Lógica Capítulo 3 - Desiderio Murcho
Lógica Capítulo 3 - Desiderio Murcho
Lógica Capítulo 3 - Desiderio Murcho
Deduo natural
Uma
lgica
formal
tem
trs
aspetos
centrais:
a
semntica,
a
sintaxe
e
o
seu
sistema
de
derivaes.
Depois
de
esclarecer
brevemente
estes
trs
conceitos,
iremos
explicitar
a
sintaxe
da
nossa
lgica
formal
e
estabelecer
um
sistema
de
derivaes
que
nos
permiti-
r
provar
a
validade
formal
de
qualquer
forma
inferencial
do
tipo
que
encontrmos
no
captulo
anterior.
este
sistema
de
derivaes
que,
de
certo
modo,
a
lgica
formal
propriamente
dita.
1.
Aspetos
da
semntica
A
semntica
de
um
smbolo
ou
sequncia
de
smbolos
o
significado
desse
smbolo
ou
sequncia
de
smbolos.
Na
lngua
portuguesa,
a
semntica
da
sequncia
de
smbolos
gua
algo
como
lquido
incolor,
sem
cheiro
ou
sabor,
essencial
vida;
congela
a
0C
e
entra
em
ebulio
a
100C.1
Palavras
que
designam
substncias,
como
gua,
ou
par-
ticulares,
como
Scrates,
levantam
menos
perplexidades,
quando
nos
perguntamos
qual
o
seu
significado,
do
que
palavras
como
se,
pois
neste
caso
no
se
trata
de
refe-
rir
uma
entidade
fsica:
o
papel
dessa
palavra
fazer
uma
ligao
especfica
entre
frases.
Vejamos
como
a
palavra
se
definida
num
dicionrio
de
lngua
portuguesa:
1. No
caso
de,
caso,
contanto
que,
desde
que
(exemplo:
se
puder,
vou
l
con-
vosco).
2. Como,
dado
que,
visto
que
(exemplo:
se
sabes,
responde).
3. Quando,
sempre
que
(se
como
chocolate,
fico
maldisposto).2
Esta
definio
apenas
uma
lista
de
sinnimos,
sendo
por
isso
circular,
ainda
que
talvez
seja
informativa.
Na
lgica
formal,
contudo,
fazemos
algo
muitssimo
mais
rigoroso,
ex-
plcito
e
simples.
O
significado
de
,
por
exemplo,
esgota-se
na
definio
dada
no
Cap-
tulo
2,
em
termos
de
condies
de
verdade:
o
operador
verofuncional
binrio
que
s
d
origem
a
uma
proposio
falsa
caso
a
antecedente
seja
verdadeira
e
a
consequente
falsa.
isto
que
define
aquele
smbolo,
e
esta
definio
no
circular,
muitssimo
rigo-
rosa
e
muito
simples.
O
preo
a
pagar,
contudo,
que
no
damos
conta
de
muitos
aspe-
tos
do
significado
original
da
condicional
portuguesa,
como
vimos
na
nossa
breve
dis-
1
Definio
retirada
de
Dicionrio
Aurlio
da
Lngua
Portuguesa.
2
Retirado
do
Dicionrio
da
Lngua
Portuguesa
da
Porto
Editora,
http://www.infopedia.pt/lingua-
portuguesa-aao/se.
17/11/2013
78
cusso.
Todavia,
algum
recorte
semntico
teramos
de
fazer,
porque
preciso
eliminar
tanto
quanto
possvel
a
ambiguidade
e
a
vagueza
para
que
consigamos
teorizar
adequa-
damente.
Uma
proposio
ou
palavra
ambgua
sse3
tem
mais
de
um
significado;
isto
dife-
re
da
vagueza
porque
neste
caso
se
trata
de
ter
significados
indeterminados
ou
impreci-
sos.
Por
exemplo,
alvo
ambguo
porque
refere
pelo
menos
duas
coisas
diferentes,
a
brancura
e
o
objetivo
a
atingir;
mas
se
ambos
os
significados
forem
precisos,
no
h
aqui
qualquer
vagueza.
J
alto
vago
se
houver
impreciso,
no
sentido
de
no
se
saber
se
uma
pessoa
com
1,90m
de
altura,
por
exemplo,
alta,
ou
se
ser
alta
caso
tenha
ape-
nas
1,78m,
ou
1,77m,
etc.
A
lngua
portuguesa
tem
muitas
ambiguidades
e
muita
vagueza.
O
que
isto
signi-
fica
que
temos
de
introduzir
univocidade
(o
contrrio
da
ambiguidade)
e
preciso
(o
contrrio
da
vagueza)
sempre
que
temos
interesses
cognitivos
numa
rea
qualquer.
Por
exemplo,
se
em
medicina
no
tivssemos
tornado
o
termo
tuberculose
razoavelmente
unvoco
e
preciso,
para
falar
de
uma
doena
especfica,
no
teramos
descoberto
a
sua
cura.
Isto
porque
estaramos
a
falar
de
coisas
bastante
diferentes
com
a
mesma
palavra,
de
modo
que
o
que
seria
uma
cura
de
uma
dessas
coisas
no
o
seria
de
outra.
a
necessidade
de
univocidade
e
preciso
que
nos
faz
introduzir
uma
termino-
logia
tcnica
sempre
que
desejamos
compreender
melhor
as
coisas.
No
apenas
na
engenharia,
na
fsica
ou
na
medicina
que
temos
terminologias
tcnicas;
tambm
nas
mais
diversas
profisses
isso
acontece,
dos
cabeleireiros
aos
cozinheiros,
passando
pe-
los
pescadores
ou
marceneiros.
Em
todos
estes
casos
no
s
introduzimos
novas
pala-
vras
como
usamos
palavras
comuns
com
um
significado
especial,
cuidadosamente
deli-
mitado
e
especificado.
Assim,
a
univocidade
e
a
preciso
no
so
sinais
de
tacanhez
de
esprito
ou
de
uma
atitude
redutora
perante
a
inevitvel
complexidade
e
riqueza
da
realidade,
mas
an-
tes
a
nica
atitude
razovel
quando
queremos
genuinamente
compreender
as
coisas,
ao
invs
de
nos
limitarmos
a
fazer
jogos
de
palavras
cognitivamente
irrelevantes.
Talvez
seja
natural
pensar
que
uma
linguagem
com
muitas
ambiguidades
e
vaguezas
mais
rica,
precisamente
porque
temos
a
liberdade
de
interpretar
as
palavras
de
acordo
com
o
nosso
estado
de
esprito,
mas
o
interesse
genuno
pela
realidade
no
compatvel
com
o
solipsismo
de
olhar
para
a
realidade
com
o
fito
de
nos
vermos
reflectidos
nela.
Assim,
na
lgica
formal
desenvolvemos
uma
semntica
limitada
porque
quere-
mos
comear
por
isolar
os
factores
relevantes
de
uma
classe
reduzida
de
inferncias.
A
linguagem
da
lgica
formal
no
tem
recursos
para
exprimir
a
ideia
de
que
Paris
e
Lisboa
3
Usaremos
a
partir
de
agora
esta
abreviao
comum
de
se
e
s
se;
em
ingls,
a
abreviatura
17/11/2013
79
so
cidades
bonitas,
por
exemplo;
mas
esse
nunca
foi
o
seu
propsito.
O
que
queremos
que
a
linguagem
da
lgica
formal
seja
capaz
de
exprimir
sem
ambiguidades
e
com
preci-
so
aquele
aspeto
da
forma
lgica
de
qualquer
proposio,
ou
raciocnio,
relevante
pa-
ra
a
sua
validade;
no
queremos
exprimir
na
lgica
formal
que
Paris
e
Lisboa
so
cida-
des
bonitas,
mas
queremos
captar
o
facto
de
esta
proposio
ter
a
mesma
forma
lgica,
e
consequentemente
o
mesmo
papel
inferencial
formal,
que
tem
a
proposio
de
que
Scrates
e
Kant
so
filsofos.
E
isto
algo
que
a
lgica
formal
faz
admiravelmente
bem.
Exerccios
1. Defina
explcita
e
rigorosamente
a
semntica
atribuda
aos
smbolos
,
e
na
lgica
clssi-
ca.
2. Caracterize
a
semntica
atribuda
aos
smbolos
p,
q
na
lgica
clssica.
3. Na
lgica
clssica,
a
semntica
do
smbolo
capta
apropriadamente
a
semntica
do
smbolo
portugus
e?
Justifique.
4. Explique,
com
exemplos
elucidativos,
o
que
a
semntica
de
um
smbolo
ou
sequncia
de
smbolos.
2.
Aspetos
da
sintaxe
A
semntica
de
um
smbolo
ou
sequncia
de
smbolos
o
significado
de
tais
smbolos
ou
sequncia
de
smbolos.
Contudo,
para
que
um
trao
num
papel,
um
som
ou
outra
coisa
qualquer
seja
um
smbolo,
temos
de
decidir
primeiro
que
um
smbolo
e
temos
de
es-
pecificar
o
modo
como
se
articula
com
outros
smbolos;
esse
o
papel
da
sintaxe.
A
sintaxe
o
que
determina,
por
um
lado,
que
coisas
contam
como
smbolos
e,
por
outro,
que
sequncias
de
smbolos
contam
como
smbolos.
O
primeiro
aspeto
de-
termina,
na
lngua
portuguesa,
que
b
e
h
so
smbolos
escritos,
ao
contrrio
de
e
(e
determina
quais
so
os
sons
simblicos
da
nossa
lngua);
o
segundo
aspeto,
no
caso
da
lngua
portuguesa,
diz-nos
que
a
sequncia
de
smbolos
accceeinrsx
no
forma
uma
sequncia
simblica
de
smbolos,
ao
contrrio
da
sequncia
excrescncia.
Na
lgica
formal
chamamos
frmula
bem
formada
a
qualquer
sequncia
simb-
lica
de
smbolos,
expresso
que
iremos
abreviar
como
fbf.4
Assim,
p
no
uma
fbf
porque,
apesar
de
ser
uma
sequncia
de
smbolos,
no
uma
sequncia
simblica
de
smbolos,
contrastando
assim
com
p
p,
que
uma
fbf.
Tanto
a
sintaxe
da
lgica
como
a
da
lngua
portuguesa
so
meras
convenes
sobre
o
que
escolhemos
usar
como
sm-
bolos
e
o
modo
como
escolhemos
fazer
sequncias
simblicas
de
smbolos.
Contudo,
h
pelo
menos
duas
diferenas
importantes
entre
a
sintaxe
da
lngua
portuguesa
e
a
sinta-
xe
da
lgica
formal.
4
Em
ingls
usa-se
a
abreviatura
wff,
de
well-formed
formula,
pronunciando-se
whiff.
17/11/2013
80
Em
primeiro
lugar,
a
sintaxe
da
lgica
formal
no
apenas
convencional,
como
acontece
tambm
com
a
da
lngua
portuguesa;
alm
disso,
fruto
de
uma
estipulao
estudada,
o
que
no
acontece
com
a
sintaxe
desta
ltima.
Esta
no
foi
estipulada
de
um
modo
cuidadosamente
estudado;
antes
fruto
de
vrias
estipulaes
episdicas,
feitas
por
diferentes
pessoas
com
diferentes
propsitos,
ao
longo
do
tempo
e
assistematica-
mente.
No
nosso
caso,
pelo
contrrio,
trata-se
de
estipulaes
sistemtica
e
explicita-
mente
feitas
por
ns,
cuidadosamente
concebidas
com
vista
a
fins
bem
delimitados.
A
segunda
diferena
importante
que
a
sintaxe
da
lngua
portuguesa
no
est
articulada
com
a
semntica
de
modo
a
garantir
que
tudo
o
que
est
sintacticamente
cor-
reto
dotado
de
significado.
Pelo
contrrio,
como
vimos,
uma
frase
como
As
ideias
verdes
incolores
dormem
furiosamente,
apesar
de
obedecer
sintaxe
da
lngua
portu-
guesa
(no
tem
qualquer
erro
de
gramtica),
no
tem
valor
de
verdade.
Se
considerar-
mos
que
ter
valor
de
verdade
uma
condio
necessria
do
significado
cognitivo
das
asseres,5
este
um
caso
infeliz
de
uma
frase
que
obedece
s
estipulaes
sintticas,
mas
destituda
de
significado
cognitivo.
No
caso
da
lgica
formal,
a
sintaxe
estipula-
da
de
tal
modo
que
garante
que
toda
a
fbf
tem
condies
de
verdade,
e
consequente-
mente
significado
cognitivo.
Este
segundo
aspeto
uma
primeira
razo
para
considerar
ilusria
a
ideia
de
que
todas
as
sintaxes
so
igualmente
boas
porque
so
convencionais.
Uma
segunda
ra-
zo
emerge
de
uma
breve
reflexo
sobre
a
sintaxe
da
aritmtica.
Considere-se
a
dificuldade
que
fazer
uma
simples
soma
com
a
sintaxe
romana:
somar
MCXXV
com
MCXXIV
algo
que
teremos
de
fazer
mentalmente,
ou
usando
pro-
cessos
engenhosos
mas
indiretos;
no
h
uma
maneira
direta
e
simples
de
fazer
a
ope-
rao.
Agora
veja-se
como
fazemos
a
mesma
soma
com
a
sintaxe
rabe:
somar
1125
com
1124
s
uma
questo
de
fazer
uma
sequncia
de
somas
simples,
comeando
por
somar
5
com
4,
depois
2
com
2,
e
1
com
1,
duas
vezes.
