Cornelia EcKert
Cornelia EcKert
Cornelia EcKert
2012
Cornelia Eckert
Catalogação na Fonte
Elaborado por: Sônia Magalhães
Bibliotecária CRB 9/1191
Inclui bibliografias
ISBN 978-85-64561-31-1
Consultores científicos
Alícia Ferreira Gonçalves – UFPB
Artur Perrusi – UFPB
Carlos Xavier de Azevedo Netto – UFPB
Charles Pessanha – UFRJ
Flávio Munhoz Sofiati – UFG, USP, UFSCAR
Elisandro Pires Frigo – UFPR/Palotina
Gabriel Augusto Miranda Setti – UnB
Geni Rosa Duarte – UNIOESTE
Helcimara de Souza Telles – UFMG
Iraneide Soares da Silva – UFC, IFARDÁ/UFPI
João Feres Junior – UERJ
Jordão Horta Nunes – UFG
José Henrique Artigas de Godoy – UFPB
Josilene Pinheiro Mariz – UFCG
Leticia Andrade – UEMS
Luiz Gonzaga Teixeira – USP
Marcelo Almeida Peloggio – UFC
Maurício Novaes Souza – IF Sudeste MG campus Rio Pomba
Michelle Sato Frigo – UFPR/Palotina
Revalino Freitas – UFG
Rinaldo José Varussa – UNIOESTE
Simone Wolff – UEL
Vagner José Moreira – UNIOESTE
prefácio
“Se o que dura mais é aquilo que recomeça me-
lhor, devemos assim encontrar em nosso cami-
nho a noção de ritmo como noção temporal fun-
damental. Fomos levados então a postular uma
tese, em aparência bastante paradoxal, mas que
nos esforçamos para legitimar. É a de que longe
de os ritmos serem necessariamente fundados
numa base temporal bem uniforme e regular,
os fenômenos da duração é que são construídos
com ritmos. (...) Para durarmos, é preciso então
que confiemos em ritmos, ou seja, em sistemas
de instantes. Os acontecimentos excepcionais
devem encontrar ressonâncias em nós para mar-
car-nos profundamente. Desta frase banal - ‘a
vida é harmonia’ -, ousaríamos então finalmente
fazer uma verdade. Sem harmonia, sem dialéti-
ca regulada, sem ritmo, nenhuma vida, nenhum
pensamento pode ser estável e seguro: o repou-
so é uma vibração feliz”. (BACHELARD, 1988. p. 9).
dedicatória
Aos meus pais
Kurt e Herta Eckert
AGRADECIMENTOS
Às famílias de mineiros de carvão que me receberam em suas vidas e ro-
tinas nas cidades de La Grand-Combe, Trescol, Champclauson e Alés (Gard,
França), de 1987 a 1991, serei infinitamente grata, ou como sugere a expres-
são em francês, merci infiniment.
Uma gratidão que tem forte potencial afetivo ao evocar os nomes das
minhas irmãs Clarissa e Cordula e do meu marido José Marcos Gomes. Cla-
rissa, em especial, pacientemente, estendeu seu sempre comprovado amor
fraternal ao resolver todas as burocracias administrativas durante minha au-
sência me permitindo um grande conforto para o estudo.
Minha vida acadêmica sempre foi marcada de incentivos, gestos de so-
lidariedade e de reciprocidades. Mas Ana Luiza Carvalho da Rocha, nos hoje
já 20 anos percorridos juntas, é minha colega, parceira de pesquisa, cúmplice
em nem sempre fáceis percursos compartilhados nos campos antropológi-
cos. A ela devo não só o afeto ao constante aprendizado antropológico, mas
a felicidade de poder construir conhecimento compartilhado na pesquisa, no
ensino e no desvendamento dos enigmas das ações imaginantes.
Agradeço à Beatrice Ladrange, que me recebeu em sua casa em Alés. À
Claude Boustany que me ajudou a enfrentar os segredos da informática, os
mistérios da língua francesa e por ter se tornado minha grande amiga.
Ao meu orientador de mestrado, Prof. Ruben George Oliven, meu re-
conhecimento é sem fim. Seu brilhantismo intelectual e sua simplicidade em
partilhar seu saber, incentivando-me sempre, são motivos de grande honra-
ria que me acalentam um certo orgulho indisfarçável. Devo muito ao meu
orientador de doutorado Prof. Jacques Gutwirth. Agradeço ainda ao Prof.
Anthoine Prost, Prof. Olivier Kourchid e ao coordenador do projeto CAPES/
COFECUB incentivador da pesquisa, Prof. Sérgio Teixeira.
Na França ou no Brasil muitos amigos(as) me apoiaram incondicional-
mente, são muitos nomes mas cito em especial Maria Lúcia Gonçalves, Car-
men Silvia Rial, Cristina Goelzer, Isabel Mallmann, Marilene e Lucilene Pinto,
Lola, Liliane Guterres, Manuel Ferreira Lima Filho, José Sérgio Leite Lopes e
Rosilene Alvim, Ondina Leal, Rosemari Feijó e Alexandre Aguiar. Para não
ocultar nenhum nome em tantos anos, agradeço aos colegas do meu Pro-
grama de Pós-Graduação em Antropologia Social e aos pesquisadores do
Núcleo de Antropologia Visual e Banco de Imagens e Efeitos Visuais. Malu
Rocha sempre atenta e brilhante aos meus pedidos imagéticos criou a capa
da tese de doutorado.
