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GRADUAÇÃO
Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
DIDÁTICA
Gosto de pensar na didática com o mesmo olhar de Libâneo. Ele nos deixa claro que
ela não é um conjunto de técnicas ou receitas prontas que parecem fazer parte de uma
máquina de ensinar. A didática é humana e como tal, está inserida em um contexto his-
tórico permeado por necessidades e contradições políticas, sociais, econômicas, éticas,
enfim. É uma disciplina “viva”, em constante transformação que acompanha as necessi-
dades de nossas escolas, professores e alunos. Ela desempenha um papel primordial na
educação: a didática procura integrar a relação entre professor, aluno e o conhecimento.
Sendo assim, as mudanças ocorridas na sociedade ao longo da história afetaram e mo-
dificaram os objetivos da educação e, consequentemente, de nossa disciplina. Por isso
acredito que o professor necessita de novos instrumentos, teóricos e práticos, que lhe
auxilie no trabalho docente e na criação de uma didática pessoal. Afinal, é essa didática
“particular” que oferece condições para um ensino contextualizado e capaz de respon-
der as necessidades específicas de uma turma, escola, ou bairro. Esse livro foi organizado
e escrito com esse intuito. O de oferecer a você, caro(a) aluno(a), material e informações
capazes de instrumentalizar a sua didática pessoal.
APRESENTAÇÃO
SUMÁRIO
UNIDADE I
15 Introdução
35 Considerações Finais
UNIDADE II
43 Introdução
44 A Didática Tradicional
55 A Didática Tecnicista
64 Considerações Finais
UNIDADE III
71 Introdução
73 A Produção do Conhecimento
SUMÁRIO
75 Abordagem Sistêmica
78 Abordagem Progressista
94 Didática Histórico-Crítica
99 Considerações Finais
UNIDADE IV
O PLANEJAMENTO ESCOLAR
107 Introdução
SUMÁRIO
UNIDADE V
AVALIAÇÃO ESCOLAR
143 Introdução
169 Conclusão
173 Referências
Professora Me. Ionah Beatriz Beraldo Mateus
A PEDAGOGIA, A DIDÁTICA
I
UNIDADE
E A FORMAÇÃO DOCENTE
Objetivos de Aprendizagem
■■ Conceituar a Pedagogia e sua implicação com a educação.
■■ Verificar os campos de atuação da Didática.
■■ Analisar os processos de ensino e aprendizagem.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ A didática em seus campos de atuação
■■ A didática e os processos de ensino
■■ A didática como facilitadora da aprendizagem
14 - 15
INTRODUÇÃO
Introdução
I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
escolar. O trabalho docente é uma das modalidades
de ensino que ocorrem na prática educativa. Mas, existem muitas outras práti-
cas que não podem ser ignoradas e que fazem parte dos conhecimentos de vida
e de sociedade de nossos alunos.
De acordo com Libâneo (2008, p. 16), “a ciência que investiga a teoria e a prá-
tica da educação nos seus vínculos com a prática social e global é a Pedagogia”.
A Didática é uma disciplina que estuda os objetivos, os conteúdos, as formas e
os processos de ensino, tendo em vista as finalidades educacionais. Como essas
finalidades educativas são sempre sociais, a Didática se fundamenta na Pedagogia
para encontrar seu contexto de atuação.
Dessa forma, quando estudamos a educação em seus aspectos políticos,
sociais, econômicos, psicológicos e tentamos descrever ou explicar o fenômeno
educativo a pedagogia conta com o auxílio de outras áreas (História, Fundamentos
da Educação, Prática de Ensino e outras). Esses estudos acabam convergindo
na Didática em si e assim, essa área da educação acaba reunindo em seu campo
de conhecimento os objetivos e ações pedagógicas. Além disso, a didática com-
preende que a educação propriamente dita, não acontece apenas na instituição
escola. Ela ocorre também em diversas instituições e atividades humanas como
na família, no trabalho, nas Igrejas, nas organizações políticas, nos meios de
comunicação de massa e outras.
Ao englobarmos todos esses estudos e instituições é que compreendemos
a extensão da área de atuação da Didática. Mas, toda essa área de atuação pre-
cisa estar focada em um objetivo. Chamaremos então este objetivo de objeto
de estudo. Dessa maneira, podemos compreender que o objeto de estudo dessa
humanos que por meio de suas diferentes relações com o mundo, dão significado
às coisas, às ideias, às ideologias e opiniões. A compreensão desse fato é funda-
mental para organização e encaminhamento da prática educativa.
Para Líbâneo,
Quem lida com a educação tendo em vista a formação humana dos in-
divíduos vivendo em contextos sociais determinados, é imprescindível
que se desenvolva a capacidade de descobrir as relações sociais reais
implicadas em cada acontecimento, em cada situação real da sua vida
e da sua profissão, em cada matéria que ensina, como também nos dis-
cursos, nos meios de comunicação, nas relações cotidianas, na família
e no trabalho (2008, p. 22).
Mais uma vez, concordamos com nosso autor. E arrisco um pouco mais. Nossa
capacidade de descobrir as relações reais implicadas dentro das diferentes ins-
tituições é desenvolvida sempre por meio da didática. Aliás, é exatamente esse
o contexto de atuação de
nossa disciplina: as relações
Pedagogia humanas.
Para que você compre-
enda melhor o contexto de
nossa disciplina, observe o
esquema a seguir:
Didática
Ensino/
Escola Aprendizagem
Fonte: elaborado pela autora
mantinha sua imagem de “professor exi- sujeito de sua própria educação e lutar pela
gente”, ou seja, “avaliação propicia a alguns transformação social.
professores um caráter autoritário, prepo-
tente e segregador, centralizado nas mãos Hoje vivemos a era do conhecimento, a
arrogantes deste ou daquele que fazia de globalização, a revolução da informá-
sua nota seu instrumento de sadismo ou sua tica e dos meios de comunicação fazem
maneira egocêntrica de selecionar os bons com que a cada instante chegue até nós
e os maus”, afirma Antunes (2002, p.13). novos estudos, novas concepções, novos
conhecimentos. Conseqüentemente, faz-se
Com o amadurecimento da sociedade e a necessário aprimorarmos a didática que uti-
contribuição de homens como Paulo Freire, lizamos como profissionais da educação. É
Piaget, Vigotsky, entre outros, a humani- cada vez mais necessário vivenciarmos uma
dade refletiu, ampliou e reformulou suas didática reflexiva, repensar nossas compe-
concepções políticas e sociais. Por con- tências profissionais e assumirmos nossa
seguinte, a didática também foi sendo formação continuada.
ampliada, refletida, reformulada e trans-
formada. “O exercício e o treino poderiam bastar
para manter competências essenciais se a
Desse modo, falar em didática é refletir escola fosse um mundo estável. Ora, exer-
sobre o ensino e a aprendizagem, é repen- ce-se o ofício em contextos inéditos, diante
sar sobre a concepção de conhecimento de públicos que mudam, em referência a
por parte do professor, suas competências programas repensados, supostamente
como profissional da educação. baseados em novos conhecimentos, até
mesmo em novas abordagens e novos
Portanto, defenderemos uma didática paradigmas. Daí a necessidade de uma for-
reflexiva voltada para a construção do mação contínua.” Perrenoud (2000, p.156)
conhecimento sistematizado, o saber
cotidiano e a vivência na construção do Não podemos aqui afirmar que possuímos
conhecimento do professor sobre o ensino. todas as competências de um professor
No entanto, percebe-se ao longo da histó- construtivista, que apoiamos nossa prá-
ria que essa compreensão sobre didática tica em uma didática unicamente reflexiva
é recente, data-se dos anos 80 com a che- e dialética, visto que somos fruto de uma
gada das idéias construtivistas ao Brasil e a escola tradicional e por muitos anos
aceitação dessa abordagem por parte dos vivenciamos a didática repetitiva. Temos
professores. A didática adequada a esta convicção de que o novo nasce do velho
concepção de ensino é reflexiva dialética. e é a partir da desconstrução e reconstru-
Passa-se aqui centrado nos estudos de Pia- ção de velhos paradigmas que estaremos
get e Vigotsky a existir uma preocupação prontos para: “organizar e dirigir situações
com a construção do conhecimento, dando de aprendizagem; administrar a progressão
ao conteúdo uma forma coerente com a de aprendizagem; conceber e fazer evo-
perspectiva histórica e ideológica do movi- luir dispositivos de diferenciação; envolver
mento. A didática utilizada pelo professor os alunos em sua aprendizagem e em seu
deve dar ao aluno a oportunidade de ser trabalho; trabalhar em equipe; participar
da administração da escola; informar e didática, reaproveitando os pontos positi-
envolver os pais; utilizar tecnologias novas; vos e reformulando os não satisfatórios. Só
enfrentar os deveres e os dilemas éticos da a partir do momento em que nos colocar-
profissão” Perrenoud (2000, p.155). mos como aprendizes e reconstrutores da
nossa prática, é que estaremos trilhando
Poderemos ousar ao afirmar que somos o caminho que todo professor deve trilhar
profissionais em transição e que essa é a para ser um profissional condizente com o
palavra chave para a construção do profis- momento histórico em que vivemos.
sional do futuro. Necessitamos avaliar nossa
Aliney Maria Inojosa Leandro, Stella Atiliane Almeida de Sá
20 - 21
Agora que você conheceu mais sobre os campos de atuação da Didática, pode-
mos partir para suas funções.
Libâneo nos explica que o conjunto de atividades de ensino não visa outra
coisa senão o desenvolvimento físico e intelectual dos alunos, com vistas a sua
preparação para a vida social. Nas palavras do autor podemos entender que:
O processo didático de transmissão e assimilação de conhecimentos e habi-
lidades tem como culminância o desenvolvimento das capacidades cognoscitivas
dos alunos, de modo que assimilem ativa e independentemente os conteúdos
sistematizados (LIBÂNEO, 2008, p.53).
Você já deve ter percebido que construir aprendizagens não é uma tarefa
fácil. Mas esse não é um caminho solitário. Ele pode ser orientado por métodos,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
técnicas e currículos. A seguir, analisaremos cada componente desse conjunto.
Vamos iniciar novamente pelo ensino. De acordo com o Dicionário Aurélio
(2009), ensino refere-se à instrução. No entanto, para instruir alguém é necessá-
rio ter o que ensinar, ou seja, precisa existir um conteúdo. Dessa forma, podemos
concluir que o núcleo do ensino são os conteúdos. Muito bem, avancemos. Tendo
um conteúdo a ensinar, precisamos descobrir a melhor forma de transmiti-lo aos
alunos. Um planejamento pode ajudar nessa tarefa (analisaremos mais profunda-
mente essa questão na nossa unidade IV). Por meio dele podemos organizar os
temas, definir direções e avaliar as atividades pedagógicas para verificar se esta-
mos concretizando nossa tarefa de ensinar. No entanto, o ensino se modifica no
decorrer da atividade docente e de acordo com vários fatores, como: ritmo de
trabalho dos alunos, interesse específico por um determinado tema, necessidade
de aprofundamento maior de algum aspecto do conteúdo, enfim. E para não nos
desorientarmos nesse processo é que contamos com a ajuda de um currículo.
O currículo, de acordo com Libâneo (2008), expressa os conteúdos de ensino.
Nele, os assuntos são divididos em matérias e possuem diferentes graus de apro-
fundamento, organizados segundo o nível escolar dos alunos. Conhecendo bem
o currículo, o professor é capaz de “prever” os conhecimentos e as habilidades
que serão desenvolvidas no processo de instrução. Tendo em vista as habilida-
des a serem construídas com seus alunos, o professor pode traçar então seus
objetivos. Para alcançar esses objetivos, precisamos escolher um método, ou
seja, uma teoria que dê conta de nos orientar enquanto percorremos os cami-
nhos dos conteúdos.
Um método é formado por um conjunto de técnicas. Essas técnicas podem
processo de ensino.
O campo da metodologia tem se expandido tanto que na atualidade já pode-
mos contar com a “tecnologia educacional”. Candau (2009) explica que essa
expressão engloba técnicas de ensino muito diversificadas e que abrange desde
os recursos da informática, dos meios de comunicação e os audiovisuais até os
instrumentos de instrução programada e estudo individual ou em grupo.
Ao percorrermos parte dos processos de instrução, podemos notar que o
ensino não é apenas mera transmissão de informações. Trata-se, na realidade,
de um trabalho de mediação entre os conhecimentos atuais do aluno e as novas
matérias do ensino. Essa mediação é realizada pelo professor que, conhecendo
mais profundamente os conteúdos, é capaz de organizar a atividade de estudo
dos alunos tornando o processo mais eficaz.
No entanto, o ensino só é bem-sucedido quando os objetivos elencados pelo
professor coincidem com os objetivos de estudo e aprendizagem do aluno. Para
isso, professores e alunos precisam construir entre si uma relação recíproca de
confiança e autonomia. Nesse campo, também podemos contar com as contri-
buições da didática. Ela é capaz de construir um elo entre alunos, professores e
os conhecimentos. Vejamos agora algumas das ações docente capazes de cons-
truir esse elo. Libâneo (2008, p.71) nos indica três caminhos:
■■ • Assegurar aos alunos o domínio mais seguro e duradouro possível dos
conhecimentos científicos;
■■ • Criar as condições e os meios para que os alunos desenvolvam capacida-
des e habilidades intelectuais de modo que dominem métodos de estudo
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não somente a atividade escolar, mas a vida cotidiana dos alunos. Este é o cará-
ter educativo do ensino.
Compreendido o processo de instrução, ou processos de ensino, podemos
partir para o outro lado da moeda: a aprendizagem.
Luria, a aprendizagem é característica dos seres humanos. Isso quer dizer que
qualquer pessoa aprende e não apenas na escola. Vejamos o que Vygotsy diz a
esse respeito:
Em essência a escola nunca começa no vazio. Toda aprendizagem com
que a criança depara na escola tem sempre uma pré-história. Por exem-
plo, a criança começa a estudar aritmética na escola. Entretanto, muito
antes de ingressar na escola ela já tem experiência no que se refere a
quantidade: já teve oportunidade de realizar essa ou aquela operação,
de dividir, de determinar a grandeza, de somar e diminuir... a aprendi-
zagem escolar nunca começa no vazio mas sempre se baseia em deter-
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“Uma professora conta para sua classe de alunos da educação infantil uma
história. Os alunos ouvem a história e recebem o seu conteúdo mediante
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a assimilação de sua mensagem ou até mesmo da memorização. Enquan-
to escutam a história, aparentemente a atitude dos alunos é passiva. Mas,
enquanto escutam, as crianças estão mentalmente ativas e organizando as
informações da história com suas experiências já vividas e com seu imaginá-
rio. Dessa maneira, estão trabalhando o conteúdo em sua mente e reestru-
turando as novas informações a partir das que já são conhecidas. Isto signi-
fica que os alunos estão aprendendo”.
Compreenderemos melhor a
relação entre aprendizagem
casual e aprendizagem sis-
tematizada ao conhecermos
mais profundamente a apren-
dizagem sistematizada.
Libâneo (2008) afirma que
a aprendizagem sistematizada é
aquela que tem por finalidade
específica aprender conteúdos ©shutterstock
científicos, habilidades e nor-
mas de convivência social. Mesmo que essa aprendizagem possa ocorrer em
diversos lugares, é na escola que ela é organizada e selecionada a partir da escolha
das melhores condições para a transmissão e assimilação. Portanto, esta organi-
zação é sempre intencional e planejada. Isso significa que o principal trabalho
do professor é tornar o conhecimento acessível ao aluno.
Para isso, Gasparin (2007) nos orienta a motivar os alunos. Uma das formas
em si). Esse processo pode ser incentivado com espaços específicos da aula, na
qual os alunos detenham a voz e a vez. Isso quer dizer que o professor pode orga-
nizar um espaço próprio da aula para que os alunos discutam e debatam entre
si os conceitos aprendidos até o momento. É importante motivar a todos a ten-
tar conceituar com suas próprias palavras o que entenderam.
Assim, aos poucos os próprios alunos perceberão seus pontos fracos e fortes
em relação ao conhecimento ensinado. Perceberão também que para expor em
palavras um conhecimento é necessária a organização de ideias e uma sequên-
cia lógica. É dessa maneira que alunos e professores conseguem constatar que o
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processo de formação de conceitos não é espontâneo. De acordo com Vygotsky
(2001), exige uma série de funções superiores, como atenção voluntária, memó-
ria lógica, abstrações, comparações e diferenciações.
Gasparin (2007, p.60) destaca:
Os conceitos do professor não se transmitem de forma mecânica e di-
reta ao aluno; não são passados, automaticamente, de uma cabeça para
outra. O caminho vai desde o primeiro contato da criança com o novo
conceito até o momento em que a palavra se torna propriedade sua,
como conceito científico, é um complicado processo psíquico interno
e envolve a compreensão da nova palavra, seu uso e assimilação real.
Podemos notar com isso, que os conceitos científicos não são aprendidos de
maneira simples, uma vez que são exigidas relações mais complexas entre o ensino
e o desenvolvimento desses conceitos. Para Gasparin (2007, p. 58), a construção
dos conceitos científicos vai, aos poucos, formando-se “a partir da identificação
das características mais específicas do conteúdo e se desenvolve com explica-
ções mais consistentes das dimensões sociais desse conceito”.
Evidencia-se, com isso, que para atuar no ensino o professor precisa conhe-
cer e “diagnosticar” a fase de desenvolvimento em que se encontra o aluno em
relação ao que está sendo ensinado. Vygotsky (2001, p. 244) estabeleceu três
níveis de desenvolvimento de ensino.
