Plágio Acadêmico - Ebook PDF
Plágio Acadêmico - Ebook PDF
Plágio Acadêmico - Ebook PDF
ACADMICO
Marcos Wachowicz
Jos Augusto Fontoura Costa
ISBN 978-85-67141-15-2
PLGIO ACADMICO
As publicaes do GEDAI/UFPR so espaos de criao e compartilhamento
coletivo. Fcil acesso s obras. Possibilidade de publicao de pesquisas
acadmicas. Formao de uma rede de cooperao acadmica na rea de
Propriedade Intelectual.
Conselho Editorial
Allan Rocha de Souza UFRRJ/UFRJ J. P. F. Remdio Marques Univ. Coimbra/Port.
Carla Eugenia Caldas Barros UFS Karin Grau-Kuntz IBPI/Alemanha
Carlos A. P. de Souza CTS/FGV/Rio Leandro J. L. R. de Mendona UFF
Carol Proner UniBrasil Luiz Gonzaga S. Adolfo Unisc/Ulbra
Dario Moura Vicente Univ. Lisboa/Portugal Mrcia Carla Pereira Ribeiro UFPR
Francisco Humberto Cunha Filho Unifor Marcos Wachowicz UFPR
Guilhermo P. Moreno Univ. Valncia/Espanha Srgio Staut Jnior UFPR
Jos Augusto Fontoura Costa USP Valentina Delich Flacso/Argentina
Jos de Oliveira Ascenso Univ. Lisboa/Portugal
PLGIO ACADMICO
Curitiba
2016
Prefcio Plgio Acadmico
Ricardo Marcelo Fonseca1
S
endo eu um historiador do direito por ofcio, o convite
que me foi feito por Marcos Wachowicz e Jos Augusto
Fontoura Costa para prefaciar essa obra sobre Plgio
Acadmico s poderia ser interpretada como demonstrao ine-
quvoca da generosidade desses grandes professores, respectiva-
mente da UFPR e da USP, que h tempos me honram com suas in-
terlocues acadmicas e tambm com suas amizades.
Mas aproveito o ensejo que eles me oferecem para no s subs-
crever a admirao que tenho por ambos, mas para introduzir o tema
deste livro que , afinal de contas, assunto de todo acadmico j que
quem est inserido nas teias da produo cientfica, da avaliao da
ps-graduao e do dia a dia das universidades deve saber os limites
e significados desse tema complexo e fascinante objeto deste livro.
Mas tambm aproveito o fato de que esse seja um tema tambm, afi-
nal, de algum que pensa o direito de modo mais abstrato quero
dizer, em termos histricos e filosficos.
Se nada escapa da histria, teremos que convir que aquilo
que entendemos como autoria de uma obra seja um livro, uma
ideia, uma msica ou qualquer outra obra de arte alguma coisa
que sofre influxos diferentes no tempo. O assim chamado direito
autoral no (como nenhum instituto jurdico o ) algo atempo-
ral, que sobrepaire os diversos tempos e as diferentes culturas; ,
ao contrrio, algo que assume significados precisos em cada poca
em funo de circunstncias que so, elas mesmas, pesadamente
histricas. Direito autoral no algo inerente ao ser humano ou
algo que esteja intrinsecamente ligado sua imutvel esfera subje-
1
Professor da UFPR, historiador do direito, pesquisador do CNPq. Reitor eleito
da UFPR.
8 Ricardo Marcelo Fonseca Prefcio
2
Exceo notvel o conjunto de afrescos sobre o Bom governo (a Alegoria e os
seus Efeitos), feitos na Sala dei Novi do Palazzo Pubblico de Siena, por Ambrogio
Lorenzetti, na primeira metade do sculo XIV.
Plgio Acadmico 9
3
O famoso Accursio, il fiorentino, que tantos contemporaneamente tentam cor-
relacionar com a criao da Magna Glosa, apenas, como se sabe, o grande
sistematizador do trabalho dos juristas que o precederam por sculos.
4
Esse texto disponvel no Brasil em FOUCAULT, Michel. Ditos e escritos III: esttica:
literatura e pintura, msica e cinema. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 2001.
p. 264-298.
5
FOUCAULT, Michel. Ditos e escritos III: esttica: literatura e pintura, msica e cine-
ma. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 2001. p. 273-274.
10 Ricardo Marcelo Fonseca Prefcio
6
FOUCAULT, Michel. Ditos e escritos III: esttica: literatura e pintura, msica e cine-
ma. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 2001.p. 275.
7
GROSSI, Paolo. Linaugurazione della propriet moderna. Napoli: Guida Editori,
1980. p. 23.
Plgio Acadmico 11
amoldam aos novos tempos (ao mesmo tempo que moldam os no-
vos tempos), dando-lhes novos contornos e dando-lhes vida longa.
Sem dvida, vivemos ainda na poca do sujeito, na poca do sujeito
proprietrio, na era dos direitos (parafraseando Norberto Bobbio)
e tambm, por extenso, na era dos direitos intelectuais, dos direi-
tos de autor e na poca da sua violao ou seja, por conta de tudo
isso que vivemos tambm na era do plgio e da disciplina jurdica
que o envolve.
Nenhum quadro se sustenta sem uma moldura, assim como
nenhum instituto jurdico se sustenta sem seu enquadramento
temporal. E uma vez colocado o enquadramento do plgio no seu
ambiente histrico, e na sua importncia no cenrio dos numerosos
conflitos que o envolvem hoje em dia, que, finalmente, se oferece
ao leitor essa coletnea de textos sobre o plgio acadmico, fei-
tos por autores com competncia acadmica reconhecida no meio
acadmico brasileiro e com a conscincia cultural e dogmtica ne-
cessria para entrar nesse universo rico, fascinante e culturalmente
complexo. Que o leitor faa o proveito devido destas pginas!
SUMRIO
JURISPRUDNCIA
1 JURISPRUDNCIA: PLGIO E TICA PROFISSIONAL MAGISTRIO.........................161
2 JURISPRUDNCIA: PLGIO E CONFLITO DE COMPETNCIAS................................162
3 JURISPRUDNCIA: PLGIO E A UTILIZAO DE PROJETOS ACADMICOS............163
4 JURISPRUDNCIA: PLGIO E A UTILIZAO DE PEQUENOS TRECHOS.................166
5 JURISPRUDNCIA: PLGIO E A REUTILIZAO QUESTES DE OUTROS
CONCURSOS PBLICOS........................................................................................171
6 JURISPRUDNCIA: PLGIO E O TRABALHO COLETIVO DE INVESTIGAO
CIENTFICA...........................................................................................................174
7 JURISPRUDNCIA: PLGIO E MONOGRAFIA REGULARIZADA APS
OBSERVAO DA BANCA EXAMINADORA............................................................178
8 JURISPRUDNCIA: PLGIO E TRABALHO ESCOLAR REPROVAO........................180
9 JURISPRUDNCIA: PLGIO E INDENIZAO POR DANO MORAL..........................182
10 JURISPRUDNCIA: PLGIO E CONSENTIDO .........................................................186
11 JURISPRUDNCIA: PLGIO E REPROVAO ACADMICA ....................................189
12 JURISPRUDNCIA: PLGIO E MERCADO EDITORIAL PUBLICAO DE
DISSERTAO.......................................................................................................193
13 JURISPRUDNCIA: PLGIO E TRABALHO DE CONCLUSO DE CURSO..................200
14 JURISPRUDNCIA: PLGIO E PRODUO DE APOSTILAS.....................................209
15 JURISPRUDNCIA: PLGIO E COMPETNCIA DA JUSTIA FEDERAL.....................212
16 JURISPRUDNCIA: DEMISSO VIOLAO DE DIREITOS AUTORAIS......................214
SOBRE OS AUTORES....................................................................................................221
Captulo 1
DIREITO AUTORAL1
1
Publicado originalmente em WACHOWICZ, M. Direito Autoral. Revista Jurdica Em-
presarial, v. V, p. 89-104, 2008, agora revisado e ampliado.
2
Com Gutemberg, que inventou a impresso grfica com os tipos mveis (sculo
XV), fixou- se definitivamente a forma escrita, e as idias e suas diversas expres-
ses puderam finalmente, e aceleradamente, atingir divulgao em escala indus-
trial. A, sim, surge realmente o problema da proteo jurdica do direito autoral,
principalmente no que se refere remunerao dos autores e de seu direito de
reproduzir e de qualquer forma utilizar suas obras. (GANDELMAN, 1997, p. 28)
16 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa
3
Constituio Federal, artigo 5, inciso XXVIII so assegurados, nos termos da lei: a)
a proteo s participaes individuais em obras coletivas e reproduo da ima-
gem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas; b) o direito de fiscalizao
do aproveitamento econmico das obras que criarem ou de que participarem aos
criadores, aos intrpretes e s respectivas representaes sindicais e associativas.
20 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa
Mundial do Comrcio (OMC), foi editada a Lei 9.609. Esta lei, pu-
blicada no Dirio Oficial da Unio de 20/02/1998, dispe sobre a
proteo da propriedade intelectual do programa de computador
e sua comercializao no Brasil. Na mesma data, foi editada a Lei
9.610, denominada Nova Lei de Direitos Autorais e Conexos, que
entrou em vigor 120 dias aps sua publicao, ou seja, em 21 de
julho de 1998.
Atualmente a legislao brasileira necessita enfrentar as
questes emergenciais relativas s novas tecnologias da informa-
o, mais especificamente quanto incluso tecnolgica e o direito
cultura. Como por exemplo: (i) a reproduo e digitalizao de
acervos bibliogrficos das bibliotecas, e (ii), a sua disponibilizao
e o acesso pela internet sociedade brasileira.
Pela atual legislao brasileira (Lei 9.610/98) vedada a re-
produo ou digitalizao de acervos bibliogrficos existentes nas
inmeras bibliotecas pblicas e privadas. No Brasil tal ato consi-
derado uma contrafao, porm legalmente permitido e realizado
largamente em outros pases. Isso porque a nossa Lei Autoral uma
das mais rgidas e restritivas do mundo.
A Lei Autoral brasileira de 1998 e surgiu dentro de um mo-
vimento maximalista de proteo ao bem intelectual. Numa linha
de pensamento jurdico pautada pelo acordo TRIPS da OMC de
1994, que propugnava que com a mxima proteo do bem inte-
lectual ter-se-ia o mximo desenvolvimento e a mxima criao.
