Gonçalves-Rodrigues - Sob A Lupa Do Economista
Gonçalves-Rodrigues - Sob A Lupa Do Economista
Gonçalves-Rodrigues - Sob A Lupa Do Economista
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Essapequena fbula ajuda-nosa ilustrar, levando o argumento ao paroxismo, um ponto j encontrado no famoso livro A Rquezadas Naes,
de
Adam Smith. Como dizia o pai da teoria econmica moderna, comrcio
troca, e trocar precisoporgue apenasassimpodemosnos especializarem
produzir aquilo que fazemoscom mais eficincia. No importa se as trocas
sfeitas entre nacionais ou com estrangeiros,o que importa trocar.
Por exemplo, ns, brasileiros,podemos produzir e exportar soja e, em
troca, importar chips feitos no mundo mais rico ou, ento, fabricar avies
pequenos em troca de aparelhosmdicos modernos, ou nossasnovelas
em fioca de vinho do Porto, ou minrio de ferro em troca de brinquedos chinesesetc. Agora, se quisssemosfabricartudo o que consumimos,
nossaprodutividade seria certamentemuito mais baixa do que . Experimente voc mesmo a receita protecionista em sua casa.Pare de trocar
com o mundo exterior e passea fabricar seu prprio lpis, por exemplo.
Voc ver como sua vida ficarbem mais dura em face da impossibilidade
de se especializarno que voc sabefazer melhor.
As vantagensde comercializarno param por a. Quando vendemos
nossosbens no exterior, ganhamosacessoa mercadosmais amplos que o
intemo e, dessemodo, todos os envolvidos so capazesde melhor aproveitar o que os economistaschamam de ganhos de escalana produo
(nome pomposo para {escrever a ideia de que, quando produzir algo
envolve custos fixos altos, vender para mercadosmais amplos significa
produzir cada unidade mais barato, pois o custo fixo fica diludo na alta
quantidade). Ao reduzir custos,a escalaprmite que os preos de venda sejam menores e, no menos importante, viabiliza maior variedade
de bens nos mercados,o que beneficia todos. Mercados pequenos no
sustentamvariedadeelevada.De fato, no apenasa riqueza total da economia mundial evoluiu junto com o crescimento do comrcio intemacional; a diversidadede bens disponveistambm seguiu a mesma trilha.
Am disso,h outros trs importantes eeitosdo comrciosobreo desenvolvimento da economia,todos eles associados possibilidadede importar: (i) a competioexterna fora as empresasa se manterem efi.cientes,isto , a buscarreduesem custose, consequentemente,nos preos,
o que bom para os consumidores;(ii) as importaesintroduzem, indiretamente, novas tecnologiasno pas (dado que elasvm embutidasnos
bens que aqui chegam); (iii) muitos produtores domsticosganham com
a possibilidadede empregar, em seu processoprodutivo, bens intermcAdsr n$ynit iie *s banei c osdn lobolir acr :
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importaesfazem sentido
se o pastem endividamentoextemo elevado.Mas, nessecaso.a situaoadvm do
fato de o paster importadomuito no.passadoe, portanto.as exportaescorrentes
estarempagandopelasimportaespassadas.
aveja a crnjca"o ovo e a gainhana economiado crime" para
uma discusso
detalhada sobreesseponto.
5"DoesTradeCauseGrowth?",AmericanEconomc
Review.1999.
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tadores cuja lucratividade oi artif,cialmente inflada pela restrj.oat,
comrcio externo.
Note que essamudana no favorvel para a economia como um
todo- o fato de o pas exportar automveis indica que ee possui uma
vantagem em reao ao resto do mundo: pode fabricar esseproduto a
custosmais baixos.Assim, seriainteressante,da perspectivado pas,concentrar seus recursosprodutivos naquilo que se faz melhor: produzir e
exportar veculos. O pas no ficaria sem computadores,pois, com o dinheiro da venda dos automveis, aquelespoderiam ser adquiridos a preos menores no exterior. Mas a tarifa distorce essaalocaode insumos
de produo dentro do pas, retirando recursos da atividade mais eficiente
(a produo de carros) e desviando-ospara o setor relativamente mais
. ineflciente, porm protegido (computadores) .
