AULA 04 Deficiência Intelectual
AULA 04 Deficiência Intelectual
AULA 04 Deficiência Intelectual
APOSTILA
DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
ESPÍRITO SANTO
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DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
http://apaesbc.com.br/deficiencia-intelectual/intelectual-mental/
Além de todos esses conceitos, que em muitos casos são antagônicos, existe a
dificuldade de se estabelecer um diagnóstico diferencial entre o que seja “doença mental”
(que engloba diagnósticos de psicose e psicose precoce) e “deficiência mental” princi-
palmente no caso de crianças pequenas em idade escolar.
2
http://pessoascomdeficiencia.com.br/
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http://institutoitard.com.br/cursos/educacao-especial/extensao-universitaria/deficiencia-intelectual-40-horas-extensao
4
A deficiência intelectual desafia a escola comum no seu objetivo de ensinar, de
levar o aluno a aprender o conteúdo curricular, construindo o conhecimento. O aluno
com essa deficiência tem uma maneira própria de lidar com o saber, que não corres-
ponde ao que a escola preconiza. Na verdade, não corresponder ao esperado pela es-
cola pode acontecer com todo e qualquer aluno, mas os alunos com deficiência intelec-
tual denunciam a impossibilidade de a escola atingir esse objetivo, de forma tácita.
Eles não permitem que a escola dissimule essa verdade. As outras deficiências
não abalam tanto a escola comum, pois não tocam no cerne e no motivo da sua urgente
transformação: considerar a aprendizagem e a construção do conhecimento acadêmico
como uma conquista individual e intransferível do aprendiz, que não cabe em padrões e
modelos idealizados.
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http://semprevivaescola.com.br/turma-do-agito-grupo-de-jovens-com-deficiencia-intelectual
https://www.youtube.com/watch?v=Bql5OBAPDJA
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O número de alunos categorizados como deficientes mentais foi ampliado enor-
memente, abrangendo todos aqueles que não demonstram bom aproveitamento escolar
e com dificuldades de seguir as normas disciplinares da escola. Os aparecimentos de
novas terminologias, como as “necessidades educacionais especiais”, aumentaram a
confusão entre casos de deficiência intelectual e outros que apenas apresentam proble-
mas na aprendizagem, por motivos que muitas vezes são devidos às próprias práticas
escolares.
http://educaja.com.br/2011/03/alunos-especiais-em-sala-de-aula-dicas.html
7
Tais práticas adaptativas funcionam como um regulador externo da aprendizagem
e estão baseadas nos propósitos e procedimentos de ensino que decidem o que falta ao
aluno de uma turma de escola comum. Em outras palavras, ao adaptar currículos, sele-
cionar atividades e formular provas diferentes para alunos com deficiência e/ou dificul-
dade de aprender, o professor interfere de fora, submetendo os alunos ao que supõe
que eles sejam capazes de aprender.
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http://www.wreducacional.com.br/cursos/educacao/defici-ncia-intelectual
O aluno com deficiência mental, assim como os demais colegas, escolhe a ativi-
dade que mais lhe interessar e a executa.
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https://turismoadaptado.wordpress.com
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http://valeriarossi2011.blogspot.com.br/
11
estenderá aos alunos com ou sem deficiência e assim os alunos com deficiência intelec-
tual serão naturalmente valorizados e reconhecidos por suas capacidades e respeitados
em suas limitações.
https://www.buzzero.com/
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dessa rotina, com a participação de todos os alunos. Eles então socializam o que apren-
deram e avaliam a produção realizada no dia. O aluno com deficiência mental, como os
demais, participa igualmente de todos esses momentos: planejamento, execução, avali-
ação e socialização dos conhecimentos produzidos.
http://www.aen.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=176211&evento=33450
13
educação especializada tradicional, realizada nos moldes do treinamento e da adapta-
ção, reforça a deficiência desse aluno. Essas formas de intervenção mantêm o aluno em
um nível de compreensão que é muito primitivo e que a pessoa com deficiência intelec-
tual tem dificuldade de ultrapassar - o nível das chamadas regulações automáticas, des-
critas por Piaget. É necessário que se estimule o aluno com deficiência intelectual a
avançar na sua compreensão, criando-lhe conflitos cognitivos, ou melhor, desafiando-o
a enfrentá-los.
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http://www.amambainoticias.com.br/
Por esse motivo, não adianta propor-lhes atividades que insistem na repetição
pura e simples de noções de cor, forma etc. para que, a partir desse suposto aprendi-
zado, o aluno consiga entender essas e as demais propriedades físicas dos objetos, e
ainda possa transpô-las para outros contextos de aprendizagem. A criança sem defici-
ência intelectual consegue espontaneamente retirar informações do objeto e construir
conceitos, progressivamente. Já a criança com deficiência intelectual precisa exercitar
sua atividade cognitiva, de modo que consiga o mesmo, ou uma aproximação do mesmo
avanço.
15
O Atendimento Educacional Especializado para as pessoas com deficiência inte-
lectual está centrado na dimensão subjetiva do processo de conhecimento. O conheci-
mento acadêmico refere-se à aprendizagem do conteúdo curricular; o Atendimento Edu-
cacional Especializado, por sua vez, refere-se à forma pela qual o aluno trata todo e
qualquer conteúdo que lhe é apresentado e como consegue significá-lo, ou seja, com-
preendê-lo.
http://uipi.com.br/
Alunos com síndrome de Down, por exemplo, poderão compartilhar esse atendi-
mento com colegas, com outras síndromes, sequelas de paralisia cerebral e ainda outros
com ou sem uma causa orgânica esclarecida de sua deficiência e com diferentes possi-
bilidades de acesso ao conhecimento.
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O Atendimento Educacional Especializado para o aluno com deficiência intelectual
deve permitir que esse aluno saia de uma posição de “não saber”, ou de “recusa de
saber” para se apropriar de um saber que lhe é próprio, ou melhor, que ele tem consci-
ência de que o construiu.
http://saojosedospinhais.apaebrasil.org.br/noticia.phtml/36475
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tem antecedentes diferentes de formação, experiências de vida e que sempre é capaz
de aprender e de exprimir um conhecimento.
