Obesidade
Obesidade
Obesidade
Por
Leonel Agostinho Gonalves de Oliveira Martins
OBESIDADE
BESIDADE E MORBILIDADE PSICOLGICA:
PSICOLGICA
Psicopatologia, Alteraes da Personalidade, Auto-Conceito e
Estratgias de Coping
oping em Obesos Seleccionados e a Aguardar a
Cirurgia Baritrica
Por
Leonel Agostinho Gonalves de Oliveira Martins
AGRADECIMENTOS
A Universidade Catlica pelo excelente local de estgio e de investigao
proporcionado em contacto com a realidade hospitalar e clnica. Ao Centro Hospitalar Alto
Ave, instituio que aposta na investigao e busca de uma melhor qualidade dos servios.
Professora Eleonora Cunha Veiga Costa pela preciosa orientao, pela partilha de
conhecimentos e debates, pelas duvidas que foram dissipadas e pela confiana e reforos
demonstrados durante todo o percurso de construo deste trabalho.
Ao Dr. Jos Lus Gouveia do Centro Hospitalar Alto Ave que tornou possvel a
concretizao desta investigao e pelos incentivos, no qual estou imensamente grato pela
preciosa orientao. Pela sua disponibilidade e assertividade demonstrada na concretizao
deste processo.
Agradeo s pessoas participaram neste estudo e pelo seu contributo para a construo
do conhecimento cientfico e da elaborao desta investigao. Este trabalho pretendeu
conhec-los cada vez melhor atravs de uma empatia mtua.
A minha felina que sempre me incentivou, reforou e apoiou na concretizao desta
investigao nos momentos mais felizes e mais difceis, com uma atitude de incentivo
constante no sentido da promoo e desenvolvimento pessoal e profissional.
A todos aqueles que tenho a certeza de estar a omitir, mas que contriburam de forma
directa ou indirecta para a realizao deste trabalho. Finalmente agradeo tambm minha
famlia e aos meus amigos. Todos eles estiveram e estaro sempre presentes.
RESUMO
A obesidade uma doena crnica e multifactorial constituindo um dos mais srios
problemas de sade pblica. Este estudo teve como objectivo identificar a morbilidade
psicolgica em 218 obesos seleccionados e a aguardar a cirurgia baritrica, atravs de um
estudo epidemiolgico, descritivo, transversal e correlacional, foi realizado um perfil
psicopatolgico, alteraes da personalidade, auto-conceito e estratgias de coping. A
metodologia de avaliao utilizada baseou-se na aplicao dos seguintes instrumentos:
questionrio scio-demogrfico, questionrio clnico, Hospital Anxiety and Depression Scale
(HADS); Symptom Checklist-90-Revised (SCL-90-R); Multiphasic Personality Inventory
(Mini-Mult); Ways of Coping Questionnaire (WCQ) e o Inventario Clnico de Auto-conceito
(ICAC). Foram formuladas quatro hipteses: a Hiptese 1 previa que variveis sciodemogrficas influenciassem diferenas nos nveis de ansiedade e depresso; a Hiptese 2
previa que o auto-conceito estivesse correlacionado com psicopatologia e alteraes da
personalidade; a Hiptese 3 previa que as estratgias de coping existissem correlacionadas
com psicopatologia e alteraes da personalidade; por ltimo, a Hiptese 4 previa que o autoconceito estivesse correlacionado com as estratgias de coping. Dos resultados obtidos,
salientam-se a que os obesos seleccionados e aguardar a cirurgia baritrica apresentam
elevados nveis de somatizao, distress associado a funes corporais. Foram tambm
verificadas percentagens considerveis de sujeitos que apresentam nveis elevados de
sintomatologia depressiva (19% e 32%), ansiosa (20% e os 31%), sensibilidade interpessoal
(35.3%), ideao paranide (45.7%). As mulheres apresentam mais sintomatologia depressiva
e ansiosa que os homens. A medida que envelhecem apresentam mais sintomatologia
depressiva e ansiosa. Os residentes em zonas rurais apresentam mais sintomatologia ansiosa.
Verificou-se uma correlao negativa entre escalas de psicopatologia com o auto-conceito.
Foram identificadas estratgias de coping associadas a maior psicopatologia em especial a
Fuga-evitamento. Foi verificada uma associao baixa entre auto-conceito e estratgias de
coping. O achado de perturbaes clinicamente significativas em alguns pacientes relevante
e deve ser considerado na sua abordagem teraputica tendo em vista o sucesso da cirurgia
baritrica.
ABSTRACT
Obesity is a multifactorial chronic disease constituting one of the most serious public
health problems. This study aimed to identify the psychological morbidity in 218 obese selected
and awaiting for the bariatric surgery, through an epidemiological, descriptive, cross-sectional
and correlational study, there was made a profile psychopathological, personality disorders,
self-concept and coping strategies. The evaluation methodology used was based on the
application of the following instruments: socio-demographic questionnaire, a clinical
questionnaire, Hospital Anxiety and Depression Scale (HADS), Symptom Checklist-90Revised (SCL-90-R); Multiphasic Personality Inventory (Mini -Mult), Ways of Coping
Questionnaire (WCQ) and Clinical Inventory Self-concept (ICAC). Four hypotheses were
formulated: Hypothesis 1 predicted that the socio-demographic differences would influence
levels of anxiety and depression; the second hypothesis predicted that self-concept was
correlated with psychopathology and personality disorders; the third hypothesis predicted that
coping strategies was correlated with psychopathology and personality disorders; and finally,
the fourth hypothesis predicted that self-concept was correlated with coping strategies. The
results obtained in this study show that obese selected and waiting the bariatric surgery have
high levels of somatization, distress associated with body functions. It was also found
considerable percentage of subjects who have high levels of depressive symptoms (19% and
32%), anxious (20% and 31%), interpersonal sensitivity (35.3%), paranoid ideation (45.7%).
Women have more depressive and anxious symptoms than men. As they age have more
depressive and anxious symptoms. Residents in rural areas have more anxiety symptoms. There
was a negative correlation between scales of psychopathology with the self-concept. There were
identified some coping strategies associated with greater psychopathology, in particular the
Escape-avoidance. It was found a low association between self-concept and coping strategies.
The finding of clinically significant disturbances in some patients is relevant and should be
considered in its therapeutic approach in view of the success of bariatric surgery.
II
NDICE GERAL
Agradecimentos
Resumo ..... ... I
.
Abstrat .... II
.
INTRODUO GERAL .. 1
.
1.4.2
1.4.3
1.4.4
1.4.5
1.4.6
1.3.2
1.3.3
Variveis Dependentes .. 92
1.5.2
2.2.2
Hiptese 2 .. 125
.
IV
2.2.3
Hiptese 3 .. 128
2.2.4
2.3.2
2.3.3
2.3.4
2.3.5
2.3.6
2.3.7
2.3.8
2.3.9
3.1.2
Hiptese 1
....
3.2.2
3.2.3
3.2.4
150
NDICE DE QUADROS
Quadro 1: Classificao da Obesidade em Funo do IMC ...... 6
Quadro 2: Comparao Entre Estudos da Prevalncia de Obesidade em Portugal .... 14
Quadro 3: Consistncia Interna do HADS (N=218) ......... 101
Quadro 4: Consistncia Interna do SCL-90-R (N=218) .. 103
Quadro 5: Consistncia Interna do Mini-Mult (N=218)....... 105
Quadro 6: Consistncia Interna do WCQ (N=218) . 109
Quadro 7: Consistncia Interna do ICAC (N=218) ..... 112
Quadro 8: Distribuio da Mdia e Desvio Padro das Sub-escalas de Ansiedade e Depresso
do HADS (N=218) . 115
Quadro 9: Distribuio da Mdia e Desvio Padro das Sub-escalas e ndices de Gravidade
Geral do SCL-90-R (N=218) . 115
Quadro 10: Resultados da Correlao entre a Psicopatologia do Eixo I e Eixo II (N=218) . 118
Quadro 11: Distribuio da Mdia e Desvio Padro do Total do ICAC e seus Factores (N=218)
......... 119
Quadro 12: Distribuio da Mdia e Desvio Padro do WCQ e suas Sub-escalas (N=218) . 119
Quadro 13: Correlaes das Escalas de Validade do Mini-Mult com as Escalas Clnicas
(N=218) ... ... 120
.
Quadro 14: Correlaes de Spearman entre Psicopatologia e Auto-conceito (N=218) ... 126
Quadro 15: Correlaes de Spearman entre Alteraes da Personalidade e o Auto-conceito
(N=218) ..... ..... 127
.
VI
VII
NDICE DE ANEXOS
Anexo I - Consentimento Informado ....... 203
Anexo II - Questionrio Scio-demogrfico ........ 205
Anexo III - Questionrio Clnico ..... 210
Anexo IV - Hospital Anxiety and Depression Scale (HADS) . 214
.
VIII
LISTA DE ABREVIATURAS
Ac ... Auto-Controlo do WCQ
A-F . Ansiedade Fbica do SCL-90-R
ANS ... Ansiedade do SCL-90-R
APA ..... American Psychiatric Association
Ar .. Assumir Responsabilidades do WCQ
AVC ...... Acidente Vascular Cerebral
BN ...... Bulimia Nervosa
Cc .. Coping Confrontativo do WCQ
CHAA . Centro Hospitalar do Alto Ave
CID-10 . Cdigo Internacional de Doenas
D .... Depresso do Mini-Mult
DCRS ..... Distrbio do comer relacionado com o sono
DEP .... Depresso do SCL-90-R
DGS ....... Direco Geral de Sade
DIC .. Distoro da Imagem Corporal
DM .... Diabetes Mellitus
DM2 .... Diabetes Mellitus tipo 2
DPSM .... Departamento de Psiquiatria e Sade Mental
DSMIV-TR ..Manual Diagnstico e Estatstico de Transtornos Mentais Texto Revisto
Dt ...-.. Distanciamento do WCQ
ESC .......... Estatuto scio-econmico
EUA .. Estados Unidos da Amrica
F ....... Validade do Mini-Mult
Fe .... Fuga-evitamento do WCQ
Ha ... Hipocondria do Mini-Mult
HADS ...... Hospital Anxiety and Depression Scale
HDL .......... Lipoprotenas de Alta Densidade
HOS ... Ansiedade Fbica do SCL-90-R
HTA ...... Hipertenso Arterial
Hy ......... Histeria do Mini-Mult
ICAC . Inventario Clnico de Auto Conceito
.
IX
INTRODUO GERAL
Esta investigao tem como principal objectivo estudar a morbilidade psicolgica nos
obesos seleccionados e a aguardar a cirurgia baritrica. Pretende-se investigar a existncia de
psicopatologia e alteraes da personalidade, avaliar aspectos emocionais e estratgias de
coping nesta populao. Mais informao sobre o perfil psicolgico destes pacientes poder
contribuir para um apoio mais eficiente ao tratamento dos obesos submetidos a cirurgia
baritrica. A obesidade mrbida no uma perturbao do foro psicolgico ou psiquitrico
(American Psychiatric Association - APA, 2002), no entanto, muitas das vezes resulta em
alteraes psicolgicas ou esto envolvidos processos psicolgicos na sua origem, no qual
se poder afirmar que existe uma relao bidireccional (Mather, Cox, Enns & Sareen, 2008).
Por esta razo importante investigar e compreender as caractersticas psicolgicas dos
obesos seleccionados e aguardar a cirurgia baritrica.
A obesidade uma condio sria e prevalente, com graves riscos de morbilidade e
mortalidade, no qual, as suas consequncias fsicas tm sido bem estudadas. A obesidade est
comprovadamente associada maior mortalidade em geral e a uma maior morbilidade que
resulta numa associao consistente entre obesidade e afeces da maior parte dos sistemas
corporais (Vaz, 2008). Assim, esta patologia, segundo a World Health Organization (WHO,
2011), um problema de sade pblica complexo, com uma crescente e elevada incidncia
entre os pases desenvolvidos e em vias de desenvolvimento. considerada uma doena
crnica multi-factorial que em muitos dos casos acarreta prejuzos para a sade fsica e
mental. Frequentemente a obesidade est associada a doenas cardiovasculares e
cerebrovasculares, diabetes mellitus (DM), metablicas, msculo-esquelticas, respiratrias
como a apnia obstrutiva do sono, e outras, bem como uma maior probabilidade de morte
prematura (Ali, Maguire & Wolf, 2006; Dixon, 2010; Segal, Cardeal & Cordas, 2002; Vaz,
2008). Pesquisadores concordam que cirurgia baritrica actualmente a opo mais vivel
para o sucesso da perda peso e manuteno do indivduo com obesidade mrbida (Bocchieri,
Meana & Fisher, 2002). A cirurgia baritrica designa os diversos tipos de tcnicas cirrgicas
utilizadas no tratamento da obesidade mrbida, sendo a Banda Gstrica Ajustvel e o Bypass
Gstrico as mais usuais actualmente.
Existe um consenso em afirmar que a obesidade est associada com as complicaes
clnicas, enquanto doena que precisa de tratamento na rea mdica, o mesmo no se pode
afirmar em relao s alteraes psicolgicas (Benedetti, 2003; Cavalcante, 2009; Markowitz,
Friedman & Arent, 2008; Wajner, 2003). Na maioria das vezes no h diferenas entre a
1
personalidade. O terceiro captulo explora o preconceito em relao aos obesos, o autoconceito e as estratgias de coping. A segunda parte, a parte emprica deste estudo, descreve a
investigao realizada no sentido de avaliar a existncia de morbilidade psicolgica,
psicopatologia, alteraes psicopatolgicas, o auto-conceito e as estratgias de coping nos
obesos seleccionados e aguardar a cirurgia baritrica. Tem quatro captulos, no primeiro
captulo apresentada a metodologia, no segundo captulo descreve-se os resultados obtidos,
no terceiro captulo so interpretados e discutidos os resultados. Finalmente no quarto
captulo realiza-se uma concluso integrativa, descreve-se algumas limitaes do estudo,
sugestes para futuras investigaes, proposta de interveno e algumas concluses da
investigao.
CAPTULO I - OBESIDADE
A obesidade uma condio sria e prevalente, com graves riscos de morbilidade e
mortalidade, no qual as suas consequncias fsicas tm sido bem estudadas. A obesidade est
comprovadamente associada maior mortalidade em geral e a uma maior morbilidade que
resulta de uma associao consistente entre obesidade e afeces da maior parte dos sistemas
corporais (Vaz, 2008). A obesidade, segundo a World Health Organization (WHO, 2011),
um problema de sade pblica complexo, com uma crescente e elevada incidncia entre os
pases desenvolvidos e em vias de desenvolvimento. considerada uma doena crnica
multi-factorial que em muitos dos casos acarreta prejuzos para a sade fsica e mental. Neste
captulo ser caracterizada a obesidade, nomeadamente a sua definio e classificao,
consequncias e factores de risco, prevalncia da obesidade em Portugal, nas crianas, adultos
e idosos, etiologia e tratamento da obesidade, no sentido de compreender este importante
problema de sade pblica que afecta a sociedade actual.
Quadro I
Classificao da Obesidade em Funo do IMC
IMC
<18.5
18.5 - 24.9
25.0 - 29.9
30.0 - 34.9
35.0 - 39.9
Superior a 40
Obesidade
Classificao
Peso insuficiente
Saudvel
Excesso de peso
Classe I
Classe II
Classe III ou Obesidade Mrbida
(WHO, 2011)
acarreta uma acumulao de energia sob a forma de gordura. Para alm dos que comem
muito, h pessoas que no ingerem mais do que a mdia da populao e no entanto engordam
(WHO, 2003).
O nmero de clulas adiposas do organismo tem um maior desenvolvimento desde o
fim da idade adulta. Assim, a obesidade pode ainda classificar-se quanto ao nmero destas
clulas em obesidade hipercelular, em que se verifica um aumento do nmero de clulas
adiposas. E obesidade hipertrfica, em que se verifica um aumento do volume das clulas
adiposas por acumulao intracelular de lpidos (DGS, 2007).
debilitantes,
como
infertilidade,
problemas
dermatolgicos,
dificuldades
respiratrias, artrose e gota que afectam a qualidade de vida (Brown, Fujioka, Wilson &
Woodworth, 2009).
O excesso de gordura no organismo uma das principais causas de doenas
cardiovasculares que apresentam o maior ndice de mortalidade (Cercato, Mancini, Arguelho,
Passos, Villares & Halpern, 2004; Martins, Gomes & Pasini, 1989). As doenas
cardiovasculares que mais incidem nos obesos incluem hipertenso arterial (HA), cardiopatia
isqumica e o acidente vascular cerebral (AVC) (Borges, Viana, Rezende, 2003). A
associao entre HA e obesidade muito elevada (Sabry, Sampaio & Silva, 2002; Borges et
al., 2003). A Sabry e colaboradores (2002) verificaram que 85.2% dos hipertensos
apresentavam excesso de peso (46.9%) ou obesidade (38.3%). A obesidade associa-se ao
risco trs a quatro vezes mais elevado de cardiopatia isqumica (angina de peito, enfarte de
miocrdio e morte sbita) e ao AVC (DGS, 2001).
A obesidade pode estar na origem de problemas endcrinos (DGS, 2007). Alteraes
da funo biliar e litase (DGS, 2007). Uma associao positiva entre obesidade e o risco de
desenvolver Diabetes Mellitus (DM) foi repetidamente observada tanto em estudos
transversais quanto em prospectivos (OMS, 2004). A obesidade contribui para o
desenvolvimento da Diabetes Mellitus tipo dois (DM2), insulino-dependente. Com o aumento
do peso, verifica-se um aumento das necessidades de insulina no organismo. Com a
persistncia desta hipersecreo (a longo prazo), produz-se a falncia da capacidade de
secreo de insulina no pncreas (DGS, 2007). Os cidos gordos livres, conduzidos pelo
sistema porta para o fgado, vo estimular este rgo que passa a: produzir lipoprotenas de
muita baixa densidade; formar mais glicose e inibir a captao de insulina, com a resultante
hiperinsulinmia (DGS, 2007).
A obesidade est na origem de distrbios metablicos, nomeadamente a dislipidmia
(Afonso & Sichieri, 2002). Os indivduos obesos caracterizam-se frequentemente por um
estado dislipidmico no qual os triglicridos plasmticos so elevados, as concentraes de
colesterol HDL (colesterol benigno) so reduzidas e os nveis de lipoprotena de baixa
densidade so elevados (DGS, 2007; OMS, 2004). A obesidade abdominal ou visceral, do
tipo andride, tm maior significado como factor de risco do que a obesidade generalizada,
dada a presena de gordura intra-abdominal, esto relacionadas com vrios factores de risco
cardiovascular intra-abdominal, tais como resistncia insulina, hiperinsulinismo, perfil
lipdico aterognico, alteraes de certos factores hemostticos, como elevao dos nveis de
fibrinognio e do inibidor do activador do plasminognio (DGS, 2007). Tambm tem sido
referido que os distrbios hormonais resultam em hirsutismo, irregularidades menstruais,
infertilidade, aumento do volume da glndula ovrica, sindroma do ovrio poliqustico, risco
anestsico e malformaes fetais associadas obesidade materna (DGS, 2007).
A obesidade prejudica a funo e a estrutura respiratria, acarretando prejuzos
fisiolgicos e fisiopatolgicos. O esforo para respirar aumenta com a obesidade,
principalmente como resultado da inflexibilidade extrema da caixa torcica e acumulo de
tecido adiposo ao redor das costelas, no abdmen e diafragma. A hipoxemia comum entre
obesos, em parte devido ao baixo volume de relaxamento, situao que exacerbada quando
se deitam, devido a reduo da capacidade funcional residual (OMS, 2004). Deste modo,
pode ocorrer apneia do sono. Esta situao resulta da diminuio do volume e capacidade
ventilatria e pelo aumento do trabalho do diafragma, ou mesmo pela m oxigenao dos
8
tecidos, condicionada por distrbios da relao entre a ventilao e a rea corporal a ser
perfundida (DGS, 2007). Em situaes graves pode estar presente o sindroma de insuficincia
respiratria grave que associa obesidade, fcies pletrica, hipoventilao e confuso mental
(DGS, 2007).
Alteraes no aparelho locomotor e msculo-esqueltico so muito comuns entre os
obesos. A obesidade associa-se ao desenvolvimento de osteoartrite (DSG, 2007; OMS, 2004).
A obesidade conduz a situaes que criam desconforto no dia-a-dia, como por exemplo, ao
cansao fcil, a sudorese excessiva, dores orteoarticulares e/ou musculares, queixas estas
manifestadas apenas pelo efeito da fora da gravidade, sem patologia subjacente (DGS, 2007).
Em mulheres obesas de meia-idade durante ou aps a menopausa frequente apresentarem
dor na face medial do joelho (justa-articular adiposa dolorosa) (OMS, 2004).
maior entre os homens em todos os 36 pases. Segundo o International Obesity Task Force
(2004),, existem grandes diferenas na prevalncia de excesso de peso e obesidade entre os
pases da regio e entre grupos scio-econmicos.
scio econmicos. Essa variao mostra a importncia dos
determinantes ambientais e socioculturais.
Percentagem
100
80
Obesidade
60
Excesso de Peso
40
7,6
6,9
8,1
5,2
5,3
20
0
Idade
4,4
3,5
4,3
11
12
13
14
15
16
17
18
5,8
17,7
Total
11
Obesidade
Excesso de Peso
Percentagem
80
60
40
5,8
7,1
4,8
5,8
20
21,9 20,5 20,5 19,8
0
Idade
10
11
12
13
4,3
18
14
3,8
4,5
4,6
3,5
3,3
15,6 15,4 13,5 12,7
15
16
17
17
18
Total
80
Excesso de Peso
60
40
6,7
5,9
6,9
4,7
4,5
4,5
3,9
3,8
5,2
20
0
Idade
11
12
13
14
15
16
17
18
17,4
Total
80
20,7
60
40
20
4,5
32,8
24
Excesso de Peso
14,1
11,9
45,6
51,4
54,7
30
30-39
40-49
50-64
44,8
0
Idade
19-29
Total
Percentagem
100
Obesidade
80
60
25
14,3
40
20
0
Idade
3,8
14,7
19-29
9,8
24,9
30--39
Excesso de Peso
13,6
37,8
47,1
40-49
50-64
31,7
Total
13
Obesidade
Percentagem
80
Excesso de Peso
24,6
60
17
40
4,2
20
24,2
13,8
10,8
43,5
50,1
34,8
30-39
40-49
50-64
37,7
0
Idade
19-29
Total
Quadro 2
Comparao Entre
ntre Estudos da Prevalncia de Obesidade em Portugal
Excesso de peso
Investigadores
Data
Marques-Vidal e
1998-1999
Dias, 2005
Carmo et al., 2008 2003-2005
ONAFD, 2011
2007-2009
Amostra
Homens Mulheres
Obesidade
Total
Homens Mulheres
Total
38
38.225
42.5%
32.3%
37.0%
11.5%
14.2%
12.9%
3
3.796
45.2%
34.4%
39.4%
15.0%
13.4%
14.2%
7
7.728
44.8%
31.7%
37.7%
14.1%
13.6%
13.8%
14
100
Excesso de Peso
Percentagem
80
60
24,1
23,7
23,4
19,8
40
20
0
Idade
51
48,1
45,9
49,3
65-74
75-84
>85
Total
100
Excesso de Peso
Percentagem
80
60
32,8
32,2
23,3
31,5
40
20
46,6
41,9
44,7
44,8
0
Idade
65-74
75-84
>85
Total
(Adaptado de ONAFD, 2011)
15
Obesidade
Percentagem
80
Excesso de Peso
30
29,3
22
20
48,1
44,1
45,1
46,3
0
Idade
65-74
75-84
>85
Total
60
28,7
40
Contudo, os valores encontrados neste estudo devem ser analisados com precauo
(ONAFD, 2011).. Com efeito, embora estejam bem descritas as alteraes induzidas pela
idade na composio corporal, nomeadamente pela perda da massa muscular e pelo aumento
da massa gorda (ONAFD,, 2011).
2011 O indicador utilizado neste estudo, o IMC, reflecte
particularmente as alteraes encontradas no peso e na estatura, no sendo muito sensvel s
alteraes da massa gorda e/ou da massa isenta de gordura (Nunes et al., 2006; OMS, 2004;
ONAFD, 2011). Neste particular, o facto de o envelhecimento estar associado a uma
alterao da estrutura e da funcionalidade da coluna vertebral, com eventuais alteraes da
estatura corporal, pode ser um elemento decisivo nas taxas encontradas (ONAFD
ONAFD, 2011).
16
Vale a pena destacar que a causa da obesidade no se baseia num nico processo (Tomaz,
2008). Vrios factores podem contribuir para o aparecimento dessa patologia (Nunes et al.,
2006). Entre os principais factores referidos na literatura que esto na origem da obesidade
podem ser destacados os factores biolgicos, alimentao e hbitos alimentares, diminuio
da actividade fsica, factores scio e culturais e os factores comportamentais e psicolgicos.
17
18
Popkin, 2006), o aumento do tamanho das refeies e bebidas consumidas nos ltimos 30
anos (Cohen, 2008; Popkin 2006), tm sido referidos como comportamentos alimentares que
contribuem para a obesidade.
20
disponibilidade de tempo para actividades fsicas (Swinburn & Shelly, 2008). Tem sido
referido que assistir televiso aumenta a ingesto de alimentos (Swinburn & Shelly 2008). A
televiso tambm aumenta a exposio comercializao de diversos produtos e pode
estimular o consumo (WHO 2000, Swinburn & Shelly, 2008). Alm do efeito positivo global
da participao regular em exerccios ou desporto no gasto energtico e, portanto, de controlo
de peso, o exerccio tambm suprime a fome (WHO, 2000).
21
saudveis (Black & Macinko, 2008, Darmon & Drewnowski, 2008, Drewnowski, 2009). Em
contraste, lojas de convenincia, pequenos fornecedores locais e fast food parecem ser mais
acessveis em bairros com um baixo ESC. A alimentao saudvel , portanto, mais difcil de
encontrar, mais cara e, possivelmente, de qualidade inferior em comparao com a grande
variedade disponvel em bairros com um elevado ESC (Black & Macinko, 2008; Darmon &
Drewnowski, 2008; Drewnowski, 2009). Os bairros mais ricos tm, geralmente, menor
exposio a restaurantes de fast food e maior acesso a alimentos frescos, hipermercados e a
restaurantes que apresentam melhor qualidade e alimentos mais saudveis (Black & Macinko,
2008; Drewnowski, 2009).
Constata-se que mais oportunidades para a actividade fsica so geralmente
encontradas em bairros com um alto ESC enquanto as pessoas de bairros com um menor ESC
so mais provveis de serem sedentrios (Black & Macinko, 2008; Drewnowski, 2009). Estes
indivduos so provavelmente mais afectados por alguns aspectos do ambiente, como
existncia de pequenos espaos para realizar actividades ao ar livre, menos parques e outras
instalaes de lazer e menos oportunidades para a realizao de actividade fsica (Black &
Macinko 2008; Papas et al., 2007). Esses moradores relatam que o crime, os ces e a menor
confiana nos vizinhos so barreiras adicionais actividade fsica (Black & Macinko, 2008).
Como consequncia, indivduos com baixo ESC so encontrados com mais frequncia a
assistir televiso, muito mais do que aqueles com um alto ESC (WHO, 2000). Em grupos de
menor ESC, escolhas de estilo de vida como o tabagismo, maiores pores de alimentos e
reduo da actividade fsica foram relacionados com a obesidade e uma sade mais precria
(Brennan, Henry, Nicholson, Kotowicz & Pasco, 2009).