O primeiro nível é chamado pelo autor de zona de desenvolvimento real. Ele
indica o que o aluno é capaz de fazer sozinho naquele momento. Para perceber essa
fase o professor não deve interferir na produção do aluno, mas apenas observar o
que ele é capaz de desenvolver por si só. Trata-se de evidenciar os conhecimen-
tos já consolidados no aluno, reconhecer aquelas funções e capacidades que ele
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obtenção de conceitos científicos, já que criou estruturas elementares para a
reflexão, análise e apreensão de novos conteúdos. Por outro lado, os conceitos
científicos geram comparações e generalizações que tornam o uso dos concei-
tos cotidianos conscientes e voluntários.
Vygotsky (2001) explica que a apreensão de um conceito científico antecipa
o caminho do desenvolvimento, isto é, transcorre em uma zona de habilidades
que ainda não estão amadurecidas e desenvolve-as. Assim, podemos notar que
a aprendizagem escolar (ou científica) desempenha um papel imenso e decisivo
no desenvolvimento intelectual do aluno.
Na interação entre professor e aluno dá-se o confronto entre conceitos espon-
tâneos e científicos. Os conceitos científicos assumem uma ligação com a realidade
quando colocados em contato com a vivência dos alunos. Notamos com isso,
que a construção de novos conhecimentos exige uma relação entre professores
e alunos de corresponsabilidade pelo processo de aprendizagem.
Colocando-se como
mediador, o professor se torna
um facilitador, incentivador
ou motivador da aprendiza-
gem. É a forma de apresentar
e tratar um conteúdo que
ajuda o aprendiz a coletar
informações, manipulá-las e
organizá-las até chegar a pro-
duzir um conhecimento que
©shutterstock
O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM
34 - 35
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
possibilidades de êxito em sua tarefa didática que é a de garantir os melhores
meios para que o aluno aprenda.
Mas, o ensino não pode ser confirmado apenas pela vontade de instruir do
professor. Ele precisa contar com a participação, também voluntária, do aluno
de aprender. Compreendendo melhor os níveis de desenvolvimento propos-
tos por Vygotsky, o professor pode avaliar em que estágio o aluno se encontra e
motivá-lo a progredir.
A aprendizagem se efetiva realmente quando o aluno é capaz de utilizar seus
conhecimentos casuais para fundamentar novos conhecimentos científicos. Esse
processo ocorre por meio da mediação do professor. Essa mediação pode ser
feita mediante comparações e generalizações que tornam o uso dos conceitos
cotidianos conscientes e voluntários.
Assim, torna-se evidente que a construção de novos conhecimentos exige
corresponsabilidade entre professores e alunos no processo de aprendizagem.
Para terminar nossas reflexões, gostaria de salientar uma outra compe-
tência necessária à construção de um ensino competente e transformador: a
racionalidade.
Um professor que age com racionalidade em sua prática docente, toma suas
decisões quanto aos conteúdos que precisam ser ensinados pensando nas pos-
sibilidades de satisfazer as necessidades intelectuais e culturais de seus alunos.
Outro professor, fundamentado nos preceitos tradicionais da escola, se preocu-
pará apenas em cumprir o “programa” e em não “atrasar” os conteúdos. Assim,
os professores ficam reduzidos a técnicos obedientes, que seguem à risca os pro-
gramas curriculares.
As escolas precisam ser vistas como instituições sociais marcadas pela dife-
rença. Pelas mesmas diferenças que compõem nossa cultura, nossa convivência
e nossa realidade. Isto também significa que professores, pais e outros interes-
sados devem participar dos processos de ensino e aprendizagem.
Ao final dessa unidade, espero que você tenha compreendido como o ensino
é um ato político, mesmo quando não tomamos partindo nenhum. Por isso,
caro(a) aluno(a), é muito importante que você conheça profundamente sua
área de atuação e saiba o quanto ela é importante para a transformação social.
Considerações Finais
1. A didática é uma matéria pedagógica que se ocupa dos processos de ensino e
aprendizagem. Releia a respeito dos campos de atuação dessa disciplina e expli-
que como ela atua no ensino e na aprendizagem.
2. O professor precisa acompanhar e reconhecer em que nível de desenvolvimento
se encontra o aluno em seu processo de aprendizagem. Vygotsky afirma que o
aluno passa por três estágios de desenvolvimento. Explique-os e descreva qual
o papel do professor em cada um deles.
3. O processo de aprendizagem exige uma relação de corresponsabilidade entre
aluno e professor. A partir dessa informação, explique como o professor pode
construir essa relação com o aluno.
38 - 39
MATERIAL COMPLEMENTAR
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
A DIDÁTICA EM DIFERENTES
II
UNIDADE
TEMPOS HISTÓRICOS
Objetivos de Aprendizagem
■■ Reconhecer as diferentes concepções didáticas nos diversos tempos
históricos.
■■ Apresentar as principais características do método didático
tradicional.
■■ Caracterizar o método didático tecnicista.
■■ Analisar o método didático escolanovista.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ A didática tradicional
■■ A didática da escola nova
■■ A didática tecnicista
42 - 43
INTRODUÇÃO
Introdução
II
A DIDÁTICA TRADICIONAL
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fundamental, universal e laica.
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A Didática Tradicional
II
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inquestionável.”
Diante dessa postura do educador, não fica difícil definir o papel do aluno. O
aluno, no paradigma tradicional era um ser passivo e receptivo. Para isso, deve-
ria obedecer sem questionar e realizar as tarefas solicitadas pelo professor. Aliás,
essa é a função primordial do aluno no processo educativo: realizar as tarefas sem
questionar seus objetivos e finalidades. O aluno era visto como um miniadulto
que deveria ser instruído para assimilar os conhecimentos propostos.
Essa descrição de aluno nos remete a análise de Paulo Freire. O filósofo deno-
minou a educação tradicional de educação bancária. Isso se deve ao fato de que o
aluno passava a maior parte do seu tempo escolar sentado em um banco ouvindo
passivamente o conteúdo exposto pelo professor. Ele denuncia que nessa abor-
dagem a criança torna-se um depósito de informações, de conhecimentos e de
fatos. Sempre que revejo a opinião de Freire, me vem à mente a imagem de uma
criancinha, sentada em uma carteira e com uma grande gaveta no lugar da cabeça.
Enquanto ensina, o professor enche essa gaveta com muitos livros. Quando ele
termina, basta fechar a “gaveta-cabeça” e o aluno aprendeu. Quando a criança
precisa dos conhecimentos armazenados, como no caso de uma prova, basta
abrir a gavetinha cerebral e usar o necessário. Fácil não é? Não, caro(a) aluno(a).
Não é nada fácil aprender assuntos que não fazem sentido algum para nossas
vidas. E mais difícil ainda é passar por provas ou avaliações desses conteúdos.
As avaliações, por vezes, eram realizadas por bancas examinadoras, que
questionavam o aluno oralmente. De outro modo, eram realizadas verificações
de aprendizagem, na qual o aluno deveria resolver os exercícios de acordo com
o modelo ensinado em classe. Na construção hierarquizada das relações dentro
A Didática Tradicional
II
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provocou inúmeras críticas. Consequentemente, o número de alunos evadidos
mobilizou a reflexão de professores e intelectuais a repensar tais posturas. Logo
se concluiu que a referida escola, além de não conseguir realizar a universaliza-
ção do ensino, teve de se curvar diante do aumento da exclusão de crianças que
não se “ajustavam” ao modelo de aluno desejado.
Segundo Behrens (2009), as críticas formuladas à Escola Tradicional a partir
do final do século XIX foram, aos poucos, dando origem a uma outra teoria da
educação. Essa teoria mantinha a crença no poder da escola de garantir a equa-
lização social e dessa forma poderia corrigir o fenômeno da marginalidade. Se
a Escola Tradicional vinha se demonstrando inadequada para tal função, uma
escola com características opostas poderia ser eficaz. Toma corpo, então, uma
ampla reforma do ensino, baseada nas concepções da didática escolanovista.
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autonomia, inclusive em relação ao currículo, para criar seu próprio repertório
de temas e assuntos. Logicamente que estes precisavam ser autênticos para se
relacionarem com o caráter individual de cada aluno.
Já os alunos, não são mais vistos como adultos em miniatura e são tratados
em suas particularidades. Tornam-se seres únicos com necessidades individuais.
Eles também são os principais agentes do ensino. São, inclusive, responsabiliza-
dos pela própria aprendizagem. Precisam descobrir sozinhos os caminhos e as
experiências necessárias para a busca do conhecimento.
Aliás, a experiência é o principal fator que leva a aprendizagem. Por meio
dela o aluno passa a ser um sujeito ativo, independente e com liberdade para
descobrir e aprender. Negando o conceito tradicional, de aluno ouvinte, o dis-
cente da escola nova aprende de maneira ativa e desenvolve iniciativa própria.
Nesse novo processo de ensino, a autodeterminação e o autodesenvolvimento
são os objetivos centrais. Por isso, ao invés de apresentar o conteúdo pronto e aca-
bado para o aluno, o professor deve instigar a aprendizagem mediante a resolução
de problemas, de questões instigadoras e motivadoras. No entanto, a resolução dos
desafios deve ser feita no ritmo do aluno. Ou seja, o professor precisa respeitar o
grau de maturidade e desenvolvimento de cada um. Pois, ao invés de valorizar os
resultados obtidos, deve avaliar o real envolvimento e participação do educando na
busca por conhecimento. O principal princípio norteador dessa tendência didática é
o respeito à personalidade do aluno e de suas diferenças pessoais. Apregoa ainda que
cada um deve se desenvolver de acordo com suas capacidades e esforço individual.
Para dar conta desses princípios, o professor precisava ter uma metodolo-
gia muito ampla e “aberta”. Dessa forma seria possível lidar com os diferentes
desprezados. Pois, conforme nos indica Mizukami (2009, p. 56) “o aluno, con-
sequentemente, deveria assumir responsabilidades pelas formas de controle de
sua aprendizagem, definir e aplicar os critérios para avaliar até onde estão sendo
atingidos os objetivos que se pretende”.
Os conhecimentos produzidos pela biologia e pela psicologia reforçavam a
validade e importância desse modelo avaliativo. Mas, os resultados dessa prática
trouxeram a baila uma questão nova para a escola, as crianças e alunos “dife-
rentes”, que não aprendem de forma “normal”. Essa questão é desenvolvida pelo
escolanovismo como uma busca de aceitação da anormalidade, como uma neces-
sidade de tolerar o diferente. Para Saviani, forja-se assim, “uma pedagogia que
advoga um tratamento diferencial a partir da descoberta das diferenças indivi-
duais. Eis a ‘grande descoberta’: os homens são essencialmente diferentes; não
se repetem; cada indivíduo é único” (SAVIANI, 2009, p.7).
Sendo cada ser humano único e individual, pressupõe-se que cada um aprenda
a sua maneira. No entanto, a escola ainda não sabe o que fazer com aqueles que
dotados de alguma incapacidade não conseguem aprender. Segundo esse princí-
pio, a marginalidade deixa de ser vista sob o ângulo da ignorância, isto é, a falta
de conhecimentos e passa a figurar o anormal, o rejeitado.
Portanto, Saviani (2009) nos aponta que os marginalizados da Escola Nova,
são os “anormais”, os desajustados. No entanto, essa “anormalidade” não deve ser
encarada como um aspecto negativo, mas simplesmente como uma diferença.
Dessa forma, a educação conseguirá ser um instrumento de equalização social e
de correção da marginalidade, na medida em que conseguir adaptar estes sujei-
tos à sociedade, incutindo neles o sentimento de aceitação pelos demais.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A Nova Escola acabou provocando um afrouxamento da disciplina e
despreocupação com a transmissão dos conhecimentos, acabou a ab-
sorção do escolanovismo pelos professores, por rebaixar o nível de en-
sino destinado às camadas populares, as quais muito frequentemente
têm na escola o único meio de acesso ao conhecimento elaborado. Em
contrapartida, a Escola Nova aprimorou a qualidade de ensino destina-
do às elites (p.9).
nição, quer do aluno quer do professor, Candeias (1994, 475): “não são os méto-
as competências cognitivas e a auto- dos de ensino que fazem com que uma
nomia devem ser levadas em conta na criança seja um ser activo, a criança é em
consecução do processo de ensino apren- si um ser activo ? será a própria signifi-
dizagem, daí a importância de repensar cação que a criança consegue conferir
o papel de teorias como as de Piaget àquilo que ouve, consequência de uma
neste mesmo processo (Sprinthall s/d; série de factores, entre os quais se des-
Candeias, 1994, 453). É neste contexto ? taca a forma como o professor consegue
o conferir uma maior autonomia ao aluno estruturar e transmitir os conteúdos do
- que são teorizados e estimulados dois ensino”. A dicotomia “Escola Tradicional/
modelos didácticos não directivos: o do Nova” perde, então, algum do seu sentido
ensino pela descoberta (aprendizagem quando temos em consideração a teoria
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
construtiva) e o do ensino por exposi- piagetiana de que qualquer ser vivo é
ção (aprendizagem reconstrutiva ou inatamente activo (Candeias, 1994, 484).
significativa), com o fim de se atingirem
determinados objectivos ao centralizar Há pois que repensar a Escola, transformá-
a aula, enquanto momento de (re)des- -la e adaptá-la de uma forma contínua.
coberta, cada vez mais, no aluno. No Os dois conceitos de escola de que esta
entanto, a “educação tradicional” não é reflexão partiu podem contribuir para
apenas “cardos” e nem tudo se apr(e)ende clarificar posições que não devem ser
apenas através da descoberta ou da expe- extremas quando se separa o trigo do
riência. O professor, enquanto mediador joio, pois os princípios de uma didáctica
de conhecimentos e saberes, deverá fazer activa/ecléctica são vários em qualquer
uso de um know how/why que faça sen- estilo de ensino, pelo que o aluno ao
tido ao aluno, sem cair num “facilitismo” desenvolver a sua mentalidade cien-
que entorpece, e no qual a avaliação for- tífica deverá ser motivado a aprender
mativa se pode, facilmente, tornar. com afecto, e de uma forma o mais livre
possível. É por aí que passa também a
Confrontando a teoria com a prática, democratização do ensino e da própria
poderemos afirmar que as mudan- Escola. A pluralidade e a diversidade
ças conjunturais e estruturais levam devem ser constantes numa Escola Nova
o seu tempo, exigindo dos professo- (Nóvoa, 1988, 9) que deve adaptar dos
res um posicionamento crítico e uma modelos educativos disponíveis as estra-
responsabilidade diferente perante os tégias mais adequadas aos seus alunos,
processos de ensino-aprendizagem e de para que possa cumprir, de forma eficaz,
socialização. Talvez o ideal seja a desco- as suas funções. Tal como as Educações
berta de um meio termo, cabendo ao Tradicional e Nova o foram a seu tempo,
docente fazer uso da sensibilidade e do há que tomar atitudes cautelosas em rela-
bom-gosto para que haja flexilibilidade ção aos problemas educativos e sociais
e oportunidade para o aluno se tornar dos tempos que vão mudando, tal como
mais responsável e consciente da sua as vontades.
aprendizagem. Como afirma António
Rogério Miguel Puga
Disponível em: <http://www.apagina.pt/?aba=7&cat=100&doc=8325&mid=2>. Acesso em: 25 abr. 2012.
A DIDÁTICA TECNICISTA
mos encontrar:
■■ A ideia de que as ciências sociais
devem conhecer as leis gerais do
comportamento humano.
■■ A ênfase na quantificação e a rejei-
ção de todas as explicações baseadas
em intenções pessoais ou em fatos
subjetivos.
©photos
A Didática Tecnicista
II
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de disciplinas e práticas didáticas. O controle de todo esse processo era feito a
partir do preenchimento de formulários, o que provocou a burocratização e a
massificação do ensino.
Sendo assim, o foco do ensino foi deslocado mais uma vez. O elemento prin-
cipal não era nem o professor (como na escola tradicional), nem o aluno (como
na escola nova). Mas sim a técnica, ou seja, a organização racional e esquema-
tizada dos meios adequados para a aprendizagem.
Essa forma tecnicista de ensinar, organizou as áreas do conhecimento de
forma fragmentada e separada. As disciplinas propostas pelo currículo deixa-
vam mais uma vez de ter relações entre si. Consequentemente, o saber adquirido
pelos alunos também era compartimentalizado e dividido. Assim, o ensino e a
aprendizagem deixaram de formar um todo contínuo e coeso para se tornar um
sistema fechado e vazio. De acordo coma as palavras de Behrens (2009, p. 48)
“a ênfase da prática educativa recaiu na técnica pela técnica”. Mais importante
do que dominar um saber necessário, era conhecer a técnica para determinada
coisa e saber aplicá--la. Voltamos com isso, para o período de reprodução do
conhecimento.
Dentro dessa perspectiva de ensino, o papel da escola na tendência tecnicista
era o de “treinar” os alunos. Esse treino também servia para “modelar” o com-
portamento dos alunos, de acordo com as necessidades do mercado de trabalho.
Vale ressaltar aqui que este foi um momento muito propício para o desenvolvi-
mento dessa didática, visto que a Revolução Industrial provocou muitas mudanças
sociais e econômicas. Mizukami (2009, pp. 28-29) define a função escolar desse
período da seguinte forma: “à educação escolar compete organizar o processo
Podemos notar, por meio das palavras da autora, que a didática tecnicista valo-
riza a resposta do aluno, especificamente a resposta correta. Essa característica
nos mostra que o erro devia ser repreendido com rigor. Isso porque, para essa
metodologia, o erro não faz parte da aprendizagem, pelo contrário, ele indica
incompetência e incapacidade. Outra característica dessa concepção é o desen-
volvimento das disciplinas teóricas e depois as teorias. Priorizava-se a teoria para
A Didática Tecnicista
II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
e praticar o planejamento na íntegra servia ainda como um instrumento de ava-
liação da competência docente.
Já o aluno, era avaliado em duas etapas: um pré-teste no início do conteúdo
e um pós-teste, no final da matéria. O objetivo do pré-teste era verificar como
o aluno entrou no início da aprendizagem, quais competências e habilidades já
possuíam. O pós-teste, servia para confirmar o quanto o aluno evoluiu na apren-
dizagem e demonstrava também se o processo de ensino havia se desenvolvido
de modo competente o bastante para atingir os objetivos planejados.