Por maior que seja a limitação do aluno com deficiência mental, ir à escola comum
para aprender conteúdos acadêmicos e participar do grupo social mais amplo favorece
o seu aproveitamento no Atendimento Educacional Especializado e vice-versa. O Aten-
dimento Educacional Especializado é, de fato, muito importante para o progresso escolar
do aluno com deficiência mental.
http://apaesantacatarina.org.br/
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O arranjo físico do espaço reservado ao atendimento precisa coincidir com o seu
objetivo de enriquecer o processo de desenvolvimento cognitivo do aluno com deficiência
intelectual e de oferecer-lhe o maior número possível de alternativas de envolvimento e
interação com o que compõe esse espaço. Portanto, não pode reproduzir uma sala de
aula comum e tradicional. O espaço físico para o Atendimento Educacional Especiali-
zado deve ser preservado, tanto na escola especial como na escola comum, ou seja,
deve ser criado e utilizado unicamente para esse fim.
https://lndufmg.wordpress.com/
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As instituições especializadas devem fazer o mesmo com suas escolas especiais
e também conservar o atendimento clínico especializado. A avaliação do Atendimento
Educacional Especializado, seja a inicial como a final, têm o objetivo de conhecer o ponto
de partida e o de chegada do aluno, no processo de conhecimento. Para que se possa
montar um plano de trabalho para esse atendimento, não é tão importante para o pro-
fessor saber o que o aluno não sabe quanto saber o que ele já conhece de um dado
assunto.
20
BIBLIOGRAFIA
ANACHE, A.A. & MITJÁNS, A.M. Deficiência mental e produção científica na base
de dados da CAPES: o lugar da aprendizagem. In: Revista Psicologia Escolar e Educa-
cional, v. 11, n. 2, Campinas, p. 253- 274, 2007.
CAIADO, K.R.M. & JESUS, D.M. de (Org.). Educação Especial: diálogo e plurali-
dades. Porto Alegre: Mediação, p. 139 e 159, 2008.
21
CORREIA, L.M. Alunos com Necessidades Educativas Especiais nas Classes Re-
gulares. Coleção Educação Especial. Porto: Porto Editora, 1997.
______ Educação Inclusiva cultua e cotidiano escolar. Rio de Janeiro: Sete Letras,
2007.
22
PACHECO, J. et al. Caminhos para inclusão: um guia para o aprimoramento da
equipe escolar. Porto Alegre: Artmed, 2007.
23
LEITURA COMPLEMENTAR
24
Elsa Midori Shimazaki
Luria (1986) afirma que Vygotsky (1896-1923), ao trabalhar com as pessoas com
necessidades especiais, concentrou a atenção nas habilidades que essas pessoas ti-
nham, pois entendia que tais habilidades poderiam dar aportes para o desenvolvimento
das capacidades de tais indivíduos. Dessa forma, rejeitava as descrições puramente
25
qualitativas no que se referia a “traços psicológicos unidimensionais refletidos de resul-
tados de testes” (p. 34).
O mesmo autor afirma que o século XIX foi um momento representativo de inúme-
ros avanços para os "deficientes", sendo que várias instituições escolares foram criadas,
ainda sob o título de abrigo, assistência e terapia. Somente a partir de meados do século
XX, a conquista e o reconhecimento de alguns direitos dos "deficientes" puderam ser
identificados.
Katims (2000) afirma que, em 1800, Jean Marc-Gaspard Itard, influenciado por
Juan Pablo Bonet, escreveu o primeiro documento onde discutia os procedimentos e
instruções para a alfabetização de uma pessoa com deficiência mental. Fundamentado
no método de Bonet, para ensinar as pessoas com deficiência, na Espanha, Itard, se-
gundo Banks-Leite; Souza (2000), criou o método cenestésico multissensorial para en-
sinar um menino que foi encontrado nas florestas de França. Esse, por não ter convivido
em sociedade, não tinha desenvolvido algumas características próprias dos humanos e
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ficou conhecido como “o menino selvagem de Aveyron”. Itard preocupou-se, inicial-
mente, em desenvolver as sensações e percepções, mas segundo as autoras acima
citadas, ele tinha “obstinação em ensinar o garoto a ler e escrever” (p. 70). Para que o
menino selvagem, diagnosticado por Philippe Pinel como surdo e deficiente mental, ad-
quirisse uma linguagem constituída por signos convencionais, Itard tentou ensiná-lo a
falar e a escrever. Para ensinar o menino, que recebeu o nome de Victor, estabelecia as
relações entre objetos do uso cotidiano e os respectivos desenhos. Depois substituía os
desenhos pelas letras ou palavras. Banks-Leite; Souza (2000) afirmam que, segundo
indicações de Itard, Victor adquiriu uma linguagem, manejando a escrita (cópia de pala-
vras) e a leitura (identificação de palavras).
Pelicier; Thuillier (1980) afirmam que Edourd Onesimus Seguin avançou os estudos
de Itard no atendimento às pessoas com deficiência mental. Ensinou-as a desenhar li-
nhas e ângulos, a escrever letras do alfabeto e a recortar letras do alfabeto em madeiras
e colá-las em cartões. Por meio da adaptação do método de Itard e da intensiva instru-
ção, Seguin obteve sucesso na área da alfabetização dos seus alunos que conseguiram
escrever e oralizar em situações mais diversificadas.
O uso do alfabeto fosforescente foi utilizado por John Jakob Guggenbühl, médico
suíço, para a alfabetização de pessoas com retardo mental, no Abendberg, primeira ins-
tituição para atendimento de deficientes mentais no continente europeu. O método pre-
ocupava-se em ensinar a leitura por meio da estimulação sensorial e exposição dos fo-
nemas e grafemas desenhados em letras fosforescente em quadro negro em salas es-
curas (NORTON; FALK, 1992).
Katims (2000) afirma que, influenciada por Itard e Seguin, em 1886, Maria Dete-
ressa Montessori desenvolveu, na Itália, o trabalho na área da alfabetização para as
pessoas com deficiência mental. Montessori (1965) afirmava que as pessoas com defi-
ciência mental deveriam ser trabalhadas mais em seus aspectos pedagógicos que mé-
dicos. A pesquisadora utilizou no ensino da leitura e da escrita para pessoas com defi-
ciência mental, pequenos textos, sentenças, cartões de palavras. Na alfabetização, usou
o método sensorial, tanto para as crianças com ou sem deficiência. Inicialmente, ensinou
os movimentos manuais para a escrita, depois fazia com que os alfabetizandos tocassem
27
em contornos geométricos dos encaixes planos, finalmente, tocassem com os dedos em
letras do alfabeto, feito de madeira pintada e envernizada. Fazia, em cartões, a corres-
pondência das letras com figuras que representavam objetos cujo nome começava com
a letra indicada. Utilizou-se, também, do método fônico para a alfabetização, que consis-
tia em nomear as consoantes foneticamente, onde a professora indicava a letra, depois
o cartão, e pronunciava o nome do objeto desenhado, pronunciando o som da primeira
letra (MONTESSORI, 1965).
Ela ensinou a ler e escrever ao mesmo tempo, pois acreditava que uma habilidade
reforçava e dava suporte à outra. É importante ressaltar as contribuições de Montessori
para a educação especial. Ela apresentou o método sensorial, e também propôs uma
nova concepção das pessoas com retardo mental que passaram a ser vistas como pes-
soas capazes de aprender e criou um método para alfabetizá-las.
1
O mundo de Niger Hunt: O diário de um jovem mongoloide.