Nveis mais baixos de educao por si s tm sido associados a uma maior prevalncia
de obesidade quando comparado aos grupos com nveis mais elevados de educao (Harbron,
2011). Tem sido demonstrado que nveis mais baixos de educao (Monsivis &
Drewnowski, 2009) e pobres conhecimentos sobre a alimentao de muitos indivduos com
um nvel ESC baixo contribuem para a seleco de alimentos no saudveis (Turrell &
Kavanagh, 2006). A WHO (2000) afirma que os indivduos com nveis de ensino superiores
so mais propensos a seguir as recomendaes dietticas e adoptar comportamentos
alimentares mais saudveis do que os indivduos com nveis mais baixos de educao. No
entanto, a associao entre conhecimento nutricional e prevalncia de obesidade no sempre
consistente (Drewnowski, 2009). A descoberta de que alguns indivduos com bons
conhecimentos de nutrio ainda preferirem comer alimentos pouco saudveis pode estar
23
ligado ao efeito de um estilo de vida de longo prazo de hbitos pouco saudveis (WHO,
2000).
Diversos estudos sugerem que no h tendncia significativa entre obesidade no nvel
de educao entre os homens (Drewnowski, 2009; NCHS, 2011). Entre as mulheres, h uma
tendncia, aquelas com formao superior universitria so menos propensas a ser obesas em
comparao com mulheres menos instrudas (Drewnowski, 2007; Drewnowski, 2009; NCHS,
2011). No entanto, alguns autores sustentam que a imagem do corpo pode desempenhar um
papel maior e que a mulher instruda pode tentar controlar o peso, com o objectivo de estar de
acordo com os ideais de magreza ocidental (Puoane, Steyn, Bradshaw, Laubscher, Fourie,
Lambert & Mbananga, 2002).
24
assistem menos televiso por dia (Scully, Dixon & Wakefield, 2009). evidente que as
mensagens relativas aos fast-foods, alimentos energticos, refrigerantes e outros alimentos
pouco saudveis excedem as mensagens relativas a frutas e verduras (Rosenheck, 2008;
WHO, 2000). Ao mesmo tempo, anncios focados em produtos de emagrecimento e roupa
com modelos de moda feminina so abundantes, contribuindo para mensagens muitas das
vezes conflituantes enviadas atravs da comunicao social (Popkin, 2006; WHO 2000).
A mudana do papel das mulheres nas sociedades modernas tambm influenciou os
hbitos alimentares da famlia. Com mais mulheres no mercado de trabalho, menos tempo
gasto em compras, preparar alimentos e a realizar outras tarefas domsticas (WHO, 2000).
Esta situao, juntamente com o fato de que as mulheres que trabalham tm agora acesso ao
seu "prprio dinheiro", tem contribudo para a criao de um mercado para os alimentos de
preparao rpida (Popkin, 2006; Ulijaszek, 2007; WHO, 2000). Esses factores resultam em
um aumento do consumo de Fast Food e outros alimentos de convenincia, contribuindo para
o aumento da obesidade infantil e adulta que tem sido observado (WHO, 2000). Neste
contexto preocupante a localizao e acessibilidade a supermercados e restaurantes de fastfoods que influenciam o consumo de alimentos no saudveis em detrimento dos saudveis
(Harbron, 2011). Alm disso, chocolates, batatas fritas, doces, refrigerantes e uma variedade
de alimentos de convenincia esto agora disponveis em mquinas de venda automtica de
fcil acesso ou em pontos de venda que normalmente no vendem alimentos como seu
negcio principal, tais como lojas de vdeo, postos de gasolina e lojas de hardware (Cohen,
2008).
26
e a obesidade (Luppino, Wit, Bouvy, Stijnen, Cuijpers, Penninx et al., 2010; Gatineau &
Dent, 2011; WFMH, 2010). So diversas as investigaes que sugerem que existe uma relao
directa entre morbilidade psicolgica e o excesso de peso, embora os factores responsveis por
esta relao no estejam claros.
Diversos autores, tm sugerido que a desinibio no comportamento alimentar
(Bryant, King & Blundell, 2008), impulsividade (Davis, 2009), depresso (WFMH, 2010), a
ansiedade (Santos et al., 2002; WFMH, 2010) e as perturbaes da personalidade podem estar
na origem da obesidade (Mather et al., 2008). Outras caractersticas comportamentais e
psicolgicas que tm sido associados com o ganho de peso e desenvolvimento de obesidade
incluem ter uma imagem corporal inferior, auto-estima e auto-motivao, estratgias de
coping pobres e poucas capacidades na resoluo de problemas (Byrne, 2002; WFMH, 2010).
Santos e colaboradores (2002), acrescentam que a obesidade pode ser motivada por
dificuldade em tolerar frustraes, elaborar afectos e impulsos, lidar com o stress e impulsos,
medo, agressividade e discriminar sentimentos e sensaes, e pode surgir como defesa contra
sintomas depressivos.
Estudos comparativos entre obesos e no obesos sugerem que os obesos apresentam
um comportamento alimentar desinibido (Bryant et al., 2008). O comportamento alimentar e
os componentes especficos da mesmo, incluindo restrio na alimentao, desinibio e fome
tm sido avaliados com Three-factor eating questionnaire (TFEQ). Pontuaes mais elevadas
de desinibio tem sido consistentemente associada a um maior peso ou ganho de peso ao
longo do tempo (Bryant et al., 2008; Chaput, Leblanc, Prusse, Desprs, Bouchard &
Tremblay, 2009). Indivduos com desinibio no comportamento alimentar so caracterizados
por ter uma maior tendncia a comer em excesso, por exemplo, quando a comida muito
saborosa, na companhia de algum que come em excesso, em ocasies sociais e quando se
tem um problema emocional ou est stressado (Bryant et al. 2008; Stunkard & Messick,
1985). Relativamente a restrio alimentar os resultados de estudos que investigam essa
relao com o peso tem sido inconsistentes (Bryant et al. 2008). No entanto, indivduos com
maior peso tm altos nveis de desinibio, juntamente com os nveis mais baixos de
conteno (Dykes, Brunner, Martikainen & Wardle, 2004; Hays, Bathalon, McCrory,
Roubenoff, Lipman & Roberts, 2002). Uma maior pontuao de fome tem sido associada com
um maior peso (Chaput et al., 2009), e ganho de peso durante um perodo de quatro anos
(Hays, Bathalon, Roubenoff, McCrory & Roberts, 2006). Indivduos obesos tambm tm uma
pontuao maior de fome do que indivduos de peso normal (Harden, Corfe, Richardson,
Dettmar & Paxman, 2009).
27
A impulsividade enquanto trao tem sido referida como um importante factor que esta
na origem da obesidade (Davis, 2009). Tem sido fortemente associada com comer demais e
ganho de peso. Tais indivduos costumam ter pobres habilidades ou competncias de tomada
de deciso e, portanto, se envolvem em comportamentos altamente divertidos de procura ou
de risco para obter uma recompensa imediata, sem considerar as consequncias (Davis, 2009).
O ambiente actual que promove o consumo de alimentos a disponibilizao de uma variedade
de alimentos pode revelar-se problemtico se a pessoa est inclinada tentar todas as opes de
alimentos diferentes para a recompensa imediata, muitas vezes resultando em consumo
excessivo e, portanto, a ingesto de energia muito alta (Davis, 2009).
No existe uma associao simples entre obesidade, depresso e ansiedade (Soares,
2009). A depresso e a ansiedade esto associadas com comportamentos no saudveis, como
dietas pobres, inactividade fsica e sedentarismo, tabagismo e consumo excessivo de lcool.
Muitos destes comportamentos no saudveis esto ligados a um aumento potencial da
obesidade (WFMH, 2010). Indivduos com depresso actual ou depresso crnica tm 60%
mais probabilidades de ser obesos do que aqueles sem histrico de depresso (WFMH, 2010).
Indivduos com histria de ansiedade crnica tm 30% mais probabilidades de serem obesas
do que aquelas que no tiveram um diagnstico de ansiedade (WFMH, 2010). Alguns estudos
indicam que a obesidade na adolescncia pode levar depresso na idade adulta, enquanto
outros estudos indicam que a depresso na adolescncia leva obesidade na idade adulta
(WFMH, 2010).
As perturbaes da personalidade tambm tm sido referidas como potenciadores da
obesidade (Mather et al., 2008). A evitao da interaco social nas perturbaes de
personalidade paranide e evitante poder potenciar um estilo de vida mais sedentrio e
posterior aumento taxas de excesso de peso e obesidade, devido a uma diminuio nas
actividades fora da prpria casa (Mather et al., 2008). Caractersticas comportamentais da
perturbao anti-social podero igualmente levar ao excesso de peso nas mulheres. Por
exemplo, a impulsividade que caracteriza a perturbao anti-social, pode levar a obesidade na
populao na medida em que conhecida associao de impulsividade com falta de inibio
em relao para comer (Yeomans, Leitch, & Mobini, 2008), o que pode levar a excessos e,
portanto a maior peso corporal (Nederkoorn, Smulders, Havermans, Roefs & Jansen, 2006;
Rydn, Sullivan, Torgerson, Karlsson, Lindroos & Taft, 2003b).
Na reviso da literatura duas formas de comer a noite tm sido referidas como
associadas com o desenvolvimento da obesidade, sndrome do comer nocturno (night eating
syndrome) (SCN) e o distrbio do comer relacionado com o sono (sleep related eating
28
disorder) (DCRS), ambas associadas com momentos inadequados para comer (Howell et al.,
2009). Numa reviso da literatura Howell e colaboradores (2009) aponta que uma concluso
definitiva de que NES provoca obesidade no pode ser feita nesta fase devido falta de
pesquisas nessa rea. No entanto, existem evidncias que existe uma relao causal, na
medida que a SCN se correlaciona com IMC mais elevados, a resistncia a perder peso em
programas de reduo de peso e que SCN mais prevalente em obesos do que em no obesos
(Howell et al., 2009). SCN tambm frequentemente associada ao distress e a depresso, o
que pode influenciar a ingesto de alimentos (Calugi, Dalle, Grave & Marchesini, 2009). A
associao entre ganho de peso DCRS e obesidade foi confirmada (Howell et al., 2009). A
DCRS frequentemente associada com o sonambulismo e ao comer durante a noite de uma
forma inconsciente que consiste em combinaes especficas de alimentos, substncias no
comestveis, comportamentos de preparao dos alimentos perigosa e alimentos ricos em
carboidratos e gorduras, como po, tortas, gelados, chocolate e doces (Howell et al., 2009).
29
31
Pesquisas relatam as consequncias psicolgicas aps a cirurgia baritrica, dividindoas entre positivas e negativas. Entre as positivas, destacam-se o aumento da auto-estima,
diminuio da avaliao negativa sobre a imagem corporal, melhoramento no comportamento
alimentar e melhoria da qualidade de vida. Entre as negativas destacam-se a crise de
identidade, demanda por novos relacionamentos, familiar ou conjugal, um esforo para aceitar
a mudana do corpo, necessidade de reaprender a se alimentar, estabilidade na perda de peso,
dificuldade em assumir um olhar normal sobre o corpo, e o permanente monitorizao da
alimentao. (Psychological considerations, 2006 cit in Cavalcante, 2009).
32
nos obesos mrbidos propostos para a cirurgia baritrica (Capito & Tello, 2004; Dixon et al.,
2003; Fabricatore et al., 2005; Mamplekou, Komesidou, Bissias, Papakonstantinou &
Melissas, 2005; Reto, 2003; Soares, 2009). Um estudo de Vaidya (2006) verificou que 40 a
60% dos pacientes apresentavam um diagnstico psiquitrico, sendo a depresso o mais
comum. A maioria dos pacientes seleccionados para a cirurgia baritrica estavam deprimidos,
apresentavam efeitos negativos da obesidade em todos os aspectos da sua vida, como por
exemplo, na sade, vida social, finanas, mobilidade e funcionamento. Um estudo mais
recente na Itlia aponta na mesma direco, quase 50% dos pacientes tinha alguma
perturbao mental (Bonf, Marchetta, Avanzi, Baldini, Raselli, Uber et al., 2010).
Por outro lado, alguns autores indicam que os indivduos obesos propostos para a
cirurgia baritrica esto prximos da populao geral, sem nveis elevados de sintomatologia
35
psicopatolgica (Dymek et al., 2002; Franques & Ascencio, 2006; Malone & Mayer-Alger,
2004; Travado et al., 2004). Em estudos realizados para avaliar sintomas psicopatolgicos
medidos com a EAS-40, os resultados so semelhantes aos de outras pesquisas que sugerem
que a severidade da psicopatologia presente nos casos de obesidade semelhante da
populao geral (Dymek et al., 2002; Franques & Ascencio, 2006; Malone & Mayer-Alger,
2004). Apesar da obesidade grau III ser frequentemente acompanhada por vrias
comorbidades mdicas, ela no deve ser vista como necessariamente associada a problemas
de ordem psicolgica (Oliveira & Yoshida, 2009). Na maioria das vezes no h diferenas
entre a populao obesa e a no obesa em termos de problemas emocionais e no aparecimento
de perturbaes psicopatolgicas (Reto, 2003). Contudo, h que ter cuidado com esta
generalizao uma vez que nos casos de obesidade severa, especialmente naqueles propostos
para a cirurgia baritrica (Grau II e III) os estudos mostram que esses indivduos so mais
vulnerveis a apresentarem alteraes psicolgicas (Fabricatore et al., 2005; Oliveira, 2006).
Na reviso da literatura constata-se que existe uma variabilidade de descobertas, dada
a panplia de metodologias e medidas de sade mental adoptadas, combinadas com a
heterogeneidade da populao com obesidade e a ateno a potenciais moderadores da relao
entre a obesidade e perturbao mental (tais como a idade, o sexo, habilitaes literrias,
estatuto scio-econmico e a etnia, entre outros) (Soares, 2009). Assim como, constata-se que
em regra as amostras neste tipo de populao so reduzidas, sendo desta forma mais sensveis
a variaes nos resultados. No entanto, as pesquisas sobre a obesidade no decorrer da ltima
dcada tiveram um forte impacto nos conceitos sobre esta doena e na sua abordagem clnica.
A medida que os profissionais de sade lidam com populaes clnicas, pacientes que se
apresentam para o tratamento de obesidade, o achado de perturbaes clinicamente
significativas em alguns pacientes relevante e deve ser considerado na sua abordagem
(Vasques et al., 2004). De modo, a proporcionar uma avaliao e planeamento do tratamento
de uma forma mais racional e individualizada no auxlio aos pacientes a estabelecerem metas
razoveis e a trabalharem para realizarem escolhas de vida saudveis que levem a um maior
bem-estar fsico e psicolgico (Dobrow et al., 2002).
do sono e do apetite, alm de outros sinais e sintomas (APA, 2002). Constitui um dos mais
graves problemas de sade mental no mundo contemporneo. Revela-se a maior causa de
morbilidade no mundo desenvolvido (WHO, 2011). Apresenta consequncias substanciais ao
nvel do sofrimento humano, perda da vida e de produtividade (Soares, 2009). As pessoas
sofrem e muitas vezes so incapazes de continuar o trabalho. Isso leva a problemas
financeiros que agravam o problema. A famlia do paciente tambm sofre e muita tenso
colocada sobre os relacionamentos. Os problemas resultantes da depresso podem tornar-se
crnicos ou recorrentes e levar a um prejuzo substancial na capacidade da pessoa para cuidar
das suas responsabilidades quotidianas. No pior dos casos, a depresso pode levar ao suicdio,
uma trgica fatalidade associada com a perda de cerca de 850 000 vidas a cada ano (WHO,
2011).
Entre as perturbaes mentais a depresso a que mais se associa ao quadro de
obesidade (Black et al., 1992a; Dobrow et al., 2002; Glinski et al., 2001). Diversos estudos
encontram uma associao consistente entre elas (Markowitz, et al., 2008; Onyike, Crum,
Lee, Lyketsos & Eaton, 2003; Roberts, Deleger, Strawbriedge, & Kaplan, 2003; Roberts,
Kaplan, Shema & Strawbridge, 2000; Roberts, Strawbriedge, Deleger, & Kaplan, 2002;
Strine, Mokdad, Dube, Balluz, Gonzalez, Berry et al., 2008; Sullivan, Karlsson, Sjostrom,
Backman, Bengtsson, Bouchard, et al., 1993). A reviso da literatura sugere que a obesidade e
a depresso podem ter uma relao causal, na qual essa associao pode ser bidireccional
(Barry et al., 2008; Luppino et al., 2010; Markowitz, et. al., 2008; Mather, Cox, Enns &
Sareen, 2009; Simon et al., 2006). Friedman e Brownell (1995) propem que as pesquisas
sobre a obesidade se foquem na identificao de potncias factores de risco para a depresso
dentro da populao com obesidade. De acordo com estes autores, a populao com obesidade
heterognea nas suas caractersticas psicossociais, o que no possibilita generalizar a relao
entre a obesidade e um factor psicolgico, como a depresso. Os autores realam que
importante considerar os mecanismos que ligam estas duas condies. A reviso da literatura
sugere que os possveis riscos para a comorbilidade de obesidade e depresso incluem a
obesidade mrbida, o sexo, idade, estatuto scio e econmico, idade, nvel de instruo e
etnia.
Vrias investigaes sugerem que a obesidade mrbida um preditor de depresso
(Dong, Sanchez & Price, 2004; Friedman & Brownell, 1995; Markowitz et al., 2008; Scott et
al., 2008a). Onyike e colaboradores (2003) utilizaram os dados do Third National Health and
Nutrition Examination Survey (1988-1994) para examinar a relao entre depresso e
obesidade em aproximadamente de 40.000 indivduos. A Depresso foi definida atravs de
37
38
39
O ESC tem sido referido como um importante factor de risco para a depresso nos
obesos, no entanto a sua relao com depresso contnua incerta (Gatineau & Dent, 2011).
Algumas investigaes sugerem que os obesos com um ESC mais baixo podem ser mais
propensos a experimentarem a depresso na obesidade. Kinge e Morris (2010) realizaram um
Inqurito de Sade na Inglaterra entre 2003 e 2006, com uma amostra de 33.716, com idade
superior a 16 anos. Constataram que o impacto negativo da obesidade maior em pessoas
com baixo nvel scio econmico. Esta tendncia tambm foi observada aps o controlo para
as caractersticas individuais e familiares, embora a significncia estatstica e a magnitude dos
efeitos tenha diminudo. Matos e Zanella (2002) num estudo realizado no Brasil observaram
uma importante frequncia de sintomas de depresso grave (84%) bem mais elevada do que a
registada em estudos realizados em pases desenvolvidos. Levantou-se a hiptese de que tal
diferena fosse resultado das disparidades scio econmicas entre as populaes. No entanto,
diversos estudos referem que a obesidade esta associada com um ESC elevado (Chen et al.,
2009; Markowitz et al., 2008). Por outro lado, Moore, Stunkard e Srole (1962) referem que a
associao entre obesidade e depresso apenas significativa para as mulheres obesas que
tm um elevado ESC.
O nvel de escolaridade assume um papel importante na relao obesidade e
depresso, no entanto, a sua generalizao no possvel, constatam-se diferentes tendncias
em diversos pases. Scott e colaboradores (2008a) realizaram um estudo internacional em 13
pases, no continente Americano (Colmbia, Mxico, EUA), na Europa (Blgica, Alemanha,
Frana, Itlia, Holanda, Espanha), no Mdio Oriente (Israel, Lbano) e na sia / Pacfico
(Japo, Nova Zelndia), com um total de 62.277 participantes. O objectivo do estudo
consistiu em investigar a associao entre perturbaes mentais e obesidade na populao em
geral e potenciais moderadores destas associaes (etnia, sexo, idade, educao). As
perturbaes mentais foram avaliadas pelo Composite International Diagnostic Interview
(CIDI 3.0), o peso e altura foram auto-relatados e a obesidade foi definida com base no
clculo do IMC. Verificaram que a associao entre depresso, obesidade e nvel de
educao, apenas significativa para aqueles com maior nvel de escolaridade. Essa
associao foi mais forte nos EUA e na Blgica. Do mesmo modo, outras investigaes nos
EUA apontam que existe uma associao entre elevado nvel escolar e depresso (Dong et al.,
2004; Friedman & Brownell, 1995; Ma & Xiao, 2010; Markowitz et. al., 2008; Simon et al.,
2006). Por outro lado, em alguns pases verificou-se uma tendncia inversa, como por
exemplo, na Nova Zelndia, Scott e colaboradores (2008b) encontraram uma associao entre
obesidade e perturbaes de humor em mulheres com poucas habilitaes literrias.
40
41
apontam que as taxas de depresso nos pacientes propostos para a cirurgia baritrica
apresentam em mdia valores compreendidos entre os 30% a 40%.
Alciati e colaboradores (2007), numa amostra de 83 pacientes seleccionados para a
cirurgia baritrica verificaram que a perturbao bipolar estava presente em 89% dos
pacientes com obesidade mrbida, com as maiores taxas de prevalncia na perturbao
bipolar II. Comorbilidade com perturbao de pnico foi observada em 30% dos pacientes
com perturbaes do espectro bipolar. Estes achados sugerem que a doena do espectro
bipolar, no quadro hipomaniaco caracterizada por hiperactividade, muito comum em
indivduos com obesidade mrbida, contrariando as evidncias anteriores de baixos nveis de
actividade fsica nesta populao.
Alguns estudos indicam que no existe associao entre obesidade e depresso
(Dymek et al., 2002; Friedman & Brownell, 1995; Hallstrom & Noppa, 1981). Franques e
Ascencio (2006), numa pesquisa realizada no estado de So Paulo com pacientes que se
prepararam para a cirurgia baritrica, verificaram a presena de depresso leve nesses
sujeitos, valores prximos da populao em geral, sem nveis elevados de sintomatologia
psicopatolgica. No entanto, destaca-se que 25% apresentaram um nvel moderado de
sintomas depressivos, sugerindo que um quarto da populao atendida para a cirurgia
baritrica merece ateno quanto a esse aspecto, e que a populao de obesos mrbidos
heterognea no que respeita severidade da depresso.
Na reviso da literatura constata-se que em regra as amostras dos pacientes propostos
para a cirurgia baritica so reduzidas, sendo desta forma mais sensvel a variaes na
presena de depresso ou outras perturbaes, numa populao que se revela heterognea.
Paralelamente, constata-se que estabelecer relaes atravs do IMC entre os pacientes
propostos para a cirurgia baritica revela-se uma medida insatisfatria. Tendo em conta que
os pacientes seleccionados para cirurgia baritrica tm em regra um IMC elevado (superior a
35) no se pode partir do pressuposto de que a relao entre a obesidade e a depresso linear
(Onyike et al., 2003), ou que se encontrem diferenas substanciais quanto depresso neste
tipo de populao relativamente ao IMC.
fisiolgicas, que fazem parte do espectro normal das experincias humanas, sendo propulsora
do desenvolvimento e sobrevivncia (Andrade & Gorenstein, 1998). A ansiedade uma
sensao ou sentimento decorrente da excessiva excitao do Sistema Nervoso Central
consequente de uma situao de perigo (Kaplan, Sadock & Grebb, 1997). A ansiedade pode
tornar-se patolgica quando desproporcional situao que a desencadeia, ou quando no
existe um objecto especfico ao qual se direccione (Andrade & Gorenstein, 1998; Caetano et
al., 2005). O estudo sobre a ansiedade do ponto de vista psicolgico salienta uma
diferenciao quanto forma com que ela se apresenta - ansiedade estado e trao (Cataneo et
al., 2005; Vaz, 2009). A ansiedade enquanto estado consiste num estado emocional transitrio
ou uma condio do organismo humano, caracterizado por sentimentos desagradveis de
tenso e apreenso, conscientemente percebidos por um aumento da actividade do Sistema
Nervoso Autnomo (Luiz, Gorayeb, Jnior & Domingos, 2005). Os nveis de ansiedade
estado podem variar em intensidade de acordo com o perigo percebido e flutuar no tempo
(Andrade & Gorenstein, 1998). Segundo Andrade e Gorenstein (1998) a ansiedade enquanto
trao, refere-se as diferenas individuais relativamente estveis na propenso ansiedade.
Consiste em diferenas na tendncia de reagir a situaes percebidas como ameaadoras com
intensificao do estado de ansiedade (Caetano et al., 2005; Luiz et al., 2005). Os escores de
ansiedade trao so menos susceptveis a mudanas decorrentes de situaes ambientais e
permanecem relativamente constantes no tempo (Caetano et al., 2005).
Nos pases desenvolvidos, as perturbaes ansiosas so provavelmente as mais
prevalentes (Bennett & Goldman, 2001; Gariepy, Nitka & Schmitz, 2010). Scott e
colaboradores (2008b) consideram que as evidncias de uma maior associao entre a
obesidade e a depresso podem ser um reflexo de uma menor incluso das perturbaes de
ansiedade nos estudos existentes, confinadas a estudos sobre a depresso, assim como tm
sido investigadas as perturbaes mentais de ansiedade, em vez de sintomas de ansiedade.
Acrescentam, que as perturbaes de ansiedade so um grupo heterogneo, e deste modo as
generalizaes sobre a ansiedade podem no ser aplicadas a todas as perturbaes de
ansiedade. No entanto, na reviso da literatura as perturbaes de ansiedade encontram-se em
segundo lugar entre as perturbaes mais associadas com a obesidade nos pacientes propostos
para a cirurgia baritrica (Black et al., 1992a; Glinski et al., 2001).
Scott e colaboradores (2008a) no seu estudo internacional constataram que a
associao entre obesidade e perturbaes da ansiedade era um pouco mais forte do que a
observada entre a obesidade e perturbaes depressivas, embora, novamente, existam
diferenas entre pases. Em contraste com os resultados de perturbao depressiva, a relao
43
entre obesidade e perturbao da ansiedade significativa apenas para aqueles com menor
escolaridade. Consistente com os achados da perturbao depressiva, so apenas as mulheres
que mostram uma relao significativa entre a obesidade e a perturbao de ansiedade, com
probabilidades 1,3 para as mulheres e de 1,0 para os homens. Existem tambm diferenas na
relao entre a obesidade, perturbaes da ansiedade e idade, as probabilidades para cada
faixa etria so as seguintes: 18-34 (1,3 [1,0, 1,5]), 35-49 (1,1 [0,9, 1,3]), 50-64 (1,1 [0,9,
1,4]), 65 + (1,7 [1,2, 2,3]). As pessoas com mais de 65 anos de idade apresentam uma maior
probabilidade de desenvolverem uma perturbao de ansiedade.
Scott e colaboradores (2008b) na Nova Zelndia realizaram um inqurito domiciliar a
nvel nacional em 12.992 obesos com 16 ou mais anos de idade. Constataram que a obesidade
foi significativamente associada com qualquer perturbao do humor, em especial a
perturbao depressiva major, qualquer perturbao da ansiedade e uma associao mais forte
com a perturbao ps-stress traumtico. Constataram que a associao entre obesidade e
ansiedade era mais forte que a obesidade e depresso. Segundo os autores as variveis scio
demogrficas e obesidade correlacionavam-se moderadamente com as perturbaes do humor
e foram significativas com as perturbaes da ansiedade, sugerindo que as variveis scio
demogrficas apenas assumem um papel importante na relao entre obesidade e perturbaes
do humor.
Uma pesquisa nos EUA de Simon e colaboradores (2006) avaliou a associao entre
obesidade e grau de humor e ansiedade, utilizando os dados da National Comorbidity Survey,
em aproximadamente 40.000 indivduos. Os resultados indicam que as pessoas obesas tm
aproximadamente 25% maiores probabilidade de apresentarem ansiedade e perturbaes
humor do que a populao em geral. Essa taxa aumenta para 44% na populao branca e com
grau de escolaridade mais elevado. Paralelamente, constataram que a obesidade est associada
com o aumento significativo do diagnstico de perturbao de pnico e agorafobia.
