goiabeiras, regulamentada atravs do Decreto n. 10.029, de 05 de junho de 1997, possui uma
rea de 50.722 m2. O Acesso ao morro se d pela rua Argeu Gomes Sales.
156
157
MINGO JR. Goiabeiras. Vitria: Secretaria Municipal de Cultura, 2000, p. 32, 34.
158
Jabour, e, no final dos anos 60, foi concludo o conjunto Antnio Honrio, cujos
imveis valorizaram-se com a instalao do Porto de Tubaro. Hoje, esses conjuntos
j se encontram totalmente consolidados e em rea valorizada, com acesso a infraestrutura, posto de sade, escolas, duas instituies de ensino superior, sendo que
uma federal, servios bancrios e transporte pblico410.
A impresso que se tem ao abandonar a grande avenida que corta a localidade
com seu pesado fluxo automobilstico a de uma descontinuidade abrupta de tempo
e espao. Imagine-se em uma das principais vias de acesso ao centro da capital
capixaba e, ao desviar-se em direo ao manguezal que acompanha todo aquele
trecho da Avenida Fernando Ferrari, deparar-se com um ambiente residencial e
tranqilo, onde circulam poucos carros e pessoas. A maioria da populao de
moradores antigos, que residem h bastante tempo no local. Nas ruas, as crianas
apropriam-se dos espaos pblicos com suas brincadeiras e jogos infantis, como se
observa nos desenhos riscados de amarelinha no asfaltamento de algumas ruas
perifricas do bairro.
Goiabeiras Velha apresenta-se ao olhar do etngrafo por diferentes planos.
Um deles tem como coordenadas espaciais a Av. Fernando Ferrari e o Campus da
Universidade Federal do Esprito Santo (UFES), para onde se dirigem diariamente
centenas de estudantes. Pela avenida circulam dezenas de linhas de nibus
410
Segundo dados coletados pelo censo 2000 do IBGE, a composio da populao que reside em
Goiabeiras Velha organizada segundo os critrios de idade e sexo a seguinte: 2.350 pessoas, sendo 557
crianas com idade entre 0 e 15 anos (291 homens e 266 mulheres), 436 jovens com idade entre 16 e 24
anos (218 homens e 218 mulheres), 1.119 adultos com idade entre 25 e 59 anos (534 homens e 585
mulheres) e 238 idosos com idade a partir de 60 anos (100 homens e 138 mulheres). Tambm segundo o
Censo, Goiabeiras vem apresentando uma diminuio das taxas de crescimento do total de pessoas que
habitam a regio. Nos anos de 1991 e 2000, a diminuio da populao total foi de 18,5%, sendo que
entre as mulheres houve uma reduo de 1404 para 1207 pessoas, ou seja, menos 14% da populao
feminina. Entre os homens decresceu de 1482 para 1143 pessoas, ou seja, 23% (IBGE apud. Dossi
IPHAN, 2002). A diminuio das taxas de crescimento um dos indicadores do ethos urbano e pode
informar sobre a constituio de ncleos familiares menores, conforme pude, de fato, observar no
trabalho de campo. A composio socioeconmica dos moradores dessa localidade de famlias de baixa
renda e de baixa escolaridade (PEROTA, 1997; DIAS, 2006). No entanto, os dados do IBGE referentes
educao, realizado na regio de Goiabeiras no ano de 2000, considerando os fatores de idade e sexo, em
uma amostra de 2.169 pessoas apontam para uma inverso dessas taxas, indicando que a alfabetizao
atinge 92% das pessoas. Dessa amostra, tem-se: 332 crianas com idade entre 0 e 14 anos (141 homens
alfabetizados e 39 homens no alfabetizados; 120 mulheres alfabetizadas e 32 no alfabetizadas); 480
jovens com idade entre 15 e 24 anos (239 homens alfabetizados e 01 homem no alfabetizado; 238
mulheres alfabetizadas e 02 mulheres no alfabetizadas); 1.119 adultos com idade entre 25 e 59 anos (522
homens alfabetizados e 12 homens no alfabetizados; 557 mulheres alfabetizadas e 28 mulheres no
alfabetizadas); 238 idosos com idade a partir de 60 anos (84 homens alfabetizados e 16 homens no
alfabetizados; 103 mulheres alfabetizadas e 35 mulheres no alfabetizadas). IPHAN. Inventrio do Ofcio
das Paneleiras de Goiabeiras; Ficha de Identificao: stio F10; IPHAN, 2002.
159
Praa Coronel Francisco Pereira: entroncamento da Av. Fernando Ferrari com a Av. Jernimo Verloet
H tambm paneleiras que trabalham para os filhos de Arnaldo Gomes Ribeiro e que deram
continuidade ao comrcio de panelas na localidade.
160
Dona Bernanci filha de Odete Corra Gomes e Alcides Gomes. Foi casada com Joaquim dos Santos,
filho de Ana Ferreira da Conceio, conhecida como me Ana, antiga paneleira que ganhou relativa
projeo nos crculos artsticos locais por modelar esculturas em argila. Dos sete filhos de Bernanci,
somente Inete e Lailson aprenderam o ofcio de sua me, avs, tias e primas. APNDICE V - remeto ao
quadro sobre o grupo de referncia: genealogia e grupo familiar a que pertence.
413
Dona Margarida foi casada com Benjamim Ribeiro, com quem teve seis filhos. Todos eles
interessaram-se pelo ofcio e desempenham alguma funo no processo produtivo do quintal dos Ribeiro.
APNDICE V - remeto ao quadro sobre o grupo de referncia: genealogia e grupo familiar a que
pertence.
161
Um dos pontos de tenso identificados pela pesquisa nos quintais refere-se s denncias de vizinhos ao
IBAMA, que, sentindo-se prejudicados com a fumaa procuram os rgos pblicos de fiscalizao.
Segundo relatos, em algumas vistorias ameaam apagar a fogueira ou apreender as panelas ainda em
processo de queima, causando prejuzos aos artesos e suas famlias.
162
da minha visita, mas tambm podem desempenhar outras tarefas. No entanto, essa
permissividade no observada na hora da venda, em que cada um tem seus
compradores. Snia Ribeiro radicaliza essa individualidade ao desempenhar todo o
processo sozinha confeco, queima e distribuio , alegando ser a nica a
trabalhar com miniatura de panelas no referido quintal. Voltarei a essas questes
mais adiante quando for inserido o modelo do galpo.
163
A expanso urbana de Goiabeiras: Ruas Leopoldo Gomes Salles e Jos Gomes Loreto
415
Mais adiante tratarei da organizao social e produtiva das paneleiras do Galpo da Associao das
Paneleiras de Goiabeiras.
416
Melchiadia Alves Corra da Vitria Rodrigues casada h quase cinqenta anos com Alceneu
Rodrigues, com quem teve cinco filhos. Todos os seus filhos interessaram-se pelo ofcio e desempenham
alguma atividade relacionada ao processo produtivo no quintal da famlia, estendendo essa relao para os
sobrinhos e as sobrinhas que moram na vizinhana. APNDICE V - remeto ao quadro sobre o grupo de
referncia: genealogia e grupo familiar a que pertence.
164
moradora desse mesmo trecho familiar417 - afirma que o fazer panela um dom e
que ela o faz por amor e por necessidade financeira. Nota-se em seu depoimento um
indicativo de como importante para o grupo associar a atividade econmica a uma
dimenso pessoal, conformadora de uma identidade social.
417
Apesar dos espaos pblicos se constiturem a partir de modalidades de apropriaes variveis, que se
modificam ao longo do tempo, os trechos de rua pesquisados em Goiabeiras Velha apresentam
caractersticas peculiares quando comparados a de outros bairros: concentrao de pessoas de uma mesma
famlia, estabelecendo intensa relao de vizinhana e de parentesco.
418
O percurso do bairro Joana DArc, cerca de 5 km da localidade, faz-se atravs da Estrada do Contorno.
419
Na minha primeira ida ao campo, em maio de 2005, cada bola custava cinqenta centavos de real. Em
novembro de 2007, estava custando um real.
165
420
Depoimento gravado no quintal dos Gomes, em novembro de 2007, com as irms Zilda e Gilda
Gomes Campos. APNDICE V - remeto ao quadro sobre o grupo de referncia: genealogia e grupo
familiar a que pertence.
166
Tem barro que para fazer uma pea dessas no d. Esse um barro bonito! Nem sempre o barro est
bom, depende da lua. Hoje ningum mais fica na lua. Tirava-se na lua nova e no escuro, revela a
paneleira Jenete Alves Rodrigues entrevistada em maio de 2005.
422
Todas as paneleiras so unnimes em achar que o mais difcil a retirada do barro, no bairro de Joana
DArc. Temos que abrir o buraco com enxada e procurar no fundo do solo, afirmam. Izabel Corra
Campos fala da dificuldade de coletar barro: Tem que ser heri para deixar o barro prontinho para a
paneleira. O barro vem cheio de impurezas. Para mim, coletar e amassar com os ps pior do que
queimar. Preparar o barro cansa!... (entrevista gravada no galpo do Arnaldo, em dezembro de 2005).
423
"Eu comecei a tirar o barro quando era menino ainda e gosto at hoje. Eu ligo o rdio e vou tirando,
escutando um pagode, amassando com os ps, fazendo as bolas", diz Ronaldo Correa. Em uma semana de
trabalho ele, acompanhado por seu ajudante, retira cerca de 300 bolas. "Eu vou empilhando as bolas e no
sbado o caminho da prefeitura vem aqui e leva para o galpo das paneleiras", conta Ronaldo (entrevista
gravada no galpo da Associao, em dezembro de 2005).
167
168
para a compreenso das relaes sociais de produo dessa localidade. Esse tipo de
enquadramento pressupe um olhar mais treinado, capaz de perceber as redes de
relaes sociais que recobrem esse lugar. Com efeito, ao mesmo tempo em que fazia
o reconhecimento fsico da rea, conhecendo os nomes das ruas e travessas, buscava
identificar os moradores, tornava-me aos poucos uma figura conhecida, saciando as
dvidas e situaes de estranhamento sobre a minha pessoa, com as conversas e
esclarecimentos sobre a pesquisa que realizava.
Essa diversidade de padres de domiclio encontrada na localidade de
Goiabeiras Velha mereceu ateno, pois informava sobre possveis coalizes ou
rupturas na maneira de organizar o espao social e produtivo. A demarcao no
se fazia apenas pela organizao no espao fsico, j que outros terrenos totalmente
separados por muros com entradas e portes individualizados nem pareciam
pertencer a uma mesma famlia e, no entanto, pertenciam. Sendo assim, o fato de as
famlias compartilharem um mesmo quintal, como j havia observado Dias (1999)
nas unidades domsticas de Marinete, Berencia e demais irmos, vai indicar um
espao onde as relaes se reproduzem e os conflitos pessoais tomam
caractersticas e propores familiares425.
Em tais quintais, no necessariamente contguos, como no caso dos Gomes,
seus ocupantes relacionam-se muitas vezes atravs dos estreitos laos de parentesco
que os unem so primos primeiros, como costumeiramente se referem uns aos
outros e que se expressam em situaes de intimidade e de convivncia intensa.
Segundo Simoni Guedes, interessa acentuar no estudo dos quintais seu significado
como fenmeno multidimensional e as possibilidades que apresenta de sugerir uma
abordagem diversa para os estudos de famlia e parentesco entre trabalhadores
urbanos426.
Bernanci Gomes Ferreira, apesar de mudar-se para o quintal do marido427,
425
DIAS, C. A tradio nossa e essa, e fazer panela preta: produo material, identidade e
transformaes sociais entre as artess de Goiabeiras. Dissertao de Mestrado. Rio de Janeiro,
UFRJ/EBA, 1999, p. 38.
426
GUEDES, S. L. Redes de Parentesco e Considerao entre Trabalhadores Urbanos: tecendo relaes
a partir de quintais. Caderno do Centro de Recursos Humanos. Faculdade de Filosofia e Cincias
Humanas. Universidade Federal da Bahia. Salvador. N. 29; 1998. p. 189-208, p. 198.
427
O marido, Rubens Ferreira da Conceio, hoje falecido, aposentou-se pelo curtume Capixaba,
importante posto de trabalho para a mo de obra masculina de Goiabeiras, h dcadas passadas.
Conforme visto, Rubens era filho de me Ana, que no transmitiu o ofcio para nenhuma de suas duas
filhas, Ruth e Emlia, moradoras at hoje daquele trecho dos Ferreira.
169
revela nunca ter deixado a referncia do terreno da sua famlia paterna: o meu lugar
no aqui; o meu lugar l, afirma. Lembrando-se do quintal de seus avs, da
antiga casa de estuque e do p de gabiroba, rvore muito comum na regio e que
dava boa sombra, e reconstri uma cartografia afetiva do seu lugar de origem.
Hoje, com o crescimento do bairro, o antigo quintal dos Gomes em nada se parece
com a imagem construda por Bernanci. Ele foi totalmente repartido. A especulao
imobiliria na regio fez com que outros herdeiros vendessem as suas partes, e a
estreita faixa de terreno que permaneceu de posse da famlia Gomes foi ocupada por
novas construes, abrigando filhos e filhas, com seus respectivos cnjuges e proles.
Segundo Alfredo Wagner B. Almeida, a noo de territorialidades especficas configura esse carter
dinmico dos processos sociais de territorializao e das formas de apropriao dos recursos. Para o
autor, a territorialidade funciona como fator de identificao, defesa e fora, principalmente em se
tratando de grupos e comunidades cujas prticas revelam um conhecimento aprofundado e peculiar dos
ecossistemas de referncia. Cf. ALMEIDA, A. W. B. Terras de Quilombo, terras indgenas,
babauais livres, castanhais do povo, faxinais e fundos de pasto: terras tradicionalmente
ocupadas. Manaus: PPGSCA-UFAM, 2006, p. 24 e 25.
429
ALMEIDA, A. W. op. cit., p. 24.
170
Gilda e Jaqueline, que tambm exercem o ofcio. Mesmo gostando da atividade que
praticada h mais de cinqenta anos, Bernanci s conseguiu transmitir seu ofcio aos
dois filhos que trabalham com ela no galpo, Inete e Lailson. A filha mais velha,
Ana Lcia, apesar de no desempenhar uma atividade profissional com formao
especfica hoje trabalha como auxiliar de servios gerais e de possuir apenas o
ensino fundamental incompleto, mesmo assim revela no sentir inclinao para o
ofcio. Disse ajudar, eventualmente, em uma ou outra etapa da produo, como
alisar ou passar a faca no fundo da panela.
A quebra na transmisso ainda maior quando visitado o quintal de suas
primas. Os filhos de Gilda e de Jaqueline no aprenderam o ofcio. Zilda no teve
filhos e criou os dois sobrinhos, hoje rapazes, filhos de sua cunhada Izabel. O acesso
ao grupo domstico se d pela Avenida Fernando Ferrari, atravs de um estreito
beco, que se abre para um conjunto de casas de alvenaria muito prximas umas das
outras e onde no h mais espao para queima das panelas. Se, por um lado, o modo
de vida tradicional se manteve, pois essas casas confluem para um ptio de
convivncia e uso comuns, onde as irms Zilda, Gilda e Jaqueline primas
primeiras de Bernanci por parte de pai permaneceram confeccionando panelas; por
outro, elas no do mais conta de todo o processo de produo e vendem suas
panelas ainda cruas no queimadas por preos irrisrios430 a outras paneleiras,
principalmente as do galpo, num esquema de revenda. Sem espao para produzir
no galpo e se dizendo excludas da Associao431 trabalham para outros, seja no
estabelecimento dos filhos do Arnaldo, seja para alguma paneleira da Associao.