28
A partir da metade do século XX, os educadores do ensino especial do Departa-
mento de Saúde e Educação dos Estados Unidos, usaram o “flip chart”2 (álbum seriado)
para a experiência com a linguagem no ensino de frases, sentenças e parágrafos para
jovens identificados como deficientes mentais. Os estudantes relatavam as suas experi-
ências para o professor que registrava em “flip chart”. O resultado do texto relatado pelo
aluno e escrito pelo professor era motivador, pois apresentava a própria experiência e o
vocabulário dos alunos. A escrita foi utilizada de forma contextualizada, em direção a
diversas habilidades e com ênfase nos conectores e na relação entre as palavras. Heber,
vinte anos depois, usou a linguagem por meio de uma intervenção longitudinal. Diferente
dos outros, como relata Katims (2000), Heber enfatizou a decodificação específica de
palavras do contexto do aluno, ditando-a. Estudantes com deficiência mental eram imer-
sos regularmente em ambientes com livros de história. Verifica-se que essas eram as
primeiras experiências na alfabetização de jovens com deficiência mental, pois as ante-
riores referem-se somente às crianças.
No Brasil, em 1994, Goyos; Almeida (1994, apud Goyos; Freire 2000), desenvol-
veram o programa computacional Mestre, fundamentada na “tecnologia derivada dos
estudos sobre equivalência de estímulos” (GOYOS; FREIRE, 2000, p. 48). Esse pro-
grama era um instrumento para que os professores e demais profissionais da educação
2
Flip Chart é uma palavra utilizada para se referir a cartazes escritos em letras ampliadas e com sequência de
ideias, no entanto, não se sabe se é igual ao que era usado no século XX, na época do experimento.
29
infantil, ensino fundamental e educação especial ensinassem habilidades acadêmicas
aos seus alunos.
Outro método, introduzido na década de 70, é conhecido como “Ball (bola), Stick
(vara) e Bird (pássaro). Esse método é utilizado para pessoas de todos os níveis de
inteligência, incluindo o deficiente mental moderado e o severo. Fundamenta-se em três
formas básicas para o traçado das letras do alfabeto, a linha (vara), o círculo (bola) e o
ângulo (pássaro). Para a efetivação da alfabetização, usam-se letras escritas com cores
diferentes. Nesse método, usa-se, inicialmente, um livro composto de nomes e verbos
de ação, e, gradualmente, os adjetivos e os advérbios são ensinados. Há a ênfase na
decodificação assim como na compreensão da escrita pela população denominada como
deficiente mental.
Com a expansão da educação para todos, reafirmada após o golpe militar, come-
çam a aparecer autores (COSTA, 1983; MORTATTI, 1992) que sugerem o uso contex-
tualizado para a alfabetização das pessoas com deficiência mental, pois assim o aluno
é capaz de compreender a importância da alfabetização que era desenvolvida por meio
da leitura, escrita e relato de fatos e atividades cotidianas.
3
Cusha e seus livros
30
A partir de 1990, começa a discussão sobre a alfabetização emergente para o
deficiente mental. Katims (1991) obtém o primeiro resultado em uma pesquisa sobre al-
fabetização. O pesquisador coloca um grupo de jovens, incluindo alguns alunos com
deficiência mental em situações promissoras de alfabetização. Os alunos foram incluídos
em biblioteca de classe, em ambiente com vários materiais escritos, tendo acesso a livros
de história. Para essa pesquisa, o autor formou dois grupos (controle e experimental) e,
após a experiência, o grupo experimental teve muito mais avanço na alfabetização. Os
alunos com deficiência mental do grupo experimental tiveram progresso significativo em
relação aos demais, especialmente, na linguagem escrita, na compreensão de histórias
lidas por outras pessoas, na decodificação da escrita e leitura e na produção escrita a
partir de situações reais ou simuladas. O objetivo era tornar as pessoas com deficiência
mental indivíduos capazes de usar a linguagem de forma competente.
Dessa forma, Vygotsky (1988b) afirma que, por meio da mediação social, é pos-
sível utilizar o concreto como “um ponto de apoio necessário e inevitável” para o desen-
volvimento do pensamento abstrato. A educação escolar precisa ajudar os alunos a de-
senvolverem ideias associativas com abstração, signos e a construção do pensamento.
Para o autor o melhor encaminhamento pedagógico é aquele que desenvolve, por meio
do pensar, a abstração e a generalização.
31
O modelo de alfabetização exposto pela autora e que busca aportes nos métodos
tradicionais, torna-se artificial e mecânico e muito distante das práticas sociais. Feil
(1991) afirma que se ensina partindo de letras ou sons para a criança formar silabas e
só mais tarde formar palavras com a única finalidade de fixar as letras estudadas. O
aluno passa horas repetindo letras, sílabas e palavras, muitas vezes sem sentido para
ele, até que as memorize. Tal prática, certamente, não se preocupa com o uso social da
linguagem nos contextos reais em que ela pode acontecer.
Em pesquisa realizada por Shimazaki; Mori (1998), foi constatado que as pessoas
adultas com deficiência mental são capazes de serem alfabetizadas, ou seja, elas con-
seguem adquirir a tecnologia da escrita. É importante ressaltar que, nessa pesquisa, não
foram estudadas as questões concernentes ao nível de entendimento da escrita.
Outra pesquisa com adultos com síndrome de Down é apresentada por Moni; Job-
bing (2001) que, fundamentados na teoria sócio interacionista, desenvolveram um pro-
grama de escolarização com quatro pessoas com 18 anos de idade. Duas dessas pes-
soas estudavam em uma escola regular e as outras duas, em uma escola especial. Os
pesquisadores afirmam que os sujeitos melhoraram nas habilidades de codificar e na
fluência, todavia, a compreensão representava sua maior dificuldade.
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com deficiência mental. A pesquisa relata que a educação dada nas escolas é desvincu-
lada do cotidiano e que as pessoas, colocadas em situação onde o processo de ensino
e aprendizagem parte dos problemas cotidianos, pode elaborar conceitos científicos.
Nesse sentido, concorda-se com Soares (2003) que não basta saber ler e escre-
ver, é necessário saber fazer uso das práticas sociais da leitura e escrita, num pro-
cesso de compreensão, onde o indivíduo seja capaz de produzir sentido para a lingua-
gem e, assim, chegar as suas próprias descobertas, análises e sínteses.
33
considerada uma doença ou um transtorno psiquiátrico e sim ou mais fatores que cau-
sam um prejuízo das funções cognitivas que acompanham o desenvolvimento diferente
do cérebro. As deficiências intelectuais podem variar de leve à grave, diferenciando muito
a intervenção de quem trabalha com este aluno.
A definição de deficiência mental atualmente foi adotada pela Associação
América de Retardo Mental (AARM) em 1992, sendo aceita internacionalmente e preco-
nizada nos textos e documentos oficias do nosso país. A deficiência mental é defendida
pela Política Nacional de Educação Especial do MEC (BRASIL, 1997, p. 15) como:
Esta definição da AAMR (1992) enfatiza que outros aspectos precisam coe-
xistir, para que uma pessoa seja identificada como portadora de deficiência mental.