Mather e colaboradores (2009) utilizaram os dados da amostra Canadian Community
Health Survey Cycle 1.2, com um total de 36.984 sujeitos, com 15 ou mais anos de idade e
verificaram que a obesidade estava positivamente associada com ataques de pnico, fobia
social, agorafobia com perturbao de pnico, assim como perturbao de ansiedade ao longo
da vida. A obesidade tambm estava associada positivamente com ataques de pnico, fobia
social e outras perturbaes de ansiedade no ltimo ano. No mesmo estudo constatou-se que a
obesidade estava associada com a ideao suicida e tentativas de suicdio e negativamente
associada toxicodependncia nos ltimos anos. A maioria destas associaes foram
encontradas nas mulheres, embora em alguns casos tambm estavam presentes nos homens.
44
Barry e colaboradores (2008) verificaram que a obesidade estava associada com uma
maior probabilidade de perturbaes de ansiedade e fobias especficas em homens e mulheres.
No entanto, as mulheres apresentavam um risco maior de fobia social. O excesso de peso
previu o aumento do risco de fobia social e fobia especfica em mulheres, mas no para os
homens. As mulheres com excesso de peso apresentavam mais frequentemente perturbaes
de ansiedade, especialmente fobias sociais e fobias especficas, do que as mulheres com peso
normal. Segundo Soares (2009), as mulheres com excesso de peso e obesidade apresentam
um maior risco de fobia social e medo de enfrentar situaes sociais do que os homens, j que
elas tm a expectativa de que vo ser negativamente avaliadas devido ao peso.
Como tem sido referido, a populao obesa, comparativamente populao em geral
apresenta uma sintomatologia elevada de ansiedade. Os estudos realizados nos pacientes
propostos para a cirurgia Baritrica seguem a mesma tendncia. Vrios estudos verificaram
associaes positivas entre a obesidade e a ansiedade em pacientes seleccionados e aguardar a
cirurgia baritrica (Andersen et al., 2010; Mazzoni, Mannucci, Rizzello, Rica & Rotella,
1999; Rosmond & Bjurntorp, 1998; Snchez, Lpez, Vargas, Tllez, Vsquez, Arcila et al.,
2003; Sarlio-Lahteenkorva & Rissen, 1998) e com maior incidncia nas mulheres (Becker,
Margraf, Turke, Soeder, & Neumer, 2001).
Rosik (2005) utilizando o Psychiatric Diagnostic Screening Questionnaire numa
amostra de 294 indivduos no momento da avaliao para a cirurgia baritrica constatou que
as perturbaes da ansiedade estavam entre as mais prevalentes. A fobia social esteve
presente em 18% dos pacientes e a perturbao obsessivo-compulsiva em 13.6 %. Segundo o
autor, a preocupao com o peso pode contribuir para a perturbao obsessivo-compulsivo e o
estigma cultural associado obesidade pode ajudar a explicar a frequente ocorrncia de fobia
social. Os resultados do estudo sugerem a presena de uma perturbao do Eixo I em metade
desses pacientes, com comorbilidades presentes em 29.9% da amostra. A maior prevalncia
encontrada neste estudo foi a perturbao de somatizao em 29.3% dos pacientes. Tambm
foram encontrados 15% dos pacientes com a perturbao de hipocondria.
Num estudo, Matos e Zanella (2002) utilizaram o Inventrio de Trao e Estado de
Ansiedade (State Trait Anxiety Inventory STAI) para avaliar sintomas de ansiedade.
Verificaram uma elevada frequncia de sintomas de ansiedade em obesos propostos para a
cirurgia baritrica, assim como, uma associao positiva das perturbaes alimentares e a
ansiedade enquanto trao e em menor grau enquanto estado. A frequncia de ansiedade como
trao de personalidade foi de 70% e como estado foi de 54%. No entanto, a pesquisa de
45
Capito e Tello (2004) indicou trao e estado de ansiedade abaixo do normal em mulheres
com obesidade Grau III, utilizando o IDATE.
Um estudo portugus de Soares (2009), com uma amostra de 133 sujeitos no qual foi
utilizado o Hospital Anxiety and Depression Scale (HADS), constatou que os obesos
seleccionados para a cirurgia baritrica apresentavam sintomas elevados de ansiedade e
depresso, ultrapassando o limite considerado normal. A anlise dos resultados obtidos
permitiu verificar, considerando um ponto de corte igual ou superior a oito, a existncia de
ansiedade em 71.5 % dos indivduos com diagnstico de obesidade e de depresso em 38.5%.
Foram encontrados valores mdios de 7.10 de depresso e 10.45 de ansiedade. Verificou-se a
existncia de comorbilidade em 33.8% dos indivduos com diagnstico de obesidade,
apresentando ansiedade e depresso. Por sua vez, Travado e Colaboradores (2004) tambm
utilizando a HADS em 212 pacientes propostos para a cirurgia baritrica encontraram valores
mdios de 7.0 para a depresso e 9.1 para a ansiedade. Neste ltimo estudo foi utilizado o
ponto de corte de 19. De acordo com os autores da HADS, Snaith e Zigmond (1993, cit. in
Pais-Ribeiro, 2007), a severidade da ansiedade e da depresso podem ser classificadas como
normal (0-7), leve (8-10), moderada (11-15) e severa (16-21). Portanto, em ambos os
estudos os valores encontrados para a ansiedade encontram-se acima da mdia.
46
2005), principalmente quando esto em tratamento para a reduo do peso (Coutinho, 2006).
A prevalncia de PIC varia entre 2% a 3% na populao em geral (Marchesini, Natale,
Chierici, Manini, Besteghi, Di Domizio et al, 2002; Spitzer et al., 1993), nos pacientes que
procuram tratamento clnico para emagrecer os valores encontrados variam entre os 5% e
30% (Cords, 2001), valores estes que variam entre 27% a 50% nos pacientes que procuram
tratamento cirrgico para a obesidade (Adami, Gandolfo, Bauer & Scopinaro, 1995; Hsu et
al., 1996; Saunders, Johnson & Teschner, 1998; Smith, Marcus, Lewis, Fitzgibbon,
Schreiner, 1998; Souza, Oliveira & Motta, 2006; Wadden, Sarwer, Womble, Foster,
McGuckin & Schimmel, 2001; Zwaan, 2001). Um estudo no Brasil de Petribu e
colaboradores (2006), com 400 pacientes a aguardar cirurgia baritrica verificou a existncia
de uma prevalncia de 56.7% de PIC, dos quais 25.4% era moderada e 31.3 % grave. Estimase a prevalncia da PIC numa dimenso variada, em parte devido s diferentes definies de
compulso alimentar (Stunkard & Allison, 2003), assim como devido as diferentes
metodologias utilizadas.
Existem evidncias de que os pacientes com PIC possuem uma auto-estima mais baixa
(Bonf et al., 2010), preocupam-se mais com o peso e com a forma fsica (Zwaan, 1997),
ingerem significativamente mais alimentos (Goldfein, Walsh, LaChausse, Kissileff &
Devlin, 1993), apresentam um incio mais precoce de obesidade, maiores ndices de
obesidade, maior flutuao de peso, pior resposta aos regimes de tratamento e dispendem
mais tempo com dietas (Azevedo et al., 2004; Dobrow, et al., 2002; Napolitano et al., 2001),
do que outros indivduos que tambm possuem excesso de peso sem terem a PIC. A prpria
restrio alimentar propcia ao aparecimento da PIC (Morgan, Vecchiatti & Negro, 2002).
Deste modo, as dietas alimentares constituem um factor precursor no desenvolvimento de
uma perturbao alimentar (Morgan et al., 2002). No entanto, as dietas alimentares no so
suficientes para desencadear uma PIC, sendo necessrio a interaco entre factores de risco e
outros acontecimentos precipitantes (Souza et al., 2006). Deste modo, a PIC apresenta uma
etiologia
multifactorial,
composta
por
predisposies
genticas,
socioculturais
48
49
que se preconiza actualmente (Nozaki & Rossi, 2010). Hoje em dia, existe uma forte
tendncia sociocultural em considerar a magreza como uma situao ideal de aceitao,
autocontrolo, competncia e superioridade (Branco, Hilrio & Cintra, 2002). A estereotipia
em relao aos indivduos obesos verifica-se na cultura ocidental, onde a presso para ser
magro bastante intensa. Inevitavelmente, as reaces e atitudes da sociedade em relao
obesidade reflectem-se nas reaces e atitudes dos indivduos obesos, que tendem a fazer
auto-declaraes depreciativas em relao a si prprios (Barlow, 1999; Schwartz & Brownell,
2004). Os nossos padres culturais actuais fazem com que at mesmo indivduos com peso
dentro dos parmetros considerados normais se sintam com peso superior ao desejado
(Oliveira, Linardi & Azevedo, 2004).
Existem evidncias de que os meios de comunicao social promovem as perturbaes
da imagem corporal e as perturbaes do comportamento alimentar (Saikali, Soubhia,
Scalfaro & Cords, 2004). As pessoas obesas sentem-se pressionadas pelos meios de
comunicao social para serem magras. Um estudo realizado por Becker, Burwel, Gilman,
Herzog e Hamburg (2002) avaliou o impacto da exposio das adolescentes televiso e
consequentes atitudes e comportamentos alimentares. O estudo foi dividido em duas etapas, a
primeira em 1995 e a segunda em 1998, j com trs anos de exposio televiso. Os
resultados mostraram que os indicadores de perturbao alimentar foram significantemente
mais elevados aps 1998, demonstrando tambm maior interesse na perda de peso, sugerindo
o impacto negativo dos meios de comunicao social. cada vez maior a exigncia de uma
aparncia fsica magra e de formas de emagrecimento em detrimento, muitas vezes, da sade
do indivduo (Nozaki & Rossi, 2010). Actualmente, em Portugal assistimos a um novo
programa televisivo sobre a forma de concurso para perder peso, Peso Pesado - Ganha Quem
Perde, seguindo a tendncia de outros pases no qual este tipo de reality show tem tido
sucesso. Este tipo de programas televisivos podem contribuir para que os obesos se sintam
pressionados para serem mais magros e para aprenderem tcnicas no saudveis de controlo
de peso, como por exemplo, exerccios fsicos rigorosos e dietas drsticas, at podem por
iniciativa prpria induzir o vmito.
Estes factores scio culturais afectam a percepo da imagem corporal, que pode ser
definida, como a representao do nosso corpo na nossa mente (Schilder, 1994). Mataruna
(2002) refere que a imagem corporal a representao do prprio corpo formada e estruturada
na mente do prprio indivduo, ou seja, a maneira pela qual o corpo se apresenta para si
prprio. Feldenkrais (1977) acredita que a imagem corporal se desenvolve desde o
nascimento at a morte e nunca esttica, sofre modificaes que implicam uma construo
50
52
grande medida (Larsen, Geenen, Maas, Wit, Antwerpen, Brand & Ramshorst, 2004). Deste
modo, estudar a personalidade implica estudar o sujeito como um todo assim como aquilo que
o torna nico e o distingue do outro (Botelho, 1999; Patro & Leal, 2004). Uma considerao
importante na avaliao da personalidade e da psicopatologia a distino entre traos de
personalidade e estado actual. Avaliaes de personalidade so destinadas a encontrar
caractersticas persistentes que existem independentemente de qualquer curso mental
temporrio, mas a distino entre os dois por vezes difcil (Chan, Napolitano & Foster,
2009).
A personalidade assume um papel importante na obesidade (Grana, Coolidge &
Merwin, 1989), influencia comportamentos e estilos de vida. Assim, certos traos de
personalidade podem contribuir para a obesidade e para a resposta terapia comportamental
baseada na perda de peso (Sullivan, Cloninger, Przybeck & Klein, 2007). No entanto, um
pequeno corpo de literatura tem sido acumulado de anlises da personalidade e diferenas de
carcter entre os indivduos obesos e indivduos com peso normal, das poucas investigaes
existentes os resultados tm sido muitas vezes conflituosos entre os estudos que demonstram
diferenas (Mather et al., 2008). Algumas pesquisas revelam que existem diferenas entre
esses indivduos (Rydn et al., 2003b; Rydn, Sullivan, Torgerson, Karlsson, Lindroos &
Taft, 2004; Sullivan et al., 2007). Em estudos comparativos com a populao em geral, a
investigao sobre a personalidade tem mostrado algumas caractersticas que distinguem os
obesos mrbidos como apresentando mais dependncia, imaturidade afectiva e afecto
negativo (Rydn & Danielsson, 1983), ansiedade, impulsividade, irritabilidade, evitamento
da monotonia (Rydn et al., 2004), procura de novidades, pouca persistncia, pouco autodireccionamento (Sullivan et al., 2007). Por outro lado, existem outros autores que referem
que a populao obesa no apresenta mais alteraes psicolgicas que a populao com peso
normal (Moore-Striegel & Rodin, 1986 cit in Stunkard & Wadden, 1992; Wadden &
Stunkard, 1985).
Um estudo de Rydn e colaboradores (2004) teve como o objectivo principal
examinar diferenas de traos de personalidade nos indivduos obesos mrbidos tratados
convencionalmente, cirurgicamente e o grupo de controlo com peso normal, durante dois
anos. Os traos de personalidade foram avaliados com sete das 15 escalas do Karolinska
Scales of Personality: ansiedade somtica, tenso muscular, psicastenia, ansiedade psquica,
evitamento da monotonia, impulsividade e irritabilidade. Um total de 1.380 candidatos
cirurgia, 1.241 pacientes tratados convencionalmente e 1.135 representando a populao em
geral. Os dados foram recolhidos duas vezes (antes e aps o tratamento). No incio do
53
(Chelune, Ortega, Linton & Boustany, 1986; Wadden & Stunkard, 1985; Webb, Morey,
Castelnuovo-Tedesco & Scott, 1990). Alguns estudos isolados descobriram diferenas
nalgumas escalas, mas a replicao tem sido escassa ou inexistente (O` Neil & Jarrel, 1992).
As comparaes de perfis de grupo MMPI de pessoas obesas seleccionadas para a
cirurgia baritrica tm encontrado principalmente variaes within-group (Blankmeyer,
Smylie, Price, Costello, McFee & Fuller, 1990). Diversos perfis so representados dentro da
populao com obesidade. Os candidatos a cirurgia baritrica aparentam ser uma populao
heterognea no que diz respeito ao tipo de personalidade e traos, quando avaliados com o
MMPI (O` Neil & Jarrel, 1992). Tem sido encontrada com alguma frequncia elevao nas
escalas de humor e elevaes clinicamente significativas em qualquer uma das escalas do
MMPI (Bull, Engels, Engelman & Bloom, 1983; Leon, Eckert & Teed, 1979; Maddi et al.,
1997; Wampler, Lauer, Lantz, 1980). Leon e colaboradores (1979) verificam valores baixos
na escala de depresso e Wampler e colaboradores (1980) encontraram valores baixos nas
escalas de depresso e histeria. A reviso da literatura aponta que obesos mrbidos que
procuram a cirurgia parecem no ter nveis elevados de psicopatologia ou no so detectados
por medidas de psicopatologia grave, como o MMPI, destinadas a identificar problemas
clinicamente graves de sade mental (Bocchieri et al., 2002).
As perturbaes da personalidade surpreendentemente raramente tm sido
investigadas na populao obesa (Mather et al., 2008), considerando que a obesidade
provavelmente o resultado de mecanismos de longa durao (Simon et al, 2006), nos quais
alguns traos de personalidade podem estar envolvidos (Mather et al, 2008), assim como as
perturbaes da personalidade (Johnson, Cohen, Kasen & Brook, 2006). Os poucos trabalhos
existentes sobre perturbaes da personalidade sugerem uma relao positiva com o excesso
de peso e com a obesidade (Mather et al, 2008; Rosmond, Baghei, Holm & Bjrntorp, 2001;
Rosmond, Eriksson, & Bjrntorp, 1999), nos quais frequentemente existe uma comorbilidade
com perturbaes do Eixo I (Grant, Stinson, Dawson, Chou & Ruan, 2004). Estudos
transversais demonstraram que a obesidade est associada principalmente com perturbaes
da personalidade, paranide, dependente, esquizide, estado-limite, obsessivo-compulsiva,
anti-social e evitante (Mather et al., 2008). Os obesos mrbidos apresentam ainda maior
probabilidade de perturbaes da personalidade em geral (Black, Goldstein & Mason, 1992b;
Lezenweger, Lane, Loranger & Kessler, 2007; Mather et al., 2008). Em estudos recentes,
utilizando critrios do DSMIV, as perturbaes da personalidade so encontradas com
frequncia nos pacientes propostos para a cirurgia baritrica, a sua prevalncia varia entre
19.5% a 29% (Kalarchian, Marcus, Levine, Courcoulas, Pilkonis, Ringham et al., 2007;
56
Mauri, Rucci, Calderone, Santini, Oppo, Romano, 2008). Nos obesos mrbidos parece existir
uma maior associao com as perturbaes de personalidade dependente (Godt, 2002), antisocial (Mather et al., 2008) e evitante (Godt, 2002; Mauri et al., 2008; Mather et al., 2008) e
obsessivo-compulsiva (Ferreira, Santos, Pegacho & Carvalho, 2010; Mauri et al., 2008).
Um estudo realizado em Portugal por Ferreira e colaboradores (2010) verificou que
numa amostra de 162 pacientes propostos para a cirurgia baritica, 77% apresentavam um
perfil psicopatolgico vlido, segundo os critrios do Inventrio Clnico Multiaxial Millon III
(MCMI-III). Constataram que as perturbaes da personalidade mais prevalentes foram a:
compulsiva (37.1%), histrinica (30.6%), e narcsica (20.2%). Das perturbaes psiquitricas
do eixo I destacam-se: ansiedade (38.7%), perturbao delirante (19.4%), e as perturbaes
somatoforme, bipolar e distmica (todas com 12.5%). Entre os candidatos a cirurgia baritrica,
79.8% apresentaram uma tendncia para desvalorizar ou sub-relatar a sintomatologia e 5.6%
apresentavam uma tendncia para uma auto-depreciao. Os pacientes com mais anos de
exposio ao excesso de peso/obesidade obtiveram pontuaes mais elevadas nas escalas de
personalidade esquizide e compulsiva, bem como na escala de perturbao somatoforme. Foi
tambm encontrada uma correlao positiva significativa entre o tempo de exposio ao
excesso de peso/obesidade e a personalidade esquizide e a perturbao delirante. A
interpretao e generalizao destes resultados devem ser objecto de cautela, na medida em
que no so conhecidas as propriedades psicomtricas da verso portuguesa deste
instrumento.
Os padres de associaes variam significativamente por sexo. Os homens com
excesso de peso geralmente possuem menor probabilidade de apresentarem uma perturbao
da personalidade. Por outro lado, as mulheres com excesso de peso e obesas so mais
propensas a demonstrar alguma perturbao da personalidade (Mather et al., 2008). Com o
aumento de peso verifica-se um aumento da probabilidade de perturbaes da personalidade
nas mulheres, nos homens ocorre o inverso (Mather et al., 2008). Mais especificamente, nas
mulheres obesas mrbidas so encontradas altas probabilidades de perturbaes de
personalidade evitante e anti-social, nos homens no se verifica esta tendncia (Pickering et
al., 2007). Tem sido demonstrado que os homens com excesso de peso parecem proteger-se
mais dos efeitos emocionais negativos da obesidade que as mulheres (Mather et al., 2008).
Muitas das vezes eles no se identificam como obesos, mesmo quando se encontram
critrios objectivos para a classificao como tal. Por outro lado, existe uma maior
propenso das mulheres a interiorizar e a denegrir-se devido obesidade (Grover, Keel,
Mitchell, 2003).
57
geral permisso para ser abertamente desagradvel com os que so considerados obesos
(Lampert, 1993). Estudos apontam que as pessoas com excesso de peso ou obesas so vistas
de forma negativa em aspectos como a inteligncia (Harris & Smith, 1983; Miller, Rothblum,
Brand, Barbour & Felcio, 1990), sucesso (Miller et al., 1990), considerados impulsivos, com
falta de vontade, motivao, controlo pessoal, falta de auto-disciplina, preguiosos (Crandall,
DAnello, Sakalli, Lazarus, Nejtardt & Feather, 2001; Puhl & Brownell, 2001; Puhl &
Heuer, 2010; Teachman, Gapinski & Brownell, 2001), com menos amigos, solitrios,
mesquinhos (Harris & Smith, 1983) e socialmente evitados (Rafferty & Griffin, 2006). At
mesmo especialistas em cuidados de sade tm uma imagem negativa em relao s pessoas
obesas em tratamento (Teachman & Brownell, 2001), entre eles, mdicos (Teachman &
Brownell, 2001), enfermeiros (Maroney & Golub, 1992) e profissionais de sade mental
(Young & Powell, 1985). Estas formas de preconceito raramente so desafiadas na sociedade
e as suas implicaes na sade pblica tem sido basicamente ignoradas (Puhl & Heuer,
2010). Em vez disso, prevalece na sociedade colocar o culpa nos indivduos obesos pelo seu
excesso de peso, no qual existe a percepo comum de que a estigmatizao do peso
justificvel e talvez seja necessria, porque os indivduos obesos so pessoalmente
responsveis pelo seu peso (Kim & Willis, 2007; Puhl & Brownell, 2003) e que o estigma
pode at servir como uma ferramenta til para motivar as pessoas obesas a adoptar
comportamentos de vida saudvel (Crister, 2004; Hebl & Heatherton, 1998).
Os indivduos obesos esto sujeitos a intensa descriminao e preconceito, que muitas
vezes tem o seu incio na infncia (Cramer & Steinwert, 1998; Morais, 2010) e que se
prolonga pela adolescncia (Neumark-Sztainer, Story & Faibisch, 1998), at idade adulta
(Puhl & Browenell, 2003). Num estudo de Staffieri (1967), em que era pedido a crianas, em
idade escolar, para caracterizarem a personalidade de um indivduo obeso, representado
atravs de uma imagem, estas retratavam-no como sendo, agressivo, submisso, preguioso,
sujo, estpido, feio, batoteiro e mentiroso. Maddox, Back e Liederman (1968) apresentaram
uma imagem de uma criana obesa e de crianas com deficincias fsicas como a falta de uma
mo ou com a cara desfigurada, tanto adultos como crianas apontavam o obeso como sendo
o menos simptico. Os prprios pais muitas das vezes discriminam os prprios filhos obesos
(Crandall, 1995), assim como os professores (Neumark-Sztainer, Story & Harris, 1999).
Desigualdades e tratamento injusto resultantes da discriminao do peso so
especialmente evidentes em contextos de trabalho (Puhl, Heuer & Sarda, 2010; Roehling,
1999). Por vezes so rejeitados em candidaturas a emprego (Paul & Townsend, 1995;
Rudolph, Wells, Weller & Baltes, 2009), para certas funes de trabalho (Rudolph et al.,
60
2009), apresentam salrios inferiores (Baum & Ford, 2004; Maranto & Stenoien, 2000) e
frequentemente so discriminados no seu local de trabalho (Puhl & Brownell, 2006; Rafferty
& Griffin, 2006; Rudolph et al., 2009). Pesquisa experimental recente demonstra que, em
comparao com as mulheres magras, as mulheres obesas com qualificaes idnticas so
menos provveis de serem seleccionadas para cargos de chefia e so oferecidos salrios
iniciais inferiores (OBrien, Halberstadt, Hunter & Anderson, 2008). Uma pesquisa de Carr e
Friedman (2007) numa amostra representativa dos EUA (3.437) constatou que 26% das
pessoas obesas e 31% das pessoas muito obesas relataram discriminao no local de trabalho,
que atribuem ao seu peso e aparncia. Paul e Townsend (1995) referem que o aumento dos
custos dos seguros de sade chamou a ateno do empregador sobre os factores relacionados
com a sade nos processos de recrutamento e reteno dos empregados. Um desses factores
o peso. Os empregadores tm argumentado que os funcionrios com excesso de peso
apresentam mais absentismo, so mais susceptveis a leses no trabalho e menos produtivos.
Eles tambm alegaram que os funcionrios com excesso de peso so pssimos modelos e que
podem provocar "reaces negativas" nos outros. Assim, estudos sobre a discriminao
revelam que os indivduos com excesso de peso e obesidade apresentam queixa nas
autoridades por discriminao com frequncia nos EUA (Roehling, Roehling & Pichler,
2007). Em Portugal no existem dados sobre esta situao.
Os meios de comunicao social parecem tambm contribuir para o preconceito
relacionado com a obesidade (Puhl & Heuer, 2010). A viso de que a obesidade uma
questo de responsabilidade pessoal a mensagem que predomina nos meios de
comunicao social (Boero, 2007; Bonfiglioli, Smith, King, Chapman & Holding, 2007;
Kim & Willis, 2007; Rich & Evans, 2005). As notcias sobre as causas pessoais e solues
para a obesidade superam significativamente outras atribuies de responsabilidade social
(Kim & Willis, 2007). Os meios de comunicao social tambm comunicam mensagens
anti-gordura e reforam a percepo de que o peso corporal est dentro do controlo pessoal
(Geier, Schwartz & Brownell, 2003; Himes & Thompson, 2007). Assim, a difuso da
responsabilidade pessoal desempenha um papel fundamental na estigmatizao, e serve
para justificar o estigma como uma resposta socialmente aceitvel (Crandall et al., 2001;
Puhl & Schwartz, 2003).
A televiso, em particular, pode perpetuar esteretipos negativos das pessoas obesas
devido idealizao de personagens magras (Jain &Tirodkar, 2001; Kaufman, 1980). Um
estudo de Greenberg, Eastin, Hofshire, Lachlan e Brownell (2003) analisou a distribuio e
caractersticas individuais dos tipos de corpos na televiso em horrio nobre, em cinco
61
episdios de cada um dos dez programas de fico mais populares, em seis canais durante a
temporada de 1999-2000. De 1.018 personagens principais da televiso, 14% das mulheres e
24% dos homens estavam acima do peso ou eram obesos, menos de metade das percentagens
na populao em geral. Mulheres com excesso de peso tinham menos probabilidade de serem
consideradas atraentes, interagir com parceiros romnticos, ou para mostrar afeio fsica.
Homens com excesso de peso ou obesos eram menos propensos a interagir com parceiros
romnticos e amigos ou para falar de namoro e estavam mais propensos a ser mostrados a
comer.
Os obesos em geral referem situaes de discriminao (Puhl & Heuer, 2010), no
entanto em pacientes obesos mrbidos parece ser mais evidente (Rand & MacGregor,
1990). Um estudo de Rand e MacGregor (1990) em pacientes que aguardavam a cirurgia
baritrica constatou que os pacientes com obesidade mrbida relataram vrios tipos de
encontros estigmatizantes. Por exemplo, 91% disseram que as pessoas no trabalho tinha uma
atitude negativa sobre eles por causa do seu peso, enquanto 87% sentiram que o seu peso
havia afectado a deciso de potenciais empregadores para contrat-los. Alm disso, 84%
disseram que no gostam de ser vistos em pblico, e 81% disseram que evitavam restaurantes
de fast food, com o objectivo de evitar o estigma. Os autores demonstraram uma diminuio
dramtica no nmero de situaes de estigmatizao relatadas por esses pacientes depois de
eles perderam peso aps a cirurgia.
Estes esteretipos preconceituosos e a descriminao contra pessoas com excesso de
peso podem gerar problemas psicolgicos e dificuldades variadas nas relaes sociais, que
por sua vez, podem complicar ainda mais o funcionamento adaptativo desse segmento da
populao (Correia, Prette & Prette, 2004). O preconceito em relao ao peso tem um preo
significativo na sade fsica e emocional para aqueles que so afectados, aumentando a
vulnerabilidade depresso, baixa auto-estima, imagem corporal, comportamentos suicidas,
padres alimentares pouco saudveis, perturbaes alimentares e limitao de actividades
fsicas (Puhl & Heuer, 2009; Puhl & Latner, 2007; Vartanian & Shaprow, 2008), com
implicaes directas no auto-conceito e nas estratgias de coping (Cavalcante, 2009).
