Waltercio Caldas PDF

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Material Didtico

Programa Educativo
Fundao Iber Camargo

Waltercio Caldas
o ar mais prximo E outras matrias

A Fundao Iber Camargo, em Porto Alegre, e o Blanton Museum of Art / University


of Texas, Austin, esto juntando foras para organizar o primeiro ensaio abrangente
da carreira de um dos artistas contemporneos mais importantes do Brasil: Waltercio
Caldas. Esta exposio explora a obra completa do artista, dos anos de 1960 at
hoje, e investiga a centralidade de Caldas na arte brasileira, seu papel no cenrio
internacional e sua posio nica sobre a arte e seu etos. A mostra inaugurada em
Porto Alegre, em setembro de 2012, segue para So Paulo em fevereiro de 2013 e,
mais tarde, em outubro, para Austin revela inteiramente o trabalho de um artista
que d forma ao espao intangvel atravs de uma linguagem visual nica.

Ao trabalhar em uma srie de meios, Waltercio examina as qualidades fsicas de obje-


tos e espaos, desafiando os pressupostos que os observadores trazem para o ato de
observao. Ele define sua prtica como o ato de esculpir a distncia entre objetos,
invertendo a definio convencional de escultura como um volume autocontido e
denso. Acima de tudo, a simplicidade e a preciso formal definem sua arte, qualida-
des que expressam sua meta de produzir o que ele descreve como trabalho maxima-
mente presente atravs de mnima ao. Sua instalao O ar mais prximo (1991),
na qual extenses suspensas de fios vermelhos e azuis radicalmente transformam o
espao vazio, rene essas preocupaes e exemplifica a sua predileo por ttulos po-
ticos e ambguos. Outra marca da sua prtica a produo de livros de artista, uma
obra que ilustra o uso divertido que o artista faz da palavra escrita e seu interesse em
histria da arte, filosofia e sistemas de conhecimento.

Waltercio Caldas considera a histria da arte um de seus materiais de trabalho e de


forma bem particular utiliza uma ampla gama de referncias brasileiras e internacio-
nais. Ele combina a sensibilidade formal aguda de Constantin Brancusi com o questio-
namento conceitual de Marcel Duchamp dos limites da arte. A exposio O ar mais
prximo e outras matrias (1968-2012) apresenta um artista cujo trabalho amplia o
escopo do discurso histrico da arte tradicional, ao desafiar ativamente os observado-
res a questionarem suas percepes de espao e noes de realidade.

Gabriel Prez-Barreiro e Ursula Davila-Villa


curadores da exposio
Waltercio Caldas Material didtico
[1946]

O material inclui:
Waltercio Caldas nasce em 1946, no Rio de Janeiro, cidade onde vive e trabalha atu-
almente. Seus estudos no campo artstico tiveram incio na dcada de 1960, quando 10 pranchas informativas com reprodues de obras da exposio Waltercio
estudou com Ivan Serpa no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ). Caldas: o ar mais prximo e outras matrias. A seleo foi realizada pelos curado-
As constantes visitas a exposies, galerias e a biblioteca do MAM so fundamentais res Gabriel Prez-Barreiro e Ursula Davila-Villa, a fim de que o material contemplas-
nesse perodo de formao. se uma mostra significativa dos trabalhos presentes na exposio. Em cada pran-
cha, h informaes sobre a obra em questo, assim como o item Para pensar,
Em 1967, comea a trabalhar como desenhista tcnico e programador visual. Nos no qual so sugeridos tpicos e indagaes para discusso em sala de aula;
anos seguintes, leciona artes e percepo visual no Instituto Villa-Lobos. Ainda nesse
perodo, Waltercio, ao lado de outros artistas e crticos, atua como editor da revista Breve texto sobre a exposio e uma pequena biografia de Waltercio Caldas,
Malasartes, que tratava sobre a poltica das artes, como declarava seu primeiro complementares s informaes trazidas nas pranchas;
editorial, ao trazer discusses acerca do cenrio contemporneo brasileiro.
Atividades para serem realizadas em sala de aula;
A partir de 1973, o artista comea a expor suas obras. Desde ento, Waltercio realizou
mostras individuais no Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro; na Kanaal Foun- Acessrio composto por fio de l e alfinetes, a partir do qual os alunos podero
dation, Blgica; no Stedelijk Museum, em Amsterd; e na Christopher Grimes Gallery, realizar em conjunto um desenho no espao, considerando a maneira como o artista
em Santa Mnica, entre outros espaos. Participou tambm da Bienal de Veneza de constri utilizando o ar e o vazio.
1997, assim como de mltiplas Bienais do Mercosul e de So Paulo.Seu trabalho faz
parte das colees do Museum of Modern Art, Nova York; Blanton Museum of Art,
University of Texas, Austin; National Gallery of Art, Washington, D.C.; Museu de Arte
Moderna, So Paulo; Coleccin Patricia Phelps de Cisneros, Venezuela/Nova York; e
Bruce and Diane Halle Collection, Scottsdale.
Atividades
Em 2007, aps receber convite para participar da 52 Bienal Internacional de Arte de
Veneza, o artista cria especialmente para essa edio da mostra a obra Meio Espe-
lho Sustenido. Suas exposies individuais mais recentes foram realizadas no Museu Sugerimos aqui algumas atividades a partir da exposio Waltercio Cadas: o ar mais
Vale, em Vila Velha (ES), no Gabinete de Arte Raquel Arnaud, no CEUMA, e no prximo e outras matrias. As propostas no esto organizadas por faixa etria,
Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro e em Braslia, em uma importante cabendo ao professor escolher aquelas que julgar mais adequadas ao grupo com o
retrospectiva de seu trabalho. Waltercio tambm autor de livros como Manual da qual ir trabalhar.
Cincia Popular (1982) e Velzquez (1996) e cenrios para peas de teatro e dana.
1. Explorao de materiais