Na definição proposta pela AAMR, o funcionamento intelectual (a inteligência)
é entendido como “uma habilidade mental genérica. Inclui raciocínio, planejamento, so-
lução de problemas, pensamento abstrato, compreensão de ideias complexas, aprendi-
zagem rápida e aprendizagem através da experiência”. (BRASIL, p. 13, 2007).
O parâmetro utilizado para circunscrever o funcionamento intelectual é o QI
(Quociente de Inteligência). O conceito de QI é apontado como o mais adequado ao
diagnóstico de deficiência mental. Sabe-se que o QI é amplamente aceito e utilizado na
avaliação da capacidade intelectual tanto nos meios acadêmicos quanto na prática pro-
fissional. No entanto, não se pode continuar confundindo processo de cognição ou inte-
ligência com o QI: o primeiro diz respeito às funções cognitivas propriamente ditas; o
segundo é um produto das mesmas. (BRASIL, p.13, 2007).
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Para falar de Deficiência Mental há necessidade de falar um pouco da inteligên-
cia. A inteligência humana é um atributo mental multifatorial, envolvendo a linguagem, o
pensamento, a memória, a consciência. Assim sendo, a inteligência pode ser conside-
rada um atributo mental que combina muitos processos mentais, naturalmente dirigidos
à adaptação à realidade. (PIAGET, 1980).
Sem dúvida nenhuma, a base estrutural da inteligência humana é o Pensa-
mento, mais precisamente, o Pensamento Formal. Trata-se, o pensamento, de uma ope-
ração mental que nos permite aproveitar os conhecimentos adquiridos da vida social e
cultural, combiná-los logicamente e alcançar uma nova forma de conhecimento. (Dispo-
nível em: http://gballone.sites.uol.com.br/infantil/dm3.html. Acesso no dia: 21/08/2011).
A última revisão da definição da deficiência mental da AAMR, bastante re-
cente propõe que se abandonem os graus de comprometimento intelectual, pela gradu-
ação de medidas de apoio necessárias às pessoas com déficit cognitivo e destaca o
processo interativo entre as limitações funcionais próprias dos indivíduos que lhes são
disponíveis em seus ambientes de vida. Esta revisão chama atenção nas habilidades
adaptativas, que podem ser definidas como um ajustamento entre as capacidades dos
indivíduos e as estruturas e expectativas do meio em que vivem, aprendem, trabalham
e se aprazem. (MANTOAN, 1984).
Para que considere uma pessoa como deficiência mental, a idade de início da
deficiência deverá situar-se antes dos dezoito anos de idade, ou seja, aparecer durante
o curso de seu desenvolvimento. Essa idade limite está convencionada consensual-
mente na proposta da AAMR.
De acordo com a definição, entretanto, o índice QI, exclusivamente, não cons-
titui condição suficiente para diagnosticar uma pessoa como portadora de deficiências
mental, uma vez que outros aspectos devem ser considerados; são as áreas de habili-
dades adaptativas discriminadas na definição sendo que o mínimo de 02 (dois) precisa
estar defasado para que o diagnóstico seja definido.
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- AUTOCUIDADO: Refere-se às habilidades que asseguram a higiene pessoal, a ali-
mentação, o vestuário, o uso do sanitário, etc.;
-VIDA FAMILIAR: Diz respeito às habilidades necessárias para uma adequada funcio-
nalidade do lar, no cuidado com os bens da família, a participação nos trabalhos domés-
ticos, no convívio e nas relações familiares, dentre outros aspectos;
- SAÚDE E SEGURANÇA: Diz respeito às habilidades para cuidar da saúde, evitar do-
enças, cuidar da segurança, evitar perigos, seguir leis de trânsito e outras que visam ao
bem-estar e à saúde, desenvolver hábitos pessoais adequados, comunicar necessida-
des, pedir ajuda etc.
36
- TRABALHO: Refere-se às habilidades para realizar um trabalho em tempo parcial ou
total, comportando-se apropriadamente, cooperando, compartilhando, concluindo as ta-
refas, tomando iniciativas, administrando bem o salário, aceitando a hierarquia e as
próprias limitações e dos demais, realizando atividades independentes, etc. (Módulo:
Deficiência Mental, Brasil: 1997, p. 29-31)
37
disponível em: http://gballone.sites.uol.com.br/infantil/dm1.html. acesso no dia:
23/08/2011).
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Segundo ainda a autora acima o uso de habilidades intelectuais alternativas
decorre do desenvolvimento da eficiência cognitiva das pessoas com deficiência mental.
Os procedimentos utilizados para estimular essa eficiência têm por base a teoria da mo-
dificabilidade estrutural de Feuerstein (1979, apud Mantoan, 1984) que utilizou essa ex-
pressão para designar a modificação permanente que se opera no indivíduo, quando
participa de experiências de aprendizagem mediatizada.
O portador de deficiência mental na maioria das vezes apresenta dificuldades
ou nítido atraso em seu desenvolvimento neuropsicomotor (ADNPM), aquisição da fala
e outras habilidades (comportamento adaptativo).
Função mental e processos cognitivos são termos usados freqüentemente de
modo intercambiável significando funções ou processos como percepção, introspecção,
memória, criatividade, crença, raciocínio, volição e emoção - em outras palavras, todas
as coisas diferentes que podemos fazer com nossas mentes.
O atraso no desenvolvimento dos portadores de deficiência mental pode se
dar em nível neuropsicomotor, quando então a criança demora em firmar a cabeça, sen-
tar, andar, falar. Pode ainda dar-se em nível de aprendizado com notável dificuldade de
compreensão de normas e ordens, dificuldade no aprendizado escolar. Mas, é preciso
que haja vários sinais para que se suspeite de deficiência mental e, de modo geral, um
único aspecto não pode ser considerado indicativo de qualquer deficiência. A avaliação
da pessoa deve ser feita considerando-se sua totalidade. (BALLONE, 2007 Disponível
em: http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=29.Acesso no
dia:21/08/2011).
39
em sua organização sociopsicológica. Assim, não podemos avaliar suas ações e com-
pará-las com as demais pessoas, pois cada pessoa se desenvolve de forma única e
singular.
Nessa direção, cabe apontar ainda, que as pessoas com deficiência mental
não formam um grupo homogêneo entre si. Em outros termos, é preciso ter clareza que
são diferentes entre si e, existindo a diferença, é necessário estar atento às singularida-
des de cada pessoa e conhecer as suas histórias de vida (OLIVEIRA, 2006).
Segundo Piaget (1987), os alunos com deficiência mental passam pelos mes-
mos estágios de desenvolvimento cognitivo (sensório-motor, pré-operatório, operatório
concreto, operatório formal), pelos quais as demais pessoas passam.
