Dom Casmurro (1) Teatro
Dom Casmurro (1) Teatro
Dom Casmurro (1) Teatro
Ao apagar luz, entrada do sof. Organizar bem para no ter problema de demorar a entrada.
Esto em cena Glria, Jos Dias, conversando algo entre si. Justina est ao lado de Glria,
apenas ouvindo a conversa. Cosme est retirado, sentado fazendo de conta no estar a par da
conversa. Bentinho est atrs deles, ouvindo a conversa escondido.
Msica: Poli
Bentinho sai do esconderijo, d uns passos para frente da cena. Se no foi criado cena
corporal, criar. Msica. Bentinho anda cambaleando, os outros atores vo at ele e jogam-no
para um lado e para o outro. Bentinho cada vez mais mole. At que msica para e ele fica
parado no centro do palco com todos ao redor dele. Barulho de sino de igreja, Bentinho cai de
costas e amparado pelo narrador. Todos saem de cena, narrador carrega-o at um canto e
solta-o, ele fica como se desligado.
PARTE 3 MURO (NA RUA, ENTRE CASA DE BENTINHO E CAPITU SOF COMO MURO
Narrador: Esta foi uma clebre tarde, que nunca me foge da memria. Tive muitas
outras, verdade! Melhores, piores, mas aquela nunca me apagou do esprito. (liga Bentinho e
sai de cena). No sei o que me marca mais, o que acabara de acontecer, ou o porvir.
Narrador: Quando morreu meu irmo, D. Glria minha me, ela fez uma promessa.
D. Glria: (Entra de um lado de cena e sai do outro) Se eu tiver outro filho, ele h de ser
padre.
Narrador: Dito e feito. Para D. Glria no havia rio que movesse a pedra de seu
juramento. Naquela tarde contei tudo o que acabara de ouvir em casa.
Capitu: Beata! Carola! Papa-missas! (muito alterada)
Bentinho: (Bentinho assustado leva alguns segundos para conseguir responder) Mas eu
no quero. No quero entrar em seminrio nenhum... No entro. Digo e pronto, no entro.
Capitu: Voc? Voc entra.
Bentinho: No entro.
Capitu: Voc ver se entra ou no. (Leva alguns segundos para Capitu voltar a falar de
maneira mais calma) E que interesse tem Jos Dias em lembrar disso?
Bentinho: Acho que nenhum, fez porque um mau carter. Mas deixe eu ser dono da
casa pra ver se ele no vai pra rua... Mame boa demais, d-lhe ateno demais. Parece at
que chorou?
Capitu: Jos Dias?
Bentinho: Mame.
Capitu: Chorou por qu?
Bentinho: No sei. Foi to de repente.
Capitu: (Fica alguns segundos pensativa, olha e se aproxima de Bentinho) Se eu fosse
rica, voc fugia, metia-se no avio e ia pra Europa.
PARTE 10 DISCUSSO BENTINHO E CAPITU
Narrador: Capitu me examinava. Aos 14, j tinha ideias atrevidas, muito menos que
outras que viriam depois, mas todas tinham um destino certo, ela sempre conquistava o que
queria.
Capitu: Mas no vejo outra seno essa alternativa.
Bentinho: Qual?
Capitu: Jos Dias.
Bentinho: Que tem Jos Dias?
Capitu: Ele quem pode fazer sua me desistir de te mandar para o seminrio.
Bentinho: Mas se foi ele mesmo quem falou...
Capitu: No importa, dir outra coisa agora. Ele gosta muito de voc. No seja covarde,
lhe fale feito homem. Mostre que voc ser o dono da casa, mostre que quer e pode. Faa ele
entender que no um favor... Elogie ele tambm, ele gosta de ser elogiado. Sua me lhe d
muito ateno, mas isto no o principal, que ele, tendo de servir a voc, falar com muito
mais calor que outra pessoa.
Bentinho: No acho Capitu
Capitu: Ento v para o seminrio.
Bentinho: No.
Capitu: Que custa experimentar? Lembra quando ele convenceu sua me de ir ao
teatro pela primeira vez?
Bentinho: (Sorrindo faz sinal positivo)
Capitu: Ela no queria, mas ele tanto falou que sua me consentiu e ainda pagou a entrada dos
dois.
Msica Lenta:
Msica. Bentinho comea a escrever em papis que lhe so trazidos pelas pessoas.
Estes so amassados por ele e jogados fora, sem que saiam das mos do manipulador, at que
dobra um destes papis. O papel permanece no ar e Bentinho retirado de cena no colo por
duas pessoas, Jos Dias entra e este papel chega suas mos, ou ao seu bolso. Jos Dias abre o
papel, olha para a plateia. Msica para.
