UNESCO Publicacao Repensar Politicas Culturais

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Diversidade das

Expresses Culturais

Resumo

RE | PENSAR
AS POLTICAS
CULTURAIS
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cultur

2015

Relatrio Global da
Conveno de 2005

Verso em portugus publicada em 2016, pela Organizao das Naes Unidas para a Educao a Cincia e a Cultura, 7, place de
Fontenoy, 75352 Paris 07 SP, Frana, pelo Instituto do Patrimnio Histrico Nacional (IPHAN), por meio do Centro Lcio Costa (CLC)
e pela Representao da UNESCO no Brasil.
UNESCO 2016

Esta publicao est disponvel em acesso livre ao abrigo da licena Atribuio-Partilha 3.0 IGO (CC-BY-SA 3.0 IGO)
(http://creativecommons. org/licenses/by-sa/3.0/igo/). Ao utilizar o contedo da presente publicao, os usurios aceitam os termos
de uso do Repositrio UNESCO de acesso livre (http://unesco.org/open-access/terms-use-ccbysa-en).
Ttulo original: Re|shaping cultural policies: a decade promoting the diversity of cultural expressions for development; summary. Publicado
em 2015 pela Organizao das Naes Unidas para a Educao a Cincia e a Cultura, 7, place de Fontenoy, 75352 Paris 07 SP, Frana.
As indicaes de nomes e a apresentao do material ao longo deste livro no implicam a manifestao de qualquer opinio por parte
da UNESCO a respeito da condio jurdica de qualquer pas, territrio, cidade, regio ou de suas autoridades, tampouco da delimitao
de suas fronteiras ou limites.
As ideias e opinies expressas nesta publicao so as de seus autores; no so necessariamente as da UNESCO, ICCROM, ICOMOS e
IUCN e no comprometem essas Organizaes.
Crditos da verso original:
Fotos:
Capa Anh Sang-soo, The 559th Hangeul Day Poster, 2005, Coreia do Sul
p. 5 Chiharu Shiota, The Key in the Hand, Pavilho japons da 56a Exposio Internacional de Arte la Biennale di Venezia, 2015,
foto de Sunhi Mang, Ittia/Japo
p. 8 Tadashi Kawamata, Garden Tower in Toronto, 2013, foto de Jackman Chiu, cortesia do artista e de Kamel Mennour, Paris, Frana
p. 9 Martine Doyon, Le Quartier des Spectacles Montral, 2012, Canad
p. 10 Ed Jansen, Mariska de Groot, Dieter Vandoren Shadow Puppet, 2013, Pases Baixos
p. 11 V. Paul Virtucio, Dance Revolutions, Universidade de Minnesota, 2009, Estados Unidos
p. 12 Chiharu Shiota, Accumulation Searching for the Destination, 2012, foto de Sunhi Mang, Japo
p. 13 Garry Knight, Udderbelly Box Office, 2014, Reino Unido
p. 14 Catherine Marinet, 2010, Frana
p. 15 Sanna Kannisto, Private collection, 2003, Finlndia
p. 16 Leandra Jasa, Fundacin Teatro Argentino de la Plata, Argentina
p. 17 Kumi Yamashita, City View, 2003, Japo
p. 18 Ed Jansen, Arne Quinze Violette Uur, 23 -3 -12 [close-up], 2012, Pases Baixos
Ins Esnal /Studio Esnal, Prism, Espanha/Estados Unidos
p. 19 Jaime Rojo, El Anatsui Shows Both Gravity and Grace in New York Ink Splash, 2013, Estados Unidos/Gana
The Arab Fund for the Arts and Culture, Above Zero by Ossama Halal, 2014, Tunsia
p. 20 Plural | Katharina M. Reinhold, Severin Wucher
Design grfico & design de capa: Corinne Hayworth

Original publicado com o apoio da Sucia.


Crditos da verso em portugus:
Coordenao: Setor de Cultura da Representao da UNESCO no Brasil
Traduo: Patrcia Zimbres
Reviso tcnica: Mnica Salmito Noleto, Setor de Cultura da UNESCO no Brasil
Diagramao e reviso editorial: Unidade de Comunicao, Informao Pblica e Publicaes da UNESCO no Brasil
CLT-2016/WS/2

Prefcio
Pela primeira vez em mbito mundial, a recm-adotada Agenda 2030 das Naes Unidas para o
Desenvolvimento Sustentvel reconhece o papel crucial da cultura, da criatividade e da diversidade cultural
para resolver desafios do desenvolvimento sustentvel. Esse reconhecimento condizente com a Conveno
da UNESCO para a Proteo e Promoo da Diversidade das Expresses Culturais, cujo dcimo aniversrio
comemoramos em 2015.
Ao longo da ltima dcada, essa Conveno histrica j ratificada por 140 Estados-partes transformou a
abordagem geral no que se trata de cultura e bens e servios culturais. Ela reconhece o direito soberano dos
governos de introduzir polticas para proteger e promover a diversidade de expresses culturais. Ela enfatiza a
natureza dupla das atividades, dos bens e dos servios culturais, que apresentam tanto uma dimenso econmica
quanto uma dimenso cultural gerando empregos e renda, fomentando a inovao e o crescimento econmico
sustentvel e, ao mesmo tempo, transmitindo identidades e valores, promovendo a incluso social e o senso de
pertencimento. Hoje, podemos ver as vrias vantagens dessa combinao, como uma fora de sustentabilidade
social e econmica, e como um motor para a promoo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais.
A nova Agenda 2030 elevou as expectativas, e essa a importncia deste primeiro Relatrio de Monitoramento
da UNESCO, que visa a coletar, analisar e disseminar informaes sobre as muitas e diferentes formas pelas
quais pases de todo o mundo vm integrando a cultura em suas polticas e em programas de desenvolvimento
sustentvel. Este Relatrio vem oferecer um auxlio oportuno implementao da nova Agenda, para assegurar
a efetividade e maximizar o impacto, ajudando os pases a avaliar objetivos, resolver questes polticas e
desenvolver novas medidas capazes de satisfazer as demandas e as necessidades das pessoas.
Ele apresenta anlises aprofundadas de tendncias, avanos e desafios atuais enfrentados por todos os
atores polticos relevantes com exemplos de polticas e medidas inovadoras que tratam de questes
contemporneas, incluindo: mobilidade transnacional, liberdade artstica, acesso a mercados internacionais e
ambiente digital. Apresenta tambm pela primeira vez uma estrutura integrada de monitoramento para a
rea da cultura, com propostas de indicadores de mudana e progresso.
Agradeo especialmente ao governo da Sucia e Agncia Sueca de Cooperao Internacional para o
Desenvolvimento, por seu generoso apoio. Quase 20 anos depois da Conferncia Intergovernamental de
Estocolmo sobre Polticas Culturais para o Desenvolvimento, esta mais uma contribuio histrica da
Sucia para ampliar o escopo da anlise mundial de polticas culturais. O primeiro Relatrio bienal defende
de forma convincente que a diversidade de expresses culturais esteja no centro de todos os esforos de
desenvolvimento sustentvel. Com maior apoio dos Estados-partes, doadores e parceiros de desenvolvimento,
minha inteno manter a regularidade destas publicaes.
Novos discursos e abordagens so necessrios para orientar as polticas culturais. Eles devem vir acompanhados do
compromisso com a mudana institucional e estrutural em todas as reas da governana e da gesto da cultura.
Devem ter como base o planejamento, a coleta e a anlise de dados, o monitoramento e a avaliao confiveis,
alm de um processo de formulao de polticas que tenha como base evidncias, participativo e transparente em
mbito nacional. Para isso, ser necessria uma capacitao mais integrada, inclusive por meio da cooperao
Sul-Sul e triangular. Este Relatrio uma contribuio para esse esforo mundial, e eu estou convencida de que ele
vai inspirar mais atores a partir para a ao. Agora a hora.

Irina Bokova
Diretora-geral da UNESCO

Prefcio

Sumrio executivo
Este Relatrio apresenta o trabalho de 14 especialistas independentes, alm da secretria da Conveno
e do editor principal, que analisaram a implementao da Conveno sobre a Proteo e Promoo da
Diversidade das Expresses Culturais. Seu propsito consiste fazer avanar o processo de monitoramento
da implementao da Conveno, que foi estabelecido por meio de um mecanismo de relatrios peridicos
quadrienais (RPQ) aprovado pela Conferncia das Partes da Conveno em 2011. Os contribuintes
consultaram os 71 relatrios apresentados pelos Estados-partes, mas tambm utilizaram dados de outras
fontes no oficiais e aproveitaram sua prpria experincia especializada.
A Introduo, escrita pela secretria da Conveno, explica os objetivos do Relatrio, apresentando os
princpios e os valores norteadores subjacentes Conveno, bem como as principais linhas de uma
metodologia para monitorar seu impacto no longo prazo. A Introduo seguida por uma contribuio
de especialistas que contextualiza o exerccio atual em cinco dcadas de pesquisa e avaliao de
polticas culturais, a partir dos esforos da UNESCO no final dos anos 1960, e considera que o Relatrio
provavelmente ser um marco no avano da pesquisa em polticas culturais em todo o mundo. O segundo
captulo prope um marco conceitual para um sistema de indicadores, visando a monitorar a implementao
da Conveno. Prope os quatro objetivos de implementao a seguir, cada um derivado de um dos
princpios norteadores da Conveno:

Apoiar sistemas de governana sustentveis para a cultura.