A imposio da tarifa, assim, traz um custo para o pas como um todo
a
- chamada "ineficincia esttica"-, na medida em que os recursosdei**
de ser alocadosnos setoresde maior produtividade. Note que esse
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custo no distribudo iguamente na sociedade.os grandesbeneficirios
da proteo so os empresriose funcionrios da indstria naciona de
computadores,que passama lucrar e receber salriosmais altos com o
dednio da competiointernacional. o custo recai sobre os ouros serores da economia - que precisamcompetir por insumos com as indstrias
protegidas- e, principalmente, sobre os consumidores,maioria silenciosa
que acabapagandopreos excessivamenteatos.
Mas, mesmo entendendo o problema cusadopela ineflcincia esttica, ser que a questosobre as tarifas est resolvida?o pas no ficaria
para trs na corrida da modernidade casoinsistassena especiaizao
em
setorestradicionais da economia,nos quais a inovao no a regra e os
ganhos de eficincia dinmicos so pfios?
Como sugerea pergunta, h argumentos coerentesa favor da ideia de
proteo indstria nacional, principalmente no casode setorescaracterizadospor contnuo avanotecnogico- como a indstria de informtica. A ideia que, em atividadeseconmicasde alta tecnologia,os custos
unitrios de produo decrescem medida que a indstria se desenvolve,
ou seja, a indstria naconai pode ser ineficiente apenas inicialmente,
sendo a situaorevertida com o tempo, medida que as empresasvo
descobrindomaneiras inovadoras de produzir, famiiiarizando-secom as
tcnicasde produo etc. a expansofsica dessessetores,sob as asas
O co n ti "a b o n d oc se r v'; cl so a i r .i ,n cr :
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Note que, nesseesquema,a proteodeve serimpostaapenastemporariamente. Uma vez que a indstria domsticaatinja o nvel internaciona de eficincia,no h mais necessidadede proteg-la da competio
externa. A manuteno da tarifa apenasconsewaria os preos em patamares altos,prejudicando, assim,os consumidoresinternos.
.,Resumindo, de acordo com a teoria econmica, restries importao, quando impostas de maneira temporria, possuem dois efeitos
contraditriossobre a eficincia econmica.Por um iado, provocam um
deslocamentode recursosdas atividadesmais produtivas para as menos
produtivas, o que contribui para reduzir a eficinciaagregada.Por outro
lado, se aplicada a atidades intensivas em inovao e aita tecnologia
(em que o aprendizadoleva a quedasnos custosao longo do tempo), a
poltica pode propiciar s empresasdessessetoresa possibilidadede se
expandirem, aproximando-sedo nvel tecnolgicode seusconcorrentes
intemaconais.O eeito lquido - e, em ltima instncia,a eficciada poltica - dependede quem ganha a queda de brao: a ineficincia esttica
ou o possvelganho de eficinciadinmica.
Como se v, a teoria econmica aponta os efeitos esperadosde uma
restriocomercial,mas no nos permite aflrmar, a priori, se essapotica
elevarou no o nvel de eficinciade um pas.Para obtermos uma resposta mais clara,precisamosanalisarempiricamenteexperinciasespec'
ficas de determinadospases,nos quais barreirascomerciaisforam postas
em prtica.
Sendo assim,toquemos na questo da'proteo indstria de informtica brasileira.Nessecaso,polticasmuito mais radicaisdo que tarifas
elevadasestiveram em prtica durante a dcadade 1980, praticamente
banindo a participaoestrangeirano mercado interno de microcomputadores (sob o objetivo de atingir autonomia tecnolgicano setor). Isso
garantia um mercado interno cativo para um pequeno nmero de produtoresnacionais,pois, ainda que consumidorese empresasmenorespudessemrecorer ao contrabando, rgos governamentaise empresasde
maior porte, por estaremmais expostos fiscalizao,no tinham alternativa a no ser comprar microcomputadoresproduzidosno Brasil.
Por conta dessaspolticas,o Brasil da dcadade 980 constitui um laboratrio quaseideal para testar os efeitos de restriescomerciaissobre
uma indstria de alta tecnologia.Tirando proveito disso,os pesquisadores
Eduardo Luzio e Shane GreensteinanalisaraminformaessobremicroO conrabsndoo serviod{ sociedcde
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computadoresvendidos no pas entre 1984 e 1992., A ideia bsica dos
autores foi estimar a produtividade dessaindstria utilizando dados de
preos:quanto mais eficientesas empresasdessesetor,menoresdeveriam
ser seuscustose, portanto, mais baixos os preospraticadosno mercado.