Jos Dias comea a caminhar em palco, Bentinho entra e caminha ao seu lado.
PARTE 6 PARQUE
pra mim. (Bentinho fala de modo engasgado, aos pedaos). Conto com o senhor para me
salvar.
Jos Dias: Mas... Como assim Bentinho? O que que eu posso fazer?
Bentinho: Pode muito, o senhor sabe que em nossa casa todos lhe estimam. Mame
pede muito de seus conselhos. Tio Cosme diz que o senhor pessoa de talento.
Jos Dias: So bondades. So favores de pessoas dignas... Sua me uma santa, seu tio
um cavalheiro perfeitssimo. Tenho conhecido famlias distintas, nenhuma pode vencer a sua
em nobreza de sentimentos. O talento que seu tio acha que em mim, confesso que tenho, mas
s um, o talento de saber o que bom e digno de admirao e de apreo.
Bentinho: E tambm o de proteger os amigos, como eu.
Jos Dias: Em que posso lhe valer meu anjo do cu? No irei conseguir dissuadir sua
me. Ela convicta, fez uma promessa sria, uma ambio e sonho de longos anos. Ainda
ontem, fez-me o favor de dizer: Jos Dias, preciso meter Bentinho no seminrio o quanto
antes.
Bentinho: Voc pode conseguir se o senhor quiser.
Jos Dias: Se eu quiser? Mas que outra coisa eu quero seno servi-lo?
Bentinho: Olhe, no por vadiao, estou pronto pra tudo, se ela quiser que eu estude
leis, vou pra So Paulo...
Jos Dias: Eu acho que agora tarde demais, Bentinho, mas vou lhe provar que no
falta de vontade, irei falar com sua me.
Em vez disso ela cai para trs, ele a segura, os dois ficam cara a cara. Beijo. Capitu
ergue-se rapidamente e coloca-se olhando para o cho. Bentinho atordoado recua. D.
Fortunata entra.
Capitu: Mame! Olhe como este senhor cabelereiro me penteou. Pediu-me para
terminar o penteado e fez isto. Veja que tranas.
Fortunata: Que tem? T bonito. Ningum dir que de algum que no sabe pentear.
Capitu: O que mame? Isto? (comea a tirar as tranas) Ora, mame.
Fortunata: Ora sua tola, deixe de bobia, isso no nada. (olha sorrindo para os dois,
mas percebe que Bentinho est calado no canto, encabulado).
#mudar texto Jade: (ao perceber o menino, ela falta diz) Bentinho, acho que sua me mandou
lhe chamar.
Bentinho sai correndo. Msica. Atores entram com Bentinho para o alto. Caminhando
com ele para vrios lugares no palco enquanto ele grita: Sou Homem! Tiram Bentinho de cena.
Entram dando risadas D. Glria, Justina, Tio Cosme e Padre Cabral.
#tirar o sof
Bentinho e Jos Dias se olham preocupados, enquanto todos do risadas. Escurece, fica
apenas uma penumbra, atores saem enquanto entra Capitu. Ficam Capitu e Bentinho.
#msica
Capitu sai de cena e deixa Bentinho sozinho. Inicia msica. Atores entram e comeam a
andar pelo palco, esbarrando em Bentinho sempre que se aproximam dele. Depois comeam a
golpe-lo um de cada vez. Quem golpeia mantm seu golpe encostado em Bentinho, ao final
da cena Bentinho est sendo golpeado por muitas pessoas. Fim da msica. Capitu entra.
Encosta em uma pessoa, esta pessoa sai de cena, e assim sucessivamente, at ficar sozinha
com Bentinho. Eles se olham longamente.
solteires, igual ao sol e a lua. A frmula dela era melhor e tinha a vantagem de me fortalecer o
corao contra a investida eclesistica. Eu nem temia mais o seminrio.
Capitu temia a nossa separao, mas aceitou esta ideia, que era o melhor. No
aborrecamos a minha me e o tempo correria at o ponto de nos casarmos. Ao contrrio,
qualquer resistncia ao seminrio confirmaria a denncia de Jos Dias. Esta reflexo no foi
minha, mas dela.
Cena Fsica: Msica. Bentinho entre os outros (sempre no centro) fazendo movimentos
e posies de aes ocorridas no seminrio. Aes de rezar, estudo, rezar, estudo e passa um
professor, rezar, estudo e Bentinho dormindo, rezar, estudo e Bentinho dormindo enquanto os
outros saem de cena e deixam Bentinho sozinho. Msica desliga em fade out, Bentinho acorda.