Atingir um fluxo equilibrado de bens e servios culturais, e aumentar a mobilidade de artistas e
profissionais da cultura.

Integrar a cultura aos marcos de desenvolvimento sustentvel.


Promover os direitos humanos e as liberdades fundamentais.
A ordem das sees seguintes corresponde aos itens acima. O objetivo primeiro e primordial consiste em
apoiar sistemas de governana sustentveis para a cultura; este desafio abordado nos quatro captulos
que compem a Primeira Seo. O primeiro desses captulos enfoca as polticas e medidas para promover
a diversidade das expresses culturais. Ressalta que os pases devem, cada vez mais, buscar fortalecer a
cadeia de valores de criao, produo, distribuio, disseminao e fruio de bens e servios culturais.
A tecnologia vem abrindo canais para novas vozes e talentos, alm de novas formas de participao dos
cidados, que esto redesenhando as fronteiras entre esses elos na cadeia de valores e gerando novas
questes para a criao de novas polticas e medidas. Entretanto, muitos Estados-partes continuam a relatar
polticas e medidas em reas que no esto no mbito da Conveno, como o patrimnio. Embora muitos
tenham reformado ou revisto suas polticas culturais, assim como criado novas medidas e mecanismos como
resultado disso, necessrio progredir ainda mais para atingir os ambiciosos objetivos da Conveno.
especialmente importante estabelecer modelos de participao entre a sociedade civil e os funcionrios do
setor pblico, produzindo evidncias slidas para o monitoramento de polticas e a avaliao de impactos.
O Captulo 2 dedicado s mdias pblicas como produtoras, contratantes, distribuidoras, disseminadoras e
mediadoras de contedo cultural de alta qualidade. No pode haver diversidade de mdia sem liberdade de
mdia. Assim, as leis de liberdade de informao e a sua efetiva implementao so cruciais. Com a ascenso
das redes digitais e das plataformas online, promover a liberdade online tambm se torna vital. O salto
quntico no acesso aos meios de comunicao e na quantidade de escolhas no significa que o contedo
de mdia disponvel nesses meios seja necessariamente mais livre; tampouco o nmero de plataformas, por si
s, garantia de diversidade de contedos e expresses. A tecnologia est abrindo canais para novas vozes
e novos talentos, incluindo jornalistas cidados e produtores amadores de vdeo, que esto redesenhando
as fronteiras do jornalismo por isso, preciso incentiv-los. As mulheres esto includas entre essas muitas
vozes, mas a igualdade de gnero no se ampliou, seja no contedo das mdias, seja em seu processo
decisrio, no qual as mulheres continuam excludas em maior ou menor grau; portanto, essencial tomar
medidas para remediar essa situao.

Sumrio executivo

2015

Relatrio Global da
Conveno de 2005

A revoluo tecnolgica teve profundos impactos sobre as mdias e em todos os aspectos da corrente de
valores culturais; por isso, o Captulo 3 explora as implicaes da rpida evoluo do ambiente digital. Pases
em desenvolvimento ainda necessitam avanar muito para atingir os nveis de acesso digital dos pases
desenvolvidos. Entretanto, ao longo da ltima dcada, ocorreram progressos notveis, especialmente em
termos de conectividade mvel. Um nmero cada vez maior de criadores est usando tecnologias para produzir
contedo online. O comrcio eletrnico est crescendo com grande rapidez isso pode ser uma vantagem
para as indstrias culturais locais, mas tambm um risco para pequenos e mdios atores, tendo em vista o
avano das grandes plataformas. A exploso das redes sociais desde 2004 constitui uma oportunidade para a
participao da sociedade civil, especialmente no que diz respeito ao compartilhamento de contedo cultural.
A Conveno um tratado pioneiro pela importncia que atribui contribuio de atores da sociedade
civil para sua implementao. Com isso, o Captulo 4 analisa essa dimenso. A principal descoberta que
uma clara maioria dos Estados-partes inclui organizaes da sociedade civil no processo de formulao
de polticas. Entretanto, h insuficincias na capacidade que tanto os governos quanto as organizaes
da sociedade civil tm de cooperar efetivamente. Embora muitas organizaes da sociedade civil tenham
de fato participado da elaborao dos relatrios peridicos quadrienais, necessrio envolver mais vozes
da sociedade civil. O papel de fiscalizador cultural da sociedade civil ainda no foi suficientemente
desenvolvido, mas as Coalizes Nacionais para a Diversidade Cultural, que j operam em 43 pases, podem
se tornar uma fora motriz para preencher essa lacuna.
A Segunda Seo do Relatrio diz respeito ao objetivo do fluxo equilibrado de bens e servios culturais e do aumento
da mobilidade de artistas e profissionais da cultura em todo o mundo. A mobilidade de artistas e outros profissionais
da cultura (Captulo 5) crucial para se manter um mundo heterogneo quanto a ideias, valores e vises de mundo.
O acesso aos mercados internacionais para artistas e profissionais da cultura tambm crucial para a promoo de
indstrias culturais e criativas sustentveis, e por sua contribuio potencial para o desenvolvimento humano, social
e econmico. Existe, entretanto, uma grande lacuna entre os princpios e ideais da Conveno e a realidade, no que
se trata da mobilidade de artistas e profissionais da cultura oriundos do Hemisfrio Sul. Os obstculos incluem o
aumento das restries econmicas, polticas e de segurana, especialmente no Hemisfrio Norte. Nesse sentido, a
Conveno deve ser utilizada de forma mais efetiva para superar tais restries.
O Captulo 6 analisa os fluxos de bens e servios culturais, e defende que ainda no foi atingido um equilbrio
equitativo. Porm, entre 2004 e 2013, a parcela dos pases em desenvolvimento no total das exportaes de bens
culturais apresentou um aumento contnuo, especialmente nas artes visuais, em cujo campo a porcentagem de
importaes de pases em desenvolvimento para pases desenvolvidos quase dobrou entre 2004 e 2013. Embora
menos bens musicais e audiovisuais tenham sido importados, a porcentagem de livros e publicaes importadas
de pases em desenvolvimento aumentou durante o mesmo perodo. Os fluxos de servios culturais, como mdias
audiovisuais, ainda so em grande parte dominados pelos pases desenvolvidos. Os Estados Unidos esto em primeiro
lugar e responderam por 52,4% das exportaes mundiais de servios culturais em 2012, ligeiramente menos do que
em 2004, quando respondiam por 58%. O restante dos pases nessa categoria constitudo por pases desenvolvidos
da Europa e da Amrica do Norte. Entre 2004 e 2013, a parcela de exportaes de audiovisual, servios relacionados
e direitos de reproduo dos EUA para pases em desenvolvimento aumentou de 11,34% para 20,28%. Ao longo do
mesmo perodo, ocorreu um ligeiro aumento na exportao intragrupo de bens culturais entre os pases-membros da
Comunidade Andina (Andean) (de 12,3% para 18%) e um aumento significativo no comrcio entre pases que so
membros da rea Pan-rabe de Livre Comrcio (Pan-Arab Free Trade Area Pafta), de 15% para 58%. Contudo, houve
pouco intercmbio de bens e servios culturais entre os membros da Comunidade Econmica dos Estados da frica
Ocidental (Ecowas) ou do Acordo de Livre Comrcio do Sul da sia (Safta).
A proteo e a promoo da diversidade das expresses culturais tambm devem se fiar na influncia da
Conveno sobre outros tratados e acordos legais internacionais, especialmente na rea do comrcio. O
captulo subsequente (Captulo 7), que trata dessa dimenso, mostra que sete acordos comerciais concludos
pela Unio Europeia desde 2005 incorporam uma ou mais referncias explcitas Conveno. Ocorreu
tambm um aumento no uso da medida de iseno cultural, para excluir certos bens e/ou servios
culturais de acordos comerciais. Alm disso, os protocolos de cooperao cultural anexos a acordos comerciais
reconhecem a especificidade de bens e servios culturais bem como concedem tratamento preferencial
a artistas e profissionais da cultura, especialmente os oriundos do Hemisfrio Sul. Para alm do mbito
comercial, desde 2005 a Conveno foi mencionada em mais de 250 textos em dezenas de organizaes
internacionais, regionais e bilaterais.