Por fim, a pesquisa de mestrado, de doutorado, de pós-doutorado e to-
dos os projetos de pesquisa por mim desenvolvidos só foram possíveis graças
ao apoio das instituições financeiras da CAPES, do CNPq e da FAPERGS e das
unidades administrativas do IFCH, do ILEA e da PROPESQ na UFRGS, Brasil.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO...........................................................................................
INTRODUÇÃO...............................................................................................
1. “NO TEMPO DA COMPANHIA”...............................................................
A) O nascimento de uma vila mineira..............................................
B) Enraizar os desenraizados............................................................
1.1. A Organização Espacial da Vila Mineira e o contexto familiar no
“tempo da Companhia...................................................................
A) A constituição do tecido urbano.................................................
B) A construção da “família corporativa”.........................................
C) A “grande família”: complexidades e cumplicidades...................
1.2. Langorosa mas Inebriante Construção de “um novo tempo”...........
A) Os avatares de um novo século...................................................
B) O declínio da Companhia............................................................
2. “NO TEMPO DA NACIONALIZAÇÃO”......................................................
2.1. Mineiros Cevenois...........................................................................
2.2. Os Heróis do Trabalho.....................................................................
3. “NOS TEMPOS DE CRISE”........................................................................
3.1. A Vila Deserdada.............................................................................
3.2. A Trama da Vida Cotidiana “nos Tempos Letárgicos”
3.3. Variações sobre o tema de sociabilidade..........................................
A) A vida em outro ritmo.................................................................
B) Receitas para triunfar sobre o caos..............................................
C) “Do negro ao verde”..................................................................
4. TEMPOS DE NARRAR: RELATO DE UMA PESQUISA
ETNOGRÁFICA NA FRANÇA.....................................................................
A) Uma prática de campo às avessas?..............................................
B) A opção pelo universo de pesquisa..............................................
C) O trabalho de campo: ritual de instalação/interação....................
D) Uma pesquisa qualitativa............................................................
5. O TRABALHO DE DURAR..........................................................................
CONCLUSÃO................................................................................................
Referências................................................................................................
APRESENTAÇÃO
A metáfora da morte de uma civilização do trabalho põe à luz a agonia
e o sofrimento de duas ou mais gerações pelo “luto” de um “mundo ope-
rário” no processo de desindustrialização que atingiu determinados seto-
res produtivos “tradicionais” (extração de carvão no subsolo) movidos pelos
processos de transformações nos campos político-econômicos na era global.
Essa “situação de crise”, tão inerente aos processos históricos de desenvol-
vimento associados à modernização, afetou inúmeros grupos trabalhadores
enraizados, ao longo do século XX, em cidades industriais. Trata-se, sobre-
tudo de sociedades organizadas em torno de setores monoprodutivos que
perdem sua eficácia econômica frente às re-estruturações produtivas de uma
economia diversificada e, sobretudo ambientalmente sustentável.
1 “Somos seres descontínuos, indivíduos que morrem isoladamente numa aventura ininteligível,
mas temos a nostalgia da continuidade perdida. Não aceitamos muito bem a idéia que nos
relaciona a uma dualidade de acaso, à individualidade perecível que somos. Ao mesmo tempo
que temos o desejo angustiado da duração desse perecimento, temos a obsessão de uma
continuidade primeira que nos une geralmente ao ser”. BATAILLE. (1987). p.15.
2 Este enfoque de interesse seguia os estudos pioneiros de Antropologia do Trabalho e
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Antropologia da Classe Operária no Brasil desenvolvidos por, José Sérgio Leite Lopes (1978,
1987) e por Leite Lopes e Alvim (1990).
3 . Cévennes sempre foi bastião protestante e republicano. Em 1704, os Camisards são vencidos
pelas forças royalistas, mas no século XVIII, um regime de tolerância se instala. A comunidade
protestante cevenol é, desde então, fiel ao regime republicano e durante todo o século XIX
será considerada “radical e socialista” em oposição aos católicos, que defendem em massa
o partido royalista. Os diversos episódios revolucionários são confundidos com estes conflitos
seculares, mesmo no século XX: os protestantes serão liberais votando à esquerda, os católicos
serão conservadores e votam à direita. Cf. JOUTARD, PH. “Les Cévennes, bastion républicain
et Vendée méridionale”. In: JOUTARD (1979). pp. 143 a 153.
4 Em geral descendentes de imigrantes norte-africanos. Estes jovens são marcados pelo atraso
escolar e pela desqualificação profissional, sofrendo fortes estigmas por parte da população
francesa ou de imigrantes de antigo enraizamento.
