Espaço e Tempo Como Dimensões Do Conhecimento - Ok
Espaço e Tempo Como Dimensões Do Conhecimento - Ok
Espaço e Tempo Como Dimensões Do Conhecimento - Ok
Resumo Abstract
O artigo analisa a temática espaço-tem- In this text, we seek to elaborate on the
po, fundamental no processo de ensino- subject of space-time, fundamental in the
-aprendizagem de História, e suas im- process of teaching and learning of his-
plicações no cotidiano da sala de aula. tory and its implications on daily class.
Essa discussão torna-se ainda mais ne- This discussion becomes even more nec-
cessária no atual contexto de inserção essary in the current context of continu-
contínua das Novas Tecnologias da In- ous insertion of New Information and
formação e Comunicação (NTIC) nos Communication Technologies (ICTs)
ambientes escolares, as quais modificam into the school environments, which
a prática docente e as formas de apreen- modify the teaching practice and the
são das noções de espaço e tempo. Co- ways the notions of space and time are
mo as novas espacialidades dos ambien- apprehended. How have the new spatiali-
tes virtuais, das redes sociais, e as atuais ties of virtual environments, social net-
compreensões temporais desencadeadas working, and the current understanding
pelas configurações tecnológicas que of time, triggered by the technological
emergem do nosso cotidiano têm altera- settings that emerge from our daily lives,
do as percepções dos sujeitos em relação changed the perceptions of the subjects
ao conhecimento histórico? Propomos with regards to historical knowledge? We
uma reflexão sobre as práticas docentes propose a reflection on the teaching
associadas a essas percepções num mo- practices associated to such perceptions,
mento em que as regras impostas por especially nowadays, when the rules im-
uma sociedade cada vez mais digital (re) posed by an increasingly digital society
dimensionam o fazer histórico. (re)dimension the making of history.
Palavras-chave: tempo; espaço; ensino- Keywords: time; space; History Tea-
-aprendizagem de História. ching-Learning.
balhos realizados, a partir dos quais a professora pode estabelecer relações entre
diferentes assuntos que são abordados no decorrer do ano. O espaço físico da sala
de aula também pode ser utilizado para expor os acordos coletivos realizados em
sala de aula e com os quais todos têm compromisso. Desta forma, as paredes de
uma sala de aula podem, ou não, ser uma espécie de memória da turma.6
As relações temporais que se estabelecem nestas salas de aula são marcadas pelo
tempo vivido, relacionado somente com o presente e marcado por situações ex-
ternas, como a hora da merenda. Não se encontra, na prática cotidiana, assim
como no trabalho com a História, nenhuma proposta pedagógica que leve o alu-
no a trabalhar com antecipações sobre o que vai se fazer e em que tempo, o que
seria uma ponte para a compreensão do tempo da intenção. Assim sendo, é ex-
plicável a dificuldade que muitos demonstram em trabalhar com linhas do tem-
po ou calendários. (ibidem, p.126)
gerações que lhes foram anteriores. Em igual medida, também é positivo esta-
belecer essa aproximação entre tempos e espaços com base em experiências
individuais, em suas dimensões coletivas. Sujeitos como Mahommah Gardo
Baquaqua,8 Chica da Silva,9 ou ainda Zumbi dos Palmares,10 na temática das
trajetórias de populações negras na diáspora e suas vivências no contexto da
escravização, são ótimos links para que sejam estabelecidas relações de
aproximação.
Para isso, é importante, ainda que aparentemente démodé, situar os alunos
numa linha do tempo, pois foram os usos inadequados que transformaram
essa linha na grande vilã das salas de aulas, após as principais tentativas de
incorporação no ensino básico das mudanças epistemológicas pelas quais pas-
sou a produção do conhecimento histórico no século XX. A retomada dessa
alegoria metodológica, a linha do tempo, ainda pode auxiliar-nos, enquanto
professores de História, a conectar os sujeitos às historicidades e temporalida-
des das trajetórias humanas. Isso evitaria, em alguma medida, que algumas
incoerências temporais fossem geradas pelos maus usos e leituras da História
Nova, em especial pelos riscos deterministas da História Temática, ou, como
assinalou Jacques Le Goff (1983), “A História Nova em fatias é a pior das
Histórias”.11
Os riscos dessa falta de referenciais temporais podem ser percebidos por
todos aqueles que trabalham no ensino básico, basta solicitar aos alunos que
situem determinado acontecimento no seu respectivo século e, assim, saberão
concretamente do que estamos falando. A falta de preocupação com datas/
marcos históricos não torna as aulas menos tradicionais, talvez um pouco mais
confusas, mas a abolição desses referenciais em nada assegura que as aborda-
gens dos conteúdos ocorram de modo problematizador. Sujeitos, Experiências,
Cultura, Gênero, Cotidiano, Identidades, Representações, Práticas e Poder,
todas estas demandas podem dialogar com os marcadores tradicionais do
tempo.