Sumrio executivo

O Captulo 8 analisa o impacto positivo da Conveno sobre polticas, planos e programas, em benefcio
do desenvolvimento culturalmente sustentvel: embora tenham ocorrido claros progressos, ainda h muitos
desafios no que diz respeito integrao da dimenso cultural nos marcos do desenvolvimento sustentvel.
O captulo defende que as indstrias culturais e criativas devem ser um importante alvo de polticas que visam
a um desenvolvimento economicamente e culturalmente sustentvel. H um escopo considervel para pases
doadores que pretendam promover esse objetivo por meio de suas estratgias e programas de assistncia oficial
para o desenvolvimento (AOD). Deve-se realizar todos os esforos para persuadir os planejadores a reconhecer
o contexto cultural em que os planos de desenvolvimento sero efetivados, bem como o papel dinmico que
as indstrias culturais e criativas podem ter para atingir os objetivos econmicos e sociais nacionais. Um
princpio essencial do desenvolvimento culturalmente sustentvel a equidade no tratamento de grupos sociais
vulnerveis; a ateno a esse princpio exige no apenas estratgias visando especificamente a superar as
desvantagens no acesso participao cultural, mas tambm vigilncia para assegurar que as polticas culturais
em outras reas no tenham efeitos colaterais adversos no intencionais.
A Seo Final do Relatrio dedicada a um princpio integral da Conveno que, at o momento, no foi
evidenciado em sua implementao: a promoo dos direitos humanos e a proteo das liberdades fundamentais
de expresso, informao e comunicao. A igualdade de gnero uma importante dimenso aqui, pois a
Conveno pede, de forma inequvoca, por polticas e medidas que promovam a igualdade entre os gneros, e
que reconheam e apoiem as mulheres como artistas e produtoras de bens e servios culturais. Como argumenta
o Captulo 9 sobre a igualdade de gnero, embora as mulheres estejam fortemente representadas no setor criativo
na maior parte do mundo, elas ainda so pouco representadas em diversas profisses culturais e nas posies
decisrias. Essa situao reduz a diversidade cultural e priva todos do livre acesso ao potencial criativo da metade
feminina da comunidade artstica. Muitos pases j tomaram medidas visando a ampliar as oportunidades para as
mulheres, e at mesmo igualar as contribuies de mulheres para a economia criativa. Entretanto, a necessidade
de assegurar maior igualdade entre os gneros no setor cultural ainda no foi enfrentada de forma adequada.
Um grande obstculo a escassez de dados desagregados por sexo. Igualmente importante uma abordagem
holstica que reconhea a relao simbitica entre igualdade de gnero, direitos culturais e diversidade cultural.
Finalmente, o Captulo 10 dedicado liberdade artstica, que essencial no apenas para o ser e para a prtica
criativa dos prprios artistas, mas tambm para os direitos de todos os produtores culturais. uma dimenso das
liberdades fundamentais crucial para o bem-estar dos cidados e das sociedades de forma geral. O captulo analisa
os fatores e as foras, governamentais e no governamentais, que levam a restries da liberdade de expresso
artstica e/ou do acesso a ela. Rev algumas das medidas citadas por Estados-partes nessa rea, bem como
outras iniciativas, pblicas e privadas, que vm ao auxlio de artistas em perigo. Nota tambm que as liberdades
indispensveis expresso artstica e criatividade foram tema do primeiro UN Special Report on Freedom of
Expression (Relatrio especial da ONU sobre liberdade de expresso), publicado pelo Conselho de Direitos
Humanos (CDH) da ONU, em maro de 2013.
As Concluses do Relatrio recapitulam suas principais
descobertas e descrevem formas de se avanar. Claramente,
a Conveno de 2005 enriqueceu a gama de criao
de polticas em benefcio da diversidade das expresses
culturais, mesmo no caso de Estados-partes que j tinham
marcos bem definidos de polticas culturais antes da
sua entrada em vigor. Entretanto, os imperativos da
implementao da Conveno sem dvida levaram ao
desenvolvimento de novos marcos e/ou mecanismos. Esses
avanos e inovaes so promissores, mas insuficientes.
Tal progresso est ao alcance de todos os interessados,
desde que sejam aplicadas as lies aprendidas com o
exerccio atual, em particular as propostas apresentadas de
coleta de dados e criao de indicadores, que possibilitaro,
em um futuro prximo, realizar monitoramentos, avaliaes
e anlises cada vez mais significativos.

Sumrio executivo

Sumrio executivo

Princpios
norteadores

assegurado o direito soberano dos Estados de adotar e


implementar polticas para promover a diversidade das expresses
culturais, com base em processos e sistemas de governana
conscientes, transparentes e participativos.

Objetivos

Apoiar sistemas sustentveis de


governana para a cultura.

Resultados
esperados

Sero implementadas polticas e medidas nacionais para promover a criao,


a produo, a distribuio e o acesso a diversos bens e servios culturais,
assim como contribuir com sistemas de governana para a cultura que sejam
conscientes, transparentes e participativos.

reas para
monitoramento

Polticas
culturais

Principais indicadores

sobre a Proteo e Promoo da Diversidade das Expresses Culturais

Relatrio Global da
Conveno de 2005

Monitoramento da Conveno de 2005

2015

Mdias
pblicas

Ambiente
digital

Parcerias com a
sociedade civil

Polticas culturais
nacionais apoiam a
criao, a produo, a
distribuio e o acesso
a diversos bens e
servios culturais.

A base legislativa
apoia a liberdade e a
diversidade de mdias.

A base legislativa
apoia o acesso
universal internet.

A base legislativa e
financeira apoia a
sociedade civil.

Mltiplas agncias
governamentais
participam da criao
de polticas.

Os objetivos das
mdias pblicas so
legalmente definidos e
garantidos.

Polticas e medidas
incentivam a
criatividade digital
e promovem a
participao da
sociedade civil no
ambiente digital.

A sociedade civil
participa da criao e
da implementao de
polticas.

Os Estados-partes
apoiam ativamente os
processos conscientes
de formulao de
polticas.

As polticas e as
medidas relacionadas
s mdias pblicas
servem s necessidades
de todos os grupos da
sociedade.

As polticas e as
medidas apoiam
mercados digitais
dinmicos e
diversificados para a
indstria cultural.

A sociedade civil est


ativamente envolvida
com a ratificao
e a promoo da
Conveno.

So facilitados o acesso equitativo, a abertura e


o equilbrio no fluxo de bens e servios culturais,
bem como a livre movimentao de artistas.

reconhecida a
complementaridade dos aspectos
econmicos e culturais para o
desenvolvimento sustentvel.

garantido o respeito aos


direitos humanos e s liberdades
fundamentais de expresso,
informao e comunicao, como
pr-requisitos para a criao e a
distribuio de expresses culturais
diversas.

Atingir um fluxo equilibrado de


bens e servios culturais, e
aumentar a mobilidade de artistas
e profissionais da cultura.

Integrar a cultura
aos marcos de
desenvolvimento
sustentvel.

Promover os
direitos humanos
e as liberdades
fundamentais.

Medidas de tratamento preferencial so


implementadas para facilitar um fluxo
equilibrado de bens e servios culturais, bem
como para promover a mobilidade de artistas e
profissionais da cultura em todo o mundo.

Polticas de desenvolvimento
sustentvel e programas de
assistncia internacional integram
a cultura como dimenso
estratgica.

A legislao internacional e nacional


relacionada aos direitos humanos
e s liberdades fundamentais
implementada, assim como promove
a liberdade artstica e os direitos
sociais e econmicos dos artistas.

Polticas
Programas
e planos
internacionais
nacionais de
de
desenvolvimento desenvolvimento
sustentvel
sustentvel

Mobilidade
de artistas e
profissionais da
cultura

Fluxo de bens
e servios
culturais

A base legislativa
assegura a
liberdade de
movimentao.

A base legislativa
apoia os fluxos de
bens e servios
culturais.

Os Estados-partes
promovem os
objetivos e os
princpios da
Conveno em
outros fruns.

A cultura
integrada aos
planos e s polticas
nacionais de
desenvolvimento
sustentvel.

As polticas e as
medidas apoiam a
mobilidade a partir
do Hemisfrio Sul.

As polticas
e as medidas
apoiam os fluxos
internacionais de
bens culturais.

A Conveno
explicitamente
citada em
tratados e acordos
internacionais e
regionais.

As iniciativas no
governamentais
facilitam a
mobilidade a partir
do Hemisfrio Sul.

As polticas e as
medidas apoiam o
fluxo internacional
de servios
culturais.

As polticas e as
medidas implementam tratados e
acordos internacionais e regionais que
fazem referncia
Conveno.

Tratados e
acordos

Igualdade de
gnero

Liberdade
artstica

A cultura integrada aos planos e s


polticas internacionais de desenvolvimento sustentvel.

O marco legislativo
assegura a
igualdade de
gnero na rea
cultural.

A base legislativa
apoia a liberdade
de expresso.

Os programas e as
polticas apoiam a
equidade regional
na distribuio de
recursos culturais.

Os programas de
assistncia tcnica
fortalecem as capacidades humanas
e institucionais nas
indstrias culturais e
criativas, nos pases
em desenvolvimento.

As polticas e as
medidas apoiam
mulheres como
criadoras e
produtoras de bens
e servios culturais.

As polticas e as
medidas promovem
e protegem a
liberdade artstica.

As polticas e as
medidas apoiam
a equidade no
acesso a recursos
culturais por grupos
vulnerveis na
comunidade.

A assistncia
financeira apoia
a criatividade
em pases em
desenvolvimento.

As polticas e as
medidas promovem
a oportunidade
de que mulheres
tenham acesso a
atividades, bens e
servios culturais.

As polticas e as
medidas promovem
os direitos sociais
e econmicos dos
artistas.

Sumrio executivo

2015

Relatrio Global da
Conveno de 2005

Captulo 1

Novas tendncias em polticas

Nina Obuljen Korzinek

Mensagens centrais
As polticas e as medidas culturais visam, cada vez mais, a fortalecer a cadeia
de valores de criao, produo, distribuio/disseminao e acesso.
U
 m dos principais avanos obtidos pela Conveno consistiu em ampliar
a compreenso sobre as polticas culturais, passando a incluir medidas e
mecanismos diferentes dos que normalmente faziam parte da misso dos
Ministrios da Cultura.
O
 processo de relatrios sobre polticas e medidas culturais tem aprimorado os
sistemas de comunicao e informao existentes entre os Estados-partes da
Conveno.
M
 odelos participativos entre a sociedade civil e funcionrios do setor pblico
so necessrios para produzir evidncias slidas para o monitoramento e a
avaliao de impactos.
E mbora a maioria dos Estados-partes que apresentaram relatrios tenham
indicado reformas em suas polticas culturais e/ou tenham criado novas medidas
e mecanismos como resultado da adoo da Conveno, necessrio progredir
ainda mais para atingir os ambiciosos objetivos da Conveno.

