Revista Luterana 2010-2
Revista Luterana 2010-2
Revista Luterana 2010-2
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IGREJA LUTERANA
SEMINÁRIO
CONCÓRDIA
Diretor
Gerson Luis Linden
Professores
Acir Raymann, Anselmo Ernesto Graff, Clóvis Jair Prunzel, Gerson Luis Linden,
Leopoldo Heimann, Paulo Gerhard Pietzsch, Paulo Proske Weirich, Paulo Wille
Buss, Raul Blum, Vilson Scholz
Professores Eméritos
Donaldo Schüler, Paulo F. Flor
Norberto Heine
IGREJA LUTERANA
ISSN 0103-779X
Revista semestral de Teologia publicada em junho e novembro pela Faculdade de
Teologia do Seminário Concórdia, da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB),
São Leopoldo, Rio Grande do Sul, Brasil.
Conselho Editorial
Paulo Wille Buss (Editor), Paulo Proske Weirich (Editor Homilético), Acir Raymann.
Assistência Administrativa
Nara Coelho do Rosário
Solicita-se permuta
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CORRESPONDÊNCIA
Revista Igreja Luterana
Seminário Concórdia
Caixa Postal 202
93001-970 – São Leopoldo/RS
Telefone: (0xx)51 3592 9035
e-mail: revista@seminarioconcordia.com.br
www.seminarioconcordia.com.br
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ÍNDICE
ARTIGOS
CUIDADO PASTORAL AO ALCOOLISTA A PARTIR DA CRUZ:
DESENVOLVENDO UMA ATITUDE ACOLHEDORA 5
Samuel Reduss Fuhrmann
AUXÍLIOS HOMILÉTICOS 37
DEVOCIONAL
“TODOS OS DEUSES ESTÃO MORTOS” - João 5.1-9 188
William D. Miller
IGREJA LUTERANA
Volume 69 – Novembro 2010 - Número 2
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ARTIGOS
1 INTRODUÇÃO
* Pastor da IELB em Santa Cruz do Sul, RS. Trabalho produzido sob a orientação do
pastor e psicólogo Norberto E. Heine e apresentado como trabalho de conclusão ao
Colóquio Teológico Pastoral (CTP) do curso de Especialista em Ministério pelo Seminário
Concórdia.
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IGREJA LUTERANA
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CUIDADO PASTORAL AO ALCOOLISTA A PARTIR DA CRUZ
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IGREJA LUTERANA
Tendo em vista que esta pesquisa não tem por objetivo entrar nesta
discussão de conceitos, busca-se aqui evitar uma definição que minimize
a dimensão do problema, mas que o compreenda tal como é. Por isso, é
importante considerar a definição sugerida por Bertolote. Segundo o au-
tor, nos últimos anos o alcoolismo tem sido devidamente definido “como
um fenômeno que se manifesta em várias dimensões, expressando-se ao
longo de distintos eixos: físico, mas também psicológico e social”. Dessa
forma, conclui o autor:
Portanto, a partir do que foi evidenciado até aqui, este trabalho assume
como princípio o fato de que o alcoolismo é uma doença, mas como sugere
Burns, uma “doença multifacetada” [destaque nosso] em que os aspec-
tos físico, emocional, social e espiritual são afetados; consequentemente,
o acoolista, a família e a igreja sofrem tais consequências.
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CUIDADO PASTORAL AO ALCOOLISTA A PARTIR DA CRUZ
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Tais atitudes diante do alcoolismo são, na maioria das vezes, “não aco-
lhedoras” e, em muitos casos, passam a ser assimiladas por congregações
cristãs; assim, a igreja perde seu caráter acolhedor. Este aspecto, bem
como os demais mencionados neste capítulo – doença, sofrimento, culpa,
preconceitos e exclusão – tornam-se pontos de contato entre o conselheiro
e o alcoolista, de modo que o pastor pode oferecer cuidado pastoral aco-
lhedor. Tal cuidado, sem deixar de considerar a importância da disposição
do alcoolista para lutar contra o alcoolismo, baseia-se na esperança que
provém do Deus que nos acolhe incondicionalmente em Cristo.
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CUIDADO PASTORAL AO ALCOOLISTA A PARTIR DA CRUZ
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CUIDADO PASTORAL AO ALCOOLISTA A PARTIR DA CRUZ
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IGREJA LUTERANA
Esta concepção sobre quem é o ser humano bem como o correto uso
da lei conduz o pastor a, sadiamente, não fazer distinções entre membros,
entre os “bêbados” e os sóbrios. Todos são vistos e cuidados pastoralmente
como pecadores iguais diante de Deus. Conforme afirma Lutero:
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CUIDADO PASTORAL AO ALCOOLISTA A PARTIR DA CRUZ
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IGREJA LUTERANA
Tal esperança não é constituída pela idéia de que tudo vai dar certo, de
que tudo vai ficar bem, o que seria uma confusão entre fé e “pensamento
positivo”; também “não é um sentimento [subjetivo] ou mesmo um desejo
para que as coisas sejam diferentes, mas uma realidade presente baseada
nas promessas de Deus”.
Cuidado pastoral evangélico ao alcoolista é, portanto, baseado não na
subjetividade da maneira que o alcoolista se sente e em suas disposições
e capacidade para parar de beber, mas nos atos objetivos realizados por
Deus. Ao passo que pessoas depressivas, como a maioria dos alcoolistas,
focam sua melhora e recuperação na maneira como se sentem, como
lembra Eyer, o pastor precisa focar sua mensagem na objetividade da cruz,
onde também os pecados do alcoolista foram pagos e de onde ele tem o
perdão e a certeza que Deus está presente em meio ao seu sofrimento.
Desse modo, o pastor aponta para as “promessas objetivas que Deus
nos dá, de que ele nunca nos abandonará”. E esta promessa é cumprida
também fisicamente, conforme corretamente destacado pelo autor. Eyer
afirma:
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CUIDADO PASTORAL AO ALCOOLISTA A PARTIR DA CRUZ
A carta do apóstolo Paulo aos romanos foi escrita por volta do ano 56
d.C., provavelmente enquanto o apóstolo estava em Corinto. Ela apresenta
a doutrina fundamental da Igreja Cristã, a saber, “o justo viverá por fé”
(1.17). Na verdade, através deste ensino Paulo não estava apresentando
algo novo aos romanos, pois eles já eram cristãos; o apóstolo estava
lembrando a eles quem os membros daquela igreja eram em Cristo.
Este fato é importante aqui porque quando Paulo escreveu esta carta
ele tinha um plano em mente – pregar o evangelho na Espanha (15.24),
“não onde Cristo já fora anunciado” (15.20). Ele queria que mais pecado-
res fossem acolhidos pela Igreja de Cristo, o que poderia tornar-se real
através da ajuda dos romanos. Segundo Martin H. Franzmann, “Paulo
evidentemente espera que Roma possa tornar-se sua base missionária
no Oeste”.
Para tanto, Paulo busca alcançar seu objetivo sem apelar para a piedade
dos romanos, mas ele os faz retornar às suas bases, às bases da Igreja
de todos os tempos – Cristo crucificado e batismo (6.1-14) – mostrando
como é a vida “sob a graça” (6.14). E parte desta vida sob a graça de Deus,
baseado em Cristo na cruz e no batismo, é evidenciada em Rm 15.1-7.
Outro aspecto que merece destaque é o fato de haver os chamados
“fracos na fé” naquela igreja. Independentemente se estes eram “legalis-
tas” que julgavam alcançar a justiça de Deus por suas obras, ou apenas
pessoas que não toleravam o consumo de certas comidas e bebidas (ofere-
cidas em sacrifícios), como lembra Cranfield, o fato é que se tais questões
entre os romanos não fossem devidamente tratadas, correr-se-ia o “risco
de destruir a fé do colega-cristão”. Por este motivo, as exortações sobre
o cuidado com os “fracos” (caps. 14 e 15) são devidamente abordadas
pelo apóstolo.
A partir disso é permitido assumir que esta carta, além de ser fun-
damental para a doutrina da justificação pela fé, tem algo a dizer sobre
vida cristã e, consequentemente, ensina algo a pastores/cuidadores pois,
conforme dito acima, Paulo remete seus leitores às bases corretas, focando
as obras objetivas de Deus.
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IGREJA LUTERANA
Romanos 15.1-4:
1
Ora, nós que somos fortes devemos suportar as debilidades dos
fracos e não agradar-nos a nós mesmos. 2 Portanto, cada um de
nós agrade ao próximo no que é bom para edificação. 3 Porque
também Cristo não se agradou a si mesmo; antes, como está
escrito: As injúrias dos que te ultrajavam caíram sobre mim. 4 Pois
tudo quanto, outrora, foi escrito foi escrito para o nosso ensino,
a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras,
tenhamos esperança.
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CUIDADO PASTORAL AO ALCOOLISTA A PARTIR DA CRUZ
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IGREJA LUTERANA
5
Ora, o Deus da paciência e da consolação vos conceda o mesmo
sentir de uns para com os outros, segundo Cristo Jesus, 6 para que
concordemente e a uma voz glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso
Senhor Jesus Cristo. 7 Portanto, acolhei-vos uns aos outros, como
também Cristo nos acolheu para a glória de Deus.
Vocês não possuem estas duas qualidades por vocês mesmos, mas
Deus é aquele que as concede [a vocês] [...] para ser da mesma
mente, sentimento e pensamento, um com o outro, por sua vez,
para que não haja divisão ou cismas entre vocês, segundo Jesus
Cristo, e não segundo a carne e o mundo, naquelas coisas as
quais pertencem a Cristo ou que estão de acordo com o exemplo
de Cristo, que fez isto por vocês para a honra de Deus.
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CUIDADO PASTORAL AO ALCOOLISTA A PARTIR DA CRUZ
do apóstolo até aqui têm como propósito glorificar a Deus, o que é enfa-
tizado nas palavras do versículo seguinte.
V. 7: “Portanto, acolhei-vos uns aos outros”: a palavra “acolhei-vos”
traduz o termo proslamba,nesqe, de proslamba,nw. Esta palavra aparece
3 vezes na carta aos Romanos, em 14.1,3 e 15.7, e é usado ao referir-se
ao fato de que os fracos na fé deviam ser acolhidos e, principalmente,
ao fato de que “Deus o acolheu” (14.3) (aos fortes e aos fracos na fé).
Tais passagens evidenciam que “Deus acolheu cada membro da Igreja
para dentro da comunhão com Ele”, o que motivaria membros da Igreja
a acolher a outros em seu meio.
“Como também Cristo nos acolheu para a glória de Deus”: a expressão
eivj do,xan tou/ qeou/, traduzida por “para glória de Deus” também é digna
de atenção especial aqui. A preposição eivj por vezes “denota a direção
de uma ação para um fim específico”. A partir disso conclui-se que o fim
para a ação de acolhimento mútuo é a glória de Deus, pois o acolhimento
de pecadores o glorifica. Conforme Lutero,
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IGREJA LUTERANA
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CUIDADO PASTORAL AO ALCOOLISTA A PARTIR DA CRUZ
A partir dessas palavras vê-se que todo aquele que foi libertado por
Cristo não está mais preso a buscar as coisas para si mesmo, pois já possui
tudo de seu Senhor e pode, portanto, buscar o que o próximo precisa, o
que é “vantajoso” a ele, embora seja preciso considerar que a velha natu-
reza ainda habita no crente e, por isso, há a constante luta entre o “velho
homem” e o “novo homem”, o que também foi vastamente abordado pelo
reformador no seu tratado sobre “a Liberdade Cristã”.
Além disso, quando Lutero comenta o capítulo 14 de Romanos (con-
texto da perícope estudada aqui), em que o apóstolo trata sobre o comer
de determinadas comidas e o não comer delas em favor dos mais fracos,
o reformador diz o seguinte:
Tais palavras resumem bem o que é entendido aqui por liberdade cristã
e seu correto uso diante de um alcoolista. Jamais devemos permitir que
nossa liberdade para ingerir bebidas alcoólicas venha a “causar dano” na
luta diária do irmão na fé contra o alcoolismo.
Tal cuidado dentro de uma comunidade cristã estaria em, talvez, infor-
mar os membros que não têm problema com o álcool sobre a dimensão
do alcoolismo bem como a luta constante que o irmão na fé alcoolista
enfrenta a cada dia. Já a maneira como cada comunidade responderia a
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IGREJA LUTERANA
5 CONCLUSÃO
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CUIDADO PASTORAL AO ALCOOLISTA A PARTIR DA CRUZ
6 BIBLIOGRAFIA
27
IGREJA LUTERANA
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FÓRMULA DE CONCÓRDIA -
EPÍTOME (p.529-531) E DECLARAÇÃO
SÓLIDA (p.654-660)
X. DE PRAXES ECLESIÁSTICAS CHAMADAS
ADIAPHORA OU COISAS INDIFERENTES
Ezequiel Blum*
1 INTRODUÇÃO
2 ASPECTOS HISTÓRICOS
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IGREJA LUTERANA
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FÓRMULA DE CONCÓRDIA
seja aos inimigos ou aos amigos da igreja luterana, em especial aos seus
membros fracos? Esta pergunta foi respondida afirmativamente pelos
adeptos do Ínterim, mas negado pelos seus oponentes.
Sancionada a atitude teológica de Flacius: A posição teológica que
Flacius e seus amigos de luta ocuparam em relação aos adiaforistas foi
concretizada no Décimo Artigo da Fórmula de Concórdia, e assim endossada
pela igreja luterana em bloco. Frank diz com respeito a este mui excelente
artigo que nossa igreja deve à fidelidade dos que se opuseram a Melan-
chton, notavelmente a Flacius: “As teses que receberam reconhecimento
eclesiástico na Fórmula de Concórdia foram as de Flacius”. O problema
todo, igualmente, sobre os adiáforos fora discutido de modo tão amplo
e correto que a subsequente formulação e o reconhecimento do Décimo
Artigo só causou poucas dificuldades. Até mesmo Melanchton, ainda que se
recusasse a reconhecer que fosse culpado de qualquer desvio doutrinário,
finalmente cedeu aos argumentos de seus opositores e admitiu que estes
estiveram corretos em seu ensino sobre os adiáforos.
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FÓRMULA DE CONCÓRDIA
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FÓRMULA DE CONCÓRDIA
5 CONCLUSÃO
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AUXÍLIOS HOMILÉTICOS
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
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IGREJA LUTERANA
Jesus não nega que é Rei. Dali a poucas horas ele vai confirmar o rumor
que se espalhara pelas províncias da Judeia, Galileia e Samaria, e além
fronteiras. Até li ele evitara essa identificação. João deixa este registro:
Sabendo, pois, Jesus que estavam para vir com o intuito de arrebatá-lo
para o proclamarem rei, retirou-se […]” Jo 6.13. O povo queria alguém
que os alimentasse com as próprias ilusões. Entretanto, agora Jesus aceita
o canto e a explosão de entusiasmo com que a multidão o acompanha.
Enquanto o povo canta, ele vê diante de si o momento em que dirá a
Pilatos: “Tu o dizes”, confirmando que assume o título de Rei. Enquanto
que a Pedro ele tinha de dizer: “Basta!” quando esse atacou os que vi-
nham prender Jesus. E a Pilatos responde, finalmente: “O meu Reino não
é deste mundo” Jo 18.36.
