Forma Racional
Forma Racional
Forma Racional
FORMAS CANONICAS
Nosso objetivo e o de classificar operadores lineares em um espaco V de dimensao finita sobre
um corpo k, mediante a relacao de semelhanca.
Dois operadores T, T 0 : V V sao ditos semelhantes se eles diferem apenas por uma mudanca
de coordenadas, i.e., se existirem bases , 0 de V tais que
[T ] = [T 0 ] 0 .
B = M 1 AM
matriz n n com ultima coluna dada pelos simetricos dos coeficientes de p (a excecao do
coeficiente lider, que e sempre = 1), e subdiagonal (i + 1, i) igual a 1. Temos entao o seguinte
2
Teorema (da forma racional). Toda matriz A e semelhante a uma matriz R(A) formada
por blocos diagonais que sao matrizes companheiras de certos polinomios monicos f1 , . . . , ft ,
univocamente determinados pela condicao de que cada um divide o subsequente.
Os polinomios acima referidos sao chamados FATORES INVARIANTES. A matriz R(A) e dita
a FORMA RACIONAL de A.
Uma formulacao equivalente para o teorema acima pode ser enunciado em termos de operadores
lineares.
Teorema (da forma racional para operadores). Seja T um operador linear num espaco
vetorial V de dimensao finita sobre um corpo k. Entao existe uma base de V em relacao a qual
a matriz de T esta na forma racional.
Explicamos a seguir o
ALGORITMO PARA O CALCULO DOS FATORES INVARIANTES.
Dada a matriz A, defina o polinomio qi como o MDC dos determinantes menores i i da
matriz xI A. Entao cada qi+1 e divisvel por qi e os fatores invariantes sao os quocientes nao
constantes qi+1 /qi .
Observemos que o produto dos fatores invariantes e igual ao polinomio caracterstico.
Exemplo.
1 1 0
A = 0 2 0 .
0 0 2
Temos
e assim vem
f1 = q2 /q1 = x 2; f2 = q3 /q2 = (x 1)(x 2).
A forma racional de A e portanto constituda pelos blocos 1 1 e 2 2 dados pelas matrizes
companheiras de f1 e de f2 :
2 0
0
R(A) = 0 0 2
0 1 3
Observemos que cada bloco Jn,c tem polinomio caracterstico (x c)n . Reciprocamente, e claro
que a cada polinomio deste tipo podemos associar um bloco elementar. Escrevemos os fatores
invariantes na forma
f1 = (x c1 )e(1,1) . . . (x ct )e(1,t)
.................................
fr = (x c1 )e(r,1) . . . (x ct )e(r,t)
onde cada expoente e(i, j) e nao negativo e necessariamente menor ou igual a e(i + 1, j).
Definimos os DIVISORES ELEMENTARES
Pij = (x ci )e(i,j)
para e(i, j) 6= 0.
Temos entao que a forma de Jordan de uma matriz e obtida pondo um bloco elementar de
Jordan para cada divisor elementar.
EXEMPLOS.
1) No exemplo acima, os divisores elementares sao
x 2, x 2 e x 1,
resultando 3 blocos 1 1:
..
2 . 0 0
. . . . .. . . . . ...
J(A) = 0 .. 2 .. 0
. . . . . . .. . . . .
0 0 .. 1
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(x 1)2 (x 2).
MODULOS
Os resultados acima enunciados serao obtidos apos a introducao de alguns conceitos basicos.
A nocao principal e a de estrutura de modulo sobre um anel, generalizando a nocao de espaco
vetorial. A ideia e por em jogo uma algebra de operadores atuando sobre um espaco vetorial.
Estaremos interessados exclusivamente em modulos sobre o anel de polinomios em uma variavel
a coeficientes no corpo k. No entanto, o leitor mais cuidadoso percebera que os resultados
centrais valem para qualquer domnio principal.