Porcentagem de Estados-partes
que enviaram relatrios peridicos
quadrienais, por regio (2012-2014)
Fonte: RPQs.

Estados rabes
sia e
Pacfico

Europa e
Amrica
do Norte

8%
8%

54%

frica

13%
17%
Amrica
Latina e Caribe

Grfico 1.1

O nosso maior bem o talento de nosso povo, e o sentido do nosso trabalho


produzir oportunidades para que seu talento brilhe. Fazemos da educao
o motor da mudana social e a compreendemos em sentido amplo, incluindo
cincia, tecnologia, empreendedorismo, inovao, esporte e cultura.
Com base nos princpios do Estado de Direito e da transparncia, democratizamos
o acesso aos recursos pblicos, criando oportunidades por meio de chamadas e
competies para que artistas e gestores culturais realizem seus sonhos, tendo acesso
a subvenes para criao, profissionalizao, intercmbios culturais, mobilidade
e prmios. Fortalecemos o movimento cultural, por meio da criao de Conselhos
Departamentais de Arte e Cultura, para os quais, com a participao de 19.067
artistas, 88 conselheiros foram selecionados para criar oito Planos Departamentais de
Arte e Cultura para o perodo 2014-2020. Trata-se de roteiros de trabalho que definem
claramente para onde vamos em Antioquia. o que fizemos tambm em Medelln.
Hoje, com Parques Educacionais em 80 municpios do Departamento de
Antioquia, estamos abrindo as portas para oportunidades, com espaos para
reunio e educao, nos quais atividades e eventos culturais podem florescer e
promover tanto a educao quanto a prtica cultural.

Sergio Fajardo
Governador de Antioquia, Colmbia

Objetivo 1 Apoiar sistemas de governana sustentveis para a cultura

Captulo 2

Novas vozes: incentivo


diversidade de mdias
Christine M. Merkel

Mensagens centrais
As mdias pblicas podem ser cruciais para fomentar e impulsionar a
diversidade das expresses culturais como produtores, contratantes,
distribuidores, disseminadores e mediadores de uma impressionante variedade
de contedos culturais de alta qualidade, quaisquer sejam os meios e as
tecnologias usados.
N
 o pode haver diversidade de mdia sem liberdade de mdia. Assim, so
cruciais as leis sobre liberdade de informao e a sua implementao efetiva.
Com a ascenso das redes digitais e das plataformas online, promover
a liberdade online tambm se torna vital, em um ecossistema de mdias
substancialmente transformado.
O
 salto quntico no acesso a meios de comunicao e a maiores escolhas
no significa que os contedos de mdia disponvel nesses meios sejam
necessariamente mais livres. Um grande nmero de plataformas, por si s,
no garantia de diversidade de contedos e expresso.

Transm
is

Pro

Produo

Participao

Ver

o de con
du

TV

Distribuio

l
ua

Criao

Digital
iz

s pblicas
ba

es em lng
s

s locais
ua

ara rdio e
sp

dos loca
i
te

o e mdia
a

ociais
ss

e audiovis
sd

ra criadore
pa

 tecnologia est abrindo canais para novas vozes e para novos talentos,
A
incluindo os de jornalistas cidados e produtores de vdeo amadores, que
esto redesenhando as fronteiras do jornalismo: por isso, todos eles devem
ser incentivados.
A
 s mulheres esto entre essas muitas vozes, mas a igualdade de gnero no foi
ampliada, seja nos contedos das mdias, seja no processo decisrio, no qual as
mulheres continuam excludas em maior ou menor grau. Deve-se tomar medidas
para remediar essa situao.

O fomento da criatividade e da diversidade das expresses culturais na mdia deve ser


apoiado por polticas pblicas que incentivem um ambiente de novas vozes, novas ideias e
novas abordagens. Todos tm o direito de exercitar sua liberdade de expresso em condies
de igualdade, uma vez que a troca de ideias e os debates pblicos consolidam a democracia.
Para isso, necessrio haver pluralidade e diversidade de vozes, o que implica a excluso da
censura e a incluso de grupos historicamente marginalizados. Em vrias ocasies, dissemos
que os Estados devem promover marcos regulatrios claros e precisos, que promovam a
diversidade e o pluralismo nas mdias audiovisuais, e que reconheam e incentivem os trs
principais setores das comunicaes: mdias comerciais, pblicas e comunitrias. essencial
conhecer a atual situao da diversidade das expresses e das representaes na mdia,
se quisermos progredir nessas questes. Da a importncia deste primeiro Relatrio de
monitoramento sobre a Conveno de 2005 da UNESCO sobre a Proteo e Promoo da
Diversidade das Expresses Culturais.

Edison Lanza
Relator especial sobre Liberdade de Expresso da Comisso Interamericana de Direitos Humanos (CIDH)

Objetivo 1 Apoiar sistemas de governana sustentveis para a cultura

2015

Relatrio Global da
Conveno de 2005

Captulo 3

Desafios da era digital

Octavio Kulesz

Mensagens centrais
Os pases em desenvolvimento ainda tm muito a avanar para atingir os nveis
de acesso digital desfrutados pelos pases desenvolvidos. Entretanto, na ltima
dcada, muitas regies do Hemisfrio Sul demonstraram progressos notveis,
especialmente no campo da conectividade mvel.
U
 m nmero cada vez maior de criadores vem utilizando intensamente as novas
tecnologias para produzir contedo online, em plataformas como o YouTube
e a Wikipdia, entre muitas outras.
O
 comrcio eletrnico vem crescendo de forma acelerada, o que pode ser uma
vantagem para as indstrias culturais locais, mas tambm um risco para os
pequenos e mdios atores, tendo em vista o avano das grandes plataformas.
A exploso das redes sociais, desde 2004, constitui uma oportunidade para
a participao da sociedade civil, especialmente no que diz respeito ao
compartilhamento de contedos culturais.

Porcentagem da receita digital


da indstria fonogrfica mundial,
em 2014
Fonte: IFPI, 2015.

US$ 6,85 bilhes


A receita digital da indstria em 2014

Digital

46%

46%

8%
Direitos de execuo e sincronizao

Fsica

As indstrias digitais tm um potencial incrvel na frica, mas ainda esto em sua


infncia e necessitam de investimentos considerveis em termos de tempo, dinheiro
e conhecimento. O que necessrio agora concentrar as nossas energias na
emergncia do setor de tecnologias criativas para ajudar a realizar o destino digital
do continente. Hoje, j existe uma gerao de jovens aprendendo a programar e a
fabricar produtos de tecnologia em seu tempo livre, e as habilidades que eles esto
adquirindo devem ser reforadas, de forma a empoderar os jovens de toda a frica
para a tarefa de construir o nosso futuro digital comum.
O digital e o tecnolgico certamente sero os principais catalisadores de mudanas na
prxima dcada. Eles permitiro que as pessoas tenham um melhor acesso cultura,
educao, aos servios bancrios, s notcias e sade, entre outros. As indstrias
criativas em particular foram totalmente transformadas pelas tecnologias digitais.
Sem a internet, Nollywood a forma de entretenimento mais popular da frica
teria continuado a ser acorrentada, deteriorada e pirateada em VCDs nas feiras.
Agora, o contedo pode ser desfrutado por mais milhes de pessoas, e os profissionais
criativos por trs dos filmes finalmente podem ser remunerados de forma justa por
seu trabalho.
As novas tecnologias daro uma voz ao continente uma forma de conectar os
africanos no apenas uns com os outros, mas com o resto do mundo.

Jason Njoku
Presidente da iRoko Partners

10

Objetivo 1 Apoiar sistemas de governana sustentveis para a cultura

Captulo 4

Parcerias com a sociedade civil

Helmut K. Anheier e Olga Kononykhina

Mensagens centrais
A sociedade civil vem se engajando ativamente na implementao da
Conveno, especialmente por meio de atividades de conscientizao sobre
seus objetivos e seus princpios.
A
 colaborao sustentada entre o Estado e a sociedade civil, necessria para
a criao e a implementao de polticas, enfrenta grandes desafios, tais
como: insuficincia na capacidade de governos nacionais e locais, bem como
das organizaes da sociedade civil, de cooperar de forma efetiva; ausncia de
financiamento e recursos humanos qualificados; e baixa conscientizao sobre
a Conveno na sociedade civil de forma geral.
Muitas organizaes da sociedade civil participaram da elaborao dos
relatrios peridicos quadrienais (RPQs); entretanto, de forma geral, a
diversidade das vozes da sociedade civil ainda insuficiente e precisa aumentar.
O papel da sociedade civil como fiscalizador cultural ainda no foi bem
desenvolvido; no entanto, as Coalizes Nacionais para a Diversidade Cultural,
que j operam em 43 pases, podem se tornar uma fora motriz para preencher
tais lacunas nos mbitos nacional e internacional.

