Submissão e Dominação
Submissão e Dominação
Submissão e Dominação
por
Odd Reiersl
artigo,
referncias
"fetichismo".
"fetichismo
de
transverso",
"sadismo" e "masoquismo". Usarei, na maior parte das vezes, o pronome "ele" em vez
de "ela", porque h mais conhecimentos sobre a "parafilia" masculina. Isso no significa
que
eu
queira
excluir
as
mulheres
da
minha
discusso.
O que SM?
Pontos de vista tradicionais comumente definem que SM uma "perverso" onde
pessoas tm prazer em atividades sexuais que inflijam dor e/ou humilhao. A pessoa
que se excita sexualmente por infligir dor/humilhao chamada de "sdico". A pessoa
que se excita sexualmente por receber estmulos dolorosos/humilhantes chamada de
"masoquista". A palavra "perverso" foi originalmente usada dentro da terminologia
legal, o equivalente psiquitrico mais moderno seria "parafilia" ou "desvio
sexual"(DSM-IV, ICD-10).
Eu vejo o SM como um jogo de poder ertico consentido entre dois adultos. Quando as
atividades no so consensuais, ou quando um dos parceiros tratado com desrespeito,
elas se tornam abusivas e podem ser apropriadamente chamadas de "perversas". O
saudvel, consensual jogo de poder ertico, pode dar prazer s pessoas. So variaes
ou preferncias sexuais muito aceitveis. Esses jogos de poder erticos podem envolver
dominao verbal ou fsica. Ordens, espancamentos, imobilizaes e jogos de
mestre/escrava so exemplos.
J que "sadomasoquismo", para muitas pessoas, carrega uma conotao de violncia,
pode ser melhor usar um termo diferente como, por exemplo, D/s (Dominao e
Submisso), mas difcil mudar terminologias estabelecidas.
Que tipo de pessoas pratica o SM?
A opinio tradicional de cem anos atrs definia que essas pessoas eram imorais, doentes
ou degeneradas. Os pontos de vista no distinguiam entre violncia e jogos consensuais.
Dados psiquitricos eram usados para provar esses pontos de vista.
Por exemplo, William Stekel (Stekel, 1930), um famoso psiquiatra e psicanalista,
escreveu um livro sobre casos psiquitricos em fetichismo e SM. Eram pessoas
realmente desesperadas, muitas delas em conflito com a lei. Esses pontos de vista eram
tirados desses casos.
Vale a pena observar a opinio clerical tradicional condenando todo tipo de atividade
sexual que no ocorresse entre homem e mulher, e a atividade sexual necessria para a
procriao como objetivo ser aceitvel. Qualquer tipo de sexo que no usasse a posio
de missionrio (o homem por cima!) entre o homem casado e sua esposa era
considerado "perverso".
Foi apenas nos anos 70 que cientistas sociais tentaram conduzir estudos objetivos desses
fenmenos sexuais (embora Kinsey tivesse umas poucas questes sobre atividades de
infligir dor, como mordidas, no seu famoso estudo dos anos 50). Um dos primeiros
estudos foi conduzido por Spengler (1977). Um questionrio foi enviado a anunciantes
em revistas de SM e a membros de clubes de SM. Moser e Levitt (Weinberg, 1995)
fizeram um estudo mais extenso alguns anos mais tarde tambm baseado em
questionrios. Robert Stoller (Stoller, 1991) usou um mtodo "etnogrfico" para
entrevistar praticantes de SM nos anos 80.
Estes estudos indicaram que os praticantes de SM so pessoas muito diferentes. Muitos
deles ocupam posio elevada na sociedade, respeitados, com alto nvel de educao.
No h razo para crer que h maior prevalncia de psicoses ou desordens de
personalidade do que na populao em geral.
O que faz as pessoas desenvolverem um forte interesse ou preferncia por SM?
Se at os psiquiatras e os psiclogos tm tradicionalmente se preocupado com a
"etiologia", acho que seria interessante levantar essa questo sobre a preferncia ou
forte interesse. Freqentemente encontro pessoas que se perguntam: "Por que sou como
sou?"
Viso psicoanaltica
Na viso psicanaltica o "sadismo" quase sempre entendido como reao primria e o
"masoquismo" como reao secundria ao trauma. O "masoquismo" secundrio no
sentido de que o "sadismo" dirigido para dentro, contra si mesmo. Se a criana tem
uma me que nega satisfazer suas necessidades, ela pode, quando adulta, procurar
vingana em fantasias sdicas e possivelmente realiz-las sexualmente contra mulheres.