As obras de Waltercio Caldas apresentam a combinao de diferentes materiais, mui-


tos deles no tradicionais no campo da arte. O que me interessa so as relaes en-
tre os materiais; a transparncia do vidro confrontada com o peso de uma pedra ou
o reflexo de um metal, por exemplo,1 afirma Caldas, reconhecendo a importncia
das operaes de artistas que, ao longo do sculo XX, ampliaram o repertrio e as
definies do que pode ser arte.

Convide os alunos a trazerem um material diferente para a sala de aula. Pea que eles
realizem essa escolha considerando as especifidades desse elemento seu peso, cor,
forma e usos. Divida a turma e proponha que cada grupo construa um objeto ou ins-
talao a partir dos materiais disponveis. Antes de iniciar a atividade, pea que eles
definam as caractersticas fsicas e simblicas daquilo que iro construir: algo leve ou
pesado, vazio ou cheio, frio ou quente, claro ou escuro, aberto ou fechado, etc.
2. Jogo sensorial Referncias
As obras de Waltercio Caldas exigem uma ateno s suas caractersticas fsicas em
relao ao espao e ao tempo, testando nossa capacidade de observao. Proponha CALDAS, Waltercio. Waltercio Caldas: o atelier transparente. Belo Horizonte: C/Arte,
aos alunos uma investigao sobre os limites do que podemos apreender pelos senti- 2006.
dos. Pea que eles descrevam uma srie de objetos apenas por meio da observao.
Questione-os em relao ao peso, o cheiro e a textura desses objetos, mantendo-os . Manual da Cincia Popular. So Paulo: Cosac Naify, 2008, p. 28.
distncia, sem toc-los. Sugere-se incluir alguns objetos cuja aparncia cause es-
tranhamento em relao s suas caractersticas, como a pedra pomes, por exemplo, DAVILA-VILLA, Ursula; PREZ-BARREIRO, Gabriel. Waltercio Caldas: o ar mais prximo
material extremamente leve apesar de parecer o contrrio. Aps, os alunos devem e outras matrias. Porto Alegre: Fundao Iber Camargo, 2012.
analisar os mesmo objetos de olhos vendados, utilizando apenas o tato, o olfato ou at
mesmo o paladar para identific-los. Ao final da atividade, converse com a turma DUARTE, Paulo Sergio. Waltercio Caldas. So Paulo: Cosac Naify, 2001.
sobre a experincia.
FARIAS, Agnaldo. A Conscincia do Intervalo. XXIII Bienal Internacional
3. Desenho negativo de So Paulo. So Paulo: Fundao Bienal de So Paulo, 1996.