Para participar dessas avaliações, o aluno precisava contar apenas com uma
boa memória. Capacidades intelectuais de análise, síntese, comparação e críticas
não faziam parte das competências a serem desenvolvidas junto com os alunos.
Embora fosse exigido dos discentes apenas boa memória e capacidade de reten-
ção, segundo nos informa Mizukami (2009), a didática tecnicista ocasionou um
alto índice de reprovação. A seguir, a autora nos aponta outras consequências
acarretadas pela concepção tecnicista de ensino:
Outro risco que o educando poderia correr é de que o educador(a)
tente transformá-lo em um repetido de seu trabalho. Um verdadeiro
educador evitaria, a qualquer custo, transformar seus educandos(as)
em indivíduos canalizados como objetivos que, por sua vez, irão repro-
duzir a obra, objetivos e aspirações da tentativa cientifica do educador
(MIZUKAMI, 2009, p. 79)
A Didática Tecnicista
II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
marginalizado. Na Didática Tradicional, o marginalizado era o ignorante, aquele
que não é esclarecido e por isso não pode conviver na nova sociedade urbanizada.
Para a Didática Escolanovista ficaria à margem da educação aquele que por pos-
suir alguma incapacidade não aprende. E, finalmente, para a Didática Tecnicista,
o excluído é o incompetente, é aquele que não contribui para o aumento da pro-
dução social.
Nesse sentido, gostaria de lhe perguntar: será que a escola, tal como é conce-
bida hoje, pode dar conta de promover a igualdade social? O que evidenciamos
em comum entre as três correntes didáticas analisadas é a concepção de educação
como instrumento de equalização social e, portanto, de superação da margina-
lidade. Percebemos facilmente que a figura da marginalidade se altera a partir
da forma como as concepções pedagógicas entendem as relações entre educação
e sociedade. E parece-nos que todas concebem a sociedade como harmoniosa,
tendendo a integração de todos os seus membros. A exclusão nesse sentido é um
acidente, um desvio que não só pode como deve ser corrigido. A educação nesse
contexto surge como instrumento de correção desses desvios, dessas distorções.
Como você pôde ver, a didática das pedagogias até aqui expostas, no que
diz respeito às relações entre educação e sociedade, concebem a educação com
uma ampla autonomia em relação às influências sociais. Tanto que lhe cabe o
papel decisivo de evitar a segmentação de seus membros, garantindo a constru-
ção de uma sociedade igualitária.
Por isso, gostaria de chamar sua atenção e ressaltar que, falta a essas teorias
pedagógicas uma compreensão crítica da própria sociedade, percebendo-a como
sendo marcada pela divisão de classes antagônicas, com interesses distintos que
A Didática Tecnicista
Conheça um pouco mais sobre a história da pedagogia tecnicista lendo o artigo retirado
do site: <http://sites.google.com/site/ged0611/tecnicista>. Acesso em: 25 abr. 2012.
PEDAGOGIA TECNICISTA
II
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
fessor, de aluno, de avaliação e de método desenvolvidos pelos estudos didáticos
em diferentes períodos históricos. Para que você compreenda melhor a concep-
ção didática da escola tradicional, da escola nova e da tecnicista, montei para
você uma tabela comparativa. Nela você encontrará os principais tópicos abor-
dados em todos os métodos estudados agora. Espero que você estude e analise
essa tabela. Em seguida, procure tirar suas próprias conclusões.
TABELA COMPARATIVA:
Considerações Finais
1. Vimos nesta unidade, que para ensinar, o professor devia repassar as informa-
ções para o aluno da mesma forma que se encontravam nos livros. Assim, eles
poderiam repetir e reproduzir de acordo com o modelo correto. A partir dessa
informação, explique com suas palavras qual seria o papel do aluno nesse mo-
delo de ensino.
2. A Escola Nova foi adotada no Brasil, por volta de 1930. Sua teoria se fundamen-
tou nas ideias de Rogers, Montessori e Piaget. A principal característica desse pa-
radigma é apresentar-se como um movimento de rejeição à didática tradicional.
Reflita sobre essa afirmação e demonstre como a metodologia didática da escola
nova rejeitou a didática tradicional.
3. A didática tecnicista propunha uma avaliação de aprendizagem baseada em
duas etapas. Como se organizavam essas etapas e qual o objetivo de cada uma
delas?
66 - 67
MATERIAL COMPLEMENTAR
Assista ao vídeo abaixo e veja um pequeno trecho do filme Tempos Modernos de Charles
Chaplin. Em seguida, reflita sobre a relação desde filme com a Didática Tecnicista.
<http://www.youtube.com/watch?v=tcadm3rOWQI>.
Material Complementar
Professora Me. Ionah Beatriz Beraldo Mateus
III
UNIDADE
A DIDÁTICA ATUAL E REAL
Objetivos de Aprendizagem
■■ Verificar a existência de teorias didáticas capazes de orientar práticas
educativas transformadoras.
■■ Analisar paradigmas educacionais inovadores.
■■ Compreender os fundamentos teóricos e práticos da didática
histórico-crítica.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ A produção do conhecimento e os novos modelos didáticos
■■ Abordagem sistêmica
■■ Abordagem progressista
■■ O ensino com pesquisa
■■ Didática histórico-crítica
70 - 71
INTRODUÇÃO
Para iniciarmos esta unidade, gostaria de retomar uma questão deixada em aberto
e de forma proposital em nossa segunda unidade:
É possível encarar a escola como uma realidade histórica, ou seja, passível de
ser transformada intencionalmente mediante a ação humana?
Eu acredito que sim. Essa crença também se manifesta na Pedagogia Libertária
fundada a partir do pensamento e da prática pedagógica de Paulo Freire. Sua
teoria didática é marcada pela ideia de que a transformação social virá pela eman-
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Introdução
III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
e quem educamos. Saviani (2009, p.
43) responde algumas dessas ques-
tões afirmando que “a educação visa
o homem”, ou melhor, dizendo, visa a
©shutterstock
promoção humana.
Uma breve reflexão histórica nos permite verificar que a ação educativa
sempre esteve preocupada em formar um determinado tipo de homem. Como
pudemos constatar em nossa segunda unidade, os ideais de homem variam com
as diferenças e as exigências de cada época. Mas, a preocupação com a forma-
ção humana é constante. Portanto, a partir dessa concepção podemos apontar
a condição básica para alguém que deseja ser um bom educador: “ser um pro-
fundo conhecedor do homem” (SAVIANI, 2009, p. 44).
Mas quem é o homem que desejamos educar?
Segundo Saviani (2009), o homem é sempre um ser social. Isso significa que
ele nasce em um meio, na qual conviverá com outras pessoas e para isso, seguirá
regras e valores determinados por sua realidade histórica.
Esse meio de nascimento, (ou local) também o condiciona e determina sua
existência. Afinal, o homem depende de uma série de fatores físicos para sobre-
viver, como: o clima, a vegetação, o solo e outros. Mas, não é só o meio físico que
condiciona o homem. O meio cultural também é um forte determinante. Logo
ao nascer, o homem depara-se com uma época cheia de características particu-
lares, com uma língua já estruturada, com costumes e crenças definidos, com
instituições sociais próprias, com uma vida econômica, com formas de governo...
enfim, todos esses fatores e muitos outros determinam a existência humana.
Aliás, é dentro desses determinantes todos, que o homem precisa ser situ-
ado e retirar desse contexto os meios necessários para sua sobrevivência. Bem,
se o homem precisa encontrar formas diferentes de suprir suas necessidades e
sobreviver, isso nos indica que ele não é um se passivo. Segundo Saviani (2009,
p.45), “ele reage perante a situação, intervém pessoalmente para aceitar, rejei-
tar ou transformar”.
Do ponto de vista da educação, o que significa então, promover o homem?
Mais uma vez, é Saviani quem nos indica a resposta:
Significa tornar o homem cada vez mais capaz de conhecer os elemen-
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A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO
A Produção do Conhecimento
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uma prática pedagógica que supere a fragmentação e a reprodução do conheci-
mento. Nesse sentido, nos alerta Behrens (2009, p. 55):
O ensino como produção de conhecimento propõe enfaticamente o
envolvimento do aluno no processo educativo. A exigência de tornar o
aluno ativo, valoriza a reflexão, a ação, a curiosidade, a provisoriedade,
o questionamento, e exige reconstruir a prática educativa proposta em
sala de aula.
VISÃO
ABORDAGEM SISTÊMICA
PROGRESSISTA
ENSINO
COM
PESQUISA
Fonte: elaborado pela autora
ABORDAGEM SISTÊMICA
Abordagem Sistêmica
III
©photos
em setores, na qual cada trabalhador se
responsabiliza por um item da produ-
ção sem ter ideia do produto final. Por
consequência, os homens passaram,
na escola e no trabalho, a se restringir
a tarefas divididas, ordenadas e sem a
consciência global dos resultados.
Nesse contexto, o maior desafio da
escola nessa nova abordagem é superar
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a divisão do ensino e livrar-se da influência industrial. A didática sistêmica se
fundamenta em uma visão globalizada do próprio aluno, concebendo-o em suas
múltiplas dimensões como a razão, a sensação, a intuição, o sentimento e outros.
Na realidade, se defende a visão holística de homem e de mundo. Mysukami
(2009, p. 87) nos explica mais sobre esse conceito:
Portanto, ser holístico, compreende saber respeitar as diferenças, bus-
cado a aproximação das partes no plano da totalidade. Porque superar
não é fazer desaparecer mas progredir na reaproximação do todo. Pois
o todo está em cada uma das partes e, ao mesmo tempo, o todo é qua-
litativamente diferente do que a soma das partes.
O aluno, por sua vez, caracteriza-se como um ser social, que vive em um mundo
complexo e coletivo. Mas, ao mesmo tempo é único, exclusivo e dotado de poten-
cialidades particulares. Essas diferenças individuais dos alunos precisam ser
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Abordagem Sistêmica
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ABORDAGEM PROGRESSISTA
Para atuar como agência difusora das transformações sociais, a escola necessita
da participação do professor democrático. Nessa concepção, o educador esta-
belece uma relação horizontal com o aluno e não mais hierarquizada. Juntos,
professores e alunos estabelecem as melhores regras para o trabalho em grupo
e para a aprendizagem.
O professor, por ser mais experiente e conhecer mais profundamente os
aspectos críticos da realidade assume a função de orientador e mediador do conhe-
cimento que o aluno já possui e os que ainda precisa alcançar. Para Mizukami
(2009, p. 99), um professor engajado em uma prática transformadora “procu-
rará desmistificar e questionar, com o aluno, a cultura dominante, valorizando
a linguagem e a cultura deste, criando condições para que cada um deles ana-
lise seu contexto e produza cultura”.
Acima de tudo, o professor dessa concepção didática respeita o aluno e nego-
cia os limites de atuação de cada um e do próprio grupo por meio do diálogo.
Ao negar qualquer forma de autoritarismo entre o docente e a turma, abrem-
se novas possibilidades inclusive para o professor. Ao ensinar, ele pode também
aprender e ao aprender, ele pode ensinar.
O aluno, por sua vez, é atuante e responsável pela ação educativa. Ele se
envolve nos processos de investigação, de levantamento de materiais e infor-
mações necessários para a construção do conhecimento. Não espera que seu
Abordagem Progressista
III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
desencadeia a instrumentalização. O fim do processo deve levar à catarse e ao
retorno à prática social, considerando como ponto culminante da aprendizagem,
as mudanças de comportamento e de consciência dos alunos.
De acordo com essa visão, o ensino se baseia na discussão de temas centrais.
O conteúdo passa então a ser analisado de acordo com seus aspectos políticos e
sociais. Essa análise proporciona aos alunos e professores o conhecimento dos
problemas relacionados ao meio social, à cultura e à comunidade em que vivem.
Dessa forma, a aprendizagem passa a fazer parte de um processo e deixa de ser
encarada como um produto pronto e acabado.
Concebendo a aprendizagem como um processo inacabado e contínuo, a
avaliação precisa ser coerente e condizente com tal concepção. Para isso, a ava-
liação perde seu caráter punitivo e classificatório para promover a participação
individual e coletiva do aluno. Os critérios dessa avaliação podem ser estabele-
cidos com a participação de todo grupo. Conhecendo as metas e os pilares da
avaliação, professores e alunos passam a ser responsáveis e parceiros na busca
pelo sucesso ou fracasso do grupo.
A consolidação da didática progressista é um desafio a ser transposto dia
a dia. Behrens (2009, p. 79) afirma que a mudança na prática pedagógica não e
tarefa fácil. “Apesar desses referenciais progressistas virem sendo propostos desde
os anos 80, as escolas, de maneira geral, não conseguiram ultrapassar o ensino
conservador e permanecem restritas à reprodução do conhecimento”.
O mais célebre educador brasileiro, autor Ao propor uma prática de sala de aula que
da pedagogia do oprimido, defendia como pudesse desenvolver a criticidade dos alu-
objetivo da escola ensinar o aluno a “ler o nos, Freire condenava o ensino oferecido
mundo” para poder transformá-lo. pela ampla maioria das escolas (isto é, as
“escolas burguesas”), que ele qualificou de
Márcio Ferrari educação bancária. Nela, segundo Freire, o
professor age como quem deposita conhe-
Paulo Freire (1921-1997) foi o mais célebre cimento num aluno apenas receptivo, dócil.
educador brasileiro, com atuação e reco- Em outras palavras, o saber é visto como
nhecimento internacionais. Conhecido uma doação dos que se julgam seus deten-
principalmente pelo método de alfabeti- tores. Trata-se, para Freire, de uma escola
zação de adultos que leva seu nome, ele alienante, mas não menos ideologizada
desenvolveu um pensamento pedagógico do que a que ele propunha para despertar
assumidamente político. Para Freire, o obje- a consciência dos oprimidos. “Sua tônica
tivo maior da educação é conscientizar o fundamentalmente reside em matar nos
aluno. Isso significa, em relação às parce- educandos a curiosidade, o espírito investi-
las desfavorecidas da sociedade, levá-las a gador, a criatividade”, escreveu o educador.
entender sua situação de oprimidas e agir Ele dizia que, enquanto a escola conser-
em favor da própria libertação. O princi- vadora procura acomodar os alunos ao
pal livro de Freire se intitula justamente mundo existente, a educação que defen-
Pedagogia do Oprimido e os conceitos nele dia tinha a intenção de inquietá-los.
contidos baseiam boa parte do conjunto
de sua obra.
APRENDIZADO CONJUNTO
SERES INACABADOS
O método Paulo Freire não visa apenas ção. Por isso, não há futuro a priori, como
tornar mais rápido e acessível o aprendi- ele gostava de repetir no fim da vida, como
zado, mas pretende habilitar o aluno a “ler crítica aos intelectuais de esquerda que
o mundo”, na expressão famosa do educa- consideravam a emancipação das classes
dor. “Trata-se de aprender a ler a realidade desfavorecidas como uma inevitabilidade
(conhecê-la) para em seguida poder rees- histórica. Esse ponto de vista implica a con-
crever essa realidade (transformá-la)”, dizia cepção do ser humano como “histórico e
Freire. A alfabetização é, para o educador, inacabado” e conseqüentemente sempre
um modo de os desfavorecidos romperem pronto a aprender. No caso particular dos
o que chamou de “cultura do silêncio” e professores, isso se reflete na necessidade
transformar a realidade, “como sujeitos da de formação rigorosa e permanente. Freire
própria história”. dizia, numa frase famosa, que “o mundo não
é, o mundo está sendo”.
No conjunto do pensamento de Paulo
Freire encontra-se a idéia de que tudo está
em permanente transformação e intera-
82 - 83
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Libâneo (2008) afirma que o maior desafio da escola, desde o final do século XX,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tem sido a efetivação da sociedade da informação. O desenvolvimento científico
e tecnológico exige a cada dia uma nova reflexão sobre o ensino oferecido. Ações
pedagógicas baseadas em atividades tradicionais, como: escute, leia, decore e
repita, não são mais suficientes para garantir a formação humana.
A instituição escolar não é mais a única porta de acesso ao conhecimento.
A informação está disponível em diversos meios de comunicação como a rede
informatizada e a televisão. Por meio desses meios, o conhecimento rompeu
com as barreiras da sala de aula e causou uma verdadeira revolução nas formas
de ensinar.
No entanto, o desafio que se impõe agora, não é mais pela busca da informa-
ção e sim, como acessá-la, como interpretá-la e colocá-la em prática de maneira
ética e positiva. O caminho apontado para a realização dessa importante tarefa
foi a pesquisa.
A escola que adota a didática do ensino com pesquisa, se consolida como
um espaço produtivo que oferece tecnologia e informações capazes de colabo-
rar com o exercício da cidadania e a formação ética. Para isso, aponta Behrens
(2009, p. 82), “a escola precisa proporcionar um ambiente em que os professo-
res e alunos possam gestar projetos conjuntos e que propiciem a produção do
conhecimento”.
O trabalho com projetos interdisciplinares é o foco principal do ensino com
pesquisa. Conduzir e construir temas de pesquisa coletiva exige, do professor,
uma nova postura pedagógica. Ele precisa, a princípio, deixar de ser o “dono do
saber” para ser um profissional que atua como orientador e parceiro do aluno.
Nessa parceria, o professor apresenta seu projeto de estudo e pesquisa aos alunos
criativo e crítico.
■■ Elaboração própria para codificar pessoalmente o conhecimento que
consegue criar e cariar, favorecendo a emergência do projeto pedagó-
gico próprio.
■■ Teorização das práticas, formação permanente e manejo de instrumen-
talização eletrônica.