Sadismo "oral", "anal" e "flico" foram postulados. Dessa forma, a vingana pode vir
como resultado da angstia de castrao na fase edpica ("flica"). O conflito edpico
pode, alternativamente, resultar diretamente em submisso (sendo assim, em
masoquismo), como estratgia de fuga. Ele "deixa estar" por desistncia.
A compulso repetio tem lugar proeminente no pensamento psicanaltico. "Pessoas
SM" precisam recriar um velho cenrio traumtico na tentativa e resolver, aqui e agora,
o que foi impossvel de resolver no passado. Se, por exemplo, a criana foi espancada
pela me, ela pode precisar repetir esse cenrio tendo uma namorada lhe fazendo o
mesmo quando adulto. Ou ele pode reverter essa situao espancando sua namorada.
H numerosas explicaes entre profissionais psicanaliticamente orientados (talvez
tantas explicaes quanto profissionais). Outra bem conhecida sobre expiao. "J que
pequei (por ser sexual) sou mau e preciso punio". Nesse caso, o "masoquismo" parece
ser uma reao primria, o "sadismo" ser a projeo e o sdico pune o outro ao invs
de punir a si mesmo.
Parece que Freud tinha uma viso ampla do SM no sentido de que ele conhecia a
seqncia dos estados "normais" aos "extremamente" sdicos, ambos em pessoas
masoquistas. Ele associou homens sociveis, assertivos, dominadores, como tipos
sexualmente "sdicos" e mulheres receptivas, submissas, como tipos "masoquistas".
Apenas quando esses impulsos se tornam exagerados que a pessoa se torna "perversa".
Freud tambm entendeu o fetichismo como uma perverso "primria", o que significa
que o SM de alguma forma tem o fetichismo como base. tambm importante notar
que Freud, inicialmente, pensou o sadismo como fora primria (em relao ao
masoquismo), mas, posteriormente passou a crer que o masoquismo veio primeiro.
preciso alertar que as palavras "sadismo" e "masoquismo" so usados em diferentes
sentidos (dos sexuais) dentro da viso psicanaltica. Por exemplo, Wilhelm Reich
(Reich, 1945) falou sobre "estruturas de personalidade" sdicas e masoquistas. H
biolgicos:
" sensato pensar que certas reas anatmicas so constitutivamente mais prazerosas
em uma pessoa do que na outra; o desenvolvimento de zonas libidinais contribuem para
um
estilo
ertico".
explicadas
culturalmente.
Fatores
culturais:
Cultura uma fonte de conscincia, por exemplo: ".. quando a igreja medieval aceitou
a flagelao como um ato piedoso, os masoquistas tiveram um assombroso caminho,
mais ou menos livre de culpa, ao xtase que a igreja de hoje bloqueou atravs de sua
compreenso
do
masoquismo
perverso".
desaprova
essas
prticas.
Fatores psicodinmicos:
Trauma: Assim como outros psicanalistas, Stoller inclui o trauma como um fator de
forte contribuio. Ele mais cauteloso do que muitos dos tradicionais pois levanta
importantes questes sobre como o trauma contribui exatamente e sob que
circunstncias. Por que algumas pessoas tornam-se interessadas em SM e outras no,
tendo tido o mesmo tipo de trauma? Ele especula a partir de seus dados etnogrficos e
de sua prtica psicanalista que as pessoas que praticam SM consensual so "neurticas,
como ns todos", enquanto que os praticantes no-consensuais so mais severamente
afetados demonstrando fortes sinais de desordens da personalidade ou, nos piores casos,
de
psicoses.
Defesa
contra
ansiedade,
vergonha
Teoria
culpa.
comportamental
Rosenhan e Seligman (1995) apresentam uma viso comportamental das causas das
parafilias.Eles usam o paradigma pavloviano onde um reflexo condicionado (CS)
associado a um reflexo incondicionado (US) de estimulao genital e a uma resposta
incondicionada (UR) de prazer sexual. Como resultado, futuramente um CS produzir
uma resposta condicionada de excitao sexual. Fetichismo por ps pode ser usado
como exemplo. A viso e o toque de um p no pnis pode se tornar um CS resultando
em ereo ou orgasmo, o US. O CS no se extingue na parafilia, devido masturbao
que refora a conexo entre CS e US. Mas por que algumas pessoas se masturbam com
o
CS
outras
no
ainda
um
mistrio.