O valor de uma panela sem queimar, reduz-se a menos da metade do seu valor. Justifica-se pagar
preos to reduzidos, porque se corre o risco de quebr-la na hora da queima.
431
Todas as entrevistadas afirmaram que houve um sorteio para ocupao das mesas de trabalho no
galpo. Nenhuma delas, porm, conseguiu explicar direito quais foram esses critrios. Bernanci e
Domingas (Iraci) afirmaram ser a falta de espao nos quintais. No entanto, verifica-se que esse critrio
no justifica totalmente tais escolhas. Voltarei a essa questo adiante quando me referir ao galpo da
Associao.
171
No entanto, Zilda revela que fazer panela para outros uma prtica antiga
entre as paneleiras. Lembra, inclusive, que, quando o pai vendeu parte do terreno,
sua me comeou a fazer panela em outras casas432. Mas, diferentemente da situao
atual, mantinha-se certa independncia, pois a artes era dona de todo o processo de
produo, inclusive, a queima, recebendo pelo dia de panela:
Arnaldo, Jenete, Melchiadia, entre outros. O pai e os irmos de
Elizete levavam de canoa. No tinha mais lugar onde queimar
panela, ento mame comeou a fazer na casa de outras
paneleiras. Falava para eu ir na casa de dona Melchiadia para
ver um dia de panela, ou da dona Lcia. A era pago esse dia.
Combinavam a quantidade de peas: caldeiro eram oito com
tampa; frigideira eram 12. Pagava um dia de panela. Ela ia para
a casa da Melchiadia e fazia esse dia de panela. Dali ela saa e ia
pra casa da dona Lcia, que na poca morava no mesmo trecho.
Depois, na casa de dona Mocinha (me de Marinete). Da casa de
mocinha, ia pra casa de tia Romancina (das antigas e que
tambm era parteira). Da casa de Romancina ia pra casa de vov
Dud - [me do pai de Zilda, Gilda e Jaqueline]. Depois, pra
casa de dona Orminda. Depois, casa de tia Maria.433
Anlise seminal nesse assunto foi o da holandesa Hanneke Hovenkamp, cujo trabalho de campo em
Goiabeiras foi realizado no incio da dcada de 1990. Em sua pesquisa, Hovemkamp chama ateno para
duas modalidades de relaes de trabalho: as paneleiras que trabalham em outras casas, e aquelas que
trabalham em seus prprios quintais. Essa distino me foi indicada pela autora em texto em portugus.
Cf. HOVENKAMP, H. De paneleiras van Goiabeiras: pannenmaaksters op de informele arbeidsmarkt in
Vitoria, Brazili. Doctoraalscriptie Culturele Antropologie en Sociologie der niet-westerse
samenlevingen. Vrije Universiteit Amsterdam. Juni, 1992.
433
Depoimento gravado em novembro de 2007. APNDICE V - remeto ao quadro sobre o grupo de
referncia: genealogia e grupo familiar a que pertence.
172
previdncia social.434
Vale observar que a autora no traduziu seu texto para outra lngua, tendo o mesmo permanecido em
holands, enviando-me o resumo em portugus que havia apresentado na ocasio de sua pesquisa, ou seja,
em 1992, para a Secretaria de Ao Social da Prefeitura de Vitria, aos cuidados da assistente social
Julimar. Preferi utiliz-lo na ntegra, fazendo apenas algumas poucas correes em negrito.
435
GUEDES, S. L. Redes de Parentesco e Considerao entre Trabalhadores Urbanos: tecendo relaes
a partir de quintais. Caderno do Centro de Recursos Humanos. Faculdade de Filosofia e Cincias
Humanas. Universidade Federal da Bahia. Salvador. n. 29; 1998, p. 189-208, p. 199.
173
436
Viva de Avelino Rodrigues Neto, Jenete mora no quintal de seu av paterno. Hoje, ela cuida da sua
me, dona Lcia Florinda do Nascimento Corra, a paneleira mais velha de Goiabeiras, que reside em
uma casa ao lado da sua. APNDICE V - remeto ao quadro sobre o grupo de referncia: genealogia e
grupo familiar a que pertence.
437
Dona Lcia filha de Telvina e Rogrio do Nascimento. Foi casada com Moacir Alves Corra e teve
cinco filhos. Suas filhas Gecy e Jenete aprenderam o ofcio de paneleira. Os filhos desempenharam
atividades formais no mercado de trabalho e hoje esto aposentados. APNDICE V - remeto ao quadro
sobre o grupo de referncia: genealogia e grupo familiar a que pertence.
174
Alves Rodrigues, desempenhar o ofcio junto com a me. Ele decidiu abandonar o
trabalho com peixe para se dedicar ao ofcio. Hoje, o nico que confecciona
panelas e outros produtos. Se a identidade de paneleira h muito se encontra
consolidada no imaginrio das mulheres da localidade, o mesmo no se pode falar
dos homens que trabalham na confeco das panelas de barro438.
Carla Dias tambm observou a presena de homens nessa atividade
eminentemente feminina, e tece algumas consideraes sobre esse fenmeno:
So alguns os fatores que levam os homens a ingressarem neste
fazer, de forma profissional, com dedicao exclusiva e no
somente como um trabalho extra praticado nas horas vagas: o
desemprego e a possibilidade de com as panelas, ter um ganho
regular, a autonomia no trabalho, sem ter que obedecer a
horrios e chefes e, tambm pertencer a uma famlia de
paneleiras 439.
438
Os homens preferem ser chamados de artesos, uma vez que paneleiro possuir outro significado em
Portugal: emprega-se o termo paneleiro para se referir opo homossexual masculina.
439
DIAS, op. cit., 1999, p. 105
175
Planta baixa do quintal da famlia Nascimento: esquerda, situa-se a casa de Lucia Florinda do
Nascimento Corra e direita a de Jenete Alves Rodrigues.
O momento de ruptura desse modelo de reciprocidade entre as famlias parece associado diminuio
dos espaos de queima nos quintais. No entanto, observa-se que o sistema de ajuda est cada vez mais
circunscrito ao ncleo familiar, ou seja, entre mes e filhos.
441
Filha de Jenete Alves Rodrigues, Jamilda Alves Rodrigues Bento, 45 anos, afirma ter vivenciado esse
perodo, situando-o, segundo as suas lembranas, na 1970. Conforme visto, coincide com o processo de
crescimento e urbanizao do bairro. BENTO, J. A. R. Conhecendo as Benzedeiras de Goiabeiras
176
177
178
Observa-se que Lcio procurou se especializar nas formas que sua me e tia
no fazem. Prefere as peas grandes, como o caldeiro, o fogareiro e a
churrasqueira. Alm disso, possui a sua rede de clientes, que se restringe a pequenos
comerciantes e moradores do prprio bairro. Essa mesma autonomia no momento da
produo ampliada para a comercializao.
Dona Jenete desempenha as suas atividades domsticas nos intervalos da
produo. A rotina dos afazeres dentro e fora da casa parece no prejudicar o ofcio.
Ao acordar, sempre antes das sete horas da manh, Jenete reza o seu tero. Em
seguida, vai para a cozinha fazer caf. Os filhos hoje adultos tambm acordam cedo:
h os que saem para trabalhar e estudar e os que desempenham alguma funo
associada produo das panelas, conforme descrito anteriormente. Na casa de dona
Lcia, o filho Jos e o neto Avelino saem para trabalhar e, logo cedo, dona Jenete e
a filha Dbora se revezam nos cuidados com a matriarca da famlia. Dividem-se
tambm no preparo do almoo, na limpeza da casa e na lavagem das roupas. Nesse
meio tempo, caso tenha ficado alguma panela para virar ou passar a faca do dia
anterior, interrompe-se alguma dessas atividades anteriores. s vezes, dona Jenete
encontra-se no tanque e lembra que necessita mexer um pouco na sua produo. s
vezes, ainda, Dbora quem vira a panela para a sua me, ou ento passa a pedra de
rio (alisa), deixando-as pronta para a queima.
Geralmente, a ajuda se inicia na etapa seguinte modelagem, no momento de
alisar ou passar a faca. A ajuda em uma ou outra etapa da confeco, como virar a
panela e passar a faca no fundo, alisar, ou ainda tirar panela da fogueira e
aoitar considerada parte do processo de socializao no ofcio, porm etapa
secundria do processo produtivo. As crianas comeam nas etapas consideradas de
iniciao ao ofcio, como alisar panela444, mas nem todos sentem a inclinao
para dar seqncia ao aprendizado, sendo percebido como um dom que a criana vai
manifestando no contato com o dia-a-dia dos familiares que fazem panelas,
observando e assimilando tcnicas, posturas e valores445. Lcio ajuda na limpeza do
444
Etapa do polimento com seixos de rio. Para descrio detalhada das etapas de confeco, ver: Dias,
1999; 2006.
445
A idade mdia de iniciao ao ofcio aos doze anos, quando a menina ou o menino aprende a
levantar a panela. Izabel fala sobre seu neto: Esse menino aqui j comeou a fazer. Se eu for levar ele
adiante [...] Eu gosto que ele aprenda. Sabe, ele j pega direitinho, j alisa a panela todinha. Acho que ele
tem mo de paneleira, mesmo. A pessoa quando tem a tendncia pega a cuia direitinho. Se eu for colocar
para fazer direto, ele pega direitinho. Entrevista gravada em novembro de 2006.
179
quintal: varre o terreiro, separa as madeiras num canto, ou liga o radinho e vai para a
sua mesa de trabalho na frente da casa. As mesas de trabalho tambm circulam
pelo quintal. s vezes, as mesas de me e filho esto lado a lado; outras vezes, dona
Jenete coloca a sua mesa mais prxima a casa de sua me, porque assim fica mais
fcil prestar-lhe algum auxlio. Prefere, ainda, utilizar a mesa mais prxima de sua
cozinha, pois assim consegue vigiar o fogo e assistir sua me. Aguar as plantas
e cuidar dos animais de estimao tambm incumbncia das duas mulheres
ativas da casa. Os gatos convivem pacificamente com o co Mustaf, que sempre
est aos ps de sua dona. E quando chega alguma pessoa no porto, mesmo sendo
conhecida, os latidos podem ser ouvidos de longe.
pela manh que as atividades da casa se concentram nessas unidades
domsticas. Aps o almoo e arrumada a cozinha, retoma-se alguma etapa da
produo. Nos dias de queima, a preferncia de comear a montar a cama e atear o
fogo na cabeceira da fogueira bem antes de anoitecer, porque noite fica mais
difcil perceber quando a panela est cozida.
At muito recentemente, era Moacir quem costumava tirar as panelas da
fogueira, mas, agora, como trabalha e estuda, s pode desempenhar essa funo nos
finais de semana. Passou para Lucio, portanto, a incumbncia de tirar da fogueira a
produo conjunta das panelas, enquanto que Jenete aoita em companhia da sua tia
Lucila.
Aps a queima e aoite das peas, necessrio esfriar as panelas para separar
a produo de cada um e embalar em papel jornal. Enquanto as panelas esto
resfriando, prepara-se na cozinha um caf preto com po francs e manteiga. Nesse
momento de descontrao quando as pessoas conversam sobre o dia-a-dia de
180
181
182
446
183
Ilza dos Santos Barboza447 mora em casa de frente de terreno, com seu
marido e filho. Suas sobrinhas Rogria e Snia, filhas de sua irm Teresinha
Barboza, residem com seus respectivos maridos e filhos em outra casa de dois
pavimentos, localizada na parte de trs do terreno.
Casou-se com Waldir Chaves Barboza, uma pessoa considerada de fora de Goiabeiras, e foram morar
no quintal do pai de Ilza. Tiveram um nico filho, que no aprendeu o ofcio. APNDICE V - remeto ao
quadro sobre o grupo de referncia: genealogia e grupo familiar a que pertence.
184
de criar um outro cenrio, segundo o seu relato. Todos vestem trajes de caipira e
danam quadrilha, forr e outros ritmos populares. A sua mesa de trabalho, nessas
ocasies, deslocada para outro canto. O lugar ento ocupado por alguma
barraquinha, ou brincadeira, como a a pescaria na areia, por exemplo, em que as
crianas tm que conseguir pegar os peixes, ganhando diferentes brindes tudo de
graa, afirma.
Nessas ocasies, est sempre presente o pessoal de casa. Tudo planejado
com muita antecedncia. Ilza revela tambm que em suas festas sempre h muita
fartura de comida. A proximidade com as sobrinhas e cunhada permite que dividam
as tarefas da organizao da festa, principalmente no que se refere ao preparo dos
pratos tpicos; cada uma fica responsvel por uma coisa: Rogria cuida do caldo
verde; Snia, da canjica; ela, Ilza, do mingau; sua irm e sua cunhada trazem outros
quitutes: uma faz o bolo, a outra o p-de-moleque. Sua habilidade de paneleira
tambm se manifesta nessas ocasies: para dar conta da comilana, s vezes so
produzidas cumbucas especialmente para o consumo dos caldos. Alm disso, uma
boa fogueira no pode faltar.
As festas, pela transformao visvel operada no espao de trabalho,
caracterizam de modo mais evidente no s as diferentes possibilidades de uso e de
dinmica de ordenao do local como o seu papel comunitrio propriamente dito.
Pode-se, ainda, fazer referncia ao hbito cotidiano de ficar sentada na varanda,
conversando com a sua irm e a sua comadre, enfim, explorar esses mltiplos
cenrios dos quintais de Goiabeiras e de como o espao redefinido em funo do
uso social a que se destina.
Festa Junina e roda de Congo no quintal de Ilza Barboza (acervo Ilza Barboza)
185
448
Entrevista gravada com Jamilda Alves Rodrigues Bento, sua me Jenete e av Lcia ambas
paneleiras no quintal da famlia Nascimento, em maio de 2005.
186
187
Goiabeiras Velha era, como vimos, inicialmente, organizado nos antigos quintais e
passou por alteraes significativas, em finais da dcada de 1980, com a criao da
Associao das Paneleiras de Goiabeiras.
As transformaes relacionadas ao espao de produo, ao tempo e ao
processo de trabalho sero descritas a seguir. Antes, porm, procuro situar essas
mudanas materiais e simblicas do processo produtivo das panelas no contexto
mais amplo de polticas de instituies federais e estaduais, ligadas produo
cultural.
Em meados da dcada de 1970, o Centro Nacional de Referncia Cultural
desenvolvia uma srie de programas de apoio s comunidades produtoras de
artesanato tradicional, com o intuito de atender s necessidades econmicas e
sociais
de
referenciamento
do
produto451.
Crescia
entendimento
dos
188
189
Ensinar pessoas a fazer panela eu j ensinei a muitas456.
Gente antiga de Goiabeiras: dona Orminda Lucidato e dona Enedina com filha e sobrinha.
A Tradio das Paneleiras de Goiabeiras est morrendo. A Gazeta. Vitria, 16 abril 1985,
Caderno DOIS.
457
Segundo Chaia e Dantas (2002), Floripis Alves era mestia de ndios e africanos, nascida em
Goiabeiras, em 1899, e falecida aos 72 anos, em 1971. Cf. CHAIA; DANTAS. Panela de Barro. Raiz
da Cultura Capixaba. Vitria: Secretaria de Estado de Turismo, 2002, p. 5, 11.
190
458
APNDICE V - remeto ao quadro sobre o grupo de referncia: genealogia e grupo familiar a que
pertence.