Ocorre que, passados mais de 16 anos, no se alcanaram as expec-
tativas iniciais.
Ademais, no incio da dcada de 90 no se vivenciava as novas
tecnologias da informao e da comunicao, nem se vislumbrava
como seria o uso destas tecnologias pelas pessoas, nomeadamente
o uso da internet, que mudou a forma de criao e criou novos mo-
delos de difuso dos bens intelectual.
O Brasil, na ltima dcada, vivencia um amplo processo de
reviso da lei autoral, que foi aberto sociedade em 2010, com a
Plgio Acadmico 21
4
Neste sentido ver: WACHOWICZ, Marcos. Por que mudar a Lei de Direito Autoral?
Estudos e Pareceres. Florianpolis: Editora Funjab, 2011.
22 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa
Obras musicais
Escola de Msica
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Site: www.musica.ufrj.br
Programas de computador
Instituto Nacional de Propriedade
Industrial INPI Rio de Janeiro
Site: www.inipi.gov.br
Obras literrias
Escritrio de Direitos Autorais EDA
Fundao Biblioteca Nacional
Site: www.bn.br
Ressalte-se que o registro facultativo. Para que determina-
da obra receba proteo do direito autoral, necessrio apenas a
sua publicao ou divulgao. Exemplificando:
6 DIREITOS DO AUTOR
5
Neste sentido ver: HAMMES, Bruno Jorge. O direito de propriedade intelectual.
So Leopoldo: Editora Unisinos, 3. ed. 2002. p. 69-80; ASCENSO, Jos de Oliveira.
Direito Autoral. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1997, p. 129-156; BITTAR, Carlos
26 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa
Alberto; BITTAR FILHO, Carlos Alberto. Tutela dos direitos da personalidade e dos
direitos autorais nas atividades empresariais. 2. ed. So Paulo: Revista dos Tribunais,
2002. p. 18; ABRO, Eliane Y Abrao. Direito de autor e direitos conexos. So Paulo:
Editora do Brasil, 2002, p. 74-79; CERQUEIRA, Joo da Gama. Tratado da propriedade
industrial. Rio de Janeiro: Forense, 1946, v. I, tomo, p. 69-70; ROCHA, Daniel. Direito
de Autor. So Paulo: Irmos Vitale, 2001. p. 21-22; CHAVES, Antnio. Direitos auto-
rais na computao de dados. So Paulo: LTr, 1996. p. 147-148; SANCHES, Hrcoles
Tecino. Legislao Autoral. So Paulo: LTr, 1999. p. 99-101; CABRAL, Plnio. A nova
lei de direitos autorais. Porto Alegre: Sagra, 1998. p. 74-80; GANDELMAN, Henrique.
De Gutemberg Internet. 4. ed. So Paulo: Record, 2001. p. 37-38; BITTAR, Carlos
Alberto. Direito de autor. 4. ed. So Paulo: Forense Universitria, 2002. p. 2; COSTA
NETTO, Jos Carlos. Direito autoral no Brasil. So Paulo: FDT, 1998. p. 72-76;
BARBOSA, Denis Borges. Propriedade intelectual. Direitos Autorais, Direitos Conexos
e Software. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003. p. 5-6; SILVEIRA, Newton. A proprie-
dade intelectual e as novas leis autorais. 2. ed. So Paulo: Saraiva, 1998. p. 66-67;
ZUCCHERINO, Daniel R. El derecho de propiedad del inventor. Buenos Aires: AdHoc,
1995. p. 174; LIPSZYC, Delia. Derecho de autor y derechos conexos. Buenos Aires:
Zavala Editor, 1993. p. 283-284.
Plgio Acadmico 27
a) A obra individual
6
No direito brasileiro, o autor definido pela Lei 9.610/98. Art. 11. Autor a pessoa
fsica criadora de obra literria, artstica ou cientfica. Pargrafo nico. A proteo
concedida ao autor poder aplicar-se s pessoas jurdicas nos casos previstos em lei.
7
Autor palavra ambgua. Mesmo juridicamente, ela pode designar: a) criador
intelectual; b) o titular originrio, c) o titular atual. Esta terceira hiptese resulta
da possibilidade de o direito de autor passar do titular originrio a outras pessoas.
(ASCENSO, 1997. p. 69)
Plgio Acadmico 29
b) A obra em coautoria
c) A obra coletiva
8
Entende-se por direitos conexos certos direitos e proteo extensiva a todos os
atores, cantores, msicos, bailarinos ou outras pessoas que representem um pa-
pel, cantem recitem ou declamem, interpretem ou executem em qualquer forma
obras literrias ou artsticas ou expresses do folclore.
30 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa
d) A obra colaborativa
9
No contexto da Nupedia e da Wikipdia, contedo livre e contedo aberto
tm o mesmo significado e referem-se licena em que so disponibilizados os
textos, a Creative Commons Atribuio-Compartilhamento pela mesma Licena
3.0 Unported (CC-BY-SA) e, no caso do contedo mais antigo[5], a GNU Free
Documentation License (traduzida por licena de documentao livre GNU, por
vezes abreviada por GFDL ou GNU FDL). Excetuando os direitos concedidos
pelas licenas CC-BY-SA e GNU FDL, direitos de autor e direitos morais continuam
na posse dos autores dos contedos disponibilizados na Wikipdia. Essa uma
das razes pela qual a Wikimedia Foundation no pode processar legalmente
quem copiar contedos da Wikipdia e no respeitar a licena aplicvel (CC-BY-SA
ou GNU FDL); apenas os autores dos contedos o podero fazer. Mas de acordo
com essas licenas, os contedos so disponibilizados sem as tpicas restries
de distribuio de contedos totalmente protegidos por direitos de autor, desde
de que sejam respeitados os termos da licena como: manter a mesma licena,
permitir que outros possam copiar e alterar o contedo, referir a origem ou pelo
menos os autores principais dos textos, entre outras exigncias. Por isso livre,
neste contexto, tambm significa que qualquer um livre de utilizar o contedo,
incluindo por exemplo a comercializao do mesmo sem ter que pedir autorizao
aos autores. Texto extrado a Wikipdia. Acessso em 20/09/2016. Link: https://
pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:A_enciclop%C3%A9dia_livre
32 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa
10
Ver: WACHOWICZ, Marcos. Propriedade Intelectual & Internet. Curitiba: Juru,
2002. p. 91.
11
Neste sentido: A propriedade Industrial refere-se a diferentes bens, como marcas
e os inventos. Neste ltimo caso mximo o seu parentesco com o direito de autor,
pois tambm o autor da inveno tambm protegido. De fato, h uma analogia no
tipo de direito aqui e alm considerados. Em todo o caso, a obra literria ou artstica
Plgio Acadmico 33
cao penal dada nos artigos 184 e seguintes do Cdigo Penal Brasileiro.
Plgio Acadmico 37
REFERNCIAS
BITTAR, Carlos Alberto; BITTAR FILHO, Carlos Alberto. Tutela dos direitos da
personalidade e dos direitos autorais nas atividades empresariais. 2. ed. So
Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.
CABRAL, Plnio. A nova lei de direitos autorais. Porto Alegre: Sagra, 1998.
38 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa
COSTA NETTO, Jos Carlos. Direito autoral no Brasil. So Paulo: FDT, 1998.
O PLGIO NA ACADEMIA
E SEU SENTIDO JURDICO1
1 INTRODUO
1
Publicado originalmente em In: VICENTE, Drio Moura (Org.). Revista de Direito
Intelectual. Coimbra: Almedina, 2014. v. 2, p. 7-30.
40 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa
2
Veja-se STRICKLAND (2012) para uma interessante discusso do plgio por advoga-
dos.
Plgio Acadmico 41
2 O PLGIO E A ACADEMIA
4
Press release e acesso s tabelas em <http://portal.inep.gov.br/visualizar/-/as
set_publisher/6AhJ/content/matriculas-no-ensino-superior-crescem-3-8?re
direct=http%3a%2f%2fportal.inep.gov.br%2f>, consultado em 26 de setembro
de 2014.
5
Interessante estudo da FGV Projetos e do Conselho Federal da OAB pode ser en-
contrado em <https://s3-sa-east-1.amazonaws.com/provadaordemfs/files/oab_
examedeordem_numeros.pdf>. Acesso em: 26 set. 2014.
54 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa
6
Este mesmo autor, recentemente, publicou texto de parecer em revista cientfica,
mas mantendo a referncia origem do texto e sua forma integral (COSTA, 2014).
56 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa
4 O DIREITO E O PLGIO
4.1 Interessados
5 CONCLUSO
REFERNCIAS
ARIELY, Dan. Predictably irrational: the hidden forces that shape our deci-
sions. 2. ed. New York: Harper Collins, 2010.
FARNSWORTH, Ward. The legal analyst: a toolkit for thinking about the
law. Chicago: University of Chicago Press, 2007.
1 BREVES CONSIDERAES
1
Publicado originalmente em SIMO, J. F.; BELTRO, S. R. (Orgs.). Direito Civil: es-
tudos em homenagem a Jos de Oliveira Ascenso. So Paulo: Atlas, 2015. v. 1,
p. 340-364.
72 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa
Entre muitas outras coisas, aprendi com ele o que sei das
questes autorais e de direitos intelectuais2. Pouco, decerto, por
minha culpa. Ouso, portanto, elaborar em sua homenagem este bre-
ve captulo para tratar um tema que se comunica com esses campos
do Direito, sem, no entanto, se limitar a este: o plgio.
Na literatura jurdica pouco se fala de plgio. A literatura jur-
dica e os tribunais raramente se referem a ele e livros inteiros sobre
direitos autorais so escritos sem sequer se mencionar a palavra.
Porm, mostra-se um incmodo cada vez mais presente na ativida-
de acadmica, cuja importncia para a arte e a tcnica bastante
varivel conforme os contextos de produo e uso, bem como ao
longo da histria.
Essa breve reflexo, que parte do alerta brechtiano para o
perigo do oculto, busca colocar o fenmeno sob outra perspecti-
va. Portanto, aspira-se a ampliar os horizontes do estudo jurdico
a partir da conscincia da inidoneidade de utilizar exclusivamente
proteo autoral para lidar com o problema do plgio, que, como a
faca de Macheath, busca a ocultao, no a exposio no rosto, com
a lmina premida entre os dentes. Isso parece ser coisa de piratas
do Caribe...
