Mary Pratt - Consciencia Planetaria, Transculturalidade PDF
Mary Pratt - Consciencia Planetaria, Transculturalidade PDF
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COO1'detlao Editorial
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Irm ]acinta TUi'Olo Garcia /;
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Assessoria Administrativa i'
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Assessoria Comercial
Irm urea de Almeida Nascimento I:
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Coordenao tia Coleo Cincias ,,'iociais Traduo
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Carlos Valero
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europia desta histria comea no ano cu
1735, Ao menos este o ponto em que a narrati
va comear a histria leva outros vinte ou trinta
para realmente deslanchar. No ano de <;lCorrem dois
eventos de certa forma e
Um foi a publicao do S)JstemCl Natll me (() Sis/ema do No
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cincia e sentimento, 1750-1800 cincia, conscincia planetria, interiores
tureza), de Carl Linn, no qual o naturalista francs estabe haviam permanecido assim por mais de dois sculos, A oh
lece um sistema classifica trio que :visa categorizar todas as sesso:da corte espanhola de proteger suas colnias (k toela
formas vegetais do planeta, fossem conhecidas ou des influncia e espionagem estrangeiras era legenebria. Aps
conhecidas dos europeus, O outro foi a inaugurao da pri perder10 controle do trfico de escravos para a Gr-Breta
meira expedio cientfica internaional da Europa, um es nha em 1713, a Espanha havia se tornado mais temeros~\
foro conjunto visando determinar de uma vez por todas a que nunca em relao s incurses em seus
forma exata da Terra, Como pretendo argumentar, estes econmicos e culturais. Quanto mais se torn:\
eventos, e sua coincidncia, sugerem a importante magnitu varri os <contatos internacionais ebs elites criollbs L't1l SlI::";
de das mudanas no entendiment9 que as elites europias colnias, mais receosos ficava;11 os espanl,s. "A
tinham de si mesmas e de suas ~elaes com o resto do dos espanhis", escreveu o cors8rio britflnico
mundo. Este captulo se volta para emergncia de uma gunda dcada do sculo "consiste
procurar;: por todos os meios e form~IS
nova verso do que gosto de chamar "conscinc<l
ria" da Europa, uma verso marcada pela tendncia explo as vastas .riquezas daqueles extensos domnios
rao do interior e pela construq c/cp significado em nvel mos.'" O conhecimento dessas riquc!.<ls, :lllrl1HHI
global por meio dos aparatos desc~itivFls da histria natural. I3etagh\e "da! grande denunda, entre americanos, por pn
Esta nova conscincia planetria, como sugiro, elemento dutos europeus tem excitado todas aS n:l'cJc,;
bsico na constru.o do moderno eurocentrismo, o reflexo da EUrGpa.'i As instalaes militan-:s nos portos Amricl
e a minerao no interior eram :IS clU:1S ('Ollstrll
hegemnico que incomoda os lci<;1entais, continuando
mesmo a ser uma segunda natureZa para eles coloniais mais cuidadosamente nrorel'id:IS do olhar
Sob a liderana francesa, a expedio cientfica inter tern?, ao meSmo,l.rempl) em
nacional de 1735 foi montada ccin\ ) fito de responder a te investigadas pelos ,rivais de .
o rei .da Frana contratou um jovem t'ngt.:'nhc:iro Ch~!ll}:l-
uma candente questo emprica: seria' a Terra uma esfera,
cio para viajar ao longo da costa do Chile L' do
como afirmava a geografia (francesa). cartesiana, ou seria
fingindo-se de comerciante, "para melhor ip ,scuir-sc cn!
ela, como Co ingls) Newton havia conjecturado um esferi
espanhis e ter todas as il d:ldl's d,'
de achatado nos plos? Esta era uma questo altalT;ente car Obcecado minas, '<rl'ziel' I,)
regada pela rivalidade poltica entre Frana e Inglaterra. Um
grou ver uma. No entanto, me:,mo os rel:llos ele segu
grupo de cientistas e gegrafos, lderados pelo fsico francs
mo que ele reproduziu, foram avidamente pe
Maupertuis, foi enviado para o norte, para a Lapnia a fim
los leitores na Frana e na InglaterrJ. N~l auscncia l;,' n()\()~
de mensurar um grau longitudinal no meridiano. Outro, ru
escritos sobre a Amrica do Sul, o compibclor da dv
mou para a Amrica do Sul para proceder mesma menstl de Churchill, em 1745, traduziu noUS soiJt-e o Cl1i
rao no Equador, prximo a Quito. Nominalmente encabe
le, escritas um sculo antes pelo Jesuta f'sn:lIlhol i\lol1s0
ada pelo matemtico Louis Godin, esta expedio entrou
para a histria com o nome de um de seus poucos sobrevi
ventes, o gegrafo Charles de la Condaminc;, 2_ Capitt10 Ilcragh f)hsemalioI/S())llbeColIIllr!.u/l 1.II (/lId
A expedio La Condamne foi um triunfo Ia//IS DIlI'II,i his CC/piioilV in ,/ohn l'inkerton ("li,, '. (})(I,~<'\ (/11/1
in ali Paris World, London, Longman el alll, \01. i-\, I MI.". p.