62
1990; Mercer, 2011). O uso do constructo, muitas das vezes varia em funo do tipo de
abordagem, quer seja, sociolgica, antropolgica e da perspectiva psicolgica adoptada
(Mercer, 2011). Assiste-se a problemas de sobreposio e terminologia inter-relacionada
(Boekaerts, 1991; Eccles, Wigfield, Harold & Blumenfeld, 1993; Silverthorn, DuBois,
Crombie, 2005), bem como a diferentes conceptualizaes sobre a definio do conceito
(Bong & Clark, 1999; Marsh, Barnes & Hocevar, 1985; Melo, 2008). A pesquisa sobre o
auto-conceito emocionante, mas tambm frustrante e difcil para quem deseja obter uma
imagem significativa do que o auto-conceito, dado que h um grande desacordo sobre como
definir o auto-conceito e estudar o seu desenvolvimento.
Geralmente os pesquisadores beneficiam de definies claras, como tal, h uma
necessidade da investigao ser precisa quanto ao uso e compreenso do auto-conceito. O
auto-conceito consiste nas crenas que cada indivduo tem sobre si (Mercer, 2011; Marsh &
Shavelson, 1985; Serra, 1986b). Pode ser definido, de uma forma geral, como na percepo
que cada pessoa tem de si mesmo, formada a partir das experincias e relaes com o seu
meio ambiente, bem como com outros significativos (Marsh & Shavelson, 1985; Serra,
1986b). Coetzee (2011) acrescenta que uma entidade psicolgica que inclui sentimentos,
avaliaes e atitudes, bem como categorias descritivas. O auto-conceito global pode ser
considerado como uma avaliao global da pessoa, da sua aparncia, background e origem,
habilidades e recursos, atitudes e sentimentos, que culminam como uma fora que dirige o
comportamento (Labenne, Greene & Baadjies 2008 cit in Coetzee, 2011). Deste modo, o
auto-conceito apresenta uma componente cognitiva, afectiva/avaliativa e comportamental
(Bong & Clark 1999; Bong & Skaalvik, 2003; Campbell, Trapnell, Heine, Katz, Lavalle &
Lehman, 1996; Markus & Wurf, 1987). Aparenta ser multifacetado e organizado de uma
forma hierrquica do mais especfico para o mais global, do mesmo modo do mais instvel
para o mais estvel (Harter, 1999; Marsh & Hattie, 1996; Mercer, 2011; Serra, 1986b). Pode
ainda ser feita a distino entre auto-conceito real e auto-conceito ideal (Melo, 2008; Serra,
1986a).
Podemos afirmar que as percepes acerca de si prprio, ou seja, o autoconhecimento, se constroem a partir da influncia das experincias de vida em vrios
contextos (Markus & Wurf, 1987; Marsh & Shavelson, 1985; Serra, 1986b). Segundo Serra e
Pocinho (2001), existem quatro tipos de influncias que determinam o desenvolvimento do
auto-conceito. O modo como o seu comportamento julgado pelas pessoas significativas do
meio ambiente. O feedback que guarda do seu prprio desempenho. A comparao que faz
entre o seu comportamento e o daqueles que considera os seus pares sociais. O julgamento
63
que estabelece ao seu prprio comportamento tendo em conta as regras estabelecidas por um
determinado grupo normativo, de natureza religiosa ou politica, ao qual se encontra
vinculado. Assim, o modo como uma pessoa se percebe e se avalia pode determinar a forma
como se relaciona com os outros, as tarefas que tenta, as tenses emocionais que experimenta
e o modo como subsequentemente se percebe (Melo, 2008).
As pessoas tendem a ver-se da forma como os outros a olham (Serra & Pocinho,
2001), que fornecem pistas ao indivduo quanto s suas caractersticas (Cataneo et al., 2005).
O auto-conceito resulta das interpretaes que os indivduos fazem dessas experincias e dos
reforos e avaliaes que os outros significativos fazem dos seus comportamentos (Faria,
2005; Marsh & Hattie, 1996; Serra, 1986b). Assim como, as atribuies ou explicaes
causais que os outros e o prprio elaboram para os mais variados comportamentos (Faria,
2005) e de atributos que recebem valorizao cultural positiva ou negativa (Carvalho Cataneo,
Galindo & Malfar, 2005). Resulta muitas das vezes de experincias em que as suas
capacidades e competncias so testadas e tambm de contextos sociais que avaliam no s as
capacidades e competncias mas tambm os indivduos como um todo (Bandura, 1997;
Carvalho et al., 2005). Tem sido demonstrado que um maior auto-conceito pode ser o
resultado de uma srie de processos psicolgicos tais como, percepo de capacidade
(MacNair & Elliott, 1992; Marsh, 1987) e percepo do apoio oferecido autonomia (Reeve,
2002 cit in Hagger, Biddle & Wang, 2005). Estas experincias resultam em auto-avaliaes,
que fazem parte do processo adaptativo das pessoas (Cataneo et al., 2005). A auto-avaliao
um fenmeno pessoal que ajuda o indivduo a dirigir o seu comportamento (Mercer, 2011).
As pessoas carregam consigo um auto-conceito positivo ou negativo e actuam em funo dele
(Cataneo et al., 2005).
As auto-avaliaes resultam em sentimentos associados prpria percepo de
competncia e capacidade (Mercer, 2011; Pajares & Miller, 1994). As auto-avaliaes de
competncia dos indivduos parecem estar mais relacionadas com a forma como interpretam a
realizao, do que com a realizao objectiva em si mesma (Bandura, 1977; Novick, Cauce,
& Grove, 1996). O auto-conceito no se refere aos factos sobre si mesmo, mas sim ao que se
acredita ser verdade (Mercer, 2011). Deste modo, as crenas de auto-conceito reflectem
questes do "ser" e do "sentir" nos diversos contextos (Pajares & Schunk, 2005). Tanto,
elementos afectivos, cognitivos e comportamentais fazem parte do constructo de autoconceito (Bong & Clark, 1999; Bong & Skaalvik, 2003). Firestone (1987, cit in Serra &
Pocinho, 2001) reala que o auto-conceito leva a que um individuo desenvolva uma espcie
de voz interna, um esquema de pensamento, que se liga a sentimentos e atitudes. Estes
64
sentimentos e atitudes dizem muito sobre a satisfao que as pessoas extraem da sua vida, das
relaes afectivas construdas, das actividades que realizam e so um factor de risco ou de
suporte para a sua sade mental (Bandura, 1997).
Segundo Campbell e colaboradores (1996) pode ser realizada uma distino entre o
contedo e a estrutura do auto-conceito. O contedo pode ser subdividido, em componentes
do conhecimento (quem/o que sou?) e componentes de avaliao (Como me sinto sobre mim
mesmo). Exemplos de componentes do conhecimento incluem crenas pessoais sobre
atributos especficos (como por exemplo, traos, caractersticas fsicas), assim como papis,
valores e objectivos pessoais. Os componentes de avaliao incluem a positividade de autocrenas especficas e a auto-estima, uma auto-avaliao global que o produto da
visualizao "o self" como um objecto atitude. Caractersticas estruturais do auto-conceito
referem-se a como os componentes especficos do conhecimento ou auto-crenas so
organizadas. O auto-conceito considerado como um esquema cognitivo, uma estrutura do
conhecimento organizado, que contm traos, valores, memrias episdicas e semnticas
sobre o self e controla o processamento de auto-informaes relevantes (Campbell et al.,
1996; Markus & Wurf, 1987).
Durante dcadas o auto-conceito foi considerado uma entidade unitria monoltica
(Campbell et al., 1996; Markus & Wurf, 1987). No entanto, diversos investigadores
(Donahue, Robins, Roberts, & John, 1993; Markus & Wurf, 1987; Marsh, Byrne &
Shavelson, 1988; Marsh & Shavelson, 1985; Serra & Pocinho, 2001) sugerem que o autoconceito apresenta uma estrutura multifacetada, que parece funcionar em termos de domnios
especficos, isto , o auto-conceito diferenciado em mltiplas facetas no qual as crenas
pessoais so agrupadas de modo a reflectir um determinado auto-conceito num determinado
campo ou rea. Esta abordagem tem vantagens considerveis em relao a outras abordagens
unidimensionais, porque reconhece que o auto-conceito surge a partir de mltiplas fontes e
opera numa variedade de contextos (Hagger et al., 2005), reflecte as interaces sociais e as
relaes nicas que caracterizam um indivduo nos vrios papis sociais (Donahue et al.,
1993).
Embora os indivduos apresentem inmeros papis sociais (como por exemplo,
psiclogo, bombeiro, marido e coleccionador), eles apenas desenvolvem papis de identidade
para aqueles papis que internalizam no auto-conceito (Burke & Tully, 1977 cit in Donahue et
al., 1993). Isto leva-nos para outro conceito a auto-complexidade, que representa o nmero de
dimenses diferentes ou independentes que esto subjacentes organizao do auto-conceito
(Linville, 1985,1987 cit in Campbell et al., 1996). As pessoas podem ter uma baixa auto65
complexidade ou uma alta auto-complexidade (Serra & Pocinho, 2001). A partir desta
perspectiva, os indivduos que apresentam uma alta complexidade de auto-concepes podem
ser vistos como detentores de identidades especializadas que lhes permitem responder de uma
forma flexvel e adaptvel s exigncias dos diferentes papeis, o que deve melhorar as
relaes interpessoais e funcionando dentro de papis (Donahue et al., 1993). Em contraste,
uma baixa auto-diferenciao ou um self indiferenciado visto como rgido e inflexvel,
restringe o indivduo a responder de uma forma eficaz as mltiplas exigncias e muitas das
vezes conflituosas da vida social (Donahue et al., 1993). Serra e Pocinho (2001) referem que
se um individuo se considerar a si mesmo como portador de diferentes identidades no
desempenho de diversos papis, uma situao adversa afecta-o apenas numa s faceta mas
deixa as outras preservadas. Deste modo, a auto-complexidade tem sido associada com o
ajustamento psicolgico (Donahue et al., 1993; Serra & Pocinho, 2001).
O modelo de Shavelson, Hubner e Stanton (1976) considerado um "marco" no autoconceito e tem desempenhado um papel fundamental na formao de definies e no sentido
do auto-conceito em estudos de psicologia. Uma das principais caractersticas deste modelo
do auto-conceito a sua estrutura hierrquica geral, em que construes subordinadas so
definidas em funo de estruturas superiores (Mercer, 2011). O modelo multidimensional e
hierrquico defendido por diversos investigadores (Hagger et al., 2005; Marsh & Shavelson,
1985; Yeung, Chui, Lau, McInerney & Russell-Bowie, 2000) que sugerem, em geral, que o
auto-conceito global governa avaliaes de auto-conceito, em uma variedade de domnios,
como por exemplo, fsico, social, emocional, acadmico e ocupacional (Hagger et al., 2005;
Marsh & Shavelson, 1985). Por sua vez, as construes de domnios ou nveis inferiores so
super coordenadas em numerosas sub-facetas ou subdomnios que representam a organizao
de auto-descries e auto-avaliaes sobre as competncias nestes contextos mais especficos
(Hagger et al., 2005).
No entanto, alguns investigadores (Gurin, Marsh & Famose, 2003; Marsh & Yeung,
1998) tm questionado em que medida esta configurao se adequa realidade e propem que
a estrutura do auto-conceito pode ser mais complexa do que este modelo sugere, uma vez que
podem variar em estrutura, dependendo do contexto, domnios e factores especficos. Harter
(1998) questionou se o auto-conceito hierrquico, sob qualquer aspecto e se a estrutura
estatstica extrada de facto espelha a estrutura psicolgica. Por exemplo, Harter (1998)
argumenta que tais modelos hierrquicos podem reflectir as abordagens estatsticas utilizadas
pelos pesquisadores, em invs da forma como os indivduos realmente organizam os autoconceitos nas suas prprias mentes. Donahue e colaboradores (1993) concentraram-se num
66
aspecto diferente da estrutura do auto-conceito: em que medida em que estas dimenses esto
integradas. Por outro lado, Shower`s (1992) explorou a compartimentalizao, o modo como
as auto-crenas positivas e negativas residem em diferentes dimenses.
O auto-conceito considerado uma dimenso estvel, por outro lado, tambm se pode
modificar ao longo da vida devido s diversas experincias relacionais e aos contextos sociais
em que vive (Serra, 1986a; Serra, 1986b). Seguindo a tendncia crescente para investigar o
auto-conceito em domnios especficos em diferentes nveis, alguns pesquisadores tm
sugerido recentemente que diferentes domnios do auto-conceito se desenvolvem e mudam de
diferentes formas ao longo do tempo (Young & Mroczek, 2003). Alguns investigadores
sugerem que quanto mais especifico for auto-conceito menor ser a sua estabilidade (Marsh &
Shavelson, 1985; Mercer, 2011). Considerando o modelo hierrquico, um subdomnio e
subdivises reflectem avaliaes situacionais, mais transitrias e avaliaes menos estveis
do self (Hagger et al., 2005). Por outro lado, quanto mais geral, amplo e abrangente o autoconceito, dentro desta organizao hierrquica, considerado relativamente estvel e
duradouro em comparao com um domnio ou subdomnio de auto-avaliaes (Hagger et al.,
2005; Mercer, 2011). Segundo Mercer (2011) quanto mais globais forem as crenas e
formadas no incio do desenvolvimento de um indivduo e, assim, muitas vezes representam
crenas mais enraizadas, so possivelmente menos abertas a acesso consciente e mais difceis
de alterar.
Markus e Wurf (1987) no seu estudo frequentemente citado explicam que a diferena
mais importante entre diferentes auto-conceitos a sua "centralidade ou importncia".
Relativamente sua centralidade, eles referem que algumas crenas de auto-concepes so
"centrais e outras so mais "perifricas". As crenas centrais so as mais elaboradas que
podem dar um sentido geral do self. Em contrapartida, as crenas perifricas so menos
desenvolvidas e menos centralmente importantes no sentido global do self. Eles definem o
auto-conceito como a continually active, shifting array of self-knowledge (Markus & Wurf
1987, p.306). O auto-conceito pode ser interpretado como um contnuo activo, mudando
constantemente com o auto-conhecimento. Eles continuam e afirmam que no h um fixo ou
esttico self, mas apenas uma corrente de auto-conceito construda a partir das experincias
sociais. Eles enfatizam a compreenso de que eles chamam de "trabalhar o auto-conceito ou
o auto-conceito do momento". Tambm ajuda os pesquisadores a entender os resultados
aparentemente contraditrios que indicam que o auto-conceito pode ser tanto estvel como
malevel. Eles sugerem que os aspectos centrais do auto-conceito podem ser menos abertos
67
mudana devido ao seu papel central na definio do self do que outros mais perifricos que
podem ser mais propensos a flutuao.
A importncia do estudo do auto-conceito prende-se com o seu carcter preditivo
quanto realizao dos indivduos nos diversos domnios da sua existncia (Faria, 2005;
Hagger et al., 2005). Pode revelar tendncias motivacionais (Mercer, 2011; Serra, 1986a),
prever os comportamentos das pessoas em determinadas reas de forma a manter ou aumentar
as suas auto-percepes de competncia (Hagger et al., 2005). Serra e Pocinho (2001) referem
que o auto-conceito revela cinco aspectos importantes ligados ao comportamento humano, a
continuidade, a identidade pessoal, a consistncia, a coerncia e a razo porque o indivduo
inibe ou facilita determinados comportamentos. A importncia fundamental do auto-conceito,
para Serra (1986a), tem a ver com a percepo que cada um tem de si prprio, em termos de
actor social em interaco, influenciando assim, o seu relacionamento interpessoal. Deste
modo, esclarece-nos sobre a forma como a pessoa se relaciona e lida com os seus
sentimentos, leva-nos a perceber aspectos do autocontrolo e explica-nos o porqu de um
indivduo desenvolver ou inibir determinados comportamentos ou apresentar determinadas
emoes, em diferentes contextos (Melo, 2008). Assim, o auto-conceito tambm tem sido
referido como um aspecto importante por si s, devido sua ntima ligao com o bem-estar
psicolgico (Marsh, 1989; Paradise & Kernis, 2002; Serra, 1986b).
68
70
(Alfermann & Stoll, 2000; Fox, 2000; Hagger, Ashford & Stambulova, 1998; Silva &
Palmeira, 2010; Sonstroem et al., 1994), componentes da aptido fsica (Marsh, 1996; Marsh
& Redmayne, 1994), comportamentos desportivos e comportamentos alimentares (Frederick
& Grow, 1996; Carvalho et al., 2005). Por exemplo, os estudos realizados tm revelado que
valores mais elevados de auto-conceito esto associados a nveis mais elevados de actividade
fsica (Amorose, 2001; Hagger et al., 1998; Raudsepp, Liblik & Hannus, 2002).
Estudos tm mostrado que a obesidade na infncia tem efeitos adversos em vrios
domnios do auto-conceito (Davison & Birch, 2001; Zametkin, Zoon, Klein & Munson,
2004), que se podem perpetuar pela vida adulta. Por exemplo, uma pesquisa de Davison e
Birch (2001) refere que as crianas obesas ou com o estatuto de obesas apresentam estima
inferior do corpo e menor capacidade cognitiva percebida do que meninas com estatuto de
menor peso. Davison e Birch (2001) advertem que a preocupao dos pais sobre o peso do
seu filho e a restrio ao acesso dos alimentos esto associados com auto-avaliaes negativas
entre as meninas. Wylie (1979, cit in Serra & Pocinho, 2001) assinala que os pais, quer como
modelos, quer como fontes de reforos, tm a possibilidade de influenciarem os seus filhos ao
longo de vrios anos, no s nos sentimentos a seu prprio respeito como no tipo de pessoa
que gostariam de ser, ou seja, a sua identidade.
Os efeitos da obesidade na fase da adolescncia podem ser marcantes no
desenvolvimento do auto-conceito, dado que uma poca marcada por profundas
transformaes biopsicossociais (Moreira, 2005; Stunkard & Wadden, 1992; Silva &
Palmeira, 2010). A obesidade impede estes jovens de viverem parte das experincias que
esto relacionadas com esta etapa da vida e que permitem um crescimento mental saudvel
(Rodrigues, Torres & Alves, 2010). Em geral, os adolescentes esto insatisfeitos com o seu
peso. Por exemplo, um estudo realizado em Portugal por Leite (2009) com uma amostra
representativa (n=2.788) verificou que a maioria dos adolescentes (62.7%) estava insatisfeita
com a sua imagem corporal e queriam ser mais magros. No entanto, em estudos comparativos
entre obesos e no obesos referem que os obesos apresentam ainda uma maior insatisfao
com o corpo (Braet, Mervielde & Vandereycken, 1997; Carvalho et al., 2005) e competncias
sociais mais baixas (Braet et al., 1997). Estudos revelam que adolescentes que procuram
tratamento verbalizam descontentamento com o excesso de peso e sentimentos de menos
valia, devido a chacotas sofridas por colegas da escola (Dechen, Cano & Ribeiro, 2000, cit in
Carvalho et al., 2005). Paxton, Wertheim, Gibbons, Szmukler, Hillier e Petrovich (1991)
verificaram que os adolescentes australianos, em especial as do sexo feminino, apresentavam
uma preocupao excessiva com o controlo do peso. Assim como, existia a tendncia para a
71
normais. No entanto, verificou-se que existia uma associao negativa entre o auto-conceito e
o IMC. A pontuao do factor que mede a aceitao/rejeio social estava inversamente
associada com o IMC. Este trabalho apresenta como principal limitao, o reduzido tamanho
da amostra (n=15), o que retira poder estatstico, podendo explicar a ausncia de significncia
estatstica nos resultados encontrados.
Na investigao de Travado e colaboradores (2004) tambm foi utilizado o ICAC
numa amostra representativa (n=212) e os investigadores verificaram que os obesos
apresentam um auto-conceito dentro dos valores considerados normais. No entanto,
verificaram que a idade correlaciona-se positivamente com o auto conceito total, com os
factores aceitao/rejeio social e com a auto-eficcia. Deste modo, quanto mais idade tinha
o indivduo melhor era o seu auto-conceito. A investigao de Travado e colaboradores
(2004) sugere que o auto-conceito aumenta com a idade. No entanto, Rocha (2009)
verificou que os sujeitos com idades compreendidas entre os 36 e os 50 anos apresentam
uma maior auto-eficcia do que os sujeitos com mais de 51 anos. Paralelamente verificou
que os sujeitos que trabalham tambm apresentam uma maior auto-eficcia do que aqueles
que esto reformados. Estes resultados vo ao encontro de outras investigaes noutras
populaes que utilizam o ICAC que referem que a auto-eficcia diminui com o aumento da
idade (Sacoto, 2010). Estudos revelam que os homens e as mulheres so vistos como menos
atraentes, menos socialmente desejveis, e com menos recursos medida que envelhecem
(Perlini, Bertolissi, & Lind, 1999; Perlini & Lippe, 2006; Perlini, Marcello, Hansen, &
Pudney, 2001).
Rocha (2009) no seu estudo verificou que efeito do incio da obesidade
estatisticamente significativo para a dimenso de aceitao/rejeio social. De facto a
obesidade considerada um dos estigmas sociais mais duradouros (Cahnman, 1968), para
alm das formas de discriminao anteriormente referidas, as pessoas obesas so altamente
susceptveis a discriminao interpessoal (Puhl et al., 2010), relatam a escassez ou ausncia
de contactos sociais (Bocchieri et al., 2002; Valtolina, 1996), provocaes (Jackson, Grilo &
Masher, 2000), relaes problemticas com os membros da famlia (Carr & Friedman, 2006;
Crandall, 1995) e as mulheres sentem-se indesejadas socialmente (Molinari & Riva, 1995).
Maus tratos verbais reais e percepcionados esto associados a uma baixa auto-estima, baixo
auto-conceito e a sintomas depressivos (Serra & Pocinho, 2001). Frequentemente so alvo de
comentrios menos agradveis que prejudicam a imagem corporal, que acaba por
comprometer a auto-estima e o bem-estar psicolgico (Friedman et al., 2005; Myers & Rosen,
1999; Schwartz & Brownell, 2004). De referir, um estudo Crocker, Cornwell e Major (1993)
74
onde foram avaliadas diferenas nas reaces entre mulheres obesas e no obesas (n = 58),
quer de feedback positivo ou negativo de um potencial parceiro do sexo masculino. As
mulheres com excesso de peso, que receberam um feedback negativo atriburam esse
resultado ao seu peso e no culparam os homens pela sua resposta (Crocker et al., 1993). As
mulheres obesas percepcionam o peso como um factor central nos resultados sociais, ao
aceitar os esteretipos negativos (Snyder & Haugen, 1995).
Existem poucos estudos com os obesos mrbidos e com menor frequncia nos
pacientes submetidos a cirurgia baritrica, estes sugerem que um baixo auto-conceito
encontra-se associado com psicopatologia (Boros & Halmy, 2009, Rocha, 2009; Travado et
al., 2004). Rocha (2009) verificou que o auto-conceito encontrava-se correlacionado
negativamente com a ansiedade e depresso. Verificou que a ansiedade encontrava-se
negativamente correlacionada com os factores rejeio social e auto-eficcia do ICAC.
Assim como verificou que a depresso se encontrava correlacionada negativamente com os
factores rejeio social e maturidade psicolgica do ICAC. Por outro lado, Travado e
colaboradores (2004) no verificaram uma associao entre a ansiedade e o auto-conceito.
Na investigao de Travado e colaboradores (2004) foram verificadas correlaes negativas
entre o auto-conceito e o HADS, na anlise individual das duas escalas, ansiedade e
depresso, apenas foi encontrada uma correlao significativa entre a depresso e o autoconceito. Tambm foram verificadas algumas correlaes negativas entre o auto-conceito e as
escalas do Inventrio Clnico Multiaxial de Millon (2 verso) (MCMI-II). O auto-conceito
estava negativamente correlacionado com as perturbaes da personalidade esquizide,
evitante, esquizotpica, embora as correlaes foram muito baixas. Por outro lado, o autoconceito estava positivamente correlacionado com as perturbaes da personalidade
histrinica, narcsica e com a perturbao estado-limite, igualmente correlaes muito baixas.
Noutras populaes um baixo auto-conceito tem sido relacionado com depresso, ansiedade
e ansiedade social (Matos & Lobo, 2009; Melo; 2008; Serra, 1986a).
Nas investigaes de Rocha (2009) e de Travado e colaboradores (2004) no foram
encontradas associaes negativas ou positivas do auto-conceito com o IMC, ao contrrio
do que sugere Morais (2010) aspectos emocionais e sociais do auto-conceito no parece
estar correlacionado com o IMC nesta populao (Rocha, 2009; Travado et al., 2004). No
entanto, esta observao dever ser vista com algumas reservas, primeiro porque so poucos
os estudos para se generalizar, segundo, neste tipo de amostras em particular, em que a
amplitude do IMC reduzida, no surpreendente que no se encontrem diferenas
estatisticamente significativas. Nas trs investigaes os resultados do auto-conceito
75
encontraram-se dentro de valores mdios descritos por Serra (1986b), este facto pode ter
inmeras explicaes. Uma possvel explicao reside no facto desta populao ter a
tendncia desejabilidade social (com receio de no ser realizada a cirurgia) e esta varivel
estava correlacionada positivamente com o auto-conceito total na investigao de Travado e
colaboradores (2004), o que sugere a existncia de um enviesamento no sentido positivo.
Outra possvel explicao pode ser o facto de se tratar de um inventrio clnico (Serra,
1986b), onde os obesos no apresentam alteraes psicolgicas como encontrado em
diversos estudos a abordar outras sintomatologias (Dymek et al., 2002; Franques &
Ascencio, 2006; Malone & Mayer-Alger, 2004). Ainda, outras abordagens referem que no
existem diferenas entre obesos e no obesos (Miller, Rothblum, Brand & Felicio, 1995).
No estudo de Miller e colaboradores (1995), 77 mulheres obesas e 78 no-obesas
foram avaliadas atravs de medidas de auto-relato para a ansiedade social, auto-estima
social, competncia social, tamanho da rede social e percepo de apoio social de amigos e
familiares. Os amigos e colegas do trabalho tambm classificaram estas mulheres sobre as
mesmas medidas. Os auto-relatos das mulheres obesas e no obesas no diferiram
significativamente em qualquer uma dessas medidas sociais. As avaliaes dos amigos e
colegas de trabalho das mulheres obesas e no obesas tambm no foram diferentes. Os
investigadores constataram que as mulheres obesas entrevistadas obtiveram melhor
desempenho em competncias de conversao e desembarao social, com conhecidos. Estes
resultados sugerem que as mulheres obesas podem ser capazes de superar o preconceito
contra as pessoas obesas nos seus relacionamentos com os outros, o que pode confirmar a
noo difundida culturalmente de que os gordinhos so simpticos e agradveis, como
uma forma de ultrapassar a falta de atributos fsicos e de sobressair positivamente nas
relaes interpessoais (Cavalcante, 2009).
76
foi tarefa fcil e mais difcil se tornou com o ecletismo de abordagens, constructos e medidas
que surgiram (Varela & Leal, 2007). Na reviso da literatura podemos constatar que existe
uma variabilidade de constructos associados ao coping. No entanto, Lazarus e Folkman
(1984) foram os autores que formularam a definio mais referida na literatura (Varela &
Leal, 2007), sendo desta forma a mais consensual.