459
Ouvi essa expresso com Berencia Corra Nascimento ao narrar o mesmo sistema de entreajuda
quando trabalhava no quintal da sua tia Melchiadia, que tambm aparece registrada pela pesquisadora
Holandesa Hanneke Hovenkamp. Cf. HOVENKAMP, H.. De paneleiras van Goiabeiras:
pannenmaaksters op de informele arbeidsmarkt in Vitoria, Brazili. Doctoraalscriptie Culturele
Antropologie en Sociologie der niet-westerse samenlevingen. Vrije Universiteit Amsterdam. Juni, 1992.
191
Domingas, a paneleira mais velha do galpo, e Lcia, a paneleira mais velha de Goiabeiras.
Conforme visto, num momento em que esto sendo construdas as narrativas sobre o
desenvolvimentismo no pas, crescem os debates sobre os incentivos do poder pblico na promoo da
pequena produo artesanal, na fixao do homem a terra e valorizao do trabalho. As demandas das
paneleiras tiveram o apoio das Secretarias de Ao Social e de Trabalho. (Cf. DIAS, 1999, 2006;
PEROTA, 1997).
461
DIAS, C. A tradio nossa e essa, e fazer panela preta: produo material, identidade e
transformaes sociais entre as artess de Goiabeiras. Dissertao de Mestrado. Rio de Janeiro,
UFRJ/EBA, 1999, p. 112.
192
462
Hoje, nem todas as paneleiras e artesos do local tm acesso a esses depsitos. Inicialmente reservada
s fundadoras da associao, hoje, a estocagem de produtos acabados est condicionada ao pagamento
mensal de R$ 5,00 (cinco reais).
463
Panela de Barro Preta: A Tradio das Paneleiras de Goiabeiras - Vitria-ES. Rio de Janeiro: Mauad
X/ Facitec, 2006, p. 17.
464
Criado em 1991, o Projeto Cultural Rubem Braga concede, s empresas estabelecidas no municpio
que realizem investimentos nos projetos culturais por ela aprovados, descontos nos incentivos fiscais.
http://www.cultura.gov.br/apoio_a_projetos/lei_rouanet/index.php?p=16835&more=1&c=1&pb=1
193
465
Segundo as definies nativas, paneleira aquela pessoa que vai ao barreiro e retira o barro, leva para
casa, prepara o barro, faz a panela, vira, alisa, queima e comercializa a panela. As formas tradicionais
produzidas e comercializadas na localidade de Goiabeiras se resumem, basicamente, na panela, destinada
ao preparo do arroz e do piro; na frigideira para a moqueca de peixe e de frutos do mar; no caldeiro
para o feijo e na assadeira para tortas, carnes e assados em geral. Alm disso, com o aumento da
demanda pelo produto, houve uma ampliao do repertrio de formas, dos usos e significados atribudos a
esses objetos. Cf. PEROTA, op.cit, 1997; DIAS, op. cit., 1999, 2006.
466
O IPHAN refere-se ao galpo como a vitrine do ofcio Cf. IPHAN. Ofcio das Paneleiras de
Goiabeiras. Braslia: IPHAN, 2006, p. 25.
467
No abordarei aqui a circulao de clientes no espao do galpo. Nesse sentido, fao referncia ao
estudo de Eliseo Veron sobre pblico de exposies, bem como de sua construo tipolgica de
circulao pelos espaos expositivos. Fazendo um pequeno paralelo, observou-se, no caso do galpo, que
muitos clientes param de mesa em mesa. Outros, j vo direto para a mesa de alguma paneleira. Outros
ainda circulam sem muita sistematicidade, indo em ziguezaque e parando quando lhes convm. Cf.
VERON, E.; LAVESSEUR. M. Ethnographie de L'exposition: l'espace, le corps e le sens. Paris: Centre
Georges Pompidou, 1989.
468
Muitas paneleiras informaram-me sobre suas preferncias pela confeco de determinadas peas, ou
determinada etapa da confeco. A paneleira Eronildes disse gostar de fazer o acabamento das peas,
etapa de virar a panela e tirar os excessos de barro do fundo e das laterais, por isso acredita que suas
peas so mais finas e bem acabadas. Disse tambm gostar de vender as panelas, por ser comunicativa e
por transmitir segurana (referindo-se ao produto) ao cliente. J a sua irm Evanilda prefere queimar e
aoitar as peas. Essas preferncias marcam diferenas na qualidade do produto.
469
No irei me deter no processo da confeco do artefato cermico, por ter sido exaustivamente
estudado. Cf. PEROTA, 1997; DIAS, 1999, 2006; IPHAN, 2002, 2006.
194
470
195
472
196
197
480
BARTRA et al. Creatividad Invisible: mujeres y arte popular en Amrica Latina y el Caribe. Mxico:
Universidad Nacional Autnoma de Mxico, 2004.
198
481
Nessa poca, Alceli era a Presidente da APG. Entrevista gravadano quintal da famlia Alves Corra,
em maio de 2005. APNDICE V- remeto ao quadro sobre o grupo de referncia: genealogia e grupo
familiar a que pertence.
199
Presidente Lucilina Lucidato de Carvalho
Vice-Presidente Dionara Alvarenga Siqueira
1a Secretria Lucinia (nia) Jesus da Silva
Tesoureira Eronildes Corra Fernandes
1o Fiscal Samarone Ribeiro
2o Fiscal Snia Ribeiro
3o Fiscal Carlinhos Barboza dos Santos
4o Fiscal Heloisa Helena Lucidato
5o Fiscal Alceli Rodrigues
200
Para Ronildo Alves Corra importante formar seu portiflio de clientes. Ele
entende que o cliente se agrada com a mo da pessoa e com a relao que
estabelece com o arteso482. Disse tambm contratar ajudantes no perodo de muita
encomenda. De fato, as relaes no galpo se opem aquelas do ambiente
familiar483. Enquanto neste ltimo as paneleiras de fundo de quintal param para
descansar, tomar caf, preparar almoo e arrumar a casa, foi observado que as
paneleiras do galpo no se preocuparam em criar condies mais confortveis em
seus locais de trabalho. No h bancos suficientes, nem um ambiente em que possam
descansar. Os poucos assentos em madeira situados atrs das bancadas so ocupados
pelas alisadeiras contratadas com o intuito de acelerar a produo. Nesses postos de
trabalho, costuma-se ficar o tempo todo em p. Nem mesmo o lugar reservado para a
cozinha foi aproveitado e equipado, ficando evidenciado, portanto, que o galpo
visto como um espao estritamente voltado para o trabalho e a comercializao. Essa
opo causa uma srie de problemas de sade para esse grupo, principalmente dores
nas pernas, varizes e lombalgias484.
482
Conforme foi visto anteriormente, os homens que desempenham esse ofcio preferem ser chamados de
artesos.
483
Dias descreve as adaptaes impostas pelo uso da ocupao do galpo [...] que pode ser visto tambm
como uma extenso das casas, enquanto espao de convivncia social onde as relaes se reproduzem e
os conflitos pessoais tomam propores familiares (DIAS, op.cit., 1999, p.38).
484
FUNDACENTRO-ES. Estudo de Segurana e Sade no Trabalho das Paneleiras de Goiabeiras.
Vitria, ES: Fundacentro-ES, 2002.
201
202
Entrevista realizada com Izabel Corra Campos, 61 anos, concedida em seu local de trabalho, no
galpo de vendas de Arnaldo Ribeiro Filho, em Goiabeiras, em dezembro de 2005.
203
ameixa486.
No obstante essas prticas associadas transmisso do saber serem
realmente observadas in loco, enfatizo a dinmica de todo o processo de aprendizado
para a construo identitria da paneleira enquanto categoria social e profissional.
Volto a enfatizar que o foco do registro recaiu no ofcio e nas funes auxiliares por
ele estabelecidas, em particular na organizao social produtiva do galpo, e que se
ampliou para o territrio ocupado tradicionalmente pelas famlias de ceramistas da
localidade. Conforme me informou a Superintendente Regional e Coordenadora do
INRC, Carol Abreu:
Quando a gente registra, e foi esse o primeiro processo, foi feito
o inventrio e muitas coisas a gente comeou a fazer: a
genealogia, que acabou no sendo inserida na instruo, mas
existe, porque foram sessenta e poucas entrevistas com um
nmero relativamente reduzido de famlias. E no foi esse o
critrio. Buscamos entrevistar pessoas que estavam no galpo e
pessoas que estavam em casa tambm, porque a gente sabia que
a atividade se dava nos dois espaos familiar e domstico e no
galpo. Mesmo assim h essa relao fortssima de
parentesco.[...] A gente vai entender no s a atividade
produtiva das paneleiras, mas essa pessoa, esse indivduo
paneleira, e esse indivduo onde ele pertence, no seu grupo, e o
que que fixa essa pessoa naquela localidade, o que que
explica [...] Eu acho que mais um aspecto pra explicar esse
enraizamento. Seno fica uma coisa at economicista: o que
elas pagam, o que d um retorno financeiro, isso d uma
evidncia porque afinal de contas um cone da identidade
regional capixaba, e agora tambm patrimnio cultural do
Brasil.487
Dona Domingas, tambm conhecida com Iraci, tem 82 anos, paneleira mais velha do galpo, trabalhou
em sua mesa at adoecer de um derrame; mesmo assim, continuou produzindo bem pouco em sua casa.
Esta entrevista foi gravada em maio de 2005, quando ainda estava no galpo. Depois disso, voltei diversas
vezes a sua casa.
487
Entrevista concedida pela Superintendente Regional do IPHAN, Carol Abreu, realizada nas
dependncias do Museu Solar Monjardim, 21 Superintendncia Regional, no bairro de Jucutuquara em
Vitria, gravada em maio de 2005. Grifos nossos.
204
municipal, tanto do setor de cultura, quanto do setor de turismo
como uma referncia de imagem, inclusive, para identificar o
que capixaba488.
Idem.
O Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) tem organizado uma srie de
encontros e publicado livros e peridicos com estudos de caso sobre esse assunto. Ver em: Territrios
em movimento: cultura e identidade como estratgia de insero competitiva. LAGES et.al. (orgs.).
Braslia: Sebrae/ Rio de Janeiro: Relume Dumar, 2004.
490
Algumas paneleiras, na etapa de virar as panelas e tirar-lhes o excesso do fundo com uma faca, ou
com um instrumento chamado arco, deixam cair ao cho o barro e com os ps ficam amassando para
poderem reutiliz-lo depois.
489
205
491
492
206
Nome do arteso
O tempo de produo
O custo da mo-de-obra
O custo da mo-de-obra
O tempo de produo
O tempo de produo
O custo do material empregado
O custo da mo-de-obra
O preo dos produtos semelhantes
O preo dos produtos semelhantes
O tempo de produo
O custo da mo-de-obra
207
Aldi Corra Campos
Lucy Barboza Salles
Alvarenga
Ambrsio
Esquerdinho
Valda da Vitria Lucidato
Letcia Pereira Pinto
Valdinia da Vitria
Domingas
Corra
da
Fernandes
Vitria
O custo da mo-de-obra
Marli Barboza
O tempo de produo
Sonia Ribeiro
Ivone Ribeiro
Ademilson Rodrigues
Ana Iziz Reis Silva
O custo da mo-de-obra
O tempo de produo
Ivonei Barboza
Jucileida Barboza
208
O custo do material empregado
Maria das Graas Corra
O custo da mo-de-obra
De acordo coma oferta e a procura
209
495
Idem.
210
Embala
Nome
seus Como
produtos
Ademilson Rodrigues
embala?*
qu?
Custa caro e no tem
No
Sim
No
No
Sim
Sim
Brbara Peroba
Sim
No
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
No
No
Sim
Sim
No
Sim
Sim
Sim
Ivone Ribeiro
Sim
Ivonei Barboza
Sim
Sim
Sim
Sim
No
gueda
Valentina
Nunes
Machado
Domingas
Corra
da
Vitria
Fernandes
costume
Custa cara e no h o
costume de embalar
Apenas
entregam
produto
Custo caro e no h
custume
As panelas so vendidas
cruas
Custa caro e no tem
costume de embrulhar
211
Jessilene Corra Fernandes
Sim
Sim
No
Deixa exposto
Sim
Jucileida Barboza
Sim
Leones Ribeiro
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Jos
Carlos
Ambrsio
Esquerdinho
Jos Nazareno CASTRO FARIAs
Claudiano
Joslia Rodrigues Dias Corra /
Zlia
Lucia
Florinda
Nascimento
Corra
Quando
No
os
clientes
Ferreira
de
Sim
Jesus
Marcinha
Vende
No
Sim
Sim
Sim
da
Conceio
Gomes
Barboza
Vende
No
Sim
Sim
BA
Sim
Sim
Sim
Marli Barboza
Sim
Sim
Melchiadia Rodrigues
Sim
Sim
Sim
Sim
B,A
Sim
Sim
panela
as
panelas
semiacabada
Maria
semiacabadas
212
Produo
No
Sonia Ribeiro
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Valdinia da Vitria
Sim
Zilda Campos
No
para
uso
213
Nome
Feiras/exposies
Ademilson Rodrigues
Feira em So Paulo
gueda
Valentina
Nunes
Machado
Alceli Maria Rodrigues
Feira de Carapina
Brbara Peroba
Corra
Vitria
Fernandes
Domingas Corra Santana
Febarro (ES),
Ivonei Barboza
Goiabeiras (panelo)
Carlos
Ambrsio
FEART Curitiba, PR
/
Esquerdinho
Joslia Rodrigues Dias Corra /
Zlia
Leones Ribeiro
Febarro (ES),
214
Febarro (ES), Festa das paneleiras
Lucy Barboza Salles
Mo de Minas
Melchiadia
Alves
Corra
Vitria Rodrigues
Palmira Rosa de Siqueira
Sonia Ribeiro
Tania Maria Lucidato Medina
Valdinia da Vitria
da
A reunio foi realizada no clube 3 de maio, em Goiabeiras Velha, com representantes das associaes
locais (Paneleiras, Moradores, Banda de Congo, Pescadores e Marisqueiros) e de rgos pblicos e
privados que apiam as paneleiras. A reunio, conduzida pelo IPHAN, teve a participao das Secretarias
de Cultura e Turismo do Municpio, principais rgos apoiadores das paneleiras em feiras e eventos, alm
das Associaes de Folclore, Banda de Congo e do SEBRAE/ ES, para citarmos os mais importantes.
Discutiu-se, principalmente, a reforma do galpo das paneleiras, mas no houve qualquer consenso entre
as partes. Ao final dessa tumultuada reunio, chegou-se a concluso de que o grupo de artesos era
215
216
500
501
217
502
Audir Corra Campos, Berencia Corra Nascimento, Carlos Barbosa dos Santos, Eronilde Corra
Fernandes, Eonetes Alves Corra, Jessilene Alves Corra, Janete Gomes Inocncio, Joslia Dias Corra,
Lucy Barbosa Salles, Lucilina Lucidato de Carvalho, Marinete Corra Loureiro, Nilceia Alvarenga
Ambrozio, Ronildo Alves Corra e Valdineia da Vitria Lucidato.
503
Alceli Maria Corra Rodrigues, Ademilson Rodrigues, Melchiadia Alves Corra da Vitria Rodrigues
Maria da Conceio Gomes Barboza, Elizete Salles dos Santos e Izabel Corra Campos.
504
ArteSol. Relatrio de Atividade Estratgias Associativas (parte II). s/d, p. 3.