co marcante para a comunidade cientfica europia, Os ter M. Frzier ;1 Voyage lO Ibe ""ou/h Sea cmd (iIO!l,l
ritrios americanos da Espanha estavam estritament fecha anel Penl in Years 1712. /7/3 e 1711, lradu!.ido do .,:\,;1 (\ 111
dos para viagens oficiais de estrangeiros de qualquer tipo e gls c editado por London, Lonah Bowyer. l717, l"l'Lki,
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cincia e sentimento, 1750-1800 cnciu, conscifncia planetria, interiores
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Ovalle. No que se refere ao interior da Amrica hispnica, nado aps ter se envolvido numa entre duas
mesmo relatos antigos eram mais confiveis que conjecturas rosas f;unlias em Cuenca; no Equador; LI COl1daminc p' lI'
ccntemporneas , ccmo a descrio que faz Betagh de UO! pouco escapou do mesmo destino, Uma batalha iudicial f()i
terremoto no in~er!or que "levantou reas inteiras e as arras travada por r'nais de um ano sobre se a de
tou para milhas dali. "5 poderia ser afixada sobre as pirmides triangulares eh expc
No caso da expedio La Condamine,
I a coroa
_ espa- dio fleur de lys perdeu), A 'xplorao do interior eS(;J
nhola ps de lado o seu famoso protecionismo. Avido por va provando ser um pesadelo poltico aineb ma ior cio
alicerar o seu prestgio e mitigar a "lenda a respei a sua precedente martimn,
to da crueldade espanhola, V aproveitou a oportuni, Os pesadelos logsticos da cio interit lI'
dade para agir como um ilustrado monarca continental. eram tambm novos, e a expedio La Conclamne n:lO foi
Condes estabelecendo os limites expedio poupada de nenhum deles, Os rigores do clima allclino e J
acordadas e dois espanhis, Antonio de Ulloa e viagem por terra provocaram enfermidades continuadas,
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ge Juan, agregados para assegurar que a pesquisa danificados, Derda de eSDcimes, cJck'mos de
no desse lugar espionagem - o que prontamente aconte- anotaes n;lOJhados, frus
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ceu. Da mesma forma, praticamente tudo o mais erra o grupo francs se desintegrou clbendo a
do. A expedio La Condamine foi 1..Im empreendimento to cada um encontrar sua prpria maneira de voltar para C;IS~l
rduo que mais de sessenta anos Sy passariam antes que
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ou, ento, permanecer abandonado na Amrica cio Sul. A.in
qualquer coisa semelhante fosse outra vez tentada. 6 Rivali da qUe 'a expedio sul-americana tivesse tido indo UI1l ~ln()
dades dentro do contingente francs rapidamente cindiram antek del sua contrapartida enviada para o Artiol,
.
0.5 vnculos de colaborao. A cooperao internacional deu damente uma dcada transcorreu antes que os
lugar a interminvel disputa com autoridades coloniais bre~iventes comeassem sua tortuosa volta pnra a
sobre o que poderia ou no ser visto, medido, desenhado H muito, a questo do formato da Terra bavLl siclo decidi,
toda a expedio foi mantida em Quito por oito meses, acu Alm de informao sobre outros assunto.", () grup()
sada de planejar o saque dos tesouros incas. Os estrangei sul-americano trouxe para casa desconfon:i veis sohr,'
ros, com seus estranhos instrumentos, suas men a poltica e o (anti-) herosmo da cincia. O l11atcm:lti(;,) Pil'l
suraes - da gravidade, da velocidade do som, alturas e re Bouguer retornou primeiro e ficou com ;1 glria ele rcl~ll;lr
distncias, cursos de rios, altitudes, presses barom~tricas, o ocorrido Academia Franrpa de Cenc~l", La Condamlll:
eclipses, refmes, trajetrias das estrelas eram objeto de em 1744, via e foi aclam:ldo pur sua inC'
contnua &uspeita. Em 1739, o mdico do grupo foi assassi dita jOiI1ada amaznica. Por meio de uma Glmp:l
nha contra Bouguer, La Condamine conseguiu se firmar por
toda a Europa como o prncipal da expcd:\u, En ..
--I 4, Alonso de Ovalle - An Htsloricaf Reltion (~/ lhe Kingdom of Chile quanto isso, Louis Godn, o lideI' nominal c:a expedico, es
em Pinkerton, op, cito vol, 14, pp, 30-210,
5. Beragh, op. cit" p.S. tava lentamente percorrendo o caminho de volta,
6, Mnha analise nesse ponto faz uso d()~ trabalhos de Victor Von Hagen a Espanha, em 1751, foi-lhe
'I - South Amerlca Calted Them, New York, Knorf, 191'1; lflne devido a
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,1 - Introduo a Voyage sur L imazone de La Condamine, Paris, Maspero,
1981, pp.5-27: Edward J. Goodman - Tbe fJxp/orers of South Amerim, O naturalista Joseph de continuou n Hll suas pcsqu
1 New York, Macmillan, 1972, .'ias na Nova at~1771, foi m:ll1d:lc!O t'mhl
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cincia e sentimento, 1750-1800 cnca" conscincia planetria, interiores
.<1 de Quito, completamente louco. O jovem tcnico Godin a compeuao el~tre as naoeq cOntinuou a ser () !1l()lor (1:1 c\
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des Odonnais alcanou Caiena, onde esperou dezoito anos pansao europela no extenor.