5 Foi fundamental aqui a leitura de WEBER. (1982).
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Hoje, sem a mina, foi a profissão que desapareceu e com ela valores de
referência de um grupo, de uma prática social e um modo de vida. É junto
aos aposentados da mina e seus familiares, referidos como “a última gera-
ção de mineiros de carvão”, que convivemos ao longo de uma experiência
etnográfica (1987-1990). É claro que La Grand-Combe não foi um caso iso-
lado; em toda a França os antigos “reinos mineiros”, após anos de glória e
prosperidade, foram atingidos. Para todos eles, “a mina não foi somente um
dado econômico”, muito mais que isto, foi “o que gostaríamos de chamar
de um fato social total”6.
Mas o que faz com que as pessoas, apesar das descontinuidades vividas,
sejam capazes de projetarem e reconstruírem uma duração social a partir de
formas diversas de sociabilidade, numa ação transformadora incessante? É
essa indagação que promoveu esta pesquisa interpretativa neste contexto
em transformação e declínio pela perda da vocação de “industrial”.
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8 DUVIGNAUD (1983).
9 A referência à Georg Simmel é de Gastón Bachelard em sua obra (1988). p. 76.
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INTRODUÇÃO
No quadro industrial do século XIX na França, o carvão aparecia como fon-
te econômica básica. Entidades foram criadas para explorar o “ouro negro”,
trabalhadores foram requisitados para extraí-lo, vilas foram organizadas para
mediatizar a relação entre os homens e o trabalho produtivo. O “universo da
mina” foi cartografado como um espaço específico, onde o trabalho era para-
digma dominante na história singular das coletividades. Em torno do trabalho
na mina, famílias foram enraizadas e comunidades de trabalho, fundadas. Em
relação ao “mundo da mina”, combinaram suas aspirações, conceberam suas
chances objetivas de um projeto de vida, construíram suas culturas.
10 TREMPE. (1971).
11 Os geógrafos designam por Cévennes o conjunto sudeste da cadeia de montanhas e vales do
Massif Central, mas as Cévennes históricas, o espaço cultural, compreendem os departamentos
do Gard, Ardèche e parte de Lozère. Situando-se na Occitanie, o dialeto cevenol é o occitan,
língua vernacular dos mineiros. O occitan, hoje, é designação popular da língua d’oc (Langue
d’Oc), também chamado por dialeto languedocien.
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Mas a cidade industrial não era um contexto isolado, mas fruto das com-
plexidades do processo da ordem global de desenvolvimento e conhecia nos
novos revezes da moderna era industrial consolidadas no século XX. Após
viver um longo período regido por um sistema mono-industrial e de urbani-
zação do tipo vila-mineira, experimentava um processo de desindustrializa-
ção pelo recesso de sua atividade econômica dominante. Depois de registrar
uma população de 20.000 habitantes, os 7 mil habitantes em 1987 deixavam
transparecer o drama vivido pela comunidade ocupacional.
12 . Cévennes sempre foi bastião protestante e republicano. Em 1704, os Camisards são vencidos
pelas forças royalistas, mas no século XVIII, um regime de tolerância se instala. A comunidade
protestante cevenol é, desde então, fiel ao regime republicano e durante todo o século XIX
serão considerados os “radicais e socialistas” em oposição aos católicos que defendem em
massa o partido royalista. Os diversos episódios revolucionários são confundidos com estes
conflitos seculares, mesmo no século XX: os protestantes serão liberais votando à esquerda,
os católicos serão conservadores e votam à direita. Cf. JOUTARD, PH. “Les Cévennes, bastion
républicain et Vendée méridionale”. In: JOUTARD. (1979). pp. 143 a 153.
13 . “Le pays minier», dizem os nativos, «tombée», en occitan. O país, neste contexto, é o espaço
onde os habitantes participam de um mesmo meio econômico e vida social.
14 . Identifico este grupo operário como uma comunidade de trabalho porque esta conceituação
ajuda a compreender a maneira própria de os personagens em questão cartografarem
o seu mundo de pertencimento social e de recortar as fronteiras culturais em relação ao
mundo mineiro. Comunidade de trabalho é outra maneira de dizer grupo de identidade, de
destino, ou de fazer uma homologia entre a grande família mineira e as relações marcadas
por uma trajetória, uma condição de vida em comum, assim como são comuns valores como
a solidariedade, a reciprocidade, a cumplicidade. Uma comunidade igualmente recortada
por outras unidades de identidade fundamentais como família, religião, bairro, vizinhança,
sindicato, partidos políticos etc, que são ora complementares, ora dilacerantes das fronteiras
imaginadas como constitutivas da comunidade de trabalho. O processo de reatualização
destas fronteiras é uma manipulação incessante das diversas referências sócio-culturais
inscritas sobre as propriedades de situações variáveis. Esta tensão coloca em destaque a
dinâmica histórico-social. Na maneira de cartografarem seu mundo de pertencimento com
significação, os entrevistados acionam as referências culturais que os transportam a estes
micromundos de pertencimento e que os fazem deslizar num feixe de valores em relação aos
universos complementares individualista/hierárquico (holista) que se distinguem segundo a
situação à qual o valor é suposto.