No que segue, denotaremos por
R = k[x]
o anel de polinomios em uma variavel a coeficientes no corpo k. Cada elemento f R se
escreve de forma unica,
f = an xn + an1 xn1 + + a1 x + a0 ,
onde os coeficentes ai sao elementos de k. Se an 6= 0 entao f e de grau n e escrevemos
deg f = n.
0I
se g I entao (f + hg) R.
hf i = {multiplos de f }.
g = qf0 + r,
f = q1 ft1 + + qn ftn .
Assim, se q divide cada ft na colecao entao q divide f . Por fim, sendo I = hf i, e claro que cada
ft (sendo elemento de I. . . ) e divisvel por f .
Exerccio. Sejam f, g R, f 6= 0 e sejam q, r o quociente e resto na divisao de g por f .
Prove a igualdade de ideais,
hf, gi = hf, ri.
Deduza entao o algoritmo para calculo do MDC por divisoes sucessivas.
Definicao. Um R-modulo e um conjunto M munido de uma operacao de soma e de multi-
plicacao por elementos de R, satisfazendo as seguintes condicoes:
1: a soma e associativa, comutativa, admite um elemento neutro 0 e cada elemento v em M
admite um negativo u, i.e., um elemento tal que u + v = 0;
2: a multiplicacao e bilinear, i.e., para todo u, v em M e para todo f, g em R, vale
(f + g)(u + v) = f u + f v + gu + gv;
3: (f g)u = f (gu)
4: 1u = u.
Em resumo, (lembrando que R = k[x]) M e um espaco vetorial cujos elementos podem ser
multiplicados por polinomios, obedecendo a certas regras operatorias naturais.
Exemplos.
1. R e um R-modulo de maneira obvia: temos definidas operacoes de soma e produto em R...
2. Todo ideal de R e um R-modulo.
3. Se M e um R-modulo e N e um subconjunto que contem 0 e e estavel sob as operacoes de
soma e produto por elementos de R, entao N e um R-modulo. Neste caso, dizemos que N e
um SUBMODULO de M . Note que os ideais de R sao justamente os seus submodulos.
4. Sejam M e N modulos. Entao o produto cartesiano,
M N = {(m, n)|m M, n N }
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(m, n) + (m0 , n0 ) = (m + m0 , n + n0 ),
f (m, n) = (f m, f n).
5. O mesmo pode ser feito para o produto cartesiano de um numero arbitrario de modulos.
Em particular temos
Rn = R R.
Exerccios.
1) Sejam M um modulo e seja S um subconjunto de M . Mostre que a intersecao de todos
os submodulos de M que contem S e um submodulo de M , que denotamos por < S > e
chamamos de SUBMODULO GERADO por S. Mostre que hSi e igual ao conjunto de todas
as combinacoes lineares X
fi vi
formadas por sequencias finitas de elementos de S e a coeficientes em R.
2) Seja T um operador linear sobre o espaco vetorial V . Para cada polinomio f R, e para
cada v em V , defina o produto f.v como a imagem de v pelo operador f (T ):
f v = f (T )v.
: M N
(f m + m0 ) = f (m) + (m0 )
para todo f em R, m, m0 em M .
Exemplos.
1. Fixado a em R, dado um modulo M qualquer, a aplicacao definida por m 7 am (multi-
plicacao por a) e evidentemente um homomorfismo, dito homotetia de razao a. Em particular
(a = 1) a aplicacao identidade IM e um homomorfismo.
2. Se : M N e : N P sao homomorfismos de modulos, a composta : M P
tambem e um homomorfismo.
3. Qual a cara de um homomorfismo de Rm em Rn ? Seja um tal homomorfismo. Seja
em
i = (0, . . . , 1, . . . , 0) ( 1 na casa i).
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e portanto, temos X
(x) = xi (em
i ).
Deduzimos que, a exemplo do que ocorre para transformacoes lineares, fica determinado por
seus valores nos vetores basicos em
i . Escrevendo agora
(em
j ) = (a
Pij , . . .n, anj )
= akj ejk
0 (v) = (u).