Ao
escrever
os
resultados
destas
somas
simples
na
ordem
correta,
o
resultado
surge
como
que
por
magia.
O
mesmo
no
acontece
no
caso
da
sintaxe
romana:
se
somarmos
primeiro
V
com
IV,
o
resultado
cor-
reto
IX,
mas
depois
somamos
XX
com
XX
e,
claro,
obtemos
XL.
A
sintaxe
rabe
mui-
tssimo
melhor
do
que
a
romana
porque
permite
fazer
qualquer
soma,
por
mais
longa
que
seja
e
por
mais
parcelas
que
tenha,
desde
que
saibamos
somar
os
nmeros
de
0
a
9.
O
contraste
entre
a
numerao
romana
e
a
rabe
mostra
que
h
sintaxes6
melho-
res
do
que
outras,
para
os
fins
que
temos
em
vista.
Ora,
o
avano
extraordinrio
que
foi
a
lgica
clssica
deveu-se
em
parte
precisamente
a
uma
sintaxe
nova,
que
torna
mais
5
Ainda
que
no,
evidentemente,
do
significado
das
perguntas
ou
imperativos,
nem
do
significado
linguagem formal, que uma notao com uma semntica, e no apenas uma notao.
17/11/2013
81
evidente
a
forma
lgica
inferencialmente
relevante
das
proposies.
Essa
sintaxe
j
foi
intuitivamente
apresentada
no
captulo
anterior,
mas
agora
tempo
de
a
especificar-
mos
de
um
modo
completamente
explcito
e
sistemtico.
Claro
que
temos
uma
compreenso
intuitiva
da
maneira
correta
de
formar
se-
quncias
simblicas
com
as
variveis
proposicionais
(p,
q,
r,
etc.)
e
com
as
constantes
lgicas
(,
,
,
,
)
porque
usmos
estes
smbolos
para
representar
aqueles
aspetos
da
lngua
portuguesa
que
so
relevantes
para
uma
dada
classe
de
inferncias
dedutivas.
Este
certamente
um
papel
importante
da
lgica
formal:
assim
como
um
mapa
repre-
senta
uma
cidade,
p
representa
qualquer
proposio,
como
a
expressa
pela
frase
Mar-
guerite
Yourcenar
escreveu
romances
histricos
inesquecveis.
E
tal
como
um
mapa
no
representa
todos
os
aspetos
de
uma
cidade
(se
o
fizesse
seria
to
complexo
quanto
a
prpria
cidade,
pelo
que
seria
intil),
tambm
p
representa
exclusivamente
o
facto
de
uma
proposio
no
ter
qualquer
operador
proposicional
verofuncional,
representando
a
seta,
,
exclusivamente
um
operador
verofuncional
que
tem
como
resultado
uma
proposio
falsa
exclusivamente
se
a
antecedente
for
verdadeira
e
a
consequente
falsa
o
que
ter
talvez
alguma
sobreposio
com
a
condicional
da
lngua
portuguesa,
mas
est
longe
de
representar
ou
sequer
pretender
representar
todos
os
seus
aspetos.
Todavia,
tal
como
estudamos
por
vezes
as
propriedades
dos
prprios
mapas,
sem
atender
ao
que
estes
representam,
tambm
estudamos
as
propriedades
do
sistema
de
smbolos
que
constitui
a
nossa
lgica
formal.
Para
o
fazer,
precisamos
de
encontrar
uma
maneira
de
especificar
em
termos
puramente
sintticos
o
que
so
fbf,
sem
que
pre-
cisemos
consultar
as
nossas
intuies
acerca
do
significado
de
ou
p.
Se
formos
capa-
zes
de
especificar
regras
claras
de
articulao
de
smbolos
da
nossa
lgica,
sem
que
te-
nhamos
de
recorrer
s
nossas
intuies
para
saber
se
uma
dada
sequncia
de
smbolos
ou
no
uma
fbf,
conseguimos
uma
coisa
muito
simples:
provar
com
rigor,
sempre
que
estivermos
perante
uma
sequncia
de
smbolos,
se
ou
no
uma
fbf.
Dado
que
qualquer
fbf
representa
uma
forma
proposicional
dotada
de
significado,
este
no
um
feito
de
menor
importncia.
As
regras
de
formao
de
fbf,
sendo
A
e
B
qualquer
frmula,
so
as
seguintes:
1. p,
q,
r,
s
so
fbf;
2. Se
A
for
uma
fbf,
(A)
uma
fbf;
3. Se
A,
B
forem
fbf,
(A
B)
uma
fbf;
4. Se
A,
B
forem
fbf,
(A
B)
uma
fbf;
5. Se
A,
B
forem
fbf,
(A
B)
uma
fbf;
6. Se
A,
B
forem
fbf,
(A
B)
uma
fbf;
7. Se
A
for
uma
fbf,
obedece
s
estipulaes
1-6.
Estas
estipulaes
permitem
obter
fbf
de
qualquer
complexidade.
Vejamos
como
isso
acontece,
comeando
por
duas
frmulas
que
sabemos
serem
fbf,
pela
clusula
1:
p,
q.
17/11/2013
82
Usando
a
clusula
5,
obtemos
duas
fbf
que
no
tnhamos
antes:
(p
q),
estando
p
no
lugar
de
A
e
q
no
lugar
de
B,
e
(q
p),
estando
agora
q
no
lugar
de
A
e
p
no
lugar
de
B.
Porque
estas
frmulas
so
fbf,
so
representadas
por
A
e
B
na
clusula
3,
por
exemplo,
o
que
significa
que
podemos
agora
construir
as
fbf
((p
q)
(q
p))
e
((q
p)
(p
q)).
Como
se
v,
temos
uma
maneira
de
obter
um
nmero
infinito
de
fbf
a
partir
de
um
nmero
finito
de
smbolos.
Poderamos
ter
comeado
com
um
nmero
infinito
de
variveis
proposicionais,
se
o
quisssemos,
estipulando-as
como
p1,
p2,
p3,
etc.,
mas
instrutivo
ver
que
podemos
obter
um
nmero
infinito
de
fbf
a
partir
de
um
nmero
fini-
to
de
smbolos.
Considere-se
agora
a
frmula
pp
q;
ser
uma
fbf?
Para
o
ser,
teria
de
haver
uma
maneira
de
a
obter
a
partir
das
clusulas
1-6.
Contudo,
isso
no
possvel;
a
partir
de
q
obtemos
(q),
que
abreviamos
obviamente
para
q.
E
desta
fbf
juntamente
com
p
obtemos
p
q.
Todavia,
no
temos
maneira
alguma
de
obter
pp.
Logo,
a
frmula
no
uma
fbf.
Complicmos
o
bvio,
pois
intuitivamente
j
sabamos
ver
que
pp
q
no
era
uma
fbf.
As
vantagens
de
o
fazer,
contudo,
incluem
a
possibilidade
de
computar
mecani-
camente
se
uma
sequncia
de
smbolos
uma
fbf
ou
no;
sem
este
tipo
de
mecanizao
no
teramos
hoje
computadores.
O
mais
importante,
porm,
que
reduzir
uma
tarefa
complexa
e
judiciosa
a
uma
sequncia
de
tarefas
simples
e
mecnicas,
ainda
que
repeti-
tivas,
importante
porque
nos
diz
algo
sobre
a
natureza
da
tarefa
original,
que
nos
pa-
recia
irredutivelmente
complexa
e
judiciosa
e
afinal
redutvel
a
uma
sequncia
de
ta-
refas
nada
complexas
nem
judiciosas,
mas
antes
simples
e
mecnicas.
Descobrir
que
to-
das
as
tarefas
so
redutveis
a
tarefas
simples
e
nada
judiciosas,
ou
que
no
o
so,
cru-
cial
para
a
nossa
compreenso
da
natureza
do
prprio
pensamento,
por
exemplo,
mas
tambm
da
vida
(no
sentido
biolgico
do
termo)
e
de
fenmenos
prosaicos
como
a
di-
gesto
ou
a
respirao.
Exerccios
1. O
que
significa
dizer
que
a
sintaxe
tem
o
papel
de
especificar
o
que
conta
como
smbolo?
2. Explique
por
que
razo
h
sintaxes
melhores
do
que
outras,
apesar
de
todas
serem
conven-
cionais.
3. Determine
quais
das
seguintes
frmulas
so
fbf:
1. p
q
2. p
q
3.
pq
4. qp
4. Explique
por
que
razo
(p
q)
uma
fbf.
5. Explique
por
que
razo
(p
q)
no
uma
fbf.
17/11/2013
83
3.
Axiomas
e
regras
Dos
trs
aspetos
centrais
de
uma
lgica
formal,
vimos
j
brevemente
dois
deles:
a
sem-
ntica
e
a
sintaxe.
agora
tempo
de
apresentar
o
terceiro
aspeto,
o
sistema
de
derivaes
da
nossa
lgica,
depois
de
compreendermos
melhor
a
prpria
ideia
em
causa.
A
ideia
de
conseguir
demonstrar,
passo
a
passo,
que
uma
proposio
complexa
e
surpreendente
resulta,
por
meio
de
passos
simples,
de
outras
proposies
muitssimo
simples
e
autoevidentes
conhecida
no
pensamento
europeu
pelo
menos
desde
a
poca
de
Euclides
(c.
300
a.C.).
No
livro
Elementos
de
Geometria,
o
conhecimento
previamente
existente
daquela
rea
foi
sistematizado:
partindo
de
um
pequeno
nmero
de
ideias
ini-
ciais,
mostra-se
que
todas
as
outras
verdades
da
geometria
se
provam
usando
apenas
estas.
Esta
sistematizao
foi
de
tal
modo
bem-sucedida
que
at
ao
incio
do
sc.
XX
o
livro
de
Euclides
continuava
a
ser
a
introduo
geometria
que
quase
todos
os
estudan-
tes
usavam
e
ainda
hoje,
numa
traduo
cuidada
e
apenas
com
algumas
explicaes
complementares,
uma
boa
introduo
quela
rea
de
estudos.
A
ideia
deste
tipo
de
sistematizao
foi
explorada
por
Aristteles
e
pelos
estoi-
cos,
no
desenvolvimento
das
suas
lgicas.
Contudo,
foi
a
geometria
de
Euclides
que
mais
impacto
teve
no
pensamento
europeu.
De
tal
modo
que
a
maneira
como
Euclides
estru-
turou
a
geometria
tornou-se
um
modelo
do
modo
como
toda
a
teoria
deveria
ser
estru-
turada:
partindo
de
um
pequeno
conjunto
de
verdades
indemonstradas
mas
bvias,
ofe-
rece
maneiras
rigorosas
e
simples
de
concluir
todas
as
outras
verdades
da
rea.
Essas
verdades
de
partida
receberam
a
designao
de
axiomas,
termo
de
origem
grega
que
originalmente
significa
algo
como
o
que
se
v
ser
adequado.
A
ideia
de
partir
de
algo
como
axiomas
que
estes
no
precisam
de
mais
justifi-
cao
porque
so
evidentes
em
si.
Desse
modo,
temos
uma
estrutura
epistmica
bastan-
te
simples
e
que,
numa
maneira
especial
de
a
conceber,
d
origem
ao
que
hoje
chama-
mos
fundacionalismo:
uma
famlia
de
posies
em
teoria
do
conhecimento,
ou
seja,
epistemologia,
que
defende
haver
verdades
fundamentais
que
no
carecem
de
justifica-
o
e
que
justificam
todas
as
outras.
Um
dos
representantes
mais
conhecidos
deste
mo-
do
de
conceber
a
estrutura
da
justificao
o
filsofo
francs
Ren
Descartes
(1596-
1650),
que
tentou
mostrar
que
o
fundamento
ltimo
de
todo
o
nosso
conhecimento
re-
pousava
em
apenas
trs
verdades
autoevidentes,
uma
das
quais
o
famoso
cogito:
penso,
logo
existo.7
Descartes
viria
a
influenciar
sobremaneira
o
filsofo
holands
7
A
expresso
logo
levantou
inesperados
problemas
a
Descartes,
que
a
eliminou
posteriormente
da
sua
obra
Meditaes
sobre
a
Filosofia
Primeira,
depois
de
a
ter
usado
no
Discurso
do
Mtodo.
Apesar
disso,
foi
a
primeira
expresso
que
se
tornou
famosa
e
ainda
hoje
conhecida.
A
ideia
central,
contudo,
no
que
h
uma
inferncia
autoevidente,
mas
antes
uma
verdade
autoevidente:
que
existimos,
cada
um
de
ns,
quando
pensamos.
17/11/2013
84
Bento
de
Espinosa
(1632-1677),
que
viu
no
chamado
mtodo
geomtrico
a
chave
para
um
pensamento
filosfico
rigoroso;
a
sua
tica
tem
como
ttulo
latino
original
Ethica
Ordine
Geometrico
Demonstrata
(tica
demonstrada
em
ordem
geomtrica)
e
procura
seguir
de
perto
o
mtodo
axiomtico
de
Euclides.