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eles ordenam para encadear o passado em uma relação lógica com o tempo
presente. É “no tempo da Companhia” que é criada a vila capaz de amal-
gamar trajetórias heterodoxas para fundar a população grand-combiana. É
“no tempo da Companhia” que é localizada a origem da comunidade de
trabalho, fundada como uma “grande família corporativa”.
26 . A solidariedade faz apelo antes à luta do que ao sentimento. Cf. DUVIGNAUD. (1986). p. 10.
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27 . “... A ritmanálise procura em toda parte ocasiões para ritmos. ... Ela nos previne assim sobre
o perigo que há em viver no contratempo, desconhecendo a necessidade fundamental das
dialéticas temporais”. In: BACHELARD (1988). p. 133.
28 . BACHELARD (1988). p. 11.
29 . Sobre memória coletiva e social recorrer a: a) HALBWACHS (1968); NAMER (1987); JEUDY
(1986); BACHELARD (1988); BOSI (1987) (etc, cf. bibliografia).
30 . Sobre imaginação e mobilidade e sobre ação imaginante, seguimos BACHELARD (1962);
DURAND (1986). Citamos BACHELARD (1962). p. 1 e 2.
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Este estudo busca decodificar estes tempos e estes espaços em que en-
gendram uma continuidade. É na cadência das relações cotidianas de socia-
bilidade que localizo a construção de um tempo coletivo. Esta é a descrição
que trago, a etnografia desta duração construída, pensada e projetada.
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CAPÍTULO
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no setor mineiro, quando a sociedade econômica sob uma nova razão social -
Companhia de Minas de La Grand-Combe - se estabelece como guardiã eco-
nômica deste “país”. “A Companhia”, como ainda hoje a chamam os grand-
-combianos, coordenou uma vasta área de extração e enfrentou de imediato,
problemas infra-estruturais de base. Os capitais regionais eram ainda pouco
numerosos nesta região de forte tradição agrícola, enquanto que a ambição
era vê-la transformar-se numa prometida zona industrial. Nestas condições a
sociedade abriu-se ao capital “estrangeiro” (Banco Rothschild), modernizou
o sistema de extração e solidificou a expansão dos sistemas de transporte
ligando esta comunidade mineira a Paris, a Lyon e ao Mediterrâneo.
33 . Vila e usina são organizadas segundo os princípios de uma mesma economia, sob a direção
de um “patrão” como “sociedade”. EWALD. (1986).
34 . LIVET. (1956). p. 23.
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B) Enraizar os desenraizados
O problema crucial para a Companhia desenvolver seu empreendimento
de forma intensa era a falta de mão-de-obra. De maneira a reunir esta popu-
lação de trabalho, praticou um recrutamento endógeno e exógeno, fazendo
apelo a grupos de diferentes origens regionais e nacionais, mostrando clara
preferência pelas regiões vizinhas predominantemente católicas e rurais (Lo-
zère e Ardèche).
35 . FOUCAULT. (1975).
36 . Cf. Foucault, in: ECO. (1985).
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relações de trabalho.
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Uma vez que o centro da vila é cercado pelo leste por um grande vale
produtivo - o “vale negro” como o denominam os mineiros - e, levando em
conta os limites naturais (ao norte e oeste é cercado por montanhas e ao
sul corre o riacho que o separa da vila vizinha de Salles-du-Gardon) pode-se
compreender o porquê da expansão intensa de moradias ao longo do “vale
negro”, que foi a “alma da vida produtiva”, compondo com a área do centro
o esqueleto do desenvolvimento urbano da vila mineira.
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“Ah, todo mundo aqui é filho de mineiro. Era raro alguém que
partisse para fazer outra coisa” (Mme. Régis, v.m).
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A carreira era por conseqüência “operária”. Bem que existia certa dose
de “consentimento do destino”, seguir a mesma trajetória de pai para filho
era antes de mais nada visto como o único “mundo do possível”.
47 . Os filhos dos “notáveis” não permaneciam muito tempo nas escolas de La Grand-Combe,
em geral eram internos em escolas francesas de prestígio (Alès, Montpellier, Nîmes ou Paris).
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Fundar uma família numerosa, sugere Goffman, pode ser visto como um
meio de “tomar precauções” para compensar os “riscos de morte”, isto é, como
uma questão de segurança que concorre para arranjar uma existência tranqüila(57).
maturidade da vila.
57 . GOFFMAN. (1974). p. 143 e 144.
58 . Isto não quer dizer ausência de estratégias matrimoniais. As prescrições sociais eram
ancoradas em valores e princípios morais antigos (família extensa) e novos (família nuclear), e
isto tanto no processo de “escolha” das alianças por afinidade, como no que diz respeito aos
direitos e deveres em relação à família base (ego), embora na sociedade paternalista onde o
tipo nuclear é “oficial”, não exista o problema do patrimônio familiar. Os bens não eram mais
transmitidos de pai para o filho mais velho, segundo o princípio de primogenitura próprio das
famílias extensas de origem cevenol.
59 . SENNET. (1981). pp. 94 et 107.