Narrador: A sensao que tive que ia sair um soneto perfeito. Comear bem e acabar
bem no era pouco. Ento esperei vir os versos centrais do poema. Repetia o primeiro verso e
esperava o segundo. O segundo no vinha, nem terceiro, nem quarto, no vinha nenhum. Tive
alguns mpetos de raiva, at que me passou pela cabea alterar o sentido do ltimo verso, com
a transposio das duas palavras.
Bentinho: Ganha-se a vida, perde-se a batalha!
Narrador: O sentido viria a ser justamente o contrrio, mas talvez isso mesmo
trouxesse a inspirao para os versos centrais. Trabalhei em vo, busquei, catei, esperei, no
vieram os versos...
Entra Escobar.
Escobar: Voc est bem?
Narrador: Este Escobar. Mais velho que eu, trs anos. Filho de um advogado de
Curitiba. Quando nos conhecemos no seminrio, fizemos grande amizade, ele me contava suas
histrias e me deixava seduzido pelas suas palavras. A princpio fui tmido, mas ele fez-se
entrando em minha confiana.
Bentinho: Estou.
Escobar: Esto te achando um muito distrado. Tambm tenho meus motivos para
distrair-me, mas tento sempre estar atento.
Bentinho: D pra perceber?
Escobar: Sim. Voc as vezes parece que no ouve. Fica olhando para o nada.
Bentinho: Tenho motivos.
Escobar: Acredito, ningum se distrai toa.
Bentinho: Escobar...
Escobar: (percebe que Bentinho hesita, espera um tempo) Que ?
Bentinho: Escobar, voc meu amigo, eu sou seu amigo tambm. Aqui no seminrio
voc a pessoa que mais me tem entrado no corao, e l fora, a no ser minha famlia, no
tenho propriamente um amigo.
Escobar: Se eu disser a mesma coisa?
Bentinho: Escobar, voc guarda um segredo?
Escobar: Se perguntas porque duvidas, ento neste caso...
Bentinho: Desculpa, modo de falar... Escobar no posso ser padre, estou aqui e minha
famlia acredita, esperam de mim, mas eu no posse ser padre.
Escobar: Nem eu Bentinho.
Bentinho: Nem voc?
Escobar: Segredo por segredo. Tambm tenho o propsito de no acabar o curso. Meu
desejo o comrcio, mas no diga nada, absolutamente nada, fica entre ns.
Bentinho: S isso?
Escobar: Que mais ia de ser?
Bentinho: Uma pessoa...
Escobar: Uma pessoa?
Narrador: No foi preciso mais para que Escobar entendesse. Uma pessoa devia ser
uma moa. Ento contei-lhe por alto o que podia. Bem demoradamente para ter o gosto de
estar repisando no assunto. Escutou com muita ateno e no fim da nossa conversao,
declarou que Capitu era segredo enterrado no cemitrio.
Bentinho: Bom que chegastes Sr. Jos Dias. E como ests no plano de tirar-me daqui?
Jos Dias: Te acalma garoto, estou fazendo o que posso. A viagem para a Europa, s
disso que eu preciso. Est tudo arranjado, fique tranquilo. Dentro de 2 anos viajo contigo para
a Europa e ests livre do seminrio.
Bentinho: Assim tarde?
Jos Dias: Temos que dar tempo ao tempo Bentinho. Tenha pacincia.
Bentinho: Mas Dois anos muito tarde.
Jos Dias: Ser este ano
Bentinho: Daqui a 3 meses.
Jos Dias: Ou 6.
Bentinho: No, 3 meses.
Jos Dias: Pois sim. Tenho um plano melhor. Voc precisa mudar de ares. Porque no
tosse?
Bentinho: Por que no tusso?
Jos Dias: No digo agora, neste exato momento, mas eu te aviso quando, e aos
poucos, uma tossezinha seca.
Bentinho: Ah! Entendi! Mostrar que estou doente, que o seminrio est me
adoentando.
Jos Dias: Mostrar a verdade, porque, francamente Bentinho, eu h meses que
desconfio do seu peito. Voc no anda bem do peito. H dias que anda descorado. No digo
que pode ser o mal, mas o mal pode vir depressa...
Bentinho: E... (Bentinho hesita. Jos Dias olha para ele esperando que continue) E
Capitu como vai?