Segundo as palavras de nosso autor, podemos notar que a escrita é parte funda-
mental da pesquisa. No entanto, a escrita precisa ganhar outro significado. Ela
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Para superar a pesquisa reprodutiva, Demo (2007) propõe uma aproximação da
teoria com a prática que se dá em cinco níveis:
No primeiro nível o autor propõe a Interpretação Reprodutiva. Para tal, o
aluno deve ler o texto e identificar as principais informações com fidelidade. Ou
seja, precisa interpretar o que é importante e copiar. O objetivo é avaliar a per-
cepção dos alunos e auxiliá-los a organizar as informações de maneira lógica. O
próximo passo será dado para desafiar o aluno para que ele passe de copiador
de conteúdos para produtor crítico.
O segundo nível é denominado por Demo (2007) de Interpretação Própria.
Aqui a proposta é a de tomar um texto e dar-lhe um significado pessoal. Ou seja,
o aluno irá interpretar as principais informações ou ideias de acordo com seus
conhecimentos e experiências. O objetivo dessa etapa é incentivar os estudan-
tes a escrever, de forma livre, sem amarras.
O terceiro nível é chamado de Reconstrução. Acostumado com sua escrita
própria, por meio do desenvolvimento do segundo nível, o aluno agora pode
reconstruí-la mediante os moldes da pesquisa. Isso implica em construir textos
próprios, agregados a outros autores que confirmem sua produção.
O quarto nível de pesquisa é chamado de Construção. Esse nível de pesquisa
demandaria “tomar o que existe como simples referência e abrir novos caminhos”
(DEMO, 2007, p. 41). Nesse momento, o pesquisador pode avançar em seus estu-
dos a partir de um caminho, ou linha de raciocínio já proposto por outro autor.
Cabe então, dar ao novo trabalho, maior elaboração e profundidade analítica.
Já o quinto e último nível é o da Criação e Descoberta. Demo define como
sendo a fase que pode provocar a introdução de novos modelos metodológicos,
Sendo assim, podemos notar que o ensino por meio de projetos e pesquisa leva
alunos e professores a pensar, a refletir juntos e encontrar os melhores caminhos
para aprender. Desperta ainda o senso crítico e constrói conhecimentos signifi-
cativos que envolvem a participação de todos. Nesse contexto, o ensino se torna
relevante, produtivo e transformador.
Pedro Demo - Eu guardo um profundo res- sentido de uma construção nova. Nós par-
peito pela proposta piagetiana chamada timos do que já está construído, do que já
construtivismo. Mas eu prefiro o termo está disponível, do conhecimento que está
reconstrutivismo, porque é culturalmente aí diante de nós e o refazemos, reelabora-
mais plantado. Normalmente, a gente não mos. Eu penso que o termo reconstrução
produz conhecimento totalmente novo, no é muito mais realista, só isso.
O pilar desse conceito é a importância da pesquisa no processo educacional, inde-
pendentemente do nível de ensino. Como ela pode ser incorporada nos níveis mais
elementares?
88 - 89
Pedro Demo - Primeiro, é preciso distin- através de sua consciência crítica e da capa-
guir a pesquisa como princípio científico e cidade de fazer propostas próprias. Isso
a pesquisa como princípio educativo. Nós tudo tem por trás a idéia da reconstrução,
estamos trabalhando a pesquisa princi- mas também agrega todo o patrimônio de
palmente como pedagogia, como modo Paulo Freire e da “politicidade”, porque nós
de educar, e não apenas como construção estamos na educação formando o sujeito
técnica do conhecimento. Bem, se nós capaz de ter história própria, e não histó-
aceitamos isso, então a pesquisa indica a ria copiada, reproduzida, na sombra dos
necessidade da educação ser questiona- outros, parasitária. Uma história que per-
dora, do indivíduo saber pensar. É a noção mita ao sujeito participar da sociedade.
do sujeito autônomo que se emancipa
A pesquisa supõe uma reelaboração do conhecimento, ou seja, deve vir acompa-
nhada de um processo de apreensão do conhecimento. Como a educação recons-
trutiva concilia pesquisa e ensino?
Pedro Demo - Vamos colocar de outra tiva muda bastante. O que nós estamos
maneira: você precisa de informação e de acostumados a ver no dia-a-dia é a pro-
formação. Você não aprende sem vasculhar posta instrucionista, baseada no ensino, na
o que já está disponível. Mas a educação instrução, no treinamento. Isso não é edu-
não é propriamente isso. Isso é meramente cação. Também é importante, também faz
um processo informativo que pode ser feito parte, mas o nível educativo se atinge real-
pela eletrônica. Nem é preciso professor mente quando aparece um sujeito capaz
para meramente transmitir conhecimento. de propor, de questionar. Precisamos de
Mas o professor é absolutamente neces- pesquisa e elaboração própria. São dois
sário para o processo reconstrutivo, como conceitos nos quais eu insisto bastante.
orientador, avaliador do aluno. A perspec-
Mas no campo das práticas pedagógicas, como a pesquisa pode ser inserida no
ensino fundamental, por exemplo?
Pedro Demo - Primeiro, fazendo recuar nhecendo como sujeito capaz de ter uma
a aula, porque a aula é bem o signo da proposta própria. Isso é o que queria, na ver-
instrução, sobretudo a aula meramente dade, Piaget. Ele sempre disse que a criança
expositiva, em que as crianças são obriga- é um grande pesquisador: é curiosa, quer
das a assistir, tomar notas e fazer provas. ver as coisas, quebra os brinquedos para
Se você olhar bem, aí não ocorre nenhuma ver o que tem lá dentro, pergunta muito. A
educação. Agora, se a criança também é escola é que, não sabendo disso, abafa essa
levada a buscar seu material, a fazer sua vontade de conhecer que a criança tem.
elaboração, a se expressar argumentando,
a buscar fundamentar o que diz, a fazer
uma crítica ao que vê e lê, aí ela vai ama-
O senhor afirma que a curiosidade infantil deve ser estimulada, instigada inces-
santemente pelo educador. Como isso deve ser feito?
Pedro Demo - Esta é uma das grandes com- tífico, da pessoa que está fazendo Ph.D.,
petências do educador, saber aproveitar é muito diferente das pesquisas da pes-
essa potencialidade enorme que a criança soa que está na graduação e da criança
tem de querer conhecer, de aprender, de que está no ensino fundamental, mas, se
inventar coisas diferentes. Aí está então o a gente aproxima a pesquisa como cultivo
que eu quero dizer com a pesquisa como do saber pensar, ela deve estar em todos
princípio de todo o trajeto educativo. É os atos educativos, seja da menor criança,
claro que a pesquisa como princípio cien- seja da pessoa mais adulta.
O que o senhor quer dizer ao afirmar que, na educação reconstrutiva, a qualidade
política deve prevalecer sobre a qualidade formal?
Pedro Demo - Acho que não deve ser pativa, onde todos têm mais chances, onde
uma dicotomia, são coisas que convivem os horizontes sejam compartilhados. Mas
dialeticamente. Eu vejo a competência para termos boas condições de intervenção
técnica como instrumental. O fim das coi- política é muitíssimo importante manejar
sas é a competência ética, política, quer o conhecimento adequadamente.
dizer, formar uma sociedade mais partici-
Ainda sobre o tema da competência, uma pressão que a escola sofre é a cobrança
para que os alunos saiam de lá instrumentalizados, isto é, sabendo fazer. Que opi-
nião o senhor tem a esse respeito?
Pedro Demo - O saber pensar inclui sempre discurso teórico e incluem em seus currí-
o saber intervir. Nós temos que recuperar culos apenas uma pequena parte prática,
um pouco a proximidade entre teoria e chamada estágio ou coisa do gênero, extre-
prática. Acontece que as escolas e univer- mamente desproporcional. É preciso saber
sidades chamam de formação apenas o colocar a prática já no primeiro semestre. Eu
90 - 91
acho que essa expectativa é muito impor- uma teoria é uma boa prática. E a prática
tante. Os alunos deveriam ter nas escolas que não volta para a teoria envelhece e
a possibilidade de aplicar o conhecimento fica caduca.
sem cair no utilitarismo. A melhor coisa para
Mas como diminuir essa distância?
Pedro Demo - Nós temos uma tradição uni- tas horas, em certos espaços, mas estuda a
versitária de separar as duas coisas. Quando toda hora, durante a vida toda, com toda a
nós vamos estudar num campus, nós fica- parafernália disponível, sobretudo a eletrô-
mos quatro anos longe da cidade, da vida, nica. Mas isso vai demandar uma reforma
do trabalho para estudar. Acho que isso curricular muito mais radical do que nós
vai mudar muito no futuro, inclusive por estamos imaginando, hoje chamada Parâ-
causa da aprendizagem virtual. A gente não metros Curriculares.
estuda só em certos momentos, em cer-
Um de seus últimos livros publicados trata da teleducação. Que papel têm as novas
tecnologias nessa reforma radical a que o senhor se refere?
Pedro Demo - Primeiro, uma coisa que Se a gente olhar bem, ela é uma aula, não
quero crer que esteja garantida é que o é nada mais que uma aula, muitas vezes
futuro da educação está na teleducação. expositiva. Agora, tem coisas bonitas, por-
Vai ser muito difícil no futuro fazermos que dá uma grande chance de participação
qualquer proposta educacional que não num grande espaço. Você pode conhecer
seja em parte virtual. Não apenas virtual, gente interessante, fazer perguntas, mas, se
isso seria um erro. Mas também não vai a gente lembrar que aprendizagem exige
dar para fazer educação apenas com pre- pesquisa e elaboração própria, então con-
sença física. O grande dilema, hoje muito tinua sendo uma aula. A teleconferência
pouco resolvido, é introduzir na teleduca- é um bom instrumento supletivo, é uma
ção uma real aprendizagem. As pessoas boa proposta de disseminação de conhe-
precisam aprender, não apenas ser informa- cimento, mas não substitui, em hipótese
das. Vou dar o exemplo da teleconferência. nenhuma, a aprendizagem.
Isso me faz pensar em outro conceito que o senhor trabalha, de que a aula não é
o centro da aprendizagem. As novas tecnologias estão decretando o fim das aulas
expositivas e abrindo espaço aos debates, às discussões?
Pedro Demo - É, não precisa brigar com a mais graça, com mais disponibilidade que
aula, porque ela vai recuando naturalmente o professor. Daí não segue que o professor
à medida que a eletrônica assume o espaço não seja importante. Ele é absolutamente
da informação. Transmitir conhecimento é indispensável para a aprendizagem do
uma coisa muito importante para a socie- aluno, para a formação reconstrutiva, polí-
dade, mas o mundo eletrônico faz isso com tica do aluno. Por isso, a aula vai recuar. Eu
até posso dizer que ela não vai desaparecer, “escondido” motiva, provoca a criança. Ela
mas vai ser cada vez mais um componente se desespera, trabalha, dá duro, aprende
supletivo do processo de aprendizagem. muita coisa sem que o livro tenha uma
É impossível colocar a aula no centro da aula, uma prova, e é uma aprendizagem
aprendizagem. soberba. Então, a escola tem que cuidar da
aprendizagem e não dos apoios que os pro-
Um dos exemplos que o senhor dá para fessores acham importantes, em particular
desmistificar a importância da aula é o livro ficar “escondido” atrás da aula. O profes-
O Mundo de Sofia, de Jostein Gaardner. sor de matemática tem o compromisso de
Por que um livro como esse consegue fazer o aluno aprender matemática. O pri-
instigar o aluno a aprender e a aula expo- meiro compromisso dele é garantir que o
sitiva não? aluno aprenda matemática. Ele não pode
ficar satisfeito, realizado, se os alunos não
Pedro Demo - Nós podemos trabalhar aprenderem. Dar aula é fácil, é só despejar
muito melhor também só com textos. Geral- conhecimento, às vezes apenas copiado.
mente, no Brasil, só se faz fichar livros, o que Mas fazer um aluno aprender é a grande
não tem nada de reconstrutivo. E O Mundo arte do professor.
de Sofia mostra bem como um professor
O senhor comentou anteriormente que o mundo eletrônico transmite informações
com mais graça. Como o senhor vê o papel da motivação na aprendizagem?
Pedro Demo - Eu penso que é preciso, de nova geração se sentiria muito mais respei-
todos os modos, motivar os alunos para tada se pudesse construir o conhecimento
a elaboração própria, para buscar a infor- através do texto, como é típico do mundo
mação, para tomar a iniciativa. Porque virtual. Então, os professores precisam se
se a gente tiver um ensino apenas pas- preparar para isso. Certamente os profes-
sivo, como é usual hoje, as crianças não sores mais velhos terão mais dificuldade,
se preparam direito para a vida, pois não mas nunca é tarde para aprender, e acho
conseguem enfrentar coisas novas. Ao que a educação sempre teve diante de si
mesmo tempo, torna-se injusto com as esse desafio de aprender coisas novas. Não
novas gerações, que têm uma percepção vai ser agora que nós vamos falhar nisso.
muito maior pela imagem do que nós, da Temos que dar conta das motivações que
velha geração, que gostamos do texto. A a nova geração prefere.
O senhor considera que saber ler as imagens, compreender a função que elas ocu-
pam na transmissão do saber é uma área do conhecimento já desenvolvida, ou
ainda há muito que fazer nesse campo?
e hoje ninguém mais acha estranho fazer mente prefere pensar através de imagens.
um texto, um livro. Então nós não podemos Isso ajudaria muito a escola, e o trajeto da
estar fechados a essa nova perspectiva. Eu formação em qualquer nível traria maior
estou dizendo que é preciso saber pensar motivação e maior atualização.
não só com texto. A nova geração possivel-
Vitor Casimiro
Exclusivo para o Educacional
Disponível em: <http://www.educacional.com.br/entrevistas/entrevista0035.asp>. Acesso em: 25 abr. 2012.
III
Bem, caro(a) aluno(a), agora que você conhece teorias didáticas que podem
transformar o ensino e a educação, você pode estar se perguntando: como colo-
car todas essas ideias e conceitos em prática? Será que tudo isso não passa de um
monte de teorias que no fundo, não podem ser aplicadas na realidade de sala de
aula? Não, garanto a você que essas abordagens teóricas podem ser praticadas e
que produzem ótimos resultados.
Quem nos auxiliará nessa tarefa é o professor doutor João Luiz Gasparin.
Ele faz parte de um grupo de estudiosos como Saviani, Mizukami e outros que
acreditam no poder transformador da educação. Seus estudos foram compila-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dos por meio da Pedagogia Histórico-Crítica e a seguir, conheceremos melhor
sobre sua didática.
DIDÁTICA HISTÓRICO-CRÍTICA
que o conhecimento adquirido seja neutro e fragmentado, mas lhe atribui uma
expressão complexa com multideterminações capaz de responder, quer de forma
teórica, quer de forma prática, aos novos desafios propostos. Assim, os conte-
údos assumem para alunos e professores um significado real e político, capaz
de produzir reflexões, dúvidas, comparações e divergências em seu processo de
assimilação. Tais capacidades desenvolvem em alunos e professores o que cha-
mamos de consciência crítica. O desenvolvimento desse nível de consciência é
fundamental para compreendermos a educação em sua realidade histórica e, por-
tanto, passível de ser transformada intencionalmente por meio da ação humana.
Mas... ainda podemos perguntar: como fazer isso? Por onde começar? A
Didática Histórico- -Crítica nos oferece algumas alternativas.
O primeiro passo do método é chamado por seu autor, o professor João
Luiz Gasparin, de Prática Social Inicial do Conteúdo. Nesta etapa, realizamos
uma primeira leitura da realidade, um primeiro contato com o conteúdo que
será estudado.
O professor deve então, mobilizar o aluno, buscando despertar seu interesse
pelo assunto. O aluno precisa se sentir instigado, desafiado a conhecer o novo.
Isso acontece com maior facilidade quando o educando percebe alguma relação
entre o conteúdo e sua vida cotidiana. Daí, a necessidade de conhecermos a rea-
lidade de nossos alunos, as necessidades da comunidade escolar.
Depois de estabelecer um vínculo entre o conteúdo e a realidade do aluno,
o professor precisa pesquisar o quanto do assunto seus alunos já conhecem.
Chamamos isso de levantamento prévio de conhecimento do grupo ou classe. Isso
pode acontecer de várias formas: em conversas informais, debates, questionários,
Didática Histórico-Crítica
III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
a consciência da realidade e começa a vê-la como um todo, cheia de inter-rela-
ções e de interações.
O segundo passo da problematização consiste no questionamento desta
realidade e do conteúdo. Professores e alunos devem ser capazes de juntos, esta-
belecerem uma ligação entre o conteúdo e os aspectos sociais. Por isso, a escola
deve trabalhar com as dificuldades e os desafios da sociedade atual. Assim, o
conhecimento passa a ser entendido como uma forma teórica de responder, ou
resolver as necessidades da realidade.
Gasparin (2007, p. 49) ainda esclarece que:
A problematização representa um desafio para professores e alunos.
Trata-se de uma nova forma de considerar o conhecimento, tanto em
suas finalidades sociais quanto na forma de comunicá-lo e reconstruí-
-lo. Para o professor implica uma nova maneira de estudar e preparar o
que será trabalhado com os alunos: o conteúdo é submetido a dimen-
sões e questionamentos que exigem do mestre uma reestruturação do
conhecimento que já domina.
Para que o conhecimento seja significativo para o aluno, como nos aponta Masetto,
os problemas sociais que foram detectados na prática social precisam ser retoma-
dos e relacionados com os novos conhecimentos teóricos e práticos adquiridos
pelo educando. Assim, ele compreende que o conteúdo foi ensinado e apren-
dido em função de uma determinada necessidade social.
Se na Instrumentalização a prática pedagógica que mais incentiva a apren-
dizagem significativa é a análise, na próxima etapa de nosso método, (a Catarse)
a atividade fundamental é a síntese.
Nesta fase, o aluno manifesta tudo que aprendeu, assimilou e produziu. A
catarse é a síntese de todas as etapas do processo de aprendizagem pelo qual ele
passou até apropriar-se do novo conhecimento.