O trabalho de Maria Tereza Mantoan (1991) traz um otimismo em relação às
possibilidades de desenvolvimento das estruturas do raciocínio lógico em deficientes
mentais, através de uma técnica de Construtivismo Epistemológico.
Também em relação à memória, igualmente prejudicada na deficiência men-
tal, considera ser uma habilidade intelectual que pode ser melhorada nos deficientes,
através de intervenções que fazem uso de estratégias de retenção e de outras capaci-
dades necessárias para a lembrança e reconstituição de fatos.
40
1) Aspectos quantitativos: refere-se ao tempo que pode ser contabilizado, o contar das
horas, dias, semanas, meses ou anos. Por exemplo: um aluno demora 40 minutos para
fazer um exercício enquanto o outro demora 3 horas para realizar a mesma atividade;
2) Aspectos qualitativos: refere-se ao tempo interno, ao tempo que cada pessoa precisa
para cada atividade, aprender algo ou fazer uma tarefa. Por exemplo: o professor explica
um conteúdo de Matemática (operação matemática: adição), um aluno demora 20 minu-
tos para entender e outro aluno demora 3 semanas para entender o mesmo conteúdo;
Para garantir que o tempo de cada aluno seja respeitado, deve-se ter um pla-
nejamento flexível, um acompanhamento no contra turno do aluno e uma parceria efetiva
com a família, além dos acompanhamentos clínicos quando necessários, que podem
envolver profissionais de áreas como psicopedagogia, fonoaudiologia, pedagogia, psico-
logia, etc.
Para conhecermos qual é o tempo de cada aluno, podemos avaliar alguns
aspectos:
O aluno mantém em média o mesmo tempo de aprender para todos os
conteúdos?
O aluno aprende mais rápido quando o assunto é de seu interesse?
O aluno aprende mais rápido quando a aula é mais dinâmica ou quando são
usados materiais concretos?
O aluno se mostra em desenvolvimento ou estacionado no seu processo de
aprendizagem?
Como está a auto estima desse aluno?
A escola tem servido como um ambiente que faz com que o aluno se sinta
diminuído, fracassado ou desinteressado?
41
O aluno está passando por algum problema pessoal que possa justificar um
problema em seu aprendizado? Por exemplo: separação de pais, escola nova, nasci-
mento de um irmão, etc. (id ibid., p.5).
Todas essas indagações fornecem dados e pistas para que o professor possa
entender, avaliar e fazer algumas mudanças em seu planejamento para contemplar o
aluno com deficiência intelectual que apresenta dificuldade na aprendizagem.
REFLEXÕES:
Ao pensar no aluno com deficiência intelectual e/ou com qualquer outra deficiên-
cia, tenha em mente alguém que pode aprender, mas menos que os restantes de
99% dos seus colegas da mesma idade; que necessita de muito mais TEMPO e
REPETIÇÃO para aprender e reaprender do que os outros; QUE ESQUECE mais
do que quase todos os outros se não praticar frequentemente; que tem dificulda-
des EM TRANSFERIR aquilo que aprendeu num dado ambiente para outro; e que
raramente CONSEGUE SINTETIZAR as aprendizagens adquiridas em diferentes
situações de MODO A APLICÁ-LAS efetivamente numa nova situação. Por fim,
faça a pergunta:
42
DISPONÍVEL EM: http://www.aprendizagemnadiversidade.ufc.br/documentos/inclusao_escolar/a_escola.pdf
RESUMO
Este artigo se propõe contribuir com a atual discussão a respeito da integração escolar da criança
portadora de deficiência intelectual. A partir de um referencial bibliográfico, discute-se as implica-
ções dessa integração e a possibilidade de fazer da escola elemento promotor da autonomia e da inte-
gração social dessas crianças. Isto implica a reestruturação dos serviços educacionais no sentido de
alocar na escola todos os seus recursos (humanos e materiais) comprometendo-os com os desafios
que a nova situação apresenta.
Introdução
4
Doutora em Educação. Departamento de Psicopedagogia. Université Laval. Québec – Canadá.
5
FIGUEIREDO, R. V. A Escola Como Lugar de Integração (Ou Segregação?) Da Criança Portadora de Deficiência Intelectual. Revista Educa-
ção em Questão, Natal, v. 6, n. 1, p. 112-127, 1996.
6
Doutora em Educação. Departamento de Psicopedagogia. Université Laval. Québec – Canadá.
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Por integração entendemos uma participação real das pessoas como elementos ativos
e produtivos na sociedade. A participação das pessoas portadoras de deficiência em
eventos e situações artificialmente criadas para elas reflete uma falsa Integração, pois
uma Integração real implica uma participação real na escola, no lazer e no trabalho.
Dentro desta perspectiva, é necessário reelaborarmos o conceito que temos das pes-
soas portadoras de deficiência. É preciso que tenhamos consciência de que elas têm
potencial e de que poderão desenvolver este potencial em favor de uma maior autono-
mia social. A autonomia social está intimamente relacionada à capacidade do sujeito de
interagir nos meios sociais, inclusive de exercer um trabalho remunerado. Esta condição
não diz respeito apenas às pessoas portadoras de deficiências, mas a todos os seres
humanos.
44
pelo menos durante o primeiro ano de vida. Essas crianças demonstram retardo no de-
senvolvimento motor, na linguagem ou em outros aspectos do desenvolvimento.
A ausência de segurança dos instrumentos de avaliação da deficiência mental, espe-
cialmente dos testes de inteligência, torna a classificação da deficiência intelectual leve
extremamente polêmica. Como se trata de um nível de funcionamento intelectual muito
próximo do das pessoas consideradas normais está muito mais susceptível a erros de
diagnóstico. Lambert (1978) adverte que, como se trata de crianças que são deficientes
apenas algumas horas por dia (durante o período que estão na escola), esta classifica-
ção não deveria existir O autor argumenta que, dado os efeitos negativos da rotulação,
a classificação da deficiência mental leve acarreta mais efeitos negativos que os bene-
fícios do serviço especializado.
No Brasil, um pais marcado por enormes desigualdades socioeconômicas e culturais,
por enormes dificuldades em nível educacional (tanto em relação ao acesso à escola
quanto à qualidade do ensino), a questão da rotulação de crianças como portadoras de
deficiência mental leve é muito mais complicada. Em virtude dessas desigualdades, cri-
anças advindas das classes economicamente desfavorecidas são muito mais susceptí-
veis de serem identificadas como portadoras de deficiência intelectual que aquelas de
classe média que apresentam idênticos problemas de comportamento e de aprendiza-
gem na escola. Presentemente, a Association Americaine of Mental Retardation
propõe uma nova definição e classificação da deficiência intelectual. Segundo a
A.A.M.R. a deficiência intelectual se refere a limitações substanciais no funcionamento
efetivo de uma pessoa. Ela se caracteriza por um desempenho intelectual significativa-
mente abaixo da média e por limitações ligadas a pelo menos duas esferas das seguin-
tes habilidades práticas de adaptação: comunicação, cuidados pessoais, habilidades
domésticas, habilidades sociais, utilização dos recursos e serviços da comunidade, ca-
pacidade de decidir e agir por si mesmo, saúde, conhecimentos ou habilidades escola-
res aplicadas a situações concretas, lazer e trabalho. A deficiência intelectual se mani-
festa na pessoa antes dos dezoito anos de idade.
