Aleida Assman
Aleida Assman
Aleida Assman
, 2013
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Heiner
Mller
...
recordar
revolucionrio,
esquecer,
contrarrevolucionrio. (p.188)
Um dos meios mais produtivos de evitar o esquecimento a escrita. Ela
permanece inalterada muito depois da morte de seu autor. Shakespeare serve-se da
Letrnica, Porto Alegre, v. 6, n. 2, p. 877-885, jul./dez., 2013
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diferena entre tradio oral e escrita como tema em seu drama Ricardo III. A discusso
atesta o maior valor de verdade da escrita em relao tradio oral. Para Plato a
escrita pode at ultrapassar a memria pela no quesito armazenamento, mas no como
recordao.
Assmann segue seu texto comparando a escrita imagem. A imagem, por ser feita
de materiais sensveis eroso, mais transitria. A escrita, como pode ser copiada e
tem seu valor nos smbolos, permanece. Francis Bacon afirma que a escrita aponta para
o futuro - Assmann escreve a sobre a crena de Bacon: a verdade da cincia sucede ao
engodo da religio; a magia das letras redime a dos rituais. (p.211) Milton compartilha
da opinio de Bacon e acrescenta quer os livros so questionadores do poder das
instituies.
Ao contrrio de Bacon e Milton, Burton e Swift acreditam que a facilidade de
publicar, advinda da inveno da imprensa, acaba por extinguir critrios de qualidade
para publicao. Sero os leitores quem decidiro o que cair no esquecimento e o
permanecer.
Wordsworth acredita que a escrita, apesar da sua fora reprodutiva, no ser
capaz de manter as memrias da humanidade. Para Thomas Carlyle, o valor de verdade
do que foi escrito no passado passa a ser questionado. Segundo ele, a histria contada
atravs do que se perdeu e no do que se preservou e isso (o esquecimento) que nos
permite continuar armazenando os dados da memria.
Assmann prope quatro estgios evolutivos e, atualmente, simultneos da
escrita: a escrita iconogrfica, a alfabtica, a analgica do vestgio e a digital,
confirmando sua importncia como suporte da memria.
questo fundamental, na atualidade, saber selecionar o que ser armazenado e
o que ser descartado. Anteriormente, at mesmo o lixo do passado era fonte de
informao cultural sobre os hbitos de um povo, porm, na era das mdias digitais, a
fronteira entre o que se deve lembrar e o que deve ficar esquecido cada vez mais
tnue.
Ainda a respeito da diferena entre imagem e escrita, Assmann observa Obras
iconogrficas eram consideradas de natureza material e situadas em um tempo
destruidor; a escrita era considerada imaterial e se situava em um tempo generativo, ou
mesmo fora do tempo (p. 235).
Letrnica, Porto Alegre, v. 6, n. 2, p. 877-885, jul./dez., 2013
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Referncia:
ASSMANN, Aleida. Espaos da recordao: formas e transformaes da memria cultural.
Campinas: Unicamp, 2011.