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“Na escola era proibido falar o patois, mas na mina, ‘ah oui’. O oc-
citan era a língua dos mineiros, era a língua oficial do mineiro ce-
venol, tinha este traço bem claro que nos unia”. (M. Surrel, m.a.).
A vida destas famílias na vila mineira estava longe de ser idílica. Para
80% da população, era o trabalho na mina e a disciplina industrial que ca-
denciavam o cotidiano; assim; a vida da comunidade era, antes de mais nada,
a luta pelo ganha-pão em um trabalho de alta periculosidade. A angústia e
o medo, dizem, ligavam o grupo a uma condição e reforçavam sua coesão.
Neste contexto, as redes de amizade e ajuda recíproca tão referidas em suas
narrativas, eram expressões da submissão ou da resistência?
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outros. Não raro eles esclarecem que era a chefia que, com freqüência, estig-
matizava-os com apelações negativas:
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B) O declínio da Companhia
Com a intensificação da produção, toda a comunidade foi penalizada
pelas péssimas condições de trabalho. No combate a esta situação, o mo-
vimento sindical enfrentou as forças paternalistas. O período compreendi-
do entre 1919 e 1921 foi ponto de partida para profundas mudanças: La
Grand-Combe mudou de decoração política com a derrota dos candidatos
da Companhia à municipalidade. Para marcar simbolicamente a conquista de
espaço político por aqueles que eram maioria nesta vila - os operários minei-
ros - uma grande festa sindical comemorou em praça pública a emancipação
da classe operária grand-combiana.
construiu. LEITE LOPES, José Sérgio. “Anotações em torno do tema ‘condições de vida’ na
literatura sobre a classe operária”. In: MACHADO DA SILVA. (1984).
64 . DEBOIS, E; JEANNEAU, Y; MATTEI, B. (1986).
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Mas a Segunda Guerra não foi apenas uma conjuntura de guerra, foi ao
mesmo tempo conflito político, oposição ideológica, choque máximo entre
as classes sociais, finalização de processos de formação nacional. Foi uma
situação inédita de aceleração de mudanças estruturais determinadas por
forças transformadoras produzidas por uma sociedade que se moderniza-
va. Chegada ao seu termo final sob a forma explosiva e mortífera de que
se tem conhecimento, todos os países envolvidos foram tributários de uma
superativação de desenvolvimento. Os anos pós-guerra foram anos de estru-
turas que caíram, de modos de viver e pensar colocados em xeque, povos
remobilizados, hierarquias, prestígios e valores afetados, enfim, foi toda uma
“transformação estrutural global de caráter revolucionário”(65).
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CAPÍTULO
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análise precisa aqui ser bem talhada(67): a chave da questão repousa sobre
o fato de a identidade local ser encompassada por uma identidade regional
reatualizada. Isto é, se ser cevenol outrora era sobretudo eficaz na represen-
tação do grupo social que se identificava com as raízes agrícolas, tradições
rurais, tendências políticas de esquerda, ela era agora fortemente valorizada
como constitutiva igualmente do “país mineiro”. É claro, desde sempre os
mineiros de origem cevenol sentiam-se ligados à cultura da região, às suas
raízes nativas, e o occitan sempre foi o dialeto dos mineiros no reconheci-
mento do grupo de pertencimento. Cabe lembrar, no entanto, que “no tem-
po da Companhia” qualquer exteriorização de uma unidade regional que
ameaçasse o poder dominante era vista como “perigosa” e que a Compa-
nhia construiu verdadeiros “muros” ideológicos e simbólicos em torno de La
Grand-Combe, obstaculizando toda e qualquer ameaça ao seu reino.
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O fechamento dos primeiros poços de extração nos anos 1960 foi ines-
perado por todos. Foi com muita dificuldade que os mineiros elaboraram os
acontecimentos: a modernização do trabalho mineiro era de fato a “mor-
te” da profissão, ela não era modernizada, mas simplesmente enterrada.
Foi o início de uma outra ordem de problemas que afligiu a comunidade
de trabalho. Não era apenas o medo do desemprego, era todo o universo
mineiro ameaçado de desaparecer, trabalho, habitação, família, redes so-
ciais, região:
“Eu não entendia mais nada, eles (Hulheria) diziam que o carvão
tinha acabado. Foi uma época de muita mentira, eles queriam
passar os mineiros pra trás. Eu conhecia os poços... tinha muito
carvão e do bom. Sabe o que eles fizeram com ‘La Forêt’? Eles
colocaram fogo no poço e quando deu a fumaça eles disseram
‘viram só, esta mina é perigosa, vamos fechar’. Pois é, foi bem
assim, era uma época de muita sem-vergonhice. Imagina, nos-
so carvão era lindo, brilhante, bom mesmo. Mas quando eles
decidiram fechar tudo, tudo fechou”. (M. Champeac, m.a.).
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anos de inserção neste meio, que cabia a eles esperar, procurar, conquistar
melhores condições de vida e de trabalho, lutar pelo “desenvolvimento”,
viam agora que, ironicamente, nesta alegoria de “progresso”, vinham as
próprias contradições da modernidade: superação das indústrias tradicionais,
desemprego, disputa num mercado de trabalho discriminatório, racista etc.