O conceito de coping pode ser definido como um conjunto de esforos cognitivos e
comportamentais realizados pelos indivduos para se adaptarem a exigncias especficas,
internas e/ou externas e reduzir o distress, resultante de situaes stressantes percepcionadas
como penosas ou que esto para alm dos recursos do indivduo (Folkman & Lazarus, 1988;
Lazarus & Folkman, 1984). Um indivduo determina a natureza de uma ameaa, em seguida,
avalia os recursos para lidar com a situao, ento prepara-se cognitivamente e/ou com aces
comportamentais para lidar com o stressor (Lazarus & Folkman, 1984; Lyons, Mickelson,
Sullivan, & Coyne, 1998). Sendo orientado para o processo, refere-se ao que as pessoas
pensam ou fazem no momento em situaes especficas e no ao que as pessoas fazem
normalmente. Ou seja, o coping no um trao de personalidade, estvel que se aplica s
situaes de vida em geral (Pais-ribeiro & Santos, 2001). Visto como um processo implica
dinmicas e mudanas em funo de avaliaes e reavaliaes contnuas que so funo das
relaes entre o indivduo e o meio ambiente (Pais-Ribeiro & Santos, 2001). As estratgias de
coping so aces intencionais, fsicas ou mentais, iniciadas em resposta a um stressor
percebido, dirigidos para circunstncias externas ou estados internos (Lazarus & Folkman,
1984). Podem ser aprendidas, usadas e descartadas (Antoniazzi et al., 1998).
Tm sido vinculados diversos conceitos de coping (Rudolph, Denning & Weisz,
1995). Por definio coping visto como um mediador entre um stressor e o resultado
advindo desse stressor (Antoniazzi et al., 1998; Folkman & Lazarus, 1980). O modelo de
Lazarus e Folkman (1984) envolve quatro conceitos principais. Primeiro, o coping um
processo ou uma interaco que se d entre o indivduo e o ambiente (Lazarus & Folkman,
1984). Segundo, um processo de gesto das situaes e no um processo de domnio ou de
mestria das situaes, o que esta em jogo o processo e no os objectivos e os seus resultados
(Pais-Ribeiro & Santos, 2001). Considerar coping como mestria implicaria que o esforo de
coping teria de ser eficaz na resoluo do problema, caso contrrio no teria havido coping,
ou este teria sido inadequado (Pais-Ribeiro & Santos, 2001). V-lo como gesto implica que
mesmo que o problema no tenha sido resolvido houve coping, com impacto ou no na
reduo do stress relacionado com a situao, e no a com a resoluo do problema (PaisRibeiro & Santos, 2001). A qualidade do coping no existe em absoluto, ela s pode ser
77
Figura I: Modelo de Processamento de Stress e Coping (Lazarus & Folkman, 1984, adaptado de
Antoniazzi et al., 1998)
Stressor Potencial
Avaliao primria
Qual o significado desse evento?
Como afectara o meu bem-estar?
Evento Irrelevante
Evento Stressante
Prejuzo
Ameaa
Evento Benigno
Desafio
Recursos pessoais de
coping
Avaliao secundria
O que posso fazer?
Quanto vai custar?
Qual o resultado que espero?
Estratgias de Coping
Focadas no
Problema
Focadas na
Emoo
Resultado
Reavaliao
O stress mudou?
Estou a sentir-me melhor?
78
79
utilizado nas situaes avaliadas como inalterveis (Carver, Scheier, & Weintraub, 1989;
Lazarus & Folkman, 1984). As estratgias de coping orientadas para as emoes e para a
resoluo de problemas surgem geralmente associadas, verificando-se que o coping orientado
para as emoes ocorre imediatamente aps os acontecimentos e gradualmente substitudo
por estratgias que visam a resoluo do problema (Varela & Leal, 2007). O coping focado na
emoo pode facilitar o coping focado no problema ao remover a tenso. Assim como, o
coping focado no problema pode diminuir a ameaa, reduzindo assim a tenso emocional
(Antoniazzi et al., 1998).
Um aspecto controverso na literatura do coping diz respeito eficcia das estratgias
de coping (Antoniazzi et al., 1998). No modelo de coping e stress proposto por Lazarus e
Folkman (1984), qualquer tentativa de gerir um stressor considerado coping, tendo ela ou
no sucesso no resultado. O julgamento sobre a eficcia ou adaptabilidade das estratgias de
coping tm-se mostrado extremamente subjectivo em muitas pesquisas (Beresford, 1994). As
estratgias de coping no so em si mesmas adequadas ou inadequadas, eficientes ou
ineficientes e melhores ou piores (Lazarus & Folkman, 1984; Serra & Pocinho, 2001; Varela
& Leal, 2007). Novas exigncias requerem novas formas de coping, pois uma estratgia no
eficaz para todos os tipos de stress (Antoniazzi et al., 1998). O resultado de uma estratgia de
coping difcil de avaliar porque pode mudar com o tempo. Alm disso, uma estratgia de
coping que alivia imediatamente o stress pode ser a causa de dificuldades posteriores
(Antoniazzi et al., 1998). No entanto, estas podem ser avaliadas em funo da natureza do
stressor, a disponibilidade de recursos de coping e o resultado do esforo de coping
(Antoniazzi et al., 1998). A eficcia do coping deve-se ao equilbrio entre o controlo do
desconforto emocional e a gesto do problema que origina o desconforto (Varela & Leal,
2007). Quando uma estratgia utilizada de forma crnica pode ser um factor de risco para
respostas adversas (Stroebe & Stroebe, 1999). Deste modo as estratgias de coping escolhidas
podem ser adaptativas ou desadaptativas (Carver et al., 1989). Estudos comprovam que as
estratgias de coping desadaptadas podem contribuir para o desenvolvimento de doenas em
geral, assim como para a manuteno destas (Jonge & Dormann, 2006; Lerdal et al., 2011).
Estas duas categorias de coping, focadas na emoo ou focadas no problema, so
facilmente percebidas ao princpio mas os seus efeitos podem ser confundidos (Carver &
Scheier, 1994). O processo de coping no pode ser simplificado, pois, quando um indivduo
lida com um stressor, as estratgias de coping so utilizadas individualmente,
consecutivamente e em combinao (Beresford, 1994). Determinadas estratgias de coping
encaixam-se quer nas funes de coping focadas no problema, quer nas focadas nas emoes
81
(Pais-Ribeiro & Santos, 2001). Como por exemplo, o caso da procura de aconselhamento que
serve as funes focadas no problema, quando fornece informao concreta para ajudar a
resolver um problema, e simultaneamente, serve as funes focadas nas emoes se o
processo de procurar aconselhamento ajudar o indivduo a sentir-se apoiado emocionalmente
(Pais-Ribeiro & Santos, 2001). Assim, mais recentemente, foi apresentada uma terceira
estratgia de coping, focada nas relaes interpessoais, na qual o sujeito procura apoio nas
pessoas do seu crculo social para a resoluo da situao stressante (Antoniazzi et al.,
1998). Os trabalhos mais recentes consideram aspectos afectivos, individuais, situacionais e
determinantes de coping, e a influncia de experincias prvias de coping em futuras
tentativas de controlar o stress (Suls et al., 1996). Novas categorias de respostas de coping
tm sido propostas tais como coping cooperativo e comunitrio (Lyons et al., 1998).
Para alm desta classificao de estratgias, focadas no problema ou focadas na
emoo, do modelo transaccional de Lazarus e Folkman (1984) outra classificao de coping
tem sido apresentada, que classifica as estratgias de coping de aproximao e de evitamento
de um stressor (Backnang, 2008). Empregando uma anlise factorial hierrquica, Tobin,
Holroyd, Reynolds e Wigal (1989) mostraram que o coping focado na emoo e o coping
focado no problema podem enfatizar a retirada psicolgica (evitamento: por exemplo, evitar
problemas e auto-crtica) e do mesmo modo, coping focado na emoo e coping focado no
problema podem promovem o envolvimento psicolgico (aproximao: por exemplo,
resoluo de problemas e expresso de emoes). Actualmente, ainda se encontra em
discusso uma questo levantada por Carver e colaboradores (1989) sobre a existncia de
coping como um estilo disposicional versus uma resposta conjuntural.
82
mulheres procuram com mais frequncia o suporte social do que os homens e apresentam
mais reaces emocionais face ao stress (Carver et al. 1989). Os homens so mais propensos
a responder directamente ao evento stressante (Billings & Moos, 1984; Endler & Parker,
1990). Myers e colaboradores (1999) na sua pesquisa com obesos mrbidos no encontraram
diferenas de gnero. Rydn e colaboradores (2003a) no exploraram diferenas de gnero.
necessria mais investigao para examinar a relao entre obesidade, gnero e estratgias de
coping (Puhl & Browenll, 2003).
85
stress constituem uma fonte de variao importante na percepo desse stress (Pais-Ribeiro,
2006). Os estudos demonstraram ainda que os indivduos tendem a utilizar o coping conforme
o tipo de problema que enfrentam, existe uma baixa, mas frequente, relao entre traos de
personalidade e o uso de determinadas estratgias de coping (Tomaz, 2008). As disposies
de personalidade mais amplamente estudadas, que se relacionam s escolhas de estratgias de
coping, so o optimismo, a auto-estima, o locus de controlo, a dureza (hardiness),
comportamento do tipo A, pensamento construtivo, esperana, aprendizagem criativa, autoeficcia, sentido interno de coerncia, mestria, neuroticismo e ansiedade trao (Antoniazzi et
al., 1998; Carver et al., 1989; Pais-Ribeiro, 2006). Na reviso da literatura sobre obesidade,
auto-conceito e estratgias de coping no foram encontrados estudos de relevo.
Estudos realizados com outras populaes verificam uma correlao positiva e
altamente significativa entre o auto-conceito e as estratgias de coping (Serra & Pocinho,
2001). Indivduos com um bom auto-conceito e uma boa auto-eficcia tendem a apresentar
mecanismos adequados de coping (Serra et al., 1988) e a resolver melhor os seus problemas
(Serra & Pocinho, 2001). Esto confiantes na sua capacidade para resolver problemas e so
mais capazes de perceber mais opes de coping e mais propensos a usar estratgias coping
focadas no problema e menos estratgias de coping focadas na emoo, do que aqueles com
baixa capacidade percebida de competncias (MacNair & Elliott, 1992). Por sua vez, um bom
auto-conceito e estratgias de coping adequadas so predictores de uma boa sade mental
(Serra & Pocinho, 2001). Estes estudos apoiam a ideia de que um auto-conceito positivo,
consistente e realista reflecte-se numa atitude de segurana, manifestaes saudveis e
ausncia de sentimentos de ameaa gerados pelos acontecimentos de vida, a perceber o
mundo de forma menos ameaadora, a ter estratgias de coping mais adequadas, a
desenvolver melhor as competncias relacionais de ajuda e a sentir-se bem consigo e com
os outros (Gomes & Ribeiro, 2001; Melo, 2005; Melo, 2007, Melo, 2008; Serra, 1986b;
Serra & Pocinho, 2001).
Na populao obesa constata-se que as experincias negativas relacionadas com o
peso podem levar ao evitamento da interaco social como forma de fugir da desvalorizao
(Puhl & Brownell, 2003). Swim, Cohen e Hyers (1998) propem que os indivduos
estigmatizados com o peso ponderam os custos em entrarem em potenciais situaes
ameaadoras e, em seguida, decidem entrar ou evitar. A falta de confiana na capacidade de
lidar com o preconceito pode promover o evitamento (Swim et al., 1998). Hughes e Degher
(1993) observaram que evitar parece ser comum entre os obesos, nomeadamente, ir s
compras ou praia, onde eles se sentiam observados. Outros tentaram evitar o seu estatuto,
86
PARTE II
INVESTIGAO EMPRICA
88
CAPTULO I - METODOLOGIA
Este estudo foi realizado numa amostra portuguesa de utentes seleccionados e
aguardar a cirurgia baritrica no Servio de Cirurgia da Obesidade do CHAA, Guimares. O
estudo desenvolvido com uma abordagem metodolgica quantitativa, uma vez que recorreu
exclusivamente a um conjunto de instrumentos de auto-relato. A presente investigao do
tipo epidemiolgica, descritiva, correlacional e transversal, na medida em que se pretende
caracterizar os pacientes seleccionados para a cirurgia baritrica no CHAA num nico
momento temporal. Assim, neste captulo apresentada a metodologia, sero desenvolvidos
os objectivos, hipteses do estudo, variveis do estudo, procedimentos na recolha de dados,
populao e amostra, instrumentos de avaliao e finalmente os procedimentos estatsticos.
1.1 Objectivos
O objectivo geral consiste em descrever e correlacionar a morbilidade psicolgica nos
obesos seleccionados e aguardar a cirurgia baritrica. Por morbilidade psicolgica entende-se
como psicopatologia, alteraes da personalidade e emocionais. Tambm sero descritas
caractersticas scio-demogrficas e clnicas. Tendo em considerao a extenso da
problemtica em estudo e pretendendo aumentar e melhorar a nossa compreenso acerca da
obesidade e das caractersticas psicolgicas dos pacientes seleccionados para a cirurgia
baritrica, torna-se necessrio delinear o campo em anlise, de forma a obter um
89
conhecimento selectivo, para a obteno da informao que nos interessa. Assim, definimos
como objectivos especficos para este estudo, verificar a:
Existncia de psicopatologia e a mais prevalente atravs da administrao do SCL-90R (somatizao, obsesses compulses, sensibilidade interpessoal, depresso, ansiedade,
hostilidade, ansiedade fbica, ideao paranide e psicoticismo), do Hospital Anxiety and
Depression Scale (HADS) (Ansiedade e depresso),
Alteraes da personalidade atravs do Multiphasic Personality Inventory (MiniMult) (hipocondria; depresso; histeria; psicopatia; parania; psicastenia; esquizofrenia e
hipomania).
Explorar estratgias de coping atravs do Ways of Coping Questionnaire (WCQ)
(coping confrontativo; distanciamento; auto-controlo; procura de suporte social; aceitar a
responsabilidade; fuga-evitamento; resoluo planeada do problema e reavaliao
positiva).
Avaliao de aspectos emocionais e sociais de auto-conceito atravs do Inventario
Clnico
de
Auto-Conceito
(aceitao/rejeio
social;
auto-eficcia;
maturidade
1. 3 Variveis do Estudo
1.3.1 Variveis Scio-demogrficas
O questionrio scio-demogrfico apresenta diversas variveis, deste modo foram
seleccionadas algumas que melhor caracterizam a amostra. Estas incluem o sexo, idade,
estado civil, habilitaes literrias, situao profissional, localizao da residncia, nmero de
filhos, idade dos filhos, descrio da situao marital actual, identificao de problema ou
conflito no casamento, suporte social, relaes sociais, frequncia da prtica de exerccio
fsico, imagem corporal e satisfao face vida.
tambm tem excesso de peso; quantas refeies faz por dia; que alimentos costuma ingerir nas
suas refeies; sente que faz uma escolha alimentar diria equilibrada; j se submeteu a algum
tratamento no passado para diminuir o seu peso; qual o resultado destes tratamentos; quais os
problemas de sade que mais se desenvolveram/apareceram com o aumento de peso; pelo
facto de ter um elevado peso, verifica/verificou alguma interferncia na sua vida profissional;
passa muito tempo do seu dia na cama ou sentado; sente que o seu elevado peso altera a forma
como os outros o vm; como considera a sua sade actual; em alguma altura da sua vida teve
necessidade de recorrer a apoio na rea da sade mental e se sim, qual a forma de interveno
a que foi sujeito.
para a sade e um ao Director do DPSM, do Centro Hospitalar Alto Ave, EPE. O modelo do
pedido pode ser consultado no anexo XIX: Pedido de autorizao para recolha de dados. Em
anexo tambm se encontra a autorizao da comisso de tica, anexo X: Autorizao da
comisso de tica para a realizao do estudo e no anexo XI: Autorizao do director do DPSM
para a realizao do estudo. Assim como informamos a Comisso Nacional de Proteco de
Dados a realizao do estudo. Para a realizao da cirurgia baritrica necessria a avaliao
e caracterizao psicolgica de cada utente, com emisso de parecer tcnico sobre as
condies psicolgicas deste para a realizao da cirurgia, que inclui critrios clnicos de
morbilidade psicolgica e de motivao, colaborao e responsabilidade do utente face ao
processo de tratamento e mudanas associadas, tendo sido convidados na sequncia destas
consultas ao preenchimento dos instrumentos.
A aplicao dos instrumentos realizada quando os pacientes se dirigem ao hospital
para consultas de rotina e de forma individual. Todos os indivduos foram informados sobre
os objectivos da pesquisa, procedimentos necessrios realizao da investigao e
confidencialidade dos dados. Para a participao na pesquisa, cada participante assina duas
cpias do consentimento informado (Anexo I) (uma para o participante e outra para o
investigador), em conformidade com os padres ticos da Declarao de Helsnquia da
Associao mdica, lei portuguesa e as normas ticas do hospital. O tempo de realizao
mdio foi aproximadamente 45-60 minutos. Um dos cuidados a ter na aplicao destes
instrumentos refere-se ao facto que a pontuao da gravidade dos sintomas obtida pelas
escalas no deve ser transformada em diagnstico de depresso, uma vez que esses
instrumentos avaliam apenas a intensidade dos sintomas e no substituem as entrevistas
clnicas de diagnstico.
1.5. Amostra
A amostra constituda por indivduos com obesidade propostos para a cirurgia
baritrica no momento da consulta de avaliao psicolgica para a realizao da cirurgia, no
Departamento de Psiquiatria e Sade Mental (DPSM) do Centro Hospitalar do Alto Ave
(CHAA), Guimares. Apresenta sujeitos de ambos os sexos com um total de 218,
considerados do ponto de vista mdico, candidatos ao tratamento cirrgico no momento da
colheita de dados. Os dados foram recolhidos em trs momentos diferentes, entre 2008/2009
(n=44), 2009/2010 (n=68) e finalmente em 2010/2011 (n=96), tendo sido eliminados alguns
93
94
apresentam uma moda e a mediana de satisfao com a situao marital, 60.9% esto
satisfeitos (n=109), 30.2% muito satisfeitos (n=54), 6.1% consideraram a sua situao marital
insatisfatria (n=11) e 2.8% muito insatisfatria (n=5). Em 181 sujeitos, 85.6% no
identificam problemas ou conflitos no seu casamento actual (n=155) e 14.4% identificam
problemas ou conflitos no seu casamento actual (n=26). Entre os problemas identificados a
moda so as dificuldades sexuais, 32.0% identificam dificuldades sexuais (n=8), 20%
problemas financeiros (n=5), 8% diferenas de personalidade (n=2), 8% devido aos filhos
(n=2), 4% situao profissional (n=1) e finalmente 28% outros (n=7). Em 216 sujeitos 82.1%
tm filhos (n=177) a moda ter dois filhos, 17.9% no tm filhos (n=39), 37.6% tm dois
filhos (n=82), 19.3% tm um filho (n=42), 17.4% tm trs filhos (n=38), 4.1% tm quatro
filhos (n=9) e 2.8% tem cinco filhos. O nmero de filhos mnimo zero e o mximo cinco.
Na situao profissional a moda a trabalhar, 57.8% trabalham (n=126), 24.8% esto
desempregados (n=54), 11.5% reformados (n=25), 3.2% baixa mdica (n=7), 0.9% estudantes
(n=2) e finalmente 1.8% outros (n=4). No que concerne a profisso a moda trabalharem na
indstria, 28.9% trabalham na indstria (n=63), 9.6 % so domsticas (n=21), 7.8% trabalham
no comrcio (n=17), 4.1% so funcionrios pblicos (n=9), 0.9% quadros superiores (n=2) e
11.5% outro tipo de actividades profissionais (n=25). Pelo facto de ter elevado peso 57.9%
verificou ou verifica alguma interferncia na sua vida profissional (n=125). Relativamente ao
suporte social 212 considerarem o seu suporte social disponvel sendo esta a moda, 53.3%
consideram o seu suporte social disponvel (n=113), 25% consideram participativo (n=53),
8.5% consideram incentivador (n=18), 8.5% consideram indiferente (n=18) e finalmente 4.7%
consideram despreocupado (n=10). Apresentam uma moda em 217 sujeitos de se
considerarem com facilidade nas relaes sociais, 95.9% consideram-se pessoas com
facilidade nas relaes sociais (n=208) contra 4.1% que no (n=9). Nos obesos seleccionados
para a cirurgia baritrica, 77.5% sente que pelo facto de ter elevado peso altera a forma como
os outros o vm.
95
96
9.7% quase nunca (n=21) e finalmente 2.8% nunca (n=6). Para finalizar, 28.9% em alguma
altura da vida teve a necessidade de recorrer a apoio na rea da sade mental (n=63).
97
ltima semana. Os resultados finais de cada sub-escala variam de zero a 21, e resultam da
soma dos valores dos itens de cada sub-escala. Os valores mais elevados indicam nveis mais
altos de ansiedade e depresso.
Segundo um estudo dos autores (Zigmond & Snaith, 1983, cit in Pais-Ribeiro, 2007),
em 100 doentes com diferentes queixas de doena fsica a efectuar tratamento ambulatrio, as
pontuaes obtidas entre oito e dez para cada sub-escala poder indicar uma possvel
perturbao clnica, e entre 11 e 21, uma provvel perturbao clnica. Neste sentido, os
autores sugerem o valor de oito como ponto de corte, considerando os valores inferiores como
ausncia de ansiedade e depresso. Deste modo, consideram que a severidade da ansiedade e
da depresso podem ser classificadas como normal (0-7), leve (8-10), moderada (11-15) e
severa (16-21), (Snaith & Zigmond, 1993, cit. in Pais-Ribeiro, 2007). Para outros autores
um resultado entre 8-10 para cada sub-escala considerado borderline, e um resultado igual
ou superior a 11 indicador de presena de ansiedade ou depresso (Carroll, Kathol, Noyes,
Wald & Clamon, 1993). Contudo, estes valores no foram estudados para a populao
portuguesa (Soares, 2009). Tambm pode ser usada uma pontuao total (HADS-Total),
como um indicador clnico, desde que seja analisado como um ndice de perturbao
emocional. Um resultado total 15 j apresenta uma capacidade discriminativa de
perturbao emocional com um valor preditivo positivo de 41% para casos psiquitricos de
acordo com (Ibbotson, Maguire, Selby, Priestman & Wallace, 1994).
Mykletun, Stordal e Dahl (2001, cit in Soares, 2007) examinaram as propriedades
psicomtricas da HADS numa grande populao, num total de 65648 participantes, com
idades compreendidas entre os 20-89 anos. Este estudo baseado numa grande populao deu
suporte estrutura bidimensional dos factores, verificando que as propriedades psicomtricas
da HADS, como um instrumento de auto-avaliao, devem ser consideradas como muito boas
em termos de estrutura factorial, validade e fidelidade.
No presente estudo foi utilizado a verso experimental portuguesa de McIntyre,
Pereira, Soares, Gouveia e Silva (1999) (Anexo IV). Esta verso foi aplicada a uma amostra
de utentes ps-enfarte de miocrdio, num estudo longitudinal realizado em cinco momentos
distintos: quarto dia do internamento (n=111); momento da alta (n=187); duas semanas aps a
alta (n=100); trs meses aps a alta (n=114) e seis meses aps a alta (n=60). Os coeficientes
de Alfa de Cronbach do HADS variaram entre 0.95 a 0.90 na sub-escala da ansiedade e entre
0.75 a 0.85 na sub-escala da depresso, revelando uma elevada consistncia interna deste
instrumento. McIntyre e colaboradores (1999) demonstrou que na anlise factorial a dois
factores, o primeiro factor (ansiedade) explica 29.53% da varincia total e o segundo factor
99
(depresso) explica 28.65% da varincia total, explicando no seu conjunto mais de 58% da
varincia total inicial (58.181%).
Posteriormente, num estudo de validao da verso Portuguesa do HADS por Pais e
Ribeiro e colaboradores em 2007 a verso portuguesa desta escala designa-se Escala de
Ansiedade e Depresso Hospitalar. A verso portuguesa da HADS foi estudada em 1322
doentes em doenas como cancro, acidente vascular cerebral, epilepsia, diabetes tipo dois
(DM2), doena cardaca coronria, obesidade mrbida, depresso, distrofia miotnica, apneia
do sono, assim como, mais um grupo sem doena como grupo de controlo (Pais-Ribeiro,
2007). Verificou-se que a anlise das propriedades psicomtricas do HADS nesta amostra,
revela uma boa fidelidade do instrumento e o estudo da validade confirmou a estrutura
factorial de dois factores preconizados pelos autores e confirmados por outros estudos. O
coeficiente de alfa de Cronbach do HADS foi de 0.76 na sub-escala da ansiedade e 0.81 na
sub-escala da depresso, revelando uma elevada consistncia interna. O estudo da verso
portuguesa da HADS confirma que um instrumento fiel e vlido para a avaliar a ansiedade e
a depresso em contextos mdicos e em populaes com doena.
100
que variam entre 0.32 e os 0.59, os coeficientes do alfa de Cronbach se o item for eliminado
variam entre os 0.66 e os 0.73. Os resultados do calculo dos coeficientes de alfa de Cronbach,
correlaes dos itens com o total da escala e o Alfa de Cronbach se o item for eliminado, os
resultados podem ser consultados no Quadro 3.
Quadro 3
Consistncia Interna do HADS
N.
Alfa
Itens
Cronbach
Alfa de Cronbach se o
item for eliminado
Mnimo
Mximo
Mnimo
Mximo
HADS Total
14
0.867
0.354
0.683
0.850
0.868
Ansiedade
0,830
0.459
0.654
0.795
0.825
Depresso
0,729
0.317
0.593
0.661
0.728
101
composto por 90 itens, os itens so cotados a partir de uma escala de Likert de cinco
pontos, variando de zero (Nunca) a quatro (Extremamente), que se referem a diferentes
nveis de mal-estar. O SCL-90-R cotado e interpretado em termos de nove dimenses
primrias de sintomas e trs ndices globais. As nove dimenses primrias so: somatizao
(12 itens), obsesses compulses (10 itens), sensibilidade interpessoal (9 itens), depresso (13
itens), ansiedade (10 itens), hostilidade (6 itens), ansiedade fbica (7 itens), ideao paranide
(6 itens) e psicoticismo (10 itens). Para alm destas medidas de psicopatologia o SCL-90-R
fornece-nos trs ndices globais de gravidade, medidas complementares que se relacionam
com aspectos do mal-estar psicolgico e o estatuto psicopatolgico geral, representando
aspectos diferentes de psicopatologia. Assim, o ndice geral de sintomas (IGS) combina a
informao do nmero de sintomas com a sua intensidade, o Nmero de Sintomas positivos
(NSP) indica o nmero de sintomas presentes e o ndice de sintomas positivos (ISP) uma
medida da intensidade ajustada para o nmero de sintomas presentes.
Quanto s suas caractersticas psicomtricas, o SCL-90-R apresenta uma boa
consistncia interna, apresentou nveis de consistncia interna avaliados pelo alfa de
Cronbach, que variam entre 0.84 (Sensibilidade Interpessoal) e 0.90 (depresso). A
estabilidade temporal avaliada pelo mtodo de teste-reteste, num intervalo de uma semana,
apresentou valores de correlao que variaram entre 0,80 (Hostilidade) e 0,90 (Ansiedade)
(Degoratis & Lazarus, 1994, cit. in Soares, 2007). A verso portuguesa deste questionrio foi
elaborada por Batista (1993), tendo o estudo psicomtrico realizado obtido valores elevados
de consistncia interna, o Alfa de Cronbach variou entre 0.74 e 0.97, e a consistncia testereteste os coeficientes alfa encontrados foram de 0.78 e de 0.90. Confirmou-se a estrutura
dimensional derivada clinicamente e foi demonstrada a sua invarincia atravs do sexo
(Derogatis & Cleary, 1977, cit in Baptista, 1993). Um estudo de Pereira (2007) verificou que
a consistncia interna da escala global foi de 0.95 e as diferentes sub-escalas apresentam
valores que variam entre 0.63 e os 0.84. Pode-se afirmar que o instrumento apresenta uma boa
consistncia interna a nvel global.