por sua esposa peruana (voltaremps trdjetria desta mulher Num aspecto, a expedio La Concbmine t'oi unI su
ma:.s adiante), retomando finalmente para a Frana em cesso verdadeiro: elhquanto relato. As hist(r"s L' texlOS
Dos outros, nada mais se ouviu. ela provOcou, circularam por toda a Europ~1 pm
A cooperao da Espanha com a expedio La Conda em circuitos escritoS e orais. De fato, o corpo de textos
mine constitui evidncia flagrante do ipoder da cincia para sultante daexpeclio La Condamine sugere hcm () alc:lllr,"l'
elevar os europeus acima de suas mais intensas rivalidades e a vadedade dos relatos de viagem produzidos el11 mea(b~
nacionais. O prprio La Condamine celebrou este impulso do sclo ),.'VIII, relatos que, por sua vez, trouxcr:l111 outr:lS
continental no prefcio a seu relato da viagem, no qual con partes Ido mundo para as imaginaes cios euro~)I:us. [11ll
gratulou Lus :XV por apoi?r a Coop~ro cientfica entre as breve inventrio dos relatos da expedi~'o 1.<1 Condanlm'
naes consorciadas, mesmo quando, simultaneamente, em pode ajudar' a sugerir o que significa falar sohre
guerra contra elas: "Enquanto os exrcitos de Sua Majestade relatos'e zonas de contato neste momento da llistcria,
moviam-se de um confim a outro da Europa," afirmOl~ La O matemtico13ouguer, o primeiro a retornar, escreV('u
Condamine, "seus matemticos, disp~rsos por toda a Terra, seu relatrio para a Academia Francesa de CiC:nchl,s em ]7-H,
trabalhavam em Zonas Trridas e Frgi'jlas, para o av<mo das num,) Narrativa Ab,'eviada de urna Viagenl (I() PCI'/I, Dl'
cincias e o benefcio comum de todas as naes.'" Todavia, cio, a ~oz do cientista predomina neste retllo. e;ill"LllLlrandn
no se pode deixar de notar aqui o cpnspcuo tom naciona se o discurso em torno das
lista de La Condamine: o cientista francs orgulhosamente VlI.}.!;LI...'-R' etc. Entretanto, quando sua viagem se volt:l r1:lr:1 i)
congratula seu prprio rei por seu cosmopolitismo esclareci interior, a narrativa cientfica de Bouguer se c
do. Num esprito.igualmentc dbio, tanto a Real Sociedade urna histria de sofrimentos e privaes qUl' !lll:S11l0
Britnica quanto a Academia France,sa de Cincias galardoa leitura se torna comovente. No ponto em que a
ram os espanhis Juan e DUoa com o ttulo de membros ho aarllpa no topo da gelada cordilheira elos Ande."i, IXlssagl'I1,'
norrios - gestos transnacionais indissociveis da intensa ri sobre frieiras hemorrgicas e escravos amerndios ll1on'(:mlt 1
validade nacional entre a Gr-Bretanha e a Frana e seus in peb do frio se confundem com
teresses conflitantes na Amrica espanhola. Tais gestos cas sobre a cio calor do corpo. Sobre as minas, Bou
resumem o jogo ambguo de aspiraes nacionais e conti guer relaw apenas boatos, observando que '.i]
nentais que havia sido uma constante ao longo da expanso natureza do pas" torna difcil que outras detas sejmn encon
europia e que haveria de permanecer assim durante a era tradas, e tambm que "os ndios so sbios I) bastl!1te par:l
da cincia. Por um lado, as ideologias dominantes traavam no serem muito pre3tativos neste tipo de
uma dara distino entre a (interessada) busca de riqueza e "caso fossem bem-sucedidos, estariam
a (desinteressada) procura de conhecimento; por outro lado, a quase insuportvel explorao de seu
do poro nfima dos rendimentos." " Bouguer t:unl)em pro
. ~~~e de la Condamine - A Succint Abridgi!ment a ()f
duziu um livro tcnico sobre a expedico
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made withn the Inland Parts of Suuth-America, Lonclon, E.
1748, p.iv. Esta a primeira traduo em Ingls de seu Relatiun abrgi
d'un voyage fait dans l'ntrieur de l'A mrique meridionale (1745) (ecl
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re la terre.
:i bras.: Ralato abreviado de uma viagem pelo interior da Amrica meridio I Pierre Bouguer - Ali
c!la \,"(:}YI/!{' lu !~('J'U (I 1.'111
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e sentimento, 1750-1800 cincia, conscincia planetria, interiores
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o resto die sua vida,
. ele se empenhou na
e em pblmkas sobre um leque de temas cientfico::: relacio
FigA. A expedio La Condamine fazendq mensuraes. Extrado de
nados Amrica, incluindo os efeitos do
Mesure des !rois premiers degres du Mridie'n dans I'Hmispbere Austral
(amplamente utilizada por missiomrino; eSIX\'
(Mensurao dos Primeiros Trs Graus do Meridiano no liemiftrio
tra "nu.:n novo mundo, longe de tedo comrcio humano, so 11. Evident<:lllente, ainda C;, A nws recente re-l'11ccI1;I", tI:! I'r<
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cincia e sentimento, 1750-1800 cincia, conscincia planetria, interiores
quer rodeio de entretenimento, o livro um enorme com apenas parcialmente. lima histria de sobrevivncia
pndio de informaes acerca de muitos da geo heri no um homem de cincb eurupcu, IJUS Llllla IlIU
grafia colonial espanhoa e da vida nas espanholas lher euro-americana, IsabeIa Godin des Odor.ais, da aristo
' -.....'...'-LV, claro, minas,
peruana, que se casou com um membro da expe(li
maes estratgicas. um trabalho "estatstico", no sentido com quem teve quatro filhos. () (;Sr~i' Tia men t ()
original do termo, isto , "uma investigao sobre o estado do grupocientfco, seu G1arido rumou para Caiena. onde
de um pas" (Oxford English Dictionary). Adams louvou o passou dezoito anos tentando obter
tratado por sua confiabiHdade emj ,contraste com os "pom gem para a Frana para si mesmo e sua famlia. Aps a tL
posos narradores de curiosidades maravilhosas,"12 uma alu mor~e de seu quarto e ltimo filho, Mme. Godin, ago
so literacura de sobrevivncia e~gerd, e provavelmente ra j c9m maIs de quarenta anos, tomou uma ousada deci
a ta Condamine, em particular. so. Acompanhada por um grupo que inclua seus irm;los,
]uan e Ulloa tambm enderearam a seu rei um se sobrinho e numerosos criados, partiu para se juntar a seu
gundo volume, clandestino, intitul;:tdo Noticias secretas de esposo atravessando os Andes e descendo o Amazonas
Amrica (Nntcias secretas da Am<1rica), que dissertava criti pela mesma rota que fez de La Condamine um heri. O de
camente sobre vrios aspectos da colonial espanho sastre se. seguiu. Consta que, amedrontados pela varoLi.