Sem a mina, foi a profissão que desapareceu e com ela valores de refe-
rência de um grupo, de uma prática social e um modo de vida. É claro que
La Grand-Combe não foi um caso isolado; em toda França os antigos “reinos
mineiros”, após anos de glória e prosperidade, foram atingidos. Para todos
eles, “a mina não foi somente um dado econômico”, muito mais que isto, “o
que gostaríamos de chamar de um ‘fato social total’”(71).
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CAPÍTULO
3
Nos anos 1970, poços e torres de extração considerados dos mais mo-
dernos da Europa foram fechados e dinamitados. Ficou claro aos mineiros
que nem mesmo a modernização do setor frearia o declínio. Nos anos 1980,
todos os sinais da atividade mineira subterrânea foram desativados, era o
ponto de não-retorno. A mina desapareceu e com ela os espaços de referên-
cia identitária. Modificou-se toda a trama cotidiana de existência, o tecido
urbano foi deslocado, o corpo social desintegrado: “é o fim do mundo da
mina”, é igualmente a desestruturação da comunidade de mineiros, porque
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“a profissão não existe mais”, a não ser nas desformidades que secretaram
a morte da mina: os mineiros aposentados, o patrimônio mineiro, a memória
“do” social.
A força desta ruptura foi tão dramática que no discurso dos mineiros
outro tempo é pensado como superposto “aos tempos da mina”. Estas fa-
mílias que durante gerações viveram uma estabilidade de trajetória com con-
tornos firmes, reordenam agora suas projeções a partir de concepções de
um mundo às avessas, da improbabilidade: “o tempo de crise”, “o tempo
da recessão”.
“O que eles eles poderiam fazer? A maioria não tinha opção. Com toda
esta crise o cara que tinha criança pequena para criar, nem pensava muito,
ele ia embora. Eu recusei partir porque faltava pouco pra aposentadoria nor-
mal, e eles me aposentaram de avanço” (M. Combet, m.a.).
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“É pena que está tudo fechado. Essa era a riqueza do país mi-
neiro. Era tudo. Hoje as minas fecharam e não tem mais nada.
Hoje, aqui, não existe mais nada. Tá tudo vazio, tá difícil manter
o moral”. (M. Plum, m.a.).
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“As pessoas que passam por aqui não têm interesse de parar,
porque não existe razão para isto. Aqui não tem nada, não tem
restaurante, não tem hotel. A vila tem uma reputação negativa
de ser feia, suja, o que a torna o último lugar de Cévenne que
as pessoas pensariam em visitar”. (M. Touring, chefe aposenta-
do do setor de compras e vendas da Hulherias).
Os que optaram por ficar foram na sua maioria as famílias cujo chefe era
aposentado e cujas vantagens concedidas pelo estatuto profissional permi-
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tiam continuar enraizadas no local: a vila ainda podia lhes acolher. O direito
à assistência, diz um aposentado, “é porque a gente deu a vida pela mina e
muito se lutou pela categoria”.
Estranha transformação de uma vila que passou a ter nos benefícios dos
aposentados, sua maior fonte de renda. O número expressivo de aposenta-
dos justifica-se pelo fato de constituírem eles uma “população protegida”,
aquela que graças ao Estatuto do Mineiro e da política de assistência do
“Estado-Providência” pôde permanecer na vila:
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Entre os que partiram, “a maioria não volta nunca mais”, sugere Mme
Lazaret, responsável pelo serviço municipal de assistência aos jovens inativos
na vila, mas “sempre há o que volta alguns meses ou anos após confrontar
o fracasso escolar, a instabilidade de empregos”, retornando à casa dos pais,
espaço amortecedor do desemprego. Ficar é não correr riscos, é somar a prote-
ção dos pais ao seguro-desemprego. “Esta é a mentalidade daqui”, responde a
assistente social sobre o porquê de se encontrar, não raro, adultos solteiros en-
tre 25 a 35 anos, inativos, dependentes dos pais aposentados. E, prossegue ela:
74 . “Eu não encontrei repouso na indiferença. E portanto eu queria encontrar a inocência. Mas
nada tem senso, e nada vai bem, e se a morte é um mistério, a vida nada tem de terno. Se
o céu é um inferno, o céu bem pode me esperar. Diz-me, nestes ventos contrários como
fazer? Nada tem mais senso, nada mais vai. Tudo é um caos. Ao lado? Todos meus ideais.
As palavras? Deformadas. Eu procuro uma alma que possa me ajudar. Eu sou uma geração
desencantada”. Música e letra de Mylène Farmer. T.A.
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“No começo, quando ainda tinha muita gente, era bom. De-
pois, na medida em que as pessoas foram embora, isto nos de-
primiu e ficou triste viver a vida aqui só eu e meu velho. Antes,
quando a mina existia, era tudo muito vivo. Ver tudo acabar nos
tocou muito e eu comecei a refletir: todo mundo que eu co-
nhecia, que tinha vizinhado conosco, não tinha mais ninguém.