Os resultadosapontam que de ato houve ganho de produtidade no
perodo de fechamento s importaes, o que evidenciado pela queda no preo mdio dos computadores.Essemomento, todavia, apenas
acompanhoua tendncia mundial, ou seja,os preosinternos caram em
uma proporomuito semelhante dos preosexternos.Por conta disso,
a diferena de preos entre o computador brasileiro e o similar anlericano,
que j era enorne no comeo dos anos 80, manteve-se essencialmente
a mesma ao longo da dcada.Isso indica que a tecnologia domsticano
conseguiu se aproximar em quase nada da estrangeira.A convergncia
em direo eficincia internacional precisaria ter aparecido sob a forma
de preoscadavez mais prximos aos exterros,o que no ocorreu.
Por que ento a produtividade da indstria brasileirade comptadores
no se aproximou dos nveis internacionais, mesmo com a pesadaproteo concedida aos produtores domsticos?Os autores oferecem duas
explicaes.Primeiro, a proteo incide no s sobre computadores,mas
tambm sobreseuscomponentes.Isso significaque a poltica acabouforando as empresasnacionais a adquirirem internamente diversos de seus
insumos - tais como chips, placas,leitores pticos e discosrgidos - os
quais eram mais caros e de pior qualidade em relao a seus similares
externos,ou seja,as restries importao acabaramelevandotambm
os custosde produo de computadoresaqui no Brasil, contribuindo para
reduzir a eficinciadessesetor.
Segundo, a proteo criou um incentivo perverso para as empresas
locais:a buscapor favorespolticos em vez de eficinciaprodutiva. Note
que de interessedos produtores internos que a restrioaosimportados
seja a mais duradoura possvel,j que ela reduz a competio e, assim,
infla os lucros domsticos.Nessesentido, provnel que as empresaslocais tenham investido no em inovar e ganhar competitidade, mas sim
em fazer lobby poltico para garantir a continuidade da proteo. Iuzio
sLuzo, E.; Greenstein, S. (1995). "Measuring the Per{ormance
o a protected InIant
Industry: The case o Brazilian Microcomputers". Reviewof Economicsand statistics77:
6 22 -63 3.
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entre si em turno e returno, sendoprocamadocampeoo time que mais
somarpontos ao fim do certame.J a Copa do Rei um torneio no estio
mata-mata, ou seja, a cada estgioda competio,os clubes envolvidos
so organizadosem pares. Cada par de times joga entre si, sendo que o
vencedor contirrua na competio e o perdedor eliminado.2Esseprocessocontinua at chegarmosa dois clubes,que faro a final do'torneio
para definir campeoe vice.r
Claramente,a modificaoda regra de pontuao deveria afetar os incentivosdos times no CampeonatoEspanhol,uma vez que se sagracampeo quem acumuar mais pontos ao fim de um longo campeonato:mais
pontos por vitria, maior o incentivo a vencer. Este constitui, ento, nosso grupo de tratamento (que tomou de fato o "remdio"). Enetnto, na
Copa do Rei, o incentivo a vencer independe de quantos pontos a vitria
lraz: 2,3, 10, 100; no h diferena alguma. Para continuar no torneio,
preciso ganhar do oponente e ponto fina. No se acumulam pontos
em uma competiono estilo mata-mata e, portanto, quantos pontos a
vitria traz uma varivei irrelevante. Para estesjogos que constituem o
grupo de controle, a alterao na regra uma "plula de farinha";
Garicanoe Palacios-Huertautilizam justamente essadistino "remdio/placebo" para estimar o efeito da mudana na pontuao sobre os
incentivos dos clubesdurante uma partida.aComo dito, os jogos do Campeonato Espanho, em que a regra deveria importar, constituem o grupo
de tratamento. J o grupo de controle formado pelas partidas da Copa
do Rei, em que a pontuao no faz diferena para determinar o campeo. Nesseexemplo, interessantenotar que os dois grupos so semelhantes em diversasoutras dimensesrelevantes,uma vez que a maioria
dos times tende a disputar ambosos campeonatos.Isso importante, pois
significa que no h outros fatores, como, por exemplo, a quaidadedos
jogadores,influenciando sistematicamentea diferenana quantidade de
gols entre os dois torneios.