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Devemos verificar que o segundo membro depende so de v e nao do particular u tal que (u) = v.
Ora, se u0 e outro elemento na pre-imagem de v, teremos
(u) = (u0 ) = v
e portanto, u u0 pertence ao nucleo N de . Da vem
(u u0 ) = 0,
ou seja, (u) = (u0 ), mostrando que 0 esta bem definido. Agora e simples verificar que 0 e
efetivamente um homomorfismo e que vale evidentemente a formula 0 = .
Passemos a construcao de : M Q. Observemos inicialmente que o modulo Q a ser tambem
construdo tera a propriedade de que, para cada elemento v em Q, sua pre-imagem,
1 (v) = {u M |(u) = v}
e da forma
u + N = {u + n|n N },
onde u denota uma solucao particular da equacao (u) = v. Com isto em mente, definimos Q
exatamente como o conjunto de todos os transladados u + N de N !
Assim, seja
Q = {u + N |u M }.
Resta-nos a tarefa de mostrar que este conjunto, munido de operacoes de soma e multiplicacao
por elementos de R e de fato um modulo e que, por fim, a aplicacao (quociente) : M Q
dada por u u + N e um homomorfismo sobrejetor com nucleo N .
A soma de dois transladados u + N, u0 + N e naturalmente definida por
(u + N ) + (u0 + N ) = (u + u0 ) + N.
O leitor deve verificar sem dificuldade que o lado direito da expressao acima e funcao dos
transladados u + N, u0 + N , e nao dos representantes u, u0 .
Define-se a multiplicacao de elementos de Q por elementos de R da maneira seguinte:
f (u + N ) = f u + N,
onde f R. E imediato verificar que os axiomas exigidos na definicao de modulo sao satisfeitos.
Destacamos que o elemento neutro da adicao em Q e N (= O + N ). Por fim, notando que
u + N = N se e so se u N , vemos que o nucleo de e N como requerido.
Definicao. O modulo Q construdo na proposicao acima e chamado QUOCIENTE de M por
N e indicado por M/N .
Exerccio. Mostre que, para cada u, v em M, u + N = v + N se e so se u v pertence ao
submodulo N .
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7. Seja M o modulo das matrizes m n com entradas em R. Mostre que M e isomorfo a Rmn .
8. Sejam I, J ideais de R. Mostre que R/I e isomorfo a R/J se e so se I = J.
Definicao. Dizemos que um modulo e LIVRE se for isomorfo a Rn para algum n. Dizemos
que um subconjunto B = {v1 , . . . , vn } de um modulo L e uma BASE de L se todo elemento v
de L se escrever de maneira unica como combinacao linear a coeficientes em R dos elementos
de B, i.e., X
v= ci vi , ci R.
Em outras palavras, B gera L e e l.i sobre R. O vetor (c1 , . . . , cn ) na expressao acima e dito o
vetor de coordenadas de v com respeito a base B.
Evidentemente um modulo e livre se e so se admitir uma base.
Observemos que o numero de elementos de uma base de um modulo livre e bem determinado,
tendo em vista o exc.#4 acima. Definimos entao o POSTO de um modulo livre L como o
numero de elementos de uma base qualquer de L.
Exemplos.
1) Seja M = R/hpi, quociente de R pelo ideal gerado por um polinomio nao constante p. Entao
M nao e livre, pois para cada m em M , temos pm = 0, donde nenhum subconjunto de M e
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l.i. sobre R. Por outro lado, M tambem e um espaco vetorial sobre k. Seja n o grau de p. O
algoritmo da divisao nos permite escrever cada f em R na forma
f = qp + r,
onde o resto r e zero ou de grau < n. Assim, cada elemento de M, f + hpi, pode ser escrito de
forma unica como
f + hpi = r + hpi
= a0 + a1 x + + an1 xn1 + hpi,
com ai em k. Logo, R/hpi agora considerado como espaco vetorial sobre k tem dimensao =
grau de p.