Alm disso, eles usam um "preveno" como forma de explicar o fato de que um
limitado conjunto de objetos tornem-se paraflicos. Essa preveno talvez "meio
programada"(i.e.
biologicamente
determinada)
de
determinadas
Sexologia
espcies.
"Moderna"
John Money (Money, 1986) um dos mais importantes e conhecidos sexologistas que
escreveu exaustivamente sobre a parafilia. Ele usa tanto a psicoanlise quanto a teoria
comportamental para como bases para seu pensamento. Uma de suas definies mais
proeminentes a de "transformar a tragdia em triunfo", a tragdia como vandalizao
da sexualidade de algum ou um "grfico do amor". O triunfo a satisfao sexual
obtida por ser paraflico. Money define o "grfico do amor" como "uma representao
ou padro de desenvolvimento existindo simultaneamente no pensamento e no crebro
retratando o amor idealizado, o caso de amor idealizado, e o programa idealizado de
atividade sexo-ertica projetada no imaginrio ou mesmo realizada com o parceiro"
(Money, 1998). O grfico do amor de uma pessoa , supostamente, to caracterstico
dessa pessoa como suas digitais. Uma pessoa com parafilia como parte de seu grfico
do
amor
teve
seu
grfico
vandalizado.
Grficos do amor podem ser vandalizados de muitas formas, por exemplo, por pais que
interferem no desenvolvimento sexual de uma criana. Ele afirma que a parafilia
virtualmente no-existente em sociedades que no colocam tabus no desenvolvimento
sexo-ertico das crianas. Por outro lado, ele enfatiza que tanto a hereditariedade quanto
o ambiente contribuem para o aparecimento das parafilias. Componentes hereditrios
no so necessariamente genticos, pois podem, por exemplo, ser fruto de influncias
hormonais
no
ambiente
intrauterino.
outros
indivduos
comentrios
conect-la
sobre
objetos
a
ou
situaes.
"etiologia"
Acho razovel acreditar que h tantas origens para a parafilia quanto indivduos
paraflicos. De acordo com minha experincia e com os estudos que li, indivduos de
Sm constituem um grupo diverso que no tem necessariamente nada em comum exceto
o
fato
de
serem
interessados
em
SM.
um
todo.
"Como
todo
mundo,
eles
so
neurticos".
Ento, se, como Stoller diz, SM uma PTSD (Desordem Ps Traumtica por Stress ou
Tenso) da infncia, ns todos provavelmente temos algum tipo de PTSD, indivduos
SM ou no. E SM virtualmente uma soluo saudvel comparando-se, por exemplo, a
uma
OCD
(Transtorno
Obsessivo
Compulsivo).
Um dos pontos fracos nessas explanaes que quase sempre falam s de homens.
Naturalmente, os homens tradicionalmente reprimiram menos suas inclinaes sexuais
do que as mulheres, assim sendo manifestaram seus impulsos sexuais de forma mais
abrangente. Alguns deles tiveram problemas (algumas vezes at com a Lei) e
terminaram num consultrio mdico sendo diagnosticados. Isso nos leva a um outro
ponto
fraco:
muitos
dos
casos
coletados
vm
de
casos
patolgicos.
Acho razovel perceber (como Stoller e Money) que h vrias causas que contriburam.
A educao obviamente insuficiente, j que h fortes razes para crer que ambientes
equivalentes podem dar resultados diferentes. Indivduos que foram espancados quando
crianas podem ou no ser levados a espancar. E indivduos que nunca foram (ou pelo
menos dizem que no) espancados gostam de o ser durante os jogos SM. Talvez alguns
indivduos sejam mais atrados a uma forte estimulao do que outros. O nus uma
zona ergena para a maioria das pessoas e talvez mais sensvel em umas do que em
outras. J que h diferenas genticas nas partes do corpo de cada um, por que
diferenas geneticamente determinadas em diferentes partes do corpo no respondem a
vrios
tipos
de
estmulos?
se
masturbando.
SM
todos
tiveram
traumas
em
suas
vidas".
De qualquer maneira, concordo com Stoller em que, aqueles que abusam de outros,
sexualmente ou no, so indivduos comprometidos psiquicamente. Eles devem ter
sofrido traumas tradicionais (como terem sido vtimas de abusos) ou terem sido
severamente negligenciados, de tal forma que suas habilidades para relacionarem-se
com outras pessoas de forma respeitosa e emptica tenha sido profundamente
prejudicada.
Um ponto sobre a interao entre a biologia e o ambiente: h razes para crer que
alguns meninos tm uma estrutura biolgica mais feminina do que outros (Bateson).