A
ideia
de
desenvolver
teorias
sobre
os
mais
diversos
temas
com
uma
estrutura
axiomtica
revelou-se
muitssimo
difcil,
mas
o
ideal
permaneceu
e
deu
at
alguns
fru-
tos:
o
impacto
extraordinrio
da
obra
do
fsico
ingls
Isaac
Newton
(1642-1727)
intitu-
lada
Philosophi
Naturalis
Principia
Mathematica
(princpios
matemticos
de
filosofia
natural)8
resultou
precisamente
de
uma
estrutura
prxima
do
ideal
axiomtico,
formu-
lando
algumas
ideias
centrais
a
partir
das
quais
se
consegue
explicar
e
prever
uma
clas-
se
imensa
de
fenmenos
naturais.
A
diferena
crucial
aqui
que
essas
ideias
centrais,
que
funcionam
como
axiomas,
recebem
agora
o
nome
de
leis9
e,
alm
de
estarem
lon-
ge
de
ser
autoevidentes
como
no
caso
da
geometria,
s
podem
ser
estabelecidas
por
in-
duo,
depois
de
muita
observao
judiciosa.
Estes
breves
apontamentos
histricos
mostram
que
ao
estudar
uma
teoria
de-
senvolvida
segundo
o
ideal
axiomtico
original
estamos
simultaneamente
a
estudar
uma
das
ideias
que
mais
impacto
teve
na
histria
do
pensamento
cientfico
e
filosfico
europeu.
Uma
teoria
axiomtica
de
lgica
formal
consiste
num
conjunto
limitado
de
ver-
dades
lgicas
e
de
regras
de
inferncia,
com
as
quais
podemos
fazer
duas
coisas,
se
a
te-
oria
for
bem-sucedida.
Por
um
lado,
podemos
demonstrar
qualquer
verdade
lgica
a
partir
dos
axiomas,
que
so
as
verdades
lgicas
iniciais.
Segundo,
podemos
tambm
demonstrar
todas
as
validades
formais
a
partir
desses
axiomas.
Todavia,
nenhuma
teo-
ria
axiomtica
adequada
da
lgica
formal
existe
sem
que
tenhamos,
alm
dos
axiomas,
regras
de
inferncia.
Assim,
uma
teoria
axiomtica
da
lgica
formal
tem
de
ter
dois
gru-
pos
bastante
diferentes
de
pontos
de
partida:
axiomas
propriamente
ditos,
que
so
ver-
dades
lgicas
(desejavelmente
autoevidentes,
como
p
p),
e
regras
de
inferncia,
que
so
validades
lgicas
(desejavelmente
tambm
autoevidentes,
como
p
q
p).
Se
a
teoria
axiomtica
da
lgica
formal
estiver
adequadamente
desenvolvida,
conseguiremos
demonstrar
ou
provar,
de
um
modo
muitssimo
rigoroso
e
sem
margem
para
erro,
qualquer
verdade
lgica
a
partir
dos
axiomas
e
das
regras
de
inferncia;
essas
verdades
lgicas
derivadas
dos
axiomas
so
os
teoremas.10
E
conseguiremos
tambm
8
Naquele
tempo,
chamava-se
filosofia
natural
ao
que
hoje
chamamos
cincias
da
natureza.
9
Trata-se
de
uma
metfora
poltica
infeliz.
Uma
lei,
literalmente,
no
descritiva,
mas
antes
normativa:
uma
ordem.
Ao
invs,
as
leis
da
natureza
no
so
ordens,
mas
antes
descries
da
maneira
como
as
coisas
so.
10
Um
lema
um
teorema
muito
simples,
que
resulta
de
um
modo
bvio
dos
axiomas
e
regras
de
inferncia.
17/11/2013
85
demonstrar,
do
mesmo
modo,
qualquer
validade
formal.
Ora,
se
todas
as
verdades
e
va-
lidades
lgicas
se
obtm
a
partir
de
um
pequeno
conjunto
de
axiomas
e
regras
de
infe-
rncia,
esse
conjunto
o
fundamento
do
pensamento
dedutivo
formal.
Seria
talvez
de
esperar
que
as
regras
de
inferncia
fossem
eliminveis
ou,
pelo
menos,
que
os
axiomas
no
fossem
eliminveis
no
sentido
em
que
conseguiramos
ter
uma
teoria
lgica
igualmente
boa
sem
regras
de
inferncia
desde
que
tivssemos
axiomas.
Contudo,
ocorre
precisamente
o
inverso:
podemos
prescindir
dos
axiomas
e
ficar
s
com
regras
de
inferncia,
mas
no
podemos
prescindir
das
regras
de
inferncia
e
ficar
s
com
axiomas.
Quando
prescindimos
dos
axiomas
e
ficamos
s
com
regras
de
inferncia,
temos
uma
teoria
de
deduo
natural,
se
as
regras
se
limitarem
a
especificar
o
modo
de
introduzir
e
de
eliminar
constantes
lgicas.
Este
desenvolvimento
no
de
somenos
importncia,
precisamente
porque
que-
remos
saber
quais
so
os
princpios
lgicos
fundamentais,
a
partir
dos
quais
tudo
o
res-
to
emerge.
Ora,
at
muito
recentemente
era
normal
pensar
que
a
lgica
clssica
partia
de
trs
axiomas:
a
lei
do
terceiro
excludo,
a
lei
da
no-contradio
e
a
lei
da
identida-
de.11
Acontece
que,
na
verdade,
no
s
impossvel
desenvolver
um
sistema
de
lgica
formal
adequado
partindo
apenas
destas
verdades
lgicas,
como
no
precisamos
de
usar
qualquer
uma
delas
para
desenvolver
teorias
adequadas
da
lgica
formal
clssica.
Isto
significa
que
as
trs
verdades
lgicas
que
se
pensava
serem
basilares,
axiomticas,
afinal
so
meros
teoremas
que
resultam
de
regras
de
inferncia
que,
estas
sim,
so
axi-
omticas
no
sentido
de
serem
o
fundamento
de
todas
as
verdades
e
validades
lgicas.
a
inferncia,
o
raciocnio,
que
fundamental
na
lgica,
e
no
as
verdades
lgicas
o
que
no
deveria
ser
surpreendente,
dado
que
a
lgica
estuda
o
raciocnio.
Como
vimos
algo
vagamente
no
Captulo
2,
o
terceiro
excludo
resulta
de
alguns
pressupostos
prvios:
admitamos
que
s
temos
dois
valores
de
verdade
e
definamos
a
negao
como
o
fizemos;
admitamos
alm
disso
que
toda
a
proposio
verdadeira
ou
falsa.
O
princpio
do
terceiro
excludo
uma
consequncia
destes
pressupostos,
e
no
um
axioma
com
base
no
qual
possamos
construir
adequadamente
a
nossa
lgica.
Exerccios
1. O
que
um
axioma,
em
lgica?
2. O
que
uma
regra
de
inferncia?
3. Explique
a
diferena
entre
um
sistema
axiomtico
de
lgica
e
um
sistema
de
deduo
natu-
ral.
4. Por
que
razo
as
chamadas
leis
do
pensamento
no
so
afinal
fundamentais,
ao
contrrio
do
que
se
pensava?
11
A
infeliz
metfora
legal
por
vezes
usada
para
falar
destas
trs
verdades
lgicas,
chamando-
17/11/2013
86
4.
O
conceito
de
derivao
No
centro
da
nossa
lgica
esto
as
regras
de
inferncia;
estas
so
apenas
validades
for-
mais
elementares.
A
magia
que
qualquer
validade
formal,
e
qualquer
verdade
lgica,
pode
ser
provada
partindo
apenas
dessas
regras.
Estas
so
evidentes
em
si,
mas
alm
disso
podemos
fazer
tabelas
de
validade
para
ver
que
so
realmente
vlidas.
Assim,
es-
ses
princpios,
esses
axiomas
(mas
no
no
sentido
rigoroso
de
serem
verdades
lgicas),
so
o
fundamento
de
todo
o
raciocnio
dedutivo
proposicional
clssico.
Contudo,
podemos
fazer
um
sistema
de
prova
de
dois
pontos
de
vista:
semntico
ou
sinttico.
As
tabelas
de
validade
que
vimos
no
captulo
anterior
provam
que
uma
da-
da
forma
inferencial
vlida
ou
invlida,
mas
no
so
derivaes.
As
derivaes
tm
dois
aspetos
centrais,
que
as
tabelas
de
validade
no
tm.
Em
primeiro
lugar,
trata-se
de
provar
que
uma
dada
forma
inferencial,
ou
uma
forma
proposicional
logicamente
verdadeira,
resulta
de
outras
formas
inferenciais
que
j
sabemos
serem
vlidas.
Por
exemplo,
imagine-se
que
desejamos
provar
que
a
seguin-
te
forma
inferencial
vlida:
p
q,
q
r,
p
r.
Imagine-se
tambm
que
j
sabemos
que
o
modus
ponens
uma
forma
vlida
de
inferncia;
o
modus
ponens,
recorde-se,
a
forma
inferencial
com
a
seguinte
configurao:
A
B,
A
B.
Eis
como
poderamos
demonstrar
a
validade
da
primeira
com
base
na
validade
da
segunda:
1. p
q
Premissa
2. q
r
Premissa
3. p
Premissa
4. q
1,
3,
modus
ponens
5. r
2,
4,
modus
ponens
O
que
fizemos
foi
comear
por
dispor
em
lista
a
totalidade
das
nossas
premissas.
O
raci-
ocnio
comea
ento
no
passo
4:
aqui,
fazemos
uma
primeira
inferncia,
com
base
no
modus
ponens,
e
conclumos
q.
Esta
inferncia
sancionada
pelo
modus
ponens,
que
es-
tamos
a
supor
que
vlido.
No
passo
5
fazemos
uma
nova
inferncia,
de
novo
usando
o
modus
ponens,
e
conclumos
o
resultado
desejado:
r.
Assim,
mostrmos
que
a
concluso
da
forma
inferencial
original
se
segue
de
duas
aplicaes
de
uma
regra
de
inferncia
v-
lida,
pelo
que
a
prpria
forma
inferencial
vlida:
a
concluso
segue-se
das
premissas.
Claro
que,
num
caso
simples
como
este,
o
resultado
no
particularmente
iluminante.
Contudo,
ilustra
bem
o
ponto
fundamental:
uma
demonstrao
uma
cadeia
de
infern-
cias
que
provam,
passo
a
passo,
que
uma
dada
forma
inferencial
vlida,
ou
que
uma
dada
forma
proposicional
uma
verdade
lgica,
com
base
noutras
formas
inferenciais
vlidas,
que
desempenham
o
papel
de
regras
de
inferncia.
Contudo,
uma
derivao
mais
do
que
isto,
e
este
o
seu
segundo
aspeto
crucial.
At
agora,
vimos
apenas
a
importncia
histrica
da
ideia
de
construir
teorias
que
permi-
17/11/2013
87
tam
demonstrar
todos
os
resultados
de
uma
dada
rea,
partindo
de
um
pequeno
nme-
ro
de
pressupostos
iniciais.
E
vimos
como
esta
ideia
se
aplica
ao
caso
da
lgica,
permi-
tindo
demonstrar
resultados
passo
a
passo.
Todavia,
o
segundo
aspeto
que
estas
de-
monstraes,
quando
so
derivaes,
so
meras
manipulaes
de
smbolos,
sem
que
te-
nhamos
de
ter
qualquer
preocupao
com
a
sua
semntica.
aqui
que
a
importncia
da
sintaxe
se
torna
ainda
mais
evidente.
Um
sistema
de
derivaes
da
lgica
formal
ape-
nas
um
conjunto
de
regras
de
manipulao
de
smbolos;
se
for
adequadamente
constru-
do,
conseguiremos
manipular
os
smbolos
de
tal
modo
que
haver
uma
correspondn-
cia
exata
entre
as
sequncias
de
smbolos
que
conseguimos
derivar
e
as
validades
e
ver-
dades
lgicas.
Uma
das
vantagens
de
um
sistema
sinttico
de
derivaes
garantir
que
no
nos
deixaremos
iludir
pela
nossa
compreenso
do
significado
dos
smbolos,
pois
temos
ape-
nas
de
atender
s
regras
explicitadas
que
permitem
manipul-los.
Alm
disso,
podemos
estudar
com
rigor
diferentes
sistemas
de
manipulao
de
smbolos,
especificando
as
su-
as
propriedades.
Contudo,
o
que
nos
interessa
crucialmente,
quando
estudamos
lgica
de
um
ponto
de
vista
instrumental,
para
raciocinar
melhor
e
para
fazer
filosofia
melhor,
precisamente
a
interpretao
semntica
que
temos
em
mente;
e
mesmo
que
estude-
mos
lgica
apenas
como
um
fim
em
si,
no
verdade
que
quaisquer
manipulaes
de
smbolos
sejam
interessantes:
s
so
interessantes
aquelas
manipulaes
que
forem
susceptveis
de
uma
interpretao
semntica
interessante.
Se
entendermos
um
sistema
de
derivaes
de
um
ponto
de
vista
puramente
sinttico,
sem
atender
ao
que
desejamos
representar
com
os
nossos
smbolos,
nada
nos
impede
de
considerar
legtima
a
passa-
gem
de
p
para
p,
por
exemplo,
ou
de
p
q
e
q
para
p;
no
o
fazemos
porque,
em
ambos
os
casos,
temos
em
mente
uma
semntica
dos
smbolos
segundo
a
qual
ambas
as
passa-
gens
correspondem
a
inferncias
invlidas.
Assim,
apesar
de
procedermos
de
seguida
especificao
sinttica
do
nosso
sis-
tema
de
deduo
natural,
no
nos
inibiremos
de
relembrar
a
cada
passo
a
semntica
que
temos
em
vista
em
cada
regra.