2) Todo submodulo de R e livre. Com efeito, sabemos que submodulo de R significa ideal de
R. Seja I um tal ideal. Se I e zero, entao e livre (por vacuidade!). Se I 6= 0, entao I e gerado
por um polinomio monico o qual constitui obviamente um base para I.
Exerccios.
1) Os exemplos acima mostram que o quociente de um modulo livre L por um submodulo em
geral nao permanece livre. Mas prove que se o submodulo M for gerado por parte de uma base
de L entao L/M e livre.
2) Mostre que v = (p, q) R2 e parte de uma base de R2 se e so se MDC(p, q) = 1.
3) Seja V = R/hpi como no Exemplo 1. Seja T : V V o operador definido por multiplicacao
por x, i.e.,T (v) = xv. Mostre que a matriz de T com respeito a base {1 + hpi, . . . , xn1 + hpi}
e igual a matriz companheira de p. Suponha agora que
p = (x c)a .
f M = {f v|v M }.
Seja u = v cw. A imagem de (u) e zero, logo u pertence a N . Mas u esta tambem em M ,
donde u M 0 . Temos assim uma expressao
X
u= bj vj com bj em R.
xa + xb (x 1)c = x2 a + (x + 1)b xc = 0.
Definicao. Seja L um modulo livre e seja M um submodulo. Dizemos que uma base
{v1 , . . . , vn } de L e ADAPTADA a M se existirem polinomios monicos p1 , . . . , pt tais que
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{p1 v1 , . . . , pt vt } e base de M e cada pi divide pi+1 . Esses polinomios sao chamados de FA-
TORES INVARIANTES de M em L.
Teorema. Seja L um modulo livre de posto n e seja M um submodulo 6= 0. Entao existe uma
base {v1 , . . . , vn } de L e existem polinomios monicos p1 , . . . , pt tais que {p1 v1 , . . . , pt vt } e base
de N e cada p1 divide o subsequente, i.e. existe um base de L adaptada a M .
Prova. Se n = 1, podemos supor L = R e M um ideal de R; neste caso o resultado e evidente.
Seja p polinomio de grau mnimo dentre as coordenadas de elementos de M com respeito a
bases arbitrarias de L. Sem perda de generalidade, podemos supor que p e a 1a coordenada de
v com respeito a base B = {w, w0 , . . . }.
Afirmamos que p necessariamente divide TODAS as coordenadas de v.
Com efeito, se por absurdo p nao dividir, digamos, a 2a coordenada q de v, seja f = MDC(p, q).
Ponhamos p0 = p/f e q 0 = q/f . Podemos escrever
1 = ap0 + bq 0 , para certos a, b em R.
Sejam
u = p0 w + q 0 w 0 ,
u0 = bw + aw0 .
Verifica-se facilmente que substituindo w, w0 em B por u, u0 obtem-se uma base de L. Temos
que
w = au q 0 u0 e w0 = bu + p0 u
resultando que
v = pw + qw0 +
= (ap + bq)u +
= fu +
Logo, o polinomio f e 1a coordenada de v com respeito a uma base de L, contradizendo a
minimalidade do grau de p.
Ja sabendo que p divide todas as coordenadas de v, podemos escrever
v = pv 0 para algum v 0 em L.
Provemos que v 0 e parte de uma base de L. Seja
: L R
o homomorfismo 1a coordenada em relacao a base B. Assim temos
(v) = p, (v 0 ) = 1.
Seja N o nucleo de . Visto que e sobrejetora (por que?), segue-se do exerccio acima que N
e livre, de posto n 1. Seja
M 0 = N M.