218
219
220
Esse depoimento foi gravado no quintal de Izabel Corra Campos no meu retorno comunidade para a
XV festa das paneleiras, nos dias 24, 25 e 26 de novembro de 2006; ou seja, dois finais de semanas depois
da oficina do IPHAN. Izabel assim resume a oficina: convivncia no galpo, organizao, respeito, venda
de panela, preo de panela, encomendas e INSS. Por fim, disse ter gostado do que falaram, mas
reconhece: no adiante que eles no aceitam! E conclui: sempre assim, questo de famlia.
509
221
prtica associativa rompe com a o sistema de produo que envolvia ajuda entre as
famlias e com as alianas no ambiente do galpo.
222
Consideraes Finais
Ao final deste trabalho, procuro retomar alguns pontos centrais sobre os quais
pude construir o meu argumento de pesquisa. Na correlao entre patrimnio e
nao e no quadro de foras das instituies nacionalizantes da dcada de 1930, o
Servio do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional destacava-se por congregar
uma srie de intelectuais modernistas, alguns deles articulados ao campo
universitrio das cincias sociais nascentes e ao campo editorial interessado em
ttulos sobre cultura brasileira. Os contatos de Mrio de Andrade com professores
da Escola de Sociologia e Poltica da Universidade de So Paulo, bem como os de
Rodrigo M. F. de Andrade com os antroplogos naturalistas do Museu Nacional do
Rio de Janeiro apontam nessa direo. Nas publicaes do SPHAN figuram os
nomes de grandes intrpretes do Brasil, como os de Gilberto Freyre e de Srgio
Buarque de Holanda.
Ao identificar e relacionar os principais eixos de produo intelectual que
objetivaram a idia de um patrimnio nacional, observa-se que o dilogo da
antropologia com a poltica de patrimnio contnuo e se manifesta desde a
institucionalizao da agncia de preservao. Heloisa Alberto Torres, Raimundo
Lopes, Edgar Roquette-Pinto e Luiz de Castro Faria so alguns desses nomes. Este
ltimo manteve uma relao de dcadas com a agncia do Patrimnio, participando
do Conselho Consultivo e da elaborao da poltica de preservao dos stios
arqueolgicos, bem como da gesto dos recursos sobre pesquisa, cadastramento e
registro em instrumento prprio da agncia.
Nas dcadas seguintes, observam-se novas formas de se entender e de se
praticar a antropologia. Uma delas o prprio uso da cultura popular como termo
de referncia. O panorama que se pretendeu traar justifica-se pela recorrncia com
que certos dispositivos permaneceram controlados pela agncia estatizada. Nesse
sentido, comentei uma srie de formulaes e de discursos intelectuais, de
procedimentos administrativos e de aes de preservao adotados que construram
processualmente a idia de patrimnio cultural imaterial.
Para chegar ao contexto de produo da legislao sobre o patrimnio
cultural imaterial foi necessrio percorrer a longa histria institucional,
223
A UNESCO programou medidas para assegurar maior visibilidade do patrimnio cultural imaterial,
aumentar o grau de conscientizao de sua importncia e propiciar formas de dilogo que respeitem a
diversidade cultural, segundo Art. 16 da Conveno para a Salvaguarda do Patrimnio Cultural
224
225
226
regional do IPHAN props aes de salvaguarda voltadas para a questo da matriaprima, por envolver insumos no renovveis na natureza, como o barro e o tanino
este ltimo extrado das rvores do mangue. Ademais, as disputas pela jazida do
Vale do Mulemb, que envolveu a CESAN e a APG, foram intensamente debatidas
durante todo o processo do registro.
Alm das questes de natureza ambiental, as medidas de salvaguarda
elaboradas pelo IPHAN tambm previram oficinas comportamentais de
associativismo. O IPHAN chegou a esse modelo de proposta a partir do diagnstico
elaborado pela OSCIP Artesanato Solidrio (ArteSol), conforme visto no ltimo
captulo da tese. A anlise que envolveu questes relacionadas liderana no galpo
e sua representatividade poltica foi construda levando-se em conta as verses
produzidas no ambiente galpo mediante a aplicao de questionrios.
A conduo da pesquisa do IPHAN sobre as Paneleiras procurou identificar
seus principais executores, seus locais de trabalho e as famlias tradicionalmente
vinculadas ao ofcio. Os critrios pautaram-se na representatividade (Fonseca,
2004), tal como o reconhecimento das panelas de barro, associado culinria tpica
regional refiro-me moqueca e torta capixaba, como uma tradio da
sociedade capixaba, bem como das prprias paneleiras, atravs de sua Associao,
que manifestaram interessa pela preservao de seus bens culturais. Acrescenta-se a
essa lista de mediadores e parceiros as entidades culturais, as empresas e o poder
pblico local. Destarte, essas polticas por sua prpria especificidade demandam a
participao de mediadores culturais que estabelecem parcerias com o IPHAN no
sentido dar continuidade salvaguarda do bem cultural.
A Associao das Paneleiras de Goiabeiras a entidade representativa da
categoria profissional, j vem estabelecendo relao com a Prefeitura de Vitria,
com o SEBRAE/ES e, atravs das leis de incentivo cultura, encaminhando projetos
para empresas no sentido de angariar apoio, como obteno de material de
divulgao e de embalagens e demais necessidades. Paralelamente, a atuao da
associao junto aos rgos pblicos e privados, o ofcio de paneleira se mantm de
forma considerada tradicional, no mbito dos grupos familiares e dentro dos
limites fsicos de seus quintais.
227
228
modelo, so as mulheres que produzem o artefato cermico com a ajuda nas etapas
de acabamento das filhas, sobrinhas, noras ou mesmo vizinhas mais jovens.
Quanto aos homens, estes so responsveis pelo servio pesado: coletar o barro,
escolher, cortar e armazenar em locais apropriados de modo a deix-lo pronto para
o uso. So eles tambm que costumam tirar as panelas, seja do forno, seja da
fogueira, quando o processo de queima cu aberto, como aqueles enfocados nesse
estudo de caso. Quanto distribuio e venda desse artefato cermico, j se
observam mudanas significativas. Em tempos passados, eram os homens dessas
famlias, geralmente pescadores e catadores de mariscos, os responsveis pela
distribuio nos mercados de Vitria e adjacncias.
Interessado em revelar as relaes de trocas estabelecidas entre grupos
tribais, cls e famlias, Mauss512 demonstra como tais coletividades se obrigavam
mutuamente, contratando e estabelecendo alianas em um longo circuito de trocas.
Essas obrigaes de ordem material e moral configuram um sistema de
reciprocidade pautado nas relaes familiares e de aliana. Em Goiabeiras, foi
necessrio investigar o processo de organizao social produtiva nos antigos
quintais e reconstituir as genealogias das famlias que tradicionalmente trabalham no
ofcio. Em uma comunidade com elevado ndice de casamentos endogmicos, em
que todos os envolvidos no processo produtivo se reconhecem como parentes, as
relaes de produo determinadas pela entreajuda de parentes e vizinhos nos
quintais das paneleiras foram se transformando principalmente por conta da perda
dos espaos de queima. Atravs dos depoimentos coletados, pude concluir que era
no processo da queima o momento que essas alianas eram reafirmadas. Alm disso,
com o crescimento urbano e a especulao imobiliria, muitos desses antigos
moradores, pescadores com baixo nvel de renda e de escolaridade, foram levados a
vender parte desses terrenos. Novas famlias foram morar no bairro, sendo que
algumas delas se agregaram ao processo de trabalho, principalmente atravs das
relaes de casamento.
As transformaes ocorridas pela expanso urbana, pelo aterramento de parte
do manguezal e pela construo da estao de tratamento de esgoto sanitrio
512
MAUSS, M. Ensaio sobre a ddiva. In: Sociologia e Antropologia. So Paulo: Cosac & Naify,
2003.
229
230
anos... Ela com os olhos fechados alisava uma panela que voc
ficava impressionada! A panela ficava lisinha... e porque ela ia
alisando as panelas e botando onde estava numa caixinha. E
ficava ali sentada no banquinho gritando: - Olha as panelas!
Ela no fabricava, mas no podia faltar panela para ela alisar;
mesmo ela no enxergando. E por ali ela ficava: - Voc est
fazendo panela?. Eu falava: Estou. - A se eu pudesse, a se
minha vista fosse boa! Eu estava fazendo panela. Mas a
senhora est alisando a panela? Mas eu queria fazer,
entendeu?513.
231
515
MAUSS, M. Ensaio sobre a ddiva. In: Sociologia e Antropologia. So Paulo: Cosac & Naify,
2003, p. 309.
232
Referncias Bibliogrficas
Legislao:
BRASIL. Constituio da Repblica Federativa do Brasil (1988).Texto
constitucional, com as alteraes adotadas pelas Emendas Constitucionais n. 1/92 a
31/2000 e pelas Emendas Constitucionais de Reviso n. 1 a 6/94. Braslia: Senado
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BRASIL. Decreto no. 3.551, de 4 de agosto de 2000, que institui o Registro
de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem Patrimnio Cultural
brasileiro. Cria o Programa Nacional de Patrimnio Imaterial e d outras
providncias.
BRASIL. Lei 3.924 de 26 de junho de 1961, que dispe sobre os
monumentos arqueolgicos e pr-histricos.
BRASIL. Decreto-lei n 25, de 30 de novembro de 1937, que organiza a
proteo do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional.
Documentos:
Arquivo CASTRO FARIA (Museu de Astronomia/Rio de Janeiro):
Caixa 06, doc. C.F.D.A. 054; Caixa no. 07, doc. C.F.D.A.07.053; Caixa no.
7, doc. C.F.D.A. 07.060; Caixa no. 7, doc. C.F.D.A.07.066; Caixa no. 07,
C.F.D.A.07.092; Caixa 14, doc. CF.D.A.14.207; Caixa 14, C.F.D.A.14.220.
CASTRO FARIA, L. Lies de sabedoria e generosidade. Lembranas de
Mrio de Andrade. S.P, 21/09/1992. (CFDA 09.06.097).
CASTRO FARIA, L. Relatrio de uma viagem ao estado do Esprito
Santo. Abril de 1945. CNPq/ Museu de Astronomia/ Arquivo CASTRO FARIA
(CFDA.11.03.074).
Arquivos IPHAN (Rio de Janeiro e Braslia):
Listagem Srie Arquivo Tcnico-Administrativo SPHAN. Sub-srie Instituto
Evoluo Institucional. Md. 72 Prat. 02 Cx. 246 e 247 Pastas 54-56 e 57-59; CX.
156. Folder: Legislao, Lei 3924/61.
Arquivo Noronha Santos. SRIE ARQUEOLOGIA. CX. 156. Folder:
Legislao, Lei 3924/61. Sub-srie Histria cx. 90, pasta 12. Museu Nacional 1949 a 1971
IPHAN. Guia da Revista do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional.
ndice cumulativo (1937-1990). Rio de Janeiro: IBPC, 1991.
233
Referncia:
ABREU, C. Ofcio de paneleira: conhecimento, reconhecimento e
permanncia. In: FONSECA et. al. Registro e Poltica de Salvaguarda para as
Cultuas Populares. Srie Encontro e Estudos n. 6. Rio de Janeiro: IPHAN, CNFCP,
p. 15-23, 2005.
ABREU, R.; CHAGAS. M. Memria e Patrimnio:
contemporneos. Rio de Janeiro: Editora DP&A: FAPERJ, 2003.
ensaios
234
235
236
237
238
239
240
241
242
243
244
245
246
247
248
249
POR ASSUNTO
CULTURA
Gilberto. Antropologia SOCIEDADE
POR AUTOR
E
CULTURA
INDGENA
BRASIL
e Patrimnio Cultural.
Ref. 192.
ARQUEOLOGIA
AMAZNIA
ARQUEOLOGIA
BRASIL
1.
CRULS,
Gasto. Arqueologia
Amaznica. Ref. 81
LOREDO,
Wanda
M.
Conservao
arqueolgica. Ref.
272.
MENESES,
Ulpiano B. Para uma
poltica arqueolgica
da SPHAN. Ref.
269.
MORLEY,
Edna.
Fazer
arqueologia: regatar
memrias. - Ref. 271.
TORRES,
Heloisa
Alberto.
Contribuio para o
estudo da proteo ao
material arqueolgico
e
etnogrfico
no
Brasil. - Ref. 3.
CULTURA
POPULAR
AMARAL,
Mrcio
Tavares.
Informtica e cultura:
o
impacto
da
informatizao
da
sociedade. - Ref. 203
CASTRO,
Eduardo
Batalha
Viveiros
de.
Curt
Nimuendaju:
104
mitos indgenas nunca
publicados. -Ref. 227
IANNI,
Octavio.
Cultura
Popular. - Ref. 242;
CRULS,
ARQUEOLOGIA
ETNOGRAFIA
Gasto.
BELTRO,
Maria
da
Decorao
BRASIL
BRASIL
malocas
Conceio de Moraes
das
LEGISLAO
indgenas. -Ref. 69.
Coutinho;SOLA, Maria
Elisa;JUNQUEIRA,
Paulo; SILVA, Regina
Coeli Pinheiro da;
MENESES,Ulpiano
Bezerrade. Patrimnio
Arqueolgico. - Ref.
268
TORRES,
Helosa
Alberto.
Contribuio para o
estudo da proteo do
material arqueolgico
e
etnogrfico
no
Brasil. - Ref. 3.
BELTRO,
MAUREAU,
ARQUEOLOGIA
FUNDAO
Maria
da
Conceio
Xavier.
Tecelagem
PR BRASIL PROJETO
NACIONAL
de M. C.; LIMA, Tnia
manual no Tringulo
CENTRAL BAHIA.
MEMRIA
Andrade.
Projeto
Mineiro: uma poltica
250
Central Bahia: os
zoomorfos da Serra
Azul e da Serra de
Santo Incio. - Ref.
233
sistemtica
de
inventrio tecnolgico.
- Ref. 226.
SOARES,
ARTESANATO
IDENTIDADE
Llia.
Produo
de
BRASIL
CULTURAL
artesanato popular e
identidade cultural. Ref. 184.
MAUREAU,
Xabier.
Tecelagem
manual no Tringulo
Mineiro: uma poltica
sistemtica
de
inventrio tecnolgico.
-Ref. 226.
BENS
CULTURAIS
GUEDES,
Maria
Tarcila.
Inventrio
Nacional
dos Bens Imveis
Tombados:
instrumento para uma
proteo eficaz. - Ref.
255
POLTICA
CULTURAL
BENS
CULTURAIS
PRESERVAO
ANDRADE,
Rodrigo Mello Franco
de. Palestra proferida
por Rodrigo M. F. de
Andrade, em Ouro
Preto,
a
1/7/68
(comemorao
do
257 aniversrio da
PATRIMNIO
ARQUEOLGICO BRASIL:
SANTOS,
ngelo Oswaldo de
Arajo. Restaure-se o
patrimnio. - Ref. 246.
LOPES,
Regina Clara Simes.
A propsito da poltica
cultural. - Ref. 241.
MAGALHES,
Alosio.
Bens
Culturais: instrumento
para
um
desenvolvimento
harmonioso. Ref.
193.
MENESES,
Ulpiano Bezerra de.
Identidade Cultural e
Arqueologia. - Ref.
191
SOARES,
Llia
Gontijo.
Produo
de
artesanato popular e
identidade cultural. Ref. 184.
TOLEDO,
Benedito Lima de.
Bem
Cultural
e
Identidade Cultual. Ref. 190.
VELHO,
Gilberto. Antropologia
e Patrimnio Cultural.
- Ref. 192
BOSI, Vera.
Participao
e
pesquisa
na
preservao
do
patrimnio cultural. Ref. 260.
FALCO,
Joaquim de Arruda.
Poltica
de
preservao
e
democracia. Ref.
194.