Este também é o momento de realizarmos a avaliação. No entanto, esta ava-
liação não pode ser vista como simples prova, ou teste. Ela precisa ser concebida
como expressão de todas as etapas passadas para a construção de determinado
conhecimento científico. Portanto, este tipo de avaliação não ocorre só nesta
fase, mas durante todo o processo de ensino. Para isso, o professor precisa estar
atento e preparado para utilizar instrumentos e técnicas adequadas, capazes de
demonstrar o que o aluno aprendeu e não o contrário.
Na catarse, o educando é capaz de situar as questões sociais levantadas no
início e trabalhadas nas demais fases. Isto lhe oferece uma nova visão da reali-
dade, enxergando-a em sua totalidade e percebendo que não aprendeu apenas
Didática Histórico-Crítica
III
um conteúdo a mais, mas algo que tem significado e utilidade para a sua vida.
Precisamos deixar claro para nossos alunos que as matérias ensinadas na
escola são produtos sociais e históricos. É preciso que eles saibam por que deter-
minado conteúdo surgiu e como ele serve ainda hoje para a continuidade da
nossa cultura. Compreendido isto, chegamos quase ao fim do nosso processo
didático, na qual o aluno retorna a prática social.
Gasparin (2007, p. 145) nos esclarece que a Prática Social Final “representa
a transposição do teórico para o prático dos objetivos dados ao conteúdo e aos
conceitos adquiridos”.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Segundo as explicações de Gasparin, podemos perceber que docentes e dis-
centes se transformaram durante o processo de construção de conhecimento.
Eles passaram de um estágio de menor compreensão científica para outra fase
de maior clareza. Saviani (1999, p.82) afirma que mesmo em pequena escala
deve ser oferecido ao aluno condições para que o entendimento teórico se tra-
duza em atos. Somente assim, alcançaremos um novo uso social dos conteúdos
aprendidos na escola.
Vale esclarecer que, desenvolver ações reais, não significa somente ter atitu-
des práticas como reciclar o lixo, economizar água... implica também em uma
mudança de conduta, provocada por novos processos mentais como compre-
ensão ampla da realidade, análise mais crítica das ideias e fatos. Significa uma
nova ação mental.
Creio que assim, descobriremos como os conhecimentos escolares têm força
e peso nas transformações sociais. O ponto de partida para essa transformação,
não será a escola, nem a sala de aula, mas sim a realidade social ampla, como
nos ilustra Gasparin (2007):
A leitura crítica dessa realidade torna possível apontar um novo pensar
e agir pedagógicos. Deste enfoque, defende-se o caminhar da realidade
social, como um todo, para a especificidade teórica da sala de aula e
desta para a totalidade social novamente, tornando possível um rico
processo dialético de trabalho pedagógico (pp.3-4).
primeiro passo reconhecer a prática social dos alunos, verificar seus percalços e
problemas. Conhecer a vivência de nossos alunos, para além dos muros da escola,
possibilita uma tomada de consciência de ambas as partes. Após esta tomada
de consciência, sobre nossa realidade social, professores e alunos devem iniciar
a busca de conhecimentos científicos (conteúdos significativos) que ilumine e
aponte soluções para a realidade cotidiana.
Com efeito, como diz Sánchez Vázquez (1968),
A teoria em si não transforma o mundo. Pode contribuir para a sua
transformação, mas para isso tem que sair de si mesma, e, em primeiro
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
lugar, tem que ser assimilada pelos que vão ocasionar, com seus atos
reais, efetivos, tal transformação. Entre a teoria e a atividade prática
transformadora se insere um trabalho de educação das consciências,
de organização dos meios materiais e planos concretos de ação: tudo
isso com passagem indispensável para desenvolver ações reais, efeti-
vas. Nesse sentido, uma teoria é prática na medida em que materializa,
através de uma série de mediações, o que só antes existia idealmente
(pp. 206-207).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
III
forma de tópicos, as principais ações apontadas por Behrens (2009, p. 109), para
instrumentalizar a prática das teorias inovadoras.
■■ Reduzir gradativamente o espaço das aulas teóricas, procurando utili-
zar o maior tempo disponível para a pesquisa, a busca de informações,
o acesso a banco de dados, para fundamentar a construção de ativida-
des de textos próprios.
■■ Organizar atividades diferenciadas, de eventos que demandem criação,
projetos desafiadores que provoquem enfrentamento, diálogo com auto-
res e construção própria.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
■■ Buscar resultados consensuais, nos seminários, nas discussões coletivas,
nas proposições de grupo, como exercício efetivo de cidadania, instru-
mentalizando a vivência do voto e do consenso como recurso para a vida
em comunidade.
■■ Provocar a utilização dos meios eletrônicos, de informática, de multimí-
dia e de telecomunicações com recursos disponíveis no complexo escolar.
■■ Valorizar mais a elaboração própria, a construção coletiva, a apresenta-
ção de textos, as propostas criativas. Dar um peso muito menor a provas
e questionários.
■■ Dinamizar o espaço escolar aproveitando os recursos da comunidade, a
experiência vivenciada dos alunos, dos pais e dos professores.
■■ Estimular o uso da biblioteca e dos laboratórios para que os alunos pes-
quisem, estudem, discutam e critiquem, aprendendo a ler de modo
questionador, construindo argumentos e textos, e discutindo com seus
pares os caminhos conquistados.
■■ Ter a preocupação de demonstrar e valorizar o lado prático dos conhe-
cimentos propostos.
■■ Discutir acentuadamente os espaços nos quais os conteúdos serão
utilizados.
■■ Aliar procedimentos teóricos a vivência de práticas.
■■ Propor construção própria de textos com os avanços detectados pelos
estudantes em suas jornadas acadêmicas.
■■ Criar, para o aluno, e com o aluno, uma escola que apresente um ambiente
inovador, transformado e participativo, em que o aluno seja reconhecido
como sujeito capaz de propor e inovar.
■■ Reconhecer o aluno como um todo e como sujeito de sua própria
aprendizagem.
■■ Correr riscos, ousar, ir em busca da plenitude do ensino.
Considerações Finais
1. Ao iniciarmos nossos estudos sobre a Didática, nos preocupamos em compre-
ender uma função social da escola conhecida como “marginalização”. De acordo
com nossos estudos, explique como a escola se apresenta como reprodutora da
marginalização.
2. A Pedagogia Histórico-Crítica defende a concepção histórica de homem e de
educação. De acordo com essa teoria, explique esses dois conceitos.
3. Encontramos na Didática Histórico-Crítica, apresentada pelo Prof. João Luiz Gas-
parin, uma teoria marcada pela concepção crítica de homem, que leva em conta
suas necessidades, anseios e culturas. Ela divide o processo de ensino-aprendi-
zagem em cinco etapas. Explique, com suas palavras, como se desenvolve cada
uma dessas etapas.
102 - 103
MATERIAL COMPLEMENTAR
O que se espera do educador diante de tantas abordagens de ensino? Assista ao vídeo abaixo
e reflita!
<http://www.youtube.com/watch?v=NpAJOtjY6J4&feature=related>.
Aprender bem/mal
Pedro Demo
Editora: Autores Associados
Edição: 1ª (2009)
Páginas: 102
Analistas apressados continuam somando “anos de estudo”,
ignorando que se trata de “anos sem estudo” [...]. E se for
progredido a cada série sem nada ter aprendido, estamos
somando o nada. Aumentamos, assim mesmo, a escolaridade,
mas isso quer dizer pouco, já que os alunos não aprendem
minimamente. [...] Os problemas são grandes demais para
pretendermos enfrentá-los com fórmulas simples ou prontas, sem
falar que educação é política social sempre de longo prazo.
Disponível em: <http://www.autoresassociados.com.br/livro/520/aprender-bememal>.
Acesso em: 25 abr. 2012.
Material Complementar
Professora Me. Ionah Beatriz Beraldo Mateus
O PLANEJAMENTO
IV
UNIDADE
ESCOLAR
Objetivos de Aprendizagem
■■ Reconhecer a importância do planejamento escolar.
■■ Analisar diferentes modelos de planejamento.
■■ Identificar e diferenciar o plano de aula, o plano de ensino e o plano
da escola.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Ressignificando as aulas
■■ A importância do planejamento
■■ Os principais tipos de planejamento
106 - 107
INTRODUÇÃO
RESSIGNIFICANDO AS AULAS
A tarefa de planejar nem sempre é vista com bons olhos pelos professores. Digo
isso me baseando em minha própria experiência docente. Ao longo dos dezesseis
Introdução
IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
e que o planejamento não tinha significado
©shutterstock
O PLANEJAMENTO ESCOLAR
108 - 109
para completar sua carga horária que acabam impedindo-o de executar e elabo-
rar um plano mínimo de trabalho.
Encaradas as dificuldades, precisamos iniciar a busca das soluções e a pri-
meira apontada por Libâneo (2008), implica em ressignificar a aula. Para o autor, a
aula é o centro do processo de ensino e por isso, precisa ser muito bem planejada.
No entanto, na maioria das vezes que pensamos em uma aula, nos vem em
mente a imagem de um professor expondo conteúdos e mais conteúdos diante
de uma sala inerte e silenciosa. É a típica imagem de uma aula expositiva e tra-
dicional, muito comum ainda nos dias de hoje. De acordo com as discussões
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Ressignificando as Aulas
IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
■■ Desenvolvimento das possibilidades de aproveitamento escolar de todos
os alunos, diferenciando e individualizando o ensino para atingir níveis
relativamente iguais de assimilação da matéria;
■■ Valorização da sala de aula como meio educativo, para formar as quali-
dades positivas de personalidade dos alunos;
■■ Condução do trabalho docente na classe, tendo em vista a formação do
espírito de coletividade, solidariedade e ajuda mútua, sem prejuízo da
atenção ás peculiaridades de cada aluno.
De acordo com essas exigências, a aula passa a ser um trabalho intencional e que
exige muito planejamento, estruturação e organização para atingir os objetivos
de ensino. No entanto, isso não significa que o plano enrijeça as possibilidades
didáticas, ao contrário, o planejamento fornece informações e dados importan-
tes capazes de selecionar o passo didático mais adequado para iniciar a aula, para
escolher os recursos disponíveis e avaliar os resultados obtidos. Por causa disso,
se torna importante planejar e estruturar bem uma aula.
Segundo Libâneo (2008), a estruturação didática de uma aula depende dos
seguintes passos: preparação e introdução da matéria, tratamento didático do
assunto novo, consolidação e aprimoramento dos conhecimentos, aplicação,
controle e avaliação.
A preparação da matéria é a fase que determina desde a preparação e estudo
do professor até a preparação dos alunos e a efetivação dos objetivos seleciona-
dos. Para Libâneo (2008), ela inicia no momento em que o professor se organiza,
se prepara, por meio do planejamento para dar aula. Essa preparação assegura a
qualidade do ensino e da própria aula, pois organiza a matéria, o tempo disponível
O PLANEJAMENTO ESCOLAR
110 - 111
para trabalhá-la, mostra quais são os objetivos a atingir, as atividades que serão
aplicadas e os recursos auxiliares.
Os alunos também precisam ser preparados para aprender. Por isso, no iní-
cio da aula é necessário mobilizar a atenção dos alunos, motivá-los a estudar e
conhecer o novo assunto. Vimos por meio da Didática Histórico-Crítica (uni-
dade III) que isso se torna mais fácil quando relacionamos os conhecimentos
prévios dos alunos com o novo assunto.
Portanto, a motivação inicial pode ser feita mediante perguntas que indi-
quem ao professor o quanto da matéria os alunos já conhecem. Esse é o momento
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
que, segundo Libâneo (2008), serve para estimular o raciocínio dos alunos,
instigá-los a emitir opiniões e conceitos próprios, ligar o conteúdo a coisas ou
acontecimentos do cotidiano.
É nesse momento que se faz a introdução da matéria. Ela serve para ligar,
conectar a matéria velha com a nova. Não é ainda a apresentação ou ensino pro-
priamente dito da matéria nova. É o momento anterior de se estabelecer relações
entre os conhecimentos que os alunos já possuem com o que será ensinado. Isso
permite a criação de vínculos entre o conteúdo e as necessidades da prática, ou
da experiência dos alunos. Libâneo (2008, p. 182) afirma que o melhor proce-
dimento para isso é:
Apresentar a matéria como um problema a ser resolvido, embora
nem todos os assuntos se prestem a isso. Mediante perguntas, trocas
de experiências, colocação de possíveis soluções, estabelecimento de
relações causa-efeito, os problemas atinentes ao tema vão se encami-
nhando para tornar-se também problemas para os alunos em sua vida
prática. Com isso vão sendo apontados conhecimentos que são neces-
sários dominar e as atividades de aprendizagem correspondentes.
Ressignificando as Aulas
IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
aproe fundada por meio da abstração e generalização, até consolidar con-
ceitos sobre os objetos de estudo;
■■ Sistematização das ideias e conceitos de um modo que seja possível ope-
rar mentalmente com eles em tarefas teóricas e práticas, em função da
matéria seguinte e em função da solução de problemas novos da maté-
ria e da vida prática.
Por meio desses passos, os conhecimentos vão sendo assimilados e isso exige
frequentes exercícios, recapitulações e inclusive a volta às etapas citadas acima.
Depois de transmitidos os conteúdos e iniciado o processo de assimilação
dos mesmos, é preciso que eles sejam fixados na mente dos alunos. Com isso,
entramos na terceira etapa proposta por Libâneo (2008) denominada consoli-
dação e aprimoramento dos conhecimentos e habilidades.
Nesse momento da estruturação da aula é importante aprimorar a formação
de habilidades e hábitos para a utilização independente e criadora dos conhe-
cimentos. No entanto, nosso autor nos chama atenção para o fato de que este
importante momento do ensino, tem sido reduzido na maioria das escolas à repe-
tição mecânica do ensinado. Esse processo garante apenas a memorização do
conteúdo até a próxima prova e é feito de forma retilínea, mediante regras deco-
radas que não mobilizam atividades intelectuais como o raciocínio e a criticidade.
Para que haja a consolidação dos conhecimentos é importante que existam
exercícios de fixação, mas não apenas isso. O processo precisa ser mais rico e
completo. É preciso envolver a recapitulação da matéria de diferentes formas, a
tarefa de casa e o estudo dirigido. Logicamente que todas essas atividades depen-
dem de que o aluno tenha compreendido bem a matéria, do contrário podem
O PLANEJAMENTO ESCOLAR
112 - 113
Ressignificando as Aulas
IV
■■ L
igação dos conteúdos da matéria aos fatos e acontecimentos da vida
social e aos conhecimentos e experiências da vida cotidiana dos alunos,
de modo que a realidade social concreta suscite problemas e perguntas a
serem investigados no processo de transmissão\assimilação da matéria e
em relação aos quais se dá a aplicação de conhecimentos.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
como um processo sistemático e contínuo”. Isso significa que todo percurso da
aula possui informações e manifestações de aprendizagem que devem ser obser-
vadas e registradas pelo professor. Esses resultados parciais indicam aos alunos
e professores se os objetivos construídos estão sendo alcançados e em que grau
de desenvolvimento se encontra os estudantes.
No entanto, Libâneo (2008) acredita ainda que a avaliação cumpre ainda
outras três funções: a função pedagógica, diagnóstica e de controle.
A função pedagógica se refere ao cumprimento dos objetivos e a análise dos
meios e das condições necessárias para atingi-los. Este, aliás, é o ponto de par-
tida para as demais funções da avaliação. A função diagnóstica trata da análise
das ações dos professores e alunos com o objetivo de verificar os desvios e acer-
tos ocorridos no processo de construção de conhecimentos. Por esse motivo, a
avaliação permeia todas as fases da aula e assegura a aplicação de métodos e con-
teúdos coerentes aos objetivos eleitos.
Por fim, a função de controle se refere à comprovação dos resultados da
aprendizagem dos alunos. Por meio dessa etapa é possível verificar o aprovei-
tamento escolar e atribuir valor, notas ou conceitos ao trabalho realizado pelos
alunos. No entanto, essa nota, ou conceito, não avalia apenas o rendimento do
aluno, ela reflete todo o trabalho conjunto de docentes e discentes.
Encarando a avaliação dessa forma, evitamos o erro de utilizá-la como um
instrumento isolado, vista somente pelo aspecto classificatório e vazio. A ava-
liação completa e diagnóstica permite ao aluno, o controle e o conhecimento de
suas próprias atividades, uma vez que são sujeitos participantes e ativos no pro-
cesso de aprendizagem.
O PLANEJAMENTO ESCOLAR
114 - 115
Por meio dessa proposta de ressignificação das aulas, podemos notar que
esse processo fica inviável sem um planejamento. Afinal, como iniciar um conte-
údo, aplicá-lo na prática social e avaliar o rendimento dos alunos sem um plano
claro e real? É exatamente isso que veremos agora...
A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Gadotti (2006) define o planejamento como uma tarefa docente que inclui tanto
a previsão das atividades didáticas quanto a revisão e a adequação dos objetivos
propostos no processo de ensino. Dessa forma, podemos notar que o plano é
um instrumento capaz de programar as ações docentes, mas também se define
como um momento de pesquisa, reflexão e avaliação.
Diante do processo de planejar, encaramos o ato de ensinar como uma ati-
vidade consciente e organizada. Tal postura nega completamente as concepções
apontadas por alguns professores no início desta unidade. Ela rejeita o improviso,
a falta de informações específicas, a incapacidade de orientar pesquisas e dúvidas.
Mas, para que um plano seja um instrumento de orientação prática, ele pre-
cisa ser também compreendido em seu contexto social. Isso quer dizer que os
elementos do planejamento, professores e alunos, são integrantes de uma dinâ-
mica social atravessada por influências econômicas, políticas e culturais. Por
essa razão, o plano é uma atividade de reflexão e de escolhas acerca de nossas
opções e ações. Do contrário, nos alerta Gadotti (2006, p.142), “se não pensar-
mos detidamente sobre o rumo que devemos dar ao nosso trabalho, ficaremos
entregues aos rumos estabelecidos pelos interesses dominantes na sociedade”.