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Por inducao, N admite uma base {v2 , . . . , vn } tal que existem polinomios p2 , . . . , pt , com
{p2 v2 , . . . , pt vt } base de M 0 e cada pi dividindo o subsequente. O exerccio acima referido
mostra que
{v 0 , v2 , . . . , vn } e {pv 0 , p2 v2 , . . . , pt vt }
sao bases de L e M respectivamente. (Note que induz um homomorfismo sobrejetor de M
no ideal hpi.) Resta apenas mostrar que p divide q = p2 . Se tal nao ocorresse, um argumento
analogo ao feito acima forneceria o elemento pv 0 + qv2 cuja primeira coordenada com respeito
a uma base conveniente de L teria grau menor que o de p.
Exerccios. Sejam L e M como no teorema anterior e sejam p1 , . . . , pt os fatores invariantes
de M em L.
1) Mostre que p acima construdo e o MDC das coordenadas de todos os elementos de M com
respeito a uma base arbitraria de L.
2) Seja : L R um homomorfismo arbitrario. Mostre que a imagem de M por e um
ideal contido em hp1 i.
3) Seja b : L L R bilinear alternada. Mostre que o ideal Ib gerado por
{b(u, v)|u, v M }
esta contido em hp1 p2 i. Mostre que existe b para a qual vale a igualdade Ib = hp1 p2 i. Idem, ana-
logamente, para formas trilineares alternadas... Conclua que a sequencia p1 , . . . , pt so depende
do par (M, L) e nao da base particular nas condicoes do teorema.
4) Sejam B e C matrizes a coeficientes em R e suponha A = BC. Mostre que cada determinante
menor r r de A pertence ao ideal gerado pelos menores r r de C.
Lema. Seja L = Rn e seja M um submodulo de L, M6=0. Sejam 1 , 2 : L R funcionais
lineares e sejam p1 , p2 os geradores monicos de 1 (M ) e 2 (M ). Entao existe funcional :
L R tal que (M ) = hp1 , p2 i = hmdc(p1 , p2 )i.
Prova. Seja A = {v1 , . . . , vn } uma base adaptada P de L a MPe sejam f1 , . . . , fr os fatores inva-
riantes. O funcional i se escreve na forma i ( Pn1 xj vj ) = n1 aij xj onde Pr ai = (ai1 , . . . , ain )
n r
R , i = 1, 2. Cada w M se expressa como w = 1 xj fj vj ; logo i w = 1 xj fj aij , i = 1, 2. Te-
mos assim i M = hf1 ai1 , . . . , fr air P
i = hpi i. Seja
Pnb = (b1 , . . . , bn ) tal que bj = mdc(a1j , a2j ), j =
1..n. Seja L definido por ( xj vj ) = 1 bj xj . Lembrando que para cada j = 1..n te-
mos hbj i = ha1j , a2j i, conclumos que M = hf1 b1 , . . . , fr br i = hf1 a11 , f1 a21 , . . . , fr a1r , fr a2r i =
hp1 , p2 i. 2
O lema acima mostra que a colecao de ideais da forma (M ), com L goza da seguinte
propriedade: dados dois quaisquer destes, existe um outro que os contem. Mas de fato, existe
um tal ideal maior de todos: a demonstracao acima mostra que M hf1 i, o ideal gerado
pelo primeiro fator invariante. Alem disso, escolhendo = v1 , o funcional que toma a primeira
coordenada em relacao a uma base adaptda, temos a igualdade v1 (M ) = hf1 i. Portanto, f1 e
independente da escolha de base adaptada. Mais geralmente, temos o seguinte.
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fi1 fik vi1 vik . Consequentemente, ( k M ) e gerado por multiplos de fi1 fik . Estes,
V
por sua vez, sao todos multiplos de f1 fk . Por fim, tomando = (v1 vk ) , e claro que
vale a igualdade ( k M ) = hf1 fk i. 2
V
O lema anterior mostra que os fatores invariantes sao independentes da escolha de base
adaptada. Vamos agora a um metodo pratico para o calculo.