la e, como um cOmentarista obselvou, llmuito seus guias indgenas desertaram, e todos, incluindo seus il'
que no foi dito nos trabalhos dos sobrinho e criados, morreram aps definharem por
No foi seno nos primeiros anos, <;lo dias na selva. Mme. Godin, em delrio, gr:lclu~d
Imprio Espanhol entrou em seu mente voltou sozinha at o rio, onde foi resgatada por ill
obra caiu :las mos dos ingleses e erm canoas que a levaram at o
Junto ao catlogo de textos da La Conda Com
mine que foram publicados, existe, I um rol de escritos que assim prossegue o il COSI<I
no :J foram Est~ inclui, por exempto, o trabalho de ]osepb da Guiana para ser levada para a :;empre
de ]ussieu, () naturalista que permaneceu na Amrica do Sul devotado marido.
e continuou a exercer sua profisso por outros vinte anos. A romntica e arrepiante narrativa de . Goclin
Quando ele afinal enlouqueceu e teve de ser reembarcado publicada em 1773 - no por ela, mas por Sl" c:-:pOSO, a pc
de Quito para a Frana, os que o enviaram, dic\o de La Conclamine, que a anexou s ele "U;l
ao que parece, perderam de vista o ba que continha o tra pria narrativa.'!' Mesmo hoje, o ocorrido (> profuJ1cbnCIlll'
de toda a sua vida de Apenas um estudo, emocionante, suas complexidades irresistveis, elmo pare
sobre os efeitos do quinino, veio a ser publicado - sob o cem freqentemente ser sempre que prot:lgoni:;tas femini
nome de La Condamine! O restante nas aparecem na prosa sobre <I coloniaL A histri:l
dia em Quito. Mme. Godin uma reaoresentaco cI;l grande proem;1
A mais apab:onante e duradoura histria que adveio ama/ona - ou
da expedio La Condamine foi um relato oral a isto. O amor, a e :l :;C'l\";l tral1SfOflll<ll11
a mulher crioula. ele uma aristocrata bntllCl. na ('ombatI\':i
-1,2. john~~~l~S Prefcio a VOy(lge
ton, op. cit., vo~. 14, p.313.
lo Sowh AII/('ric(1 (747), em l'inker
,
1'L Lu~ Goclin eles Odollnb Carla M. la C()Il,Llll1llL',
13. Von H~\g"n - op. cit., p.300. anexada li Ahrh(r;ed Nmnllil'i? em Pinkerlon, u/l. cil.
saga a destri enquanto objeto sexual: Mme, Godin emerge u"'''''':..r.....,."... ,k.' .
---~._ .. ~~.
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anos do sculo XVIII, a explorao do interior havia se transe as na concepo CJue tem a Europa ele si Il1l'SIll:1 c (1(' .~\I:I.'
formado no objeto principal das energias e imaginap ex~ .globais. No obstante seus calamitosos :\
pan8ionisas. Esta mudana teve con~qncias significativas expedi1l,o aparece .como precursora. Enquanto relato.
para os relatos de viagem, exigindoc dando vazo a novas exerriplifica; <:onfiguraes de relatos ele viagem que, 11:1
fonuas de conhecimento e autoconhecimento europeus, no ,11edida em que formas burguesas de autoridade ganhavanl
vos modelos para os contatos eurom~\ls alm-fronteiras e noc impuls~), seriam radicalmente reorganizados. (O
vas formas de codificao das ambies imperiais europias, seguinte examinm'estas transformaes nos cclatos de via
Em o espi'lo francs Frzier c~n$iderava impossvel a gem na frica Meridional.) Na segunda metade do sculo
explorao interior do Peru dado Rl1e "os viajantes devem XVIII, muitos viajantes-escritores vc se dissociar de tr:Jcli
carregar at mesmo suas prprias qUlfas, a menos que aei tais como a da literatura de sobreviv nr
tem deItar-se no f:ho, como os natiyos, sobre peles de ove cvica OU narrativa de navegao, pois se
lha, tendo o cu por teto,"15 Para o prefaciador ingls do re novo projeto de construo de conhecimento da histria
lato de Ulloa, trinta anos mais tarde, a explorao do interior A emergncia de3te segul1
: um passo ~ ser forosamente dado: I!Que idia poderamos do evento de ] que prometi discutir: a de
ter de um tapete turco", pergunta, "se 'observarmos apenas as Sistema da Natureza, de Lineu.