Isso significa que o ato de planejar se torna vazio quando nossas próprias prá-
ticas pedagógicas são vazias. Professores comprometidos, que fazem do ensino
um ato político e libertador compreendem o quanto tais atividades exigem orga-
nização, métodos e pesquisas constantes.
Dessa forma, a ação de planejar não se reduz ao preenchimento mecânico
de formulários e outros documentos para controle administrativo. É antes, como
A Importância do Planejamento
IV
afirma nosso autor, “uma atividade consciente de previsão das ações docentes,
fundamentadas em opções político-pedagógicas, e tendo como referência perma-
nente as situações didáticas concretas, ou seja, os problemas sociais” (GADOTTI,
2006, p. 143).
Para Libâneo (2008, p. 223), o planejamento tem as seguintes funções:
■■ Explicitar princípios, diretrizes e procedimentos de trabalho docente que
assegurem a articulação entre as tarefas da escola e as exigências do con-
texto social e do processo de participação democrática.
■■ Expressar os vínculos entre o posicionamento filosófico, político-pedagó-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
gico e profissional e as ações efetivas que o professor irá realizar na sala
de aula, através de objetivos, conteúdos, métodos e formas de organiza-
tivas do ensino.
■■ Assegurar a racionalização, organização e coordenação do trabalho
docente, de modo que a previsão das ações docentes possibilite ao pro-
fessor a realização de ensino de qualidade e evite a improvisação e a rotina.
■■ Prever objetivos, conteúdos e métodos a partir da consideração das exi-
gências postas pela realidade social, do nível de preparo e das condições
sócio-culturais e individuais dos alunos.
■■ Assegurar a unidade e a coerência do trabalho docente, uma vez que
torna possível inter-relacionar, num plano, os elementos que compõem
o processo de ensino: os objetivos (para que ensinar), os conteúdos (o
que ensinar), os alunos e suas possibilidades (a quem ensinar), os conte-
údos (o que ensinar), os alunos (a quem ensinar), os métodos e técnicas
(como ensinar) e a avaliação, que está intimamente relacionada aos demais.
■■ Atualizar os conteúdos do plano sempre que é revisto, aperfeiçoando-o
em relação aos progressos feitos no campo de conhecimentos, adequan-
do-o às condições de aprendizagem dos alunos, os métodos, técnicas e
recursos de ensino que vão sendo incorporados na experiência cotidiana.
■■ Facilitar a preparação de aulas: selecionar o material didático em tempo
hábil, saber que tarefas professor e alunos devem executar, replanejar o
trabalho frente a novas situações que aparecem no decorrer das aulas.
O PLANEJAMENTO ESCOLAR
116 - 117
A partir das funções do plano indicadas acima por Libâneo, podemos tirar algu-
mas conclusões. A primeira delas é que o planejamento serve de orientação para
o professor. Ele assegura os meios e as diretrizes de realização do ensino. Auxilia
ainda como um guia das relações práticas, mostrando as necessidades reais da
sala de aula. Exatamente por isso é que o planejamento não pode se tornar um
documento rígido, inflexível e absoluto. Afinal, o ensino está sempre se transfor-
mando, as necessidades da turma e dos docentes estão sempre em movimento
e são exatamente estas mudanças que garantem a autenticidade e a atualidade
do planejamento.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A Importância do Planejamento
O PLANEJAMENTO DEVE SER FLEXÍVEL
Sustos, como descobrir que a turma não está no nível imaginado, pedem uma mudança
de rumos
Arthur Guimarães (<novaescola@atleitor.com.br>)
Por mais bem fundamentado que seja o de cada aula, o professor pode criar o
planejamento escolar, o professor precisa hábito de fazer anotações sobre o anda-
ter consciência de que alguns imprevis- mento das rotinas, comparando o que foi
tos podem surgir ao longo do ano letivo inicialmente previsto e o que realmente
(e esses sinais não devem ser ignorados). aconteceu. Aqui, podem entrar observa-
É importante que haja uma avaliação ções a respeito de grupos mais avançados
constante do processo de ensino, com o e até sobre conteúdos que pareciam total-
educador sempre alerta para diagnosticar mente dominados. A escrita leva a pensar.
obstáculos encontrados e medir o ritmo É inclusive um momento em que fica claro
de avanço das atividades sobre os temas ao docente se suas explicações surtiram
programados. efeito ou não ajudaram no entendimento
dos conceitos trabalhados. Nos registros,
Os assuntos trazidos no dia-a-dia pelos alu- entram ainda as cartas que foram tiradas
nos, como notícias da televisão ou dilemas da manga para contornar eventuais sustos
pessoais e familiares, também precisam ter durante a aula. “Ao escrever, você cria uma
um tempo reservado para serem debatidos distância do que foi feito, o que ajuda na
- se possível relacionando-os aos conte- reflexão sobre os procedimentos utilizados”,
údos curriculares, mas logicamente sem explica Neide Noffs, professora de Didática
forçar conexões distantes. O cuidado de e Metodologia do Ensino da Pontifícia Uni-
monitorar as aulas e o comportamento dos versidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
estudantes periodicamente é determinante “É com essa prática que o profissional con-
para perceber a necessidade de pequenos segue ter noção dos limites da flexibilidade
ajustes, pausas, acelerações, mudanças de do planejamento. Ele deve se perguntar se
rota ou mesmo a retomada de algumas sua explicação surtiu efeito e os objetivos
informações que não foram aprendidas de foram alcançados. Se não foram, cabe cogi-
forma consistente pela turma. “É uma ques- tar alguma alteração de rota”, argumenta.
tão de bom senso. O planejamento inicial
é feito sem que o docente conheça seus A especialista cita o francês Yves Chevallard
alunos. É com a interação e com o próprio para embasar seu entendimento de que
tato que o educador vai perceber o que vai as mudanças de percurso são bem-vin-
manter ou não”, explica Benigna Freitas, do das. “Um conteúdo de saber que tenha
Programa de Pós-Graduação em Educação sido definido como saber a ensinar sofre,
da Universidade de Brasília (UnB). a partir de então, um conjunto de trans-
formações adaptativas que irão torná-lo
As avaliações são a principal ferramenta apto a ocupar um lugar entre os objetos de
para saber quando improvisar. Depois ensino. O ‘trabalho’ que faz de um objeto de
118 - 119
saber a ensinar um objeto de ensino é cha- falta de tempo para o educador se plane-
mado de transposição didática”, escreveu jar. E os sistemas escolares burocratizam o
o educador. Neide acredita que conhecer ensino. Fica a impressão de que com um
a realidade dos alunos é um fator funda- roteiro rígido e rotineiro se erra menos. O
mental nessa transformação do saber. “O problema é que muitas vezes o aprendi-
conhecimento científico, por exemplo, não zado passa a ser significativo exatamente
deve ser repetido em classe exatamente quando você faz uma pausa para contex-
do jeito como está nos livros. As informa- tualizar certo tema, fugindo do script”, diz
ções precisam ser trabalhadas e preparadas Newton Bryan, professor de Planejamento e
para serem repassadas aos estudantes. E é Gestão Educacional da Faculdade de Educa-
elementar entender quem são esses estu- ção da Universidade Estadual de Campinas
dantes. Por isso, enquanto se aprendem (Unicamp).
quem são eles e o que sabem, podem ocor-
rer desvios de rota”, analisa. Segundo ele, no entanto, devem ser toma-
dos cuidados na hora de incluir novos
Outros fatores, menos ligados ao nível de assuntos na pauta. “Ignorar não é o caso.
conhecimento dos alunos, também podem São muitos games, vídeos e seriados que
influenciar a rotina desenhada. A previsão podem servir de inspiração. Mas é preciso
inicial de que as atividades devem ter con- ter uma boa formação para dar guinadas
tinuidade com tarefas como a lição de casa consideráveis. Um docente que não tem
pode não ser concretizada. “Por motivos total habilidade com a geografia pode-
variados, acontece de algumas crianças não ria ser um fracasso tentando relacionar os
conseguirem fazer essa extensão dos estu- conteúdos da disciplina com a catástrofe
dos, o que as deixaria desamparadas no causada pelas chuvas em Santa Catarina”,
trabalho com um conteúdo que demanda pondera o especialista. Benigna também
teoricamente um complemento do estudo foca nesse ponto. “A escola precisa saber
fora da escola”, diz a professora da PUC-SP. o que é fundamental para ser trabalhado
e o que é secundário. Não está certo dei-
Acontecimentos cotidianos relatados xar tudo de lado para discutir determinado
na mídia ou mesmo eventos marcan- assunto sem nenhuma programação nem
tes na comunidade igualmente podem vínculo com o currículo. O peso de cada
- e devem - ser relacionados aos conteú- coisa precisa ser medido pelo educador
dos curriculares, o que muitas vezes pede sem exageros”, avalia a professora da UnB.
uma interrupção no combinado. “Há uma
Por que ser flexível: O professor que não faz um planejamento maleável corre o risco
de não alcançar seus objetivos.
■■ Os alunos são a referência para a elaboração de um plano. É preciso acom-
panhar o desenvolvimento deles.
■■ O plano é uma previsão, sujeita a erros. Daí a importância em mudar.
Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/planejamento-e-avaliacao/planejamento/planejamento-
flexivel-427866.shtml>. Acesso em: 25 abr. 2012.
120 - 121
A Importância do Planejamento
IV
©shutterstock
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Gil (2009) nos informa que existem três tipos básicos de planejamento: o plano
da escola, o plano de ensino e o plano de aula. O plano de aula é um documento
mais formal e global que indica as intenções e orientações gerais do Projeto
Político-Pedagógico da escola. As orientações expressas por esse documento
devem estar em concordância com o plano de ensino. O plano de ensino des-
taca os objetivos e as tarefas a serem realizadas pelo professor no período de um
ano ou um semestre. É no plano de ensino que se elege a metodologia adequada
para cumprir com as tarefas apontadas nos objetivos gerais e específicos dos con-
teúdos. Já o plano de aula estabelece uma previsão das atividades realizadas em
uma aula ou em um conjunto de aulas para dar conta de um conteúdo. Por esse
motivo ele é bem específico.
No entanto, Libâneo (2008) nos alerta que o planejamento, por si só, não
assegura o andamento do processo de ensino. Como vimos na unidade II, os
processos de ensino são muito mais complexos e dependem do trabalho con-
junto entre direção, coordenação de ensino, professores, pais e alunos. Mas o
fato é que a ação docente se torna muito mais eficaz quando é bem planejada
e de acordo com o que veremos a seguir, os diferentes tipos de plano apresen-
tados nesta unidade são complementares e enriquecem o trabalho pedagógico
na medida em que o professor os analisa em conjunto e utiliza tais informações
para avaliar sua própria prática. A seguir, conheceremos mais profundamente
o plano da escola.
O PLANEJAMENTO ESCOLAR
122 - 123
O PLANO ESCOLAR
O Plano Escolar
IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
educação das crianças, motivações e expectativas profissionais, lin-
guagem, recreação, meios de comunicação etc.;
5. Objetivos educacionais gerais da escola quanto à(s):
■■ Aquisição de conhecimentos e habilidades;
■■ Capacidades a serem desenvolvidas;
■■ Atitudes e convicções.
6. Diretrizes gerais para a elaboração do plano de ensino:
■■ Sistema de matérias – estrutura curricular;
■■ Critérios de seleção de objetivos e conteúdos;
■■ Diretrizes metodológicas gerais e formas de organização do ensino;
■■ Sistema de avaliação.
7. Diretrizes quanto à organização e à administração:
■■ Estrutura organizacional da escola;
■■ Atividades coletivas do corpo docente: reuniões pedagógicas, con-
selho de classe, atividades comuns;
■■ Calendário e horário escolar;
■■ Sistema de organização de classes;
■■ Sistema de acompanhamento e aconselhamento dos alunos;
O PLANEJAMENTO ESCOLAR
124 - 125
O PLANO DE ENSINO
Para Gil (2009) o plano de ensino é um roteiro que tem por função organizar
os conteúdos didáticos de um ano ou semestre. Ele contém os seguintes com-
ponentes: justificativa da importância da disciplina, objetivos gerais, objetivos
específicos, conteúdos, tempo utilizado para desenvolver determinado conte-
údo e desenvolvimento metodológico. Sua elaboração pode ser apresentada de
acordo com o quadro abaixo.
DISCIPLINA?
Serie?
Ano:
Número:
Sementre letivo:
O Plano de Ensino
IV
DISCIPLINA?
Professor:
Justificativa da disciplina:
Objetivos Gerais
Objetivos
Específicos
Conteúdos
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N° de aulas
Desenvolvimento
Bibliografia
Fonte: elaborado pela autora
O PLANEJAMENTO ESCOLAR
126 - 127
A partir das orientações de Libâneo podemos notar que quanto mais cuidadosa-
mente for formulado o conjunto dos conteúdos, mais facilmente podemos extrair
deles os objetivos específicos e os métodos de ensino. Aliás, nossa próxima etapa
do plano de ensino será a elaboração de objetivos específicos.
Como já vimos anteriormente, os objetivos específicos vão orientar o tra-
balho do professor em relação à aprendizagem. Eles podem, inclusive, alterar os
conteúdos e métodos para que sejam alcançados. Exatamente por ter essa força,
O Plano de Ensino
IV
é que devem ser sempre comunicados aos alunos. Esse processo orienta tam-
bém o esforço da turma para que atuem em conjunto e não percam a direção.
Ao descrever os objetivos, devemos registrá-los em linguagem afirmativa,
deixando claro, o resultado esperado dos alunos ao fim daquela unidade didática.
Os resultados se referem às habilidades, ou conhecimentos necessários aos alu-
nos para desenvolver suas capacidades intelectuais. Por isso, os objetivos devem
ser selecionados e escritos com muita clareza, indicando pontualmente o que o
aluno deve realmente aprender.
Os objetivos precisam ainda ser realistas, ou seja, manifestar resultados
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
que são possíveis de ser alcançados no tempo e nas condições existentes para o
ensino. Sua formulação e seu conteúdo devem corresponder ao nível de apren-
dizagem dos alunos e levar em conta a faixa etária e o desenvolvimento mental
dos mesmos. Caso estes aspectos passem despercebidos pelo professor, os obje-
tivos podem desmotivar os alunos ou tornarem-se utópicos.
Vejamos alguns exemplos do registro dos objetivos no plano de ensino:
■■ Observar e identificar, em diferentes ambientes (casa, comércio, escola),
a utilidade da água.
■■ Reconhecer os diferentes tipos de água como salgada, potável, poluída,
doce e outros.
■■ Demonstrar a importância da água para os seres vivos em geral.
■■ Saber aplicar adequadamente medidas de preservação da água.
O PLANEJAMENTO ESCOLAR
128 - 129
PLANO DE AULA
Vimos no início desta unidade que a aula é o centro do processo de ensino. Ela
é a forma predominante de estruturação do ensino e para isso, devemos orga-
nizar e criar condições necessárias para que haja aprendizagem. Sendo assim, o
plano de aula é um detalhamento do plano de ensino. As unidades (ou tópicos)
previstas no plano de ensino serão agora mais detalhadas e especificadas para
uma situação real de sala de aula. O plano de aula é o momento em que o pro-
fessor prepara e organiza sua aula. Essa é uma tarefa indispensável do professor
pois, além de oferecer orientações teóricas e práticas, permite ao docente revi-
sar e avaliar o desenvolvimento do ensino.
Segundo Gil (2009), para a elaboração do plano de aula é preciso levar
em conta primeiro que a aula tem um tempo previsto de desenvolvimento.
Plano de Aula
IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
objetivo(s), levando em conta os resultados esperados na aquisição de habili-
dades ou conhecimentos. Com o intuito de assegurar a conquista dos objetivos
elencados, o professor deve realizar constantes avaliações. No entanto, são indis-
pensáveis a aplicação da avaliação no início de cada fase do plano de aula e no
final dele.
A avaliação inicial tem o intuito de coletar informações a respeito do quanto
os alunos já conhecem do conteúdo. Essa informação é bastante importante
para que o docente inicie a matéria do ponto ideal, ou seja, nem acima do que
os alunos necessitam e nem abaixo. Já a verificação final pretende avaliar o ren-
dimento do aluno, destacando seus pontos fracos e fortes em relação à matéria.
Essa avaliação permite ao professor conhecer o quão do conteúdo foi assimilado
e se existe a necessidade de novas explicações e revisões.
Libâneo (2008) nos lembra:
O professor consciencioso deverá fazer uma avaliação da própria aula.
Sabemos que o êxito dos alunos não depende unicamente do professor
e de seu método de trabalho, pois a situação docente envolve muitos
fatores de natureza social, psicológica, o clima geral da dinâmica da
escola etc. Entretanto, o trabalho docente tem um peso significativo
ao proporcionar condições efetivas para o êxito escolar dos alunos (p.
243).
Concordando com nosso autor, gostaria ainda de esclarecer que a avaliação das
próprias aulas é o que garante ao professor a consciência de seu próprio trabalho,
de seu fazer pedagógico. É mediante a autoavaliação que adquirimos instrumentos
que nos orientam sobre a realidade de nosso desempenho, sobre o comprome-
timento e a competência de nossas aulas.
O PLANEJAMENTO ESCOLAR
130 - 131
Para exemplificar tudo o que foi dito até aqui, analisaremos um modelo de
plano de aula indicado e elaborado por Gasparin (2007, pp.125-126).
PLANO DE AULA
gasoso.
distingui-la de laboratórios; Livros, revistas e
outros líquidos
Pesquisa Biblio- filmes
do cotidiano.
gráfica.
OBJETIVOS CONTEÚDOS DIMENSÕES AÇÕES RECURSOS
Entender a Importância da Conceitual; Visitas às esta- Filmes.
água como um água para as Social; ções de água. Estação de
recurso natural pessoas e para Entrevistas. tratamento de
Econômica;
em suas dimen- a agricultura. água .