BELTRO,
Maria da Conceio
de Moraes Coutinho;
SOLA, Maria Elisa;
JUNQUEIRA, Paulo;
SILVA, Regina Coeli
Pinheiro
da;
MENESES, Ulpiano
251
elevao de Ouro
Preto categoria de
Vila). - Ref. 156.
MAGALHES,
Alosio.
Bens
Culturais: instrumento
para
um
desenvolvimento
harmoniso. - Ref. 193.
TOLEDO,
Benedito Lima de.
Bem
Cultural
e
Identidade Cultural. Ref. 190.
CULTURA
CULTURA
BRASIL
COHN,
Gabriel. Concepo
oficial de cultura e
processo cultural. Ref. 237.
PATRIMNIO
CULTURAL
JAGUARIBE,
Hlio. A universidade
e a cultura brasileira.
- Ref. 229.
PATRIMNIO
CULTURAL
PRESERVAO
Bezerra
de.
Patrimnio
Arqueolgico. Ref.
268.
MENESES,
Ulpiano Bezerra de.
Para uma poltica
arqueolgica
da
SPHAN. Ref. 269.
MORLEY,
Edna.
Fazer
arqueologia: resgatar
memrias. Ref. 271.
SILVA,
Regina Coeli Pinheiro
da. Sobre a preservao
dos
stios
arqueolgicos
brasileiros. Ref. 270.
ARANTES,
Antnio
Augusto.
Documen-tos
histricos, documentos de cultura. Ref.
250.
AZEVEDO,
Paulo Ormindo de.
Por um inventrio do
Patrimnio
Cultural
Brasileiro. Ref 254.
LOPES,
Regina Clara Simes.
A propsito de poltica
cultural. Ref. 241.
MICELI,
Srgio.
SPHAN:
refrigrio da cultura
oficial. Ref. 249
SANTOS,
ngelo Oswaldo de
Arajo. Restaure-se o
patrimnio. Ref. 246.
VELHO,
Gilberto. Antropolo-gia
e Patrimnio Cultural.
Ref. 192.
(ver)
BARTH
LEMY, Jean. Nosso
patrimnio no ano
2000. Ref. 204.
BOSI, Vera.
Participa-o
e
pesquisa na preservao do patrimnio
cultural. Ref 260.
COSTA, Lygia
Martins. A defesa do
patrimnio
cultural
mvel. - Ref. 194.
252
CULTURA
FINANCIAMENTO
FRANCO,
Maria
Ignez
Mantovani.
Lei
Sarney: desafio
competncia.
-Ref.
243.
LIMA,
Luiz
Costa. O Estado e a
Cultura. - Ref. 239.
POLTICA
CULTURAL
BRASILEIRA
FONTES,
Lcia
Helena
de
Oliveira;
COELHO,
Maria das Graas
Spencer; REIS, Alice
Amaral dos; NEVES,
Lucia.
Maria
e
Preserva-o
desenvolvimento: as
duas faces de uma
moeda urbana. Ref.
225.
FRANCO,
Luiz Fernando P. N.
veia,
Cultura
na
saudade em lata: por
uma
crtica
da
economia de esprito.
Ref. 251.
LERNER,
Dina;
RABELO,
Snia; ALCNTARA,
all.
Dora;
et.
Tombamento. Ref.
252.
TELLES,
Augusto Carlos da
Silva.
Centros
Histricos:
notas
a
poltica
sobre
brasileira de preservao. Ref. 174.
TOLEDO,
Benedito Lima. Bem
Cultural e Identidade
Cultural. Ref. 190.
COHN,
Gabriel. Concepo
oficial de cultura e
processo cultural.
Ref. 237.
KONDER,
Leandro. O Estado e
os
problemas
da
poltica cultural no
Brasil de hoje. Ref.
238.
LIMA,
Luiz
Costa. O Estado e a
Cultura. Ref. 239.
LOPES,
Regina Clara Simes.
A propsito de poltica
cultural. Ref. 241.
253
254
255
ref. 270
SOARES, Llia G. Produo de artesanato popular e identidade cultural. (1984) Ref. 184.
SOLA, Maria Elisa. Patrimnio arqueolgico. Ref. 268.
TOLEDO, Benedito Lima. Bem Cultural e Identidade Cultural. Ref. 190
TORRES, Helosa Alberto. Arte indgena na Amaznia. (1940)
TORRES, Helosa Alberto. Contribuio para o estudo da proteo do material arqueolgico e etnogrfico no Brasil. (1937)
Ref. 3
VELHO, Gilberto. Antropologia e Patrimnio Cultural, (1984) ref. 192; A grande cidade brasileira: sobre heterogeneidade e
diversidade culturais, (1986) ref. 224.
256
EXPERTS
CharlesSamsonAKIBODE
HamadyBOCOUM
ShubhaCHAUDHURI
AlanGOVENAR
LungtenGYATSO
SlimaneHACHI
MarcJACOBS
AkbarKHAKIMOV
ChrifKHAZNADAR
Philippe LA HAUSSE DE
LALOUVIERE
PASES
CapeVerde
Senegal
India
USA
Bhutan
Algeria
Belgium
Uzbekistan
France
Mauritius
Spain
Mexico
SouthAfrica
Nicaragua
Colombia
Haiti
Japan
BurkinaFaso
Vietnam
Colombia
Brazil
Bulgaria
Lithuania
Japan
ICTM,
Los
Angeles/USA
Lithuania
IrenaSELIUKAITE
Cambodia
HangSOTH
Mali
TrbaTOGOLA
Georgia
RusudanTSURTSUMIA
Panama
Arstides Burgos VILLARREAL
FrancescLLOPIBAYO
JessAntonioMACHUCA
ThaboMANETSI
RobertMARENCO
LuzAmparoMEDINA
ClaudeMETAYER
ShigeyukiMIYATA
OumarouNAO
KimDungNGUYEN
CesarPARRA
MarciaSANTANNA
MilaSANTOVA
VidaSATKAUSKIENE
NaokoSATO
AnthonySEEGER
WendWENDLAND
AhmedYASSIN
WIPO,
Geneva/Switzerland
Kenya
257
OBSERVERS
NorikoAikawa
IgorBailen
YamelisLinares
NseirGhassan
JosLuisFernndezValoni
CarlosHerrera
CarlosCueto
FranoiseMedegan
AlejandraPadron
FeddoulKammah
NejjarA.N.
AydinSefaAkay
YatiGrissa
CorinneMagail
AnaZacarias
JavierDiaz
ErnstIten
NikiTselenti
AssiaAlakhras
SoobarahGowoothum
LenaVanelslander
BoughabaKumel
BaghliSidAhmed
G.Helgadttir
LissanEdith
D.BlondinDiop
R.Yebali
AbderrahmanAyoub
S.Whitaker
MerleSchnatenbach
GabrieleFasem
MariaWalcher
JacobJohn
AdrianaValads
MariaUbach
VeraLaccoeuille
Ameraswargalla
J.Thvenot
SvendPoulsenHansen
MaleneNielsen
Japan
Philippines
Venezuela
Syria
Argentina
Peru
Peru
Benin
Venezuela
United
Arab
Emirates
Morocco
Turkey
Indonesia
Monaco
Portugal
CostaRica
Switzerland
Greece
Palestine
Mauritius
Belgium
Algeria
Algeria
Iceland
Benin
Senegal
Tunisia
Tunisia
Brazil
Germany
Italy
Austria
India
Mexico
Andorra
StLucia
Australia
ICOM
Denmark
Denmark
258
SolveigVerheyleweghen
ChaficaHaddad
ClaudinedeKendamiel
N.Lagidz
NicoleFadel
Norway
Grenada
StVincentandthe
Grenadines
China
Dominican
Republic
Georgia
Djibouti
UNESCOSecretariat
MounirBouchenaki
RieksSmeets
EstelleBlaschke
FernandoBrugman
FranoiseGirard
MihoKobayashi
SabineKube
AnahitMinasyan
CesarMorenoTriana
ArianaMorris
DavidStehl
ReikoYoshida
SamiraZinini
EdgarMontiel
FumikoOhinata
NildaAnglarill
MontserratMartell
MohamedOuldKhattar
AssistantDirectorGeneralforCulture
IntangibleHeritageSection
IntangibleHeritageSection
IntangibleHeritageSection
IntangibleHeritageSection
IntangibleHeritageSection
IntangibleHeritageSection
IntangibleHeritageSection
IntangibleHeritageSection
IntangibleHeritageSection
IntangibleHeritageSection
IntangibleHeritageSection
IntangibleHeritageSection
CultureandDevelopmentSection
WorldHeritageCentre
UNESCOOfficeDakar
UNESCOOfficeHavana
UNESCOOfficeRabat
SuXu
CarlosSegura
259
R - 04 Crio de Nossa
Senhora de
Nazar/PA
17/12/01
Arquidiocese de
Belm/PA e Diretoria da
Festa do Crio
Secretaria de Estado da
Cultura de Minas Gerais
R - 06 Queijo do
Serro/MG
R - 08 Festival
Folclrico de
Parintins dos
Bumbas
Secretaria da Cultura,
Turismo e Desporto do
estado do Amazonas AM
12/11/01
23/09/02
O processo
encontra-se na 2a
SR, em fase final
de instruo.
O processo foi
encaminhado em
12/11/01 13a SR ,
onde ainda se
encontra para
instruo.
O processo foi
encaminhado 13a
SR, 12/11/01, para
complementao
da instruo
tcnica, a ser
realizada pelo
proponente,
SEC/Iepha-MG.
O pedido encontra-se
em anlise na
Gerncia de
Referncias
260
Culturais do DID e,
posteriormente, ser
encaminhado 1a SR
do Iphan, que ficar
encarregada da
superviso da
instruo tcnica do
processo pelo
proponente
SEC/AM
Garantido e
Caprichoso
R - 09 Obra do Poeta
Patativa do
Assar/CE
4a Superintendncia
17/10/02
Regional do IPHAN e
Instituto de Arquitetos do
Brasil/CE.
R - 10 Banda Cabaal
dos Irmos
Aniceto de
Crato/CE
4a Superintendncia
17/10/02
Regional do IPHAN e
Instituto de Arquitetos do
Brasil/CE.
R - 11 Festa do Pau da
Bandeira de
Santo Antnio,
Barbalha/CE
4a Superintendncia
17/10/02
Regional do IPHAN e
Instituto de Arquitetos do
Brasil/CE.
20/11/02
R - 13
17/12/02
Acaraj
Associao de Baianas de
Acaraj e Mingau do Estado
da Bahia, Centro de Estudos
Afro-Orientais da UFBA e
Terreiro Il Ax Op afonj
O dossi de
estudos foi
encaminhado 4a
SR em 09/12/02
para
complementao
da instruo
tcnica do
processo.
O dossi de
estudos foi
encaminhado 4a
SR em 09/12/02
para
complementao
da instruo
tcnica do
processo.
O dossi de
estudos foi
encaminhado 4a
SR em 09/12/02
para
complementao
da instruo
tcnica do
processo.
O dossi de
estudos foi
encaminhado 6a
SR em 28/11/02
para
complementao
da instruo
tcnica do
processo.
O pedido encontra-se
em anlise na Gerncia
de Referncias
Culturais do DID.
261
Fonte: http://portal.iphan.gov.br/portal/montarDetalheConteudo.do?id=12455&sigla=Instituc...
Acessado em 12/10/2006
http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?id=12456&retorno=paginaIphan
Acessado em 4/3/2008
INVENTRIOS
EM
ANDAMENTO
Povos Indgenas do
Alto Rio Negro em
Manaus/AM
INVENTRIOS
REALIZADOS
PROCESSOS DE
REGISTRO EM
ANDAMENTO
BENS
CULTURAIS
REGISTRADOS
Museu Aberto do
Descobrimento/BA
Complexo Cultural do
Bumba-meu-Boi do
Maranho
Ofcio das
Paneleiras de
Goiabeiras
Vitria/ES
Arte Kusiwa
Pintura corporal e
arte grfica
Wajpi/ AM
Crio de Nossa
Senhora de
Nazar
Belm/PA
Samba de Roda
do Recncavo
Baiano
Modo de fazer
Viola-de-Cocho
MS/MT
Ofcio de Baiana
de Acaraj
Salvador/BA
Jongo no Sudeste
RJ/SP
Ilha de Maraj/PA
Tacac/PA
(CNFCP)
Crio de Nossa
Senhora de Nazar
Belm/PA
Cuias de
Santarm/PA
(CNFCP)
Farinha de
Mandioca/PA
(CNFCP)
Natividade/TO
Centro Histrico de
So Luiz /MA
Cermica
Candeal/MG
(CNFCP)
Complexo Cultural
do Bumba-meu-Boi
do Maranho
Rio de Contas/BA
Rotas da Alforria
Cachoeira e So
Flix/BA
Regio do Cariri/CE
Festas do Largo de
Salvador/BA
(CNFCP, com
recursos da
Petrobrs).
Feira de Caruaru/PE
Circo de Tradio
Familiar/Nacional
Feira de Caruaru/PE
Teatro Popular de
Bonecos Brasileiros
(Mamulengo)
Cachoeira de
Iauaret Lugar
Sagrado dos Povos
Indgenas dos Rios
Uaups e Papuri
Feira de So Joaquim,
em Salvador/BA
Feira de Caruaru
Cux/MA
Matrizes do
Samba no RJ:
262
partido alto,
samba de terreiro
e samba-enredo
Comunidades
Quilombolas de
Pernambuco/PE
Feiras do Distrito
Federal/DF
Congo de Nova
Almeida Serra/ES
Bom Retiro So
Paulo/SP
Festa do Divino
Maranhense no Rio
de Janeiro/RJ
(CNFCP, com
recursos da
Petrobrs)
Povo Guarani So
Miguel das
Misses/RS
Stio Histrico de
Porongos Pinheiro
Machado/RS
Viola Caipira do
Alto e Mdio So
Francisco/MG
Lapa/PR
Levantamento de
documentos sobre o
Estado de Sergipe
Cermica de Rio
Real/BA (CNFCP)
Queijos
Artesanais/MG
Toque dos
Sinos/MG
Comunidades
Impactadas pela
Usina Hidreltrica
de Irap Regio do
Mdio
Jequitinhonha/MG
(Realizado com
recursos da
CEMIG). O DPI
Farmacopia Popular do
Cerrado
Modo de Fazer Renda
Irlandesa
Lugares Sagrados dos
Povos indgenas
xinguanos/MT
263
disponibilizou a
metodologia.
Porto Nacional
(realizado pela
Fundao Cultural
do Estado de
Tocantins com
recursos dessa
Fundao)
Parque Nacional
Grande Serto:
Veredas/MG (em
parceria com a
Funatura)
Medicina
Tradicional/RJ
(realizado pela Rede
Fitovida, com
recursos prprios)
264
Jornais do
Esprito
Santo
A Tribuna
A Gazeta
ANO/TTULO
1976
Ttulo
1980
Ttulo
1983
Ttulo
1985
Ttulo
1990
Ttulo
1
Artesanato:
As Panelas de
Barro No
Sero Feitas
(18/04/1976)
1
O Consciente
Ofcio de
Quem
Mantm Viva
a Arte
Regional
(21/09/1980)
Paneleiras:
est
morrendo o
maior
artesanato
capixaba
(12/10/1980)
1
Artesanato e
Panela de
Panela de
Barro:
Reminiscncia Barro
(25/05/1983)
de um
Passado que a
Indstria
ainda no
Apagou.