berras ou suaorla?"16 Ao redor de ;.1792, o viajante francs
Saugnier viu isto como uma questo de justia glolx;l: o inte
rior, tanto quanto a costa da frica, "merece a honra" da visi
tac europia. 17 Em 1822, Alexnder Humboldt
o sistema
"no haver de ser pela navegao costeira que poderemos
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. cincia e sentimento, 1750.180(' cincia, 'c'onsinca planetria, interiores
----------------------- ---~--.-,
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te e seis) configuraes bsicas de estames, pistilos etc. fo essencial que as distinga de tipos adjacentes. Sistemas par:l
ram identificadas e distribudas de acordo com as letras Ielos foram tambm propostos para animai:; c minerais.
alfabeto (veja:..se ilustrao 6). Quatro parmetros visuais adi O sistema lineano sintetizou as aspir;\(,:es contint'll
cionais completavam a taxonomia: nmeto, forma, posio tais e transnacionais da cincia europia discutidas anterim
e tam:mho relativo. Todas as plantas da Terra, argumentava mente no contexto da expedio La Conclamine. Lineu, de
Lineu, poderiam ser inseridas neste simples sistema dis liberadamente, restaurou o latim em sua
tines, incIuindo aquelas ainda desconhecidas pelos euro
cisamente, porque no era lngua nacion<J I de n ingul'tl1. ~)
peus. Tendo sua origem nos esforos c1assificatrios anterio
fato de que ele mesmo fosse oriundo da Sucia, um prot:l
res de Roy, Tournefort e outros, a abordagem de Lineu tinha
gonista relativamente menor na
uma simplicidade e elegncia ausente em seus antecessores.
. ". indubitavelmente aumentou :1
em oarticular pelos
;)7
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Kalm, pupilo de Lineu, foi para a Amrica do Norte, em
fosse conJ1ecicla :Interiormente
1747, Osbeck para a China, em 1750, Lofling para a Amri
pela
ca do Sul, em 1761, enquanto Solander juntou-se primei
e os relatos de viagem jamais seriam (
ta viagem de Cook, em 1768, Sparrman sua segunda, e;11
metade do sculo XVIll, fosse uma
1772 (consulte~se captulo 3 a seguir), e assim sucessiva
primariamente cientfica ou no, fos:ic ()
mente. As palavras do prprio Lineu para um colega em
23, Sten Lmlrol], "Linnal'u.\:11 his Europco:lI1 C'H1h',1 ,. ":11 I\n 'il"!',"; ,
22 Citado em ibid., p.444.
cil.)
11.
narrativq Ide "anticonquista", na qual o natur;dist:l natur;!I i
ii. Z? 4 p~pria presena mundial e ;l autoricLlde do burgut's
europeu", EsLL narrativa nan.lr'llista mantcri: ' um:! t'nOrll1l'
fora ideolgica por todo () sculo XIX, te' , l'll1:111l'CC !11ui
to presente hoje em clia, entre ns,
O sistema lineano apenas uma vertente' cios eSCJlle
mas classific;ltrios totalizadores que se aglutinall1 em me:l
cios do ,sculo}.'VIII na disciplina "histria mturnl" A vers;lo
definitiva do sistema de Lineu surgiu paraJcLtl11cnte a obras
igualmente ambiciosas como a Hstoire No til /'clle c1e~ Buft'ol1,
que comec)U a ser publicada ctn 1749, ou /'(/lI/;lle" de.;'
plantes (1763), ele Aclansun, Mesmo que l'stcs :tlltorC,S tc'
nhan1 proposto sistemas rivais, com diferen~',ls suhsl;mti\'as
em' relao ao ele Lineu, os debates entre eles perl11:tIll'
cerain baseados no projcto totalizante e cl:tssificllerio qUl'
c1istingtle 'este perodo, Tais esquemas constitul'm, C0!l10 oi 1
serva Gunnar Eriksson, "estratgias alternativas r"iLl :t re~tli
de
I, zao um projeto comum a toda a histria t"latural cio se',
culo XVIII, a representao fidedigna do plano d~l prpri;l
naturez~,"2'1 Eil1 sua d8ssica anlise do pensamento do scu
lo XVIII, The _Order (f 17Jings (970), Miclll'1 !'oucnilt eles,
creve assim tal projeto: "Dada sua estrutur;l, ;1 gr;lndt' vari('
(!;ide de 'seres que ()l'UP,Il11 a superfcie elc) glc)l)o pode' SC'I
elistribuda tanto na seqncia de Ulml lingu:tgcl11 t1escriti\:1
quanto no campo de uma mathesis que POcle'I'ia :1 illC!:1 S(,I
uma cincia geral da orelem,"'; Falando cl:t hist(lri:l n:ttur:11
C01110 algo que processa "uma descrio do \-is\'l.J", :1 a n:i
lise de Foucault salienta () carter verb;t1 c1l',~i:l empl'"s:!. ,I
qual, como afirma,
lem comu cOllcli(IO lil' sua possihilid;llk -,I -,Ifillltlacl,' d,l, ("i\,:'
e da lingu:lgem com a representao: ',1:1, 1,1',1 c:\i,';lc- ell,!1l:111,'
tarefa apl'n,'I.' n;1 i11ectilLI cm que as cois-I,'; ',' ,I.' p:d;I\T<l,'; e,'(vj,illl
separalLts_ Deve, portanto, reduzir esta di"l;llCi:1 CIltl'C e 1:1.'( ,i,
Fig,6, O sistema de Lineu para a identificao dao plantas por meio forma a trazer a linguagem to prxima qU:lnl(l jlos_sin'l ll:l" pl,
de! seus componentes de reproduo, Esta ilustrao de Georg D, Eh
ret surgiu pela primeira vez na ec!i;io Leielen, ele 1736, elc ~ua SP'
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incia e sentimento, 1750-18QO
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servaes, e, as coisas observadas, to perto quanto possvel das devotou sua vida JO SeU pr()[il"lCl
palavras. '6 No .se encontrar mais vvido comprov:11
que o conhecimento existe no C(Jmo ('"Ltico
Sendo um exerccio no apenas de correJao, mas fatos e isoladas, ma;, como :tl i\' icl:i de
tambm de reduo, a histria na~ural a verbais e
EvidentemeJl:ite, a empresa em'ulvi:\