102
coeficiente de fidelidade para o SCL-90-R com 90 itens foi de 0.963, o que evidencia uma
elevada consistncia interna do instrumento. No que se refere a consistncia interna das nove
escalas primrias somatizao (SOM), obsesses compulses (O-C), sensibilidade
interpessoal (S-I), depresso (DEP), ansiedade (ANS), hostilidade (HOS), ansiedade fbica
(A-F), ideao paranide (I-P) e psicoticismo (PSI) foi calculado coeficiente de alfa de
Cronbach, correlaes dos itens com o total da escala e o Alfa de Cronbach se o item for
eliminado, os resultados podem ser consultados no Quadro 4.
Quadro 4
Consistncia Interna do SCL-90-R
N.
Alfa
Itens
Cronbach
Alfa de Cronbach se o
item for eliminado
Mnimo
Mximo
Mnimo
Mximo
SCL-90-R
90
0.963
0.098
0.707
0.962
0.964
SOM
12
0,852
0.391
0.653
0.831
0.848
O-C
10
0,763
0.269
0.579
0.724
0.761
S-I
0.839
0.309
0.692
0.806
0.848
DEP
13
0.851
0.307
0.727
0.823
0.851
ANS
10
0.848
0.445
0.621
0.827
0.842
HOS
0.634
0.228
0.463
0.556
0.633
A-F
0.664
0.179
0.492
0.593
0.671
I-P
0.714
0.414
0.514
0.653
0.671
PSI
10
0.750
0.108
0.591
0.702
0.793
Pela anlise do Quadro 4 podem verificar caso sejam eliminados alguns itens obtemos
uma maior fidelidade do instrumento. Com a eliminao do item Acordar muito cedo de
manha, obtemos um alfa superior, passa dos 0.963 para os 0.964. Este item no
contabilizado em nenhuma das escalas primrias, mas sim como um item adicional. Pela
consulta do quadro possvel verifica-se caso seja eliminado pelo menos um item da escala
S-I teria uma maior consistncia interna. Assim, se o item Sentir-se tmido ou pouco
vontade com pessoas do sexo aposto, seja eliminado obtm-se uma maior validade desta
escala, passa dos 0.839 para os 0.848. Tambm se verifica um ligeiro aumento da consistncia
interna na escala A-F com a eliminao do item Medo de viajar de comboio, elctrico ou
autocarro, dos 0.664 para os 0.671. A mesma situao na escala de PSI que se verifica um
ligeiro aumento com da eliminao do item Dores de cabea, de um alfa de 0.750 para os
103
0.793. Apesar da eliminao destes itens conduzir a uma maior fidelidade do instrumento e
das escalas utilizou-se neste estudo os mesmos itens da escala da verso original.
resultados na escala padro de notas brutas do MMPI, foi estimada ter sofrido apenas uma
perda de 9% em fiabilidade e uma perda de 14% no reteste. No que se refere as notas T
utilizadas neste estudo a equipa de adaptao espanhola do MMPI-2 (Butcher et al., 2002)
calculou a fidelidade utilizando o ndice de Cronbach com a amostra total de sujeitos
(n=1.971), em primeiro lugar, com as 37 variveis (escalas bsicas, de contedo e
suplementares), tendo-se excludo as escalas de validade. Obteve-se um resultado de 0.91.
Posteriormente, realizou-se o clculo apenas com as escalas bsicas e o ndice alcanado foi
de 0.78. Os valores encontrados podem ser considerados como expressivos e satisfatrios
(Butcher et al., 2002).
Quadro 5
Consistncia Interna do Mini-Mult
N.
Itens
Alfa
Cronbach
Alfa de Cronbach se o
item for eliminado
Mnimo
Mximo
Mini-mult
71
0.795
-0.266
0.501
0.785
0.814
0,486
0.196
0.349
0.347
0.473
15
0,614
-0.175
0.466
0.552
0.652
16
0.604
-0.003
0.399
0.560
0.625
Hs
14
0.260
-0.232
0.280
0.159
0.344
20
0,339
-0,146
0,315
0.265
0.388
Hy
26
0,389
-0,081
0,261
0.342
0,418
Pd
18
0,516
-0,204
0,431
0,445
0,569
Pa
14
0,430
-0,312
0,374
0,364
0,548
Pt
15
0,536
-0,288
0,436
0,475
0,621
Sc
21
0,565
-0,288
0,475
0,512
0,650
Ma
12
0,679
0,133
0,501
0,628
0,688
105
106
para avaliar as estratgias de coping que as pessoas utilizam para lidar com situaes
stressantes especficas em adultos em geral (Pais-Ribeiro, 2007). Os itens do questionrio
foram concebidos para serem respondidos relativamente a um acontecimento de stress
especfico (Pais-Ribeiro & Santos, 2001).
Apesar de o WCQ ter sido pensado para ser auto-administrado, pode ser feita uma
entrevista prvia sua aplicao para ajudar o indivduo a reconstruir o acontecimento
stressante focado. Dependendo dos objectivos da pesquisa, a entrevista pode ir desde um
breve sumrio sobre o acontecimento a uma explorao mais exaustiva do seu contedo (PaisRibeiro & Santos, 2001). Questionar o indivduo acerca do acontecimento (quem estava
envolvido e o que que aconteceu) pode ajudar o investigador a assegurar-se que a resposta
se refere a um acontecimento especfico e no a uma condio generalizada. A medio ,
portanto, contextual, orientada por um processo e transaccional. Os autores defendem que no
se pergunta o que que a pessoa pode ter pensado ou feito, ou o que que habitualmente faz,
mas o que que realmente fez ou pensou num contexto particular (Pais-Ribeiro & Santos,
2001). A definio do acontecimento um factor decisivo na administrao apropriada do
WCQ. O acontecimento focado pode ser definido pelo investigador, quando pretende explorar
uma questo especfica (p. ex., coping com um determinado diagnstico mdico) ou, pode ser
seleccionado pelo indivduo. Neste caso, o investigador ter que se assegurar que o indivduo
focou um acontecimento especfico (Pais-Ribeiro & Santos, 2001). Neste estudo os
indivduos escolhiam o acontecimento stressante.
Os indivduos respondem a cada item numa escala ordinal de 4 pontos, indicando com
que frequncias usam cada estratgia: 0- nunca usei; 1- Usei de alguma forma; 2- Usei
algumas vezes; 3- Usei muitas vezes. O WCQ pode ser consultado no Anexo VII: Ways of
Coping Questionnaire (WCQ). Existem dois mtodos de pontuar os questionrios: pontuaes
absolutas e relativas. As pontuaes absolutas so o somatrio das respostas dos sujeitos dos
itens que compem uma escala. Este mtodo sumaria em que medida cada tipo de coping foi
usado num acontecimento particular. O mtodo de pontuaes relativas descreve a
contribuio de cada escala relativamente a todas as escalas combinadas. Consiste em calcular
a pontuao mdia por item de uma dada escala, dividindo o somatrio das pontuaes dessa
escala pelo nmero de itens que a compem. Portanto, a pontuao absoluta descreve os
esforos de coping em cada um dos oito tipos de coping, a pontuao relativa descreve a
proporo do esforo representado por cada tipo de coping (Pais-Ribeiro & Santos, 2001).
Devido a inmeras dificuldades encontradas com a praticabilidade dos questionrios
os autores recorreram a mtodos empricos para completar e identificar variedades de coping
107
que tinham desenvolvido com base na sua teoria. Com base em vrios estudos e aps anlise
factorial os autores adoptaram a subdiviso da escala em oito subescalas de coping (Folkman
& Lazarus, 1986). Segundo a teoria de coping de Lazarus e Folkman (Lazarus, 1992) a maior
parte das pessoas recorre a cerca de oito estratgias de coping em todos os acontecimentos de
stress, Coping Confrontativo (Cc), descreve os esforos agressivos de alterao da situao e
sugere um certo grau de hostilidade e de risco. Distanciamento (Dt), descreve os esforos
cognitivos de desprendimento e minimizao da situao. Auto-controlo (Ac), descreve os
esforos de regulao dos prprios sentimentos e aces. Procura de Suporte Social (Pss),
descreve os esforos de procura de suporte informativo, suporte tangvel e suporte emocional.
Aceitar a Responsabilidade (Ar), consiste no reconhecimento do prprio papel no problema e
concomitante tentativa de recompor a situao. Fuga-Evitamento (Fe), descreve os esforos
cognitivos e comportamentais desejados para escapar ou evitar o problema. Resoluo
Planeada do Problema (Rpp), descreve os esforos focados sobre o problema deliberados para
alterar a situao, associados a uma abordagem analtica da soluo do problema. Reavaliao
Positiva (Rp), descreve os esforos de criao de significados positivos, focando o
crescimento pessoal. Tem tambm uma dimenso religiosa. (Pais-Ribeiro & Santos, 2001).
Relativamente as suas propriedades psicomtricas no estudo de reviso do WCQ,
numa amostra de 85 casais, no qual foram entrevistados uma vez por ms durante seis meses
no sentido de analisar o funcionamento da relao entre processos cognitivos e estratgias de
coping no relacionamento conjugal, encontraram bons nveis de confiana nas oito estratgias
de coping (coping confrontativo alfa=0,70; distanciamento alfa=0,61; auto-controlo
alfa=0,70; procura de suporte social alfa=0,76; aceitar a responsabilidade alfa=0,66; fugaevitamento alfa=0,72; resoluo planeada do problema alfa=0,68 e reavaliao positiva
alfa=0,79) (Folkman, 1988). A verso portuguesa do WCQ, foi adaptado para a populao
portuguesa por Pais-Ribeiro e Santos (2001), tendo sido reduzido o nmero de itens para 48.
No estudo de adaptao para a populao portuguesa numa amostra de 98 trabalhadoras por
turnos do sexo feminino, assim como na verso original obteve-se bons nveis de confiana
nas oito estratgias de coping (coping confrontativo alfa=0.52; distanciamento alfa=0.61;
auto-controlo alfa=0.67; procura de suporte social alfa=0.79; aceitar a responsabilidade
alfa=0.57; fuga-evitamento alfa=0.67; resoluo planeada do problema alfa=0.76 e
reavaliao positiva alfa=0.83) (Pais-Ribeiro & Santos, 2001).
108
Quadro 6
Consistncia Interna do WCQ
N.
Itens
Alfa
Cronbach
Alfa de Cronbach se o
item for eliminado
Mnimo
Mximo
Mnimo
Mximo
WCQ Total
48
0,948
0,326
0,731
0,946
0,949
Coping Confrontativo
0,762
0,421
0,650
0,729
0,747
Auto-controlo
0,746
0,209
0,557
0,696
0,771
0,777
0,357
0,587
0,731
0,777
Assumir a Responsabilidade
0,808
0,599
0,696
0,696
0,796
0,814
0,387
0,695
0,756
0,825
Distanciamento
0,799
0,495
0,672
0,734
0.786
Fuga-evitamento
0,685
0,264
0,501
0,619
0,683
Reavaliao Positiva
0,771
0,330
0,605
0,718
0,778
Pela anlise do Quadro 6 podem verificar que todas as escalas apresentam uma boa
consistncia interna. No entanto caso sejam eliminados alguns itens obtemos uma maior
fidelidade do instrumento. Com a eliminao do item Desejei que a situao desaparecesse
ou que de alguma forma terminasse, obtemos um alfa superior (0.949). Em algumas escalas
de estratgias de coping verifica-se a mesma situao. Na escala Coping Confrontativo
poderia ser eliminado o item Fiz algo que pensei que no iria resultar, mas pelo menos fiz
alguma coisa. Na escala Auto-controlo o item Tentei no agir depressa demais nem seguir
o meu primeiro impulso. Na escala Resoluo Planeada do Problema os itens Concentreime apenas naquilo que ia fazer a seguir - no prximo passo e Aproveitei as minhas
experincias passadas; j estive envolvido em situaes semelhantes. Finalmente na escala
109
Reavaliao Positiva o item Rezei. Apesar da eliminao destes itens conduzir a uma maior
fidelidade do instrumento e das escalas utilizou-se neste estudo os mesmos itens da escala da
verso original portuguesa.
110
No estudo de validao desta escala participaram 920 elementos que serviu para a
construo do inventrio e com o objectivo de avaliar a consistncia interna foi utilizado o
coeficiente de Spearman-Brown. O coeficiente nos 920 sujeitos foi de 0.791, podendo ser
considerado bastante elevado, considerando o nmero de casos. Com o intuito de conhecer a
sua consistncia na estabilidade temporal foi usado o teste/reteste. O tempo que mediou entre
o primeiro e o segundo teste, na mesma pessoa foi de pelo menos um ms. Este traduziu-se
por um coeficiente de correlao de 0.838 para 108 elementos, o que revela uma boa
consistncia interna e estabilidade temporal (Serra, 1986b). A correlao entre uma
classificao pessoal de auto-conceito e a nota global da escala (n=920) foi de 0.466,
revelando-se positiva e significativa, o que sugestivo de uma boa validade do constructo
(Almeida, et al., 1995; Serra, 1986b). Os itens que constituem o inventrio revelam um bom
poder discriminatrio, no sendo sensveis a diferenas de sexo (Serra, 1986b). Os resultados
obtidos nos diversos trabalhos em que este inventrio foi utilizado esto em consonncia com
o que est referido na literatura e confirmam que o ICAC um instrumento com ptimos
nveis de validade e fidelidade, sensvel ao bom ou mau ajustamento do indivduo (Rocha,
2009).
111
Alfa SpearmanBrown
Alfa de Cronbach se
o item for eliminado
Mnimo
Mximo
ICAC
20
0.842
0.167
0.671
0.827
0.848
Aceitao/Rejeio
social
0.649
0.319
0.577
0.576
0.700
Auto-eficcia
0.652
0.095
0.439
0.434
0.588
Maturidade
Psicolgica
0.639
0.235
0.435
0.455
0.617
Impulsividade
actividade
0.583
0.305
0.451
0.332
0.601
112
113
Quadro 8
Distribuio da Mdia e Desvio Padro das Sub-escalas de Ansiedade e Depresso do
HADS (N=218)
HADS total
Ansiedade
Depresso
Mdia
14.29
8.24
6.05
Desvio Padro
7.83
4.68
3.87
Normal
Leve
Moderado
Severa
% (n=<7) % (n>= 8) % (n>10) % (n>=16)
47,25%
52,75%
31,19%
8,26%
68,04%
31,51%
12,84%
2,75%
Quadro 9
Distribuio da Mdia e Desvio Padro das Sub-escalas e ndices de Gravidade Geral do
SCL-90-R (N=218)
SOM
O-C
ISP
1.33
0.96
DP
0.72
0.61
Pontos de corte
1.14
1.47
% Acima do ponto
de corte
56.9
19.6
116
Grfico XIX: Perfil Mini-Mult dos obesos seleccionados e aguardar a cirurgia baritrica.
Notas T
70
65
60
57
60
58
59
58
57
55
53
51
46
48
50
58
45
40
Ma - Mania
Sc - Esquizofrenia
Pt - Psicastenia
Pa - Parania
Pd - Psicopatia
Hy - Histeria
D - Depresso
Hs - Hipocondria
K - Correco
F - Validade
L - Mentira
35
Pearson. Para as restantes variveis em que pelo menos uma varivel no cumpria o
pressuposto da normalidade foram realizados testes correlao ordinal de Spearman. Foram
encontradas correlaes ou associaes moderadas e altas. Os resultados das correlaes
podem ser consultados no Quadro 10.
Quadro 10
SCL-90-R
HADS
Hy
Pd
Pa
Pt
Sc
Ma
Ansiedade
0,150*
0,679**
0,506**
0,175**
0,644**
0,565**
0,097
0,114
Depresso
0,096
0,649**
0,473**
0,076
0,459**
0,515**
0,011
0,090
Total
0,129
0,720**
0,534**
0,136*
0,613**
0,583**
0,063
0,108
Somatizao
0,106
0,537**
0,487**
0,060
0,462**
0,354**
0,023
0,041
O-C
0,067
0,658**
0,335**
0,093
0,503**
0,479**
0,037
0,015
S-I
-0,001
0,535**
0,294**
0,113
0,479**
0,469**
0,012
0,144*
Depresso
0,047
0,658**
0,459**
0,098
0,627**
0,505**
0,072
0,108
Ansiedade
0,055
0,650**
0,493**
0,167*
0,607**
0,511**
0,110
0,142*
Hostilidade
-0,033
0,484**
0,306**
0,002
0,436**
0,333**
0,040
0,084
A- Fbica
0,085
0,537**
0,384**
0,098
0,515**
0,470**
0,038
0,072
P-P
0,029
0.442**
0,247**
0,092
0,539**
0,307**
0,031
0,079
Psicoticismo
0,004
0,492**
0,292**
0,104
0,503
0,454**
0,051
0,135*
TSP
0,065
0,615**
0,411**
0,126
0,561**
0,512**
0,065
0,148*
ISP
0,097
0,512**
0,376**
0,057
0,508**
0,347**
0,021
-0,009
GSI
0,057
0,674**
0,473**
0,124
* Correlao a um nvel de significncia (p0,05)
0,629**
0,525**
0,059
0,111
118
Quadro 11
Distribuio da Mdia e Desvio Padro do Total do ICAC e seus Factores (N=218)
Auto-conceito
Total
74,91
Aceitao/Rejeio
Social
18,40
Autoeficcia
22,23
Maturidade
Psicolgica
14,65
Impulsividad
e /actividade
11,30
8,10
2.61
2,93
2,30
1,68
Moda
80
20
23
16
12
Mediana
76
19
23
15
12
Mnimo
40
12
Mximo
99
25
30
20
15
Media (M)
Desvio Padro (DP)
Na anlise dos valores mdios do total do ICAC e dos seus factores, os nossos
resultados so ligeiramente superiores aos apresentados pelo autor (Serra, 1986b), sugerindo
que os obesos seleccionados e a aguardar a cirurgia baritrica apresentam um bom autoconceito social e emocional.
Como j foi demonstrada pela elevao do IGS e da escala de somatizao os obesos
seleccionados e aguardar a cirurgia baritrica apresentam nveis elevados de distress. As
estratgias de coping para lidar com o stress foram avaliadas atravs do WCQ. Os resultados
podem ser consultados no Quadro12.
Quadro 12
Distribuio da Mdia e Desvio Padro do WCQ e suas Sub-escalas (N=218)
Mdia
Desvio Padro
Mnimo
Mximo
Escala Total
1,078
0,576
2,667
Reavaliao Positiva
1,265
0,679
3,000
Resoluo Planeada
1,200
0,786
3,000
1,124
0,715
2,857
Auto-controlo
1,106
0,715
2,714
Fuga-evitamento
0,998
0,598
2,857
Coping Confrontativo
0,972
0,728
2,833
Assumir Responsabilidades
0,853
0,931
3,000
Distanciamento
0,794
0,780
2,800
Como podemos verificar pela anlise do Quadro 12 os seus valores mdios variam entre
0.972 e 1.265. Verifica-se que quatro estratgias de coping apresentam uma frequncia superior
a mdia da escala total do WCQ sendo estas as mais utilizadas para lidar com o stress, a
reavaliao positiva, resoluo planeada, procura de suporte social e auto-controlo.
119
Quadro 13
Correlaes das Escalas de Validade do Mini-Mult com as Escalas Clnicas (N=218)
N= 218
L
(Mentira)
F
(Incoerncia)
K
(Correco)
F-K (ndice de
simulao)
HADS Total
-0,299**
0,577**
-0,306**
0,498**
HADS Depresso
-0,260**
0,375**
-0,229**
0,362**
HADS Ansiedade
-0,296**
0,529*
-0,322**
0,535**
SCL Somatizao
-0,177**
0,405**
-0,225**
0,367**
-0,294**
0,415**
-0,341**
0,438**
-0,366**
0,349**
-0,337**
0,400**
SCL Depresso
-0,339**
0,496**
-0,413**
0,529**
SCL Ansiedade
-0,284**
0,515**
-0,421**
0,554**
SCL Hostilidade
-0,317**
0,467**
-0,399**
0,518**
-0,162*
0,363**
-0,262**
0,372**
-0,364**
0,499**
-0,421**
0,536**
SCL psicoticismo
-0,302**
0,445**
-0,355**
0,464**
SCL GSI
-0,341**
0,533**
-0,422**
0,559**
SCL TSP
-0,367**
0,470**
-0,380**
0,492**
SCL ISP
-0,174**
0,463**
-0,340**
0,480**
0,083
0,107
0,119
-0,018
-0,211**
0,567**
-0,187**
0,465**
Mini-Mult Histeria
-0,053
0,334**
0,158*
0,138*
-0,041
0,138*
-0,057
0,131
-0,203**
0,747**
-0,382**
0,675**
Mini-Mult Psicastenia
-0,062
0,133
-0,010
0,237**
Mini-Mult Esquizofrenia
0,013
0,134*
-0,018
0,100
Mini-Mult Hipomania
-0,097
0,067
-0,084
0,089
ICAC Total
0,027
-0,146*
-0,73
-0,057
0,035
-0,178**
0,045
-0,153*
ICAC Auto-eficcia
0,009
-0,092
-0,145*
0,017
0,050
-0,132
-0,073
-0,038
-0,159*
0,093
Mini-Mult Hipocondria
Mini-Mult Depresso
Mini-Mult Parania
120
2.2.1 Hiptese 1
Hiptese 1: Espera-se que existam diferenas nos nveis de ansiedade e depresso, em funo
das variveis scio-demogrficas e clnicas estudadas (IMC, sexo, idade, habilitaes
literrias, local de residncia e aparecimento de problemas fsicos), nos obesos seleccionados
e a aguardar a cirurgia baritrica.
0,05), IMC e depresso do HADS (r = 1.6, n = 214, 0,05), IMC e depresso do SCL-90-R
s
na
escala
de
ansiedade
do
SCL-90-R
( 4, 214 14,84, p 0,02) e na escala ansiedade do HADS ( 4, 214 14,82, p
0,01). Na escala de depresso do HADS no foram encontradas diferenas estatisticamente
significativas ( 4, 214 14,84, p 0,02).
Em todas as escalas as mdias foram superiores nos sujeitos com ensino ao nvel do
bsico. Neste sentido foi realizada uma nova diviso, os com ensino bsico e os com ensino
superior ao bsico. Diferenas estatisticamente significativas foram encontradas novamente
123
com os testes Mann-Wihtney nas mesmas trs escalas, na escala ansiedade do HADS
( U 3,42, p 0,01) e na escala de ansiedade do SCL-90-R ( U 2,80, p 0,01) e
na escala de depresso do SCL-90-R ( U 2,65, p 0,01). Na escala de depresso do
HADS no foram observadas diferenas estatisticamente significativas ( U 1,85, p
0,07). No foram encontradas diferenas estatisticamente significativas at ao 9ano de
escolaridade. Foi realizado o teste de Mann-Wihtney para verificar se existiam diferenas
entre aqueles que tinham o ensino bsico e os que tinham o 9 de escolaridade nos nveis de
ansiedade e depresso do HADS e do SCL-90-R. No foram encontradas diferenas
estatisticamente significativas: ansiedade do HADS ( U 1,630, p 0,103), ansiedade
do SCL ( U 0,964, p 0,335). Depresso do HADS ( U 0,872, p 0,383),
depresso do SCL ( U 1,036, p 0,300). A partir do 12 ano de escolaridade j se
encontram diferenas estatisticamente significativas quando comparadas com os com o ensino
bsico. Foi encontrada uma diferena estatisticamente significativa na escala de ansiedade do
HADS ( U 1,630, p 0,103), ansiedade do SCL U 0,964, p 0,335 e
depresso do SCL U 1,036, p 0,300). Apenas no foi encontrada uma diferena
estatisticamente para a escala de depresso do HADS ( U 0,872, p 0,383). Em
todas as escalas os sujeitos com ensino at ao 6 ano (nvel bsico) apresentam mdias
superiores. Os dados recolhidos sugerem que os obesos seleccionados e a aguardar a cirurgia
baritrica com habilitaes acadmicas at ao 9 ano de escolaridade apresentam mais
sintomatologia depressiva e ansiosa que os que possuem escolaridade superior ao 12 ano de
escolaridade.
Foi realizado o teste Kruskal-Wallis para verificar se existiam diferenas nos nveis de
ansiedade e depresso em funo da residncia, rural ou urbana. Verificou-se que existem
diferenas estatisticamente significativas nas duas escalas de ansiedade entre os obesos, na
escala de ansiedade do HADS ( 1, 216 4,38, p 0,04) e escala de ansiedade do SCL
( 1, 216 5,42, p 0,02 e no so verificadas diferenas ao nvel da depresso, na
escala de depresso do HADS ( 1, 216 0,00, p 0,94 e escala de depresso do SCL
1, 216 2,62, p 0,10). Os Testes Mann-Wihtney apontam para a mesma situao,
verificam-se diferenas estatisticamente significativas entre os moradores de zonas rurais ou
urbanas nos nveis de ansiedade e no existe diferenas nos nveis de depresso: ansiedade do
HADS e local de residncia ( U 2,09, p 0,04, ansiedade do SCL e local de
residncia U 2,33, p 0,02). Depresso do HADS e local de residncia U
0,05, p 0,96, depresso do SCL e local de residncia U 1,62, p 0,105). Os
124
2.2.2 Hiptese 2
Hiptese 2: Espera-se que o auto-conceito esteja relacionado com a psicopatologia e com
alteraes da personalidade, ou seja, espera-se que baixos nveis de auto-conceito estejam
associados a nveis mais elevados de psicopatologia e alteraes da personalidade, e que
nveis elevados de auto-conceito estejam associados com baixos nveis de psicopatologia e
alteraes da personalidade, nos obesos seleccionados e a aguardar a cirurgia baritrica.
Para analisar a relao entre psicopatologia, alteraes da personalidade e o autoconceito recorremos a testes no paramtricos, considerando que as variveis em causa no
seguem uma distribuio normal. Utilizamos o teste de correlao ordinal de Spearman para
verificar a associao e a fora desta, entre o auto-conceito e a psicopatologia (HADS, SCL-90-
125
R). Foram encontradas associaes negativas baixas ou muito baixas entre psicopatologia e
auto-conceito. Os resultados das correlaes entre auto-conceito e psicopatologia podem ser
consultados no Quadro 14.
