RICHTER Et Al - Livro Do NEPEG 2022
RICHTER Et Al - Livro Do NEPEG 2022
RICHTER Et Al - Livro Do NEPEG 2022
PERCURSOS TEÓRICO-
METODOLÓGICOS E PRÁTICOS
DA GEOGRAFIA ESCOLAR
GOIÂNIA | 2022
© Autoras e autores – 2022
A reprodução não autorizada desta publicação, por qualquer meio,
seja total ou parcial, constitui violação da Lei nº 9.610/98.
Depósito legal na Biblioteca Nacional, conforme Decreto nº 1.825,
de 20 de dezembro de 1907.
Comissão Técnica do Sistema Integrado de Bibliotecas Regionais (SIBRE),
Catalogação na Fonte
C&A ALFA
COMUNICAÇÃO
Presidente Conselho Editorial
Luiz Carlos Ribeiro Andréa Coelho Lastória (USP/Ribeirão Preto)
Carla Cristina Reinaldo Gimenes de Sena (UNESP/Ourinhos)
Revisão Geral Carolina Machado Rocha Busch Pereira (UFT)
Fátima Toledo Eguimar Felício Chaveiro (UFG)
Loçandra Borges de Moraes (UEG/Anápolis)
Projeto Gráfico Míriam Aparecida Bueno (UFG)
Adriana Almeida Vanilton Camilo de Souza (UFG)
CDU: 910:37
Sumário
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Apresentação
Denis Richter
Lorena Francisco de Souza
Priscylla Karoline de Menezes
E
ste livro é resultado das atividades e discussões presentes na
realização da décima edição do Fórum Nacional NEPEG de
Formação de Professores de Geografia, ocorrido em dezembro
de 2020 no formato remoto, devido à pandemia de Covid-19, que teve
como tema: “Os percursos teórico-metodológicos e práticos da Geo-
grafia Escolar”.
Esse evento, promovido pelo Núcleo de Ensino e Pesquisa em
Educação Geográfica (NEPEG), ocorre a cada dois anos e é destinado
aos docentes e estudantes do Curso de Licenciatura em Geografia,
professores de Geografia da Educação Básica, pesquisadores da
área de ensino de Geografia e demais interessados na respectiva
temática. Assim como em outras edições, o Fórum foi estruturado a
partir de conferências, mesas-redondas e grupos de trabalhos (GTs),
sendo esses organizados nos seguintes temas: 1. Linguagens para
o ensino de Geografia; 2. Formação de professores de Geografia; 3.
Temas e conteúdos no ensino de Geografia; 4. Currículo, políticas e
programas para o ensino de Geografia; e 5. Fundamentos teóricos e
o ensino de Geografia.
As reflexões provenientes dessas atividades durante o evento
oportunizaram ampliar os debates acerca dos caminhos e avanços
teórico-metodológicos da educação geográfica, bem como reconhecer
os impactos desses estudos no desenvolvimento das práticas escolares,
as quais estão sistematizadas nessa publicação. Assim, este livro é
composto por 12 capítulos que abordam problemas e questões relevantes
para a Geografia Escolar na atualidade, oportunizando que os leitores e
7
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Apresentação 9
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Apresentação 11
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Apresentação 13
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FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS
PARA A ORGANIZAÇÃO DO ENSINO
Contribuições da Teoria Histórico-Cultural
P
artimos do pressuposto de que a educação escolar, ao promover
a aprendizagem de conceitos sistematizados pelas diferentes
ciências, pela filosofia e pela arte, propicia o desenvolvimento
psíquico dos estudantes e, de modo especial, possibilita a formação
do pensamento teórico.
Todavia, se por um lado temos essa perspectiva positiva sobre
a relação entre a aprendizagem conceitual e o desenvolvimento do
psiquismo humano, por outro, vivenciamos um movimento de negação
da ciência que ganhou força nos últimos anos, que coloca em ques-
tionamento o trabalho escolar. A onda de ceticismo sobre o valor da
ciência1 em casos como a imunização pelo uso de vacinas, o surgimento
de pandemias e o aquecimento global nos fazem duvidar do papel
formativo que a escola desempenha. Sabemos que ataques à ciência
1 A negação da ciência, às vezes, é feita por dentro dela mesma, é o que demonstra
a obra “Merchants of doubt. How a handful of scientists obscured the truth on issues
from tobacco smoke to global warming” (Comerciantes de dúvida: como um punhado
de cientistas obscureceu a verdade em questões que vão desde a fumaça do tabaco
até o aquecimento global) de Naomi Oreskes e Eric Conway. Leite (2014), em resenha
dessa obra, afirma que ela é uma excelente introdução ao debate e à investigação
sobre o fenômeno da negação da ciência para produzir a dúvida e a ignorância.
15
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Figura 1 – Texto utilizado para o ensino do conteúdo solo não tem o ano do plano
O Solo
O solo é a camada da superfície da terra onde vivem os seres vivos. Os elementos
que formam o solo são:
• areia: pequeninos pedaços de rocha que se apresentam em forma de grãos.
• argila: pequenos pedaços de rocha que em contato com a água adquirem a
aparência de barro.
*calcário: alguns tipos de rocha geralmente de cor branca ou amarelada.
*húmus: produto da decomposição de restos de animais que se acumulam no chão.
É no solo que nascem e crescem diversas plantas, onde vivem pessoas e muitos
animais. Ele é essencial para a vida do nosso planeta.
É do solo também que o homem retira a maior parte dos seus alimentos, por meio
do cultivo dos vegetais como verduras, legumes, frutas, cereais e da criação de
animais.
Fonte: Autoral.
Sobre a forma
De acordo com Ilienkov (2006), a cognição é um processo no
qual o abstrato e o concreto encontram-se em unidade. O pensamento
que contempla essa unidade é denominado por Davidov (1988) de
pensamento teórico. Esse tipo de pensamento é formado na atividade
de estudo.