Seja por omisso intencional ou mero esquecimento, a repro-
duo, literal ou escamoteada, das obras cujo carter de j publica-
das ou cuja autoria alheia no se revela provavelmente bem mais
frequente do que se possa imaginar. Isso se d at mesmo porque
a cpia, muitas vezes, passa despercebida para o prprio autor
original e, dada a dificuldade de verificao imediata, para os pr-
prios destinatrios da obra. A insdia do plagiador intencional ou
o descuido, por muitas vezes injustificvel, do desavisado se asse-
melham a um fenmeno que, habituado s sombras, raramente se
revela com clareza ou pode ser desvelado com facilidade.
Isso, possivelmente, se deve a algumas constataes bastan-
te simples e bvias: o plgio normalmente fere mais o auditrio do
2
Agradeo, no ensejo, ao Prof. Marcos Wachowicz, grande amigo e professor, por
me introduzir ao convivo do Prof. Ascenso.
Plgio Acadmico 73
2 AS BEIRADAS DO PLGIO
3
Exceto se indicado diferentemente, as tradues so do autor. Optou-se por no
traduzir o termo copyright por este no ser coextensivo a direito de autor ou
direitos autorais, especialmente em virtude de no cobrir os chamados direitos
morais e, portanto, se extinguirem com a entrada em domnio pblico da obra.
76 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa
4
Alegando alicerce no senso comum, define: No h quem no saiba o que seja
plgio: apresentao como prpria, de obra ou trecho de obra alheia, imitao
80 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa
ce, aqui, como elemento acidental. Decerto, como boa parte da dou-
trina parte da perspectiva dos direitos autorais para abordar o fe-
nmeno plagirio, a problemtica do autoplgio tende a ser pouco
tratada ou considerada como excepcional (por exemplo, POSNER,
2009, p. 75 e 108), dando-se centralidade ao carter usurpatrio.
natural que, partindo de direitos do autor, a noo de plgio tenda a
se pautar como desrespeito aos interesses de autores e detentores
de direito reproduo. Isso no significa, porm, que a prpria
doutrina elimine a possibilidade de abordar o plgio destacado do
dessa perspectiva autoralista. Desde o ponto de vista dos audit-
rios, a questo se mostra mais complexa e a temtica dos limites do
plgio se concentra em torno da individualidade da obra original e
sua ocultao.
De maneira similar, importa desvencilhar a noo de plgio
daquela de omisso da fonte ou da autoria, a qual negaria o carter
comissivo da atividade do plagiador. De fato, no omitir a fonte
ou autoria que caracteriza o plgio, mas disponibilizar ou divulgar
obra sem individualidade integral ou parcial. A explcita meno da
origem ou autoria pode descaracterizar o ato, sempre que se cons-
tituam em elementos suficientes para a identificao da individua-
lidade da obra anterior. Ressalte-se, neste sentido, que o contexto
de disponibilizao ou divulgao importantssimo para sua ca-
racterizao.
Em contextos normais de apreciao artstica, por exemplo,
problemas de novidade e autoria podem, ocasionalmente, afetar
pouco o benefcio do auditrio. Pode-se obter deleite de uma so-
nata de Beethoven, mesmo que o programa do teatro omita seu
nome ou, mesmo, atribua falsa e descaradamente sua titularidade
ao maestro Fulano de Tal. Alguns, no entanto, poderiam confundir
5
Optou-se por novidade e no ineditismo, aparentemente melhor, em razo
de o segundo termo se referir ao que foi editado no sentido de publicado. O
problema, como se ver, nem sempre se refere publicao, como no caso de um
trabalho tcnico sigiloso e, pretensamente, exclusivo.
84 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa
6
Em particular, p. 1.092: Uma posio protegida por uma regra de propriedade
na medida em que algum que deseje tom-la de seu detentor deve compr-la em
uma transao voluntria na qual o proprietrio concorda com o valor da posio.
[...] Sempre que algum possa destruir a posio inicial, se estiver disposto a pagar
um valor objetivamente determinado em razo disso, uma posio e protegida por
regras de responsabilidade. [...] bvio que as regras de responsabilidade envolvem
um estgio adicional de interveno: no so s as posies que so protegidas, mas
sua transferncia ou destruio possvel com base em um valor determinado por
algum rgo do estado, mais do que pelas prprias partes.
Plgio Acadmico 87
7
Richard Posner (2009, p. 20) expressa entendimento diverso, pois [o] leitor deve
importar-se em ser enganado a respeito da identidade autoral de modo ao engano
suplantar a barreira da fraude e se configurar como plgio. [...] H inumerveis en-
ganos intelectuais que provocam pouco ou nenhum prejuzo, pois despertam pou-
ca ou nenhuma confiana. Eles no levantam nem a mais tpida indignao moral
e, portanto, escapam da definio de plgio.. Em meu entendimento, a fraude
decorrente da assinatura por um artista de obra alheia (pictrica, musical, literria
ou de qualquer natureza), fundada em consenso mtuo, no se equipara ao plgio
propriamente dito; pelo menos em portugus, no se diz que o falso autor plagiou
o autor encoberto (ghostwriter).
94 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa
8
Dirio Oficial do Estado de So Paulo, Caderno Executivo II, p. 53, de 19 de
fevereiro de 2011.
96 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa
9
Embora no se discuta tal relao no mbito deste captulo, importante observar
que parece haver uma relao forte entre o rigor da pena e a frequncia de sua
aplicao. Sem um estudo emprico, porm, difcil explicar porque o plgio
punido muito menos vezes do que ocorre.
98 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa
4 PROPRIEDADE E RESPONSABILIDADE
10
Quando se emprega um bem em processo produtivo, sua utilidade a de possibili-
tar a oferta de um outro bem, satisfazendo apenas mediatamente uma necessida-
de final. Como parte deste processo, em economias onde os ativos empregados na
produo so precificveis, esses bens entram quantitativamente no clculo dos
custos e, portanto, so adquiridos conforme uma racionalidade bastante diversa
da dos bens voltados, simplesmente, a gerar satisfao para o consumidor.
Plgio Acadmico 103
5 CONCLUSO
REFERNCIAS
LAFRANCE, Mary. Copyright law in a nutshell. 2. ed. St. Paul: West, 2011.
POSNER, Richard. The little book of plagiarism. New York: Pantheon Books,
2009.
1
Publicado originalmente em WACHOWICZ, M. Noes Fundamentais sobre o pl-
gio acadmico. In: VICENTE, Drio Moura; VIERA, Jos Alberto Coelho; PEREIRA,
Alexandre Dias; CASIMIRO, Sofia de Vasconcelos; SILVA, Ana Maria Pereira da
(Orgs.). Estudos de Direito Intelectual em Homenagem ao Prof. Doutor Jos Oliveira
Ascenso: 50 anos de vida universitria. Lisboa: Almedina, 2015. v. 1, p. 419-449,
agora revisado e ampliado.
2
A origem etimolgica da palavra plgio precede inclusive a do direito de autor. As
suas bases histricas do plgio remontam Antiguidade e ao Direito Romano, no
110 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa
qual a palavra latina plagium (do grego plgios) significava a venda fraudulenta
de escravos ou o roubo de uma pessoa que pudesse ser considerada proprieda-
de material de outra (por exemplo crianas e escravos). Neste sentido ver: LEITE,
Eduardo Lycurgo. PLGIO e outros estudos em direito de Autor. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2009.
3
La ministra alemana de Educacin dimite por el presunto plagio de una tesis
Annette Schavan sostiene que el cargo no puede sufrir daos para razonar su
salida despus de ver anulado su ttulo de doctora por copia sistemtica y pre-
Plgio Acadmico 111
principal autor da pesquisa, que copiou imagens de trabalhos de 2003 e 2006, sem
credit-las aos autores, da UFRJ (Federal do Rio). Disponvel em: <http://www.usp.
br/imprensa/?p=7567>. Acesso em: 20 jan. 2015.
7
Com GUTEMBERG, que inventou a impresso grfica com os tipos mveis (sculo
XV), fixou-se definitivamente a forma escrita, e as idias e suas diversas expresses
puderam finalmente, e aceleradamente, atingir divulgao em escala industrial.
A, sim, surge realmente o problema da proteo jurdica do direito autoral, prin-
cipalmente no que se refere remunerao dos autores e de seu direito de repro-
duzir e de qualquer forma utilizar suas obras. (GANDELMAN, 1997, p. 28)
8
O livro impresso no tem sua origem ou uso ligado aos mosteiros medievais, mas
sim s Universidades para difuso dos conhecimentos ali produzidos. O livro era o
resultado do ensino das ctedras universitrias. A confeco da obra somente se
daria aps fossem vaticinadas suas teorias e mediante autorizao expressa, tudo
para que as editoras pudessem public-lo. importante evidenciar que o surgi-
mento do livro impresso no implicou no imediato desaparecimento do pergami-
nho. O modo de produo e controle dos monastrios perduraria durante mais
de 300 anos aps a inveno de Johannes Gutenberg, coexistindo com o livro em
papel impresso que representava uma nova forma de fluir das ideias, de circula-
o da informao nele contida, que almejava a universalidade do conhecimento.
(WACHOWICZ, 2011, v. 1, p. 226-253)
Plgio Acadmico 113
9
Na Inglaterra, comea-se a reconhecer formalmente o copyrigth e da tambm
da palavra royalty: o rei, isto , a Coroa, concedia uma regalia (protegendo por
21 anos, e aps registro formal) para as cpias impressas de determinada obra.
O prazo de proteo era contado da data de impresso, e as obras no impressas
somente eram protegidas por 14 anos. Estamos nos referindo ao Copyright Act,
de 1709, da Rainha Ana. Antes, contudo, o Licensing Act, de 1662, j proibia a im-
presso de qualquer livro que no estivesse licenciado ou registrado devidamente.
Desta maneira, exercia-se sutilmente, tambm uma forma de censura prvia, pois
s eram licenciados aqueles livros que no ofendessem os interesses (polticos,
principalmente) dos licenciadores. (GANDELMAN, 2001, p. 31)
114 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa
10
Utiliza-se a expresso Propriedade Intelectual para designar as obras fruto do inte-
lecto humano, cujo bem intelectual possui tutela e proteo pelo Direito Autoral ou
pelo Direito Industrial. Isto porque, tanto a Conveno de Berna para a Proteo das
Obras Literrias e Artsticas, de 9 de setembro de 1886, como a Conveno de Paris
para a Proteo da Propriedade Industrial, para a Proteo das Patentes de Inveno,
Marcas, Modelos de Utilidade, de maro de 1883, cederam tendncia unificadora
com a entrada em vigncia, em 26 de abril de 1970, da Conveno de Estocolmo,
que constituiu a Organizao Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI).