Quadro 14
SCL-90-R
HADS
Aceitao/Rej
eio Social
Autoeficcia
Maturidade
Psicolgica
Impulsividade/
actividade
Total
-0,233**
-0,250**
-0,225**
-0,124
-0,103
Depresso
-0,269**
-0,266**
-0,251**
-0,152*
-0,110
Ansiedade
-0,170*
-0,210**
-0,171*
-0,081
-0,083
Somatizao
-0,126
-0,171*
- 0,225**
0,042
- 0,002
O-C
- 0,237**
-0,231**
-0,249**
- 0,064
-0,068
S-I
-0,234**
-0,307**
-0,211**
-0,071
-0,004
Depresso
-0,170*
-0,234**
-0,198**
-0,016
-0,013
Ansiedade
-0,152*
-0,176**
-0,182**
-0,051
-0,017
Hostilidade
-0,094
-0,162*
-0,080
-0,051
-0,094
-0,228**
-0,255**
-0,282**
-0,031
-0,048
-0,454
-0,149*
-0,001
-0,034
-0,130
Psicoticismo
-0,251**
-0,246**
-0,179**
0,136*
0,067
TSP
-0,261**
-0,263**
-0,250**
-0,081
-0,083
ISP
-0,045
-0,127
-0,250**
-0,081
-0,083
-0,250**
-0,081
-0,083
Ansiedade Fbica
PP
GSI
-0,202*
-0,243**
* Correlao a um nvel de significncia (p0,05)
** Correlao a um nvel de significncia (p0,01)
126
Quadro 15
Correlaes Spearman entre Alteraes da Personalidade e o Auto-conceito (N=218)
Auto-conceito
Total
Aceitao/Rej
eio Social
Maturidade
Psicolgica
Impulsividade/
actividade
-0,075
0,004
-0,113
-0,061
-0,117
Depresso (D)
-0,342**
-0,369**
-0,325**
-0,171*
0,092
Histeria (Hy)
-0,197**
-0,170*
-0,240**
-0,124
-0,69
-0,027
-0,026
-0,024
0,024
-0,085
-0,218**
-0,240**
-0,178**
-0,161*
-0,059
-0,093
-0,039
-0,059
-0,059
-0,144*
-0,056
0,028
Esquizofrenia (Sc)
* Correlao a um nvel de significncia (p0,05)
-0,036
-0,054
-0,114
Mini-Mult
Hipocondria (Hs)
Psicopatia (Pd)
Parania (Pa)
Psicastenia (Pt)
Autoeficcia
127
32.5, 0,01). Tambm so encontradas correlaes negativas entre parania e o autoconceito total (r = -21.8, 0,01), aceitao social/rejeio social (r = -24.0, 0,01) e
s
0,05). A histeria encontra-se correlacionada de uma forma negativa e baixa com a autoeficcia (r = -24.0, 0,01) e muito baixa com o auto-conceito total (r = -19.7, 0,01) e
s
existe uma associao entre personalidade e auto-conceito, embora seja uma associao baixa
ou muita baixa. Baixos nveis de personalidade depressiva, parania, histeria, psicastenia e
hipomania esto associados a um maior auto-conceito, aceitao, auto-eficcia, maturidade
psicolgica e impulsividade-actividade.
2.2.3 Hiptese 3
Hiptese 3: Espera-se uma associao positiva entre estratgias de coping e psicopatologia e
alteraes da personalidade, assim como uma associao negativa entre estratgias de coping
e psicopatologia e alteraes da personalidade, nos obesos seleccionados e aguardar cirurgia
baritrica.
128
Quadro 16
Correlaes entre Estratgias de Coping e Psicopatologia (N=218)
Wt
Cc
Ac
Pss
Ar
Rpp
Dt
Fe
Rp
HADS total
0,05
0,07
0,03
0,11
0,10
-0,04
0,03
0,22**
0,08
HADS Depresso
0,04
0,05
0,06
0,06
0,07
-0,05
0,06
0,17*
0,08
HADS Ansiedade
0,07
0,07
0,01
0,11
0,10
-0,03
-0,01
0,23**
0,07
SOM
0,10
0,12
0,03
0,15*
0,15*
0,03
0,01
0,29**
0,01
0,18**
0,22**
0,17*
0,22**
0,20**
0,06
0,19**
0,24**
0,19**
S-I
0,06
0,08
0,05
0,11
0,12
-0,05
0,02
0,18**
0,08
DEP
0,06
0,07
0,02
0,12
0,11
-0,04
-0,04
0,27**
0,06
ANX
0,02
0,07
-0,03
0,09
0,13*
-0,05
-0,05
0,19**
0,04
HOS
0,02
0,07
-0,04
0,07
0,06
-0,01
-0,06
0,17*
0,05
A-F
0,02
0,01
0,03
0,11
0,11
-0,07
0,01
0,20**
0,01
P- P
0,07
0,09
0,04
0,02
0,11
-0,02
-0,01
0,28**
0,08
PSI
0,13
0,14*
0,07
0,17*
0,17*
-0,05
0,12
0,25**
0,22**
GSI
0,09
0,12
0,05
0,15*
0,17*
-0,02
0,03
0,27**
0,09
TSP
0,10
0,14*
-0,03
0,17*
0,16*
-0,03
0,09
0,25**
0,13
0,11
0,03
-0,05
0,30**
0,02
O-C
ISP
0,08
0,08
0,01
0,08
* Correlao a um nvel de significncia (p0,05)
** Correlao a um nvel de significncia (p0,01)
Numa primeira anlise verifica-se que as estratgias de coping esto associadas com
maiores nveis de psicopatologia, embora estejam presentes correlaes baixas ou muito
baixas. Verifica-se que a escala obsessivo-compulsivo correlaciona-se positivamente com sete
das nove escalas do WCQ. Verifica-se tambm que a estratgias de coping de fugaevitamento correlaciona-se positivamente com todas as medidas de psicopatologia,
igualmente correlaes baixas ou muito baixas. Ao contrrio do esperado no foram
129
Quadro 17
Correlaes Estratgias de Coping e Alteraes da Personalidade (N=218)
Hs
Hy
Pd
Pa
Pt
Sc
Ma
Cc
0,000
0,046
-0,016
-0,154*
0,132
-0,098
-0,153*
-0,157*
Ac
0,122
-0,012
-0,097
0,034
0,107
0,031
-0,019
-0,071
Pss
0,046
0,013
-0,033
-0,068
0,074
-0,053
-0,090
-0,044
Ar
0,046
0,070
-0,002
-0,061
0,191**
-0,053
-0,022
-0,022
Rpp
0,046
0,046
-0,109
-0,094
-0,014
-0,085
-0,111
-0,157*
Dt
0,048
0,023
-0,064
-0,053
0,073
0,047
-0,054
-0,093
Fe
0,018
0,196**
0,116
-0,022
0,278**
-0,072
-0,011
-0,032
0,099
-0,006
-0,066
-0,037
0,034
-0,002
-0,078
-0,054
Rp
** Correlao a um nvel de significncia de 0.01
* Correlao a um nvel de significncia de 0.05
de parania conduzem a um maior uso de duas estratgias de certa forma antagnicas, assumir
responsabilidades e fuga-evitamento. Assim, maiores elevaes da depresso e parania
conduzem a uma maior utilizao de estratgias de coping de fuga-evitamento, assim como
130
planeada (r = -15.7, n = 218, 0,05). Deste modo, uma maior elevao das escalas de
s
2.2.4 Hiptese 4
Hiptese 4: Espera-se que o auto-conceito influencie a utilizao de diferentes estratgias de
coping. Espera-se que exista uma associao positiva entre o auto-conceito e algumas
estratgias de coping, assim como uma associao negativa entre outras estratgias de coping
e o auto-conceito, nos obesos mrbidos seleccionados e a aguardar a cirurgia baritrica.
131
Quadro 18
Correlaes de Spearman entre o Auto-conceito e as Estratgias de Coping (N=218)
Auto-conceito
Total
Aceitao/Rej
eio Social
Autoeficcia
Maturidade
Psicolgica
Impulsividade/
actividade
Confronto
-0,109
-0,070
-0,008
-0,104
-0,048
Auto-controlo
-0,133*
-0,142*
-0,041
-0,038
-0,088
Suporte Social
-0,062
-0,064
-0,008
-0,020
-0,070
Aceitar Responsabilidades
-0,113
-0,119
- 0,079
-0,072
- 0,041
Resoluo Planeada
0,009
-0,009
0,091
- 0,014
-0,015
Distanciamento
-0,168*
-0,109
-0,098
-0,124
-0,159*
Fuga-evitamento
-0,102
-0,062
-0,108
-0,060
0,051
0,001
0,082
Reavaliao
* Correlao a um nvel de significncia (p0,05)
0,002
-0,022
-0,001
Como podemos verificar pela anlise do Quadro 18 existem quatro associaes muito
baixas, entre o auto-conceito total e o auto-controlo (r = 13.3, 0,05), entre o auto-conceito
s
Estes resultados sugerem que quanto maior o auto-conceito total menor a utilizao de
estratgias de coping de auto-controlo e de distanciamento. Quanto maior a aceitao social
menor a utilizao de estratgias de coping de auto-controlo. Um maior auto-conceito no
factor impulsividade-actividade conduz a um menor uso de estratgias de coping de
distanciamento. No entanto, estas correlaes encontradas so muito baixas.
superior. Foi realizado o teste de Mann-Wihtney para verificar se existiam diferenas entre
aqueles que tinham o ensino bsico e os que tinham o 9 de escolaridade nos nveis de
somatizao e no foram encontradas diferenas estatisticamente significativas. Foi realizado
o teste de Mann-Wihtney para verificar se existiam diferenas em funo do local de
residncia (rural ou urbano) nos nveis de somatizao. Foi encontrada uma diferena
estatisticamente significativa ( U 2,488, p 0,013). Os residentes nas zonas rurais
apresentam a Mean Rank superior. Utilizamos o teste de Mann-Wihtney para verificar a
existncia de diferenas nos nveis de somatizao SCL-90-R em funo de relatarem ou no
pelo menos um problema de sade com o aumento do peso. Foi encontrada uma diferena
estatisticamente significativa U 3,214, p 0,001). Os que relataram ter problemas
de sade aps o aumento de peso apresentam a Mean Rank superior.
estatisticamente
significativas
As
mulheres
134
Foi
encontrada
pelo
menos
uma
diferena
estatisticamente
136
pelo
menos
uma
diferena
estatisticamente
significativa 9,857
diferenas
estatisticamente
significativas
entre
aqueles
com
idades
137
significativas.
No
foram
encontradas
diferenas
estatisticamente
138
139
Para alm dos resultados aqui expostos, foram ainda efectuadas anlises exploratrias a
outras variveis scio-demogrficas e clnicas. No entanto, procurou-se expor aquelas variveis
que assumem um maior relevo e que apresentam as maiores elevaes nas escalas clnicas. Dos
resultados obtidos, salientam-se a que os obesos seleccionados e a aguardar a cirurgia
baritrica apresentam distress associado a funes corporais. Foram verificadas percentagens
considerveis de sujeitos que apresentam nveis elevados depresso, ansiedade, sensibilidade
interpessoal, ideao paranide. As mulheres apresentam mais sintomatologia depressiva e
ansiosa que os homens. A medida que envelhecem apresentam mais sintomatologia depressiva
e ansiosa. Os residentes em zonas rurais apresentam mais sintomatologia ansiosa. Verificou-se
que um baixo auto-conceito, especialmente nos factores aceitao/rejeio social, est
associado com maiores nveis de depresso, sensibilidade interpessoal, ansiedade fbica e
obsessivo compulsivo. Baixos nveis de personalidade depressiva, parania e histeria esto
associados com um maior auto-conceito, especialmente nos factores aceitao/rejeio social
e auto-eficcia. Foram identificadas estratgias de coping que esto associadas com maior
psicopatologia em especial a estratgia de coping fuga-evitamento. Foi verificada uma
associao baixa entre auto-conceito e estratgias de coping.
140
141
(Rudolph et al., 2009), apresentam salrios inferiores (Baum & Ford, 2004; Maranto &
Stenoien, 2000) e frequentemente so descriminados no seu local de trabalho (Puhl &
Brownell 2006; Rafferty & Griffin, 2006; Rudolph et al., 2009). Pesquisa experimental
recente demonstra que, em comparao com as mulheres magras, as mulheres obesas com
qualificaes idnticas so menos provveis de serem seleccionadas para cargos de chefia e
so oferecidos salrios iniciais inferiores (OBrien et al., 2008).
Nos obesos seleccionados para a cirurgia baritrica, 77.5% sente que o facto de ter
elevado peso altera a forma como os outros o vm. Estudos apontam que as pessoas com
excesso de peso ou obesas so vistas de forma negativa em aspectos como a inteligncia
(Harris & Smith, 1983; Miller el al., 1995), sucesso (Miller et al., 1995), considerados
impulsivos, com falta de vontade, motivao, controlo pessoal, falta de auto-disciplina,
preguiosos (Crandall et al., 2001; Puhl & Brownell, 2001; Puhl & Heuer, 2010; Teachman
et al., 2001), com menos amigos, solitrios, mesquinhos (Harris & Smith, 1983) e
socialmente evitados (Rafferty & Griffin, 2006). Estas formas de preconceito raramente so
desafiadas na sociedade e as suas implicaes na sade pblica tem sido basicamente
ignoradas (Puhl & Heuer, 2010). Em vez disso, prevalece na sociedade o colocar a culpa nos
indivduos obesos pelo seu excesso de peso, nos quais existe a percepo comum de que a
estigmatizao do peso justificvel e talvez seja necessria, porque os indivduos obesos so
pessoalmente responsveis pelo seu peso (Kim & Willis, 2007; Puhl & Brownell, 2003) e que
o estigma pode at servir como uma ferramenta til para motivar as pessoas obesas a adoptar
comportamentos de vida saudvel (Crister, 2004; Hebl & Heatherton, 1998).
Relativamente satisfao conjugal, no existem muitos estudos entre os obesos
seleccionados e a aguardar a cirurgia baritrica. Na sua maioria so casados e verificou-se que
em geral esto satisfeitos com a relao conjugal, entre os problemas identificados encontramse principalmente as dificuldades sexuais e os problemas financeiros. Quando questionados se
se sentiam bem com a sua imagem corporal, 69.10% respondeu que nunca ou quase nunca.
Schwartz e Brownell (2004) referem que as mulheres para alm de apresentarem maiores
probabilidades de desenvolver riscos para a sade, so tambm mais vulnerveis a
desenvolverem uma insatisfao com o corpo, uma vez que elas so mais preocupadas com a
imagem corporal do que os homens e, por isso mesmo, so elas que mais procuram
tratamento. Apesar da maioria dos obesos seleccionados e a aguardar a cirurgia se sentirem
bem com a vida, 28.9% refere que nalguma altura da vida tiveram necessidade de recorrer a
apoio na rea da sade mental.
143
144
propensos a procurar tratamento, embora no seja possvel estabelecer uma relao de causa
efeito (Petribu et al., 2006). Nesta amostra verificou-se que 75.7% referem que apareceram
problemas de sade com o aumento de peso e 29% em algum momento da vida teve a
necessidade de recorrer a apoio na rea da sade mental.
A depresso a que mais se associa ao quadro de obesidade, diversos estudos
encontram uma associao consistente entre elas (Dobrow et al., 2002; Markowitz, et al.,
2008; Onyike, et al., 2003; Roberts et al., 2003; Roberts et al., 2000; Roberts et al., 2002;
Strine et al., 2008; Sullivan et al., 1993). A reviso da literatura sugere que a obesidade e a
depresso podem ter uma relao causal, e que essa associao pode ser bidireccional (Barry
et al., 2008; Luppino et al., 2010; Markowitz et al., 2008; Mather et al., 2009; Simon et al.,
2006). Vrios estudos na populao obesa relataram ndices significativamente elevados de
depresso (Maddi et al., 1997; Scott et al., 2008a; Matos et al., 2002; Pickering et al., 2007),
depresso major (Scott et al., 2008b; Simon et al., 2006), depresso distmica (Barry et al.,
2008), depresso bipolar (Barry et al., 2008; Simon et al., 2006), em especial tipo II (Alciati
et al., 2007). A seguir a depresso encontra-se a ansiedade, com valores igualmente elevados
(Maddi et al., 1997). Tm sido encontrados nveis significativos de agorafobia (Simon et al.,
2006), fobia especfica (Black, et al., 1992a) e perturbao ps-stress traumtico (Black et al.,
1992a; Scott et al., 2008b; Sansone et al., 2001), perturbao de pnico (Simon et al., 2006).
Assim, tm sido investigadas as perturbaes mentais, em vez de sintomas. Nesta
investigao procura-se essencialmente verificar a existncia de sintomatologia e o
estabelecimento de um diagnstico.
Assim, foram explorados os resultados de dois instrumentos que apresentam escalas
para a avaliao de sintomatologia depressiva e ansiosa, o HADS e o SCL-90-R. Inicialmente
foram avaliados os nveis de ansiedade e depresso atravs do HADS. Os resultados dos
nveis de depresso (6.06) e ansiedade (8.23) esto ligeiramente abaixo dos encontrados
noutros estudos com a mesma metodologia (Travado et al., 2004; Soares, 2009). Vrios
estudos recomendam um ponto de corte entre oito e nove (Pais-Ribeiro, 2007), outros
sugerem que uma pontuao entre 8-10 para cada escala considerado borderline e um
resultado igual ou superior a 11 que indicador da presena de ansiedade ou depresso
(Carroll et al., 1993; Travado et al., 2004). Neste estudo foi considerado um ponto de corte
igual ou superior a 11 para cada escala semelhana de outros estudos. Com o SCL-90-R os
nveis de ansiedade e depresso tambm no ultrapassaram o ponto de corte. Assim, os obesos
seleccionados e a aguardar a cirurgia baritrica no apresentam sintomatologia depressiva ou
145
ansiosa como verificado noutros estudos (Dymek et al., 2002; Franques & Ascencio, 2006;
Malone & Mayer-Alger, 2004; Travado et al., 2004).
No entanto, os mesmos investigadores referem que com frequncia so encontradas
taxas elevadas de depresso e ansiedade. Neste estudo a taxa de depresso e de ansiedade
variou em funo do instrumento entre 13% e os 32%, a depresso entre os 13% e os 32% e a
ansiedade entre os 20% e os 31%. Nos estudos realizados nos pacientes seleccionados e a
aguardar cirurgia baritrica, tm sido encontradas altas taxas de depresso, na reviso da
literatura, os dados recolhidos apontam que as taxas de depresso nos pacientes seleccionados
e a aguardar a cirurgia baritrica apresentam em mdia valores compreendidos entre os 30% a
40% (Ali et al., 2009; Andersen et al., 2010; Bonf et al., 2010; Petribu et al., 2006,
Schowalter et al., 2008), valores semelhantes aos encontrados nesta amostra. Vrios estudos
verificaram associaes positivas entre a obesidade e a ansiedade em pacientes seleccionados
e a aguardar a cirurgia baritrica (Andersen et al., 2010; Becker et al., 2001; Mazzoni et al.,
1999; Rosmond & Bjurntorp, 1998; Snchez et al., 2003; Sarlio-Lahteenkorva & Rissen,
1998).
No entanto, a nossa investigao no se cingiu depresso e a ansiedade, pois so
diversas as patologias que frequentemente esto associadas a obesidade. O principal achado
atravs da administrao do SCL-90-R foi a descoberta da existncia de distress associado a
funes corporais nos obesos seleccionados e a aguardar a cirurgia baritrica, em 30 escalas
de medidas de psicopatologia (3 HADS, 10 SCL-90-R e 12 Mini-Mult e 5 do ICAC) a escala
de somatizao a nica que ultrapassa o ponto de corte, 57% ultrapassam o valor
considerado normal. Para alm do distress associado a funes corporais verifica-se que
existe uma percentagem considervel de sujeitos com valores elevados de sensibilidade
interpessoal e ideao paranide. Verificou-se que 35.3% dos sujeitos apresentam uma
elevada sensibilidade interpessoal, o que revela sentimentos de inferioridade ou de
inadequao pessoal e desconforto nas relaes interpessoais. Tambm se verifica que 45.7%
apresentam uma elevao na escala de ideao paranide. As principais caractersticas do
comportamento paranide no SCL-90-R so a projeco, hostilidade, egocentrismo, medo de
perder autonomia e suspeio.
Rosik (2005) no seu estudo nos pacientes seleccionados e a aguardar a cirurgia
baritrica 29.3% foram diagnosticados com a perturbao de somatizao. No entanto, esta
elevao da escala de somatizao do SCL-90-R no deve ser transformada em diagnstico,
mas sim como um indicador de distress associado a funes corporais. Para alm de que esta
maior elevao da escala de somatizao poder dever-se a itens desta escala como
146
Dificuldades em encher os pulmes (parece que lhe falta o ar) e Sentir falta de foras em
partes do corpo, entre outros. O responder positivamente a estas questes no significa que
os obesos apresentem nveis elevados de somatizao, mas sim que esta escala reflecte
questes corporais, onde devido ao prprio peso existam dificuldades funcionais, sem que
exista psicopatologia subjacente. Neste estudo verificou-se que existe uma correlao
estatisticamente significativa entre o aparecimento de um problema fsico e a somatizao,
apesar de baixa esta no deixa de ser significativa na interpretao do resultado de uma maior
elevao desta escala. Ainda assim, o facto de apresentarem um valor elevado na escala de
somatizao caracteriza a amostra como apresentando dificuldades e problemas relacionadas
com o corpo.
A obesidade considerada uma doena crnica que afecta um nmero elevado de
indivduos, representa um indutor de stress, com riscos de dificuldades no ajustamento
psicolgico. A obesidade est associada com uma variedade de eventos e situaes
stressantes, relacionadas com o peso, nomeadamente com as dimenses corporais (como por
exemplo, vestir e comprar roupas, conduzir, dificuldades sexuais), estigmatizao,
comprometimento da funo fsica e psicolgica (Kolotkin et al., 2001a; Myers & Rosen,
1999). Os pacientes obesos mrbidos apresentam nveis mais elevados de distress quando
comparados com pessoas de peso normal (Abiles et al., 2010; Rydn et al., 2003a).
Apresentam maiores nveis de distress, quando comparados com indivduos saudveis e ou
outros cronicamente doentes ou feridos (Rydn et al., 2001; Sullivan et al., 1993). Os obesos
que procuram tratamento apresentam tambm mais nveis de distress em comparao com
aqueles que no procuram tratamento (Fitzgibbon et al., 1993), nveis mais elevados so
encontrados entre aqueles que preferem mtodos mais drsticos para a reduo de peso, como
a cirurgia ou recurso a anorexgenos (Fitzgibbon et al., 1993; Rydn et al., 2001). Este
achado de distress associado obesidade tem sido relatado e nesta amostra o distress est
relacionado com as funes corporais. Assim, na amostra a maior elevao da escala de
somatizao reflecte o distress relativo s funes corporais em que 75.7% referem problemas
fsicos devido obesidade e 29.6% ultrapassam o ponto de corte de 1.23 do IGS (ndice Geral
de Sintomas).
No sentido de avaliar a personalidade foi utilizado o Mini-Mult, uma verso reduzida do
MMPI. O MMPI tem sido amplamente utilizado nos ltimos anos nos pacientes submetidos
cirurgia baritrica (Bocchieri et al., 2002; Chan et al., 2009). A anlise dos resultados obtidos
nas escalas de validade do Mini-Mult permite verificar que se trata de um perfil vlido. Nesta
amostra verifica-se um ndice de simulao de -3,03 (DP=9,12), apresenta um valor mnimo
147
de -25 e mximo 21. Apesar de existirem indivduos que exageraram e que ocultaram
sintomas o valor mdio de -3 do ndice de simulao torna um perfil valido da amostra. Os
resultados apontam que os obesos seleccionados e a aguardar a cirurgia baritrica no
apresentam alteraes da personalidade, a amplitude das escalas de validade e clnicas
variaram entre 46-60. As maiores elevaes foram encontradas nas escalas hipocondria (60),
depresso (58), parania (59) e esquizofrenia (58). Esta investigao vai ao encontro de outras
anteriores que referem que no so verificadas diferenas nas escalas do MMPI nos obesos
seleccionados e a aguardar a cirurgia baritrica em comparao com a populao em geral
(Bardaro et al., 2006; Chelune et al., 1986; Wadden & Stunkard, 1985; Webb et al., 1990).
Alguns estudos isolados descobriram diferenas em algumas escalas, mas a sua replicao
tem sido escassa ou inexistente (O`Neil & Jarrel, 1992). Os candidatos a cirurgia baritrica
aparentam ser uma populao heterognea no que diz respeito ao tipo de personalidade e
traos quando utilizado o MMPI (O`Neil & Jarrel, 1992). A reviso da literatura aponta que
obesos mrbidos que procuram a cirurgia parecem no ter nveis elevados de psicopatologia
ou no so detectados por medidas de psicopatologia grave, como o MMPI, destinadas a
identificar problemas clinicamente graves de sade mental (Bocchieri et al., 2002).
As perturbaes da personalidade surpreendentemente raramente tm sido investigadas
na populao obesa (Mather et al., 2008), considerando que a obesidade provavelmente o
resultado de mecanismos de longa durao (Simon et al, 2006), nos quais alguns traos de
personalidade podem estar envolvidos (Mather et al., 2008). Os poucos trabalhos existentes
sobre perturbaes da personalidade sugerem uma relao positiva com o excesso de peso e
com a obesidade (Mather et al., 2008; Rosmond et al., 1999; Rosmond et al., 2001),
frequentemente com comorbilidades com perturbaes do Eixo I (Grant et al., 2004; Rosik,
2005). Neste estudo foi realizada uma anlise da relao entre sintomatologia psicopatolgica
do eixo I e do Eixo II. Foram realizados testes de correlao ou de associao e foram
encontradas correlaes ou associaes moderadas e altas. Uma personalidade caracterizada
pela depresso, histeria, psicastenia e parania esta associada com uma maior presena de
psicopatologia do eixo I, sendo essa associao moderada e consistente em vrias escalas.
Estudos transversais demonstraram que a obesidade est associada principalmente
com perturbaes da personalidade paranide, dependente, esquizide, estado-limite,
obsessivo-compulsiva, anti-social e evitante (Mather et al., 2008). Deste modo, os obesos
mrbidos apresentam ainda maiores probabilidades de perturbaes da personalidade em
geral (Black et al., 1992b; Lezenweger et al., 2007; Mather et al., 2008). Em estudos recentes,
utilizando critrios do DSM-IV, as perturbaes da personalidade so encontradas com
148
frequncia nos pacientes propostos para a cirurgia baritrica, a sua prevalncia varia entre
19.5% a 29% (Kalarchian et al., 2007; Mauri et al., 2008). Nos obesos mrbidos parece existir
uma maior associao com as perturbaes de personalidade dependente (Godt, 2002), antisocial (Mather et al., 2008), evitante (Godt, 2002; Mauri et al., 2008; Mather et al., 2008) e
obsessivo-compulsiva (Ferreira et al., 2010; Mauri et al., 2008).
No que se refere ao auto-conceito, os obesos seleccionados e a aguardar a cirurgia
baritrica apresentam um auto-conceito dos aspectos emocionais e sociais dentro dos valores
considerados normais (M=74.91, DP=8.10). Estudos que investigam o auto-conceito em
pacientes seleccionados e a aguardar a cirurgia baritrica so extremamente escassos
(Bocchieri et al., 2002). Entre os trs estudos encontrados utilizando o ICAC, os obesos
seleccionados e aguardar a cirurgia baritrica apresentam um auto-conceito dentro dos valores
normais (Morais, 2010; Rocha, 2009; Travado et al., 2004). Na anlise dos valores mdios do
total do ICAC e dos seus factores, os nossos resultados so ligeiramente superiores aos
apresentados pelo autor (Serra, 1986b), sugerindo que os obesos seleccionados para a cirurgia
baritrica apresentam um bom auto-conceito emocional e social. Aspectos sociais e emocionais
do auto-conceito so considerados os mais importantes no ajustamento psicossocial (Serra,
1986b).
No sentido de verificar o rigor das respostas aos instrumentos de avaliao foram
realizados testes Spearman e Pearson para verificar a correlao da morbilidade psicolgica
com as escalas de validade do Mini-Mult e com o ndice de simulao. Verificaram-se
correlaes positivas estatisticamente significativas entre o ndice de simulao e as medidas de
psicopatologia do Eixo I, nas escalas de personalidade as correlaes j so de menor
intensidade. Estes dados sugerem que existe um exagero dos prprios desajustes, o que poder
estar a inflacionar ligeiramente os resultados de diversas escalas clnicas. A mesma situao se
verificou em relao ao auto-conceito, foram encontradas correlaes negativas entre o autoconceito e o ndice de simulao, sugerindo um ligeiro enviesamento dos resultados num
sentido favorvel, embora correlaes muito baixas semelhana de outros estudos (Travado et
al., 2004). Um exagero dos prprios desajustes em si constitui um indicador clnico, reporta-se a
uma necessidade de uma ateno constante ou a uma forma de chamar ateno para a
necessidade da realizao da cirurgia baritrica.