No curso da formação da atividade de estudo, nos
escolares de menor idade se constitui e desenvolve
uma importante neoestrutura psicológica: as bases
Considerações finais
Na análise da qualidade da educação brasileira, normalmente, são
lembrados os baixos índices de desempenho alcançados pelos estudan-
tes em avaliações externas em nível nacional e internacional. No entanto,
para além de avaliações externas ou internas, nas interações sociais
que ocorrem no cotidiano, sejam elas presenciais ou virtuais, é possível
reconhecer em muitas pessoas com formação escolar pensamentos e
formas de atuação que evidenciam o baixo impacto da escolarização
na forma como elas se relacionam com o mundo.
A aceitação de argumentos contrários à ciência, que por inte-
resses políticos e econômicos circulam nas redes sociais – tais como
a afirmação da não existência da ditadura militar no Brasil, a crença
de que um vermífugo combata vírus, o não reconhecimento da relação
entre desmatamento e mudança climática –, é um dos exemplos de que
a educação básica não conseguiu formar em todos os estudantes um
pensamento teórico para interagir com a realidade.
Por essa razão, não se trata apenas de melhorar o ensino para
que os estudantes tenham melhor desempenho nas avaliações em larga
escala e, assim, elevar o Índice de Desenvolvimento Educacional (IDEB).
Rever o ensino, seja ele assentado em práticas mais tradicionais ou em
inovações que têm sido apresentadas como saída para a educação,
faz-se necessário para que a escolarização possa cumprir a função de
promover o desenvolvimento do psiquismo humano e, de modo espe-
cífico, possibilite aos estudantes instrumentalizarem-se das ciências
em estudo, formando, nesse processo, o pensamento teórico, o que
pode permitir a eles um protagonismo social e político mais consciente.
Ao analisarmos as operações de pensamento que são requeri-
das no modo usual de ensino, reconhecemos seus limites formativos
e destacamos as operações mentais que precisam ser requeridas dos
estudantes, se almejamos que eles desenvolvam o pensamento teórico.
Mediante o exposto neste texto, podemos concluir que um ensino
com esse potencial formativo não se faz somente com mudanças no
conteúdo ou na forma de ensinar, trata-se de pensar de modo conjunto
a natureza do conteúdo escolar, as características do sujeito que deve
entrar em atividade com esse conteúdo e forma de apresentação do
REFERÊNCIAS
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p. 16-21, 2019. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/resistencia-a-
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Sentido pessoal e atividade de estudo na Psicologia Histórico-Cultural. São
Paulo: Editora da Unesp, 2017.
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A. R. at al. Psicologia e Pedagogia I: bases psicológicas da aprendizagem e
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CENTRO DE GESTÃO E ESTUDOS ESTRATÉGICOS – CGEE. Percepção
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DAVÍDOV, V. V. La enseñanza escolar y el desarrollo psíquico. Moscú:
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ELKONIN, D. B. . Sobre el problema de la periodización del desarrollo psíquico
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LEONTIEV, A.N. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Livros Horizonte,
1978
LEONTIEV, A. N. Os princípios do desenvolvimento mental e o problema do
atraso mental. In: LEONTIEV, A. N.; VYGOTSKY, L. S.; LURIA, A. R. Psicologia
e Pedagogia: bases psicológicas da aprendizagem e do desenvolvimento. São
Paulo: Editora Moraes, 1991, p. 59-76.
II
D
esde o início de 2020, estamos diante de um contexto crítico
para a sociedade brasileira como um todo e para a educação
em particular, no qual se destacam a pandemia do coronavírus,
a crise econômica global e nacional e as desigualdades sociais mais
fortemente evidenciadas. No âmbito das políticas educacionais, ocor-
rem os desafios, as resistências e as críticas em relação ao processo
de concepção e de implementação de orientações padronizadas1 para
as escolas no País, sobretudo as públicas. Ao mesmo tempo, os pro-
fessores são demandados a atuarem cotidianamente adaptando suas
atividades com os alunos na modalidade de ensino remoto, o que tem
se mostrado bastante difícil e precário em sua efetivação, por evidente
ausência de planejamento dessas aulas e por precárias condições de
acesso dos alunos às tecnologias que permitem essa modalidade, por
exemplo. Nesse quadro, considero urgente, e ainda mais relevante
que antes, discutir sobre as necessidades e as possibilidades de um
33
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Elaboração: Autoral.
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo, Editora
Hucitec, 1992.
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Brasília, DF, 2018.
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para a Educação Básica e institui a Base Nacional Comum para a Formação
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CARLOS, Ana F. A. A condição espacial. São Paulo, Ed. Contexto, 2011.
CANDAU, V. M. (org.). Rumo a uma nova didática. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
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quem ensinar. Assis Flávia M. P., Cavalcanti, Lana de S. e Souza, Vanilton
C. de (Orgs.). Ensino de Geografia e Metrópole. Goiânia: Gráfica e Editora
América, 2014.
______. Pensar pela Geografia: ensino e relevância social. Goiânia, Goiás:
Editora Alfa & Comunicação, 2019.
CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber às práticas educativas. São
Paulo, Ed. Cortez, 2013.
______. Educação ou Barbárie? São Paulo, Ed. Cortez, 2020.
CUNHA, Izabel. M. da. O bom professor e sua prática. 5. ed. São Paulo:
Papirus, 1995.
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formação de professores no Brasil. In: OLIVEIRA, Maria Rita N. S. e Pacheco,
José Al. (Orgs.) Currículo, didática e formação de professores. Campinas,
SP. Editora Papirus, 2013.
III
ENSEÑAR GEOGRAFÍA
EN LA CONTEMPORANEIDAD
Una trama de relaciones, sujetos y contextos
Raquel Gurevich
Andrea Ajón
55
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2 D i s p o n i b l e e n : h t t p s : / / c o n t e n i d o s w e b . p r e f e c t u r a n a v a l . g o b . a r /
alturas/?page=historico&tiempo=7&id=80
REFERÊNCIAS
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Disponível em: http://www.publicacions.ub.edu/revistes/eccss15/. Acesso em:
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CORIA, A.; G. EDELSTEIN. Imágenes e imaginación. Iniciación a la docencia.