Não só não é deste mundo, como também é hostilizado até à morte
pelo espírito que governa este mundo. O reino de Jesus ofende “o presente
século” (Rm 12.1) porque Jesus apresenta a verdade sobre o espírito do
presente aioon. A verdade a respeito deste século se manifesta na presença
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PRIMEIRO DOMINGO NO ADVENTO
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IGREJA LUTERANA
Paulo P. Weirich
São Leopoldo/RS
weirich.proskep@gmail.com
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SEGUNDO DOMINGO NO ADVENTO
5 de dezembro de 2010
1 DESTAQUES DO TEXTO
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IGREJA LUTERANA
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SEGUNDO DOMINGO NO ADVENTO
mento já começa agora, nas próprias palavras de João, como juízo contra
a atitude das pessoas que se colocam contra o reino de Deus, manifestado
na pessoa e obra de Jesus (cf. Jo 3.18b).
V.11: “Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” – ainda que
estas palavras se cumpram de forma inicial no Pentecostes e no batismo
cristão, é importante observar o contexto escatológico destas palavras
de João (vv. 10,12). Jesus é aquele que concede o Espírito Santo. Isto já
é uma realidade no caso do batismo cristão, quando o Espírito Santo é
recebido como o sinal (“penhor”) da redenção final – 2 Co 1.22; 5.5; Ef
1.13,14; 4.30. O fogo do juízo veio antecipadamente sobre o próprio Jesus
(Lc 12.49,50), mas virá de maneira definitiva no dia do juízo final sobre os
que o rejeitaram. Assim também o Espírito Santo será dado plenamente
aos crentes como dádiva escatológica.
2 REFLEXÃO HOMILÉTICA
Arrependei-vos!
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IGREJA LUTERANA
Gerson L. Linden
São Leopoldo/RS
gerson.linden@gmail.com
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TERCEIRO DOMINGO NO ADVENTO
12 de dezembro de 2010
1 TEXTO E CONTEXTO
Quando João Batista aparece nas leituras bíblicas é sinal de que o Na-
tal está perto. Ele é o precursor do Messias; ele é o mensageiro; ele é o
“Elias”. João está na prisão, confinado na fortaleza de Maquerus, junto ao
mar Morto. Do cárcere João envia “por seus discípulos” (ARA) uma per-
gunta a Jesus. A expressão é controvertida. Roger L. Omanson, Variantes
Textuais do Novo Testamento, diz que “uma leitura que tem amplo apoio
de manuscritos antigos de diferentes tipos de texto traz “dois dos seus
discípulos” e que “resulta de uma modificação feita para harmonizar o texto
com o relato paralelo em Lc 7.18, que tem “dois dos seus discípulos” (p.
15). Embora a NTLH opte por “alguns de seus discípulos”, homileticamente
o pastor pode preferir ARA para enfatizar a certeza que João esperava na
resposta: ela precisava vir em coro!
O v. 3: “aquele que estava para vir” traduz o particípio presente ho
erchomenos. Tecnicamente, portanto, “aquele que vem” seria mais ade-
quado por ser uma referência direta ao Messias, tantas vezes mencionado
no Antigo Testamento.
V. 10: Alguns consideram esta citação de Malaquias 3.1 uma inserção
feita por Mateus. Na verdade ela não precisa ser olhada desta forma. Jesus
substitui “meu” e “mim”, do Texto Massorético, por “teu” e “ti”, de forma
que a citação se torna um anúncio feito por Deus ao Messias.
V. 12: O termo traduzido por “tomado por esforço” (ARA) seria melhor
traduzido por “sofre violência”, proposta por meu colega Vilson Scholz,
Novo Testamento Interlinear, p. 42.
2 SUGESTÕES HOMILÉTICAS
Esta semana muita gente ficou famosa no Brasil por causa do futebol.
Um time foi vencedor, jogadores foram premiados por serem goleadores;
técnicos foram homenageados. O ser humano premia os melhores – estes
se tornam celebridades, não por muito tempo, mas são celebridades.
João não foi o melhor, nem o maior. Não se destacou em nada. Jamais
foi o homem do ano, não fundou uma ONG ou inaugurou uma instituição
de caridade. Não usava roupas da moda - em resumo, João não era uma
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IGREJA LUTERANA
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TERCEIRO DOMINGO NO ADVENTO
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IGREJA LUTERANA
mundo nem aos nossos olhos. Aos nossos olhos somos apenas pecadores,
filhos de Adão, que não foi aquela celebridade. Mas batizados na vinda,
vida e morte de Jesus e unidos a ele pela Sua Palavra somos certamente
os maiores, porque nEle somos mais que vencedores.
Acir Raymann
São Leopoldo/RS
acir.raymann@gmail.com
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QUARTO DOMINGO NO ADVENTO
19 de dezembro de 2010
Deus se faz criança por amor de cada pessoa que ele criou. Aliás, Deus
nasce daqueles que ele criou. Não existe forma nem maneira de harmonizar
esses fatos com a nossa maneira de ver e entender as coisas. Mesmo o
mais cético ser humano pára diante do quadro que está diante dos olhos.
O que teria obrigado Deus a nascer da humanidade por ele criada? Talvez
seja meramente uma impressão pessoal e, admito, talvez equivocada.
Mas as celebrações de Natal a que tenho presenciado ultimamente, salvo
algumas exceções, mais se parecem com qualquer espetáculo (show)
que mais faz aparecer e dar visibilidade aos cantores com seus vocais e
ritmos, com textos por vezes desconexos, do que induzir à contemplação
do Natal que aconteceu em Belém. Nota-se nos pastores e suas equipes
um esforço intenso de valorizar a data, torná-la marcante, mas José e
Maria com o menino Jesus acabam por parecerem a mim, naquele cená-
rio, figuras decorativas, personagens de ficção de um passado remoto.
As próprias crianças que até a algum tempo tinham espaço central para
expressar certo jeito de ver o Natal, agora parecem estar sendo espremi-
das para uma lateral para que atores e cantores e instrumentistas façam
o papel central.
O que provocou essa reflexão de cunho crítico? Um dos textos mais
preciosos do Natal é o Cântico de Maria (Lc 1.46-55). Ao contemplar o
quadro natalino de Mateus, mais focado em José, vem à mente o olhar de
Lutero sobre Maria no seu comentário sobre o Cântico de Maria. Lutero
sente nas palavras de Maria o reconhecimento da completa nulidade do
ser humano diante da vida e diante de Deus. Nessa contemplação, Lu-
tero se consola na contemplação de Maria diante da tremenda tarefa de
comparecer diante das autoridades do Império em Worms onde lhe seria
ordenado retratar-se da doutrina do Evangelho.
Ao traduzir “Pois contemplou a humildade da sua serva”, Lutero prefere
pôr na boca de Maria a palavra nulidade ou ser insignificante. O que Maria
poderia oferecer a Deus para ter a dignidade de ser a mãe de Deus? Nada,
é a resposta de Maria. Nada, é a resposta de Paulo em vários momentos
das suas cartas. Lutero sente esse NADA diante de Worms. E isso lhe
permite dar os passos naquela direção.
Na verdade, como poderíamos testemunhar esse nada numa celebração
em que queremos honrar Deus? Como podemos testemunhar ao mundo
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IGREJA LUTERANA
e a nós próprios para dentro das nossas igrejas e suas celebrações que,
tal como Maria, temos de admitir que o nosso louvor é nada, mas que
Deus contempla esse nada, nasce desse nada para que ele nos faça ser
tudo que Deus tem para dar e oferecer ao nada? Como podemos fazer
algo assim? Nunca saberemos fazê-lo. Não conseguiremos jamais anu-
lar a nossa pretensão de querermos ser algo de nós próprios diante das
pessoas e do próprio Deus.
Em razão disso, minha própria crítica ao louvor que se faz em algumas
cenas do Presépio é também nada. O que sei eu do que se passa no co-
ração de qualquer pessoa? O que sei eu do que significou para cada uma
daquelas pessoas estarem ali tentando do seu jeito expressar gratidão
e louvor a Deus? O mesmo Deus que prometeu receber e aceitar o mais
indigno e imperfeito louvor por causa do amor que tem pela sua criatura
revelado no Natal?
A perplexidade e confusão de José, mas finalmente a sua singeleza
em seguir os fatos tal como lhe foram apresentados, é talvez também
a única maneira de estar diante da representação do presépio. Mas não
somente isso. É também o que consola cada pessoa que precisa enfrentar
as tarefas que Deus impõe a cada um. Pessoas como José, Paulo, Maria,
Lutero, você, seus familiares, não precisamos de coragem. Os nossos
olhos, como os deles, foram abertos por Deus para vermos a ele no co-
mando das forças desse mundo. José não tem coragem para enfrentar a
opinião de uma aldeia. Com ele podemos aprender a ver Deus em cada
fato e acontecimento das nossas vidas, os impedimentos, os desafios, os
atrasos, as acelerações, os momentos felizes e encorajadores, como as
tristezas, as fugas e as perdas. Não importa como eu me sinto diante das
coisas e das pessoas. Importa saber se reconheço Deus no comando de
tudo para o louvor e honra do seu nome.
Aquela criança é Deus para resgatar pessoas que são nada e fazer de
todos os Nada filhos de Deus. Porque muitos Nada ainda necessitam saber
disso, se consolar nisso e viver.
Paulo P. Weirich
São Leopoldo/RS
weirich.proskep@gmail.com
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VÉSPERA DE NATAL
24 de dezembro de 2010
Ela sabia que José poderia não acreditar na história e teria o “di-
reito legal” de anular o seu compromisso de casamento.
“Se alguém vem a mim e não aborrece pai, mãe... não pode ser
meu discípulo.”
b. Ela está disposta a sofrer humilhações (ser difamada) por ser fiel
a Deus.
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IGREJA LUTERANA
Ele não quis tratar Maria com todo o rigor da lei e exigir seus di-
reitos; ao contrário, demonstrou misericórdia, segundo a Palavra.
O próprio Cristo nos ensina:
“Bem-aventurados os misericordiosos...”
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VÉSPERA DE NATAL
c. Ele era um homem que pensava duas vezes antes de agir. “En-
quanto ponderava”.
e. A discrição de José
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IGREJA LUTERANA
CONCLUSÃO
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DIA DE NATAL
25 de dezembro de 2010
1 CONTEXTO
Leituras do Dia
Salmo 2
Este Salmo mostra que os reis nos tempos do Antigo Testamento eram
escolhidos por Deus como seus representantes na terra. Deus ganhava
as batalhas e derrotava os inimigos de Israel através do rei. Porque Deus
havia escolhido o rei, este se tornava “filho de Deus”. Além disso, o rei era
o “ungido de Deus” porque Deus lhe dava poder. Na cerimônia da investi-
dura real, um sacerdote derramava azeite consagrado sobre a cabeça do
rei escolhido. Este Salmo é messiânico, pois aponta também para Cristo
por meio do qual Deus cumpriria suas promessas (Mt 1.17; At 4.25-27;
13.33; Hb 1.5; 5.5).
Isaías 52.7-10
“Quão formosos são os pés” é uma referência aos mensageiros que
vêm correndo da batalha para anunciar boas novas ao rei e aos moradores.
Neste texto as boas novas se referem à volta dos exilados para Jerusalém.
Esta libertação do exílio prefigura também a libertação dos pecados que
Cristo concede: é a salvação concedida a toda humanidade.
Hebreus 1.1-6
Tudo o que Deus falou através dos escritores do Antigo Testamento
apontava para Cristo. Agora Deus tem uma mensagem final através de
seu Filho Jesus Cristo. Por intermédio de Cristo o universo foi criado e a
humanidade foi purificada de seus pecados. Por isso, todos, homens e
anjos, devem render glória a Cristo.
João 1.1-14
Jesus Cristo é o Verbo ou a Palavra que já existia antes da fundação do
mundo. Ele estava com Deus e era Deus e, por meio dele tudo passou a
existir. Este Jesus se tornou um ser humano para morar entre os homens,
demonstrar o seu amor e nos mostrar quem é Deus.
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IGREJA LUTERANA
2 TEXTO
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DIA DE NATAL
3 APLICAÇÕES HOMILÉTICAS
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IGREJA LUTERANA
4 PROPOSTA HOMILÉTICA
Raul Blum
São Leopoldo/RS
raulblum@yahoo.com.br
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SEGUNDO DOMINGO APÓS O NATAL
26 de dezembro de 2010
1 CONTEXTO
Mateus introduz a “história dos dois reis” com uma afirmação, diante
do que se sabe de Herodes, aparentemente absurda. O poderoso rei da
Judeia ficou perturbado com o “rei-bebê” nascido em Belém. Sua primeira
reação foi tentar descobrir o local exato em que estava seu “rival”. Quando
isto não funcionou, ele colocou em prática um recurso particular seu du-
rante toda a sua vida: ignorar qualquer princípio humanitário, ordenando
a execução de todos os meninos de dois anos para baixo. Herodes apenas
revelou seu incontrolável ímpeto de “subir” a qualquer custo.
2 TEXTO
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IGREJA LUTERANA
3 REFLEXÕES TEOLÓGICAS
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SEGUNDO DOMINGO APÓS O NATAL
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IGREJA LUTERANA
4 HERODES: O GRANDE?
5 REFLEXÃO HOMILÉTICA
Nenhum rei tem poder sobre o Rei Jesus. Nem Herodes, nem Antipas,
tinham algum controle nessa situação. Seu reinado é estabelecido em
lugares e condições improváveis, mas Ele é o rei. Por um momento era
necessária a fuga para o Egito, mas seu reinado estava se consolidando. O
rei divino mais tarde seria coroado com uma coroa de espinhos, sem contar
a zombaria e os açoites. Ele é rejeitado e deixado sozinho na cruz, mas
o Rei Crucificado sabe a verdade. Esse era o caminho. O seu sofrimento
e morte são instrumentos que acabaram com a morte. Com ela também
acabaram nossa fraqueza, desespero, culpa, vergonha, medo, pecado e a
própria morte, o último inimigo vencido pelo Rei Jesus. Desde o começo
foi assim. Em situações paradoxais, Cristo se torna o nosso Rei.
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SEGUNDO DOMINGO APÓS O NATAL
6 BIBLIOGRAFIA
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VÉSPERA DE ANO NOVO
31 de dezembro de 2010
1 CONTEXTO
O final de um ano lembra, aos cristãos, o final dos tempos. Por isso,
é um momento de reflexão, de meditação e de trazer à memória a orien-
tação da Palavra de Deus sobre este tema.
No capítulo 12 do evangelho de Lucas, Jesus orienta seus discípulos
sobre a qualidade de suas vidas neste mundo. Na primeira parte (vv.
1-34), ele os admoesta à pureza de coração. Na segunda parte (vv. 35-
59), ele os convida a olhar para o futuro, animando e exortando para uma
viva esperança.