11
A tutela propriedade intelectual se opera no mbito do Direito Interno e do
Direito Internacional, visando proteo do criador. Num primeiro momento, o
autor estaria protegido de acordo com as leis de seu Estado, no Brasil o Direito
Autoral regulado pela Lei 9.610 de 1998. Num segundo, pelas normativas inter-
nacionais ou comunitrias que regulavam a propriedade intelectual.
Plgio Acadmico 115
12
Declarao Universal dos Direitos Humanos - Artigo 18 - Toda a pessoa tem direi-
to liberdade de pensamento, de conscincia e de religio; este direito implica a
liberdade de mudar de religio ou de convico, assim como a liberdade de mani-
festar a religio ou convico, sozinho ou em comum, tanto em pblico como em
privado, pelo ensino, pela prtica, pelo culto e pelos ritos.
13
Declarao Universal dos Direitos Humanos - Artigo 19 - Todo o indivduo tem
direito liberdade de opinio e de expresso, o que implica o direito de no ser in-
quietado pelas suas opinies e o de procurar, receber e difundir, sem considerao
de fronteiras, informaes e ideias por qualquer meio de expresso.
14
Conveno da UNESCO 2005 - Prembulo - [...] Ciente de que a diversidade cultural
se fortalece mediante a livre circulao de ideias e se nutre das trocas constantes e
da interao entre culturas, Reafirmando que a liberdade de pensamento, expresso
e informao, bem como a diversidade da mdia, possibilitam o florescimento das
expresses culturais nas sociedades, [...] Sublinhando o papel essencial da interao
e da criatividade culturais, que nutrem e renovam as expresses culturais, e forta-
lecem o papel desempenhado por aqueles que participam no desenvolvimento da
cultura para o progresso da sociedade como um todo, Reconhecendo a importncia
116 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa
dos direitos da propriedade intelectual para a manuteno das pessoas que parti-
cipam da criatividade cultural. Ver ntegra disponvel em: <http://unesdoc.unesco.
org/images/0015/001502/150224por.pdf>. Acesso em 20 jan. 2015.
15
Constituio Federal de 1988, art. 5 - XXVII - aos autores pertence o direito ex-
clusivo de utilizao, publicao ou reproduo de suas obras, transmissvel aos
herdeiros pelo tempo que a lei fixar;
16
Constituio Federal de 1988, - Art. 215. O Estado garantir a todos o pleno exer-
ccio dos direitos culturais e acesso s fontes da cultura nacional, e apoiar e in-
centivar a valorizao e a difuso das manifestaes culturais. 1 O Estado
proteger as manifestaes das culturas populares, indgenas e afro-brasileiras,
e das de outros grupos participantes do processo civilizatrio nacional. 2 A lei
dispor sobre a fixao de datas comemorativas de alta significao para os dife-
rentes segmentos tnicos nacionais. 3 A lei estabelecer o Plano Nacional de
Cultura, de durao plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do Pas e
integrao das aes do poder pblico que conduzem : I - defesa e valorizao do
patrimnio cultural brasileiro; II - produo, promoo e difuso de bens culturais;
III - formao de pessoal qualificado para a gesto da cultura em suas mltiplas
dimenses; IV - democratizao do acesso aos bens de cultura; V- valorizao da
diversidade tnica e regional.
Plgio Acadmico 117
17
Contrafao violao dolosa ou fraudulenta de propriedade intelectual. Tipi-
ficao penal dada nos artigos 184 e seguintes do Cdigo Penal brasileiro.
18
Lei de Direito Autoral n. 9.610, de 1998: Art. 108. Quem, na utilizao, por qual-
quer modalidade, de obra intelectual, deixar de indicar ou de anunciar, como tal,
o nome, pseudnimo ou sinal convencional do autor e do intrprete, alm de res-
ponder por danos morais, est obrigado a divulgar-lhes a identidade da seguinte
forma: I - tratando-se de empresa de radiodifuso, no mesmo horrio em que tiver
ocorrido a infrao, por trs dias consecutivos; II - tratando-se de publicao gr-
118 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa
22
A UNESCO declara que folclore sinnimo de cultura popular e representa a iden-
tidade social de uma comunidade atravs de suas criaes culturais, coletivas ou
individuais, e tambm uma parte essencial da cultura de cada nao.
23
O boitat uma lenda indgena que descreve uma cobra de fogo de olhos enormes
ou flamejantes. Foram encontrados relatos do Boitat em cartas do padre jesuta
Jos de Anchieta, em 1560. Para os ndios ele Mba-Tata, ou Coisa de Fogo, e
mora no fundo dos rios.
24
A lenda do boto que se transforma em um homem que seduz uma mulher a beira
do rio uma lenda da Regio Norte do Brasil, geralmente contada para justificar
uma gravidez fora do casamento.
120 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa
25
O Estado da Tcnica a informao tcnica ou o conhecimento acessvel ao p-
blico at a data do (novo) pedido de depsito da patente, no Brasil ou no Exterior.
um conceito de fundamental importncia para a propriedade industrial, espe-
cialmente para a concesso de patentes de inveno e modelos de utilidade (ver
art. 11 e da Lei n 9.279/96). A divulgao de informaes tcnicas, para efeitos
da caracterizao do Estado da Tcnica, compreende, indistintamente, todo o tipo
de publicidade, atravs da disseminao oral ou escrita, para uma utilizao defi-
nida, ou por qualquer outro meio, incluindo o uso. Portanto, a novidade exigvel
para a proteo da propriedade industrial, mais especificamente para a legislao
de patentes, deve ser absoluta ou mundial. O Estado da Tcnica dever ser leva-
do em considerao no momento da avaliao tcnica, que decidir, na esfera
administrativa competente, se existe atividade inventiva no pedido de privilgio.
Este conceito de Estado da Tcnica dominante absoluta das legislaes sobre
propriedade industrial e constitui o parmetro legal caracterizador da novidade,
um requisito mnimo, para que uma inveno seja suscetvel de receber a proteo
de direito de patente associada questo da atividade inventiva e da aplicao
industrial. (BASTOS, 1997, p. 99)
Plgio Acadmico 121
27
Neste sentido: A propriedade Industrial refere-se a diferentes bens, como marcas
e os inventos. Neste ltimo caso mximo o seu parentesco com o direito de autor,
pois tambm o autor da inveno tambm protegido. De fato, h uma analogia no
tipo de direito aqui e alm considerados. Em todo o caso, a obra literria ou artstica
uma criao, a inveno uma descoberta. Isto tem importncia na caracterizao
dos direitos que a uma e outra se referem. Noutros casos pode haver dvidas sobre a
atribuio de certa matria ao Direito de Autor Propriedade Industrial. O exemplo
mais ntido o da obra de arte aplicada. (ASCENSO, 1997, p. 21).
28
Neste sentido ver se posicionam as seguintes instituies universitrias: Universidade
de Alicante Espanha (http://biblioteca.ua.es/es/propiedad-intelectual/aprende
-sobre-el-plagio-y-como-evitarlo.html#2), Universidade de Sevilha Espanha (http://
bib.us.es/ximdex/guias/plagio/La%20Biblioteca%20de%20la%20Universidad%20
de%20Sevilla_05.htm), Universidade Rei Juan Carlos Espanha (http://www.cor
ruptio.com/web/main/main.htm) FECAP - Fundao Escola de Comrcio Alvares
Pentiado Brasil <https://fecap.br/Portal09/arquivos/ponderacoes_plagio.pdf>;
Universidade Nova de Lisboa Portugal <http://www.biblioteca.fct.unl.pt/sites/
www.biblioteca.fct.unl.pt/files/documents/pdf/evitar_plagio.pdf>.
29
Os autores enfatizam, por meio de dados de pesquisa, que nas instituies de
ensino que adotam Cdigos de Honra os nveis de desonestidade acadmica so
significativamente mais baixos e isso no se deve ao medo de ser punido, mas a
Plgio Acadmico 123
uma cultura que faz com que a maioria das formas de fraude grave seja social-
mente inaceitvel entre a maioria dos alunos [...] Como exemplo, temos a im-
plantao de Centros de Integridade Acadmica, que visam ao desenvolvimento e
cultivo da tica no meio acadmico, proposta, esta, do Rutland Institute for Ethics
da Universidade de Clemson, que mantm uma home page com informaes e
subsdios para as instituies interessadas em desenvolver tais centros. Dezenas
de instituies de ensino ao redor do mundo so membros dessa iniciativa, den-
tre elas algumas que aparecem no topo dos rankings acadmicos globais, como
o caso da Universidade de Harvard e do Instituto de Tecnologia da Califrnia.
(KROKOSCZ, Marcelo. Abordagem do plgio nas trs melhores universidades de
cada um dos cinco continentes e do Brasil. Disponvel em: <http://www.scielo.br/
pdf/rbedu/v16n48/v16n48a11.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2015).
124 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa
Lei de Direito Autoral, n. 9.610, de 1998 - Art. 10. A proteo obra intelectual
31
32
No caso das obras literrias, o autor pode preferir guard-la indita, sem publicar,
tambm poder conseguir a proteo atravs do registro da obra junto Biblioteca
Nacional. importante evidenciar que a proteo conferida ao autor no a uma
ideia em abstrato, mas sim a expresso da ideia.
Plgio Acadmico 129
34
Cdigo Penal - Art. 184. Violar direitos de autor e os que lhe so conexos: Pena -
deteno, de 3 (trs) meses a 1 (um) ano, ou multa.
35
Falsidade ideolgica - Art. 299. Omitir, em documento pblico ou particular, de-
clarao que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declarao falsa ou
diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigao ou
alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante:
36
Neste sentido ver: VALENTE, Dcio. O plgio. So Paulo: Livraria Farah, 1986. p. 7;
GRAU-KUNTZ, Karin. Jurisprudncia comentada. Sobre Plgio (ou sobre o n grdio
do Direito de Autor). Revista da ABPI, n. 99, mar/abr. 2009, p. 50; BARBOSA, Denis
Borges. Direito de Autor: questes fundamentais de direito de autor. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2013; GANDELMAN, Henrique. O que Plgio? Revista da ABPI, n. 75,
mar/abr. 2005; GIURIATI, Domenico. El Plagio. Trad. Luis Marco. Madrid: La Espaa
Moderna, 1922; KROKOSCZ, Marcelo. Autoria e Plgio. So Paulo: Atlas, 2012.