A adoo da Conveno para a Proteo e


Promoo da Diversidade das Expresses
Culturais, em 2005, foi uma imensa fonte
de esperana para a sociedade civil, em
Burkina Faso e na frica em geral.
A criao de numerosas coalizes nacionais
para a diversidade cultural significou o
retorno de profissionais e organizaes da
cultura cena poltica, no apenas em
termos de visibilidade, mas tambm de
participao nos debates pblicos e na
implementao de programas e atividades.
Em Burkina Faso, a Coalizo tem funo
de monitoramento e apresenta propostas
de melhorias. Tentamos o mximo possvel
manter o dilogo com as autoridades e
assegurar que os princpios da Conveno
orientem a formulao de polticas
culturais. A sociedade civil de todo o mundo
deve discutir o que os cidados esperam
da cultura. Esta Conveno nos oferece
os meios para o fazer aproveitemos a
oportunidade.

ndice de Ambiente Propcio da Sociedade Civil


(Civil Society Enabling Environment Index), 2013
Fonte: EEI, 2013.

Menos propcio

Mais propcio

Rasman Ouedraogo
Presidente da Coalizo Nacional para a
Diversidade Cultural, Burkina Faso

Objetivo 1 Apoiar sistemas de governana sustentveis para a cultura

11

2015

Relatrio Global da
Conveno de 2005

Captulo 5

Preencher as lacunas:
promover a mobilidade
Mike van Graan e Sophia Sanan

Mensagens centrais
A
 mobilidade de artistas e outros profissionais da cultura crucial para se
manter um mundo heterogneo quanto a ideias, valores e pontos de vista.
O
 acesso de artistas e profissionais da cultura aos mercados internacionais
tambm crucial para a promoo de indstrias culturais e criativas
sustentveis, e por sua contribuio para o desenvolvimento humano, social
e econmico, principalmente no Hemisfrio Sul.
E xiste uma grande lacuna entre os princpios e os ideais da Conveno de 2005 e
as realidades mundiais no que diz respeito mobilidade de artistas e profissionais
da cultura oriundos do Hemisfrio Sul. De fato, at o momento, a implementao
da Conveno no parece ter contribudo para aumentar tal mobilidade.
Os obstculos mobilidade de artistas e profissionais da cultura incluem o
aumento das restries de segurana, econmicas e polticas, especialmente no
Hemisfrio Norte; assim, a Conveno deve ser utilizada de forma mais efetiva
para combater tais restries, em um esprito de solidariedade internacional.

Nmero de fontes de financiamento


pblico e privado para a mobilidade
e o desenvolvimento
de artistas, por regio

Informaes, financiamentos e outras oportunidades que sejam capazes de


promover a mobilidade de artistas e profissionais da cultura devem ser reunidas
e compartilhadas por todos os Estados-partes.

Fonte: On the Move, 2015.

200

sia &
Pacfico

Estados
rabes

sia &
Pacfico

600

800

1000

143
765

Europa

Amrica
do Norte

400

112
Hemisfrio Norte
Hemisfrio Sul

23

72

Nas ltimas quatro dcadas, a Regio rabe vem sofrendo com a m governana.
A situao se agravou recentemente com a onda de conflitos polticos que tomou a regio,
bem como com a crise humanitria que produziu milhes de refugiados. No Fundo rabe
para as Artes e a Cultura (Arab Fund for Arts & Culture AFAC), acreditamos que uma
cena cultural engajada, ativa e aberta pode combater tais acontecimentos e ocasionar
mudanas profundas e duradouras na sociedade civil, agindo com efeito multiplicador
para outras foras de mudana e renascimento. Entretanto, colaboraes transculturais
para promover a diversidade, a abertura e a tolerncia so obstrudas por barreiras
livre expresso e movimentao que j se mantm h muito tempo. Artistas rabes
enfrentam incontveis impedimentos e restries a viagens, de natureza financeira e
poltica. Alm disso, a ausncia de legislao e de financiamento para a distribuio da
produo cultural limita drasticamente o seu acesso ao pblico, reduzindo assim o seu
impacto. Documentrios cinematogrficos que tratam de assuntos cruciais e que so
aclamados em festivais internacionais so proibidos de ser exibidos em cinemas pblicos.
Publicaes crticas de qualidade lutam para sobreviver e so incapazes de alcanar uma
forma sustentada de funcionamento. de extrema importncia aumentar o intercmbio
cultural e desenvolver canais de distribuio para a produo cultural rabe, na regio
e alm. Para isso, sero necessrios o apoio e a conscientizao dos governos locais, e a
implementao da Conveno de 2005 ser um grande benefcio.

Oussama Rifahi
Diretor-executivo do Fundo rabe para as Arte e a Cultura (AFAC)

12

Objetivo 2 Atingir um fluxo equilibrado de bens e servios culturais, e aumentar a mobilidade de artistas e profissionais da cultura

Captulo 6

Atingir o equilbrio: fluxos de


bens e servios culturais
Lydia Deloumeaux
Mensagens centrais
E m 2013, o valor total das exportaes de bens culturais em todo o mundo foi de
US$ 212,8 bilhes. A parcela dos pases em desenvolvimento representa 46,7%,
um ligeiro aumento em relao a 2004. Apenas a China e a ndia competem de
forma significativa com os pases desenvolvidos no mercado mundial.
E m 2012, o valor total das exportaes de servios culturais em todo o mundo
foi de US$ 128,5 bilhes. A parcela dos pases em desenvolvimento representa
apenas 1,6%. Os pases desenvolvidos dominam esse mercado mundial, com
98%, especialmente devido ao aumento do fluxo de servios audiovisuais
transmitidos eletronicamente e servios artsticos relacionados.
N
 o mbito da cooperao Sul-Sul, os nveis de comrcio entre os pases em
desenvolvimento aumentaram, mas continuam raras as clusulas relacionadas
especificamente a medidas de tratamento preferencial para bens e servios
culturais em tais acordos de livre comrcio.

Porcentagem da exportao de bens


culturais entre pases desenvolvidos e
em desenvolvimento (exceto China e
ndia), 2004-2013

E vidncias mostram que novas polticas em trocas comerciais, seja no mbito


individual, institucional ou industrial, podem ajudar a se atingir um fluxo mais
equilibrado de bens e servios culturais. Assim, discutir indicadores, medidas
polticas ou instrumentos relacionados ao comrcio e cultura ser crucial para
monitorar os impactos da Conveno.

Pases em dePases
senvolvimento
desenvolvidos (sem China e
ndia)
2004

85,7%

14,3%

2005

84,9%

15,1%

2006

84,8%

15,2%

2007

83,2%

16,8%

2008

81,5%

18,5%

2009

81,5%

18,5%

2010

78,9%

21,1%

2011

79,4%

20,6%

2012

79,7%

20,3%

2013

80,5%

19,5%

Fonte: Com base no Comtrade da ONU, DESA/UNSD,


abril de 2015.

Os contedos culturais so carregados de valores e significados, e devem ser valorizados


pelos profissionais que tomam as decises polticas, pelos atores culturais e pela sociedade
civil. Devem ter lugar privilegiado no debate pblico. H 12 anos, quando fundei o
Festival Timitar de cultura e world music berbere, o que me moveu foi a determinao
de promover a diversidade cultural marroquina e internacional. O meio milho de
pessoas que vm a esse festival todos os anos atestam o interesse pblico nessas formas
de expresso artstica. O Visa for Music [Visto para a Msica, em traduo livre] do
Marrocos, o primeiro mercado para msica da frica e do Oriente Mdio, surgiu do
mesmo desejo de incentivar uma cooperao internacional mais estreita. Promover a
msica da frica e do Oriente Mdio em todo o mundo; facilitar a mobilidade artstica;
apoiar o desenvolvimento de setores culturais nacionais; contribuir para a melhoria
das condies dos artistas no Sul; fortalecer as relaes culturais Norte-Sul e Sul-Sul: so
essas as prioridades urgentes. A celebrao do dcimo aniversrio da Conveno para a
Proteo e Promoo da Diversidade das Expresses Culturais nos convida a seguir em
nossos esforos. Juntos, podemos desenvolver um fluxo mais equilibrado de bens culturais,
alm de novas plataformas para encontros e intercmbios, que sero os pilares da nossa
diversidade criativa para o futuro.