Os demais textos da perícope deste dia contrapõem o homem pecador
e rebelde ao Deus gracioso. Os textos apontam para a misericórdia de
Deus que quer salvar o pecador, mas também alertam para a limitação
do tempo disponível para a conversão e a aceitação da graciosa oferta
de Deus. O Salmo 90.1-12 enfatiza a brevidade da vida humana. Os dias
e anos passam em rapidíssima sucessão, em flagrante contraste com a
eternidade de Deus. O salmo aponta também para a pecaminosidade do
ser humano e a bondade de Deus (v. 1), e conclui esta seção com o pe-
dido: “Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração
sábio”. Isaías 30.15-17 lembra a pecaminosidade do povo e o convida à
conversão e confiança em Deus. Mas, o povo não aceita o convite e corre
para sua ruína e perdição. Romanos 8.31b-39 insiste enfaticamente no
imenso amor de Deus por nós em todas as circunstâncias e contextos – um
amor que não diminui nem se altera com a passagem do tempo.
2 DESTAQUES DO TEXTO
isto é, a longa túnica deve estar erguida e presa pelo cinto para facilitar
os movimentos necessários para o serviço. As luzes devem estar acesas
e os servos devem estar esperando, vigilantes, para abrir a porta assim
que o senhor chegar.
O retorno do senhor pode demorar um pouco. Ele pode vir na segun-
da ou terceira vigília. Os romanos dividiam a noite em quatro vigílias, os
judeus em três: a 1ª do pôr do sol até as 22 horas; a 2ª das 22h até as
02h e a 3ª das 02h até o nascer do sol. A demora pode induzir os servos
a relaxar a atenção e vigilância, por isso, a segunda parábola reforça a
idéia da vinda inesperada do Senhor. Ele pode vir a qualquer hora e sur-
preender os discípulos assim como um ladrão que vem na hora em que
ninguém está atento ou vigiando.
A primeira parábola traz um elemento completamente imprevisível
que causa surpresa total. Os servos estão aguardando seu senhor em
vigilância total, prontos para atendê-lo e servi-lo assim que ele chegar.
Mas, aí acontece o inesperado: em vez de se deixar servir, o senhor se
cinge, conduz os servos à mesa e os serve. O pregador, obviamente, deve
dar destaque a este elemento da Boa Nova.
Enquanto a primeira parábola enfatiza a recompensa que os servos
preparados e vigilantes receberão, a segunda sublinha o perigo de ser
pego despreparado.
A vida dos discípulos neste mundo é animada por uma viva esperança
que os mantém vigilantes e fiéis, alertas e atentos às realidades dos últi-
mos dias, enquanto esperam o dia final, o dia do retorno de seu Senhor.
Os cristãos vivem no meio de dois grupos de pessoas que não pensam e
agem desta maneira: 1) Os indiferentes. Estes são pecadores rebeldes
que amam este mundo e o pecado e se apegam aos mais diversos ídolos
que lhes parecem prometer prazer e segurança. Não aceitam o convite
gracioso de Deus que deseja salvá-los; 2) Os que esperam o retorno de
Cristo de maneira equivocada. São os que seguem suas próprias ideias e
opiniões e não se deixam orientar pelo ensino bíblico e tentam marcar o
dia e hora do retorno; defendem um milênio terreno; creem em arrebata-
mento; e até abandonam trabalho, família e serviço ao próximo “supondo
tenha chegado o Dia do Senhor” (2 Ts 2.2; 3.10-11).
Qual deve ser a atitude dos cristãos em contraste com estes dois gru-
pos? À base do texto, o pastor precisa pregar a Lei e o Evangelho para
conduzir e guiar seu rebanho à atitude correta. A Lei exige prontidão e
condena o apego às coisas deste mundo, a falta de vigilância e atenção
para o limitado tempo de graça à nossa disposição. Ela condena nossa falta
65
IGREJA LUTERANA
5 BIBLIOGRAFIA
HOERBER, Robert G., ed. Concordia Self-Study Bible. St. Louis: Con-
cordia, 1986.
LEWIS, David. “Twelfth Sunday after Pentecost”, in: Concordia Journal
24/3 (July 1998), 278-281.
ROEHRS, Walter; FRANZMANN, Martin H. Concordia Self-Study Com-
mentary. St. Louis: Concordia, 1979.
66
CIRCUNCISÃO E NOME DO SENHOR -
DIA DE ANO NOVO
01 de janeiro de 2011
Contexto e texto
67
IGREJA LUTERANA
substituto, tomando nosso lugar naquilo que é exigido para nossa salvação.
A exigência do cumprimento da lei de Deus pesa sobre nós. Visto que não
conseguimos “carregá-lo”, ele nos esmaga e nos aniquila, condenando-
os diante de Deus. Contudo esse “peso” foi colocado sobre os ombros
de Jesus. Ao ser circuncidado, Jesus já provou que se dispunha a tomar
nosso lugar debaixo da lei, a fim de cumpri-la por nós. A majestade não
rejeitou a humildade. Assim é nosso Deus. Ele não fica escondido na sua
majestade, porém se revela na humildade de seu próprio Filho, a fim de
nos aproximar dele. Aceitou se humilhar por amor a nós.
O contexto e o texto, acompanhados das demais perícopes, permitem-
nos explorar no sermão a maneira como Deus se revela por meio da cir-
cuncisão de Jesus. Na humilde sujeição à lei percebemos uma parcela da
imensa soma de amor que o Senhor tem pela humanidade pecadora. Há
gente que pergunta por provas do amor de Deus, assim como também
há aqueles que procuram apontá-las, embora nem sempre sejam muito
felizes nas suas tentativas. Assim acontece quando se procura limitar o
amor de Deus às bênçãos materiais e corporais. Certamente que elas
também apontam para o amor de Deus, mas não são as maiores provas,
pelo menos parecem perder força naqueles momentos em que não são tão
visíveis ou não preenchem as expectativas de algumas pessoas (privações,
catástrofes, doenças e outros sofrimentos ou dificuldades). Agora, quando
vemos Jesus Cristo, o Senhor grandioso e majestoso, o Deus Eterno, o
Senhor da lei, se sujeitar a ela para poder cumpri-la em nosso lugar, não
encontraremos outras palavras para descrever tal ação divina, a não ser
graça, misericórdia, amor... por quem? Por todos nós, a fim de nos dar a
maior de todas as bênçãos: a reconciliação com Ele próprio, por meio da
obra que Jesus Cristo veio realizar aqui em nosso mundo, tornando-se
carne. Com poucas palavras Lucas relata a circuncisão de Jesus. Embora
poucas, todavia, aquelas palavras não escondem a grandiosa verdade
que transparece através delas: nosso Deus se dispôs a ficar sob a lei,
humildemente, porque nos ama e quer nos salvar.
Deram-lhe o nome de JESUS, como lhe chamara o anjo, antes de ser
concebido. Para cumprir com a ordem do anjo Gabriel (Lc 1.31), o menino
recebeu o nome de JESUS. É um nome que veio escolhido do céu. Não
foi uma simples escolha de um nome qualquer. Trata-se de um nome que
define a missão que o menino cumpriria no mundo: porque ele salvará o
povo dos pecados deles (Mt 1.21). JESUS = Salvador! A salvação vem do
céu, pois na terra não há ninguém que possa realizá-la.
Cabe aqui um registro importante. Deus teve que mandar do céu seu
próprio Filho para salvar os pecadores. É a prova do quanto custa a nossa
salvação. O “preço” dela não pode ser pago por ninguém mais, além do
próprio Deus na pessoa de Jesus. Tal verdade aponta para duas realida-
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CIRCUNCISÃO E NOME DO SENHOR - DIA DE ANO NOVO
2 SUGESTÃO HOMILÉTICA
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SEGUNDO DOMINGO APÓS O NATAL
02 de janeiro de 2011
1 CONTEXTO LITÚRGICO
70
SEGUNDO DOMINGO APÓS O NATAL
acordo com o seu propósito eterno, que ele realizou por meio de Cristo
Jesus, o nosso Senhor”. Claro, existe também um contato mais distante
ou tênue, em Ef 3.4, no uso do mesmo termo grego que aparece em Lc
2.47: synesis, isto é, inteligência, entendimento, discernimento.
2 CONTEXTO LITERÁRIO
3 TEXTO
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IGREJA LUTERANA
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SEGUNDO DOMINGO APÓS O NATAL
4 APLICAÇÃO
73
IGREJA LUTERANA
Vilson Scholz
São Leopoldo/RS
vscholz@uol.com.br
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EPIFANIA
06 de janeiro de 2011
1 TEXTOS
2 CONTEXTO LITÚRGICO
75
IGREJA LUTERANA
76
EPIFANIA
do Oriente, não era uma criança como as outras. Era o próprio Filho de
Deus, o Verbo habitando entre os homens (Jo 1.1ss.), digno de toda honra
e louvor; 3. a mirra era utilizada no preparo do corpo para o funeral. Ou
seja, a mirra pode estar apontando para o futuro sepultamento de Jesus,
para seu sofrimento, para sua morte.
Não se sabe exatamente o que era a estrela que guiou os homens
até onde Jesus estava. Mas é interessante observar que os homens do
Oriente estudavam as estrelas e falaram: vimos a estrela dele (v.2). Era
uma estrela diferente. Como foi identificada como a estrela de Jesus?
Perguntas podem ficar sem respostas. Uma coisa, porém, é certa: aquela
estrela mostrou o caminho, mostrou o local exato onde o Messias pro-
metido estava (vv.9-10). Sem a estrela os homens nunca teriam vindo a
Jerusalém, nunca teriam achado Jesus na casa em Belém.
Sem Palavra e Sacramentos o ser humano também não tem como
achegar-se a Jesus. Não tem como achá-lo, não tem como adorá-lo.
Precisa dos meios da graça para que sejam guias, condutores, canais
da infinda graça divina em Cristo Jesus. O homem está perdido e é cego
para as coisas de Deus. Está longe do seu Senhor e Salvador. O apóstolo
Paulo lembra que o ser humano, quando descrente, está morto para as
coisas de Deus. Precisa que o Senhor lhe dê vida, a vida verdadeira (veja
Ef 2.1ss.). Quantas pessoas ainda tateiam por aí sem saber direito por
onde andam. Podem até ouvir falar de Jesus, mas não são conduzidos a
Ele verdadeiramente. A missão de Deus acontece quando Palavra e Sa-
cramentos são pregados e administrados de forma fiel, conforme a ordem
e instituição de Jesus.
Chama atenção também a alegria dos homens quando viram a estrela
(v.10). Que alegria sentiram quando viram e puderam prostrar-se diante
do Rei Jesus! E que alegria provavelmente sentiram em poder retornar
aos seus e contar-lhes sobre o Messias. Assim o apóstolo Paulo se alegrou
pelo fato de ser mensageiro de Cristo. Assim o cristão se alegra com o
privilégio que tem de poder anunciar a mensagem da salvação.
77
IGREJA LUTERANA
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PRIMEIRO DOMINGO APÓS EPIFANIA
09 de janeiro de 2011
1 CONTEXTO LITÚRGICO
2 LEITURAS DO DIA
Salmo 29
É um convite ao louvor, ao anúncio e à reverência quando o Senhor
aparecer. Em seguida o destaque vai para a voz do Senhor, que opera
maravilhas e faz tremer os alicerces da terra. É ouvida nas águas. En-
quanto a voz do Senhor promove maravilhas, no templo o povo glorifica,
em reconhecimento de que o Senhor é Rei.
Isaías 42.1-9
O Senhor Deus fala e mostra quem é o seu escolhido. É a voz da
promessa. É o anúncio de visão e liberdade, porque esta é a vontade do
Senhor em relação ao seu povo. A aliança está garantida. A promessa
está posta e os resultados são maravilhosos. O servo do Senhor, o Deus/
homem que ensina, que mostra coisas boas e reafirma o senhorio daquele
que é o único a ser louvado e crido.
Romanos 6. 1-11
É o resultado da promessa cumprida. Vida que supera a morte; vida
onde todos os sinais apontam para a morte. É a aliança na palavra do
Senhor, que faz existir vida em meio a uma realidade de morte. É o mi-
lagre de Deus através de água e Palavra. A voz do Senhor faz tremer os
alicerces da morte, dando Vida.
79
IGREJA LUTERANA
3 ÊNFASES GERAIS
4 ÊNFASES TEXTUAIS
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PRIMEIRO DOMINGO APÓS EPIFANIA
outra forma de batismo, ao invés de Jesus, ele. – “Eu é que preciso (tenho
necessidade de) ser batizado por ti...”. Diante da necessidade humana, a
providência de Deus.
V. 15: A resposta de Jesus aos questionamentos de João é ao mes-
mo tempo tranquilizadora e reveladora. São as primeiras palavras de
Jesus, registradas por Mateus. “Deixa por enquanto, porque assim nos
convém cumprir toda a justiça.” - pre,pon evsti.n h`mi/n plhrw/sai pa/san
dikaiosu,nhn. Cumprir a justiça aponta para a tarefa do Cordeiro de Deus,
ou seja, a tarefa de assumir o pecado da humanidade. Eis a grande reve-
lação, penso, também para João Batista: o Salvador vem como Cordeiro
sacrificial. “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós;
para que, nele, fôssemos feitos justiça (dikaiosu,nh) de Deus.” 2 Co 5.
21. (ARA)
V. 16: “tendo sido batizado, saiu (subiu) logo da água...” Esta passagem
pelas águas, a entrada e a saída, parecem indicar a identificação com a
humanidade pecadora, dramatizando sua morte vindoura, sepultamento
e ressurreição. Paulo usa esta dinâmica de abordagem ao referir e ligar
nosso batismo com o de Jesus. Morte e vida compartilhadas, no milagre
de Deus, em nosso favor. A manifestação do Espírito Santo em forma de
pomba (única manifestação) pode sinalizar a força do Senhor, revestida
em mansidão e suavidade. Pode também relacionar o animal conhecido
pelos judeus como oferta pela culpa. A linguagem não verbal de Deus é
completa e cheia de significado. O Pai aponta para o Filho amado, através
do Espírito Santo. Que bela imagem!
V. 17: As palavras da voz do Senhor atestam o evento ocorrido na água.
Deus credencia Jesus Cristo através do Batismo. Jesus é. – ou-to,j evstin.
As palavras do Pai mostram a credencial de Cristo: o Messias, o ungido,
cf. Salmo 2.7. Servo do Senhor, cf. Isaías 42. 1. Ele não foi alguém que
agradou o papai com seu bom comportamento; mas nele e só nele, Deus
se compraz – euvdo,khsa ou seja, o plano de Deus se completa. A salvação
é estabelecida. O pecado é punido. A conta é paga. A credencial para a
obra é dada pela voz do Senhor.
Esta credencial de Cristo nos adentra na salvação de Deus através do
nosso batismo; nos dá a identidade de filhos; nos reafirma a alegria de
Deus em relação a nós devido ao pertencimento que temos em Cristo.
Juntos na morte e na vida de Cristo. Somos batizados na obra de Cristo,
em morte e ressurreição, como Paulo destaca no texto aos Romanos.
O contexto posterior mostra que o Cordeiro de Deus tem obra sacri-
ficial a cumprir. Não teve festa de batizado, mas o deserto o esperava e
nele, Satanás. O advérbio To,te usado por Mateus para ligar o batismo à
pregação anterior de João Batista no contexto anterior, agora é repetido,
ligando pregação de arrependimento (preparo da estrada) e o batismo no
81
IGREJA LUTERANA
5 ENCAMINHAMENTO HOMILÉTICO
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PRIMEIRO DOMINGO APÓS EPIFANIA
SUGESTÃO DE TEMA
– Fomos batizados. Pertencemos a Cristo.