Proposicao. Seja L = Rn e seja M o submodulo gerado pelas linhas de uma matriz A. Sejam
f1 , . . . , ft os fatores invariantes de M em L. Seja qr o MDC dos determinantes menores r r
da matriz A. Entao, para cada r = 1, . . . , t, temos que o produto f1 fr e igual a qr .
Prova. Tendo
Vk em vista o lema
Vr e observacoes acima, basta mostrar que
(i) ( L) , temos ( M ) hqr i e
(ii) esta ultima inclusao e uma igualdade para algum .
Seja Ai a iesima linha da matriz A. Sabemos que r M e gerado pelos Ai1 Air
V
com sequencias crescentes 1 i1 < < ir N = numero deVlinhas de A. Escrevendo como
combinacao da base canonica de Rn , vemos que a imagem em r Rn e gerada por
X X X
( Ai1 j ej ) ( Air j ej ) = AIJ ej1 ejr
J
onde I = (i1 < . . . < ir ), J = (j1 < . . . < jr ) e AIJ denota, a menos de sinal, o subdeterminante
r Vr feito com a escolha indicada de linhas e colunas. Logo, para cada ( k L) , a imagem
V
( r M ) e combinacao dos referidos menores r r. Isto completa a verificacao de (i). Para
a (ii), seja J = (ej1 ejr ) . Vemos que J (M ) e gerado pelos AIJ , J fixo. Usando
repetidamente o lema da pagina anterior, vemos que e possvel encontrar cuja imagem seja
igual ao ideal gerado por todos os AIJ , ou seja, pelo mdc qr . 2
Exemplo. Seja
1 x x
A = 0 x x .
0 0 x
Temos q1 = 1, q2 = x, q3 = x2 . Logo, p1 = 1, p2 = x, p3 = q3 /q2 = x. Note que a base
{(1, x, x), (0, 1, 1), (0, 0, 1)} e adaptada ao submodulo gerado pelas linhas de A.
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f v = an T n + + a0 v.
A soma e a mesma da estrutura de espaco vetorial. Deixamos como exerccio a (facil) verificacao
de que estas operacoes tornam VT em R-modulo.
Proposicao. Sejam T, T 0 operadores lineares em V . Entao T e T 0 sao semelhantes se e so se
os modulos VT e VT 0 sao isomorfos.
Prova. Se T e semelhante a T 0 , existe um operador linear inversvel S tal que ST = T 0 S. Da
segue que, para, cada inteiro n > 0 vale
ST n = T 0n S.
Sf (T ) = f (T 0 )S.
Esta formula significa que a aplicacao : VT VT 0 , definida por (v) = S(v) e um ho-
momorfismo de R-modulos. Como e bijetiva, segue-se que e um isomorfismo de VT em
VT 0 .
Reciprocamente, se existir : VT VT 0 , isomorfismo de R-modulos, temos que induz um
operador linear S : V V obviamente inversvel e tal que, para todo v em V , vale
Seja
: Rn Rn
o homomorfismo cuja matriz em relacao a base canonica e xI A. Seja N a imagem de ;
assim, N e gerado pelas colunas de xI A.
Afirmamos que
(F) VT e isomorfo ao modulo quociente Rn /N .
Isto e equivalente a mostrar que o nucleo de e igual a N , pois e claramente sobrejetor.
Vejamos como esta afirmacao implica o teorema. Sabemos que existe uma base de Rn adaptada
a N , digamos {w1 , . . . , wn }. Alem disso, os fatores invariantes p1 , . . . , pt de N em Rn sao dados
pela relacao
p1 . . . pr = MDC(menores r r de xI A)
Em particular, segue que t = n e o produto dos fatores invariantes e igual ao polinomio
caracterstico q, cujo grau recordamos que e igual a n.