2 Nas fases iniciais do tomeio, cada par de times joga entre si somente uma vez para
definir quem continua na competio. Quando restam 32 times, passa-sea jogar duas
partidas por par, em ida e volta. J a final volta a ser disputada em um nico jogo.
3 Esses dois torneios so bastante semelhantes ao atual Campeonato Brasieiro e
Copa do Brasi.
4 Os autore s comparam dois pontos do tempo: a temporada 1994-95 - a ltima antes
da implantao da nova regra - e a temporada 1998-99.
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seja,o tiro da FIFA saiupeia culatra: alm de ter tdo eeito incuo sobrea
mdia de gospor partida, a mudana de regra levou a um jogo mais feio
e trucuento no CampeonatoEspanhol.
Essaevidnciamostra como, ao se concebera regra,ignorou-se que os
times se adaptamao novo ambiente.Faltou aosformuladores da mudana se perguntarem como a nova regra aetaria os benefciose os custos
de se buscar um gol a mais durantea partida. A hiptese da FIFA de que
o jogo se tornaria mais ofensivo vlida somente quando a partida est
empatada,situaoem que para ambosvale a pena atacarmais.O problema que o comportamento dos times se ajusta durante a partida: quem
sai na frente do placar passaa ter muito a perder casosofra um go, o que
eva a um jogo mais defensivoe violento do que antes.
Fechamosessetexto voltando ao primeiro pargrafo.por que incentivos ao bom desempenhofuncionam relativamente bem nas empresas
(como a proviso de bnus aos empregadosmais produtivos),,masderam
errado no futebo?
Para mostrar ao chefe que ee o mais produtivo da turma, um funcionrio tem sempre duas opes:trabalhar duro e produzfu mais, ou
"sabotar" o trabalho de seus coegaspara que eles paream menos produtivos. Mas se os empregadosoptarem pea estratgiada sabotagem,a
procutividadede todos ser muito baixa e o chefe poder ficar furioso,
no clarbnus a ningum e, provavelmente, demitir aguns.
No casodo futebol, ganhar o que mais importa, independentemente
de quo sofrveseja assistirao jogo. No h, na regra, punio porjogar
feio (sabotaro jogo). a que resideo problema.
Talvez iimites ao nmero de faltas ou punies mais rgidas a jogadasviolentas sejam alternativasque concretamentebeneficiem o futebol
arte. O problema que, como vimos no casoda mudana na pontuao,
os times se ajustam s novas regras e, assim,no h como prever todas
as consequnciassobre a qualidade do jogo. Por exemplo, quem garante
que, com maior punio para jogadasfaltosas,os atletasno comeariam
a smuar fatas,tombando diante do menor contato do adversrio?sob
essahiptese,atacanteshabiidosospoderiam dar lugar a bons ,,cavadores" de faltas,prejudicando,assim,a qualidadedo jogo.
O futebol no o esportemais popuiar do planeta toa. Talvez seja
melhor alteraro menospossvelas suasregras.
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cado" (pessoas
escolhendoo que melhor para elas)no suficienrepara
equacionara questo.
Uma maneira fcil de resolver o imbrglio estabeeceruma multa
para os curiososde planto: por exemplo, reduziu a velocidadee atrapalhou a vida dos outros, R$50 de infrao. Com essearranjo, a sociedade
estria melhor porque, agora, atasar a da de quem vem depois tem
custosbem concretos.
Veja que possvelque, ainda assim, algumaspessoascontinuassem
parando para tirar uma foto do acidente, pagando, para isso, R$50 de
multa. Mas isso no seria algo ruim ou uma falha da soluovia muta.
Por que no? Porque reduzir a velocidadepara ver o acidentevale mais
que R$50 para um dado cidado,ento de fato eficienteque essecurioso insacivelatraseum pouquinho o trnsito dos que vm atrs.Afina
de contas,o bem-estar do curioso tambm deve ser levado em conta no
cmputo do bem-estar da sociedade.Alm disso,ele est pagando pea
inconvenincia gerada.