Buenos Aires: Kapelusz, 1997.
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DUSSEL, I.; QUEVEDO, L. Educación y nuevas tecnologías: los desafíos
pedagógicos ante el mundo digital. In: Anales del VI Foro Latinoamericano
de Educación. Buenos Aires: Santillana, 2010.
IV
FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS
PARA OS TEMAS E OS CONTEÚDOS
NO ENSINO DE GEOGRAFIA
O
presente texto é resultado das reflexões obtidas pelos coordena-
dores e participantes do Grupo de Trabalho Temas e Conteúdos
no Ensino de Geografia do Fórum Nacional NEPEG de Formação
de Professores de Geografia em sua última edição, no ano de 2020,
bem como dos debates teórico-metodológicos realizados pelo grupo,
constituídos em dois anos entre reuniões e a realização do evento.
O Grupo de Trabalho (GT) intitulado Temas e Conteúdos no
Ensino de Geografia reúne professores e pesquisadores de Institui-
ções de Ensino Superior e da Educação Básica, além de acadêmicos
de cursos de Graduação e Pós-Graduação. Os debates e as reflexões
dizem respeito à Formação de professores de Geografia, à Geografia
Escolar e aos temas e conteúdos presentes no ensino de Geografia.
Ao referir-se, especificamente, aos temas e conteúdos do ensino
de Geografia, pôde-se entender que, ao serem abordados na escola,
esses foram primeiramente estabelecidos curricularmente por um grupo
de indivíduos, por meio dos quais se efetivam as relações de poder.
Callai (2015) explicita que tais relações podem se manifestar pelo poder
do Estado, do Livro Didático (PNLD), dos materiais escolares para uso
interno e/ou do professor. Nessa perspectiva, significam, respectivamente,
73
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Considerações Finais
O ensino de Geografia tem sido objeto de investigações e refle-
xões que apontam para a necessidade de que a educação geográfica
se efetive na escola, possibilitando aos escolares a construção de
conhecimentos sobre a realidade que advenha de uma perspectiva
geográfica. O pensamento e o raciocínio geográficos têm sido teorizados
e apresentados à comunidade acadêmica, aos formadores de professores
e aos próprios professores como elementos de identificação da ação
didática e pedagógica no ensino dessa disciplina na Educação Básica.
A superação de uma concepção tradicional de ensino, que não
emancipa o escolar e nem o considera sujeito do processo, passa pela
compreensão de que o estatuto epistemológico da Geografia precisa
ser apropriado, também, pelos alunos. Tal apropriação se dará a partir
da mediação didática que o professor fará, considerando os temas e
os conteúdos problematizados em sala de aula por meio dos conceitos
e princípios que compõem esse estatuto.
Quanto mais seguro estiver o professor das escolhas que pode
fazer ao construir suas estratégias de ensino e aprendizagem, maiores
são as possibilidades de que os escolares consigam sistematizar o pensa-
mento e produzir sínteses que se estruturem conceitualmente e tenham
significados na realidade vivenciada. Dessa maneira, é possível produzir
um ensino de relevância social com vistas à aprendizagem que verda-
deiramente emancipa, pois se projeta para a realidade com a potência
que a Geografia tem de desvelar os porquês das situações geográficas.
REFERÊNCIAS
CALLAI, Helena Copetti. Temas e Conteúdos no Ensino de Geografia. In:
RABELO, K. S. de P.; BUENO. Currículo, Políticas Públicas e Ensino de
Geografia. Goiânia: Ed. da PUC Goiás, 2015. p. 213-230.
CASTELLAR, Sônia Maria Vanzella; PAULA, Igor Rafael. O Papel do Pensa-
mento Espacial na Construção do Raciocínio Geográfico. Revista Brasileira
de Educação em Geografia, Campinas, v. 10, n. 19, p. 294-322, jan. /Jun., 2020.
A BASE DE SABERES
DA PROFISSIONALIDADE DO
PROFESSOR DE GEOGRAFIA
C
onforme as formulações teóricas de Sacristán (1999) e Contreras
(2002), a profissionalidade é entendida como a afirmação do que
é característico na atuação docente, isto é, o conjunto de compor-
tamentos, conhecimentos, destrezas, atitudes e valores que constituem a
especificidade de ser professor. Esse conceito refere-se, portanto, às qua-
lidades da práxis profissional dos professores que atendem às exigências
do trabalho educativo; é a expressão da atuação prática, a base para a
construção de seu métier. Desenvolver a profissionalidade significa então
dominar as funções da profissão, devendo essa ser constituída, para além
da dimensão da competência profissional, pelo compromisso moral e o
comprometimento em relação à comunidade beneficiária de seu trabalho.
Ao considerarmos a natureza do trabalho educativo, o conceito
de profissionalidade docente está em permanente estado de elabo-
ração, devendo ser analisado em cada momento histórico concreto.
Sendo uma construção histórico-social em permanente evolução,
deve ser contextualizado. É imperioso lembrar que a profissionali-
dade, no processo de profissionalização da docência1, possui um
91
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4 Segundo J. J. Swchab (1978), importante autor na base das ideias de Shulman (2014;
2005a; 2005b) sobre o CPC, as estruturas substantivas da disciplina referem-se
ao corpo de conhecimentos gerais de uma disciplina, seus conceitos específicos,
definições e convenções, bem como aos diferentes paradigmas em que podem ser
compreendidas. Por sua vez, as estruturas sintáticas de uma disciplina reportam-se
às metodologias utilizadas pelos membros de uma tradição disciplinar, isto é, os
instrumentos de investigação de uma disciplina, os cânones de evidência e as provas
por meio das quais o novo conhecimento é admitido em um campo e as demandas
do conhecimento atual são consideradas menos justificadas.