A linha do tempo também pode ser utilizada e apreendida de outras for-
mas. Pode ser flexível, tensionada, pode abranger movimentos dos mais diver-
sos que nos auxiliem em sala de aula no processo de desnaturalização das atuais
compreensões de tempo, fixas. Uma linha do tempo flexível contempla, repre-
sentativamente, os processos de continuidades e descontinuidades que perpas-
sam os fazeres históricos.
Guardei a lembrança, uma noite, perto da Bahia, de ter sido envolvido por um
fogo de artifício de pirilampos fosforescentes; suas luzes pálidas reluziam, se ex-
tinguiam, brilhavam de novo, sem romper a noite com verdadeiras claridades.
Assim são os acontecimentos: para além de seu clarão, a obscuridade permanece
vitoriosa. (Braudel, 1992)
los alumnos comprendan que los hechos históricos, y su temporalidad son cons-
trucciones hechas por los historiadores y que estos mismos pueden ser construi-
dos e interpretados de manera diferente por otros historiadores y por los ciuda-
danos. En consecuencia, la enseñanza de la historia supone implicarles en la
aventura del saber y del saber hacer propio del trabajo historiográfico, y, en esta
aventura, la construcción de la temporalidad es fundamental.15
Como fazer que os alunos compreendam esse tempo histórico como cons-
trução historiográfica, humana? Talvez os saberes e referenciais dos alunos
possam nos fornecer algumas possibilidades para a realização dessa tarefa.
Aplicada uma avaliação escrita para uma turma de 9o ano, em que uma
das perguntas era “Como você percebe o tempo histórico em sua vida?”, as
principais referências de tempo para esses alunos estavam associadas às se-
guintes noções: mudanças, marcas, inovações, lembranças, passado, futuro,
vida, gerações, crescimento, nascimento e envelhecimento. Compreensões que,
embora reconheçam as relações entre passado/presente/futuro e, em alguma
medida, apresentem a ideia de mudança, ainda estão associadas a um tempo
muito recente, marcado pelas mudanças de gerações, nascimento, envelheci-
mento, quase que uma leitura naturalizada do tempo. Os aspectos da vida
cotidiana dignos de serem ‘lembrados’ também constituem essa História
apreendida pelos alunos. As percepções em longa e média duração, por exem-
plo, parecem ser pouco notadas.
O imediato como referência deve, sim, fazer parte das elaborações histó-
ricas, mas, associadas a ele, devem ser inseridas outras dimensões que consti-
tuem o tempo histórico. Nesse sentido, antes que essas dimensões temporais
trazidas pelos alunos sejam descartadas, faz-se necessário construir, com base
nesses referenciais, outras formas de perceber o tempo. Um aluno disse que o
tempo histórico ‘passa mesmo quando estou dormindo’, ou seja, é um tempo
que é exterior aos sujeitos, às suas ações e vontades.
Portanto, para além das abordagens de tempo com os recursos tradicio-
nais, podem ocorrer discussões acerca dos marcadores do tempo, por exemplo
(calendários, relógios, linhas do tempo). Já que o tempo histórico apontado
por muitos não apresentava uma dimensão criada pelos homens, então pode-
mos discutir esses referenciais trazidos pelos próprios. Para além das
Acerca da relação entre passado, presente e futuro, Joan Pagès diz que:
Los hechos y los fenómenos sociales tienen sus raíces en el pasado y se proyectan
ineludiblemente hacia el futuro. Por eso el presente constituye una franja tempo-
ral muy débil, muy etérea, de límites imprecisos, que necesita del pasado para
concretarse, pues éste es el único que ya ha sido. Sin embargo, el pasado sin el
presente carecería de valor ya que la explicación que de éste da aquél es el resulta-
do, es el fruto, de los problemas y de los interrogantes que el hombre tiene sobre
su propio tiempo y sobre el futuro. Es esta relación dialéctica entre el pasado, el
presente y el futuro lo que da sentido a la temporalidad dialéctica. (Pagès, 2004)
O primeiro diz respeito aos procedimentos realizados pelo grupo de alunos e pro-
fessores no próprio espaço físico da sala de aula. Neste ambiente, a possibilidade de
acesso a outros locais de aprendizagem – bibliotecas, museus, centro de pesquisas,
outras escolas etc. com os quais alunos e professores podem interagir e aprender
– modifica toda a dinâmica das relações de ensino-aprendizagem. Em um segundo
aspecto, é o próprio espaço físico da sala de aula que também se altera.18
Temporalidade:
Espacialidade:
NOTAS
1
A historiografia já direcionou muitas discussões sobre o tempo histórico. Além de F.