Outros estudos utilizando o MCMI-III (Inventrio Clnico Multiaxial Millon III),
nomeadamente de Ferreira e colaboradores (2010), verificaram que numa amostra de 162
pacientes seleccionados e a aguardar a cirurgia baritica, 79.8% apresentaram uma tendncia
para desvalorizar ou sub-relatar a sintomatologia e 5,6% apresentavam uma tendncia para
149
151
verificou-se que os nveis de depresso e ansiedade seguem a mesma tendncia, ou seja, pelas
diferentes idades os valores mdios aumentam com a idade.
O baixo nvel de ensino tambm est relacionado com maiores nveis de depresso e
de ansiedade. Os dados recolhidos sugerem que existem diferenas estatisticamente
significativas em funo da escolaridade: os sujeitos com ensino bsico apresentam mais
sintomatologia ansiosa e depressiva. Tem sido referido que a depresso se encontra associada
com um nvel elevado de educao (Markowitz et al., 2008; Scott et al., 2008). No entanto,
entre os pacientes seleccionados e a aguardar a cirurgia baritrica existe uma maior evidncia
de um maior comprometimento psicolgico em pacientes com baixa escolaridade (Schowalter
et al., 2008), como se verifica nesta amostra.
Os obesos mrbidos das zonas rurais apresentam mais sintomatologia ansiosa e no
so encontradas diferenas ao nvel da depresso. No existe muita investigao a explorar
este facto. Outras pesquisas tm referido que o ambiente urbano est mais associado com a
depresso e com a ansiedade, mas mais pesquisas so necessrias para explorar a influncia
do local de residncia nos obesos seleccionados para a cirurgia. Alguns estudos referem que a
depresso sobretudo uma doena das sociedades industrializadas, e que quando ela ocorre
em regies mais rurais e afastadas dos grandes centros, os sintomas apresentam-se diferentes,
com mais manifestaes fsicas do que emocionais, o que poder explicar o valor elevado de
somatizao na escala do SCL-90-R. Nesta amostra o residir numa zona rural est associado a
um baixo estatuto scio-econmico. Nos pases desenvolvidos tem sido consistentemente
demonstrado que indivduos com um menor estatuto scio-econmico tm um maior risco de
desenvolver ansiedade e depresso (WFMH, 2010). Por outro lado, diversos estudos referem
que a obesidade est associada com um nvel scio econmico elevado (Chen et al., 2009;
Markowitz et. al., 2008; Moore et al., 1962), mas estes estudos j so em menor nmero. O
estatuto scio econmico tem sido referido como um importante factor de risco para a
depresso nos obesos, no entanto a sua relao com a obesidade e com a depresso continua
incerta (Gatineau & Dent, 2011).
3.2.2 Hiptese 2
Neste estudo foram encontradas vrias correlaes estatisticamente significativas de
vrias escalas de psicopatologia com o auto-conceito total e com os factores aceitao/rejeio
social e auto-eficcia. Esta associao do auto-conceito total, aceitao/rejeio social e auto-
152
eficcia com psicopatologia do Eixo I revela-se baixa e negativa, mas consistente com a
depresso HADS, sensibilidade interpessoal, ansiedade fbica, obsessivo compulsivo e com os
ndices globais de distress do SCL-90-R), especialmente nos factores, aceitao/rejeio social
e auto-eficcia com depresso, sensibilidade interpessoal, ansiedade fbica e obsessivo
compulsivo. Menores nveis de psicopatologia do eixo I esto relacionados com um maior
auto-conceito e um alto auto-conceito est relacionado com baixos nveis de psicopatologia,
sem que seja possvel estabelecer uma relao causal. Os factores de maturidade psicolgica e
impulsividade no se encontram estatisticamente significativamente correlacionado com maior
psicopatologia, apenas so encontradas duas correlaes estatisticamente significativas muito
baixas na depresso HADS e no psicoticismo do SCL-90-R. Rocha (2009) verificou que o
auto-conceito encontrava-se correlacionado negativamente com a ansiedade e depresso.
Verificou que a ansiedade encontrava-se negativamente associada com a aceitao/rejeio
social e com a auto-eficcia. Assim como verificou que a depresso encontrava-se
correlacionada negativamente com a rejeio social e com a maturidade psicolgica. A
pouca investigao existente em obesos seleccionados e aguardar a cirurgia baritrica
sugerem que um baixo auto-conceito encontra-se associado com psicopatologia (Boros &
Halmy, 2009, Rocha, 2009; Travado et al., 2004). Em outras populaes um baixo autoconceito tem sido relacionado com depresso, ansiedade, ansiedade social (Matos & Lobo,
2009; Melo, 2008; Serra, 1986a).
Relativamente s alteraes de personalidade tambm se verificam correlaes
estatisticamente significativas, negativas e baixas ou muito baixas entre personalidade e o
auto-conceito. Baixos nveis de personalidade depressiva, parania, histeria, psicastenia e
hipomania esto associados a um maior auto-conceito, aceitao social, auto-eficcia,
maturidade psicolgica e impulsividade-actividade. Sendo esta relao mais consistente entre
personalidade depressiva, parania e histeria, com um maior auto-conceito total, aceitao e
auto-eficcia. No estudo de Travado e colaboradores (2004) tambm foram verificadas
algumas correlaes negativas entre auto-conceito e escalas do Inventrio Clnico Multiaxial
de Millon (2 verso) (MCMI-II). O auto-conceito estava negativamente correlacionado com
as perturbaes da personalidade esquizide, evitante, esquizotpica, embora correlaes
baixas. Por outro lado, o auto-conceito estava positivamente correlacionado com as
perturbaes da personalidade histrinica, narcsica e com a perturbao do humor estadolimite, igualmente correlaes baixas. No estudo de Travado e colaboradores (2004) foram
identificadas perturbaes da personalidade que se associam a um maior auto-conceito, no
153
nosso estudo no foi possvel identificar uma escala clnica que estivesse associada com um
maior auto-conceito.
3.2.3 Hiptese 3
Neste estudo foram identificadas correlaes entre estratgias de coping e
psicopatologia no eixo I. Verificou-se que as estratgias de coping esto associadas a maiores
nveis de psicopatologia, no foram identificadas estratgias de coping que estivessem
associadas a menores nveis de psicopatologia do eixo I. Nesta amostra, as estratgias de
coping provaram ser desajustadas e foram associadas com um aumento do distress. Myers e
Rosen (1999) verificaram que as experincias de estigmatizao foram positivamente
associadas com o aumento da frequncia de tentativas de coping numa amostra de indivduos
obesos. As estratgias de coping estavam significativamente correlacionadas com o Brief
Symptom Inventory indicando que as estratgias de coping dos obesos estavam associadas
com mais sintomatologia psicopatolgica. No nosso estudo verificou-se que a estratgia de
coping fuga-evitamento correlaciona-se positivamente com todas as medidas de
psicopatologia. Tambm se verificou que a escala obsessivo-compulsivo correlaciona-se
positivamente com sete das nove escalas do WCQ, ou seja, a sintomatologia obsessivocompulsiva est associada com uma maior utilizao de estratgias de coping nesta amostra.
Uma associao consistente entre psicopatologia e estratgias de coping de evitamento
e fuga-evitamento tem sido demonstrada. Frequentemente estratgias de coping de
evitamento quando utilizadas de uma forma crnica tendem a ter implicaes directas na
sade do indivduo (Stroebe & Stroebe, 1999). Diversas investigaes entre os obesos
sugerem que o coping focado no problema pode estar ligado ou ser independente da melhoria
da sade mental e que o coping focado na emoo traduz-se num aumento do distress ou de
um maior sofrimento psquico (Endler & Parker, 1990; Lerdal et al., 2011; Myers & Rosen,
1999; Parker & Endler, 1992; Rydn et al., 2003a), assim como referem que os obesos com
coping de aproximao apresentam uma melhor sade mental do que aqueles com coping de
evitamento (Lerdal et al., 2011; Myers & Rosen, 1999). A terminologia depende do
instrumento utilizado. Neste estudo, a estratgia de coping fuga-evitamento, focada na
emoo, tambm est associada com maior psicopatologia. No foram identificadas
estratgias de coping focadas no problema que estivessem associadas com menor
psicopatologia.
154
3.2.4 Hiptese 4
Neste estudo foram encontradas associaes negativas entre o auto-conceito e as
estratgias de coping. Os resultados sugerem que quanto maior o auto-conceito total menor
a utilizao de estratgias de coping de auto-controlo e de distanciamento. Quanto maior a
aceitao social menor a utilizao de estratgias de coping de auto-controlo. Um maior
auto-conceito no factor impulsividade-actividade est associado a um menor uso de
estratgias de coping de distanciamento. O que podemos concluir que um maior auto-conceito
conduz a uma menor utilizao de estratgias de coping de auto-controlo e distanciamento,
ambas principalmente focadas na emoo. Na populao obesa constata-se que experincias
negativas relacionadas com o peso podem levar ao evitamento da interaco social como uma
forma de fugir da desvalorizao ou at mesmo de maus tratos verbais percepcionados (Puhl
& Brownell, 2003; Serra & Pocinho, 2001). A falta de confiana na capacidade de lidar com
os problemas relacionados com o peso pode promover o evitamento e o distanciamento
(Swim et al., 1998). Hughes e Degher (1993) observaram que evitar parece ser comum entre
os obesos, nomeadamente, ir s compras ou praia, locais onde se sentem observados.
Neste estudo no foram encontradas associaes positivas entre auto-conceito e as
estratgias de coping. Estudos realizados com outras populaes verificam uma correlao
155
diferenas
estatisticamente
significativas
entre
aqueles
com
idades
compreendidas entre os 36-50 e superior a 51 anos. Assim, a partir dos 36 anos nesta amostra
verifica-se uma elevao da escala de parania do Mini-Mult.
Foram investigadas as escalas com maiores elevaes nas escalas de psicopatologia e
alteraes personalidade. As mulheres apresentam nveis mais elevados nas escalas,
somatizao, sensibilidade interpessoal. Em todas as escalas os baixos nveis de ensino esto
associadas a maiores elevaes de psicopatologia e alteraes da personalidade. So
encontradas diferenas em relao a idade, com uma tendncia nas diferentes escalas para um
aumento de psicopatologia e alteraes da personalidade com a idade. Os residentes nas zonas
rurais apresentam mais somatizao. Aqueles que identificam problemas associados com o
aumento de peso apresentam maiores nveis de somatizao. No foram verificadas
correlaes com o IMC.
Nesta investigao no foram encontradas diferenas nos nveis de auto-conceito em
funo do sexo. Foram encontradas diferenas nos nveis de auto-conceito em funo da
157
idade. Aqueles com idades compreendidas entre os 36-50 apresentam uma auto-eficcia
superior do que aqueles com uma idade superior a 51 ou inferior 35. Na investigao de
Travado e colaboradores (2004) tambm utilizaram o ICAC e verificaram que a idade se
correlaciona positivamente com o auto conceito total, com os factores aceitao/rejeio
social e com a auto-eficcia. Deste modo, quanto mais idade tinha o indivduo melhor era o
seu auto-conceito. A investigao de Travado e colaboradores (2004) sugere que o autoconceito aumenta com a idade. No entanto, Rocha (2009) verificou que os sujeitos com
idades compreendidas entre os 36 e os 50 anos apresentam uma maior auto-eficcia do que
os sujeitos com mais de 51 anos. Estes resultados vo ao encontro de outras investigaes
realizadas noutras populaes que utilizam o ICAC que referem que a auto-eficcia diminui
com o aumento da idade (Rocha, 2009; Sacoto, 2010).
Respondendo a um apelo de Puhl e Browenll (2003) sobre a necessria de investigao
na relao entre obesidade, gnero e estratgias de coping entre mulheres e homens. Homens
e mulheres podem perceber stressores de forma diferente (Lyons et al., 1998) e utilizarem
diferentes estratgias de coping (Puhl & Brownell, 2003). Neste estudo verificamos que as
mulheres apresentam mais estratgias de coping de procura de suporte social e fugaevitamento do que os homens. Hobfoll e colaboradores (1994) constaram que as mulheres
utilizam mais o apoio social em situaes profissionais e estratgias de coping mais assertiva
em situaes interpessoais, ao passo que os homens utilizam mais estratgias de coping mais
agressivas e anti-sociais. Mulheres procuram com mais frequncia o suporte social do que os
homens e apresentam reaces emocionais ao stress (Carver et al. 1989). Os homens so mais
propensos a responder directamente ao evento stressante (Billings & Moos, 1984; Endler &
Parker, 1990).
158
159
dados. Assim, pesquisas com amostras maiores e com utilizao desses ou de outros
instrumentos psicomtricos, ampliando o tempo de avaliao e cruzamento com dados
qualitativos devem ser realizados.
A maioria dos investigadores defende a posio de cautela na generalizao sobre os
aspectos psicopatolgicos na obesidade (Fabricatore & Wadden, 2003; Wajner, 2000). O
importante perceber quando e como a psicopatologia aparece e que papel ela desempenha.
Ainda assim, as pesquisas sobre a obesidade no decorrer da ltima dcada tiveram um forte
impacto nos conceitos sobre esta doena e na sua abordagem clnica. medida que os
profissionais de sade lidam com populaes clnicas, o achado de perturbaes clinicamente
significativas em alguns pacientes relevante e deve ser considerado na sua abordagem
(Vasques et al., 2004), de modo a proporcionar uma avaliao e planeamento do tratamento
de uma forma mais racional e individualizada no auxlio aos pacientes a estabelecerem metas
razoveis e a trabalharem para realizarem escolhas de vida saudveis que levem a um maior
bem-estar fsico e psicolgico (Dobrow et al., 2002).
Dado o mau prognstico para a gesto a longo prazo do controlo de peso, os clnicos
e profissionais de sade necessitam de expandir os seus focos de interveno e incluir outras
estratgias de controlo do peso no sentido de melhorar o bem-estar dos obesos
seleccionados e aguardar a cirurgia baritrica (Jeffery, Epstein, Wilson, Drewnowski,
Stunkard, & Wing, 2000). So bem conhecidos os aumentos de peso dois anos aps a
cirurgia, chegando a nveis semelhantes aos anteriores seis anos aps a cirurgia (Garner &
Wooley, 1991; Silva, 2005b). Para alm, de que um obeso que consiga uma perda de peso
significativa, mas que continue a comer compulsivamente precipita complicaes mdicas,
no pode ser considerado um sucesso teraputico, na medida em que um processo
incompleto em que as variveis comportamentais foram negligenciadas (Travado et al.,
2004). Neste sentido, podemos tecer algumas consideraes acerca de orientaes para a
interveno e preveno. Revela-se fundamental repensar a avaliao dos candidatos
cirurgia baritrica salientando-se a importncia de um maior acompanhamento por parte
destes sujeitos ao longo de todo o processo. Com a dificuldade de se tratar a obesidade,
questes acerca da preveno e promoo da sade devem ser contempladas. A preveno
da obesidade mrbida assume uma importncia fundamental tendo em conta o mau
prognstico para a gesto a longo prazo do controlo de peso.
Estudos sugerem que a depresso e obesidade interagem reciprocamente (WFMH,
2010). A longitudinal associao bidireccional entre a depresso e a obesidade uma
considerao importante para a prtica clnica (WFMH, 2010). Uma vez que o ganho de peso
161
pode ser uma consequncia da depresso, os prestadores de cuidados devem monitorar o peso
dos pacientes depressivos. Da mesma forma, em pacientes com excesso de peso ou obesos, o
humor deve ser monitorizado. Esta conscincia pode levar a preveno, deteco precoce, e
co-tratamento para pessoas em risco, em ltima anlise, reduzir a carga de ambas as
condies (WFMH, 2010).
Os resultados deste estudo apontam que os obesos seleccionados e aguardar a cirurgia
baritrica apresentam elevados nveis de somatizao, distress associado a funes corporais.
Neste estudo a prevalncia de ansiedade e depresso so semelhantes, a ansiedade varia entre
os 20% e os 31% e a depresso varia entre os 19% e 32%. So encontradas percentagens
considerveis de sujeitos que apresentam elevaes nas escalas clnicas de sensibilidade
interpessoal, ideao paranide, personalidade hipocondraca, depressiva e esquizofrnica. As
mulheres apresentam mais sintomatologia depressiva e ansiosa que os homens. A medida que
envelhecem apresentam mais sintomatologia depressiva e ansiosa. Os residentes em zonas
rurais apresentam mais sintomatologia ansiosa. Os resultados apontam para uma associao
negativa entre os nveis de depresso, sensibilidade interpessoal, ansiedade fbica, obsessivo
compulsivo e psicoticismo com o auto-conceito nos obesos seleccionados e aguardar a
cirurgia baritrica, indicando que quanto maior o auto-conceito menores so os nveis de
psicopatologia. Foram identificadas estratgias de coping associadas a maior psicopatologia
em especial a Fuga-evitamento, no foram identificadas estratgias de coping associadas com
menor morbilidade psicolgica. Foi verificada uma associao baixa entre auto-conceito e
estratgias de coping.
Em funo do estado actual de conhecimentos, pesquisas devem ser realizadas no
sentido de alcanar uma caracterizao clnica mais consistente dos obesos seleccionados e a
aguardar a cirurgia baritrica. A literatura tem referido na existncia de uma associao entre
a somatizao e as perturbaes alimentares, seria interessante que futuros estudos pudessem
investigar esta relao de forma mais compreensiva. Igualmente interessante seria explorar as
relaes do bitipo, onde determinado tipo de fisionomia predispe a determinada
personalidade. Podem ainda ser explorados as estratgias de coping perante situaes de
discriminao, e finalmente explorar formas de como obesidade pode ter consequncias
psicolgicas positivas. Wajner (2000) sugere que embora no se possa generalizar os
problemas psicolgicos a todos os casos de obesidade importante diferenciar aquelas
patologias psquicas que desempenham um papel importante no desenvolvimento da
obesidade das que resultam da obesidade. Talvez a tarefa mais difcil na avaliao
psicolgica descobrir a causa e o efeito de um fenmeno. Avaliao da personalidade,
162
163
Bibliografia
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Mental
health:
Depression.
On-line
em
201
ANEXOS
202
Anexo I
Consentimento informado
203
CONSENTIMENTO INFORMADO
NOME:________________________________________________________________
N Processo: ____________
204
Anexo II
Questionrio Scio-demogrfico
205
Questionrio Scio-demogrfico
Os dados deste questionrio so importantes para uma melhor compreenso do seu
problema, e pretende explorar alguns factores associados ao seu estado de sade. Por isso
responda com cuidado a todos os itens. As respostas so confidenciais. Desde j muito
obrigado pela colaborao.
2- Feminino
3 - Idade
1.
2.
3.
4.
Menos de 20 anos
Entre 21-35 anos
Entre 36- 50 anos
Mais de 51 anos
4 - Estado civil
1.
2.
3.
4.
5.
Solteiro(a)
Casado(a)
Divorciado(a)
Vivo(a)
Junto(a)
Ensino bsico
9 Ano
12 Ano
Curso mdio/profissional
Curso superior/licenciatura
Outros
206
A trabalhar
Desempregado
Reformado
De baixa mdica
Estudante
Outro
Domstica
Industria
Comrcio
Funcionrio pblico
Quadro superior
Outro
Urbano (cidade)
Rural (aldeia)
Menos de 5 anos
Entre 6 a 15 anos
Entre 16 a 25 anos
Mais de 26 anos
Muito satisfatria
Satisfatria
Insatisfatria
Muito insatisfatria
207
Sim
No
Financeiro
Dificuldades sexuais
Devido aos filhos
Situao profissional
Diferenas de personalidade
Outro
Menos de 18 anos
Entre 19 e 25 anos
Mais de 25 anos
Disponvel
Despreocupado
Incentivador
Indiferente
Participativo
13 Considera-se uma pessoa com facilidade nas relaes sociais (amigos, vizinhos)?
1.
2.
Sim
No
Nunca
Uma vez por semana
Duas a trs vezes por semana
Todos os dias
208
Quase nunca
2
Algumas vezes
3
Bastantes vezes
4
Muitas Vezes
5
Bastantes vezes
4
Muitas Vezes
5
209
Anexo III
Questionrio Clnico
210
Questionrio Clnico
1 Qual o seu peso actual? _______
2 Qual a sua altura actual? ______
3 H quanto tempo comeou a verificar a alterao do seu peso?
1.
2.
3.
4.
5.
4 Algum elemento da sua famlia, mais prxima tambm tem excesso de peso?
1.
2.
Sim
No
Cereais/tubrculos
Leite/derivados
Carnes/peixes
Frutas/legumes
Sim
No
Sim
No
211
Se sim, quais
1.
2.
3.
4.
Positivos
Negativos
Nenhuma diferena
Diabetes
Colesterol
Problemas cardacos
Problemas musculares
Problemas reumticos
Outro
Sim
No
Sim
No
13 Sente que o seu elevado peso altera a forma como os outros o vm?
1.
2.
Sim
No
212
Excelente
Boa
Normal
M
Muito m
Sim
No
Psiquiatria
Psicologia
Neurologia
Outro
213
Anexo IV
Hospital Anxiety and Depression
Scale (HADS)
214
HADS
Traduzido e adaptado por
Teresa McIntyre, Graa Pereira, Vera Soares, Lus Gouveia, Sofia Silva, 1999
A
3
2
1
0
D
0
1
2
3
D
0
1
2
3
Sinto-me tenso:
A maior parte do tempo
Muitas vezes
De vez em quando, ocasionalmente
Nunca
215
A
3
2
1
0
D
3
2
1
0
Sinto-me alegre:
Nunca
Poucas vezes
s vezes
A maior parte do tempo
A
0
1
2
3
D
3
2
1
0
A
0
1
2
3
D
3
2
1
0
A
3
2
1
0
D
0
1
2
3
216
A
3
2
1
0
D
0
1
2
3
Zigmond and Snaith, 1983. From Hospital Anxiety and Depression Scale, Acta Psychiatrica Scandinavia, 67, 361-70.
Published by NFER Nelson publishing Company, Ltd, United Kingdom
217
Anexo V
Symptom Checklist-90 (SCL-90-R)
218
SCL 90 R
Nome: __________________________________ Idade: _____________ Data: __ / __ / ____
Instrues:
A seguir encontra-se uma lista de problemas e queixas mdicas que algumas pessoas
costumam ter. Por favor, leia cada questo cuidadosamente e assinale aquelas que nos ltimos
trs meses o/a preocupado ou dado cuidados. No h respostas erradas ou certas ou
respostas para dar uma boa impresso: so apenas problemas ou queixas que cada um sentiu
ou sente e como tal devem ser consideradas.
Estas respostas so confidenciais. No deixe nenhuma questo em branco.
Nada
Pouco
Moderadamente
Bastante
Muitssimo
1- Dores de cabea.
2- Nervosismo ou tenso interior.
3- Pensamentos desagradveis que no lhe
deixam o esprito em paz.
4- Desmaios ou tonturas.
5- Diminuio do interesse ou prazer sexual.
6- Sentir-se criticado pelos outros.
7- Impresso de que outras pessoas podem
controlar os seus pensamentos.
8- Ideia de que as outras pessoas so culpadas
pela maior parte dos seus problemas.
9- Dificuldade de se lembrar das coisas passadas
e recentes.
10- Preocupao com o desleixo ou a falta de
limpeza.
11- Aborrece-se ou irrita-se facilmente.
12- Dores sobre o corao ou no peito.
13- Medo na rua ou praas pblicas.
14- Falta de foras ou lentido.
15- Pensamento de acabar com a vida.
16- Ouvir vozes que as outras pessoas no
ouvem.
17- Tremer.
18- Sentir que no se pode confiar na maioria
das pessoas.
19- Falta de apetite.
20- Virem as lgrimas facilmente aos olhos.
219
Nada
Pouco
Moderadamente
Bastante
Muitssimo
Pouco
Moderadamente
Bastante
Muitssimo
Nada
Pouco
Moderadamente
Bastante
Muitssimo
222
Anexo VI
Multiphasic Personality Inventory
(Mini-Mult)
223
INVENTRIO DE PERSONALIDADE
MINI-MULT
INSTRUES:
Nestas
folhas
encontra-se
vrias
frases.
Peo-lhe
que
responda
224
VERDADEIRO
FALSO
225
VERDADEIRO
FALSO
27. A maior parte das vezes tenho a impresso de que fiz qualquer coisa
mal ou desastrada.
28. Sinto-me quase sempre feliz.
29. H pessoas que so to autoritrias que tenho vontade de fazer o
contrrio do que elas dizem, mesmo que eu tenha a certeza de que elas
tm razo.
30. Tenho a impresso de que os outros tentam prejudicar-me.
31. Acho que todas as pessoas so capazes de usar meios pouco honestos
para ganhar qualquer coisa ou qualquer vantagem em vez de perderem.
32. Tenho muitas vezes problemas com o meu estmago ou com os meus
intestinos.
33. Muitas vezes no percebo porque sou brusco e rabugento.
34. s vezes os meus pensamentos andam to depressa que no consigo
cont-los.
35. Estou convencido de que tenho na minha casa uma vida familiar to
agradvel como a maior parte das pessoas que eu conheo.
36. s vezes, sinto que no sirvo para nada.
37. Nos ltimos anos tenho gozado, geralmente, de boa sade.
38. H alturas em que fao as coisas sem saber mais tarde o que fiz
realmente.
39. Acho que muitas vezes tenho sido castigado sem razo.
40. Nunca me senti to bem como agora.
41. No me importo com o que os outros penso de mim.
42. Acho que tenho boa memria.
43. Para mim difcil comear uma conversa quando encontro pessoas
que no conheo.
44. Muitas vezes sinto um estado de fraqueza geral.
45. Tenho muitas poucas vezes dores de cabea.
46. No acho difcil conservar equilbrio quando ando.
47. No gosto de toda a gente que conheo.
48. H pessoas que tentam aproveitar-se das minhas ideias e dos meus
pensamentos.
49. Gostava de no ser envergonhado.
50. Estou convencido de que os meus pecados no podem ser perdoados.
51. Preocupo-me muitas vezes com coisas que no so importantes.
52. Os meus pais muitas vezes criticam as pessoas com quem me dou.
226
VERDADEIRO
FALSO
227
Anexo VII
Ways of Coping Questionnaire
(WCQ-R)
228
Nome: ____________________________________________________________________
Data: __ / __ / ____
Por favor:
Pense no problema ou na situao mais importante que viveu nos ltimos tempos
(por exemplo, problemas com um amigo ou familiar, doena ou morte de um amigo ou
familiar, um acidente ou doena, problemas no emprego ou problemas financeiros).
Faa uma breve descrio desse problema (se nos ltimos tempos no vivenciou
nenhum problema de grande importncia, pense num outro de menor importncia com o
qual tenha lidado).
Quem est envolvido?
__________________________________________________________________________
Local do evento? ____________________________________________________________
Evento: ___________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
229
0
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3
3
3
1 2 3
231
Anexo VIII
Inventario Clnico de Autoconceito
232
No
concordo
Concordo
pouco
Concordo
moderadamente
Concordo
muito
Concordo
muitssimo
233
Anexo XIX
Pedido de autorizao para recolha de dados
234
Pede deferimento
Leonel Martins
235
Anexo X
Autorizao da comisso de tica para a
realizao do estudo
236
237
Anexo XI
Autorizao do director do DPSM para a
realizao do estudo
238
239