Quando escrevo escultura, o que quero dizer realmente o ar, 2 afirmou certa GUADANUCCI, Joo Paulo Leite. Entre texto e obra: Ronaldo Brito e
vez Waltercio Caldas. Converse com a turma sobre como os artistas podem dar forma Waltercio Caldas (1973-1983) Dissertao de mestrado, PPG ECA/USP.
para o ar. Mostre aos alunos uma pintura como a Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, So Paulo: Universidade de So Paulo, 2007.
chamando a ateno para o tratamento que o artista d atmosfera. A partir dessa
discusso, proponha um exerccio de desenho. Monte sobre uma mesa um modelo HONORIO, Thiago. Meio-ato / entrevista com Waltercio Caldas. ARS,
com diversos objetos, como cadeiras, garrafas, ou material escolar. Pea que, ao invs So Paulo, vol.4, n.8, 2006, p. 12-29.
de se concentrarem na forma desses objetos, os alunos tentem desenhar apenas os
espaos vazios, ou seja, os intervalos entre cada coisa.

Internet

www.walterciocaldas.com.br

www.itaucultural.org.br

www.cristinapape.com

www.cultura.gov.br

www.glasstire.com

www.museuparatodos.com.br

Material Didtico Waltercio Caldas: o ar mais prximo e outras matrias

Concepo Camila Monteiro Schenkel e Cristina Yuko Arikawa Textos Andr Fagundes,
Camila Schenkel, Cristina Arikawa, Fabrcio Teixeira, Lvia dos Santos, Romualdo Correa
Projeto Grfico e Diagramao Danowski Design Impresso Impresul Tiragem 500
1 CALDAS, Waltercio. Waltercio Caldas: o atelier transparente. Belo Horizonte: C/Arte, 2006, p. 10. unidades Agradecimentos Alexandre Demetrio, Waltercio Caldas, Gabriel Prez-Barreiro,
2 CALDAS, Waltercio. In: HONORIO, Thiago. Meio-ato / entrevista com Waltercio Caldas. ARS, So Paulo, vol.4, n.8, 2006, p. 21. Ursula Davila-Villa, Adriana Boff e Carina Dias.
Conselho de Curadores Equipe Cultural Assessoria de Imprensa
Beatriz Johannpeter Adriana Boff Neiva Mello Assessoria em Comunicao
Bolvar Charneski Carina Dias de Borba
Carlos Cesar Pilla Laura Cogo Consultoria Jurdica
Christvo de Moura Ruy Remi Rech
Cristiano Jac Renner Equipe Acervo e Ateli de Gravura
Domingos Matias Lopes Eduardo Haesbaert TI Informtica
Felipe Dreyer de vila Pozzebon Alexandre Demetrio Jean Porto
Jayme Sirotsky Gustavo Possamai
Jorge Gerdau Johannpeter Jos Marcelo Lunardi Manuteno Predial
Jos Paulo Soares Martins TOP Service
Justo Werlang Equipe Educativa
Lia Dulce Lunardi Raffainer Camila Schenkel Segurana
Maria Coussirat Camargo Cristina Arikawa Elio Fleury
Renato Malcon Gocil Servios de Vigilncia e Segurana
Rodrigo Vontobel Mediadores
Sergio Silveira Saraiva Ana Carolina Klacewicz
William Ling Andr Fagundes
Bruno Salvaterra
Presidente de Honra Denise Xavier
Maria Coussirat Camargo Fabrcio Teixeira
Kelly Martinez
Presidente Lvia dos Santos
Jorge Gerdau Johannpeter Luiza Rabello
Malson Fantinel
Vice-Presidente Michel Flores
Justo Werlang Pedro Teles da Silveira
Romualdo Correa
Diretores Silvia Pont
Carlos Cesar Pilla Thiago Camargo
Felipe Dreyer de vila Pozzebon
Jos Paulo Soares Martins Equipe de Catalogao e Pesquisa
Rodrigo Vontobel Mnica Zielinsky
Marcos Fioravante de Moura
Conselho Curatorial Talitha Bueno Motter
Fbio Coutinho
Icleia Borsa Cattani Equipe de Comunicao
Jacques Leenhardt Elvira T. Fortuna
Jos Roca
Website
Conselho Fiscal (titulares) Lucianna Silveira Milani
Anton Karl Biedermann Isabel Waquil
Carlos Tadeu Agrifoglio Vianna
Pedro Paulo de S Peixoto Superintendente Administrativo Financeiro
Rudi Araujo Kother Av. Padre Cacique 2.000
Conselho Fiscal (suplentes) 90810-240 | Porto Alegre RS Brasil
Gilberto Schwartzmann Equipe Administrativo-Financeira tel [55 51] 3247-8000
Ricardo Russowski Jos Luis Lima www.iberecamargo.org.br
Ana Paula do Amaral
Superintendente Cultural Caio Osrio e Silva Agendamento: [55 51] 3247-8001
Fbio Coutinho Carlos Huber educativo@iberecamargo.org.br
Carolina Miranda Dorneles
Gesto Cultural Emanuelle Quadros dos Santos
Pedro Mendes Joice de Souza Saiba como patrocinar a Fundao
Margarida Aguiar Iber Camargo, entre em contato:
Maria Lunardi tel [55 51] 3247-8000
Roberto Ritter institucional@iberecamargo.org.br