1\<;"Ul11/S" a rea total do visvel a um sistema .de variveis
de suportes lingsticos. Militas formas ele
valorl;S podem ser designados, se no por uma quantidade, ao
fala e leitura veicularam o conhecimento 11,\ ('Sret':l P\'J! llicl. l'
meno~; por. uma descrio perfeitamehte clara e sePlpre finita. ,
portanto, possvel estabelecer o sistema de identidadc~ e a ordem criararne sustentaram seu valor. A autoridade da cinci:l csLI
das diferenas existentes entre entidades naturais," va envolvida Imais diretamente nos textos clesntivo:;
como .os incontveis botnicos
Embor.a os historiadores naturais muitas vezes se con em torno das vrias nomenclaturas e taxonoJ11ias, Os rclall)"
siderem engajados na descoberta de algo j exL'ltente (o pIa jornalsdcos e a narrativa de vilgem, contuclo, eram
no da natureza, por exemplo), de um ponto de vista con res essenciais entre a rede cientfica e o pblico europeu mah
temporneo, seria antes questo de um "novo campo de vi amplo, eram agentes centrais na legitima~';Io da :lLllUncb,
so estar sendo constitudo em toda a sua densidade. Ide cientfica e de seu projeto global, ao lado de outl';!S forma,.;
Se a histria natural foi inquestfonavelmente constitu de ,ler o mundo e habit-lo. Na segunda metade
da dentro e por meio da linguagebrt', foi tambm um em I viajantes-cientistas haverian: de desenvolver
preendimento que se concretizou em vrios da vida mas cle'discurso que se distinguiam incisi\',1i1 1 ntt'
material e social. A crescente capacidide tecnolgica da Eu qdc LaConchlmin h:wia herdado n8 primeir; l1et:lclt,
ropa foi desafiada pela demanda por. melhores meios de pre Meu argumento que a
servao, transporte, exposio e documentao de C ...,'JCL,' um projeto europeu de novo tipo, uma n< )v:\ foI'! n:\
mes; as especializaes artsticas do desenho em botnica e que se poderia chamar de conscincia
zoologia se desenvolveram; tipgraf~ls foram levados a apri : I
Por trs os supOltes europeus c!e
pregos foram criados para cientistas em expedies coloniais projetos totalizadores ou planetrios. Um ser<t ~l
e postos coloniais avanados; redes de patrocnio financia o, um feito duplo que consiste na
vam as viagens cientficas e os escritos subseqentes; socie mundo do relato escrito deste
dades amadoras e profissionais de todos os tipos prolifera termo "circunavegao" se refere tanto 8
vam local, nacional e internacionalmente; as colees de his Os europeus tinham repetido este feito
tria natural adquiriram e valor jardins que continuamente desde que
botnicos tornaram-se espetculos pblicos de larga primeira vez l1el dcada de 1520. O
e () trabalho de supervision-los transfofl1ou-se no sonho do rio, igualmente dependente da tinta e do
Jl..'lturalista. (Buffon veio a ser o mantenedor do jardim real. mento do costeiro do mundo, uma COletiV:1 que
estava em andamento durante o sculo J\.\I1II, mas que
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cincia e sentimento, 1750-1800 cincia,: conscincia planetria, irlteriores
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sidaele do esprito humano; sua toralidade " l<lU gr:lIldl' qUl' P:I
rias de suas naes mantinham possesseE:e colnias. "29 A cir rece ser, e de fato . inexaurvel em todos os scu;-; (\l'la,he~ ..'
cunavegao e a cartografia, ento, j haviam ensejado aquilo
que se poderia chamar de sujeito europeu mundial ou plane Ao lado deste uni verso totalizador,
trio. Seus contornos so esboados com desenvoltura e ce o velho costume lin'Jr!() ?t n;Jvl~paco ele se
liaridade por Daniel Defoe na passagem constante da primei espao~ ~m l)ranco dos In3pas com c1esenllOS icnicos dl'
a
ra epgrafe este captulo. Como as palavras de Defoe deixam curiosidades e perigos regionais arnazon;lS no Amazonas.
patente, este sujeito histrico mundial europeu, homem,3 no Caribe, camelos no Saar8, elefantes na ndi:l,
secular e letrado; sua conscincia plall1etria produto de seu
assIm por
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,,. Para grande desconforto de muitos, inclusive do Papa,ele Evidentemente, o mapeamento associado ;1.S naveg:\
fInalmente incluiu as pessoas em sua classificao dos ani es tatribrn exerceu o poder de nomear. De era 11<
mais (o rchlo"homo sapiens de,su"j- autoria). Suas de~cr processo de nomear que os projetos e
es, contudo; diferem daquelas de, Qutras criaturas_ Inicial s combinavam, no sentido em que os emissrios rcivindlcl
mente, Lincu colocou entre os quadfpedes uma categoria vam o rrtundo pelo batismo de marcos e for:'
isolada bomo (descrita apenas pE;la frase "conhece-te a ti ficas com nomes eurocristos. Mas mesmo a.'; ,1111, Ci-ro qUl'
mesmo") e traou uma nica distin~o entre bomo sapiens o nomear da histria natural mais dirctan1l.:'11
e homo mcnstrosus. J em 1758, o bomo sapiens havia sido te transformador. Ele extrai todas as coisas do
classificado em seis variedades, cujas principais caractersti recoloc numa nova estrutura de conhecimento
cas so sumariadas em seguida: pousk precis~a:mente naquilo que a distancia do Ct
tico, Aqb:, o nomear,. o representar e () reivindicar si'to todos
a) Homem selvagem. Quadfpede, a nicsrna coisa; o nomear d origem ~I realidack' da mdem.