Brahim el Mazned
Diretor do Festival Visa for Music

Objetivo 2 Atingir um fluxo equilibrado de bens e servios culturais, e aumentar a mobilidade de artistas e profissionais da cultura

13

bil
a

Relatrio Global da
Conveno de 2005

ral
te

Captulo 7

General Conference of the United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization, meeting in Paris
October 2005 at its 33rd session Affirming that cultural diversity is a defining characteristic of
humanity Conscious that cultural diversity forms a common heritage of humanity and should be cherished
and preserved for the benefit of all Being aware that cultural diversity creates a rich and varied world,
which increases therange of choices and nurtures human capacities and values, and therefore is amainspring for
sustainable development for communities, peoples and nations Recalling that cultural diversity, flourishing within
a framework of democracy, tolerance, social justice and mutual respect between peoples
and cultures, is indispensable for peace and security at the local, national and international levels Celebrating
the importance of cultural diversity for the full realization of human rights and fundamental freedoms

The
from 3 to 21

proclaimed in the Universal Declaration of Human Rights and other universally recognized instruments Emphasizing the need to

incorporate culture as a strategic element in national and international development policies, as

r e gio

well as in international development cooperation, taking into account also the United Nations Millennium Declaration (2000) with
Taking into account that culture takes diverse forms across time and space
its special emphasis on
and cultural expressions
and that this diversity isembodied in the
as a source of
of the peoples and societies making up humanity Recognizing the importance of
, and itspositive
intangible and material wealth, and in particular the
Recognizing
contribution to sustainable development, as well as the need for its adequate
, including their contents, especially
the need to take measures to
in situations where cultural expressions may be threatened by the possibility of extinction or serious impairment Emphasizing the
in general, and inparticular its potential for the enhancement of
Being aware that cultural diversity is strengthened by the
the status and
, and that it is nurtured by
Reaffirming
, aswell as diversity of the media, enable cultural
that
, including traditional
expressions to flourish within societies Recognizing that the
cultural expressions, is an important factor that allows individuals and peoples to express and to
Recalling that
is a fundamental element of cultural diversity,
plays in the
and reaffirming the fundamental role that
Taking into account the importance of the
, including for persons belonging to
minorities and indigenous peoples, as manifested in their
their traditional cultural expressions and to have access thereto, so as to benefit them for their own development Emphasizing the
, which nurture and renew cultural expressions and enhance
the role played by those involved in the development of culture for the progress of society at large Recognizing the importance
in sustaining those involved in cultural creativity Being convinced that cultural
of
, because they convey identities,
activities, goods and services have
values and meanings, and must therefore not be treated as solely having commercial value Noting that while the
, which have been facilitated by the rapid development of information and communication technologies,
, they also represent
for
afford unprecedented conditions for enhanced
cultural diversity, namely in view of risks of imbalances between rich and poor countries Being aware of UNESCOs specific mandate
and to recommend such international agreements as may be
to
by word and image Referring to the provisions of the international
necessary to
instruments adopted by UNESCO relating to cultural diversity and the exercise of cultural rights, and in particular the

on 20 October 2005.

poverty eradication
uniqueness and plurality of the identities
traditional knowledge
knowledge systems of indigenous peoples
protection and promotion
protect the diversity of cultural expressions

in
bli
Dom ican Repu
omin

D
da em outros fruns
A
 promoo dos objetivos e dos princpios da Conveno
Grena
Guyana
internacionais no est limitada rea comercial. Desde
2005, ela foi
Haiti
Jamaica
citada em mais de 250 textos de dezenas de organizaes
Saint Lucia internacionais,
St. Kitts and Nevis
regionais e bilaterais.
St. Vincent

Republic of Mo

Trade agreements
explicitly reference
Desde 2005, ocorreu um aumento no uso da medida de iseno cultural, para
excluir certos bens e/ou servios culturais dos acordos comerciais.
the Convention

G eo

e ri c a

Incorporao de
uma referncia
Conveno

ldov
a

Universal

M States
IFORU
CAR

Declaration on Cultural Diversity of 2001 Adopts this Convention

processes

a challenge

rea
Ko

interaction between cultures

ensure respect for the diversity of cultures


promote the free flow of ideas

Vronique Guvremont

Canada
Rep pela Unio Europeia (UE) desde 2005
S ete acordos comerciais concludos
ub
e
ic
in
incorporam
uma ou mais referncias lexplcitas
Conveno.
Tendo em vista que
o
a
da
r
rbu
k a UE tem 28 Estados-membros e que os fsete acordos foram
Ba
d
concludos
com
n
a
s
ua
tig hama
An alm
a
26 outros Estados, juntos, eles implicam 55 Estados,
da
prpria
UE,
B
The bados
Bar e
50 dos quais so partes da Conveno.
z
Beli
ica
c

vital role of cultural interaction and creativity

intellectual property rights


both an economic and a cultural nature

nal

Mensagens centrais

importance of culture for social cohesion


role of women in society
free flow of
constant exchanges and interaction between cultures
ideas
freedom of thought, expression and information
diversity of cultural expressions
share with others
linguistic diversity
their ideas and values
education
protection and promotion of cultural
vitality of cultures
expressions
freedom to create, disseminate and distribute

of globalization

international

Promover a Conveno em
fruns internacionais

More than
250 documents
refer to the principles
of the Convention

and the Grenadines


Suriname
Trinidad an
d Tobago
Costa Ri
ca
El Salv
a
Guate dor
mala
Hon
dura
s
Nica
Pan ragua
ama

Novos instrumentos comerciais surgiram nos ltimos dez anos os protocolos


de cooperao cultural anexos aos acordos comerciais. Esses protocolos
reconhecem a especificidade dos bens e servios culturais, mas tambm preveem
a atribuio de tratamento preferencial para promover a mobilidade de artistas
e profissionais
da cultura, especialmente os oriundos do Hemisfrio Sul.
TH E
ION anexo ao acordo de livre comrcio entre a
Ede
O protocolo
URcooperao
OPEAN UNcultural
UE e a Amrica Central pode ser visto como uma boa prtica nesse sentido.
Am

2015

ia
str
Au ium
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Be lgari
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German
Greece
Hungary
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Italy
Latvia
Lithuania
Luxembo
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Rom gal
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Sp enia
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Sw in
Un eden
i
t
ed
Kin
gd
om

Incluso de
uma iseno
cultural

Uso de listas positivas de


compromissos especficos

Formas de implementar a Conveno


em acordos comerciais bilaterais e regionais
Formulao de
certas reservas

GOAL 2 ACHIEVE A ALANCED FLOW OF CULTURAL GOODS AND SERVICES AND INCREASE THE MOBILITY OF ARTISTS AN

Design credit: plural | Katharina M. Reinhold, Severin Wucher

Ce

nt

r al

rgi

Adoo de
um protocolo
cultural

AL PROFESSIONALS

Saudemos a iniciativa da UNESCO de comemorar o dcimo aniversrio da importante Conveno para a Proteo e Promoo da Diversidade
das Expresses Culturais. Como comissrio europeu de Comrcio, eu incentivei a elaborao desse texto e tenho orgulho de dizer que,
subsequentemente, a UE teve um papel muito ativo em seu processo de redao. Esse foi um passo decisivo em uma longa histria. Ao se lembrar
de que a cultura no uma mercadoria como outra qualquer, a Comisso Europeia dos anos 1990 sob Jacques Delors foi contra a incluso das
indstrias culturais na Rodada do Uruguai, que liberalizou o comrcio internacional. No entanto, alm dessa atitude defensiva, era necessrio que
houvesse um instrumento internacional como ponto de referncia para complementar as regras comerciais, assim como para afirmar a liberdade
de cada Estado de fomentar a criatividade e as expresses culturais da forma como achar melhor. A UNESCO aceitou o desafio e realizou o seu
papel com excelncia. Qualquer pessoa que busque uma globalizao mais civilizada deve estar radiante com o resultado. No se trata de encerrar
culturas dentro de suas fronteiras nacionais ou locais; pelo contrrio, a Conveno ajuda a compartilh-las de forma equilibrada ela incentiva
o intercmbio cultural e a livre movimentao de artistas, e busca regular a concentrao das indstrias culturais e assegurar que elas respeitem o
pluralismo e a diversidade da criatividade. por esse motivo que crucial o monitoramento da implementao da Conveno.

Pascal Lamy
Ex-diretor-geral da Organizao Mundial do Comrcio (OMC)

14

Objetivo 2 Atingir um fluxo equilibrado de bens e servios culturais, e aumentar a mobilidade de artistas e profissionais da cultura

Captulo 8

Cultura no desenvolvimento
sustentvel
David Throsby

Mensagens centrais
A
 implementao das clusulas de sustentabilidade da Conveno pode ser
interpretada como a formulao de estratgias para se atingir o desenvolvimento
culturalmente sustentvel, um conceito que rene as dimenses econmica e
cultural do desenvolvimento em um marco que enfatiza o crescimento, a equidade
e a integridade cultural no processo de desenvolvimento.
As indstrias culturais podem ser uma importante meta para polticas
que visam a um desenvolvimento que seja ao mesmo tempo econmica e
culturalmente sustentvel; iniciativas polticas para apoiar o crescimento
dessas indstrias podem ocasionar significativos benefcios econmicos,
sociais, culturais e ambientais de longo prazo.
E xiste um escopo considervel para que os pases doadores promovam a
integrao da cultura com o desenvolvimento sustentvel no Hemisfrio Sul, por
meio de suas estratgias e programas de assistncia oficial ao desenvolvimento
(AOD); uma forma particular de prestar tal assistncia consiste em oferecer
assistncia tcnica e conhecimentos para ajudar a superar as desvantagens dos
pases recipientes no acesso a novas tecnologias de informao e comunicao,
bem como para promover a conectividade essencial para a participao dos
pases em desenvolvimento nos mercados internacionais de seus bens e servios.

Total de contribuies recebidas


para o Fundo Internacional de
Diversidade Cultural, 2007-2014
(por mil US$ em valores atuais)
Fonte: http://en.unesco.org/creativity/ifcd/
fundraising/donations/parties

A UE tem forte interesse e papel na cultura, tanto dentro da prpria UE quanto


externamente. A UE, como signatria da Conveno de 2005 da UNESCO, est
totalmente comprometida com os princpios desse tratado.

$1 600

A cultura pode ser vista como um bem pblico por excelncia. Por meio da cultura,
podemos promover e fortalecer princpios e valores como a liberdade de expresso,
a democracia, a tolerncia, a justia social e o respeito mtuo. A participao dos
cidados na vida cultural fortalece a coeso social e o empoderamento da comunidade.
O setor criativo um fator de crescimento inclusivo e sustentvel, nos mbitos mundial,
nacional e regional. Atividades culturais tambm podem representar um meio de vida
para grupos vulnerveis e marginalizados.