Exerccios
1. Por
que
razo
as
tabelas
de
validade
estudadas
no
Captulo
2
constituem
um
sistema
semn-
tico,
mas
no
sinttico,
de
prova?
17/11/2013
88
ser
B
em
vez
de
A,
e
no
segundo
B
A.
Estas
formas
inferenciais
so
obviamente
vlidas,
o
que
podemos
verificar
facilmente
fazendo
duas
tabelas
de
validade.
Do
ponto
de
vista
sinttico,
contudo,
as
regras
associadas
a
estas
formas
inferen-
ciais
dizem
respeito
exclusivamente
manipulao
de
frmulas.
Por
essa
razo,
formu-
lamos
as
regras
com
o
martelo
sinttico
(),
em
vez
de
semntico
().
A
primeira
regra
ento
formulada
como
A
B
A
ou
A
B
B
e
a
segunda
como
A,
B
A
B
ou
A,
B
B
A,
e
estas
regras,
a
rigor,
no
so
regras
de
inferncia,
mas
antes
regras
de
manipu-
lao
de
smbolos:
dizem-nos
que
podemos
substituir
os
smbolos
esquerda
do
marte-
lo
pelos
smbolos
direita.
O
martelo
semntico,
em
contraste,
indica
informalmente
que
toda
a
circunstncia12
que
torna
verdadeiras
as
frmulas
da
esquerda,
torna
tam-
bm
verdadeira
a
frmula
da
direita.
As
nossas
duas
regras
permitem
derivar
o
seguinte:
p
q,
r
q
r.
Como
se
v,
no
temos
qualquer
regra
que
nos
permita
manipular
diretamente
a
sequncia
es-
querda
do
martelo
de
modo
a
obter
a
sequncia
direita.
Contudo,
conseguimos
mani-
pular
a
sequncia
da
esquerda
de
tal
modo
que,
indiretamente,
chegamos
sequncia
da
direita,
usando
as
nossas
duas
regras,
que
identificaremos
como
E
(eliminao
de
)
e
I
(introduo
de
):
1.
p
q
Premissa
2.
r
Premissa
1
3.
q
1
E
1,2
4.
q
r
2,
3
I
Como
vemos,
as
nossas
derivaes
tm
quatro
colunas.
A
segunda
coluna
limita-se
a
numerar
os
passos
do
nosso
raciocnio.
A
terceira
a
coluna
do
clculo,
onde
escreve-
mos
as
frmulas.
A
quarta
a
coluna
da
justificao:
nela,
justificamos
o
que
escrevemos
na
coluna
anterior.
Assim,
nos
passos
1
e
2,
a
justificao
apenas
que
aquelas
so
as
premissas
do
que
desejamos
provar.
No
passo
3,
a
justificao
invoca
a
regra
E,
que
foi
aplicada
ao
passo
1
a
regra
diz-nos
que
sempre
que
temos
uma
sequncia
com
a
for-
ma
A
B
podemos
escrever
a
frmula
A
ou
a
B.
No
passo
4
justificamos
o
nosso
racioc-
nio
apelando
para
a
outra
regra
que
temos:
I.
Esta
regra
aplica-se
a
dois
passos,
2
e
3.
Quanto
primeira
coluna,
a
das
dependncias,
o
seu
papel
s
se
tornar
impor-
tante
quando
aprendermos
a
usar
suposies,
que
so
premissas
temporrias,
que
eli-
minamos
depois
de
as
manipular
adequadamente.
Para
j,
basta
compreender
que
esta
a
coluna
que
indica
de
que
premissas
ou
suposies
depende
o
passo
em
causa.
Assim,
12
Ou,
para
ser
mais
rigoroso,
toda
a
interpretao.
A
ideia
de
teoria
dos
modelos
que
est
aqui
17/11/2013
89
os
passos
1
e
2
no
dependem
de
suposies
algumas
porque
so
premissas.
O
passo
3,
contudo,
depende
da
premissa
1,
pois
foi
a
esta
premissa
que
se
aplicou
a
regra.
O
passo
4
depende
das
premissas
1
e
2:
da
2,
porque
aplicmos
a
regra
I
a
essa
premissa;
e
da
1
porque
aplicmos
a
regra
I
frmula
do
passo
3,
dependia
de
1.
J
se
v
que
na
pri-
meira
coluna
assinalamos
as
premissas
de
que
depende
cada
passo,
e
no
os
passos
a
que
aplicamos
a
regra
em
causa.
Contrasta
assim
com
a
coluna
da
justificao,
na
qual
indicamos
os
passos
a
que
aplicmos
a
regra
especificada,
seja
esse
passo
uma
premissa
ou
no.
Quando
aplicamos
uma
regra
como
I
a
quaisquer
passos
n
e
m,
estes
surgem
na
primeira
coluna,
a
coluna
das
dependncias,
sse
n
e
m
forem
premissas;
caso
n
no
seja
uma
premissa,
indicamos
na
coluna
das
dependncias
no
n
mas
a
premissa
ou
premis-
sas
de
que
n
depende
(ditto
para
m).
Agora
j
temos
uma
ideia
razovel
do
que
um
sistema
de
deduo
natural:
tra-
ta-se
de
um
conjunto
de
regras
puramente
sintticas
de
manipulao
de
smbolos
que
correspondem,
contudo,
a
formas
inferenciais
muito
simples
que
sabemos
serem
vli-
das
e
com
base
nas
quais
podemos
provar
qualquer
validade
e
qualquer
verdade
lgica.
Uma
derivao
um
encadeamento
de
inferncias
que,
partindo
das
premissas
dadas
(se
as
houver,
ou
de
suposies,
caso
contrrio),
nos
permite
chegar
concluso
deseja-
da,
fazendo
apenas
uma
inferncia
simples
em
cada
passo.
As
derivaes
tm
um
aspeto
sinttico,
como
vimos,
pois
podemos
v-las
desse
modo
apenas,
mas
so
igualmente
susceptveis
de
interpretao
semntica;
e
poderamos,
se
o
desejssemos,
fazer
um
sis-
tema
inteiramente
semntico
de
derivaes.
O
que
faz
de
um
sistema
de
derivaes
um
caso
de
deduo
natural
o
uso
exclusivo
de
regras
de
introduo
e
de
eliminao
das
constantes
lgicas;
poderamos
construir
um
sistema
com
outro
tipo
de
regras,
caso
em
que
no
seria
um
sistema
de
deduo
natural.
Ora,
os
sistemas
de
deduo
natural
foram
feitos
com
uma
pretenso
que
ins-
trutivo
conhecer.
Voltemos
ao
nosso
problema
de
definir
o
conceito
de
conjuno,
por
exemplo.
Na
lgica
formal,
isolamos
o
seu
aspeto
verofuncional
e
definimos
o
smbolo
semanticamente,
definio
essa
que
adequadamente
representada
numa
tabela
de
verdade:
aquele
operador
binrio
que
s
torna
verdadeira
a
proposio
de
chegada
quando
as
proposies
de
partida
so
ambas
verdadeiras.
Todavia,
num
sistema
de
de-
duo
natural
temos
outra
maneira
de
definir
o
smbolo
:
sintacticamente,
pura
e
simplesmente
aquele
smbolo
que
s
pode
ser
manipulado
segundo
as
regras
E
e
I;
nada
mais.
Esta
maneira
de
definir
um
smbolo
muito
instrutiva,
pois
pensa-se
por
vezes
erradamente
que
s
as
definies
explcitas
so
rigorosas.
Eis
um
caso
de
uma
definio
implcita
do
smbolo
que
maximamente
rigorosa,
apesar
de
no
ser
explcita:
no
definimos
em
termos
de
condies
necessrias
e
suficientes,
mas
antes
em
termos
do
seu
comportamento
sinttico.
E,
claro,
como
o
seu
comportamento
sinttico
est
rigoro-
17/11/2013
90
samente
coordenado
com
duas
inferncias
dedutivas
formais
muito
elementares,
temos
tambm
nossa
disposio
uma
definio
semntica
do
smbolo
que
no
recorre
a
tabelas
de
verdade:
trata-se
daquele
operador
verofuncional
cujo
comportamento
infe-
rencial
especificado
pelas
duas
inferncias
elementares
que
correspondem
s
regras
sintticas
E
e
I.
Este
modo
semntico
de
definir,
tambm
implicitamente,
a
conjuno
uma
alternativa
definio
explcita,
em
termos
de
condies
de
verdade,
que
as
tabe-
las
de
verdade
representam.
Contudo,
como
veremos
quando
estudarmos
lgica
de
pre-
dicados
e
lgica
modal,
nem
sempre
podemos
definir
uma
constante
lgica
usando
tabe-
las
de
verdade:
isso
s
possvel
no
caso
de
operadores
verofuncionais.
Assim,
a
manei-
ra
inferencial
de
definir
implicitamente
uma
constante
lgica
mais
interessante
preci-
samente
porque
mais
geral,
no
dependendo
da
verofuncionalidade.
Exerccios
1. O
que
uma
derivao?
2. Formule
uma
boa
definio
explcita
da
conjuno.
3. Formule
uma
boa
definio
implcita
da
conjuno.
4. Explique
qual
a
diferena
entre
a
coluna
1
e
a
coluna
4
do
nosso
sistema
de
derivaes.
6.
Introduo
da
disjuno
A
regra
da
introduo
da
disjuno,
I,
banal:
A
A
B
ou
A
B
A.
fcil
ver
que
esta
regra
sinttica
corresponde
a
uma
forma
inferencial
banal,
devido
ao
significado
de
,
que
corresponde
por
sua
vez
ao
aspeto
verofuncional
do
ou
inclusivo
da
lngua
por-
tuguesa.
Por
exemplo,
da
existncia
de
Deus,
como
mera
hiptese,
conclui-se
validamen-
te
que
Deus
existe
ou
o
oceano
Pacfico
vasto
impossvel
a
premissa
ser
verdadei-
ra
e
a
concluso
falsa
porque
a
concluso
uma
disjuno
que
inclui
a
premissa
como
uma
das
disjuntas.
Vejamos
um
caso
da
aplicao
de
I
para
derivar
p
q
[(p
r)
q]
(s
r):13
1.
p
q
Premissa
1
2.
p
1
E
1
3.
p
r
1
I
1
4.
q
1
E
1
5.
(p
r)
q
3,
4
I
1
6.
[(p
r)
q]
(s
r)
5
I
13
Por
ser
visualmente
mais
fcil,
iremos
usar
parntesis
rectos
para
destacar
o
maior
mbito.
17/11/2013
91
No
passo
2
aplicmos
E
para
obter
p
do
passo
1;
como
o
passo
1
era
ele
mesmo
uma
premissa,
indicamos
na
coluna
das
dependncias
que
o
passo
2
depende
da
premissa
do
passo
1.
Com
essa
frmula
obtemos
p
r
usando
I;
ficamos
agora
a
depender
mesma
da
premissa
1,
porque
aplicamos
I
a
uma
frmula
que
dela
dependia.
No
passo
4
apli-
cmos
de
novo
E
para
obter
q
do
passo
1,
que
podemos
agora
juntar
no
passo
5
fr-
mula
do
passo
3,
usando
I.
Finalmente,
no
passo
6
obtemos
o
que
desejvamos
usando
I
sobre
o
passo
5.
Se
olharmos
para
uma
derivao
j
feita,
relativamente
fcil
examin-la
com
cuidado
e
explicar
todos
os
seus
passos.
Contudo,
fazer
uma
derivao
nem
sempre
fcil
porque
no
se
trata
de
uma
aplicao
cega
das
nossas
regras,
mas
antes
de
uma
aplicao
judiciosa,
guiada
pelo
objetivo
de
chegar
frmula
final.
Sem
uma
aplicao
judiciosa
das
nossas
regras,
tendo
em
mente
a
frmula
a
que
desejamos
chegar,
poss-
vel
prolongar
uma
derivao
por
vrios
passos
inteis,
sem
que
se
consiga
derivar
o
que
se
pretende.
Assim,
tal
como
no
xadrez,
fazer
derivaes
envolve
o
domnio
das
regras,
mas
exige
tambm
um
pensamento
estratgico
que
nos
permita
encontrar
um
caminho
que
nos
conduza
das
frmulas
de
partida
de
chegada,
usando
exclusivamente
as
re-
gras
disponveis.
precisamente
este
aspeto
das
derivaes
que
as
tornam
especial-
mente
valiosas
como
modelo
do
pensamento
sistemtico
rigoroso,
pois
este
consiste
precisamente
em
encontrar
um
caminho
criativo
que
nos
conduza,
por
uma
cadeia
de
inferncias
vlidas,
concluso
pretendida:
a
imaginao
desempenha
aqui
um
papel
central.
Olhemos
de
novo
para
o
que
derivmos:
p
q
[(p
r)
q]
(s
r).
Para
se
conseguir
derivar
esta
forma
inferencial,
temos
de
olhar
para
a
premissa
e
perguntar
como
podemos
manipul-la
de
modo
a
chegar
concluso.
fcil
ver
que
E
permite
obter
p;
ora,
I
permite
obter
imediatamente
p
r.
Se
juntarmos
agora
a
esta
frmula
o
q
que
obtemos
tambm
facilmente
da
premissa
por
meio
de
E,
obtemos
(p
r)
q.
Isto
tudo
o
que
realmente
importa,
pois
a
partir
do
momento
em
que
temos
uma
das
dis-
juntas
a
outra
obtm-se
trivialmente
por
I.
algo
como
esta
estratgia
que
nos
permite
derivar
resultados.