Braudel e E. P. Thompson, citados, ver Reinhart Koselleck, George Duby e Paul Ricoeur.
2
BRAUDEL, Fernand. Escritos sobre a História. São Paulo: Perspectiva, 1992.
3
THOMPSON, E. P. Costumes em comum: estudos sobre a cultura popular tradicional.
São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
4
CARBÓ, Maria Jesús Comellas. Las habilidades básicas de aprendizaje: análisis e inter-
vención. 2.ed. Barcelona: EUB, 1996.
5
PAGÈS, Joan; BENEJAM, Pilar (Coord.). Enseñar y aprender ciencias sociales, geografía e
historia en la educación secundaria. 2.ed. Barcelona: ICE; Horsori Ed., 1998.
6
ZAMBONI, Ernesta; OLIVEIRA, Sandra Regina Ferreira de. O espaço e o tempo no pro-
cesso de ensinar e aprender História na sala de aula. História Revista, Revista da Faculdade
de História e do Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal de Goiás,
v.14, n.1, 2009. p.118.
7
SCHMIDT, Maria Auxiliadora; BARCA, Isabel. Aprender História: perspectivas da edu-
cação histórica. Ijuí (RS): Unijuí, 2009.
8
Em relato autobiográfico Mahommah Gardo Baquaqua registra suas experiências na con-
dição escrava e seu itinerário pelas Américas, em que encontramos elementos singulares
da memória como suas identificações étnico-religiosas, suas estratégias pela conquista da
liberdade e suas vivências na condição de homem livre, além do acentuado vínculo preser-
vado com a África. Parte de sua autobiografia, a que se refere ao período em que Baquaqua
esteve no Brasil, pode ser encontrada na Revista Brasileira de História: LARA, Silva Hu-
nold (Org.). Biografia de Mahommah G. Baquaqua. RBH, São Paulo: Anpuh; Marco Zero,
v.8, n.16, mar.-ago. 1988.
9
O estudo de Furtado sobre Chica da Silva nos ajuda a desconstruir algumas imagens ins-
tituídas pela memória coletiva e que de algum modo diferem da história de vida dos reais
sujeitos. FURTADO, Junia. Chica da Silva e o contratador dos diamantes: o outro lado do
mito. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
10
Sobre a trajetória de Zumbi dos Palmares é importante ver: GOMES, Flávio dos Santos.
Zumbi dos Palmares: histórias, símbolos e memória social. São Paulo: Claro Enigma, 2011.
(Coleção De olho em).
11
Jacques Le Goff (1983), citado por MUNAKATA, Kazumi. Histórias que os livros didá-
ticos contam depois que acabou a ditadura no Brasil. In: FREITAS, Marcos Cezar de
(Org.). Historiografia brasileira em perspectiva. São Paulo: Contexto, 2005.
12
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros
Curriculares Nacionais: ensino médio: história e geografia. v.5. Brasília, 1997.
13
ELIAS, Norbert. Sobre el tempo. 2.ed. Mexico: FCE, 1997.
14
SILVA, Marcos A. da. História: o prazer em ensino e pesquisa. São Paulo: Brasiliense,
1995. p.23.
15
PAGÈS, Joan; BENEJAM, Pilar (Coord.). Enseñar y aprender ciencias sociales, geografía
e historia en la educación secundaria. 4.ed. Barcelona: ICE; Horsori Ed., 2004.
16
PAGÈS, Joan. Aproximación a un currículo sobre el tiempo histórico. In: RODRÍGUEZ
F. J. (Ed.). Enseñar historia: nuevas propuestas. Barcelona: Laia; Cuadernos de Pedagogía,
1998.
17
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâme-
tros Curriculares Nacionais: ensino médio: ciências humanas e suas tecnologias. v.4. Brasí-
lia, 1999.
18
KENSKI, Vani Moreira. Novas tecnologias: o redimensionamento do espaço e do tempo
e os impactos no trabalho docente. Revista Brasileira de Educação, São Paulo: Associação
Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Educação, n.8, maio-ago. 1998.
19
A esse respeito ver o excelente trabalho de Eremita Tânia Silva da Paixão em: www.iat.
educacao.ba.gov.br/objetoseducacionais. Acesso em: 7 set. 2012; tecnologia.iat.educacao.
ba.gov.br/banco_de_objetos?title=&type=All&term_node_tid_depth=42&autor=&tid_1=
All; Acesso em: 7 set. 2012.
PAIXÃO, Eremita Tânia Silva da. Produção de objetos de aprendizagem para aulas de
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