$1 400

$1 200

$1 000

$ 800

O importante papel da cultura na cooperao e no desenvolvimento internacionais


est refletido nas vrias aes que a UE vem financiando para promover as indstrias
culturais e criativas, especialmente na regio do Mediterrneo e nos pases da frica,
Caribe e Pacfico. Estamos especialmente conscientes do papel catalisador que os
programas e projetos culturais podem ter na incorporao de conceitos de liberdade de
expresso, igualdade incluindo a igualdade de gnero e livre fluxo de ideias.

$ 600

$ 400

$ 200

$0

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

A UE vem apoiando a implementao da Conveno, com o objetivo de fortalecer a


governana cultural em 13 pases em desenvolvimento com os quais estabeleceu parcerias.
Orgulha-me o fato de que isso tenha sido decisivo para desenvolver polticas culturais
nesses pases e para aumentar a conscientizao sobre a importncia de tais polticas e
da prpria Conveno.

Neven Mimica
Comissrio europeu de Cooperao Internacional e Desenvolvimento

Objetivo 3 Integrar a cultura aos marcos de desenvolvimento sustentvel

15

2015

Relatrio Global da
Conveno de 2005

Captulo 9

Mulheres como criadoras:


igualdade de gnero

Ammu Joseph

Mensagens centrais
Na maior parte do mundo, as mulheres esto fortemente representadas no setor
criativo. Entretanto, elas continuam pouco representadas em diversas profisses
da cultura, assim como em posies decisrias em muitas organizaes e
indstrias culturais.
O
 s mltiplos obstculos em seu caminho para a participao e a progresso
em empreitadas culturais no apenas so injustos com as mulheres e violam
seus direitos culturais essencialmente, eles reduzem a diversidade cultural e
privam todos do acesso irrestrito ao potencial criativo da metade feminina da
comunidade artstica.

Porcentagem dos Estados-partes que


incluram as mulheres como meta de
polticas por tipo de medida poltica
Fonte: RPQs, 2012-2014.

Muitos pases j adotaram medidas para aperfeioar as oportunidades das


mulheres, e mesmo para igualar as contribuies das mulheres para a economia
criativa. Entretanto, a necessidade de se assegurar a igualdade de gnero no
setor cultural ainda no foi tratada de forma adequada.
Um importante obstculo para os esforos que visam a lidar com o desequilbrio
de gnero na rea cultural a escassez de dados desagregados por sexo.
No entanto, somente uma abordagem fundamentada em informao pode
lidar de forma efetiva com os vieses e as barreiras de gnero existentes.

100%
80%
60%

35

38

Integrao da
cultura em
polticas de
desenvolvimento
sustentvel

53

Polticas de
cooperao
internacional e
tratamento
preferencial

40%
20%

Polticas e
medidas
culturais

0%

Igualmente importante uma abordagem holstica que reconhea a relao


simbitica entre igualdade de gnero, direitos culturais e diversidade cultural. A
misso de proteger e promover a diversidade das expresses culturais no pode ter
sucesso, a menos que a igualdade de gnero seja reconhecida como uma preocupao central que deve ser integrada a todas as tentativas de atingir tal objetivo.
T anto o texto quanto o esprito da Conveno de 2005 defendem o princpio da
igualdade de gnero como uma pedra angular dos direitos humanos em geral,
e dos direitos culturais em particular. A Conveno inequvoca ao clamar por
polticas e medidas que promovam a igualdade de gnero, bem como reconheam
e apoiem as mulheres como artistas e produtoras de bens e servios culturais.

Como mulher africana, como criadora e como embaixadora do Fundo das Naes Unidas para a Infncia (UNICEF), todos os dias eu
meo a lacuna do gnero. Representamos mais da metade da populao, mas muitas vezes as nossas vozes so emudecidas e as nossas
contribuies desmerecidas. Pode-se fazer muito para melhorar a situao, e a cultura uma das formas pelas quais podemos ajudar
a transform-la de forma positiva. A Conveno da UNESCO para a Proteo e Promoo da Diversidade das Expresses Culturais pode
ajudar a atingir esse objetivo, ao reconhecer e apoiar as mulheres como criadoras e produtoras de expresses culturais. Trata-se de uma
ferramenta poderosa, que pode ser utilizada por governos para facilitar o acesso, a participao e a liberdade artstica das mulheres.
Ouvir o que as mulheres tm a dizer, fornecer-lhes ferramentas para se emancipar, ajud-las a alcanar novas fronteiras, dar-lhes
confiana, incentiv-las a criar, trat-las com respeito: so atitudes simples que mudaro a forma como as mulheres se sentem todos os
dias. Esse empoderamento deve melhorar enormemente a sua viso de mundo, e espero inspirar jovens mulheres de todos os lugares
a fazer o que eu fiz, encontrar sua voz, ter orgulho de sua herana, contribuir para a renovao de suas culturas e compartilh-las com
o mundo. Isso beneficiaria a humanidade como um todo e faria do mundo um lugar muito melhor.

Anglique Kidjo

Cantora e vice-presidente da Confederao Internacional de Sociedades de Autores e Compositores


(Confdration Internationale des Socits dAuteurs et Compositeurs Cisac)

16

Objetivo 4 Promover os direitos humanos e as liberdades fundamentais

Captulo 10

Desafios da liberdade artstica

Ole Reitov

Mensagens centrais
O reconhecimento e a proteo da liberdade artstica so essenciais, no apenas
para o ser e para a prtica criativa dos prprios artistas, mas tambm para os
direitos de todos os profissionais da cultura.
A
 s liberdades fundamentais so um ingrediente essencial do bem-estar de
cidados e sociedades, para a dinmica do desenvolvimento social e para
a estabilidade dos setores das artes e das indstrias culturais e criativas.
A
 s restries ao fluxo artstico e as perdas econmicas privam os artistas de seus
meios de expresso e sustento, e criam um ambiente inseguro para todas as
pessoas engajadas nas artes e para o seu pblico.
Em 2014, a organizao Freedom of Musical Expression (Liberdade de
Expresso Musical Freemuse) registrou 237 ataques contra a expresso
artstica. Entretanto, as ameaas liberdade artstica so subnotificadas,
em comparao com as ameaas a jornalistas e a outros profissionais da
mdia. Isso leva a uma compreenso limitada da verdadeira dimenso do
desafio livre expresso criativa, especialmente das ameaas fsicas a
artistas e a praticantes engajados socialmente.

Violaes do direito liberdade de


expresso artstica, 2010-2013
Fonte: Article 19, 2010-2013.

Razes para a restrio de


expresses artsticas

35,7%

22,4%

Crtica poltica

Sexo, sexualidade
e nudez

16,6%

10,8%

Valores tradicionais
ou religiosos
4,9%
4,7%
1,8%
0,7%

Ofensa ou
insulto

Insulto contra smbolos do Estado


Segurana nacional
Ordem pblica
Privacidade

A expresso artstica no um luxo, uma necessidade um elemento definidor


da nossa humanidade e um direito humano fundamental que permite que todos,
individual e coletivamente, desenvolvam e expressem sua humanidade e sua viso de
mundo. Explicitamente abrangida nos dois principais pactos internacionais sobre os
direitos econmicos, sociais e culturais e sobre os direitos civis e polticos, bem como
na Declarao Universal dos Direitos Humanos, a liberdade artstica recebeu pouca
ateno em fruns sobre direitos humanos quando eu levantei o assunto em 2013.
Ameaas a artistas e expresso artstica eram evidentes, mas poucos artistas se
engajaram no sistema de direitos humanos da ONU.
Tendo tratado consistentemente dessa questo desde ento, eu fico feliz de notar uma
crescente percepo sobre o papel crucial de artistas e da criatividade artstica em
nossas sociedades, e de como vital assegurar que vozes artsticas no sejam silenciadas
de diferentes formas. As expresses culturais no servem apenas para divertir; elas
contribuem para debates sociais e nos convidam a pensar. O crescente engajamento de
diversos interessados em torno da liberdade artstica animador. No entanto, ainda
h muito a ser feito para assegurar o acesso e a participao em empreitadas artsticas,
especialmente em espaos pblicos. Catalisando o pensamento crtico contnuo sobre
a identidade, valores e significados que queremos escolher para nossas vidas, as
expresses artsticas e a criatividade podem ter um papel significativo em muitas reas,
desde processos de reconciliao social at a vida cotidiana. Portanto, este captulo
sobre o status de artistas uma ferramenta valiosa que ajudar a orientar as nossas
aes futuras a esse respeito.

Farida Shaheed
Ex-relatora especial da ONU na rea de Direitos Culturais

Objetivo 4 Promover os direitos humanos e as liberdades fundamentais

17

2015

Relatrio Global da
Conveno de 2005

Principais concluses
Novas polticas, medidas e mecanismos culturais foram implementados ao longo
Objetivo 1
Apoiar sistemas de
governana sustentveis
para a cultura.

dos ltimos dez anos, para apoiar a criao, a produo, a distribuio e o acesso
a bens e servios culturais diversos. A tecnologia vem abrindo canais para novas
vozes e novos talentos, alm de novas formas de participao cidad que esto
redesenhando as fronteiras entre esses elos na cadeia de valores e levantando
novas questes para a criao de novas polticas e medidas.