Arnildo Münchow
Canguçu/RS
arnildomunchow@yahoo.com.br
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SEGUNDO DOMINGO APÓS EPIFANIA
16 de janeiro de 2011
84
SEGUNDO DOMINGO APÓS EPIFANIA
João 1.29-42a
85
IGREJA LUTERANA
4 CONCLUSÃO
Citar exemplos de como podemos ser uma igreja mais acolhedora. Ouvi
esta semana que uma congregação da IELB apresenta os não-membros
como “convidados” e não como “visitantes”. O Pastor cita o nome do
convidado e o nome de quem o convidou. Isto pode fazer uma grande
diferença em termos de acolhimento e integração.
Arnildo Schneider
Porto Alegre/RS
arnildo@ielb.org.br
86
TERCEIRO DOMINGO APÓS EPIFANIA
23 de janeiro de 2011
1 LEITURAS
87
IGREJA LUTERANA
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TERCEIRO DOMINGO APÓS EPIFANIA
2 APLICAÇÃO PRÁTICA
89
IGREJA LUTERANA
sofrimento que ele se revela como a cura das nossas feridas e enfermidades
graves. Ele é o cumprimento das promessas e a grande prova do Deus
presente que ama o seu pequeno rebanho disperso pelo mundo. Jesus, a
luz do mundo, chegou aos nossos dias. A alegria do Natal também pode
ser sentida e experimentada pelos cristãos do nosso tempo por que não
só os judeus estão sob a graça, mas também os gentios.
Mateus 4.16
Tema: a luz do Messias brilha:
Para o povo que andava em trevas (missão entre os gentios).
Para o povo que sofre (enfermos, graves doenças, povo aflito).
Para os discípulos que vão se tornar multiplicadores.
Para nós cristãos hoje.
Para as gerações futuras
4 OBRAS CONSULTADAS
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QUARTO DOMINGO APÓS EPIFANIA
30 de janeiro de 2011
O SERMÃO DO MONTE
1 INTRODUÇÃO
2 CONTEXTO
3 TEXTO
91
IGREJA LUTERANA
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QUARTO DOMINGO APÓS EPIFANIA
4 APLICAÇÕES
Seria fácil resumir essa perícope como “a aula de Jesus para chegar
ao céu”. Mas não é somente isso. Jesus mostra um novo ensinamento
referente a essa caminhada rumo ao céu. Principalmente no que diz res-
peito ao “eu” em relação a Deus. Jesus tira o foco do ser humano, que
era muito latente na época por causa dos fariseus, e devolve esta posição
central a Deus.
O termo “bem-aventurado” (makarioi) carrega consigo um teor escato-
lógico em Mateus. O texto aponta também para a vida eterna. A plenitude
dos resultados aos bem aventurados só será encontrada na eternidade.
Por isso, as bem-aventuranças foram ensinamentos novos, para pesso-
as com ideologias diferentes, com projetos de vida dirigidos por regras e
ordens diferentes. Estes agora contemplam o ensinamento de Jesus e ao
final ficam “maravilhadas com a doutrina” e com o que está acontecendo
(Mt 7.28-29).
93
IGREJA LUTERANA
5 SUGESTÕES DE TEMA
6 LIVROS UTILIZADOS
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QUINTO DOMINGO APÓS EPIFANIA
06 de fevereiro de 2011
1 CONTEXTO
2 COMENTÁRIOS
Vv. 13,14,15: “Vós sois o sal da terra. Vós sois a luz do mundo.” Jesus
não cogita, Jesus não ordena, Jesus não discute; ele afirma: “Vós sois!”
Isto é graça divina! É uma constatação.
“Eu sou a luz do mundo” (Jo 8.12).“Vós sois a luz do mundo.” Esta é a
única comparação que Jesus aplica a si mesmo e aos cristãos. Isto mostra
o quanto estamos identificados com Cristo nesta imagem de “luz”. Jesus
nunca disse que nós somos “a porta”, “a videira”, “o caminho”, etc.
Ele nos fez sal e luz quando fomos batizados e reabastece regularmente
o óleo da nossa lâmpada com a Sua Palavra e o Sacramento do Altar.
“Aquecendo Corações” é baseado no ABLAZE, desafio lançado pela
igreja irmã dos Estados Unidos, a LCMS, de atingir 100 milhões de pes-
soas com o Evangelho de Jesus até 2017, quando serão celebrados os
500 anos da Reforma. Um verbo muito usado no ABLAZE é “to ignate”:
acender, incendiar. Daí vem a palavra em português “ignição”: a ignição
de um carro, que dá a partida ao motor. É a faísca, o início do fogo. O
Espírito Santo acende a chama da nossa fé pela Palavra e pelo Batismo, e
reabastece esta luz pela Palavra e pela Santa Ceia. Independente da ação
do Espírito Santo, que se manifestou em “línguas de fogo” no Pentecostes
(At 2.3) não temos condições de ser “luz do mundo” nem condições de
permanecer acesos. Somos totalmente dependentes do Espírito Santo
através dos Meios da Graça em nosso agir e falar.
Uma sugestão: Acender uma vela ao lado do púlpito após a leitura do
Evangelho e antes de começar o sermão, para ilustrar a chama da fé que
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IGREJA LUTERANA
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QUINTO DOMINGO APÓS EPIFANIA
97
IGREJA LUTERANA
3 ILUSTRAÇÕES POSSÍVEIS
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SEXTO DOMINGO APÓS EPIFANIA
13 de fevereiro de 2011
1 LEITURAS
Salmo 119.1-8
“Este Salmo sapiencial sobre a lei do Senhor é um acróstico alfabético
em que cada estrofe de oito versículos é dedicada a uma das letras do
alfabeto hebraico, com cada versículo de uma mesma estrofe começando
com a mesma letra. O salmo comunica a idéia de que a Palavra de Deus
contém tudo o que o homem precisa saber. Com a exceção dos versículos
1-3 e 115, ele é dirigido ao Senhor. O salmista usa dez termos diferentes
para a lei ou Palavra de Deus e cada versículo, à exceção dos versículos
90, 122 e 132, menciona pelo menos um desses termos: lei (instrução ou
revelação), testemunhos (ou preceitos), mandamentos, juízos (ou orde-
nanças), palavra, veredas e palavra (sendo essa última um outro termo,
indicando promessa ou declaração, como no versículo 11).” (Observações
de Charles Caldwell Ryrie, A Bíblia Anotada, ed. Mundo Cristão).
Vale a pena compartilhar e mostrar (inclusive com cópia do texto
hebraico) as características deste salmo tão peculiar, o maior da Bíblia, e
com um conteúdo tão importante quanto a comunicação do Criador com
a criatura.
Deuteronômio 30.15-20
Nas vésperas de entrar na terra prometida, muitas ações e emoções.
Moisés se despede do povo que guiou por 40 anos, as esperanças se
transformam em realidade e a nação de ex-escravos é convidada a tomar
decisões importantes desde aquele momento para ser considerada Povo
de Deus, Israel. Nesta renovação de aliança com o Criador, Moisés repete
que amando ao Senhor de coração, a sua Palavra sempre estaria presente
e seria uma bênção. No entanto, esse processo envolve decisões de vida
ou morte, que estão resumidas no versículo 20: Amem o SENHOR, nosso
Deus, obedeçam ao que ele manda e fiquem ligados com ele. Assim vocês
continuarão a viver e viverão muitos anos na terra que o SENHOR Deus
jurou que daria aos nossos antepassados Abraão, Isaque e Jacó.
Decidir (o que pensar sobre a proposta de Deus / entre a vida e o bem
ou a morte e o mal) – guardar (o mandamento) – andar nos seus cami-
99
IGREJA LUTERANA
1 Coríntios 3.1-9
Com tantos problemas e divisões na comunidade de Corinto, o após-
tolo Paulo teve que ser duro e, como um bom cirurgião, calcular bem
as palavras para utilizar como um excelente bisturi. Conta um pouco
da história daqueles cristãos, como foi o processo de amadurecimento
espiritual (que precisaram de leite e não comida forte) e conclui que na
verdade “ainda não estão prontos, porque vivem como se fossem pessoas
deste mundo” (vv. 2 e 3). Estar pronto na área profissional é muito mais
que ter um diploma. É preciso amadurecer. Esse enfoque pode ajudar na
interpretação do evangelho, que é o ponto forte do culto e da pregação.
Assim amadureceram os discípulos ao escutar que Jesus afirmava: “Mas
eu lhes digo” (Mateus 5).
Mateus 5.21-37
O texto do evangelho é parte do famoso Sermão do Monte, um dos
cinco longos discursos de Jesus registrados por Mateus. Ao falar com os
discípulos, não apresenta o caminho da salvação, mas o caminho da vida
justa para os que fazem parte da família de Deus, contrastando o novo
Caminho com o caminho “antigo” dos escribas e fariseus.
Para entender melhor os vários exemplos que Jesus utiliza nesta pe-
rícope é fundamental olhar o versículo 20: Pois eu afirmo a vocês que só
entrarão no Reino do Céu se forem mais fieis em fazer a vontade de Deus
do que os mestres da Lei e os fariseus.
A natureza da nova justiça proposta por Jesus é exceder aquele míni-
mo cumprimento da lei que já realizavam com muito orgulho os escribas
e fariseus. Esse forte “mas eu lhes digo” revela que o próprio Jesus é o
fim da lei como está escrito em Romanos 10.4: Porque, com Cristo, a lei
chegou ao fim, e assim os que crêem é que são aceitos por Deus. Aquele
que pode cumprir literalmente toda a lei, agora se propõe a mostrar aos
seus alunos o que estava por trás das sugestões de Deus, qual era sua
verdadeira finalidade.
No primeiro exemplo, Jesus mostra que a mão protetora de Deus se
estende não somente sobre a vida física do próximo, mas também sobre
sua existência integral, ameaçada às vezes pelo pensamento rancoroso ou
pela palavra carregada de ódio. Além disso, mostra a vida como um todo:
as relações humanas e o próprio culto e por isso aconselha: “deixe a sua
oferta ali, na frente do altar, e vá logo fazer as pazes com o seu irmão.
Depois volte e ofereça a sua oferta a Deus” (v. 24). Palavras importantes
100
SEXTO DOMINGO APÓS EPIFANIA
de Jesus para os nossos dias onde vivemos uma carga muito grande de
fragmentação entre o que fazemos e sentimos, entre a nossa vida e a
fé que praticamos. Outros detalhes podem ajudar na tarefa homilética:
desde a vinda de Jesus, todos os dias são os últimos: “vá logo fazer as
pazes”. Isso é mais urgente que a adoração a Deus. Essa inversão de
prioridades possivelmente deixou atônitos os especialistas em religião
que escutavam a Jesus.
Outro exemplo para mostrar a nova justiça é a transgressão do Sexto
Mandamento. O olho de Deus que tudo vê, cuida com carinho do matri-
mônio que muitas vezes é machucado ou destruído tanto por olhares mal
intencionados como por atitudes infiéis. Jesus convida seus discípulos a
viver inclusive o casamento com uma férrea disciplina sobre “seu olho e
sua mão”, simbolicamente sobre o desejo e a ação que coloque em risco
uma relação fiel com a esposa ou esposo. A Bíblia vê as diferentes partes
do corpo humano como instrumentos que expressam a vontade do ser
humano: suas atitudes são um reflexo da atitude do homem inteiro. Exem-
plo disso está registrado em Provérbios 4.27 (tradução Almeida Revista e
Atualizada): “Não declines nem para a direita nem para a esquerda; retira
o teu pé do mal”. Portanto, arrancar o olho ou cortar a mão e jogar tudo
fora significa reprimir com toda energia o desejo pecaminoso, por mais
doloroso e estranho que possa resultar tal esforço.
A questão do divórcio, tão comum nos nossos dias, tinha sido resolvida
no Antigo Testamento com um “documento de divórcio”, pois segundo o
próprio Jesus “Moisés deu essa permissão por causa da dureza do coração
de vocês” (Mateus 19.8). No entanto, Jesus convida para outro tipo de
reflexão quando diz “mas eu lhes digo”. Ele quer mostrar que a intenção
de Deus no ato da criação era que o matrimônio fosse para toda a vida,
como uma união indissolúvel entre homem e mulher. Essa intenção Jesus
volta a reafirmar e a escreve no coração do discípulo que o escuta.
O último exemplo desta nova perspectiva de obedecer a Deus é quanto
ao juramento. A lei organizava o juramento para que o homem lembras-
se, pelo menos em certas ocasiões, que na hora de dizer algo importante
estava falando na presença de Deus. Jesus eliminou os juramentos para
que os discípulos sejam conscientes de que o sim é sempre sim, e o não
seja não tanto entre os homens como na presença de Deus.
2 APLICAÇÃO HOMILÉTICA
Introdução:
Alice perguntava diante de uma bifurcação: “Qual é o caminho cor-
reto?”. O fato perguntou: “Para onde você quer ir?” “Não sei”. Esse é o
101
IGREJA LUTERANA
Tema:
– Epifania é lembrar que Deus se manifesta na nossa vida, pela Palavra
e sacramentos. As reações à Epifania nos remetem a uma nova perspecti-
va de cumprir os mandamentos, de uma maneira integral e ampla, como
Jesus quer. Somos convidados, assim como os primeiros discípulos, a
olhar de outra maneira a nossa relação com Deus e com o nosso próximo.
Perdoados pela obra de Cristo na cruz, somos desafiados a nadar contra
a corrente e viver uma vida que agrade a Deus.
– Os textos do Antigo Testamento e a epístola nos dão pistas de que
precisamos de ajuda externa: o Salmo 119 mostra a importância da
Palavra do Criador na nossa vida. Deuteronômio aponta para essa nova
aliança. 1 Coríntios mostra o processo de amadurecimento na vida cris-
tã. Em todas as leituras, a necessidade de referências para responder ao
amor de Deus.
– Em Jesus (o caminho, a verdade e a vida) começamos um novo
caminho. Sabemos onde queremos chegar, pois seguimos as pegadas
do mestre Salvador. Já conhecemos os mandamentos que nos servem
como freio e espelho. Agora precisamos de uma régua que nos ajude a
viver uma vida reta diante do Criador, seguindo as palavras do seu Filho:
“Mas eu lhes digo”. Por isso o Sermão do Monte nos traz outra dimensão
que nos ajuda a esforçar-nos mais e melhor para superar as tentações
do maligno.
Christian Hoffmann
Montevidéu, República Oriental do Uruguai
luteranos@gmail.com
102
SÉTIMO DOMINGO APÓS EPIFANIA
20 de fevereiro de 2011
Por que estes textos aparecem na época da Epifania? Como Jesus quer
se “manifestar” neste domingo? Os textos falam da lei de Deus e pedem
que todos sejam perfeitos como o Pai celeste. Visto que “não há quem faça
o bem, não há nem um sequer” (Sl 14.3), aguardamos ansiosamente a
manifestação daquele que veio “cumprir a Lei e os Profetas” (Mt 5.17).
Mateus 5.38-48 faz parte do Sermão do Monte, no qual Jesus ensina
seus discípulos da necessidade de uma justiça que excede “em muito a dos
escribas e fariseus” (Mt 5.20) e acrescenta: “Portanto, sede vós perfeitos
como perfeito é vosso Pai celeste” (v.48). Lucas parece nos apresentar
um discurso mais doce: “Sede misericordiosos, como também é misericor-
dioso vosso Pai” (6.36). Se bem que essa também se torna uma missão
impossível a todos nós, visto que não conseguimos ser misericordiosos
como Deus é.