O
que
ir
acon-
tecer
que,
em
casos
menos
bvios,
ensaiamos
no
papel
vrias
estratgias,
vrios
cami-
nhos
que
se
revelam
improdutivos,
at
descobrirmos
um
caminho
que
d
bons
frutos.
Exerccios
1. Derive
o
seguinte:
1. p
p
(q
r)
2. p
q
(q
r)
(q
p)
3. p,
q
r
[p
(q
r)]
p
4. p
(q
r)
r
s
17/11/2013
92
7.
Eliminao
da
disjuno
A
regra
eliminao
da
disjuno
no
permite,
obviamente,
concluir
A
de
A
B,
pois
isso
invlido;
nem
concluir
B
da
mesma
premissa,
e
pela
mesma
razo.
Evidentemente,
na-
da
nos
impediria
de
estipular
essa
regra,
pois
estamos
a
trabalhar
exclusivamente
com
manipulaes
de
frmulas.
Faz-lo,
contudo,
significaria
que
o
nosso
sistema
de
deriva-
es
deixaria
de
poder
representar
a
inferncia
dedutiva.
por
essa
mesma
razo
que
continuaremos
a
usar
conceitos
semnticos
ao
falar
de
meras
sequncias
de
frmulas,
pois
o
nosso
interesse
central
no
estudo
das
derivaes
o
facto
de
estas
serem
mode-
los
simplificados
e
muito
rigorosos
do
raciocnio
dedutivo.
A
regra
da
eliminao
da
disjuno
ir
corresponder
a
uma
forma
inferencial
ba-
nal
que
j
conhecemos:
o
dilema.
A
sua
representao
sinttica
simples,
mas
ir
exigir
algumas
explicaes
sobre
o
modo
de
proceder:
A
B,
A
C,
B
C
C.
Eis
um
exemplo
simples
de
uma
inferncia
com
esta
forma:
Ou
as
nossas
decises
so
arbitrrias
ou
es-
to
determinadas.
Se
forem
arbitrrias,
o
livre-arbtrio
uma
iluso;
mas
se
estiverem
determinadas
tambm
uma
iluso.
Logo,
em
qualquer
dos
casos,
o
livre-arbtrio
uma
iluso.
A
representao
rigorosa
da
nossa
regra,
contudo,
um
pouco
menos
bvia
por-
que
em
vez
das
condicionais
A
C
e
B
C
teremos,
na
verdade
inferncias:
A
C
e
B
C.
Isto
significa
que
a
eliminao
da
disjuno
uma
inferncia
maior
no
seio
da
qual
fazemos
duas
inferncias
parciais
menores.
Assim,
adaptando
o
exemplo
anterior,
te-
mos
o
seguinte:
Ou
as
nossas
decises
so
arbitrrias
ou
esto
determinadas.
Supo-
nhamos
que
so
arbitrrias;
nesse
caso,
o
livre-arbtrio
uma
iluso.
Suponhamos,
pelo
contrrio,
que
esto
determinadas;
tambm
nesse
caso
o
livre-arbtrio
uma
iluso.
Lo-
go,
em
qualquer
dos
casos,
o
livre-arbtrio
uma
iluso.
Se
formulssemos
a
regra
da
eliminao
da
disjuno
com
condicionais,
em
vez
de
subinferncias,
esta
regra
dependeria,
em
alguns
casos,
da
regra
da
introduo
da
condicional,
que
iremos
formular
mais
tarde.
Ora,
o
que
se
quer
um
conjunto
de
regras
que
subsistam
por
si,
sem
dependerem
de
outras;
cada
regra
tem
de
valer
por
si
mesma,
sem
o
auxlio
das
outras,
ainda
que
s
em
conjunto
as
regras
permitam
provar
todas
as
validades
formais
e
todas
as
verdades
lgicas
proposicionais
clssicas.
Vejamos
ento
um
exemplo
da
aplicao
da
regra
E,
para
derivar
(p
r)
(q
r),
s
r
s:
1.
(p
r)
(q
r)
Premissa
2.
s
Premissa
3.
p
r
Suposio
(1
E)
17/11/2013
93
3
4.
r
3
E
5.
q
r
Suposio
(1
E)
5
6.
r
5
E
1
7.
r
1,
34,
56
E
1,
2
8.
r
s
2,
7
I
Examinemos
agora
a
nossa
derivao.
Os
primeiros
dois
passos
so
apenas
as
premis-
sas;
o
passo
3
uma
suposio.
Ora,
podemos
supor
seja
o
que
for
numa
inferncia.
A
questo
que
se
tal
suposio
no
puder
ser
de
algum
modo
eliminada,
ter
de
ser
in-
cluda
como
uma
das
premissas;
mas,
se
o
fizermos,
j
no
provmos
o
que
queramos,
pois
provmo-lo
com
mais
uma
premissa.
Assim,
uma
suposio
uma
premissa
tem-
porria
que
ser
eliminada;
serve
apenas
para
fazer
uma
subinferncia,
cujo
resultado
ser
usado
de
modo
a
eliminar
essa
premissa
temporria.
Uma
das
regras
que
nos
per-
mite
eliminar
suposies
precisamente
a
E.
Assim,
os
passos
3
e
5
so
as
suposies
que
correspondem
a
afirmar
cada
uma
das
disjuntas
da
premissa
1,
separadamente,
para
mostrar
que
ambas
implicam
o
mes-
mo
resultado.
Assim,
assinalamos
na
quarta
coluna
que
a
suposio
se
faz
com
base
no
passo
1,
tendo
em
vista
a
regra
E.
Ora,
o
que
conseguimos
fazer
tanto
no
passo
4
como
no
6
precisamente
mostrar
que
das
duas
suposies
baseadas
no
passo
1
se
infere
va-
lidamente
a
mesma
forma
proposicional:
r.
(Estas
duas
subinferncias
esto
destacadas
graficamente,
apenas
para
melhorar
a
compreenso
desta
explicao.)
Visto
que
o
mesmo
resultado
se
obtm
de
cada
uma
das
proposies
que
compem
a
disjuno,
eliminamos
a
prpria
disjuno
no
passo
7,
ficando
apenas
com
r,
que
precisamente
o
que
ambas
as
disjuntas
implicam.
E
agora
vem
a
magia
da
eliminao
das
suposies:
uma
vez
que
r
foi
obtida
com
base
na
disjuno
do
passo
1
e
nas
suposies
dos
passos
3
e
4,
o
nosso
resultado
depende
exclusivamente
das
premissas
de
que
depender
o
pas-
so
1,
ou
do
prprio
passo
1,
caso
seja
uma
premissa
(como
acontece
neste
caso).
O
pas-
so
7
dependeria
tambm
de
quaisquer
premissas
de
que
dependessem
os
passos
6
e
4,
mas
nunca
das
suposies
3
e
5;
s
que,
neste
caso,
6
depende
apenas
da
suposio
5
e
4
depende
apenas
da
suposio
3,
e
por
isso
que
o
nosso
passo
7
depende
apenas
de
1.
Ao
justificar
o
uso
de
E
indicamos
primeiro
a
disjuno
(passo
1,
no
nosso
caso)
com
base
na
qual
fazemos
as
duas
suposies
prprias
da
regra;
depois,
indicamos
o
passo
onde
supomos
a
primeira
parte
da
disjuno
e
o
passo
onde
chegmos
ao
resulta-
do
parcial
que
desejvamos:
no
nosso
caso,
34.
Os
trs
pontos
indicam
que
4
uma
consequncia
de
3,
e
que
estamos,
pois,
perante
uma
subinferncia.
Fazemos
ento
o
mesmo
para
a
outra
suposio:
56,
no
nosso
caso.
Assim,
chegmos
ao
passo
7
dependendo
exclusivamente
da
premissa
1;
se
fi-
zermos
agora
uma
tabela
de
validade,
vemos
que
a
inferncia
que
tem
o
passo
1
como
17/11/2013
94
premissa
e
o
passo
7
como
concluso
vlida.
E
assim
que
funciona
sempre
a
nossa
regra
da
eliminao
da
disjuno.
A
regra
tem
alguns
detalhes
curiosos,
mas
no
parti-
cularmente
subtil
nem
difcil.
Apenas
temos
de
compreender
bem
o
que
estamos
fazen-
do.
Finalmente,
o
passo
8
limita-se
a
usar
I
para
juntar
r
com
s
e
assim
obter
a
con-
cluso
geral
desejada.
Formulemos
ento
a
nossa
regra
com
cuidado:
Exerccios
1. Derive
o
seguinte:
1. p
q
q
p
2. (p
q)
(q
r)
q
3. (p
q)
(q
r)
q
s
4. p
(q
p)
p
r
5. (p
q)
p
p
(q
p)
8.
Eliminao
da
condicional
O
modus
ponens
uma
das
regras
de
inferncia
centrais,
no
sentido
de
estar
presente
em
vrias
teorias
lgicas
e
diferentes
sistemas
de
demonstrao.
Tambm
no
caso
da
deduo
natural
est
presente:
a
eliminao
da
condicional,
E.
A
sua
formulao,
que
j
conhecemos,
a
seguinte:
A
B,
A
B.
A
concluso
depende
das
mesmas
premissas
de
que
dependerem
as
duas
frmulas
a
que
se
aplica
a
regra.
Eis
um
exemplo
da
sua
aplicao,
para
derivar
p
q,
p
r,
q
r
r,
ou
seja,
vamos
demonstrar
a
validade
do
dilema,
na
sua
expresso
condicional,
usando
E
e
E:
1.
p
q
Premissa
2.
p
r
Premissa
3.
q
r
Premissa
4.
p
Suposio
(1
E)
2,
4
5.
r
2,
4
E
6.
q
Suposio
(1
E)
3,
6
7.
r
3,
6
E
1,
2,
3
8.
r
1,
45,
67
E
17/11/2013
95
Uma
vez
mais,
temos
duas
suposies,
desta
vez
no
passo
4
e
no
passo
6.
Ambas
permi-
tem
derivar
r.
A
concluso
geral
ento
r,
que
depende
apenas
das
premissas
de
que
depender
a
disjuno
original,
do
passo
1,
e
de
todas
as
premissas
de
que
depender
o
passo
5,
excepto
da
suposio
do
passo
4,
e
de
todas
as
premissas
de
que
depender
o
passo
7,
excepto
da
suposio
do
passo
6.
Uma
derivao,
para
estar
correta,
precisa
no
apenas
de
resultar
exclusivamen-
te
do
uso
correto
das
regras
disponveis,
passo
a
passo,
mas
tambm
de
chegar
ao
resul-
tado
pretendido
sem
depender
de
quaisquer
suposies.
A
rigor,
o
ltimo
passo
de
uma
derivao
tem
tambm
de
depender
de
todas
as
premissas
da
derivao,
mas
esta
exi-
gncia
irrelevante
porque
trivial
fazer
um
dado
passo
depender
de
uma
premissa
qualquer
(o
que
no
trivial
conseguir
derivar
o
que
desejamos
sem
depender
de
su-
posies
ou
premissas
adicionais).
Veja-se
a
seguinte
derivao
de
p
q,
p
r,
s
q:
1.
p
q
Premissa
2.
p
r
Premissa
3.
s
Premissa
2
4.
p
2
E
1,
2
5.
q
1,
4
E
Como
se
v,
a
terceira
premissa
inerte:
no
foi
usada
para
chegar
concluso.
Por
isso,
a
rigor,
no
derivmos
a
sequncia
de
frmulas
p
q,
p
r,
s
q
mas
antes
a
sequncia
p
q,
p
r
q.
Todavia,
j
sabemos
que
acrescentar
premissas
no
faz
diferena
por-
que
a
deduo
monotnica;
agora
podemos
ver
porqu:
que
com
uma
simples
apli-
cao
de
I
e
de
E
obrigamos
a
concluso
da
nossa
derivao
a
depender
da
premissa
do
passo
3:
1,
2,
3
6.
q
s
3,
5
I
1,
2,
3
2.
q
6
E
Por
esta
razo,
iremos
apenas
exigir
que
obtenhamos
a
frmula
direita
do
martelo,
sem
depender
de
quaisquer
suposies,
e
aplicando
corretamente
as
regras
disponveis.
Exerccios
1. Derive
o
seguinte:
1. (p
r)
q,
p
q
2. p
(q
r),
p
r
q
3. p
q,
(q
r)
s
s
4. p,
(p
q)
r,
(r
p)
s
s
17/11/2013
96
5. p
(p
r),
p
r
9.
Introduo
da
condicional
A
introduo
da
condicional,
I,
a
segunda
das
trs
regras
de
deduo
natural
que
nos
permite
eliminar
a
dependncia
de
suposies.
A
regra
baseia-se
na
relao
j
mencio-
nada
entre
raciocnios
e
condicionais:
quando
uma
forma
inferencial
como
A
B
vli-
da,
a
condicional
A
B
,
alm
de
verdadeira,
uma
verdade
lgica.
Se
A
foi
introduzida
como
suposio,
a
partir
da
qual
conseguimos
derivar
B,
a
condicional
A
B
uma
ver-
dade
lgica
e
como
tal
no
depende
da
suposio
A.