Considerações finais
A promulgação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
(2017) evidenciou os debates relativos à importância dos currículos
para a qualificação e efetivação da educação básica em todo o território
brasileiro. Verificamos, assim, na literatura educacional de modo geral
e particularmente na área de Geografia, reflexões sobre seu percurso
de produção e os possíveis impactos desse documento nos diferentes
sistemas, níveis de ensino e no processo formativo dos professores
(GIROTTO, 2017; 2018; GUIMARÃES, 2018; COUTO, 2016; ROQUE
ASCENÇÃO, 2020; PINHEIRO e LOPES, 2021).
Superada a visão ingênua que imperava no passado e que entendia
o currículo como simples listas de conteúdos e indicações de métodos
gerais de ensino-aprendizagem, os estudos curriculares mais atuais o
compreendem como um território de lutas e conflitos e que as decisões
curriculares são fundamentais para assegurar a qualidade da educação
de maneira geral e, muito especialmente, da educação pública compro-
metida com a democratização de acesso e sucesso dos alunos em todos
os níveis. De fato, estamos em um terreno no qual não existe assepsia
científica, porque todo currículo é carregado de intenções, tem um forte
caráter político (SACRISTÁN, 2000; LIBÂNEO, 2012).
Nesse contexto, voltando ao leito original de nossas intenções
neste artigo, entendemos que a relação dos professores com o currículoe
o papel a estes reservado na arquitetura e na consecução dos currículos
denotam, implícita ou explicitamente, propostas de desenvolvimento da
profissionalidade dos professores. É preciso reconhecer, em sintonia
com as intenções pedagógica e política deste texto, o papel vital dos
professores nesse processo, já que, em última instância, seu sucesso
é o resultado da produção e mobilização de conhecimentos profissio-
nais sempre situados, ou seja, todo currículo deve ser interpretado e
implementado localmente (BROOKS, 2019).
Em cada tempo e lugar, o professor é chamado a mostrar a
importância do conhecimento geográfico para a compreensão das
sociedades e dos próprios indivíduos envolvidos no processo de aqui-
sição de novos conhecimentos. Nesse decurso, como observamos, os
professores devem produzir e mobilizar diferentes saberes que permitam
REFERÊNCIAS
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Ab’Saber em depoimento a Cynara Meneses. Rio de Janeiro: 2007.
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cionais – Geografia, Brasília, DF: MEC, 1998.
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Brasília: MEC, 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/a-
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CAVALCANTI, L. S. O ensino de Geografia na escola. Campinas, SP: Pa-
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CAVALCANTI, L. S. Pensar pela Geografia: ensino e relevância social. C&A
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CONTRERAS, J. A autonomia dos professores. São Paulo: Cortez, 2002.
DINIS, M. S. Professor de Geografia pede passagem: alguns desafios no
início de carreira. São Paulo: 1999, Tese (Doutorado em Geografia Humana)
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COUTO, Marcos Antonio Campos. BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR
– BNCC COMPONENTE CURRICULAR: GEOGRAFIA. Revista da ANPEGE,
v. 12, n. 19, p. 183-203, 2017. Disponível em: https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/
anpege/article/view/6379. Acesso em: 18 set. 2021.
VI
É
preciso começar este texto situando-o como o resultado dos
trabalhos desenvolvidos antes e durante o Fórum NEPEG, em
um contexto pandêmico que nos exigiu o distanciamento e, por
meses, o isolamento social. Embora o planejamento inicial do Fórum
tenha ocorrido antes da pandemia de Covid-19, a sua realização estava
programada para o mês de maio do ano de 2020, momento em que o
País parou, inclusive os meios de transporte aéreo e rodoviário, o que
inviabilizou o evento no formato presencial.
Essa situação atípica nos causou, naturalmente, uma apreensão
referente a vários fatores, tais como: de que modo iríamos trabalhar, nos
proteger e viver... Em meio a esse cenário, a determinação do grupo
do NEPEG fez com que as incertezas fossem superadas e, no formato
remoto, o evento ocorreu no mês de dezembro de 2020. A programação
foi transmitida ao vivo e com muita qualidade para os participantes e
interessados no evento.
As palestras e mesas promovidas durante o Fórum nos permiti-
ram estabelecer um diálogo com o que tínhamos estudado antes para
o GT4 “Currículo, políticas e programas para o ensino de Geografia”.
Por conseguinte, o evento proporcionou a integração com os grupos de
113
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Considerações finais
De acordo com as análises discutidas neste texto, podemos afirmar
que as políticas públicas que fomentam os currículos oficiais interferem
diretamente na formação dos professores de Geografia, tendo em vista
que as universidades, ao organizarem seus projetos pedagógicos de
curso, terão de estar alinhadas às normativas. Especificamente, após
REFERÊNCIAS
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tigación y crítica. Madrid: Ediciones Morata, 1998.
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de professores da educação básica, em nível superior, curso de licenciatura
de professores da Educação básica, em nível superior, curso de licenciatura,
de graduação plena. Diário Oficial [da] União, Brasília, 9 abr. 2002, Seção
1, p. 31. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/res1_2.pdf.
Acesso em: 09 maio 2019.
VII
A FORMA(AÇÃO) DE PROFESSORES
DE GEOGRAFIA
Perguntas e certezas provisórias que nos movem
A
forma(ação) de professores de Geografia é um processo complexo.
Partimos da compreensão de que esta complexidade se traduz
em uma série de ocasiões, tempos e espaços que demarcam e
constituem a identidade do professor em diferentes movimentos, e que
compreendem diversos momentos de sua história. Não há formação
plena e nem de excelência. Há a todo momento um novo mundo repleto
de incertezas que precisa ser (re)descoberto. As mudanças teóricas
virão da dialética entre as descobertas surpreendentes e as novas
lógicas em conceber as evidências (MORIN, 2002, p. 90), portanto,
a formação precisa ser entendida, inicialmente, como continuada. O
processo formativo não se resume apenas às dinâmicas e às relações
do seu ambiente profissional, mas compreende, inclusive, as políticas
educacionais, as regulações e legislações específicas e a dimensão
política que envolve o ato professoral.