“O que foi dito” é uma referência ao Antigo Testamento, se bem que
nem sempre fica clara a origem, como é caso do “odiarás o teu inimigo”.
Jesus não está invalidando estas leis, mas revela as exigências que elas
fazem, demonstrando que elas estão acima da capacidade humana.
Lutero explica, ao comentar Mt 5.39, que é necessário fazer uma dis-
tinção entre Reino de Cristo e o Reino secular. No que diz respeito a “não
resistir ao perverso...” ele afirma que “no Reino do imperador, porém,
não se deve tolerar injustiça, e, sim, resistir ao mal e reprimi-lo, e ajudar
a proteger e preservar o direito conforme o exige o ofício e o estado de
cada um”. Por outro lado, “no Reino de Cristo vale sofrer, perdoar e pagar
o mal com o bem” (OS 9, p. 121).
Pode-se afirmar que Jesus está ensinando ou revelando aos seus dis-
cípulos o tipo de lei que ele próprio se propõe a cumprir. Ele se propõe a
cumprir todo o rigor da Lei de Deus. Assim nos ensina também 1 Pedro
2.23,24: “pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando
maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga reta-
mente, carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos
pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça;
por suas chagas, fostes sarados.”
103
IGREJA LUTERANA
104
SÉTIMO DOMINGO APÓS EPIFANIA
ESBOÇO
105
OITAVO DOMINGO APÓS EPIFANIA
27 de fevereiro de 2011
106
OITAVO DOMINGO APÓS EPIFANIA
que os coríntios não devem julgar alguém superior a outro. Tudo o que
nós temos e somos pertence a Deus (1 Co 4.7).
V. 24: Jesus deixa claro que não é possível servir a dois senhores ao
mesmo tempo. Se amamos a um, odiamos (antônimo de amamos) a ou-
tro. Os dois senhores a que Jesus se refere são Deus e Mâmon (palavra
aramaica que designa riqueza).
O uso do verbo douleu,w indica estar sujeito a alguma coisa. Nós po-
demos estar sujeitos somente a uma autoridade – Deus ou as riquezas.
Sempre estaremos sujeitos a uma destas autoridades.
V. 25: Este versículo é uma conclusão a partir do versículo anterior.
Devemos servir somente a Deus e por isso não devemos nos preocupar
com a nossa vida (yuch//).
E assim temos as seguintes conclusões: não devemos nos preocupar
com as coisas referentes à nossa vida aqui neste mundo: o que havemos
de comer e o que temos para vestir.
Note que estas preocupações são preocupações comuns aos seres hu-
manos. Como não se preocupar com tais coisas? Jesus diz que em primeiro
lugar devemos servir a Deus e assim também Ele nos dará estas coisas
que são de fundamental importância para o nosso bem estar físico.
V. 26: Jesus diz para que olhemos as aves e como elas, sem traba-
lhar, têm o seu sustento. E a pergunta: Quem vale mais: vocês (seres
humanos) ou as aves?
V. 27: Destaca-se a palavra h`likian que pode ter o sentido de idade
ou de estatura. Pelo contexto, refere-se a crescer em estatura. Através
deste versículo Jesus ensina que ninguém pode crescer em estatura pela
sua própria vontade. Também pelo contexto podemos entender que quando
alguém cresce, isso ele deve a Deus.
Vv. 28-29: Mesmo Salomão com toda a sua glória (riqueza) não se
vestiu como os lírios do campo.
V. 30: Os discípulos são chamados de ovligopistoi (gente de pequena
fé), homens que confiavam pouco no sustento que Deus poderia dar a
eles.
V. 31: Novamente três pontos são destacados, os quais não devem ser
o motivo de nossa preocupação: comida, bebida e vestes.
V. 32: Quem se preocupa com estas coisas (comida, bebida e vestes)
são os gentios (ta. e[qnh), aqueles que não conhecem como Deus é no
seu agir, um Deus que não deixa faltar o sustento.
V. 33: Devemos buscar em primeiro lugar a dikaiosu,nhn (justiça)
de Deus. É importante notar que o verbo deste substantivo é dikaio,w
107
IGREJA LUTERANA
(justificar). Este verbo é usado para designar o que Jesus fez por nós.
Em Rm 3.20 lemos: “justificados (dikaiou,menoi) gratuitamente pela sua
graça mediante a redenção em Cristo Jesus”. Por isso, é necessário, em
primeiro lugar confiar no Deus que justifica (através de Jesus) e tudo nos
será acrescentado.
V. 34: Não vos preocupeis com o amanhã, mas com o hoje. Basta o
kaki,a (mal) de cada dia. Sabemos que a cada dia teremos dificuldades,
mas que enfrentemos a cada dia as dificuldades confiando na providência
divina.
108
OITAVO DOMINGO APÓS EPIFANIA
109
TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR -
ÚLTIMO DOMINGO APÓS EPIFANIA
06 de março de 2011
2 EXEGESE DO TEXTO
110
TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR - ÚLTIMO DOMINGO APÓS EPIFANIA
111
IGREJA LUTERANA
quando Deus o declarou Filho, mostra que Jesus é o objeto digno da glo-
rificação. É diferente da manifestação de uma essência divina mediante a
transformação milagrosa de alguma figura helenística semi-mitológica.
Muitos teólogos devotos ao helenismo pensavam que a transfiguração
fosse uma manifestação da glória essencial interior de Cristo. Embora este
ponto de vista tenha validade, 2 Pe 1.17 indicaria uma situação diferente.
Outra característica sem igual da transfiguração de Jesus é que todos os
três evangelhos sinóticos mencionam roupas radiantes. Embora o rosto
possa resplandecer com glória interior, parece que a situação não seria
assim no caso das vestes. Cristo foi Transfigurado, ou Glorificado por Deus
Pai, um ato externo-interno e não o contrário, o que fica evidente no uso
do passivo metemorfw,qh. O que nos leva a dizer que a transfiguração
não foi um ato de Jesus, mas de Deus. O que derruba a pergunta: O que
Jesus quis mostrar? Talvez fosse mais plausível a pergunta: O que Deus
nos mostra, ou quis mostrar às testemunhas?
Se as palavras introdutórias de Mt 16.28, Mc 9. 1 e Lc 9.27 forem
entendidas como aplicáveis primariamente à transfiguração, seu ponto
de referência mais natural, a linguagem figurada, é certamente a de
Dn 7.13-14. A palavra “poder” que se acha em Mc 9.1, também ocorre
na descrição de Pedro (2 Pe 1.16), onde a palavra parousia, “vinda” ou
“presença”, também é achada. Vários dos elementos da narrativa que se
segue também sugerem um tema do Filho do homem glorificado, mais
notavelmente a nuvem. Este ponto de referência não esgota o significado
da transfiguração, no entanto, não somente há temas messiânicos, mas
também destaca-se a linguagem figurada do êxodo bíblico. Naquele evento
veterotestamentário, por exemplo, Deus também tomou conhecida sua
presença em uma nuvem.
O intervalo de seis dias em Mt 17.1 e Mc 9.2 talvez relembre o perí-
odo de espera quando Moisés subiu uma montanha, também com três
companheiros, para receber os mandamentos de Deus (Êx 24.9-16). Uma
nuvem estava presente ali também, como cobertura e também como
veículo para a manifestação da glória de Deus. O próprio fato de que
Moisés aparece no Monte da Transfiguração sugere que o tema do êxodo
é proeminente. Lucas registra, além disto, que Moisés e Elias falavam
acerca da “partida” (Gr. exodos) que Jesus estava para levar a efeito em
Jerusalém (Lc 9.31).
Ao invés de limitar a linguagem figurada da cena da transfiguração
a um só ponto de referência, é melhor vê-la da perspectiva tipológica
(êxodo) e escatológica (parousia).
Este último aspecto é reforçado pela presença daquela grande figura
judaica de significância escatológica, Elias. O significado essencial, no en-
tanto, não se centraliza em um evento passado nem futuro, mas sim, na
112
TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR - ÚLTIMO DOMINGO APÓS EPIFANIA
pessoa transfigurada. Este fato é revelado pela voz do Pai, que emprega
terminologia que relembra quatro passagens cristologicamente importan-
tes: S1 2:7 acerca do Filho Real; Gn 22:2 acerca do Filho Amado (onde a
redação da LXX é muito semelhante a Mt 17.5; e Mc 9.7); Is 42.1 a respeito
do Servo Escolhido; e Dt 18.15 (“a ele ouvirás”) a respeito do profeta
Moisés. Isso marca a idéia de que o povo de Deus ouve as suas palavras
através daquele que Ele envia. A transfiguração deve ser entendida, por-
tanto, como afirmação por Deus do Messias e filiação sem igual de Jesus,
que na realidade cumpriria Sua missão de Servo Sofredor de acordo com
as declarações na narrativa anterior em Mc 8.27-9.1 e paralelos.
A palavra metemorfw,qh têm relacionamento com a experiência dos cris-
tãos. Em Rm 12.2 um processo contínuo de transformação deve caracteri-
zar o crente. É levado a efeito por uma renovação interior da mente e por
uma resistência à influência do mundo (ou “século”, aiõn). Uma explicação
mais detalhada da transformação do cristão é dada em 2 Co 3.18, onde
a experiência de Moisés em Êx 34.29-35 serve como modelo imperfeito.
A glória trazida pelo evangelho não é temporária, como a radiância do
rosto de Moisés, mas sim, é duradoura e transcende a morte tornando-se
eterna ou escatológica. O crente cristão tem um relacionamento aberto
com o Senhor da glória, o que tem um efeito transformador nesta vida e
para toda a eternidade.
3 OBJETIVOS
113
QUARTA-FEIRA DE CINZAS
Salmo 51.1-13(14-19); Joel 2.12-19; 2 Coríntios 5.20b-6.10;
Mateus 6.1-6, 16-21
2 CONTEXTO
114
QUARTA-FEIRA DE CINZAS
4 ALGUMAS REFLEXÕES
115
IGREJA LUTERANA
5 SUGESTÃO HOMILÉTICA
Eliseu Teichmann
Porto Alegre/RS
eliseu@comcristo.org.br
116
PRIMEIRO DOMINGO NA QUARESMA
13 de março de 2011
1 CONTEXTO LITÚRGICO
2 TEXTO E CONTEXTO
117
IGREJA LUTERANA
temente, ele se submete ao batismo de João, mesmo após João lhe dizer
que é ele que deveria ser batizado por Jesus (Mateus 3.14); e quando,
voluntariamente, guiado pelo Espírito, é levado ao deserto para ser tentado
pelo diabo (Mateus 4.1).
Juntos, esses três temas fazem a conexão entre Mateus 3.13-17 e
4.1-11 e enfatizam que o verdadeiro e unigênito Filho de Deus leva a cabo
o plano de seu Pai, não por meio de poder e glória, mas sim, através de
seu humilde servir. E a última tentação (Mateus 4.8-9), proposta pelo
diabo, especialmente destaca esse tema. O diabo pressupõe que Jesus irá
adorar e servir alguém, sendo assim, arrogantemente oferece a ele uma
conveniente oportunidade para adorar e servir. Mas, como perfeito Filho,
Jesus está determinado a adorar e servir apenas seu Pai, o Senhor Deus
e Ele somente (Mateus 4.10)!
Mas além desta conexão textual, há também uma conexão tipológica,
que apresenta Jesus como aquele que enfrenta a batalha com o diabo no
lugar do povo de Deus, Israel. Aqui cabe lembrar os acontecimentos em
Êxodo, quando Deus nomeia Israel como seu filho primogênito, e a ordem
para Faraó é bem clara, deixa meu povo (filho) ir (Êxodo 4.22). E contra
a vontade de Faraó, finalmente Deus conduz seu “filho” à liberdade e ao
deserto. Mas no deserto, o “filho” – o povo – acaba traindo a Deus e falha
diante das provações que Deus coloca diante deles.
Agora, um outro, perfeito e verdadeiro Filho, aparece no deserto. O
diabo tenta Jesus para que ele use seu poder para satisfazer suas pró-
prias necessidades. Em resposta, Jesus cita as palavras de Moisés em
Deuteronômio 8.3, quando este descreve o fracasso de Israel no deserto.
Mas Jesus não falha, ele não sucumbe diante das provações no deserto,
Jesus não é o “tipo de Filho” que usa seu próprio poder para prover para
si mesmo. Ao contrário, Ele prefere depender em tudo que procede da
boca de seu Pai. Onde Israel falhou, Jesus triunfou – coincidentemente,
no mesmo lugar e em seu lugar. Jesus é o Heroi de Israel, Jesus é aquele
que lutou com o diabo, em favor de Israel, e venceu a luta.
Na segunda tentação, o diabo usa outra estratégia, ele quer que Jesus
exija do Pai proteção, mas isso deve ser feito de certo modo, quando Jesus
se atirar do pináculo do templo, colocando-se em situação de perigo des-
necessária. Israel falhou em similar provação no deserto, quando exigiu
de Deus que ele provesse água de acordo com seus termos e necessida-
des (Deuteronômio 6.16; Êxodo 17.1-7). Jesus, todavia, passa no teste,
citando as mesmas palavras de Moisés – “Não tentarás o Senhor, teu
Deus.” – para repelir o ataque do diabo. Israel não havia entendido o
que significava ser filho de Deus, mas Jesus não nega a sua identidade
ou mesmo se desvia de seu chamado como verdadeiro e perfeito Filho
de Deus.
118
PRIMEIRO DOMINGO NA QUARESMA
Na última tentação, surge a questão que todo filho, cedo ou tarde, terá
de responder. Por definição, um “filho” serve seu “pai” e faz o que ele lhe
mandar. Quem Jesus irá servir? Israel vacilou no deserto e mais tarde, tam-
bém na terra prometida, quando correu atrás de outros deuses, disposto
a servi-los e a adorá-los. Mas Jesus não quer saber disso. Uma vez mais,
ele se apropria das palavras de Moisés (Deuteronômio 6.13), revelando o
contraste entre a imperfeita (e pecaminosa) obediência do povo de Israel
e a sua perfeita obediência à vontade do Pai. Na luta com o diabo, Jesus
não hesita, ele assume a sua identidade e papel como verdadeiro Filho de
Deus. Jesus, em perfeita obediência, cumpre a vontade do Pai.
119
IGREJA LUTERANA
Mateus 4.1-11 nos lembra que Deus nos dá a vitória por intermédio
de Jesus Cristo, seu único e verdadeiro Filho (cf. 1 Coríntios 15.57). Jesus
é o Filho que Israel e nós jamais poderíamos ser. Sejamos gratos a Deus
pelo seu Filho e a vitória que ele nos dá!
Ely Prieto
San Antonio, Texas/USA
elyp@concordia-satx.com
120
SEGUNDO DOMINGO NA QUARESMA
20 de março de 2011
121
IGREJA LUTERANA
122
SEGUNDO DOMINGO NA QUARESMA
Vv. 17-19: Pelo fato de Jesus ser Salvador, é também juiz de todas
pessoas (Jo 5.22; 9.39). A intenção de Deus era que o “mundo” (vv.16,17)
fosse salvo. Jesus não veio com o objetivo de condenar o mundo, mas
de salvar (1Jo 4.9). Aquele que “crê” (v.18) não é condenado. Deus não
deseja a morte do pecador (Ez 33.11), ele enviou Cristo ao mundo para
trazer vida eterna e salvação. Porém, aqueles que se negam a crer no
Filho do Homem condenam-se a si mesmos pela recusa da salvação ofe-
recida (v.18).