Ora, visto que p1 v1 , . . . , pn vn e base de N , concluimos que Rn /N e VT sao isomorfos a
R/hp1 i R/hpn i.
onde r = xni pi denota o resto na divisao de xni por pi , mostrando que a matriz de T e
efetivamente formada por blocos que sao as matrizes companheiras dos p0i s.
Passamos por fim a verificacao da afirmacao (F).
Mostremos que o nucleo de e igual a imagem N de . Calculamos
P
(ej ) = (xej Paij ei )
aij (ei )
= x(ej )P
= T vj aij vi = 0,
valendo a ultima igualdade por definicao da matriz A. Isto mostra que N esta contido no
nucleo de . Portanto, existe um homomorfismo bem definido 0 : Rn /N VT , dado por
u + N (u). Ora, 0 e claramente sobrejetor (pois e). Como as dimensoes dos espacos
vetoriais subjacentes sao iguais, segue-se que 0 e de fato um isomorfismo, como queramos.
Corolario. (Teorema de Cayley-Hamilton). Seja T um operador linear num espaco
vetorial V de dimensao n. Entao o polinomio caracterstico q anula T , i.e., q(T ) = 0.
Prova. A acao de T em V corresponde a multiplicacao por x em VT . Este modulo e isomorfo a
R/hp1 i R/hpt i, com o produto dos polinomios p1 . . . pt = q. Assim temos, para f1 , . . . , ft
em R.
q (f1 + hp1 i, . . . , ft + hpt i) =
(qf1 + hp1 i, . . . , qft + hpt i) = 0
DEMONSTRACAO DA UNICIDADE
DA FORMA RACIONAL
Sejam f1 , . . . , fr e g1 , . . . , gs polinomios monicos de grau > 0 e tais que cada fi (resp. gj ) divide
o subsequente. Mostraremos que
(como R-modulos!)
entao r = s e cada fi = gi .
Escrevamos as decomposicoes primarias,
a(1,1) a(1,t)
f1 = p1 . . . pt
......................
a(r,1) a(r,t)
fr = p1 . . . pt
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e analogamente,
b(1,1) b(s,1) b(s,t)
R/hp1
Nf i R/hp1 i R/hpt i.
Lema. (i) Sejam p, q polinomios primos relativos e seja e um inteiro > 0. Entao a homotetia
de razao p e injetiva em R/hq e i.
(ii) Seja
M (p) = {v M |pe v = 0 para algum e > 0}.
Entao M (p) = 0 exceto se p = pi para algum i = 1, . . . , t, e neste caso, temos
a(1,i) a(r,i)
R/hpi
M (p) f i R/hpi i
Se M (a(1), . . . , a(r)) for isomorfo a M (b(1), . . . , b(s)), entao r = s e cada a(i) = b(i).
Prova. Procedemos por inducao sobre m = max{a(r), b(s)} >. Se m = 1, os as e os os bs sao
todos iguais a 1. Seja d o grau de p. Calculando dimensoes de espacos vetoriais encontramos
e portanto r = s.
Suponhamos m > 1. Seja r0 tal que a(i) = 1 para i < r0 ; defina s0 analogamente para os b(j).
Temos entao,
em virtude do exc.#4, p. 9(?). Por inducao, segue que r r0 = s s0 e que a(r0 + i) = b(s0 + i)
para i = 0, . . . , r r0 . Por fim, calculando
A FORMA DE JORDAN
Seja T : V V um operador linear. Suponhamos que o seu polinomio caracterstico seja da
forma
qT = (x c1 )a(1) (x ct )a(t) .
(Este e sempre o caso se o corpo k for algebricamente fechado, e.g. k = C.)
Segue-se que os divisores elementares sao da forma
pi,j = (x cj )a(i,j) ,
21
M = R/h(x c)a i,
podemos escrever,
T v1 = cv1 + v2
...
T va1 = cva1 + va
T va = cva .
Em outras palavras, a matriz de T com respeito a base formada pela uniao dos vi s correspon-
dentes a cada divisor elementar esta na forma de Jordan.