O fato que sem a lei que multa quem desaceera,atrapalhar os outros tem custo zero. A custo zeo, ser curioso muito fci, gerandouma
enormidade de curiosos.
Dasruas para os lares,por que a conta de guanos apartamentos, em
geral, mais alta que nas casas?PeIo mesmo fenmeno de irracionalidade
coletiva descritoanteriormente. Que incentivos tem um morador de um
prdio, onde a gua est includa no valor do condomnio, a reduzir o
tempo de seu prazerosobanho quente se, ssimprocedendo,ele no se
apropriaplenamente de sua economia?
De fato, ao consumir menos gua,o morador do prdio faz um favor
a todos. Contudo, ele mesmo ganha pouco com isso.O motivo simples:
sua economia, que vem ao custo de aigum sacrifciopessoa, repartida
- em tennos de conta de gua coetivamenor - entre todos os outros moradores.Claramente,essapartilha de benefciosafeta adversamenteseus
incentivosa fazer sacrifcios,coisaque no ocorre nas casas,onde a conta
reflete to somente seusprprios hbitos.
O pior que mesmo que todos os outros moradoresdo prdio estejam
tomando banhos curlos, o melhor sob o ponto de vista individual continua a ser banhar-se vontade, pois a conta mais gorda no recai sobre
quem a gera excusivamente;ela dividida entre todos os condminos.
Com todos raciocinandoassim,o desperdciono chuveiro torna-sepraxe
R n c!o n o l i ci a d ei n d i vi d u o e i r r n ci o r i cl i cl cd eccl zi vn
91
difundida e uma bela conta de gua bate porta de tod.osno final do ms.
os poucosque, por altrusmo ou conscincia,se sacrificaramem nome do
bem comum, ficaro provavelmente to revoltadoscom a fatura que.,no
prximo ms, passaroa escovaros dentescom a torneira aberta.
H, felizmente, uma soluo fci para o problema do consumo excessivode gua nos prdios: basta individualizar as contas,tornando os
prdios similaress casasnessequesito.
J sabeagora o leitor por que a conta do bar nas reunies dos amigos
da faculdade no fim de ano sempre to salgada?Nesseseventos,ningum tem incentivos a conter suasdemandasde usque e camaro,visto
que os custosso repartidossempreentre todos. o triste que essaracionaiidadeindividual leva, no fim da noite, ao desesperocoletivo,eat mesmo a eventuaisceleumas.Mehor ento evitar problemas,agendandoo
encontro do prximo ano em um bar com comandasindividualizadas.
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pr"ivotizaco
dos rinocercnte.s
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CAp.Zq
Celebridades
so B LupA bo c oNoinr s r
elelsr iilie+
121
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Veja que no setor privado a lglca oposta:um empresrioque gasta
mihes de dlaresem um projeto furado termina no olho da rua ou, no
mnimo, no recebemais para desperdiarno ano seguinte' Justamente
por isso, ele escolhecom mais cuidado onde gastardo que Sharon Stone
ou o Banco Mundial. os pobres da rica no podem despediro presidente do Banco Mundial de seu cargo,infeizmente. Se elespudessem,o
cada
dinheiro dessainstituio seria melhor alocado s necessidades:de
regio.
Xaer Sala-i-Martin, o professorda Universidadede Columbiai cita'
do nestetexto, passoudiversosanos estudandoa questoda desigualdade
de renda no mundo. Xavier gostade contar a seusalunos de doutorado a
histria de uma viagem que certa vezfez frica, na qual teve a oportunidade de entrevistarum agricultor de uma via rural - um africno simptico que costumavapantar caju. Reproduzimos,com nossaspalavras,
o teor da conversados dois.
A vila nem sempre fora to pobre. A plantao de gneros alimentcios era diversificada, e as pessoasiam vivendo mais ou menos bem,
explicava o agricutor ao proessor. O caju era apenasum dentre vrios
gneros cutivados. Mas ento o tal pantador recebeu a inesperadavisita de um homem branco, enviado de uma ONG chamada Oxfam, cujo
objetivo declarado impusionar o comrcio com os pasesmais pobres
do mundo. Na inteno de ajud-Io e premi-lo por seu esoro,o sbio
homem branco resolveu comprar todo o estoque de caju do agricultor
por um preo quatro vezes maior do que o prevalecente no urercado.