Vv. 20-21: Cristo veio trazer salvação, mas a vinda da luz (Cristo)
também julga e condena aqueles que amam as trevas (o pecado).
3 DOUTRINAS RELACIONADAS
123
IGREJA LUTERANA
4 COMENTÁRIOS E REFLEXÕES
124
SEGUNDO DOMINGO NA QUARESMA
v.5: At 22.16; Tt 3.5. v.6: Jo 1.13; 1Co 15.50. v.8: 1Co 2.14-16. v.9: Jo
6.52, 60. v.10: Lc 2.46. v.11: Jo 1.18; 7.16-17; Jo 3.32. v.13: Pv 30.4;
At 2.34; Ef 4.8-10; Jo 3.31; 6.38, 42; Hb 4.14; 9.24; Mt 8.20. v.14: Nm
21.8-9; Jo 12.32. v.15: Jo 3.16, 36; Gn 15.6; Nm 14.11; Mt 27.42; Mc
1.15; Jo 1.7, 12; 2.23; 5.24; 7.38; 20.29; At 13.39; 16.31; Rm 3.22;
10.9-10; 1Jo 5.1, 5, 10; Mt 25.46; Jo 20.31. v.16: Rm 5.8; Ef 2.4; 1Jo
4.9-10; Is 9.6; Rm 8.32; Gn 22.12; Jo 1.18; Jo 3.15, 36; Jo 6.29, 40; Jo
11.25-26. v.17: Jo 6.29, 57; 10.36; 11.42; 17.8, 21; 20.21; Is 53.11;
Mt 1.21; Lc 2.11; 19.10; Jo 1.29; 12.47; Rm 11.14; 1Tm 1.15; 2.5-6;
1Jo 2.2; 3.5. v.18: Jo 5.24; 1.18; 1Jo 4.9. v.19: Jo 1.4; Sl 52.3; Jo 7.7.
v.20: Ef 5.11, 13.
6 BIBLIOGRAFIA
Ezequiel Blum
Balneário Camboriú/SC
ezequielblum@gmail.com
125
TERCEIRO DOMINGO NA QUARESMA
27 de março de 2011
1 CONTEXTO HISTÓRICO
2 CONTEXTO LITÚRGICO
126
TERCEIRO DOMINGO NA QUARESMA
3 ÊNFASES DO TEXTO
A.
V. 7: “Nisto, veio uma mulher samaritana tirar água”. Jesus estava
cansado da longa viagem (v.6). Era meio-dia (hora sexta) e Jesus resolve
descansar um pouco, sentado à beira da fonte. Ele sente sede, mas, apa-
rentemente, não possuía nenhum equipamento para tirar água do poço.
Neste contexto, aparece uma mulher samaritana para tirar água.
O fato de aparecer apenas uma mulher para tirar água do poço deve
ser destacado. De acordo com o desdobramento do texto, ela realmente
estava sozinha com Jesus, algo que lhe propiciou ter um fantástico diálogo
com ele, até a vinda dos discípulos.
O fato de ela ter ido sozinha tirar água do poço, bem como o fato de
ela ter ido ao meio-dia, é destacado por Carson: “Aparentemente, a mu-
lher foi ao poço sozinha. Era mais comum que as mulheres fossem buscar
água em grupos, ou mais cedo ou mais tarde no dia, quando o calor do sol
não era tão forte. Possivelmente, a vergonha pública da mulher (4.16ss.)
contribuiu para o seu isolamento”.
B.
V. 10: “... e ele te daria água viva”. Este versículo nos remete ao
Antigo Testamento, quando Deus fala as seguintes palavras através do
profeta Jeremias: “Porque dois males cometeu o meu povo: a mim me
deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas
rotas, que não retêm as águas” (Jeremias 2.13). O manancial da água
viva é o próprio Deus. Somente ele pode dar ao ser humano o perdão, a
vida e a salvação.
A tendência humana é buscar a vida e a salvação eterna em seu inte-
rior. A tendência humana é de achar que sua dignidade está dentro de si
e nas suas ações. Mas Deus nos mostra que buscar estas coisas dentro
de nós é cavar cisternas rotas. Nosso interior, por si só, não possui água
viva. Nosso interior não possui dignidade e salvação alguma. Somos com-
127
IGREJA LUTERANA
C.
V. 15: “Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me dessa água, para que eu
não mais tenha sede, nem precise vir aqui buscá-la”. A resposta da mulher
samaritana neste versículo demonstra um dos mais profundos anseios dos
seres humanos: a resposta imediata aos problemas.
No versículo 10, Jesus havia lhe oferecido “água viva”. Ou seja: Jesus
ofereceu-se a si mesmo a esta mulher e, por consequência, a eternida-
de.
Mas a mulher samaritana não havia compreendido a profundidade e
grandeza daquilo que Jesus havia lhe oferecido. Ela estava mais preocu-
pada com os fardos que ela carregava diariamente, tal como o fardo de
buscar água da fonte ao meio-dia. Analisando este versículo, aparenta
que a mulher se daria por satisfeita se Jesus resolvesse o seu problema
imediato.
D.
V. 18: “... porque cinco maridos já tiveste, e esse que tens não é teu
marido.” Fazendo-se uma análise desta mulher samaritana, conclui-se que
ela é “desqualificada” como pessoa, de acordo com as regras culturais e
farisaicas vigentes no tempo de Jesus.
Para iniciar, esta pessoa era uma mulher, algo que lhe dá certo des-
crédito perante a sociedade da época. Analisando-se do ponto de vista
judeu/farisaico, esta mulher era samaritana. Devido a acontecimentos
e contendas históricas, os judeus não se davam com samaritanos (vide
contexto histórico). Além disto, esta mulher já tivera cinco maridos, e o
homem com o qual ela convivia não era seu marido. Ou seja, do ponto
de vista cultural/judeu/farisaico, Jesus estava diante de uma “grande
pecadora”.
A esta pecadora, Jesus encheu de dignidade. A esta pecadora, Jesus
deu o privilégio de tirar água do poço para dar-lhe de beber. A esta peca-
dora, Jesus anunciou-lhe o Evangelho, dando-lhe de beber da água viva.
Esta pessoa, indigna perante a sociedade e igreja da época, foi dignificada
por Jesus.
Jesus poderia ter esperado seus discípulos voltarem para dar-lhe água
de beber. Jesus poderia, ao menos, esperar outra pessoa “menos impura”
128
TERCEIRO DOMINGO NA QUARESMA
para pedir-lhe de beber. Mas foi a esta pessoa “indigna” que Jesus trouxe
dignidade. Esta pessoa indigna foi a escolhida de Jesus.
129
IGREJA LUTERANA
D. Desdobramentos:
Introdução. O que é dignidade humana?
Desenvolvimento.
Parte 1. Mulher samaritana – indigna para a sociedade e para a reli-
gião da época. Quem são aqueles que a nossa sociedade, a nossa igreja,
e as pessoas em geral, consideram indignos?
Parte 2. Jesus devolve a dignidade à mulher samaritana, oferecendo-
lhe a água viva. Esta é a nossa missão: levar A TODOS a palavra de Deus,
a água viva (inclusive para aquelas pessoas que, no nosso interior, no
nosso pensamento, consideramos indignos).
Conclusão. Jesus devolve a dignidade do ser humano. Jesus, a fonte
da água viva, já nos devolveu a dignidade. Não somos dignos porque
fazemos ou deixamos de fazer algo. Pelas nossas ações, todos somos
indignos, pois nossas ações já têm a marca do pecado. Jesus lava esta
marca, devolvendo-nos a dignidade por meio do beber da água da vida.
Assim ele fez com a mulher samaritana, uma mulher “visivelmente” in-
digna. Assim ele fez e faz conosco, sendo nós “visivelmente” ou “invisi-
velmente” indignos.
130
QUARTO DOMINGO NA QUARESMA
03 de abril de 2011
1 CENÁRIO HISTÓRICO
Jesus está em Jerusalém. Ele vive os últimos dias antes de sua morte
na cruz. Sua atividade ministerial é intensa. Jesus gasta suas horas en-
sinando e pregando para o povo. Igualmente intensa se torna a oposição
ao seu ensino. As relações com os líderes judeus estão cada vez mais
tensas. O capítulo 8 tem seu ápice quando os líderes judeus pegam em
pedras para apedrejá-lo (v.59). Cada vez fica mais claro que o ensino e
as atitudes de Jesus fogem do padrão. Para a maioria dos líderes, suas
ideias são subversivas. Desestabilizam a ordem. Tiram as coisas dos trilhos.
Demonstram outra prioridade. Há pouco, por causa de suas palavras, uma
mulher que segundo a lei deveria ser morta por apedrejamento (8.1-11)
saiu ilesa. Em tenso discurso com líderes judeus Jesus afirmou ser Deus
(8.58). Na ótica farisaica, Jesus está se tornando uma poderosa ameaça.
Deve ser contido. Não muito tempo depois o sumo sacerdote Caifás profe-
tiza: “É melhor que morra um só homem do que a nação inteira” (11.50).
E daquele dia em diante decidem matá-lo (11.53).
2 CENÁRIO LITÚRGICO
3 ANÁLISE DO TEXTO
131
IGREJA LUTERANA
132
QUARTO DOMINGO NA QUARESMA
4 PROPOSTA HOMILÉTICA
133
IGREJA LUTERANA
II – Suportar a oposição
Daqueles que persistem na incredulidade
Daqueles que se julgam superiores por guardar preceitos e leis
Daqueles que não suportam ver o amor de Deus ir ao encontro
de todos, mesmo dos que não o merecem.
Para ser glorificado do alto da cruz.
III – Ser proclamada
Por aqueles que experimentaram a graça
Diante daqueles que a ela desprezam
Em direção aos que dela necessitam.
5 BIBLIOGRAFIA
Fernando E. Garske
Pastor no Colégio Luterano Concórdia
São Leopoldo/RS
pastorfernando@gmail.com
134
QUINTO DOMINGO DE QUARESMA
10 de abril de 2011
135
IGREJA LUTERANA
julgado pelo seu lugar na sociedade (status) não passa de mera sombra;
não é a verdadeira pessoa; não é mais o humano (de humus, terra). Sua
humanidade lhe é negada. Quando tais práticas são instituídas, o vazio
existencial vem nos cobrir com sua sombra.
Somente Deus pode preencher o vazio existencial. Como diz o salmista:
“Felizes os homens cuja força está em ti” (Sl 84.6). Em tom de promessa
continua: “Descarrega teu fardo em Iahweh e ele cuidará de ti” (Sl 55.23).
Como disse Agostinho nas Confissões: “Senhor, criaste-nos para Ti e o
nosso coração vive inquieto enquanto não repousa em Ti”. A saudade de
Deus fisga o coração do homem. É como um espinho cravado em sua
carne. Riobaldo, personagem do livro Grande Sertão: Veredas, de Guima-
rães Rosa, sem dúvida, um dos maiores clássicos da nossa literatura, diz:
“Como não ter Deus? Com Deus existindo, tudo dá esperança, o mundo
se resolve. Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vai-vem, e
a vida é burra”. Nosso tempo é de putrefação, de saudade, nostalgia de
Deus, mas a fisgada ainda está lá. Ou seja, há esperança, pois os “Láza-
ros” de nosso tempo ainda sentem a fisgada da saudade de Deus. Por
isso, o cristão nunca desiste de testemunhar, falar de Cristo, viver Cristo
porque seu testemunho está fundado sobre a esperança que não falha.
Apesar da frieza espiritual, sempre haverá espaço para a proclamação da
Palavra do Senhor que liberta os cativos, como libertou Lázaro do túmulo.
Há esperança porque a fisgada da saudade está marcada na carne e na
alma de todo ser humano.
Quando o espírito de Deus atua, então tudo se faz vivo. Quando a voz
de Jesus irrompe sepulcro adentro, então nem mesmo a pedra sobre-
posta que fecha o sepulcro (11.38) pode deter o grito (11.43) de Jesus.
O texto fala que o morto sai (11.44), ou seja, a pedra é removida pelo
poder de Jesus. Lázaro sai com as mãos e pés enfaixados e com o rosto
recoberto com um sudário (11.44). Então Jesus diz: “Desata-o e deixa-o
ir embora” (11.44).
O texto diz que uma pedra sobreposta fecha o sepulcro. A pedra fecha
a entrada. Somos a geração da informação. No seu livro O Universo numa
casca de noz, o físico teórico Stephen Hawking, sem dúvida um gênio
da ciência do nosso tempo, chama atenção do leitor para o crescimento
exponencial do conhecimento. Contudo, fica a pergunta: Tanta informa-
ção resolve a angústia humana? Pessoalmente creio que não. Existe uma
grande diferença entre informação e sabedoria. Ter informação não significa
necessariamente viver sabiamente. A Bíblia diz que o temor do Senhor é
o princípio do saber (Pv 1.8). E a mesma Bíblia alerta para o excesso de
conhecimento: “muito estudo cansa o corpo” (Ec 12.12). Hoje, o excesso
de informação é a pedra que fecha o sepulcro e não permite a entrada das
136
QUINTO DOMINGO NA QUARESMA
137
IGREJA LUTERANA
138
DOMINGO DE RAMOS –
DOMINGO DA PAIXÃO
17 de abril de 2011
1 CONTEXTO
2 TEXTO
3 LEITURAS DO DIA
Salmo (118.19-29)
O salmista mostra seu ardente desejo de adentrar as portas do Templo
para louvar o Senhor. E o motivo do louvor é que a pedra (Cristo) que os
construtores rejeitaram e que veio a ser a mais importante de todas (v.
22) é a própria porta que dá acesso à presença gloriosa e graciosa.
139
IGREJA LUTERANA
mão de tudo o que era seu, tornando-se servo obediente até a morte de
cruz, embora tivesse a natureza de Deus. Por isso Deus lhe deu toda a
honra e pôs nele o nome que está acima de todos os nomes, a quem
todos devem se prostrar e adorar.
Evangelho
O que fica muito claro nas três leituras acima citadas é a entrega es-
pontânea de Jesus em favor da humanidade. Ele poderia ter se defendido
dos seus acusadores, dos seus agressores, mas ele não usou seu poder
para isso, abriu mão de tudo e ofereceu-se para ser sacrificado. E por
causa deste sacrifício ele se tornou a porta que dá acesso à vida eterna
com Deus. Sendo assim, vamos destacar do texto do Evangelho apenas
os aspectos diretamente relacionados a esta entrega de Cristo.
26.v.2: Jesus lembra os seus discípulos que em dois dias ele seria
entregue para ser crucificado. Faltavam dois dias e ele ainda estava solto.
Livre. Poderia fugir, mas não o fez porque estava decidido a entregar-se
para ser sacrificado.
26.v.11: Ao referir-se aos pobres, Jesus diz que os discípulos os teriam
para sempre, mas a ele não o teriam por muito tempo. Ao dizer que ficaria
por pouco tempo com os seus discípulos reafirmava sua disposição para
morrer em favor da humanidade.