Política. Discussões
sões econômi-
sobre a cota de Livros.
cas, políticas e
água.
histórica.
Analisar o Ciclo da água Conceitual; Debate sobre Pluviômetro.
ciclo da água, na natureza. Científica; um filme Filme.
buscando com- relacionado ao
Social. Laboratório.
preender sua tema .
influência sobre Realização de
o homem. experiências em
laboratórios.
Aplicar os Poluição e Conceitual; Visitas a rios Rios.
conhecimen- purificação da Científica; poluídos e a Entrevista com
tos adquiridos água. rios limpos. autoridades.
Estética;
economizando Debate sobre
Social. Amostras d
água, não a poluição da água limpa e
poluindo os água. poluida.
rios, as fontes e
praias.
Plano de Aula
CELSO DOS SANTOS VASCONCELLOS FALA SOBRE PLANEJAMENTO ESCOLAR
Especialista critica a burocracia e diz que o coordenador pedagógico deve se aliar a ou-
tros colegas para não se sentir sozinho
Paula Takada (<paula.takada@abril.com.br>)
VASCONCELLOS Um projeto, a escola ele deve ser usado como algo vivo, como
sempre tem, mesmo que ele não esteja um termômetro para toda a comunidade
materializado em um documento. Agora, o escolar saber se o trabalho que está sendo
ideal é que esse projeto seja público e expli- planejado está se aproximando daqueles
citado. Na hora do planejamento anual, ideais políticos e pedagógicos ou não.
Como evitar que o tempo dedicado ao planejamento anual não seja desperdiçado?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
estão no cerne da melhoria da escola. Isso quer dizer que toda mudança desejada
na escola ou na educação começa na sala de aula, entre professores e alunos. A
partir desta conscientização, o ideal seria se todos os docentes e auxiliares envol-
vidos no processo de ensino participassem da construção dos diversos tipos de
plano executados na escola. Dessa forma, é possível compartilhar dos mesmos
objetivos e crenças em relação à aprendizagem.
Vimos ainda que a escola se organiza a partir de uma filosofia. Essa linha
metodológica deve ser compartilhada, com uma linguagem única e praticada
por todos. A melhor forma de compartilhar essa filosofia é por meio do plane-
jamento. O plano unifica as ações didáticas e organiza os processos de ensino.
Esta união possibilita reflexões sobre questões fundamentais, como: estilo de
ensino, habilidades para o ensino, recursos necessários, autoavaliação, forma-
ção continuada e outras questões.
Mas, para que o planejamento seja um instrumento de uso real e prático
nas escolas, ele deve se pautar em alguns itens apresentados ao longo desta uni-
dade. A seguir, apresentarei resumidamente os aspectos mais importantes do
planejamento:
■■ Desenvolvimento de uma linguagem compartilhada sobre os principais
objetivos em relação ao ensino e a aprendizagem.
■■ Possuir um repertório variado de técnicas de ensino que possibilitem o
alcance dos objetivos selecionados.
■■ Selecionar conteúdos capazes de serem adaptados aos interesses sociais
e pessoais dos alunos.
Considerações Finais
IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
■■ Criar ambientes propícios para aprendizagem: organização da sala, clima
de cooperação, mostras interativas.
■■ Monitorar o ensino e aprendizagem mediante reflexões críticas, observa-
ções, autoavaliação, pesquisas e outros.
O PLANEJAMENTO ESCOLAR
136 - 137
1. Vimos nesta unidade que muitos professores não acreditam na função didática
do planejamento. Analise essa informação e descreva algumas das principais di-
ficuldades sentidas pelos professores no momento de planejar suas aulas.
2. Sabemos que o planejamento é um poderoso instrumento de transformação
da prática docente. Demonstre, por meio de exemplos, a importância do ato de
planejar o ensino.
3. Gil (2009) nos informa que existem três tipos básicos de planejamento: o plano
da escola, o plano de ensino e o plano de aula. A partir dessa informação, expli-
que os principais objetivos de cada tipo de plano citado por Gil.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Como o planejamento pode auxiliar o professor? Para refletir mais sobre o tema assista ao
vídeo abaixo:
<http://www.youtube.com/watch?v=7XKWgidh4B0>.
Material Complementar
Professora Me. Ionah Beatriz Beraldo Mateus
V
UNIDADE
AVALIAÇÃO ESCOLAR
Objetivos de Aprendizagem
■■ Conceituar e reconhecer a importância da avaliação escolar.
■■ Analisar diferentes formas de avaliação.
■■ Conhecer as principais características da avaliação escolar.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Definindo a avaliação escolar
■■ Características da avaliação
■■ Diferentes formas de avaliar
142 - 143
INTRODUÇÃO
sáveis de avaliar.
Veremos que a avaliação é um instrumento pelo qual o professor detecta
os níveis de aprendizagem atingidos pelos alunos e trabalha para que consiga a
qualidade necessária para um ensino eficaz.
Vamos ver também, que o processo de ensino não termina na avaliação. Pelo
contrário, depois de atribuído um valor para a aprendizagem, a avaliação con-
tinuada exige uma tomada de posição a favor ou contra o resultado obtido. Os
resultados de uma avaliação exigem necessariamente uma ação e assim, somos
conduzidos a manter a aprendizagem como está ou atuar sobre ela.
Encarando a avaliação dessa forma, podemos romper com a prática atual
da maioria das escolas. Em geral, elas utilizam as provas e notas para classificar
os alunos por meio de sua aprovação ou reprovação. Assim, além de não contri-
buir para a melhoria do ensino e da aprendizagem, a avaliação impõe aos alunos
consequências negativas.
Você está interessado em mudar essa situação? Então, siga em frente e dis-
cutiremos mais sobre isso.
Introdução
V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
qualidade desses dados, feita por meio de provas, exercícios, tarefas, respostas dos
alunos etc., permite uma tomada de decisão para o que deve ser feito em seguida.
No entanto, poucas escolas brasileiras encaram a avaliação dessa forma.
Segundo Gil (2009), ela ainda é um aspecto crítico da educação. Em uma pes-
quisa realizada pelo autor, ele aponta as principais críticas em relação às provas e
aos exames realizados em nossas escolas. A seguir, apontarei os resultados obti-
dos por Gil (2009, p. 240).
1. A avaliação é fonte de ansiedade e de stress: na maioria das escolas
brasileiras prevalece a tradição de realizar provas ou exames finais de
diferentes disciplinas em poucos dias. Isso gera um clima de tensão que
normalmente é piorado por professores que utilizam as provas para ame-
açar ou se “vingar” dos alunos.
2. A avaliação conduz a injustiças: muitas provas são elaboradas con-
tendo apenas uma ou duas perguntas, escolhidas muitas vezes mais pela
facilidade de correção do que por sua importância real no contexto da
matéria. Por outro lado, há questões que abrangem todo o conteúdo da
disciplina, correndo muitas vezes o risco de transformar a prova em uma
verdadeira maratona.
3. A avaliação privilegia o controle e a retenção do conhecimento: ava-
liar aquilo que o aluno foi capaz de memorizar é muito mais fácil do que
avaliar aquilo que ele efetivamente aprendeu ou que pode aplicar em
situações práticas.
4. Muitas avaliações tem pouco a ver com o que foi ensinado: imagine um
professor que tenha trabalho conteúdos através de discussões e promovido
AVALIAÇÃO ESCOLAR
144 - 145
pesquisas. Mas, nas provas proponha questões que não se relacionam com a
forma como o conteúdo foi abordado. Mesmo sendo inadmissível, isso é muito
frequente e denota a falta de conhecimentos didáticos para elaborar provas.
5. A avaliação tradicional favorece o imobilismo social: as provas tradi-
cionais têm servido muito mais para selecionar pessoas pela qualificação
social do que pela qualificação técnica. Para Luckesi (2005), a avaliação ao
longo dos últimos séculos vinculou-se quase que exclusivamente à fun-
ção seletiva da escola. As notas obtidas na escola seguem as pessoas por
toda vida, definindo de alguma forma o seu grau na hierarquia profissio-
nal, o seu nível de remuneração e o poder de que irá dispor.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
atualidade, esse problema é ainda mais grave em função da aplicação das
modernas tecnologias de comunicação.
13. A exigência da avaliação dificulta o avanço dos estudantes: como o pro-
fessor tem um programa a cumprir, cujo aprendizado dos estudantes será
objetivo de avaliação, ele não os encoraja a avançar segundo seu próprio ritmo.
AVALIAÇÃO ESCOLAR
146 - 147
Como podemos perceber por meio das palavras do autor, a avaliação diagnós-
tica ocorre em todo o processo de ensino e em diversas etapas. Na etapa inicial,
sua função é a de verificar os conhecimentos e experiências já disponíveis nos
alunos. Esses dados serão utilizados pelo professor como pré-requisitos para a
sequência ideal dos conteúdos.
Durante o processo de ensino, os alunos são avaliados com o objetivo de
acompanhar seus progressos, corrigir as falhas, esclarecer dúvidas e estimular a
aprendizagem. Ao mesmo tempo, essa avaliação fornece preciosas informações
a respeito de como o professor está conduzindo seu trabalho. É possível verifi-
car se o ritmo do conteúdo está adequado ao ritmo de aprendizagem dos alunos,
se os métodos e técnicas utilizados estão de acordo com os objetivos elencados,
se os materiais escolhidos estão de acordo com o nível de compreensão e lin-
guagem dos alunos etc. E, finalmente, a avaliação realizada ao final do conteúdo
tem como objetivo específico verificar a aprendizagem da matéria ou conteúdo.
Mediante as constantes avaliações, notamos que aos poucos, vamos tendo
maior controle das situações que envolvem o processo de ensino. Esse controle
permite ao professor observar como os alunos estão se saindo na assimilação de
novos conhecimentos e de novas habilidades. Nesse caso, a atribuição de notas não é
necessária, pois a finalidade é a de fornecer informações relevantes para o professor.
Entendido o conceito e as principais funções da avaliação vamos conhecer
mais sobre sua importância para a educação. Leia a entrevista abaixo e fique por
dentro desse assunto.
Seu filho vai ser avaliado. Não importa qual Agora, atenção: avaliação não é igual a
seja a série, a escola ou o sistema de ensino: prova. Há muitas maneiras de ver se o
ele receberá uma nota - nem sempre boa conteúdo foi aprendido que não passam
- por seu desempenho. Mas isso é mesmo necessariamente pelos exames, chama-
necessário? Sim, dizem os especialistas, a das orais e outros “cabeludos” que tanto
avaliação é a melhor maneira de medir o assustam os estudantes. Alguns exemplos:
rendimento do aluno. Mas ela é mais do atividades em sala, trabalhos em grupo e
que isso: também pode revelar ao professor individuais, pesquisas, lição de casa. E pro-
se o método de ensino que ele está utili- vas, claro.
zando é eficiente.
Tire suas dúvidas sobre lendo os itens a seguir:
PARA QUE SERVE A AVALIAÇÃO
A avaliação mede o nível de aprendizado portanto, o que precisa ser ensinado”, diz
de cada aluno e também busca identificar o professor Ocimar Munhoz Alavarse, da
possíveis problemas no método de ensino. Faculdade de Educação da USP.
Isto quer dizer que ela não serve apenas
para aprovar ou reprovar: a avaliação deve É por isso que o Conselho Nacional de
detectar as facilidades e as dificuldades de Educação recomenda que a avaliação dos
aprendizagem que possam ser acompa- alunos seja contínua e cumulativa. Afinal,
nhadas em longo prazo. “A nota informa uma nota isolada nem sempre contém a
a família, o aluno, mas deveria informar informação necessária ao professor, isto é,
principalmente o professor, para permitir a medida precisa de quanto o aluno real-
o acompanhamento: mostrar precisamente mente sabe.
o que o aluno sabe; o que falta saber; e,
COMO A AVALIAÇÃO DEVE SER FEITA
do que promover o aluno para o próximo que a família e o aluno tenham direito de
ano, a avaliação pode ajudar a identificar discutir os resultados com os professores e
as maiores dificuldades de aprendizagem. gestores escolares. Assim, os próprios pro-
É importante notar que a avaliação serve, cedimentos de ensino e avaliação podem
também, para detectar problemas no pró- ser revistos de acordo com as necessida-
prio ensino: por isso, o Conselho recomenda des dos alunos.
COMO A NOTA DEVE SER ESTABELECIDA
Além dos resultados de provas e testes, Em geral, o resultado de todos estes fatores
o professor pode levar em conta outros é resumido num sistema de classificação:
fatores para estabelecer a nota, como o algumas escolas usam notas de 0 a 10,
comportamento e a participação em sala, outras utilizam os conceitos A, B, C, D e E,
o desempenho em atividades em grupo, em ou outros sistemas. O princípio de todos
exercícios e lições de casa, entre outros. Para é o mesmo, ou seja, registrar o desem-
Maria Teresa de Oliveira Lima, coordenadora penho do aluno. A principal diferença é
das séries finais do Ensino Fundamental do que, em geral, uma nota de 0 a 10 é base-
Colégio São Domingos, a avaliação não ada no rendimento objetivo do aluno em
deve ser apenas o momento da prova, mas provas e testes. Já os conceitos (A, B, C, D
um processo: “Ela inclui o trabalho com e E) tendem a considerar também fato-
diferentes competências, procedimentos, res mais subjetivos, que dificilmente são
conteúdos. Ela ocorre cotidianamente no medidos em números, como o comporta-
olhar apurado dos professores e colegas, nas mento e a dedicação do aluno. No colégio
devolutivas dadas, nas revisões feitas pelos São Domingos, por exemplo, o conceito A
próprios alunos e também inclui momentos significa que, além de ter atingido os obje-
específicos, de sistematização das aprendiza- tivos propostos, o aluno destacou-se pelo
gens: avaliações que exigem uma disciplina seu comprometimento e pela qualidade
de estudos, organização e tempo de con- de seu trabalho; já o conceito E não quer
centração. Em relação aos critérios, também dizer apenas que o rendimento do aluno foi
são muitos, desde apresentação estética, baixo, mas também que ele pode estar num
respeito aos prazos, passando pelo uso ade- momento de rejeição ao trabalho escolar,
quado dos conceitos, dos termos específicos indicando a necessidade de diálogo entre
da disciplina até a produção de textos coe- pais, professor e coordenação.
sos, completos e coerentes”.
A PARTIR DE QUE IDADE A CRIANÇA DEVE COMEÇAR A SER AVALIADA
O início dos processos pode levar à com- de aula, o próprio educador deve ter em
petitividade porque gera um processo mente que todos os seus alunos podem
classificatório, que envolve mérito expresso aprender e que não cabe a ele dizer se um
em notas e elogios. “Existe um ranking no aluno é bom ou ruim, e sim fazer com que
qual alguns estão no topo e outros estão na cada um atinja o seu melhor. “O professor
base. É uma preparação para a sociedade, deve ser um exemplo de respeito para todos:
que nos diz que alguns merecem o topo e se ele trata melhor o aluno que responde
outros não. Essa noção existe nas pessoas, melhor a ele, já começou a discriminação”,
estabelecendo um ambiente competitivo explica a professora Nadia. “Para construir
desde tenra idade”, diz a professora Nadia um ambiente não competitivo, o profes-
Aparecida de Souza, coordenadora do Pro- sor pode investir em trabalhos em grupo,
grama de Mestrado em Educação da UEL. em atividades de engajamento social, na
convivência com realidades diferentes, com
Para lidar com este tipo de situação em sala outras escolas. Estas trocas são importantes”.
QUAIS AS DIFERENÇAS ENTRE OS PROCESSOS DE AVALIAÇÃO NAS DIFERENTES
SÉRIES
As formas de avaliação devem sempre ser não devem deixar de fora habilidades que
adequadas à faixa etária e às características serão tão ou mais importantes para o aluno
de desenvolvimento do aluno. Na Educa- na vida adulta, como o trabalho em equipe.
ção Infantil, por exemplo, como as crianças
estão em fase de alfabetização, devem ser Em todas as séries, é importante que a ava-
avaliadas com um olhar muito específico: liação não seja simplesmente um meio de
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação demonstrar à família o conteúdo que foi
Nacional recomenda que, neste período, a dado, e sim uma garantia do aprendizado
avaliação seja feita por acompanhamento que está sendo construído. “Tenho de mos-
e registro do desenvolvimento da criança, trar a evolução do aluno, independente
“sem o objetivo de promoção, mesmo para da expectativa do pai. Só posso dimen-
o acesso ao Ensino Fundamental”. sionar qualquer resultado quando vejo a
evolução”, diz a professora Nadia Apare-
Já no Ensino Médio, é natural que sejam cida de Souza, coordenadora do Programa
cobrados de forma mais objetiva os con- de Mestrado em Educação da UEL. Afi-
teúdos que serão abordados nas provas nal, a aprendizagem propriamente dita é
do vestibular, mas as formas de avaliação diferente da simples retenção do conheci-
150 - 151
mento: em qualquer série, a tarefa proposta isso é preciso pensar em novas estratégias
pelo professor não deve verificar se o aluno avaliativas; a prova pode fazer parte, ela não
sabe reproduzir o que foi ensinado, e sim é ruim por si. Ruim é o uso que se faz dela”,
verificar o que ele realmente aprendeu. “Por completa a professora.
UM TESTE PODE AJUDAR NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM
Sim! Uma prova pode até servir para ajudar em grupos, cada um com um método de
a fixar o conteúdo: em janeiro de 2011, a estudo diferente: alguns faziam uma prova;
revista norte-americana Science publicou outros apenas liam o conteúdo; outros,
um estudo demonstrando que o aprendi- ainda, elaboravam resumos e diagramas.
zado é maior para alunos que respondem Ao final do estudo, foi constatado que os
a questões sobre a matéria estudada. Esta alunos que respondiam questões retinham
conclusão foi baseada numa pesquisa cerca de 50% mais informações do que os
realizada com duzentos alunos, divididos demais.