Um cenário como esse reforça a relevância de uma formação
inicial qualificada. Entendemos que essa possui um papel inegociável
para o exercício de um trabalho docente significativo no espaço geográ-
fico escola, bem como na qualificação e na valorização da Geografia
enquanto conhecimento escolar.
133
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Algumas considerações
Formar professores de Geografia de maneira qualificada e
significativa sempre foi uma tarefa permeada por desafios. Essa tarefa
ganhou contornos ainda mais desafiadores a partir de um contexto
pandêmico, com uma “remotização” quase universal das práticas
docentes, em um país onde certas pautas negacionistas e antide-
mocráticas se tornaram frequentes e em um cenário de profundas
mudanças curriculares em curso.
É justamente essa profusão de elementos que nos faz admitir
que é preciso ter um pouco de cautela antes de prescrever receitas ou
verdades supostamente absolutas acerca do que precisa/pode/deve ser
feito para qualificar ainda mais a formação de professores de Geografia
no Brasil. As perguntas que temos – e que nos movem! – vão muito além
das que foram relatadas no presente artigo. E que bom que é assim!
Contudo, não precisamos nos furtar de tecer algumas consi-
derações sobre aquilo que acreditamos, com muita ênfase, de que a
formação inicial do professor precisa dar conta: Enfrentar as ceguei-
ras do conhecimento, promover a contextualização do conhecimento,
REFERÊNCIAS
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e para cuidar de si e dos outros. In: Callai, Helena Copetti, Toso, Claudia Eliane
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de docente em atividades de estágio Curricular: experiência na educação
básica. São Paulo: Cortez, 2014.
VIII
CONCEPÇÕES DE LÍNGUA/LINGUAGEM
E CARTOGRAFIA ESCOLAR
Contribuições para a Educação Básica
O
campo de estudos da linguagem tem sido um importante espaço
para a compreensão dos fenômenos da Cartografia. Sendo
assim, conhecer essa área de estudos (a Linguística e suas
ramificações) pode contribuir para o processo de ensino e aprendizagem
da Cartografia em sala de aula. Pensando nisso, o presente capítulo
pretende abordar alguns dos principais conceitos e temas da Linguística
contemporânea, observando de que maneira esses conceitos podem
dialogar com o campo da Cartografia Escolar, a fim de colaborar com
o processo didático dos termos da Cartografia e seu ensino, contribuin-
do, inclusive, para o desenvolvimento de competências e habilidades
ligadas ao domínio da compreensão e interpretação de noções como
tempo, espaço, lugar e paisagem, por meio de leitura e compreensão de
mapas e afins e, desse modo, garantir uma leitura crítica da realidade
observada por parte de estudantes nos mais diferentes níveis de ensino.
Segundo Richter (2017, p. 287):
Este ato de denominar a Cartografia como lingua-
gem precisa romper o campo do discurso e construir
uma “virada” no trabalho escolar com os mapas.
Se analisarmos algumas referências que tratam
a Cartografia como linguagem, temos condições
149
VOLTAR AO SUMÁRIO
Cartografia tem relação direta com signos verbais e não verbais. Por fim,
o estabelecimento de relações entre a linguagem multimodal de mapas
e a competência leitora é outro aspecto importante de ser discutido e
problematizado, pois revela a dimensão prática da Cartografia Escolar.
Esse é o percurso trilhado por este texto.
Concepções de língua/linguagem
Quando pensamos em linguagem, pensamos na existência do
homem e de tudo o que é possível realizar por meio dessa ferramenta.
Como sabemos, mesmo antes de haver uma ciência específica para
isso, o estudo da linguagem já era uma realidade. Segundo George
Mounin (1972, p. 25), “a Linguística é um saber muito antigo e uma ciência
muito jovem”. Isso significa que, mesmo antes de a Linguística ter se
tornado ciência, a preocupação em torno da linguagem já fazia parte do
cotidiano de pensadores, filósofos, filólogos, gramáticos, historiadores,
psicólogos, educadores, geógrafos, dentre outros.
Nesse contexto, é importante destacar as concepções de língua/
linguagem antes de a Linguística ser estabelecida como ciência e depois
desse estabelecimento. Como exemplo do primeiro grupo, fazemos
referência às ideias de Platão e Aristóteles, os quais se opunham em
relação à natureza da linguagem: motivação natural versus conven-
ção social. Para Platão, representante dos naturalistas, haveria uma
vinculação natural entre a forma fônica das palavras (significante) e as
ideias (significados) delas decorrentes. Contrariamente a essa visão,
Aristóteles defendia que a relação entre as palavras e seus significados
é fruto de uma convenção social, por isso arbitrária, razão pela qual
podemos situá-lo como representante dos convencionalistas.
Herdeiro da tradição aristotélica, Ferdinand de Saussure irá inau-
gurar, no século XX, a ciência linguística de base positivista, por meio
da publicação do Curso de Linguística Geral, obra póstuma editada
e publicada por dois de seus discípulos1. É somente com essa obra
que a Linguística passa a ser reconhecida como uma ciência piloto,
contribuindo para diferentes campos do conhecimento. Na perspectiva
2 Na proposta original de Halliday (1994), reportada aqui por Azevedo (2015), o quadro
apresenta o campo “Parâmetro do contexto”. Por questão didática, acreditamos que
seria melhor não apresentarmos essa informação neste momento.
Metafunção Significado
e fora da escola.
4 As informações pragmáticas são os conhecimentos compartilhados entre falante e
ouvinte em relação à situação comunicativa: quem fala, para quem fala, com que
propósito, em que situação, em que espaço, em que tempo.
Fonte: Magnoli e Scalzareto (1996, p. 22, adaptado) apud Del Gaudio (2003, p. 133).