Aí eu decidi, ‘é melhor mudarmos prá Grand-Combe’. Pedimos
para eles (as Hulherias) um apartamento no centro e eles nos
deram este”.
Foi para evitar a sensação de viver num deserto de laços afetivos que
este casal partiu do lugarejo onde nasceu e viveu. Preferiu aproximar-se do
espaço onde seu grupo de referência atual, “os aposentados da mina”, se
concentra e onde pode reconstituir redes de vizinhança, de amizade para
melhor conviver com seus anos de velhice. Permanecer na vila “apesar da
crise tem suas vantagens”, sobretudo o fato de poder reencontrar no seu
mundo imaginário o “reconforto psicológico” do lar, do grupo, do espaço
social onde se reconhecem mais facilmente os papéis a serem desempenha-
dos nos rituais de interação cotidiana. Apesar de ocuparem novos espaços
de habitação, o fato de permanecerem na vila serviu para muitos como re-
ceptáculo das ligações sociais e afetivas das práticas e visão de mundo ainda
amarradas às relações que predominavam na vila mineira.
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Hoje, assinala Fortin, importa pensar separadamente casal e família: “Não se ousa mais falar
de família como um todo, estamos obrigados de a dar conta dos indivíduos que a compõem”.
FORTIN. (1987). pp. 58 à 66.
76 . SEGALEN. (1981). p 163.
77 . GOFFMAN. (1974). p. 42.
78 . A partir dos anos 60 é em toda França que o governo desenvolve um programa de moradia
popular a baixo custo: HLM.
79 . Trata-se de tensões entre grupos étnicos: turcos, kabyles, marroquinos, algerianos etc. Mas,
em La Grand-Combe, os algerianos são de longe a maior comunidade imigrante.
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83 . LUCAS. (1985).
84 . BROMBERGER; CENTLIVRES; COLLOMB. Op. cit. p 138.
85 . Na sua maioria elas reagrupam pessoas motivadas por uma prática (colecionar selos), por um
interesse político-cultural (pais e mestres) por um evento ritual ou tradicional (caçar, pescar,
tourear), por amadores de um esporte ou diversão (esportes em geral, dança, teatro). Elas
podem ter igualmente o objetivo de aglutinar um público com características comuns para
redinamizá-lo em torno de práticas de sociabilidade diversas (Clubes de terceira idade).
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Hoje, justifica este mineiro, a vida coletiva tem que ser reorganizada. As
pessoas estão muito presas às suas casas e é necessário motivá-las a partici-
par de práticas culturais e sociais: o objetivo consiste nisso, recompor a vida
coletiva.
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Seu governo logo foi marcado pela busca apressada de acabar com o
clichê de “velha cidadela de mineiros”, enfeiada por casas decadentes, acin-
zentadas, por edifícios industriais abandonados e em ruínas e, sobretudo,
tatuada pelo “vale negro” que rasga o tecido urbano ao meio, signos que
mostravam um espetáculo da gravidade do declínio econômico do mundo
mineiro.
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93 . Estudo sobre reconversão da vila. In: DUCKERT & LARGUIER. (1987). p 118 e 119.
94 . LEFEBVRE. (1968). p. 17 e 18.
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A forma mais concreta pela qual este pequeno grupo (cujos participan-
tes ainda não são claramente classificáveis), se manifesta é na oposição fer-
rada à intenção do prefeito de substituir o brasão da vila, “Mans Negros,
Pan Blanc”, para “La Grand-Combe em Cévennes”. O mal-estar não passa
despercebido nas opiniões dos entrevistados. O poder, dizem, “exagerou em
sua vontade de transformar radicalmente a imagem da vila”, “botando a
mão onde não devia”, isto é, nos símbolos imaculados que sustentam emble-
maticamente a memória da comunidade de trabalho. Como argumenta um
velho mineiro: “O prefeito não precisa apagar as boas lembranças. Acho que
ele está errado. Para que destruir o que nos resta de bom, nosso brasão?”.
Por que tocar nos símbolos de tradição que têm este efeito mágico de cimen-
tar um tempo coletivo superposto pelo presente?
Entre outros signos, o brasão fala da história da vila mineira. O novo pre-
feito é acusado de “estrangeiro” por “não ser grand-combiano”, “ser novo
na cidade” e ainda por cima “trabalhar numa cidade vizinha” etc. Razões
encontradas pelos entrevistados para compreender por que ele não conse-
gue captar os símbolos de honra sobre os quais os atores sociais conformam
suas recordações. “A renovação”, dizem, todos querem com fervor, mas não
ao preço da destruição até dos marcadores emblemáticos sagrados selecio-
nados pela coletividade para serem conservados como patrimônio, testemu-
nhas do passado. “Não se trata de chorar por aquilo que se perdeu”, diz M.
Veblen, mas de garantir as referências tradicionais por necessidade de segu-
rança identitária, onde possam ancorar a temporalidade das tradições, das
práticas-técnicas, e perpetuar sobre os eventos desestruturantes a duração
de uma cultura: a da comunidade de trabalho grand-combiana.