Jos Dias: Ora! Tem andado alegre como sempre, uma tontinha. Aquilo enquanto no
pegar um peralta da vizinhana, que case com ela...
Diz e vai saindo deixando Bentinho sozinho, que sofre com a nova informao. Msica
de tenso. Bentinho se deita para dormir, se vira para os lados sem conseguir dormir. Capitu
entra. Bentinho grita Capitu, mas msica praticamente sufoca seu chamado. Bentinho se
aproxima dela. Capitu fala: Bentinho, mas no se ouve por conta da msica mais alta.
Algumas pessoas vo at o casal, que est em p, quase se beijando. Levantam Bentinho e
comeam a levar ele para trs, bem devagar, at prximo da cama, sentam ele. Capitu ento
levantada. Capitu retirada de cena. Deitam Bentinho. Pessoas saem. Bentinho continua a se
debater na cama. Msica para brusca com Bentinho acordando gritando, No.
Entra Escobar.
Escobar: Como dizes no Bentinho? Deverias estar feliz, hoje que podemos visitar
nossas famlias. Olha! No posso ir hoje, mas amanh prometo, vou conhecer tua me. E
tambm claro, tua amada Capitu. Vai te arruma que j tarde, no sei como ainda no ests
pronto.
D. Glria: No! No! Busquem ele o mais rpido possvel! Posso morrer e a minha alma
no se salva se Bentinho no estiver ao p de mim.
Bentinho entra com Capitu.
Bentinho: Tu irs ver Capitu, Escobar muito amigo meu.
Capitu: Mas no meu amigo.
Bentinho: Pode vir a ser, ele vem amanh conhecer mame.
Capitu: No me importa, voc no tem direito de contar um segredo que no s seu,
mas meu tambm. Eu no lhe dou licena de dizer nada a pessoa nenhuma. Agora entre, me
parece que sua me no est bem. Ela quer te ver.
Bentinho se aproxima de sua me com muita tristeza.
D. Glria: Que Bentinho?
Bentinho: Mame...
Jos Dias: No! No! Que ideia essa? O estado dela gravssimo, mas no mal de
morte. Enxugue os olhos, que feio um mocinho da sua idade andar chorando na rua. No h
de ser nada, uma febre, assim como do com fora assim tambm se vo embora... Com os
dedos no, onde est o leno?
Bentinho enxuga os olhos e se ajoelha vagarosamente prximo sua me.
D. Glria: No, meu filho, levanta, levanta!
Narrador: Capitu, que observava de longe, gostou de ver a minha entrada, os meus
gestos, palavras e lgrimas, segundo me disse depois, mas no suspeitou naturalmente todas
as causas da minha aflio... (longa pausa) Pensei em dizer tudo a minha me, logo que ela
ficasse boa, mas sabia eu que esta era uma ao que eu nunca faria, por mais que o pecado
doesse.
Entra Escobar.
Msica. Cena de jantar, risadas, brindes, danas entre todos da casa. Bentinho sempre
junto de Escobar, as vezes at abraado ombro a ombro. Tio Cosme e Jos Dias tambm riem
bastante, conversam entre homens. Dona Glria, adoentada fica sentada, sempre tmida, mas
ouve a conversa e d umas poucas risadas, nunca triste, apenas um pouco abatida. Justina
sempre prxima Glria, s vezes abraando a irm. Comeam a sair de cena, primeira Dona
Glria e Justina que sai ajudando a irm, depois Tio Cosme e pro ltimo quando est quase
acabando a msica Jos Dias. Ficam apenas Bentinho e Escobar caminhando pelo palco. At
que param no centro do palco.
Escobar: Chega a hora de nos despedirmos amigo. (Se abraam) Obrigado pela
hospitalidade.
Bentinho: A casa tua meu amigo, estar sempre de portas abertas para quando
quiseres voltar.
Capitu: (abrindo a janela) Mas que amigo esse que tanto se estimam?
Bentinho: Este Escobar. E esta Capitu.
Os trs trocam olhares paralisados, durante alguns segundos. Troca de luz. Cenas
fsicas de Bentinho no seminrio, talvez mesmas cenas anteriores, mas agora com Escobar ao
lado. Termina a msica, os dois com a bblia na mo.
Sada do seminrio
Cimes do mar
Um filho
Veneno
Volta de Ezequiel
Bentinho Poli
Casmurro Gabs
Capitu Duda
Jos Dias Sass
Justina Sara
Glria Katti
Fortunata Jade
Ezequiel Maike
Filho Todos, Maike
Cosme Patrcia
Padre Ketlin
Sancha Eduarda