Existem dois campos emergentes de polticas que so importantes facilitadores e

condutores da diversidade das expresses culturais: as mdias pblicas e as tecnologias


digitais. Tornou-se claro que o escopo poltico, e talvez at mesmo legislativo da Conveno,
necessita ser ampliado para incluir leis sobre liberdade de informao, polticas de
telecomunicaes, questes de comrcio eletrnico, bem como governana na internet.

Em termos de sistemas de governana, crucial a participao de mltiplos interessados


da sociedade civil na criao e na implementao de polticas. O papel da sociedade
civil como fiscalizador cultural ainda no foi bem desenvolvido, e a diversidade
de vozes da prpria sociedade civil ainda insuficiente. Com isso, ambos devem
ser fortalecidos. preciso que sejam realizadas parcerias entre a sociedade civil e
funcionrios do setor pblico, para produzir as evidncias robustas necessrias para um
monitoramento das polticas e uma avaliao de impacto que sejam conscientes, o que
ainda no acontece em muitas regies do mundo.

Objetivo 2
Atingir um fluxo
equilibrado de bens e
servios culturais, e
aumentar a mobilidade de
artistas e profissionais
da cultura.

Pases de todas as partes do mundo esto agindo para apoiar o desenvolvimento e o cresci-

mento de seus setores criativos. Novas polticas esto sendo criadas e apoiadas por planos de
ao, financiamento e novas estruturas. Entretanto, no mbito mundial, ainda h muito a se
fazer para atingir um equilbrio no fluxo de bens e servios culturais. Novos dados produzidos
pelo Instituto de Estatstica da UNESCO (UIS) mostram que, em 2013, a exportao de bens
culturais em todo o mundo atingiu aproximadamente US$ 212,8 bilhes, e que a porcentagem dos pases em desenvolvimento nesse valor representou 46,7%. Porm, se a China e a
ndia forem excludas dessa categoria, nota-se que a grande maioria dos pases em desenvolvimento tem um papel apenas marginal na exportao de bens culturais. Os dados mostram
tambm que os servios culturais atingiram aproximadamente US$ 128,5 bilhes no mesmo
perodo. Isso inclui filmes, msicas ou livros baixados da internet, performances musicais
ou de dana etc. A porcentagem dos pases em desenvolvimento continuou nfima: apenas
1,6%! Portanto, urgente que os pases introduzam medidas de tratamento preferencial, para
que os objetivos da Conveno sejam atingidos.

Embora alguns pases tenham adotado medidas para amenizar as restries sobre

profissionais criativos, em certas partes do mundo os artistas ainda no podem viajar


livremente. Essa situao lamentvel bloqueia o fluxo equilibrado de bens e servios culturais.
Dessa forma, polticas para incentivar a mobilidade de artistas e de outros profissionais da
cultura, especialmente os que vm de pases em desenvolvimento, so cruciais para expandir
o seu acesso a novos mercados e para aproveitar oportunidades de colaborao.

A Conveno parece ter tido um impacto positivo com a implementao de novos marcos

e acordos nos ltimos dez anos, quais sejam, os protocolos de cooperao cultural anexos
a acordos comerciais que reconhecem a especificidade dos bens e servios culturais, bem
como facilitam o acesso desses bens e servios oriundos dos pases em desenvolvimento
aos mercados regionais e internacionais. Entretanto, ainda no est claro o impacto destes
sobre o equilbrio dos fluxos mundiais de bens e servios culturais.

18

Principais concluses

Objetivo 3
Integrar a cultura
aos marcos de
desenvolvimento
sustentvel.

Tanto a Conveno de 2005 quanto a recentemente adotada Agenda 2030 de

para o Desenvolvimento Sustentvel se comprometem a criar condies para um


crescimento econmico inclusivo e sustentado, prosperidade compartilhada e
trabalho decente para todos.

As indstrias culturais e criativas podem ser um importante facilitador de

polticas, visando a um desenvolvimento que seja ao mesmo tempo econmica


e culturalmente sustentvel. Iniciativas polticas para apoiar o crescimento dessas
indstrias tambm produzem significativos benefcios sociais, culturais
e ambientais de longo prazo, equidade na distribuio dos recursos culturais,
e justia e no discriminao no acesso participao cultural.

Entretanto, o apoio cultura por meio de marcos e programas internacionais

de assistncia ao desenvolvimento se reduziu desde 2005, e esse um desafio


mundial.

Apoiar e defender as liberdades fundamentais de expresso, informao e


Objetivo 4
Promover os direitos
humanos e as liberdades
fundamentais.

comunicao, para artistas e profissionais da cultura, um pr-requisito para a


criao, a distribuio e o acesso a uma diversidade de expresses culturais.
Em 2014, a organizao Freemuse registrou 237 ataques expresso artstica
em todo o mundo.

As restries liberdade artstica e ao acesso a expresses artsticas ocasionam

grandes perdas culturais, sociais e econmicas, privam os artistas de seus meios


de expresso e sustento, e criam um ambiente inseguro para todas as pessoas
engajadas na arte e para o seu pblico.

Embora na maior parte do mundo as mulheres estejam fortemente representadas


no setor criativo, elas continuam pouco representadas em diversas profisses da
cultura e em posies decisrias em muitas organizaes e indstrias culturais.
Com isso, so necessrias novas polticas e medidas para reconhecer, apoiar e
promover as mulheres como criadoras e produtoras de expresses culturais,
e como cidads que participam da vida cultural.

Principais concluses

19

2015

Relatrio Global da
Conveno de 2005

2015 1 Relatrio Global para monitorar a Conveno


2015 Manual da UNESCO sobre Indicadores de Cultura para o Desenvolvimento
2014 Estudo do IOS sobre o impacto poltico da Conveno
2013 Relatrio da ONU sobre Economia Criativa

Partes

2013 Aprovao da Estratgia Mundial de Capacitao


2012 Primeiros Relatrios Peridicos Quadrienais
2010 Lanamento do Fundo Internacional para a Diversidade Cultural
2009 Aprovao das primeiras Diretrizes Operacionais
2008 1 Sesso de Intercmbio com a Sociedade Civil
2007 Entrada em vigor da Conveno
2005 Aprovao da Conveno

1970s

1980s

A UNESCO publica
as primeiras
monografias sobre
polticas culturais
nacionais

1988

1997

Dcada Mundial
da UNESCO para o
Desenvolvimento Cultural

1995

Mtodos para a avaliao

1985 de polticas culturais


nacionais (CoE)

Mesa-redonda de Mnaco

1967 sobre polticas culturais

1982

MONDIACULT:
Primeira Conferncia Mundial
sobre as Polticas Culturais

Conferncia Intergovernamental sobre

1970 Aspectos Institucionais, Administrativos


e Financeiros das Polticas Culturais

20

1992

1987

Nossa Diversidade Criativa:


Relatrio da Comisso
Mundial da ONU-UNESCO
para a Cultura e
o Desenvolvimento

Guia do Estado Atual e Tendncias


em Polticas e Vida Cultural nos
Estados-membros da UNESCO
(Culturelink)

Nosso Futuro Comum:


Relatrio da Comisso
Mundial da ONU para o
Meio Ambiente e
o Desenvolvimento

Declarao Universal

2001 da UNESCO sobre a

Diversidade Cultural

Compndio de Polticas e

1999 Tendncias Culturais na Europa


(CoE, ERICarts)

Conferncia Intergovernamental da

1998 UNESCO sobre Polticas Culturais

para o Desenvolvimento (Estocolmo)

Diversidade das
Expresses Culturais

Re | pensar
as polticas
culturais

Aniversrios so momento de reflexo e planejamento.


O dcimo aniversrio da Conveno da UNESCO para a Proteo e Promoo da
Diversidade das Expresses Culturais, de 2005, oferece a seus Estados-partes e
interessados no governamentais a oportunidade significativa de relembrar suas
origens, rever criticamente suas conquistas e, a partir da, formar uma nova ambio
para a implementao da Conveno nos prximos 10, 20 ou at 30 anos.
Uma das questes formuladas durante este ano de aniversrio diz respeito a se
a implementao da Conveno reflete ou no a viso de seus autores. Em outras
palavras: ela levou s mudanas positivas que seus autores imaginaram? Que
passos foram tomados para alcanar os quatro principais objetivos da Conveno:
apoiar sistemas de governana sustentveis para a cultura; atingir um fluxo
equilibrado de bens e servios culturais, e aumentar a mobilidade de artistas
e profissionais da cultura; integrar a cultura aos marcos de desenvolvimento
sustentvel; e promover os direitos humanos e as liberdades fundamentais?
Esta nova srie de Relatrios Globais apresenta evidncias sobre a implementao dos
objetivos da Conveno, com um conjunto de indicadores propostos para monitorar
as mudanas e os progressos ao longo do tempo. Com base nos relatrios peridicos
quadrienais apresentados at agora pelos Estados-partes, alm de outras fontes, esta
edio inaugural uma primeira tentativa de realizar um balano e compartilhar
informaes sobre os desafios encontrados, especialmente em reas emergentes de
polticas, como as mdias digitais e pblicas, tratamento preferencial, bem como gnero
e liberdade artstica. Ela investiga como as polticas culturais podem ter sido
reformuladas como resultado dos esforos visando implementao da Conveno.
Este relatrio tambm pretende fornecer evidncias para a implementao da
Agenda 2030 das Naes Unidas para o Desenvolvimento Sustentvel.

http://en.unesco.org/creativity/

Relatrio Global da
Conveno de 2005

2015

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