Fonte: Chaliand e Rageau (1991, p. 81, adaptado) apud Del Gaudio (2003, p. 134).
6 Mapa: https://espacourbanoesaude.iea.usp.br/areas-com-agrupamentos-ativos-de-
-obitos-por-covid-19-em-1-de-abril-de-2021/ . Acesso em: 14 set. 2021.
Considerações finais
Este artigo, num primeiro momento, procurou mostrar, na pers-
pectiva da ciência linguística, as concepções de língua e linguagem
existentes: linguagem como expressão do pensamento, linguagem como
comunicação e linguagem como forma ou processo de interação e, na
medida do possível, a sua relação com a Cartografia Escolar. Verificou-se
que as três concepções são complementares entre si e, na atualidade,
devido ao desenvolvimento tecnológico, há uma maior tendência de
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, S. C. B. A construção discursiva de posicionamentos sobre
avaliação educacional: um estudo sistêmico funcional com professores da
Educação Básica. 2015. Tese (Doutorado em Linguística). Pontifícia Universi-
dade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
BAKHTIN, M; VOLOCHINOV, V. N. Marxismo e filosofia da linguagem.
Tradução: Michael Lahud e Yara Frateschi Vieira, com a colaboração de Lúcia
Teixeira Wisnik e Carlos Henrique D. C. Cruz. 9 ed. São Paulo: Hucitec, 1999.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Base Na-
cional Comum Curricular: Brasília: MEC, 2017.
IX
CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM E
LINGUAGENS NO ENSINO DE GEOGRAFIA
Discussões a partir das pesquisas
apresentadas no grupo de trabalho de
linguagens no X Fórum Nacional NEPEG
D
urante as atividades de estudo, preparatórias para o Grupo de
Trabalho (GT) de Linguagens, que integra as atividades do X
Fórum Nacional do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Ensino
de Geografia (NEPEG), realizado em sua última edição em novembro
de 2020, os coordenadores1 do grupo propuseram leituras e questio-
namentos acerca do debate sobre as concepções de linguagem para
o ensino de Geografia. É a partir desse contexto que optou-se em
apresentar no presente texto algumas problematizações com relação a
essa temática, dentre elas destacam-se: considerando as concepções
de linguagem à luz da linguística, qual(is) se destaca(m) entre os tra-
balhos submetidos ao GT do Fórum NEPEG na referida edição? Quais
são os referenciais e aportes teórico-metodológicos que fundamentam
a discussão sobre as diferentes linguagens no campo do ensino de
Geografia? Essas questões motivaram a releitura dos 39 trabalhos
submetidos, bem como a retomada dos debates realizados durante o
GT, para a produção deste artigo. Ressalta-se que o objetivo não foi
realizar uma análise detalhada dos trabalhos, mas a partir deles colaborar
com a reflexão sobre a concepção de linguagem e a sua abordagem
173
VOLTAR AO SUMÁRIO
5 O diálogo, no sentido estrito do termo, não constitui, é claro, senão uma das formas,
é verdade que das mais importantes, da interação verbal. Mas pode-se compreender
a palavra “diálogo” num sentido amplo, isto é, não apenas como a comunicação
em voz alta, de pessoas colocadas face a face, mas toda comunicação verbal, de
qualquer tipo que seja (BAKHTIN, 2010, p. 127).
6 O código pode ser definido como uma instrução que cria, e depois controla, a relação
entre significante e significado; o estabelecimento da relação significante/significado
é que possibilita a geração dos signos. Sem código não há signo, pois é a partir dele
que um estimulo físico qualquer pode virar signo. O signo é a unidade formada por
um estímulo físico (som, letras, imagens, gestos etc.) e uma ideia. O estímulo físico
é o significante e a ideia é o significado; significante e significado são as duas faces
da mesma unidade que é o signo (BLIKSTEIN, 1992, p. 32/34). Uma figura (+) pode
ser apenas um estímulo visual, mas o código (religioso ou matemático) pode fixar
uma determinada instrução para essa figura, associando-a a um significado (cruz,
morte, ou somatória). O processo ideia, estímulo visual e significado constitui uma
codificação.
Considerações finais
Esses levantamentos e análises realizados neste texto levam a
afirmar que no GT Linguagens os trabalhos se fundamentam teórico-
-metodológico e conceitual, prioritariamente, em produções do campo
do ensino de Geografia, da Geografia e da Cartografia, além de outras
produções isoladas relacionadas aos tipos e uso de objetos/linguagens
Referências
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1996.
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GÊNEROS CARTOGRÁFICOS
Para pensar mapeamentos na escola
Gisele Girardi
N
o universo escolar, em todos os níveis, é muito usual e amplamente
aceita a possibilidade do uso da linguagem verbal em diferentes
gêneros textuais. Isso nada mais é do que o reconhecimento da
língua como instituição viva e constantemente modificada pelos seus
falantes, que, a partir de necessidades expressivas, criam palavras,
arranjos e estilos. Expressões gráficas são tratadas de modo similar,
em conexão tanto com a geometria como com a arte. A questão central
do presente texto é: por que essa prática não é igualmente presente na
escola no que tange à Cartografia?
Construída de outro modo, essa questão pode ser assim apre-
sentada: que força é essa que bloqueia a entrada, no universo escolar,
de mapas que não sejam os “da Geografia”, aqueles identificados como
“linguagem própria” da ciência geográfica? Não temos absolutamente
203
VOLTAR AO SUMÁRIO
Figura 1 – Marcelo Moscheta. Void. 2010. 60x90 cm. Carta topográfica traba-
lhada com recortes, carimbo e alumínio
1 Procusto, na mitologia grega, era um bandido que vivia na serra de Elêusis. Em sua
casa havia uma cama de ferro, que tinha seu exato tamanho, para a qual convidava
todos os viajantes a se deitarem. Se os hóspedes fossem demasiados altos, ele am-
putava o excesso de comprimento para ajustá-los à cama, e os que tinham pequena
estatura eram esticados até atingirem o comprimento suficiente (Síntese extraída
de http://arcanoteca.blogspot.com/2015/06/menu-mitologia-grega-procrusto.html).