Ministrio da Cultura apresenta

Waltercio Caldas
o ar mais prximo E outras matrias

Patrocnio Apoio

Realizao

Minist rio d a
Cultura
Waltercio Caldas Desenho Relgio, 1975
nanquim e aquarela sobre papel
31,9 x 32,2 cm
A emoo esttica, 1977
col. do artista
ferro pintado e sapatos sobre tapete
foto: Jaime Acioli
20 x 205 x 195 cm
col. do artista
foto: Jaime Acioli

A composio de A emoo esttica aponta para um instante congelado no


tempo: uma barra de ferro em formato circular prende um par de sapatos a
um tapete quadrado. Os sapatos, no entanto, tm os calcanhares levantados,
sugerindo que quem os calava possa ter sido projetado, em um impulso, para
fora. O artista se refere obra como a viso bem-humorada de uma sensao
de suspenso instantnea (...), como se aquele exato momento da percepo,
Para pensar no qual voc reconhece um objeto sua presena, fosse, paradoxalmente, o
momento em que voc o perde para sempre.1 A arte aparece, ento, como
Discuta com os alunos sobre a ideia de emoo possibilidade de produzir intervalos tanto na temporalidade quanto na percep-
esttica, ttulo da obra. De que forma os alunos o cotidiana.
distinguem a emoo que sentem diante de
uma obra de arte e de algum fenmeno natural, No trabalho, a emoo esttica no tratada como um tema, mas antes ma-
como o pr do sol? Eles j sentiram esse efeito de terializada por meio de seus elementos. O artista compara o momento em que 1 CALDAS, Waltercio. In: HONORIO, Thiago.
Meio-ato / entrevista com Waltercio Caldas.
suspenso do qual o artista fala? J se sentiram algum se coloca diante de uma obra com o instante em que se olha para um ARS, So Paulo, vol. 4, n. 8, 2006, p. 16.
projetados para outro lugar a partir de um livro, abismo. Sempre defino arte como um abismo para frente, explica Waltercio. 2 Depoimento do artista a Cristina Pape em 20/07/2000
filme ou msica? o desconhecido para o qual voc atrado.2 Disponvel em: http://www.cristinapape.com/caldas.pdf
Waltercio Caldas
Condutores de percepo, 1969 Convite ao raciocnio, 1978
cristal e prata em estojo casco de tartaruga e tubo de ferro pintado
6 x 40 x 15 cm 15 x 45 x 20 cm
col. particular col. Leticia Monte e Lula Buarque de Hollanda
foto: Jaime Acioli foto: Miguel Rio Branco