Eis
uma
aplicao
da
regra
para
provar
a
transitividade
da
condicional,
tradicionalmente
conhecida
como
silogismo
hi-
pottico,
p
q,
q
r
p
r:
1.
p
q
Premissa
2.
q
r
Premissa
3.
p
Suposio
(I)
1,
3
4.
q
1,
3
E
1,
2,
3
5.
r
2,
4
E
1,
2
6.
p
r
35
I
Usmos
de
novo
um
destaque
grfico
para
se
ver
melhor
onde
encontramos
a
subderi-
vao:
dos
passos
3
a
5.
Usar
a
regra
I
uma
questo
de
escolher
uma
forma
proposi-
cional
com
a
finalidade
de
dela
extrair
um
resultado
que
depois
nos
interessa
estabele-
cer
como
condicional.
o
que
acontece
neste
caso:
supomos
p
estrategicamente
porque
vemos
que
isso
nos
permitir
obter
q,
por
modus
ponens
(E)
o
que,
por
sua
vez,
e
uma
vez
mais
por
modus
ponens,
nos
permite
obter
r.
Uma
vez
chegados
ao
resultado
pretendido,
usamos
a
I
para
estabelecer
a
condicional
que
desejvamos,
eliminando
a
dependncia
da
suposio.
A
regra
I
especialmente
cmoda
quando
a
concluso
do
que
desejamos
pro-
var
uma
condicional,
como
acontece
acima.
Nestes
casos,
supor
a
antecedente
da
con-
dicional
com
a
finalidade
de
usar
a
I
,
muito
frequentemente,
uma
estratgia
inferen-
cial
adequada.
Vejamos
mais
um
exemplo
da
aplicao
da
I,
agora
para
provar
uma
das
pro-
priedades
da
condicional,
a
troca
de
antecedentes,
p
(q
r)
q
(p
r):
1.
p
(q
r)
Premissa
2.
q
Suposio
(I)
3.
p
Suposio
(I)
1,
3
4.
q
r
1,
3
E
17/11/2013
97
1,
2,
3
5.
r
2,
4
E
1,
2
6.
p
r
35
I
1
7.
q
(p
r)
26
I
Como
se
v,
usmos
duas
suposies
porque
essa
uma
maneira
simples
de
obter
o
re-
sultado.
Uma
vez
que
a
prpria
concluso
tem
duas
condicionais
encaixadas,
comea-
mos
por
supor
a
antecedente
da
primeira
condicional
da
concluso,
e
depois
a
da
se-
gunda.
Ao
usar
a
regra
I,
indicamos
o
passo
da
suposio
inicial
e
o
passo
final
da
subinferncia,
usando
uma
vez
mais
os
trs
pontos
para
o
assinalar.
O
passo
em
que
usamos
a
regra
depende
de
todas
as
premissas
ou
suposies
de
que
depender
o
passo
final
da
subinferncia
(6,
no
nosso
caso),
excepto
da
prpria
suposio
que
est
na
sua
origem
(2,
no
nosso
caso).
Vejamos
mais
um
exemplo
do
uso
de
I,
desta
vez
para
demonstrar
a
distributi-
vidade
da
condicional,
p
(q
r)
(p
q)
(p
r):
1.
p
(q
r)
Premissa
2.
p
q
Suposio
(I)
3.
p
Suposio
(I)
1,
3
4.
q
r
1,
3
E
2,
3
5.
q
2,
3
E
1,
2,
3
6.
r
4,
5
E
1,
2
7.
p
r
36
I
1
8.
(p
q)
(p
r)
27
I
Exerccios
1. Derive
o
seguinte:
1. q
r,
r
p
q
p
2. r,
q
p
q
(p
r)
3. p
q,
p
r,
q
r
s
r
4. p
(q
r),
q
s,
r
s
p
s
5. p
q
(q
r)
(p
r)
6. p
(q
r),
q
s
(r
s)
(p
s)
17/11/2013
98
quais
so
as
premissas
ou
suposies
de
que
depende
a
concluso
alcanada.
Neste
as-
peto,
h
dois
tipos
de
regras:
as
que
envolvem
suposies,
como
I
e
E,
e
as
que
no
as
envolvem.
Quando
uma
regra
no
inclui
suposies,
a
concluso
depende
de
todas
as
premissas
ou
suposies
de
que
depender
as
premissas;
mas
quando
uma
regra
inclui
suposies,
como
o
caso
de
I
e
E
(alm
de
I,
que
ainda
no
estudmos),
a
conclu-
so
no
depende
da
suposio
introduzida
para
usar
a
regra.
Vejamos
o
que
acontece
quando
tentamos
derivar
uma
invalidade:
p
(q
r)
(p
q)
r.
Podemos
verificar,
fazendo
uma
tabela
de
validade,
que
esta
sequncia
de
fbf
representa
uma
forma
inferencial
invlida.14
Vejamos
ento
uma
tentativa
de
derivar
o
que
no
derivvel:
1.
p
(q
r)
Premissa
2.
p
q
Suposio
(I)
3.
p
Suposio
(I)
2,
3
4.
q
2,
3
E
1,
3
5.
q
r
1,
3
E
1,
2,
3
6.
r
4,
5
E
1,
2
7.
p
r
36
I
1,
3
8.
(p
q)
r
26
I
Esta
derivao
no
prova
a
inferncia
invlida
que
parece
provar
porque
o
passo
8
de-
pende
da
suposio
3,
o
que
significa
que
no
derivmos
o
resultado
que
parece
que
de-
rivmos,
mas
antes
o
resultado
seguinte:
p
(q
r),
p
(p
q)
r.
E,
como
seria
de
esperar,
esta
sequncia
de
fbf
representa
uma
forma
inferencial
vlida,
como
podemos
ver
fazendo
uma
tabela
de
validade.
Agora
compreendemos
melhor
a
importncia
da
primeira
coluna,
na
qual
regis-
tamos
diligentemente
as
premissas
e
suposies
de
que
depende
o
nosso
raciocnio;
sem
isso,
seramos
talvez
tentados
a
pensar
que
esta
derivao
provava
(p
q)
r
com
base
exclusivamente
em
p
(q
r),
quando
na
verdade
o
faz
com
base
em
p
(q
r)
e
p.
Este
um
exemplo
de
como
as
regras
puramente
sintticas
das
nossas
deriva-
es
constituem
uma
ajuda
inestimvel:
no
precisamos
sequer
de
usar
as
nossas
intui-
es
semnticas
sobre
o
modo
correto
de
usar
mais
de
uma
suposio,
pois
as
regras
de
introduo
e
eliminao
de
operadores
esto
de
tal
modo
coordenadas
com
o
uso
de
14
Na
verdade,
basta
pensar
na
circunstncia
em
que
p
e
r
so
ambas
falsas:
nesse
caso,
a
conclu-
so
falsa
porque
p
q
verdadeira
e
r
falsa;
mas
a
premissa
verdadeira,
pois
qualquer
condicional
com
antecedente
falsa
falsa,
e
p
falsa
nesta
circunstncia
que
estamos
imaginando.
Logo,
a
forma
infe-
rencial
invlida.
17/11/2013
99
suposies,
e
a
explicitao
das
dependncias,
que
nos
pem
a
salvo
de
quaisquer
intui-
es
semnticas
erradas
que
possamos
ter.
Outro
exemplo
dramtico
do
poder
da
primeira
coluna
visvel
examinando
a
derivao
de
p
q
r
p:
1.
p
q
Premissa
1
2.
p
1
E
3.
r
Suposio
(I)
1
4.
r
p
32
I
Talvez
sejamos
tentados
a
pensar
que
esta
derivao
est
errada,
pois
no
s
a
suposi-
o
do
passo
3
introduzida
depois
do
resultado
do
passo
2,
como
esse
resultado
no
deriva
da
suposio.
Contudo,
a
derivao
est
correta,
pois
tudo
o
que
conta
para
o
uso
da
regra
de
I
haver
uma
suposio,
cuja
dependncia
eliminada
ao
usar
a
regra,
e
haver
outro
passo
qualquer
da
derivao
que
usamos
como
consequente
da
condicional
cuja
antecedente
a
prpria
suposio.
A
razo
que,
como
vimos,
introduzir
dependncias
algo
que
pode
sempre
ser
feito
validamente,
devido
monoticidade
da
deduo
o
que
nem
sempre
pode
ser
feito
validamente
eliminar
dependncias.
Ao
passo
3
da
derivao
anterior
podera-
mos
acrescentar
dois
outros
passos,
para
fazer
o
resultado
desejado
depender
da
supo-
sio:
1.
p
q
Premissa
1
2.
p
1
E
3.
r
Suposio
(I)
1,
3
4.
p
r
2,
3
I
1,
3
5.
p
4
E
1
6.
r
p
35
I
Esta
derivao
igualmente
correta,
mas
no
necessrio
introduzir
estes
passos
adi-
cionais
porque
as
regras
do
nosso
sistema,
coordenadas
com
o
modo
como
funciona
a
coluna
do
registo
das
dependncias,
tornam
impossvel
uma
derivao
errada.
Desde
que
apliquemos
corretamente
as
regras
e
desde
que
usemos
corretamente
a
coluna
das
dependncias,
no
temos
de
nos
preocupar
com
outros
pormenores.
Em
particular,
ape-
sar
de
ser
intuitivo
pensar
que
para
usar
a
regra
I
num
dado
passo
preciso
que
esse
passo
dependa
da
suposio
introduzida,
isso
no
necessrio
porque
introduzir
de-
pendncias
sempre
trivial.
17/11/2013
100
Exerccios
1. Derive
o
seguinte:
1. p
q
p
2. (p
r)
(q
r)
q
r
Exerccios
1. Derive
o
seguinte:
1. p
q,
q
r
p
r
2. (p
q)
p
p
q
3. p
(q
p)
p
q
17/11/2013
101
das.
Ao
passo
que
uma
sequncia
como
p
q
q
p
indica
que
a
frmula
direita
se
obtm
da
frmula
esquerda,
uma
sequncia
como
(p
q)
(q
p)
indica
que
a
fr-
mula
direita
se
obtm
de
nenhuma
frmula.
A
primeira
sequncia
tem
como
corres-
pondente
semntico
uma
forma
inferencial
vlida;
a
segunda,
uma
forma
proposicional
logicamente
verdadeira.
Quando
se
confunde
os
dois
tipos
de
sequncias
de
frmulas
pensa-se
erradamente
que
h
inferncias
sem
premissas,
quando
na
verdade
a
sequn-
cia
de
frmulas
que
se
tem
em
mente
no
uma
forma
inferencial,
mas
antes
uma
forma
proposicional.
Vejamos
ento
como
se
prova
uma
verdade
lgica
elementar,
a
expresso
propo-
sicional
do
modus
ponens,
[(p
q)
p]
q:
1.
(p
q)
p
Suposio
(I)
1
2.
p
1
E
1
3.
p
q
1
E
1
4.
q
2,
3
E
5.
[(p
q)
p]
q
14
I
Como
se
v,
a
maneira
como
a
regra
I
funciona
permite,
neste
caso,
obter
uma
frmula
que
no
depende
de
quaisquer
premissas
nem
de
suposies.
Isto
porque
quando
apli-
camos
esta
regra,
o
passo
em
que
a
aplicamos
fica
a
depender
de
todas
as
premissas
ou
suposies
de
que
depende
o
passo
4,
excepto
da
prpria
suposio
1.
Como
neste
caso
o
passo
4
dependia
apenas
de
1,
o
passo
5
no
depende
de
qualquer
premissa
nem
su-
posio:
derivmos
uma
forma
proposicional
logicamente
verdadeira.
Derivmos
at
agora
resultados
muitssimo
triviais,
concebidos
especificamente
para
ilustrar
didaticamente
o
uso
das
nossas
regras.
Evidentemente,
no
este
o
gnero
de
coisa
que
fazem
os
prprios
lgicos.
E
eles
tambm
no
usam
os
seus
sistemas
de
de-
rivao
para
demonstrar
a
validade
de
raciocnios
filosficos
interessantes;
antes
os
usam
para
demonstrar
resultados
logicamente
interessantes.
Um
resultado
logica-
mente
interessante
quando
est
em
causa,
por
exemplo,
uma
propriedade
de
um
opera-
dor
proposicional,
ou
uma
propriedade
da
relao
entre
mais
de
um
operador
proposi-
cional.
Por
exemplo,
a
disjuno
tem
a
propriedade
logicamente
interessante
de
distri-
buir
sobre
a
conjuno:
[p
(q
r)]
[(p
q)
(p
r)].
este
resultado
que
iremos
agora
derivar,
como
exemplo
do
gnero
de
resultados
elementares
que
tm
interesse
lgico.
A
nossa
estratgia
consiste
em
explorar
o
simples
facto
de
a
bicondicional
ser
uma
conjuno
de
condicionais.
Assim,
iremos
supor
primeiro
uma
das
componentes
da
bicondicional,
para
provar
a
condicional
numa
direo,
fazendo
depois
o
mesmo
com
a
condicional
na
direo
inversa,
supondo
a
componente
restante:
17/11/2013
102
1.
p
(q
r)
Suposio
(I)
2.
p
Suposio
(1
E)
2
3.
p
q
2
I
4.
q
r
Suposio
(1
E)
4
5.
q
4
E
4
6.
p
q
5
I
1
7.
p
q
1,
23,
46
E
2
8.
p
r
2
I
4
9.
r
4
E
4
10.
p
r
9
I
1
11.
p
r
1,
28,
410
E
1
12.
(p
q)
(p
r)
7,
11
I
13.
[p
(q
r)]
[(p
q)
(p
r)]
112
I
14.