b) Americano. Cor de cobre, colrico De uma outra DerSDectiva, contudo, ;\ llsl'ia llatm:1 i
espesso; narinas largas; semblante rude; barba rala;
alegre, livre. Pinta-se com fina~ linhas vermelha,;. Guia-se por no
costumes. i Se v a si mesma, ela no exerceri,t qualquer unrxlCto no ou
c) Europeu. Claro, sangneo, muscuJoso;cabelo ~ouro, castanho, sohre O mundo. A "converso" da natureza hl'ut,l
ondulado; olhos azuis; delicado, perspicaz, in',entivo. Coberto ,)ystenw.naturao, seria um ato,
por vestes justas. Governado por I 'I. .
cJ) Asitico, Escuro, melanclico, trato, a1go que nao exercena
curos; severo, orgulhoso, cobioso. Coberto por vestimentas sol . certamente no sobre alm'ls. Em
tas, Governado por opinies. , navegador e o conquistador, o coletor-n,ttur:tlisw lln~;l "i
e) Mricano. Negro, fleumtico, rela,xado. Cabelos negros, cres gura benigna, freqentemente simptica, podere" clt'
pos; pele acetinacJa; nariz achatado, lbios tmidos; engenhoso, transformao se limitam aos contextos c!ol11c;stico ,lo
indoiente, negligente. Unta-se com gordura. Gove' nado pelo
capricho.lI! dirn ou da sla da
lhe no prximo captulo, d figura do natur:!Ii:iI:1 1l'1l1 I
Uma categoria final, "monstro", inclua anes e sua clt' ('011 llt'C i
gantes (os gigantes da Patagnia ainda eram uma forte menta assume ,Ispectos decididamente n< 1 r [in 1,' !ei h L';'
realidade), da mesma forma que os "monstros" por Lineu em sua prpria inugcli1 de :\ri:\(ln"
como os eunucos. A categorizao cios humanos, como seu fio at a sada do labirinto do \linolauro.
se pode notar, explicitament{~ comparativa. Dificilmen Neste pomo, encontramos ,Ima c!r,
te se poderia ter uma tentativa mais evidente de "natura il1()(,L'll1C l
lizar" o mito da su[)erioridade europia. Exceto
monstros e homens selvagens, tal classificao no instauraria
pouco modificada em alguns dos textos escolares de hoje os naturalistas eram vistos como :1L:~i!i:tr(::; <!,1S
em dia. racs comerciais exnansionistas da
mente, em troca de
tes, eles pnxluziam conhecimento conwrcialI1lcl1ll' lltili
veL nrinciDalmcnte eJ,\ hst()ria natural", ili'i'llil\;\ 1I111 ill
3H. John G. Burke, "The Wild MlIn'~ , l'll1 I>udley (~ Novak, Ci/!. )' (I \i,
cit., pp.266-7.
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/ ..._,..,
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domnio
no que se refere a plant~l.'i, animais e n' j
prazer individual, como so proveitosas para outros;
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39. Adams, op. cit., p.310.
41. Resenha de Vovages (md 'Ih/ve!, iH lhe Li]I'''I/I. ,Ie' 11:"",,/'1\11.'1.
Monthly Rev!cw, Nova St"l'e, 1'01. :3'), 17()6, pp.f2 . .1.
42. Anders Sparrlll,il1 Voyage /(i lhe capc li!' C/poli! lu!"',
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40, Citado em Staffrd, op. cit.. p.22. and 1. Rohinson, 17W5. ".,di!.