No conheo nenhum trabalho de arte que no tenha sido crtico da prpria


arte,1 afirmou Waltercio Caldas em uma entrevista. Seus trabalhos parecem
nos colocar sempre diante da questo o que arte?. Para tanto, o artista
explora caractersticas de diferentes materiais e espaos e, por vezes, brinca
com o ttulo de suas obras, como acontece em Convite ao raciocnio, na qual
Para pensar vemos um tubo de ferro atravessado dentro de um casco de tartaruga, e Con-
dutores de percepo, reproduzida nesta lmina. Desde o momento em que
Uma das caractersticas do trabalho de Waltercio nos deparamos com essas obras, somos confrontados por um jogo estranho
Caldas o jogo que ele estabelece entre ttulo entre o que lemos e o que vemos. A potica de Waltercio caracteriza-se, entre
e obra. Se em Condutores de percepo o ttulo outras questes, pela combinao de elementos aparentemente divergentes.
acrescenta mais um elemento para a compreenso
da obra, em Dado no gelo (1976), o artista Em Condutores..., o ttulo da obra nos indaga sobre a possibilidade de estabe-
simplesmente nos fornece uma descrio do que lecer paralelos entre o mundo das artes e das cincias exatas. Oferecidos em
vemos: trata-se de um dado congelado dentro um estojo de veludo, esses tubos transparentes so como objetos preciosos
de um cubo de gelo. Discuta com os alunos a que no conduzem coisa alguma. A eletricidade nos ensina: quanto menor a
importncia do ttulo em uma obra de arte. Saber resistncia de um material condutor, maior ser sua condutividade. Ao tomar-
o nome dado pelo autor da obra muda nossa mos essa premissa como conceito chave na obra de Waltercio, podemos supor
percepo sobre ela? Pea que eles deem outro que os condutores do artista atiam nossa percepo quanto menos resistn- 1 CALDAS, Waltercio. In: HONORIO, Thiago.
nome para alguns dos trabalhos que compem o cia apresentarmos diante desses objetos. Ou seja, a forma como encaramos a Meio-ato / entrevista com Waltercio Caldas.
material didtico. Que ideias surgiram? arte torna-se mais aguada quando estamos abertos a ela. ARS, So Paulo, vol. 4, n. 8, 2006, p. 16.
Waltercio Caldas
Escultura para todos os materiais Escultura para todos os materiais
no transparentes, 1985 no transparentes, 1985
mrmore de carrara | 32 cm cada madeira encerada | 50 cm cada
col. do artista col. Cacau e Gugu Steiner
foto: Wilton Montenegro foto: Paulo Costa

Em 1985, Waltercio Caldas muda-se para Nova York, onde vive por um ano.
Nesse perodo, o artista realiza Escultura para todos os materiais no transpa-
rentes, srie de obras de diferentes tamanhos, produzidas com matria prima
tpica de esculturas madeira, granito, mrmore, ao. Cada conjunto com-
posto por duas semi-esferas que apresentam uma seco, a qual desenha um
Para pensar crculo em sua superfcie. Enquanto em muitas de suas obras Waltercio explora
a transparncia e o vazio, aqui, o artista brinca ao deixar explcito no nome da
As semi-esferas de Escultura para todos os obra que, dessa vez, sua escultura apenas para materiais no transparentes.
materiais no transparentes j foram expostas em
diversas mostras. A verso da obra em mrmore Se vistos isoladamente, esses objetos poderiam caracterizar-se pela investiga-
e madeira, por exemplo, faz parte do acervo o de questes meramente geomtricas. No entanto, preciso ir alm para
do Inhotim Instituto de Arte Contempornea aproximar-se do trabalho de Waltercio e entender que tais peas no esto so-
e Jardim Botnico, em Minas Gerais, onde fica zinhas. Ao mesmo tempo em que a obra nos apresenta sua forma e o material
exposta ao ar livre. Discuta com os alunos as do qual feita, Escultura... relaciona-se com os demais elementos sua volta,
possveis relaes que podemos estabelecer entre estabelecendo novos dilogos e significados com o espao que ocupa. Com
uma obra de arte e seu entorno. Ao colocarmos uma das faces sempre voltada ao espectador, como se a obra lanasse
uma obra em determinado espao, ela pode um olhar para fora. Na verdade, essas esferas, do mesmo modo como outros 1 FARIAS, Agnaldo. A Conscincia do Intervalo.
mudar nossa percepo dos elementos ao seu objetos do artista, demonstram ao olhar que no esto no espao, mas so o XXIII Bienal Internacional de So Paulo.
redor? Por qu? prprio espao.1 So Paulo: Fundao Bienal de So Paulo, 1996, p. 23.
Waltercio Caldas
Figura figura, 1998
carimbo sobre livro
encadernado e fio de l
90 x 90 x 70 cm
col. particular
foto: Jaime Acioli

Matisse, talco, 1978


talco sobre livro
ilustrado de Matisse
4 x 33 x 51 cm
col. do artista
foto: Jaime Acioli