37
Plgio Direto (word-for-word). Por ser uma reproduo literal da fonte original,
esse tipo de plgio pode acontecer por incapacidade do redator no processo de
interpretao do contedo original, devido falta de criatividade no processo de
redao ou simplesmente desinteresse e comodismo do redator no processo de
elaborao de um trabalho acadmico que feito pelo sistema de copiar e colar.
(KROKOSCZ, 2012, p. 39).
Plgio Acadmico 131
41
Lei de Direitos Autorais, n. 9.610 de 1998. - Art. 47. So livres as parfrases e pa-
rdias que no forem verdadeiras reprodues da obra originria nem lhe implica-
rem descrdito.
42
Uso de parfrase sem atribuio de crdito. Mesmo quando um texto original
reescrito com as palavras do redator pode ocorrer plgio se a fonte original no for
apresentada por meio de indicao do autor e a identificao do documento uti-
lizado. A mudana na forma de apresentao de um contedo insuficiente para
caracterizar originalidade, pois, na essncia, a ideia que explicada com outras
palavras apenas transmite a mensagem de um jeito diferente, mas o contedo o
mesmo. (KROKOSCZ, 2012, p. 43)
134 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa
43
Conhecimento Cientfico aqui entendido como aquele que se caracteriza por:
sistematizao de produo e transmisso verificabilidade validade contingente
antidogmatismo racionalidade faticidade.
Plgio Acadmico 135
44
Em alguns lugares, como o Canad, o servio de escritor-fantasma reconhecido
e apoiado por entidades como The Writers Union of Canada. Nos Estados Unidos
h uma variao para os escritores de discursos, chamados ali de speechwriters
(escritores de discursos, numa traduo livre). Dentre estes, um dos mais proemi-
nentes foi Ted Sorensen, assessor do Presidente Kennedy, e autor da clebre frase
do discurso de posse, onde dizia No pergunte o que seu pas pode fazer por voc,
mas o que voc pode fazer pelo seu pas. (WIKIPDIA. Disponvel em: <http://
pt.wikipedia.org/wiki/Ghost-writer>. Acesso em: 15 jan. 2015.
45
Direitos Morais do autor so direitos morais certos direitos irrenunciveis e inalie-
nveis do autor sobre a sua obra tais como reivindicar sua paternidade; o de nele
Plgio Acadmico 139
Numa simples pesquisa no Google sobre o ttulo de busca fazemos sua mo-
46
48
Neste plano, e no no estamento do direito autoral, a responsabilidade do orien-
tador se configura quanto s prticas metodolgicas, estratgias heursticas, e
veracidade do produto intelectual. Certamente a atuao do orientador, como
descrita, garante e escudo da validade cientfica do trabalho. Mas isso, uma vez
ainda, no autoria. Se for conveniente dar peso, num currculo acadmico,
atividade do orientador, errneo qualific-lo como coautor. Errneo at as fron-
teiras do enganoso. Evocando a imagem de Wittgestein no seu Tractatus, o papel
do orientador dar a escada ao orientado, e depois tirar a escada. No instante
exato da autoria, o orientado levita em soberana solido. Uma palavra final: o pa-
pel do orientador parece variar conforme a rea acadmica. Se a responsabilidade
administrativa sempre existe, a responsabilidade cientfica surge enfaticamente
atenuada em reas acadmicas como o Direito. A prtica de designar-se co-autor
o orientador de um trabalho acadmico virtualmente desconhecida nas faculda-
des de Direito, seno por modstia nem decoro, qualidades no particularmente
abundantes na nossa profisso, mas por maior clareza do que so as verdades e
levitaes da real autoria. Talvez no exista momento mais solitrio, nos rituais
acadmicos, do que o do examinando numa banca de Direito. Escolado nas con-
tradies, refinado nos argumentos, o orientador frequentemente argui em algoz,
tostando e grelhando seu orientado num rigor raramente visto em outras instn-
cias da academia. Na hora exata de sua verdade, o examinando no s autor de
sua tese, mas autor nico de seu momento. (BARBOSA, Denis Borges. O orien-
tador de tese coautor? Disponvel em: <http://www. denisbarbosa.addr.com/
arquivos/livros/direito_autor.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2015)
Plgio Acadmico 145
49
O trabalho acadmico sempre deve ser original, considerada a necessidade de
contextualizao do contedo em relao a outras pesquisas ou em relao aos
prprios estudos que o pesquisador vem fazendo, para indicar a continuidade ou
aprofundamento da temtica que est sendo investigado. Nesses casos, neces-
srio que o autor faa a citao de si mesmo em seus trabalhos. Esse cuidado pode
ser interpretado de forma equivocada, como se faltasse ao autor humildade por
estar citando em seu prprio trabalho ele mesmo. Quando a autocitao feita
com o intuito de deixar claro ao leitor que o contedo que est sendo exposto
j foi apresentado, o autor no est faltando com a modstia, ao contrrio, est
demonstrando preocupao com a originalidade e reputao, preservando dessa
maneira a honestidade intelectual. (KROKOSCZ, 2012, 53-54)
Plgio Acadmico 147
51
Neste sentido ver: WACHOWICZ, Marcos. Ensino a Distncia e Direitos Autorais:
A produo do Conhecimento e a sua Tutela Jurdica. In: FIDALGO, Fernando S.
Rocha; CORRADI, Wagner J.; LIMA, Reginaldo N.de Souza; FAVACHO, Andr;
ARRUDA, Eucdio P. (Orgs.). Educao a Distncia: Meios, Atores e Processos. Belo
Horizonte: CAED-UFMG, 2013. v. 1, p. 319-333.
52
No direito brasileiro, o autor definido pela Lei 9.610/98. Art. 11. Autor a pessoa
fsica criadora de obra literria, artstica ou cientfica. Pargrafo nico - A proteo
concedida ao autor poder aplicar-se s pessoas jurdicas nos casos previstos em lei.
150 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa
53
Autor palavra ambgua. Mesmo juridicamente, ela pode designar: a) criador
intelectual; b) o titular originrio, c) o titular atual. Esta terceira hiptese resulta
da possibilidade de o direito de autor passar do titular originrio a outras pessoas.
(ASCENSO, 1997, p. 69)
Plgio Acadmico 151
prprio trabalho, desde que no haja vendido os direitos autorais do mesmo, mas
sugere a irregularidade da cobrana em duplicidade pelo mesmo item, no caso de
autores que se repetem a exausto (POSNER, 2007, p. 40).
152 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa
55
No caso das Universidades, da bibliografia bsica, esta deve adquirir 1 (um) livro
para cada 10 (dez) alunos. Portanto, na hiptese de 200 (duzentos) alunos da dis-
ciplina de Propriedade Intelectual, desde que a referida obra fosse indicada como
bibliografia bsica, a biblioteca deveria adquirir 20 (vinte) obras para seu acervo e
disponibiliz-las aos estudantes. Caso a referida obra fosse indicada como biblio-
grafia complementar exigida apenas a compra de uma obra segundo os critrios
quantitativos do MEC. Portanto, o nmero de exemplares em uma biblioteca de
uma instituio de ensino fixado por critrios fixados pelo MEC e no pelas nor-
mas que tutelam o direito autoral.
56
Os livros didticos so o setor mais relevante do mercado editorial brasileiro.
Eles respondem por 37% dos ttulos, 61% dos exemplares e 42% do faturamen-
to de todo mercado. Metade desse setor destinada a compras governamen-
tais por meio de diversos programas, mas, sobretudo, do Programa Nacional do
Livro Didtico (PNLD). [...] Interferncia privada. Apesar dos sucessos, esse mo-
delo enfrenta dificuldades que advm da ao de empresas que comprometem
Plgio Acadmico 153
6 CONSIDERAES FINAIS
REFERNCIAS
Ementa
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. VIOLAO A LEI
FEDERAL. ALEGAES GENRICAS. INCIDNCIA DA SMU-
LA N. 284 DO STF, POR ANALOGIA. SUSTENTADA AFRONTA
CDIGO DE TICA PROFISSIONAL. RECURSO ESPECIAL.
NO CABIMENTO. CONCLUSES DA ORIGEM. REVISO. IM-
POSSIBILIDADE. SMULA N. 7 DESTA CORTE SUPERIOR.
Ementa
CONFLITO DE COMPETNCIA. TRABALHO DE CONCLUSO
DE CURSO SUPERIOR. VIOLAO DO DIREITO AUTORAL.
PLGIO. PREJUZO DE INTERESSE DE PARTICULAR. CON-
FLITO CONHECIDO PARA DECLARAR COMPETENTE A JUS-
TIA ESTADUAL.
DECISO
Trata-se de agravo contra deciso que negou seguimento a recur-
so especial interposto de acrdo que recebeu a seguinte ementa (e-STJ
fl. 368):
APELAO CVEL. DIREITO AUTORAL. PLGIO. UTILIZAO
DE PROJETO ACADMICO EM PROMOO E DIVULGAO
DE EVENTOS SEM AUTORIZAO. REQUISITOS DA NOVI-
DADE E DA ORIGINALIDADE. INDISPENSABILIDADE DA OB-
SERVNCIA DOS MESMOS PARA QUE SE PUDESSE ACOLHER
AS PRETENSES AUTORAIS. RECURSO A QUE SE NEGA PRO-
VIMENTO.
[...] tal ponto em comum entre as obras est longe de ser ori-
ginal, pois de conhecimento ordinrio nos meios acadmi-
cos a ocorrncia regular de eventos dessa natureza, promo-
vidos por diversas universidades pelo pas a fora. [...] No se
verifica, por conseguinte, identidade nas situaes descritas
nos projetos de autor e r, mas apenas, semelhanas que no
levam concluso de se tratar de plgio, valendo repetir, que
Plgio Acadmico 165
[...]
No caso, o apelante alega que no s a ideia foi plagiada, mas a for-
ma de divulgao do evento.