Para a aplicação desta definição, alguns aspectos devem ser observados cuidadosa-
mente. Segundo o manual da A.A.M.R. (1992) que orienta o diagnóstico, a classificação
e o sistema de suporte educacional a ser oferecido à pessoa portadora de deficiência
intelectual, uma avaliação deve levar em consideração as diversidades linguísticas e
45
culturais e as diferenças de fatores relacionadas à comunicação e ao comportamento.
A existência de limitações nas habilidades adaptativas de uma pessoa deve se mani-
festar dentro do contexto do ambiente comunitário-físico de seus pares de mesma idade.
Essas limitações devem ser repertoriadas dentro das necessidades de ajuda desta pes-
soa.
Dentro desta nova perspectiva, o diagnóstico tem como objetivo i) delimitar a natureza
do suporte educacional que a pessoa tem necessidade, e) classificar e descrever:
a) o potencial e as fraquezas da pessoa em relação aos aspectos psicológicos-emocio-
nais; b) o estado geral de saúde física da pessoa, indicando as condições etiológicas;
c) o ambiente no qual a pessoa está inserida e o ambiente que venha a facilitar o seu
crescimento e desenvolvimento.
Sem entrar em detalhes quanto à pertinência desta nova orientação da A.A.M.R., o
aspecto que percebemos mais positivo é que se desloca a ênfase da classificação do
nível de deficiência sobre a pessoa, para a identificação do tipo e da intensidade do
suporte que deve ser oferecido. Este aspecto poderá ter uma repercussão positiva di-
ante da integração das pessoas portadoras de deficiência intelectual no sentido de que
mais importante que rotulá-las é buscar o suporte adequado às suas necessidades. Isto
não elimina o caráter discriminatório da educação especial, mas pelo menos chama
atenção para a importância do diagnóstico fundamentado em critérios rigorosos, bem
como para a importância de oferecer um modelo educacional o menos segregacionista
possível.
7
Utilizamos neste trabalho os termos tradicionais da classificação da deficiência intelectual porque não tivemos acesso
ainda a versão portuguesa da nova classificação sugerida pela A.A.M.R(1992).
46
mesma concepção se dava em relação ao ambiente de trabalho. A ideia de que as pes-
soas portadoras de deficiência intelectual não poderiam atuar de modo eficaz neste am-
biente, foi responsável pela inexistência de uma política de formação profissional. Não
existia a preocupação em preparar as pessoas consideradas não deficientes para inte-
ragir de modo construtivo com as pessoas deficientes porque não existia a consciência
de que elas poderiam interagir umas com as outras dentro de um ambiente natural.
Recentemente e, especialmente depois dos trabalhos de Brown (1991) e seus colabo-
radores, é que a sociedade começa a tomar consciência de que as pessoas portadoras
de deficiência intelectual mesmo em nível moderado e severo poderão atuar em dife-
rentes espaços da comunidade, inclusive na escola e no trabalho.
A emergência de pesquisa em educação especial, a formação de grupos de profissio-
nais empenhados no trabalho com as pessoas portadoras de deficiência e as pressões
legais das associações de grupos de pais têm contribuído muito para que as crianças
portadoras de deficiência ocupem cada vez mais lugar na escola regular (Payne e Pat-
ton,1981). Este fenômeno tem acontecido de modo bastante positivo em vários países
como: Suécia, Itália, Estados Unidos e Canadá. Nos Estados Unidos, no decorrer dos
anos 70 a 80 houve um crescimento muito forte do movimento de integração das crian-
ças portadoras de deficiência na classe regular de ensino. Entretanto, de acordo com
Falvey (1991) esta integração se dá de proporção diferente segundo cada Estado. Por
exemplo: no Estado de Virginia, das crianças portadoras de deficiência intelectual grave
(moderada e severa) 33% são escolarizadas em ambientes considerados segregacio-
nistas (instituições e escolas especializadas); 33% estão integradas na classe regular
de ensino; e 33% frequentam ambientes segregacionistas, mas adjacentes à escola re-
gular. Enquanto que no Estado de Vermont, apenas 5% das crianças consideradas gra-
vemente deficientes permanecem em ambientes segregados.
No Canadá, precisamente na província de Québec, o movimento em favor da integra-
ção escolar das crianças portadoras de deficiência se tornou mais expressivo no final
dos anos 70 com a divulgação do relatório do grupo Copex8. Este relatório denuncia o
aumento do número de crianças identificadas como excepcionais e critica a abordagem
médica utilizada como modelo para classificar estas crianças e determinar os serviços
8
Comitê formado por administradores escolares e professores para estudar a problemática do fracasso escolar na provín-
cia do Québec.
47
a serem oferecidos. O referido relatório denuncia ainda que os alunos que ingressavam
nos serviços especiais muito raramente saiam deles. Este documento teve uma influên-
cia muito forte sobre as posições tomadas pelo Ministério de educação do Québec em
relação à educação especial.
Em 1989, o governo do Québec cria a lei 107 que regulamenta a educação pública e
privilegia uma organização escolar fundamentada no reconhecimento do direito de que
toda criança tem de receber uma educação de qualidade apropriada as suas necessi-
dades específicas e dentro de um ambiente escolar normal (MEQ, 1992). Este fato ace-
lerou o processo de integração da criança portadora de deficiência na classe regular de
ensino. Esta integração exigiu da escola uma reorganização dos serviços educacionais
oferecidos. Isto implica, na adaptação do ensino regular para atender as necessidades
específicas de cada criança. A adaptação é promovida pela equipe responsável pela
escolarização da criança que é constituída do professor do ensino regular, do educador
especialista em educação especial, do diretor da escola e dos pais da criança. A equipe
elabora um plano de intervenção pedagógica para cada criança integrada no ensino
regular. O plano de intervenção, por sua vez, pode prever o oferecimento de serviços
especiais dentro da própria sala de aula, ou em outro local. O serviço oferecido na sala
regular de ensino tem por base a presença do educador do ensino especial que traba-
lhar diretamente com a criança e conjuntamente com o professor da sala regular. O
serviço oferecido em outro local, como na sala de recurso por exemplo, propõe que em
determinados momentos a criança sai da sala de aula para receber esses serviços.
9
Em Québec utiliza-se o termo adaptação escolar para as adaptações que são efetuadas na escola, especialmente na classe
regular, com o objetivo de favorecer a aprendizagem e a integração da criança portadoras de necessidades educacionais
especiais.