26.v.18: Questionado pelos discípulos sobre o local onde comemorariam
a Páscoa, ele os manda procurar um certo homem ao qual eles deveria
dizer: “O Mestre manda dizer: A minha hora chegou...” Jesus sabia que
esta era a sua última Páscoa com os seus discípulos. Mesmo assim, en-
tretanto, dirige-se a Jerusalém.
26.v.21: “... um de vocês vai me trair”. Essa afirmação de Jesus
mostra que ele sabia detalhadamente o que aconteceria com ele nas
próximas horas. Entre outras coisas, seria traído por um dos seus discí-
pulos. E ele, conscientemente, prossegue na sua missão de morrer pela
humanidade.
26.v.24: “Pois o Filho do Homem vai morrer da maneira como dizem
as Escrituras Sagradas”. Aqui Jesus mostra que o Plano da Salvação seria
cumprido integralmente por ele.
26.vv.26-30: Durante a instituição da Ceia, Jesus se refere pelo menos
três vezes ao seu sacrifício iminente: ao oferecer o pão aos discípulos
dizendo “isto é o meu corpo”; ao oferecer o vinho dizendo “isto é o meu
sangue, que é derramado em favor de vós...”; e ao dizer “Eu afirmo a vocês
que nunca mais beberei deste vinho...”. Todas estas afirmações apontam
para seu sacrifício, para sua morte.
26.v.31: Jesus alerta seus discípulos de que eles seriam covardes e
o deixariam só no momento mais difícil. Cita as Escrituras: “Matarei o
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DOMINGO DE RAMOS – DOMINGO DA PAIXÃO
pastor, e as ovelhas serão espalhadas”. O pastor que ira ser morto era ele
próprio. Jesus sabia disto e estava disposto a isto.
26.v.34: “Mas Jesus lhe disse: Eu afirmo a você que isto é verdade:
nesta noite, antes que o galo cante, você dirá três vezes que não me co-
nhece”. Jesus sabia que seria negado pelo líder de seus discípulos. Estava
claro para ele que enfrentaria o Calvário absolutamente sozinho.
26.vv.39,42,44: “Meu Pai, se possível, afasta de mim este cálice de
sofrimento! Porém não seja feito o que eu quero, mas o que tu queres”.
Jesus sabia que o sofrimento que lhe aguardava era muito grande, mas
ele estava disposto a fazer a vontade do Pai. E a vontade do Pai era punir
o Filho para redimir a humanidade pecadora.
26.v.45: “Olhem! Chegou a hora, o Filho do Homem está sendo entre-
gue nas mãos dos maus”. Ser entregue nas mãos dos maus é sinônimo de
sofrimento, de julgamento sem direito de defesa. Era o que Jesus estava
disposto a suportar em nosso favor.
26.v.50: “Amigo, o que você vai fazer agora”. São as palavras ditas por
Jesus a Judas quando recebeu o beijo da traição. Jesus chama de amigo
aquele que o está traindo. O Mestre tem um olhar de compaixão por Judas
e por todos aqueles que o estão maltratando.
26.vv.52,53,54: “Guarda a espada ... você não sabe que, se eu pedisse
ajuda ao meu Pai, ele mandaria agora mesmo doze exércitos de anjos?
Mas, nesse caso, como poderia cumprir aquilo que as Escrituras dizem que
é preciso acontecer?” Jesus dispensou a ajuda de quem o quis defender.
Tinha consciência plena de que o sacrifício era necessário. Sem ele não
haveria salvação para a humanidade.
26.v.63: “Mas Jesus ficou calado”. Ele não abriu a boca para se defender,
embora fosse totalmente inocente. Todavia, sabemos que Jesus estava
ali substituindo a humanidade pecadora, e ele sabia disso, e neste caso
ele já não era inocente, pois estavam sobre os seus ombros os pecados
de toda a humanidade.
27.v.14: “Porém Jesus não disse nada, e o Governador ficou muito
admirado com isso”. Outra vez Jesus não se defende, desta vez perante
Pilatos.
27.v.46: “Eli, Eli, lemá sabactani?”. Jesus estava só, desamparado até
mesmo pelo próprio Pai. Sofria na cruz o que todos nós deveríamos sofrer
no inferno. Certamente a dor do desamparo era infinitamente superior à
dos ferimentos causados pelos açoites e pelos pregos.
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IGREJA LUTERANA
4 PROPOSTA HOMILÉTICA
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QUINTA-FEIRA SANTA
21 de abril de 2011
1 CONTEXTO
1. Festa dos Pães Asmos (Festa dos Pães sem Fermento). Havia
sete dias durante os quais os judeus não podiam comer pão levedado,
desde o dia 14 até 21 do mês Nisã (equivalente aos nossos meses de
março e abril). Isso em comemoração à súbita partida da terra do Egito,
o que não lhes deu tempo para levedar a massa que levariam consigo.
Todo o fermento, portanto, era removido das casas, em busca cuidadosa,
e queimado ou eliminado de outra maneira. Estritamente, a Páscoa e a
Festa dos Pães Asmos – hCm – matzá (Ázimos – Dicionário Aurélio) eram
duas instituições separadas, embora intimamente vinculadas, visto que
as celebrações tinham lugar ao mesmo tempo.
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IGREJA LUTERANA
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QUINTO DOMINGO NA QUARESMA
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IGREJA LUTERANA
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SEXTA-FEIRA SANTA
22 de abril de 2011
1 LEITURAS DO DIA
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IGREJA LUTERANA
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SEXTA-FEIRA SANTA
4 MEDITAÇÃO
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IGREJA LUTERANA
6 SUGESTÃO DE ESBOÇO
Está consumado!
I - A morte de Jesus foi real – mistério como Deus pode morrer.
II – Sua morte foi voluntária
III – Sua morte foi a morte da própria morte
IV – Sua morte significa vida para nós
A. A morte agora é só sombra do que era. Perdeu sua força. Não é
mais um passo para o desconhecido (Sl 118.17). Seu terror foi
removido.
B. A morte agora é a avenida para a presença de Deus (1Co 15.54c-
57). Vivemos na esperança de um “viver e morrer bem”. As pala-
vras de Jesus na hora de Sua morte são fonte de consolo quando
eu estiver diante da minha morte.
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SEXTA-FEIRA SANTA
7 BIBLIOGRAFIA
Gerhard Grasel
Capelão Geral da ULBRA
Canoas/RS
pastorgrasel@ulbra.br
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RESSURREIÇÃO DO SENHOR –
DOMINGO DA PÁSCOA
24 de abril de 2011
152
RESSURREIÇÃO DO SENHOR – DOMINGO DA PÁSCOA
apóstolo Pedro: Não há salvação em nenhum outro... (At 4.10), sua men-
sagem a Cornélio o confirma. Pedro testemunha da morte e ressurreição
de Jesus a judeus e gentios. Para que pela fé na graça de Cristo recebam
perdão, vida e eterna salvação.
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IGREJA LUTERANA
3. Fatos que mudaram suas vidas. Por natureza, todos nós somos
céticos. Isto é natural. O ceticismo não se baseia tanto em fatos, mas no
que é compreensível. O discípulo Tomé foi realista. Morreu, acabou. Vou
tratar de minha vida. Deste ceticismo só a palavra de Deus pode nos ar-
rancar. Cada um precisa passar pessoalmente por esta experiência. Com
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RESSURREIÇÃO DO SENHOR – DOMINGO DA PÁSCOA
quantas perguntas e lutas Lutero se defrontou até chegar à fé! Até ver
que não se tratava de verdades religiosas, mas de fatos dos mais profun-
dos da vida humana! Até reconhecer a impossibilidade de salvar-se por
suas obras, até reconhecer os fatos do evangelho a respeito da pessoa de
Cristo, “verdadeiro Deus gerado do Pai e verdadeiro homem nascido da
virgem Maria, é meu Senhor, pois me remiu...”. Não simples Senhor para
ser obedecido, mas que me remiu e salvou, que é Senhor sobre meus
inimigos, pecado, morte e Satanás; e que nele temos perdão, vida e eterna
salvação. Então sua vida mudou. Ele mesmo diz: Renasci! Ainda vivo na
carne, mas não mais pela carne, mas por Cristo que vive em mim.
Reconheceu a importância de morrer diariamente, por arrependimento
e contrição, e ressurgir diariamente novo homem que vive diante de Deus
em justiça e pureza para sempre.
O que significa, portanto, a ressurreição de Cristo para mim? Res-
pondemos com o Catecismo: “Por que a ressurreição (o fato) de Cristo é
tão consoladora para nós? Porque prova: 1° que Cristo é o Filho de Deus
e verdadeira a sua doutrina; 2° que Deus Pai aceitou o sacrifício de seu
Filho para a reconciliação do mundo; e 3° que todos os fiéis ressuscitarão
para a vida eterna”. Jesus diz: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê
em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim, não
morrerá (Jo 11.25,26). Amém.
Horst R. Kuchenbecker
São Leopoldo/RS
horstkuchenbecker@gmail.com
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SEGUNDO DOMINGO DE PÁSCOA
1º de maio de 2011
1 LEITURAS
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SEGUNDO DOMINGO DE PÁSCOA
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IGREJA LUTERANA
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SEGUNDO DOMINGO DE PÁSCOA
3 PROPOSTA HOMILÉTICA
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TERCEIRO DOMINGO DE PÁSCOA
08 de maio de 2011
Jesus não perdeu tempo! No mesmo dia em que ressuscitou foi anun-
ciar a muitas pessoas que o plano de salvação estava completo. Em uma
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TERCEIRO DOMINGO DE PÁSCOA
161
IGREJA LUTERANA
162
TERCEIRO DOMINGO DE PÁSCOA
ção de Cristo são fatos consumados e era preciso que assim acontecesse.
Para crer nisso é importante ter um coração aberto e não endurecido, algo
que somente é possível pela ação constante do Espírito Santo em nós. E
desta forma, Cristo é o nosso convidado diário para estar conosco e agir
em nossa vida. E foi assim, na presença de Jesus e na sua ação ao tomar o
pão, dar graças a Deus e reparti-lo, numa lembrança à Ceia que instituiu e
compartilhou com os discípulos antes da sua morte, que os dois discípulos
tiveram seus olhos abertos e reconheceram o Senhor. A ação é divina,
e nós recebemos e desfrutamos as bênçãos de Deus. Fortalecidos na fé,
conseguimos ver, entender, aceitar e agradecer por tudo o que recebemos
do Pai por graça e misericórdia. E, além disso, recebemos força para tes-
temunhar ao mundo sobre a maior história de amor presente no coração
de Deus desde a eternidade. Por causa da ressurreição de Jesus temos
totais condições de contarmos essa história, que tanto nos alegra e nos
motiva a vivermos na expectativa e na certeza da vida no céu. Adoramos
o Deus da vitória sobre a morte, aquele que cumpriu todas as promessas
e sofreu o castigo dos pecados por nós e em nosso lugar. Adoramos a
Jesus o Filho de Deus, que também, como verdadeiro homem, pagou toda
a nossa dívida e perdoou a nossa culpa. Adoramos a Jesus que nos dá
a vida eterna, e assim queremos servir a Jesus com tudo o que temos e
somos para benefício do próximo. Queremos ir ao encontro daqueles que
não creem e acolher a todos no amor de Jesus.
Iderval Strelhow
Porto Alegre/RS
strelhow@yahoo.com.br
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QUARTO DOMINGO DE PÁSCOA
15 de maio de 2011
1 INTRODUÇÃO
2 APRESENTAÇÃO
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QUARTO DOMINGO DE PÁSCOA
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IGREJA LUTERANA
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QUARTO DOMINGO DE PÁSCOA
3 PROPOSTA HOMILÉTICA
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QUINTO DOMINGO DE PÁSCOA
22 de maio de 2011
Salmo 146; Atos 6.1-9; 7.2a, 51-60; 1 Pedro 2.2-10; João 14.1-14
1 CONTEXTO HISTÓRICO
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QUINTO DOMINGO DE PÁSCOA
2 CONTEXTO LITÚRGICO
3 ANÁLISE
169
IGREJA LUTERANA
está ainda no anúncio das suas “obras” (atos miraculosos), que são as
mesmas que as do Pai.
4. Jesus foi, mas voltará (v. 3). A razão de sua partida é confortadora:
preparar um lugar no céu para a sua igreja. Poeticamente diríamos que
Jesus está, agora, decorando o céu para nós.
5. A promessa de Jesus no v. 12 desperta uma natural curiosidade.
Como interpretá-la? Afinal, não há obra maior do que a obra da salvação
levada a cabo por Jesus. De que obras maiores realizadas pelos crentes
Jesus fala? Penso que a chave está no entendimento da expressão “porque
eu vou para junto do Pai”. As obras estão, por isso, atreladas à descida do
Espírito Santo. Neste sentido, a leitura de Atos 6 e 7 nos mostra grandes
obras do Espírito operadas por intermédio de Estêvão (“homem cheio de
fé e do Espírito Santo”, At 6.5), mas especialmente a obra do crescimento
da igreja, a multiplicação do número de discípulos (At 6.7). Mais vidas
sendo salvas – esta obra é grandiosa. Obras maiores, então, podem ser
entendidas no sentido de quantidade e não no sentido de serem maiores
em natureza.
4 MEDITATIO
170
QUINTO DOMINGO DE PÁSCOA
171
IGREJA LUTERANA
Essa verdade não muda com o tempo. Ela não está condicionada a
algum lugar e não é verdade apenas para um povo em especial. A ver-
dade é universal. Jesus é esta verdade. Assim, o Espírito Santo também
não está agindo fora da proclamação de Cristo, pois Deus não é Deus
de mentira. Mais adiante Jesus vai lembrar que a santificação que nós
tanto precisamos vem da Palavra, que é a verdade, que é o Logos, que
é o próprio Jesus. Negar esta verdade absoluta [Jesus] é o mesmo que
viver na mentira.
5 SUGESTÃO HOMILÉTICA
1. Introdução
Há mentiras tão amplamente difundidas ou tão coloridamente contadas
que parecem assumir uma conotação de verdade. Ex: caixinhas de leite
172
QUINTO DOMINGO DE PÁSCOA
2. Desenvolvimento
a) “Eu sou o caminho” x “Todos os caminhos levam a Deus”.
b) “Eu sou a verdade” x “Não há uma verdade única. Tudo é relati-
vo”.
c) “Eu sou a vida” x “Todos são filhos de Deus”.
3. Aplicação
Não dá para fingir-se de avestruz: enterrar a cabeça na terra e fingir
que não está acontecendo nada. A igreja não é chamada para conces-
sões diplomáticas. A função da igreja é confessar, anunciar. Diplomacia
evangélica pode fazer com que doutrinas perniciosas interfiram na nossa
eternidade.
4. Conclusão
Os números das caixinhas de leite não têm nada a ver com (re)pas-
teurização. Pode comprar o número 5 sem problemas...
Chupar manga e beber leite não mata, não! Aliás, se você inverter a
ordem, também não tem problema...
O que não pode, porém, é viver com lendas que afetam a eternida-
de.
Por essas e outras, quer saber qual é o caminho certo? Quer a verdade?
Prefere vida ao invés da morte? Então você só tem uma opção: Jesus. Ele
é “o caminho, a verdade e a vida”. A cruz e o túmulo estão aí para provar:
ninguém chega lá sem Ele.