Porm, a prova dos autos revelou que a ideia de promover em
meios acadmicos a integrao entre os alunos e o empresariado local no
era original, tendo sido tal expediente j realizado em vrias faculdades,
inclusive pela PUC-Rio.
Embora afirme o apelante que seu projeto, diferenava-se dos de-
mais, primeiro, porque o pblico alvo da Mostra PUC diverso da Feira
de Talentos por ele proposta, pois destinado ao pblico da zona oeste e
no ao pblico da zona sul e, em segundo, porque o material de divulgao
da feira de 2008 tem a mesma ordem e mensagem dos temas nos slides
presentados em seu projeto, no so argumentos suficientes a embasar
novidade e originalidade da obra objeto da presente demanda.
Ressalta-se que, na qualidade de presidente e condutor do proces-
so, o juiz o verdadeiro destinatrio das provas produzidas e deve firmar
seu convencimento de forma livre, desde que fundamentada, tendo como
base todo o conjunto probatrio produzido nos autos.
Por fim, cabe ressaltar que, no caso dos autos, no foi identifica-
da a utilizao da obra alheia pelo apelado, pois o evento divulgado no
ocorreu. Este fato suficiente para no caracterizar a existncia de danos
materiais ou morais indenizveis.
Assim, correta a deciso agravada ao obstar o recurso especial pela
incidncia da Smula 7 do STJ, eis que a anlise das alegaes aviadas nas
razes do recurso e a reforma do acrdo recorrido impem reexame de
matria ftica da lide, vedado nesta sede nos termos do mencionado ver-
bete, irrepreensivelmente aplicado pelo primeiro juzo de admissibilidade.
Em face do exposto, nego provimento ao agravo.
Intimem-se.
Braslia (DF), 16 de junho de 2016.
MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI
Relatora
166 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa
DECISO
Trata-se de agravo (art. 544 do CPC/73), interposto por TELMA
CENIRA COUTO DA SILVA, contra deciso que negou seguimento a recurso
especial.
O apelo extremo, amparado nas alneas a e c do permissivo cons-
titucional, desafia acrdo proferido pelo Tribunal de Justia do Estado de
Mato Grosso, assim ementado (fls. 281/305, e-STJ):
DECISO
Vistos.
Trata-se de Recurso Especial interposto pelo MINISTRIO
PBLICO FEDERAL, contra acrdo prolatado, por unanimi-
dade, pela 4 Turma do Tribunal Regional Federal da 4 Re-
gio no julgamento de apelao, assim ementado (fls. 857e):
DECISO
Trata-se de agravo manejado contra deciso que no ad-
mitiu recurso especial, este interposto com fundamento no
art. 105, III, a e c, da CF, desafiando acrdo proferido pelo
Tribunal de Justia do Distrito Federal e Territrios, assim
ementado (fls. 434/437):
172 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa
[...]
3. Tratando-se de ao anulatria na qual se busca a anulao de
questes objetivas do concurso pblico para o cargo de professor de
Educao Bsica realizado pelo apelado, nos termos do Edital n.001-SE-
AP/SEE, de 04/09/2013, a anlise da insurgncia manifestada pela ape-
lante devem ser limitadas s alegaes de flagrante ilegalidade, j que no
compete ao Poder Judicirio se imiscuir nos critrios adotados pela banca
examinadora para a aplicao e correo de provas em concurso pblico.
4. Ao Poder Judicirio no compete intervir da discricionariedade
que inata escolha do contedo a ser cobrado em concurso pblico, des-
de que dentro dos aspectos inerentes ao cargo colocado em disputa, assim
como vedada a interveno jurisdicional na anlise meritria das ques-
tes propostas, salvo se constatado que violam o princpio da vinculao
ao edital ou ensejam a ocorrncia de ilegalidade objetiva, notadamente
quando interfere na isonomia que deve pautar aplicao do concurso.
Plgio Acadmico 173
DECISO
Tratam os autos de ao de indenizao proposta por ROBERTO
BASSAN em relao EVANDRO TINOCO MESQUITA.
O Tribunal de Justia do Estado do Rio de Janeiro deu parcial provi-
mento ao apelo do ru e negou provimento ao do autor, em acrdo assim
ementado:
considerar - e s isto que importa o teor dos referidos textos, que fo-
ram elaborados individualmente pelo autor da ao, constituindo, pois,
obra intelectual deste e produto de seu talento no s cientfico, mas
tambm redacional (literrio em sentido amplo). Trata-se de material
integrante do patrimnio imaterial de seu autor, no sendo lcita a usur-
pao do texto por quem quer que seja, pois o direito positivo brasileiro
alou a nvel constitucional a proteo dos direitos imateriais (art. 5,
XXVII) e sancionou sua violao com reparao pecuniria. Dano moral
configurado e a merecer majorao. No h falar em dano material por-
que no pode este ser considerado no terreno meramente hipottico,
podendo-se concluir no ter o ru usufrudo de qualquer remunerao
com as publicaes resultantes de plgio, fato que independe de prova
porque se pe no campo da experincia comum o carter no lucrativo
das publicaes acadmicas. Parcial provimento ao primeiro recurso im-
provimento ao segundo.
Os embargos de declarao opostos pelo autor e pelo ru foram re-
jeitados.
Inconformado, o autor interps recurso especial, amparado na al-
nea a do permissivo constitucional, no qual sustentou ofensa ao artigo 103
da Lei n. 9.610/98.
Para tanto, alegou, em sntese, que o plgio enseja reparao por
danos morais e materiais e que, em caso de dificuldade de comprovao
do prejuzo, aplica-se o artigo 103, pargrafo nico, da Lei de Direitos
Autorais, o qual estabelece o dano material objetivo.
O recurso foi inadmitido, o que ensejou a interposio do presente
agravo de instrumento.
o relatrio.
O recurso no merece acolhimento.
Para admisso do especial, entre outras exigncias, faz-se neces-
srio que a questo federal tenha sido discutida anteriormente luz da
argumentao deduzida nas razes recursais e que sobre ela tenha se pro-
nunciado o tribunal de origem, sob pena de restar desatendido o requisito
do prequestionamento.
Assim, se no houve pronunciamento da corte estadual acerca da
questo federal veiculada no especial, a causa no foi decidida, e, por con-
seguinte, estar inviabilizado o conhecimento do apelo nobre ante a au-
sncia de um dos seus pressupostos de admissibilidade.
Plgio Acadmico 177
DECISO
Trata-se de agravo interposto contra deciso que no admi-
tiu o recurso especial apresentado por Claudia Chvaicer e
outros, com base no art. 105, III, a, da CF, desafiando acrdo
assim ementado (e-STJ, fl. 2.319):
DECISO
Trata-se de recurso especial manejado com fundamento no
art. 105, III, a, da CF, contra acrdo proferido pelo Tribu-
nal Regional Federal da 4 Regio, assim ementado (fl. 273):
ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANA. CERTIFI-
CADO DE CONCLUSO DE CURSO. TRABALHO ESCOLAR.
REPROVAO. PLGIO.
DECISO
Trata-se de recurso especial interposto por JOS FELIPE LE-
DUR, com fundamento no artigo 105, III, a e c, da Consti-
tuio Federal, contra acrdo assim ementado:
Assim, o autor no merece ser condenado nas penas do art. 17, e incisos,
do CPC.
REJEITARAM A PRELIMINAR. PROVERAM PARCIALMENTE O RE-
CURSO DE APELAO E NO CONHECERAM DO RECURSO ADESIVO.
UNNIME (e-STJ fls. 1.008/1.009).
Os embargos declaratrios opostos por ambas as partes foram aco-
lhidos para a retificao de erro material, sem efeito infringente (e-STJ
fl. 1.084).
Na origem, trata-se de ao indenizatria proposta pelo ora recor-
rente contra JNIA MARISE LANA DE ROSSI, ora recorrida, por meio da
qual pleiteou indenizao por danos morais e materiais em virtude de ale-
gado plgio, por parte da recorrida, de obra literria de autoria do autor/
recorrente.
A sentena julgou improcedente o pedido, e o Tribunal de origem
deu parcial provimento apelao do recorrente para condenar a re-
corrida ao pagamento de indenizao por danos morais no valor de R$
15.000,00 (quinze mil reais), com incidncia de juros e correo monet-
ria a partir da data do julgamento do apelo.
Nas razes recursais (e-STJ fls. 1.172/1.226), alega o recorrente
violao dos artigos 332, 333, I, 339 e 372 do Cdigo de Processo Civil
- CPC, e 186, 187, 927 e 944 do Cdigo Civil - CC, alm de divergncia juris-
prudencial. Insurge-se contra a improcedncia do pedido de indenizao
por danos materiais e requer a majorao dos danos morais. Veicula, ain-
da, divergncia no tocante ao termo inicial dos juros e correo monetria
em relao s Smulas ns 43 e 54/STJ.
As contrarrazes foram apresentadas (e-STJ fls. 1.228/1.252), e so-
mente o processamento do recurso especial do ora recorrente foi admiti-
do, ao passo que o apelo extremo da ora recorrida foi indeferido (e-STJ fls.
1.307/1.315).
o relatrio.
DECIDO.
A irresignao merece prosperar parcialmente. De incio, foro-
so reconhecer que o contedo normativo dos artigos 332, 333, I, 339 e
372 do CPC, tidos por violados, no foi prequestionado pelo Tribunal de
origem, mesmo depois de opostos os embargos declaratrios, de modo
que incide, na espcie, a Smula n 211/STJ: Inadmissvel recurso especial
quanto questo que, a despeito da oposio de embargos declaratrios,
no foi apreciada pelo tribunal a quo.
Plgio Acadmico 185
[...]
5. Quanto comprovao do preo de capa de sua obra e a ti-
ragem da revista, mesmo se tais valores estivessem demons-
trados nos autos e no esto suficientemente para formu-
lao de um juzo de certeza sobre eventual quantia devida
- no h prova de que o plgio de alguns excertos do livro do
autor pela demandada renderam a ele tais prejuzos patri-
moniais. (e-STJ fl. 1.078 - grifou-se) Assim, rever o acrdo,
na extenso requerida, implica o revolvimento de matria
ftica e reviso de provas, o que encontra bice insupervel
na Smula n 7/STJ.