Fonte: CRAMPTON, Jeremy W. The field of tension in mapping. In: ___. Mapping: a critical introduction to cartography
and GIS. Malden, Mass.: Wiley-Blackwell, 2010. p. 5 (Tradução nossa)No eixo horizontal observa-se que a defesa do
mapeamento como pós-político, ou seja, concentrado em questões técnicas isoladas de seu contexto sociopolítico
segue na direção da conservação, sentido contrário ao da defesa do mapeamento como campo eminentemente
político, campo da arte, dos contra-mapeamentos e dos ativismos diversos, que são da tendência da resistência.
Objetos de
Ano Habilidades
conhecimento
(EF06GE08) Medir distâncias na superfície pelas escalas
Fenômenos
gráficas e numéricas dos mapas.
naturais e sociais
(EF06GE09) Elaborar modelos tridimensionais, blocos-
6o. representados
diagramas e perfis topográficos e de vegetação, visando
de diferentes
à representação de elementos e estruturas da superfície
maneiras
terrestre.
(EF07GE09) Interpretar e elaborar mapas temáticos e
históricos com informações demográficas e econômicas
do Brasil (cartogramas), identificando padrões espaciais,
Mapas temáticos
7o. regionalizações e analogias espaciais.
do Brasil
(EF07GE10) Elaborar e interpretar gráficos de barras,
gráficos de setores e histogramas, com base em dados
socioeconômicos das regiões brasileiras.
Objetos de
Ano Habilidades
conhecimento
(EF08GE13) Analisar os impactos socioeconômicos da
adoção de elementos como a hora fracionada, o horá-
rio de verão e a linha internacional de mudança de data,
considerando informações do sistema internacional de
Leitura e
fusos horários.
8o. elaboração de
(EF08GE14) Elaborar e interpretar gráficos de barras
mapas temáticos
e de setores, além de mapas esquemáticos (croquis)
e anamorfoses geográficas, para analisar, sintetizar e
apresentar dados e informações sobre diversidade, dife-
renças e desigualdades sociopolíticas mundiais
(EF09GE14) Interpretar cartogramas, mapas esquemá-
Cartografia: ticos (croquis) e anamorfoses geográficas com informa-
anamorfose, ções geográficas acerca da África e América.
9o. croquis e mapas (EF09GE15) Comparar e classificar diferentes regiões
temáticos da do mundo com base em informações populacionais e
América e África socioambientais representadas em mapas temáticos em
diferentes projeções cartográficas.
Fonte: BRASIL. 2017. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC. 3ª versão. Disponível em: http://basena-
cionalcomum.mec.gov.br/download-da-bncc/. Acesso em: 16/08/2021.
Finalizando...
A escrita deste texto foi motivada pela participação na mesa-re-
donda “Percursos acadêmicos e formativos: diálogos com professores”,
realizada em formato de entrevista2, no X Fórum do NEPEG – Núcleo
de Estudos e Pesquisas em Educação Geográfica. Naquela ocasião,
foram colocados em diálogo temas como o que é e qual a importância
de ser professor e professora de Geografia no contexto atual, os desa-
fios, limites e possibilidades dos cursos de formação de professores
e do papel da universidade no desenvolvimento da formação humana
de estudantes.
Este texto, portanto, buscou aprofundar as questões dialoga-
das com um olhar mais direcionado à área em que atuamos, que é a
Cartografia Geográfica. Entendemos Cartografia Geográfica como o
locus formativo para o qual convergem tanto as questões acerca da
espacialidade contemporânea formuladas pela Geografia e os desafios
que lançam aos mapas, como as abordagens atuais da cartografia, em
especial da cartografia crítica, particularmente no tocante à incorporação
das práticas sociais críticas de mapeamento como objeto da reflexão.
Fundamentalmente, o destaque que buscamos dar é que a carto-
grafia, os mapeamentos e mapas não são um campo já estabilizado,
como fazem crer as engessadas disciplinas de cartografia na Geografia,
mas, sim, um campo rico de disputas, aberto a criações e invenções
expressivas de grupos sociais sobre a dimensão espacial das suas
Agradecimentos
Agradeço a Wenceslao Machado de Oliveira Júnior pela leitura e
valiosas contribuições e a Mayelli Caldas de Castro pela revisão.
REFERÊNCIAS
BERTIN, Jacques. Semiologie Graphique: les diagrammes, les réseaux, les
cartes. Paris-La Haye: Mouton/Gauthier-Villars, 1967.
BRASIL. 2017. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC. 3ª versão.
Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/download-da-bncc/.
Acesso em: 16/08/2021.
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CP n. 02/2015,
de 1º de julho de 2015. Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a
formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação
pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação
continuada. Brasília: Diário Oficial União, 02 de julho de 2015.
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CP n. 02/2019,
de 20 de dezembro de 2019. Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para
a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica e institui a Base
Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica
(BNC-Formação). Brasília: Diário Oficial União, 15 de abril de 2020.
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cisca de; RAMIREZ, Rosa Cerarols; OLIVEIRA JR., Wenceslao Machado de
(Eds.). Intervalo II: entre geografias e cinemas. Guimarães: UMINHO, 2015.
cap. 1, p. 23-39.
CRAMPTON, Jeremy W. Mapping: a critical introduction to cartography and
GIS. Malden, Mass.: Wiley-Blackwell, 2010.