(p
q)
(p
r)
Suposio
(I)
14
15.
p
q
14
E
14
16.
p
r
14
E
17.
p
Suposio
(15
E)
17
18.
p
(q
r)
17
I
19.
q
Suposio
(15
E)
20.
p
Suposio
(16
E)
20
21.
p
(q
r)
20
I
22.
r
Suposio
(16
E)
19,
22
23.
q
r
19,
22
I
19,
22
24.
p
(q
r)
23
I
14,
19
25.
p
(q
r)
16,
2021,
2224
E
14
26.
p
(q
r)
15,
1718,
1925
E
27.
[(p
q)
(p
r)]
[p
(q
r)]
1426
I
28.
[p
(q
r)]
[(p
q)
(p
r)]
13,
27
I
Apesar
de
longa,
esta
derivao
sempre
elementar;
a
nica
dificuldade
a
estratgia
de
conceber
um
caminho
para
o
resultado.
Note-se
que
na
ltima
linha,
como
se
preten-
dia,
o
resultado
no
depende
de
quaisquer
premissas
nem
suposies.
Examinemos
agora
cuidadosamente
a
nossa
derivao.
Do
passo
1
ao
13
deriva-
mos
uma
das
condicionais
que
constitui
a
bicondicional
que
queremos
derivar,
derivan-
do-se
a
outra
condicional
do
passo
14
ao
27.
O
passo
28
limita-se
a
juntar
as
duas
condi-
cionais
derivadas,
usando
a
regra
I.
17/11/2013
103
Vejamos
a
primeira
parte
da
derivao.
Comeamos
com
uma
disjuno,
p
(q
r),
e
queremos
chegar
a
uma
conjuno
de
disjunes:
(p
q)
(p
r).
A
estratgia
chegar
separadamente
a
p
q
e
depois
a
p
r,
para
depois
as
juntar
usando
I.
Assim,
supomos
p
no
passo
2,
que
nos
permite
trivialmente
concluir
p
q.
Supondo
agora
q
r
no
passo
4,
a
segunda
parte
da
disjuno
principal,
obtemos
tambm
facilmente
p
q.
O
que
mostrmos
at
agora
(passo
7)
que
a
disjuno
de
partida
implica
p
q,
que
me-
tade
do
que
queremos.
Precisamos
agora
de
mostrar
que
a
mesma
disjuno
tambm
implica
p
r.
Para
isso,
voltamos
a
usar
a
suposio
do
passo
2,
para
chegar
trivialmente
a
p
r
no
passo
8.
No
passo
9
extramos
r
da
suposio
4,
o
que
permite
inferir
trivialmente
p
r
no
passo
10,
com
I.
Assim,
com
base
na
disjuno
do
passo
1
e
nas
suposies
dos
passos
2
e
4,
inferimos
p
r,
pelo
que
inferimos
esse
resultado
no
passo
11.
Tudo
o
que
temos
agora
de
fazer
juntar
o
passo
7
com
o
11,
usando
I
e
temos
o
resultado
que
queramos:
a
disjuno
do
passo
1
implica
(p
q)
(p
r);
este
o
re-
sultado
que
inscrevemos
ento
no
passo
13,
eliminando
a
dependncia
da
suposio
do
passo
1.
A
primeira
direo
da
bicondicional
est
demonstrada.
A
segunda
direo
da
bicondicional
procede
aproximadamente
do
mesmo
modo.
Neste
caso,
contudo,
comeamos
no
passo
14
com
(p
q)
(p
r),
que
comeamos
por
separar
com
E.
Agora
uma
questo
de
mostrar
que
p
q,
combinada
p
r,
implica
p
(q
r).
Isso
faz-se
comeando
por
supor
p
no
passo
17,
o
que
permite
derivar
de
manei-
ra
trivial
o
que
queremos,
no
passo
18.
A
subtileza
da
derivao
comea
na
suposio
do
passo
19.
No
interior
da
subde-
rivao
que
comea
com
esta
suposio
temos
de
fazer
outra
suposio,
com
base
na
disjuno
do
passo
16,
para
conseguir
o
r.
No
passo
20
supomos
ento
a
primeira
dis-
junta
do
passo
16,
p.
Daqui
derivamos
trivialmente
o
que
queremos:
p
(q
r).
Este
mesmo
resultado
o
que
queremos
derivar
tambm
de
r,
que
a
suposio
seguinte,
no
passo
22.
Podemos
agora
finalmente
juntar
o
q
do
passo
19
com
o
r
que
queramos,
usando
I.
O
passo
seguinte
trivial,
usando
I.
No
passo
25
podemos
ento
concluir
que
a
disjuno
do
passo
16
implica
p
(q
r),
o
que
permite
eliminar
a
dependncia
das
suposies
dos
passos
20
e
22.
No
podemos
esquecer,
contudo,
que
esta
subinferncia
est
includa
na
segunda
parte
de
outra
subinferncia,
que
tinha
comeado
com
a
suposio
do
passo
19:
o
que
fazemos
no
passo
26
precisamente
indicar
que
desta
suposio
se
infere
p
(q
r),
tal
da
suposio
17.
Conseguimos,
pois,
mostrar
que
a
conjuno
do
passo
14
implica
a
disjuno
do
passo
26
e
isso
que
indicamos
no
passo
27.
O
passo
final
limita-se
a
juntar
os
dois
re-
sultados
parciais
principais,
usando
I.
17/11/2013
104
Exerccios
1. Qualquer
forma
inferencial
transformvel
numa
forma
proposicional,
de
tal
modo
que
se
a
primeira
era
vlida,
a
segunda
uma
verdade
lgica.
Por
exemplo,
A
A
B
transforma-se
em
A
(A
B).
Transforme
todas
as
formas
inferenciais
dos
exerccios
de
derivao
ante-
riores
em
formas
proposicionais
e
demonstre
que
so
formas
proposicionais
logicamente
verdadeiras.
17/11/2013
105
14.
Regras
primitivas
e
derivadas
Apresentamos
agora
a
lista
completa
das
dez
regras
primitivas
de
deduo
natural
pro-
posicional
clssica.
Salvo
indicao
em
contrrio,
a
concluso
depende
das
mesmas
premissas
de
que
dependem
as
formas
proposicionais
esquerda
do
martelo
sinttico;
usamos
trs
pontos
para
indicar
uma
subderivao.
Regras
de
introduo
Regras
de
eliminao
I
E
A,
B
A
B
A
B
A
A,
B
B
A
A
B
B
E
A
B,
AC,
BC
C
I
A
A
B
A
concluso
depende
de
todas
as
premissas
de
A
B
A
que
depende
A
B,
e
de
todas
as
premissas
de
que
depender
cada
uma
das
C
parciais,
mas
no
depende
de
A
nem
de
B.
I
E
AB
A
B
(modus
ponens)
A
concluso
depende
de
todas
as
premissas
de
A
B,
A
B
que
depende
B,
mas
no
depende
de
A.
I
E
A
B,
B
A
A
B
A
B
(A
B)
(B
A)
I
A(B
B)
A
E
A
concluso
depende
de
todas
as
premissas
de
A
A
que
depender
a
contradio,
mas
no
depende
de
A.
Esta
,
pois,
a
base
axiomtica
de
um
sistema
de
deduo
natural,
no
sentido
em
que,
apesar
de
no
se
tratar
de
axiomas
porque
no
se
trata
de
verdades
lgicas,
mas
antes
de
validades
lgicas,
so
aqueles
elementos
mnimos
com
os
quais
podemos
provar
17/11/2013
106
qualquer
outra
validade
ou
verdade
lgica
(da
lgica
proposicional
clssica).
Demons-
trar
que
estes
so
realmente
os
elementos
mnimos
pertence
provncia
da
metalgica:
uma
rea
de
estudos
que
tem
por
objecto
as
propriedades
lgicas
das
teorias
lgicas.
Em
particular,
quando
uma
teoria
lgica
tem
regras
primitivas
tais
que
no
possvel
derivar
qualquer
uma
delas
com
base
nas
outras,
dizemos
que
a
teoria
independen-
te,
ou
que
o
seu
sistema
de
regras
independente.
Uma
das
razes,
mas
no
a
nica,
que
torna
a
independncia
importante
que
queremos
saber
qual
o
fundamento
ltimo
do
raciocnio
dedutivo
formal:
queremos
saber,
por
exemplo,
se
o
modus
ponens
fundamental
ou
se,
pelo
contrrio,
h
outras
regras
mais
elementares,
mais
fundamentais,
que
nos
permitam
obter
essa
forma
infe-
rencial.
Infelizmente,
a
resposta,
no
caso
da
lgica
clssica,
est
longe
de
ser
direta
por-
que
podemos
fazer
diferentes
sistemas
independentes
de
regras
exatamente
com
o
mesmo
poder
inferencial;
num
sistema
o
modus
ponens
uma
regra
primitiva,
como
o
nosso
caso,
mas
noutros
no
o
.
Isto
acontece
em
parte
porque,
como
mencionmos
no
captulo
anterior,
podemos
exprimir
qualquer
operador
verofuncional
usando
outros.
Isto
significa
que
podemos
abandonar
as
regras
I
e
E
pela
simples
razo
de
que
abandonamos
o
operador
,
substituindo-o
por
e
,
uma
vez
que
A
B
equivalente
a
A
B.
Outra
razo
para
procurar
um
sistema
independente
de
regras
facilitar
a
de-
monstrao
de
duas
outras
propriedades
importantes
das
teorias
lgicas:
a
consistn-
cia,
por
um
lado,
e
a
solidez
e
completude,
por
outro.
Uma
teoria
lgica
consistente
quando
no
permite
a
derivao
de
A
A.
Este
um
requisito
de
muitas
lgicas,
mas
no
de
todas:
as
lgicas
paraconsistentes
permitem
a
derivao
de
inconsistncias,
mas,
ao
contrrio
da
lgica
clssica,
bloqueiam
a
infe-
rncia
de
qualquer
concluso
arbitrria
partindo
de
uma
contradio
se
no
o
fizes-
sem,
seriam
algo
ilgicas
porque
permitiriam
inferir
tudo.
Ora,
para
provar
a
consistn-
cia
de
uma
dada
teoria,
quantas
menos
regras
ou
axiomas
primitivos
tivermos,
mais
f-
cil
ser
a
prova.
O
mesmo
acontece
no
caso
da
solidez
e
da
completude
de
uma
teoria
lgica.
Uma
teoria
lgica
slida
sse
todas
as
sequncias
de
frmulas
derivveis
so
validades
for-
mais
ou
verdades
lgicas;
ou
seja,
quando
o
nosso
sistema
de
derivaes
tal
que
tudo
o
que
derivamos
realmente
vlido
ou
logicamente
verdadeiro:
nunca
teremos
uma
deri-
vao
de
uma
invalidade
ou
de
algo
que
no
seja
uma
verdade
lgica.
Por
outro
lado,
uma
teoria
lgica
completa
(ou
tem
completude)
sse
todas
as
validades
formais
e
to-
das
as
verdades
lgicas
so
derivveis
nessa
teoria;
ou
seja,
quando
o
nosso
sistema
de
derivaes
consegue
demonstrar
todas
as
validades
formais
e
todas
as
verdades
lgicas
17/11/2013
107
da
teoria.15
Quando
uma
teoria
lgica
slida
e
completa,
temos
uma
completa
coorde-
nao
entre
a
sintaxe
e
a
semntica,
e
isso
precisamente
o
que
desejamos,
no
caso
da
lgica
clssica,
se
tivermos
em
mente
usar
a
sintaxe
como
um
instrumento
de
rigor
para
investigar
o
raciocnio
dedutivo
formal,
ao
invs
de
o
usarmos
para
qualquer
outro
fim.
Acontece
que
a
demonstrao
da
solidez
e
da
completude
de
uma
teoria
lgica
mais
fcil
se
tivermos
menos
regras
primitivas.
Assim,
temos
algumas
razes
para
procurar
uma
teoria
lgica
com
um
nmero
limitado
de
regras
primitivas:
razes
filosficas,
que
dizem
respeito
procura
dos
fun-
damentos
do
raciocnio
dedutivo
formal,
e
razes
lgicas,
que
dizem
respeito
facilida-
de
de
demonstrao
da
independncia,
consistncia,
solidez
e
completude.
Contudo,
quando
entendemos
a
lgica
de
um
ponto
de
vista
instrumental,
para
racionar
melhor
e
para
examinar
com
rigor
o
raciocnio
dos
filsofos,
o
que
nos
interes-
sa
ter
um
cardpio
de
formas
inferenciais
comuns,
sejam
ou
no
regras
primitivas.16
Mesmo
no
que
respeita
resoluo
de
exerccios
de
derivao,
o
que
nos
interessa,
des-
te
ponto
de
vista,
desenvolver
uma
intimidade
com
formas
inferenciais
comuns,
sejam
ou
no
primitivas.
As
leis
de
De
Morgan,
por
exemplo,
no
so
primitivas
na
deduo
natural
mas
so
fundamentais
no
nosso
raciocnio
comum,
e
tambm
para
fazer
deriva-
es.
Todas
as
regras
derivadas
so
derivveis
usando
apenas
as
regras
primitivas;
por
isso
que
so
regras
derivadas.
Algumas
regras
derivadas
obtm-se
muito
facilmente
usando
apenas
as
primitivas,
como
o
caso
do
modus
tollens;
outras,
contudo,
s
se
ob-
tm
de
maneiras
extraordinariamente
imaginativas.