(28/08/1983)
1
A Tradio
das
Paneleiras de
Goiabeiras
Est
Morrendo
(16/04/1985)
1
PMV Estuda
Nova rea de
Notcia
Agora
Jornal
Calado
da Praia
Jornal do
Laboratrio
do Curso de
Comunicao
Social da
UFES
265
1991
Ttulo
1992
Ttulo
1993
Ttulo
1994
Ttulo
1995
Ttulo
1996
Ttulo
Argila para
Paneleiras.
(15/12/1990)
1
Trabalho das
Paneleiras
Est
Ameaado
(17/03/1991)
1
1
Urbanizao Panelas de
ameaa acabar Barro So
Atrao em
com smbolo
Braslia
da cultura
(02/07/1992)
capixaba.
(21/07/1992)
1
1
Paneleiras
Artesanato
das paneleiras Querem
Atuar em
vai estar em
rea de Joana
exposio
DArc
(29/07/1993)
(22/06/1993)
1
2
Cesan
Exposio
Procura
Mostra
Jazida de
Tradio de
Barro Para
400 Anos
Paneleiras
(08/07/1994)
(10/03/1994)
Joana DArc
Ganha
Estao de
Esgoto.
(06/03/1994)
1
Um Olhar
Feminino
Sobre as
Paneleiras
(3/07/1995)
1
1
E do Barro Se Panelas de
Fez a Panela. Barro no
Mapa:
(11/04/1996)
Pesquisadores
da
FUNARTE
266
1997
Ttulo
1998
Ttulo
1
Faz na Panela
de Barro:
Associao
garante
qualidade
(18/09/1998)
descobrem as
paneleiras e
preparam
catlogo de
exposio.
(11/03/1996)
3
Panela de
Barro de 2
Metros de
Dimetro
Pode Ir para o
Guiness
(13/05/1997)
Um Smbolo
da Cultura
Popular: A
Panela de
Barro
Suporte para
o Preparo da
Moqueca.
(31/07/1997)
Paneleiras
Podem Ir
Para o
Guiness
Book.
(01/08/1997)
3
Mos Hbeis
que Fazem a
Histria: As
panelas de
barro, um dos
smbolos da
cultura
capixaba.
(30/07/1998)
Panelas com
Rock na
Noite de
Goiabeiras.
(30/06/1998)
Festa das
Paneleiras
Atrai 25 Mil.
(03/08/1998)
267
1999
Ttulo
2000
Ttulo
1
Paneleiras de
Mo Cheia.
(25/07/1999)
2
Hoje Tem
Forr na Festa
das
Paneleiras.
(27/07/2000)
2
Tradio de
Me para
Filhos: a arte
que vem do
barro.
(27/07/2000)
Paneleiras
Esperam
Vender 25%
a Mais.
(26/11/2000)
Panelas
Capixabas.
(19/07/2000)
2001
Ttulo
3
Paneleiras
Vencem Briga
pelo Vale do
Mulemb.
(28/03/2001)
Moradores
Saem em
Defesa das
Paneleiras.
(13/03/2001)
Governo
Ignora
Prefeitura e
Manda Iniciar
Obras do
PRODESAN
em Vitria.
(03/10/2001)
10
Paneleiras
Recolhem
Assinaturas
em Feira.
(18/03/2001)
A Vingana
dos
Enfezados: a
nossa
moqueca
corre o risco
de perder o
cristal de seu
clice.
(18/03/2001)
Salvamos o
Mulemb.
(17/03/2001)
Panelas de
Barro
Ganham Selo
Oficial.
(10/08/2001)
Paneleiras
Discutiro a
Lei.
268
2002
Ttulo
3
Panela de
Barro Vira
Patrimnio
Histrico.
(10/01/2002)
Frank Aguiar
na Festa das
Paneleiras.
(07/08/2002)
Festa Com
Forr e 2 Mil
Panelas de
Barro.
(08/08/2002)
(13/03/2001)
Estao de
Esgoto
Assusta
Paneleiras:
Elas
Participam de
Reunio com
a CESAN
para Negociar
a Construo.
(04/03/2001)
Impasse
sobre Terreno
de Paneleiras
Continua.
(08/03/2001)
Paneleiras
Vo Justia.
(09/03/2001)
Paneleiras.
(25/06/2001)
PRODESAN
Embargado
no Vale do
Mulemb.
(23/10/2001)
4
Patrimnio
Imaterial.
(03/08/2002)
Panela de
Barro Vira
Patrimnio
Nacional.
(08/08/2002)
Paneleiras de
Viana
Querem
Divulgao.
(11/08/2002)
Panela de
Barro.
(15/02/2002)
1
Panela de
Barro
Tradio
Milenar no
Estado.
(03/2002)
269
2003
Ttulo
Festa das
Paneleiras
por Um
Fio. (30/07
a
15/09/2003)
2004
Ttulo
2005
Ttulo
1
Mos
Mestras:
Conhecer o
processo de
fabricao da
panela de
barro, alm
de comer
torta
capixaba,
uma boa dica
neste feriado.
(07/04/2004)
1
Goiabeiras
D um Show
Cultural: No
bairro
possvel
encontrar a
unio das
bandas de
congo, do
artesanato e
da
religiosidade.
(07/11/2004)
1
Festa das
Paneleiras
Est de
Volta em
Parceria
com a
Prefeitura
de Vitria.
(nov. dez
2005)
1
Impasse no
Futuro da
Tradio.
(05/2005)
270
Jornais
de
outros
estados
1976
Ttulo
1
Paneleiras, A Arte que
Nasce da Lama. (03/12/1976)
2000
Ttulo
Folha
da
Memria (Natal
Rio
Grande
do
Norte)
1
Patrimnio
Imaterial. Natal,
v.5. n.26, jul./ago.
2000
2001
Ttulo
Livros e
Outras
Publicaes No
Seriadas
1
Panela,
Caldeiro
e
Frigideira: O Ofcio
das Paneleiras de
Goiabeiras. N. 147,
2001. p. 123-8.
IHGES
1980
1994
Sub
II/
Assunto
IPHAN
Vitria, ES
1974
1978
Revista Tempo
Brasileiro
(Rio
de
Janeiro)
NEVES, Guilherme
dos
Santos.
Folclore
Brasileiro: Esprito Santo.
[s.l], MEC; FUNARTE,
1978.
NEVES, Guilherme
dos
Santos.
Folclore
Capixaba. [s. n. t.], 1980.
NEVES, Guilherme
dos Santos & PACHECO,
Renato Jos da Costa. ndice
do Folclore Capixaba. [s. l],
[s. ed.], 1994
Caldeiras
SAINTHILAIRE, Auguste de. de terracota em
Viagem ao Esprito Goiabeiras,
Santo e Rio Doce; Vitria, ES
De
Milton
Trad.
Amado, Pref. de Mrio
Guimares Ferri. Belo
Horizonte,
Itatiaia/USP, 1974. p.
55
Panelas
de barro do ES,
Congo, moqueca
capixaba.
Panelas
de barro do ES,
Congo, moqueca
capixaba.
Paneleiras
de Goiabeiras.
271
APNDICE V - QUADRO SOBRE O GRUPO DE
GENEALOGIA E GRUPO FAMILIAR A QUE PERTENCE
FAMLIAS
GOMES/
IDA ENDEREO
DE
ESCOLARIDADE
REFERNCIA:
OCUPAO GRAU DE
PARENTESCO
FERREIRA
Bernanci
Gomes
Ferreira
69
Rua
Desembargador
Cassiano
Castelo, n 243
Ensino Fundamental
Incompleto
Paneleira
(mudou-se
para o
quintal do
marido)
Rubens
Ferreira da
Conceio
Fale- Rua
Ensino Fundamental
cido Desembargador
Incompleto
Cassiano Castelo,
n 243
Rua Fernando
Ferrari, s/n
Ensino Fundamental
Incompleto
Rua Fernando
Ferrari, s/n
Ensino Fundamental
Incompleto
45
Municpio da
Serra
Ensino Mdio
Completo
44
Ensino Fundamental
Incompleto
Filha de Odete
Corra Gomes
(paneleira) e Alcides
Gomes (pescador).
Neta de Galdncia
da Vitria
(paneleira) e Jos
Prima de Zilda,
Gilda e Jaqueline
(por parte de pai).
Aposentado
pelo curtume
Marido de
Bernanci
Filho de Ana
Ferreira da
Conceio (me
Ana)
Aposentado
Irmo de Bernanci
Nilson Corra
Gomes
71
Onadir Corra
Gomes
65
Ana Lcia
Gomes
Ferreira
48
Rubens
Gomes
Ferreira
Lailson
Gomes
Ferreira
Bernadete
Gomes
Ferreira
Larcio
Gomes
Ferreira
42
Bairro So
Benedito
Ensino Fundamental
Auxiliar de
Incompleto
servios gerais Filha de Bernanci
40
Inete Gomes
Ferreira
38
Rua
Desembargador
Cassiano Castelo,
n 243
Rua
Desembargador
Cassiano Castelo,
n 243
Rua
Desembargador
Cassiano Castelo,
n 243
Ensino Fundamental
Incompleto
Rua Fernando
Ferrari n 1751
Ensino Fundamental
Incompleto
Filho de Bernanci
(pai de dois filhos)
Jorge Gomes
Ferreira
32
Zilda Gomes
Campos
59
Ensino Fundamental
Incompleto
Paneleira
Filha de Bernanci
(me de quatro
filhos)
Comercirio
Paneleira
Filho de Bernanci
(filha de Joo
Campos e de
Geralda Gomes
Campos. Neta de
dona Dudpaneleiras)
272
Prima de Bernanci
por parte de me
Cunhada de Izabel
Gilda Gomes
Campos
44
Rua Fernando
Ferrari n 1751
Ensino mdio
completo
Paneleira
Irm de Zilda
Prima de Bernanci
(me de uma filha)
Cssia
Cristina
Gomes
Campos
Jaqueline
Gomes
Campos
12
Rua Fernando
Ferrari n 1751
Ensino Fundamental
Incompleto
Estudante
(ajuda alisar,
passar faca)
Filha de Gilda
Sobrinha de Zilda
40
Rua Fernando
Ferrari n 1751
Ensino Fundamental
Incompleto
Paneleira e
comerciaria.
Irm de Zilda
Prima de Bernanci
(me de dois filhos)
Vitor Afonso
Gomes Santos
15
Rua Fernando
Ferrari n 1751
Ester Gomes
Barboza
Rua Fernando
Ferrari n 1751
Wagner
Gomes
Ricardo
Douglas
Corra
Campos
28
Rua Fernando
Ferrari n 1751
27
Rua Fernando
Ferrari n 1751
Gean Corra
Campos
35
Rua Fernando
Ferrari n 1751
Ensino Fundamental
Incompleto
Estudante
(ajuda alisar,
passar faca)
Ensino Fundamental
Estudante
Incompleto
(ajuda alisar,
passar faca)
Ensino Fundamental Amassa barro,
Incompleto
escolhe, alisa e
queima panela.
Ensino Mdio
Eletricista.
Completo
Amassa barro,
escolhe, vira
panela. Faz
porco (cofre)
Ensino Mdio
Trabalha no
Completo
aeroporto
Filho de Jaqueline
Sobrinho de Zilda
Filha de Jaqueline
Sobrinho de Zilda
Sobrinho de Zilda
Sobrinho de Zilda.
Filho de Izabel
Corra Campos
Sobrinho de Zilda.
Filho de Izabel
Corra Campos.
273
95
(mudou-se para o
quintal do marido.
Ao enviuvar voltou
para o quintal dos
pais).
Moacir Alves
Corra
Rua Rogrio do
Nascimento, n
5
Ensino Fundamental
Incompleto
Paneleira
Ensino Fundamental
Incompleto
Pescador
Filha de Telvina
(paneleira) e
Rogrio do
Nascimento
(lenhador).
Neta de
Cndido e
Edvirges (por
parte de pai)
Cunhada de
Melchiadia
Falecido
Rua Leopoldo
Gomes Salles
(quintal dos
Alves Corra)
Lucila do
Nascimento
Corra
76
Ensino Fundamental
Incompleto
Egdia do
Nascimento
Corra
80
Rua 1, Bairro
Repblica
Ensino Fundamental
Incompleto
Paneleira
Irm de Lucia
Guilhermina
82
Av. Fernando
Ferrari, n 2.330
Ensino Fundamental
Incompleto
Paneleira
Irm de Lucia
Jos Alves
Corra
52
Rua Rogrio do
Nascimento, n5
Ensino Fundamental
Completo
Motorista
Filho de Lcia
Geci Alves
Corra
(mudou-se para
o quintal do
marido)
66
Rua Irmnio
Coelho de
Souza, 19
Ensino Fundamental
Incompleto
Gecildo Alves
Corra
64
Rua Leopoldo
Gomes Salles,
80
Ensino Fundamental
Completo
Genildo Alves
Corra
62
Municpio da
Serra
Ensino Fundamental
Completo
Jenete Alves
Rodrigues
69
Rua Rogrio do
Nascimento,
n5
Ensino Fundamental
Incompleto
Nascimento
Gomes
Marido de
Lucia
Filho de
Floripis Alves
(paneleira) e
Viriato Corra
Irm de Lucia
Paneleira
(queima na casa (marido de Lucila
era primo do
de Jenete)
marido de Jenete)
Filha de Lucia,
esposa de
Valter Corra
da Victria
(me de quatro
filhos)
Aposentado por Filho de Lucia
posto de
(marido de
gasolina
Marlene
Corra Alves paneleira)
Aposentado por
posto de
Filho de Lucia
gasolina
Paneleira
Paneleira
Filha de Lucia
(Sobrinha de
Melchiadia;
prima de
Mariente
e Evanilda)
274
Avelino Rodrigues
Neto
Jamilda Alves
Rodrigues Bento
Falecido
45
Rua Rogrio do
Nascimento, n5
Ensino Fundamental
Incompleto
Pedreiro e
aposentou-se
pelo aeroporto
Rua Irminio
Coelho de
Souza, 26
Superior Completo
Rua Rogrio do
Nascimento, n5
Ensino Mdio
Completo
Paneleiro
(arteso)
tira panela da
fogueira e
escolhe o barro
Funcionria
Pblica
Marido de
Jenete Sobrinho do
marido de Iraci
e irmo do
marido de
Melchiadia
Filha de Jenete
Lcio Alves
Rodrigues
43
Avelino Alves
Rodrigues
42
Rua Rogrio do
Nascimento, n5
Ensino Fundamental
Incompleto
Cozinheiro da
CST
Luciene Alves
Rodrigues
39
Municpio da
Serra
Ensino Mdio
Completo
Manicura
Moacir Alves
Rodrigues
32
Rua Rogrio do
Nascimento, n5
Superior Incompleto
Dbora Alves
Rodrigues
31
Rua Rogrio do
Nascimento, n5
Ensino Mdio
Completo
Vira, alisa e
passa a faca.
Henrique Jos
Alves Rodrigues
28
Rua Rogrio do
Nascimento, n5
Superior Completo
Professor
Filho de
Jenete
Maria Emlia
Rodrigues
Bento.
16
Rua Irmnio
Coelho de
Souza, 26
Ensino Mdio
Incompleto
Estudante
Filha de
Jamilda
Filho de
Jenete
Filho de
Jenete
Filha de Janete
Estudante
Filho de
universitrio
Jenete
(tira panela e
escolhe o barro)
Filha de Jenete
275
FAMLIA
BARBOZA
Maria da
Conceio
Gomes
Barboza
Ensino
Fundamental
Incompleto
OCUPAO
Paneleira
(mudou-se para o
quintal do marido.