XI
O
objetivo deste texto é discutir proposições em torno de finali-
dades educativas para a educação escolar e de uma escola
socialmente justa e apontar algumas características da didática
desenvolvimental. Acepções sobre escola justa e didática vinculam-se
a concepções de finalidades educativas da educação escolar, uma
vez que essas, além de compor os pressupostos para a definição de
políticas educacionais e de diretrizes curriculares, orientam diretamen-
te o desenvolvimento das formas de funcionamento das escolas e do
trabalho dos professores. São, portanto, as finalidades educativas que
prenunciam critérios de justiça social na escola, aos quais se seguem
opções de natureza didática que vão orientar os professores em relação
ao processo de ensino-aprendizagem. Uma vez que a didática cuida de
assegurar a unidade entre o ensino e aprendizagem na atuação profis-
sional dos professores, as escolhas sobre como conduzi-la depende da
assunção de finalidades e funções atribuídas às escolas por parte da
instituição escolar e dos próprios professores. Com base numa visão
de educação humanizante e emancipadora, propõe-se neste texto um
entendimento de escola socialmente justa e de uma didática condizente
com esta perspectiva, ou seja, voltada para o desenvolvimento humano,
conforme a tradição da teoria histórico-cultural. As questões postas em
223
VOLTAR AO SUMÁRIO
Considerações finais
Este capítulo pretendeu estabelecer relações entre finalidades
educativas da educação escolar, um conceito de escola socialmente
justa e a proposição de uma didática voltada para o desenvolvimento
humano como complemento desse conceito. Discutiu, inicialmente,
o embate atual entre finalidades educativas no plano internacional e
nacional. No plano nacional, deu-se destaque à presença hegemônica
no sistema educacional da visão neoliberal de educação de resultados
e às propostas contra-hegemônicas de cunho sociocrítico. Entre essas
propostas, foi apresentada a visão sócio-histórico-cultural que defende
REFERÊNCIAS
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identidades e universalismos. Educação e Sociedade [online], v. 26, n. 92,
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desenvolvimental: sistema Elkonin-Davídov-Repkin. São Paulo: Mercado de
Letras/Editora UFU, 2019. pp. 213-239.
XII
I
niciamos este texto tendo por base uma afirmativa proferida pelo
professor Antônio Nóvoa1: “Porque nada substitui um bom professor”
(2011). Dessa afirmativa podem decorrer duas indagações. A primeira:
por que nada substitui um bom professor? E a segunda: o que compõe
um bom professor? Como advertência declaramos que todas as refle-
xões aqui contidas foram pensadas sobre a formação e atuação de um
professor de Geografia, pois, como Shulman (1986), concordamos que
há diferentes professores de diferentes conhecimentos.
Admitimos que a primeira indagação pode ser mais facilmente
respondida. São muitos os estudos que demonstram a fragilidade de
processos fundamentados em orientações pedagógicas que investem
na cientificidade garantida pelo uso de objetos de aprendizagem, a
exemplo de jogos, dos conteúdos desenvolvidos através de instruções
programadas, de equipamentos audiovisuais (ALTOÉ, 2005) e da própria
estrutura da escola. Não obstante, o planejamento das atividades peda-
gógicas constitui, de fato, algo necessário à educação ao especificar
247
VOLTAR AO SUMÁRIO
Fonte: Autores.
Fonte: Autores.
seja compreender: Por aqui e não lá? Por aqui e lá, mesmo sendo tão
diferentes, se comportam da mesma maneira diante de um fenômeno?
Que interesses locais favorecem a ocorrência de um dado fenômeno,
encobrindo a ocorrência de outros? Essas são perguntas geográficas.
Perguntas feitas ao espaço e cuja resposta exige a inter-relação entre o
que o compõe: objetos e ações. A vegetação, a agricultura, o trabalha-
dor, o trabalho, a pluviosidade, o relevo e a hidrografia são objetos que
sofrem processos (ações) específicos a cada um e, simultaneamente,
processos (ações) relativos às inter-relações que estabelecem entre
si. A partir daí teremos o conteúdo geográfico que iremos trabalhar,
mediante a busca por analogias, conexões e compreensões a respeito
das distribuições, dentre outros princípios didáticos do Raciocínio Geográ-
fico. A Figura 3 exemplifica um PCK, construído em oficina destinada
à formação continuada de professores da educação básica, ofertada
pelo Gepegeo / UFMG.
Falta, para fechar nosso modelo, delinear os princípios para
aprendizagem. Nas pesquisas desenvolvidas no Gepegeo, tomamos
como referência as compreensões de Benjamim Bloom (Bloom et al.,
1977) no que se refere à relação sujeito e aprendizagem. Consideramos
Bloom um teórico mal interpretado e cuja leitura se reduz ao momento
em que sua teoria, iniciada nos anos de 1940, foi apropriada para medir
os resultados de testes conduzidos no sistema de ensino estadunidense,
dentre os quais se destaca o Scholastic Aptitude Test (SAT).
Fonte: Autores.
Fonte: Autores.
Considerações Finais
Finalizamos o debate aqui trazido retomando a afirmativa de Nóvoa
e que intitula este artigo: Nada substitui um bom professor de Geografia!
Ainda que consideremos importantíssimo um programa de avaliação do
livro didático, será o bom professor que favorecerá a boa apropriação
deste material. Não há, pelo menos na atualidade, documentário, Atlas
ou quaisquer conjuntos de componentes lógicos de um computador ou
sistema de processamento de dados – os softwares – que, ao conduzirem
investigações, tragam ao seu final, per se, a contradição como resposta,
demarcando, de modo inequívoco, a complexidade da espacialidade
do fenômeno. Sim, até o momento não se encontrou recurso capaz de
substituir um bom professor! Todavia, estamos ainda distantes da sólida
e robusta formação dele. Não falamos de um ou outro sujeito que à
custa de muito esforço e estudos individuais se torne referência como
professor que instiga o aluno à aula de Geografia. O que aqui deman-
damos são cursos que subsidiem efetivamente professores que, diante
da complexidade e multiplicidade dos conhecimentos da Geografia,
tornem-se autônomos na produção daqueles conhecimentos pedagógi-
cos do conteúdo – pois são inumeráveis os PCK da Geografia, tal como
são inumeráveis as situações geográficas passíveis de investigação –,
REFERÊNCIAS
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