Tambm no procede a alegao de que o acrdo, ao deter-
minar a correo monetria a partir da data do julgamento,
teria divergido da jurisprudncia consolidada desta Corte
Superior na Smula n 43/STJ, segundo a qual Incide cor-
reo monetria sobre dvida por ato ilcito a partir da data
do efetivo prejuzo.
DECISO
1. Cuida-se de recurso especial interposto por JOO BOSCO PENNA,
com fundamento no art. 105, III, a da Constituio Federal de 1988, contra
acrdo proferido pelo Tribunal de Justia de So Paulo, assim ementado:
DIREITO AUTORAL - Plgio - Orientando de mestrado que in-
seriu trechos de obra do orientador em sua dissertao sem indicar
a fonte - Ofensa a direito extrapatrimonial de autor - Autor que par-
ticipou ativamente da elaborao da dissertao, realizando comen-
trios, anotaes e contribuindo para a sua adequao s normas
da ABNT - Autor que alm de orientar a produo ainda fazia parte
do corpo editorial da revista acadmica em que a dissertao foi pu-
blicada em forma de artigo - Suposta violao que no foi praticada
somente por um de seus orientandos, mas por outros que a ele esti-
veram submissos no mesmo perodo - Venire contra factum proprium
- Impossibilidade - Circunstncias do caso concreto que inviabilizam
a aplicao cega da Lei de Direitos Autorais - Ofensa que no teria
sido possvel sem a contribuio ativa do prprio autor que agiu de
forma antijurdica - Sentena procedente - Recurso do ru provido -
Recurso do autor prejudicado.
Em suas razes recursais, sustenta a parte recorrente ofensa ao
preceituado nos artigos 5, VII, 7, I, 22, 24, 29 e 108, II, da Lei 9.610/98
(Lei de Direitos Autorais). Contrarrazes s fls. 298/311.
o relatrio.
DECIDO.
2. O acrdo recorrido assentou que a pretenso autoral configu-
ra flagrante caso de venire contra factum proprium. O autor contribuiu
ativamente para a elaborao, aprovao e publicao do artigo do
ru. Inseriu nele alteraes, comentrios e cuidou da adequao do
mesmo s normas tcnicas da A. B. N. T., com vistas sua publicao
na revista acadmica da qual participava do corpo editorial. Assim,
no parece razovel que pretenda agora, aps toda a sua contribui-
o pessoal para a publicao do artigo, pretender ressarcimento
por uma ofensa a seus direitos extrapatrimoniais.
188 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa
Ementa
DECISO: Acordam os integrantes da Primeira Cmara Cvel
do Tribunal do Estado do Paran, por unanimidade de vo-
tos, em dar provimento ao apelo da Universidade Estadual
do Norte do Paran, nos termos da fundamentao. EMEN-
TA: Relator: Juiz Subst. em 2 Grau Fernando Csar Zeni (em
substituio ao Des. Guilherme Luiz Gomes)
Ementa
DECISO: ACORDAM os Senhores Desembargadores inte-
grantes da Dcima Cmara Cvel do TRIBUNAL DE JUSTIA
DO ESTADO DO PARAN, por maioria votos, em dar parcial
provimento ao recurso, nos termos do voto do Desembar-
gador Relator Designado. Declara voto vencido a Juza Subs-
tituta de Segundo Grau Denise Antunes. EMENTA: AGRAVO
DE INSTRUMENTO. AO DE INDENIZAO POR DANOS
MATERIAIS E MORAIS. DIREITO AUTORAL. SUPOSTO PL-
GIO EM DISSERTAO DE MESTRADO PUBLICADA COMO
OBRA LITERRIA. DENUNCIAO LIDE DO ORIENTA-
DOR DO TRABALHO E DA UNIVERSIDADE RESPONSVEL
PELA CONCESSO DO TTULO AO RU. IMPOSSIBILIDADE.
INTRODUO DE NOVO FUNDAMENTO DEMANDA. PRE-
JUZO NA PRESTAO DE UMA TUTELA JURISDICIONAL
EFETIVA E CLERE. DENUNCIAO LIDE DO CO-RU AU-
TOR DA OBRA. CABIMENTO COM O OBJETIVO DE GARAN-
TIR O DIREITO DE REGRESSO. INTELIGNCIA DO ART. 70, III
DO CDIGO DE PROCESSO CIVIL. RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO.
AGRAVO DE INSTRUMENTO N 771.358-0 DA 5 VARA C-
VEL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIO METRO-
POLITANA DE CURITIBA.
AGRAVANTES: CARVALHO PACHECO INDSTRIA GRFICA
LTDA AGRAVADA: HUGO NIGRO MAZZILLI E OUTRO INTE-
RESSSADO: JURU EDITORA LTDA INTERESSADO: CARLOS
EDUARDO TERAROLLI INTERESSADO: UNIVERSIDADE
METROPOLITANA DE SANTOS (UNIMES) E OUTROS REL.
DESIGNADO: DES. ARQUELAU ARAUJO RIBAS
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AO DE INDENIZAO POR
DANOS MATERIAIS E MORAIS. DIREITO AUTORAL. SUPOS-
TO PLGIO EM DISSERTAO DE MESTRADO PUBLICADA
COMO OBRA LITERRIA. DENUNCIAO LIDE DO ORIEN-
TADOR DO TRABALHO E DA UNIVERSIDADE RESPONSVEL
PELA CONCESSO DO TTULO AO RU. IMPOSSIBILIDADE.
INTRODUO DE NOVO FUNDAMENTO DEMANDA. PRE-
JUZO NA PRESTAO DE UMA TUTELA JURISDICIONAL
EFETIVA E CLERE. DENUNCIAO LIDE DO CO-RU AU-
TOR DA OBRA. CABIMENTO COM O OBJETIVO DE GARAN-
Plgio Acadmico 195
RELATRIO
1. Trata-se de agravo de instrumento interposto por Carvalho
Pacheco Indstria Grfica LTDA, em ao ordinria, em face da deci-
so que indeferiu a denunciao lide de Luiz Antnio Rizzatto Nunes,
Universidade Metropolitana de Santos e Carlos Eduardo Terarolli.
1.1 Sustenta o agravante ser cabvel a denunciao a lide, com base
no art. 70, III do Cdigo de Processo Civil, vez que no caso de procedncia
do pedido indenizatrio ter direito de regresso contra os litisdenuncia-
dos.
1.2 Ressalta que restou demonstrada a negligncia dos mem-
bros da banca que examinaram a dissertao, pois atriburam ao ru
o ttulo de mestrado, no percebendo que o trabalho desenvolvido
era fruto de plgio.
1.3 Aduz que a denunciao da Universidade Metropolitana de
Santos tem como fundamento o disposto no art. 932, III do Cdigo
Civil, vez que os componentes da banca atuaram na qualidade de
seus prepostos, e deste modo, deve a instituio de ensino responder
de forma objetiva pelos danos causados por eles.
1.4 Destaca ser necessrio, tambm, o deferimento da denunciao
a lide do ru Carlos Eduardo Terarolli, com o objetivo de garantir o seu
direito de ressarcimento no caso de condenao solidria.
1.5 Requer a concesso do efeito suspensivo, e, no mrito a reforma
da deciso agravada.
1.6 Foi concedido parcialmente o efeito ativo para determinar a ci-
tao do litisconsorte Carlos Eduardo Terarolli (fls. 986/987).
1.7 Foram apresentadas contrarrazes pela agravada (fls. 993/
1007), bem como pedido de reconsiderao (fls. 1009/1010).
196 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa
RELATRIO
Trs os apelos. A co-r Maria Odete Rabaglio aduz, em preliminar,
nula a sentena por cerceio de defesa. No mrito, bate-se pela inverso do
julgado aduzindo descabido falar-se em violao a direito autoral da auto-
ra vez que a apostila anexada inicial no pode ser considerada obra liter-
ria publicada e tampouco registrada na Fundao Biblioteca Nacional luz
do registro ISBN- International Standart Book Number. Nega, em sntese,
tenha havido qualquer ato de plgio ou de utilizao fraudulenta da apos-
tila reclamada pela autora como sendo de sua autoria, repisando a tese de
que a apostila de propriedade de CONS - Consultores Associados, e no
da requerente, mera docente da referida empresa, fato que no outorga o
direito de deduzir em juzo qualquer pretenso sob fundamento de plgio
em detrimento de seus pretensos direitos autorais. Assevera, ainda, que o
registro da apostila s foi efetivado em Cartrio de Ttulos e Documentos
quando j tirada a quarta edio da obra e que referido registro se mostra
incuo comprovao da autoria da apostila em relao autora. Alega,
outrossim, que simples citao feita apostila em sua obra literria no
implica violao de direitos autorais a teor do disposto no art. 46 da Lei
9.096/98 e que a pretenso da autora configurou verdadeira litigncia de
m-f, fato suscitado, mas no abordado pela nobre sentenciante. Por fim,
assevera que tendo lanado o nome da autora na bibliografia de sua obra,
no h falar-se em violao de direito autoral. Alega, em sntese, no pro-
vados os danos alegados e, alternativamente, pugna pela reduo da verba
indenizatria considerando que o valor dos direitos autorais em relao a
cada exemplar no ultrapassa o percentual de 2% do valor de capa, plei-
teia o afastamento da determinao de busca e apreenso dos exemplares,
apurando-se apenas a indenizao por danos materiais em regular liqui-
dao de sentena posto descabida a condenao por danos morais (fls.
451/478). A co-r Educator Editora e Desenvolvimento Empresarial Ltda
pugna por sua excluso do plo passivo, alegando que por fora do contra-
to de cesso de direitos autorais firmado com a co-r Maria Odete Rabaglio
no pode ser responsabilizada por eventual violao de direitos autorais
da demandante Enfatiza, outrossim, que a autora figura na apostila apenas
como facilitadora do curso, no havendo qualquer indicao de que seja
ela a autora do respectivo texto consoante exige o art. 13 da lei 9.610/98.
No mais, sustenta que o texto trazido pela apostila no traduz nenhuma
idia nova como exige o art. 8o da Lei 9.610/98, tratando-se de um mto-
do mundialmente famoso que se transformou em disciplina nas universi-
Plgio Acadmico 211
RELATRIO
Trata-se de mandado de segurana impetrado por Deborah
Cardoso Rego contra ato do Diretor da Faculdade de Economia da
Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, postulando a conces-
so de liminar e procedncia do writ, a fim de que a Faculdade con-
ceda a impetrante, trinta dias, para alteraes e correes em seu
trabalho cientfico, para regular exame ou, alternativamente, se de-
termine exame oral perante nova banca examinadora. Extinto o pro-
cesso sem julgamento de mrito, nos termos do artigo 267, inciso VI, do
Cdigo de Processo Civil (fl. 283/285).