48
No Brasil, as crianças identificadas como portadoras de deficiência intelectual já são
colocadas em classes especiais a partir da primeira série do primeiro grau, mesmo
aquelas consideradas portadoras de deficiência intelectual leve. Geralmente, são as di-
ficuldades que as crianças encontram durante seu processo de alfabetização que de-
sencadeiam o encaminhamento dessas crianças para uma avaliação psicológica. Essa
avaliação, na maioria dos Estados brasileiros, é feita pelo serviço de triagem do órgão
da Secretaria de Educação responsável pela educação especial. A criança identificada
como portadora de deficiência é encaminhada para o serviço de educação especial com
o objetivo de receber um atendimento especializado que favoreça seu desenvolvimento
e sua aprendizagem. Ela permanece na classe especial até que seja considerada apta
a reingressar no ensino regular ou até concluir a quarta série do primeiro grau. A partir
da quinta série ingressará no ensino regular e permanecerá com o acompanhamento
de serviço itinerante quando este for considerado necessário.
Considerando que o início da escolarização é um período extremamente importante
para a socialização das crianças e para a aquisição de comportamentos sociais, a prá-
tica da integração escolar no Brasil, para as crianças portadoras de deficiência, deve
ser urgentemente revisada. A criança agrupada em ambiente segregativo (classe espe-
cial, instituição ou escola especializada) não poderá se beneficiar da interação com a
criança normal. Esta interação é fundamental para a aquisição dos comportamentos
sociais adequados à idade cronológica. Da criança. Quanto à polêmica a respeito da
integração por idade mental ou idade cronológica, de acordo com McClennen (1991), a
integração deve visar à idade cronológica e não à idade mental da criança. McClennen
argumenta que uma criança mais velha portadora da deficiência mental, não é como
uma criança normalmente mais jovem, porque ela tem vivências e experiências de vida
que faz de si uma criança diferente de uma criança normalmente mais nova, logo as
expectativas que devemos ter dela e as oportunidades que devemos lhe oferecer para
viver, trabalhar e se divertir na comunidade, requerem que se considere a sua idade
cronológica.
De acordo com Voetz (in Saint-Laurent,1989), a escola e a comunidade são essenciais
às necessidades educacionais das crianças portadoras de deficiências graves (mode-
rada e severa). Voetz argumenta que os contextos naturais (escola, família e comuni-
dade) são necessários para o desenvolvimento das habilidades funcionais gerais e para
49
a aquisição dos comportamentos que assegurarão no futuro a autonomia máxima des-
sas pessoas.
Considerando que os comportamentos sociais se produzem com base em relações e
em interações que o sujeito estabelece dentro de uma situação de vida concreta, se
limitarmos as experiências concretas do sujeito, limitaremos sua possibilidade de elabo-
rar comportamentos adequados ao seu grupo social. Em geral, as crianças portadoras
de deficiência intelectual apresentam dificuldades na aquisição desses comportamen-
tos. Agrupar estas crianças com o objetivo de lhes ensinar os comportamentos próprios
a suas idades cronológicas é incoerente. Não podemos ensinar comportamentos isola-
dos do contexto onde eles se manifestam. Não é via o ensino formal que iremos ensinar
às crianças os comportamentos do seu grupo social. A criança precisa vivenciar situa-
ções reais e
7
Em Québec emprega-se o termo: ”élèves en dificulté d’apprentissage”.
Interagir com sujeitos reais para que possa elaborar comportamentos adequados à si-
tuação vivenciada.
Analisando a importância de bons modelos para a aquisição de comportamentos soci-
ais, Langevin (1986) diz que, mesmo que o professor fosse capaz de desempenhar o
papel de um “bom modelo”, ele não seria capaz de compartilhar dos interesses, das
ideias e das brincadeiras das crianças, pois são coisas que só podem ser feitas dentro
de uma situação de interações concretas e significativas.
Inúmeras pesquisas demonstram as vantagens do meio escolar regular para a escola-
rização das crianças portadoras de deficiência intelectual moderada e severa (Ziegler e
Hambleton; McCarty e Stoden; Porman; Gomes; in Saint Laurent, 1989), (Goldstein et
alii, in Matson e Mulick, 1991). As pesquisas mostram principalmente as vantagens do
meio escolar regular na aquisição de comportamentos sociais. Outros estudos fazem
referência à melhoria nos resultados acadêmicos das crianças após a integração (Al-
mond,Rodgerse, run; Gottieb, Walker, in Saint-Laurent,1989).
Entretanto, integração escolar não significa colocar todas as crianças deficientes dentro
da classe regular sem nenhum critério. Existem alguns aspectos que devem ser consi-
derados, entre eles: as possibilidades e limitações das crianças a serem integradas, a
preparação do professor e dos alunos da classe regular e o tipo de suporte educacional
que melhor corresponde às necessidades da criança. A classe regular não se constitui
50
também na única via possível de integração. Embora ela seja a mais desejável, outros
serviços e modalidades de integração também devem ser considerados.
51
instituições ou escolas especializadas. São poucas as que estão na escola regular, es-
pecialmente na classe regular.
Os educadores que defendem a classe especial argumentam que ela assegura melhor
condições de aprendizagem porque oferece métodos de ensino especializados, atenção
do professor quase que individualizada (dado o reduzido número de alunos) e uma
maior homogeneidade da turma, visto que as crianças são agrupadas de acordo com a
natureza de suas deficiências. Entretanto, o trabalho de Smicher et Bolm (citado por
Lambert,1978) oferece uma outra leitura dessa. Questão esses autores mostram que,
ao invés de desenvolverem conteúdos e métodos de ensino especializados, grande nú-
mero da classe especial segue simplesmente o programa tradicional, mas com exigên-
cias reduzidas ao nível de aquisição dos conteúdos escolares. Em relação ao argumento
da homogeneidade, Bruininks (in Lambert,1978) demonstra que a heterogeneidade pre-
valece na classe especial e em muitos casos nas mesmas proporções que na classe
regular. Isto, devido às correlações imperfeitas entre o QI (base da separação por nível)
e os comportamentos exigidos pelas aprendizagens escolares, e, também, pela grande
variação de idade cronológica que existe na classe especial.
Os educadores que defendem a integração escolar na classe regular, percebem a he-
terogeneidade como uma possibilidade de enriquecimento do grupo. Meirieu (in Ge-
audreau et Canavero,1990) afirma que a heterogeneidade dos alunos não é um fato
propriamente escolar; não se constitui também num obstáculo o qual deva ser reduzido
a qualquer preço, mas é uma oportunidade que deve ser aproveitada como possibilidade
de construir-se uma sociedade nova, que respeite as diferenças, e que forneça a todos
os instrumentos conceituais para construir-se a sociedade de amanhã.