POR QUE É IMPORTANTE QUE OS PAIS ACOMPANHEM O BOLETIM ESCOLAR
Os pais devem estar sempre atentos às com o professor para saber que métodos
dificuldades de aprendizagem dos filhos, de avaliação estão sendo utilizados e per-
para garantir que elas sejam abordadas ceber se o aluno tem outras dificuldades
com profundidade pelo professor e, assim, em sala, como problemas de comporta-
superadas. Ao acompanhar o boletim ao mento ou nervosismo na hora das provas.
longo do tempo, é possível perceber, para A parceria e o diálogo entre família, alu-
cada matéria, se houve evolução ou se a nos e professores é sempre importante,
dificuldade se manteve: neste caso, os pais como destaca Maria Teresa de Oliveira Lima,
podem procurar aulas de reforço (de pre- coordenadora das séries finais do Ensino
ferência dentro da própria escola), além de Fundamental do Colégio São Domingos:
acompanhar com mais atenção o estudo “Acreditamos que esses encontros não
do aluno em casa. só compõem o processo de discussão de
estratégias individuais, mas são funda-
Pode acontecer também que os pais vejam mentais para a reflexão coletiva. A troca de
o esforço dos filhos em casa, mas que esta experiências permite que tracemos juntos
dedicação não se manifeste em notas novas estratégias de ação que possibilitem
melhores: neste caso, é importante falar que as aprendizagens caminhem”.
E PARA QUE SERVEM OS SISTEMAS NACIONAIS DE AVALIAÇÃO
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8. A avaliação permite que os estudantes se situem em relação aos outros:
um resultado desfavorável em uma avaliação pode causar um choque
no estudante. Mas possibilita-lhe situar-se em relação aos demais, ofere-
cendo, dessa forma, um meio para descobrir as causas e as consequências
de suas fraquezas.
9. A avaliação fornece feedback para o professor: a informação acerca do
desempenho é fundamental para a obtenção de mais elevados níveis de
eficácia profissional. A avaliação bem executada constitui uma das poucas
maneiras de verificar a pertinência do ensino que ministra e a validade
de suas ações.
10. A avaliação serve para avaliar a ação do professor e da própria instituição:
as avaliações e seus resultados são capazes de constituir importantes ele-
mentos para verificar em que medida foram cumpridas as funções docentes.
Apresentadas as defesas necessárias para o uso da avaliação no processo edu-
cativo, precisamos ressaltar que dentro do contexto estudado, não é qualquer
forma de avaliação que cumpre com sua função educativa e não punitiva. Por
esse motivo, devemos conhecer as principais características que marcam e for-
mam a avaliação consciente. Vamos a elas...
O professor José Carlos Libâneo (2008) sintetiza para nós as principais carac-
terísticas da avaliação: refletir a unidade dos objetivos, conteúdos e métodos,
possibilitar a revisão do plano de ensino, ajudar a desenvolver capacidades e habi-
lidades, voltar-se para a atividade dos alunos, ser objetiva, ajudar na autopercepção
do professor e refletir valores e expectativas do professor em relação aos alunos.
Para que a avaliação reflita a unidade dos objetivos e métodos de ensino,
AVALIAÇÃO ESCOLAR
154 - 155
Libâneo (2008) nos alerta que ela deve ser encarada como parte integrante do
processo de ensino. Isso significa que ela deve refletir, mesmo que de forma
implícita, os conhecimentos, habilidades e atitudes esperadas dos alunos. Esses
aspectos denotam os objetivos a serem atingidos e quais métodos e teorias serão
escolhidos para alcançá-los. Os resultados devem ser obtidos mediante exercí-
cios, provas, conversação didática e trabalho independente.
Outra característica da avaliação consciente é possibilitar a revisão do plano
de ensino. Ela pode ser feita por meio da sondagem dos conhecimentos prévios
dos alunos, por meio da identificação dos progressos e deficiências de assimilação
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alunos. O autor ressalta que para isso não é necessário excluir questões subjetivas,
mas é necessário formulá-las com mais cuidado e atenção para que elas possam
representar, mesmo que de forma subjetiva, os objetivos concretos.
Outra característica fundamental da avaliação é funcionar como “um ter-
mômetro dos esforços do professor” (LIBÂNEO, 2008, p. 202). Isso significa que
ao analisar os resultados de rendimento dos alunos, o professor obtém também
informações sobre o seu próprio trabalho. Vale estar atento a questões, como:
■■ Meus objetivos estão claros para mim e para meus alunos?
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■■ Os conteúdos que ensino são acessíveis aos alunos e possuem signifi-
cado para eles?
■■ Estou comunicando o conteúdo de maneira adequada aos alunos?
■■ Estou dando a atenção necessária aos alunos mais lentos ou com
dificuldades?
■■ Estou dando oportunidades iguais para que todos aprendam e desenvol-
vam suas habilidades?
■■ Estou ajudando meus alunos a ampliarem seus conhecimentos e aspirações?
Todas essas questões devem ser analisadas porque outra característica da avalia-
ção é a de refletir valores e expectativas do professor em relação aos alunos. Por
isso, a maneira de ser do professor, de ensinar e de se relacionar com os alunos
indicam seus anseios em relação a eles. Libâneo (2008, p. 203) nos alerta que:
Se o professor dá mostras de desatenção a alguma das crianças, isso
pode estar indicando uma discriminação com essa criança. Se não se
empenha na organização dos alunos, nos hábitos de higiene, no rela-
cionamento entre as crianças, indica que não valoriza esses aspectos.
AVALIAÇÃO ESCOLAR
156 - 157
Gadotti (1990) diz que a avaliação é essen- liativo mais eficaz é o mesmo que cumprir
cial à educação, inerente e indissociável sua função didático-pedagógica de auxiliar
enquanto concebida como problematiza- e melhorar o ensino/aprendizagem.
ção, questionamento, reflexão, sobre a ação.
A forma como se avalia, segundo Luckesi
Entende-se que a avaliação não pode morrer. (2002), é crucial para a concretização do
Ela se faz necessária para que possamos refle- projeto educacional. É ela que sinaliza aos
tir, questionar e transformar nossas ações. alunos o que o professor e a escola valo-
rizam. O autor, na tabela 1, traça uma
O mito da avaliação é decorrente de sua comparação entre a concepção tradicio-
caminhada histórica, sendo que seus fan- nal de avaliação com uma mais adequada
tasmas ainda se apresentam como forma a objetivos contemporâneos, relacionan-
de controle e de autoritarismo por diversas do-as com as implicações de sua adoção.
gerações. Acreditar em um processo ava-
Tabela 1 – Comparação entre a concepção tradicional de avaliação com uma mais ade-
quada
DIFERENTES FORMAS DE
AVALIAR
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avaliativas. A seguir, conheceremos as prin-
cipais maneiras de avaliar.
A forma mais conhecida pela própria
história da educação, segundo Gil (2009),
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Mas, mesmo sendo ainda muito utilizado, o autor salienta que esse tipo de prova
possui algumas limitações, como: o grande gasto de tempo com a correção, a influ-
ência da subjetividade na correção do professor, a dificuldade de avaliar de forma
completa a matéria ensinada, a interpretação adequada dos propósitos dos alunos
e a dificuldade de fornecer um retorno específico de rendimento para os alunos.
AVALIAÇÃO ESCOLAR
160 - 161
Veja a seguir, alguns exemplos de habilidade que podem ser cobradas nas
provas escritas:
■■ Descrever semelhanças e diferenças entre o assunto estudado.
■■ Explicar com suas próprias palavras algum conceito científico.
■■ Demonstrar as consequências de algum fato analisado nas aulas.
■■ Comparar características do conteúdo desenvolvido.
Mas, para que as provas dissertativas tenham qualidade, Gil (2009, p. 257) nos
aconselha a tomarmos alguns cuidados:
1. Não utilizá-la como único instrumento avaliativo do conteúdo: como
esse tipo de prova não permite que o aluno demonstre todos os conhe-
cimentos e habilidades adquiridos no processo de ensino, aconselha-se
a avaliar os alunos de diversas maneiras.
2. Apresentar a tarefa a ser realizada com precisão: para que os estudantes
compreendam sobre o que devem escrever é necessário ser muito especí-
fico na apresentação do tema e evitar ambiguidades e más interpretações.
3. Advertir os estudantes acerca da influência dos erros de ortografia e de
pontuação: como um dos objetivos desse modelo de avaliação é avaliar
a clareza de expressão do aluno, é razoável cobrar dos alunos uma boa
apresentação das ideias, com a escrita correta das palavras e pontuação
coerente. No entanto, não se deve atribuir pesos muito significativos para
que a forma não tenha mais peso do que o conteúdo.
4. Corrigir a prova sem identificar o aluno: quando o professor sabe de quem
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6. Escrever comentários nas provas: ao invés de apenas apontar os erros, ou
corrigi-los, é importante que o professor escreva um pequeno comentá-
rio em cada prova, não apenas para justificar a nota, mas também para
que o aluno tenha clareza de seu rendimento.
Por meio dos cuidados indicados acima, é possível produzir e corrigir as provas
com critérios mais homogêneos e justos.
Além das provas dissertativas, também existem as provas objetivas. Essas pro-
vas, segundo Luckesi (2005), atendem apenas as necessidades básicas de brevidade
da resposta e exatidão da correção. Portanto, ela contém restrições ainda maiores em
relação a seu uso. Mas, são muito utilizadas em vestibulares e concursos públicos.
A aplicação desse tipo de prova nas escolas, segundo Gil (2009), tem sido
muito criticada. O principal argumento contra esse modelo de prova é a questão
de avaliar apenas a capacidade de memorização do aluno. Outro ponto contra é
o da inibição da capacidade criativa dos alunos, que são desestimulados a escre-
ver. Também se critica muito o fator “sorte”, que pode permitir que o estudante
assinale a resposta correta mesmo sem conhecer o conteúdo. Diante desse qua-
dro, não há como negar as limitações apresentadas pela prova objetiva.
Mas, Gil (2009) nos alerta que um dos maiores problemas da prova obje-
tiva se encontra na sua elaboração. Muitas provas têm sido elaboradas com tão
pouca competência que seus resultados não servem como instrumento avaliativo.
Portanto, é necessário conhecer bem os principais tipos de questões objetivas. São
elas: questões de lacuna, certo ou errado, múltipla escolha, associação e ordenação.
Gil (2009) afirma que as questões de lacuna são constituídas por frases
AVALIAÇÃO ESCOLAR
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incompletas, cujo espaço em branco deve ser preenchido por uma ou mais pala-
vras. Nas questões de certo ou errado, o aluno precisa assinalar se julga certa ou
errada cada uma das questões apresentadas na prova.
Já as questões de múltipla escolha são geralmente mais aceitas pelos críticos
de avaliação por exigir mais raciocínio e análise por parte dos alunos. De acordo
com Gil (2009, p. 259), “questões dessa natureza permitem o exame de resulta-
dos complexos, como compreensão de leitura, raciocínio dedutivo e indutivo,
julgamento de valor e habilidade para utilizar instrumentos de estudo”.
Ainda de acordo com Gil (2009, p. 260), a elaboração de questões de múl-
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COLUNA A COLUNA B
(1) Paraná ( ) Belo Horizonte
(2) São Paulo ( ) Curitiba
(3) Bahia ( ) Florianópolis
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(4) Santa Catarina ( ) Salvador
(5) Minas Gerais ( ) São Paulo
( ) Rio Grande do Sul
( ) Recife
AVALIAÇÃO ESCOLAR
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final desta unidade, espero que você tenha compreendido que a avaliação é
um instrumento pelo qual o professor detecta os níveis de aprendizagem atin-
gidos pelos alunos e trabalhe para que atinjam a qualidade necessária. E sendo
assim, ela não pode ser utilizada como um instrumento isolado e solto.
O planejamento define os resultados e os meios a serem atingidos. A execu-
ção constrói os resultados e a avaliação serve de ferramenta para a verificação
dos resultados planejados, assim como para fundamentar decisões que devem
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ser tomadas para que os resultados sejam construídos.
Nessa perspectiva, a avaliação da aprendizagem é um mecanismo complemen-
tar do planejamento e da prática docente. Para Luckesi (2005), é uma atividade
que não existe nem subsiste por si mesma. Ela só faz sentido na medida em que
serve de diagnóstico da execução e dos resultados que estão sendo buscados e
obtidos por alunos e professores. A avaliação deve funcionar como um instru-
mento auxiliar da melhoria dos resultados.
Segundo Luckesi (2005), se a avaliação não assumir a forma diagnóstica,
ela não poderá estar a serviço da proposta política de fazer com que os alunos
aprendam e se desenvolvam. Se a avaliação continuar com o caráter classifica-
tório, como tem sido utilizado hoje, não viabiliza uma tomada de decisão para
a construção de novos resultados. A avaliação tem apenas classificado o aluno
em um grau de desenvolvimento e dessa forma não auxilia no seu avanço e na
construção de resultados esperados.
AVALIAÇÃO ESCOLAR
166 - 167
1. Vimos em nossa unidade que a avaliação não pode ser considerada um ato iso-
lado e descontextualizado da realidade escolar. A partir dessa informação, expli-
que por que a avaliação é um processo contínuo.
2. A avaliação diagnóstica se baseia na coleta de dados, por meio de instrumen-
tos avaliativos. Esses dados devem ser lidos e analisados com rigor para que se
conheça o nível de desenvolvimento do aluno. Reflita sobre essa afirmação e
explique como deve ser efetivada, na prática, a avaliação diagnóstica.
3. Analise as principais características da avaliação e formule um gráfico capaz de
demonstrar suas funções no processo de ensino e aprendizagem.
MATERIAL COMPLEMENTAR
COLOCANDO EM PRÁTICA!
Assista ao vídeo abaixo e veja como as escolas de Minas Gerais estão conseguindo conjugar
diversas formas de avaliação para melhorar a qualidade do ensino e da aprendizagem.
<http://www.youtube.com/watch?v=q2zRN9m_uFw>.
Assista ao vídeo abaixo e veja a entrevista do professor Cipriano Luckesi sobre a qualidade da
avaliação escolar no Brasil.
<http://www.youtube.com/watch?v=iiJWUcR0g5M>.
Quais as consequências da avaliação classificatória? Ela deve ser encarada como premiação
ou punição? Assista ao vídeo abaixo e reflita...
<http://www.youtube.com/watch?v=6rHvpwKOpQg>.
CONCLUSÃO
Caro(a) aluno(a),
Ao final deste livro, desejo que você tenha encontrado nele conteúdos e informa-
ções úteis para transformar sua prática docente. Afinal, como vimos na unidade I, a
atuação do professor é extremamente importante na aprendizagem do aluno.
Estudamos nessa unidade também, os campos de atuação da didática e pudemos
perceber que ela age diretamente na formação humana. Por isso, ao organizarmos
as melhores formas de ensino para nossos alunos, temos que ter em mente o ideal
de homem que desejamos formar. Por meio desse ideal é que permeamos o ato de
ensinar com intenções políticas, sociais e econômicas.
No entanto, além dessas intenções, o ato de ensinar precisa ser orientado por con-
teúdos científicos. A princípio, os temas científicos podem não interessar aos alunos.
À primeira vista, eles podem parecer muito distantes da realidade dos estudantes.
Por isso, é necessário instigar nos alunos a vontade de aprender. Isso acontece mais
facilmente quando os conhecimentos científicos são relacionados com as experi-
ências que eles já possuem por aprendizagem casual. Ao relacionar um conceito
científico com o que já aprenderam por experiência própria e pessoal estamos, na
realidade, contextualizando o conhecimento e o conteúdo para os alunos.
Na unidade II de nosso livro estudamos as diferentes concepções didáticas utiliza-
das nos diferentes períodos da história da educação. A primeira metodologia anali-
sada foi a didática da escola tradicional. Notamos que com a intenção de expandir
os conhecimentos, a didática tradicional provocou na realidade um alto índice de
evasão. Os alunos assustados com os castigos e humilhações aplicadas em nome da
aprendizagem e do bom comportamento, simplesmente abandonavam a escola.
Para solucionar o problema da evasão foi adotado no Brasil a didática escolanovista.
Com ela, a escola se tornou mais acolhedora e com uma aparência muito mais agra-
dável. O problema é que as mudanças não passaram das aparências... com a escola
nova, o ensino tornou-se um ato individualizado e que deveria acontecer segundo
a vontade e o interesse do aluno. Essa concepção provocou um “esvaziamento” das
funções do professor, afinal, ele não deveria interferir em nada, pois o aluno devia
aprender sozinho.
Procurando reorganizar os processos de ensino e aprendizagem, a escola nova foi
substituída pela didática da escola tecnicista. Para a escola tecnicista o mais impor-
tante era a eficácia, a eficiência e a técnica. O conhecimento técnico se fundamenta-
va na repetição, na memorização e na prática de exercícios. Para ensinar, o professor
devia seguir à risca os planejamentos e os manuais didáticos. Dessa forma, aos pou-
cos a escola internalizou o modelo e os ideais fabris.
Na unidade III, estudamos diferentes concepções didáticas que negam a reprodu-
ção do conhecimento. Em sua maioria, as teorias sistêmica, progressista e ensino
com pesquisa acreditam no poder transformador da educação. E esse poder se ex-
pressa mediante o ensino de conteúdos científicos que devem ser analisados, ques-
CONCLUSÃO
CONCLUSÃO
E por falar em aprendizagem, espero que a sua não pare por aqui. Como professo-
res conscientes, a leitura e a pesquisa são fundamentais para uma prática docente
comprometida com a transformação da educação e da sociedade. E você, caro(a)
aluno(a), é uma peça fundamental desse enorme “quebra-cabeça”... continue se
aperfeiçoando sempre e que o sucesso faça parte de todas as suas jornadas!
Um forte abraço,
Prof.ª Ionah Beatriz Beraldo
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REFERÊNCIAS