O livro aparece no trabalho de Waltercio Caldas desde o incio de sua car-


reira. Algumas dessas obras, como O livro Velzquez (1996) e Manual da
cincia popular (1982-2007), podem ser folheadas, criando uma situao
de sequncia e temporalidade prxima da de um livro comum. Trabalhos
como Matisse, talco, porm, no podem ser manuseados. Esse tipo de
livro funciona muito mais como um objeto ao qual temos acesso apenas
parcial, mostrando-se ao mesmo tempo em que se esconde. Para Ursula
Para pensar Davila-Villa, eles so um convite para que o espectador abra e feche suas
capas apenas atravs da viso,1 provocando uma reflexo sobre a prpria
O crtico Paulo Srgio Duarte aponta que a observao. Os livros, para Caldas, so objetos de visitao que pare-
obra de Waltercio nega o culto da imagem cem ser sempre maiores por dentro que por fora.2
em um universo farto de figuras e pobre
de raciocnio.4 Discuta com a turma sobre Figura figura um desses livros que no podem ser folheados. Seus ele-
essa afirmao. De que forma as imagens mentos, no entanto, questionam o prprio processo de leitura e a relao
esto presentes no mundo contemporneo e entre texto e imagem. Podemos pensar que a palavra figura, carim-
no cotidiano dos alunos? Quais seus usos e bada nas pginas abertas do livro, de certa forma projetada para fora
funes? Como a imagem aparece no trabalho pelos fios de l, que a conduzem para outro lugar. Estou interessado no
de Waltercio Caldas? processo, no surgimento de uma imagem,3 afirmou certa vez o artista.

1 VILLA, Ursula Davila. Horizonte no piscar dos cegos: o trabalho de Waltercio Caldas.
In: BARREIRO, Gabriel Prez; VILLA, Ursula Davila. Waltercio Caldas: o ar mais prximo
e outras matrias. Porto Alegre: Fundao Iber Camargo, 2012, p. 32.
2 CALDAS, Waltercio. Waltercio Caldas: O atelier transparente. Belo Horizonte: C/Arte, 2006, p. 24.
3 CALDAS, Waltercio. In: HONORIO, Thiago. Meio-ato / entrevista com Waltercio Caldas.
ARS, So Paulo, vol. 4, n. 8, 2006, p. 15.
4 DUARTE, Paulo Srgio. Interrogaes Construtivas.
In: BARREIRO, Gabriel Prez; VILA, Ursula Davila, op. cit., p. 143.
Waltercio Caldas
Garrafas com rolha, 1975 Aqurio completamente cheio, 1981
porcelana e rolhas | 25 x 20 x 9 cm vidro e gua | 35 x 30 cm
col. Liba e Ruben Knijnik col. particular
foto: Miguel Rio Branco foto: Miguel Rio Branco

No trabalho de Waltercio Caldas, o emprego de objetos de uso comum, como


Para pensar garrafas, logo subvertido por algum elemento que foge s nossas expectati-
vas. Na obra reproduzida nesta lmina, a rolha entre as duas garrafas funciona
Encontrar um elemento usual em um espao como um dispositivo que desperta a curiosidade sobre sua presena. Sabemos
expositivo pode ser tanto reconfortante, j que que a rolha normalmente usada para lacrar uma garrafa. Sozinha, ela parece
podemos associ-lo ao nosso cotidiano, quanto incompleta por no estar junto daquilo que normalmente a acompanha.
estranho, justamente porque o encontramos A presena das duas garrafas, assim, complementada pela ausncia de uma
afastado de seu ambiente natural. Converse com terceira, insinuada entre elas.
os alunos sobre o tipo de obra que eles esperam
encontrar em uma exposio de arte. Depois, Por meio de operaes simples e precisas como essa, as obras de Waltercio
pea que eles analisem os trabalhos de Waltercio quebram o ritmo da percepo cotidiana, estimulando a dvida e o questiona-
1 VILLA, Ursula Davila. Horizonte no piscar dos cegos: o trabalho de
reproduzidos nas lminas do material didtico. mento. Para Ursula Davila-Villa, as obras do artista atuam no momento em que
Waltercio Caldas. In: BARREIRO, Gabriel Prez; VILLA, Ursula Davila.
Esses trabalhos surpreendem ou correspondem a razo falha e nossa imaginao proporciona as condies para experimentar Waltercio Caldas: o ar mais prximo e outras matrias.
s expectativas da turma? uma realidade mais rica.1 Porto Alegre: Fundao Iber Camargo, 2012, p. 30.
Waltercio Caldas
Manual da cincia popular, 2007
segunda edio
So Paulo: Cosac Naify
foto: Srgio Arajo