A renda do sortudo plantador de caju, obviamente, disparou, e por um
tempo ele pde comer melhor, vestir melhor seusfilhos, fazer uma pequena reforma na casa etc. Ah, se no fosse a ajuda dessesocidentais
ricose generosos...
O boato, ciaro, rapidamente se espalhou pelas vizinharlas: um homem branco havia comprado caju por um preo quatro vezesmaior que
o de mercadol Foi o suficiente para que muita gente na regio parasse
de plantar os gneros aos quais vinham se dedicando, substituindo-os,
na medida do possvel,pelo plantio do abenoado caju. Porm, como
diz o ditado, alegria de pobre dura pouco. Quando a hora da colheita
no ano seguinte chegou, o tal homem branco no retornou viia (provavemente estava "ajudando" algum agricultor em outro pas pobre),
e a superproduode caju gerou queda estupendano preo,-arruinant ??
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a Pubicado
pelaOxfordPress,em 2005.
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19992000
2001
ano
134
50A
LUP DO ECONOI/,5T
135
biente de inflao alta, essapoltica afetava tremendamente a arrecadao do governo, que se deterioravapor conta da inflao, corroedoradas
receitasdo petrleo. A consequnciabvia dissoforam fortes dflcits (da
ordem de I0% do PIB), expansomonetria excessivae hiperinflao.
Antes de deixar a Bolvia com sua pequena equipe, sachssugeriu um
forte reajustedos preos dos derivadosdo petrleo como meio de incrementar as receitaspbicas,fechar o dficit e, assim,pr fim inflao.
Alguns mesesdepois,o recm-eleitogovemo boliviano imprementou um
pacote de reformas que inclua essasugesto.Ato contnuo, o drago da
hiperinfl ao caiu morto.T
t37
O\p, {iO
QWERTy
r a uma festaem que pouca gente comparece bem pouco dvertido dado que, em geral, extramosprazer de estarna companhia dc
outras pessoas.Assim, minha decisode ir a uma festa dependedo
que eu espero que outas pessoasintencionam azer. Do mesmo modo,
usar um software de edio de texto que ningum mais emprega no
de grande seryentia prtica, uma vez que raramente escrevemosargo que
tenha como destinatrionico ns mesmos.portanto, minha decisode
mudar ou no de software depende crucialmente do que penso que os
outros usuriosestofazendoou planejandofazer,e investir vastasquantias de capital em uma economia em desenvolvimentosem que ningum
mais o faa no pareceuma boa estratgiatambm, j que uma empresa
ilhada em um mar de subdesenvolvimentono ter para quem vender
seusprodutos.
Como deve ter percebido o leitor, todos os exemposcitadostm um
fio condutor comum. Neles,a ausnciade coordenaodas aesindividuais prejudicial a todos.
Queremos deixar claro de sada que, ao contrrio do que em geral se
pensa" em diversas instncias nas quais ocorre algum tipo de interao
estratgicaentre indivduos, o ganho de um no representa necessariamente perda para o outro.r Muitas vezes ocorre justo o contrrio. Nos
exempos citados, se eu espero que o outro faa algo, como por exemI Jogos em que o ganho de um representa
necessariamente a perda do outro so
chamados de jogos de soma zero, ou de soma constante, e so tambm usuais em
Economia.
t9?
5 g A L UPA DO F CONO1 IS
QWERTY
193
:xru.
plo investir recursosem dado pas,para mim torna-r. rr.ruriuo tambm
faz-lo.De forma recproca,minha ao de investir tambm gera ganhos
ao outro investidor, pois com ambos agindo similarmente, cria-se um
mercadogrande o suficientepara os dois produtos. Agora, sepor um motivo qualquer, minha expectativa que o outro permanecerinerte, para
mim se torna desinteressanteseguir adiante soznho.A palavra-chave,
ento, capacidadede coordenao.
As letras Q, W, E, R, T e Y so as seisprimeiras que aparecem,da esquerda para a direita, na imensa maioria dos teclados de computador.
Com efeito, essadistribuioespacialdas teclas carinhosamenteconhecida entre os fabricantesdo setor como layout "QWERTY". O leitor desconfla de quando data esseformato de teclado?