Os educadores que defendem a integração escolar se fundamentam em pesquisas as
quais demonstram que esta integração tem um efeito positivo não somente nas atitudes
dos estudantes portadores de deficiências, mas também nas daqueles considerados
normais (McCarthy & Stodden; Porman; Almond; Rodgers et Krug, in Saint Laurent,
1979). Entretanto, a integração escolar não pressupõe a ausência de necessidades edu-
cacionais especiais. Pelo contrário, a consciência dessas necessidades implica luta pela
garantia dos serviços educacionais especializados
52
Decidir que serviço educacional é o mais indicado para determinadas crianças não sig-
nifica apenas escolher uma modalidade de integração, mas sobretudo refletir sobre o
objetivo da educação.
Segundo Matson e Mulick (1991), devemos oferecer à criança portadora de deficiência
intelectual um ambiente educacional o menos restritivo possível; devemos também pro-
porcionar-lhes aprendizagens efetivas em nível cognitivo. Para este autor, não é sufici-
ente desenvolver nessas crianças habilidades afetivas e sociais, mas é imprescindível
lhes oferecer uma educação que permita a sua participação efetiva na sociedade. Neste
caso, qual a melhor maneira de educá-las? Matson e Mulich (1991) dizem que para
responder a esta questão precisamos saber quais são as competências que a sociedade
requer para que uma pessoa seja capaz de atuar efetivamente no contexto dessa soci-
edade. A partir da delimitação dessas competências poderemos definir os objetivos edu-
cacionais. A tarefa da educação é identificar uma pedagogia capaz de facilitar às crian-
ças a aquisição dos comportamentos requeridos pela sociedade.
Esta nova realidade impõe à escola um novo desafio. De um lado, a integração e, do
outro, uma educação capaz de responder às necessidades educacionais de todos os
seus educandos.
53
educacional paralela. Não faz sentido a manutenção de serviços e de profissionais es-
pecializados sem que estes estejam alocados na escola e implicados com esta como
um todo.
A permanência desses serviços e dos recursos humanos especializados em outros es-
paços, cria um distanciamento entre aqueles que fazem a educação especial (educado-
res e educandos) e a escola. Os alunos do ensino especial se tornam uma “clientela
“diferenciada dentro da própria escola. Os educadores do ensino, especial por sua vez,
também se limitam à “clientela” e ao espaço da educação especial É como se eles fi-
zessem parte de uma estrutura diferenciada de ensino.
Este aspecto, de fato, dificulta a integração escolar da criança, pois ela frequenta a
escola, mas não faz parte dela como um todo. Existem serviços e profissionais “especi-
ais” alheios à escola (embora muitas vezes funcionando e atuando dentro dela) que
devem se ocupar dessa criança.
Com essa estrutura, o profissional do ensino especial (especialista, professor, psicó-
logo, assistente social e outros) não se sente envolvido com a escola como um conjunto.
Sua ação se limita à criança do ensino especial. Nesta concepção é como se a criança
não fizesse parte do contexto da escola na qual se pretende que ela esteja inserida. A
ideia de base da integração escolar não é eliminar os serviços educacionais especiais,
pelo contrário, é garantir a sua permanência no interior da escola, mas dando a eles um
outro caráter. Partindo do suposto de que a criança portadora de deficiência, ou não,
faz parte da escola como um todo, o educador do ensino especial não pode restringir
suas ações a um campo específico, como, por exemplo, à classe especial e aos alunos
do ensino especial. Ele deve estender suas ações a todas as esferas da escola.
A integração da criança passa pela integração dos educadores. Esta integração não
significa apenas a presença física do educador do ensino especial na escola regular.
Significa, acima de tudo, que ele esteja comprometido com a escola e com os seus
desafios. No caso da integração da criança no ensino regular, o educador com formação
em educação especial atua lado a lado com o professor da classe regular no sentido de
promover um ensino que corresponda não somente às necessidades específicas do
aluno portador de deficiência, mas que corresponda aos interesse e necessidades de
todos os alunos da classe. Isto requer a adaptação do ensino que, entre outros aspec-
tos, significa: alocar os recursos humanos na escola para trabalharem conjuntamente
54
no sentido de desenvolver métodos de ensino, programas e materiais adaptados à nova
situação, bem como para atuarem em conflitos e desafios que toda situação educacional
apresenta. Desse modo, a presença de crianças portadoras de deficiência não se cons-
titui num problema para a escola, mas numa possibilidade de aprendizagem e enrique-
cimento para todos.
Os adversários da integração justificam:) a falta de formação dos professores para tra-
balharem com as crianças portadoras de deficiência,) o nível de exigência do ensino
regular e) a dificuldade da integração para a própria criança e as outras. Conforme Ge-
audreau e Canavero (1990), essas pessoas raramente percebem o que pode existir de
construtivo para a criança considerada normal em interagir verdadeiramente com a cri-
ança deficiente. Para os autores acima citados, este tipo de intolerância revela a per-
cepção do papel da escola como o de preparar a emergência do mais forte e mais bri-
lhante. Esta concepção decorre de um sistema de valores mais amplo constituído com
base nas relações que se estabelecem no interior dos grupos sociais.
A escola, enquanto elemento básico no processo de autonomia e integração social das
pessoas portadoras de deficiências, não pode deixar de refletir e tentar precisar as con-
dições essenciais para a promoção desta integração. Afirmam Geaudreau e Canavero
(1990) que o fato de uma pequena minoria de crianças, portadoras de deficiências múl-
tiplas, não ter condições de ser integrada na escola, não deve colocar em dúvida a in-
tegração de uma vasta maioria de crianças que apresentam uma deficiência ou outra.
Negar a possibilidade de integração escolar dessas crianças é negar a oportunidades
de prepará-las para a integração na sociedade. Isto implica instrumentalizá-las para in-
teragir no interior da sociedade, o que significa acesso à escola, ao trabalho e ao lazer.
No entanto, enquanto a escola não aprender a trabalhar com as diversidades, não cons-
truir um novo conceito que substitua o seu caráter seletivo, não se criarão as condições
nem a vontade política para que a verdadeira integração seja promovida.
Bibliografia consultada
BROWN, Lou, Mary Beth Branston, Susan Hamre-Nieupski, Fran Johson, Barbara
wilcox et Lee Gruenewald (1981) “Rationnel en faveu d’interactions globales et à long
55
terme entre les `tudiants sévèrement handicapés, les étudiants non handicapés et
les autres citoyens”. In: Revue de modification du comportement Vol. II, n. 1, pp.11-
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McCLENNEN, S.E. (1991) Cognitive Skills for Community Living Teaching Sudents
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Québec (1992). Document de Travail. Québec, MEQ.
56
SAINT-LAURENT, Lise (1989) “Intégration scolaire au primaire des élèves pré-
sentant une déficience intellectuelle moyenne” In: Apprentissage et Socialisation, V.
12, n. 3 Québec, Université Laval.
57