Como funciona a mquina fotogrfica?, 1977


fotografia | 95 x 71 x 6,5 cm
col. do artista
foto: Jaime Acioli

Alm de trabalhar com esculturas, objetos, desenhos e instalaes,


Waltercio Caldas utiliza muitas vezes o formato de livro como suporte.
Em algumas dessas obras, o artista problematiza a diferena entre um
objeto (artstico ou no) e sua reproduo. J podemos perceber essa
preocupao na publicao A parte do fogo (1980),1 colaborao entre
Para pensar crticos e artistas que tinha como premissa tomar a folha de papel como
um espao em que trabalhos vo agir. Assim como o desenho de um
Pergunte aos alunos se h algo (obra de cachimbo no um cachimbo, os trabalhos aqui presentes so outro tra-
arte, monumento, prdio ou paisagem, por balho,2 afirmavam seus editores na abertura da revista.
exemplo) que eles tenham conhecido primeiro
por reproduo, antes de ver pessoalmente. No livro Manual da Cincia Popular, Waltercio traz uma srie de reprodu-
Como essa sensao? Quais os principais es fotogrficas de seus prprios trabalhos. Algumas dessas imagens so
aspectos de objetos ou situaes que a acompanhadas de um pequeno texto escrito pelo artista, acrescentando
fotografia no consegue reproduzir? elementos que desafiam a reflexo do leitor. Um objeto antes do nome,
por exemplo, a frase que acompanha a imagem de Aqurio comple-
Converse com a turma sobre o ttulo do livro tamente cheio (1981).3 Dentro do mbito artstico, o livro e a fotografia
de Waltercio. Quais so as caractersticas permitem que a arte circule de forma mais ampla. No entanto, as repro-
normalmente associadas a um manual? E dues no se comparam experincia de observar pessoalmente uma
cincia popular? De que forma podemos obra. Waltercio brinca com essa ambivalncia colocando na capa do livro
relacionar essas duas ideias com a arte? a reproduo exata do prprio livro. Qual seria, ento, a verdadeira capa?

1 Revista de nmero nico coeditada pelo artista juntamente com Cildo Meireles, Jos Resende, Joo Moura
Jnior, Paulo Venancio Filho, Paulo Srgio Duarte, Ronaldo Brito, Rodrigo Naves e Tunga.
2 In: GUADANUCCI, Joo Paulo Leite. Entre texto e obra: Ronaldo Brito e Waltercio Caldas (1973-1983)
Dissertao de mestrado, PPG ECA/USP. So Paulo: Universidade de So Paulo, 2007, p. 37.
3 CALDAS, Waltercio. Manual da Cincia Popular. So Paulo: Cosac Naify, 2007, p. 28.
Waltercio Caldas Desenho, 2011
nanquim, pastel, pedra, colagem
e fio de algodo sobre carto
Meio espelho sustenido, 2007
75 x 86,5 x 8,5 cm
LII Bienal de Veneza
col. do artista
ao inoxidvel, vidro, vinil,
foto: Vicente de Mello
fio de l e pedra
700 x 400 cm rea aproximada
col. do artista
foto: Roberto Cecato

Em Meio espelho sustenido, Waltercio Caldas trabalha com materiais indus-


triais como o vidro, o alumnio e o vinil, combinando-os a fios de l e pedras.
A obra nos convida a perceber as caractersticas e contrastes desses materiais,
como a transparncia, a opacidade, a reflexo, o peso e a leveza, assim como
a relao que o artista estabelece entre essas formas. Os elementos so cuida-
dosamente organizados de maneira a criar um espao silencioso, contrastando
a fragilidade das formas flutuantes com a solidez das pedras. O arranjo parece
produzir uma atmosfera fora do tempo, reforada pelo cuidado de Waltercio
em evitar que qualquer um dos elementos produza sombras no espao de
Para pensar exposio.

Apesar de Waltercio utilizar diferentes materiais Se a relao entre forma e material essencial na potica do artista, a ligao
em Meio espelho sustenido, no h, de fato, entre a obra e o espao onde ela instalada tambm de extrema importn-
um espelho no trabalho. Converse com a turma cia. Se pensarmos em um dos primeiros lugares de arte de todos os tempos, 1 CALDAS, Waltercio. Entrevista concedida a Katie Geha em 2012.
se a ideia de espelho continua, assim mesmo, como as cavernas de Lascaux, podemos facilmente perceber que a imagem, a Disponvel em: http://glasstire.com/2012/05/12/interview-with-
presente na obra. Como ela criada? pintura, a atitude do artista e o lugar so uma nica coisa.1 waltercio-caldas/
Waltercio Caldas
O que mundo. O que no ., 2011 Einstein, 1987
bronze, ao inoxidvel, alumnio resina e madeira
e madeira pintados 10,5 x 63 x 30 cm
dimenses variveis col. particular
col. do artista foto: Jaime Acioli
foto: Photographic Services Art Basel

Diferente da ideia tradicional de escultura, que envolve um objeto tridimensio-


nal completo em si prprio,1 em uma instalao a relao entre os elementos
que compem a obra e o espao onde ela exibida crucial. a maneira
como as peas ou objetos so dispostos em determinada rea que d signifi-
cado para a obra.