Hoje, na casa moram
02 filhos e 02 netos)
Jucilem
Barboza
Ipojucam
Barboza
48
46
Municpio da
Serra
43
44
36
46
Ensino
Fundamental
Incompleto
(mora no quintal)
Ivonei
Barboza
(mora com
esposa e filhos
em outro
quintal)
Jucileida
Barboza
(mora com a me)
Jucilem
Barboza Filho
(mora com a me)
Jucila
Barboza
(mora no quintal)
Marli Barboza
(mora no quintal)
Ilza dos
Santos
Barboza
(permaneceu no
quintal e casa
dos pais)
Marido
de
Ma.
Conceio Barboza e
filho de Carolina
Salles (paneleira) e
Joo
dos
Santos
Barboza.
Primo de Elizete
Salles
Filho de Maria da
Conceio, esposo de
Marli.
55
(mora no quintal)
Ivanete
Barboza
GRAU DE
PARENTESCO
Filha de Maria Corra
da Vitria e Manoel
Gomes Brando.
Neta de Galdncia da
Vitria e Jos e Ma.
Benedita (av
paterna)
70
Paneleira
Filha de Conceio
(separada com dois
filhos)
Filho de Maria da
Conceio Barboza
Filho de Ma. da
Conceio
(solteiro sem filhos)
Filha de M. da
Conceio Barboza
(viva com trs
filhos)
Nora de Conceio,
(esposa do Ipojucam
me de quatro filhos)
Filha de Carolina
Salles Santos
(paneleira) e Joo
Barboza dos Santos
Neta de Jardelina e
Leopoldo Gomes
Salles.
(Cunhada de Ma. da
Conceio; prima de
Elizete e Valdelicis
Salles)
276
Waldir
Chaves
Barboza
72
Cleberson dos
Santos
Barboza
30
45
Ensino Mdio
Completo
34
Ensino Mdio
Incompleto
Marido de Ilza
Barboza
(mora com os
pais)
Snia dos
Santos
Ferreira
(mora no quintal dos
Barboza)
Rogria
Santos
(mora no quintal dos
Barboza)
Sobrinha de
Conceio e Ilza.
Auxiliar de
Filha
de Teresa
servios gerais.
Barboza (irm de Ilza)
(me de um filho)
Do lar
Sobrinha de Ilza e de
(ajuda a virar e Conceio. Filha de
a alisar)
Teresa Barboza
(me de uma filha)
Paneleira
277
FAMLIAS
ALVES CORRA
IDA ENDEREO
DE
Melchiadia
Alves Corra
da Vitria
Rodrigues
(mudou-se para o
quintal do marido
voltou para o quintal
dos pais)
Alceneu
Rodrigues
80
GRAU DE
PARENTESCO
ESCOLARIDADE
OCUPAO
Rua Leopoldo
Gomes Salles,
104.
Ensino
fundamental
incompleto
Paneleira
79
Rua Leopoldo
Gomes Salles,
104.
Ensino
fundamental
incompleto
Alcilene
Rodrigues
48
Ensino Mdio
Completo
Alceli Maria
Corra
Rodrigues
46
Rua Leopoldo
Gomes Salles,
104
Rua Leopoldo
Gomes Salles,
104.
Adilson
Rodrigues
43
Ensino Mdio
Completo
Segurana.
Aoita panela.
Filho de Melchiadia
Adalberto
Rodrigues
41
Rua Leopoldo
Gomes Salles,
104
Rua Leopoldo
Gomes Salles,
104
Ensino Mdio
Completo
Aposentado pelo
exrcito por
deficincia fsica
Filho de Melchiadia
Ademilson
Rodrigues
40
Rua Leopoldo
Gomes Salles,
104
Ensino Mdio
Completo
Filho de Melchiadia
Paneleiro
(mora na casa da me)
(arteso)
Tirador de Panela.
Ronildo Alves
Corra
44
Rua Leopoldo
Gomes Salles,
94
Ensino
Fundamental
Incompleto
Ronaldo Alves
Corra
48
Rua Leopoldo
Gomes
Salles,94
Ensino
Fundamental
Incompleto
Marinete Corra 53
Loureiro
Rua Leopoldo
Gomes Salles,
94
Ensino
Fundamental
Incompleto
Paneleira
Berencia Corra 50
Nascimento
Rua Leopoldo
Gomes Salles,
94
Ensino
Fundamental
Incompleto
Paneleira
Eonetes Alves
Corra
Rua Leopoldo
Gomes Salles,
94
Ensino
Fundamental
Incompleto
Paneleira
55
Ensino Mdio
Completo
Filha de Viriato
Corra e Floripis
Alves. Neta de
Dulcilina
[Irm de Domingas
Eudxio, Antnio,
Oswaldo, Leocdio,
Geny, Moacir e
Maria]
Pintor
Marido de
(ajudava a alisar e Melchiadia.
tirar panela)
(Irmo do marido de
Jenete)
Do lar
(eventualmente
queima e alisa)
Paneleira
Aoita panela
Filha de Melchiadia
(mora na casa da me)
(tem uma filha)
Filha de Melchiadia
(mora na casa da me)
Me de uma filha
Paneleiro
(arteso)
Sobrinho de
Melchiadia;
Filho de Eudxio e
Donria.
278
Jessilene Alves
Corra
37
Dborah Keila
Barboza Corra
37
Joslia Dias
Corra (Zlia)
43
Rosemary
Loureiro
Amorim
Rejane Corra
Loureiro
37
Marlene Corra
Alves
59
35
(mudou-se pra o
quintal do marido)
Rua Leopoldo
Gomes Salles,
94
Ensino
Fundamental
Completo
Rua Leopoldo
Gomes Salles,
94
Ensino Mdio
Incompleto
Rua Leopoldo
Gomes Salles,
94
Rua Leopoldo
Gomes Salles,
94
Rua Leopoldo
Gomes Salles,
94
Rua Leopoldo
Gomes Salles,
80
Ensino
Fundamental
Incompleto
Ensino
Fundamental
Completo
Ensino Mdio
Completo
Rua Leopoldo
Gomes Salles,
80
Ensino
Fundamental
Incompleto
Ensino
Fundamental
Incompleto
Paneleira
Sobrinha de
Melchiadia;
Filha de Eudxio e
Donria.
(me de dois filhos)
Esposa de Ronildo
Os filhos Jos Renato
(21 anos) e Keli (19
anos) no fazem
panela. Ensino Mdio.
Esposa de Ronaldo
(me de quatro filhos)
Paneleira
Filha de Marinete
(me de duas filhas)
Paneleira
Filha de Marinete
(me de dois filhos)
Paneleira
Paneleira
Paneleira
Sobrinha de
Melchiadia e esposa
de Gecildo (nora de
Lcia)
Gecildo Alves
Corra
64
Geanne Corra
Campos
34
Rua Leopoldo
Gomes Salles,
80
Ensino
Fundamental
Incompleto
Aldir Corra
Campos
71
Rua Leopoldo
Gomes Salles,
83
Ensino
Fundamental
Incompleto
Izabel Corra
Campos
61
Rua Leopoldo
Gomes Salles,
83
Ensino
Fundamental
Incompleto
Rua Leopoldo
Gomes Salles,
83
Ensino
Fundamental
Incompleto
Pescador
66
Rua Leopoldo
Gomes Salles,
83
Ensino
Fundamental
Incompleto
Pescador
Aposentado
Genivaldo Alves 63
Corra
Rua Leopoldo
Gomes Salles,
83
Ensino
Fundamental
Incompleto
Jonas Alves
Corra
53
Rua Leopoldo
Gomes Salles,
83
Anglica
Campos
31
Otvio Alves
Corra
Cosme Alves
Corra
69
Ensino
Fundamental
Incompleto
Rua Leopoldo
Ensino
Gomes Salles, 83 Fundamental
Incompleto
Aposentado por
posto de gasolina
Comerciria
Paneleira
Paneleira
Aposentado
Aposentado da
Indstria por
invalidez
Desempregada
Filho de Lucia
(marido de Marlene
Corra Alves paneleira)
Filha de Izabel
(sobrinha de
Melchiadia)
nora de Marlene
Sobrinha de
Melchiadia;
Filha de Oswaldo;
Irm de Izabel
Sobrinha de Melchiadia
Filha de Oswaldo Alves
Corra e Ana Dolores da
Rosa Corra.
Sobrinho de
Melchiadia
Irmo de Izabel
Sobrinho de
Melchiadia
Irmo de Izabel
Sobrinho de
Melchiadia
Irmo de Izabel.
Filha de Izabel
279
FAMLIA
LUCIDATO
Laurinda Alves
Lucidato
(mudou-se para o
quintal do marido)
Aristide
Lucidato
IDADE
ENDEREO
Falecida
Falecido
ESCOLARIDADE
Ensino Fundamental
Incompleto
Ensino Fundamental
Incompleto
OCUPAO
GRAU DE
PARENTES
CO
Paneleira
Filha de
Dona
Agripina
Aposentado
pelo aeroporto
Marido de
Laurinda
Filho de
Isabel
Lucidato e
Lucidato
Filho de
Laurinda e
Aristide
Cunhado de
Laurinda e
marido de
Edite da
Vitria
Lucidato
Filho de
Laurinda e
Aristide
(irmo da me de
Domingas)
Antnio
Lucidato dos
Santos
Cacildo
Lucidato
76
Aroldo
Lucidato
70
Margarida
Lucidato
Ribeiro
(mudou-se para o
quintal do marido)
77
Adelaide
Lucidato dos
Santos
(Casa que morava
Laurinda - vendeu a
para o filho
Carlinhos)
68
85
47
Carlos Barboza
dos Santos
Lucilina
Lucidato de
Carvalho
65
Laureci
Lucidato da
Vitria
61
Laugrepnia
Lucidato
59
Ensino Fundamental
Incompleto
Aposentado
Ensino Fundamental
Incompleto
Pescador
Aposentado
Ensino Fundamental
Incompleto
Pescador
Aposentado
Rua
Desembargador
Cassiano
Castela, 166
Ensino Fundamental
Incompleto
Paneleira
Ensino Fundamental
Incompleto
Paneleira
Ensino Fundamental
Incompleto
Ensino Fundamental
Incompleto
Paneleira
Ensino Fundamental
Incompleto
Paneleira
Filha de
Laurinda e
Aristide
Ensino Fundamental
Incompleto
Paneleira
Filha de
Laurinda e
Aristide
Paneleiro
(arteso)
Filha de
Laurinda e
Aritides
Filha de
Laurinda e
esposa de
Antnio
Carlos
Barboza
Neto de
Laurinda e
filho de
Adelaide e
Antnio
Carlos
Filha de
Laurinda e
Aristide
280
Jorge Alves
60
Ensino Fundamental
Incompleto
Aposentado
Marido de
Laurgrepina
Lauriete da
Vitria Pinto
43
Ensino Fundamental
Incompleto
Marizete da
Vitria
35
Ensino Fundamental
Incompleto
Paneleira
filha de
Laureci
Esposa de
Lailson
Gomes
Ferreira
filha de
Laureci
Carlos Alberto
da Vitria
30
Ensino Fundamental
Incompleto
Paneleiro
filho de
Laureci
Luciete
Lucidato da
Vitria
37
Ensino Mdio
Completo
Paneleira
filha de
Laureci
Valdinia da
Vitria
Lucidato
44
Ensino Mdio
completo
Valda da
Vitria
Lucidato
47
Ensino Fundamental
Incompleto
Valdir da
Vitria
Lucidato
52
Ensino Fundamental
Incompleto
Wanessa Alves
Lucidato
25
Rua Leopoldo
Gomes Salles, n
44
Ensino Fundamental
Incompleto
Tnia Maria
Lucidato
Medina
43
Ensino Fundamental
Completo
Genilda Ferreira
Lucidato
58
Sem escolaridade
Eliane Ferreira
Lucidato
34
Ensino Fundamental
Completo
Paneleira
Helosa Helena
Ferreira
Lucidato
36
Ensino Fundamental
Completo
Paneleira
Paneleira
Filha de
Cacildo
Lucidato e
Edite da
Vitria
Lucidato
(irm de
Iraci)
Filha de
Cacildo
Paneleira
Lucidato e
Edite da
Vitria
Lucidato
Filha de
Cacildo
Aposentado
pelo Aeroporto Lucidato e
Edite da
Vitria
Lucidato
Filha de
Clrio
Paneleira
Lucidato e
Eliana Alves
Lucidato
Filha de
Antnio com
Paneleira
Alvina
Paneleira
Paneleira
Casou-se
com Galdino
Lucidato
Filha de
Genilda com
Galdino
Lucidato
Filha de
Genilda com
Galdino
Lucidato
281
Jos Carlos
Ambrosio
(esquerdinha)
Nilcia
Alvarenga
Ambrsio
45
Ensino Fundamental
Completo
Tirador de
barro e
segurana
44
Ensino Fundamental
Incompleto
Paneleira
Esposo de
Nilcia
Filha de
Maria Nilce
Lucidato e
Antnio
Alvarenga e
neta de Dona
Laurinda
282
FAMLIAS DA
VITRIA/
IDA
DE
ENDEREO
ESCOLARIDADE
OCUPAO
Rua Jos
Alves, n 82
Ensino Fundamental
Incompleto
Paneleira
FERNANDES
Domingas Corra 82
da Vitria
Fernandes
(IRACI)
Imperolino
Fernandes
GRAU DE
PARENTESCO
Filha de
Oswaldino
Corra da
Vitria e
Adelina
Rosa da
Vitria.
Neta de
Isabel
Lucidato e
Galdncia
da Vitria
Pescador e
Aerovirio
Marido de
Domingas
Paneleira e
Funcionria
Pblica
Filha de
Domingas
Eonetes Fernandes 58
dos Santos
Morro Boa
Vista
Ensino Fundamental
Incompleto
Evalilda Fernandes 43
Corra
Rua Leopoldo
Gomes Salles
Ensino Fundamental
Incompleto
Paneleira
Filha de
Domingas
Eronildes Corra
Fernandes
41
Morro Boa
Vista
Ensino Fundamental
Incompleto
Paneleira
Filha de
Domingas
Eolino Corra
Fernandes
61
Pescador
Eraldo Corra
Fernandes
39
44
45
Cabeleireiro
Filho de
Domingas
Morro Boa
Vista
Funcionrio
pblico municipal
Marido de
Eonetes
Pedro Corra
Fernandes
Jos Carlos
Ribeiro dos Santos 69
Ensino Mdio
Josenete Fernandes
dos Santos
37
Vasconcelos
Morro Boa
Vista
Fbio Fernandes
dos Santos
34
Flvio Fernandes
dos Santos
32
Ensino Mdio
(aposentado)
ajuda a queimar
e alisar
Paneleira
(auxiliar de
secretaria de
escola)
Queima e tira
tinta
Paneleiro
(arteso)
Filho de
Domingas
Filha de
Eonetes
Filho de
Eonetes
Filho de
Eonetes
283
Maria de Lourdes
Corra da Vitria
62
Rua Irmnio
Coelho de
Souza
Ensino Fundamental
Incompleto
Ensino Mdio
Profissionalizante
Completo em
Contabilidade
Ensino Fundamental
Completo
Elias Corra da
Vitria
52
Rua Irmnio
Coelho de
Souza
Valter Corra da
Vitria
71
Rua Irmnio
Coelho de
Souza, 19
66
Rua Irmnio
Coelho de
Souza, 19
Ensino Fundamental
Incompleto
Lauro Corra da
Vitria
39
Ensino Mdio
Completo
Cristiano Corra
da Vitria
36
Patrcia Corra da
Vitria
30
Rua Irmnio
Coelho de
Souza, 19
Rua Irmnio
Coelho de
Souza, 19
Rua Irmnio
Coelho de
Souza, 19
Rua Irmnio
Coelho de
Souza, 19
(mudou-se para o
quintal do marido)
Viviane Corra da
Vitria
27
Ensino Mdio
Completo
Ensino Mdio
Completo
Ensino Mdio
Completo
Costureira
Irm de
Domingas
Filha de
Oswaldino
Contador
Irmo de
Trabalha no
Domingas
aeroporto
Filho de
Oswaldino
Aposentado pelo Irmo de
aeroporto
Domingas e
marido de
Gecy
Esposa de
Paneleira
Valter
Cunhada de
Domingas
Filha de
Lcia
Nascimento
Filho de
Motorista
Valter e
Gecy
Trabalha no
Filho de
aeroporto
Valter e
Gecy
Comerciria
Filha de
Valter e
Gecy
Filha de
Auxiliar de
Servios Gerais. Valter e
Gecy
284
FAMLIAS
RIBEIRO/
IDA ENDEREO
DE
ESCOLARIDADE
OCUPAO
77
Rua Des.