Inconformada, apela a impetrante, visando, em resumo, a reforma
da sentena (fl. 292/297). Processado regularmente com contra-razes
(fl. 302/310), subiram os autos a esta Instncia. Manifestao da Douta
Procuradoria-Geral de Justia (fl. 317). o relatrio. 2. Trata-se de manda-
do de segurana impetrado por aluna contra ato de Diretor da Faculdade
de Economia da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, fitando a
anulao de sua reprovao, em face do apontamento de plgio na mo-
nografia IV apresentada. Com efeito, por fora do disposto no artigo 109,
inciso I, da Constituio Federal compete Justia Federal processar e jul-
gar causas em que a Unio, suas autarquias ou empresas pblicas sejam
interessadas na condio de autoras, rs, assistentes ou oponentes, salvo
quando se cuidar de falncia, acidentes do trabalho e as questes afetas a
Justia Eleitoral e a do Trabalho. Como sabido a universidade, estabele-
cimento de ensino superior, ostenta delegao da Unio, de toda sorte que
seus dirigentes so agente delegados da Unio, salvo nas hipteses do ar-
tigo 17, inciso II, da Lei n 9.394/93, que estabelece a autonomia do Poder
Pblico Estadual e do Distrito Federal quanto s instituies de ensino por
eles mantidas. Nesse diapaso e se cuidando de mandado de segurana
voltado contra ato de dirigente de entidade particular de ensino superior,
investido de delegao pela Unio, a Justia Estadual absolutamente in-
competente para processar e julgar o writ of mandamus, consoante pacfi-
ca jurisprudncia do Colendo Superior Tribunal de Justia:
PROCESSUAL CIVIL. ENSINO SUPERIOR. MANDADO DE SEGURAN-
A. UNIVERSIDADE PARTICULAR. DIPLOMA. ALUNO INADIMPLENTE.
COMPETNCIA. 1. A Primeira Seo, no julgamento do Conflito de Com-
petncia n 35.972/SP, Relator para acrdo o Ministro Teori Albino
Zavascki, decidiu que o critrio definidor da competncia da Justia
Federal ratione personae levando-se em considerao a natureza das
pessoas envolvidas na relao processual, sendo irrelevante, para esse
efeito e ressalvadas as excees mencionadas no texto constitucional, a
214 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa
RELATRIO
Cuida-se de ao rescisria ajuizada por Luiza Beth Nunes
Alonso em face da Universidade de So Paulo - USP tendo
por objeto a resciso de v. Acrdo, proferido em ao ordi-
nria, que proveu o reexame necessrio e o recurso da autar-
quia-r e negou provimento ao recurso da autora.
Por ser funcionria e Professora Doutora do Departamento de
Psicologia Social do Instituto de Psicologia da Universidade de So
Paulo, foi contra ela instaurada, pela Reitoria daquela instituio,
processo administrativo, para o fim de apurao de falta cometida
no curso de sua s atribuies. Foi-lhe imputada prtica de violao
de direitos autorais provenientes de um projeto de pesquisa de dou-
torado e de dois artigos. O procedimento disciplinar teve incio par
a investigar-se eventual violao de direitos autorais provenientes
de projeto de pesquisa de tese de doutorado. O aluno depositou seu
projeto de tese em abril de 1992, sendo que em 03.07.92 foi aprova-
do (tendo sido a autora parte integrante da Comisso Examinadora).
Em 30.05.92 a autora apresentou-se, num Encontro Regional de
Psicologia da PUC, onde distribuiu cpia de um texto escrito. A de-
nncia foi feita em 01.09.94, por Ldio de Sousa, aluno autor do pro-
jeto de tese. Encontrou-se, no referido texto, transcries do projeto
da tese de Ldio de Souza e de citaes incorretas de outros trechos
que teriam sido transcritos de outros dois trabalhos cientficos.
Recebeu carta dos autores dos artigos e estes entenderam que no
houve violao de direitos autorais. Entendeu a Comisso processante ter
havido violao de direito autoral e no plgio, tendo sido sugerida, por
maioria de votos, a s formas previstas no Estatuto, com voto divergente,
pela demisso. J a Congregao, por maioria de votos, 13 a 5, props a
pena de demisso, sendo que os votos minoritrios foram pela aplica-
o da pena de suspenso por 90 dias. O Reitor acolheu a proposta da
Congregao e aplicou-lhe a pena de demisso. Irregularidades do proces-
so administrativo - Passou a autora, aps a exposio dos fatos, a indicar
as irregularidades que teriam ocorrido no desenrolar do processo admi-
216 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa
nistrativo. Sigilo - Embora tenha sido imposto sigilo, jornais e revistas no-
ticiaram pormenores do processo, sendo que todo o Campus passou a sa-
ber dos fatos que estavam ocorrendo. Partes no processo As partes no
processo administrativo so a Administrao Pblica e o funcionrio acu-
sado, o servidor. No caso, o autor da tese de ps-graduao e denunciante,
manifestou-se no decorrer do processo em vrias ocasies, protocolando
peties e provocando tumulto processual. A Comisso Processante de-
liberou que todas a s alegaes do denunciante seriam desconsideradas,
ma s tais peties e documentos por ele apresentados foram juntados aos
autos. Inverso tumultuaria dos depoimentos - Os depoimentos das teste-
munhas no foram colhidas obedecendo a ordem lgica, ditada pelo nosso
ordenamento jurdico, que determina que os depoimentos da s testemu-
nha s do autor devem preceder os das testemunhas do ru, em razo do
princpio da ampla defesa, em decorrncia do disposto nos incisos LIV e
LV do artigo 5 da Constituio Federal. Aponta como violados os artigos
413 e 452 do Cdigo de Processo Civil, 396 do Cdigo de Processo Penal e
288 do Estatuto dos Funcionrios Pblicos Civis do Estado de So Paulo.
Participao do denunciante no processo administrativo - Foi dado ao au-
tor do libelo uma margem de atuao muito mais extensa do que permite
a lei. Foi a ele recusada a posio de litigante, mas no foram recusados
os documentos que apresentou, seus requerimentos e at suas conside-
raes finais. Contradio presente na penalidade aplicada - A ela foi im-
putada prtica de violao de direitos autorais. Excluda a hiptese
de plgio, restaria como sano um a dentro o elenco da advertncia
demisso. Obedecidos os parmetros legais, a s penas de advertncia
e repreenso aplicar-se-iam nas hipteses de omisso ou negligncia,
conforme sua gravidade. A Comisso Processante sugeriu a aplicao da
pena de suspenso. O Reitor, porm, aplicou-lhe a pena de demisso. A
demisso somente aplicada nos casos de falta grave ou gravssima prati-
cada pelo servidor, e que denotem a incompatibilidade do punido com os
princpios da Administrao Pblica. Falta de fundamentao da deciso
- O despacho que a exonerou trouxe como fundamentao a imputao
de desdia como causa da punio, mencionando incisos antagnicos do
4 do artigo 253 do antigo Regimento Geral da USP. A multiplicidade na
fundamentao evidente no sentido de revelar a falta de motivao da
deciso que foi tomada, contrariando todos os preceitos que circundam o
ato decisrio. Foroso concluir, portanto, que o despacho constitui mera
adoo do que foi decidido pela Congregao, par a execuo da delibera-
o, que resta nulo e sem validade.
Irregularidades contidas no voto divergente - Excluda a hipte-
se de plgio, somente o voto divergente pretendeu levar o tema para o
Plgio Acadmico 217
Marcos Wachowicz
Professor de Direito no Curso de Graduao da Universidade
Federal do Paran - UFPR e docente no Programa de Ps-Graduao-
PPGD da Universidade Federal do Paran - UFPR. Doutor em Direito
pela Universidade Federal do Paran-UFPR. Mestre em Direito pela
Universidade Clssica de Lisboa - Portugal. Professor visitante na
Universidade de Valncia - Espanha (2015). o atual Coordenador-lider do
Grupo de Estudos em Direito Autoral e Industrial - GEDAI / UFPR vincula-
do ao CNPq. Pesquisador de Produtividade da Fundao Araucria (2014/
em andamento). Pesquisador integrado do Centro de Administrao
e Polticas Pblicas (CAPP) do Instituto Superior de Cincias Sociais e
Polticas - ISCSP da Universidade Tcnica de Lisboa/Portugal. Atualmente
membro da Associao Portuguesa de Direito Intelectual - APDI e as-
sociado do Instituto Brasileiro de Propriedade Intelectual - IBPI, bem
como da Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia - PR. tam-
bm colaborador como membro do Conselho editorial da Editora Juru,
membro do conselho cientfico da Revista de Relaes Internacionais no
Mundo Atual da UniCuritiba, membro do Conselho Editorial da Revista do
Direito da Ps-graduao em Direito da Universidade de Santa Cruz do Sul
- UNISC, membro do conselho editorial da Revista Criao especializada
em Propriedade Intelectual e da Revista Jurdica Ius Gentium do Curso de
graduao em Direito da Faculdade Internacional de Curitiba. Membro do
Conselho Cientfico - Referees - da Revista de Cincias Sociais e Polticas do
Instituto Superior de Cincias Sociais e Polticas da Universidade Tcnica
de Lisboa, Portugal. Membro ad hoc do conselho editorial da Revista de
Direito Empresarial. Membro do Conselho Editorial da Revista de Direito
Econmico e Socioambiental do PPGD/PUCPR. Exerce a funo de avalia-
dor ad hoc do Ministrio da Educao (INEP-BASis) dos Cursos de Direito.
membro do Centro de Letras do Paran. Tem experincia na rea de
Direito, com nfase em Direito da Propriedade Intelectual, atuando prin-
cipalmente nos seguintes temas: direito da informtica, propriedade inte-
lectual, direito autoral, direito da Tecnologia da Informao e de softwa-
re. Autor das obras: Propriedade Intelectual do Software e Revoluo da
Tecnologia da Informao. Possui diversos artigos cientficos publicados
no Brasil e no exterior.
E-mail: marcos.wachowicz@gmail.com
222 Marcos Wachowicz & Jos Augusto Fontoura Costa