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cr:lcia e sentimento, 1750-1800 conscincia nlanet.:'ria. interiores
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s Amricas. A sistematizao da natureza representa no peus Pflssavam a ser conSlOeraoos samenlc 11 111 pouco
apenas um discurso sobre mundos no europeus, como ve nos primitivos que os habitantes do Amazol1~IS Da mcsJtl;1
nho discutndo, mas um discurso urbano mundos no forma, O sistema da natureza anulou formas camponcs,ls li
um discurso burgus e letrado mundos no cais de saber dentro da Europa, exatamente como as ind
e rurais. Os sistemas da natureza eram no exterior. Sten Lindroth associa ,I :lhord,lgeJl1 doell
tanto no interior das fronteiras europias em seu ex men'tal e totalizadora de Lineu COfn procedimentos dn bUI()
terior. Os herborizadores estariam to na
campestre d~ Esccia ou do Sul da quanto no Ama
zonas ou na frica meridional. Na Europa, a sistematizao
da natureza surgiu num momento erh que as relaes entre
centros urbanos e reas rurais estavam mudando rapida tr,\ ri ao na Europa conl1eClmellto
mente. As burguesias urbanas comearam a intervir numa sua poplao do que os suecos; um milho c meio
nova escala na economia agrcola, procurando racionalizar cidados suecos en:im todos ele;; registr;l<os n;l:; CO]UIl;I"
o processo produtivo, aumentar 0$ lucros, intensificar a ex estatsti'cas adequadas como nascidos, morto,';. Glsat!(
plorao do trabalho campons e administrar a produo de doe'ntes etc";; De fato, os rtulos Iineanos COl110 gnero v
limentos que os centros urbanos dependiam completa se assemelham notavelmente aos nomes l' sohrem
mente. O movimento do fechamento de terras (enclosure mes requeridos dos cidados - Lineu s;; rder;;t ,lOS n()nw.~
movement) foi uma da~; incervenes mais reti genricos como "a oficial de noss,1 IcrbliGl l)()t~lIll
rando camponeses da terra e lanando-os nas. cidades ou ca."'\ Ainda que a sistematiza co da natureza tenhl nreced
em' comunidades de posseiros. Comearam nesta poca as do o advento da
tentativas de se aperfeioar cientificamente a criao de ani forma
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mais domsticos e colheitas. H Qualquer forma de sociedade (lneanos) e os princpios que en-1C1 5 11
I de subsistncia parecia to atrasada :em comparao a mo Padronizao e produo em por
I
delos que buscavam a formao de excedentes de produ
o, quanto carente de "aperfeioamento". Em J750, o co
deXadC1J sua marca na
peas sobres::,alentes para armas de fogo. Outras
advm da organizao militar, a qual, exatamente por es::;;t
I,
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cincia e sentimento, 1750-1800 dnda, conscincia planetlia, :nteriores
ra, enquanto voc o l -, em Soweto e na margem ociden pode imaginar o que haveria de to avana elo no
tal'do Jordo, pedras esto sendo atiradas contra veculos mo avanado) mas, como for, houve efetivamente um:l
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1t blindados por povos subjugados e desarmados.) Os estudos acumulao, Na esfera da cultura, os muito~ ele cok
,~u acadmicos sobre o Iluminismo, resolutamente eurocentra oes que foram montadas neste perodo c1esenvuln,:r~1l11-Sl'
'r dos, tm freqentemente negligenciado o papel dos agres em part como a imagem dessa acumulao e C0ll10 SU~I k
.! gitimao. A sistematizao da na,ureza leud esr~l clt'
sivos empreendimentos coloniais e comerciais europeus
acumulao a um extremo totalizante e, ao IllC311 temj1(
I como modelo, inspirao e base de testes para formas de
disciplina social que, re-importadas pela Europa no sculo molda Lcarter extrativo e transformador do lismo il'"
XVIII, foram adaptadas para a constrl!o da ordem burgue clustrial e os mecanismos de ordenao que est,lv;lill CO!l1e
~ sa, A sistematizao da natureza coincide com o apogeu do , a sociedade urbana de m;issa.' 11,1
I
1 trfico de escravos, o sistema de plantatiol1s, o genocdio a hegemonia burguesa. Como construto j(
I colonial ga Amrica do Norte e na frica do Sul, as rebe uma imagem do mundo apropriada e n.:'utiL;:lda a 1';\
I
lies de escravos nos Andes, Caribe, Amrica do Norte e tir ele uma perspectiva europia unificada.
noutras partes. possvel reverter a direo do olhar linea Tanto na Europa quanto nas frentes externas de expall
no, ou daquele do viajante de Defoe, de forma a se obser S~10, .esta prodU~IO de conhecimellto n~tO express:1 CO!H.'XCS
var a Europa a. partir da fronteira imperial. Neste caso, sur COm relaoes mutveis trabalho ou de rroprieclade. ou
gem outras formas iluministas de padronizao, burocracia com aspirac>s territoriais. Este, contudo, Unl a.specto co
e normalizao. Pois o que seriam o trtico de escravos e o mentado indiretamente por teorias contempornea.s sobre ;1
sistema de plantations se no macios experimentos em en estrutura do Estado mcderno. O Estado, sustenta Nicos Pou
genharia social e disciplina, produo em srie, a sistemati lantzas, sempre se retrata "numa imagem topolgica ele ext,'
zao da.vicla humana, a padronizao de pessoas? Experi rioridade", como se estivesse separado da economi:l: "Eo
mentos estes que se mostraram mais rentveis do que jamais quanto objeto epistemolgico, o Estado concebido como se
sonhado por qualquer europeu. (A riqueza que fomentou a tivesse fronteiras imutveis fixadas por meio ele sua exc!u:;l>
Revoluo Francesa foi criada em Santo Domingo, que du dos domnios atemporais da economia. QU~Il1c1() o
rante os ano') 1760 era o lugar at ento mais produtivo da da expanso europia volta-se para as reas continentais af~1.s
Terra.) A agricultura baseada em ptantatons se constitui cla tadas da costa, pard a "abertura" das interiores, tais
ramente num elemento crucial para a Revoluo Industrial concepes estaro tanto dentro da
e a mecanizao da produo. E, similarmente, mesmo no em suas frentes de expanso. Os captulos a analbar:!o
incio do sculo XVII, no havia burocracias semelhantes s mais aprofundadamente como tais
burocracias coloniais, para as quais a Espanha forneceu um elas e displltaclas na literatura de viagem r; de
~
~ sofisticado exemplo.
:1
;)
Historiadores econmicos por vezes rotulam os anos
1500-1800 como perodo de "acumulao primitiva", no
:1
qual, por meio da escravido' e monoplios protegidos pelo
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o c:apital necessrio para desencadear a Revoluo Indus
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