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CAPÍTULO
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Isto significa dizer que o fim da mina, que era a razão do enraizamento
das famílias de mineiros em La Grand-Combe, e as transformações do espa-
ço e relações de trabalho encadeiam as conseqüências que se multiplicam:
a crise se reflete sobre todos os domínios da vida social dos habitantes. A
violência da ruptura é muito forte porque nenhum outro complexo produtivo
veio substituir a unidade econômica produtiva desaparecida, o que levou à
retração do mercado de trabalho local. Ora, na sociedade capitalista, onde
o trabalho mesmo é um valor central, pode-se medir a devastação na qual
os habitantes vivem esta descontinuidade do tempo ritmado pelo trabalho.
O desaparecimento desta profissão tradicional que constituiu o suporte es-
trutural deste grupo social no passado, marca uma mudança significativa
nas relações afetivas (familiares, de vizinhança etc.) e nas outras práticas de
sociabilidade da antiga comunidade de trabalho grand-combiana. A migra-
ção de um grande número de famílias, jovens, amigos e vizinhos em busca
de novos horizontes de trabalho dispersou famílias extensas e rompeu com
redes de relações existentes. Em cada lar, ressente-se a perda do mundo do
trabalho, sofre-se a partida das crianças, os bairros se esvaziam. Face à crise
econômica local, cada unidade residencial vive estas mudanças com mais ou
menos dificuldades.
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Era uma cidade abatida que se revelava aos meus olhos, tendo como
pano de fundo esta problemática de uma nova rítmica citadina, letárgica, dis-
sonante, uma crise figurada pela regressão econômica e demográfica. Logo
nos primeiros encontros, como que para justificar uma honra coletiva perdi-
da, os mais idosos, como M. Leclerc, eram unânimes no refrão: “Esta vila é
bem engraçada, ela ainda é jovem de idade, mas já esta morta”. “Isto aqui
é uma vila sinistra” sentenciava o velho mineiro com dificuldade de esconder
sua emoção frente às inúmeras casas abandonadas, os poços e torres de
extração silenciosos, as usinas vazias.
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Segui os contornos das redes que eles mesmos traçavam, o que ia tam-
bém definindo os papéis e as posições de cada um dos membros na rede de
relações. Nem sempre ficaram evidentes os motivos da seleção de um amigo
ou de um vizinho e não de outros e, muitas vezes, estas escolhas revelavam
pontos de tensões importantes entre a vizinhança, os familiares etc.
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“Hoje pela manhã fui à feira para observar e fazer algumas fo-
tos. Sabia que assistia a algo de ordinário para eles, mas para
mim era uma verdadeira encenação (mise-en-scène) da dife-
rença. As palavras mélange, pluralidade, alteridade me vinha
ao espírito. A diversidade das maneiras de se vestirem, as cores
da pele, os sotaques, tudo prova que estou diante de uma ma-
nifestação de diferentes identidades étnicas, grand-combianos
franceses, árabes, espanhóis, italianos... A todo instante estas
pessoas param para conversar em pequenos grupos, dando a
impressão de proximidade. Todo mundo conversa e se a meta-
de das pessoas está lá para fazer compras, a outra metade esta
lá para bater papo ou matar o tempo”.
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lidado pela escuta das narrativas na forma própria dos interlocutores conce-
berem as experiências vividas.(109)
Não há uma memória mais legítima que outra, há, isto sim, famílias
enraizadas há várias gerações, famílias de um enraizamento mais recente e
grupos étnicos e de pertencimentos culturais diversos que coabitam e que
tentei reconhecer situando estes dados das suas trajetórias.
109 . Reflito estes aspectos tanto apoiada em MAUSS (fato social total) quanto em SCHUTZ
(processo interativo).
110 . “C’est dire qu’un récit de vie isolé, privé du support de l’enquête ethnographique,
apparaît comme une coquille vide. Eclairée par d’autres entretiens menés auprès d’autres
interlocuteurs, relayée par l’histoire économique et sociale du groupe, la biographie devient
alors un instrument de connaissance de la société”. In: ZONABEND. (1980). Op. cit. p. 7.
111 . SEGALEN. 1990. p. 69.
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O que difere os jovens, filhos e netos, dos velhos mineiros é que eles não ri-
tualizam sua própria morte, na morte da vila mineira. Viver a vila letárgica, viver a
renovação da imagem da vila não é assim tão doloroso para eles como o é para
os velhos mineiros. Para estes sim, a morte da mina é transpassada pela morte
da comunidade de trabalho e do enterramento de sua profissão, pela perda
das referências identitárias do “valor-trabalho” na mina, que não é mais “situa-
ção”. Não desconhecem que o esquecimento total das referências da trajetória
comum, como uma lavagem cerebral, pode provocar um caos psicológico sem
saída, uma angústia tal que eles se sentiriam reprimidos em participar da cons-
trução do futuro. Por isso o totem (brasão) não pode ser destruído, medo da
desordem total. O pequeno ato de rebelião contra a mudança do brasão da vila
exemplifica que os atores sociais da comunidade de trabalho ainda são, apesar
de todas as transformações, atores sociais e cidadãos de La Grand-Combe.
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