Assim,
eis
um
conjunto
importante
de
regras
derivadas,
indicando
os
dois
marte-
los,
,
que
se
deriva
da
direita
para
a
esquerda
e
vice-versa:
Modus
tollens
A
B,
B
A
Silogismo disjuntivo A B, A B
Silogismo hipottico A B, B C A C
Dilema construtivo A B, A C, B D C D
Dupla negao A A
15
Como
evidente,
a
completude
obtm-se
trivialmente
em
qualquer
sistema
que
seja
inconsis-
tente
e
que
aceite
o
princpio
da
exploso,
segundo
o
qual
se
deriva
qualquer
concluso
arbitrria
de
qualquer
contradio.
16
No
h
qualquer
nmero
fixo
de
regras
derivadas
pois
trata-se
apenas
de
formas
inferenciais
vlidas, e estas so em nmero infinito. As regras derivadas so apenas padres inferenciais comuns.
17/11/2013
108
(A
B)
A
B
Leis
de
De
Morgan
(A
B)
A
B
Negao da conjuno (A B) A B
Negao da condicional (A B) A B
Negao da bicondicional (A B) (A B) (A B)
Definio de bicondicional A B (A B) (A B)
Definio de condicional A B A B
Definio de disjuno A B A B
Definio de bicondicional A B A B
Contraposio A B B A
A
B
B
A
Comutatividade
A
B
B
A
A
(B
C)
(A
B)
(A
C)
Distributividade
A
(B
C)
(A
B)
(A
C)
A
(B
C)
(A
B)
C
Associatividade
A
(B
C)
(A
B)
C
A
A
A
Idempotncia
A
A
A
Exportao e importao (A B) C A (B C)
Petitio A A
Falsum A A B
Verum
A
A
As
trs
ltimas
regras
espelham
sintacticamente
o
fenmeno
semntico
das
vali-
dades
vcuas
(cf.
Captulo
1,
seco
7).
A
regra
do
verum
formula-se
mais
rigorosamente
usando
o
smbolo
em vez de
A
A,
smbolo
esse
que
representa
qualquer
fbf
que
seja
derivvel
sem
premissas,
ou
seja,
cuja
contraparte
semntica
seja
uma
verdade
lgica,
como
A
A.
A
ideia
da
regra
que
uma
verdade
lgica
dedutivamente
inerte,
quando
introduzida
em
qualquer
deri-
vao.
Ou
seja,
se
acrescentarmos
uma
verdade
lgica
s
premissas
de
qualquer
racioc-
17/11/2013
109
nio,
fica
tudo
na
mesma:
se
esse
raciocnio
era
vlido,
vlido
continua;
e
se
era
invlido,
invlido
continua.
Simetricamente,
o
falsum
formula-se
mais
rigorosamente
usando
o
smbolo
em
vez
de
A
A,
smbolo
esse
que
representa
qualquer
fbf
que
implique
A
A,
ou
se-
ja,
cuja
contraparte
semntica
seja
uma
falsidade
lgica,
como
(A
A).
A
ideia
da
regra
que
de
uma
contradio
segue-se
seja
o
que
for,
dado
que
no
h
qualquer
circunstn-
cia
em
que
a
contradio
seja
verdadeira
e
a
concluso
falsa,
exclusivamente
porque
no
h
qualquer
circunstncia
em
que
a
contradio
seja
verdadeira,
precisamente
por
ser
uma
contradio.17
As
regras
derivadas
que
exibem
o
martelo
duplo
podem
ser
usadas
como
regras
de
insero.
Uma
regra
de
insero
permite
manipular
corretamente
partes
de
frmu-
las,
e
no
apenas
frmulas
completas.
Em
contraste,
as
regras
que
no
exibem
o
martelo
duplo
s
podem
ser
corretamente
usadas
para
manipular
sequncias
completas
de
fr-
mulas,
e
no
partes
das
mesmas.
Por
exemplo,
caso
tenhamos
a
frmula
p
(q
r),
po-
demos
usar
a
regra
derivada
da
comutatividade
da
conjuno
para
manipular
apenas
a
parte
da
frmula
entre
parntesis,
transformando-a
assim
em
p
(r
q).
Derivemos
ento,
como
ilustrao,
a
sequncia
(p
q),
r,
r
p
q
usando
regras
derivadas,
alm
das
primitivas:
1.
(p
q)
Premissa
2.
r
Premissa
3.
r
p
Premissa
2,
3
4.
p
2,
3
E
1
5.
q
p
1
Negao
da
conjuno
6.
q
4,
5
Modus
tollens
deiras,
como
o
caso
de
p:
A
frase
p
falsa,
pelo
que
se
rejeita
o
princpio
da
exploso,
a
ideia
de
que
qualquer
proposio
se
deriva
de
qualquer
contradio.
17/11/2013
110
so,
mas
sem
o
operador
de
negao,
podemos
tentar
obter
uma
contradio
para
ento
usar
a
regra
I.
3. Quando
a
concluso
que
se
pretende
demonstrar
uma
condicional,
uma
boa
ideia
in-
troduzir
a
antecedente
da
condicional
como
uma
suposio,
com
o
objetivo
de
derivar
a
partir
dela
a
consequente.
Depois
elimina-se
a
suposio
utilizando
a
regra
I
e
obtm-
se
a
concluso
desejada.
Estas
demonstraes
condicionais
so
geralmente
mais
fceis.
4. Quando
a
concluso
que
se
pretende
demonstrar
pode
facilmente
transformar-se
numa
condicional
com
regras
derivadas,
podemos
fazer
mesma
uma
derivao
condicional.
Por
exemplo,
se
a
concluso
for
p
q,
podemos
supor
p
para
derivar
q,
e
ao
chegarmos
a
p
q
usamos
a
regra
derivada
para
transformar
esta
frmula
em
p
q.
5. Quando
a
concluso
que
se
pretende
demonstrar
uma
bicondicional,
por
exemplo,
p
q,
podemos
apresentar
como
suposio
primeiro
p,
e
derivar
q,
e
depois
supor
q
para
derivar
p;
finalmente,
juntamos
as
duas
condicionais
com
a
regra
I.
6. Caso
tenhamos
p
q
como
premissa
e
p
como
concluso,
podemos
mesmo
assim
supor
p
para
usar
a
regra
E.
Essa
suposio
ser
automaticamente
eliminada.
Exerccios
1. Qual
a
diferena
entre
as
regras
primitivas
e
as
derivadas?
2. Derive
todas
as
regras
derivadas
usando
as
regras
primitivas
e
outras
derivadas
que
no
a
que
est
derivando.
3. Derive
o
seguinte:
1. p
q,
p
q
(q
r)
2. p
q,
p
q
p
q
3. (p
q)
[(r
s)
(t
u)],
(t
o)
v
p
(r
v)
4. p
q,
r
q
(p
r)
q
5. p
(
r
q),
r
p
r
6. p
q
q
p
7. p
q,
r,
(p
r)
s
s
q
8. p,
(q
p)
r,
q
t
r
t
9. p
q,
q
(
p
t)
p
10. p
t,
q
t
(q
p)
t
11. q
t
t
q
12. (p
q)
(p
r),
r
p
q
13. q
r,
p
(p
q)
r
14. (p
r)
q
q
(p
r)
15. p
r,
q
s
(p
q)
(r
s)
16. p
q,
r
p
q
r
17. q
s,
q
p
s
p
18. r
p,
(p
q)
r
q
19. (p
q),
q
(s
p)
s
p
20. p
q,
p
r,
q
r
r
21. p
(q
r)
(p
q)
r
17/11/2013
111
22. (p
q)
(p
q)
p
23. p
q,
r
q
r
p
24. p
q,
p
r,
q
r
r
25. (p
q),
p
s,
s
q
s
Temos
o
dever
de
tentar
promover
o
bem
supremo
(que
tem
portanto
de
ser
possvel).
Assim,
a
existncia
de
uma
causa
de
toda
a
natureza,
distinta
da
natu-
reza,
que
contenha
o
fundamento
desta
conexo,
a
saber,
a
correspondncia
exa-
ta
da
felicidade
com
a
moralidade,
tambm
postulada.
Contudo,
esta
causa
su-
prema
h
de
conter
o
fundamento
da
correspondncia
da
natureza
no
apenas
com
uma
lei
da
vontade
de
seres
racionais,
mas
tambm
com
a
representao
desta
lei,
na
medida
em
que
fizerem
dela
o
fundamento
supremo
e
determinante
da
vontade,
e
consequentemente
no
apenas
com
a
forma
da
sua
moral
mas
tambm
com
a
sua
moralidade
enquanto
seu
fundamento
determinante,
isto
,
com
a
sua
disposio
moral.
Logo,
o
bem
supremo
do
mundo
s
possvel
na
medida
em
que
se
pressuponha
uma
causa
suprema
da
natureza
que
tenha
uma
causalidade
em
harmonia
com
a
disposio
moral.
Ora,
um
ser
capaz
de
aes
de
acordo
com
a
representao
de
leis
uma
inteligncia
(um
ser
racional),
e
a
cau-
salidade
de
tal
ser
de
acordo
com
esta
representao
de
leis
a
sua
vontade.
Lo-
go,
a
causa
suprema
da
natureza,
na
medida
em
que
tem
de
ser
pressuposta
para
o
bem
supremo,
um
ser
que
a
causa
da
natureza
pelo
entendimento
e
vonta-
17/11/2013
112
de
(logo,
o
seu
autor),
isto
,
Deus.
Consequentemente,
o
postulado
da
possibili-
dade
do
bem
supremo
derivado
(o
melhor
mundo)
igualmente
o
postulado
da
realidade
de
um
bem
supremo
original,
nomeadamente
da
existncia
de
Deus.
Ora,
era
para
ns
um
dever
promover
o
bem
supremo;
logo,
h
em
ns
no
ape-
nas
a
justificao
mas
tambm
a
necessidade,
como
uma
carncia
conectada
ao
dever,
de
pressupor
a
possibilidade
deste
bem
supremo
que,
dado
que
s
pos-
svel
sob
a
condio
de
existir
Deus,
conecta
o
pressuposto
da
existncia
de
Deus
inseparavelmente
com
o
dever;
isto
,
moralmente
necessrio
pressupor
a
existncia
de
Deus.
(Kant
1788:
5:125-126)
Talvez
este
raciocnio
no
corresponda
exatamente
ao
que
Kant
tinha
em
mente;
mas
filosoficamente
interessante
e
por
isso
merece
discusso.
Ora,
ao
discutir
um
raciocnio
temos
sempre
dois
aspetos
centrais:
a
validade
do
raciocnio
e
a
verdade
das
premissas.
Contudo,
irrelevante
discutir
a
verdade
das
premissas,
que
muitas
vezes
bastante
mais
difcil
do
que
a
discusso
da
validade,
porque
se
o
raciocnio
for
invlido
a
negao
da
concluso
compatvel
com
a
aceitao
das
premissas.
Assim,
a
primeira
preocupa-
o
da
discusso
filosfica
a
validade
do
raciocnio;
sem
esta,
a
discusso
da
verdade
ou
plausibilidade
das
premissas
disparatada.
Acontece
que
o
papel
central
da
lgica
precisamente
esse:
dar-nos
instrumentos
de
rigor
que
permitam
determinar
a
validade
ou
invalidade
dos
raciocnios.
Comecemos
ento
por
fazer
o
nosso
dicionrio:
17/11/2013
113
1.
p
Premissa
2.
q
p
Premissa
3.
r
q
Premissa
1,
2
4.
q
1,
2
Modus
tollens
5.
r
3,
4
Modus
tollens
Quem
sabe
lgica
nem
precisa
fazer
a
derivao
para
ver
que
o
raciocnio
original
extra-
do
do
texto
de
Kant
vlido.
Contudo,
considere-se
o
seguinte
raciocnio:
Quem
no
sabe
lgica
talvez
no
veja
grande
diferena
entre
este
raciocnio
e
o
anterior;
contudo,
a
diferena
fundamental:
este
ltimo
invlido,
o
que
significa
que
irrele-
vante
discutir
as
premissas,
pois
a
verdade
destas
compatvel
com
a
falsidade
da
con-
cluso.
A
forma
lgica
do
raciocnio
a
seguinte:
p,
p
q,
q
r
r.
Usando
uma
tabela
de
validade,
verificamos
facilmente
que
uma
forma
inferencial
invlida.
S
no
Captulo
6,
contudo,
iremos
estudar
um
sistema
sinttico
que
permite
provar
a
invali-
dade
de
sequncias
de
frmulas
como
esta.
No
caso
do
primeiro
raciocnio,
crucial
discutir
a
verdade
das
premissas;
se
ti-
vermos
boas
razes
para
pensar
que
so
verdadeiras,
segue-se
que
Deus
existe.
No
se-
gundo
caso,
contudo,
ainda
que
a
discusso
das
premissas
seja
interessante
em
si,
ir-
relevante
no
que
respeita
concluso,
precisamente
porque
o
raciocnio
invlido:
a
verdade
das
premissas
compatvel
com
a
falsidade
da
concluso.
Estudo
complementar
Para
aprender
a
fazer
derivaes
preciso
fazer
inmeros
exerccios.
O
sistema
aqui
apresentado
permite
derivar
quaisquer
exerccios
de
lgica
proposicional
clssica
apre-
sentados
em
qualquer
livro
introdutrio.
17/11/2013 114