Júlio Jandt
Itararé/SP
jullynho@yahoo.com.br
173
SEXTO DOMINGO DE PÁSCOA
29 de maio de 2011
1 LEITURAS
174
SEXTO DOMINGO DE PÁSCOA
175
IGREJA LUTERANA
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SEXTO DOMINGO DE PÁSCOA
3 PROPOSTA HOMILÉTICA
177
ASCENSÃO DO SENHOR
02 de junho de 2011
V. 16: Este versículo olha para trás, para o v.15. Paulo agradece a Deus
porque ele tem ouvido coisas boas sobre os cristãos de Éfeso: a fé em
Jesus e seu amor uns para com os outros. Mas o versículo também olha
para frente e nos dá uma pista para o restante do texto. Versos 15-23
são uma sentença. A idéia central é realmente a oração de intercessão
de Paulo pela igreja em Corinto, que poderia muito bem ser a oração de
um pastor por sua congregação.
V.17: O conhecimento de Deus é o pensamento chave neste versículo.
Lenski comenta que epignosis é “o conhecimento que realmente apreende
Deus, verdadeira realização no coração e não somente a do intelecto”.
Deve ser um conhecimento de Deus como o de Abraão, que “foi chamado
o amigo de Deus” (Tiago 2.23). Nós só conhecemos a Deus pessoalmente
por meio do Filho de Deus, Jesus (João 14.7).
Vv.18-19: A esperança está na “herança” e “poder”. Esta mesma he-
rança é mencionada em 1Pedro 1.4, e poder é concedido para ser cristão
agora nesta era, ver 2Tm.1.7. Devemos ser cuidadosos para não esquecer
o poder que Deus nos dá ou deixar o nosso cristianismo deteriorar-se em
mera religiosidade, ver 2 Tm. 3.5. O Deus vivo está com a gente!
Vv. 20-21: Os dois particípios aoristo colocam como Deus operou Seu
poder: egeiras e kathisas. Cristo foi ressuscitado uma vez por todas dos
mortos, e ele foi exaltado uma vez por todas acima de tudo. Sua exaltação
também é expressa em Filipenses 2.9-11. A frase “muito acima de todo
poder e autoridade, poder e dominação” (Ef. 1.21) expressam o domínio
de Cristo sobre a hierarquia angelical, anjos no céu e os anjos caídos. Seu
governo é permanente e se estende até a era “que está por vir”.
Vv. 22-23: “Ele colocou todas as coisas debaixo de seus pés” faz alusão
à profecia messiânica do Sl 110.1-2, a passagem do Antigo Testamento
mais citada no Novo Testamento.
No dia da Ascensão, Cristo deixou os Seus discípulos de forma visível.
Se um pastor soubesse que logo estaria deixando sua congregação, po-
demos imaginar o que sua oração de intercessão significaria. Ela poderia
178
ASCENSÃO DO SENHOR
2 LUCAS 24.44-53
3 ESBOÇO DE SERMÃO
179
IGREJA LUTERANA
Uma testemunha é aquele que não pode deixar de falar e viver os finais
e os começos que Deus concedeu por sua graça. Quando começamos, nós
recebemos o Cristo vivo.
Marco A. Jacobsen
Canoas/RS
mamjacobsen@yahoo.com.br
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SÉTIMO DOMINGO DE PÁSCOA
05 de junho de 2011
1 LEITURAS
Salmo 68.1-10
O Salmo 68 é um canto de louvor do povo que reconhece que nada
é, a não ser aquilo que Deus dele faz. Os justos (v. 3) são aqueles que
andam porque Deus é o seu caminho, suas pernas e seu destino. São
aqueles que caíram, que estão no desespero, a não ser que alguém tenha
deles misericórdia e os salve. São os órfãos deste mundo. São as pessoas
abandonadas que não têm como cuidar de si próprias e não têm ninguém
que as procure e lhes ofereça abrigo (vv. 5 e 6).
Este abrigo e seus abrigados é o monte Sinai. Havia e ainda os há,
montes maiores e mais férteis e com mais recursos para abrigar um povo.
Mas este é o abrigo reservado por Deus e no qual Deus promete cuidar
do seu povo.
A alegria e o louvor brotam do fato de que Deus está presente. Lem-
brar que nenhum fio cai da nossa cabeça sem a vontade expressa de
Deus consola e revigora o espírito. Essa presença não está oculta. Ela
está marcada pelos sinais visíveis de Deus entre o povo: sua palavra e os
sacramentos. E se Deus, por eles, nos marca e garante como seu povo,
o povo não precisa temer por ser fraco. Sua força é Deus.
At 1.12-26
Lucas nomeia o grupo que voltou para Jerusalém um a um, onze ao
todo. São estes os que Jesus separou para que esperassem pelo próximo
momento, ou kairós, de Deus. Parecem órfãos, como muitas vezes ao
longo da história do Reino de Deus sua igreja fiel se mostra frágil, fraca
e abandonada.
O grupo é pequeno. Jesus não está mais entre eles. O que fazer? Eles
oram. A igreja de Jesus, o povo de Deus, precisa ser lembrado de que é
pequeno e fraco para que a oração não esmoreça e não cesse.
A oração resulta da fraqueza. A oração reconhece a fragilidade humana
e a sua dependência de quem tenha misericórdia do ser humano. Mas
olhando para a história, foram os fracos, órfãos e viúvas que levantaram
181
IGREJA LUTERANA
1 Pe 4.12-19
Esta leitura nos remete para um tempo em que a igreja precisava ser
lembrada de que Deus é o Deus dos afligidos.
O ser humano nem sempre quer assumir sua realidade. O sofrimento
é parte da existência humana. Se não fosse a perseguição, a doença,
a derrota e a morte, o ser humano se gloriaria na forças própria, como
se a graça fosse mérito pessoal. Contra a sua natureza, Deus precisa
aproximar-nos da morte, até que somente nos reste a sua misericórdia
como única esperança.
182
SÉTIMO DOMINGO DE PÁSCOA
Deus que nos faz implorar pela sua presença e a sua proteção. Ao pedir
ao Pai: “Pai santo, guarda-os em teu nome” Jesus está pedindo que Deus
nos faça buscá-lo.
Mas Deus também nos atrai a si pelas bênçãos que nos dá quando
as reconhecemos como tais: bênçãos de Deus. Não são leis da natureza.
Pois a própria ordem que se pode perceber na natureza é uma bênção de
Deus. Mas Deus, ele próprio, não está sujeito a elas, a não ser naquilo
que Deus é fiel às ordens que ele criou e preserva a favor da vida que ele
nos oferece para que a experimentemos.
Jesus intercede a favor dos seus porque conhece o Pai e pede por
tudo aquilo que Deus tem dado desde o princípio. O mais importante e
revelador é que Jesus mostra-se aos seus discípulos como o intercessor
junto ao Pai. Ele é o POR VÓS, aquele que se deu por nós e que ainda se
dá por nós na palavra e no sacramento.
Paulo P. Weirich
São Leopoldo/RS
weirich.proskep@gmail.com
183
PENTECOSTES
12 de junho de 2011
1 CONTEXTO LITÚRGICO
184
PENTECOSTES
185
IGREJA LUTERANA
feitas por João no livro de Apocalipse sobre o “novo céu e a nova terra”
(Ap 7.17; 21.6; 22.21), em que Jesus diz: “Eu, a quem tem sede, darei
de graça da fonte da água da vida” (21.6), e onde o cordeiro apascentará
e guiará seu rebanho “para as fontes de água da vida. E Deus lhes enxu-
gará dos olhos as lágrimas” (7.17). Através desta fonte, a vida passa a
ser eterna, pois a pessoa vive na presença de Deus.
V.39: João interpreta o que Jesus dissera afirmando que as palavras
do Salvador diziam “respeito ao Espírito”. Os rios de água viva não são,
portanto, algo que o ser humano possui por si mesmo, mas, sim, a vida
recriada pelo próprio Espírito, e que flui da igreja na medida em que o
Espírito dá testemunho de Cristo (Jo 15.26) pela boca de seres humanos
(At 1.8), assim como aconteceu com os apóstolos na ocasião do Pente-
costes (At 2).
3 REFLEXÃO HOMILÉTICA
186
PENTECOSTES
egoístas que conduzem à culpa, mas pode ser vivida em direção e serviço
àqueles que precisam de nossa ajuda e da água que Jesus oferece.
Em Cristo, vida passa a fluir do interior daquele que crê, pois neste
habita o Espírito da Vida.
4 SUGESTÃO HOMILÉTICA
5 BIBLIOGRAFIA
Samuel R. Fuhrmann
Santa Cruz do Sul/RS
samuelfuhrmann@yahoo.com.br
187
DEVOCIONAL
“TODOS OS DEUSES ESTÃO MORTOS”
João 5.1-9
188
DEVOCIONAL
você não fala para ninguém? Orando que Deus vai te apoiar com a sua
santificação enquanto o diabo está tomando conta de você?
E aí começa a surgir uma pergunta. Ela começa bem pequeninha dentro
do coração de um cristão. Uma pergunta que começa como uma pequena
voz na sua cabeça: “Cadê Deus?” “Será que Ele está me ouvindo?” “Por
que Ele está permitindo isso ou aquilo acontecer na minha vida?” Antes
que você saiba, você fica inseguro na sua fé. Você se sente como o budista,
pensando que talvez Deus esteja morto e que nos deixou completamente
sozinhos no meio do nosso sofrimento e confusão.
Bom, eu sei que há pessoas nesta comunidade que jamais pensaram
nestas questões que estou descrevendo. Mas também sei que há pessoas
nesta comunidade que já pensaram sobre estas questões de fé. Por isso
gostaria de falar com vocês hoje sobre o assunto oração. Quero olhar
junto com vocês estas perguntas difíceis. E para ter um fundamento mais
seguro do que a minha própria opinião, vamos olhar juntos para a leitura
do evangelho de João, capítulo 5, versículos 1-9.
38 anos. 38 anos este homem na leitura de hoje sofreu de uma doença
debilitante que afligiu o seu corpo e até comprometeu a sua capacidade
de caminhar, a capacidade de viver a sua própria vida. 38 anos. Meus
irmãos, esta é uma doença que naquele ponto da história já tinha dura-
do mais tempo do que algumas pessoas viviam! E eu li um comentário
bíblico sobre esta leitura enquanto estava preparando este sermão. Um
comentário é um livro escrito por um professor ou outro falando sobre o
texto bíblico. Neste comentário diz que Jesus chegou perto deste homem
que não pediu ajuda e o curou. Mas isto não é a verdade. Concordo que
provavelmente este homem não compreendeu que Jesus é o próprio Deus.
Concordo que provavelmente este homem não entendeu que este outro
homem de pé diante dele, e com quem ele estava falando, era o Verbo
que no princípio estava com Deus e era Deus. Mas isto não quer dizer
que este paralítico jamais pediu a ajuda dele. Pense comigo. Vocês não
acham que este homem orou por uma cura? Em 38 anos, será que ele
nunca orou para a libertação desta doença horrível?
Eu sei que ele deve ter orado por uma cura porque ele até já estava
seguindo a superstição dos gentios e dos romanos que moravam entre os
judeus na época. Ele estava deitado ao lado de uma fonte de águas mine-
rais. Os romanos e os gregos acreditavam que este tipo de água tinha o
poder de curar o organismo de várias doenças. Mas esta superstição não
fez parte das convicções tradicionais dos judeus na época. Não faz parte
da religião judaica. Então, vou fazer uma pergunta para vocês: Quanto
tempo vocês acham que este homem orou durante os 38 anos até que
ele se desesperou e decidiu que Deus não o estava ouvindo e começou
a seguir as práticas não tradicionais para uma cura? Vocês acham que o
189
IGREJA LUTERANA
nome deste tanque foi uma ironia para ele? Pessoal, Betezata significa
“casa de misericórdia” na língua deles. Vocês acham que este paralítico
ficou lá deitado todo dia e pensou consigo mesmo: “Cadê a misericórdia
para mim?”
Porém, de repente, Jesus chegou. E ele tinha uma coisa só para falar
com este homem que sofria. É uma pergunta bem direta sobre oração
que vem do único que nos ouve. Uma pergunta que vai direto ao ponto:
“Você quer ficar curado?” “Você quer ficar curado?” É uma pergunta muito
importante, não é mesmo? Sim, é uma pergunta importante porque depois
de 38 anos uma pessoa pode se acostumar com o sofrimento. Ela pode se
acostumar com a dor. Ela pára de olhar para a ajuda e o resgate que vem
de Deus e consequentemente não consegue ver a sua própria vida fora do
sofrimento. O próprio sofrimento se torna a identidade da pessoa.
Esta também é uma pergunta importante para nós hoje. E eu viajei
dos Estados Unidos para dizer a todos vocês que sua identidade hoje não
é “divorciado”. Sua identidade não é “viúva”. Seu nome não é “doente” ou
“viciado”. Sua identidade, seu nome próprio é “filho de Deus”. Em virtude
do seu batismo, a sua vida está escondida em Cristo que está unido com
Deus, segundo o apóstolo Paulo em Colossenses. Mas mesmo assim, será
que o seu sofrimento atrapalha as suas orações porque você já não con-
segue ver a sua própria vida fora do seu sofrimento? Se você está aqui
hoje e está trocando sua identidade como um filho de Deus com o nome
do seu sofrimento, então segura aí, porque aqui vem Jesus! Aqui vem
Jesus com uma pergunta para você: “Você quer ficar curado?”
Note bem a resposta do paralítico. É interessante. Parece que quando
Jesus faz a pergunta mais importante na vida deste homem, ele responde-
ria num jeito muito positivo. “Sim, senhor! Quero ficar curado!” Ou pelo
menos ele responderia com algo semelhante como “Olha, não sei se você
é um médico ou um curandeiro ou rabi. Mas de qualquer maneira, se você
pode me ajudar, me ajude então!” Mas ele não responde assim. Ele só
fica lá olhando para sua situação e sua dor. A resposta dele é a resposta
de alguém que está afogando-se em dor. No versículo 7 o paralítico disse:
“Senhor, eu não tenho ninguém para me pôr no tanque quando a água se
mexe. Cada vez que eu tento entrar, outro doente entra antes de mim”.
Ele está tão fixado no fato de que ele não pode descer até a água.
Ele é tão doente que nem é capaz de mergulhar na promessa de uma
cura. E Jesus? Pois é, Jesus ignora os assim chamados aspectos mágicos
da água e simplesmente diz para ele: “Levante-se, pegue a sua cama
e ande!” Simples, hein? É uma coisa tão simples de dizer para alguém:
“Levante-se e anda”. E não há nenhuma resposta de Jesus para 38 anos
da pergunta “por quê?” que, sem dúvida, este homem perguntou muitas
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DEVOCIONAL
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IGREJA LUTERANA
E ele curou você. Você vai sofrer neste mundo e vai morrer um dia.
Mas, mesmo que você morra, você vai viver. Cristo é a verdadeira vida
de vocês, e, quando ele aparecer, vocês aparecerão com ele e tomarão
parte na sua glória (Colossenses 3.4). E para cada um de vocês, que hoje
não se sente são, vai ser mostrado como Deus vê você: são e bem no seu
Filho Jesus Cristo. Amém.
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