Para pensar Em O que mundo. O que no . podemos perceber o uso de materiais recor-
rentes na potica de Waltercio Caldas. O ao inoxidvel, o alumnio e a madeira,
Ao nomear a obra como O que mundo, o elementos industriais, so combinados ao bronze, matria prima prpria do
que no , o artista parece assumir a posio campo da arte. Esses materiais so trabalhados com formas simples como o
de um rbitro: ele indica o que est dentro e o ponto, a linha e o plano, explorando as oposies entre cheio e vazio, brilho e
que esta fora do mundo. Discuta com a turma opacidade. O arranjo que o artista faz aponta para a importncia do posiciona-
sobre o tipo de mundo que mostrado em uma mento das peas no espao, j que as formas em cada parte do trabalho pare-
exposio. De que forma a nossa realidade se cem adquirir significados diferentes conforme o que est ao seu lado.
insere nesse mundo?
Para Waltercio, o confronto com a obra de arte sempre um ato solitrio,
Pea aos alunos que pensem sobre os materiais instante em que, antes que se identifique, nomeie ou classifique o objeto, ele 1 Exemplo disso o fato de que as esculturas normalmente so dispostas

utilizados na obra e as sensaes s quais eles simplesmente aparece. nesse momento fugaz que o trabalho apresenta sua sobre uma base, o pedestal, o qual, assim como a moldura de uma
pintura, serve para delimitar onde termina a realidade e onde comea o
nos remetem. Pergunte em como seria a inveno maior capacidade significativa, pois no momento seguinte, j identificado e espao da arte.
de seu prprio mundo. Que materiais eles nomeado, s nos restar... rev-lo. (...) Este instante sem nome o momento 2 CALDAS, Waltercio. Waltercio Caldas: o atelier transparente.
utilizariam? potico dos objetos.2 Belo Horizonte: C/Arte, 2006, p. 19.
Waltercio Caldas
Desenho, 2011
nanquim e pastel sobre papel
75,2 x 55 cm
col. do artista
foto: Vicente de Mello

Verde por dentro, 2008


ao inoxidvel, granito, madeira
e alumnio pintados
350 x 180 cm rea aproximada
col. particular
foto: Arquivo Waltercio Caldas

O trabalho de Waltercio Caldas se insere na linha de preocupao cons-


trutiva1 que caracterizou a dcada de 1950, perodo marcado pela moder-
nizao e internacionalizao da arte brasileira. Filho de um engenheiro,
o artista reconhece essa influncia ao lembrar de dois momentos impor-
tantes em sua infncia: Um deles est ligado ao impacto que me causou,
aos oito anos de idade, uma rplica em tamanho natural do avio 14-Bis.
A construo de Braslia, que pude acompanhar em minha infncia, tam-
Para pensar bm foi um fato cultural de dimenses plsticas fundamentais em meu
trabalho.2
A partir das obras reproduzidas nas lminas do
material didtico, discuta com a turma sobre Em Verde por dentro, a forma e a cor que Waltercio d a materiais como
o uso da cor no trabalho de Waltercio Caldas. ao inoxidvel, granito, madeira e alumnio, assim como o modo como
Como ela aparece? Converse tambm sobre as ele constri a obra entre o cho e a parede, apontam para essa herana.
situaes em que ela est ausente, chamando No trabalho, destaca-se a oscilao entre o bidimensional e o tridimen-
ateno para as transparncias que marcam a sional, o desenho e o objeto, a concretude dos materiais utilizados e a
obra do artista. explorao dos vazios.

1 Corrente artstica que entende a arte no como representao, mas como construo, aproximando-se da
indstria, da arquitetura e do design. No caso brasileiro, destaca-se a atuao dos grupos Ruptura (atuante
em So Paulo ao longo da dcada de 1950), Frente (articulado no Rio de Janeiro entre 1954 e 1956),
e Neoconcreto (formado no Rio de Janeiro em 1959).
2 CALDAS, Waltercio. In: HONORIO, Thiago. Meio-ato / entrevista com Waltercio Caldas.
ARS, So Paulo, vol.4, n.8, 2006, p. 24.

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