A resposta, acredite se quiser,'de fins do sculo XIX. Claro, h
mais de cem anos no havia computadores,mas j existiam as mquinas de escrever,e essadisposiode teclastinha orte razo de ser
naquele tempo.
Para quem no sabe, a l6gca implcita no teclado QWERTY a de
maximizar a distnciaentre as letras mais seguidamentetocadasna hora
de se digitar um texto. Tal caractersticaera consideradafundamental na
poca dasmquinas de escreverde uncionamento mecnico, que constantemente emperravam. Para minimizar o inconveniente dos seguidos
empenamentos que atormentavam os usurios, Christopher Scholesinventou a disposiode tecias que voc v em seu teclado. A ideia era
simples:aastaras tecasdasletras que vm usualmentejuntas na maioria
daspalavras.
Hoje em dia, contudo, no seusam mais asmquinas mecnicasde antigamente e, portanto, a motivao que deu origem ao teclado de Scholes
esvaziou-sena era do microcomputador. Mais do que isso,h configuraes de teclado comprovadamentemais eficientes (principalmente com
reiao velocidadede digitao)que a distribuio QWERTY,como o
caso do teclado DSI por exemplo. Em que pese isso, a grande maioria
dos tecladosainda segueo padro QWERTY.Por qu?
Por um problema de coordenaosemelhanteaos coocadosna introduo destetexto: como as consecutivasgerasde usuriosque iniciam
sua vida no computador o fazem utizando tecladosQWERTY,a estratgia tima para os fabricantes continuar produzindo nesseolmato em
que as pessoasse habituam desdecedo a trabalhar. Centenasde milhes
194
S 0 i_ ,.,,j,;,.
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de usurios,trenados airrda na infncia nessetipo de teclado, no querem se dar ao trabalho de adaptaoa outra configuraode tecaspara,
assim,economizar aguns minutos por dia. Remodelarsuashabilidades,
afinal de contas,custa tempo.
Agora, se por um motivo qualquer muitas pessoastivessem seu primeio contato com computadoresde tecladosdo tipo DSK, a histria seria
outra, pois passariaa ser interessantepara as empesasfabricarem uma
maior proporo dessetipo de teclado - e todos sairiam ganhando, dado
que ele mais rpido. O difcil fazer o salto de uma situao(ou equibrio, como se diz em Economia) em que a grande maioria usa QWERTY,
para a situaoem que a maioria usa DSK. Ningum quer dar essepulo
desacompanhado,mas, se muitas pessoaso fizerem, ningum quer ficar
para trs.
Em suma, mesmo havendo dois equilbrospossveis,no sentido de que
um dos dois tedados predominar dependendo da quantidade de pessoas
; nele treinadas,na prtica, por um motivo de precednciahistrica, muito
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dicil coordenaraspessoaspara usarem o mais modemo DSI(.
Assim, acabaprevalecendoa situao,ou o equilbrio, em que as pessoas aprendem no QWERTY, as empresasconsequentementefabricam
computadorescom essemodelo de teclado e mais gente acabase familiarizando com esseformato - o que ratifica a decisodas empresasde no
fabricaremo DSK em larga escala.
Indo para questestalvez mais substanciais,mas sem sair do tema de
irrteraesestratgicase equibriosde coordenao,uma importante vertente da teoria do desenvolvimentoeconmico,apresentadainicialmente
nos anos 40 peio economistaPaul Rhosenstein-Rodan,baseia-sena ideia
da existnciade mais de um equilbrio possvelno mbito de um jogo de
coordenaosimilar ao anteriormente descrito.
Imagine o leitor uma economia em estadode desenvolvimentoainda
agrrio,mas inserida em um mundo onde j est disponvel em outros
pasesa mais avanadatecnologiaindustrial. Em princpio, nenhuma fora sobrenatural impede o pas atrasado de puar da arcaica tecnologia
agrnapara a moderna tecnologiaindustrial. Ocorre,porm, que o subdesenvolvimentopode facilmente persistirpor conta da inrcia do "equibrio agrrio", exalamente como no caso do QWERTY.
Anaiisemoso quadro em questolanandomo de um exemplo especfico.Na tal economia agrrio-subdesenvovida,so.! o ponto de vista
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r caro, se o pasestiverpraticando
poticas econmicasruins. no sera ajuda externa que o savar.Nadasubstituium gerenciamentoprudente
da economia.
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