Cassiano
Castelo, 166
Ensino
Fundamental
Incompleto
Benjamin
Ribeiro
Fale
cido
Ensino Fundamental
Incompleto
Snia Ribeiro
49
Rua Des.
Cassiano
Castelo, 166
Rua Des.
Cassiano
Castelo, 166
Rua Des.
Cassiano
Castelo, 166
Rua Des.
Cassiano
Castelo, 166
Rua Des.
Cassiano
Castelo, 166
Ensino Fundamental
Incompleto
Rua Des.
Cassiano
Castelo, 166
Ensino Fundamental
Incompleto
Rua Des.
Cassiano
Castelo, 166
Rua Des.
Cassiano
Castelo, 166
Rua Des.
Cassiano
Castelo, 166
Ensino Fundamental
Incompleto
Paneleira
Ensino Fundamental
Incompleto
Paneleira
GRAU DE
PARENTESCO
LUCIDATO
Margarida
Lucidato
Ribeiro
Paneleira
Filha de Laurinda
(paneleira) e
Aristides Lucidato
(mudou-se para o
quintal do marido)
Marlbia
Ribeiro
Rodrigues
20
Sandra
Ribeiro
44
Leones
Ribeiro
47
Samarone
Ribeiro
42
Maria Serino
dos Santos
51
Ivone Ribeiro
48
Brbara
Peroba
25
Valdete
Molem
48
Mauro Ribeiro 51
Rua Marechal
Gonalves
Renere, n1
Rua Marechal
Gonalves
Renere, n1
Ensino Mdio
Completo
Ensino Mdio
Incompleto
Ensino Mdio
Completo
Ensino Fundamental
Incompleto
Filha de Sonia e
neta de Margarida
Tem uma filha (Ana
Julia, de 2 anos)
filha de Margarida
Paneleira
filho de Margarida
Paneleiro
(arteso)
filho de Margarida
Tira barro,
escolhe, tira
panela da
fogueira, alisa.
Paneleira
Tira panela da
fogueira
Ensino Fundamental
Incompleto
Paneleira
Ensino Fundamental
Incompleto
Esposa de
Samarone e nora de
Margarida
filha de Margarida
Filha de criao de
Margarida.
Filha de criao de
Margarida
Filho de Margarida
285
FAMLIAS
SALLES/ SANTOS
IDA ENDEREO
DE
ESCOLARIDADE
75
Rua Jos
Gomes
Loreto, n60
Ensino
Fundamental
Incompleto
Paneleira
Filha de Cludio
Catava ostra,
Gomes Salles
caranguejo e siri (pescador) e
Adelina Gomes
Salles
Joaquim dos
Santos
Fale
cido
Ensino Fundamental
Incompleto
Cludio dos
Santos
55
Rua Jos
Gomes Loreto,
n60
Rua Jos
Gomes Loreto,
n60
Rua Jos
Gomes Loreto,
n60
Cozinheiro
Marido de Elizete
aposentado pela
Ferrovia
Aposentado por Filho de Elizete
ESCELSA
Elizete Salles
dos Santos
(mudou-se para o
quintal do marido)
Guilherme dos 50
Santos
Maciel dos
Santos
47
Marcelino dos 46
Santos
Juliana
12
Alexandre
14
Brbara
20
Beatriz
15
Fabrcio
25
Hugo
14
Igor
12
Valdelcis
Salles de
Souza
(permaneceu no
quintal do pai)
61
Ensino Mdio
Completo
Ensino Mdio
Profissionalizante
Completo em
Contabilidade
Rua Jos
Ensino Mdio
Gomes Loreto, Profissionalizante
n60
Completo em
Mecnica
Rua Jos
Ensino Mdio
Gomes Loreto, Profissionalizante
n60
Completo em
Mecnica
Rua Jos
Ensino Fundamental
Gomes Loreto, Incompleto
n60
Rua Jos
Ensino Fundamental
Gomes Loreto, Incompleto
n60.
OCUPAO
Trabalha em
firma de
segurana
GRAU DE
PARENTESCO
Filho de Elizete
Estudante
Neta de Elizete e
filha de Maciel
Estudante
Neto de Elizete e
filho de Maciel
Superior Completo
Professora
Neto de Elizete e
Filha de Claudio
Ensino Fundamental
Estudante
Neto de Elizete e
Filha de Claudio
Ensino fundamental
incompleto
Trabalha em
firma
Ensino Fundamental
Estudante
Neto de Elizete e
filho de
Guilherme
Neto de Elizete e
Filho de
Marcelino
Rua Jos
Ensino Fundamental
Gomes Loreto,
n60
Rua Argeo
Ensino Fundamental
Gomes Salles, Incompleto
n 74.
Estudante
Rua Jos
Gomes Loreto,
n60
Rua Jos
Gomes Loreto,
n60
Rua Jos
Gomes Loreto,
n60
Rua Jos
Gomes Loreto,
n60
Paneleira
Neto de Elizete e
Filho de
Marcelino
Prima de Elizete,
filha de Argeo
Gomes Salles e
Laurepina Penha
Salles.
Prima de Elizete
286
Jair Ferreira
de Souza
67
(pai) e D. Ilsa
Marido de
Valdelicis
Rua Argeo
Gomes Salles,
n 74.
Ensino Fundamental
Incompleto
Lucina Salles 41
de Souza
R. Argeo Gomes
Gomes, n 74.
Superior Completo
Dejair Salles
de Souza
40
Ensino Mdio
Completo
Comercirio
Filho de
Valdelicis
Araly Salles
de Souza
38
Ensino Mdio
Completo
Comercirio
Filha de
Valdelicis
Rosangela
Salles de
Souza
Dbora Salles
de Souza
37
Rua Argeo
Gomes Salles,
n 74.
Rua Argeo
Gomes Salles,
n 74.
Rua Argeo
Gomes Salles,
n 74.
Rua Argeo
Gomes Salles,
n 74.
Ensino Mdio
Completo
Comercirio
Filha de
Valdelicis
Ensino Mdio
Completo
Comercirio
Filha de
Valdelicis
Julio Csar
Salles de
Souza
24
Rua Argeo
Gomes Salles,
n 74.
Ensino Mdio
Completo
Comercirio
Filho de
Valdelicis
30
Aposentado
como Auxiliar
de Servios
Gerais
Comercirio
Filha de
Valdelicis
286
JOS
Dud
ALCIDES
GOMES
RUBENS
FERREIRA DA
CONCEIO
Odete
Corra
Gomes
Galdncia
da
Victria
Geralda
Gomes
Campos
JOO
CAMPOS
1943
1937
1939
1968
1964
1950
65
71
69
40
44
58
61
ONADIR
CORREA
GOMES
NILSON
CORRA
GOMES
Gilda
Zilda CNDIDO
Gomes CamposCAMPOS
Campos
Izabel
Corra
Campos
Bernanci
Gomes
Ferreira
Jaqueline
Gomes
Campos
1947
1976
1968
1964
1963
1970
1966
1960
1981
32
40
44
45
38
42
48
27
JORGE
GOMES
FERREIRA
LARCIO
GOMES
FERREIRA
LAILSON
GOMES
FERREIRA
RUBENS
Inete
GOMES
Gomes
FERREIRA Ferreira
Bernadete
Gomes
Ferreira
Ana Lcia
Gomes
Ferreira
DOUGLAS
CORRA
CAMPOS
1973
35
GEAN
CORRA
CAMPOS
287
Edvirges
CNDIDO
VERIAT O
CORRA
MOACIR
ALVES
CORRA
WALT ER
CORRA DA
VICT RIA
IMPERIOLINO
AVELINO
RODRIGUES
NET O
Flori pes
Al ves
Melchiadi
Domingas
1956
1946
1944
1949
1942
52
62
64
59
66
GENILDO
JOS
ALVES
ALVES
CORRA CORRA
GESSILDO
ALVES
CORRA
Etelvi na do
Nasci mento
ROGRIO
NASCIMENT O
1930
1928
1926
1913
78
80
82
95
Lucila do
Nascimento
Corra
Egdia do
Nascimento
Corra
1939
69
Janete
Alves
Rodrigues
1980
1976
1966
1965
1977
1969
1963
28
32
42
43
31
39
45
HENRIQUE
JOS ALVES
RODRIGUES
MOACIR
ALVES
RODRIGUES
AVELINO
ALVES
RODRIGUES
LCIO
ALVES
RODRIGUES
Dbora
Al ves
Rodri gues
1992
16
Mari a Eml ia
Rodri gues
Bento
LucieneJamil da Alves
Al ves
Rodrigues
Rodri gues Bento
288
Maria
Benedita
Jardelina
LEOPOLDO
GOMES
SALLES
Maria
Corra da
Victria
MANOEL
GOMES
BRANDO
Carolina
Salles
Santos
JOO
BARBOSA
DOS SANTOS
Galdncia
da
Victria
JOS
1936
1938
1930
72
70
78
JUCILEN
BARBOSA
WALDIR
CHAVES
BARBOSA
1978
30
1974
1963
34
45
Ilza dos
Santos
Barbosa
Maria da
Conceio
Barbosa
Teresa
Barbosa
1964
1962
1953
1962
1972
1965
1960
44
46
55
46
36
43
48
JUCILEN
BARBOSA
FILHO
IVONEI
BARBOSA
Jucila
Barbosa
Jucileida
Barbosa
Ivanete
Barbosa
IPOJUCAN Marli
BARBOSA Barbosa
289
Floripes
Alves
Veriato
Corra
1928
1929
80
79
EUDXIO
ANTNIO
ALCENEU
RODRIGUES
1965
1968
1964
43
40
44
OSWALDO
ALVES
Donria
CORRA
1971
1965
1966
1971
1959
1955
1953
1955
1945
1942
1939
1947
1937
37
43
42
37
49
53
55
53
63
66
69
61
71
Marinete
Corra
Loureiro
Eonete
Alves
Corra
Jessilene Berencia
Dbora Keila RONALDO
Joslia
ALVES Dias Corra
Corra
Alves
Barbosa
CORRA
Corra Nascimento
Corra
(Zlia)
1974
1973
34
35
Rejane Rosemary
Corra Loureiro
Loureiro Amorim
1967
1962
1960
41
46
48
Izabel Aldir
Corra Corra ADALBERTO Alceli Maria Alcilene
Corra
Rodrigues
Campos Campos RODRIGUES
Rodrigues
1974
1977
34
31
Geanne Anglica
Corra Campos
Campos
Melchiadi Alves
Corra da Victria
Rodrigues
1957
51
Elizabeth
Geny
Maria
290
FAMLIA LUCIDATO
Isabel
Lucidato
LUCIDATO
Agripina
1923
85
Edite da ARISTIDE
Victria LUCIDATO
Lucidato
CACILDO
LUCIDATO
Laurinda
Alves
Lucidato
1964
1961
1950
1938
44
47
58
70
Valdinia
da Victria
Lucidato
Valda da
Victria
Lucidato
Genilda
Ferreira
Lucidato
AROLDO
LUCIDATO
GALDINO
LUCIDATO
59
ANTNIO
LUCIDATO
DOS SANTOS
1974
1972
1965
34
36
43
1947
1943
1940
61
65
68
Laureci
Lucilina ANTONIO
Lucidato Lucidato de CARLOS
da Victria Carvalho BARBOSA
Adelaide
Lucidato
dos Santos
1949
1932
Alvina Laugrepnia
Lucidato
Tnia Maria
Lucidato
Medina
1978
1971
1965
1961
30
37
43
47
Luciete
CARLOS
Lauriete
ALBERTO DA Lucidato da Victria
da Victria
VICTRIA
Pinto
CARLOS
BARBOSA
DOS SANTOS
1931
77
BENJAMIN
RIBEIRO
1963
Maria
Margarida ANTNIO
Lucidato ALVARENGA Nilce
Lucidato
Ribeiro
1964
45
44
JOS
CARLOS
AMBRSIO
Nilca
Alvarenga
Ambrsio
291
Isabel
Lucidato
Galdncia
da
Victria
Adelina
Rosa da
Victria
OSWALDINO
CORRA DA
VICTRIA
1956
1937
1942
1926
52
71
66
82
62
Domingas Corra
da Victria
Fernandes
Maria de
Lourdes Corra
da Victria
Gecy IMPERIOLINO
Alves FERNANDES
Corra
WALTER
ELIAS
CORRA DA CORRA DA
VICTRIA
VICTRIA
1969
1972
1981
1978
39
36
27
30
CRISTIANO Viviane
LAURO
CORRA DA CORRA DA Corra da
Victria
VICTRIA
VICTRIA
Patrcia
Corra da
Victria
1969
1964
1963
1941
1967
1965
1939
39
44
45
67
41
43
69
PEDRO
EOLINO
CORRA
CORRA
FERNANDES FERNANDES
Eronildes
Corra
Fernandes
1950
58
Eonetes
Fernandes
dos Santos
1976
1974
1971
32
34
37
FLVIO
FERNANDES
DOS SANTOS
Josenete
FBIO
Fernandes dos
FERNANDES
DOS SANTOS Santos Vasconcelos
1946
292
Laurinda
1931
77
Margarida
Lucidato
Ribeiro
BENJAMIN
RIBEIRO
1966
1957
1961
1957
1983
1964
1960
1960
1959
42
51
47
51
25
44
48
48
49
SAMARONE
RIBEIRO
Maria
Serino dos
Santos
LEONES
RIBEIRO
MAURO
RIBEIRO
Brbara
Peroba
Snia
Ribeiro
1988
20
Marlbia
Ribeiro
Rodrigues
293
Laugrepina
Penha
Salles
ARGEO
GOMES
SALLES
CLUDIO
GOMES
SALLES
Adelina
Gomes
Salles
1941
1947
67
61
75
Valdelcis
Salles de
Souza
Elizete
Salles dos
Santos
JAIR
FERREIRA
DE SOUZA
JOAQUIM
DOS
SANTOS
1933
1953
1984
1968
1978
1971
1970
1967
1962
1961
1958
24
40
30
37
38
41
46
47
50
Dbora
Salles de
Souza
Rosngela
Sales de
Souza
Araly
Salles de
Souza
Lucinia
Salles de
Souza
MARCELINO
DOS
SANTOS
MACIEL
DOS
SANTOS
GUILHERME
DOS
SANTOS
55
CLUDIO
DOS
SANTOS
1996
1994
1994
1996
1983
1993
12
14
14
12
25
15
1988
20
IGOR
HUGO
ALEXANDRE
Juliana
FABRCIO
Beatriz
Brbara
294
ANEXOS