Um menino assim pode se sentir especialmente inclinado a brincar com meninas e de
forma submissa. Sua estrutura biolgica d-lhe impulsos para escolher ambientes que
lhe d oportunidades de experimentar uma forte excitao sexual por meninas que o
dominem. A, o interesse masoquista pode se desenvolver. claro que no afirmo que
todos os homens masoquistas so "efeminados". H diferentes razes para todos os
interesses
preferncias
sexuais.
como
"parafilias":
lute
por
mudana.
referem
sistema
legal.
abuso
sexual.
trauma
e,
portanto,
um
fenmeno
anormal.
Na verdade houve algum esforo para mudar, o que resultou no "critrio B" adicionado
a todas s sub-categorias das parafilias no DSM-IV: "As fantasias, impulsos ou
comportamentos sexuais causam, clinicamente, significantes aflies ou prejuzos nas
importantes reas de funcionamento social, ocupacional etc.". Este critrio precisa ser
encontrado como condio para que o diagnstico de "parafilia" seja feito. O critrio
no (ao menos no claramente, explicitamente ou consistentemente) implementado no
ICD-10.
Ambos
os
sistemas
de
diagnstico
aboliram
diagnstico
de
homossexualidade.
Por que os diagnsticos de "fetichismo" e de "sadomasoquismo" deveriam ser
abolidos?
Isso um assunto de direitos humanos. Diagnosticar tipos de sexualidade um
desrespeito assim como discriminar pessoas baseando-se na raa, etnia ou religio.
Pessoas podem usar o diagnstico para usar o abuso legtimo. H ainda muito respeito
e
crena
nos
diagnsticos
mdicos.
estigma).
consensual,
mas
diagnosticado
como
"Parafilia"
do
mesmo
nvel.
muitos tipos de abuso sexual so diagnosticados como parafilia, parece estranho que o
estupro no o seja. Um estuprador no necessariamente sdico porque ele pode no ter
necessariamente excitao sexual advinda do sofrimento da vtima. A prtica de sexo
sem segurana tambm no diagnosticada como tal (pelo menos no como uma
desordem
sexual).
para
serem
diagnosticadas.
absorto
com
essa
atividade.
significa
causar
um
esgotamento
no
indivduo
(inconsistncia).
ou
"muulmanas".
abuso
Diagnosticar
pode
Possveis
e
afetar
desrespeito
os
indivduos
conseqncias
fazem
de
muitas
por
parte
dela.
maneiras
negativas.
ser
diagnosticado
Pessoas podem acreditar que esto doentes porque autoridades mdicas assim o dizem.
Imagem
negativa
de
sis
mesmo,
baixa
auto-estima.
Suicdio
Ansiedade
ou
tentativa
sexual,
de
suicdio.
dificuldades
sociais.
nessa
categoria.
outras
palavras
ele
tem
um
problema
de
contato.
Ainda umas poucas palavras sobre intimidade: Muitas pessoas, sejam "normais" ou
"paraflicas", tm dificuldade em tornar-se ntimo do parceiro apropriado. Se a pessoa
"paraflica", a psiquiatria rpida em atribuir o problema a um desvio de sexualidade.
Seria mais apropriado ver a dificuldade com a intimidade como um problema, do que
estigmatizar o tipo de sexualidade. No h nenhuma evidncia de que pessoas SM ou
fetichistas so menos aptos a amar seus parceiros do que qualquer outra. Se a pessoa
tem problema com intimidade, isso no um problema sexual. Entretanto, isso pode ser
muito srio.
Bibliografia
DSM-IV: Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fourth Edition,
American
Psychiatric
Association,
Washington
DC.
ICD-10: The ICD-10 Classification of Mental and Behavioral Disorders, World Health
Organization,
Money,
John:
Geneva.
"Lovemaps",
Irvington
Publishers,
Inc.,
N.Y.,
1986.
Money, John: "Sin, Science and the Sex Police", Prometheus Books, Amherst, New
York,
1998.
Reich, Wilhelm: "Character Analysis", Farrar, Strauss and Giroux, N.Y. 1945.
Rosenhan, D.L. and Seligman, M.: "Abnormal Psychology, third edition", Norton, N.Y.
1995.
Stekel,
Wilhelm:
"Sexual
Aberrations",
Liveright
Inc,
N.Y.,
1930
Stoller, Robert: "Pain and Passion - A Psychoanalyst Explores the World of S&M",
Plenum
Press,
N.Y.,
1991.